O convívio de mulheres com deficiências ou limitações
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O convívio de mulheres com deficiências ou limitações
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar Centro de Educação e Ciências Humanas – CECH Departamento de Educação – DEd Departamento de Metodologia de Ensino - DME O CONVÍVIO DE MULHERES COM DEFICIÊNCIAS OU LIMITAÇÕES NO TRATAMENTO FISIOTERÁPICO Michele Peruchi de Brito SÃO CARLOS/2008. Universidade Federal de São Carlos – UFSCar Centro de Educação e Ciências Humanas – CECH Departamento de Educação – DEd Departamento de Metodologia de Ensino - DME O CONVÍVIO DE MULHERES COM DEFICIÊNCIAS OU LIMITAÇÕES NO TRATAMENTO FISIOTERÁPICO Michele Peruchi de Brito Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar; como parte dos requisitos para obtenção do Título de Graduação, sob orientação da Profª. Dra. Aida Victoria Garcia Montrone. SÃO CARLOS/2008. D E DI C A T Ó R I A Dedico este trabalho em especial a Adelma, Rose, Maria do Carmo e a Maria Cardoso, pois sem a participação e colaboração delas, não seria possível a realização dessa pesquisa. Dedico ao meu Filho Lucca Ricardo, ao meu marido Marcelo, aos meus pais Edson e Antonia, aos meus irmãos Érick e Junior e ao meu sobrinho Pyettro, pelo amor incondicional. Ofereço também a professora Aida Victoria e a todas as mulheres portadoras ou não de limitações ou deficiência física. Ao meu irmão Ricardo por toda alegria e sonhos que nos proporcionou durante o tempo que esteve conosco. Sua garra e vivacidade que se tornou o meu referencial de altruísmo e coragem. Michele P. de Brito. AGRADECIMENTOS As integrantes deste grupo de pesquisa por todos os momentos que compartilhamos juntas, os quais proporcionaram aprendizado a todos os envolvidos, sendo estabelecidos laços de cumplicidade e amizade. Agradeço também a todas as outras pessoas que participaram da pesquisa, as quais foram de extrema importância e significados. Os ensinamentos e aprendizados estabelecidos construíram um olhar diferente em ver e analisar o mundo, e em especial com relação às pessoas. Ao meu querido primo Junior, o fisioterapeuta, por permitir a realização desta pesquisa em sua clinica. Da mesma forma a Joseana, a secretária, pela amizade, cumplicidade e auxilio no decorrer deste trabalho. Ao meu esposo Marcelo, por fazer parte de minha vida, sendo que aprendi a admirá-lo por seu caráter, sua grandeza de espírito e pelo amor dedicado a mim e ao nosso filho Lucca Ricardo. Aos meus pais Antonia e Edson, pelo amor e estímulo, e por me ajudarem a cuidar do meu filho Lucca no decorrer desse curso de graduação. A todos os meus amigos, em especial a Josi, Heloisa e Flavia por apoiarem e me estimularem na elaboração desta pesquisa. A Beatriz, Merilin e Thaís por este ano serem minhas grandes companheiras, pela amizade sincera, pelo encorajamento e pelas palavras de carinho e admiração. A vocês minha eterna gratidão e admiração. Conviver com vocês é tudo de bom. Michele Peruchi de Brito. Epígrafe De tempos em tempos alguém de repente acorda; alguém se desprende, por assim dizer, da gosma sem sentido em que vivemos atolados – a lengalenga que chamamos de vida cotidiana e que nem vida é, mas uma espécie de transe em suspensão acima do grande fluxo da vida – e esse homem que, por não mais conformar-se ao padrão geral, parece-nos um completo louco se investido de poderes estranhos e quase. aterrorizantes, descobre-se capaz de (…) fazê-los soltar as amarras, virá-los de cabeça para baixo, enchê-los de alegria ou loucura, fazê-los mudar (…) de caráter, fisionomia, de alma até. E em que consiste essa sedução irresistível, essa loucura, “essa perturbação temporária”, como gostamos de chamá-la? Que mais, além da esperança de encontrar alegria e paz? Henry Miller RESUMO O presente trabalho teve como objetivo compreender e analisar como é ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas, averiguar o que pensam e sentem como mulheres em relação às suas limitações, além de identificar os processos de ensino e de aprendizagem desencadeados na convivência da prática social de grupo em um tratamento fisioterápico. Inicialmente apresentou-se a definição de práticas sociais e processos educativos, e posteriormente, descreveu-se a ciência fisioterápica, destacando sua origem, ramo de atividade e métodos terapêuticos. Em seguida, discorreu-se sobre as relações de gênero na vida das mulheres, ou seja, o que é ser mulher na atual sociedade, e em especial na vida das mulheres portadoras de limitações ou deficiências físicas. A pesquisa, caracterizada como sendo de caráter qualitativo descritivo, foi realizada em uma clínica de especialidades médicas, mais precisamente no setor de fisioterapia, localizada na cidade de Ibaté, Estado de São Paulo. Participaram do estudo quatro pacientes com diferentes patologias: Adelma, Maria Cardoso, Maria do Carmo e Rose, as quais apresentavam, respectivamente, a Síndrome do Túnel do Carpo, paralisia cerebral, osteoporose e enfisema pulmonar. Os resultados e a analise dos dados foram obtidos por meio de entrevistas e diários de campo, sendo que a coleta das informações ocorreu durante as inserções feitas nas sessões de fisioterapia desses pacientes. A pesquisa revelou que as participantes demonstraram uma preocupação mútua em respeitar uma à outra, aprendendo com a dor uma das outras, valorizando o ser humano como integrante da sociedade, formando laços de solidariedade. Para as pacientes, ficou evidente que o fato de ser mulher é algo complicado e desafiador, pois além de sofrerem com as limitações de suas patologias, enfrentam muito preconceito e constrangimento na maioria dos ambientes sociais em que freqüentam. Constatou-se ainda, que a convivência estabelecida na prática social, durante o tratamento fisioterápico, promoveu melhorias, tanto com relação às patologias apresentadas, quanto com relação ao bem estar emocional das pacientes, as quais aprenderam a se valorizar como pessoa. Este trabalho contribuiu de forma decisiva para a formação pedagógica, salientando que o trabalho do pedagogo\a, vai além da prática no âmbito escolar, pois os processos educativos podem ser identificados em diferentes ambientes, em todo o momento, e nas mais diversas situações. Palavras-chave: fisioterápico. Práticas sociais, Processos Educativos, Gênero, Tratamento SUMÁRIO INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 1 1-REFERENCIAL TEÓRICO ___________________________________________ 3 1.1-Processos Educativos na Prática Social do tratamento fisioterápico ______ 3 1.2 A Fisioterapia: suas Aplicações e Definições _________________________ 10 1.3-Mulheres e Gênero ______________________________________________ 17 2-METODOLOGIA ___________________________________________________ 23 3-RESULTADOS E DISCUSSÃO _______________________________________ 26 3.1-Percepções sobre o ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas ____________________________________________________________ 27 3.2-A convivência na prática social no tratamento fisioterápico ____________ 30 3.3-. O que aprendem e o que ensinam_________________________________ 32 4-ALGUMAS CONSIDERAÇÕES_______________________________________ 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ____________________________________ 36 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA _______________________________________ 39 ANEXOS Anexo 1: Diários de Campo __________________________________________ 41 Anexo 2: Entrevistas________________________________________________ 55 Anexo 3: Imagens __________________________________________________ 66 Anexo 4: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido___________________ 68 INTRODUÇÃO A presente pesquisa surgiu a partir de uma disciplina cursada na graduação, intitulada Pesquisas e Práticas Pedagógicas em Diferentes Espaços, na qual foi proposta a realização de uma pesquisa compartilhada em um espaço social não escolar. O intuito foi o de aprimorar a percepção, assim como, compreender os processos educativos, desencadeados nos mais variados e diversificados ambientes, ou seja, identificar que a educação se dá além dos âmbitos escolares. A pesquisa proposta na disciplina Pesquisas e Práticas Pedagógicas em Diferentes Espaços foi realizada em uma clínica de especialidades médicas, localizada na cidade de Ibaté, região central do Estado de São Paulo, onde a escolha desse espaço social se deu, principalmente, a partir de idéias e sugestões direcionadas à própria pesquisa, explicitadas em sala de sala. Após a apresentação de todos os pontos a serem considerados no trabalho, e compreender a definição de espaços sociais e as interações ocorridas nos mesmos, e conseqüentemente, situações de ensino e de aprendizagem entre seus integrantes, percebeu-se que o ambiente escolhido seria propício e bastante enriquecedor. Durante a realização do trabalho, o espaço de inserção com mais ênfase, dentro da clínica, foi à sala destinada às práticas fisioterápicas. Dessa forma, obteve-se o privilégio de se conviver com pacientes com as mais variadas limitações e deficiências físicas, na sua grande maioria, composta por mulheres. Dessa forma, ao se pensar em um tema para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), optou-se por dar continuidade ao trabalho realizado na disciplina citada anteriormente, aproveitando para especificar o foco dado à pesquisa anterior. Sob orientação da Profª. Dra. Aida Victória Garcia Montrone, docente do Departamento de Metodologia de Ensino (DME), foi decidido que o foco desta pesquisa atual seria o de analisar o que é ser mulher portadora de deficiência ou limitação física no tratamento fisioterápico e os processos educativos existentes nesta prática social. Ressalta-se ainda, que o ser mulher, na atual sociedade, mesmo diante de todas as conquistas femininas, ainda enfrenta inúmeras desigualdades sociais. Acredita-se, à priori, que essas desigualdades sejam mais exacerbadas, quando comparamos o ser mulher portadora de limitação ou deficiência física, no convívio social com o próprio ser masculino, seja com homens ou com mulheres. 1 Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivos compreender e analisar como é ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas, averiguar o que pensam e sentem como mulheres em relação às suas limitações, objetivando-se também, identificar os processos de ensino e de aprendizagem desencadeados na convivência da prática social de grupo de tratamento fisioterápico. Buscando atingir tais objetivos, inicialmente será abordada a definição de práticas sociais e processos educativos, assim como, onde e como ocorrem, salientando a importância do ensinar e aprender na vida social e na formação dos seres humanos. Em seguida, será apresentada uma descrição da ciência fisioterápica, destacando sua origem, ramo de atividade e métodos terapêuticos, explicitando como a fisioterapia contribui para o bem estar físico das mulheres portadoras de limitações ou deficiências físicas. Os resultados desta investigação foram obtidos por meio de entrevistas e diários de campo, sendo que a coleta das informações ocorreu durante as inserções feitas nas sessões de fisioterapia. A investigação vem a contribuir, não somente no trabalho de pesquisadora, mais também no âmbito pessoal, principalmente no que diz respeito ao ato de educar, como afirma Paulo Freire: “Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE 1996, p. 29). 2 1-REFERENCIAL TEÓRICO 1.1-Processos Educativos na Prática Social do tratamento fisioterápico. Neste primeiro capitulo serão abordadas as práticas sociais e os processos educativos, descrevê-los e analisá-los, como e onde ocorrem, e ainda, a importância desses processos na vida social e na formação do ser humano. Ressalta ainda a identificação da contribuição dessas práticas e processos no tratamento fisioterápico, bem como na vida das mulheres envolvidas nesta pesquisa. As práticas sociais advêm e promovem interações entre homens e mulheres, assim como desses com os ambientes em que vivem, sejam de ordem natural, social e cultural. O desenvolvimento dessas práticas sociais se dá no interior de grupos e ou instituições, tendo como finalidade a produção de bens, transmissão de valores, significados, ensinam a viver e a controlar o viver. Segundo Lobo Neto (2007), a prática social vai além de uma atividade, a qual se manifesta como fato ou fenômeno; ela é um agrupamento de ações humanas que se diferem do comportamento natural. “A prática social não pode ser vista, simplesmente, como uma atividade que se manifesta como fenômeno ou fato, mas todo um conjunto de atividades humanas que se difere de qualquer comportamento natural”. (LOBO NETO 2002, p.1). A prática humana ocorre mesmo quando praticada somente por uma pessoa, já que nela se identifica uma dimensão social, pois está inserida no processo cultural, criado historicamente, ou seja, produzido nas relações de interação intencional entre os seres humanos, e na relação das mulheres e homens na natureza, juntamente com o mundo das coisas. A prática social precede os elementos teóricos, sendo uma atividade que incorpora uma reflexão sobre e com o mundo, sobre a vida, sobre si mesma, como parte constitutiva indispensável da humanidade de homens e mulheres. “É pela mediação realizada pela consciência que o homem percebe e entende a natureza, os outros homens e a sociedade. É pela incorporação de uma teoria das relações sociais que os homens se relacionam, se reproduzem e produzem e reproduzem o mundo entorno de si”. (LOBO NETO 2002, p. 2). 3 As práticas sociais são responsáveis pela criação de nossas identidades, estando presentes na vida do ser humano em todo o momento e por toda a história. Essas práticas permitem que os indivíduos e a coletividade se construam, ou seja, proporcionam aos seres humanos tornarem-se integrantes na sociedade em que vivem mesmo diante das diferenças de percepções e conhecimentos. “As práticas sociais nos encaminham para a criação de nossas identidades. Estão presentes em toda a história da humanidade, inseridas em culturas e se concretizam em relações que estruturam as organizações das sociedades. Permitem, elas, que os indivíduos, a coletividade se construam. Delas participam por escolha ou não, pessoas de diferentes gêneros, crenças, culturas, raças/etnias, necessidades especiais, escolaridades, classes sociais, faixas etárias e orientações sexuais. Com diferentes espaços, escolares e não escolares. Nelas, as pessoas expõem, com espontaneidade ou restrições, modos de ser, pensar, agir, perceber experiências produzidas na vida, no estudo de problemas e dificuldades, com o propósito de entendê-los e resolvê-los”. (SILVA, OLIVEIRA, GONÇALVES, MONTRONE, JOLY e MELLO 2008, p. 8). Sendo assim, as práticas sociais desencadeiam a formação para a vida na sociedade, fato que se dá por intermédio dos processos educativos que se desenvolvem em espaços diversificados, e não somente nos meios escolares. Trata-se de processos de ensino e de aprendizagem que surgem a todo o momento e lugar, promovendo meios educativos, os quais acontecem nas interações sociais, onde as pessoas estão inseridas. Neste contexto, Paulo Freire defende que o aprender, “não apenas acolhe a prática social, mas também se constitui, através de suas múltiplas atividades, em contextos educativos em si mesmas”. (1993, p.16). Os processos educativos não escolarizados também surgem nas práticas sociais, mesmo que o ato de educar seja totalmente diferenciado do ato de se escolarizar. Cada processo educativo é fundamentado na prática da humanização por meio de práticas sociais, porém também podem ser considerados desumanizantes, pois durante as práticas sociais as pessoas trocam conhecimentos e experiências individuais e coletivas, compartilhadas entre as pessoas nos mais inusitados espaços. Sendo assim, os indivíduos vão, ao longo do tempo, construindo e reconstruindo suas identidades sociais e pessoais, seus valores, suas crenças, seus costumes e seus conceitos. “... Humanização e desumanização, dentro da história, num contexto real, concreto e objetivo são possibilidades dos homens como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão.” (FREIRE 1996, p.18). 4 Freire (1993) afirma: “não é possível ser gente sem desta ou daquela forma, se achar entranhado numa certa prática educativa”. Segundo o mesmo autor, a prática educativa ocorre além dos espaços escolares, onde se deve reconhecer a importância e a necessidade da prática educativa em ambientes não escolares, além da utilização destas, e também da bagagem vivida pelo educando, no intuito de aprimorar a atuação do educador, aliado ao seu comprometimento e ética do seu “fazer pedagógico”. Essa abordagem está baseada na vida da teoria “política pedagógica” progressista. Nesse contexto, Freire (1996), exalta a importância da relação que deve ser estabelecida entre educador e educando, onde ambos aprendem durante o ato de educar, dando ênfase à necessidade de permanência e instigação, respectivamente, do uso da curiosidade e levada até a curiosidade epistemológica – mais metódica e crítica, para construção do saber, e não uma simples transferência do mesmo. O autor estabelece uma relação direta entre educador e educando com a curiosidade: “O fundamental é que professor e aluno saibam que a postura deles (...) é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassiva, enquanto fala ou enquanto ouve. O importante é que o professor e alunos se assumam epistemologicamente”. (FREIRE 1996, pg. 86). Para Freire (1996), homens e mulheres são seres inacabados, e por isso os seres humanos estão sendo no mundo na busca de sua humanização, ou seja, são os responsáveis pelo eterno desenvolvimento do aprender e ensinar, e estão cada vez mais em busca de seu aperfeiçoamento, mesmo isso sendo um fator por muitas vezes, não intencional, mas não menos importante. O ser humano está condicionado a “estar sendo” conforme o mundo-sociedadeclasse em que vive, ou seja, sua busca pelo aprendizado e o ensinamento, cada gesto, palavra e atitude, remete a uma ação que mesmo sem intenção, gera momentos de conhecimentos aos demais indivíduos que estão ao seu redor. “Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e á aventura do espírito”. (FREIRE 1996, p. 69). Para o referido autor, o ser humano está em permanente aprendizado, e ao longo do tempo, se apropria dos ensinamentos múltiplos num todo e se cria, recria, transforma e busca incessantemente o saber. 5 . “Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”. (FREIRE 1996, p. 29). Freire (1992) cita as cidades como espaços educativos, onde todo e qualquer setor educa e aprende, como por exemplo, em uma sala de fisioterapia, onde são encontrados os mais variados casos patológicos que geram de alguma maneira, limitações ou deficiências físicas às pessoas que ali se encontram em tratamento, promovendo assim, diversificados ensinamentos e aprendizados. Cada um com seus conhecimentos, com suas experiências, desejos, curiosidades, bagagem cultural, social e religiosa. Tudo isso vai formando cada um, com sua subjetividade e experiências, e isso vai constituindo um cenário sócio-educativo repleto de significados de ensino e de aprendizagem que cria e recria aos que ali estão, e dão novas formas de ver e viver o cotidiano. “Respeitar esses saberes de que falo tanto, para ir mais além deles, jamais poderia significar – numa leitura séria, radical, por isso crítica, sectária nunca, rigorosa, bem feita, competente, de meus textos – deve ficar o educador ou a educadora aderida a eles, os saberes de experiências feitas". O respeito a esses saberes se insere no horizonte maior em que eles se geram – o horizonte do contexto cultural, que não pode ser entendido fora de seu corte de classe, até mesmo em sociedades de tal forma complexas em que a caracterização daquele corte é menos facilmente apreensível”. (FREIRE 1992, p.86). Freire (1997) relata que as cidades revelam inúmeros espaços educativos e diversificados, onde aprendemos e ensinamos; são espaços culturais de criação. De modo mais prático, o autor acredita que as cidades, de maneira geral, são compostas por nós e vice-versa, sendo que esse processo interativo, nos proporciona: aprendermos, formularmos, inovarmos e ensinarmos tudo o que sabemos a todos seus integrantes. “(...) das relações entre educação, enquanto processo permanente e a vida das cidades, enquanto contextos que não apenas acolhem a pratica educativa, como pratica social, mas também se constituem, através de suas múltiplas atividades, em contextos educativos em si mesmas”. (FREIRE 1997, p.16). O mesmo autor destaca a importância da memória das cidades, pois de forma intuitiva, o resgate a essa memória desencadeia em um processo educativo, já que a mesma reproduz, comunica e estende às próximas gerações, culminando no fato de que 6 o ser humano se forma por meio do que vê, ouve e vive, ou seja, do que observa no mundo em que o cerca, e que a educação, seja em qual espaço for, não se dá sem a prática política. A ocorrência da transmissão de saberes ocorre mediante as vivências e experiências de vida, os quais homens e mulheres vivem, e isso está “guardado” 1 em sua memória, que ao ser requisitado, passado em forma de processos de ensino e de aprendizagem, são recuperados por sua memória, e assim transmitidos aos demais indivíduos. Nesse contexto, a memória é o “caderno de anotações” 2 dos indivíduos, independente de sua idade, e é por meio dela que os seres humanos conseguem ser atuantes, relatam e ensinam suas experiências, além de conduzir o comportamento de homens e mulheres na sociedade. A memória traz à consciência os fatos mais importantes que conduzem o ser humano aos procedimentos que devem adotar, como descreve Gonçalves Filho. “A memória não consiste num olhar desprovido de subjetividade, num processo objetivo, isolado e sem sujeito, mas sim a análise de um fato a partir de indivíduos. A memória intercala a intimidade com a história, o formal com o informal e o público com o individual.” (1998, p.99). Sendo assim, o enraizamento se faz cada vez mais necessário para o ser humano, como afirma Gonçalves Filho. O enraizamento é a interação do individuo com o coletivo, e a coletividade tem grande influência na vida das pessoas, tecendo relações e formando raízes, com o intuito da construção da identidade. “Cada ser humano precisa ter múltiplas raízes, precisa receber quase que na totalidade de sua vida moral, intelectual e espiritual, por intermédio dos meios de que faz parte naturalmente”. (1998, p.101). Para melhor se entender o processo de enraizamento, deve-se atentar para as diferenças entre os indivíduos, ou seja, observar com o olhar do outro, percebê-lo e reconhecê-lo, estabelecendo interações que fortaleçam as relações entre as pessoas. Torna-se importante evitar a formulação de conceitos e rotulações dos outros seres, sem ao menos, perceber quem são e o que querem, ou seja, procurar reconhecer todos aqueles ao redor, buscando o ZOOM de tudo e de todos, tentando perceber intimamente cada parte do todo. 1 Neste contexto a denominação guardado refere-se às lembranças e experiências de cada individuo. A memória está sendo comparada a um caderno o qual os indivíduos anotam o que é importante e não pode ser esquecido. Seria um livro, um diário onde se guarda o que é importante. 2 7 Sendo assim, o olhar e a memória são ferramentas no ato de aprender e ensinar, onde por intermédio deles, os indivíduos constroem seus saberes, ou seja, são as práticas e experiências que levam ao conhecimento não escolar. Nesse contexto, o presente é formado pelas lembranças dos mais velhos, incorporadas pelos mais jovens, as quais podem ser passadas adiante ou reconstruídas no intuito de se obter um mundo melhor. Dessa forma, dependendo do foco, a memória pode ser positiva ou negativa no que diz respeito à formação do indivíduo, uma vez que é composta por determinadas ideologias, ou seja, a memória e a história do indivíduo compõem sua formação ao longo do tempo. Contudo, em função da frenética visão capitalista, o individuo acaba por se desenraizar, deixando de lado o seu conteúdo e sua essência. Sendo assim, se transforma em um ser desprovido de perspectivas, vivendo em inércia, pois a busca pelo dinheiro e a adequação ao mercado de trabalho, dificulta que visualize como seu olhar torna-se supérfluo, e talvez esse fato, gere o não aproveitamento de experiências vividas. Dessa forma, o indivíduo deve evitar o desenraizamento, e buscar um olhar aguçado no seu convívio para decifrar, aprender e investigar mais profundamente o que os rodeia, e desenvolver melhores condições sociais para ele e para a coletividade. Vale ressaltar que o enraizamento é algo vital para a vida do ser humano, e é por meio do passado que se constrói o futuro, se direciona o presente e obtém-se uma base sólida para a formação do indivíduo. Para que o processo de enraizamento ocorra, se torna vital que o olhar de cada indivíduo se torne mais profundo e empreendedor para futuras e significativas mudanças, e que essas ocorram não somente no âmbito individual, mas, sobretudo, no coletivo e social. Observar tudo, buscando aprendizados para construir memórias que promovam mudanças sociais e culturais são condições básicas para processo de enraizamento, e este somente ocorre mediante as trocas de informações, conhecimentos e atitudes entre os indivíduos. Sendo assim, podemos dizer que o processo de ensino e de aprendizagem é uma troca constante entre as pessoas, sejam elas educadoras ou não, onde o aprender e o ensinar são partes fundamentais e essenciais para a formação do ser humano. A educação tem a função de formar e desenvolver o ser humano, e esse processo permite que os indivíduos se encontrem como seres sociais, buscando o fortalecimento de seus ideais vinculados aos saberes previamente construídos e adquiridos no decorrer 8 da existência humana. O educar é um processo continuo que ocorre onde os homens e as mulheres estão inseridos, sendo uma necessidade natural de ser humano. “... processo educativo é a interação, troca e intersubjetividade que ocorre quando os indivíduos estão se relacionando uns com os outros podendo, neste processo ocorrer aprendizagens individuais e coletivas. Assim considerado podemos registrar que, independente do local onde as pessoas estejam, há um processo educativo sendo desenvolvido de forma permanente”. (TORRES, 2005, p.28). Partindo do conhecimento de cada indivíduo, ressalta-se aqui, a importância do aprimoramento do olhar crítico e seletivo de pesquisadores, educandos e professores, uma vez que os processos educativos desencadeados nas práticas sociais surgem diante do respeito e do reconhecimento por parte desses profissionais aos conhecimentos de cada indivíduo, assim como de suas vivências e saberes. Dessa forma, o ato de escolarização do indivíduo pode ser mais eficaz e interessante, culminando no reconhecimento da melhor forma de se ensinar e aprender, e assim colaborar para mudanças sociais que favoreçam os marginalizados, os quais podem exercer direitos reconhecidos condizentes com suas necessidades. No ambiente da clínica de fisioterapia onde foi realizada essa pesquisa ocorrem várias práticas sociais, desencadeando um rico cenário de processos educativos, onde se aprende de tudo. O fato de se respeitar às diferenças individuais de cada pessoa, ouvilos, aprender e ensinar diante de suas experiências, processo que ocorre por meio de conversas, observações de posturas, gestos corporais, fisionomias e expressões dos mesmos, promove a compreensão dos processos educativos existentes no ambiente da clínica, e esse processo ocorre pela convivência estabelecida nas sessões de fisioterapia. A prática social do convívio será estudada ao longo desta pesquisa, observando como ela contribui na vida dessas mulheres no tratamento de sua doença, seja na vida emocional, afetiva ou social. No próximo capítulo será abordada a importância do tratamento fisioterápico e suas aplicações, dando ênfase às abordagens fisioterápicas para mulheres portadoras de limitações ou deficiências físicas, procurando apontar os benefícios que o tratamento proporciona, seja no campo terapêutico como no educativo, ambos decorrentes da pratica social estudada. 9 1.2 A Fisioterapia: suas Aplicações e Definições. Neste capitulo será apresentado o conceito de fisioterapia, sua origem, ramo de atividade e métodos terapêuticos, procurando explicitar como a fisioterapia contribui para o bem estar físico das mulheres portadoras de limitações ou deficiências físicas. E ainda apresentar e conceituar as patologias das mulheres participantes nesta pesquisa. A fisioterapia é uma ciência aplicada, tendo como objetivo de estudos, o movimento humano em todas as suas formas de potencialidades e expressão, abrangendo suas alterações patológicas decorrentes de suas repercussões psíquicas e orgânicas, procurando preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgãos, sistema ou funções. (Resolução COFFITO - 80, em 21/05/1987). Com intuito de alcançar os fins e objetivos propostos, faz uso de recursos físicos e naturais, de ação isolada ou conjunta em eletroterapia, crioterapia, termoterapia, hidroterapia, fototerapia, mecanoterapia e cinesioterapia. “É uma ciência da Saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas. Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da Biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica, da biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia funcional, e da cinesia patologia de órgãos e sistemas do corpo humano e as disciplinas comportamentais e sociais”. (REBELATO JR,1987 p. 65). Nos dias atuais, a fisioterapia vem ocupando um lugar de evidência entre as diversas e variadas profissões da área de saúde, sendo que poucas obtiveram um desenvolvimento tão rápido e significativo na ultima década. Os profissionais ligados à área conquistaram espaço em empresas privadas, associações esportivas, centros de saúde, clínicas particulares, e principalmente em hospitais, espaço esse em que o fisioterapeuta mantinha-se de modo tímido e limitado a situações bem menos complexas, do que as atualmente desenvolvidas. O fisioterapeuta passou a ter destaque e ser reconhecido em sua importância profissional, tornando-se presença obrigatória no atendimento hospitalar, abrangendo todas as especialidades clínicas e cirúrgicas, incluindo os serviços de urgência e de terapia intensiva, diminuindo significativamente as complicações oriundas dos longos períodos de internação. 10 Dessa forma, o campo da fisioterapia vem se aprimorando gradativamente, buscando o desenvolvimento pleno a cada dia, por intermédio de novos métodos de tratamento, o que vem favorecendo seus profissionais na busca de uma melhor qualificação laboral, e maior participação no ensino e pesquisa. De acordo com Rebelato Jr. (1987), a fisioterapia no Brasil passou pelos seguintes passos: “A utilização dos recursos físicos na assistência à saúde iniciou-se pôr volta de 1879, na época da industrialização, devido ao grande número de acidentados do trabalho, e seus objetivos eram voltados para a assistência curativa e reabilitadora. Em 1929 o médico Dr. Waldo Rolim de Moraes, instalou o serviço de fisioterapia do Instituto Radium Arnaldo Vieira para atender aos pacientes da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Posteriormente organizou o serviço de fisioterapia dos Hospitais das Clínicas de São Paulo. Na década de 50 a incidência de poliomielite atingia índices alarmantes e como conseqüência o número de indivíduos portadores de seqüelas motoras e que necessitavam de uma reabilitação para a sociedade. O número de pessoas acometidas pêlos acidentes de trabalho no Brasil se apresentava como um dos maiores da América do Sul, e essa expressiva faixa populacional precisava ser reabilitada para reintegrar o sistema produtivo do país. Em 195l surge no Brasil o primeiro curso para a formação de técnicos em fisioterapia. Em 1956 surgiu o primeiro curso com duração de dois anos para formar fisioterapeutas que atuassem na reabilitação (SANCHEZ, 1984, p.31). Em 1969 a fisioterapia no Brasil foi regulamentada como profissão através do decreto-lei nº938 de 13 de outubro de 1969.” (1987). Há alguns anos atrás, o trabalho fisioterápico no Brasil, apresentava-se pouco valorizado, e o destaque profissional na atenção primária à saúde era bastante irrisório, onde a formação desse profissional era localizada na ação curativa, ou seja, não favorecia o modelo assistencial vigente, o qual previne ou controla o avanço das patologias. A formação atual está fomentada na valorização e objetivação de uma capacitação profissional capaz de atuar na saúde nos níveis de promoção, prevenção, preservação e recuperação do ser humano. O fisioterapeuta na sua prática profissional tem diversas funções: “Executar ações de assistência integral em todas as fases do ciclo de vida: criança, adolescente, mulher, adulto e idoso, intervindo na prevenção, através da atenção primaria e também em nível secundário e terciário de secreções em pneumopatas, tratamento de pacientes com AVC na fase de choque, tratamento de pacientes cardiopatas durante o pré e pós cirúrgico, analgesia através da manipulação e do uso da eletroterapia, entre outros.” (RAGASSON et al 2004, p.4). Diante disso, a fisioterapia é uma medicina de reabilitação, como tantas outras que agrupadas, tentam formar a busca pelo fazer ou levar o seu paciente a atingir sua 11 melhor forma física, psicológica, social, vocacional e educacional, e assim contribuir para uma melhor qualidade de vida, compatível com seu déficit fisiológico ou anatômico, limitações ambientais, desejos e planos de vida. Na medicina de reabilitação, o esforço é conjunto entre os profissionais, pacientes e familiares, com intuito de determinar objetivos realistas à suas limitações e deficiências, e assim desenvolver a realização de planos para obtenção da melhor função, independente das seqüelas, mesmo se o déficit for causado por um processo patológico irreversível. “Reabilitação é um conceito que deve envolver todo o sistema de saúde. Deve ser abrangente e incluir prevenção e reconhecimento precoce, assim como pacientes externos, internos e programas de cuidado após a alta. Projeções dos resultados dos pacientes submetidos a tal programa extenso e integrado de reabilitação devem incluir aumento da independência, diminuição no tempo de internação, eficiente utilização do sistema de saúde e uma melhora na qualidade de vida.” (DELISA; CURRIE e MARTIN 1998, p.3). Sendo assim, a fisioterapia tem a função de restabelecer, na medida do possível, a melhora do paciente não somente nas questões patológicas, mas sim, considerando o individuo como um todo. Das diversas áreas de atuação da fisioterapia, neste trabalho, serão destacadas quatro patologias, sendo essas apresentadas pelas mulheres em tratamento fisioterápico que participaram desta pesquisa, sendo que as patologias são de ordem respiratória, neurológica, ortopédica e reumatológica. Na área respiratória, a paciente Rose apresenta Enfisema pulmonar, sendo classificada como uma doença crônica ou DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). A paciente com essa patologia apresenta um processo de destruição dos tecidos pulmonares de maneira gradual, ocorrendo um aniquilamento gradativo nos alvéolos onde é realizada a troca gasosa, ou seja, onde se dá a absorção do oxigênio e liberação do dióxido de carbono. A causa mais comum para o desencadeamento do enfisema deve-se ao tabagismo, mas essa patologia pode ser adquirida também por vapores químicos ou poluentes. O enfisema pulmonar pode acometer pessoas não fumantes que possuam deficiência em uma enzima protetora dos pulmões (alfa-1-antitripsina), situação onde a doença se manifesta mais precocemente, cuja origem geralmente é genética. Nos pacientes portadores de enfisema pulmonar, os sintomas mais freqüentes são: chiado no peito, tosse seca e falta de ar que vai se agravando na medida em que a doença avança. Os pulmões perdem elasticidade e os alvéolos ficam maiores, e este 12 processo acaba por dificultar a saída de ar, gerando desconforto à pessoa afetada. Quando a doença atinge seu grau mais avançado, o enfermo passa a sentir falta de ar nas tarefas mais simples, como caminhar ou falar. Nesse estágio, o tórax adquire um formato cilíndrico, característico das pessoas com este distúrbio. O diagnóstico geralmente é feito pelo médico ao saber da exposição do paciente ao tabaco ou aos demais fatores apresentados anteriormente. Utiliza-se para esse diagnóstico, exames de tomografia computadorizada, auxiliada ao método da espirometria, tido como um exame que mede a capacidade dos pulmões de colocar o ar para fora dando, desta forma, uma idéia do funcionamento pulmonar, atestando com mais clareza a patologia. A patologia de ordem neurológica apresentada pela paciente Maria Cardoso é a paralisia cerebral. De acordo com Gianni: “A paralisia cerebral é um dos diagnósticos mais freqüentes com que o profissional de Reabilitação se depara no seu dia a dia. Conhecê-lo amplamente em todos os seus múltiplos aspectos é fundamental para que qualquer proposta de tratamento venha a ter sucesso.” (2005, p. 13). A denominação paralisia cerebral (PC) é composta de um grande espectro de entidades clinicas, os quais se manifestam devido a uma desordem no desenvolvimento motor, com diversas variações na sua etiologia, manifestações, gravidade, prognostico e comorbidades. A paralisia cerebral engloba inúmeros sintomas, e isso ocorre pelo fato de ser uma doença proveniente de lesão não progressiva do sistema nervoso central imaturo. Essa doença pode ser definida como um grupo não progressivo, porém freqüentemente mutável de distúrbios motores, mais precisamente do tônus e da postura, secundário a lesão do sistema nervoso central em desenvolvimento, ocorrendo da fase embrionária até os dois anos de idade. “A etiologia da paralisia Cerebral é bastante variável e nem sempre fácil de ser estabelecida. De acordo com Hagberg, em apenas 48% dos casos a causa da lesão é conhecida de forma irrevogável. Nos 52% restantes, o diagnostico é baseado nos achados clínicos, quando o examinador se depara com uma encefalopatia crônica e não evolutiva cuja lesão causal não pode ser elucidada nem pela anamnese nem pela investigação armada.” (GIANNI 2005, p. 14). A paralisia cerebral tem sua etiologia classificada em três categorias, e estas ocorrem de acordo com a fase de desenvolvimento do encéfalo. A PC pré-natal tem como causa mais comum as mal-formações encefálicas e as infecções congênitas do 13 grupo STORCHA (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovirus, herpes e HIV). A paralisia celebral peri-natal é tida como a mais comum, e a anóxia3 peri-natal seu principal agente etiopatogênico. Outro fator da causa do PC é a hiperbilirrubinemia4 secundaria à incompatibilidade sanguíneas, o que leva ao depósito de bilirrubina nos núcleos da base. O kernicterus5 e o pós-natal são os casos com diagnóstico entre a segunda semana de vida e o segundo aniversário, em crianças antes tidas como normais, sendo as causas mais comuns: meningites, lesões traumáticas e tumorais. Quanto à forma clinica de manifestação, a paralisia cerebral pode ser classificada de acordo com o tipo de comprometimento motor e a distribuição do mesmo. A desordem motora está extremamente ligada com a área do sistema nervoso central, que foi lesada. A terceira patologia a ser apresentada é de ordem ortopédica reumatológica, denominada osteoporose, sendo observada na paciente Maria do Carmo. Trata-se de uma doença que ocorre em pessoas com pouca massa óssea, além de deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, fato que gera um aumento da fragilidade dos ossos, elevando-se o risco de fratura, principalmente quando as cargas aplicadas ultrapassam a capacidade óssea. Vale ressaltar que a capacidade do osso está ligada ao seu grau de mineralização e da sua arquitetura, e ao passo que a osteoporose avança, tanto a mineralização, quanto a arquitetura óssea, acabam por se deteriorar, elevando assim o risco de fratura. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) endossa uma definição de osteoporose baseada em uma medida de massa óssea que se encontra com mais de 2,5 desvios-padrão (DP) abaixo da média de adultos jovens normais. “Normal” è um osso com densidade dentro de 1 DP da média e “baixa massa óssea” é considerada uma designação apropriada para aqueles com densidade óssea entre 1,0 e 2,5 DP abaixo da média para adultos jovens. É importante ter em mente que o diagnóstico dessa doença não depende de ter ocorrido fratura, e sim de evidencias laborais ou clinicas de risco de fratura substancialmente aumentado, decorrente da redução na massa óssea”. (BONNER JR, FITZSIMMONS, CHESNUT III e LINDSAY 1998, P.1527). 3 Anoxia é a "ausência" de oxigênio, um agravante da hipóxia. Se for prolongada, pode resultar em lesão cerebral e levar o paciente a óbito. Este é um dos riscos ao nascimento e a principal causa de deficiências mentais nas crianças.Pode derivar de um deficiente fornecimento de sangue, de condições atmosféricas (por exemplo. altitude elevada, ambientes fechados sem renovação de ar), de parada cardíaca ou respiratória. 4 hiperbilirrubinemia e bilirrubina, principal componente dos pigmentos biliares, é o produto final da destruição da porção "heme" da hemoglobina e outras hemoproteínas. 5 Kernicterus. Impregnação bilirrubínica de regiões do cérebro na vigência de altas concentrações sanguíneas de bilirrubina não conjugada. A barreira hemoencefálica é normalmente impermeável à bilirrubina. Em recém-nascidos, especialmente em prematuros, a barreira pode, porém ser vencida se a concentração de bilirrubina for muito alta (acima de 20 mg%), como ocorre, por exemplo, na eritroblastose fetal. Neste caso, a bilirrubina impregna o tecido nervoso central em algumas regiões, como os núcleos da base, áreas do córtex cerebral e do tronco cerebral. As áreas são impregnadas bilateralmente, com simetria quase especular, e nestes locais os neurônios morrem, ficando seqüelas permanentes. No caso demonstrado acima, a impregnação afetou a porção tegmentar (dorsal) da ponte e núcleos da medula oblonga. O termo kernicterus vem do alemão e quer dizer 'núcleo ictérico'. 14 A osteoporose primária é geralmente relacionada em associações com outras doenças (osteoporose secundária), sendo a mais comum em relação às doenças ósseas metabólicas, e ocorre como condição médica primária. Porém, quando essa doença ocorre associada a outras condições é denominada osteoporose evolucional, definida como a osteoporose pós-menopausa em mulheres (tipo I), e osteoporose senil (tipo II) em homens, tendo em comum a osteopenia generalizada (redução da massa óssea) e o elevado índice de risco de fratura. Já a osteoporose secundária tem ocorrência associada há outras doenças, tais como: doenças de Cushing, ingestão de determinados medicamentos como a heparina, além de aberrações fisiológicas. “A osteoporose localizada é uma condição que se manifesta em regiões anatômicas, com discreta redução na massa óssea. Em sua forma primária, é vista na distrofia simpática reflexa e na osteoporose regional transitória”. (BONNER JR, FITZSIMMONS, CHESNUT III e LINDSAY 1998, P.1527). O último caso a ser apresentado será o da paciente Adelma, a qual apresenta um problema de ordem ortopédica, doença conhecida como a Síndrome do Túnel do Carpo. A doença atinge o sistema nervoso, e sua incidência ocorre quando o nervo mediano, localizado na região do punho, é comprimido por um processo, em geral inflamatório, que causa estreitamento no seu canal de passagem. Os sintomas dessa síndrome são: formigamento ou dor nas mãos, principalmente à noite, diminuição da sensibilidade dos dedos e sudorese na palma da mão, sendo mais freqüente entre mulheres na faixa de 35 a 60 anos. Em geral, as causas decorrentes para a incidência dessa doença estão relacionadas, em sua grande maioria, a lesões por esforço repetitivo na mão, que prejudicam os tendões do punho, ou mesmo à falta de uso desses tendões. A Síndrome do Túnel do Carpo pode ser desencadeada pelo deslocamento anterior do osso semilunar, diabetes mellitus, artrite reumatóide, doenças da tireóide, traumas no punho, alterações hormonais, como a menopausa, entre outros fatores. As mulheres grávidas, muitas vezes, apresentam os sintomas da doença ocasionados por edema próprio da gravidez, mas que geralmente desaparecem após o parto. “Túnel do carpo é um canal formado por pequenos ossos situados no punho, que lhe servem de base, e um ligamento transverso, que compõe o teto do túnel. Por esse canal, passam o nervo mediano e nove tendões responsáveis pela flexão dos dedos. O nervo mediano que vem do antebraço e passa para a mão através desse canal estreito, enerva o polegar, as duas faces do 15 indicador e do dedo médio e a face interna do quarto dedo. A sensibilidade e a motricidade de parte do quarto dedo e o quinto dedo são supridas pelo nervo ulnar6. A síndrome do túnel do carpo (STC) é uma neuropatia resultante da compressão do nervo mediano no canal do carpo.” (ZUMIOTTI, 2008). Contudo, a fisioterapia é um ramo da ciência da saúde que busca não somente a melhora dos agravos das patologias e suas dores, mas também auxilia na melhoria da qualidade de vida do ser humano em tratamento fisioterápico. Esse processo se dá também, por intermédio da convivência estabelecida, e esse convívio é de grande importância, pois os processos educativos ali estabelecidos, por meio de conhecimento de sua doença na melhora dos sintomas, geram situações de aprendizado mutuo que contribui com a formação como pessoa das pacientes, desencadeando um processo de humanização. No próximo capitulo será discutido o que é ser mulher na perspectiva de gênero. 6 O nervo ulnar é uma ramificação do plexo braquial, mais exatamente do fascículo medial. Ele pode ser apalpado na parte medial do cotovelo, entre o epicôndilo medial do úmero e o olécrano (pertencente à ulna). A inervação dele é responsável por metade do 4º dedo e todo o 5º dedo, além do músculo flexor ulnar do carpo e parte medial dos músculos flexores profundos dos dedos. (Zumiotti) 16 1.3-Mulheres e Gênero Neste capítulo será abordado o que é ser mulher na perspectiva de gênero, e em especial, as mulheres portadoras de limitações ou deficiência física. O conceito de gênero surgiu como uma ferramenta de análise para melhor compreender as relações entre homens e mulheres, em uma determinada sociedade e momento histórico. Tem grande importância, pois procura indicar que certos modelos de conduta e expectativas para homens e mulheres, são construídos socialmente através dos tempos, e não determinados pelo sexo [fator biológico], e diante disso, podem ser modificados. O termo sexo está relacionado aos aspectos físicos e biológicos de machos e fêmeas, tidos como diferenças apresentadas em nossos corpos, que se modificam de acordo com a idade. Podem ser consideradas etapas que se desenvolvem ao longo de nossas vidas, como por exemplo, as mudanças fisiológicas da puberdade e a gestação na mulher, sendo “fenômenos” determinados pelo sexo. O gênero é uma construção social, o qual sofre alterações de acordo com as épocas e lugares, dependendo dos costumes, das experiências cotidianas, variando de acordo com as leis, as religiões, o ambiente da vida familiar, a visão política de cada povo ao longo da história. Gênero refere-se às construções sociais com base nas diferenças sexuais que determinam o papel que se atribui às mulheres e homens numa cultura especifica, sendo dinâmico e está centrado nas relações de poder entre homens e mulheres. Permite determinar as desigualdades entre homens e mulheres em todos os âmbitos, e está baseado num processo pedagógico que inicia na família, nas comunidades, na escola e nos meios de comunicação, e que chamamos de socialização de gênero. A partir da observação e do conhecimento das distinções sexuais, a sociedade cria idéias sobre o que é um homem, o que é uma mulher, o que é masculino e o que é feminino, o que se denominam representações de gênero. O conceito de gênero implica em uma relação, pois na sociedade, o feminino e o masculino são considerados opostos, porém complementares, sendo essas relações desenvolvidas com base nas diferenças sexuais, e, portanto, não naturais, sendo criações da sociedade. 17 “... É necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento histórico. Para que se compreenda o lugar e as relações de homens e mulheres numa sociedade importa observar não exatamente seus sexos, mas sim tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos. O debate vai se constituir, então, através de uma nova linguagem, na qual gênero será um conceito fundamental.” (LOURO 1997, p.21). As relações de gênero sãs práticas cotidianas do masculino e do feminino. O estudo das relações de gênero exige conhecimentos sobre o sexo feminino e suas articulações com as questões sobre o sexo masculino, o que permite olhar de outra forma, refletindo sobre as desigualdades e a construção de novas relações, sendo estas mais igualitárias. Os seres humanos não nascem sabendo como ser homem ou mulher, e com uma ou outra característica, isso vai se desenvolvendo pelo aprendizado no decorrer de nossa vida, principalmente pelas experiências e vivências sociais. No entanto, essas aprendizagens acabam por construir muitas diferenças entre as pessoas e desigualdades nas relações de gênero, como por exemplo, se um menino decide brincar com um brinquedo que foi determinado para uma menina e vice-versa, serão repreendidos, pois será contra as normas sociais, e essa atitude pode vir a desenvolver um comportamento não condizente com os padrões sociais. “Ao dirigir o foco para caráter fundamentalmente social, não há, contudo a pretensão de negar que o gênero se constitui com ou sobre corpos sexuados, ou seja, não é negada a biologia, mas enfatizada, deliberadamente, a construção social e histórica produzida sobre as características biológicas. Como diz Robert Conell (1995, p. 189) “No gênero, a prática social dirige aos corpos”. O conceito pretende se referir ao modo como as características sexuais são compreendidas e representadas ou, então, como são “trazidas para a prática social e tornadas parte do processo histórico”. Pretende-se, dessa forma, recolocar o debate no campo social, pois é nele que se constroem e se reproduzem às relações (desiguais) entre os sujeitos. As justificativas para as desigualdades precisariam ser buscadas não nas diferenças biológicas (se é que mesmo essas podem ser compreendidas fora de sua constituição social), mas sim nos arranjos sociais, na historia, nas condições de acesso aos recursos da sociedade, nas formas de representação”. (LOURO1997, p. 22). O ser homem ou o ser mulher está enraizado de uma forma intrínseca aos seres humanos, pois o simples fato de ter comportamentos ditos masculinos ou femininos acaba por gerar repúdio às pessoas, e em certas ocasiões gera o preconceito, pois nossos comportamentos refletem as normas de nossa sociedade, as quais proporcionam a 18 organização social. No que diz respeito ao gênero, as normas nos informam sobre como cada pessoa deve ser, ou seja, o que é ser um homem, uma mulher, uma senhora, um senhor, uma criança, está vinculada à conduta social, e essa nos indica os caminhos e condutas de vida que devemos ter. Na sociedade, são produzidos valores diferenciados para o que é masculino e para o que é feminino. “Dessa forma, deixa-se de enfocar, de forma isolada, aquilo que mulheres ou homens fazem ou podem fazer ou os processos educativos pelos quais seres humanos se constituem ou são transformados em mulheres ou homens, mas considera-se a necessidade de examinar os diferentes modos pelos quais, o gênero opera estruturando o próprio social que torna estes papéis funções e processos possíveis e necessários.” (MEYER 2003, p. 18). O termo gênero é relacional, quer enquanto categoria analítica quer enquanto processo social. Sendo assim, o conceito deve ser capaz de captar a rede das relações sociais, bem como as alterações historicamente por elas sofridas, por intermédio dos mais distintos processos sociais, nos quais as relações de gênero têm lugar. O termo gênero deve ser compreendido como elemento essencial das relações sociais, fundamentadas em diferenças percebidas entre os sexos, e como sendo um modo básico de significar relações de poder. “O que uma perspectiva como esta possibilita, ao colocar coisas aparentemente banais e naturais em questão, é compreender que tanto a normalidade quanto a diferença são social e culturalmente produzidas como tais. E que isso muitas vezes nos escapa! Todos e todas nós participamos desses processos de produção, de forma mais ativa ou mais passiva, sofrendo-os ou impondo-os, a nós mesmos e aos outros com quem convivemos profissional e efetivamente.” (MEYER 2003, p.25). As relações desiguais de gênero trazem conseqüência para a vida de homens e mulheres, onde a mulher sofre discriminação e tem sua sexualidade reprimida, sendo coibida pela sociedade para com o ato de expressar seus desejos e suas vontades. Essa mesma sociedade proíbe os homens de terem afetos e emoções, onde são coibidos de expressar suas angústias e sofrimentos, sejam de fundo físico ou emocional, tendo a obrigação de ser forte, e isso dificulta a vida e o desenvolvimento pessoal e coletivo dos homens, assim como o dever de ser fraca e “sensível” prejudica as mulheres. Com relação à mulher, as desigualdades e coibições impostas pela sociedade são mais exacerbadas quando comparadas às masculinas, onde a cultura tem gerado perspectivas muito diferente para ambos os sexos. Ao ser mulher, cabe desempenhar funções associadas a ser mãe, afazeres domésticos, cuidar do marido e dos filhos, além 19 de ter uma profissão para ajudar na questão econômica, sendo que o sexo feminino está associado à idéia de submissão, docilidade, contemplação, sensibilidade. Dessa forma, pode se afirmar que as características da identidade feminina é uma construção social. A posição social que a mulher ocupa, reproduz sentimentos que muitas vezes, geram dificuldades para que elas se reconheçam socialmente, profissionalmente falando, vivendo uma inacabável dialética: ao serem fantásticas profissionais, sentem-se fracassadas como esposas e como mães, em situação inversa, quando a dedicação é plena e exclusiva para a vida familiar, o sentimento de fracasso se volta à questão do ser mulher emancipada. Diante disso, a grande maioria das mulheres nega a si mesma, para se estabelecer como sujeito socialmente aceito. Porém, este processo de negação, de falta de algo que é perdido, pode ser transferido para o corpo, gerando as psicopatologias ditas femininas (anorexia nervosa, agorafobia e histeria). A aquisição do corpo magro, saudável e belo passa a ser um ponto de disfarce ou um mecanismo que a mulher encontra em ser aceita e bem vista pela sociedade, pois o padrão de beleza passa a ser um fator de inclusão social. “A imagem corporal está vinculada a ideais consumistas, os quais definem o que e como deve ser um corpo saudavel, ou seja,“...A publicidade, o cinema, a televisão, as revistas, os shopping centers, as agências de modelos, as academias de ginástica, as campanhas religiosas e de saúde, constituem-se em importantes pedagogias culturais e se voltam, diretamente, para os corpos dos sujeitos. Esses múltiplos discursos, de distintas fontes, pretendem conformar, dar uma forma, aos nossos corpos. Eles nos dizem o que é corpo educado, saudável, bonito, decente, moderno, “sarado”... Eles nos falam, ao mesmo tempo, das “posições” que os sujeitos ocupam na sociedade. Eles expressam e exercitam jogos de poder”. (LOURO; FELIPE e GOELLNER, p. 7-8, 2003). Contudo, o que realmente deve importar é a história pessoal que cada um carrega, e de que maneira essa história colabora para construção da pessoa que cada um deseja ser, pois não existe uma descrição especifica do que é ser mulher, a qual traduza todas as mulheres. Toda vez que a mulher tenta se igualar às demais como um padrão conhecido de valor, pode gerar nela, um sentimento de infelicidade, pois ela pode não se reconhecer dentro deste ideal. O importante é que cada mulher busque sua contemplação, e não se torne escrava dos padrões socialmente construídos, e sim descubra o próprio sentido de sua vida. Entretanto, é fato que a atual conjutura social valoriza a estética corporal, induzindo um padrão de beleza que, por vezes, gera angustias e frustações na maioria 20 das mulheres. Se a busca pela estética corporal, determinada perfeita para os padrões impostos, pode originar determinados problemas para as mulheres ditas “normais”, imaginamos aqui, o que poderá ser considerado com relação às portadores de limitações e deficiências físicas. Além da estética corporal, imposta, e considerada ideal na sociedade capitalista, as mulheres portadoras de limitações e deficiências físicas, enfrentam ainda, a questão da sexualidade, do trabalho e dos afazeres domésticos, bem como anseios, desejos, préconceitos e de condutas estabelecidas em nosso meio cultural. Esse contexto gera indagações, dúvidas, curiosidades e incertezas no convívio dessas mulheres. As diferenças, as desigualdades e o preconceito são uma construação social, e não se deve somente discutir para se entender como ocorrem ou por porque ocorrem, mais propor e desenvovler analises e intervenções socias e políticas, para que haja uma mudança nas questões socias. “Desse modo, quando nos dispomos a discutir a produção de diferenças e de desigualdades de gênero, considerando-se todos estes desdobramentos do conceito, também estamos, ou deveríamos estar, de algum modo, fazendo uma analise de processos sociais mais amplos que marcam e discriminam sujeitos como diferentes, em função tanto de seu gênero quanto em função de articulações de gênero com raça, sexualidade, classe social, religião, aparência física, nacionalidade, etc. e isso demanda uma ampliação e complexificação não só das analises que precisamos desenvolver, mas, ainda uma re-avaliação profunda das intervenções sociais e políticas que devemos, ou podemos, fazer.” (MEYER 2003, p. 19). As relações de gênero entre homens e mulheres são guiadas pelas diferenças biológicas, geralmente transformadas em desigualdades que tornam o ser mulher vulnerável. A exclusão que atinge a mulher se dá, às vezes, concomitantemente, pelas vias do trabalho, da classe, da cultura, da raça/etnia, da idade, da raça, da aparência física. Desse modo para analisar o feminino deve-se considerar todos estes aspectos e no caso de mulheres portadoras de limitações e ou deficiência física, acrescentado pelo preconceito em torno deste ponto. 21 Questões de pesquisa: • Como as mulheres portadoras de limitações de deficiência física se comportam no papel de mulheres na sociedade? • Que processos de ensino e aprendizagem ocorrem na convivência dessas mulheres na prática social de grupo de tratamento fisioterápico? Objetivos do Estudo • compreender e analisar como é o ser mulher portadora de limitações ou deficiência física; • averiguar o que pensam e sentem como mulheres em relação às suas limitações; • Identificar ainda quais processos de ensino aprendizagem ocorrem na convivência da pratica social de grupo de tratamento fisioterápico. 22 2-METODOLOGIA Frente ao exposto, este estudo se propôs analisar o que é ser mulher portadora de deficiências ou limitações físicas, e os processos educativos existentes nesse espaço, assim como as interações neles existentes. A presente pesquisa, caracterizada como sendo de caráter qualitativo descritivo, foi realizada em uma clínica de especialidades médicas, mais precisamente no setor de fisioterapia, localizada na cidade de Ibaté, Estado de São Paulo. Chizzotti (2006) define a pesquisa qualitativa como sendo: “... parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações”. (p. 79). Possui caráter descritivo, pois toda pesquisa descritiva tem como finalidade principal a descrição das características de determinada população, fenômeno ou estabelecimento entre variáveis. “São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este titulo e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas e de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática”. (GIL 2006, p.42). As mulheres envolvidas nessa pesquisa foram reconhecidas como sujeitos que elaboram saberes e desenvolvem práticas adequadas, intervindo nos problemas que identificam, corroborando com Chizzotti (2006), o qual afirma: “... que elas têm um conhecimento prático, de senso comum e representações relativamente elaboradas que formam uma concepção de vida e orientam as suas ações individuais.” (p.83). Entretanto, não se pode generalizar e afirmar que essas práticas e experiências reflitam um conhecimento crítico, relacionando saberes particulares com o todo, ou seja, não se pode estabelecer que essas experiências individuais, culminarão no pensar ou no agir de toda a sociedade. Esse trabalho foi submetido e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de São Carlos: CAAE 0064.0135.000-08 23 parecer nº. 298/2008. A coleta dos dados foi realizada na Clinica de Fisioterapia Manna, localizada na Rua Ângelo Perucci, 982, na cidade de Ibaté no interior do estado de São Paulo, sendo de propriedade articular de Antonio Roberto Peruchi Junior, fisioterapeuta credenciado ao CREFITO nº3/77.494-F. As inserções ao ambiente, as práticas sociais e as coletas de dados foram realizados duas vezes por semana, com aproximadamente uma hora de duração cada visita, no período de 28 de julho a 15 de setembro de 2008. Participaram desta investigação quatro pacientes assíduas freqüentadoras dos tratamentos fisioterápicos, sendo elas: Maria do Carmo, Rose, Adelma e Maria Cardoso, com 52, 52, 28 e 26 anos, respectivamente. O resultado da pesquisa ocorreu em quatro etapas descritas a seguir. 1ª etapa: Aproximação Foi estabelecida uma aproximação com as quatro mulheres em tratamento fisioterápico na clinica de fisioterapia, tendo como objetivo a apresentação da pesquisadora e da pesquisa, explicitando o objetivo de investigação, bem como convidálas a participarem da mesma. A aproximação ocorreu de forma espontânea, na sala de fisioterapia, durante o tratamento; por meio de conversas e apresentação pessoal foi descrito o objetivo da investigação e assinado o consentimento livre e esclarecido (anexo 1). 2ª etapa: Inserção na prática social do grupo fisioterápico A inserção ocorreu de forma a possibilitar a integração ao ambiente de tratamento fisioterápico, onde não ficou apenas na observação, mas se estabeleceu um convívio na prática social. Enquanto a pesquisa estava sendo desenvolvida, a pesquisadora esteve realizando tarefas de ajuda ao fisioterapeuta, participando efetivamente das conversas ali estabelecidas. Os dados apresentados nas conversas, histórias de vida, narrativas, entre outras, pertinentes à pesquisa, foram registrados em diário de campo para posterior análise. 3ª etapa: Entrevistas Foram realizadas entrevistas individuais com as quatro pacientes do grupo em tratamento fisioterápico no mesmo local das inserções. As entrevistas visaram aprofundar as seguintes questões definidas à priori: 24 • O que é ser mulher portadora de limitações e deficiências físicas na sociedade em que vivem? • Quais as maiores dificuldades que enfrentam? E como as superam? • Quais aprendizagem e ensinamentos ocorrem no tratamento fisioterápico e de que forma a convivência contribui para suas vidas? • Que contribuições traz para elas como mulheres a convivência na pratica social do tratamento fisioterápico? • Que medidas poderiam ser tomadas para aumentar os benefícios do tratamento fisioterápico para as portadoras de deficiências ou limitações físicas, seja no campo terapêutico, social, emocional e afetivo? 4ª etapa: Apresentação e discussão dos resultados com as participantes do estudo Os resultados da investigação foram apresentados e discutidos com as participantes do estudo para verificar a autenticidade dos mesmos, as quais puderam incluir, modificar ou retirar o que acharam necessário, respeitando a originalidade dos depoimentos. 25 3-RESULTADOS E DISCUSSÃO Para responder as questões de pesquisa propostas, neste capitulo serão apresentados os resultados e a analise de dados coletados, baseando-se nas informações obtidas nos depoimentos das próprias mulheres do grupo de tratamento fisioterápico, tanto nas entrevistas, como nas anotações do diário de campo. As participantes • Adelma Xavier Pereira A Adelma têm 28 anos e sua profissão é de cunho rural, atuando na área de silvicultura (reflorestamento), sendo casada e mãe de um menino de três anos de idade, chamado Guilherme. Sua patologia é de ordem ortopédica, conhecida como Síndrome do Túnel do Carpo, uma doença que ataca o sistema nervoso, ocorrendo quando o nervo mediano localizado na região do punho é comprimido por um processo, em geral, inflamatório. • Maria Aparecida Cardoso da Silva A Maria Aparecida têm 26 anos, sendo solteira e não tem profissão, pois recebe beneficio por invalides do Instituo Nacional de Seguridade Social (INSS), além de desenvolver trabalhos como voluntária na Associação dos Deficientes Físicos de Ibaté (ADEFI), onde presta ajuda em todas as atividades existes nessa associação, como por exemplo: pintura em tela, artesanato, computação e fisioterapia. Sua patologia é de ordem neurológica, denominada paralisia cerebral, proveniente de lesão não progressiva do Sistema Nervoso Central imaturo. • Maria do Carmo Belli A Maria do Carmo têm 52 anos, solteira e não tem filhos, sendo aposentada por invalidez pelo INSS. É portadora de uma deformidade física, cuja doença não apresenta um único diagnóstico, onde está associada ou desencadeia outras enfermidades. No caso da Maria do Carmo, essa deformidade ocasionou a osteoporose de ordem reumática, doença que eleva a possibilidade de fratura, principalmente quando as cargas aplicadas ultrapassam a capacidade óssea do indivíduo doente. 26 • Rose Marie Raffa A Rose têm 52 anos, solteira, mãe de quatro filhos, e exerce as atividades domésticas. Sua patologia é de ordem respiratória, denominada Enfisema pulmonar, doença geralmente ocasionada pelo tabagismo, onde são prejudicadas as trocas gasosas inerentes ao pulmão. As respostas das mulheres nas entrevistas realizadas demonstraram uma preocupação entre as envolvidas, principalmente no que diz respeito ao interesse mútuo em respeitar um ao outro, aprender com a dor do outro e com os problemas particulares de cada um, propiciando a valorização do ser humano como integrante da sociedade, formando laços de solidariedade. As integrantes da pesquisa estabeleceram relações de amizade e de confiança, as quais ultrapassaram as relações que normalmente ocorrem entre paciente, médico e funcionários, onde foi priorizado o respeito às diferenças de cada uma. Nos relatos, elas indicaram que aprenderam e também ensinaram, e que somente se deram conta da existência dos processos educativos na discussão dos dados obtidos na pesquisa, pois jamais haviam percebido a existência dos mesmos no dia-a-dia. Os dados coletados foram analisados nas seguintes categorias temáticas: • Percepções sobre o ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas; • A convivência na prática social no tratamento fisioterápico; • O que aprendem e o que ensinam. 3.1-Percepções sobre o ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas. Para as participantes desta pesquisa, fica evidente que ser o ser mulher é algo complicado e desafiador. Esses sentimentos ocorrem, pois além de sofrerem com as limitações de suas patologias, enfrentam muito preconceito e constrangimento na maioria dos ambientes sociais em que freqüentam. Durante as entrevistas, quando foi 27 perguntado “o que é ser mulher portadora de limitações e deficiência física”, elas disseram: • “As dificuldade existem e a gente tem que superar a deficiência...”. “Ah, eu tenho que superar e seguir em frente” (Adelma). • “Muito difícil, porque, por incrível que parece, existe o preconceito das pessoas, dos homens, ainda tem.” (Maria Cardoso). • “Como mulher, hoje em dia eu não sei mais se sou mulher, já passei da idade”. “A gente só vai tropeçando, caí, levanta de novo, vai se virando sozinha e ninguém nem está ai pra gente. Só que a gente se adapta, a gente se adapta, e isso se torna parte do dia-a-dia. A gente vai levando, tem outras coisas boas na vida. A gente olha pro outro lado, olha pra trás, vai se virando.” (Maria do Carmo). • “Eu acho que é duro, é duro à gente ter problema. Porque é tudo muito difícil para gente também, é muito difícil.” (Rose). Nos registros do diário de campo a partir das conversas nos grupos de tratamento fisioterápico podemos observar que para Adelma, além da dor intensa e dificuldade em efetuar as tarefas domésticas, a doença a impede de trabalhar. Relatou que estava afastada do trabalho, e que havia realizado alguns exames, os quais seriam analisados pelo médico perito do (INSS). A Maria do Carmo ressaltou ainda que, o tratamento fisioterápico não só faz bem para seus problemas de saúde, mas também para a alma, pois ali se troca muita experiência, e as conversas a distraem muito, se constituindo num momento de descontração, além do que, o ambiente da clínica favorece a conquista de novas amizades. Para Maria Cardoso, sua limitação em algumas atividades, como por exemplo, nas tarefas domesticas, não é reconhecida pela família como doente, no entanto a limita para outras atividades fora do ambiente, como relata na fala a seguir: “... é isso mesmo, lá em casa eu só presto para limpar a casa, minhas irmãs não ajudam, e quando quero sair ou comprar algo, viver minha vida, ai eu sou doente e não posso fazer, e isso me dá uma raiva”. Com relação à vida afetiva, as mulheres apresentaram uma dificuldade em relacionamentos amorosos e atribuíram esse fato à suas limitações, como mostra a fala a seguir: “Pra nós deficientes já é complicado arrumar namorado e além do mais o mundo ta assim, uma parte é comprometido, uma parte não presta e a grande parte é tudo viado (homossexual)”. “Homem mesmo que vale a pena, que presta é algo raro imagine só pra gente, assim como eu e a Maria, nós não conseguimos ninguém mesmo, ninguém quer, 28 não é Maria? Se para as mulheres normais já está difícil arrumar um homem que presta se imagine o resto”. Entretanto, apesar de todas as mulheres afirmarem sobre a dificuldade de ser mulher na sociedade em que vivem, sendo esse fato mais acentuado nas pacientes com limitações ou deficiências, todas as pacientes declararam que lutam e buscam superar as suas dificuldades, como mostra os depoimentos a seguir: • “Mas a gente tem que superar e não pode se entregar à deficiência.” “Não estava dando tempo nem pra mim, somente pro trabalho, pois eu achava que tinha que dar rendimento e não podia ficar fazendo corpo mole, como todos achavam, só pensava no trabalho, mais superei isso e hoje penso primeiro no bem estar e faço as coisas da maneira que posso, sem comprometer minha saúde.” (Adelma). • “Acho que é mostrar que eu sou capaz como qualquer pessoa, que eu posso fazer tudo o que os normais fazem, e a maioria acha que não é possível, e eu supero isso fazendo tudo o que eu quero e posso fazer.” (Maria Cardoso). • “Eu não sou muito de levar tristeza pra cama, pra dentro de casa. Eu saio preparada, às vezes nem me atinge, se atinge eu resolvo ali mesmo, e assim vai.” (Maria do Carmo). • “Eu superei tudo isso tomando meus remédios e fazendo fisioterapia. Ai minha vida melhorou muito, porque agora eu limpo minha casa, lavo minha área, coisas que antes eu não podia fazer que eu cansava, se eu fosse daqui ali ao portão eu já tava cansada, é o sintoma da doença.” (Rose). Esses depoimentos constatam que essas mulheres buscam sua autonomia, pois almejam encontrar a melhor maneira de viverem e conviverem com as respectivas enfermidades, não sendo essas doenças, empecilhos para serem agentes ativos, integrantes na sociedade. Dessa forma, as pacientes permanecem lutando para superarem as limitações impostas por suas patologias, assim como aquelas geradas pela sociedade por meio de diversos preconceitos. Nesse sentido, essas mulheres buscam valorização e respeito, sendo que desejam a aceitação na sociedade em que vivem, e que esse meio social não imponha limites para que elas possam demonstrar suas habilidades e capacidades, pois amam, sofrem, vencem, além de serem pessoas abertas a amizades duradouras. São mulheres repletas de significados, e esses são formados por inúmeras lições de vida, companheirismo e acima de tudo, determinação e superação. Como diz Paulo Freire (1996), a autonomia e a dignidade é direito de cada individuo, pois as diferenças existem e temos que respeitalás, ou seja, qualquer discriminação é imoral e temos que lutar contra ela, sempre. 29 “O respeito à autonomia e á dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que pudemos ou não conceder uns aos outros. (...) È nesse sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que os sujeitos, dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos. É preciso deixar claro que a transgressão da eticidade jamais pode ser vista como virtude, mas como ruptura com a decência. O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lê o quê, mas se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas ou históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branguitute sobre s negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar.” (FREIRE 1996, p. 60-61). Afirma-se que para estas mulheres, as percepções sobre o ser mulher portadora de limitações ou deficiência física são compostas de luta e constante superação, principalmente diante das dificuldades impostas pela sociedade atual, e que também se reflete na forma em que as próprias famílias destas mulheres vêem a deficiência ou limitação apresentada por elas. 3.2-A convivência na prática social no tratamento fisioterápico Nesta categoria temática observou-se que no espaço social analisado, a convivência estabelecida entre as integrantes, gerou conhecimentos significativos às mulheres envolvidas no estudo. Tanto nas entrevistas, quanto nas conversas, as pacientes demonstraram imensa satisfação em estarem naquele ambiente, relatando que suas vidas mudaram bastante depois do inicio do tratamento fisioterápico. Evidenciou-se um contentamento por parte dessas pacientes, no que diz respeito à integração na prática social estudada. Esta prática permitiu que as mulheres fossem auxiliadas, não somente na questão de suas patologias, mas principalmente, como seres humanos, ou seja, como indivíduos da sociedade, principalmente por serem acolhidas e respeitadas por todos os envolvidos no tratamento fisioterápico. Percebeu-se que o convívio no ambiente do tratamento, possibilitou que essas mulheres se sentissem relaxadas e descontraídas, vivendo um momento singular, no qual podiam cuidar de si mesmas. As falas a seguir ilustram essa constatação. • “O convívio foi muito bom, foi de grande ajuda. Conhecer as pessoas”. “Elas são pessoas especiais pra gente, essas pessoas têm o que oferecer, elas 30 têm tanta coisa de bom, que às vezes a gente tem um probleminha e você pára para escutar aquela pessoa e você acaba percebendo que o seu problema não é nada, e nem pode considerar aquilo como um problema. Perto de uma deficiência auditiva ou visual, nossa perto da deficiência do corpo delas, como elas superam, você vê, elas fazem tudo dentro de casa, elas não se entregam, são um exemplo de vida e superação.” (Adelma). • “Além do que eu aprendo, eu dou valor, sei a dar valor pra mim, para minha vida. Entendo e sei que sou mulher, aprendo muita coisa, converso, sei lidar com a vida.” (Maria Cardoso). • “Como pessoa sim, como ser humano, isso me faz muito bem, me puxa muito pra frente, é uma coisa muito boa.” (Maria do Carmo). • “A convivência é muita boa, eu aprendi e ensinei muito, em todos os sentidos.” (Rose). Nesse contexto, o tratamento fisioterápico em questão, aliado ao convívio social gerado durante a prática do mesmo, se refletiu de maneira positiva na vida emocional destas mulheres, pois enquanto ocorria o tratamento das doenças ou limitações, os diálogos entre as integrantes deste processo promoviam o bem estar das mesmas. Vale ressaltar que o ambiente da clínica favoreceu os laços de amizade e companheirismo, como se nota no depoimento abaixo: • “Eu costumo levar a fisioterapia, além de fazer bem para o meu corpo para mente, tudo, mexe também com o meu lado emocional, eu converso, eu tenho o Jú não só como meu fisioterapeuta mais também como meu amigo que eu posso contar, pra tudo. E nessa convivência eu aprendi a dar valor pra mim, a superar certos obstáculos, sei lidar com algumas situações, mesmo porque de uma forma ou de outra aqui é uma maneira deu desabafar também às vezes, e ai eu aprendo muito também.” (Maria do Carmo). A convivência também foi importante para Rose no abandono do tabagismo, pois as colegas a incentivaram a abandoná-lo, como mostra a fala a seguir: • “Era uma tosse que às vezes me sufocava, e isso se agravava para dormir”. Durante a nossa conversa, a Maria do Carmo disse: “Olha, eu acompanhei tudo, porque quando ela começou a fazer fisioterapia com o Junior eu estava presente em todas elas, era uma tosse horrível. Eu pegava no pé dela para ela parar de fumar, não é mesmo Dona Rose? Dava agonia de ver ela tossindo daquele jeito, mais peguei tanto no pé dela que ela parou de fumar, não foi mesmo”? (Rose). Desta forma podemos dizer que a convivência estabelecida na prática social durante o tratamento fisioterápico, promoveu melhorias, tanto com relação às patologias 31 apresentadas, quanto com relação ao bem estar emocional das pacientes. A convivência é o ato de conviver, de estar junto, de relacionar-se, de dar sentido às coisas e atitudes, ou seja, promover a afetividade e conhecimentos, como afirma Oliveira e Stotz. “Conviver é estar junto, olhar nos olhos, conversar frente á frente [...] é a arte de se relacionar, dá intensidade à relação, sabor ao fazer e gera afetividade e saber [...] conviver se aprende convivendo e para essa convivência há algumas moedas: simpatia, confiança, humildade, sensibilidade, respeito, flexibilidade em relação aos tempo”. (2004, p. 15). 3.3-. O que aprendem e o que ensinam O ensinar e aprender é um processo natural no ser humano, onde homens e mulheres, mesmo sem intenção, acabam promovendo o processo de ensino e de aprendizagem, e esse está relacionado às suas concepções de vida, costumes e crenças. As mulheres participantes deste trabalho relataram o que aprenderam e ensinaram na prática social do tratamento fisioterápico, pois aprenderam a importância da fisioterapia para a qualidade da sua vida, que é um tratamento lento e continuo, além de aprenderem mais sobre as respectivas enfermidades. As pacientes aprenderam a se valorizar como pessoa, fato que auxiliou a superação das dificuldades decorrentes da limitação, além de serem mais solidárias, como mostram as falas a seguir: • “Eu aprendi que tem que ser devagar, a fisioterapia é um tratamento lento, mais ela trata sim, quando as pessoas têm a possibilidade de ter um tratamento um ano pode ser, ela ajuda bastante. E pra mim ela contribui bastante. Fez um bem enorme, ela me fez relaxar. Eu não estava conseguindo relaxar e aqui eu consegui esse relaxamento e como pessoa eu posso dizer que aprendi bastante, porque tudo a gente não aprende, mais eu aprendi bem, como pessoa e também com as pessoas que a gente convive, as pessoas que entendem e que nos entende, que estão estudando como você, a gente aprendendo no dia-a-dia.” (Adelma). • “Além do que eu aprendo, eu dou valor, sei a dar valor pra mim, para minha vida. Entendo e sei que sou mulher, aprendo muita coisa, converso, sei lidar com a vida”. (Maria Cardoso). • “Você vai acabando resolvendo seus problemas, vai aprendo a ser segura, vai aprendo a sei lá, botar os pontos nos “is”. Vai ficando experiente, vai amadurecendo no problema que agente tem né. A gente vai tirando as dúvidas, porque às vezes a gente vê gente pior que a gente, a gente vai aprendendo.” (Maria do Carmo). 32 • “O que eu aprendi aqui é sobre minha doença, essas coisas, entendeu. Como me livrar dos sintomas e isso melhorou minha vida, meu dia-a-dia.” “... eu aprendi e ensinei muito, em todos os sentidos.” “Vir aqui, além de me fazer bem para minha doença, me distraio e aprendo coisas novas”. (Rose). Durante as conversas, verificou-se que o tratamento fisioterápico possibilitou às pacientes, um aprendizado transferido para o cotidiano de cada uma delas. Por exemplo, a Adelma salientou que, com a fisioterapia, aprendeu a ter postura até mesmo em casa, procedimento que alivia as suas dores, além de realizar exercícios mesmo nos dias em que não há tratamento, o que a auxilia a ter uma melhor condição de vida. Na prática social do convívio no tratamento fisioterápico se desencadearam inúmeros processos educativos, e esses além de promoverem conhecimentos sobre amenização da sintomatologia da patologia, proporcionaram às pacientes, saberes que envolveram desde experiências de vida, companheirismo e solidariedade, até ajuda mutua entre as mesmas. Os processos educativos favoreceram a humanização dessas mulheres, e de todas as pessoas que conviveram nesse ambiente ao proporcionar a troca de conhecimentos e experiências. “... processo educativo é a interação, troca e intersubjetividade que ocorre quando os indivíduos estão se relacionando uns com os outros podendo, neste processo ocorrer aprendizagens individuais e coletivas. Assim considerado podemos registrar que, independente do local onde as pessoas estejam, há um processo educativo sendo desenvolvido de forma permanente”. (TORRES, 2005, p.28). Os processos de ensino e de aprendizagem proporcionaram a estas mulheres a possibilidade de aprenderem a valorizarem-se como mulheres, e a buscar formas de superação das dificuldades apresentadas, principalmente no fato de ensinar e aprender umas com as outras. “Não existe ensinar sem aprender”; “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”; “Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. (FREIRE,1996, p. 25). Contudo, o que se pode observar durante toda a pesquisa foi que ser mulher portadora de limitações e deficiência física é algo extremamente complexo e difícil, principalmente diante da nossa sociedade. Apesar de serem conscientes das suas limitações, se observou uma luta diária por parte dessas mulheres, no que diz respeito à tentativa de se inserirem na sociedade, revelando serem pessoas capazes e autônomas, 33 com poder de superação e realização de diversas tarefas, além de controlarem suas próprias vidas. A convivência observada nessa prática social promoveu saberes e ensinamentos as suas participantes, desencadeando um ambiente de harmonia, satisfação e humanização, onde não era considerada a aparência física das pessoas, posição social, financeira ou sua formação cultural, mas sim, os sentimentos intrínsecos a cada uma das integrantes. As mulheres valorizaram as amizades que ali se estabeleceram, cultivaram lições de vida, respeito e amor ao próximo, e assim promoveram situações de ensino e de aprendizagem. Vale ressaltar que a conquista de uma sociedade mais igualitária ocorrerá calcada na valorização do interior de cada um dos seus integrantes, desconsiderando-se seus bens materiais e aparências físicas. A limitação está na sociedade e não nas pessoas. 34 4-ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A convivência durante o tratamento fisioterápico proporcionou uma melhoria na qualidade de vida de cada uma das mulheres participantes, além de colaborar com a superação diante das dificuldades encontradas por elas na sociedade. A convivência entre as envolvidas nas pesquisas se deu de maneira espontânea, prazerosa e repleta de significados. A prática social do tratamento fisioterápico proporcionou a troca de saberes, não somente com relação às patologias apresentadas, mas também no que diz respeito ao ser mulher, onde as pacientes, por meio de trocas de experiências, se tornaram mais fortalecidas como mulher. A prática mencionada aqui, possibilitou ainda, o surgimento de vínculos afetivos e solidários entre as pacientes. Para as integrantes da pesquisa, o ser mulher é encarado como sendo algo complicado e difícil, sendo mais acentuado para elas em função de serem portadoras de limitações ou deficiência físicas. Contudo, as pacientes destacaram que lutam diariamente para a superação dessas dificuldades, e que se valorizam e se respeitam, relatando que têm muito a contribuir para a formação de uma sociedade mais justa e, principalmente, sem preconceitos. Diante das desigualdades observadas nos diferentes âmbitos sociais, o educador pode promover uma educação digna e com qualidade, reconhecendo as diferenças sociais e pessoais dos seus educandos, desfazendo preconceitos, valorizando cada individuo e os seus saberes. O/A pedagogo/a deve almejar uma educação justa e igualitária, considerando as relações de gênero, de classe social, cultura, raça/etnia e geracional entre os indivíduos. Ser educador é saber aproveitar todo e qualquer conhecimento presente à sua volta, fazendo desse, uma ferramenta para se obter uma educação mais condizente com a realidade social do meio em que vive. Este trabalho contribuiu de forma decisiva na minha formação pedagógica, mostrando que o trabalho do pedagogo\a, vai além da prática no âmbito escolar, pois os processos educativos podem ser identificados em diferentes ambientes, em todo o momento, e nas mais diversas situações. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONNER JR, F.J.; FITZSIMMONS, A.; CHESNUT III, C.D.; LINDSAY, R. Osteoporose. In: Tratado de Medicina de Reabilitação - princípios e práticas. vol. 2; 3ª ed. Editora Manole Ltda. Barueri, SP. 1ª edição brasileira 2002, p. 1527-1550. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. 8ª edição. São Paulo, SP: Cortez editora, 2006, p. 77-88. DELISA, J.A.; CURRIE, D.M.; MARTIN, G.M. Medicina de Reabilitação: Passado, Presente e Futuro. 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Posteriormente será realizada uma entrevista com cada uma delas, onde será abordado o conteúdo da pesquisa, seus objetivos e questionamentos, e diante do exposto, obter a concordância das pacientes em participar do estudo. Sendo assim, o fisioterapeuta Antonio Roberto se comprometeu em definir uma data com as quatro possíveis pacientes, escolhidas a priori para participarem do estudo. • 30/07/2008 Nesse dia, me apresentei às quatro pacientes, mostrando também, o projeto de pesquisa, diante do qual elas seriam inseridas. Ressalto que foi apresentado às pacientes, o mesmo projeto encaminhado e aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal de São Carlos, sob orientação da Professora Ainda Victória, Doutora do Departamento de Metodologia de Ensino dessa mesma entidade de Ensino. Durante a apresentação do estudo proposto, inicialmente, tomei a precaução de conscientizar as pacientes que o projeto não ocasionaria nenhum constrangimento ou dano à saúde das mesmas. Em seguida, mostrando a seriedade da pesquisa, alertei às pacientes que a divulgação de seus nomes verdadeiros, assim como possíveis imagens e informações pessoais, ocorreria somente após assinarem um termo de consentimento, onde esse foi inserido no projeto apresentado. Diante o exposto, e sanadas as duvidas e curiosidades, as quatro pacientes concordaram em participar da pesquisa. Seguem identificadas: Maria do Carmo, a qual possui um atrofiamento generalizado em toda musculatura, culminando em um grau acentuado de artrose (osteoartrose); Adelma, portadora da Síndrome do Túnel de Carpo; Maria Cardoso que sofre com a Paralisia Cerebral; e a Rose, vítima de Enfisema Pulmonar. Dentre as indagações proferidas pelas pacientes, uma chamou bastante à atenção, pois fui indagada da necessidade de se deslocarem até a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Com o intuito de instigar a vontade delas, levantei a hipótese dessa visita, e diante do fato, o grupo ficou dividido, sendo que algumas pacientes demonstraram inibição diante dessa possibilidade, afirmando que “tinham vergonha”, e em contra partida, outras ficaram animadas diante dessa idéia. Contudo, após o término da apresentação do projeto, indaguei às pacientes o que acharam do trabalho a ser desempenhado no ambiente da clínica, considerando que elas fazem parte desse ambiente. Afirmaram que achavam muito interessante as intenções da pesquisa, salientando a satisfação que irão ter ao fazer algo que poderá contribuir para ajudar outras pessoas. Sendo assim, ficou agendado que as nossas reuniões serão realizadas todas as segundas e quartas-feiras, das 16h00min às 17h00minh, exceção feita à Maria do Carmo e a Rose, as quais participarão uma vez por semana, na segunda-feira e quarta-feira, respectivamente. • 04/08/2008 Nesse dia, compareceram ao tratamento a paciente Maria Cardoso e Adelma. Ressalvo a atitude da Maria do Carmo, a qual ligou avisando que não iria comparecer, pois acompanharia sua mãe ao médico. Percebi que hoje as integrantes do grupo estavam um tanto quanto acanhadas, talvez por ser o primeiro dia da minha inserção no ambiente, e isso certamente, gerou certo constrangimento, e diante do fato, tentei ser o mais natural possível. Com o passar do tempo, as pacientes em questão ficaram mais à vontade, e a nossa conversa ficou mais agradável, sendo que fisioterapeuta também contribui para que isso ocorresse, ou seja, fez o possível para deixá-las à vontade, proporcionado um descontraído bate papo. O fisioterapeuta Antonio Roberto ministra seções de hidroterapia em uma academia de natação localizada também na cidade de Ibaté, e a paciente Maria Cardoso participa. Ele perguntou à Maria Cardoso se a mesma havia melhorado, pois na semana anterior havia passado mal durante uma das seções, e ela respondeu que achava que sua pressão tinha caído. Então, perguntei o que ela sentiu, e ela afirmou que teve tontura e com a visão embaçada, e que foi muito ruim, alegando que ficou muito assustada, pois achou que iria se afogar diante do mal estar. A Adelma perguntou se eu iria me formar este ano, e para que serviria a pesquisa que eu estava realizando na clínica. Expliquei que este é um trabalho de conclusão de curso, o qual tem como objetivo principal, o aprofundamento do conhecimento em determinado assunto, e que a pesquisa realizada na clínica faz parte deste contexto, e servirá para conhecer melhor as pessoas que possuem deficiências e limitações físicas, e o que aprendem e ensinam nesse ambiente. Aproveitando a pergunta, expliquei a Adelma o que são processos educativos, onde e como ocorrem, não sendo limitada à sua ocorrência somente no ambiente escolar. Salientei que suas experiências, sejam elas relacionadas ou não à patologia, sempre geram conhecimentos, aprendizados, e que todos ali promovem e participam dos processos de ensino e de aprendizagem. Diante disso, questionei a Adelma a respeito da sua patologia, e quais eram as dificuldades acarretas pela enfermidade na sua vida, e ela respondeu que, além da dor intensa e dificuldade em efetuar as tarefas domésticas, a doença a impedia de trabalhar. Relatou que estava afastada do trabalho, e que havia realizado alguns exames, os quais seriam analisados pelo médico perito do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) na próxima terça-feira. Nesse dia, a Adelma entregou os exames referidos acima, e os mostrou para o fisioterapeuta para que ele analisasse, pois o médico não tinha lhe informado de maneira clara. Sendo assim, o fisioterapeuta analisou os exames, e com muito cuidado e paciência, revelou detalhadamente os resultados apresentados nos mesmos. A Maria Cardoso ficou muito quieta nesse dia, e me revelou que estava um pouco assustada pelo fato de ter passado mal na hidroterapia, e que na noite anterior não havia dormido bem. • 06/08/2008 No dia de hoje, participaram da pesquisa as pacientes: Maria do Carmo, Adelma e Rose. Comparando-se com a inserção anterior, hoje as pacientes se apresentaram mais descontraídas e confortáveis com relação a minha presença na sala de fisioterapia. O fato de ficarem inibidas nas primeiras reuniões pode ser encarado como normal do ponto de vista comportamental, pois querendo ou não, mesmo sabendo da pesquisa, elas sabem que eu estou ali para observá-las, analisar suas atitudes, comportamentos e pensamentos. Por ser a primeira participação da Rose na pesquisa, naturalmente se observou certa curiosidade por parte dela a respeito da pesquisa, principalmente com relação a seus objetivos e como a mesma seria realizada. Respondi a todas as questões com muita paciência e dedicação, e aproveitei para indagá-la sobre sua patologia, a qual apresenta enfisema pulmonar desenvolvido pelo uso do tabagismo. Relatou que antes de iniciar o tratamento fisioterápico mal consegui arrumar a casa, pois não conseguia caminhar um quarteirão, e sentia uma grande falta de ar, tendo a impressão que iria morrer sufocada. Nesse meio tempo, a paciente Adelma conformou que após o inicio do tratamento fisioterápico, melhorou significativamente com relação a sua patologia, a Síndrome do Túnel de Carpo, a qual gera muitas dores na sua costa, braço e mão direita. Afirmou que não conseguia realizar seus afazeres domésticos, e que após o tratamento, apesar de executar suas atividades de forma lenta, se sente muito melhor com relação às fortes dores. Salientou que, com a fisioterapia, aprendeu a ter postura até mesmo em casa, procedimento que alivia as suas dores, além de realizar exercícios mesmo nos dias em que não há tratamento, o que auxilia também em uma melhor condição de vida. A Maria do Carmo ressaltou ainda que, o tratamento fisioterápico não só faz bem para seus problemas de saúde, como também para a alma, pois ali se troca muita experiência, e as conversas a distrai muito, se tratando de um momento de descontração, sem contar que o ambiente da clínica é propício para a conquista de amizades. • 18/08/2008 Hoje participaram da seção fisioterapia as seguintes pacientes: Adelma, Maria do Carmo e Maria Cardoso. Como a Maria Cardoso estava com baixo astral, calada, perguntei a ela o porquê daquele desanimo, e foi então que ela me relatou que não havia dormido bem na noite passada, e, além disso, estava muito cansada, pois no sábado fez faxina na sua casa, uma vez que no domingo seria o chá de bebe da sua irmã. Comentou que recebeu parentes para passar o fim de semana, e teve que dormir no sofá, daí o fato de ter dormido direito, e esse era o motivo de seu cansaço. Além disso, estava irritada, pois disse que seus parentes são “folgados”, não ajudam em nada e que só fizeram bagunça. “Só sei que estou só o pó. Não vejo à hora de poder dormir; estou mesmo muito cansada”. Salientou da sua felicidade a respeito do nascimento da sua primeira sobrinha, e estava feliz da vida com isso. Continuando a conversa com a Maria Cardoso, indaguei sobre um conflito familiar que ela havia me relatado em uma pesquisa anterior, onde a paciente revelou que a sua mãe e seu irmão estavam em atrito para decidir com que ela iria morar. Segundo a Maria Cardoso, essa briga ocorria devido a sua aposentadoria, onde revela: “Pára limpar a casa eu sou normal, mas para cuidar de minha própria vida não”. Contudo, ela disse que a situação está amenizada, pois as discussões cessaram um pouco, e que um dos fatos contribuintes para isso, recalca no fato de que ela deixou de conviver com uma suposta amiga, a qual, segundo a própria Maria Cardoso, a incentivava a brigar com sua família, e ao mesmo tempo queria que ela fosse morar junta com ela. “Ela pensava que eu era boba, ela só queria isso porque queria meu dinheiro, porque eu dava muitas coisas pra ela”. Ela salientou ainda: ”Eu sempre te avisei, as pessoas pensam porque somos deficientes, não somos capazes te tomar nossas próprias decisões e que somos incapazes de tomar contar de nossas vidas”. Indaguei à Maria do Carmo se o seu pai já havia aceitado a contratação de uma pessoa para auxiliá-la com os serviços da casa, pois em pesquisa anterior, ela havia me revelado que a sua médica lhe aconselhou a reduzir sua rotina diária de trabalhos domésticos, fato que estava agravando o estágio da doença. De acordo com a paciente, o seu pai ainda não aceitou a idéia, e que seu relacionamento com ele é muito conturbado, mas se relaciona de forma maravilhosa com sua mãe. “Não me prepararei ainda para a partida da minha mãe, nem consigo imaginar minha vida sem ela, ela é tudo para mim”. Ainda nesse contexto, a Maria do Carmo fez uma revelação importante. Afirmou que enxerga um empecilho para aceitar que alguém a ajude na realização das tarefas do lar, assim como em outros afazeres. “Tenho que voltar a fazer terapia para aceitar alguém fazendo meu trabalho”. Então a indaguei se já havia feito terapia: “... fiz há certo tempo para me aceitar e aprender a fazer com que o outro me aceite”. Prosseguindo com a conversa, perguntei a Maria do Carmo se sofria muito preconceito, e ela respondeu: “Hoje não mais. As pessoas estão mais instruídas e se alguém vem com preconceito achando que não dou conta do recado, eu dou uma lição a essa pessoa e contorno a situação. O maior problema é com os familiares, pois acham porque somos deficientes não somos capazes de realizar algo ou tomar decisão. Veja bem meu caso. Meu pai não aceita uma opinião minha, se eu falo algo e um dos meus irmãos que são normais falam o contrario, ele vai na deles, meu pai não me respeita. E isso eu acho que acontece com a Maria também, não é?”. A Maria Cardoso respondeu: “... é isso mesmo, lá em casa eu só presto para limpar a casa, minhas irmãs não ajudam, e quando quero sair ou comprar algo, viver minha vida, ai eu sou doente e não posso fazer, e isso me dá uma raiva”. A Maria do Carmo complementou: “Eu gosto muito do que eu faço, adoro cuidar da casa e de tudo, é difícil eu aceitar que alguém faça isso por mim, já a Maria não curte muito isso não é Maria?” E ela revelou:” Não gosto muito não”. • 20/08/2008 No dia de hoje estiveram presentes no tratamento fisioterápico: Maria do Carmo, Adelma e Rose. Em conversa com a Rose, a mesma me disse que ao começar o tratamento fisioterápico ainda fumava, o que esse vício era muito prejudicial à doença, e que devido a isso, tossia demais. “Era uma tosse que às vezes me sufocava, e isso se agravava para dormir”. Durante a nossa conversa, a Maria do Carmo disse: “Olha, eu acompanhei tudo, porque quando ela começou a fazer fisioterapia com o Junior eu estava presente em todas elas, era uma tosse horrível. Eu pegava no pé dela para ela parar de fumar, não é mesmo Dona Rose? Dava agonia de ver ela tossindo daquele jeito, mais peguei tanto no pé dela que ela parou de fumar, não foi mesmo”? Continuando o assunto, a Rose respondeu: “O tratamento me ajudou a tomar a decisão de parar de fumar, aqui as pessoas me ajudaram a tomar ainda mais consciência da precisão de eu parar de fumar, além do que eu não era mulher de fazer mais nada, não trabalho fora, só mesmo em casa mais nem isso eu consegui fazer mais, nem mesmo sair para comprar algo, isso era um sacrifico. Hoje sou outra mulher, não tenho mais tosse, não tenho mais dores e falta de ar, e sou bem mais disposta. Vir aqui, além de me fazer bem para minha doença, me distraio e aprendo coisas novas”. Nesse dia, a paciente Adelma levou seu filho de três anos junto no tratamento fisioterápico, e todos ficaram encantados com o menino, cujo nome é Guilherme. Como o menino não tem uma dicção satisfatória, o torna uma criança engraçada, pois se expressa como uma criança de 1 a 2 anos de idade. Dessa forma, alertei a Adelma para que estimule seu filho a falar corretamente, e caso não obtenha sucesso, procure um fonoaudiólogo, pois não é comum uma criança com três anos falar como um bebe. A Maria do Carmo ficou conversando e brincando com o menino, enquanto o fisioterapeuta aplicava as devidas massagens em sua caixa torácica. O procedimento consiste em apertar e puxar o local massageado, dando a impressão de que se está lesando a região apalpada. Nesse meio tempo, o menino ficou bravo, acreditando que fisioterapeuta estava machucando a Maria do Carmo. Durante as conversas, a Adelma me perguntou se eu não queria ter outro filho, e quando afirmei que não, todas as pacientes da sala ficaram surpresas, e tentaram me convencer do contrário. Até mesmo a Maria do Carmo que nunca se casou e não tem filhos, queria me convencer de toda maneira que devo ter outro bebe, pois acham inadmissível eu não querer ter outro filho. Nesse contexto, a Adelma revelou que está pensando em ter outro bebe. “Estou esperando eu melhorar dos meus problemas para eu ter outro, o Gui pede um irmão, e também conforme ele vai ficando grande a gente sente saudade e quer ter outro”. A conversa persistiu nesse sentido até o fim da sessão. • 25/08/2008 Estavam presentes na sessão de fisioterapia as seguintes pacientes: Maria do Carmo, Maria Cardoso e Adelma. Quando cheguei à clínica, todas se encontravam na sala de tratamento, e ao cumprimentá-las, perguntei como tinha sido o seu final de semana. A Adelma respondeu dizendo: “Sossegado, tudo tranqüilo”. A Maria Cardoso, em plena juventude dos seus vinte e seis anos, se queixou dizendo que não fez nada de interessante, e que além da cidade de Ibaté não ter nada para se fazer, sua mãe implica quando ela sai de casa. “Foi uma chatice, um tédio, mais tudo bem”. Já a Maria do Carmo se mostrou, no dia de hoje, um pouco triste e quieta. Foi então que a indaguei o motivo daquele desanimo, e ela me respondeu que estava triste em função da morte do Sr. Carlito, uma pessoa muito respeitada e querida na cidade, que havia morrido na última sexta-feira, quando se envolveu em um acidente de trânsito, e por coincidência era professor da UFSCar. Ela me relatou que eles conversavam bastante, pois ele fazia corridas diárias no campo de futebol municipal no mesmo horário que faz suas caminhadas. “Vai ser complicado ir caminhar e não mais ver o Carlito. Ali estava um homem bom, simpático e amigo. A gente conversava bastante, vai ser muito esquisito não mais encontrar ele no campo. Se foi um grande homem”. Contudo, a conversa se voltou ao acidente, suas causas e conseqüências. Todos ali na sala estavam muito inconformados com a morte trágica daquele homem, onde um sentimento de indignação tomou conta da sala, sendo que as pacientes não conseguiam entender como algo tão brutal aconteceu. Ressaltou-se a preocupação com a viúva e com os filhos, e sentimentos de tristeza e de dor tomaram conta do ambiente. Como forma de descontração, perguntei à Maria Cardoso se a mesma já havia arrumado um namorado, ela ficou toda envergonhada disse: “É muito difícil arrumar um namorado, o mercado tá fraco, não to pegando ninguém, nem mesmo resfriado”. Nesse contexto, a Maria do Carmo afirmou: “Pra nós deficientes já é complicado arrumar namorado e além do mais o mundo ta assim, uma parte é comprometido, uma parte não presta e a grande parte é tudo viado (homossexual)”. Ao dizer isso a sala se alvoroçou, então perguntei o porquê desta afirmação, e ela respondeu: “Homem mesmo que vale a pena, que presta é algo raro, e imagine só pra gente, assim como eu e a Maria, nós não conseguimos ninguém mesmo, ninguém quer, não é Maria? Se para as mulheres normais já está difícil arrumar um homem que presta se imagine o resto. Sem contar que hoje em dia tem muito viado, é só você olhar para os lados que você vê. Hoje é assim os que não são viados, na sua maioria não presta, não vale nada, são tudo um bando de cachorro”. Então indaguei porque ela estava tão radical nesse dia, e ela respondeu: “Não sou radical, sou realista, pode perguntar pra quem você quiser, arrumar um namorado é algo muito difícil, eu já to velha, não do mais pra essa coisa mais”. A Maria pode confirmar o que estou dizendo, não é muito difícil alguém querer namorar você? “Há mais ou menos, eu ainda não perdi as esperanças” disse a Maria do Carmo, revelando “... é mais só se for alguém deficiente como nós, porque alguém normal será muito difícil, eu que o diga”. Tentei amenizar todas essas declarações, contudo, acredito que não apresentei argumentos convincentes às pacientes, e afirmaram que sabiam do que estavam falando, e que a vida dos deficientes é muito difícil, e que apesar dos preconceitos, eles (deficientes) têm que se aceitar e buscar a felicidade do jeito que podem. • 27/08/2008 Nessa quarta-feira, como de costume, estavam presentes na clínica a Maria do Carmo, a Adelma e a Rose, a qual realiza o tratamento somente nesse dia da semana, sendo que as pacientes foram chegando com o decorrer do tempo. A Rose, assim que entrou na sala de tratamento, perguntou ao fisioterapeuta Antonio Roberto se o mesmo havia trazido o seu queijo, pois o fisioterapeuta mora em uma propriedade rural, onde dentre outras atividades, sua mãe produz queijos frescos, sendo de costume levá-los para vender aos pacientes, os quais encomendam o produto com antecedência. Contudo, o fisioterapeuta respondeu que não havia trazido o queijo, pois como estamos na época da estiagem, o pasto se torna escasso para a alimentação dos animais, ocorrendo diminuição drástica na produção de leite, matéria-prima essencial para a fabricação de queijos. Contudo, o fisioterapeuta afirmou que traria o queijo na próxima semana. Entretanto, a Rose disse que não viria na sessão seguinte, e sendo assim, ele deveria trazer o queijo daqui a quinze dias, e aproveitou a conversa para informar ao fisioterapeuta que não irá comparecer ao tratamento na próxima semana, pois estará na cidade de Araraquara para resolver assuntos particulares. Após a etapa comercial, perguntei a Adelma qual era seu trabalho no viveiro de mudas, e foi então que ela informou que não trabalhava no viveiro de mudas, mais sim na plantação de eucalipto, afirmando: “Eu passo veneno nas mudas para matar as formigas”. Então indaguei se esse suposto esforço tinha causado seu problema, e ela respondeu: “Eu acho que sim, porque eu carrego 5 kg de veneno nas costas e vou aplicando assim (demonstrou o movimento), e só paro para carregar o tanque de aplicação e para comer”. Foi então que o fisioterapeuta nos explicou que ela já era portadora da enfermidade (Síndrome do túnel de carpo), e o excesso de peso e movimentos contínuos no trabalho contribuíram para que a doença se manifestasse mais cedo e com mais intensidade. A Maria do Carmo perguntou para a Adelma se ela havia conseguido o afastamento do trabalho, e ela disse que estava esperando, via correio, a resposta do INSS. A Maria perguntou ainda, se ela tinha intenção de voltar a trabalhar, uma vez que o serviço parecia ser tão pesado, e por isso, podia prejudicá-la ainda mais. Foi então que a Adelma respondeu que necessitava retornar ao trabalho, pois precisava do dinheiro: “Vamos ver no que dá, quando acabar o tempo isso é se eles me afastarem mesmo, volto a trabalhar. Se não agüentar me afasto de novo e vou indo até ver o que acontece”. • 01/09/2008 Hoje compareceram à clínica, as três pacientes que normalmente freqüentam o tratamento às segundas-feiras: Maria do Carmo, Maria Cardoso e Adelma. Como mencionado em diário anterior, a irmã da Maria Cardoso vai ter bebe, e por conta disso, uma moradora vizinha a clinica de fisioterapia, com muita amizade com todos ali presentes, veio tentar vender um pacote de fraldas (tamanho P) para a Maria Cardoso, indagando se ela não queria comprá-lo para sua sobrinha. Após a tentativa de venda das fraldas, perguntei a Maria Cardoso se ela era aposentada pelo INSS, pois tive a informação que ela não exerce nenhuma atividade remunerada, e ela respondeu afirmativamente. A partir desse momento, comecei a indagar como gastava seu dinheiro, e foi então que ela disse que metade dos seus benefícios entregava à sua mãe, pois havia algumas dividas que ela assumiu, pois, segundo ela: “se não a vaca vai pro brejo”. Posteriormente, a Adelma perguntou à Maria Cardoso se as suas irmãs também ajudavam em casa, e ela respondeu que não, somente ela ajuda, pois uma de suas irmãs trabalha, porém paga sua faculdade e o financiamento do carro, e a outra irmã que está grávida, não ajuda em nada, nem mesmo no ato de limpar a residência. Ela nos disse ainda que, devido à gravidez de sua irmã, sua mãe vive implicando com ela, e não a deixa sair de casa: “Minha mãe não quer que eu saia, só sabe implicar comigo; eu acordo às 06h00minmin da manhã, deixo toda a casa limpa, ela passa pano no chão só se quiser porque deixo tudo limpo, e mesmo assim implica por eu sair”. Então perguntei o porquê dessa atitude, e ela me disse não saber, afirmando: “Ela me trata como criança”. No fim da sessão, a Adelma me comunicou que hoje seria sua ultima fisioterapia, pois ela iria retornar ao medico, e não sabia se voltaria ao tratamento fisioterápico. Dessa forma, combinamos que se ela não retornasse às sessões, eu pediria para o fisioterapeuta que ao término das minhas inserções, agendasse com ela a entrevista para a conclusão da pesquisa. • 03/09/2008 Hoje normalmente participariam do tratamento fisioterápico as seguintes pacientes: Rose, Maria do Carmo e Adelma, sendo que nenhuma das três compareceu à clínica. No caso da Adelma, somente após o retorno ao medico ela saberá se irá continuar com o tratamento, e com relação a Rose, a mesma já havia comunicado a sua ausência na sessão anterior, e a Maria do Carmo teve que acompanhar sua mãe no médico. Diante do fato, nesse dia não houve coleta de dados. • 10/09/2008 Hoje estiveram presentes as pacientes Maria do Carmo e Rose. Foi um dia muito tranqüilo, sendo que a Rose não conversou muito, uma vez que o seu tratamento fisioterápico é de cunho respiratório, o que faz com que ela inspire e expire de acordo com os exercícios. Como eu estava trajada com a roupa de academia, a Maria do Carmo começou a brincar indagando se eu queria emagrecer. Respondi que sim, e que também estava fazendo regime por estar gorda, e ela então deu risada dizendo que eu queria sumir, pois sou magrinha. Disse a ela que queria perder gordura localizada, principalmente na barriga, brincando que foi herança da minha gravidez. Na sala de fisioterapia existe uma cadeira ergométrica, a qual eu estava utilizando, pois uma vez que interajo na seção, também pratico exercícios. Diante disso, a Rose me perguntou se andar de bicicleta emagrece, e eu disse que segundo o fisioterapeuta, esse exercício auxilia a perder peso. Nesse contexto, a Maria do Carmo disse: “Segundo o meu cardiologista andar de bicicleta na rua ajuda na circulação mais não emagrece”. Então retruquei, no bom sentido, afirmando que a prática do ciclismo contribui para perder peso quando agregada há uma dieta. Então ela afirmou que comer cuscuz emagrece porque esse alimento não engorda. O fisioterapeuta interveio no diálogo, afirmando ser um absurdo o fato de uma pessoa que se alimenta de cuscuz venha a emagrecer, pois se trata de um alimento feito de pura farinha de milho. Ficamos um bom tempo nessa discussão, contudo eu disse à Maria do Carmo que não gosto de cuscuz, e o assunto foi encerrado. “Na verdade você não precisa emagrecer nada, está muito bem assim, você está reclamando de barriga cheia”, me em seguida a Rose, e a Maria do Carmo completou: “As pessoas que são perfeitas fica arrumando coisa para cabeça, e depois que fica doente não sabe por quê. A gente tem que dar graças a Deus por ter saúde, às vezes temos uns probleminhas, mas só depende da gente sermos melhores e superarmos as dificuldades”. Diante disso, respondi concordando com suas afirmações, e informei às pacientes que a dieta que eu estava sendo submetida não era para emagrecer, mas sim uma reeducação alimentar, necessária em função da minha dificuldade de digestão dos alimentos, pois fui submetida a uma cirurgia de retirada da vesícula. Quanto aos exercícios físicos, além de fazer bem para minha saúde, tenho que realizá-los, pois possuo um problema no joelho que me obriga a fazer musculação. A Maria do Carmo relatou: “Aí tudo bem, você junta o útil ao agradável”. • 15/09/2008 Como a Adelma ainda não retornou ao tratamento, e não sabe se voltará a fazêlo, somente realizei minha coleta de dados com a Maria Cardoso e Maria do Carmo. A Maria Cardoso chegou antes à clínica, e veio me contar que havia arrumado um paquera, e que este freqüenta a Associação dos Deficientes Físicos de Ibaté (ADEFI). Então o fisioterapeuta perguntou se o rapaz era de Ibaté, e ela respondeu que sim, e que mora próximo à Escola Edésio Castanho, centro da cidade. Ela contou também que ele é deficiente visual, e teve o problema de visão com o passar dos anos, onde enxerga melhor durante a noite, pois a claridade do dia prejudica sua visão. Ressalto que a Maria Cardoso é voluntária no ADEFI, auxiliando os demais deficientes a aprender informática, além de ministrar aulas sobre artes, uma vez que desenha muito bem, sendo que na clínica existe um quadro de sua autoria, presente seu ao fisioterapeuta. Enfim, ela se demonstrou toda empolgada com o rapaz, afirmando que ele quer que ela o ajude a operar o computador, e que dessa forma, estão se conhecendo aos poucos. Logo depois chegou a Maria do Carmo. Notei que ela estava bonita, vestindo uma calça de listra, e aproveitei para elogiá-la, dizendo que sua calça era muito elegante. Ela disse que toda vez que alguém admira aquela roupa, a deixa de usar, pois afirmou, surpreendentemente, que não gosta de ficar bonita e andar na moda. Confesso que a instiguei quanto a essa afirmativa, não consegui entender sua posição, ou seja, quais eram os reais motivos por não querer ser elogiada. Posteriormente, brinquei com a Maria Cardoso, perguntando se já havia contado a Maria do Carmo sobre a sua paquera, e ela ficou toda tímida, afirmando que eu estava fazendo fofoca. Então argumentei que devido ao fato de serem amigas, a Maria do Carmo deveria saber, e então a Maria Cardoso contou novamente tudo sobre o seu paquera, e de forma empolgada e feliz. Após ouvir a história da Maria Cardoso, a Maria do Carmo disse: “Mais ele só pode ter algum problema, ou ele é manco, aleijado, qualquer coisa assim”. Quando o fisioterapeuta disse que o rapaz tinha problema de visão, ela afirmou: “Eu não disse, normal não poderia ser”. Contudo, a indaguei dizendo por que ela estava tão rancorosa daquele jeito no dia de hoje, e ela respondeu: “Não estou sendo rancorosa, sou realista, e também eu posso falar assim dos deficientes porque eles são todos meus irmãozinhos”. Dessa forma, procurei descontraí-la, dizendo que ela também precisava arranjar um namorado, e que íamos fazer uma campanha para arrumarmos um para ela. Ela respondeu dizendo que já era muito velha para arrumar um namorado. Em meio às nossas conversas, a Maria Cardoso, que faz tratamento fonoaudiólogo no ambulatório municipal, comentou que ia mudar de profissional, pois a Marilia, a médica que cuidava dela, havia saído da unidade, e que a Telma ficaria em seu lugar, sendo que a Telma trabalha na clínica onde realizo esta pesquisa. A Maria do Carmo falou que conhecia a Marília, e que ela era muito boa como pessoa, além de ser uma excelente profissional, e que seria uma pena ela deixar de trabalhar em Ibaté. Indaguei à Maria do Carmo se ela já havia participado de sessões de fonoaudiologia, e a mesma nos explicou que não, mas conhecia o trabalho da Marília, pois atuou durante muitos anos como voluntária na APAE, quando sua grande amiga Meire trabalhava lá. Perguntei a ela o que fazia na APAE, e me disse que cozinhava quando iria ocorrer alguma festa, ajudava um pouco em tudo. Vale ressaltar que a Meire é uma grande amiga da Maria do Carmo. Devo classificá-la como sendo um anjo da guarda da Maria do Carmo, e que antes de conhecer a própria Maria, achava que elas eram irmãs, dado ao fato de estarem sempre juntas, muito companheiras uma da outra, amigas de verdade, o que nos dias atuais é coisa rara de se encontrar. Anexo 2: Entrevistas ENTREVISTA Nome: ADELMA XAVIER PEREIRA Idade: 28 anos Profissão: Trabalhadora Rural, na área de silvicultura (reflorestamento). Estado Civil: Casada Filho(s): 1 (3 anos) 1. O que é ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas na sociedade em que vivem? Resposta: Ah, eu sou, um pouco né. Mas a gente tem que superar e não pode se entregar à deficiência. No meu caso é uma limitação física e eu tenho que controlar com exercícios, com fisioterapia. Ah, eu tenho que superar e seguir em frente. 2. Quais as maiores dificuldades que enfrenta? E como as supera? Resposta: As dificuldades existem e a gente tem que superar a deficiência, assim não sobre mim, mais meu esposo, ele tem deficiência visual em um vista e ele superou. Ele entrou em depressão uns meses, mais graças a Deus ele superou. É difícil, por exemplo, em relação a mim, tenho dificuldade de fazer tudo, e depois que descobri o que tinha, eu não posso mais fazer as coisas como eu fazia, como eu tenho vontade de fazer. Por exemplo, fazer uma faxina em casa, no meu trabalho não posso mais dar o rendimento que antes eu dava, geralmente as pessoas que trabalham comigo há mais tempo, sentem dores mais dão rendimento, eles se esforçam. Eu me esforço, mais na continuidade que estou me esforçando estou prejudicando a mim mesma. Ai eu paro um pouco e penso que tenho que pensar em mim, penso na fisioterapia, nos conselhos do Ju, porque a fisioterapia me ajudou muito, graças a Deus, não 100%, mais uns 80% eu consegui controlar, mudar os hábitos de acordar; antes eu acordava quando despertador despertava, pulava da cama como uma maluca, corria pra me vestir, fazer a marmita, fazia aquilo sem pensar no que queria fazer e tinha que fazer, como um alongamento simplesmente que me ajudaria a não sentir tantas dores e aliviaria um pouco os sintomas na hora do trabalho e nem na hora do serviço. Não estava dando tempo nem pra mim, somente pro trabalho. Pois eu achava que tinha que dar rendimento e não podia ficar fazendo corpo mole, como todos achavam, só pensava no trabalho, mais superei isso e hoje penso primeiro no bem estar e faço as coisas da maneira que posso, sem comprometer minha saúde. 3. Quais aprendizados e ensinamentos propiciam o tratamento fisioterápico e de que forma essa convivência contribui para sua vida? Resposta: Eu aprendi que tem que ser devagar, a fisioterapia é um tratamento lento, mais ela trata sim, quando as pessoas têm a possibilidade de ter um tratamento um ano pode ser, ela ajuda bastante. E pra mim ela contribui bastante. Fez um bem enorme, ela me fez relaxar. Eu não estava conseguindo relaxar e aqui eu consegui esse relaxamento e como pessoa eu posso dizer que aprendi bastante, porque tudo a gente não aprende, mais eu aprendi bem, como pessoa e também com as pessoas que a gente convive, as pessoas que entendem e que nos entende, que estão estudando como você, a gente aprendendo no dia-a-dia. 4. Que contribuições trazem para você como mulher a convivência na pratica social do tratamento fisioterápico? Resposta: O convívio foi muito bom, foi de grande ajuda. Conhecer as pessoas (as pacientes), o Ju, a Jose, a Michele, foi ótimo. Assim falando das Marias, eu já conhecia de vista, mais não tinha amizade. A Maria Cardoso, que mora na minha rua, eu conhecia ela das rezas que a gente fazia, eu ia a casa dela e ela acompanhava a gente nas outras casas, rezas nos bairros, sabe. E a outra Maria, a do Carmo, eu a conhecia do santuário da Aparecida, eu nem conversei com ela, só falei um oi. E Aqui ela nem lembrava de mim, mais eu lembrava dela. Elas são pessoas especiais pra gente, essas pessoas têm o que oferecer, elas têm tanta coisa de bom, que às vezes a gente tem um probleminha e você pára para escutar aquela pessoa e você acaba percebendo que o seu problema não é nada, e nem pode considerar aquilo como um problema. Perto de uma deficiência auditiva ou visual, nossa perto da deficiência do corpo delas, como elas superam, você vê, elas fazem tudo dentro de casa, elas não se entregam, são um exemplo de vida e superação. Aqui a gente aprende muito, mesmo com as dores, eu me esforçava e vinha, pois alem de saber que eu precisava da fisioterapia, porque me ajuda, eu adorava ficar aqui aquele tempo da sessão e conversar com as pessoas que ali estava, é muito bom e gratificante isso pra mim. 5. Que medidas poderiam ser tomadas para aumentar os benefícios do tratamento fisioterápico para as portadoras de deficiências ou limitações físicas, seja no campo terapêutico, social, emocional e afetivo? Resposta: Poderia e deve ter aqui em Ibaté um centro, estilo um AA, aquele dos alcoólatras anônimos. Aqui poderia ter um espaço e também precisa ter quem cuidasse dos portadores de deficiência, porque eles têm muito no que ajudar e também ser ajudados, e às vezes os que não tem deficiência aprender com eles. Acho que precisa ter um centro que oferecesse tratamento de fisioterapia, de psicólogo, e tudo mais e que não fosse só particular ou pela Unimed, pois nem todos têm condição de pagar. Então era bom um espaço que ajudasse todos, inclusive a gente que temos uma limitação e também os deficientes. Porque estar aqui ajuda não só nas doenças, mais também como mulher, como pessoa, porque a gente convive com pessoas que transmite o bem, que não te julga, que te acolhe do jeito que você é, não escolhe ou te ignora. Ah é isso. ENTREVISTA Nome: MARIA APARECIDA CARDOSO DA SILVA Idade: 26 anos Profissão: Recebe beneficio por invalides do INSS. É voluntária na ADEFI, sendo prestadora de serviço em todas as atividades existentes nessa entidade, tais como: pintura em tela, artesanato, computação e fisioterapia. Estado Civil: Solteira Filho(s): não 1. O que é ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas na sociedade em que vivem? Resposta: Muito difícil, porque, por incrível que parece, existe o preconceito das pessoas, dos homens, ainda tem. 2. Quais as maiores dificuldades que enfrenta? E como as supera? Resposta: Acho que é mostrar que eu sou capaz como qualquer pessoa, que eu posso fazer tudo o que os normais fazem, e a maioria acha que não é possível. E eu supero isso fazendo tudo o que eu quero e posso fazer. 3. Quais aprendizados e ensinamentos propiciam o tratamento fisioterápico e de que forma essa convivência contribui para sua vida? Resposta: Eu costumo levar a fisioterapia, além de fazer bem para o meu corpo e para mente, tudo, mexe também com o meu lado emocional. Eu converso, eu tenho o Jú não só como meu fisioterapeuta, mas também como meu amigo que eu posso contar, pra tudo. E nessa convivência eu aprendi a dar valor pra mim, a superar certos obstáculos, sei lidar com algumas situações, mesmo porque de uma forma ou de outra, aqui é uma maneira deu desabafar também às vezes, e ai eu aprendo muito também. 4. Que contribuições trazem para você como mulher a convivência na prática social do tratamento fisioterápico? Resposta: Além do que eu aprendo, eu dou valor, sei a dar valor pra mim, para minha vida. Entendo e sei que sou mulher, aprendo muita coisa, converso, sei lidar com a vida. 5. Que medidas poderiam ser tomadas para aumentar os benefícios do tratamento fisioterápico para as portadoras de deficiências ou limitações físicas, seja no campo terapêutico, social, emocional e afetivo? Resposta: Eu acho que deveria existir mais lugares, grupos de pessoas que se reunisse, que conversasse. Fisioterapeutas, terapeutas, não como lugar de trabalho, mais como lugar de conversa. A gente conheceria mais pessoas e não pensaríamos que somos os únicos ou as únicas, eu acho que deveria ter isso. E assim muitas pessoas que não saem de casa, que estão escondidas, teria um espaço aonde pudessem se descobrir, conhecer gente nova, estar se superando. ENTREVISTA Nome: MARIA DO CARMO BELLI Idade: 52 anos Profissão: Aposentada por Invalidez pelo INSS. Estado Civil: Solteira Filho(s): não. 1. O que é ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas na sociedade em que vivem? Resposta: Oh, minha nossa senhora, a gente encontra um monte de barreira. É um inferno na vida da gente, é horrível, terrível. A gente só vai tropeçando, caí, levanta de novo, vai se virando sozinho e ninguém nem está ai pra gente. Só que a gente se adapta, a gente se adapta, e isso se torna parte do dia-a-dia. A gente vai levando, tem outras coisas boas na vida. A gente olha pro outro lado, olha pra trás, vai se virando. 2. Quais as maiores dificuldades que enfrenta? E como as supera? Resposta: As maiores dificuldades. Eu não sou acostumada a enfrentar nenhuma dificuldade. Pra falar a verdade eu não enfrento nenhuma dificuldade, porque quando eu enfrento, eu resolvo. Criança que mexe comigo apanha, e se é no mercado eu mostro soco, eu vou resolvendo entendeu, eu não enfrento nenhuma não. Se alguém me descrimina também ele leva. Eu não sou muito de levar tristeza pra cama, pra dentro de casa. Eu saio preparada, às vezes nem me atinge, se atinge eu resolvo ali mesmo, e assim vai. 3. Quais aprendizados e ensinamentos propiciam o tratamento fisioterápico e de que forma essa convivência contribui para sua vida? Resposta: Ai eu dependo né. O tratamento é vital para mim, porque se eu levasse uma vida assim, de uma pessoa doente, uma pessoa, ai tudo bem. Mais eu não levo eu levo uma vida normal e é por isso que eu dependo muito da fisioterapia. Eu não tenho limitação pra mim, eu vou me virando. A convivência, nossa, contribui bastante, me da força pelo amor de Deus. Isso ai eu gosto bastante, de me relacionar com as pessoas, de ajudar, isso faz muito bem pra mim. 4. Que contribuições trazem para você como mulher a convivência na prática social do tratamento fisioterápico? Resposta: Como mulher, hoje em dia eu não sei mais se sou mulher, já passei da idade. Risos. Essa mulher ai eu acho que não sou mais. Risos. Como pessoa sim, como ser humano, isso me faz muito bem, me puxa muito pra frente, é uma coisa muito boa. Vixe. Dependo. Essas coisas me fazem muito bem, posso estar lá embaixo, então venho aqui, vejo o ambiente, a fisioterapia, tudo isso me puxa pra frente. Se eu ficar lá em casa eu me acabo. Se eu fosse ficar em casa mesmo, nossa, eu não era nada, se eu não vivesse em sociedade, ai eu não iria ter coragem de enfrentar nada. E como eu falo o tratamento, é assim, você vai cada dia melhorando mais. Você vai acabando resolvendo seus problemas, vai aprendo a ser segura, vai aprendo a sei lá, botar os pontos nos “is”. Vai ficando experiente, vai amadurecendo no problema que agente tem né. A gente vai tirando as dúvidas, porque às vezes a gente vê gente pior que a gente, a gente vai aprendendo. 5. Que medidas poderiam ser tomadas para aumentar os benefícios do tratamento fisioterápico para as portadoras de deficiências ou limitações físicas, seja no campo terapêutico, social, emocional e afetivo? Resposta: Eu acho que as pessoas estão correndo muito. Estão sem tempo uns para os outros e os deficientes sente muito isso aí. Eu acho, que eles não têm tempo, mais eu acho que as pessoas poderiam dar mais ouvido, atenção a essas pessoas. Ah conversar mais e entender mais o lado psicológico deles, tanto no tratamento, em tudo. Melhorar mais esses lado ai, entender mais, dar mais atenção. ENTREVISTA Nome: ROSE MARIE RAFFA Idade: 52 anos Profissão: Do Lar Estado Civil: solteira Filho(s): 4 1. O que é ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas na sociedade em que vivem? Resposta: Eu acho que é duro, é duro a gente ter problema. Porque é tudo muito difícil para gente também, é muito difícil. Antigamente não existia essas coiseras que aparece na gente agora. Eu acho difícil a gente conviver com a doença, é bem duro eu acho. Como no meu caso que tenho problema no pulmão, chega à tarde assim, começa aquele ventinho, que você poderia tomar ele, e eu não posso, tenho que me agasalhar. Tem certo lugares que eu quero ir, ai eu vou toda capotada (de roupas), não é? Pra mim eu acho assim. 2. Quais as maiores dificuldades que enfrenta? E como as supera? Resposta: Quando eu sentia bastante falta de ar, hoje eu já não sinto mais, de primeiro era muita, era muito difícil para mim, eu ia andar um pouquinho já ficava cansada. Se eu ia limpar minha casa eu já cansava. As minhas meninas tinham que vim limpar minha casa pra mim, eu acha tudo muito difícil. Eu superei tudo isso tomando meus remédios e fazendo fisioterapia. Ai minha vida melhorou muito, porque agora eu limpo minha casa, lavo minha área, coisas que antes eu não podia fazer que eu cansava, se eu fosse daqui ali no portão eu já tava cansada, é o sintoma da doença. 3. Quais aprendizados e ensinamentos propiciam o tratamento fisioterápico e de que forma essa convivência contribui para sua vida? Resposta: O que eu aprendi aqui é sobre minha doença, essas coisas, entendeu. Como me livrar os sintomas e isso melhorou minha vida, meu dia-a-dia. Sem isso ai eu acho que mesmo tomando os remédios não seria tanto, porque mesmo tomando o remédio o médico passou a fisioterapia pra mim. A convivência com as outras pessoas trouxe muita coisa boa, pois elas me aconselharam muito, porque quando eu fiquei sabendo que eu tinha isso eu fiquei muito triste e chateada. E elas me deram força, me levantaram 4. Que contribuições trazem para você como mulheres a convivência na prática social do tratamento fisioterápico? Resposta: Eu gosto, eu gosto de vim aqui, da fisioterapia. A semana que eu não venho aqui eu já sinto diferença. Das meninas (companheiras de tratamento), eu gosto de todas elas, fiquei gostando de você, antes eu não te conhecia, gosto de tudo aqui, isso me faz muito bem. A convivência é muita boa, eu aprendi e ensinei muito, em todos os sentidos. 5. Que medidas poderiam ser tomadas para aumentar os benefícios do tratamento fisioterápico para as portadoras de deficiências ou limitações físicas, seja no campo terapêutico, social, emocional e afetivo? Resposta: Ah... eu acho que as pessoas deveriam ser mais bem informada sobre suas doenças, assim conhecer melhor o que tem. Porque aqui, o Ju me explicou direito o que eu tinha e como ela funciona, coisa que os médicos não me explicava muito bem, demorei para saber o que tinha, os outros médicos, do governo, falava que eu tinha asma e só depois que fiz plano de saúde foi que descobri o que tinha. Devia ter um lugar que cuidasse bem da gente que tem esses problemas, de quem precisa de fisioterapia e que explicasse direito a nossa doença. Queria que tivesse mais acesso ao tratamento e informação certa das doenças que a gente tem, principalmente pra quem não pode pagar. Anexo 3: Imagens Quadro pintado pela Maria Cardoso. Parte externa da Clínica de Fisioterapia Manna. Parte interna da Clinica Sala de Fisioterapia Integrantes da Pesquisa: Junior (fisioterapeuta), Michele (pesquisadora), Maria do Carmo, Maria Cardoso e Adelma. Anexo 4: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO CURSO DE PEDAGOGIA Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Você está sendo convidada para participar da pesquisa Processos Educativos E Percepções Sobre O Ser Mulher Portadora De Limitações E Deficiências Física Em Tratamento Fisioterápico. Você foi selecionada por ser paciente da clinica e está em tratamento fisioterápico e sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição onde em tratamento. O objetivo desta pesquisa é compreender e analisar como é ser mulher portadora de limitações ou deficiências físicas, averiguar o que pensam e sentem como mulheres em relação às suas limitações. Identificar ainda, que processos de ensino aprendizagem há na convivência prática de grupo de tratamento fisioterápico. Sua participação nesta pesquisa consistirá em expor, narrar, comentar sobre seus sentimentos e pensamentos em relação a ser mulher com limitações e deficiências físicas, bem como aprendizados, ensinamentos e benefícios vivenciados no ambiente de fisioterapia. Os riscos relacionados com sua participação são mínimos, referente ao cansaço durante as entrevistas, ou seja, não causará dano seja para sua saúde física ou psíquica. Sua integridade será preservada num todo. Os benefícios relacionados com a sua participação são ajudar na compreensão do que é ser mulher portadora de limitações ou deficiência físicas e contribuir na compreensão, respeito e garantia de direitos. As informações obtidas através dessa pesquisa serão expostas no texto do trabalho de conclusão de curso e as imagens fotográficas e entrevistas só serão identificadas se forem autorizadas, caso contrário serão confidenciais e asseguraremos o sigilo sobre sua participação. Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço dos pesquisadores, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. ____________________________ Aida Victoria Garcia Montrone Orientadora da Pesquisa Depto. de Metodologia de Ensino - UFSCar Tel. p/ contato 33518375 _________________________ Michele Peruchi de Brito Tel.: 16-33431020