Estudo - Programa Operacional de Assistência Técnica
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Estudo - Programa Operacional de Assistência Técnica
Shared Services Center Get the global picture Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados Ficha técnica Título Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados Promotor Programa Operacional de Assistência Técnica do Fundo Social Europeu Autoria Deloitte Consultores, S.A. – R&D and Government Incentives Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a todas as pessoas e entidades que generosamente se disponibilizaram para apoiar a elaboração do “Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados”. Este relatório não está escrito de acordo com o Novo Acordo Ortográfico. Março de 2014 Índice SUMÁRIO EXECUTIVO 2 PARTE I - ABORDAGEM METODOLÓGICA 1. INTRODUÇÃO 6 2. ABORDAGEM METODOLÓGICA 7 2.1. Principais conceitos 7 2.2. Objecto de estudo 8 2.3. Metodologia 2.3.1. Etapas metodológicas 2.3.2. Instrumentos metodológicos 9 9 10 PARTE II - ENQUADRAMENTO GLOBAL DO MODELO DE SERVIÇOS PARTILHADOS E A ATRACÇÃO DE INVESTIMENTO 3. O MODELO DOS CENTROS DE SERVIÇOS PARTILHADOS 13 3.1. Enquadramento dos modelos organizacionais 3.1.1. Modelo descentralizado 3.1.2. Modelo centralizado 3.1.3. Modelo de outsourcing 3.1.4. Modelo de serviços partilhados 13 14 14 14 14 3.2. Caracterização do modelo de serviços partilhados 3.2.1. Principais motivações 3.2.2. Principais factores críticos de sucesso 3.2.3. Principais factores de risco 15 16 17 17 3.3. Caracterização dos factores influenciadores das decisões de offshoring 3.3.1. Factores facilitadores 3.3.2. Factores inibidores 18 18 20 4. EVOLUÇÃO DOS CENTROS DE SERVIÇOS PARTILHADOS NO PLANO INTERNACIONAL E PRINCIPAIS TENDÊNCIAS 22 4.1. O passado dos centros de serviços partilhados 22 4.2. O presente e o futuro dos centros de serviços partilhados 4.2.1. Localização 4.2.2. Âmbito dos serviços 4.2.3. Motivações e impactos 4.2.4. Tendências futuras 23 23 26 27 28 5. A ATRACÇÃO DE INVESTIMENTO EM CENTROS DE SERVIÇOS PARTILHADOS 30 5.1. Evolução e contexto actual do IDE a nível global 30 5.2. Estratégias e ferramentas para a atracção e promoção do investimento 5.2.1. O papel das agências nacionais de promoção do investimento 5.2.2. Plataformas digitais e promoção online 5.2.3. A importância do aftercare 5.2.4. Presença em rankings e eventos mediáticos 31 32 33 35 36 6. OS CENTROS DE SERVIÇOS PARTILHADOS E AS POLÍTICAS DE EMPREGO E DE IGUALDADE DE OPORTUNIDADES 39 6.1. O FSE 39 6.2. A estratégia Europa 2020 6.2.1. A estratégia europeia para a igualdade de oportunidades 41 42 6.3. A estratégia Portugal 2020 45 6.4. A realidade nacional ao nível do emprego e da igualdade de oportunidades 46 6.5. O papel dos centros de serviços partilhados na criação de emprego, inclusão e igualdade de oportunidades 49 PARTE III - A ENVOLVENTE NACIONAL E BENCHMARKING INTERNACIONAL 7. A ENVOLVENTE NACIONAL PARA A ATRACÇÃO DE CENTROS DE SERVIÇOS PARTILHADOS 53 7.1. Caracterização da envolvente nacional e de negócios 7.1.1. Recursos humanos 7.1.2. Localização e infra-estruturas 7.1.3. Envolvente de negócios 53 53 62 64 7.2. O sector dos serviços em Portugal 69 7.3. O sector dos centros de serviços partilhados em Portugal 70 8. O POSICIONAMENTO DE PORTUGAL NO CONTEXTO EUROPEU PARA A ATRACÇÃO DE INVESTIMENTO EM CENTROS DE SERVIÇOS PARTILHADOS 73 8.1. Metodologia de análise 74 8.2. República Checa 8.2.1. Custos de trabalho 8.2.2. Custos indirectos e impostos 8.2.3. Preparação tecnológica 8.2.4. Qualificação da mão-de-obra 8.2.5. Infra-estrutura 8.2.6. Regulamentação 8.2.7. Conclusões 76 77 78 79 79 82 82 83 8.3. Polónia 8.3.1. Custos de trabalho 8.3.2. Custos indirectos e impostos 8.3.3. Preparação tecnológica 84 85 86 87 8.3.4. Qualificação da mão-de-obra 8.3.5. Infra-estrutura 8.3.6. Regulamentação 8.3.7. Conclusões 87 89 90 91 8.4. Espanha 8.4.1. Custos de trabalho 8.4.2. Custos indirectos e impostos 8.4.3. Preparação tecnológica 8.4.4. Qualificação da mão-de-obra 8.4.5. Infra-estrutura 8.4.6. Regulamentação 8.4.7. Conclusões 91 92 93 94 94 96 97 97 8.5. Irlanda 8.5.1. Custos de trabalho 8.5.2. Custos indirectos e impostos 8.5.3. Preparação tecnológica 8.5.4. Qualificação da mão-de-obra 8.5.5. Infra-estrutura 8.5.6. Regulamentação 8.5.7. Conclusões 98 99 100 101 101 103 104 104 8.6. Avaliação global 8.6.1. Custos de trabalho 8.6.2. Custos indirectos e impostos 8.6.3. Preparação tecnológica 8.6.4. Qualificação da mão-de-obra 8.6.5. Infra-estrutura 8.6.6. Regulamentação 8.6.7. Conclusões 105 105 106 107 108 108 109 109 9. MEDIDAS DE INCENTIVO AO INVESTIMENTO EM CENTROS DE SERVIÇOS PARTILHADOS 112 9.1. Portugal 9.1.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.1.2. Incentivos à criação de emprego 9.1.3. Incentivos à formação 9.1.4. Outras medidas de apoio 113 113 117 120 121 9.2. República Checa 9.2.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.2.2. Incentivos à criação de emprego 9.2.3. Incentivos à formação 122 122 124 124 9.3. Polónia 9.3.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.3.2. Incentivos à criação de emprego 9.3.3. Incentivos à formação 9.3.4. Outras medidas de apoio 125 125 129 130 130 9.4. Espanha 9.4.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.4.2. Incentivos à criação de emprego 9.4.3. Outras medidas de apoio 130 131 132 133 9.5. Irlanda 9.5.1. Incentivos ao investimento e à I&D 133 133 9.5.2. Incentivos à criação de emprego 9.5.3. Outras medidas de apoio 9.6. Análise comparativa 134 135 136 PARTE IV - AUSCULTAÇÃO DE STAKEHOLDERS 10. AUSCULTAÇÃO DE STAKEHOLDERS 141 10.1. Reuniões exploratórias 10.1.1. Empresas 10.1.2. Organismos públicos de promoção do investimento e do emprego em Portugal 10.1.3. Associações do sector 10.1.4. Organismos de promoção do desenvolvimento a nível regional 10.1.5. Plataformas bilaterais de promoção do comércio e investimento 141 141 148 148 149 151 10.2. Inquéritos 10.2.1. Informação dos centros de serviços partilhados 10.2.2. Processo de decisão da localização dos centros de serviços partilhados 10.2.3. Factores de atractividade de Portugal 10.2.4. Oportunidades de melhoria em Portugal 10.2.5. Igualdade de género e igualdade de oportunidades 152 152 154 156 157 158 PARTE V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 11. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 161 11.1. Análise SWOT 161 11.2. Plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 167 11.3. Contributo das políticas para a promoção dos centros de serviços partilhados 11.3.1. Acordo de Parceria 11.3.2. Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e o Emprego 11.3.3. Estratégias de Especialização Inteligente 169 169 170 172 11.4. Recomendações 173 PARTE VI - BIBLIOGRAFIA E ANEXOS 12. BIBLIOGRAFIA E ANEXOS 179 12.1. Bibliografia 179 12.2. Inquérito 185 Acrónimos AICEP Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal ATA Administração Tributária e Aduaneira BPO Business Process Outsourcing CCDR Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional EBF Estatuto dos Benefícios Fiscais EUA Estados Unidos da América FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional FSE Fundo Social Europeu I&D Investigação e Desenvolvimento IDE IEFP Investimento Directo Estrangeiro Instituto de Emprego e Formação Profissional IFRS International Financial Reporting Standards INE Instituto Nacional de Estatística IRC Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas IRS Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado NUTS Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins estatísticos OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PIB Produto Interno Bruto PME Pequena e Média Empresa POAT Programa Operacional de Assistência Técnica POFC Programa Operacional Factores de Competitividade POPH Programa Operacional Potencial Humano PPC Paridade de Poder de Compra QEC Quadro Estratégico Comum QREN Quadro de Referência Estratégico Nacional SCTN Sistema Científico e Tecnológico Nacional SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats TIC Tecnologias de Informação e Comunicação TSU Taxa Social Única UE União Europeia UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development VAB Valor Acrescentado Bruto ZEE Zona Económica Especial Lista de quadros Quadro 01 Os sete atributos dos centros de serviços partilhados Quadro 02 Outros conceitos chave associados à temática dos centros de serviços partilhados Quadro 03 Análise comparativa de modelos organizacionais Quadro 04 Principais serviços abrangidos pelo aftercare Quadro 05 As prioridades da estratégia Europa 2020 Quadro 06 Eixos fundamentais de actuação do Pacote do Emprego Quadro 07 Metas da estratégia Europa 2020 nas áreas do emprego e educação e posicionamento de Portugal Quadro 08 Domínios prioritários da Estratégia para a Igualdade entre Homens e Mulheres (2010-2015) Quadro 09 Indicadores de pobreza e exclusão social (2011) Quadro 10 Prevalência de pessoas com deficiência na população total, empregada e desempregada (2002) Quadro 11 Impacto potencial dos centros de serviços partilhados ao nível do emprego e da igualdade de oportunidades Quadro 12 Principais países de origem da população estrangeira com estatuto legal de residente (2011) Quadro 13 Distribuição da população empregada por faixa etária Quadro 14 Distribuição da população empregada por nível de ensino Quadro 15 Distribuição da população empregada por sector económico Quadro 16 Distribuição da população desempregada por nível de ensino Quadro 17 Nível de escolaridade da população residente com mais de 15 anos (em milhares) Quadro 18 Número de licenciados por área de formação (em milhares) Quadro 19 Variação anual da produtividade, remunerações por trabalhador e custos unitários do trabalho em Portugal Quadro 20 Custo médio de utilities Quadro 21 Principais factores que influenciam o investimento em Portugal Quadro 22 Aspectos positivos e negativos de Portugal ao nível da capacidade de captação de investimento Quadro 23 Número de empresas, pessoal ao serviço e volume de negócios do sector dos serviços prestados às empresas Quadro 24 Composição dos índices de análise comparativa dos países Quadro 25 Portugal: principais características do Sistema de Incentivos à Inovação Quadro 26 Portugal: principais características do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico Quadro 27 Portugal: principais características dos Benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo Quadro 28 Portugal: principais características do Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II Quadro 29 Portugal: principais características dos Estágios Emprego Quadro 30 Portugal: principais características do Estímulo 2013 Quadro 31 Portugal: principais características do Apoio à contratação via reembolso da TSU Quadro 32 Portugal: principais características do POPH Quadro 33 República Checa: principais características do Transfer of Land Quadro 34 República Checa: principais características do Corporate income tax relief Quadro 35 República Checa: principais características do R&D Tax Allowance Quadro 36 República Checa: principais características do Job Creation Grants Quadro 37 República Checa: principais características do Training and Retraining Grants Quadro 38 Polónia: principais características da Submeasure 4.5.2. Operational Program Innovative Economy - Apoio a investimentos no sector dos serviços Quadro 39 Polónia: principais características da Measure 4.4. Operational Program Innovative Economy – Novos investimentos de elevado potencial inovador Quadro 40 Polónia: principais características da Measure 4.2 Operational Program Innovative Economy - Estímulo da actividade de I&D nas empresas e apoio no âmbito do design industrial Quadro 41 Polónia: principais características da Medida 1.4. Wielkopolska ROP Quadro 42 Polónia: principais características da Measure 1.3. Operational Program Development of Eastern Poland – Promoção da inovação Quadro 43 Polónia: principais características do Polish Government Grant Quadro 44 Polónia: principais características do R&D Credit Quadro 45 Polónia: principais características das ZEE Quadro 46 Polónia: principais características do Labor Incentive - District Employment Agency Quadro 47 Espanha: principais características do Regional Incentives Program Quadro 48 Espanha: principais características do Direct Innovation Line Quadro 49 Espanha: principais características do Strategic Action Economy and Digital Society Quadro 50 Espanha: principais características do Tecnological Innovation Deduction Quadro 51 Espanha: principais características dos Incentivos ao emprego Quadro 52 Irlanda: principais características dos Research Development and Innovation Grants Quadro 53 Irlanda: principais características dos R&D Tax Credits Quadro 54 Irlanda: principais características dos Employment Grants Quadro 55 Irlanda: principais características do Start Up Relief Quadro 56 Irlanda: principais características do Special Assignee Relief Scheme Quadro 57 Factores determinantes na escolha de Portugal para a localização de centros de serviços partilhados Quadro 58 Principais problemas e obstáculos identificados ao nível da instalação, desenvolvimento e manutenção de centros de serviços partilhados em Portugal Quadro 59 Estudo de caso: Altran Portugal Quadro 60 Quadro 61 Estudo de caso: 3S Solvay Shared Services Análise SWOT: forças e fraquezas Lista de figuras Figura 01 Objecto de estudo Figura 02 Actividades incluídas em centros de serviços partilhados Figura 03 Turquia: Investment Support and Promotion Agency of Turkey Figura 04 Costa Rica: Costa Rican Investment Promotion Agency Figura 05 Dinamarca: Invest in Denmark Figura 06 Objectivos principais do POPH Figura 07 Principais áreas temáticas do FSE no período 2014-2020 Figura 08 Programas de reconversão e requalificação de competências - o caso irlandês Figura 09 Programa de desenvolvimento de competências no domínio das TIC “ICT skills programme” Figura 10 Tempo médio das viagens de avião de Portugal para algumas capitais europeias Figura 11 Alguns casos de sucesso de centros de serviços partilhados em Portugal Figura 12 Sistemas de incentivos potencialmente aplicáveis aos centros de serviços partilhados Figura 13 Análise comparativa das medidas de incentivo em Portugal, República Checa, Polónia, Espanha e Irlanda Figura 14 Posicionamento de Portugal nas áreas relevantes para os centros de serviços partilhados Figura 15 Análise SWOT: oportunidades e ameaças Figura 16 Plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados Figura 17 Norte 2020: Estratégia Regional de Especialização Inteligente: domínio prioritário capital humano e serviços especializados Figura 18 A plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados e a sua actuação nas áreas críticas Lista de gráficos Gráfico 01 Distribuição geográfica dos centros de serviços partilhados Gráfico 02 TOP 10 das localizações de centros de serviços partilhados, por nível de maturidade Gráfico 03 Regiões consideradas para a criação de novos centros de serviços partilhados Gráfico 04 Evolução dos factores extremamente importantes na decisão de localização de centros de serviços partilhados Gráfico 05 Funções desempenhadas pelos centros de serviços partilhados Gráfico 06 Principais motivações para a implementação de centros de serviços partilhados Gráfico 07 Tendências futuras dos centros de serviços partilhados Gráfico 08 IDE (em % do PIB) nos países europeus nos anos de 2000, 2005 e 2011 Gráfico 09 Evolução da taxa de desemprego e da taxa de desemprego jovem, em Portugal Gráfico 10 Número de emigrantes (total e em idade activa) Gráfico 11 Evolução da taxa de desemprego, desemprego jovem e do número de alunos diplomados por ano Gráfico 12 Evolução dos custos unitários do trabalho no sector dos serviços financeiros e empresariais (2005=100) Gráfico 13 Compensação salarial por trabalhador, em paridades de poder de compra, para o sector dos serviços financeiros e empresariais Gráfico 14 Evolução do peso das exportações de serviços no total das exportações em Portugal Gráfico 15 Portugal e República Checa: salário bruto médio anual (USD em PPC a preços de 2012) Gráfico 16 Portugal e República Checa: salários medianos (valor bruto, Euro/Ano) Gráfico 17 Portugal e República Checa: impostos Gráfico 18 Portugal e República Checa: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 19 Portugal e República Checa: acesso a internet nas escolas (escala de 07) Gráfico 20 Portugal e República Checa: qualificação – alguns indicadores Gráfico 21 Portugal e República Checa: resultados PISA 2012 Gráfico 22 Portugal e República Checa: número anual de graduados em Ciências, Engenharia e Computação (% total) Gráfico 23 Portugal e República Checa: disponibilidade de trabalhadores qualificados Gráfico 24 Portugal e República Checa: infra-estrutura – alguns indicadores Gráfico 25 Portugal e República Checa: número total de acessos de comunicação por 100 habitantes Gráfico 26 Portugal e República Checa: regulamentação – alguns indicadores Gráfico 27 Portugal e República Checa: agregado Gráfico 28 Portugal e Polónia: salário bruto médio anual (USD em PPC a preços de 2012) Gráfico 29 Portugal e Polónia: salários medianos (valor bruto, Euro/ano) Gráfico 30 Portugal e Polónia: impostos Gráfico 31 Portugal e Polónia: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 32 Portugal e Polónia: acesso à internet nas escolas (escala de 0-7) Gráfico 33 Portugal e Polónia: qualificação – alguns indicadores Gráfico 34 Portugal e Polónia: resultados PISA 2012 Gráfico 35 Portugal e Polónia: número anual de graduados em Ciências, Engenharia e Computação (% total) Gráfico 36 Portugal e Polónia: disponibilidade de trabalhadores qualificados Gráfico 37 Portugal e Polónia: infra-estrutura – alguns indicadores Gráfico 38 Portugal e Polónia: número total de acessos de comunicações por 100 habitantes Gráfico 39 Portugal e Polónia: regulamentação – alguns indicadores Gráfico 40 Portugal e Polónia: agregado Gráfico 41 Portugal e Espanha: salário médio bruto anual (USD em PPC a preços de 2012) Gráfico 42 Portugal e Espanha: salário medianos (valor bruto, Euro/ano) Gráfico 43 Portugal e Espanha: impostos Gráfico 44 Portugal e Espanha: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 45 Portugal e Espanha: acesso a internet nas escolas (escala de 0-7) Gráfico 46 Portugal e Espanha: qualificação – alguns indicadores Gráfico 47 Portugal e Espanha: resultados PISA 2012 Gráfico 48 Portugal e Espanha: número anual de graduados em Ciências, Engenharia e Computação (% total) Gráfico 49 Portugal e Espanha: disponibilidade de trabalhadores qualificados Gráfico 50 Portugal e Espanha: infra-estrutura – alguns indicadores Gráfico 51 Portugal e Espanha: número total de acessos de comunicação por 100 habitantes Gráfico 52 Portugal e Espanha: regulamentação – alguns indicadores Gráfico 53 Portugal e Espanha: agregado Gráfico 54 Portugal e Irlanda: salário bruto médio anual (USD em PPC a preços de 2012) Gráfico 55 Portugal e Irlanda: salários medianos (valor bruto, Euro/ano) Gráfico 56 Portugal e Irlanda: impostos Gráfico 57 Portugal e Irlanda: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 58 Portugal e Irlanda: acesso a internet nas escolas (escala de 0-7) Gráfico 59 Portugal e Irlanda: qualificação – alguns indicadores Gráfico 60 Portugal e Irlanda: resultados PISA 2012 Gráfico 61 Portugal e Irlanda: número anual de diplomados em Ciências, Engenharia e Computação (% total) Gráfico 62 Portugal e Irlanda: disponibilidade de trabalhadores qualificados Gráfico 63 Portugal e Irlanda: infra-estrutura – alguns indicadores Gráfico 64 Portugal e Irlanda: número total de acessos de comunicações por 100 habitantes Gráfico 65 Portugal e Irlanda: regulamentação – alguns indicadores Gráfico 66 Portugal e Irlanda: agregado Gráfico 67 Custos do trabalho: avaliação global Gráfico 68 Impostos e custos indirectos: avaliação global Gráfico 69 Preparação tecnológica: avaliação global Gráfico 70 Qualificação: avaliação global Gráfico 71 Infra-estrutura: avaliação global Gráfico 72 Regulamentação: avaliação global Gráfico 73 Média global Gráfico 74 Avaliação global Gráfico 75 Distribuição dos recursos humanos por nível de escolaridade Gráfico 76 Tipologias de serviços prestados pelos centros de serviços partilhados em Portugal Gráfico 77 Mercados servidos pelos centros de serviços partilhados em Portugal Gráfico 78 Principais factores considerados na decisão de localização dos centros de serviços partilhados Gráfico 79 Principais factores de atractividade de Portugal para centros de serviços partilhados Gráfico 80 Áreas de formação críticas para apoio à expansão da actividade dos centros de serviços partilhados POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 1 Sumário executivo O “Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados” tem como objectivo principal contribuir para a definição de uma estratégia nacional para atracção e desenvolvimento da actividade dos centros de serviços em Portugal, tendo sido financiado pelo POAT-FSE, no âmbito da área de intervenção “Estudos e Avaliação”. Tendo em conta a elevada disponibilidade de recursos humanos altamente qualificados, a aposta no ensino das línguas estrangeiras, o reconhecimento internacional do sistema de ensino nacional e, bem assim, a forte competitividade decorrente do custo dos recursos humanos, o sector dos centros de serviços partilhados afigura-se de elevada importância para a criação de emprego, inclusivo e sustentável, e para o crescimento e desenvolvimento económico do País. De facto, Portugal tem sido a localização seleccionada para um número cada vez maior de centros de serviços partilhados, beneficiando de algumas oportunidades demonstradas pelo actual enquadramento do sector a nível internacional e de uma crescente dinâmica verificada ao nível das entidades públicas e privadas com impacto na atracção deste tipo de investimentos. Não obstante, permanecem ainda oportunidades de melhoria nas estratégias e políticas públicas que permitam explorar, de forma mais eficaz e concertada, todo o potencial associado ao sector dos centros de serviços partilhados para a criação de emprego qualificado e para o aumento do valor acrescentado e do carácter transaccionável dos serviços prestados no País. Neste contexto, no presente relatório, numa primeira parte (capítulos 1 e 2), é apresentada a abordagem metodológica utilizada na realização do estudo. Numa segunda parte (capítulos 3 a 6), é efectuado um enquadramento global do modelo de serviços partilhados, contemplando a compreensão dos propósitos do seu surgimento, a sua evolução recente, o seu papel na criação de emprego e as formas de atracção de investimento neste sector, em particular. Numa terceira parte (capítulos 7 a 9), é feita uma análise da envolvente nacional para a implementação e expansão dos centros de serviços partilhados e um benchmarking com um grupo de países que são concorrentes naturais, nesta área em particular, devido às suas condições intrínsecas para a atracção de investimentos, como Espanha, Irlanda, Polónia e República Checa. Na quarta parte (capítulo 10), são apresentadas as principais conclusões da auscultação efectuada aos stakeholders do sector por via de reuniões exploratórias e da realização de inquéritos. Por fim, na quinta parte (capítulo 11), são apresentadas as conclusões e recomendações decorrentes do presente estudo, atendendo a toda a informação reunida, procurando suportar o reconhecimento do carácter estratégico dos centros de serviços partilhados no contexto das prioridades e do desenho operacional do próximo período de programação plurianual dos fundos estruturais europeus de apoio ao investimento, compreendido entre 2014 e 2020. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 2 Desde o surgimento dos serviços partilhados e do outsourcing em regime de offshoring, na década de 80 do século passado, permitindo às empresas fragmentarem os seus processos de modo eficaz e eficiente, a aplicação destes modelos organizacionais tem evoluído significativamente, quer do ponto de vista das regiões e dos países receptores do investimento neste sector, quer no que respeita ao tipo de serviços abrangidos. Com efeito, com os destinos tradicionais do investimento em centros de serviços partilhados (tais como EUA e Índia) a observarem um crescimento significativo dos custos do trabalho e com o aumento da importância/ponderação de factores como o fuso horário e a proximidade geográfica na avaliação deste tipo de investimentos, uma vez que permitem uma operação mais eficiente e uma capacidade de resposta mais célere às necessidades do negócio, tem-se assistido, por um lado, à inclusão progressiva de processos de maior valor acrescentado em regime de offshoring e, por outro, à diversificação das geografias que se destacam neste sector. Para o futuro, ao nível do tipo de actividades abrangidas, prevê-se que os centros de serviços partilhados continuem a expandir-se para serviços de maior valor acrescentado e mais intensivos em conhecimento. No que respeita à localização, é expectável que os centros de serviços partilhados continuem a alcançar novas geografias, reforçando a dispersão que se tem vindo a verificar na sua distribuição geográfica. Ao nível da escolha do local para implementação de novos investimentos em centros de serviços partilhados, ganham cada vez mais importância factores como a proximidade das localizações consideradas, quer à sede da empresa-mãe, quer às operações já existentes, comprovando a crescente relevância do nearshoring. Em face do exposto, apesar de o modelo de serviços partilhados ser já relativamente maduro, verifica-se, ainda, muitas oportunidades para assistirmos ao surgimento e amadurecimento de uma nova geração de centros de serviços partilhados com funções de maior complexidade e em novas geografias. Neste contexto, Portugal, pelo seu bom posicionamento ao nível de algumas das áreas críticas para atrair investimento em centros de serviços partilhados e pela oportunidade que este sector apresenta para responder ao actual flagelo do desemprego altamente qualificado, deve apostar, de modo claro e concertado, em desenvolver e promover as suas valências neste contexto. Para este efeito, o próximo período de programação 2014-2020 poderá assumir um papel fundamental na dinamização da aposta na área dos centros de serviços partilhados. Assim, com base na orientação estratégica dos fundos estruturais (de acordo com os documentos já publicados), para este novo período de programação, está definido um conjunto de objectivos que, por um lado, podem reforçar as valências do País ao nível dos centros de serviços partilhados e, por outro, podem beneficiar de um aumento da prevalência deste tipo de actividades em Portugal. Para tal, a operacionalização das orientações estratégicas existentes deve considerar medidas e acções dirigidas especificamente ao sector dos centros de serviços partilhados, contemplando as suas especificidades. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 3 Neste âmbito, é apresentado, neste relatório, um conjunto de sugestões e de recomendações no sentido de contribuir para o desenvolvimento da actividade dos centros de serviços partilhados em Portugal, colocando as orientações estratégicas e de política ao serviço da aposta neste sector, sendo de destacar as seguintes: (i) a definição e implementação de uma estratégia integrada de promoção das valências e vantagens de Portugal; (ii) o desenvolvimento de acções integradas ao nível do sistema de ensino e formação profissional, de modo a preparar a mão-de-obra disponível para dar resposta às especificidades dos centros de serviços partilhados; e, (iii) a criação de um instrumento de apoio específico para os centros de serviços partilhados, que combine, num mesmo programa, o financiamento de distintas necessidades de investimento subjacentes à sua implementação e/ou expansão, numa lógica plurifundo. Por fim, no contexto actual caracterizado por uma globalização económica crescente e nem sempre consentânea com as escolhas e necessidades de cada nação e/ou região, é essencial promover um acompanhamento concertado e continuado, por parte de todos os stakeholders relevantes, de forma a maximizar os investimentos e, em simultâneo, mitigar eventuais processos de deslocalização, contrários aos interesses de todos nós. A promoção efectiva de uma plataforma para o desenvolvimento de centros de serviços partilhados corresponde, assim, a uma medida que, em termos práticos, visa alcançar tais intentos estratégicos a bem de Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 4 Parte I – Abordagem metodológica POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 5 1. Introdução O presente estudo pretende analisar o impacto da disseminação de centros de serviços partilhados em Portugal, ao nível da melhoria das oportunidades de criação de emprego, de apoio às estratégias de emprego e inclusão social e, por último, do reforço do intercâmbio de experiências. Deste modo, o presente trabalho tem como finalidade responder aos seguintes principais objectivos: Enquadrar a actividade dos centros de serviços partilhados, as suas motivações e factores de sucesso e, bem assim, analisar a sua evolução recente e tendências futuras, num contexto global; Compreender os processos de decisão das localizações de centros de serviços partilhados e analisar o posicionamento competitivo de Portugal a este nível e as suas vantagens e desvantagens comparativas face aos principais países concorrentes; Avaliar a viabilidade de implementação de uma plataforma para o desenvolvimento de centros de serviços partilhados, que permita apoiar empresas nacionais e internacionais na criação e manutenção, em Portugal, de uma unidade organizacional de prestação de serviços de suporte administrativo, financeiro, comercial ou técnico; Avaliar a pertinência de criar um sistema específico de incentivos para apoiar o desenvolvimento de centros de serviços partilhados. Assim, procurou-se identificar os aspectos diferenciadores que podem tornar Portugal um destino preferencial para implementação e/ou expansão de centros de serviços partilhados, assim como analisar as fragilidades (e pontos fracos existentes) e eventuais formas de as superar. Adicionalmente, é objectivo identificar quaisquer outros factores com potencial para alavancar as valências existentes e colocar o País numa posição mais vantajosa, no plano global e regional, no que diz respeito à criação de emprego e à atracção de investimento em áreas de maior valor acrescentado. Adicionalmente, procurou-se apresentar um conjunto de recomendações que sustentem uma estratégia nacional para a promoção da localização, em Portugal, de empresas que concretizam centros de serviços partilhados. Em particular, pretendeu-se identificar recomendações para a eventual definição de um sistema específico de incentivos para promover o desenvolvimento de centros de serviços partilhados em Portugal, o qual poderá ser uma peça importante no âmbito da planificação do FSE e do FEDER para o período 2014-2020. Deste modo, uma medida com estas características poderá potenciar a relevância da intervenção do FSE na concretização de políticas públicas inerentes à criação de emprego e à sustentabilidade social (considerando que a actividade dos centros de serviços partilhados é intensiva em mão-de-obra qualificada e, por conseguinte, poderá ter, igualmente, um impacto muito positivo ao nível da requalificação e reconversão da população activa que se encontra desempregada). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 6 2. Abordagem metodológica 2.1. Principais conceitos Nesta secção procede-se à clarificação dos principais conceitos que serão utilizados ao longo do presente estudo, nomeadamente do conceito de centros de serviços partilhados e de outros conceitos que gravitam em torno desta temática. Deste modo, em primeiro lugar, é sugerida uma definição estável de centro de serviços partilhados, que será posteriormente utilizada ao longo do presente estudo. Assim, não obstante verificar-se a inexistência de uma definição consensual do conceito de “serviços partilhados”, após uma pesquisa aprofundada da literatura disponível, Schulz et al concebem uma definição de centro de serviços partilhados, corroborada por mais de cinquenta por cento da literatura analisada, segundo a qual um centro de serviços partilhados é um conceito organizacional que se caracteriza pela existência, em simultâneo, de sete atributos, detalhados no Quadro 01. Quadro 01 – Os sete atributos dos centros de serviços partilhados Atributo Detalhe 1. São o resultado da consolidação de processos dentro de uma organização Os serviços partilhados resultam da consolidação de processos comuns a toda a organização num único local - o centro de serviços partilhados - de forma a evitar a duplicação do trabalho e promover o estabelecimento e desenvolvimento de sinergias. 2. Têm como competência central a prestação de serviços de suporte Os serviços partilhados destinam-se tipicamente a processos não estratégicos, nomeadamente processos de suporte administrativo ou técnico, podendo compreender desde processos de transacção a processos de maior complexidade. Os processos de transacção caracterizam-se pela sua elevada padronização, baixo risco financeiro e elevado potencial de automação, e incluem, tipicamente, os serviços de contabilidade e operações ligadas às tecnologias de informação e de comunicação. Alguns centros de serviços partilhados podem, ainda, prestar serviços de suporte de maior complexidade e que requerem maior conhecimento, tais como análises financeiras e/ou o desenvolvimento de aplicações. 3. Constituem uma unidade organizacional independente Os centros de serviços partilhados operam como uma unidade independente, possuindo uma gestão autónoma, ainda que sejam tipicamente detidos, na íntegra, pela empresa ou grupo de empresas que constitui, regra geral, o seu principal cliente. Geograficamente, poderão localizar-se num país distinto da empresa-mãe e das restantes unidades de negócio, em virtude da necessidade de se obter informação e recorrer às tecnologias mais adequadas. Acresce, ainda, que os centros de serviços partilhados poderão operar num único país ou região, ou até mesmo de forma global, dependendo da complexidade do processo e da empresa. 4. Estão alinhados com os concorrentes externos De forma a aumentar a sua competitividade, os centros de serviços partilhados adquirem activamente conhecimento estratégico sobre o mercado e sobre a concorrência externa, efectuando benchmarking ao nível do preço, bem como das suas próprias forças e vulnerabilidades. Deste modo, optimizam a sua competitividade perante os seus clientes internos, justificando eventuais desvios. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 7 Atributo Detalhe 5. Apresentam como principal objectivo a redução de custos Através da criação de economias de escala, os centros de serviços partilhados permitem atingir reduções de custos substanciais que poderão rondar cerca de 25% a 30% dos custos iniciais. 6. Têm particular enfoque nos clientes internos Um centro de serviços partilhados procura uma optimização do funcionamento do cliente interno através do resultado do serviço prestado, o qual é definido pelo próprio com preços e níveis de qualidade contratualizados. 7. São geridos como uma empresa privada Plenamente integrados no mercado, os centros de serviços partilhados procuram obter valor acrescentado a um preço que os clientes estejam dispostos a pagar. Fonte: Adaptado de Schulz et al, 2009. Contudo, importa, ainda, clarificar outros conceitos associados à temática dos centros de serviços partilhados, cujas definições apresentadas no Quadro 02 irão servir de referência futura ao longo do presente estudo. Quadro 02 - Outros conceitos chave associados à temática dos centros de serviços partilhados Conceito Definição Outsourcing Contratação de serviços a uma entidade juridicamente autónoma, não afiliada do mesmo grupo económico. Insourcing Contratação de serviços a uma entidade juridicamente autónoma, afiliada do mesmo grupo económico. Onshoring Contratação de serviços a uma entidade juridicamente autónoma (afiliada, ou não, do mesmo grupo económico) localizada no mesmo país da entidade contratante. Offshoring Contratação de serviços a uma entidade juridicamente autónoma (afiliada, ou não, do mesmo grupo económico) localizada num país distinto do da entidade contratante. Nearshoring Contratação de serviços a uma entidade juridicamente autónoma (afiliada, ou não, do mesmo grupo económico) localizada num país distinto mas geograficamente próximo do país da entidade contratante (caso particular de offshoring). Fonte: Elaborado pelos autores. 2.2. Objecto de estudo Tendo em conta as definições apresentadas no ponto anterior, é possível sintetizar o objecto de estudo de acordo com a Figura 01. Figura 01 – Objecto de estudo Fonte: Elaborado pelos autores. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 8 Atendendo aos objectivos do presente estudo, nomeadamente no que diz respeito à análise do impacto dos centros de serviços partilhados na criação de emprego e na atracção e/ou expansão de investimento em território nacional, o objecto de estudo é necessariamente abrangente, envolvendo não só a análise de centros de serviços partilhados, numa lógica de insourcing, como também a análise de empresas que prestam serviços de outsourcing, pois, independentemente de pertencerem, ou não, ao mesmo grupo económico, correspondem, de igual modo, a unidades de negócio independentes intensivas em mão-de-obra qualificada e conhecimento, com impacto na empregabilidade inclusiva e não discriminatória, e na criação de emprego qualificado. De referir, ainda, que ao nível da localização geográfica, foi objectivo estudar todas as decisões de investimento em centros de serviços partilhados com localização em Portugal, i.e., quer numa lógica de onshoring (implementação ou expansão no País de centros de serviços partilhados de grupos económicos com sede em Portugal), quer numa lógica de offshoring (investimento estrangeiro na implementação ou expansão de centros de serviços partilhados em Portugal). Adicionalmente, o objecto do presente estudo envolve todas as tipologias de actividades desenvolvidas pelos centros de serviços partilhados, as quais podem abranger desde actividades de contact center e back office a actividades de I&D, não se restringindo, portanto, a processos/actividades específicas de menor complexidade (isto é, actividades de rotina que envolvem processos com grande volume e sem importância crítica). 2.3. Metodologia Dada a multiplicidade de factores a ter em consideração na execução do presente estudo, foi desenvolvida uma metodologia própria, cujas etapas e instrumentos metodológicos são apresentados de seguida. 2.3.1. Etapas metodológicas Considerando os objectivos traçados, o presente estudo percorreu as seguintes etapas metodológicas: Levantamento bibliográfico: Numa primeira fase, procedeu-se ao levantamento de documentação e à recolha bibliográfica, de forma a suportar a definição dos conceitos fundamentais para este trabalho, caracterizar o sector dos centros de serviços partilhados e identificar os seus desenvolvimentos recentes e, bem assim, as suas tendências de evolução. Nesta fase, foram ainda mapeados os principais referenciais que enquadram o FSE – regulamentos e/ou quaisquer outros documentos estratégicos –, e respectivos eixos fundamentais nos domínios do emprego, da inclusão social e da igualdade de oportunidades, atenta a necessidade de preparar um conjunto de recomendações que sustentem uma estratégia nacional para a dinamização, em Portugal, do sector de centros de serviços partilhados (actividades intensivas em mão-de-obra qualificada, com impacto na empregabilidade inclusiva e não discriminatória). Recolha de informação primária e de informação secundária: As fontes de informação primária permitiram suportar a análise empírica efectuada, aumentar o conhecimento sobre a temática, complementando outra informação de origem secundária proveniente de estudos, relatórios técnicos e da base de dados da Deloitte (desk research), com contributos de inigualável relevância provenientes dos agentes institucionais e empresariais que actuam in loco. Diagnóstico: Com base na recolha de informação efectuada, quer de natureza quantitativa, quer de natureza qualitativa, procedeu-se à caracterização da envolvente nacional ao nível das principais variáveis e condições que concorrem para a definição da localização dos investimentos em centros de serviços partilhados, nomeadamente no que respeita à estrutura das qualificações da população portuguesa e ao mercado de trabalho, aspectos fundamentais para o sector em apreço. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 9 Este diagnóstico permitiu identificar um conjunto de valências e de fragilidades nacionais, potencialmente relevantes quando o País é equacionado como destino privilegiado (ou não) para a implementação e/ou a expansão de tais centros. Por fim, foram, ainda, analisadas as actuais práticas de marketing e de projecção do País especificamente no âmbito do sector dos centros de serviços partilhados, nomeadamente a forma como a informação relevante para a tomada de decisão dos investidores tem vindo a ser disponibilizada e veiculada nos vários canais de comunicação. Avaliação e identificação de best practices: Com base no conhecimento obtido nas etapas anteriores, procurou-se identificar as best practices ao nível de estratégias de captação de investimento em centros de serviços partilhados, dos seus modelos de implementação, dos sistemas de incentivos de apoio ao desenvolvimento destes centros e das competências técnicas, linguísticas e académicas exigíveis ao capital humano a empregar nestes centros. Síntese e recomendações: Foi realizado, nesta fase, um exercício de sistematização das principais conclusões passíveis de serem extraídas das fases precedentes. Tendo por base os resultados obtidos foi efectuada uma reflexão crítica para a definição de orientações e recomendações estratégicas relativamente à problemática estudada, as quais visam suportar a definição da forma de capitalização das valências nacionais para o desenvolvimento de centros de serviços partilhados, colmatando as actuais carências e fragilidades observadas. As recomendações versam, nomeadamente, sobre os sistemas de incentivos e apoios disponibilizados e/ou a disponibilizar especificamente para o sector. Disseminação: Por último, considerando, por um lado, os contributos que o estudo poderá vir a dar para o estabelecimento de políticas públicas futuras neste âmbito e, por outro, a sua eventual relevância no contexto territorial, ficou estabelecida a realização de cinco sessões de disseminação dos resultados do mesmo nas regiões NUTS II do Centro, Alentejo, Algarve, Lisboa e Norte, junto das entidades responsáveis pela planificação do FSE, da administração central, dos empresários e de quaisquer outros agentes da envolvente empresarial que possam usufruir das orientações e recomendações resultantes do presente estudo. 2.3.2. Instrumentos metodológicos 2.3.2.1. Fontes de informação primárias Reuniões exploratórias: A este nível, foram realizadas reuniões exploratórias com os principais grupos de stakeholders do sector dos centros de serviços partilhados em Portugal, designadamente: (i) empresas que desenvolvem a actividade de centro de serviços partilhados em Portugal – Siemens, 3S Solvay Shared Services, Altran Portugal, BNP Paribas, Blip, INAPA Portugal, Alcatel-Lucent e IBM Portuguesa; (ii) organismos públicos de promoção do investimento e do emprego em Portugal – a AICEP e o IEFP; (iii) associações do sector – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal e Associação Portugal Outsourcing; (iv) organismos de promoção do desenvolvimento a nível regional – as CCDR do Alentejo, Algarve, Lisboa e Norte, a “Invest Lisboa” e a Câmara Municipal de Fundão; e (v) plataformas bilaterais de promoção do comércio e investimento – a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã e a Câmara de Comércio Americana em Portugal. Estas reuniões revelaram-se fundamentais para recolher informação sobre a percepção destes diferentes agentes no que respeita às condições que Portugal possui (ou não) para apostar na promoção do desenvolvimento de centros de serviços partilhados, sobre a imagem externa de Portugal ao nível deste sector, aos pontos fracos que devem ser superados no sentido de maximizar as oportunidades de investimento no sector, entre outra informação marcadamente relevante para o presente estudo. Inquéritos web-based: Neste âmbito, foram inquiridas trinta e nove empresas, abrangendo características distintas ao nível da sua dimensão (volume de negócios, número de colaboradores, entre outros), da tipologia de actividade desenvolvida (nomeadamente, contact centers, centros de suporte administrativo/financeiro e centros de I&D ou centros de competências), do estágio da operação (em fase de instalação ou em fase de desenvolvimento), entre outros. Os resultados obtidos foram relevantes na identificação das principais oportunidades de melhoria para a afirmação de Portugal enquanto destino de excelência para a implementação de centros de serviços partilhados, contribuindo, deste modo, para o aprofundamento da análise empírica e a fundamentação das recomendações e conclusões decorrentes da mesma. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 10 Estudos de caso: Neste contexto, procedeu-se à recolha de informação de natureza quantitativa e qualitativa relativamente às boas práticas identificadas, a partir de métodos de pesquisa documental e de reuniões exploratórias. O desenvolvimento destes estudos de caso configurou um instrumento privilegiado de recolha de informação, aferindo fragilidades e complementando informação documental com a experiência concreta dos principais intervenientes nos processos de implementação de centros de serviços partilhados em Portugal. 2.3.2.2. Fontes de informação secundárias No que respeita à investigação e tratamento de informação de natureza secundária, foram analisados estudos e relatórios da Deloitte e outros documentos considerados relevantes e enquadradores do objecto da avaliação, como sejam os referenciais metodológicos, os regulamentos nacionais e europeus e outros documentos de natureza estratégica nos domínios do emprego, da inclusão social e da igualdade de oportunidades, sendo de destacar, a este nível, os regulamentos do FSE e do FEDER. Adicionalmente, foram utilizadas como fontes de informação secundárias, publicações, relatórios técnicos e estudos, directa ou indirectamente relacionados com o tema em análise (nomeadamente, nos domínios da demografia, fiscalidade e economia) tendo em vista reforçar a qualidade da sua fundamentação e a riqueza dos resultados obtidos. Ainda neste âmbito, é de relevar que foi realizado um benchmarking internacional em relação ao posicionamento competitivo de Portugal em termos dos diversos factores de atractividade de investimento em centros de serviços partilhados, o qual permitiu identificar as vantagens e desvantagens competitivas de Portugal face a alguns dos seus concorrentes na captação de investimento em centros de serviços partilhados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 11 Parte II – Enquadramento global do modelo de serviços partilhados e a atracção de investimento POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 12 3. O modelo dos centros de serviços partilhados 3.1. Enquadramento dos modelos organizacionais Para responder aos desafios crescentes que vão surgindo e aumentar a competitividade, as organizações são obrigadas a encontrar soluções inovadoras e adaptativas que promovam a sua eficiência e eficácia num mercado globalizado. Neste contexto, as organizações vêem-se na necessidade de alterar estratégias, criar novos modelos de negócio e adaptar processos e operações para aproveitar as oportunidades emergentes e criar valor para os seus clientes. A concorrência num mercado cada vez mais global tem exigido às empresas o esforço constante de repensar a estruturação das suas operações e, bem assim, das suas formas e modelos de organização e gestão interna no sentido de determinar a melhor alocação dos recursos disponíveis entre as suas competências e actividades nucleares e aquelas que poderão ser consideradas periféricas ou de suporte. Neste âmbito, os modelos organizacionais aplicados têm verificado várias alterações e evoluções, desde o modelo centralizado até aos modelos de outsourcing e de serviços partilhados, convergindo para a separação das actividades que são consideradas estratégicas para a competitividade das empresas daquelas que podem ser consideradas de suporte. Neste contexto, o modelo de organização das actividades estratégicas e de suporte das empresas, assente nos serviços partilhados, distingue-se dos modelos mais tradicionais, tais como os modelos descentralizado, centralizado e de outsourcing, sobretudo no que respeita à apropriação dos proveitos, aos sistemas de reporte e aos processos de decisão, tal como se ilustra no Quadro seguinte. Quadro 03 – Análise comparativa de modelos organizacionais Diferenças ao nível da apropriação dos proveitos e das responsabilidades de reporte e de gestão Vantagens e desvantagens dos modelos Modelo Descentralizado Modelo Centralizado Modelo de Outsourcing Modelo de Serviços Partilhados Proveitos Empresa Empresa Entidade subcontratada Unidade de negócio Reporte Departamento Empresa Entidade subcontratada Unidade de negócio Gestão Departamento Empresa Entidade subcontratada Unidade de negócio Vantagens Flexibilidade Controlo, consistência Custo de start-up reduzido Eficiência, downsizing Desvantagens Desvio em relação às competências centrais Inércia Dependência, perda de controlo Mudança de cultura, custo de start-up elevado Fonte: Adaptado de Bergeron, 2003. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 13 3.1.1. Modelo descentralizado O modelo descentralizado caracteriza-se pela dispersão dos serviços/actividades pelas diversas unidades organizacionais presentes na organização, tais como departamentos e unidades de negócio. A principal vantagem deste tipo de modelo prende-se com a celeridade no processo de decisão e elevada flexibilidade para realizar alterações ou ajustes. Contudo, o modelo descentralizado, teoricamente, é um modelo economicamente pouco vantajoso, não permitindo obter economias de escala (promove a redundância dos processos), uniformização tecnológica e homogeneização de processos e não facilitando, por fim, a especialização dos recursos. 3.1.2. Modelo centralizado O modelo centralizado tem a vantagem de proporcionar um elevado grau de controlo da gestão e maximizar as economias de escala. Contudo, apresenta como desvantagens o facto de exigir mais tempo para a tomada de decisão e, deste modo, implicar menor qualidade no serviço prestado. Não obstante, este modelo, pela concentração, favorece a constante actualização tecnológica e a utilização de infra-estruturas de maior qualidade, ainda que as mesmas possam ficar comprometidas pela inércia intrínseca à maior complexidade e morosidade do processo de tomada de decisão. 3.1.3. Modelo de outsourcing No modelo de outsourcing as actividades/serviços não estratégicos são contratados a uma entidade externa, não afiliada, que poderá prestar os mesmos serviços a um conjunto mais ou menos vasto de outros clientes. O principal objectivo deste modelo é a redução de custos, evitando-se a contratação de colaboradores a tempo inteiro para projectos de curto prazo, e permitindo a concentração de recursos nas actividades centrais para a organização. Face ao modelo de serviços partilhados, o modelo de outsourcing apresenta a vantagem de comportar baixos custos iniciais de implementação (start-up). 3.1.4. Modelo de serviços partilhados Este modelo de gestão caracteriza-se pela concentração dos serviços não estratégicos numa unidade de negócio autónoma, ainda que integrada no mesmo grupo económico, com total responsabilidade pelo controlo, reporte e gestão dos recursos, e localização própria, preferencialmente equidistante dos parceiros que partilham os benefícios dos seus serviços. Neste caso, as receitas com os serviços não estratégicos mantêm-se na empresa (ou no grupo de empresas) através de uma relação contratual em que o centro de serviços partilhados comprometese a prestar um serviço em volume e quantidade especificadas, a troco de um determinado rendimento. As principais vantagens deste modelo prendem-se com o controlo, a uniformização de processos, o downsizing e a especialização de serviços. Adicionalmente, este modelo permite obter elevadas economias de escala, alcançar a uniformização tecnológica e homogeneização de processos, facilita a especialização dos recursos, acompanha as oscilações das necessidades das empresas associadas e a incorporação de novas empresas por aquisição ou fusão. Não obstante, este modelo apresenta algumas desvantagens, nomeadamente maiores custos de implementação, bem como a possível duplicação de certas estruturas administrativas, tais como as necessidades de contabilidade que as novas estruturas exigem. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 14 3.2. Caracterização do modelo de serviços partilhados Apresentados os diferentes modelos organizacionais existentes, procedemos, de seguida, a uma análise mais detalhada do modelo de serviços partilhados, através, designadamente, da identificação das suas principais motivações, dos seus factores críticos de sucesso e principais áreas de risco. O conceito de “serviços partilhados” surgiu no sector privado no final da década de 80 do século passado, quando as grandes empresas com múltiplas unidades de negócio começaram a analisar e a rever os seus processos internos e a tentar definir modelos de negócio mais eficientes e eficazes. As novas unidades resultantes de tais reestruturações foram, assim, adquirindo uma relativa autonomia, focalizando-se sobretudo na oferta de serviços específicos de suporte à gestão do negócio, com o menor custo possível, fomentando ganhos de eficiência significativos por via da promoção da padronização e da reengenharia dos processos. Com efeito, desde a sua génese, a dinâmica decorrente dos serviços partilhados tem vindo a ser alavancada em organizações de cada vez maior dimensão e complexidade, nomeadamente, em empresas e/ou grupos de empresas com mais de Euro 2 mil milhões de receitas e com múltiplas unidades de negócio (adaptado de Shulman et al, 1999). Deste modo, o principal objectivo que esteve na génese deste tipo de centros foi a concentração de serviços não estratégicos de uma determinada empresa e/ou grupo de empresas, com carácter repetitivo, os quais incluem, na maior parte dos casos, actividades conexas com a contabilidade, os recursos humanos e, bem assim, o desenvolvimento de operações com forte ligação às tecnologias de informação e comunicação (adaptado de Walsh et al, 2006). Mais recentemente, muitas organizações verificaram que o conceito de serviços partilhados poderia ser igualmente aplicável a outras actividades mais relacionadas com a prestação de serviços a clientes “externos”, como por exemplo a constituição de centros de atendimento (call centers). Com efeito, se, por um lado, é fundamental para as empresas manterem o controlo e a proximidade das suas competências centrais, por outro, a própria definição de competências centrais está a tornar-se progressivamente mais restrita. De facto, actividades de elevado valor tais como a I&D e o desenho de novos produtos, entre outras, têm vindo a ser desconstruídas e padronizadas, de modo a poderem ser incluídas em centros de competências. Neste sentido, a criação de um centro de serviços partilhados não encontra justificação apenas na redução de custos, mas também na melhoria do serviço prestado, assim como na maior criatividade, inovação e melhor ligação com os respectivos parceiros, fornecedores e clientes. Figura 02 – Actividades incluídas em centros de serviços partilhados Fonte: McKinsey Global Institute, 2003. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 15 3.2.1. Principais motivações Os serviços partilhados pressupõem uma estratégia colaborativa que visa a optimização dos recursos humanos, capital, tempo e outros recursos corporativos, concentrando a actividade numa nova unidade de negócio autónoma - o centro de serviços partilhados, designada para promover a eficiência, criar valor, reduzir custos e prestar serviços de excelência a toda a organização. Não obstante as inúmeras vantagens associadas à implementação deste modelo, não existe uma receita única (one-size-fits-all-strategy) para a sua implementação, devendo cada organização avaliar cuidadosamente a sua estratégia de evolução, atendendo ao seu contexto particular. Neste sentido, as organizações são confrontadas, de um modo geral, com várias questões fundamentais quando necessitam de decidir sobre a implementação e/ou expansão (ou não) de um centro de serviços partilhados, nomeadamente as seguintes: Quais são as fontes de valor da organização? Até que ponto a organização tem capacidade para mudar e quando deve mudar o seu modelo organizacional? Quais são as actividades e competências que devem ser transferidas para o centro de serviços partilhados, em função da sua importância estratégica, homogeneidade e volume de processamento? O que deve fazer o centro de serviços partilhados? Desempenhar uma ou várias funções e processos para várias unidades de negócio? Como deve actuar o centro de serviços partilhados? A nível local, regional ou global? Qual o valor da poupança de custos em serviços não estratégicos que se obtém com a criação ou a expansão de um centro de serviços partilhados? Em que medida o modelo de serviços partilhados melhora a eficiência e a eficácia do modelo de negócio em vigor? Qual o custo da implementação do centro de serviços partilhados, tendo em consideração a alteração da cultura empresarial, as despesas em consultoria, o investimento em novas estruturas de gestão e os gastos com formação, entre outros? Qual o impacto, na qualidade do serviço prestado, do distanciamento das actividades e competências que venham a ser transferidas para o centro de serviços partilhados? Quanto tempo demora até o modelo de serviços partilhados atingir o break-even? Conforme já referido, são vários os benefícios que a aplicação do modelo de serviços partilhados pode trazer para as empresas, os quais concretizam as principais causas motivadoras para a sua implementação ou expansão, a saber: Redução de custos - Decorrente da constante pressão dos clientes internos, a redução de custos constitui o benefício mais evidente para as empresas ou grupo de empresas que optem pela implementação ou a expansão de um centro de serviços partilhados; Melhoria da qualidade do serviço - O enfoque na orientação do serviço para os clientes externos proporciona uma melhoria da qualidade do serviço prestado aos clientes internos, face à prestação dos mesmos serviços de forma descentralizada em cada departamento; Maior enfoque nas competências centrais da empresa - Com as actividades não críticas e de backoffice asseguradas pelos centros de serviços partilhados, a gestão da empresa ou do grupo de empresas pode concentrar-se com maior intensidade nas suas competências centrais; Potencial para a criação de um novo centro lucrativo - Enquanto entidade autónoma, o centro de serviços partilhados pode, de igual modo, ser operado de forma a prestar o mesmo tipo de serviços a clientes externos à empresa ou ao grupo de empresas, gerando, por conseguinte, um ainda maior retorno; POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 16 Maior eficiência - A padronização dos processos e a aplicação de tecnologias apropriadas podem melhorar a qualidade do serviço prestado a preços comparáveis ou mesmo inferiores; Ganhos de economias de escala - Por via da concentração de actividades que, de outro modo, estariam dispersas, os centros de serviços partilhados aumentam as economias de escala, comparativamente às estruturas organizacionais tradicionais. 3.2.2. Principais factores críticos de sucesso Tendo em conta as especificidades que caracterizam o modelo de serviços partilhados, é crucial conhecer e gerir eficazmente os factores críticos passíveis de garantir a implementação com sucesso de um centro de serviços partilhados. Neste âmbito, apresenta-se, de seguida, os seus principais factores críticos de sucesso. Cultura empresarial - A consolidação/concentração de actividades num centro de serviços partilhados promove várias mudanças e transformações na organização, assistindo-se, por vezes, à reafectação dos colaboradores a novas e/ou diferentes tarefas ou realocação a uma diferente estrutura de gestão. A mudança no contexto organizacional, aliada à transformação corporativa ao nível da gestão, origina mudanças nas expectativas e abrange alterações fundamentais no comportamento dos colaboradores envolvidos e nos seus padrões de trabalho, verificando-se, por vezes, alguma resistência individual à implementação de centros de serviços partilhados. Assim, o maior desafio das organizações passa por evitar grandes impactos na criação ou expansão de centros de serviços partilhados, dado que a resistência individual se apresenta como uma importante ameaça à implementação, com sucesso, destes centros, implicando, consequentemente, uma redução de eficiência na sua fase inicial. Com efeito, para uma mudança eficaz com o mínimo de resistência é necessário aferir o nível de aversão ao risco implícito na cultura da empresa e manter níveis de motivação, através de um correcto plano de gestão da mudança, envolvendo, por exemplo, acções de formação para garantir a aptidão adequada dos colaboradores às novas funções a desempenhar, minimizando assim o risco decorrente da criação ou expansão de centros de serviços partilhados. Ambiente concorrencial - A forte concorrência verificada entre os centros de serviços partilhados e as entidades de outsourcing dedicadas à prestação de serviços semelhantes é apontada como um factor decisivo para a maximização do potencial do modelo de serviços partilhados. Com efeito, a concorrência real por parte de outros fornecedores externos no segmento de negócio em que o centro de serviços partilhados actua, promove a melhoria da qualidade do serviço prestado e conduz à necessidade permanente de recorrer às melhores práticas existentes no mercado. Dimensão da empresa - Um terceiro factor prende-se com o requisito mínimo que o modelo impõe para a dimensão da empresa e para o seu volume de receitas. Este valor mínimo depende do negócio da empresa-mãe, do respectivo volume e custo unitário, bem como do custo relativo dos modelos alternativos. Tempo de implementação - Uma vez que o modelo de serviços partilhados requer uma transformação de processos internos da organização, o tempo revela-se, igualmente, um factor crítico. Com efeito, quanto maior e mais diversificada for a empresa, maior será o período temporal necessário para garantir a implementação, com sucesso, do modelo e maiores serão os custos envolvidos. Realça-se, a este nível, que o principal obstáculo a uma implementação mais rápida, geralmente, não se prende com a disponibilidade de recursos ou com barreiras tecnológicas, mas com o tempo necessário a uma alteração da cultura organizacional. 3.2.3. Principais factores de risco A implementação de um centro de serviços partilhados envolve riscos para as empresas, os quais se verificam a vários níveis, tal como se apresenta de seguida: POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 17 Risco administrativo - Neste âmbito, os riscos mais significativos são os seguintes: estratégia desadequada de implementação do modelo, planeamento incompleto, falhas na compreensão do negócio, estrutura organizacional imperfeita, resistência à mudança, desvio de recursos e derrapagens no tempo. Tais situações podem mesmo colocar em risco a ideia de implementar ou expandir o centro de serviços partilhados. Risco económico - Outro importante factor de risco prende-se com as condições económicas externas, que incluem uma economia fraca ou concorrência mais intensa durante o período de transição para o modelo de serviços partilhados. Neste âmbito, importa também referir outros factores relevantes que podem ocorrer, tais como: custos superiores aos estimados, falta de massa crítica de serviços e a prática de um preço incorrecto, entre outros. Risco político – A este nível, os riscos poderão advir da instabilidade política (propensão para a ocorrência de golpes de estado, guerra civil, entre outros), e da instabilidade da legislação doméstica, nomeadamente no que respeita ao quadro de incentivos e à tributação. Risco legal - Poderão ainda surgir múltiplos problemas legais decorrentes da implementação de um centro de serviços partilhados, como, por exemplo, violação de privacidade dos clientes, perda de propriedade intelectual, contratos mal elaborados ou questões de fraude associadas à prestação de serviços de contabilidade, que poderão dar origem, em última análise, à falência da empresa. Risco tecnológico - No que respeita aos riscos tecnológicos, os mais críticos prendem-se com a paralisação dos processos cruciais da empresa-mãe, por quebra dos serviços prestados pelo centro de serviços partilhados. Outros riscos associados a este aspecto decorrem de problemas de escala na tecnologia aplicada quando o serviço é transferido para o centro de serviços partilhados, podendo ter origem na insuficiência da própria tecnologia, bem como na sua incorrecta utilização ou implementação demasiado complexa. Risco de marketing - Por fim, ao nível do marketing e das vendas, o maior risco será a falta de mercado interno, podendo mesmo suceder que o mercado não preencha as condições necessárias para que a alteração para um modelo de serviços partilhados seja, como expectável, verdadeiramente rentável. 3.3. Caracterização dos factores influenciadores das decisões de offshoring Nesta secção, analisam-se os principais factores que, actualmente, promovem ou inibem a tomada de decisões de localização em offshoring, quer no modelo de serviços partilhados, quer no modelo de outsourcing, uma vez que ambos constituem o objecto do presente estudo. 3.3.1. Factores facilitadores Ao nível dos factores que promovem a tomada de decisões de localização de centros de serviços partilhados em offshoring, apresentamos, seguidamente, aqueles que se consideram mais relevantes: Redução de custos - Este factor mantém-se como um dos principais aspectos presentemente ponderados no processo de decisão do offshoring. Com efeito, a redução de custos constitui um elemento decisivo, mesmo em tarefas de alguma complexidade, como a programação ao nível das TIC. Não obstante o exposto, a análise das tendências actuais permite, de igual modo, observar que quanto maior o valor acrescentado e o nível de complexidade das actividades, menor tem vindo a ser a importância atribuída pelas empresas ao factor “baixo custo”. Na realidade, com o aumento do valor acrescentado das actividades desenvolvidas, a procura e retenção de talento tende a possuir maior relevância que a procura de baixos salários. Limitações internas de criatividade - Alguns sectores registam constrangimentos consideráveis quanto à capacidade de manterem níveis adequados de inovação assentes apenas em fontes internas de criatividade, como acontece, por exemplo, no sector dos produtos farmacêuticos. Em sectores de alta tecnologia, é sobretudo a procura de novas fontes de criatividade e de talento que move as empresas para a opção de localizar os seus centros de serviços partilhados ou fornecedores de outsourcing em países distintos dos das suas sedes (offshoring). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 18 Procura de talento estrangeiro - A procura de talento estrangeiro apresenta-se actualmente como um factor crítico na motivação do offshoring. Uma vez que o número de diplomados em ciências e engenharia nos países mais ricos (designadamente, na Europa e nos EUA) tem estagnado desde a década de 90 do século passado, verifica-se uma efectiva e crescente escassez de graduados em diversas áreas técnicas e tecnológicas. Simultaneamente, em certas áreas, a oferta de diplomados em países emergentes, para além do seu número crescente, é cada vez mais capaz, mais actualizada, apresentando uma sintonia adequada com os desenvolvimentos observados a nível global. Existência de clusters de conhecimento - Um cluster de conhecimento é uma densa rede de empresas, de fornecedores, de universidades e de centros de investigação, interligados, cuja proximidade e interacções potenciam a capacidade de resposta e de inovação da indústria, não sendo facilmente replicável em outros lugares. Efectivamente, verifica-se que o envolvimento em clusters de conhecimento constitui um importante factor de decisão da localização para o investimento em offshoring. Este tipo de clusters não só 1 atrai IDE, como também talento externo móvel . Adicionalmente, à medida que mais empresas multinacionais são atraídas para um cluster, o seu potencial de atracção aumenta, reforçando, deste modo, um ciclo virtuoso de aglomeração de empresas e de reforço da sua notoriedade enquanto centro de excelência. Relevância do mercado local - A importância do mercado local constitui, de igual modo, um dos principais critérios utilizados pelas empresas para identificar e seleccionar os locais adequados para implementar centros de serviços partilhados, em offshoring. Em particular, a importância de um mercado pode ser avaliada através dos seguintes factores: (i) dimensão actual; (ii) dimensão 2 potencial; (iii) capacidade de actuar como ponto relevante na cadeia de abastecimento global e/ou regional e, por fim, (iv) capacidade de fomentar novas ideias. Rotinização parcial das funções de elevado valor - As actividades consideradas centrais ou estratégicas podem ser classificadas em dois níveis: (i) actividades de rotina e (ii) actividades que constituem activos de propriedade intelectual da empresa. A função de gestão de recursos humanos, por exemplo, detém aspectos de importância crítica para o negócio. Por outro lado, actividades como a manutenção de registos ou a gestão de benefícios são passíveis de ser padronizadas e subcontratadas a outra entidade (afiliada, ou não, do mesmo grupo económico). Apesar de, tradicionalmente, as actividades de I&D serem tratadas como altamente confidenciais e não sendo passíveis de concentração numa nova entidade (interna ou externa ao grupo económico), mais recentemente, as empresas têm vindo a concluir que a função de I&D, nomeadamente a aplicação de patentes e/ou o desenvolvimento de produto, pode ser parcialmente sistematizada e codificada mediante o recurso a sistemas de TIC e, deste modo, pode ser concentrada em centros de serviços partilhados ou contratada a entidades externas, permitindo obter poupanças significativas. Procura de maior flexibilidade e eficiência nas organizações - Com o aumento do ritmo de mudança nas várias indústrias, as empresas sentem, cada vez mais, uma maior pressão para se tornarem mais flexíveis às novas realidades organizacionais e de mercado. Neste contexto, o modelo de gestão por integração vertical tem vindo a revelar limitações consideráveis, manifestando-se, por conseguinte, inadequado. Assim, a separação de algumas partes das operações, para centros de serviços partilhados ou empresas de outsourcing, poderá originar empresas mais flexíveis e mais focadas, fornecendo uma resposta mais eficaz aos desafios crescentes que vão surgindo. 1 A título de exemplo, refira-se a emergência nos últimos anos de um cluster de biotecnologia em Singapura graças, em particular, à existência de um quadro de incentivos fiscais generosos e de outro tipo de apoios disponibilizados pelo governo local que promovem a utilização e valorização de factores imateriais de competitividade, como o conhecimento. 2 A título de exemplo, refira-se que, enquanto mercado local, Taiwan apresenta uma dimensão reduzida ou média. Contudo, enquanto centro de desenho de circuitos integrados e de computadores, a ilha integra globalmente a cadeia de abastecimento das indústrias, apresentando-se como um importante ponto de ligação entre os produtores chineses e os mercados ocidentais e entre a tecnologia ocidental e o mercado chinês continental, vendo assim a sua importância geográfica exceder, em muito, a sua dimensão. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 19 Obtenção de economias de escala - Quando certas funções auxiliares de várias divisões ou departamentos de uma empresa ou de um grupo de empresas não são executadas continuamente, as capacidades e a experiência acumulada poderão revelar-se insuficientes para garantir, de modo sustentado, elevados níveis de desempenho. Contudo, o centro de serviços partilhados ou a entidade subcontratada externamente, ao permitir a consolidação de pessoal, processos e sistemas numa única localização, permite obter economias de escala, sendo por isso muito mais eficiente na realização destas funções quando feita a comparação com as empresas que executam as mesmas funções internamente por diversas unidades organizacionais. Esta diferença deve-se ao facto de a especialização resultar numa aprendizagem mais profunda e repetitiva de uma função específica, em comparação com o desempenho verificado nas empresas clientes. 3.3.2. Factores inibidores Ao nível dos factores inibidores, procede-se, de seguida, à identificação dos principais factores que obstam a implementação da localização em offshoring, tanto numa lógica de serviços partilhados, como de outsourcing: Dificuldade na transferência de conhecimento - A transferência de actividades para centros de serviços partilhados ou empresas em regime de outsourcing pode revelar-se um processo difícil, demorado e até dispendioso, principalmente quando se trata de uma actividade intensiva em conhecimento. De facto, algumas tarefas mais complexas são de difícil transferência, principalmente para países em vias de desenvolvimento, por estas envolverem um elevado investimento em formação, de modo a capacitar os trabalhadores para a realização das novas funções, o qual, pode, por vezes, exceder o valor das poupanças perspectivadas com o pagamento de salários mais baixos a estes colaboradores. Aumento dos custos nas localizações offshore - As realocações para locais em offshoring implicam não só custos iniciais de instalação, de transferência de conhecimento e de formação, como também custos de funcionamento das operações no exterior. Em certos locais com investimentos significativos em offshoring, tais como Bangalore e Hyderabad, na Índia, ou Shenzhen, na China, os custos do trabalho qualificado duplicaram, ou mesmo quintuplicaram, desde meados da década de 90 do século passado. Adicionalmente, a capacidade de retenção do capital humano é um dos maiores desafios ao sucesso do offshoring. Com efeito, as empresas que apresentam, em média, uma melhor performance são as que mais investem nos seus recursos humanos numa perspectiva estratégica de futuro, através de formação, geral e específica, e da melhoria dos níveis de compromisso e participação dos seus colaboradores. Risco de fugas de informação - Os receios de fuga de informação podem assumir duas formas. Em primeiro lugar, existe a preocupação de que a subcontratação pode aumentar a ocorrência de situações involuntárias de spillovers de tecnologias, nomeadamente quando envolve uma elevada rotação de pessoal entre empresas concorrentes. A este nível, refira-se que alguns estudos apontam que a legislação laboral e a propriedade intelectual são factores dominantes na escolha da localização de centros de I&D, atento o risco reconhecido de fugas de informação. Não obstante, em alguns casos, a ameaça competitiva poderá ainda advir da empresa subcontratada que, tendo dominado uma parte importante da cadeia de valor, poderá, numa fase posterior, expandir as suas operações para competir com seus antigos clientes. O segundo receio relacionado com as fugas de informação, consiste na possibilidade de ocorrer um "esvaziamento" das competências centrais de uma empresa ou grupo de empresas, contribuindo para o seu enfraquecimento no médio a longo prazo. Custos de instalação - Outro obstáculo ao offshoring está relacionado com os custos e dificuldades de instalação, de formação, de monitorização/coordenação e de contratação, os quais podem ser condicionados, não apenas por factores culturais, como também pela distância física e/ou pela disparidade de fusos horários. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 20 As dificuldades de contratação, em particular, incluem a incapacidade de um contrato, qualquer que seja a sua extensão, cobrir todas as contingências, um factor que assume particular importância em offshoring, na medida em que os contratos são mais propensos a mal-entendidos resultantes de diferenças culturais e linguísticas, sendo, por isso mesmo, a sua aplicabilidade mais incerta em ambientes externos às empresas. São ainda observados outros factores passíveis de condicionar os custos de instalação, nomeadamente a regulação específica de certos sectores em determinados países. Xenofobia e proteccionismo nas economias desenvolvidas - Em geral, a xenofobia e um ambiente crescente de proteccionismo podem colocar entraves à tendência de desenvolvimento do offshoring em algumas áreas, como sejam o atendimento telefónico a clientes ou a disponibilização de serviços financeiros. Em particular, o sotaque, o conhecimento local e as afinidades culturais são factores importantes nos centros de atendimento, pela forma como podem afectar a percepção de valor por parte do cliente. Neste sentido, factores como a percentagem da população que fala inglês, bem como o nível médio de instrução podem revelar-se críticos em processos de offshoring. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 21 4. Evolução dos centros de serviços partilhados no plano internacional e principais tendências 4.1. O passado dos centros de serviços partilhados A revolução das TIC foi o elemento catalisador que levou ao surgimento dos serviços partilhados e do outsourcing em regime de offshoring, na década de 80 do século passado, permitindo às empresas fragmentarem os seus processos, no mercado global, de uma forma eficaz e eficiente. Adicionalmente, a evolução e o crescimento do offshoring assentaram em dois factores fundamentais: (i) os custos relativamente baixos de delegar tarefas a entidades localizadas em países distintos (afiliadas, ou não, do mesmo grupo económico) e (ii) a capacidade evidenciada pelos prestadores de serviços nestes países de venderem serviços diferentes, superiores em qualidade, ou mais especializados do que aqueles já disponibilizados nos países das empresas compradoras. Neste contexto, a ideia original de offshoring centrava-se no facto de as empresas poderem efectuar poupanças relevantes, mediante o envio de processos e actividades do seu negócio, intensivos em mão-de-obra, para geografias com salários inferiores. De facto, esta estratégia prevaleceu durante várias décadas, tendo gerado, efectivamente, um forte crescimento do movimento de offshoring. Contudo, a abordagem à prática de offshoring, em centros de serviços partilhados e outsourcing, tem vindo a registar alterações, atento o esgotamento da arbitragem de custos do trabalho, com o aumento significativo dos salários praticados em países como a China e a Índia (países que registam um forte historial de atracção na implementação de centros de serviços partilhados), ao mesmo tempo que o custo da mão-de-obra na América do Norte e na Europa não tem registado alterações significativas. Por outro lado, verifica-se que outros países, como, por exemplo, o Vietname, a Indonésia ou as Filipinas, conseguem ainda oferecer salários baixos, não dispondo, porém, das economias de escala da China ou da Índia, nem a eficiência das suas cadeias de abastecimento. Com efeito, embora ainda seja possível observar diferenças significativas entre os salários praticados em distintas partes do mundo, outros factores, como, por exemplo, o fuso horário e a proximidade geográfica estão, cada vez mais, a ganhar importância na decisão de localização dos investimentos em centros de serviços partilhados e outsourcing. Paralelamente, o tipo de serviços que é abrangido pelo regime de offshoring tem também evoluído. De facto, enquanto numa fase inicial, o offshoring encontrava-se muito limitado aos serviços conexos com o back office e funções administrativas, progressivamente, as empresas puderam comprovar os importantes benefícios deste modelo, potenciados pela própria evolução e melhoria das capacidades dos fornecedores de serviços, o que levou à inclusão progressiva de processos adicionais em regime de offshoring. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 22 Assim, mais recentemente, os serviços em offshoring têm-se expandido para actividades que envolvem a utilização intensiva de capital humano especializado e serviços com uma forte componente de conhecimento. Este processo evolutivo verificado ao nível da tipologia de actividades/serviços abrangidos pelo offshoring envolveu, igualmente, importantes mudanças na geografia do sector. Com efeito, quanto maior o valor acrescentado dos serviços abrangidos, menos relevante se torna a arbitragem de custos, ganhando importância, no contexto da tomada de decisões de offshoring, factores como (i) as qualificações específicas dos colaboradores, (ii) a sua formação académica e experiência profissional, (iii) o domínio de diferentes línguas, e (iv) a própria envolvente do negócio. Adicionalmente, o fuso horário, a afinidade cultural e a proximidade geográfica também se têm vindo a revelar como factores cada vez mais importantes nas tomadas de decisões de offshoring, dando lugar a uma nova categoria de offshoring, designada de nearshoring – situação em que o centro de serviços partilhados está localizado num país distinto mas geograficamente próximo do país da entidade contratante. 4.2. O presente e o futuro dos centros de serviços partilhados A actual conjuntura económica a nível global reforça a necessidade de levar a cabo estratégias empresariais assentes na optimização de custos e na procura de maior retorno dos investimentos, pelo que a implementação e o bom desempenho dos centros de serviços profissionais se revela, cada vez mais, uma abordagem relevante no seio das organizações. Actualmente, o sector dos serviços partilhados regista um forte crescimento, com uma procura intensa por centros de serviços partilhados mais abrangentes e com um maior alcance geográfico, de forma a maximizar todas as potencialidades que este modelo oferece. Neste sentido, analisam-se, de seguida, as principais evidências do contexto actual dos centros de serviços partilhados a nível internacional e, bem assim, as tendências mais relevantes para o futuro deste modelo organizacional, focadas em três grandes áreas: localização, âmbito dos serviços/actividades e motivações. Esta análise tem por base os inquéritos bianuais elaborados pela 3 Deloitte acerca do tema dos centros de serviços partilhados, com especial incidência no inquérito do ano de 2013, o qual obteve respostas de 277 empresas, na sua maioria enquadradas na indústria transformadora e produtos de consumo, representando 38 países e 870 centros de serviços partilhados. 4.2.1. Localização No que respeita à localização dos centros de serviços partilhados, de acordo com os resultados do inquérito da Deloitte realizado em 2013, verifica-se, em comparação com os resultados de 2011, (i) uma maior representatividade da Europa de Leste e da Escandinávia ao nível da localização de centros de serviços partilhados na Europa, (ii) a manutenção do número de centros de serviços partilhados sedeados nos EUA e na Ásia (ainda que com um aumento significativo dos centros localizados na Índia), e (iii) um aumento substancial do número de centros de serviços partilhados localizados na América Latina, com especial destaque para a América do Sul. 3 “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2013. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 23 Neste contexto, apresenta-se, de seguida, o Gráfico 01, o qual retrata a distribuição geográfica dos centros de serviços partilhados. Gráfico 01 – Distribuição geográfica dos centros de serviços partilhados Legenda: + 40 centros de serviços partilhados 20 – 39 centros de serviços partilhados 10 – 19 centros de serviços partilhados 1 – 9 centros de serviços partilhados 0 centros de serviços partilhados Fonte: “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2013. De modo a reconhecer as principais alterações que se têm verificado ao nível da localização geográfica dos centros de serviços partilhados, apresenta-se, de seguida, o Gráfico 2 que identifica as dez localizações com maior número de centros de serviços partilhados, considerando dois níveis de maturidade: centros de serviços partilhados com menos de três anos e centros de serviços partilhados com mais de dez anos. Na análise deste Gráfico, é possível identificar uma maior dispersão dos centros de serviços partilhados mais recentes pelos dez países mais atractivos, por comparação com uma forte concentração nos EUA dos centros de serviços partilhados com mais de dez anos. Com efeito, têm surgido vários novos destinos de centros de serviços partilhados, implicando a perda de quota e notoriedade das tradicionais localizações destas organizações, com destaque para os EUA que possuía a liderança clara deste sector. Gráfico 02 – TOP 10 das localizações de centros de serviços partilhados, por nível de maturidade 45% 42% 40% 35% 30% 25% centros de serviços partilhados < 3 anos 20% 15% centros de serviços partilhados > 10 anos 13% 8% 6% 10% 5% 7% 6%6% 2% 6% 2% 5% 3% 6% 4% 4% 3%3% 3% Suécia México 0% EUA Índia Brasil Reino Unido China Finlândia Espanha Chile Fonte: “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2013. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 24 Paralelamente, importa analisar quais as regiões que são consideradas na avaliação da localização de novos centros de serviços partilhados e, bem assim, a sua importância relativa, no sentido de identificar quais as perspectivas ao nível da distribuição geográfica neste sector. Para o efeito, é apresentado o Gráfico 03, o qual apresenta as respostas do inquérito à questão “Quais as regiões consideradas para novos centros de serviços partilhados?”. Gráfico 03 – Regiões consideradas para a criação de novos centros de serviços partilhados Índia 8% Outros 4% Estados Unidos da América / Canadá 9% América Latina 28% Europa Ocidental 11% Ásia e Pacífico 19% Europa de Leste 21% Fonte: “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2013. Neste contexto, verifica-se que 50% das potenciais localizações identificadas são países na América Latina e na Europa de Leste. De facto, numa análise ao nível do país, verifica-se que o TOP 3 de países considerados para a localização de novos centros de serviços partilhados é constituído pelo Brasil, pela Polónia e pela Índia, os quais representam um total de cerca de 30% das respostas obtidas. De relevar, a este nível, que a América Latina era, em 2011, a segunda região mais considerada para a localização de novos centros de serviços partilhados, tendo alcançado o primeiro lugar, em 2013, a par de um aumento do peso do Brasil de 2%, em 2011, para 11%, em 2013, seguido do México e da Argentina. Ao nível da Europa de Leste, região que ocupa o segundo lugar, a Polónia é o país mais considerado para a implementação de centros de serviços partilhados, seguido pela Hungria e pela Roménia. Uma das principais razões que justifica o surgimento de novos países no contexto do sector de centros de serviços partilhados prende-se com a mudança relativa de paradigma observada ao nível dos factores considerados críticos na selecção da sua localização. De modo a aprofundar a análise desta temática, o Gráfico 04 evidencia a evolução, entre 2011 e 2013, dos factores considerados extremamente relevantes pelas empresas representadas nos inquéritos da Deloitte, aquando do processo de selecção da localização de novos centros de serviços partilhados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 25 Gráfico 04 – Evolução dos factores extremamente importantes na decisão de localização de centros de serviços partilhados 30% 28% 25% 21% 20% 18% 14% 15% 17% 21% 22% 23% 17% 14% 2011 2013 10% 6% 5% 6% 7% 6% 7% 8% 9% 5% 0% Benefícios fiscais Enquadramento Perfil de risco regulatório e (político, social, legslativo etc.) Proximidade à sede Proximidade às operações existentes Competências Disponibilidade Custo da mãolinguísticas de mão-de-obra de-obra Qualidade da mão-de-obra Fonte: “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2011 e 2013. Neste contexto, conclui-se que os factores relacionados com a mão-de-obra (competências linguísticas, disponibilidade, custos e qualidade) mantêm-se como os mais importantes no processo de decisão da localização de centros de serviços partilhados, ainda que a sua importância relativa tenha vindo a diminuir. Paralelamente, importa destacar o aumento significativo da importância de factores relacionados com a proximidade das localizações consideradas, quer à sede da empresamãe, quer às operações que esta possui, comprovando a crescente relevância do nearshoring. Em face do exposto, no que respeita à localização dos centros de serviços partilhados, importa destacar as seguintes tendências que têm marcado a evolução recente deste sector e marcarão, igualmente, a sua evolução futura: As empresas consideram um cada vez maior número de potenciais localizações para os centros de serviços partilhados, significativamente superior ao que era considerado há algumas décadas; A América Latina e a Europa de Leste verificam um crescimento significativo da sua representatividade no sector dos centros de serviços partilhados, sendo as duas regiões mais importantes na captação de novos investimentos neste sector; Os factores relacionados com a mão-de-obra (competências linguísticas, disponibilidade, custos e qualidade) continuam a ser os factores mais decisivos na escolha de localização de centros de serviços partilhados, embora tenham vindo a perder importância para os factores relacionados com a proximidade à empresa-mãe e às suas operações. 4.2.2. Âmbito dos serviços Ao longo dos anos, as oportunidades e os desafios que foram sendo colocados às empresas têm levado, por um lado, ao alargamento do âmbito de actuação dos centros de serviços partilhados, inicialmente destinados à realização de uma função específica, padronizada e de baixo nível de complexidade e, por outro, à criação de centros de serviços partilhados que concentram mais do que uma função. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 26 Em teoria, um centro de serviços partilhados pode acolher qualquer actividade desde que exista uma adequada gestão e sejam definidos critérios específicos de performance (Bergeron, 2003). De facto, regista-se, actualmente, uma grande variedade e multiplicidade de centros de serviços partilhados, abrangendo distintas tipologias de funções e com diferentes níveis de complexidade. O Gráfico 05 mostra as funções desempenhadas pelos 870 centros de serviços partilhados abrangidos pelo inquérito realizado, em 2013, pela Deloitte. Gráfico 05 - Funções desempenhadas pelos centros de serviços partilhados Área financeira 93% Recursos humanos 62% Tecnologias de informação 52% Procurement 41% Apoio ao cliente 39% Área fiscal 35% Imobiliário/Infra-estruturas 27% Área jurídica 20% Vendas / Marketing 18% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Fonte: “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2013. Neste âmbito, verifica-se que, independentemente do sector de actuação das empresas, estas continuam a transferir, em larga medida, para os centros de serviços partilhados, as operações que, em termos genéricos, são denominadas de back office. Destacam-se, neste âmbito, os serviços financeiros, que incluem, maioritariamente, a gestão das contas a pagar (55%), das contas a receber (50%) e a contabilidade (48%). Ao nível da função de recursos humanos, é de destacar a gestão dos pagamentos (40%), a gestão dos colaboradores (39%) e o reporting (32%). As TIC compreendem normalmente o desenvolvimento e optimização de aplicações (36%), a segurança e o controlo (36%) e help desk (34%). Não obstante, algumas novas funções têm vindo a aumentar a sua relevância, nomeadamente, as áreas jurídica e de imobiliário. De destacar, ainda, a crescente tendência para os centros de serviços partilhados serem multifuncionais, abarcando mais do que uma função ou tipologia de serviço, algo confirmado por 43% das respostas ao inquérito da Deloitte, em 2013. 4.2.3. Motivações e impactos A análise das principais motivações e eventos de negócio que despoletam a decisão de criação de centros de serviços partilhados é, igualmente, relevante para melhor compreender as efectivas necessidades e expectativas das empresas nestes processos. Neste contexto, de acordo com as respostas obtidas no inquérito da Deloitte, em 2013, a redução de custos continua a ser principal motivação para a adopção deste modelo organizacional, a par da necessidade de criar uma estrutura para apoiar eficazmente o crescimento do negócio (conforme evidencia o Gráfico 06). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 27 Gráfico 06 – Principais motivações para a implementação de centros de serviços partilhados Reestruturação do negócio/redução de custos 26% Necessidade de criar uma plataforma para um crescimento escalável 23% Recessão económica 11% Mudança tecnológica 10% Necessidade de controlo interno 9% Pressão competitiva Pressão para aumento do valor de mercado Aquisições 8% 7% 6% Fonte: “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2013. De facto, verifica-se que, apesar da temática da redução de custos continuar a ser uma das principais motivações para a criação de centros de serviços partilhados, são reconhecidos os seus benefícios e impactos em cada vez mais dimensões do negócio. Deste modo, os centros de serviços partilhados deixam de ser encarados, exclusivamente, como uma alternativa com custo inferior, mas também como um activo estratégico que permite às organizações aumentar significativamente a eficiência e a qualidade dos processos, tornar mais efectivos os controlos internos e suportar eficazmente o seu crescimento sustentável. 4.2.4. Tendências futuras No que respeita às tendências de evolução futura do sector dos centros de serviços partilhados, no âmbito do inquérito efectuado pela Deloitte, é de destacar que 95% dos inquiridos acreditam que os centros de serviços partilhados irão continuar a expandir-se no sentido de abranger funções e serviços de maior valor acrescentado e mais intensivos em conhecimento, como é o exemplo dos serviços de I&D. Paralelamente, a maioria dos inquiridos concorda que os centros de serviços partilhados continuarão também a expandir-se para novas geografias, reforçando a dispersão que se tem vindo a verificar na distribuição geográfica destes centros. De facto, estas são as duas tendências que são corroboradas pela quase totalidade dos inquiridos e que, por isso, marcarão a evolução dos centros de serviços partilhados nos próximos anos. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 28 Gráfico 07 – Tendências futuras dos centros de serviços partilhados Os serviços partilhados continuarão a expandir-se para processos de maior valor acrescentado 32% Os serviços partilhados continuarão a expandir-se para novas geografias 30% Os serviços partilhados servirão clientes externos e tornar-se-ão centros lucrativos 8% A maioria das funções serão eventualmente transferidas para entidades terceiras 4% O aumento da automatização poderá conduzir ao encerramento dos centros de serviços partilhados 3% Os serviços partilhados tornar-se-ão virtuais, eliminando a necessidade de infraestruturas físicas 3% 63% 24% 39% 7% 57% 11% 56% 31% Concordo totalmente 62% 45% 35% 55% Concordo 4% 1% Discordo 1% 12% 6% 11% Discordo totalmente Fonte: “Global Shared Services Survey”, Deloitte Consulting LLP, 2013. Uma última tendência que importa destacar está relacionada com o facto de os centros de serviços partilhados prestarem serviços a clientes externos ao grupo económico em que se inserem, permitindo explorar as economias de escala e obter fontes adicionais de receitas e rentabilidade para as organizações. Esta não é, no entanto, uma tendência unânime entre as respostas obtidas. De facto, apesar de o modelo de serviços partilhados ser já relativamente maduro, constata-se, ainda, que subsistem muitas oportunidades para assistirmos a uma nova geração de centros de serviços partilhados com funções de maior complexidade, novas geografias e utilização de modelos híbridos (complementando os centros de serviços partilhados com o outsourcing). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 29 5. A atracção de investimento em centros de serviços partilhados 5.1. Evolução e contexto actual do IDE a nível global O IDE é encarado pelos países como uma importante fonte de entrada de capital e de criação de emprego. Nos últimos anos, os governos têm igualmente reconhecido a relevância do IDE pela transferência de tecnologia e know-how que dele decorre e que conduz a spillovers em todo o tecido empresarial, ao nível da introdução de novos processos e da aquisição de novas competências, entre outros aspectos. Com efeito, são vários os estudos que demonstram uma forte correlação positiva entre o IDE e o crescimento do PIB per capita. 4 De acordo com um relatório recentemente disponibilizado pelo Financial Times , o número de projectos de IDE, no ano de 2012, verificou um decréscimo de cerca de 16%, após ter aumentado cerca de 8% no ano de 2011. Paralelamente, verificou-se uma diminuição do investimento médio por projecto, uma vez que o montante total de IDE decresceu cerca de 33%, face a 2011 (um decréscimo superior ao do número de projectos). Com efeito, o menor crescimento económico, em particular, verificado na China, levou as empresas a reduzirem o seu investimento capital-intensivo, justificando, em larga medida, o forte decréscimo do montante global de IDE no ano de 2012. De facto, no ano de 2012, todas as regiões a nível mundial viram diminuir o montante recebido de IDE. Contudo, importa destacar (i) a região de África, que verificou uma taxa de decréscimo do IDE inferior à média mundial (aumentando o seu peso na atracção de projectos de IDE, de 5,5% para 6%) e (ii) a Europa Ocidental, que viu diminuir em 1,5% a sua importância relativa na captação de IDE. Não obstante, a região da Ásia-Pacífico continuou a assumir-se como o destino líder regional de IDE, no ano de 2012. Relativamente às regiões geradoras de IDE, a Europa Ocidental manteve, no ano de 2012, a liderança na realização de investimento fora das suas fronteiras, com um peso de cerca de 43% no total de projectos de IDE. Numa análise ao nível do país, os EUA mantiveram a liderança, quer no que respeita ao recebimento de IDE, quer relativamente à realização de investimento no exterior. Particularmente, no que respeita ao IDE na Europa, o número de projectos recebidos diminuiu mais de 20%, tendo a maior quebra sido registada na Alemanha. No ano de 2012, apenas a Espanha e a Polónia verificaram um crescimento do número de projectos de IDE executados nos seus países, após alguns anos de declínio. Adicionalmente, é de destacar o desempenho da Irlanda e da Turquia, cujo decréscimo do IDE foi inferior à média verificada na Europa. Com efeito, a Turquia conseguiu mesmo entrar, no ano de 2012, para o TOP 10 dos países europeus no que respeita ao número de projectos de IDE captados. 4 “The fDi Report 2013, Global greenfield investment trends”, The Financial Times LTD, 2013. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 30 No Gráfico 08, é possível analisar a evolução do IDE, em percentagem do PIB, em alguns países europeus ao longo da última década, podendo-se verificar, em termos genéricos, uma quebra do IDE. Gráfico 08 – IDE (em % do PIB) nos países europeus nos anos de 2000, 2005 e 2011 30% 25% 20% 2000 2005 2011 15% 10% 5% 0% República Checa Hungria Irlanda Holanda Polónia Portugal Eslováquia Espanha Reino Unido Fonte: OCDE. A nível global, nos últimos anos, no que respeita aos sectores abrangidos pelo IDE, tem-se acentuado a tendência de crescimento da representatividade do sector dos serviços, sendo que, de acordo com a UNCTAD, o IDE nesta área mais do que quadruplicou no período compreendido entre 1990 e 2002. De facto, de acordo com o referido relatório do Financial Times, os serviços empresariais e financeiros e o sector das TIC representaram, no ano de 2012, cerca de 44% dos projectos de IDE, registando um crescimento face à percentagem verificada no ano de 2011 (cerca de 39%). Este relatório chama também a atenção para uma tendência importante do IDE a nível global - as expansões de IDE, contabilizadas enquanto percentagem do IDE global, têm vindo a aumentar nos últimos anos, tendo passado de 11%, em 2008, para 23%, em 2011, significando que, cada vez mais, os investidores privilegiam a expansão das operações ou o reinvestimento nas localizações já existentes (na maior parte dos casos, com menos risco e menor investimento), ao invés do investimento em novas localizações. De acordo com a AICEP, baseada em dados do Banco de Portugal, o IDE em Portugal, nos últimos cinco anos, tem evidenciado um comportamento positivo em termos brutos, com valores entre os Euro 32 mil milhões e os Euro 43 mil milhões. No ano de 2012, o IDE bruto em Portugal atingiu um montante total de Euro 39,3 mil milhões, uma redução de cerca de 9% face ao ano de 2011. O sector com mais IDE em Portugal, no ano de 2012, foi o comércio por grosso e a retalho (com 34% do total), seguido pelas actividades financeiras e de seguros, com 22%, e a indústria transformadora, com 19%. 5.2. Estratégias e ferramentas para a atracção e promoção do investimento Atenta a evolução e o contexto actual dos fluxos de IDE, nomeadamente a elevada e crescente relevância do sector dos serviços, os países potencialmente receptores de IDE enfrentam importantes desafios e oportunidades ao nível da implementação de estratégias de atracção e promoção do investimento, considerando as necessidades e exigências particulares do sector dos serviços. Neste contexto, analisamos, em seguida, a relevância de distintas ferramentas para a atracção e promoção de investimento neste sector em particular, utilizando, para o efeito, a área dos centros de serviços partilhados em Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 31 5.2.1. O papel das agências nacionais de promoção do investimento De forma a reforçar o posicionamento competitivo na captação de IDE, a maioria dos países recorre a agências, geralmente financiadas por fundos públicos, que actuam como agentes de promoção e captação de investimento estruturante e de promoção da imagem do país, como é o caso, em Portugal, da AICEP. 5 Recentemente, o Banco Mundial elaborou um estudo para avaliar o desempenho destas agências na promoção do investimento. Desde logo, numa primeira fase, foi possível concluir que o investimento na promoção de um país aumenta, efectivamente, o IDE, uma vez que se comprovou que, relativamente aos sectores considerados estratégicos por estas agências, estes recebiam mais do dobro de IDE do que os sectores não estratégicos. Outra conclusão importante deste estudo reside no facto de o papel destas agências ser tanto mais relevante quanto maiores forem as dificuldades no acesso a informação de qualidade por parte de potenciais investidores, e maior o nível de burocracia associado ao ambiente de negócios. Por exemplo, a investigação efectuada concluiu que a actuação destas agências é mais eficaz em economias onde a língua inglesa não é a língua oficial e onde as especificidades culturais mais se afastam das dos locais de origem do investimento. 6 Num outro artigo do Banco Mundial , é referido que, da análise de trinta mil projectos de IDE de elevado valor acrescentado, concluiu-se que a informação facultada e o apoio oferecido pelos governos influenciaram, de forma significativa, a decisão final da localização do investimento. 7 Com efeito, de acordo com um inquérito efectuado pela Development Counsellors International , a executivos com responsabilidades ao nível da decisão da localização de investimentos, 47% dos inquiridos indicou uma forte probabilidade de recorrer ao website da agência de promoção de investimento local, ao mesmo tempo que uma proporção de 83% dos inquiridos revelou que, habitualmente, contacta estas agências durante o processo de selecção das localizações para os seus investimentos. Deste modo, os investidores estão, efectivamente, disponíveis para serem influenciados e persuadidos pelas agências locais de promoção do investimento, sendo, por isso, fundamental que estas possuam uma forte orientação para o serviço ao cliente/investidor, nomeadamente por via do fornecimento da informação de forma adequada e atempada. 8 Contudo, o estudo do Banco Mundial verificou que 80% das agências nacionais falha na resposta a solicitações externas de informação por parte de investidores. Não obstante, importa relevar que a AICEP consta no ranking das dez agências de promoção de investimento que melhores respostas oferece a solicitações de investidores estrangeiros. 5 “April 2012 Investment Climate: Global Investment Promotion Best Practices 2012” (GIPB 2012), Banco Mundial, 2012. 6 “Attracting FDI: How Much Does Investment Climate Matter?", nota número 327, Banco Mundial, 2011. 7 “A View from Corporate America: Winning Strategies in Economic Development Marketing”, Development Counsellors. International, 2011. 8 “April 2012 Investment Climate: Global Investment Promotion Best Practices 2012” (GIPB 2012), Banco Mundial, 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 32 A este nível, refira-se, em particular, que o processo de decisão da localização dos investimentos em centros de serviços partilhados é, em média, mais rápido do que aquele levado a cabo pela indústria, pelo que a prestação atempada da informação fundamental para os investidores é especialmente crítica para a captação de IDE neste sector. Por fim, refira-se a importância da dimensão regional na captação de IDE. A forte concorrência internacional tem, de facto, impulsionado o desenvolvimento de estratégias sofisticadas de captação de IDE com base nos factores diferenciadores das regiões e/ou das cidades, atendendo, em alguns casos, à sua forte orientação para mercados e/ou sectores específicos. Foi, sobretudo, desde os anos 90 do século XX que tem vindo a ser difundida a importância da temática do marketing territorial, isto é, da “pertinência da abordagem aos lugares numa perspectiva de marketing e a sua promoção como um eixo estratégico para a competitividade” (Gaio e Gouveia, 2007). Com efeito, o marketing territorial tem-se afirmado como “um processo de gestão territorial, de descentralização de poder e busca de desenvolvimento local, sendo um integrador das vantagens competitivas do lugar numa óptica de desenvolvimento socioeconómico e territorial”. Destaca-se, igualmente, como “um dos elementos fulcrais do planeamento estratégico das cidades e regiões, partindo das suas singularidades e especificidades, integrando-as e projectando-as num contexto global de competitividade, tendo em conta a sua vocação e visão, promovendo-as e afirmando-as” (Fernandes e Gama, 2006). 5.2.2. Plataformas digitais e promoção online Conforme atrás referido, no âmbito do processo de escolha da localização de investimentos, os investidores procuram informação junto das agências locais de promoção de investimento, nomeadamente por via do recurso ao seu website. Com efeito, todas estas agências, a nível mundial, já reconheceram a oportunidade de promoção internacional, a custos controlados, oferecida pelo meio online. A título de exemplo, a agência de promoção de investimento da Grécia (Invest in Greece), considerada pela OCDE como uma das agências com pior desempenho no ano de 2009, conseguiu alcançar uma posição de destaque no ranking das agências com melhor performance no ano de 9 2012 . Para o efeito, foi essencial a concretização de uma estratégia concertada e sustentada de promoção do investimento, através da aposta na modernização da sua plataforma online, que permitiu colocar a Grécia numa posição de destaque no plano internacional, mesmo vivendo um contexto particularmente adverso nos planos económico, político e social. Apesar de já todas as agências explorarem esta oportunidade e muitos websites serem visualmente atractivos, estes, muitas vezes, não satisfazem as necessidades essenciais de informação por parte dos potenciais investidores. Com efeito, um quinto dos cento e oitenta e nove websites analisados no âmbito do estudo elaborado pelo Banco Mundial obteve uma classificação “fraca” ou “muito fraca”. Neste âmbito, as melhores práticas relativamente a websites de promoção de investimento estão relacionadas com uma procura contínua por métodos inovadores de disponibilização da informação, e de forma intuitiva para o investidor, utilizando ferramentas interactivas que permitam, aos potenciais investidores, encontrar rapidamente a informação de que necessitam. 9 “April 2012 Investment Climate: Global Investment Promotion Best Practices 2012” (GIPB 2012), Banco Mundial, 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 33 O referido estudo defende ainda que, sem uma presença online credível, os países podem rapidamente ser retirados do processo de selecção de localizações futuras para a concretização dos investimentos, independentemente das condições reais que os possam diferenciar positivamente de outras localizações. Algumas das melhores práticas identificadas pelo estudo do Banco Mundial são apresentadas em seguida, assim como são descritas algumas das suas funcionalidades inovadoras, as quais facilitam, em larga medida, a pesquisa de informação relevante por parte dos potenciais investidores. Figura 03 – Turquia: Investment Support and Promotion Agency of Turkey Website Funcionalidade O website http://www.invest.gov.tr/ inclui dez razões para Disponibilização de uma ferramenta de benchmarking que investir na Turquia, um mapa interactivo e várias histórias efectua análises comparativas entre a Turquia e paises de sucesso neste país. concorrentes, gerando gráficos visualmente atractivos, tendo por base indicadores previamente seleccionados pelos utilizadores. Fonte: “April 2012 Investment Climate: Global Investment Promotion Best Practices 2012” (GIPB 2012), Banco Mundial, 2012. Figura 04 – Costa Rica: Costa Rican Investment Promotion Agency Website Funcionalidade O website http://www.cinde.org inclui casos de sucesso Possibilidade de aceder a documentos resumo sobre os e testemunhos de investidores estrangeiros. diferentes sectores de actividade no país, combinando dados, quadros e tabelas. Adicionalmente, para cada um dos factores críticos de escolha da localização dos investimentos, é disponibilizado um documento com a sua análise detalhada e comparativa. Fonte: “April 2012 Investment Climate: Global Investment Promotion Best Practices 2012” (GIPB 2012), Banco Mundial, 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 34 Figura 05 – Dinamarca: Invest in Denmark Website Funcionalidade O website http://www.investindk.com inclui vídeos com Disponibilização de uma ferramenta de comparação de alguns casos de sucesso. localizações que gera gráficos que comparam a Dinamarca com os seus principais concorrentes em várias categorias (TIC, mercado de trabalho e educação, entre outros). Fonte: “April 2012 Investment Climate: Global Investment Promotion Best Practices 2012” (GIPB 2012), Banco Mundial, 2012. Por último, o estudo do Banco Mundial conclui que, de forma a explorar todo o potencial de promoção de um país, via online, as agências de promoção de investimento devem conferir especial atenção aos seguintes aspectos: Não negligenciar a importância do website enquanto ferramenta de promoção do investimento e de facilitação do acesso dos potenciais investidores a informação fundamental para o seu processo de decisão das localizações dos investimentos; Afectar recursos à actualização e manutenção permanente do website; Antecipar as necessidades de informação de potenciais investidores em sectores-chave; Apresentar a localização com testemunhos, imagens, notícias e estatísticas permanentemente actualizadas; Desenvolver uma arquitectura lógica e funcional para o website que possibilite elevados níveis de desempenho e usabilidade e permita conceber ferramentas fáceis de utilizar e de actualizar. 5.2.3. A importância do aftercare Uma das mais importantes tendências verificadas na evolução do IDE a nível global prende-se com o facto de os investidores privilegiarem, cada vez mais, a expansão das operações ou o reinvestimento nas localizações já existentes (na maior parte dos casos, com menos risco e menor investimento), ao invés do investimento em novas localizações. Neste contexto, a par da captação de novos investimentos, cresce a relevância da implementação de programas de acompanhamento activo das empresas instaladas no país receptor, de modo a maximizar os efeitos do IDE no longo prazo, procurando garantir a manutenção dos investimentos, a sua expansão e, inclusivamente, uma progressão na cadeia de valor das operações existentes. Contudo, a implementação de estratégias eficazes e bem coordenadas de apoio a investidores já instalados num país, designado por aftercare, é, frequentemente, negligenciada no contexto das políticas governamentais e institucionais de promoção do investimento. O aftercare contempla os mais diversos serviços de facilitação após a concretização do investimento (isto é, uma vez já captado o investimento), nomeadamente, apoio administrativo, operacional e estratégico, tal como detalhado no quadro seguinte. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 35 Quadro 04 – Principais serviços abrangidos pelo aftercare Âmbito Descrição Administrativo Serviços administrativos que facilitem as operações das empresas, os quais podem incluir a obtenção de licenças e vistos de trabalho, a procura e facilitação de alojamento para expatriados e de escolas para os seus filhos. Operacional Serviços que apoiem a eficácia e eficiência das operações das empresas, nomeadamente, apoios à formação dos colaboradores, a identificação de fornecedores locais e o desenvolvimento de clusters que possam promover a sua produtividade e competitividade. Estratégico Serviços que possam suportar a orientação futura das empresas e o desenvolvimento de novas capacidades, podendo incluir o apoio no desenvolvimento de produtos novos e de maior valor acrescentado e a promoção da implementação de normas internacionais junto dos fornecedores locais. Fonte: “Aftercare – Reaching out to your investor community”, UNCTAD, 2008. Adicionalmente, cuidar das relações com os investidores estrangeiros revela-se fundamental para que estes possam desempenhar um papel de embaixadores do país receptor nos seus países de origem, contribuindo para a valorização da sua imagem no exterior e podendo oferecer referências a potenciais novos investidores. Não obstante a ênfase dada à necessidade dos países receptores providenciarem um efectivo serviço de aftercare aos investidores estrangeiros, a implementação de estratégias de aftercare requer, de igual modo, o acompanhamento dos actuais e potenciais investidores nacionais, os quais, num mundo fortemente concorrencial, poderão optar pela saída do seu país de origem, caso sintam aí um tratamento diferenciado e claramente desfavorável quando comparado com aquele que esteja a ser dado ao investidor estrangeiro. Em face do exposto, conclui-se que o acompanhamento regular das empresas nacionais e internacionais, através do serviço de aftercare, é fundamental para maximizar os efeitos de longo prazo do investimento efectuado, com consequentes impactos positivos ao nível do emprego e da situação socioeconómica do país. 5.2.4. Presença em rankings e eventos mediáticos Para além do importante papel desempenhado pelas agências locais de promoção do investimento, ao longo de todo o ciclo dos projectos de investimento (decisão da localização, realização do investimento e aftercare) e pelos seus canais de comunicação com o exterior, a visibilidade internacional de um país, e das suas vantagens comparativas, no âmbito da captação de IDE, é igualmente influenciada por factores como a diplomacia económica, a presença em eventos e fóruns sectoriais de escala internacional, o posicionamento em rankings de referência e a exposição mediática internacional, entre outros. Em particular, os rankings internacionais e os principais eventos mediáticos associados ao sector dos serviços partilhados dão visibilidade às localizações que concorrem globalmente pela atracção de IDE nesta área. Por conseguinte, a presença organizada e sistemática nestes fóruns internacionais assume uma importância crucial tendo em vista a colocação dos países no radar do investimento e a exposição das suas valências específicas e distintivas. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 36 A título de exemplo, refere-se, de seguida, uma lista de entidades que, actualmente, organizam os principais eventos do sector dos serviços partilhados a nível mundial, contribuindo, deste modo, para a partilha das boas práticas e para a visibilidade internacional do sector junto dos seus principais agentes e stakeholders, a saber: Shared Services & Outsourcing Network – entidade responsável pela organização do encontro anual European Shared Services & Outsourcing Week; Deloitte Annual Shared Services & BPO Conference – evento anual do sector que atrai anualmente cerca de 600 dos principais directores europeus nas áreas dos centros de serviços partilhados; National Outsourcing Association – centro de excelência europeu na temática do outsourcing, sendo responsável pela organização de seminários, webinars, simpósios, entre outros eventos relevantes; European Outsourcing Association – esta associação é responsável pela organização de seminários, webinars, simpósios, e de um evento anual de atribuição de prémios - o “EOA Awards and Best Practice Showcase”, em colaboração com a National Outsourcing Association; International Association of Outsourcing Professionals - esta entidade organiza, entre outros eventos importantes, o evento anual “Outsourcing World Summit”; Nordic Shared Services & Outsourcing (NSSO) – organiza um fórum anual do sector, especialmente dirigido aos países nórdicos; Gartner – entidade organizadora dos eventos “Gartner Outsourcing & Strategic Partnerships Summit” e “Gartner Symposium/ITxpo”; CEE Outsourcing and Shared Services Awards – evento de atribuição de prémios no sector, organizado pelos países da Europa Central e de Leste. Para além destes eventos, os principais rankings do sector têm um papel fundamental na formação de percepções sobre as valências dos diferentes países no contexto das opções de investimento em offshoring/nearshoring. Deste modo, referem-se, em seguida, os principais rankings das localizações para a realização de investimentos em centros de serviços partilhados: “The Global Services Location Index” (formalmente designado de Offshore Location Attractiveness Index) – ranking anual publicado pela A.T. Kearney Inc. que avalia a atractividade dos países tendo em consideração, indicadores financeiros, qualificações e disponibilidade da mão-de-obra e factores como o ambiente de trabalho. Este documento constitui uma importante ferramenta de apoio às empresas, ajudando-as a compreender e comparar os factores que tornam os países mais atractivos enquanto potenciais destinos para a implementação de serviços em offshoring. Importa referir que no último relatório disponível, relativo ao ano de 2011, Portugal ocupa a 50ª posição no ranking dos 50 melhores destinos para a localização de serviços em offshoring; “30 Leading Locations for Offshore Services” – ranking anual publicado pela Gartner, Inc., sendo identificados os 30 destinos de excelência para a implementação de serviços partilhados em offshoring, de acordo com vários critérios, a saber: competências linguísticas, apoio governamental, infra-estruturas, sistema educacional, custos (mão-de-obra, telecomunicações, infra-estruturas, imobiliário), ambiente político e económico, compatibilidade cultural, maturidade legal, protecção da propriedade intelectual e segurança e privacidade de dados. O ranking dos 30 melhores destinos para serviços de offshore, relativo a 2012, inclui os seguintes países europeus: República Checa, Eslováquia, Polónia, Bulgária, Hungria e Roménia; “Top 100 Outsourcing Destinations - Ranking and Report Overview” – relatório anual publicado pela Tholons, onde constam os 100 melhores destinos para a prestação de serviços de outsourcing. Neste relatório, são identificados os países e as cidades mais bem posicionadas a este nível, assim como as tendências mais recentes registadas no sector. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 37 No último relatório disponível (dados de 2012), constata-se a presença de novas cidades no ranking, tais como Bacólod e Baguiu (ambas nas Filipinas) e Guatemala, sendo de assinalar a presença consecutiva de importantes cidades europeias, tais como: Dublin (9ª), Cracóvia (10ª), Praga (17º), Budapeste (28º), Brno (30ª), Varsóvia (36º), Belfast (41º), Bucareste (44º), Bratislava (47º) e Sofia (50º), entre outras. A este nível, de referir ainda algumas entidades consultoras que têm uma actuação influente no sector, nomeadamente a The Hackett Group e a EquaTerra, contribuindo, de igual modo, para a forte visibilidade que determinadas localizações assumem no plano internacional. De forma complementar, inúmeros estudos de reconhecimento internacional como o relatório “Doing Business” do Banco Mundial ou o “Global Competitiveness Report” do Fórum Económico Mundial oferecem um conjunto exaustivo de dados que permitem realizar análises comparativas aprofundadas, as quais são, muitas vezes, utilizadas na elaboração de business cases que conduzem à escolha e selecção de um determinado local de investimento. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 38 6. Os centros de serviços partilhados e as políticas de emprego e de igualdade de oportunidades 6.1. O FSE A política de coesão da UE, consubstanciada na existência de três fundos estruturais, visa o desenvolvimento equilibrado das regiões e dos Estados-Membros, de forma a contribuir para a redução de disparidades entre níveis de desenvolvimento e para a coesão social, económica e territorial no espaço europeu. Neste âmbito, o FSE visa, sobretudo, concretizar os objectivos estratégicos das políticas de emprego e de igualdade de oportunidades da UE, promovendo o elevar dos níveis de educação e de qualificação dos seus cidadãos mediante o apoio a políticas nacionais de educação, formação, emprego e inclusão social. Neste contexto, os Estados-Membros devem assegurar coerência entre as acções apoiadas pelo FSE e as acções empreendidas no âmbito da Estratégia Europeia para o Emprego, de forma a contribuir para o reforço da eficácia na prossecução dos seus objectivos globais, designadamente: Alcance de níveis de pleno emprego; Aumento da qualidade e produtividade do trabalho; Promoção da inclusão social (dando particular atenção aos grupos mais desfavorecidos no mercado de trabalho); Redução das disparidades de emprego a nível nacional, regional e local. Com efeito, o sucesso das orientações estratégicas definidas pela UE depende, em grande parte, do modo como os Estados-Membros as encaram e dos planos que entretanto definem e desenvolvem tendo em vista a sua adequada implementação. Cabe, pois, a cada Estado-Membro definir os seus Programas Operacionais, que visam distribuir, de uma forma justa e igualitária, os fundos disponibilizados, devendo a sua actuação ser concebida de modo a conciliar as orientações estratégicas da UE e as prioridades do próprio país. Em Portugal, desde 1986, o FSE desempenha um papel essencial na estratégia nacional, contribuindo activamente para as políticas de inclusão social, de combate ao desemprego, de formação e de educação. Como forma de dar resposta ao enfraquecimento da economia, ao envelhecimento da população e à necessidade de melhoria da sua qualificação profissional, o FSE tem centrado os seus apoios em medidas cruciais que visam a implementação de melhorias, quer no domínio da formação e ensino, quer no que diz respeito às acções de combate à exclusão social e às desigualdades entre homens e mulheres. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 39 No período de programação plurianual que terminou em 2013, o FSE estava estruturado em quatro Programas Operacionais, designadamente o POPH, dirigido a Portugal Continental, o Programa Operacional do FSE para a Região Autónoma dos Açores, o Programa Operacional de Valorização do Potencial Humano e Coesão Social da Região Autónoma da Madeira, e o POAT. Com efeito, do conjunto dos programas que consubstanciam o FSE, destaca-se, pela sua dimensão, o POPH, o qual tinha os seguintes principais objectivos: Figura 06 – Objectivos principais do POPH Promover o Melhoria níveisa empregodos e apoiar de qualificação mobilidade laboral Apoio à qualidade do trabalho e à entrada de jovens no mercado laboral Promoção da Inovação Aumento da coesão social e promoção da igualdade de oportunidades Fonte: POPH. Relativamente ao período de programação plurianual compreendido entre 2014 e 2020, a Comissão Europeia propôs um novo conjunto de regras para o FSE, mas que mantêm intactas as preocupações centrais com a promoção da igualdade e do emprego nos vários Estados-Membros da UE. Nesse sentido, os objectivos gerais delineados para o FSE para o período programação 20142020, estão divididos em quatro áreas temáticas principais (conforme Figura 07). Figura 07 – Principais áreas temáticas do FSE no período 2014-2020 Fonte: Website da Comissão Europeia. Deste modo, as principais propostas em discussão para implementação no FSE no período compreendido entre 2014 e 2020, são as seguintes: Estabelecimento de quotas mínimas do FSE relativamente a cada categoria regional - pelo menos, 25% para regiões menos desenvolvidas (PIB per capita inferior a 75% da média comunitária), e 40% para regiões em transição (PIB per capita entre 75-90% da média europeia); Utilização de, pelo menos, 20% do FSE em acções dirigidas à inclusão social; Maior ênfase no combate ao desemprego jovem, à promoção do envelhecimento activo e no apoio a grupos desfavorecidos e comunidades marginalizadas; Maior enfoque no apoio a acções de inovação social que envolvam, por exemplo, o teste de soluções inovadoras dirigidas a desafios e necessidades sociais; POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 40 Maior participação dos parceiros sociais e da sociedade civil na implementação das acções do FSE, em particular as organizações não governamentais, cuja participação será encorajada através de acções de capacitação, estratégias de desenvolvimento ancoradas nas comunidades locais e uma maior simplificação de regras e procedimentos aplicados em projectos co-financiados pelo FSE. De referir que tais orientações encontram-se materializadas na estratégia Europa 2020, a qual se apresenta de seguida. 6.2. A estratégia Europa 2020 10 O programa Europa 2020 corresponde a um plano de dez anos da UE a favor de um crescimento, mais inteligente, sustentável e inclusivo (Quadro 05), assente em três áreas temáticas fundamentais: (i) a criação de valor baseado no crescimento e no conhecimento, (ii) a criação de uma economia competitiva, interligada e mais verde, e, por fim, (iii) a capacitação das pessoas e a criação de sociedades verdadeiramente inclusivas. Quadro 05 – As prioridades da estratégia Europa 2020 Crescimento inteligente Pretende-se que sejam atingidos melhores resultados (i) na educação, encorajando as pessoas a um estudo contínuo para actualizarem as suas competências e conhecimentos, (ii) na investigação e inovação, através da criação de novos produtos e serviços que fomentem o emprego, e (iii) na sociedade digital, através de uma utilização generalizada das TIC. Crescimento sustentável Neste âmbito, objectiva-se alcançar um crescimento assente em políticas mais ecológicas e de protecção do ambiente, que crie redes eléctricas inteligentes e eficientes e que promova, junto dos consumidores, uma maior consciencialização ecológica. Crescimento inclusivo A este nível, pretende-se (i) criar mais e melhores empregos, especialmente para as mulheres, para os jovens e para os trabalhadores mais idosos, (ii) ajudar as pessoas de todas as idades a adquirirem competências, (iii) modernizar os respectivos mercados de trabalho e (iv) assegurar os benefícios do crescimento em todas as regiões da UE. Fonte: Estratégia Europa 2020 - website da Comissão Europeia. No sentido de materializar as políticas e os objectivos definidos, foram delineadas várias iniciativas no âmbito de cada prioridade, sendo que, ao nível da prioridade “Crescimento Inclusivo”, foram criadas duas iniciativas emblemáticas, a saber: Agenda para Novas Competências e Empregos - Esta iniciativa estabelece a agenda da Comissão Europeia destinada a melhorar as competências profissionais, antecipar-se às necessidades do futuro mercado de trabalho e adequar a oferta e a procura neste domínio. A título de exemplo, na comunicação, em 2008, da Comissão Europeia sobre esta Agenda, previase que, em 2020, quase três quartos dos empregos estariam integrados no sector dos serviços, em particular nos serviços a prestar às empresas. Neste contexto, de modo a atender às transformações do mercado de trabalho, uma das prioridades desta iniciativa consiste em dotar as pessoas com as competências adequadas para os actuais e futuros postos de trabalho, nomeadamente, por via da formação ao longo da carreira. 10 A estratégia Europa 2020 foi lançada pela Comissão Europeia em Março de 2010 com o objectivo de preparar as economias da UE para a nova década e permitir dotar as economias das condições para assegurar a saída da crise através da revisão da estratégia de crescimento. Para o efeito, foram definidos e quantificados cinco objectivos em matéria de emprego, inovação, educação, inclusão social e clima/energia, os quais deverão ser alcançados até ao ano de 2020. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 41 Plataforma Europeia Contra a Pobreza - Esta iniciativa, também incluída no eixo prioritário do “Crescimento Inclusivo”, pretende ser uma resposta à crescente disparidade entre a riqueza e a pobreza na UE, e tem como finalidade ajudar os países da UE a atingir o objectivo prioritário de retirar da pobreza e da exclusão social um total de 20 milhões de pessoas. Paralelamente, em Abril de 2012, enquadrada na Agenda para Novas Competências e Empregos, a Comissão Europeia, em resposta ao elevado nível de desemprego na Europa, lançou um conjunto de medidas de promoção do emprego designado por “Pacote do Emprego”, o qual beneficia do apoio do Observatório Europeu do Emprego e do Programa de Aprendizagem Mútua da UE. Quadro 06 – Eixos fundamentais de actuação do Pacote do Emprego Apoiar a criação de emprego Redução da tributação do trabalho. Utilização dos subsídios à contratação de forma eficaz. Aproveitamento mais significativo do potencial de sectores estratégicos, como a economia verde, as TIC ou o sector da saúde e da prestação de cuidados. Restaurar a dinâmica dos mercados de trabalho Apoio aos trabalhadores na mudança de emprego ou no regresso ao mercado de trabalho. Mobilização de todos os interessados na implementação das reformas necessárias. Investimento em competências definidas com base num melhor acompanhamento das necessidades do mercado de trabalho. Promoção da livre circulação dos trabalhadores. Reforçar a governação das políticas de emprego Reforço do acompanhamento das políticas de emprego em estreita colaboração com os países da UE para que o emprego e as questões sociais não sejam preteridos em relação aos aspectos económicos. Fonte: Pacote do Emprego. Por último, são apresentadas no Quadro 07, as metas definidas pela estratégia Europa 2020 para as áreas do emprego e da educação, enquadradas no “Crescimento Inclusivo” e, bem assim, o posicionamento actual de Portugal relativamente a essas metas. Quadro 07 - Metas da estratégia Europa 2020 nas áreas do emprego e educação e posicionamento de Portugal Metas da estratégia Europa 2020 Situação em Portugal Taxa de emprego de, pelo menos, 75% na faixa etária dos 20 aos 64 anos 66,5% (2012) Taxa de abandono escolar precoce inferior a 10% 20,8% (2012) Taxa de, pelo menos, 40% da população na faixa etária entre os 30 e os 34 anos que possui um diploma do ensino superior 27,2% (2012) Fonte: Estratégia Europa 2020 – website da Comissão Europeia, INE 2012 e Eurostat 2012. 6.2.1. A estratégia europeia para a igualdade de oportunidades Desde há muitos anos que a UE se empenha na promoção dos direitos fundamentais, do combate à discriminação e da igualdade de oportunidades para todos. A igualdade é um dos cinco valores sobre os quais a UE foi fundada e integra múltiplas dimensões - igualdade no emprego e na actividade profissional entre homens e mulheres; igualdade de oportunidades no acesso ao emprego, a um nível salarial digno, à formação, à educação, à justiça e à protecção social. Adicionalmente, o combate ao racismo, o esforço para a inclusão social de certos grupos mais vulneráveis como as pessoas com deficiência, as minorias étnicas e os migrantes também se enquadram nas preocupações de igualdade da UE. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 42 Apesar de as políticas conduzidas nas últimas décadas neste domínio e dos avanços alcançados, verifica-se que as características pessoais como o sexo, a origem étnica, a idade, a orientação sexual ou a deficiência continuam a impedir algumas pessoas de realizar todas as suas potencialidades, prejudicando as aspirações de cada um e lesando a economia e a sociedade no seu conjunto. Com efeito, as metas europeias para a retoma do crescimento e da criação de emprego serão ainda mais difíceis de alcançar se algumas pessoas forem, desde logo, excluídas do mercado de trabalho por características pessoais que nada têm a ver com as suas qualificações e competências. Por outro lado, a necessidade de combater a discriminação e de integrar grupos desfavorecidos no mercado de trabalho é ainda reforçada pela trajectória de evolução demográfica no espaço europeu que, ao longo das próximas décadas, irá resultar numa forte diminuição da sua população em idade activa. Neste sentido, existe no seio da UE uma preocupação constante na definição e implementação de medidas que procuram, de forma continuada, uma eliminação efectiva dos obstáculos ao emprego, à formação e a outras oportunidades, sendo as mesmas consubstanciadas em orientações estratégicas tais como a Estratégia para a Igualdade entre Homens e Mulheres ou a Estratégia Europeia para a Inclusão Social. 6.2.1.1. A Estratégia Europeia para a Igualdade entre Homens e Mulheres (2010-2015) De acordo com o artigo 23º da Carta dos Direitos Fundamentais da UE, “deve ser garantida a igualdade entre homens e mulheres em todos os domínios, incluindo matéria de emprego, trabalho e remuneração”. No entanto, apesar das acções empreendidas e dos meios mobilizados, ainda se verifica uma forte disparidade salarial entre homens e mulheres, verificando-se casos em que, em idênticas condições de experiência profissional e competências, as mulheres são remuneradas em menor valor do que os homens, por trabalho equivalente. São vários os factores que concorrem para esta realidade. Por um lado, verifica-se, em certas situações, uma segregação horizontal das mulheres, isto é, as mulheres estão presentes num número menor de sectores e profissões, os quais geralmente são menos valorizados e possuem menores remunerações. Por outro lado, verifica-se também uma segregação vertical, isto é, as mulheres estão sujeitas a um maior número de obstáculos ao longo do seu percurso profissional. Adicionalmente, as mulheres sentem maior dificuldade em conciliar a sua vida profissional e pessoal, o que leva a que optem, muitas vezes, por empregos em part-time e a que, frequentemente, sejam impelidas a interrupções no emprego, factos que têm um impacto negativo nas suas carreiras. Em 2011, o Pacto Europeu para a Igualdade de Género, aprovado pelo Conselho Europeu de Bruxelas, foi renovado para o período compreendido entre 2011 e 2020, preconizando uma relação mais estreita entre os objectivos da estratégia Europa 2020 e a Estratégia para a Igualdade entre Homens e Mulheres (2010-2015), entretanto aprovada, de forma a passar a incluir a dimensão da igualdade de género em todas as políticas e actividades da UE. Esta estratégia enuncia acções distribuídas por cinco domínios prioritários definidos na “Carta das Mulheres” (ver Quadro 06), incluindo ainda um capítulo dedicado a diversas questões de índole transversal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 43 Quadro 08 – Domínios prioritários da Estratégia para a Igualdade entre Homens e Mulheres (2010-2015) Domínio prioritário Principais acções Igualdade na independência económica Promoção da igualdade entre homens e mulheres na execução de todas as componentes e iniciativas emblemáticas da estratégia Europa 2020. Promoção do empreendedorismo feminino e do exercício de uma actividade independente pelas mulheres. Avaliação das lacunas ainda existentes em termos de direitos a licenças relacionadas com a família. Estudo do desempenho dos Estados-Membros em matéria de estruturas de acolhimento de crianças. Promoção da igualdade entre homens e mulheres em matéria de migração e integração dos migrantes. Igualdade na remuneração por trabalho igual Igualdade na tomada de decisões Adopção de medidas que contribuam para a melhoria do equilíbrio entre homens e mulheres na tomada de decisão. Monitorização da meta de 25% de mulheres em cargos de tomada de decisão ao mais alto nível na investigação. Acompanhamento do objectivo de 40% de membros de um dos sexos nos comités e grupos de peritos criados pela Comissão Europeia. Promoção de uma maior participação das mulheres nas eleições para o Parlamento Europeu. Promover a dignidade e a integridade e pôr fim à violência de género Adopção de uma estratégia à escala europeia para combater a violência contra as mulheres; Garantia de que a legislação da UE em matéria de asilo tem em conta as questões de igualdade entre homens e mulheres. Elaboração de um relatório sobre saúde masculina, após o relatório de 2010 sobre a saúde das mulheres Igualdade entre homens e mulheres na acção externa Acompanhamento e incentivo ao cumprimento dos critérios de Copenhaga para a adesão à UE no domínio da igualdade de tratamento entre homens e mulheres. Incentivo aos países parceiros vizinhos para promover a igualdade entre homens e mulheres através de um diálogo político regular e do intercâmbio de experiências. Melhor integração das questões de género na ajuda humanitária da UE. Exploração de formas de aumentar a transparência salarial. Apoio a iniciativas em matéria de igualdade de remuneração no local de trabalho. Instituição do “Dia Europeu de Igualdade Salarial”. Incentivo às mulheres a exercerem “profissões não tradicionais” (e.g. sectores “verdes”). Fonte: Estratégia para a Igualdade entre Homens e Mulheres (2010-2015). 6.2.1.2. Política europeia para a inclusão social O artigo 21º da Carta dos Direitos Fundamentais da UE estipula o direito à não discriminação – “é proibida a discriminação em razão, designadamente, do sexo, raça, cor ou origem étnica ou social, características genéticas, língua ou convicções, opiniões políticas ou outras, pertença a uma minoria nacional, riqueza, nascimento, deficiência, idade ou orientação sexual”. No ano de 2008, mais de 80 milhões de pessoas em toda a UE viviam abaixo do limiar de pobreza, um número que é superior ao da população do maior Estado-Membro e corresponde a 16% de toda a população da UE, sendo que as mulheres representavam mais de metade deste grupo. Paralelamente, importa destacar que, no espaço dos países da UE, um em cada seis cidadãos é portador de uma deficiência, representando um universo de cerca de 80 milhões de pessoas que vêem-se muitas vezes impedidas de participar de um modo activo na sociedade e na economia, nomeadamente através de uma vida profissional activa, em resultado de situações de discriminação. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 44 Neste contexto, não obstante as acções já empreendidas pela UE no sentido de reduzir a ocorrência de situações de discriminação e exclusão social, continua a ser necessário investir nesta área, pelo que, actualmente, esta temática é abordada na Plataforma Europeia Contra a Pobreza, uma das iniciativas emblemáticas no âmbito da estratégia Europa 2020, cuja acção é especialmente orientada para os grupos identificados como estando em maior situação de risco e vulnerabilidade, nomeadamente os idosos, as famílias monoparentais, os migrantes, as mulheres e as minorias étnicas. Adicionalmente, foi definida a Estratégia Europeia para a Deficiência 2010-2020, a qual identifica as oito áreas prioritárias de acção para o combate às situações de risco de exclusão dos cidadãos portadores de deficiência, a saber: acessibilidade, participação, igualdade, emprego, educação e formação, protecção social, saúde e acção externa. Deste modo, e com recurso a instrumentos de acção política, os diferentes Estados-Membros procuram materializar e alcançar os objectivos subjacentes à igualdade de oportunidades e à inclusão social, assumindo, neste domínio, particular importância, o FSE, o qual se assume como o instrumento por excelência para concretização dos objectivos de política de emprego e igualdade de oportunidades na UE. 6.3. A estratégia Portugal 2020 Os objectivos nacionais subjacentes à Europa 2020 estão definidos no Programa Nacional de Reformas – Portugal 2020 – aprovado em Conselho de Ministros de 20 de Março de 2011, o qual tem como foco a identificação dos estrangulamentos nacionais ao crescimento e ao emprego e a definição de linhas de reforma fortes e consistentes com o quadro macroeconómico. As linhas gerais do Portugal 2020 estão, assim, de acordo com os objectivos principais da estratégia Europa 2020, de forma a garantir que Portugal alcança a média europeia, definida por esta estratégia, relativamente a alguns indicadores fulcrais para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, nomeadamente ao nível do emprego e das qualificações da população. Assim, alinhado com a estratégia Europa 2020, o objectivo nacional para a taxa de empregabilidade em 2020 é de 75% para a população com idade compreendida entre os 20 e os 64 anos. De modo a atingir este objectivo, o Portugal 2020 define linhas de acção que assentam num investimento forte em duas grandes áreas estratégicas: a melhoria da competitividade e da coesão social e o aumento do número de postos de trabalho e da sua qualidade. O primeiro objectivo passa pela qualificação dos jovens e dos adultos, quer os que se preparam para a entrada, quer os que já se encontram no mercado de trabalho, contribuindo, desse modo, para uma melhoria generalizada da produtividade, da inovação, da competitividade e do espírito empreendedor nacional. O segundo objectivo pretende promover a inserção dos jovens e dos adultos no mercado de trabalho e combater a segmentação através de uma intervenção proactiva junto dos desempregados e dos trabalhadores em risco de desemprego, com destaque para os desempregados de longa duração, as mulheres e outros públicos em situação de maior 11 vulnerabilidade . 11 Neste âmbito, estão incluídos, por exemplo, as pessoas com deficiência, os desempregados não subsidiados ou os beneficiários do Rendimento Social de Inserção. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 45 Deste modo, (i) para os públicos mais jovens, é objectivo continuar a aposta nos Estágios Profissionais e nos estágios INOV, programas que têm potenciado a dinamização das estratégias de inovação e de reforço da competitividade das empresas, através da integração profissional de jovens diplomados em áreas estratégicas para a inovação e modernização da estrutura produtiva e, (ii) relativamente aos adultos, pretende-se apostar na reconversão de desempregados para as profissões estratégicas, suportada num processo de alinhamento do sistema de formação profissional para as necessidades de requalificação e de reconversão dos desempregados. Com efeito, uma das razões apontadas para o elevado número de desempregados prende-se com as fracas qualificações que impedem que uma parcela dos desempregados se adapte às dinâmicas de reestruturação da economia, verificando-se, com frequência, incompatibilidades entre o nível de educação e formação e as exigências do mercado de trabalho. Paralelamente, os problemas identificados ao nível da adaptação da oferta à procura do mercado de trabalho, resultam da relativa dificuldade de adaptação dos trabalhadores a novas realidades, bem como da relativa relutância dos empregadores no aproveitamento de recursos humanos com níveis de qualificação diferenciados. Com efeito, neste contexto, deverá ser promovida, quer junto dos empregadores, quer junto dos trabalhadores, a reconversão das qualificações para áreas com maior procura, sempre que tal seja identificado como necessário e indutor de uma melhor empregabilidade. A este nível, importa destacar que, de acordo com o Hays Global Skills Index 2013, produzido pela recrutadora com a Oxford Economics (e que analisa elementos como níveis de ensino, flexibilidade do mercado de trabalho e pressões salariais), o mercado de trabalho em Portugal regista, de facto, um desajuste entre as necessidades dos empregadores e as competências dos colaboradores, o qual será agravado à medida que os jovens qualificados continuarem a sair do País. 6.4. A realidade nacional ao nível do emprego e da igualdade de oportunidades A actual conjuntura económica nacional e internacional coloca importantes desafios nos próximos anos para Portugal, em particular, e para o conjunto da UE, em geral. A crise financeira global afectou a economia portuguesa de forma severa, agudizando e expondo uma série de desequilíbrios já existentes. Em Abril de 2011, Portugal recorreu a ajuda financeira externa, a qual exigiu o compromisso do Estado Português na implementação de um programa detalhado de medidas de política, nomeadamente ao nível (i) de reformas estruturais para estimular o crescimento, a criação de postos de trabalho e o aumento da competitividade, e (ii) de consolidação orçamental, assente em medidas estruturais e num maior controlo fiscal e orçamental. Relativamente ao primeiro aspecto, e tal como realçado anteriormente, o combate ao desemprego era já uma preocupação que ocupava um lugar de destaque nas medidas e orientações da UE. Com efeito, o desemprego é um flagelo social que, nos últimos anos, tem atingido máximos históricos em Portugal, representando significativos custos sociais e económicos e suscitando, ainda, desafios acrescidos à consolidação das contas públicas pelo duplo efeito que tem sobre a despesa (acréscimo das prestações sociais) e sobre a receita (decréscimo do IRS e das contribuições para a Segurança Social). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 46 Gráfico 09 – Evolução da taxa de desemprego e da taxa de desemprego jovem, em Portugal Taxa de desemprego (%) 35 30 25 Taxa de desemprego 20 15 Taxa de desemprego jovem (<25 anos) 10 5 0 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 Fonte: INE – Inquérito ao emprego (quebra de série em 1992, 1998 e 2011). Com efeito, tal como ilustrado no Gráfico 09, Portugal tem vindo a assistir a um agravamento continuado dos níveis de desemprego, o qual tem atingido, em particular, os jovens. Os dados referentes ao 3º trimestre de 2013, apontam para uma taxa de desemprego de 15,6%, o que representa um universo de 838,6 mil pessoas, dos quais 540,3 mil são considerados desempregados de longa duração, ou seja, encontram-se à procura de emprego há, pelo menos, doze meses consecutivos. Este aumento da população desempregada ocorreu essencialmente nas mulheres, nos indivíduos com idades compreendidas entre os 25 e os 44 anos e nos indivíduos com um nível de escolaridade completo correspondente ao ensino básico, à procura de novo emprego (com origem no sector da indústria, construção, energia e água). Estes dados, produzidos pelo INE, incluem apenas os indivíduos sem emprego e que procuram activamente emprego. Se na referida análise forem incluídos os indivíduos que desejam trabalhar mas que desistiram de procurar emprego, estima-se 12 então que o valor total ultrapasse já um milhão de desempregados, de acordo com Mário Centeno . Um dos fenómenos preocupantes que resulta desta realidade é a insuficiente absorção do mercado de trabalho relativamente aos trabalhadores jovens. Com efeito, a taxa de desemprego jovem atingiu 36% no 3º trimestre de 2013, o que obriga a um enfoque específico no âmbito das políticas de emprego para este grupo etário. Paralelamente, o desemprego de longa duração, que tem vindo a agravar-se nos últimos anos, acarreta ainda problemas conexos com a erosão do capital humano inerente a grandes períodos de inactividade. A subida dos números do desemprego a que temos assistido nos últimos anos origina, inevitavelmente, a deterioração das condições de vida de muitos agregados familiares. No ano de 2011, a taxa de população residente em risco de pobreza ou exclusão social, segundo dados do Eurostat, foi de 24,4%, ou seja, uma em cada quatro pessoas residentes em Portugal encontrava-se, nesse ano, em situação de risco social. 12 “O Trabalho, Uma Visão de Mercado”, Mário Centeno, 2013. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 47 Quadro 09 – Indicadores de pobreza e exclusão social (2011) Âmbito Taxa de risco de pobreza após transferências sociais (%) Pessoas em risco de pobreza ou exclusão social % em milhões UE27 16,9 24,2 119,6 Portugal 18,0 24,4 2,6 Fonte: Eurostat. O direito à igualdade de oportunidades e de tratamento no acesso ao emprego, à formação e promoção, e às condições de trabalho está consagrado, em Portugal, no Código do Trabalho (artigo 24º), assim como a proibição da prática de discriminação (artigo 25º) em razão de factores como “ascendência, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, situação familiar, situação económica, instrução, origem ou condição social, património genético, capacidade de trabalho reduzida, deficiência, doença crónica, nacionalidade, origem étnica ou raça, território de origem, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas e filiação sindical”. Contudo, persistem, ainda, na prática, desigualdades de tratamento como, por exemplo, as respeitantes às diferenças salariais entre homens e mulheres. Relativamente ao ano de 2010, a remuneração média mensal de base para os homens foi de Euro 977,56 e para as mulheres foi de Euro 801,81, ou seja, a remuneração das mulheres correspondia a 82,1% da dos homens. Estas diferenças são ainda mais acentuadas nos quadros superiores onde a percentagem da remuneração 13 feminina em relação à masculina situava-se, em 2010, nos 71,8% . Os dados do Eurostat revelam que a disparidade salarial entre homens e mulheres tem crescido em Portugal ao longo dos últimos anos, ao contrário do que se tem verificado, por exemplo, noutros 14 Estados-Membros , mantendo-se, no entanto, abaixo da média europeia – 12,8% contra 16,4% na UE a 27. Não obstante o exposto, a discussão do tema da igualdade de oportunidades no âmbito do mercado de trabalho inclui ainda, para além das relacionadas com as diferenças salariais, as conexas com a participação no mercado de trabalho e a incidência no desemprego. Paralelamente, importa analisar a igualdade de oportunidade no que respeita aos cidadãos com deficiência. Neste contexto, verifica-se que os indivíduos com deficiência em Portugal, tal como na média dos países europeus, estão sub-representados no emprego, assumindo particular expressão no conjunto da população desempregada (Quadro 10). 13 Os dados apresentados são referentes a 2010 e constam do relatório da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género datado de 2012. 14 De acordo com os dados mais recentes disponíveis do Eurostat, relativos ao ano de 2010, países como a Lituânia, a Eslovénia, Malta e o Reino Unido têm registado reduções nas diferenças salariais, ao contrário do verificado em Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 48 Quadro 10 – Prevalência de pessoas com deficiência na população total, empregada e desempregada (2002) Prevalência na população total Prevalência na população empregada Prevalência na população desempregada UE25 16,2 12,3 16 Portugal 19,9 15,7 21,3 Âmbito Fonte: Eurostat. O sector dos serviços, sendo menos intensivo em trabalho físico, face aos sectores primário e secundário, representa assim uma oportunidade para a criação de oportunidades de emprego para este grupo minoritário da população, ampliando as suas possibilidades de acesso ao emprego. 6.5. O papel dos centros de serviços partilhados na criação de emprego, inclusão e igualdade de oportunidades O potencial de criação de emprego associado ao sector dos serviços partilhados – sector intensivo em capital humano – é muito relevante, especialmente considerando a actual situação do País ao nível do emprego. De facto, conforme é referido no estudo publicado, em 2012, pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal - “O Sector dos Serviços e a Competitividade da Economia” - “os serviços às empresas prestados à distância, envolvendo actividades com diferentes graus de exigência de qualificações constituem a maior reserva de emprego existente na economia portuguesa, permitindo fixar em Portugal uma parte muito significativa das mais elevadas qualificações que se geraram ao longo dos últimos vinte e quatro anos de formação avançada, ao mesmo tempo que criam emprego a uma população jovem escolarizada, mas sem qualificações em actividades que podem abrir-lhes oportunidades para formação adicional com procura no mercado”. Para além do forte potencial de criação de emprego que o sector dos serviços partilhados apresenta, alicerçado nas valências competitivas do País detalhadas no capítulo 8 deste estudo, os centros de serviços partilhados poderão ainda contribuir para a prossecução dos objectivos de igualdade de oportunidades e coesão social, tal como descrito no Quadro 11 infra. Quadro 11 – Impacto potencial dos centros de serviços partilhados ao nível do emprego e da igualdade de oportunidades Domínios Principais impactos potenciais dos centros de serviços partilhados Criação de emprego Elevada criação de postos de trabalho que advêm da implementação de novos centros de serviços partilhados, uma vez que estes concretizam actividades intensivas em mão-de-obra. Importante veículo de combate à crescente taxa de desemprego jovem uma vez que, na sua maioria, os centros de serviços partilhados requerem mão-de-obra altamente qualificada e com maior capacidade “adaptativa” e de aprendizagem. Contributo para a redução da saída do País de jovens qualificados, fixando a população activa que trabalha, paga impostos, efectua descontos para a segurança social e consome em território nacional. Qualificação Promoção da requalificação e aproveitamento de mão-de-obra qualificada em domínios muito diversificados, atenta a natureza também diversificada das actividades que podem ser abrangidas pelos centros de serviços partilhados. Promoção da formação profissional contínua e on the job. Contributo para a qualificação técnica altamente especializada, nomeadamente nos centros de I&D, em que são desenvolvidas actividades de maior valor acrescentado. Contacto dos trabalhadores com as melhores práticas internacionais uma vez que, muitas vezes, estes centros agregam processos de multinacionais de grandes dimensões. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 49 Domínios Principais impactos potenciais dos centros de serviços partilhados Igualdade de oportunidades Veículo promotor das igualdades ao nível das oportunidades, acesso ao emprego e progressão na carreira. Promoção da igualdade ao nível da remuneração por trabalho equivalente. Promoção das boas práticas para facilitar a entrada de mulheres no mercado de trabalho por via da facilitação da conciliação da vida pessoal e profissional15. Inclusão social Maior oportunidade de inclusão de trabalhadores de várias nacionalidades, incluindo imigrantes, ou seja, grupos que, por vezes, encontram-se entre os que correm maior risco de exclusão social, tendo em conta que, em muitos casos, os centros de serviços partilhados prestam apoio a vários países e em várias línguas. Possibilidade de inclusão de pessoas com diferentes graus de deficiência física, considerando que as tarefas desenvolvidas são pouco intensivas em trabalho físico. Facilitação do acesso ao emprego a grupos que apresentam um maior risco de pobreza, nomeadamente famílias monoparentais ou em que ambos os membros estejam desempregados. Fonte: Elaborado pelos autores. O potencial de criação de emprego associado ao sector dos serviços partilhados poderá ser tanto mais potenciado quanto mais medidas de política pública possam vir a ser equacionadas e, posteriormente, implementadas, permitindo colmatar eventuais desfasamentos entre a oferta e a procura de qualificações e competências. Neste âmbito, salienta-se a importância dos apoios à formação e as políticas activas de emprego que possibilitem, de forma efectiva e eficaz, complementar e desenvolver as competências, combater a erosão do capital humano decorrente de períodos de inactividade e, bem assim, apoiar uma maior complementaridade entre a oferta de qualificações e competências específicas com as necessidades do mercado de trabalho, possibilitando uma transição mais célere do desemprego para o emprego. A este nível, o FSE constitui, conforme anteriormente referido, um instrumento por excelência para apoiar a criação de emprego e promover a igualdade de oportunidades. No contexto internacional, podem também ser identificados vários países e regiões, com valências competitivas neste sector, que reconhecem a oportunidade e o papel activo que os centros de serviços partilhados podem assumir enquanto veículos promotores de emprego altamente qualificado, podendo ainda actuar como pólos promotores de efectivas políticas no campo da igualdade e da inclusão social. Neste contexto, a atracção de investimento para este sector tem merecido atenção especial por parte de diferentes agentes públicos, nas suas estratégias de promoção do emprego e de crescimento económico, uma vez que este tipo de sector consubstancia actividades de valor acrescentado e promove a internacionalização. A título de exemplo, refiram-se dois programas lançados recentemente na Irlanda, em articulação com o seu plano de acção para o emprego, destinados a atender às necessidades das empresas no âmbito de determinadas competências específicas e, paralelamente, apoiar os candidatos a emprego na requalificação para áreas onde estão a emergir novas oportunidades de emprego (Figura 08). 15 Os centros de serviços partilhados assentam a sua estrutura de funcionamento em modelos de trabalho muito flexíveis que se adaptam às necessidades específicas do dia-a-dia dos seus trabalhadores, fomentando a conciliação entre a vida pessoal e familiar através da implementação de mecanismos diversificados tais como o part time, o banco de horas, o trabalho a partir de casa, entre outros. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 50 Especificamente, o programa de desenvolvimento de competências no domínio das TIC (“ICT skills programme”) visa reforçar a oferta de qualificações superiores neste domínio por via da implementação de oito programas de ensino para reconversão no domínio das TIC, envolvendo as instituições de ensino superior. O programa “Springboard” oferece a possibilidade de realização gratuita de cursos, de vários níveis de exigência e qualificação, em regime de part-time, possibilitando a acumulação com prestações sociais. Os duzentos e vinte cursos disponibilizados são orientados para a aquisição de competências em sectores com elevada procura de trabalho, tais como as TIC e os serviços financeiros internacionais, entre outros. Figura 08 – Programas de reconversão e requalificação de competências - o caso irlandês Programa “Springboard” Fonte: www.springboardcourses.ie. Figura 09 – Programa de desenvolvimento de competências no domínio das TIC - “ICT skills programme” Programa “ICT Skills” Fonte: www.ictskills.ie. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 51 Parte III – A envolvente nacional e benchmarking internacional POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 52 7. A envolvente nacional para a atracção de centros de serviços partilhados 7.1. Caracterização da envolvente nacional e de negócios Conforme abordado no capítulo 4, são vários os factores considerados no processo de selecção da localização dos investimentos em centros de serviços partilhados, cuja importância relativa tem vindo a alterar-se tendo em conta a evolução recente desta actividade. Neste contexto, é fundamental para os países interessados apostar, de forma concertada, na atracção deste tipo de investimentos, conhecendo o seu posicionamento competitivo face àqueles que poderão ser considerados os seus principais concorrentes. Em face do exposto, importa caracterizar a envolvente nacional ao nível dos indicadores considerados relevantes no processo de decisão da localização de novos investimentos em centros de serviços partilhados, no sentido de apoiar a identificação das áreas em que o País apresenta vantagens competitivas e factores de forte diferenciação e, bem assim, aquelas que evidenciam oportunidades de melhoria no sentido de potenciar a competitividade e a atractividade do País no âmbito da captação deste tipo de investimentos. De referir que esta análise da envolvente do País é importante para as decisões de investimento em centros de serviços partilhados relativamente a empresas com localização em Portugal, i.e., quer numa lógica de onshoring (implementação ou expansão no País de centros de serviços partilhados de grupos económicos com sede em Portugal), quer numa lógica de offshoring (investimento estrangeiro na implementação ou expansão de centros de serviços partilhados em Portugal), uma vez que, em qualquer uma das situações, Portugal pode concorrer com outros países pela localização de centros de serviços partilhados. 7.1.1. Recursos humanos 7.1.1.1. Disponibilidade de mão-de-obra De acordo com os Censos 2011, a população residente em Portugal era de aproximadamente 10,5 milhões, dos quais 52,2% são mulheres. No que diz respeito ao local de residência, mais de 80% da população encontra-se concentrada nas regiões Norte (34,9%), Centro (22%) e Lisboa (26,7%), essencialmente no litoral do território nacional. Relativamente à caracterização da estrutura etária da população, os dados permitem concluir pelo acentuar de desequilíbrios, tendo-se assistido a uma redução da população jovem e a um aumento da população mais idosa (o número de pessoas acima dos 65 anos aumentou em quase 400 mil e, paralelamente, assistiu-se a uma redução de quase 100 mil pessoas na faixa etária até aos 14 anos). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 53 Com efeito, as faixas etárias dos 0 aos 14 anos e dos 15 aos 24 registaram um decréscimo face a 2001, representando, em 2011, cerca de 26% do total da população (face a cerca de 30% em 2001). Relativamente à faixa etária dos 25 aos 64, esta registou um acréscimo, passando de 53,4% da população em 2001, para 55,2% em 2011. Por último, a faixa dos 65 anos ou mais registou idêntico comportamento, ao evoluir de 16,4% em 2001 para 19%, em 2011. Deste modo, estes dados permitem concluir pelo agravamento do fenómeno do envelhecimento da população, acompanhando uma tendência que se tem vindo a verificar, de modo transversal, em todo o continente europeu. Um outro fenómeno que merece destaque prende-se com os fluxos migratórios que se têm acentuado nos últimos anos. Com efeito, o crescimento de cerca de 2% da população do País, 16 registado na última década , encontra-se essencialmente justificado pelo saldo migratório positivo que se registou nesse período. De facto, de acordo com os dados disponíveis, pode concluir-se que, nos últimos anos, tem-se assistido ao aumento do número de imigrantes (quase duplicou), em parte resultante de maiores facilidades de circulação no âmbito da UE. Assim, em 2011, residiam em Portugal aproximadamente 435 mil estrangeiros com estatuto legal de residente em Portugal, sendo os seus principais países de origem identificados no Quadro 12. Quadro 12 – Principais países de origem da população estrangeira com estatuto legal de residente (2011) Brasil Ucrânia Cabo Verde Roménia Angola Guiné Bissau Reino Unido Moldávia China São Tomé e Príncipe 111.295 48.010 43.475 39.312 21.329 18.131 17.675 13.586 16.595 10.274 Fonte: INE – Anuário de 2011. Esta tendência foi entretanto acompanhada por uma maior incidência da taxa de pobreza nos imigrantes que, consequentemente, têm vindo a ser classificados como um grupo de risco, particularmente os provenientes de países africanos e do leste europeu. No que diz respeito às migrações para fora do País, a partir de 2011 registou-se um aumento significativo do número de emigrantes, tendo tal tendência sido agravada em 2012, conforme traduzido no Gráfico 10 infra, situação à qual não terá sido alheia a crise económica e o aumento do desemprego verificado em Portugal. Estes fluxos migratórios levantam problemas decorrentes da saída de população em idade activa, em muitos casos jovens portadores de uma qualificação académica superior e/ou experiência profissional relevante que, não encontrando oportunidades satisfatórias no mercado de trabalho nacional, optam por abandonar o País. 16 De acordo com os Censos 2011, o crescimento populacional registado na última década, de 206.061 pessoas, resultou de um saldo migratório positivo de 188.652 pessoas e de um saldo natural (número de nascimentos menos número de óbitos) de 17.409 pessoas. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 54 Gráfico 10 – Número de emigrantes (total e em idade activa) 60.000 50.000 40.000 Total 30.000 Em idade activa 20.000 10.000 0 2008 2009 2010 2011 2012 Fonte: INE – Estimativas Anuais da Emigração. Com efeito, tais fluxos de entrada e saída de pessoas do País impactam ao nível do mercado de trabalho, quer em termos de número de trabalhadores, quer em termos de qualificação da mão-deobra disponível. No ano de 2012, a população activa total situou-se em 5,5 milhões de pessoas, dos quais 47% eram do sexo feminino. Nos últimos anos, tem-se assistido a um crescimento ligeiro, mas constante, do número de mulheres na população activa, sendo a elevada taxa de emprego feminino um factor diferenciador de Portugal no contexto europeu. A taxa de emprego, no ano de referência (2012), foi de 51,4%, o que representa um universo de cerca de 4,5 milhões de pessoas. A distribuição do emprego por escalão etário, formação académica e sector económico, no ano de 2012, encontra-se detalhada nos Quadros seguintes. Quadro 13 – Distribuição da população empregada por faixa etária 15 – 24 anos 25 – 34 anos 35 – 44 anos 45 – 64 anos >65 anos Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total 266.300 5,75% 1.080.700 23,32% 1.285.100 27,73% 1.717.300 37,10% 285.300 6,20% Fonte: INE - Estatísticas do emprego, 4º Trimestre 2012. Quadro 14 – Distribuição da população empregada por nível de ensino Até ao ensino básico – 3º ciclo Ensino secundário e pós-secundário Ensino superior Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total 2.711.500 58,50% 980.300 21,15% 942.900 20,34% Fonte: INE - Estatísticas do emprego, 4º Trimestre 2012. Quadro 15 – Distribuição da população empregada por sector económico Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca Indústria, construção, energia e água Serviços Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total 486.000 10,49% 1.188.300 25,64% 2.960.400 63,87% Fonte: INE - Estatísticas do emprego, 4º Trimestre 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 55 Apesar do aumento do número de licenciados que se tem verificado nos últimos anos, constata-se que mais de metade da população activa tem formação académica até ao 3º ciclo do ensino básico, sendo que o número de trabalhadores com nível de escolaridade igual ao secundário/pós-secundário e ao ensino superior é muito semelhante. Dada a evolução verificada ao nível da escolarização da população, é expectável que, nos próximos anos, estes valores sofram alterações significativas, com acréscimo no número de trabalhadores com ensino superior. Adicionalmente, no que respeita à análise da população empregada por sector económico, os dados apresentados permitem constatar uma clara preponderância de emprego no sector dos serviços, no âmbito do qual se enquadram os centros de serviços partilhados. Nos últimos anos, a importância relativa deste sector tem vindo a aumentar, paralelamente com a diminuição da importância dos 17 sectores primário e secundário . Por outro lado, importa também efectuar uma análise no que diz respeito aos dados referentes ao fenómeno do desemprego, o qual se cifrou, no ano de 2012, em 15,7%. Com efeito, o desemprego e, em particular, o desemprego jovem, é uma das principais áreas de preocupação da UE, que 18 mobilizará recursos relevantes no âmbito do quadro de programação plurianual 2014-2020 . Este flagelo social, com impacto muito significativo na economia como um todo e nas finanças públicas, tem vindo a acentuar-se nos últimos anos, seguindo uma tendência de crescimento que disparou com o eclodir da crise económica. Como referido anteriormente, um dos fenómenos que se verifica actualmente é a reduzida absorção, pelo mercado de trabalho, do crescente número de jovens e trabalhadores qualificados, a par de um agravamento generalizado do desemprego (ver Gráfico 11). Taxa de desemprego 130 110 33% 90 23% 70 50 13% 30 3% 10 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Número de alunos diplomados Gráfico 11 – Evolução da taxa de desemprego, desemprego jovem e do número de alunos diplomados por ano Taxa de desemprego (em %) Taxa de desemprego jovem (em %) Número de alunos diplomados por ano no ensino superior (em milhares) 2012 Fonte: PORDATA, INE - Estatísticas do emprego, 4º Trimestre 2012. 17 A tendência de crescimento do emprego no sector dos serviços encontra-se alinhada com as previsões da UE de que este sector deverá registar um crescimento acentuado nos próximos anos, ocupando um papel cada vez mais preponderante. 18 Conforme abordado no capítulo 6, a promoção do emprego constitui uma das grandes prioridades contempladas no âmbito da estratégia Europa 2020, estando prevista uma iniciativa específica (Agenda para as Novas Competências e Empregos) que pretende promover a criação de emprego, nomeadamente através da aposta na formação. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 56 No ano de 2000, a taxa de desemprego jovem encontrava-se nos 8,6% e, em 2012, o valor registado foi de 37,7%, ou seja, o número de desempregados jovens evoluiu de cerca de 58 mil para aproximadamente 161 mil jovens. Com efeito, pode constatar-se que este indicador e o número de alunos diplomados por ano no ensino superior seguem uma evolução semelhante. Isto significa que, por um lado, o mercado de trabalho apresenta algumas dificuldades em absorver todas as pessoas que se inserem nesta faixa etária e que procuram emprego, mas, por outro, significa que a população jovem continua a seguir a tendência de prolongamento dos estudos antes da entrada no mercado de trabalho. Contudo, não obstante o aumento significativo do desemprego jovem e, em particular, com formação ao nível do ensino superior, conforme é possível verificar no Quadro 16, a maioria da população desempregada (60%) possui apenas formação até ao 3º ciclo do ensino básico, aumentando a dificuldade na resolução deste flagelo do desemprego. Quadro 16 – Distribuição da população desempregada por nível de ensino Até ao ensino básico – 3º ciclo Ensino secundário e pós-secundário Ensino superior Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total 523.300 60,84% 209.400 24,35% 127.400 14,81% Fonte: INE – Estatísticas do emprego, 4º Trimestre 2012. De facto, da análise dos dados constata-se que a maior incidência de desemprego está concentrada na população com baixas qualificações. Verifica-se, no entanto, que existe um número relativamente 19 elevado de desempregados com qualificações superiores . A este nível, afigura-se crítica a definição e a implementação de medidas e acções que possam consubstanciar processos de requalificação dos trabalhadores, nomeadamente através da formação, de forma a permitir a sua “recolocação” em áreas com maior potencial de empregabilidade. 7.1.1.2. Habilitações académicas da mão-de-obra Nas últimas décadas tem-se assistido a um investimento sem paralelo em educação e em capital humano, capacitando e preparando melhor os jovens para a sua entrada no mercado de trabalho e reforçando as competências, em geral, da população em idade activa, através de uma crescente aposta na formação e na aprendizagem ao longo da vida, para a qual muito têm contribuído as políticas activas de emprego promovidas pelas entidades governamentais nacionais, designadamente através das acções contempladas no âmbito do FSE. O sistema educativo português desenvolve-se, essencialmente, nos seguintes níveis: A educação pré-escolar, que é facultativa e destina-se às crianças com idade compreendida entre os três anos e a idade de ingresso no ensino básico; O ensino básico, que é universal, obrigatório e gratuito e compreende três ciclos sequenciais, sendo o primeiro de quatro anos, o segundo de dois e o terceiro de três; 19 O estudo “Empregabilidade e Ensino Superior em Portugal” do Instituto de Ciências Sociais datado de 2012 conclui que as áreas metropolitanas concentram a grande absorção de diplomados com o ensino superior, sendo as actividades relacionadas com os serviços às empresas e as actividades nos domínios da saúde e da acção social as responsáveis pela maior absorção de indivíduos que entram, pela primeira vez, no mercado de trabalho. Este estudo dá ainda conta do reforço das dinâmicas de emigração dos diplomados do ensino superior nos últimos anos. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 57 O ensino secundário, que é obrigatório e compreende um ciclo de três anos (10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade); O ensino pós-secundário não superior que possibilita percursos de formação especializada em diferentes áreas tecnológicas, permitindo a inserção no mundo do trabalho ou o prosseguimento de estudos de nível superior; O ensino superior que, actualmente, abrange a atribuição dos graus de licenciatura, mestrado e doutoramento, compreendendo o ensino universitário (proporciona a formação académica necessária para o desenvolvimento de actividades profissionais e incentiva a pesquisa e análise crítica) e o ensino politécnico (fornece formação técnica para desenvolver capacidades práticas). Paralelamente, existe a Educação e Formação de Jovens e Adultos, a qual oferece uma segunda oportunidade a indivíduos que abandonaram a escola precocemente ou que estão em risco de a abandonar, bem como àqueles que não tiveram oportunidade de a frequentar quando jovens e, ainda, aos que procuram a escola por questões de natureza profissional ou valorização pessoal, numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. 20 De destacar que, segundo o relatório da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, o sistema de ensino em Portugal é constituído por 121 instituições, sendo que as universidades públicas correspondem a cerca de metade do sistema de ensino superior e apresentam um padrão relativamente concentrado no Continente, com as seguintes localizações: Região Norte – Vila Real (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Braga/Guimarães (Universidade do Minho) e Porto (Universidade do Porto); Região Centro – Aveiro (Universidade de Aveiro), Coimbra (Universidade de Coimbra) e Covilhã (Universidade da Beira Interior); Região de Lisboa - Universidade de Lisboa, Universidade Nova, Universidade Técnica, Universidade Aberta e Instituto Universitário de Lisboa; Região Sul – Évora (Universidade de Évora) e Faro (Universidade do Algarve). O ranking internacional de sistemas de ensino superior (U21 Rankings of National Higher Education Systems 2013) qualificou Portugal como o 22.º melhor sistema de ensino superior do mundo (num total de cinquenta países), confirmando a qualidade das instituições de ensino superior portuguesas. De acordo com os dados disponíveis, apresentados no Quadro 17, em 2012, cerca de 32% da população portuguesa possuía um nível de escolaridade igual ou superior ao ensino secundário. Este facto representa um acréscimo de aproximadamente cinco pontos percentuais face aos valores registados no ano de 2010. Quadro 17 – Nível de escolaridade da população residente com mais de 15 anos (em milhares) Sem escolaridade 1º Ciclo do ensino básico 2º Ciclo do ensino básico 3º Ciclo do ensino Ensino secundário e básico pós-secundário Ensino superior Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total Número Peso no total 889,3 9,87% 2.244,8 24,91% 1.123,8 12,47% 1.847,4 20,5% 1.603,6 17,79% 1.302,7 14,46% Fonte: INE, PORDATA, 2012. 20 “O Sistema de Ensino Superior em Portugal”, Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 58 Um dado ilustrativo desta evolução é o número de jovens matriculados no ensino superior que subiu de cerca de 186 mil em 1991 para aproximadamente 400 mil em 2003, situando-se esse número, em 2012, próximo dos 390 mil estudantes, de acordo com os dados disponibilizados pela Direcção Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência e pela base de dados PORDATA. Do mesmo modo, também no que diz respeito ao número de licenciados, tem-se assistido a uma forte tendência de crescimento. Com efeito, no Quadro 18, é possível analisar o número de pessoas, por área de formação, que se licenciaram no ano de 2011, sendo possível observar que aproximadamente 70% dos licenciados estão concentrados nas áreas das ciências sociais e direito, saúde e engenharia. De destacar que, entre os anos de 2000 e 2011, o número de licenciados em áreas como os serviços, a saúde e a engenharia, mais do que duplicou, a par de uma diminuição superior a 30% no número de licenciados na área da educação, comprovando uma relativa adaptação às necessidades do mercado de trabalho. Quadro 18 – Número de licenciados por área de formação (em milhares) Educação Número 6.151 Artes e humanidades Ciências sociais, comércio e direito Ciências, matemática e informática Engenharia, indústria e construção Agricultura Saúde e protecção social Serviços Peso no Peso no Peso no Peso no Peso no Peso no Peso no Peso no Número Número Número Número Número Número Número total total total total total total total total 7,8% 6.377 8,1% 23.089 29,3% 5.155 6,5% 14.563 18,5% 1.354 1,7% 16.842 21,4% 6,7% 5.254 Fonte: Direcção Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência e PORDATA, 2011. No que respeita ao sistema de ensino superior, Portugal tem denotado uma capacidade crescente das suas instituições para atrair e estimular a actividade de diversos doutorados, independentemente 21 da sua nacionalidade . Com efeito, verificou-se um aumento relevante do número e qualidade dos centros de investigação ligados às universidades, sendo de destacar, igualmente, as importantes parcerias estabelecidas com faculdades de topo a nível mundial, nomeadamente os programas MITPortugal, Carnegie Mellon-Portugal, UT Austin-Portugal, Fraunhofer-Portugal, entre outros. Estas parcerias têm permitido a partilha de conhecimentos e uma crescente internacionalização dos programas de ensino superior. As melhorias ao nível da qualidade do ensino superior e do número crescente de licenciados e doutorados têm uma influência directa ao nível da produção científica nacional e ao nível do investimento em actividades de I&D. De facto, nos últimos anos, assistiu-se, igualmente, a um aumento do investimento nesta área, o que permitiu uma maior convergência com os níveis médios europeus de investimento em I&D, tanto ao nível do investimento público, como do privado. Neste contexto, Portugal apresenta já um número de investigadores em I&D, por mil activos, superior à média europeia, com 8,2 por cada mil activos em comparação com os 6,5 da UE. No entanto, apesar deste facto, os números relativamente a pedidos e concessões de patentes são significativamente inferiores à média da UE. Em 2009, o número de pedidos à European Patent Office por 100 mil habitantes foi de 4,53 na média dos 27 países da UE, sendo que, em Portugal, foi de apenas 0,27. 21 Segundo o estudo “Doutorados em Portugal: Fluxos e Situação Profissional”, cerca de 86% do total de doutorados identificados estavam a trabalhar em actividades de I&D no sector público ou privado em Portugal, em 2009, representando um universo de 17.010 doutorados. Este estudo demonstra também um aumento da percentagem de doutorados nos últimos anos. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 59 De destacar ainda que o investimento nacional em educação representou, em 2009, 5,9% do PIB, valor que coincidiu com a média da UE-21 mas que, no entanto, está abaixo da média dos países da OCDE (6,2%). Neste aspecto, Portugal apresenta um investimento superior (em proporção ao PIB) a países como a Polónia, a República Checa ou mesmo a Espanha. A este nível, importa referir, em particular, os importantes investimentos que têm sido realizados ao nível do ensino básico, tendo em vista a modernização das infra-estruturas escolares e, bem assim, a introdução de ferramentas de tecnologias de informação e de comunicação, tais como videoprojectores, computadores, quadros interactivos e acesso à internet de banda larga. Esta aposta na modernização tecnológica foi também complementada com a introdução do inglês, em 2009, como disciplina obrigatória leccionada a partir dos 6 anos. Contudo, a partir do ano de 2013, a disciplina de inglês passou a ser uma actividade de enriquecimento curricular, não obrigatória, para os alunos do 1º ciclo do ensino básico. No que respeita às competências linguísticas, de acordo com informação do Eurostat, em 2011, 26,6% dos portugueses afirmava saber falar um idioma para além da língua materna, 20,5% afirmava saber falar dois idiomas e 11,5% afirmava saber falar três ou mais idiomas para além do português. As três línguas que os portugueses mais dominam são o inglês, o francês e o castelhano. Para tal, em muito contribui o facto de, no ensino secundário, cerca de 80% dos alunos aprender inglês e cerca de 63% aprender francês. Com efeito, o bom domínio do inglês e a diversidade linguística, bem como a sua capacidade de adaptação cultural e linguística, são factores normalmente apontados como diferenciadores dos trabalhadores portugueses no contexto europeu e importantes mais-valias a considerar na escolha da localização de novos centros de serviços partilhados. Estas características afiguram-se relevantes, atenta a necessidade de estabelecimento de contacto com o conjunto das entidades que integram a estrutura dos centros de serviços partilhados, que se encontram, maioritariamente, localizadas em diversas zonas do mundo. 7.1.1.3. Custo da mão-de-obra Apesar da tendência de crescimento dos custos unitários do trabalho (rácio entre as remunerações por trabalhador e a produtividade), verificada até ao ano de 2009, Portugal continua a apresentar, no seio da UE, salários mais baixos quando comparado com países como a Espanha ou a Irlanda, entre outros. No que diz respeito ao índice de custos unitários do trabalho, no sector dos serviços financeiros e empresariais, onde se enquadram os centros de serviços partilhados, o Gráfico 12 ilustra a evolução deste indicador nos anos e países seleccionados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 60 Gráfico 12 – Evolução dos custos unitários do trabalho no sector dos serviços financeiros e empresariais (2005=100) 140 120 100 1995 80 2000 60 2008 40 2005 20 0 República Checa Hungria Irlanda Holanda Polónia Portugal Eslováquia Espanha Reino unido OCDE total Fonte: “System of Unit Labour Cost Indicators”, OCDE. A análise da evolução dos índices de custos unitários de trabalho permite retirar algumas conclusões importantes sobre a evolução deste indicador no contexto europeu. Não obstante estes custos terem aumentado entre 1995 e 2008, a taxa de crescimento anual portuguesa foi proporcionalmente inferior quando comparada com a de outros países europeus. De facto, entre 1995 e 2008, o rendimento médio mensal dos trabalhadores portugueses, por conta de outrem, aumentou de Euro 584 para Euro 1.034. De acordo com dados do Eurostat, no que diz respeito ao custo laboral (total de custos suportados pelo empregador, incluindo contribuições para segurança social, custos de formação, impostos, entre outros), por hora de trabalho, em Portugal, no ano de 2012, este fixou-se em Euro 12,2, considerando as empresas com 10 ou mais trabalhadores. Este valor representa cerca de metade da média dos países da UE-27 e é muito inferior ao registado em países como a Bélgica, a Dinamarca e a Suécia, nos quais o custo laboral por hora se aproximava dos Euro 40, da Irlanda (Euro 29,1) e da Espanha (Euro 21). Outro indicador que importa analisar, posicionando Portugal no contexto europeu, ao nível dos custos com os seus recursos humanos, respeita à compensação salarial por trabalhador. Gráfico 13 – Compensação salarial por trabalhador, em paridades de poder de compra, para o sector dos serviços financeiros e empresariais 70.000 60.000 50.000 2000 40.000 2005 Portugal 2008 30.000 2008 2010 20.000 1995 10.000 0 República Checa Hungria Irlanda Holanda Polónia Portugal Eslováquia Espanha Reino unido Fonte: “System of Unit Labour Cost Indicators”, OCDE, não existindo dados disponíveis para Portugal e para a Polónia, no ano de 2010. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 61 O Gráfico 13 corrobora o que foi referido anteriormente - a diferença salarial entre Portugal e países como a Eslováquia, a Hungria, a Polónia e a República Checa, apesar de notória em 1995, tem vindo a diminuir nos últimos anos, sendo de registar, em particular, o caso da Hungria que, em 2008, apresentava já um valor de compensação salarial por trabalhador superior ao de Portugal. No que respeita aos países com remunerações superiores, destacam-se a Irlanda (com um aumento relevante nos últimos anos), a Holanda, a Espanha e o Reino Unido. Os dados mais recentes de Portugal permitem constatar que, nos últimos anos, tem sido invertida a tendência de crescimento moderado dos custos salariais, como se pode observar no Quadro 19. Com efeito, desde 2010 que os custos unitários do trabalho têm vindo a registar uma tendência decrescente, justificada pelos acréscimos verificados ao nível da produtividade, acompanhados do decréscimo das remunerações por trabalhador. Quadro 19 – Variação anual da produtividade, remunerações por trabalhador e custos unitários do trabalho em Portugal Indicador 2010 2011 2012 Produtividade +3,5% +0,3% +1,0% Remunerações por trabalhador +2,0% -0,6% -2,0% Custos unitários do trabalho -1,4% -0,9% -3,1% Fonte: Banco de Portugal, Boletim Estatístico, Outubro 2013. Adicionalmente, o Banco de Portugal previu, no seu Boletim Económico de Outono, que o ano de 2013 terminaria com uma redução dos custos unitários do trabalho na ordem de 1,9%, inferior à queda verificada no ano de 2012 (3,1%). 7.1.2. Localização e infra-estruturas 7.1.2.1. Localização geográfica e infra-estruturas No que diz respeito à rede viária, Portugal apresenta uma das mais desenvolvidas da Europa tendo, no ano de 2011, a rede rodoviária totalizado, no Continente, a extensão de 13.411 quilómetros, 22 incluindo 2.737 quilómetros de auto-estradas. Estas redes mereceram destaque num estudo que coloca Portugal em 4º lugar num universo de 144 economias quanto à qualidade das estradas. Relativamente à rede ferroviária, Portugal agrega uma extensão total de 2.794 quilómetros, mais de metade electrificada. Relativamente à rede aeroportuária, Portugal é servido por quatro aeroportos no Continente (Lisboa, Porto, Faro e Beja) e por um em cada uma das ilhas das regiões autónomas, perfazendo um total de quinze aeroportos e trinta e duas pistas de aterragem, aos quais se juntam mais vinte e quatro aeródromos e cinquenta heliportos certificados. Na Figura 10 infra é apresentado um mapa com os tempos médios de viagem de avião de Portugal para algumas capitais europeias. 22 “Doing Business 2013”, Banco Mundial. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 62 Figura 10 – Tempo médio das viagens de avião de Portugal para algumas capitais europeias Portugal apresenta uma posição geoestratégica privilegiada na Europa, destacando-se, a Oeste, como o país mais próximo do continente americano e, consequentemente, uma importante ponte transatlântica, actuando como um ponto central em rotas internacionais. A diferença horária face ao Brasil é de apenas 3 horas e de 5 horas para determinadas cidades dos EUA. Em relação aos principais centros de negócios europeus, como Berlim, Roma ou Paris, a diferença horária é de apenas uma hora, partilhando com Dublin e Londres o mesmo fuso horário. Este facto constitui uma mais-valia muito relevante ao nível da atracção de investimento em centros de serviços partilhados, uma vez que permite criar um conjunto de condições para assegurar uma adequada articulação com os horários de funcionamento dos grandes centros de negócios a nível internacional. 7.1.2.2. Tecnologias de informação e de comunicação e utilities Nas últimas décadas, tem-se assistido a um papel cada vez mais activo e determinante das telecomunicações e das TIC para o desenvolvimento económico e o crescimento da produtividade das economias. A este nível, revela-se essencial o grau de cobertura e de desenvolvimento destas tecnologias, o custo associado a estes serviços e o seu nível de utilização. Portugal tem investido fortemente em tecnologias de informação e comunicação, uma aposta que se tem traduzido numa evolução muito favorável e de convergência com o resto da Europa ao longo das últimas décadas e que influenciou, naturalmente, o facto de o País ser considerado, por players relevantes, como um early adopter de novas tecnologias. De acordo com dados do INE, em 2012, no território nacional, verificava-se que 66,1% dos agregados familiares dispunha de computador em casa, e 59,7% do total dos agregados possuía ligação à internet através da banda larga, valores ainda assim abaixo da média da UE-27 (78% e 72%, respectivamente). Contudo, ao nível do tecido empresarial, Portugal encontra-se ao mesmo nível da média europeia com cerca de 95% das empresas (com mais de 10 pessoas ao serviço) com ligação à internet, embora ligeiramente abaixo da média europeia no que respeita à penetração da internet de banda larga. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 63 23 Em 2011, Portugal ficou classificado em 24º lugar tendo em consideração a qualidade das infraestruturas de tecnologias de informação, tendo subido duas posições face ao ranking de 2009, posicionando-se atrás de países como a Irlanda e a Holanda, mas à frente da Espanha, da Hungria, da Polónia e da República Checa. Um outro factor com relevância ao nível da caracterização da envolvente nacional para a implementação de centros de serviços partilhados prende-se com o custo e a disponibilidade das utilities. No Quadro 20 referem-se os preços médios, a nível nacional, do imobiliário (em Lisboa e no Porto, a nível de escritórios e de fábricas), da electricidade/gás natural e da internet. Quadro 20 – Custo médio de utilities Imobiliário No último trimestre de 2012, o aluguer de um escritório na cidade de Lisboa custava entre Euro 11,50/m2 e Euro 18,50/m2, dependendo da zona, sendo que, em Junho de 2011, estavam disponíveis perto de 4,5 milhões de m2, com uma taxa de disponibilidade perto dos 11,4%. Ao nível de localizações em parques industriais, para este tipo de actividade, o aluguer situava-se em Euro 4/m2 em Lisboa e Euro 4,50/m2 no Porto. Electricidade / Gás natural No primeiro semestre de 2012, o custo médio da electricidade era de Euro 0,1832/kWh para consumos anuais entre os 5.000 e os 15.000 kWh e de Euro 0,1777/kWh para consumos anuais superiores a 15.000 kWh. Relativamente ao gás natural, no primeiro semestre de 2012, o valor médio era de Euro 0,0739 /kWh para consumos anuais entre os 20 e os 200 GJ e de Euro 0,0652/kWh para consumos anuais superiores a 200 GJ. Internet Em 2013, um pacote de internet com tráfego ilimitado custava cerca de Euro 30/mês, para velocidade de download de 20 Mbps, e cerca de Euro45/mês para velocidade de download de 150 Mbps. Em 2012, um pacote telefónico de rede móvel com uma média de 260 chamadas e 200 SMS feitos para diversos destinos em diversos horários tinha um custo de aproximadamente Euro 22,62/mês. Fonte: Cushman & Wakefield, Eurostat e OCDE. 7.1.3. Envolvente de negócios No estudo “FDI and Institutional Reform in Portugal” (2011) foram seleccionados e analisados alguns indicadores nacionais de forma a aferir a sua influência no IDE. A análise do caso português permite retirar conclusões sobre a influência desses factores e estimar o impacto de possíveis reformas nestes domínios em Portugal. Os autores recomendam que os esforços na melhoria do enquadramento institucional à atracção do IDE devem centrar-se no combate à corrupção, na redução de barreiras ao investimento, nomeadamente ao nível da transparência dos enquadramentos legais aplicáveis ao IDE, referindo ainda como áreas de actuação imediata a protecção da propriedade privada, a independência do sector financeiro e o nível de burocracia. 23 “IT Industry Competitiveness Index”, Economist Intelligence Unit para a BSA - The Software Alliance. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 64 Quadro 21 – Principais factores que influenciam o investimento em Portugal Factor/domínio Política laboral Corrupção Posicionamento de Portugal A alteração da política laboral continua a ser apontada como um dos aspectos com maior influência no IDE, sendo tal facto reforçado pelo “Global Competitiveness Report 2012 – 2013” que realça como factor problemático para a economia portuguesa a rigidez das suas leis laborais24. Embora se verifiquem melhorias significativas na prevenção da corrupção e, consequentemente, na redução dos custos associados ao investimento em Portugal, a corrupção prevalece, em parte, ligada aos problemas decorrentes do mau funcionamento de algumas instituições e à burocracia. O “Corruption Perception Index 2012” coloca Portugal no trigésimo terceiro lugar do seu ranking, sendo este um dos piores resultados ao nível da UE-15, ainda que melhor quando comparado com países como a Polónia, a República Checa ou a Hungria25. Em Portugal, o funcionamento da justiça apresenta muitas debilidades, em particular ao nível da morosidade dos processos. O número de anos necessários para resolver uma disputa em tribunal é superior à média da verificada na UE. Justiça Dados de 2011 relativos à duração média dos processos reflectem esta realidade: a duração média de um processo de reivindicação de propriedade era de quase três anos, de responsabilidade civil era superior a dois anos e de um processo de dívida quase de um ano e meio. Por outro lado, os processos de falência/insolvência/recuperação de empresa têm feito um percurso inverso, passando, em quinze anos, de quase quatro anos para três meses26. A protecção da propriedade intelectual foi identificado como um dos factores que mais poderia influenciar a captação do IDE em Portugal. Nos últimos anos, têm sido desenvolvidos esforços no sentido de promover melhorias significativas neste domínio. A legislação nacional foi harmonizada com a dos restantes Estados-Membros e, em 1999, foram, pela primeira vez, criados os Tribunais de Comércio especializados. Propriedade Intelectual Em 2012, foi ainda criado, em Lisboa, um Tribunal de Propriedade Intelectual que tem contribuído para a redução do tempo médio de resolução destas disputas. A aposta em formas alternativas de resolução de litígios como, por exemplo, através dos centros de arbitragem, tem igualmente contribuído para a agilização dos processos de disputa de propriedade intelectual com custos mais reduzidos que os tribunais administrativos e fiscais27. De destacar ainda que, no Orçamento de Estado para 2014, foi aprovada a criação de um regime fiscal próprio para rendimentos de patentes e outros direitos de propriedade industrial, sendo que os ganhos provenientes de contratos cujo objecto seja a cessão ou utilização temporária de propriedade industrial apenas serão considerados em 50% para efeitos do cálculo do lucro tributável. 24 25 26 “FDI and Institutional Reform in Portugal” e “Global Competitiveness Report 2012 – 2013”. “Corruption Perception Index 2012” e “FDI and Institutional Reform in Portugal”. “Portugal as a nearshore destination” e “PORDATA”. 27 “FDI and Institutional Reform in Portugal”, “Portugal as a nearshore destination” e “ARBITRARE – Centro de Arbitragem para a Propriedade Industrial, Nomes de Domínio, Firmas e Denominações”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 65 Factor/domínio Procedimentos necessários para criar uma empresa Posicionamento de Portugal A facilidade e a celeridade dos procedimentos necessários para iniciar um negócio são um factor importante ao nível da captação do IDE. Em Portugal, nos últimos anos, assistiram-se a importantes avanços neste campo, nomeadamente através da entrada em vigor do programa “Simplex” que, entre outros progressos no âmbito da simplificação administrativa, lançou o serviço “Empresa na Hora” e reduziu para apenas um euro o montante mínimo de capital social para a constituição de uma empresa em Portugal. No relatório “Doing Business” estes avanços são destacados enquanto boas práticas no panorama internacional. O estudo “The influence of Doing Business institutional variables in Foreign Direct Investment”, que avalia o impacto dos indicadores utilizados neste relatório na captação de IDE por parte de Portugal, destaca esta facilidade de procedimentos como um dos indicadores mais relevantes28. No relatório “Doing Business” de 2014, esta é referida como uma das áreas em que Portugal pontua pior, nomeadamente no que respeita ao pagamento de encargos fiscais e parafiscais e do tempo que estes procedimentos consomem – uma média de 275 horas, acima do registado em países tais como a Irlanda (80 horas) e Espanha (167 horas). Encargos fiscais Este facto é corroborado também por outros relatórios que acrescentam como factor de fragilidade a instabilidade e a mudança permanente dos quadros legais, o que gera forte incerteza em relação ao sistema fiscal e parafiscal vigente. Não obstante o exposto, é destacada a introdução, no passado recente, de meios de “e-government” que têm tido um impacto positivo ao nível da facilidade de pagamento dos impostos e outras contribuições de natureza fiscal e parafiscal29. Estas conclusões estão patentes também em estudos efectuados ao nível da área fiscal, nomeadamente pela Deloitte, no âmbito dos quais é efectuada a avaliação do sistema tributário português, bem como o seu impacto em termos de competitividade das empresas. Com efeito, apesar destas melhorias, que têm um significado relativo, as principais conclusões apontam para a existência de um sistema fiscal complexo e instável e com limitações em termos de eficiência, com uma excessiva carga burocrática. Fonte: Elaborado pelos autores. Portugal tem vindo a implementar importantes reformas no domínio da modernização e simplificação administrativas e, consequentemente, a apresentar melhorias em áreas específicas que constituem mais-valias relevantes ao nível da captação de investimento. Para além dos progressos ao nível da facilidade e simplificação de procedimentos no início de um negócio, já mencionados no Quadro anterior, são ainda de salientar os esforços (i) de desburocratização ao nível das licenças necessárias para o exercício de uma actividade comercial, ao nível da construção, da importação e exportação e do registo de propriedade, dos procedimentos nas alfândegas e das tarifas alfandegárias praticadas e, bem assim, (ii) na simplificação dos processos de resolução de insolvências, progressos que têm vindo a merecer importantes destaques nos últimos relatórios Doing Business do Banco Mundial. 28 “FDI and Institutional Reform in Portugal”, “The influence of Doing Business institutional variables in Foreign Direct Investment” e “Doing Business”. 29 “Paying Taxes 2013, The Global Picture” e “Doing Business”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 66 Apesar dos progressos assinaláveis, subsistem áreas que podem e devem ser melhoradas, tais como o tempo exigido para cumprir obrigações fiscais e parafiscais que ainda está muito aquém das melhores práticas internacionais. Analisando os três últimos relatórios do Banco Mundial (“Doing Business” 2011, 2013 e 2014) verifica-se que, em todos eles, são referidos como os factores mais problemáticos para o bom funcionamento do ambiente de negócios em Portugal, a ineficiência e o excesso da burocracia. Adicionalmente, o funcionamento da justiça, já referido anteriormente como um dos factores negativos no contexto do ambiente de negócios em Portugal, é também preocupante considerando que, face aos restantes países europeus, concorrentes do País na captação de investimento, o número médio de anos necessários para resolver uma disputa em tribunal é superior à média da UE. Relativamente ao panorama fiscal, analisando as últimas três edições do estudo Paying Taxes, verifica-se que Portugal tem feito algumas melhorias, mas que estas ainda são insuficientes para colocar o País ao nível médio europeu. No que respeita ao tempo total para as empresas cumprirem os seus encargos fiscais houve uma redução de 23 horas no total (passando de 298 horas, em 2010, para 275 horas, em 2012) mas, no entanto, o País continua acima da média mundial, que é de 267 horas, e muito acima da média de 175 horas verificadas no âmbito dos países que constituem a OCDE. Ao nível do número médio de pagamentos de impostos que uma empresa tem que efectuar por ano, Portugal não tem registado melhorias significativas, mantendo os mesmos oito pagamentos entre 2010 e 2012, apresentando, a este nível, um melhor desempenho que o patamar europeu (média de 12,8 pagamentos). A carga fiscal global que incide sobre as empresas é ainda um factor apontado como inibidor da atracção de investimento. No entanto, estão a ser dados alguns passos no sentido de introduzir melhorias neste âmbito, sendo que, no contexto da reforma do IRC, no ano de 2014 a taxa de IRC descerá de 25% para 23%, pretendendo-se que, até 2016, esta se situe num intervalo compreendido entre 17% e 19%. No que respeita às áreas que mais contribuem para a facilidade de fazer negócios em Portugal, a qualidade das infra-estruturas tem merecido um destaque amplo e positivo em diversas publicações. Com efeito, no relatório “Global Competitiveness Report 2012 – 2013”, a qualidade das estradas posiciona Portugal no 4º lugar num universo de 144 economias, sendo que, considerando as infraestruturas, em termos globais, Portugal ocupa a 11ª posição. É também destacada a qualidade e o número de alunos no sistema de ensino, especialmente a elevada taxa de frequência no ensino primário (99,2%, sendo a 13ª num universo de 144 economias) e no ensino secundário (obtendo o 16º lugar). No Quadro 22 apresenta-se uma síntese dos principais aspectos abordados nos diversos relatórios e estudos já anteriormente mencionados, sendo realçados, em particular, os factores positivos e aqueles que configuram importantes oportunidades de melhoria. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 67 Quadro 22 – Aspectos positivos e negativos de Portugal ao nível da capacidade de captação de investimento Classificação de Portugal no ranking Factores positivos “Global Competitiveness Report 2012 – 2013” 49º/144 Elevada qualidade das infraestruturas e nível de escolaridade da população. Ambiente macroeconómico, fraco desenvolvimento do mercado financeiro, dificuldade no acesso ao crédito e elevada burocracia. “Corruption Perception Index 2012” 33º/174 Não aplicável. Não aplicável. 77º/155 Baixo número total de pagamentos que é preciso efectuar pelas empresas e melhorias ao nível dos processos para cumprir os encargos fiscais (“e-government”). Tempo necessário para cumprir todos os encargos fiscais, actualmente superior à média mundial. “Doing Business 2013” 30º/185 Melhoria ao nível das licenças para construção, qualidade dos processos de importação/exportação e dos processos de insolvência. É também destacada a facilidade de começar um novo negócio. Dificuldade em obter crédito e peso elevado dos encargos fiscais que uma empresa tem de cumprir. “The Global Enabling Trade Report 2012” 35º/135 Qualidade das infra-estruturas de transportes e de telecomunicações e dos procedimentos de importação/exportação. Custos elevados e atrasos do transporte internacional e barreiras impostas por tarifas e procedimentos de importação difíceis. Reformas no mercado laboral, flexibilidade horária e redução de indemnizações, novo tribunal especializado em propriedade intelectual, facilidade de montar um novo negócio, igualdade de oportunidades entre residentes e estrangeiros no acesso ao investimento. Fracas perspectivas de crescimento, ineficiência e morosidade do sistema judicial, burocracia e custos associados ao licenciamento. Estudo “Paying Taxes 2013, The global picture” “2013 Index of Economic Freedom” 67º/177 (internacional) 31º/43 (Europa) Factores negativos Em síntese, Portugal reúne um conjunto de características que o tornam num interessante destino de investimento, em particular ao nível do sector de centros de serviços partilhados, uma vez que possui um conjunto de mais-valias importantes para este sector - um ambiente favorável aos negócios, uma excelente rede de infra-estruturas, recursos humanos qualificados, flexíveis e a um custo competitivo. Não obstante o exposto, a análise do posicionamento competitivo de Portugal face a alguns dos seus principais concorrentes na captação de investimento em centros de serviços partilhados será analisado com maior detalhe no capítulo 8 do presente estudo. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 68 7.2. O sector dos serviços em Portugal O crescimento da importância do sector dos serviços tem-se traduzido numa terciarização da economia mundial e nacional. Juntando a isto o advento e a imposição das tecnologias de informação e de comunicação, que permitiram uma cada vez maior flexibilidade em termos dos trabalhos que podem ser deslocalizados, adquirindo, assim, um estatuto de transaccionáveis, temos assistido a um crescimento significativo do comércio internacional no sector dos serviços. Com efeito, de acordo com os dados da Organização Mundial do Comércio, em 2008, o sector dos serviços representou aproximadamente dois terços do produto mundial e um terço do emprego, sendo que o comércio internacional de serviços registou um grande crescimento nos últimos dez anos, representando cerca de 20% do comércio total. A economia portuguesa tem sentido os efeitos destas transformações, pelo que os serviços têm vindo a desempenhar um papel cada vez mais importante na economia, com um peso cada vez mais significativo nas exportações. De facto, se compararmos os valores das exportações de serviços nos anos de 2000 e 2012, observamos que a sua importância relativa no total de exportações aumentou de 26,5% para 29,6%, ou seja, quase um terço do total, sendo o sector em que o desempenho exportador da economia portuguesa tem vindo a apresentar um comportamento mais consistente. Gráfico 14 – Evolução do peso das exportações de serviços no total das exportações em Portugal 40 33,9 35 30 26,5 27,4 27,7 27,2 27,6 28,2 2001 2002 2003 2004 2005 30,7 31,4 2007 2008 32,3 31,1 29,6 29,1 25 20 15 10 5 0 2000 2006 2009 2010 2011 2012 Fonte: Boletins Mensais de Economia Portuguesa, Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais. O sector dos serviços engloba actividades de natureza muito diversa, podendo inclusive ser chamado um “sector de sectores”. No entanto, tendo em consideração o âmbito do presente estudo, importa efectuar uma análise aos dados disponíveis ao nível do subsector dos “Serviços Prestados às Empresas”. De referir, no entanto, que esta análise assume-se apenas representativa uma vez que podem existir centros de serviços partilhados cuja actividade possa estar enquadrada noutros subsectores do Código das Actividades Económicas. Conforme evidencia o Quadro 23, os dados disponíveis para o ano de 2010 permitem concluir que as empresas que desenvolvem actividades de informação e comunicação, actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares e actividades administrativas e de serviços de apoio representam cerca de 24% do total de empresas em Portugal, geraram cerca de 11% do volume de negócios registado no total da economia e são responsáveis por cerca de 19% do mercado de trabalho. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 69 Quadro 23 – Número de empresas, pessoal ao serviço e volume de negócios do sector dos serviços prestados às empresas Empresas Actividades Pessoal ao serviço Volume de Negócios Número Peso no total da economia Número Peso no total da economia 103 Euro Peso no total da economia Total da economia 1 144 150 - 3 843 268 - 336 390 111 - Actividades de informação e comunicação 14 522 1% 78 787 2% 13 573 026 4% Actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares 118 561 10% 225 937 6% 12 493 653 4% Actividades administrativas e dos serviços de apoio 144 441 13% 423 034 11% 11 082 107 3% Total 277 524 24% 727 758 19% 37 148 786 11% Fonte: INE, Anuário Estatístico, 2011. Da análise aos dados apresentados, pode, igualmente, constatar-se que as empresas com maior representatividade são as que desenvolvem actividades administrativas e de apoio e actividades de consultoria, científicas, técnicas e similares, as quais empregavam em 2011 cerca de 650 mil pessoas, o que representa aproximadamente 17% do total do emprego registado neste ano. Numa análise da evolução do VAB no sector “Consultoria, actividades relacionadas de programação informática e actividades dos serviços de informação”, é possível observar um aumento do contributo deste sector para o VAB total, passando de 0,6%, em 2000, para 1% do total, em 2010. Conforme foi referido, a massificação das TIC tem alterado a actuação das empresas a nível global, 30 sendo que, segundo um estudo conduzido pela Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, as tecnologias de informação e de comunicação serão responsáveis por um novo paradigma de negócio, do qual Portugal deve tirar partido. 7.3. O sector dos centros de serviços partilhados em Portugal Conforme anteriormente referido, o sector dos serviços abrange uma grande variedade de áreas de actuação, enquadrando, igualmente, os centros de serviços partilhados, os quais correspondem a veículos importantes de IDE, tendo beneficiado o crescimento de diversas economias que, actualmente, são apresentadas como destinos de excelência para esta área. Em termos nacionais, verifica-se que este sector tem vindo a apresentar uma importância crescente nos últimos anos, tendo verificado um crescimento de dois dígitos nos últimos quatro anos, com um aumento progressivo do peso que o mesmo representa ao nível do emprego. A par da crescente massa crítica que existe neste sector em Portugal e de uma maior interacção e concertação entre os seus diversos agentes e stakeholders, também vários agentes públicos têm trabalhado no sentido de potenciar o País enquanto destino de excelência para a instalação e/ou expansão de centros de serviços partilhados. Neste âmbito, a AICEP identificou, no ano de 2013, o sector dos centros de serviços partilhados como um dos dezasseis sectores estratégicos para o crescimento futuro da economia portuguesa. 30 “O Sector dos Serviços e a Competitividade da Economia”, 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 70 Segundo os dados da AICEP, Portugal tem actualmente a actuar no sector dos serviços partilhados e de call centers cerca de 450 empresas, as quais empregam mais de 30.000 pessoas, geram cerca de Euro 1,3 biliões de volume de negócios e representam 2% do PIB. De entre as empresas do sector são destacadas na Figura 11, aquelas que, pela sua dimensão e importância, têm sido comummente consideradas como casos de sucesso. Figura 11 – Alguns casos de sucesso de centros de serviços partilhados em Portugal Fonte: Elaborado pelos autores. Com efeito, os testemunhos subjacentes a alguns casos de estudo ao nível da instalação de centros de serviços partilhados em Portugal, referem que a escolha de Portugal assentou em aspectos como a forte flexibilidade e relação qualidade-preço da mão-de-obra disponível, as competências linguísticas, a proximidade às operações a nível europeu, a facilidade de adaptação a novas culturas e a qualidade de vida, entre outros factores. No que respeita às principais associações do sector dos centros de serviços partilhados em Portugal, destacam-se as seguintes: Associação Portugal Outsourcing - A Associação Portugal Outsourcing reúne as maiores empresas do País em outsourcing de tecnologias de informação e de processos e tem como objectivo contribuir para a dinamização e para o crescimento do sector, tornando-o num parceiro estratégico da economia nacional. Os objectivos da Associação Portugal Outsourcing passam (i) pela divulgação da actividade e da oferta do outsourcing em Portugal, (ii) pela representação do sector junto dos principais agentes económicos, (iii) pela promoção das melhores práticas na prestação dos serviços de outsourcing e (iv) pela dinamização da criação de centros de competência em Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 71 A Associação Portugal Outsourcing tem como parceiros empresas como a Altran, a HP, a IBM, a Xerox, entre outras, perfazendo um total de 85% do mercado nacional deste sector. O seu âmbito e a sua escala de actuação têm vindo a permitir uma partilha de experiências, de conhecimento e de melhores práticas que ajudam mutuamente todos os parceiros, contribuindo, assim, muito positivamente para o seu crescimento e para o crescimento de Portugal enquanto destino privilegiado do sector. Associação Portuguesa de Contact Centers – esta é uma associação empresarial que pretende, através de uma valorização e promoção do mercado de call e contact centers, promover o crescimento deste sector, contribuindo dinamicamente para a criação de novas oportunidades de negócio, com um impacto positivo na economia portuguesa e na geração de riqueza para o País. A Associação Portuguesa de Contact Centers pretende envolver os principais stakeholders do sector e trabalhar em parceria, mobilizando entidades endógenas e exógenas, de forma a facilitar a promoção e o desenvolvimento do sector. Esta associação é constituída por 54 empresas parceiras como o Banco BPI, a Cisco Systems, a EDP Soluções Comerciais e a Jerónimo Martins, entre outras, distribuídas por doze sectores da economia, apresentando maior representação (i) o sector do outsourcing, (ii) o sector das tecnologias de informação e, por fim, (iii) o sector financeiro. Paralelamente, importa destacar um conjunto de entidades que, não estando directa e exclusivamente relacionadas com o sector dos serviços partilhados, o seu âmbito de actuação pode desempenhar um papel importante na captação de investimento para Portugal nesta área, reforçando a sua importância na economia nacional: A AICEP, que actua como uma plataforma central e faz também a ponte para o investimento estrangeiro em Portugal. Este organismo tem como principais objectivos (i) promover a internacionalização das empresas portuguesas e apoiar a sua actividade exportadora e (ii) captar investimento para Portugal; As CCDR, que são serviços periféricos no âmbito do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e Energia que têm como objectivo executar medidas que visem o desenvolvimento das respectivas regiões (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve); O IEFP, que assume um papel de parceiro privilegiado no suporte aos processos de recrutamento e de formação profissional de forma a dar resposta às necessidades subjacentes à criação e implementação de investimento em Portugal, especialmente no que respeita à criação de centros de serviços partilhados, tratando-se de um sector intensivo em mão-de-obra e com necessidades de formação específicas; A Confederação de Comércio e Serviços de Portugal, que se assume como a entidade representante do comércio e serviços junto de organismos nacionais e internacionais, propondo e pronunciando-se sobre medidas legislativas e outras consideradas relevantes para o sector, organizando e desenvolvendo serviços destinados a reforçar a capacidade de actuação das empresas do sector e coordenando a actuação dos seus membros em matérias de interesse comum através do desenvolvimento de iniciativas que contribuam para o progresso e reforço da imagem do sector que representa, entre outras. Com efeito, uma aposta estratégica do País na captação de investimento em centros de serviços partilhados, pelas especificidades deste sector, exige, em particular, uma estreita e eficaz colaboração entre os diversos agentes envolvidos na promoção e implementação deste tipo de investimentos. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 72 8. O posicionamento de Portugal no contexto europeu para a atracção de investimento em centros de serviços partilhados No presente capítulo efectua-se uma análise comparativa de um conjunto de países europeus, no qual se inclui Portugal, no sentido de avaliar a sua atractividade para investidores interessados no outsourcing dos seus processos e, em particular, na criação e/ou expansão de centros de serviços partilhados. Deste modo, foram seleccionados quatro países europeus de referência que têm em comum a participação na UE, a relativa proximidade geográfica, as semelhanças em termos de enquadramento legal, e um forte potencial de concorrência com Portugal no domínio da atracção de investimento em centros de serviços partilhados. Assim, foram seleccionados dois dos países que mais se destacam, actualmente, neste sector na Europa Central e de Leste - a Polónia e a República Checa – em que se tem verificado um forte investimento na área dos centros de serviços partilhados. Adicionalmente, foram escolhidos dois países que oferecem uma forte concorrência a Portugal, na Europa Ocidental - Espanha, que apresenta a maior proximidade geográfica e a Irlanda, que se tem destacado como um caso de sucesso no domínio dos centros de serviços partilhados a nível mundial. Qualquer um destes países é concorrente de Portugal na atracção de investimento em centros de serviços partilhados, especialmente numa lógica de nearshoring, relativamente às empresas localizadas na Europa. Esta tipologia de offshoring é caracterizada, em termos conceptuais, por uma proximidade geográfica entre o centro de serviços partilhados e a localização da entidade contratante ou das operações que serve, e conforme descrito no capítulo 4 do presente estudo, tem vindo a aumentar a sua relevância nas decisões de localização deste tipo de investimentos. Neste contexto, considerando que qualquer um dos países seleccionados para análise é relativamente similar, considerando factores tais como o fuso horário, a cultura, entre outros, a análise comparativa efectuada no presente capítulo centra-se em outros factores considerados decisivos na escolha de localização de centros de serviços partilhados (descritos no capítulo 4), os quais foram organizados em três grupos, a saber: Custos que incluem essencialmente salários de várias classes profissionais, representativas para a área dos centros de serviços partilhados, custos unitários de trabalho, custos fiscais e custos de contexto; POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 73 Competências associadas à produtividade e à disponibilidade da força de trabalho, e que incluem níveis de escolaridade, disponibilidade de mão-de-obra qualificada, fluência em inglês, entre outros aspectos relevantes; Envolvente de negócios que traduz a qualidade da regulação, infra-estrutura, protecção legal e estabilidade económica. Assim, no presente capítulo, é comparada a envolvente de Portugal com a de cada um dos países seleccionados para análise, ao nível dos vários indicadores seleccionados, utilizando dados que podem ser consultados por potenciais investidores e que são normalmente tidos em consideração no momento da elaboração dos respectivos business cases que antecedem o processo de decisão para a definição das localizações possíveis para um determinado investimento em centros de serviços partilhados. 8.1. Metodologia de análise Atenta a importância de uma análise quantitativa que permita analisar as vantagens e desvantagens comparativas de Portugal relativamente a alguns dos seus principais concorrentes na atracção de 31 investimento em nearshoring, foi definida, no âmbito do presente estudo, uma metodologia assente na criação de índices, compostos por vários indicadores, de modo a permitir a comparação e a atribuição de uma pontuação final a cada um dos países em análise. Nesse sentido, em resultado da análise da informação recolhida e apresentada no âmbito dos capítulos anteriores, foram definidos seis índices para análise comparativa dos cinco países: (i) qualificação da mão-de-obra, (ii) preparação tecnológica, (iii) custos de trabalho, (iv) custos indirectos e impostos, (v) infra-estrutura e (vi) regulamentação, os quais são compostos pelos indicadores identificados na tabela infra. Quadro 24: Composição dos índices de análise comparativa dos países Fonte: Elaborado pelos autores. A atribuição da ponderação relativa de cada indicador no âmbito de cada um dos seis índices foi efectuada tendo em conta a percepção do impacto que cada um assume na captação de um investimento em centros de serviços partilhados. 31 Esta metodologia poderá ser utilizada não só numa base nacional mas também regional e/ou local, tendo em vista a fundamentação de decisões de implementação e/ou expansão de centros de serviços partilhados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 74 No entanto, atendendo a que estes indicadores se encontram quantificados em diferentes unidades de medida, foi definida uma metodologia que converte a pontuação de cada indicador numa escala de 1 a 10 pontos, de forma a assegurar a comparabilidade entre os resultados e a atribuição de uma pontuação ao índice. Neste sentido, a pontuação final de cada índice é traduzida numa escala de 1 a 10 pontos, sendo que o ranking final dos resultados resulta de uma média simples dos resultados alcançados ao nível dos seis critérios identificados. Competências Relativamente às competências da força de trabalho, no contexto dos centros de serviços partilhados, estas podem ser divididas em dois índices: (i) a preparação tecnológica, que mede a habilidade e o nível de contacto com tecnologias recentes, bem como o nível geral de I&D e inovação presente no país; e (ii) a qualificação da mão-de-obra, que avalia a qualidade, disponibilidade e produtividade dos recursos humanos disponíveis. Quanto ao índice “preparação tecnológica”, foram considerados diversos indicadores que pretendem avaliar o nível de disseminação e de utilização das tecnologias, bem como avaliar o nível de investimento em I&D de cada um dos países em análise. Para o efeito, foram seleccionados vários indicadores relacionados com a utilização da internet, quer na população em geral, quer ao nível das escolas, bem como a despesa de I&D per capita de cada um dos países. No que diz respeito ao índice “qualificação da mão-de-obra”, foram considerados diversos indicadores que pretendem medir a qualidade e disponibilidade da força de trabalho de cada um dos países e que abrangem dados de diversas naturezas, incluindo informação relacionada com o nível de matrículas no ensino secundário e pós secundário, a qualidade do sistema educativo e da educação matemática e científica, os dados do exame PISA (Programme for International Student Assessment) efectuado pela OCDE, as competências linguísticas, o número de graduados em ciências, engenharia e computação, a disponibilidade de trabalhadores qualificados e de cientistas e engenheiros, entre outros. Custos Ao nível dos custos, foram definidos dois índices para a análise comparativa – custos de trabalho e custos indirectos e impostos. No que diz respeito ao índice “custos de trabalho”, foi considerado um conjunto de indicadores que contemplam, nomeadamente, (i) os dados dos salários brutos de um conjunto representativo de categorias profissionais mais frequentes no sector dos centros de serviços partilhados, e (ii) um indicador relativo aos custos unitários do trabalho no sector dos serviços financeiros, atenta a sua similaridade com o sector dos centros de serviços partilhados. Em relação ao índice “custos indirectos e impostos”, foram seleccionados indicadores representativos do custo associado a algumas áreas críticas para a instalação e operação de centros de serviços partilhados, como é o caso do custo com os espaços, os custos das telecomunicações, bem como o custo associado à rotatividade do pessoal (rácio de turnover). Adicionalmente, foram considerados os dados relativos a indicadores de medida dos impostos, tais como a taxa de imposto efectiva (em percentagem dos lucros), a taxa geral de IRC e a taxa normal de IVA, os quais se afiguram medidas importantes do nível da competitividade fiscal das economias. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 75 Envolvente de negócios Ao nível da envolvente de negócios, pretende-se avaliar um conjunto de factores externos ao ambiente empresarial, os quais podem impactar de forma significativa no nível de atractividade de um país para acolher investimento ao nível dos centros de serviços partilhados. Para o efeito, foram definidos dois índices para análise, que pretendem, por um lado, avaliar a qualidade das infraestruturas de cada um dos países, nomeadamente em termos de comunicações e energia e, por outro, o seu enquadramento regulamentar. Relativamente ao índice “infra-estrutura”, foram seleccionados indicadores tais como a qualidade global da infra-estrutura, a qualidade do abastecimento eléctrico e o número total de acessos de comunicação por habitante. Por sua vez, no que respeita ao índice “regulamentação”, este integra indicadores que visam avaliar (i) a facilidade global de fazer negócio, (ii) a eficiência do enquadramento legal para resolver conflitos, (iii) a regulamentação laboral, (iv) a protecção de propriedade intelectual, (v) as práticas de contratação e despedimentos, entre outros. De referir que a quantificação dos indicadores seleccionados para cada um dos índices, tem por base relatórios disponíveis para os potenciais investidores, designadamente, o “Global Competitiveness Report”, o “Pay Scale” e o “Doing Business”, conforme é identificado ao longo da análise a seguir apresentada. 8.2. República Checa A Europa Central e de Leste, em resultado de uma forte dinâmica de crescimento, acompanhada de uma crescente estabilidade política e económica, tem vindo a atrair um número muito significativo de investidores estrangeiros que consideram a região como um excelente local para a implementação e expansão das suas unidades de centros de serviços partilhados e outsourcing, associadas principalmente à região da Europa, Médio Oriente e África. Com efeito, apesar das recentes condições económicas desfavoráveis, o mercado de outsourcing de serviços continuou a florescer na região da Europa Central e de Leste. Em 2008, quando o investimento externo na Europa Ocidental caiu cerca de 48%, na Europa Central e de Leste caiu apenas 9%. A proximidade geográfica e cultural com os países da Europa Ocidental é uma vantagem dos países localizados na Europa de Central e Leste, tornando-os um destino atractivo para todos os tipos de actividades de outsourcing. Com um PIB per capita de cerca de Euro 15.082 e uma população de 10,5 milhões de habitantes, a República Checa tem emergido como um dos locais mais atractivos da Europa para o outsourcing a nível global. Com efeito, tem-se verificado repetidamente um forte influxo por parte de grandes empresas de tecnologias de informação e comunicação, que contribuíram para tornar o país reconhecido ao nível da programação de software inovador. Grandes cidades como Praga, Brno ou Ostrava tornaram-se importantes centros de serviços partilhados e outsourcing, com inúmeros projectos de grande expressão, beneficiando da crescente infra-estrutura existente e, bem assim, da crescente qualificação dos trabalhadores locais. O sector das TIC da República Checa tem sido um dos que mais se tem desenvolvido em toda a região da Europa Central e de Leste, tendo experimentado um rápido crescimento nos anos compreendidos entre 2000 e 2008. Um número apreciável de players globais tem estabelecido os seus centros de desenvolvimento de software na República Checa, incluindo a Sun Microsystems, a IBM, a Computer Associates, a Tieto e a Red Hat. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 76 8.2.1. Custos de trabalho A República Checa tem assistido, nos últimos anos, a um crescimento do salário médio, decorrente do forte crescimento da economia. Com efeito, o salário bruto médio anual cresceu cerca de 46%, no período compreendido entre 2000 e 2012, tal como se pode observar no Gráfico 15. Deste modo, apesar de apresentarem valores mais baixos do que Portugal durante todo este período, os salários neste país têm-se aproximado progressivamente dos portugueses. De salientar, a este propósito que, em Portugal, no mesmo período, registou-se um decréscimo de aproximadamente 1%. Gráfico 15 – Portugal e República Checa: salário bruto médio anual (USD em PPC a preços de 2012) 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Portugal 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Rep. Checa Fonte: OCDE, 2012. Não obstante o exposto, a diferença salarial entre Portugal e a República Checa praticamente se extingue quando são analisados, especificamente, os salários das principais funções presentes no sector dos centros de serviços partilhados e outsourcing. De facto, os salários brutos medianos (que permitem reduzir a influência de outliers) demonstram que Portugal se apresenta, globalmente, mais competitivo na compensação de trabalhadores específicos das áreas de outsourcing. Gráfico 16 – Portugal e República Checa: salários medianos (valor bruto, Euro/ano) 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 Engenheiro de Software Engenheiro de Software Senior Gestor de Operações Gestor de Projectos TI Portugal Contabilista Customer Consultor de service TI representative (CSR) Consultor SAP Programador de Software Rep. Checa Fonte: “PayScale”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 77 Os salários relativamente elevados que se verificam na República Checa para este tipo de funções reflectem a crescente procura no mercado, decorrente do forte desenvolvimento do sector das tecnologias de informação no país. Esta conclusão é corroborada pelo valor dos custos unitários de trabalho no sector dos serviços financeiros de negócio para os dois países, o qual é cerca de 80% mais elevado na República Checa do que em Portugal, após ajustamento cambial. 8.2.2. Custos indirectos e impostos Praga e Brno são as duas cidades da República Checa classificadas no TOP 3 de cidades mais seguras do mundo para outsourcing, de acordo com um inquérito anual de análise do risco das localizações em offshoring (Datamonitor Group). A capital do país, Praga, apresenta rendas com valores cerca de quatro a cinco vezes menores em relação a centros urbanos como Paris e Londres. No entanto, os custos de ocupação de escritórios em Praga não são comparativamente baratos. De acordo com os dados do CBRE (2012), o custo total de ocupação de escritório por metro quadrado por ano ascende a Euro 396, que compara, por exemplo, com Euro 297, em Lisboa. De acordo com o relatório Doing Business de 2014, globalmente, a República Checa situa-se em 122º, num ranking de 189 economias, em termos do pagamento de impostos, enquanto Portugal se encontra na 81ª posição. Contudo, apresenta uma taxa “normal” de imposto indirecto (IVA) inferior em 3 pontos percentuais à de Portugal, e uma taxa geral de IRC de 19%, inferior em 4 pontos percentuais à portuguesa (tendo em conta a taxa geral de IRC aprovada no âmbito do Orçamento de Estado para 2014). Contudo, de acordo com o mesmo relatório do Banco Mundial, a taxa efectiva de imposto é de 48,1% na República Checa e de 42,3% em Portugal. Deste modo, é possível concluir que Portugal se apresenta moderadamente competitivo a nível fiscal quando comparado com a República Checa. Gráfico 17 – Portugal e República Checa: impostos 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Taxa efectiva (% lucro) IVA Portugal IRC Rep. Checa Fonte: “Doing Business 2014”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 78 No que respeita a outros custos indirectos tais como custos de telecomunicações, avaliados pelo custo total de um pacote de 260 chamadas para empresas (OCDE, 2011), e custos indirectos associados à rotatividade dos recursos humanos (taxas de turnover), verifica-se que Portugal é mais competitivo que a República Checa, nesta área em particular. Com efeito, apresenta um custo total de chamadas de cerca de Euro 91, em paridade do poder de compra, face a Euro 97 da República Checa, e uma taxa de turnover de 12,6%, contra 15,5% na República Checa (Comissão Europeia, 2010). 8.2.3. Preparação tecnológica Tal como foi referido anteriormente, a República Checa apresenta um elevado nível de preparação tecnológica, reforçado pela elevada importância das empresas de tecnologias de informação presentes no país. Deste modo, a República Checa revela-se fortemente competitiva neste domínio, com um desempenho globalmente superior ao de Portugal, tal como se pode observar nos gráficos seguintes referentes à utilização e penetração da internet de banda larga. Gráfico 18 – Portugal e República Checa: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 19 – Portugal e República Checa: acesso a internet nas escolas (escala de 0-7) 80% 7 70% 60% 6 50% 5 40% 4 30% 3 20% 2 10% 1 0 0% Utilização de Internet por 100 hab Penetração de banda larga móvel por 100 hab Portugal Acesso a Internet de banda larga por 100 hab Portugal Rep. Checa Rep. Checa Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. Por outro lado, importa referir que a República Checa apresenta um nível de despesa com I&D per capita superior ao de Portugal (USD 369 versus USD 269, em paridade de poder de compra), reflectindo, assim, uma maior aposta na I&D e inovação. 8.2.4. Qualificação da mão-de-obra No que respeita à qualificação da força de trabalho, a República Checa apresenta resultados globalmente muito positivos. A educação neste país é fortemente subsidiada pelo governo até ao nível universitário, apresentando uma taxa de matriculação no ensino superior muito semelhante à de Portugal (perto dos 60%), bem como uma taxa de escolarização no ensino secundário elevada, embora inferior à de Portugal (cerca de 70% da população com idade compreendida entre os 25 e os 64 anos possui ensino secundário completo e 14% possui licenciatura, 15% dos quais na área de Engenharia). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 79 De referir que a taxa de alfabetização da população é elevada, aproximando-se de 99%, despendendo o Estado cerca de 5% do PIB em educação. O sistema de ensino na República Checa oferece uma proporção muito elevada de cursos técnicos para o número total de alunos (a mais elevada dos países analisados). A dimensão da força de trabalho e do número de habitantes na República Checa tem crescido nos últimos anos, não só devido a uma maior taxa de natalidade, mas principalmente devido ao fluxo intenso de entrada de trabalhadores estrangeiros no país. A República Checa surge, ainda, com uma classificação semelhante à de Portugal, embora superior, quando se analisam os indicadores disponibilizados pelo “Global Competitiveness Report“ referentes à qualidade do ensino e formação, em particular no que respeita à “qualidade global do ensino”. Apesar da escala destes indicadores ser de 1 a 7 e, consequentemente, a pequenas variações no ranking corresponderem diferenças relativamente significativas entre os países, a República Checa apresenta uma ligeira vantagem face a Portugal na qualidade de ensino (3,9 contra 3,8 de Portugal). Gráfico 20 – Portugal e República Checa: qualificação – alguns indicadores 10 8 6 4 2 0 Qualidade do sistema Qualidade da educação Disponibilidade de educativo (GCR 2013) de matemática e científica serviços de investigação (GCR 2013) e formação (GCR 2013) Portugal Nível de formação do staff (GCR 2013) Competências linguísticas (IMD 2011) Rep. Checa Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e “International Institute for Management Development 2011”. No entanto, quando se analisam as competências linguísticas, num indicador disponibilizado pelo International Institute for Management Development (IMD), de grande relevância para a competitividade das potenciais localizações de centros de serviços partilhados, constata-se que Portugal apresenta um desempenho muito superior (7,88 contra 5,16). Relativamente a outro indicador importante que reflecte a qualidade do ensino – o exame PISA efectuado pela OCDE -, Portugal apresenta um desempenho inferior ao da Republica Checa ao nível das três dimensões analisadas (leitura, matemática e ciência). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 80 Gráfico 21 – Portugal e República Checa: resultados PISA 2012 530 520 510 500 490 480 PISA: Leitura (OCDE 2012) PISA: Matemática (OCDE 2012) Portugal PISA: Ciência (OCDE 2012) Rep. Checa Fonte: “Programme for International Student Assessment”, OCDE 2012. Quanto ao número anual de diplomados em ciência, engenharia e computação, um indicador importante para avaliar a disponibilidade de mão-de-obra ao nível destas áreas de formação, Portugal apresenta um valor inferior em 2 pontos percentuais em comparação com a República Checa. Gráfico 22 – Portugal e República Checa: número anual de graduados em Ciências, Engenharia e Computação (% total) 14% Gráfico 23 – Portugal e República Checa: disponibilidade de trabalhadores qualificados 10 12% 8 10% 6 8% 4 6% 4% 2 2% 0 0% Portugal Rep. Checa Disponibilidade de Disponibilidade de cientistas e trabalhadores qualificados engenheiros (GCR 2013) (IMD 2011) Portugal Rep. Checa Fonte: OCDE 2011, “Global Competitiveness Report 2012-2013” e “International Institute for Management Development 2011”. Quanto à oferta de recursos humanos qualificados, que assume grande relevância para a atracção de investimento em centros de serviços partilhados, os indicadores revelam uma maior disponibilidade na República Checa face a Portugal, quando se analisa a força de trabalho em geral. Numa análise específica à disponibilidade de cientistas e engenheiros, Portugal surge com uma ligeira vantagem. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 81 8.2.5. Infra-estrutura Neste ponto, destaca-se a superioridade de Portugal na qualidade global da infra-estrutura (6,2 versus 5,5), de acordo com o Global Competitiveness Report de 2012-2013, bem como no número total de acessos de comunicação (197,8 contra 168,8), um indicador da OCDE que inclui modos de comunicação analógicos, por fibra óptica, ISDN, DSL, cabo, móvel e outros. Gráfico 24 – Portugal e República Checa: infra-estrutura – alguns indicadores Gráfico 25 – Portugal e República Checa: número total de acessos de comunicação por 100 habitantes 200 7 6 180 5 160 4 3 140 2 120 1 0 100 Qualidade global da Qualidade das Qualidade do infraestrutura (GCR estradas (GCR 2013) abastecimento 2013) eléctrico (GCR 2013) Portugal Portugal Rep. Checa Rep. Checa Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e OCDE 2011. Quanto à competitividade global da economia, a República Checa e Portugal apresentam uma classificação muito semelhante, com ligeira desvantagem para Portugal (4,5 versus 4,4). No entanto, tal como seria expectável, tendo em conta a conjuntura actual portuguesa, a República Checa apresenta uma grande vantagem quando se analisa a envolvente macroeconómica, com uma pontuação de 5,2 face a 3,9 de Portugal. 8.2.6. Regulamentação No que respeita à regulamentação, nos cinco indicadores seleccionados do Global Competitiveness Report 2012-2013, Portugal encontra-se em desvantagem quanto à flexibilidade da determinação de salários, às práticas de contratação e despedimento, e com uma ligeira diferença ao nível da eficiência do enquadramento legal para resolver conflitos, enquanto nos restantes indicadores apresenta um desempenho superior. A este nível, é de destacar a pontuação de Portugal no indicador associado à protecção da propriedade intelectual, especialmente relevante para a atracção da instalação de centros de competências ou de I&D. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 82 Gráfico 26 – Portugal e República Checa: regulamentação - indicadores 6 5 4 3 2 1 0 Eficiência do enquadramento legal para resolver conflitos (GCR 2013) Pagamentos irregulares Protecção da Flexibilidade da Práticas de contratação e subornos (GCR 2013) propriedade intelectual determinação de salários e despedimento (GCR (GCR 2013) (GCR 2013) 2013) Portugal Rep. Checa Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e “International Institute for Management Development 2011”. Por outro lado, Portugal manifesta relativa superioridade na “facilidade global de fazer negócios”, de acordo com o estudo Doing Business de 2014, situando-se na 31ª posição contra a 75ª posição da República Checa. Contudo, apresenta uma significativa desvantagem competitiva quanto à eficiência 32 da regulação laboral (Labor Freedom) , em que a República Checa surge com uma prestação muito competitiva, com 85,5 numa escala de 0 a 100 (Portugal pontua apenas 31). Por último, a República Checa demonstra uma incidência de pirataria de software de 36%, 4 pontos percentuais abaixo da de Portugal, o que lhe confere uma ligeira vantagem neste âmbito. 8.2.7. Conclusões Conforme referido, de modo a que seja possível elaborar uma análise comparativa entre as vantagens e desvantagens competitivas dos países em análise, cada um dos índices foi quantificado numa escala de 0-10, considerando a ponderação definida para cada um dos indicadores que compõem os índices (que traduz a importância relativa de cada um deles). Deste modo, o gráfico que se segue compara Portugal e a República Checa ao nível dos seis índices seleccionados: i) custos de trabalho, ii) custos indirectos e impostos, iii) preparação tecnológica, iv) qualificação, v) infra-estrutura e vi) regulamentação, salientando-se as seguintes conclusões: A vantagem competitiva de Portugal no que respeita aos custos do trabalho e à qualidade da infraestrutura; Valores semelhantes para os dois países em termos de qualificação, da incidência de impostos e dos custos indirectos; A desvantagem competitiva de Portugal no que concerne à regulamentação e à preparação tecnológica. 32 De acordo com a Fundação Heritage (Index of Economic Freedom 2013). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 83 Gráfico 27 – Portugal e República Checa: agregado Portugal Regulamentação Rep. Checa Preparação Tecnológica 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Infraestrutura Qualificação Custos de Trabalho Impostos e Custos Indirectos Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, OCDE 2012, “International Institute for Management Development 2011”, “Doing Business 2014”, “PayScale”, “US Census Bureau”, CBRE 2012, “Employment in Europe 2009”, “Index of Economic Freedom - Heritage Foundation 2013”, Associação Portugal Outsourcing, 2012. 8.3. Polónia A Polónia encontra-se entre as economias da Europa que mais cresceram nos últimos anos. Com efeito, o seu PIB cresceu 3,9% em 2010 e, de acordo com as previsões, será o país europeu com maior crescimento no ano de 2013, com uma taxa de 2,5%. Situada no centro da Europa, beneficia geograficamente de ligações privilegiadas com o Norte da Europa, com a Europa Ocidental (em particular através da fronteira a Oeste com a Alemanha), bem como com a Rússia. É um dos maiores países da Europa Central e de Leste, com dimensão e população comparáveis a Espanha, pertencendo ao grupo dos maiores países da UE. Desde 1990, o país levou a cabo uma política orientada para a liberalização económica, a qual teve repercussões na redução dos níveis de desemprego, bem como nas condições de atracção de investimento externo. De facto, nos últimos anos, algumas das maiores empresas do mundo têm investido na Polónia, incluindo a Bridgestone, a Dell, a Sharp, a Whirlpool, a Gillette, a Cadbury Schweppes, a MAN Trucks, a LG Electronics, a Toshiba, a Capgemini, a Shell, a ABN Amro, a HP, a Lenovo, a IBM, a Reuters e a Google. Especificamente, os centros de serviços partilhados começaram a desenvolver-se na Polónia no princípio do século XXI, com a entrada de capital estrangeiro após a sua adesão à UE. Beneficiando de sistemas de incentivos direccionados para a criação de centros de serviços partilhados, as principais áreas de especialização dos centros da Polónia incluem, maioritariamente, a contabilidade e as finanças, os serviços de tecnologias de informação e as actividades de I&D. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 84 De acordo com a Agência Polaca de Informação e Investimento Estrangeiro (“PAIiIZ”), o número de centros de serviços partilhados tem crescido constantemente, empregando actualmente mais de 15 mil pessoas na indústria de tecnologias de informação, com o contributo de empresas como a Google, a Samsung, a Intel, a Cisco e o Citibank. Em 2012, a mesma instituição anunciava que o mercado de centros de serviços partilhados/outsourcing valia cerca de 2,5 mil milhões de USD e empregava cerca de 50 mil pessoas, prevendo-se a criação de mais 20 mil postos de trabalho até 2014. 8.3.1. Custos de trabalho A este nível, tal como foi enunciado anteriormente, a Polónia apresenta salários brutos médios globalmente competitivos, não só a nível internacional, como mesmo em comparação com Portugal. Ainda que com uma ligeira tendência de crescimento nos últimos dez anos, os salários na Polónia têm-se mantido consideravelmente mais baixos do que aqueles verificados em Portugal. Gráfico 28 – Portugal e Polónia: salário bruto médio anual (USD em PPC a preços de 2012) 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Portugal 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Polónia Fonte: OCDE, 2012. Contudo, quando se analisa especificamente o custo de trabalho tendo em conta as categorias mais relevantes no âmbito do sector dos serviços partilhados, constata-se que as diferenças salariais entre Portugal e a Polónia são muito menos significativas, ainda que, globalmente, a Polónia continue a ser mais competitiva que Portugal. Gráfico 29 – Portugal e Polónia: salários medianos (valor bruto, Euro/ano) 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 Engenheiro de Software Engenheiro de Software Senior Gestor de Operações Gestor de Projectos TI Contabilista Portugal Customer Consultor de service TI representative (CSR) Consultor SAP Programador de Software Polónia Fonte: “PayScale”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 85 Relativamente aos custos unitários de trabalho, que medem o custo médio do trabalho por unidade de output produzido, Portugal apresenta-se mais competitivo. Assim, de acordo com a OCDE, o valor dos custos unitários de trabalho, com o ajuste cambial, relativamente aos serviços financeiros e de suporte ao negócio, é superior na Polónia quando comparado com Portugal. 8.3.2. Custos indirectos e impostos A capital da Polónia, Varsóvia, é apresentada frequentemente como um centro competitivo para negócios e com um elevado potencial para a implementação de centros de serviços partilhados. Apresentando um PIB per capita três vezes mais elevado do que a média polaca, bem como um poder de compra muito acima da média, Varsóvia é o centro académico do país, responsável por investimentos importantes em outsourcing e centros de serviços partilhados. No entanto, os custos de ocupação de escritórios em Varsóvia não são baratos comparativamente com os preços médios praticados em Portugal. Com efeito, de acordo com os dados do CBRE (2012), o custo da ocupação de escritório por metro quadrado por ano rondava os Euro 440 em Varsóvia, enquanto em Lisboa rondava Euro 297. Quanto aos outros custos indirectos, a Polónia apresenta-se muito competitiva no que respeita aos custos de telecomunicações, em particular no custo de chamadas telefónicas por telefone fixo, mas, por outro lado, exibe uma das taxas de turnover mais elevadas da UE (21,9%), responsável por uma parte substancial dos custos indirectos das empresas. No que se refere aos impostos, a Polónia surge em 113º lugar no ranking do relatório anual Doing Business de 2014, face ao 81º posto ocupado por Portugal. Contudo, considerando especificamente a taxa geral de IRC, verifica-se que a Polónia possui uma taxa que é inferior em 4 pontos percentuais à taxa que vigorará em Portugal no ano de 2014 (23%). Não obstante, no que respeita à taxa efectiva de imposto, os dois países estão muito próximos (41,6% na Polónia e 42,3% em Portugal). Relativamente à taxa normal de IVA, observa-se que a taxa é igual em ambos os países. Gráfico 30 – Portugal e Polónia: impostos 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Taxa efectiva (% lucro) IVA Portugal IRC Polónia Fonte: “Doing Business 2014”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 86 8.3.3. Preparação tecnológica Ao nível da preparação tecnológica, a Polónia apresenta, globalmente, vantagens comparativas face a Portugal, com destaque para a taxa de penetração de banda larga móvel por 100 habitantes, que é superior em 21 pontos percentuais à verificada em Portugal. Com efeito, Portugal só apresenta uma ligeira vantagem face à Polónia no que respeita ao acesso a internet de banda larga por 100 habitantes, com uma reduzida margem de 6,6 pontos percentuais. Gráfico 31 – Portugal e Polónia: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 32 – Portugal e Polónia: acesso à internet nas escolas (escala de 0-7) 80% 70% 7 60% 6 50% 5 40% 4 30% 3 20% 2 10% 1 0 0% Utilização de Internet Penetração de banda Acesso a Internet de por 100 hab larga móvel por 100 banda larga por 100 hab hab Portugal Portugal Polónia Polónia Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. No entanto, nos restantes dois indicadores referentes à preparação tecnológica - acesso à internet nas escolas e despesas de I&D per capita - Portugal revela-se substancialmente mais competitivo do que a Polónia, em particular no que respeita ao segundo indicador, com um valor quase três vezes superior ao polaco (USD 269 versus USD 91, em paridades de poder de compra). 8.3.4. Qualificação da mão-de-obra Quanto aos indicadores que avaliam a qualidade da força de trabalho, verifica-se, em primeiro lugar, que a Polónia apresenta níveis competitivos no que respeita à taxa de escolarização no ensino secundário e, simultaneamente, um valor mais elevado de escolarização no ensino superior (70,5%), em comparação com Portugal (62,2%, Global Competitiveness Report, 2012-2013). Por outro lado, na análise de outros indicadores, tais como a qualidade do sistema educativo e da formação, constata-se que Portugal e Polónia encontram-se sensivelmente ao mesmo nível. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 87 Gráfico 33 – Portugal e Polónia: qualificação – alguns indicadores 10 8 6 4 2 0 Qualidade do sistema Qualidade da educação Disponibilidade de Nível de formação do staff Competências linguísticas educativo (GCR 2013) de matemática e científica serviços de investigação (GCR 2013) (IMD 2011) (GCR 2013) e formação (GCR 2013) Portugal Polónia Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. No que respeita a competências linguísticas, Portugal surge claramente à frente da Polónia, com uma diferença de 1,67 pontos, neste que é um indicador muito importante para a avaliação da competitividade da força de trabalho no sector dos centros de serviços partilhados. Os testes PISA, enquanto indicadores de avaliação do sistema de ensino em vigor em cada país, revelam uma vantagem da Polónia face a Portugal. Com efeito, nos três itens avaliados (leitura, matemática e ciência), a Polónia destaca-se relativamente a Portugal, sobretudo no que respeita à ciência. Gráfico 34 – Portugal e Polónia: resultados PISA 2012 530 520 510 500 490 480 PISA: Leitura (OCDE 2012) PISA: Matemática (OCDE 2012) Portugal PISA: Ciência (OCDE 2012) Polónia Fonte: OCDE, 2012. Já relativamente ao número anual de graduados em ciência, engenharia e computação em percentagem do total, Portugal apresenta um valor superior, em cerca de 0,5 pontos percentuais. Quanto aos indicadores de disponibilidade de recursos humanos qualificados, Portugal apresenta-se em vantagem na disponibilidade de cientistas e engenheiros (Global Competitiveness Report 20122013) e sensivelmente com o mesmo valor que a Polónia na generalidade das qualificações (IMD 2011). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 88 Gráfico 35 – Portugal e Polónia: número anual de graduados em Ciências, Engenharia e Computação (% total) Gráfico 36 – Portugal e Polónia: disponibilidade de trabalhadores qualificados 10 14% 8 12% 10% 6 8% 6% 4 4% 2 2% 0% Portugal 0 Polónia Disponibilidade de trabalhadores qualificados (IMD 2011) Portugal Disponibilidade de cientistas e engenheiros (GCR 2013) Polónia Fonte: OCDE 2011, “Global Competitiveness Report 2012-2013” e “International Institute for Management Development 2011”. 8.3.5. Infra-estrutura Nos três principais indicadores de qualidade da infra-estrutura do Global Competitiveness Report, nomeadamente no que respeita à “qualidade global da infra-estrutura”, Portugal apresenta-se, indiscutivelmente, em posição vantajosa face à Polónia. Gráfico 37 – Portugal e Polónia: infraestrutura – alguns indicadores Gráfico 38 – Portugal e Polónia: número total de acessos de comunicações por 100 habitantes 200 180 7 6 160 5 4 140 3 2 120 1 0 Qualidade global da Qualidade das estradas infraestrutura (GCR 2013) (GCR 2013) Portugal Qualidade do abastecimento eléctrico (GCR 2013) 100 Portugal Polónia Polónia Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e OCDE 2011. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 89 Do mesmo modo, no que respeita ao número total de acessos de comunicação, aferido pela OCDE, Portugal apresenta uma clara vantagem competitiva, concluindo-se que, relativamente aos indicadores de qualidade de infra-estrutura, Portugal encontra-se melhor que a Polónia. Quanto à envolvente macroeconómica, tal como já foi abordado anteriormente, o recente crescimento da Polónia, bem como a estabilidade e o potencial de crescimento justificam, no presente, um desempenho superior da Polónia, em comparação com Portugal. Já a competitividade global da economia, de acordo com o Global Competitiveness Report 2012-2013, mostra um resultado praticamente idêntico para os dois países: 4,4 para Portugal e 4,5 para a Polónia. 8.3.6. Regulamentação Relativamente a este ponto, é de destacar a superioridade da Polónia no que concerne à flexibilidade da determinação de salários e a práticas de contratação e despedimento, que traduzem legislação laboral mais favorável. Com efeito, de acordo com o Index of Economic Freedom de 2013, no que respeita ao enquadramento legal e regulamentar do mercado de trabalho, a Polónia surge com uma classificação de 62,9, enquanto Portugal pontua apenas 31 pontos em 100. Identifica-se, no entanto, uma relativa inferioridade da Polónia face a Portugal no que respeita à protecção da propriedade intelectual e à eficiência geral do sistema judicial. Gráfico 39 – Portugal e Polónia: regulamentação – alguns indicadores 6 5 4 3 2 1 0 Eficiência do enquadramento legal para resolver conflitos (GCR 2013) Pagamentos irregulares e subornos (GCR 2013) Protecção da Flexibilidade da Práticas de contratação e propriedade intelectual determinação de salários despedimento (GCR (GCR 2013) (GCR 2013) 2013) Portugal Polónia Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. No que diz respeito à classificação no ranking global Doing Business 2014, relativamente à “facilidade de fazer negócio”, a Polónia (45º) situa-se 14 posições abaixo de Portugal (31º). Já quanto à taxa de pirataria de software, Portugal surge com uma ligeira vantagem, com uma diferença de 14 pontos percentuais. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 90 8.3.7. Conclusões Para concluir, apresentam-se, sumariamente, as vantagens e desvantagens competitivas de Portugal face à Polónia, com recurso à metodologia identificada anteriormente, em que todos os indicadores são convertidos a uma escala decimal e posteriormente agregados em seis índices-chave cruciais para análise da competitividade na atracção de investimento em centros de serviços partilhados. Em particular, é possível retirar as seguintes conclusões: Portugal apresenta uma ligeira vantagem competitiva no que respeita aos custos do trabalho, sobretudo graças aos custos unitários do trabalho, onde regista um melhor desempenho, e ao nível da preparação tecnológica, sobretudo devido à aposta na I&D e inovação; Valores semelhantes para os dois países em termos de “qualificação da mão-de-obra” e “impostos e custos indirectos”; A desvantagem competitiva de Portugal centra-se ao nível do indicador de regulamentação sendo que a Polónia consegue alguma vantagem graças à sua legislação laboral mais favorável e à maior prontidão com que as suas instituições apoiam o sector empresarial. Gráfico 40 – Portugal e Polónia: agregado Portugal Regulamentação Polónia Preparação Tecnológica 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Infraestrutura Qualificação Custos de Trabalho Impostos e Custos Indirectos Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, OCDE, “International Institute for Management Development 2011”, “Doing Business 2014”, “Pay Scale”, “US Census Bureau”, CBRE 2012, “Employment in Europe 2009”, “Index of Economic Freedom - Heritage Foundation 2013”, Associação Portugal Outsourcing 2012. 8.4. Espanha Desde o fim da recessão global no início dos anos 90 do século passado, a economia espanhola teve uma década de crescimento substancial. Sendo actualmente a 12ª maior economia do mundo, Espanha foi das economias que mais cresceu na UE15, tendo apenas a Grécia e a Irlanda crescido um pouco mais rapidamente em alguns anos. Por outro lado, a economia espanhola experimentou ainda um grande amadurecimento, com um desenvolvimento assinalável do seu sector dos serviços, o qual, em 2012, representava cerca de 70% da sua actividade económica. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 91 Desde 2008, porém, o país tem sofrido uma deterioração significativa dos seus índices macroeconómicos, associada a um longo período de recessão (2008-2010), seguido de uma fase de crescimento fraco de 0,7%, em 2011. Em comparação com outros países da Europa Ocidental, as empresas espanholas têm vindo, muitas vezes, a revelar um estatuto de early adopters não só de outsourcing de serviços conexos com os recursos humanos, as finanças, a contabilidade, ou o atendimento ao cliente, mas também de outsourcing de serviços directamente relacionados com as tecnologias de informação e de comunicação. Com efeito, o crescimento acumulado do sector de outsourcing em Espanha foi de mais de 95% entre os exercícios de 2004 e 2009. Paralelamente, as ligações privilegiadas de empresas espanholas com a América do Sul permitem articular e gerir recursos com grande capacidade de escala, o que se traduz num impacto positivo nos sectores dos centros de serviços partilhados e do outsourcing de serviços no âmbito das tecnologias de informação e de comunicação.Com efeito, empresas como a Accenture, a IBM ou a Atos escolheram Espanha para colocar alguns dos seus centros de excelência de tecnologias, envolvendo análises preditivas e business intelligence. 8.4.1. Custos de trabalho No que respeita ao salário médio bruto anual, Espanha apresenta, de modo recorrente ao longo da última década, valores superiores em cerca de 50% aos verificados em Portugal, tornando o país menos competitivo, a este nível, para a atracção de investimento em centros de serviços partilhados. Gráfico 41 – Portugal e Espanha: salário médio bruto anual (USD em PPC a preços de 2012) 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Portugal 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Espanha Fonte: OCDE, 2012. Numa análise especificamente aos salários verificados nas funções mais representadas nos centros de serviços partilhados, verificam-se, igualmente, diferenças relevantes entre os salários praticados em Espanha e em Portugal, sendo que Portugal mantém a vantagem competitiva a este nível. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 92 Gráfico 42 – Portugal e Espanha: salário medianos (valor bruto, Euro/ano) 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 Engenheiro de Software Engenheiro de Software Senior Gestor de Operações Gestor de Projectos TI Fonte: “PayScale”. Contabilista Portugal Customer Consultor de service TI representative (CSR) Consultor SAP Programador de Software Espanha Por fim, no que respeita aos custos unitários do trabalho aplicáveis aos serviços financeiros e de suporte ao negócio (os mais relevantes para o presente estudo), que medem o custo em função da produtividade, Espanha, mais uma vez, revela uma baixa competitividade, com um valor cerca de 30% superior ao português. 8.4.2. Custos indirectos e impostos A este nível, verifica-se que, apesar dos custos indirectos associados ao imobiliário serem superiores em Madrid, quando comparados com Lisboa, em cerca de 46%, Espanha apresenta custos competitivos no domínio das telecomunicações, especialmente quando se avalia o custo de um elevado número de chamadas. No que respeita a outro indicador relevante ao nível dos custos indirectos na implementação de centros de serviços partilhados, o rácio de turnover, Espanha é menos competitiva que Portugal, com um rácio 6,6 pontos percentuais acima do português. Quanto à competitividade fiscal, Portugal é mais competitivo do que Espanha, ao apresentar uma taxa geral de IRC inferior em 7 pontos percentuais à verificada em Espanha, e, igualmente, uma taxa efectiva de imposto sobre o rendimento das sociedades, inferior à espanhola (cerca de 16 p.p.). Contudo, ao nível da taxa normal de IVA, Espanha possui uma taxa de 18%, inferior em 5 pontos percentuais à verificada em Portugal. Por outro lado, de acordo com o ranking do Doing Business de 2014, Espanha surge bem classificada no que respeita ao pagamento de impostos, 14 lugares acima de Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 93 Gráfico 43 – Portugal e Espanha: impostos 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Taxa efectiva (% lucro) IVA Portugal IRC Espanha Fonte: “Doing Business 2014”. 8.4.3. Preparação tecnológica No que respeita à preparação tecnológica, Espanha apresenta resultados mais competitivos do que Portugal, sendo que, apenas no acesso a internet nas escolas, Portugal consegue surgir mais bem classificado. Adicionalmente, ao nível das despesas de I&D per capita, Espanha apresenta um valor cerca de 50% superior ao verificado em Portugal. Gráfico 44 – Portugal e Espanha: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 45 – Portugal e Espanha: acesso a internet nas escolas (escala de 0-7) 80% 7 70% 6 60% 5 50% 4 40% 3 30% 2 20% 1 10% 0% 0 Utilização de Internet Penetração de banda Acesso a Internet de por 100 hab larga móvel por 100 banda larga por 100 hab hab Portugal Portugal Espanha Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. 8.4.4. Qualificação da mão-de-obra No que respeita à qualificação dos recursos humanos, verifica-se, em primeiro lugar, que Espanha possui uma taxa de escolarização superior à de Portugal, quer seja no ensino secundário, quer no ensino superior. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 94 Adicionalmente, Espanha surge com um número elevado de diplomados em ciência, engenharia e computação (8,9% do total de diplomados contra 7% em Portugal), o que a torna mais competitiva para a atractividade de algumas tipologias de centros de serviços partilhados, relativamente a Portugal. Por outro lado, não só a qualidade do sistema educativo é superior em Portugal, de acordo com o Global Competiveness Report 2012-2013, como Espanha apresenta a pior classificação dos países analisados em competências linguísticas, de acordo com o IMD, com um valor inferior em 4,7 unidades ao de Portugal. Gráfico 46 – Portugal e Espanha: qualificação – alguns indicadores 10 8 6 4 2 0 Qualidade do sistema educativo (GCR 2013) Qualidade da Disponibilidade de Nível de formação do educação de serviços de staff (GCR 2013) matemática e investigação e científica (GCR 2013) formação (GCR 2013) Portugal Competências linguísticas (IMD 2011) Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e “International Institute for Management Development 2011”. Relativamente ao sistema educativo, os testes PISA demonstram um desempenho semelhante dos dois países, sendo que ao nível do critério leitura o desempenho é exactamente igual. Ao nível da matemática o desempenho dos estudantes portugueses é superior e em ciência são os estudantes espanhóis que se destacam. Gráfico 47 – Portugal e Espanha: resultados PISA 2012 Gráfico 48 – Portugal e Espanha: número anual de graduados em Ciências, Engenharia e Computação (% do total) 14% 530 12% 520 10% 510 8% 500 6% 490 4% 480 PISA: Leitura (OCDE 2012) PISA: Matemática PISA: Ciência (OCDE (OCDE 2012) 2012) 2% 0% Portugal Espanha Portugal Espanha Fonte: OCDE, 2011 e 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 95 Por fim, quando se comparam os valores de disponibilidade de mão-de-obra qualificada, os resultados são favoráveis a Espanha, tanto ao nível da força de trabalho em geral, como ao nível de cientistas e engenheiros, em particular. Gráfico 49 – Portugal e Espanha: disponibilidade de trabalhadores qualificados 10 8 6 4 2 0 Disponibilidade de Disponibilidade de cientistas e trabalhadores qualificados (IMD engenheiros (GCR 2013) 2011) Portugal Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e “International Institute for Management Development 2011”. 8.4.5. Infra-estrutura A este nível, verifica-se que Portugal é mais competitivo em todos os indicadores, desde a qualidade global da infra-estrutura, até, mais especificamente, ao número total de acessos de comunicação, que inclui DSL, cabo, ISDN, analógico, fibra óptica, entre outros. Gráfico 50 – Portugal e Espanha: infraestrutura – alguns indicadores Gráfico 51 – Portugal e Espanha: número total de acessos de comunicação por 100 habitantes 200 7 180 6 160 5 4 140 3 2 120 1 0 Qualidade global da infraestrutura (GCR 2013) Qualidade das estradas Qualidade do (GCR 2013) abastecimento eléctrico (GCR 2013) Portugal 100 Portugal Espanha Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e OCDE, 2011. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 96 Relativamente à conjuntura económica, Espanha, apesar de também se encontrar numa situação desfavorável, tem uma classificação mais favorável que Portugal, de acordo com o Global Competitiveness Report 2012-2013. Ainda de acordo com o mesmo relatório, o índice de competitividade global da economia coloca Portugal em ligeira desvantagem face a Espanha, com 4,4 contra 4,6. 8.4.6. Regulamentação Nesta componente da envolvente de negócios, destaca-se, em primeiro lugar, uma maior eficiência da justiça espanhola na resolução de conflitos, bem como uma ligeira vantagem no que respeita às práticas de contratação e despedimento. No entanto, Espanha apresenta piores condições ao nível da protecção da propriedade intelectual e da flexibilidade na determinação dos salários. Gráfico 52 – Portugal e Espanha: regulamentação – alguns indicadores 6 5 4 3 2 1 0 Eficiência do enquadramento legal para resolver conflitos (GCR 2013) Pagamentos irregulares e subornos (GCR 2013) Protecção da Flexibilidade da Práticas de contratação e propriedade intelectual determinação de salários despedimento (GCR (GCR 2013) (GCR 2013) 2013) Portugal Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. No que respeita à “facilidade de fazer negócios”, Espanha surge, novamente, como menos competitiva, 14 posições abaixo de Portugal, enquanto a taxa de pirataria de software em Espanha assume praticamente o mesmo valor de Portugal, a rondar os 40%. Por fim, relativamente à eficiência da regulação laboral, avaliada no Index of Economic Freedom de 2013, Portugal demonstra uma prestação inferior, com uma diferença de 23 pontos em 100, comparativamente com Espanha. 8.4.7. Conclusões Da comparação do posicionamento competitivo de Portugal e Espanha ao nível dos índices seleccionados como de elevada importância na avaliação da localização de novos investimentos em centros de serviços partilhados, é possível retirar três conclusões principais: A principal vantagem competitiva de Portugal face a Espanha está presente nos custos do trabalho, onde é notória uma grande diferença entre os dois países; A maior desvantagem competitiva de Portugal face a Espanha reside no índice de preparação tecnológica, com uma diferença superior à que se verifica em relação à regulamentação, onde Portugal possui, igualmente, um desempenho inferior; Nos três índices - qualificação, impostos e custos indirectos, infra-estrutura e regulamentação - a competitividade dos dois países é relativamente similar, com ligeira vantagem para Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 97 Gráfico 53 – Portugal e Espanha: agregado Portugal Regulamentação Espanha Preparação Tecnológica 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Infraestrutura Qualificação Custos de Trabalho Impostos e Custos Indirectos Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, OCDE, “International Institute for Management Development 2011”, “Doing Business 2014”, “Pay Scale”, “US Census Bureau”, CBRE 2012, “Employment in Europe 2009”, “Index of Economic Freedom - Heritage Foundation 2013”, Associação Portugal Outsourcing 2012. 8.5. Irlanda De 1994 a 2007, a economia irlandesa revelou um forte desempenho, tendo o PIB crescido, em média, 7% ao ano, colocando os padrões de vida irlandeses no 4º nível mais alto da OCDE. No entanto, os últimos anos revelaram os desequilíbrios dessa expansão e, em 2008, o país foi atingido por uma crise bancária generalizada, associada a uma recessão profunda. Mais recentemente, tem vindo a ser observada uma tendência positiva, patente no crescimento de 0,9% em 2012, o que indica que a economia está a recuperar, ainda que lentamente. Tal como já foi mencionado no presente estudo, a Irlanda tem beneficiado de um forte investimento em centros de serviços partilhados. Com efeito, a Irlanda surgiu, há alguns anos, como um dos principais destinos de serviços partilhados a nível global, graças a um conjunto de factores usualmente apontados como críticos para este sucesso, incluindo a existência de uma boa infraestrutura de tecnologias de informação e de comunicação, competências em áreas financeiras e de serviço ao cliente, uma força de trabalho bem qualificada e com grande capacidade inovadora, um ambiente de baixo risco, e taxas de imposto favoráveis. Por outro lado, a Irlanda tem já uma elevada experiência na gestão e manutenção de modelos de serviços partilhados, mediante a implementação de uma estratégia, já com alguns anos, que se tem revelado particularmente benéfica para toda a economia. Com efeito, a política governamental, combinada com um ambiente de negócios favorável, continuam a colocar a Irlanda entre os países mais atractivos para o investimento em centros de serviços partilhados, apesar da turbulência recente, o que demonstra a sua elevada competitividade neste sector. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 98 Não obstante o exposto, o número de novos centros de serviços partilhados que se têm instalado na Irlanda tem vindo a diminuir, sendo que, em 2010, apenas 20% dos centros de serviços partilhados na Irlanda tinham sido estabelecidos nos quatro anos precedentes, o que compara com 40% a nível global. Com efeito, tem-se verificado uma tendência crescente de transferência de investimentos deste sector para mercados emergentes, o que pode representar uma ameaça real ao desenvolvimento deste sector na Irlanda. 8.5.1. Custos de trabalho No âmbito da comparação de custos de trabalho, é de destacar que os salários nominais irlandeses são globalmente muito superiores aos portugueses. Esta diferença é agravada pelo facto de se verificar que os salários irlandeses têm apresentado níveis de crescimento superiores aos portugueses - os salários nominais em Portugal tiveram um decréscimo de aproximadamente 1% no período considerado, enquanto na Irlanda o crescimento foi de 30%. Gráfico 54 – Portugal e Irlanda: salário bruto médio anual (USD em PPC a preços de 2012) 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Portugal 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Irlanda Fonte: OCDE, 2012. Mesmo quando a análise comparativa dos dois países se foca apenas nos salários das funções mais representativas no sector dos centros de serviços partilhados, a diferença mantém-se favorável a Portugal em todas as categorias consideradas. Gráfico 55 – Portugal e Irlanda: salários medianos (valor bruto, Euro/Ano) 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 Engenheiro de Software Engenheiro de Software Senior Gestor de Operações Gestor de Projectos TI Contabilista Portugal Customer Consultor de service TI representative (CSR) Consultor SAP Programador de Software Irlanda Fonte: “PayScale”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 99 No entanto, quando a análise se foca nos custos unitários de trabalho ajustados, do sector de serviços financeiros e de suporte ao negócio, que incorporam o custo por unidade de produção, a Irlanda revela-se mais competitiva, com um valor 14% inferior ao português, o que traduz uma produtividade superior à portuguesa neste sector. 8.5.2. Custos indirectos e impostos No que respeita aos custos indirectos, verifica-se que Lisboa é bem mais competitiva do que Dublin, com custos de ocupação de escritório inferiores em mais de Euro 130/ano. Quando, porém, comparamos os custos das telecomunicações, Portugal revela-se em desvantagem, com custos quase duas vezes superiores (indicador da OCDE – custo de telecomunicações - pacote negócios 260 chamadas, USD PPC). Relativamente a outro indicador importante dos custos indirectos - o rácio de turnover - este revela uma ligeira vantagem para a Irlanda, com uma diferença de 2,7 pontos percentuais, o que revela taxas inferiores de rotatividade dos trabalhadores. Contudo, de entre os indicadores em análise neste ponto, aquele em que Portugal revela maior desvantagem face à Irlanda é sem dúvida ao nível dos impostos. Conhecida pela sua política fiscal altamente favorável às empresas, a Irlanda surge em 6º lugar (em 189 países) no ranking do relatório Doing Business 2014, comparando com o 81º lugar de Portugal para esta dimensão em particular. Com efeito, quando se analisam as taxas de imposto, a Irlanda distancia-se em larga medida de Portugal, em particular ao nível do imposto incidente sobre o rendimento das empresas, que se situa 10,5 pontos percentuais abaixo do português. Gráfico 56 – Portugal e Irlanda: impostos 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Taxa efectiva (% lucro) IVA Portugal IRC Irlanda Fonte: “Doing Business 2014”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 100 8.5.3. Preparação tecnológica No que respeita à preparação tecnológica, a Irlanda apresenta um desempenho globalmente superior ao de Portugal. Apenas no acesso à internet nas escolas, Portugal consegue um resultado superior, de acordo com o Global Competitiveness Report 2012-2013. Gráfico 57 – Portugal e Irlanda: preparação tecnológica – alguns indicadores Gráfico 58 – Portugal e Irlanda: acesso a internet nas escolas (escala de 0-7) 80% 7 70% 6 60% 5 50% 4 40% 3 30% 2 20% 1 10% 0 0% Utilização de Internet Penetração de Acesso a Internet de por 100 hab banda larga móvel banda larga por 100 por 100 hab hab Portugal Portugal Irlanda Irlanda Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. Ao nível das despesas de I&D em 2007, e ainda sem os efeitos da crise, a Irlanda demonstrava novamente uma superioridade assinalável face a Portugal, com um valor mais de duas vezes superior em termos de despesa média per capita. 8.5.4. Qualificação da mão-de-obra No que diz respeito à qualificação, verifica-se, na Irlanda, um valor superior de matrículas no ensino secundário e valores muito semelhantes entre os dois países ao nível do ensino superior. Relativamente a outros indicadores de qualificação divulgados pelo Global Competitiveness Report e pelo International Institute for Management Development, constata-se um melhor desempenho da Irlanda no que respeita à qualidade global do sistema educativo, bem como de outros indicadores importantes. Contudo, no indicador referente às competências linguísticas, que resulta de inquéritos às empresas sobre a sua satisfação com as capacidades dos seus funcionários, Portugal surge mais competitivo, com uma diferença de 2,74. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 101 Gráfico 59 – Portugal e Irlanda: qualificação – alguns indicadores 10 8 6 4 2 0 Qualidade do sistema educativo (GCR 2013) Qualidade da Disponibilidade de educação de serviços de matemática e investigação e científica (GCR 2013) formação (GCR 2013) Portugal Nível de formação do staff (GCR 2013) Competências linguísticas (IMD 2011) Irlanda Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e “International Institute for Management Development 2011”. Os testes PISA realizados pela OCDE, que avaliam a qualidade dos vários sistemas educativos, demonstram uma superioridade substancial da Irlanda face a Portugal no que respeita à leitura e à ciência, com valores mais próximos na categoria de matemática. Por outro lado, quando se observa o número de diplomados em ciência, engenharia e computação, em percentagem do total, a Irlanda manifesta-se mais competitiva, com um valor cerca de 6 pontos percentuais acima do português. Gráfico 60 – Portugal e Irlanda: resultados PISA 2012 530 Gráfico 61 – Portugal e Irlanda: número anual de diplomados em Ciências, Engenharia e Computação (% total) 14% 12% 520 10% 510 8% 6% 500 4% 490 2% 0% 480 PISA: Leitura (OCDE 2012) PISA: Matemática (OCDE 2012) Portugal PISA: Ciência (OCDE 2012) Portugal Irlanda Irlanda Fonte: OCDE, 2011 e 2012. Quanto à disponibilidade dos recursos qualificados, os indicadores demonstram valores muito semelhantes na disponibilidade de cientistas e engenheiros, enquanto para trabalhadores qualificados das diversas áreas, a Irlanda surge com uma vantagem competitiva de 2,5 valores no índice respectivo. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 102 Gráfico 62 – Portugal e Irlanda: disponibilidade de trabalhadores qualificados 10 8 6 4 2 0 Disponibilidade de trabalhadores qualificados (IMD 2011) Disponibilidade de cientistas e engenheiros (GCR 2013) Portugal Irlanda Fonte: “International Institute for Management Development 2011” e “Global Competitiveness Report 2012-2013”. 8.5.5. Infra-estrutura De acordo com o Global Competitiveness Report e a OCDE, ambos os países obtêm pontuações elevadas nos indicadores de infra-estruturas, ainda que Portugal possua vantagem na qualidade global da infra-estrutura, não obstante apresentar resultados ligeiramente inferiores no que respeita à qualidade do abastecimento eléctrico. 7 6 Gráfico 63 – Portugal e Irlanda: infra-estrutura – alguns indicadores 5 4 Gráfico 64 – Portugal e Irlanda: número total de acessos de comunicações por 100 habitantes 200 3 2 180 1 160 0 Qualidade global da Qualidade das Qualidade do infraestrutura (GCR estradas (GCR 2013) abastecimento 2013) eléctrico (GCR 2013) Portugal Irlanda 140 120 100 Portugal Irlanda Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013” e OCDE, 2011. A conjuntura económica dos dois países, tal como já foi referido, tem-se fragilizado nos últimos anos. De acordo com o Global Competitiveness Report 2012-2013, Portugal surge comparativamente melhor, embora ambos os países exibam valores relativamente baixos (3,9 para Portugal, face a 3,4 para a Irlanda). No entanto, de um modo geral, a Irlanda surge com uma melhor classificação na competitividade global da economia, com um valor superior em 0,5 unidades ao de Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 103 8.5.6. Regulamentação Tal como já foi mencionado, a Irlanda tem manifestado uma política de grande aproximação às empresas, em particular no que respeita ao investimento promovido no âmbito dos serviços partilhados. Deste modo, no que respeita à regulamentação com impacto no ambiente empresarial, a Irlanda possui um desempenho manifestamente superior a Portugal, em quase todos os indicadores seleccionados, seja no funcionamento da justiça, nas práticas de despedimento ou na protecção da propriedade intelectual. De facto, no âmbito da regulamentação, Portugal não regista qualquer vantagem face à Irlanda nos indicadores seleccionados. Gráfico 65 – Portugal e Irlanda: regulamentação – alguns indicadores 6 5 4 3 2 1 0 Eficiência do enquadramento legal para resolver conflitos (GCR 2013) Pagamentos irregulares e subornos (GCR 2013) Protecção da propriedade intelectual (GCR 2013) Portugal Flexibilidade da Práticas de determinação de contratação e salários (GCR 2013) despedimento (GCR 2013) Irlanda Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”. No que respeita à classificação da “facilidade de fazer negócios” (Doing Business 2014), Portugal está numa posição inferior à irlandesa (31º lugar face ao 15º lugar ocupado pela Irlanda), mostrandose, igualmente, pouco competitivo ao nível da eficiência da regulação laboral (31/100, face a 76,6/100 da Irlanda). Relativamente à taxa de pirataria de software em Portugal, esta fica 5 pontos percentuais acima da irlandesa. 8.5.7. Conclusões Tendo em conta a análise comparativa de Portugal e da Irlanda ao nível dos indicadores seleccionados, podem ser, desde logo, retiradas as seguintes principais conclusões: As principais vantagens competitivas de Portugal face à Irlanda centram-se ao nível dos custos do trabalho e da qualidade da infra-estrutura; Em termos de desvantagens de Portugal face à Irlanda, destacam-se os resultados ao nível dos impostos e custos indirectos, preparação tecnológica e, sobretudo, regulamentação. Apresenta ainda uma desvantagem quando se comparam os níveis de qualificação, ainda que a vantagem não seja tão significativa como nas outras categorias acima mencionadas. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 104 Gráfico 66 – Portugal e Irlanda: agregado Irlanda Regulamentação Portugal Preparação Tecnológica 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Infraestrutura Qualificação Custos de Trabalho Impostos e Custos Indirectos Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, OCDE, “International Institute for Management Development 2011”, “Doing Business 2014”, “Pay Scale”, “US Census Bureau”, CBRE 2012, “Employment in Europe 2009”, “Index of Economic Freedom - Heritage Foundation 2013”, Associação Portugal Outsourcing 2012. 8.6. Avaliação global Após a análise detalhada da competitividade dos países seleccionados face a Portugal, em que foram salientados os pontos em que cada país se destacava em termos dos vários indicadores, elabora-se, de seguida, uma comparação global dos cinco países ao nível dos seis índices seleccionados para a análise da sua competitividade relativa. 8.6.1. Custos de trabalho Neste indicador, Portugal é o mais competitivo dos cinco países analisados, obtendo a melhor classificação neste índice (8,68). Contudo numa análise isolada de cada um dos indicadores que compõem o índice, a Polónia é o país que obtém melhor classificação ao nível do indicador “salários medianos brutos” de um conjunto das funções mais representativas dos centros de serviços partilhados e a Irlanda obtém o melhor resultado ao nível dos custos unitários do trabalho, resultante de uma maior produtividade. De facto, os três países que se destacam neste índice (“custos de trabalho”) são Portugal, a Polónia e a Irlanda, com uma classificação de 8,68, 8,44 e 7,13, respectivamente. A República Checa e a Espanha distanciam-se deste grupo, embora por razões diferentes. Enquanto a República Checa apresenta salários nominais competitivos, mas perde em termos de custos unitários de trabalho, a situação de Espanha reflecte menor competitividade em ambos os níveis. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 105 Gráfico 67 – Custos do trabalho: avaliação global 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Portugal Polónia Irlanda Rep. Checa Espanha Fonte: “PayScale”, OCDE. 8.6.2. Custos indirectos e impostos No que respeita à competitividade fiscal e custos indirectos, este índice é claramente liderado pela Irlanda, que surge com uma vantagem de mais de dois pontos sobre os restantes países, com uma pontuação total de 7,77. Tal como já foi indicado anteriormente, este país preconiza uma política de incentivo ao investimento assente na sua competitividade fiscal, traduzindo-se numa das melhores classificações a nível mundial a este respeito. Numa análise dos custos indirectos (custos das telecomunicações, rácio de turnover, entre outros), a Irlanda afirma-se, de igual modo, fortemente competitiva face aos restantes países analisados. No entanto, no que diz respeito ao indicador “custo total de ocupação de escritório”, Portugal é o país 33 que assume uma posição mais competitiva . Os restantes países apresentam valores muito semelhantes, situando-se entre os 4,81 e os 5,82, 34 sendo que Portugal possui a melhor classificação dos restantes países (5,82). 33 A análise efectuada ao nível deste indicador incidiu apenas na comparação entre as capitais de cada um dos países em análise. No entanto, se o âmbito da análise fosse alargado a outras cidades/regiões, a competitividade de Portugal poderia, em princípio, ser reforçada. 34 Portugal tem em curso uma reforma do IRC, com a qual pretende contribuir positivamente para a competitividade fiscal do País. Com efeito, foi definido pelo Orçamento de Estado para 2014 uma redução da taxa de IRC para 23% em 2014. Prevê-se ainda uma redução para 21% no ano de 2015, e para um intervalo entre 17% e 19% em 2016. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 106 Gráfico 68 – Impostos e custos indirectos: avaliação global 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Portugal Polónia Irlanda Rep. Checa Espanha Fonte: “Doing Business” 2014, OCDE, CBRE 2012. 8.6.3. Preparação tecnológica Neste indicador, que avalia o grau de penetração e de domínio das tecnologias de informação pela população em geral, Portugal manifesta um fraco desempenho, situando-se em 4º lugar, com uma pontuação de 7,03, apenas superior à Polónia. Gráfico 69 – Preparação tecnológica: avaliação global 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Portugal Polónia Irlanda Rep. Checa Espanha Fonte: “Global Competiveness Report” 2013, US Census Bureau. Em primeiro lugar, surge a Irlanda, com uma classificação perto do máximo, em boa medida devido ao elevado valor de despesa em I&D per capita, em que a sua economia tem vindo a apostar. Neste aspecto, em particular, Portugal apresenta uma prestação relativamente fraca, com uma classificação de 4,55. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 107 8.6.4. Qualificação da mão-de-obra Quanto à qualificação da força de trabalho, a Irlanda surge em primeiro lugar, com 8,54, com os restantes países a apresentarem valores muito semelhantes. Neste indicador, para além da boa prestação da qualidade do ensino, Portugal possui a melhor avaliação dos 5 países ao nível das competências linguísticas. Gráfico 70 – Qualificação: avaliação global 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Portugal Polónia Irlanda Rep. Checa Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, OCDE, “International Institute for Management Development 2011”, “Programme for International Student Assessment”. 8.6.5. Infra-estrutura Relativamente à infra-estrutura, Portugal lidera o grupo dos países analisados, com uma classificação perto do máximo, com 9,92, seguindo-se a Espanha, com 9,23, e a Irlanda, com 8,77. Com a excepção da Polónia, que surge na última posição, todos os países analisados apresentam uma infra-estrutura de grande qualidade, sendo que Portugal se destaca positivamente em todos os indicadores analisados. Gráfico 71 – Infra-estrutura: avaliação global 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Portugal Polónia Irlanda Rep. Checa Espanha Fonte: “Global Competiveness Report 2012-2013” e OCDE. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 108 8.6.6. Regulamentação Neste indicador, Portugal revela-se sistematicamente entre os piores classificados, o que se traduz numa classificação geral de 6,83, situando-se em penúltimo lugar entre os cinco países em análise, embora muito próximo do último classificado (Espanha). Este resultado traduz as dificuldades estruturais da economia portuguesa, ao nível do funcionamento da justiça, das relações laborais nas empresas e/ou da ineficiência geral das suas instituições. Em situação oposta surge a Irlanda, em primeiro lugar, com 9,66, atenta a robustez das suas estruturas e da sua regulamentação, com instituições altamente vocacionadas para a captação de investimento externo e, em particular, muito direccionado para o sector dos centros de serviços partilhados. Gráfico 72 – Regulamentação: avaliação global 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Portugal Polónia Irlanda Rep. Checa Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, “Doing Business 2014”, Heritage Foundation, Associação Portugal Outsourcing. 8.6.7. Conclusões Em síntese, pode concluir-se que Portugal apresenta um desempenho globalmente competitivo face aos restantes países em análise, evidenciando vantagens comparativas ao nível dos custos de trabalho, das competências linguísticas e da qualidade da infra-estrutura, e desvantagens comparativas importantes relacionadas, sobretudo, com a envolvente de negócios e o funcionamento das suas instituições. Assim, considerando a pontuação nos seis índices definidos, Portugal surge como segundo classificado, atrás da Irlanda, que se destaca como o país globalmente mais competitivo, dos cinco países analisados, no que respeita à atracção de investimento em centros de serviços partilhados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 109 Gráfico 73 – Média global 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Portugal Polónia Irlanda Rep. Checa Espanha Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, OCDE, “International Institute for Management Development 2011”, “Doing Business 2014”, “Pay Scale”, “US Census Bureau”, CBRE 2012, “Employment in Europe 2009”, “Index of Economic Freedom - Heritage Foundation 2013”, Associação Portugal Outsourcing 2012. Assim, o gráfico infra resume o posicionamento final de cada um dos países no conjunto das variáveis de análise seleccionadas, demonstrando a superioridade da Irlanda na maioria dos critérios e a boa performance de Portugal, sobretudo em termos das infra-estruturas, dos custos de trabalho e qualificação (especialmente, nas competências linguísticas). Gráfico 74 – Avaliação global Irlanda Portugal Espanha Rep. Checa Polónia Preparação Tecnológica 10 9 8 7 6 Regulamentação 5 Qualificação 4 3 2 1 0 Infraestrutura Custos de Trabalho Impostos e Custos Indirectos Fonte: “Global Competitiveness Report 2012-2013”, OCDE, “International Institute for Management Development 2011”, “Doing Business 2014”, “Pay Scale”, “US Census Bureau”, CBRE 2012, “Employment in Europe 2009”, “Index of Economic Freedom - Heritage Foundation 2013”, Associação Portugal Outsourcing 2012. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 110 Em resultado da análise efectuada, conclui-se que Portugal consegue alcançar um bom posicionamento ao nível dos indicadores que são considerados os mais importantes nas decisões de escolha da localização dos centros de serviços partilhados. Conforme referido no capítulo 4, indicadores como a qualidade, a disponibilidade e o custo da mão-de-obra, bem como as competências linguísticas são factores decisivos na escolha da localização dos centros de serviços partilhados, sendo que Portugal consegue destacar-se face aos restantes países ao nível do índice dos “custos de trabalho” e, relativamente à qualificação da mão-de-obra, possui um posicionamento muito similar ao dos restantes países, com excepção da Irlanda. Com efeito, Portugal apresenta-se muito competitivo ao nível dos custos do trabalho sendo que, do conjunto dos países em análise, é dos que apresenta salários brutos inferiores e custos unitários do trabalho mais competitivos. No que diz respeito ao critério da qualificação da mão-de-obra, destacase a boa prestação ao nível da qualidade do ensino e o facto de Portugal possuir a melhor avaliação dos cinco países ao nível das competências linguísticas. Os índices “regulamentação” e “impostos e custos indirectos”, nos quais Portugal obteve resultados menos favoráveis, são factores menos destacados nos factores críticos de decisão da localização de novos centros de serviços partilhados, embora, igualmente considerados nestes processos de decisão, pelo que não devem ser descurados. Contudo, é importante realçar, que, no contexto particular de intenções específicas de investimento em distintas tipologias de centros de serviços partilhados, os ponderadores variam, reflectindo a valorização de certos indicadores em detrimento de outros, incluindo aspectos de natureza mais qualitativa, não abordados nesta secção. Para além destes factores, pesam ainda na decisão de escolha do local para o investimento, os incentivos financeiros e fiscais disponibilizados aos investidores. Deste modo, de forma complementar à análise apresentada nesta secção, serão abordados, no capítulo 9 do presente estudo, de forma detalhada, os vários regimes de incentivos oferecidos por cada um destes países. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 111 9. Medidas de incentivo ao investimento em centros de serviços partilhados No momento da selecção da localização de novos investimentos em centros de serviços partilhados, existe um conjunto de factores chave que influenciam essa decisão, os quais foram sendo analisados no decurso deste trabalho, em particular no capítulo anterior, comparando o desempenho competitivo de Portugal com a República Checa, Polónia, Espanha e Polónia, no que respeita às principais variáveis consideradas nesta decisão. Não obstante a análise efectuada, outras dimensões podem ser consideradas, nomeadamente a existência de mecanismos de apoio, tais como sistemas de incentivos financeiros ou benefícios fiscais de apoio ao investimento. Estes apoios visam criar um estímulo adicional para a implementação de centros de serviços partilhados e constituem também um factor a ter em consideração na escolha da sua localização, atento o seu impacto na viabilidade e no retorno do investimento. Neste contexto, no presente capítulo, são apresentadas as medidas disponíveis para apoio à instalação e à operação de centros de serviços partilhados, ainda que estas possam não estar exclusivamente orientadas para o apoio a esta tipologia de investimento. Assim, são apresentadas, para cada um destes países (Portugal, República Checa, Polónia, Espanha e Polónia), as medidas de incentivo ao investimento, à I&D, à criação de emprego e à formação, entre outras potencialmente aplicáveis e relevantes para os centros de serviços partilhados, dependendo do tipo de actividade desenvolvida e, bem assim, do estádio de desenvolvimento do projecto (instalação ou operação). Figura 12: Sistemas de incentivos potencialmente aplicáveis aos centros de serviços partilhados Fonte: Elaborado pelos autores. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 112 Por último, é efectuada, igualmente no presente capítulo, uma análise comparativa da competitividade dos cinco países considerados ao nível da disponibilização de medidas de incentivo ao investimento em centros de serviços partilhados. 9.1. Portugal Portugal disponibiliza um conjunto de apoios que podem ser aplicáveis aos centros de serviços partilhados, dependendo da tipologia de actividade desenvolvida por estes, sendo que, no âmbito do Sistema de Incentivos à Inovação, enquadrado no QREN, esteve disponível uma medida para apoio à criação de empresas ou de novas unidades de serviços intensivos em tecnologia e conhecimento, na qual se poderiam enquadrar os projectos relativos aos centros de serviços partilhados, desde que cumpridas determinadas condições. De destacar que, não sendo ainda conhecidos os sistemas de incentivos que vigorarão em Portugal no QEC compreendido entre 2014 e 2020, a maioria das medidas de apoio aqui apresentadas e descritas referem-se, ainda, ao QREN vigente até 2013, não se prevendo, contudo, alterações significativas nas prioridades estratégicas que serão alvo de apoio. No entanto, importa referir que o novo quadro de apoio assenta em prioridades, como a inclusão social e emprego e o capital humano, no âmbito das quais os centros de serviços partilhados podem assumir um importante papel. No que diz respeito à inclusão social e emprego pretende-se uma articulação das políticas sectoriais relevantes e o reforço das parcerias locais e do diálogo entre os parceiros sociais, segundo uma abordagem multidimensional e territorializada da intervenção social alicerçada em dois grandes vectores de actuação, que se complementam e reforçam: (i) políticas preventivas e/ou de intervenção precoce e (ii) políticas reparadoras e/ou de activação. Ao nível do capital humano, o novo quadro preconiza a necessidade de reconversão profissional das pessoas desempregadas ou em risco de desemprego, a capacitação ao nível das formações de base (préescolar, vias regulares e profissionalizantes no ensino básico e secundário) e ainda as formações de nível superior. Desde que de forma devidamente estruturada, os centros de serviços partilhados poderão contribuir de forma significativa ao nível destas prioridades, uma vez que compreendem actividades intensivas em capital humano. Deste modo, o portefólio de apoios existente em Portugal assume diferentes modalidades podendo ser estruturado de acordo com as tipologias infra apresentadas. 9.1.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.1.1.1. Incentivos financeiros ao investimento e à I&D Conforme anteriormente referido, no âmbito do QREN estiveram disponíveis sistemas de incentivos orientados para diferentes tipologias de investimento empresarial, os quais, em última análise, poderiam assumir-se como relevantes para o apoio a projectos de criação e/ou expansão de centros de serviços partilhados. 1. Sistema de Incentivos à Inovação O Sistema de Incentivos à Inovação constituiu uma das medidas de apoio previstas no QREN, inserido no POFC e que teve como finalidade a promoção de projectos de investimento de inovação produtiva, levados a cabo por empresas. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 113 Neste âmbito, o enquadramento legal subjacente a esta medida definia as condições de elegibilidade do projecto e do promotor, de entre as quais, os códigos de actividade económica elegíveis, pelo que o enquadramento, no âmbito deste regime de incentivos, de projectos que visassem a criação de centros de serviços partilhados, teria que ser analisada tendo em conta a actividade específica do centro de serviços partilhados. Quadro 25 – Portugal: principais características do Sistema de Incentivos à Inovação Sistema de Incentivos à Inovação Tipo de incentivo Incentivo reembolsável, sem pagamento de juros, o qual pode ser convertido em incentivo não reembolsável, em função da avaliação do desempenho do projecto, até ao máximo de 75% do incentivo reembolsável concedido. Nível de apoio Taxa base de incentivo de 45%. Principais despesas elegíveis Activo fixo tangível: aquisição de máquinas e equipamentos directamente relacionados com o desenvolvimento do projecto; aquisição de equipamentos informáticos; instalação de sistemas energéticos para consumo próprio utilizando fontes renováveis de energia; software standard e específico, entre outras; Activo intangível: transferências de tecnologia através da aquisição de direitos de patentes, licenças, “saber-fazer” ou conhecimentos técnicos não protegidos por patentes; Estudos, diagnósticos, auditorias, planos de marketing e projectos de arquitectura e de engenharia, associados ao projecto. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto Corresponder a uma despesa mínima elegível de Euro 150.000, ter uma duração máxima de execução de dois anos e apresentar viabilidade económico-financeira que contribua para o aumento da competitividade da empresa promotora; Assegurar o financiamento de 20% das despesas elegíveis através de capitais próprios, bem como um mínimo de 25% das despesas elegíveis, com recursos próprios ou alheios, que não incluam qualquer financiamento estatal; Ser sustentado por uma análise estratégica da empresa promotora. No âmbito da Portaria n.º 1103/2010, de 25 de Outubro, foi introduzida uma nova tipologia de investimento, susceptível de apoio no âmbito do Sistema de Incentivos à Inovação, relacionada com a criação de empresas ou de novas unidades de serviços intensivos em tecnologia e conhecimento, que se propusessem criar postos de trabalho qualificados. Estes projectos deveriam garantir a criação de pelo menos 10 postos de trabalho, dos quais pelo menos 70% deveriam ser qualificados. De destacar que, no âmbito desta medida, eram apenas elegíveis as despesas de investimento associadas aos custos salariais, durante dois anos, dos postos de trabalho criados, com contrato sem termo, não apoiando as restantes tipologias de investimento previstas no Sistema de Incentivos à Inovação. Neste contexto, entende-se que esta tipologia de investimento era direccionada especificamente para o apoio a investimentos em centros de serviços partilhados. Contudo, importa referir que a apresentação de candidaturas a este regime foi possível apenas para projectos considerados de regime especial e de interesse estratégico, os quais teriam que corresponder a um investimento elegível mínimo de Euro 3,5 milhões. Por último, de salientar ainda no âmbito do Sistema de Incentivos à Inovação, a elegibilidade das aquisições de activo intangível consubstanciado em transferência de tecnologia, nomeadamente na aquisição de know-how e conhecimento técnico não protegido por patentes, uma tipologia de investimento especialmente relevante no domínio dos centros de serviços partilhados, nomeadamente dos centros de competências, de engenharia ou I&D. As aquisições deveriam ser efectuadas a entidades terceiras, a preços de mercado e a entidade adquirente não poderia exercer qualquer controlo sobre o vendedor, ou o inverso. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 114 2. Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico O Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico contemplava quatro tipologias de projectos, visando, cada uma delas, responder a objectivos e prioridades específicas, sendo a mais relevante, considerando a sua eventual aplicação a projectos de centros de serviços partilhados, a tipologia “I&DT Empresas”, nomeadamente nas modalidades de “Projectos Individuais” e “Projectos em Co-Promoção”. No que respeita ao seu âmbito de aplicação aos centros de serviços partilhados, e sob pena da análise do conjunto das condições de elegibilidade definidas na legislação referida supra, este sistema de incentivos apenas se afigurava potencialmente aplicável nos casos em que o centro de serviços partilhados concretizasse um centro de competências e/ou de I&D, uma vez que este regime de incentivos visava apoiar os investimentos subjacentes a projectos de I&D tecnológico. Quadro 26 – Portugal: principais características do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico - Empresas Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável, sob determinados limites. Nível de apoio Taxa base de 25%, à qual poderão acrescer as seguintes majorações: - 25 pontos percentuais, a atribuir a actividades de investigação industrial e - 15 pontos percentuais, quando se verifique, pelo menos, uma das seguintes situações: (a) cooperação entre empresas, (b) cooperação com entidades do SCT ou (c) divulgação ampla dos resultados do projecto. Principais despesas elegíveis Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto Ter carácter inovador e incorporar desenvolvimentos técnicos/tecnológicos significativos; Envolver recursos humanos qualificados cujos curricula garantam a sua adequada execução; Apresentar caracterização técnica e orçamento suficientemente detalhados e fundamentados e o controlo orçamental do mesmo; Demonstrar o seu contributo para a competitividade da entidade promotora; Corresponder a uma despesa mínima elegível de Euro 100.000 e ter uma duração máxima de execução de dois anos. Despesas com pessoal técnico; Aquisição de patentes; Matérias-primas e componentes; Aquisição de serviços a terceiros; Aquisição de instrumentos e equipamento científico e técnico; Aquisição de software específico; Despesas com pedidos de patentes, modelos de utilidade e desenhos ou modelos nacionais. Esta tipologia de sistema de incentivos, atentos os seus objectivos, era particularmente relevante no âmbito do desenvolvimento e operação corrente dos centros de serviços partilhados, podendo apoiar os seus custos com o desenvolvimento de projectos de I&D tecnológico, desde que enquadráveis nas actividades elegíveis e demais condições previstas. No domínio das despesas elegíveis destaca-se a possibilidade de apoio à aquisição de know-how através da aquisição de patentes, não podendo, no entanto, a operação ser realizada entre entidades pertencentes ao mesmo grupo económico. 9.1.1.2. Incentivos fiscais ao investimento e à I&D Neste âmbito, Portugal disponibiliza dois regimes de incentivos fiscais, potencialmente aplicáveis às actividades dos centros de serviços partilhados, um dos quais pode apoiar o investimento associado à instalação do centro/projecto e o outro destina-se a apoiar a realização de actividades de I&D. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 115 1. Código Fiscal do Investimento - Benefícios Fiscais Contratuais ao Investimento Produtivo Conforme estipulado no Código Fiscal do Investimento, introduzido pelo Decreto-Lei n.º 249/2009, de 23 de Setembro, e entretanto alterado pelo Decreto-Lei n.º 82/2013, de 17 de Junho, os projectos de investimento produtivo de montante igual ou superior a Euro 3 milhões, a realizar até 31 de Dezembro de 2020, podem beneficiar de incentivos fiscais, em regime contratual, com um período de vigência de até dez anos. Neste âmbito, podem ser incluídos os projectos de criação de centros de serviços partilhados, desde que a sua actividade seja enquadrável nos códigos de actividade económica elegíveis. Quadro 27 – Portugal: principais características dos Benefícios Fiscais Contratuais ao Investimento Produtivo Código Fiscal do Investimento - Benefícios Fiscais Contratuais ao Investimento Produtivo Tipo de incentivo Crédito de IRC, a deduzir à colecta. Nível de apoio Principais despesas elegíveis Activo fixo tangível afecto à realização do projecto, exceptuando: - Terrenos; - Edifícios e outras construções não directamente ligados ao processo produtivo ou às actividades administrativas essenciais; - Viaturas ligeiras; - Mobiliário e artigos de conforto ou decoração; - Equipamentos sociais e outros bens não directa e imprescindivelmente associados à actividade produtiva exercida; Assistência técnica e elaboração de estudos; Patentes, licenças e alvarás; Activo fixo intangível constituído por despesas com transferência de tecnologia mediante aquisição de patentes, licenças, “saber-fazer” ou conhecimentos técnicos não protegidos por patentes, desde que, no caso de empresas Não PME, não excedam 50% das aplicações relevantes. Principais condições de acesso do projecto Principais condições de acesso da empresa promotora Não incluir despesas anteriores à data da avaliação prévia, à excepção de estudos directamente relacionados com o investimento, realizados há menos de um ano; Demonstrar a contribuição financeira do promotor, que deverá ser, no mínimo, de 25% dos custos elegíveis, isenta de qualquer apoio público; Possuir capacidade técnica e de gestão; Apresentar uma autonomia financeira igual ou superior a 20%. Crédito de IRC compreendido entre 10% e 20%, das aplicações relevantes realizadas; Isenção ou redução de Imposto Municipal sobre Imóveis; Isenção ou redução de Imposto Municipal sobre Transacções; Isenção ou redução de Imposto do Selo. Demonstrar viabilidade técnica, económica e financeira; Induzir a criação ou manutenção de postos de trabalho; Ser relevante para o desenvolvimento estratégico da economia nacional; Ser relevante para a redução de assimetrias regionais; Contribuir para impulsionar a inovação tecnológica e a investigação científica nacional. De referir que apenas poderão ser considerados enquadráveis os projectos de criação de centros de serviços partilhados, que envolvam a realização de investimento produtivo, em actividades de serviços informáticos e conexos e/ou actividades de I&D de alta intensidade tecnológica, de valor igual ou superior a Euro 3 milhões, que sejam relevantes para (i) o desenvolvimento estratégico da economia nacional (ii) a redução das assimetrias regionais, (iii) induzam à criação e manutenção de postos de trabalho e (iv) impulsionem a inovação tecnológica e a investigação científica nacionais. 2. Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II O Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II constitui um instrumento de apoio fiscal à realização de actividades de I&D. Este regime de apoio, que tem vindo a ser objectivo de alterações ao longo do tempo, irá manter-se em vigor até ao ano de 2020. Atento o seu âmbito, este mecanismo de apoio apenas poderá beneficiar centros de serviços partilhados que desenvolvam actividades de I&D. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 116 Quadro 28 – Portugal: principais características do Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II Tipo de incentivo Crédito de IRC, a deduzir à colecta. Nível de apoio Taxa base: 32,5% das despesas realizadas; Taxa incremental: 50% do acréscimo das despesas realizadas naquele período em relação à média aritmética simples dos dois exercícios anteriores, até ao limite de Euro1.500.000. Despesas com pessoal directamente envolvido em tarefas de I&D, com habilitações literárias mínimas do nível 4 do Quadro Nacional de Qualificações. No caso das despesas com doutorados, estas são consideradas em 120%; Despesas de funcionamento com o pessoal directamente envolvido em tarefas de I&D, até ao limite máximo de 55% das despesas com o pessoal directamente envolvido em tarefas de I&D, com habilitações literárias mínimas do nível 4; Despesas relativas à contratação de actividades de I&D junto de entidades públicas ou beneficiárias do estatuto de utilidade pública ou de entidades cuja idoneidade em matéria Principais despesas de I&D seja reconhecida; elegíveis Aquisições de activos fixos tangíveis, à excepção de edifícios e terrenos, desde que criados ou adquiridos em estado novo e directamente afectos à realização de actividades de I&D, na proporção da sua afectação às actividades de I&D; Despesas com a participação de dirigentes e quadros na gestão de instituições de I&D; Participação no capital de instituições de I&D e contributos para fundos de investimentos, públicos ou privados, destinados a financiar empresas dedicadas sobretudo a I&D, incluindo o financiamento da valorização dos seus resultados, cuja idoneidade em matéria de I&D seja reconhecida. Sujeitos passivos de IRC que preencham cumulativamente as seguintes condições: Principais condições Exerçam, a título principal, uma actividade de natureza agrícola, industrial, comercial ou de serviços; de acesso da empresa O seu lucro tributável não seja determinado por métodos indirectos; promotora/projecto Não sejam devedores à ATA e à Segurança Social de quaisquer impostos ou contribuições, ou tenham o seu pagamento devidamente assegurado. Contudo, importa destacar que, de acordo com a Lei n.º 83-C/2013, de 31 de Dezembro, relativa ao Orçamento de Estado para o ano de 2014, deixam de ser elegíveis, no contexto do Sistema de Incentivos Fiscais em Investigação e Desenvolvimento Empresarial II, as despesas incorridas no âmbito de projectos realizados exclusivamente por conta de terceiros, nomeadamente através de contratos e prestação de serviços de I&D. 9.1.2. Incentivos à criação de emprego Neste âmbito, há um conjunto de mecanismos de apoio que visam estimular a criação de emprego, pelo que apresentamos de seguida as características dos regimes de apoio à contratação actualmente em vigor, os quais, verificadas as respectivas condições de elegibilidade, poderão também afigurar-se como interessantes para o apoio à implementação e ao desenvolvimento da actividade dos centros dos serviços partilhados no nosso País. 1. Estágios Emprego Este programa visa (i) complementar e desenvolver as competências dos jovens que procuram um primeiro ou um novo emprego, (ii) promover a integração profissional de desempregados em situação mais desprotegida, (iii) apoiar a transição entre o sistema de qualificações e o mercado de trabalho e (iv) apoiar a melhoria das qualificações e a reconversão da estrutura produtiva. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 117 Esta medida de apoio destina-se a (i) desempregados inscritos nos centros de emprego ou nos centros de emprego e formação profissional com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos (inclusive) e com uma qualificação de nível 2, 3, 4, 5, 6, 7 ou 8 do Quadro Nacional de Qualificações, bem como (ii) pessoas inscritas nos centros de emprego ou centros de emprego e formação profissional como desempregadas à procura de novo emprego, com idade superior a 30 anos, desde que tenham obtido há menos de três anos uma qualificação de nível 2 ou superior e não tenham registos de remunerações na segurança social nos doze meses anteriores à entrada da candidatura. Quadro 29 – Portugal: principais características dos Estágios Emprego Estágios Emprego Tipo de incentivo Comparticipação dos custos com estagiários, durante doze meses. Principais despesas elegíveis e nível de apoio Comparticipação na bolsa de estágio (até determinados limites), de acordo com as seguintes situações: - Em 80% do respectivo valor: - No caso de estagiários com deficiência e incapacidade, a comparticipação do valor da bolsa de estágio é de 90%; Comparticipação no subsídio de alimentação, até ao valor fixado para os trabalhadores que exercem funções públicas; Comparticipação no pagamento do prémio do seguro de acidentes de trabalho, sob determinados limites; Comparticipação no pagamento das despesas de transporte de estagiário com deficiência e incapacidade e dificuldades de mobilidade. Principais Pessoas singulares ou colectivas, de direito privado, com ou sem fins lucrativos; condições de Cumprimento das obrigações legais e regulamentares, designadamente as de natureza acesso empresa fiscal e contributiva. promotora/projecto As entidades promotoras podem apresentar ao IEFP um pedido de reconhecimento do projecto de interesse estratégico para a economia nacional ou de determinada região, o qual (i) permite às entidades promotoras, independentemente da sua dimensão e natureza jurídica, desenvolver estágios com a duração de seis, nove, doze ou dezoito meses, e (ii) é válido durante todo o período de implementação do projecto, embora a primeira candidatura relacionada com o projecto deva prever um mínimo de 10 estagiários. 2. Estímulo 2013 Esta medida destina-se a apoiar financeiramente a celebração de contratos de trabalho com desempregados inscritos em centros de emprego, em que se verifique a criação líquida de emprego e seja proporcionada formação profissional ajustada às competências do posto de trabalho, tendo em vista apoiar a empregabilidade destes cidadãos. Os postos de trabalho a criar devem ser preenchidos por desempregados inscritos em centros de emprego ou centros de emprego e formação profissional, numa das seguintes situações: (i) inscritos há pelo menos seis meses consecutivos, (ii) inscritos há pelo menos três meses consecutivos, desde que não tenha concluído o ensino básico ou que tenha 45 anos ou mais ou que seja responsável por família monoparental ou cujo cônjuge se encontre igualmente em situação de desemprego, e (iii) outros inscritos, desde que não tenham estado inscritos na segurança social como trabalhadores por conta de outrem ou como trabalhadores independentes nos últimos doze meses que precedem a data da candidatura, nem tenham estado a estudar durante esse mesmo período. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 118 Quadro 30 – Portugal: principais características do Estímulo 2013 Estímulo 2013 Tipo de incentivo Comparticipação dos custos com os postos de trabalho criados. Principais despesas elegíveis e nível de apoio Apoio de 50% da retribuição mensal do trabalhador contratado (sob determinados limites). Este apoio pode ser de 60%, em situações específicas; O apoio encontra-se limitado a um período máximo de seis meses, no caso de contratos de trabalho a termo certo, e de dezoito meses no caso de contratos de trabalho sem termo; Cada entidade empregadora não pode contratar, ao abrigo da presente medida, mais de 25 trabalhadores através de contrato a termo certo, em cada ano civil, não existindo limite ao número de contratações sem termo; Caso se verifique a conversão de contrato de trabalho a termo certo em contrato de trabalho sem termo, é aplicável um prémio de conversão, no valor de nove meses de apoio idêntico ao previsto na presente medida. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto Celebração de contrato de trabalho, a tempo completo ou parcial, pelo período mínimo de seis meses, com desempregado inscrito em centro de emprego ou centro de emprego e formação profissional. Criação líquida de emprego; Manutenção do nível de emprego pelo menos durante o período de duração do apoio financeiro. Também no âmbito desta medida, as entidades empregadoras podem solicitar o reconhecimento de projecto de interesse estratégico para a economia nacional ou de determinada região, sendo que, nestes casos, não se aplica o número máximo de 25 postos de trabalho, através da celebração de contrato a termo certo, o qual tem de ter uma duração igual ou superior a doze meses. De igual modo, nesta tipologia de projectos, o apoio financeiro pode ser concedido por um período superior (nove meses). 3. Apoio à contratação via reembolso da TSU A presente medida abrange o reembolso de uma percentagem da TSU paga pelos empregadores, que celebrem contratos de trabalho, sem termo ou a termo certo, a tempo completo ou a tempo parcial, com desempregados inscritos nos centros de emprego ou centros de emprego e formação profissional, numa das seguintes condições: jovens com idades entre os 18 e os 30 anos, inclusive, ou adultos com idade igual ou superior a 45 anos. Podem, ainda, ser destinatários os desempregados inscritos com idade entre os 31 e os 44 anos, inclusive, e que se encontrem numa das seguintes situações: não tenham concluído o ensino básico, ou sejam responsáveis por família monoparental, ou o respectivo cônjuge se encontre igualmente em situação de desemprego. Quadro 31 – Portugal: principais características do apoio à contratação via reembolso da TSU Apoio à contratação via reembolso da TSU Tipo de incentivo Reembolso, total ou parcial, do valor da TSU paga mensalmente relativamente aos trabalhadores contratados. Principais despesas elegíveis e nível de apoio Reembolso, por um período máximo de dezoito meses, do valor da TSU, nos seguintes termos: - 100% do valor da TSU, no caso de contrato sem termo; - 75% do valor da TSU, no caso de contrato a termo certo. O reembolso não pode ultrapassar o montante de Euro 200/mês, por contratação; No caso de contratos de trabalho celebrados com pessoa com deficiência e incapacidade, o apoio financeiro atribuído é 100% do valor da TSU, independentemente do tipo de contrato de trabalho celebrado, não se aplicando o limite máximo de Euro 200/mês. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto Celebração de contrato de trabalho sem termo ou a termo certo, a tempo parcial ou a tempo completo, pelo período mínimo de seis meses; Criação líquida de emprego; Manutenção do nível de emprego pelo menos durante o período de duração do apoio financeiro. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 119 De modo similar à medida Estímulo 2013, à entidade empregadora à qual seja reconhecido o regime especial de projecto de interesse estratégico para a economia nacional ou de determinada região, não se aplica o número máximo de 25 contratações a termo certo, nem o limite de reembolso de Euro 200/mês, por contratação. De destacar que o reconhecimento de regime especial de projecto de interesse estratégico ao abrigo da medida Estímulo 2013 é válido, igualmente, para a presente medida. 4. Dispensa ou redução da TSU As entidades empregadoras, nomeadamente os centros de serviços partilhados, podem beneficiar da isenção do pagamento de contribuições para a segurança social na parte que lhes respeita, nas situações de contratação de (i) jovens à procura do primeiro emprego, (ii) desempregados de longa duração e nas situações de adesão à medida de rotação emprego-formação. As entidades podem, ainda, beneficiar de uma redução da TSU nas situações de contratação designadamente de trabalhadores com deficiência. Este apoio tem um período máximo de trinta e seis meses e exige a celebração com o trabalhador de um contrato de trabalho sem termo. Adicionalmente, refira-se que são considerados (i) jovens à procura do primeiro emprego, os jovens com idade superior a 16 e inferior a 30 anos, que à data do contrato, nunca tenham exercido actividade profissional ao abrigo de contrato por tempo indeterminado, e (ii) desempregados de longa duração, os desempregados que à data do contrato estejam disponíveis para o trabalho e inscritos nos centros de emprego há mais de doze meses. 5. Benefício fiscal associado à criação líquida de emprego O benefício fiscal à criação de emprego para jovens e desempregados de longa duração, comummente designado por benefício fiscal à criação líquida de emprego, estatuído no artigo 19º do EBF, prevê a majoração dos custos suportados em cada exercício por parte da empresa com os colaboradores considerados elegíveis para o referido benefício, sendo para isso necessário que a empresa apresente criação líquida de emprego. Neste contexto, as empresas que cumpram a condição de criação líquida de emprego, podem majorar em 50% os encargos suportados com os postos de trabalho criados (sendo considerados como tal os montantes suportados pela entidade empregadora com o trabalhador, a título da remuneração fixa e as contribuições para a segurança social a cargo da mesma entidade), durante cinco anos, para efeitos da determinação do lucro tributável em sede do IRC de cada exercício. Para o efeito, é necessário que a criação de postos de trabalho respeite a jovens ou desempregados de longa duração, com contrato de trabalho sem termo (incluindo as situações de conversões de contratos de trabalho a termo para contratos sem termo), entre outras condições. 9.1.3. Incentivos à formação O POPH materializou os apoios financeiros a conceder no âmbito da formação profissional, ao abrigo do QREN. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 120 No âmbito da tipologia de intervenção “Formação para a Inovação e Gestão” do POPH, a qual se entende ser a mais adequada à actividade formativa das empresas, foram susceptíveis de apoio as seguintes acções: (i) reciclagem - respostas formativas que visassem colmatar o défice de conhecimentos e competências decorrentes das mutações tecnológicas e organizacionais; (ii) actualização - respostas formativas que visassem actualizar os conhecimentos e competências face à introdução de novos equipamentos, tecnologias e métodos de organização do trabalho; (iii) aperfeiçoamento - respostas formativas que visassem aprofundar os conhecimentos e competências face à inovação organizacional introduzida nos processos de desenvolvimento empresarial. Quadro 32 – Portugal: principais características do POPH POPH – Tipologia 3.2. Formação para a Inovação e Gestão Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Dependendo da dimensão da entidade beneficiária, o incentivo pode variar entre as seguintes taxas: Formação específica: 25% a 45%; Formação geral: 60% a 90%. Encargos com formandos - remunerações dos activos em formação, alimentação, transporte e alojamento; Encargos com formadores - remunerações de formadores internos (permanentes ou eventuais) e externos; Encargos com outro pessoal afecto ao projecto - remunerações do pessoal técnico e administrativo, consultores e mediadores sócio-culturais, envolvidos nas fases de Principais despesas concepção, implementação e avaliação do projecto; elegíveis Rendas, alugueres e amortizações - rendas, alugueres e amortização de equipamentos directamente afectos ao projecto; Encargos directos com a preparação, desenvolvimento, acompanhamento e avaliação dos projectos - elaboração de diagnóstico de necessidades, divulgação do projecto, selecção dos formandos e participantes, aquisição e desenvolvimento de recursos didácticos, bem como aquisição de serviços conexos com a avaliação do projecto. Terem a situação regularizada em matéria de impostos e de contribuições para a segurança social; Principais condições Terem a situação regularizada em matéria de restituições no âmbito dos financiamentos de acesso da do FSE; empresa Encontrarem-se certificadas nos domínios para os quais solicitam apoio financeiro ou promotora/projecto recorrerem a entidades formadoras certificadas, nos termos da legislação nacional relativa à certificação de entidades formadoras, quando tal seja exigível. 9.1.4. Outras medidas de apoio 1. Regime especial de tributação dos Residentes Não Habituais Neste âmbito, destacamos uma medida que visa potenciar a transferência da residência fiscal para Portugal de pessoas singulares com elevado grau de qualificação, empreendedores e investidores através da oferta de oportunidades fiscalmente atractivas. Deste modo, este regime especial de tributação poderá ser relevante para os expatriados no contexto da implementação de centros de serviços partilhados em Portugal. Para o efeito, deverão tratar-se de expatriados qualificados enquadrados em actividades de elevado valor acrescentado, com carácter científico, artístico ou técnico, nos termos definidos na legislação e, bem assim, serem considerados residentes portugueses para efeitos fiscais. Assim, as pessoas residentes, para efeitos fiscais, em território português, que optem pela aplicação deste regime podem (i) beneficiar de isenção sobre os rendimentos obtidos no estrangeiro, dentro de determinadas condições e (ii) ficar sujeitas a uma taxa especial de 20% sobre os rendimentos decorrentes de actividades de elevado valor acrescentado exercidas em território nacional. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 121 Uma vez concedido o estatuto de Residente Não Habitual, este estatuto manter-se-á válido durante dez anos consecutivos, a partir do ano, inclusive, da inscrição como residente em território português. 2. Regime fiscal para rendimentos de patentes e outros direitos de propriedade industrial No Orçamento de Estado para 2014, é introduzido um regime de tributação dos rendimentos provenientes da cessão ou da utilização temporária de patentes, desenhos ou modelos industriais. Neste contexto, desde que verificado um conjunto de requisitos, os ganhos provenientes de contratos cujo objecto seja a cessão ou utilização temporária de propriedade industrial, são considerados apenas em 50% no cálculo do lucro tributável do sujeito passivo. 9.2. República Checa A República Checa disponibiliza um conjunto de medidas de apoio, com condições específicas para os centros de serviços partilhados, as quais podem apoiar quer o investimento em activos fixos tangíveis e intangíveis, quer a criação de emprego, conforme é apresentado infra. Adicionalmente, é disponibilizado um sistema de incentivos fiscais à I&D, que não é específico para os centros de serviços partilhados, mas que pode ser acedido por este tipo de actividades, caso desenvolvam projectos enquadráveis. De destacar que a República Checa, na preparação do quadro comunitário de apoio para o período de programação compreendido entre 2014 e 2020, prevê, desde já, continuar a disponibilizar regimes de incentivos financeiros para apoio aos projectos de centros de serviços partilhados. 9.2.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.2.1.1. Incentivos financeiros ao investimento Neste âmbito, destacamos o facto de a República Checa disponibilizar uma medida que visa apoiar a aquisição de terrenos, bem como a respectiva infra-estrutura subjacente à instalação dos centros de serviços partilhados, a preços mais favoráveis face aos preços praticados no mercado. Os principais traços caracterizadores deste regime encontram-se sistematizados no Quadro seguinte. Quadro 33 – República Checa: principais características do Transfer of Land Transfer of Land Tipo de incentivo Aquisição de terrenos e da infra-estrutura relacionada, a preços mais favoráveis. Nível de apoio Diferença entre o preço de compra e o preço de mercado do terreno. O montante de apoio total (juntamente com o crédito fiscal e o apoio à criação de emprego) não poderá exceder o limite de 40% dos custos elegíveis totais com os activos fixos tangíveis e intangíveis ou com os novos postos de trabalho criados no âmbito do projecto (durante um período de 24 meses). Principais despesas elegíveis Não aplicável. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto O projecto de investimento deverá ser implementado em território da República Checa; O cumprimento das condições gerais deverá ocorrer no prazo máximo de três anos a contar da data de decisão da concessão do incentivo ao investimento; Criação de pelo menos 40 novos postos de trabalho (no caso dos centros de desenvolvimento de software) durante três anos; Criação de pelo menos 100 novos postos de trabalho (no caso dos restantes centros de serviços partilhados) durante três anos; As actividades devem abranger pelo menos três países (a Republica Checa e dois outros países, por exemplo, a Eslováquia e a Hungria); A empresa deverá ser a detentora dos investimentos na Republica Checa. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 122 9.2.1.2. Incentivos fiscais ao investimento e à I&D 1. Corporate Income Tax Relief No domínio dos apoios fiscais ao investimento em centros de serviços partilhados, a República Checa dispõe de um regime de incentivos fiscais designado Corporate Income Tax Relief, cujas principais características são, de forma sucinta, seguidamente apresentadas. Quadro 34 – República Checa: principais características do Corporate Income Tax Relief Corporate Income Tax Relief Tipo de incentivo Isenção de pagamento de imposto sobre o rendimento, até dez anos, nas seguintes condições: - No caso de novas empresas, a isenção é total; - No caso de empresas já existentes, a isenção é parcial, existindo um limite mínimo de imposto a pagar tendo em conta o imposto que era pago antes da obtenção deste incentivo ao investimento. Nível de apoio Até ao limite de 40% do total dos custos elegíveis (este limite tem em conta o total de apoio concedido, entre crédito fiscal, apoios à criação de emprego e o apoio à aquisição de terrenos). Principais despesas elegíveis Activos fixos tangíveis e intangíveis, dos quais pelo menos metade devem ser equipamentos novos, ou Custos com os novos postos de trabalho criados no âmbito do projecto, durante um período de 24 meses (com o limite máximo de três vezes o salário médio/mês/empregado). No início do investimento, o promotor deve escolher qual a tipologia de investimento que pretende que seja apoiada. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto O projecto de investimento deverá ser implementado em território da República Checa; O cumprimento das condições gerais deverá ocorrer no prazo máximo de três anos a contar da data de decisão da concessão do incentivo ao investimento; Criação de pelo menos 40 novos postos de trabalho (no caso dos centros de desenvolvimento de software) durante três anos; Criação de pelo menos 100 novos postos de trabalho (no caso das restantes tipologias de centros de serviços partilhados) durante três anos; As actividades devem abranger pelo menos três países - a Republica Checa e dois outros países, por exemplo, a Eslováquia e a Hungria); A empresa promotora deverá ser a detentora dos investimentos na República Checa. 2. R&D Tax Allowance Conforme anteriormente referido, a República Checa disponibiliza um sistema de incentivos fiscais à I&D que pode ser utilizado pelos centros de serviços partilhados caso desenvolvam actividades/projectos qualificáveis como I&D. Quadro 35 – República Checa: principais características do R&D Tax Allowance R&D Tax Allowance Tipo e nível de incentivo Dedução em 200% dos custos incorridos com a realização de projectos de I&D. Principais despesas/custos elegíveis Salários; Amortizações de activos utilizados directamente no desenvolvimento dos projectos de I&D; Outras despesas de funcionamento directamente relacionadas com o projecto. Não é elegível a subcontratação de serviços de I&D a terceiros, com excepção da certificação dos resultados dos projectos de I&D. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 123 9.2.2. Incentivos à criação de emprego No que diz respeito aos apoios à criação de emprego, a República Checa possui um instrumento que visar apoiar financeiramente a criação de novos postos de trabalho no âmbito dos projectos de desenvolvimento de centros de serviços partilhados. Quadro 36 – República Checa: principais características do Job Creation Grants Job Creation Grants Tipo de incentivo Apoio não reembolsável à criação de emprego. Nível de apoio Aproximadamente Euro 2 mil por trabalhador. O montante total de apoio (apoio à criação de emprego, crédito fiscal e apoio à compra de terrenos) não poderá exceder o limite de 40% dos custos elegíveis totais com os activos fixos tangíveis e intangíveis ou dos custos com os novos postos de trabalho criados no âmbito do projecto (durante um período de 24 meses). Principais despesas elegíveis Custos salariais subjacentes aos novos postos de trabalho criados. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto O projecto de investimento deverá ser implementado em território da República Checa; O cumprimento das condições gerais deverá ocorrer no prazo máximo de três anos a contar da data de decisão da concessão do incentivo ao investimento; Aplicável apenas às regiões “A”, isto é, regiões onde a taxa de desemprego é 50% superior à taxa de desemprego média registada no país; Criação de pelo menos 40 novos postos de trabalho (no caso dos centros de desenvolvimento de software) durante três anos; Criação de pelo menos 100 novos postos de trabalho (no caso dos restantes centros de serviços partilhados) durante três anos; As actividades devem abranger pelo menos três países (a Republica Checa e dois outros países, por exemplo, a Eslováquia e a Hungria). 9.2.3. Incentivos à formação Neste âmbito, está disponível um sistema de incentivos que visa apoiar a realização de acções de formação profissional por parte das empresas, suportando parte das despesas com essa formação, e cujas principais características se encontram descritas no Quadro seguinte. Quadro 37 – República Checa: principais características do Training and Retraining Grants Training and Retraining Grants Tipo de incentivo Apoio não reembolsável à formação e reciclagem das competências dos trabalhadores. Nível de apoio 25% (grandes empresas) / 35% (médias empresas) / 45% (pequenas empresas) dos custos elegíveis de formação. Principais custos elegíveis Custos associados à formação e reciclagem das competências dos trabalhadores. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto O projecto de investimento deverá ser implementado em território da República Checa; O cumprimento das condições gerais deverá ocorrer no prazo máximo de três anos a contar da data de decisão da concessão do incentivo ao investimento; O projecto deverá localizar-se nas regiões classificadas “A”, isto é, regiões onde a taxa de desemprego é 50% superior à taxa de desemprego média registada no país; Criação de pelo menos 40 novos postos de trabalho (no caso dos centros de desenvolvimento de software); Criação de pelo menos 100 novos postos de trabalho (no caso das restantes tipologias de centros de serviços partilhados); As actividades devem abranger pelo menos três países (a Republica Checa e dois outros países, por exemplo, a Eslováquia e a Hungria). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 124 9.3. Polónia A Polónia, de entre um vasto portefólio de regimes de incentivos, os quais se subdividem nos domínios infra identificados, disponibiliza uma medida específica para o apoio a centros de serviços partilhados. 9.3.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.3.1.1. Incentivos financeiros ao investimento e à I&D 1. Submeasure 4.5.2. Operational Program Innovative Economy – Apoio a investimentos no sector dos serviços As principais características desta medida, específica para apoio a centros de serviços partilhados, encontram-se esquematizadas no Quadro seguinte. Quadro 38 – Polónia: principais características da Submeasure 4.5.2. Operational Program Innovative Economy – Apoio a investimentos no sector dos serviços Submeasure 4.5.2. Operational Program Innovative Economy Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Até 30% das despesas elegíveis no caso de IT Center e de outras tipologias de centros de serviços partilhados, independentemente da dimensão da empresa promotora; Entre 30% e 70% das despesas elegíveis no caso de R&D Center (de acordo com o mapa de auxílios regionais, o nível de apoio depende da localização do investimento e da dimensão da empresa promotora, sendo que, no caso de Não PME, tem o limite de 50% das despesas elegíveis). Principais despesas elegíveis Activos tangíveis (equipamento, máquinas, instrumentos, edifícios, terrenos) e/ou activos intangíveis (licenças, patentes, know-how) ou; Custos com os postos de trabalho criados durante dois anos. No caso de R&D Center, adicionalmente, são elegíveis os serviços de consultoria e custos de formação. Criação de, pelo menos, 100 postos de trabalho no caso de IT Center e de outras tipologias de centros de serviços partilhados, e de 10 postos de trabalho no caso de R&D Center; Principais condições de acesso da Os resultados do projecto (produtos ou serviços) devem demonstrar elevada competitividade empresa face àqueles já existentes no mercado, em termos de preço e qualidade; promotora/projecto O investimento deverá localizar-se em regiões com elevadas taxas de desemprego; O investimento deverá potenciar a cooperação com PME’s. 2. Measure 4.4. Operational Program Innovative Economy – Novos investimentos de elevado potencial inovador No caso de projectos específicos que visem a realização de investimentos inovadores nos sectores da indústria ou dos serviços, as empresas podem beneficiar do apoio apresentado no Quadro seguinte. Quadro 39 – Polónia: principais características da Measure 4.4. Operational Program Innovative Economy – Novos investimentos de elevado potencial inovador Measure 4.4. Operational Program Innovative Economy – Novos investimentos de elevado potencial inovador Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Entre 30% e 70% das despesas elegíveis (de acordo com o mapa de auxílios regionais, o nível de apoio depende da localização do investimento e da dimensão da empresa promotora, sendo que, no caso de Não PME, tem o limite de 50% das despesas elegíveis); Limite máximo de apoio de 40 milhões PLN (aproximadamente Euro 10 milhões). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 125 Measure 4.4. Operational Program Innovative Economy – Novos investimentos de elevado potencial inovador Principais despesas/custos elegíveis Activos tangíveis (equipamento, máquinas, instrumentos, edifícios, terrenos) e/ou Activos intangíveis (licenças, patentes, know-how); Serviços de consultoria (apenas para PME’s) e custos de formação. O investimento total elegível tem que estar compreendido entre 8 e 160 milhões PLN (aproximadamente Euro 2 e 40 milhões, respectivamente); Principais condições A tecnologia a adquirir ou a implementar no âmbito do investimento não poderá existir há mais de acesso da de três anos ou, caso exista há mais de três anos, o seu nível de difusão nas empresas empresa existentes não deve exceder 15%; promotora/projecto Em resultado do projecto, deve ser lançado no mercado um produto novo ou substancialmente melhorado; As não PME têm que demonstrar o efeito de incentivo. 3. Measure 4.2. Operational Program Innovative Economy – Estímulo da actividade de I&D nas empresas e apoio no âmbito do design industrial As principais características da medida de apoio em apreço, que se encontra vocacionada para apoiar a realização de actividades de I&D, encontram-se esquematizadas no Quadro seguinte. Quadro 40 – Polónia: principais características da Measure 4.2. Operational Program Innovative Economy - Estímulo da actividade de I&D nas empresas e apoio no âmbito do design industrial Measure 4.2. Operational Program Innovative Economy - Estímulo da actividade de I&D nas empresas e apoio no âmbito do design industrial Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Entre 30% e 70% das despesas elegíveis (de acordo com o mapa de auxílios regionais, o nível de apoio depende da localização do investimento e da dimensão da empresa promotora, sendo que, no caso de grandes empresas, tem o limite de 50% das despesas elegíveis); Limites máximos de apoio para: - Componente de investimento - 1,4 milhões PNL (aproximadamente Euro 350 mil); - Componente formação - 100 mil PLN (aproximadamente Euro 25 mil); - Componente de consultoria - 100 mil PNL (aproximadamente Euro 25 mil). Principais despesas/custos elegíveis Activos tangíveis (equipamento, máquinas, instrumentos, edifícios) e/ou Activos intangíveis (licenças, patentes, know-how) e; Serviços de consultoria e custos de formação. Desenvolvimento de actividades de I&D, incluindo a transformação de uma empresa num centro de I&D; A empresa promotora tem que ter estado envolvida em actividades de I&D ou ter incorrido em despesas de I&D nos últimos doze meses; Principais condições As Não PME têm que demonstrar o efeito de incentivo; de acesso da empresa São valorizados os projectos que cumpram os seguintes requisitos adicionais: promotora/projecto Promovidos por PME’s; Cujo objectivo seja a obtenção do estatuto de centro de I&D; Envolvam a cooperação com unidades científicas; Resultem num incremento da equipa de I&D. Ainda no que diz respeito aos apoios de natureza financeira, a Polónia dispõe de um conjunto de programas operacionais regionais para apoio à criação e/ou desenvolvimento de (i) empresas, (ii) instituições de cariz empresarial e (iii) instituições que promovam o interface entre a ciência e o mundo empresarial, tais como incubadoras de empresas, parques industriais, parques científicos e tecnológicos, centros de transferência de tecnologia ou outros centros de inovação. Apesar de não existir, a nível regional, qualquer medida específica para o apoio à implementação de centros de serviços partilhados, há várias medidas que podem beneficiar este tipo de investimento caso se encontrem cumpridos os requisitos de acesso subjacentes. Neste âmbito, destaca-se a existência da Measure 1.4. Wielkopolska Regional Operational Program (“Wielkopolska ROP”), cujas principais características são seguidamente apresentadas. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 126 Quadro 41 – Polónia: principais características da Measure 1.4. Wielkopolska ROP Measure 1.4. Wielkopolska ROP Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Principais despesas/custos elegíveis Compra ou produção de activos tangíveis (máquinas e equipamentos, equipamento técnico administrativo, infra-estruturas relacionadas com o novo investimento - instalação eléctrica, de água, de esgotos, aquecimento); Aquisição de activos intangíveis relacionados com transferência de tecnologia (licenças, patentes, know-how ou conhecimento técnico não patenteável); Construção de edifícios. 40% dos custos elegíveis no caso de micro e pequenas empresas; 50% dos custos elegíveis no caso de médias empresas; 60% dos custos elegíveis no caso de Não PME; Limite máximo de apoio por projecto - 24 milhões PLN (aproximadamente Euro 6 milhões). O projecto deve: Contribuir para a criação de um portefólio de serviços abrangentes concentrados num só espaço (consultoria financeira, pro-inovação, informação, formação, serviços ambientais); Principais condições Aumentar a oferta de serviços dirigidos às empresas disponibilizados por instituições de cariz de acesso da empresarial; empresa Contribuir para o desenvolvimento da partilha de informação, da colaboração e da transferência promotora/projecto de conhecimento entre instituições científicas e outras entidades com conhecimento na área de inovação e empresarial; Envolver a criação de um novo serviço ou conjunto de serviços. Adicionalmente, o Programa Operacional de Desenvolvimento do Leste da Polónia (“Operational Program Development of Eastern Poland”), que, tal como o próprio nome indica, visa estimular o desenvolvimento socioeconómico de uma zona específica da Polónia (cinco regiões do Leste compreendendo Warmińsko-Mazurskie, Podlaskie, Lubelskie, Podkarpackie e Świętokrzyskie), preconiza seis prioridades, de entre as quais se pode salientar a Medida 1.3. cujas principais características se apresentam no Quadro seguinte. Quadro 42 – Polónia: principais características da Measure 1.3. Operational Program Development of Eastern Poland – Promoção da inovação Measure 1.3. Operational Program Development of Eastern Poland – Promoção da inovação Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Entre 30% e 70% das despesas elegíveis (de acordo com o mapa de auxílios regionais, o nível de apoio depende da localização do investimento e da dimensão da empresa promotora, sendo que, no caso de Não PME, tem o limite de 50% das despesas elegíveis). Principais despesas/custos elegíveis Activos tangíveis (equipamento, máquinas, instrumentos, edifícios); Activos intangíveis (licenças, patentes, know-how, conhecimento técnico); Custos com a preparação do local de construção, custos com os trabalhos e materiais de construção, custos com o arrendamento de terrenos. O projecto deve: Abranger a criação ou modernização de infra-estrutura que será usada para investigação industrial; Possuir impacto inter-regional (estimular a cooperação entre entidades de várias regiões); Principais condições Demonstrar o valor acrescentado resultante do projecto, nomeadamente ao nível do de acesso da desenvolvimento da cooperação entre entidades de I&D e científicas e os empresários e do empresa estímulo à contribuição de capital privado para actividades de I&D; promotora/projecto Ser compatível com outras empresas/investimentos no âmbito do plano de desenvolvimento regional; Envolver uma solução eco-friendly; Ser compatível com o efeito de incentivo. Ainda ao nível dos incentivos financeiros, para além das medidas anteriormente apresentadas, as quais se encontram enquadradas no âmbito de programas específicos financiados por fundos comunitários, o Governo Polaco disponibiliza um conjunto de auxílios directos, designados por Polish Government Grant, cujas principais características se encontram sistematizadas no Quadro seguinte. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 127 Quadro 43 – Polónia: principais características do Polish Government Grant Polish Government Grant Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Calculado individualmente, tendo em conta a relevância do projecto e o número de postos de trabalho criados, com os seguintes limites: - Até 15,6 mil PLN (até Euro 3,9 mil) por posto de trabalho, no caso do apoio à criação de emprego; - Até 7,5% dos custos de investimento. O auxílio concedido ao abrigo desta medida não é cumulável com outros auxílios com finalidade regional (subsídios directos do Estado, programas co-financiados pela UE, ou incentivo fiscal em ZEE), se este ultrapassar 3 milhões de PLN ou 10 % do montante total da ajuda ao abrigo do Polish Government Grant e de outros auxílios com finalidade regional. Esta regra não se aplica aos projectos de investimento (i) no sector dos modern services em que sejam criados, pelo menos, 500 novos postos de trabalho, e (ii) nos projectos de investimento no sector de I&D. Principais despesas/custos elegíveis Custos com os trabalhadores contratados; Custos de investimento. Apoios à criação de postos de trabalho: Criação de, pelo menos, 35 postos de trabalho com nível de licenciatura, e um montante mínimo de investimento de 3 milhões PNL (aproximadamente Euro 0,75 milhões) no caso de R&D Centers; Criação de, pelo menos, 250 postos de trabalho e um montante mínimo de investimento de 2 Principais condições milhões PNL (Euro 0,5 milhões) no caso das restantes tipologias de centros de serviços de acesso da partilhados. empresa promotora/projecto Apoios ao investimento: Criação de, pelo menos, 500 postos de trabalho e um montante mínimo de investimento de 1000 milhões PNL (aproximadamente Euro 250 milhões) no caso de grandes investimentos; Criação de, pelo menos, 50 postos de trabalho, e um montante mínimo de investimento de 160 milhões PNL (cerca de Euro 40 milhões) no caso dos centros de serviços partilhados. De referir que, neste momento, estão a ser equacionadas algumas alterações a este sistema de incentivos, as quais se prevêem que venham a ser aplicadas em breve, de entre as quais se destacam a redução do montante mínimo de investimento de 3 milhões PNL (aproximadamente Euro 0,75 milhões) para 1,5 milhões PNL (aproximadamente Euro 0,375 milhões), no caso da obtenção de apoios à criação de postos de trabalho em R&D Centers, e novos limites para os projectos que envolvam investimentos de grande dimensão: 750 milhões PLN (cerca de Euro 187,5 milhões) e 200 novos postos de trabalho ou 500 milhões PLN (cerca de Euro 125 milhões) e 500 novos postos de trabalho. 9.3.1.2. Incentivos fiscais ao investimento e à I&D 1. Real Estate Tax Incentive A este nível, os municípios na Polónia têm a autonomia de definir taxas de imposto mais vantajosas e, bem assim, zonas de isenção de imposto sobre o imobiliário, razão pela qual os apoios concedidos neste âmbito podem variar de município para município. Nestes casos, o apoio é concedido em função do custo com investimento em activos tangíveis e intangíveis subjacentes à implementação do novo centro de serviços partilhados ou, em alternativa, em função dos custos com os postos de trabalho criados. 2. R&D Credit Ainda no domínio dos incentivos fiscais à I&D, a Polónia disponibiliza um R&D Credit, aplicável a todas as empresas que operem na Polónia e adquiram novas tecnologias, com excepção das empresas que possuam actividade em ZEE. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 128 Quadro 44 – Polónia: principais características do R&D Credit R&D Credit Tipo de incentivo Dedução ao rendimento tributável. Nível de apoio Dedução de até 50% das despesas incorridas com a aquisição de novas tecnologias. No caso da empresa possuir prejuízos, a dedução pode ser efectuada nos três exercícios subsequentes. Principais despesas/custos elegíveis Aquisição de novas tecnologias sob a forma de activos intangíveis (i.e. licenças, patentes, know-how), resultantes de trabalhos de I&D, que permitam à empresa produzir produtos ou serviços, novos ou substancialmente melhorados. Principais condições A tecnologia não pode estar a ser usada há mais de cinco anos em todo o mundo; de acesso da Deve ser obtida confirmação de que a tecnologia é nova, efectuada por uma entidade empresa científica independente. promotora/projecto 3. ZEE A criação de ZEE na Polónia tem por objectivo o estímulo do crescimento económico em regiões subdesenvolvidas, com elevadas taxas de desemprego e em processos de reestruturação. No ano de 2012, existiam catorze ZEE na Polónia, sendo que cada uma delas possuía subzonas. Neste contexto, nestas ZEE, as empresas obtém condições preferenciais para a condução do seu negócio, nomeadamente isenções de imposto sobre o rendimento. Quadro 45 – Polónia: principais características das ZEE ZEE Tipo de incentivo Isenção de imposto para os rendimentos gerados a partir de operações realizadas nas ZEE. Nível de apoio Até 100% do imposto devido, sendo que têm que ser respeitados os limites previstos no mapa de auxílios com finalidade regional para o período 2007-2013 (dependendo da localização do investimento, o apoio poderá estar compreendido entre 30% a 50% das despesas de investimento ou dos custos com os trabalhadores contratados, durante dois anos). Principais despesas/custos elegíveis Não aplicável. Investimento em ZEE existente: Mínimo de despesa de investimento de Euro 100 mil; Criação de 10 a 20 postos de trabalho (número médio); O investimento não pode ter sido iniciado antes da obtenção da licença. Principais condições de acesso da Investimentos fora da ZEE existente (processo de alargamento da ZEE): empresa promotora/projecto Criação de, pelo menos, 150 postos de trabalho (no caso de IT Center e outros centros de serviços partilhados), ou de 50 postos de trabalho (no caso de R&D Center); Mínimo de despesa de investimento de 20 milhões PNL (aproximadamente Euro 5 milhões) no caso de IT Center e outros centros de serviços partilhados, e de 10 milhões PNL (Euro 2,5 milhões) no caso de R&D Center. 9.3.2. Incentivos à criação de emprego Algumas das medidas anteriormente apresentadas contemplam, desde logo, o apoio à criação de emprego por via do financiamento dos custos com os postos de trabalho criados, designadamente no âmbito da Measure 4.5.2. do Operational Program Innovative Economy e dos auxílios directos do Governo Polaco. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 129 Adicionalmente, estão disponíveis apoios ao emprego atribuídos pelas Agências de Emprego de cada distrito (POVIAT), os quais apresentam, sumariamente, as características mencionadas no Quadro seguinte. Quadro 46 – Polónia: principais características do Labor Incentive - District Employment Agency Labor Incentive - District Employment Agency Tipo de incentivo Co-financiamento/reembolso para aquisição do equipamento necessário para o posto de trabalho criado; Reembolso de contribuições para a segurança social. Nível de apoio Relativamente ao reembolso dos custos com equipamento, este tem um período mínimo de seis meses e não deverá ser superior a seis vezes o valor de um salário médio na Polónia, sendo que as agências de emprego consideram, normalmente, um limite absoluto entre 15.000 e 16.000 PLN (entre Euro3.750 e Euro4.000); No que respeita ao reembolso de contribuições para a segurança social, o limite do apoio é de 4.000 PNL (aproximadamente Euro1.000). Principais despesas/custos elegíveis Equipamento necessário ao posto de trabalho criado; Contribuições para a segurança social. Principais condições de acesso da Criação de emprego; empresa Contratação de desempregados inscritos nas agências de emprego. promotora/projecto 9.3.3. Incentivos à formação A Polónia não disponibiliza sistemas de incentivos específicos para apoio à formação profissional. Contudo, alguns dos regimes apresentados anteriormente consideram como elegíveis as despesas de formação, para além dos custos de investimento e dos custos com novos postos de trabalho, entre outros. 9.3.4. Outras medidas de apoio Neste âmbito, está disponível uma medida de apoio de natureza fiscal que visa beneficiar fiscalmente empresas que detenham a qualificação de R&D Center. A este nível, as empresas que obtenham a qualificação de R&D Center no âmbito da presente medida, podem criar um fundo de inovação, para o qual podem fazer contribuições mensais de até 20% do seu rendimento, as quais serão consideradas custos dedutíveis para efeitos fiscais. Para obter a qualificação de R&D Center, as empresas devem apresentar uma candidatura e cumprir como condições um mínimo de Euro 1,2 milhões de receitas líquidas no último ano fiscal e as receitas da venda de serviços de I&D ou de direitos de propriedade industrial devem representar, pelo menos, 20% das receitas líquidas. 9.4. Espanha Espanha não possui qualquer medida específica para apoiar os centros de serviços partilhados, disponibilizando, contudo, um conjunto de apoios que podem ser aplicáveis aos centros de serviços partilhados, dependendo da tipologia de actividade desenvolvida por estes e do seu estágio de desenvolvimento. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 130 9.4.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.4.1.1. Incentivos financeiros ao investimento 1. Regional Incentives Program O Regional Incentives Program prevê o apoio financeiro, a fundo perdido, à realização de investimentos em todas as zonas de Espanha, excluindo Madrid, Catalunha, País Basco e Ilhas Baleares. Quadro 47 – Espanha: principais características do Regional Incentives Program Regional Incentives Program Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio O nível de apoio poderá variar entre 10% e 40% do investimento elegível dependo da região onde o projecto é implementado. Principais despesas/custos elegíveis Trabalhos de construção civil; Activos e estudos, designadamente projectos de arquitectura, de engenharia, entre outros, associados ao investimento. Principais condições Montante de investimento entre Euro 0,6 milhões e Euro 2 milhões; de acesso da Projectos de investimento em infra-estruturas, preferencialmente de investimento industrial; empresa As empresas beneficiárias (independentemente da sua dimensão) não poderão estar promotora/projecto localizadas em Madrid, Calalunha, País Basco e Ilhas Baleares. 2. Direct Innovation Line O Centro para el Desarrollo Tecnológico Industrial, entidade pública empresarial, responsável por promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico, coloca à disposição das empresas espanholas um mecanismo financeiro de apoio ao investimento, cujas principais características são apresentadas no Quadro seguinte. Quadro 48 – Espanha: principais características do Direct Innovation Line Direct Innovation Line Tipo de incentivo Empréstimo à taxa de juro de 2%, com um prazo de reembolso de cinco semestralidades, a contar da conclusão do projecto. Nível de apoio Até 75% do total do orçamento aprovado (85%, em casos excepcionais). Principais despesas/custos elegíveis Aquisição de novos activos fixos; Custos com o pessoal; Materiais e consumíveis; Contratação de serviços externos; Custos de funcionamento e custos de auditoria. Principais condições Montante de orçamento mínimo de Euro 175 mil; de acesso da Projectos de investimento de infra-estruturas, preferencialmente de investimento industrial; empresa O projecto deverá ter uma duração máxima de dezoito meses. promotora/projecto 3. Strategic Action Economy and Digital Society Para apoio a projectos de implementação de novos processos e tecnologias, Espanha coloca ao dispor das empresas um programa, designado Strategic Action Economy and Digital Society. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 131 Quadro 49 – Espanha: principais características do Strategic Action Economy and Digital Society Strategic Action Economy and Digital Society Tipo de incentivo Combinação de incentivo não reembolsável e empréstimo à taxa de juro de 4%. Nível de apoio 100% do total do orçamento aprovado. Principais despesas/custos elegíveis Depreciações de activos; Custos com o pessoal; Materiais e consumíveis; Contratação de serviços externos; Despesas de funcionamento. Principais condições de acesso da Montante de orçamento mínimo de Euro 300 mil; empresa Deverão tratar-se de projectos de implementação de novos processos ou tecnologias. promotora/projecto Por último, de referir que, para além das medidas apresentadas supra, há vários apoios ao nível de cada uma das dezassete regiões de Espanha, sendo as diversas Agências de Desenvolvimento Regional responsáveis pela sua gestão e dinamização. 9.4.1.2. Incentivos fiscais à I&D No domínio das medidas de natureza fiscal, Espanha possui um regime de comparticipação das despesas incorridas com a realização de actividades das quais resulte uma inovação tecnológica, o qual possui a designação de Technological Innovation Deduction. Quadro 50 – Espanha: principais características do Tecnological Innovation Deduction Tecnological Innovation Deduction Tipo de incentivo Crédito fiscal, podendo a dedução do valor não utilizado ocorrer durante dezoito anos. Nível de apoio 12% dos custos elegíveis. Principais despesas/custos elegíveis Salários relativos aos colaboradores envolvidos em actividades de I&D, assim como os custos de investimento em activos fixos exclusivamente relacionados com as actividades de I&D, relativamente ao design industrial e engenharia de processos de produção, antes da fabricação, teste, instalação e utilização de um novo produto; Actividades asseguradas por universidades e outros organismos públicos de investigação; Aquisição de tecnologias avançadas por via de patentes, licenças e know-how, entre outros. Neste caso, existe um limite máximo de despesas elegíveis de Euro 1 milhão. Principais condições de acesso da As despesas comparticipadas deverão respeitar a actividades das quais resulte uma empresa inovação tecnológica. promotora/projecto 9.4.2. Incentivos à criação de emprego As medidas de apoio ao emprego disponíveis destinam-se a apoiar a criação de emprego, por tempo indeterminado, sendo que o Quadro seguinte apresenta as principais características subjacentes a este tipo de incentivos. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 132 Quadro 51 – Espanha: principais características dos Incentivos ao emprego Incentivos ao emprego Tipo de incentivo Incentivos fiscais e redução da contribuição para a segurança social. Nível de apoio Incentivos fiscais para o primeiro contrato de trabalho com pessoa com menos de 30 anos e no caso da contratação de desempregados a receber subsídio de desemprego; Redução da contribuição para a segurança social durante três anos, no caso da contratação de trabalhadores com idades compreendidas entre 16 e 30 anos, ou mais de 45 que estejam registados nos centros de emprego. Pode ser aplicada uma majoração no caso de contratação de mulheres em sectores em que estas estão menos representadas. Principais despesas/custos elegíveis Contribuições para a segurança social. Principais condições de acesso da empresa promotora/projecto Criação de postos de trabalho nas condições anteriormente identificadas. 9.4.3. Outras medidas de apoio Ao nível de outras medidas de apoio, importa destacar que Espanha disponibiliza, desde Janeiro de 2008, uma medida designada por Patent Box, que preconiza uma redução de 50% na taxa de imposto sobre o rendimento, relativamente aos rendimentos decorrentes da concessão do direito de utilizar ou explorar os seguintes activos intangíveis: patentes, design, fórmulas ou procedimentos sigilosos e know-how. Este apoio pode traduzir-se numa taxa efectiva de imposto de apenas 15% para as empresas sujeitas à taxa geral sobre o rendimento. 9.5. Irlanda A Irlanda, apesar de nos últimos anos ter vindo a registar alguma instabilidade na sua trajectória de crescimento, tem beneficiado de um forte investimento no domínio dos centros de serviços partilhados. A par da elevada experiência na gestão e manutenção de modelos de serviços partilhados, da política governamental e da existência de um ambiente de negócios favorável, a Irlanda possui um conjunto de apoios que contribuem para aumentar a sua competitividade neste sector. 9.5.1. Incentivos ao investimento e à I&D 9.5.1.1. Incentivos financeiros à I&D e à formação Neste âmbito, a Irlanda possui um sistema de apoio financeiro que visa promover o aumento da capacidade de I&D do país. Os montantes de apoio são atribuídos com base no mérito dos projectos (incluindo o potencial de comercialização), o perfil de risco da empresa e o número de postos de trabalho criados. Os apoios à formação têm um limite de Euro 2 milhões ao longo da vida do projecto. Quadro 52 – Irlanda: principais características dos Research Development and Innovation Grants Research Development and Innovation Grants Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Investigação industrial: até 40%; Investigação experimental: até 25%; Formação específica: até 25%; Formação geral: até 50%. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 133 Research Development and Innovation Grants Principais despesas/custos elegíveis Salários; Encargos de exploração; Despesas de capital (máquinas e instalações); Viagens e custos de consultoria (sujeitas a determinados limites). Principais condições de acesso da O projecto tem que obter uma aprovação no âmbito da avaliação técnica da Industrial empresa Development Agency. promotora/projecto 9.5.1.2. Incentivos fiscais à I&D A este nível, a Irlanda dispõe de um regime de benefícios fiscais que apoia a realização de despesas de I&D no âmbito de projectos que cumpram determinados requisitos técnicos. Quadro 53 – Irlanda: principais características dos R&D Tax Credits R&D Tax Credits Tipo de incentivo Crédito de imposto. Nível de apoio Taxa de 25% sobre as despesas elegíveis incorridas acima de Euro 200 mil, relativamente aos exercícios fiscais que se iniciem após 1 de Janeiro de 2013. Em caso de insuficiência de colecta para utilização do crédito fiscal, as empresas podem utilizálo nos anos subsequentes (indefinidamente), solicitar o seu recebimento (dentro de certos limites) ou cedê-lo aos colaboradores afectos a actividades de I&D para redução do seu imposto pessoal sobre o rendimento (dentro de certos limites). Principais despesas/custos elegíveis Royalties; Salários; Instalações e equipamentos; Despesas de capital em investigação científica. Os custos de investigação contratada têm um limite de 10% do total de despesas elegíveis, quando a entidade subcontratada não é relacionada com a entidade que paga pela investigação. 9.5.2. Incentivos à criação de emprego As medidas de apoio ao emprego disponíveis na Irlanda visam estimular a criação de novos e permanentes postos de trabalho. Os montantes de apoio dependem do nível de investimento, do perfil de risco da empresa (empresas com níveis de risco superior recebem níveis de apoio inferiores), das actividades desenvolvidas e do nível de qualificação dos trabalhadores. Quadro 54 – Irlanda: principais características dos Employment Grants Employment Grants Tipo de incentivo Incentivo não reembolsável. Nível de apoio Até um máximo de 15% do salário médio durante dois anos, por posto de trabalho criado. Principais despesas/custos elegíveis Encargos salariais com os novos postos de trabalho criados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 134 9.5.3. Outras medidas de apoio 1. Start Up Relief A este nível, a Irlanda dispõe de um regime de apoio para empresas start up’s que iniciem a sua actividade até 2014, inclusive, aplicável aos três primeiros anos de actividade. Quadro 55 – Irlanda: principais características do Start Up Relief Start Up Relief Tipo de incentivo Isenção de imposto. Nível de apoio Isenção de imposto até ao limite de Euro 320 mil de lucros tributáveis durante os primeiros três anos de actividade. Principais despesas/ Não aplicável. custos elegíveis Principais condições de acesso da As empresas deverão ter um mínimo de cinco trabalhadores. empresa promotora/projecto 2. Intellectual Property Tax Regime A Irlanda disponibiliza um regime de benefícios fiscais relativamente à compra de activos intangíveis relacionados com propriedade intelectual. Este regime traduz-se na consideração, para efeitos fiscais, das depreciações destes activos intangíveis (patentes, copyrights, marcas registadas e knowhow, entre outros), em linha com o seu tratamento contabilístico ou, se for opção da empresa, durante quinze anos a uma taxa anual de depreciação de 7%, à excepção do último ano em que é aplicada uma taxa de 2%. Esta escolha da empresa tem que ser efectuada no ano de aquisição do activo intangível. De destacar que os custos com as depreciações destes activos intangíveis apenas podem ser deduzidos, em cada ano, até 80% do lucro tributável resultante da exploração dos mesmos activos intangíveis ou da venda de produtos ou serviços cuja grande parte do seu valor resulta destes activos intangíveis. 3. Special Assignee Relief Scheme Este programa foi criado para (i) as novas entradas de trabalhadores e (ii) trabalhadores que regressem à Irlanda após um período fora do país superior a cinco anos. Condicionado ao cumprimento de determinadas condições de acesso, este regime está disponível para apoiar trabalhadores que entrem na Irlanda entre 2012 e 2014 e pode ser utilizado por um período de cinco exercícios fiscais consecutivos. Quadro 56 – Irlanda: principais características do Special Assignee Relief Scheme Special Assignee Relief Scheme Tipo de incentivo Isenção de imposto sobre o rendimento pessoal. Nível de apoio Isenção de imposto relativamente a 30% do salário base (e subsídios) entre Euro 75 mil e Euro 500 mil. Principais despesas/custos elegíveis Salários e subsídios. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 135 Special Assignee Relief Scheme Principais condições de acesso da Salário mínimo de Euro 75 mil; empresa Residente fiscal exclusivamente na Irlanda. promotora/projecto 9.6. Análise comparativa Depois de expostos os principais aspectos que caracterizam os diferentes mecanismos de apoio existentes ao nível dos cinco países objecto de análise, importa efectuar, a título de síntese, uma análise comparativa que permita destacar as principais conclusões ao nível de cada um dos países, nomeadamente em termos de contributo desses mecanismos para a promoção de investimento no que respeita aos centros de serviços partilhados. Figura 13 – Análise comparativa das medidas de incentivo em Portugal, República Checa, Polónia, Espanha e Irlanda Tipologia Financeiros Incentivos ao investimento Fiscais Financeiros Incentivos à I&D Fiscais Incentivos à criação de emprego Incentivos à formação Portugal República Checa Polónia Espanha Irlanda Fonte: Elaborado pelos autores. Da análise comparativa efectuada podem ser destacadas algumas conclusões conforme a seguir se apresenta: Portugal possui vários mecanismos, que sob o cumprimento de determinadas condições, poderão apoiar a criação e expansão de centros de serviços partilhados, designadamente dois regimes de apoio ao investimento (um de natureza financeira e um de natureza fiscal), dois regimes de apoio à I&D (um de natureza financeira e outro de natureza fiscal), programas de apoio à criação de emprego, um programa específico de natureza financeira de apoio à formação e um mecanismo fiscal de apoio aos expatriados. Os sistemas de incentivos financeiros de apoio ao investimento e à I&D assumem a natureza de incentivo reembolsável (apoio ao investimento) e não reembolsável (apoio à realização de actividades de I&D), sendo que a sua natureza e condições de acesso limitam o âmbito dos projectos apoiados. Por sua vez, os regimes fiscais de apoio ao investimento e à I&D traduzem-se, em geral, em créditos de imposto dedutíveis à colecta de IRC, e compreendem também algumas restrições, nomeadamente quanto à tipologia de centros a apoiar (o regime dos benefícios fiscais contratuais ao investimento produtivo apoia apenas projectos que envolvam a realização de investimento produtivo em actividades de serviços informáticos e conexos e/ou actividades de investigação de desenvolvimento de alta intensidade tecnológica de montante igual ou superior a Euro 3 milhões, e o SIFIDE II poderá apoiar centros que desenvolvam actividades de I&D), o que restringe o âmbito da sua aplicação. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 136 No domínio dos apoios à criação de emprego, são vários os mecanismos, de diferentes naturezas, que abrangem desde a comparticipação financeira de custos com a contratação de estagiários e com os novos postos de trabalho criados, a dispensa ou redução da TSU, bem como benefícios fiscais à criação líquida de postos de trabalho. No entanto, as condições de acesso subjacentes a cada um dos sistemas nem sempre se coadunam com as necessidades específicas em termos de recursos humanos subjacentes às diferentes tipologias e estádios de desenvolvimento dos centros de serviços partilhados. Os apoios à formação encontram-se disponíveis no âmbito de um programa de apoio específico, podendo ser combinados com os apoios financeiros ao investimento, sendo que, no entanto, o funcionamento do programa pressupõe processos ainda com algumas limitações em termos de burocracia e complexidade. No que diz respeito a outras medidas de apoio, Portugal dispõe de um regime fiscal de apoio a expatriados que visa atrair quadros qualificados mediante a atribuição de um benefício fiscal ao nível da taxa de imposto sobre os rendimentos desses sujeitos. Deste modo, apesar de dispor de diversos mecanismos de apoio, Portugal não possui ainda um regime de incentivos específico para apoiar projectos de criação ou expansão de centros de serviços partilhados. Este facto encerra várias limitações uma vez que os regimes existentes não se encontram desenhados de modo a dar resposta às exigências e necessidades específicas dos centros de serviços partilhados, o que não permite apoiar todas as tipologias de centros de serviços partilhados existentes. Adicionalmente, o facto de coexistirem vários regimes de incentivos que potencialmente podem ser aplicáveis à actividade dos centros de serviços partilhados complica, de modo significativo, a eficácia na apresentação e sistematização da oferta de incentivos em Portugal aos potenciais investidores, além de tornar os processos de formalização dos pedidos mais burocráticos e complexos, o que muitas vezes é apontado pelas empresas como um factor desmotivador e menos positivo na implementação dos seus potenciais projectos de centros de serviços partilhados em Portugal. A República Checa, é um dos países que apresenta uma matriz de incentivos mais restrita, com um número reduzido de mecanismos de apoio (a par da Irlanda e da Espanha), embora, por outro lado, disponibilize regimes de incentivos com condições específicas para o investimento em centros de serviços partilhados (aliás, tal como a Polónia). No que diz respeito aos apoios ao investimento, a República Checa possui um regime de apoio de natureza fiscal que se traduz numa dedução à colecta, calculada tendo em conta as despesas de investimento com activos tangíveis e intangíveis realizadas ou dos custos com a contratação de novos postos de trabalho criados. A matriz não contempla a existência de apoios à I&D nem apoios financeiros ao investimento. Adicionalmente, a República Checa disponibiliza um apoio à aquisição de terrenos, bem como da respectiva infra-estrutura, necessários à instalação do centro de serviços partilhados, por via da diferença entre o preço de mercado e o preço de compra pelo promotor. Relativamente aos apoios à I&D, a República Checa disponibiliza um sistema de incentivos fiscais que prevê a dedução em 200% dos custos incorridos com a realização com os projectos de I&D, o qual poderá ser aproveitado pelos centros de serviços partilhados caso desenvolvam esta tipologia de actividades. No que diz respeito aos apoios ao emprego, a República Checa possui um mecanismo de natureza financeira, o qual incide sobre os custos salariais subjacentes à criação de novos postos de trabalho, e com um limite de Euro 2 mil por trabalhador. Estes apoios conjuntamente com os apoios concedidos ao investimento (crédito fiscal e apoio na aquisição de terrenos), não podem exceder 40% do total dos custos elegíveis com activos tangíveis e intangíveis ou dos custos com os novos postos de trabalho criados. Os apoios à formação estão também contemplados no âmbito de uma medida específica que prevê um apoio financeiro aos custos de formação e reciclagem das competências dos trabalhadores e cujas taxas variam entre os 25% e os 45% dos custos elegíveis de formação, em função da dimensão das empresas. Em síntese, a República Checa dispõe de uma matriz de incentivos menos complexa, a qual compreende um conjunto de mecanismos que apoiam financeira e fiscalmente o investimento inicial e os custos com os postos de trabalho criados no âmbito dos centros de serviços partilhados, bem como mecanismos financeiros de apoio à formação profissional. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 137 A Polónia é o país que possui o maior número de medidas de apoio, sendo que uma delas é especificamente direccionada para a criação e expansão de centros de serviços partilhados. Com efeito, o portefólio de apoios abrange um vasto conjunto de medidas de apoio financeiro e fiscal à realização de investimento e à realização de actividades de I&D, medidas de apoio à criação de emprego, apoio à formação e outras medidas de apoio de carácter mais transversal. Ao nível dos apoios ao investimento e à I&D, a Polónia possui várias medidas de apoio enquadradas no âmbito do programa operacional da inovação que apoiam, a fundo perdido, com taxas que variam entre 30% e 70%, a realização de investimento (aquisição de activos tangíveis equipamentos, máquinas, instrumentos, edifícios e terrenos e intangíveis - licenças, patentes, e know-how), os custos com os trabalhadores contratados, e, em alguns casos, custos com serviços de consultoria, desde que os projectos cumpram determinados critérios de acesso, designadamente a criação de emprego. Para além do programa operacional referido, a Polónia dispõe de programas operacionais regionais, que apesar de não disporem de medidas específicas de apoio à criação de centros de serviços partilhados, podem permitir, no entanto, o apoio financeiro a fundo perdido de investimentos em activos tangíveis e intangíveis, desde que cumpridos alguns requisitos, designadamente em termos de localização dos investimentos. Para além destes mecanismos de apoio, a Polónia dispõe ainda de um mecanismo financeiro, de auxílios directos do estado polaco, que visa o apoio a custos com o investimento e a custos com os trabalhadores contratados, dependendo a sua atribuição dos postos de trabalho criados e dos montantes de investimento em questão. No que diz respeito aos apoios de natureza fiscal aos investimentos, os mesmos são estipulados pelos municípios, os quais possuem autonomia para definir a intensidade dos apoios e as condições de acesso, pelo que os mesmos variam de região para região. No domínio do estímulo à criação de emprego, para além dos apoios previstos no âmbito das medidas do programa operacional da inovação, a Polónia dispõe ainda de apoios geridos pelas agências de emprego regionais, que se consubstanciam no co-financiamento público na aquisição de equipamento associado aos postos de trabalho criados, bem como no reembolso das contribuições para a segurança social. Os investimentos ao nível da formação são apoiados através de um mecanismo que financia a fundo perdido 60% dos custos elegíveis com a formação geral. Adicionalmente, no que diz respeito a outras medidas de apoio de carácter mais transversal, a Polónia dispõe de três sistemas de apoio de natureza fiscal, os quais incidem sobre (i) projectos que contemplem a realização de investimentos em ZEE, (ii) o apoio a empresas que beneficiem do estatuto de centros de I&D e, bem assim, (iii) o apoio à realização de actividades de I&D. Em síntese, a Polónia possui um grande número de mecanismos de incentivos, quer de natureza financeira, quer fiscal, que apoia a realização de investimentos, a realização de actividades de I&D e os encargos associados à criação de postos de trabalho. No caso de algumas medidas, o cumprimento das condições de acesso está indexada à tipologia de centros de serviços partilhados. Contudo, a quantidade de medidas existentes, específicas ou não para o investimento em centros de serviços partilhados, podem tornar os processos muito burocráticos e muito complexos. Os mecanismos de apoio existentes em Espanha assumem essencialmente natureza financeira e destinam-se sobretudo a apoiar a realização de investimento, ainda que não especificamente associado à criação de centros de serviços partilhados. Neste âmbito, as empresas podem beneficiar de apoios financeiros, não reembolsáveis, cujas taxas poderão variar entre 10 e 40% das despesas elegíveis, enquadrados no âmbito de programas de incentivos regionais. Adicionalmente, estão disponíveis para apoio ao investimento, linhas de financiamento com taxas de juro bonificadas. Ao nível dos incentivos fiscais, Espanha dispõe de um mecanismo para apoiar despesas incorridas com a realização de actividades das quais resulte uma inovação tecnológica, o qual se materializa mediante a dedução ao valor da colecta, de um valor de cerca de 12% das despesas consideradas elegíveis. No que diz respeito aos apoios ao emprego, os mesmos consubstanciam-se em incentivos fiscais e reduções das contribuições para a segurança social, sendo que estes apoios apenas são aplicáveis no caso de celebração de contratos de trabalho por tempo indeterminado com pessoas que cumpram determinados requisitos, designadamente em termos de idade. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 138 Assim, pode concluir-se que Espanha dispõe essencialmente de incentivos financeiros para apoio à realização de investimentos e à criação de emprego e de incentivos fiscais à I&D. Assim, pode concluir-se que a matriz de incentivos de Espanha é restrita e não se encontra desenhada para atender às especificidades dos centros de serviços partilhados. A Irlanda possui um portefólio de mecanismos de apoio maioritariamente de natureza fiscal. No domínio da natureza do investimento a apoiar, o enfoque centra-se ao nível dos apoios à I&D, sendo que há dois regimes de apoio, um financeiro e outro fiscal, para apoio a este tipo de despesas. Simultaneamente, o regime de incentivos financeiros suporta também a formação, cuja intensidade do apoio depende da natureza da formação (geral ou específica). No que diz respeito aos apoios à criação de emprego, a Irlanda dispõe de um mecanismo financeiro de apoio que se traduz na comparticipação dos encargos salariais com os postos de trabalho criados até um limite máximo de 15% da média salarial. A Irlanda destaca-se, no conjunto dos países objecto de análise, pelo maior número de outras medidas de apoio, potencialmente relevantes para a instalação e operação de centros serviços partilhados, as quais possuem uma natureza essencialmente fiscal. Neste domínio, destaca-se, (i) um regime de isenção de imposto, para lucros tributáveis até Euro 320 mil de empresas start up durante os três primeiros anos de actividade, (ii) um regime de dedução fiscal para despesas realizadas com propriedade intelectual e (iii) um regime fiscal para a entrada de trabalhadores na Irlanda. Deste modo, conclui-se que a Irlanda oferece às empresas mecanismos de apoio essencialmente de natureza fiscal, com um carácter muito específico e mais sofisticados, os quais não se mostram aplicáveis a todas as tipologias de centros de serviços partilhados existentes. Em de resumo, apresentamos, seguidamente, as principais conclusões da análise comparativa das medidas de incentivo disponibilizadas por Espanha, Irlanda, Polónia, Portugal e República Checa, as quais poderão apoiar o investimento em centros de serviços partilhados: Polónia e Portugal destacam-se por possuírem um maior número de medidas de apoio, abrangendo várias áreas (investimento, I&D, criação de emprego e formação); A República Checa e a Polónia destacam-se por serem os dois únicos países que possuem regimes de incentivos que atendem às especificidades dos centros de serviços partilhados; Em Espanha, as medidas disponíveis são, sobretudo, de natureza financeira; A Irlanda destaca-se por possuir vários mecanismos de apoio de natureza fiscal, muito específicos e relativamente sofisticados face aos restantes países; A Polónia destaca-se pela quantidade e natureza (não reembolsável) dos mecanismos de apoio de cariz financeiro e pelas elevadas taxas de apoio (entre 30 a 70%); A maioria dos países analisados possuem sistemas de apoio à formação; Em Portugal, Espanha e Irlanda, as medidas existentes não são dirigidas especificamente para projectos de criação e expansão de centros de serviços partilhados, o que limita a aplicação dos apoios a esta tipologia de investimento. “Nota: A informação que consta do presente capítulo diz respeito às medidas de apoio consideradas mais relevantes, em cada um dos países em apreço, o que não obsta a que possam existir outras, de igual modo, aplicáveis. De referir que as medidas identificadas encontravam-se em vigor no ano de 2013, podendo ter sido entretanto objecto de alterações.” POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 139 Parte IV – Auscultação de stakeholders POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 140 10. Auscultação de stakeholders 10.1. Reuniões exploratórias No âmbito do presente estudo, realizaram-se reuniões exploratórias com os principais grupos de stakeholders do sector dos centros de serviços partilhados em Portugal, designadamente: Empresas que desenvolvem a actividade de serviços partilhados em Portugal – 3S Solvay Shared Services, Siemens, BNP Paribas, Blip, Altran Portugal, INAPA Portugal, Alcatel-Lucent e IBM Portuguesa; Organismos públicos de promoção do investimento e do emprego em Portugal – a AICEP e o IEFP; Associações do sector – a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal e a Associação Portugal Outsourcing; Organismos de promoção do desenvolvimento a nível regional – as Comissões de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte, Lisboa, Alentejo e Algarve, a “Invest Lisboa” e a Câmara Municipal de Fundão; Plataformas bilaterais de promoção do comércio e investimento – a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã e a Câmara de Comércio Americana em Portugal. Deste modo, tendo em conta as diferentes perspectivas dos stakeholders referidos, identificam-se, de seguida, os principais temas abordados nas reuniões exploratórias realizadas, as quais, apesar de terem por base um conjunto de temas específicos, foram estruturadas de forma aberta, de modo a permitir a obtenção do máximo de informação relevante. 10.1.1. Empresas Relativamente às empresas que desenvolvem actividade de serviços partilhados em Portugal e com as quais foram realizadas reuniões exploratórias, refira-se que estas apresentam diferentes níveis de presença em Portugal, quer ao nível do tipo de serviços que prestam, quer no que respeita ao seu tempo de permanência, a saber: 3S Solvay Shared Services – instalada em Portugal desde 2005, concretiza um centro de serviços de suporte a nível administrativo e de recursos humanos para o Grupo Solvay a nível mundial; Siemens – possui centros de serviços partilhados em Portugal desde 2006, tendo vindo a alargar progressivamente o âmbito e a dimensão dos serviços abrangidos, contando, actualmente com (i) centros de competência mundiais para actividades como produção de energia, transmissão e distribuição, terminais aeroportuários modulares, sistemas de tratamento de bagagens e (ii) centros de suporte ao nível da contabilidade, recursos humanos, serviços financeiros e governance, num total de dez centros; BNP Paribas – criado em 2007, constitui o centro operacional do Grupo (“dual office”) para liquidação e custódia de títulos, sendo que tem vindo a reforçar a sua presença no nosso País por via da captação de serviços adicionais, tendo Portugal sido escolhido para a instalação de um centro de formação do Grupo BNP Paribas à escala europeia; Blip – foi adquirida no ano de 2012 pela Betfair para funcionar como centro de competências do Grupo ao nível do desenvolvimento e gestão da plataforma web; POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 141 Altran Portugal – este centro de serviços partilhados encontra-se em fase de implementação em Portugal e visa a prestação de serviços nearshore na área dos sistemas de informação e telecomunicações; INAPA Portugal – o centro de serviços partilhados da INAPA Portugal foi constituído no ano de 2012 e presta serviços de suporte ao nível da contabilidade, tesouraria, compras, comercial (call center) e sistemas de informação, para as empresas do grupo localizadas em oito países europeus; Alcatel-Lucent – a Alcatel-Lucent tem vindo a incorporar progressivamente novas áreas técnicas no âmbito dos centros de inovação que possui em Portugal, abrangendo, actualmente, o Centro de Competência NDIO (Network Design, Integration & Optimization) – criado em 2001, o Centro de Competência OSS (Sistemas de Suporte às Operações) – com 17 anos de existência, o Centro de Assistência Técnica GSM e um Centro de Competências em IPTV. Estes centros de inovação prestam serviços a clientes no mundo inteiro; IBM Portuguesa – a IBM inaugurou a actividade de centro de serviços partilhados/outsourcing em Portugal com a instalação do primeiro centro em Braga com o objectivo de prestar serviços nearshore a subsidiárias do Sul da Europa de três grandes players internacionais. Mais recentemente, inaugurou, em 2013, um Centro de Inovação Tecnológica em Tomar, em parceria com a Câmara Municipal e o Instituto Politécnico de Tomar. Foram vários os interlocutores das empresas referidas que reforçaram a importância estratégica da aposta no sector dos serviços partilhados para a economia nacional, afirmando que o País tem todas as condições e vantagens únicas para ser competitivo e se afirmar internacionalmente neste domínio. Com efeito, estas reuniões exploratórias permitiram recolher evidência empírica do sucesso que tem sido a experiência dos centros de serviços partilhados em Portugal, cujo nível de desempenho suplantou em alguns casos as expectativas iniciais, o que se traduziu numa expansão rápida do volume de negócios, no número de contratos celebrados e no emprego criado, em contraciclo, aliás, com o que se tem verificado nos últimos anos na generalidade dos sectores económicos em Portugal. Com efeito, a título de exemplo, no que respeita ao BNP Paribas, a estimativa inicial de criação de postos de trabalho era de 280 e, actualmente, conta com 600 colaboradores internos e 250 externos em regime de outsourcing, fruto da captação de novos serviços ao nível do Grupo. De salientar, ainda, que alguns destes centros foram inclusivamente premiados a nível internacional, sendo considerados melhores práticas no contexto dos grupos empresariais a que pertencem. Sistematizam-se no Quadro 57 as principais valências e factores de competitividade que as empresas supra identificaram como determinantes na escolha de Portugal para instalação dos seus centros de serviços partilhados. Quadro 57 – Factores determinantes na escolha de Portugal para a localização de centros de serviços partilhados Factor crítico Detalhe Qualidade das competências linguísticas, para a qual tem contribuído a aposta no Programa “Erasmus”; Diversidade ao nível do conhecimento de línguas, em parte resultante do contributo proveniente de imigrantes que residem no País ou de emigrantes que regressam a Portugal; Forte disponibilidade de recursos humanos com as competências e qualificações adequadas; Recursos humanos Qualidade dos recursos humanos, a qual permite a diferenciação da oferta e percepção de valor. A este nível, é de destacar o reconhecimento da qualidade da formação tecnológica e em engenharia, que permite concorrer, em alguns segmentos, com a Europa Central e do Norte; Capacidade formativa para a reconversão de competências; Capacidade de adaptação e de aprendizagem dos jovens licenciados portugueses; “Cultura de serviço” dos trabalhadores portugueses que se traduz em flexibilidade horária e de adaptação, forte orientação para a resolução de problemas e capacidade de lidar com imprevistos; POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 142 Factor crítico Detalhe Disponibilidade de recursos com bons conhecimentos e elevada apetência para a área das tecnologias de informação e de comunicação. Custos Custos salariais competitivos, apresentando estabilidade ao longo do tempo, ao contrário dos principais concorrentes na Europa de Leste que, em alguns países e domínios, já suplantam os custos salariais dos portugueses; Custos de instalação competitivos e disponibilidade de espaços de escritórios. Imagem de segurança e de estabilidade social com leis de imigração favoráveis à integração de estrangeiros em Portugal; Forte dinâmica empresarial e de interacção com pólos universitários em locais como Aveiro, Braga, Covilhã, Lisboa e Porto; Contexto de negócios Afinidades culturais e partilha de língua com regiões economicamente emergentes, permitindo condições privilegiadas de exploração de novos mercados (Brasil e mercados africanos); Qualidade das infra-estruturas de informação e de comunicação; Qualidade de vida, bom clima e hospitalidade do povo português que permite maior facilidade na atracção de expatriados; Fuso horário próximo dos centros de decisão; Boas ligações aéreas com voos frequentes a partir de aeroportos internacionais. Fonte: Elaborado pelos autores, em resultado das reuniões exploratórias mantidas. Paralelamente, a maioria dos interlocutores identificaram como um factor igualmente importante no processo de decisão da localização de centros de serviços partilhados, o facto de o Grupo já possuir presença no País em análise. Com efeito, desta forma, o processo de implantação é facilitado, nomeadamente pelo conhecimento que já existe do sistema fiscal e do contexto regulatório do País, minimizando os custos associados à implementação do centro de serviços partilhados. Deste modo, este facto é relevante para a definição dos targets estratégicos na promoção das vantagens competitivas de Portugal no sector dos serviços partilhados. A par da identificação das principais valências e factores competitivos de Portugal que permitiram a sua escolha para a localização dos centros de serviços partilhados referidos, importa também destacar os principais problemas e obstáculos que, segundo estas empresas, Portugal apresenta para a implementação, desenvolvimento e manutenção destas empresas no País e, em consequência, para a promoção da instalação de novos centros de serviços partilhados em Portugal. Quadro 58 – Principais problemas e obstáculos identificados ao nível da instalação, desenvolvimento e manutenção de centros de serviços partilhados em Portugal Problemas e obstáculos identificados Falta de promoção externa de Portugal enquanto destino de centros de serviços partilhados Detalhe Desconhecimento, a nível internacional, das valências e factores competitivos de Portugal no sector dos centros de serviços partilhados; Inexistência de uma estratégia integrada para a promoção do investimento em centros de serviços partilhados em Portugal, envolvendo as diversas entidades e apoios institucionais; Dispersão, descontinuidade e falta de foco da diplomacia económica. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 143 Problemas e obstáculos Detalhe Dispersão e complexidade da informação conexa com os apoios potencialmente aplicáveis à instalação e desenvolvimento de centros de serviços partilhados em Portugal; Dispersão, complexidade e morosidade das regras e processos aplicáveis à instalação e desenvolvimento de centros de serviços partilhados em Portugal Limitações na adequação dos agentes envolvidos no processo de instalação de centros de serviços partilhados, relativamente às expectativas e necessidades específicas deste sector. A título de exemplo, importa destacar que o processo de escolha do local de implementação de um centro de serviços partilhados acontece de forma relativamente rápida (entre seis meses e um ano) quando comparado com as decisões de investimento ao nível da indústria transformadora, em que o processo de avaliação e escolha do local é significativamente mais longo; Inexistência de um account manager (pivot único) que apoie e acompanhe todo o processo de instalação de centros de serviços partilhados em Portugal (licenciamento, investimento, contratação, etc.), acompanhando e facilitando a articulação entre as várias autoridades e instituições públicas que interferem neste processo; Complexidade e morosidade dos processos de decisão, designadamente ao nível dos apoios ao investimento e dos procedimentos legais (licenciamentos, entre outros); Relativa complexidade e rigidez das regras aplicáveis aos apoios à contratação e à formação; Insuficiente divulgação dos sistemas de incentivos potencialmente aplicáveis à instalação de centros de serviços partilhados em Portugal e inexistência de sistema de incentivos específico para apoio a este tipo de investimentos. Instabilidade do enquadramento legal e fiscal Recorrentes alterações ao nível do sistema fiscal aplicável aos colaboradores (nacionais ou expatriados) e às empresas, com impacto na gestão do negócio e na tomada de decisões de investimento; Pouca estabilidade do enquadramento legal aplicável às empresas, nomeadamente ao nível das obrigações declarativas. Com efeito, a estabilidade legal e fiscal é apontada como um factor importante no processo de escolha da localização de centros de serviços partilhados (podendo considerar-se que o mesmo se aplicará às decisões de investimento no âmbito de outros sectores). Carência de recursos qualificados em determinadas zonas do País (em particular, nas regiões do interior); Relativa dificuldade na contratação e retenção de colaboradores Insuficiência de recursos com formação de nível intermédio ou formação técnico-profissional específica; Dificuldade na retenção de colaboradores, atento o impacto da subida de impostos na diminuição do seu rendimento disponível, optando pela busca de melhores condições salariais em países com menor carga fiscal; Fraca articulação entre universidades e centros de emprego no sentido de facilitar o estabelecimento de protocolos e em processos de recrutamento, especialmente no interior do País. Fonte: Elaborado pelos autores, em resultado das reuniões exploratórias mantidas. De modo transversal, em todas as reuniões exploratórias realizadas com as empresas referidas, foi sempre destacada a fraca visibilidade externa do País no que respeita às suas vantagens competitivas ao nível do sector dos centros de serviços partilhados. Daqui decorre que, em várias situações, a consideração de Portugal no processo de escolha da localização dos centros de serviços partilhados resultou essencialmente do facto de os grupos empresariais já estarem instalados em território nacional, conhecendo as valências de Portugal, neste domínio, por via dos seus gestores nacionais. Com efeito, de outro modo, Portugal não seria considerado na lista de localizações potenciais, corroborando o desconhecimento dos investidores estrangeiros sobre o posicionamento competitivo de Portugal no sector dos centros de serviços partilhados. Deste modo, os vários responsáveis de centros de serviços partilhados defenderam a necessidade de coordenação e focalização de esforços a nível nacional, entre todos os stakeholders do sector, de forma a promover Portugal e as suas vantagens competitivas a este nível, para que o País passe a constar, desde logo, das long-lists de opções para a localização de novos investimentos. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 144 A título de exemplo, foi sugerida a organização de delegações de investidores estrangeiros para conhecer in loco as melhores práticas de centros de serviços partilhados no território nacional, sendo que vários interlocutores apresentaram disponibilidade para apresentar as suas “boas referências” do País e suas valências. Ao nível dos recursos humanos e da relativa escassez verificada em algumas áreas de especialidade, foi recomendada a implementação de medidas orientadas para reconversão de competências de licenciados com poucas oportunidades no mercado de trabalho e que permitam a aquisição de conhecimentos complementares à sua formação base. Importa, ainda, realçar que as reuniões exploratórias realizadas permitiram obter evidência que os centros de serviços partilhados promovem a inclusão e a igualdade de oportunidades. Com efeito, na generalidade dos casos, os colaboradores do sexo feminino perfazem mais de metade da força de trabalho, a diversidade de nacionalidade e linguística é valorizada e não há registo de obstáculos à contratação de pessoas com deficiência física. De seguida, apresentam-se dois casos de sucesso de duas reconhecidas multinacionais que escolheram Portugal para fixar os seus centros de serviços partilhados, nomeadamente a Altran Portugal e a 3S Solvay Shared Services. Quadro 59 – Estudo de caso: Altran Portugal Estudo de caso Altran Portugal A Altran é uma multinacional francesa, com cerca de 21.000 colaboradores, presente em mais de 20 países espalhados pela Europa, Ásia e América, que se dedica à prestação de serviços de consultoria em inovação e desenvolvimento de alta tecnologia. Em 2013, o Grupo registou um total de vendas de Euro 1,633 mil milhões. Em Portugal, o Grupo está presente desde 1998 através da Empresa filial Altran Portugal e recentemente inaugurou o centro de serviços partilhados no Fundão, o qual envolveu um investimento de Euro 6,9 milhões e prevê a criação de um total de 120 novos postos de trabalho até 2015, para prestação de serviços de consultoria no sector das tecnologias e desenvolvimento de projectos de sistemas de informação e telecomunicações. Tendo identificado a intenção do Grupo na deslocalização do centro de serviços partilhados, a filial portuguesa teve um papel determinante no processo de selecção da localização do mesmo, tendo antecipado os planos de deslocalização do Grupo, e equacionado, desde logo, Portugal como um destino de excelência no contexto das opções de investimento em nearshoring do Grupo. Desafio Deste modo, tendo em conta o objectivo de desenvolvimento de projectos internacionais em colaboração com equipas portuguesas, o principal desafio consistiu na fundamentação da escolha de Portugal como o melhor destino para localização do centro de serviços partilhados do Grupo. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 145 Estudo de caso Altran Portugal O processo de escolha da localização do investimento, a nível internacional, resultou de uma proposta pró-activa da equipa Portuguesa no sentido de se considerar Portugal como uma plataforma complementar de deslocalização para desenvolvimento de serviços na área dos Sistemas de Informação e Engenharia de Telecomunicações, no seguimento da estratégia de Offshoring anunciada pelo Presidente do Grupo em final de 2011. As razões invocadas na altura basearam-se na profunda experiência que a equipa da Altran Portugal já tinha nestes domínios assim como a qualidade dos recursos disponíveis no mercado Português para suportar estas actividades. No plano nacional, as cidades/regiões que constaram na short-list de opções para a localização do novo investimento, foram o Porto, Minho, Vila Real e o Fundão, atenta a sua proximidade com pólos universitários (uma condição essencial do Grupo Altran, a fim de facilitar o processo de recrutamento de novos profissionais). Segundo a perspectiva da Altran Portugal, o País apresentava (e apresenta) um conjunto de atributos que o posicionavam como um destino de excelência para a implementação do centro de serviços partilhados, nomeadamente: custos salariais competitivos (face à realidade europeia), competências linguísticas e qualidade dos recursos humanos com formação na área da Implementação engenharia. Não obstante o exposto, no processo de implementação do centro de serviços partilhados em Portugal, a Altran Portugal identificou alguns problemas e obstáculos, designadamente ao nível dos recursos humanos. Devido aos elevados níveis de exigência dos projectos desenvolvidos, o recrutamento de engenheiros informáticos ou de telecomunicações (principais necessidades do centro de Nearshore) de excelência é um requisito fundamental. No entanto, através de um modelo de Academias implementado pela Altran Portugal tem sido possível assegurar formação contínua e “in house” em áreas tecnológicas específicas em cooperação com o IEFP, com a Câmara Municipal do Fundão e ainda através do apoio de Professores da Universidade da Beira Interior. Ao nível do que tem sido a experiência da Altran Portugal no funcionamento dos centros de serviços partilhados em Portugal, foi referido que o seu nível de desempenho tem sido muito positivo, destacando a forte cultura empresarial, os níveis de motivação (flexibilidade, dedicação ao cliente e orientação para a resolução de problemas) e a capacidade e diversidade linguística dos seus profissionais. Após um processo de estudo e análise de diferentes localizações (cidades/países) a escolha recaiu no Fundão para a sede principal do centro de serviços Nearshore (os projectos de Nearshore são também desenvolvidos no Porto e em Lisboa). A escolha do Fundão deve-se pelo facto de esta cidade apresentar um conjunto de vantagens face às restantes opções de localização. A este nível, é de destacar (i) a total disponibilidade demonstrada pela Câmara Resultados Municipal do Fundão para dialogar com a Altran Portugal e facilitar todos os trâmites do processo, inclusivamente, em articulação com a AICEP e o IEFP, (ii) a ajuda prestada pela Câmara Municipal do Fundão na elaboração da proposta que apresentava o Fundão como o destino indicado para a instalação do novo centro de serviços partilhados da multinacional francesa, e (iii) a proximidade a Lisboa e localidades com universidades e instituições académicas. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 146 Quadro 60 - Estudo de caso: 3S Solvay Shared Services Estudo de caso 3S Solvay Shared Services Com presença em mais de 50 países, o Grupo emprega mais de 29.000 pessoas em todo o mundo e gerou em 2012 um volume de vendas líquidas superior a Euro 12 mil milhões. Presente Empresa em Portugal há mais de 75 anos, o Grupo emprega cerca de 500 colaboradores (300 afectos às áreas operacionais e 200 ao centro de serviços partilhados). Em 2005 foi identificada a necessidade de criação de um centro de serviços partilhados que teria como objectivo prestar apoio na área financeira e de recursos humanos a mais de 60 entidades Desafio Solvay presentes em 14 países. Nesse sentido, tendo em conta a localização diversificada das diferentes unidades do Grupo foi necessário escolher uma localização que permitisse potenciar os resultados subjacentes à implementação do centro. O processo de selecção da localização do investimento foi um processo muito moroso, envolvendo mais de um ano de levantamento e análise de dados, do qual resultou a elaboração de uma longlist inicial de 90 cidades europeias, incluindo localizações onde a Solvay já estava presente e outras em que ainda não estava presente. O estudo e análise da atractividade de cada localização foram efectuados tendo em consideração indicadores financeiros, disponibilidade da mão-de-obra qualificada e factores como a qualidade das comunicações e infra-estruturas, crescimento económico e índice de desenvolvimento humano. Adicionalmente, foi tido em consideração um conjunto de critérios de selecção, contemplando dimensões menos quantificáveis, como o conhecimento prévio da localização, a cultura de serviço, o alinhamento com a estratégia do Grupo ou a possibilidade de transferência de conhecimento. Implementação Em resultado do trabalho efectuado, foi elaborada uma short-list com as opções para a localização do novo investimento - Milão, Praga, Lisboa e Barcelona. Em Outubro de 2004, a comissão executiva da Solvay, seleccionou as cidades de Lisboa e Barcelona como os dois melhores destinos para a implementação do centro de serviços partilhados do Grupo, tendo por base os indicadores previamente seleccionados. Na etapa final do processo de selecção foram analisados os incentivos e apoios que cada cidade - Lisboa e Barcelona - poderia disponibilizar, em termos de incentivos fiscais, apoios financeiros, apoios à I&D e à formação, assim como eventuais facilidades ao nível do recrutamento, tendo-se concluído que ambas as cidades se encontravam equiparadas a este nível. A distância da cidade de Lisboa a Bruxelas e ao centro da Europa pesou negativamente na selecção desta cidade enquanto potencial destino para a implementação do centro de serviços partilhados do Grupo. Após o estudo e análise dos factores caracterizadores das diferentes localizações (cidades/países) a escolha recaiu sobre a cidade de Lisboa. Apesar de alguns factores menos positivos, o apoio prestado e o grau de compromisso das autoridades portuguesas com a intenção de investimento Resultados da Solvay, assim como a interacção da cidade com pólos na área dos serviços partilhados que garantiam, à partida, a disponibilidade de recursos humanos qualificados e com experiência no sector, constituíram os principais factores que sustentaram a decisão de localização em Portugal. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 147 10.1.2. Organismos públicos de promoção do investimento e do emprego em Portugal A reunião realizada com a AICEP foi relevante para aprofundar o conhecimento sobre o sector dos centros de serviços partilhados em Portugal, tendo a referida agência disponibilizado o acesso a fontes de informação secundárias relevantes, nomeadamente publicações, estudos e outros relatórios técnicos, directa ou indirectamente relacionados com a temática em apreço. Adicionalmente, considerando que o estudo em apreço poderá ser relevante para a divulgação do País e a captação de investimento em centros de serviços partilhados, foi acordado que a AICEP iria encetar esforços para promover os seus resultados junto de parceiros estrangeiros. No que respeita à reunião realizada com o IEFP, foi denotado o esforço que este organismo tem efectuado no sentido de se posicionar como um parceiro junto dos investidores em centros de serviços partilhados, como já aconteceu com a 3S Solvay Shared Services, a Cisco e a Mercer. O IEFP encontrava-se, inclusive, a acompanhar a implementação de dois novos centros de serviços partilhados em Portugal, sendo que, numa das situações, foi acordada a requalificação de candidatos com nível III de qualificação (ensino secundário) para o nível V (ensino pós-secundário, não superior) com a realização de Cursos de Especialização Tecnológica. Contudo, foi realçado que o IEFP, centralmente, pode apenas definir um memorando de entendimento com os investidores no sentido de tipificar as intervenções e prioridades em que pode ser útil o seu apoio, não podendo vincular o organismo à atribuição de quaisquer apoios/incentivos. Com efeito, não obstante o estabelecimento destes memorandos de entendimento, os apoios são geridos e atribuídos a nível regional, tendo de cumprir as condições específicas das medidas em vigor. Esta foi identificada como sendo uma limitação do IEFP, quando comparado, por exemplo, com a AICEP, uma vez que não pode, desde logo, definir um contrato com os investidores no sentido de vincular a atribuição de um determinado montante e tipologia de incentivos à contratação. Foi, ainda, destacada a forte procura, verificada no segundo semestre de 2013, ao nível das medidas “Estágios Emprego” e “Estímulo 2013”. Adicionalmente, foi destacada a crescente dificuldade das delegações regionais em acompanharem os investidores e os seus projectos de investimento, decorrente da limitação de recursos e do aumento das necessidades de atendimento ao público (derivado do aumento do número de desempregados). 10.1.3. Associações do sector A reunião realizada com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal foi especialmente importante para aumentar o conhecimento sobre a temática dos centros de serviços partilhados e identificar uma amostra de empresas a inquirir no âmbito do presente estudo. Com efeito, no âmbito da reunião, foram abordadas as diferentes tipologias de centros de serviços partilhados instalados em Portugal, permitindo constatar a existência de uma ampla variedade de actividades, das quais importa elencar: I&D (por exemplo, Nokia Solutions e Siemens); Centros de Competências (por exemplo, Bosch Car Multimedia, Bosch Termotecnologia, Siemens e Altran Portugal); Prestação de serviços de suporte na área administrativa, financeira e de recursos humanos, entre outros (por exemplo, Fujitsu, Cisco, 3S Solvay Shared Services, BNP Paribas, Microsoft); Contact Centers (por exemplo, Vodafone); Outsourcing na área das tecnologias de informação (por exemplo, Novabase, Logica e Reditus). POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 148 No âmbito da reunião efectuada, foi corroborada a ideia de que o País apresenta todas as condições e vantagens para ser competitivo e afirmar-se internacionalmente neste domínio. Com efeito, a título de exemplo, foram identificadas as seguintes vantagens e factores competitivos, normalmente indicadas pelas empresas associadas da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal: domínio de várias línguas, relação qualidade/preço da mão-de-obra e infra-estrutura existente ao nível das telecomunicações. Ainda neste âmbito, foram sugeridas possíveis iniciativas de captação de investimento no sector dos centros de serviços partilhados em Portugal, sendo de destacar: (i) a criação de redes de cooperação empresarial multissectorial, tendo sido identificado como um importante canal de comunicação com o exterior, capaz de promover a visibilidade do País e das empresas que actuam no sector dos serviços, e (ii) a organização um evento anual - “Fórum de empresas de serviços”. Por fim, foi ainda destacado o “Movimento para o Emprego”, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e da COTEC em parceria com o IEFP, que tem como objectivo facilitar a inserção profissional de recursos altamente qualificados, nomeadamente por via do reforço da sua formação académica com conhecimentos e competências críticas para o mercado de trabalho. Neste âmbito, o compromisso da Microsoft de lançar um programa de formação e certificação na área das tecnologias de informação, tem um papel importante no sector dos centros de serviços partilhados, permitindo reconverter competências de desempregados e complementar conhecimentos direccionados para as necessidades do mercado de trabalho. No que respeita à Associação Portugal Outsourcing, com a qual a “Invest Lisboa” (referida de seguida) se encontra a colaborar no sentido de explorar o potencial de Lisboa para a atracção de centros de serviços partilhados, foi destacado que esta Associação se encontra a preparar a presença de Portugal em vários eventos de promoção do sector a nível internacional e, bem assim, equaciona a organização de um evento de maior escala em Lisboa, em colaboração com a National Outsourcing Association, sediada no Reino Unido e que foi a primeira associação criada a nível europeu para a promoção do outsourcing, pertencendo, igualmente, à European Outsourcing Association. De destacar, ainda, o trabalho recorrente da Associação Portugal Outsourcing de publicação de estudos de avaliação do estado do sector de outsourcing em Portugal, e de Portugal face aos mercados de nearshore concorrentes. Neste contexto, as reuniões e contactos mantidos com a Associação Portugal Outsourcing foram, igualmente, fundamentais para aumentar o conhecimento sobre a temática dos centros de serviços partilhados e identificar uma amostra de empresas a inquirir no âmbito do presente estudo. 10.1.4. Organismos de promoção do desenvolvimento a nível regional A este nível, as reuniões exploratórias realizadas com as Comissões de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Norte, Alentejo, Lisboa e Algarve, a “Invest Lisboa” e a Câmara Municipal do Fundão, permitiram constatar a existência de grande dinamismo, em determinadas regiões do País, na definição de estratégias locais - ao nível do município ou da região - de captação de investimento no sector dos centros de serviços partilhados. Destaca-se, neste âmbito, um conjunto de pólos regionais que possuem vantagens comparativas para a instalação de investimentos em centros de serviços partilhados, e onde se concentram alguns dos principais players deste sector, como é o caso de Lisboa e do eixo Aveiro, Porto e Braga, decorrente, em larga medida, da disponibilidade e facilidade de recrutamento de recursos humanos qualificados e do reconhecimento e dinamismo demonstrado pelas universidades e politécnicos locais. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 149 Foi, ainda, destacado o papel fundamental que os agentes locais, atento o seu conhecimento próximo e privilegiado do território e das suas valências, possuem na promoção e captação de investimentos em centros de serviços partilhados, constituindo parceiros privilegiados dos potenciais investidores no sentido de (i) identificar os recursos disponíveis, (ii) mobilizar respostas céleres e eficazes às fraquezas reconhecidas (busca de espaços de escritórios, de apoios para as famílias expatriadas, entre outros aspectos relevantes) e (iii) funcionarem como pontos de contacto e de articulação com todas as entidades a nível nacional que, de algum modo, interferem e condicionam o processo de selecção da localização do investimento. Neste contexto, de forma a reforçar o papel e o posicionamento competitivo das regiões na captação destes investimentos, foi sugerida a descentralização de algumas competências que possibilitem maior autonomia na gestão de instrumentos de apoio, nomeadamente, por via da flexibilização na utilização e combinação de fundos nacionais ou comunitários, como, por exemplo, aqueles que se destinam à formação, de forma a dar respostas mais céleres e focalizadas às necessidades reais identificadas. Neste âmbito, importa destacar a crescente aposta na promoção das suas valências e vantagens para a instalação de centros de serviços partilhados, evidenciada pelas Regiões do Norte e Lisboa (neste último caso por via da “Invest Lisboa”). Com efeito, a “Invest Lisboa” tem já vindo a efectuar esforços de (i) promoção de Portugal, e de Lisboa em particular, para a atracção deste tipo de investimentos, (ii) acções de acompanhamento de investidores e (iii) apoio na procura de espaços para instalação das empresas. Adicionalmente, a “Invest Lisboa” encontra-se a colaborar com o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e com a Associação Portugal Outsourcing no sentido de explorar o potencial da cidade para a atracção de centros de serviços partilhados, nomeadamente, pela captação de novos investimentos e pelo contacto com multinacionais que têm subsidiárias em Portugal e que possam vir a expandir as suas actividades em Lisboa. O ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, também presente na reunião realizada com a “Invest Lisboa”, destacou a importância de se compreenderem os processos de decisão na escolha da localização dos investimentos em centros de serviços partilhados, para se poder actuar nos factores-chave. Neste âmbito, o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa está a desenvolver uma oferta formativa na área da gestão de serviços partilhados, que poderá abranger pós-graduações, seminários de especialização, entre outros, com o objectivo de criar um cluster de atracção de centros de serviços partilhados que englobe, além da dimensão empresarial, uma dimensão educativa especializada. No âmbito do documento de “Diagnóstico Prospectivo da Região Norte 2014-2020”, foi enquadrado num dos domínios prioritários da estratégia de especialização inteligente da região Norte, a promoção das suas competências acumuladas na área das TIC por via, nomeadamente, do aproveitamento das tendências para operações de nearshoring. Neste contexto, a CCDR do Norte tem vindo a trabalhar com o Pólo das Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica (TICE.PT) no sentido de definirem instrumentos e ferramentas específicas para a promoção da imagem da região e o apoio à instalação de centros de serviços partilhados, tais como a implementação de uma plataforma nearshoring, responsável pela promoção e captação destes investimentos, e a elaboração de materiais de marketing territorial que contenham informação sobre os recursos humanos, custos de instalação, incentivos, entre outros aspectos relevantes. Com efeito, a CCDR do Norte tem encetado um conjunto de esforços tendo em vista colocar Portugal nos rankings mundiais do sector, nomeadamente pela divulgação massiva das condições competitivas de Portugal para receber investimentos em centros de serviços partilhados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 150 Adicionalmente, a CCDR do Norte, na reunião mantida, identificou um conjunto de áreas de actuação consideradas importantes para a promoção e dinamização do investimento em centros de serviços partilhados em Portugal. Neste contexto, foi destacada a importância dos agentes que actuam ao nível regional na captação deste tipo de investimentos, atento o seu conhecimento do território e dos seus recursos. Paralelamente, ao nível de organismos de administração local, importa destacar a Câmara Municipal do Fundão, a qual tem vindo a implementar medidas especificamente direccionadas para a captação de investimento, nomeadamente ao nível dos centros de serviços partilhados e, em particular, do nearshoring, as quais foram fundamentais para a instalação do recente investimento da Altran Portugal nesta região. Foram ainda abordadas várias medidas que a Câmara Municipal do Fundão se encontrava a equacionar, com o objectivo de promover o Fundão como destino de nearshoring e de captar novo investimento, sendo de destacar a criação de uma academia para formação específica na área dos centros de serviços partilhados (com mestrados, pós-graduações e outras formações específicas), em parceria com a Universidade da Beira Interior e o Instituto Superior de Economia e Gestão. Com efeito, em Fevereiro de 2014, foi lançada uma pós-graduação em “Gestão de Serviços Partilhados”, no âmbito da Academia dos Serviços Partilhados criada pela Câmara Municipal do Fundão e pela Universidade da Beira Interior, que conta com a colaboração do corpo docente da Universidade da Beira Interior e de outras universidades, não apenas de Portugal como também de outros países europeus e do Brasil. 10.1.5. Plataformas bilaterais de promoção do comércio e investimento Na sequência das reuniões exploratórias realizadas com a Câmara de Comércio e Indústria LusoFrancesa, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã e com a Câmara de Comércio Americana em Portugal, foi possível recolher contributos relevantes provenientes destes agentes institucionais que trabalham directamente com uma rede alargada de associados nacionais e estrangeiros. Com efeito, estas reuniões permitiram obter uma percepção abrangente da opinião dos investidores estrangeiros relativamente ao ambiente económico em Portugal, possibilitando a identificação de um conjunto de valências e de fragilidades nacionais, potencialmente relevantes quando o País é equacionado como destino para a implementação e/ou a expansão de investimento, em particular, em centros de serviços partilhados. De um modo geral, os interlocutores das referidas entidades consideram que, segundo a perspectiva de um potencial investidor francês, alemão ou americano, Portugal apresenta um conjunto de condições e vantagens únicas na captação de investimento e, muito particularmente, na atracção e/ou expansão de investimento em Portugal no sector dos centros de serviços partilhados. Do conjunto de valências de Portugal identificadas, importa destacar a qualidade e disponibilidade de recursos humanos com as competências e qualificações adequadas, os custos salariais competitivos, o ambiente empresarial favorável, principalmente junto de pólos universitários em locais como Aveiro, Braga, Lisboa e Porto, a competitividade dos custos de instalação e, ainda, a disponibilidade de espaços de escritórios. De igual modo, os interlocutores chamaram a atenção para algumas tendências importantes de investimento no contexto nacional que têm marcado a evolução do sector dos centros de serviços partilhados: POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 151 Portugal é identificado como um destino atractivo para a realização de investimentos em centros de serviços partilhados, maioritariamente, quando as empresas já se encontram a operar em Portugal, significando que o investimento neste sector resulta, na maior parte dos casos, da evolução ou expansão das operações de empresas já implementadas em Portugal e depende, em larga medida, do sucesso das experiências já vividas anteriormente por estas empresas, em território português; As empresas americanas identificam Portugal como um destino relevante para a captação de IDE, a nível europeu, e como destino atractivo para a implementação de serviços em outsourcing, independentemente destas empresas já operarem (ou não) em território nacional; No que respeita às tendências mais recentes dos potenciais investidores alemães, principalmente das empresas que actuam no sector das tecnologias de informação, é equacionado Portugal como um destino importante na captação de novos investimentos no sector dos centros de serviços partilhados, sendo a disponibilidade de recrutamento de recursos humanos um factor extremamente importante na decisão de localização deste tipo de centros. Paralelamente, os interlocutores destacaram alguns problemas e obstáculos que Portugal apresenta na promoção e captação de novos centros de serviços partilhados, segundo a perspectiva dos seus associados. Neste âmbito, importa destacar os seguintes: (i) a ausência de coordenação e focalização de esforços, a nível nacional, entre todos os agentes e stakeholders do sector, (ii) a dispersão, descontinuidade e falta de foco da diplomacia económica, (iii) a inexistência de um account manager (pivot único) que apoie e acompanhe todo o processo de instalação de centros de serviços partilhados em Portugal e (iv) a insuficiência de recursos com formação de nível intermédio ou formação técnico-profissional, entre outros. Paralelamente, foi possível recolher evidência empírica de casos de sucesso de empresas emblemáticas que implementaram centros de serviços partilhados em Portugal, de que são exemplo a Bosch, a Siemens, a SAP (empresas alemãs), a IBM (empresa americana) e a Altran (empresa francesa). 10.2. Inquéritos Com o objectivo de recolher informação sobre as vantagens e desvantagens de Portugal enquanto destino para implementação e expansão de investimentos no âmbito dos centros de serviços partilhados, e identificar as principais oportunidades de melhoria para afirmação do País neste sector, foi realizado um inquérito junto de 39 empresas que possuem centros de serviços partilhados em Portugal. A selecção das empresas foi efectuada tendo em conta a sua actividade no domínio dos centros de serviços partilhados e a sua representatividade no sector. A recolha da informação foi realizada por meio de um questionário, tendo a formalização do pedido de resposta sido efectuada através do envio de e-mail para os responsáveis das empresas seleccionadas. O questionário, que consta em anexo ao presente estudo, é composto por várias áreas de análise, as quais integram várias questões de resposta aberta e fechada. Do conjunto das 39 empresas inquiridas, foi obtida uma taxa de resposta de 26%. 10.2.1. Informação dos centros de serviços partilhados Da análise das respostas recepcionadas, conclui-se que os centros de serviços partilhados encontram-se localizados essencialmente nas regiões de Lisboa e do Porto, sendo de referir uma localização no Fundão. Quanto ao número de colaboradores, as empresas que responderam empregam, em média, um total de 208 colaboradores, tendo-se identificado um número mínimo de 28 trabalhadores e um número máximo de 600 colaboradores. Do total de população empregue, mais de metade são mulheres. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 152 No que diz respeito aos níveis de habilitações, constata-se que 74% dos recursos humanos empregues nas empresas que responderam ao questionário dispõem de nível de qualificação igual ao ensino superior, cerca de 17% igual ao ensino secundário, 8% igual a mestrado e apenas aproximadamente 1% possui qualificação de ensino básico. Com efeito, estes dados reforçam as conclusões veiculadas ao longo do estudo de que os centros de serviços partilhados são consumidores intensivos de mão-de-obra altamente qualificada. Gráfico 75 – Distribuição dos recursos humanos por nível de escolaridade 0,1% 8,0% 1,3% 16,5% Ensino básico Ensino secundário Ensino superior Mestrado Doutoramento 74,1% Fonte: Inquérito da Deloitte Consultores. Relativamente à tipologia dos serviços prestados, os resultados obtidos permitem concluir que as entidades que responderam ao inquérito prestam serviços sobretudo nas áreas de “Accounting & Finance” (23%), “Business Process Outsourcing and Information Technologies” (23%), “Customer Care Service” (19%) e “Human Resources” (15%). Estes resultados demonstram a diversificação do âmbito dos serviços prestados e, bem assim, o enfoque em actividades de valor acrescentado. Gráfico 76 – Tipologias de serviços prestados pelos centros de serviços partilhados em Portugal 25% 23% 23% 19% 20% 15% 15% 10% 8% 5% 4% 4% 4% Investments Legal Process Outsourcing Purchasing 0% Accounting & Finance Business Customer Engineering Process Care Service Outsourcing and Information Technologies Human Resources Fonte: Inquérito da Deloitte Consultores. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 153 Se analisarmos o âmbito geográfico dos mercados que são servidos pelas empresas que responderam ao inquérito, os resultados demonstram que a totalidade das empresas prestam serviços para mercados localizados na Europa, conforme demonstra o gráfico infra. Depois da Europa, África e América do Sul são os mercados mais identificados, designadamente com 60% e 20%, respectivamente. Gráfico 77 – Mercados servidos pelos centros de serviços partilhados em Portugal 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Europa América do Norte América Central América do Sul Ásia África Oceânia Fonte: Inquérito da Deloitte Consultores. Na Europa, os principais países referenciados foram Portugal, Espanha, França e Reino Unido. Ao nível do continente africano, foram mencionados os mercados de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Argélia, entre outros, e na América do Sul, foram destacados o Brasil e a Venezuela. No domínio dos incentivos, 50% das empresas responderam que lhes foram concedidos incentivos financeiros no momento da implementação do centro de serviços partilhados em Portugal, essencialmente ao investimento e à contratação, e 30% das empresas responderam que beneficiaram de incentivos fiscais à contratação. Quando questionadas sobre a atribuição de incentivos em momento posterior à implementação do centro de serviços partilhados, 60% das empresas responderam ter beneficiado de incentivos financeiros, sobretudo incentivos à contratação, à formação, ao investimento e à I&D, e 40% beneficiaram de incentivos de natureza fiscal à contratação. 10.2.2. Processo de decisão da localização dos centros de serviços partilhados Na análise dos principais factores considerados no momento do processo de decisão da localização dos centros de serviços partilhados que responderam ao inquérito, os factores individuais com maior peso foram os custos salariais e o domínio das línguas estrangeiras, com 15% das respostas. Se efectuarmos uma análise em termos agregados, 26% das respostas referiram factores relacionados com a “geografia”, tais como a proximidade às operações existentes, a localização da sede, o fuso horário e a proximidade às universidades. O factor “qualificação” foi também referido por cerca de 24% das respostas, sendo de destacar o domínio das línguas estrangeiras, seguido da qualidade do ensino e da disponibilidade de mão-de-obra qualificada. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 154 Os “custos salariais” foram identificados por cerca de 15% das respostas, conforme anteriormente referido. Com menor ocorrência, foram mencionados factores associados às infra-estruturas, nomeadamente a “diversidade de serviços na área de implementação”, a “qualidade das estruturas administrativas” e a “integração com instituições locais”. Gráfico 78 – Principais factores considerados na decisão de localização dos centros de serviços partilhados Custos salariais Qualificação - domínio de línguas estrangeiras Geografia - fuso-horário Geografia - localização da sede Geografia - proximidade às operações existentes Incentivos - apoios financeiros e fiscais Presença anterior no país Níveis de eficiência Qualificação - qualidade do ensino Infra-estruturas - diversidade de serviços na área de implementação Infra-estruturas - rede aeroportuária Geografia - proximidade às universidades Qualificação - disponibilidade de mão-de-obra qualificada Infra-estruturas - qualidade das estruturas administrativas Ambiente Político e Social - estabilidade política e social Ambiente Político e Social - integração na zona euro Infra-estruturas - integração com instituições locais 0% 5% 10% 15% 20% Fonte: Inquérito da Deloitte Consultores. No processo de selecção do destino de localização do centro de serviços partilhados, Portugal foi, em cerca de 30% dos casos, comparado com outros destinos, como a Polónia, Índia, Marrocos e Roménia, onde o custo de mão-de-obra é um factor muito relevante e, na maioria destes, consubstanciada uma vantagem competitiva face a Portugal. No processo concorrencial entre as várias localizações possíveis, as principais vantagens de Portugal referenciadas prendem-se, conforme já anteriormente referido, com os níveis de qualificação dos recursos humanos (níveis de qualificação elevados e domínio de línguas estrangeiras), o custo da mão-de-obra que ainda se afigura inferior face a outros destinos concorrentes, como Espanha, e questões ao nível da dimensão geográfica relacionadas com a proximidade à sede e a diferença de fuso horário. Como principais desvantagens, foram, essencialmente, referidos factores como a falta de incentivos à implementação dos centros, a reduzida flexibilidade da legislação laboral, a complexidade do sistema financeiro, a elevada carga fiscal, a burocracia, sobretudo ao nível das entidades governamentais, a inexistência de processos e mecanismos de resposta compatíveis com altos níveis de exigência e, em alguns casos, a periferia de Portugal em relação ao centro da Europa. Quando questionadas sobre a importância da existência de incentivos ao investimento no processo de tomada de decisão, cerca de 33% das empresas responderam que estes foram determinantes na decisão de investimento. Foi ainda referido que teria sido relevante no processo de decisão a existência de incentivos adequados à contratação de perfis seniores, a redução da taxa de segurança social e um maior número de incentivos ao investimento. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 155 Adicionalmente, foram referidos os seguintes principais obstáculos enfrentados durante o processo de implementação dos centros de serviços partilhados: Inexistência de uma entidade pivot responsável por agilizar os processos subjacentes à implementação ou expansão dos centros de serviços partilhados. Este facto prende-se com a inexistência de uma oferta de serviços consolidada entre os vários organismos intervenientes no processo de implementação dos centros de serviços partilhados – IEFP, Segurança Social, AICEP, IAPMEI, entre outros organismos de apoio ao investimento; Existência de alterações legislativas muito frequentes, geradoras de instabilidade e que condicionam as decisões de investimento; Burocracia e padronização dos processos, habitualmente longos e lentos, pouco consonantes com a realidade deste sector específico e as necessidades das multinacionais; Reduzido reconhecimento internacional de Portugal como destino privilegiado para localização de centros de serviços partilhados, traduzido designadamente pela sua ausência em estudos/rankings internacionais da especialidade; Reduzida flexibilidade do Código do Trabalho face às exigências subjacentes a algumas actividades dos centros de serviços partilhados (em particular, no mercado das tecnologias de informação). No que respeita aos principais factores que obstaculizam a realização de investimentos de expansão da actividade dos centros de serviços partilhados em Portugal, foram identificados os seguintes: Existência de mercados concorrentes, com algumas vantagens competitivas face a Portugal, tais como a Polónia, a Roménia, a China, entre outros; Inexistência de um programa específico e estruturado, de fácil implementação, direccionado a este tipo de investimento; Escassez de incentivos que permitam apoiar a realização destes investimentos, designadamente em zonas no interior do País; Existência de lacunas ao nível das estratégias de marketing que permitam posicionar Portugal no contexto internacional, como um País com competências para assegurar a prestação de um serviço de elevada qualidade e eficiente; Instabilidade económica e social resultante da crise financeira existente, que tem resultado em elevados níveis de desemprego e, por conseguinte, na saída de talentos do país; Legislação laboral complexa e pouco flexível. Com efeito, as respostas obtidas demonstram que Portugal possui um forte potencial para se posicionar como destino para acolher centros de serviços partilhados, mas possui ainda, no entanto, um conjunto de oportunidades de melhoria que carecem de medidas activas que permitam ultrapassar tais constrangimentos e destacar as suas vantagens competitivas. 10.2.3. Factores de atractividade de Portugal Quanto aos principais factores de atractividade de Portugal enquanto destino para a implementação de centros de serviços partilhados, as respostas obtidas encontram-se alinhadas com as principais tendências abordadas ao longo do estudo. Do conjunto dos factores referidos, o gráfico infra apresenta os factores que foram classificados como “Muito importantes”. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 156 Gráfico 79 – Principais factores de atractividade de Portugal para centros de serviços partilhados Custos de contexto (por exemplo, licenciamento) Actuação e articulação das várias estruturas institucionais nacionais e regionais de apoio ao investimento Incentivos financeiros e fiscais Legislação fiscal Legislação laboral Fuso horário Infra-estruturas de telecomunicações, transporte e logística Qualidade do serviço ao cliente Localização geográfica de Portugal Custos das utilities e telecomunicações Estabilidade económica Estabilidade política Estabilidade social Formação académica específica em áreas relacionadas com centros de serviços partilhados Domínio de línguas da população activa Identificação / Recrutamento de recursos humanos adequados às funções Produtividade dos recursos humanos Nível de qualificação dos recursos humanos Custos e encargos com recursos humanos 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% Fonte: Inquérito da Deloitte Consultores. Com efeito, cerca de 13% das respostas obtidas consideram o nível de qualificação dos recursos humanos muito importante e 10% referiram como muito importante a produtividade dos recursos humanos, os custos das utilities e telecomunicações e a qualidade do serviço ao cliente. Com menor representatividade mas, igualmente destacados no conjunto de factores identificados, foram referidos a identificação/recrutamento de recursos humanos adequados às funções, o domínio de línguas da população activa e as infra-estruturas de telecomunicações, transporte e logística. Mais uma vez se pode constatar que os principais factores de atractividade de Portugal, enquanto destino para a implementação de centros de serviços partilhados, centram-se no nível de qualificação e qualidade dos seus recursos humanos, bem como no custo e qualidade das suas infraestruturas. 10.2.4. Oportunidades de melhoria em Portugal As sugestões de melhoria registadas nas respostas obtidas vão no sentido de colmatar as principais desvantagens de Portugal enquanto destino privilegiado de implementação de centros de serviços partilhados e prendem-se, designadamente com: Elaboração e disponibilização de um programa específico de apoio alinhado com as exigências subjacentes a este tipo de investimento; Realização de acções de divulgação e promoção externa generalizada das valências e vantagens de Portugal enquanto destino de nearshoring, nomeadamente através da participação em rankings internacionais; POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 157 Melhoria da legislação laboral no sentido de aumento da sua flexibilidade e redução do seu nível de complexidade e maior adaptação às necessidades dos centros de serviços partilhados; Disponibilização de sistemas de incentivos que permitam apoiar o investimento associado à implementação do centro de serviços partilhados, mas também o seu financiamento de longoprazo; Criação de uma entidade pivot responsável por assegurar a facilitação de contactos e centralização e adaptação dos processos administrativos às necessidades destes projectos; Aumento da competitividade fiscal do País face a outros países da Europa, nomeadamente através da redução de impostos. A importância da aposta na promoção e marketing do País para a captação de investimento no sector dos centros de serviços partilhados reúne o consenso entre as empresas que responderam ao inquérito, sendo que 60% consideram muito importante e 40% importante, conforme gráfico infra. Relativamente às áreas de formação consideradas críticas para apoiar a expansão dos centros de serviços partilhados, foram destacadas como muito importantes, a formação em TIC (com 80%), formação em línguas (com 70%), formação de gestão, formação comportamental e formação no âmbito do serviço ao cliente (cada um, com 40%). Ao nível da formação em gestão, foi especificada a formação em Gestão de Equipas, Gestão de Projectos e Gestão de Unidades de Negócio, incluindo as vertentes financeira, cultural empresarial e de motivação, processos, planeamento e, por fim, de gestão de risco. Foram, ainda, referidas formações ao nível da contabilidade/IFRS e gestão de clientes. Gráfico 80 – Áreas de formação críticas para apoio à expansão da actividade dos centros de serviços partilhados Formação superior específica 13% 37% Formação de gestão 40% Formação comportamental 40% Formação no âmbito do serviço ao cliente 40% Formação académica em gestão de centros de serviços partilhados 10% Formação técnica específica em gestão de centros de serviços partilhados 10% Formação técnica específica no âmbito dos centros de serviços partilhados 37% 40% 20% 50% 30% Muito importante 10% 40% 70% Formação em línguas 10% 60% 40% Formação no domínio das tecnologias de informação e comunicação 13% 50% 80% 10% 10% 10% 20% 70% Importante 10% 30% Pouco importante Irrelevante Fonte: Inquérito da Deloitte Consultores. 10.2.5. Igualdade de género e igualdade de oportunidades Quanto a medidas de promoção da igualdade de género e de maior conciliação entre a vida familiar e a vida profissional, as respostas obtidas identificam algumas medidas, como a existência de horários flexíveis, o homeworking, a oferta de bónus de casamento e nascimento de filhos, protocolos com ginásio, infantários, cheque creche/infância, a existência de refeitórios, entre outras. Adicionalmente, foram referidas outras acções que visam promover o papel da mulher no contexto laboral e que incluem a realização de vídeos promocionais, a concessão de benefícios de babysitting uma vez por mês, para apoio da vida pessoal dos pais, bem como outras medidas que auxiliam a conciliação entre a vida familiar e a vida profissional. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 158 Quanto às medidas de inclusão de pessoas com deficiência, foram referidos protocolos com instituições sociais e a promoção de estágios em part-time para pessoas com deficiência. Ao nível dos apoios que contribuam para reduzir as barreiras estruturais com que se defrontam os imigrantes, minorias étnicas e outros grupos desfavorecidos, foram sugeridas medidas relacionadas com a formação em línguas e a formação comportamental, a existência de incentivos à contratação e gabinetes de apoio com capacidade de atendimento tendo em conta as diversidades culturais. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 159 Parte V – Conclusões e recomendações POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 160 11.Conclusões e recomendações 11.1. Análise SWOT Nesta secção é realizada uma análise SWOT do País relativamente às suas condições actuais para se posicionar como um destino de excelência ao nível da realização de investimentos em outsourcing e centros de serviços partilhados. O principal objectivo subjacente à realização deste tipo de análise consiste, numa lógica de diagnóstico, em caracterizar a situação do País, mediante a identificação dos seus pontos fortes e fracos, tendo em conta as principais áreas/domínios relevantes ao nível dos centros de serviços partilhados, bem como das ameaças e oportunidades em relação ao posicionamento estratégico de Portugal enquanto destino preferencial para a implementação dos referidos centros. Tendo em conta as necessidades específicas dos centros de serviços partilhados, a análise foi estruturada a partir de um conjunto de áreas de actuação consideradas relevantes, designadamente: (i) Ambiente Político e Socioeconómico; (ii) Apoio ao Investimento; (iii) Recursos Humanos, Ensino e Formação; (iv) Legislação Laboral e Fiscal; (v) Infra-estruturas (TIC, Edifícios e Transportes) e Localização; (vi) Propriedade Industrial e (vii) Marketing Territorial. Assim, com base neste exercício, pretende-se contribuir para a definição/identificação de uma estratégia de actuação, apresentada sob a forma de recomendações, que permita tirar partido das forças e potenciar as oportunidades, ao mesmo tempo que minimiza e/ou elimina as fraquezas e mitiga o risco associado às ameaças identificadas. Quadro 61 – Análise SWOT: forças e fraquezas Área Ambiente Político e Socioeconómico Forças Fraquezas • Ambiente de negócios favorável, sendo de registar a este nível a facilidade e a celeridade dos procedimentos presentemente necessários para constituir uma empresa. • Relativa dispersão da informação e falta de integração e articulação entre as várias autoridades e instituições públicas relevantes no processo de instalação de centros de serviços partilhados. • Existência de algumas barreiras ao investimento, decorrentes, nomeadamente, do funcionamento de algumas instituições e da burocracia associada. • Morosidade dos processos judiciais. • Dimensão reduzida do mercado e baixas perspectivas de crescimento da economia. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 161 Área Apoios ao Investimento Forças • Existência de diversas medidas de apoio abrangendo várias áreas, designadamente o investimento produtivo, a I&D, a formação, e a criação de emprego. Fraquezas • Falta de divulgação, de forma e em local apropriado para o público-alvo, dos apoios potencialmente aplicáveis à instalação de centros de serviços partilhados em Portugal, os quais estão espartilhados por diferentes regimes e diferentes entidades gestoras, sendo necessário mais sinergias e simplificação. • Exclusão, do âmbito do SIFIDE II, das despesas incorridas no contexto dos projectos realizados exclusivamente por conta de terceiros, nomeadamente através de contratos de prestação de serviços de I&D, limitando, em boa medida, a atractividade do País para a instalação de centros de competências ou centros de I&D. • Mão-de-obra qualificada com boas competências linguísticas, forte “cultura de serviço” e elevada flexibilidade e capacidade de adaptação. • Competitividade do custo dos recursos humanos, em comparação com alguns dos principais países concorrentes na atracção de investimento em centros de serviços partilhados. Recursos Humanos, Ensino e Formação • Reconhecimento da excelente relação qualidade-preço da disponibilidade de mão-de-obra qualificada, especialmente na área da engenharia (muito relevante para os centros especializados de competências na I&D e na engenharia). • Mercado de trabalho interno e da diáspora lusa com disponibilidade de mão-de-obraqualificada. • Facilidade de aprendizagem e forte apetência por tecnologia da mão-de-obra nacional. • Elevada qualidade das instituições de ensino, designadamente as de ensino superior, com boas classificações nos rankings internacionais, em particular quando comparadas com os principais países concorrentes a este nível. • Número relativamente reduzido de licenciados, mestrandos e doutorados em áreas relevantes para os centros de serviços partilhados. • Inexistência de oferta formativa orientada especificamente para as necessidades dos centros de serviços partilhados de forma a possibilitar a reconversão das competências dos desempregados.; • As contribuições para a segurança social a cargo da empresa estão acima da média dos principais países nossos concorrentes, não existindo um tecto máximo aplicável, o que coloca, assim, Portugal numa situação pouco competitiva a este nível. • Aposta crescente na modernização e simplificação administrativas, com implementação de medidas com vista a facilitar os procedimentos fiscais. Legislação Laboral e Fiscal • Percurso recente de aposta na flexibilização da legislação laboral, com alterações significativas ao nível do Código de Trabalho. • A recente publicação da reforma do IRC, a qual visa aumentar a competitividade fiscal do País, nomeadamente por via da redução da taxa de imposto sobre o rendimento das empresas. • Sistema fiscal historicamente instável, complexo e com limitações em termos de eficiência, ao qual está associada uma carga burocrática relativamente elevada. • Relativa rigidez das leis laborais com políticas de contratação e despedimento ainda pouco flexíveis, não obstante as recentes alterações introduzidas no Código do Trabalho. Com efeito, foi reduzida da taxa de IRC de 25% para 23% em 2014 e prevê-se, ainda, uma redução para 21% no ano de 2015, e para um intervalo entre 17% e 19% em 2016. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 162 Área Forças • Relativa proximidade geográfica e fuso horário compatível com importantes centros de negócios a nível internacional, especialmente relevantes na tipologia de nearshoring. Infra-estruturas (TIC, Edifícios e Transportes) e Localização • Boa qualidade das infra-estruturas de TIC. • Custos de instalação e logísticos relativamente baixos (aluguer de espaços a preços competitivos) e disponibilidade de uma ampla oferta imobiliária que, em muitos casos, não requer obras de adaptação significativas para acolher as actividades de serviços partilhados. Fraquezas • Necessidade de modernização da rede ferroviária, sobretudo ao nível das ligações entre as principais cidades do litoral e interior, bem como as ligações internacionais em alta velocidade. • Elevada distância de alguns dos países que são os actuais motores do crescimento mundial, de que são exemplo, a China e a Índia. • Boa qualidade da rede de infra-estruturas, nomeadamente ao nível viário e aeroportuário. Propriedade Industrial Marketing Territorial • Criação, com o Orçamento de Estado para 2014, de um regime fiscal próprio para rendimentos de patentes e outros direitos de propriedade industrial. • Existência de um tribunal especializado em propriedade intelectual que tem vindo a contribuir para a resolução, com maior celeridade, das questões associadas a litígios neste domínio. • Reconhecimento, pela AICEP e pelo Governo, dos centros de serviços qualificados no conjunto dos Clusters Económico-Industriais de investimento, em resultado da dinâmica verificada por este sector, sobretudo, nos últimos anos. • Abrangência internacional da rede comercial externa da AICEP que, em articulação com a rede diplomática e consular, assegura presença em cerca de oitenta mercados, sendo, por isso, um importante meio de promoção de Portugal. • Reduzido reconhecimento da Propriedade Industrial enquanto vector estratégico de competitividade em Portugal. • Inexistência de um plano integrado de promoção de Portugal enquanto destino de excelência para a implementação de centros de serviços partilhados. • Falta de awareness a nível internacional de que Portugal possui um conjunto de características que o tornam um destino muito interessante para a implementação deste tipo de actividade. Fonte: Elaborado pelos autores. Neste contexto, tendo em consideração a informação veiculada nos anteriores capítulos do presente estudo, importa destacar, de entre os pontos fortes, o elevado nível de qualificações e as competências linguísticas que caracterizam a mão-de-obra portuguesa. Tendo em conta os dados disponíveis e, bem assim, a opinião dos investidores em centros de serviços partilhados em Portugal, o País destaca-se pelo reconhecimento de excelentes competências linguísticas e pelas elevadas qualificações e qualidade do ensino ministrado no País, aspectos muito relevantes na implementação de centros de serviços partilhados. Estes aspectos constituem importantes forças a explorar na promoção de Portugal que, num contexto de acesso limitado a financiamento para investimento de grande escala em capital fixo, permite amplas possibilidades de promoção da capitalização de investimento já realizado ao nível do capital humano. Não obstante o exposto, dado que, em geral, a concorrência internacional procurará percorrer idênticos caminhos, importa, desde logo, acautelar tal situação, mediante o reforço da aposta na aprendizagem e domínio de línguas estrangeiras, nomeadamente o inglês e, bem assim, outras relevantes, desde as etapas iniciais do sistema educacional português, promovendo, ainda, sempre que exequível, a possibilidade de obtenção de certificações específicas que sejam amplamente reconhecidas, nacional e internacionalmente, ao longo do ensino oficial. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 163 No domínio das “Forças”, destaca-se ainda o facto de Portugal apresentar uma elevada competitividade ao nível do custo da mão-de-obra, resultante da prática de salários nominais mais baixos, bem como da apresentação de custos unitários do trabalho inferiores (rácio entre as remunerações por trabalhador e a sua produtividade). No que diz respeito às “Fraquezas”, de destacar a elevada complexidade e instabilidade do sistema fiscal, bem como a respectiva carga burocrática excessiva. Não obstante, importa destacar, enquanto ponto positivo, a recente publicação da reforma do IRC, a qual visa aumentar a competitividade fiscal do País, nomeadamente por via da redução da taxa de imposto sobre o rendimento das empresas. Constata-se ainda que Portugal não tem realizado um bom trabalho na divulgação dos mecanismos de apoio financeiro, fiscal e parafiscal, potencialmente relevantes para o financiamento e estímulo de investimentos no domínio dos centros de serviços partilhados. Paralelamente, o desconhecimento internacional de Portugal enquanto destino de nearshoring constitui uma fraqueza muito relevante, na medida em que reduz a probabilidade de inclusão do País nas long lists de potenciais localizações aquando dos processos de implementação de centros de serviços partilhados. Face ao exposto, importa sistematizar o posicionamento relativo de Portugal em cada uma das áreas anteriormente referidas, sendo que as áreas de Recursos Humanos, Ensino e Formação, bem como Infra-estruturas e Localização são claramente as áreas onde Portugal apresenta um melhor posicionamento. Por sua vez, as áreas do Apoio ao Investimento e do Ambiente Político e Socioeconómico constituem áreas com grande potencial de melhoria, ao passo que a área do Marketing Territorial é, sem dúvida, aquela onde Portugal pode (e deve) efectuar um maior esforço no sentido de verdadeiramente melhorar a sua performance. Assim, tendo em consideração as respostas facultadas pelas empresas no que respeita aos factores considerados na escolha da localização de novos investimentos em centros de serviços partilhados, quer no inquérito efectuado no âmbito do presente estudo e na auscultação dos stakeholders, apresentados no capítulo 10, quer no contexto do inquérito internacional promovido pela Deloitte, apresentado no capítulo 4, foi atribuída uma classificação ao impacto relativo de cada uma das áreas referidas na atractividade de Portugal para a instalação de centros de serviços partilhados. Tendo em conta esta classificação e a análise anteriormente efectuada, foi traduzida na Figura seguinte a situação de Portugal ao nível de cada uma das áreas em apreço. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 164 Figura 14 – Posicionamento de Portugal nas áreas relevantes para os centros de serviços partilhados Fonte: Elaborado pelos autores. Para além das forças e fraquezas anteriormente identificadas, existe ainda um conjunto de condições e tendências associadas à envolvente do sector dos centros de serviços partilhados que configuram importantes oportunidades na dinamização deste tipo de investimentos. O sector dos centros de serviços partilhados apresenta, de facto, um conjunto de oportunidades associadas à sua envolvente, as quais poderão assumir-se como novas sinergias e factores diferenciadores na captação de investimento associado à criação e à expansão dos referidos centros de serviços partilhados. Desde logo, a oportunidade associada ao crescimento visível do nearshoring, em que se tem assistido a um número crescente de empresas que, no passado, faziam o outsourcing para países como a Índia ou a China mas que, por diversas razões, estão a trazer de volta alguns dos processos, muitas vezes para países mais próximos, incluindo, em alguns casos, o país do qual são originárias. Neste contexto, Portugal, apresentando-se como um país com um mercado de trabalho qualificado e com custos muito competitivos, reúne todas as condições para explorar e beneficiar desta tendência. Paralelamente, a saturação de algumas localizações ao nível da disponibilidade de recursos humanos qualificados, nomeadamente na Europa de Leste (forte concorrente de Portugal na captação de investimentos em centros de serviços partilhados), bem como o elevado crescimento dos salários nominais, verificado nestes países, nos últimos anos, podem beneficiar Portugal, no curto e médio prazo, ao nível da sua atractividade particular neste sector. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 165 Figura 15 – Análise SWOT: oportunidades e ameaças Oportunidades • Tendência de crescimento da importância da tipologia de nearshoring no contexto das decisões de localização dos investimentos em centros de serviços partilhados, a qual privilegia a proximidade à sede da empresa-mãe e às suas operações. • Continuação da tendência de implementação de estratégias que preconizam a optimização de custos, a qual potencia a expansão dos investimentos em centros de serviços partilhados no contexto de muitas empresas/organizações com vocação internacional, fruto da consolidação do fenómeno da globalização. • Saturação de algumas localizações ao nível da disponibilidade de recursos humanos qualificados, nomeadamente na Europa de Leste (forte concorrente de Portugal). • Elevado crescimento dos salários nominais, verificado nos últimos anos, em países que têm sido fortes concorrentes de Portugal ao nível do factor “custo”, ao passo que em Portugal os salários têm-se mantido estáveis. • Disponibilidade de fundos estruturais da UE para o período 2014-2020, no âmbito do QEC/Portugal 2020, os quais poderão ser direccionados para o apoio ao investimento em centros de serviços partilhados em Portugal. Ameaças • Forte concorrência de países que, ainda que em diferentes estágios de evolução (Polónia e República Checa, por exemplo, encontram-se em fase de crescimento, ao passo que outros, como a Irlanda e Espanha, encontram-se em fase de maturidade), possuem um forte reconhecimento internacional neste sector, com um número significativo de centros de serviços partilhados instalados e uma estratégia integrada para a atracção do investimento e desenvolvimento neste sector (sendo já reconhecidos internacionalmente a este nível). • Existência de países concorrentes que têm vindo a oferecer sistemas de incentivos especificamente vocacionados para o apoio à implementação e à expansão de centros de serviços partilhados. • Instabilidade financeira do País e deterioração das condições macroeconómicas, o que prejudica, em certa medida, a captação de investimento. • Crescente emigração de adultos qualificados (em particular, jovens), com consequente perda de mão-deobra qualificada em território nacional. • Afinidades culturais e linguísticas com alguns dos países em desenvolvimento, nomeadamente os PALOP, que se destacam no cenário mundial e possuem uma importância crescente no contexto económico internacional. Fonte: Elaborado pelos autores. Não obstante o exposto, importa, desde já, referir que a Europa de Leste, nomeadamente a República Checa, a Polónia e a Hungria, que nos últimos anos têm captado um número muito significativo de investimento em centros de serviços partilhados, já alcançaram uma posição relevante e um reconhecimento no sector muito significativo, pelo que deverão permanecer como uma forte ameaça para Portugal. Uma outra importante ameaça que importa, desde logo, minimizar prende-se com a tendência persistente associada, nos últimos anos, ao crescimento do fenómeno da emigração, sendo uma percentagem crescente dos emigrantes representada por jovens qualificados, facto que obviamente empobrece a qualidade do mercado de trabalho nacional e a disponibilidade de recursos humanos, pressionando, deste modo, o seu custo. Neste contexto, são necessárias medidas que visem contrariar esta tendência que penaliza o País, prejudicando a competitividade das empresas que actuam em território nacional e o funcionamento da economia como um todo. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 166 Tendo em conta os resultados da análise efectuada e o objectivo final do presente estudo – a avaliação da viabilidade da implementação de uma plataforma de centros de serviços partilhados em Portugal - de seguida são delineados os moldes de estruturação da referida plataforma, bem como é proposto um conjunto de recomendações que visa transformar o País num destino de eleição para a implementação e/ou expansão de centros de serviços partilhados. 11.2. Plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados Tendo em consideração o elevado potencial que Portugal possui enquanto destino preferencial para a implementação e/ou a expansão de centros de serviços partilhados, baseado num conjunto de factores diferenciadores, elencados ao longo do presente estudo, pode concluir-se pela efectiva importância e viabilidade da implementação de uma plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados. Nesse sentido, este importante instrumento de suporte à dinamização e/ou expansão do investimento neste domínio deverá assentar no envolvimento e articulação de um conjunto de agentes com um papel relevante na promoção e estímulo ao desenvolvimento deste tipo de actividade no País, conforme Figura 16. Em termos de operacionalização, a plataforma poderá, a título de sugestão, corporizar a criação de um Grupo de Trabalho, que será composto, no mínimo, por um representante de cada uma das instituições, a seguir identificadas, regido por um plano onde estariam claramente identificadas as funções de cada interveniente e as regras de funcionamento da plataforma, designadamente com a definição da periodicidade para a realização de reuniões. Figura 16 – Plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados GOVERNO INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR AICEP IEFP Plataforma de centros de serviços partilhados CCDR CÂMARAS MUNICIPAIS ASSOCIAÇÕES DO SECTOR EMPRESAS Fonte: Elaborado pelos autores. Com efeito, o conceito de plataforma pressupõe uma actuação conjunta e articulada de todas as entidades com intervenção no domínio dos centros de serviços partilhados. Deste modo, atento o seu papel e o seu âmbito de actuação, será necessário que cada entidade possa assumir uma intervenção activa na dinamização deste importante instrumento de acção. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 167 Governo Empresas AICEP CCDR IEFP Instituições de Ensino Superior Câmaras Municipais Associações do sector A actuação do Governo deverá contribuir para a criação de um ambiente mais favorável ao desenvolvimento dos centros de serviços partilhados. Para além da participação na estratégia integrada de promoção e de marketing territorial, a sua intervenção deverá incidir na definição e implementação de uma estratégia de actuação intersectorial consubstanciada na criação e disponibilização de novos mecanismos de estímulo, nomeadamente ao nível dos sistemas de incentivos financeiros e fiscais, uma vez que, em caso de igualdade, este pode ser um factor decisivo no processo de escolha da localização. As empresas com centros de serviços partilhados implementados no País poderão contribuir de forma relevante para a dinamização da plataforma, assumindo-se como case studies. Com efeito, o seu testemunho e a partilha de experiências irá configurar um importante veículo de promoção do País enquanto destino privilegiado para implementação e/ou expansão de centros de serviços partilhados, uma vez que dispõem de informação única para novas empresas que aqui pretendam instalar-se. De facto, estas são, muitas vezes, o primeiro ponto de contacto com quem quer investir, sendo que, actualmente, já assumem uma postura bastante activa na promoção do País a este nível. Atento o papel de promoção de Portugal e das empresas portuguesas no mundo, a AICEP assume um posicionamento privilegiado para apoio na promoção e dinamização do País enquanto destino de excelência de centros de serviços partilhados. Para o efeito, poderá criar mecanismos, tais como ferramentas de avaliação e comparação do potencial de Portugal com outras localizações disponíveis para o investidor, apoio na definição e implementação da estratégia de marketing internacional do País, entre outros a designar e com relevância comprovada. O conhecimento que estas entidades possuem sobre as regiões e as competências na promoção do seu desenvolvimento, constituem um importante contributo no processo de agregação e articulação entre as diferentes entidades envolvidas, designadamente Câmaras Municipais e Universidades. Estes organismos podem também contribuir para a definição de medidas com impacto directo na atracção de investimento em centros de serviços partilhados, tendo em conta as características e as necessidades intrínsecas de cada região. Tendo em conta as suas responsabilidades na execução das políticas de emprego e formação, o IEFP poderá dar um contributo relevante no domínio dos processos de recrutamento dos recursos humanos essenciais aos centros de serviços partilhados, bem como na sua formação e qualificação, tendo em conta as necessidades específicas deste tipo de actividade. Neste âmbito, poderá assumir um papel facilitador e de parceiro na tipificação e identificação das prioridades em termos de recursos subjacentes a este tipo de actividades, bem como na resposta às mesmas. Deverá ainda, numa lógica integrada com a AICEP, gerir os apoios à contratação e formação de recursos humanos. Estes agentes devem assumir um papel importante, tendo em conta a sua intervenção na formação e preparação dos recursos humanos para posterior inserção no mercado de trabalho. Nesse sentido, podem assumir uma participação estratégica no desenho e implementação de acções, nomeadamente através de parcerias que preconizem a introdução e/ou reconversão de cursos académicos, que permitam uma preparação de recursos humanos com competências ajustadas a este tipo de actividades, ou no lançamento de novos cursos/turmas para suprir as necessidades de recursos, em particular em projectos de maior escala. Sendo as entidades que melhor conhecem a realidade económica e social das diferentes localizações podem contribuir com informação relevante para apoio aos investidores no processo de selecção da localização dos centros de serviços partilhados. Adicionalmente, assumem também um importante papel de interlocutores/parceiros na criação de condições para a atracção dos centros, nomeadamente através de mecanismos que aumentem o nível de atractividade dos territórios (disponibilização de instalações, facilitação de questões burocráticas, entre outros). Estes organismos institucionais podem assumir um papel importante na dinamização da plataforma tendo em conta o contacto privilegiado com uma vasta rede de stakeholders, nomeadamente de potenciais investidores. Adicionalmente, estes organismos podem, e devem, contribuir para a implementação de uma estratégia de promoção e marketing através da recolha e partilha de informação sobre o sector, bem como mediante a realização de eventos e promoção da inclusão de Portugal nos rankings do sector. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 168 Assim, a plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados pretende consubstanciar uma ferramenta essencial para contribuir para a atracção de investimento no domínio dos centros de serviços partilhados. Com efeito, este instrumento e o conjunto das recomendações que serão identificadas no final deste capítulo encontram-se perfeitamente alinhadas com um conjunto de orientações já previstas no âmbito das políticas existentes, e pretendem assumir-se como uma ferramenta complementar de acção à promoção de investimento ao nível dos centros de serviços partilhados. De facto, as políticas existentes preconizam um conjunto de medidas alinhadas com as diferentes áreas relevantes identificadas no domínio dos centros de serviços partilhados, conforme a seguir se apresenta. 11.3. Contributo das políticas para a promoção dos centros de serviços partilhados 11.3.1. Acordo de Parceria O Acordo de Parceria, também denominado Portugal 2020, consiste num instrumento de acção que sistematiza para o período compreendido entre 2014 e 2020, as intervenções, os investimentos e as prioridades de financiamento dos fundos estruturais europeus. Com o objectivo de promover o crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, o quadro de programação Portugal 2020 foi estruturado em quatro grandes eixos temáticos: (i) Competitividade e Internacionalização, (ii) Capital Humano, (iii) Inclusão Social e Emprego e (iv) Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos. Assim, tendo em conta as áreas relevantes para os centros de serviços partilhados, os eixos “Capital Humano” e “Inclusão Social e Emprego” constituem os domínios com maior potencial de impacto ao nível dos centros de serviços partilhados. Domínio Temático - Capital Humano • Objectivo geral: neste âmbito as acções a implementar visam colmatar o conjunto dos constrangimentos identificados no domínio do capital humano, nomeadamente o desajustamento dos níveis de qualificação dos jovens e adultos em comparação com a realidade da UE, oportunidades de melhoria ao nível da qualidade e eficiência do sistema de educação/formação e o desajustamento das qualificações da mão-de-obra face às necessidades do mercado de trabalho. As acções previstas assentam na premissa de que, a longo prazo, a competitividade da economia assenta sobretudo nas pessoas, sendo que as suas competências e a qualidade da sua formação são essenciais para assegurar a sua empregabilidade num mercado em constante mutação. • Objectivos temáticos: para operacionalização deste eixo foi definido o objectivo temático “Investir na educação, na formação e na formação profissional para a aquisição de competências e a aprendizagem ao longo da vida”, o qual, por sua vez, se materializará num conjunto de objectivos estratégicos, de entre os quais, tendo em conta o seu potencial impacto nas áreas dos centros de serviços partilhados, se destacam os seguintes: - Aumento da população com ensino superior; - Aumento dos processos de certificação; - Aumento da eficiência do sistema de educação/formação; - Melhoria do ajustamento entre a formação/educação leccionada e a procura de qualificações pelo mercado de trabalho. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 169 • Articulação com as áreas relevantes para os centros de serviços partilhados: os objectivos estratégicos referidos supra induzirão impactos sobretudo na área dos Recursos Humanos, do Ensino e da Formação, ao contribuir para o reforço da formação da população activa, factor extremamente importante para os centros de serviços partilhados, utilizadores intensivos de mãode-obra altamente qualificada. Domínio Temático - Inclusão Social e Emprego • Objectivo geral: os planos de acção neste domínio visam endereçar respostas concretas aos constrangimentos e problemas identificados no domínio da Inclusão Social e do Emprego, designadamente as elevadas taxas de desemprego, a precaridade nos vínculos laborais (“vínculos instáveis”), a desigualdade salarial entre homens e mulheres, a pouca preponderância do trabalho a tempo parcial, a existência de segmentos da população mais vulneráveis a fenómenos de exclusão social, de entre os quais se destacam as pessoas com deficiências e os imigrantes. • Objectivos temáticos: o presente eixo irá materializar-se no objectivo temático “Promover a sustentabilidade e a qualidade do emprego e apoiar a mobilidade dos trabalhadores” e no objectivo temático “Promover a Inclusão Social e Combater a Pobreza e a Discriminação”, visando apoiar a estruturação de um mercado de trabalho capaz de gerar novas oportunidades de emprego de forma sustentada (aumentando para 75% a taxa de emprego da população entre os 20 e os 64 anos, em 2020). De entre os principais objectivos estratégicos destacam-se: - Promoção da integração de forma sustentada de desempregados no mercado de trabalho; - Contributo para a melhoria do ajustamento entre a oferta e a procura de emprego, através da mobilidade geográfica dos trabalhadores; - Contributo para a melhoria das condições de conciliação entre a vida familiar e a vida profissional, promovendo, simultaneamente, a natalidade e novas formas de integração no mercado de trabalho; - Aumento da empregabilidade da população activa mediante o desenvolvimento de competências para o mercado de trabalho. • Articulação com as áreas relevantes para os centros de serviços partilhados: tendo em conta as áreas relevantes para os centros de serviços partilhados, os objectivos estratégicos definidos supra irão impactar essencialmente na área dos Recursos Humanos, do Ensino e da Formação, ao promover o ajustamento entre a oferta e a procura de emprego, contribuindo, igualmente, para a concretização da igualdade de oportunidades. 11.3.2. Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e o Emprego A Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e o Emprego, instrumento público de acção para o período compreendido entre 2014 e 2020, tem como objectivo “pôr em prática uma estratégia destinada a promover a reindustrialização de Portugal, centrada na competitividade e na subida na cadeia de valor da produção nacional, tendo em vista o reforço das exportações”. A referida estratégia consubstancia um conjunto de acções estratégicas estruturadas em nove eixos de actuação – consolidação e revitalização do tecido empresarial; estabilização da procura interna; qualificação: educação e formação; financiamento; promoção do investimento; competitividade fiscal; internacionalização; inovação, empreendedorismo e I&D; e infra-estruturas logísticas. Com efeito, do conjunto das medidas previstas algumas há que, pela sua natureza, apresentam um elevado potencial para apresentar impactos positivos nas diferentes áreas relevantes para os centros de serviços partilhados, conforme, seguidamente, enunciado. De referir que as medidas apresentadas infra foram retiradas do documento base subjacente à mencionada estratégia. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 170 Eixo 3 - Qualificação: Educação e Formação Objectivo: Incremento do nível médio de qualificações da força de trabalho em consonância com as necessidades reais do mercado de trabalho. Áreas de impacto dos centros de serviços partilhados: Recursos Humanos, Ensino e Formação. Medidas previstas com impacto nas áreas referidas: Reforço da componente experimental e prático-profissional e promoção de um maior alinhamento do conhecimento adquirido com o requerido pelas empresas; Qualificação e reforço contínuo de competências técnicas dos atuais trabalhadores; Promoção de uma maior articulação e cooperação entre instituições de ensino e empresas; Aumento do nível médio de qualificação e reconhecimento internacional do corpo docente em Portugal, de forma a potenciar a qualidade e adequabilidade da oferta formativa no País; Introdução do cheque-formação para empresas (activos empregados) e desempregados inscritos em centros do IEFP, flexibilizando o processo de escolha da entidade formadora e curso de formação, atenta a necessidade de adequação das respostas às suas necessidades; Valorização dos Centros de Gestão Participada, focando a sua actividade nas respostas de formação a activos empregados e desempregados em especial no respectivo sector de actividade, assegurando as condições adequadas de empregabilidade dos activos e promovendo o aumento da produtividade e da competitividade das empresas. Eixo 5 - Promoção do investimento Objectivo: Promover a atracção de IDE em sectores produtores de bens e serviços transaccionáveis com elevado impacto na competitividade da economia, através de medidas que se traduzam numa redução das barreiras à entrada de capital e de uma rigorosa aplicação de apoios públicos (nacionais e comunitários). Áreas de impacto dos centros de serviços partilhados: Ambiente Político e Socioeconómico | Apoio ao Investimento | Marketing. Medidas previstas com impacto nas áreas referidas: Reforço dos instrumentos para atracção de investimento e exportação, através da integração no plano de promoção do País de várias medidas de entre as quais: (i) contratualizar parcerias com agências locais que promovam o País junto de mercados onde a sua presença é ainda pouco significativa ou inexistente, (ii) organização de visitas de investidores a Portugal, (iii) road-shows de promoção e captação de investimento para Portugal, entre outros. Criação de uma rede de pontos de atendimento único para as empresas; Simplificação e desburocratização dos sistemas de incentivos; Implementação de um modelo de tramitação dos processos judiciais cíveis; Plano de acção para a modernização da justiça, designadamente o desenvolvimento de um sistema de informatização dos tribunais. Eixo 6 - Competitividade Fiscal Objectivo: Aumentar a competitividade do sistema fiscal a nível internacional, designadamente através de uma redução gradual da taxa de imposto sobre o rendimento, da revisão e simplificação do regime de obrigações declarativas e incremento do nível de estabilidade da lei fiscal. Áreas de impacto dos centros de serviços partilhados: Ambiente Político e Socioeconómico | Legislação Laboral e Fiscal. Medidas previstas com impacto nas áreas referidas: Reforma estrutural do sistema de tributação das empresas, materializado através de uma redução da taxa do IRC, eliminação de obrigações declarativas e criação de mecanismos de apoio tais como o incentivo fiscal para os lucros retidos e reinvestidos por PME; Criação do Gabinete Fiscal do Investidor Internacional. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 171 Eixo 8 - Inovação, Empreendedorismo e I&D Objectivo: Incrementar o investimento em I&D como motor de criação de valor na economia e promover uma maior transferência de conhecimento entre as Entidades do SCTN e o sector empresarial. Áreas de impacto dos Centros de Serviços Partilhados: Apoio ao Investimento | Propriedade Intelectual. Medidas previstas com impactos nas áreas referidas: Estímulo à inovação empresarial com o reforço da cooperação entre as empresas e as entidades do SCTN; Promoção da participação conjunta de empresas e de entidades do SCTN em programas comunitários de I&DT, nomeadamente no Horizon 2020 e no COSME 2014-2020, nas Plataformas Tecnológicas Europeias e no EIT – European Institute Tecnology; Reforço dos incentivos ao investimento privado em I&D orientado para a inovação e a competitividade. Por último, de referir ainda que os centros de serviços qualificados constituem um dos 15 Clusters Económico-Industriais criados pela AICEP, sendo claramente reconhecido como um sector com um vasto potencial e um importante contributo para a competitividade de Portugal. Nesse sentido, mais uma vez se pode inferir sobre a importância da existência de uma plataforma de centros de serviços partilhados que permita contribuir para o alcance dos objectivos delineados no âmbito das diferentes estratégias de crescimento, nomeadamente da Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e Emprego. 11.3.3. Estratégias de Especialização Inteligente Conforme referido, as políticas de actuação pública que serão desenvolvidas e implementadas na UE no período compreendido entre 2014 e 2020 irão basear-se nos princípios que consubstanciam a estratégia Europa 2020, a qual assenta no mote “crescimento inteligente, inclusivo e sustentável”. Neste sentido, tendo em vista a promoção do crescimento sustentável, a Europa 2020 preconiza o desenvolvimento e a implementação de estratégias de especialização inteligente, as quais devem assentar no princípio de que a inovação e a competitividade das regiões devem sustentar-se nos recursos e activos existentes em cada um dos territórios, devendo ser efectuados investimentos nos domínios e actividades económicas em que exista ou possa existir maior potencial de alavancagem. Nesse sentido, as CCDR têm vindo a planear as suas estratégias regionais de especialização inteligente, com base em diagnósticos e com o objectivo de traçar planos de acção ao nível dos domínios e das actividades económicas com maior potencial de crescimento, tendo em conta as características específicas e activos de cada território. Neste âmbito, e no caso particular da região Norte, a estratégia regional de especialização inteligente, que está a ser desenvolvida em estreita articulação com os principais actores de desenvolvimento regional, preconiza no domínio prioritário “Capital Humano e Serviços Especializados” a aposta nos centros de serviços partilhados, nos centros de engenharia e nos centros de contacto. Com efeito, neste domínio prioritário, a aposta passa pela promoção da inovação num conjunto de actividades, de entre as quais se incluem os BPO/serviços partilhados, os centros de engenharia e os centros de contacto, usando para o efeito o conjunto de recursos e activos que a região dispõe, designadamente as competências nas áreas das TIC e aproveitando as tendências para operações de nearshore outsourcing que se têm vindo a registar, conforme referido ao longo do presente estudo. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 172 Figura 17 – Norte 2020: Estratégia Regional de Especialização Inteligente: domínio prioritário capital humano e serviços especializados Inovação/Base Empresarial Fábricas de software Centros de Marketing e Design Engenharia Mecânica Centros de Contacto Centros de Engenharia Centros de investigação e ensaios clínicos Engenharia Metalúrgica e Metalomecânica BPO/ Serviços Partilhados Produtores de Equipamentos Engenharia Civil Governo Posição Geográfica Ciências Informáticas CCDR’s IEFP Marketing, Publicidade, Design Empresas Economia e Gestão AICEP Contabilidade e Fiscalidade Recursos e Activos Instituições de Ensino Câmaras Municipais Associações do sector Letras Utilizadores Fonte: NORTE 2020. Elaborado pelos autores. Considerando os recursos e activos disponíveis na região, bem como as áreas de actividade identificadas para intervenção no âmbito da estratégia de especialização inteligente, entendemos que a efectiva implementação de uma plataforma para o desenvolvimento de centros de serviços partilhados permitirá contribuir para a promoção dos objectivos preconizados, neste caso, em particular, para a região Norte. Com efeito, ao promover a atracção de investimento e uma maior competitividade no domínio dos centros de serviços partilhados, a plataforma de centros de serviços partilhados consubstanciará mais um instrumento que visa contribuir para a concretização da supracitada estratégia de especialização inteligente. 11.4. Recomendações Face ao exposto, recomenda-se um conjunto de propostas de actuação, nas diferentes áreas de interesse dos centros de serviços partilhados, que envolverão os diferentes agentes da plataforma em apreço, a implementar a curto e médio prazo, as quais se afiguram acções indispensáveis para a afirmação de Portugal, junto dos investidores internacionais, enquanto destino de excelência de centros de serviços partilhados. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 173 Ambiente Político e Socioeconómico Criação de uma unidade institucional pivot que centralize todos os aspectos relacionados com a implementação e/ ou expansão de centros de serviços partilhados, designadamente o apoio nos processos de licenciamento, o apoio nos processos de recrutamento, a facilitação do estabelecimento de protocolos e a centralização do relacionamento entre todas as entidades envolvidas, a nível nacional, regional e local. Tal poderia ser concretizado, por exemplo, por via da Comissão Permanente de Apoio ao Investidor. Contudo, atendendo às especificidades dos investimentos em centros de serviços partilhados, nomeadamente a maior rapidez do seu ciclo de decisão, importaria ter em especial atenção a celeridade da resposta, disponibilidade e contacto, bem como a proximidade do investidor, de modo a não comprometer a atracção deste tipo de investimento para Portugal. Apoio ao Investimento Criação de um instrumento de apoio específico para os centros de serviços partilhados, que combine, num mesmo programa de incentivo, o financiamento das distintas necessidades de investimento subjacentes à sua criação, através de fundos oriundos quer do FSE, quer do FEDER, ou seja, numa lógica plurifundo. O objectivo seria dispor de um mecanismo (um só programa estruturado em três medidas) que, em função da natureza dos investimentos a realizar, permitisse apoiar diferentes tipologias de despesas, designadamente: - Despesas com a contratação – preferencialmente, incentivo de natureza não reembolsável, a incidir sobre os custos com os salários e encargos sociais das novas contratações, durante um período mínimo de vinte e quatro meses (e, em casos de elevado interesse estratégico, de trinta e seis meses); - Despesas com a formação – preferencialmente, incentivo de natureza não reembolsável, a incidir sobre os custos associados à formação e qualificação dos recursos humanos dos centros de serviços partilhados. A este nível, o processo de candidatura deveria permitir processos simplificados apresentados individualmente pelas empresas mas também a apresentação de programas de formação conjuntos liderados por uma só entidade, permitindo a participação de várias empresas, uma vez que há necessidades de formação que são transversais a todas as empresas e os processos subjacentes à formação são complexos para empresas de mais reduzida dimensão. - Despesas com a aquisição de activos fixos tangíveis e activos intangíveis – preferencialmente incentivo de natureza reembolsável, a incidir sobre os custos com aquisição de activo fixo tangível (computadores, mobiliário, equipamento técnico e científico, entre outros) e activo intangível necessário à implementação ou expansão de centros de serviços partilhados. Variáveis como (i) o número de postos de trabalho criados a título permanente, (ii) o contributo para a inclusão de grupos desfavorecidos (portadores de deficiência, imigrantes, desempregados de longa duração, entre outros), (iii) a relevância atribuída à implementação de boas práticas de conciliação da vida pessoal e profissional; (iv) o poder de compra per capita da zona de implementação do centro de serviços partilhados, assim como (v) a própria natureza do centro de serviços partilhados (incluindo a promoção de actividades de maior ou menor valor acrescentado), constituiriam vectores de eventual majoração das taxas de incentivo a aplicar em cada situação. Possibilidade das despesas incorridas no âmbito de projectos realizados exclusivamente por conta de terceiros, nomeadamente através de contratos e prestação de serviços de I&D, uma situação frequente nos centros de competências ou de I&D, serem apoiadas pelo Sistema de Incentivos Fiscais em I&D Empresarial, uma vez que, de acordo com o Orçamento de Estado para 2014, este tipo de actividades foi excluído deste regime de incentivo fiscal. Esta exclusão prejudica a atractividade do País para a instalação de centros de competências ou centros de I&D, os quais são extremamente relevantes atento o elevado valor acrescentado das actividades por si desenvolvidas. Com efeito, considerando as práticas levadas a cabo a este nível pelos principais concorrentes de Portugal na atracção deste tipo de investimento, deveriam ser sempre considerados elegíveis no âmbito deste regime, os trabalhos de I&D efectuados em território nacional, por conta de projectos de terceiros, incluindo a casa mãe e/ou quaisquer outras entidades do grupo económico em que o centro de serviços partilhados se insira, dado que o factor relevante é a capacidade de produzir conhecimento e crescer na cadeia de valor, independentemente de quem paga e onde está quem paga. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 174 Recursos Humanos, Ensino e Formação Desenvolvimento de acções integradas ao nível do sistema de ensino e de formação profissional, de modo a preparar a mão-de-obra disponível para dar resposta às especificidades dos centros de serviços partilhados e, deste modo, melhorar o posicionamento de Portugal para a atracção destes investimentos, nomeadamente pelas seguintes recomendações: - Mapeamento de necessidades de formação ao nível dos centros de serviços partilhados e criação, no âmbito da esfera de actuação dos centros de emprego, de bolsas de formação e planos de requalificação de trabalhadores vocacionados para dotar profissionais com competências específicas exigidas para este tipo de funções, nomeadamente séniores, incluindo desempregados de longa duração. Neste âmbito, seriam de privilegiar programas de reconversão de competências atentas as exigências subjacentes a este tipo de actividades intensivas em mão-de-obra qualificada, competências estas que, em determinados domínios, caracterizam-se pela sua transversalidade, isto é, a possibilidade de aplicação em diferentes sectores de actividade (aprendizagem de línguas estrangeiras e de formação em gestão, em termos gerais). - Estabelecimento de protocolos entre instituições do ensino superior, empresas e organismos regionais, para facilitar a criação de cursos específicos de formação superior, bem como a restruturação de cursos existentes, vocacionados para as necessidades e as exigências subjacentes aos centros de serviços partilhados. Continuar a aposta em políticas de carácter transversal com um impacto muito relevante ao nível dos centros de serviços partilhados, introduzindo novas medidas potenciadoras do aumento das competências linguísticas, como, por exemplo, a obrigatoriedade dos alunos aprenderem a língua inglesa já no 1.º ciclo de ensino básico (actualmente, trata-se de uma actividade de enriquecimento curricular) e de aprenderem duas línguas estrangeiras em todas as ofertas formativas do ensino secundário. Aposta no incremento da prática de parte das disciplinas em língua inglesa, no contexto do ensino universitário. Alargamento da obrigatoriedade de realização do teste diagnóstico do conhecimento da língua inglesa aos alunos do ensino secundário, com a possibilidade de obtenção de certificação de nível de proficiência B2 de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas. Criação de bases de dados de estudantes, licenciados, mestrandos e doutorados em áreas relevantes para os centros de serviços partilhados, designadamente centros de competências ou de I&D, cuja responsabilidade de criação e gestão poderia ficar a cargo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência do Ministério da Educação e Ciência. Estas bases de dados poderiam abranger, igualmente, informação sobre a participação, ou não, dos alunos em programas de mobilidade internacional. Promoção da criação de um consórcio Erasmus + que reúna instituições de ensino superior e empresas com actividade no sector dos centros de serviços partilhados, de forma a que estas possam acolher estagiários de origem estrangeira ao abrigo deste programa. Potenciar a criação de bolsas de emprego, ao nível dos centros de emprego, abrangendo desempregados com qualificações e experiência adequados às necessidades dos centros de serviços partilhados, podendo ser destacados, a este nível, os imigrantes com competência para este sector. Promover a aplicação de medidas e métodos de trabalho que, por um lado, potenciem o aumento da produtividade do trabalho e, por outro lado, contribuam para a igualdade de oportunidades ao nível do género, tais como, o teletrabalho, o trabalho a tempo parcial (flextime) e introdução de medidas, no local de trabalho, que permitam melhorar a conciliação da vida pessoal e profissional. Implementação de acções geradoras de oportunidades de emprego para pessoas portadoras de deficiência, tais como a realização de programas de estágios específicos para este público-alvo. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 175 Infra-estruturas e localização Desenvolvimento de uma proposta de valor ao nível dos organismos de promoção do desenvolvimento regional e/ou das câmaras municipais, de modo a facilitar a atracção e implementação de centros de serviços partilhados, nomeadamente pelas seguintes acções: - Qualificação e reutilização de instalações e infra-estruturas existentes (edifícios públicos devolutos e desocupados) nos centros históricos para alocação a projectos de investimento no sector dos centros dos serviços partilhados. A este nível, os organismos poderão beneficiar da Iniciativa JESSICA (Joint European Support for Sustainable Investment in City Areas) em Portugal, a qual apoia, nomeadamente, projectos de reabilitação urbana. Os espaços requalificados estariam disponíveis para aluguer pelos centros de serviços partilhados, garantindo-se, assim, a proximidade a zonas urbanas e aos pólos universitários. Este aspecto afigura-se extremamente importante na medida em que, em alguns casos, a localização dos centros de serviços partilhados em zonas centrais de cidades com boas acessibilidades em termos de transportes (avião e transportes públicos) é extremamente valorizado. Adicionalmente, esta medida de actuação contribui para apoiar na resolução do problema de abandono e degradação dos centros históricos das cidades. - Estabelecimento de protocolos com creches, escolas e/ou empresas que organizam actividades de tempos livres, ajudando a minimizar os custos de vida dos profissionais e das suas famílias; - Estabelecimento de parcerias com imobiliárias, de modo a disponibilizar uma bolsa de imóveis adequados não só para a instalação desta tipologia de actividades, mas também para os próprios colaboradores, em caso de mobilidade, prestando, deste modo, um apoio global no processo de selecção de imóveis. Marketing Territorial Definição de uma estratégia integrada de promoção das valências e vantagens de Portugal para a instalação de centros de serviços partilhados, que envolva, nomeadamente, a AICEP e as organizações do sector de centros de serviços partilhados em Portugal, com enfoque nas seguintes acções: - Contacto e estabelecimento de relações de cooperação e associação com os principais agentes e stakeholders do sector a nível internacional (e.g. National Outsourcing Association, European Outsourcing Association, entre outros), de forma a assegurar a presença de Portugal nos eventos mais relevantes. A este nível, seria também importante promover a vinda a Portugal de players relevantes ,de modo a verificarem in loco as características únicas do País, alicerçadas em diversos casos de estudo bem sucedidos de instalação de centros de serviços partilhados em Portugal. - Contacto com as empresas responsáveis pela realização dos estudos e rankings de localizações para centros de serviços partilhados no sentido de colocar Portugal nestes estudos e, deste modo, melhorar os seus níveis de presença nas long-list, de localizações aquando do processo de decisão dos investidores em centros de serviços partilhados. - Promoção das valências de Portugal junto dos principais países europeus emissores de IDE, no sentido de maximizar o aproveitamento da tendência de nearshoring, através de campanhas promocionais e organização e realização de seminários subordinados à temática dos centros de serviços partilhados. Articulação com a rede diplomática e consular, desenvolvendo um forte network junto de países-alvo em matéria de IDE em centros de serviços partilhados, garantindo (i) a disponibilização de informação específica sobre o País e as suas vantagens competitivas para o desenvolvimento deste tipo de actividade e/ou (ii) a organização de visitas a Portugal para as quais se convidem representantes de empresas, associações empresariais, entre outras, no sentido de promover o reconhecimento e visibilidade do País a este nível. Modernização da plataforma web da AICEP, uma ferramenta importante na promoção e captação de investimento, nomeadamente por via da disponibilização de ferramentas de benchmarking capazes de efectuar análises comparativas entre países ou regiões, gerando gráficos e/ou tabelas com factores-chave de decisão para investidores em centros de serviços partilhados. Adicionalmente, através desta ferramenta também poderá ser promovida a divulgação de casos de sucesso de implementação de centros de serviços partilhados em Portugal, por via de testemunhos apresentados sob a forma de filmes ou apresentações. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 176 Por fim, a Figura 18 sintetiza a relação dos diferentes actores da plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados com as principais áreas críticas para a selecção da localização deste tipo de investimento relativamente às quais foram apresentadas recomendações para o reforço ou a melhoria da situação de Portugal na sua capacidade de atracção de centros de serviços partilhados. Figura 18 – A plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados e a sua actuação nas áreas críticas Fonte: Elaborado pelos autores. Em síntese, num contexto de aumento da importância do nearshoring nas decisões de localização dos investimentos em centros de serviços partilhados e tratando-se de uma actividade em que Portugal se destaca por possuir mão-de-obra qualificada com boas competências linguísticas e a custos competitivos, urge criar uma plataforma para desenvolvimento proactivo desta actividade em Portugal. “The best thing you can do is the right thing; the next best thing you can do is the wrong thing; the worst thing you can do is nothing”. Theodore Roosevelt POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 177 Parte VI – Bibliografia e anexos POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 178 12. Bibliografia e anexos 12.1. Bibliografia Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) - O Sistema de Ensino Superior em Portugal – Parte I, Lisboa, 2012. 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Inquérito POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 185 POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 186 POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 187 POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 188 POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados 189 “Deloitte” refere-se a Deloitte Touche Tohmatsu Limited, uma sociedade privada de responsabilidade limitada do Reino Unido, ou a uma ou mais entidades da sua rede de firmas membro, sendo cada uma delas uma entidade legal separada e independente. Para aceder a descrição detalhada da estrutura legal da Deloitte Touche Tohmatsu Limited e suas firmas membro consulte www.deloitte.com/pt/about. A Deloitte presta serviços de auditoria, consultoria fiscal, consultoria, corporate finance a clientes nos mais diversos sectores de actividade. Com uma rede, globalmente ligada, de firmas membro, em mais de 150 países, a Deloitte combina competências de elevado nível com oferta de serviços qualificados, conferindo aos clientes o conhecimento que lhes permite abordar os desafios mais complexos dos seus negócios. Os cerca de 200.000 profissionais da Deloitte empenham-se continuamente para serem o padrão da excelência. Esta publicação apenas contém informação de caracter geral, pelo que não constitui aconselhamento ou prestação de serviços profissionais pela Deloitte Touche Tohmatsu Limited ou por qualquer das suas firmas membro, respectivas subsidiarias e participadas (a “Rede Deloitte”). Para a tomada de qualquer decisão ou acção que possa afectar o vosso património ou negócio devem consultar um profissional qualificado. Em conformidade, nenhuma entidade da Rede Deloitte e responsável por quaisquer danos ou perdas sofridos pelos resultados que advenham da tomada de decisões baseada nesta publicação. POAT-FSE | Estudo de implementação de plataforma de desenvolvimento de centros de serviços partilhados © 2014 Deloitte Consultores, S.A. 190