SEGUNDA TELA OU TV SOCIAL - GEMInIS UFSCar
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SEGUNDA TELA OU TV SOCIAL - GEMInIS UFSCar
SEGUNDA TELA OU TV SOCIAL: um debate sobre as diferenças e semelhanças das tecnologias1 Gleice Bernardini2 Resumo: O artigo visa levantar um debate sobre as inovadoras plataformas de reassistência da TV Digital, que trouxe a possibilidade de interatividade com o conteúdo através de aparatos tecnológicos, surgindo novas formas de manter o espectador acompanhando o fluxo de veiculação e interagindo com ele através de outros meios, sejam apps, plataformas de conteúdos para navegação ou redes sociais. Muitos estudiosos denominaram as novas experiências como Segunda Tela e TV Social, mas por muitas vezes estarem agregadas ao conteúdo televisional digital são confundidas como uma plataforma única. Palavras-chave: Segunda Tela. TV Social. TV Digital. Interatividade. Internet. Abstract: The paper aims to raise a debate on innovative platforms reassistência Digital TV, which brought the possibility of interaction with content through technological devices, emerging new ways to keep the viewer watching the stream serving and interacting with it through other means, are apps, content for browsing or social networking platforms. Many scholars have termed the new experiences as a Second Screen and Social TV, but often are aggregated to digital content televisional are confused as a single platform. Keywords: Second Screen. Social TV. Digital TV. Interactivity. Internet. Introdução Na busca de levantar um debate sobre as inovadoras plataformas de reassistência da TV Digital, conhecidas como Segunda Tela e a TV Social, procuramos demonstrar como a experiência de utilização destas as tecnologias, que são comumente confundidas entre si, vem sendo tratadas, e denominadas como apenas uma operação. A Televisão Digital proporcionou após o início de sua implantação, em 2007, a possibilidade de utilização das diferentes formas de interatividade com o conteúdo do fluxo Trabalho apresentado no Seminário Temático “Tecnologia e o Ensino nas Redes”, durante a I Jornada Internacional GEMInIS, realizada entre os dias 13 e 15 de maio de 2014, na Universidade Federal de São Carlos. 2 Mestranda do Programa de Pós Comunicação – Mestrado Acadêmico em Comunicação Midiática, da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus Bauru, São Paulo, Brasil. Bolsista Capes. Especialista em Linguagem, Cultura e Mídia, no Curso de Especialização, Lato Sensu, pela mesma instituição. Jornalista. Orientada pela Profa. Dra. Maria Cristina Gobbi (orientadora da dissertação). E-mail: [email protected]. 1 televisivo, através de gadgets3, como tablets, mobile e demais aparatos tecnológicos que permitem a conexão à internet. Com este novo cenário comunicacional, surgiram novas formas de se manter o espectador acompanhando o fluxo de veiculação televisional e ainda sim interagindo com ele através de outros meios, seja com apps4, plataformas de conteúdos para navegação ou as famosas redes sociais. Assim, muitos estudiosos, pesquisadores, acadêmicos ou empresariais, denominaram as novas experiências como Segunda Tela e TV Social, porém por muitas vezes estas tecnologias desenvolvidas em separado, mas em diversas situações serem utilizadas agregadas e conjuntamente ao conteúdo televisional digital, são confundidas como uma plataforma única. Apenas o ato de se comentar a programação utilizando as redes sociais, tais como Twitter, Facebook, Google +, entre outras, ou mesmo o ato de navegação na rede mundial de computadores em busca de mais informações sobre o programa ou conteúdo que se assiste na televisão, não deve ser confundido com a utilização de aplicativos desenvolvidos especialmente para se manter o público televisivo vinculado ao conteúdo da emissora ou ao programa, através da interatividade agregada em um ambiente fechado, ou seja, sem a possibilidade de perda de atenção do espectador e fuga para a internet, nos chamados apps. Com o avanço e popularização da rede mundial de computadores, a internet 2.0, originaram-se modificações profundas na forma em como os telespectadores passaram a assistir a televisão. Muitos jovens já desanimados com o conteúdo e o fluxo televisivo deixaram o veículo substituindo-o pela navegação no ciberespaço em busca de seu conteúdo sempre a sua espera, sem a necessidade de agendamento ou de horários fixos. A conexão via banda larga, trouxe a praticidade, mais rapidez e maior eficiência para que esse cenário se ampliasse, porém com a popularização dos dispositivos móveis, como os smartphones e tablets, houve uma reaproximação das duas mídias, internet e televisão, criando uma experiência inovadora: a segunda tela. A esses fatores junta-se a interatividade, um termo antigo, estudado desde 1920 com Bertold Brecht e seus estudos sobre o rádio, que ganha novos ares, definições e diferentes graus com a internet. A rede mundial de computadores agora ligada a TV Digital, como seu 3 Nome em inglês para os dispositivos utilizados complementarmente a uma tecnologia, como fones de ouvido, pranchas de desenho, tablets, smartphones, etc. 4 Abreviação para aplicativos desenvolvidos especificamente para funcionar em smartphones e tablets. canal de retorno, em seu novo modelo de transmissão, o sistema brasileiro de televisão digital, modificado para o país, traz novas possibilidades de uso para a tecnologia. O sinal de televisão digital brasileiro, mais conhecido por sua sigla SBTVD, implantado a partir de 2007, é considerado segundo diversos estudiosos, um padrão melhorado do padrão de televisão digital japonês e considerado o mais avançado padrão de transmissão do mundo, com a melhor tecnologia. Mesmo ainda caminhando para conseguir uma cobertura total, cujo atualmente consta segundo dados oficiais com de cerca de 50% em todo o território nacional5, e com diversos problemas quanto às faixas de transmissão, produção de conteúdo, interferência e, até mesmo, problemas ligados ao canal de retorno, com novas tecnologias, avança a passos largos no país, sendo prometida uma cobertura total até 20186. Cada vez mais pessoas assistem a televisão com algum dispositivo móvel nas mãos, seja um tablet, smartphone, ou mesmo um notebook, dispositivos conectados a internet ou realizando outra atividade em conjunto a atividade televisiva. Através destes aparatos tecnológicos, a comunicação pode ser estendida para além da sala de estar, e para mais pessoas do que aquelas presentes ao seu redor, não estando mais sozinho, mas ampliando os horizontes, mesmo que virtualmente. Sendo assim, as chamadas segundas telas, como são denominados tais dispositivos, começam a ganhar espaço e a cair no gosto de telespectadores e internautas que não querem mais apenas ser receptores, mas buscam atuar no processo comunicacional. As conversas e mensagens trocadas através destas tecnologias ampliam laços sociais e fazem multiplicar o interesse desses novos agentes na produção de conteúdo nesse setor. E com esse panorama, novas formas de comunicação surgem, outras ferramentas são utilizadas, além de novos desafios para a sua implantação e utilização aparecem, ampliando os desafios de comunicação e tecnologia. Considerando o conceito defendido por alguns autores que definem a interatividade como uma interação mediada por um dispositivo7, esta deve ser estudada, em todos os seus graus, para compreensão dessa nova comunicação neste cenário atual de tecnologias. 5 Dados segundo a Anatel, agência reguladora dos sinais no país. Disponível em www.anatel.org.br A autora trata dos problemas da cobertura do sinal de TV Digital no Brasil em seu artigo “TV Digital no Brasil: uma realidade não vista por todos os brasileiros”, apresentado no XI Congresso da Lusocom, realizado na Universidade de Vigo, em Pontevedra, Espanha, nos dias 11 e 12 de abril de 2014. 7 A autora destaca as características da interatividade em seu artigo “Interatividade: um conceito além da internet”, publicado na Revista GEMInIS, ano 4, n.2, v.1. 6 Compreender e abranger quais os entraves para a disseminação dessas ferramentas, para sua instalação e utilização na TV Digital, em toda sua plenitude, o alto custo dos equipamentos, como set-up-box, tablets e outros, assim como a falta de incentivo e políticas governamentais, mesmo com programas que visam à implantação da TV Digital no país, porém priorizando apenas a internet, mas também, a baixa demanda e produção de aplicativos pelas empresas e governo, como também a utilização e o não conhecimento da tecnologia, a falta de treinamento, educação e procura de informações por parte da população brasileira nesse panorama é mais que necessário, para o entendimento do andamento da tecnologia e o entendimento das relações errôneas feitas com as técnicas de uso entre Segunda Tela e TV Social. A TV Digital e as novas tecnologias A grande maioria da população brasileira só tem acesso à televisão aberta. Segundo dados da Eletros8, em 2003, 94% dos televisores brasileiros dependiam desse tipo de transmissão. Com a digitalização do sinal, a televisão passou a oferecer novos serviços, além de imagens e sons melhores ao espectador. A nova tecnologia trouxe com ela a interatividade dos computadores aos aparelhos televisivos, além da ampliação e melhoria na experiência de assistir televisão, com a possibilidade de escolha de câmera, legenda, áudios, sinopse da programação, etc. Com ela as emissoras conseguiram ampliar sua atuação e audiência, criando novas fontes de renda, como os novos formatos televisivos conjugados com aplicativos via internet, celular e tablets. Os novos aparelhos televisores, ganharam novas características, devido ao material que é fabricado, como as TVs de plana, plasma, LCD, Led, Oled e tela curva, como por novas funções, como 3D, SmarTV, ou TV conectada, funções futebol, com melhorias de som, reconhecimento facial e personalização de perfis, deixando os aparelhos mais pessoais e modificados conforme o desejo do espectador. Assim, não só as emissoras tiveram que se modificarem com a mudança do padrão televisivo, mas as empresas fabricantes de aparelhos também tiveram que inovar para conquistar novos públicos. Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, “TV digital”, apresentação ao Ministério das Comunicações, Brasília, fevereiro de 2003. Disponível em http://www.mc.gov.br/tv_digital_ap_eletros.htm. Acesso em agosto de 2013. 8 O trabalho desenvolvido por pesquisadores brasileiros no âmbito do Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) tem condições de criar aqui a TV aberta mais interativa do planeta. Às vezes ela se parece com a internet. Em outras, vai além. O televisor – ou o conversor, que transforma o sinal digital em analógico, para ser visto nos aparelhos atuais – tem capacidade de processamento e de armazenamento como um computador. A inteligência passa estar ao alcance dos dedos do espectador pelo controle remoto ou teclado sem fio9. A mudança do padrão do sistema de televisão brasileira trouxe muitas novidades para o espectador. Porém, um problema enfrentado no início da mudança foi a falta de celulares com recepção do sinal de TV, pois os modelos existentes no Japão não funcionavam nas redes brasileiras de telefonia móvel. Problema que começa a ser resolvido, devido à mudança de visão dos fabricantes de aparelhos que começam a lançar novos modelos que recebem o sinal. Desta forma, novas parcerias começam a acontecer. Emissoras de TV e operadoras de telecomunicações se unem. Os aparelhos celulares, telefone fixo e a internet tornam-se meios de distribuição de conteúdo televisivo e, consequentemente, novas fontes de receita, além de se tornarem canais de interatividade da TV. Outra possibilidade de canal de retorno seria a instalação de pequenos transmissores nos terminais, o que exigiria do usuário investimentos adicionais, aumentando o valor a ser gasto pelo público, deixando desinteressante a tecnologia. Assim, faz bem mais sentido promover o tráfego bidirecional da internet através de rede, fixa ou celular, desenhada para comunicações ponto-a-ponto, ou seja, utilizar outro meio de comunicação, no caso a internet, como canal de retorno, barateando o serviço para o consumidor. Assim, os usuários da internet podem ser considerados como o melhor público para a TV digital. Principalmente a interativa e de segunda tela. Pois, do ponto de vista do consumo, aqueles que possuem banda larga, já estão acostumados a baixar vídeos e assistir vídeos no YouTube, por exemplo. Desta forma, esses usuários estão acostumados a ter o conteúdo que desejam a hora que quiserem, não precisando aguarda o horário do programa. Além de estar familiarizado com a tecnologia, também são mais receptivos com a utilização de mais de um dispositivo ao mesmo tempo, facilitando o uso da interatividade da TV digital e da segunda tela nos aparatos tecnológicos. A digitalização tira a TV da caixa, não estando mais somente no aparelho de televisão, mais agora em diversos dispositivos e é com este cenário que as emissoras de sinal aberto têm 9 CRUZ, Renato. TV Digital no Brasil: Tecnologia versus política, cit., p. 119. que se familiazar para conseguirem manter seus canais. Novos produtos e formatos deixam de ser um diferencial, passam agora a ser essencial para manter a audiência. A Segunda Tela e a TV Social vêm como um diferencial para as emissoras, que se utilizam destes novos canais de mediação e interatividade para ampliar suas audiências e conseguir um feedback mais efetivo de sua programação. Além de conseguirem verificar a opinião do público sobre o conteúdo veiculado na televisão, através das tecnologias, pode-se abrir um canal de feedback com o público analisando suas sugestão, que podem ser implantadas quase que instantaneamente. São novos canais convergentes, pois unem o universo offline e online. Somente assistir televisão não faz do espectador um usuário, mais através de um aplicativo especialmente desenvolvido para a programação do canal, ou mesmo para um programa específico, o usuário pode se conectar com os demais espectadores, multiplicando assim a experiência de assistir televisão. Segunda tela são os aplicativos Assistir televisão sempre foi uma experiência coletiva, dividida com amigos, familiares e vizinhos. A popularização dos aparelhos de TV e o surgimento de outras tecnologias ampliou esta experiência compartilhada, contrariando a previsão de muitos céticos, crescendo o número de pessoas que se utilizam de aparelhos de segunda tela. O número de pessoas com acesso a TV cresceu consideravelmente nos últimos anos, especialmente agregada a outros dispositivos, permitindo que a programação seja um elemento agregador do processo comunicativo e pauta constante de conversas, nos mais variados locais e meios sociais. Tal evidência é confirmada por Finger e Sousa (2012, p. 384), quando salientam que “[...] com o avanço da internet e a popularização de outras telas, essas conversas perderam qualquer tipo de limitação física, imposta por longas distâncias, por exemplo”, e o que era apenas item da pauta da conversa de botequim, ganhou amplitude com a internet, se tornando assunto nas redes sociais e chats, por exemplo. Assim, as mudanças na televisão começam a ser percebidas. Não só no que se refere a produção de conteúdo em outros meios, mas em todos os setores envolvidos, destacando os telespectadores participantes, a mudança do padrão de sinal, entre outras. A TV que sempre foi vista como meio agregador de pessoas, por proporcionar uma experiência coletiva no simples ato de ver televisão, agora se reinventa, porém mantem essa característica de integração social. Neste sentido Finger e Sousa (2012) definem que o fato do sujeito assistir televisão o integra ao imenso grupo de outros indivíduos também na mesma posição, destacando que esta é uma característica marcante do meio, sendo “[...] a experiência em comum dessas pessoas em torno da TV é o que os une num espaço coletivo, mesmo que virtual” (p. 386). Os autores destacam que “[...] a televisão é atualmente um dos principais laços sociais da sociedade”, devido ser a única atividade que pode ser compartilhada por todas as classes sociais e todas as idades. Porém muitos autores questionam que a televisão perdeu o primeiro lugar na atenção do público e alegam que com o surgimento da internet, a TV foi deixada de lado, esquecida pelos consumidores. Ainda sim, referendam que a mídia não deixará de existir, mas se transformará. Roger Fidler (1997), pesquisador dos meios de comunicação, defende que o aparecimento de uma nova tecnologia midiática não provoca necessariamente o fim da anterior ou das existentes. Segundo ele, da mesma forma que os seres vivos, no caso da biologia evolutiva, os meios de comunicação são afetados e entram num processo de evolução, modificando-se para se adequar a nova realidade. O que pode ser evidenciado como, por exemplo, pelo rádio que não deixou de existir com a televisão. O pesquisador usa o termo “midiamorfose” para descrever esse processo de transformação passado pelas mídias para sua adaptação as novas necessidades de mercado. Destarte, a televisão está longe de desaparecer, mas seu processo de produção irá se modificar, e é nessas adaptações que devemos nos concentrar para obter resultados satisfatórios, como no novo modelo de transmissão adotado, a televisão digital. E com a segunda tela, e a possibilidade de interatividade através do uso da internet como canal de retorno da TV digital, a experiência de assistir TV fica mais atraente, provocando novos comportamentos nos telespectadores. As conversas sobre a programação vão para as redes sociais e novos aplicativos são disponibilizados oferecendo mais informações para ampliar ainda mais essa conversação. Esse fenômeno foi batizado, em 2010, de TV Social por Marie José Montpetit, pesquisadora do Media Lab, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um dos principais centros de pesquisa em novas tecnologias. Já o conceito de segunda tela pode ser entendido como qualquer dispositivo que permita o acesso à internet, como os smartphones e tablets, sendo utilizados de forma simultânea à programação da TV através de aplicativos específicos para o conteúdo televisivo. Tais aplicativos oferecem conteúdos complementares ao veiculado na tela da TV, disponibilizando ferramentas para interação entre pessoas, como redes sociais, e-commerce, entre outras. Diversas pesquisas apontam que as pessoas adquiriram o hábito de utilizar outro dispositivo enquanto assistem a televisão, Finger e Sousa (2012) ratificam isso, Uma pesquisa da empresa americana de tecnologia Ericsson realizada em 13 países, inclusive no Brasil, aponta que mais de 60% das pessoas com acesso a internet tem o hábito de navegar na rede enquanto assistem TV. Quarenta por cento dos entrevistados usam plataformas de redes sociais simultaneamente à TV. (p. 385) Esses novos hábitos estão sendo acompanhados de perto por empresas de telecomunicações e emissoras de TV. Abre-se um leque muito grande de oportunidades para os produtores e novas fontes de renda ser geradas com esses novos conteúdos. A segunda tela integra o ato de assistir TV com navegar na internet, mas dentro de um aplicativo, mantendo o espectador ligado à programação e não causando a fuga da audiência. Muitas características da TV foram reforçadas com esse novo modelo, a valorização do ao vivo, o caráter do imediatismo, a produção em fluxo do conteúdo televisivo, como a organização da programação em uma grade, destaca o caráter de agrupamento dos telespectadores, facilitando as medições de audiência e ações na segunda tela, entre outros. O “Ao vivo” volta a ganhar destaque entre os espectadores, que fazem questão de acompanhar as transmissões em tempo real, além de debaterem e levantarem questionamentos em outros meios, sobre o que estão vendo na tela. Os novos espectadores não são mais passivos, assistem televisão com seus dispositivos sincronizados em aplicativos e redes sociais, buscando mais informações e socializando, com outras pessoas, informações e opiniões sobre o programa assistido. Essa ampliação do ato de ver TV causa uma maior repercussão sobre o que é veiculado e faz com que, muitas vezes, a própria programação televisiva seja influenciada. Essa tendência é explicada por Finger e Sousa (2012), quando afirmam que “[...] é o empoderamento do telespectador que pelo que diz leva outros a mudarem de canal e até ligar a TV para compreenderem o que está sendo comentado e discutido. (p. 387)”. Essa transformação pode ser observada, por exemplo, com a possibilidade de mudança no padrão de poder de decisão sobre a grade de programação, que poderá passar das emissoras para as mãos dos telespectadores. Podemos dizer que esse câmbio no cenário, de valorização dos espectadores, agora consumidores ativos de informação, aumenta a qualidade da audiência e atrai novos setores para a mídia. Há uma necessidade, não só de novos produtores midiáticos, mais também da criação de outros meios, processos, formatos, aplicações e programas, incluindo nesse mote o entretenimento, para abastecer essas novas demandas. Ainda que em diferentes graus, de participação e influência, os telespectadores partem para um novo modelo de consumidor, ativo e participante, interessado em não mais apenas receber um fluxo de notícias e informações, mas em receber diversas experiências e construir novas formas de recepção e de produção de conteúdo. A experiência mais bem sucedida de segunda tela, como afirma alguns pesquisadores, é o aplicativo da série americana Hannibal, exibida pelo canal de TV a cabo AXN. Sincronizado ao áudio do aparelho televisivo o aplicativo envia ao espectador informações complementares a série, para uma melhor compreensão da história, com imagens das gravações das cenas, relatos dos atores e curiosidades. Figura 1 – Tela de início do app (aplicativo) Hannibal, da série televisiva de mesmo nome, do canal AXN. (Imagem captada pela autora) No Brasil essas experiências ainda são bastante novas e muitos aplicativos ainda estão em fases de testes. Várias emissoras possuem seus apps, como a Segunda Tela da Band, da Rede Bandeirantes de Televisão, que traz informações sobre os jogos, com número de faltas, cartões, curiosidades sobre os times e jogadores e a Rede Globo que lançou um aplicativo de votação para um novo modelo de programa musical, o Superstar, onde o público tem a oportunidade de votar nos seus favoritos. Figura 2 –Telas de início, de votação e de entrada no app superstar, do programa televisivo com o mesmo nome, da Rede Globo. (imagem divulgada pela emissora) Quando trata-se de Segunda Tela, a dúvida muitas vezes levantada, as vezes até como uma preocupação ou mesmo como argumento de crítica por parte de muitos pesquisadores descrentes na tecnologia, é a questão da dispersão de atenção. Porém, neste quesito pode-se afirma que um meio não compromete o outro. Segundo os dados da IAB e comSCORE indicam que, aproximadamente metade das pessoas que assistem TV e acessam a Internet ao mesmo tempo, presta igual atenção as duas telas10. O termo Segunda Tela ganhou destaque nos últimos anos por ser atribuído ao hábito de ver TV (1ª tela) e navegar na web (2ª tela) ao mesmo tempo. Segunda tela pode ser entendido, na verdade, como um outro ambiente de significação, sendo pensado e estruturado para dialogar com a interface do primeiro meio, ou seja, do principal, no caso o conteúdo 10 Pesquisa realizada pela IAB Brasil, disponível em http://iabbrasil.net/portal/. televisivo. Assim, na segunda tela o fluxo de informações veiculadas fica ligado ao fluxo do outro aparelho, no caso a televisão. TV Social: comentando a programação televisiva Já a explicação do termo TV Social, pode ser feita como sendo o ato de compartilhar, debater, questionar, divulgar, promover e escrever sobre a programação a qual está sendo veiculada e/ou está sendo assistida no momento, nas redes sociais, proporcionando uma divulgação ou mesmo promovendo uma alteração na audiência do meio televisivo. Lembramos que ambos os termos, Segunda Tela e TV Social, não possuem um conceito concreto, e sim, significações mercadológicas e acadêmicas para separação e compreensão das tecnologias. Por ambas as tecnologias se utilizarem da TV digital e da internet como forma de existência, muitos pesquisadores, e até mesmo profissionais de comunicação, tratam ambas como sendo apenas uma experiência. A TV Social pode sim, envolver o uso de apps. Não ficando restritas apenas as páginas das redes sociais. Porém, a diferenciação se dá pela forma de utilização e conteúdo produzido. Enquanto a Segunda tela é vista como uma forma de ampliação da audiência e da produção de conteúdo, a TV Social é o feedback ou uma forma da emissora medir a audiência e o grau de aceitação da programação. A maioria das experiências de Segunda tela agregam a TV Social a sua plataforma, como por exemplo ambas as representaçãoes (figura 1 e 25) de apps apresentados. Dentro do aplicativo da série Hannibal, o usuário pode postar comentários em suas páginas do Facebook e Twitter. Já no aplicativo da emissora brasileira, o usuário é chamado a se conectar via sua conta das redes sociais, para que seja compartilhados dados destas redes, tais como foto e localização. Mas, as diferenças entre as tecnologias, são maiores, pois enquanto o aplicativo da emissora americana AXN, é considerado o exemplo mais bem acabado de experiência de Segunda Tela, com diversas opções para os usuários, o aplicativo da Rede Globo recebeu muitas críticas do público. Figura 3 – Imagem da página da rede social Twitter com opiniões de usuários do app Superstar (Imagem captada pela autora) A Figura 3 mostra a reação dos usuários ao não conseguirem ter uma experiência satisfatória de segunda tela. Através das redes sociais, os usuários se manifestam negativamente, criticando o app, o que confirma nosso posicionamento que a segunda tela e a TV social estão juntas. Não é sempre que um aplicativo de segunda tela terá a TV social embarcado, podendo acontecer a experiência de TV social quando o espectador televisivo resolve comentar sobre a programação ou o que está assistindo nas redes sociais através de suas páginas, fora de uma aplicação. Estas diferenciações devem ser observadas e levadas em conta, para que haja uma melhor compreensão das tecnologias e assim, possa ser utilizada de forma correta, tanto por pesquisadores, como por profissionais de comunicação. Considerações Finais A pesquisa buscou levantar as mudanças que acontecem no setor televisivo e comunicacional, diferenciar as interatividades recorrentes na segunda tela, demonstrando como a TV digital e seu canal de retorno, a internet, podem trazer diversos modelos de novos negócios, renovando as audiências, ampliando o faturamento das emissoras e modificando de vez a forma de se interagir com a televisão através dos novos dispositivos móveis e da segunda tela e TV social. Porém, fica o alerta de que não podemos somente criar aplicativos e tecnologias surpreendentes, mas complicadas no quesito usabilidade. As tecnologias existem, como dispositivos que permitem carregar a televisão no bolso, acessar a internet e estar conectado com as novidades, comentários dos amigos, compartilhamento de informações e sincronização de programas através da segunda tela. O que falta é a aplicação, a produção de conteúdo, de novos modelos e estudos para desenvolver outras experiências para este espectador atuante. Através de um levantamento teórico, complementado com o estudo de muitos pesquisadores e levantamento de diversos questionamentos sobre a temática, procurou-se disseminar questões a serem debatidas para o aprofundamento deste estudo, que tem a pretensão de servir de base futuramente para uma possível definição concreta dos conceitos e esclarecimento das diferenças e semelhanças entre as novas tecnologias. Não é o objetivo deste artigo encerrar a discussão em conjunto a escrita do mesmo, pelo contrário, o que se busca é causar questionamentos sobre as experiências de utilização tanto da Segunda Tela como da TV Social, para que se possa difundir e construir mais conhecimento agregado sobre as temáticas. Também consideramos durante o decorrer do artigo as soluções que as segundas telas podem fornecer, não somente ao não mais espectador e receptor, mas agora também produtor de conteúdo, ao agregar os meios de comunicação neste processo, mas também aos agentes do setor comunicacional que pode se utilizar desse novo perfil de público como mão de obra, mas auxiliando na produção e divulgação de conteúdos. Como também, incentivar o uso das tecnologias, em conjunto ou mesmo em separado, para ampliar a divulgação de informações, a produção de conteúdo, a comunicação, a manutenção das mídias atuais e, porque não, a criação de novas formas comunicacionais e tecnológicas, disseminando os novos processos e aparatos, causando um possível barateamento de tecnologia e auxiliando estudiosos e pesquisadores com a ampliação de corpus de pesquisa, para que enfim, possamos melhor compreender os atuais fenômenos e desmitifica-los. Referências NEGROPONTE, Nicholas. (1996) Ser digital. México: Atlántida-Océano LÉVY, Pierre. Que é o virtual? São Paulo: 34, 1996. MACHADO, Arlindo. Máquina e imaginário. São Paulo: Edusp, 1993. MACHADO, Arlindo. O quarto iconoclasmo e outros ensaios hereges. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001. SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. 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