Jornal da Manhã - Eu Sou Famecos

Transcrição

Jornal da Manhã - Eu Sou Famecos
apital
o
Impressos EXPERIÊNCIA 43 ANOS
Venceu 4 vezes o Set Universitário em 5 anos
Jornal da Manhã
Jornalismo da Famecos/PUCRS, 1952 – Publicações Experiência desde 1967 – Jornal da Manhã criado em 07/2005 – Semestral – Ano 6, n° 11 – Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, Julho de 2010
A busca incessante
pela saúde perfeita
O descontentamento com a aparência e o equilíbrio mental têm contribuído constantemente para a criação de
novos produtos e técnicas para ampliar as condições de
saúde. A “ração humana”, febre do momento, composto
de ingredientes in natura, vem atraindo quem se preocupa com a aparência e também com a alimentação. Para
complementar os tratamentos médicos convencionais,
Remo
Esporte no
cartão postal
Remadores treinam diante
de cenário privilegiado a
um quilômetro do Centro
RODRIGO PIZOLOTTO/JM
surgiram as terapias holísticas, formadas por um conjunto de técnicas com o objetivo de cuidar dos aspectos
biofísicos, emocionais e psíquicos do ser humano. Em
comum, as duas práticas servem para auxiliar na ampliação da qualidade de vida. No entanto, ávidos pelos
benefícios prometidos, os adeptos muitas vezes ignoram
as contraindicações e as recomendações médicas.
O rio Guaíba,em Porto Alegre
Página 7
Página 10
Economia da região fumageira sob ameaça
KARINE VIANA/JM
Privatização
Como salvar
um teatro
Começam as obras para
a restauração do Araújo
Vianna, invadido por gatos
Página 4
Turfe
Sem o brilho
do passado
Amizades e cavalos ainda
levam fiéis às corridas
do Hipódromo do Cristal
THIAGO COUTO/JM
Armindo e Melânia Baierle integram uma das centenas de famílias cuja fonte de renda vem da produção e venda do tabaco
Página 9
À frente na reta de chegada
Página 5
ALINE COSTA E SILVA/JM
Fãs do Jazz
resistem
na noite
Páginas 4 e 5
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Diversidade
no Parque da
Redenção
Página 3
Brique:performance de inúmeras tendências atraem público
30/6/2010 10:30:13
2 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
OPINIÃO
Editorial
Artigo
Liberdade para escrever
F RODRIGO PIZOLOTTO
Um espaço para trabalho,
aprendizado, evolução e também um choque com o mundo real das grandes redações.
É uma boa definição do que
representa o Jornal da Manhã. Basicamente, um periódico semestral com conteúdo
que abrange os mais variados
assuntos. Aliás, qualquer
assunto. Os estudantes são
livres para escolher suas
pautas, o que constitui um
privilégio especial pouco visualizado por repórteres em
atividade no mercado. Liberdade para criar. Ou melhor,
para escrever.
Os alunos do sexto semestre de Jornalismo da
Faculdade de Comunicação
Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUCRS)
colocam, literalmente, suas
habilidades jornalísticas à
prova. E supervisão é o que
não falta. A avaliação textual
é feita pelo professor Tibério
Vargas Ramos, um veterano
das redações do Rio Grande
do Sul. Elson Sempé concede
aos futuros jornalistas aquelas que devem ser as bases de
um fotógrafo de qualidade.
Por fim, organizando a bagunça entre texto e fotografia, Fábian Chelkanoff Thier
é o tutor da diagramação.
Metaforizando um time
de futebol vencedor, com
uma mescla entre juventude
e experiência, uma equipe
tem como meta finalizar
um jornal. Desafio encarado
diariamente no universo
jornalístico.
Nesta edição, um estilo
musical ganha espaço. Um
espaço que havia se perdido
no tempo. Pelo menos aqui
no Brasil. Em um bar portoalegrense, na famosa e baladada Cidade Baixa, o Jazz
resiste à cena cultural que
quase o abandonou. Nomes
como Caixa Preta e Jorginho do Trompete ganham
destaque em meio a um ambiente em que predominam o
samba-rock e o blues.
Serviço público à população. Esta obrigação básica
do governo figura nas páginas do Jornal da Manhã.
O leitor confere detalhes
da construção do hospital
da Restinga, que atenderá
mais de 100 mil pessoas.
Considerado de porte médio,
o empreendimento só não
receberá cirurgias de alta
complexidade, como cardía-
Contadores de Histórias
F MÔNICA CARVALHO
cas e transplantes de órgãos.
Um pequeno trajeto de
barco leva a um lugar de beleza natural incrível que encara a fumaça e os prédios da
Capital. O contexto em que
o remo é praticado no Rio
Grande do Sul é retratado no
caderno de Esportes.
Em clima de Copa do
Mundo, o “professor” do
jornalismo esportivo gaúcho
embarca para a África do
Sul com o restante da equipe
do Grupo RBS. É a décima
segunda Copa de Ruy Carlos
Ostermann. Graduado em
filosofia, ele passa um pouco
da sua sabedoria às páginas
do JM, sempre mesclando
futebol com literatura.
O resultado dessa experiência acadêmica você confere
nas páginas a seguir. Boa
leitura!
LUCIANO LANES/FAMECOS
Outro dia assistindo um
programa de televisão ouvi
o jornalista Heraldo Pereira
revelar que desde pequeno
adorava contar histórias. E
este hábito de mexer com a
imaginação dos amigos foi
importante para sua escolha
profissional. Ele considera
que nós jornalistas somos
grandes contadores de histórias. Eu já havia escutado
essa expressão, mas não
tinha parado para pensar
que faria parte deste grupo, achei que seria apenas
jornalista. Desde criança
sempre gostei de ouvir o
relato de histórias e observar
as pessoas à minha volta,
mas nunca pensei em contar
minhas observações.
Depois de refletir sobre o assunto, percebi que
a função de contar histórias é muito atraente. Em
meio à construção de nossa
narrativa convivemos com
inúmeros personagens e
fazemos o possível para retratar fielmente os fatos. Em
muitos casos temos como
matéria-prima as surpreendentes lições da vida. Ao
mesmo tempo em que relatamos felicidade, superação,
conquistas, e curiosidades
retratamos também a dor e
a tragédia.
Ao enfrentar os desafios
da reportagem e frequentar
diariamente os bastidores da
notícia, nos deparamos com
elementos que não deveriam
compor nossa história. Mas
infelizmente a violência, a
mentira e o sofrimento recebem destaque nas pautas e
se infiltram nos noticiários.
Você deve pensar que
qualquer pessoa pode contar
histórias, e não deixa de ser
verdade. Mas o diferencial
do jornalista está na função de criar um relato que
reflita apenas a verdade,
o futuro dos personagens
não pode ser inventado e
nem manipulado. Os fatos
são retratados por meio de
palavras e imagens, com a
união desses elementos a
matéria é desenhada, assim
começa a ser escrita uma
nova história que em poucos
dias já será velha. Desvendar
os mitos da objetividade,
escolher fontes adequadas,
distanciar-se emocionalmente das fragilidades e
humanizar a reportagem são
fatores determinantes para
o jornalista ser também um
contador de histórias.
Artigo
A arte de ouvir
F NICOLE PANDOLFO
Disciplina de Produção de Jornal, turno da manhã, encerra edição sob a orientação de professores
Artigo
A Internet nas Eleições 2010
F GABRIELE DE ABREU
Há menos de um mês para
as Eleições gerais de 2010, a
pergunta que não quer calar
é a seguinte: Será que o território livre da internet vai ter
uma participação decisiva
na eleição dos candidatos?
O IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística)
estima em 62,3 milhões de
pessoas, acima dos 16 anos, a
quantidade dos que possuem
acesso à grande rede, o equivalente a 32% da população
que hoje beira a marca dos
192 milhões de habitantes.
Nas eleições presidenciais
brasileiras de 2006, parece ter
havido consenso em relação à
importância da Internet nas
Jornal da Manhã
muitas avaliações sobre o
papel da mídia, já que, quase
dois terços dessas pessoas se
informam exclusivamente em
sites de notícias, enquanto
que 7% utilizam somente as
redes sociais, como Orkut,
Facebook e Twitter com essa
finalidade.
O crescimento da fatia
que acessa o espaço virtual
não para de crescer e não
deixou outra saída. Em 29
de setembro de 2009, o presidente Lula sancionou a lei
conhecida como “minirreforma eleitoral”, que defende a
liberdade na Internet para
que haja debates entre os candidatos, mas não nos moldes
do rádio e da televisão.
determinados candidatos,
desde que a iniciativa seja de
cunho pessoal, sem qualquer
pagamento. Críticas, por outro lado, devem respeitar a
honra alheia e a realidade dos
fatos. O que se pretende evitar
é a associação de candidato
com determinada marca e a
desvirtuação da publicidade
institucional para promoção
pessoal.
As ferramentas para a
propaganda digital estão aí,
ao alcance de todos. Com o
conhecimento necessário,
poderão fazer toda a diferença
na promoção dos candidatos.
A grande questão será o uso
correto das tecnologias pelos
profissionais envolvidos.
Vencedor duas vezes no SET Universitário em Planejamento Gráfico, mais Artigo e Cartum
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo, disciplina de Redação e
Produção de Jornal, turno da manhã, da Faculdade de Comunicação
Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS). Avenida Ipiranga, 6681, prédio 7, Partenon, Porto Alegre,
RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
Reitor: Ir. Joaquim Clotet
Vice-Reitor: Ir. Evilázio Teixeira
Diretora da Famecos: Mágda Cunha
Coordenadora de Jornalismo: Cristiane Finger
Professores responsáveis: Tibério Vargas Ramos (redação e edição),
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Na Internet, por exemplo,
os candidatos terão permissão
de usar a web para fazer propaganda e arrecadar fundos
de campanha. Quem quiser
fazer doações vai, inclusive,
contar com a possibilidade
do cartão de crédito. Outro
reflexo da mudança na lei é
a manutenção dos sites dos
partidos e dos candidatos,
que poderão continuar em
rede para os usuários até
mesmo durante a votação. A
propaganda paga na web está
proibida, mas não será punida
a livre manifestação de apoio
a determinados candidatos.
Será permitido aos blogueiros elaborar posts contendo mensagens em favor de
Fábian Chelkanoff Thier (arte e diagramação) e Élson Sempé Pedroso
(fotojornalismo)
Repórteres e diagramadores: Aline Costa E Silva, Augusto De
Freitas Brusch, Bruna Lopes Da Silva, Cairo Caridade Fontana, Camila
Borges Correa, Camila Kaufmann, Carolina Soares Marquís, Delmar
Farias Dutra Junior, Douglas Carpes Fortes, Gabriel Henrique Calvi,
Gabriele de Abreu Oliveira, Karine dos Santos Viana, Kellen Pacheco
Moraes, Leonel Frey Chaves, Luana Duarte Fuentefria, Lucas Coelho
Gonçalves, Mariana Furtado Bartz, Monica Carvalho da Silva, Nicole
Pandolfo, Rodrigo Silva Pizolotto, Thais Monteiro L. de Moraes, Thiago
Gravana Couto e Otávio Kremer Abuchaim.
Admiro os que preferem
ouvir a falar. Eu sempre
achei prazeroso, por exemplo, acomodar-se perto de
alguém mais velho e escutar
longas histórias de um passado mais antigo do que eu.
Como quando ouvia sobre
a viagem feita pela minha
avó, da Itália até o Brasil,
contada por ela, quando eu
ainda era uma criança.
Não lembro exatamente
as palavras que ela usava,
mas tenho como fotografias
na memória as imagens que
ela descrevia com o forte
sotaque italiano. Eram fantásticos os momentos em
que sentávamos, uma prima
e eu, a sua frente nas tardes
dos meus sete ou oito anos.
Os barquinhos cheios de
frutas estranhas – para um
europeu da década de 20 –
que abasteciam o gigantesco
navio tomavam formas.
Damas e cavalheiros da
primeira classe se divertiam
nos bailes em alto mar,
enquanto minha avó, ainda
criança, espiava fascinada.
Durante uma janta em
família volto aos anos 70.
Em meio a gargalhadas,
minha mãe e minha tia
lembravam suas adolescên-
“
cias na vila do interior do
Rio Grande do Sul. Muitas
das histórias eu ouvia pela
2ª ou 3ª vez, sem que elas
perdessem a graça, e enxergava as duas jovens e
seus irmãos na pacata Vila
Oeste se divertindo à custa
de moradores pitorescos,
brigas em saídas de bailes
e situações engraçadas na
mesa de jantar.
“Claro que pra vocês isso
não tem graça, mas...”, insistia minha tia se dirigindo a
mim e, talvez, a toda minha
geração. Mal sabia ela que
uma relação curiosa surgia
na minha cabeça. Imagens
se fundiam. E eu me dei
conta que Erico Verissimo
deixou em mim uma marca mais intensa do que eu
pensei. Vila Oeste era Santa
Fé e o casarão onde minha
mãe e meus tios cresceram
era o Sobrado. D. Bibiana...
Minha avó? Volto para o
presente. Rindo das histórias, da minha imaginação.
Tenho essas cenas na
mente como se as tivesse
presenciado e pensar nelas
traz a nostalgia de um tempo que eu não vivi. Ouvir
histórias é como ler livros e
se descobrir em épocas diferentes da sua. Basta ouvir o
que o outro tem para contar.
O desaparecimento do livro é uma
obsessão de jornalistas que me
perguntam isso há 15 anos
Humberto Eco
23/6/2010 09:00:35
Porto Alegre, julho de 2010 3
Jornal da Manhã
CIDADE
“Temos um problema sério na
cidade com carroceiros”
Régis Galvão
FOTOS NICOLE PANDOLFO/JM
Pontos da cidade como a rua Florianópolis, próxima a Avenida Oscar Pereira, sofrem com o depósito de lixo trazido por carroceiros
Limpeza Projeto facilita o descarte de materiais reaproveitáveis em Porto Alegre
Criados Ecopontos para o
descarte de lixo reciclável
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Centenas de pessoas se
amontoam nas paradas a
fim de usar o transporte
público de Porto Alegre.
Nas linhas que passam pela
Avenida Ipiranga, a situação fica dramática. Ali, nos
horários de pico, os ônibus
não param.
Entre as 7h40 e as 8h10
está o período mais problemático. As linhas que
abastecem a região levam,
na sua maioria, universitários com destino à PUCRS
ou ao Campus do Vale, da
UFRGS. Pietro dos Santos,
estudante de história, conta
que alguns coletivos são impossíveis de apanhar. “Eu já
fiquei 40min esperando e o
D43 passou sem abrir a porta de tão cheio que estava”,
reclama da linha Universitária, que liga o Centro ao
bairro Agronomia.
A capital tem 1.592 ônibus em circulação. Só esse
ano, de janeiro a março,
cerca de 80 mil pessoas utilizaram esse tipo de transporte. Procurada, a Empresa
Pública de Transporte e
Circulação – EPTC, não se
pronunciou sobre as ocorrências. (Thais Longaray)
THAIS LONGARAY/JM
Linhas para universitários
O shopping
do povo
F NICOLE PANDOLFO
unidade piloto do projeto, diz que os objetivos do
Como se livrar daquele Ecoponto serão alcançados
material incômodo, resul- conforme a população toma
tado da pequena reforma conhecimento dos locais e
da sua casa, ou do colchão é educada a depositar lá o
velho que não serve mais material descartado. “Desde
para doação. O descarte des- fevereiro nós já percebemos
te tipo de lixo gera dúvidas a mudança. Terrenos próe a falta de informação é a ximos à unidade que antes
responsável pela poluição serviam como depósito de
da cidade e pelo trabalho material de carroceiros hoje
extra do Departamento Mu- estão livres dos entulhos”,
nicipal de Limpeza Urbana observa.
No local, três containers
(DMLU).
Uma alternativa implan- recebem diferentes tipos de
tada em Porto Alegre se- resíduo. No primeiro é degue os moldes de cidades positado material não inerte
que será desbrasileiras
tinado a um
como Belo
Horizonte. Os “É uma maneira de aterro sanitário, como móEcopontos,
unidades de facilitar a vida da veis, colchões
e madeira. O
recebimento
população”
segundo conde resíduos,
tainer é resersurgem em
diversos locais da capital vado para resíduos inertes
gaúcha com o objetivo de da construção civil – caliça,
facilitar a vida do morador. cerâmica, terra e entulho
O material não recolhido – que serão utilizados no
pela coleta regular, como nivelamento de terrenos.
móveis, caliça, podas de ár- Os resíduos arbóreos serão
vore, pneu e óleo de cozinha colocados no terceiro conusado pode ser levado até tainer e posteriormente triestas unidades, onde serão turados para se transformar
devidamente separados e em composto orgânico.
Régis Galvão, diretor da
encaminhados a aterros.
O 1º Ecoponto foi inau- Divisão de Limpeza e Coleta
gurado em fevereiro de 2010 (DLC) do DMLU, explica a
na rua Cruzeiro do Sul, na proposta da iniciativa. “O
Zona Sul de Porto Alegre. projeto prevê a criação de
Conhecida como Destino mais 15 Ecopontos dentro
Certo, a unidade foi criada da área do município, dispara atender pequenos gera- tribuídos em pontos mais
dores que possuem material próximos às pessoas. É uma
reciclável a ser descartado. maneira de facilitar a vida
Os resultados têm sido po- da população e diminuir o
sitivos. Elza Lizete Noal descarte de lixo nas ruas da
de Jesus, responsável pela cidade”, conclui.
Os ônibus
não param!
Unidade Cruzeiro do Sul: os containers são esvaziados diversas vezes ao dia
Carroceiros sabotam
Na Diário de Notícias
Os locais de recebimento
de resíduos grandes existem há muito tempo, mas
sempre estiveram em áreas
distantes da região urbana
e, portanto, de difícil acesso.
O resultado são ruas pouco
movimentadas que servem
como depósito de cadeiras
velhas, móveis abandonados
e pneus.
Um exemplo é a rua Florianópolis, próxima à Avenida Oscar Pereira. A área é
ponto de encontro de carroceiros que coletam materiais
para vender em reciclagens
ou despejam ali o lixo que
recolheram em outro ponto,
agravando a situação.
O sistema é alimentado
por moradores que utilizam um serviço prestado
por carroceiros. Para se
desfazer do lixo gerado em
casa, as pessoas oferecem
uma quantia de dinheiro
aos catadores que recolhem
o material e o eliminam em
áreas inapropriadas.
“Temos um problema
sério na cidade com carroceiros. Eles coletam resíduos
de particulares em troca de
uma quantia de dinheiro e
descarregam em qualquer
lugar”, reclama Régis Galvão, diretor da Divisão de
Limpeza e Coleta (DLC) do
DMLU.
O shopping do Porto,
conhecido como camelódromo, coloca o cidadão
da Capital próximo da comodidade na hora de escolher produtos por preços
acessíveis. Alem de ter mais
espaço para fazer uma boa
escolha de compra, o aspecto da segurança está visível
para o público consumidor.
Antes, para fazer compras, era preciso se esbarrar
e cuidar para não ser assaltado. Agora, as bancas têm
os nomes na entrada e isso
garante uma busca mais
fácil para achar a banca
desejada.
Com duas quadras –
a A, onde está a parte de
compras, e a B, a praça de
alimentação – o Centro Popular está capacitado para
atender o seu público alvo.
Porém, a pouca procura na
praça de alimentação deixa
os administradores preocupados. (Augusto Brusch)
DOUGLAS FORTES/JM
Preço baixo para o povo
23/6/2010 09:01:48
4 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
FOTOS CAMILA BORGES/JM
Mostra Eu, Porto Alegre
de olho na Copa de 2014
GABRIELE DE ABREU/JM
Espaço Copa 2014 na Usina do Gasômetro
F GABRIELE DE ABREU
Localizado no Parque Farroupilha, o anfiteatro Araújo Vianna já foi palco de grandes espetáculos
Reforma Iniciam-se as obras no auditório de Porto Alegre ao ar livre
Araújo Vianna renasce
após anos abanbonado
F CAMILA BORGES
O Auditório Araújo Vianna sobrevive ao abandono e
inicia obras de reforma. Sem
condições de investir financeiramente na reforma do local,
a Secretaria Municipal da
Cultura decidiu concedê-lo à
iniciativa privada – documento licitatório que colocava à
disposição a parceria públicoprivada, propondo 75% de
utilização do auditório por um
período de dez anos à empresa
privada que fizesse a obra.
Há três anos, a Opus Promoções foi escolhida. O gerente comercial da empresa,
Edgar Rüther, anuncia o início
da recuperação do teatro,
mas pondera que a conclusão
das obras, prevista para um
prazo de 18 meses, depende
do clima de Porto Alegre, em
especial o inverno. “Esses problemas já estão considerados
nesse espaço de um ano e
meio. Se tudo der certo, a obra
poderá ser entregue antes”.
O custo da obra, previsto em
R$ 7 milhões, pode chegar a
15 milhões.
Uma questão ambiental
envolve a reforma, pois animais fizeram do anfiteatro o
seu habitat. Em uma conversa
informal com Célia Santos e
Anaí Rosana Garcia, representantes da Cooperativa
dos Defensores dos Animais
do RS, foi relatado a importância do lugar para os animais – principalmente gatos.
“Nasceram ali dentro, são
em torno de 15 gatos ariscos,
eles não vem até as grades,
então trazemos ração para
CRÉDITO DE FOTOW/JM
Animais fizeram do local a sua casa
Tentativa de aproximação entre grades e paredes
eles, e quando se consegue
se aproximar de algum, ele é
tratado e levado para adoção”,
conta Célia. Segundo Anaí, a
cooperativa é um projeto em
permanente desenvolvimento
e melhoramento. E, como a
cooperativa não possui um
abrigo para os bichinhos, eles
ficam sob a responsabilidade
de cada colaborador, que
resgata, trata, e encaminha
para a adoção. Em relação aos
pombos, Edgar Rüther revela
que “um dos trabalhos já realizados no Araújo Vianna foi
a descontaminação do local”.
Originalmente o Auditório
foi inaugurado em 1927, onde
hoje se encontra o prédio da
Assembléia Legislativa. O
nome foi em homenagem ao
compositor gaúcho José de
Araújo Vianna (1871-1916).
Em 12 de março de 1964,
os arquitetos Moacir Moojen
Marques e Carlos Maximiliano Fayet apresentaram o
novo projeto de espaço para
o Araújo Vianna, com capacidade para 4.500 pessoas, no
Parque da Redenção, inaugurado em 1967. Nos anos 70, o
auditório foi muito requisitado por shows de MPB, e em
1977 o Parque Farroupilha
foi tombado como Patrimônio
Histórico e Cultural da capital,
estendendo a preservação ao
anfiteatro. Na década de 80
ainda disponibilizava espaço
para espetáculos de teatro,
música, manifestações políticas, palestras, mas já perdia
o ritmo por falta de reformas.
Trinta anos de discussões levaram à cobertura do
Araújo Vianna. Em um 1996,
um show histórico de João
Gilberto inaugurou a lona que
cobre o local até hoje, mas a
cobertura perdeu o prazo de
validade em julho de 2002, e
no início de 2005 o auditório
foi interditado pela Prefeitura
por tempo indeterminado.
O espetáculo já vai começar
Todas as licenças já foram concedidas. A Opus, empresa que venceu a
licitação, já começou as obras. Segundo
Edgar Rüther, “o espaço será reaberto
por meio de uma parceria públicoprivada entre a Prefeitura de Porto
Alegre e a Opus Promoções, com Oi e
Coca-Cola como patrocinadoras, mas
outras empresas também devem apoiar
o projeto”.
Também estão previstos cuidados
no entorno do parque, como o cultivo
dos jardins, gramados, trilhas e es-
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pelhos d’àgua, sinalização das áreas
próximas do auditório e, se possível,
até mesmo das quadras esportivas do
Parque Ramiro Souto. O palco terá uma
ampliação, contará com iluminação,
serviços públicos do bairro, limpeza da
região e instalação de câmeras de vídeo
para a segurança externa.
Depois de pronto, o Auditório
Araújo Vianna voltará a ser um grande agregador social. A Sala Radamés
Gnattali – uma das áreas existentes no
local – passará por uma transformação
e vai oferecer um leque de atividades no
ramo da capacitação cultural, disponibilizando oficinas, workshops e cursos.
Ainda está prevista a construção de uma
biblioteca-museu, com a proposta de
resgatar e preservar a história musical
e cultural do local.
Em melhores condições, o Auditório
Araújo Vianna deve reabrir em 18 meses
com conforto e segurança. Se o clima do
Sul ajudar, turistas e toda a comunidade
gaúcha poderão ver o resultado final em
setembro de 2011.
Na semana em que Porto Alegre comemorou 238
anos de fundação, uma de
suas principais atrações foi a
exposição Eu, Porto Alegre,
realizada no primeiro andar
da Usina do Gasômetro. O
evento, inaugurado no dia 22
de março, mostrou, em obras
estratégicas, melhorias no
trânsito, transporte e mobilidade urbana – que deverão
transformar a paisagem da
cidade nos próximos anos.
Foram sete espaços de
interatividade e tecnologia
que apresentaram ao público
como será a capital depois
da execução dos projetos. Na
primeira sala, pode-se, por
exemplo, pedalar em bicicletas presas em raias simuladas,
levando o passageiro a um
passeio por futuras ciclovias
e ciclofaixas. Seguindo para
a outra sala, com o toque das
mãos em um dos computadores expostos no ambiente,
lâmpadas e espelhos mostraram a revitalização da iluminação, que mudará as ruas da
cidade pelo programa Porto
Alegre + Luz.
No espaço Copa 2014, os
visitantes experimentaram a
sensação de entrar em um estádio de futebol, ao caminhar
sobre um enorme gramado de
piso sintético. Ao ser pressionada, uma bola dava o comando para a exibição de vídeos
que mostravam projetos para
a realização do mundial que
terá Porto Alegre como uma
de suas sedes.
A exposição durou três
semanas e contou com o apoio
da prefeitura e teve mais de 20
funcionários envolvidos. Uma
equipe de oito pessoas trabalhou na assistência ao público.
Etienne Zorzi, responsável
pela entrada, fala da importância de sua função. “Os monitores foram fundamentais,
pois auxiliam na explicação
e nas funções tecnológicas de
cada sala”, explica a funcionária que trabalhava cerca de 12
horas diárias no evento.
Para que tudo estivesse
pronto para os visitantes, dez
funcionários chegavam uma
hora antes da abertura para
limpar, pintar e fazer a manutenção dos equipamentos.
No final do turno, por volta
das 21h, o ambiente recebia
outra passada de vassoura e
as paredes ganhavam novas
pinceladas.
A preocupação foi o suficiente para chamar a atenção
dos porto-alegrenses. Lucas
Bochehin, 28 anos, aprovou
a estrutura montada e disse
acreditar no êxito do projeto,
caso seja colocado em prática.
“A mostra toda estava irada,
com umas ideias muito boas.
Acredito que tudo isso possível, mas também tenho medo
de que essa infraestrutura
seja entregue para pessoas
que não cuidarão da cidade”,
comenta.
GABRIELE DE ABREU/JM
Uma das atrações: Espaço Ciclovia e Ciclofaixas
Percorrendo a Exposição
Portais da Cidade – Monitores de TVs apresentam o
projeto. Na saída, uma porta libera o acesso à exposição.
Pisa – O ambiente todo azul com três telas projetam a
imagem de uma gota d’água caindo em um recipiente,
refletindo no piso a queda d’água e seu movimento.
Porto Alegre + Luz – Espaço branco circular onde
lâmpadas no teto, sincronizadas com o som ambiente, dão
a sensação da ampliação da iluminação na Capital.
Copa 2014 – Um totem em forma de bola de futebol
deve ser pressionado acionando vídeos com os projetos
previstos para o mundial.
Cais Mauá – Um projetor de 15 metros mostra imagens
da cidade. Lunetas futurísticas apresentam o vídeo do
projeto de revitalização do Cais.
Cidadania - Uma sala de espelho com piso vermelho tem
um vídeo rodando que mostra o projeto de mudança das
famílias das Vilas Dique e Nazaré. Pessoas se misturam às
imagens do vídeo, rebatidas em vários espelhos, tomando
parte da cidade, em um conceito de inclusão.
23/6/2010 09:02:31
4 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
FOTOS CAMILA BORGES/JM
Mostra Eu, Porto Alegre
de olho na Copa de 2014
GABRIELE DE ABREU/JM
Espaço Copa 2014 na Usina do Gasômetro
F GABRIELE DE ABREU
Localizado no Parque Farroupilha, o anfiteatro Araújo Vianna já foi palco de grandes espetáculos
Reforma Iniciam-se as obras no auditório de Porto Alegre ao ar livre
Araújo Vianna renasce
após anos abanbonado
F CAMILA BORGES
O Auditório Araújo Vianna sobrevive ao abandono e
inicia obras de reforma. Sem
condições de investir financeiramente na reforma do local,
a Secretaria Municipal da
Cultura decidiu concedê-lo à
iniciativa privada – documento licitatório que colocava à
disposição a parceria públicoprivada, propondo 75% de
utilização do auditório por um
período de dez anos à empresa
privada que fizesse a obra.
Há três anos, a Opus Promoções foi escolhida. O gerente comercial da empresa,
Edgar Rüther, anuncia o início
da recuperação do teatro,
mas pondera que a conclusão
das obras, prevista para um
prazo de 18 meses, depende
do clima de Porto Alegre, em
especial o inverno. “Esses problemas já estão considerados
nesse espaço de um ano e
meio. Se tudo der certo, a obra
poderá ser entregue antes”.
O custo da obra, previsto em
R$ 7 milhões, pode chegar a
15 milhões.
Uma questão ambiental
envolve a reforma, pois animais fizeram do anfiteatro o
seu habitat. Em uma conversa
informal com Célia Santos e
Anaí Rosana Garcia, representantes da Cooperativa
dos Defensores dos Animais
do RS, foi relatado a importância do lugar para os animais – principalmente gatos.
“Nasceram ali dentro, são
em torno de 15 gatos ariscos,
eles não vem até as grades,
então trazemos ração para
CRÉDITO DE FOTOW/JM
Animais fizeram do local a sua casa
Tentativa de aproximação entre grades e paredes
eles, e quando se consegue
se aproximar de algum, ele é
tratado e levado para adoção”,
conta Célia. Segundo Anaí, a
cooperativa é um projeto em
permanente desenvolvimento
e melhoramento. E, como a
cooperativa não possui um
abrigo para os bichinhos, eles
ficam sob a responsabilidade
de cada colaborador, que
resgata, trata, e encaminha
para a adoção. Em relação aos
pombos, Edgar Rüther revela
que “um dos trabalhos já realizados no Araújo Vianna foi
a descontaminação do local”.
Originalmente o Auditório
foi inaugurado em 1927, onde
hoje se encontra o prédio da
Assembléia Legislativa. O
nome foi em homenagem ao
compositor gaúcho José de
Araújo Vianna (1871-1916).
Em 12 de março de 1964,
os arquitetos Moacir Moojen
Marques e Carlos Maximiliano Fayet apresentaram o
novo projeto de espaço para
o Araújo Vianna, com capacidade para 4.500 pessoas, no
Parque da Redenção, inaugurado em 1967. Nos anos 70, o
auditório foi muito requisitado por shows de MPB, e em
1977 o Parque Farroupilha
foi tombado como Patrimônio
Histórico e Cultural da capital,
estendendo a preservação ao
anfiteatro. Na década de 80
ainda disponibilizava espaço
para espetáculos de teatro,
música, manifestações políticas, palestras, mas já perdia
o ritmo por falta de reformas.
Trinta anos de discussões levaram à cobertura do
Araújo Vianna. Em um 1996,
um show histórico de João
Gilberto inaugurou a lona que
cobre o local até hoje, mas a
cobertura perdeu o prazo de
validade em julho de 2002, e
no início de 2005 o auditório
foi interditado pela Prefeitura
por tempo indeterminado.
O espetáculo já vai começar
Todas as licenças já foram concedidas. A Opus, empresa que venceu a
licitação, já começou as obras. Segundo
Edgar Rüther, “o espaço será reaberto
por meio de uma parceria públicoprivada entre a Prefeitura de Porto
Alegre e a Opus Promoções, com Oi e
Coca-Cola como patrocinadoras, mas
outras empresas também devem apoiar
o projeto”.
Também estão previstos cuidados
no entorno do parque, como o cultivo
dos jardins, gramados, trilhas e es-
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pelhos d’àgua, sinalização das áreas
próximas do auditório e, se possível,
até mesmo das quadras esportivas do
Parque Ramiro Souto. O palco terá uma
ampliação, contará com iluminação,
serviços públicos do bairro, limpeza da
região e instalação de câmeras de vídeo
para a segurança externa.
Depois de pronto, o Auditório
Araújo Vianna voltará a ser um grande agregador social. A Sala Radamés
Gnattali – uma das áreas existentes no
local – passará por uma transformação
e vai oferecer um leque de atividades no
ramo da capacitação cultural, disponibilizando oficinas, workshops e cursos.
Ainda está prevista a construção de uma
biblioteca-museu, com a proposta de
resgatar e preservar a história musical
e cultural do local.
Em melhores condições, o Auditório
Araújo Vianna deve reabrir em 18 meses
com conforto e segurança. Se o clima do
Sul ajudar, turistas e toda a comunidade
gaúcha poderão ver o resultado final em
setembro de 2011.
Na semana em que Porto Alegre comemorou 238
anos de fundação, uma de
suas principais atrações foi a
exposição Eu, Porto Alegre,
realizada no primeiro andar
da Usina do Gasômetro. O
evento, inaugurado no dia 22
de março, mostrou, em obras
estratégicas, melhorias no
trânsito, transporte e mobilidade urbana – que deverão
transformar a paisagem da
cidade nos próximos anos.
Foram sete espaços de
interatividade e tecnologia
que apresentaram ao público
como será a capital depois
da execução dos projetos. Na
primeira sala, pode-se, por
exemplo, pedalar em bicicletas presas em raias simuladas,
levando o passageiro a um
passeio por futuras ciclovias
e ciclofaixas. Seguindo para
a outra sala, com o toque das
mãos em um dos computadores expostos no ambiente,
lâmpadas e espelhos mostraram a revitalização da iluminação, que mudará as ruas da
cidade pelo programa Porto
Alegre + Luz.
No espaço Copa 2014, os
visitantes experimentaram a
sensação de entrar em um estádio de futebol, ao caminhar
sobre um enorme gramado de
piso sintético. Ao ser pressionada, uma bola dava o comando para a exibição de vídeos
que mostravam projetos para
a realização do mundial que
terá Porto Alegre como uma
de suas sedes.
A exposição durou três
semanas e contou com o apoio
da prefeitura e teve mais de 20
funcionários envolvidos. Uma
equipe de oito pessoas trabalhou na assistência ao público.
Etienne Zorzi, responsável
pela entrada, fala da importância de sua função. “Os monitores foram fundamentais,
pois auxiliam na explicação
e nas funções tecnológicas de
cada sala”, explica a funcionária que trabalhava cerca de 12
horas diárias no evento.
Para que tudo estivesse
pronto para os visitantes, dez
funcionários chegavam uma
hora antes da abertura para
limpar, pintar e fazer a manutenção dos equipamentos.
No final do turno, por volta
das 21h, o ambiente recebia
outra passada de vassoura e
as paredes ganhavam novas
pinceladas.
A preocupação foi o suficiente para chamar a atenção
dos porto-alegrenses. Lucas
Bochehin, 28 anos, aprovou
a estrutura montada e disse
acreditar no êxito do projeto,
caso seja colocado em prática.
“A mostra toda estava irada,
com umas ideias muito boas.
Acredito que tudo isso possível, mas também tenho medo
de que essa infraestrutura
seja entregue para pessoas
que não cuidarão da cidade”,
comenta.
GABRIELE DE ABREU/JM
Uma das atrações: Espaço Ciclovia e Ciclofaixas
Percorrendo a Exposição
Portais da Cidade – Monitores de TVs apresentam o
projeto. Na saída, uma porta libera o acesso à exposição.
Pisa – O ambiente todo azul com três telas projetam a
imagem de uma gota d’água caindo em um recipiente,
refletindo no piso a queda d’água e seu movimento.
Porto Alegre + Luz – Espaço branco circular onde
lâmpadas no teto, sincronizadas com o som ambiente, dão
a sensação da ampliação da iluminação na Capital.
Copa 2014 – Um totem em forma de bola de futebol
deve ser pressionado acionando vídeos com os projetos
previstos para o mundial.
Cais Mauá – Um projetor de 15 metros mostra imagens
da cidade. Lunetas futurísticas apresentam o vídeo do
projeto de revitalização do Cais.
Cidadania - Uma sala de espelho com piso vermelho tem
um vídeo rodando que mostra o projeto de mudança das
famílias das Vilas Dique e Nazaré. Pessoas se misturam às
imagens do vídeo, rebatidas em vários espelhos, tomando
parte da cidade, em um conceito de inclusão.
23/6/2010 09:02:31
Porto Alegre, julho de 2010 5
Jornal da Manhã
Turfe Esporte resiste e ainda conquista apaixonados por corrida de cavalos em Porto Alegre
O brilho perdido do Cristal
FOTOS THIAGO COUTO/JM
Com público baixo, o Hipódromo Cristal enfrenta dificuldades financeiras e relembra com saudosismo o tempo em que o turfe era valorizado na capital
F THIAGO COUTO
ficava lotado”, lembra. O glamour de antigamente, que
Todas as quintas-feiras,
exigia terno e sapato para
ao cair do sol, pelo menos
acompanhar as corridas,
uma centena de pessoas
deu lugar à democracia das
se reúne no Hipódromo
camisetas e tênis. Mesmo
Cristal de Porto Alegre para
assim, ainda são poucos os
fazer aquilo que lhes dá
que permanecem fiés à prámais prazer na semana. São
tica esportiva. “É uma pena
homens em geral de idade,
que isso esteja como agora”,
que se conhecem e podem
completa.
se comunicar através de um
Apesar das atuais disimples olhar ou uma afirficuldades financeiras, o
mação com a cabeça. Mesmo
presidente Vecchio garante
com a carente infraestrutura
que nos próximos anos o
do local, mantêm um sorriso
Hipódromo Cristal poderá
permanente no rosto.
passar por restaurações.
Eles estão lá por um mo“Existe uma empresa espativo, talvez um dos pouco
nhola que está analisando
que impulsione suas vidas:
a possibilidade de investir
um amor incondicional,
no hipódromo”. Apesar do
forte e agudo a um esporte Apostador confere resultado dos páreos do dia
mistério, tudo indica que
que nos dias de hoje está
a empresa seja a Codere,
praticamente obsoleto. Al- área – boa parte ocupada por gerenciar o negócio. “É bom que desde 2004 vem inguns chamam de vício ou estabelecimentos comerciais lembrar que dos R$ 150 mil centivando o turfe no país.
jogo de azar. Pode ser. São –, o Hipódromo Cristal hoje arrecadados a cada semana, “Estamos realizando leilões
apaixonados por cavalos e definha, lento, mas resis- quase 30% são repassados dos animais, que é mais uma
pelo turfe.
te às intempéries devido para o Jockey Club de Porto fonte de renda e poderá nos
Poucos sabem, mas às ao esforço dos dirigentes, Alegre”, afirma.
ajudar na reestruturação do
margens do Guaíba se er- funcionários e criadores de
O restante do dinheiro é Cristal”, completa.
cavalo.
gasto em premiações, sergue uma obra
Enquanto a verba não
V i v e r d o viços básicos e pagamentos chega, o público faz o seu
ímpar da ar“O Hipódromo
quitetura mopassado seria de funcionários. Segundo o papel. Nelson Fruet, de 55
derna do cone Cristal é referência um bom ne- presidente, a quantia é baixa anos, comparece todas as
sul-america- na arquitetura em gócio para os para manter o local em bom quintas-feiras no Cristal, e
no. Um com- países do cone-sul” apaixonados estado de conservação. Em se diz apostador convicto.
pelo turfe. O consequência, o local afasta Conheceu o esporte há cinco
plexo de préesporte, que cada vez mais o público, anos. “Quando cheguei aqui
dios que tem
apenas 50 anos, mas que já nos últimos anos vem per- que hoje ocupa somente não gostei muito do lugar,
sofre com problemas infra- dendo muitos seguidores, uma das três
mas na mivive um período de recessão. grandes arquiestruturais e de abandono.
nha primeira
“São 4 mil sócios, aposta meu
Fundado no final da dé- O reflexo desse fenômeno bancadas.
Luiz Gar- mesmo assim não c a v a l o g a cada de 50, o hipódromo é pode ser visto no antigo ponuma obra idealizada pelo to turístico de Porto Alegre. cia, 65 anos, é
nhou, aí não
arquiteto uruguaio Román Alguns setores do Cristal ti- um dos apos- há recursos para a deu mais pra
manutenção”
Fresnedo Siri. É considerada veram que ser praticamente tadores assíparar, hoje
uma das obras mais ousadas abandonados por falta de duos. O criaé um vício”.
do artista, e é exemplar em dinheiro. Em uma rápida dor, nascido em Santiago, Com o passar dos anos, já
um quadro de referência glo- visita às estruturas, podem- conheceu as corridas de ganhou e perdeu muito dibal. Tal relevância na área se notar infiltrações, vidros cavalo quando tinha apenas nheiro, mas garante que no
da arquitetura, no entanto, quebrados e lixo espalhado 10 anos. Desde lá, acompa- final das contas isso não é o
não garante que o complexo pelo chão. Para o presidente nhou a ascensão e queda do mais importante, e sim os
esteja imunine ao descaso e do hipódromo, José Vecchio esporte. “Antigamente era amigos e as boas histórias
Filho, o valor ganho nas bonito de ver, as pessoas se de vitórias e derrotas que o
má conservação da área.
Com 92,5 hectares de apostas é insuficiente para arrumavam, o Cristal todo lugar lhe proporcionou.
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Tratamento especial
para os competidores
Estima-se que no Hipódromo Cristal existam 500
cavalos, todos puro-sangues ingleses, os famosos
SPI. Como é característica
dessa raça, os cavalos são
obrigados a se exercitar todos os dias, tomam banho
depois dos treinamentos
e são escovados por seus
cuidadores, quase um tratamento VIP.
Tal atenção e carinho
se deve em parte ao valor
que o animal pode atingir no mercado, que pode
chegar a R$ 100 mil. Por
esse motivo, os proprietários contratam até fisioterapeutas particulares
para os animais. Se algum
cavalo se machucar e não
receber tratamento imediato, é quase impossível
a recuperação, e terá que
ser sacrificado com uma
injeção letal.
Miguel Ângelo, 38 anos,
trabalha com os animais e
reside na Vila Hípica do
Cristal há 10 anos. Para
ele, que não tem pais nem
filhos, sua família são os
18 cavalos sob sua responsabilidade. Miguel recebe
um salário mínimo por
mês, e reside em uma casa
bem simples, com cozinha,
sala, banheiro e um quarto.
As contas de casa, porém, é
seu patrão quem paga.
Mesmo com as dificuldades, o cuidador garante
que não há melhor trabalho no mundo, e não se
imaginaria em outro lugar.
“Eu amo isso daqui. Não
saio de jeito nenhum”.
Cavalos descansam nas cocheiras depois do treino
23/6/2010 09:03:18
6 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
SAÚDE
“Graças à população, o hospital
vai se tornar realidade”
Ver. Comassetto
GABRIEL CALVI/JM
Madrugada de espera
no Pronto Socorro
F CAROLINA MARQUIS
Funcionários trabalham na primeira fase do projeto de terraplanagem, o terreno doado tem 40 mil m²
Sonho Antiga reivindicação da Zona Sul começa a ser construída
Hospital da Restinga
enfim sai do papel
BRUNA LOPES/JM
F BRUNA LOPES
F GABRIEL CALVI
diante”, desabafa.
Da sua casa até o hospital
Moinhos de Vento, onde faz
O novo complexo de saú- seu tratamento, é necessário
de da Restinga é resultado pegar dois ônibus. Quando
de parceria da Prefeitura de ficou sabendo que o projeto
Porto Alegre com o Hospital da Restinga vai sair do papel,
Moinhos de Vento (HMV). vibrou com a notícia: “TeAlém do bairro, outros seis nho que consultar com certa
serão beneficiados: Lageado, rotina e a distância é uma
Lami, Belém Novo, Ponta das dificuldades, com meu
Grossa e Chapéu do Sol. O problema visual é perigoso
investimento será de R$ 60 andar de ônibus sozinha.
milhões. Considerado de por- Estou muito feliz, tudo ficará
te médio, o empreendimento mais fácil agora.”
só não receberá cirurgias
O local da nova construde alta complexidade, como ção foi escolhido em virtude
cardíacas e transplantes de das características de isolaórgãos.
mento urbano, elevada denO capital para as constru- sidade populacional, carência
ções virá da renúncia fiscal e de estruturas de atenção à
de isenções de contribuições saúde, em especial hospitalar,
sociais concedidas pela União e indicadores sociais que eviao Hospital Moinhos de Ven- denciam situação de vulnerato. O complexo de saúde con- bilidade social. Cerca de 100
tará, também, com recursos mil pessoas vivem nas regiões
de caixa do próprio HMV, da Restinga e do Extremo
que é uma asSul da capital.
sociação sem
O número é
“A Restinga
fins lucrativos.
maior que o
necessita de uma da cidade de
Com inauguração prevista
Erechim, com
atenção maior
para 2012, o
97.916 habina saúde”
projeto não se
tantes.
resume a um
O vereador
simples hospital – trata-se engenheiro Carlos Comassetde um complexo de saúde to, líder da bancada do PT na
organizado e direcionado Câmara Municipal de Porto
integralmente a pacientes do Alegre, é um dos incentiSUS. A moradora do bairro vadores. Ele está envolvido
Restinga, Jacira Macedo, de com a comunidade há mais
72 anos, precisa de tratamen- de dez anos. “Promovemos
to médico mensalmente. Há passeatas e criamos o comidez anos, sofreu um derrame tê Pró-Restinga em 2006.
que a deixou cega do olho es- Posso afirmar que graças a
querdo e com graves sequelas esses eventos e a insistência
no direito. Viúva, mãe de três da comunidade ajudou o
filhos, aposentada e com difi- hospital a sair do papel e está
culdades financeiras, a cidadã começando a se tornar realireclama da falta de investi- dade.” Comassetto conta que
mento na saúde. “Há tempos presenciou muito sofrimento
a comunidade precisa de um dessas pessoas e está na hora
atendimento médico mais de agir. “A Restinga necessita
qualificado, mas nenhum de uma atenção maior na
plano até hoje foi levado a saúde com urgência”.
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Vereador Comassetto (PT), um dos incentivadores
distribuídas ao redor da
sala de espera, há diferentes
As pessoas se misturam histórias. Tem um homem
e os caminhos se cruzam escoltado por dois policiais
na avenida Osvaldo Aranha que espera ser chamado
esquina com a Venâncio para interar um dos 38 leiAires, no prédio vizinho à tos destinados à UTI. Uma
Igreja São José. O relógio família que chora abraçada:
no centro da quadra marca o tempo curará todas as ferimeia-noite. Horário das das. Pessoas que imaginam
incertezas nas madrugadas o tempo que deverão esperar
outonais de Porto Alegre. por respostas levam cadeiras
Duas lombadas cortadas de praia e as localizam entre
ao meio por uma pequena as ambulâncias e a escada
escada servem de base para que conduz ao hospital.
as colunas que premeditam:
Entretanto, uma delas se
Hospital Pronto Socorro.
destaca. É a de J., a da mãe
O tempo passa devagar que espera por notícias. As
na sala de espera do hospi- mães cumprem um papel
tal. O nome faz o lugar: sala determinante no mundo:
de espera. Velhos, crianças, criar pessoas. Uma mãe que
jovens, mães, pais, tios, espera por notícias na porta
namorados, bebês: todos es- de um hospital não faz jus à
peram por parentes, amigos, música de Cazuza intitulada
ou notícias. O que marca, “Só as mães são felizes”. J.
entretanto, as pessoas que espera pela filha de 3 anos.
figuram naquela sala é o ros- “Esta deve ser a milésima
to fatigado, as pernas joga- vez que venho aqui”, fala J.,
das despreocupadamente e demonstrando, irritadiça,
os braços cruzados em volta que o tempo real nada tem a
do dorso procurando encon- ver com o tempo demorado e
trar o próprio calor humano. pastoso da espera. “Neném”,
Quando não estão dessa for- como carinhosamente a mãe
ma distribuídas, estão de pé, chama a filha, sofre de asma
à espera do porvir, à espera e o Pronto Socorro é parte
por não mais esperar.
constante da vida das duas.
A calçada que ancora a “Espero o dia em que eu não
ultra movimentada avenida precise mais vir aqui porque
faz as vezes da sala de espe- ela estará curada”, profera a céu abertiza J. com
to, onde os
olhos cansa“O tempo passa
cigarros são
dos sabendo
permitidos e devagar na sala de da noite que
as pessoas se espera do hospital. as esperam.
sentem menos
hora sei
O nome faz o lugar” “Por
presas porque
que o hospital
cercadas por
fará parte por
ambulâncias, vendedor de algum tempo nas nossas
café e algodão doce e men- vidas”, conta a mãe.
Enquanto toma um café
digos, que se aconchegam de
baixo do pequeno teto – es- vendido no carrinho branco
sencial para dias de chuva ou localizado entre as ambulânmadrugadas de sereno– do cias estacionadas em frente
Hospital Pronto Socorro de ao hospital, J. reza baixinho
Porto Alegre, conhecido nas olhando em direção à igreja
ao lado do HPS. J. conhece a
ruas da capital por HPS.
Durante a madrugada rotina do lugar. Conhece as
fria de inverno fora de épo- enfermeiras que em breve
ca, e em todas as outras esta- trarão notícias de sua filha.
ções do ano, pessoas passam “Não reclamo do atendipela sala de espera do hos- mento daqui. Só é ruim
pital fundado em 19 de abril quando a polícia aparece
de 1944. Por dia são mais de para trazer algum bandido
900 atendimentos em 22 ferido, ou então quando vem
áreas. Por ano são mais de gente muito barulhenta”,
360 mil atendimentos rea- reclama a loira amplamente
lizados e, portanto, mais de conhecida da rotina do local.
360 mil pessoas esperando “Aqui as noites parecem não
por conforto e boas (muitas passar. A gente passa por
vezes más) novas.
elas. A gente vence cada uma
Entre as poltronas azuis delas”, diz J.
CAROLINA MARQUIS/JM
Para relembrar
Anos 70 - Na planta do projeto de ocupação da
Restinga aparecia um terreno destinado ao hospital.
10/2008 - Definido o terreno de 40 mil m2.
11/2008 - AHMV, prefeitura e governo federal
assinam o termo que aprova a construção.
3/2009 - Anunciada a data para início das obras.
12/2009 - Prefeitura libera o início dos trabalhos.
1/2010 - Inicia-se a terraplenagem do terreno.
Infraestrutura projetada
O terreno doado pela Prefeitura mede 40 mil metros
quadrados, localizado no
Loteamento Industrial na
Restinga, na quadra J, que
corresponde aos lotes 01 a 17.
A construção contará com um
prédio de 13.250 metros quadrados de área, distribuídos
em três pavimentos. Noventa
leitos estarão à disposição;
haverá atendimento adulto,
pediátrico, centro obstétrico,
sala de reanimação e estabilização, centro de especialidades e um de diagnósticos. O complexo atenderá a
uma demanda histórica por
serviços com foco na redução
da mortalidade e no adequado tratamento das enfermidades com qualidade .
Pessoas aguardam por atendimento no HPS
23/6/2010 09:05:13
Jornal da Manhã
Porto Alegre, julho de 2010
Ração Humana: benefício à saúde ou modismo?
F KARINE VIANA
“A procura tem sido tão
grande que a venda triplicou”.
A afirmação feita pelo gerente
da Banca 13 do Mercado Público de Porto Alegre, Márcio
Zanatta, resume o sucesso que
um composto de grãos tem
feito entre os consumidores.
Mais conhecida como “ração
humana”, a mistura de velhos
ingredientes tem assumido
os cardápios principalmente
de quem está em busca do
emagrecimento. No entanto,
a tentativa incessante pela boa
forma tem ignorado outras
propriedades favoráveis do
produto.
A mistura de ingredientes
ricos em fibras, vitaminas
e minerais ganha um lugar
estratégico nas prateleiras
do comércio. Cartazes com o
nome popular “ração humana” estampam as lojas. Embora as denominações variem de
acordo com o fabricante, este
é o nome mais buscado pela
população. Luciana Duarte,
30 anos, confessa que foi à
procura do produto tão logo
foi veiculado na imprensa:
“Comecei a tomar na busca do
emagrecimento, mas comecei
a notar outras mudanças,
principalmente na regularização do intestino”.
No entanto, a combinação
de vários elementos in natura
já é indicada há algum tempo
pelos nutricionistas. A especialista em Nutrição Clínica,
Clarisse Zanette, atribui a popularidade do produto a uma
lista de supostos benefícios:
“Diminuição dos níveis de
colesterol, regulação do diabetes, melhora dos sintomas da
menopausa e principalmente
o emagrecimento.” Diante da
principal promessa de enxugar as medidas, a também especialista na área e professora
“Todas as receitas
de sucesso tiveram
seus minutos de
fama algum dia.”
da PUCRS, Carolina Guerini,
acrescenta que “as pessoas
sempre estão em busca de
alternativas para emagrecer
e, de uma maneira geral, todas
as receitas de sucesso tiveram
seus minutos de fama algum
dia”.
Ainda nos anos 60, Edith
Travi, juntamente com seus
pais, criou uma mistura a qual
denominaram “Elixir da
Longevidade”. Há mais de 40
anos da sua comercialização,
a fórmula é uma das protago-
nistas dos produtos oferecidos
pela Casa Dietética, comércio
administrado pela família na
capital. A dosagem ideal de
cada alimento foi indicada
por cientistas europeus, mas
Gustavo Travi, neto de Dona
Edith, explica que a venda
dos ingredientes é realizada
separadamente: “Cada consumidor escolhe a composição de acordo com suas
necessidades”. Daisy Teixeira,
administradora da Geração
Saúde, fabricante de alimentos
naturais, diz que a organização
comercializa o produto há
poucas semanas. A necessidade partiu da forte procura
do alimento, principalmente a
partir de novembro de 2009.
Hoje, a venda é efetuada tanto
para pequenos comerciantes
quanto para redes varejistas.
A não padronização dos
produtos encontrados nas prateleiras dos estabelecimentos
sugere a escolha da composição adequada às necessidades
do usuário. Os fabricantes
têm investido em diferentes
combinações sob o intuito de
diversificar a possibilidade de
escolha do cliente. Conforme
orientação dos nutricionistas,
ao apresentar intolerância a algum dos itens, é ideal montar
sua própria mistura de acordo
com suas prioridades.
KARINE VIANA/JM
Três colheres no leite equivalem a uma refeição
Vida Novas alternativas da medicina na busca da saúde perfeita
Terapias holísticas no
tratamento de doenças
FOTOS MÔNICA CARVALHO/JM
7
O erro dos
usuários
Muitos usuários, ávidos
pela possibilidade de acelerar a perda de peso, desconhecem ou ignoram os benefícios e contra-indicações
de cada componente. Para
Carolina, o principal erro
do consumidor é acreditar
na fórmula como mágica.
“Achar que basta começar a
ser consumida para emagrecer ou querer substituir várias refeições pela mistura”,
ressalta. Este procedimento
compromete a qualidade da
alimentação por excluir demais alimentos com valores
nutricionais importantes.
Alisson Baldissera, 22
anos, admite que substitui
até duas refeições diárias
pela ração humana. “Fico
saciado e não sinto fome
durante boa parte do dia”,
revela. Esta sensação de
saciedade ocorre pela alta
concentração de fibras, que
faz com que a fome demore
mais tempo para aparecer. A
prática de substituir a comida é desaconselhada, pois o
composto deve ser administrado como complemento,
sob o risco de prejudicar a
saúde, pois possui quantidades significativas de açúcar
e sódio, itens que devem ser
ingeridos com moderação.
Alternativas completam
procedimentos médicos
O cardiologista Paulo
Casali considera que as
terapias alternativas têm
um papel fundamental na
complementação dos tratamentos médicos. Para
ele, a acupuntura é a terapia
mais efetiva no combate e
alívio dos sintomas. “Indico
a acupuntura como terapia
alternativa, principalmente
nos casos de dores crônicas
na coluna e também para
amenizar as crises de enxaqueca. Há estudos que
comprovam sua eficácia,
mesmo quando ela é o único
tratamento, pois propicia
sensação de relaxamento
e aumenta a resistência do
organismo”.
Dr. Casali não acredita
que a difusão das técnicas
alternativas possa comprometer o trabalho da medicina tradicional, “elas são
complementares, da mesma
forma que a fonoaudiologia,
fisioterapia e a nutrição”,
destaca.
O cardiologista é totalmente contra a substituição
dos tratamentos médicos
por técnicas holísticas. “Evidente que essa troca traz
prejuízos à saúde, uma vez
que os pacientes correm risco de não receber diagnósticos verdadeiros”, alerta.
Para ele, sem diagnóstico
correto, não há tratamento
eficaz. “Ao fim, o prejuízo
maior, é para o paciente”,
ressalta.
O tratamento doloroso
no uso das agulhas é quase
sempre relacionado a um
mau profissional, por isso
um ponto fundamental é a
escolha de especialistas que
submeteram-se a reconhecidos cursos de capacitação
e obtiveram uma formação
adequada.
A técnica das pedras aquecidas propicia relaxamento, alívio das tensões e ainda previne desequilíbrios
F MÔNICA CARVALHO
Com a tecnologia, a medicina evoluiu e a cura de
muitas doenças já é possível.
Mas, mesmo com tantos tratamentos inovadores, a busca
pela saúde perfeita ainda é
um desafio. A população está
mais exigente e preocupada
com a qualidade de vida. A
busca pelo bem-estar e pelo
autoconhecimento faz com
que novas terapias ganhem
o mercado e atraiam adeptos.
As Terapias Alternativas
têm como objetivo tratar da
pessoa como um todo, cuidando os aspectos biofísicos, emocionais, ambientais e energéticos. Buscam o equilíbrio
através de estímulos suaves
e naturais que promovem a
ampliação da consciência e da
auto-harmonização. Elas melhoram as condições de saúde,
complementam os tratamentos médicos convencionais e
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ainda auxiliam na prevenção
de desequilíbrios.
De acordo com o Sindicato
dos Terapeutas (SINTE), existem 150 mil profissionais no
país. A economia mobilizada
por este setor atinge R$ 6,3 bilhões ao ano, ou seja, 0,53% do
PIB. No Brasil, os tratamentos
estão em ascensão, mas nos
Estados Unidos movimentam
cerca de US$ 30 bilhões por
ano e o número de consultas
com terapeutas holísticos é
30% superior ao de consultas
com médicos.
Entre os tratamentos oferecidos, os mais comuns são:
reiki, reflexologia, terapia floral, cromoterapia, massoterapia e o yoga. No momento, só
a acupuntura e a homeopatia
são consideradas especialidades médicas. A acupuntura,
técnica milenar chinesa, é
reconhecida pelo Conselho
Federal de Medicina desde
1995. A profissão, que não foi
regulamentada pelo Ministério do Trabalho, conta com 30
mil acupunturistas em todo o
país, a maioria atua de forma
individual e sem fiscalização.
A falta de regulamentação é a
grande discussão em torno das
terapias. A Associação Médica
Brasileira determina que somente os médicos devem aplicar os tratamentos. A razão é
clara: muitos leigos participam
de cursos que duram um final
de semana e já declaram seus
milagrosos poderes de cura.
Mas como em todas as
áreas, na Terapia Holística
também existem bons profissionais que têm consciência
de suas atribuições. A diretora
do Centro Idhera, terapeuta
Lílian Brusque, destaca que
a terapia alternativa tem por
princípio usar técnicas naturais integradas para a manutenção global do indivíduo “e
não dispensa o acompanhamento de outros profissionais
da área da saúde”, esclarece.
No caso da acupuntura,
que tem eficácia comprovada
por meio de pesquisas científicas, cabe ao paciente compreender que o tratamento
apenas ameniza os sintomas,
como explica a fisioterapeuta
e acupunturista Claudia Lucas
Pederiva: “A acupuntura pode
atuar em todas as doenças,
as principais são, tendinites,
dores na coluna, cefaléias,
ansiedade e obesidade, mas
é fundamental ter em mente
que algumas doenças precisam de tratamento específico,
como o câncer, a acupuntura
vai melhorar os sintomas, mas
não irá curar.”
É comprovado que algumas terapias contribuem para
o equilíbrio do ser humano.
Elas complementam os tratamentos e ampliam a sensação
de bem-estar, mas nenhuma
técnica substitui as indicações
da medicina tradicional.
A acupuntura é muito indicada pela medicina
23/6/2010 09:06:13
8 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
GERAL
“Devemos entender a transparência
como um direito da cidadania”
Ver. Aldacir Oliboni
Transparência Executivo abre dados municipais à população
Contas públicas
estão na internet
Eleições 2010
A voz de quem
não tem vez
F RODRIGO PIZOLOTTO
FOTOS ALINE COSTA E SILVA/JM
José Maria, PSTU
Dirigente nacional do
Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU),
José Maria de Almeida, conhecido como Zé Maria,
concorre a Presidência da
República pela terceira vez.
O Jornal da Manhã conversou com o candidato que não
aparece nem nas pesquisas,
nem no espaço na grande
mídia.
Página do Portal Transparência está disponível para todos os usuários da internet
F ALINE COSTA
Os dados das finanças
públicas do município de
Porto Alegre agora podem
ser acessados pelo cidadão
através de uma nova ferramenta instituída na página da prefeitura: o Portal
Transparência. Através do
site, desde fevereiro deste
ano, é possível navegar pelas seções de Receita, Despesa, Execução Orçamentária e Financeira, Quadro
Funcional, Folha de Pagamento, Diárias e Passagens
e Contratações de Pessoal.
Todas as informações estão
disponíveis somente de
janeiro de 2010 em diante.
O portal foi criado por
meio da Lei 10.728, de autoria do vereador Aldacir
Oliboni (PT) e aprovado
pela Câmara Municipal
de Porto Alegre em 2009.
Segundo Oliboni, uma das
principais preocupações da
sociedade brasileira, atualmente, é a implementação
de instrumentos que deem
maior transparência aos
atos praticados pelas instituições públicas. “Esse é um
tema que, sem dúvida, contribui imensamente para
o fortalecimento da democracia. Devemos entender
a transparência como um
“O Portal promove
acesso ágil, amplo e
objetivo aos dados
da aplicação dos
recursos públicos
municipais.”
direito da cidadania. Aliás,
um direito garantido na
Constituição Federal e na
Lei Orgânica do Município”,
afirma o vereador.
A regulamentação através do Decreto 16.588 definiu o cronograma de implantação das seções de
convênios, que deverá acontecer no segundo semestre
de 2010. As licitações e con-
tratações de serviços terceirizados só ocorrerão no primeiro semestre do ano que
vem. As informações serão
atualizadas mensalmente,
à exceção dos conteúdos
sobre quadro funcional
que será semestral e de
licitações com atualizações
semanais.
Para a Secretaria Municipal da Fazenda, a função
do Portal Transparência
é promover acesso ágil,
amplo e objetivo aos dados
da aplicação dos recursos
públicos municipais.
As informações terão de
permanecer no Portal pelo
prazo mínimo de quatro
anos, após o encerramento
da respectiva licitação ou
vigência do convênio ou instrumento congênere pactuado, sendo disponibilizados
links para a solicitação da
íntegra dos documentos
relativos ao processo de
licitação.
www2.portoalegre.rs.gov.
br/transparencia
JM - Quais são as suas
expectativas com relação a esse pleito?
ZM - Nossa expectativa é
apresentar para a sociedade
brasileira uma alternativa
que possa representar os
interesses da classe trabalhadora no processo eleitoral.
Carmine Rimolo não
pretende voltar mais à sua
Itália natal. Matou suficientemente a saudade de Morano Calabro, de onde saiu
em 1952 rumo ao Brasil, a
Porto Alegre. Estabeleceuse como comerciante e hoje,
aposentado, contenta-se
em rever seus patrícios nas
animadas tardes de truco na
Sociedade Calabresa, ponto
de encontro de muitos como
ele, que chegaram aqui em
busca de oportunidades de
trabalho. Caminho contrário pretendem fazer milhares de brasileiros que estão
na enorme fila para o reconhecimento da nacionalidade italiana, refazendo,
gerações depois, a história
de seus parentes.
Com o advento da União
Europeia, a cidadania italiana abre as portas do Velho
Continente. Conforme a
pg008.indd 1
LUCAS GONÇALVES/JM
Pela Itália, jovens abrem caminho para Europa
advogada Daniela Falavigna, especialista nesse tipo
de processo, a maioria das
pessoas que a procuram são
jovens com a pretensão de
seguir estudos e conseguir
trabalho na Europa. A tra-
mitação, lenta, exige longa
pesquisa por documentos
e certidões, devidamente
traduzidos para o reconhecimento da cidadania pelo
consulado da Itália, assim
como pelo governo do país.
As obras de melhoria da
infra-estrutura de Porto Alegre para a Copa do Mundo de
2014 estão atrasadas. Algumas questões que conflitam
os interesses do governo e
dos clubes impedem que as
reformas acelerem.
Na Capital, a linha de
metrô que ligaria os estádios
Olímpico e Beira-Rio ao Centro não ficará pronta até 2014.
O governo federal alega que a
construção é grande demais
para ficar pronta dentro do
prazo. A situação do aeroporto Salgado Filho também
preocupa. O projeto que visa
o aumento de 920 metros da
pista ainda não saiu do papel.
O prazo da FIFA para o
início das obras nos estádios
expirou no dia 3 de maio. A
reforma no Gigante da BeiraRio encontra-se parada. A
razão apontada é a demora
do governo em conceder a
isenção dos impostos. “Estamos aguardando a resolução
de questões tributárias que
envolvem todas as obras
em nível nacional visando a
Copa. Resolvido isso, as obras
no Beira-Rio iniciarão efetivamente”, afirma Fernando
Carvalho, vice-presidente de
futebol do Internacional.
Segundo o vice-presidente
de patrimônio Emídio Ferreira, com a isenção dos tributos, a economia na reforma
giraria em torno de 30%.
Se a medida governamental
ocorrer, o Inter venderá o
antigo Estádio dos Eucaliptos. O dinheiro, calculado
em aproximadamente R$ 25
milhões, será investido no
projeto Gigante Para Sempre. “Pretendemos também
arrecadar R$ 1 milhão com
cada uma das 100 suítes que
ficarão ao redor do campo”,
declara Ferreira.
População recebe maior
segurança durante o dia
CAMILA KAUFMANN/JM
JM - Os veículos de comunicação não dão vez
aos candidatos que não
aparecem nas pesquisas. Onde estará a voz
do candidato Zé Maria?
ZM - Parte das dificuldades
da nossa campanha é a incidência do poder econômico
no processo eleitoral do nosso país. A legislação é completamente antidemocrática.
Ela reserva a maior parte
do tempo da televisão para
partidos que já são governo
e não há outra forma de
chegar à população do Brasil a não ser pela televisão.
Essa via está completamente
fechada para os partidos que
têm uma proposta socialista,
ou de oposição ao status quo,
como é o caso do PSTU. Nós
vamos ter que superar isso
com a militância, com a
atuação dentro dos locais de
trabalho, nas escolas e nas
comunidades.
Cidadania inverte caminho de imigração
F LUCAS GONÇALVES
Obras atrasadas para a
Copa de 2014 na capital
Em Porto Alegre, o prazo
mínimo para a finalização
é de cinco anos, mas pode
se estender bem mais. “Por
isso muitos pais nos procuram a fim de deixar como
herança aos filhos uma
porta aberta para o futuro”,
explica Daniela.
A diferença desta nova
geração que almeja a vida
na Europa para os seus
avôs ou bisavôs que imigraram para cá é a situação
econômica destas pessoas.
O processo de cidadania
é dispendioso, exige uma
boa renda. Diferente de
Carmine, que desceu no
Aeroporto Salgado Filho
sem nada nos bolsos, apenas a promessa de ajuda
de um cunhado que sequer
conhecia. Arrependimento?
“Já visitei Morano cinco
vezes, mas agora já chega.
Minha vida, minha família
é no Brasil”. Talvez, esteja aí
a semelhança – na coragem.
Soldado presta atenção na movimentação das ruas
F CAMILA KAUFMANN
Porto Alegre recebeu neste ano o maior número de
efetivos na história da Brigada Militar. Até o momento a
cidade conta com 3.118 PMs
nas ruas. Segundo o capitão
Heraldo Leandro Santos,
responsável pelo P3 (operações, treinamentos e ensino
para qualificar os novos policiais), os cidadãos percebem
o aumento da tropa. “Antes
mesmo da formação que
ocorreu no dia 21 de abril,
a população já comentava
o aumento do policiamento
nas ruas”, afirma Santos.
Para João Neves, funcionário público e morador do
bairro Centro, é normal ver
PMs nas ruas, mas, durante a
noite, nessa mesma região, o
cenário muda. “Quando volto
do trabalho não identifico
um brigadiano nas ruas. Sinto falta do mesmo cuidado
com a segurança na parte da
noite”, comenta ele
Durante o dia, o número
Os números
Efetivo 2009
2484
Efetivo 2010
3118
de policias se intensifica.
“Procuramos atender as necessidades da população.
Direcionamos o maior cuidado para onde vamos ter
um aglomerado de pessoas.
E isso sempre ocorre na parte
do dia”, esclarece o capitão
Santos.
Em contraponto, as blitze
sendo realizadas pela manhã
causariam um conflito de
circulação nas vias. “À noite,
empregamos as operações de
barreiras. Assim, podemos
coibir a ação dos criminosos,
que na maioria das vezes usa
a parte da noite para transportar as drogas”, conclui o
oficial.
23/6/2010 09:07:07
Jornal da Manhã
Porto Alegre, julho de 2010
Camila Kaufmann
Por uma vida menos ordinária
O
índice pluviométrico de
Sydney (Austrália) é quase
o mesmo de uma cidade
como Porto Alegre, aí vem a questão: o que causa mesmo os buracos
nas nossas estradas? Primeiro: a
composição do asfalto no Brasil é
precária, pois, além da economia
de material, não há um bom sistema de drenagem para que a água
evacue. Em segundo lugar, muitos
caminhões trafegam com carga
acima do peso permitido. A resposta mais visível é a necessidade de
obras (reformas) constantes para
alimentar os sanguessugas que
negociam as licitações públicas.
Faz-se mal feito para depois reformar. O slogan “um país de todos”,
se aplica aos que optam por entrar
no “esquema”.
Morei quase um ano na Austrália onde constatei inúmeras diferenças. Nas férias de verão percorri
mais de 5 mil Km de carro, saindo
desde Sydney, passando pelas
praias de Queensland e retornando
pelo interior. Sequer encontrei um
buraco do nível “Brasil” e 99% do
percurso estão em excelentes condições. O nosso povo já esqueceu o
que é andar em asfalto bom, nem se
dando conta de que as nossas rodovias são deformadas, o famoso desnível. Não existe sequer um trecho
em que você não se balance dentro
do carro. Já pensei em instalar um
“kit desodorante” acoplado internamente em virtude dos constantes
“exercícios físicos”, no nosso País.
Em Sydney, não há o medo com
assaltos. É o corpo humano vivendo sem tensão. Aqui não temos
liberdade para as coisas simples.
Enfrentamos o toque de recolher; o
direito de ir e vir não se aplica com
racionalidade. O quesito segurança
é um fator determinante de qualidade de vida.
É visível que os australianos
ganham o suficiente para ter uma
vida digna com qualquer trabalho.
A partir dos 16 anos, muitos jovens
já não moram mais com a família e
acima de 21 raramente vivem com
os pais. A maioria dos adolescentes
não cursam sequer uma faculdade,
porque em muitos casos ganham
praticamente o mesmo salário
fazendo serviços como limpeza de
casa, baby sitter ou, até mesmo,
entregando panfletos na esquina.
O segredo deles é a massiva classe média, que, com a sua renda,
educação e valores faz o país se desenvolver tanto da forma humana
quanto monetária.
A diferença é que com o pouco
que se ganha se faz muito na Austrália, seja comprando móveis para
a casa, ou indo ao supermercado.
É um país focado na “Chinaliza-
9
ção” – praticamente todos os bens
de consumo são “made in China”.
Isso resultou num sucateamento da
indústria australiana, que acaba
não conseguindo competir com os
preços. É óbvio que a qualidade
não é a mesma, porque o governo
tem interesse na redução do custo
dos produtos de modo a beneficiar
o consumidor. Todavia, o poder de
consumo do australiano é maior
que o nosso modesto padrão.
O Brasil é um país dos sonhos,
de que algum dia você chegará lá
com a fé. Não há um fato consumado e alguém pode lhe puxar o
tapete. Na verdade, trabalhamos
para pagar as contas e, com o que
nos resta no final do mês, temos a
falsa ilusão que as compras que
fizemos no final de semana nos
garantirão um futuro promissor.
Rural Com a redução de emprego no setor tabagista, aumenta a necessidade de novas culturas
Saída de indústrias do fumo causa
desemprego e abala produtor rural
F KARINE VIANA
A economia da região
central gaúcha se vê ameaçada com a migração de
empresas fumageiras para
outros estados. A empresa Universal Leaf já havia
transferido parte de sua
produção para o solo catarinense e este ano foi a vez
da Alliance One confirmar
uma unidade no estado vizinho. Com isto, o que inevitavelmente irá acontecer
é a redução de empregos.
Somente com a transferência da Alliance cerca de 280
empregos fixos deixam de
existir. Além disso, haverá
forte queda nos empregos
sazonais, chamados safristas, que chega a 1,6 mil.
Conforme o chefe da
Emater em Venâncio Aires,
Vicente Fin, já existe parceria entre o órgão e a Secretaria Estadual da Agricultura
visando trabalhar diversas
frentes para viabilizar o
“O problema
é para onde
irá a produção
alternativa”
crescimento das culturas
alternativas, entre eles a
avicultura, suinicultura, piscicultura, o cultivo de grãos
e de frutas cítricas. “Esta-
Cultivo de grãos é uma das alternativas de renda
mos apresentando muitas
propostas e trabalhos para
esta diversificação. O mesmo
deve estar ocorrendo nos
demais municípios”, afirma.
A produção, no entanto,
não deve ser afetada. Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra),
as empresas continuarão
fornecendo insumos aos
agricultores. O choque se
configura na arrecadação da
região e no índice de empregabilidade, o que também
representa redução de movimentação financeira em
outros setores. Fin destaca
que em Venâncio Aires são
5,3 mil famílias cuja renda
se baseia no setor, as alternativas apresentadas iriam
inserir cerca de 800 famílias
com renda semelhante. O
engenheiro também alerta
para a rentabilidade do tabaco, que se iguala apenas
à pscicultura e olericultura,
e acrescenta: “O problema
não é só a rentabilidade, mas
para onde irá a produção alternativa”, lembrando também que o cultivo de grãos
como arroz, soja e milho
necessitam de área superior
a 100 hectares para atingir a
mesma viabilidade de dois a
três hectares de tabaco.
Impulsionados pela produção do tabaco, municípios
FOTOS KARINE VIANA/JM
Os agricultores trabalham o ano todo, da plantação à secagem do tabaco
da região de Santa Cruz do
Sul contribuem para a garantia de renda de grande
parte da região. O cultivo
no RS faz com que o estado
figure como maior produtor
do fumo entre os estados
sul-brasileiros. No entanto,
a ameaça na queda deste
rendimento em solo gaúcho
está vinculada saída destas
indústrias do tabaco para
outros estados. Hoje, o RS é
responsável pela produção
de 50% do total, enquanto
Santa Catarina tem 33% e
Paraná, 17%.
A transferência é motivada pela estratégia de evitar a
geração de créditos de ICMS.
Romeu Schneider, secretário Afubra, acrescenta que
isto se dá em função destes
créditos estarem retidos no
estado e não ressarcidos.
Quando o fumo é transferido
de Santa Catarina
para o solo gaú-
cho, as empresas precisam
recolher o ICMS na saída
do estado de origem, o que
gera crédito para o RS. Se
transportado para a própria região produtora, não
há incidência do imposto,
o que significa redução de
custos. A única alternativa
para reverter a situação é a
liberação do crédito acumulado, que hoje chega a R$
170 milhões, propõe Romeu
Schneider.
Símbolo da hospitalidade gaúcha ganha o mundo
F KARINE VIANA
Diversas lendas norteiam
o uso da erva-mate no estado
e a concepção do chimarrão.
Uma delas dá conta de que
soldados fundadores da primeira cidade da América Latina utilizavam a planta para
a cura de ressacas. Também
atribui-se ao uso de folhas
cortadas dentro de um porongo pelos índios guaranis.
No dia 8 de dezembro de
1980, durante gestão do então
governador Amaral de Souza,
a erva-mate foi constituída
árvore símbolo do nosso Estado. O Ilex Paraguariensis,
nome científico dado à planta,
é a matéria-prima da bebida
dos gaúchos, que através de
um projeto criado há 12 anos,
vem sendo disseminado pela
pg009.indd 1
Escola ensina o preparo
Escola do Chimarrão, de Venâncio Aires.
É entusiasmado que o
diretor executivo da Escola,
Pedro Schwengber, fala sobre
a missão de globalizar este
símbolo gaúcho. A bebida
quente e amarga tem, segundo muitos adeptos, o papel de
aproximar as pessoas. Hoje,
mais do que reunir as famílias
em círculo enquanto apreciam o mate, a disseminação
da cultura quer aproximar
também outros povos. Diante disto, o instituto integrou
uma comitiva que percorreu
a Europa para divulgar a
tradição sul-brasileira. Países
como França, Àustria, Itália,
Alemanha e Espanha tiveram
a oportunidade de provar a
bebida e conhecer um pouco
da cultura do estado. Em
2009, além de marcar presença em diversas cidades
gaúchas, também percorreu
seis estados do país. No entanto, a menina dos olhos de
Schwengber é realização de
um projeto chamado “mateada nas escolas”. “Queremos
difundir a cultura entre os
jovens”, afirma.
Conhecida popularmente
como Capital Nacional do
Chimarrão, o município de
Venâncio Aires, a 130Km da
capital, teve este título legalmente reconhecido somente
em 11 de novembro de 2009.
O pórtico de entrada da cidade faz jus ao reconhecimento:
duas mãos segurando cuias
de chimarrão dão boas vindas
aos visitantes. A cada dois
anos, a cidade celebra a bebida com uma festa nacional,
a Fenachim. O chimarródromo, fornece água quente aos
transeuntes e integra um dos
pontos turísticos da região.
Uma mistura da colonização
alemã com a gaúcha.
O chimarródromo é mais que um ponto turístico
23/6/2010 09:08:36
10 Porto Alegre, julho de 2010
Jornal da Manhã
ESPORTE
“Passar todas as estações do ano neste cenário
natural, diante da cidade, é um privilégio”
Marcello Varriale
Remo A cerca de um quilômetro do Centro da Capital, remadores treinam em busca de seus objetivos
Capital por outra perspectiva
F RODRIGO PIZOLOTTO
motivador. “Acredito que a
cobrança seja muito mais dos
Em meio a uma tarde efer- próprios atletas em relação a
vescente de abril, a uma dis- eles próprios do que minha.
tância de mais ou menos um Chegando aqui, eles sabem
quilômetro do Cais do Porto exatamente o que fazer”, resque beira a cidade de Porto salta. Embora o técnico saiba
Alegre, ouvem-se gritos: “Va- da consciência de seus atletas,
mos lá! Faz doze quilômetros ele lembra que a rotina de
mais uma sessão de alonga- treinos é extremamente canmentos e abdominais”. Uma sativa. “Exigimos muita força,
longa pausa, caras feias e gemi- resistência e concentração”,
dos na face de um guri. Porém, destaca.
a expressão facial é de causa
Os discípulos do treinador
nobre. Os gemidos advêm de garantem que a rotina é muito
esforço e dedicação. “Aumen- puxada. Francisco Mendes, 15
ta o ritmo agora!”. Diante da anos, dono de diversos títulos
interrogativa do rapaz, o grito estaduais, é um dos destaques
é solto com uma entonação do GNU. O guri corre o cammaior: “Se não tentares, nun- peonato nacional em uma
ca vais conseguir”. Ao fundo, categoria acima da sua idade.
ruídos do motor de um barco. Embora o sucesso obtido até o
A cena se dá às margens do momento, ele não nega o canGuaíba, na Ilha do Pavão, uma saço dos treinamentos. “Tenho
das sedes do Grêmio Náutico aula durante a manhã, chego
União. As palano clube pelas
vras de incen“Exigimos muita duas da tarde
tivo são do cotreino até às
força, resistência e eseis
ordenador do
e meia.
concentração”
Departamento
Durante a noide Remo, Marte, corro para
cello Varriale que, a bordo complementar as remadas da
de uma lancha de alumínio, tarde”, afirma.
endurece o treinamento de
Aos 16 anos de idade, Bruadolescentes que almejam um na Contieri mostra que remar
futuro brilhante no esporte. não é coisa de meninos. “Meu
“Estamos a sete minutos do pai e diversas pessoas da faCentro. Escutamos o barulho mília praticaram remo a vida
dos carros. Passar todo o ano inteira. Comigo não podia ser
neste cenário natural, diante diferente”, conta. Sobre os
da cidade, é um privilégio”, exercícios, ela enfatiza o rigor
define, descrevendo o seu in- do esporte: “Sair de noite,
vejado escritório de trabalho. por exemplo, o Marcello não
Esporte mais popular do nos proíbe. Desde que esteja
Brasil até as primeiras décadas às oito horas aqui no dia sedo século passado, principal guinte”.
estampa das pouquíssimas páApesar de tudo, remadores
ginas de divulgação esportiva e treinador concordam que
que existiam, o remo é a razão o esporte compensa qualde existir do clube. Fundado quer tipo de esforço. Entre o
em primeiro de abril de 1906 embarque no barco para ir e
pelos guris Carlos Arnt, Hugo voltar da ilha todos os dias,
Deppermann, Arno Depper- está a vista privilegiada da
mann, Hugo Berta, Arnaldo Capital, a sombra das árvores,
Bercht e Emílio Bercht. Eles alto-astral, amizade e alegria
tinham o sonho de ver o seu e, no crepúsculo, um Sol que
esporte preferido, nas águas se esconde de uma maneira
do Guaíba. E hoje, de algum rara. “Tu remas olhando para a
lugar, devem observar o resul- natureza. A cidade e o barulho
tado com um imenso sorriso ficam longe”, lembra Bruna.
“Se todos pudessem ter essa
no rosto.
Desde 2002, Varriale é visão que temos aqui, o pessoal
não somente o treinador dos iria viver mais tranquilo”, comremadores, como também um pleta Marcello Varriale.
pg010.indd 1
“Tudo o que eu tenho veio do remo”
Ronaldo Vargas é praticante do
remo desde os 14 anos. Se dedica
integralmente às raias do Grêmio
Náutico União. Ele é nove vezes
consecutivas campeão da categoria
skiff, peso-leve.
muito nesse material. De resto,
estamos na frente, sem dúvida.
Como é a rotina de treinos de
um remador do GNU?
Treino duas vezes todos os dias
da semana. Sábado e domingo,
o treinamento é somente em um
turno. Chego às 6h45 e fico até às
10h. Depois, volto à tarde, pelas 15h
e saio às 17h45.
Que influências o levaram a
praticar esse esporte?
Meu irmão remava no Grêmio, mas
só de brincadeira. E eu, com oito,
nove anos ficava observando os
barcos. Posteriormente me afastei
da área. Fui jogar futebol. Quando
voltei, aos 14 anos, permaneci até Ronaldo Vargas, 34 anos, remador
hoje.
Competições. Quais você participou e venceu?
Sou nove vezes campeão consecutivo
brasileiro da categoria skiff. O único
brasileiro a alcançar esta marca. Tenho
algumas medalhas pan-americanas,
sul-americanas. Na minha categoria,
apenas um remador do Rio de Janeiro
se iguala a mim no quesito sulamericano. Também participei e venci
inúmeros campeonatos estaduais.
A estrutura do GNU é a melhor
do Brasil?
Acredito que a única dificuldade do
União é nos barcos. O clube não investe
FOTOS RODRIGO PIZOLOTTO/JM
Após o exaustivo treinamento, a gurizada corre atrás da bola
Falta incentivo e patrocinadores para profissionalizar de
vez o remo?
O nosso esporte, infelizmente ainda
é muito amador. Porém, não posso
reclamar neste sentido. Tudo que
eu tenho veio do remo. Minha casa
e os três táxis que eu administro
junto com um colega de clube.
Não ganho o ideal, mas o meu
sustento vem do esporte. Quanto
aos patrocinadores, sempre quem
nos manteve foi o União.
Falando de remo especificamente aqui em Porto Alegre,
qual é a sensação de estar, ao
mesmo tempo tão perto e tão
longe da cidade, em contato
com a natureza?
A primeira vez que eu pisei na ilha,
fiquei impressionado. Agora, com
vinte anos de profissão, a gente
sequer nota, mas o pessoal que vem
de fora, passando o muro da Mauá,
sempre se surpreende. As pessoas
nem sabem que existe essa beleza
toda que possuímos. A gente vê de
tudo, porco-espinho, enfim, temos
uma floresta particular em plena
Porto Alegre.
No passado, era
o mais popular
Antes do futebol, o esporte mais
popular do Brasil era o remo. Não fosse
através das braçadas, não conheceríamos o Clube de Regatas Flamengo, o
Botafogo de Futebol e Regatas e o Clube
de Regatas Vasco da Gama.
Não estaríamos em solo brasileiro
se não fosse assim: na Ilha do Pavão, a
rotina segue a ordem cronológica dos
fatos. Após um dia de remadas, nada
melhor do que um jogo de futebol. É esse
o costume de Alef Fontoura, de 14 anos.
O guri pratica remo há cerca de um ano e
já é campeão estadual infantil e vencedor
de três etapas da Copa RS. Após a saída do fotógrafo, é possível
ouvir lamentações. “Vocês são tão ruins
que o cara parou de tirar fotos!”.
23/6/2010 09:09:29
Porto Alegre, julho de 2010 11
Jornal da Manhã
Museu do Inter conta
a história do futebol
F THAIS LONGARAY
Foi inaugurado na primeira quinzena de abril o Museu
do Sport Club Internacional
– Ruy Tedesco. Ao contrário
do que se imagina, o espaço
não conta somente a história
do clube. Ali, pode-se conhecer um pouco do começo do
futebol no Brasil e no mundo.
Logo na entrada, um painel mostra a fundação do
Inter e o contexto social no
qual o futebol estava inserido
no início do século 20. A elite
dominava o esporte, cedendo,
logo depois, aos jogadores de
classes inferiores e aos negros.
Em Porto Alegre, como mostra a exposição, os times passaram a buscar os jogadores
da Liga Nacional de Football
Porto-Alegrense, a Liga da
Canela Preta, entre os anos de
1911 e 1915.
Ainda no primeiro espaço,
computadores permitem ao
visitante conhecer a origem,
a evolução tática, os primeiros
territórios por onde a modalidade passou e a situação em
que se encontrava à época da
fundação do clube, em 1909.
Na busca por essas informações, Milena Haubmann,
gremista de Porto Alegre,
confere o acervo. “Apesar de
ser do colorado, o museu fala
dos campeonatos no Brasil e
homenageia os rivais com as
flâmulas”, comenta.
Ao lado dos troféus internacionais conquistados pelo
time da casa, a exposição das
flâmulas dos adversários homenageia os grandes clubes
com os quais o Inter jogou. No
espaço estão representados
gremistas, atleticanos, sportingstas, culés, são-paulinos,
palmeirenses, entre outros
tantos torcedores.
O curador Nico Rocha
destaca que esse é o diferencial
da exposição, que tem por
objetivo se tornar um ponto de
encontro de apreciadores do
futebol. “Resgatar a história
e mostrar o contexto é importante para que o torcedor
se sinta parte de tudo isso”,
comenta.
Ao total, foram gastos R$
4 milhões em esculturas, equipamentos de alta tecnologia e
recuperação das peças históricas. E o investimento valeu a
pena. Só no primeiro final de
semana mais de duas mil pessoas conheceram a exposição.
“Foi muito satisfatório e esteve
dentro da nossa expectativa,
ainda mais havendo jogo do
Inter no Beira-Rio. O pensamento é justamente de receber
este visitante que depois verá
a partida do clube”, avaliou
a diretora do museu, Dânia
Moreira.
Serviço
Museu do Sport Club Internacional – Ruy Tedesco
Estádio Beira Rio – Av. Padre Cacique, 891 – Porto
Alegre/RS - Telefone: (51) 3230.4669
Funciona de terça-feira a domingo, das 10h as 18h. O
valor de entrada é R$10,00. Sócios em dia e crianças
até 5 anos estão isentas de ingresso. Idosos, estudantes
e professores pagam meia entrada.
ALEXANDRE LOPS/DIVULGAÇÃO
Espaço reservado a flâmulas exalta adversários
FOTOS DELMAR JUNIOR/JM
As bolachas de acrílico prontas para serem trabalhadas pelo torneiro, responsável pela fabricação das peças
Botão Saiba como são fabricadas as peças e a dica de um jogador
A paixão e a produção
dos craques de acrílico
F DELMAR JUNIOR
Os jogadores estão à beira do campo, usando as
cores e carregando o distintivo de seus clubes consigo.
Inicia a partida, um dos
times começa o ataque. até
que surge o grito “A gol!” Na
imaginação dos jogadores é
futebol, igual ao visto nos
estádios ou na televisão, mas
as partidas são disputadas
em uma mesa.
Trata-se do futebol de
botão, criado por Geraldo
Decourt em 1930 com o Gérson utilizando o torno: sua principal ferramenta
nome de Celotex, material
da confecção das mesas, Mimo (loja especializada no
que logo ganhou adeptos do futebol de mesa) até 1990,
Brasil e também em outros quando decidiu fabricar
países como Argentina e Es- suas próprias equipes. Para
panha. No começo, as peças montar sua pequena fábrica,
eram verdadeiros botões de o torneiro gastou cerca de 16
paletó, daí então que ganhou mil reais em materiais e inso nome o qual é chamado trumentos. Dentre as ferraaté hoje.
mentas de Gérson constam
Atualmente, com a pro- o paquímetro para medir
fissionalização e dos re- camadas, a lixa d’água, mas
gulamentos,
principalmenos botões são
te, o torno
feitos prin- “Acredito mais na mecânico que
c i p a l m e n t e qualidade do que está presente quer tipo de time para as
de acrílico e
em quantidade” na maioria do regras gaúcha e brasileira,
galalite. E é
processo, seja tanto que possui equipes
da fabricação
para diminuir temáticas com bandas de
dos botões que Gérson de as camadas ou ajustar as rock famosas e os vende para
Oliveira, torneiro de 52 anos, cavidades, por exemplo. todo o Brasil, recebendo
sustenta a família: “Ganho Distintivos metálicos de também pedidos de países
na base de dois mil e qui- bótons, ou produzidos no vizinhos e até mesmo da
nhentos reais nos botões”. computador dão um quê a Europa.
Gérson joga desde os anos mais nas peças,
A Associação Washing70 e trabalhou para o Bazar
O torneiro fabrica qual- ton Luiz de Futebol de Mesa,
Copa 2010 será totalmente em alta definição
F LEONEL CHAVES
Perceber o tipo de grama, o suor
escorrendo no rosto dos jogadores, ver
com nitidez o número nas camisetas,
a transmissão da Copa de 2010, a primeira completamente em HD, ou High
Definition (alta definição), permitiu que
o torcedor, no conforto de sua casa, se
sintisse mais próximo da sensação das
arquibancadas na África do Sul.
Os brasileiros só puderam contemplar os gols do bicampeonato mundial do
Brasil, em 1958, na Suécia, e em 1962, no
Chile, pelo rádio. Os rolos de filme com
as imagens de Pelé & Cia. chegavam ao
pg011.indd 1
porto de Santos dias depois de a bola balançar as redes. Já em 1970, no Tri, Carlos
Alberto Torres levantou a Jules Rimet
pela última vez ao vivo, mas nem para
todo mundo a cores, o que só aconteceria
uma Copa mais tarde.
Quis o destino que a África do Sul,
125ª colocada no Índice de Desenvolvimento humano na ONU, sediasse a Copa
com mais inovações tecnológicas da
história, pelo menos quando o assunto
é transmissão. Além da alta definição, a
tecnologia em três dimensões também
será testada. Assim como a Copa de 1974
criou um boom na venda de aparelhos de
televisão, a expectativa é que a de 2010
impulsione a TV digital, pelo menos é o
que espera o fórum do SBTVD (Sistema
Brasileiro de TV Digital Terrestre). Inaugurada em 2007, a tevê digital ainda não
se popularizou no Brasil, talvez ainda
pelo alto custo. Os fabricantes esperam
vender cerca de cinco milhões de conversores durante o período da Copa.
Além da tevê, as imagens do Mundial
chegaram em tempo real para celulares e computadores, que transmitiram
jogos ao vivo. Foi a primeira vez que a
Fifa vendeu os direitos do evento para
telefonia móvel. Ninguém teve desculpa
para não acompanhar o maior evento
esportivo do mundo.
é uma das agremiações destinadas aos praticantes deste
jogo. Campeã de onze campeonatos gaúchos e três vezes do Torneio Metropolitano, teve sua primeira sede na
rua de mesmo nome e atualmente instalada na sede
do SEST (Serviço Social do
Transporte) SENAT (Serviço
Nacional de Aprendizagem
do Transporte), no Bairro
Humaitá. Lídio Curuja, executivo de contas da TAM e
um dos fundadores da equipe vencedora, que pratica há
mais ou menos no mesmo
tempo de Gérson, explica
que se pode montar um time
de acrílico com 100 reais,
mas no caso de montar um
time personalizado ou de
galalite, Curuja recomenda
a compra de peças avulsas,
já que o custo da fabricação
ainda é caro. “Não costumo
comprar times completos,
prefiro fazê-los por unidade
porque acredito mais na
qualidade do que em quantidade, por isso compro
vinte botões por ano”.
Adeptos à tanto tempo,
ambos lamentam a falta
de reconhecimento pelo
esporte. “Com isso, o jogo
seria mais aberto as classes
populares e até mais barato”,
afirma o aeroviário. Gérson
aponta para outros derivados do futebol de custo mais
barato, como o constante
atropelamento do vídeogame.
DIVULGAÇÃO
Cinco milhões de televisores devem ser vendidos
23/6/2010 09:10:11
Jornal da Manhã
Porto Alegre, julho de 2010
CONTRACAPA
FOTOS LEONEL CHAVES/JM
O professor
em Copas
O professor cobriu uma Copa pela primeira vez na Inglaterra,em 1966, e esteve na África do Sul
F LEONEL CHAVES
Ruy Carlos Ostermann embarcou para África
do Sul com a equipe do Grupo RBS. É sua 12ª
cobertura de Mundial.
Aos 75 anos, o comentarista pode dizer
“eu estava lá” na maioria dos 18 eventos
disputados. Sempre misturando literatura
e futebol. Conhecido por todos como “o
professor”, devido sua graduação em filosofia,
Ruy nos oferece um pouco de seu conhecimento
na entrevista a seguir.
Jornal da Manhã – O
Professor cobre Copas
desde 1966. Já trabalhou
em Mundiais na Inglaterra, na Alemanha e França, países de primeiro
mundo. Imaginava que o
sonho de João Havelange, de levar o evento para
o continente africano, se
tornaria realidade?
Ruy Carlos Ostermann
– Era um pedido que se fazia,
insistentemente, para que o
futebol saísse da área central,
que fosse para as laterais.
Havia acontecido na Copa da
Ásia, em 2002, mas estava faltando a África. Não é um continente emergente, mas uma
sociedade emergente, com
muitas contradições e problemas. A realização da Copa
sempre prevê estabilidade,
regularidade, uma tradição.
A África falha um pouco nisso,
mas ela tem ímpeto. Não chega a ser surpreendente, era um
pedido antigo.
JM – Quais são os favoritos para conquistar a
Copa do Mundo da África?
Ruy – As Copas sempre
são um tanto quanto imprevisíveis. Acho que mais uma
vez o Brasil é favorito, pela
tradição, pela qualidade, pelo
retrospecto que vem mantendo, pela regularidade do
trabalho, pela boa síntese de
futebol que chegou, está muito
competitivo neste momento.
A Espanha é uma afirmação
européia maravilhosa, que
também gosto bastante, mas
é um futebol que sempre
fracassa na competição. Mas
pg012.indd 1
“Antes a cobertura era precária, hoje é fantástico”
isso pode ser uma fatalidade,
uma circunstância, às vezes
uma questão de ânimo até,
por isso acho um candidato
forte. E, naturalmente, Itália,
Inglaterra, França, são sempre
candidatos.
JM – Em termos de organização, o que o senhor
está esperando encontrar
na África do Sul?
Ruy – Primeiro nós vamos ter o exótico, o surpreendente. Quando se vai à
Alemanha se tem uma previsão de uma velha tradição
de organização, de disciplina,
de método, de horário. Os
emergentes são a exceção à
regra, como foi o Brasil em
1950. Imagino que a grande
dificuldade que vai haver na
organização da Copa está
na instabilidade em termos
de segurança. Tanto que as
recomendações são para que
não se saia de noite, sozinho, e
isso no futebol é ruim, futebol
é confraternização. Isso pode
prejudicar o Mundial um pouco, tomara que os africanos
sejam competentes ao ponto
de nos desautorizar.
JM – Será sua 12ª cobertura de Copa. Ainda
sente alguma ansiedade
antes de viajar à cidadesede?
Ruy – Honestamente, não
tenho. Já estive em muitas. Sei
que vai ser um trabalho duríssimo, que vamos trabalhar o
dia todo e em condições não
tão favoráveis, embora o fuso
horário seja favorável. Tenho
certa ansiedade em começar
o trabalho, a observar o que
Ruy Ostermann superou a ansiedade 40 anos atrás
para se enviar textos para o
Brasil. Hoje é fantástico! Com
a internet você tem a possibilidade de estar em cima dos
fatos, isso deu uma velocidade
JM – Quais as princi- espantosa para cobertura. No
pais mudanças na cober- entanto, isso criou também
tura de uma Copa nes- o déjà vu: todo mundo sabe,
todo mundo
tes 40 anos
entre a sua
“Todo mundo já viu. Aí você
tem de buscar
primeira cosabe, é preciso
a qualidade
bertura e a
última?
buscar a qualidade do texto. Não
Ruy – Há
adianta dizer
do texto”
mudanças nos
ontem, em não
sistemas de cosei o que... Onmunicações como um todo. tem, todo mundo sabe o que
Você vê, em 70, no tricampe- aconteceu. Mas o que é mesonato brasileiro, é a primeira mo que aconteceu? Como foi
vez que nós temos transmis- que aconteceu? O que estava
são por televisões, a cores. ali dentro? Nós temos que
Me lembro que em 1966, eu melhorar muito a qualidade
estava na Guaíba, e se levou o de observação e o registro
Antônio Carlos Rezende como desta observação.
segundo narrador porque pela
JM – Quanto evoluiu,
primeira vez se faria off tube.
Nós trabalhamos em condi- como evento, a Copa desções precárias, era terrível de 1966?
há de melhor no mundo do
futebol. Agora, como jornalista, deixei a ansiedade lá na
Inglaterra, em 1966.
Ruy – A transmissão da
Copa foi fator fundamental
para evolução do Mundial.
Agora, o espetáculo em si, é
sempre a reserva de um grande local, um grande episódio.
A mobilização é natural e
espontânea, todo mundo se
mobiliza em favor do vencedor, que por sua vez atrai toda
multidão. Só em imaginar que
um jogo de futebol esteja sendo visto por milhões e milhões
de pessoas, naquele mesmo
instante, em quase todas as
línguas do mundo, em todas
as tradições e horários, só
isso te deixa aflito. E isso é
bem maior do que eu um dia
imaginei.
JM – Se prepara de
alguma maneira especial
para uma cobertura desse
porte?
Ruy – Tenho de levar
minha pasta de dente, boas
cuecas (gargalhada). A verdade é que será uma Copa
no inverno e isso altera um
pouco a preparação. É uma
das poucas copas que se terá
de usar manga comprida. O
frio altera até tecnicamente a
competição.
JM – Qual a relação
da imprensa estrangeira
com a brasileira?
Ruy – Eles têm respeito
e inveja. Respeito porque de
fato cobrimos uma seleção
com grandes jogadores e com
grandes títulos. Inveja porque
isso dificilmente se compõe
com facilidade fora daqui. Eles
vêm à gente dizendo “vocês
são ótimos, têm isso, têm
aquilo”, como uma espécie de
despeito, mas na verdade isso,
hoje, não cabe. O fenômeno
da comunicação favoreceu
muito a fluxo de informação.
Hoje todo mundo sabe como
todo mundo joga, não há um
time que possa surpreender.
O que vai se fazer é melhor,
no curto espaço de tempo que
ainda existe. Daí o brasileiro
tem chance e por isso é tão
invejado.
JM – Estamos em um
ano eleitoral. Acredita
que, assim como foi na
Ditadura, o futebol possa
ser o usado politicamente?
Ruy – Não creio. Porque
hoje se independizou bastante
a questão do futebol em relação ao Estado, ao Governo.
Hoje, por exemplo, não podemos dizer que o Brasil presta atenção no futebol como
nunca se prestou. O futebol
sempre prestou atenção em si
próprio e tentou se organizar
na medida do possível. E hoje
chegou a um nível razoável de
organização, é inegável. Claro,
o Brasil perdendo há uma derrubada geral, certo desânimo,
mas eleitoralmente acho que
não tem nenhum significado.
JM – Neymar ou Ganso? O senhor levaria algum deles para Copa?
Ruy – Nenhum. Acho que
não é hora de levar um jogador
que não foi suficientemente
testado. Acho os dois ótimos,
mas a Seleção e os critérios do
Dunga têm de ser respeitados.
Não podemos impor um critério. Ele testa, repete, observa e
finalmente decide.
23/6/2010 09:10:47
Jornal da Manhã - Famecos / Porto Alegre, julho de 2010
MARIANA BARTZ/JM
A arte
sacra dos
cemitérios
Página 2
Diversidade
cultural da
Redenção
Página 3
O sopro do
Músicos gaúchos, apaixonados
pelo jazz, resistem aos modismos e
ritmos frenéticos para continuarem
fazendo um som clássico em
pequenos bares da noite, quase
vazios e longe da mídia
Páginas 4 e 5
2cad001.indd 1
JAZZ
23/6/2010 09:17:04
Porto Alegre, Julho de 2010
Jornal da Manhã
2
Esculturas
FOTOS LUANA FUENTEFRIA/JM
A representação de sentimentos
Paraquedista vivo tem imagem junto a Teixeirinha e Pinheiro Machado
Arte a um passo do
N
Os corredores
dos museus
desconhecidos
são compostos
de arte e
história
2cad002.indd 1
Religiosidade em imagens sacras
além
F LUANA FUENTEFRIA
Entre quatro paredes brancas, a arte não
é poupada de olhos atentos. O gosto ou o
status de entrar em um museu leva à lembrança outras artes também dignas de admiração, porém expostas em espaço menos
aconchegantes. As esculturas de cemitérios
como o Santa Casa e o Evangélico, na Capital, somente recebem visitantes do acaso. No
caso do óbito, no entanto, os olhos lacrimejantes não reparam nos objeto de expressivo
valor histórico e artístico pelos quais passam.
A arte tumular tem hoje seu lugar tomado
por gavetas e crematórios e pela beleza natural dos cemitérios-parque, que fazem dos
antigos santuários da despedida um aglomerado de lembranças mal conservadas. As
obras remanescentes dos séculos XVIII e XIX
podem mostrar desde sentimentos até a arte
sacra. Algumas se relacionam às representações divinas e simbólicas de Grécia e Roma,
grande influência nesses cemitérios, apesar
de um estilo eclético predominante.
Nesse sincretismo, o que mais se destaca,
e o único que permanece conservado, é o
de Casemiro Scepaniuk. Por estar ainda vivo,
o ex-paraquedista mantém o túmulo bonito
para a hora do adeus. Os outros, ali há décadas, não têm quem olhe por eles. Situação diferente dos cemitérios da Consolação
(em São Paulo), Recoleta (Buenos Aires) e
Père-Lachaise (Paris), onde o turismo é bem
estruturado e financiado pelo poder público.
“Aqui as pessoas não sabem o que existe nos
cemitério, nem imaginam que se pode fazer
um trabalho incrível de apelo turístico neles”,
explica Luiza Carvalho, especialista em arte
funerária.
Em Porto Alegre, o turismo cemiterial ainda é embrionário. O estereótipo é aos poucos desconstruído quando os raros curiosos
percorrem as ruas e avenidas dessa cidade
póstuma. Luiza percebeu isso quando lotou
dois ônibus na terceira visitação organizada pela Prefeitura da Capital
dentro do projeto Viva o Centro a
Pé. O público interessado vem
se formando em doses pequenas e lentas, em proporção
inversa ao desrespeito
de construtoras interessadas em faturar
com novas estruturas.
Ainda que estas sejam mais higiênicas,
não justificam a destruição de
heranças como o de Antonio
Caringi, artista do Laçador que
assina o túmulo do ex-governador
Daltro Filho (1882-1938). No Santa
Casa, o jazigo mais grandioso, e repleto
de simbolismo, é onde repousa o político
Pinheiro Machado (1851-1915).
Como estes, outros nomes de ruas de
Porto Alegre podem ser desvendados pelos
seus túmulos. Luciana de Oliveira, professora
no curso técnico de Turismo do Colégio Rui
Barbosa, em Canoas, afirma que é impossível contextualizar uma cidade sem os cemitérios. Desde a sua localização até os túmulos,
eles constroem a biografia da comunidade.
Ela atribui parte da diminuição do interesse
em ir aos cemitérios pela falta de novos ídolos presentes no local. Em meados dos anos
1930, legiões faziam romarias para visitar
quem ali jazia. Hoje, só resta a adoração
ao músico Teixeirinha, morto em 1985. A
explicação para tamanho desinteresse é
simples. “Antes éramos mais regidos pelos mortos”, diz Luciana. Ainda assim,
os quadros a céu aberto seguem ali,
narrando histórias aos olhos emocionados, mas pouco atentos.
23/6/2010 09:19:27
Porto Alegre, Julho de 2010
Jornal da Manhã
3
Cultura
A diversidade mora no
Parque da Redenção
D
“As pessoas
vêm para cá
dispostas a
assistir e a
absorver cultura”
FOTOS ALINE COSTA E SILVA/JM
F ALINE COSTA E SILVA
Dançar, caminhar, cantar, atuar, fazer literais malabarismos, tudo junto, meio misturado. Durante toda a semana as pessoas
usam a Redenção para a prática de exercícios ou para fazer um breve passeio. Nos
fins de semana, o cenário é bem diferente
e apresenta, além de seus monumentos e
eventos, uma reunião de artistas que marcam a trajetória do parque mais querido dos
porto-alegrenses. Um ponto turístico que
atrai gente de todos os segmentos sociais e
faixas etárias.
O lugar recebe todos os dias grupos de
pessoas que vão desde a família que leva o
filho para brincar e os jovens que se reúnem
em turma, até moradores de rua, que usam
o espaço também como abrigo, sustento e
têm nele um ambiente de interação social.
Mas o maior diferencial da Redenção é mesmo a variedade cultural. Basta caminhar em
um domingo de sol, dia em que o parque
recebe mais gente, para descobrir um mundo de diversidade. Cerca de 150 mil pessoas transitam por suas dependências. Pode-se
escolher entre passear pelo Brique, com suas
tendas de produtos artesanais, prestar atenção nos músicos e artistas de rua que fazem
da José Bonifácio seu palco, ou simplesmente, aproveitar a tarde para sentar na grama e
tomar um chimarrão com os amigos.
Um personagem já conhecido por quem
frequenta ou já passou pelo parque é o artista Marcos Bahrone, 37 anos, que declama
poemas de Álvares de Azevedo. Ele é ator há
10 anos, e há três se apresenta no Brique. Já
trabalhou em outros lugares, como o Gasômetro e a Praça da Alfândega, mas afirma
que o público variado da Redenção faz dela
o melhor lugar para a sua arte. “As pessoas
vêm para cá dispostas a assistir e a absorver
cultura”, observa. Difusor cultural e área de
lazer, o Parque ainda funciona como local de
debates. São no mínimo 10 eventos por mês. Teatro, poesia e música atraem turistas de muitos lugares do Brasil e do mundo
Outros personagens
Arte na rua dos índios Caingangues
2cad003.indd 1
A aposentada Iolanda Vargas, 71
anos e o marido, Vitor Vargas, de 73, que
não são naturais de Porto Alegre mas frequentam o parque há muitos anos – caminham todos os dias e, nos finais de semana, aproveitam o ambiente para passear e
admirar as atrações culturais. “A sonoridade daqui é renovadora”, afirma Iolanda.
O índio Santiago Franco, 34 anos, e
sua família são Caingangues e tiram seu
sustento trabalhando no parque. Confeccionam e comercializam cestos de palha
e estatuetas de animais talhados em madeira. Os filhos e netos utilizam a música, cantada no seu idioma, como atrativo
para vender os produtos. O dinheiro que
ganham, segundo ele, ajuda na compra
de alimentos. Com aparência cansada e
gestos lentos, Franco diz que o parque representa uma amostra de suas origens: “É
importante para o povo branco conhecer
e valorizar a nossa cultura.”
A estudante Roberta Bierhals, 22
anos, mora em Esteio. A Redenção, para
ela, representa uma fuga do cotidiano da
região metropolitana. “A gente vem para
cá quase todo o final de semana. É muito gostoso andar pelo Brique, ver pessoas
diferentes e coisas que não tem na minha
cidade”, conta Roberta.
Estátua viva atrai atenção do público
Passeio no Parque aos domingos
23/6/2010 09:20:37
Porto Alegre, Julho de 2010
Jornal da Manhã
4
5
MÚSICA
Pouco show
MARIANA BARTZ/JM
pouco jazz
pouco cachê
F CAIRO FONTANA E MARIANA BARTZ
Um dos ritmos mais difundidos pelo mundo tem
presença escassa na capital gaúcha. O jazz se
esconde em pequenos bares, à sombra da mídia e
do grande público. Porém, algumas pessoas ainda
batalham por ele.
N
“Enquanto eu
tocava nos bares,
sustentava a casa,
minha mulher e
meus dois filhos.
Naquela época
era possível, hoje
acredito que não”
2cad004005.indd 1
Numa noite calma de Porto Alegre,
em um bar escondido no centro da
cidade, o jazz ainda resiste à cena cultural que quase o abandonou. Diante
de tantos lugares onde o samba, o
rock e o blues predominam, o Odeon
permanece um reduto para aqueles
que anseiam ouvir música ao vivo.
“Não sou muito bom com as palavras, prefiro me expressar com as
notas”, confessa Jorginho do Trompete, músico da casa que toca jazz
até nas noites de MPB. Isso não atrapalha os frequentadores, pois a plateia preza pelo respeito ao artista e
evita que qualquer ruído comprometa o espetáculo. O Odeon não surgiu
há pouco tempo e por isso mesmo
contempla pessoas dos 20 aos 80.
O bar Paraphernália também Nicola
contribui com o Jazz à Beça, possibilitando que todas as segundas-feiras na
Cidade Baixa complementem as sextas do
Odeon. Nomes como Caixa Preta, Zé Montenegro e inclusive Jorginho já se apresentaram no projeto. Desde agosto do ano passado, Estevão Zalazar aposta no formato show
instrumental e ingresso barato. “Do ponto de
vista do empresário, o público não é grande,
mas é fiel. Ainda falta absorção pelos jovens
e pela mídia. No entanto, vale a pena continuar: os compositores são muito talentosos
e merecem um espaço para mostrar o seu
trabalho”, afirma o dono, há sete anos no
mercado.
Conhecidos pelos frequentadores da boemia – do Paraphernália ao Odeon – a Sexteto
Blazz atua desde 1999. Criada pelo flautista
Franco Salvadoretti e pelo baterista Luciano
Bolobang, o grupo se destaca na história do
jazz gaúcho. Através de uma extensa agenda
de shows, os seis integrantes já passaram por
bares como 8 e ½, Music Hall, Café Concerto, Cultura Rock Club e Insano, onde se
apresentavam todas as quartas. Apesar da
qualidade artística, tanto de público e crítica,
a banda não possui mais uma data fixa semanal desde junho de 2009. “Quarta não
Paulo Dorfman foi o expoente do jazz durante as décadas de 80 e 90. Mesmo com poucas apresentações atuais, lança álbuns e enche platéias
Os lugares incomuns da noite
Para quem entra no restaurante Lugar
Comum, na rua Santo Antônio, basta subir
as escadas para começar a ouvir o piano de
Paulo Dorfman, cujas notas vem da famosa
Sala Tom Jobim. O ano? 1984. A cidade?
Porto Alegre.
“A Sala Tom Jobim foi o local mais importante para o jazz durante as décadas de 80 e
90. E não apenas para ele, mas para a música de improviso de um modo geral”, afirma o
compositor e pianista Paulo Dorfman. Lá era
possível encontrá-lo tocando todas as quintas, sextas e sábados. É isso mesmo, o final
de semana inteiro dedicado à música instrumental. E não faltava público para prestigiar
músicos como Alegre Corrêa, Márcio Tubino,
Kiko Freitas, Pedrinho Figueiredo e Everson
Vargas. O Blue Jazz, onde hoje é o 8 ½ Bar, também oferecia espaço aos apreciadores da
boa música, bem como o Vermelho 23, que
permanece até hoje na rua Bento Figueiredo,
no bairro Bom Fim. Uma época em que os
músicos eram bem pagos e podia-se viver da
noite. “Enquanto eu tocava nos bares, sustentava a casa, minha mulher e meus dois
filhos. Naquela época isso era possível, hoje
acredito que não”, acrescenta o pianista.
Lembra-se de que, quando levantava o rosto
do instrumento, ao final de um improviso que
CAIRO FONTANA/JM
Spolidoro faz show no Multipalco do
era um dia bom, sempre tinha futebol e isso
tirava o nosso público. Mesmo assim, eu ainda não desisti do jazz”, assegura o flautista
do grupo, à espera de um retorno da boa
fase do gênero.
“O Rio de Janeiro oferece mais oportunidades para o músico do que aqui. Mas eu
diria que São Paulo é o grande centro no Brasil”, ressalta Nicola Spolidoro, músico profissional há 12 anos e também guitarrista da
“Do ponto de vista do
empresário, o público não é
grande, mas é fiel. No entanto,
vale a pena continuar”
banda Caixa Preta desde 2004. Ele relembra
que certa vez estava se apresentando em um
bar no Rio e, ao final do show, foi elogiado por um baterista que estava na plateia.
Dias depois, o encontrou tocando com Chico
Buarque. “Isso jamais aconteceria em Porto
Alegre”, conclui.
Enquanto isso, eles se sustentam
através de atividades paralelas. Tem
a ambição de viver só de shows, mas
o cenário não permite. Dar aulas e
participar de outras formações musicais é a saída mais acessível. Assim,
Franco Salvadoretti e Nicola Spolidoro ensinam a novos estudantes seus
respectivos instrumentos. “A noite é
essencial para adquirir experiência, é
uma escola paralela, aconselho para
todos os músicos. Porém, a segurança
financeira vem do ato de lecionar”,
admite Michel Dorfman, filho do também pianista Paulo Dorfman, atual
professor da Faculdade de Música do
IPA. Jorginho do Trompete também
participa da Banda Municipal de Porto Alegre e Cassiano Rodka, DJ da
TSP festa Kiss My Jazz, está presente nas
diferentes noites de rock do Cabaret
POA. Literalmente um dos dois responsáveis
pela única festa voltada ao ritmo na capital,
Cassiano, em parceria de Claus Pupp, defende uma proposta inovadora: dançar ao
som de jazz. “A festa é itinerante e já tocamos
em quatro bares diferentes, nunca para 500
pessoas, porém com um público razoável”,
conta Rodka.
Michel Dorfman, que trabalha como músico desde os 16 anos, não descarta a possibilidade de morar em outra cidade. Formado
no ano passado no curso de composição
pela UFRGS, lamenta que aqui não há possibilidade de especializar-se na área em que
mais se interessa: o jazz. Para seguir estudando, é necessário deixar a capital: “Meus professores já me falaram várias vezes, Michel,
tu tem que morar fora, aqui não temos cursos
bons para ti”. Mas ele adia a viagem pela família, pelos amigos e pela qualidade de vida.
Além do mais, gosta da traquilidade de Porto
Alegre e sente-se mais à vontade para compor suas músicas. Pensa que o jazz possui fases cíclicas e que este período de aparente
estagnação será recompensado por um retorno à música de improviso. Quer estar aqui
quando isso acontecer.
tirava o fôlego da platéia, gostava de observar a expressão das pessoas. Muitas vezes,
eram flagradas sustentando garfos e colheres
próximos à boca aberta – como se paralisadas – até irromper em uma salva de palmas
que os trazia de volta à mesa e ao jantar.
E as surpresas não paravam por aí. Era
frequente que filas se formassem na entrada
do restaurante onde ficava a Sala Tom Jobim.
Os shows começavam às nove e se estendiam até a meia-noite. No entanto, algumas
pessoas só conseguiam entrar nos últimos
quinze minutos. Lamentando o ocorrido, insistiam para que os músicos tocassem mais
uma, e mais uma, e mais uma, e assim o
show seguia até a uma hora da madrugada.
“O dono do bar fazia questão de deixar claro
que isso não aumentaria o nosso cachê, mas
estávamos tão felizes que naquele momento
o dinheiro nem importava”, recorda o compositor, na época com trinta e poucos anos.
Se ainda há resistência em relação ao sucesso de um empreendimento voltado exclusivamente ao jazz e à música instrumental, a
Sala Tom Jobim prova o contrário. Fechada
desde 1994 devido a problemas administrativos, fez história na música local durante seus
breves dez anos de funcionamento. Permanece até hoje à espera de uma sucessora que
revigore a cena cultural de Porto Alegre.
CAIRO FONTANA/JM
A motivadora voz no rádio
Apesar de comprometido com a divulgação
do jazz há 11 anos, Paulo Moreira teve outros
rumos antes de ter a ideia para um programa.
Formado em Jornalismo pela PUCRS desde
1981, ele seguiu os próximos quatro anos
como freelancer de agropecuária. Em 1986,
entrou na Rádio Gaúcha no comando do
Campo e Lavoura. Seis anos depois, Ruy
Carlos Ostermann lhe convida a produzir o Ruy
Entrevista, cargo que ocupou durante um ano.
Após passar pelas rádios Ipanema, Atlântida
e um breve período como crítico de música no
Correio do Povo, Moreira se tornou pauteiro
na FM Cultura. Ao saber que o programador
musical havia largado o horário entre às 20h
e 21h, manifestou interesse em uma nova
atração: o Sessão Jazz.
Ouvinte assíduo desde os 16 anos e
colecionador com mais de três mil CDs, o
radialista não teve problemas com a escolha de
repertório. Com total poder de decisão sobre
o tempo de intervalo e eventuais convidados,
a seleção busca não cansar o ouvinte. “Se eu
Dias
13, músicas
14 e 15
de abril,
o ca vai
tocar cinco
de piano
em sequência,
ficar repetitivo. Prefiro intercalar com diferentes
artistas e oferecer uma variedade pra quem
gosta de todas as fases do jazz”, argumenta.
No ar de segunda a sexta, das 20h às
22h, o sábado era compartilhado com um
convidado, o qual escolhia os temas e batia
um papo com o apresentador. Mesmo voltado
ao jazz, a música brasileira sempre teve uma
boa participação no setlist, o que não o salvou
de ser cancelado em 2003. Porém, a pausa
foi breve. Graças à campanha de três ouvintes,
o espaço voltou à grade em julho do mesmo
ano, porém sem o sábado.
Na opinião do jornalista, o descaso não é
com isso especificamente, mas com a música
instrumental como um todo, o que assusta
o público por algo que a mídia não expõe.
Outro aspecto marcante para o radialista é
o fato do jazz ter composições sem canto e,
assim, dispersar o que chama de “viciados
da mídia”, aqueles sem vontade própria além
do mainstream. “Ele precisa de uma atenção
maior, enquanto a imprensa se ocupa de
música ruim, de rápido consumo”, alega.
Baterista frustrado, Paulo goza ser um dos
poucos com território para veicular o repertório
considerado alternativo e torce para que o jazz
não sucumba às misturas do mercado vigente.
Entrevistado durante a apresentação ao vivo do
seu programa, se revezando entre o software,
o microfone e CDs, exala a concentração e
tranquilidade do profissional experiente no que
faz e, melhor, conhecedor do possível até no
improviso, como o fazem os melhores.
MARIANA BARTZ/JM
Moreira não desiste e mantém firme o ideal jazzístico do programa
Sexteto Blazz se apresenta no projeto Jazz à Beça, no bar Paraphernália
Gravação física ou virtual:
qual o formato do futuro?
Hoje a internet engoliu o mercado fonográfico e o transformou em franquias decrescentes. Enquanto isso, os músicos perderam dinheiro em royalties e direitos autorais.
Cientes deste fato, procurar selos alternativos
que ofereçam baixos custos de produção e
se mantêm fiéis ao consumidor é o caminho
mais viável. De acordo com Nicola Spolidoro, “você não vai ficar rico gravando CDs, vai
ficar pobre.”
O grupo de artistas que insiste no jazz prefere outro canto: os estúdios. O isolamento
acústico e a oportunidade de gravar cada
nota com qualidade os transformam em perfeitos locais para a manutenção da música.
Apesar do recinto disponível ser pago, eles
também representam a conservação da melhor forma de divulgação artística: o álbum.
Um custo de quatro a 50 mil reais por
todo o processo em CD não compensa para
um artista que não esteja seguro. Uma saída prática é o mp3. Diversos sites como o
MySpace e CDBaby são fortíssimas vitrines
para compra de faixas individuais ou álbuns
inteiros. Desacreditados do fator financeiro, o
argumento de que os tipos físicos (DVD e CD)
não vendem ou geram pouca renda é verdadeiro. “Sem uma rede saudável de distribuição, o disco empaca e só os teus conhecidos
compram”, afirma Spolidoro. Até mesmo
acordos entre livrarias e lojas de discos não
compensam quando não se é conhecido.
Paulo Moreira vê com receio a próxima
geração de ouvintes. “Hoje, o jazz nos CDs e
vinis se sustenta por pessoas de idade e modas eventuais que necessitam do físico para
ser colecionável”, conta. Porém, daqui a 20
anos, quando a indústria abandonar estes
meios em prol de um formato ainda desconhecido, os fãs sofrerão com a banalização
do som. “A qualidade certamente vai evoluir, porém a quantidade disponíveis será tão
abundante que perderá a identidade”, projeta ele.
23/6/2010 10:00:34
Porto Alegre, Julho de 2010
Jornal da Manhã
6
Memória
Relíquias do tempo
do vinil
D
Discoteca
pública, criada
em 1955,
tem 20 mil
obras musicais
catalogadas
GABRIEL CALVI/JM
F DOUGLAS FORTES
e Roberto Carlos a Led Zepellin, passando por Chico Buarque até Rolling
Stones. Essas são algumas das relíquias
encontradas na discoteca pública Natho
Henn, fundada em 1955 pelo músico e
que se encontra no quarto andar da Casa
de Cultura Mario Quintana, localizada
no centro de Porto Alegre. Ao entrar, se
percebe discos fixados na parede. Nas
prateleiras, existem discos de vários estilos musicais, entre eles, um long play de
Chico Buarque bem destacado. O motivo
para isto é a raridade do álbum ter capa
original. Segundo a funcionária Rosângela Teixeira, entre discos de vinil simples,
compactos e 78 rotações, se encontram
catalogados mais de 20 mil obras musicais. Entre cd´s, a faixa chega perto de Detalhes de Elvis Presley chama a atenção no estabelecimento
1.500 no acervo.
Ao pesquisar os discos, nota-se a variedade musical que é disponibilizada na discoteca. Chega ao número de um mesmo
álbum ter 38 discos divididos em volumes,
como a coleção de discos de música clássicos de Beethoven. Outro fato interessante
é o público poder assistir DVDs de música
exibidos diariamente e com lugares para
acomodação.Rosângela escolhe os DVDs a
partir dos gostos de quem for assistir. “Quando não tem ninguém para assistir, eu coloco
shows do meu gosto”, completa. Ela lamenta o fator de a discoteca não abrir aos fins
de semana. ”Isso traria mais visitações para
quem tem problemas de ir à discoteca nos
dias de semana”, finaliza Rosângela.
A Discoteca fica aberta de segunda a
sexta, das 9h às 18h, na Rua dos Andradas
736, centro de Porto Alegre. Para maiores
informações visite o site www.ccmq.rs.gov.br
ou escreva para [email protected]. O disco de Chico Buarque, lançado em 1978 é destaque na discoteca
Uma Paixão à moda antiga
F GABRIEL CALVI
José Luís com seu Fusca 1969
2cad006.indd 1
FOTOS AUGUSTO DE FREITAS BRUSCH/JM
Ferro-velho! Velharia! Banheira! Lata
velha! Talvez essas sejam as características usadas para definir um carro antigo.
Para algumas pessoas pode representar
seu primeiro carro aquela velha Brasília
ou talvez um fusquinha 69. Mas para
outras a imagem de um carro antigo, ou
clássico, é algo inabalável, insubstituível.
José Luís Lopes é um dos colecionadores de carros antigos em Viamão. Ele
exibe com orgulho em seu pátio a sua
frota de relíquias. Ao todo são oito: Rural,
Puma, Corcel, Maverick, Fiat 147, Opala, TL e Veraneio, todos em igualdade no
quesito paixão. “Amo todos os meus car-
ros cada um tem um significado diferente
na minha vida, não tem como destacar
um mais do que o outro”, explica. Ele
sempre teve adoração por esses exemplares, mas somente no ano de 2003 deu
início a sua coleção. Com o seu Corcel
ano 1977, na cor amarela, em perfeito
estado de conservação.
O colecionador tem muitas histórias a serem contadas, uma delas vem
de 1986. Neste ano, ele comprou seu
primeiro carro, coincidência ou não um
Corcel amarelo. Sua primeira namorada veio graças ao seu carrão na época.
“Logo que comprei o meu carro, consegui minha primeira namorada. Durante
um baile dancei com a moça e no meio
da noite a convidei para ir para outro
local e ela aceitou imediatamente, se
não fosse meu carrinho não sei no que
iria dar”.
Mas assim como José Luís existem
muitas pessoas apaixonadas por veículos.
O que leva uma pessoa a ter tal admiração e vontade de ter um exemplar antigo?
Para muitos a sensação de sentar dentro
de um auto faz com que o tempo volte
e as antigas sensações estejam à flor da
pele. Para Luís Ricardo Brosh, outro colecionador, o tempo em que ele passa dentro do seu Opala preto faz com que ele se
sinta bem. “É toda uma história, mas acima de tudo, talvez seja a satisfação pelos
olhares admirados dos outros”, confessa.
23/6/2010 09:22:12
Porto Alegre, Julho de 2010
Jornal da Manhã
7
Tributo
O amante das artes
Stockinger
Touros, uma inspiração sem fim
FOTOS CAMILA BORGES/JM
Gabirus, miséria em meio à seca
R
Obras espalhadas pela casa de Jussara remetem a sentimentos
Ele nasceu na
Áustria, adotou
Porto Alegre e
criou obras de
arte a partir
de diferentes
materiais, até o
penúltimo dia de
vida, aos 89 anos
2cad007.indd 1
F CAMILA BORGES
Referência da escultura brasileira contemporânea, Francisco Stockinger, brasileiro nascido na Áustria, morreu em abril
de 2009 aos 89 anos, mas deixou para
a massa cultural mundial um legado de
obras de arte.
Xico nasceu em Traun, em 1919, e
ainda criança veio com a família para o
interior de São Paulo. O escultor, gravurista e chargista iniciou seus estudos no
Liceu das Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, em 1946, onde na mesma época
trabalhou durante três anos no estúdio de
Bruno Giorgi. Na década de 50, mudouse para Porto Alegre, quando naturalizou-se brasileiro e foi eleito presidente
da Associação Rio-Grandense de Artes
Plásticas Francisco Lisboa.
No início dos anos 60, Xico fundou e
dirigiu o Ateliê Livre da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Dois anos depois,
a partir de uma encomenda do embaixador Assis Chateaubriand, instalou uma
de suas esculturas mais conhecidas em
praça em São Paulo. Foi um dos primeiros diretores do Museu de Arte do Rio
Grande do Sul e da Divisão de Artes do
Departamento de Cultura da Secretaria
da Educação e Cultura do Estado.
Autor de estátuas como a que representa Carlos Drummond de Andrade
lendo para Mário Quintana na Praça da
Alfândega, Xico ficou reconhecido como
mestre em sua técnica. O artista criou e
produziu até seu penúltimo dia e teve a
chance de ver suas obras percorrerem o
mundo. Participou de dezenas de mostras
coletivas e mais de 30 exposições individuais ao longo de sua carreira em diversas capitais brasileiras e também no exterior, como em Paris, Praga, Áustria, Nova
York, Lisboa e México.
Francisco Stockinger utilizava de ferramentas como ferro, madeira, barro,
gesso, bronze, mármore, entre outras.
Em Porto Alegre, começou a trabalhar
em jornais, com charge, caricatura e a
mostrar suas outras desenvolturas com a
arte. Em conversa com a filha do artista, Jussara Stockinger, ela relatou alguns
dos muitos momentos especiais passados
com o pai. “Ele tinha um bloquinho que
ele adorava e ficava fazendo desenhos”,
lembra.
Depois de obras importantes em xilogravura, Xico ganhou projeção nacional
com seus guerreiros em ferro e madeira.
“Ele começou a desenhar porque adorava um herói de história em quadrinhos,
quando criança ainda”, disse a filha. A
esperança dele, recorda ela, era de que
a próxima escultura fosse a melhor. Jussara conta que, depois da primeira cirurgia no coração, quando o pai colocou
três pontes de safena, fez duas obras que
nunca iria vender, pois tinham um significado especial.
Durante resguardos após a primeira cirurgia de coração, ele teve hepatite. Confinado em casa, passou a plantar cactos e se tornou um especialista
na exótica planta, com reconhecimento
Guerreiros imortais
científico. Hoje há tipos de cactos catalogados com o nome de Stockinger. Em
um dos seus momentos à procura de
cactos, escorregou e para não estragar a
máquina fotográfica, acabou quebrando
a mão. Foi quando começou colecionar
conchas. Após operar uma perna, vieram
inspirações por colheres de madeira.
O artista sempre teve problemas de
audição, mas foi ficando cada vez mais
surdo. “Volta e meia ele fechava os olhos
e a gente não sabia se estava dormindo
ou acordado. Um dia eu perguntei: pai,
quando tu estás assim de olhos fechados
sem estar dormindo, tu estás pensando
no quê? E ele respondeu: estou pensando na escultura que irei fazer amanhã”,
contou Jussara emocionada.
No final de seu universo artístico, Xico
gostava trabalhar com pedras, sempre à
procura de alguma coisa para fazer, pois
criatividade e inspiração saiam pelos poros. Ele também admirava muito as obras
de outros artistas, vários quadros na casa
de Jussara foram trocas com pintores. O
imortal Xico de suas obras em metal viveu intensamente, respirando, criando e
descobrindo todas as fontes possíveis de
arte até seu penúltimo dia entre nós, os
mortais.
23/6/2010 09:23:54
Jornal da Manhã - Famecos
Reutilização promove
moda sustentável
NICOLE PANDOLFO/JM
S
“Aquilo que está
sobrando para
algumas pessoas
pode ser essencial
para outras.”
2cad008.indd 1
Tendência estrangeira desembarca no Brasil: brechós ganham novo conceito e atraem adeptos conscientes
F MÔNICA CARVALHO E NICOLE PANDOLFO
Segundo a definição do dicionário Aurélio, brechó é: Loja de objetos velhos,
usados e cafonas. Mas uma tendência
que vem ganhando espaço no Brasil bate
de frente com essa ideia ultrapassada.
A influência de países europeus e norteamericanos trouxe a nossa terra um diferente conceito para a venda de roupas e
acessórios seminovos. As lojas especializadas nesse ramo preenchem o seu estoque com mercadorias de grife por valores
mais acessíveis.
Colocar novamente em circulação as
peças que estão sobrando no armário ganha funções mais nobres. Não somente o
caráter financeiro, mas também as vantagens ecológicas se destacam nesta ramificação do comércio.
Na pequena loja abarrotada – mas
muito bem decorada – de roupas, acessórios e calçados, Rita Rolim, proprietária
da recém inaugurada garage sale Nª Sra.
das Maravilhas, explica a função ecológica existente neste nicho da moda: “Aquilo
que está sobrando para algumas pessoas
pode ser essencial para outras. Podemos
baixar um pouco a produção mundial, fazer mais reciclagem, então foi essa a ideia
inicial da loja.” No seu estabelecimento,
Rita trabalha com venda por consignação:
o cliente deixa a peça com um preço, ela
aplica uma taxa de comercialização e faz
a venda. “E esse mundo fabricando tantas
coisas quando tem tanta coisa para ser
aproveitada”, comenta Rita.
Com o aumento de lojas como a Nª
Sra. das Maravilhas, uma mudança de
hábito e de cultura é possível. Proprietários de brechós constatam maior aceitação dos jovens pelos produtos reaproveitados. “Eu diria que os jovens já vieram
com isso no seu DNA, é dessa geração
entender isso e gostar. Na questão ecológica, o jovem está muito ligado”, observa
Rita.
O consumismo exagerado é um dos
fatores que contribui para a degradação
do meio ambiente e, por isso, a difusão
dos brechós tem contribuído para o consumo consciente. O processo de conscientização começa cedo. Um exemplo
de é o brechó de roupas infantis Chique
Mania. A loja apresenta uma boa circulação de mercadoria devido ao público que
abrange. “Até os 16 anos o corpo muda
de quatro em quatro meses. Então o brechó é baseado nesse conceito de os pais
poderem recuperar um pouco do dinheiro
que investiram em produtos tão caros com
tempo de utilização tão limitado, no caso
do público infantil”, constata a proprietária Fabrícia Krupp.
O mercado infantil firma o seu papel
ecológico de diversas maneiras. Na Zona
Sul de Porto Alegre, um brechó trouxe da
Alemanha um conceito inovador para
o comércio de roupas de crianças. Lá
os pediatras indicam aos pais o uso de
roupas seminovas, diminuindo o contato
das crianças com os produtos químicos
que são utilizados na confecção. A loja
De Galho em Galho traz ao mercado as
roupas orgânicas: peças produzidas com
algodão cultivado sem agrotóxicos.
“Hoje estamos fazendo parcerias com
artesãos e pessoas que trabalham com
produtos educativos e orgânicos, pois é
mais fácil lidar com o tema meio ambiente dentro da família através das ciranças”,
explica Martina Mädche, dona do brechó
infantil.
Ainda existe resistência de algumas
pessoas em comprar roupas usadas, principalmente dos gaúchos. Entretanto, as
vantagens em termos de custo benefício e
consumo consciente abrem as portas para
a moda sustentável.
23/6/2010 09:22:59