Inovações no Abastecimento Urbano de Água na costa do
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Inovações no Abastecimento Urbano de Água na costa do
11 Nota Programa de Águas e Saneamento Uma parceria internacional com o objectivo de ajudar os pobres a terem acesso contínuo a um abastecimento melhorado de água e serviços de saneamento Inovações no Abastecimento Urbano de Água na costa do Marfim: Como é que os Subsídios Cruzados Ajudam os pobres Região de África A água, o saneamento e a higiene são componentes vitais para o desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza. Em toda a África, líderes políticos e especialistas do sector estão a gerar uma nova dinâmica nestas áreas tão importantes. Esta Nota de Campo, em conjunto com outras da mesma série, é uma contribuição atempada para esse trabalho. Pretende essencialmente ajudar os políticos, os líderes e profissionais nas suas actividades. Como Embaixador da Água para África, convidado pelo Banco Africano para o Desenvolvimento e com o apoio da Equipa Africana de Trabalho para o Sector de Águas e da Conferência Ministerial Africana para o Sector de Águas (AMCOW), chamo a vossa atenção para esta nota. Salim Ahmed Salim Embaixador da Água para África Uma jovem cliente, num fontanário em Abidjan. Sumário Muitas das empresas de água Africanas têm poucas capacidades ou motivação para investirem em serviços dirigidos a pessoas pobres, concentrando os seus recursos financeiros na manutenção dos principais elementos das suas infra-estruturas e nos custos correntes diários. Nesta situação, investir em áreas de baixo rendimento tais como pequenas cidades ou povoados peri-urbanos não constitui uma prioridade e a maior parte dos programas que servem estas áreas são externamente financiados através de empréstimos e subvenções de doadores. A situação na Costa do Marfim é muito diferente. Os serviços de água nas pequenas cidades e áreas periurbanas são muito melhores do que nos países vizinhos, ao mesmo tempo que Abidjan, a maior cidade, tem uma taxa elevada de ligações domésticas e um bom serviço. A razão principal é que o governo providencia normas políticas sólidas e uma separação clara dos papéis das várias organizações envolvidas, enquanto que os serviços de prestação de água são geridos por uma companhia privada (SODECI) que tem o poder de gestão e financeiro para implementar os objectivos do governo a favor das camadas pobres. A SODECI aplica três mecanismos para ajudar os pobres: Subsidia ligações domésticas (de facto, um reconhecimento da água como um bem social); uma estrutura tarifária por blocos crescente e o licenciamento de revendedores de água nos aglomerados populacionais informais. O subsídio para as ligações domésticas provém duma sobretaxa nas facturas de água administrada por fundos do sector público. Este subsídio interno cruzado evita a dependência de recursos financeiros externos e pode ser mantido a longo prazo. A estrutura tarifária por blocos crescente é um outro tipo de subsídio cruzado, onde os grandes consumidores subsidiam os pequenos. Dado que a tarifa é fixa em todo o país, também impulsiona as finanças e os serviços das pequenas cidades a partir da base económica mais forte de Abidjan. O licenciamento de revendedores nos aglomerados populacionais informais permite que a SODECI exerça influência indirecta no custo e na qualidade dos serviços em tais lugares, nos quais o seu próprio contrato a proíbe de funcionar de forma directa. da população de baixo rendimento de Abidjan vive em aglomerados populacionais informais estabelecidos ilegalmente em terras não residenciais. Durante 10 anos, as autoridades municipais consideraram, mas não implementaram, o reconhecimento oficial destas áreas.2 Desde do começo do contracto de concessão e do estabelecimento da FDE em 1987, a SODECI implementou uma política clara para servir as pessoas pobres. Os três elementos principais desta política são: aumento da percentagem de ligações referente às famílias pobres através de subsídios cruzados; fazer com que a tarifa de água seja acessível aos consumidores de baixos volumes de água; e estender um serviço de nível razoável aos aglomerados populacionais informais. Em África Existe Sempre Algo de Novo PLINY Historial da SODECI e a sua política para servir as pessoas pobres Como a SODECI aplica a sua política para servir pessoas pobres A Sociedade das Águas da Costa do Marfim (SODECI), é uma companhia privada que fornece água a todas as cidades e vilas da Costa do Marfim, incluindo acima de 600 pequenas vilas com populações de 1.000 a 20.000 habitantes cada. 1 A SODECI trabalha sob um contrato de concessão gerido pelo governo através da Direcção de Águas, que providencia a regulamentação e é responsável pelo estabelecimento e negociação da tarifa. Na realidade, o contrato assemelha-se a um contrato de arrendamento (leasing), porque não obriga a companhia a investir directamente em obras que requerem capital fixo. Em vez disso, uma sobretaxa nas vendas de água financia um Fundo de Desenvolvimento de Água (FDE), controlado pela Direcção de Águas, a quem a SODECI pode solicitar financiamento. A SODECI é uma companhia de confiança com excelentes indicadores de actuação, tanto em assuntos técnicos (boa qualidade de água, baixo nível de perdas), como em assuntos financeiros (boas taxas de facturação, forte capacidade de investimento). Esta boa actuação está provavelmente ligada à sua política progressiva de recursos humanos, como por exemplo formação profissional e partilha dos lucros com os trabalhadores. A cidade de Abidjan, com 3.3 milhões de habitantes constitui 48% dos clientes da SODECI e é responsável por 65% do lucro (que totaliza 50 milhões de US$/ano) porque a cidade acomoda a maioria dos consumidores das grandes indústrias, administrativos e domésticos. Esta cidade constitui por isso a essência das actividades da SODECI e a base da sua viabilidade financeira. Contudo, uma proporção significativa Ligações Subsidiadas A estratégia da SODECI referente às ligações subsidiadas cobre as áreas de baixos rendimentos tanto das grandes como das pequenas cidades, para as quais a SODECI fornece água. Esta, complementa a promoção de longa data da SODECI de ligações domésticas individuais; estas ligações são muito mais numerosas na Costa do Marfim que nos países vizinhos, incluindo países com mais população tais como o Gana (ver figura 1). A SODECI implementa esta estratégia através da cobrança de uma taxa de ligação de apenas US$40.00, aos clientes de médio e baixo rendimento. Este valor é muito inferior ao custo real das ligações para a SODECI (US$150.00). A diferença entre o custo real e a taxa de 500,000 400,000 Número de Ligações 300,000 200,000 100,000 0 85 Total SODECI 89 94 Abidjan 98 Ano Outras Cidades Figura 1: Número de ligações domésticas geridas pela SODECI em Abidjan e outras cidades. 1 A SODECI pertence ao mesmo grupo que a empresa de electricidade (SDEI). Estas duas companhias têm um volume total de vendas (para água e electricidade em todo o país) de US$300 milhões/ano e um total de 4.600 trabalhadores. 2 LO censo mais detalhado destas áreas foi levado a cabo em 1990. Contaram-se 72 povoados informais, que acomodavam 380.000 pessoas (18% da população de Abidjan) em 7.5% das suas áreas. 2 geração interna de fundos. Até agora, esta política permitiu que a companhia respondesse sempre às necessidades das pessoas ilegíveis para tais ligações. CÔTE D’IVOIRE Assim, as ligações domésticas em Abidjan ou outras cidades não é um serviço de luxo, restrito a famílias de rendimentos médios e altos, mas um serviço básico.3 Em 10 anos, a taxa de cobertura tem vindo a aumentar regularmente (ver figura 2). Em Abidjan, a SODECI serve neste momento 2.7 milhões de pessoas, através de ligações domésticas e outras 0.3 milhões de pessoas através de 9 8 7 6 Taxa de Ligação/100 habitantes 5 4 3 2 1 0 89 90 91 Abidjan 92 93 94 95 96 Bouaké 97 98 Ano Man Nota:Os dados de Bouaké após 1996 não são comparáveis devido a mudanças nas fronteiras administrativas. Figura 2: O crescimento da taxa de cobertura (medida como o número de ligações por 100 habitantes) em Abidjan e duas outras cidades dentro da concessão da SODECI. 700 ligação é financiada pela FDE, que em contrapartida obtém o retorno do seu dinheiro através de uma sobretaxa na facturação da água. Este sistema é muito eficaz. Embora políticas semelhantes de ligações subsidiadas existam em outras cidades de África, tais como Dakar e Cotonou, elas usam por norma subsídios financiados por agências externas de assistência. Desta forma, essas políticas não são baseadas na viabilidade da empresa de água, mas dependem na totalidade de factores externos. Nessas cidades, o número de ligações subsidiadas tende a ser pequeno e beneficiam essencialmente a classe média (uma tendência clara em Cotonou, por exemplo). Em contraste, o sucesso da política de ligações subsidiadas da SODECI baseia-se na fonte segura de 600 500 400 Número de Vilas 300 200 100 0 60 65 70 75 80 85 90 95 00 Ano Figura 3: Aumento, ao longo de 40 anos, do número de vilas abastecidas pela SODECI. Fundo de Desenvolvimento da Água (FDE) Implementado em 1987 (durante as negociações de controle da concessão), o FDE é supervisionado por um órgão governamental e não pela SODECI. Disponibiliza capital para a SODECI, para objectivos acordados e monitorizados, nomeadamente o financiamento das ligações subsidiadas. O FDE é financiado a partir de uma sobretaxa paga pelos consumidores, constituindo assim um subsídio cruzado entre os actuais clientes e os novos clientes. O FDE aplica aproximadamente 30% do seu orçamento anual na construção e extensão da rede em pequenas cidades e áreas periurbanas. Este mecanismo financeiro permite à SODECI implementar uma política dinâmica de desenvolvimento de serviços em pequenas cidades, usando o dinheiro obtido pelo FDE nas grandes cidades, especialmente Abidjan. Abastece neste momento acima de 600 pequenas cidades (ver figura 3) – muito mais que as companhias de água nos países mais próximos (Mali, Guiné, Gana, Serra Leoa, Burkina Faso). Assim, o nível dos serviços nas pequenas cidades é particularmente bom na Costa do Marfim, porque o FDE providencia um mecanismo de subsídio cruzado a partir da maior cidade. 3 Como efeito paralelo, os fontanários públicos estão em declínio. Durante um longo período de tempo os fontanários públicos constituíam a fonte principal de abastecimento de água para as pessoas pobres em Abidjan. Contudo, as ligações domésticas subsidiadas ultrapassaram largamente estes fontanários e neste momento, menos de 300 fontanários públicos continuam ainda em uso, correspondendo a menos de 0.5% do consumo da cidade. 3 revendedores de água (descrito adiante), deixando somente 0.3 milhões de pessoas que obtêm a sua água por outros meios, tais como fontanários públicos ou poços. A estratégia do subsídio aplica-se a ligações domésticas e não às taxas de consumo. A unidade de consumo por pessoa com ligação, tem de facto baixado ligeiramente ao longo dos últimos 10 anos porque as famílias mais pobres, que consomem menos água, passaram a ter ligações. Assim, os subsídios para as ligações domésticas cumpriram o seu papel de trazer um serviço acessível a uma parte mais alargada da população. Uma ligação doméstica é um serviço apreciado pelos usuários porque estes poupam tempo anteriormente gasto a acarretar água de fontes mais distantes, mas limita o consumo, adequando-o aos orçamentos domésticos. 40,000 Ligações domésticas 30,000 20,000 10,000 0 86 87 88 89 Pagas 90 91 92 93 94 95 96 Subsidiadas 97 98 Ano Figura 4: Ligações domésticas subsidiadas e pagas, por ano. Outra limitação é que as ligações subsidiadas estão apenas disponíveis para famílias que possam provar a posse legal da propriedade (como proprietários-ocupantes ou arrendamentos legais). Daí que não esteja disponível aos habitantes dos povoados informais, que são das pessoas mais pobres no país e que deveriam logicamente constituir um dos principais alvos da estratégia de ligações subsidiadas. Limitações da Política de Subsídios O critério de ilegibilidade para as ligações domésticas subsidiadas não é muito restritivo. O subsídio está disponível para qualquer agregado familiar (mas não para investidores ou proprietários de imobiliários) com menos de cinco torneiras. A grande maioria das famílias em Abidjan enquadra-se neste critério, não sendo assim de admirar que as ligações subsidiadas representem mais de 90% do total de ligações desde 1987 (ver figura 4). Assim, a estratégia não é direccionada para ‘os mais pobres dos pobres’. Uma estratégia mais direccionada, irá requerer critérios de acesso mais rigorosos de acordo com o rendimento familiar ou a localização física das pessoas. A estrutura tarifária por blocos crescente A SODECI, tal como muitas companhias de abastecimento de água em África, (ver figura 5) aplica uma estrutura tarifária por blocos crescente, em que a tarifa unitária aumenta consoante o aumento do consumo do cliente. Esta estrutura tarifária tem dois objectivos: subsidiar os clientes mais SBEE (Benin) US$/m 3 ONEA (Burkina) 1.6 – 1.4 – SODECI (Costa do Marfirm) 1.2 – 1– SEEG (Guiné) 0.8 – NWSC (Quénia) 0.6 – 0.4 – SDE (Senegal) 0.2 – LYDEC (Marrocos) 0– 0 10 20 30 40 50 m3/month 60 Figura 5: Tarifas de algumas grandes empresas africanas de água que usam princípios de estruturas tarifárias por blocos crescentes. 4 O licenciamento dos revendedores de água em povoados informais Em muitas das grandes cidades de África, abastecer os povoados informais constitui um dos maiores problemas para as empresas de água. Os contratos de serviços das empresas com o governo ou município muitas vezes excluem estas áreas, porque a sua existência não é oficialmente reconhecida embora uma proporção significativa da população viva nesses aglomerados. Estas pessoas geralmente obtêm água através de um sistema em que o cliente que tem uma ligação doméstica revende a água àqueles que não têm. Esta prática é normalmente ilegal mas tolerada. A SODECI decidiu formalizar esta prática através da emissão de licenças especiais aos revendedores, tendo emitido cerca de mil destas licenças. O seu objectivo, ao agir desta forma, é de melhorar o abastecimento de água nessas áreas em que a SODECI por si só, não está autorizada pelo governo a operar. A estratégia da SODECI, de licenciar os revendedores, encorajou os fornecedores de água de pequena escala a investirem na rede de extensão onde existe uma procura não satisfeita. Esta estratégia não enfraqueceu a viabilidade financeira da SODECI porque a água é vendida à tarifa normal enquanto que as licenças reduzem os riscos de não pagamento através de um grande depósito e facturação mensal. Os revendedores pagam por todo o investimento dentro dos povoados informais e recuperam os seus custos através da venda da água aos usuários. Existe contudo um problema de iniquidade em que os usuários, que geralmente incluem as famílias mais pobres, efectivamente pagam duas vezes pela rede. Estes, financiam os investimentos da SODECI através dos pagamentos dos revendedores à SODECI, e a extensão da rede feita por estes últimos através dos preços por eles estabelecidos. Estes revendedores não beneficiam de qualquer tratamento especial. A SODECI simplesmente factura-lhes de acordo com a estrutura tarifária por blocos crescente normal, que efectivamente penaliza aqueles que revendem grandes quantidades – e consequentemente os seus clientes. Mais ainda, os revendedores licenciados devem fazer um grande depósito(aproximadamente US$300), o que Comprando água dum fontanário público. pequenos (presumivelmente pobres) a partir dos grandes consumidores e reduzir o desperdício de água. As desvantagens deste tipo de tarifas são bem conhecidas e foram analisadas em muitas publicações. Primeiro, os grandes consumidores, que podem contribuir mais para a saúde financeira da companhia, tendem a recorrer a fontes de abastecimento menos dispendiosas. Segundo, as pessoas mais pobres, que não estão ligadas, tendem a comprar água aos seus vizinhos ou em fontanários públicos; a acumulação de muitos pequenos consumidores numa só ligação pode elevar esse cliente para a unidade tarifária mais alta. No caso da SODECI, estas duas desvantagens bem conhecidas são mitigadas por duas características que constituem a chave para o sucesso da estrutura tarifária por blocos crescente: • A unidade tarifária moderada para as taxas de consumo mais elevadas (significativamente menor que a que é cobrada no Burkina, Marrocos ou Senegal), que encoraja os grandes consumidores a manterem-se ligados ao serviço da SODECI em vez de procurarem as suas próprias fontes. • A taxa muito alta de cobertura que reduz o número de pequenos consumidores por ligação, tornando improvável que o uso múltiplo eleve uma ligação individual à tarifa mais alta. 5 O Mecanismo de Subsídios Cruzados é Bem Gerido Subsídios cruzados entre Abidjan e pequenas cidades ajudam a apoiar as estaçõess de tratamento de água de alto padrão. A SODECI tem um número de clientes suficientemente alargado para financiar novas ligações constitui um obstáculo real à entrada neste negócio. Esta é a razão pela qual muitos revendedores permanecem não declarados e são facturados como simples clientes domésticos. De facto, muitos dos revendedores de água em Abidjan formaram uma associação de comércio4 que está a pressionar a SODECI para uma taxa unitária fixa, que favoreceria os consumidores de grandes quantidades e um depósito mais baixo. A eficácia do FDE como instrumento para financiar ligações subsidiadas depende da quantidade relativa de clientes existentes e de novos clientes. Em Abidjan, por exemplo, a sobretaxa paga pelos mais de 200.000 clientes já existentes, pode facilmente financiar as 1.500 novas ligações por ano. Por outro lado, este mecanismo seria menos viável numa cidade (como por exemplo Bamako, Kinshasa ou Niamey) onde existem poucos clientes com ligações. Nesta situação os novos clientes têm que contribuir mais para o custo das suas ligações. Factores que Contribuem para o Sucesso da SODECI Os aglomerados populacionais informais de Abidjan são pequenos O aumento da cobertura é do interesse da SODECI Abidjan é a maior área de abastecimento da SODECI. Existem 72 aglomerados populacionais informais listados em Abidjan, mas que são geralmente pequenos, porque a cidade foi planificada de forma mais sistemática que muitas das outras grandes cidades Africanas. É portanto possível abastecer cada aglomerado informal com somente algumas centenas de metros de canalização proveniente da rede já existente. As boas condições e alta pressão da rede de água canalizada já existente contribuem também para a eficácia dos custos das extensões. O serviço urbano de água na Costa do Marfim, foi delegado a um operador privado desce 1956.5 O operador privado foi capaz de desenvolver uma abordagem de resposta à procura, que acompanhou o crescimento da população urbana. Como empresa comercial, é do interesse da SODECI efectuar ligações para o maior número possível de clientes. Assim, esta promoveu o sistema de ligações subsidiadas, de forma a aumentar a sua base de clientes entre as famílias de rendimentos baixos e médios. 4 5 O sucesso da estratégia de ligações subsidiadas, na qual os clientes existentes subsidiam novos subscritores, depende do empenho da administração governamental do FDE. De facto, o governo tem desempenhado o seu papel regulador de forma eficiente: analisando as contas anuais da SODECI e do FDE, disponibilizando fundos do FDE para a SODECI, e orientando a política de investimento da SODECI para alcançar melhorias sustentáveis no serviço em geral. AREQUAPCI: Associação dos Revendedores de Água dos Bairros Populares da Costa do Marfim (Association des revendedeurs d’eau des quartiers populaires de Côte d’Ivoire). Em muitos outros países Africanos, o princípio da participação do sector privado no sector de águas, foi apenas adoptado durante os últimos 10 anos. 6 Lições Embora reconhecendo que existem alguns factores (descritos acima) que tornam a situação da Costa do Marfim particularmente favorável, existem certos princípios básicos que podem ser aplicados em qualquer outro lugar: A coordenação efectiva de diferentes estratégias para os pobres, aumenta a eficácia global destas Enquanto que algumas outras empresas de água aplicaram com algum sucesso, estratégias individuais para os pobres, a chave para a abordagem da SODECI é a aplicação simultânea e coordenada de três mecanismos. Estes, aumentam a eficácia combinada das diferentes estratégias: • O financiamento sustentável do FDE (através da sobretaxa na facturação da água) subsidia milhares de novas ligações por ano. • A tarifa por blocos crescente permite que as famílias pobres que obtêm uma ligação (graças ao subsídio), recebam um serviço de boa qualidade a um preço baixo. • O licenciamento dos revendedores assegura um serviço mínimo nos aglomerados populacionais informais em que o contrato da SODECI a proíbe de investir directamente. Revenda de água num aglomerado informal. Os Subsídios cruzados podem apoiar de forma sustentável as populações pobres O princípio do subsídio cruzado é um instrumento poderoso para promover as ligações domiciliárias para famílias de baixo e médio rendimento. Seguindo esta política, Abidjan alcançou a taxa mais alta de ligações da África Sub-Sahariana (excluindo a África do Sul): 10 ligações familiares por cada 100 habitantes. Este fluxo financeiro consistente e massivo de uma para a outra categoria de clientes tem poucas comparações em África. O mesmo princípio do subsídio cruzado aplica-se, no uso dos lucros de operação de Abidjan, para prestar bons serviços nas pequenas cidades através da estrutura equitativa da tarifa. O contrato da SODECI estabelece a mesma tarifa em todas as cidades e vilas, qualquer que seja o seu tamanho. Mas os seus custos unitários de operação são mais altos nas pequenas cidades. Desta forma, o negócio da SODECI em Abidjan (onde faz um lucro de US$6 milhões por ano) suporta os negócios nas pequenas cidades (onde perde US$5 milhões por ano). Fontanário de funcionamento à base de moeda, gerido por um revendedor. 7 Para abastecer os pobres, qualquer empresa de água deve ser eficaz e financeiramente forte Fornecer água e saneamento às populações pobres é um trabalho difícil para uma empresa de águas, porque estas têm geralmente um consumo baixo e vivem maioritariamente em áreas de difícil acesso. Apenas uma empresa bem gerida e competente pode prestar este serviço, usando pessoal técnica e comercialmente apto. No que respeita ao financiamento, uma empresa de águas necessita de uma capacidade de investimento suficiente para aplicar estratégias favoráveis às populações pobres, tais como as ligações subsidiadas, porque estas envolvem despesas adiantadas por parte da empresa. Por outro lado, uma empresa financeiramente fraca, não pode desenvolver uma estratégia viável de investimento virada para ao pobres porque depende de fundos externos que não pode controlar. Este poder de gestão e financeiro da empresa de serviços públicos é mais A estratégia da SODECI de abarcar grupos de baixo rendimento é apoiada por recursos bons e baratos de água subterrânea. importante do que o facto de ser proriedade pública ou privada. No debate sobre o envolvimento do sector privado nos serviços públicos de águas, a preocupação de servir as camadas pobres é muitas vezes usada como argumento para manter a empresa de águas no sector público. Contudo, o exemplo da SODECI mostra que o melhor serviço para os pobres na África Ocidental é prestado por uma empresa que foi privatizada há muito tempo (46 anos) e que atingiu um alto nível de desempenho e capacidade de investimento. Water and Sanitation Program-Africa Region (WSP-AF) The World Bank, Hill Park, Upper Hill, P.O. Box 30577, Nairobi, Kenya Phone: (254-2) 260300, 260400 Fax: (254-2) 260386 Correio Electrónico: [email protected] Sítio na Internet: www.wsp.org Para que os pobres possam beneficiar do envolvimento de uma empresa privada é essencial que haja uma forte liderança política As empresas privadas existem para fazerem lucro e não para servirem os pobres. Contudo, o envolvimento de uma empresa privada no abastecimento de água pode concretizar estes dois objectivos se os líderes políticos, que decidem sobre as condições nas quais a empresa deve operar, tiverem um verdadeiro interesse nos pobres. Por exemplo, a SODECI é uma empresa privada que tem como objectivo gerar lucros, enquanto que o FDE é um fundo do sector público com objectivos sociais. O sistema global faz uso dos seus aspectos fortes e funções para servir de forma eficaz as populações pobres. O subsídio cruzado tem sido sustentado ao longo de muitos anos porque a sobretaxa é estabelecida e controlada pelo FDE. A estrutura tarifária por blocos crescente é também estabelecida publicamente, mas serve os interesses comerciais da SODECI bem como os dos pobres. A clareza de todos estes dispositivos dá à SODECI a confiança necessária para alcançar os seus objectivos comerciais e para servir as pessoas pobres. Agradecimentos Escrito por: Bernard Collignon Editor da Série: Jon Lane Editor Assistente: John Dawson Publicação de: Vandana Mehra Fotografia de: Hydroconseil/Bernard Collignon e SODECI Elaboração de: Write Media Impressão de: PS Press Services Pvt. Ltd. Tradução para Português de: Lino Jamisse Revisão da Tradução de: Catarina Fonseca Agosto de 2002 O Programa de Água e Saneamento constitui uma parceria internacional que visa ajudar os pobres a terem acesso contínuo a serviços melhorados de abastecimento de água e saneamento. Os principais parceiros financiadores deste Programa são os Governos da Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o Banco Mundial. O Banco Mundial não assume quaisquer responsabilidades pelas opiniões aqui expressas, que são do autor, e que não devem ser atribuídas ao Banco Mundial ou a organizações suas afiliadas. As designações aqui mencionadas e a apresentação dos materiais são apenas para conveniência dos leitores e não implicam a expressão de qualquer opinião legal ou de outra natureza por parte do Banco Mundial ou seus afiliados em relação à situação legal de qualquer país, território, cidade, área ou suas autoridades, ou relacionadas com a delimitação das suas fronteiras ou filiações nacionais. As informações contidas nas Publicações do Programa de Água e Saneamento podem ser livremente reproduzidas, agradecendo-se o devido reconhecimento.