sacrifícios em nome da ciência
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sacrifícios em nome da ciência
ffACULDADE S SACRIFÍCIOS EM NOME DA CIÊNCIA: AS ALTERNATIVAS ÀS PESQUISAS BIOECIENTÍFICAS COM ANIMAIS COMO MODELOS EXPERIMENTAIS DO HOMEM1 Roberta Alves Rozados2 Angelita Woltmann3 RESUMO Trata-se de pesquisa acerca da análise das pesquisas biocientíficas envolvendo animais, sob a luz dos métodos alternativos existentes, procurando-se examinar o problema, a partir do estudo do estado atual da boética nas pesquisas, além de destacar o dilema existente entre as injustiças que cercam as pesquisas com animais e a busca pela justiça através da utilização de meios alternativos. Além disso, procura-se apresentar posicionamentos doutrinários e legais a respeito do tema na área de pesquisa com animais, demonstrando que a complexidade da sociedade moderna impõe, não só ao pesquisador, como ao próprio jurista uma nova postura, voltada para os animais como sujeitos de direitos. Deve-se, ainda, no presente trabalho destacar a importância das alternativas às pesquisas com animais, bem como a atuação dos Comitês de Ética para que as mesmas sejam utilizadas em detrimento daqueles, proporcionando conhecimento sem sofrimento, visando a solução de controvérsias bioéticas. Palavras-Chave: Bioética. Animais. Biocientífica. Senciência. Direito. Ética . Ciência. Alternativas. Experimentos. 1 Artigo decorrente de Monografia apresentada ao curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da União Metropolitana de Educação e Cultura – UNIME, para obtenção da Graduação em Direito no semestre de 2008.2. Primeiro lugar no I Prêmio Carlos Costa de artigos jurídicos. 2 Graduada em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Ciências Jurídicas da União Metropolitana de Educação e Cultura – UNIME em 2009. E-mail: [email protected] 3 Professora orientadora da monografia. Doutoranda em Ciências Jurídicas pela Universidade de Buenos Aires. Mestre em Integração Latino-Americana pelo Mestrado em Integração LatinoAmericana (MILA) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) na linha de pesquisa Direito da Integração. Especialista em Direito Constitucional aplicado pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Especializanda em Bioética pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Coordenadora do Núcleo de Trabalho de Conclusão e professora do Curso de Direito da União Metropolitana de Educação e Cultura (UNIME). Professora do Curso de Direito da Faculdade de Artes, Ciências e Tecnologias (FACETBA). E-mail: [email protected] . Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S 1 INTRODUÇÃO A obsessão da ciência em encontrar o tratamento e a cura para todas as doenças que surgem na sociedade e da intensa revolução biotecnológica é o resultado da ambição desenfreada dos pesquisadores. As pesquisas biocientíficas têm atingido um patamar tão alto no campo da ciência que hoje o homem tem se utilizado delas como resposta para todas as questões relativas ao ser humano. As conquistas, novas tecnologias e recursos, trazidos para a população, principalmente na área da saúde, alimentação, cosméticos são resultados das inúmeras pesquisas realizadas em animais. Tais experimentos vão desde a introdução de substâncias no corpo do animal vivo para analisar sua reação até a vivissecção, operação praticada em animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos ou patológicos. O problema aqui estudado se guiará pelas experiências biocientíficas com modelos animais, mais principalmente pelos métodos capazes de livrar os animais do sofrimento imposto pela ciência, pois mesmo tendo conhecimento das alternativas existentes, o pesquisador ainda tem preferido utilizar animais, deixando de observar preceitos éticos, constitucionais e ambientais. Logo, para que está questão seja mais bem compreendida se faz necessário analisar o que são e quais são essas alternativas na esfera das pesquisas biocientíficas, fazendo uma análise da real necessidade do uso de animais, tanto por parte dos pesquisadores, quanto, e principalmente, pelos Comitês de Ética em Pesquisa. O objetivo é estudar as alternativas como um novo paradigma para solução de controvérsias bioéticas nas pesquisas com animais. E na busca de equilíbrio e limites aos experimentos, construir o binômio: minorar o sofrimento e ampliar o horizonte de conhecimentos para humanidade. Não sendo mais aceitável a justificativa, ou o mito, de que somente a manipulação e tortura de criaturas vivas trazem benefícios para humanidade. Apesar da relação de alternativas existentes e do seu conhecimento, o que continua a se ver é uma sociedade contaminada por velhos hábitos, pelas Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S superstições, pelos maus costumes, pelos preconceitos e pela injustiça. A indiferença ao martírio animal pelos cientistas é justificada pela “preocupação” com os avanços das pesquisas. Porém, essa fundamentação é resultado do mercado, que torna os cientistas “robôs” programados para busca incessante de conhecimentos, despreocupados com valores éticos e influenciados pelo poder e pela vaidade que uma nova descoberta poderá lhes proporcionar. O presente Trabalho terá como método de abordagem o dialéüco. Quanto à natureza da pesquisa, esta será Básica, visto que objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência, envolvendo verdades e interesses. Do ponto de vista do seu objeto, deverá ser qualitativa, utilizando-se de pesquisa bibliográfica e documental, tendo em vista o caráter preponderantemente teórico do estudo. Longe de pretender cercear o avanço da medicina, mas permitir que seus estudos e pesquisas sejam permeados pela legalidade e pela moralidade, a questão não é estar contra ou a favor desse desenvolvimento, mas sim, demonstrar que as pesquisas com animais têm dois lados e estabelecer as alternativas, sempre que possível, à sua utilização. É imperioso entender que não há uma única passagem ou ciência que trará o progresso, há diferentes modos de avaliar os avanços científicos, absorvendo o conceito de que, cada componente da sociedade possui uma responsabilidade com o amanhã. 2 POLÊMICAS COLOCADAS PELA EXPERIMENTAÇÃO COM ANIMAIS E A PROPOSTA DOS TRÊS R’S: REPLACEMENT, REDUCTION E REFINEMENT. "Olhe no fundo dos olhos de um animal e, por um momento, troque de lugar com ele. A vida dele se tornará tão preciosa quanto a sua e você se tornará tão vulnerável quanto ele. Agora sorria, se você acredita que todos os animais merecem nosso respeito e nossa proteção, pois em determinado ponto eles são nós e nós somos eles”. Philip Ochoa. Diante da premissa de que os animais são seres sencientes, ou seja, capazes de sentir dor; prazer; estresse, este trabalho se propõe a demonstrar as alternativas existentes, já que os métodos utilizados para as pesquisas são destituídos de ética e desrespeitam os direitos dos animais, garantidos pela Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Constituição Federal de 1988. Este tema procura discutir estes novos direitos4 sob a visão crítica da Bioética5. A visão antropocêntrica do mundo fez com que algumas pessoas negassem aos animais direitos. Acreditar na hierarquia de humanos sobre não humanos deu aos animais a definição de meros objetos, comódites econômicas, propriedade. Essa é a visão vivisseccionista, que dá ao animal o status de coisa, não acreditando que eles tenham interesse na vida e que sejam autoconscientes. No entanto, os animais não estão desamparados. Apesar de não serem cumpridas à risca, há leis que protegem sua integridade física e psíquica, reconhecendo seu caráter senciente. Por isso, em contrapartida aqueles que não reconhecem os animais como sujeitos de direitos, há os que acreditam que o animal tem sim consciência do próprio corpo. E adotando o princípio da não crueldade para com os animais, se desvinculam do modelo retrógrado antropocêntrico, afirmando o Biocentrismo, ou seja, a vida, qualquer que seja, colocada como centro de todas as preocupações: são os Antivivisseccionistas. Eles são contra o especismo, preconceito praticado pelos animais humanos que insistem em se afirmar como superiores e não permitem a aplicação do princípio da igualdade de interesses. Eles lutam por uma mudança de paradigma, na busca de uma revolução científica, tentando acabar com essa visão de mundo instrumental, que tem a natureza como fábrica. Apesar da “ignorância culta” dos vivisseccionistas, os antivivisseccionistas buscam que os animais possam desfrutar da igualdade de consideração de interesses, da liberdade e da solidariedade do animal humano, já que as providências que podem ser tomadas são no âmbito do bem-estar, pois não há, 4 A doutrina costuma denominar como “novos direitos” aqueles decorrentes da ruptura de paradigmas ocasionada pela sociedade globalizada, típicos das mutações científicas, econômicas, éticas, políticas em nível mundial. (OLIVEIRA JUNIOR, 2000) 5 De acordo com Van Rensselaer Potter, a Bioética está atualmente em seu terceiro estágio de desenvolvimento, qual seja, Bioética Profunda, que se caracteriza como uma ciência interdisciplinar, intercultural e que potencializa o senso de humanidade. O primeiro estágio chamou de Bioética Ponte e o segundo de Bioética Global, propondo uma bioética de ampla abrangência. (GOLDIM, José Roberto. A Evolução da Definição de Bioética na Visão de Van Rensselaer Potter 1970 a 1998. Disponível em <http://www.ufrgs.br/bioetica/bioetev.htm#Potter>Acesso em: 20 out. 2008). Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S ainda, como se fundamentar no abolicionismo6, já que não existe uma norma que o sustente. Apesar dos avanços tecnológicos e legislativos, as práticas ainda continuam, só sendo razoável, diante de tal insistência, recorrer as Comissões de Ética para diminuir o uso e sempre que possível substituí-los pelas mais diversas alternativas já disponíveis. Nesta primeira parte do trabalho pretende-se abordar os movimentos vivisseccionistas e antivivisseccionistas, dando conceitos básicos do que seja experimentação, vivisseccção, entre outros, além de demonstrar os tipos de pesquisas e quais os métodos que podem ser usados como alternativas a utilização de animais. Faz-se também uma abordagem das leis que regem o direito do animal e, dos princípios constitucionais e ambientais aplicáveis a estes. E diante das constantes práticas e do envolvimento de questões éticas, inegável saber a importância das Comissões de Ética em Pesquisas e as diretrizes para utilização de animais. 2.1 VISÕES: VIVISSECCIONISTAS VERSUS ANTIVIVISSECCIONISTAS “Peço o privilégio de não nascer... não nascer até que você possa me garantir um lar e um mestre para me proteger, assim como o direito de viver enquanto meu corpo estiver saudável e eu puder gozar a vida... não nascer até que meu corpo seja algo precioso e o ser humano tenha parado de explorá-lo apenas por ser barato e estar disponível em grande quantidade". Autor desconhecido. O ser humano, ao longo de sua história, sempre utilizou animais tanto na alimentação; vestuário; diversão, como bem se serviu deles para experimentações cientificas. Essa utilização se deu e ainda se dá pelo fato de haver estudiosos que 6 Movimento de natureza política, voltado à defesa do princípio da igualdade e à libertação de seres oprimidos historicamente por sua condição biológica, natural, emocional ou econômica vulnerável. No final do século XX, porém, o termo abolicionismo voltou a ser usado, e o é até hoje, para designar a luta política em defesa da libertação dos animais de todas as formas humanas de exploração às quais estão condenados pelas leis que dão aos humanos o direito de propriedade privada sobre seus corpos vivos e suas carcaças. Definição disponível em <http://www.apascs.org.br/glossario.php?letra=A&pagina=0&order=palavra>Acesso em: 20 out. 2008. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S admitem ser o animal um ser inferior, mero objeto, pouco se importando com questões éticas, abstratas, intuitivas e valorativas. Regan explica em sua obra que, “a utilização de animais como instrumentos na ciência geralmente é divida em três categorias: educação, testes e pesquisa”. (REGAN, 2006, p. 200). Assim, há que se entender que a experimentação animal é gênero, da qual a vivissecção é espécie. Nesse sentido, mister se faz saber o que se entende por experimentação animal, como ela se caracteriza e qual sua definição: A experimentação animal, definida como toda e qualquer prática que utiliza animais para fins didáticos ou de pesquisa, decorre de um erro metodológico que a considera único meio para se obter conhecimento científico. Abrange a vivissecção, que é o procedimento cirúrgico realizado em animal vivo. (LEVAI, 2004, p. 63). Logo, a experimentação animal, que também pode ser denominada como testes ou pesquisas, são as experiências que tem por objetivo observar os comportamentos e as reações dos animais quanto à utilização de medicamentos, cosméticos e substâncias químicas. [...] A substância varia, desde drogas potencialmente terapêuticas (receitadas por médicos) até xampus, desodorantes, loções para pele, perfumes, desentupidores de ralos e esgotos, detergentes para máquinas de lavar pratos, pesticidas e solventes industriais [...]. (REGAN, 2006, p. 208). Há, ainda hoje, uma dogmática que insiste em dá ao animal a natureza de coisa. Essa visão simplista, de que os animais vieram ao mundo para nos servir, é característica daqueles que são denominados VIVISSECCIONISTAS. Eles são a favor da experimentação animal e sempre utilizam como argumento que, a necessidade de tais experimentos se justifica pela busca da cura, ou tratamento, de doenças que assolam a humanidade. Além disso, eles acreditam, que o animal humano e o animal não humano tem semelhanças estruturais e funcionais, daí defenderem a utilização deste último em pesquisas. René Descartes (1596-1650) foi um dos pioneiros da vivissecção animal, o filósofo “defendia o uso experimental de animais comparando-os a meros autômatos Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S destituídos de sentimento. Sua teoria ‘animal – máquina’, serviu para justificar inúmeras práticas cruentas em prejuízo deles, sendo a vivissecção a mais terrível de todas” (LEVAI, 2004, p. 20). Os modernos pesquisadores, que seguem o modelo ultrapassado de experimentação animal, o justifica dizendo ser a vivissecção um mal necessário. Ao nos referirmos à utilização de animais em pesquisa7 não se deve levar em conta tão somente àquela que traz benefício para a saúde humana, combatendo; auxiliando no tratamento e até curando doenças, mas também aquela que, “raramente aparece na mídia” (REGAN, 2006, p. 213), que completa o macabro cenário de crueldades, dor e sofrimento provocados nos animais. Segundo Rollin (1998 apud AMORIM, 2007, p. 19), as pesquisas com animais podem ser analisadas em sete grupos fundamentais: a) Pesquisa Básica – biológica, comportamental ou psicológica. Refere-se à formulação e pesquisa de hipóteses sobre questões teóricas fundamentais, tais como, a natureza da duplicação do DNA, a atividade mitocondrial, as funções cerebrais, o mecanismo de aprendizagem, enfim, com pouca consideração para o efeito prático dessa pesquisa. b) Pesquisa Aplicada – biomédica e psicológica. Formulação e testes de hipóteses sobre doenças, disfunções, defeitos genéticos e outras as quais se não tem necessariamente conseqüências imediatas para o tratamento de doenças, são pelo menos vistas como diretamente relacionadas a essas conseqüências. Incluem-se nesta categoria os testes de novas terapias: cirúrgicas, terapia gênica, tratamento a base de radiação, tratamento de queimaduras, dentre outras. c) O desenvolvimento de substâncias químicas e drogas terapêuticas – a diferença entre essa categoria e as anteriores é que aqui se refere ao objetivo de se encontrar uma substância especifica para um determinado propósito, mais do que o conhecimento para si próprio. d) Pesquisas voltadas para o aumento da produtividade e eficiência dos animais na agropecuária – isso inclui ensaios alimentares, estudos de metabolismo, estudos na 7 Pesquisa aqui utilizada em termo genérico, abrangendo tanto os testes ou experimentos, como a vivissecções e dissecações. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S área de reprodução, desenvolvimento de agentes que visam ao aumento da produção leiteira, dentre outros. e) Testes de várias substâncias quanto à sua segurança, potencial de irritação e grau de toxicidade – dentre essas substancias incluem-se cosméticos, aditivos alimentares, herbicidas, pesticidas, químicos industriais, drogas. As drogas, que podem ser de uso veterinário ou humano, são testadas quanto à sua toxidade, carcinogênese, mutagênese e teratogênese8. f) Uso de animais para extração de drogas e produtos biológicos – tais como vacinas, sangue, soro, anticorpos monoclonais, proteínas de animais geneticamente modificados, dentre outros. g) Uso de animais em instituições educacionais – demonstrações, dissecações, treinamento cirúrgico, indução de distúrbios com finalidades demonstrativas, projetos científicos relacionados ao ensino. De acordo com o PEA, Projeto Esperança Animal, entidade ambiental qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), os testes mais comuns são (ANEXO A): • Teste de irritação dos olhos (Draize Eye Irritancy Test9) – usado para avaliar a ação nociva dos ingredientes químicos encontrados em produtos de limpeza e cosméticos. Os produtos são aplicados diretamente nos olhos dos animais conscientes10. Os animais não são anestesiados e para que não arranquem seus olhos (automutilação) são imobilizados. As reações observadas incluem processos inflamatórios das pálpebras e íris, ulceras, hemorragias ou mesmo cegueira. Ao final, os animais são mortos a fim de se saber os efeitos internos causados pelas substâncias utilizadas. Figuras 1 e 2. 8 Carcinogênese (Carcinose – estado mórbido, doentio, resultante da presença de um câncer, tumor maligno); Mutagênese (Mutação – variação devida a alguma alteração da constituição hereditária com aparecimento de caráter inexistente nas gerações anteriores); Teratogênese (Teratogenia formação ou desenvolvimento de monstruosidade). BUENO. Francisco da Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Editora FTD S.A. 9 Os testes Draize de irritação dos olhos foram usados primeiramente, na década de 1949, quando J.H. Draize desenvolveu uma escala para avaliar quão irritante era uma substância quando colocada nos olhos de coelhos. (SINGER, 2006. p. 60). 10 Esses animais podem ser macacos, cães, gatos, mas o mais utilizado são os coelhos. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S • Teste Draize de Irritação Dermal – o animal é imobilizado e substâncias são aplicadas na pele raspada e ferida. Analisam-se sinais de enrijecimento cutâneo, úlceras, edema etc. Figuras 3 e 4. • Teste LD 50: em português significa “dose letal 50%”, consiste em medir a toxidade de certos ingredientes, obrigando o animal, através de sonda gástrica, ingerir determinada substância. Os efeitos observados são: dores angustiantes, convulsões, diarréia, dispnéia, emagrecimento, postura anormal, lesões pulmonares, renais e hepáticas, sangramento nos olhos e boca, coma e morte. O produto é administrado até que 50% do grupo pesquisado morra. Os animais mais utilizados são ratos, coelhos, gatos, cachorros, cabras e macacos. Ao final do experimento os animais sobreviventes são sacrificados. • Testes de Toxidade alcoólica e tabaco – os animais são obrigados a inalar fumaça e se embriagar, em seguida são dissecados para se saber os efeitos das substâncias no organismo. Figura 5. • Experimentos de comportamento e aprendizado – os animais são submetidos a todo tipo de privação (materna, social, alimentar, de água, de sono etc.), inflição de dor para observações do medo, choques elétricos para aprendizagem e indução a estados psicológicos estressantes. • Experimentos armamentistas – os animais são submetidos a testes de irradiação de armas químicas, são usados em provas biológicas, em teste de balística (servem de alvo), provas de explosão (são expostos ao efeito bomba). São baleados na cabeça, para estudo de velocidade dos mísseis. Animais geralmente utilizados: ovelhas, porcos, cães, coelhos, roedores e macacos. • Pesquisa de programa espacial – os animais são lançados ao espaço por meio de balões, foguetes, cápsulas espaciais, mísseis e pára-quedas. São usados macacos e cães. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S • Teste de colisão – os animais são lançados contra paredes de concreto. São utilizados Babuínos11, fêmeas grávidas etc. • Pesquisas dentárias – são forçados a manter uma dieta nociva com açúcares durante três semanas ou têm bactérias introduzidas em suas bocas para estimular a decomposição dos dentes. Suas gengivas são descoladas e a arcada dentária removida. São usados macacos, cães e camundongos. • Dissecação – animais são dissecados vivos nas universidades e outros centros de estudo. • Cirurgias experimentais e Práticas médico-cirúrgicas – desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas e aperfeiçoamento das já existentes. Os animais são mutilados, tendo seus membros quebrados, costurados, decapitados sem o uso de anestesia. São utilizados cães, gatos, macacos e porcos. Figura 6. • Experimentação animal na educação – observa-se fenômenos fisiológicos e comportamentais a partir do uso de drogas; estudos comportamentais de animais em cativeiro, conhecimento da anatomia interna e desenvolvimento de habilidades e técnicas cirúrgicas12. Experimentos mais encontrados na universidade: Miografia, em que um músculo esquelético, geralmente da perna, é retirado da rã ainda viva para estudar a resposta fisiológica a estímulos elétricos; Sistema Nervoso, uma rã é decapitada e um instrumento pontiagudo é introduzido repetidamente na sua espinha dorsal, observandose o movimento dos músculos esqueléticos do restante do corpo; Sistema Cardiorespiratório, um cão é anestesiado, tem seu tórax aberto e observamse os movimentos pulmonares e cardíacos. Em seguida aplicam-se drogas, como adrenalina e acetilcolina, para análise da resposta dos movimentos cardíacos. Outras intervenções podem ser realizadas. Por fim, o animal é morto; Anatomia Interna, são mortos ou são sacrificados como parte do exercício, com éter ou anestesia intravenosa; Estudos Psicológicos, são vários os experimentos realizados: privação de alimentos ou água (caixa de 11 Os Babuínos são os macacos que mais se adaptam à vida terrestre e podem até ficar em duas patas para vistoriar paisagem. 12 Os experimentos são comuns em cursos de Medicina Humana e Veterinária, Odontologia, Psicologia, Educação Física, Biologia, Química, Enfermagem, Farmácia e Bioquímica. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Skinner, por exemplo); experimentos com cuidado materno (a prole é separada dos genitores); indução de estresse (utilizando-se choques elétricos, por exemplo); comportamento social em indivíduos artificialmente debilitados ou caracterizados; Habilidades Cirúrgicas, animais, geralmente vivos, podem utilizados para estas práticas; Farmacologia, drogas são injetadas intravenosas, intramuscular ou diretamente no estômago (via trato digestivo por cateter ou injeção)13. Atualmente verifica-se que, diante da atitude científica dominante, ou seja, dessa busca desenfreada pela descoberta do novo, permeada por um mundo capitalista, alguns acreditam que somente por meio do sacrifício de animais a ciência e a técnica trarão avanço, já que delas decorrem todas as respostas para os problemas da humanidade. Os recursos naturais são utilizados pelos animais humanos como fontes únicas e inesgotáveis de pesquisas, se valendo do egoísmo e do individualismo em nome de um progresso inalcançável. Logo, Triste constatar, entretanto, que as sociedades contemporâneas – na busca daquilo que chamam ‘progresso’ – deslocaram seu eixo de ação do ser para o ter, como se o existir somente se justificasse em função do usufruir. Essa atitude egoísta e ambiciosa interferiu tanto na natureza a ponto de transformá-la em mera fonte de recursos, como se houvesse uma significação funcional para tudo o que existe. Sob os ditames da deusa-razão, o mundo se tornaria o mundo dos homens – usufrutuários da natureza e dos animais – postura que vem causando um inegável estreitamento dos nossos valores éticos. (LEVAI, 2004, p. 21). Como por parte dos vivisseccionistas não há uma preocupação “humanitária” quanto a utilização e manuseio dos animais em pesquisas, surgiu, em contrapartida, o movimento contestador de tais práticas. Isto porque, diante do avanço cientifico e tecnológico desmedido, em que a convivência entre a ética e a ciência se torna cada vez mais inatingível, aqueles preocupados com o rumo que vem tomando as pesquisas com animais, tentam aliar a ética e a tecnociência, objetivando, pura e simplesmente, a defesa do direito a vida e a expansão do conhecimento científico, são os denominados ANTIVIVISSECCIONISTAS. 13 GREIF (2003) cita os experimentos mais comuns encontrados nas universidades. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S O filósofo Iluminista francês François Marie Arouet (1694-1778), conhecido como Voltaire, preocupado com o que poderia acontecer com as constantes pesquisas em animais, afirmava que, É preciso, penso eu, ter renunciado à luz natural, para ousar afirmar que os animais são somente máquinas. Há uma contradição manifesta em admitir que Deus deu aos animais todos os órgãos do sentimento e em sustentar que não lhes deu sentimento. Parece-me também que é preciso não ter jamais observado os animais para não distinguir neles as diferentes vozes da necessidade, da alegria, do temor, do amor, da cólera, e de todos os seus afetos; seria muito estranho que exprimissem tão bem o que não sentem. (VOLTAIRE, 1993, p.169). Pela força e pela contemporaneidade deve ser reproduzido, ainda, outro admirável trecho da obra de Voltaire, cujas palavras convidam a uma reflexão: Algumas criaturas bárbaras agarram nesse cão, que excede o homem em sentimentos de amizade; pregam-no numa mesa, dissecam-no vivo ainda, para te mostrarem as veias mesentéricas. Encontras nele todos os órgãos das sensações que também existem em ti. Atreve-te agora a argumentar, se és capaz, que a natureza colocou todos estes instrumentos do sentimento no animal, para que ele não possa sentir? Dispõe ele de nervos para manter-se impassível? Que nem te ocorra tão impertinente contradição na natureza. (VOLTAIRE, 1978, p.97). A obra de Peter Singer intitulada Libertação Animal (1975) marcou o movimento protecionista animal. Além dele, Schär-Manzoli em Holocausto (1996) também trouxe para conhecimento da sociedade as mais diversas atrocidades as quais eram submetidos os animais. Para os Antivivisseccionistas os principais argumentos da não utilização de animais – cobaias em experimentos são de ordem moral, cientifica e filosófica: em se tratando de moral, os animais são seres sencientes, sendo passiveis de dor, sofrimento, estresse, medo etc; já do ponto de vista filosófico, a melhoria nas condições de vida do ser humano e mesmo dos animais não estão ligados diretamente ao progresso da ciência, mas sim a uma mudança de hábito; quando se fala no avanço cientifico e tecnológico, os antivivisseccionistas afirmam que, apesar das semelhanças morfológicas, as espécies humanas e animais possuem uma realidade orgânica bem diversa. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S O fato de serem, animais e humanos, fisiologicamente diferentes colocou em discussão a questão da transponibilidade das pesquisas para os seres humanos. Todo conhecimento gerado em pesquisa com animais é plenamente transponível ao ser humano? A tragédia da talidomida, nos anos 60, demonstrou o malefício que pode advir da falsa segurança que a experimentação animal atribui a uma substância: 10.000 crianças nasceram com deformações congênitas nos membros, depois que suas mães – durante a gravidez – ingeriram tranqüilizantes feitos com esse produto, os quais tinham sido ministrados, sem problemas, em ratos durante três anos. Sabe-se hoje, também, que um terço dos doentes renais, que necessitam de diálise, destruíram sua função hepática tomando analgésicos tidos como seguros porque testados em animais. Os CFC (clorofluorcarboneto), que foram considerados confiáveis após terem sido testados em animais, causaram o perigoso buraco na camada de ozônio sobre a Antártida. (LEVAI, 2004, p. 65). De acordo com a ONG Direito Animal no artigo, publicado em seu site, intitulado As experiências animais beneficiam a saúde humana?, na Inglaterra, meio milhão de pessoas sofreram danos na audição depois de tomar medicamentos testados em animais. Em 1996, o medicamento Alredase, para os diabéticos, causou a um em cada 20 usuários danos no fígado, algumas vezes irreversíveis e a morte de alguns pacientes — apesar da droga ter sido testada em animais. Ainda no mesmo artigo, a demonstração de que os acidentes com substâncias testadas em animais são tantas que, durante muito tempo indicou que fumar cigarro não trazia perigo, porque fumar deixou de causar câncer de pulmão em camundongos. Definitivamente os sistemas do organismo animal não reagem da mesma forma no ser humano (ANEXO B). Conforme Bauab Levai (2001), em um trabalho publicado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre os medicamentos, se concluiu que em todo o mundo, até o ano de 1997, foram retirados do mercado quase 6.500 deles, devido os seus efeitos colaterais provocados, tendo alguns levado pessoas a óbito. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S De acordo com Bernhard Rambeck14, em um resumo de trabalho apresentado em simpósio realizado em Genebra pela Liga Internacional de Médicos pela Abolição das experiências com animais, existem alguns mitos que permeiam a experimentação animal. Estes são o resultado de uma crença exarcebada da sociedade pelo desconhecimento de como ocorrem essas experiências e, principalmente, da ignorância quanto aos resultados e transponibilidade dessas pesquisas nos seres humanos. Rambeck lista dez mitos que cercam as experiências com animais para justificar a sua não utilização e, ainda, para tentar provar que tais pesquisas, em sua grande maioria, são desnecessárias, desprezando a vida e nos levando a uma situação de autodestruição, já que usamos e abusamos dos recursos da natureza de forma desmedida, não nos preocupando com o resultado lesivo, tanto para o animal humano como para animal não humano, desta conduta. Para Rambeck (1994) é mito afirmar que: o conhecimento médico está baseado em experiências com animais; foram as experiências em animais que possibilitaram o combate ás doenças e, desta forma, permitiram aumentar a vida média; a pesquisa médica só é possível com experiências em animais; experiências em animais são necessárias, porque as doenças mais importantes não foram modificadas, não se tornaram mais curáveis; experiências em animais são necessárias para afastar a ameaça de novas doenças; os riscos de novos medicamentos e vacinas só podem ser determinados por meio de experiências em animais; experiência em animais não prejudicam a humanidade; o animal não sofre durante a experiência; somente os especialistas sabem avaliar a necessidade, a validade e a importância das experiências em animais e, o último mito ele diz que, ainda há quem acredite que não é possível abolir as experiências com animais. Ora, se hoje vivemos em uma época permeada pela tecnologia, pela democracia, pela busca de igualdade das minorias, então como admitir que não é possível acabar com o uso de animais em pesquisas? Existem leis que amparam o 14 Bernhard Rambeck é diretor do Departamento Bioquímico da Sociedade de pesquisa em Epilepsia, Bielefeld, Alemanha. Autor de inúmeros trabalhos científicos no campo da bioquímica e da farmacologia clínica. Em sua opinião, a maneira mecanicista de pensar das atuais biociências impede qualquer real desenvolvimento da Medicina e da Biologia. Desde 1985, Rambeck dedica-se, sobretudo ao estudo das experiências em animais que estão prejudicando o homem e trazendo sofrimento infinito aos animais. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S direito da Mulher, do Idoso, do Índio, da Fauna e da Flora, e acima de tudo há a Carta Magna de 1988 que, além de determinar a proteção aos animais humanos, também ampara os animais não humanos, dando a eles tanta importância quanto. No entanto se mudanças quanto as mulheres, aos negros, aos índios, aos idosos, entre outros ocorreram, e ainda vem ocorrendo, isso se deve a mudanças fundamentais, associadas à uma tomada de consciência. É preciso entender que existem alternativas ao uso de animais, assim como foi possível perceber, ao logo dos tempos que, o negro é tão ser humano quanto o branco, e que homens e mulheres são iguais. Bernhard Rambeck (1994) afirma que, as experiências com animais devem ser abolidas, pois ela não só se classifica como um meio cruel, mas também antiético e sem nenhum valor cientifico. A partir da consciência de alguns estudiosos em afirmar que os animais são seres sencientes e na busca de utilização de técnicas “humanitárias” e éticas para utilização de animais é que em 1959 William Russel e Rex Burch desenvolveram na Inglaterra a proposta dos 3 R’S, sigla usada para definir as três palavras inglesas: Reductio, Refinament e Replacement. “[...] em que se propõe a substituição, a redução e o refinamento da pesquisa com animais.” (LEVAI, 2004, 69). A Redução diz respeito a diminuição no número de animais utilizado em pesquisa, já o Refinamento propõe a melhoria nas condições de manejo 15 e apuro técnico a fim de evitar ou mesmo abolir o sofrimento dos animais. Enquanto que a Substituição preconiza o uso de métodos alternativos eliminando o uso de animais em pesquisas. Greif e Tréz (2000 apud LEVAI 2004, p. 69) diziam que “qualificando a vivissecção como um mal necessário, o movimento dos 3R’S não a detém, ao contrario exalta e promove”. 15 Os animais devem ser tratados de forma que tenham criação, manutenção e manejo adequados, não tenham dor, estresse ou outros sofrimentos desnecessários. Os pesquisadores devem ser capacitados para fazerem pesquisas em animais dentro desta perspectiva. RAYMUNDO e GOLDIM. Márcia Mocellin e José Roberto. Pesquisa em modelos animais. Disponível em <www.ufrgs.br/bioetica> acessado em 25 ago 2008. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Menos descrentes que os autores acima, boa parte dos Antivivisseccionistas, visando o bem-estar animal16 e na busca do uso de não sencientes em pesquisas, ou seja, almejando o abolicionismo animal, acreditam que dentre os três princípios citados, o único que se amoldam as suas idéias é o Replacement, a substituição. Isto porque, a tese defendida por eles não é a de diminuição no uso, nem mesmo a utilização de técnicas menos agressivas ao animal, mas sim extinguir o uso de animais em pesquisas por meio das técnicas alternativas. Pois, acreditando na justiça divina e no ditado popular que diz “o mundo dá voltas”, pode-se dizer que os Antivivsseccionistas pactua com Thomas Jefferson quando ele afirma: “Eu temo pela minha espécie quando penso que Deus é justo”. Há, ainda, quem defenda a existência de 4 R’S, ou seja, que as pesquisas devem ser orientadas por quatro princípios. Maickel (1998 apud AMORIM 2007, p. 21) acrescenta aos já citados a Responsability (responsabilidade), que traz o comportamento dos cientistas, pesquisadores e educadores para o contexto da ética quanto ao uso dos animais, levando a senciência animal para o mundo dos seres humanos. Daí não ser possível destituir de importância o projeto de Russel e Burch da aplicação dos princípios dos 3 R’S, pois eles foram o marco da conscientização de utilização de meios alternativos de pesquisas em detrimento dos animais. Mas o que são alternativas? São recursos educacionais ou abordagens educativas que vão substituir o uso de animais e/ ou complementem práticas humanitárias de ensino. Essa educação humanitária se dá quando os estudantes são respeitados em sua liberdade de escolha e opinião, animais não são submetidos a sofrimento ou mortos em práticas educativas, os objetivos educacionais são obtidos utilizando-se métodos e abordagens alternativas, a educação estimula visão holística e o respeito à vida (INTERNICHE, 2008). De acordo com Rowan e Andrutis (1990 apud AMORIM 2007, p.33), em 1961 com a fundação da Lawson Tait Trust, originária de três organizações 16 “É um termo que se origina na sociedade para expressar preocupações éticas sobre a qualidade de vida experimentada pelos animais, particularmente animais utilizados pelos seres humanos” AMORIM, Luciane Mary Prado Vasconcelos. O bem-estar animal através dos métodos alternativos nas aulas praticas do curso de medicina veterinária. Lauro de Freitas: UNIME, 2007. (Trabalho de Conclusão de Curso). Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S antivivisseccionistas britânicas (British Union for the Abolition of Vivisection, National Antivivisction Society e Scottish Society for the Prevention of Vivisection), com o objetivo de estimular e financiar os pesquisadores que não usassem animais se deu início a uma conscientização, fazendo com que as alternativas invadissem o campo dos testes. Mas foi na década de 1970 que houve um crescente interesse no uso das técnicas alternativas, se consolidando em 1980, com o emprego dos princípios dos 3 R’S. Diversos autores brasileiros também vêm se pronunciado a favor das alternativas ao uso de animais, uma delas é a Advogada Ambientalista Edna Cardozo Dias, que desde 1983 faz denúncias contra a vivissecção. Para ela, os métodos que substituem a vivissecção recorrem a um grande numero de disciplinas, dentre as quais citem-se: biogenética, matemática, virologia, bioquímica, radiologia, microbiologia, cromatografia de gás e espectrometria de massa [...] Modelos de computador, engenharia genética, ovos de galinha, placenta humana, modelos mecânicos, modelos matemáticos e áudio visuais são métodos alternativos à disposição da ciência. (DIAS, 2000, p.166). Além dela, sustenta também a Médica Veterinária Irvênia Luiza de Santis Prada – Titular Emérita da FMVZ da Universidade de SP -, em seu artigo “Bases metodológicas e neurofuncionais da avaliação de ocorrência de dor/ sofrimento em animais”, publicada na Revista de Educação Continuada do CRMV – SP, que o método científico oficial precisa ser revisto: Formas substitutivas de procedimentos que envolvem a ocorrência de dor/ sofrimento de animais, nas mais variadas situações em que são utilizados, devem ser buscadas, pretendendo-se sempre preservar suas condições de bem-estar. Essa postura não apenas é compatível com o direito dos animais, de não serem sujeitados a sofrimento, como ainda é coerente com a condição de dignidade que pretendemos merecer, como seres humanos. (PRADA, 2002, p.2). Greif (2003 apud AMORIM 2007, p. 35) conta que há diferentes empresas no mundo, entre elas o Cambridge Development Laboratory, que possuem inúmeras Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S quantidades de alternativas pedagógicas, como manequins, simuladores e softwares educacionais. Faz-se necessário listar os vários métodos alternativos descritos por Greif (2003) em seu Livro “Alternativas ao uso de animais vivos na educação”, quais sejam (ANEXO C): - MediClip Veterinary Anatomy: Este software consiste em 500 imagens, com diferentes representações de anatomia superficial e interna de todas as regiões e sistemas, com algumas representações técnicas, cirúrgicas e anestésicas. Os modelos animais representados neste software são cavalos, cães, gatos, aves, sapos, porcos e ovelhas, desenhados pelos mais conceituados ilustradores médicos veterinários da atualidade. - Comparative Anatomy Mammals, Birds and Fish: O presente software contém uma introdução à organização dos organismos: estudo de células, organismos e órgãos. São estudados os sistemas músculo-esquelético, circulatório, nervoso, tegumentar, urinário, disgestório, respiratório e reprodutivo. - Surgical Skills: Trata-se de uma coleção de softwares, onde cada volume aborda um tipo de intervenção cirúrgica filmada, desde a paramentação, procedimento detalhadamente explicado, até a sutura indicada, favorecendo o estudante por poder levar para casa e também podendo voltar ao ponto de maior dúvida, quantas vezes julgar necessário. - Veterinary Neurosciences – Na Interactive Atlas: Atlas de neuroanatomia interativa, apresentando vários cortes de cérebros de diversos animais, para estudo comparativo. Permite ao estudante visualizar o órgão como um todo e sua histologia. Através de comandos, surgem legendas interativas explicando as partes realçadas, permitindo ao estudante aprender sobre centenas de estruturas, clicando diretamente na imagem ou no nome de uma estrutura que aparece em uma lista. Um comando de busca fornece acesso instantâneo a estruturas particulares. Nove módulos adicionais apresentam as principais vias somatosensoriais, motoras e visuais. Os gráficos coloridos apresentam nomes e localizações do trato neural e acompanham os núcleos desde a origem até a Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S terminação de cada via. Todos os módulos são completamente integrados ao Atlas, o que permite acesso a visões anatômicas e histológicas à partir de qualquer ponto ao longo da via. - Classifyng Animals with Backbones: Esse programa segue o esquema de um jogo. Explora a anatomia externa de vertebrados e conduz o estudante no processo de classificação dos animais de acordo com suas estruturas, ciclo de vida, habitats e hábitos. - Compurat: Esse programa simula o processo completo de dissecação e é reconhecido como um excelente recurso didático, acompanha livreto com ilustrações detalhadas. - Bird Anatomy: É um banco de dados em multimídia, que oferece imagens da anatomia de aves e textos descritivos. Contém informações completas sobre anatomia, com links que remetem a textos explicativos e segmentos de filmes que mostram o comportamento das aves no campo (GREIF, 2000). Existe uma grande variedade de modelos animais. Esses modelos estão incluídos nos catálogos de diversas companhias, entre elas: Nebrasca Scientific, Fisher Science Education, (NASCO). - Zoology Set: Consiste em sete modelos moldados em plástico durável e pintados à mão, apresentando grande riqueza de detalhes. - Fetal pig: Modelo em tamanho real, modelado a partir de um feto de porco verdadeiro, apresenta a maior parte dos órgãos internos, vasos sanguíneos e anatomia geral do animal. O manual identifica 96 partes-chave. - Cat Dissection Model: Esse modelo é grande o suficiente para ilustrar com bastante detalhes, a anatomia vascular de um gato. O coração é removível, para mostrar sua relação com a aorta, veia cava e vasos pulmonares. Um dos rins é seccionado para mostrar a circulação renal. Noventa e uma estruturas identificadas acompanham o modelo. - Operation simulator: Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Esse modelo é indicado para a prática de técnica cirúrgica (suturas). É constituído de um pedaço quadrado de borracha macia com simulações de artérias e pele de poliuretano. Um modelo de estômago pode ser acrescentado, para ensinar procedimentos cirúrgicos em órgão cheios de fluido. Não apresenta cheiro, permitindo que os estudantes levem-no para casa e pratiquem técnica cirúrgica.Utilizado desde 1991 na Universidade de Zurique. - Ensino de habilidades cirúrgicas básicas baseado em simuladores/mídia (ligadura/hemostase): Trata-se de um modelo bastante simples para ensinar técnica de hemóstase básica. É utilizada de uma almofada de espuma, que possui uma vala em forma de “V” na superfície simulando a incisão cirúrgica e os vasos sangrando são representados por uma tira vermelha. Sua aplicação para estudantes de veterinária tem sido efetivas. - DASIE – Dog Abdominal Surrogate for Instructional Exercises: Esse modelo foi criado com o intuito de facilitar o desenvolvimento de habilidades psicomotoras necessárias para conduzir uma cirurgia. É usado como alternativa para o uso de animais vivos, no ensino de técnicas assépticas, cirurgia estética, instrumentação, padrão de suturas, cirurgia abdominal geral e principalmente procedimentos cirúrgicos urogenital e gastrointestinal. Os tecidos das camadas mais internas e mais externas, bem como a camada laminada do meio, são reforçados para resistir ao corte, aos instrumentos cirúrgicos e manter suturas semelhantes ao que ocorria em tecidos cutâneos e faciais. O tubo interno do “intestino” facilita a prática de suturas que são utilizadas durante os procedimentos cirúrgicos urogenitais e gastrintestinais. - Plastic parenchymal abdominal organ models: Modelos plásticos para a prática cirúrgica em baço, rins e fígado de cães. - K-9 Thoracentesis Mannikin : Esse manequim permite acesso ao tórax, permitindo aspirar ar e fluido, simulando um trauma emergencial - K-9 Intubation Trainer: Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Esse modelo de cabeça artificial tem representações de traquéia, esôfago e epiglote. Foi desenhado para permitir entubação endotraqueal, com vias aéreas normais ou obstruídas. Possui pulmão funcionante e partes laváveis. Figura 7. - Rescue Critter “Jerry”(dog) K-9 Mannikin and “Fluffy”(cat): Esse manequim possui pulmões funcionantes, pulso artificial e suas partes são descartáveis e laváveis. É desenhado para permitir compressão cardiopulmonar, ressuscitação, colocação de talas e curativos. “Jerry” possui feições reais e tamanho aproximado de um cão pastor e o felino em tamanho padrão de gato. Figura 8. - K9 – IV Trainner: Modelos de membro dianteiro contendo veia cefálica e cabeça e pescoço canino com veia jugular simulada, coberta por uma pele de látex removível, planejados para permitir treinamento de acesso venoso (injeção de drogas, introdução de cateter e drenagem sanguínea), a borracha interna que simula a veia permite ser preenchida com a quantidade desejada de um liquido de diferente coloração (simulando sangue) com maior ou menor quantidade, simulando a pressão arterial. Figura 9. - POP ( Pulsanting Organ Perfusion) Esse simulador é para ser usado em técnicas cirúrgicas e representa órgãos e complexos de órgãos de animais. Os órgão são perfundidos por um fluido corado, cuja a pressão é mantida por uma bomba eletronicamente controlada, de forma que a circulação de cada órgão ocorre de forma semelhante ao que ocorreria em órgãos verdadeiros. Com esse modelo conduz-se cirurgia abdominal, torácica, urogenital, ginecológicas, e vasculares. Pode-se ainda praticar procedimentos de hemostasia. Modelo adotado pelo Hospital Bregenz, na Áustria. Figura 10. - Plastinação de espécimes anatômicas (cadáveres): É o processo em que espécimes naturais são fixados em formalina, desidratados e infiltrados com silicone, possibilitando a utilização de um único cadáver indefinidas vezes, além da obtenção de peças anatômicas reais, com preservação de estruturas anatômicas detalhadas, os cadáveres podem ser obtidos através de convênios com clínicas veterinárias . - Siliofilização: Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Trata-se de técnica de liofiização e infiltração de silicone utilizada para preservação de tecidos, mais efetiva que a plastinação. É uma técnica ambientalmente limpa, que resulta em peças translúcidas, duráveis e resistentes à manipulação. - Cadáveres quimicamente preservados com a técnica de Larssen modificada: Trata-se de uma técnica de tratamento químico para preservação de cadáveres que serão utilizados em aulas de técnica cirúrgica, como método alternativos ao uso de animais vivos, utilizada na FMVZ/USP. - Sarpoint Practice: Esse é um simulador criado para aquisição e treinamento constante de habilidades em microcirurgia básica, vascular e neurológica, utiliza materiais da família do poliuretano, moldado exatamente para se assemelhar aos vasos sanguíneos do membro do animal. A coloração e textura são reforços para propiciar maior realismo. As artérias e veias são cobertas exteriormente pela túnica adventícias e ambas possuem cerca de um milímetro de diâmetro. Bombas e controladores embutidos são programados para liberar o “sangue” em pulso, a uma pressão equivalente à artéria femoral. A circulação venosa é simulada utilizando-se um circuito paralelo no controlador, os “vasos” se encontram inseridos em um “músculo” constituído de fibras, que retém o sangue artificial, resultando em um ambiente bastante semelhante do real. A unidade se constitui em uma artéria e uma veia que correm paralelas, montadas sobre uma placa de Petri. A tampa evita desidratação, permitindo que o simulador seja usado em vários outros dias, outra vantagem em relação ao animal vivo. - Programas de castração e esterilização: A habilidade de estudantes de veterinária pode ser desenvolvida em animais vivos, sem que isso resulte em uma atividade antiética ou que cause desconforto psicológico ao aluno (podendo resultar em diminuição da capacidade de observação e raciocínio, portanto menor aprendizagem ou até aversão a este segmento da profissão). (GREIF, 2000). Através de convênios com ONGs, prefeitura, a faculdade estimularia o aprendizado cirúrgico, ético e de cidadania. Estes estudantes teriam uma carga horária mínima como auxiliar em cirurgias principalmente orquiectomia e OSH ( vário salpingo histerectomia) e posteriormente realizariam o procedimento supervisionado pelo cirurgião responsável. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S - Caheterization Technique Venous and Arterial vídeo: A técnica de cateterização percutânea é demonstrada na veia cefálica canina, veias safena, jugular e artéria femoral e tilibial anterior, o programa também enfatiza e demonstra preparações assépticas e sua importância. - Small Animal Bandaging Technique video: Descreve e ilustra aplicações apropriadas de curativos e bandagens em cães e gatos. - Exploratory Celiotomy video: É um programa de vídeo de demonstração de incisões e exploração de um abdome canino passo a passo. A cirurgia é apoiada por uma revisão de anatomia correspondentes. - Ovariohysterectomy of the Dog video: Um vídeo com demonstrações de técnicas básicas de OSH ressaltando as estruturas anatômicas. Ilustrações comparativas de anatomia reforçam as semelhanças e diferenças entre cadelas e outros animais. Além dos métodos referidos acima, que podem ser utilizados, principalmente, na educação, para evitar o uso de animais, Bauab Levai (2006) cita ainda, como alternativas as seguintes técnicas que substituem os animais na experimentação e que já são usadas nos países desenvolvidos, de primeiro mundo, e em algumas renomadas universidades. São elas: -Técnicas in vitro: este grupo inclui uma vasta gama de técnicas usadas para manter células, tecidos, órgãos ou partes destes, vivos, fora do organismo, num meio de cultura adequado durante pelo menos 24 horas. Essa técnica subdivide-se em: cultura de células e culturas organotípicas (utilização de partes de tecidos ou de órgãos ou órgãos inteiros). Material colhido a partir de cirurgias, biópsia, necropsias e partos.(LEVAI, 2006, p.47). - Técnicas imunológicas: formam a base de um grande número de métodos in vitro. Produção de anticorpos in vitro com agitadores, diálise, sistemas “roller”, sistemas de fibras ocas e fermentadores. (LEVAI, 2006, p.52). Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S - Técnicas de imagem não invasivas: ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia computadorizada, espectometria e outras permitem a avaliação contínua de doenças humanas. (LEVAI, 2006, p.53). - Organismos inferiores: são considerados pertencentes a este grupo: protozoários, bactérias, fungos entre outros. O teste AMES, por exemplo, vale-se de uma linhagem de salmonela para avaliação de propriedades mutagênicas. (LEVAI, 2006, p.46). - Uso da placenta humana: que geralmente é descartada após o nascimento de uma criança pode ser usada no aprendizado de técnicas de cirurgia microvascular e para testar efeitos tóxicos de substâncias químicas. Substitui o uso de animais com superior qualidade por se tratar de tecido humano livre de custos. (LEVAI, 2006, p.54). - Modelos humanos: muitas alterações que ocorrem no homem (vertigens, alterações de humor, sonolência, alterações de visão) podem não ser facilmente detectadas em animais, apesar de haver muitas restrições para utilização de humanos podem ser usados voluntários supervisionados por comitê médico (LEVAI, 2006, p.52). - Suprimento com gás cromatrográfo e massa espectrométrica: métodos utilizados na análise molecular de fluidos tais como sangue, urina e suco gástrico. (LEVAI, 2006, p.54). - Membrana corioalantóide: o teste CAME utiliza membranas de ovos de galinha para aliviar a toxidade de substâncias, sendo uma alternativa ao teste Draize. A vacina anti-rábica que antes era obtida com a substância extraída do tecido cerebral do animal, atualmente é feita nos EUA com a membrana corioalantóide do ovo da galinha, técnica essa que evita o sofrimento dos animais. (LEVAI, 2006, p.54). - Base de dados: atualmente estão em desenvolvimento várias bases de dados no campo da experimentação animal e alternativas, nomeadamente as bases Galileo, INVITTOX, ZEBETE e PREX. A base de dados Galileo contém dados de toxidade de produtos químicos. A base INVITTOX produz protocolos detalhados da metodologia de técnicas alternativas. Já a base ZEBETE recolhe informações importantes para os comitês de avaliação de experiências com animais. A base PREX, por sua vez, Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S traz variações sobre o assunto: referências bibliográficas, catálogos de linhagens de animais consangüíneos, programas audiovisuais, animais transgênicos, teses, livros etc. (LEVAI, 2006, p.51). - Modelos matemáticos: análise quantitativa da relação estrutura/ atividade (por ex., na interação de receptores) (LEVAI, 2006, p.50). - Métodos informáticos: é possível prever a atividade biológica de novos compostos ou melhorar a eficácia de certas drogas pela introdução de pequenas mudanças na estrutura molecular. O computador pode ser usado para “desenhar” novos compostos. (LEVAI, 2006, p.49). Esse grande número de alternativas fez nascer a necessidade de pesquisas e estudos analisando os efeitos e o seu custo/ benefício (ANEXO D). Sabe-se que, como confirma o Arca Brasil (1999 apud MORAES, 2005, p.60) 17, o uso de animais vivos como instrumento didático nas ciências da vida envolve diversos custos: incluem a despesa de compra e /ou de manter os animais, o tempo requerido para preparar e conduzir laboratórios animais - baseados, custos éticos aos animais, e custos sociais/ éticos aos estudantes, pois a maioria não deseja causar danos aos animais. Foram tais custos que influenciaram no desenvolvimento dos meios alternativos e essa preocupação aumentou com o surgimento da informática e o interesse moral pelos animais. Ainda de acordo com a Arca Brasil (2006 apud AMORIM 2005, p. 34), mais de 70% das faculdades de Medicina dos Estados Unidos não utilizam animais, na Inglaterra e Alemanha, nenhuma instituição utiliza animais nas aulas, na Europa e na América do Norte, muitas faculdades não utilizam mais animais, nem mesmo nas matérias práticas, como técnicas cirúrgicas e cirurgia – são oferecidas alternativas em todos os setores. Somente na América do Norte, mais de 120 escolas de medicina incluindo Havard, Columbia, Stanford e Yale, não mais utilizam animais. No Brasil, algumas Universidades vêm se empenhando no uso de alternativas à experimentação animal, como, por exemplo, USP (Método de 17 MORAES, Castro Giselly. O uso didático de animais vivos e os meios substitutivos em Medicina Veterinária. São Paulo: 2005. Trabalho de conclusão de curso – Universidade Anhembi Morumbi. UAM. Programa de Graduação em Medicina Veterinária. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Laskowisk – treinamento de técnicas cirúrgicas em animais que tiveram morte natural); UNIFESP (usam rato de PVC nas aulas de microcirurgia); UNB (simulação computadorizada); FMVZ (pesquisas realizadas com o cultivo de células vivas)18. Acontece que tais Universidades, acreditando que os animais não humanos são sencientes concordam com o Dr. Louis J. Camuti quando ele diz: "Jamais creia que os animais sofrem menos do que os humanos. A dor é a mesma para eles e para nós. Talvez pior, pois eles não podem ajudar a si mesmos”, adotando, assim, maneiras alternativas em suas aulas práticas, com o objetivo de evitar o sofrimento animal. Inegável que as técnicas alternativas trazem benefícios para os animais, Tudury e Potier (2008)19 afirmam que, a realização das aulas práticas alternativas para o treinamento das principais técnicas cirúrgicas demonstra ser de grande interesse e aprendizado para os alunos. Estes podem participar mais efetivamente das aulas, sem estresse e o medo que ocorrem quando se deparam logo na primeira prática com animais vivos [...]. Em relação aos vídeos, verifica-se que são baratos e duradouros [...], oferecem a possibilidade de repetição em câmara lenta. [...] Os métodos alternativos empregados evitam sofrimento de animais [...]. Há ainda que se destacar que, sendo imprescindível a utilização de animais, ou seja, não havendo técnicas que substituam seu uso, deve-se tal necessidade ser suprida por medidas “humanitárias”, visando o uso responsável do animal, sugerindo para tanto que se utilizem dos animais que tiveram morte natural ou que sofreram eutanásia por motivos clínicos, ou ainda aqueles que morreram acidentalmente em rodovias. 18 Informações contidas na Ação Civil Pública ajuizada pela MOUNTARAT, Associação de Proteção Ambiental, por meio da advogada Renata Martins Freitas (OAB/ SP 204.137) contra Prefeitura Municipal de Anápolis-GO, Hotel Fazenda Estância Park Hotel e o médico Luiz Henrique de Sousa. 19 TUDURY; POTIER, Eduardo Alberto e Glória Maria de Andrade. “Métodos Alternativos para Aprendizado prático da Disciplina Técnica Cirúrgica Veterinária”. In: Anais do I Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal, Sistema CFMV/ CRMs, Recife-Pe, 2008. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S 2.2 IN DÚBIO PRO NATURA: A OBSERVÂNCIA DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E AMBIENTAIS BASILARES. "A vida é valor absoluto. Não existe vida menor ou maior, inferior ou superior. Engana-se quem mata ou subjuga um animal por julgá-lo um ser inferior. Diante da consciência que abriga a essência da vida, o crime é o mesmo”.Olympia Salete. Em 1934 o Governo Provisório de Getulio Vargas expediu o Decreto federal nº 24.645, que proibia a prática de maus-tratos em animais. Nesta época, algumas condutas foram colocadas como crime, por exemplo: praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal, golpeando-o, ferindo-o ou mutilando-o; manter animais em lugares insalubres; abandonar animal doente ou ferido. Benjamin (2001 apud LEVAI 2004, p. 31) vislumbrou no Decreto Federal “a primeira incursão nãoantropocêntrica do século XX, muito antes da era do ambientalismo”. Já em 1979, havia uma norma denominada de Lei de vivissecção, a Lei Federal nº 6.637/79, que estabelecia regras para prática didático-científica da vivissecção de animais e determinava outras providências. Comparada ao Decreto de 1934 representou um retrocesso para as leis ambientais. No entanto, anacronismo à parte, apesar de ainda não existir um consenso sobre a verdadeira posição que os animais ocupam em relação aos seres humanos, a legislação vigente é protetiva e sancionadora quando se trata da fauna. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, parágrafo 1ª, VII, determina que o Poder Público deve proteger os animais, vedando as práticas que os submetem a agressões e maus-tratos. Esse preceito constitucional comprova que a Lei 6637/79, Lei de Vivissecção, não foi recepcionada pela atual CF/ 88, exceto por seus artigos permissivos. Senão vejamos: A Constituição Federal em seu Art. 225, inciso VII, determina que, Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (ANGHER, 2007, p.24). Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S A Lei 9.605/98 também protege os animais quando preceitua em seu Art. 32 e §§ 1º e 2° que, praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º - incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. (ANGHER, 2007, p.1428). A partir desses dois dispositivos legais, mister se faz uma discussão quanto a não observância de dois importantes Princípios encontrados na Carta de 1988, que são o Principio da Legalidade e o Principio da Finalidade. Nas constantes práticas vivisseccionistas e experimentais o que se nota é uma despreocupação quanto às leis vigentes, ferindo, assim, o Principio da Legalidade. Por este Princípio, que se localiza no Art. 5º, inciso II, “ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (ANGHER, 2007, p.43). A legislação ambiental é uma realidade de fato, devendo ela, assim, ser aplicada, e é no âmbito da efetivação dessa norma que se encontra o Principio da Finalidade. Pode-se dizer que tais princípios estão intimamente relacionados, pois se busca com a aplicação da lei o seu fim último. Porém, o que vemos na prática é bem diferente. Daí que, “A sensação de impunidade, somada ao ceticismo da maioria das autoridades em relação ao sofrimento dos bichos e, pior, ás motivações de ordem sócio-cultural do povo, serviram de estímulo às condutas cruéis registradas pela jurisprudência brasileira ao longo de muitas décadas [...]” (LEVAI, 2004, p.34). Ogonyok, na revista Soviet anti-cruelty magazine, em 1979, demonstrou que “Entre 135 criminosos, incluindo ladrões e estupradores, 118 admitiram que quando eram crianças queimaram, enforcaram ou esfaquearam animais domésticos”. Apesar da Lei 9.605/98 ter sido um grande marco na defesa dos animais, Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S [...] a redução significativa das penas cominadas ao infrator continua ensejando criticas. Isso porque, nos delitos contra a fauna, pode haver a substituição da pena privativa de liberdade por medidas restritivas de direito, [...]. Afora das hipóteses de contrabando de peles e couro de anfíbios e répteis (art.30) e de pesca com explosivo ou substâncias tóxicas (art.35), apenadas com reclusão, todos os outros crimes contra a fauna -caça e maus tratos, inclusive- foram passiveis dos benefícios da Lei dos Juizados Especiais Criminais: multa, pena restritiva de direitos ou suspensão processual condicionada. (LEVAI, 2004, p.36). Há ainda que se falar no Principio da Moralidade, isto porque a livre manipulação sobre vidas, como fazem os cientistas e vivisseccionistas, trata-se de ato antiético. Assim como, a entrega e permissão da utilização de animais para pesquisas pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), também se caracteriza como ato antiético, amoral. Quando se fala em Centros de Zoonoses, os leigos o entendem como sinônimo de abrigo, ou seja, como um local seguro, onde o animal estará protegido. Contudo, a realidade é bem diferente. Quando alguém perde o seu animal de estimação e, sendo ele capturado pelo CCZ, caso em 72 horas esse animal não seja resgatado do centro pelo seu dono, com certeza o seu destino será ou a morte, ou um laboratório de pesquisa. Tom Regan afirma tal assertiva dizendo que, “é importante se dá conta de um fato simples: seu animal de companhia poderá parar num laboratório. Apesar das declarações, por parte dos porta-vozes da indústria de pesquisa em animais, de que isso nunca acontece não se engane: acontece sim”. (REGAN, 2006, p.205). Não só a Constituição Federal determina Princípios, mas a Legislação Ambiental também. Dentre os seus Princípios específicos e orientadores da Lei da Natureza20, destacam-se o Principio da Prevenção e o Princípio da Precaução. Pelo primeiro se entende que, ante a dúvida pelo dano que poderá causar ou não causar determinada conduta, dela os co-réus devem abster-se ou agir para sua coibição. Já no segundo devem os co-réus não só deixar de atuar quando a conduta implicar em risco ao meio ambiente, mas também, cientes disso, proceder ás medidas acautelatórias para evitar o dano. 20 È assim que define a Legislação Ambiental o Procurador Geral do IBAMA Ubiracy Araújo. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Há que se destacar que, sempre se deve decidir baseado no In Dúbio Pro Natura, pois, Não é necessário, para configuração desses crimes, obter prova pericial – laudo ou atestado veterinário – porque ás vezes a prática delituosa não deixa vestígios [...]. A situação de sofrimento do animal, nessas condições adversas, pode ser comprovada por fotografias ou relato de testemunhas, sendo também uma questão de bom senso. Nas hipóteses ora aventadas os animais, ainda que sem machucaduras no corpo, estão em visível estado de sofrimento. (LEVAI, 2004, p. 39). Assim, mesmo havendo dúvidas quanto à crueldade e maus tratos contra animais em práticas vivisseccionistas ou experimentais não se deve deixar de observar os princípios acima citados, pois devem eles ser respeitados e suscitados como princípios basilares do Direito Ambiental. Sendo assim, na dúvida, sempre se decidirá pela natureza. De acordo com Regan (2006), os animais têm direitos morais fundamentais e deles fazem parte o direito a liberdade, a integridade física e a vida. Assim, a privação da liberdade em favor da ciência fere mais um princípio tutelado pela Constituição Federal, qual seja o Principio da Liberdade. Como há uma relação desigual entre humanos e animais, já que estes últimos sempre estão em posição vulnerável aos humanos, pois são subordinados a estes sempre lhes devendo obediência, os animais humanos acabam por ter total poder sobre essas criaturas. Porém, no Art. 4º da Declaração Universal dos Direitos dos Animais (ANEXO E) está determinado que, “toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito”.. Esta declaração foi proclamada considerando o seguinte: “que todo animal possui direitos, considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito a existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo [...], Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante [...]”, daí não podermos limitar os animais às liberdades criadas por nós. Está tutelado. A liberdade é um direito deles. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S A noção de bem-estar animal delineada pelo estudioso Ducan (2006)21, afirmando que o bem-estar se constitui na transformação das experiências negativas de sofrimento em sentimentos positivos, ou seja, em prazer, veio reforçar o que se chamou de cinco liberdades. Estas só ocorrerão de fato se os animais estiverem livres da fome e da sede, livres do medo e da angústia e livres para agir conforme seus instintos. (WSPA, 2007)22. Molento (2006 apud AMORIM 2007, p. 22), com o intuito de deixar as cinco liberdades mais didáticas às reestruturou. Sendo assim, classificou-as em: liberdade nutricional, liberdade sanitária, liberdade psicológica e liberdade ambiental. Assim, não será considerado livre o animal que for impedido de manifestar o seu comportamento natural. Há quem possa indagar que, não só a utilização de animais em pesquisas ou em vivissecção possam ser determinados como meios que restringem o comportamento natural deles, mas também o abate ou a pesca para consumo alimentar seriam formas de restrição brusca da sua liberdade. Contudo, importante destacar, que existe diferenças entre o abate e a pesca, e as pesquisas e vivissecções. Nos primeiros tem-se uma morte rápida e sem dor, caracterizadas como infrações passiveis de aceitação dentro de certos limites. Enquanto que nos últimos o procedimento é cruel e doloroso, fazendo com que os animais sofram, agonizem, até o momento da sua morte devido a utilização de meios cruéis. Essas são consideradas infrações absolutamente inaceitáveis, posto que, a Legislação Ambiental é clara quando proíbe a prática de atos atroz contra os animais, havendo para isso técnicas alternativas. A "Lei da Saúde e Vivência Animais" de 1992, está fundamentada na importância essencial do animal e no princípio de "não... a não ser que". Logo, no § 1º do art. 36 se estabelece que, "É proibido na ausência dum fim razoável, ou 21 DUCAN. I.J.H. “Avaliação Cientifica de bem-estar animal: animais de produção” - Projeto conceitos em bem-estar animal. WSPA BRASIL - SOCIEDADE DE PROTEÇÃO ANIMAL, Curitiba, 2007. 22 WSPA BRASIL - SOCIEDADE DE PROTEÇÃO ANIMAL. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S excedendo o que seja aceitável para alcançar o fim em vista, provocar dor ou trauma(s) ou causar dano à saúde ou bem-estar dum animal". Deste modo, deve-se levar em conta quando do uso de animais como meio, os fins a se atingir, devem eles ser relevantes, assim como as alternativas viáveis a sua não utilização. Além do que, é preciso fazer uma análise das condições de vida dos animais, ou seja, se aqueles procedimentos vão interferir de maneira que prejudique o seu viver natural. (ANIMALFREEDOM, 2008). Portanto, na teoria os direitos dos animais estão bem protegidos, o problema é que na prática, aquilo que o artigo coloca como fim razoável é entendido pelo ser humano de maneira abrangente, fazendo com que eles burlem a lei e ajam de acordo com o que acham moralmente correto, criando uma ética própria. (ANIMALFREEDOM, 2008). Como se não bastasse à falta de cumprimento das leis já existentes que tentam proteger o direito dos animais, o maior desrespeito a estes seres se verifica hoje com a aprovação do Projeto de Lei 1153/95, em 9 de setembro de 2008, intitulada como Lei Arouca, a matéria que ficou 13 anos em discussão tem como objetivo principal criar o CONCEA, Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, este terá como finalidade a regulamentação de normas e cuidados dos animais, além de credenciar instituições para criar e utilizar animais em laboratório. No entanto, esclarece a Professora Drª Irvênia Prada da Faculdade de Medicina Veterinária da USP23: Não aceito o argumento de que tudo se resolve com Comissões de Bioética – que já existem, na maioria dos estabelecimentos de pesquisa [...] Em muitas vezes, apenas “legalizam” a antiga situação de indiferença para com a sorte dos animais. A questão é moral (não temos o direito de obrigar os animais a pagarem com a vida e com sofrimento as nossas aspirações) e é também científica (o modelo animal não nos oferece a segurança que pretendemos). (PRADA, 2007, p. 2). O que se percebe é um retrocesso quanto aos direitos animais, pois enquanto a União Européia tem um prazo até o ano de 2009 para as indústrias de 23 Entrevista ao Jornal do Campus Nº 332 da Segunda Quinzena de novembro de 2007, p.2. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S cosméticos banir a utilização de animais em suas pesquisas, o Brasil mais uma vez atesta a sua condição de país subdesenvolvido, atrasado. Daí ser possível afirmar que, Apesar de toda legislação existente sobre o tema, o Brasil, a exemplo de alguns países adeptos da vivissecção, vem burlando suas leis de proteção animal. É que as dificuldades de fiscalização, somadas á clandestinidade de vários laboratórios e biotérios, fazem com que essa atividade – controlada ou não – continue representando enorme fonte de lucro para terceiros. Há quem diga, também, que significativo número de testes científicos envolvendo animais não objetivam outra coisa senão promover a própria classe dos pesquisadores que, salvo honrosas exceções, se limita a reiterar experiências já realizadas e cujas conclusões mostram-se sempre idênticas. (LEVAI, 2001, p. 19). Necessário se faz, para compreender a decadência do país quanto a experimentação animal, um esboço cronológico desde o ano de 1934 até o momento: os anos de 1934 e 1941 foram marcados, respectivamente, pelo Decreto federal nº 24.645, que proibia a prática de maus- tratos em animais e pela Lei de Contravenções Penais, que estabelecia penalidades para aqueles que utilizassem animais vivos para fins didáticos e científicos causando-lhes dor. Já em 1979 o que se viu foi a possibilidade de se utilizar desses animais em pesquisa de forma indiscriminada, vedado apenas em estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus. Em 1988 a Constituição Federal proibiu as vivisseccções, protegendo os animais, e vedando as práticas que os submetem a agressões e maus-tratos. Após dez anos a Lei Ambiental veio confirmar a CF/ 88 e criminalizar tais atos, quando possível de substituição e esta não for praticada. Passaram-se mais dez anos e, hoje, em vez da lei ambiental ser reafirmada e utilizada em prol dos sencientes, o que se nota é uma legislação marcada por contradições decorrentes da influência do nosso modelo capitalista corrupto e sem escrúpulos. Enquanto há pouco tempo a vivissecção era permitida em instituições de ensino superior e quando não existissem métodos substitutivos, a Lei Arouca dá permissão aos estabelecimentos de segundo grau, revelando um anacronismo moral e científico. Logo, é preciso uma mobilização dos movimentos que objetivam o bemestar animal e, até mesmo sua abolição em pesquisas, para que a Carta Maior não Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S seja desrespeitada e que as leis infraconstitucionais sejam pautadas por preceitos éticos, a fim de preservar os direitos dos animais. Legislação para isso já existe, mas sua aplicação deve ser uma tarefa em conjunto, tanto dos juristas como dos médicos, veterinários, biólogos e a sociedade como um todo, já que não é possível negar o beneficio dos animais para o desenvolvimento científico e tecnológico, mas não deixando a mercê os seus direitos e respeitando a premissa de que serão eles substituídos sempre que possível. 2.3 OS COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISAS E AS DIRETRIZES PARA UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS. "Atrocidades não são atrocidades menores quando ocorrem em laboratórios, ou quando recebem o nome de 'pesquisa médica'“.George Bernard Shaw (Dramaturgo, Nobel 1925). Diante do que já foi exposto e, entendendo que as pesquisas são uma realidade mundial, pois apesar de todos os movimentos antivivisseccionistas e de todos aqueles que são contra a experimentação de alguma forma, além das entidades de proteção animal, terem trazido grandes benefícios para a fauna, destacando-se a Legislação Ambiental, não se pode negar que tais pesquisas continuam ocorrendo e a sua banalização é tamanha que algumas empresas, a exemplo da Assolan; Baruel; Bombril ; Johnson & Johnson; Calvin Klein; Bic; L'Oréal24 ; entre outros, admitem publicamente que utilizam animais para testar os seus produtos (ANEXO F). É nesse momento que devemos compreender a importância dos Comitês de Ética, pois apesar de alguns estudiosos serem contra essas comissões, como Tom Regan (2006), Peter Singer (2004) e Greif (2003), há que se ressaltar que, conforme este último, a legislação brasileira é aparentemente mais rígida que a americana, porém, quanto aos problemas operacionais dos órgãos competentes quase nada se têm feito. Ainda segundo ele, os Comitês de Éticas institucionais, criados para regularizar o uso das pesquisas não tem o objetivo de fiscalizar ou 24 Alguns exemplos de empresas que testam em animais. <http://www.pea.org.br/crueldade/testes/testam.htm> acesso em: 18 set 2008. Disponível Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] em: ffACULDADE S regularizar os experimentos, mas sim assegurar que o uso do animal seja de forma humanitária. Ainda assim, não podemos negar que, se esse uso, mesmo com toda legislação punitiva, não deixa de existir, ou não possa deixar de existir, não há como negar a necessidade dos Comitês de Ética em Pesquisas, pois é por meio deles que será possível avaliar se é realmente preciso utilizar animais em determinados experimentos. Logo, conforme Goldim, em seu artigo A Avaliação da Pesquisa em Animais25, afirma que, Os Comitês de Ética em Pesquisa existem justamente para realizar a avaliação adequada dos projetos de pesquisa. Estes Comitês são uma garantia de que a sociedade exerce algum controle sobre as atividades de pesquisa. [...] A avaliação dos projetos de pesquisa em animais, desta forma, deve ter o mesmo rigor que a realizada em seres humanos, pois afinal este é o seu objetivo maior. (GOLDIM, 2002). Segundo Rowan e Andrutis (1990 apud AMORIM 2007, p. 28), o primeiro Comitê de Ética Animal surgiu em Harvard no ano de 1907. Acontece que, os cientistas fundadores dessa comissão tinham como principal preocupação resolver o problema da escassez de animais, apesar de um dos seus componentes já terem manifestado a preocupação em controlar a vivissecção. Porém, depois da segunda grande Guerra Mundial é que algumas inquietações quanto a utilização de animais em pesquisas foram suscitadas. Mas foi a partir da década de 80, conforme Rivera; Amaral; Nascimento (2006 apud AMORIM 2007, p. 29), que os Comitês de Ética se firmaram nos EUA. Isso ocorreu por causa da pressão social sobre o uso dos animais, mas também devido o surgimento da obrigatoriedade legal no ano de 1985. Esses Comitês tiveram como atribuições a observância dos parâmetros referentes aos cuidados e a criação de animais, o seu uso, adequando à proposta dos procedimentos a serem efetuados em protocolos experimentais, além de aprovar ou desaprovar qualquer intenção de uso animal. 25 Disponível em <www.ufrgs.br/bioetica.animrt.htm >. Acesso em: 25 ago. 2008. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Com o passar do tempo os Comitês de Ética foram se disseminando pelo mundo e, junto com eles as Diretrizes para utilização de animais em experimentos. De acordo com Raymundo e Goldim (2003), em seu artigo Diretrizes para utilização de animais em experimentos científicos26, os profissionais envolvidos nas pesquisas devem ser capacitados para tal, tanto no que se refere ao manejo, como a realização dos experimentos. Deve ainda ser comprovado que somente com a utilização de animais poderá se obter o conhecimento desejável, além de que, não deve, para que isso aconteça, existir métodos capazes de substituí-los. E não sendo possível substituí-los, se faz necessário o uso com respeito e beneficência, além de condições de vida adequada. Outra diretriz que ajuda a controlar o uso de animais é a justificativa quanto ao número de espécies utilizadas, caso contrário a pesquisa será inadequada. Para que o animal não sofra, não sinta dor ou qualquer outro desconforto deve-se utilizar anestesia e analgésicos, a não ser que a dor seja o objeto de investigação das pesquisas. Ainda segundo Raymundo e Goldim (2003), se deve preservar o bemestar e a saúde dos animais, além de serem usados somente animais de procedências controlada e espécies específicas para cada análise. Seu transporte deve ser adequado, tendo o pesquisador e a instituição de pesquisa a obrigação de alojar os animais em locais apropriados e protegidos por barreiras sanitárias, a fim de evitar a contaminação dos mesmos. Os animais devem receber alimentação e água, ambos de qualidade. Deve ainda, no caso de animais doentes e feridos, ser disponibilizado atendimento veterinário. Ao final do experimento, caso necessite, os animais devem ser mortos de forma rápida, indolor e irreversível. Porém, o método a ser utilizado deve constar no projeto de pesquisa. É imprescindível que sejam adotados mecanismos protetivos que vão garantir a biossegurança dos pesquisadores e demais envolvidos. Há que se ressaltar que, as diretrizes descritas devem ser adotadas também no caso de práticas didáticas. Desta feita, como a ciência, a indústria e a economia estão intrinsecamente ligadas, pois, inseridas no mundo capitalista, onde os investimentos 26 Disponível em:<www.ufrgs.br/bioetica.animrt.htm>. Acesso em: 25 ago 2008. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S exigem retornos rápidos, as pesquisas também sofrem as pressões de mercado. Por conta disso é que, segundo GOLDIM e RAYMUNDO (2003), as pesquisas devem ser guiadas por diretrizes mínimas, quais sejam “a definição de objetivos legítimos; a imposição de limites à dor e ao sofrimento; a fiscalização de instalações e procedimentos; a garantia de tratamento humanitário, e a responsabilização pública”. Sabendo agora quais as diretrizes que devem ser seguidas pelos pesquisadores e que são os Comitês de Ética os responsáveis em fazer com que esses preceitos sejam cumpridos fica claro perceber que as pesquisas cientificas com animais devem obedecer a critérios como a geração de conhecimento, exeqüibilidade e relevância afirmadas por Goldim em seu artigo A avaliação da pesquisa em animal: A geração de conhecimento é inerente ao ato de pesquisar, é a sua justificativa básica e finalidade. [...] A exeqüibilidade, habitualmente, é o critério mais detalhado no processo de avaliação. A avaliação dos aspectos metodológicos e éticos pode ser feita de forma seqüencial ou conjunta. [...] O critério da relevância da pesquisa é o mais difícil de ser avaliado, pois implica em uma análise de valor agregado e não apenas de método ou conhecimento. (GOLDIM, 2002). Raymundo e Goldim acreditam que o uso dos animais em pesquisas deve nortear-se por princípios orientadores, quais sejam: Que os seres humanos são mais importantes que os animais, mas os animais também têm importância, diferenciada de acordo com a espécie considerada; que nem tudo o que é tecnicamente possível de ser realizado deve ser permitido; que nem todo conhecimento gerado em pesquisas com animais é plenamente transponível ao ser humano; que o conflito entre o bem dos seres humanos e o bem dos animais deve ser evitado sempre que possível. (RAYMUNDO e GOLDIM, 2003). Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Ressalta-se que recentemente, mais precisamente em 25 de abril de 2008, foi publicada no Diário Oficial da União a Resolução Nº 879 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (ANEXO G), dispondo sobre o uso de animais no ensino e nas pesquisas, e regulamentando as Comissões de Ética no uso de Animais (CEUAs), seus objetivos e funções, e considerando, [...] a necessidade de disciplinar, uniformizar e normatizar o uso cientifico de animais sencientes no ensino e na pesquisa médicoveterinária e zootécnica, em nível Nacional; considerando a necessidade de adequar ou criar comissões de ética no uso de animais nas instituições de ensino superior e de pesquisa no âmbito da Medicina Veterinária e da Zootecnia; considerando que a formação do médico veterinário e do zootenicista lhes imputa o zelo pelo bem-estar animal; com o intuito de atender às necessidades físicas, metais, etológicas e sanitárias dos mesmos; considerando a necessidade da aplicação das Cinco Liberdade do bem-estar animal no ensino e na experimentação; considerando a necessidade de adotar o Principio dos 3 R’S [...]. (CFMV, 2008). A resolução em seus artigos 8º a 14 definem as CEUAs, como órgão de assessoria institucional autônomo, colegiado, multidisciplinar e deliberativo do ponto de vista ético em questões relativas ao uso de animais no ensino e na experimentação. Além de ditar as normas que devem se guiar as comissões. Além disso, destaca-se por seu apelo ético o art. 2º, já que admite que os profissionais envolvidos devem ter consciência de que os animais são seres sencientes, determinando que, “qualquer procedimento que cause dor no ser humano causará dor em outras espécies de vertebrados, tendo em vista que os animais são seres sencientes, experimentam dor, prazer, felicidade, medo, frustração e ansiedade”. Regan (2006) vai dizer que, os animais não existem em função do homem, eles possuem uma existência e um valor próprios. Assim, um sistema jurídico que o exclua é cego e uma moral que não o incorpore é vazia. Assim, é imperioso entender que não há uma única passagem ou ciência que trará o progresso, há diferentes modos de avaliar os avanços científicos, absorvendo o conceito de que, cada componente da sociedade possui uma responsabilidade com o amanhã. Assim, como dizia Einstein, "Nossa tarefa deveria ser nos libertarmos... aumentando o nosso círculo de compaixão para envolver Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S todas as criaturas viventes, toda a natureza e sua beleza”. Albert Einstein (físico Nobel 1921). 3 BIOÉTICA E EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL: A RESPONSABILIDADE MORAL E SOCIAL DAS BIOTECNOLOGIAS. "Jamais creia que os animais sofrem menos do que os humanos. A dor é a mesma para eles e para nós. Talvez pior, pois eles não podem ajudar a si mesmos." - Dr. Louis J. Camuti. Etimologicamente a palavra “bioética” significa ética da vida. Isto se deve a noção de que a bioética surgiu com o intuito de valorizar tudo aquilo que é considerado vivo, ou seja, o seu propósito é demonstrar que os avanços tecnológicos não podem está dissociados de preceitos éticos e morais que envolvem todos os seres vivos que habitam o mundo.”A bioética apresenta-se como um instrumento importante para a socialização do debate sobre as tecnociências” (OLIVEIRA, 2004, p. 91). A bioética abrange vários temas, entre eles é possível citar: manipulação genética; clonagem; eutanásia; experimentação com ser humano, com embrião e com tecidos humanos; pesquisa sobre o genoma, entre outros. Estes, segundo Durand, são considerados temas centrais. Enquanto que, a pena de morte; tortura; experiências com animais; ecologia e meio ambiente, entre outros são classificados como temas periféricos. De acordo com Loyola, essa classificação é feita, porém não há como determinar que uma categoria seria mais importante que a outra, pois “as fronteiras são difíceis de ser fixadas” (DURAND, 2003, p. 116). Reconhecendo o uso do animal em experimentos como uma das preocupações da bioética, a adoção da senciência deste ser fez com que surgissem considerações éticas quanto ao seu uso, aos efeitos provocados pela influência humana no seu meio natural e, principalmente, ao sofrimento pelo qual passam nas mais diversas pesquisas científicas. Daí poder se considerar erro metodológico o fato de a experimentação animal ser utilizada pela tecnociência como o meio mais eficaz, para beneficiar o ser humano ou outras espécies. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S Logo, a bioética surgiu com o intuito de fazer uma “ponte” entre ciências biológicas e valores morais para que, tanto os animais não humanos como os animais humanos pudessem gozar do maior dos direitos, qual seja, o direito a vida. Neste capítulo pretende-se demonstrar que o avanço tecnológico pode ocorrer, sem que para isso a biodiversidade seja destruída ou colocada à margem do direito, devendo, assim, haver um equilíbrio entre ética e ciência na busca de soluções satisfatórias para o desenvolvimento. Isto porque, a tecnociência não deve se limitar ao simplismo, ou seja, desprezando a ética e a bioética, pois ela envolve muito mais do que resultados práticos, ela envolve a vida em sentido lato. 3.1 A TECNOLOGIA COMO MELHORAMENTO DAS CONDIÇÕES HUMANAS E NÃO COMO DESTRUIÇÃO DA BIODIVERSIDADE. "A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados" - Mahatma Gandhi Que as pesquisas têm o seu grau de importância ninguém pode negar. Os experimentos científicos com animais trouxeram ao longo dos tempos respostas para muitas dúvidas, principalmente no campo das pesquisas médicas e farmacêuticas. Porém, como foi demonstrada no capítulo anterior, essas pesquisas têm sempre dois lados: o do beneficio para humanidade e o lado do sofrimento causado aos animais. Mas foi possível perceber também que, hoje, as técnicas e o direito avançaram muito, podendo, assim, substituir os animais sempre que hajam alternativas ao seu uso, e estas não faltam. As alternativas são uma realidade, assim como sua aplicabilidade, já que é possível obter resultados satisfatórios com sua utilização. Além de inaceitável a utilização de animais, quando da existência de alternativas ao seu uso, inconcebível é a produção de doenças e sua introdução em animais sadios. O objetivo, segundo os cientistas, é a busca pela cura de certas doenças. No entanto, há que se questionar se os resultados dessas ardilosas manobras são positivos. Movimentos em prol dos animais têm demonstrado, por Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S meio de pesquisas, que tais resultados nem sempre são satisfatórios. E isso se deve, como foi mencionado no capítulo anterior, a diferença fisiológica entre humanos e animais. Geralmente os organismos dos animais não rejeitam certos medicamentos, por exemplo, e muitas vezes, ocorre o inverso quando são passados para humanos. É o caso recente, dentre vários, do medicamento Arcoxia 120 mg 27, antiflamatório, que foi testado e depois de muito tempo sendo utilizado por humanos foi rapidamente retirado do mercado, pois se descobriu que os seus efeitos eram nocivos a saúde humana. Percebe-se que, as atitudes do animal humano em expor os animais não humanos a fatores de riscos tornam as novas tecnologias maléficas não só para estes últimos, como também para os primeiros, pois o que se vê é que não há uma preocupação ética, moral e social e “é provável que ainda leve algum tempo para que a solidariedade com todos os seres vivos seja matéria de reflexão e consciência, mas o debate não deve só ser levantado, como também enfocado da ampla perspectiva de uma ética global” (LOLAS, 2001, p.87). De acordo com o jornal Folha Ciência28, somente nos estados Unidos são utilizados dezoito milhões de animais em pesquisas anualmente. No Brasil não há dados formais a esse respeito. “De acordo com as cifras do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos, cerca de 140.000 cães e 42.000 gatos morrem todos os anos em laboratórios do país, e números menores, mas ainda assim bastante altos, são usados em todas as nações ‘desenvolvidas’” (SINGER, 1998, p. 128). Segundo Lolas, deve haver um anterior sentimento daquilo que é necessário e útil, pois, caso contrário, não será possível haver uma boa argumentação moral. Assim, qual a justificativa em induzir um câncer, diabetes, hipertensão em um animal saudável? Seria a facilidade? Por que não utilizar animais 27 “Um dos antiinflamatórios mais modernos do mercado está sendo responsabilizado por provocar infarto num paciente jovem, sem qualquer histórico de cardiopatia. Uma semana após a ingestão do medicamento Arcoxia (etoricoxibe), em abril de 2007, o capitão da Polícia Militar, Paulo Márcio Ribeiro, 40 anos, sofreu um ataque do coração. Ele havia feito uma cirurgia de Pterígio (retirada de uma membrana avermelhada do olho), e, no pós-operatório, utilizou a medicação por quatro dias, sob prescrição médica”. Disponível em: <http://planassiste.pgr.mpf.gov.br/informes/ba-pacienteinfarta-apos-uso-de-antiinflamatorio> acesso em: 03 nov. 2008. 28 Jornal Folha Ciência, São Paulo, 29 de outubro de 2003, p. A 15. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S que já tenham um histórico da doença? A tecnociência não tem tempo para diagnosticar os animais já doentes e em seguida fazer os testes. O capitalismo não deixa. A exploração desenfreada da natureza tem tornado as relações humanas destituídas de valores. O uso do meio ambiente sem qualquer critério fez com que desaparecessem o respeito e a igualdade, isso tem provocado uma situação caótica. A posse que o homem exerce sobre a natureza tem se tornada doentia devido à busca incansante do mais avançado, mais tecnológico, buscado pelo sistema capitalista, que despreza os valores da vida. Isto porque, “estes avanços científicos, expressos através de uma variedade de tecnologias, incidem cada vez mais sobre a vida diária de muitas pessoas. Essas tecnologias podem permitir melhor qualidade de vida, mas os riscos e as ameaças delas decorrentes podem passar despercebidos” (SOARES, 2006, p. 28). Daí sugere-se que esse desenvolvimento destrutivo que a tecnociência provoca para biodiversidade dê lugar a um crescimento sustentável, ou seja, proporcionando ao meio ambiente, e mais precisamente aos animais, qualidade de vida, pois uma “ética do ambiente” ou “ecoética” deve estar na agenda de todo planejador da ciência e da técnica futuras. Os controles adequados, a necessária limitação da depredação excessiva e inútil do planeta, o risco para a saúde das populações atuais e futuras constituem aspectos essenciais de uma ética ambiental. Precisamente por causa da emergência de interesses econômicos, torna-se imprescindível desenvolver essa área de argumentação moral. (LOLAS, 2001, p. 86-87). O egoísmo do animal humano em buscar somente o seu bem-estar, desconsiderando os animais não humanos, explorando-os para satisfazer o seu próprio eu, não se coaduna com o princípio das relações ser humano versus natureza. Por este princípio, “os seres humanos são também parte da natureza e devem manter com ela uma relação solidária” (OLIVEIRA, 2004, p. 87). Essa relação solidária está relacionada com o que Peter Singer chama de Igual consideração de Interesses. Por este princípio, animais humanos e não Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S humanos devem receber o mesmo tratamento, alguns filósofos defendem a igual consideração de interesses “como um princípio moral básico. Poucos admitiram que o princípio tem aplicações além de nossa própria espécie. Um dos poucos a fazê-lo foi Jeremy Bentham, o criador do utilitarismo moderno” (SINGER, 1998, p.66). O que a biotecnologia traz de novo é o resultado do domínio do homem sobre a natureza, sobre os animais, ele a transforma de tal maneira que acaba por determinar o começo e o fim da vida, ou seja, com o poder de transformar nas mãos, o animal humano atua sem limites. Daí que, se quiserem remediar os males já existentes e prevenir novos, os seres humanos deverão deixar de se considerar senhores para passar à condição de irmãos e irmãs uns dos outros e de todas as criaturas. Esta conversão torna-se tanto mais urgente quanto mais o mero avanço tecnológico se transformou em revolução biotecnológica, com um acervo incrível de novos instrumentos para intervir nos segredos mais profundos da vida. (SOARES, 2006, p. 96). Ocorre que, devido às implicações que os avanços tecnológicos tem provocado, a humanidade já começa a se preocupar com o que poderá ocorrer se a tecnociência continuar avançando cada vez mais sem critérios, trazendo, assim, sérios problemas para biodiversidade. O homem tem pensado bastante sobre as conseqüências que suas atitudes tem acarretado, por isso que, é preciso haver regulamentação pública sobre a atividade científica e os produtos da ciências, o que de nenhum modo significa adotar uma postura contra a ciência e a tecnologia. Vivemos uma época na qual a ciência não tão-somente uma inocente e poética tentativa de explicar a natureza. Suas aplicabilidades tecnológicas (industrialização da ciência) impactam quase todos os domínios de nossa vida ; daí a necessidade de proteger “consumidores (as)” e produtores (as) de ciência. Caíram por terra, pois, a universalidade, a inocência e a autoridade, supostamente intrínsecas à atividade científica. Essa regulamentação é uma tentativa de circunscrever os direitos e deveres de cientistas e demais profissionais da saúde e de exigir que o compromisso e a responsabilidade social sejam o esteio de suas atividades. (OLIVEIRA, 2004, p. 92). Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S 3.2 O EQUILÍBRIO: DIANTE DO AVANÇO DESENFREADO FAZ-SE MISTER TRAVAR UM DIÁLOGO QUE APROXIME ÉTICA E CIÊNCIA. "Um homem é verdadeiramente ético apenas quando obedece sua compulsão para ajudar toda a vida que ele é capaz de assistir, e evita ferir toda a coisa que vive." - Albert Schweitzer (1875-1965) Por conta dos inúmeros êxitos que a ciência trouxe para vida moderna devido ao avanço tecnológico, atualmente ela atua conforme os ditames de Maquiavel (2001) dizendo que, os fins justificam os meios. Isto ocorre porque, para muitos cientistas não interessam de que forma, ou seja, qual o meio que será utilizado para que ele obtenha sucesso com sua pesquisa. Na verdade ele está mais preocupado com o seu fim. A ciência, por muito tempo, foi tida como uma divindade, sendo seu principal ator, o cientista. O que se ouvia e se ouve, até hoje, é que a ciência trará descobertas que irão mudar o mundo. Os cientistas acreditam que só são válidas, só são corretas, as proposições cientificas, ou seja, as hipóteses que foram testadas por eles, por isso, muitos cientistas temem que o “dogmatismo dos filósofos interfira no campo da pesquisa. Para eles, a ética refere-se à vida privada das pessoas e seria um abuso que ela se intrometesse no curso das experiências científicas. Por isso, a tecnociência fez um caminho à parte [...]. As técnicas estão disponíveis. Por que usá-las? Por que não usá-las? Ou, em que circunstâncias usá-las? [...] São problemas que extrapolam a competência da tecnociência e se tornam problemas éticos globais. (PERGORARO, 2002, p. 21-22). Porém, percebe-se aos poucos, uma mudança de pensamento por parte das pessoas em geral, que passaram a ter voz altiva e, hoje, tentam fazer com que o conhecimento esteja aliado a ética, objetivando não só o lucro, mas também agir conforme preceitos estabelecidos, a fim de ter atitudes eticamente corretas, Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S principalmente quando se fala na utilização de animais em experiências. Ocorre que a, ética e as ciências humanas em geral acusaram a tecnologia de ser um sistema que funciona em circuito fechado, sem finalidade, a não ser a de produzir mais e ganhar mais ainda: é a ciranda viciosa e vertiginosa do lucro. A, por sua vez, acusa a ética de estar assentada em princípios absolutos, atemporais, imutáveis com os quais procura impor-se à ciência e reduzi-la à obediência de suas normas. (PERGORARO, 2002, p. 23). E apesar da ciência ter como fim metas, objetivos, exatos é necessário que haja um equilíbrio entre ética e tecnociência, almejando encontrar um meio termo quanto ao uso dos resultados científicos; não se trata de proibir a pesquisa ou impor-lhes limites, mas de discutir o uso de seus resultados nos dias de hoje [...]. Isto é, ética e tecnociência, longe de se excluírem, se complementam: a ética sozinha torna-se dogmática e intolerante; a tecnociência sozinha pode repetir as catástrofes das experiências nazistas. É dialogando e fazendo concessões que se cria a convergência entre ciência e ética. (PERGORARO, 2002, p. 35). Em se tratando de experiências com animais, o que se espera é uma visão multidimensional, qual seja, que alie a bioética ao bem-estar animal, considerando, assim, tanto a ciência, como a ética. Isto porque, deve a utilização de animais se pautar por limites e direitos quando se tratar de pesquisas científicas, pois é preciso haver uma ponderação entre o que é necessário e o que é útil, sempre com o objetivo de preservar a vida do animal. Essa questão do que é necessário e o que é útil está relacionada com as Comissões de Ética e Pesquisa. São elas que vão determinar se é indispensável ou não e se trará benefício ou não a utilização de animais nas pesquisas. Porém, o que se observar é um número razoável de instituições de pesquisas que não têm, ou não querem ter, uma Comissão de Ética para avaliar o grau de imprescindibilidade de tais experimentos. Talvez isso ainda ocorra pelo fato de boa parte dos cientistas acharem que perderiam seu poder, já que haveria participação da comunidade. Então, muitas destas instituições continuam a cometer excessos, não havendo, desta forma, um equilíbrio entre ciência e ética. Acredita-se que, Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S o mais difícil é buscar o meio-termo, o justo limite entre estes excessos. Ainda mais que a ação humana, especialmente a tecnocientífica, é de longo alcance; não se refere apenas ao dia-adia das pessoas, mas lança sondas para o futuro e pode colocar, hoje, as bases de situações que só aparecerão daqui a séculos. Apontar um meio-termo, hoje, é dificílimo. Por isso, já não é suficiente uma teoria ética feita a partir da intuição de um sábio; é preciso criar grupos de reflexão, comitês de ética e bioética, para tomar decisões conjuntas e de longo alcance. O essencial, em ética, já o dissemos, é assumir uma visão no sentido da vida e do mundo, um horizonte e daí tirar orientações concretas e provisórias. (PERGORARO, 2002, p. 37-38). É triste constatar que, apesar de toda essa discussão ética que envolve as pesquisas com animais, a ânsia pelo progresso tecnocientífico é tanta que a atenção que deveria ser dada, principalmente no tocante ao sofrimento dos animais com as pesquisas, é mínima se comparada com a quantidade de pesquisas que vem sendo suscitadas diariamente, na busca de grandes descobertas. Daí poder afirmar que, se a base da ética está em que eu me abstenha de fazer coisas más aos outros, desde que também não me façam nada de mão, nada justifica que eu pratique esses atos contra aqueles que são incapazes de apreciar a minha abstenção de tais práticas e controlar, em conformidade com ela, sua conduta com relação a mim. (SINGER, 1998, p. 89). 3.3 A BIOÉTICA DA TECNOCIÊNCIA NÃO SE LIMITA AO SIMPLISMO "Os animais existem por suas próprias razões. Eles não foram feitos para humanos, assim como negros não foram feitos para brancos ou mulheres para os homens”. Alice Walker. De acordo com Ruiz e Castro (2008), antigamente ciência, filosofia e ética estavam relacionadas e afluíam para o mesmo ponto, ocorre que com o surgimento da tecnociência houve uma crise moral, que fez distanciar a ciência dos valores. Isto se verificou porque, as mentalidades se traduzem por uma consciência de poder, segundo a qual caberia aos seres humanos dominar as demais criaturas. A consciência de poder, por sua vez, esconde uma concepção errônea do papel que seria confiado aos seres humanos, Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S entendidos como senhores e, portanto, com o direito de agir como bem entendessem. (SOARES, 2006, p. 95). Como o agir humano difere do agir animal, e esta diferença está no fato de ser o homem agente moral, ou seja, responsável por suas ações, a crise bioética do ser humano está aí respaldada, já que diante da busca desmedida pelo domínio das situações, pelo poder, ele não se questiona. Essa crise é demonstrada por meio dos experimentos biocientíficos envolvendo animais, em que os pesquisadores abusam do seu poder, tornam-se irracionais. No entanto, mesmo com a inércia de alguns, a sociedade tem entendido que é preciso está atenta a tais questões, ampliando seu horizonte ético, ou seja, tendo atitudes práticas em relação aos avanços científicos. Entendendo que nem todas as descobertas trarão benefícios para a humanidade. Por isso, não se deve deixar de entender que “A ética não traça limites à ciência, mas propõe usar seus resultados prudentemente e integrá-los no horizonte ético da vida e do cosmos, elevando-as à qualidade ética”. (PEGORARO, 2002, p.38). O que a atualidade pede é uma mudança de atitude que vai além da tecnociência, como lembra a médica veterinária Mariângela Freitas de Almeida e Souza que, em seu artigo Bioética e bem-estar animal: novos paradigmas para a medicina veterinária29, afirma que, essa atuação somente ocorrerá quando houver aceitação da teoria de Peter Singer, qual seja, a igual consideração de interesses, além de acreditar que os animais são seres sencientes e atuar de acordo com o que determina os fundamentos do bem-estar animal. Pois, se assim não agirmos, “por maiores que sejam os nossos atuais conhecimentos, falta ainda muito por conhecer; por maiores que sejam os avanços biotecnológicos, nós continuaremos sofrendo e um dia morreremos” (SOARES, 2006, p. 99). Os cientistas se caracterizam por sua frieza para com os animais. Não há, por parte daqueles que são a favor da experimentação animal desmedida, qualquer 29 Artigo publicado na Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária, ano 14, n° 43 – janeiro, fevereiro, março e abril/ 2008, p. 57-61. Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S sintoma de arrependimento quanto as atrocidades cometidas dentro dos laboratórios. Em um trecho do livro “A pele” de Curzio Malaparte (1985) (ANEXO H) ele conta a história do seu cachorro ‘febo’ que foi levado para um laboratório de pesquisa. Lá os animais tinham as cordas vocais arrancadas, para que no momento da dor e do sofrimento não houvesse a possibilidade de se manifestar. Daí se faz mister perguntar: o que se está fazendo com a razão? Não estaria mais do que no momento do animal humano usar o raciocínio, do qual se orgulha tanto, para rever o seu papel, a sua função, no planeta? Para que o uso dessa razão ocorra é preciso construir um novo modelo ético, pois será necessário estabelecer limites éticos para o desenvolvimento tecnológico e manter viva a consciência da ambigüidade na qual ele se move e, em vista disso, é fundamental que a chamada biotecnologia seja acompanhada por projetos humanizadores. Em síntese, os avanços genéticos e biomédicos poderão contribuir ou não para o autêntico progresso da humanidade. Tudo dependerá do sentido e do valor que o homem puser neles [...]. aos que pensão ser a biotecnologia, através do melhoramento das espécies animais e vegetais, ou da produção de vacinas e medicamentos, a maior via de solução para os gravíssimos problemas dos países pobres, convém recordar que se corre o perigo de acentuar, precisamente com sua utilização, a já enorme dependência econômica, científica e tecnológica dos países periféricos em relação aos mais industrializados. (SOARES, 2006, p. 30-31). Ao falar que a bioética da tecnociência não se limita ao simplismo, se pretende demonstrar que não é possível desprezar elementos necessários para se alcançar o progresso científico, porém deve está a frente dele os princípios que regem a bioética, já que nem sempre o conhecimento almejado vai justificar a pesquisa, pois “se por um lado a biotecnologia nos permite medir nosso grau de civilização e desenvolvimento humano, por outro, nos ajuda a ver como têm fracassado alguns de nossos projetos e seus pretensos fins humanitários” (SOARES, 2006, p.32). A tecnociência acaba se caracterizando como simplista a partir do momento em que os interesses políticos e econômicos ignoram a ética. Daí afirmar Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S que, o poder que a técnica exerce sobre o ser humano, atualmente, exige que se adote uma postura ética nova. Assim, é possível conclui que, a ética não pode se apresentar como um sistema pronto, que julga todos os comportamentos humanos e todos os fatos científicos a partir de suas premissas absolutas. Não há mais lugar para esta ética imperial. Pelo contrário, a ética aprende com a ciência, que lhe mostra a dimensão biológica do homem e a constituição da natureza com a clareza que não era possível nos séculos passados. A ética, então, poderá reformular seus postulados, flexibilizá-los segundo os acontecimentos históricos e as novidades da ciência. O diálogo é o caminho certo que enriquece a ética e humaniza a própria tecnociência. (PERGORARO, 2002, p. 24). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A visão de Descartes (1596-1650) que comparava os animais a máquinas foi contraposta, tempos depois, por Bentham (1748-1832), que acreditava na senciência animal, porém, apesar da sua tese, pouco foi mudado até os dias atuais. Inspirados por Descartes, mesmo passados muitos anos, grande parte dos cientistas ainda insistem na utilização de animais em experimentos. Essa atitude levou, e têm levado, os animais as mais diversas privações, como por exemplo, de liberdade, de expressar seus instintos etc. Seu bem-estar é sacrificado por meio das pesquisas que lhes causam dor, estresse, medo, sofrimento e, na maioria dos casos, a morte. Seria ignorância negar os benefícios que a experimentação animal trouxe para espécie humana. Sabe-se que essas pesquisas foram responsáveis pela prevenção e cura de muitas doenças, tendo, assim, possibilitado ao ser humano mais qualidade de vida e conseqüentemente longevidade. Acontece que os benefícios trazidos não justificam as atrocidades cometidas, especialmente quando se tratam de empresas de cosméticos, em que muitas vidas são sacrificadas em nome da beleza. O capitalismo, a falta de ética nas pesquisas e a atitude fria e pragmática dos cientistas são o tripé que, ainda hoje, sustentam a experimentação desmedida Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S de animais. Sem contar a burla das leis que protegem estes seres e o desrespeito aos princípios que regem a vida de todos os seres vivos. Entretanto, aos poucos, tem se observado uma maior conscientização da sociedade quanto ao tema. Por conta disso, se está assistindo a uma transformação da ciência. Essa transformação, no que diz respeito aos animais, se verifica com o surgimento dos princípios que norteiam o bem-estar animal. A partir da década de 80 percebeu-se que era necessário que os estudos científicos tomassem novos rumos devido às questões surgidas acerca do direito animal, tornando-se cada vez maior a preocupação da relação ética do homem com outros seres vivos sencientes. Com os avanços da ciência tecnológica foi possível desenvolver mecanismos de pesquisas que levassem em conta o bem-estar animal. Esse progresso se materializa com as alternativas, que podem ser utilizadas tanto na educação, como nas pesquisas científicas de um modo geral. Logo, se pode admitir que o conhecimento humano pode dispensar, por meio da utilização de métodos alternativos, as pesquisas com animais para evoluir. Pois tais métodos, além de transmitir conhecimento, se adequam aos valores éticos, respeitando, sempre que possível, a integridade física e psicológica dos animais. Tanto no Brasil, e principalmente, em outros país, como EUA e Europa, as transformações já podem ser sentidas. O bem-estarismo tem obrigado a experimentação científica atual e a educação a criarem novos direcionamentos, buscando a quebra de padrão determinado por Descartes. A sua meta é fazer com que todos os estudiosos reconheçam a senciência animal, e que com as alternativas sejam capazes de obter bons resultados com suas pesquisas e procedimentos de forma ética, baseados em valores morais, objetivando a evolução do mundo com respeito as diferentes espécies que o habita. A luta pelo direito animal e, conseqüentemente, pelo seu bem-estar não é idealismo. Aqui a questão não é o que o animal pode fazer pelo homem, mas o que o homem, que teve o privilégio do raciocínio, pode fazer pelo animal. É preciso que alguém fale por aqueles que não podem falar por si próprios. O sofrimento dos animais com as pesquisas é um fato, não se trata de “bobagens” sentimentais ou Faculdades UNIME – União Metropolitana de Educação e Cultura S/C Ltda. Av. Luis Tarquínio Pontes, nº 600, Lauro de Freitas – Bahia / Tel.: 288-8202 / e-mail: [email protected] ffACULDADE S coração “mole”, se trata de ética e valores que foram perdidos ao longo dos tempos e que precisam ser retomados para que eles sejam respeitados como merecem. REFERÊNCIAS AMORIM, Luciane Mary Prado de Vasconcelos. O bem-estar animal através dos métodos alternativos nas aulas práticas do curso de medicina veterinária. Lauro de Freitas: UNIME, 2007. (Trabalho de Conclusão de Curso). ANGHER, Anne Joyce. Vade Mecum acadêmico de direito. 4ª ed. São Paulo: Rideel, 2007. ANIMALFREEDOM, Lei da Saúde e Vivência Animais. Disponível em: <www.animalfreedom.org/portuguese/opiniao/argumentos> Acesso em: 25 ago 2008. BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da Língua Portuguesa. Editora FTD S.A CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, Resolução 879 de 25 de abril de 2008. Legislação. Disponível em: <www.cfmv.org..br/portal/legislacao/resolucoes>. Acesso em: 25 ago 2008. 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