Projeto 5x5
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Projeto 5x5
1.1. Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO 2. ENQUADRAMENTO-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------1 2.1. CONCEPTUALIZAR O PRODUTO TURÍSTICO TEMÁTICO DIRECIONADO PARA O TURISMO RURAL 1 2.1. DEFININDO TURISMO RURAL 3 2.2. A PERSPETIVA EUROPEIA 4 2.3. O DESAFIO: DESENHAR MELHORES EXPERIÊNCIAS RURAIS 6 3. REDE RURAL NACIONAL – PROJETO 5X5, REDES TEMÁTICAS INTEGRADAS DE TURISMO RURAL-------------------------------------------------------------------------------------------- 8 4. MERCADOS PREFERENCIAIS------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 9 5. BENCHMARKS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------12 4.1. A BICICLETA - MOBILIDADE SUSTENTÁVEL E MODA, E O CRESCIMENTO DO TURISMO EM BICICLETA 12 4.2.CAMINHADAS, “WALKING HOLIDAYS”, CONCEITOS TRADICIONAIS SEMPRE ATUAIS E EM GRANDE EXPANSÃO 14 4.3. TURISMO EQUESTRE, UM IMENSO POTENCIAL 16 4.4. VIAS PANORÂMICAS, UM VALOR INCONTORNÁVEL: PRELÚDIO, VIVÊNCIA E FINALE 17 4.5. DOCUMENTAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS ANALISADAS 18 5 AUSCULTAÇÃO DOS PLAYERS E FORÇAS VIVAS ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------21 6 DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------22 6.1 DIAGNÓSTICO 22 6.2. FATORES CRÍTICOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RURAL 24 6.3 ANÁLISE SWOT 30 ii Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 CAPÍTULO II - MODELO TEÓRICO DE APOIO À CRIAÇÃO DE OFERTA TURÍSTICA EM REDE 1. INTRODUÇÃO AO MODELO 5X5------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------31 1.1. COMO ESTÁ ORGANIZADO O MODELO 33 2. O CONCEITO, O EIXO ESTRATÉGICO, A INOVAÇÃO – ‘CINCO VEZES MAIS CAMPO’-------------------------------------------------------------------------------------------------------------36 2.1. A IDEIA CENTRAL/PROPOSTA DE VALOR 37 2.2. EIXOS PRINCIPAIS DA PROPOSTA DE VALOR 39 2.3. DESENVOLVENDO A PROPOSTA DE VALOR 40 3. AS REDES 5X5------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------43 3.1. CONTRIBUTOS DA REDE DE CAMINHOS PEDESTRES 43 3.2. CONTRIBUTOS DA REDE CICLÁVEL 45 3.3. CONTRIBUTOS DA REDE EQUESTRE 48 3.4. CONTRIBUTOS DA REDE DE VIAS PANORÂMICAS 50 3.5. CONTRIBUTOS DA REDE DE ALOJAMENTOS EM AMBIENTE RURAL 51 4. LINHAS ORIENTADORAS – CONHECER AS VALÊNCIAS PRÓPRIAS------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------55 5. CONHECER OS CLIENTES E DEFINIR O POSICIONAMENTO---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------56 6. DESCODIFICANDO O MODELO – OS PARCEIROS E O TERRITÓRIO-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------61 7. BASES PARA INOVAR--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------69 7.1. PROMOTORES DE ALOJAMENTO RURAL 69 7.2. ENTIDADES COORDENADORAS DA OFERTA (ASSOCIAÇÕES QUE REPRESENTAM PROPRIETÁRIOS) 71 7.3. ALGUNS EXEMPLOS ADICIONAIS QUE ILUSTRAM O POTENCIAL DE INOVAÇÃO DO MODELO 5X5 72 8. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------73 8.1. DEFINIR A ESTRATÉGIA 73 8.2. ORDENAMENTO E INFRAESTRUTURAS 74 8.3. ESTIMULAR E DINAMIZAR 75 8.4. COMUNICAR E DIVULGAR 76 iii Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 CAPÍTULO III - PROJETO-PILOTO 1. A REGIÃO CENTRO-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------75 2. O PROJETO PILOTO------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------78 CAPÍTULO IV - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 1. PANORAMA GERAL----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------81 2. BARREIRAS ADMINISTRATIVAS TERRITORIAIS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------81 3. BARREIRAS CULTURAIS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------82 4. MARCA TURISMO RURAL--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------82 5. OUTRAS MARCAS ÂNCORA------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------83 6. PRODUTO--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 83 7. GESTÃO----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 84 8. A PROCURA NÃO CORRESPONDE À OFERTA--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------85 9. OBJETIVO REDES 5X5--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------85 10. O MODELO PASSO A PASSO- COMO APLICAR----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 88 11. ESCALA, ESCALA, ESCALA---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------91 12. TURISMO É CULTURA------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 91 ANEXOS------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 92 1. 2. 3. 4. 5. BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------93 INQUÉRITO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------118 DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 124 AS CINCO REDES ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- -126 ARTICULAÇÃO DAS 5 REDES COM OS 4 EIXOS DA PROPOSTA DE VALOR ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------147 6. PROJETO-PILOTO NA REGIÃO CENTRO / PRODUTOS TURÍSTICOS TEMÁTICOS--------------------------------------------------------------------------------------------------- -------------152 iv Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 1.1 Conceptualizar o Produto Turístico Temático direcionado para o Turismo Rural O Turismo Rural é um vetor transversal no âmbito do turismo nacional, mesmo que tradicionalmente tenha até hoje vivido muito virado para si próprio, num claro alheamento relativamente às realidades envolventes. É neste sentido, e numa tentativa de integração para a qualificação, ampliação e melhoramento da oferta, procurando uma aproximação consistente com a necessária sustentabilidade das atividades económicas, que surge a necessidade clara de se criar o designado ‘Produto Turístico Temático’ que, depois de existir, servirá os propósitos convergentes de stakeholders e clientes, garantindo que eles próprios formam uma rede viva, funcional e capaz de dar resposta às necessidades de todos. O Turismo é claramente um dos principais sectores da economia portuguesa, tendo o seu peso vindo a crescer nos últimos anos. No entanto, também não é menos verdade que Portugal se encontra ainda muito dependente de quatro grandes mercados emissores e do desempenho concentrado fundamentalmente em três regiões (Algarve, Lisboa e Madeira), ao que acresce uma elevada sazonalidade. O forte crescimento do mercado mundial do Turismo Rural constitui uma oportunidade para Portugal mas, de acordo com o Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT), é necessário implementar-se uma estratégia de atuação que permita responder à sofisticação da procura e ao número crescente de ofertas concorrenciais. Para desconcentrar a oferta para outras regiões do país, que não as tradicionais, e, ainda, garantir que os canais de distribuição se fidelizam a uma nova oferta, é necessário criar produtos de forma integrada, dando resposta às linhas de desenvolvimento propostas no novo documento do PENT para o horizonte de 2015, em particular as que defendem ‘o reforço da qualidade dos produtos turísticos, complementando a oferta com experiências marcantes como forma de oferecer aos turistas que nos visitam vivências únicas e genuínas’; e que ‘Portugal deverá assumir o desafio de liderar no desenvolvimento sustentável do Turismo lançando políticas de desenvolvimento equilibrado’. No âmbito programaRede Rural Nacional, no projeto ‘5x5 – Redes Temáticas Integradas do Turismo Rural’, procuramos dar resposta ao disposto no documento estratégico nacional para o turismo, através do estudo, definição e difusão dos parâmetros basilares das redes temáticas prioritárias que fornecem a base para o desenvolvimento do produto turístico temático direcionado para o Turismo Rural. Consideramos que esta é a aposta mais realista para a qualificação do turismo em espaço rural em Portugal. Indústrias fortes e primárias, tais como a pesca, agricultura e silvicultura têm diminuído drasticamente nas últimas décadas. As áreas rurais em muitos países têm enfrentado as pressões da transição económica. O turismo é assimconsiderado como um instrumento para diversificar a economia nas zonas rurais, eventualmente complementando os tradicionais meios de subsistência rurais. 1 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Mas mais do que um pequeno complemento a outras atividades, o turismo que tão bem consegue mostrar-se como escape ao stress urbano ressurge na atualidade com renovado potencial de crescimento em face da diversificação da procura. Importa saber capitalizar sobre esta oportunidade e adaptar a oferta aos novos mercados. Embora seja hoje reconhecido o potencial de crescimento do turismo nas áreas rurais, só recentemente se afirma a necessidade de profissionalizar a atividade, reconhecendo-a como uma indústria, e como tal como uma atividade cujo sucesso depende da boa gestão e da forma como interage com os mercados. Um dos fatores críticos para o sucesso do turismo é inegavelmente a capacidade de inovação. Contudo, é hoje assumido que a capacidade inovadora da indústria do turismo nos espaços rurais é muito baixa e precisa de ser melhorada. Este pré-requisito para o crescimento da indústria do Turismo Rural é o tema deste estudo: inovação e crescimento económico são aliados em qualquer indústria. A nossa ambição é disponibilizar eixos para a sua viabilização, juntamente com propostas de operacionalização. 2 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 1.2 Definindo “Turismo Rural” Não há uma definição consensual de Turismo Rural. Aceitemos como ponto de partida que o Turismo Rural deve ser idealmente localizado em áreas rurais. Além disso, embora aqui já as opiniões divirjam, consideramos que idealmente… O Turismo Rural deve ser desenvolvido por empresas pequenas pertencentes a unidades familiares locais; Os serviços devem relacionar-se com a cultura local, incluindo formas de vida tradicionais e as economias agrárias; As atividades devem ocorrer em ambientes relativamente naturais. Na realidade, muitas formas de Turismo Rural ou de turismo em espaço rural não estão em conformidade com estes princípios, seja porque as atividades de Turismo Rural e lazer diferem pela sua localização, ou estilo de gestão ou ainda pelavariação no seu grau de integração com o ambiente natural e cultural. definição geográfica, mas noutros corresponde à descrição dos aspetos culturais das comunidades no campo; Finalmente, o termo "Turismo Rural" cruza-se com o ecoturismo, o turismo ecológico, o turismo de natureza e o agroturismo. Ao abordarmos a necessidade de criar valor e competitividade para o Turismo Rural, a definição deve concentrar-se do lado da oferta, isto é, como indústria do turismo. A indústria do turismo compreende as empresas, organizações e instalações que se destinam a atender às necessidades e desejos dos turistas. Podemos, talvez então, classificar a indústria do Turismo Rural como a indústria do turismo localizada em áreas rurais e com uma envolvente natural, desenvolvida por empresas que são familiares em escala, ou seja, empresas de pequena escala. Será talvez mais atual a seguinte definição de Turismo Rural: “o turismo que ocorre no campo”. Esta definição, apesar de simples é abrangente e origina, contudo, ambiguidades: Em primeiro lugar, a definição de turismo em si pode variar, especialmente no contexto do campo, porque os limites entre as atividades de turismo (sentido estrito), lazer e desporto e aventura se confundem; Por outro lado, é difícil definir o que se entende por “campo” ou “áreas rurais”. Muitos países têm diferentes critérios para definir áreas rurais ou não rurais. O termo refere-se em alguns casos a uma 3 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 1.3 A perspetiva europeia “Vivemos onde os outros só podem ter férias”. Klaus Ehrlich, secretário geral da EUROGITES, a Federação Europeia de Turismo Rural, enquadra assim o desafio da diferenciação do Turismo Rural. A Federação Europeia de Turismo Rural, criada em 1993, e de que a PRIVETUR é membro fundador, representa os proprietários de alojamentos reunidos em 38 associações em 28 países (15% do alojamento de Turismo Rural europeu) e olha com ambição e otimismo para o potencial do sector. A avaliação das tendências atuais do Turismo Rural europeu regista dados firmes: a procura que tem sido sobretudo interna (mercado doméstico acima dos 85%) mostra grande potencial de internacionalização; o turista volta-se cada vez mais para os produtos oferecidos e o bom preço é um fator muito valorizado. A análise ao quadriénio 2009/12 anota como dados positivos do Turismo Rural: produto de férias, destino reconhecido, imagem nítida da marca, promoção proativa, boa relação qualidade-preço, segmentação, especialização e canais comerciais operacionais. Entre os aspetos negativos: o Turismo Rural apenas é usado para fins de semana ou pequenas férias, a imagem rural é muito genérica, a promoção é geralmente atomizada, os serviços aparecem isolados e desligados da inserção no território, faltam padrões reconhecidos de avaliação, persiste a venda individual. Uma constatação essencial: a confiança transitou para a internet. A escolha deixou de passar pelo boca a boca, assenta nas redes sociais. A internet dá poder ao cliente. O GPS é uma ferramenta indispensável. O posicionamento estratégico para 2020 está ancorado numa ideia principal: “ser ambicioso”. E a ambição passa por colocar na cabeça dos potenciais visitantes que Turismo Rural é “verde”, é “saudável”, é “estar bem”. A ambição na visão da EUROGITES é a de conquistar para o Turismo Rural europeu mais de 20% das pernoitas em férias na Europa e mais de 30% de visitantes estrangeiros. Alcançar este objectivo passa por desenvolver com clareza uma marca transnacional, com super-segmentação: criar produtos de qualidade que satisfaçam a procura do visitante e propor experiências à medida de cada cliente. Tudo com eficaz comunicação e organização através da internet e, sempre, preservando e valorizando a autenticidade da vida na comunidade rural. Fazer Turismo Rural deve ser “ter uma história para contar”. A estratégia da EUROGITES recomenda como fundamental uma aproximação holística: o alojamento é um complemento, não é o produto. Há que ser sustentável e, essencial, saber comunicá-lo. As novas tecnologias são ferramentas imprescindíveis para a necessária inovação. É preciso promover a qualificação e investir na formação. Há que “saber ouvir a erva a crescer”, ou seja, há que, à cabeça, constantemente, conhecer as preferências do turista. E saber antecipar as flutuações e as vagas da sociedade. “O cliente compra sonhos, não apenas um quarto e uma dormida”, é outra ideia âncora retomada na visão da Eurogites: a experiência ou atividade é o principal, o lugar onde se fica vem a seguir. É decisivo desenvolver muitos produtos de nicho e saber tirar partido da especialização em algumas excelências. A autenticidade é sempre 4 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 fundamental. A visibilidade é essencial – e favorecida, para os produtos de nicho, nos motores de busca da internet. E ter sempre em conta que a internet é a mais importante fonte de informação. Também que a avaliação feita por outros turistas é um decisivo fator de escolha. 5 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 1.4 O desafio: desenhar melhores experiências rurais No Turismo Rural, a base de conhecimento para a inovação dos serviços tem geralmente como origem a experiência prática e a prática organizacional, não estando devidamente sistematizada. Como definir na atualidade a experiência rural? Como identificar as experiências rurais relacionadas com o turismo que terão um impacto positivo na evolução do Turismo Rural em Portugal? O que queremos que seja o Turismo Rural, a experiência de sentir o campo e a Natureza? Qual o espaço de inovação no contexto social e económico atual? Como podemos ajustar o Turismo Rural aos dias de hoje? Como evolui a nossa relação com o campo e como podemos explorar isso para a produção de produtos turísticos? Que mercados devem ser explorados? Que segmentos podem ser explorados com novas abordagens? Além disso, os serviços são frequentemente moldados aos requisitos dos clientes e, portanto, pode ser difícil distinguir entre a adaptação de serviços a clientes, por um lado, e a inovação como um driver para a evolução de um serviço. Qualquer indústria de serviços tem um carácter imaterial e interativo e, por vezes, a inovação de um serviço é quase invisível. A inovação nos serviços tipicamente ocorre como uma mudança contínua, através de pequenas alterações aos produtos do serviço oferecido ou através de ajustamentos nos procedimentos. Resumindo, a questão que se coloca e que corresponde à nossa ambição neste estudo é: A indústria do Turismo Rural tem uma taxa muito baixa de inovação em comparação com outras indústrias de serviços. Vários fatores ajudam a explicar esta tendência: Quais os principais drivers que podem conduzir o crescimento do Turismo Rural em Portugal no momento atual? As respostas a estas questões passam pela inovação que é preciso trazer para o Turismo Rural. Importa desde logo diferenciar alguns termos operacionais: inovação de produto; inovação de processo; inovação organizacional; inovação no marketing. A dimensão reduzida das empresas (a indústria do turismo inclui muitas micro e pequenas empresas e a capacidade de inovação é positivamente correlacionada com o tamanho do negócio); A sua natureza familiar (com implicações na falta de sistemas adequados de gestão de suporte ao desenvolvimento de atividades inovadoras); A falta de competências profissionais específicas; Além dos fatores anteriores, muitas empresas de Turismo Rural não estão envolvidas em estruturas de cooperação ou colaboração dentro da sua área de atuação e que possam fortalecer a sua capacidade de inovação. 6 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Há pouca confiança mútua entre as empresas de Turismo Rural. As pequenas empresas não se envolvem ativamente na criação de parcerias com vista à colaboração, um padrão que, por sua vez, restringe a transferência de conhecimento e experiência e limita a sua capacidade inovadora. De facto, muitas empresas de Turismo Ruraldificilmente podem ambicionar a acrescentar inovação à sua oferta de serviços. Tomando como fator crítico a dimensão da operação padrão de Turismo Rural em Portugal, e a fim de aumentar a capacidade de inovação e crescimento no sector, consideramos como ação vital o desenvolvimento de uma estratégia de criação e fortalecimento de redes interorganizacionais e de cooperação. As redes de inovação influenciam os fluxos de informação e a troca de experiências, assim como a capacidade de cooperação e colaboração. São espaços preferenciais para a criação e afirmação de produtos turísticos integrados. Além disso, uma rede que estruture oferta de Turismo Rural pode dar resposta a outro fator crítico principal do sector: a importância da orientação para o mercado e a capacidade para obter informação relevante sobre os mercados e recursos externos ao negócio. Estas redes adquirem valor adicional enquanto clusters de informação diferenciadora e, numa vertente mais operacional, por constituírem-se como espaços de oportunidade para a criação de negócios em formato colaborativo. 7 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 2. Rede Rural Nacional – Projeto 5x5 / Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural O presente estudo constitui a fase preliminar do ‘Projecto 5 x 5’ / 5 Mil Casas em 5 Redes - Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural, desenvolvido pela PRIVETUR – Associação Portuguesa de Turismo Rural. O ‘Projecto 5 x 5’ define o turismo no espaço rural como âncora estratégica do modelo de desenvolvimento rural, interpretando este sector segundo uma perspetiva compósita e integrada no conjunto dos diferentes agentes do desenvolvimento rural, quer se trate de institucionais (municípios, grupos de ação local, espaços museológicos, entre outros), quer de empresariais (promotores turísticos, empresários agrícolas, empresários da restauração e bebidas, entre outros), quer ainda se trate de movimentos associativos (culturais, recreativos, lúdicos, sociais, desportivos, entre outros). Esta fase preliminar assume como objetivo a identificação e sustentação de cada uma das redes temáticas definidas, assim como a respetiva articulação que se deverá estabelecer entre elas, os diversos agentes de desenvolvimento rural a envolver, levando à construção de um modelo assertivo que determine os termos e as condições necessárias para incorporar cada uma das redes. Na sua essência, o projeto tem como principais características: Abordagem integrada e em rede dos diferentes sectores (alojamento, animação, restauração, cultura, etc.) e dos váriosplayers (institucionais, ONG, privados, etc.) que interagem no Turismo Rural; Cooperação em rede dos diferentes players; Articulação entre as práticas e oferta do Turismo Rural e os principais drivers do turismo português e das marcas que contribuem para a sua promoção; Estruturação de produto turístico, encorajando novas formas de cooperação entre os agentes nos territórios, com impactos positivos na atração de novos investidores para explorar novas oportunidades de negócio; Concretização, a nível da NUT II Centro, de um projecto-piloto de operacionalização das redes temáticas territoriais. O projecto 5x5 incorpora conceitos, fenómenos, tendências e práticas atuais e presentes em diferentes mercados, mas que carecem ainda de implementação prática no desenvolvimento dos produtos turísticos no meio rural, e em particular no mercado português, sobretudo devido à inexistência de um documento que auxilie os promotores a passarem dos conceitos para a sua aplicação real. 8 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 3. Mercados preferenciais Uma das características fundamentais do Turismo Rural prende-se com o facto de, mesmo estando, em geral, associado a viagens mais curtas, estas terem um gasto médio superior a produtos tradicionais como o sol e praia. Por esta razão, os mercados emissores com maior potencial englobam países desenvolvidos, ou em forte desenvolvimento, para os quais a sustentabilidade, os patrimónios natural e cultural e a autenticidade são mais valorizados. E é aqui que o Turismo Rural é mais relevante, surgindo como agente aglutinador para todos os que querem usufruir deste tipo de oferta. As boas acessibilidades para Portugal (Reino Unido, Espanha, França e Alemanha possuem mais de 25 voos diários para Portugal), a partir de aeroportos internacionais são também um aspeto fulcral na seleção dos principais mercados a atrair. Portugal é visto como um destino compacto (pouca distância entre cidades, tempos de viagem reduzidos). Como principais mercados emissores do turismo português no geral, a Alemanha e Espanha serão sempre parte integrante de qualquer lista de países a explorar. Se adicionarmos a esta lista o Reino Unido, a Holanda e a França temos os principais mercados que, em maior ou menor grau, todos os países europeus competem por atrair. Segundo o recentíssimo ‘Estudo sobre a Internacionalização do Turismo no Meio Rural – Modelos de Negócios e Estratégias de Desenvolvimento’, elaborado pelo Gabinete de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, os turistas da Escandinávia, Europa Central e Reino Unido correspondem em geral a turistas experientes e responsáveis, sendo que devido à sua alta escolaridade são também mais exigentes na escolha do que compram. Procuram satisfazer interesses especiais, principalmente no que toca a conhecer o tradicional e menos explorado, o non-mainstream. Também de acordo com um estudo recente da GFK Metris, para os turistas germânicos e escandinavos, o clima e a paisagem são o factor impulsionador na escolha de Portugal como destino de lazer. Portugal é considerado um país seguro e pacífico, com uma oferta de alojamentos de qualidade face à concorrência. Os turistas franceses, à semelhança dos seus vizinhos do Norte, também vêem em Portugal um destino com uma grande riqueza histórica e cultural e um bom clima. No entanto, para os turistas deste país a gastronomia nacional representa uma outra mais-valia que diferencia Portugal da concorrência. De acordo com o Plano Estratégico Nacional de Turismo, a notoriedade que Portugal possui nesses países deve-se ao facto de ser considerado um destino de preço baixo e mais hospitaleiro, onde os principais pontos fortes estão na simpatia e animação. Os fortes valores culturais e naturais portugueses são muito procurados pelos países do Norte e Centro da Europa. Por outro lado, o grande atrativo para os países da bacia do Mediterrâneo,onde as condições climatéricas são mais semelhantes às nossas,é a gastronomia nacional, sendo no nosso país que muitos turistas vêm alargar o seu espectro gastronómico. No entanto, com a atual situação económica mundial que levou a um desgaste do ponto de vista económico do velho continente, é importante que seja feita uma adaptação e se apontem estratégias de marketing para outras zonas do globo, nomeadamente para o Brasil e os EstadosUnidos que, de 9 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 acordo com estudos recentes, têm vindo a aumentar o seu interesse por Portugal. O Brasil, porque vê em Portugal uma porta de entrada para a Europa, com fortes ligações históricas e culturais e com uma grande facilidade linguística. O “turismo das raízes” é uma tendência em crescimento. A ligação histórica do Brasil a Portugal deve ser aproveitada de forma atenta. Também os EstadosUnidos são emissores de turistas para o velho continente de onde provêm e de tão mais longa História e incluem linhagens de imigrantes que têm um desejo de conhecer o país dos seus ascendentes. Os dados do Turismo de Portugal demonstram que o turismo norte-americano foi o que mais cresceu em Portugal no primeiro semestre, com uma subida de 17,5 por cento nos gastos de turistas norte-americanos. O Brasil e os Estados Unidos dadas as dimensões destes mercados e à elevada “capitação” por turista,são assim dois dos mercados com relevante potencial turístico. Como em todos os casos de sucesso na Europa, é importante perceber que, mesmo com uma forte atração por parte dos mercados internacionais, sem uma forte dinamização do mercado doméstico dificilmente Portugal terá um sector dinâmico de Turismo Rural. Portugal é também um mercado de Portugal e é no mercado nacional que está o principal indutor de crescimento e de aumento da escala e dinamização da oferta. A escolha destes mercados emissores está interligada com as suas perceções em relação a Portugal, ao património natural aos costumes, tradições e condições climáticas. Foi também tido em consideração o nível de desenvolvimento e qualidade de vida nesses países, pelo que é importante que Portugal sobressaia como uma das regiões do globo socialmente estáveis, favorecendo a receção de um grande número de viajantesprovenientes desses países. Os estudos de mercado apontam, contudo, para a necessidade de garantir níveis de proximidade a equipamentos de saúde, particularmente em relação a alguns segmentos de mercado. As noções que os mercados possuem relativamente ao desenvolvimento sustentável e à conservação da autenticidade do meio ambiente são também um ponto forte potencial e os países do Norte da Europa,juntamente com o Reino Unido, são bons exemplos de países onde os cidadãos têm um nível de educação ambientaltal que, indiretamente, poderãopercepcionar a ruralidade portuguesa como atrativa. Igualmenteimportantes são os mercados do sul da Europa, apesar de algumas semelhanças turísticas a Portugal, uma vez que existe a noção de uma boa relação qualidade/preço relativamente ao nosso país, para além do valor dagastronomia. Já Espanha, pela proximidade, continua a ser o mercado mais relevante para Portugal. Os mercados agrupam-se, assim, de acordo com as suas características específicas, e de forma a dar resposta ao âmbito deste estudo, da seguinte forma: Escandinávia – Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca EU Central – Alemanha, Holanda e Bélgica EU Sul – França, Itália, Espanha Reino Unido Portugal Brasil 10 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Será com base nestes agrupamentos de mercados que será realizada a análise e posterior construção do Modelo 5x5. Este terá ainda por base, o conhecimento adquirido do intenso benchmarking realizado, bem como as conclusões retiradas da auscultação às forças vivas da região centro, onde se desenvolve o piloto, ao qual se aplica o modelo na parte final deste estudo. 11 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 4. Benchmarks 4.1 A bicicleta - mobilidade sustentável e moda, e o crescimento do turismo em bicicleta Nota sobre os termos usados:em Portugal, o conceito de cicloturismo está associado à organização de eventos para ciclistas, razão pela qual neste relatório utilizamos o termo alternativo Turismo em Bicicleta. Incluímos aqui as bicicletas de estrada, híbridas, as de montanha e o BTT e abrangemos todas as formas de fazer turismo que incluem passeios de bicicleta, extensos ou curtos. Tomando como ponto de partida a extensa literatura técnica disponível sobre planeamento e requisitos do turismo em bicicleta, a nossa pesquisa centrouse sobre as tendências de crescimento atual da atividade: o mercado está subdividido em segmentos que agrupam a oferta para diferentes tipologias de utilizadores e segmentos económicos. Recolhemos benchmarks europeus, dando especial atenção aos países emissores de turistas para Portugal. A nossa análise consolida a aposta apontada pela PRIVETUR de que o turismo em bicicleta, nas suas variadíssimas formas, é um mercado em crescimento e relevante para Portugal, importando, portanto, encontrar formas de operacionalizar infraestruturas que permitam criar produtos turísticos. O detalhe da análise dos casos analisados constitui uma base de trabalho extensa e robusta de projetos consolidados e de outros inovadores e recémchegados ao mercado, sobre a qual importa refletir na criação de produtos turísticos temáticos integrados. De facto, as oportunidades que o segmento do cicloturismo tradicional oferece para o Turismo Rural podem ter uma dimensão pouco relevante, mas quando agregamos o turismo em que a bicicleta como modo de mobilidade é associada a drivers principais do turismo português como a gastronomia, o enoturismo, a cultura e o património e o acesso privilegiado à Natureza, surgem benchmarks extremamente interessantes para a realidade portuguesa. Consideramos que podem ser desenvolvidos micro-segmentos de valor económico relevante, devidamente ancorados no investimento generalizado no cluster turismo em bicicleta. Destacamos três tendências em crescimento: - CicloTurismoRural: A nossa pesquisa revelou a emergência deste conceito. Recolhemos alguns benchmarks sobre este nicho, tanto na Europa como no mercado brasileiro. - “Bike hotels”: Trata-se de um hotel com serviços e produtos dedicados às necessidades do turista de bicicleta. Este é um conceito em expansão na Europa, e a despontar em Portugal. Recolhemos benchmarks sólidos sobre redes de ‘bike hotéis’ que relevam o espaço rural. Destaca-se o caso da Itália. - Produtos turísticos temáticos que incluem a bicicleta como forma de mobilidade Apesar de os Estados Unidos (EUA) e o Canadá constituírem uma realidade distante, a sua abordagem ao Turismo Rural é extraordinariamente rica e bem desenvolvida e, neste sentido, considerámos inspiradoras as boas práticas de criação de destinos e gestão de turismo integrando as redes 5X5. Em particular, destacamos dois benchmarks de destinos turísticos associados às bicicletas: o caso do Oregon é particularmente relevante para a região 12 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Centro de Portugal, dada a sua também forte tradição no ciclismo tradicional. Trata-se de uma região que assume o orgulho pela atividade, fator de imenso valor para o turismo. O benchmark canadiano recolhido apresenta o esforço de uma região para conceptualizar a sua estratégia para se afirmar também como destino de turismo em bicicleta por osmose com uma região vizinha. No que concerne à integração dos produtos de turismo de bicicleta com a paisagem e eventuais rotas panorâmicas, todos os casos analisados, como seria de esperar, reforçam a importância de se atender à qualidade da paisagem na construção de produtos turísticos sólidos. Outra recomendação recolhida dos benchmarks é a utilidade de uma abordagem ao cliente tal como é tradicional no Turismo Rural. Esta é talvez a principal mais-valia que o Turismo Rural pode trazer ao cruzar-se com o turismo em bicicleta, a par com o geo-posicionamento do alojamento. Em relação às Ecopistas / “Greenways”, foram amplamente analisados os casos de boas práticas de turismo associado a este tipo de recurso turístico. Recolhemos benchmarks que apontam para o seu potencial tanto para ofertas de breaks como para ofertas para segmentos de utilizadores soft de bicicletas e para os utilizadores com mobilidade reduzida. É, contudo, devida uma nota de precaução relativamente a estes benchmarks porque genericamente as redes de ecopistas analisadas têm uma extensão assinalável, beneficiando de um efeito de escala ainda não possível em Portugal. 13 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 4.2 Caminhadas, “walking holidays”, conceitos tradicionais sempre atuais e em grande expansão Tal como para o turismo em bicicleta, a literatura técnica de suporte à estruturação de produtos turísticos baseados na mobilidade a pé é extensa e permite organizar produtos extremamente diversos. De novo, tal como para a bicicleta, no tema turismo a pé concentrámos o esforço de análise de boas práticas na procura de benchmarks orientadores para a boa gestão e desenvolvimento de soluções que possam aportar competitividade às economias locais,designadamente através da promoção de novas dinâmicas locais de cooperação empresarial e da potenciação dos valores turísticos locais através de formatos inovadores. As questões principais para as quais procurámos resposta nos benchmarks são Como usar o turismo a pé como estratégia para potenciar o Turismo Rural? Como maximizar os benefícios do turismo a pé conjugando-o com o Turismo Rural? Que benefícios oferecidos pelo turismo a pé podem ser explorados para enriquecer a experiência de Turismo Rural e para dar visibilidade à oferta turística de uma região, de um local, de uma rota ou de um recurso turístico? A análise realizada revela que o mercado internacional para turismo a pé, tomado como um driver em si mesmo, é sólido e tem uma dimensão muito relevante. Recolhemos exemplos de regiões onde a dinâmica atribuída a esta atividade de nicho é reconhecida como relevante para a economia local. Em alguns casos, como na Irlanda, há inclusive regiões que se posicionam hoje como destinos para o turismo das caminhadas. A nossa análise de boas práticas revela também como na atualidade os segmentos prioritários para investimento em turismo a pé já não estão limitados ao turista de fracos recursos económicos, potenciando o interesse por esta tipologia. Por outro lado, as caminhadas, extensas ou curtas, são atualmente incluídas como opção na generalidade das ofertas turísticas. As oportunidades para andar a pé são vistas como fator potenciador da qualidade do Turismo Rural e de descoberta da Natureza. Assim, a nossa atenção focou-se na procura de fatores diferenciadores nas caminhadas e com maior valor para o Turismo Rural em Portugal. A perspetiva mais interessante que recolhemos na análise de boas práticas é a integração das caminhadas em produtos turísticos complexos e estruturados em redor de interesses especiais ou motivações, ultrapassando em originalidade a oferta de caminhadas cujo tema é um qualquer recurso patrimonial em si. Exemplificando, trata-se de usar o turismo a pé como modo de mobilidade suave nas ofertas de enoturismo, de bem-estar e saúde, tourisng cultural, sentir a ruralidade, acessibilidade privilegiada a valores naturais, melhoria dos resultados no turismo de birdwatching, etc. Naturalmente, estes drivers principais não invalidam, de acordo com os benchmarks analisados, a relevância da riqueza patrimonial por si só para a atratividade turística dos locais. 14 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Para um turista que desconhece o território que vai visitar, pode não ser suficiente a informação sobre a existência de percursos pedestres nesse local. O Turismo Rural prima pela atenção dedicada aos seus clientes e esta mais valia pode,e deve, ser explorada de forma muito positiva no caso do turismo das caminhadas. Recolhemos dos benchmarks a noção da importância dos formatos inovadores para fornecer informação a estes turistas, alguns baseados em tecnologia digital, naturalmente, mas não é de descurar a inovação associada à arte de bem receber e integrar o turista. No mesmo sentido do ponto anterior, recolhemos também a recomendação sobre o valor de serviços e produtos complementares à oferta turística que inclui caminhadas. 15 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 4.3 Turismo equestre, um imenso potencial Tal como as outras formas de mobilidade apontadas como estratégicas pela PRIVETUR, o cavalo, através do turismo equestre, permite ao visitante desfrutar da natureza e da paisagem de forma privilegiada. Mas o seu verdadeiro valor para o turismo e para o desenvolvimento das regiões onde se desenvolve reside na especificidade do segmento de mercado que capta e que só parcialmente se sobrepõe aos segmentos motivados por passeios de bicicleta ou a pé. A análise de benchmarks europeus revela o forte desenvolvimento deste tipo de turismo em variados países, como a França, a Alemanha e a Espanha (que são alguns dos principais países emissores de turistas para Portugal) e o seu grande impacto positivo nas economias locais. As boas práticas analisadas permitem recolher a informação técnica relevante sobre as condições ideiais para o desenvolvimento de produtos associados ao turismo equestre em espaços rurais e naturais. Em Portugal, esta atividade encontra-se em desenvolvimento no momento atual, encontrando-se em curso projetos para a estruturação de redes equestres europeias, que permitirão captar turistas já praticantes de turismo equestre noutros países e turistas urbanos que habitualmente praticam equitação apenas em centros equestres localizados em espaços urbanos. 16 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 4.4 Vias panorâmicas, um valor incontornável: prelúdio, vivência e finale Quando nos referimos a vias panorâmicas, habitualmente referimo-nos à mobilidade automóvel ou por estrada. Importa, desde já, acrescentar a importância da mobilidade por comboio e de barco. Mas, para além da rota que serve o percurso de chegada e partida à região a visitar, no caso do Turismo Rural as vias panorâmicas podem constituir um valor acrescido. relevantes os benchmarks que destacam na promoção de produto a oferta integral e que inclui a promessa de qualidade da paisagem atravessada pelo turista em todo o seu percurso, ou seja, no decurso da experiência turística. Neste sentido, constituem benchmarks relevantes as boas práticas na descrição da envolvente e que conseguem, através do detalhe a da valorização da paisagem cultural e natural dos itinerários, enriquecer a proposta de experiência. O Turismo Rural, ao contrário do turismo all-inclusive oferecido pelos resorts turísticos, tem como suporte essencial a área ou região onde se desenrola a experiência turística. A qualidade da paisagem, seja ela natural, rural ou cultural, faz parte do produto oferecido. As pessoas que visitam destinos rurais esperam encontrar autenticidade. A continuidade da qualidade da oferta, em termos paisagísticos, contribui para a construção mental da experiência rural. De todos os elementos que constituem a matriz 5x5 definida pela PRIVETUR, as vias panorâmicas são aquele que de forma menos individualizada contribui para o objetivo geral do projeto. As situações que analisámos e os estudos que consultámos confirmam que apenas rotas panorâmicas excecionais constituem motivação por si só para a visita. No entanto, é unânime a opinião de que elas são um fator secundário extremamente relevante. Alguns países têm redes de vias panorâmicas identificadas e que são integradas na criação de produtos turísticos. No caso de Portugal, não tendo ainda sido feito este esforço de desenvolvimento de vias panorâmicas, são 17 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 4.5 Documentação de boas práticas analisadas O conjunto de boas práticas, projetos, ações e experiências, apresentados seguidamente, foram selecionados, de entre os muitos casos consultados e analisados no decorrer deste estudo, para detalhar algumas das estratégias de desenho da oferta e abordagem ao mercado, que adotamos como contributos de elevado valor para o Turismo Rural português. Não pretendem abarcar a diversidade de assuntos e temas tratados e representam, efetivamente, uma ínfima parte da informação útil recolhida de outros promotores. Tão pouco podem ser vistos como a nata das iniciativas de Turismo Rural: na verdade, a realidade portuguesa é suficientemente específica para que muitas das práticas desenvolvidas noutros países pudessem ter aplicabilidade imediata ou previsível em Portugal e, neste sentido, optou-se pela análise pragmática de bons exemplos a ter em conta. Cada um dos estudos de caso apresentados (ver detalhe em anexo)é, em si, exemplo inspirador de formas particularmente bem conseguidas de resolver questões com as quais nos deparámos no decorrer do estudo e que são por nós considerados fatores críticos de sucesso para a evolução do Turismo Rural nos mercados nacional e internacionais nos próximos anos. São 13 os casos apresentados em detalhe: - Da Letónia, recolhemos de um dos membros da EUROGITES, a profundidade no tratamento dos temas e a gama da oferta, que, apesar de muito diversa, não deixa por isso de ser extremamente coerente e de dar resposta uma bem delimitada proposta de valor: capitalizar sobre os valores naturais e rurais do Báltico e sobre a extensa rede de trezentos alojamentos que conferem proximidade aos recursos. A associação fez o trabalho de casa na recolha de informação ultradetalhada, científica, sobre fauna, flora, agri-produtos, entre outros A oferta reflete o domínio sobre os temas, que são convertidos em ofertas que só poderiam ser postas em marcha por uma rede de promotores de base local. Outro dos resultados interessantes é a capacidade gerada para lançar propostas para combater a sazonalidade, sem fugir ao posicionamento estratégico. O formato de apresentação da oferta no site atribui maior visibilidade às atividades do que ao alojamento, uma tendência que se instala. - Na Geórgia, no leste europeu, um membro recente da EUROGITES, a associação de produtores de agricultura biológica Elkana é um modelo de total fidelidade a dois valores chave do Turismo Rural: a autenticidade e a ruralidade. Provavelmente o melhor caso de estudo que identificámos de ligação entre a agricultura e o turismo,e que é centrado no turismo de imersão na ruralidade vem de outro membro da EUROGITES.Em Itália, a associação Agriturist, que reúne os membros da confederação italiana de agricultura com oferta de alojamento rural. Este é um exemplo da arte de bem receber em territórios de base agrícola. Mas o que nos traz ao benchmark da Geórgia é a conjugação entre tradição e modernidade. A Elkana promoveu recentemente a diversificação da atividade agrícola dos seus associados, fazendo crescer rapidamente uma rede com 450 membros. A celeridade do processo não impediu a associação de investir fortemente na capacitação dos seus associados, assegurando a adoção do modelo de 18 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 negócio escolhido. E assim foi organizada uma gama de serviços especializados de turismo e oportunidades de consumo e aquisição de produtos da terra em formatos modernos e que refletem a coordenação nacional. Muitos dos produtos turísticos são ofertas estruturadas que não estariam ao alcance da capacidade organizativa dos proprietários agrícolas. Do mesmo modo, o packaging e promoção conjunta dos produtos agrícolas dos associados foi alargado a novas opções de distribuição. - Na oferta da Provence francesa (casos de estudo Provence e Mont Ventoux), tudo está integrado, com a naturalidade, fluidez e elegância que outros não conseguem atingir. Das dezenas consultados de sites de turismo desenvolvidos em todo o mundo por entidades públicas, este é o caso que consideramos mais bem conseguido. Todos os segmentos de turistas se poderão rever aqui e encontrar com a maior facilidade possível as ofertas que lhes são dirigidas. Mais até, a gestão inteligente do site tenta um constante “piscar de olho” ao turista mais conservador e vai propondo pequenas ousadias na escolha, envoltas por detalhes que contribuem para eliminar a insegurança face à novidade. Vários sites integram esta oferta estruturada: um destaque especial para as propostas relacionadas com o turismo em bicicleta e que incluem simultaneamente oferta para desportistas de montanha, utilizadores regulares de bicicleta e para quem talvez use uma bicicleta uma vez por ano. - Dos Estados Unidos, recolhemos um tremendo caso de sucesso na criação de um destino turístico. O estado federal do Oregon, na costa oeste, capitalizou sobre a tradição do uso da bicicleta para desenvolver um destino turístico associado à atividade e que ultrapassa amplamente o valor de um produto de nicho. O envolvimento das comunidades locais e dos praticantes de ciclismo recreativo foi crucial. - Na Irlanda a entidade nacional de turismo coordena desde 2011 um sistema de categorização dos alojamentos rurais baseado nos interesses específicos dos turistas. A adesão é voluntária e oferece aos proprietários a oportunidade de mostrarem a sua identificação com áreas da sua especialidade: caminhar, pescar, gastronomia, ecoturismo, entre outros. Esta proposta de ultra-segmentação da oferta neste formato pragmático e de fácil comunicação, tem um potencial claro para atribuir escala e visibilidade aos produtos turísticos das unidades de alojamento. - Para se posicionar como destino de turismo em bicicleta, uma região de turismo no Ontário, Canadá, realizou um estudo profundo para caracterização da atividade e do seu potencial de crescimento em formato ultra-segmentado e diversificado. - O Clube de Produto Birding in Extremadura, na vizinha Espanha, é coordenado por uma entidade pública em articulação com parceiros públicos e privados. A gestão agregada do turismo ornitológico confere eficácia à gestão e escala à oferta. A ambição deste clube é penetrar os mercados internacionais de birdwatching. - Destacamos também um serviço, a rede de hotéis amigos das bicicletas, que existe em vários países europeus e acaba de ser lançado em Portugal, mas por enquanto apenas para a rede hoteleira. O potencial de clonagem para a rede de alojamentos rurais é relevante. - A via Algarviana, projeto de turismo de centrado numa ecovia que atravessa todo o interior algarvio, é um exemplo positivo de integração da oferta de atividades turísticas com a oferta de alojamento. Esta estratégia orientou o projeto desde a sua origem. A via algarviana cruza na sua matriz o desenvolvimento local, o ecoturismo e a promoção regional do turismo. 19 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - As ecopistas são ecovias desenvolvidas em antigas linhas de comboio agora desativadas. Com declives constantes próximos do 0%, são um recurso turístico de enorme potencial para o turismo desenvolvido em espaços naturais. Em Portugal, começam a surgir exemplos de aproveitamento turístico, que provavelmente serão reforçados à medida que a rede for abrindo novos percursos ao público. - A motivação e expectativas dos visitantes de uma adega podem não se encontrar dentro de uma garrafa. Recolhemos da Austrália as recomendações organizadas em fichas técnicas dirigidas aos promotores de enoturismo sobre o desenho de uma oferta integrada de turismo enológico. - Prove Portugal é uma iniciativa pública lançada para promoção da gastronomia e vinhos portugueses e a que os promotores de Turismo Rural devem estar atentos, procurando capitalizar sobre os efeitos no mercado das campanhas realizadas em diferentes países. 20 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 5. Auscultação dos Players e Forças Vivas Para a realização deste estudo foram realizadas mais de 150 entrevistas a diversos players do Turismo e da atividade no campo. Foi lançado um inquérito, que decorreu entre 26 de setembro e 10 de outubro de 2012, a diversos setores do turismo português, com foco na criação de oferta estruturada com base no Turismo Rural. O inquérito teve 136 respondentes ativos. Também foram promovidas dezenas de reuniões de trabalho com instituições públicas e privadas, designadamente autarquias, associações de desenvolvimento local e regional, associações e empreendedores de setores como o vinho, a gastronomia, as bicicletas, os cavalos, a caminhada, os desportos náuticos, o termalismo e as atividades de cultura, entretenimento e património. A pesquisa incluiu dois workshops e um co-lab criativo. Finalmente, foram realizadas centenas de visitas a recursos e produtos turísticos. Nestas deslocações de observação, o membro da equipa do estudo apresentou-se sempre como turista. A auscultação é detalhada nos Anexos deste Estudo. 21 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 6. Diagnóstico participativo Resumindo a informação e conhecimento recolhidos na auscultação aos players e forças vivas, segue-se o diagnóstico da situação atual da oferta turística relacionada com o espaço rural nacional, considerando então o conhecimento do território, as fontes bibliográficas e as intervenções retiradas da auscultação de diversos players deste sector turístico. Esta situação é então comparada com as boas práticas internacionais, para então avançarmos com a identificação das principais forças e fragilidades do Turismo Rural em Portugal na atualidade. 6.1 Diagnóstico O conceito de Turismo Rural é baseado na noção de território, com ênfase no critério da destinação e na valorização da ruralidade. Se alavancado nas potencialidades existentes, pode ser uma ferramenta poderosa de desenvolvimento regional e rural. As características mais gerais do meio rural, como a produção territorializada de qualidade, a paisagem, a biodiversidade, a cultura e modos de vida, a lógica familiar, a cultura comunitária e a identificação com os ciclos da natureza são importantes fatores de atração. A agregação de valor também pode ser feita através daverticalização da produção local, moldando os produtos in-situ para que possam ser oferecidos ao turista sobre a forma de alimentos, vestuário, artesanato, etc. A sustentabilidade,enquanto grande tendência dos últimos anos, deve ser vista como um dos principais factores de competitividade do sector. A criação de pacotes que englobem as três dimensões da sustentabilidade (económica, social e ambiental), onde a ligação à natureza, aos bio-produtos, a um estilo de vida saudável ou a valorização de diferentes culturas, é indubitavelmente um ponto a focar noplaneamento de oferta para este sector. Como alternativa ao turismo mainstream, o Turismo Rural tem um potencial sub-explorado em Portugal, muitas vezes fruto do mau planeamento do modelo de negócio e consequente má gestão. É necessárioreinventar a imagem do Turismo Rural, atualmente saturada e em muitos casos obsoleta neste século XXI. Vários estudos sustentam que a motivação para o turismo está associada à quebra de rotinas e à procura de novas experiências, onde a seleção do alojamento não é o principal critério de escolha. Deve-se assumir como principal fator de atração no Turismo Rural a noção de “full agenda” onde, através de parcerias, cooperação e articulação entre agentes, se oferecem produtos turísticos diversificados que produzem a sensação de preenchimento temporal total ao turista em busca de novas experiências. Ou seja, propostas integradas que articulam alojamento, restauração, atividades de animação, vias de acesso, cultura local genuína e as paisagens envolventes. Existem infraestruturas de qualidade e genuínas que captam toda a essência daquilo que deve ser o Turismo Rural de qualidade, pelo que é imperativo que exista uma estruturação e comercialização de todas essas propostas em conjunto. 22 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, afirma que a gastronomia, o touring cultural e a paisagem são os pontos mais fortes desta zona. Guilherme Almeida, vereador de Turismo e Desporto na câmara municipal de Viseu, diz ainda que o turista vem cada vez mais pelos modos de vida saudável ao ar livre. Como forma de rematar tudo isto, Andreia Roque, presidente da IDESTUR (Brasil) enfatiza que “apesar dos processos de desenvolvimento, o campo português ficou intacto, tendo por isso grandes possibilidades de modernização, sem perder ruralidade... é preciso saber oferecer experiências”. de conhecimento e know-how. Verifica-se, portanto, a necessidade de estratégias de envolvimento e fortalecimento das várias partes interessadas em torno do Turismo Rural. Diversos estudos apontam como principais motivações dos turistas rurais o relaxamento, a socialização, a aprendizagem, e o fator novidade. Por outro lado, enquanto a criação de pacotes diversificados é uma opção para alguns segmentos de clientes, as propostas abertas são as mais indicadas para o share do mercado constituído por turistas mais experientes. Dentro do Turismo Rural e analisando as necessidades de todas as partes interessadas, rapidamente se depreende que tanto para os proprietários de alojamento, empresários de Turismo Rural, como para empresas de animação turística e proprietários de produtos e serviços locais, os aspetos de maior importância são a maior organização e maior visibilidade. “Fez-se muito nos últimos anos, mas está tudo por interligar” (Guilherme Almeida), “O que nos falta é organizarmo-nos...” (Paulo Castro, ex-director do Parque Nacional Peneda-Gerês), “Falta cooperação e interligação entre as diferentes partes” (Paula Matos Correia, dirigente na ADICES). Estes testemunhos recolhidos no terreno espelham quais as principais necessidades do sector. São necessários mecanismos que criem maior abertura de mercado para que os produtos que de facto possuem qualidade tenham maior exposição comercial, inclusive a operadores turísticos. Importa também que o marketing seja direcionado para os públicos alvo do Turismo Rural (turistas mais exigentes, mais informados e mais independentes). Por outro lado, é notória a falta de confiança mútua entre as empresas de turismo. As pequenas empresas não se envolvem ativamente no desenvolvimento de colaborações, um aspeto que restringe a transferência 23 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 6.2 Fatores críticos para o desenvolvimento do Turismo Rural Como resultado principal deste diagnóstico obteve-se a identificação de sete factores críticos ao desenvolvimento do Turismo Rural em Portugal, que se apresentam se seguida: 6.2.1 Investir em produtos específicos e fortalecer a identidade dos territórios No Centro, a serra da Estrela continua a ser explorada essencialmente como destino neve, surgindo mais recentemente algumas propostas gastroetnográficas (queijo e transumância); Arouca e o Tejo Internacional exploram o seu património geológico através do geoparques; alguns rios de montanha como o Paiva, associados ao turismo ativo e representando recursos de altíssima qualidade, continuam a não merecer o investimento devido em produtos e serviços associados complementares para se tornarem em destinos turísticos de excelência; as regiões vínicas do Centro investem, de forma desigual, em enoturismo, mas apenas na infraestruturação direta (adegas visitáveis e oportunidades de prova, espaços museológicos, alojamentos em propriedades vinícolas). Percorrendo o país, sente-se uma forte diferenciação no investimento realizado, ao longo dos anos, em produtos turísticos integrados e na criação de destinos turísticos relacionados com o campo, os espaços rurais ou a Natureza. É notório o esforço realizado nos últimos anos para criar marcas turísticas territoriais associadas a recursos icónicos como o Douro vinhateiro, o Douro navegável, a Natureza do Douro internacional ou o Alqueva. Também no que respeita à criação de novos produtos turísticos, se tem assistido a um considerável esforço, quer por parte de entidades públicas, como por parte de promotores privados. Destes produtos, podemos destacar os percursos pedestres, como por exemplo a recente a Via Algarviana, o birdwatching, o ecoturismo ou as férias associadas a formas de mobilidade suave (a pé ou de bicicleta). Na análise da oferta turística do espaço europeu, nomeadamente nos países membros da Federação Europeia de Turismo Rural, EUROGITES, na qual o promotor deste estudo está inserido, é notória a enorme disparidade entre os diferentes países, no desenvolvimento de destinos associados tanto ao Turismo Rural, como a outras formas de turismo no campo (turismo de Natureza, turismo ativo, ecoturismo, enoturismo). Como seria de esperar, são notórias as diferenças entre os destinos que, fazendo estandarte no turismo na natureza e ecoturismo, se desenvolveram em períodos diferentes, sendo emblemáticos os casos das regiões autónomas. Os Açores, tendo sido alvo de investimento e consequente desenvolvimento mais recente evidenciam, como seria de esperar, uma abordagem bastante mais atual à criação da sua oferta do que a Madeira. - A Irlanda, com a sua forte tradição rural, investiu na infraestruturação do turismo para além do alojamento, criando redes de percursos pedestres e cicláveis numa perspetiva turística, integrando os temas identificados como motivadores do turista, e não apenas percursos de mobilidade suave urbana e peri-urbana. Considerando as boas referências de produtos/destinos nacionais mencionados anteriormente, uma das mais críticas diferenças entre estes e os bons benchmarks europeus está na abrangência do conceito de destino que os distingue. Em concreto, salientamos algumas abordagens de excelência: 24 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - Regiões vinhateiras francesas, como Burgundy e Provença, investiram na diversificação do enoturismo, de forma a abranger diferentes tipologias de férias e perfis de turistas, resultando em ofertas de turismo a pé, de bicicleta, a cavalo, para amadores, famílias, desportistas, turistas ativos, terceira idade, em formatos do luxo ao budget. - Em Itália, como em França, o conceito alemão de bikehotel alarga-se ao alojamento rural e vem reforçar o esforço para a criação de destinos integrados para o cicloturismo, a par com a marcação no terreno de percursos e do investimento em informação em suporte digital ou em papel para apoio ao turista. De um modo geral, são muitos os países e as regiões europeias que se afirmam como destinos para férias baseadas em caminhadas e percursos de bicicleta e é assim que vemos surgirem propostas fortemente dirigidas a segmentos específicos, como o caso de alojamentos que anunciam na homepage do seu site o conteúdo do farnel que fornecem aos seus clientes que fazem férias de bicicleta, entre outros detalhes que evidenciam uma estratégia bem desenvolvida. Como resultado, proprietários de alojamentos e operadores turísticos encontram potencial para criar oferta turística de qualidade, e diferenciadora no mercado global, destinada a públicos específicos, nos quais investem em promoção muito dirigida, como é típico dos produtos de nicho. Portugal tem condições excecionais para ser competitivo nestas tipologias, por diversos motivos: o clima, que nos favorece nas épocas baixas em relação ao centro e norte da Europa, a diversidade biológica e paisagística e a ampla extensão de espaços naturais, nomeadamente um conjunto assinalável de serras e de linhas de água e respectivas galerias ripícolas, a proximidade constante ao litoral, a diversidade cultural e histórica, a riqueza e diversidade do seu património construído, nomeadamente o de caráter religioso e a boa preservação de povoações tradicionais, de norte a sul do país, onde se encontram vastos recursos etnográficos interessantes na perspetiva do turismo, a ampla gama de recursos gastronómicos, nomeadamente os associados à dieta mediterrânica a qualidade da sua produção vínica, a imensa quantidade de castas locais e a diversidade de paisagens vinícolas a boa tradição do acolhimento. Mas sente-se, na oferta portuguesa de produtos turísticos não urbanos, a falta de aglutinação e de organização em torno de marcas territoriais temáticas ou de clubes de produto. Falta um esforço de estruturação da oferta que permita aos promotores de turismo “encaixarem-se” em algo maior do que eles e que lhes permita beneficiarem da identidade ao território. No fundo, falta fazer todo um trabalho de desenvolvimento de destinos turísticos que, ao nível do turismo de nicho é também, necessariamente, um trabalho muito direcionado para segmentos e tipologias específicos. 25 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Mas, se o investimento em marcas territoriais será uma competência essencialmente ao alcance de entidades públicas, ao nível do produto turístico há todo um mundo de possibilidades que são pouco desenvolvidas pela maioria dos promotores, tanto proprietários de alojamentos, como empresários de animação turística, como produtores de recursos associáveis ao turismo de campo. proximidade é praticada por operadores e não pelos proprietários. Esta é uma relevante função a desempenhar no espaço associativo. Nas audições para este estudo, é notória a falência do modelo anterior seguido para o Turismo Rural: as propostas de produtos turísticos aparecem dispersas, mesmo quando acontecem em sobreposição no território e são, no melhor dos casos, apenas elencadas em conjunto. Uma outra das questões críticas é a escala,ou seja, são praticamente inexistentes ofertas que envolvam mais do que um fornecedor em volta de um tema (disponíveis em pontos diversos do território ou numa região apenas mas em variadas épocas - dias, semanas, meses, estações do ano) e que permitam, pela escala adquirida, um esforço maior de promoção e venda junto do público direto e de operadores turísticos. No limite, algo que se assemelhe a um clube de produto. Após a fase inicial em que os proprietários de alojamento se aperceberam de que, realmente, os turistas não se deslocam apenas para dormir, seguiu-se aquele que é, ainda hoje, o modelo dominante. Os proprietários iniciaram o trabalho, muito positivo, de referenciarem um conjunto de produtos e recursos na esfera envolvente ao alojamento, juntamente com a apresentação de descontos na compra de serviços de animação ou em restauração. Contudo, escasseiam ainda as situações de oferta estruturada em rede e organizada na perspetiva do utilizador, propondo formatos diferentes para usufruir de um mesmo território, traçando oportunidades que envolvam distâncias superiores à das imediações do equipamento. Esta situação foi evidenciada neste estudo principalmente pelos proprietários que acolhem turistas estrangeiros e que sentem uma lacuna na falta de conhecimento de outros proprietários de outras regiões do país. É habitual no Turismo Rural a referenciação de outros alojamentos concorrentes em face da lotação, mas a recomendação de alojamentos fora da área de 6.2.2 Escala, visibilidade, eficácia Na Irlanda, a agência nacional para desenvolvimento do turismo defende que as oportunidades de cooperação comercial são os meios mais eficazes e rentáveis de aceder aos mercados externos. Com isto em mente, os grupos de comercialização de produtos têm sido desenvolvidos em muitos produtos diferentes, e incluem clubes de produto como o turismo equestre “Horse Riding Ireland”, herdades ou quintas de bem-estar e saúde, “Health Farms of Ireland”, alojamento associado ao turismo de pesca, “Great Fishing Houses of Ireland”, Turismo Rural e do património construído, e promoção internacional de turismo náutico, na versão Vela. Nos Estados Unidos, o estado federal do Oregon decidiu apostar na criação de uma marca territorial que identifica a região como “bike-friendly”. Para desenvolver e fortalecer esta ideia, as autoridades apostaram no envolvimento da sociedade civil, que assumiu com orgulho a forte tradição local da bicicleta e se identificou com o conceito. Hoje, em muitos locais, há referências a serviços e produtos para os ciclistas e são comuns saudações 26 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 diretas em lojas, cafés, alojamento, desenvolveram-se negócios em torno da atividade ao ponto de hoje se fazer referência ao cluster das bicicletas no Oregon. A marca implantou-se e o impacto no incoming de turistas para turismo em bicicleta é bastante significativo. Importa realçar que o investimento público na criação de percursos não antecedeu o crescimento deste movimento na comunidade. Em Portugal, e nas várias tipologias do turismo no campo, a ausência de parcerias como as descritas acima é a principal causa apontada pelos promotores como responsável pela dificuldade que sentem em colocar no mercado a sua oferta. A dificuldade em agregar interesses comuns, para que se criemclusters fortes e de promoção facilitada, faz com que se recorra ao mote do “cada um por si”, tornando praticamente impossível chegar aos mercados de forma efetiva, seja ao cliente final seja ao operador turístico. 6.2.3 Quebrar tabus Sendo o turismo no espaço rural uma marca forte e do conhecimento geral dos turistas, apesar da frequente falta de conhecimento sobre as especificações legais que distinguem o Turismo Turalde outros tipos de oferta, assistimos atualmente a uma tendência para a sua miscenização funcional com outros tipologias de turismo: os espaços de alojamento do Turismo Rural são também o ponto de partida para produtos turísticos de turismo de natureza, enoturismo, birdwatching, férias a pescar… Esta tendência é sentida como benéfica por quem a pratica, mas na verdade, para que um proprietário possa associar-se a estes conceitos sem ficar excessivamente preso à exclusividade de uma escolha, em termos de gestão da sua identidade corporativa, exige algum cuidado nas opções de comunicação da marca. Naturalmente, para alguns proprietários esta questão é irrelevante, dada a concentração temática do seu modelo de negócio. 6.2.4 A questão crucial: estratégias de integração A questão crucial: faltam estratégias claras que façam a integração dos recursos e dos produtos e serviços turísticos e que promovam a cooperação entre agentes do turismo. Em Portugal, os diferentes tipos de agentes do Turismo Rural – alojamento, empresas de animação turística, operadores de viagens, produtores de produtos e serviços complementares, autoridades do turismo, queixam-se da falta de integração que deveria aproximar os implicados em cada tipo de oferta turística de modo a servir o turista com máxima qualidade e para ampliar a visibilidade da oferta e conseguir economia de escala na gestão da oferta. Esta opinião está generalizada entre todos os agentes que auscultámos no decorrer deste estudo e corresponde na atualidade ao diagnóstico inicial que conduziu à identificação da necessidade de realizar este estudo. Neste sentido, reitera-se o objetivo principal de formular uma estratégia que facilite a articulação entre agentes. 27 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 6.2.5 Perspetiva sobre o território No desenho de produtos turísticos e na avaliação da sua atratividade, há que tomar em consideração a perspetiva dos diferentes promotores e utilizadores e o seu posicionamento no território. implicam, acima de tudo, organização, mais do que investimento financeiro, para poderem ser executadas. A oportunidade aqui está em segmentar e assim diversificar a oferta que um determinado recurso turístico, como uma rota, permite fazer. 6.2.6 Um dos casos mais flagrantes é o das barreiras administrativas territoriais que causam descontinuidades na informação turística entre distritos, municípios e regiões, com prejuízo para quem gere equipamentos instalados e que pretende complementar a sua oferta com os recursos na envolvente. Num país imensamente diverso e de dimensões tão reduzidas, será uma vantagem competitiva estruturar produtos que abarcam essa diversidade. Esta mesma nota de precaução aplica-se igualmente à identificação de parceiros e recursos que importa associar noutros pontos do território para assegurar a viabilidade e atratividade de um produto turístico, particularmente quando se trata de uma rota, mas não só nestes casos. Existem variadas rotas temáticas mas não é comum em Portugal ver-se produtos turísticos integrados associados às rotas e dirigidos a segmentos específicos. Exemplificando, se alguém pretender fazer a rota a pé ao longo de, digamos, cinco dias, qual a oferta de alojamento recomendada para viabilizar esta proposta? O mesmo para as férias de bicicleta ou a cavalo. E tomando a perspetiva do proprietário de alojamento rural, por que não uma referência a um conjunto de alojamentos que permitam optar por esta tipologia de turismo e enquadrando a localização destas rotas? Trata-se de propostas que Diversificar ou concentrar? Concentrar para diversificar Quando confrontados com propostas para diversificar a oferta turística, os proprietários e empresários reconhecem o interesse, mas levantam algumas questões sobre a exequibilidade: necessidade de investir em mais conhecimento para poder estruturar outros produtos, rede de conhecimentos, custos associados e eventuais incompatibilidades com a oferta atual e perfil de clientes. De uma forma geral, todas estas preocupações podem ser resolvidas no âmbito de um espaço de cooperação e colaboração entre promotores, com competências e conhecimentos complementares. É através da agregação da oferta de vários parceiros que a diversificação pode ganhar maior escala e, consequentemente, abrir portas a maior visibilidade nos mercados. De todo o modo, importa sempre preservar a identidade corporativa e para evitar que propostas que são compatíveis mas representam manifestações marginais da marca, podendo ser uma boa solução apresentar esses produtos fora do espaço corporativo próprio (site da empresa e material impresso), em áreas de promoção geridas por outros (associações, operadores). 28 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 6.2.7 Encontro de interesses Quem servem, afinal, as infraestruturas de mobilidade suave? Se numa primeira impressão, os pontos de contacto entre perfis de utilizadores do Turismo Rural e turismo ativo pareciam poucos, na verdade os mercados das férias com bicicleta, das férias para caminhar, do turismo de natureza…, evoluíram muito e não só as infraestruturas são preparadas na maioria dos casos para receber famílias e pessoas que dificilmente classificaríamos como desportistas, como se verifica também que o perfil de utilizadores que procuram este tipo de ofertas é vasto. O mercado nacional é ainda significativamente pouco atento a este fator: é frequente os alojamentos de Turismo Rural anunciarem ofertas de passeios a pé, de bicicleta ou a cavalo, geralmente operados por empresas de animação turística, mas há menos ofertas estruturadas e adaptadas aos diferentes perfis e motivações. Do mesmo modo, na perspetiva da animação turística, faltam também ainda ofertas diferenciadas pelo tipo de alojamento que oferecem e que é uma outra forma de diversificar os clientes e de captar novos segmentos. 29 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 6.3. Análise SWOT OPORTUNIDADES FORÇAS - Novas necessidades de consumo identificadas - Qualidade dos alojamentos rurais e boa cobertura territorial - Procura indireta significativa - Campo e Natureza estão na moda - Drivers do turismo português encaixam na oferta de TR - Reconhecida a importância de parcerias - Produtos inovadores que cruzam TR com T. Natureza, T. Aventura, Ecoturismo, Enoturismo, Birdwatching, T. de Bem-estar e Saúde… - Recursos turísticos (naturais, culturais, etnográficos, gastronomia e vinhos…) de interesse -Criação de Produtos turísticos temáticos - Bom clima, invernos curtos - Engenharia de produto em rede multissectorial e trans-regional. Cross-selling - Campo, natureza, tradições rurais e aldeias relativamente bem conservados. - Segmentação e híper-segmentação da oferta (produtos, atividades e experiências) - Diversidade de recursos concentrada (vê-se muito em curtas distâncias); - Clubes de produto para temas especializados. Captar interesse de OT especializados - Boas acessibilidades - Sistema voluntário de categorização do alojamento baseado em interesses específicos - Perceção de segurança - Agregação e coordenação da oferta - Promoção turística externa focada em mercados prioritários para o TRe em driverschave para o TR (gastronomia e vinhos, Natureza…) - Criação de marcas destino envolvendo TR e clusters de produto - Portal nacional de TR AMEAÇAS FRAQUEZAS - Destinos concorrentes mais desenvolvidos (Espanha, Itália, França…). Portugal não é destino turístico de TR - Efeitos da crise económica global - Imagem envelhecida do TR - Operadores turísticos afastados do TR - Massa crítica de oferta qualificada - Não há boa segmentação da oferta (de acordo com perfis, mercados, temas) - Nível de qualificação profissional do proprietário de TR (gestão e marketing turístico) - Ausência de produtos de fácil comercialização (produto+serviços+atividades+propostas para alimentação) - Falta de organização do sectores e clusters relevantes para o TR - Fraca procura interna de TR - Inexistência de massa crítica de oferta - É difícil avaliar qualidade da oferta - Visão e organização da oferta fragmentada - Falta qualificação profissional para a criação de produtos turísticos temáticos integrados - Má sinalização de caminhos e de acesso a percursos; má informação turística no terreno - Falta de confiança mútua entre os operadores - Algumas redes (redes 5x5) pouco desenvolvidas - Algumas redes servem interesses recreativos e não turísticos - Falta talento empresarial no TR 30 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 1 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 O modelo serve três propósitos distintos e complementares: Definir um espaço de atuação de base territorial que permita à PRIVETUR oferecer apoio aos seus associados, criando mais-valia que promova a adesão de novos membros e reforce a perceção de valor aos membros atuais; 1. Introdução ao Modelo 5x5 Ficou assim claro, ao longo dos capítulos anteriores, que a criação de parcerias que aproveitem as redes infraestruturais existentes e que potenciem o desenvolvimento de outras novas é assumida pelos pelos diferentes stakeholders como um caminho fértil para a afirmação do papel que o Turismo Rural deve assumir. Partindo deste entendimento, da aprendizagem decorrente do intenso benchmarking e da imersão no território e conhecimento prévio da equipa relativamente ao território e temas em estudo, desenvolveu-se um modelo teórico – Modelo 5x5 - que deverá servir de base à criação de oferta integrada e qualificada, com vista à potenciação do Turismo Rural. Dada a transversalidade, profundidade e abrangência do Projeto 5x5, é imperioso apostar na criação de um modelo articulado que determine os termos e as condições necessárias para que cada player, infraestrutura ou valor possam incorporar devidamente os seus produtos turísticos temáticos, garantindo-se deste modo a blindagem de cada uma das redes consideradas estruturantes para o Projeto e assegurando a possibilidade da sua monitorização. Fornecer um quadro de referência estratégica que sirva de apoio aos promotores públicos e privados de turismo rural. Esta nova visão introduz uma reorientação estratégica do Turismo Rural, proporcionando: o Às entidades públicas e associativas, um enquadramento estratégico para o investimento de apoio ao turismo no campo; o Ao promotor individual privado, apoio à análise das suas potencialidades no mercado, posicionar-se de forma competitiva face à concorrência e organizarou re-orientar o seu modelo de negócio; Criar programas-tipo que ilustrem e apliquem a lógica estratégica do modelo, desmistificando o processo de criação de oferta integrada, capaz de inserir cada alojamento numa oferta que vá para além de si próprio. Este modelo foi construído tendo por base a sua potencial aplicação a todo o território nacional, tendo sido a aplicado no projeto piloto ao nível da NUT II Centro, com extensões ao resto do país (ver Capítulo III deste estudo) - de 31 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 forma a dar cumprimento ao previsto em fase de candidatura (projeto-piloto de operacionalização das redes temáticas territoriais). A estruturação de produto turístico, encorajando novas formas de cooperação entre os agentes do território, com impactes positivos na entrada de novos investidores para explorar novas oportunidades de negócio, assim como a diferenciação relativamente a outras operações de Turismo Rural, menos abrangentes e menos ancoradas no território, são considerados dois elementos chave na construção deste modelo (ficando a disseminação e capacitação dos players - através de workshops, seminários e edição de materiais de difusão- para a fase final de desenvolvimento do Projeto). 32 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 O primeiro passo no processo de construção do Modelo 5x5 corresponde à definição de uma proposta de valor para orientar a criação da identidade da oferta a associar ao Turismo Rural em Portugal. Esta ferramenta, que une não só as valências de suporte fundamental às redes, mas também temas chave que, esperamos, estimulem a imaginação dos promotores de Turismo Rural, permitirá aos empreendedores posicionarem-se de forma estruturada perante os mercados especialistas e perceber como é que poderão potenciar melhor as suas valências, bem como as da região em que se inserem. No seguimento dessa lógica, definiram-se vetores estratégicos de apoio ao modelo e ao desenvolvimento das redes propriamente ditas e que funcionam como o esqueleto de suporte do processo de brandinge de organização consequente do modelo. O Modelo 5x5 assume, assim, uma base de atuação estratégica que aposta no fortalecimento do modelo de negócio do Turismo Rural canalizado para o desenvolvimento em formato filigrana de quatro vetores diferenciadores do sector. 1.1 Como está organizado o Modelo Esta é também a base conceptual para o processo de segmentação em filigrana que se pretende promover com este projeto, dadas as características particulares definidas para cada um dos vetores. Após caracterização aprofundada de cada uma das cinco redes, segue a componente prática de desenvolvimento do Modelo 5x5. Aqui, o primeiro passo foi a criação de uma checklist para apoio ao proprietário na organização e identificação dos elementos que compõem a sua oferta (disponível para os sócios PRIVETUR) . A checklist explora as potencialidades da articulação das cinco redes e, não sendo exaustiva, incorpora os produtos, serviços e experiências que consideramos estratégicos para a afirmação e diferenciação de um projeto de Turismo Rural. A organização da checklistem torno de temas que são drivers prioritários do turismo português pretende ser inspiracional, mas também uma aposta segura em tendências atuais. A operacionalização do modelo assenta em quatro grandes áreas de desenvolvimento: Perceber as Valências Próprias Perceber o Território Perceber o Cliente Perceber os Parceiros Para que tal aconteça, organizámos a informação de modo a ir de encontro à lógica de operacionalização destas quatro áreas. Assim, começamos por desenvolver a proposta de valor a associar ao modelo, para depois se caracterizarem as redes e introduzirem as linhas orientadoras da checklist, explicando a lógica subsequente e o seu funcionamento prático, como base de tudo o que se seguirá. 33 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Seguidamente, focamos sobre o cliente,definindo os parâmetros selecionados para apoio à criação da oferta, tendo por base as cinco redes, os vetores já na forma de temas especializados e também características que importa ter em conta, como o tipo de grupo, o perfil do cliente e a duração da sua estadia, sempre levando em linha de conta a importância que a tipologia do(s) alojamento(s) de Turismo Rural assume na estruturação dessa mesma oferta direcionada para o Cliente. valências, os diferentes parceiros e otimizar itinerários de forma a responder aos timingse motivações que melhor se ajustam ao seu cliente. Analisados os pré-requisitos, passamos da abordagem conceptual de enquadramento para uma abordagem mais hands on, onde se definem os procedimentos que um empreendedor deverá seguir para a aplicação do Modelo 5x5,reforçando com as valências dos seus Parceiros a oferta que irá desenvolver e promover. Esta fase passa por: conhecer o território de inserção; Figura 1 - Vista da ferramenta GE saber como escolher os parceiros certos saber criar e implementar a oferta integrada ouperceber qual o papel que a associação que o representa pode assumir; conhecer a importância de reconhecer o seu próprio potencial, inovando para além dos exemplos descritos no modelo. Neste sentido, é ainda importante realçar que foi criada uma ferramenta desenvolvida em Google Earth (GE) que junta na mesma plataforma todas as infraestruturas turísticas das cinco redes passíveis de virem a integrar uma oferta em malha e que foram identificadas em fase de levantamento. Esta ferramenta de organização espacial da informação e de otimização da perceção da distribuição das estruturas no território serviu de base ao projetopiloto que se trabalha neste relatório e deverá funcionar como ferramenta dinâmica, passível de ser alimentada e melhorada no caso concreto com a ajuda inclusivamente dos membros da associaçãoPRIVETUR. Através deste modelo, como um todo, conseguiremos trabalhar numa lógica de escala e de oferta agregada em que, uma vez mais, o todo é mais forte do que as partes individualmente. Esta é a fase em que o Território deixa de ter segredos e em que,de forma muito simplificada, cada empreendedor poderá visualizar as diferentes 34 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Os objectivos últimos são: - facilitar o desenvolvimento de produtos temáticos como verdadeiros referenciais de integração da oferta, solução muito mais rica do que um simples referenciar ou elencar de serviços isolados no território; e ainda - garantir a abordagem espacial no território, em que recursos turísticos que importa relacionar e rotas potencialmente já existentes são enriquecidos e transformados em verdadeiro produto turístico, sendo que a mobilidade ganha aqui uma enorme importância. De facto, tendo também em consideração as necessidades e os fatores de competitividade do sector, é essencial que se cumpram três objetivos principais com estes produtos turísticos temáticos: - A integração de todas as partes interessadas, possibilitando uma agenda preenchida para os turistas e fazendo do Turismo Rural uma experiência mais genuína e completa. E, ainda, o fortalecimento de laços entre empresas que a priori seriam concorrentes. - Maior escala e visibilidade, no sentido em que existe grande necessidade de abertura de mercado para que os empreendedores desta área possam colocar os seus produtos e serviços à disposição de um maior número de potenciais clientes. - Diversificação do produto que é vendido, sejam pacotes turísticos já criados ou através da variabilidade geral da oferta existente. Mais diversidade significa maior potencial para alcançar turistas e ampliar mercados, o que ao fim e ao cabo é a principal intenção de qualquer estratégia de marketing. 35 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 2. O Conceito, o Eixo Estratégico, a Inovação – ‘Cinco Vezes Mais Campo’ Pensando na realidade de Portugal, um país com uma área reduzida, mas rico em história e tradições e dono de uma heterogeneidade paisagística ímpar, seria normal questionarmo-nos sobre o que é que nos pode distinguir, ou de forma mais direta, o que é que poderá fazer soar as campainhas na cabeça dos turistas que queremos atrair, alertando-os de que Portugal deve ser o próximo destino de férias. O nosso país tem tudo, é verdade, mas o tudo gera caos e o caos é sinónimo de confusão na mente daqueles que têm outros destinos altamente identificativos, que não dão trabalho a perceber o value for money na altura de escolher. A Áustria tem as montanhas, França tem o vinho e o champagne e Portugal?... Portugal tem o seu Campo preservado, não mumificado, mas vivo, pronto a receber todos aqueles que querem saber como era antigamente, sem abdicarem do conforto, segurança e tecnologia a que se habituaram nos dias de hoje. Viver o Campo em Portugal é algoa explorar de norte a sul, sendo que a região Centro pode e deve assumir também um papel de liderança na afirmação desta intenção. O Campo, na sua vertente de proximidade à terra, enquanto metáfora para as origens, na sua proximidade à Natureza e na aproximação a um turismo mais responsável e atento, pode ser a base de uma oferta turística de grande valor e que, como já foi referido anteriormente, deve ser inovadora nosprodutos, serviços, ao nível organizacional e, claro, na comunicação e sua promoção. Mas a imagem de um Portugal Rural, envelhecido e deprimido, deve ganhar nova vida, renascendo enquanto um Portugal onde o Campo é sinónimo de oportunidade …diversidade, autenticidade, tranquilidade, evasão, cultura, tradição e modernidade. Da depreciação nasce a inovação, num conceito onde Portugal poderá ser claramente ganhador, pelo posicionamento, qualificação e diversificação da sua oferta. E quando falamos em Campo não estamos a ser redutores na perspetiva em que o campo é sinónimo de ruralidade. Não. O Campo é construído pelas vivências rurais e suas paisagens, mas é também construído pelas paisagens naturais, pelas Áreas Classificadas – que em Portugal ocupam mais de 1/5 do território – e pelo facto de grande parte do país é parte integrante do hotspot de biodiversidade da Bacia do Mediterrâneo, com toda a riqueza que isso representa. 36 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 2.1 A Ideia Central/Proposta de Valor Tomando como ponto de partida as cinco redes que aqui se trabalham e o empowerment que pode advir de um usufruto total do ambiente ‘campo’ em Portugal,ancoramos a estratégia numa ideia central: ‘Acesso privilegiado’ (ao campo) Explicada de forma simples: as redes, e a sua articulação, dão-nos acesso privilegiado a tudo o que o campo tem de melhor. E como? Desde já, porque a rede de alojamentos rurais é uma rede de proximidade e genuinamente ancorada no campo. Acrescem a tradicional arte de bem receber que a caracteriza e o atendimento personalizado; Depois, porque as três redes relacionadas com a mobilidade suave – a pedestre, as ecovias e a equestre, permitem, efetivamente, garantir o acessoa pontos de interesse no território e facilitam o contacto direto com os habitantes locais; Além disso, tanto o percorrer uma via panorâmica como a mobilidade a pé, de bicicleta, ou a cavalo são experiências em si mesmo, merecedoras de uma atitude de abertura aos cinco sentidos e de mais tempo para desfrute integral; Finalmente, ao agregar muitas formas de fazer turismo, a escala da oferta é ampliada e assim se dá viabilidade à diversificação e consequente maior encaixe nos interesses específicos e individuais dos turistas. Este posicionamento estratégico orienta todo o esforço desenvolvido neste estudo e que se quer consistente e focado, contribuindo para a organização sólida da proposta, quer nos eixos estratégicos que dela derivam, quer na atenção ao detalhe que enriquecerá a proposta de valor. Este conceito alimenta-se de um melting pot de infraestruturas já fortemente implementadas no terreno e que devem ser aproximadas ao Turismo Rural e às hipóteses infindáveis de oportunidades novas que poderão surgir se a imaginação e a vontade dos empreendedores e entidades públicas não faltar e for constantemente renovada. A proposta de valor ‘Acesso privilegiado ao campo’ dá lugar à assinatura ‘Cinco vezes mais campo’ A assinatura‘Cinco vezes mais campo’expressa aproposta de valor ‘Acesso privilegiado’ de forma clara. E orienta-nos para explorar todas as formas de evidenciar como, num país moderno como o nosso, o Campo agrega tudo o que temos de melhor, sendo que a melhor forma de dar vida a este conceito, passa pela operacionalização das infraestruturais cinco ‘redes’: Cinco Redes – ‘Cinco Vezes mais campo’ – Uma experiência cinco vezes melhor São as redes as impulsionadoras da ideia central e são elas que darão força e dimensão a uma proposta de valor que se quer singular, relevante, verdadeira e clara. 37 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 2.2 Eixos principais da Proposta de Valor Desenvolvendo a proposta de valor, identificamos Momentos, são instantes e eventos a não perder, nascidos da sensação de experiências únicas, que não se esquecem, contribuindo para a construção de um destino sedutor e para a fidelização do turista, que regressa a casa com uma história para contar. quatro palavras-chave como eixos condutores: Tempo Caminhos Hotspots Momentos Tempo, porque no campo a passagem do tempo ganha uma outra dimensão e porque a gestão de toda uma experiência turística vive da mais criteriosa gestão desse mesmo tempo, mas agora, indo de encontro à vontade específica daqueles para quem estamos a trabalhar; Caminhos, porque é de promover a mobilidade que estamos a falar, garantindo que infraestruturas pedestres, cicláveis e até vias ferroviárias ou automobilísticas sejam potenciadas pelo seu valor de atratividade turística, quer seja de índole paisagística, desportiva, de observação da Natureza ou qualquer outro. O caminho é parte da experiência. Hotspots, porque são eles que dão integridade à experiência, conferindo-lhe magia e unicidade, garantindo que mostramos o que temos de melhor, que oferecemos os nossos melhores serviços e que providenciamos as melhores experiências que um visitante pode desejar. 38 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 2.3 Desenvolvendo a Proposta de Valor Por tudo isto, este Projeto enquadrado pela Rede Rural Nacional (RRN) surge para orientar e dar o pontapé de saída a uma ideia que o transcende a si próprio. De facto, pela mão da PRIVETUR, os empreendedores de alojamento em ambiente rural podem funcionar em conjunto, formando a espinha dorsal de toda a criação e desenvolvimento da oferta, uma vez que são eles os ‘condutores’ dos clientes ao longo de toda a experiência, seja ela mais ou menos localizada no território. Ao ousarem inovar, olhando em volta numa constante busca pelo que de bom poderão adicionar à experiência dos seus clientes, garantirão que, passo a passo, Portugal cimenta uma imagem sólida e fiável com base num Turismo Rural de qualidade, solidamente ancorado nas oportunidades e desafios criados pelo território e pelas pessoas. Dito de outro modo, são dois os eixos estruturantes a que queremos dar resposta: Como é que a experiência de alojamento em Turismo Rural pode beneficiar das restantes quatro redes temáticas? Como é que os praticantes e utilizadores destas outras redes podem beneficiar, enquanto turistas, do alojamento rural e da oferta de experiências rurais? Tomando em consideração a motivação do turista para a viagem, quais são as oportunidades de negócio relevantes para se estruturar uma oferta turística integrando estas redes? No âmbito deste estudo, importa explorar o interesse, para o crescimento do Turismo Rural, de produtos turísticos que integrem as cinco redes temáticas, entendidas de forma abrangente: I. II. III. IV. V. alojamento rural bicicletas como forma de mobilidade/ cicloturismo/ ecopistas/ ecovias/ciclovias; pedestrianismo/ caminhadas/ férias e breaks caminhando/ percursos pedestres; cavalos para montar/ percursos equestres/ picadeiros e rede de locais para apoio logístico; rotas panorâmicas e informação interpretativa. 39 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Naturalmente, dentro deste âmbito existem drivers que poderão ajudar na definição do caminho que um empreendedor, ou até uma entidade pública, quererá seguir no momento em que definir a estratégia para o seu negócio ou território. Neste relatório apresentamos oito desses drivers que consideramos paradigmáticos na definição da oferta assente nesse novo conceito de ruralidade portuguesa, sendo que seis deles são transversais a todo o território nacional e dois direcionados especificamente para o cerne do piloto associado ao modelo desenvolvido – a zona Centro: 1- Viajar devagar Sob a égide da Tranquilidade este é o driver que associa o Turismo Rural ao slow travel, uma emergente e pujante forma de viajar, para quem procura o contacto com a autenticidade dos locais e não uma viajem desenfreada, controlada por outros. O turista é encenador e ator da sua própria viagem e o cenário que lhe vai ser proporcionado está preparado e qualificado para que no final lhe restem apenas fantásticas memórias do nosso País. Palavra-chave – Tranquilidade. 2- O campo faz-lhe bem Este driver encontra-se direcionado para o público nacional. Pretende estimular o conhecimento e descoberta do que é nosso, com espírito aberto para realidades que são desconhecidas da maioria e que passam não só pelo conhecimento de novos locais, mas também de outras vivências, que não as citadinas a que a maioria se encontra adaptado. Em tempos conturbados como os que atravessamos, em que a contenção é palavra de ordem, este é um vetor onde a oportunidade é rainha. Palavra-chave – Descoberta. 3- Portugal faz-lhe bem Em contraponto ao driver anterior, este destina-se ao público estrangeiro. A filosofia mantém-se, mas a exigência é maior, considerando que o público é proveniente de outros países, escolhendo Portugal de entre uma vasta oferta. Associa-se à busca de conhecimento, à contemplação e a uma experiência de altíssima qualidade, onde as particularidades dos alojamentos farão toda a diferença para o cliente. Palavra-chave – Indulgência. 4- Gastronomia única Comer diretamente da horta, ou provar petiscos únicos da gastronomia portuguesa, tão fortemente enraizada na dieta mediterrânica, são atividades claramente vencedoras para quem procura turismo em ambiente rural. Dar a conhecer as suas cambiantes e mais-valias para a saúde, é uma linha de negócio por si só e é seguindo essa linha que se cria um produto turístico forte, onde a comida passa a assumir o papel principal. Palavra-chave – Saúde. 5- Viver as sazonalidades Este será talvez o mais abstrato dos drivers. Querendo-se contrariar o tão conhecido problema do turismo português associado à sazonalidade, há que trabalhar com ela no sentido de transformar o problema numa ou em várias oportunidades. O que se pretende é demonstrar que cada época do ano tem algo diferente para dar a conhecer e que cada uma dessas especificidades podem ser transformadas em oferta que enriqueça a imagem do Turismo Rural em geral, mas também de cada alojamento em particular. É abstrato porque mais do que se exemplificar neste relatório, a riqueza estará na imaginação e conhecimento que os empreendedores tenham do seu território, mas através dele tentaremos demonstrar quais as mais-valias em se apostar em oferta 40 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 associada às diferentes épocas do ano, como uma forma de promover a região e até como meio de fidelização de clientes. Palavra-chave – Diversidade. 6- Explorar a Natureza O turismo em ambiente rural tem ainda uma característica incontornável – a sua proximidade à Natureza. Os pontos de contacto entre o Turismo Rural e o turismo de natureza são óbvias e para além das áreas de maior interesse e expansão como o birdwatching, existem muitas outras para as quais começa agora a despontar o interesse como os cogumelos, as orquídeas, os rios e os geoparques. No nosso país praticamente não existe a chamada “Natureza intocada”, o que existe é uma Natureza resultante dos milhares de anos de interação entre o Homem e a natureza, que levaram à criação de habitats únicos e extremamente ricos em biodiversidade. Palavra-chave – Conhecimento. 7- O poder da água no Centro de Portugal Na mesma linha do turismo na Natureza, uma outra marca forte que existe no nosso país, em particular no Norte e no Centro é a Água. Este agente modelador de paisagem é, para além disso, uma história por contar, podendo funcionar como narrador de uma oferta rica em conceitos, em paisagens e em atividades diferenciadas. Desde a mera contemplação, passando pelas atividades radicais a realizar nos rios ou pela importância que o mar pode assumir na diferenciação da oferta e terminando no seu poder curativo, explorado nas termas, este é sem dúvida um vetor crucial, no âmbito deste projeto. Palavra-chave – Aventura. 8- Enoturismo revisitado no Centro de Portugal O potencial associado ao turismo do vinho e da vinha é amplamente conhecido em algumas regiões do nosso País, pelo que, sendo incontornável, é necessário revisitá-lo, dando-lhe uma nova roupagem e encontrando formas de potenciar os recursos existentes. Se a lógica que procuramos é uma lógica de redes, criemos então a malha que una diferentes espaços e valências e que dinamize infraestruturas na procura do desenvolvimento do seu próprio negócio. Com esta oferta queremos que os clientes fiquem exaustos, mas felizes, porque a pé ou de bicicleta conhecerão algumas das mais fantásticas vinhas e adegas do centro do nosso país. Ou que, simplesmente, cheguem a uma adega já com os cinco sentidos despertos para a fase seguinte da experiência enoturística. Palavra-chave – Inovação. Definidos os drivers estratégicos que conduzem a nova ruralidade em Portugal e em particular na zona piloto, passaremos agora a explicar detalhadamente a lógica associada ao modelo 5x5, de forma a que a ferramenta que se criou seja, nas mãos da PRIVETUR, uma bandeira para o seu crescimento, garantindo a perceção de valor que potenciais novos associados sentirão por fazerem parte desta plataforma associativa. Comecemos, então, seguidamente, por analisar as redes aprofundadamente, uma por uma (ponto seguinte e Anexos). 41 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 3. As Redes 5x5 Definida a proposta de valor que consideramos mais poderosa para cumprir os objetivos do Projeto, importa aprofundar o contributo potencial de cada uma das redes e as circunstâncias em que podem ser úteis para enriquecer o modelo, no sentido de aumentar a escala e visibilidade da oferta e a robustez e eficácia dos negócios de Turismo Rural. 3.1 Contributos da Rede de Caminhos Pedestres “Vou dar uma volta a pé”… Quanto vale um percurso pedestre? Qual o seu real valor turístico? Como transformar recursos em produtos e componentes da oferta turística? Existe em Portugal uma rede extensa de percursos pedestres. De Norte a Sul, encontramos enorme diversidade de propostas, algumas homologadas, outras amadoras, outras “em teste”, sendo que alguns destes são marcadamente paisagísticos enquanto outros são temáticos e foram desenhados para serem acompanhados por especialistas, podendo ainda possuir uma forte componente cultural ou etnográfica. Existem ainda percursos para todos os tipos de utilizadores – ocasionais, de descoberta, desportistas, mobilidade suave, sendo que a maioria destes foram promovidos por autarquias e refletem a organização territorial, mesmo quando o percurso procura mostrar os recursos endógenos da região. Alguns exemplos são casos assinaláveis de diversificação da oferta em função de uma ultra-segmentação e adivinha-se o seu potencial de atratividade, como por exemplo os associados ao geo-turismo, nomeadamente através dos geoparques. Finalmente, temos as grandes rotas que poderão ser encarados como instrumentos indispensáveis para afirmação de regiões como destinos turísticos, como está a acontecer no Algarve e na costa Vicentina. Esta malha fina, rica e de difícil penetração para o promotor ou operador turístico, tem também,fruto dessasmesmas características, fragilidades, precisamente por ter na sua origem motivações diversas e não ter sido orientada estrategicamente. Não existe um trabalho de consolidação a nível nacional e para fins turísticos desta rede, pelo que se confundem propostas de valor e avaliação do potencial turístico. Deste modo, o operador que procura destacar um conjunto de percursos adaptáveis ao seu modelo de negócio, depara com uma tremenda dificuldade na avaliação dos recursos disponíveis. Como saber se um percurso tem potencial para vir a atrair turistas de outras zonas do país ou mesmo do estrangeiro? Testando, claro, dir-se-á, mas o método da verificação no terreno deveria ser aplicado não numa fase inicial de seleção, mas numa fase posterior de operacionalização. A probabilidade maior é de escaparem ao olhar do operador algumas das propostas mais valiosas – na voz dos promotores de cada percurso, nunca encontrámos avaliações que não criassem grandes expectativas. 42 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 O Pedestrianismo e as férias a pé são uma oportunidade para: Melhor gestão do turismo local; posicionamento, importa adequar as restantes componentes para a criação de um produto coerente e atrativo, sendo que nestas condições, a identificação das necessidades de marketing fica muito facilitada. Aumentar a atratividade do Turismo Rural; Desenvolver oportunidades de negócio, quer em serviços básicos quer em serviços turísticos de suporte e especializados; Desenvolver parcerias locais dinâmicas. Na criação de produtos turísticos que envolvam um percurso pedestre, importa distinguir os casos capazes de se afirmarem com uma proposta de valor clara e diferenciadora. São estes, à partida, os percursos com potencial de atratividade turística. No entanto, nem todas as oportunidades aparentes para desenvolver este tipo de oferta são realmente interessantes do ponto de vista turístico. Antes do mais, é preciso avaliar se a região tem potencial turístico real. O turista está interessado em mais do que ter um caminho para andar, sendo que o valor de um percurso se cruza com a atratividade da região onde se insere: paisagem, identidade cultural, serviços para o turista, bem como o conjunto de produtos turísticos disponíveis antes, durante e depois da atividade. Num mercado muito segmentado, é essencial fazer o targeting do produto turístico. Só alguns percursos terão potencial para atrair turistas estrangeiros, sendo que a maioria se destina sobretudo a um mercado local ou nacional. Escolhido um 43 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 3.2 Contributos da Rede Ciclável Muito mais do que conquistar uma performance, trata-se de conseguir jornadas de prazer, relaxamento, com o apoio de uma bicicleta na natureza que leva a todo o lado A paisagem natural, a gastronomia com os vinhos e o clima ameno são três das principais correntes que fazem rolar a crescente procura de férias ou miniférias em bicicleta. A principal ambição é a de pedalar rumo a jornadas de bem-estar, em família, em grupo ou até em modo solitário, longe dos bulícios. A ONG britânica Sustrans identifica dois formatos principais para turismo com bicicleta: Férias ciclistas: Em que o ciclismo é a principal motivação do turista e em que existe um desejo desportivo central ligado à bicicleta. Férias com bicicleta: Em que a bicicleta é um apoio ao programa de férias. O prazer dos lugares por onde se vai pedalar sobrepõe-se amplamente à ideia desportiva. Entidades especializadas, como é o caso da EuroVelo e da Australian Bicycle Council, convergem no referenciardo turismo em bicicleta como um dos sectores em mais rápido crescimento na indústria turística, com potencial para se tornar um mercado crucial e gerar significativo volume de negócios. Já aSustrans estima que 7% dos turistas na Irlanda recorrem à bicicleta e que a percentagem de turistas que recorrem à bicicleta em pelo menos uma parte das férias sobe, no caso da Alemanha, para uma percentagem surpreendente de 25%. A EuroVelodefende que o negócio do turismo em bicicleta venha a movimentar na Europa, em 2020, 21,5 mil milhões de euros, havendo desde já dados que podem suportar esta confiança: a indústria do turismo em bicicleta está a produzir na Suíça receitas que multiplicam por dez o capital investido. É indiscutível que o turismo em bicicleta representa valor acrescentado para os mercados turísticos e para as economias locais. Gera negócio, movimenta o comércio e os serviços locais, da restauração ao artesanato, dos programas do campo às atividades culturais ou de lazer. Acresce a tudo isto o tratar-se de uma forma sustentável de turismo, de “pegada negativa” irrelevante sobre o ambiente ou as comunidades locais. Por tudo isso, a bicicleta é, e deve ser, uma aliada do Turismo Rural. Muitos alojamentos anunciam já percursos de bicicleta na sua envolvente, como produto de animação turística complementar, alguns dos quais são explorados por empresas de animação turística e outros criados para serem explorados de forma autónoma. Alguns alojamentos possuem bicicletas para os seus hóspedes e noutros casos sabem referir onde se podem alugar equipamentos e situar as ecopistas e percursos sinalizados na proximidade. Mas que percursos são estes? Quem servem? A verdade é que em Portugal o produto “férias de bicicleta” encontra-se muito pouco explorado e é por essa razão que temos que nos questionar sobre que oportunidades surgem quando associamos a rede de alojamentos às redes para bicicleta (ecopistas, ecovias, ciclovias e traçados entre pontos de interesse e/ou alojamentos para bicicleta). Especificamente: 44 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Que vantagens únicas pode a rede de alojamentos oferecer: A pergunta que se coloca é de facto ‘o que pode o alojamento rural trazer de novo e como pode contribuir para aumentar ou diversificar a oferta turística através do cruzamento de redes de alojamentos com redes de ecopistas, ecovias e ciclovias?’ e para essa questão há várias respostas que, em conjunto, criam uma oferta com valor acrescido: Ajudar a criar o produto turístico Ecopista: “A ecopista como um destino turístico”; Promover férias sem automóvel, no caso de alojamento nas imediações da ecopista/ecovia; Criar rotas que unem ecopistas e ciclovias ao alojamento; Apoiar os cicloturistas – alojamento “amigo dos ciclistas” ou “bikefriendly”; Prestar serviço de informação de apoio; Disponibilizar cesto de piquenique e refeições ligeiras para levar na mochila; Prestar serviço de pequenos transferes locais entre alojamentos e a partir da estação de comboios ou autocarro mais próxima; Prestar apoio em caso de necessidade de interrupção de percurso; Promover a tematização da ecopista: itinerários temáticos que diversificam a oferta com base num mesmo recurso turístico; Promover o conceito de Viajar Devagar (Turismo slow); Ultra-segmentação: diversificar segmentos, criando produto para diferentes segmentos económicos e sociais; Providenciar o aluguer/empréstimo de bicicletas (modelo homem, mulher e criança), para passeios e especializadas para cicloturismo e BTT. Que produtos turísticos inovadores podem ser criados? Há que considerar a motivação principal e secundária para andar de bicicleta nas férias/breaks: Produtos turísticos temáticos: percursos, rotas e pacotes temáticos; Eno-bike-turismo; Programas para Viajar devagar (Turismo slow); Turismo de Natureza (ver o patrim;ónio de perto, birdwatching, percursos ribeirinhos) Ficar em forma/ turismo saudável; Férias sem carro; “Viajar leve”. As oportunidades para se capitalizar sobre a integração da rede para bicicletas no turismo no campo, em articulação com a rede de alojamento variam substancialmente de região para região do país, por diversos motivos: investimento público diferenciado, características geo-morfológicas do território e distância aos grandes núcleos urbanos. Quando queremos criar uma oferta de turismo de bicicleta, a primeira questão que importa abordar é a relação do alojamento com as necessidades específicas do ciclista (parqueamento da bicicleta, lavagem dos equipamentos, etc.). De facto, existem já noutros países redes de alojamentos “bike-friendly” e em Portugal, começou também já a ser estruturada uma rede de hotéis com esta função, no entanto seria extremamente importante e positivo estender-se conceito a alojamentos no campo que deverão estar assinalados de forma clara e identificativa. 45 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Por si só, esta diferenciação deverá ser um pólo de atração para ciclistas, independentemente de ser criada alguma oferta de produtos turísticos específicos para este sector de mercado, como rotas ou percursos. É extremamente importante para o desenvolvimento da estratégia de marca escolhida – de forma a que esta se constituar como um “cluster” incontornável quando se procura férias de bicicleta no campo - estruturar uma oferta variada e simultaneamente dirigida a diferentes segmentos, tipologias de férias/breaks e motivações principais para a viagem. No cruzamento com a rede de alojamentos, importa compatibilizar o estilo de alojamento, ou série de alojamentos, com o tipo de produto a ser disponibilizado, de modo a estabelecer-se um perfil específico que seja coerente com a oferta. Neste formato, ainda que cada promotor possa até estar apenas envolvido numa proposta oferecida por uma micro-região, o conjunto das propostas permite criar a noção de volume e diversidade de oferta, mesmo quando os produtos não estão todos disponíveis simultaneamente. Deste modo, deve ser imediata para o utilizador a perceção de que existe oferta dirigida ao seu perfil e interesse do momento, devendo ser disponibilizada informação do tipo: nível de dificuldade; adultos / jovens / 3ª idade / família / casal / grupo de amigos; budget; mobilidade suave / turismo ativo / turismo aventura; estilo clássico / estilo moderno / rústico /formal / descontraído; turismo de Natureza / touring cidade+campo / turismo religioso / turismo cultural / turismo eno-gastronómico / turismo de saúde / ecoturismo 46 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 3.3 Contributos da Rede Equestre A trote e a galope, explorar as experiências (inverter a tradição de escassa oferta) O turismo equestre é reconhecido em diferentes países como um importante segmento dentro das atividades de turismo e lazer, com número de adeptos em grande crescimento, sendo que um exemplo disso é o número de associados que compõem hoje a Associação Francesa de Turismo Equestre (ANTE, criada em 1963) e que conta atualmente com 200 mil pessoas. Foquemo-nos no raid equestre como passeio e atividade com base no alojamento em Turismo Rural: cruzando os campos complementares do turismo equestre e do Turismo Rural. Os raids equestres, encontram-se em nítida expansão na Europa e na América do Sul, nomeadamente no Brasil, onde o crescimento é mais expressivo. É uma prática que requer cumplicidade entre cavalo e cavaleiro, boa dose de preparação técnica e disponibilização de apoios logísticos especializados. Uma sigla que aparece com frequência associada aos raids equestres é TREC. As raízes desta expressão passam certamente pelo significado da sonoridade da palavra que em inglês remete para “trilho” e em árabe para “caminho”. Na prática equestre, TREC é a sigla de Técnicas de Rotas Equestres de Competição e a sua prática desenvolveu-se em França, nos anos 80 do século XX, por intermédio de grupos de cavaleiros desejosos de medir os seus cavalos e as suas competências equestres. Nos Estados Unidos da América já nesse tempo era desenvolvido o “trail ride” – em competição ou por passeio. Portugal dispõe de recursos excepcionais para se tornar um destino de excelência do turismo equestre. Esses recursos passam pela tradição centenária da arte equestre portuguesa, pelo património notável do cavalo português (o Puro Sangue Lusitano, o Garrano e o Sorraia), e também pelo clima ameno e pela natureza diversificada do território, de orografia diversificada. A simpatia das populações e a reconhecida segurança são outros fatores que colocam Portugal como palco de excelência para o Turismo Equestre. Existem várias infraestruturas para apoio a passeios equestres, razoavelmente distribuídas pelo território português e a qualificação de todos os principais envolvidos com o sector equestre (as coudelarias, os centros hípicos, os criadores, as escolas, os profissionais) constituem um valor precioso existente para o consistente desenvolvimento do turismo equestre. Alguns caminhos abertos pelos portugueses com as suas montadas, ao longo dos séculos, para poderem ligar o litoral ao interior, o norte ao sul ainda existem hoje em dia, embora muitos já só em pequenos troços ou vestígios, podendo ainda assim constituir uma enorme mais valia do ponto de vista do turismo equestre. E a verdade é que vários destes troços se localizam na proximidade de alojamentos de Turismo Rural. Assim, há enorme potencial para desenvolver um novo produto turístico assente numa rede de percursos equestres, no entanto, importa dinamizar a criação e marcação de percursos próprios, sinalizá-los, criar uma homologação que garanta a sua qualidade e ainda garantir a sua manutenção. Importa também desenvolver estudos, planear, apurar da qualificação profissional, favorecer a criação de novos equipamentos em localização estratégica e promover planos de marketing. Devem ser exploradas as mais ousadas parcerias envolvendo o sector privado e o sector público, tendo em vista a 47 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 dinamização integrada de produtos inovadores em torno do turismo equestre em ambiente rural. O turismo equestre, assentando no mundo do cavalo, desenvolve-se em dois formatos principais: o turismo a cavalo: baseia-se na convivência entre cavaleiro e cavalo, com o desfrute de passeios, excursões a cavalo ou até lições de equitação; o turismo em torno do cavalo: remete-nos para feiras, exposições, visitas a explorações e festivais equestres. A nossa atenção nesta análise vira-se prioritariamente para a promoção de jornadas de passeio a cavalo – passeios e raids - para turistas baseados na rede de alojamentos rurais, por ser esta a componente geradora de negócio, diretamente associável ao Turismo Rural. O interesse no desenvolvimento desta rede de Turismo Equestre interligada com o Turismo Rural é potenciado pela atração que é suscitada por várias das raças autóctones de cavalo de Portugal, especificamente o Puro Sangue e o Lusitano, bem como as raças Garrana e Sorraia. É um campo com enorme potencial por explorar. 48 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 3.4 Contributos da Rede de Vias Panorâmicas Paisagens à vista Onde tudo está por fazer Quanto vale uma paisagem do ponto de vista turístico? Como se transforma uma panorâmica incrível num recurso rentável do ponto de vista turístico? Apesar de Portugal ser um país de paisagens riquíssimas e extremamente diversas, que cria uma manta de retalhos paisagística de grande valor, não existem ainda infraestruturas organizadas do ponto de vista turístico que permitam dizer que temos uma oferta de turismo panorâmico. A oferta no que respeita ao turismo panorâmico em Portugal limita-se, na realidade, aos milhares de miradouros espalhados pelo país, mas que por si só, desenquadrados, possuem um valor extremamente reduzido. Podemos ter paisagens fantásticas e pontos de observação com panorâmicas excecionais, mas não existindo informação específica e centralizada sobre onde estão e quais as suas características, estes tornam-se quase impossíveis de encontrar por quem não possui um bom conhecimento do território e por isso não podem sequer ser considerados como recursos turísticos. Para que se possa falar de uma rede de vias panorâmicas falta fazer praticamente tudo. Falta em primeira instância fazer um levantamento sistematizado das vias com maior potencial para serem exploradas do ponto de vista turístico devido às suas qualidades panorâmicas. Neste aspeto, apesar de que quando pensamos em vias panorâmicas remetermos o nosso raciocínio diretamente para a mobilidade automóvel ou por estrada, não devemos esquecer outras formas de mobilidade que poderão constituir meios importantes para este tipo de turismo, como o combóio e o barco. Como no caso específico desta rede não existem ainda produtos operacionais em Portugal, de seguida aborda-se de forma breve, as principais tarefas a desenvolver para a criação da oferta de vias panorâmicas. O primeiro passo no desenvolvimento de uma rede de vias panorâmicas é o levantamento exaustivo e detalhado de todas as vias com potencial interesse panorâmico e a avaliação das mesmas. Estas vias podem ser avaliadas segundo diversas perspetivas,no entanto existem critérios que têm de ser obrigatoriamente referidos como: o tipo de via, as características diferenciadoras da paisagem, a diversidade de paisagens abrangidas, a existência ou não de locais de paragem e estacionamento e a quantidade de tráfego. Depois de avaliadas as vias, há que selecionar as de maior interesse, na ótica da estratégia de desenvolvimento definida, tendo também em consideração a perspetiva de rede, ou seja, deve ao máximo tentar que haja pontos de ocmunicação entre as diferentes vias, criando linhas de continuidade. Feita a seleção, o próximo passo será a produção dos materiais informativos e de divulgação, bem como da imagem associada às vias. Note-se que não é de forma aleatória que se coloca esta produção dos materiais informativos numa fase anterior à sinalização. 49 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 De facto, do ponto de vista turístico, é mais importante criar a informação, mesmo que a via não esteja sinalizada no terreno, do que sinalizar e depois não ter informação disponível. 3.5 Contributos da Rede de Alojamentos em ambiente rural O difícil é escolher, cada casa é um convite diferente para entrar no campo Quanto vale um alojamento rural? Qual o seu real valor turístico? E quanto pode valer esse mesmo alojamento se estiver inserido numa rede que potencie a sua gestão turística? Há um enorme grau de imprevisibilidade sobre a evolução da maioria dos negócios de alojamento rural. Seguramente, uma percentagem dos cerca de mil alojamentos existentes atualmente em Portugal consegue ter o negócio consolidado, mas na maioria dos casos, será muito difícil articular as muitas variáveis que influenciam o volume da atividade e quota de mercado, de modo a conseguir-se uma previsão realista do volume de negócios. Isto deve-se à natureza pulverizada da atividade, juntamente com a escala de micro-empresa em que operam e à dependência de promoção própria, que limitam a capacidade destes empresários para investir e procurar reduzir riscos. Por outro lado, do ponto de vista do cliente, a incerteza é também um fator crítico: como avaliar a qualidade do alojamento e saber o que esperar, se não há um sistema de classificação como na hotelaria tradicional? Noutros países, foi já realizado este investimento, tendo sido canalizado através das associações de Turismo Rural homólogas da PRIVETUR e que são membros da EUROGITES, com resultados positivos do ponto de vista da procura. O mercado do alojamento no campo tem evoluído nos últimos anos, com diversas casas a encerrarem atividade e outras, neste mesmo período, a abrir ao público. Muitas destas novas unidades encaram este negócio de uma forma mais atual e fazem-no de origem, desde o desenho do seu modelo de negócio, sendo assim unidades que procuram absorver as novas tendências do turismo, sendo que, cada uma à sua escala, de forma mais profissional ou mais intuitiva, deixam para trás o modelo de negócio que orientava há uns anos o alojamento rural. E assumem que o turista não sai de casa para ir dormir. Reconhecem, por isso, a importância dos serviços turísticos complementares, serviços básicos e serviços especializados procurando associar à estadia algo para fazer, eventualmente sob a forma de propostas relacionadas com verdadeiras experiências de contacto com o campo, a ruralidade ou a natureza. Do ponto de vista deste estudo, interessa-nos particularmente analisar não cada caso individualmente, mas sim o potencial turístico da afiliação dos alojamentos em rede e da sua articulação com as outras quatro redes em análise. Ainda que sem valores comparativos para o cenário nacional, é intuitivo pressupor que a integração numa rede operacional orientada para desenvolver o Turismo Rural, diminuirá, à partida, alguns dos imponderáveis e das fragilidades que resultam da micro-gestão de casas isoladas. 50 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Fonte: Turismo de Portugal. INE. 2011 Figura 2 – Distribuição nacional do alojamento O funcionamento dos alojamentos em rede surge assim como uma oportunidade para: Num mercado muito segmentado, é essencial fazer o targeting do produto turístico. Melhorar a gestão da oferta com mais robustez, escala e eficácia; Providenciar maior visibilidade da oferta; Criar oportunidades de negócio, quer em serviços básicos quer em serviços turísticos de suporte e especializados; Desenvolver parcerias locais dinâmicas para melhorar a qualidade da oferta, Desenvolver produtos turísticos inovadores; Aumentar a atratividade do Turismo Rural; Contribuir para a afirmação de destinos turísticos. Depois de escolhido um posicionamento adequado à identidade que caracteriza o espaço e o tipo de hospitalidade oferecida pelo alojamento, importa adequar uma rede de serviços e produtos complementares, básicos e especializados, que darão suporte à proposta de valor e contribuirão para a qualidade da oferta global da casa. Algumas regiões do país apresentam maior concentração de alojamentos rurais, posicionando-se, à partida, como áreas onde é mais fácil organizar produtos com multi-alojamento, presumindo-se que haverá aí maior diversidade de alojamentos e maior capacidade para corresponder a perfis na segmentação: Portugal tem custos muito competitivos para serviços, pelo que facilita a criação de um bom pacote de serviços básicos e complementares, ainda a preços aliciantes, que vem aumentar a qualidade da oferta e constituir-se como um fator diferenciador em relação à concorrência de outros destinos de Turismo Rural, como Espanha e França. 3.5.1 Identidade do alojamento A diversidade e personalização é um dos aspetos mais interessantes que distinguem o alojamento rural, mas para que este conceito se transforme num benefício para o proprietário de um alojamento, é importante que este dedique algum esforço na identificação clara da proposta de valor individual. Naturalmente, na comunicação para o público, nos sites e folhetos de apresentação, procura-se mostrar o que o alojamento tem de melhor – a arquitetura e decoração da casa, a envolvente, os serviços turísticos, detalhes sobre a hospitalidade, o ambiente geral. Contudo, tratando-se de um negócio 51 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 onde há claro excesso de oferta em relação à procura, haverá mais a fazer pela comunicação da proposta de valor em causa. Qual é realmente o principal motivo para se escolher uma qualquer determinada proposta em detrimento de outras? Falta talvez alguma agressividade e vitalidade no marketing dos alojamentos rurais, que se coíbem de usar todos os instrumentos à sua mão para promover a sua oferta. Existe uma outra razão para investir na definição de uma identidade para o alojamento: esse trabalho é extremamente útil na operacionalização do marketing. Efetivamente e antes do mais, essa é a base que ajudará o trabalho de segmentação, de targeting e de clienting que deve orientar criação de produtos turísticos complementares e a organização da oferta. Este trabalho é também crucial para a composição de produtos turísticos em formato rota e que envolvam a proposta de alojamento em mais do que uma casa: importa estabelecer critérios de adequabilidade desses alojamentos ao tipo de produto/experiência e ao segmento a que se destina. 52 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 3.5.2 Motivação O turista rural procura uma viagem experiencial de contacto com o campo e que lhe permite quebrar rotinas urbanas, podendo estar mais interessado numa viagem de relaxamento e tranquilidade, ou em alternativa, em atividades mais participativas ou físicas que exploram ativamente o campo. Enquanto factores diferenciadores presentes na ultra-segmentação da oferta, importa ainda comunicá-los de forma assertiva, facilitando o acesso direto ao tipo de clientes a que se pretende chegar. Do mesmo modo, durante a sua estadia no alojamento, o turista pode valorizar mais a tranquilidade e a privacidade nos espaços exteriores da propriedade ou gostar de sentir a vitalidade do espaço (atividades agrícolas, horta, jardinagem, workshops para turistas, etc.). Alguns destes turistas são particularmente exigentes em relação aos valores paisagísticos da área de inserção do alojamento, mas este é um tipo de turismo no qual a valorização da qualidade da paisagem é uma constante. Existem, no entanto, alguns factores que podem ser apresentados como diferenciadores da oferta em alojamento rural: a ruralidade; a proximidade a valores naturais como fauna, flora, elementos geológicos, habitats específicos; tradicionalidade das características do alojamento; diferentes tipologias e graus de conforto. Do mesmo modo, turistas provenientes de diferentes mercados valorizam de forma diferenciada aspetos particulares a que importa estar atento na ultrasegmentação da oferta. 53 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 4. Linhas Orientadoras – conhecer as Valências Próprias No desenvolvimento de uma oferta turística que seja integradora de diferentes valências, mas ao mesmo tempo diferenciadora e direcionada a targets específicos, é necessário, em primeira instância, fazer uma análise profunda e detalhada do que são as valências próprias de quem desenvolve o produto e dos recursos que o rodeiam. É do correlacionamento desta análise com os aspetos diferenciadores do alojamento rural que se tornam óbvios quais os pontos fortes do alojamento e qual a melhor forma de os explorar. De forma a facilitar esta análise, foi criada uma checklist (disponível para os sócios PRIVETUR) que elenca um extenso leque de valências que os alojamentos podem possuir ou ambicionar em possuir como forma de resposta ajustada a cada uma das redes analisadas. Estas valências encontram-se relacionadas com os fatores que consideramos diferenciadores do alojamento rural. Servem para os potenciar. A checklist pode ser utilizada de duas formas distintas pelo promotor do alojamento rural: Como forma de identificação das valências estratégicas que possui e definição da(s) rede(s) ou driver(s)do turismo que melhor se adequa(m) à sua oferta e que, por isso, deverão desenvolver Como forma de identificação das características que deverá possuir para se apresentar como um ator de referência na rede ou driverdo turismo no qual se pretende posicionar Esta checklist, usada da forma correta deverá ter associada uma escala temporal, considerada adequada pelo promotor, no sentido de entender quais as valências que entende possuir no momento atual e quais aquelas que pretende vir a criar ou trabalhar e em que espaço de tempo. Aliando a informação que retirará desta ferramenta e aquela que advirá das restantes ferramentas associadas ao Modelo 5x5, o promotor e empreendedor de Turismo Rural poderá definir diferentes cenários, que levem em consideração não só as valências próprias, mas também o território, o cliente e os parceiros. São quatro os fatores críticos de sucesso para o Turismo Rural: A arte de bem receber A proximidade aos recursos A autenticidade A rede de parceiros locais 54 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 6. Conhecer os Clientes e definir o Posicionamento No decorrer da identificação de todas as valências que vão caracterizara aposta de posicionamento do alojamento empreendedor e conduzir a sua potenciação, é essencial dedicar tempo a avaliar os mercados e a perceber quais os que queremos trabalhar ou, em última instância, podemos trabalhar. O Produto Turístico Temático que emerge do Projeto 5x5 corresponde a uma oferta de cariz transversal, sem barreiras territoriais e geopolíticas de qualquer género. Pretende-se que a oferta traga luz às mais-valias existentes na troca de experiências, de conhecimentos e até de clientes, promovendo ‘o que é de todos’ e não apenas ‘o que é de cada um’. Deverá portanto funcionar como uma ferramenta facilitadora que guiará os empreendedores atuais e futuros no desenvolvimento ou consolidação do seu negócio, uma vez que foi criada para definir quais os principais fatores a ter em conta na altura de autonomamente desenvolverem a sua própria oferta integrada. Por estar fortemente assente na ótica de redes, estes novos produtos surgem associados a uma base de dados ampla de ‘fornecedores de serviços’ que em conjunto criarão então ‘A’ experiência (vide Base de Dados Geográfica GE). A PRIVETUR passará a poder disponibilizar aos seus associados uma plataforma dinâmica que a qualquer momento permitirá dar resposta às suas necessidades de enquadramento territorial dos produtos. Depois de conhecidos os vetores estratégicos que regem o fortalecimento de um conceito comum, apresentam-se agora os parâmetros que dão seguimento a este novo modelo de construção de oferta para o turismo em ambiente rural e que têm por objetivo funcionar como guia para os empreendedores. Assente no pressuposto do levantamento atualizado da oferta complementar ao alojamento em Turismo Rural, no que concerne às redes, mas também a outras valências de importância temática, de acordo com o trabalhado apresentado no ponto anterior, este ponto surge como um exemplo paradigmático de serviço que a PRIVETUR deverá prestar aos seus associados. Assim, e de acordo com a lógica das cinco redes, definiram-se cinco parâmetros que importará ter em conta na altura da criação de uma oferta integrada (vide Figura 3, página seguinte) quando se pretende analisar os clientes potenciais. Estes parâmetros são: 5 Redes Advém da designação do projeto propriamente dita e da importância que as redes já identificadas - Casas de Turismo Rural, vias Cicláveis, vias Pedestres, vias Panorâmicas e vias Equestres - podem assumir na estruturação da oferta e na afirmação da marca associada à Ruralidade. É nelas que se colocará o enfoque, pois são elas que estruturam o território numa lógica que permita definir o que é mais interessante para cada público-alvo, mas também para cada alojamento, tendo em conta as suas características e valências específicas, sendo que estas nos remetem para a Tipologia. 55 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Tipologia 5 Redes Grupos Duração Perfil Figura 3 – Infografia de base para o modelo 5x5, na lógica do cliente Tipologia A Tipologia refere-se essencialmente ao ambiente e experiência intrínseca que um determinado alojamento de turismo em ambiente rural proporciona aos seus clientes e que por si só poderá ajudar a fazer uma primeira segmentação dos turistas que o procuram, de modo a que dele retirem a melhor experiência. Não se seguiu, portanto, uma lógica estritamente legislativa. Optámos estrategicamente pela classificação como ‘Turismo de Habitação’, ‘Traça Rústica’, ‘Design’, ‘Hotel Rural’, ‘Agroturismo’ e ‘Cabanas/Ninhos’. Todas estas designações têm cabimento conceptual na lógica da Ruralidade, enquanto conceitos que queremos potenciar. - Turismo de Habitação: Solares ou casas apalaçadas localizadas em ambiente rural, habitadas pelos proprietários, e que assumem um cariz familiar mas requintado, onde a vivência do antigamente é transmitida pela riqueza patrimonial e cultural do imóvel. De dimensões reduzidas estará principalmente orientado para pequenos grupos ou casais. 56 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - Traça Rústica: Correspondem a imóveis ostensivamente rurais, onde a traça foi preservada para trazer à vida tempos de antigamente. Correspondem a alojamentos de pequena dimensão que por vezes sacrificam espaço de dormidas para garantir a manutenção de determinados espaços-museu, como eiras, casas de gado ou lagares que são preservados para memória futura. Será talvez, a mais consensual das tipologias, pois terá alma e estrutura suficientemente elástica para receber todos os tipos de público. Enquadram-se aqui a maioria dos alojamentos de turismo rural. -Design: O princípio desta tipologia é aliar o ambiente rural de uma casa no campo, com a modernidade e design que hoje tão pacificamente podem coabitar em determinados espaços. Preservando a traça original, mas providenciando uma nova vida e glamour aos espaços, estes correspondem a alojamentos que estimulam os sentidos a todos os níveis. O minimalismo poderá contrastar com a rudeza dos materiais tipicamente usados nas construções de antigamente e o contacto com o exterior é muitas vezes estendido para o interior como se o cliente fizesse parte da natureza envolvente. - Hotel Rural: De traça antiga ou moderna, mas necessariamente integrado na paisagem rural, correspondem a empreendimentos de maiores dimensões e portanto perfeitamente adaptáveis a grupos mais alargados. - Agroturismo: Esta tipologia agrega as valências de um alojamento em ambiente rural com as atividades agrícolas propriamente ditas, que nele decorrem, não como atividades turísticas complementares mas como atividades de negócio principais, nas quais os turistas deverão ser integrados e envolvidos. Assume um carácter muito pedagógico e o contato com a terra atinge aqui o seu auge. - Cabanas e ninhos: O carácter particular desta tipologia é por si só bastante segmentador. São claramente uma minoria quando comparados, em número, com as restantes tipologias, mas são suficientemente atrativos para constituírem uma categoria por si próprios. Desde casas de madeira isoladas no meio da floresta, a yurts ou moinhos, correspondem a espaços de algum isolamento, plenos de conforto, onde o convite à introspeção é uma das principais características. Duração A duração da estadia é fundamental na segmentação dos mercados, e na altura de decidir qual a oferta integrada que se vai oferecer aos clientes é fundamental perceber como é que a oferta se constrói tendo em conta as limitações temporais. Na lógica deste estudo, definiram-se quatro classes temporais: duas noites (fim-de-semana); três noites (fimde-semana prolongado); seis noites (mini-férias); e catorze noites (férias alargadas). Grupos A mesma atenção que se terá que ter para com a Duração da estadia é essencial que venha a ser tida para o tipo de grupos de clientes que procuram a oferta. Neste modelo distinguimos os grupos mais conspícuos, que são os Casais, as Famílias e os Grupos, enquanto classes propriamentes ditas. As necessidades de cada tipo são muito distintas, pelo que os pontos a ter em conta para criação de oferta para cada um terão que ser igualmente diferentes, como pode ser verificado na checklist apresentada anteriormente. 57 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Perfil Este parâmetro, podendo assumir uma complexidade difícil de ultrapassar, foi dividido em apenas duas classes: Contemplativos e Ativos. A lógica de associar o factor idade a um determinado perfil encontra-se hoje em desuso, sendo inclusivamente um erro usá-la, pois a chamada golden age consegue muitas vezes assumir um carácter mais ativo do que as classes mais jovens. Este é portanto um compromisso que servirá o propósito de segmentar clientes e consequentemente as atividades que lhe serão propostas, sem que se recorra ao espartilho da idade, mas que deve ser entendido numa perspetiva de prática ocasional em oposição a uma prática mais dedicada das atividades ou motivações para a viagem. Corresponde ainda a um parâmetro cujo entendimento viverá muito da capacidade de leitura dos clientes que se apresentam perante o empreendedor, mas é igualmente uma forma de personalizar a oferta e, com isso, garantir a satisfação dos clientes. Partindo do pressuposto de que existe um aprofundado autoconhecimento acerca das características da casa que se gere e que se conhece igualmente o público com quem se trabalha maioritariamente, ou ainda um novo mercado que se quer atrair, conseguiremos posicionar-nos de modo a melhor enquadrar cada tipo de oferta nos vetores estratégicos. A tabela seguinte resume os parâmetros que o empreendedor deve ter em conta na fase inicial de organização da oferta para cada driver do turismo em que aposte e que irá adaptar ao seu cliente-tipo ou gama de clientestipo. 5x5 Tipologia Duração Grupos Perfil Pedestre T. Habitação 2 noites Casais Ativos Ciclável Traça Rústica 3 noites Famílias Contemplativos Panorâmica Design 6 noites Grupos Equestre Hotéis Rurais 14 noites Casas Agroturismo Cabanas/ ninhos Tabela 1 – Parâmetros para a organização da oferta Posto isto, para além dos parâmetros indicados até aqui, importa ainda referir que o modelo foi construído tendo por base as características dos mercados emissores que, de uma forma genérica, apresentam maior potencial e interesse de captação. Tal como já foi referido anteriormente estes são: Escandinávia – Noruega, Finlândia, Dinamarca EU Central – Alemanha, Holanda e Bélgica EU Sul – França, Itália, Espanha Reino Unido Portugal Brasi 58 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 6. Descodificando o Modelo – os Parceiros e o Território Conhecendo os pressupostos que servem de base ao modelo 5x5, na ótica do cliente, ou seja a hiper-sementação por temas em função dos drivers ou vetores estratégicos, e os parâmetros que guiarão o posicionamento de cada alojamento na oferta que melhor responde aos seus clientes-tipo, é importante que os agentes promotores de um novo Turismo Rural conheçam, à partida e de forma aprofundada, os parceiros e o território com quem vão trabalhar e onde se pretendem movimentar. assume um papel preponderante nesses locais. Essa classificação alia a Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP) e ainda a Rede Natura 2000, a rede europeia criada especificamente para esse fim. A RNAP, atualmente regulada pelo Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de Julho, é formada por diversas tipologias de áreas protegidas, umas de âmbito nacional, outras de âmbito regional-local e ainda outras de âmbito privado. Essas tipologias são: Parque Nacional Parque Natural Reserva Natural Paisagem Protegida Monumento Natural Esse território é caracterizado paisagisticamente, demograficamente, logisticamente, administrativamente e ainda,sujeito a instrumentos de classificação territorial e de desenvolvimento turístico, e é importante que a PRIVETURforneça informação assertiva aos seus sócios, de acordo com cada realidade. As AP de âmbito regional-local podem assumir qualquer uma das quatro últimas formas, seguida do epíteto local ou regional, sendo que as privadas se designam por Área Protegida Privada. No fundo, se motivados para a criação da oferta em rede, que se diferencie pelas características de cada cliente ou grupos de clientes, os empresários de alojamentos em ambiente rural conseguirão de forma facilitada ter acesso a informação privilegiada, recorrendo à PRIVETURque, com base na sua ferramenta de Google Earth poderá em tempo útil descrever de forma macro as características da região que o seu associado pretende trabalhar. Já a Rede Natura 2000 correspondea ‘uma rede ecológica para o espaço Comunitário da União Europeia resultante da aplicação das Diretivas nº 79/409/CEE (Diretiva Aves) e nº 92/43/CEE (Diretiva Habitats) e tem como finalidade assegurar a conservação a longo prazo das espécies e dos habitats mais ameaçados da Europa, contribuindo para parar a perda de biodiversidade’. Há várias características do território a tomar em consideração: Constituindo o principal instrumento para a conservação da Natureza na União Europeia, a Rede Natura 2000abrange territórios terrestres e marinhos e é composta por: Áreas classificadas Como já foi referido anteriormente, 1/5 do território nacional encontra-se classificado de alguma forma, o que significa que a conservação da Natureza 59 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Zonas de Proteção Especial (ZPE), que se destinam essencialmente a garantir a conservação das espécies de aves, e seus habitats, listadas na Diretiva Aves; Zonas Especiais de Conservação (ZEC), que têm como objetivo ‘contribuir para assegurar a Biodiversidade, através da conservação dos habitats naturais (anexo I) e dos habitats de espécies da flora e da fauna selvagens (anexo II), considerados ameaçados no espaço da União Europeia’. Em Portugal, as ZEC que se encontram formalmente classificadas são ainda em número reduzido, no entanto, a proposta de Sítios de Importância Comunitária, que conduzirão à criação formal dessas ZEC, é tida como de extrema relevância para a conservação desses locais. Importa que os empreendedores conheçam as entidades que gerem o território e qual o seu papel nessa gestão. As entidades que importa salientar são: ▪ Entidades Regionais de Turismo A publicação do Decreto-Lei n.º 67/2008, de 10 de Abril, criou cinco áreas regionais, que refletem as áreas abrangidas pelas NUTS II – Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve. Para além disso, encontram-se ainda definidos os pólos de desenvolvimento turístico, integrados nas áreas regionais – Douro, Serra da Estrela, Leiria-Fátima, Oeste, Litoral Alentejano e Alqueva. Estas entidades, de acordo com o Turismo de Portugal, ‘são responsáveis pela valorização turística e pelo aproveitamento sustentado dos recursos turísticos das respectivas áreas’. ▪ Câmaras Municipais As Câmaras Municipais são, a par com as ADL, as entidades que estão mais próximas dos empreendedores. Os processos de licenciamento de novos projetos de alojamento correm sob a sua supervisão, mas acima de tudo deverão ser elas as principais dinamizadoras de qualquer nova oferta turística, potenciadora do desenvolvimento sustentável do seu território, enquanto agentes macro de comunicação. Cabe-lhes ainda analisar e eventualmente integrar projetos que tragam valor à região na sua estratégia de promoção turística, englobando estruturas já existentes e avaliando a hipótese de criação de outras que se justifiquem dentro do quadro dessa mesma estratégia. Estas áreas classificadas são ex-libris naturais que não podem ser ignorados na altura de criar uma oferta turística, daí que todas elas tenham sido identificadas na ferramenta em Google Earth, especificamente para a zona piloto do estudo. Entidades com influência no território Outra questão que deve ser tida em conta na hora de criar uma oferta integrada pretende-se com ter a perceção de quais as entidades que poderão estar envolvidas na gestão de um determinado local ou recurso turístico. A PRIVETURpode assumir aqui, uma vez mais, um papel preponderante enquanto elo de ligação, entre a força de ação no terreno e essas entidades supra, ganhando uma vez mais ascendente na sua utilidade percebida por potenciais associados. 60 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ▪ ▪ ▪ Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) Ao ICNF, I.P.compete a gestão das Áreas Classificadas definidas no ponto anterior. Revela-se particularmente importante como fonte de informação na hora de criar uma oferta que integre, e deve integrar sempre que possível, essas áreas. Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) O IGESPAR, I.P. foi criado através do Decreto-Lei nº 96/2007 de 29 de Março tendo por missão ‘a gestão, a salvaguarda, a conservação e a valorização dos bens que, pelo seu interesse histórico, artístico, paisagístico, científico, social e técnico, integrem o património cultural arquitectónico e arqueológico classificado do país’. Tal como o ICNF, deve ser considerado como um excelente local de pesquisa acervo de informação que permitirá consolidar a informação, relativa ao património edificado e arqueológico, que se poderá associar à nossa oferta. Associações de Desenvolvimento Local (ADL) Estas são entidades altamente conhecedoras do território em que se inserem. Conhecê-las é, em muitos casos, conhecer o que de mais genuíno existe na região e é uma excelente forma de conhecer os melhores parceiros para a nossa oferta integrada, quer sejam artesãos, produtores locais ou caminheiros, que conhecem os segredos da região melhor do que ninguém. Não serão as únicas, mas através das ADL conseguir-se-á com grande facilidade selecionar determinadas atividade que confiram um cariz de híper-segmentado e diferenciador à nossa oferta. Marcas de importância turística Na altura de desenvolver a oferta existem outras questões que não podem, nem devem ser ignoradas. No panorama do turismo português existem marcas turísticas que, quer estejam associadas a infraestruturas simples como os Caminhos de Santiago ou a Via Algarviana - ou a outras mais complexas como: os Polos Turísticos (de que são exemplos a Serra da Estrela ou o Alqueva); projetos já desenvolvidos e trabalhados (como as Aldeias do Xisto e as Aldeias Históricas); as Áreas Classificadas Naturais e o Património Mundial da UNESCO; ou até cidades emblemáticas (como Coimbra), não podem nem devem ser ignoradas. Estes valores turísticos vivem por si só, e podem contribuir para alavancar o desenvolvimento do Turismo Rural que os rodeia, pelo que é crucial que sejam tidos em conta. Acessibilidades Por último, existe ainda uma outra questão à qual conferimos grande importância na construção da oferta baseada no Modelo 5x5 e que diz respeito à mobilidade. De tal forma que, quatro das cinco redes estão diretamente associadas a este aspeto. Na ferramenta de GE são identificadas as infraestruturas mais conspícuas já existentes no território associado ao projeto-piloto, mas naturalmente, qualquer aporte fornecido pelo conhecimento muito particular que os empreendedores tenham da sua envolvente irá criar valor à sua oferta. Em redor da rede das casas gravitam as redes pedestres, equestres, cicláveis e panorâmicas, todas elas 61 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 promovendo a abolição de fronteiras e impossibilidades na satisfação das necessidades particulares dos clientes. Conhecendo os acessos que servem o alojamento, desde caminhos pedestres, a vias de bicicleta, a estradas panorâmicas ou de acesso a hotspots, passando por vias ferroviárias de interesse, todas elas devem fazer parte da estratégia de desenvolvimento da oferta. Reside aqui um dos maiores segredos de todo o modelo: é através das acessibilidades que as palavras chave – tempo, caminho, hotspot e momento – se fundem para criar a oferta, de forma qualificada e eficaz. Numa perspetiva de experiência integral de turismo rural, será particularmente relevante incluir na criação da oferta a ponderação sobre o acesso do turista desde o momento de início da viagem. A PRIVETUR pode aqui servir uma vez mais de base de informação, providenciando uma resposta rápida a qualquer um dos seus associados que a determinado momento queira dar uma resposta integrada a uma solicitação particular de um cliente. Independentemente disso, já discutimos a importância que as ADL podem assumir no que a este ponto em particular diz respeito, mas cabe a cada empreendedor identificar também parceiros que não estão cobertos por nenhuma associação, mas que poderão fazer toda a diferença na sua oferta, desde enoturismos de maiores dimensões, a outros alojamentos rurais que, numa lógica complementar, permitam alargar a extensão do itinerário, garantindo que a oferta responde ao mais ínfimo pormenor aos desejos dos clientes. É ainda importante não esquecer o papel fundamental que as Empresas de Animação Turística locais podem igualmente assumir na qualificação desta oferta. A mobilidade suave e o driver Viajar Devagar criam, por si só, oportunidades para a inovação na oferta. Parceiros Ora se é de redes que estamos a falar, e depois de analisadas todas as condicionantes e potencialidades do território em causa, há que definir de forma ponderada quem são os parceiros que cabem no conceito que estamos a desenvolver e quais aqueles que respondem mais diretamente às necessidades e desejos que queremos ver respondidos no que toca aos nossos clientes. Estes são especiais nas suas particularidades e é por elas que importa construir uma rede de parceiros o mais alargada possível. Figura 4 – Iconografia representativa das parcerias potenciais Como ferramenta facilitadora, a par da checklist de enquadramento e de avaliação de potencial face às infraestruturas disponíveis, e com o Google 62 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Earth onde aparecerão os recursos turísticos associados a cada uma das redes, desenvolvemos ainda a seguinte tabela a ser preenchida pelos promotores para cada produto turístico temático que desenvolverem e que agrega cada valência associada às redes, mas também a outros interesses, como é o caso das áreas classificadas. PRODUTO TURÍSTICO TEMÁTICO X TER ADL Outras Empresas Câmaras Associações de AT Municipais Outros Percursos Pedestres Ciclovias/ Percursos Cicláveis Pólos de Equitação Vias Panorâmicas Outros Interesses Nº unidades TER Associadas - Y Tabela 2 - Quadro orientador da distribuição temática que compõe a oferta, por parceria Esta matriz providenciará uma leitura rápida da capacidade de resposta oferecida pelos diversos stakeholders relativamente à oferta integrada que se 63 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 quer apresentar, para além de permitir avaliar lacunas que poderão ser colmatadas previamente ao lançamento do produto. Acrescenta ainda a informação relativa a quantos parceiros de alojamento se juntam ao produto. Relativamente às unidades de Turismo Rural que lhe servem de base, poderá ainda revelar-se útil levar em linha de conta parâmetros como Proximidade Oferta Paralela Qualidade Verificada Aproximação aos Valores da Sustentabilidade 64 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Mas é no cruzar da matriz anterior com os drivers que compõem a resposta aos diversos clientes que se encontra a inovação e a força do Modelo. Do cross-chart, em formato de matriz dupla, que se apresenta seguidamente, retira-se assim toda a informação essencial sobre ‘Como Fazer?, O Que Fazer? E Quem Faz?’. Cliente Surge assim uma matriz de dupla entrada, a preencher para cada Produto Turístico Temático que o empreendedor pretenda desenvolver, de acordo com a tabela seguinte. A oferta ficará assim caracterizada, tornando-se fácil identificar pontos fortes e lacunas a colmatar, em particular no que refere aos parceiros, já que a componente de análise do cliente deverá derivar em grande parte do correto preenchimento da checklist. Driver/ Vetor Estratégico 5x5 Tipologia Duração Grupos Perfil Pedestres T Habitação 2 noites Casais Activos Bikes Traça Rústica 3 noites Famílias Contemplativos Panorâmico Design 6 noites Grupos Equestre Hotéis Rurais 14 noites Casas Agroturismo Produto Turístico Temático X Parceiros TR ADL AT CM Outros Nome do Produto Cabanas/ ninhos Tabela 3 – Matriz dupla de iteração entre o Produto Turístico e os parâmetros focados no Cliente e entre esse mesmo Produto Turístico e a caracterização dos Parceiros 65 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 7. Bases para Inovar Depois de, nos pontos anteriores, se ter mostrado o caminho proposto para os promotores do alojamento rural no processo de criação de uma oferta diversificada, integrada e adequada ao que serão à partida as valências disponíveis, os principais mercados emissores, bem como os principais públicos alvo e também os potenciais parceiros disponíveis, é importante reforçar o papel da iniciativa individual, a ambição, coragem e imaginação para fazer algo novo. 7.1 Inovação associada aos Promotores de alojamento rural Cada Casa é um caso e, cada um dos promotores deverá ter a capacidade de olhar para a sua realidade e para o que o rodeia e perceber e articular vários fatores: onde se encontra, a identidade comum da região ou destino turístico, o que deve caracterizar a identidade do seu próprio negócio e os fatores que podem ser diferenciadores. Muito possivelmente, ocorrer-lhe-ão diversas hipóteses para caminhos a seguir. Algumas serão mais tradicionais, outras serão mais inovadoras. Mesmo procurando diferenciar-se de algum modo da sua concorrência, importa ter em vista qual a relevância que pode ter o distanciamento em relação a outras propostas de valor e qual o caminho que poderá escolher de forma segura, sem arriscar colocar em causa a qualidade da sua oferta. Existem diversos campos em que um alojamento pode procurar diferenciar-se ou evidenciar no mercado, com maior ou menor grau de sucesso, custos e eficácia: 7.1.1 Produto Fatores diferenciadores do produto: Programas exclusivos e programas com qualidade adicional deserviços especializados (mais conhecimento, mais autenticidade, mais singularidade da experiência) Experiências únicas. O fator imprevisibilidade na entrega do serviço em toda a sua extensão pode aumentar, sem que isso seja um fator negativo, desde que esteja previsto um nível aceitável de cumprimento – é o caso do birdwatching ou da expectativa de contacto não agendado com habitantes locais Prestação de serviços complementaresde apoio únicos, ou extremamente completos, ou muito personalizados (antes, durante e após o consumo), ou, ainda, de preço competitivo, abrindo a oportunidade a novos mercados que habitualmente não os podem adquirir (democratização do luxo) Destacam-se ainda os serviços e conteúdos destinados a reduzir a perceção de risco pelo cliente e a sensação de que o produto não se ajusta ao seu perfil 66 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Alteração de uma ou várias das componentes que tipicamente integram um determinado produto turístico, de forma a diversificar o mercado potencial Recurso a tecnologias inovadoras Produto baseado num recurso turístico pouco explorado, mas que apela a algum segmento de mercado Em Portugal, há um longo caminho a percorrer neste campo, o que fragiliza o pequeno negócio de Turismo Rural. Importa destacar o trabalho realizado de promoção interna e externa e o potencial direto,em cada caso, para ser potenciado pelo Turismo Rural, quer seja de forma individual e desagragada ou em rede. 7.1.4 Mercado: segmentação, ultra-segmentação e targeting 7.1.2 Parcerias/ Networking Fatores potenciados pelo trabalho em rede: Integração num produto turístico temático específico e englobando multi-alojamento Visibilidade no mercado por integrar um cluster de produto ou um clube de produto (associado a um tema ou a uma região ou a ambos) Acesso à rede de clientes de um dos parceiros No caso de negócios que já amadureceram o seu contacto com os mercados: a capacidade de diferenciação pode resultar da auscultação preferencial junto destes mercados e da captação antecipada de oportunidades para a inovação (tipicamente, serão ajustes no produto ou melhoramentos no pacote de serviços). De todo o modo, a possibilidade de retenção de clientes no Turismo Rural poderá não ser significativa na maioris dos casos, mas o efeito recomendação boca-a-boca, esse sim, é expressivo. Posicionamento exclusivo e válido dentro de um cluster reconhecido. 7.1.5 Fatores críticos de sucesso 7.1.3 Ancoragem estratégica Ancoragem a marcas turísticas que adquiriram já valor no mercado: destinos turísticos associados a micro-destinos, rotas temáticas,regiões, países. Quais são então os requisitos fundamentais para que esta diferenciação seja bem sucedida? Conhecer muito bem, não só os clientes atuais, mas também e sobretudo, aqueles que se pretende alcançar com esta diversificação, de forma a ir de encontro aos seus interesses e expectativas 67 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Tentar tornar os fatores diferenciadores o mais específicos possível (quase de forma cirúrgica) para não desperdiçar tempo e recursos a construir uma oferta tão ampla que depois é muito difícil de ser percebida Criatividade. Muitas vezes não é preciso tornar a inventar a roda para criar algo de novo, é preciso sim conseguir olhar para o que já existe sob uma nova perspetiva Saber como vai comunicar esta diferenciação. Não serve de nada ter uma oferta altamente criativa e bem estruturada se depois ninguém a ficar a conhecer porque os canais de divulgação não foram bem selecionados. 68 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 7.2 Inovação associada às entidades coordenadoras da oferta (associações que representam proprietários) Algumas das opções que o proprietário de um alojamento pode tomar para inovar e procurar afirmar-se nos mercados revelam-se pouco ou nada eficazes e nem sempre será fácil analisar as causas para o insucesso de uma medida. A escala de uma operação de Turismo Rural é ingrata e desaconselha a dependência de grandes e profundas análises dos mercados. Nos capítulos anteriores foram amplamente mencionadas as oportunidades que resultam do associativismo neste negócio, para a robustez, visibilidade, escala e eficácia da oferta. Esta é uma mais-valia principal que uma associação como a PRIVETUR pode trazer ao mercado: agregar oferta, conferir-lhe escala e desenvolver ela própria oportunidades de híper-segmentação. Através da concentração da oferta de produtos similares ou dirigidos a um mesmo mercado, é possível criar escala para o negócio e para os de tinos turísticos de Turismo Rural sem sobrecarregar as unidades de alojamento com o investimento na diversificação. Deste modo, e contribuindo para a afirmação de uma marca associada ao Turismo Rural português, a PRIVETUR pode apostar na construção de clusters específicos e com potencial de robustez e afirmação nos mercados. Mas acima de tudo, num país que tão pouco fez ainda pela criação de destinos turísticos sobre os quais o Turismo Rural possa efetivamente capitalizar (excluindo-se aqui o percurso da marca Portugal, na sua constelação de vetores), importa criar âncoras capazes de conduzir a atenção e o interesse dos mercados. Assim, independentemente de se recomendar a aposta das autoridades públicas na criação de marcas que estimulem, de forma concentrada, o crescimento do Turismo Rural – procura nacional e internacional, desde já se recomenda fortemente a adoção, pela PRIVETUR de um sistema de classificação voluntária dos alojamentos porcategorias de interesse específico, por estar essa iniciativa ao alcance de uma associação privada. Este sistema deve ir ao encontro da procura do mercado, mas não menos importante é a correspondência com as valências do território e motivação e capacidades dos promotores de Turismo Rural. Os aderentes devem sentir identificação com alguma das categorias propostas e poder cumprir com os critérios de qualidade exigidos para que se constituam clusters temáticos de valor. A imaginação e a aderência aos mercados são os limites que se impõem à criatividade inovação nesta matéria. Alguns temas poderão ser particularmente interessantes enquanto fatores de diferenciação de Portugal no mercado global do Turismo Rural. Uma iniciativa desta natureza permite à PRIVETUR contribuir para o processo de fortalecimento de uma marca comum de promoção da qualidade do Turismo Rural português, baseada em redes de utilizadores. Destacamos aqui o potencial a explorar pela criação de um sistema de classificação, (certificação e selo), baseado na categorização por interesses específicos: trata-se de um tipo de classificação ainda pouco usada, como referimos anteriormente, a Irlanda é o nosso benchmark para esta solução. 69 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 7.3 Alguns exemplos adicionais que ilustram o potencial de inovação do Modelo 5x5 Para além dos casos que iremos desenvolver no piloto, apontamos ainda mais alguns exemplos, a considerar: Rota de Santiago com paragem em vários alojamentos de Turismo Rural a realizar de bicicleta. A diferentes tipologias de Casa corresponderão diferentes perfis de utilizadores. Passagem por Fátima e outras marcas da religiosidade, no caso de turistas estrangeiros. Os detalhes da rota são desenhados para dois tipos de públicos – os que estão habituados a pedalar muitos quilómetros e outros menos treinados. O exemplo anterior, mas em fly&drive&walk, especialmente para mercados estrangeiros. De novo, a escolha de hipóteses de alojamento é criteriosa; carro+bicicleta no aeroporto e todas as informações de percursos pedestres, guiados ou não, logo à partida. Enoturismo de bicicleta. Aplicam-se os raciocínios anteriores, mas até é possível que o alojamento seja sempre o mesmo e os passeios partam de lá em mais do que uma direção. Na opção Rota, mais do que um local de alojamento, importa ter em conta todas as limitações técnicas (distâncias, qualidade dos percursos, bicicleta própria ou não, e até a hipótese de viajar de comboio com a bicicleta), e a hipótese de nas casas de TR existir quem providencie assistência às bicicletas, etc. Férias a pé ou escapadas com caminhadas: rede de alojamentos com percursos pedestres de determinado tipo associados (seja pelo tipo de paisagem, por elementos naturais ou culturais…), ou com parcerias com entidades públicas ou privadas que providenciem esse serviço. Mais do que querer criar muita oferta, é importante que os empreendedores se foquem e percebam onde podem ser melhores, e isso muitas vezes resulta de um cocktail de fatores e da capacidade para comunicar a atratividade da oferta resultante junto dos mercados certos. O empreendedor provavelmente não detém o conhecimento total de todos os elementos necessários para compor um produto turístico temático integrado, mas o que realmente é importante é a sua capacidade de se articular com outros fornecedores e de criar parcerias que vão enriquecer a sua capacidade para o desenvolvimento e entrega dos produtos. Outros parceiros terão provavelmente uma visão diferente da dele em relação às potencialidades do território e da fusão do conhecimento e ambição de ambos poderá surgir a necessária capacidade de inovar. Na base de tudo estão os fatores críticos de sucesso de qualquer alojamento de Turismo Rural: as questões de hospitality não devem ser descuradas também quando se pensa em formatos de inovação. Aliás, esta deverá ser sempre uma preocupação constante dos proprietários de Turismo Rural, porque eles próprios são parte integrante da experiência que pretendem proporcionar aos seus hóspedes. Surpreender é meio caminho andado para garantir satisfação e até fidelização, pelo que, uma vez mais, o mais importante é prestar atenção aos mercados e ao que o território oferece e saber inovar, na altura certa. 70 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 8. O papel das Instituições Públicas 8.1 Definir a Estratégia Todo o modelo aqui apresentado está estruturado segundo o ponto de vista dos promotores privados, ou mais especificamente, dos promotores de unidades de alojamento rural. Uma das principais tarefas das instituições públicas quando se fala em turismo é a definição da estratégia de desenvolvimento turístico. No entanto, é importante não esquecer que as instituições públicas possuem também (ou deverão possuir) um papel importante no desenvolvimento destas redes, sendo que, destas instituições, se dá particular relevo às autarquias e Entidades Regionais de Turismo. É sobre estas instituições que recai a responsabilidade de realizar um diagnóstico profundo do estado de desenvolvimento turístico da sua região/município, identificar os players, definir vetores de desenvolvimento, objetivos e ações que levam a que estes sejam atingidos. Então porque é que estas entidades devem estar presentes nas diferentes etapas da criação das redes em Turismo Rural e qual os principais papéis a desempenhar? Qualquer que seja a abrangência territorial destas estratégias, o mais importante é tentar que estas estejam bem integradas nas estratégias nacionais e/ou regionais e quevão de encontro às necessidades e especificidades do seu território. Autarquias Entidades Regionais de Turismo •Entidades isentas do ponto de vista comercial •Funcionam como entidades reguladoras •Vasto conhecimento do território •Visam a promoção do território •Facilidade de acesso a financiamento externo Esta estratégia não é só importante para definir as ações a realizar por estas entidades públicas para a prossecução dos objetivos definidos, ela serve também de âncora aos promotores privados a definição da sua própria estratégia de mercado, considerando as mais valias do território onde se encontram. •Possuem informação sobre os recursos turísticos disponíveis •Responsáveis pela dinamização do sector turístico na sua área de actuação •Capacidade de divulgação e comunicação de novos produtos/ serviços turísticos 71 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 8.2. Ordenamento e Infraestruturas Se existe atividade económica que esteja completamente dependente do território para o seu sucesso, é a turística. Sem um território bem ordenado e dotado das infraestruturas necessárias, não é possível oferecer um bom produto turístico. Portugal possui vasto património natural, histórico e arquitectónico, no entanto, muitas das vezes o seu pobre estado de conservação e os maus acessos, tornam-no impossível de ser usufruído por quem nos visita. É também neste aspeto que as instituições públicas possuem um papel determinante. A elas cabe-lhes a responsabilidade de avaliar o território e verificar quais as lacunas do ponto de vista das infraestruturas de apoio turístico e traçar planos para as suprir. a capacidade de ultrapassar barreiras geográficas administrativas, associando-se a entidades suas congéneros quando a expressão geográfica de um recurso turístico assim o dita Há que ter ainda em atenção que estas ações deverão ser priorizadas por ordem de importância para o desenvolvimento do território e de forma a ir de encontro à estratégia definida. É vital não cair na tentação de tornar como critério único de priorização os financiamentos que poderão estar disponíveis para esta ou aquela ação, submetendo-se ao risco de construir o “telhado” da casa antes das “paredes”, o que poderá levar, em última instância, ao desperdiçar de todo o investimento realizado. Destacamos algumas funções cruciais para o desenvolvimento do Turismo Rural e do modelo 5x5 em particular: a criação e sinalização de rotas temáticas a regularização do estacionamento junto a pontos de interesse turístico a criação de pontos de descanso em locais estratégicos a criação e manutenção de acessos aos pontos de interesse turístico a produção de sinalética de identificação e interpretação dos pontos de interesse turístico a definição de regulamentos específicos que visem a manutenção da traça tradicional das habitações em locais específicos dos aglomerados urbanos 72 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 8.3 Estimular e dinamizar Como já foi anteriormente referido, um dos principais obstáculos ao estabelecimento de parcerias e à criação de redes integradas de serviços e/ou produtos é a falta de confiança entre as diferentes entidades envolvidas e o velho mote que “o segredo é a alma do negócio”. Um outro aspeto relevante é que, com frequência, os promotores privados possuem um enorme desconhecimento sobre quem são os restantes players que atuam no seu território e quais as infraestruturas disponíveis que poderão levar à potenciação do seu negócio através do estabelecimento de parcerias. É neste aspeto que as instituições públicas têm um papel fundamental na promoção e dinamização de parcerias. 8.4. Comunicar e divulgar Por último, mas certamente não menos importante, é a função de apoio à divulgação dos produtos criados. As instituições públicas, e neste caso as Entidades Regionais de Turismo em particular, possuem um conhecimento alargado dos mercados emissores atuais e potenciais, bem como dos públicos-alvo para este sector do turismo, pelo que se encontram numa posição privilegiada para apoiarem a definição da estrutura de comunicação dos diferentes produtos e a dos melhores canais de divulgação. Estas instituições possuem ainda, na maioria dos casos, canais de distribuição já definidos, que poderão ser aproveitados para estes novos produtos, bem como acesso a feiras especializadas onde estes poderão ser dados a conhecer. Considerando a estratégia adotada, estas instituições podem assumir a liderança na reunião dos players locais que considerem relevantes e nas negociações para atingir o estabelecimento de parcerias que levem à criação de clusters locais detentores das valências e escala necessária para a criação de uma oferta integrada e forte, com criação de mais valias tanto para os negócios, como para o desenvolvimento territorial. Caso existam promotores privados ou associações interessados em liderar este processo, as entidades públicas continuam a desempenhar um papel importante como facilitadores, tanto pela sua isenção, como pelo vasto conhecimento da realidade local/ regional. 73 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 74 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 1. - A Região Centro Mais para oeste está outra região clássica de vinhos, a Bairrada, terra de “bairros” em que este termo não remete para “parte de uma povoação” mas para terrenos onde o barro ou argila predomina. É o que acontece nos campos de Oliveira do Bairro, Óis do Bairro, Ventosa do Bairro, São Lourenço do Bairro, Vilarinho do Bairro ou Barrô. A norte da Bairrada começa a área estruturada pela bacia hidrográfica do Vouga, a leste elevam-se o Buçaco e o Caramulo, a ocidente espraia-se o litoral que vai de Ovar à Figueira. O território onde desenvolvemos esta rede integrada de redes situa-se predominantemente entre rios, o Douro e o Mondego, numa vasta faixa central de Portugal, limitada a oeste pelo Oceano Atlântico e a leste pelas terras espanholas de Castela. É um território das beiras: beira-mar e beiraserra(s). A serra da Estrela à cabeça da cordilheira central domina soberanamente toda esta região, com outras massas de terras altas no Caramulo, na Arada e em Montemuro, a que se junta, a sudoeste, o maciço do Buçaco e, mais a norte, os planaltos da Nave e de Leomil, e a serra da Lapa. O lábio sul do território que focamos extende-se com incursões por porções da Beira Baixa e do Alto Ribatejo, como as Serras de Aires e Candeeiros, as colinas de xisto por onde serpenteia o vale do Zêzere ou as terras de Belmonte. É um território suavemente inclinado para sudoeste. No rebordo setentrional nascem dois rios principais que atravessam este território, o Paiva e o Vouga. Outro rio marcante deste território, o Dão, nasce nos planaltos de Trancoso e Aguiar da Beira e corre para sudoeste ao longo de 92 quilómetros até se encontrar (confluir) com o Mondego em plena barragem da Aguieira. O vale e as encostas do Dão, em terreno granítico acolhem, admite-se que desde 500 anos antes de Cristo, amplos vinhedos hoje integrados na Região Demarcada do Dão: são 20.000 hectares onde nascem alguns dos melhores vinhos portugueses. As praias marítimas, nos cerca de 100 quilómetros que separam Esmoriz/Ovar da Serra da Boa Viagem/Figueira da Foz, estão cheias nos meses do Verão. É o que acontece no Areinho, na Torreira, em S.Jacinto, na Barra de Aveiro, na Vagueira, em Mira, Tocha e Quiaios. São lugares de muito bom peixe embora as comunidades de pescadores tenham expressão reduzida. Em Mira e na Tocha, na Vagueira e em Vagos ainda é possível assistir à grande perícia de pescadores que enfrentam com o esforço do corpo a força das vagas, em manobras com séculos de experiência, por entre algazarra e o peixe a saltar nas redes. A Costa Nova é uma das últimas memórias de formas tradicionais de vida piscatória. A Costa Nova e a fábrica de cerâmica da Vista Alegre são duas das imagens de marca de Aveiro. Mas a principal é a Ria (“o mar interior…por onde correm para terra muitas calas ou rias… que divididas em braços e retalhadas em esteiros ocupa mais de quinze léguas de circuito, ficando, se tivera melhor barra, o mais capaz e mais tranquilo porto da costa atlântica, melhor sem comparação que as rias da Galiza”, caracterizou em 1707 o padre Carvalho da Costa). Vários rios afluem à laguna, separada do Atlântico por uma estreita restinga. São lugares de eleição para desportos náuticos, em particular a canoagem. Também um território privilegiado para a observação de aves. 75 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Ainda há oportunidade para visitar as marinhas de sal. Também para viajar nos barcos típicos da Ria, os moliceiros que eram usados para recolher o moliço e assim arejar o fundo da ria e dragar os canais da Ria que penetram e levam vida marítima ao centro da cidade de Aveiro. Atravessando todo este território sobre o qual incide a nossa rede de redes, no extremo oposto, a nordeste, está o grande sistema do Côa, com as gravuras paleolíticos na pedra. É a Beira trasmontana, uma das portas para a região vinhateira do Douro. Para oeste do Côa fica a cidade de Lamego, com as festas de tradição popular da Senhora dos Remédios, as bolas de presunto ou de bacalhau e mais caves vinícolas, como a Raposeira ou a Murganheira, estas na Varosa. É uma porção de território que pede visita aos mosteiros cistercienses de S.João de Tarouca e de Salzedas. Num salto se chega à Ucanha onde está a torre com características raras na construção medieval portuguesa. Assim, entramos numa região que tem no seu coração a velha cidade de Viseu, já por duas vezes eleita nos últimos cinco anos como a melhor cidade para se viver em Portugal. Em Viseu, há que subir e descer ruelas, espreitar casas, palacetes e igrejas, entrar na imponente Sé com sete séculos, contemplar os painéis quinhentistas no museu Grão Vasco e saborear a rica gastronomia. Viseu é uma das portas de acesso à Ecopista do Dão, é um abrigo do Caminho de Santiago e outro ponto de partida para a Rota do Vinho do Dão, com visitas a vinhas, adegas e solares. Para noroeste de Viseu fica o território de Lafões, por onde se pode chegar até Arouca, onde a extraordinária riqueza geológica está enquadrada pelo Geopark. É o território do Paiva, típico rio de montanha, com águas bravas que correm quase sempre no fundo de desfiladeiros de vertentes abruptas. A “Garganta do Paiva”, em Alvarenga, é o mais famoso percurso de águas bravas em Portugal, com uma sucessão de rápidos impressionante. As encostas das montanhas do Vouga são lugares preciosos. Pode-se penetrar nesse mundo avançando pelo vale do Vouga. Em Sever do Vouga, sobretudo junto à cascata da Cabreia, a vegetação é luxuriante. São vales férteis onde, em altitude, aparecem carvalhos e pinheirais, e encontram-se as vinhas de enforcado, já a entrar pela região de Lafões. Depois emerge a rocha escalvada da serra da Freita e do maciço da Gralheira. A área de Vale de Cambra e a de São Pedro do Sul é rica em monumentos megalíticos e gravuras rupestres. Voltando a Viseu, a nossa rede de redes prolonga-se. Segue para sudeste, verde e camponesa, em direcção a Seia e à Serra da Estrela. Segue para Leste, em direcção a Espanha, com uma paisagem que se modifica progressivamente : “As matas tornam-se mais raras, o horizonte abre-se e afasta-se para longe, a ondulação dos contornos torna-se mais regular, a distância entre as aldeias aumenta e em cada lugar as casas concentram-se em malha mais apertada, multiplicam-se as aglomerações amuralhadas como memória quase imóvel dos recuados tempos da fronteira perto com os mouros, ou de outros, mais recentes, em que as incursões castelhanas ainda eram frequentes”, tal como descrevem José Mattoso, Suzanne Daveau e Duarte Belo em Portugal – O Sabor da Terra, edição Círculo de Leitores. Alguns desses lugares, mais isolados e alcandorados, perderam quase todos os seus habitantes, como acontece em Numão ou Castelo Rodrigo. Outros têm a população guardada dentro das muralhas, como acontece em Trancoso, vila do sapateiro-profeta Bandarra. Há os lugares em sítios escarpados com as casas misturadas com a penedia, como acontece em Linhares ou na Sortelha. Mas sempre com as muralhas a envolver a povoação, como em Castelo Mendo, Castelo Bom ou na grande praça militar de Almeida, imponente com os enormes baluartes à beira da fronteira. É o extremo leste de um território que tem o extremo ocidental entre a foz do Mondego na Figueira e a Ria de Aveiro. 76 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Todo este território tem generosa ligação à água ou às águas: seja a das praias, a dos rios ou a das várias nascentes termais. Água com tranquilidade ou água para actividades radicais. Tem locais para a pesca mas também para a vela, canoagem, kayak, canyoning ou surf. Tem rios e ribeiras com margens apetecíveis para piquenicar. E tem termas com diferentes propriedades e indicações: termas do Luso(Mealhada) , da Curia, do Vale da Mó (Anadia), de Sangemil (Tondela), de São Pedro do Sul, de Alcafache (Viseu), da Felgueira (Nelas), do Carvalhal (Castro Daire) ou da Cavaca (Aguiar da Beira). Caminhos pedestres e estradas panorâmicas são outros elementos potenciadores da oferta deste território tão por descobrir e desfrutar. Claro está que a bicicleta é uma parceira excepcional para este território. Há lugares míticos do ciclismo de estrada, como a escalada da Torre na Serra da Estrela e há o moderno e sofisticado Velódromo Nacional, em Sangalhos, terra de grande tradição no ciclismo. Mas, para além do ciclismo de competição (com o Velódromo de Sangalhos a atrair figuras internacionais de topo), este território também convida ao passeio ciclista, seja o passeio em grupo familiar, seja a experiência de pedalar por entre vinhas com paragens para visitar adegas ou simples circuitos por lugares à beira de rios com etapas em lugares do património natural e monumental. A Ecopista do Dão, com 50 quilómetros, é a maior de Portugal, traçada num antigo percurso ferroviário com paisagens deslumbrantes, liga Santa Comba Dão a Viseu, com passagem por Tondela. Também não faltam oportunidades para BTT ou ciclocross. Enfim, toda esta vasta faixa territorial engloba grande diversidade de paisagens, ricas em espaços naturais, com montanha, rios, regatos, terra plana, campo de cultivo, muita vinha, fauna e flora rica, amplo coberto vegetal com carvalhais, castanheiros, pinhais, sobreiros, bosques de bétula. Mas há ainda um outro potencial a explorar: o cavalo. Identificámos neste território infraestruturas que confortam ao desenvolvimento de itinerários e programas de Turismo Equestre. É uma oferta a explorar, em associação com a oferta de Turismo Rural, a ritmo que nos parece dever ser de galope, como adiante se detalhará neste nosso estudo. Os circuitos a cavalo ou passeio a cavalo por exemplo entre adegas são parte da oferta que também poderá passar pela cavalgada por toda a região. Uma das delícias é a gastronomia: A cozinha tem lugares irresistíveis, do leitão na Bairrada ao bacalhau podre ou feijocas com todos em Almeida, passando pelo cabrito da Gralheira, a vitela de Lafões, o rancho em Viseu, a caldeirada de enguias na ria de Aveiro, o peixe na grelha em qualquer das praias ou a chanfana em panelas de barro em Tondela. Tem os caminhos na falda de colinas na beira do Vouga, com paisagem sobre campos de arroz, baixos alagados e quintas de viçoso verde, para contemplar depois de amanheceres em que paira uma bruma à altura da copa das árvores. Tem a mata do Buçaco, bosque incomparável que nos envolve de frescura, com árvores magníficas e onde os musgos se agarram às pedras ou sobem pelos enormes troncos acima. O Buçaco é a porta da entrada para a região do Dão. A serra e a mata prolongam-se a nordeste para o Caramulo, fazendo barreira aos ventos atlânticos. É uma região com trilhos e costumes ancestrais, que nos coloca, por exemplo, na serra de Montemuro, na rota da última transumância, que nos leva por paisagens amplas, montanhosas, de grandes vales abertos, encostas verdíssimas ou paisagens áridas marcadas pelo osso da pedra, que tem lugares de calma milenar nas montanhas de Arouca, ou por entre os vinhedos 77 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 nas margens do Dão, ou junto aos desenhos paleolíticos na pedra do Côa, ou nas faldas da serra da Estrela. 2. O Projeto-piloto A região Centro está aquém de poder ser entendida, em termos de marketing turístico, como um destino turístico. Não foi ainda desenvolvida uma marca turística suficientemente consistente na qual se possas ancorar propostas de desenvolvimento associadas, por exemplo, ao Turismo Rural. Ou seja, não há uma identidade criada para a qual se poderia orientar as ofertas do Turismo Rural, de modo a estabelecer-se uma qualquer vantagem competitiva do Turismo Rural no acesso ao que se entenderia que o Centro tem de melhor, enquanto região, para ser desfrutado e sentido ou experienciado. Há, sim, contudo, vários eixos de promoção turística: a serra da Estrela, as termas, o litoral na Costa Nova e na Figueira da Foz, as regiões demarcadas da produção vinícola da Bairrada e a do Dão, os desportos de aventura no rio Paiva, Fátima e Coimbra - ambas as cidades são destinos turísticos maduros por si só, as Aldeias Históricas e as Aldeias de Xisto, o património geológico de Arouca e o geoparque no Tejo Internacional,… estes são os principais eixos, existem outros. Mas, efetivamente, não podemos referir-nos a uma marca que distinga o território dos restantes e que possa ser operacionalizada para fins turísticos. Muito menos ainda se considerarmos a concorrência com outras marcas territoriais de regiões europeias com características mais ou menos similares. Alguns dos eixos referidos têm um potencial de desenvolvimento turístico bastante relevante e deles resultam, realmente, fluxos turísticos importantes mas, precisamente porque não identificam uma região, nunca mereceram o investimento público e privado suficiente para lhes dar consistência, escala, visibilidade e grande atratividade a ponto de poderem cumprir as funcionalidades de uma marca territorial abrangente. A criação dessa marca territorial, começando pela identificação de uma proposta de valor singular, inequívoca, diferenciadora e enquadrada na realidade subjacente, é algo que extravasa o âmbito deste estudo e que compete, na verdade, a entidades públicas. Compreende-se que o Centro é uma região vasta e com diversas fronteiras administrativas; acresce que a diversidade do território não torna necessariamente esta tarefa mais simples. Mas referimos esta lacuna pelas implicações que tem para o Turismo Rural na região. Se estivesse identificada uma proposta de valor para a região, e na probabilidade de ela não colidir com a filosofia adjacente ao Turismo Rural, então faria todo o sentido procurarmos capitalizar sobre a orientação estratégica tomada e sobre os investimentos em promoção turística que lhe seriam, por princípio, inerentes. Nessa circunstância, em termos formais, teríamos como meta principal identificar os eixos de desenvolvimento da proposta de valor que permitiriam dar uma vantagem competitiva ao Turismo Rural, aqueles que provocariam a diferenciação pela positiva e a consequente atratividade da indústria Turismo Rural na região. Na ausênciade uma marca turística consolidada que conduza a identidade do território Centro, o percurso de definição estratégica das prioridades deve centrar-se sobre a avaliação conjunta do potencial, na região, dos recursos endógenos, da oferta turística atual e da adaptabilidade dos eixos gerais de desenvolvimento turístico estratégicos para o país (touring cultural e paisagístico, gastronomia e vinhos, turismo de natureza, sol e mar, saúde e 78 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 bem-estar, turismo náutico…). A boa conjugação dos pontos referidos é um fator crítico de sucesso para a competitividade do Turismo Rural no Centro. De modo muito claro, neste estudo tentámos contribuir para obviar essa questão, de forma que se encontra sintetizada na Figura seguinte: Precisamente para demonstrar as potencialidades da aplicação do Modelo 5x5, apresentam-se neste projeto-piloto dois exemplos distintos de Programas Turísticos Temáticos (PTT) com enquadramento em cada vetor. Pretende-se explorar uma das características fundamentais do modelo: cada driver do turismo português ou vetor estratégico pode ser trabalhado de inúmeras formas, consoante, claro está, o tipo de segmentação e targeting de produto (verchecklist de análise de valências próprias). Cada um dos PTT terá associada uma matriz dupla de caracterização e o descritivo sintético com sugestões concretas para aplicação no terreno. De todo o modo, conforme foi já referido anteriormente, em particular no subcapítulo sobre inovação de produto, o modelo pretende constituir uma base de inspiração para a diversificação de produtos turísticos hípersegmentados, cuja capacidade de penetração no mercado dependerá de múltiplos fatores, nomeadamente das oportunidades de agregação de oferta resultantes da existência de coordenação nacional ou regional. Importa ainda referir que se procurou trabalhar a zona Centro de forma abrangente, não só a nível geográfico, mas também temático, dando prossecução ao proposto para a construção da checklist. Figura 5 – Estruturação do modelo 5x5 aplicado à zona Centro, com extensão ao resto do território nacional Assim, apresentamos 16 programas trabalhados e analisados nas mais diversificadas vertentes que vão desde Foz Côa, às serras de Aire e Candeeiros, e desde Aveiro, à serra da Estrela, passando por temas que trabalham a água, a gastronomia, os vinhos, a geologia ou a avifauna. Apresentam-se nos Anexos os PTT organizados por driver ou vetor estratégico e as respetivas matrizes, sendo que se encontram igualmente disponíveis em formato digital na ferramenta GE: 79 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 80 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - 1. Panorama geral Uma das recomendações que abarcámos ao longo do processo de desenvolvimento deste estudo, aplicável em particular aos esforços de internacionalização do Turismo Rural, é a consciência de que, embora Portugal reúna inúmeras qualidades que tornam o país muito atrativo para a prática de Turismo Rural - com todas as suas especificidades, diversidade concentrada, pelas peculiaridades que advêm do seu processo de desenvolvimento desfasado em relação a outros países europeus e, enfim, pela feliz influência conjunta do Atlântico e Mediterrâneo, ou multiculturalidade milenar, a verdade é que também os seus concorrentes diretos são interessantíssimos destinos para o Turismo Rural e de Natureza e Enoturismo e Ecoturismo e touring cultural... Recomenda-se, portanto, e especificamente quando se pensa em mercados internacionais e exportação do Turismo Rural, realismoe ambição na ponderação do valor efetivo de atratividade dos nossos recursos turísticos, mais ainda em face do pouco esforço realizado de construção de destinos turísticos que encaminhem o turista para o Campo português. Percorrendo o país dos alojamentos de turismo rural, é difícil formar uma imagem das boas e excelentes vias, percursos ou rotas que efetivamente existem e que deveriam servir de suporte à operação Turismo Rural. Na melhor das hipóteses, ficamos a saber que se localizam perto desta ou daquela casa, mas é totalmente fragmentada a informação sobre o que são, que valor podem ter enquanto recurso turístico e que potencial têm para dar origem a uma oferta turística qualificada. Este facto limita o alcance a mercados internacionais, reduzindo-o aos perfis mais aventureiros e que procuram destinos pouco explorados e desenvolvidos e aos utilizadores de produtos turísticos com acompanhamento por um operador turístico, tipicamente proveniente do país de origem do turista. 2. Barreiras administrativas territoriais Falta continuidade geográfica ou territorial à oferta de turismo no campo em Portugal. A fragmentação resulta da não coordenação ao nível nacional do setor (seja por entidades públicas ou por entidades de caráter associativo privadas). O investimento sobre os recursos é aplicado ou ao nível municipal ou de comunidades intermunicipais ou ao nível regional e peca pela ausência de uma visão integrada. Dificilmente, o promotor individual conseguirá ultrapassar as limitações que daqui advêm, tendo em conta a dimensão típica do negócio de Turismo Rural. 81 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 As principais consequências da atomização da oferta são o isolamento e a ausência de um referencial de qualidade. Fica, deste modo, também limitada a possibilidade de se estruturar produtos turísticos em formato rota, não nos casos das rotas temáticas, mas no caso das rotas onde deve haver continuidade territorial. E, contudo, a oportunidade deve ser explorada, como observamos pelo esforço de operadores turísticos independentes que apostam no desenvolvimento de produtos tailor-made para seu consumo. 3. Barreiras culturais Se é verdade que os players no terreno reconhecem a necessidade de se articularem com os outros fornecedores, não é menos verdade que neste campo está quase tudo por fazer. Uma das principais barreiras é cultural: a imersão no território que desenvolvemos no decorrer deste estudo evidenciou-o de forma horizontal: inquérito, entrevistas, workshops, participação em atividades turísticas, visitas a postos de turismo, consulta de sites de empresas de animação turística, consulta aos sites dos alojamentos rurais e até o laboratório criativo em que participaram de forma colaborativa diversos intervenientes com vista à reflexão sobre formatos colaborativos de turismo no campo, todos, sem execeção, mostram exatamente isso: são insípidas as ligações entre Turismo Rural, Turismo de Natureza, Cicloturismo, Turismo em Bicicleta, Turismo de Bem-estar, Ecoturismo, Enoturismo, Turismo Gastronómico, Turismo Equestre, Turismo de Aldeia, Agroturismo, etc.,etc. Falta conhecimento aprofundado e falta experimentar as propostas oferecidas pelos outros. Falta, consequentemente, capacidade para integrar e recomendar e bem receber no seu território. Há todo um mundo de oportunidades que se abre quando os agentes locais dialogam entre si e exploram em profundidade o que os seus potenciais parceiros podem oferecer e, eventualmente, fornecer para a construção de produtos turísticos integrados. 4. Marca ‘Turismo Rural’ A imagem do Turismo Rural nacional está essencialmente alcantilada numa tipologia fechada sobre si própria. Apesar de envelhecida, há contudo sinais positivos de investimento na alteração desta situação por parte de vários investidores que sentem esta dificuldade na aproximação ao mercado nacional, mas que apostam também em mercados internacionais onde este problema não é sentido. Portugal não é ainda um destino internacional de Turismo Rural. Mas pode ambicionar a sê-lo. A qualidade do alojamento rural não será um entrave, é necessário agora progredir para a estruturação de produto ajustado aos mercados. 82 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 5. Outras marcas âncora O investimento geral das entidades promotoras de turismo na marca Portugal deve ser capitalizado pelo Turismo Rural. Importa tirar partido dos drivers da marca Portugal que sejam ajustáveis ao modelo do Turismo Rural (Natureza, touring paisagístico e touring cultural, Gastronomia e Vinhos, e Sol são os pricipais) e ter em conta os detalhes da promoção nos mercados nacional e externos. 6. Produto No que toca à oferta de produtos turísticos, ela sofre de falta de estruturação temática e qualificação de acordo com as necessidades específicas e motivação para a viagem dos múltiplos segmentos que constituem o mercado interno e os mercados externos. Esta desestruturação tem variadas consequências negativas: - A primeira e mais relevante é a fraca inter-penetração do Turismo Rural com tipologias que lhe são tão próximas como o Turismo de Natureza, o Enoturismo, o Turismo Religioso. - É incipiente o aproveitamento peloTurismo Rural da gama potencial de produtos turísticos relacionados com cada uma das redes infraestruturais de mobilidade. Tomando um exemplo, o do turismo em bicicleta, a rede nacional de ecovias, ecopistas e ciclovias, juntamente com a histórica tradição do ciclismo associado à Volta a Portugal em Bicicleta, favorece a criação de PTT para diferentes segmentos: cicloturistas amadores e profissionais, turistas que usam a bicicleta com frequência ou apenas muito ocasionalmente, jovens e adultos casais e grupos de amigos,assim como para os perfis golden age. As ecopistas permitem ainda estruturar produtos para cidadãos com mobilidade reduzida e famílias com crianças. Identificámos uma série de drivers do turismo português (viajar devagar, gastronomia e enoturismo, birdwatching, etc.) que podem servir de âncora temática a produtos para todos estes segmentos, ao que acresce a diversidade regional da oferta em termos de atributos especiais de interesse reconhecido pelo turista nacional (planícies alentejanas, águas límpidas dos rios portugueses e rede de praias fluviais, alguns parques naturais, a serra algarvia, aldeias históricas, regiões vinícolas, etc. etc.). Falta tornar popular os passeios em bicicleta fora dos meios urbanos para segmentos alargados, tal como já acontece em segmentos do Turismo Aventura. Falta também mostrar que se percebe do que se está a falar e ser capaz de estruturar produtos bem desenhados e atrativos. Do lado das redes de mobilidade, os utilizadores não encontram ainda no Turismo Rural uma vantagem acrescida para a prática destas atividades turísticas e modalidades desportivas. Anos de investimento em desenvolvimento local traduzem-se, na generalidade dos casos, no aumento da rede de oferta de alojamento e na criação de produtos turísticos, por vezes de elevadíssimo valor etnográfico, mas que tendem a ser operacionalizados como eventos pontuais em 83 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 momentos comemorativos que se repetem anualmente, mas que pouco trazem à oferta operacionalizável de Turismo Rural. No Centro do país, encontrámos diversas rotas relacionadas com os produtos da terra e rurais – o azeite, o pão, a broa, os mirtilos, o mel, etc., mas tal como estão estruturados não constituem efetivamente um produto turístico relevante ou operacionalizável sem esforço considerável, apesar do enorme interesse dos seus conteúdos. 7. Gestão O Turismo Rural ainda não soube posicionar-se como o parceiro incontornável para nenhuma das atividade que se praticam e desenvolvam no espaço rural ou nos espaços naturais. E, portanto, entende-se que não consiga competir com hotéis budget ou mesmo com outros hotéis que mantêm um nível igual de aproximação pouco ambiciosa aos praticantes das modalidades. Encontrámos uma dificuldade adicional no modelo de negócio de várias empresas de animação turística e que afastam à partida a possibilidade de as fazer interagir com o Turismo Rural: é frequente os produtos mais interessantes e que incluem serviços complementares ou especializados estarem dimensionados apenas para grupos grandes. Falta à dinâmica da operação turística de base territorial encontrar estratégias de redução dos custos da operação que permitam diversificar os segmentos e incluir casais com capacidade para gastar um pouco mais. Esta situação aplica-se não apenas à oferta de matriz etnográfica, mas também à oferta cultural e na generalidade a todos os serviços especializados (birdwatching, guias de Natureza, etc.). O turista é vaidoso – somos todos – e gosta de ter uma história para contar: falta à promoção do Turismo Rural a promessa de uma história interessante. O marketing do Turismo Rural é pouco ambicioso. Mostra o que há, mas não faz sonhar. Falta-lhe o tom aspiracional. Aos promotores de turismo rural falta ambição na definição dos produtos turísticos: são vagos e generalistas, não parecem falar para ninguém diretamente. Mas mais ainda, a sua identidade digital parece frequentemente incompleta, por se basear no elencar de recursos turísticos e não em alguma forma de expressão de uma identidade própria. Quando recomendam um percurso,uma atividade, referem o nome atribuído ao percurso, é frequente faltar a capacidade para explicar por que é que aquele percurso é verdadeiramente interessante e em que circunstâncias. 84 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 8. A procura não corresponde à oferta Quatro características da procura atual abrem o caminho para a renovação e reorganização do Turismo Rural em Portugal e justificam o reforço do investimento na atividade: i. Há crescente procura por atividades e experiências e não de uma casa para dormir A oferta deve organizar-se em torno de produtos turísticos temáticos; ii. Os agentes do turismo rural têm hoje consciência da absoluta necessidade de trabalhar em rede com os outros fornecedores dos componentes de um produto turístico Há condições objetivas para que a oferta se organize em diálogo permanente com os players com quem se partilha o território; iii. A visibilidade nos mercados depende da escala e robustez da oferta, assim como capacidade de falar diretamente a certos segmentos específicos A engenharia de produto é um ato complexo e que deve ser realizado de forma integrada: iv. Verifica-se procura significativa por mercados externos, a procura pelo mercado nacional é insuficiente 9. Objetivo Redes 5x5 Como respondemos ao desafio abordado neste estudo que, como relembramos, tem dois eixos? i.- Como é que a experiência de Turismo Rural pode beneficiar das restantes quatro redes temáticas (Resumindo a amplitude das quatro redes: 1. bicicletas/ cicloturismo/ ecopistas/ ecovias; 2. pedestrianismo/ caminhadas/ férias e breaks caminhando/ percursos pedestres; 3 – cavalos para montar/ percursos equestres/ picadeiros e rede de locais para apoio logístico; 4- rotas panorâmicas e informação interpretativa). E ii.- Como é que os praticantes e utilizadores destas outras redes podem beneficiar, enquanto turistas, do alojamento rural e da oferta de experiências rurais? Ou, tomando em consideração a motivação do turista para a viagem, quais são as oportunidades de negócio que se oferecem ao empresário de Turismo Rural para estruturar uma oferta turística integrando estas redes? A oportunidade para capitalizar sobre a articulação destas redes é, na nossa opinião, robusta e credível. a oferta deve dirigir-se de forma segmentada e diversificada aos mercados, com o objetivo de ganhar dimensão. 85 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Mas implica um trabalho aprofundado de criação de produtos turísticos muito dirigidos a interesses e motivações específicasque são, afinal, as tendências atuais do mercado. Acresce que, dada a dimensão e características dos negócios de Turismo Rural, a engenharia de produto deve procurar robustecer-se com base numa estratégia ambiciosa, bem segmentada e bem dirigida. Na figura seguinte, resume-se a estratégia desenvolvida para dar resposta a estas questões: 86 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Figura 6 – Estratégia de desenvolvimento do Modelo 5x5 resumida por cinco níveis de ação 87 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 10. O Modelo passo a passo. Como aplicar O modelo final reflete toda a informação e conhecimento acumulados no decorrer deste estudo e que resumimos aqui passo a passo: A ausência de qualidade em qualquer um destes quatro fatores tende adar vantagem competitiva a pelo menos alguma das outras tipologias de alojamento (hotéis, alojamento budget, alojamento não qualificado, pousadas de Portugal e resorts). Passo 2: Passo 1: Começámos por identificar os quatro eixos principais para o posicionamento competitivo do Turismo Rural, em roda dos quais se deve organizar a oferta, uma vez que é no quadro destes fatores diferenciadores do Turismo Rural que o empresário tem maior espaço de manobra para ser ambicioso na criação da identidade do seu negócio. Os fatores que dão vantagem competitiva ao Turismo Rural relativamente àsua concorrência são: - A arte de bem receber; - A proximidade aos recursos turísticos; - A oferta de autenticidade; - O contacto permanente com uma rede de potenciais parceiros locais O promotor de Turismo Rural deve fortalecer a sua proposta de valor atendendo, cumulativamente, à relevância destes quatro fatores críticos de sucesso. Para dar consistência e permitir um desenvolvimento robusto da estratégia, foi definida uma proposta de valor baseada numa ideia central ambiciosa: “Acesso privilegiado ao Campo” Ou seja, o modelo 5x5 será orientado para fortalecer a capacidade do Turismo Rural cumprir esta promessa. Esta ideia traduz-se numa “assinatura” que identificará o objetivo de forma clara: 5 Redes – ‘5 vezes mais campo’ – uma experiência 5 vezes melhor A identidade própria de cada negócio de Turismo Rural pode ser facilmente derivada a partir desta linha de orientação estratégica. Dependerá da capacidade de cada promotor evidenciar-se perante a concorrência e encontrar os seus pontos de contacto preferenciais com o mercado. 88 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Passo 3: Passo 5: Seguidamente, cruzámos os quatro eixos genéricos identificados para o Turismo Rural com quatro eixos específicos para o desenvolvimento da articulação das 5 redes-tema do estudo, porque são estes os parâmetros que definem a qualidade da experiência de mobilidade no campo: Em face do objetivo principal, estruturar a oferta em torno de produtos turísticos temáticos integrados, torna-se clara a necessidade de apostar no desenvolvimento em formato filigrana, a que pode então corresponder uma oferta muito bem organizada e canalizada para responder de forma acutilante à procura nos mercados. - Tempo; - Caminho; Para operacionalizar essa ambição, identificámos quatro vetores de desenvolvimento: - Hotspots; - Perceber as Valências Próprias; - Momentos - Perceber o Território; - Perceber o Cliente; Passo 4: A análise profunda do potencialde cada uma das cinco redes para alavancar ou desenvolver cada negócio de Turismo Rural é um trabalho exigente. Procurámos identificar os elementos chave para o sucesso no aproveitamento das redes de mobilidade e da rede de alojamentos para a criação de produtos integrados e ajustados às motivações do turista e especificidades dos perfis e tendências dos mercados. Vários aspetos a considerar são tecnicidades associadas às modalidades (consultar Anexos neste Estudo) e recomenda-se o desenvolvimento de parcerias para a partilha de conhecimento e experiência. - Perceber os Parceiros. Passo 6: No decurso do estudo, e para apoio ao desenvolvimento do modelo, foram então desenvolvidas ferramentas de suporte a este trabalho: uma checklist de valências próprias / chave para o posicionamento; uma matriz para identificação dos clientes potenciais por produtos turístico temático; uma matriz para identificação dos parceiros a incluir nos produtos turísticos temáticos; e uma ferramenta em Google Earth com levantamento da oferta (projeto piloto desenvolvido para a zona Centro do país). 89 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Para aplicação do modelo 5x5, o investidor deve identificar os elementos que vão compor a sua oferta e assegurar que são coerentes entre si esse ajustam aos clientes com quem pretende trabalhar. Muito possivelmente, nesta fase não estará na posse de toda a informação e conhecimento necessários para tomar decisões totalmente fundamentadas. Nos vários capítulos deste estudo foram elencados os principais componentes e especificidades a ter em conta quando se pretende construir produtos turísticos temáticos. Recomenda-se a atenção a estes detalhes para o desenho de uma oferta de qualidade. Esta é mais uma fase em que se recomenda a procura de parceiros e, eventualmente, de consultores, públicos ou privados, para apoio. A PRIVETUR será um parceiro privilegiado a consultar para apoio nesta fase do projeto. Passo 7: Como sabemos, a motivação para a viagem de turismo não é o alojamento em si mesmo. Por isso, seguidamente ancorámos a estratégia nos drivers atuais do turismo português, porque são valores seguros e alvo de investimento. Exemplificámos no projeto piloto desenvolvido para a zona Centro como aplicar esta abordagem. Foram identificados oito drivers para ancoragem da oferta de Turismo Rural nesse território: Viajar devagar; O Campo fazlhe Bem; Portugal faz-lhe bem; Cozinha única; Explorar a Natureza; Viver as Sazonalidades; Enoturismo revisitado; O poder da Água. Ou seja, recomenda-se a opção, no caso do centro, destes oito temas por se considerar que eles criam a oportunidade para soluções ambiciosas, competitivas, únicas, singulares, exequíveis, facilmente comunicáveis, e que será simples explicar o seu valor aos mercados. Resumindo: Através de um esforço dedicado e minucioso, poderá ser organizada oferta turística canalizada para dar resposta a estas motivações, tirando partido do potencial das redes de mobilidade para a criação de produtos turísticos originais e de particular atratividade, muito bem ajustados a diversos perfis de turistas, e capitalizando sobre as vantagens únicas que o alojamento em espaço rural tem para enriquecer a entrega da experiência turística estrategicamente escolhida pelos promotores. Mas, naturalmente, chamamos a atenção para a importância de saber adaptar a situação à realidade do Turismo Rural. Este trabalho de seleção e de modelação deverá constituir um dos fatores de diferenciação da oferta. 90 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 11. Escala, Escala, Escala 12. Turismo é cultura Não é possível repetir em excesso o quanto é necessário desenvolver estratégias de negócio que aumentem a escala da oferta de Turismo Rural, a todos os níveis: é importante para o promotor individual, para as entidades privadas e associativas que queiram assumir algum papel na promoção do Turismo Rural e para as entidades públicas que entendam o potencial do Turismo Rural e procurem desenvolvê-lo. Turismo é, acima de tudo, cultura. É uma forma de nos manifestramos, de consumir e absorver o que os territórios têm de melhor. Como foi amplamente referido e exemplificado ao longo deste estudo, algumas das potencialides oferecidas pela constelação de fatores que compõem a engenharia de produto só estarão ao alcance do promotor que integra uma rede de parceiros capaz de lhe dar visibilidade e de abrir as portas à estruturação de produtos mais abrangentes. E se os agentes do Turismo Rural quiserem tirar partido da outra poderosa característica a que o setor está associado, a arte de bem receber, tem aqui uma oportunidade única de personalizar o atendimento para o turista exigente. A isto está associada a robustez do negócio: é reconhecida a fragilidade das operações de Turismo Rural, particularmente agravada em período de crise económica. A sobrevivência de muitas empresas de Turismo Rural estará facilitada no quadro de uma rede colaborativa. O Turismo Rural tem a vantagem extraordinária de ser marcado, desde sempre, pela autenticidade. E tem aqui a sua âncora principal, que deve saber aproveitar de forma exigente e ambiciosa. Para isso, o promotor tem de perceber como é que hoje as pessoas querem consumir cultura e saber adaptar a sua oferta. E tem de sentir a palpitação da cultura viva para a saber servir com arte a cada um dos seus clientes. Uma das recomendações que destacamos de entre as propostas para a renovação do Turismo Rural é a adoção de um sistema voluntário de categorização dos alojamentos de Turismo Rural tendo por base interesses específicos e capacidade para atender às necessidades do turista que organiza a sua viagem em função desses formatos especializados. Esta proposta permite dar visibilidade às valências individuais de um alojamento através da atribuição de um selo que atesta a participação do alojamento naquela rede “amiga” de determinado tipo de turista. 91 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 92 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 93 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS espécies da fauna e em particular, especialistas em birdwatching de diversas regiões do país. 1. Letónia O Turismo Rural tradicional revisitado O resultado é uma franca diversidade de propostas, ancoradas em hotspots turísticos e percursos, rotas e pacotes de produtos e serviços associados, preparada para cobrir todas as épocas do ano, numa tentativa de combater a sazonalidade da procura. Os produtos deste esforço de criação de produtos turísticos traduzem-se não apenas em oferta, mas também em recursos técnicos para operadores de Turismo Rural, tanto proprietários de alojamento como operadores de animação turística. Estes produtos incluem, para citar um caso paradigmático, documentos comparativos entre como organizar um produto de birdwatching para a primavera e outro para o inverno. Figura 7 – Caso da Letónia Latvian Country Tourism Association, apresentada na versão em inglês como “Férias no campo no Báltico”, é uma associação de Turismo Rural, membro da EUROGITES. Representa um benchmark de uma associação que divide a sua atividade entre a promoção de ofertas de Turismo Rural e o apoio aos seus sócios com vista à criação de produtos turísticos integrados. Esta associação conta com cerca de 300 membros proprietários dealojamentos rurais. Tomando como ponto de partida uma base de recursos turísticos fortemente ancorada no património natural, rural e etnográfico, a associação desenvolve um trabalho intenso de conversão destes recursos em produtos turísticos, em parceria com especialistas em matérias que podem ser tão específicas como a botânica, a coleta de cogumelos, Outro dos serviços prestados pela associação é o apoio ao desenho de roteiros personalizados para viagens de cicloturismo, caminhadas, tours fluviais, birdwatching, touring cultural, entre outros. Este serviço inclui: Criação depacotespersonalizadospara grupos e indivíduos Reservade serviços de alojamento Reservadeguias especializados Aluguerde carro,autocarros, bicicletas e embarcações Transfer de bagagementre alojamentos Mapas e folhetos b2b derotas turísticas Como encontrar este exemplo na internet: http://www.celotajs.lv/en 94 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS associação não se deteve em modelos antiquados e toda a oferta dirigida ao público é promovida em formatos atuais. As propostas incluem passeios a pé, de bicicleta, fluviais, a cavalo, em veículos TT, enoturismo. 2. Elkana, Country holidays in Georgia Modelo de Turismo Rural integrado. Autenticidade e modernidade Figura 8 – Agroprodutosomercializados também pela rede de Turismo Rural Elkana, na Geórgia, é um dos parceiros da EUROGITES. Esta associação de 450 produtores de agricultura biológica é responsável pelo desenvolvimento recente de um projeto integrado de Turismo Rural. Tomando como ponto de partida o desenvolvimento rural, a associação traçou caminhos que se cruzam, entre a promoção em rede de produtos agrícolas em formatos inovadores e a criação de uma rede de oferta de Turismo Rural baseada não apenas no alojamento e oportunidades para comercialização e promoção da produção agrícola dos membros da associação, mas também na estruturação de uma rede de passeios e atividades de animação turística que têm como suporte os valores endógenos que a associação promove. Este é um modelo de cruzamento de autenticidade com modernidade. Embora tendo na sua origem os valores tradicionais da agricultura, a O que torna relevante este caso de estudo é a origem dos recursos da rede: trata-se, efetivamente de um projeto de base rural agrícola e que foi expandido para incluir uma forte componente turística para diversificação da atividade, processo esse que tem sido conduzido com base em investimentos relevantes em formação dos operadores da rede, nomeadamente para as componentes turísticas, como a hospitalidade e a articulação de informação em rede e sistema de recomendações e crossselling. Lela Khartishvili lidera o departamento de Turismo Rural desta associação e explicou-nos, no decurso deste estudo, como as redes de produção agrícola e de turismo se enriquecem mutuamente, referindo a absoluta necessidade de condução do processo pela associação, que organiza a estratégia corporativa e operacionaliza a atividade turística. Figura 9 - Grupos de trabalho Como encontrar este exemplo na internet: www.ruraltourism.ge 95 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 3. Alojar-me, Saborear e Mexer-me - a tentadora oferta proposta pela Provença francesa A região de Provence, no sueste francês adjacente a Itália, lançou o programa “La Provence selon vos envies” - Como é que se desenvolve este programa “a Provença conforme os vossos desejos”? O portal http://www.provenceguide.com encaminha-nos logo para a resposta: “Je me loge”, “Jesavoure”, “Je me bouge” – fico, saboreio, mexo-me. A porta “Je me loge” remete para todo o tipo de alojamentos. Em “Jesavoure”, estão diferentes modos de saborear: petiscos, propostas gourmet, produtos da agricultura e da gastronomia local, encontros com chefes de cozinha creditados com estrelas de qualidade, tascas e restaurantes, feiras e mercados e visitas a quintas e adegas. É uma proposta que também inclui proporcionar cursos de cozinha e fornecer receitas (com o saber da tradição local). Quando se entra em “Je me bouge”, a oferta é de grande diversidade: bicicletas, percursos pedestres, percursos florestais, rotas equestres, propostas em volta da água, canoagem e kayak, escalada, espeleologia ou golfe. Ao escolher “mexer-me”, no programa “Je me bouge”, a bicicleta tem função primordial, transportando o visitante para três outros grandes programas-oferta: vinsetvignobles, em que o turista em bicicleta se adentra pelos prazeres do vinho e da vinha, “La Provence à vélo”, que propõe a descoberta da região ao ritmo da bicicleta e da natureza. La Provence à vélo é atualmente um site autónomo, onde se multiplicam as propostas mais variadas – a Provence investiu fortemente na associação da identificação da região como um destino paradisíaco para os ciclistas em férias. Figura 10 – O caso provençal francês Na gama da oferta de passeios em bicicleta, aimaginação não tem limites: em “LaplusbellescèneduSud” vemos a motivação teatral para um percurso ciclista não só pela paisagem cultural da região mas, também, especificamente, com incursão na cena criativa local: abre a possibilidade de participar numa pequena representação teatral (que pode ser encomendada com pequena antecedência), num programa musical, de dança ou outro. 96 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 cinema, encontros gastronómicos (do festival das sopas ao festival das trufas) e tanto mais. Os programas de turismo de Natureza na Provence são desenvolvidos igualmente da mesma forma cuidada e extensa, características essenciais para aumentar a atratividade de um território associada a temas. O tema água é tratado como um tema por si só, abrindo para um conjunto de propostas de atividades ribeirinhas e fluviais. Figura 11 – Exemplos de circuitos Este é um programa com alto potencial para ser replicado em Portugal, com a sua malha fina territorial de verdadeiros tesouros etno-culturais. Tomando por exemplo o território do Centro de Portugal: o grupo Trigo Limpo, em Tondela, com 30 anos de pesquisa, produção e animação teatral, os festivais ACERT, também em Tondela, o Teatro Regional da Serra de Montemuro, espantosa experiência cénica gerada na aldeia de Campo Benfeito, o Teatro Viriato, em Viseu, com fértil oferta profissional nos campos do teatro, da dança ou do circo, a empreendedora Escola da Noite, bem como O Teatrão ou o Centro de Dramaturgia Contemporânea/Teatro Académico de Gil Vicente, tudo em Coimbra, são alguns de muitos outros exemplos de parcerias a explorar, integrando com benefícios mútuos a experiência de Turismo Rural e a criação artística: algum turista pode esquecer a experiência de se tornar protagonista num espectáculo do Teatro Montemuro que tem palco no cenário real de uma aldeia? Parcerias deste tipo podem ser ampliadas a vários outros campos das artes: da música de expressão local (da balada ao folclore, passando pelo fado) ao artesanato ou até a novos criadores de moda ou audiovisuais. Os programas na Provence incluem ofertas como “Jazz na vinha”, “show de modelismo e miniaturas” em Avignon, festivais musicais, de teatro e de Figura 12 – Exemplos de circuitos em bicicleta Como encontrar este exemplo na internet: http://www.provenceguide.com; http://www.provence-a-velo.fr 97 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS Várias dezenas de parceiros subscreveram a carta “AccueilVélo”. Comprometeram-se com a rede de acolhimento de ciclistas. 4. Destination Ventoux A comunidade uniu-se para tornar inesquecível o acolhimento aos turistas que vão de bicicleta descobrir recantos da mítica montanha do Tour de France Em torno da criação de um destino para turismo em bicicleta cresceu uma indústria de serviços e produtos: a rede envolve mais de 70 profissionais, designadamente de serviços de transportes, seja de pessoas ou de bagagens, está montado um serviço que garante que qualquer compra feita pelo turista no seu passeio ciclista é prontamente entregue no local por este indicado, há serviços de apoio aos acompanhantes, há equipas de piquete para assistência e manutenção das bicicletas, há serviços de restauração (cafés e restaurantes) com horários e ementas conformes à preferência dos turistas e há serviço de merendas disponibilizado aos ciclistas todas as manhãs antes do começo da jornada em duas rodas. Toda a logística é garantida, com simplicidade, sem complicações. Figura 13 – logótipo DestinationVentoux Etapa mítica do Tour de France, a escalada do MontVentoux contribuiu para fazer deste território no sueste francês um destino apetecido por ciclistas de todo o mundo. Contexto: Este benchmark enquadra a perspetiva de uma equiparação ao caso português da Volta a Portugal em Bicicleta nas escaladas das Penhas e da Torre, na serra da Estrela, lugares também míticos para o ciclismo. O Centro tem, ademais, em Sangalhos e Águeda, uma âncora da tradição ciclista portuguesa, com uma indústria de fabrico de bicicletas reconhecidas a nível nacional. Diferentes interesses locais uniram-se para desenvolver o programa “Découverte à vélo autor duVentoux”. É uma descoberta em bicicleta de múltiplos percursos e lugares daquela montanha. Em suma: as entidades públicas, os comerciantes, os diferentes profissionais uniram-se para potenciar o valor de um local que já era lendário no mundo do ciclismo, agora aproveitado para fins turísticos. Taxistas, lojistas, hoteleiros, estalajadeiros, proprietários rurais, artesãos, os profissionais da restauração, dos bares, das enotecas, todos, cada um no seu domínio, estão comprometidos com um serviço de qualidade no melhor acolhimento aos turistas que se dispõem a conhecer o MontVentoux em bicicleta. O programa prevê diferentes circuitos para diferentes interesses, em função de temáticas e níveis de prática. Os programas disponíveis são: o programa Família, o programa Descobertas, e o programa Desportivo. 98 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Ou seja: ofertas para todos. A rede “AccueilVélo” enriquece os itinerários com propostas de visitas às vinhas e adegas da região, às quintas, aos santuários da gastronomia e doçaria, para além de promover visitas aos ateliês dos artistas e artesãos locais. Sempre em bicicleta. Os programas “Sportif” convidam a explorar porções da deslumbrante paisagem de altitude por onde pedalam os ciclistas no Tour. Na competição da Volta à França, os ciclistas mal têm tempo para contemplar a paisagem e nem podem pensar em desfrutar os prazeres locais. Nestes programas, tudo é proporcionado. Sempre com boa gastronomia, bons vinhos e excelente acolhimento. Assim, através de uma oferta estruturada, os parceiros desta iniciativa no MontVentoux promovem a qualidade do seu ambiente excepcional e o gosto de um modo de vida que cruza tradição e modernidade. Existem vários sites interligados que apoiam esta oferta: www.destination-ventoux.com; www.smaemv.fr; www.ventouxcomtat.com; www.provenceguide.com Figura 14 – Mapa de circuitos para bicicleta em Veloux Estão desenhados treze circuitos no MontVentoux. Passam por vales, colinas, aldeias medievais, monumentos, vinhas, pomares, hortas, bosques; há o cuidado de prever circuitos com diferente grau de dificuldade, alguns deles facilmente acessíveis para todos. Um dos programas, “EscapadeenAmoureux”, propõe 66kms em dois dias, entre lagos, vales e planaltos com visitas a vinhas, adegas, museus, e pastelaria artesanal – um dos museus visitados é o museu das trufas. Outro programa, o “Découvertes”, é uma aventura ciclista junto ao canal de Carpentras. 99 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 5. Ride Oregon Ride Neste mercado, 78% dos turistas dormiram na região durante a sua visita. A análise revelou que se trata de um turista com nível económico e cultural elevado, com gasto médio superior a outro tipo de turistas e com estadia mais prolongada. O Oregon é um destino turístico consolidado e maduro para utilizadores de bicicleta que soube aproveitar a tradição da utilização da bicicleta na região (Portland tem a maior taxa dos EUA de utilizadores de bicicleta nas deslocações para o trabalho), e investiu no desenvolvimento de um destino turístico fortemente ancorado numa marca consistente e que ultrapassa largamente o alcance de um produto de nicho. Por inerência, o Oregon tem como segunda motivação para deslocações turísticas o turismo outdoor (e, como terceira, o golf). A oferta é dirigida a todo o tipo de utilizadores de bicicleta: de estrada, de montanha, ciclistas dedicados, utilizadores ocasionais, incluindo uma gama diversificada de temas para passeios. Figura 15 – O caso do Oregon Em 2012, 4.5 milhões de turistas no estado federal do Oregon, nos Estados Unidos, usaram a bicicleta durante a sua viagem. Se este número por si só parece assinalável, o que destacamos como facto impressionante é que ele representa 74% do total de turistas a este estado em 2012. Destes, 33% tinha, antes da viagem, planeado usar a bicicleta. A estratégia desta operação com muitos anos de desenvolvimento incluiu a intervenção em vários planos de atuação. Desde já, importa fazer notar que o investimento em comunicação promocional só agora assume valores significativos (um milhão de dólares em 2012). Antes, houve um trabalho de malha fina realizado com o envolvimento dos praticantes de ciclismo e que ampliaram e adaptaram a rede de percursos existentes e que ajudaram a criar uma rede de locais públicos (cafés, restaurantes, lojas, etc.) que mostram identificar-se com os utilizadores de bicicletas e a tornar amigável a receção aos turistas em bicicleta. Atualmente, os percursos estão interligados formando uma rede de percursos sinalizados no terreno e que inclui uma rede de vias cicláveis panorâmicas. Inquirindo os utilizadores frequentes, 64% responderam que a prática de turismo em bicicleta foi a motivação principal para a viagem. 100 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 As autoridades de turismo investiram na visibilidade da oferta de turismo em bicicleta mesmo no site oficial do turismo (traveloregon.com) e não apenas no site nicho (rideoregonride.com), tal como nas outras plataformas de promoção turística do estado. Para potenciar para o Turismo Rural o valor turístico do destino para turistas em bicicleta, foram organizados em 2012 workshops dedicados, em vários locais, com o objetivo de capacitar as comunidades e os seus membros para capitalizarem sobre este binómio.Os objetivos operacionais foram: criar redes de parcerias para a o desenvolvimento de oferta integrada, desenvolver produtos turísticos, formação especializada nas várias componentes do negócio. Figura 17 – Ilustração do turismo apoiado na bicicleta Como encontrar este exemplo na internet: www.traveloregon.com; www.rideoregonride.com; www.cycleoregon.com Figura 16 – Aposta clara na comunicação do turismo em bicicleta 101 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 6. Turismo Rural na Irlanda Esquema de categorização dos alojamentos por afinidade com temas de interesse especial descobrir As categorias acomodam as características do mercado e a estratégia nacional para o desenvolvimento do Turismo Rural no país: “Eco-amigo”, “Interessado em Aventura”, “Pedestrianistas bem-vindos”, “Pescadores bem-vindos”, “Estadia numa Quinta”, “Amantes da Gastronomia”, “Praticantes de Golf bem-vindos”, “Amigos de animais de estimação” e uma nona categoria, adicionada no Verão de 2012, a “Experiência Gaeltacht” ou “Experiência Céltica” (turismo dedicado ao reencontro com as origens celtas do turista). Figura 18 – O caso da Irlanda Desde 2010, a Irlanda possui um sistema de classificação do alojamento rural (Bed&Breakfast), baseado em critérios para avaliação da qualidade do alojamento, como a arquitetura e traça tradicional, mas também a hospitalidade e qualidade das refeições. O sistema prevê as classificações de 5, 4 e 3 estrelas e “aprovado”. Figura 19 – Selos por tipologia ‘userfriendly’ Mas mais recentemente, em 2011, a autoridade nacional para o desenvolvimento do turismo, a FÁILTE IRELAND, adicionou um esquema adicional de classificação das casas, baseado em categorias de interesses especiais. A adesão a este esquema de classificação é voluntária. Até agosto de 2012, 500 alojamentos tinham aderido. O objetivo principal desta estratégia é combater a perda de turistas rurais para a concorrência direta dos hotéis budget, que provocaram nos últimos cinco anos uma quebra no mercado do alojamento rural na Irlanda. A entidade de turismo irlandesa considera o esquema como um instrumento de marketing para os proprietários dos alojamentos, que podem melhorar a sua estratégia de promoção tanto para o público em geral como para turistas de grupos nicho. Com este selo, os alojamentos podem mostrar quais são as suas áreas de especialidade e com que se identificam. 102 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 É esta a relação de classificações dos alojamentos nas categorias de interesses especiais (agosto de 2012): AdventureSeekersWelcome AnglersWelcome Eco Friendly Farmstays FoodLoversWelcome BlaiseadhGaeilge GolfersWelcome PetFriendly WalkersWelcome 189 195 22 63 40 27 228 50 386 (Fonte: Failte Ireland. 2012) Os alojamentos aderentes podem utilizar na sua comunicação os símbolos que identificam cada categoria e recebem autocolantes impressos. Os alojamentos passam a figurar no site oficial do turismo nas categorias que os identificam e recebem da autoridade de turismo da Irlanda apoio e aconselhamento técnico e informação sobre boas práticas nessas categorias. Serviços de lavagem de equipamentos e de lavandaria Alimentação: horários especiais para pequeno almoço, refeições ligeiras para levar, cesto de piquenique, serviço de jantares Designação de uma pessoa no alojamento para dar informação específica sobre a atividade na zona (percursos, guias especializados serviços adicionais, aluguer de equipamentos, serviços de transfer) Informação sobre a atividade e informação sobre outros recursos turísticos, mapas adequados ao tipo de atividade Conhecimento e informação sobre os prestadores de serviços especializados Kit básico de primeiros socorros Onde encontrar este exemplo na internet: http://www.failteireland.ie/FailteIreland/media/WebsiteStructure/Docu ments/eZine/FI-BB-Category-Brochure-FINAL-06-07-11.pdf Figuram também em campanhas promocionais nacionais sobre Turismo Rural e naquelas dirigidas aos mercados nicho. São várias as categorias onde se exige que o alojamento assegure níveis de qualidade e atendimento específicas para dar conforto ao turista: Armazenamento e capacidade de parqueamento que garanta a manutenção e segurança dos equipamentos Equipamentos para situações especiais: capas impermeáveis para pedestrianistas, kits de reparação para bicicletas… 103 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS os turistas em bicicleta procuram cada vez mais ofertas que lhes permitem manter os níveis de conforto a que estão habituados 7. Canadá, Ontário Fazer da “Tourism Region 8” um destino de férias amigo das bicicletas a internet é a chave para a promoção e venda deste tipo de turismo Na sequência de um estudo estratégico encomendado pelas autoridades responsáveis pelo turismo na denominada Região de Turismo 8 no Ontário, Canadá, foi lançado um projeto para tornar a região conhecida nacional e internacionalmente como um destino turístico para férias em bicicleta. A área abrangida inclui duas cidades, Peterborough e KawarthaLakes, e as suas envolventes que, no conjunto delimitam a Região de Turismo 8. O ciclo do produto turístico é subdividido em três componentes: rotas, trilhos e infraestrutura, serviços de negócios e eventos, e informação e marketing. Tendências de mercado aumento do número de turistas em bicicleta. No futuro provavelmente haverá um aumento significativo do turismo em bicicleta. diversificação dos segmentos de turistas que utilizam a bicicleta em férias são turistas que procuram atividades recreativas saudáveis e têm o tempo e os recursos para desfrutar a viagem o turista procura não apenas pistas e estradas para andar de bicicleta: é a experiência no seu todo que o motiva. Viagens únicas, lugares com autenticidade e culturalmente interessantes Segmentos de Mercado de turismo em bicicleta O mercado de ciclismo não é homogéneo e isso deve ser tomado em consideração no desenho de percursos, na informação a fornecer previamente e no grau de complexidade e conteúdos a incluir nesta informação, consoantes se trate de cicloturistas ou de utilizadores ocasionais de bicicleta. Dentro do cicloturismo, os promotores destacam a dimensão do turismo em bicicleta de montanha na região. Praticado tipicamente por turistas com menos de 40 anos, é um segmento que merece a atenção dos investidores em turismo. O turismo em bicicleta é referido como uma atividade com particular interesse económico, por recorrer a serviços e produtos de base local. Segmentos identificados: 1- O ciclista ocasional - Jovens adultos, famílias com crianças e adultos +50 anos - Andam de bicicleta poucas vezes por ano. - Duração ideal de um passeio: 1 a 2 horas 104 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - Pedalam a uma velocidade próxima da de uma caminhada e fazem paragens frequentes Motivação: Fitness, entretenimento, convívio social e com a família Vias preferidas: Caminhos próximos do alojamento, parques ou áreas de lazer A evitar: vias onde passam automóveis e subidas 2- O ciclista dos passeios de curta distância - Adultos no segmento golden age. Passeio com a família, em casal, com amigos ou sozinhos - Passeios regulares, semanais ou mensais - Distâncias habituais: 30-40km - Velocidade, um pouco mais rápida do que a de caminhar (2025km/h), com paragens frequentes - Motivação: fitness e contacto social - Passeios frequentes na zona de residência, deslocam-se em excursões internacionais de férias em bicicleta - A evitar: declives acentuados e estradas com movimento automóvel 3- O Ciclista de longas distâncias - Adultos e adultos no segmento golden age. Passeio com a família sem crianças, em casal, com amigos ou sozinhos - Passeios regulares, semanais ou mensais - Distâncias habituais: 65-100km - Velocidade: 25-30km/h), com poucas paragens - Motivação: fitness e a experiência do ciclismo - - Gostam de trilhos com boa manutenção e estradas pavimentadas com pouco tráfego. Gostam de percursos que duram vários dias Deslocam-se em excursões internacionais de cicloturismo A evitar: ecopistas com ciclistas ocasionais 4- Ciclistas de competição - Jovens ciclistas, sozinhos ou em grupo - Fazem ciclismo regularmente, como parte do seu treino desportivo - Distâncias: 100-160km. - Velocidade: 30km ou mais - Motivação: fitness, a experiência do ciclismo, desafios e competições Os diferentes segmentos de mercado têm interesses e necessidades específicas diferentese procuram experiênciasdiferentes: - Em família, são relevantes as questões de segurança das crianças e atividades de lazer para a família; - Ciclistas profissionais procuram desafios relacionados com o grau de dificuldade dos percursos; Ciclistas ocasionais procuram experiências envolvemcultura, eventose oportunidadesrelacionados. autênticasque Oportunidades para aproximar tornar o destino “amigo das bicicletas” Cada vez mais, os turistas em bicicleta procuram mais conforto e serviços complementares: alojamento confortável e com uma gama variável de preços, parking seguro para as bicicletas, transfer de bagagem 105 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 e acesso a serviços de alimentação no alojamento e para levar durante o dia. Gostam de uma boa refeição ao final do dia e talvez uma massagem ou experiência de spa. - Assistência em viagem para casos em que é necessário interromper a viagem. Muitos ciclistas viajam durante vários dias, ficando alojados em diferentes alojamentos e não permanecem num local único. Este tipo de turista necessita normalmente de um serviço de transporte de bagagem. Recomendações sobre o alojamento adaptado às necessidades do turista em bicicleta: - Restrições a reservas para apenas uma noite não se adapta a este perfil de turista; - Parking seguro para bicicletas. As bicicletas podem ser muito caras e a perda de uma bicicleta significa o fim de uma viagem de bicicleta; - Serviço de alimentação nas proximidades (menos de 2 km). Um bom pequeno almoço é importante para os ciclistas, assim como o fornecimento de uma refeição ligeira para levar; - Lavagem e secagem de equipamento técnico; - Informação de apoio (rotas, mecâncio para pequenas reparações; - Kit para pequenas reparações; - Serviço de transfer de bagagens entre alojamentos. O turista tem dificuldade em organizar este serviço por si só. Os proprietários do alojamento podem fixar um custo para este serviço, limitando a distância máxima; 106 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 8. Clube de Produto BIRDING IN EXTREMADURA Figura 20 – O caso da Extremadura Um Clube de produto turístico é uma estrutura que reúne e coordena a gestão de um conjunto de serviços turísticos organizados. Oferece como vantagem para o turista uma garantia de qualidade (há um sistema de regulação da atividade e controle da qualidade e prestação dos membros). A sua visibilidade traduz-se num selo/marca indicador de pertença das empresas, do produtos e dos serviços ao clube. O Clube de Produto Birdingin Extremadura permite articular a oferta turística relacionada com o turismo ornitológico de acordo com critérios de qualidade. Tem por objetivo principal gerir a aposta da Extremadura como destino turístico de birdwatching. O clube promove a integração de serviçose produtos diversos em torno do turismo ornitológico – serviços turísticos especializados, serviços turísticos de apoio, serviços complementares e serviços básicos de suporte. Através desta aliança para o planeamento, gestão e promoção de um produto turístico, há um benefício comum e potenciação do negócio para todos os envolvidos. O resultado é um conjunto de serviços de turismo ornitológico competitivos e aumento da visibilidade do destino. O Clube de Produto “Birdingin Extremadura” é promovido pela direção geral do turismo da Junta da Extremadura e conta com o apoio de entidades e associações empresariais. O objetivo é desenvolver o turismo ornitológico na região da Extremadura espanhola de forma estruturada e acompanhando a evolução dos mercados espanhol e internacionais para a atividade. A Comunidade Autonómica da Extremadura é, à semelhança dos territórios contíguos em Portugal, uma região de elevado valor para a observação de aves e tem realizado um esforço continuado de investimento na sua identificação como destino turístico de birdwatching. Consciente do valor cultural e paisagístico da Extremadura, as autoridades promovem a região como um paraíso para o turismo ornitológico. Os habitats de interesse para a observação de aves e inseridos na Rede Natura 2000 como Zonas de Proteção Especial para as Aves apresentam enorme diversidade, são, de facto, um mosaico natural, entre serra, alta montanha, pastagens de média-altitude e paisagens agrícolas, formações de bosque mediterrânico bem conservadas, galerias ripícolas numa densa rede de cursos fluviais e planos de água abertos, o que permite a organização de férias com a duração de vários dias e observação de grupos de aves diferenciados. Na atualidade, a atividade profissional de birdwatching na região é desenvolvida por um número significativo de empresas de turismo ornitológico, agências de viagens especializadas, empresas que prestam serviços de apoio complementares à atividade e uma rede de alojamentos que se especializaram no tema. 107 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Para garantir o desenvolvimento sustentável da atividade, foram associados agentes de desenvolvimento local (equivalentes aos GAL portugueses) e realizados investimentos públicos. Tanto estas empresas como as entidades de desenvolvimento local foram integradas no Clube de Produto de turismo ornitológico. O Clube está direcionado para a atividade profissional de birdwatching, mas também para a componente recreativa, abrangendo diversos tipos de público. A gestão do produto turístico ornitológico em todas as áreas designadas como de interesse para a observação de aves na Extremadura é feita através do Clube de Produto. A aplicação dos normativos do clube são assegurados nas várias zonas abrangidas pelos GAL. O clube propõe-se estruturar e organizar toda a oferta turística relacionada com a observação de aves na região e canalizar fluxos turísticos, assegurando qualidade da oferta e sustentabilidade na conservação dos valores naturais. Instrumentos de gestão do clube: - gestão centrada numa entidade - análise qualitativa de propostas de adesão de novas áreas geográficas - controle de qualidade e de cumprimento dos normativos - plano de formação para os membros´ - ações de marketing Papel das entidades de coordenação local: - planear e organizar o acesso de novos membros ao clube - ações de promoção e apoio à comercialização - aconselhamento técnico - promover o trabalho em rede Benefícios para os membros: - As empresas e serviços que integram o clube têm direito a usar o logótipo da marca para diferenciar e dar credibilidade à sua oferta - oportunidades para desenvolver produtos em rede - maior competitividade da oferta - acesso facilitado a informação técnica especializada - participação em ações de promoção nacionais e internacionais conjuntas - selo de qualidade - benefício indireto à medida que a região se afirma como destino de turismo ornitológico O crescimento do clube é feito por etapas, sendo gerida em separado a adesão de cada área geográfica. Por exemplo, na área do Parque Nacional de Monfrague, o clube conta atualmente com: - 2 pontos de informação turística e 2 centros de interpretação - 4 guias especializados - envolvimento de 3 grupos de ação local - 8 alojamentos especializados Características do alojamento especializado para birwatching no clube de produto: - Serviços de secagem de roupa - Adaptar os horários às necesidades dos observadores de aves (que podem querer sair para o campo antes do amanhecer) - Refeições ligeiras para levar para o campo - Informação sobre a lista de aves identificadas para a zona de proximidade ao alojamento Como encontrar este exemplo na internet: http://www.birdinginextremadura.com 108 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 9. Bikotel – Bike Friendly Hotéis Serviços como lavar a bicicleta e a roupa técnica, garagem para armazenar com segurança bicicletas, lojas para pequenas reparações de bicicletas e refeições adequadas para os ciclistas são algumas das comodidades adicionais de um Bikotel. Este projeto é baseado numa rede de unidades de alojamento que possuem um rótulo/label BIKOTEL reconhecendo as suas boas práticas em sete aspetos distintos obrigatórios (parqueamento, garagem, menu, lavagem, oficina, percursos) e vários opcionais que representam necessidades dos ciclo-turistas. Esta filosofia de rede merece ser transposta para a rede de alojamentos rurais. A opinião da consultora é a de que a escala do alojamento rural, mais reduzida do que a de um hotel, não é impedimento à estruturação desta rede, que terá, naturalmente, características diferentes da rede associada aos hotéis, mas poderá cumprir igualmente os objetivos para que é desenhada. Figura 21 – Bikehotels, conceito em consolidação O projecto BIKOTEL é promovido em Portugal pela empresa A2Z Consulting (byYtravel, Lda) e conta com o apoio do Turismo Centro de Portugal. Lançado em 2012, o projeto oferece uma forma simples de encontrar hotéis certificados como Bikotels e vários tipos de rotas para passeios de bicicleta. O modelo de negócio não é original. A Alemanha foi pioneira; é interessante a consulta ao mais recente projeto de bikotels na Itália. 109 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 10. “Wine Tourism Development Information” Fichas Técnicas “Providing a total visit or experience” e “Know your tourism market” Tourism New SouthWales (2000) A motivação e expectativas dos visitantes de uma adega podem não se encontrar dentro de uma garrafa Nestas fichas técnicas dedicadas ao organizador de enoturismo são apresentadas diversas recomendações para criar uma experiência turística integral baseada no enoturismo e no estabelecimento das parcerias certas com outros intervenientes na experiência global desde a chegada do turista à região. São várias as razões que levam um turista a visitar uma adega ou a quinta de um produtor de vinho: a expectativa de uma experiência agradável aprender algo mais sobre vinhos e, em particular, sobre os vinhos daquela região provar vinhos e talvez comprar alguns. Esta experiência não pode ser vivida numa loja de vinhos na cidade, mesmo que o produtor se tenha deslocado lá para uma sessão de provas. O turista espera descobrir algo especial naquela visita, talvez um novo sabor ou um vinho para levar consigo. Cada interveniente na experiência turística, seja o proprietário do alojamento, seja o dono de uma adega, seja o operador de animação turística, não operam no vácuo, todos fazem parte da experiência, todos servem, naquele fim de semana ou férias o mesmo turista. Quer se conheçam pessoalmente, quer não, fazem arte de uma equipa que promove a região através dos seus produtos e serviços. Para contribuir para a satisfação do turista, é importante conhecer os padrões de qualidade e propostas de valor dos outros fornecedores e que se ajustam a cada tipo de cliente e tentar que o turista faça as escolhas vão ao encontro das suas expectativas. O proprietário de um equipamento ou fornecedor de um serviço deve conhecer pessoalmente as ofertas: já jantou no restaurante que recomenda, já dormiu no alojamento, já usou os serviços de animação, já visitou as adegas e já participou nos seus programas de provas. A recomendação que faz é baseada na sua avaliação pessoal. Tem a credibilidade de uma opinião fundamentada. Além do mais, conhecendo os vários recursos, podem ser feitas parcerias comerciais que contribuam para valorizar a experiência do seu cliente/turista. Uma adega é um ponto de venda, mas para o enoturista, é muito mais do que isso. Para ele, é uma experiência e integra a experiência mais alargada que são as suas férias na região. 110 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 O que é o enoturismo? Trata-se de um conjunto de experiências relacionadas com a vista a adegas e regiões vinícolas e que incluem: provas gastronomia e vinhos touring na região e na envolvente às adegas viagens de um dia ou estadias mais prolongadas experiências culturais e de turismo de complementares seus amigos. Idealmente, terá tido uma oportunidade para desenvolver o seu palato e ser reconhecido como conhecedor e provou um vinho raro ou acabado de chegar ao mercado. Este tipo de turista pode fazer viagens de enoturismo internacionais. Quem são os enoturistas? natureza Quem são os enoturistas? Subdividem-se em três categorias: ocasionais interessados dedicados As expectativas variam nestes três segmentos: os enoturistas dedicados têm, na visita a uma adega, a sua motivação focada pelo vinho aí produzido, enquanto que os outros dois tipos de enoturista estão em visita à região para passar um dia ou uma temporada no campo, ao que acrescentam o prazer de uma visita a uma adega. Para que a sua experiência seja gratificante, precisam de se sentir à vontade na adega e não intimidados. Estão interessados em aprender algo mais sobre vinhos, mas num ambiente descontraído. Para que a experiência do enoturista dedicado seja gratificante, é preciso que descubra algo sobre vinhos que não estaria disponível numa loja de vinhos na cidade. No final, terá novidades ou uma história para contar aos Quatro tipologias associadas a valores psicográficos estão associadas positivamente com enoturistas. Correspondem a perfis diversos e representam oportunidades para desenvolver experiências de enoturismo ajustadas aos clientes potenciais: Sinais exteriores de sucesso: Procuram reconhecimento e estatuto social, procuram qualidade, viagens tipo “o lado bom da vida” e que confirmem o seu nível de sucesso. Respondem a mensagens de um marketing inteligente e provocador; Atentos aos sinais sociais: modernos e progressistas, interessados em estilos de vida estimulantes, bem informados, frequentemente são apreciadores de arte e têm consciência social e ambiental. Respondem a mensagens de marketing com estilo, bom gosto e inteligentes; Vida de família tradicional: casais sem crianças, também golden age, procuram lugares interessantes para as suas férias, rejeitam propostas inovadoras mas respondem a mensagens claras; Aspirantes a um estilo de vida melhor: focados na carreira profissional, casais jovens, recorrem acredito para financiar o seu estilo de vida aspiracional. Respondem a mensagens do marketing que os posicionam no estilo de vida a que ambicionam chegar. 111 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 11. Via Algarviana Um projeto estruturante para o interior algarvio e para a identidade do Algarve como destino de turismo de Natureza A via está sinalizada de acordo com as normas internacionais para as grandes rotas pedestres. Inclui também informação turística ao longo dos catorze sectores em que se subdivide: painéis interpretativos mostram o património natural e cultural em presença e os locais de alojamento e alimentação mais próximos. Organizada como Grande Rota Pedestre (GR13), a via Algarviana tem cerca de trezentos quilómetros de caminho com sinalização turística. Atravessa o interior do Algarve, Alcoutim ao Cabo de S. Vicente. A GR funciona também como ponto de partida para a rede regional de percursos pedestres. Figura 23 – Sinalização da via algarviana Posicionando-se como projeto de turismo sustentável e responsável, as linhas estratégicas incluem a dinamização da economia local e atenção aos territórios desfavorecidos do interior algarvio, e também a preservação de valores naturais e culturais. Figura 22 – O caso da via algarviana Desenvolvida como projeto de ecoturismo ancorado numa grande rota (GR) e não como uma GR à qual se adiciona informação sobre alojamento e animação, é um exemplo de um projeto de desenvolvimento turístico integrado, direcionado para a promoção do turismo de Natureza no Algarve. O principal recurso a potenciar é a prática do pedestrianismo, mas são também promovidas outras formas de ecoturismo, tendo em vista a diversificação da oferta turística, o combate à sazonalidade do turismo, o combate à desertificação das serras algarvias e um esforço para consolidar micro-iniciativas económicas em curso e estimular a criação de novas. A agenda de atividades em volta do pedestrianismo inclui frequentes propostas de caminhadas, algumas temáticas, outras dirigidas para a 112 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 descoberta geral do património do troço do percurso. Inclui também propostas originais, como caminhadas noturnas. O turismo ornitológico é uma das componentes estratégicas para o aproveitamento turístico da via Algarviana, procurando capitalizar sobre a presença de turistas estrangeiros no Algarve, e em particular de mercados emissores de turistas de birdwatching, como o Reino Unido, a Alemanha, a Holanda e a França. O produto birdwatching está focado em quatro pontos territoriais chave: Vila do Bispo, Loulé, São Brás de Alportel e Castro Marim, que funcionam como hotspots para a observação de aves na GR. Para além de algum investimento de infraestruturação, estão a ser preparados roteiros de birdwatching específicos para cada um destes locais. A via algarviana pretende ser um projeto estruturante pata o interior do Algarve. Pela sua dimensão e estrutura coordenada e coerente, desde já está facilitado o seu aproveitamento para a construção da identidade do território algarvio como destino de turismo de Natureza e como destino a explorar forma da época alta para o turismo. É importante destacar a forma integrada como neste projeto se potencia o valor turístico da enorme riqueza paisagística e cultural do interior algarvio nos dois eixos turísticos específicos do pedestrianismo e turismo ornitológico. 113 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS 12. Greenways: via verde para as ecopistas como parte da promoção de produtos turísticos O pioneirismo de 1994 foi em Espanha, com a abertura dos 38 quilómetros da “Via Verde de LaSierra” entre Puerto Serrano (Cádiz) e Olveras (Sevilha), na Andaluzia, e os 54 quilómetros no antigo “carrilet” catalão entre Girona e Olot. Dez anos depois, em 2004, Espanha já tinha a funcionar 1200 quilómetros de ecopistas em 68 “vias verdes” por todo o território, nas Astúrias como em Jaén, em Toledo como em Castellón. Em 1998, no decurso de uma reunião em Namur, na Bélgica, foi criada a EuropeanGreenwaysAssociation (EGWA), com a missão de promover e difundir as “vias verdes”(ecopistas) , em particular na Europa. A EGWA agrega hoje 42 organizações de 11 países, com o secretariado baseado, desde 2009, em Espanha, incluindo Portugal. A EGWA-Greenways, para além de promover a melhor acessibilidade para todos, designadamente pessoas com mobilidade reduzida, às novas vias criadas, propõe-se e tem conseguido resultados reconhecidos, usar as ecopistas como plataforma para a promoção de produtos turísticos temáticos no âmbito do turismo sustentável, com valorização da paisagem natural, cultural, histórica e humana no trilho da ecopista. Figura 24 – O caso das Ecopistas Em 1994 foram abertas as primeiras “vias verdes” na Península Ibérica. A designação espanhola de “vias verdes”, que acompanha directamente o conceito britânico de “greenways”, evoluiu em Portugal para “ecopistas”. No essencial: antigos caminhos de ferro que se tornaram novos caminhos verdes para o desfrute das rotas em bicicleta ou a pé – e, em certos casos, também cavalo. A sua criação foi impulsionada pelo abandono de milhares de quilómetros de linha ferroviária que tinha entrado em desuso. A experiência espanhola ilustra – como documenta CarmenAycartLuengo, Diretora de Atividades Ambientais e VíasVerdes naFundación de losFerrocarrilesEspañoles – como as “vias verdes” têm sido instrumento para a dinamização do Turismo Rural e de práticas de bem-estar na natureza. O Diário de Cadiz, na edição de 11 de Abril de 2010, colocava em destaque na primeira página que “La via verde se consolida como revulsivo de laSierracon 100.000 visitas anuales. La demanda turística propicia lacreación de empleos”. A “Via verde de laSierra” é assim reconhecida como locomotiva do turismo (100 mil visitantes) e do emprego, nos sectores do alojamento, restauração, guias turísticos, aluguer e reparação de bicicletas, transferes, etc. 114 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Os agora 120 quilómetros de via verde que ligam os Pirenéus ao Mediterrâneo têm 1.800.000 utilizadores por ano, tendo gerado a criação de um “ConsorciGironaGreenways”. Este consórcio envolve actualmente 54 empresas. Multiplicam-se as actividades para todos, dos mais jovens à chamada golden age, com o conforto de vias acessíveis, seguras, fáceis. O turismo ornitológico (birdwatching), considerado como um dos segmentos turísticos com maior crescimento em Espanha, encontrou na rede de vias verdes um forte apoio. Algumas antigas estações ferroviárias tornaram-se estalagens rurais, centros de informação turística e locais de venda de produtos regionais. O êxito desta estratégia é reconhecido. Em Portugal, o Plano Nacional de Ecopistas foi lançado em 2001 por iniciativa da REFER: visou a requalificação e reutilização das linhas e canais ferroviários sem exploração em algumas áreas do Norte, Centro e Alentejo. O desenvolvimento deste plano tem sido suportado por acordos contratuais com os municípios que são atravessados por essas linhas e canais desativados, responsabilizando-se a REFER (ramo Património) por promover a elaboração de estudos prévios de projetos de arranjo paisagístico, base para os projetos de execução de cada Ecopista. Tudo passou pela adoção e registo da Marca Nacional e Europeia (ECOPISTAS), bem como pela integração da REFER como membro da Associação Europeia das Vias Verdes. Foi então formalizada a seguinte definição de ecopistas, a partir da “Declaração de Lille”, de Setembro de 2000, para uma “Rede Verde Europeia”: vias de comunicação autónomas, reservadas às deslocações não motorizadas, realizadas num quadro de desenvolvimento integrado, que valorize o meio ambiente e a qualidade de vida, e que cumpra as suficientes condições de largura, inclinação e qualidade de pavimentação, de forma a garantir uma utilização em convivência e segurança por parte de todos os utentes, independentemente da capacidade física dos mesmos. Nesta dúzia de anos a REFER já promoveu a criação em Portugal de dez ecopistas: Ecopista de Mora: É o trajeto entre Évora e Mora, correspondente ao antigo Ramal de Mora. Os 20 quilómetros já concluídos ligam Évora a Sempre Noiva. Esta Ecopista está inserida na Rede Verde Europeia do Espaço Mediterrâneo Ocidental, que, aquando da sua conclusão, se estenderá do sul de Portugal ao sul de Itália Ecopista do Tâmega: O trajeto de 10 quilómetros realiza-se entre as estações de Amarante e Chapa, passando por Gatão, correspondente ao antigo canal ferroriário. Existe também iluminação pública no troço entre as estações de Amarante e Gatão, com características mais urbanas, para possibilitar a prática de jogging. Ecopista do Rio Minho: São 14 quilómetro que compõem o trajeto entre Valença e Monção, ladeado pelo rio Minho. Este percurso é rico em ilhotas, matas ripicolas e veigas férteis, Ecopista Guimarães – Fafe: O percurso de 14 quilómetro liga Guimarães a Fafe, ainda que esteja projetado o seu aumento para 28 quilómetros, terminando em Creixomil. Ecopista do Ramal de Famalicão: O percurso liga Famalicão à Póvoa de Varzim, estando implantada numa zona rural e florestal, bem no coração do Verde Minho. São 10,2 quilómetros de beleza e serenidade. 115 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Ecopista do Corgo: Esta ecopista tem na sua totalidade 71 quilómetros, mas apenas 9 estão neste momento disponíveis, fazendo o percurso de Vila Pouca de Aguiar. Ecopista do Sabor: Os 12 quilómetros de trajeto, correspondentes à antiga Linha do Sabor, ligam Torre de Moncorvo a Larinho. Ecopista do Montado Montemor-o-Novo: Com cerca de 13 quilómetros, este caminho liga Torre da Gadanha e Montemor-oNovo. Ecopista do Dão: Este percurso de cerca de 49 quilómetros liga Santa Comba Dão a Viseu e permite a passagem na ponte metálica ferroviária do Mosteirinho com uma extensão de cerca de 300 metros, um dos locais mais emblemáticos deste percurso. Ecopista do Vouga: O trajeto realiza-se entre Sernada e Viseu com 96 quilómetros, dos quais 9 estão já disponíveis, correspondendo ao percurso do Sever do Vouga. Estas duas últimas – Ecopista do Dão e Ecopista do Vouga – inserem-se no território que é foco do estudo piloto deste estudo. São recursos de valioso potencial para o desenvolvimento do sistema de redes que analisamos. Em Portugal também, como noutros países, o uso das ecopistas é partilhado entre as comunidades locais, para fins recreativos, e os turistas de outras localizações. Como evidência da capacidade das ecopistas de contribuírem para as economias locais, destaque-se o exemplo na ecopista do Dão, que tem como serviços complementares ancorados nela um posto de restauração numa das antigas estações de comboio, uma empresa de animação turística e aluguer de bicicletas, também localizada na ecopista e um recente alojamento rural e empresa de animação turística. 116 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 1 - BENCHMARKS E BOAS PRÁTICAS convincente do que temos de melhor no domínio da gastronomia e vinhos”. 13. PROVE PORTUGAL Promover o país que tem “o melhor peixe do mundo” Restaurantes, produtos e gastronomia são as três grandes secções que alimentam o portal onde é visível o dedo autorizado de um rosto reconhecido como é José Bento dos Santos. Para o programador turístico, esta é uma fonte de recursos de elevado interesse e qualidade, que diferenciam as regiões e também o país, conferindo-lhes densidade cultural e capazes de criar expectativas elevadas sobre a experiência turística que envolva estes recursos. Figura 25 – O caso Prove Portugal O programa “Prove Portugal” foi lançado pelo Turismo de Portugal em colaboração da Academia Portuguesa de Gastronomia, com a intenção de promover “o bom sabor de Portugal”. Visa afirmar Portugal como destino gastronómico, sensibilizando, nacional e internacionalmente. Um portal na internet (http://www.proveportugal.pt/), disponível por agora em português e em idioma inglês, trata de “construir uma imagem Na área “restaurantes” são propostos ao visitante 82 restaurantes seleccionados, do Minho ao Algarve mais Açores e Madeira. Numa pasta dedicada a “chefs” de eleição, cinco deles aguçam o apetite do visitante para as suas escolhas de “cozinha portuguesa de vanguarda, moderna e criativa que recria sobre produtos excepcionais, novos gostos memoráveis, e combinações qvue nos transmitem emoções gastronómicas”: Albano Lourenço, da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, propõe uma carne de porco à portuguesa; Henrique Sá Pessoa, do restaurante Alma, opta por ameijoas à Bulhão Pato; José Avillez, do Tavares, escolhe um bacalhau à Brás; José Cordeiro, do Altis Belém, propõe-nos um arroz de tamboril; Leonel Pereira, do Sheraton Lisboa, aposta numa cataplana de lavagante. A escolha maioritária destes “chefs” remete-nos para a mais tentadora sugestão logo no topo do portal: “o melhor peixe do mundo e mariscos estupendos”. É precisamente esteum dos temas desenvolvidos noutra das secções do portal, a dos produtos: desfilam peixes, vinhos, azeites, queijos de montanha e frutos e legumes. Abrindo cada uma destas propostas, 117 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 saltam-nos em tentação o robalo de Sagres, o peixe-galo de Peniche, o salmonete de Armação de Pera, mais o cherne fresquíssimo, o camarão de Espinho ou da Quarteira, os lagostins de Cascais, os percebes das Berlengas ou as ameijoas cristãs da Ria Formosa; não poderia faltar ampla oferta de vinhos, é a porta aberta a seguir; logo ao lado estão os azeites, depois os queijos, o da Serra da Estrela, de Serpa, de Azeitão, Terrincho, Rabaçal, Niza e Açorinos com o queijo curado de S. Jorge à cabeça; na pasta Prove Portugal de frutos e legumes, as propostas vão das cerejas da Cova da Beira ao ananás dos Açores. Uma outra das secções principais conduz-nos pela diversidade da gastronomia, com a cozinha regional, a cozinha contemporânea e a dieta mediterrânica. Este desfilar de tentações gastronómicas torna-se irresistível, mostra-se poderosamente eficaz. Corrobora o que David Lopes Ramos atesta na introdução do portal: “o sabor de Portugal é requintado, sofisticado e cosmopolita”. José Bento dos Santos dá a seguir o mote para o que este Prove Portugal pretende provar: “Portugal é um destino gastronómico de eleição”. O portal, naturalmente, não nos fala de paellas, risotos, gaspachos ou coq au vin. Fala-nos de pratos, produtos e sabores que entram para o menu da identidade portuguesa na gastronomia e vinhos. Ao entrar-se no portal Prove Portugal, o desejo de provar fica irresistível. Dependerá da competência e imaginação do criador de produtos turísticos a capacidade de tirar partido da grande qualidade e diversidade da gastronomia portuguesa. 118 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 119 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 2 - Inquérito Entre os dias 26 de Setembro e 10 de Outubro de 2012 foi realizado um inquérito a diversos sectores do turismo português, com relevância para a criação de oferta estruturada com base no Turismo Rural, para o qual foram recebidas 136 respostas. Este inquérito teve como objectivo averiguar a existência e o nível de cooperação entre as várias empresas do sector, bem como os procedimentos em torno das parcerias, tais como a divulgação, operacionalização e grau de satisfação das entidades envolvidas. Parcerias Os dados do inquérito são elucidativos quanto à importância atribuída à criação de parcerias entre organismos do sector, já que mais de 80% dos inquiridos considera as parcerias positivas, sendo que sensivelmente a mesma percentagem costuma trabalhar recorrendo a este tipo de compromissos. A satisfação do cliente e uma melhor promoção do território são vistas como as principais vantagens das parcerias, com mais de 50% dos inquiridos a atribuírem a importância máxima a estas respostas. O aumento do volume de negócios, a manutenção da etnografia local e a conservação dos valores naturais e culturais já são colocados num nível secundário. Percebe-se que a popularidade das parcerias se deve principalmente a uma questão económica, a canalizar através da satisfação dos clientes e da promoção do território como um todo, revelando uma clara perceção sobre a importância destas questões para o desenvolvimento turístico sustentável. Os parceiros mais populares são o binómio unidades de alojamento e empresas de animação turística, com respectivamente 30% e 26% das respostas. Naturalmente, o cruzamento de ambos os dados denota que esta parceria bilateral é atualmente a mais explorada. Há ainda quem faça parcerias simultaneamente com associações e artesãos locais, empresas de animação turística, restaurantes e unidades de alojamento, num total, ainda assim baixo, de 8% dos inquiridos. É de notar que grande parte das parcerias (85%) são organizadas pelo próprio inquirido e não pelo potencial parceiro. Existe portanto uma preferência pelas parcerias com empresas que ofereçam um serviço (alojamento) ou uma atividade que complemente a oferta já existente (empresas de animação turística). A sazonalidade existente no turismo português vem ao de cima quando se evidencia como a maioria das parcerias existentes (36%) correspondem a atividades pontuais, muito provavelmente fruto de acontecimentos especiais não relacionados diretamente com o promotor mas sim com eventos decorrentes nas diferentes regiões. Quando se observa que 33% dos inquiridos possuem parcerias permanentes, possivelmente de longa data, e que são raras as parcerias com uma periodicidade semanal ou mensal, percebe-se que os dois extremos (permanentes e pontuais) refletem realidades muito diferentes. Redes sociais A importância dos mercados internacionais aliada ao avanços tecnológicos torna praticamente obrigatório recorrer a uma plataforma 120 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 virtual para aa divulgação dos serviços e produtos oferecidos. As redes sociais e website próprio são apontadas como as opções onde mais de 50% das respostas têm classificação máxima. Desta forma, com um custo mais reduzido é possível aos vários stakeholders alcançarem um maior espectro de clientes nacionais e internacionais. Os meios de comunicação mais tradicionais como os panfletos ainda são utilizados, mas são claramente uma opção secundária. Temas para as parcerias De entre os serviços oferecidos em parceria, os mais comuns são as experiências gastronómicas e o enoturismo (total de 50%), os passeios pedestres e programas organizados com 45% e 41% das respostas, respectivamente. As atividades com bicicletas (22%), equestres (22%) e aquáticas (31%) também são realizadas, mas com uma frequência menor. É através de parcerias, mesmo que pouco estruturadas e meramente bidirecionais, que muitas empresas conseguem trabalhar, com um nível de interesse superior, aqueles que consideram ser os maiores valores da ruralidade portuguesa. Quando se comparam os serviços existentes com os que os stakeholders gostariam de oferecer, verifica-se que a parceria mais desejada é a criação de descontos para os clientes, com 42% das respostas, seguida pelos programas organizados (39%) e pelas experiências gastronómicas(37%). Os passeios equestres apresentam a mesma percentagem (22%), enquanto que as atividades aquáticas são menos desejadas do que as atualmente praticadas (29% contra os 31% que já as realizam), assim como os passeios pedestres (31% contra os 41% que já os realizam). A criação de descontos não torna uma oferta mais completa, mas torna-a mais competitiva e economicamente interessante. Naturalmente, o desejo de realizar mais parcerias para a criação de descontos prende-se com a necessidade de tornar mais apelativo o serviço oferecido. Estes resultados revelam-se muito interessantes porque, ao darem enfoque principal às parcerias via descontos, os inquiridos demonstram algum facilitismo na perspetiva que têm acerca do estabelecimento de parcerias, mas também um olho clínico para aquela que é, nos dias de hoje, uma tendência pronunciada, principalmente no que respeita ao mercado português – a busca pelos descontos. Tal não é tão verdade quando analisamos os mercados estrangeiros, pelo que ao optarem em 2º lugar pela resposta relacionada com os programas organizados, dão um sinal de que há vontade de mudar e seguir uma via mais proativa do que a que têm vindo a seguir até aqui. Tanto nas parcerias existentes como nas desejadas, as atividades com bicicletas, equestres e aquáticas assim como os percursos pedestres, obtiveram, apesar de tudo, percentagens consideráveis, demonstrando que o património natural é considerado por todos os stakeholders como um dos pontos fortes do nosso país. Entidade coordenadora A existência de uma entidade gestora que promova e dinamize a criação de redes de parcerias locais é considerada importante por 68% dos inquiridos contra 14% que não veem qualquer utilidade nela. As principais justificações para esta falta de utilidade prendem-se com a falta de parceiros disponíveis e com o pouco dinamismo na região. 121 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Curiosamente, as razões apresentadas para a falta de utilidade de uma entidade gestora são precisamente aspetos que seriam desenvolvidos com o auxílio dessa entidade - fortalecimento de uma rede de parceiros, que consequentemente levaria a um aumento do dinamismo da região. Estes dados denotam alguma falta de informação destes 14% de inquiridos, inclusivamente nas novas formas de abordar os mercados, mas é de realçar a maioria e a importância que esta resposta tem para a potenciação da atividade da PRIVETUR. Por último, para os inquiridos, o fortalecimento do negócio, a diversificação da oferta, o aumento da atração de clientes, a otimização de custos e a promoção da região correspondem a vantagens claras de uma rede de parceiros. Apenas a possibilidade de criação de novas infraestruturas de apoio não se mostra como uma contrapartida positiva tão forte. Gráfico 2 – Percentagem de agentes que possuem parcerias Esta última pergunta vem mais uma vez demonstrar que existe a consciência de que uma rede de parceiros traria muitas vantagens, principalmente numa vertente de competitividade económica. Gráfico 3 – Tipologias de entidades parceiras dos agentes de Turismo Rural Gráfico 1 – Opinião sobre o desenvolvimento de parcerias em Turismo Rural 122 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Gráfico 6 – Tipos de serviços oferecidos em parceria Gráfico 4 – Motivos para consiferar as parcerias positivas (Escala de valores) Gráfico 7 – Tipo de serviços que gostaria de oferecer em parceria Gráfico 5 – Periodicidade de funcionamento das parcerias actuais 123 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Gráfico 10 – Opinião sobre importância da existência de uma entidade gestoras das redes de parcerias locais Gráfico 8 – Meios de divulgação dos produtos/ serviços Gráfico 9 – Promotor das parcerias actuais Gráfico 11 – Motivos para não considerar importante a existência de uma entidade gestora das redes de parceiras locais 124 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Gráfico 12 – Opinião sobre vantagens da existência de uma rede de parceiros no Turismo Rural 125 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 126 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 3 - Diagnóstico participativo No que se refere à auscultação dos players, foram ouvidos interlocutores de entidades públicas, como o secretário de Estado para o Turismo, vereadores de diversas autarquias e o presidente do Turismo do Centro, consultores, proprietários de alojamentos de Turismo Rural, investigadores e técnicos especializados, mestres e estrategas, e alguns turistas, podendo-se assim afirmar que foi recolhido um considerável número de opiniões válidas relativamente às necessidades e fatores de competitividade deste sector em Portugal. 1. Entrevistas técnicas No decorrer deste estudo foram realizadas mais de 150 entrevistas a diversos playersdo turismo, designadamente a: 45 proprietários/empreendedores turismo em espaço rural (27 portugueses, 10 brasileiros, 8 espanhóis); 26 empresários e agentes de animação turística; 25 proprietários ou dirigentes de enoturismos ou de propriedades vinícolas e adegas com potencial turístico; 16 responsáveis por centros hípicos ou equestres; 14 autarcas eleitos da região Centro (Almeida, Anadia, Arouca, Figueira de Castelo Rodrigo, Montemor-o-Velho, Nelas, Oliveira do Hospital, Santarém, São Pedro do Sul, Sever do Vouga, Tábua, Tondela, Vila Nova de Paiva, Viseu, Vouzela); sete empresários e agentes de animação cultural; três federações desportivas (Federação Equestre Portuguesa, Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicletas, Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada). Foram realizadas duas entrevistas ao presidente do Turismo do Centro, designadamente as publicadas no portal PRIVETUR News (www.PRIVETUR.pt) 2. Reuniões e processos de consulta 2.1 Foram realizadas reuniões de trabalho com: três associações de Desenvolvimento Local (ADICES, ADDLAP e ADRIMAG); duas entidades coordenadoras vinícolas (Comissão Vitivinícola Regional do Dão, Rota do Vinho da Bairrada); vários representantes de associações, media e outras forças vivas locais e regionais. Foram efetuadas consultas aos parceiros internacionais da PRIVETUR na EUROGITES e no IDESTUR (Brasil). 2.2 Participação em eventos Houve participação e reuniões em eventos como a BTL 2012 (Lisboa), EXPO.TUR (Santarém), INTUR (Valladolid, Espanha), INVTUR 2012 (Aveiro) e Feira do Vinho do Dão (Nelas). 127 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 2.3 Mergulho no território Foi realizado um laboratório criativo - Co-lab “Serviços Colaborativos para Espaços Criativos: Inovação no Turismo Rural”, em Viseu, sob coordenação da professora Teresa Franqueira da Universidade de Aveiro (departamento de Design) e envolvimento de três professores de Turismo (Universidade de Aveiro e Instituto Politécnico de Viseu). Tendo contado com cerca de trinta participantes de diferentes faixas etárias e de diferentes áreas profissionais (designers, empresários de Turismo Rural, animadores culturais, agentes turísticos, etc., este workshop permitiu uma troca de experiências intensa entre os vários intervenientes. Foram também realizados os seguintes workshops temáticos: - A importância das parcerias estratégicas no território para a inovação no Turismo Rural (Santa Comba Dão); - Internacionalização do Turismo Rural português – o caso do Brasil (Santarém) É ainda de destacar as visitas a recursos e produtos turísticos localizados na região Centro, com cerca de 4000km percorridos e a realização de visitas (o membro da equipa do estudo apresentou-se sempre como turista nestas visitas) e consultas a 21 postos municipais de turismo. Todo este trabalho de auscultação e imersão no território permitiu identificar várias questões críticas para o desenvolvimento do Turismo Rural em Portugal e fazer o diagnóstico que se apresenta de seguida. 128 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 129 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 4 - As cinco redes 1. Contributos da rede de caminhos pedestres 1.1 Tipologias de clientes Formalmente, os mercados associáveis ao tema “férias com caminhadas” estão seccionados em dois grandes blocos de utilizadores: os pedestrianistas que têm como motivação principal e por vezes única, fazer caminhadas; e os turistas que têm outras motivações para a escolha do destino, mas que gostam de fazer um percurso, uma caminhada, tipicamente de nível de dificuldade mais baixo. No entanto esta divisão pode ser redutora, já que existem atualmente bastantes turistascaminheiros, que estão interessados em caminhar e utilizam percursos de nível mais avançado, mas que também possuem as motivações mais típicas de um turista tradicional, como seja o contato com património cultural e arquitectónico, a gastronomia, a paisagem, entre outras. Os percursos e as rotas pedestres apelam a públicos muito variados e os mercados de turismo de Natureza estão ultra-segmentados, o que faz com que seja de extrema importância criar um produto coerente e capaz de satisfazer o interesse do tipo de turistas que projetamos receber, com serviços adequados. O pedestrianismo é, de facto uma atividade que não deve ser ignorada, sendo praticada por um número crescente de pessoas, quer como atividade física de desporto, quer em férias ou como motivação principal para um break. Alguns números indicativos da dimensão do mercado potencial são: 3 milhões de praticantes de pedestrianismo em Itália e França, 10 milhões no Reino Unido, 30% dos suecos passeiam frequentemente em floresta ou em trilhos, metade das pessoas no Reino Unido faz caminhadas periodicamente. Independentemente disso, não se pode dizer que haja um perfil típico do caminhante ou do pedestrianista, no entanto salientam-se aqui algumas tendências: mais de 50% são mulheres, é crescente a participação de famílias, tem crescido também a popularidade do pedestrianismo entre pessoas na 3ª idade; tendencialmente, predominam as classes média e alta. 1.2 Tipologias de Pedestrianismo São muito variados os significados de caminhada, havendo inclusive pessoas que caminham regularmente e não se consideram caminhantes ou pedestrianistas. A principal questão que deve ser clarificada é a que concerne às diferenças entre caminhada desportiva, recreativa e turística. Na realidade, grande parte dos percursos pedestres a nível nacional foram criados e desenhados pelos gabinetes de desporto das autarquias, mostrando por isso uma maior valência desportiva que turística, independentemente de possuírem alguma interpretação associada que poderá funcionar como forma de informação turística. Só mais recentemente se começou a perceber a importância dos percursos pedestre enquanto recurso turístico e a 130 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 entender a necessidade de estes serem desenhados como tal, constituindo verdadeiros produtos que complementam a oferta turística de cada região. A análise da oferta turística de percursos evidencia a predominância de percursos de pequena e média distância (2-3 horas e 5-6 horas) em relação a percursos com graus de dificuldade mais elevados. Constatou-se também que a maioria dos turistas prefere não contratar serviços de guia ou pacotes de serviços, preferindo realizar os percursos de forma autónoma. No entanto, a percentagem de percursos organizados aumenta consideravelmente no caso de turistas estrangeiros, apresentando valores variáveis consoante o seu país de origem e os perfis do turista. A título de exemplo este valor é mais elevado para os turistas alemães do que para os turistas franceses, que preferem fazer percursos de forma independente. A ter em conta: Fazer uma rota implica, por vezes, que esta leve vários dias a concluir, o que é diferente de uma caminhada de algumas horas; Percursos com características técnicas bem definidas e que permitem um ritmo constante ou que têm um perfil mais ou menos acidentado, é diferente de caminhos para se dar uma volta a pé; Caminhar como desporto é diferente da atividade recreativa. Idealmente, numa região deve existir uma rede de percursos que permita aos turistas escolherem entre várias opções. Aos alojamentos, interessa a existência de mais do que um percurso nas suas imediações, podendo assim promover o alargamento do tempo de estadia. Quais serão então as principais motivações associadas? - Contacto com a natureza Fatores relacionados com a natureza estão sempre presentes: a busca de um ambiente bem preservado, associado à oportunidade para contemplar belas paisagens, é um dos fatores mais relevante em especial no que toca aos turistas alemães, austríacos e escandinavos. - Um sentido de recuperar bem-estar físico e fitness A busca de um sentido de bem-estar físico é uma procura comum e fundamental e andar a pé é um modo de avançar em direção a essa ambição. É um progresso com nível moderado de esforço, sem preocupações competitivas. Não há confronto com um ambiente envolvente duro como é o experimentado por exemplo por escaladores de montanha. Não há desafios agrestes. As mulheres e pessoas com mais idade são particularmente motivadas por essa ambição de bem físico, que se torna também mental. 1.3 Motivação A caminhada faz ficar bem. O pedestrianismo é mais do que desporto. Quem adere às caminhadas escolhe percursos onde haja o que olhar e conhecer. A qualidade da paisagem é fundamental para a escolha. - Descoberta A descoberta faz parte do passeio. As pessoas caminham para descobrir uma região e diferentes formas de vida: a natural, a cultural e a do património histórico. Qualquer pormenor pode ser pretexto para a 131 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 descoberta, desde que o seu objeto seja ‘autêntico’. São exemplos disso passeios a explorações agrícolas onde os caminhantes podem saborear o queijo ou desfrutar uma compota feita no local, de forma artesanal, com o saber da tradição; ou a descoberta de percursos que cruzam vales e aldeias. No entanto, essa curiosidade não deve ser exagerada: para os caminhantes, esta motivação é real, mas secundária. Os turistas talvez não se desloquem desde casa até São João de Tarouca para ver os retábulos de Vasco Fernandes. Mas, chegadas lá, tendem a querer saber da escola de pintura de mestre Grão Vasco. 1.4 Principais componentes da oferta turística – os ingredientes básicos - Percursos lineares e percursos circulares Os percursos circulares têm a logística facilitada (dispensam o transfer de pessoas e de bagagens), mas podem não ser a melhor forma de ficar a conhecer um território. Por norma, os percursos de pequenas extensões, ou pequenas rotas (até 20 ou 30Km), tentam ser construídos de forma circular, pois o objectivo é dar a conhecer pequenas áreas, com a facilidade de voltar ao lugar de partida, enquanto que os de maior extensão tendem a ser lineares, porque têm como objectivo cobrir mais território. Para assegurar o interesse de diferentes tipos de produtos e de diferentes segmentos, é importante ter uma gama de percursos com características variáveis. - Grau de dificuldade O grau de dificuldade de um percurso pedestre, embora seja uma classificação altamente subjetiva e que varia muito consoante quem a pessoa ou entidade que atribuiu essa classificação, encontra-se geralmente associada à extensão e aos desníveis quer isolados, quer acumulados que estão associados ao percurso. 1.5 Principais componentes da oferta turística - serviços complementares É determinante que haja uma eficaz coordenação entre o alojamento de Turismo Rural e todos os outros parceiros intervenientes para que a resposta às aspirações do turista pedestre sejam as ideais (articulação perfeita com o transferista, conforto no transporte das bagagens, cuidada oferta de mapas, eficiente guia de recomendações, boa embalagem de refeições bem escolhidas, pontualidade em todo o serviço de apoio designadamente o de transportes - gama de preços aceitáveis para diferentes níveis de serviço). A especificação destes serviços complementares na oferta do alojamento de Turismo Rural é um valor diferenciador. - Alojamento Diferentes tipos de alojamento identificam produtos para diferentes segmentos, ainda que associados ao mesmo percurso pedestre. Os alojamentos podem adicionar um serviço de piqueniques ou de refeições ligeiras para levar durante a atividade. 132 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 No alojamento deve estar disponível informação completa sobre os percursos da região. Conforme a tradição de bem receber que caracteriza o alojamento rural e os proprietários deverão ser capazes de dar, eles próprios, informações sobre os percursos na proximidade. Aos alojamentos, interessa a existência de mais do que um percurso nas suas imediações, podendo assim promover o alargamento do tempo de estadia. - Restaurantes e ofertas de gastronomia Esta componente é muito importante na avaliação da atratividade de uma região. Inclusive, no desenho de percursos para caminhantes ocasionais, deve-se procurar incluir a restauração no itinerário e promover pontos de paragem e etapas tranquilas para a realização de um percurso. As pequenas aldeias e povoações têm um papel crítico e estratégico a desempenhar. - Serviços de apoio Acautelar locais para satisfação de necessidades: cafés receptivos ao turista caminheiro (muitas vezes associado à imagem de turista que não consome), onde se pode reencher uma garrafa de água e eventualmente comprar um snack energético ou utilizar o WC (mesmo que seja preciso pagar esse serviço). - Guias ou informação para percursos auto-guiados No caso de alguns percursos temáticos, a qualidade dos guias é particularmente relevante. Nestes casos, importa fornecer informação prévia sobre as credenciais dos guias. É o caso de percursos de observação de fauna e flora e de percursos de touring cultural com foco em temas específicos - Serviços de transfer de bagagens ou de pessoas para percursos não circulares O transporte a partir da estação de comboios ou de autocarros mais próxima é um tipo de serviço que poderá ser contratado a operadores ou ser providenciado pelos proprietários dos alojamentos, de forma autónoma ou organizados em rede. 1.6 Informação sobre o percurso Um percurso só se transforma em produto turístico se tiver informação que o contextualize associada: a região onde se insere, o tipo de paisagem, as tradições culturais, o património histórico, arquitectónico e etnográfico. O proporcionar de boa documentação promocional sobre os principais locais de interesse que o caminheiro deverá descobrir no percurso é o primeiro fator de escolha. A informação da descrição e apoio a um percurso deve variar em complexidade, conforme se trate de um percurso para pedestrianistas ocasionais ou experientes. Esta diferenciação é fundamental para uma correta segmentação da oferta. 1.7 Aspetos críticos Providenciar a boa sinalização dos locais: importa mostrar como é fácil chegar à zona e aceder aos percursos pedestres. Nem toda gente sabe ler um mapa ou usar uma bússola. Só algumas pessoas têm acesso a um GPS. Pedestrianistas inexperientes tendem a sentir mais insegurança e poderão ter maior receio de se perderem. 133 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 1.8 Distribuição - Mercado nacional Os produtos turísticos associados ao tema “Férias a pé” são hoje apelativos para alguns operadores turísticos independentes e especializados, alguns de base local e outros, menos frequentes, que cobrem grandes regiões ou a totalidade do país. A oportunidade existe para o desenvolvimento de parcerias que promovam a especialização da oferta em produtos fortemente ancorados na articulação com o Turismo Rural, situação que nem sempre é devidamente explorada em todo o seu potencial por estes operadores, mesmo quando recorrem ao alojamento rural. O mercado já existe e é bem desenvolvido por alguns empresários de Turismo Rural, mas importa desenvolvê-lo e aprofundar o seu potencial de atratividade. Em particular, tendo em conta o perfil do turista do Turismo Rural, diverso e que abrange também segmentos que não têm sido a prioridade estratégica no targeting realizado pelos operadores nacionais de percursos pedestres, importa explorar esta associação positiva, promovendo o lançamento de produtos muito focados no tema e ultra-segmentados. É particularmente benéfica a estruturação de pequenos clusters de produto que dão visibilidade à oferta e ampliam a sua atratividade no mercado. Para isso, é estratégica a organização em formato associativo, que permita agrupar ofertas promovidas por pequenos empresários de turismo e dar-lhe a consistência de uma gama – seja na associação a uma região ou micro-região, seja na associação a recursos turísticos endógenos (rios, montanha, etc.), seja na especialização temática (birdwatching, férias em família, enoturismo…) e na oferta de um mesmo tipo de produto para diversas áreas do país ou épocas do ano (embora tendo o cuidado de não descurar a capitalização sobre a diversidade e individualidade que caracteriza o Turismo Rural e que é uma das suas características mais positivas e diferenciadoras). - Mercado internacional Ao nível da oferta internacional, as “Férias a pé” figuram em catálogos de operadores especializados, que incluem na sua gama produtos muito variados, desenvolvidos por si, ou em parceria com operadores locais. No mundo do turismo globalizado, as férias a pé são apresentadas ao cliente como uma gama de ofertas internacionais marcada pela diversidade de destinos e de temas a desfrutar em diferentes épocas do ano. Aqui, insere-se uma seleção aprumada dos produtos disponíveis em destinos também eles escolhidos criteriosamente em função da estratégia de marketing de cada operador. Desde já, importa relevar a diferenciação entre operadores que baseiam a sua oferta em destinos maduros e outros que se posicionam como operadores que exploram destinos ainda não frequentados pelas massas e que têm como proposta de valor a promessa de férias, de algum modo inovadoras. Tipicamente, estes operadores desenvolvem ofertas para o mercado nacional onde se inserem, atendendo assim aos gostos específicos dos turistas nacionais, que preferem muitas vezes comprar produtos distribuídos nas agências e pequenos operadores independentes do retalho nacional. A oportunidade existe, contudo, para a elaboração de produtos, ou criação de parcerias para o seu desenvolvimento, dedicadas a estes operadores, 134 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 seja diretamente, no caso de pequenos operadores, seja através dos seus intermediários. As vantagens são, para além, está claro, das oportunidades de distribuição, a adaptação do produto aos gostos e necessidades operacionais do turista internacional. A articulação da oferta nacional em redes, que lhe dão escala suficiente, pode ser estruturante para criar oportunidades de exportação dessa oferta que, de outro modo, dificilmente adquirem visibilidade nos mercados exteriores. São vários os fatores de sucesso a ter em conta para a promoção internacional de férias a pé associadas ao Turismo Rural: - Sobre o Destino turístico: Portugal como um destino pouco explorado em termos turísticos “Já conhece o Algarve, Lisboa e o vinho do Porto, agora imagine o resto” Uma ruralidade genuína, com aldeias intocadas pelo progresso e espaços naturais de qualidade Boa oportunidade para capitalizar sobre alguns dos produtos turísticos estratégicos identificados para Portugal (Touring cultural e paisagístico, Gastronomia e vinhos…), incluindo-os na oferta associada aos percursos e rotas pedestres Procurar capitalizar diferenciadores sobre alguns serviços que sejam - Aspetos críticos Definir uma mensagem consistente. Tornar claro que o nosso destino é a escolha de excelência, que leve os públicos do pedestrianismo a concluir imediatamente que o nosso destino é feito à sua medida, sejam simples curiosos, iniciados ou entusiastas. Conceptualizar a oferta de percursos numa perspetiva temática e de marketing. Cada percurso deve ter uma identidade bem definida, ainda que os percursos possam ser complementares. Exemplo: numa zona vinhateira, um percurso foca-se nas novas adegas, outro leva a um passeio tranquilo pela vinha. Assegurar que os produtos, individualmente, contribuem para fortalecer a mensagem e comunicar com acutilância a proposta de valor. Existência de vários percursos e desde que seja possível identificar um de impacto superior, ancorar a promoção nesse percurso. Conseguir estimular a imaginação dos mercados de turistas caminheiros. Encorajar e promover a instalação de serviços “amigos do caminheiro” em locais estratégicos. Criar a sensação de que aquele tipo de visitante é bem-vindo. - Sobre os Serviços: Organizar e destacar serviços de suporte especialmente desenvolvidos para apoio a este tipo de produtos Desenvolver a perceção de acessibilidade e segurança, essenciais para a maioria dos turistas que se deslocam fora do seu país 135 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 4 - As cinco redes 2. Contributos das redes cicláveis 2.1 Tipologias de clientes Os clientes para este tipo de turismo são, genericamente, turistas que procuram atividades recreativas saudáveis e têm o tempo e os recursos para desfrutar a viagem. Cada vez mais, os turistas em bicicleta procuram mais conforto e serviços complementares: alojamento confortável, associado a uma gama variável de preços, parking seguro para as bicicletas, transfer de bagagem e acesso a serviços de alimentação no alojamento e para levar durante o dia. Apreciam uma boa refeição ao final do dia e talvez uma massagem ou experiência de spa para relaxar depois de um dia a pedalar. Muitos ciclistas viajam durante vários dias, ficando alojados em diferentes alojamentos e não apenas num único local. Este tipo de turista necessita normalmente de um serviço de transporte de bagagem. Os produtos turísticos a desenvolver, além da base comum relacionada com a bicicleta, devem conter propostas específicas que antecipem a resposta à diversidade de interesses e necessidades dos distintos grupos de procura: Adultos com ou sem filhos em idade infantil - são relevantes as questões de segurança das crianças e atividades de lazer para a família; Grupos de turistas ciclistas - procuram experiências autênticas que envolvem eventos, tradições, cultura e oportunidades relacionadas; Grupos de praticantes habituais do cicloturismo - procuram desafios relacionados com o grau de dificuldade dos percursos; Adultos golden age - frequentemente turistas com exigência cultural e capacidade económica. A grande maioria dos turistas em bicicleta funciona de modo autónomo, independente dos operadores turísticos tradicionais. Para além disso, os turistas em bicicleta tendem a viajar em grupo – familiares ou amigos frequentemente com quatro ou cinco pessoas. É um coletivo heterogéneo quanto à sua composição, o que remete para um tipo muito segmentado de interesses, cujo tratamento turístico é complexo e merece um enfoque especial, em termos de serviços e estratégias de promoção e de comercialização. É também importante realçar que existe uma tendência para este ser um turista fiel, que repete com frequência o destino, eventualmente procurando produtos complementares (por exemplo: depois de ter feito o percurso das adegas, escolhe o percurso de observação de aves). Por este motivo, a procura de locais é feita habitualmente pela internet, sendo este um dado que reforça a importância crucial de um portal web que reúna a oferta e que seja uma ferramenta eficaz de informação, persuasão e venda. O desenvolvimento da imagem das ciclovias, ecovias ou ecopistas como destino turístico, integrando alojamento, gastronomia, vinhos, outros 136 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 lazeres, lojas e serviços especializados vai, naturalmente, dar grande projeção a esta oferta. - Percursos a desenhar pelo anfitrião do Turismo Rural ou por parceiros locais Um estudo sobre os 1600 quilómetros de rede de ecopistas em Espanha revela que 41,5% do alojamento tem base em turismos rurais. O desenho de percursos para turismo em bicicleta requer: 2.2 Tipos de percurso do turismo em bicicleta Há a considerar: - Percursos já desenhados - Ciclovias Vias destinadas exclusivamente para a circulação de pessoas utilizando bicicletas (há em Portugal, reconhecidas, mais de 70, distribuídas por quase todos os distritos e Regiões Autónomas dos Açores e Madeira). - Ecopistas Designação adoptada, em Portugal, pela Refer para identificação a requalificação de canais ferroviários desativados (Ex: Ecopista do Dão) que se caracterizam por ser uma via ininterrupta, fácil, segura, de acesso universal, agradável de percorrer e cujo traçado proporciona paisagens sugestivas. - Ecovias Infraestrutura destinada à circulação a pé ou em bicicleta e que tem como principal característica a ligação - tanto a nível local como regional - entre áreas de interesse ambiental. ponderação sobre como fazer um percurso com início num alojamento quando já existe um traçado numa zona próxima; definição clara do ponto de partida e ponto de chegada e multipontos de interesse chave; opção por percurso circular ou percurso linear (este implica serviço de transfer/transporte associado); consideração de criação de percursos multi-alojamento (diferentes etapas, diferentes alojamentos; implica transfer de bagagem); conhecimento para definir o perfil ideal de utilizador adequado ao nível de dificuldade do percurso (solicitar apoio de especialistas no caso de não haver habilitações para tal); preparação de informação ultra-técnica para especialistas e forte redução do nível de informação nos outros casos. O desenho de um percurso organiza-se, quanto ao tipo de terreno, em três categorias: Percursos de estrada – seguem por estradas asfaltadas (100%). Devem sempre ser evitadas estradas com muito tráfego, dando-se por isso preferência a estradas secundárias; Percursos híbridos - seguem predominantemente (pelo menos 70%) por caminhos asfaltados, mas incluem alguns caminhos de terra batida. Estes percursos podem ser guiados ou realizados em autonomia; Percursos de montanha (BTT) - desenvolvem-se maioritariamente por trilhos de terra (mais de 70%), por vezes técnicos, com muito 137 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 pouco asfalto. Necessitam de alguma destreza e de boa forma física. 2.3 Motivação Corresponde a um turista que, para além do alojamento, procura uma descoberta “inteligente” do território visitado, seja em bicicleta, a pé ou podemos propor - também uma iniciação a cavalo. Seja de que modo for, este é um público com apetência por percursos temáticos. Destacam-se como motivações principais: - o aproveitar de uma oportunidade para a família estar reunida; - as férias partilhadas com grupo de amigos; e ainda, - as férias em casal, onde a procura de momentos a dois é facilitada pela mobilidade oferecida pelas bicicletas. Temos ainda que considerar os cicloturistas, com motivação essencialmente desportiva, embora não competitiva. O cicloturista não pedala para conseguir recordes nem para andar à maior velocidade que consegue. Pelo contrário, procura uma pedalada média que lhe satisfaça a motivação para apreciar tudo o que a paisagem tem para oferecer. Ambiciona, no entanto, aumentar progressivamente a sua capacidade física, o que lhe dá um maior alcance em distância. O cicloturista gosta de pedalar 50 a 100 quilómetros por dia. Por fim, existe um número crescente de ciclistas que opta por uma versão que requer mais energia: o BTT, com bicicletas de todo o terreno, aptas para terreno mais agreste, seja com saltos numa encosta ou incursões no curso de um ribeiro. Usam “pistas” próprias para a atividade, desenvolvidas formal ou informalmente. A osmose com a economia local é muito relevante para a oferta de um produto rico e estruturado que supere a motivação do turista. 2.4 Principais componentes da oferta turística - Ingredientes Básicos - Vias Ecopistas (utilização fácil, acesso universal, rede internacional de ecopistas mapeada, serviços e equipamentos complementares, conflitos com utilização por locais não turistas e em eventos para grupos grandes); Ciclovias públicas; Ecovias “crowdsourcing”; Estrada; Caminhos de terra batida; Trilhos marcados por operadores turísticos e associações de ciclistas. - Equipamentos e serviços básicos Bicicleta própria - Adequação do tipo de bicicleta face ao percurso - Transporte em carro ou em transportes públicos; transferes Cedência de bicicletas pelo alojamento Bicicleta alugada. Importa considerar onde recolher e como chegar ao local das férias. 138 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 A escassez na oferta de serviços de aluguer de bicicleta é um défice que importa superar. É importante que possa existir um serviço com esta oferta de alcance fácil -idealmente a menos de 5 km dos alojamentos aderentes a esta rede - e garantia de disponibilidade, mediante reserva, de bicicletas com modelo para homem, mulher e criança. - Assistência e serviço de desempanagem Os serviços de assistência e reparação de bicicletas são outro ingrediente fundamental para a satisfação do turista em bicicleta. A resposta a uma avaria na bicicleta de um turista deve poder ser o mais pronta possível. A satisfação do turista será ainda maior se estiver providenciado um serviço de bicicletas de substituição para o caso de reparações que demorem mais de duas horas. O anfitrião do alojamento rural bike-friendly deve ter sempre disponível um kit para reparação de pequenas avarias na bicicleta e deve poder assegurar ao turista que em caso de avaria a uma distância razoável (até 20/25kms) promove a assistência e, se necessário, o transporte, seja diretamente, seja através de intermediários (mecânico de bicicleta, taxista, etc), podendo este ser um serviço gratuito ou pago. - Transfer de bagagens entre alojamentos O turista tem dificuldade em organizar este serviço por si só. Os proprietários do alojamento podem fixar um custo para este serviço, limitando a distância máxima. Este serviço pode ser diferenciador, por permitir ao turista reduzir os custos da viagem dispensando o apoio de um operador turístico para esta função. 2.5 Serviços complementares - Alojamento O objetivo que temos para concretizar é o de criar produtos turísticos focados no turista em bicicleta, garantindo-lhe base com acomodação ideal no Turismo Rural. As férias em bicicleta requerem do anfitrião a melhor hospitalidade e flexibilidade, para além da oferta de serviços e atividades de apoio. Existe, certamente, em qualquer alojamento rural, ampla margem de oportunidade para criação de alternativas que vão satisfazer o turista mais exigente, adequando um espaço às necessidades do turista: - Parqueamento e manutenção das bicicletas É raro os alojamentos existentes estarem adaptados às necessidades específicas do turista em bicicleta. O turista que se faz acompanhar da sua bicicleta e que lhe custou provavelmente vários milhares de euros não quer separar-se dela e tende, em muitos casos, a querer levá-la com ele para o quarto – há condições para que tal aconteça? - criação de um espaço fechado, seguro, para parque de bicicletas. - criação de um espaço para lavagem e oficina das bicicletas. - Equipamento técnico A lavagem e secagem com rapidez da roupa deve estar assegurada. - Para os grupos Preparação de um espaço que possa ser utilizado para convívio e reunião de grupos de turistas em bicicleta. 139 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - Refeições Um bom pequeno almoço é importante para os ciclistas, assim como o fornecimento de uma refeição ligeira para levar. O anfitrião deve acautelar a preparação de uma bebida quente ou fria para oferecer ao ciclista logo que este regresse ao alojamento. - Apoio em todas as fases da experiência O alojamento deve ser uma âncora para as necessidades específicas deste turista. Há que organizar os serviços nas suas várias fases de consumo. Para se afirmar como peça-chave de suporte à atividade, deve haver: antes do consumo: eficiente informação na web e em folhetos, boa presença em centrais de reservas, modalidades facilitadas para pagamento, conformidade das reservas, ofertas de transporte até ao alojamento; durante o consumo: boa recepção, check-in facilitado, check-out eficaz, acesso a piscina, spa e ginásio; fornecimento de piqueniques e de refeições ligeiras prontas a transportar; acesso a mapas detalhados, guias, roteiro de tascas; informação sobre recursos que possam ser úteis ao cliente: lojas de equipamentos especializados, farmácias e postos de enfermagem para o caso de qualquer acidente. após o consumo: envio para a residência de pacotes postais (o turista em bicicleta tem maior dificuldade em transportar souvenirs). Nota relevante: restrições a reservas para apenas uma noite não se adapta a este perfil de turista. - Alimentação e Gastronomia Neste sector existe também uma importante complementaridade com a gastronomia e restauração da região. O ciclista, após cada jornada, tende a desejar um apetitoso repasto. Importa prever boa oferta e há claramente que evitar a monotonia. A degustação gastronómica e enológica deve surgir como uma tentação irresistível, onde a qualidade dos produtos é decisiva. A oportunidade para oferta de menus típicos na tradição local tem potencial para efeito multiplicador de interesse. Este tipo de visitante tende ainda a fazer passa-palavra aos amigos, para além de comprar produtos da excelência local. - Cultura, Natureza, Aventura Outra das complementaridades que deverá ser trabalhada está relacionada com a possibilidade de oferecer visitas especiais, fora de horário de rotina, a museus, adegas igrejas e conventos. É desejável associar a possibilidade de ofertas complementares de turismo de aventura, seja escalada, canyoning, outras atividades aquáticas, provas de orientação, provas de resistência ou outras. Neste sentido, as experiências equestres são uma oportuna via complementar e um eventual atrativo para um regresso no futuro. 2.6. Informação disponibilizada O objectivo que temos que perseguir constantemente é o de criar produtos turísticos focados no turista que escolhe usar a bicicleta, garantindo-lhe base com acomodação ideal no Turismo Rural. Para tal, 140 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 uma das características fundamentais para o seu bem estar é a disponibilização de informação no momento certo: antes do consumo: eficiente informação na web e em folhetos sobre a região e percursos; ofertas de transporte até ao alojamento: durante o consumo: serviço de restauração; atividades complementares; recursos patrimoniais e culturais. A documentação deve ser atraente, clara e completa. É relevante que estejam preparados dossiês para cada percurso que deverá incluir a ficha técnica do percurso, a ficha técnica dos pontos de paragem, lista de telefones de urgência e recomendações práticas. A informação sobre os percursos deve ainda incluir mapas, coordenadas GPS ou preferencialmente, disponibilizar informação sobre georreferenciação de percursos e permitir que o turista os descarregue para o seu equipamento de GPS (importa ter em conta a diversidade de sistemas de coordenadas utilizadas). Em alternativa poderá fornecer impressões dos percursos disponíveis. Na maioria dos casos, o anfitrião não é o especialista que desenvolve a informação sobre o percurso auto-guiado. Quando há um folheto descritivo e/ou mapas disponíveis, a situação está facilitada, mas o anfitrião pode acordar igualmente com o fornecedor de serviços mais especializados uma recepção ao turista no próprio alojamento. O anfitrião deve ainda ter sempre acessível a informação sobre o estado do tempo e a previsão para as próximas horas/dias, sendo que os serviços de meteorologia via web satisfazem facilmente essas necessidades. 141 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 4 - As cinco redes 3. Contributos da rede equestre 3.1 Tipologias de clientes O turista que quer passear a cavalo com base no alojamento no Turismo Rural é o centro do nosso negócio. É um cliente que está presente na hora de consumir, mas com elevados padrões de exigência, pelo que é de extrema importância conhecê-lo melhor e apurar o atendimento às suas solicitações. Há que saber receber segmentos de clientes bastante diferenciados, sejam casais jovens e grupos de amigos (idade predominante: 35/45 anos), sejam grupos familiares com clientes predominantemente golden age. Os clientes mais jovens têm em regra maior pressão de tempo e apontam para estadas mais curtas. A idade dos turistas/cavaleiros é muito variável. Há que estar preparado para acolher uma família com elementos de 6 ou 7 anos, outros na casa dos 30 e ainda, pessoas da chamada golden age, por exemplo, à volta dos 60 anos, sendo as necessidades de cada um altamente variáveis. Tendo em conta estes casos de grupos não homogéneos, juntando jovens e adultos, é importante ter disponíveis atividades paralelas, introduzindo, por exemplo, banhos num rio ou num lago, provas de produtos locais, vinhos etc. O mercado de turistas/cavaleiros divide-se genericamente em dois tipos: Cavaleiros autónomos ou independentes: O cavaleiro autónomo organiza-se com uma certa independência, apenas quer encontrar boas infraestruturas. Conta com o proprietário do alojamento rural para lhe dar “dicas” que acrescentem informação à que recolheu por si próprio . Importa preparar para esse cavaleiro autónomo um bom mapa com as opções de alojamento rural (com as respectivas coordenadas identificadas com simplicidade) no percurso programado e em itinerários alternativos. Cavaleiros em grupo: No caso de grupos organizados, importa mobilizar um profissional equestre como guia acompanhante (cenário ideal: um guia por cada dez cavaleiros adultos). A imprevisibilidade do programa e percurso é baixa e assim, existe uma maior oportunidade para organizar eventos ou visitas que possam surpreender cada membro do grupo visitante. É importante considerar que cada grupo tem personalidade própria, já que cada cavaleiro tem os seus próprios gostos e interesses, sendo que a interação entre todos leva à maior ou menor harmonia dentro do grupo. Para unificar expectativas é essencial que o cliente esteja muito bem informado sobre tudo o que tem a ver com o percurso. O guia tem papel fundamental na coesão do grupo e na prevenção de eventuais conflitos. 3.2 Tipos de percursos do turismo equestre Segundo o documento “Itinerários de Turismo Equestre – Metodologia de implementação” emitido pelo Turismo de Portugal em Fevereiro de 2012, as rotas ou itinerários equestres desenvolvem-se em três modelos principais: 142 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - Rotas circulares ou em estrela Percurso em que as jornadas diárias começam e terminam no mesmo local. Os locais de pernoita do cavaleiro e do cavalo são comuns, favorecendo a comodidade do utilizador que fica livre da mudança diária de alojamento. É um formato mais confortável para cavaleiros que preferem menor grau de dificuldade, mas tem o inconveniente de conter baixa diversificação. - Rotas em margarida As jornadas começam e terminam diariamente no mesmo local mas seguem, em cada dia, por percursos diferentes. Obriga o organizador ao mais vasto mapeamento da zona envolvente, mas proporciona o maior contacto com todas as atividades e particularidades da região. - Rotas lineares Saída de um ponto e chegada a outro. Implica mudança diária do local de pernoita, portanto implica a necessidade de um serviço de transfer. O nível da rota deve ser adequado ao nível do cavaleiro. 3.3 Motivação As férias a cavalo representam uma forma distinta de fazer turismo. O praticante ambiciona sobretudo: Desfrutar a liberdade montado num cavalo Descanso e evasão Uma experiência com sabor a aventura O gosto de estar na natureza Descoberta novos destinos Descobrir lugares históricos e saborear a gastronomia e os vinhos da região Recuperar o sonho rural/rusticidade e requinte 3.4 Principais componentes da oferta turística Numa rede de turismo equestre o cliente interage com vários profissionais: os serviços de informação, reserva e venda, os transportadores/transferistas, guias, tratadores, etc. Todos fazem parte da experiência turística, a par com a qualidade das instalações, dos equipamentos, dos percursos, dos serviços e dos recursos que fazem parte da rota. Trata-se de um tipo de cliente exigente, logo é fundamental assegurar uma qualidade de topo no fornecimento destes serviços. - Ingredientes Básicos A prática de turismo equestre requer alguns elementos imprescindíveis: um cavalo, um caminho transitável a cavalo, alojamento e comida para o cavalo e para o cavaleiro. E, frequentemente, um guia/acompanhante. É um serviço que, envolvendo pelo menos uma pernoita, requer uma organização complexa: Procura de itinerários/percursos, definição de etapas e seleção de cavalos adequados para o programa. Localização de serviços de proximidade (pontos de abastecimento, médico veterinário, etc). Neste sistema, o cavaleiro é a figura central, mas em torno dele gravitam vários outros atores. 143 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Os proprietários ou empreendedores do Turismo Rural são protagonistas incontornáveis do turismo equestre, pois depende deles a qualidade do acolhimento e do serviço. Outros serviços centrais são os centros equestres, tal como todos os serviços de apoio equestre, pois são eles que devem garantir a qualidade das atividades e a concretização dos produtos equestres. Uma questão fundamental para o bom funcionamento de rotas equestres é o assegurar da boa circulação nos percursos identificados e selecionados. O estabelecimento de acordos com proprietários de terrenos atravessados, o envolvimento de entidades públicas, designadamente autárquicas e, desejavelmente, o desenvolvimento de associações de utilizadores, são contributos decisivos para o eficaz funcionamento do sistema. O modelo das jornadas a cavalo requer duas bases indispensáveis para o seu bom funcionamento: que todos os componentes necessários na oferta turística funcionem com coerência perfeita, satisfazendo as expectativas do cliente; que as interações entre as diferentes partes sejam ajustadas ao conceito do serviço global fornecido, seja perante as aspirações do cavaleiro, o conforto do cavalo e, se esse for o caso, dos acompanhantes. - Alojamento para o cavalo No desenvolvimento de modelos de turismo equestre ligados ao Turismo Rural, um fator essencial é a garantia de alojamento para o cavalo em articulação com o alojamento do cavaleiro. Quanto mais facilitada estiver esta acomodação, maior será o conforto, a segurança e a autonomia do cavaleiro. O cenário desejável remete-nos para um espaço de Turismo Rural capacitado para acolhimento e pernoita equestre. O mínimo expectável é a existência de uma possibilidade de amarração do cavalo, com ponto de água potável, manjedoura e espaço de armazenamento para os equipamentos. Deve haver um espaço fechado, paddock ou baia (espaço mínimo: 30m2) onde o cavalo possa pernoitar confortavelmente e em segurança. A estrutura ideal oferece boxes, baias fixas e todas as instalações necessárias ao bom trato dos cavalos (chuveiro, ferros, etc.). - Serviços complementares - Alojamento O alojamento deve ser uma âncora para as necessidades específicas do cavaleiro, através da organização dos serviços nas suas várias fases de consumo. Para se afirmar como peça-chave de suporte à atividade, deve haver: Antes do consumo: eficiente informação na web e em canais específicos destinados aos cavaleiros, divulgação eficaz dos serviços especificamente desenhados a pensar neste tipo de turista, como parcerias com centros de acolhimento de cavalos. Durante o consumo:acomodação para cavalos ou parceria com uma entidade que a faça tranfer do alojamento para o local de acomodação do cavalo, serviço de transporte de bagagens para o próximo alojamento no caso de um itinerário de vários dias, mapas de itinerários com interpretação, locais de paragem e indicação de restaurantes, contactos de médicos veterinários e lojas de equipamento especializado. Após o consumo: envio para a residência de pacotes postais (o turista a cavalo tem maior dificuldade em transportar souvenirs). 144 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - Alimentação e Gastronomia O objectivo primordial do turismo equestre é descobrir, ver e visitar pontos de interesse, não apenas etiquetados como mais turísticos, mas também outros aspetos relevantes e menos acessíveis como paisagens, fauna, flora, elementos culturais e patrimoniais, os usos e tradições locais ou regionais. Tudo com a sedução e aventura de ser visitado a cavalo. Naturalmente e uma vez mais existe uma importante complementaridade com a gastronomia e restauração locais. As rotas equestres organizam-se mais frequentemente segundo itinerários de um dia, três dias ou sete dias e o cavaleiro, durante e após cada jornada, tende a desejar um apetitoso repasto, pelo que importa prever uma boa oferta, sendo importante evitar a monotonia. A degustação gastronómica e enológica deve surgir como uma tentação irresistível e a qualidade dos produtos é igualmente decisiva para este público. ainda depois do consumo (transfer para o aeroporto, comunicações posteriores com o cliente, etc). A documentação deve ser eficaz. O dossiê de cada percurso fornecido a cada cliente deve incluir a ficha técnica do percurso, a ficha técnica dos pontos de paragem, a ficha técnica sobre os cavalos, a ficha técnica sobre a alimentação dos cavalos, lista de telefones de urgência e recomendações práticas. A oportunidade para oferta de menus típicos na tradição local tem potencial para efeito multiplicador de interesse. 3.5 Informação disponibilizada No que respeita à informação disponibilizada ao cliente é importante organizar os serviços antes do consumo (eficiente informação na web e em folhetos, boa presença em centrais de reservas, modalidades facilitadas para pagamento, conformidade das reservas, ofertas de transporte até ao alojamento); durante o consumo (boa recepção, check-in facilitado, boa apresentação de ofertas, disponibilização de serviço de restauração, menus especiais e piqueniques, oferta de excursões e atividades complementares, acesso a spa e ginásio, piscina, check-out eficaz, etc); e 145 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 4 - As cinco redes 4. Contributos da rede de vias panorâmicas - O turista que tem qualquer outra motivação principal, mas que dispõe de algum tempo para explorar as paisagens do local que visita. Este turista estará à partida menos informado sobre os tipos de paisagem que pode encontrar e necessitará de uma maior ajuda para escolher as vias com panorâmicas mais apetecíveis. 4.2 4.1 Tipologias de vias panorâmicas Motivação e tipologias de clientes As vias panorâmicas raramente são vistas como um produto turístico por si só, com a exceção de raros casos de vias de valor paisagístico extremamente elevado, no entanto, se pensarmos nas motivações gerais dos turistas, a contemplação da paisagem é um dos principais interesses. É só uma questão de deixar de pensar apenas em pontos de paragem isolados para essa contemplação e passar a considerar a experiência contemplativa ao longo de todo um trajeto ou via. As vias panorâmicas não possuem uma definição específica, implicam apenas que haja um caminho, uma forma de o percorrer e que esteja associado a excelentes sistemas de vistas sobre a paisagem que nos rodeia. Assim, podemos de forma empírica separar vário tipos de vias, que se podem por sua vez associar a diferentes tipos de mobilidade. - Estradas e caminhos – Encontra-se normalmente associadas a mobilidade automóvel. Permite cobrir largas distâncias e passar por paisagens diferentes num curto espaço de tempo. No entanto este tipo de vias pode também associar-se a tipos de mobilidade mais suave como a bicicleta ou o cavalo, que ainda assim permitem percorrer distâncias assinaláveis, ao contrário da via pedestre, em ritmo mais calmo que de automóvel, permitindo apreciar certos aspetos da paisagem que facilmente passariam despercebidos numa viagem de automóvel. - Ferrovias – Algumas linhas ferroviárias funcionam como verdadeiros miradouros. A viagem de combóio pode assim tornar-se mais do que uma forma de ir de um lugar ao outro, funcionando como uma janela para conhecer uma determinada paisagem - Cursos de água – Os cursos de água navegáveis, como rios e ribeiras, podem também funcionar como vias panorâmicas. Percorridos de Neste tipo de turismo associado a vias panorâmicas podem diferenciar-se dois tipos fundamentais de turistas: - O turista que vem com a motivação de percorrer vias panorâmicas como forma de ficar a conhecer o seu destino. Este turista viaja com a finalidade de conhecer novas paisagens e normalmente fez já um trabalho de preparação prévia da viagem, escolhendo quais os tipos de paisagem que pretende conhecer e em que época do ano. Para este turista é fundamental que o esforço de informação seja feito ainda antes da compra do alojamento, porque irá certamente influenciar a escolha do mesmo; 146 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 barco ou canoa, estas vias oferecem uma perspetiva da paisagem que é impossível ter de qualquer outro ponto. 4.3 Principais componentes da oferta turística - Serviços básicos No caso específico desta rede são poucas os serviços básicos que compõem o produto turístico. Numa rede de vias panorâmicas apenas é necessário que exista informação sobre a localização e extensão das vias, informação sobre os tipos de paisagem que se podem observar e quais as suas particularidades e elementos diferenciadores. As vias deverão ainda estar sinalizadas no terreno de forma identificativa, para que seja mais fácil segui-las. As vias panorâmicas podem ser usufruídas de forma independente, o que será o caso mais frequente, ou poderão ainda recorrer a guias especializados que acompanhem a viagem e façam a interpretação da paisagem. - Serviços complementares - Alojamento Não existe uma tipologia ou característica própria de alojamento que sirvam preferencialmente este ipo de turismo, no entanto, algumas características como a autenticidade ou a proximidade às vias panorâmicas podem influenciar a escolha do turista. No alojamento deve estar disponível informação completa sobre as vias panorâmicas disponíveis na região, devendo os responsáveis conseguir aconselhar sobre qual a melhor via a realizar e de que forma, inclusive tendo em atenção as estações do ano. - Restaurantes e ofertas de Gastronomia Como para todas as redes turísticas, a existência de restauração e gastronomia de qualidade é essencial para a crição de uma boa oferta. O facto de os restaurantes recorrerem a produtos locais e regionais poderá também apelar ao turista das vias panorâmicas, já que, sobretudo num país onde a paisagem é altamente influenciada pelas actividades humanas, como a agro-pecuària, lhe permitirá uma melhor compreensão das paisagens que vai observando. - Guias ou informação sobre as vias Numa fase inicial de implementação de um produto sobre vias panorâmicas, em que, pode já existir informação disponível mas não existir ainda marcação ou sinalética específica destas vias, é de extrema imporância existir a disponibilização de informação tanto interpretativa como cartográfica sobre as vias disponíveis. Um serviço que poderá igualmente constituir uma mais valia para este tipo de turismo é a disponibilização ou aluguer de dispositivos GPS com tracks das vias, de forma a garantir que os turistas conseguem, de forma eficaz, seguir as vias em todo o seu traçado, mesmo que estas não estejam sinalizadas no terreno. 147 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 4.4 Informação sobre o percurso Uma paisagem possui muito mais que valor estético, mas se este é facilmente absorvido e interpretado de forma diferenciada por cada um, existem outros valores que precisam de apoio para serem corretamente interpretados. Estamos a falar de valores como o ecológico, o patrimonial, o histórico e etnográfico e a forma como todos eles se interligam em evolução conjunta. Para que estes valores possam ser apreendidos e compreendidos é necessário que haja informação disponível sobre os mesmo e só assim podemos dizer que estamos a oferecer um produto turístico. 4.5 Aspetos críticos - Identificar, selecionar e identificar as principais vias com valor panorâmico; - Nem todos os turistas estão informados sobre as qualidades panorâmicas das vias - Criar pontos de paragem e descanso. 148 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 4 - As cinco redes 5. Contributos da rede de alojamentos rurais 5.1 Principais componentes da oferta turística O acolhimento típico do alojamento rural é um dos fatores de sucesso deste tipo de turismo: personalizado, atento aos gostos e necessidades pessoais do turista, baseado no acolhimento em casa própria, pelo que há um característico orgulho na arte de bem receber. Este tipo de tratamento personalizado leva a que o turista espere encontrar no seu anfitrião alguém que conhece bem o território e que pode fornecer informação especializada e dar a conhecer as atividades que se podem realizar, bem como as pessoas que as organizam. Contudo, na realidade nacional não se pode esperar encontrar muitos proprietários que tenham experimentado eles próprios as atividades que recomendam. É esta lacuna na colaboração entre promotores que frequentemente reduz a sua capacidade de recomendação. - Ingredientes Básicos As unidades de alojamento podem assumir um papel diferenciador ao nível dos serviços de turismo básicos que garantem a funcionalidade e a qualidade das atividades turísticas complementares: - Transporte Transporte do turista - Organização de serviços de transfer; recolha do turista na estação de comboio ou de autocarros mais próxima; Transporte de bagagens - Este serviço pode ser crítico para o turista que faz férias com caminhadas ou de bicicleta ou a cavalo em modelo self-drive sem o apoio logístico de um operador. Os alojamentos podem organizar uma rede de transfer de bagagens para viagens com multi-alojamentos. Este serviço pode ser operado pelo próprio alojamento ou organizado por contratação. Apoio ao turista em caso de necessidade de interrupção de uma atividade em curso; Envio de produtos tradicionais pelo correio. - Alimentação No caso da alimentação é muito importante haver um ajustamento às necessidades especiais para uma determinada atividade: refeições ligeiras, refeições energéticas, refeições servidas em horários diversos Outra forma de diferenciação pode passar pela preparação de refeições para levar (cesto de piquenique, piquenique servido no campo; refeições para levar) ou pelo serviço de reserva de refeições especiais em restaurantes ou noutros lugares (sob encomenda). - Serviços complementares Sugerem-se, neste caso: Serviço de baby-sitting diurno: permite libertar os pais durante umas horas para a prática de outras atividades; Aluguer de equipamentos especializados; Apoio no planeamento, organização, reserva e aquisição de atividades ou viagens internas: este tipo de serviço pode ser interessante especialmente para turistas estrangeiros - pode ser prestado durante a estadia ou após a reserva do alojamento e antecedendo a viagem. 149 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 - Serviços especializados O alojamento é uma excelente base para a organização ou hosting de eventos tailor-made para os hóspedes, dos quais apresentamos aqui alguns exemplos: Workshops e provas: cedência de espaço ou organização própria de provas (vinhos, gastronomia) e de workshops (culinária, artesanato, fotografia, etc.); Recitais (música, literatura, outras artes): o alojamento pode estabelecer parcerias com profissionais ou amadores e conseguir preços competitivos que permitam a organização de uma noite artística. Estes eventos podem ser diferenciadores em mercados, como o brasileiro, que procuram experiências culturais; Atividades para crianças: nem todas implicam a contratação de serviços para grupos. O alojamento pode organizar atividades menos estruturadas e que dispensam a contratação de serviços de animação, como leitura de uma história à noite (libertando os pais para um momento de descanso depois do jantar), pequenos passeios ou atividades simples na propriedade. 5.2 Tipos de parcerias com outros alojamentos e outros prestadores de serviços O funcionamento em rede permite ampliar largamente a oferta e o seu alcance. Os benefícios de escala aportam visibilidade à oferta, acesso a novos serviços e produtos, eficácia, maior expressão territorial da oferta, contribuição para a afirmação das marcas relacionadas com produtos, serviços e tipos de experiência, e redução de custos. As redes podem ainda ser organizadas como espaços que facilitam a colaboração entre parceiros e a criatividade na organização de produtos envolvendo vários prestadores de serviços. O funcionamento em rede de parcerias pode assumir dois tipos principais: uma rede da mesma categoria de serviços, como é o caso específico, de uma rede de alojamentos, ou então, uma rede com serviços de várias categorias e que se complementam entre si. A criação de redes de alojamentos pode ser facilitada através da criação ou filiação dos estabelecimentos numa associação do sector, como a PRIVETUR, que pode assim funcionar como dinamizadora e facilitadora do trabalho em rede. Já a criação de redes de parcerias com outros sectores de atividade, embora possa trazer vantagens mais óbvias do ponto de vista da estruturação da oferta, também não é fácil de operacionalizar pois cada parceiro procura atingir os seus próprios objectivos. Beneficiando de um efeito de escala, a integração numa associação permite novas formas de gestão e de organização da oferta a vários níveis: Contratação e prestação de serviços básicos e complementares; Aluguer de equipamentos; Rede de informação sobre o território; Elaboração de programação de itinerários/viagens no território; Dando maior visibilidade: por exemplo, multiplicando a mesma oferta em várias regiões, em várias alturas do ano, ou numa mesma região ou micro-região e, eventualmente, permitindo um contínuo temporal na oferta (presença sequencial do serviço em diversos alojamentos, compartilha de custos de produção e contratação); Multiplicação da diversidade de oferta dentro de cada tema (ultrasegmentação). 150 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 151 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 5 - Articulação das cinco redes com os 4 eixos da proposta de valor 1. Rede Pedestre As cinco redes foram avaliadas sobre o seu potencial para projetarem as mais-valias dos eixos Tempo, Caminho, Hotspots e Momentos. Consideramos esta avaliação como um fator decisivo para introduzir ambição na criação de produtos turísticos temáticos integrados : Figura 26 – Caracterização da Rede Pedestre, de acordo com os quatro eixos do conceito ‘Cinco Vezes Mais Campo’ 152 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 5 - Articulação das cinco redes com os 4 eixos da proposta de valor 2. Rede Ciclável Figura 27 – Caracterização da Rede Ciclável, de acordo com os quatro eixos do conceito ‘Cinco Vezes Mais Campo’ 153 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 5 - Articulação das cinco redes com os 4 eixos da proposta de valor 3. Rede Equestre Figura 28 – Caracterização da Rede Equestre, de acordo com os quatro eixos do conceito ‘Cinco Vezes Mais Campo’ 154 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 5 - Articulação das cinco redes com os 4 eixos da proposta de valor 4. Rede de Vias Panorâmicas Figura 29 – Caracterização da Rede de Vias Panorâmicas de acordo com os quatro eixos do conceito ‘Cinco Vezes Mais Campo’ 155 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 5 - Articulação das cinco redes com os 4 eixos da proposta de valor 5. Rede de Alojamentos Figura 30 – Caracterização da Rede de Casas de acordo com os quatro eixos do conceito ‘Cinco Vezes Mais Campo’ 156 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 157 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 1.1 Vetor Estratégico: ViajarDevagar| PTT1.1: Dolce fare niente, we do it better Tabela4 – Matrizdupla PTT ‘Dolce fare niente, we do it better’ Tabela5 – PPT ‘Dolce fare niente, we do it better’ aplicado ao território da Serra do Açor 158 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 1.2 Vetor Estratégico: Viajar Devagar | PTT1.2: Campos e Recantos, o que Portugal tem de melhor Tabela 6 – Matriz dupla PTT ‘Campos e Recantos, o que Portugal tem de melhor’ Tabela 7 – PTT ‘Campos e Recantos, o que Portugal tem de melhor’ aplicado ao território do xisto, Lousã 159 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 2.1 Vetor Estratégico: O Campo faz-lhe bem | PTT2.1: No tempo das nossas Avós Tabela 8 – Matriz dupla PTT ‘No tempo das nossas Avós’ Tabela 9 – PTT ‘No tempo das nossas Avós’ aplicado ao território de Belmonte 160 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 2.2 Vetor Estratégico: O Campo faz-lhe bem | PTT2.2: Mãos à terra Tabela 10 – Matriz dupla PTT ‘Mãos à terra’ Tabela 11 – PTT ‘Mãos à terra’ aplicado ao território do vale do Dão 161 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 3.1 Vetor Estratégico: Portugal faz-lhe bem | PTT3.1: Regresso às origens Tabela 12 – Matriz dupla PTT ‘Regresso às Origens’ Tabela 13 – PTT ‘Regresso às origens’ aplicado ao território das Aldeias Históricas 162 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 3.2 Vetor Estratégico: Portugal faz-lhe bem | PTT3.2:Findyourselfin portuguese lands Tabela14 – Matrizdupla PTT ‘Find yourself in Portuguese lands’ Tabela 15 – PTT ‘Findyourselfin Portuguese lands’ aplicado ao território Zêzere - Pinhal Interior 163 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 4.1 Vetor Estratégico: Gastronomia única | PTT4.1: Segredos da cozinha portuguesa Tabela 16 – Matriz dupla PTT ‘Segredos da cozinha portuguesa’ Tabela 17 – PTT ‘Segredos da cozinha portuguesa’ aplicado ao eixo Estrela – Tejo 164 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 4.2 Vetor Estratégico: Gastronomia única | PTT4.2: Saúde pela boca, a cozinha mediterrânica Tabela 18 – Matriz dupla PTT ‘Saúde pela boca, a cozinha mediterrânica’ Tabela 19.1 – PTT ‘Segredos da cozinha portuguesa’ aplicado ao território nacional de sul para norte (1as seis noites) 165 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Vetor Estratégico: Gastronomia única | PTT4.2: Saúde pela boca, a cozinha mediterrânica (continuação) Tabela 19.2 – PTT ‘Segredos da cozinha portuguesa’ aplicado ao território nacional de sul para norte (2as sete noites) 166 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 5.1 Vetor Estratégico: Explorar a Natureza | PTT5.1:Birdwatchingde lés a lés Tabela 20 – Matriz dupla PTT ‘Birdwatchingde lés a lés’ Tabela 21 – PTT ‘Birdwatchingde lés a lés’ aplicado ao território desde a fronteira até à ria de Aveiro 167 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 5.2 Vetor Estratégico: Explorar a Natureza | PTT5.2:Geossítios para que vos quero Tabela 22 – Matriz dupla PTT ‘Geossítios para que vos quero’ Tabela 23 – PTT ‘Geossítios para que vos quero’ aplicado ao território de Arouca 168 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 6.1 Vetor Estratégico: Viver as Sazonalidades | PTT6.1: Cogumelos de Outono, Orquídeas de Primavera Tabela 24 – Matriz dupla PTT ‘Cogumelos de Outono, Orquídeas de Primavera’ Tabela 25 – PTT ‘Cogumelos de Outono, Orquídeas de Primavera’ aplicado ao território das Serras de Aire e Candeeiros 169 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 6.2 Vetor Estratégico: Viver as sazonalidades | PTT6.2: Inverno de neve, Verão de águas frescas Tabela 26 – Matriz dupla PTT ‘Inverno de neve, Verão de águas frescas’ Tabela 27 – PTT ‘Inverno de neve, Verão de águas frescas’ aplicado ao território da Serra da Estrela 170 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 7.1 Vetor Estratégico:Enoturismo revisitado - Centro | PTT7.1:Winesbybiketour, Dão, Bairrada e Varosa Tabela 28 – Matriz dupla PTT ‘Winesbybiketour, Dão, Bairrada e Varosa’ Tabela 29 – PTT ‘Winesbybiketour, Dão, Bairrada e Varosa’ aplicado ao eixo Dão-Varosa-Bairrada 171 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 7.2 Vetor Estratégico:Enoturismo revisitado - Centro | PTT7.2: Bairrada, modernidade e tradição nos vinhos de Portugal Tabela 30 – Matriz dupla PTT ‘Bairrada, modernidade e tradição nos vinhos de Portugal’ Tabela 31 – PTT ‘Bairrada, modernidade e tradição nos vinhos de Portugal’ aplicado ao território da Bairrada 172 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 8.1 Vetor Estratégico: O poder da água - Centro | PTT8.1: Caminhos da água, aventure-se Tabela 32 – Matriz dupla PTT ‘Caminhos da água, aventure-se’ Tabela 33 – PTT ‘Caminhos da água, aventure-se’ aplicado ao território do Vouga e Paiva 173 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 ANEXO 6 - Projeto-piloto na região Centro / Produtos Turísticos Temáticos 8.2 Vetor Estratégico: O poder da água - Centro | PTT8.2: Saúde pela água, termas e contemplação Tabela 34 – Matriz dupla PTT ‘Saúde pela água, termas e contemplação’ Tabela 35 – PTT ‘Saúde pela água, termas e contemplação’ aplicado ao território das termas do Centro 174 Redes Temáticas Integradas de Turismo Rural Projecto 5x5 Novembro de 2012 175