“ Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC`s”
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“ Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC`s”
Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s “ Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC’s” Elaborado por: Ana Patrícia Mourão Alves Ribeiro Orientadora: Ft. Ana Maria Nunes Machado Moreira (Fisioterapeuta licenciada) ESTSP 1 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Resumo O presente estudo pretende verificar se existem diferenças, a nível do equilíbrio, em sujeitos com hemiplegia direita, comparativamente aos que possuem hemiplegia esquerda, ambas com origem num AVC isquémico e qual a relação entre a área de lesão e as alterações do equilíbrio. Fez-se a selecção da amostra (n=30), constituída por sujeitos com hemiplegia derivada de um AVC isquémico, a realizar tratamento no Hospital Narciso Ferreira, no Hospital Pedro Hispano e na ADC - Medicina Física e de Reabilitação, Lda, do sexo masculino e com idade compreendia entre os 50 e os 77 anos. Dividiu-se em dois sub-grupos (cada n=15), um cujo hemisfério cerebral atingido fosse o direito, outro o esquerdo, seguindo os critérios de inclusão e exclusão pré-determinados. Aplicou-se uma escala com fiabilidade e validade de conteúdo, critério e construção para a população, não necessitando de adaptação para a população portuguesa, a Escala de Equilíbrio de Berg. Para a análise estatística dos dados utilizou-se o teste de Mann-Whitney, com um nível de significância de p <0.05. Os resultados deste estudo demonstraram que apesar de não existir diferença estatisticamente significativa entre os scores finais nos dois subgrupos, a um nível de significância de p <0.05 e, tendo em conta o número reduzido de sujeitos, parece haver evidência que indivíduos com hemiplegia esquerda apresentem mais dificuldades de equilíbrio, evidenciado por uma média mais baixa nos scores finais, relativamente aos que possuem hemiplegia direita. Verificou-se ainda que existe relação entre o hemisfério lesado e as alterações de equilíbrio. Palavras-Chave: AVC Isquémico; Equilíbrio. ESTSP 2 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Introdução O termo Acidente Vascular Cerebral (AVC) designa o comprometimento súbito da função cerebral, causado por inúmeras alterações histopatológicas que envolvem um ou vários vasos sanguíneos intracranianos ou extracranianos. Aproximadamente 80% dos AVC são causados por um baixo fluxo sanguíneo cerebral (isquemia) e outros 20% por hemorragias tanto intraparenquimatosas como subaracnoídeas 1. O AVC isquémico resulta da ausência de aporte sanguíneo a uma determinada região do cérebro devido a uma obstrução no vaso que a irriga 2. A presença de anomalias nas funções neurológicas originam, entre outros, défices motores, que são caracterizados por paralisias completas (hemiplegia) ou parciais/ incompletas (hemiparésia) no hemicorpo contralateral à lesão. Um hemiplégico pode apresentar padrões anormais de movimento devido ao tónus anormal, défices sensoriais e perda das reacções de equilíbrio3. Embora exista uma variabilidade de indivíduo para indivíduo, a linguagem e o raciocínio matemático são essencialmente representados no hemisfério esquerdo, enquanto que as habilidades não verbais: habilidades manuais, percepções espaciais, sonoras e do meio ambiente e ainda o equilíbrio tendem a ser representadas no hemisfério direito. Por outro lado, estudos realizados em doentes com lesão cerebral têm demonstrado que o hemisfério esquerdo desempenha um papel fundamental na programação do movimento proposicional e que o hemisfério direito participa activamente na programação do movimento exploratório 4. Foram seleccionados para este estudo sujeitos com hemiplegia, resultante de AVC isquémico, uma vez que terá interesse quantificar as dificuldades que apresentam ao nível do equilíbrio. Para tal, foi aplicada uma escala com fiabilidade e validade de conteúdo, critério e construção para a população, não necessitando de adaptação para a população portuguesa, já que avalia posturas e movimentos, relacionados com o equilíbrio. Após a sua aplicação, foi possível comparar o hemisfério cerebral lesado com as alterações verificadas. A escala escolhida foi a Escala de Equilíbrio de Berg, ESTSP 3 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s desenvolvida para avaliar alterações do equilíbrio em adultos seniores e pessoas com anomalias neurológicas, nomeadamente com AVC 5. Os pacientes com AVC, geralmente, apresentam dificuldades em manter o equilíbrio. Este, por sua vez, é descrito como um processo complexo, no qual a manutenção de uma postura é regulada por ajustes posturais, promovendo actividade voluntária e respondendo às perturbações externas 6. Enquanto que o equilíbrio estático diz respeito à capacidade individual para manter uma postura contra gravidade, tendo em conta a relação do centro de gravidade e da base de suporte, o equilíbrio dinâmico envolve as respostas posturais automáticas, face a alterações da posição do centro de gravidade do corpo 7. Estudos comprovam que existe uma forte correlação entre o equilíbrio estático, a função motora e respectivas actividades funcionais, após a ocorrência de AVC 8. Desta forma, levantam-se as seguintes questões: • Será que existem diferenças, a nível do equilíbrio, em sujeitos com hemiplegia direita, comparativamente aos que possuem hemiplegia esquerda, ambas derivadas de AVC isquémico? • Será que existem alterações específicas de equilíbrio, de acordo com o hemisfério cerebral lesado? Objectivos do Estudo: - Verificar diferenças no equilíbrio em sujeitos com hemiplegia, resultante de AVC isquémico, com lesão no hemisfério direito, comparativamente aos que possuem lesão no hemisfério esquerdo; - Averiguar a existência de relação entre as alterações de equilíbrio verificadas e o respectivo hemisfério cerebral atingido. ESTSP 4 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Métodos Desenho O desenho de estudo é do tipo observacional transversal, já que não se verificou intervenção do observador. Este apenas aplicou o instrumento a cada um dos sujeitos que intervêm no estudo, recolhendo os dados num único momento. Quanto à variável a estudar, esta foi o equilíbrio, obtido a partir dos scores totais, resultantes da aplicação do instrumento. Amostra Neste estudo considerou-se como população sujeitos com hemiplegia, resultante de um AVC e como população alvo os sujeitos, com hemiplegia derivada de um AVC isquémico, a realizar tratamento no Hospital Narciso Ferreira – Riba de Ave, no Hospital Pedro Hispano - Matosinhos e na ADC Medicina Física e de Reabilitação, Lda, em Vila Nova de Famalicão. A amostra englobou o maior número de elementos possíveis, de forma a conseguir representar a população. Os sujeitos que constituíram a amostra foram divididos em dois sub-grupos. Num dos sub-grupos incluiu-se os sujeitos que possuem uma hemiplegia do lado direito do corpo e no outro, os que possuem uma hemiplegia que afecta a metade esquerda do corpo. O número final dos elementos da amostra foi trinta, tendo cada um dos sub-grupos quinze sujeitos, não havendo perdas a relatar. A selecção da amostra teve por base o método de amostragem não probabilístico, com uma amostra acidental ou por conveniência, onde os sujeitos, pertencentes a esta, se dividiram em dois sub-grupos, de acordo com as características pretendidas. ESTSP 5 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Os critérios de inclusão da amostra incluem: - Presença de hemiplegia, resultante de AVC isquémico; - Ausência de diagnóstico de outra qualquer lesão neurológica; - Evolução do AVC de seis meses até dois anos; - Os sujeitos em estudo terem idade compreendida entre os 50 e 77 anos; - Serem do sexo masculino; - Assumirem a posição de pé, de forma independente; - Realizarem marcha, sem apoios; - Terem tratamento de fisioterapia nas instituições; Os critérios de exclusão são os seguintes: - Epilepsia; - Medicação que interfira ao nível do equilíbrio; - Reacções associadas nas transferências da posição de pé para sentado e vice-versa e na posição de pé, que interfiram com a modificação da base de suporte; - Hiperactividade; - Alterações visuais. Ética Para a realização do estudo foi entregue a cada um dos sujeitos intervenientes uma declaração de consentimento informado, por escrito. Relativamente aos locais, unidades de saúde, de onde foram seleccionados os sujeitos, foi-lhes solicitada autorização para usufruir das instalações e de alguns utentes do serviço. ESTSP 6 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Instrumento A Escala de Equilíbrio de Berg, que se encontra em anexo, foi criada para ser uma escala de fácil aplicação, simples, segura, com o objectivo de avaliar o equilíbrio em pessoas idosas. Berg e seus colaboradores 9 ao criá-la pretendiam que esta fosse utilizada como medida do estado de equilíbrio do paciente, bem como permitir avaliar a sua evolução e resposta ao tratamento. Nesta escala, os pacientes são solicitados para completarem catorze tarefas, pontuadas, cada uma delas, numa escala de zero a quatro pontos, em que o zero significa que o sujeito é incapaz de realizar a tarefa pretendida e o quatro refere-se ao sujeito que executa os movimentos solicitados, de forma independente e permanece numa determinada posição durante todo ou quase o tempo previsto para aquela tarefa 10 , isto é, apresenta uma performance considerada normal 9. As tarefas que são avaliadas na Escala de Equilíbrio de Berg solicitam o sujeito para realizar actividades que fazem parte da sua vida diária 9 como manter uma posição estática, mudar a orientação do seu centro de gravidade, relativamente à sua base de suporte e para diminuir a sua base de suporte 10 . Enquanto que algumas destas tarefas são pontuadas de acordo com a qualidade de execução, outras têm em conta o tempo que demora a completálas 9. Quanto à duração da sua aplicação, esta escala demora, em média, cerca de quinze a vinte minutos e não necessita de treino prévio, por parte do observador. É aplicada em adultos seniores e em sujeitos com anomalias neurológicas como AVC, Parkinson, entre outras 9,10. Estudos comprovam que esta escala é considerada válida e fiável para avaliar o equilíbrio, de forma funcional, em sujeitos com acidentes vasculares cerebrais 9. Uma análise inicial da fiabilidade desta escala foi realizada por Berg e seus colaboradores, a partir de gravações, por câmara, de catorze sujeitos com idades iguais e superiores a sessenta e cinco anos, enquanto realizavam as catorze tarefas incluídas na escala. O coeficiente de correlação intraclasse (ICC) foi calculado e obteve-se um valor de 0.98, para o score total. Mais tarde, ESTSP 7 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s em 1995, os mesmos investigadores aplicaram como medida um teste re-teste, utilizando vinte e oito sujeitos e trinta e cinco sujeitos, onde obtiveram 0.97 como valor de ICC para o primeiro caso e 0.98 para o segundo11. No que diz respeito à validade desta escala, foi encontrado um valor para o coeficiente de correlação de Pearson de -0.55 12. A pontuação ou score final máximo é de cinquenta e seis pontos. Berg afirma que scores de zero a vinte correspondem a sujeitos dependentes de uma cadeira de rodas, scores de vinte e um a quarenta dizem respeito a sujeitos que recorrem a assistência para se moverem e ainda scores de quarenta e um a cinquenta e seis referem-se a sujeitos que realizam marcha, de forma independente 7. Outros estudos desenvolvidos afirmam que o score zero diz respeito a um indivíduo com grandes dificuldades de equilíbrio e o score máximo a um sujeito com um excelente equilíbrio 10. Descrição do Instrumento: A Escala de Equilíbrio de Berg é constituída por catorze tarefas, entre as quais: - Passar da posição de sentado para a posição de pé; - Ficar em pé sem apoio; - Sentar com as costas desapoiadas, mas com os pés apoiados no chão ou num banco; - Passar da posição de pé para a posição de sentado; - Realizar transferências de peso, tipo “pivot”, na posição de sentado; - Ficar em pé sem apoio e com os olhos fechados; - Manter em pé sem apoio e com os pés juntos; - Inclinar para a frente com um braço estendido, ao mesmo tempo que se mantém de pé; - Apanhar um objecto do chão, a partir da posição de pé; - Virar para olhar sobre os ombros direito e esquerdo, enquanto está de pé; - Dar uma volta de 360º; - Colocar os pés alternados num degrau ou banco, enquanto se mantém de pé, sem apoio; ESTSP 8 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s - Ficar em pé sem apoio, com um pé à frente do outro; - Ficar em pé sobre uma perna. Material: O material necessário, além da Escala de Equilíbrio de Berg, foi uma caneta para colocar um círculo no score correspondente à resposta dada pelo sujeito, um ginásio ou sala arejada e com suficiente espaço para a realização das várias tarefas, um cronómetro e uma régua ou outro medidor de distância com fundos de escala de 5, 12.5 e 25 centímetros. Além disso, foram também necessárias duas cadeiras de alturas 40 e 46 centímetros, a primeira com e a segunda sem braços e ainda um degrau ou banco com 18 centímetros de altura. No item nove da escala, em que é pedido ao sujeito para apanhar um objecto do chão, foi utilizado o calçado que o sujeito possuía no momento. Procedimentos Para comparar as dificuldades, ao nível do equilíbrio, em sujeitos com hemiplegia, resultante de AVC isquémico, com lesão no hemisfério direito, comparativamente aos que possuem lesão no hemisfério esquerdo foi aplicada a Escala de Equilíbrio de Berg. No entanto, antes de se proceder à sua aplicação, foram recolhidas informações nos ficheiros das instituições acerca dos sujeitos de modo a obter uma amostra significativa da população, com as características pré-determinadas. Por outro lado, foi dada especial atenção ao facto de todos os sujeitos realizaram as tarefas da escala com o mesmo material, no que diz respeito ao tipo e à altura e permanecem no ginásio com condições atmosféricas semelhantes. Antes de se proceder à aplicação da escala, os sujeitos tiveram acesso a uma breve explicação acerca do trabalho que iria ser realizado, do que lhes iria ser solicitado e do tempo de duração previsto. A aplicação da escala aos vários sujeitos foi realizada sempre pelo mesmo observador. ESTSP 9 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Após observação dos sujeitos em estudos e aplicada a escala, foi atribuída uma pontuação, consoante o desempenho do sujeito nas várias tarefas explícitas na escala. Quanto ao posicionamento do sujeito em estudo, este foi de acordo com a tarefa ou parâmetro avaliado no momento. A pontuação obtida pelos sujeitos foi comparada e interpretada, tendo em conta o respectivo hemisfério cerebral lesado. Estatística O registo de dados e todo o tratamento estatístico foi efectuado no programa informático SPSS (Statistic Package Social Science), utilizando variáveis numéricas. As variáveis numéricas são os scores finais de cada sujeito, obtidos através da aplicação da Escala de Equilíbrio de Berg. Além de realizar uma análise descritiva dos dados, foi utilizado um teste não-paramétrico em substituição do teste t para dados independentes, pois cada sub-grupo da amostra tem um número de elementos inferior a trinta, sendo, por isso, de considerar que a população não tem uma distribuição de valores normal. Como se pretende comparar o equilíbrio nos dois sub-grupos da amostra, foi utilizado o teste de Mann-Whitney (com nível de significância de 0.05). Este teste possibilita a verificação de igualdade de comportamentos entre dois grupos de casos ou a existência de diferenças no pósteste entre duas condições experimentais 13. ESTSP 10 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Resultados A amostra utilizada neste estudo é constituída por trinta sujeitos do sexo masculino, contendo cada sub-grupo quinze elementos. Foi construída uma tabela onde estão expressos os valores da média e desvio padrão da idade e do tempo de AVC, em meses, consoante o lado afectado (Tabela 1). Lado Afectado Média Idade Desvio Padrão Tempo Idade AVC Tempo AVC Esquerdo 65,53 11,60 6,84 4,55 Direito 61,67 15,60 7,25 5,94 Tabela 1- Média e desvio padrão da idade e do tempo de AVC, consoante o lado afectado. Após a aplicação da Escala de Equilíbrio de Berg aos trinta sujeitos, foram elaborados dois gráficos, um para cada sub-grupo, onde se encontram as pontuações finais obtidas (Gráficos 1 e 2). 60 scores finais 50 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 sujeitos Gráfico 1- Scores finais obtidos pelos sujeitos com hemiplegia direita. ESTSP 11 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s 60 scores finais 50 40 30 20 10 0 1 3 5 7 9 11 13 15 sujeitos Gráfico 2- Scores finais obtidos pelos sujeitos com hemiplegia esquerda. A análise estatística descritiva, referente à média, desvio padrão, mínimo e máximo encontrados nos scores finais dos sujeitos com hemiplegia direita e esquerda estão expressos na tabela seguinte (Tabela 2). Média Desvio Mínimo Máximo Padrão Score D 48.20 4.95 39 56 Score E 47.40 10.29 12 54 Tabela 2 – Média, desvio padrão, mínimo e máximo dos scores obtidos. Legenda: Score D – Score final dos sujeitos com hemiplegia direita Score E - Score final dos sujeitos com hemiplegia esquerda Após a realização do teste de Mann-Whitney, os resultados indicam que não existe uma diferença estatisticamente significativa entre os scores finais obtidos após a aplicação da Escala de Equilíbrio de Berg nos dois sub-grupos da amostra (p=0.588). ESTSP 12 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Discussão/Conclusão Estudos comprovam que o córtex parietal posterior direito está predominantemente envolvido na integração espacial, confirmado pela elevada prevalência de negligência unilateral após acidentes vasculares cerebrais, afectando o hemisfério direito. Rode, 1997, 14,15 defende que apesar dos sujeitos com hemiplegia direita e esquerda terem um alinhamento postural e coordenação motora idêntica, verifica-se um aumento da oscilação na direcção médio-lateral e assimetria postural em sujeitos com hemiplegia esquerda. Tal facto, pode ser explicado pela alteração que possuem na referência interna de estabilidade, derivada de anomalias visuo-espaciais. Por outro lado, os sujeitos com lesão no hemisfério esquerdo apresentam melhor equilíbrio postural conferindo-lhes mais variabilidade e rapidez de movimento 16 15 , . Além disso, nos sujeitos com hemiplegia esquerda, verifica-se um maior grau de dificuldade em passar da posição de pé para sentado, de forma independente 17 , o que também é comprovado pelos scores obtidos neste estudo na tarefa quatro, em que os sujeitos com lesão direita possuem valores mais baixos, não ultrapassando, na maioria dos casos, a pontuação três. Embora os resultados evidenciem que não existe diferença estatisticamente significativa entre os scores finais nos dois sub-grupos e, apesar do número reduzido de sujeitos, parece haver evidência que indivíduos com hemiplegia esquerda apresentem mais dificuldades de equilíbrio, evidenciado por uma média mais baixa nos scores finais, lentidão de movimento e problemas de percepção espacial, relativamente aos que apresentam hemiplegia direita. Estas características podem ser explicadas, estabelecendo relação com o hemisfério afectado, já que o hemisfério que participa activamente na programação do movimento exploratório e que é responsável pela percepção espacial 4 encontra-se lesado. A hemiplegia não é, portanto, uma anomalia neurológica uniforme, pois apresenta várias componentes clínicas, verificando-se uma variedade de sinais clínicos que diferem entre os vários sujeitos 2, podendo ser estabelecida alguma relação entre os scores obtidos após a aplicação da Escala de Equilíbrio de Berg e a área de lesão. ESTSP 13 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Em investigações futuras terá interesse realizar o mesmo estudo mas com uma amostra mais abrangente e significativa da população, para confirmação dos resultados obtidos neste estudo. Além disso, poderia ser vantajoso realizá-lo com sujeitos dos dois sexos, masculino e feminino, e estabelecer relação entre as diferenças encontradas, caso existam, e o sexo. ESTSP 14 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Agradecimentos À Ft. Ana Maria Moreira, orientadora deste estudo, pela disponibilidade, saber, humanidade, material facultado e apoio no tratamento de dados e revisão de texto. Ao Hospital Narciso Ferreira, Hospital Pedro Hispano e à Clínica ADC Medicina Física e de Reabilitação, Lda pela disponibilidade, cedência de dados, instalações e utentes. ESTSP 15 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s Referências Bibliográficas 1. Adams R, Victor M. Principles of Neurology. 7th Edition. McGraw-Hill, Inc; 2001. 2. Umphred AD. Fisioterapia Neurológica. 2ª Edição. Editora Manole LTDA; 1998. 3. Bobath B. Hemiplegia no adulto: Avaliação e tratamento. São Paulo: Editora Manole; 1990. 4. Caldas AC. A Herança de Franz Joseph Gall: O Cérebro ao Serviço do Comportamento Humano. McGraw-Hill; 1999. 5. Daubney ME, Culham EG. Lower-Extremity Muscle Force and Balance Performance in Adults Aged 65 Years and Older. Phys Ther 1999; 79(12): 1177-85. 6. Niam S, Cheung W, Sullivan PE, Kent S, Gu X. 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Apanhar um objecto do chão ________ 10.Virar-se para olhar para trás ________ 11. Dar uma volta de 360 graus ________ 12. Colocar os pés alternadamente num degrau ________ 13.Ficar em pé com um pé à frente do outro ________ 14. Ficar em pé sobre uma perna ________ TOTAL ________ INSTRUÇÕES GERAIS • Demonstre cada tarefa e/ou instrua o sujeito da forma como está descrito abaixo. Quando colocar a pontuação, registe a categoria da resposta de menor pontuação relacionada a cada item. • Na maioria dos itens pede-se ao sujeito para manter uma dada posição por um tempo determinado. Progressivamente mais pontos são subtraídos caso o tempo ou a distância não sejam atingidos, caso o sujeito necessite de supervisão para a execução da tarefa, ou se o sujeito se apoia num suporte externo ou ainda recebe ajuda do examinador. • É importante que se torne claro aos sujeitos que estes devem manter o equilíbrio enquanto tentam executar a tarefa. A escolha de qual perna permanecerá como apoio e o alcance dos movimentos fica a cargo dos sujeitos. Julgamentos inadequados irão ESTSP 20 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s influenciar negativamente o desempenho e a pontuação. Nos itens 1, 3 e 4 deverá ser utilizada uma cadeira com braços. • Os equipamentos necessários são um cronómetro (ou relógio comum com ponteiro dos segundos) e uma régua ou outro medidor de distância com fundos de escala de 5, 12,5 e 25cm. As cadeiras utilizadas durante os testes devem ser de altura razoável. Um degrau ou um banco (da altura de um degrau) pode ser utilizado para o item 12. 1. DA POSIÇÃO DE SENTADO PARA A POSIÇÃO DE PÉ • INSTRUÇÕES: Por favor, levante-se. Tente não usar as mãos como suporte. ( )4 Consegue levantar-se sem usar as mãos e manter-se estável, de forma autónoma ( )3 Consegue levantar-se de forma autónoma, recorrendo às mãos ( ) 2 Consegue levantar-se, recorrendo às mãos, após várias tentativas ( )1 Necessita de alguma ajuda para se levantar ou manter estável ( )0 Necessita de ajuda moderada ou de muita ajuda para se levantar 2. FICAR EM PÉ SEM APOIO INSTRUÇÕES: Por favor, fique de pé por dois minutos sem se apoiar. ( )4 Consegue manter-se em pé, com segurança, durante 2 minutos ( )3 Consegue manter-se em pé durante 2 minutos, com supervisão ( )2 Consegue manter-se em pé, sem apoio durante 30 segundos ( )1 Necessita de várias tentativas para se manter de pé , sem apoio, durante 30 segundos ( )0 Não consegue manter-se em pé durante 30 segundos, sem ajuda • Se o sujeito conseguir manter-se em pé durante 2 minutos sem apoio, deverá registar-se a pontuação máxima no item 3. Prosseguir para o item 4. 3. SENTA-SE COM AS COSTAS DESAPOIADAS MAS COM OS PÉS APOIADOS NO CHÃO OU SOBRE UM BANCO • INSTRUÇÕES: Por favor, sente-se com os braços cruzados durante 2 minutos. ( )4 Mantém-se sentado com segurança e de forma estável durante 2 minutos ( )3 Mantém-se sentado durante 2 minutos, com supervisão ( )2 Mantém-se sentado durante 30 segundos ( )1 Mantém-se sentado durante 10 segundos ( )0 Não consegue manter-se sentado, sem apoio, durante 10 segundos ESTSP 21 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s 4. DA POSIÇÃO DE PÉ PARA A POSIÇÃO DE SENTADO • INSTRUÇÕES: Por favor, sente-se. ( )4 Senta-se com segurança com o mínimo uso das mãos ( )3 Ao sentar-se recorre às mãos ( )2 Apoia a parte posterior das pernas na cadeira para controlar a descida ( )1 Senta-se, de forma autónoma, mas sem controlar a descida ( )0 Necessita de ajuda para se sentar 5. TRANSFERÊNCIAS • INSTRUÇÕES: Coloque a(s) cadeira(s) de forma a realizar transferências tipo “pivot”. Podem ser utilizadas duas cadeiras (uma com e outra sem braços) ou uma cama e uma cadeira sem braços. ( )4 Consegue transferir-se com segurança com o mínimo uso das mãos ( )3 Consegue transferir-se com segurança, necessitando, de forma clara do apoio das mãos ( )2 Consegue transferir-se com a ajuda de indicações verbais e/ou supervisão ( ) 1 Necessita de ajuda de uma pessoa ( )0 Necessita de duas pessoas para ajudar ou supervisionar de modo a transferir-se com segurança 6. FICAR EM PÉ SEM APOIO E COM OS OLHOS FECHADOS • INSTRUÇÕES: Por favor, feche os olhos e fique imóvel durante 10 segundos. ( )4 Consegue manter-se em pé com segurança durante 10 segundos ( )3 Consegue manter-se em pé durante 10 segundos, com supervisão ( )2 Consegue manter-se em pé durante 3 segundos ( )1 Não consegue manter os olhos fechados durante 3 segundos, mas mantém-se em pé de forma estável ( ) 0 Necessita de ajuda para evitar a queda 7. MANTER-SE EM PÉ SEM APOIO E COM OS PÉS JUNTOS • INSTRUÇÕES: Por favor, mantenha os pés juntos e permaneça em pé sem se apoiar. ( )4 Consegue manter os pés juntos, de forma autónoma e manter-se em pé, com segurança, durante 1 minuto ( )3 Consegue manter os pés juntos, de forma autónoma e manter-se em pé durante 1 minuto, mas com supervisão ESTSP 22 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s ( )2 Consegue manter os pés juntos, de forma autónoma, mas não consegue manterá posição durante 30 segundos ( )1 Necessita de ajuda para chegar à posição, mas consegue manter-se em pé, com os pés juntos, durante 15 segundos ( )0 Necessita de ajuda para chegar à posição mas não consegue mantê-la durante 15 segundos 8. INCLINAR-SE PARA A FRENTE COM O BRAÇO ESTENDIDO AO MESMO TEMPO QUE SE MANTÉM DE PÉ • INSTRUÇÕES: Mantenha o braço estendido a 90 graus. Estique os dedos e tente alcançar a maior distância possível. (O examinador coloca uma régua no final dos dedos quando o braço está a 90 graus. Os dedos não devem tocar a régua enquanto executam a tarefa. A medida registada é a distância que os dedos conseguem alcançar enquanto o sujeito está na máxima inclinação possível. Se possível, pedir ao sujeito que execute a tarefa com os dois braços para evitar a rotação do tronco.) ( )4 Consegue inclinar-se mais de 25cm para a frente, de forma confiante (10 polegadas) ( )3 Consegue inclinar-se mais de 12 cm para a frente, com segurança (5 polegadas) ( )2 Consegue inclinar-se mais de 5cm para a frente, com segurança (2 polegadas) ( )1 Inclina-se para a frente mas necessita de supervisão ( )0 Perde o equilíbrio durante as tentativas / necessita de apoio externo 9. APANHAR UM OBJECTO DO CHÃO A PARTIR DA POSIÇÃO DE PÉ • NSTRUÇÕES: Apanhe o sapato/chinelo localizado à frente dos seus pés. ( )4 Consegue apanhar o chinelo, facilmente e com segurança ( )3 Consegue apanhar o chinelo mas necessita de supervisão ( )2 Não consegue apanhar o chinelo, mas chega a uma distância de 2-5cm (1-2 polegadas) do chinelo e mantém o equilíbrio de forma autónoma ( )1 Não consegue apanhar o chinelo e necessita supervisão enquanto tenta ( )0 Não consegue tentar / necessita de ajuda para evitar a perda de equilíbrio ou queda 10. VIRAR-SE PARA OLHAR SOBRE OS OMBROS DIREITO E ESQUERDO ENQUANTO ESTÁ DE PÉ • INSTRUÇÕES: Vire-se e olhe para trás sobre o ombro esquerdo. Repetir para o lado direito. O examinador pode pegar num objecto para o paciente olhar e colocá-lo atrás do sujeito para encorajá-lo a realizar a rotação. ( )4 Olha para trás para ambos os lados e transfere bem o peso ( )3 Olha para trás por apenas um dos lados, revela menos capacidade de transferir o peso ESTSP 23 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s ( )2 Apenas vira para um dos lados, mas mantém o equilíbrio ( )1 Necessita de supervisão ao virar ( )0 Necessita de ajuda para evitar a perda de equilíbrio ou queda 11. DAR UMA VOLTA DE 360 GRAUS • INSTRUÇÕES: Dê uma volta completa sobre si próprio. Pausa. Repetir na direcção oposta. ( )4 Consegue dar uma volta de 360 graus com segurança em 4 segundos ou menos ( )3 Consegue dar uma volta de 360 graus com segurança apenas para um lado em 4 segundos ou menos ( )2 Consegue dar uma volta de 360 graus com segurança mas lentamente ( )1 Necessita de supervisão ou de indicações verbais ( )0 Necessita de ajuda enquanto dá a volta 12. COLOCAR OS PÉS ALTERNADOS NUM DEGRAU OU BANCO ENQUANTO SE MANTÉM EM PÉ SEM APOIO • INSTRUÇÕES: Coloque cada pé alternadamente sobre o degrau/banco. Continuar até cada pé ter tocado o degrau/banco quatro vezes. ( )4 Consegue ficar em pé de forma autónoma e com segurança e completar 8 passos em 20 segundos ( )3 Consegue ficar em pé de forma autónoma e completar 8 degraus em mais de 20 segundos ( )2 Consegue completar 4 degraus sem ajuda mas com supervisão ( )1 Consegue completar mais de 2 degraus, mas necessita de alguma ajuda ( )0 Necessita de ajuda para evitar a queda / não consegue tentar 13. FICAR EM PÉ SEM APOIO COM UM PÉ À FRENTE DO OUTRO • INSTRUÇÕES: (DEMOSTRAR PARA O SUJEITO) Coloque um pé exactamente em frente do outro. Se sentir que não consegue colocar o pé exactamente à frente, tente dar um passo suficientemente largo para que o calcanhar do seu pé esteja à frente dos dedos do seu outro pé. (Para obter 3 pontos, o comprimento da passada deverá exceder o comprimento do outro pé e a amplitude da postura do paciente deverá aproximar-se da sua passada normal). ( )4 Consegue colocar um pé exactamente à frente do outro de forma autónoma e manter a posição durante 30 segundos ( )3 Consegue colocar um pé à frente do outro de forma autónoma e manter a posição durante 30 segundos ESTSP 24 Hemisférios Cerebrais e sua relação com o Equilíbrio em AVC´s ( )2 Consegue dar um pequeno passo, de forma autónoma e manter a posição durante 30 segundos ( )1 Necessita de ajuda para dar um passo mas consegue manter a posição durante 15 segundos ( )0 Perde o equilíbrio enquanto dá o passo ou ao ficar de pé 14. FICAR EM PÉ SOBRE UMA PERNA • INSTRUÇÕES: Fique em pé sobre uma perna, sem se segurar, pelo maior tempo possível. ( )4 Consegue levantar uma perna de forma autónoma e manter a posição durante mais de 10 segundos ( )3 Consegue levantar uma perna de forma autónoma e manter a posição entre 5 e 10 segundos ( )2 Consegue levantar uma perna de forma autónoma e manter a posição durante 3 segundos ou mais ( )1 Tenta levantar a perna sem conseguir manter a posição durante 3 segundos, mas continua a manter-se em pé de forma autónoma ( )0 Não consegue tentar ou necessita de ajuda para evitar a queda ( PONTUAÇÃO TOTAL (máximo = 56) ) Referências • Wood-Dauphinee S, Berg K, Bravo G, Williams JI: The Balance Scale: Responding to clinically meaningful changes. Canadian Journal of Rehabilitation 10: 35-50,1997 • Berg K, Wood-Dauphinee S, Williams JI: The Balance Scale: Reliability assessment for elderly residents and patients with an acute stroke. Scand J Rehab Med 7:27-36, 1995 • Berg K, Maki B, Williams JI, Holliday P, Wood-Dauphinee S: A comparison of clinical and laboratory measures of postural balance in an elderly population. Arch Phys Med Rehabil 73: 1073-1083, 1992 • Berg K, Wood-Dauphinee S, Williams JI, Maki, B: Measuring balance in the elderly: validation of an instrument. Can. J. Pub. Health July/August supplement 2:S7-11, 1992 • Berg K, Wood-Dauphinee S, Williams JI, Gayton D: Measuring balance in the elderly: preliminary development of an instrument. Physiotherapy Canada 41:304-311, 1989 ESTSP 25