o bairro do born retiro - Museu da Cidade de São Paulo
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o bairro do born retiro - Museu da Cidade de São Paulo
981 .61 D438b historic dos bairros de sao paulo o bairro do born retiro . hilario dertonio prefeitura municipal - secretaria de educacao e cultura o BAIRRO DO BOM RETIRO Hilario Dert6nlo eKreveu • stRIE ,..~QUI"O f' ~ ~ o , :1 ":J 33 ~'" IJjE'" " HIST6RIA DOS ': \ _ .-- Sistema Alexandria AL : 1375546 Tombo : 2705 1111111 11111111111\\\111111 1111111\\111111111 BAIRROS DE SAO PAULO - IX 96J,0 O~ { 5 "l b .{ .'f - I Terceiro premle do III Concurso Municipal de Hist6ri a dos Bairros de Sao Paulo, promovido pelo Departamento de Cultura da Secretaria de Educa~ao e Cultura da Prefeitura do Municipio de Sao Paulo, e outorgado pete Comi ssao Julgadora assim constituida: Dr. Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, Dr. Pedro Brasil Bandecch i e Dr . J ose Pedro Leite Cordeiro. INDICE IlJtrodm,:a o .. . . . . . . . . . . . . . . Os pnmord ios do bauro . . 9 . . . . . . . . • . • . . . . . . • . . •• • • • 11 Algu ns dudes geo gr af ico s e populaclonais . 14 o el cm en to . 21 . . .... .. . . . . . . • 22 . 34 . 35 . 38 est rung ciro No menclatura d us vias do Bom Hctiro o~ services publtco s o tr anspo rtc coletiv o A Foculdude d e O<.lontologia A ntitude dos moradorcs nas duns g ra ndes g ue rr as o Born Hetiro na Hcvolueao C on stitucion alista Apeltdos e upos . 43 .. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . •. . . . . . . . . . 44 It alia ni smos e m odismos - Uma li ng ua ori gin al Alg o da tc rm ino!ogia israelit a Um P OII CO 40 . 48 . ... ... ... . .. . . . . . . . .• . . . . 51 da histo ria das mas ... . .. ... .. .... .. .. .. • •. . • 53 54 Um a rna des italiancs o progresso na Hua Anha ia . . . ...... . . . . . . . . . . • . . . • . . . . 57 Os mc ninos da Hua Co rreia de Melo ... . ... .. . . .• .. • . • 60 A Hua da Craca dos lnmpioes de gas . 63 A Rua Jaragu a c sua grande nnchente . 66 A ooissda da Hua Aimo ri-s .. . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . A m clod iosa (' iutcle t'tl wl Hila T res Rios A prrm inv a llua !o.lam o ri 68 .. •. . . . . . . . 70 ... • ....• ....•• . ...... . _. . . . 73 A Hua Lopes Trovso com Nalmofad inhas" e "mchnd eosas" 75 Os t'nme rci alltt's da RWI Jose Paulino A Bua Area l BibliOj.;rafi a C 0 cometa (It' 1I,.lh·y . ... . • . ... • 78 . . . .. . . . . .. . . .. . . . . . _ 80 _ 85 INTROD U<;AO Autores c histori6grafos dos mais ca pazcs pesquls aram a historta da cidade de Sao Paulo, analisando-a a partir de qua ndo as jesuitas construiram urn ni stico galpao na colina piratiningana, em 1554, c dai pelos anos afora ate nossos dias e, da va ricdad c de cscritos c de seu valor, tcm-sc nocao ao com pulsar a Bibliografia contida no primciro volume da Serio Hist6ria dos Bairros de Sao Paulo cditada pclo Departamento de C ultura da Secrctarla de Educacao c Cult uru da Prefeitura do Municipio de Sao Pau lo, obra essa rcfcrida na bibliograf ia an exa.( 1) A parte mais antiga da bistcrla dos bairr os dcssa cidade esta, po rtanto amplamentc tra tada pelos doutos, conquanto sempre dcixc campo de desenvolvimento a novos cstudiosos. A historia mais rcccnt c, contudo, digamos a deste ultimo scculo em que cstamos, pode receber cont nbulcoes novas, tanto as de ca ni ter academico, com citacocs de ~ documentos histc ricos, dcpoimcntos c date s, como as de carater sociologico, compiladas cstas ultimas por cronistas e escritores para lancar luz sabre 0 comportamento e (I) Vide p.igs. 8.') (' flo, o BAIHRO DO nOM HETIHO 9 as idiossincrasias do povo, focalizando suas qualldadcs e scus dcfeitos. Parece que assim 0 cntcnde 0 Departamento de Cultura, no dizcr de Leonardo Arroyo na Apresentacao do referido primeiro volume: " Do passado podemos contar com trabalhos de alta valia, todos eles fixando aspectos de uma cidadc hojc inteiramente dcsaparccida. Graces a esses cronistas e historiadorcs e possfvel, atraves de seus livros, acompanhar a profunda alteracao hlstorlco-soclal sofrida pela cidade. Com esta nova iniciativa do Departamento de Culture rnantemse, ou sc rctoma, a continuidade hlstc rica do conhecimento da cidade atraves de estudos mais modernos". A monografia a seguir, sobre 0 bairro do Born Retiro, se encaixa nesse entendimento e leva em conta equilibradamente aquele dup'o crlterlo, 0 arldamcnte hist6rico c 0 sociol6gico, apresentando fatos de conhecimento do autor evitando, entretanto, entrar em minucias e devaneios, para se manter num volume razoavel. 10 o HAIRR O DO BO~t RET IRO OS PR IMORDI OS DO BAIRR O o Born Ret ire foi incorpo rado a hist6ria da cidade de Sao Pau lo pclo mcnos desde 0 inicio do scculo passado, quando a cidade propnamcnte dita sc restringla aos arredores da colina onde se situa 0 Patio do Colegio, nas vizlnhancas da at ual Praca da Se. A pcqucna cidadc descambava para teste em di rcl;ao ao atual Parque D. Pedr o, atingindo 0 Rio Tamanduatei, e para 0 oeste rumo ao Anhangabaa, onde havla urn c6rrego com esse nome, que hoje esta canalizado sob as Avenidas Anhangabali e Pr estes Maia. Esses curses de egua, ap6s sevirem a higiene da cidade , rum avam para norte e, logo ap6s a celina, urn pouco adiant e do atual v iadu to Santa Efjgenia, 0 segundo deles, fletindo a lesre ia juntar-se ao Taman duatei que, quilometros adian te, desembocaria no Rio Anhembi. Uma estrada de tropeiro em d ir~ao norte, cruzando 0 Anh angabau nesse ponto de inflexac dln gia-se para a planura adiante onde se situaria•. mais tarde. 0 bairro do Born Retiro. Algumas anotar;oes,(2) nos guardados da Dlvisao do Arquivo Historico, de Sao Paulo, mencionam que: "as origens deste bairro datam do inicio do seculo XIX, quando essa planura era totalmente ocupada par sftios e chacaras. Desde 1828 a 1872 aquela zona foi procurada par o BAIRRO 00 BO~I KETIRO 11 pcssoas que ali instalav am chacaras pa ra scu "retire" de Iim-de-scma na. A origem da denominacao Born Retire dcve-se a ter ali existido uma chaca ra com esta denominacao e quando foi loteada deixou 0 nome ao atual bairro . Na decade de 1880 a 1890 se processaram 0 lcteamcntc e arrua mcnto da "C hacara Born Retire", "C hacera Dulley", "Sino do Carvalho" e outros." Out re refer encia ao povoado com esse nome sc encontra na obra de NulO Sant ana , Sao Paulo Htuonco , no seguinte trecho : ( 3) "No ano de 1883 alguns bairros, longe, sc nucleavam. complctamente isolados nos campos, scrvidos apenas por longos caminhos pontuados. de longe em longe, de cfuicaras verdes e solitaries. Assim, a Luz, o Born Rel iro, a Lapa, 0 Bras, a Penh a, Santan a c outros que tals." Ve-se que, em 1883, a ba irro cxistia mas, embora a distancia entre 0 emao centro da cidade e 0 ponte mais prox imo do Born Retiro Iosse apcnas de 1.600 metros, havia muito chao inabitado, "campos" e "ch dcaras verdes e solitaries". onde, scm duvida iam descan sar as familias nobre s daqueles tempos, deleitando-se, em seus reti res. sob as grandes pa ineiras, pejadas de Ilocos brancos na fruli fica~ ao. ou sob os verd es sa bugueiros, cheios de brancas a u roseas Ilores perfum adas. Ainda dos aponta mentcs da referida Divisao do Arqu ivo Histc rico ura-se que : "anteriormente, por volta de 1860, a lugar pa ssara a contar com a primeira grande olaria da cidad e. que utilizava as argilas da varzea, a Olar ia Manfred, e que, em fins do seculo XI X 0 cepitali sta Manfredo Meyer adq uiriu c lotcou eno rme area abrindo ruas. Nessa epoca chegara m ai imigrantes europcus, par ticularmente italianos, c se fixaram . lnstalaram-sc as primeiras grandes fabricas como a Fab rlca An haia, de tccidos de algodao, na ru a dessc nome. c a Cervej aria Germa nla, do s lrmaos Reichert, na Rua dos lIalian os, hoje perteneente a Companhia Antartica. como Ce rvejaria Progresso.' 12 o 8.4..1RRO 00 80M RETIRO E, ainda. "A primclra escola de ensino primano do Born Retiro foi criada pela lei provincial n.v 8 de 15-2- 1884. Em 19 10, devido a scu grande progr esso foi o bairro clevado a distrito de paz pela lei n.v 1.236 de 23 de dezembro. Em 1939 0 distrito recebeu uma parequ ia, em lou vor a Santo Eduardo. A area do distritc abrange 2,57 km" e possui urn s6 bairrc , que e 0 da propria sede." A projecao atingida pclo bairro dcve-sc nao so par ele constituir urn dos caminhos rumo as margens do rio, como tambern por situar-se ao lado da Sao Paulo Railway, mais con hecida por Estrad a de Fe rro Inglese, e que agora se chama Estrada de Ferro Santos a Jundiai, cstrada imaginada e lancada pclo Bar ao e vlsconde de Ma ua e inaugurada em 16 de Icverciro de 1867,( 4 ) A via Ier rea corre praticamente nos limites entre 0 bairro em apreco e os de Santa Efigenia e Santa Cecilia e deu azo a que, naqucle, se instalassem armazens de deposito de mercadorias as quais eram dcscmbarcadas da Bstacao da Luz ou de desvios particularcs. Ocorreu, por esse motivo, a proliteracao de industrias de transformacao de tais mercadorlas e clas tornaram 0 Born Retiro csscncialmcntc operarlo. Dos imigrantes, os italianos prlnclpalmente eram c timos artifices e. procurados pcla industria, ali se estabelecerarn, dando naqucla epoca a predominancia do meio itrilico na populac ao . A part ir de 1900, com as obras da nova Estacao da Luz, com a construcao do viaduto unindo as ruas Jose Paulino e Couto de Magalhaes e com a cxecucso da passagem inferior da Alameda Nothmann sob as linhas da Jnglesa, entro u 0 bairro a expa ndir-se comercialmente. Nele, se fixaram muitas famllias israelitas. As ruas J ose Pau lino e da Grace. e postcriormcntc a Barra do T ibagi, torn aram-se arteries de intense comercio. Mas 0 casario ainda conserva traces de vclhas construcce s dos fins do scculo passado. o BAJRRO DO BOM RETlRO 13 Os Itallanos, a parti r de 1880, e os israelitas, a partir de 1900, eneontra raro, pa ra si, um "bom retir o" no bairroo E, graces ao poder de assimllac jo daqueles e de adaptalJao ao meio destes, form aram um ambicnte propfclo a outras nacionalidades, no que tiveram 0 apoio dos ponugueses preexistcntes. Assim tambem o utros povos vieram encontrar nesse lugar 0 seu " bom retiro'': sfrios, libaneses, turcos, russos e outras naclonalldades em menor escala. No Born Retiro de hoje se encont ram e se caldeiam homens originarios desscs diversos povos, confratern izando e da ndo sua contribuicao para formar braslleiros trabalhado res e energico s que leva rao 0 Brasil a grandes destines, como ja levaram a cidade de Sao Paulo a ser a pr imeira cidadc do pais e a segunda, tal vez ja a primeira, da America do SuI. A LGU NS DADOS GE OG RA FICOS E POP UL ACIO NAI S o eaminho de entrada do Born Retiro desenvolvla-se, como ainda hoje, pelo leve declive onde passa a Ru a Jose Pau lino, a qual continua a ser a mais movimentada do bair ro. Estc comcca no inicio dessa rua . como 0 vertice de urn uiangulo urn tanto irregular , e termin a numa base de cerca de 2.500 metros de cxtcnsao, no Tiete. Essa base, hoje, e uma reta , devido a retificacao do rio, mas outrora era constitulda pelos mea ndros do antigo Anhembi. Ate recentemente esscs mcandros exlstlam, como se ve na planla anexa ob nda de uma pubhcac eot S) de 1933. An hembi e urn de s antigos 5 ou 6 nomes do Tiete e significa "rio des alma s penadas", segundo 0 Dr. Ju an Francisco Recalde : "Ancmbl, nome de outro trecho do Rio Tiete, C a mcsma voz formada ao uso guarani: esta composta de anag-l, que sc diz afi ambi, que degenerou em afiembi , rio das almas penadas" .(6) Com rcspcito aos limites de qualquer bairro, cum pre destaca r que, oficialmcnte, os que se encontra m sao os do 14 o BAIRRO DO 80M RETIRO subdistrito da organizacao judiciaria, que podem diferir daqueles do baiero. A divisao judiciaria, atual, considera a cidadc de Sao Paulo como urn unico distrito, dividido num certo numero de subdistritos, scndo 0 Born Rctiro urn deles. Os limites deste ultimo. considerado como subdistrito, obtidos de urn mapa da Prefcitura, sao constituidos como se segue, tomando-sc como infcio 0 venic e de tn angulo atras referido e rcssalvando-se que possa haver alguma alteracao devida as obras de retiflcacao do Tiete, ainda em andamento: comecam, com 0 subdlstrito de Santa Ifigenia, ou seja 0 bairro de Santa Efigenia ou da Luz, no cruzamento da Rua M auri com 0 pontilhao sebrc a Estrada de Ferro Santos a Jundi ai, tomam por esse pontilhao, continuam por alguns quarteiroes das ruas Prates, Ribeiro de Lima e Afonso Pena, dcpois pelas ruas Salvador Leme e Jorge Velho e Avenida Santos Dumont, ate a margem esquerda do Rio Tiete (P onte das Bandeiras); com 0 subdistrito ou bairro de Santana, sao constltufdos por urn Irecho do Rio Tiete, retificado; com 0 da Barra Fu nda, tomam a Rua Anhaia, desde esse rio ate a Rua Solon, continuum por uma quadra dessa rua ate a Lopes Trovao, seguem por esta, ao sair dela tornam a cruzar a Estrada de Ferro Santos a Jundi ai e, a seguir, cruzar tambem a Estrada de Ferro Sorocabana ; com 0 de Santa Cecilia, tomam por toda a Alameda Cleveland ale 0 cruzamento com a Rua Maua, onde se enoontra agora a Praca Julio Prestes; afinal, voltando ao de Santa Efigenia, segucrn pela Rua Maua, ate 0 ponto inicial. Observa-sc que a estacao inicial da Sorocabana (Estal;iio JUlio Prcstes, cujo novo e cspacoso predto foi terminado em 15- 10- 1938 ) fica para 0 Born Retire , enquanto que a cstacao da Luz (construfda no ano de 1904 c refermada no ano de 1946. devido a ter sido atingida por urn grande tncendlo) fica para 0 bairro deste nome. o mapa de 1970 ancxo, obtido da publical;ao,(7 ) mostra a perimetral acima descrita. A area por ela abran- a BAIRRO DO BO:\I RETIRO 15 o nm l RETIHO E nAIR KOS A DJACE XTE S Dbserv nrn-se as irn'gularidatlt's dn IHu Tide e da retifiea~'iio projetudn. 0 E~ I 1933, prinuttvo tmeado gida, segundo dados fomecldos ao IBGE pcla Prefeitura de Paulo Paulo,(7a ) e agora avaliada em 2,48 kms, levemente inferior ao valor anteriormente infonn ado de 2,57 kmv, posslvemente devido as altemcoes consequentes a retificaiO aO do Rio T tete. Entretanto, segundo 0 entendem os habitantes do Bom Retiro, 0 bairro seria maier que 0 subdistrito, pois t!les considera m como do bairro uma area mais par a Ieste, alem da Rua Anhaia, indo ate a Avenida Rudge, e incluindo as ruas Neves de Carvalho e Visconde de Taunay. Esse entcndimento nao e isolado, pois tambern se encontra em publicacocs oficiosas.(7b) Intcrcssando no Born Retiro hfi ainda outra c1assificacao territorial, a divisao em zonas central, urbana, suburbana e rural, Ieita pela Prefcitura para fins de service s publicos. Pela lei municipal n.? 3.427 de 19-11-1929, que vigorou ate 7-2- 1967, 0 bairro pertencia parte a zona urbana e parte a suburbana, apro ximadamente em partes iguais. Neste bairro, a linha divisoria passava pelas seguintcs vias: Jorge Velho, Salvador Leme, Afonso Pena, Bandeirantcs, Joaquim Murtinh o, Guarani, Tocantins, Matarazzo e Jaragua, ate a Avenida Rudge. Pela lei n,v 7083/ 67 de 7-2-1967, a linha divisoria foi recuada para muito alem do Rio Tlete e assirn todo 0 Born Retiro esta agora incluido na zona urbana. Dentro da area do Born Retiro se encontravam, em 31-12-1969, 44.507 habitan tes, com a densidade de 17.946 habitantes por km''. Para confronto, os numeros relativos a todo 0 municipio de Sao Paulo, na mesrna data, sao : area, 1.516 krnv; populacao estimada, 6.101. 910 habita ntcs; densidade, 4.025 habitantes por km 2 C-). Expressa a densidadc em forma diferente, pode-se dizer que tinha 0 bairro, na referida data, em media, urn habitante em cada 56 metros quadrados e 0 municipio todo, em media, urn habitantc em cada 248 metros quadrados. o BAIHRO 1>0 BO~I RETIRO 17 s o Bm. 1 RETIRO E~ I 1970 st n "to. Os du hairrc, no -. o!i dos lIbdl , en tender . .tes Iindicados I no I.'slo S<!O _\ s at .. a Avenid a ltd II g'" O s Inm do povo, 11 iu gam-.sc lll"lis , . pa r;! oe s n, ' Como len a evoluido a pop ulacao ate 0 valor atual? Alguns dados existentes nas refer encias (2) e ( 7a) dao 0 seguinte : em 1934 .23.043 habltantes, em 194 0, 27.61 7 habitantes, em 19 50. 28.449 habitantes , em 1963, 28.676 ha bitanres. em 1968. 4 1.836 habitantes e em 1969, 0 valor retro. Nao se encontraram dados mais recuados que 1934. Alinhando-se esses numeros ao lado dos de tooa a cidade, segundo vale res apresentados na revista Engenhar ia,( 7c ) com pletados com os do I BG E. cbega-se a seguinte ta bela : An o 1872 1890 1900 1910 1920 1930 1934 1940 1950 1960 1963 1968 1969 1970 Populacao de toda a cidadc . . . . . . . .. . . . .. ..... . . . .. . . . . ... . .. . . . .. . . . · ... ... .. .. ... .......... .. . . ..... . ... .. . . . · . . . . . . .... . .. · . - .. - - ....... · . . . . - . . . . . . .. ·.. ... ... . ... . · . . . ... . . . . . . . · .. . . . . . . . . . . . · .. ... .. ... .. . · - . . . . . . . . . . .. Populacao do Born Retire 31.385 64.934 239.820 375 .324 579 .033 887 .8 10 1.764.141 2.377.451 3.307 .163 5.785.007 6.10 1.910 6.339 .000 23 .043 27.6 17 28.449 28.6 76 41.836 44 .507 Par a os anos anteriores a 1934 e arriscado fazer qualquer estimative da pop ulacao do bairro ; a ~'1'OSSO modo pode-sc admitir que ela seria de uns 500 habitantes em 1872 e uns 4 .000 em 1900 . Q ua nto aos anos postcrlorcs a 1934. nota -sc acentuada dtvergencia entre 0 crcsclmento populacional da cidadc e do bair ro : por exemplo, entre 1940 c 1969, 0 nc mero de habitantcs cresceu 3,46 vezes na cidade e apc nas 1,61 vezes no bairrc . lstc o BAIRRO no BO~I RETIRO 19 pode ria indicar que a populacao do balr ro ja esta pr6x ima de seu ponto de saturacao. Mals alguns da dos geopolitlcos do bairro, relative s ao ano de 196 7. sao os scguintes : (7 a ) : Numero de estabclecimentos ind ustri als 8 15 Numero de opc rar ios 15.11 8 CrS 260 . 125.57 1 Valor da prod ucao CrS 248 .896.49 4 Valor de vendas E stabelec imentos de ensino : prlmario : medic: superior: 2 cstaduais c I cstadual e 9 pa rtlculares 4 pa rticulares 1 estadual Profess6res : pr imario: medi cs supe rior: 23 estaduals e 62 estaduais c 179 estad uais 63 particulates 150 particular es Matrfculas Iniciais : primario : medic : superior : 104 7 cstaduais e 1674 particulates 1960 cstaduais e 160 7 particulares 505 estaduals Assistencia pre-hospitala r . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Servic es oficiais de saude publica Numero de medicos ( 1965) Numero de farm acias ( 1965 N urnero de fa rm aceuticos ( 1965 ) A sslstencia a dcsvalidos (1966) C ullo cat61ico Culto protesrante-evan gelico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Culto espirita C ulto israelite Assoclacao beneficen te-mu tua ria Empresa d e tran sporte rodoviarlo (1966) 20 o 8 .0\1880 IX> BO~ I 3 1 41 15 15 9 2 2 1 4 2 I RETlRO Imprensa peri6dica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Empresas editOras c imprcssoras .. .. .•.. .. Cinemas, teat ros e cine-teatros Bibliotecas ( 1966 ) Associacoes culturais (1 966) Associacoes dcsportivas ( 1966 ) . _...... ... o ..... ..... .. ... .. ... 5 3 1 3 1 10 ELEMENTO ESTRANGEI RO Como se dissc no inicio, os principals povos estra ngeiros no Born Retire sao os italianos e os lsraelltas, com urn apreciavcl contingente de portugueses e Menor quantidade de ourros povos. vindos em maioria na rase aurea da irnigracao . Ha numeros clucidanvos a esse respeito nus obras das referencias n: " (8) e ( 13) ,resumidos a scguir. De 1870 a 1874 ent rara m no Estado de Sao Paulo 1.275 imlgramcs, predominando os portugueses. De 1875 a 1879 entraram 14.4 16, predominando os italianos. Ent re 1887 e 1902 0 Estado de Sao Paulo importo u cerca de 800.000 italianos, 80.000 portug ueses, 90.000 espanh6i s, 18.000 austdacos e 25.000 de vanes nacionalidades. 0 ano de 1891 representou 0 plco da Imigracao italiana : J 32.326 imigrantes. De 1827 ate 1936 entraram no Estado 2.901.204 pessoas, entre estrangeiros e braslleiros de outros Estados. Destas, 942 .903 foram italianas, representando 32,50 %, mais que as brasilelras, que representaram 17,06 % . Notese rnesmo que a imigracao macica italiana 56 teve inicio por ocasiao da abolicao da escravatura e diminuiu consldcravelmente ap6s os primeiros anos da Republica. Em 1940 no total de 1.283.833 estrangeiros residentes no Brasil, os italianos cram 247.877 e 94 .000 destes residiam na capital do Estado de Sao Paulo. Em 1950, no total de 1.085.287 estra ngeiros residentes no Brasil, 242 .330 eram italianos. o 8..\IRRO DO 80M RET IRO 2. Te ndo side 0 nosso primciro rrrugrante assala riado, ainda hoje, q uand o se fala de imigracao. sobe-no s logo a memor ia 0 fluxo rnigrat6rio do final do seculo X IX. Entrctan to nfio foi sc mcmc 0 imlgranrc-colo no que a l talia nos enviou. Reccb cmos homcns que se proj ctaram cm nossa historia. em nossa indu stria c em nosso comerclo. 0 italiano, pclo casam cnto. cntrou para a familia brasileira , assim como pelo trabalho c pela propriedadc privada, ja oc upa lugar de dcstaqu c na cconomia naeion al. Com reiacao aos isruclitas. entre 1930 e 1947 chegaram cerca de 30.000 judeus no Brasil. sendo que a maior parte se conccntrou ern Sao Paulo . Segundo as rcccnscamcntos, nos enos de 1900, 1940 e 1950 , 0 nurncro de judeus no Estadc de Sao Paulo era de 226. 379 e 26.443 . A estima nva atua l da populacao judaica no Estado (segund o 0 cad astr o realizado pela Fed eracao Israel ita de Sao Pau lo em 1966) e ap roximadament c de 87 .500 pessoas, cuja maioria c de origem asbkcn asi. ou scja, jude us de procedencia cslava e gcrmanica . Em concjusao, poder-se-a admitir que a po pulacac esrra ngcira no baiera do Born Retire se tenha dist ribufdc co mo segue : de 1870 a 1890, em maioria portuguescs ; de 1900 a 1940, prcdom inan tement e de origem italica ; e de 1950 a 1970. de for te prcdominuncia isractita. NO MENC LAT URA DAS VIA S DO BOM RETIRO £SIc bairro tern cerca de 50 ru as. Algumas tern Os names or iginais, man tidos desde quando 0 baiera comecou a exlstlr . Outras tiveram seus nomes alterados, em diversas datas, pa ra hom cnagear vultos pa rries au internaciona is. Outras, as mais rccentes, nomes da dos por ocaslao de sua crlacao . Em 1937 a Prcfeitura do Mun icipio de Sao Paulo pu blicou ,(9) no Boletim do Arquivo Municipal, uma 22 o BAIRRO DO 80\1 RETIR O " Nomenclatura das Vias de Sao Pau lo" , organizada por Plioio Ayrosa, bastante extensa, embora nao de todo completa , 0 que e bastan tc comp reensfvel em vista da complexidade do problema. Essa publicacao, pela sua serlcdade constituiu-sc mesmo urn grande e louvevcl emprccndimentc que sob remodo honra seu uutor, historicl ogo de renome, que procurou ser 0 mais rigo roso possfvcl em sua elaboracao. Sao dessa obra a maiori a dos dados da compilaeao a seguir, rcferentc as ruas do Born Retire , que foram, en tretento. completados c atua lizados por dados obtidos de outras fon tes. Obvlamcnte, a relacao nao e complete, em vista de novas ru as q ue surgcm, principalmente na vsrzea vizinha ao Rio Tlcte. onde as obras de relifica~5.o ainda prosscguem. Scm d uvida, porem, esta compllacao, mcsmo incompleta, ajudar a a comprecnder a bistoria do bairro . A nhaia ( r ) - C - R. Silva Pinto - T Av. Presidcntc Castelo Branco ( marginal esqucrd a do Rio Tie rs ) B e DP Born Retire . Luis An tonio de Anh aia, de trad icional fam ilia paulista. foi urn dos fund ador es da grande Iabrica de tecidos de algodao do bairro do Born Retire . Foram com ponentes do cmprcendimento : F rancisco Em idio da Fonseca Pacheco, C.... Ant onio Proost Rodovalho, 0 Barao de Tarui, 0 Marques de Itu e Rafael Pais de Barr os. A fabrica era conhecida por "Fabrica do Anha ia" e dal a denomlnacao da rua exatamente Ironteirlca a Iabrica. Alonso Pena ( r ) - C - R. Ribeiro de Lima - T - R. Joao Kopke - B - Luz - DP - Born Retire . Afonso Au gusto Moreira Pena (30- 11- 1847 a 14-61909 ) foi presidcntc da Republica. o M IRRO 1>0 BO~ I RET IRO 23 Areal ( r) - C - R. Tenente Pena - T R. da Graca - B e DP - Born Retiro. A denomiu acao e de origem popular e e annga. Chamava-se areal de Sant'Ana a baixada do Ti ete junto ao morro de San t'Ana. Ai, dur ante muito tempo, houve a exploracao de areia. A imo res ( r ) - T- C R. Silva Pinto - R. Ribeiro de Lima B e DP - Bom Retiro. Celebres amerindios dos seculos XV I e XVII que habitavam rcgiecs hoje pertencentes aos Estados da Bahia e Espfrito Santo. Bandeirarues ( r ) - C - A v. T iradentes T - R. Joaquim Murtinho - B - Born Retiro - DP - Bam Retire-Santa Efigenia. Essa dcnomlnacao lembra, de maneira gcral, todos aqueles ousado s c heroicos filhos de S. Pau lo que realizaram uma das maiores cmpresas de que sc tern memoria . Seduzidos pelas riquezas famosas des scrtocs e alentados pelas condlcoes excepcionals da vila de S. Paulo, atiravam-sc, em grupos, a todos os sofrimentos para a conquista da fortuna que, alias, quase sempre lhes foi funesta e fugidia. Tornaram-se rijos de corpo e de espirito, valcntcs ate 0 sacrificio, ousados c valorosos. Cruzaram 0 terr itorlo br asileiro em todas as dlrecoes, semearam vilas e aldeias por toda a parte e balizaram as nossas Ironteiras com terras de Castela. As maiores figuras do RO SSO passado, aquelas a quem dcve 0 Brasil a grandeza do scu territcrio e a sua integridade, crgueram-se desse torvelinho de gigantes. Gr ande parte da cpopela realizada por eles csta na obra monumental - Historia Gerat das Bandeiras de Afonso de Taunay, que foi diretor do Museu do Ipirange. Sao Paulo dcvc orgulhar-se de ter sido 0 bcrco " o BAIRR O DO BOM RETIRO desses hom ens de ferro e lizadorcs insuperaveis. B UTTa - T - 0 centro irradiador desses civi- do Tib agi ( r) - C - R. Newlon Prad o Av. Rudge - B e DP - Born Retiro . T ibagi e 0 nome de urn rio do Estado do Parana. conslanteme nte citado na hist6ria das ba ndciras paulistas que sc dirigiam para 0 sui e oeste do pais. Cleveland (al) - C - Av, Duque de Ca xias - T - Estrada lie Ferro Sorocabana - B - Santa Cecilia - DP - Santa Cecilia e Born Retiro. G rover Cleveland , presldentc dos Estad os Unid os, foi quem deu ganho de causa ao Brasil na questao das MissOes, em t 895 . Correia de M elo ( r) - C -- R Ribeiro de Lima - T - R. G uara ni - B c DP - Born Retiro. Joaquim Corr eia de Melo nasceu em Campinas em 10-4- 1816 c ai Iateceu em 21-9·1 876. Comecou como pr atico na Iarmacia do ciru rgiao F. A. Machado de Vasconcelos, em Ca mpinus; dois anos apes habilitou-se como Iarmace utico no Rio de Janeiro. Profundo conhecedo r de plantas medicinals. Deixou num crosas obras muito reputadas. Nota : £Ste nome foi dado a rua em 1905, a pcdido da Escola de Farrmicia da Rua Tres Rios. Correia dos Santos ( r) - C - R. da Oreca - T - R. Guarani - B e DP - Born Reliro . Ezequiel Correia dos Sant os nasceu no Rio de Janeiro em 14-4- t 801 e faleceu em 28·1 2-1864. Formou-se na o BAIRRO 00 80....1 RETIR O 25 Escola de Parmacia dcssa cidade. Na politica fez parte da sociedadc secreta des Amigos Livres, tomando parte depols na crlacao da Sociedade Fcdcralista e nos movimentos rcvoluciona rios de 1831. Era prcsidente da Sociedade Farmaceutlca. Dclxou importantcs estudos sa bre a flor a mcd ieinal brasi'c ira, feitos em colaboracao com os distintos farmaceutlcos Soulic c Dourado. Nota: Estc nome foi dado a rua em 1905, a ped ido da Escola de Farmacia da R ua Tres Rios. Grara ( da ) - C - R. Ri beiro de Lima T - R. Barra do Tibagi - B e DP - Born Retiro . Nome trad icional, oficializadc pclo ato 9 72 de 19 16. Provavelmente se originou de antiga capcla dedicada a N. S." da s Gracas. Guarani ( r ) - C - R. Afonso Pena - T - R. Silva Pinto - B e DP - Born Retiro. Denomlnacao de uma grande familia de ameri ndios subdividida em inumeras Iribos que sc espalharam por toda a America do SuI. A lingua por eles falad a, 0 tupiguaran i, aind a hojc, com alteracocs provocada s pclo contato do castelhano, e corrente no Paraguai. t toboca ( r ) - Vcr Rua Professor Lombroso. l talianos ( r dos ) - C - R. Silva Pinto T - Av. Prcsidcnte Castelo Bra nco ( marginal csqucrda do Rio T iete) - B e DP - Bom Retiro . Designacao de origem popular. A rua foi, ate poucos nnos antes da edicao da Nome nclatura, habitada quase 26 0 HAIRRO DO RO~I RETIRO que exclusivamcnte por italianos. dai a dcsignacao: Rua dos lt alianos. lavaes ( r ) - C - R. Newton Prado - T - Av. Rudge - B e DP - 8 0m Retiro. Tribe amcrtndia que habita eertas regiocs do Estado de Golas. f acio K opk e (r) - T - R. Prates - C - R. Afonso Pena 8 e DP - 8 0m Retiro. Joao Kopke, naseido em Petrcpolis, Rio de Janeiro, a 17-1 1- 1853, baeharelou-se pcla Faculdade de Direito de S. Paulo c scrviu 0 cargo de promotor publico oeste Estado, deixando, porem, a magistra tura para se dedicar ao magisterlo. Como professor foi urn dos mais complete s de que sc pode orgulhar Sao Paulo. Dotado de larga vlsao pcdagoglca, foi urn dos primciros a rnandar vir da Europa aparelhamento proprio ao ensino primaric intuitive, que grande influencia teve nos melos escolares. Publicou varlos livros didaticos. Traduziu urn drama, Morgadinha de Lion, em 5 atos. f or ge V eiha ( r) - - C - Praca Jose Roberto T - R. Afonso Pena - 8 - Born Retire DP - Santa Eftgenia. Domingos Jorge Vclho naseeu em Parnaiba, neste Estado. Foi uma das mais caractcrfsticas figuras de scrtanista do seculo XVII. Durante longos anos ando u batendo os scrtoes do Piau! e Pernambuco. Neste ultimo Estado, obteve licence para atacar 0 celebre quilombo de Palmares. Ape s serlas dificuldades vcnccu a resistencia dos negros; dominou-os por complete e Ihes dcstrul u 0 aldeiamento. Voltando a Sao Paulo faleceu na vila de seu nascimente a 2 1-9- 1714. o BAIRHO DO BO~I HETIHO IOJe Paulino ( r ) R. T cncnte Pcna - C - R. Prates - T B e DP - Bom Retiro. o Coronel Jose Paulino Nogue ira, natural de Ca mpinas, foi grande agricultor e abastado capi talista. Dorado de la rgo esplrito ca rltativo, presto u, dura nte a epidemia de febre a marela que assolou sua cidade natal, inesqueclvels services. Presidiu 0 Banco Co mercial de Sao Paulo e como Diretor, dirigiu a Companhia Mojian a de Estrada s de Ferro. l ose Roberto ( praca) - entre as ruas Piraporanga, Fran cisco Borges, Jorge Velho e Avenida Tiradcntcs - B - Born Retiro - D P - Bom Retire-Sant a Etlgenla. o Dr. Jose Roberto Leite Penteado graduou-sc em Dlreito pcla Fa culdad c de Sao Paulo em 1882. Foi intendente m unicipal e deputado em va ries legislatu res. l lllio Conceicao ( r) - C - R. Mam ore T - 60 m alem da R. An haia - B e DP - Born Retiro. J ulio Conccicao, pcrsonalldede de gra nde conccito s0cial, reside atuat mcnte ( 1937) em Santos. Pertcnce ac l nstituro Historicc e Geografico de Sao Pa ulo e e urn dos seus mais acatados mcmbros. Tern prestado inestim aveis services nao sc a sua cidadc como as letras hist6ri cas de Sao Paulo. Lopes Troviia (r) - C - R. Tencnte Pcna - T - R. Solon - B e D P - Born Retire . o Dr. Jose Lopes da Silva Trovao foi ardo roso tribu no dos tempos da prop aganda re publicana. A rua , antiga mente, se chamava T ravessa Tenentc Pena c passou a ter 0 atual nome prov svelmente em 1925, visto qu e Lo pes Trovao falcce u em 16-7-1925. 28 o B:\IRRO DO 80.\1 R[ TIRO Mamore ( r) - C Areal - B e DP - R. Prat es Bom Retiro. T - R. Um dos maiores rios do Brasil. Depois de rcccbcr numerosos cursos de agua e de juntar-sc com 0 Gu apore, corre do sui para 0 nort e formando 0 Madeira. Neve s de Carvalho (r) - C - R. Barr a do Tlbagi - T - 100 metros alem da R. Julio de Car valho - B e DP - Bom Retire . Luis An tonio Neves de Carvalho nasceu na eidade do Port o e velo para 0 Brasil como oficia l do exercito ponugues. Serviu na praca de Santos, scndo refor mado em 1822 no posto de coronel. Proclamada nossa Independe ncia, a cia prestou seu apolo, vlndo a ser 0 primelro Vlce-Pesldente da Pro vincia de S. Paulo, em cujo cargo scrvlu duas vezes. Newton Prado ( r) - C - R. Silva Pint o T - Ru a Javaes - B e DP - Bom Retiro . Te nente Newton Sizcna ndo Prado, jovem oficial do exercito brasileiro, nascido ern Leme, Estado de S. Paulo, aos 16-7-1 89 7, falccldo ern 12-7- 1922 devido a ferimentos recebldos em combate ao lado de alguns compenhciros do Forte de Copa caba na, num encontro com tropas legals no Rio de Janeiro, durante 0 movlmento sedicioso de 192 2. Nothmann (al ) - C - R. Anhaia - T R. da s Palmeiras - B e DP - Born Retire Santa Cecilia. Vitor Nothmann foi urn dos muitos alema cs que, radicados entre nos, prestaram excelentes services ao progresso de Sao Paulo. Not hmann e Fred erico Glette, ao lado de o BAIRRO DO BO~I RETIRO 29 ourros cmprec ndimcntos, transformaram 0 antigo Campo Redondo no atual bairro de Santa Cecilia. Pedro Tomas ( r ) - C - R. de s Italianos T - R. Anhaia - B c DP - Born Retire . Pedro Tomas foi politico nesta Capital. Prates ( r ) - C - R. Jose Paulino - T R. Joao Kopke - B e DP - Born Retiro. H omenagcm a familia Prates, reprcscntada em Sao Paulo pclo conde de Pra tes, falecido em 1937. Tresidente Castelo Branco (Av ) - Marginal esquerda do Rio T iete - desde estc bairro ate a Lapa - B c DP - Divcrsos. o marcchal Humbcrto de Alencar Castelo Bran co, nasccu na cidade ccarcnsc de Meeejan a em 20 -9 ~ 19 00 c Ialec cu num dcsastrc aerco sabre seu Estado natal em 18-7· 1967. Ingressou na Escola Mitita r do Rca tengo ( R io de Janeiro }, ondc foi declarado aspi rantc a oficial em 1921. Dai passou para a Escola de Aperfeicoam er uo de Oficiais e a do Estado Maier onde se classificou como 0 primeiro de sua turma . Integrou a Force Ex pcdicic miria Brasileira em 1944, at uando na frente de batalha da lt alia. Atingiu a patente mals elevada do Exercito , marechal, em 1964, poueo antes de ser cscolhido para Prcsldente da Republica, apes a revolucao de 3 1 de marco de 1964 . Tomou posse do cargo de Presidcnte em 15 de abri l de 1964, exercendo po r intciro seu manda to ate 15 de novembro de 1966 . Foi incxcedfvcl no cumprimento do dever, alia ndo a consciencia de sua missile revolucionaria serenidade com que enfrentava incomp rccnsoes e rnal-cntendidos. a 30 o HAlRnO DO BO:\I RETIRO Professor Lom broso (r) - C - R. Ribeiro de Lima - T - R. Silva Pinto - B e DP - Born Ret ire . o primitive nome desta rua era Itaboca, que, segundo a Nomenclatura, corresponde ao nome de uma cacbocira formada por num erosos reclfcs. no Rio T ocantin s: antiga residencla dos Araes, segundo 0 rotciro de Antonio Pires de Campo s, capirao-mor pa ulista. Posteriormente a publicacao da Nomenclatura, mais ou menus no a no de 1950, o nome dcssa rua foi alterado para Professor Lombroso. Cesare Lombroso foi famoso medico e criminologista italla no ( naseeu em Verona em 6- 11 - 1836 , falcccu em Tu rim em 19-10- 1909) que, como criminalista, divulgou ideias novas. Estudou os crirninosos q UI: classificou em inofensivos e na tos. Escrevcu numerosas obras, inclusive sabre esplritismo, tendo-sc tornado cspirita. Ribeiro de Lima ( r) - C - Av. Ti radcntes - T - R. Professor Lombroso - B e DP - Born Retiro. o Dr. T omas Augusto R i b ~ iro de Lima nasccu a 20-8- 1860 c faleceu ncsta Capital em ou tubro de 1930. Era form ado pela Faculdadc de Dlrclto de Sao Paulo c foi lcntc da Escola Normal de Sao Pau lo durant e 40 anos. B tambern tide como urn de s rnelhores pintorcs da epcca . Dcixou verla s obras sabre Portugues c Pintura . Sergio Tomas ( r) - C - R. General Flores - T - Av. Rudge - B e Dr - Bo.n Rctiro. Dcnominacao confirmada pelo ate 972 , de 19 16. Silva Pinto (r) - C - R. Anhaia - T R. Guarani - B c DP - Born Retire . o BAIRHO DO BO~ I RETIRO 31 o Dr. Joaquim da Silva Pinto, medico, politico e senado r estadual foi, durante alguns anos, Dlr ctor do Service Sanitarlo. Solon (r) - C - R. Newton Prado - T Viadut o Eng.? Orlando Murgcl - B e DP Born Retire . Frederico Solon de Sampaio Ribeiro nasceu em Porto Alegre em 1842 e Ialeceu em Belem do Para, em 1900 . Do peste de tcncnt e em 1860 ating iu 0 generalato ap6s uma vida de grande dcdicaceo a carrcira militar. Assistlu ao ataque a Paicandu e a rendlcao de Montevideu . Durante a campanha do Paraguai muito se distinguiu, tomando parte nos encontro s de Tul ucue. Loma s Valcntinas, Irororo, Ava i, Campo G rand e e Pcribebui. Foi tambCm um dos mais eficicntes propa gand istas dos ldcais rcpu blican es, cabendo- lhc, ap6s 0 15 de novembro, a missiio de intimar D . Pedro II a dcix ar 0 Brasil. Tenerue Pena (r ) - C - R. Jose Paulino alem 30 metr os da R. Lo pes Trovao 8 e DP - 80m Retire. T - Denomin acao con finnada pelo ato 972 , de 191 6. Tocant ins ( r) - R. Mamore - C - R. Gu arani - T Born Ret ire . B e DP - o Tocant ins e um dos maiores rios do mund o. Nasce em Goids, com 0 nome de Ma ranhao, junt a-so au Araguaia centra no Estado do Para para sc lancer no Atlantico. Tri s R ios ( r) - C - Praca C." Fern ando Prcstcs - T - R. da Grace - B c DP Born Rct iro. o BAIRRO 00 Bml RETIRO Joaquim Egidio de Sousa Ara nha, Marques dos Tres Rios, nasceu em Camplnas, a 21-3-18 2 1. Dedicou-se desde m6<;o a empreendimcntos que the propo rcionaram grande fortuna e lugar saliente na sociedade paulista. Foi vereado r, deputado e vice-presidente deste Estado, tendo por tres ve· zes exercido a presidencla interinamente, como tambem presidiu a Assembleia Legislative. Foi um dos maiores entusiastas da Iundacao da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que mais tarde presidiu, e fundador da casa bancaria Nielsen & Cia., que se transformou no Banco do Comercio e Industria de Sao Paulo. Faleceu nesta Capital a 19-5-1893. Visconde de Taunay (r) - C - T - Av. Rudge - B e DP tiro. R . Solon Born Re- Alfredo Mariano d'Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay, nasceu no Rio de Janeiro a 22-2- 1843 e faleceu a 25· 1-1899 . Em 1861 assentou praca no Exercito, servindo na arma de Artilharia e no Bstado-Maior de 1. 8 classe. Alcancou 0 posto de major, servindo na expedicao de Mate Grosso durant e a eampanha do Paraguai. Fo i senador em 1866, dcputado, presidente das Provincias do Parana em 1885, e Santa Catari na em 1876. 0 seu nome tcrnou-se imortal devido as obras extraordinarlas que preduziu e que foram traduzidas em varies idiomas. Dentre as mais conhecidas e que se tomaram absolutamente populares, podemos destacar : Inocencta, No Deciinio, Ceus e Terras do Brasil, Narrativas Milttares, 0 Encifhamento. Duro sobre Azul, Mocidade de Traiano, e a valiosa narrativa Retirada de Laguna, obra- prima nao s6 da Iiteratura brasileira como da universal. Deixou nas paglnas da Revista do l nstituto Historico Brasileiro vultosissima obra. Foi urn dos mais Iecundos escritores braslleiros e urn dos o BAIRRO DO 80:\1 RETlRO 33 mais cultos espmtos do seu tempo. Foi urn dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. OS SERVl<;0S POBLl COS o Born Retire Ioi beneficiado com services publicos a par e passo com os outros bairros limltrotes. Considerando-se ester ele proximo aos Campos Eliseos, onde se instalou 0 Govem o do Estado, qualquer beneficio neste introduzldo dever ia automaticamente surgir naquele. No comeco deste seculo havia boa rede de agua e de esgotos, pelo menos da Rua Tenentc Pcna para clma. Na Ponte Pequena ja sc instalava uma Bstacao de Tratamcnto dos esgotos que resultou muito eficiente em purificar as dcjecccs dos emissaries e evltar a poluic ao do Rio Ticte. A agua potavcl, por sua vez, era multo pura, pois provinha das cabeccl ras protegldas da Serr a da Cantareira. Posteriormcnte 0 bairro passou a recebcr agua de font cs nao protegidas mas filtrad a com a s processes mais adequados e tratada com c1oro, como a de teda metr6pole. A sltuacao sanitaria estava bern euidada. 0 Servlco Sanitario do Estado instalou desde aqua e tempo. a Rua T enente Pena, urn Desintctorio que ainda existe sob 0 nome de Secao de Epidemiologia e Profilaxia, numa grande constru~ao que ocupa mcio quarteirao . 0 service promovia a desinfecceo da s casas toda vez que se registrava urn caso de doenca epidemica. Por ser 0 desinfetante muito texico, mantinh a-se, a seguir, 0 quarto ou case atingido, isolado e trancado por varies dias. A desinfecceo se realizava tambern em casas que vagavam , antes de serem novamente alugadas. Os habitant es atingidos por docncas epidemica s cram incontincnti removidos para 0 Hospital do Isolamcnto. no Araca, onde nfio pod iam reeeber visitas. Bssa falta de contatc com as docntes atemorlzava muito os moradores do bairrc que, inconsclcntemente. viam nesse Hospital urn inimigo. Hoje 0 service jn e mc1hor compreendido . o BAIR RO DO BOM RETlRO A seguranca ficou a cargo da Guarda Cfvlca e os guardas des quarteiroes eram conhecidos como " 0 guarda clvlca". 0 carro de presos, por sua vez se apelidava de "Viuva Alegre" ou de "T intureiro", nornes que ainda se usam na giria. A G uarda Cfvica foi posteriorm ente substituida pela Gua rda Civil. Esta, por sua vez, em 1970 sc tncorporou a Forca Publica para forrnarem urna {mica entidade militar . Para a iluminacao publica do bairro empregava-se o gas no comeco do seculo. Segund o Nuto Sant ana, no livro Siio Paulo Hist6rico, vol. 2,( 10) a iluminacao da mctropole assim progrediu : de 1863 a 1872 usou-se 0 querosenc, com lampiocs que cram acendidos pelos pr6prios moradores; em 1872 passou a ser a gas, tendo 0 gasometro realizado experlencla a 6 de janeiro desse ana; em 1900 comeco u-se a instalar Iluminacao eletrica . Entretan to, por muitos anos apos 1900 a ilurninacao a gas persistia c se desenvolvla, tanto que, em 1905, no Govemo T ibirica, sc acrescentaram 298 unidades ao total de cornbustores e, em 19 11, no Govem o Rodrigues Alves, 0 ruimero de aparelbos de gas se e1evava a 8.706, enquanto que 0 numcro de focos eletr lcos nao passava de 605 em toda a cidade. No Born Retire ainda em 1930 existiam lampioes de gas. Hoje, ja nao ha mais nenhum , so ha iluminacao eletrlca. Os focos eletricos sao em sua quase tctalidadc de lampadas incandescen tes ligada s em circuito serte. Ha apenas a excccao da Rua Jose Paulino que, em 197 0, recebeu a rnodern a Iluminacao cletrlca a vapor de mercurio. o TRANSPORTE COLETlV O o Born Retiro foi 0 segundo bairro de Sao Pau lo a ter bondes eletricos, tendo sido sua linha posta em trafego no dia 13 de ma io de 1900, sels dla s depois da primeira linha, que Ioi a da Barra Fun da. Bsses bondes, em Sao Paulo, substltufram aquelcs puxados a burros, que eram o BAIRRO 00 BOM RETI RO 35 carros abertos, pcquenos, com apcnas 4 bancos. Segundo Nuto Santana ( Sao Paulo Historico, vol. III ) , este meio de transporte foi inaugurado no dia 2 de outubro de 1872, mas nao desapareceu de todo com a lnaguracao do service eletrico. pois em 1905 ainda existiam 5 bondezinhos que serviam 0 trecho da margem esquerda do Tiete ate Santana, passando possivelmente por uma ponte do Born Retiro, que csta ncssa margem. Bsse anterior transporte era classificado como urn "service pessimo, animais magros e estropiados". Vcrdade e que a Rua voluntaries da Patrie, em Santana, asscmetheva-se mais a uma estrada de roca que a uma rua da Ca pital. 0 servko de bcndes a burro pertencia a Companhia vracso Paulista, 0 eletrico a The Sao Paulo Tramw ay, Light and Power Co. Ltd. que, dcpois, encampou aquela Companhia. No ano de 1947 a Light dcsistiu dos services de tra~ao e os bondes passaram para uma nova Companhia de economia mista, entao organizada, a Companhia Municipal de Transportes Coletivos, CMTC, pertencente a Prcfeitura e ao Governo do Estado. Com esta os bondes durara m ate rccentemcntc, quando foram suprimidos, tendo sido a ultima viagem fcita por urn carro da linha Jardim Paulista, no dia I de outubro de 1965. A linha do Born Retire saia do Largo de Sao Bento, no centro, e ia ate a Rua dos Italianos, onde os tritho., terminavam em ponta, nac tendo 0 trajeto circular, denominado "balao'', como no Largo de Sao Bento. Chcgando ao fim dos tnlho s, 0 motorneiro dcvia virar todos os bancos, virar a alavanca do trolley, Iechar urn dos lados do velculo e abrir 0 outre e passar a usar 0 controle da outra ponta do carro. 0 trajeto ida e volta, numa extcnsao de 7.375 m era percorrido em 44 minute s. A noite a linha era identificada por uma lanterna azul. Lantcma verde indicava a linha Pcnha, branca a Iinha Avenida, e assim as outras. Bntretanto, quando elas aumentaram foi precise usar numeros. A Avenida tomou 0 n.v 3, a de 36 o BAIRRO DO BO ~ I RET IRO Santa Cecilia 0 n.v 9, a da Barra Funda , que fora a primetra. 0 n.v 13, a do Born Retire 0 n.? 15. Posterlormente 0 Born Retire ganho u ou tra linha, Jaragua-Orlenrc, n.v 53, quando os trilhos da Rua dos Italianos foram prolongados algumas quad ras abaixo, passando em par le pela s Ruas Barra do Tibagi e Visconde de T aunay, ale a Rua Jaragua, esquina com a Avenida Rud ge, e, do lado do Bras, foram levados ate a Rua Ori ente, esquina com Rua Con selheiro Bclisario. Hcu ve varies tama nhos de bond cs abe rtos e fechados, mas 0 que mais interessava aos operartos era 0 "c aradura'', urn vcfculo menor que ia a reboqu e do carro principal, e que Ircqucntcmente ia mais lotado que aquele, pois custava urn "tostao'', a metade do preco do outre, cuja passagem era de 200 reis. Nos anos da decade de 1940 os bondes passaram a scr, par varies razocs, considerados lncon venientes ao trafego das ru as e comccaram a ser retirados para dar lugar aos onibus a gasolina. 0 Born Retiro passou a ter uma unica Linha, Ja agua-Sao Bento, n.? I e, afinal, nos anos da decad a de 1960 esta tarnbem desaparec eu. Agora sao os Iumarentos onibus a gasolina que servem 0 povo. Porern eles tam bem ja van sendo substitufdos pa r onibus elerricos ou "troleibus''. Houve, pois, quatro tipo s de transporte em 70 ancs. Mas 0 mais gostoso era mesmo 0 pacato bonde eletrico: com a grand e campainha sob 0 carro, de som grave e ceo, que 0 motorn eiro acio nava para abri r 0 trafego , plem, plem! . . . ; com a campain ha menor , de som agudo, com q ue 0 passageiro mandava parar 0 velculo, 0 que fazia com urn s6 tlim . .. ; ao passo que para indicar ao motornciro que podia seguir a marcha 0 ccndutor dava com cia da is tlim, tlirn! . " seguidos; com seu condutor atencioso que ajudava as scnboras a subirem ou descerem; com 0 condutor cama rada que fiava a passagem quando a genie nao tinha trsco: au com as moleques "chocando" o bonde para desespero do motorn eiro ... o BAIRRO DO eoxr RETIRO 37 FACULDADE DE ODO NTOLOG IA o Born Retire possui, desde 1905, localizada a Rua Tees Rlos, uma cscola superior que em 1934 vcio a pertencer a Univcrsidadc de Sao Paulo, como sua Fac uldad e de Odontologia. A histcria deste estabclecimento de ensino Ioi muito crit eriosam ente escrlta pe:lo professor Rau l Vota, assistente dessa Faculd ade, ren omado Iarmaceuticc e Membro efetivo do Institute Hist6r ico e Geograflco de Sao Paulo. Dos seus conscienciosos apontamentos da tados de 1954 tiram-se as seguintes dado s.( I I ) A iniciativa de sc eria r uma Escola de Farmdcia em Sao Paulo coube ao medico paullsta Dr. Braullo Go mes que consegulu reunir em assembleia, em 12 de outubrc de J 898, uma luzida asslstencla, sob a presldencla do Senadcr Cerqu eira Cesar e composta de elementos de maior destaque da sociedade paulistana daquele tempo , representando as letras, a ciencia e as Iinancas. A reunlao, reaIizada no Pace Municipal, aprovou a Iundacao da Escola e constituiu a Comissao Executiva. Esta, rapida e brilhantemente, organizou a Dirctoria e a Congregacao da novel Escola planejou 0 ensino e decidiu pela duracao do estudc em 4 anos, no rim do qual 0 aluno receberia 0 titulo de "Bacharel em Ciencias Naturals e Farmaceuticas". Inicialmente instalada no bairrc de Santa Bfigenia, num predio alugado e adaptado, na confluencia da Ladeira Santa Efigenla com a Rua do Brigadeiro Tob ias, inaugurou-se a Escola, em II de fevereiro de 1899 ; no mesmo ano foi ela reconhecida pclo Govemo Estadual e no ana de 190 5 o foi pelo Governo Federal. 56 oeste ultimo ano e que a Escola passou para 0 Born Retire, por ter- se resolvido construir a sede propria num teereno situado a Rua T res Rios, rua que fOra recentemcnte aberta no patrimonio da Chacara Dulley. Media o terrene seis mil metros quadrados e sobre ele cc nstruiu se urn pred io imponente para a epcca. Lancada a pedra fundamental em fins de 1904, ooze meses depo is estava 38 o BAIRR O DO 80M RETmO o ediflcio conclufdo, dando-sc a inauguracao no dia 12 de outubro de 1905. Concomitantemenre, mediante memorial justificative enviado a Camara Municipal, a Escola solicitou fOssem dados as ruas pcrpcndiculares a Tres Rios, c que ladeayam 0 terreno dela, os nomes de dois ilustres farmaceutlcos brasileiros - Corre ia de Melo e Correia dos Santos - no que foi atendida. Ate 0 ano de 1912 os an lcos cursos de cnslno superior a existir na Capital cram: essa Escola de Farrmicia de Sao Paulo, com seus cursos anexos de Odo ntologia e Obstctrfcia, a Escola Politecnica, criada pela lei federal 191, de 24 de agosto de 189 3, e que sc instalou bern proximo aqucla, na cxtcmidadc da Rua Tres Rios, ja no bairro da Luz, ou talvez, de Santa Efigenia, e a Escola de Engcnharla Mackenzie que data de 1896. Naquele ano de 19 12 homens dinamicos e de escol de Sao Paulo organizaram a primeira "Universidade de Sao Paulo" para abra nger as d uas primciras referidas escolas a qual se incorporariam, posteriomente, a Faculdade de Medicina, hlpotetlcamcnte criada em 1891, mas sornente corpori ficada pela lei n.v 1.357 de 19 de novcmbro de 1912, com infcio de atividades em 1913, e a Faculdade de Dircito. Essa Universldade dcsrnoronou logo, por motivos politicos, conscguindo dar apenas duas geracocs de Iarmaceuticos e dcntistas c uma de medicos, cngenheiros e advogadc s. A Escola da Rua Tres Rios, nome com que fieou conhccida aquela Escola de Farmacia, passou de 1926 a 19 31 por momeruos d jficeis. Verificaram-se graves ocorrencias que levaram a J ustica a decretar-lhe 0 sequestro des bcns, nomeando 0 Prof. Benedito Montenegro seu depositario judicial e este fntegro medico eonseguiu normaIizar a vida da lnstltuicao. Urn grande acontccimento assegurou a seguir seu futuro : a crtacso, pclo Govemo Estadual de Armando de Sales Oliveira, em 25 de janeiro de 1934, da Universidade de Sao Paulo, a qual, alem de incorporar o HAIR RO DO 80:\1 RETIRO 39 as Faculdades entao cxistcntes, cstabelecla tambem a organiza<;: ao de uma "Faculdade de Farrmicia e Odontologia". Para instalar esta ultima 0 Govemo desapropriou 0 pattimonic litigioso da Escola da Rua Trss Rios, 0 que deu azo a transformacao dessa Escola em Faculdade. Seu predio foi grandemente ampliado. 0 Professor Benedito Mentenegro, indicado para seu diretor, consegulu, com inestirmi vel trabalho, a projecao que essa Faculdade logo teve no ambito univcrsitario. Foi assim que 0 bairro do Born Retiro pede ser sede de uma prestigiosa Faculdade da Unlversidade de Sao Paulo. A Escola, primeiro, e a Faculdade, depois, trouxeram grande beneffcio a c1asse menos favorecida do bairro. Suas boas instalacoes e equipamento modem o forneciam e ainda fornecem asslstencla dentana gratuita, ou no maximo com 0 pagamento do material. Em epoca em que nao havia service de prevldencla social nem assoclacoes de asslstsncla particulares, 0 povo acoma a Rua Tres Rios, vindo ate de outros balrros, para receber esse beneficio, equilibrador de seus magros orcamentos e, na decade de 1910 a 1920, havia filas aguardando atendimento. No seu campo, ficou a Escola sendo urna lnstltuicao, como a Santa Casa 0 e no campo da Medicina. A AT lTUDE DOS MORADORES NAS DUAS GRANDES GUERRAS EUROP£lAS Nas duas rnalorcs gueeras deste seculo a Italia foi grandemente solicirada, tendo side seu territ6rio ocupado e devastado pelas topas inimigas e mesmo pelas dos 'amigos-ursos" hitleristas, por isso 0 bairro do Born Retiro, com sua grande populacao de italianos c seus descendentes, nao podia deixar de acompanhar com profundo interesse todos seus lances e 0 desfecho final. A expectat iva dos italianos do bairro foi maior na de 1 914~1 9 1 8 , pais, recem-chegados ao Brasil, tinham, no 4. o BAIRRO DO BOM RE TIRO teat ro da guerra, parentes que haviam perma necido na mae-p atria ou amigos daqui que, solicitados pelo patriotismo, tinham partido para combater no "front" . A invasao austriaca ao norte da l ui lia, a reacao do exercitc deste pais, a ac;ao concomitante dos Ira nceses cujo territorio tam bem fora invadido ate proximo a Paris, a entrad a dos ingleses na guerra ao lado da l talia e Franca, fonnand o a tr fplice ente nte, 0 afundame nto de navios pelos submarinos alemaes, a aC;ao dos Estados Unidos e do Brasil, tudo era acom panhado pelos jornais, esmiucado, nos botequins e nas ruas, cau sando alegrla nas acoes Iavoravcis e tristeza nas desfeitas. Um dia, nos meados de t 9 17, Ioi 0 de maior rcbulico no bairro. Os peninsulares ai residentes foram surpreend idos pela noticia de urn tragico evento num dos "fronts"; Caporetto ! 0 nome passou de boca em boca ao sc sabe r da lamentavel dcsfeita das tropas italianas nessa localidade do vale do Piave. Todo 0 bairro se emoc ionou. Dizia-se que a retirada de Caporetto fora para a Italia qu ase tao sangrenta como 0 tinha sldo para a Franca, no inicio da guerra, a reslstencia na pequena cidade de Verdu n, pert o de Par is, onde as tropas alemas foram det idas a custa de inume ras vidas. Procuravam-se dctalhes nos jorna is, nem sempre verdadei ros. Milhares de soldados mortos. Os "bersaglleri", orgulho nacional, teriam sido dizimados. 0 exercito italiano fora encurralado pclos austriacos e a derrota final antevia-se iminente. Proc uravam-se os culpados. T eria havide tralcao. Cad orn a, Capello, Alfieri, Badoglio, Orlando, chefes militares e chetes politicos, estiveram na bcrlinda. Punhos cerrados em todas as esquinas da sruas. Vitupcravarn-se tambem os filhos de papal, os " imboscati" (escondidos no mato ) por cstarcm encaixados em ru ncees burocni ticas inuteis e que cram numcrosos. Do Born Retiro mais italianos valorosos sc apresentaram para scguir par a a guerra. o BAIRRO DO BO~l RETIRO " Afinal, com 0 correr dos dia s os animos serenaram. A perda de uma balalha nao fora a da guerra, pois havia muitos outros " fronts" . Depois de meses dessa tragedia a vitona sorriu aos aliados e. em 19 18, a peoctamacao do Gen eral Diaz, chefe do exercito italiano, anunciava : "La guerra contra I'A ustro Unghcria e vinta" . 0 bairro Iicou festive . Os brasileiros tambem se associara m a alegria da colon ia italiana porque eles tambem eram aliados. Na segunda Grande Gue rra, de 1939· 1945, as manifestacoes de tristeza ou de regozijo foram multo redu zidas. Primeiro, porque os italianos recem-vindos, que tinham parentes pr6ximos na peninsula, cram poucos. A composicao etnica do bairrc havia se alterado, a nova gera~ ao era em grande parte de filhos de italia nos, portanto brasileiros, pensando como tais, emprestand o aos fates ocorrentes na Euro pa a importancla com que elcs afctavam o Brasil. Segundo, porque os italianos de origem sc dividiam em dua s Iaccoes que se digladia vam no campo das ideias, parte Iavor avel ao fascismo e pa rte, esta ultima bern maier, esposando as ideias liberais e democraticas que melhor se casam com a indole do povo brasileiro. Enquanto que os Iascistas "ca micie nere" cantavam ategreme nte seu hino: Giovinezza, giovinezza, primavera di bellezza il fascismo e nell'ebrezza della nostra gioventu. os antifascistas os exasperavam, apoveitand o trechos da mesma musica para relembrar acc es deplo raveis cometidas por aqueles na escalada do poder : Col pugnale e con la bomba .. . causa pub stes, mas scm afetar a ordem f4' o ''\i:~.!m: \, o BAIRRO DO 80\1 RETIRO 012S2 Terceiro Iator, estava-sc sob a Ditadura que freiava manitestacao de ldeias polfticas. Assim 0 povo do bairro Iimitava-se a acompanhar 0 desenrolar da luta e regozijarsc com as vitoria s da Force Expediciomiria do Brasil nos campos de Monte Castelo, pcrto de Pisa e Lucca na Italla. Nessas localidades varlos brasileiros, inclusive do Born Retiro, perderam bravamentc suas vidas em dcfesa da democracia e das Iiberdades mundiais. o BOM RETI RO NA REVOLU<;;AO CONST ITUCIONA LISTA Em 1932, estc bairro, como a inteira cidade de Sao Paulo e como todo 0 Estado de Sao Paulo, vibrou com a epopeia da Revolucao Constitucionalista contra a Ditadura. Individualizar a acao dessc bairro dentro do movimenta sen a materia dif fcil, pois a rcvolucao empolgou o Estado como urn todo, dcsde 0 centro da capital ate as cidades das barrancas do Rio Parana, extravasando para o Estado de Malo Grosso c contando apoio em quase todo o Brasil. Empolgaram-se por elc nao s6 os paulistas mas rambem os nascidos em outros Estados e os estrangeiros. Por isso este bairro cosmopolite nao escapou a seducao do ideal constitucionalista e a ele deu tudo 0 que podia: homens, metals para armas e bales, ouro para a bern de Sao Paulo e municoes. Quando da criacao do Departamento Central de Municoes, sob a chcfia do Bng.v Gaspar Ricardo Junior, em 2-8-1932, sste bairro uao tinha industries de guerra, apenas umas pOllcas serra lherias e fundicocs que trabalhavam com materiais metalicos. Mas e ccrto que estas, trocando seu ramo normal de trabalho, nao falharam e logo se puseram em condicoes de cooperar na producao de ruunicoes, de que a Revolucao, bloqueada em seus portos, tanto preclsava. 0 trabalho coletivo de adaptacao Ioi eficaz c, em setembro, quando a revolucso termlnou, a industria o BAJRRO DO noxr RETJRO 43 da capital j j podia produzir tcda a mumcao necessana aos "fronts" . A Ditadura ate chegou a pcnsar qu e Sao Paulo tivesse podido furar 0 bloqueio das munkoes. J j se tinha acumulado delas urn grande estoquc, quc, de tao born, foi " arrebatado a Sao Paulo como presa de guerra", no dizer do chef e do referido D. C. M.(12) Tambem nos services de retaguarda houvc dcdicacocs a causa , a maioria a nonimas. 0 Hospital Militar da Ave· nida Tlradentes, sttuedo du as quadras abaixo do quarrel, abri u inscricoes para urn curse de enfermagem de emergencia destinadc a socorrcr os feridos da Rcvolucao. Do Born Retiro ap resentaram-se varias senhoras, inclusive uma italiana , mac de 5 filhos e que, nao obstante, ia dlarlamcnt c a Ponte Pequena recebcr Ii ~Oes . Foi tanto seu entu siasmo que, ainda duran te 0 CUniO, 0 capitao med ico a cc nvido u pa ra aux ilia-lo no socorro aos ferido s qu e vinham ao Hospital. Ela apllcou-se, pcnsando nos ferido s, aliviando as dares. T erminado 0 Movimento a capitao medico q uis que ela continu asse no Hospital, como enferme ira efetiva. Mas ela nao pede aceitar a honra; tinha que vottar a seus 5 filhos. A R evolucao de 1932 foi vencida, mas seu ideal venceu, pai s a Constituicao que ela pleiteeva veio em 1934 apesar da oposicao da Ditadura. AI€m disso, ajudou a levantar as ba ses de brasilidade e independ encia sobre qu e se assentou a Revolucao vitoriosa de J 964, a qu al esra dand o urn novo rumo ao Brasil. A Sao Paulo deve 0 pais gratidao pelo seu desa ssomb rado gesto, e uma parte dessa gratidao cabe ao bairro do Born Ret iro pela sua eficiente colaboracao na Revotucao de 1932. APE LI DOS E TIPOS Por sec numeroso 0 elemento italia no do ant igo bair ro, os ape lidos de origem itrilica t inbam que ser muitos e alguns exoticos, como rca lmcnte se registrou. Na maioria o B.4.IRRO DO BO~ I RET IRO deles se tratava de substantive s derivados do pr6p rio nome italiano, podendo-se recordar : Bepe, Bepino (de Giuseppe, Giuseppino ) , Bascoalino, Beta (de Elisabeua), Genaro. Outros tinham origem mais vaga, da pron ssao, do habito, etc.: Ciccio. Cicillo, Chicca, Barba, Nane. Alguns emretanto eram mais originais e projetavam a pessoa no circulo de suas relacoes e ate no bairro todo. Vale destacar 5 deles, pertencentes a 5 personalidades que foram caractertstlcas dentre a gente do Bom Retire e que nao existem mais. Nini - 0 seu nome era lnacio, que, em Italiano se pronu ncia l nhatzio, que Oli o tern retacso com 0 apelido, nao se sabcndo pais a or igem deste. Viera 0 l nacio para a Brasil aos 12 anos, com Instrucao pnm arla completa e conheeendo bern a lingua italiana, alem do dialeto veneto da sua terra de origem. Dedicou-se a mecanlca e Iicou sendo chamado Nini pelo eompanheiros. Espccializou-se em automoveis e, autodidata, tomou-se urn dos melhores cspecialisras do seu tempo, tendo consertado e reformado os primeiros Motoblocs e De Dion Boutons chegados ao Brasil. Ao dar partida na manivela de urn desses carros - nao havia motor de arranque naquele tempo - a motor deu urn contragolpe lancando a manivela para ttlis com tal violencia que Ihe quebrou 0 pulso. Operado pe:lo Dr. Camargo, urn dos melhores cirurgioes do tempo, entretanto Iicou com 0 brace em tlpoia por nove meses, scm poder trabalhar. Os tempos foram d uros para a familia. Na ocasiao. a primeira decade deste seculo, nao havia INPS, nao havia leis socials, ndo havia convencoes internacionais em favor dos trabalhadores, pelo que, empregado nessas condil;oes era despcdido, nada recebia, nem mesmo para pagar o medico, e vivia do auxflio dos amigos e do trabalho da csposa. E Ioi 0 que Ihe acontcceu. Por isso 0 Nini passou a ficar urn revoltado . Tomava parte em todas as manifcstacocs e greves dos trabalhadores. A palavra 'sciopcro'' (greve) estava constantemente nos seus hi-bios, para deses- o BAIRRO DO BO~1 RETIRO 45 perc da familia que ficava scm pao nesses dias. Mas por tais atividades ele foi urn dos muitos benemeritos e desconhecidos trabalhadores do mundo que, com seus protestos e sacrificios, conseguiram a jorn ada de 8 horas, a humanizacao do trabalho e as demais conquistas sociais de que justamente usufrui, hojc, 0 proletarlado. Puina - Chamava-se Luis, mas recebeu 0 apelido de Puina - que, em italiano, e urn delicado creme de leite - pela sua compleicao delicada, bondad e e pacisncia inatas que 0 tom aram amigo eminentemente servlcal de todos os colegas. Nunca dlscutla, confiava nos companbeiros e delxava-sc lever com candura, fosse para os passeios e noitadas alegres, Iosse para as reunioes trabalhistas e para as greves. Nesta sofria como os demais, embora sem a convlccao deles. Quando m ~ o teve variola, que Ihe deixou o rosto completamente empipocado, a scmelhanca das fotos hodienas da Lua. Mas apcsar da dcfor midade, a bondade continuava transpar ecendo de seu rosto, quer pelo olhar sereno, quer pcla fidalguia dos traces. Foi habit mar ceneiro e, alem de trabalhar na oficina, fazia services avulsos em casa. Nao teve aposentadoria, desconhecida nos primetros 30 anos deste seculo. Precisou e trabalhou, com todos as scus cornpanheiros, ate a ultimo dia de sua velhice. Apclido derlvado, cmbora nao 0 pareca, de Jose, que, em Italiano, sc diz Giuseppe, cujo diminutive e Giuseppino. 0 Pino foi urn conhecido carpinteiro do bairro . A carpintaria, ate mais ou menos 0 ana de 1920, pouco usava as maquin as ( plainas, serras de fita, serra circular, tupias), que hoje sao a base desse trabalho, e era quase inteiramente feita em Iuncao do artesanato. 0 Pino era urn artesao, musculoso e decidido e se especializou em fazer curvas de escadas. 0 "c hique", nas escadas de madeira senhoriais do tempo, era fazerem-se as curvas de 1800 scm patamares, com degraus em form a de leque, Pino - ,. o DAmno DO timl RETIRO e isso exigla na parte interior da curva uma peca inteirica de peroba, de feitio especial. 0 Pine recebia encomendas de tais curvas de toda a cidadc. Tomava de urn cepo dessa madeira, de urn metro e mcio por meio metro, com 20 au mais centimetres de espessura, e, ataca ndo a peca com enxo, serrote, formao, grosa, la escalavrando, serrando, tirando angulos, ate dar-lhe a forma de urn semicilindro espiralado, de 5 ccnumetros de espessura e com encaixes na parte dc fora, para receber as tabuas dos degraus. A peca, bern trabalbada, ficava esguia e solida. As vases, durante 0 rude Irabalbo, pingos de suor do artesao calam sabre a rosea peroba a qual, ao recebe-los, transformava-os em pcquenos circulos vermelho vivo, aparentando gotas de sangue. Nesse mlsto de tecnica e arte, 0 artista levava varlos dias. E, como born artista, cada vez que acabava uma peca, ia comemorar 0 fcito no botequim da esquina, a frentc de uma garrafa de cachaca. Birru - Como todos sabcm, birra c cerveja em itallano, e esse apelido foi dado a urn filbo de italianos, nascido mais au rncnos no ano de 1900, no Born Retire . Assim foi apelidado nao porque Iosse urn pau-d'agua mas porque trabalhava na Cervejaria Germania e tinha uma tez tao carregadamente avermelhada que dava a impressao de estar constantcmente no pileque. Era entregador da mercadoria e ia, com seu carrocao puxadc a cavalos e cheio de garrafas de cerveja a u de barris de chope, realizar as entregas, fazendo ao mesmo tempo tambern de cocheiro, vendedor e cobrado r. Era bonachiio e muito benqulsto da freguesia. Oostava do "bel canto" , de operas e de operetas, que nao perdia ; nas temporadas era infalivel ve-to num canto das galerias do Municipal ou dos teatros Santana e Bela Vista. Nao desmentindo sua ascendencia italica, unba boa voz e cantava, quer as noites, nas rodas de amigos pelas ruas do bairro , guer as vezcs, nos bares do Bras, em frcnte de uma pizza c de urn copo duplo de chope. o BAIRRO DO BO M UETlRO 47 Brodo - Este apelido se aplicou a urn tipo original que perambulava nao s6 pelas ruas do Born Retire , como pclas dema s ruas de Sao Paulo; 0 vocabulo parcee ter origem italica, pois brodo (com () fcehado) em italianc significa caldo. Do " Br6do" ocupou-se Fern ando Mendes de A lmeida.t 13) que assim 0 descreve no Almanaqu e de 0 £StOOa de Silo Paulo. J94 0 : "El e comecou a se vestir bern. Depois foi deixando a natu ral inclinacao que os mocos tern para gamenhos. Subltameme, paralisou-se-Ihe todo 0 gosto pclas roupas. Desde entac resolveu andar pelas ruas cantando, ante 0 espa nto do vulgo e os apupos de moleques e pcralvilhos. Na realidade, 0 cantar for a dcsde esse tempo 0 seu despor to escolhido. Efetivarnente, " Br6do" populari zou-sc pelo lnocente cost ume de canter , a sol a pino ou a desoras, tao pront o 0 desejasse. Nao c, pois, fora de duvida que, quando se Ihe rnirrou a voz, nao mais se deixou veneer pelo gosto da cxistencla e nunca mais foi visto." :E de crcr que. com tais pcndorcs, Iosse, nesre ano de 19 70, classificado com "hippie" , IT ALl ANISMOS E MO DISMOS UMA LINGUA ORIGINA L Os imigrant es de cada nacional idad e que se instalayam no Born Retiro traziam , cbviamenre, expeessces proprias do sell pais de origem. Muitas dessas passaram a ser assimiladas pelos habitantes e criaram modo s de expressao muito peculiares que duraram bastante tempo e que, apenas em part e, cairam em desuso, pois muitos deles ainda hoje se conservam. Assim ocorreu com os portugueses que introduziram dizeres tais como : oh, raiosl, captal, vacalha u, binho berde, trabcssa, alfacinha, trlpairc , etc. Muitos dos termos dessa genre oriunda da antiga mctr6pole lusitan a sc introduziram na lingua despercebidamente, apenas com alteracao da pro- ruincia. . o B.,"RRO 00 eosr JU.i lRO Os sirios e turcos trou xeram algun s vocabulos ao ba irro, podendo- se recorder : salameleque, arrabatacha, kibbe. esfiba, kan a, bamostaine, etc. Os ru ssos trou xer am termos ta is q ue : vod ka; os israelit as tambem vieram co m os seus, q ue serao rnencio na dos em ca pitulo a parte. Com o q uer que seja , destas ultimas or igens pouco se assimilo u, d evido gra nde diversidade entre essas Hnguas e 0 nosso portugues, a qu al tomou diHcil a compreensao da mai oria dos term os e portanto impediu sua transmlssao pelo falar q uotidi an o. H co m a lingua itali an a , qu e ma is acessfvcl aos brasiteiros , pela origem latina comum, e porque veio trazida po r grande numero de pen lnsutares, a influ enc ia foi mu ito gra nde, tanto mais q ue nos dois pri meiros decsnlos deste seculo a quasc tota lidad e do povo do Bo rn Retiro era italiana o u de sua descendencla. C hegou a surgiu un- a lingua pec uliar para 0 ba irro . Os italianismos, as similados ind istin tamente pe lo povo todo, fora m numero sos : pizza, spaghetti. minestra, minest ro ne, polenta, muzzarella, 61io (por azeite}. bo ucghin o. pinghina, birra, sbo mia, ingoppa, accus l, ca spite, ostregbe ta , paese (si gnificando 0 municipio au cidad e) , signorio, vostra slgnoria, morra, scopa, scopo ne, treseue ( no mes de jogos este quatr o) ciao, ( tchau ), capolavo ro, etc, a e Nas conversas de ru a, quando alguem falav a bern de terceira pessoa, ouv iam-se como termos eloglosos: galantuo mo, uomo d a per be ne, donore , d eputato. ince1en za, etc. e, si falava mal, os termos desabonadores c ram : ma scal zon e, vigliacco, ladro, garga ma no, cretino, indisgraziato, garadura, cavargad ur a, etc. Percebe-se por esses exemplos que ora os termos d a lingua italiana, m orm cnte do Ven eto, entravam na fala por tuguesa, ora os vocabulos por tuguescs se adapr avam ao italia no. Urn cxemplo int eressante desta ultima adaptaca o a palavra scoliero pa ra significar co lhe r e qu e, co mo se percebe, se o rigina rncsmc de colher; em ita lian o a colhcr e o B.-\IRRO DO 80 \1 RETIRO •• serla chamado de cucchiaio e, em veneto, de cuchara, nao dando raiz para aquae vocabulo. Alem do grande numero de italianismos, empregaram-se tambem no bairro muitos rnodismos de fonte italiana: "fazer 0 soldado"; "se deixar cortar 0 cabelo"; "arvore que canta em cima 0 sable"; etc. Ninguem mclhor que J u6 Bananere coligiu 0 mar de italianismos e modlsmos do Born Retire e com eles logrou compor uma lingua que, embora feita em carater humorlsrico, foi realmente muito usada no bairro. Ju6 Bananere e 0 pseudon lrno de urn brasileiro que nem mesmo nasceu no Born Retire. Trata-se do engenheiro e jornalista Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, nascido em Pindamonhangaba em 1892 e falecido em 1933. Fez seu curso de engenharia na Escola Politecnica da Rua Trss Rios e pede por lsso assimilar tao bern a Iala do Born Retiro que fundou urn jornalzinho, 0 Pirralho, escrito com tal Iinguajar e mais tarde escreveu urn livro de poesias ncssa humorfstica lfngua que ele compos: La D ivina l ncrenca. No frontispicio de scu volume de 130 paglnas diz ele jocosamente que se trata de " Livro di Propaganda da Litcratura Nazionalc" e se declara "Candidato a Gademia Baolista de Letras". o Born Retiro conscguiu apaixonar esse escritor. Sell amor pelo bairro ele 0 revela atraves do personagem da poesia 0 Studenti du 8 6 R etire, parodia de outra poesia o Estudante A lsaciano, entao muito em Yoga. Diz ele, em certa altura, embora colocando as palavras na boca do "studenti" : (H ) o o ];: maiorc distritto di Zan Baolo maise bello e ch'io maise dimiro 0 B6 Rctiro. E mais adiante, arrematando com a atitude destemida do menino: 50 o BAlRRO DO 8m-I RETIRO I, bateno a mon inzima 0 goraco, Dlsse: - 0 8 0 RITIR O ST A AQ Ul l Noutra poesia revela 0 jornalista querer ser hi scputtado (desejo infelizmente inviav el, pois os cemiterios estao la nge do bairro) : Ai chi mi dera Chi 0 meu iirtimo sospiro Fosse 13 nu Bo Ritiro, 1 0 meu tumbolo tambe. Fica p'ra sempre Giunto das intalianigna Cada quar mais bunitigna Maise be non podi ave _. . Com 0 correr dos anos essa linguagem arra njada pelo povo e codificada pelo jomalista desapareceu e hoje nao passa de saudosa rccordacao dos que a conheceram e da pcrmanencia. na lingua Ialada no Brasil, de urn grande numerc de seus italianismos, Mas a hist6ria do Born Retiro seria Incomplete se nao incluisse reterencla a or iginal lingua outrora usada por scus primciros habitantes italianos. ALGO DA T ERMI NOLO GI A ISR A ELITA A vinda de judcus para 0 bairro sc acentuou enormemcntc durante c ape s a Grande Guerra de 1939 a t 945, em vista da perscguicao lmpicdosa que lhcs moveu 0 nazismo e, a seguir, 0 fascismo. Esse povo, contra 0 qual os desalmados nazistas exerecram a cruel guerra de extcrmfnio que ainda hoje, tantos anos depots. faz erlcar os eabelos ao rememora-la, povo tao perseguido, mcrecc toda nossa simpatia. Ele sofreu horro res nos campos de concenrracao de Dacbau e ou- o B.URRO DO BO ~ I RETIRO 51 rros, onde muitos milhocs de judeus, adu ltos , velhos ou criancas, hornens ou mulb eres, foram sujciros a "ex periencias biol6gieas" engend radas por cerebros doentios e, a seguir, mortos. Mesmo fora des campos de conccntra cao, nos cscondcrijos em que se ab rigavam, os judeus sofreram. Um a das narrativas mais impr essionant es da vida qu e eles levavam, qu and o podiam se oculta r, nao apenas na Alemanha mas tam bcm nos pafses ocupados, e a do D iorio de A nne Frank, eserito por uma menina de 12 ancs, qu e provavelmente foi inspirada do Alto, para que os posteros pud essem ter um testemunho desses sofrimentos. Em A msterdam, ne Hola nda, a casa ond e cia e scus pais se escondera m por muit o tem po antes de serem dcscobc rtos e supliciados e. hoje, urn museu a eonfirmar a veracidade da narrativa. Encer rando essa triste evoca cao acrescentarem os qu e, por isso, foi justo 0 " born retiro" cncontrado no ba irro pclos judeus que puderam escapa r. No Bom Retire a quamidade de judcus cresceu muit o nos ultimos 25 a nos e e de erer que. ago ra, mais da mctade do s habitant cs se]a constituida de israelilas e de seus descende ntes. Assim, a linguagcm do ba irro, que no primciro quartel do seculo sofrera a influencia da lingua ital iana, esta agora sendo atetada pela lingua ifdiehe desse pcv o. H oi urn gra nde numero de vocabulos dessa lingua cncaixado nas conversas do povo mesmo quando pronunciada , em port ugues. Ourras pessoas que nao os israelitas ja comecam tambem a emprega-los, por efeito de assimllacao. Algumas dent re as pala vras mais usuais se referem aos costumes israelitas. A prim eira palavr a que pro nunciam dois judeus quando se enco ntrem e: "shalon" , um cumprimento, que signiflca paz, a que etes pede m pa ra si e a desejam aos ou tros. Outras palavras sao: "mossel tof", signifieando par a bens: "barmltzwar ", a sole nidade de emancip acao des meninos do scxo masculine aos J 3 anos, com a qual atri bucm 52 o 8 :\IRRO 00 80\ 1 RETIR O a sua alma a carac leristica de adu lto, de auto-rcsponsavel; es.ranbamente, cssa solenidade nao se faz com 0 scxo feminino ; "rochachona", feliz ano novo, qu e para eles comeca em data movcl: no ano passad o 0 ano judcu comecou em 13 de setembro, e neste ano de 1970 , que no calendano israelita e bissexto, comecara em 1 de ourub ro: esse ana novo e solenemente comemora do desde a vespera ; "yomkipur", dia do perdao, celebrado co:n jejum, dez dlas depois do rochachona ; "busmillar", circ uncisao, uma solenidade sem sentido para os outros povos, mas que 0 israelita pratica no rccernnascido masculino, a idade de 8 dias. Denlre os alimentos ha : " varenik", pastel cozido ; "ghefalte fich", peixe recheado; "ghefalte elzach", pesccx;:o recheado ; " bortch'', sopa de bctcrraba; "kacha"; "kreplccs" , ravioli recheado com carne . Alguns desses nomes, e outros, pod erao com 0 tempo ser assimilados pelo portugus s falado no Brasil, enriquecendo a linguagem. Pou cos, contudo, em vista da grand e disparldade de radicals e de pronun ciacao entre as duas Hnguas. UM rouco DA HI STORIA DAS RUA S o Born Retire sempre foi urn bairro homogeneo. 0 tipo po rtugues de longos bigodes, pesado e bonachao, que se encon trava numa rua pod ia tambem ser encont rado em outras. 0 italian o, de falar caracterfstico e de grandes gestos que assim sc manifestava oa Ru a dos Italianos, tinh a outros iguais na Rua Guarani ou na Rua Pra tes. 0 garrafeiro ou carvoeiro cantante da Rua Tres Rios percoreia todo 0 baireo com a s rncsmos cantos c em todo ele era entendido do mesmo modo. 0 " turco da prestacao'' ou 0 "ru sso da o BAIRRO I)() 80M REnRO 53 prcstacao" era conhecido em todas as casas . 0 israelita, que veio depo is, se espalhou por igual pela Rua Jose PauIino como pela Rua da Grace ou pela Rua Barr a do Tibagi ou outra qualqucr. Assim, a hist6ria de uma rua se repete mais ou menos Igualmcntc em todas . Entreta nlo, em certa epoca certos fatos ocorreram numa rua ou certos pcrsonage ns nela se fixaram. Noutra epoca outre caract erfsuca se ap resenrou noutra rua. Essas peculiaridades dcscntas como foram observa das daD cor particular ao historico da rua ou da epcca. Assim, colhidas ao acaso, apre senram-sc, a seguir, algumas sltuacces vividas em ru as do bairro nestcs 70 anos. scm a prcocupacao de sc fazcr um hist6r ico co mpleto mas apcnas visando dar um esboco do descnvolvimcnto desses lugares. Seguem-se II runs, cada uma com os casos que aprcscntou, complemcntando, assim, estc breve relate do que Ioi c do que e o bairro do Born Retiro. UMA RUA DOS ITALI ANOS o nome da Rua dos Italianos bern indica a origem dos habitantes que vieram para 0 bairro entre os fins do seculo XIX e 0 inicic do seculo XX. Inicia-se cia na Rua Silva Pinto e vai, em suave declive, ate as margens do Rio Tiete, paralelamente a Rua Anh aia, por mais de 10 quarte lroes. Essas duas ruas sao as mais longas do bairroo Naturalmente, no comeco, cia nee era liio longa: em 1912 mal tinha os 3 primeiros quartetroes; os cruzamentos em seguida a Rua Silva Pinto ocorriam com a Julio Conceicao, a Ten entc Pcna e a Solon. No segundo quarteiriio, a mao direita de quem descia, havia no rcfer ido ano, urn grupo escolar . Situava-sc num predio cspacoso para a epoca, em que as janclas de dua s salas de aula dav am para a rua e as des dcmals salas para o patio interno, havendo tam bem urn bom rccreio . Pareee que 0 grupo ja sc chamava Marechal Deod oro. Os meninos o B.URRO 00 BO~I RET IRO e meninas deviam ir as au las uniformizados, terninhos ou vesttdln hos azuis com amplas golas de marinheiro listadas de bra neo. Nos amplos q uadr os-n egros suspensos por tripes as professc ras cscre viam a giz as lil;Oes que a seguir fazia os alunos eopia rem ind ieando-as com uma longa vara de madeira, 0 apontador. A discipline era rud emente mantida, na base de cas tigos eorporais, pux oes de orelhas, batidas na mao com regua, paneadas na cabeca com 0 apontador. De uma vez uma professora ehegou a quebrar seu apontador na ca beca de urn aluno ma is recalcitrante. Qu ase em frcnte ao grupo ha via uma oficina mecanica de a utomo vcts com a pla gaagem, uma das primeiras de Sao Pau lo, perte ncente a dois ltalianos e com emp regados tambem italianos ... para nao fugir ao nome da rua. Atcnd ia ao s Berliets, Motoblocs, De Dion Boutons, Renaults e outros carros de marcas fra ncesas dos pio neiro s paullstas que ousava m possuir autom6veis. Provavelmente passaram por essa oficina os velculos des dois primeiros automob ilistas de Sao Paulo, An ton io Prado, grande pau· lista e ex-prefeito da cidade , e Henrique Santos Dumont, irmao do "p al da aviacao'', Alberto San tos Dumont, este tambem plo neiro mas no campo dos aeropla ne s, com os seus vso s em Par is. H oje, em rccordacao desses primeiros vefculos, 0 DET ( Depa rtamento Estad ual de T ransite do Estad o de Sao Paulo ) tcm em exposicao, no sag uao principal de seu pred io do Ibirapuera, urn des Renault do tipo ent ao em voga, do ana de 1910. Antes do inicio da Gu erra Mundial de 1914·1 918 havia, no primeiro quartelrao da rua, a Iabnca de cerveja Gormania. Bstava instalada num gra nde e maclco predio ladeado por 2 amplos po rtoes de ferro, pelos quais entravam e safam espacosos caminh5es de entrega, puxados a cavalos. Seu movimento era intense, atestando a larga aceitacao dessa bcb ida entre 0 povo. A Iabrlcacao estava razoavelmcnte mccan izada, exceto no setor de engarrafamente onde a lavagem das garrafas de vidro era quase o BAIRRO DO W:\1 RETlRO 55 toda manual. Os opcra nos tra balhav am constantemente com os pes molhados e mu itc reumatismo doloroso Ioi ai colhido. o estrepito dos cascos dos cavalos e de s rodas dos veiculos sabre os "macacos" da rua era iao intense como os ruidos de hoje dos caminhOes a gasolina. Sao Paulo sempre Ioi, infelizmen te, a capit al do barulho. Ao vir a Gu erra Mundial de 1914-1 918 e com a entrada do Brasil nela, ao lado des aliados, isto e, contra os alem ees, 0 nome dcssa Iab rica , lembrandc 0 inimigo, a Alema nha, foi mal visto e teve que ser suprimido. A Iabrlca passou, por lssc , para 0 dom inio da An tarctica c, com 0 novo nome, ainda se manreve nesse lugar por mais alguns anos. Depois foi transferida para outro bairro , o Ipiranga, parcce, dcixando saudades nos bebedor es de " birra". Os boteq uins dcsta rua, como aquel es das demais do bairro, cra m barul hentos. Urn botequim que se prezasse prccisava se-Io ; qu anto mais bar ulho, melhor . A cantoria entu siasmada dos jogadores de "morra" superpunha-se a tudo : - Sci! . .. Tre! . . . Sette! . . _ Quatro! . . . Esse jogo se realizava entre dois parceiros que, enquanto cantavam os numcros, esticava m as dedos da mao direita, segundo 0 seu lance, ganhando aquele cu]o nume rc can tado coincidia com 0 total de dedos, parecido com 0 de "par ou impar", porem, os numeros deviam ser cantados com grande rapidez e nisso estava a habi lidade dos parceiros. Quando urn acertava, marcav a 0 ponto ganho com as dedos da mao esquerda ate sc mar 5 ou 10 pontos. Ao fim da partida 0 perded or pagava 0 que tivcsse side accrtado: "un bicchiere di vine", au "mezzo bicchiere" , ou ap cnas " una pinghina" nas apostas menores. No utra mesa jogavam-se cartas, a "scopa" ou 0 "sc opone" , tudo em meio de falat6rio e de berros, aco mpanhados de exclamacoes de elogio ou de crltica dos assistcntes. E as bebidas corriam generosa mente. Muitos "marenghi o BAlRRO DO Bml RET IRO d'oro", moedas pa recidas com a libra este rlina, trazidos da peninsula pelos Imigranres, eram gastos nessas bebed eiras . De vez em quando 0 ruido de urn beque de bola contra bola vinha do fund o, onde havia urn jogc de bocce (bochas ) armado no piso do quintal e sempre cercado de assistentes entu siast as. Urn marcador numerado registrava os pontes e numa mesinha se enf ileira vam as garrafas de cerve]a que os jogadores de bocce esvaziavam enquanto faziam seus lancamentos. Enquanto ism, na mesinha da frent e contin uavam os jogadores de "morra" : - Cinque! . , . Sei! . . . Otto! . . . Due! ... Na Rua des l talianos ainda hoje ha itallano s e descendentcs de italianos que co nservam as ofieinas e as industries herdadas dos pais. Como exemplo continuam a existir as industrias Fa brini e Maggion, que mantem 0 antigo nome, e outras, cujo nome se diluiu no anonimato das Sociedades Anenim as. o Grupo Escolar Mareehal Deodoro mudou -se para uma quadra abaixo. em melhor predio, e esta mu ito ampliado, com urn Col egio Estadual e Escola Normal Dr. Alar ice Silveir a. T ambem ainda se encontra, na quad ra seguinte, 0 vetusto santuan o da Igreja Santo Ed ua rdo, 'linda dos primei ros tempos da rua. Mas hoje ha, somand o-se ao que vern do tem po, os aspectos mod ernos desta rua: escolas de trans ite e institutes de beleza; Iabricas de acrilicos e indu strias radioeletron ices ; calcamento de asfalto e iluminacao a lampadas incandescentes; cnibus a gasolina e modernos auromoveis ; antenas de televisao e tran smissores de radioamadores. Rua dos Italianos . .. o o PR OG R ESSO NA RU A A NHAI A rumo desta rua, que sc inicia na Ru a Silva Pinto, C em dlrecac ao Rio Tlete e ela comeco u a se desenvolver o B.URRO 00 BO ~ I RETIRO 57 na parte alta, veto que a parte baixa estava sujeita as inundacoes do referido rio. Progrediu depressa. Antes da primeira Grande Guerra destc seculo cia ja tinha seus quarteiroes iniciais calcados , com guias de grand e altura e leito de paralelepfpedos, cntao chamados " macacos", que supe rtava m 0 pcsado movimento dos carrocces de transporte, puxados a burros, c 0 dcslizar des rodas de aro de ferro cstreito ou de borracha dos tilburis. Nos passeios, os meninos brincavarn com seguranca c podiam COffer em seus velocipedes de tres rodas, pols n50 havia 0 rush violcnto do trafcgo bodlerno. No ano de 1911 urn educador italiano, born homem, 0 Professor Davini, fundou no segundo quarteirao da rua uma pequena escola para filhos de italianos, multo concorrida. Ensinava em lingua italica c suas aulas cram modele de moral c de cducacao civica. A cscola dur ou poucos anos. A rua tinba grande atividade industrial. Ostentava uma serraria, a fabrica Anhaia de tecidos de algodao, uma Iabrica de chapeus de Ieltro para homem, parece que a Prada ou a Ramenzoni, alguns armazens atacadistas cuja exlstencia era motivada pcla vlzinhanca dos trilhos da estrada de ferro " Inglese" e diversas casas comerciais. E tinha tambem urn cinema, 0 Pavtlhao. Talvez 0 nome nao Iosse esse mas era assim conhecido pclos ca rtazes que distribuia de casa em casa contendo 0 programa das fitas do dia, os quai s se chamavam pavilhoes. Grandes, de formato cerca de 25 x 75 em, esses anun clos davarn em detalhes as torormacees das fitas de Carlitos, Max Linder, Maciste, Teda Bara c outros grand es nomes do cinema mudo. Cada pavilhao devia custar relativamentc menos do que 0 que custa hojc urn minuscule canao de visira, pois os services tipograflcos cram baratos naquele tempo. Nos dias de scssao diurna do cinema a meninada Icrvia de cntusiasmo indo assistl-la, os que podiam, com seu pacotinho de pipoca ou de amendoim, Antes da sessao a tela dcvia ser molhada e, por transparencia, a plateia via as opc radores arras dcla jogando baldes de dgua. A 58 o B.4.1RRO 00 HOM RETIRO expectative com esscs preparatives aumentava a ansiedade que, afinal, era apaziguada pclas gargalhadas que 0 Carlitos tirava da assistencia ou pela torclda para que 0 hcrculeo Maciste conscgulsse realizar suas facanhas impossfvcis. Anos dcpois instalou-se na Rua Anhaia uma igrcja de uma entidad c rcligiosa cntno conhccida por "Religifi o da Gloria" . Estabcleceu-se num grande saljio, no tercelro ou qua rto quar teirao da rua , com janelas para a frcntc e entrada por uma cscadinha lateral, replcro de bancos o u cadeiras para os fieis. Nos horarios de oracno enchia-sc a sala de povo que, como par te da solcnldade, em ccrtos momcntos se lcvar uava e postcm ava, a moda islamita, entoando hinos sacros c frascs rclativas ao culto. 0 canto sc espalhava pela rua, que adquiria sonoridadc mfstica. Posterionn ente os seguidores dcssa igrcja adquiriram urn amplo terrene na rncsma rua e conslruiram urn gra nde temple que agora ostenta na fachada os dizeres "Congregaelic Crista do Brasil" e continua muito procurado. A Rua Anhaia atinge hoje quase as margens do Rio Tlete, toda asfaltada e tcrmina na marginal esquerda, que ncssc trecho tem 0 non;c de Avenida Afonso de Taunay; ha urn belo c1ube esportivo frontejando esse cruzamento. o cinema e as primitives Iabrlcas de tecidos e chapeus nao existem mais. Ha ainda uns botequins, transformad os em bares, cafes a u cantin as, poucas casas residenclals e muitos predios de apartamentos porem de poucos andares. Instalaram-sc, mals, na rua, muitas novas industrias de tecidos e de confeccoes ou malharias, oficinas mecanlcas e auto-escolas, postos de gasolina e postos de service para autos ( urn deles com urn Volkswagen em tamanh o natural na fachada) , firmas imprcssoras e transportadoras, Iabricas de elevadores e de auto pecas, e ainda uma editc ra de revista sabre construcocs e uma sociedade de investimentos de eap itais. 0 comerclo, com lcjas grandes c pcquenas, exibe seus artigos nas modcrnizadas vitrinas. Onibus de varlas linhas e lnumcros automoveis rodam sabre 0 asfalto da rua e os tran seuntes, agora chamados "pc destres", cir- o DAIRRO DO BO~ I RETIRO 59 culam pelas calcadas, alegres, ainda, porem comedidos em suas expansoes. Nota : 0 nome Avenida Afonso de Taunay referido neste ultimo paragrafo foi substitufdo recentemente para Avenida Prcsldcnte Castelo Braneo. OS MENINOS DA RUA CORREIA DE MELO Foi, e e uma das ruas sossegadas do Born Retiro. Tinha numa das duas quadras urn grande e alto muro, ja demolido, ocupando a quadr a inteira, que circundava os terrenos do Colegio Santa Ines (s6 para mecas) das religlosas salesianas. Na outra quadra, tinha e tern grades arras das quais fica a Faculdade de Fa rmacia e Odontologia. Tinha e ja nao tern mais urn cinema, 0 Marconi, num prcdio velho ou melhor, urn grande barracao, posteriormente demolido para dar lugar a urn ediflcio mais moderno ondc voltou a se instalar por mu itos anos 0 mesmo cinema, que posteriormente deixou de exlstir, isto ja hoi uns 10 anos. No rcstante da rua havia casas rcsidenciais e mais duas ou tres cntradas de "vilas", compostas cada uma de 9 ou 10 casas de alugucl. o sossego so era perturbado, de manha bern cede, pela carrocinha do padeiro e, durante 0 dia, pela algazarra dos meninos, organizados em "trocas". Estas eram agrupamentos de criancas semelhantes aquelas descritas no romance Os Meninos da R ua Paulo de Ferenc Molnar, porem em menor cscala. A "t roca" da Rua Correia de Melo era anragenlca a da Rua Tres Rios c travavam entre si batalhas em que os projeteis cram carocos de frutas, pcquenas lascas de madeira, tampinhas de cerveja, pedregulhos e outros objetos pouco ofensivos. Quando os meninos tinha bastantc estoque de projeteis, aqueles da Rua Tr es Rios viuham atacar os da Correia de Melo em seu reduto, que eram as vilas. Depois esta, ern represalia, ia atacar aquela e tira r uma dcsforra . Mas as criancas se 60 o BAIRRO DO BO ~I RET IRO protegiam e raramcnte havia algum menino maehueado a u ocorria a quebra de alguma vidraca. 0 que nao impedia que, ao rim da refrega, alguns deles levassem cascudos des pais. Muito ruido tambem Iaziam quando aposravam eorridas, no meio da rua ou nos passelos. 56 os 8 ou 10 mais for tes. assistidos pelos demais e pelas meninas. Os que estavam perd endo nao se conto rmavam e berrava m para os primeiros: - Agua qu ente, agua qu ente, inguri quem esla na frente! Mas a s da frente a rreliavam daqueles: - Agua raz, agua raz, inguri que m csta arras. v ez ou outra pcndu ravarn-se as crtancas atnis das carrocinbas dc pao tirades a cavalo. Mas se 0 cocbciro as pereebia, vinha sorratciramcntc com 0 ehicote a sollar umas lambadas nas que, nao Ihe tendo notado a manobra. con.inuavam agarradas ao veiculo. Na epoca da frutifiea930 das paineiras existentes no terrene do Colegio Santa Ines, enormcs e que sc csgalhavam para a rua ( bons tempos em que havia arvores desse porte em terrenos do bairro}, as meninos corriam a col her os Iruros que vinham descendo lentamente, sustidos como em para-quedas pelos seus f locos de algodao branco. Os meninos (e meninas) mais quietos tinham, entretanto. outra dlstracao: aguarda r a chegada do acendedor de lampioes. Mesmo antes do calcameato a paralelepipedos, esta rua , como outras do bairro, j a tinha sua ilumina"ao: 0 lampiao a gas. Este uti l e sentimental lamplao dava uma iluminacao eonsiderada muito boa naquela epoca. Era interessante a tarde, entre 18 e 19 horas, ver a acendedor de lampiOcs com a longa 'lara metalica em cuja ponta bruxuleava uma chama de gas, percorrer a rua, em ziguezaguc entre as duas calcadas, abrir a janelinha da lanterna do larnpiao, mover com a 'lara 0 reglstro do bieo de gas e aproximar a chama que logo tom ava incandeso 8 .o\IRRO DO 8ml RETIRO 61 cente e brilhante a camisa de tecido fino que contorn ava o bico e que foi inventada por Auer. A quele acendcdor, lncansavel e paciente. j:i inspirou uma pocsla encantadora ao pocta Jorge de Lima: o ACEXDEDOB DE LA~ Il>I O E S La. vcm 0 acendcd or de lamplocs da rua ! Esse mesmo que vern, invari avelmcn te, Parodiar 0 sol e assodar-se a lua Qu ando a sombra na noite enegrece 0 poente. Um, dois, tres lamplocs acc nde e continua Outros mais a accndcr, impert ur bavelmente, A medida que a noite aos poueos se accntua E a palidez da lua apcnas se pressent e. Triste ironia atroz que 0 scnso humane irr ita! Ele que doma a noire e ilumina a cidade T alvez nao tenha Iuz na cho upana que ha bira. T anta gentc tambcm nos outros insinua Crcncas, rellgiao , arnor, Iellcidad e, Como esse acendcdor de lampiocs de rua! Depois do lampiao de gas veio a iluminacao eletrica com ldmpadas de areo de carvao muito mais possantes mas de luz bern instavel. Vieram, em scguida, a lampada incandescente de eireuito paralelo, a ineandescente de cireuito serlc : dcpois as fluorescentes, as de vapor de sodio c Iinalmente como ultimo rnefhoramcmo, as Hmpadas de vapor de rncrcdrio. eada qual de luz mais bonita e mais forte. Esta rua tam bem conheccu a luz cletrica, embora nem em todas cssas modalldadcs. E, em breve, como as demais do bairro tambem tera certamente os bonitos Iocos de mercu ric a alcgrar 0 ambiente e a inspirar outros poeras cletronicos. ., o 8 .-\IRRO ()O 8m l RETIRO A Rua Cor reia de Melo, hoj e, esta toda asfaltada . No pr imeiro qcarteirao a prescnta-se com ercializada, com lojas de a rtigos do vest uano e casei ro s, garagens coletivas, socieda des de engenha ria, Iabricas de move is, indust rias de embalagens . De residencies, sO tern apa rta mentos nos andares superiores de alguns predics elevados com mais de 10 pavi mentos. No segundo quarteirao nao tern mais as majestosas paineiras no te rrene do Colegio Sa nta Ines. que cai ram para dar lugar a urn extenso predio de dai s pavirnentos onde se abrigam novas dependencies desse Colegio. A pcnas do lado opo sto a esse Cole gio a rua ainda conscrva em part e 0 aspccto pr imitive . cxceto por algumas lojas recem-abertas. Esni ainda intacta , no n.? 320 , a anriga "v ila" onde combatia m as "trocas'' de meninos de ha quase 60 anos. Nela alnda csta urn velho lam plao de gas, mas com a amiga la nterna de chama ver dc-az ulada substituida por uma lampa da eletrica de luz branca-rosada. E, sua luz, os meninos de ago ra nao fazcm "trocas" ; estao chutando bola s Pcle. a A R UA DA G RA<;A DOS LAM PIOES DE GAS o nome dcsta rua e urn dos po ucos nom es tradicion ais que, felizmente, ainda permanecem no Born Retire , pois uma boa parte foi substitulda a fim de homcnagea r vutros pat rios ou intemacionais. Fetizme me, po r ser nome muito acolhedor e sugesuvo, da ndo, num sentido, ideia de " graca", urn bern dado de coracao a bcrto e de co racao ab erto rcce bido , e, noutro senrido, "grace", atitude ou duo que provoca expansao de ale gria e sorrlsos de felicidadc. Embora, em materia de lcmbranca. fuca recordar urn ou tro scntido, este irrcverc ntc, muito usado em giria, ha uns 40 anos atras, no Born Retiro : - Acho-t e uma gralVa . .. Esta rua ja tinha seus seis quar teiroes desde 0 comeco deste seculo. E tam bem scus lamploes de gas e seus quino B..U RRO DO BO ~ 1 RET IRO 63 tais com frondosas arvores a que se refere conhecida e evoca tiva ceecao, tcrnada, nestes ultimos anos, a "coqueluche'' de Sao Pau lo pela voz quenre e cheia de Inezita Barroso c que. par dize r tanto do passado do Born Retire, vale a pena reproduzir aqui: LA~ IPJ..\O DE G.4.S Lampiao de gas, lamplao de gas. Quanta sa udade voce me tr az! Da sua luzinha verde azula da Oue ilummava minha jancla. Do almofadinha, la na calcada, Palheta bra nca, calca apertada. Do De De bilboq ue. do diabold, "me da foguinho" - "val no vizmho". pular corda, brincar de rcd a, Benjamim, Jagunco e Chiquinho. Do bonde aberto , do cervoeiro, Do vassoureiro, com seu pregao. Da vovozinha, muito branq uinha, Faze ndo rescas, sequilho e pao. Da garoinha, fria, fininha, Escorregando pela vidraca. Do sabugueiro grande e cheiroso La no quintal da Ru a da Gr aca. Esta rua tambem foi motive de interessante report agem de Miguel Maillet no jornal Shopping N ews, de Sao Paulo,( 15 ) da qual passaremos a reprodu zir algumas informacoes hist6ricas. "Quanta ao nome da Rua da Graca, segundo velhos moradores, ortginou-se de antiga capela dedicada a N. s.a das Graces." o 8 .4.1880 00 BO~I RET IRO Nela, a prmClplO, umgrantes portugueses se estabe leceram. "T rabalhadores incansaveis, a uxiliados pela numerosa prole. conseguiram mc1hora r de situacao, passando a interessar-se pelas colsas do espln to, tant o que Iundaram, a 13 de maio de 1900. a Sociedade Dramatica e Musical Luso-Brasileira. Ergu eram com as pr6prias maos a sede e 0 teat ro do gremio, episodic ate hoje re1em brado em todas as Iest ividades socials. D igna de louver a funl;ao educative descn volvida. a partir do comsco do seculo. por varies gremios rccrcat ivos espalhados pela cida de. 0 . "Luso- Brasileiro", qu e de luso so conserva 0 nome. man tem-sc fiel a esse program a, apresenta ndo mensalmente pecas nacionals ou estrangeiras de nivel regular . Notaveis sao os reeitais de cancocs napolitana s, como a " Festa de Piedigrott a", em que se cxibcm velhos c jovcns socios do clube. Os lnrerpretes, descend enres de italia nos, tern boa voz, dispOcm de cducacao musical c sao ricos de sentimento e cntuslasmo, qualidades desconh ccidas de certos elementos que se aprcsentam ao " micro-infame' comerciaIizado das telcvisocs." Como se Vt\ os portugueses j:i tinham sldo substituldos pelos imigrant es italianos, que passara m a forma r 0 nucleo mais numeroso dos habitanres, a te cerca de 1940 . " Nessa epoca", continua 0 Sr. Maillet. "j udeus provenientes da Europa central e do sui da R ussia, acossad os pelas guerras e pcrscguicoes, estabel eceram-se no bairr o e ali prospcra ra m. Falam 0 dialeto iidiche. Mais tarde, vindes do Oriente Medic e do Egitc, cis que ali se Ilxa certo numero de judcus scfarditas (espa nh6is) , descendentcs dos que hav iam side expuls os da Penin sula Iberica em 1942; ainda Ialam 0 idioma castelhano qu e chamam de " Iadino" ( Iatino ) ." A rua, a co nfirmar a prcdominancia do clemente israellta, ostenta. em scu segundo qua rteirao, uma magnifica sinagoga israclita, provavclmentc a mel hor do bairro , pa is lui dlversas outras em ruas prcx lmas. o 8 .4..IRRO IJO 80.\1 RETIRO 65 " Em suma. a Rua da Graca e 0 centro de urn verdadeiro caleidoscopio social, cultural e racial. U ma cantina italiana ali serve excele ntes massas e uma famosa "charlotte" ; num restaurant e grego-israelita, especializado em comidas do Medit err anec oriental (carneiro, pelxes e mariscos, regados a " uzo", aguardente parecida com 0 "araque" arabe) , ouvem-se cur iosos falar es gregos, judeus, espanh6is e ate Ira nceses . Finalmente, a maior atracao: 0 grande comercio de roupas brancas, co nfeccoes e malharias onde 0 5 Iregueses podem pechinchar a vont adc para obte r bons precos." A RUA JARA GUA E SUA GRAN DE ENC HENTE Perpendicular a Rua dos Italianos, constituindo sua sexta travessa e quase paralela ao Rio Tiete, desenvolve-se a Rua Jaragua com 4 quarteir6es pertencentcs ao Born Retiro e Ires ao bairro da Barra Funda, onde termina na Avenida Rudge. Paralelamente com e1a e mais abaixo, na d i r~ao do rio. h:i ainda a Rua Javaes e mais tres ruas menos importantes. Em 1929 cia estava em fase incipiente, sO tinha leito de terra. sem cakamento nem passeios, e umas 30 casas altema ndo-se com extensos terrenos descampados. Par a o lade esquerdo, 0 dos nemeros impares, as casas eram urn pouco mais elevadas que a rua e deJa se viam, pelos portoezlnhos, os fundos dos quintais ocupados per pequenas hortas para uso prop rio. Para 0 lado d ireito, por quase nao baverem casas, a vista abrangia a Rua Javaes, a ultima rua de entao, para esse lade , e dali sc alongava pela verzea do rio que, nas cheias, a prescr uava urn lcncol de agua alem do qual se podiam identificar as clcva coes do bairro de Santana. Uma pc nta de trilhos de bonde da, na epoca, rcceminstalada linha Jar agud-Orlente ocupava uma a u duas quadras da rua, mais para necessidade de manobrar os carros o B..\IRRO DO BO ~ I RETIRO do que para atender aos poucos passagciros que ali mo- rassem. Uma surpresa haveria de colher os morad orcs da ru a no comeco desse ano de 1929. In iciou-se 0 ano mais chuvoso que de costume, e as aguas do T iete cresciam dia a dia. Os morado rcs nflo sc preocupavam , po ls 0 maximo que 0 rio inundava era uma po nta da Ru a J avaes e havia bastantc chao entre essa po nta e a outra ponta da Ru a Jar agua. Mas 0 rio con tinuava a crescer. Dizem os engenheiros: "A maior cnchcntc sempre esta por vir." Nesse ano 0 Rio T iete veio confirmar esse dito. No dia 17 de feverei ro os habilantes da Rua J aragua sc vitam ilhados em suas casas. Nao havia memoria de as aguas terern chegado ale ali an tes, c mesmo os que se afoitaram a residir na Rua Javaes, sabe ndo do risco para esta ultima, fora m colhidos de surpresa. Esta rua ficou um extenso lencol de agua do qual emergiam as casa s e, na Rua Jaragua nunca antes inundada, apenas alguns monticules de terra mais altos apo ntavam. Os bonde s nao puderam chcgar ali e voltavarn da Rua dos Italianos. Po i essa a malor enchente de que se teve noticia. A regua da Ponte Grande, a velha ponte de ferro , regua e po nte que ja nao exlstem mais, indicou a maior leitura ate enrao : 3,45 rn. Para os habitant es das referida s ru as a enchente se constituiu, por muitos dias, em desagradavel expcriencia: andar descalcos pela rua , ir buscar agua quad ras acima , pro teger movels e utensilios, limpa r a lama, garantir a vida dos animais, vacinar-se conlra doencas vindas do rio. Mas para os demais habitantes do Born Reliro, que vinham em grupos, tornou-se urn belo espetaculo. Alguns arranjaram umas canoas dos chacareiro s mais aba ixo e se deliciavam passeando pelas quad ras inun dadas, espia ndo os problemas dos mora dores, outros fotografavam para a posteridade, outros pas seava m pelas "margens''. E ssa enchente marcou epoca e, pelo que parece, nao mais se repetiu, po is a Prefeitura estudava de longo tempo o 8 AIR RO DO 80\1 RETIRO 67 o problema c ja tinha crlado uma Comissao de Mclhoramentos do Rio Tlcte que ia procedendo a canahzacao do rio. Embora a passos lentos, essa retificacao vem sendo feita e, ho]c, a Rua Jaragua, bem como a maior parte do Bom Retire, esta ao abrigo de novas inundacocs, 0 que c vital para sua subsistencia. A Rua Jaragua, hoje, ju esta asfaltada e scm trilhos e, 0 rnais que lhe pode aeontecer is receber, nas chuvas mais vlolcntas, alguma eaudalosa enxurrada que Ihe ocupe o leito por algumas horas. Esta inteiramente construida, tcm casas comcrciais, industrias mecanicas e graflcas, tecelagcns, tni fego Intense e seus habitantes nao sc lcmbram mais, ou nunca ouvlram falar, de s percalcos pelcs quais cia passou no scu comsco. A ODISS EJA DA RUA A IMO RES Esta via publica, de un s 300 metros, comcca na Rua Ribeiro de Lima, finda na Silva Pinto e rcccbe no meio urna travessinha, Carmo Cintra. Por urn lado corr e paralela a Rua Jose Paulino, por outro, em todo a comprimcnto, csta vizinha a urn alto c longo parcdao atras do qual passa a Estrada de Ferro Santos a Jundiai. Essa rua, cujo nome antigamcnte se escrevia com y, conformc a entao grafia do nome da tribo de indios que habitavam varies regioes do Brasil, passou por vicissitudes dramaticas, como se fora urn ser vivcnte lancado ao leu pelo destino. No infcio do seculo era de cani tcr residencial, as casas entremeadas com areas vazias e cobertas de vegetacao rastcira como nas dcmals ruas de entao. Por volta de t 925 ja tinha calcameato a paralclepipedos e trafego acentuado de carrocas c carrocoes puxados a cavalos e carregando cerveja au outras rnercadorias das industrlas do bairro . Esse movimento desviava vantajosamente 0 trafego da Rua Jose Paulino mas causava dcsespero aos mo68 a BAlRRa DO BO~I RETIRa radorcs da Aimorcs, que dcviam suportar 0 barulho estridentc das rodas de ferro sabre 0 granito do calcamento. Na Rua Itaboca, uma rucla parale1a e quase colada a Aimores, desenvolvia-se. por esse tempo, uma atlvldadc pouco recomendavel, de mulheres de vida alcgre c de vadios e bebados, tumuh uando a rua it noite e deixando-a trisle e suja de dia . Como nao podia dcixar de aconteccr, esse cancro social foi se infiltrando pcla rua Aimores, levando desassossego as suas famitias que viarn, sem poder fazer nada, essa lnvasao. A agravar a suuacno. na decade de 1940, as autoridades da capital, dcscjosas de continar 0 meretricio da cldade c atasni-lo das ruas do centro (T imbiras e adjacentes) decidiram cscolbcr aquelas duas ruas para receberem as mulhercs dcsalojadas do centro. As ultimas famflias da Almores tiveram assim que dcsapareccr para dar lugar as novas pcnsionistas e aos vadios que as acompanhavam. Foi urn descalabro para a rua, que viu seus plores dias. Infelizes ruas, primciro Timbiras, depois Almores: parcceu ate acinte a memoria des nossos indios. A nova rna fama da Aimores correu a cidade inteira, de onde vinha a rapaziada, avida de aventuras e de urn pouco de ventura, espiar atras das venezianas au das portas entreabertas os rostos femininos faceiramente pintados e convidativarnente sorridentes. Nos primeiros anos, pelo fato da rua cstar quase encostada a Estrada de Ferro, formava-se ali urn reduto a parte, fora do burburinho urbane, nao ineomodando 0 bom-retirano. Com 0 ereseer do "comercio", as demais ruas vizinbas comecaram a fiear contaminadas c 0 bairro do Born Retire tevc que protester contra a discrlmlnacao que sofria. Por que ficar elc com a escc ria da cidadc? 0 movimento avultou, as rcclamacocs comccaram a lec ceo c 0 governo se mexeu : instalou na Rua Aimores uma Dclcgacia de Polieia (a 2.3 ) , fiscalizando melhor 0 luger. No cntanto era precise cxtirpar 0 mal, moralizar a rua, o namno DO BO ~ I RETlflO .9 o que -afinal as autoridadcs fizcram, cxpulsando de la 0 mulherio e seu sequito. Novo drama. As casas ficaram vazias. Quem iria morar numa rua que adquinu tao rna fama? Ate que um ou outro pequeno industrial decidiu Instalar uma fabriquinha de camisas ou de pulovercs. Seguiram-sc outros c novamcntc a Rua Almores adquiriu movimento. Mas de gencro diferente, 0 de pequenas lndustrias de confcccao - blusas, calces, camlsas, gravatus, sou tiens e outras pccas de vestuarlo - transformando-a, em poucos anos, numa das ruas mais industrials de Sao Paulo: ha para mais de 30 industrias numa exfgua extensao de 300 metros. Assim essa rua, que comecou pacata e parecia rul o difcrir das dcmais, teve momentos dos mais agitados, ficando tristemente (ou alcgremente, como sc queira ) conhecida por toda Sao Paulo, dando ate 0 nome a urn romance do conhccido cscritor paullsta Nuto Santaoa,( 16) c, afinal, integrou-se no Bam Retire e na cidade como uma das que mais contribucm para seu progrcsso. E a pcquena Rua Itaboca? Tambem mudou . Tem outre nome, Rua Professor Lombroso, e voltou a sizudez urbana. 0 nome Itaboca, agora, so fica na lembranca dos an.igos boemlos do Ba m Retiro. A MELODIOSA E INTELECfUAL RUA TR£S RIOS Nos da is quarteiroes prcximos a Rua Jose Paulino, era a Rua Tres Rios, pa r volta de 19 12, habitada quase "que exclusivamente por italianos. As conversas que se ouviam ou eram em pura lingua italica, au uma mistura de italiano e portugues, au esta ultima lingua com forte solaque italiano. Os vcndedores de rua, vindos da peninsula, tinham pendor para 0 "bel canto" e apreciavam apregear seus produtos em altas vozes e cantados: - Bananieecere ... 70 o RAm nO DO 80 \1 nET IRO - 0 gar rafieee roooo . . . - Parat a assat'ou fuuuur . .. £SIC ultimo era 0 qu e assava dcliciosament e em forno de earviio suas bata tas-doces. Ja 0 vendedor de frutas alongava mals seu ca nto, aproveita ndo uma melodi a da epoca: Ba nana pera, Pcra, macana . . . Os habitantes se deliciavam em ouvir ta is cantos e se an irnavam rnais na compra. que era a born preco em virtud e da fartura dos produtos. A rua sernpre foi uma manifcstac ao de religiosidad e e de intclectualidad e. Da rcligiosidade porque numa das pontas tinha urn templo catol lco que mais ta rde viria a ser a Igre]a Nessa Senhora Au xiliadora e. no ponto medic da rua, urn convento de fre iras sa lesianas. as do Colegio Sa nta Ines. D ~ intclcc tualldadc porque. alent dessc Colcgio Sant a Ines. di rigido pelas freiras, alcaaco u ter, em 1893. a Escc la Poli'ecnica e, em 1905 . a Escola de Farm acia e Od ontologia, onde 0 povo do bairro ia "chumba r os deni es" . Hoje tern ma is uma Escola Israelita-Brasileira com urn a nexo teat ro e a reda cao de urn jornal, A Epoca . o colegio das Ireiras sempre foi famoso. Cresceu. Oc upa urn q uartc irao inteiro, dando para as quatro ruas, mas com Ircnre para a Ru a T res Rios. Co nt inua lecio nando apenas pa ra 0 sexo feminine. mas hojc, alem do curse prima rio, tern 0 curse ginasial, 0 colegiel. 0 normal, 0 de da tilografia, 0 de corte e costura. Socorre tambem men inas neccsslradas. Pr epar a-as pa ra a vida. da-lhe s alimento mas faz tambem com que clas a prenda m a fazer costur as pa ra for a e. assim. ajudar no seu custeio. Quando ja msces etas sacm preparadas para 0 casameruo ou para gan har dignamentc a vida. I:: a inte rpretacao certa da religlno. A Escola Politecnica foi Instalada na Ru a Tres Rios. embora 0 quarteir iio onde ela esta pertenca ao ba irro da Luz, o u talvez Santa Etigenia. Por volta de 19 25 0 qua r- o B.o\IRRO 00 80 \ 1 Rt:TI RO 7I teirao em Iren te it Escola foi desapropriado pela Prefeitura, transformando-sc esse trecho na Praca Fernan do Prestes. Par isso a Rua Tres Rios comeca agora na Ru a Afonso Pena. Mas essa Esccla de Engenharia scmpre tevc uma fort e ligacdo com 0 bairro do Bom Retir e, do qual seus estudantes sofreram innuencia. Exemplo caracterlstico e 0 do estudante Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, que de tal modo se identjficou com os costumes do bairro que aprende u a "lingua" mista de seus habjtantcs e escreveu urn livre bumorfsuco, sob 0 pseuden imo de " Ju6 Bananerc''. Sua asslmila cao do cntao modo de falar e m esmo de cscrever, do bairro, esta bern reprcsentada na seguinte poesia, extra lda do referido livro : ( 14) SOU,\UES D E 7_"\: BAOLO Tegno sodades dista Paulicea, Dista cidade ch i tanto dimiro ! Tegno sodades distu ceu azur, Das belles Iiglia la du B6 Ritiro. Tegno sodades dus tempo perdido Xupano xoppi uguali d'un vampire ; Tegno sodades dus begigno ard enti Das bcllas figlia h\ du 8 6 Ritiro . Tegno sod ades Ili da Pon tigra ndi , Dove di no tre si va da un giro, I dove v6 spia come n'u n speglio As bcllas Iiglia I<i du 8 6 Ritiro. Andove te tant as piquena xique, Chi a genti se qucre da un sospiro. Qua no pcrto per caso a gcnt l passa Das bellas figlia la du B6 Ritiro. 72 o MIRI\O DO BO~I RETIRO Tegno sodedes, ai, de ti - Zan Baolo! Terra chi eu vivo sempre n'un maniro, v agabund eano come un begiaflore, Atraiz das figlia hi du B6 Ritiro. Tegno sodades da garoa tria, Agitada co sopro du zenro, Quano io durmia ingopa 0 co110 ardentt Das bellas figlia 13 du B6 Ritiro . A intelectualidade da rua forma. como se Ve, um tea1;0 de ligacao poetica de gente de outros lugares com 0 bairro. Ouantas outras pocsias nao terao sido inspiradas aos poetas paulistas pclo bairro do Born Retire? A PRI MITIVA RUA MAMOR£ E. uma rua torta, 0 que nao e de admirar em ruas de cidades antigas, as quais muitas vezes sao tortes por acompanharem a topografia do terreno c u por satisfazer o capricho de quem as tracou. Ela comeca na Rua Prates e, tees quadras alem, faz uma detlexjo a esquerda, uma quebra, na linguagem vulgar. e. com mais 4 pequenas quadras, atinge a Rua Jose Paulino no mesmc ponte em que comeca a Rua Areal. Em 1913 ainda nao tinha 0 calcamentc de "maca cos" de hoje, mas nela se alinhavam muitas casas operarias, principalmente do lado Impar, 0 que da para 0 centro da cidade, enquanto que. do outre lado, rumo ao rio. as casas eram escassas e havia muitos desbarrancados conservados sem vegetacac pelas constantes eros5es das aguas das cbuvas. Nos ermos dessc ultimo lado juntavam-sc os meninos, filhos de italianos residentes nas vlzinbancas, em maioria. o ceu aberto, sem postes c sem arvores, pennitia a muitos o BAIRRO 00 BO!oI RETIRO 13 deles empina rem papagalos, ba riletes e que tals, de papel de seda multlco lorld o adquirido na venda da esquina e co mporta ndo rabos mais ou rncn os longos feito s com tir as de pano surrupiadas em casa . Nas tardcs limpidas esscs quadrilateros ou hexagonos apareclam em grande numero e alguns quase nao se viam no ceu, de tao alto que eram soltos . Outros meninos se dedicavam a "descobrir" minas de agua. l am cavoca ndo os lugares ma is iimidos dos desbarraneados, com pas improvisadas ou com as maos, para fazer surgir urn Wete de agua, 0 que nao era difieil, pois as nascentes natura is eram muitas. Que m descobria uma ficava "dono" , a cercava e logo co mecava a embeleza-la com canals, lanteminhas e outros elementos de sua imaginacao: as vezes ar ran java urn "socio" para fazer a coisa melhor ou em maior escala. Sem du vida esses meninos sc transformaram nos futuros gra ndes comercia ntes da exte nsa metropole que e a eidade de Sao Paulo. Outros faziam traquinagens ou interpelavam os companheiros com pro posicoe s au pergu ntas mais a u menos ingenues: Fala Burit iro. Buritiro. o diabo que te da um tiro. ou : - Qu al e a co r de urn buraeo de cerca? au ainda: - Me da a sua mao. ( 0 outre d<i e aguarda a novidade) . - .E. a primeira pata de bu rro que aperto hoje. Adiante, duas "comad res" conversavam animadamenteo 0 filho de uma delas interro mpe seu brinqu edo ao ver o irmiiozinhc preocupado e grita alarmado pa ra a mae : - Ma, rna! Esta nao responde e continua na conversa . Mas a sit ua~ao e urgente e 0 menino grita alto, mesmo a custa de fazer escandalo no meio da rna : 74 o 8AlRRO DO 8m.1 RETIRO - Maaaa, Cicillo q ue c .. . aaa! Entao a mac tev c que atender as presses. Ao longe, outre menino canta, a plenos pulm oes de futuro tenor, quadrinhas que passam humorlsticamente em re...ista os bairros de Sao Paulo : Ninguem viu 0 que eu vi hojc 130 no balrro da Penha, urn tama nho de besouro puxando urn cer ro de lenha. 0 que eu v i hoje no bairro da Barra Funda, uma velha num caix ac numa cova muito fund a. Ninguem viu Nin guem ...iu 0 que eu vi hoje 130 no bairro do Cambuci uma tar air a morta na boca dum lambari. e assim por dia nte. (N ota : taralra por tralra. urn peixe gra nde do Rio T iete.} A vida corria per esse ambiente lento, interrompido as vezes por discussoes caseiras ou brigas entre operar ios embebedados, nos borequins. A Rua Mamore se mantem, boje, mais ou menos, como esta v a emao. Muitas casas ainda datam de 50 ou 60 anos atras, ficando nela como urn marco do passado denteo da evotccao da desv airada pauliceia. A RUA LOPES TR OVAO COM "A LMOFA Dl NHAS" E " ME LIN DROSAS" Le v a desde 1925 0 nome do ilustre tribuno republicano e vtbra nte orad or popular Jose Lopes Trovao, o BAIRRO 00 BO~ I RET IRO 75 falecido em 16 de jolho desse ano; anteriormente denaminava-se Travessa Tencnte Pena. Eo a ultima travessa da rua desse nome e, com apcnas uma quadra de extensao, e administrativamente importante por ser uma das divisas entre os bairrcs de Born Retire e Barra Funda. Costeia, em sua ponta mais alta, a Estrada de Ferro "Inglese" e tern por isso 0 lado Impar tornado por arm azens de deposito de mercadorias tra nsportadas pelos teens para varie s Iirmas atacadi stas: Dias Mart ins, Beleza Lege, Armco. Esse lade da a rua urn movimento comercial que vern desde 50 anos, porem entao so de raro em rare vinham camtnhoes buscar 0 0 trazer material s. D calor humano da rua era e e dado pelo lado par onde habita povo da classe media. Ou trora era de naturcza urn tanto bcterogenea, confraternizando italianos, portugueses, russos, israelitas e, naturalmente, brasileiros. As casas, de 5 0 0 6 metros de frente, tinham grande fondo c, ao longo de estreitos con ed-ores, alinhavam-se 3 ou 4 caslnbas. babitadas por fam ilias numerosas. Na decada de 1920 as mocas e os rapazes scguiam a moda da epoce. Par a elas saias curtas, nao tao ousades como as mini-saias de boje, mas mais curtas des lades, tipo "charleston", btusas scm mangas, decotada s 0 0 nao, colar grande e outros enfeltes visrosos. Pintavam-se bern, como hoje, e sentiam-se envaidecidas qua ndo eram chamadas de melindrosas. Para eles, cintura do palet6 bern justa. cakas apertadas na ponta mal passando pelo pe, sapatos ponrudos, palbeta, flor na lapela e bengala com castao de ouro: eram os almofadinhas. Aos domingos animavam-se para ircm as domingueiras, as marines cinernatograflcas e uos namoros. Qoando os rap azcs se torna yam ousados com as mocas, advcrtiam estas na giria : - Sosscga, lefio. A noite eram Irequcntes cancoes e serenatas. Rapazcs de violao e cavaquinho sc punham sob 0 lampiao de gas cantandc as melosas modinhas da epcc a: 76 o B.-\lRRO 00 80M RETIRO Vem a [aneta querida ouvir meu triste cantar atende a VOl dolorida que agora vais escutar ... ou can coes menos sentimentais e mais realistas: Acostumada a seduzir e a dominar julgas te Iacil dominar a mim tam bem mas foi efeitc do capricho e nao do amor porque em teu peito amor nao pod e mais haver. Ai, ai, nao quero nao o teu olhar arden te porque teu corac ao pcrtc ncc a muita gente. Outros, am igos das opereras da Clara Weiss ou da Lea Candini, em que tambem rep resenreva 0 famoso cOmico Nino Nelle (a h! tempos saudoso s das nci tada s pauHstas) , entoa vam trechos da Danca das Libelutas: E neue. t'mvita l'apache 6 Gigol ette, 6 Gigolette ! . .. ou da Scugnizza: Napoletana, come canti tu, napoletana, non udr6 mal piu, hai nella voce tutto un paradiso il tuo sorriso, i tuoi begli occhi d'or . . . ou ainda esta cao cao que , ha pouco s anos, fez de novo succsso, apresentada pela Companhia de Ope retas Elvie Calde roni - Carlo Ca mpanlnl, em 1966 no Tca tro Paramount em Siio Paulo : Salome! una rondin e non fa primavera e di sera, o B..\JRRO DO 80M RETIRO 71 Salome! tutti i gaul sono bigi e 10 sai chi sa mai . . . Outros, entusiasras de Caruso e Gigli, cantavam, em belas vozes, ora 0 Sole Mio ou 0 Santa Lucia Luntana, ora arias de famosas operas, La Donna e M6bile .. . , Sono andat i . . . , Di quela pira ... Eram belezas diferentes daq uelas da atual gerat;ao do jazz. e do ie-ie-ie. "Hoje em vez esra tudo mudado" . . . , como na poesia do Estudante Alsaciano. As noites, apesar da maior claridade da iluminacao elemca, a rua fica quase deserta . Nao ha cantos, para nao incomodar os que precisam fepousar para se esbaforir no dia seguinte ; os poueos transeuntes vaos as pressas para fugir aos ladroes assaltantcs. I:; uma dura constatacao mas e a realidade. as COMERCIANTES DA RUA JOSE PAULINO Todo 0 trafego que do centro da cidade se dirige para 0 bam do Born Retiro, passando por urn dos pontiIhOes sobre os trilhos da Estrada de Ferro Santos a Jundiai entra pela Rua Jose Paulino. Todos os passageiros dessa Estrada que demandam casas no referido bairro obrigate riamente descem na Estat;ao da Luz e entram pela Rua Jose Paulino. Isso e assirn agora. E era mais ainda no princfpio do secuto, pa is entao nao havia miio unlca na referida rua e nas demais ao redor da Estac;ao da LuI, e assim tambern 0 movlmcnto do bairro para 0 centro e mcsmo aquelc para a Rua Sao Caetano e bairro do Bras se fazia pcla referida rua. Chamava-se, nesse tempo, Rua dos Imigrantes. Por tal motive a rua prcdominou comerdalmcnte no bairro. Os comcrciantes a preferiam para suas lojas, suas 18 o B.U RRO DO 8m l RETIRO oflclnas de costura, os industriais para suas incipientes fabricas. Mas a nacionalidade dos que nela se instalavam diferia da grande maioria dos outros do bairro, os italianos. Eram portugueses, que gostavam de comerciar. Sempre havia urn " pon ugues da venda" com seu bigode, empilhando relhas de bacalhau ou latas de sardlnha, ajeitando os sacos de arro z ou feijao com a caneca de urn Iitro por cima, pois esscs gencros eram vendidos a litro e nao a quilo, expondo nos balcoes os paes, pols a venda fazia tambern de padari a, e tendo it disposk ao linhas, agulhas e 0 mais que sc quiscssc. Ou eram turcos, sirios e libancses. que preferiam negociar com armarinho, fazendas e roupas fcltas. Alguns delcs, enquanto nao possuissem urn pouco de capital para se cstabeleccrem, colocavam as mercadorias num bau de Iolha-dc-Iland rcs e iam pelas ruas, com uma matraca, a anunciar suas mercadorias. Chamavam-nos, gcnericamcnte, 0 " Turco da Prestecao", e foram os precursores das vendas a prestacao que hoje invadiram todas as lojas comerciais, mesmo os grandes magazines. Depois da revolucao russa de 1917 comecaram tambem a aparccer russos, fugidos do regime comunlsta, que urgldos pela nccessidade, tambem se tra nsfonna ram em mascates e passaram a substituir os "turcos da prestaesc" que iam se estabclecendo; emao 0 nome passou a ser o "russo da prestacao". Ainda mais tarde, depois de 1940, outro clemente comecou a se estabclecer na Rua Jose Paulino : 0 israelita. Fugindo da odiosa pcrscgulcao nazlsta (que horrorosos crimes os nazistas perpetrava m contra os judeus!) procuraram 0 " born retiro" dessa rua e, pcla sua capacidade inata para 0 ramo, invadiram a rua, que, hoje, quase so tern israclltas. Muitas velhas casas da rua foram derrubadas e no Jugar se construiram grandes galerias, com centenas de lojas em cada uma, principalmente de art igos de vestuario, muitas delas tendo, nos fundos, suas proprias oficinas de costura ou Iabricas de malhas, gravatas, e quejandas mercadorias. Sobrou pouco espaco para 0 restante do comer- o BAIRRO DO BOM RETIRO ,. cio : ha dua s ou tres Iarrnaclas, panificadoras, agendas bancarlas , casas de lanches, lelteria s, reparticoes publicae, construtor as, adrnlnistradores, casas de m6veis, transportadoras, apena s 0 suficiente para que a rua possa viver . o restante sao lojas, lojas, Iojas, c nde todos os seis milh5es de paulistanos pode riam se abastecer. Mas a rua assim ficou bonita, ao longo de seus seis quartciroes. A dupla linha de trilhos de bonde foi retlrada, o calcamento foi executado em perfeito asfalto c, para seu embelezamento notumo, possui, desde 19 70, ilumina~ ao a Hmpadas a vapor de mercuric , a primeira instalacao no bairro. A RUA A REA L E 0 COMET A D E HALLEY No fim da Rua Jose Paulino, onde esta se Iiga a Tcnente Pena, praticame nte no coracao do Born Retiro, comeca uma rua pequena, envlezada, de menos de duas cenrenas de metros, que vai ter minar n ~ Rua da Grace : e a Rua Areal, que muitos chamavam e alguns ainda chamam de Rua Real, transformada em centro sentimental de muitos imigrantes italianos chegados ao Brasil no comeco deste seculo. Ela era , nessa epoca, quase que exc1usivamente habitada pelos pcninsulares que vinham tentar aqui nova vida , Rua ainda de terra, com duas fundas valcta s no lugar da s sarjetas, leito esburacado pelo transitar das carrocas de rodas de ferro, ladeavam-na casa s simples, construfdas de alvenaria e cobertas de telhas, de fachada s uniformes ao gosto da epoca . Em frente de cada casa urn patamar de terra socada, bern varddo, fazia as vezes de calcada . Entre um pata mar e c utro havia urn sulco para deixar correr a agua por ocasiao da lavagem dos corredares interno s. Todas as casas eram resldenciai s, s6 havendo "venda" au "quitanda" nas duas esquina s. Nao havia Ilumlnacao publica na rua e nas casas a luz consls80 o BAIRR O D O BO~f RETIRO ria de lampar lnas a oleo , cujc combustive! os mor ado rcs iam comprar po r prcco alto no deposito longinquo. A genie dessc tempo era simples, porem, em sua maioria, higien ica. Fica va falad a a familia que nao 0 fOsse. Exigiam agua cncanada c csgeto do miciliar , que a Prefcitura fclizmcnrc nao deixou faltar . A men inada brincav a nas ruas de dia mas ia cedo it cam a de noire. Os varoes di rlgiam-sc it la buta dura do dia , que Irequ entemente era pa ra os lade s da Rua Sao Caetano ou do Bras, aonde iam a pe. As esposas cuidav am da case e do s scus afazeres, as vezes fazend o alguns services de creche ou de costura para fora pa ra ajudar 0 orcamento caseiro. Ocorreu, em 1910, urn fato digno de rcgistr o. Todos sabcm, po r cxperiencia pr6p ria, qu e ha fatos os qua is ficam indclevelmcnte marcados na mem6ria de uma pessoa, mcsmo que tcnh a acontccido nos scus pr imeiros anos de vida, qu and o 0 ente mal tern co nsciencia de si mesmo. 0 narrado a seguir e urn que, desdc os 4 anos de idade, a pessoa que 0 narra njlo 0 esqucce. Num dia claro de ma io de 19 10 hou ve gra nde alvor6l;o na Rua Areal, bern como nas dcmais. Todo 0 povo di rigia-se a rua e o.hava para 0 d u. Uma mae italiana cha mou seu filhinh c, br asilcirinho dc 4 ano s, nascido nessa rua, ordc nando-Ihe: - Vai " Iigliolino", val depressa na rua e olha qu e coisa bon ita tern no ceu . £ ste foi, Ievand o pela mao a irm azmha menor, e acompanhando 0 gesto das ou tras pessoas na rua , olhou para 0 zenlte. No limpido Iirmamento viu uma estrela cnonne, com umalonga cauda branea em forma de penac ho cneurvado . Extasiou-se como 0 $ demais, que cornentavam o fenomcno, mas que 0 rapa zinho nao cntcndla. Apcnas gosrou c indicou it irmazlnha. 0 belo cspetaculo du rou algumas horas c todos, satisfeita a curlosidade, voltavam a seus afazercs. Tr at ava-se do majestosc Cornela de Hall ey, 0 mais brllhan rc dsste seculo, segundo os astro nomos, e conhc- o B.URRO 00 aoxr RET IRO 81 cido desde dois seculos antes de Cristo. Em 1682 foi observado pclo astrc nomo Ingles Edmund Halley, que predisse seu reapareclmcnto em 1758 e em pcrfodos sucessivos de 76,02 anos. Foi Halley quem calculou sua 6rbita e pcriodic idade. Nesta apar icao de 19 100 corneta provocou espanto e admiracao entre os homens da epoca e sc calcula que a terra tenha atravessado sua cauda a 10 de maio desse ana, sem que pessoa alguma, a exceca o dos astranomos, se apercebesse do fato. Seu proximo apa rccimento se dan! em 1986.(1 7) o menino con ti nuou na rua, em seus folguedos, ate a hora do almoco. A avo 0 chama, impacient e, no seu dialeto veneto: - Vien subito! Vien magnate! La minestra se sfreda! ( Vern logo, vern comer, a sopa se esfria ) . Si, n6na. Obedece 0 menino a contragosto. - Tole to carega ! (Toma tua cadeira ) recomenda a avo. Linguagem exotica como essa se ouvia por tod a parte na rua cera Iacilmcnte entendida porque quase todos eram italianos vindos do Veneto e da alta Italia. Passaram os anos. Hoje, a Ru a Areal esta muito evoluida. Tern boa pavimentacao de paralelepipedos bern rejuntados c passeios cimentados. Ilumlnacao publica eletrica a lampadas incandescentes. As casas, alem de iluminacao eletrica, tern ra dio e televlsao como as demais do bairro, e em sua maior ia sao novas. S6 esporadicamente os descendentes brasileiros dos itallanos daqueles tempos falam 0 linguajar cstranho. Ja tern varies descendentes de lsraelitas. Instalaram-se nela, como em quase todo 0 Born Retire , industries do vesrua rio: malharlas, Iabricas de ier~ey, lojas. Tambem tem urna Iabrica de maquinas e uma cmpresa transpor tadora . Seus habitantes, hoje, sao bern instruldos, sabem que o homem ja pisou na Lua e nao se admiram com 0 progresso da ciencia. Em 1986, quando voltar 0 cometa de Halley, nao se surprecnderao se 0 homem conseguir reter 82 o BAIR RO DO BO:\I RETIRO urn pedaco dele com seu branco pe:nacho para po-lo em 6rbita ao redor da terra como uma segunda lua . Algum mor ador dessa rua talvez venha a ser urn dos cientistas que realize a Iacanha. E os poetas que canta m Selene terao uma lua diferente e um novo sentldo a dar a seus versos. V60s da imaginaeao? Os habitantes da Rua Areal, no bairro Born Retire , tam bem os tern. o BAIRRO IX) BO~I RET IRO 83 BIBLlOG RAF IA 1 _ 0 bairro do Brlls _ Ma ria Celestino T eixeir a Mendes Torres _ 1.0 volu me da Serle IIist6ria dos Bairro s de Sao Paulo Prefetiura Munidpal - Secretaria de Edu cacdo e Cul tura - Departamento de Cultura - 1969 - pgs. VIII. 2 Apontame ntos sebre 0 bairro do Born Retiro - Existentc s no urqulvo da Divisiio do Arqcrvo lIist6rico da Prcfeitura Municipal de SilO Paulo - Secretar ta WI Educacao e Cullur a - 1964. 3 - Siio Paulo H istorico edi ~'iio Benevenutc Santana - Vol. III - de 1937 - pg. 39. 4 _ Maua (Ireneu Evangelista de Sousa - Bargo e Viscondc de Malia - 1813 a 1889) - Alberto de Faria - 1926 pg. 175. S - Guia Le vy - Ann de 1933 - mapa. 6 _ Vocilhulos de sign ativo s nes linguas tupl Oil guarani - Juan Francisco Hecalde - Rcvista do Arqutvo Municipal - Vol. 39 - Setcmbro de 1937 - pg. 66. 7 _ Gui a de Sao Paulo 7" - Ano de 1968 - Bolelins estatisticos de 1967 a 1970 - pgs. 22, 43, 44. Institute Brasileiro de Geografia e Estntistica. o BAIRRO 00 80:\1 RETIRO 85 7b _ Guili dos telefones de Sao Paulo - Ender~s 1969/10 _ Companhia Telefonica Brasileira. 7'·_ 0 eresci me nto da popuJac;ao de Sao Paulo _ Mario Lopes Leiio - Engl'nh aria - 1945 - pgs. 355/61. 8 Sao Paulo - Espirito, Povo, Instituic;ao - J. V. Freitas Mareondcs e Osmar Pimentel - 1968 - pgs. 75 e 109. 9 - Nomenclatura d as vias de Sao Paulo - Plinlo Ayrosa Bolottm do Arqutvo Municipal da Prefeitura de Sao Paulo, n.'" 34 (ahril de 1937) a 48 (junho de 1938). 10 Sao Paulo I1istorico - Benevenutc Santana _ Vol. 11 _ Edic;ao de 1937, pgs. 257/60. 11 - 0 ensino da fanmicia em Sao Paulo - Raul Vota - Alhum Drogasil - 1954, pgs. 118/ 20. 12 - Os engenheiros de Sao Paulo em 1932 - Arthur Morgan (Armando de Arruda Pereira ) - Contri bulelio do Prof. C aspar Ricard o Jr . sob 0 titulo "Departamento Central de Mun i~'Oes" - 1934 - pgs. 259/ 302. 13 - Almanaque d' "0 Estado de Sao Paulo" - 1940 - Contribuil;Oes seguintes; Tipos clsssrcos da cidade - Ferna ndo Mendes de Alme ida - pg. 87 - A imigrac;ao em Sao Paulo - pgs. 339/ 44 - Os scrvlcos da Light em Sao Paulo 'pgs. 133/ 9. 14 - La Divina Inerenca Marcon des Machado 42, 43, 58. J u6 Bananere (Alexandre Ribeiro 1892 a 1933) - 1924 - pgs. 18, 15 _ A Rua da Cr ac;a no Born Retiro - Miguel Maillet - Shopping 15/ 3/ 1970. News (jornal) 16 - Rua Aimores Romance - Nuto Santana - 1958. 17 - Almanaque Mundial - 86 1961 - pg. 469. o BAIRRO DO BOM RETJRO E sta ohm Iot ccmposta e terminou-se sua lmprcssao no mes de marco d e m il novece nte s e sclen ta e urn nus Oficlnas de Artcs GraEicas Blsord t S. A., sendo Prcfeito do Municipio de Slio Paulo 0 Dr. Paulo Salim Maluf c Secretdrio de Edu caroiio e Cultura 0 Sr. Paulo Zingg. Diretor do Departamento de Cultura 0 Dr. Rairnundo de Men ezes e Chefe do Arquivo Hist6rico 0 Prof. Ed uardo de J. M. do Nascimen to e com Assistencia T ee-olea do Sr. Jose dos Santos. Integra cia a sene de monografias intttulndas Ilist6ria des Bairros de Sio Paul o, cscclhidas em conc urso publico c prc miadns pe lo Depart amento de Cultura d a Secretana de Ed ucaeao e Cul lum da Prcfenura do Municipio de Sao Paulo. Edicfio do Depa rtamento de Gult ur a da Secretarta de Educa<yiio e Cullum da Prefeftura do Municipio de Sao Paulo· 1971 . AHM Tombo: 2705 111111111111111 1111111111111 :~~~~'""':! 1375546 981.61 0 438b eA