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INTERVENÇÕES INTERDISCIPLINARES PARA A PROMOÇÃO DE UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NO ÂMBITO ESCOLAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA INTERDISCIPLINARY INTERVENTION FOR PROMOTING HEALTHY EATING ON SCHOOL FIELD: A SYSTEMATIC REVIEW Luana Bernardi1 Mauricila de Campos França2 Audineia Martins Xavier3 Patrícia Chiconatto4 Daiana Novello5 Resumo: O baixo consumo de frutas e hortaliças, além de uma ingestão elevada de açúcares e doces, óleos e gorduras e refrigerantes tem sido observado em escolas brasileiras. Assim, o ambiente escolar é considerado propício para corrigir os hábitos alimentares inadequados. Dessa forma, propôs-se construir um mapeamento dos trabalhos de intervenção interdisciplinares, com vistas a melhorar o consumo de alimentos saudáveis, desenvolvidos em escolas nos últimos cinco anos para a população de crianças. Para atingir o objetivo, definiu-se como método a revisão sistemática, considerando o período temporal de 2009 a 2014. Foram selecionados artigos da base de dados PubMed, na qual atenderam aos critérios de seleção 15 artigos. Quatorze relações positivas sobre a mudança no perfil alimentar foram obtidas com a intervenção interdisciplinar e, somente três relações não obtiveram sucesso nesta mudança. Pode-se observar que os estudos propõem diferentes métodos de intervenções interdisciplinares em escolas e que, o diálogo entre aluno e professor, bem como entre a criança e seus familiares é fundamental para garantir a mudança no padrão alimentar. No entanto, para que os objetivos da intervenção sejam alcançados, é fundamental que o trabalho busque uma prática interdisciplinar e individualizada. Palavras-chave: Estudos de intervenção. Escola. Alimentação escolar. Abstract: The low consumption of fruits and vegetables, and a high intake of sugar and sweets, fats and oils and refrigerants has been observed in Brazilian schools. Thus, the school environment is considered conducive to correct the improper eating habits. Thus, proposed to build a mapping of the work of interdisciplinary intervention aimed at improving the consumption of healthy foods, developed in schools in the past five years for the population of children. To achieve the goal, was defined as the systematic review method, considering the time period 2009-2014. Items PubMed database, which met the selection criteria, 15 articles were selected. Fourteen positive relationships on the changing dietary profile were obtained with the interdisciplinary intervention, only three relationships were not successful in this change. It may be noted that the studies propose different methods of interdisciplinary interventions in schools and that the dialogue between student and teacher, and between the children and their families is critical to ensure the change in dietary patterns. However, so that the objectives of the intervention are achieved, it is essential that the work seeks an interdisciplinary and individualized practice. Key words: Intervention studies. School. School feeding. 1 Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário, Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR. Email: [email protected]. 2 Nutricionista, Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário, Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR. Email: [email protected] 3 Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário, Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR. Email: [email protected] 4 Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário, Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Irati, PR. Email: [email protected]. 5 Professora, Doutora em Tecnologia de Alimentos, Departamento de Nutrição, Setor de Ciências da Saúde, Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Guarapuava, PR. Email: [email protected] INTRODUÇÃO A infância e a adolescência caracterizam-se por comportamentos de saúde inadequados fixados ao longo da vida (MARMOT, 2010). Desta forma, é de extrema importância que hábitos alimentares saudáveis sejam formados desde a infância (MADRUGA et al., 2012). Há diversos fatores que podem influenciar a formação do comportamento alimentar de crianças, como nível de escolaridade das mães (SALDIVA et al., 2014), a publicidade (FERGUSON et al., 2012), a convivência com outras crianças (SALVY et al., 2011), a alimentação dos pais (LESLIE et al., 2012) e o acesso a alimentos em ambiente escolar. Esta influência na alimentação pode ocorrer tanto a curto quanto em longo prazo (INSTITUTE OF MEDICINE OF THE NATIONAL ACADEMIES, 2009; JOHNSTON et al., 2009). O baixo consumo de frutas e hortaliças, além de uma ingestão elevada de açúcares e doces, óleos e gorduras e refrigerantes tem sido observado em escolas públicas e privadas brasileiras (CONCEIÇÃO et al., 2010). Assim, a escola é considerada um ambiente propício para corrigir os hábitos alimentares inadequados (BRIEFELL et al., 2009; FINKELSTEIN et al., 2010), devido a sua estrutura organizacional, social e de comunicação, as quais proporcionam oportunidades de educação para a saúde regular e para um ambiente de melhoria da saúde (LLOYD et al., 2011). Avaliando-se diversos estudos que indicam a inadequação das refeições neste espaço (GATENBY, 2007; CLARK; FOX, 2009, CREPINSEK et al., 2009; STEVENS; NELSON, 2011; AHN et al., 2013), nota-se o desenvolvimento de intervenções em escolas, que objetivam uma ingestão de nutrientes adequados para as crianças (CULLEN et al., 2008; CLUSS et al., 2014). Com maior ênfase, constatam-se as abordagens interdisciplinares no meio escolar. Gortmaker et al. (1999), avaliaram o impacto de uma intervenção interdisciplinar em escolas públicas de Massachucetts com alunos de 6 a 7 anos durante dois anos. Os escolares do grupo de intervenção passaram por debates, estudos de caso, projetos de grupo, jogos e apresentações dos alunos em aulas de educação física e de mais 4 disciplinas, nas quais os professores passavam previamente por treinamentos, para que pudessem tratar em sala de aula de assuntos visando a redução da obesidade, aumento do gasto de energia e promoção de comportamentos alimentares saudáveis. Após as intervenções os autores observaram um menor consumo significativo de energia/dia entre as escolas controle e de intervenção (p=0,05) e um aumento no consumo de frutas e legumes (p=0,003). Nesse contexto, muitos estudos têm confirmado a eficácia de intervenções interdisciplinares em escolas, garantindo uma melhora no parâmetro alimentar dos alunos (DIEZGARCIA; DE CASTRO, 2011; WITT; DUNN, 2012; PIZIAK et al., 2012; KAIN et al., 2014; KIPPING et al., 2014). A interdisciplinaridade no ambiente escolar procura promover um meio mais dinâmico e intenso, problematizar os conteúdos e temas geradores, articulando-os entre todas as disciplinas. No entanto, ela não busca somente a integração entre os diferentes saberes. Mas, também, um elo entre a teoria e a prática, aonde a partir desta relação aluno-professor, o aluno possa compreender e aplicar o que aprende, exercitando cotidianamente seus saberes (DE AZEVEDO; DE ANDRADE, 2007). A educação interdisciplinar é compreendida como um aprendizado entre dois ou mais profissionais, a partir de uma troca mútua de conhecimento, visando melhorar a colaboração e a qualidade do atendimento (THISTLETHWAITE; MORAN, 2010). Da mesma forma, um espaço interdisciplinar propicia a partilha, a convivência e o estreitamento do vínculo afetivo (PUSH, 2010). Logo, muitos trabalhos no campo da saúde de intervenção interdisciplinar que ocorrem em escolas possuem a preocupação em adequar a alimentação de escolares (DIEZGARCIA; DE CASTRO, 2011; WITT; DUNN, 2012; PIZIAK et al., 2012; KAIN et al., 2014; KIPPING et al., 2014). Além disso, as ações possuem um caráter humanizado. Este tema versa sobre o cuidado integral do sujeito, da promoção da saúde (CASSATE; CORRÊA, 2012), gerando vínculo afetivo, suscitando ações, nas quais as pessoas e as situações são vistas como preciosas e portadoras de valores éticos. Além disso, promove o questionamento de profissionais com relação à sua postura no meio em que atuam (PUSH, 2010). O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão de literatura sistemática, tendo por finalidade construir um mapeamento dos trabalhos de intervenção interdisciplinares, com vistas a melhorar o consumo de alimentos saudáveis, desenvolvidos em escolas nos últimos cinco anos para a população de crianças em fase pré-escolar e escolar. METODOLOGIA A revisão sistemática da literatura foi adotada como metodologia de agrupamento dos dados e do tema proposto, de modo a responder a seguinte questão norteadora: Quais as evidências científicas acerca dos desafios, potencialidades e limitações da prática interdisciplinar na atenção primária à saúde a partir de trabalhos de intervenção realizados em escolas? Para a aquisição dos artigos, foram avaliados artigos da base de dados PubMed dos últimos cinco anos (março de 2009 à março de 2014). O intuito era de reunir trabalhos de intervenção relevantes dentro dos critérios estabelecidos para compor a presente revisão. Primeiramente, procedeu-se a busca de resumos, empregando o operador booleano and entre os seguintes descritores: intervention studies, nutrition education, school e school feeding. Os artigos foram selecionados pelo título e resumo através dos seguintes critérios de inclusão: a) mostrar de força explícita que corresponde a um trabalho de intervenção; b) ter amostra composta por crianças pré-escolares (2 à 6 anos) ou escolares (7 à 10 anos) ou, se composta por faixas etárias maiores, conter estratificações dentro dos citados padrões etários. Entretanto, se as amostras ou estratificações passavam dentro da citada faixa etária e excediam ligeiramente para menos ou para mais, também foram considerados; c) estar redigidos em inglês, espanhol ou português; d) ser publicado entre 2009 e 2014; e) apresentar nos resultados a mudança, favorável ou desfavorável, no perfil alimentar a partir do poder da intervenção; f) as intervenções tivessem sido realizadas em ambiente escolar, devendo estas serem interdisciplinares. Foram adotados os seguintes critérios de exclusão: a) estudos de revisão e que não fossem de intervenção; b) resumos sem descrição metodológica completa (objetivos, método e resultados); c) intervenção realizada totalmente fora do ambiente escolar (clubes, comunidades, clínicas). A partir da utilização dos descritores supracitados, foi encontrado um total de 12.426 artigos. Após a exclusão de dados duplicados, a leitura pormenorizada de seus resumos e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, permaneceram 57 artigos, os quais foram lidos na íntegra. Em seguida, foram excluídos mais 42 estudos que não estavam condizentes com os critérios estabelecidos, permanecendo na avaliação um total de 15 trabalhos (Figura 1). Os artigos selecionados foram tabulados, com discriminação dos seguintes itens: autores, ano, amostra, país, objetivo do estudo, tipo de intervenção e resultados encontrados (Tabela 1). Número total de artigos potencialmente relevantes encontrados após busca eletrônica. N = 12.426 Avaliação dos títulos e resumos. Exclusão dos artigos inapropriados. Estudos selecionados para uma avaliação completa: N = 57 Exclusão dos artigos Inapropriados com base nos critérios de inclusão. Estudos retidos no estágio final e classificados como relevantes. N = 15 Figura 1. Fluxograma relacionado ao processo de seleção dos artigos. RESULTADOS Após a análise do material bibliográfico constatou-se que 26,6% (4) eram estudos realizados nos Estados Unidos, 20% (3) no Reino Unido, 13,3% (2) na Espanha, 13,3% (2) no México, 6,6% (1) no Chile, 6,6% (1) na Austrália, 6,6% (1) na Alemanha e 6,6% (1) em Portugal. Quanto à linguagem empregada nos trabalhos, 93,3% (14) no idioma inglês, 6,6% (1) em espanhol e 0,0% (0) em português. Da amostra, 93,3% (14) dos trabalhos foram publicados na área da saúde em geral e 6,6% (1) especificamente na área de Psicologia. No que se refere ao ano de publicação, notou-se que 26,6% (4) dos estudos eram de 2014, 26,6% (4) de 2011, 20% (3) de 2013, 20% (3) de 2012, 6,6% (1) de 2010 e 0,0% (0) de 2009. No tocante ao delineamento metodológico, percebeu-se que 33,3% (5) dos estudos apresentaram método randomizado e controlado, 13,3% (2) estudo piloto, 13,3% (2) intervenção educacional, 6,6% (1) controlado longitudinal, 6,6% (1) controlado, quasi-randomizado, 6,6% (1) abordagem prospectiva, 6,6% (1) quasi-experimental, randomizado e controlado, 6,6% (1) ensaio clínico aleatório e 6,6% (1) quasi-experimental. Quanto à faixa etária, o ponto de corte mais jovem entre os estudos foi três à cinco anos (PEÑALVO et al., 2013), enquanto a que teve o ponto de corte mais avançado cronologicamente foi dez à treze anos (CALLEJA FERNANDEZ et al., 2011), com uma variação no n amostral de 104 (DAVIS et al., 2011) a 2.221 (KIPPING et al., 2014). Com relação à mudança no perfil alimentar, a partir do poder da intervenção interdisciplinar, foram identificadas 14 relações positivas. Já com relação aos trabalhos que não obtiveram sucesso nesta mudança, foram identificadas 3 relações. Quanto às associações estatisticamente significativas, encontraram-se 17, já com relação as associação não significativas, encontraram-se 6. O número de associações é superior ao número de estudos, pois houve diferentes resultados dentro de um mesmo trabalho. Todas as investigações encontraram resultados, sejam positivos ou negativos, para ambos os sexos, exceto Calleja Fernandez et al. (2011), que encontraram efeitos da intervenção separadamente para o sexo feminino e masculino, sendo que para o primeiro não foi encontrada melhora significativa na quantidade de almoços, ao passo que para o segundo houve um aumento significativo na quantidades de meninos que almoçaram após a intervenção. Tabela 1. Resumo dos artigos analisados na revisão sistemática. Autores (ano) Amostra/País Objetivo Tipo de intervenção Resultados Aumento significativo no consumo de frutas no grupo de intervenção Examinar os efeitos de n = 297 Hoffman M = 51% et al. F = 49% (2010) 6,2 anos (média) EUA após 1 ano (p<0,001) e 2 anos um programa de (p<0,001) comparado ao grupo promoção em um jardim de infância da Controlado, primeira série de uma longitudinal escola baseado no controle. Aumento significativo no consumo de vegetais no grupo de intervenção após 1 ano (p<0,01) comparado ao consumo de frutas e grupo controle. No 2º ano as vegetais de crianças. quantidades não diferiram entre os grupos. Desenvolver e testar os efeitos de uma Aumento na ingestão de fibra intervenção de 12 Davis et al. (2011) n = 104 semanas, com M = 52% jardinagem após o F = 48% horário escolar, 9,8 ± 0,7 anos nutrição e programa de EUA culinária na ingestão dietética do grupo de intervenção em comparação ao grupo controle Piloto (22% vs 12%, p=0,04). Mudança significativa na ingestão de fibra dietética (0% vs - 29%, p=0,01) em crianças obesas do alimentar e risco de grupo de intervenção. obesidade em estudantes latinos. Avaliar o resultado de 8 anos de intervenção PlachtaDanielzik et al. (2011) n = 1192 na escola baseada no M = 46,4% estado de peso, estilo Controlado, F = 53,6% de vida e pressão semi- 6,3 a 14,3 anos arterial, como parte do randomizado Alemanha Estudo de Prevenção da Obesidade Kiel (KOPS). Aumento no padrão alimentar saudável foi melhor no grupo de intervenção (3.7%) do que no grupo controle (0.3%) em 8 anos (p=NR). Tabela 1. continuação. Autores (ano) Amostra/País Objetivo Tipo de intervenção Resultados Descrever a aplicação de um Programa de Estilo de Vida n = 196 Lloyd et Ambos os sexos al. (2011) 8 a 11 anos Reino Unido Saudável (HeLP), uma Diminuição significativa no intervenção para prevenir a obesidade na Piloto escola, por meio de consumo de lanches altamente energéticos no grupo de intervenção (p=0,001). quatro etapas do protocolo de Mapeamento de Intervenção (MI) F: aumento não significativo no percentual de meninas que almoçou Conhecer os hábitos de (0,89%, p=0,959). almoço de uma M: aumento significativo no população escolar, a Calleja Fernandez et al. (2011) n = 151 M = 47% F = 53% 10 a 13 anos Espanha percentual de meninos que almoçou prevalência de (17,54%, p=0,047). sobrepeso e obesidade, bem como estabelecer hábitos alimentares saudáveis e educá-lo nutricionalmente para melhorar os hábitos alimentares através de um almoço saudável. Aumento significativo no consumo Prospectivo de sucos (p=0,000), smoothies (p=0,000), produtos de pastelaria (p=0,004), sanduíche tradicional (p=0,002) no almoço. Diminuição estatisticamente significativa no consumo de iogurtes (p=0,023), lanches (p=0,001), geléia (p=0,002), em ambos os sexos. Tabela 1. continuação. Autores (ano) Amostra/País Objetivo Tipo de intervenção Resultados Não houve efeito da intervenção sobre a ingestão de porções de frutas (0 porções, p=1,000) e Estudar a manutenção legumes (0 porções, p=0,800). da ingestão de frutas e Grupo de intervenção: consumo/dia n = 658 vegetais após a de frutas caiu de 189 g para 90 g na Evans et Ambos os sexos intervenção “Esquema Randomizad escola. al. (2012) 7 a 9 anos de frutas e vegetais na o, controlado Grupo controle: consumo/dia de Reino Unido escola” em um grande frutas caiu de 193 g para 91 g na número de escolas em escola. toda Inglaterra. Não houve diferença significativa entre os grupos em relação a ingestão de nutrientes essenciais (p>0,050). Diminuir a prevalência de sobrepeso e Melhora significativa no consumo obesidade em crianças, n = 560 Zask et al. Ambos os sexos (2012) 2,4 a 6 anos Austrália de frutas e legumes (p=0,001) e melhorando as habilidades motoras fundamentais, aumentar a ingestão de menor propensão a ter itens Randomizad alimentares não saudáveis (pobres o, controlado em nutrientes e ricos em energia) nas lancheiras (p<0,001) do grupo frutas e legumes e de intervenção comparado ao grupo diminuir o consumo de controle. alimentos não saudáveis. Reduzir comportamentos BacardíGascon et al. (2012) Aumento no consumo de vegetais n = 532 sedentários, o consumo M = 52% de refrigerantes e Semi- F = 48% lanches com alto teor experimental 8,5 ± 0,73 anos de gordura e aumentar randomizado (média) o consumo de frutas e e controlado México legumes em crianças do 2º e 3º grau do ensino fundamental e (p=0,007) e redução no consumo de lanches que contem gordura e sal (p=0,03) após a intervenção. Aumento no consumo de bebidas que contém açúcar após a intervenção (p=0,000). em seus pais. Tabela 1. continuação. Autores (ano) Amostra/País Objetivo Tipo de intervenção Resultados Avaliar a eficácia do Programa SI! para n = 2062 melhoria dos Aumento significativamente Peñalvo et Ambos os sexos indicadores da Randomizad estatístico no conhecimento, al. (2013) 3 a 5 anos aquisição de o, controlado atitudes e hábitos das crianças com Espanha comportamentos relação à dieta (p=0,025). saudáveis em crianças de 3-5 anos. Avaliar o impacto de n = 830 Safdie et al. (2013) M = 50% F = 50% 9,7 anos (média) México uma intervenção de Aumento no consumo de alimentos prevenção da altamente recomendados após 18 obesidade escolar de 18 meses foi maior no grupo de meses sobre os comportamentos de saúde de estudantes da ª ª 4 e 5 série com base Ensaio clínico aleatório intervenção (33.9%) do que no grupo controle (28.5%). Consumo de alimentos não recomendados após 18 meses foi em princípios maior no grupo controle (45.3%) do ecológicos e pesquisa que no grupo de intervenção formativa realizada no (24.6%). México. A ingestão de sal foi significativamente reduzida apenas n = 139 Cotter et al. (2013) M = 63 F = 76 10 a 12 anos Portugal Avaliar a excreção no grupo que recebeu aulas práticas urinária de sódio de 24 e teóricas (1,1 ± 2,5 g/ dia), horas em crianças de comparado ao grupo que recebeu 10-12 anos em somente aulas teóricas (0,6 ± 3,2 g/ uma escola no norte de Intervenção dia) e ao grupo controle (0,4 ± 2,4 Portugal e examinar a educacional g/ dia). influência de 3 tipos de Total de crianças que reduziu a intervenção sobre a ingestão de sal foi ingestão de sal e significativamente maior no grupo pressão arterial. prático (50,9%), comparado ao grupo teórico (48,8%) e controle (32,2%). Tabela 1. continuação. Autores (ano) Amostra/País Objetivo Tipo de intervenção Avaliar os efeitos de n = 1508 Ling et al. (2014) M = 814 F = 679 8,3 anos (média) EUA Resultados Efeitos significativos sobre a uma intervenção sobre porcentagem de crianças que o comportamento saudável entre as Semi- crianças do ensino experimental fundamental de escolas cumpriram a recomendação nutricional (p<0,001) (≥3 porções/dia de vegetais e ≥2 porções/dia de frutas) após a rurais do município de intervenção. Kentucky. Consumo menor e significativo no grupo de intervenção de bebidas Investigar a eficácia de ricas em energia comparado ao uma intervenção n = 2221 Kipping et Ambos os sexos al. (2014) 8 a 10 anos Reino Unido grupo controle (p=0,002). escolar base para aumentar a atividade física, reduzir o comportamento Consumo maior no grupo de Randomizad intervenção, mas não significativo, o, controlado nas porções de frutas e legumes (p=0,42) e consumo menor, mas não sedentário e aumentar significativo, nas porções de consumo de frutas e alimentos ricos em gordura vegetais em crianças. (p=0,13), comparado ao grupo controle. Tabela 1. continuação. Autores (ano) Amostra/País n = 432 Cohen et al. (2014) M = 88 F = 112 8,65 ± 1,6 anos EUA Objetivo Tipo de intervenção Resultados Examinar as mudanças Aumento significativo no consumo no consumo de frutas, de frutas e vegetais combinados vegetais, leguminosas, (p=0,01) e somente vegetais grãos integrais e (p=0,03) no grupo de intervenção produtos lácteos com comparado ao grupo controle. pouca gordura em Randomizad IG das dietas do grupo de alunos do ensino o, controlado intervenção foi significativamente fundamental de escolas menor (p=0,03) comparado ao rurais que foram grupo controle. expostos à intervenção Não houve diferença significativa CHANGE comparado entre os grupos no consumo de com escolas controle. frutas, leguminosas, grãos integrais e produtos lácteos (p>0,05). Avaliar os resultados n = 530 Salazar et Ambos os sexos al. (2014) 4 a 5 anos Chile de uma intervenção Diminuição significante (p<0,01) no voltada para atividade consumo de energia, em crianças física e nutrição sobre obesas (177,94 Kcal) e eutróficas (- resultados primários (gordura corporal) e secundários (atividade Intervenção educacional 106,76 Kcal) do grupo de intervenção. Diminuição significante (p<0,01) na física e consumo de ingestão de gordura, em crianças energia) em um grupo obesas (-11 g) e eutróficas (-8,4 g) de crianças pré- no grupo de intervenção. escolares. *M = Sexo masculino, F = Sexo feminino, n = tamanho amostral, EUA = Estados Unidos da América, NR = não relatado, IG = índice glicêmico, Kcal = quilocaloria, g = gramo. DISCUSSÃO Procurar atender as recomendações nutricionais por meio da promoção de uma dieta variada no público infantil tem sido visto normalmente como um problema. Diante disso, as intervenções objetivam aumentar o interesse de crianças a experimentar novos alimentos (GIBBS et al., 2013). Estudos propõem diferentes métodos de intervenções interdisciplinares em escolas, seja para aumentar o consumo de alimentos saudáveis (GIBBS et al., 2013), para corrigir deficiências nutricionais (GARCÍA-CASAL et al., 2011), para melhorar os conhecimentos acerca da nutrição neste público (FERNÁNDEZ et al., 2013) ou para controlar os níveis de obesidade (GORTMAKER et al., 1999; ELIZONDO-MONTEMAYOR et al., 2013). Desta forma, a sala de aula torna-se um espaço central para a aquisição de novos conhecimentos e a reestruturação de outros, seja por meio de um diálogo entre aluno e professor (DE AZEVEDO e DE ANDRADE, 2007), ou pela relação que se pode estabelecer entre crianças e suas famílias dentro do espectro social escolar (LLOYD et al., 2011). Diante dos trabalhos pesquisados e da necessidade de um sistema que responda de forma proativa, contínua e integrada pelas condições de saúde (MENDES, 2012), enfatiza-se à Atenção Primária à Saúde (APS) como fator essencial na promoção e na proteção da saúde, na prevenção de agravos, no diagnóstico e no tratamento (BRASIL 2006). Entretanto, buscar implementar a APS com foco na interdisciplinaridade é um desafio, visto a formação disciplinar/técnica dos profissionais, e o privilégio que se dá ao trabalho individual em relação ao coletivo, o que prejudica a integração tanto da equipe, quanto a aplicação da prática necessária (GOMES, 1997). Desta forma, o que se percebe são encontros multidisciplinares de profissionais que permanecem com práticas individuais, distanciando-se do trabalho interdisciplinar (MEIRELLES, 2003). A interdisciplinaridade, entendida como o diálogo permanente com outras áreas de conhecimento, busca facilitar a assistência humanizada e cidadã que contribui para melhorar a compreensão da realidade (MEIRELLES, 2003). Com base nisso, não somente a APS, mas em todos os níveis de atenção à saúde, nota-se que o trabalho interdisciplinar é essencial, uma vez que é a partir dele que se almeja alcançar uma abordagem integral sobre os fenômenos que interferem na saúde da população (LOCH-NECKEL, 2009). A partir disso, deve-se compreender o potencial de intervenções em saúde com enfoque interdisciplinar. Shofan et al. (2011) realizaram um programa de intervenção com crianças de 9 a 11 anos e suas famílias durante dois anos, e perceberam que o grupo que recebeu apenas aulas padrão de educação física ganhou significativamente mais peso do que o grupo que recebeu aulas duplas de educação física semanais e aconselhamento nutricional adicional (8,4 kg vs 3,2 kg, respectivamente (p<0,016)). Por ser um estágio considerado crítico na formação de hábitos alimentares os quais irão se prolongar para a vida adulta, os problemas alimentares que surgem durante a infância devem ser tratados por meio de intervenções baseadas em evidências (SKINNER et al., 2002). Em resposta a essa necessidade, pesquisadores e educadores em nutrição tem buscado melhorar a forma como os professores interagem com as crianças, incentivando o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis (GARCÍACASAL et al., 2011; GOODELL et al., 2010; RAMSAY et al., 2010). Além disso, intervenções que buscam mudanças na alimentação de crianças também podem acarretar em consequentes benefícios para a saúde infantil, o que também está incluso entre as potencialidades da prática interdisciplinar. Moore et al. (2009) examinaram o efeito de um programa de educação nutricional “Color my Pyramid” com crianças, sobre os conhecimentos em nutrição, práticas de auto-cuidado, nível de atividade e estado nutricional, e observaram concomitante aos resultados estudados, uma diminuição da pressão arterial sistólica tanto no grupo de intervenção quanto no grupo controle. A maioria das intervenções em saúde que ocorrem em escolas tem algumas limitações, uma vez que enquanto algumas obtêm resultados positivos durante e logo após o momento da intervenção (LLARGUES et al., 2009; GARCÍA-CASAL et al., 2011; GIBS et al., 2013), outras apontam que seus efeitos não são observados sobre o padrão dietético de forma significativa (HELLAND; DYRSTAD, 2014). Isso pode ser explicado tanto pela negligência da importância do apoio da família, que é tido como um fator relevante tanto na adoção quanto na manutenção de comportamentos alterados em crianças (VAN SLUIJS et al., 2007), da não individualização de intervenções dietéticas (VAN SLUIJS et al., 2007) e pelo fato de não abordarem a junção de várias áreas no processo de intervenção (WANSINK et al., 2013; ELIZONDOMONTEMAYOR et al., 2014), fato que dificulta o alcance dos objetivos. Entende-se, portanto, que o profissional ao buscar mudanças nos hábitos alimentares da criança, não deve se deter somente à prescrição ou proibição de alimentos, mas sim sua compreensão, ou seja, o profissional deve procurar se inserir na própria problematização dos conhecimentos e vivências do público infantil (CERVATO et al., 2005). A abordagem adequada sobre nutrição nas escolas é essencial, seja por parte dos professores em suas aulas, seja por meio de programas de intervenção unidos à outras especialidades. Assim, Orimo et al. (2013) em estudo realizado em 67 escolas médicas do Japão com o objetivo de avaliar a qualidade das intervenções em educação nutricional nestes espaços, notaram que apenas 6 escolas (9,0%) não ofereciam qualquer curso relacionado a educação nutricional. No entanto, somente 25 escolas (37,3%) ofereciam cursos adequados em nutrição, as demais (53,7%) apenas ofereciam algo relacionado à nutrição em outros cursos. Ademais, as intervenções de caráter interdisciplinar são aprovadas pelo público infantil, como é observado em trabalho de Jan et al. (2009). Os autores, ao avaliarem os resultados da eficácia do programa de intervenção para a prevenção da obesidade Shape It Up, com crianças norte-americanas em escolas primárias de New Jersey, o qual consistiu em oficinas interativas, um livro de atividades e guia para as famílias, cartazes, um site e dias educacionais de campo, constataram após a intervenção que as crianças relataram altos níveis de satisfação com o programa, além de apresentarem níveis mais elevados de conhecimento (p<0,001) e atitudes positivas (p<0,001) sobre alimentação saudável e exercício físico em comparação com os resultados do inquérito inicial. CONCLUSÃO Os resultados indicam que a organização do espaço escolar como um ambiente propício para intervenções de caráter interdisciplinar, principalmente na infância, deve ser incentivada, uma vez que pesquisas com esta perspectiva buscam não somente interceder sobre os hábitos alimentares, mas também sobre todos os outros problemas que permeiam a saúde do indivíduo, ou seja, a intervenção busca refletir sobre mudanças no estilo de vida, as quais irão se repercutir na vida adulta. Neste sentido, a escola por estar inserida em todas as dimensões do aprendizado, pode e deve ser vista como um local para aplicação de intervenções educacionais em saúde, sendo essencial que os conhecimentos acerca da nutrição, ligada à importância de outras áreas da saúde, não pode deixar de compor um plano educacional de ensino. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHN, S.; PARK, S.; KIM, J.N.; HAN, S.N.; JEONG, S.B.; KIM, H.K. 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