Apresentação do PowerPoint

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Apresentação do PowerPoint
Programa de Educação Tutorial (PET)
Ministério da Educação e Cultura (MEC)
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo
Tutor
Prof. Dr. Jayter de Paula
Editores
Helen Furlan Torina
Alex Diniz
Redação
Alessa de Andrade Santana
Bárbara Regina Vieira
Helen Furlan Torina
Larissa Oliveira Almeida
Leonardo Araujo Soriano
Luis Felipe Silva Visconde
Ionara de Medeiros
Pedro Henrique Nunes
Vinicius Aniceto
Capa
José Henrique Segantin
Correspondência
PET – FMRP
Av. Bandeirantes, 3900
CEP 14049-900
www.pet-fmrp.com.br
Plano de fundo: Kandinsky – Composition VIII
As disparidades da medicina no Brasil: o
mais, o menos e a soma
Sarau
Projetinho: “Culinária – uma
paixão, uma arte”
Mais poesia em nossas vidas!
Lewis e Tolkien: da amizade ao mundo da
fantasia
Parceria CPM e Poliedro
Congresso Paulista de Educação
Médica e Congresso Brasileiro de
Educação Médica 2014
Sobre a experiência de
ser peer – Tutoria
A, hemi ou
holometábolos: o que
somos?
Perto do Coração Selvagem
O Engima de Espinosa
Por Prof. Dr. Jayter Silva de Paula
Não basta saber que existem lugares no mundo, como no
Brasil, com tamanha discrepância social, onde a medicina transparece
suas disparidades. É fato, porém não regra proporcional a todos
elementos da sociedade, que a assistência médica reflete
consideravelmente as condições socioculturais da população. Devem
ser vangloriadas todas as ações individuais, ou não, coordenadas ou
espúrias, de melhoria social e das condições de saúde.
Este foi um dos pontos fortes das atividades do grupo PET
– FMRP-USP em 2014, que pôde trazer de forma inédita em um evento,
o vislumbre e a discussão do que se tem de “mais”, “menos” e somado
nas ações de médicos atuantes nas diversas realidades do Brasil.
Mais ainda, no cotejo de suas atividades, a Vedas! 2015 apresenta as
atividades culturais do grupo, com um relampejo, um pestanejar de
ideias e sensações. Buscou-se ver além da “cegueira” artística da
formação médica ortodoxa, apresentando um mergulho nas expressões
e sensações da poesia, música, culinária, dentre outras. Afinal de
contas, ser médico ainda é praticar a cura com arte, devendo assim o
aspirante experimentá-la.
por Luís Felipe da Silva Visconde e Leonardo Araujo Soriano
O Workshop “As disparidades da
medicina no Brasil: o mais, o
menos e a soma” foi uma
experiência
bastante
engrandecedora que o grupo PETFMRP teve a oportunidade de
organizar em 2014. Esse evento
teve, como principal objetivo,
reunir profissionais de diversas
áreas da saúde e promover um
ambiente profícuo de debates e
discussões,
focalizados
na
proposta de se promover a
medicina em um país que
apresenta grandes disparidades
socioeconômicas.
Organizado nos dias 25 e 26 de
julho (2014), o evento primou por
conceder, tanto ao público
acadêmico,
quanto
aos
profissionais de saúde do país, a
oportunidade de comungar de
experiências
diversas
relacionadas à promoção da
saúde. O grupo PET-FMRP buscou
trazer, para o ambiente de
discussões acadêmicas, parte das
realidades
enfrentadas
em
diferentes contextos sociais e
econômicos do Brasil. A proposta
do workshop foi tentar alimentar
a reflexão do público presente,
atentando-o para a existência de
experiências
bem
sucedidas
mesmo em realidades de
limitações. No primeiro dia do
evento,
contamos
com
a
participação do Dr. Josinaldo da
Silva Atikum, primeiro indígena a
se formar em medicina no país.
Nascido em um pequeno
município
do
sertão
pernambucano,
Josinaldo
vivenciou, como poucos, as
dificuldades enfrentadas pelo
setor de saúde em uma
região brasileira marcada
pela carência de recursos
humanos e financeiros. Sua
palestra
permitiu
compartilharmos de ricas
experiências e ampliou o
entendimento
sobre
a
promoção da saúde em
regiões negligenciadas do
país. Também contamos com
a participação do médico
Luciano César Pontes de
Oliveira, integrante do corpo
clínico do Hospital SírioLibanês, que nos mostrou
uma
realidade
distinta
daquela que vivenciamos no
setor público de saúde. Sua
apresentação colocou-nos em
contato com parte da rotina e
dos princípios que regem
uma das instituições mais
prestigiadas do setor de
saúde suplementar no Brasil.
Participaram do encontro,
também, os professores Dr.
Américo Seiki Sakamoto e Dr.
André Márcio Vieira Messias,
docentes dos Departamentos
de Neurociências e Ciências
do
Comportamento
e
Oftalmologia,
Otorrinolaringologia
e
Cirurgia de Cabeça e Pescoço,
respectivamente, da FMRP.
Ambos buscaram abordar o
manejo de procedimentos
altamente tecnológicos no
setor de saúde e as maneiras
pelas quais tais tecnologias
poderiam ser inseridas e
disponibilizadas no SUS.
O segundo dia do evento contou com
uma mesa redonda de discussões
presidida pelo Prof. Dr. José Sebastião
dos Santos, docente do departamento
de Cirurgia e Anatomia, que tem
ampla experiência em gestão no SUS,
tendo sido Secretário Municipal de
Saúde Ribeirão Preto e Coordenador
da Unidade de Emergência da
HCFMRP-USP. Também participaram
desse debate:
• O Prof. Dr. Gutemberg de Melo
Rocha, docente Sênior da FMRP
bastante
reconhecido
pelos
trabalhos que desenvolve na
medicina
de
família
e
comunidade;
• O Prof. Dr. João Paulo Dias Souza,
docente do departamento de
Medicina Social da FMRP e que
trabalhou
na
OMS,
tendo
mostrado a visão dessa instituição
sobre o Sistema de Saúde do
Brasil;
• A Dra. Ir. Monique Marie
Marthe
Bourget,
médica
canadense que ajudou na
implantação do Programa de
Saúde da Família no Brasil e que
coordena o Programa de Saúde
da Família do Hospital Santa
Marcelina, em São Paulo.
• O Dr. Guilherme Yamashita
Anami, médico oftalmologista,
que compartilhou, conosco, a
experiência de trabalhar na
Marinha do Brasil, nas regiões
fronteiriças do país.
Mesa redonda realizada com todos os palestrantes no encerramento do evento.
Ao final do evento, os participantes mostraram-se
satisfeitos com a abordagem proposta pelo workshop, segundo
evidenciou uma pesquisa de satisfação, realizada ao término do
encontro. Grande parte do público julgou pertinente a escolha dos
temas e palestrantes. Além disso, o evento possibilitou o contato
com estudantes de faculdades diferentes, favorecendo o diálogo e o
intercâmbio de opiniões. Por fim, vale ressaltar que, além do
alcance externo do evento, o workshop contribuiu, também, para
um crescimento dos próprios integrantes do PET-FMRP, tanto pela
organização de um evento desse porte quanto pelos conhecimentos
acerca dos assuntos discutidos.
Grupo PET e os palestrantes: Dr. Luciano César Pontes de Azevedo, Dra.
Irmã Monique e Prof. Dr. Américo Ceiki Sakamoto
por Ionara de Medeiros
Grupo PET -2014
Exposição de Fotografias e Desenhos
Apresentação Gabriel Bordin
Arte nas portas do banheiro
Palco interno – Centro de Vivências da Medicina
Apresentação de teatro – Cia Covil de Teatro
VIII Concurso de Fotografias
• Vencedora da categoria foto colorida:
Cinque terre- João Vitor Bizinoto
• Vencedora da categoria foto preto e branco:
Camden Town - João Vitor Bizinoto
por Bárbara Regina Vieira e Alessa de Andrade Santana
Fazendo um brainstorm de possíveis assuntos para o projeto, pensamos em coisas que fossem
interessantes e agradassem a todos...Cinema? Música? Com certeza eram ótimas opções, mas
surgiu então uma ideia que aguçaria um pouco mais de sentidos: culinária!
O objetivo então seria ampliar nosso conhecimento sobre culinária estrangeira, em particular,
sobre um tipo que não é muito comum ou conhecido em nossa região e despertar nos
espectadores a vontade de praticar culinária, não só para aprender a confeccionar um prato,
mas também para descobrir a história por trás dele. O tema escolhido foi: Culinária Mexicana!
O projetinho seria constituído por uma apresentação sobre a origem de pratos típicos
mexicanos, como o burrito e o guacamole. Em seguida, seriam preparados burritos com recheio
de frango e guacamole e servidos para os espectadores. Assim, todos aprenderiam sobre a
história e a confecção prato.
Na origem folclórica dos burritos conta-se que durante a revolução mexicana, entre 1910 e
1921, no bairro de Bella Vista em Ciudad Juárez, Chihuahua, México, um senhor chamado Juan
Méndez vendia comida típica mexicana em barracas de rua, próximo ao Rio Bravo/Rio Grande,
na fronteira do México com os Estados Unidos (Texas).
No bairro de Sunset Heights, cidade de El Paso, Texas, moravam muitos mexicanos que haviam
fugido da revolução. Atraídos pelo bom cheiro da comida de sua terra natal, que chegava a
atravessar o rio, tais mexicanos começaram a fazer encomendas a Juan. Em seguida muitos
americanos também passaram a fazer encomendas.
Para a comida não esfriar, Juan teve a ideia de fazer grandes tortillas de trigo e colocar recheios
como feijão, carne, alface, tomate e molhos, enrolando-as como pacotes para mantê-las
quentes.
Os pedidos aumentaram e Juan decidiu comprar um burro para cruzar o Rio Grande! Mexicanos
e Texanos passaram então a chamar o prato de comida de “burrito” e assim surgiu o nome!
O Guacamole tem origem asteca: “Ahuacatl” significa “abacate” e “mole” é um nome genérico
para “molho”. O nome “guacamole” vem do dialeto Nahuatl, mas sofreu influência da
sonoridade da língua espanhola, na qual "guaca" significa testículo, por causa do seu formato.
Segundo a tradição pré-hispânica, a forma de se fazer guacamole foi ensinada ao povo Tolteca
pelo Deus Quetzalcóatl. Após sua criação pela cultura asteca, chegou à Europa devido à
colonização espanhola.
Receita
Recheio para os burritos:
Frango refogado, desfiado e temperado com: sal; pimenta do reino; pimenta comari; páprica;
cebola; alho; azeite;
Guacamole:
Abacates frescos amassados; tomates frescos picados; sal; coentro; limão;
Adicionais: muçarela; requeijão; tortillas
Mais poesia em nossas vidas!
por Helen Furlan Torina
(Carlos Drummond de Andrade)
“Há um mistério da poesia tal qual há
um mistério da vida. (...) O mistério da poesia
é da sua própria essência, não lhe vem senão
dela própria(...) Os homens entendem-se
através dela para transmitirem, não um saber,
mas o próprio sentido da perplexidade que os
habita” (A Palavra Essencial, Companhia
Editora Nacional).
Esse foi o tema do projetinho “Mais
poesia em nossas vidas”, realizado em março
de 2014 no grupo PET. O tema partiu da
constatação de que, num ambiente rodeado
por informações de grande teor técnico e
científico, em muitos momentos, perdemos a
sensibilidade. Somos capazes de perceber a
poesia existente nas situações de nosso dia-adia? Temos tempo / dedicação para
desenvolver nossa sensibilidade do mundo? O
objetivo, portanto, era despertar a
sensibilidade poética que existe em cada um e
estimular a reflexão sobre o que é a poesia,
como ela se insere no mundo atual, qual o seu
papel na educação e na sociedade.
No primeiro dia, após um breve
histórico da poesia no mundo, assistimos a um
documentário de 2003 feito por Felipe
Nepomuceno e Pedro Asbeg sobre poesia na
visão
de
quatro
poetas
brasileiros
contemporâneos: Arnaldo Antunes, Antonio
Cícero, Carlito Azevedo e Paulo Henriques
Britto*. No curta, os poetas refletem sobre a
definição de poesia ─ Arnaldo Antunes aprecia
a definição de Pound, segundo a qual a poesia
é “a linguagem concentrada de sentidos em
seu grau máximo” ─; expressam o mistério
existente na compreensão da poesia ─ na fala
de Carlito Azevedo, “a poesia não é só
compreensão; ela também é um pouco de
comunhão” ─; discutem sobre os motivos de
seu público escasso e sobre o fazer poético.
Fizemos, depois, uma discussão
orientada pelas seguintes perguntas: Por que a
poesia é tão hermética? Por que e como a
poesia muda ao longo do tempo? Por que é
difícil ensinar poesia? Como isso pode ser
feito? Ler poesia é importante, por quê? Nessa
discussão, pudemos relembrar, por exemplo,
como foi a abordagem da poesia em nosso
ensino, discutindo as diferenças entre nossas
escolas e refletindo sobre qual seria a
abordagem ideal. Sobre esse assunto, Carlos
Drummond de Andrade faz a seguinte crítica:
“A escola enche o menino de matemática, de
geografia, de linguagem, sem, via de regra,
fazê-lo através da poesia da matemática, da
geografia, da linguagem. A escola não repara
em seu ser poético, não o atende em sua
capacidade de viver poeticamente o
conhecimento e o mundo [...]. O que eu pediria
à escola, se não me faltassem luzes
pedagógicas, era considerar a poesia como
primeira visão direta das coisas, e depois como
veículo de informação prática e teórica,
preservando em cada aluno o fundo mágico,
lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica
basicamente com a sensibilidade poética.”
Após toda essa reflexão, o
segundo dia do projetinho foi o
momento de exercitarmos nosso lado
poético! Fizemos uma dinâmica em que
cada petiano levou um poema de sua
escolha para a reunião, já tendo
ensaiado uma forma de interpretá-lo em
voz alta previamente. Uma pessoa
iniciava o recital e passava a vez para
alguém do grupo, que comentava o
poema lido ─ dizendo, por exemplo,
quais impressões provocara em si, o que
o fizera pensar e sentir, quais links
puxara em sua mente. Então o
comentarista recitava o seu poema e
passava a vez para outra pessoa, que
comentava e assim por diante até todos
terem apresentado seus poemas e feito
comentários. Foi uma experiência
agradável de partilha de poemas e
reflexões em grupo!
Esse
projetinho
nos
proporcionou momentos de reflexão
sobre algo que se torna um pouco
esquecido em nosso cotidiano e de
resgate da tentativa de “comunhão” com
as palavras. Uma conclusão possível para
o que aprendemos pode ser extraída das
palavras do poeta mineiro Elias José:
“vivemos rodeados de poesia‛, ou seja,
poesia é tudo que nos cerca e que nos
emociona quando tocamos, ouvimos ou
provamos, poesia é a nossa inspiração
para viver a vida. ‚(...) ser poeta é um
dom que exige talento especial. Brincar
de poesia é uma possibilidade aberta a
todos (...)”.
*O documentário entitula-se “Olho de
Mosca” e está disponível na página:
http://curtadoc.tv/curta/literatura/olho-
/
de-mosca
Acordei bemol
“A poesia não é só
compreensão; ela também é um
pouco de comunhão”
(Carlito Azevedo)
Acordei bemol
Tudo estava
sustenido
Sol fazia
Só não fazia
sentido
(Paulo Leminski)
Por Luis Felipe Visconde e Pedro Henrique Nunes Leite
PARCERIA
CPM e POLIEDRO
por Larissa Oliveira Almeida
Nesse ano de 2014, iniciamos uma nova fase no
Cursinho Popular do PET-Medicina (CPM):
firmamos uma parceria com o Sistema Poliedro de
Ensino, a qual deve se manter também para o ano
de 2015. Através do projeto PV Solidário, que é
uma das iniciativas do programa Poliedro Social, o
CPM passou a receber 100 kits completos da
coleção de livros Pré-Vestibular Poliedro, bem
como assessoria pedagógica através de reuniões
virtuais e também presenciais.
Graças a essa parceria com o Poliedro, pudemos,
em 2014, dobrar o número de vagas ofertadas pelo
CPM (de 50 para 100 vagas), além de praticamente
zerar os gastos com xerox. O dinheiro arrecadado
com as contribuições mensais dos alunos (20 reais)
é agora revertido para os custos do transporte do
material da sede Poliedro, em São José dos
Campos, até Ribeirão Preto.
“O Sistema de Ensino Poliedro (SEP) (...), apoia
iniciativas de escolas que mantêm turmas
específicas de Pré-vestibular com alunos oriundos
do Ensino Médio desprovidos de recursos
financeiros para arcar com esse compromisso. O
SEP assume a responsabilidade de oferecer
coleções didáticas gratuitamente, auxiliando no
projeto pessoal dos alunos que desejam ingressar
em universidades de referência. (...) As unidades
que desenvolvem a ação social fazem a diferença
no futuro de alunos que visam à construção de um
projeto de vida diferenciado e demonstram o seu
valor como instituição de ensino preocupada com
a sociedade”. (texto informado na pagina web do
Poliedro PV Solidário).
“Comparado aos cursinhos convencionais, no
nosso Cursinho os alunos têm pouca carga horária
de aula. Assim, é importante que recebam um bom
material e suporte online para facilitar os estudos
em casa. Nesse sentido, a alta qualidade didática
dos livros do Poliedro, bem como as ferramentas
online (com orientação individualizada de estudos),
abriram portas para nossos alunos desenvolverem
seus potenciais de forma mais independente”.
(Eduardo Orlandim, estudante de medicina e
professor de geografia no CPM desde 2011)
“Estava acostumada com um conteúdo mais
básico de preparação, diferente do material do
Poliedro. Por conta dessa mudança, passei a
ter um conhecimento mais aprofundado com
relação a cada matéria. Agora os resultados
estão sendo de acordo com o que um dos meus
professores de História disse uma vez: quando
o treino é difícil, o jogo fica mais fácil’.
(Hariff Barbosa, aluna do CPM 2013 e 2014, aprovada em Psicologia
na USP)
CONGRESSO PAULISTA DE EDUCAÇÃO MÉDICA
e CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO MÉDICA – 2014
Nos dias 22, 23 e 24 de maio de 2014, as
petianas Larissa Almeida, Helen Torina e Maria
Rita Margarido compareceram, em nome do
grupo PET-Medicina, ao IX Congresso Paulista de
Educação Médica (CPEM). O evento, que é
anualmente organizado pela Associação Brasileira
de Educação Médica (ABEM), aconteceu na
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
(FAMERP), a cerca de 200 km de Ribeirão Preto, e
trouxe como discussão central a questão: “Como
formar médicos no Brasil frente aos atuais
desafios da saúde”.
Além de debates sobre educação e palestras
abordando temas pertinentes à saúde e à
formação médica de todo o país, a tarde de
sábado do congresso foi reservada para a
apresentação de mais de 125 trabalhos científicos
e relatos de experiência. Nosso grupo PET
apresentou três pôsteres: dois trabalhos
científicos e um relato de experiência, ambos
fundamentados nos resultados preliminares
relativos à pesquisa apoiada no projeto da Tutoria,
que vem sendo desenvolvida pelo grupo. Um de
nossos trabalhos: “Análise das Subescalas de
Motivação Acadêmica em Estudantes Recém
ingressados no curso de Medicina”, recebeu o
prêmio de Melhor Trabalho Científico do
congresso – categoria Pesquisa Original. Como
prêmio, recebemos uma inscrição para o 52º
Congresso Brasileiro de Educação Médica
(COBEM).
por Larissa Oliveira Almeida
e Helen Furlan Torina
principal foi “As Escolas Médicas como
Transformadoras da Sociedade”, abrangendo
vários eixos temáticos ao longo da programação,
como “processo de avaliação”, “capacitação
docente”, “ensino de urgência e emergência” e
“internato médico”. A abertura oficial da sextafeira contou com a presença dos Ministros da
Saúde e da Educação e foi encerrada com a
apresentação do Ballet Bolshoi, cuja única escola
fora da Rússia situa-se em Joinville.
Abertura COBEM 2014 : Ballet Bolshoi Joinville
No sábado e no domingo, além de várias
mesas redondas sobre os eixos temáticos, houve a
sessão de pôsteres e apresentação oral, em que
os petianos Larissa Almeida, Helen Torina e
Leonardo Soriano apresentaram três pôsteres
referentes à pesquisa em andamento do projeto
da Tutoria. Além disso, no domingo, o petiano
Leonardo fez uma apresentação oral intitulada
“Mudanças em aspectos relacionados à
autorregulação da aprendizagem em estudantes
de medicina no primeiro semestre do curso
médico.”
Imagem de divulgação CPEM 2014 São José do Rio Preto
O 52º COBEM, também organizado pela
ABEM, ocorreu de 31 de outubro a 03 de
novembro de 2014 no Centro de Eventos da
Expoville na cidade de Joinville - SC. O tema
Imagem de divulgação COBEM 2014 Joinville
A Tutoria, desenvolvida desde 2013 em parceria
com o CAEP (Centro de Apoio Educacional e
Psicológico) da FMRP-USP, é atualmente o foco
de um dos principais projetos de pesquisa do
grupo.
PET e CARL no COBEM 2014 Joinville
Por meio desse projeto, estamos quantificando
e qualificando os fatores relacionados ao
desempenho acadêmico (autorregularão do
aprendizado,
traços
de
personalidade,
motivação pessoal e ajustamento social) dos
estudantes do primeiro ano de medicina. Isso é
feito por meio da aplicação de 5 questionários
para esses estudantes em 3 diferentes
momentos do curso (início do primeiro
semestre, final do primeiro semestre e final do
segundo semestre), mais uma entrevista de
grupo focal realizada no final do primeiro
semestre com representantes dos 7 grupos de
tutoria. Nosso objetivo, além de avaliar o
Programa de Tutoria e o papel dos peers
(função de cotutor desempenhada pelos
petianos até o momento) para identificar falhas
e introduzir melhorias no programa, é prever
fatores de insucesso para, futuramente,
podermos contribuir para o sucesso dos alunos
que ingressam na faculdade de medicina
Helen (esq.) , Larissa (centro) e Leonardo (dir). Apresentação de pôsteres COBEM 2014 Joinville.
Sobre a experiência de ser “peer” –
Tutoria
por Bárbara Vieira e Alessa de Andrade
geralmente o Hospital das Clínicas (HC) da
O programa de tutoria é um
FMRP, onde o professor comandava a
projeto de iniciativa do Centro de Apoio
reunião e as discussões do dia, cujos
Educacional e Psicológico (CAEP) do
temas eram determinados pelo que os
Campus da USP de Ribeirão Preto. Tal
alunos queriam falar e tinham dúvidas a
projeto foi criado com o intuito de auxiliar respeito.
os alunos recém ingressados na
A função do aluno peer é
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto convocar os calouros a participarem das
nos mais diversos aspectos da vida
reuniões, aproximando-se deles para que
universitária. A ideia surgiu a partir dos
haja o interesse na tutoria, além de
problemas expostos pelos próprios alunos encontrar os melhores dias e horários
quando entram na faculdade, tais como:
para as reuniões, "fazer a ponte" entre
moradia, localizações do Campus, livros,
docente e calouros, uma vez que
atividades extracurriculares , esportes,
inicialmente estes tendem a ver os
ligas etc. A parceria com o Programa de
professores como pessoas inacessíveis e
Educação Tutorial (PET) se deu pela
saber quais são os maiores interesses e
necessidade de haver alunos de
dúvidas. Mas não somente de reuniões se
graduação envolvidos, pois assim ocorre
deu o programa! Muitos alunos
uma relação entre alunos, com realidades demonstraram interesse em conhecer o
mais próximas, o que auxilia na
centro cirúrgico, assim, foram feitas
comunicação inicial.
visitas ao local com o grupo, para eles já
Para isto acontecer, foram
irem se familiarizando e tendo a noção de
realizados encontros quinzenais em
que o HC é um local de todos os alunos,
pequenos grupos de 13 ou 14 calouros,
os quais devem saber usufruir do
além de um docente e o "peer", um aluno conhecimento que pode ser tirado dali.
do 2º ou 3º ano. O local de encontro era
Além disso, confraternizações foram
feitas em outros ambientes que não o da
faculdade, justamente para haver uma
relação mais horizontal e descontraída
entre os pessoas envolvidas, tendo sido
feita uma viagem, no ano de 2013, a uma
cidade próxima a Ribeirão Preto e
almoços e jantares em restaurantes.
Grupo de tutoria em visita ao
centro cirúrgico.
O grupo PET acredita de fato
neste projeto, como sendo algo
novo e necessário ao atual
ambiente universitário, que se
encontra com problemas
relacionados a trotes e hierarquia
virtual criada pelos próprios
alunos, o que é evidenciado até
pelas mídias do país, que
frequentemente divulgam
episódios de desrepeito. Toda
essa situação cria uma sensação
de medo ao novo por parte de
muitos calouros, os quais ficam
com receio de se integrar em
muitas atividades. Dessa forma,
embora as atividades da Tutoria
pareçam simples, os resultados e
devolutivas têm sido muito bons
por parte dos alunos que a
frequentaram durante o primeiro
semestre, pois os mesmos alegam
ter havido melhora em suas
dificuldades em interação e
adaptação à vida universitária.
Portanto, a Tutoria faz a diferença
para aqueles que mais precisam,
ou seja, os que chegam ao
ambiente acadêmico de forma um
pouco desajustada.
Um grupo de tutoria: no centro, o professor – tutor João Marcello Furtado e à
esquerda, a aluna peer Bárbara com os calouros.
Sobre a experiência de ser peer – Tutoria
Depoimentos de alunos "peers":
“A admissão na faculdade pode ser uma fonte tanto de imensas alegrias quanto de enormes
dúvidas. Apesar de ser uma faca de dois gumes, a entrada no Ensino Superior, inegavelmente,
oferece uma série de sensações novas. Por isso, é muito comum se sentir muito perdido e se ter a
necessidade de um apoio. É nesse momento que a Tutoria pode ser muito positiva. Ser um aluno
peer foi uma experiência desafiadora, mas não menos gratificante. Foi preciso esforço durante a
pesquisa sobre a influência do mentoring no sucesso acadêmico durante o início da faculdade.
Contudo, ter a oportunidade de ajudar, mesmo que só um pouco, na adaptação de meus calouros
durante esse período difícil foi uma sensação incrível. Além disso, o próprio estudo sobre os
temas abordados na tutoria foi muito rico e informativo para meu próprio desenvolvimento como
estudante de Medicina. O estudo teórico de certas nuances do processo de aprendizagem, como
o aspecto motivacional, pode transformar o modo de encarar a faculdade e suas atividades. A
tutoria é um espaço de compartilhamento de experiências. Como peer, tentei ser o mais imparcial
possível ao apresentar as diversas atividades nas quais os alunos poderiam se engajar, de modo
a não influenciá-los. Nesse sentido, o professor tutor foi peça fundamental na transformação do
espaço da tutoria em um ambiente de aconselhamento e orientação. As atividades realizadas
tiveram o grande mérito de aproximação entre alunos e mestre. Todos nós pudemos desmistificar
um pouco a visão que se tem do professor inacessível e alheio Às preocupações e expectativas
dos alunos”
(Pedro Nunes, Meca – Medicina 62)
“Eu já havia participado do Grupo de Tutoria quando calouro, tendo sido uma experiência
marcante para mim. Por meio dela, pude conhecer um novo Universo dentro da Faculdade, muito
além do ambiente acadêmico, me fez acender um interesse pelo PET e propiciou-me fazer
iniciação científica com o então tutor do me grupo. Desse modo, queria que os novos calouros
pudessem ter essa mesma experiência. Esforcei-me, então, para seguir os passos da veterana que
tinha guiado o meu grupo: como peer, tive que trabalhar a questão de apresentar os calouros a
essas mesmas inúmeras possibilidades da faculdade, sem tecer julgamentos a respeito delas, o
que me fez rever algumas das minhas opiniões. Além disso, foi muito interessante ver como
alguns deles se espelhavam em mim, o que foi um honra, e tornou ainda mais gratificante essa
nova experiência dentro da Tutoria”
(Vinícius Aniceto, Bolonhesa – Medicina 62)
“Participei do programa de Tutoria tanto no meu primeiro ano de faculdade quanto no m eu
segundo, como um dos alunos peers. Essa atividade foi de grande ajuda em meus primeiros
contatos com a faculdade, e acredito que ajuda a muitos membros a se acostumar a esse
estranho novo ambiente com que esta entrando em contato. Assim, em meu segundo contato
com o programa, tentei passar aos alunos essa mesma ajuda que recebi e espero que, assim
como eu, tenha motivado-os a ajudar outros alunos se receberem essa oportunidade”
(Breno Bertozo Silva, Perônio - Medicina 62)
A, hemi ou holometábolos: o que
somos?
por Vinícius Aniceto e Pedro H. N. Leite
“Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor
Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. (...) Que me
aconteceu ? — pensou. Não era nenhum sonho”. Assim começa a obra “A
Metamorfose”, do escritor judeu-alemão Franz Kafka, conhecida de muitos. É
iniciando pelo clímax da história, e sem contar as razões que levaram para tal,
que Kafka instiga o leitor a querer saber o que aconteceu/o que vai acontecer
com Gregor Samsa, e, assim, dá início a uma narrativa expressionista, dividida
em três partes:
• Na primeira, o leitor acompanha um Gregor Samsa recém metamorfoseado
e a maneira como a família recebe a notícia;
• Na segunda, o leitor percebe um Gregor isolado e rejeitado;
• Na terceira, há o fim de um Gregor fraco e abalado psicologicamente.
É com uma escrita desapegada,
imparcial e atenciosa ao menor detalhe, que o
autor vai mostrando ao leitor os conflitos
existenciais pelos quais o típico personagem
kafkiano, Gregor Samsa, passa no desenrolar
da história. Por meio da leitura, fica evidente
que a metamorfose de Gregor o liberta de seu
fardo: o trabalho e a dependência de sua família.
http://devysaja.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.htm
l
Em contrapartida, isso escancara os interesses que sustentavam as suas relações
familiares e evidencia sua solidão. Com essa metáfora, Kafka critica diretamente
a realidade capitalista: aquele que não mais produz é rejeitado pela sociedade.
Para compreender a obra além dessa crítica estampada, é preciso
conhecer um pouco mais do próprio escritor. Franz Kafka era descendente de
uma família pequeno-burguesa (classe média
alta), cujos pais eram Julie Kafka e Hermann
Kafka, eminente varejista, que atingiu tal posto
depois de trabalhar como representante de vendas
de viagens (profissão de Gregor Samsa). O escritor
também tinha dois irmãos, Georg e Heinrich
(falecidos aos 15 e 6 meses de idade,
respectivamente), e três irmãs mais novas,
Gabriele, Valerie e Ottilie (sua preferida, muito
parecida com Greta, irmã de Gregor Samsa).
http://mataramomickey.blogspot.com.br
Embora na maior parte do tempo, os pais
/2012/06/tema-2-metamorfose-deestivessem ausentes e as crianças tivessem sido criadas por governantas e
funcionários, a relação entre Kafka e a mãe é descrita como terna, amorosa e de
companheirismo, enquanto que, com o pai, a relação sempre é descrita como
conturbada. Prova disso, é o livro “Carta ao Pai”, uma obra de mais de cem
páginas escritas entre 10 dias, em que Kafka escancara toda a sua mágoa em
relação ao pai autoritário, a quem chama, alternadamente, de "tirano",
"regente", "rei" e "Deus“.
Partindo disso, percebe-se, então, em “A Metamorfose”, várias das
tensões familiares de Kafka: o pai autoritário, a mãe amorosa, porém ineficiente,
e a irmã preferida. A dor da rejeição do pai é claramente mostrada em alguns
trechos, como: “(...) algo passou raspando sua cabeça e rolou até um pouco mais
à frente: era uma maçã, logo seguida de outra. Temeroso,
Gregor deteve-se, considerando inútil continuar correndo, pois o pai havia
decidido bombardeá-lo (...)”. A relação de Gregor com a irmã também merece
destaque: conforme a irmã se torna independente financeiramente, seus laços
fraternos tornam-se mais frágeis, a tal ponto que ela o abala psicologicamente
por querer vê-lo eliminado: “– Ele tem que ir embora! – gritou a irmã. – É o
único jeito, pai. O senhor precisa se desfazer da ideia de que aquilo é Gregor.
Acreditar nisso, durante tanto tempo, tem sido a nossa desgraça. Como pode
ser Gregor? Se fosse, há muito tempo teria percebido que seres humanos não
podem viver com um bicho como aquele. E teria partido por conta própria”.
No final do livro, a morte de Gregor é julgada como uma libertação
a todos: “Confortavelmente reclinados nos assentos, falaram das perspectivas
futuras, que, bem vistas as coisas, não eram más de todo. Discutiram os
empregos que tinham, o que nunca tinham feito até então, e chegaram à
conclusão de que todos eles eram estupendos e pareciam promissores”. Além
disso, assim como no início da obra, os pais se apoiavam sobre Gregor, o livro
termina deixando implícito que passarão a se apoiar sobre Greta, a irmã de
Gregor, reiniciando o ciclo: “O reconhecimento desta transformação
tranquilizou-os e, quase inconscientemente,trocaram olhares de aprovação
total,concluindo que se aproximava a altura de lhe arranjar um bom marido”.
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O livro “A Metamorfose” foi escolhido pelo grupo PET como leitura
de férias, porém foi lido em inglês, sob o título de “The Metamorphosis”. Ainda
que à época da sugestão se pensasse que não conteria temas ligados à Medicina,
a discussão que se seguiu a ele, aliada à realização de um CinePET sobre a obra,
mostrou o contrário: por diversas vezes, ao longo da graduação, o aluno pode se
sentir um pouco preso a uma grade horária restrita e bastante cheia. As
matérias de todo o curso médico, apesar de serem bastante interessantes, são
extremamente complexas e, portanto, demandam muito tempo e esforço dos
alunos, para serem internalizadas. Assim, como Gregor Samsa, o aluno, muitas
vezes, tem a impressão de estar preso no corpo de um inseto ou, decifrando a
metáfora de Kafka, preso em si mesmo.
Essa foi uma das visões sobre a
obra que foi obtida após a
realização do CinePET, uma
atividade cultural promovida pelo
grupo a fim de quebrar a rotina de
estudos, e, ao mesmo, tempo,
ampliar horizontes culturais.
Assim, o CinePET de 2014 apresentou o filme “A Metamorfose”, uma versão
russa de 2002, dirigida por ValeriFokin, e estrelada por AvangardLeontyev, Igor
Kyasha, Natalia Shyets, Tatyana Lavrova e Yevgeny Mironov. Essa adaptação
tem enfoque maior no aspecto teatral da performance, valorizando a expressão
corporal e facial em detrimento ao uso de efeitos visuais. O fato de o ator que
interpreta GregorSamsa não sofrer nenhum alteração física visível ao
espectador na adaptação e, mesmo assim, ser execrado por seus familiares e
conhecidos é capaz de provocar um grande incômodo – um incômodo
kafkiano.
O CinePET contou com a presença tanto de pessoas que já haviam
lido o livro quanto de pessoas que tiveram ali o primeiro contato cm a obra. Isso
enriqueceu o compartilhamento de visões diferentes sobre o livro e sobre sua
simbologia. Desse modo, durante a noite de 20 de março de 2014, os alunos
PETianos e os que prestigiaram o evento tiveram a oportunidade de assistir ao
filme e participar de uma discussão sobre a obra, personificada em duas
apresentações expositivas.
A primeira apresentação foi realizada pelo acadêmico do segundo
ano Vinícius Aniceto. Seu enfoque foi primariamente informativo: foram
descritas a sinopse do livro e sua estrutura narrativa; e foram estabelecidas as
características mais marcantes de cada personagem. Alémdisso, entramos em
contato com a biografia do autor e foram abordados vários aspectos dela que
influenciaram sua obra.
A segunda apresentação teve autoria do acadêmico do sexto ano
Fábio Camacho, e também professor de Literatura e Línguas Estrangeiras. O
palestrante apresentou um panorama sobre a visão em relação à Medicina que
permeia toda a literatura, abarcando autores como Virginia Woolf até o próprio
Kafka. A metamorfose de Kafka pode ser interpretada como uma doença
degradante, tanto pela incapacidade que acomete o personagem, como pela
visão que os outros tem em relação ao doente. A transformação de Gregor
ocasiona diversas emoções nas pessoas que convivem com ele, como repulsa,
piedade, raiva, tristeza... Sentimentos que podem ser encontrados, mesmo que
intimamente, em cuidadores de pessoas doentes.
O CinePET foi realizado em um clima descontraído, com apreciação do filme
acompanhada de pipoca e refrigerantes. Mesmo assim, conseguiu atingir o
objetivo de aprofundamento em temas relacionados à Medicina presentes no
filme assistido/obra lida pelo grupo.
Fonte da imagem de fundo: http://lh4.ggpht.com/-Be0uWypbgXY/T8qZRj7jlbI/AAAAAAAAsPs/7CpEoLXEd7M/s1600h/metamorfoses%252520bizarras%252520sem%252520personalidade%25255B7%25255D.jpg
Perto do Coração Selvagem
por Helen Furlan Torina
Uma alma inquieta... Talvez
assim possamos começar a pensar sobre
Clarice Lispector. Sim, apenas começar,
pois desvendar os mistérios dessa
intrigante escritora é uma tarefa
praticamente impossível ─ como ela
mesma pode manifestar em sua fala:
“Me chamam de hermética. Como é que
eu posso ser popular sendo hermética?
(...) Eu me compreendo. De modo que
não sou hermética para mim. Bom, tem
um conto meu que não compreendo
muito bem…” Clarice foi o alvo da
discussão de livros do grupo PET no início
de 2014, com sua obra “Perto do coração
selvagem”.
Seu primeiro romance, escrito
aos 20 anos, “Perto do Coração
Selvagem” recebeu o prêmio pela
Fundação Graça Aranha de melhor
romance de estreia em 1944. O destaque
foi o estranhamento causado por suas
características inovadoras: a linguagem
onírica e sensorial, a ruptura da forma de
enredo tradicional, o tempo psicológico e
não cronológico e a introdução dos
fluxos de consciência. O título traduz o
desejo de, segundo a autora, “pôr em
palavras um mundo ininteligível e
impalpável”; “coração” aponta para o
foco no sentir e “selvagem” exprime a
ausência de um compromisso social, isto
é, a exposição das entranhas de um
coração não domesticado.
Portanto, para ler Clarice, é
necessário
despojar-se
da
ótica
racionalista que predomina no mundo
atual. Clarice sente e faz sentir, por isso
cria uma dificuldade de compreensão e
um certo incômodo para o leitor. Suas
questões existencialistas e a forma como
as coloca perturbam a organização
impecável dos pensamentos das pessoas
que apenas alimentam a razão. Numa
entrevista, ela diz: “Por exemplo, o meu
livro ‘A Paixão Segundo G.H’, um
professor de português do Pedro II veio
até minha casa e disse que leu quatro
vezes e ainda não sabe do que se trata.
No dia seguinte uma jovem de 17 anos,
universitária, disse que este é o livro de
cabeceira dela. Quer dizer, não dá para
entender. Suponho que não entender
não é uma questão de inteligência e sim
de sentir, de entrar em contato. Tanto
que o professor de português e
literatura, que deveria ser o mais apto a
me entender, não me entendia. E a moça
de 17 anos lia e relia o livro, não é? O
que é um alívio.”
“Ler Clarice é quase
um desafogamento. É
perder o ar para saber
como é respirar.”
(Gabriella Lima*)
*Gabriella Lima é estudante de Pedagogia,
cronista e resenhista do site Recanto das Letras.
Em “Perto do Coração Selvagem”,
Clarice despeja no papel as impressões mais
profundas da personagem Joana, que não é
mocinha, nem vilã, nem anti-heroína. Joana
apenas é, ela não necessita fazer sentido.
Uma mulher à frente de seu tempo,
ambivalente, com uma trajetória de exílio,
Joana é “um feixe vivo de possibilidades que
se contradizem e anulam”, de acordo com sua
própria criadora. Tais características são mal
compreendidas pelas pessoas com quem se
relaciona, como vemos na opinião da tia a seu
respeito: “É uma víbora, Alberto, nela não há
amor nem gratidão. Inútil gostar dela, inútil
fazer-lhe bem. Eu sinto que essa menina é
capaz de matar uma pessoa...”
intensamente em seu mundo interior,
buscando o sentido da existência, mas nunca
o encontrava, permanecendo infeliz ─ é o que
se depreende de sua profunda frase: “Eu
mesma posso morrer de sede diante de mim”.
Extremamente rico em significado,
linguagem e forma, o romance envolve o
leitor em reflexões profundas sobre temas
diversos como vida, morte, casamento,
felicidade. Faz depararmo-nos com nosso
próprio mundo interior em busca de respostas
para
perguntas
que,
talvez,
sejam
irrespondíveis, como nos sugere a própria
Clarice: “Aprenda a encontrar tudo o que
existe dentro de você”.
Já a própria personagem tem outra
visão de si mesma e está sempre a pensar
sobre sua essência. “Titia, ouça-me, eu
conheci Joana, de quem lhe falo agora. Era
uma mulher fraca em relação às coisas. Tudo
lhe parecia às vezes preciso demais,
impossível de ser tocado. E, às vezes, o que
usavam como ar de respirar, era peso e morte
para ela. Veja se compreende a minha
heroína, titia, escute. Ela é vaga e audaciosa.
Ela não ama, ela não é amada.(...) No entanto
o que há dentro de Joana é alguma coisa mais
forte que o amor que se dá e o que há dentro
dela exige mais do que o amor que se recebe.
Compreende, titia?” Joana, assim como
Clarice, era uma alma inquieta, que vivia
─ Queria saber: depois que se é
feliz o que acontece? O que vem
depois? (...) Ser feliz é para se
conseguir o quê?”
─ “(...) Quem sabe? Talvez um
dia você mesma possa
respondê-la de algum modo...
(Perto do Coração Selvagem)
“Eu escrevo sem esperança de
que o que eu escrevo altere
qualquer coisa.”
“Quando não escrevo, estou morta”
(Clarice Lispector)
O ENIGMA DE ESPINOSA
por Alessa Santana de Andrade
“O Enigma de Espinosa”, do
mesmo autor de “Quando Nietzsche chorou”,
Irvin D. Yalom, é um romance que, como o
próprio escritor afirmou, poderia de fato ter
acontecido. A história é narrada em dois períodos,
sendo um no século XVII, em que o filósofo
Bento Espinosa viveu, e outro entre as duas
grandes guerras, época contemporânea do outro
personagem chave da história, Alfred Rosenberg,
que foi um ideólogo nazista e forte defensor do
antissemitismo. A história é uma ficção permeada
por vários acontecimentos baseados em fatos
reais. Trata-se de uma ficção, pois a amizade entre Bento e Franco, narrada no
período do século XVII, nunca existiu, ou pelo menos, não há nenhum relato de que
ela tenha existido. Assim como no outro tempo da narração, no entre guerras, a
relação entre Rosenberg e seu psicoterapeuta, Friedrich, também foi criada pelo
autor.
Para os leitores que já tiveram interesse em se informar sobre o
grande filósofo que foi Espinosa, não é nenhuma novidade a informação de que se
sabe muito pouco sobre a vida pessoal dessa grande personalidade, sendo a sua
excomunhão pela comunidade judaica um dos poucos fatos conhecidos e
documentados sobre sua vida. Este fato ocorreu devido a suas ideias consideradas
heréticas na época, e o fez ser ignorado e esquecido até mesmo por seus familiares
mais próximos. Apesar deste fato, é notório na obra como Bento se mantém rígido e
não demonstra forte sentimento em relação a isso. E é justamente neste aspecto
que Yalom, que também é médico psiquiatra, trabalha fortemente no livro, pois o
tempo todo o que ele tenta fazer é desvendar o mundo interior de seus dois
protagonistas, que são o Bento Espinosa e o Alfred Rosenberg. Enquanto o primeiro
se trata de um judeu excomungado e autor de obras relevantes que foram
saqueadas pela força-tarefa nazista durante a Segunda Guerra Mundial, o segundo
se trata de um antissemita veemente e membro do Partido Nazista, responsável por
saquear qualquer objeto de valor na Europa inteira durante a guerra, e foi,
portanto, ainda que de forma indireta, responsável pela captura das obras de
Espinosa. Agora, a razão pela qual um antissemita se interessaria pela obra de um
judeu, ainda que este tenha sido excomungado, é algo que o leitor só saberá se ler o
livro. Para ajudar nessa missão, como dito, o próprio Yalom tenta penetrar no
psicológico de seus protagonistas, fazendo uso de mais dois personagens, Franco e
Friedrich, contemporâneos de Espinosa e Rosenberg, respectivamente, que
manterão longos diálogos com os protagonistas a fim de tentar compreende-los.
Desta forma, esta obra de Yalom é indicada por vários motivos, além
de se poder ter acesso à parte da filosofia de Espinosa, que se encontra muito mais
acessível do que em qualquer uma de suas complexas obras, o autor também nos
leva a uma profunda análise psicológica de seus protagonistas.