Apresentação do PowerPoint
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Programa de Educação Tutorial (PET) Ministério da Educação e Cultura (MEC) Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Universidade de São Paulo Tutor Prof. Dr. Jayter de Paula Editores Helen Furlan Torina Alex Diniz Redação Alessa de Andrade Santana Bárbara Regina Vieira Helen Furlan Torina Larissa Oliveira Almeida Leonardo Araujo Soriano Luis Felipe Silva Visconde Ionara de Medeiros Pedro Henrique Nunes Vinicius Aniceto Capa José Henrique Segantin Correspondência PET – FMRP Av. Bandeirantes, 3900 CEP 14049-900 www.pet-fmrp.com.br Plano de fundo: Kandinsky – Composition VIII As disparidades da medicina no Brasil: o mais, o menos e a soma Sarau Projetinho: “Culinária – uma paixão, uma arte” Mais poesia em nossas vidas! Lewis e Tolkien: da amizade ao mundo da fantasia Parceria CPM e Poliedro Congresso Paulista de Educação Médica e Congresso Brasileiro de Educação Médica 2014 Sobre a experiência de ser peer – Tutoria A, hemi ou holometábolos: o que somos? Perto do Coração Selvagem O Engima de Espinosa Por Prof. Dr. Jayter Silva de Paula Não basta saber que existem lugares no mundo, como no Brasil, com tamanha discrepância social, onde a medicina transparece suas disparidades. É fato, porém não regra proporcional a todos elementos da sociedade, que a assistência médica reflete consideravelmente as condições socioculturais da população. Devem ser vangloriadas todas as ações individuais, ou não, coordenadas ou espúrias, de melhoria social e das condições de saúde. Este foi um dos pontos fortes das atividades do grupo PET – FMRP-USP em 2014, que pôde trazer de forma inédita em um evento, o vislumbre e a discussão do que se tem de “mais”, “menos” e somado nas ações de médicos atuantes nas diversas realidades do Brasil. Mais ainda, no cotejo de suas atividades, a Vedas! 2015 apresenta as atividades culturais do grupo, com um relampejo, um pestanejar de ideias e sensações. Buscou-se ver além da “cegueira” artística da formação médica ortodoxa, apresentando um mergulho nas expressões e sensações da poesia, música, culinária, dentre outras. Afinal de contas, ser médico ainda é praticar a cura com arte, devendo assim o aspirante experimentá-la. por Luís Felipe da Silva Visconde e Leonardo Araujo Soriano O Workshop “As disparidades da medicina no Brasil: o mais, o menos e a soma” foi uma experiência bastante engrandecedora que o grupo PETFMRP teve a oportunidade de organizar em 2014. Esse evento teve, como principal objetivo, reunir profissionais de diversas áreas da saúde e promover um ambiente profícuo de debates e discussões, focalizados na proposta de se promover a medicina em um país que apresenta grandes disparidades socioeconômicas. Organizado nos dias 25 e 26 de julho (2014), o evento primou por conceder, tanto ao público acadêmico, quanto aos profissionais de saúde do país, a oportunidade de comungar de experiências diversas relacionadas à promoção da saúde. O grupo PET-FMRP buscou trazer, para o ambiente de discussões acadêmicas, parte das realidades enfrentadas em diferentes contextos sociais e econômicos do Brasil. A proposta do workshop foi tentar alimentar a reflexão do público presente, atentando-o para a existência de experiências bem sucedidas mesmo em realidades de limitações. No primeiro dia do evento, contamos com a participação do Dr. Josinaldo da Silva Atikum, primeiro indígena a se formar em medicina no país. Nascido em um pequeno município do sertão pernambucano, Josinaldo vivenciou, como poucos, as dificuldades enfrentadas pelo setor de saúde em uma região brasileira marcada pela carência de recursos humanos e financeiros. Sua palestra permitiu compartilharmos de ricas experiências e ampliou o entendimento sobre a promoção da saúde em regiões negligenciadas do país. Também contamos com a participação do médico Luciano César Pontes de Oliveira, integrante do corpo clínico do Hospital SírioLibanês, que nos mostrou uma realidade distinta daquela que vivenciamos no setor público de saúde. Sua apresentação colocou-nos em contato com parte da rotina e dos princípios que regem uma das instituições mais prestigiadas do setor de saúde suplementar no Brasil. Participaram do encontro, também, os professores Dr. Américo Seiki Sakamoto e Dr. André Márcio Vieira Messias, docentes dos Departamentos de Neurociências e Ciências do Comportamento e Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, respectivamente, da FMRP. Ambos buscaram abordar o manejo de procedimentos altamente tecnológicos no setor de saúde e as maneiras pelas quais tais tecnologias poderiam ser inseridas e disponibilizadas no SUS. O segundo dia do evento contou com uma mesa redonda de discussões presidida pelo Prof. Dr. José Sebastião dos Santos, docente do departamento de Cirurgia e Anatomia, que tem ampla experiência em gestão no SUS, tendo sido Secretário Municipal de Saúde Ribeirão Preto e Coordenador da Unidade de Emergência da HCFMRP-USP. Também participaram desse debate: • O Prof. Dr. Gutemberg de Melo Rocha, docente Sênior da FMRP bastante reconhecido pelos trabalhos que desenvolve na medicina de família e comunidade; • O Prof. Dr. João Paulo Dias Souza, docente do departamento de Medicina Social da FMRP e que trabalhou na OMS, tendo mostrado a visão dessa instituição sobre o Sistema de Saúde do Brasil; • A Dra. Ir. Monique Marie Marthe Bourget, médica canadense que ajudou na implantação do Programa de Saúde da Família no Brasil e que coordena o Programa de Saúde da Família do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. • O Dr. Guilherme Yamashita Anami, médico oftalmologista, que compartilhou, conosco, a experiência de trabalhar na Marinha do Brasil, nas regiões fronteiriças do país. Mesa redonda realizada com todos os palestrantes no encerramento do evento. Ao final do evento, os participantes mostraram-se satisfeitos com a abordagem proposta pelo workshop, segundo evidenciou uma pesquisa de satisfação, realizada ao término do encontro. Grande parte do público julgou pertinente a escolha dos temas e palestrantes. Além disso, o evento possibilitou o contato com estudantes de faculdades diferentes, favorecendo o diálogo e o intercâmbio de opiniões. Por fim, vale ressaltar que, além do alcance externo do evento, o workshop contribuiu, também, para um crescimento dos próprios integrantes do PET-FMRP, tanto pela organização de um evento desse porte quanto pelos conhecimentos acerca dos assuntos discutidos. Grupo PET e os palestrantes: Dr. Luciano César Pontes de Azevedo, Dra. Irmã Monique e Prof. Dr. Américo Ceiki Sakamoto por Ionara de Medeiros Grupo PET -2014 Exposição de Fotografias e Desenhos Apresentação Gabriel Bordin Arte nas portas do banheiro Palco interno – Centro de Vivências da Medicina Apresentação de teatro – Cia Covil de Teatro VIII Concurso de Fotografias • Vencedora da categoria foto colorida: Cinque terre- João Vitor Bizinoto • Vencedora da categoria foto preto e branco: Camden Town - João Vitor Bizinoto por Bárbara Regina Vieira e Alessa de Andrade Santana Fazendo um brainstorm de possíveis assuntos para o projeto, pensamos em coisas que fossem interessantes e agradassem a todos...Cinema? Música? Com certeza eram ótimas opções, mas surgiu então uma ideia que aguçaria um pouco mais de sentidos: culinária! O objetivo então seria ampliar nosso conhecimento sobre culinária estrangeira, em particular, sobre um tipo que não é muito comum ou conhecido em nossa região e despertar nos espectadores a vontade de praticar culinária, não só para aprender a confeccionar um prato, mas também para descobrir a história por trás dele. O tema escolhido foi: Culinária Mexicana! O projetinho seria constituído por uma apresentação sobre a origem de pratos típicos mexicanos, como o burrito e o guacamole. Em seguida, seriam preparados burritos com recheio de frango e guacamole e servidos para os espectadores. Assim, todos aprenderiam sobre a história e a confecção prato. Na origem folclórica dos burritos conta-se que durante a revolução mexicana, entre 1910 e 1921, no bairro de Bella Vista em Ciudad Juárez, Chihuahua, México, um senhor chamado Juan Méndez vendia comida típica mexicana em barracas de rua, próximo ao Rio Bravo/Rio Grande, na fronteira do México com os Estados Unidos (Texas). No bairro de Sunset Heights, cidade de El Paso, Texas, moravam muitos mexicanos que haviam fugido da revolução. Atraídos pelo bom cheiro da comida de sua terra natal, que chegava a atravessar o rio, tais mexicanos começaram a fazer encomendas a Juan. Em seguida muitos americanos também passaram a fazer encomendas. Para a comida não esfriar, Juan teve a ideia de fazer grandes tortillas de trigo e colocar recheios como feijão, carne, alface, tomate e molhos, enrolando-as como pacotes para mantê-las quentes. Os pedidos aumentaram e Juan decidiu comprar um burro para cruzar o Rio Grande! Mexicanos e Texanos passaram então a chamar o prato de comida de “burrito” e assim surgiu o nome! O Guacamole tem origem asteca: “Ahuacatl” significa “abacate” e “mole” é um nome genérico para “molho”. O nome “guacamole” vem do dialeto Nahuatl, mas sofreu influência da sonoridade da língua espanhola, na qual "guaca" significa testículo, por causa do seu formato. Segundo a tradição pré-hispânica, a forma de se fazer guacamole foi ensinada ao povo Tolteca pelo Deus Quetzalcóatl. Após sua criação pela cultura asteca, chegou à Europa devido à colonização espanhola. Receita Recheio para os burritos: Frango refogado, desfiado e temperado com: sal; pimenta do reino; pimenta comari; páprica; cebola; alho; azeite; Guacamole: Abacates frescos amassados; tomates frescos picados; sal; coentro; limão; Adicionais: muçarela; requeijão; tortillas Mais poesia em nossas vidas! por Helen Furlan Torina (Carlos Drummond de Andrade) “Há um mistério da poesia tal qual há um mistério da vida. (...) O mistério da poesia é da sua própria essência, não lhe vem senão dela própria(...) Os homens entendem-se através dela para transmitirem, não um saber, mas o próprio sentido da perplexidade que os habita” (A Palavra Essencial, Companhia Editora Nacional). Esse foi o tema do projetinho “Mais poesia em nossas vidas”, realizado em março de 2014 no grupo PET. O tema partiu da constatação de que, num ambiente rodeado por informações de grande teor técnico e científico, em muitos momentos, perdemos a sensibilidade. Somos capazes de perceber a poesia existente nas situações de nosso dia-adia? Temos tempo / dedicação para desenvolver nossa sensibilidade do mundo? O objetivo, portanto, era despertar a sensibilidade poética que existe em cada um e estimular a reflexão sobre o que é a poesia, como ela se insere no mundo atual, qual o seu papel na educação e na sociedade. No primeiro dia, após um breve histórico da poesia no mundo, assistimos a um documentário de 2003 feito por Felipe Nepomuceno e Pedro Asbeg sobre poesia na visão de quatro poetas brasileiros contemporâneos: Arnaldo Antunes, Antonio Cícero, Carlito Azevedo e Paulo Henriques Britto*. No curta, os poetas refletem sobre a definição de poesia ─ Arnaldo Antunes aprecia a definição de Pound, segundo a qual a poesia é “a linguagem concentrada de sentidos em seu grau máximo” ─; expressam o mistério existente na compreensão da poesia ─ na fala de Carlito Azevedo, “a poesia não é só compreensão; ela também é um pouco de comunhão” ─; discutem sobre os motivos de seu público escasso e sobre o fazer poético. Fizemos, depois, uma discussão orientada pelas seguintes perguntas: Por que a poesia é tão hermética? Por que e como a poesia muda ao longo do tempo? Por que é difícil ensinar poesia? Como isso pode ser feito? Ler poesia é importante, por quê? Nessa discussão, pudemos relembrar, por exemplo, como foi a abordagem da poesia em nosso ensino, discutindo as diferenças entre nossas escolas e refletindo sobre qual seria a abordagem ideal. Sobre esse assunto, Carlos Drummond de Andrade faz a seguinte crítica: “A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da geografia, da linguagem. A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o mundo [...]. O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas, e depois como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.” Após toda essa reflexão, o segundo dia do projetinho foi o momento de exercitarmos nosso lado poético! Fizemos uma dinâmica em que cada petiano levou um poema de sua escolha para a reunião, já tendo ensaiado uma forma de interpretá-lo em voz alta previamente. Uma pessoa iniciava o recital e passava a vez para alguém do grupo, que comentava o poema lido ─ dizendo, por exemplo, quais impressões provocara em si, o que o fizera pensar e sentir, quais links puxara em sua mente. Então o comentarista recitava o seu poema e passava a vez para outra pessoa, que comentava e assim por diante até todos terem apresentado seus poemas e feito comentários. Foi uma experiência agradável de partilha de poemas e reflexões em grupo! Esse projetinho nos proporcionou momentos de reflexão sobre algo que se torna um pouco esquecido em nosso cotidiano e de resgate da tentativa de “comunhão” com as palavras. Uma conclusão possível para o que aprendemos pode ser extraída das palavras do poeta mineiro Elias José: “vivemos rodeados de poesia‛, ou seja, poesia é tudo que nos cerca e que nos emociona quando tocamos, ouvimos ou provamos, poesia é a nossa inspiração para viver a vida. ‚(...) ser poeta é um dom que exige talento especial. Brincar de poesia é uma possibilidade aberta a todos (...)”. *O documentário entitula-se “Olho de Mosca” e está disponível na página: http://curtadoc.tv/curta/literatura/olho- / de-mosca Acordei bemol “A poesia não é só compreensão; ela também é um pouco de comunhão” (Carlito Azevedo) Acordei bemol Tudo estava sustenido Sol fazia Só não fazia sentido (Paulo Leminski) Por Luis Felipe Visconde e Pedro Henrique Nunes Leite PARCERIA CPM e POLIEDRO por Larissa Oliveira Almeida Nesse ano de 2014, iniciamos uma nova fase no Cursinho Popular do PET-Medicina (CPM): firmamos uma parceria com o Sistema Poliedro de Ensino, a qual deve se manter também para o ano de 2015. Através do projeto PV Solidário, que é uma das iniciativas do programa Poliedro Social, o CPM passou a receber 100 kits completos da coleção de livros Pré-Vestibular Poliedro, bem como assessoria pedagógica através de reuniões virtuais e também presenciais. Graças a essa parceria com o Poliedro, pudemos, em 2014, dobrar o número de vagas ofertadas pelo CPM (de 50 para 100 vagas), além de praticamente zerar os gastos com xerox. O dinheiro arrecadado com as contribuições mensais dos alunos (20 reais) é agora revertido para os custos do transporte do material da sede Poliedro, em São José dos Campos, até Ribeirão Preto. “O Sistema de Ensino Poliedro (SEP) (...), apoia iniciativas de escolas que mantêm turmas específicas de Pré-vestibular com alunos oriundos do Ensino Médio desprovidos de recursos financeiros para arcar com esse compromisso. O SEP assume a responsabilidade de oferecer coleções didáticas gratuitamente, auxiliando no projeto pessoal dos alunos que desejam ingressar em universidades de referência. (...) As unidades que desenvolvem a ação social fazem a diferença no futuro de alunos que visam à construção de um projeto de vida diferenciado e demonstram o seu valor como instituição de ensino preocupada com a sociedade”. (texto informado na pagina web do Poliedro PV Solidário). “Comparado aos cursinhos convencionais, no nosso Cursinho os alunos têm pouca carga horária de aula. Assim, é importante que recebam um bom material e suporte online para facilitar os estudos em casa. Nesse sentido, a alta qualidade didática dos livros do Poliedro, bem como as ferramentas online (com orientação individualizada de estudos), abriram portas para nossos alunos desenvolverem seus potenciais de forma mais independente”. (Eduardo Orlandim, estudante de medicina e professor de geografia no CPM desde 2011) “Estava acostumada com um conteúdo mais básico de preparação, diferente do material do Poliedro. Por conta dessa mudança, passei a ter um conhecimento mais aprofundado com relação a cada matéria. Agora os resultados estão sendo de acordo com o que um dos meus professores de História disse uma vez: quando o treino é difícil, o jogo fica mais fácil’. (Hariff Barbosa, aluna do CPM 2013 e 2014, aprovada em Psicologia na USP) CONGRESSO PAULISTA DE EDUCAÇÃO MÉDICA e CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO MÉDICA – 2014 Nos dias 22, 23 e 24 de maio de 2014, as petianas Larissa Almeida, Helen Torina e Maria Rita Margarido compareceram, em nome do grupo PET-Medicina, ao IX Congresso Paulista de Educação Médica (CPEM). O evento, que é anualmente organizado pela Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM), aconteceu na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), a cerca de 200 km de Ribeirão Preto, e trouxe como discussão central a questão: “Como formar médicos no Brasil frente aos atuais desafios da saúde”. Além de debates sobre educação e palestras abordando temas pertinentes à saúde e à formação médica de todo o país, a tarde de sábado do congresso foi reservada para a apresentação de mais de 125 trabalhos científicos e relatos de experiência. Nosso grupo PET apresentou três pôsteres: dois trabalhos científicos e um relato de experiência, ambos fundamentados nos resultados preliminares relativos à pesquisa apoiada no projeto da Tutoria, que vem sendo desenvolvida pelo grupo. Um de nossos trabalhos: “Análise das Subescalas de Motivação Acadêmica em Estudantes Recém ingressados no curso de Medicina”, recebeu o prêmio de Melhor Trabalho Científico do congresso – categoria Pesquisa Original. Como prêmio, recebemos uma inscrição para o 52º Congresso Brasileiro de Educação Médica (COBEM). por Larissa Oliveira Almeida e Helen Furlan Torina principal foi “As Escolas Médicas como Transformadoras da Sociedade”, abrangendo vários eixos temáticos ao longo da programação, como “processo de avaliação”, “capacitação docente”, “ensino de urgência e emergência” e “internato médico”. A abertura oficial da sextafeira contou com a presença dos Ministros da Saúde e da Educação e foi encerrada com a apresentação do Ballet Bolshoi, cuja única escola fora da Rússia situa-se em Joinville. Abertura COBEM 2014 : Ballet Bolshoi Joinville No sábado e no domingo, além de várias mesas redondas sobre os eixos temáticos, houve a sessão de pôsteres e apresentação oral, em que os petianos Larissa Almeida, Helen Torina e Leonardo Soriano apresentaram três pôsteres referentes à pesquisa em andamento do projeto da Tutoria. Além disso, no domingo, o petiano Leonardo fez uma apresentação oral intitulada “Mudanças em aspectos relacionados à autorregulação da aprendizagem em estudantes de medicina no primeiro semestre do curso médico.” Imagem de divulgação CPEM 2014 São José do Rio Preto O 52º COBEM, também organizado pela ABEM, ocorreu de 31 de outubro a 03 de novembro de 2014 no Centro de Eventos da Expoville na cidade de Joinville - SC. O tema Imagem de divulgação COBEM 2014 Joinville A Tutoria, desenvolvida desde 2013 em parceria com o CAEP (Centro de Apoio Educacional e Psicológico) da FMRP-USP, é atualmente o foco de um dos principais projetos de pesquisa do grupo. PET e CARL no COBEM 2014 Joinville Por meio desse projeto, estamos quantificando e qualificando os fatores relacionados ao desempenho acadêmico (autorregularão do aprendizado, traços de personalidade, motivação pessoal e ajustamento social) dos estudantes do primeiro ano de medicina. Isso é feito por meio da aplicação de 5 questionários para esses estudantes em 3 diferentes momentos do curso (início do primeiro semestre, final do primeiro semestre e final do segundo semestre), mais uma entrevista de grupo focal realizada no final do primeiro semestre com representantes dos 7 grupos de tutoria. Nosso objetivo, além de avaliar o Programa de Tutoria e o papel dos peers (função de cotutor desempenhada pelos petianos até o momento) para identificar falhas e introduzir melhorias no programa, é prever fatores de insucesso para, futuramente, podermos contribuir para o sucesso dos alunos que ingressam na faculdade de medicina Helen (esq.) , Larissa (centro) e Leonardo (dir). Apresentação de pôsteres COBEM 2014 Joinville. Sobre a experiência de ser “peer” – Tutoria por Bárbara Vieira e Alessa de Andrade geralmente o Hospital das Clínicas (HC) da O programa de tutoria é um FMRP, onde o professor comandava a projeto de iniciativa do Centro de Apoio reunião e as discussões do dia, cujos Educacional e Psicológico (CAEP) do temas eram determinados pelo que os Campus da USP de Ribeirão Preto. Tal alunos queriam falar e tinham dúvidas a projeto foi criado com o intuito de auxiliar respeito. os alunos recém ingressados na A função do aluno peer é Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto convocar os calouros a participarem das nos mais diversos aspectos da vida reuniões, aproximando-se deles para que universitária. A ideia surgiu a partir dos haja o interesse na tutoria, além de problemas expostos pelos próprios alunos encontrar os melhores dias e horários quando entram na faculdade, tais como: para as reuniões, "fazer a ponte" entre moradia, localizações do Campus, livros, docente e calouros, uma vez que atividades extracurriculares , esportes, inicialmente estes tendem a ver os ligas etc. A parceria com o Programa de professores como pessoas inacessíveis e Educação Tutorial (PET) se deu pela saber quais são os maiores interesses e necessidade de haver alunos de dúvidas. Mas não somente de reuniões se graduação envolvidos, pois assim ocorre deu o programa! Muitos alunos uma relação entre alunos, com realidades demonstraram interesse em conhecer o mais próximas, o que auxilia na centro cirúrgico, assim, foram feitas comunicação inicial. visitas ao local com o grupo, para eles já Para isto acontecer, foram irem se familiarizando e tendo a noção de realizados encontros quinzenais em que o HC é um local de todos os alunos, pequenos grupos de 13 ou 14 calouros, os quais devem saber usufruir do além de um docente e o "peer", um aluno conhecimento que pode ser tirado dali. do 2º ou 3º ano. O local de encontro era Além disso, confraternizações foram feitas em outros ambientes que não o da faculdade, justamente para haver uma relação mais horizontal e descontraída entre os pessoas envolvidas, tendo sido feita uma viagem, no ano de 2013, a uma cidade próxima a Ribeirão Preto e almoços e jantares em restaurantes. Grupo de tutoria em visita ao centro cirúrgico. O grupo PET acredita de fato neste projeto, como sendo algo novo e necessário ao atual ambiente universitário, que se encontra com problemas relacionados a trotes e hierarquia virtual criada pelos próprios alunos, o que é evidenciado até pelas mídias do país, que frequentemente divulgam episódios de desrepeito. Toda essa situação cria uma sensação de medo ao novo por parte de muitos calouros, os quais ficam com receio de se integrar em muitas atividades. Dessa forma, embora as atividades da Tutoria pareçam simples, os resultados e devolutivas têm sido muito bons por parte dos alunos que a frequentaram durante o primeiro semestre, pois os mesmos alegam ter havido melhora em suas dificuldades em interação e adaptação à vida universitária. Portanto, a Tutoria faz a diferença para aqueles que mais precisam, ou seja, os que chegam ao ambiente acadêmico de forma um pouco desajustada. Um grupo de tutoria: no centro, o professor – tutor João Marcello Furtado e à esquerda, a aluna peer Bárbara com os calouros. Sobre a experiência de ser peer – Tutoria Depoimentos de alunos "peers": “A admissão na faculdade pode ser uma fonte tanto de imensas alegrias quanto de enormes dúvidas. Apesar de ser uma faca de dois gumes, a entrada no Ensino Superior, inegavelmente, oferece uma série de sensações novas. Por isso, é muito comum se sentir muito perdido e se ter a necessidade de um apoio. É nesse momento que a Tutoria pode ser muito positiva. Ser um aluno peer foi uma experiência desafiadora, mas não menos gratificante. Foi preciso esforço durante a pesquisa sobre a influência do mentoring no sucesso acadêmico durante o início da faculdade. Contudo, ter a oportunidade de ajudar, mesmo que só um pouco, na adaptação de meus calouros durante esse período difícil foi uma sensação incrível. Além disso, o próprio estudo sobre os temas abordados na tutoria foi muito rico e informativo para meu próprio desenvolvimento como estudante de Medicina. O estudo teórico de certas nuances do processo de aprendizagem, como o aspecto motivacional, pode transformar o modo de encarar a faculdade e suas atividades. A tutoria é um espaço de compartilhamento de experiências. Como peer, tentei ser o mais imparcial possível ao apresentar as diversas atividades nas quais os alunos poderiam se engajar, de modo a não influenciá-los. Nesse sentido, o professor tutor foi peça fundamental na transformação do espaço da tutoria em um ambiente de aconselhamento e orientação. As atividades realizadas tiveram o grande mérito de aproximação entre alunos e mestre. Todos nós pudemos desmistificar um pouco a visão que se tem do professor inacessível e alheio Às preocupações e expectativas dos alunos” (Pedro Nunes, Meca – Medicina 62) “Eu já havia participado do Grupo de Tutoria quando calouro, tendo sido uma experiência marcante para mim. Por meio dela, pude conhecer um novo Universo dentro da Faculdade, muito além do ambiente acadêmico, me fez acender um interesse pelo PET e propiciou-me fazer iniciação científica com o então tutor do me grupo. Desse modo, queria que os novos calouros pudessem ter essa mesma experiência. Esforcei-me, então, para seguir os passos da veterana que tinha guiado o meu grupo: como peer, tive que trabalhar a questão de apresentar os calouros a essas mesmas inúmeras possibilidades da faculdade, sem tecer julgamentos a respeito delas, o que me fez rever algumas das minhas opiniões. Além disso, foi muito interessante ver como alguns deles se espelhavam em mim, o que foi um honra, e tornou ainda mais gratificante essa nova experiência dentro da Tutoria” (Vinícius Aniceto, Bolonhesa – Medicina 62) “Participei do programa de Tutoria tanto no meu primeiro ano de faculdade quanto no m eu segundo, como um dos alunos peers. Essa atividade foi de grande ajuda em meus primeiros contatos com a faculdade, e acredito que ajuda a muitos membros a se acostumar a esse estranho novo ambiente com que esta entrando em contato. Assim, em meu segundo contato com o programa, tentei passar aos alunos essa mesma ajuda que recebi e espero que, assim como eu, tenha motivado-os a ajudar outros alunos se receberem essa oportunidade” (Breno Bertozo Silva, Perônio - Medicina 62) A, hemi ou holometábolos: o que somos? por Vinícius Aniceto e Pedro H. N. Leite “Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. (...) Que me aconteceu ? — pensou. Não era nenhum sonho”. Assim começa a obra “A Metamorfose”, do escritor judeu-alemão Franz Kafka, conhecida de muitos. É iniciando pelo clímax da história, e sem contar as razões que levaram para tal, que Kafka instiga o leitor a querer saber o que aconteceu/o que vai acontecer com Gregor Samsa, e, assim, dá início a uma narrativa expressionista, dividida em três partes: • Na primeira, o leitor acompanha um Gregor Samsa recém metamorfoseado e a maneira como a família recebe a notícia; • Na segunda, o leitor percebe um Gregor isolado e rejeitado; • Na terceira, há o fim de um Gregor fraco e abalado psicologicamente. É com uma escrita desapegada, imparcial e atenciosa ao menor detalhe, que o autor vai mostrando ao leitor os conflitos existenciais pelos quais o típico personagem kafkiano, Gregor Samsa, passa no desenrolar da história. Por meio da leitura, fica evidente que a metamorfose de Gregor o liberta de seu fardo: o trabalho e a dependência de sua família. http://devysaja.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.htm l Em contrapartida, isso escancara os interesses que sustentavam as suas relações familiares e evidencia sua solidão. Com essa metáfora, Kafka critica diretamente a realidade capitalista: aquele que não mais produz é rejeitado pela sociedade. Para compreender a obra além dessa crítica estampada, é preciso conhecer um pouco mais do próprio escritor. Franz Kafka era descendente de uma família pequeno-burguesa (classe média alta), cujos pais eram Julie Kafka e Hermann Kafka, eminente varejista, que atingiu tal posto depois de trabalhar como representante de vendas de viagens (profissão de Gregor Samsa). O escritor também tinha dois irmãos, Georg e Heinrich (falecidos aos 15 e 6 meses de idade, respectivamente), e três irmãs mais novas, Gabriele, Valerie e Ottilie (sua preferida, muito parecida com Greta, irmã de Gregor Samsa). http://mataramomickey.blogspot.com.br Embora na maior parte do tempo, os pais /2012/06/tema-2-metamorfose-deestivessem ausentes e as crianças tivessem sido criadas por governantas e funcionários, a relação entre Kafka e a mãe é descrita como terna, amorosa e de companheirismo, enquanto que, com o pai, a relação sempre é descrita como conturbada. Prova disso, é o livro “Carta ao Pai”, uma obra de mais de cem páginas escritas entre 10 dias, em que Kafka escancara toda a sua mágoa em relação ao pai autoritário, a quem chama, alternadamente, de "tirano", "regente", "rei" e "Deus“. Partindo disso, percebe-se, então, em “A Metamorfose”, várias das tensões familiares de Kafka: o pai autoritário, a mãe amorosa, porém ineficiente, e a irmã preferida. A dor da rejeição do pai é claramente mostrada em alguns trechos, como: “(...) algo passou raspando sua cabeça e rolou até um pouco mais à frente: era uma maçã, logo seguida de outra. Temeroso, Gregor deteve-se, considerando inútil continuar correndo, pois o pai havia decidido bombardeá-lo (...)”. A relação de Gregor com a irmã também merece destaque: conforme a irmã se torna independente financeiramente, seus laços fraternos tornam-se mais frágeis, a tal ponto que ela o abala psicologicamente por querer vê-lo eliminado: “– Ele tem que ir embora! – gritou a irmã. – É o único jeito, pai. O senhor precisa se desfazer da ideia de que aquilo é Gregor. Acreditar nisso, durante tanto tempo, tem sido a nossa desgraça. Como pode ser Gregor? Se fosse, há muito tempo teria percebido que seres humanos não podem viver com um bicho como aquele. E teria partido por conta própria”. No final do livro, a morte de Gregor é julgada como uma libertação a todos: “Confortavelmente reclinados nos assentos, falaram das perspectivas futuras, que, bem vistas as coisas, não eram más de todo. Discutiram os empregos que tinham, o que nunca tinham feito até então, e chegaram à conclusão de que todos eles eram estupendos e pareciam promissores”. Além disso, assim como no início da obra, os pais se apoiavam sobre Gregor, o livro termina deixando implícito que passarão a se apoiar sobre Greta, a irmã de Gregor, reiniciando o ciclo: “O reconhecimento desta transformação tranquilizou-os e, quase inconscientemente,trocaram olhares de aprovação total,concluindo que se aproximava a altura de lhe arranjar um bom marido”. http://monisepedrosa.blogspot.com.br/2010/05/metamorfose-franz-kafka.html O livro “A Metamorfose” foi escolhido pelo grupo PET como leitura de férias, porém foi lido em inglês, sob o título de “The Metamorphosis”. Ainda que à época da sugestão se pensasse que não conteria temas ligados à Medicina, a discussão que se seguiu a ele, aliada à realização de um CinePET sobre a obra, mostrou o contrário: por diversas vezes, ao longo da graduação, o aluno pode se sentir um pouco preso a uma grade horária restrita e bastante cheia. As matérias de todo o curso médico, apesar de serem bastante interessantes, são extremamente complexas e, portanto, demandam muito tempo e esforço dos alunos, para serem internalizadas. Assim, como Gregor Samsa, o aluno, muitas vezes, tem a impressão de estar preso no corpo de um inseto ou, decifrando a metáfora de Kafka, preso em si mesmo. Essa foi uma das visões sobre a obra que foi obtida após a realização do CinePET, uma atividade cultural promovida pelo grupo a fim de quebrar a rotina de estudos, e, ao mesmo, tempo, ampliar horizontes culturais. Assim, o CinePET de 2014 apresentou o filme “A Metamorfose”, uma versão russa de 2002, dirigida por ValeriFokin, e estrelada por AvangardLeontyev, Igor Kyasha, Natalia Shyets, Tatyana Lavrova e Yevgeny Mironov. Essa adaptação tem enfoque maior no aspecto teatral da performance, valorizando a expressão corporal e facial em detrimento ao uso de efeitos visuais. O fato de o ator que interpreta GregorSamsa não sofrer nenhum alteração física visível ao espectador na adaptação e, mesmo assim, ser execrado por seus familiares e conhecidos é capaz de provocar um grande incômodo – um incômodo kafkiano. O CinePET contou com a presença tanto de pessoas que já haviam lido o livro quanto de pessoas que tiveram ali o primeiro contato cm a obra. Isso enriqueceu o compartilhamento de visões diferentes sobre o livro e sobre sua simbologia. Desse modo, durante a noite de 20 de março de 2014, os alunos PETianos e os que prestigiaram o evento tiveram a oportunidade de assistir ao filme e participar de uma discussão sobre a obra, personificada em duas apresentações expositivas. A primeira apresentação foi realizada pelo acadêmico do segundo ano Vinícius Aniceto. Seu enfoque foi primariamente informativo: foram descritas a sinopse do livro e sua estrutura narrativa; e foram estabelecidas as características mais marcantes de cada personagem. Alémdisso, entramos em contato com a biografia do autor e foram abordados vários aspectos dela que influenciaram sua obra. A segunda apresentação teve autoria do acadêmico do sexto ano Fábio Camacho, e também professor de Literatura e Línguas Estrangeiras. O palestrante apresentou um panorama sobre a visão em relação à Medicina que permeia toda a literatura, abarcando autores como Virginia Woolf até o próprio Kafka. A metamorfose de Kafka pode ser interpretada como uma doença degradante, tanto pela incapacidade que acomete o personagem, como pela visão que os outros tem em relação ao doente. A transformação de Gregor ocasiona diversas emoções nas pessoas que convivem com ele, como repulsa, piedade, raiva, tristeza... Sentimentos que podem ser encontrados, mesmo que intimamente, em cuidadores de pessoas doentes. O CinePET foi realizado em um clima descontraído, com apreciação do filme acompanhada de pipoca e refrigerantes. Mesmo assim, conseguiu atingir o objetivo de aprofundamento em temas relacionados à Medicina presentes no filme assistido/obra lida pelo grupo. Fonte da imagem de fundo: http://lh4.ggpht.com/-Be0uWypbgXY/T8qZRj7jlbI/AAAAAAAAsPs/7CpEoLXEd7M/s1600h/metamorfoses%252520bizarras%252520sem%252520personalidade%25255B7%25255D.jpg Perto do Coração Selvagem por Helen Furlan Torina Uma alma inquieta... Talvez assim possamos começar a pensar sobre Clarice Lispector. Sim, apenas começar, pois desvendar os mistérios dessa intrigante escritora é uma tarefa praticamente impossível ─ como ela mesma pode manifestar em sua fala: “Me chamam de hermética. Como é que eu posso ser popular sendo hermética? (...) Eu me compreendo. De modo que não sou hermética para mim. Bom, tem um conto meu que não compreendo muito bem…” Clarice foi o alvo da discussão de livros do grupo PET no início de 2014, com sua obra “Perto do coração selvagem”. Seu primeiro romance, escrito aos 20 anos, “Perto do Coração Selvagem” recebeu o prêmio pela Fundação Graça Aranha de melhor romance de estreia em 1944. O destaque foi o estranhamento causado por suas características inovadoras: a linguagem onírica e sensorial, a ruptura da forma de enredo tradicional, o tempo psicológico e não cronológico e a introdução dos fluxos de consciência. O título traduz o desejo de, segundo a autora, “pôr em palavras um mundo ininteligível e impalpável”; “coração” aponta para o foco no sentir e “selvagem” exprime a ausência de um compromisso social, isto é, a exposição das entranhas de um coração não domesticado. Portanto, para ler Clarice, é necessário despojar-se da ótica racionalista que predomina no mundo atual. Clarice sente e faz sentir, por isso cria uma dificuldade de compreensão e um certo incômodo para o leitor. Suas questões existencialistas e a forma como as coloca perturbam a organização impecável dos pensamentos das pessoas que apenas alimentam a razão. Numa entrevista, ela diz: “Por exemplo, o meu livro ‘A Paixão Segundo G.H’, um professor de português do Pedro II veio até minha casa e disse que leu quatro vezes e ainda não sabe do que se trata. No dia seguinte uma jovem de 17 anos, universitária, disse que este é o livro de cabeceira dela. Quer dizer, não dá para entender. Suponho que não entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Tanto que o professor de português e literatura, que deveria ser o mais apto a me entender, não me entendia. E a moça de 17 anos lia e relia o livro, não é? O que é um alívio.” “Ler Clarice é quase um desafogamento. É perder o ar para saber como é respirar.” (Gabriella Lima*) *Gabriella Lima é estudante de Pedagogia, cronista e resenhista do site Recanto das Letras. Em “Perto do Coração Selvagem”, Clarice despeja no papel as impressões mais profundas da personagem Joana, que não é mocinha, nem vilã, nem anti-heroína. Joana apenas é, ela não necessita fazer sentido. Uma mulher à frente de seu tempo, ambivalente, com uma trajetória de exílio, Joana é “um feixe vivo de possibilidades que se contradizem e anulam”, de acordo com sua própria criadora. Tais características são mal compreendidas pelas pessoas com quem se relaciona, como vemos na opinião da tia a seu respeito: “É uma víbora, Alberto, nela não há amor nem gratidão. Inútil gostar dela, inútil fazer-lhe bem. Eu sinto que essa menina é capaz de matar uma pessoa...” intensamente em seu mundo interior, buscando o sentido da existência, mas nunca o encontrava, permanecendo infeliz ─ é o que se depreende de sua profunda frase: “Eu mesma posso morrer de sede diante de mim”. Extremamente rico em significado, linguagem e forma, o romance envolve o leitor em reflexões profundas sobre temas diversos como vida, morte, casamento, felicidade. Faz depararmo-nos com nosso próprio mundo interior em busca de respostas para perguntas que, talvez, sejam irrespondíveis, como nos sugere a própria Clarice: “Aprenda a encontrar tudo o que existe dentro de você”. Já a própria personagem tem outra visão de si mesma e está sempre a pensar sobre sua essência. “Titia, ouça-me, eu conheci Joana, de quem lhe falo agora. Era uma mulher fraca em relação às coisas. Tudo lhe parecia às vezes preciso demais, impossível de ser tocado. E, às vezes, o que usavam como ar de respirar, era peso e morte para ela. Veja se compreende a minha heroína, titia, escute. Ela é vaga e audaciosa. Ela não ama, ela não é amada.(...) No entanto o que há dentro de Joana é alguma coisa mais forte que o amor que se dá e o que há dentro dela exige mais do que o amor que se recebe. Compreende, titia?” Joana, assim como Clarice, era uma alma inquieta, que vivia ─ Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? (...) Ser feliz é para se conseguir o quê?” ─ “(...) Quem sabe? Talvez um dia você mesma possa respondê-la de algum modo... (Perto do Coração Selvagem) “Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa.” “Quando não escrevo, estou morta” (Clarice Lispector) O ENIGMA DE ESPINOSA por Alessa Santana de Andrade “O Enigma de Espinosa”, do mesmo autor de “Quando Nietzsche chorou”, Irvin D. Yalom, é um romance que, como o próprio escritor afirmou, poderia de fato ter acontecido. A história é narrada em dois períodos, sendo um no século XVII, em que o filósofo Bento Espinosa viveu, e outro entre as duas grandes guerras, época contemporânea do outro personagem chave da história, Alfred Rosenberg, que foi um ideólogo nazista e forte defensor do antissemitismo. A história é uma ficção permeada por vários acontecimentos baseados em fatos reais. Trata-se de uma ficção, pois a amizade entre Bento e Franco, narrada no período do século XVII, nunca existiu, ou pelo menos, não há nenhum relato de que ela tenha existido. Assim como no outro tempo da narração, no entre guerras, a relação entre Rosenberg e seu psicoterapeuta, Friedrich, também foi criada pelo autor. Para os leitores que já tiveram interesse em se informar sobre o grande filósofo que foi Espinosa, não é nenhuma novidade a informação de que se sabe muito pouco sobre a vida pessoal dessa grande personalidade, sendo a sua excomunhão pela comunidade judaica um dos poucos fatos conhecidos e documentados sobre sua vida. Este fato ocorreu devido a suas ideias consideradas heréticas na época, e o fez ser ignorado e esquecido até mesmo por seus familiares mais próximos. Apesar deste fato, é notório na obra como Bento se mantém rígido e não demonstra forte sentimento em relação a isso. E é justamente neste aspecto que Yalom, que também é médico psiquiatra, trabalha fortemente no livro, pois o tempo todo o que ele tenta fazer é desvendar o mundo interior de seus dois protagonistas, que são o Bento Espinosa e o Alfred Rosenberg. Enquanto o primeiro se trata de um judeu excomungado e autor de obras relevantes que foram saqueadas pela força-tarefa nazista durante a Segunda Guerra Mundial, o segundo se trata de um antissemita veemente e membro do Partido Nazista, responsável por saquear qualquer objeto de valor na Europa inteira durante a guerra, e foi, portanto, ainda que de forma indireta, responsável pela captura das obras de Espinosa. Agora, a razão pela qual um antissemita se interessaria pela obra de um judeu, ainda que este tenha sido excomungado, é algo que o leitor só saberá se ler o livro. Para ajudar nessa missão, como dito, o próprio Yalom tenta penetrar no psicológico de seus protagonistas, fazendo uso de mais dois personagens, Franco e Friedrich, contemporâneos de Espinosa e Rosenberg, respectivamente, que manterão longos diálogos com os protagonistas a fim de tentar compreende-los. Desta forma, esta obra de Yalom é indicada por vários motivos, além de se poder ter acesso à parte da filosofia de Espinosa, que se encontra muito mais acessível do que em qualquer uma de suas complexas obras, o autor também nos leva a uma profunda análise psicológica de seus protagonistas.