África Ganha Sempre que Você se Prevenir Contra HIV
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África Ganha Sempre que Você se Prevenir Contra HIV
Informação sobre HIV e AIDS: O poder para fazer a diferença Noticias Sida 2 2010 Vol. 16 e-mail: [email protected] web: www.safaids.net Serviço de Informação e Sisseminacão sobre HIV e SIDA na África Austral África Ganha Sempre que Você se Prevenir Contra HIV Por Mary Leakey e Cynara Vetch A campanha do Objectivo da África para 2010 proporcionou uma plataforma inovadora para informação de HIV eficaz e partilha de experiência centrada à volta dos jogos do Campeonato Mundial de Futebol de 2010. Durante todo o Campeonato Mundial de Futebol, a equipa do Objectivo de África viajou de Quénia para África do Sul, através da região mais afectada do mundo pela pandemia de HIV. Em cada dia do jogo, a equipa do Objectivo de África mostrou ao vivo os jogos do Campeonato Mundial de Futebol e disseminou informação de HIV em diferentes localidades, partilhando não apenas o Campeonato do Mundo mas também informação vital sobre HIV com diversas audiências. Africa Goal tour 2010 Legenda da imagem Futebol, o perfeito catalisador para juntar as pessoas A campanha, implementada em parceria entre Objectivo da África e SAfAIDS, alcançou cerca de 25.000 pessoas na África ao sul do Sahara com informação de HIV. A equipa tinha como alvo principal os jovens, com acesso a recursos limitados e localizados em áreas de difícil acesso com informação de HIV; este aspecto demográfico chave foi geralmente excluído das iniciativas de informação de HIV. Partindo do Quénia, a equipa escalou Tanzânia, Malawi, Zâmbia, Zimbabwe, Moçambique, Suazilândia e África do Sul. A rota seguiu aproximadamente a chamada “Estrada de SIDA” até África Austral e Oriental. Esta rota de transporte e comércio é definida pela sua alta taxa de infecção causada pela combinação da crescente mobilidade e migração. Estes factores, juntamente com receitas disponíveis e o escalonamento associado ao sexo transaccional, são principais contribuintes para a Cont’ Pagina 3 Índice África Ganha Sempre que Você se Prevenir Contra HIV.........................................................1 Formação regional sobre o Sistema de Informação de Desenvolvimento (DevInfo)..............5 Tratamento de HIV poderá prevenir pelo menos nove em cada dez transmissões.................7 Homofobia ameaça trabalho de prevenção de HIV em África...............................................9 Acesso ao tratamento e cuidados de HIV............................................................................12 Testagem e tratamento de HIV para prevenir TB.................................................................15 Crianças cuidando de pais com HIV .............................................................................17 Migração e HIV na Zâmbia........................................................................................... 20 Estudos de prevenção de HIV geralmente de má qualidade para jovens em África.........23 Inquérito destaca prevalência de HIV e vulnerabilidade das farmas..25 VOLUMEdos 16 trabalhadores – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Não é Tempo para Desistir: crescente fosso de tratamento em África.............................30 Revisão de literatura.....................................................................................................36 1 E D I TO R I A L O Campeonato Mundial de Futebol já acabou. O ímpeto do evento trouxe um espírito renovado para a África do Sul, já que demonstrou que é um país capaz de acolher com sucesso um evento internacional deste tamanho. Em resposta à seriedade da pandemia de HIV na região, muitas Organizações de Serviço de SIDA (ASOs) aproveitaram a oportunidade para usar o espectáculo para assegurar a existência de mensagens claras sobre HIV para o público ver e providenciar remessas de preservativos. Diversas campanhas inovadoras foram desenvolvidas à volta do tema de futebol, com mensagenss vitais de HIV especificamente direccionadas a alguns grupos de difícil alcance. A nossa principal história cobre uma destas - Objectivo da África, para a qual SAfAIDS teve o orgulho de providenciar materiais de IEC, camisetes e as famosas vuvuzelas para distribuição. A Embaixada do Canada providenciou a muito necessária ajuda financeira e uma equipa emparelhada com as principais ASOs em cada um dos países que visitaram. O Objectivo da África trouxe tanto os jogos do Campeonato Mundial de Futebol como mensagens e informação sobre HIV para algumas das partes mais remotas da região da África sub-sahariana. O crescimento da tecnologia portátil que permite imagens satélites do futebol em directo para projecção em tela de filme manipulável virtualmente em qualquer lugar em que um veículo pode ser conduzido foi explorado totalmente pelo Objectivo da África e seus parceiros. Para os que participaram, as mensagens que transmitiram irão indelevelmente ser ligadas com o desejo de saber e a excitação de assistir um jogo do Campeonato Mundial de Futebol à medida que acontecia no continente africano. A África atraiu uma atenção indesejada para si ao longo dos últimos poucos meses com um aumento de hostilidade em relação a pessoas de diferentes sexualidades. O artigo de amFar destaca esta crescente homofobia e o seu impacto nos esforços de prevenção entre os homens que têm sexo com outros homens. E no News Plus, temos um importante artigo sobre assuntos emergentes em género e sexualidade, baseado na noção de Raewyn Connell de reflexões de masculinidades hegemónicas sobre feminidades enfatizadas. Os autores argumentam que os objectivos da prevenção de HIV e cuidado de optimização são tratados lidando com as identidades de género, em vez de focalizar nos comportamentos sexuais individuais. Dois artigos da OIM destacam as dificuldades de apresentação em comunidades de difícil acesso e os problemas no seio das crescentes populações móveis atravessando fronteiras, assim como populações trabalhadoras cujo emprego, geralmente nos sectores de mineração, transporte e construção, força-os a serem móveis. Há uma clara necessidade para os empregadores tomarem uma maior responsabilidade para as situações em que colocam os seus trabalhadores e para assegurar que haja instalações sanitárias adequadas, assim como disponibilidade de formas seguras de entretenimento em lugares onde os trabalhadores se encontram longe das suas famílias, geralmente com apenas álcool para companhia. O Segundo artigo destaca o papel que as relações de género desempenham em aumentar a vulnerabilidade das mulheres ao HIV. Este estudo, realizado recentemente na Zâmbia, também revelou que as incidências de abuso doméstico e sexual poderão ser muito mais altas do que pensado anteriormente. Este relatório apresenta evidência valiosa em que se basear a futura programação. Agora que esta edição vai à imprensa parece crescentemente provável que o financiamento do doador para os ARVs irá tornar-se cada vez mais 2 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 apertado. Enquanto o PEPFAR aprovou recentemente um ligeiro aumento no seu financiamento de ARV, de US$6,8 biliões para quase US$7 biliões, muitos países e agências internacionais, tais como MSF, já estão a parar novas iniciativas de tratamento. Isto traz de volta os espectros de pessoas sobre o que devia ser a primavera das suas vidas morrendo de doença tratável, sistemas sobrecarregados de cuidados de saúde e comunidades e um crescente número de órfãos e crianças feitos vulneráveis de HIV (ver também o artigo sobre a odisseia das crianças que cuidam dos pais com HIV). Acreditamos que estes cortes em financiamento são o resultado da curta cegueira fatal e fracasso em reconhecer o grande impacto feito pela política de conquista do acesso universal ao tratamento. O relatório de MSF ‘Não é Tempo para Desistir’, destacado nesta edição, diz que isto é o melhor que podemos, enquanto o artigo sobre o desequilíbrio da disponibilidade do tratamento nas zonas rurais e urbanas também traz em questão a noção de que os que precisam de tratamento têm acesso ao mesmo, mesmo aos actuais níveis de financiamento. Não apenas o tratamento para HIV de é de valor inestimável em países com poucos recursos, mas mais evidência está agora a vir à luz que demonstra que o tratamento é, em si, um dos métodos de prevenção mais eficazes. Assim, muitos dos artigos que apresentamos nesta edição espelham esta pesquisa na esperança de que os legisladores e doadores irão juntos concluir que este não é o tempo de reduzir o acesso aos ARVs. Há necessidade de reivindicar para um maior acesso a tratamento de ARV genérico e para testagem de diagnóstico menos cara para permitir que a iniciação e monitoria do tratamento sejam feitas em países com baixos recursos. E, de facto, nunca devemos parar de falar de ‘prevenção, prevenção e prevenção’ – mesmo enquanto recrutamos tratamento como um principal método de prevenção. A transmissão vertical de HIV é a única maior causa de HIV em pessoas com menos de 15 anos e providencia o argumento mais convincente para a advocacia ao tratamento como prevenção. Vamos regressar para os dias quando dávamos à mãe um curso de curta duração de ARVs para proteger o seu bebé e depois deixava o bebé à deriva com uma possível infecção através do leite da mama; ou uma morte precoce porque a sua mãe morreu de HIV? Mas deixe-nos olhar também para o papel que o HIV desempenha noutras zonas ostensivamente desligadas que estão a ganhar atenção – mortalidade materna e neonatal. No Zimbabwe, um estudo de 2007 revelou que 25% de mortalidades maternas envolvem HIV como uma causa indirecta da morte. Quando a mãe morre, as oportunidades de sobrevivência do recém-nascido são seriamente reduzidas. Se existisse uma única doença chamada HIV e víssemos apenas o ressurgimento nesta particular condição, a redução no financiamento para o tratamento de HIV poderia ser compreensível. Mas o HIV carrega todo o hospedeiro de co-morbilidades, cujo número de baixas por morte irá aumentar incrementalmente quando o acesso ao tratamento for reduzido. Talvez a doença com a qual devíamos estar mais preocupados é a tuberculose (TB), que já aumentou exponencialmente, enquanto ao mesmo tempo criando variedades multi-resistentes a medicamentos (MDR) e extremamente resistentes a medicamentos (XDR). Estas doenças ameaçam a todos nós – não apenas as pessoas vivendo com HIV. O bacilo de TB é um dos mais omnipresentes nos seres humanos e prospera em condições de pobreza e superlotação. É facilmente propagado com a crescente mobilidade África Ganha Sempre que Você se Prevenir Contra HIV Cont par pagina 1 e deslocação aérea internacional; tornando MDR e XDR TB um sério risco para toda a gente com quem a pessoa infectada entrar em contacto. Os custos de cuidados sanitários de epidemias significativas de MDR e XDR TB, para não mencionar a TB ‘ordinária’ , juntamente com uma apavorante taxa de morte, irá custar a humanidade muito mais que a continuação para assegurar o acesso universal ao tratamento de ARV. Equipa do Objectivo da África fixando uma tenda, durante uma das suas campanhas de estrada de SIDA propagação de HIV na região. A fim de maximizar o impacto e assegurar a relevância e sustentabilidade, a equipa associou-se as organizações locais em cada uma das zonas visitadas. Os peritos locais guiaram uma equipa sobre assuntos específicos relacionados com o HIV que foram de maior relevância para as comunidades em questão. Regularmente, entre 1.000 e 2.000 pessoas se juntaram para participar em eventos de HIV e assistir jogos do Campeonato Mundial de Futebol – muito acima das expectativas. Para o primeiro jogo perto do Lago Vitória no Quénia, acima de 1.000 pessoas que se juntaram para assistir peças teatrais com enfoque nos diversos assuntos de HIV apresentadas pela escola local e grupos juvenis, e para visitar pavilhões de informação representando todas as organizações de saúde locais que tinham se juntado para promover as suas actividades relativas ao HIV e para partilhar a informação sobre os serviços prestados com os que se juntaram para o evento. O evento foi dirigido pelo Coordenador Distrital de SIDA e STI (DASCO) para Mbita, Quénia Ocidental, onde o jogo foi realizado. O senhor Okomo explicou que em parceria com o Objectivo da África, a sua organização “...queria aproveitar e segui-los. Sabemos que a comunidade ama o futebol e queríamos transmitir para ela mensagens de prevenção e gestão de HIV.” Nenhum outro desporto na região tem a capacidade de atrair demasiada atenção – o futebol é jogado e seguido com paixão em África. Nas comunidades rurais, isoladas tais como aquelas visitadas durante a campanha do Objectivo da África de 2010, o futebol é um dos poucos desportos acessíveis a todos. Em muitos eventos, os parceiros arranjaram para um ATV ser feito no local. Num evento memorável no Lago Baringo, também no Quénia, 28 pessoas foram testadas durante a segunda parte do jogo. Embora baixo em comparação com muitas pessoas que participam no jogo, o Chefe e o médico explicaram que ninguém tinha se voluntariado para a testagem em eventos de ATV anteriores realizados na aldeia. De facto, o médico quase desmantelava o seu local de testagem durante o intervalo quando apenas uma pessoa tinha aparecido para a testagem durante os primeiros 45 minutos do jogo. Porém, depois da identificação de muitos líderes jovens no grupo, e encorajando-os para aproveitar a oportunidade para aconselhar os outros na audiência da importância da testagem, uma corrente estável dos membros da audência foi vista a ir para o local da testagem. Muitas pessoas realmente optaram em estar na linha para a testagem em vez de assistir a segunda parte do jogo. Como resultado desta grande conquista, foi acordado que o local de testagem seria disponibilizado também no dia seguinte para os que não tinham tido a oportunidade de ser testados. Outras 84 pessoas assinaram para a ATV do dia seguinte. Na Zâmbia, os eventos coincidiram com o dia nacional de ATV que seria celebrado poucos dias depois do evento da filmagem, no dia 30 de Junho de 2010. Com isto em mente, a SAfAids e seus parceiros aproveitaram a oportunidadeto para mobilizar apoio para a campanha de testagem de ATV que teria lugar em todo o país. Muitas discussões relativas ao HIV foram também feitas nos eventos da Zâmbia, já que o sentido da unidade e abertura que foi cultivado providenciou um ambiente muito conducente para a discussão de assuntos potencialmente controversos, tais como as inter-ligações entre LGBTI e HIV. Em Moçambique, uma equipa trabalhou com a Nweti Trust, um parceiro da campanha One Love. Magaia, Gestor da Pesquisa da Nweti Trust, explicou que acima de 70% das pessoas em Moçambique estão envolvidas em parcerias múltiplas concorrentes (MCPs) e que esta é uma razão principal para a taxa nacional de prevalência de HIV de 16,1%. Depois de filmar a Campanha de One Love, David envolveu a audência – constituída principalmente de jovens na sua adolescência e cerca de 25 anos de idade – numa discussão animada sobre as relações, com enfoque nos riscos de HIV envolvidos nos diferentes tipos de relações. VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 3 As Vuvuzelas e camisetes produzidas pela SAfAIDS e com o lema da SAfAids ‘África Ganha Sempre que Você Previnir Contra HIV’ foram distribuídas como prémios para os membros da audência que responderam correctamente as perguntas, ou que levantaram assuntos importantes na discussão. David explicou porquê a Nweti Trust escolheu como parceiro o Objectivo da África: “Futebol é um dos eventos que junta as pessoas - diferentes raças, cores e crenças. Assim, muitas pessoas estão envolvidas nisto que podemos realmente disseminar a informação sobre HIV. Eu penso que é uma boa coisa e funciona porque precisamos ter a inclusão de HIV em tudo o que fazemos.” Um outro destaque da campanha foi o evento realizado no dia 7 de Julho na Suazilândia. O Ministro da Saúde, S.Excia Bennedict Xaba, excitado pelo conceito, mobilizou os participantes através da rádio e televisão antes do evento. Através da sua ajuda e entusiasmo, a ocasião tornou-se um evento nacional, começando às 9 de manhã e continuando durante todo o dia. Com a participação de cerca de 4.000 pessoas e muitas organizações locais e internacionais representadas; o dia providenciou uma excelente oportunidade para alcançar as pessoas com informação de HIV como meio para lidar com HIV no país com a mais alta prevalência no mundo. Actualmente, a Suazilândia está a implementar uma grande campanha para encorajar a circuncisão masculina, dado que o Governo prometeu uma taxa de circuncisão de 100% entre homens jovens. O evento do Objectivo da África proporcionou ao PSI uma oportunidade para aconselhar centenas de 4 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 jovens masculinos sobre os benefícios de circuncisão médica masculina, assim como o registo de mais de 100 para o procedimento. Um torneio de futebol e netbol foi também realizado para todas as escolas locais na zona. Na cerimónia de entrega do prémio, o senhor Xaba falou para os capitães das equipas de futebol e apelou para criarem clubes de saúde nas suas diferentes escolas. Mostrando o seu cometimento pessoal, o senhor Xaba prometeu colocar um financiamento para quaisquer grupos que foram estabelecidos, assim como assisti-los de qualquer forma que pudesse. A sua ideia era de que estes jovens do sexo masculino seriam líderes para a sua geração e seriam instrumentais na persuasão dos seus amigos e colegas de turma para parar a propagação do HIV. Em toda a campanha, os materiais da SAfAIDS, q que incluíam pacotes contendo autocolantes, p preservativos, postais, folhetos e cartazes; e bolas d de futebol com marcas do lema, assim como as vvuvuzelas e camisetes, provaram um grande sucesso. G Geralmente, os membros da audiência ficavam absorvidos nos folhetos distribuídos sem notar que os objectivos estavam a ser atingidos! Esta não é a primeira expedição do Objectivo da África – o conceito evoluiu a partir do Campeonato Mundial de Futebol de 2006 - durante o qual uma equipa viajou de Quénia para a Costa Ocidental da Namíbia. Depois dos grandes sucessos atingidos através desta campanha, está claro que não será a última. A campanha do Objectivo da África para 2010 tem o apoio do Governo do Canada, da Fundação Dinamarquesa para o SIDA, SAfAIDS e PSI Zimbabwe. Formação Regional sobre o Sistema de Informação de Desenvolvimento (DevInfo) A Equipa de Apoio Regional da UNSIDA da África Austral e Oriental co-facilitou uma formação de quatro dias sobre o Sistema de Informação de Desenvolvimento (DevInfo), de 15 a 19 de Fevereiro de 2010, em Joanesburgo, África do Sul. A formação teve a participação do pessoal da Equipa Regional de Apoio e membros da Equipa Regional de SIDA para África Austral e Oriental (RATESA), que aprendeu usar e direccionar o DevInfo para gerir dados estatísticos sobre HIV específico à região. O desenvolvimento duma base de dados do DevInfo específico para África Austral e Oriental foi motivado pela crescente procura de dados estatísticos sólidos e acessíveis sobre as tendências da pandemia de HIV e acordados nacional e internacionalmente sobre os objectivos de prevenção, tratamento, cuidado e apoio de HIV (incluindo ODMs). O DevInfo é um sistema de base de dados que pode ser usado para organizar, armazenar e apresentar dados de forma uniforme para facilitar a partilha de dados a nível nacional, regional e internacional em todos os departamentos do governo, das Nações Unidas, organizações da sociedade civil e parceiros de desenvolvimento. O DevInfo contém características simples e amigáveis ao utente que torna fácil produzir tabelas, gráficos e mapas para inclusão nos relatórios, materiais de apresentações e advocacia. O software suporta indicadores padrão (os 48 Indicadores dos ODM) assim como indicadores definidos para o utente. Wayne Gill, Conselheiro Regional de Monitoria e Avaliação da UNSIDA para África Austral e Oriental, disse: “Espera-se que um armazém regional de dados se torne uma ferramenta essencial para a ONUSIDA e membros da RATESA para mapear as tendências em mudança da pandemia de HIV e monitorar o progresso sobre as prioridades nacionais e internacionais, tais como Acesso Universal e os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Em adição, com o novo mecanismo de troca de dados dos Sistemas de Informação de Resposta Nacional Automática (CRIS), os indicadores da UNGASS irão ser facilmente actualizados”. Espera-se que um armazém regional de dados melhore a acessibilidade e disponibilidade de dados e ajude a todos os utentes para gerar relatórios, mapas, tabelas, apresentações e outros materiais actualizados indispensáveis a políticas sólidas e formulação de decisões. A base de dados foi lançada no dia 4 de Junho de 2010. Para informação adicional, contactar Wayne Gill em [email protected] ou +27 11 517 15 59 Director Executivo da ONUSIDA lança a campanha Nacional de onselhamento de Testagem de HIV na África do Sul O Director Executivo da ONUSIDA, senhor Sidibé, juntou-se ao Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, ao Ministro da Saúde, Dr. Aaron Motsoaledi, e a Governadora de Gauteng, senhora Nomvula Mokonyane, para o lançamento da maior campanha mundial de testagem e aconselhamento de HIV no Hospital de Natalspruit em Erkuhuleni, leste de Joanesburgo no dia 25 de Abril de 2010. A campanha, que espera testar 15 milhões pessoas até ao fim de Junho 2011, tem o objectivo de providenciar O Director Executivo da medicamentos ONUSIDA, senhor Sidibé VOLUME VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 > 2010 5 antiretrovirais a 80% dos sul africanos com necessidade de tratamento. A campanha de prevenção inclui um aumento na provisão de preservativos masculinos de 450 milhões para mais de 1,5 biliões de preservativos. O senhor Sidibé elogiou o Presidente Zuma e o Ministro Motsoaledi pela sua liderança e cometimento para a resposta de HIV na África do Sul e a mobilização sem precedentes dos sul africanos para a testagem de HIV. Esta campanha “é a maior mobilização nacional na África do Sul à volta dum único assunto desde o fim do apartheid”, disse Sidibé. “A testagem de 15 milhões de pessoas até ao fim de 2011 é o maior programa no mundo que já vimos. É histórico”. O Senhor Sidibé e o Ministro Motsoaledi fizeram ginástica logo de manhã e depois juntaram-se ao Presidente Zuma, funcionários do governo e representantes da sociedade civil na apresentação de discursos oficiais. O lançamento também incluiu actuações de artistas da África do Sul, Choome, Arthur Mofokate e Ihashi Elimhlophe que cantaram canções carregadas de mensagens sobre a importância de as pessoas serem testadas. Na sua intervenção, o Presidente Zuma divulgou o seu estado seronegativo e encorajou aos sul africanos a fazerem testes regularmente sem, porém, serem obrigados a divulgar o seu estado. “O estado “Devemos trabalhar muito, juntos, para lutar contra as percepções e o estigma, ele disse. “Devemos fazer todos os sul africanos compreenderem que as pessoas vivendo com HIV não cometeram nenhum crime e que têm direitos como qualquer outro cidadão”. A África do Sul tem a maior população do mundo de pessoas vivendo com HIV; aproximadamente 5,7 milhões de pessoas no país estão a viver com HIV, representando quase um sexto do encargo mundial da doença e aproximadamente 18% de adultos na África do Sul. RECURSOS Comissão Permanente Inter-Agências Abordando HIV em Directrizes de Contextos Humanitários As directrizes do Comissão Permanente Inter-Agências (IASC) para a Abordagem de HIV em Contextos Humanitários foram concluídas e estão actualmente a ser publicadas e distribuídas. Está a ser desenvolvido um pacote de formação para a disseminação das Directrizes no Zimbabwe (planificado para Maio de 2010), República Democrática do Congo, Sul do Sudão e República Centro Africana. Estes países foram seleccionados pelo Grupo de Trabalho Global sobre HIV em Contextos Humanitários, que fez a revisão e das Directrizes durante os últimos três anos. d Um Grupo de Trabalho Regional da Inter-Agências sobre HIV em Contextos In Humanitários para África Oriental, Central e H África Austral seleccionou o Malawi e Quénia, Á rrespectivamente, como países adicionais para a disseminação deste ano. d PPara as Directrizes sobre a Abordagem de HIV eem Contextos Humanitários, ver: http://www.unaidsrstesa.org/files/u1/IASC_ h HIV_Guidelines_2009_.pdf H Fomento da Revolução para HIV F O ano de 2010 é o ano definido pela ONU p para atingir o acesso universal à prevenção, ttratamento, cuidados e apoio de HIV. No ano passado, a ONUSIDA definiu n nove prioridades para o Programa Conjunto Legenda da imagem - O lançamento foi aberto com canções com objectivos altos, mas alcançáveis. Sete carregadas de mensagens sobre a importância de as pessoas dos objectivos focalizam na prevenção, serem testadas colectivamente destacando o apelo da ONUSIDA pela “revolução de prevenção” - uma revolução que reconhece a de HIV de qualquer pessoa é privado e confidencial. heterogeneidade da pandemia de HIV, providencia A divulgação é uma decisão individual. Devemos uma prevenção mais direccionada para os grupos respeitar as decisões dos que escolhem manter o seu mais em risco e reverte o sub-investimento estado confidencial, seja positivo ou negativo”, ele disse. sistemático nas intervenções de prevenção. O Presidente Zuma disse que a campanha de testagem e aconselhamento tem o objectivo de mudar Fonte: The Lancet, Volume 375, Issue 9714, Pages 533 as atitudes e retirar o estigma associado ao HIV. 535, 13 February 2010, ver http://www.unaidsrstesa.org/files/u1/Sidibé_ Prevention_Revolution_lancet.pdf 6 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Tratamento de HIV poderá prevenir pelo menos nove em cada dez transmissões Por Gus Cairns & Kelly Safreed-Harmon Um estudo sobre a transmissão de HIV entre casais heterossexuais serodiscordantes de longa data em África descobriu que a oportunidade de transmissão é reduzida em pelo menos 90% se o parceiro seropositivo estiver a fazer terapia antiretroviral. Em comparação, este é melhor que a eficácia de 100% de tentativa de uso de preservativo, que está na ordem de 85% (com uma alta margem de incerteza). Houve uma transmissão dum parceiro que estava a seguir terapia de HIV, porém, a apresentadora Deborah Donnell disse que isto indicava que o conselho para os casais serodiscordantes de que devem manter sexo mais seguro não deve mudar, mesmo quando o parceiro seropositivo estivesse em tratamento. A proporção dos casais que tiveram sexo desprotegido realmente baixou quando o parceiro seropositivo começou o tratamento, aliviando medos sobre a mudança de comportamento, pelo menos nesta população e a curto prazo. A outra importante conclusão deste estudo foi de que os parceiros não tratados com contagem de CD4 abaixo de 200 células/mm3 foram aproximadamente cinco vezes com mais probabilidade de transmitir HIV do que aqueles com contagem de CD4 acima de 350 células/mm3, fortalecendo o caso para alargar a provisão de antiretrovirais (ARV) para todas as pessoas com baixa contagem de CD4. Parceiros no Estudo de Prevenção Este sub-estudo foi puramente observacional – não foi de pessoas ao acaso para a terapia de HIV – assim os seus resultados não podem ser considerados como conclusivos. Donnell sublinhou que para isso, teremos que esperar pelos resultados do estudo de HTPN 052, que está actualmente em curso. No estudo, foram incluídos 3.381 casais serodiscordantes de sete países da África Austral e Oriental. A idade média das mulheres no estudo foi de 29 e 37 homens, e dois-terços dos parceiros seropositivos eram mulheres. Todos os parceiros seropositivos tinham HSV-2. Na linha de base, cerca de 30% dos parceiros reportaram ter tido sexo desprotegido com o seu parceiro no mês anterior. Ninguém estava em tratamento de HIV na linha de base e um dos critérios da inclusão do estudo foi de que o parceiro seropositivo tinha que ter uma contagem de CD4 acima de 250 células/mm3. Uma contagem média de CD4 da linha de base era acima de 400 células/mm3. A contagem de CD4 foi feita em cada seis meses e avaliado o estado serológico. A terapia de ARV foi apurada através de auto-relatório: não houve nenhuma confirmação independente de que as pessoas estavam de facto a fazer a terapia de HIV. As mulheres a fazerem terapia a curto prazo para a prevenção da transmissão de mãe para bebé (PMTCT) não foram contadas como estando a seguir ARVs, e cerca de um-terço das mulheres de facto tomavam ARVs para este propósito há um determinado tempo. Durante o estudo, 349 pessoas, cerca de 10% do total, iniciaram o tratamento de HIV. Aproximadamente metade das pessoas que iniciaram o tratamento tinha uma contagem de CD4 inferior a 200 células/mm3 no início e um-terço entre 200 e 350 células/mm3. Houve 151 novas Infecções de HIV no estudo. Um aspecto importante do estudo foi de que o vírus de imunodeficiência humana na transmissão e os parceiros infectados estavam sequenciados para mostrar que a nova infecção tinha de facto vindo Parceiros não tratados tinham mais probabilidade de transmitir HIV se tivessem baixa contagem de CD4. s Este foi um sub-estudo nos Parceiros no Estudo de Prevenção, um grande estudo randomizado controlado concebido para ver se o tratamento para vírus de herpes genital HSV-2 poderia reduzir a transmissão de HIV. O principal estudo, como reportado na Conferência de IAS do ano passado na Cidade do Cabo, descobriu que o tratamento de herpes era ineficaz como prevenção de HIV. VOLUME VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 > 2010 7 O risco relativo da transmissão dum parceiro a tomar ARVs, quando ajustado a tempo no estudo e contagem de CD4, foi de 0,08; uma redução de 92% na transmissão de HIV. dum parceiro a longo prazo, e 108 estavam assim ligados: assim 28,5% das infecções vieram de alguém que não era o parceiro primário. Cinco destas 108 transmissões foram excluídas porque o estado de ARV do parceiro era desconhecido e uma porque o parceiro seropositivo era uma mulher que tomava ARVs para PTMPF. Apenas uma das transmissões veio dum parceiro tomando ARVs. Quando a incidência de HIV foi calculada em termos de pessoa-anos de seguimento, os utentes de antiretrovirais e seus parceiros tinham uma taxa de transmissão de 0,39 por 100 pessoa-anos (1 caso ÷ 256 pessoa-anos) (95% intervalo de confiança [CI], 0,09-2,18). Os não utentes de antiretrovirais e seus parceiros tinham uma taxa de transmissão de 2,23 por 100 pessoa-anos (102 casos ÷ 4.851 pessoaanos) (95% CI, 1,84-2,70). Isto significava um risco relativo de transmissão dum parceiro tomando ARVs, quando ajustado pelo tempo no estudo e contagem de CD4, foi de 0,08; uma redução de 92% na transmissão de HIV. Algumas diferenças significativas foram observadas entre sub-séries dos participantes do estudo. Uma proporção mais alta de homens (12%) do que mulheres (9%) iniciou terapia de antiretrovirais (p = 0.01). os homens iniciaram a terapia de antiretrovirais numa contagem média das células CD4 de 192 células/mm3, enquanto a média para as mulheres foi de 204 células/mm3 (p = 0,05). O único caso da transmissão envolveu um homem que iniciou ARVs 18 dias antes da sua visita de estudo de 12 meses. Nesta visita, o seu parceiro testou seropositivo, tendo sido negativo no mês 9. A sua contagem de CD4 foi na ordem de 200 a 350 células/mm3. Os parceiros não tratados tinham mais probabilidade de transmitir HIV se tivessem uma baixa contagem de CD4. A incidência anual de HIV entre parceiros seronegativos foi de 8,79% se o seu parceiro tivesse uma contagem de CD4 inferior a 200 células/mm3, 2,79 para a contagem de CD4 entre 200 e 350 células/mm3, 1,70 entre 350 e 500 células/ mm3, e 1,82 para CD4s acima de 500 células/mm3. O sexo desprotegido baixou quando os parceiros começaram os ARVs. Antes do tratamento de ARV, 6,2% dos parceiros reportaram sexo desprotegido no mês anterior: 3,7% reportaram 8 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 depois do início do tratamento não houve mudança na frequência sexual . Este estudo teve muitas limitações: não foi aleatorio, o estado de ARV baseou-se no autorelatório e a transmissão e dados comportamentais foram apenas seguidos por um máximo de dois anos. Usando uma única transmissão para calcular o risco de infecção por uma pessoa tomando ARVs envolve uma análise estatística sofisticada e, como notado acima, um intervalo de confiança muito grande. Os membros da audiência também comentaram que a incidência das doenças de transmissão sexual foi baixa (como, de facto, foram os sintomas de herpes) e que um estudo similar devia ser realizado em homens homossexuais. Não obstante, Donnell comentou que os ARVs parecem conferir um benefício significativo de prevenção em todos os intervalos de células CD4 e este estudo vai de alguma forma rumo à sua correcta quantificação. É vital que a evidência produzida pela pesquisa deste tipo seja destacada no seio das comunidades e entre as pessoas com influência nas organizações doadoras. O acesso universal ao tratamento é a forma mais eficiente de garantir que as taxas de transmissão e novas infecções sejam reduzidas e é vital que os fundos para os programas de tratamento de ARV não sejam cortados, como actualmente ameaçados, mas ao contrário, aumentados e alargados. Referência: ARTE de Donnell D e outros e risco da transmissão HIV-1 heterossexual nos pares HIV-1 africanos serodiscordant: um estudo em perspectiva multinacional. Décima sétima conferência sobre Retroviruses e infecções oportunistas, San Francisco, abstrato 136, 2010. Cortesia Reprinted de AIDSMAP http://www.aidsmap.com/en/news/062B2F32-1B294CCA-A047-820E21721D9B.asp Uma questão de vida e morte: Homofobia ameaça trabalho de prevenção de HIV em África Por Carolyn Hanson Em Fevereiro, os educadores de pares numa clínica de HIV no Quénia, que presta serviço aos homens que têm sexo com outros homens (MSM) foram selvaticamente espancados por uma multidão anti-homossexual que regou alguns dos homens com petróleo e tentou queimá-los. No Malawi, um líder dum grupo de base trabalhando para parar o HIV entre MSM foi à estação da polícia local para apresentar uma queixa depois dum arrombamento do seu escritório – e foi detido por distribuir materiais de prevenção de HIV que a polícia considerava “pornográfico.” E no Uganda, a legislatura do país está a considerar seriamente as leis anti-homossexuais que iriam tornar fazer sexo consensual entre adultos seropositivos punível pela morte. Uma onda de retórica e violência homofóbicas em alguns países africanos está a prejudicar os esforços para combater as altas taxas de HIV entre MSM. A homofobia, de facto, está presente em todo o país. Mas uma onda de retórica e violência homofóbicas em alguns países africanos está a prejudicar os esforços para combater as altas taxas de HIV entre MSM. Activistas dos direitos humanos, activistas de SIDA e organizações de MSM de base - incluindo muitos grupos financiados pela Iniciativa de MSM de amfAR – diz que o progresso que tinha sido feito ao longo dos últimos anos em atingir os MSM africanos está a ser ameaçado por um novo clima de medo e repressão que está a atingir partes do continente. Uganda: “Seremos forçados a trabalhar na clandestinidade” O comportamento sexual de pessoas do mesmo sexo foi há muito tempo banido no Uganda, mas a guerra nacional contra a homossexualidade começou a escalar na primavera de 2009, quando muitos clérigos evangélicos dos EUA fizeram uma visita para orientar uma série de palestras contra a ‘agenda antissexual’. Entre o fervor anti-homossexual que seguiu, em Outubro, o membro do Parlamento David Bahati introduziu uma legislação antihomossexual no Parlamento. A proposta lei iria impor a pena de morte para a ‘homossexualidade agravada’, que inclui quaisquer actividades sexuais de pessoas do mesmo sexo por pessoas seropositivas. Ela aplica até a prisão perpétua para alguém condenado pela homossexualidade ou tentativa de homossexualidade. Seria também aplicada a pena de prisão a alguém que conhece da conduta homossexual e não a reporta - efectivamente criminalizando os esforços de qualquer pessoa que providencie serviços de HIV aos membros da comunidade de lésbicas, homossexuais, bissexuais e transexuais (LGBT). Pepe Julian Onziema é o Coordenador do Programa de HIV/SIDA na Minorias Sexuais do Uganda (SMUG), que recebeu um prémio comunitário da iniciativa de MSM de amfAR pela advocacia e extensão com o objectivo de restringir a propagação do HIV entre MSM. Ao longo de vários meses, Onziema explicou que a oposição vocal de SMUG em relação ao decreto lei tornou a meta da cobertura sensacional da imprensa e criou medos que qualquer pessoa associada com a organização será sujeita à violência ou detenção. A provisão dos serviços de HIV tornou-se quase impossível. “Referíamos os nossos clientes a médicos que tinham aceite ajudar-nos, mas torna-se difícil continuar porque têm medo que algo aconteça nos seus empregos”, Onziema explicou. “Um médico ainda consegue dar-nos preservativos, que somos capazes de distribuir para os MSM através da organização dos homens. Mas estamos limitados no número de pessoas que somos capazes de atingir”. VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 9 Se o decreto-lei for aprovado, Onziema reconhece, a SMUG será incapaz de continuar a trabalhar abertamente com os membros da comunidade de LGBT. “Seremos forçados a trabalhar na clandestinidade, e isso irá apenas aumentar os casos de abuso e Infecção de HIV” . Malawi: “Você pode correr, mas não“POLÍCIA podeCAÇA esconder-se” HOMOSSEXUAIS PROEMINENTES.” Este título na edição de 28 de Fevereiro de 2010 do Jornal malawiano em letras garrafais em cima duma fotografia de dois homens, cuja detenção nos finais de Dezembro de 2009 por terem realizado uma cerimónia tradicional de noivado precipitou uma onda de hostilidade antihomossexual no Malawi. A primeira linha da história cia para transmite uma mensagem chocante da polícia m os ‘famosos homossexuais’ que alega estarem a providenciar encorajamento para os homens noivados e distribuição de pornografia: “Você pode correr, mas não pode esconder-se”. As ‘proeminentes pessoas’ descritas no artigo são, de facto, membros de amfAR- grupo de ajuda de base, Centro de Desenvolvimento das Pessoas (CEDEP), que providencia a testagem, aconselhamento de HIV e extensão para MSM e outros gruposs vulneráveis. A ‘pornografia homossexual’ em questão? DVDs e panfletos informativos sobre a prevenção de HIV. Até à altura em que este artigo inflamatório apareceu, o pessoal de CEDEP rio tinha já sido forçado a encerrar o seu escritório e, em Blantyre e mudar para a capital, Lilongwe, depois de dois trabalhadores da saúde da organização terem sido detidos. Em Lilongwe, tem sido impossível para CEDEP continuar as suas actividades de prevenção de HIV. “Queríamos conduzir um grande estudo para determinar o tamanho da população de MSM no Malawi. Mas não podemos fazer isso agora porque as pessoas não irão aceitar serem entrevistadas,” explicou o Director de CEDEP, Gift Trapence. “A comunidade de MSM não pode aceder a testagem porque foi obrigada a trabalhar na clandestinidade. Essas pessoas têm medo da polícia – e as reportagens da imprensa estão a aumentar a ameaça. A imprensa tem estado a publicar declarações da polícia dizendo que tem uma lista de homossexuais e que serão todos detidos”. Em resumo, ele disse: “Os programas relativos ao HIV pararam. Estamos apenas a fazer advocacia para ver se esta situação pode ser melhorada”. Uganda MSM: Um treinamento para educadores do par de MSM em SOBERBO em Uganda. Devido aos interesses da privacidade e da segurança, homens declinados mostrar suas caras na f fotografi a. Foto: Pepe Onziema juliano Peterr Njane (direito) e seu colega Solomon Wambua está entre aqueles que trabalham para aumen aumentar a consciência de HIV and AIDS entre MSM, de Kenya. Foto: Kelli Anderson 1 10 Em maio 2010 uma comissão apontada por Yowerei Museveni recomendou retirar a conta http://en.wikipedia.org/wiki/Uganda_Anti-Homosexuality_Bill#cite_note VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Quénia: “Não há actividades de prevenção [para MSM] em curso agora.” No Quénia, um ataque de 12 de Fevereiro numa clínica de HIV na cidade costeira de Mtwapa, perto de Mombasa, surgiu depois dum rumor de que dois homens locais estavam a planificar ali uma cerimónia de casamento. Incitada por reportagens da rádio local sobre o alegado casamento e por líderes religiosos que discutiram o assunto durante as orações da Sexta Feira, uma multidão de várias centenas atacou a clínica no Instituto de Pesquisa Médica do Quénia (KEMRI), que implementa um programa de HIV para MSM. A violência alastrou-se, à medida que as multidões enfurecidas atacavam as casas dos homens conhecidos ou suspeitos como sendo MSM. A polícia foi capaz de reprimir a violência – através da detenção de seis dos homens que tinham sido atacados pela multidão. Peter Njane, director do grupo Ishtar MSM financiado pela amfAR, esteve envolvido nos esforços de libertar os homens da custódia e está agora a trabalhar com outros activistas para garantir a sua segurança. Os serviços de HIV na zona dos ataques foram desde então paralisados. “As pessoas costumavam obter os seus antiretrovirais em KEMRI”, disse Njane. “Enquanto estiver encerrado, não há provisão de preservativos e lubrificantes e não há serviços médicos para esta comunidade. Algumas destas coisas, tais como lubrificantes, estão disponíveis em qualquer lugar noutros sítios. Não há actividades de prevenção em curso neste momento”. mentada u a o ã ç n e t Aa Ishtar a u e d s io e dos m taforma la p a m u M MS a MSM de r a p a d a r e inesp sagens n e m m o c alcance ão. “Mais da prevenç m sobre povos sabe tiva. nossa inicia nós fomos Depois que os nos meios, mencionadsite mantevenosso Web s povos que se atolar. O informação precisam a -nos” estão vindo Mesmo quando a clínica for capaz de recomeçar os serviços de HIV, o medo persistente não será facilmente dissipado, tornando mesmo mais difícil para atingir a população vulnerável. “Alguns dos homens que foram atacados não têm certeza se serão capazes de regressar ao serviço como educadores de pares”, disse Njane. “E estamos a ouvir doutras organizações de SIDA na zona que as pessoas têm medo de ir aos seus serviços para reuniões”. Uma mudança da maré? Apesar do medo e discriminação - mesmo a violência e ameaça de serem processados judicialmente - os que trabalham na linha da frente na luta pelos serviços de HIV para MSM permanecem determinados a continuar a sua luta. Alguns até podem ver a maré a mudar - devagar mas certamente - a seu favor. “Há cinco anos, as pessoas não falavam sobre homossexualidade mas agora tenho diálogos sobre o mesmo tópico”, disse o queniano Njane. A crescente atenção da imprensa, ele explicou, deu à Ishtar MSM uma inesperada plataforma para atingir os MSM com mensagens de prevenção. “Mais pessoas sabem sobre a nossa iniciativa. Depois de termos sido mencionados na imprensa, o nosso sítio da Internet ficava sempre congestionado. As pessoas que precisam de informação vêm ter connosco”. Em Malawi, Trapence e os seus colegas permanecem famosos activistas para MSM e outras minorias, falando para líderes e activistas em casa e no estrangeiro, e arriscando a sua própria segurança por falar para a imprensa. Ele tem razão de esperar que pelo menos alguns no Governo do Malawi serão receptivos para a sua mensagem. Graças aos esforços de advocacia de CEDEP, em 2009 os MSM foram incluídos pela primeira vez no plano estratégico nacional do Malawi sobre HIV e SIDA. No Uganda, o SMUG é pioneiro nos esforços para vencer o decreto-lei de anti-homossexualidade. Nos princípios de Março, os líderes de SMUG foram parte duma delegação, incluindo provedores de serviço de SIDA, activistas dos direitos humanos e religiosos que apresentaram uma petição assinada por mais de 450.000 pessoas ao Presidente do Parlamento do Uganda. Confrontado com uma intensa pressão de todo o mundo, Uganda poderá retirar algumas das disposições mais severas do decreto lei, incluindo a pena de morte. Mas os opositores indicam que a aprovação da legislação em qualquer forma irá mutilar os esforços para combater o HIV no seio dos MSM do Uganda. Ao conduzi-los para a clandestinidade e negá-los o acesso à prevenção e tratamento para a salvação, Uganda irá – independentemente do que a lei diz – estar a dar a estes homens uma sentença de morte. Este artigopublicou-se original naintrodução da mola 2010 das inovações: O boletim de notícias do Amfar, a fundaçãopara a pesquisa do AIDS, e no website dos Amfar, www.amfar.org. Amfar é dedicado a terminar a epidemia de SIDA global com a pesquisainovativa. VOLUME VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 > 2010 11 Acesso ao tratamento e cuidados de HIV: As zonas rurais Zimbabweanas estão a Por Vakai Matutu Em 2002, o Governo do Zimbabwe declarou o HIV e SIDA uma emergência nacional. Isto foi seguido pela adopção duma escalada resposta multi-sectorial compreensiva para a epidemia coordenada pelo Conselho Nacional do Combate ao SIDA. Estes esforços multi-sectoriais viram a global prevalência de HIV na população adulta (15-49 anos) doZimbabwe cair duma estimativa máxima de 24,6% em 2003 para 13,7% em 2009. Apesar destes esforços, o país registou significativos impactos negativos da pandemia. Os aspectos mais importantes dignos de realce são os crescentes números de órfãos e crianças vulneráveis devido ao SIDA e a alta morbidade e mortalidade em todos os sectores da economia e da população. A pandemia de HIV causou uma grande pressão nos recursos orçamentais num contexto de constrangimentos de recursos como é o caso do Zimbabwe, que viu o sistema nacional de prestação da saúde sendo sobrecarregado pela procura dos seus serviços, ao mesmo tempo que a capacidade estava a diminuir devido aos limitados recursos e grande redução do pessoal entre os trabalhadores de saúde. As estimativas de HIV de 2009 colocam a prevalência de HIV em adultos em 13,7%, enquanto a prevalência de HIV pelo lugar de residência é de 14,4% para a zona urbana e 16,1% para a zona rural. Para os últimos dois anos, a prevalência rural (em 16,4% em 2008) foi mais alta do que a urbana (15,3% em 2008), apesar de o Relatório das Estimativas de HIV de 2009 acautelarem que esta tendência poderá ser devido à reclassificação dos dados do censo e a possível sobreposição da clientela entre as zonas rurais e urbanas, dado que historicamente, a prevalência foi mais alta nas zonas urbanas. O número estimado de pessoas vivendo com HIV (PVHIV) em 2009 era de 1.102.864, inferior a 1.103.988 em 2008, incluindo adultos e crianças. A proporção das mulheres vivendo com HIV mantevese em 60% para os anos de 2008 e 2009. Este artigo argumenta que apesar da resposta multi-sectorial ao HIV e SIDA, os homens e mulheres, adultos e crianças vivendo nas zonas rurais não beneficiaram de forma igual da resposta multisectorial ao HIV. As zonas rurais estão atrasadas, especialmente no acesso aos serviços de tratamento e cuidados. As mulheres ocupam um posto complexo – elas são as provedoras gratuitas dos serviços de cuidados de HIV enquanto também são as mais infectadas e afectadas; acima de tudo, elas estão num quadro social, económico e cultural que lhes tira o poder em todas as esferas da vida. 12 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 O tratamento e cuidados de HIV formam o núcleo da resposta ao HIV. As principais intervenções são: o tratamento das infecções oportunísticas (OIs) e doenças de transmissão sexual (DTS); prevenção da transmissão da mãe para o filho (PTMPF); terapia antiretroviral (TARV); aconselhamento, apoio nutricional; cuidados comunitários e domiciliários (C& HBC); e testagem e aconselhamento de HIV. Em 2009, o lema da Campanha do Dia Mundial Contra o SIDA enfatizou a necessidade de escalonar os serviços de tratamento e cuidados. Em 2010, o lema é ‘Acesso Universal e Direitos Humanos: Juntos Venceremos’. A visão do Conselho Nacional do Combate ao SIDA é ‘Não Transmissão de HIV, Acesso universal aos Serviços de HIV e SIDA’. A pergunta é: com toda a pressão colocada no acesso universal aos serviços de HIV, porque é que a reposta multi-sectorial fracassou ser inclusiva no seu alcance? Permanece exclusiva e as zonas rurais, as mulheres e crianças estão a perder o comboio de acesso universal aos serviços de HIV. Acesso aos serviços de tratamento e cuidados O acesso ao tratamento é importante na redução da morbidade, melhoramento da longevidade e qualidade da vida das pessoas vivendo com HIV. Porém, o acesso ao TARV depende doutros serviços importantes. Depende da disponibilidade dos serviços de testagem e aconselhamento, PTMPF e da existência de sistemas de apoio psicosocial, boa nutrição e C&HC. Estes complementam-se um ao outro e o sucesso ou fracasso de um afecta o outro. O acesso aos serviços de HIV é geralmente para pessoas vivendo nas comunidades rurais e peri-urbanas em África O acesso ao tratamento é importante na redução da morbidade, melhoramento da longevidade e qualidade da vida das pessoas vivendo com HIV. Porém, existem sérios fossos na actual provisão de serviços. A testagem de HIV é o ponto de entrada para os cuidados e tratamento de HIV e são essenciais os programas de apoio pós-teste. Quando uma comunidade vê os membros comunitários vivendo com HIV no TARV e a terem vidas normais e produtivas, motiva para as pessoas irem à testagem. Porém, as zonas rurais não tiveram o pacote completo de serviços de apoio complementar, tratamento e cuidados e os serviços de tratamento e cuidados continuam a ser fragmentados. As zonas rurais não têm apoio e financiamento suficientes em cuidados e tratamento de HIV em comparação com as zonas urbanas. A pergunta é: porquê? Os fossos O acesso ao TARV é fundamental para o tratamento e cuidados para as PVHIV onde quer que residam. Porém, existem sérios fossos na actual provisão de serviços, com limitada colaboração ou integração na linha dos cuidados para as PVHIV nas zonas rurais. Os conflitos de interesses prejudicaram muito o serviço para as comunidades rurais. A situação é exacerbada pela falta da livre contagem de CD4, função do fígado e outros testes que são importantes na iniciação de TARV e gestão permanente, enquanto a falta crítica de pessoal qualificado no PTMPF, IO e TARV quebrou a corrente dos serviços de tratamento e cuidados nas zonas rurais. Acesso ao tratamento As PVHIV vivendo nos distritos como Gokwe North não têm local de TARV permanente para servir a população de mais de 240.000 pessoas. Não existe um hospital distrital em funcionamento e apenas dois hospitais da missão cuja cobertura e capacidade são limitadas. Os distritos tais como Gokwe South, Sanyati e Mhondoro-Ngezi têm um local de TARV cada mas enfrentam o desafio da sua capacidade para atingir todos os seus cantos. Uma pesquisa feita pela Rede e Centro de Recursos das Mulheres do Zimbabwe (ZWRCN) concluiu que o acesso ao tratamento na maioria das comunidades rurais era prejudicado pela falta de dinheiro, longas distâncias e estradas em más condições. • As pessoas devem percorrer distâncias muito longas a pé ou de carroça de tracção animal e se for para continuar a viagem para frente, elas enfrentam um sério desafio para obter dinheiro de transporte, dado que as pessoas vivendo nas zonas rurais têm uma disponibilidade muito limitada de rendimentos. • As zonas rurais são as mais afectadas pela redução do pessoal no sistema de prestação dos serviços da saúde. Más condições de comunicações e redes rodoviárias e falta de serviços são factores de preocupação para o pessoal; isto no topo da baixa remuneração e sem incentivos para trabalho nas zonas rurais. Mulheres e crianças Para as mães grávidas, as longas distâncias constituem um grande desafio. Muitas recorrem a partos domiciliários com a ajuda de parteiras tradicionais não qualificadas. Isto apresenta graves riscos de transmissão vertical de HIV, para não mencionar complicações mortíferas que algumas mães enfrentam. Em Gokwe North, os partos domiciliários são uma prática comum devido à limitada cobertura de instalações sanitárias assim como crenças religiosas e culturais. Informação É vital a informação para a compreensão e absorção de qualquer serviço sanitário, mas nas zonas rurais, há disseminação limitada de informação para ajudar as pessoas a tomar decisões informadas dado que a imprensa escrita e electrónica geralmente não as atinge. A pouca informação que chega a elas está em inglês, em vez de ser nas línguas nacionais, tais como Shona, Nbebele e Tonga. O estudo da ZWRCN concluiu que existe pouco conhecimento de TARV em Shurugwi e Gwanda. Alimentação e nutrição O apoio nutricional e a cobertura dos cuidados domiciliários compreensivos e eficazes têm sido baixos, juntamente com baixos salários. As intervenções têm sido escassas, inconsistentes e insustentáveis devido à implementação esporádica e fragmentada. O CHBC ATLAS (2008), uma produção do Conselho Nacional de Combate ao SIDA, Ministério da Saúde e Bem-Estar da Criança, com o apoio de parceiros tais como Rede de Sida do Zimbabwe (ZAN) e UNICEF, mostra a variação de distrito a distrito na cobertura dos serviços de tratamento, cuidados domiciliários, alimentação e nutrição com alguns distritos, tais como Insiza, Mazowe, Mwenezi e Tsholotsho registando 100% em todos os serviços, VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 13 As mulheres nas zonas rurais estão no centro de produção, proporcionando mão-de-obra gratuita sendo igualmente provedoras de cuidados domiciliários, mas a sua pesada carga horária priva-as do acesso ao tratamento, especialmente onde elas devem percorrer longas distâncias, dado que a maioria das mulheres não tem remuneração e são incapazes de pagar para tratamento médico. enquanto os outros tinham uma cobertura de zero. Uzumba Maramba Pfungwe, Guruve, Gokwe North, Centenary e Zaka tinham apenas 3% de cobertura nos três serviços. O Atlas não apresenta detalhes sobre a qualidade, consistência e compreensibilidade dos serviços sendo prestados para a comunidade, mas explica a variação na cobertura no seio dos distritos como sendo devido à presença ou ausência de organizações implementadoras, sem conhecimento sobre o porquê estas organizações estão ausentes em alguns distritos. As parcerias entre as organizações implementadoras não foram feitas devido a diferentes fontes de financiamento e o desejo de ambas as organizações implementadoras e os seus doadores quererem fazer os seus nomes na comunidade. A Avaliação Nacional de 2006 de C&HBC e o acesso aos serviços de tratamento concluíram que a falta de informação e abordagens sobre os serviços pelas diversas organizações implementadoras resulta nas actividades de C&HBC e TARV sendo implementadas de forma desintegrada. Assim, as deficientes ligações e colaboração do programa destruíram os sistemas de referência e resultaram em programas fragmentados com poucas sinergias e fraca utilização dos recursos, o que custa para as pessoas rurais e para o país. Mulheres e crianças As mulheres continuam marginalizadas, apesar de constituírem a maioria da população rural e continuarem no centro da epidemia devido às relações de poder desiguais e valores socio-culturais que exigem silêncio, submissão e conformismo. Estes papéis de género tornam difícil para as mulheres se protegerem (SAfAIDS, 2004). As mulheres nas zonas rurais estão no centro de produção, proporcionando mão-de-obra gratuita sendo igualmente provedoras de cuidados domiciliários, mas a sua pesada carga horária 14 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 privaas o acesso ao tratamento, especialmente onde elas devem percorrer longas distâncias, dado que a maioria das mulheres não tem remuneração e são incapazes de pagar para tratamento médico. A pior manifestação do desequilíbrio do poder do género é a violência sexual (MOHCW/NAC, 2004) e a violência geral contra a mulher. A violência expõe a mulher à infecção de HIV, rebaixa a sua auto-estima e afecta a sua habilidade para procurar tratamento e cuidados para a infecção de HIV. A Avaliação Nacional de 2006 de C&HBC nota que C&HBC prestou atenção insuficiente para as necessidades especiais da criança no TARV. Nas zonas rurais há uma grande falta de pessoal qualificado em TARV de pediatria. O seguimento dos bebés expostos ao HIV é crítico se eles forem para aceder aos serviços de tratamento e cuidados. Também existe pouco apoio nutricional para as crianças vivendo com HIV. O Futuro Se for para os fossos destacados neste artigo serem resolvidos, uma mudança deliberada de políticas é necessária para assegurar que as zonas rurais recebam os dividendos da resposta multisectorial ao HIV. A actual resposta de HIV deve ser escalonada, com um especial enfoque nas zonas rurais, nas mulheres e crianças. Para atingir isto, os papéis de coordenação, planificação e monitoria e avaliação do NAC devem ser apoiados. O NAC também precisa de ser empoderado para direccionar ou redireccionar os recursos para reduzir os actuais fossos. O fracasso da provisão do acesso universal aos serviços de tratamento e cuidados e de garantir que as mulheres e crianças nas zonas rurais tenham acesso universal aos serviços de tratamento e cuidados podem ser considerados como uma violação dos direitos humanos e devem ser abordados o mais rapidamente possível. Editor: Este artigo destaca o crescente fosso entre a vida rural e urbana que ocorre em todo o continente africano. Se for para genuinamente abordarmos os assuntos de acesso universal ao tratamento, lavagem de cérebro e pobreza rural, então as agências multilaterais devem estar preparadas para apoiar o melhoramento dos programas, abordando a falta de instalações e infraestruturas básicas nas zonas rurais. Bibliografia Ministry of Health and Child Welfare (2009) Zimbabwe National HIV/AIDS Estimates Ministry of Health and Child Welfare and National AIDS Council (2004).The HIV and AIDS epidemic in Zimbabwe, Harare National AIDS Council and MOHCW (2008) CHBC Atlas, Intervention Mapping for Comuity Based Care in Zimbabwe, Harare National AIDS Council (2006) National Review of Comuity Home Based Care and Access to Treatment Services in Zimbabwe, Harare SAfAIDS (2004) SAfAIDS News Vol.1, Harare Zimbabwe Women Resource Centre and Network (sem data) Picture My Life, Experiences of Women and Men Affected by HIV/AIDS in Gwanda and Shurugwi, Harare Vakai Matutu é atualmente coordenador do distrito HIV/AIDS para Sanyati e Mhondoro-Ngezi. vakaimatutu@ yahoo.co.uk Testagem e tratamento de HIV para prevenir TB O diagnóstico precoce de HIV e o início do tratamento antiretroviral (TARV) seriam as armas mais importantes na batalha contra a tuberculose associada ao HIV, mas isto necessitaria duma grande injecção de recursos na África Austral, onde as duplas epidemias de TB e HIV reivindicam a maioria das vidas. Os autores dum artigo, parte dum seriado sobre TB na revista médica britânica, The Lancet, notam que a doença foi responsável por mais de um quarto de dois milhões de mortes atribuídas a doenças relacionadas com HIV em 2008 e é a causa número um da doença e morte em pessoas vivendo com HIV em África, apesar de os esforços para conter a co-infecção de TB-HIV terem sido “tímidos, lentos e descoordenados”. Está em curso uma mudança rumo à testagem e tratamento precoces de HIV. Muitos países adoptaram as directrizes de 2009 da Organização Mundial da Saúde (OMS) que elevaram o limite para o início do tratamento antiretroviral de uma contagem de CD4 inferior a 200 para 350. O tratamento precoce de ARV como ferramenta para prevenir a TB recebeu menos atenção, mas a realidade é que “muitas pessoas com infecção de HIV começam o TARV (tratamento antiretroviral) demasiado tarde, especialmente em África e já desenvolveram TB até ao tempo em que se apresentam aos serviços sanitários para cuidados”, disseram os autores. O Professor Anthony Harries, Conselheiro Sénior para a União Internacional Contra a Tuberculose e Doença do Pulmão e autor principal do artigo, Muitas pessoas com Infecção de HIV iniciam o tratamento antiretroviral demasiado tarde, especialmente em África e já desenvolveram a TB até ao tempo em que se apresentam aos serviços sanitários para cuidados. congratula-se com as directrizes da OMS mas apoia uma abordagem mais radical, ainda que se sujeitem a triagens de campo da testagem de HIV de todos os adultos uma vez por ano e iniciar imediatamente os ARVs para todas as pessoas cujos testes saírem positivos. Esta estratégia, baseada em conclusões de modelo matemático publicadas no The Lancet em Novembro de 2008, poderia reduzir a prevalência de HIV para menos de 1% dentro de 50 anos num país com uma epidemia generalizada, como é o caso da África do Sul. Usando o mesmo modelo, Harries e os seus coautores estimaram que a incidência de TB associada à TB poderia ser mais de metade se o tratamento de ARV começasse dentro de cinco anos da infecção. O diagnóstico precoce de HIV e o início do tratamento antiretroviral (TARV) seriam as armas mais importantes na batalha contra a tuberculose associada ao HIV, mas isto necessitaria duma grande injecção de recursos na África Austral, onde as duplas epidemias de TB e HIV reivindicam a maioria das vidas. Os autores dum artigo, parte dum seriado sobre TB na revista médica britânica, The Lancet, notam que a doença foi responsável por mais de um quarto de dois milhões de mortes atribuídas a doenças relacionadas com HIV em 2008 e é a causa número um da doença e morte em pessoas vivendo com Materiais de TB disseminados na reunião em Quénia, 2007 VOLUME VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 > 2010 15 HIV em África, apesar de os esforços para conter a co-infecção de TB-HIV terem sido “tímidos, lentos e descoordenados”. Os 3Is Na ausência do diagnóstico precoce e tratamento de HIV, o artigo de The Lancet argumenta que muitas vidas poderiam ser salvas pela melhor implementação de políticas para a prevenção de TB associada ao HIV conhecida como os 3Is: intensificação da busca activa da TB, controlo de infecção e terapia preventiva com isoniazida. Uma das principais dificuldades na implementação dos 3Is foi o diagnóstico de TB em doentes seropositivos, particularmente em países de baixa renda sem equipamento para conduzir a testagem de culturas, a forma mais fiável para diagnosticar a TB, em que as amostras são cultivadas num líquido especial. O diagnóstico problemático dificultou por seu turno o uso de isoniazida para tratar a infecção latente de TB. O medo de criar resistência de medicamento por receitá-lo a doentes com TB não detectada significou que Botswana é o único país na África Austral que incorporou esta abordagem nas suas políticas nacionais de TB. Harries, que trabalhou como conselheiro técnico para o Departamento de HIV/SIDA e o seu programa de controlo da TB no Malawi, disse que os programas de HIV devem ser responsáveis pela implementação dos 3Is, garantindo que os doentes diagnosticados com HIV recebam cuidados antes de iniciar o tratamento de ARV . “Na maioria dos países pobres da África, as pessoas fazem o teste de HIV e talvez nem obtêm a contagem de CD4, assim alguém faz a avaliação clínica e decide se o doente está na fase três ou quatro (quando o tratamento de ARV geralmente começa). Se o doente estiver na fase um ou dois (assintomáticos), então basicamente é dito, “Pode ir e virá ter connosco quando estiver doente,” disse ele. “Precisamos de cuidados de pré-TARV: uma clínica onde as pessoas iriam de três em três meses para serem testadas e dadas cotrimoxazol, um antibiótico que ajuda a prevenir as infecções oportunísticas) ou isoniazida.” Uma abordagem mais inovadora, mas ainda não testada, que Harries e os seus co-autores propõem no artigo de The 16 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Lancet, seria providenciar o tratamento de TB a todos os pacientes infectados com HIV que estão doentes e com baixa contagem de CD4. “Sabemos que é difícil diagnosticar a TB num contexto [de baixa renda],” disse ele, mas colocando esses doentes em tratamento de TB, “você previne que a pessoa transmita TB todas as vezes que vai à clínica, e se não tiver TB, esta é uma boa terapia preventiva.” Harries apelou para uma maior colaboração entre os programas de TB e de HIV . “No mundo de HIV/SIDA, o activismo desempenhou essa grande parte; na comunidade de TB não somos bons a isso. Devemos ter doentes de TB que foram curados, que estão articulados e eles devem ser activistas de TB e trabalhar com activistas de HIV para lidarem com os legisladores.” Cortesia Reprinted de Irinmais a noticia: www.plusnews.org./report.aspx?ReportiD=89188 Crianças cuidando de pais com HIV Por Dr. Ruth Ivan Este artigo discute a recente pesquisa que explorou as experiências e perspectivas de crianças e jovens cuidando de pais seropositivos no Norte e Sul global. Apresenta conhecimentos únicos nas similaridades e diferenças nas experiências das crianças e dos pais em diversos contextos socioeconómicos, culturais e de bem-estar. O objectivo da pesquisa, liderada pelo Professor Saul Becker, da Universidade de Nottingham, e Dra. Ruth Evans, foi de investigar as experiências, necessidades e resistência das crianças e jovens cuidando de pais ou familiares com HIV e SIDA (‘pequenos cuidadores’). Eles procuraram alguns dos principais assuntos e desafios a serem abordados se as políticas, serviços e intervenções para crianças e famílias afectadas com HIV devem ser mais sensíveis às suas necessidades. Usando a evidência da Grã-Bretanha e Tanzânia, a pesquisa destacou as experiências dos jovens cuidando de um membro da família com HIV a partir de múltiplas perspectivas (mães com HIV, jovens e provedores de serviço), em muitos contextos socioeconómicos, culturais e de bem-estar diferentes. A pesquisa qualitativa envolveu entrevistas profundas com 33 crianças e jovens (com 9 – 24 anos) que cuidavam dum pai ou mãe ou familiar com HIV; 33 mães ou familiares com HIV; e 27 provedores de serviço na Inglaterra e Tanzânia. Foram usados métodos de pesquisa participativos com jovens (incluindo livros de histórias da vida, fotografias e desenhos) para ganhar o conhecimento de diferentes domínios nas suas vidas. A maioria dos jovens na Tanzânia e Grã-Bretanha cuidava duma mãe com HIV e algumas vezes irmãos com HIV em agregados familiares apenas com pai ou mãe; a maioria dos jovens provedores de cuidados é constituída por raparigas. Devido às dificuldades no recrutamento de jovens dos serviços de jovens provedores de cuidados, a maioria dos respondentes na amostra da Grã-Bretanha foi recrutada através de organizações voluntárias e comunitárias que ajudam os pais e seus filhos vivendo com HIV, baseados predominantemente em Londres. Desde a década de 1990, a pandemia global de HIV afectou negativamente as famílias dos emigrantes africanos recém-chegados na Grã-Bretanha e a maioria dos respondentes da Grã-Bretanha vinha das famílias de emigrantes africanos. Um pequeno número de famílias tinha um estado inseguro de emigração que, como a outra pesquisa mostrou, juntou as suas experiências de viver com HIV. As famílias de refugiados africanos afectadas com HIV poderão estar particularmente marginalizadas, dado que enfrentam as pressões financeiras e emocionais ligadas às A principal mensagem emergente da pesquisa é a necessidade do maior reconhecimento das políticas nacionais e globais das responsabilidades de cuidados relativos ao género e idade dos jovens no seio das famílias afectadas com HIV. VOLUME VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 > 2010 17 políticas restritas de imigração e asilo, desigualdade no acesso ao bem-estar, serviços de saúde e serviços de cuidados sociais, discriminação racial e processos mais amplos da exclusão social. A pesquisa revelou o estigma e discriminação associados com HIV que poderão confrontar os pais e crianças na Grã-Bretanha e Tanzânia; a natureza recíproca e interdependente das relações de provisão de cuidados no seio familiar; as formas que as responsabilidades de cuidados dos jovens mudam ao longo do tempo e lugar; as limitações dos serviços existentes e estratégias para ajudar os pais e seus filhos com HIV; e os desafios para o futuro desenvolvimento de políticas, serviços e apoio a níveis locais, nacionais e globais. A principal mensagem emergente da pesquisa é a necessidade do maior reconhecimento das políticas nacionais e globais das responsabilidades de cuidados relativos ao género e idade dos jovens no seio das famílias afectadas com HIV. A pesquisa destacou a necessidade de maior engajamento com crianças e famílias e uma resposta de políticas ‘coordenadas’ dos provedores estatais, voluntários, privados e informais de serviço, exigindo uma integração mais estreita dos seus esforços e serviços. Ao invés de direccionar o apoio e intervenções apenas para jovens com responsabilidades de provisão de cuidados, deve ser adoptada uma abordagem familiar holística para apoiar as crianças e os pais afectados com HIV. A evidência da pesquisa destaca o facto de que as relações de provisão de cuidados no seio familiar são geralmente caracterizadas por dependência mútua. Os jovens geralmente viam as suas responsabilidades de provisão de cuidados como ‘normais’ e parte das suas responsabilidades quotidianas rumo à sua família. Também, os pais com HIV, mesmo aqueles portadores de deficiência física A provisão de cuidados não é apenas um processo unidireccional entre jovens como “provedores de cuidados” e os seus pais como ‘beneficiários dos cuidados”. Pelo contrário, está incorporada nas relações sociais entre filhos, pais, familiares e membros da comunidade em geral. A comunidade baseou voluntários escuta durante um diálogo da comunidade, em Zimbabwe, 2008 18 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 REVISTA SAfAIDS mais Género e sexualidade: perspectivas emergentes da epidemia heterossexual na África do Sul e implicações para o risco e prevenção de HIV Rachel Jewkes1*, Robert Morrell2 Abstracto A pesquisa mostra que a desigualdade do poder de género em relações e violência de parceiros íntimos coloca as mulheres em maior risco de infecção de HIV. Os homens que tiverem sido violentos contra as suas parceiras têm mais probabilidade de ter HIV. Os comportamentos dos homens mostram uma proliferação de práticas sexuais violentas e de risco, sugerindo importantes ligações. Este artigo parte da noção de Raewyn Connell de masculinidade hegemónica e reflexões sobre as feminidades enfatizadas para argumentar que estas práticas sexuais, violentas e masculinas estão enraizadas em e fluem de ideais culturais de identidades de género. A última parte permite-nos compreender porquê os homens e mulheres comportam-se como fazem, e o contexto emocional e material dentro do qual os comportamentos sexuais acontecem. Na África do Sul, enquanto as identidades de género mostram a diversidade, o ideal dominante da masculinidade da África negra enfatiza dureza, força e expressão de sucesso sexual prodigioso. É a masculinidade que as mulheres desejam; porém, é sexualmente arriscado e uma barreira para os homens se engajarem em tratamento de HIV. Hegemonicamente, espera-se que os homens masculinos estejam em controlo das mulheres e a violência poderá ser usada para estabelecer este controlo. Em vez de resistir a isto, o ideal dominante da feminidade abraça obediência e tolerância de comportamento violento e nocivo, incluindo infidelidade. As mulheres parceiras de homens hegemonicamente masculinos estão em risco de HIV porque elas não têm controlo das circunstâncias do sexo, particularmente durante os encontros de risco. Elas geralmente apresentam a sua condescendência ao comportamento dos seus parceiros como moeda de troca para assegurar a recompensa social ou material, dado que este ideal de feminidade é acolhido, não pela violência por si, por um * Correspondência: : [email protected] 1Gender & Health Research Unit, Medical Research Council, Private Bag X3985, Pretoria 0001 South Africa © 2010 Jewkes and Morrell; licensee BioMed Central Ltd. Este é um artigo de Acesso Aberto distribuído nos termos da Creative Common Attribution License (http://creativecommums.org/licenses/by/2.0), que permite o uso, distribuição e reprodução sem restrições em qualquer meio, mediante a citação adequada do trabalho original. 2010 Vo l.16 No.2 sistema cultural de sanções e recompensas. Assim, os homens e mulheres que adoptam estas identidades de género seguem os ideais com profundas raízes em processos sociais e culturais, e assim, eles são modelos de comportamento que poderá ser difícil para as pessoas criticarem e no qual exercerem escolha. As mulheres que são material e emocionalmente vulneráveis são menos capazes de arriscar a enfrentar sanções ou renunciar estas recompensas e assim são mais vulneráveis aos seus parceiros. Argumentamos que os objectivos da prevenção de HIV e a optimização dos cuidados podem ser melhor alcançados através da mudança nas identidades de género, em vez de ser através do enfoque nos comportamentos sexuais individuais. Introdução AsIntersecções de HIV, desigualdade do poder de género em relações e violência: evidência a partir da epidemiologia Nos países da África subsahariana, com uma pandemia de HIV predominantemente heterossexual, a prevalência em mulheres sobe abruptamente nos finais da adolescência, que é cinco anos antes da mesma ocorrer em homens. Em geral, uma proporção maior da população feminina adulta torna-se infectada [1,2]. Compreendendo esta diferença entre as mulheres e os homens é crítico para a prevenção de HIV. Enquanto há diferenças sexuais na susceptibilidade para o HIV, que, como todas as diferenças sexuais, estão enraizadas na biologia [3], os padrões da prevalência têm origens mais complexas. Não é biologia, mas diferenças de género na socialização sexual que são mais importantes em influenciar àqueles essas mulheres e homens se associam, , quando e em que circunstâncias. A chave aqui são as diferenças na forma em que os homens e as mulheres se posicionam e agem como seres sociais, isto é, as diferenças nas formas socialmente definidas e construídas de ser homem ou mulher, e o poder e possibilidades inerentes. Assim, é o género, não sexo, que é mais influente na determinação do comportamento. Numa determinada relação, por exemplo, espera-se que um homem lidere e controle as relações sexuais e a sua parceira obedeça, e ele poderá achar-se com o direito de ter sexo com outras mulheres, mas esperar que a sua parceira permaneça fiel. As 1 diferenças de género tomam muitas formas diferentes em diferentes contextos, mas uma área de comunalidade existe nas diferenciais no poder. Existe uma forte evidência de que a desigualdade do poder de género nas relações, que é uma causa de violência de parceiros íntimos, coloca as mulheres em maior risco da infecção de HIV. A África do Sul é um país que exemplifica as duplas epidemias de violência baseada no HIV e género. Tem actualmente 5,5 milhões de pessoas vivendo com HIV, duma população de aproximadamente 47 milhões [1], a maior epidemia de HIV no mundo. A sociedade é fortemente patriarcal e a violência contra mulheres é generalizada. A taxa de violação sexual na África do Sul é considerada a mais alta de todos os países membros da INTERPOL [4], com mais de 55.000 violações sexuais reportadas à polícia anualmente [5]. A violência de parceiros íntimos é também comum. A pesquisa descobriu que entre 25% e 55% das mulheres já enfrentaram violência física de parceiros íntimos [6-8], e a taxa de homicídios femininos por um parceiro íntimo é seis vezes a média global [9]. Nas entrevistas, 42% dos homens revelam perpetração de violência de parceiros íntimos [10,11] e 28% revelam violação sexual duma mulher ou rapariga [10]. Estas duas epidemias proporcionaram um importante factor para a pesquisa na ligação de género e HIV, e o país providencia uma importante oportunidade para compreender estes problemas e as suas implicações para as respostas ao HIV. Uma década de pesquisa transversal de países africanos, incluindo Rwanda, Tanzânia, África do Sul e mais recentemente, Índia, concluiu consistentemente que as mulheres que enfrentaram violência perpetrada pelo parceiro têm mais probabilidade de ser infectadas com HIV [12-15]. Dois estudos mostraram que as mulheres que foram sexualmente coagidas pelos parceiros em Rwanda (n = 914) e Tanzânia (n = 245) tinham uma prevalência mais alta de HIV, com um odds ratio ajustado (aOR) de 1,89 (1,20, 2,96) em Rwanda, e 2,39 (1,21, 4,73) na Tanzânia [12,13]. O estudo da Tanzânia foi conduzido entre mulheres numa clínica oferecendo testagem e aconselhamento voluntários e também mostrou que as pessoas com menos de 30 anos de idade que já tinham enfrentado a violência física de parceiros íntimos tinham significativamente mais probabilidade de ter HIV [13]. Na África do Sul, entre mulheres (n = 1366) em cuidados antenatais tendo testagem de HIV como parte do tratamento para a prevenção da transmissão da mãe para o filho, aquelas enfrentando a maior desigualdade do poder de género nas relações quando comparadas com o poder mais equitativo das três categorias [aOR 1,56 (1,15, 2,11)], assim como aquelas enfrentando violência física ou sexual [aOR 1,53 (1,10, 2,04)] tinham mais probabilidade de ser seropositivas [14]. A evidência emergente de dados longitudinais ainda não publicados da África do Sul mostra que as mulheres que enfrentaram violência de parceiros íntimos e com maior desigualdade do poder de género nas relações estão num elevado risco de adquirir HIV. Em ambos os casos, há uma estreita relação da resposta [16]. A pesquisa da Índia, analisando dados de pares maridoesposa (n = 20,425) que providenciou a revelação da violência de parceiros íntimos (IPV) e o estado serológico mostrou que as esposas abusadas enfrentam um risco acrescido de HIV, com base na maior probabilidade da infecção de HIV entre os maridos abusivos e a elevada transmissão de HIV no seio de relações abusivas. Isto sugere as funções de IPV como causadoras de risco e como um factor de risco de HIV entre as mulheres [15]. Num esforço para explicar porquê a violência perpetrada pelo parceiro e a desigualdade do poder e relações de género devem colocar as mulheres em risco de HIV, a pesquisa foi conduzida com homens. Ela mostrou que como 2 as suas contrapartes indianas, os homens sul africanos que foram fisicamente violentos contra as parceiras têm mais probabilidade de ser infectados com HIV [10,15]. Algumas indicações de porquê os homens que foram violentos têm mais probabilidade de ser infectados com HIV podem ser vistas nas análises que focalizam nas interrelações da perpetração da violência com base no género e uma gama de práticas sexuais de risco. A pesquisa sul africana mostra uma aparente proliferação de práticas sexuais violentas, anti-sociais e de risco, sugerindo que estas estão ligadas. Assim, os homens que foram violentos contra as parceiras íntimas têm mais probabilidade de violar sexualmente, ter muitas parceiras, beber muito, não usar preservativos, ter sexo com prostitutas e praticar sexo transaccional [17]. Os homens que violam sexualmente têm mais probabilidade de ter tido sexo transaccional, ser fisicamente violentos contra as parceiras, ter muitas parceiras, beber muito e praticar sexo transaccional [18]. Os homens que praticam sexo transaccional têm mais probabilidade de ser fisicamente violentos contra as parceiras, ter muitas parceiras, beber muito e violar sexualmente [19]. Na essência, os homens que são violentos têm mais probabilidade de ser um risco sexual e vice versa. A questão chave é: qual é a base e natureza desta ligação? E quais são as implicações das mesmas para o risco, prevenção e cuidados de HIV? Este artigo procura ir para além da epidemiologia e medição de comportamentos e associações e permitir-nos compreender estas conclusões empíricas. Ao fazer isso, tomamos em consideração os recursos teóricos da área dos estudos críticos dos homens, e em particular, a noção da masculinidade hegemónica, inicialmente desenvolvida e exposta por Raewyn Connell [20,21], e a discussão relacionada de feminidades. Iremos descrever o quadro teórico, discutir a sua relevância em termos de conclusões da pesquisa sul africana sobre a masculinidade hegemónica e femininidades e a sua relação ao risco de HIV, e relacioná-la às preocupações mais gerais na prevenção e cuidados de HIV. Perspectivas teóricas sobre os homens e o género Os estudos feministas de sexo e género historicamente colocaram em primeiro lugar a opressão das mulheres. Os debates sobre as causas de, particularmente, opressão sexual frequentemente invocaram a binária natureza/criação para explicar os padrões globais da dominação dos homens contra as mulheres. A anterior abordagem, que focalizava nas desigualdades genéticas ou físicas para explicar as de género, tem as grandes desvantagens de falhar em explicar a diversidade entre os homens e entre as mulheres e falta de um modelo de como tornar as coisas melhores. Os modelos que focalizam em como o género é um comportamento aprendido permite mais para a diversidade e providencia a claridade conceptual sobre as formas em que a desigualdade acontece e como as desigualdades ocorrem. Tal análise também pode sugerir intervenções de equidade de género. O enfoque na construção social do género gerou no último quarto do século uma sofisticada literatura sobre as identidades de género de homens e mulheres, masculinidades e femininidades. Isto permitiu a inclusão conceptual dos homens dentro do âmbito dos estudos do género, uma iniciativa fortemente associada com o trabalho teórico de Raewyn Connell [20,21]. Connell [20,21] descreve a existência de múltiplas configurações de masculinidade que são hierarquicamente organizadas e estruturadas ao longo das linhas de dominação de género (de homens em relação às mulheres, de homens poderosos em relação a homens menos poderosos, de homens adultos em relação a homens mais jovens). Ela identifica uma posição masculina que é dominante e refere a ela como 2010 Vol. 16 No.2 “masculinidade hegemónica”. É esta posição que é geralmente associada com a subordinação e opressão das mulheres. O conceito de hegemonia, citado do trabalho de Antonio Gramsci, refere ao exercício do poder através da criação de consentimento através do estabelecimento de ideias ou valores aceites. O conceito é geralmente usado descritivamente para identificar qual é a forma de masculinidade que legitima a subordinação das mulheres. É neste sentido que o quadro permite uma análise do poder do género enquanto também permitindo para a existência de formas divergentes de expressão masculina que poderão, por exemplo, desafiar o inquestionável direito dos homens para este poder. Já houve várias interpretações de masculinidade hegemónica pela própria Connell [22] e outros. Algum enfoque na fluidez e natureza contestada do conceito, enquanto os outros destacam a natureza da hegemonia da organização, estruturada e estruturação. Neste último sentido, a masculinidade hegemónica representa o modelo cultural dominante da masculinidade idealizada. É a moldura usada pelos homens individuais para julgar o seu “sucesso” como homens. Num país altamente desigual em termos de género, como África do Sul, a masculinidade hegemónica mobiliza e legitima a subordinação e controlo das mulheres pelos homens. Concebido desta maneira, a masculinidade hegemónica é um elemento necessário e integral do patriarcalismo, a organização social que aloca, distribui e assegura o poder dos homens em relação às mulheres. A masculinidade hegemónica é caracterizada por um conjunto de práticas que expressam tanto o poder dos homens dentro do sistema social e serve para segurar este poder. Na essência, As práticas fluem a partir do ideal hegemónico. Implícito na ideia da “hegemonia” é o reconhecimento de que a ascendência social deste ideal de masculinidade não é atingida através de força brutal, embora a violência possa ser usada pelos homens para segurar este ideal, mas através duma complexa teia de processos que se estendem na organização da vida privada e arranjos culturais [21]. Assim, os princípios da cultura e religião e, por exemplo, a operação do sistema legal, poderá funcionar para preservar a ascendência dum determinado ideal cultural de masculinidade. Connell [21] argumenta que não há uma noção equivalente de “feminidade hegemónica” porque existe mais diversidade nos ideais femininos, embora as mulheres sejam globalmente subordinadas aos homens. Ela descreve uma forma, ou formas, de “feminidade enfatizada” que é caracterizada pela obediência com a subordinação das mulheres e uma orientação rumo à acomodação dos interesses e desejos dos homens. Por outras palavras, as mulheres “concordam” com a estruturação desigual das relações, não desafiam estas relações e finalmente pactuam na distribuição desigual do poder do género com os homens. Outras formas de feminidade são amoldadas à volta das estratégias de resistência e algumas combinam a obediência, resistência e cooperação [21]. Assim como a masculinidade hegemónica é dada poder como “norma cultural”, as formas de feminidade que tanto no seu todo ou parcialmente enfatizam a obediência com ela são expressas como ideais culturais da feminidade e são geralmente de alguma forma socialmente recompensadas. As mulheres que adoptam as femininidades baseadas na resistência, ou de facto se engajam em actos de resistência, podem ser marginalizadas e estigmatizadas. As sociedades patriarcais são heteronormativas, isto é, requerem homens e mulheres para demonstrarem o seu género através da participação activa em heterosexo ou afirmação do desejo heterosexual [23]. Apesar de existirem formas socialmente diferentes em que isto poderá ser feito, as transgressões da heteronormatividade são punidas e na África do Sul, geralmente de forma violenta. 2010 Vo l.16 No.2 A violação sexual em grupo das lésbicas africanas e outros casos de violência homofóbica são particularmente exemplos horríveis disto [24,25]. Tendo dito isto, é importante notar que as identidades de género mudam ao longo do tempo e que face a determinadas circunstâncias, poderão mudar rapidamente, por exemplo, quando os contextos legais ou materiais mudam dramaticamente. Na África do Sul, há evidência de que as identidades de género estão de facto a mudar, embora para os nossos propósitos a persistência da violência do género continue uma continuidade preocupante que amolda e liga as formas da feminidade e masculinidade. Enquanto a masculinidade hegemónica e a feminidade enfatizada englobam práticas que se estendem para além da arena das relações domésticas, sexuais e até íntimas com mulheres (e homens), é a expressão destas práticas nestes domínios que é particularmente pertinente para consideração das intersecções da desigualdade do poder de género e violência de parceiros íntimos e risco de HIV. Uma lente da identidade do género providencia um quadro através do qual podemos começar a compreender porquê os homens e as mulheres comportam-se da forma como fazem. Providencia uma forma de reflexão sobre o contexto emocional e material dentro do qual os comportamentos sexuais são ordenados, em particular, as guerras, aspirações, desejos e necessidades em geral que motivam o comportamento dos homens e mulheres. Daqui resulta que apenas quando compreendemos isto seremos capazes de mudar os comportamentos sexuais (e assim reduzir o risco de infecção de HIV). Forma de masculinidades e femininidades entre africanos negros na África do Sul A ordem do género na África do Sul durante o colonialismo e apartheid era fortemente na base da raça [26]. Duas grandes características são relevantes aqui. A primeira é que a integração racial ocorreu de forma muito limitada e isto garantiu que os sul africanos negros e brancos vivessem de forma muito separada, encontrando-se no local de trabalho em condições de desigualdade (os brancos dominando os postos de profissionais e de negócios e os negros limitados de forma esmagadora nos postos de operários ou agricultores de subsistência). Este arranjo permitiu para persistirem arranjos de género muito distintos com base na raça, com talvez a característica mais notável ser a retenção das formas tradicionais da autoridade (dominada pelo homem) (por exemplo, chefes tradicionais). A segunda importante característica foi o surgimento de ideais de género distintos para os homens e mulheres brancos e negros. As desigualdades materiais e a demografia espacial associada (com os negros proibidos por um longo período de viver nas cidades a menos que ao serviço da indústria pertencente ao branco, e portanto confinados nas crescentes empobrecidas zonas rurais), que são uma característica da vida sul africana até hoje, com impacto nas construções da masculinidade e feminidade. Apresentando uma ampla descrição da topografia do género sempre corremos riscos, mas para os nossos propósitos, iremos aventurar algumas generalizações. Fazemo-lo mesmo reconhecendo que as mudanças desencadeadas pelos desenvolvimentos políticos nacionais (especialmente a subida ao poder do Congresso Nacional Africano em 1994) e as forças económicas globais fizeram significativas alterações à gritante imagem que pintamos aqui. Até 1994, os homens e mulheres brancos tinham o voto, tinham acesso pronto ao poder económico ou, pelo menos, emprego seguro, e a formas de estado social e público [26]. Isto influenciou os ideais para os quais tanto os homens e as mulheres brancos aspiravam. Os homens brancos eram profundamente investidos em realizações materiais, postos 3 públicos e personificação que encontravam uma particular expressão nas realizações desportivas. As mulheres brancas, por outro lado, eram investidas de menos autonomia profissional, apesar de elas beneficiarem de educação gratuita em instituições bem apetrechadas. As suas identidades eram edificadas primariamente à volta dos filhos e casa. Para os homens e mulheres negros, os desafios materiais da vida eram dominantes. Os homens eram geralmente empregues em postos de empregados, mal pagos e muitos encontravam apenas formas sazonais e inseguras de assegurar a sobrevivência ou passavam muito do seu tempo sem qualquer forma de emprego remunerado [26]. Isto tornava difícil para a maioria dos homens negros exercerem a sua masculinidade em realizações materiais ou profissionais e aumentava a probabilidade de encontrar a afirmação masculina em contextos homo-sociais (algumas vezes criminais) e nas suas relações com mulheres negras. As mulheres negras, geralmente sem meios para serem economicamente independentes, foram geralmente dependentes dos homens negros e isto, juntamente com práticas culturais de respeito, promoveu obediência e passividade como marcas da feminidade africana. Com a história do colonialismo e apartheid da África do Sul, todas as identidades de género são até certo ponto marcadas pela violência. Voltaremos para este tema dentro de instantes. As perspectivas históricas sobre sexo na África do Sul revelam dois discursos concorrentes sobre a sexualidade. Num, enraizado em cristianismo, o sexo está localizado no casamento para a procriação. O outro discurso reflecte as ideias tradicionais dos negros de que sexo é normal e saudável e uma característica essencial da vida para todas as idades, e algo sobre o qual deve haver abertura e comunicação [26]. Este último discurso normaliza a brincadeira sexual na infância e apresenta a exploração sexual como uma actividade natural, incluindo durante a adolescência. Historicamente, o sexo de penetração antes do casamento era proibido, mas agora é norma e, de facto, metade de todas as mulheres negras tiveram bebé até à idade de 21 anos, principalmente fora do casamento [27]. Dentro do quadro da abertura sexual, as mulheres africanas são construídas como seres sexuais e o sexo é visto não apenas como normal nas relações, mas como essencial para o seu sucesso [27,28]. Outrossim, no domínio da cura, o sexo é visto como um processo de limpeza e é comunalmente aconselhado pelos curandeiros tradicionais (e enfermeiras) para uma gama de doenças [29]. Para o nosso propósito, é importante fazer algumas declarações especificamente sobre o género na África do Sul desde 1994, quando o país formalmente entrou num período de transição, desmantelando o edifício do apartheid e construindo um novo quadro legal e político para uma democracia não racial. Este período foi visto com maior diversidade e fluidez públicas nas identidades de género. A mais óbvia indicação disto é a emergência dum movimento homossexual público na sequência da protecção constitucional atribuída à orientação sexual na Declaração de Direitos na Constituição em 1996, embora o movimento homossexual por si só tenha precedido isto há muito tempo [30]. Para as mulheres, houve um conspícuo surgimento, primariamente nos contextos urbanos, das femininidades da “rapariga moderna”, associada ao exercício da independência, o uso de produtos específicos de moda e “eroticismo explícito” [31]. Este é um ideal da feminidade que é principalmente o domínio daquelas mulheres com acesso (pelo menos algumas) aos recursos materiais. Se estas raparigas e jovens mulheres procuram emancipação política, ou independência económica ou sexual, o surgimento deste fenómeno chamou atenção para a questão da agência feminina. Apesar desta diversidade, há padrões claros de poder e dominação. Enquanto não existir uma forma masculina única, dominante que sirva como modelo para todos os homens, 4 está empiricamente claro que diversas formas de masculinidade racializadas são dominantes. São estas masculinidades que prescrevem determinadas formas de ser como homem e legitimam as práticas desiguais de género. Um exemplo da masculinidade hegemónica negra existe no conceito de isoka em zulu, um homem viril heterossexual idealizado, que é desejado por mulheres e cujo sucesso sexual prodigioso é uma inveja dos outros homens [32]. Uma pesquisa etnográfica na província de Cabo Oriental mostrou que o elemento chave da masculinidade africana bem sucedida é o sucesso heterossexual e isto é provado por ser capaz de “ganhar” mulheres desejosas, mantê-las (e assim prevenir que sejam seduzidas pelos outros) e mostrar evidência de ser um homem em controlo (dos outros) [33]. Enquanto o poder dos homens não é de forma alguma estabelecido através do uso da força, de facto as fundações culturais de patriarcalismo e processos através dos quais é mantido são amplas e profundas, e o uso de violência, dentro de limites e em determinados contextos, é visto por muitos, mas não todos, os homens como legítimo no âmbito dos seus objectivos [34]. Isto é aplicável no público (por exemplo, os homens resolvendo as diferenças entre um e outro usando a violência física [35]) e os domínios privados (onde a violência doméstica, incluindo femicídio, é comum). Todas as masculinidades sul africanas valorizam os atributos marciais da força física, coragem, dureza e uma aceitação da autoridade hierárquica, mas a maioria de todas exige que os homens sejam capazes de exercer controlo (em relação às mulheres e outros homens) [36]. Dentro das relações com as mulheres, as expectativas de estabelecimento de controlo providencia espaço para o uso de violência física e sexual contra as mulheres, em esforços para atingir isto e demonstrá-lo. Enquanto não se espera que os homens provoquem ferimentos nas mulheres, e actos de extrema crueldade geralmente incorrem à ira familiar e comunitária [34], o uso moderado da violência pelos homens (e noutras circunstâncias, por mulheres) é tolerada e geralmente não é vista como evidência de fraqueza ou falta de auto-controlo. Com o sexo visto como uma necessidade, particularmente dos homens, mas dentro de contexto, também de mulheres, cortejando as mulheres com ofertas, ou trocar dinheiro ou outros serviços para sexo são vistos como práticas larga e culturalmente aceitáveis [19]. Historicamente, as relações sexuais entre pessoas eram parte (integrante) de relações socialmente negociáveis entre famílias, com casamentos formalizados através de pagamento pelos homens de lobolo, a riqueza da noiva. Hoje em dia, o casamento ocorre relativamente tarde na vida adulta (numa idade média de 28 anos para mulheres [27]), se acontecer, e sexo principalmente acontece fora do casamento, e “séria” intenção é demonstrada pela entrega da oferta. Neste meio cultural, é fácil para os homens assumirem alguma forma da apropriação patriarcal em relação às mulheres e estabelecer ou demonstrar isto com violência física. Desta maneira, a masculinidade hegemónica inextrincavelmente liga o ter múltiplos parceiros sexuais com a subordinação das mulheres para o controlo masculino, se necessário com o uso de violência. Outras práticas que fluem da masculinidade hegemónica envolvem formas sexuais e outras de assumir o risco. Isto inclui conduzir carros rápida e perigosamente e consumo excessivo de álcool; de facto, as normas sociais à volta do consumo do álcool são tais que a África do Sul tem o nível mais alto de consumo por consumidor de qualquer país no mundo [26,37]. Dirige-se escárneo àqueles que “falham” em navegar estes riscos sem perder controlo ou mostram fraqueza, se mostrado pelas suas vidas sendo destruídas por alcoolismo ou por se tornar infectado com HIV. Assim, a culpa é orquestrada em termos de fraqueza individual, ao contrário de ser colocada na 2010 Vol. 16 No.2 ordem global do género que providenciou o contexto dentro do qual estas práticas eram e são encorajadas [38,39]. Desta forma, a masculinidade hegemónica pode ser vista como um ideal cultural que liga as práticas sexuais de risco e o uso de violência e outros comportamentos de controlo contra as mulheres, particularmente as parceiras. São identidades de género masculino e os processos através dos quais são construídas, aprovadas e reproduzidas, que explicam a proliferação da violência e práticas sexuais de risco vistas nos estudos epidemiológicos (discutidos acima). Vistas através destas lentes, estas práticas são vistas como tendo significado que estendem para além dos motivos e recompensas do acto individual. Com jovens mulheres negras na vanguarda da pandemia de HIV na África do Sul, é adequado que nos apliquemos da mesma maneira que as jovens femininidades negras. A nossa compreensão da sexualidade das mulheres pode ser consideravelmente avançada através da reflexão de forma semelhante na identidade do género e o respectivo significado das práticas. Uma pesquisa emergente, mas não publicada ainda, pelos autores, baseada em extensas entrevistas qualitativas e observação do participante ao longo de 10 meses com mulheres do Cabo Oriental, mostra que a ideia dominante da jovem feminidade bem sucedida é uma onde o sucesso é provado por ser desejável aos homens. Isto é claramente cúmplice com a masculinidade hegemónica como é moldada de forma que encoraje a ressonância, ao contrário de discordância com essas ideias. Com muitas mulheres avaliadas pelos homens, mulheres que desejam ser “bem sucedidas” estão sob grande pressão para conformar a ordem social dominante, incluindo aceitar o controlo pelos homens. Mas existem outras forças poderosas em jogo. Num contexto de escassos recursos, namorar e encontrar-se com namorados providencia horas de acessível entretenimento. Assim, as mulheres divertem-se, competem e medem a sua desejabilidade através de namoro e propostas encorajadoras de homens, enquanto lembrando que isto é no fim de contas “aprovado” através de ter um namorado. Dada a ameaça de ser solteira para o estado social e auto-estima e o risco de aborrecimento, muitas mulheres preferem ter mais que um namorado (referido como “andar com duas pernas) a não ser que separe com um deles. Os termos em Sotho e isiXhosa de nyatsi e khwapheni referem aos parceiros concorrentes secretos que é culturalmente aceite para as mulheres, assim como para os homens, providenciando relações conduzidas de forma respeitosa do principal parceiro, isto é, secretamente [14,40]. Com sexo visto como “natural”, o desejo sexual das mulheres é reconhecido como uma expectativa de que sexo deve ser prazeroso, preferivelmente sexo “carne a carne” e assim sem uso de preservativo [41]. Enquanto houver uma sugestão na literatura sobre sexualidade que é uma exigência masculina, os autores também encontraram que as mulheres geralmente negam o uso do preservativo devido a preocupações sobre o seu prazer sexual, assim como a consistente desconfiança de que as suas oportunidades de manter os seus parceiros no mundo competitivo de múltipla concorrência são maiores com sexo carne a carne [41]. A ênfase na prerrogativa heterossexual dos homens num contexto de grandes desigualdades de género conduziu geralmente a tratar as mulheres como sexualmente passivas, simplesmente esperando que os homens proponham e depois aceitarem passivamente [42]. Algum contrate a isto, tendo múltiplos parceiros é num nível uma expressão de resistência à dependência de, e mesmo controlo por, um homem. Porém, a aceitabilidade cultural da prática permite as mulheres fazerem isso sem se considerarem como estando a engajar-se numa resistência à ordem do género como todo. l.16 2010 Vo No.2 Enquanto o ideal dominante da feminidade é fundamentalmente subordinado, as mulheres não enfrentam todas o controlo do comportamento pelos seus parceiros à mesma magnitude. Os namorados arquetipicamente controladores, porém, esperam saber onde as suas parceiras estão toda a hora, proíbem-nas de ver outros homens, esperam encontrá-las em casa quando telefonam e tê-las dispostas a se libertarem de tudo o que estiverem a fazer e estarem prontas para sexo à demanda [33]. É quase surpreendente que as mulheres com parceiros violentos e controladores mostrem tendo sexo mais frequente e usarem preservativos poucas vezes [8,43-45]. Espera-se que as mulheres evitem comportarse de forma que ameacem o sentido de controlo dos homens; desobedecendo isso, espera-se que elas suportem e aceitem a punição física [33]. Para as mulheres africanas, o perdão ao comportamento masculino é uma parte integral da feminidade dominante e essencial para manter o homem certo. No sentido prático, isso implica tolerância da violência (se ele for violento), tolerância das suas outras parceiras (ou quando isto falhar, a direcção da agressão contra elas e não para ele), e assegurando que o sexo com o homem certo é “o melhor” (isto é, sem preservativos). Isto é apoiado pela esperteza cultural, como dizer que “espancar é um sinal de amor”. Esta forma dominante da feminidade assim exige que as mulheres sejam fortes e capazes de aceitar e aguentar com as pressões que a vida traz, incluindo aquelas causadas pela posição de subordinada das mulheres nas suas relações. A feminidade e masculinidade hegemónicas condescendentes são ambas ideais culturais e são acolhidas por um sistema de sanções e recompensas. As mulheres que não obedecem, ou expressam resistência, sofrem marginalização e estigmatização. Por exemplo, o divórcio é o acto final da desobediência e para as mulheres na cultura africana, é fortemente estigmatizada e acontece infrequentemente. Em 2007, mais sul africanos brancos divorciaram-se do que negros (9.935 versus 9.055), apesar do facto de que os primeiros representam apenas 9% da população, em comparação com os 80% do último grupo [46]. A posição destas mulheres foi recentemente descrita por uma política idosa Xhosa, quando disse, “Na nossa língua [isiXhosa] temos iin-tombi (raparigas solteiras) e a iintombazana (mulheres casadas). Não temos nenhuma palavra para as mulheres que se divorciam, não sabemos onde colocá-las.” [47] Isto não quer dizer que não haja espaço social na África do Sul para a diferença de género. Há muitos homens de todo o espectro social que adoptam masculinidades que incorporam contra-práticas hegemónicas, tais como engajamento em cuidados infantis e cuidando de familiares doentes e portadores de deficiência, ou ajudar para a igualdade de género e oposição à violência contra as mulheres [48,49]. Também existem muitas mulheres que são mães solteiras e economicamente independentes de homens [27]. Mas igualmente é importante ler estes comportamentos através de lentes históricas e culturais. Na África do Sul, a divisão do género da mão de obra constantemente evoluiu e mudou. As mulheres historicamente engajaram-se no trabalho doméstico e provisão de cuidados [50]. Elas adoptaram posições de género como “esposas” em contextos institucionais de sexo único [51-53] e as mulheres chefiaram famílias que são economicamente independentes dos homens [54]. A longa trajectória histórica mostra o dinamismo e fluidez das relações de género mas não mostram que estas mulheres e homens resistem a ordem de género fundamental que subordina as mulheres aos homens [48]. É possível ocupar posições de género aparentemente dissidentes sem montar um desafio total para a ordem do género ou apoiar uma visão da sociedade alternativa, equitativa ao género. 5 A obediência à feminidade condescendente dominante é recompensada, não apenas pelos homens, mas por outras mulheres. As mulheres com parceiros desejáveis são admiradas pelos seus pares e respeitadas nas famílias e comunidades. Assim como os homens hegemonicamente masculinos procuram parceiras submissas para que as suas relações possam ser relativamente harmoniosas, em vez de caracterizadas por forte resistência, as mulheres bem sucedidas desejam homens hegemónicos [55]. Vistos como “homens reais”, a sua exibição de masculinidade hegemónica é interpretada por muitas mulheres como sexual e socialmente desejável, e a pesquisa pelos autores e outros mostra que os homens que praticam masculinidades mais equitativas ao género são geralmente marginalizados pelas mulheres. Discussão É importante para este argumento não ser lido de forma que seja culturalmente determinista ou acusadora da vítima. Argumentamos que em seguimento da masculinidade hegemónica, assim como a feminidade enfatizada dominante, os homens e mulheres estão a seguir ideais com profundas raízes culturais e assim, os modelos de comportamento que poderão ser difíceis para as pessoas criticarem e exercitarem as reais escolhas à sua volta. De facto, invocamos a noção da escolha para as mulheres com considerável cautela, dados os grandes constrangimentos no poder das mulheres jovens, pobres numa sociedade patriarcal com uma hierarquia etária marcada. Não obstante, há uma considerável diversidade nas reais práticas dos homens, escolhas dos parceiros pelas mulheres e graus de cumplicidade, cooperação e resistência. Existem mulheres de todo o espectro social que resistem a desigualdade do género e há uma história de orgulho dos movimentos das mulheres na África do Sul e dos modelos de papéis das mulheres que afirmaram um considerável poder das diferentes formas dentro das comunidades [56,57]. Quando interpretar a formulação de decisões das mulheres sobre os parceiros e respostas à violência masculina e controlo das práticas, é aparente que as mulheres diferem no grau para o qual aceitam e perdoam-nos. Enquanto em alguns casos isto é um produto das circunstâncias sociais e financeiras que não deixam opções, a sua visibilidade das relações de namoro das raparigas que são apoiadas financeiramente nas suas famílias revela que a imagem é mais complexa. As mulheres que enfrentam desigualdade de género mais marcada e violência nas relações estão em risco de HIV porque têm falta de controlo das circunstâncias do sexo durante os encontros particularmente de risco, mas a sua exposição para tal desigualdade e violência de género é geralmente relativa à cumplicidade com um ideal de masculinidade hegemónica. Quando as mulheres são condescendentes e aceitam o controlo e violência masculinos, o seu comportamento é considerado como uma moeda de troca feita a partir duma expectativa de recompensa social (ou financeira). O grau em que as mulheres se sentem capazes de perder o risco (ou não aquisição) destas recompensas difere de acordo com as outras dimensões da sua vulnerabilidade material e emocional. Assim, as mulheres mais pobres e marginalizadas e as que têm sido consideradas vulneráveis noutras formas, tais como através de abuso na infância, poderão ser menos capazes de tomar o risco de mostrar sinais de inconformidade e resistência e de resistir a tendência patriarcal da sua subordinação passiva aos homens. Quais são as implicações para a prevenção e cuidados? Até aqui argumentámos que as práticas sexuais estão enraizadas nas e fluem de (embora não sempre de forma consistente e linear) identidades de género e portanto devemos prestar a nossa atenção para a mudança da maior 6 imagem, ao contrário dos comportamentos individuais. Em termos reais, isto significa dar enfoque e atenção na edificação de masculinidades mais equitativas ao género e de provisão de cuidados e menos feminidades condescendentes. Ao fazer isso, as intervenções são necessárias a níveis de políticas, serviços e comunidades, assim como a nível individual [58]. Isto deve incluir, por exemplo, investimento na educação, mudança para o quadro de políticas legais nacionais relativas à equidade de género, apoiar as políticas para o empoderamento económico das mulheres e direitos de propriedade e herança e fortalecimento do currículo escolar e ambiente institucional para que possa promover a equidade de género e proteger as raparigas estudantes da violência e assédio nas escolas. Tanto as mudanças de políticas bem como o fortalecimento de serviços são necessários para fortalecer eficazmente a legislação que protege as mulheres e raparigas da violência baseada no género e permitir cuidados eficazes e emenda e protecção legais para os sobreviventes. Há necessidade para as iniciativas em todos os níveis para promover o ambiente dos homens na economia dos cuidados, incluindo na África do Sul, promovendo o envolvimento dos homens como pais, tanto financeira e socialmente, nas vidas dos seus filhos. As intervenções a nível individual e as que lidam com as normas comunitárias sobre o género e HIV foram desenvolvidas em muitos contextos. Algumas destas são sensíveis ao género, em que reconhecem as necessidades e realidades específicas dos homens baseadas na construção social dos papéis de género. As melhores são “transformadoras ao género” no sentido de que procuram transformar os papéis do género e promover mais equidade de género e assim abordarem-se para mudar como os homens se vêem e assim comportar-se como homens [59]. Exemplos são as intervenções que focalizaram em mudar as normas prejudiciais ao género fora das atitudes e comportamentos que afectam negativamente a saúde da mulher e risco de HIV através de iniciativas tais como as Melhores Opções da Vida para Rapazes que foi implementada em todos os 11 estados indianos nas escolas com mais de 8000 rapazes [60]. Existem também exemplos de grandes iniciativas dos órgãos de comunicaçâo de cobertura nacional, tais como a Campanha do Sexto Sentido na Nicarágua, a Campanha dos Irmãos para a Vida na África do Sul que procura mudar as normas da sociedade sobre a masculinidade e as Campanhas da Fita Branca (iniciada no Canada) que focalizaram na crescente consciencialização sobre a mudança das normas sobre a violência baseada no género em muitos países. O Sexto Sentido foi largamente avaliado e mostrou ser eficaz na edificação de atitudes de equidade do género, comunicação sobre HIV e uso do preservativo [61]. Os outros exemplos incluem a educação de grupo de intervenção do Programa H e campanha de marketing social, desenvolvida no Brasil, que tiveram enfoque no melhoramento da saúde sexual e redução do risco de HIV através da mudança das normas do género e redução da violência. A sua avaliação mostrou o impacto sobre as atitudes de género e a prevalência de doenças de transmissão sexual auto-declaradas [62]. A avaliação sugere que as intervenções transformadoras de género sejam mais eficazes que aquelas que meramente reconhecem ou mencionam as normas e papéis do género. O pequeno, mas emergente, organismo da literatura sobre avaliações das intervenções comportamentais da prevenção de HIV na África sub-sahariana mostrou que isto é geralmente mal sucedido, especialmente quando usando marcadores biológicos do risco sexual [63,64]. Uma excepção é dos Stepping Stones. Esta intervenção, primeiramente desenvolvida por Alice Welbourn para Uganda e agora usada em mais de 40 países, procura ser transformadora ao género. 2010 Vol. 16 No.2 Os Stepping Stones envolvem uma abordagem participativa que inclui uma reflexão crítica para encorajar práticas sexuais mais seguras através do desenvolvimento de relações mais equitativas de género. A avaliação da sua eficácia num ensaio randomizado controlado mostrou que era bem sucedida em alcançar uma redução tanto num indicador biológico (infecções de HSV-2) nos homens e mulheres e na perpetração da violência de parceiros íntimos acima de dois anos de seguimento [65]. No primeiro ano, foram observadas mudanças noutras práticas sexuais masculinas. É adequado especular se o sucesso dos Stepping Stones foi um produto do seu engajamento com identidades de género, mais notavelmente visto numa avaliação qualitativa do seu impacto sobre aqueles homens [66]. Interessantemente, os Stepping Stones tiveram impacto nas infecções de incidentes de HSV-2 das mulheres, mas a mudança avaliada nas práticas sexuais não foi observada [65]. É difícil saber se as mudanças em HSV-2 foram um produto da mudança nos comportamentos não medidos como resultados secundários, mas a intervenção não teve impacto sobre a maioria das mulheres em risco de HIV porque não reduziu a sua probabilidade de nova infecção de HIV. A pesquisa qualitativa mostrou que a intervenção foi geralmente empoderadora para as mulheres e pareceu empoderar as mulheres nas suas pequenas relações sexuais (com khwapheni, parceiros concorrentes secretos), mas havia evidência mais limitada do empoderamento com o seu parceiro sexual principal [66]. A evidência sugere que dentro da ordem prevalecente do género, as mulheres consideravam-se ser incapazes de influenciar o comportamento dos seus parceiros’; elas consideravam que se se tivessem afirmado, o preço teria sido o fim da relação. Algumas mulheres aceitaram isto, mas dado que muitas das suas aspirações a curto e longo prazos e o sentido do valor foram incorporadas nessas relações e geralmente houve incerteza sobre se o próximo parceiro seria diferente do que este, para a maioria, um preço que era demasiado alto para pagar. Isto destaca o valor das intervenções em contextos de fracos recursos que combinam o enfoque na equidade de género e intervenções mais estruturais, tais como vistos no estudo da IMAGEM, que combinam micro-finanças com um programa sobre a violência baseada no género e a acção comunitária conexa [67]. As ideias de masculinidade e feminidade também tiveram impacto na testagem de HIV e assim o acesso ao tratamento em diferentes formas. Os ideais da masculinidade hegemónica que são predicados na dureza e estar em controlo dão pouco espaço para os homens reconhecerem a vulnerabilidade através da testagem para HIV e usando os serviços sanitários. A sua relutância para fazer isto foi bem descrita. Na África do Sul, o Inquérito Nacional de SIDA de 2008 mostrou que 43% de homens e 57% de mulheres já tinham feito o teste de HIV, e 20% de homens e 29% de mulheres disseram que tinham o feito no ano anterior [2]. Há evidência dos serviços nos múltiplos contextos, e mesmo regiões globais, que os homens entram no tratamento antiretroviral na contagem de CD4 mais baixa que as mulheres e têm uma mortalidade mais alta no tratamento [68,69]. O modelo dominante da feminidade, nestes respeitos, beneficia as mulheres dado que são diagnosticadas o HIV mais cedo e têm mais probabilidade de iniciar o tratamento e terem sucesso. Mudar as construções da masculinidade é essencial para encorajar os homens a engajar-se na procura de saúde produtiva numa era de HIV. A discussão do género e HIV não deve ser concluída sem reflectir sobre como o HIV cria possibilidades para a transformação do género. É imperioso desenvolver práticas l.16 2010 Vo No.2 sexuais mais seguras porque providenciam possibilidades de engajamento na mudança da ordem do género e encorajam homens mais equitativos ao género [70]. A pesquisa também sugere que para os homens, a experiência de ter HIV pode ser parte do processo da transformação do género [71]. Para muitos homens, ser diagnosticado com HIV é um evento de mudança da vida que muda a forma em que eles se posicionam a respeito das suas famílias e parceiras. Assim, perante as suas próprias vulnerabilidades, há múltiplos relatos de homens que se envolvem na provisão de cuidados e apoio para as suas parceiras e famílias alargadas [48]. Similarmente nos seus relatos de mudança para o ideal Zulude isoka (o desejável homem heterossexual, personificado pelos homens que tinha múltiplas parceiras sexuais), Mark Hunter descreveu como alguns homens concluíram que a sua própria sobrevivência é previsível no seu engajamento com novas formas de ser homem [72]. Conclusões Há um crescente corpo de evidência mostrando que as mulheres que enfrentaram mais desigualdade do poder de género nas suas relações e violência do género estão em maior risco de HIV. Dado que os homens que foram violentos têm mais probabilidade de ser infectados, parece que as mulheres são menos capazes de se proteger quando estiverem em relações com homens que constituem o maior risco para elas. Reflectindo sobre a proliferação de práticas sexuais masculinas violentas e de risco, argumentámos que estas fluem de ideais dominantes de masculinidade. A exposição das mulheres para estes está relacionada com a sua adopção de femininidades que perdoam e acomodam a equidade masculina de género e o comportamento anti-social. Estes ideais de femininidades estão incorporados em processos culturais que recompensam a obediência. As mulheres que são mais vulneráveis material e emocionalmente são menos capazes de rejeitá-los, e assim, mais vulneráveis à violência e controlo masculino, e consequentemente ao HIV. A compreensão das práticas sexuais como fluindo de identidades de género ajuda-nos a compreender porquê elas são tão difíceis para mudar e como a mudança deve ser abordada. A evidência está a sugerir que são as identidades subjacentes de género que devem ser mudadas para o avanço da prevenção e cuidados de SIDA. A nossa compreensão de como mudar as identidades de género e desenvolver a equidade de género para prevenir as infecções de HIV está ainda na sua infância; porém, a experiência de muitos países ensina-nos que é possível avançar rumo à equidade de género. Alinhando as agendas da prevenção de HIV e desenvolvendo a equidade de género irá ajudar a alargar os direitos humanos globalmente, assim como tornar a prevenção de HIV mais eficaz. Porém, os recursos para este trabalho continuam seriamente e desproporcionalmente limitados. É essencial que os financiadores e políticos, pesquisadores e activistas trabalhem para assegurar que sejam disponibilizados recursos para o desenvolvimento e testagem de estratégias para criar masculinidades e femininidades mais equitativas ao género e implementar estratégias eficazes para abordar os problemas inseparavelmente interligados de desigualdade do género, violência e HIV. Detalhes do Autor 1 Gender & Health Research Unit, Medical Research Council, Private Bag X3985, Pretoria 0001 South Africa. 2 Research Office, University of Cape Town, P/Bag, Rondebosch 7701, South Africa. Contribuições dos Autores Este artigo foi escrito pelos dois autores. Conflito de interesses Os autores declaram que eles não têm conflito de interesses. Recebido: 16 de Setembro de 2009 Aceite: 9 de Fevereiro de 2010 Publicado: 9 de Fevereiro de 2010 7 Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 8 UNAIDS: AIDS epidemic update 2005 UNAIDS; Geneva 2005. Shisana O, Rehle T, Simbayi LC, Zuma K, Jooste S, Pillay-van-Wyk V, Mbelle N, Van Zyl J, Parker W, Zungu NP, Pezi S, the SABSSM III Implementation Team: South African national HIV prevalence, incidence, behaviour and communication survey 2008: A turning tide among teenagers? Cape Town; HSRC Press 2009. Gray RH, Wawer MJ, Brookmeyer R, Sewankambo NK, Serwadda D, WabwireMangen F, Lutalo T, Li X, vanCott T, Quinn TC, Rakai Project Team: Probability of HIV-1 transmission per coital act in monogamous, heterossexual, HIV-1-discordant couples in Rakai, Uganda. Lancet 2001, 357(9263):1149-53. 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Transformation 2004, 54:123-153. 2010 Vol. 16 No.2 que recebiam os cuidados na cama durante meses ou, em alguns casos, anos, continuavam a desempenhar o seu papel de pai ou mãe, providenciando amor, cuidados e apoio e orientação para os seus filhos. . Isto foi de muita importância na protecção dos jovens dos impactos emocionais de HIV na família e muitos jovens sentiam que tinham se tornado mais perto dos seus pais ou familiar como resultado das suas responsabilidades de provisão de cuidados. As crianças e os pais também desenvolveram redes de apoio informal e formal entre familiares, amigos, vizinhos, trabalhadores de ONGs e outros membros da comunidade local, que mitigavam os impactos materiais e emocionais de HIV na família e ajudavam a aliviar o trabalho de provisão de cuidados dos jovens. A provisão de cuidados não é assim apenas um processo unidireccional entre os jovens como ‘provedores de cuidados’ e os seus pais como “beneficiários dos cuidados”, pelo contrário, está incorporada nas relações sociais entre os filhos, pais, familiares e membros da comunidade em geral. Esta pesquisa sugere a necessidade de providenciar apoio direccionado aos jovens com responsabilidades de provisão de cuidados e os pais com HIV, assim como serviços universais. Os serviços especializados para jovens afectados com HIV foram altamente valorizados pelos jovens entrevistados na Grã-Bretanha e Tanzânia, por proporcionarem oportunidades para actividades sociais e apoio emocional de pares com outros em situações similares. Porém, as diferenças de idade, género, raça, etnicidade, classe, deficiência e outras características crucialmente afectaram as experiências e responsabilidades dos jovens no seio familiar. O apoio direccionado deve continuar sensível para estas diferenças para assegurar que os serviços sejam sensíveis às diversas necessidades dos jovens e suas famílias. A maioria dos jovens entrevistados na GrãBretanha regularmente frequentava pelo menos um grupo juvenil especializado direccionado a jovens afectados com HIV ou jovens das comunidades africanas (e um pequeno número de casos, grupos de jovens provedores de cuidados). Porém, a maioria destes projectos estava concentrada em Londres e um apoio de especialidade estava desenvolvida de forma desigual fora da capital. Outrossim, havia uma considerável apreensão entre os pais e provedores de serviço sobre a acessibilidade dos projectos de jovens provedores de cuidados para jovens cuidando de membros da família com HIV devido a preocupações sobre o estigma, confidencialidade e adequação cultural dos serviços, particularmente para famílias de refugiados africanos. Isto sugere que, onde não existem serviços de HIV especializados para a família, há necessidade de mais projectos inclusivos de jovens provedores de cuidados e outros serviços de inclusão sensíveis às necessidades de apoio culturalmente diverso dos jovens e pais vivendo com HIV. Embora o apoio juvenil especializado para os jovens afectados com HIV não estivesse amplamente disponível na Tanzânia, os poucos jovens entrevistados que foram capazes de frequentar os clubes de memória ou outras oportunidades terapêuticas valorizaram muito a oportunidade para aprender mais sobre HIV, para desenvolver as habilidades para a vida e partilhar os seus sentimentos com outros jovens em situações semelhantes. Além do apoio direccionado, a pesquisa destaca a necessidade para aumentar a capacidade dos serviços de inclusão para prestar apoio culturalmente adequado para crianças, jovens e pais afectados com HIV que seja sensível ao estigma e à necessidade de confidencialidade. Os provedores de serviço na Grã-Bretanha e Tanzânia sugeriram que os profissionais nos serviços de inclusão poderão ter uma compreensão e perícia limitadas em apoiar as famílias com assuntos associados ao HIV. Eles também revelaram a necessidade para um maior engajamento entre, por um lado, provedores inclusivos e instituições de acção social, por outro lado, organizações especializadas de HIV e grupos comunitários que estão actualmente a apoiar estas famílias. Isto ajudaria a melhorar a acessibilidade e adequação dos serviços universais, desenvolvimento de capacidade dos profissionais para lidar com a complexidade dos assuntos à volta de HIV no seio familiar, em adição à provisão de cuidados dos jovens. As experiências dos provedores de serviço, os jovens e pais levantam muitos desafios importantes no desenvolvimento dos serviços e apoio para este grupo escondido de jovens provedores de cuidados e suas famílias. As políticas, serviços e intervenções que começam a partir da compreensão das diversas dinâmicas relativas ao género e idade e dos papéis e responsabilidades da provisão de cuidados no seio das famílias afectadas com HIV e que prestam apoio a crianças, pais, familiares e comunidades nestes papéis irão ajudar a promover a acção social, bem-estar, resistência e capacidade de provisão de cuidados das famílias e comunidades no Norte e Sul globais. Editor: Enquanto esta útil pesquisa destaca alguns dos significativos fossos no apoio necessário para e prestado aos jovens provedores de cuidados, há uma necessidade urgente para a réplica da pesquisa na África Austral, onde vive a maioria dos infectados e afectados pelo HIV. Os desafios em termos de serviços disponíveis devem ser mesmo maiores para os jovens, que geralmente se encontram socialmente isolados e sem recursos financeiros suficientes. Não obstante, a informação apresentada aqui proporciona importantes directrizes para os legisladores e devem estimular a nova e mais compreensiva implementação do programa. A Dra. Ruth Evans é Docente de Geografia Social e Cultural na Universidade de Reading. Esta pesquisa foi financiada pela ESRC e foi recentemente publicada num livro por Ruth Evans e Saul Becker, intitulado: Children caring for parents with HIV and AIDS: global issues and policy responses, 2009 The Policy Press, UK. VOLUME VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 > 2010 19 A relação entre género, parcerias concorrentes, migração e HIV na Zâmbia Por Oda Shor Gilleberg “Você não pode falar sobre o HIV sem falar sobre o género.On deháuma desigual dade do génerohá HIV. Tudo é relacionado,” disse a Mercê Halwiindi, um dos participantesem um génerorecente, a migração e a oficina do treinamento do HIV organizadapelaorganizaçãointernacionalpara a migração (IOM) empapéis e emnormas de Zambia. Gender fazem-lhe o culto do diparaque as mulheresprotejam-se de encontroao HIV e aoabuso. Nitionssociais e culturais do de da masculinidade e do meio do femininity queoshomensprendemgeralmente o poderiniciar e ditarostermos do sexo. A desigualdade do género e o baixoestatuto da mulherpodemimpedir o serhumano e o desenvolvimentoeléctrico e agravarosimpactos do HIV e dos AIDS. O comportamento sexual do uence cultural do in das normas, incluindo a ocorrência de parcerias simultâneas que, junto com a migração, é um dos seis excitadores chaves da epidemia do HIV em Zambia. Recent research1 conduziupelo International de FamíliaSaúde (FHI), naparceria com IOM, o Conselhonacional do AIDS (NAC) e o programa comum de United Nations em HIV/AIDS naZâmbia, indicaque as parcerias simultâneas sãodifundidas. Os resultados finais da pesquisa são devidos ser publicado em finais de 2010 mas os resultados adiantados - que foram apresentados na conferência semestral do AIDS em Viena em julho 2010 - indicam que isso as parcerias simultâneas de sobreposição são freqüentes entre homens e mulheres em relacionamentos estáveis2. 1 “Mais do que dois terços dos homens (70.7%) e quase metade das mulheres (46.3%) entrevistados informaram que se tinham envolvido em relações concorrentes coincidentes nos últimos 12 meses. Quase todos aqueles que afirmaram ter mais do que um parceiro sexual nos últimos 12 meses tinham mais parceiros concorrentes do que sequenciais. As descobertas indicam que explicações normativas de parcerias múltiplas concorrentes centradas em dinheiro e dinâmicas do poder de género, a mobilidade e o uso de álcool como “Muitos dos trabalhadores da mina dizem que têm permissão para ter namoradas conforme queiram. O abuso psicológico é actualmente o pior para as mulheres e a normalização de parcerias sexuais concorrentes é parte disso. É impossível manter isto como um segredo e as mulheres são ensinadas a preservá-lo. Não há nada que as mulheres possam fazer sobre isso.” A pesquisa foi conduzida por uma equipa do Centro de Pesquisa de Doenças Tropicais (TDRC) com liderança científica e técnica fornecida pela Family Health International (FHI) e financiada e com assistência técnica do Conselho Nacional de SIDA (NAC), Nações Unidas (OIM, ONUSIDA, UNICEF, FNUAP e OMS), e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), 2010. 2 O estudo tinha por objectivo produzir informação específica de contexto sobre a prática de parcerias sexuais concorrentes no contexto de relações estáveis. Os pesquisadores usaram uma estratégia de amostragem intencional (não-casual) para inscrever homens e mulheres que se consideram como estando envolvidos em relações estáveis e que concordam em participar em entrevistas aprofundadas. As entrevistas aprofundadas foram conduzidas com 301 homens e mulheres entre os 16 e 49 anos de idade e de sete diferentes lugares na Zâmbia. O estudo procurava realçar percepções e conhecimentos da comunidade sobre o risco do HIV; para fortalecer a evidência baseada no diálogo comunitário sobre a prevenção do HIV dentro de relações estáveis; e fortalecer os sistemas de monitoria que seguem os dados da tendência do comportamento que influencia a epidemia do HIV na Zâmbia. 20 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 desinibidor. Acima da metade dos homens (51%) entrevistados e um quarto das mulheres participantes (26%) disseram que estiveram em parcerias sexuais concorrentes cuja residência primária era diferente das suas próprias. Os participantes que admitiram a concorrência coincidente informaram sobre o uso inconsistente de preservativo e notaram uma variedade de razões para o não uso de preservativos incluindo: falta de prazer, razões médicas ou de saúde e uma falta de confiança no preservativo. Cerca de metade de homens e mulheres que afirmaram ter-se envolvido em relações monogâmicas indicaram ‘nenhum uso de preservativo’ enquanto um quarto revelou uso inconsistente do preservativo. Mercy Halwiindi que trabalha com a ONG Programa de Gestão Compreensiva de HIV e SIDA (CHAMP) na região mineira do cobre da Zâmbia, implementando o HIV e programas de mudança social de género com trabalhadores da mina, confirma as descobertas do estudo: “A maioria dos trabalhadores da mina dizem que têm permissão para ter como namoradas conforme queiram. O abuso psicológico é actualmente o pior para as mulheres zambianas e a normalização de parcerias sexuais concorrentes é parte disso. É impossível manter isto como um segredo e as mulheres são ensinadas a preservá-lo. Não há nada que as mulheres possam fazer sobre isso”. Para responder a algumas destas mudanças relacionadas com o género a OIM Zâmbia, em parceria com a CHAMP e a Aliança para o Milhares emigram da Zâmbia todos os anos Desenvolvimento Global (GDA), está a levar a cabo uma série de formações em Género, Migração e HIV para Agentes de Mudança prómissores em locais de trabalho pelo país. À medida que o programa avança, as formações serão implementadas com trabalhadores de muitas das maiores empresas mineiras e agro-comerciais na Zâmbia; incluindo a Açucareira da Zâmbia, First Quantum Mining Limited, Mopani Mines e Dunavant Cotton Limited. “A formação em género é uma componente chave dos programas de HIV da OIM Zambia que tem por objectivo reduzir as vulnerabilidades relacionadas com o HIV de emigrantes e comunidades anfitriãs na Zâmbia”, diz Katy Barwise, Oficial de Programa para Saúde de Migração na OIM Zâmbia. “Tal como hoje, em certas regiões da África Austral, uma camponesa podia perder seu emprego – e sustento – se se recusasse a ter sexo com seu supervisor,” continua Barwise. De acordo com um levantamento sobre violência baseada no gênero (GBV) conduzida pelo Escritório de Estatística Central da Zâmbia (CSO) em 2006, 4% de homens e mulheres zambianos de idades compreendidas entre 15-49 anos foram apontadas como tendo experimentado abuso sexual, com mais mulheres informando sobre abuso sexual em tanto na área rural como na urbana. Contudo, segundo os participantes baseados na comunidade nas formações de género da OIM, o abuso sexual doméstico é muito mais comum do que este número indica. “O abuso doméstico sexual e físico aqui referido poderá ser apenas a ponta do iceberg”, diz David Kabati, o coordenador para Dunavant Cotton de CUIDADOS DE HIV E SIDA. “As esposas não falam de violação doméstica, porque ‘tal coisa não existe’. Todos aprenderam que um marido pode fazer sexo com sua esposa sempre que quiser e que ela deve perseverar”. Mas apesar disso, tanto homens como mulheres jogam um papel em perpetuar as normas de género que encorajam o abuso doméstico e parcerias concorrentes: “Os papeis de género são protegidos por mulheres que as entendem como morais e africanos”, diz Sgidi Sibeko, consultor de Género, Migração e HIV na Organização Internacional para Migração. Sibeko realça que as mulheres não deviam apoiar práticas e valores tradicionais que favoreçam sua marginalização. Estas normas rígidas de género onde os homens podem comportar-se livremente, com a conivência de mulheres, são muitas vezes protegidas por argumentos religiosos. Nos seminários da OIM com trabalhadores da mina em Solwezi (na região mineira do cobre) os participantes masculinos expressaram sua crença de que ‘biblicamente, os homens são mais inteligentes do que as mulheres’, e ‘biblicamente, a mulher foi criada justamente para apoiar o homem. Inicialmente todos os empregos foram feitos para serem feitos apenas pelo homem’. 3 O género baseou o relatório sumário do exame 2006 da violência (GBV): http://www.zamstats.gov.zm/media/gender_based_violence.pdf VOLUME VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 > 2010 21 Seja como for, os homens sofrem de expectativas inflexíveis de género. A saúde e o bem estar dos homens são postos em perigo pelas normas tradicionais de género. Em alguns casos os homens são encorajados a associar violência, consumo de álcool e substâncias tóxicas, a perseguição de parceiros múltiplos e a domínio sobre mulheres com ‘masculinidade’. As normas contemporâneas de gênero deixam tanto os homens como as mulheres vulneráveis à infecção e reduzem a possibilidade de que os homens venham a procurar serviços de testagem do HIV ou o acesso aos serviços médicos até que já estejam muito doentes. Por esta razão, o programa de formação em género da OIM centra-se no papel de homens como agentes de mudança e no fundo é a abordagem de Um Homem Pode. A Campanha Um Homem Pode foi lançada em 2006 pela Rede de Justiça de Género de Sonke na África do Sul. A campanha foi implementada em Burundi, Quénia, Malawi, Moçambique, Namíbia e Uganda e actualmente está a ser integrada nos programas de saúde da OIM Zâmbia. O significado desta ideologia é que cada um de nós pode fazer uma diferença e os homens são especialmente encorajados a advogar simples e colectivamente por igualdade de género. A mudança de comportamento é gradual e não acontece de um dia para o outro. “Sabemos que o regime patriarcal concede poder ao homem sobre a mulher. Como resultado, os homens gozam de certos privilégios na sociedade. Nada deve ser considerado como estando a ameaçar ou a corroer esse poder. Caso isso aconteça, o homem pode responder com violência para restabelecer ou maltratar para garantir que está bem firme”, explica Sibeko. Por outro lado, os participantes do sexo feminino numa das formações de género disseram que tinham passado pela experiência de serem contraladas por homens. Uma delas contou pormenorizadamente sua experiência: “Há pouco tempo recebi uma mensagem dum número que não conheço. Meu namorado ordenou que eu lesse a mensagem e depois deu-me uma sova. Continuei a receber tais mensagens e meu namorado sempre me dava uma sova embora eu não as respondesse. Um dia achei um cartão de telemóvel no nosso quarto de dormir e descobri que havia sido o meu namorado a enviar-me aquelas mensagens em primeira mão.” Embora os papéis de género possam mudar e de acordo com Sibeko, tanto homens como mulheres precisam de um envolvimento constante por forma a mudar seu comportamento. Apesar dos desafios, ele realça que os papéis de género e o comportamento mudam com o passar do tempo. Abordar a igualdade de género é uma parte essencial da resposta ao HIV, “o desequilíbrio de género é um dos móbeis do HIV e precisamos de envolver todos os sectores da sociedade”. Os participantes destas formações de género, todos para quem trabalham ao nível da base e que diariamente testemunham as desigualdades de género, acreditam que a igualdade de género pode ser alcançada na Zâmbia. “Pode levar uma década. O que é importante é começar em qualquer parte e nós já começamos,” conclui Kabati. Oda Shor Gilleberg trabalha para OIM Zâmbia As normas contemporâneas de género deixam tanto homens como mulheres vulneráveis à infecção do HIV e reduzem a possibilidade de que os homens venham a procurar serviços de testagem do HIV ou o acesso aos serviços médicos até que já estejam muito doentes. Os mineiros muitas vezes vivem fora de casa por longos períodos de tempo 22 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Os estudos da prevenção do HIV para jovens em África são muitas vezes de baixa qualidade e de efeito limitado Por Michael Carter A qualidade de pesquisa examinando os programas de prevenção do HIV que visava os jovens em África é baixa, de acordo com os autores duma revisão sistemática e meta-análise publicada na edição online da AIDS. Além disso, a evidência de que tais programas de prevenção tinham um efeito era limitada e confinada a sub-grupos. “Surpreendentemente pouca informação estava disponível nas intervenções dos jovens na África subSariana: foram identificados apenas 28 estudos com escassos dois estudos de recolha de termos biológicos e muitos estudos tinham esboço sub-perfeito”, escrevem os investigadores. A pesquisa dos investigadores identificou 758 artigos. Contudo, só 31 estudos reportados em 28 intervenções satifizeram os critérios de inclusão dos investigadores. Onze destes estudos foram ensaios randomizados, 15 usaram um desenho transversal e 13 foram estudos de coorte. Muitos (16) foram conduzidos em escolas; oito foram realizados na comunidade e quatro em escolas e comunidade. A duração de intervenções variava de uma hora a três anos. As medidas de resultados incluem o uso do preservativo, mudança de comportamento e resultados biológicos tais como infecções com HIV ou uma infecção de transmissão sexual.. Uso do preservativo Os jovens constituem um dos focos da epidemia do HIV. Na África do Sul 4% de mulheres jovens com idades compreendidas entre os 15 e 24 anos são HIV-positivas, com 2% de rapazes neste grupo etário também com infecção por HIV. Um grande número de programas de prevenção visa pessoas mais jovens, com o objectivo de reduzir seu comportamento de risco. É importante saber se estas intervenções funcionam. Contudo, os investigadores conduziram uma revisão sistemática e meta-análise para avaliar a eficiência de programas de prevenção para os jovens. Eles observaram, “...esta é a primeira meta-análise do impacto de intervenções de comportamento para jovens na África sub-Sariana”. Para estarem inclusos na revisão, os estudos que tinham que ter um grupo de controle, com enfoque para jovens (idades 10 a 25), foram realizados depois de 1990 e reportam as intervenções do comportamento visando a prevenção da transmissão do HIV através da redução do risco de infecção sexual. Um total de 18 estudos avaliaram o uso do preservativo. Seus resultados eram altamente variáveis. Em geral, as intervenções tinham um impacto maior no uso do preservativo por homens do que por mulheres. Na meta-análise , o uso do preservativo era 46% mais alto durante a última relação sexual entre homens que receberam a intervenção do que entre os que não receberam. As intervenções também aumentaram o uso geral do preservativo entre rapazes (RR = 1.32; 95% IC, 1.25 a 1.40). Três estudos examinaram a intenção dos participantes em usar preservativos. Um estudo teve um efeito positivo, outro teve resultados negativos e a intervenção no terceiro estudo não teve absolutamente nenhum impacto. Comportamento sexual A avaliação mais comum de comportamento sexual (onze estudos) foi nunca fazer sexo. Em geral, não havia nenhuma evidência de que a participação em programas de prevenção de HIV aumentava a actividade sexual. A abstinência sexual foi examinada em três estudos. As taxas referidas em dois destes aumentaram, mas caíram no terceiro. A recente actividade sexual foi avaliada em sete estudos. Um estudo verificou uma redução, enquanto que três identificaram um aumento. VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 23 Há uma falta de estudos de alta qualidade examinando a eficiência de intervenções da prevenção do HIV para jovens em África. Isto está particularmente a preocupar dada a dimensão da vulnerabilidade da infecção por HIV que os 125 milhões de jovens enfrentam na África sub-Sahariana e a presença de numerosas iniciativas de prevenção do HIV e oportunidades de financiamento na região. linear. Além do mais, nenhum dos dois estudos usou os mesmos métodos de análise ou registo de dados e os indicadores de resultados eram nitidamente muito diversos ”. Contudo, eles recomendaram que “devia haver mais estudos que usem um esboço de avaliação forte e medidas de resultados biológicos”. Em relação ao resultado dos estudos, os investigadores acharam ‘encorajador’ que as intervenções não tenham aumentado o risco de infecção sexual. Eles comentam, “a eficiência de intervenções de prevenção do HIV em todo o comportamento sexual, até a data, contudo, parece relativamente pequena”. A informação sobre estudos da mina estava disponível nos seus efeitos sobre parcerias sexuais múltiplas. Mais uma vez, havia pouca evidência de que estes aumentaram entre aqueles que receberam a intervenção da prevenção do HIV. Nos cinco estudos em que a intervenção foi com sucesso, em três os efeitos foram mais pronunciados em rapazes do que em raparigas. Resultados biológicos Apenas dois estudos examinaram resultados biológicos. As taxas de HSV-2 foram mais baixas no grupo de intervenção num estudo da África do Sul, mas a intervenção não teve nenhum impacto na incidência do HIV ou gravidez. Um estudo tanzaniano também mostrou que a intervenção não tinha nenhum impacto nas taxas de HIV ou gravidez. Os investigadores expressaram surpresa e preocupação pela falta de estudos de alta qualidade examinando a eficiência de intervenções da prevenção do HIV para jovens em África. Eles escrevem, “...isto é particularmente preocupante dada a dimensão da vulnerabilidade da infecção por HIV que 125 milhões de jovens enfrentam na África subSahariana e a presença de numerosas iniciativas de prevenção e oportunidades de financiamento na região”. Além disso, os investigadores constataram que havia pouca consistência nas abordagens de revenção dos estudos que eles identificaram e que alguns “se tinham baseado no conhecimento prévio duma forma Referência Michielsen K et al. Eficiência de prevenção do HIV para jovens na África Sub-Sariana: revisão sistemática e análise de metas de experiências aleatoriamente seleccionadas e não seleccionadas. SIDA, edição online, DOI: 10.1097/ http://www.aidsmap.com/en/news/BB8BF6B1-81F2-4EC5-80A25E935FB2942C.asp 24 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Os jovens estão desproporcionalmente infectados pelo HIV e precisam de respostas dirigidas Pesquisa realça a prevalência do HIV e a vulnerabilidade dos camponeses Por Nosipho Theyise A Organização Internacional de Migração (OIM), com o parceiro Hoedspruit Training Trust (HTT), implementaram uma Pesquisa Integrada Biológica e de Comportamento (IBBS) em dez farmas na zona de Hoedspruit na Província do Limpopo, África do Sul em 2008. A pesquisa envolveu 1.500 camponeses e a gestão que todos se voluntariaram a participar. O estudo considerou que os camponeses são altamente vulneráveis ao HIV: 28.5% de camponeses estavam infectados pelo HIV. As trabalhadoras estavam significativamente mais em risco do que os trabalhadores em 32.5% versus 20.9% respectivamente. A pesquisa anônima da prevalência do HIV estava ligada a um questionário para melhor compreender a relação entre o HIV e vários factores sociais, económicos, de mobilidade e de comportamento que são prevalecentes em estados de agricultura comercial. O Dr Clive Evian, que conduziu a pesquisa, caracterizou os resultados como uma “epidemia séria” e realçou a necessidade de fortalecer os actuais serviços de testagem, cuidados e apoio de HIV. . As principais achados sugerem que: • As trabalhadoras, especialmente aquelas que têm abaixo de 30 anos de idade parecem ser particularmente vulneráveis à infecção. As raparigas trabalhadoras (na faixa etária de 18 – 24 anos) são três vezes mais susceptíveis de serem infectadas do que rapazes da mesma idade. • As trabalhadoras que viajam diariamente por mais de uma hora para o local de trabalho são mais susceptíveis de serem infectadas pelo HIV do que a sua contraparte masculina – e as mulheres gastam mais tempo dirigindo-se para o serviço do que homens. • Mulheres solteiras e homens casados parecem ser mais vulneráveis à infecção do HIV. • A maioria (60% de todos os trabalhadores e 53% de trabalhadores HIV positivos) não conhece o seu estado de HIV. • Um quarto (25%) dos trabalhadores HIV positivos que afirmaram conhecer seu estado serológico não usam preservativos. • A circuncisão masculina parece providenciar protecção parcial apenas. 71% de todos os homens HIV positivos afirmaram terem feito a circuncisão quer de adultos quer quando crianças. Contudo, a prevalência do HIV é significativamente mais baixa entre homens que afirmaram terem feito a circuncisão quando crianças (abaixo dos 15 anos). O Dr Evian realçou que uma vez que a comunidade agrícola abrange uma grande percentagem de jovens trabalhadoras, “o enfoque de questões que afectem raparigas é crítico e da mais alta prioridade”. Esta pesquisa realçou áreas que precisavam de foco imediato, especialmente em termos da vulnerabilidade de raparigas. Também encorajou farmeiros e camponeses a irem para a testagem e informou a todos os trabalhadores acerca das políticas de HIV no local de trabalho que os apoiem, bem como outros serviços, incluindo medicamentos antiretrovirais que estão disponíveis para aqueles que deles precisam. Camponeses na farma no Limpopo, África do Sul VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 VOLUME – PUBLICAÇÃO > 2010 25 • Trabalhadoras com idades compreendidas entre 18 – 24 são três vezes mais susceptíveis de serem infectadas do que homens da mesma idade • Trabalhadoras que diariamente viajam por mais de uma hora para o serviço são mais susceptíveis de serem infectadas pelo HIV do que sua contraparte masculina • Mulheres solteiras e homens casados parecem ser mais vulneráveis à infecção do HIV • 60% de todos os trabalhadores e 53% de trabalhadores HIV positivos não conhecem o seu estado de HIV • Um quarto (25%) dos trabalhadores HIV positivos que informaram conhecer seu estado não usam preservativos • A circuncisão masculina parece prover protecção parcial apenas. 71% de todos os homens HIV positivos afirmaram terem feito a circuncisão quer quando adultos quer em crianças. A pesquisa irá prover aos empregados, empregadores, bem como os fazedores de política, uma apreciação exacta da epidemia no sector agrícola e assim, dar melhor assistência no desenho do programa bem como na monitoria. A pesquisa foi implementada como parte da Parceria da OIM na Mobilidade e HIV na África do Sul (PHAMSA) que tem por objectivo reduzir a incidência do HIV e o impacto da SIDA entre imigrantes e trabalhadores móveis e seus familiares. Acerca de PHAMSA: O programa regional da Organização Internacional de Migração (OIM), Parceria sobre HIV e Mobilidade na África do Sul (PHAMSA) tem por objectivo reduzir a incidência do HIV e o impacto da SIDA entre imigrantes e trabalhadores moveis e seus familiares na região da Comunidade de Desenvolvimento para África Austral (SADC). Activa desde 2004, a PHAMSA implementa projectos de prevenção do HIV em sectores que sejam caracterizados por altos níveis de população móvel. Estes sectores incluem construção, transporte, agricultura comercial, pescas, exploração mineira bem como populações móveis e imigrantes vivendo e trabalhando nas zonas fronteiriças, tais como funcionários das alfândegas e da Migração bem como os comerciantes informais que atravessam a fronteira. Nosipho Theyise email: [email protected] 26 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Dirija o fazendeiro vegetal baseado em Chiredzi, Zimbabwe do cuidado Prevenção do HIV e tratamento não acessível a trabalhadores imigrantes na África Austral Por Nosipho Theyise Um estudo recente da Organização Internacional de Migração (OIM) descobriu que trabalhadores imigrantes na África Austral têm acesso relativamente limitado e inadequado aos serviços de prevenção e tratamento do HIV, embora enfrentem vulnerabilidade aumentada à infecção. As descobertas têm como base uma avaliação regional das vulnerabilidades ao HIV de imigrantes e trabalhadores móveis na região da África Austral encomendada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e financiada pela Iniciativa de Prevenção da África Austral do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para Alívio ao SIDA (PEPFAR). Conduzido em oito países (Angola, Lesoto, Malawi, Moçambique, Namíbia, África do Sul, Suazilândia e Zâmbia) durante um período de cinco meses de Julho a Novembro de 2009, a avaliação centrava-se primeiramente em trabalhadores imigrantes empregados na agricultura comercial, exploração mineira, transporte, construção, trabalho doméstico, comércio informal transfronteiriço e sectores marítimos. Os imigrantes irregulares foram um foco secundário. O estudo achou que numerosos factores contribuem para a vulnerabilidade aumentada do HIV de trabalhadores imigrantes, populações móveis (e as comunidades com que eles interagem), incluindo: • Aborrecimento e solidão resultantes dos longos períodos de tempo passados fora de casa; • Ambientes sociais baixos em que álcool e sexo são as únicas formas de entretenimento; • Parcerias sexuais múltiplas e concorrentes, incluindo sexo comercial e transaccional; • Baixo conhecimento do HIV e inconsistente uso de preservativo; • Acesso limitado aos serviços de prevenção do HIV; • Baixa cobertura de programas de comunicação social e de mudança de comportamento Por outro lado, o estudo achou que imigrantes irregulares e sem documentos enfrentam vulnerabilidades especiais de saúde na medida em que evitam chegar a serviços de saúde pública, razões relativas à cidade tais como custo elevado; medo de ser deportado; barreiras de linguagem e atitudes possíveis de xenofobia de provedores de serviços de cuidados de saúde. Descobertas e recomendações específicas por sector: Sector de Agricultura Comercial Condições de vida desfavoráveis, mobilidade sazonal, aborrecimento e solidão, falta de acesso aos serviços de saúde e desigualdades de género entre outras coisas, contribuem para o aumento da vulnerabilidade de camponeses ao HIV. Em alguns casos, porque os camponeses trabalham num sistema ‘quem não trabalha não recebe pagamento’, não tiram folga para procurar atenção médica ou então estar em condições de receber tratamento, até que seja demasiado tarde. Recomenda-se que os negócios agrícolas levem a cabo exames gerais periódicos que incluam a despistagem voluntária para infecções de transmissão sexual e HIV. As ONGs são também encorajadas a apoiarem governos no alcance de estabelecimentos agrícolas isolados com cuidados de saúde básicos adequados, incluindo serviços de prevenção de HIV. Trabalho de Construção Os trabalhadores de construção vivem tipicamente em acomodação temporária em locais de construção e muitas vezes em áreas remotas. Esta separação das famílias, aliada às limitadas actividades de recreio ou entretenimento em lugares remotos fazem deles vulneráveis, já que podem envolver-se em sexo transaccional com membros das comunidades à sua volta. Eles têm também falta de acesso aos serviços por causa da localização muitas vezes distante de locais para construção. As recomendações para este sector que, nos casos em que os serviços de cuidados de saúde locais não estão disponíveis, todos os trabalhadores de construção devem beneficiar do acesso aos serviços de saúde móvel no próprio local. Por outro lado, todos os projectos de construção novos devem conduzir a avaliações de impacto social sobre a maneira como os desenvolvimentos de construção propostos irão afectar as dinâmicas sociais de comunidades vizinhas tanto a curto como a longo prazos. VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 27 Trabalho Doméstico Trabalhadores domésticos são vulneráveis ao HIV muitas vezes por causa de suas vidas desfavorecidas e condições de trabalho; possíveis práticas de trabalho ilegais por entidades patronais; o tempo gasto fora de casa; possível violência baseada em sexo e género; e falta geral de acesso a serviços de cuidados de saúde. As recomendações para o sector de trabalho doméstico incluem a formalização do trabalho doméstico pelos governantes para limitar as práticas de trabalho ilegais; maior aplicação de regulamentos sobre entidades empregadoras individuais provendo-lhes incentivos para permitir acesso regular a serviços e informação de prevenção do HIV para trabalhadores. transaccional. Além disso, por estarem sempre na estrada com cargas caras para proteger, são relutantes em deixar seus camiões abandonados por mais de poucos minutos. Quer isto dizer que os motoristas de camião raras vezes procuram cuidados de saúde enquanto estão na estrada, o que contribui para a sua vulnerabilidade ao HIV. Pescas Os marinheiros passam a maior parte do seu tempo no mar, o que limita o seu acesso aos serviços de cuidados de saúde. Como todos os outros sectores mencionados, o tempo gasto fora de casa faz deles pessoas vulneráveis e eles podem abusar do álcool e envolver-se em comportamentos sexuais de alto risco como trabalhadoras de sexo quando têm licença para ir a terra. O relatório recomenda que além da provisão de serviços de saúde em ‘zonas perigosas’ do HIV como portos, Monte de pessoas na terminal de autocarros de Road Port em Harare, serviços de saúde a bordo devem Zimbabwe. . Uma estação de autocarros chegando de ou se dirigindo a África também ser providenciados a todos do Sul e Botswana. Muitos Zimbabweanos têm recursos para viajar aos países os trabalhadores. vizinhos para comprar diferentes produtos para revenda em casa. Tsvangirayi Mukwazhi Sector de Exploração Mineira Alguns dos factores que influenciam as vulnerabilidades dos trabalhadores da mina são condições de trabalho deploráveis e identidades masculinas; viver longe das famílias; acesso limitado aos cuidados de saúde; campos de de exploração mineira em lugares isolados, muitas vezes desertos e inóspitos ; e comunidades abastecedoras de trabalhores mineiros empobrecidas. As recomendações feitas para este sector incluem: programas de HIV no local de trabalho devem estar disponíveis a todos os mineiros independentemente da sua situação contratual (permanente ou não permanente); desenvolvimento e implementação de intervenções de comunicação para mudança de comportamento e social culturalmente forte e baseada em evidências; e a introdução de serviços de cuidados de saúde de forma amigável para mineiros que sejam acessíveis durante muitas horas. Sector deTransporte O serviço de motorista de camião é solitário. Eles passam muitas vezes por longas demoras nos portos e postos fronteiriços onde podem levar acima de cinco dias à espera da documentação. Alguns motoristas de camião vão aos bares próximos passar o tempo e, podem envolver-se em sexo 28 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 O relatório recomenda entre outras coisas, a uniformização de procedimentos de certificação alfandegária nos postos fronteiriços na região por forma a reduzir o tempo de espera; e maior coordenação entre países da SADC para providenciar instalações de saúde acessíveis e serviços de prevenção do HIV em todos os países da região. Negócio Informal Transfronteiriço Tal como os motoristas de camião, os comerciantes informais transfronteiriços passam longos períodos de tempo nos postos fronteiriços. Passam tempo limitado com suas famílias porque seus movimentos freqüentes de travessia de fronteira e, devido à sua situação financeira restrita poderão ser incapazes de pagar pela acomodação e cuidados nos países de destino. Isto faz deles vulneráveis à infecção do HIV na medida em que eles podem envolver-se em sexo transaccional em troca de tais coisas como acomodação, transporte ou mesmo comida. As recomendações feitas são no sentido de que ONGs e governos devem introduzir centros de serviços de prevenção do HIV e clínicas de saúde que estejam abertos depois das horas normais em zonas de alto risco onde comerciantes informais transfronteiriços se encontram. Em suma, a avaliação revelou que apesar de um aumento nos serviços de prevenção do HIV aos serviços de prevenção do HIV e o tratamento para trabalhadores imigrantes, seus familiars e as comunidades em seu redor permanecem inadequados. O relatório faz um número de recomendações compreensivas para ajudar a reduzir a vulnerabilidade ao HIV de trabalhadores imigrantes e populações móveis, tais como a necessidade de olhar para os imigrantes dentro dum contexto de saúde pública e o desenvolvimento de programas para imigrantes e as comunidades com quem eles interagem, em particular “espaços de vulnerabilidade”, tais como nas zonas de tensão dos postos fronteiriços e corredores de transporte; a necessidade de mais pesquisas para examinar parceiros de comportamento sexual dentro do processo de migração; e a necessidade dos governos introduzirem políticas compreensivas de HIV que cubram as vulnerabilidades específicas encaradas pelos imigrantes; em particular, o acesso aos cuidados de saúde no local de trabalho e nos grandes corredores de trânsito. O relatório também encoraja os governos a assumirem uma atitude rígida para fazer cumprir os regulamentos para assegurar que todas as empresas, incluindo as mais pequenas, forneçam políticas no local de trabalho e acesso regular aos serviços de prevenção do HIV para todos os trabalhadores, independentemente da sua situação contratual. O Director da Missão da África Austral da USAID, Sr. Jeff Borns, disse, “a USAID apoiou esta valiosa pesquisa a descobrir quão susceptíveis os imigrantes estão ao HIV e SIDA e a obter uma orientação valiosa para aqueles procurarem abordar as necessidades de uma tal vulnerabilidade e grupo imerecido.” Editor: Esta pesquisa ajuda a preencher uma grande lacuna nas actividades de prevenção em redor do HIV e populações móveis e vulneráveis, apontando as lacunas que os outros podem seguramente colmatar. Certamente que há aqui um campo de acção para parcerias público/privadas que irão permitir ao sector privado apoiar aos esforços de prevenção do sector público nos postos fronteiriços e em qualquer outra parte. Soluções simples tais como a provisão de instalações de cinema que podem fornecer entretenimento seguro enquanto se está longe por muitas horas, bem como exibir vídeos educacionais e outros materiais sobre prevenção e sexo mais seguro, podem ser implementados através de tais parcerias. Quem sabe, talvez eles possam até começar a gerar seus próprios fundos em vez de estarem constantemente a pedir apoio a doadores. No mínimo, chefes de indústria em cada um dos sectores destacados deve receber cópias gratuitas deste relatório. O relatório completo intitulado Avaliação Regional sobre necessidades de prevenção do HIV de Populações Emigrantes e Móveis na África Austral 2009 pode ser baixado do sítio:http://iom.org.za/site/index.php?option=com_ docman&task=cat_view&gid=22&Itemid=238 Nosipho Theyise é Funcionário de Informação de Saúde para a Migração na Organização Internacional de Migração E-mail: [email protected] Skype ID: Sipps1 http://iom.org.za Motorista as de camiã ão nu um possto fronteirriço entre Zâmbia e Zimbabwe e. Os motorrista as passsam muito tempo na as estradass sem acessso aos cuida adoss de sa aúde VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 VOLUME – PUBLICAÇÃO > 2010 29 Não Há Tempo para Desistir: lacuna no tratamento aumenta em África Relatório especial por MSF No final dos anos 90, a Médicos Sem Fronteiras (MSF) envolveu-se em HIV porque o consideravam como uma emergência. Hoje a MSF ainda crê que esta é uma crise que requer resposta excepcional. Desde o início da epidemia, o HIV criou uma crise aguda na saúde pública em muitos países exigindo uma resposta de emergência para a alta mortalidade e a expansão da doença. Até à data, muito foi feito para prevenir o HIV, mas a emergência da situação ainda exige uma resposta sustentada e dilatada por um longo período de tempo — a batalha ainda não terminou. Através do seu trabalho médico humanitário na maioria dos países mais afectados da África SubSahariana, a MSF começou recentemente a observar uma mudança preocupante entre a comunidade doadora. Depois de anos de boa-vontade política e compromisso financeiro para combater o HIV, os doadores parecem agora estar distanciados da luta, deixando para trás pessoas que ainda têm necessidade urgente de primeiros socorros. Em 20092010, a MSF realizou uma profunda análise de campo em oito países chave – República Democrática do Congo (DRC), Quénia, Lesoto, Malawi, Mozambique, África do Sul, Uganda e Zimbabwe – onde nós temos estado a prestar cuidados e tratamento de HIV por muitos anos. As descobertas confirmam nossas preocupações em termos de os doadores retrocederem nos compromissos para aumentar a luta contra a epidemia do HIV. Hoje, este distanciamento está a tornar-se visível no campo e o nível de cuidados de HIV está a começar a deteriorar. 30 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Incerteza e insegurança de financiamento do doador levou a que se deixasse de registar novos pacientes e colocou em risco o fornecimento de medicamentos antiretrovirais (ARVs) do médio a longo prazos. Os doadores também enfraqueceram sua inicial abordagem de emergência e mudaram os financiamentos para outras questões de saúde, ignorando os provados benefícios transversais de intervenção de HIV efectiva em cuidados de saúde em geral. Ironicamente, ao mesmo tempo, à medida que o nível e fontes de financiamento diminuem, os doadores esperam que o dinheiro dedicado a combater o HIV financie significativamente pacotes compreensivos estendendo-se a outras prioridades dentro do sector de saúde. Ao retirar-se, um possível doador não apenas dificulta o aumento no tratamento do HIV, mas ameaça enfraquecer todos os efeitos positivos e perspectivas futuras que a alta cobertura de TARV traz em termos de redução de mortalidade, morbilidade e transmissão na grande comunidade. Qualquer desistência dos actuais esforços para aumentar o TARV terá um grande alcance e consequências negativas muito reais para os pacientes e trabalhadores da linha da frente em cuidados do HIV. Combinado com os efeitos da crise económica em países de baixo rendimento e em particular nas pessoas vulneráveis, a fadiga do doador sobre o HIV irá mais adiante estender-se à falha de tratamento do HIV na África Sub-Sahariana. Em termos concretos, reduzir financiamentos para o tratamento do HIV e TARV significa que: • Os pacientes terão que esperar mais tempo para começar o TARV e poderão morrer antes que possam ter acesso a medicação de socorro. • Os pacientes deixados sem tratamento arriscam-se a sucumbir a infecções oportunistas e contagiosas tais como a TB. • A implementação das directrizes da OMS que dão aos pacientes os benefícios de tratamento antecipado irá cessar. • Irá frustrar os esforços de fornecimento de antiretrovirais já de si frágeis, significando mais esgotamento e ruptura de stock e esforços adicionais na carga de trabalho da ‘aderência e serviços de saúde’ do paciente. • Mais reduções nas ambições de resultados tangíveis e inclusão de grupos vulneráveis específicos nos países afectados. A partir da perspectiva do campo, a desistência do doador irá mudar o carácter da epidemia, com o aumento no número de pacientes procurando cuidados, mais pacientes doentes e subida do índice de mortalidade na comunidade — lembrando o início dos anos 2000 quando o TARV era racionalizado para alguns. Um breve estudo dos planos dos doadores para os próximos anos ilustra o desafio. Se o financiamento para o tratamento continua a encolher: • Pacientes com mais baixa contagem de CD4 serão mais afectados. Aqueles que iniciam com mais baixa contagem de CD4 requerem cuidados mais freqüentes, mais intensivos e mais dispendiosos. Ao mesmo tempo, eles têm menores chances de sobreviver e levam mais tempo a recuperar. • As cargas do paciente dos serviços de saúde irão aumentar e os trabalhadores da saúde ficarão desencorajados pelo agravamento de resultados nos pacientes a quem eles prestam cuidados. • Os pacientes poderão começar a partilhar seus comprimidos, baixando efectivamente sua dosagem e aumentando os riscos de transmissão do vírus e a resistência e as tensões irão aumentar entre aqueles em tratamento e os que não estão. • As taxas da tuberculose irão aumentar, apresentando uma carga adicional nos já concorridos serviços de saúde. • A mortalidade entre adultos na primavera de suas vidas e o número de órfãos irá subir mais. • Um abrandamento proporcional das actividades de testagem e aconselhamento será necessário Um doador chave,o PEPFAR, nivelou seus financiamentos para 2009-2014, e desde 20082009, reduziu mais suas alocações do orçamento anual estendendo o período de cobertura com o mesmo valor em dinheiro. O financiamento para compras de ARV será também reduzido, convertendo para menos pessoas o TARV, como se viu na África do Sul e Uganda. O Banco Mundial actualmente prioriza o investimento no sistema de saúde fortalecendo e promovendo capacitação em planificação e gestão de fundos dedicados ao HIV. Contudo, sem financiamento para medicamentos ARV e despesas relativas, o impacto de tal capacidade para apoiar os cuidados de HIV permanecerá muito limitado. A UNITAID está a retirar gradualmente seu financiamento. Até 2012, os medicamentos e outras aquisições de produtos médicos organizados pela Fundação Clinton para o HIV e financiados por UNITAID para a segunda linha de ARVs e produtos pediátricos devem terminar na RDC, Malawi, Moçambique e Zimbabwe. O Fundo Global enfrenta um défice sério de financiamento. Os doadores têm solicitado ao Fundo Global para baixar mais sua ambição financeira. Os cenários actuais de financiamento já são adequados na medida em que não incluem recursos adicionais requeridos para implementar as novas directrizes da OMS. Com muito poucas excepções, outros actores da saúde não financiam directamente o tratamento do HIV e quase nunca financiam fornecimentos de ARVs, a não ser através de sua contribuição para o Fundo Global. Eles são incapazes de preencher a lacuna criada pelo défice actual, embora permaneçam relutantes em aumentar seu apoio ao Fundo Global. Embora a mobilização de recursos desde 2001 nos tenha permitido lutar efectivamente contra a epidemia do HIV durante os anos passados, um sentido de recusa instalou-se entre a comunidade doadora sobre a crise em curso. Durante o último ano e meio, os doadores exprimiram preocupação relativamente ao custos, sustentabilidade e a relativa prioridade de HIV, contra os antecedentes duma pretensa falta de fundos. Isto desmente a evidência dos benefícios globais a longo prazo de se envolver decididamente na luta contra o HIV hoje. Os pacientes necessitados de tratamento salva-vida não se vão embora; os números de pessoas necessitando de cuidados urgentes irão aumentar e terão impacto negativo em suas famílias, comunidades e sistema de cuidados de saúde. Os custos de inactividade serão de longe mais elevados do que os de acção. http://www.zamoya.net/project/ ratn/images/index_r5_c3.jpg Nossa responsabilidade colectiva para com as pessoas vivendo com HIV nos países mais duramente atingidos deve permanecer firme. Esta é uma oportunidade histórica para a comunidade internacional renovar seu compromisso de combater a epidemia do HIV e apoiar as pessoas e países que enfrentam o desafio de providenciar tratamento a todos os necessitados. Isto depende criticamente do contínuo apoio financeiro por agências doadoras tais como PEPFAR, UNITAID e o Fundo Global e exige a expansão do cometimento daqueles países doadores cujo apoio tem sido até agora limitado. Não nos devemos esquecer do motivo por que começámos a luta contra o HIV. Estavamos a reagir a uma doença inútil e perdas excessivas de vida entre jovens, comunidades perdendo energia e experiência valiosas, profundas feridas causadas ao tecido social, e sobretudo, a injustiça do sofrimento desnecessário e da morte. VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 VOLUME – PUBLICAÇÃO > 2010 31 sumario da pesqu isa Prevalência do HIV, riscos de infecção por HIV e direitos humanos entre homens que fazem sexo com homens (MSM) em Malawi, Namíbia e Botswana Redes sexuais e capital social: parcerias sexuais concorrentes e múltiplas como uma resposta racional para redes sociais instáveis Acesso aos cuidados de HIV e SIDA para mães e filhos na África Sub-Sahariana: aderência aos programas PTV pós-natal Isolamento da tuberculose associada ao HIV durante a pesquisa intensiva de casos nos postos de recursos limitados: uma revisão sistemática e meta-análise Prevenção do HIV em jovens na África Sub-Sahariana: uma revisão sistemática Prevalência do HIV, riscos de infecção por HIV e direitos humanos entre homens que fazem sexo com homens (MSM) em Malawi, Namíbia e Botswana Autores: Baral S; Trapence G; Motimedi F; Umar E; Iipinge S; Dausab F; Beyrer CIipinge S; Dausab F; Beyrer C Fonte: PLoS One 26 Mar 2009; 4(3): e4997. ANTECEDENTES: Nas epidemias generalizadas de HIV na África Sub-Sahariana, os homens que fazem sexo com homens foram largamente excluídos da vigilância e pesquisa do HIV. Dados epidemiológicos do MSM na África Austral estão entre os globalmente mais raros e o risco de HIV entre aqueles homens que têm já que ser caracterizados na maioria dos países. METODOLOGIA: Uma investigação anónima tranversal de 537 homens recrutados com amostragem não probabílistica entre homens que afirmaram nunca terem feito sexo com outro homem em Malawi, Namíbia e Botswana usando um instrumento de pesquisa estruturada e despiste de HIV com o kit do teste rápido OraQuick(c). 32 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 PRINCIPAIS DESCOBERTAS: A prevalência do HIV entre os que estão em idades compreendidas entre 18 e 23 anos foi de 8.3% (20/241); 20.0% (42/210) entre os 24-29; e 35.7% (30/84) entre os que têm acima dos 30 para uma prevalência total de 17.4% (95% IC 14.420.8). Em regressões logísticas multivariadas, estando acima dos 25 anos (aOR 4.0, 95% IC 2.0-8.0), e sem usar sempre preservativos durante as relações sexuais (aOR 2.6, 95% CI 1.3-4.9) foram significativamente associados com ser HIV-positivo. A concorrência sexual era comum; com 16.6% tendo contínuas relações concorrentes estáveis com um homem e uma mulher e 53.7% tinham parceiros sexuais tanto masculino e feminino nos seis meses precedentes. A relação anal desprotegida era comum e o uso de lubrificantes com base em petróleo era também comum quando se usavam preservativos. Os abusos dos direitos humanos, incluindo chantagem e recusa de habitação e cuidados de saúde era prevalecente com 42.1% (222/527) contando pelo menos um abuso. CONCLUSÕES: Os MSM constituem um grupo de alto risco para a infecção do HIV e abusos dos direitos humanos em Malawi, Namíbia e Botswana. Concorrência de parcerias sexuais com parceiros de ambos os géneros podem desempenhar um papel importante na propagação do HIV nestas populações. É necessária uma pesquisa adicional epidemiológica e avaliativa para avaliar a contribuição do MSM para a epidemia do HIV da África Austral e de como melhor mitigá-la. Estes países devem iniciar e financiar adequadamente na base de evidências e programas de prevenção do HIV orçamentados para MSM. Redes sexuais e capital social: parcerias sexuais múltiplas e concorrentes como uma resposta racional para redes sociais instáveis Autor: Robert Thornton Fonte: Revista Africana de Pesquisa do SIDA Out 2009; 8(4): 413–421. Parcerias sexuais múltiplas e concorrentes (PMC) são prevalecentes na África Austral e foram identificadas como uma causa fundamental de alta prevalência do HIV nesta região. As ligações sexuais com parceiros múltiplos serve para aumentar o tamanho e a diversidade da rede social e sexual dum indivíduo e, por conseguinte, aumentar seu capital social. Esta maximização de capital social pode minimizar o risco de relação no custo de maximizar o risco biológico de infecção por HIV. Muitos indivíduos sexualmente activos parecem negligenciar seu risco biologico de infecção por HIV para maximizar seu ‘capital social.’ Da perspectiva de qualquer actor individual isto iria parecer irracional, mas numa escala social mais vasta, pode dar aos indivíduos melhor acesso a alguns bens sociais e económicos. Este artigo defende que pessoas em partes menos ligadas e instáveis da rede sexual são as mais activas na construção de suas redes sexuais, mesmo quando não sejam especificamente promíscuas. Contudo, tais estratégias podem aumentar a exposição à infecção por HIV em particular das populações, tais como utilizadores de drogas intravenosas, trabalhadoras de sexo e homens fazendo sexo com homens, bem como a população em geral de heterossexuais da África Austral. O que estas populações com alta prevalência de HIV têm em comum é sua participação em redes sexual–social em que indivíduos tentam maximizar seu capital sexual através da extensão da diversidade e densidade de suas redes sexuais. A discussão muda a atenção analítica para lá da noção de práticas sexuais de mais alto risco de indivíduos para a consideração da estrutura e dinâmicas de redes sociais e sexuais ao nível da sociedade. Acesso aos cuidados de HIV e SIDA para mães e filhos na África Sub-Sahariana: aderência ao programa pós-natal PTV Autores: Mercy Nassali; Damalie Nakanjako; Daniel Kyabayinze; Jolly Beyeza; Anthony Okoth; Twaha Mutyaba Fonte: Cuidados do SIDA, Volume 21, Assunto 9 Setembro de 2009, páginas 1124 - 1131. Apesar do aumento de intervenções da prevenção perinatal de transmissão de HIV de mãe-para-filho (PTMPF), a continuidade de cuidados pós-natal compreensivos de HIV para mãe e filho permanece um desafio nos países em vias de desenvolvimento. Nós determinamos a aderência aos programas pós-natal PTMPF e os factores associados entre mães num hospital público urbano em Uganda. Entrevistamos mães HIV-positivo pós-natais com alta e determinamos a aderência a PTMPF pela proporção de mães que honraram com as consultas marcadas oito semanas depois do parto. Realizamos discussões de grupos focais para avaliar factores que influenciam a aderência ao PTMPF. De 289 mães, apenas 110 (38%) aderiram a PTMPF. Assistência prévia numa revisão pós-natal de rotina e tendo acesso a um telefone foram significativamente associados com a aderência a PTMPF entre mães com idades superiores a 25 anos (taxa de probabilidades (OR) 3.6 (95% intervalo de confiança (IC); 1.2-10.4)) e (OR 3.1 (95% IC; 1.3-7.1)), respectivamente. Por outro lado, a Cristiandade (OR 3.2 (95% IC; 1.1-9.0)) estava significativamente associado com aderência a PTMPF entre mães abaixo de 25 anos de idade. Os benefícios percebidos pelas mães do programa PTMPF, o fácil acesso ao programa e o apoio social de um cônjuge foram motivadores importantes para mães aderirem ao PTMPF. Mesmo com a melhoria dos serviços pré-natais e intra-parto, apenas uma terça parte das mães infectadas pelo HIV aderiram ao programa PTMPF. As mães que assistiram aos cuidados pós-natais de rotina foram 3.6 mais susceptíveis de aderir a PTMPF. Recomendamos estratégias para aumentar a aderência das mães às intervenções do MPFV para aumentar o acesso aos cuidados de HIV para mães e crianças na África Sub-Sahariana. VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 33 Produção da tuberculose associada ao HIV durante a busca activa de caso nos estabelecimentos com recursos limitados: uma revisão sistemática e meta-análise Fonte: The Lancet, Doenças Infecciosas, Volume 10, Edição 2, Páginas 93 - 102, Fevereiro de 2010. Acesso aberto através de registo livre na The Lancet Autores: Katharina Kranzer, Rein MGJ Houben, Judith R Glynn, Linda-Gail Bekker, Robin Wood Stephen D Lawn A busca activa de caso é o despiste regular para evidência de tuberculose em pessoas infectadas com HIV, em alto risco de HIV, ou vivendo grupos congregados. Nós sistematicamente fizemos a revisão de estudos de busca activa de casos publicados entre Janeiro de 1994, e Abril de 2009. Em 78 estudos elegíveis, o número de pessoas com tuberculose detectada durante busca activa de casos s clínicos variava substancialmente entre países e grupos alvo de pacientes. A média da prevalência de recentemente diagnosticada da tuberculose foi de 0•7% em pesquisas com base na população, 2•2% em estudos de investigação de contacto, 2•3% nas minas, 2•3% em programas de prevenção da transmissão de HIV de mãe-para-filho, 2•5% em prisões, 8•2% em clínicas de tratamento médico e antiretroviral e 8•5% em serviços de testagem e aconselhamento voluntário. A análise de meta-regressão de estudos que incluiam apenas pessoas vivendo com HIV mostraram que para cada incremento na prevalência nacional de tuberculose de 100 casos por uma população de 100,000, a descoberta de caso intensificado identificou um caso adicional por 100 indivíduos despistados (p=0•03). O exame do escarro microbiológico de todos os indivíduos sem selecção anterior por despistagem de sintoma forneceu quatro casos adicionais por 100 indivíduos examinados (p=0•05). Dados no uso de despistagem em série, resultados de tratamento em casos activamente identificados de tuberculose e despesas de efectividade, estavam em falta. É necessária uma acção concertada para desenvolver a busca intensiva de casos como um método importante para o controlo da tuberculose. 34 VOLUME 16 – PUBLICAÇÃO 2 > 2010 Prevenção do HIV em jovens da África Sub-Sahariana: Uma revisão sistemática Fonte:http://www.aidsportal.org/Article_Details. aspx?id=12769&nex=30 Por razões sociais, culturais, económicas e biológicas, os jovens são particularmente vulneráveis à infecção do HIV. Os objectivos globais para reduzir a vulnerabilidade e prevenir o HIV em jovens realça a opinião cada vez mais crescente de que os esforços de prevenção do HIV devem incluir um enfoque nos jovens. Os recursos para a prevenção do HIV em todos os países são limitados e, por conseguinte, é imperativo que os recursos sejam eficientemente usados. Um caso emocionante pode ser feito para a necessidade de intervenções com enfoque para prevenir HIV entre jovens, mas não está tão claro como exactamente isto deverá ser feito. Este relatório representa uma actualização da primeira revisão sistematica Firme, Pronto, Vá! , somando avaliações de intervenções em escolas na África Sub-Sahariana, serviços de saúde ou comunidades geograficamente definidas com resultados divulgados entre Janeiro de 2005 e Dezembro de 2008. Os resultados do número limitado de estudos que revelaram o impacto em HIV e/ ou outros resultados biológicos foi apresentado separadamente. Uma despistagem inicial de quase 1,200 citações resultou em 23 estudos que satisfizeram os critérios de inclusão. Este número relativamente grande de estudos divulgados num recente período de quatro anos reflecte um crescente reconhecimento da importância da prevenção do HIV entre jovens e a necessidade de estudos para avaliar a eficiência de intervenções que tenham por objectivo alcançar isso. A revisão utilizou uma metodologia conhecida como a abordagem Firme,Pronto, Vá!, onde diferentes tipos de intervenções do HIV para jovens em diferentes cenários foram sistematicamente revistos em colaboração com um e outro usando uma metodologia similar e classificada para a sua eficiência. Um grande enfoque desta metodologia é usar as implicações dos resultados para produzir recomendações claras para políticas e programações. Novas publicações no SAfAIDS Resources Centre Network 1. Visando a Tuberculose. Porter, John; Leth van Frank. London: Joint Clinical Research Centre, 2009. Este documento tem por objective desenvolver novos conhecimentos, ferramentas e abordagens para um controlo de doenças contagiosas mais eficiente, conduzindo a melhor saúde para os desfavorecidos e vulneráveis. 2. Não Mais Pessoas Vivendo Com HIV Morrendo de TB. Organização Mundial de Saúde. New York: WHO, 2009 O controlo da infecção envolve a introdução de medidas para limitar a expansão da TB em lugares onde as pessoas com TB e HIV congregam, tais como em clínicas, hospitais, prisões ou quartéis militares. 3. Um Corte Acima da Base: Uma Apreciação Crítica Sobre A Promoção Da Circuncisão do Adulto Masculino Como Uma Estratégia de Prevenção. Grund, Jonathan. Atlantia, IAVI,2010 Passaram dois anos desde que a revista TIME considerou a circuncisão masculina para a prevenção do HIV o topo do progresso da medicina do ano. Isto resultou de três experiências clínicas em Quénia, Uganda e África do Sul que mostraram que homens circuncisados estão aproximadamente 60% menos susceptíveis de apanhar HIV a partir de sexo heterossexual. 4. Questões emergentes de Diálogos Políticos: Explorando Ligações Entre GBV, HIV e Cultura. SAfAIDS. Harare: SAfAIDS, 2009 Manual de política explorando as ligações entre violência com base em gênero, HIV e cultura. O livro apresenta questões levantadas durante diálogos de políticas que SAfAIDS conduziu em Zimbabwe. 5. Mapa Do Caminho Para a Igualdade: Lições Aprendidas Na Campanha Para O Protocolo da SADC Sobre Género E Desenvolvimento. Made, Pat; Morna, Lowe Colleen. Johannesburg: Southern Africa Gender Protocol Alliance, 2009 A visão da Southern African Gender Protocol Alliance é de uma região em que mulheres e homens são iguais em todas as esferas. 6. Anticorpos Para Além Da Neutralização: Abafando O HIV À Nascença. Kresge, Jill Kristen. New York: IAVI, 2010. Desde que o HIV foi descoberto, pesquisadores foram examinando o ciclo de vida do retrovírus. Alguns de seus progressos recentes foram realçados durante o anual Simpósio de Base sobre Biologia do HIV. 7. Estatísticas de Saúde Mundial. Boerma, Ties, AbouZahr. Geneva: WHO,2010 A série Estatísticas de Saúde Mundial é uma compilação anual da OMS de dados relacionados com a saúde para seus 193 Estados Membros e incluem um resumo do progresso feito para alcançar os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio relacionados com a saúde e respectivos orçamentos. 8. Cuidar do Ambiente e das Pessoas. Baya, Stanley. London: Tearfund, 2010 O Arabuko-Sokoke Forest em Quénia é o que resta duma floresta costeira da África Oriental que usou a extensão da Somália a Moçambique. São agora apenas 40km de comprimento e precisam de protecção internacional urgente. 9. Directrizes para o Tratamento da Tuberculose. WHO. Geneva: WHO, 2010 O Departamento Páre a TB da Organização de Saúde Mundial preparou esta quarta edição do Tratamento da Tuberculose: Directrizes, aderindo completamente ao novo processo da OMS para directrizes com base em evidência 10. Consequências da Saúde do Pulmão da Exposição ao Fumo do Uso Doméstico dos Combustíveis Sólidos: Um Princípio Orientador para Países de Baixo Rendimento sobre O Que É e O Que Fazer Sobre Isso. Enarson, Donald; Ait-Khaled, Chen-Yuan Chiang. Paris: A União, 2009 A “causa” da doença é agora reconhecida como sendo mais complexa do que foi entendida anteriormente. Não podemos mais confiar na idéia de que um simples agente determina a presença ou efeitos da doença. VOLUME 1616 – PUBLICAÇÃO 2 >2 2010 VOLUME – PUBLICAÇÃO > 2010 35 Revisão do livro Desacreditar ilusões: os bastidores da história da Campanha de Acção para o Tratamento (2010) Por Nathan Geffen Publicado por Jacana Media (Pty) Ltd in 2010 ISBN 978-1-77009-781-0 Este livro ‘apaixonadamente escrito’ por Nathan Geffen dá uma ideia geral da história da luta da Campanha de Acção para o Tratamento contra a ideia da recusa de SIDA que foi descrita como “uma das mais icónicas lutas por justiça social no século 21na África do Sul”. Geffen deita a culpa e responsabilidade por centenas de milhares de mortes de SIDA com firmeza nos ombros de Thabo Mbeki e sua anterior Ministra de Saúde, Dra Manto TshabalalaMsimang. Ele defende que Mbeki e TshabalalaMsimang activamente obstruiram políticas para se aproveitarem dos medicamentos de reanimação de pessoas vivendo com HIV, criaram dúvidas entre a multidão ao não falar com clareza acerca do HIV e SIDA e promoveram e protegeram medicamentos por testar. Como um dos líderes da Campanha de Acção para o Tratamento desde 2000 e editor do Tratamento Igual da revista do TAC, Geffen descreve suas experiências e documentos da campanha do TAC para mudar a resposta da situação do HIV. Usando estudos de casos e testemunhos, Geffen dá uma ideia geral da luta contra a contínua ideia da recusa de SIDA e do estado de charlatanismo patrocinado (definido como apoio para patrocinadores ignorantes/desonestos e tratamentos ineficazes ou ou por testar). Recorrendo às experiências da vida real, tais como a história de Andile Madondile, ele revela o impacto do ‘charlatanismo’ e da idéia de recusa nas vidas de pessoas vivendo com HIV. Desde as declarações iniciais de Mbeki questionando a ligação entre HIV e SIDA, (e, embora mais tarde se retractasse disto), as políticas e estruturas de saúde sob seu Governo criaram terreno fértil para a contínua ideia de recusa e o desenvolvimento de tratamentos por aprovar. Rupturas tais como a questão do Virodene consideraram a erosão da autoridade do Conselho do Controlo Médico (MCC) para decidir que medicamentos são efectivos ou seguros para experiências clínicas nos humanos. Geffen também relata as histórias de Tine van der Maas, Matthias Rath e Zeblon Gwala, que cada um vendeu seus ‘tratamentos’ de HIV por testar para pessoas vulneráveis e que não desconfiam de nada, que passaram muitas vezes por experiências fatais. Geffen sublinha que apesar de que a advocacia e litígios do o TAC têm sido efectivos, os, uma estratégia chave para contrariar a situação da idéia de recusa patrocinada, era sua ênfase na educação do tratamento. O essencial das sessões de educação e informação foi dado dentro das comunidades des para pessoas vivendo com HIV, muitas vezes por pessoas vivendo com HIV. “foi através da educação do tratamento que TAC desenvolveu uma filiação que podia explicar, discutir e debater HIV.” Mais do que simplesmente advogar para a provisão de ARVs, foi essencial que as pessoas tivessem informação e competências para compreender a ciência entre a doença e os medicamentos usados para a tratar. Com uma massa crítica de pessoas nas comunidades que foram capazes de discutir a ciência do HIV, foi criado um ‘consenso de que as políticas de Mbeki estavam erradas’. Com o afastamento de Mbeki, a resposta do governo da África do Sul ao HIV mudou. O novo Governo colocou maior ênfase na abordagem do HIV e providenciou serviços de tratamento. Contudo, usando as actuais investigações de ‘e-Saúde’ e ‘3º grau’ (programas da TV do jornalismo investigativo na África do Sul) Geffen sublinha que ‘charlatões’ na forma de ignorantes ou desonestos patrocinadores, e/ ou idealistas da recusa de SIDA, continuam a emergir e promovem tratamentos que estão por testar e que potencialmente prejudicam as pessoas vivendo com HIV. Estes tratamentos roubam das pessoas dinheiro, tempo e muitas vezes sua saúde. A educação do tratamento e informação com base em evidência acerca de HIV e seu tratamento são fundamentais. As pessoas vivendo com HIV precisam de permanecer vigilantes e para advogar por políticas e serviços que protejam seus direitos e sua saúde, conforme estabelecidos na Constituição da África do Sul. Noticias SIDA é publicada pelo Serviço de Disseminação de Informação de HIV e SIDA da Africa Austral Os artigos podem ser fotocopiados, reemprimidos ou abreviados, desde que não seja para fins lucrativos e que se faça um reconhecimento completo a SAfAIDS e a fonte original ou o autor (onde aplicável). A SAfAIDS solicita uma copia de qualquer material utilizado. Subscrições: A subscrição de dois anos são US$60 só para África; noutros lugares US$80 para seis edições. Money orders ou cheques devem ser feitos pagáveis a SAfAIDS. Organizações ou indivíduos em África que não podem pagar podem solicitar correios gratuitos ou subsídios. Noticias SIDA está disponível gratuitamente no nosso website. Escritório Regional da SAfAIDS: 479 Sappers Contour, Lynnwood, Pretoria 0081, África do Sul. Tel: +27-12-361-0889 Fax: +27-12-361-0899 E-mail: [email protected] Escritório Nacional - Zimbabwe: 17 Beveridge Road, Avondale, Harare, Zimbabwe. 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