BC descobre indício de fraude na contabilidade do - Fetrafi-RS
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10 de Novembro de 2010 - 17h17 BC descobre indício de fraude na contabilidade do Panamericano As ações do Banco Panamericano, controlado pelo grupo Sílvio Santos, desabaram nesta quarta-feira (10) no Bovespa depois do anúncio de um rombo de R$ 2,5 bilhões na instituição, que está sob investigação do Banco Central. O BC já descobriu uma série de erros na contabilidade do banco do apresentador. No fechamento do pregão desta quarta, o valor da ação do Panamericano desabou 29,54% na Bovespa, cotada a R$ 4,77. O mais sério dos erros identificados pelo Banco Central foi que o banco vinha vendendo um grande volume de carteiras de crédito a outras instituições e fundos nos últimos anos sem dar a baixa desses créditos em seu ativo. Balanços inflados Quando um banco cede sua carteira de crédito, tem que retirá-la de seu ativo. Sem fazer isso, a instituição financeira inflou seus balanços e seus resultados indevidamente com ativos que já não tinha em carteira. Isso tudo foi descoberto menos de um ano depois de a Caixa Econômica Federal ter fechado um acordo para comprar 36,6% do capital total do banco, por R$ 739 milhões. O Banco Central abriu um processo de investigação, com base na Lei do Colarinho Banco, para apurar se houve fraude dos administradores do Panamericano e localizar os responsáveis. No ano passado, a Caixa Econômica Federal (CEF) tornou-se sócia do banco, depois de adquirir mais de um terço de suas ações. Verifica-se também a hipótese de que o erro na contabilidade tenha sido cometido deliberadamente, com o objetivo de encobrir o rombo para favorecer os diretores com o pagamento de dividendos e bônus por bom desempenho. Santos diz que não sabia O PanAmericano atua, principalmente, em operações de crédito consignado e veículos. Os recursos para empréstimos não vem de depósitos feitos por correntistas, mas da venda dessas carteiras de crédito para grandes bancos. O banco havia vendido carteiras de crédito para cerca de dez grandes instituições bancárias, mas não havia contabilizado parte dessas operações no seu balanço. Ou seja, vendeu um bem, usou o dinheiro, mas continuou contabilizando esse bem no seu patrimônio. Deste modo, encobriu-se o prejuízo e encenou-se um falso resultado positivo, que justifica a concessão de bônus e prêmios por bom desempenho à diretoria. O Banco Central detectou há poucos meses que as informações prestadas pelos bancos compradores não batiam com o divulgado pelo Panamericano. Em determinado ponto da investigação, o banco admitiu os problemas na contabilidade. Chamado pelo BC, o controlador do Panamericano (Grupo Silvio Santos) disse que não sabia do problema até então. Empréstimo O Grupo Silvio Santos negociou com o BC uma injeção de R$ 2,5 bilhões para fechar o buraco nas contas, conforme comunicado de fato relevante divulgado ontem, cifra que equivale a mais de duas vezes o valor do banco em bolsa. Mas o dinheiro virá de um empréstimo que a holding Silvio Santos Participações tomará do Fundo Garantidor de Crédito, o FGC. O único acionista dessa holding é o próprio empresário. Por exigência do FGC, a holding, que era uma sociedade limitada, passará a ser uma S.A. e terá de publicar balanços e cumprir outras exigências. Para tomar o empréstimo, o empresário terá que dar parte do seu patrimônio em garantia ao FGC. Segundo um executivo do grupo, ativos da Jequiti - unidade fabril e centro de distribuição na Rodovia Anhanguera -, além do hotel Jequitimar, são alguns dos bens que entraram no acordo. Todo o acordo de resgate do Panamericano foi desenhado ao longo dos últimos dez dias. Na manhã de ontem, Silvio Santos e Luiz Sebastião Sandoval, presidente do conselho de administração do banco, estiveram reunidos na sede do grupo. Destituição Com a descoberta, toda a diretoria do PanAmericano foi destituída. Saíram Rafael Palladino, que estava à frente do banco no cargo de diretor superintendente e diretor de captação de recursos, Wilson Roberto de Aro, diretor financeiro e de relações com investidores, e Adalberto Savioli, diretor de crédito e administrativo. Outros cinco diretores foram afastados. Novos executivos foram apontados com a participação do FGC, que a partir de agora passa a ter forte influência na gestão do banco, numa espécie de "intervenção branca". Encabeça o novo time o executivo Celso Antunes da Costa, que durante décadas foi do Banco Real e, mais recentemente, trabalhou como diretor de integração da Nossa Caixa com o Banco do Brasil. Haverá, ainda, mudanças no conselho de administração. O empresário Silvio Santos cobrirá sozinho todo o rombo e, pelo acordo costurado, nem a Caixa e nem os demais acionistas serão diluídos por aumento de capital. O acordo com a instituição federal permanece em vigor. Além da Caixa, com 36,6% do capital, outros acionistas relevantes do banco são Banca Privada D'Andorra (4,4%), Legg Mason (3,2%) e Capital Research (2,6%). Outros 15,6% estão no mercado. O Grupo Silvio Santos detém 37,7% por meio da Liderança Capitalização, da Silvio Santos Participações e da BF Utilidades. Antes de fechar a compra de mais de 30% do capital do PanAmericano, a Caixa auditou as contas do banco, com a assessoria da KPMG e do Banco Fator. Segundo uma fonte a par do processo, os problemas não foram percebidos à época. Impactos As últimas informações contábeis do Panamericano, divulgadas em 12 de agosto, também foram apresentadas sem qualquer ressalva pela Deloitte. A empresa de auditoria informou ontem que não se manifestaria a respeito. E, em julho, por conta da entrada da Caixa no capital do banco, a agência de classificação de risco Fitch aumentou a nota do banco. O banco vinha com uma forte política de ceder suas carteiras de crédito - principalmente de automóveis - para fundos de investimento, cujas cotas eram vendidas a investidores. Assim, conseguia recursos para novas operações de crédito. Em junho de 2010, R$ 2,9 bilhões já haviam sido repassados para cinco fundos de direitos creditórios (FIDCs). No primeiro semestre, a cessão de carteiras respondia por 14% do funding do banco. Em junho de 2010, a carteira de crédito total do banco somava R$ 5,8 bilhões. Rumores de que o banco sofreria uma intervenção do BC circularam terça-feira (9) pelo mercado, derrubando o valor dos seus papéis na bolsa. As ações fecharam em baixa de 6,77%, no mês a queda era de 11,5% e no ano, de 34,8%. Nesta quarta, o declínio foi ainda mais acentuado (-29%). O Panamericano tem US$ 1,33 bilhão em títulos de dívida no mercado externo, dos quais US$ 625 milhões são papéis de dívida subordinada, que entram como capital no balanço da instituição. Somente neste ano, o banco captou US$ 800 milhões, segundo o Valor Data. Alguns fundos de ações e multimercados sofrerão os impactos da perda de valor das ações e da repercussão do caso sobre bancos médios e pequenos. Da redação, com agências