a utilização de aeromodelos de asa fixa e alta para fins
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A UTILIZAÇÃO DE AEROMODELOS DE ASA FIXA E ALTA PARA FINS EDUCACIONAIS NOS CURSOS DE ENGENHARIA THE USE OF FIXED-WING MODEL AIRCRAFT AND HIGH EDUCATIONAL PURPOSES IN ENGINEERING COURSES Amilton Fernando Cardoso1 André Luiz Pinheiro Corrêa Lima2 Mikey da Silva Neto3 RESUMO: O objetivo deste trabalho é estudar a utilização de aeromodelos de asa fixa e alta para fins educacionais nos cursos de engenharia, como uma proposta de metodologia para o ensinoaprendizagem, orientada ao desenvolvimento da capacidade criativa e inovadora dos estudantes, tornando-os hábeis na atividade de projetar em suas diversas formas e em seu compromisso com as necessidades da sociedade. Faz-se uma breve discussão sobre algumas referências sobre assuntos como aeromodelismo, gestão do conhecimento e sistema educacional com foco no ensino de engenharia. Nota-se à importância da inclusão de métodos que envolvam a práxis educacional e não apenas a teoria, desenvolvendo nos futuros profissionais um senso mais crítico e podendo visualizar um projeto que logo depois será transformado em um produto. A pesquisa está focada no aeromodelismo, representando a vivência dos alunos em sala de aula. Reduz-se com isso a dificuldade dos profissionais recém formados na integração dos conhecimentos de diversas áreas para a solução de desafios de engenharia e as carências de ensino de metodologias de projetos nos cursos. Em seguida, apresenta-se um modelo de aula, onde o professor simula a aplicação da metodologia de cálculo para asas e profundor com base na teoria de vigas em flexão simples. A metodologia consiste basicamente em lecionar, de forma prática, as componentes curriculares no contexto da solução de problemas de engenharia com os objetivos educacionais planejados em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes. Como resultados, têm-se a contribuição para a formação de uma engenharia criadora, inovadora e integradora de conceitos, os quais podem ser evidenciados por meio dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos com aplicações em diversos campos de atuação. PALAVRAS-CHAVE: Educação; Aeromodelo; Engenharia. ABSTRACT: The objective of this study is the use of fixed-wing model aircraft and high educational purposes in engineering courses, such as a proposed methodology for teaching and learning, guided the development of creative and innovative students, making them adept at design activity in its various forms and in its commitment to the needs of society. It was a brief discussion of some references on issues such as model airplanes, knowledge management and education systems with a focus on engineering education. Note to the importance of including methods involving educational praxis and not just theory, developing future professionals in a sense more critical and they can see a project that will be subsequently processed into a product. The research is focused on model aircraft, representing the experience of students in the classroom. It reduces the difficulty with that of recent graduates to integrate knowledge from different areas to solve engineering challenges and the needs of teaching methods in courses projects. Next, we present a model classroom where the teacher simulates the application of the methodology for calculating the wings and elevator on the theory of beams in simple bending. The methodology consists of lecture, practical way, and the curriculum components in the context of solving engineering problems with the planned educational objectives in 1 Doutorando em Economia da Inovação. Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. E-mail: [email protected] 2 Mestrando em Economia da Inovação. Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. E-mail: [email protected] 3 Mestrando em EAM-Produção. Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. E-mail: [email protected] terms of knowledge, skills and attitudes. As a result, they will contribute to the formation of an engineering creative, innovative and integrative concepts, which are evidenced through the work of the students with applications in various fields. KEYS-WORD: Education; Aircraft; Engineering. INTRODUÇÃO A crescente evolução da ciência e da tecnologia, suas diversas especialidades, exige cada vez mais a atualização dos profissionais da engenharia. Hoje, um engenheiro torna-se fácil e rapidamente obsoleto, a menos que seja preparado para o contínuo aprender e desenvolva seu senso de investigação. E cada vez mais, exige-se do engenheiro soluções mais eficientes, econômicas, ergonômicas, ecológicas e principalmente mais humanitárias para os antigos problemas da sociedade, assim como para os novos problemas que surgem neste processo de evolução. Este fato tem refletido no plano de formação do engenheiro e sente-se a necessidade de melhor prepará-lo para os desafios futuros. E nada é melhor do que refletir e repensar os próprios meios de ensino, simulando desafios e ajudando o futuro engenheiro a enfrentá-los com audácia e sem medo de errar. REVISÃO DE LITERATURA O ensino de engenharia no Brasil molda-se num modelo europeu antigo, muitas vezes defasado em relação ao atual contexto de globalização. À medida que a ciência e a tecnologia evoluem, torna-se cada vez menor o tempo de obsolescência da formação de um engenheiro nestes moldes. Diante desta problemática, surge a busca por uma formação continuada e a necessidade de repensar o projeto político pedagógico dos cursos. Uma das principais dificuldades de um engenheiro recém formado encontra-se no momento em que lhe é proposto um problema mais complexo, que envolva tanto aspectos técnicos de diversas áreas como aspectos humanos. Falta em sua formação a habilidade de unir os diversos conhecimentos em sinergia, de uma metodologia que organize as informações e induza o raciocínio lógico na geração de um projeto inovador. AS DIRETRIZES CURRICULARES DOS CURSOS DE ENGENHARIA O projeto pedagógico para o curso de Engenharia está contemplado nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia – CNE/CES 11, de 11 de Março de 2002 – no seu artigo quinto. Art.5º Cada curso de Engenharia deve possuir um projeto pedagógico que demonstre claramente como o conjunto das atividades previstas garantirá o perfil desejado de seu egresso e o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas. Ênfase deve ser dada à necessidade de se reduzir o tempo em sala de aula, favorecendo o trabalho individual e em grupo dos estudantes [1]. § 1º Deverão existir os trabalhos de síntese e integração dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso, sendo que, pelo menos, um deles deverá se constituir em atividade obrigatória como requisito para a graduação [1]. § 2º Deverão ser também estimuladas atividades complementares, tais como trabalhos de iniciação científica, projetos multidisciplinares, visitas teóricas, trabalhos em equipe, desenvolvimento de protótipos, monitorias, participação em empresas juniores e outras atividades empreendedoras [1]. [2] A questão de como ajudar os engenheiros a desenvolverem habilidades é um desafio de educação de projeto. Estes autores comentam que geralmente os engenheiros adquirem habilidades nos modos aprendendo fazendo ou tentativa e erro. Por meio da comparação entre calouros e formandos de engenharia, [3] conclui que a atividade de projeto é um elemento central da engenharia. Todos os engenheiros desempenham algum tipo de função de projeto. Ainda segundo estes autores, os engenheiros de graduação devem ter um entendimento sólido do processo de projeto e serem capazes de aplicar em uma variedade de situações. Uma das críticas sobre a habilidade de engenheiros recém formados e sobre a educação de engenharia está centrada no currículo e particularmente na sua negligência em relação ao projeto de engenharia [4]. A lacuna na geração de idéias, o julgamento subjetivo, a relutância para mudanças após decisões feitas e a satisfação com uma ótima solução são alguns dos problemas apontados na formação de engenheiros. Entretanto, os conhecimentos de engenharia e as habilidades de projeto podem ser articulados e os programas de educação podem desenvolver em estudantes a capacidade de enfrentar os desafios da sociedade com criatividade e inovação. Os resultados sugerem que estudantes necessitam de experiências para encorajá-los a interagir por meio de todas as fases do processo de projeto, a reunir informações e organizálas de forma empreendedora. A metodologia de projeto de produtos industriais tem assumido um papel importante dentro deste contexto, pois é por meio da metodologia de projeto, nas suas diferentes formas de apresentação e de abordagem dos problemas de engenharia, que se obtém a organização adequada das informações e um caminho lógico que leva à inovação e, provavelmente, ao sucesso [5]. [6] ressaltam a importância de uma engenharia voltada para o bem estar das pessoas. [7] Sugerem uma educação empreendedora por meio de ações que incentivem o aluno a ser mais criativo mais desembaraçado e com maior autonomia. Para isto é preciso aliar teoria à prática e incentivar o trabalho empreendedor. Dizem estes autores que se deve ilustrar o ensino com exemplos da vida real, cultivando a imaginação. Nestes últimos anos, surgiram muitas iniciativas e estudos na área de ensino deengenharia, entre os quais vale a pena citar os esforços contínuos de [8], [9] e [10]. Sem deixar de mencionar o sucesso no ensino multidisciplinar por meio de casos concretos, tais como as competições acadêmicas do aero design [11], do desafio de robôs, do concurso de treliças e do mini-baja. APRENDIZAGEM VIVENCIAL O desenvolvimento de competências pode contar com subsídios da teoria da aprendizagem vivencial de Kolb. A teoria da aprendizagem vivencial está alicerçada nas obras de Lewin, Dewey e Piaget e concebe a aprendizagem como um processo e não em termos dos resultados obtidos na forma de acúmulo de conhecimentos ou respostas a estímulos [12]. Do ponto de vista da dinâmica do processo de aprendizagem, [12] considera que o ciclo se caracteriza por uma espiral na medida em que o conhecimento é um processo contínuo de integração de experiências e conceitos. Neste processo cíclico em espiral, dois aspectos relacionados aos trabalhos de Lewin têm importância especial [12] o uso da experiência concreta, do aqui e agora para testar idéias; e o uso do feedback para mudar práticas e teorias. Além disso, [12] enfatiza a natureza processual da construção do conhecimento preconizada por Dewey e os aspectos cognitivos da construção do conhecimento a partir da interação com o ambiente por meio dos processos de acomodação e assimilação propostos por Piaget. O processo vivencial de aprendizagem proposto por [13] é composto por quatro etapas que correspondem aos quatro momentos do ciclo da aprendizagem vivencial de Kolb. A figura 1 ilustra a estrutura do ciclo de aprendizagem ATIVIDADE CONEXÃO ANÁLISE CONCEITUAÇÃO Figura 1 – Ciclo de aprendizagem [13]. A primeira etapa consiste na vivência de uma situação por meio de atividades nas quais o participante se engaja por meio de técnicas. A atividade de análise consiste no exame e discussão das tarefas realizadas, dos resultados obtidos e do processo vivenciado. A etapa de conceituação consiste na organização da experiência e na busca de significados para a mesma por meio de informações e fundamentos teóricos que permitam a sistematização e elaboração da aprendizagem. A conexão é a etapa em que se faz a correlação com o real, comparando os aspectos abordados nas demais etapas com situações de trabalho e projetando ações que iniciam um novo ciclo de aprendizagem. Uma metodologia de ensino orientada aos desafios para curso de engenharia A metodologia proposta compõe-se de uma fase preliminar de reconhecimento das características da realidade de vida do aluno (conhecer o aluno que temos), de reconhecimento do meio social em que vivemos (conhecer os problemas da sociedade) e de reconhecimento do perfil de profissional de engenharia desejado no projeto político pedagógico do curso (conhecer o perfil do formando desejável) [14]. A partir do reconhecimento destes três elementos, a saber, aluno, sociedade e proposta de curso, pode-se facilmente definir em conjunto uma série de desafios de engenharia viáveis em relação a cada componente curricular [14]. [14] citam que os desafios são inseridos nas estratégias dos planos de ensino e podem envolver várias componentes curriculares de mesmo semestre e também turmas de semestres anteriores e posteriores. A figura 2 ilustra uma visão geral da metodologia de ensino orientada aos desafios da sociedade em um curso de engenharia. . Figura 2 – Metodologia de ensino de engenharia [14]. Durante ou ao final de cada componente curricular, devem ser previstas atividades de socialização e interação com as comunidades internas (estudantes, professores e funcionários) e externas (cidadãos, profissionais, entidades e empresas) por meio de mostras de trabalhos de engenharia, seminários de iniciação científica e tecnológica, competições e/ou visitas. Esta fase de socialização tem um papel importante na realimentação das informações para os desafios propostos e na concepção de novos [14]. O delineamento de competências na construção do conhecimento Apesar da diversidade de abordagens que se dá ao tema das competências, é possível considerar que os elementos de uma competência (são as atitudes, conhecimentos e habilidades necessários para realizar uma atividade [15). A figura 3 identifica a árvore da competência. As habilidades são representadas pela copa da árvore e correspondem à capacidade de agir sobre a realidade resolvendo problemas e obtendo resultados. O conhecimento é representado pelos troncos e galhos da árvore e corresponde às informações empregadas na atuação sobre a realidade. As atitudes são representadas pelas raízes da árvore e correspondem aos valores, crenças e princípios que implicarão no grau de envolvimento e comprometimento com a tarefa. Figura 3 – A árvore da competência. [15]. A especificação das competências para o gerenciamento da elaboração de metodologias de ensino-aprendizagem deve considerar as funções desempenhadas pelos envolvidos na atividade prática. A proposta de [16] está baseada no corpo de conhecimento do gerenciamento de projetos do Project Management Body of Knowledge – PMBOK [17] e pode ser aplicada à elaboração de sistemas de informação. O quadro 1 mostra as funções genéricas da equipe de projeto Função Gerente do projeto Patrocinador do projeto Descrição É o responsável pelo gerenciamento do projeto. É o responsável por criar o ambiente onde a equipe trabalhe efetivamente. Pessoal técnico São os responsáveis pela produção dos resultados do projeto. Gerentes funcionais São responsáveis pelo controle dos recursos empregados no projeto. Suporte São responsáveis pelo suporte às atividades dos integrantes do projeto. Quadro 1- Funções genéricas da equipe de projeto [16]. De acordo com as responsabilidades atribuídas a uma determinada função, certas competências poderão ser mais importantes. Entretanto há competências que fazem parte do perfil de todo profissional que atua em projetos [16]. O quadro 2 especifica a tipologia de competências para o gerenciamento de projetos. Competência Descrição Competências baseadas em Dizem respeito ao domínio das áreas de conhecimento do conhecimento gerenciamento de projetos: gerenciamento de escopo, gerenciamento de tempo, gerenciamento de custos, gerenciamento de recursos humanos, gerenciamento de riscos, gerenciamento de qualidade, gerenciamento de suprimentos, gerenciamento de comunicação e gerenciamento de integração. Competências sociais Dizem respeito à capacidade de exercer um relacionamento interpessoal que facilite o trabalho em equipe e o alcance dos objetivos. Incluem o trabalho em equipe, habilidades políticas, habilidades de diversidade, comunicação e escuta. Competências de negócio Dizem respeito à capacidade de tomar decisões consistentes com os interesses da organização e incluem sensibilidade de negócios e conhecimento de negócios. Quadro 2 – Tipologia de competências para o gerenciamento de projetos [16] As competências sociais merecem destaque pela dificuldade em sua avaliação e desenvolvimento e sua importância para a resolução de problemas humanos e organizacionais que têm sido relatados como os principais fatores que levam os projetos ao fracasso [16]. Na perspectiva de [16], é mais fácil capacitar e avaliar alguém nas competências baseadas em conhecimento e nas de negócio que nas competências sociais. Aeromodelos de asa fixa e alta Aeromodelos asa fixa e alta são aqueles cuja asa fica acima da fuselagem. Pelo fato de possuírem a tendência de ficarem em pé quando se larga todos os comandos são os mais recomendados para quem quer se iniciar no aeromodelismo, muito embora, como explicaremos adiante, não basta o avião ser asa alta para ser um bom trainer (aeromodelo treinador para iniciantes), é necessário que possua mais algumas características [18]. A figura 4 ilustra o aremodelo de asa fixa e alta. Figura 4 – Aeromodelo de asa fixa e alta [18]. [18] Define que asas simétricas são aquelas cujo bordo inferior possui o mesmo perfil do bordo superior, ou seja, quando essa asa é vista de lado (em um corte transversal), o perfil do bordo debaixo é igual ao do bordo de cima. Com esse perfil a asa puxa para cima com a mesma força que puxa para baixo e por essa razão é a asa utilizada e aeromodelos (e aviões reais) acrobáticos e aqueles feitos para andar em altas velocidades. [18] Conceitua asas assimétricas são aquelas em que a curvatura (o perfil) em cima é distinta da curvatura em baixo. Ou a parte de cima tem mais curvatura, ou a de cima possui curvatura e a parte de baixo é completamente reta. Esse último tipo de perfil de asa, com curvatura em cima e reta embaixo é o perfil ideal para o aeromodelo trainer. Isso pela razão de que essa asa possui grande sustentação possibilitando assim o vôo bem lento, o vôo ideal para quem está iniciando. Quanto ao tamanho os aeromodelos podem ser de diversos tamanhos. Há os 40% (tamanho igual a 40% do tamanho do avião real), os 1/3 de escala, os ¼, 1/5. Aeromodelos grandes precisam de motores maiores, mais potentes. Normalmente se diz aeromodelo para motor 40, aeromodelo para motor 60 e assim por diante. Isso significa que o aeromodelo possui um tamanho e um peso que requer motor 40 2 tempos ou 60 2 tempos [18]. O aeromodelo mais usado e que é, inclusive, o recomendado para iniciantes é o aeromodelo para motor 40. Não se aconselha aeromodelos menores para iniciantes, pois que aeromodelos menores são mais rápidos, mais nervosos, dificultando assim a aprendizagem. A fuselagem dos aeromodelos pode ser construída com varetas de balsa, com uma lâmina de compensado ou em fibra de vidro. [18] Salienta que os aeromodelos construídos em varetas de balsa (estruturais) são os mais leves e também os mais difíceis de construir. Os construídos em lâmina de compensado são mais fáceis de construir e de consertar. Os feitos em fibra de vidro são mais bonitos, mas, por outro lado, não são fáceis de construir e de consertar. Uma fuselagem de madeira pode ser consertada diversas vezes, já o mesmo não ocorre com a fuselagem em fibra de vidro que aceita poucos consertos. A asa pode ser feita com nervuras de balsa (asa estrutural) ou com isopor chapeado por uma fina lâmina de madeira. As asas estruturais costumam ser mais leves e as de isopor mais baratas. A fina lâmina de madeira é colada ao isopor. A UTILIZAÇÃO DE AEROMODELOS DE ASA FIXA E ALTA PARA FINS EDUCACIONAIS NOS CURSOS DE ENGENHARIA Pela necessidade de uma atividade de ensino-aprendizagem de aplicação prática, envolvendo o acadêmico de engenharia a aperfeiçoar-se e exercitar a capacidade empreendedora, adquirindo novos conhecimentos, por meio desta pesquisa identifica-se o aeromodelo como ferramenta técnica pedagógica moderna, a ser utilizada pelo docente na orientação e desenvolvimento da capacidade dos discentes expor suas idéias, mesmo que estas soem absurdas ou apontem para uma direção que potencialmente não é a mais otimizada. CARACTERÍSTICAS DO AEROMODELO O aeromodelo tem como característica fundamental ser um avião construído em escala reduzida e não tripulado. As principais funções do aeromodelo foram identificadas e uma busca e análise das soluções existentes para cada função foram feitas para identificar os princípios de solução normalmente utilizados nesse tipo de produto. Os principais elementos do aeromodelo são descritos a seguir. Quanto à asa, a escolha do perfil é um fator determinante, pois está diretamente relacionado com a sustentação do avião. O perfil escolhido é côncavo-convexo, que possui alta sustentação a baixas velocidades. Com a envergadura restrita, a configuração biplano normal com asa retangular foi escolhida. Quanto aos dispositivos de controle, a deriva possui leme de direção, que auxilia na realização das curvas. O estabilizador transversal é composto apenas pelo profundor e tem movimento no sentido transversal do avião. O aileron é do tipo convencional. A fuselagem tem estrutura de madeira em chapa única, o que proporciona maior rigidez, revestida com monocote para garantir boa aparência. No quadro 3 está identificado os elementos anatômicos do aeromodelo. . Quadro 3 – Elementos anatômicos do aeromodelo. Fonte: autores. SIMULAÇÃO DE UMA AULA PRÁTICA A figura 5 ilustra uma simulação de ensino-aprendizagem pelo docente ao aluno. Figura 5 – Simulação de ensino-aprendizagem. Fonte: os autores. A figura retrata por meio da simulação prática o ensino-aprendizagem, onde o indivíduo e o meio têm igual importância no processo de construção do conhecimento. O professor direciona a aprendizagem, e o aluno participa ativamente do próprio aprendizado, por meio de experimentação, pesquisas em grupo, estímulo à dúvida e o desenvolvimento de raciocínio entre outros procedimentos. O professor é um orientador, facilitador da aprendizagem, e cria situações estimulantes e motivadoras de respostas. A habilidade de orientar e de ajudar é requerida dele. Ele facilita o uso pelo estudante do comportamento cognitivo que comumente chamamos de raciocínio. Aplicação da metodologia de cálculo para asas e profundor com base na teoria de vigas em flexão simples Asas Força de sustentação para o conjunto de asas, para o ângulo de ataque de 2º e a uma velocidade de 10m/s (velocidade de decolagem). Lf = 177,51 N Coeficiente de segurança: CS = 2,5. Sabe-se que a sustentação é máxima na região central da asa devido ao carregamento distribuído ter um formato parabólico, como o da figura 6 mostrada abaixo. Figura 6 - Distribuição de Cargas nas asas. Fonte: os autores A formulação necessária para o desenvolvimento dos cálculos foi a seguinte: s 2 s 1 2 Lf s F ( y ) = × [( ) 2 − y 2 ] 2 dy ∫0 ∫ s 2 2 0 M máx = y × F ( y ) σ máx = I zz = M máx × c I zz π × [re4 − (re − 2 × t ) 4 ] 4 Onde: s = envergadura; y = variação da distância de envergadura; F(y) = força em função da distância y; Mmáx = momento máximo; c = distância da linha neutra à extremidade superior do elemento solicitado, o raio neste caso; Izz = momento de inércia no eixo solicitado; re = raio externo do tubo; t = espessura do tubo; Desenvolvendo o polinômio de quarta ordem obtém-se: ( re − 2 × t ) 4 = re4 − 8 ⋅ re3 ⋅ t + 24 ⋅ re2 ⋅ t 2 − 32 ⋅ r ⋅ t 3 + 16 ⋅ t 4 Utilizando-se de t = 1,5mm, σmáx = 1200 kgf/cm², g = 9,81 m/s² e s = 1, 678 m. Atento ao fato de que esta envergadura está diminuída da largura da estrutura onde é fixada. Obtém-se o seguinte resultado para o raio externo procurado: re = 9,92 mm re(adotado) = 16 mm Esta longarina tubular será revestida por um tubo de alumínio devido a concentração de tensão que existirá na montagem entre a asa inferior e a estrutura. Já na asa superior haverá o mesmo revestimento, mas apenas na região central (ligação com o corpo do avião). Profundor A mesma metodologia anterior foi aplicada para este caso. Mudando apenas os dados a serem considerados. São eles: Lf = 16,18 N s = .70 m t = 0,75 mm Obtivemos como raio externo então: rep = 2,65 mm rep(adotado) = 8,00 mm A envergadura utilizada neste momento é igual a de projeto, porque o ponto de fixação do profundor é exatamente no centro (ponto médio) do mesmo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como conclusão deste trabalho, percebe-se a necessidade de buscar o aprimoramento do ensino de engenharia e a preocupação de ter o estudante de engenharia como um dos atores do processo de aprendizagem, ambos (aluno e professor) na reconstrução de metodologias, para abordagem dos desafios, gerados a partir das necessidades da vida profissional e da sociedade. Nota-se também a importância dos aspectos humanos, onde se deve tomar o cuidado de respeitar e conhecer melhor os envolvidos no processo. Entende-se que a elaboração de um bom e flexível projeto pedagógico para os cursos superiores de engenharia, atenda às exigências mínimas das diretrizes curriculares vigentes. Porém um bem estruturado projeto pedagógico não sustenta vantagem competitiva de um curso de graduação. Alguns teóricos defendem a necessidade de se diferenciar o produto ou serviço prestado como forma de obtenção de reconhecimento no âmbito do mercado de atuação. Portanto, diferenciação somada à definição de uma estratégia de operações visando qualidade pode assegurar a uma instituição de ensino superior a sua sobrevivência, num mercado em momentânea expansão. Em um aspecto mais amplo, além das contribuições técnicas, a utilização do aeromodelo como ferramenta metodológica de ensino-aprendizagem deverá ter contribuições significativas para a vida profissional dos futuros engenheiros. Do ponto de vista do docente, esta metodologia deve acarretar um aumento substancial na carga de estudos complementares necessários e na quantidade de dúvidas trazidas pelos alunos, o que corrobora os aspectos positivos da proposta também para a atualização do docente. A criatividade é desenvolvida, pois criação envolve pensar. Para atingir a qualidade de experiência exigida para desenvolver ao máximo o potencial intelectual, é preciso também a reflexão. Ao invés de receberem do professor um conjunto de fatos e generalizações, os alunos são confrontados com algo que é problemático - pouco claro ou enigmático. Este nível de aprendizagem exige uma participação mais ativa, uma atitude mais crítica em relação ao pensamento convencional, mais imaginação e criatividade. A relação do professor com o aluno é decisiva para que o processo de aprendizagem tenha sucesso. Existem, via de regra, três tipos de relação professor-aluno: autoritário, laissezfaire (resumidamente: deixai fazer) e democrático. Este último que caracteriza o construtivismo tem se tornado mais difundido e eficiente. O professor é um líder de grupo democrático. Seu principal objetivo é conduzir os alunos ao estudo de problemas significativos na sua disciplina ou área. Tal estudo pressupõe troca de evidências e insights, intercâmbio e respeito pelas idéias dos outros. Numa sala de aula democrática, as idéias do professor e dos alunos estão igualmente sujeitas a críticas, tanto do próprio professor como dos alunos. Deste modo, tanto os alunos como o professor aprendem juntos. Embora o professor possa ser uma autoridade em sua matéria (é capaz de ensiná-la da melhor maneira possível) a situação é preparada de modo a encorajar os alunos a pensar por si mesmos. De acordo com isto, um professor democrático provavelmente adotará uma abordagem de aprendizagem que enfatize a intencionalidade na experiência e no comportamento humano. Não há nada no mundo em qualquer área do conhecimento humano que esteja pronto e acabado. O conhecimento não pode simplesmente ser transmitido ao outro como algo indiscutível e terminado. A apresentação de conhecimento pronto é rejeitada, pois a pessoa aprende melhor quando toma parte de forma direta na construção do conhecimento que adquire. É o aprender-fazendo. O que isto tudo resulta é na auto-suficiência na busca de respostas, autonomia intelectual, e gosto por aprender, e o aluno se torna um ser pensante com desenvolvimento próprio. O esforço para a aprendizagem é substituído pelo interesse. Não aprendemos linearmente, por acréscimo, tranqüilo, sereno, de mais alguns elementos que sabíamos antes. Aprendemos permeados por grandes períodos de conflito, de rupturas. O incentivo ao papel educacional dos professores e dos orientadores é fundamental, para que eles tenham consciência da função a cumprir, que é a de formar alunos mais completos, técnica e humanamente, e para isto eles têm de abrir mão de concretizar seus projetos e suas idéias, para permitir o desenvolvimento daqueles. Como perspectiva futura, prevê-se o estudo e o planejamento de novos desafios, integrando as atividades de componentes curriculares e tornando o ensino mais interdisciplinar e propiciando ao estudante a oportunidade de desenvolver suas habilidades por meio de casos reais de problemas de engenharia encontrados no campo de atuação profissional e na sociedade. REFERÊNCIAS [1] PEKELMAN, Helio; Gestão de projetos extracurriculares. Anais do XXXIV COBENGE. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, Setembro de 2006. 1 CD-ROM. [2] CASAKIN, H.; GOLDSCHMIDT, G. Expertise and the use of visual analogy: implications for design education. Design Studies. Elsevier Science, v. 20, n. 2, p. 153–175, March 1999 [3] ATMAN,C.J.; CHIMKA, J.R.; BURSIC, K.M.; NACHTMANN, H.L. A comparison of freshman and senior engineering design processes. Design Studies. Elsevier Science, v. 20, n. 2, p. 131–152, March 1999. [4] DIXON, J.R.; DUFFEY, M.R. The neglect of engineering design. 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