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Gina M.H. Miranda, Marília Valério Roch CAPÍTULO 2. A TECNOLOGIA E A EDUCAÇÃO Gina M.H. Miranda [email protected], Marília Rocha - [email protected]; GiValério PESQUISA INOVADORA RESUMO Nossa pesquisa teve como objetivo desenvolver uma ferramenta computacional, utilizando técnicas de PLN (Processamento de Línguas Naturais) e inserir nesta ferramenta sequências didáticas no campo da Geometria das Transformações, empregando-se como embasamento a Teoria das Situações Didáticas de Guy Brousseau e os Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval. Para desenvolver o sistema computacional, usou-se a semântica ontológica, que suporta aplicações como traduções e extração da informação entre outras. O nosso projeto observou que alunos que não possuíam conhecimento de segmento de reta, ao final do uso da ferramenta e suas sequências didáticas foram capazes de dar encadeamento necessário a uma demonstração a partir de frases já redigidas. Palavras-Chave:.PLN, Geometria de transformações, Computação. ABSTRACT Our research subject is to develop a computational tool using NLP methods (Natural Language Processing) and insert didactics sequences on the field of Transformational Geometry on that tool, using as support the Theory of Didactical Situations in Mathematics, by Guy Brousseau and Registers of the Semiotics Representation, by Raymond Duval.To develop the computational system we used ontological semantics, which supports, among others, applications such as translation and information extraction. We observe that our hypothesis is viable, since the students, whose did not possess knowledge of straight line segment, at the end of the use of the tool and appropriate didactics sequences were capable of giving the correct order to a mathematics demonstration from phrases already written. Keywords: PLN, Geometry of transformations, Computation. INTRODUÇÃO Os estudos foram iniciados com o curso de especialização em Sistema da Informação na PUC-Campinas e o ingresso no programa de Pós-graduação em Educação Matemática na PUCSP no grupo de pesquisa PEAMAT (Processo de Ensino e Aprendizagem em Matemática), o que trouxe subsídios para o desenvolvimento desta pesquisa. Buscamos ferramentas para o ensino de Geometria, analisando softwares de geometria dinâmica, como: Cabri, Cinderela e Geogebra e o ambiente Baghera, uma plataforma computacional escrita em Java (sistema multiagentes) para ensino a distância. O conteúdo abrangido em Geometria é a simetria (WEBER, 2003). Esta plataforma, embora hoje desativada, foi mais um fator inspirador na escolha do objeto de estudo, Geometria das Transformações. Estudos de trabalhos como AGILMAT- Automatic Geration of Interactive Drill for Mathematics Learning (TÓMAS et al., 2007); AQUA –Ontology-Based Question Answering System ( VARGAS et al., 2004); QANDA- A Sys Called Qanda (BRECK et al, 1999); e o livro Nirenburg, Sergei; Raskin, Victor Ontological Semantics - The MIT Press, Cambridge, Massachisetts- London, England –(2004) foram importantes para a escolha de PLN (processamento de Língua Natural) como interface principal do sistema. A escolha da fundamentação teórica deu-se apoiada nos estudos realizados sobre a Teoria das Situações Didáticas (TSD) de Brousseau (1986) e os Registros de Representação Semiótica (TRRS) de Duval (2005). Os procedimentos metodológicos escolhidos foram a Engenharia Didática de Artigue (2005). Nossas ansiedades levaram-nos a idealizar a criação de um material didático imerso em uma plataforma computacional, visando a situações que possam ser utilizadas para o ensino e aprendizagem de transformações geométricas no Ensino Fundamental II e início do Ensino Médio e, também, iniciar estudos de demonstrações matemáticas para essas séries, conforme indicações dos Parâmetros curriculares Nacionais, PCN (BRASIL, 1998). Nossa questão de pesquisa é: “Quais são as potencialidades de uma ferramenta computacional, com interface PLN, no processo de ensino e aprendizagem da Geometria das Transformações?” Rev. Inovação Tecnológica, São Paulo, v.2, n.1, p. 14-20, jan./jun. 2012 ISSN 2179-2895 14 Gina M.H. Miranda, Marília Valério Roch Embora nossa escolha metodológica fosse engenharia didática, por causa do volume de trabalho realizado, para validar nossas intenções didáticas e testar a funcionalidade da plataforma realizamos um projeto piloto com dois alunos do primeiro ano do Ensino Médio da Rede Pública de Educação do Estado de São Paulo. O modelo computacional tem como base o Processamento de Línguas Naturais (PLN), que é um ramo da Inteligência Artificial (IA), o qual tem por objetivo interpretar e gerar textos em uma língua natural (português, inglês, espanhol, etc.). Podemos dividir a pesquisa PLN em: Interpretação, que busca mecanismos de compreensão de textos por meio de uma representação que possa ser analisada e utilizada pelo computador e Geração de textos, que busca produzir textos os mais próximos possíveis dos produzidos pelos seres humanos. Estes estudos estão centralizados na interpretação de textos para busca de similaridade e fundamentamos a pesquisa na Teoria das Situações Didáticas de Guy Brousseau e na Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Raymond Duval, que serão mais detalhadas no decorrer deste trabalho. CONSTRUÇÃO DA PLATAFORMA COMPUTACIONAL O sistema computacional que foi construído possui técnicas de PLN1, para que, a partir das informações que possui e das informações de entrada possa gerar a forma lógica e localizar em sua base de dados a melhor sequência didática para responder ao questionamento de entrada. Para que seja possível trabalhar com línguas naturais é necessário restringir o uso da Língua Natural2 (LN) e do domínio da aplicação. Nossa LN é o português e está restrita ao domínio da Geometria, mais especificamente, à 1 PLN: Processamento de Linguagem Natural ou, também, conhecido como Processamento de Língua Natural. 2 Língua Natural: linguagem que é falada, escrita ou sinalizada por seres humanos para comunicação. Geometria das Transformações no plano (isometria). Para ajudar nesta tarefa, propõe-se o uso de uma ontologia específica, dentro do campo da Geometria, uma interpretação semântica e uma base de dados com informações específicas sobre o domínio (Geometria das Transformações). A palavra “ontologia” dentro da Inteligência Artificial pode ser interpretada como o conjunto de entidades com suas relações, definições, axiomas e vocabulário. Para Nirenburg e Raskin (2004), semântica ontológica é uma integração complexa de teorias, é constituída como uma sociedade de microteorias com especificações da língua e organização do conhecimento referente ao domínio. Na semântica ontológica, as descrições incluem representação do significado do texto, entradas lexicais, conceitos ontológicos, exemplos de procedimentos para manipular textos e seus significados. Na estrutura da semântica ontológica, o conhecimento está em diversas fontes: na ontologia, no repositório de fatos e no léxico. A ontologia consiste em um modelo do mundo físico, o repositório de fatos contém exemplos de eventos e objetos, e o léxico que inclui um léxico geral e um onomasticon que contenha vocabulário próprio do domínio estudado. (NIRENBURG E RASKIN, 2004, p 6) Realizamos estudos a respeito de alguns sistemas implementados com processamento de Língua Natural, com o objetivo de nos fornecer subsídios para o desenvolvimento de nosso sistema. Iniciamos pelo Mikrokosmos por ser um dos importantes e pioneiros no processamento por meio de ontologia. Segundo Quesada (2001), Mikrokosmos3 é uma implementação semântica ontológica desenvolvida pela Universidade do Novo México com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, com o objetivo inicial de tradução automática baseada em conhecimento, trabalhar com um tipo de texto 3 MikroKosmos: esta ontologia e suas informações esta disponibilizada em: http://crl.nmsu.edu/Reasearch/Projects/mikro/inde x.html Rev. Inovação Tecnológica, São Paulo, v.2, n.1, p. 14-20, jan./jun. 2012 ISSN 2179-2895 15 Gina M.H. Miranda, Marília Valério Roch específico e operar sobre três idiomas: inglês, espanhol e chinês. Sua arquitetura vem sendo utilizada como ponto de partida em alguns sistemas para extração da informação, exemplo disso, é MOQA (meaning-oriented question answering). O OntoSem é o sucessor do Mikrocosmos (JAVA et al., 2007). O sistema está estruturado sobre um léxico, uma ontologia e um repositório de fatos. Seu léxico suporta informações semânticas, análise morfológica e sintática. Semanticamente, ele especifica conceitos e propriedades que devem ser definidos na ontologia e devem ser instanciados na representação do significado do texto. PLATAFORMA COMPUTACIONAL A primeira fase do desenvolvimento da plataforma computacional foi gerar a ontologia capaz de auxiliar na busca de similaridade, e consequentemente, na busca das sequências na Base de Dados. Para esta finalidade, a ontologia criada contém conceitos e propriedades que se relacionam de forma a gerar uma representação lógica para ser usada na busca das sequências mais apropriadas e responsáveis pelo processo de ensino de aprendizagem dos conceitos matemáticos, envolvidos nas transformações geométricas no plano. A Figura 1 representa a plataforma computacional, que foi desenvolvida com o paradigma de orientação a objeto: FIGURA 1: Esquema da plataforma computacional Nossa base de dados contém as sequências didáticas. O léxico foi formado pela coleção de “palavras” que fazem parte das designações matemáticas para a Geometria das Transformações e a ontologia foi desenvolvida sobre este léxico, suas representações e relações. Em síntese, o sistema é constituído dos seguintes módulos: Aluno: Interface para questionamento; Interface retorno (em resposta ao aluno, o sistema retornará uma situação problema); Interface construída em uma página HTML que contém o Geogebra (para utilizar com atividades extras formuladas pelo professor).Professor: Interface do professor (editor de texto para inserção de atividades complementadas que achar pertinente a suas práticas pedagógica). Sistema: Módulo de interfaces (interface acima); Base de dados (informações a serem consultadas, formas lógicas das informações a serem consultadas); Módulo de PLN (aplicação das técnicas de processamento de línguas naturais para obter a forma lógica das informações contidas no sistema e para obter a forma lógica dos questionamentos, ontologia); e Procedimentos de Busca. A Funcionalidades do sistema: a) O aluno possui uma dúvida e elabora uma pergunta ao sistema, em língua natural (português); b) O sistema faz a análise semântica e gera uma forma lógica baseada no questionamento, utilizando-se do léxico; c) A forma lógica é passada para a ontologia que tenta localizar as relações dos termos empregados pelo aluno e os existentes na ontologia; d) Se o processo até aqui foi possível, o sistema tentará buscar a situação-problema mais adequada e devolverá ao aluno a responsabilidade pela construção de seu saber, caso contrário, pedirá que o mesmo reformule a pergunta; e) O aluno resolverá a situação problema e poderá contar com uma correção fornecida pelo sistema; f) Se o sistema falhar na situação b, pedirá ao aluno que elabore novamente o questionamento e retornará ao processo; e g) Se o sistema falhar nas situações c ou d, retornará ao aluno que o sistema não pode oferecer ajuda; O sistema foi munido de uma Extensão: No sistema, temos incluso um editor de texto para Rev. Inovação Tecnológica, São Paulo, v.2, n.1, p. 14-20, jan./jun. 2012 ISSN 2179-2895 16 Gina M.H. Miranda, Marília Valério Roch inserção de atividades complementares que o professor ache pertinente a suas práticas pedagógicas. Para utilizar este editor, é necessário a introdução de uma senha que o aluno não terá acesso. O editor (versão do professor) possui ferramentas para abrir um arquivo existente, criar um novo, salvar arquivos novos e alterados, escolher entre letras em negrito, itálico ou sublinhado e reutilizar digitação recortando, copiando e colando. O aluno terá acesso às atividades extras a partir do editor de texto, e por meio dele, poderá abrir os arquivos com as atividades que o professor elaborou, mas não poderá salvá-los. Apenas terá acesso à leitura das atividades criadas pelo professor. Para resolver as atividades, o aluno terá acesso ao geogebra por meio de uma página HTML. Assim, o software não precisa ser instalado na máquina, e o sistema fica organizado. O sistema foi batizado de “GeoTrans – Geometria das Transformações” e em sua tela principal, inserimos quatro guias: 1ª Informações (composta por três pequenos informes: a finalidade do software, seu desenvolvimento (PLN) e suas diretrizes didáticas); 2ª Orientações (construída para mostrar o léxico sobre o qual podemos trabalhar); 3ª Pesquisar (interface de questionamento, o mais simples possível para fácil manuseio) e 4ª Módulo do professor (interface que dá acesso ao editor de textos para inserção de atividades extras). Assim que o aluno formule a pergunta e clique em pesquisar, o sistema realiza a análise semântica e remete para o módulo de busca da forma lógica da pergunta que tenta localizar no repositório de fatos a sequência didática que mais se aproxima do questionamento do aluno, então, este é convidado a resolver a/as atividade/s. CLASSIFICAÇÃO DO SOFTWARE Para nos auxiliar nesta tarefa, buscamos subsídios nas pesquisas realizadas por Rosana Giaretta Sguerra Miskulin (1999), e encontramos detalhadamente a classificação dos softwares utilizados no ambiente escolar. Em um segundo momento, classificamos nosso software, segundo a referida pesquisa. Segundo as análises de Miskulin (1999), Simonson e Thompsom4 (1997), entre outros autores por ela pesquisados, classificam os softwares utilizados na Educação em: Drill and Practice (Repetição e Prática), Tutorial Systems (Sistemas Tutoriais), Computer Simulations (Simulação), Problem-Solving software (softwares de Resolução de Problemas),Tool software (software de Ferramenta), Programming (Programação), Integrated Learning Systems (Sistemas Integrados de Ensino) e Computer-Managed Instruction (Instrução gerenciada por computador). (Simonson e Thompsom (1997), apud Miskulin, 1999, p.66) As características de um sistema tutorial para os autores Simonson e Thompson indicados na pesquisa de Miskulin (1999) são: Interação: deve fornecer ao usuário oportunidade de interagir com o ambiente (interagir, neste caso, não significa que o usuário deva apenas responder as questões, mais ter oportunidades de ir além, como formular questões, testar hipóteses, praticar ideias, entre outros); Individualização: deve conter informações suficientes para suprir as dificuldades encontradas pelo usuário. Neste aspecto, os estudos realizados por Miskulin (1999) apontam a Inteligência Artificial para o desenvolvimento de tutoriais que possuam esta característica incorporada. Eficiência: poder ser utilizado para recuperar as dificuldades de aprendizagem ou mesmo na reposição de aulas perdidas. Dentro desse contexto, nós classificamos o GeoTrans como sendo um software tutorial e justificamos: No Aspecto interação o GeoTrans é flexível no que tange a interação com seu usuário, contendo, além da possibilidade do usuário fazer um questionamento ao sistema e este trazer uma sequência de atividades que foram criadas de modo que os processos de ensino e aprendizagem se desenrole, as atividades são diversificadas, pois foram geradas com o intuito de fazer com que o usuário tenha opor4 Simonson, M. R., Thompson, A. (1997) Educational Computing Foundations. Upper Saddle River, New Jersey: Prentice Hall. Rev. Inovação Tecnológica, São Paulo, v.2, n.1, p. 14-20, jan./jun. 2012 ISSN 2179-2895 17 Gina M.H. Miranda, Marília Valério Roch tunidades de levantar hipóteses, fazer conjecturas e testar suas formulações. No Aspecto individualização o GeoTrans oferece ao usuário orientações e informações a fim de sanar possíveis dificuldades no uso do sistema. Ele foi desenvolvido com a intenção de trabalhar Transformações Geométricas no plano. Logo as atividades que possuem esta finalidade e contêm informações suficientes de seguinte modo: mesmo que o aluno tenha dificuldades para solucionar um problema, o sistema buscará informações para ajudá-lo. Um segundo ponto importante reside no fato de que mediante um questionamento do aluno e apresentação das atividades, o aluno poderá decidir entre dois caminhos: fazer as atividades e/ou apenas utilizar o módulo de institucionalização5 que contém definições e propriedades prontas para o tipo de transformação que está sendo questionada. Apesar do Geotrans ter sido desenvolvido com princípios de Inteligência Artificial no aspecto de ser capaz de interpretar o questionamento do usuário e buscar uma sequência didática capaz de sanar a dúvida, não é apto para gerar estratégias capazes de estudar o comportamento do aluno. O sistema apenas traz informações para ajudar ao aluno resolver os problemas. No Aspecto eficiência o experimento com o sistema GeoTrans não foi efetuado, foi apenas realizado um estudo de caso com dois alunos do 1º ano do Ensino Médio de Rede Pública do Estado de São Paulo sem conhecimentos prévios de Transformações Geométricas. Nesse projeto piloto, o sistema mostrou-se capaz de proporcionar condições favoráveis ao aprendizado. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS As sequências didáticas formam nosso repositório de fatos e foram desenvolvidas na linguagem de programação Visual Pascal (Delphi 7). Para auxiliar as construções geométricas optamos por utilizar o GeoGebra 3.06 que 5 Institucionalização: Situação da Teoria das Situações Didáticas de Brousseau (1986) 6 Disponível para Download em: é um software gratuito, criado por Markus Hohenwarter, em 2001, na Florida Atlantic University, que pode ser utilizado para Geometria, pois possui as ferramentas de um software de geometria dinâmica e, também, ser usado para Álgebra e Cálculo. Para finalizar as figuras geradas pelo GeoGebra e tornálas dinâmicas dentro de nossa plataforma, usamos HTML (HyperText Markup Language - Linguagem de Formatação de Hipertexto). Nossas sequências didáticas foram agrupadas em: figuras com simetria, simetria axial, simetria central, rotação e translação. No final de cada uma das sequências encontramos a institucionalização que, segundo Brousseau, é o momento no qual o professor formaliza o conhecimento para o aluno utilizá-lo na resolução de outros problemas matemáticos. Neste fase, apresentamos ao aluno atividades de demonstração que, após a sua realização, são conferidas pelo sistema que aponta os erros e/ou acertos. Para tal, os aspectos metodológicos escolhidos contribuíram de maneira satisfatória para nossos anseios. As escolhas da programação orientada a objetos e da ontologia contribuíram significativamente para a construção da plataforma computacional. Os princípios que nortearam este trabalho, a engenharia didática, com as Teorias das Situações Didáticas de Brousseau (1986) e a Teoria dos Registros de Representação Semiótica de Duval (2005) contribuíram para a elaboração das sequências de atividades, para a aplicação de um projeto piloto e às análises dessas sequências. A engenharia didática conduziu-nos a estudos epistemológicos e reflexões sobre trabalhos realizados do tema, como este tema é trabalhado nos livros didáticos e visto nos PCN e na Proposta Curricular do Estado de São Paulo. Estes estudos unidos ao quadro teórico orientaram-nos na concepção das sequências de atividades. No que diz respeito à Teoria das Situações Didáticas, o sistema foi criado com a intenção de ser parte integrante do “milieu” e as sequências didáticas geradas de modo a se desenrolarem, segundo essa teoria. Quanto às fases apontadas pela teoria (ação,formulação, validação e institucionalização), efetivamente, http://www.geogebra.org Rev. Inovação Tecnológica, São Paulo, v.2, n.1, p. 14-20, jan./jun. 2012 ISSN 2179-2895 18 Gina M.H. Miranda, Marília Valério Roch foram o principal condutor da estruturação do sistema com as sequências didáticas. A fase da ação ocorreu com a devolução ao aluno de uma sequência didática frente a um questionamento. Nessa fase, não foram observados problemas, tanto no que diz respeito ao comportamento dos alunos frente às sequências como ao comportamento do software. Na fase de formulação, o sistema ficou passivo e o aluno pôde interagir com as atividades, refletir e evoluir, apresentando suas respostas ao sistema. Na fase da validação, o sistema corrigiu as atividades e retornou ao aluno a afirmativa de seu acerto, ou não. Nos casos em que houve erros na resolução dos exercícios, foi solicitada uma nova resolução ou apresentada outra atividade capaz de fazer o aluno pensar e refletir sobre o conteúdo referido, só então, retomando a atividade que os alunos não foram capazes de solucionar. Com relação à institucionalização, percebemos que os alunos não estavam apenas preocupados na leitura das definições, exemplos e propriedades. Suas preocupações estavam voltadas, também, em compreender, comparar e justificar os conhecimentos adquiridos no decorrer do processo, um exemplo disso, foi conferir as unidades da malha quadriculada para cada tipo de transformação geométrica, e mostrou que, para esses momentos das atividades, a escolha da malha quadriculada foi fundamental. No que tange aos Registros de Representação Semiótica, pudemos notar sua potencialidade, pois no decorrer de todas as atividades os alunos utilizaram mais de um registro de representação fazendo conversões e tratamentos de registros e, com isso, puderam solucionar atividades que a princípio achavam de difícil compreensão. O fato ficou mais claro nas atividades em que apresentamos apenas registro em língua natural, como nas atividades que se pedia para opinar sobre a verdade ou não de uma afirmação. Exemplo foi a resolução do último item da atividade 7 proposta no estudo de translação: Se o triângulo CDE é imagem do triângulo ABC por translação, então, o vetor que define a translação pode ser representado pelo segmento AC , em que os alunos conver- teram para representação figural e realizaram o tratamento desse registro (em papel) para solucionar a atividade. Nas atividades referentes as propriedades invariantes de Transformações Geométricas, como a conservação das medidas dos segmentos e ângulos, foi possível constatarmos que a cada conjunto de tarefas, cada vez mais os alunos demonstravam maior compreensão da propriedade. A inserção das atividades de demonstração fez-se necessária em nosso trabalho, porque além de estimular o uso desse tipo de atividade pelo professor e estar de acordo com as indicações dos PCN, é um caminho que busca mudanças nas concepções do ensino da Matemática. Durante a aplicação de nosso projeto piloto, conseguimos verificar que a diferença entre hipótese e tese ficou clara. Os alunos conseguiram dar inicio a uma demonstração matemática, e dar encadeamento necessário à demonstração a partir de frases já redigidas. Mas, não podemos concluir o quanto a ferramenta pode ajudar para desenvolver a capacidade do aluno em construir demonstrações abertas, cujas frases da demonstração não estejam presentes. Quanto à avaliação do GeoTrans, foi realizada segundo os ditames da Engenharia de Software, utilizando o referencial da ABNT nas normas: NBR ISO/IEC 9126-1, que trata da avaliação da qualidade de um produto de Software. A referida norma dá subsídios para analisar o software, atendendo a dois tipos de atributos: aqueles relativos às funcionalidades presentes no software e os relativos aos aspectos de usabilidade. Algumas das conclusões da avaliação foram: na Usabilidade contam que as instruções e textos nas telas são claras e é fácil navegar; possui a capacidade de transmitir conhecimento; possui a capacidade de despertar o interesse e é atraente ao usuário; a utilização do software é fácil, prática e cômoda. Na Eficiência a avaliação foi realizada apenas para o consumo de recursos (Processador Petium4 ou superior, 512 MB de Ram, 100 MB de espaço livre em disco, Sistema Operacional Windows XP ou Windows Vista, Internet Rev. Inovação Tecnológica, São Paulo, v.2, n.1, p. 14-20, jan./jun. 2012 ISSN 2179-2895 19 Gina M.H. Miranda, Marília Valério Roch Explorer e Java instalado) e facilidade de instalação. Na Confiabilidade o GeoTrans possui a capacidade de transmitir a confiança no software. 6. Considerações Finais Retomemos neste momento a nossa questão de pesquisa: Quais são as potencialidades de uma ferramenta computacional, com interface PLN, para o processo de ensino e aprendizagem da Geometria das Transformações? Considerando os estudos e as reflexões anteriormente apresentadas, podemos enfatizar que, embora nossos experimentos limitassem a um projeto piloto, consideramos que o GeoTrans possui potencialidades que vão além de um software atraente, é capaz de contribuir com a construção do conhecimento, como: a isometria conserva a propriedade de distância entre pares de pontos, medidas de ângulos, paralelismo de retas, perpendicularismo, diferenciação entre hipótese e tese, promover a capacidade de encadear uma demonstração a partir de frases redigidas, capacidade de diferenciar alguns objetos matemáticos de seu registro de representação. Cremos na hipótese que o GeoTrans é capaz de promover conhecimentos necessários para que o aluno possa enfrentar situações que envolvam as Transformações Geométricas e esta hipótese foi confirmada, conforme apontam as análises das sequências de atividades e de demonstração. Portanto, temos fortes indícios de que nossa pesquisa poderá auxiliar e contribuir no processo de ensino e de aprendizagem para Transformações Geométrica no plano. REFERÊNCIAS Artigue, M.. “Engenharia Didáctica”. In Machado, Silvia Dias Alcântara. Aprendizagem em matemática (registro de representação semiótica). 2ª ed. Campinas: Papirus, 2005, p.193-217. Brasil, Ministério de Educação e Cultura. “Parâmetros Curriculares Nacionais”. Ensino Fundamental: Terceiros e Quartos ciclos (PCN) 1998. Breck, E; Burger, J.; Ferro, L; House, D.; Light, M.; Mani, I.. “A Sys Called Qanda”. In Text REtrieval Conference (TREC-8), 1999 Brousseau, G. “Fondements et methodes de la didáctique des mathématiques. In Recherches em Didactique des mathématiques, v. 7, n.2, p. 33-115, 1986. Duval, R.. “Registros de Representação Semióticas e Funcionamento Cognitivo da Compreensão em Matemática”. In MACHADO, Silva Dias Alcântara. Aprendizagem em matemática (registro de representação semiótica). 2ª edição. Campinas: Papirus, 2005, p.11-33. Java, A; Nirneburg, S; Mcshane, M; Finin, T; English, J; Joshi,A.. “Using a Natural Language Understanding System to Generate Semantic Web Content in International Journal on Semantic Web and Information Systems”, 3(3), 2007. Disponível em: http://ebiquity.umbc.edu/_file_directory_/Pap ers/373.pdf. Acessado em 25/11/2007. Miskulin, R.G.S.. “Concepções Teóricometodológicas sobre a introdução e a utilização de computadores no processo Ensino/Aprendizagem da Geometria”. 1999. 577 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Campinas. São Paulo, 1999. Nirenburg, S; Raskin, V.. “Ontological Semantics”. 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