- Fundação Robinson
Transcrição
- Fundação Robinson
ISSN 1646-7116 PUBL I CAÇÕ E S D A F U N D AÇÃO R O B I N S O N Famílias inglesas e a economia de Portugal British families and the portuguese economy 4 PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON N.º 4 ROBINSON FOUNDATION PUBLICATIONS No. 4 Famílias inglesas e a economia de Portugal British families and the portuguese economy Portalegre, 2009 Portalegre, 2009 Fundação Robinson Robinson Foundation CONSELHO DE CURADORES COUNCIL OF CURATORS José Fernando da Mata Cáceres (Presidente) (Chair), António Fernando Biscainho, Carlos Melancia, Jaime Azedo, Joaquim Barbas, Nuno Oliveira, Luís Calado, Ana Pestana, António Ventura, Filipe Themudo Barata CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRATIVE COUNCIL José Polainas (Presidente) (Chair), Helena Nabais, Ana Manteiga, João Adolfo Geraldes, Joaquim Leal Martins CONSELHOFISCAL FISCAL COUNCIL António de Azevedo Coutinho (Presidente) (Chair), José Escarameia de Sousa, António Escarameia Mariquito ADMINISTRADORA DELEGADA ASSISTANT ADMINISTRATOR Alexandra Carrilho Barata A correspondência relativa a colaboração, permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida a All correspondence to be addressed to Fundação Robinson Robinson Foundation Apartado 137 7300-901 Portalegre Tel. 245 307 463 [email protected] www.fundacaorobinson.org DESIGN DESIGN TVM designers COORDENAÇÃO COORDINATED BY António Camões Gouveia COORDENAÇÃO EDITORIAL EDITORIAL COORDINATION Há Cultura Lda. Publicações da Fundação Robinson Robinson Foundation Publications CONSELHO CONSULTIVO EDITORIAL BOARD Amélia Polónia, António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel, António Ventura, Carlos Serra, João Carlos Brigola, Luísa Tavares Moreira, Maria João Mogarro, Mário Freire, Rui Cardoso Martins DIRECTOR EDITOR António Camões Gouveia ADMINISTRAÇÃO DAS PUBLICAÇÕES PUBLICATIONS ADMINISTRATOR Alexandra Carrilho Barata SECRETARIADO DE EDIÇÃO PUBLICATION SECRETARY Ana Bicho (Câmara Municipal de Portalegre) (Portalegre Town Hall) TRADUÇÃO TRANSLATED BY David Hardisty (inglês) (english), Mónica Andrade (inglês) (english) Pedro Santa María de Abreu (espanhol) (spanish) AGRADECIMENTO AKNOWLEDGEMENT Museu do Douro (fotos) (photos): p. 77, 83, 91 REVISÃO EDITING Ana Bicho, António Camões Gouveia, Célia Gonçalves Tavares, Jorge Maroco Alberto IMPRESSÃO PRINTED BY Tipografia Lessa DEP. LEGAL 315 956/10 ISSN 1646-7116 Na capa Cover : Rua Nova dos Ingleses – Porto/Oporto Joseph James Forrester Março/March 1834 Gravura colorida/Colour print 78 x 96 cm Colecção/Collection Feitoria Inglesa 4 O olhar dos ingleses The Eyes of the British La mirada de los ingleses Presidente do Conselho de Curadores | Chair of the Council of Curators 6 Os Stephens da Marinha Grande The Stephens of Marinha Grande Los Stephens de Marinha Grande Maria Leonor Machado de Sousa 22 Phelps – percursos de uma família britânica na Madeira de Oitocentos The Phelps – paths of a British family in 19th century Madeira Phelps – trayectorias de una familia británica en la Madeira decimonónica Cláudia Ferreira Faria 38 Os tempos e as gerações da família Kingston em Portugal: a figura de William Henry Giles Kingston The times and generations of the Kingston family in Portugal: the figure of William Henry Giles Kingston Los tiempos y las generaciones de la familia Kingston en Portugal: la figura de William Henry Giles Kingston Maria da Conceição Emiliano Castel-Branco 56 A odisseia anglo-lusa do clã Warre – das origens do vinho do Porto à actualidade The Anglo-Luso Odyssey of the Warre Family – from the origins of Port wine to the present day La odisea anglo-lusa del clan Warre – de los orígenes del Vino de Oporto hasta la actualidad João Paulo Ascenso Pereira da Silva 74 Joseph James Forrester, defensor do Douro: a obra do “estrangeiro-portuguez” Joseph James Forrester, Champion of the Douro: The Work of the ‘Portuguese-Foreigner’ Joseph James Forrester, defensor del Duero: la obra del “estrangeiro-portuguez” Maria Zulmira Castanheira 100 Quillinan – uma família irlandesa no Porto Quillinan – an irish family in Oporto Quillinan – una familia irlandesa en Oporto Paulo Duarte de Almeida 126 Síntese: resumos e palavras-chave Abstracts and key-words Resúmenes y palabras clave Os olhares dos ingleses The Eyes of the British José Fernando da Mata Cáceres PRESIDENTE DO CONSELHO DE CURADORES CHAIR OF THE COUNCIL OF CURATORS Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 4-5, ISSN 1646-7116 4 A Fundação Robinson continua a trabalhar numa lógica que pode parecer distante mas que facilmente se compreende se a submetermos a um olhar mais atento. Quer seja na Cultura ou em todas as áreas em que se vai construindo, a sua actuação tem sempre uma mesma direcção: criar movimentos do interior para o exterior e vice-versa. O desafio repete-se constantemente, Olhar Portalegre a partir da Fábrica e do seu mundo de famílias (dos Robinson aos Operários e aos Novos Habitantes) e patrimonial (dos edificados às máquinas e equipamentos industriais de várias épocas) e deixar que a cidade aí se reflicta. E depois, é preciso estender esse Olhar, implicando nele, sempre que possível, os nossos parceiros e os territórios limítrofes, em particular Cáceres, Castelo Branco e Plasência, para um horizonte mais longínquo e ainda mais prometedor. Não vale a pena ir mais longe. Este número 4 das Publicações da Fundação Robinson é disso um exemplo. Temos de compreender melhor, inclusivamente estudar a Família Robinson em todas as suas dimensões britânicas e de habitantes lusos em Portalegre. Como começar? Pelos outros! Olhar as outras famílias inglesas que andaram pelo país e aí se comprometeram em diversas actividades económicas, perceber o que fizeram e como viveram … Assim foi feito, pela mão de grandes especialistas nacionais. Ao conhecer melhor os outros, olhamos com outros olhos para a realidade de Portalegre e podemos avançar na investigação sobre os Robinson. Aprendemos de quem sabe e, desta forma, numa continuidade de percurso, crescemos em auto-conhecimento com o saber e viver de outros, e continuamos a Olhar Portalegre com os nossos olhos e pelos olhos dos outros. Podemos dizer que concluímos da melhor forma o ciclo dos Seminários INTERREG Forum que aconteceram em 2006, 2007 e 2008. Encerrado o programa INTERREG, deixa de fazer sentido continuar com os seminários de 20 de Dezembro. Como tal, fechamos a época dos “eventos” de Inverno e vamos procurar uma data para aparecer com novas propostas. 5 The Robinson Foundation continues to work in a way that may seem distant but it is easily understood if we submit it to a closer look. Whether with regard to Culture or the other areas that it is establishing, its work is always headed in the same direction: establishing movement from the inside to the outside and vice versa. The challenge is repeated constantly – Olhar Portalegre, Looking at Portalegre from the Factory and its world of families (from the Robinsons to the Workers and the New Inhabitants) and property (from the buildings to the industrial machinery and equipment from various periods) and letting the city be reflected back. One must then extend this gaze whenever possible to involve both our partners and the adjacent areas, particularly Cáceres, Castelo Branco and Plasencia, to obtain a broader and even more promising horizon. Is it worth going further? Edition number 4 of the Robinson Foundation Publications is an example of this. We have to understand things better, by including in our study the Robinson family in all its British dimensions as well as the Portuguese residents in Portalegre. How to start? Through others! By looking at other British families who traversed the country and committed themselves to various economic activities, to see what they did and how they lived ... This has been carried out here by major Portuguese experts. By better understanding others, we can look with fresh eyes at the reality which is Portalegre and we can move forward in our research into the Robinsons. We learn from those who know and, in this way, through our ongoing path, we grow in self-knowledge from the wisdom and experience of others, and we continue our Olhar Portalegre, Looking at Portalegre, with our eyes and through the eyes of others. I think we can state that in this way we discovered the best way to conclude the cycle of INTERREG Forum seminars that took place in 2006, 2007 and 2008. This has brought to an end the INTERREG programme, and with it the continuance of the 20 December seminars. As such, we now close the winter programme of “events” and look for a date to come up with new proposals. Os Stephens da Marinha Grande The Stephens of Marinha Grande Maria Leonor Machado de Sousa FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 6-21, ISSN 1646-7116 Jane Smith, serviçal no castelo de Pentillie, em Landulph, na Cornualha, registou William sem apelido de família, como sendo filho de pai incógnito, no dia 20 de Maio de 1731. Só doze anos depois, tendo enviuvado, pôde Oliver Stephens, professor, casar com Jane e criar a sua família, na qual nasceram mais quatro filhos, Lewis, Jedediah, John James e Philadelphia. Vivendo então em Exeter, William frequentou a escola local, onde, sob a orientação de um professor recém-chegado de Oxford, aprendeu matemática e contabilidade, mas também literatura e teatro. O pai, que tivera uma educação cuidada, pôde acompanhá-lo nos estudos, mas a sua situação financeira não permitia uma formação universitária. E assim, com quinze anos, William embarcou num navio mercante com destino a Lisboa, onde iria ser aprendiz de um tio paterno que aqui tinha o que hoje chamaríamos um escritório de contabilidade. William sentiu-se bem no seio da Feitoria Inglesa, onde os negociantes prosperavam graças a grandes privilégios sancionados principalmente pelo tratado de Methuen, de 26 de Dezembro de 1703. Essa situação, que permitiu a William o convívio com figuras destacadas tanto da comunidade inglesa como da sociedade portuguesa, suscitava má-vontade da parte dos comerciantes nacionais, que ao longo da vida lhe levantaram grandes problemas, que só a protecção do Marquês de Pombal e de outros governantes que se lhe seguiram pôde contornar. Mas o tio declarou falência em 1750, e só no ano seguinte William conseguiu organizar a sua vida como representante de George Medley, um membro da Feitoria que regressou ao seu país e o deixou, juntamente com outro rapaz, responsável pelo seu negócio de exportação de vinho, fruta e sal. A sua prosperidade levou a que fosse eleito membro da Feitoria, em 1752, mas a situação viria a ser seriamente afectada pelo terramoto de 1755, que, por outro lado, abriu nova saída para a sua actividade. 7 Jane Smith, in domestic service at Pentillie Castle in Landulph, Cornwall, registered William without a family name, declaring the father as unknown, on 20 May 1731. It was only twelve years later that Oliver Stephens, a teacher, now widowed, was able to marry Jane and bring up their family, consisting of a further four children, Lewis, Jedediah, John James and Philadelphia. Living in Exeter at the time, William attended the local school where, under the supervision of a teacher recently arrived from Oxford, he studied maths and accounting, but also literature and theatre. His father, who had had a fine education, was able to assist in William’s studies, but his financial circumstances did not allow for a University education for his son. Thus, at the age of fifteen, William boarded a merchant ship sailing to Lisbon, where he would be apprenticed to a paternal uncle who had in this city what we would now call an accounting practice. William felt at home at the British Factory, where merchants prospered thanks to the significant privileges sanctioned for the most part by the Methuen Treaty of 26 December 1703. This situation, which allowed William to mix with prominent personalities both in the British and the Portuguese communities, sparked ill-will on the part of Portuguese traders. Throughout his life, the latter would put great obstacles in his way, which he was able to circumvent thanks to the patronage of the Marquis of Pombal and subsequent rulers. But William’s uncle filed for bankruptcy in 1750, and it was only the following year that William was able to set his affairs in order as a representative of George Medley, a member of the Factory who returned to his country and left William, together with another youth, in charge of his export business of wine, fruit and salt. His prosperity led to his election in 1752 A situação política portuguesa sofrera alterações desde a sua chegada a Portugal, e o terramoto deu um inesperado destaque à figura do ministro de D. José, Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem o Rei incumbiu de reorganizar a vida das populações afectadas pelo terramoto e a reconstrução de Lisboa. William, que, como a maioria dos membros da Feitoria, vivia em precárias circunstâncias, tanto de alojamento como financeiras, pois Medley fechara a sua casa de Lisboa, viu no projecto da nova cidade uma hipótese de negócio. Para essa reconstrução iam ser precisas grandes quantidades de materiais, e ele investigou as técnicas necessárias àquele que lhe pareceu mais imediato, a cal, de que havia alguns produtores mas sem grande qualidade. Das suas investigações, ficou a saber que era essencial o tipo de combustível para os fornos da cal. Em vez de madeira de pinho, como então se praticava, devia utilizar-se carvão de pedra, que teria que mandar vir do País de Gales para os fornos a construir em Alcântara, que lhe pareceu a melhor zona, entre outras razões pela proximidade de Lisboa e por dar acesso a um vale que facilitaria o transporte da cal. Entusiasmado com o projecto, o Ministro deu-lhe o seu aval, e o Rei assinou uma concessão por quinze anos, com um empréstimo que permitiu a William alugar uma casa perto do que seriam os fornos e para onde foi viver com o tio, que se encarregaria da contabilidade. Os fornos a construir implicavam uma nova tecnologia e melhores resultados do que os da produção tradicional. Começaram a funcionar em meados de 1758, mas foi complicado resolver a situação do combustível inglês, sobre o qual o Tesouro, pouco informado das circunstâncias, começou por lançar um imposto que tornava o projecto impraticável. Resolvido esse problema, os primeiros resultados foram extremamente positivos, mas a situação política interna e externa obrigou à suspensão das obras em Lisboa, e mais uma vez William se viu numa situação desesperada. as a member of the Factory, but his situation was to be seriously affected by the 1755 earthquake, which, on the other hand, opened up new opportunities for his activity. The political situation in Portugal had undergone changes since William’s arrival in this country, and the earthquake threw into unexpected relief the figure of King José’s minister, Sebastião José de Carvalho e Melo, whom the King charged with re-organising the lives of the population affected by the earthquake and by the re-building of Lisbon. William, who, like most Factory members, lived in precarious circumstances, both in terms of lodgings and from a financial point of view, given that Medley had closed up his Lisbon home, saw a business opportunity in the project for a new city. The reconstruction would require large quantities of materials, and William researched the techniques needed for what appeared to be the most pressing of them, lime, of which there was some supply, but of inadequate quality. Through his research, he ascertained that the type of fuel was essential to fire the lime kilns. Instead of pine wood, as was then the practice, stone coal should be used. This he would have to import from Wales for the kilns to be built in Alcântara, which he deemed the most appropriate area, among other reasons, for its proximity to Lisbon and because it afforded access to a valley which would make it easier to transport the lime. Fired by the project, the Minister gave William his authorisation, and the King signed a concession for fifteen years, with a loan which allowed William to rent a house close to the site where the kilns were to be built and to which he moved with his uncle, who was to be in charge of the accounting. The kilns to be built implied new technology and better results than those obtained in traditional 8 production. They began operating in mid-1758, but there were complications in resolving the situation of the British fuel, on which the Exchequer, ill-informed of the circumstances, initially exacted a level of tax which rendered the project impracticable. Once this hurdle was overcome, the first results were extremely positive, but the internal and external political situation dictated that work be suspended in Lisbon, and once again William found himself in dire circumstances. Meanwhile, he had never lost touch with his family and had announced his intention to take in and support his siblings. When his parents decided to accept his offer, William was bankrupt but lacking the courage to admit it, and he did what he could to organise the lives of his siblings in Lisbon: Lewis and Jedediah would be apprenticed to British trading companies, and Philadelphia and John James, who had received training at Christ’s Hospital in London to prepare him for a professional life in trade, would live with William, in circumstances only made possible through the assistance they received from Factory members. In the summer of 1764, the future Marquis of Pombal was able to take up anew his project for the reconstruction of Lisbon and finally begin a trajectory which would make William, and then his brother John James, the own- Entretanto, nunca perdera o contacto com a família e declarara a sua intenção de receber e apoiar os irmãos. Quando os pais decidiram aceitar a oferta, William estava falido, mas sem coragem de o declarar, e fez o que lhe era possível para organizar a vida dos quatro irmãos em Lisboa: Lewis e Jedediah seriam aprendizes em casas comerciais inglesas, e Philadelphia e John James, que fora preparado na escola do Christ’s Hospital de Londres para as actividades profissionais do 9 ers of a considerable fortune. Always attentive, William managed to renew the periods of tax exemption, counting on the Minister’s support, despite the ill-will which existed between him and the British, caused by the privileges enjoyed by the latter and which the former sought to curtail. However, the Minister’s relations with William were good, because he acknowledged the latter’s qualities in comércio, ficariam a viver com ele, numa situação só possível pelo apoio que lhe deram os membros da Feitoria. No Verão de 1764, o futuro Marquês de Pombal pôde retomar o projecto de reconstrução de Lisboa e iniciar finalmente um percurso que viria a fazer de William e depois do irmão John James donos de uma considerável fortuna. Sempre atento, William conseguiu renovar os períodos de isenção de impostos, contando com o apoio do Ministro, não obstante a má-vontade que existia entre ele e os ingleses, em torno dos privilégios de que estes desfrutavam e que aquele tentava cercear. Todavia, a sua relação com William era boa, porque reconhecia as suas qualidades de iniciativa e o modo correcto como sempre correspondera aos seus compromissos. No projecto de modernização do país, o Marquês ultrapassara os desaguisados com os estrangeiros e tentara obter a colaboração dos mais aptos. Entre os materiais necessários à reconstrução de Lisboa, falhou um essencial, o vidro, que provinha de uma única fábrica, criada por irlandeses, cujo dono mais recente, John Beare, se vira obrigado a transferi-la de Coina para a Marinha Grande, onde era mais fácil o acesso ao combustível para alimentar os fornos. Mas as dificuldades de toda a ordem que lhe foram levantadas na região obrigaram-no a fechar em 1767. Atendendo à premência da produção de vidraças para as casas de Lisboa, o Marquês aconselhou-se com Edward Campion, o sócio de Beare encarregado da venda do vidro na capital, que indicou o nome de William Stephens, logo aceite. Contudo, William recusou. Com o negócio da cal a correr nas melhores condições e porventura recordando os tempos difíceis que passara, não lhe era agradável a ideia de deixar a família por um lugar distante para um empreendimento para o qual não tinha qualquer preparação. Só ao fim de dois anos de terms of his initiative and of the punctual way in which he had always honoured his commitments. In his project for modernising the country, the Marquis had surpassed the upsets with the foreign merchants and had sought to secure the cooperation of the better equipped among them. Among the materials needed to reconstruct Lisbon, an essential element was missing, glass, which was supplied by a single factory, founded by Irish citizens and whose most recent owner, John Beare, had been obliged to relocate from Coina to Marinha Grande, where it was easier to access the fuel required to feed the kilns. But the many difficulties of every type which he encountered in the area forced him to close the factory in 1767. Given the urgency of producing window-panes for the houses in Lisbon, the Marquis sought the advice of Edward Campion, Beare’s partner in charge of sales of glass in the capital, who put forward the name of William Stephens, advice which was immediately accepted. However, William turned down the offer. With his lime business running very successfully, and possibly recalling the difficult times he had experienced, the idea did not appeal to him of leaving his family behind to set up business in a far-away place for the sake of an undertaking for which he had no training. It was only after two years’ insistence, eventually by the King himself, that he agreed to take on this new adventure. The conditions whereby he agreed to respond to the invitation were set out in fifteen points in a decree signed by the King on 7 July 1769. These included a loan from the Commerce Board totalling eighty thousand cruzados, interest-free, and perhaps most important of all, the use without restrictions of dry wood and branches from the Leiria pine forest, in addition to tax-free status in the sale of glass. 10 insistência, finalmente do próprio Rei, se dispôs a tentar esta nova aventura. As condições em que se dispunha a corresponder ao convite foram expressas em quinze pontos de um decreto que o Rei assinou no dia 7 de Julho de 1769. Delas constava um empréstimo da Junta do Comércio de oitenta mil cruzados sem juros e, talvez o mais importante, a utilização sem restrições da madeira seca e de ramos do pinhal de Leiria, além da isenção de impostos na venda do vidro. William Stephens deixou os fornos da cal entregues ao irmão John James, que se encarregaria também da venda do vidro, e chegou à Marinha Grande no dia 23 de Julho. A mesma celeridade com que tudo foi ajustado manteve-a William na reabertura da fábrica e na organização do trabalho, que se iniciou no dia 16 de Outubro. Os primeiros operários, sete mestres, cinco assistentes e três aprendizes, passaram em breve a 150, como consta do primeiro relatório anual, de Dezembro do ano seguinte. Estes números não incluíam os encarregados de obter e transportar o combustível em carros de bois, que eram já setenta, em vez dos vinte e cinco iniciais. A Marinha Grande era na altura uma povoação pouco mais que inexistente. Mesmo os antigos empregados de John Beare tinham, na sua maioria, regressado às suas terras, mas alguns voltaram, ao saber que a fábrica ia reabrir. No entanto, formavam uma população desordenada e mal instalada, para cujo bem-estar o novo patrão se encarregou também de tomar medidas. Segundo Jennifer Roberts, a mais recente investigadora da indústria do vidro na Marinha Grande, que publicou um trabalho exaustivo, Glass, em 2003, William Stephens criou um verdadeiro estado-providência na Marinha Grande. Promovendo possibilidades de melhor alojamento, pagava bons salários, abriu uma escola elementar para os aprendizes, que aí eram ensinados a ler, a escrever e desenhar, importante para o fabrico de consumo, que William iniciou logo a par das 11 William Stephens entrusted the lime kilns to his brother John James, who would also undertake the sale of the glass, and arrived in Marinha Grande on 23 July. The same speediness with which the entire matter was settled was observed by William in re-opening the factory and in re-organising the work, which began on 16 October. The first workmen, seven masters, five assistants and three apprentices, soon grew to number 150, as stated in the first annual report of December of the following year. These numbers did not include workers dealing with the purchase and transport of fuel in ox-drawn carriages, which already numbered seventy, instead of the initial twenty five. At the time, Marinha Grande was little more than a non-existent village. Even the former workers of John Beare had, for the most part, gone back to their homes, but some came back on hearing that the factory was set to re-open. However, they were a disorganised and ill-housed population, for whose welfare the new owner also undertook new measures. According to Jennifer Roberts, the most recent researcher in the area of the Marinha Grande glass industry and who in 2003 published an exhaustive study, Glass, William Stephens created a veritable Welfare State in Marinha Grande. Promoting opportunities for better housing, he paid good wages and started an elementary school for the apprentices, where they were taught how to read, write and draw, of importance for consumption production, which William began at the same time as the production of window-panes, using the catalogues which Beare had left at the factory and which he developed until he succeeded in producing quality glass. The apprentices were also taught geometry and music. In addition to a free first aid station for accidents involving vidraças e utilizando os catálogos que Beare deixara na fábrica, e que desenvolveu até conseguir fabricar cristal de qualidade. Aprendiam também geometria e música. Além de um posto de primeiros socorros grátis para os acidentes dos operários, que recebiam também um subsídio de doença, igualmente as reformas foram acauteladas. William desenvolveu a agricultura na zona, tendo inclusivamente trazido a Portugal Thomas Coke, um especialista inglês que conseguiu transformar o solo arenoso e estéril da Marinha Grande em terra produtiva, que fornecia cereais, fruta e hortaliça à população. Conseguiu ainda um fornecimento regular de carne, construindo no complexo fabril um matadouro e um talho. Ao abrigo das medidas que lhe foram concedidas, fechou todas as tabernas da região, mantendo apenas uma, que fornecia, sob controlo e a pronto pagamento, vinho de boa qualidade. Esta disciplina veio alterar o comportamento dos operários, que agora tinham uma alimentação mais saudável e condições novas de vida e distracção: chamou professores de música e dança, e todos os sábados havia concertos em casa de William, que construiu até workers, who also received sickness benefits, a pension scheme was set up. William developed farming in the area, having even brought Thomas Coke to Portugal. The latter was a British specialist who succeeded in transforming the sandy, arid soil of Marinha Grande into productive soil, supplying the population with grain, fruit and vegetables. He further secured regular supplies of meat, building an abbattoir and a butcher’s on the factory premises. Under the measures bestowed on him, he closed down all but one of the area’s taverns, which he supplied with good quality wine, subject to control and cash payment. This discipline changed the workers’ behaviour; they now had a healthier diet, and new living and leisure conditions: William hired music and dance teachers, and every Saturday he held concerts at home. He even built a theatre, where even Shakespeare was staged. Nicolau Luís, the best known Portuguese playwright of the eighteenth century, recorded a performance of Voltaire’s Olympia, adapted by him. 12 um teatro, onde se chegou a representar Shakespeare. Nicolau Luís, o dramaturgo português mais famoso do século XVIII, registou a representação de Olimpia de Voltaire, numa adaptação sua. O transporte do vidro para Lisboa era complicado, porque não havia estradas, pelo que William preferiu utilizar barcos, que partiam do porto de S. Martinho, próximo da Marinha Grande. Quando finalmente se abriu uma estrada de Lisboa para o Porto, William construiu à sua custa, em 1793, uma ligação à Marinha Grande, que ficou conhecida como “a estrada do Guilherme”. A prosperidade que a indústria do vidro trouxe a William assentou sobretudo nas medidas monopolistas que ele conseguiu renovar constantemente, mesmo depois da queda de Pombal, já que D. Maria I, que por duas vezes o visitou, tendo-se mesmo instalado com a sua corte por alguns dias, o admirava pelas suas qualidades de trabalho e pelo seu êxito. A manutenção das medidas que o apoiavam eram essenciais à sua indústria, mas despertavam a má-vontade de outros comerciantes, que constantemente tentavam superá-las. Eram essencialmente duas: o corte da vidraça e a venda de objectos de vidro e cristal importados. Quanto à primeira, há que atender às normas que regiam a reconstrução de Lisboa. De modo a facilitar e apressar a sua execução, tinham sido estabelecidas medidas estandardizadas para portas, janelas e varandas. No caso do vidro, ele vinha já pronto da fábrica, sem necessidade de intermediários que o encareceriam. Quanto à segunda, a verdade é que se conseguiam preços mais baixos com a importação inclusivamente de cristal da Boémia, que, além disso, os comerciantes diziam ser de melhor qualidade. Os preços praticados por William eram, por decreto da fundação, os que tinham sido estabelecidos com Pombal, e ele não queria abdicar dessa determinação. 13 Shipping the glass to Lisbon was difficult, as there were no roads, so that William preferred to use ships sailing from the port of S. Martinho near Marinha Grande. When at last a road was built linking Lisbon and Porto, William built, at his own expense, a road link to Marinha Grande in 1793; this became known as ‘William’s road’. The prosperity which the glass industry brought to William stemmed above all from the monopoly measures which he was able to renew at every turn, even after the fall of Pombal, since Queen Maria I, who visited him twice, even bringing her court with her for a few days, admired him for his qualities of industriousness and for his success. Retaining the measures which assisted William was essential for his industry, but the situation kindled ill-feeling among the other businessmen, who constantly sought to get round them. In essence, they were two: cutting the panes and the sale of imported glass and crystal objects. With respect to the first, we must consider the norms governing the reconstruction of Lisbon. With a view to making them easier to carry out and to hasten the process, standard measurements had been laid down for doors, windows and balconies. In the case of glass, this arrived from the factory ready to use, without the need for middlemen who would push up prices. As regards the second, the truth is that lower prices could be secured through imports, including those of crystal from Bohemia, which, in addition, was said by traders to be of better quality. The prices William practised were, as per the decree regarding the foundation, those agreed with Pombal, and William did not wish to relinquish the agreement. Besides, tax exemption provisions were absolutely necessary, and William managed to retain these, encountering greater or fewer difficulties. Além disto, era imprescindível a isenção de impostos, que William conseguiu manter, com maior ou menor dificuldade. Tendo estabelecido solidamente a sua indústria, William Stephens, que vivia na mansão que construira na Marinha Grande, elogiada por todos aqueles que por lá passaram, incluindo o Marquês e figuras inglesas destacadas que visitaram Portugal, como o arquitecto James Murphy e os poetas William Mickle, o mais célebre tradutor inglês de Os Lusíadas, e Robert Southey, chamado o primeiro lusófilo inglês. Todos eles registaram, nos seus relatos sobre Portugal, o modo como foram recebidos na Marinha Grande, em casa do industrial que era já um grande senhor, e a qualidade do empreendimento que ele construira. Nesta altura, já William construira em 1767 uma grande casa em Lisboa, na esquina da Rua de S. Paulo com a Rua das Flores, no espaço que foi baptizado como Largo dos Stephens. Nela vivia John James, a quem se juntaram em breve os outros dois irmãos, Lewis e Jedediah. Tendo Philadelphia ido viver para a Marinha Grande, onde presidia à organização da casa e ajudava o irmão a receber os visitantes e a superintender às actividades culturais, segundo parece sobretudo à administração do teatro, em 1768 foi viver para a casa de Lisboa a filha de Edward Campion, o amigo que levara ao convite de William para a empresa da Marinha Grande. Jane orientava o movimento da casa e dos criados entretanto contratados. Também a respeito desta casa o Marquês de Pombal interveio para apoiar William. Não era permitido aos estrangeiros que tivessem a posse perpétua de propriedades, o que foi torneado por dois decretos do Ministro determinando a autorização para “possuir, manter e transmitir as suas propriedades aos herdeiros e sucessores, mesmo se estrangeiros, independentemente de qualquer lei e costume que determinassem o contrário e que são neste caso dispensadas”. Having established his industry on a firm basis, William Stephens lived in the mansion he had had built in Marinha Grande, which was praised by all who visited it, including the Marquis and leading British visitors to Portugal such as James Murphy, the architect, and the poets William Mickle, the most renowned British translator of The Lusiad, and Robert Southey, dubbed the first British Lusophile. All of them recorded in their writings on Portugal the way they had been received in Marinha Grande, in the home of the industrialist who was now a wealthy proprietor, and the quality of the business he had built up. At this time, William had already in 1767 had a large house built in Lisbon, on the corner of Rua de São Paulo and Rua das Flores, on the site which was dubbed Stephens’ Square. In it lived John James, who was soon joined by his other two siblings, Lewis and Jedediah. With Philadelphia moving to Marinha Grande, where she oversaw the running of the household and helped her brother receive visitors and supervise the cultural activities, above all, it appears, the running of the theatre, in 1768 the daughter of Edward Campion moved into the Lisbon house. Campion was the friend who had engineered the invitation for William to take over the business in Marinha Grande. Jane supervised the household tasks and the servants who had in the meantime been hired. In respect of this house, too, the Marquis of Pombal intervened to support William. Foreign nationals were not allowed to own property in perpetuity, which was circumvented by two decrees signed by the Minister, authorising ‘possessing, retaining and willing their property to heirs and successors, even if these be foreign nationals, regardless of any law or custom which ruled otherwise and from which in this case they are exempt.’ 14 D. Maria renovou todas as condições que tinham sido criadas para os irmãos Stephens desenvolverem a sua indústria e comércio, mantendo a isenção de impostos para a importação de matérias-primas e para exportação dos seus produtos. Tomou ainda uma determinação que viria a ter consequências no século XIX, quando o país se reorganizou depois das Invasões Francesas: as fábricas de vidro nunca seriam divididas por morte de William, John James e dos seus sucessores, nem seria autorizada a nomeação de qualquer sócio estranho à família. Segundo se explicava, diz Jennifer Roberts que “o objectivo era manter a integridade desta útil e bela fábrica para sempre, para benefício deste reino”1. Entretanto, também os irmãos de William prosperavam. Em 1778, Lewis decidiu expandir o seu negócio, criando a Lewis Stephens & Company, para a qual precisava de colaboradores. Recordando o primo John Lyne, que o criara depois da morte dos pais, Lewis escreveu-lhe dizendo que estava disposto a encarregar-se de dois dos seus filhos como aprendizes, oferecendo-lhes alojamento na casa de família. John era reitor da paróquia de St. Ive, na Cornualha, e simultaneamente professor na Grammar School em Liskeard, onde vivia com a mulher e os quatro filhos, com grandes dificuldades, porque era difícil a situação económica da Inglaterra nessa altura. Aceitou de bom grado a proposta de Lewis, resolvendo o caso de maneira original. Chamou o filho mais velho e perguntou-lhe “O que preferes ser? Um clérigo pobre ou um comerciante rico?” Richard preferiu a primeira hipótese, de uma vida calma e sem ambições. Contrariamente, os dois irmãos seguintes, Charles e Joseph, escolheram trabalhar no comércio. E assim, o primeiro veio logo para Portugal, trazido por Philadelphia, a quem Lewis pedira que o fosse buscar, para que não fizesse a viagem sozinho. Joseph viria mais tarde, quando terminasse a sua educação. 15 Queen Maria renewed all the conditions which had been created so that the Stephens brothers could develop their industry and trade, keeping in place tax exemption for the importing of raw materials and for the export of their goods. She took a further measure which would have consequences in the nineteenth century when the country re-organised itself after the French Invasions: the glass factories would never be divided on the deaths of William, John James and their heirs, nor would authorisation be given for the appointment of any partner who was not a member of the family. As explained at the time, Jennifer Roberts states that ‘the aim was to retain the integrity of this useful and beautiful factory for ever, for the benefit of this Kingdom.’1 Meanwhile, William’s brothers prospered too. In 1778, Lewis decided to expand his business, creating Lewis Stephens & Company, for which he needed associates. Recalling John Lyne, who had raised him after the death of his parents, Lewis wrote to him stating he was willing to take on two of his sons as apprentices, offering them lodging in the family home. John was the vicar of the parish of St. Ives in Cornwall and at the same time a teacher at Liskeard Grammar School, where he lived with his wife and four sons, in an impoverished state, since the economic situation in England was difficult at the time. Lyne was very receptive to Lewis’s proposal, deciding the matter in an original fashion. He sent for his eldest son and asked him: ‘What would you rather be? A poor clergyman or a rich merchant?’ Richard opted for the first choice, preferring a tranquil life with no ambitions. Unlike him, his two younger brothers, Charles and Joseph, chose to work in commerce. Thus the former travelled to Portugal at once, escorted by Philadelphia, who had been asked Mas não ficariam por aqui as alterações na vida de Lewis, que no ano seguinte casou com Mary Bulkeley, filha de um rico negociante americano. Também o casal foi viver para a Casa do Largo dos Stephens, suficientemente grande para acolher toda a família, mesmo quando William e Philadelphia vinham a Lisboa, o que aconteceu por ocasião do casamento. Foi no baile que então teve lugar em honra dos noivos que Sir Robert Walpole, o então Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da Inglaterra em Lisboa, apresentou Mickle a William. Da conversa destes dois homens nasceu o interesse do poeta pelas realizações do industrial, do que resultou que fossem os dois à Marinha Grande para a visita que já referi. Mickle ficou lá três semanas, durante as quais visitou Alcobaça, Batalha e Pombal, onde se encontrou com o Ministro exilado. A associação de Charles Lyne à família Stephens veio a revelar-se próspera e, por herança, a reunir as duas fortunas, o que fez de John James, o último sobrevivente, o mais rico plebeu da Grã-Bretanha, como ficou conhecido na época, em Inglaterra. Entretanto, John James tinha uma posição destacada na Feitoria. A vida social dessa Instituição, na qual Charles Lyne também passou a tomar parte, era bastante intensa, mas fazia falta o que os ingleses chamavam Assembly Rooms, ou seja, um espaço de reuniões onde se realizassem também as festas e bailes tão do agrado dos seus membros. As reuniões de negócios faziam-se em casa do cônsul, e há a tradição de que teria havido instalações da Feitoria provavelmente na zona entre S. Paulo e o que é hoje o Largo de Camões, ao longo da Rua do Alecrim, zona essa onde se desenvolviam principalmente as actividades da Feitoria. Mas nada ficara depois do terramoto, e a situação económica não era propícia a investimentos de lazer. Até que, numa época mais estável, em 1783, by Lewis to fetch the young man so that he would not have to travel on his own. Joseph would travel later, when he had finished his schooling. But these would not be the only changes in the life of Lewis, who the following year married Mary Bulkeley, the daughter of a rich American businessman. This couple, too, took up residence in the house on Stephens’ Square, large enough to accommodate the whole family even when William and Philadelphia came to Lisbon, which they did for the wedding. It was at the ball then held in honour of the bridal couple that Sir Robert Walpole, at the time British Envoy Extraordinary and Minister Plenipotentiary to Lisbon, introduced Mickle to William. The conversation these two men had sparked the poet’s interest in the industrialist’s achievements, which resulted in their going together to Marinha Grande on the visit I mentioned above. Mickle spent three weeks there, during which time he visited Alcobaça, Batalha and Pombal, where he had a meeting with the exiled Minister. Charles Lyne’s association with the Stephens family proved to be fruitful, and, by inheritance, the two fortunes merged, making John James, the last survivor, the richest British commoner, as he became known at the time in England. Meanwhile, John James was a prominent member of the Factory. This institution’s social life, in which Charles Lyne was also included, was quite busy, but the need was felt for what the British called Assembly Rooms, that is, a space for meetings which could double as a venue for the parties and balls so beloved of its members. Business meetings were held at the Consul’s house, and tradition has it that there were Factory premises probably sited in the area between S. Paulo and what is now Largo de Camões, run- 16 os membros da Feitoria aproveitaram a construção em curso de uma grande casa “que dava para a Rua do Loreto, entre a Rua do Norte e a das Gáveas” para promoverem a instalação condigna da sua Assembleia. Para negociar o aluguer de dois andares desse edifício com o seu proprietário, o 4.º Marquês de Marialva, foram designados três membros da Feitoria, um dos quais era John James, a quem coube também o que então se chamava o risco, ou seja, o projecto do que se pretendia construir. Todas as condições fazem parte do contrato de arrendamento guardado na Torre do Tombo (Cartório Notarial n.º 1, maço 129, Livro “6 de Agosto de 1783 – 31 de Outubro de 1783). Além de um salão para baile com o pé direito dos dois andares, havia uma sala para banquetes e outras para bilhar, cartas e chá, além das estruturas de apoio como a cozinha. Talvez este encargo tenha sido dado ao mais novo dos Stephens, que recebeu uma placa de prata pelo seu trabalho, pela experiência social que tinha da sua grande casa de S. Paulo. O certo é que o resultado foi brilhante, a avaliar pelas palavras que o Embaixador francês em Lisboa, 1786-87, o Marquês de Bombelles, registou no seu diário, sobre “a assembleia tão luzida e imponente” que frequentava o long-room inglês, onde dançou o Embaixador Sir Robert Walpole, num grupo que às vezes acompanhava. 17 ning the length of Rua do Alecrim, the area where most Factory activity took place. But nothing had remained after the earthquake, and the economic situation was not favourable to investments in leisure. Until, in a more stable climate, in 1783, the members of the Factory seized the opportunity presented by the building of a large house ‘giving on to Rua do Loreto, between Rua do Norte and Rua das Gáveas’ to set up their Assembly in fitting surroundings. To negotiate the rent for the two storeys of this building with its owner, the 4th Marquis Marialva, three members of the Factory were chosen, one of whom was John James, who was also asked to undertake what was then known as the risk, ie. the project of what the Factory wished to build. All the terms are to be found in the leasing contract held at Torre do Tombo (Cartório Notarial n.º 1 [Notary Public Registries], pack 129, book “6th August 1783 – 31st October 1783). In addition to a ballroom on the right of the two storeys, there was a banquetting room and other rooms for billiards, card games and tea gatherings, besides support structures such as the kitchen. This undertaking may have been given to the youngest of the Stephens, who received a silver plaque for his work, because of the social experience he had gained at the great house in S. Paulo. The fact is that the result was magnificent, judging by the words recorded by the French Ambassador to Lisbon, 1786-87, the Marquis de Bombelles, in his diary regarding ‘such a brilliant and imposing assembly’ who frequented the British long-room, where the Ambassador Sir Robert Walpole danced, in a group he sometimes joined. As for William, the Queen’s support did not make him forget what he owed the Marquis, whom he regularly visited in his exile in Pombal. An episode of 1777 is worth mentioning. Knowing that a work had been published in Lon- Quanto a William, o apoio da Rainha não o fez esquecer o que devia ao Marquês, que visitava regularmente no seu exílio de Pombal. É de 1777 um episódio que vale a pena referir. Sabendo que tinha sido publicada em Londres uma obra que se lhe referia, o antigo ministro, ou antes, a Marquesa, segundo John Smith, Conde da Carnota, conta nas sua Memoirs of the Marquis of Pombal, mostrou interesse na sua tradução, o que Philadelphia se ofereceu para fazer. Esta intervenção nunca foi completamente esclarecida. As cartas que constituem esta obra são anónimas, tendo sido por vezes atribuídas a Philadelphia ou até ao próprio Marquês, tendo então sido ela a traduzi-las para inglês. Esta confusão levou a que a tradução francesa de 1796 cite Philadelphia Stephens como autora, embora a edição original, de 1777, tenha sido também atribuída a John Blankett, secretário do Duque de Manchester. Nos últimos anos do século XVIII, William já tinha contratado um novo administrador para a fábrica, José de Sousa e Oliveira, que iria manter o nível do empreendimento, contratando um professor de música que assegurou concertos e peças semanais, além de uma ópera por mês. Também lhe coube atravessar os anos mais difíceis da história desta indústria, com as Invasões Francesas. William, com mais de sessenta anos e pouca saúde, retirou-se para junto da família em Lisboa, onde Lewis morreu subitamente em 1795. Apesar de que os irmãos Lyne lhe tinham sido pouco leais nos últimos tempos, Lewis deixou-lhes em testamento boa parte da sua fortuna, para além do que legou aos irmãos e doou a uma escola para crianças pobres em Exeter, recordado do apoio que recebera na infância. Quase ao mesmo tempo, os irmãos Lyne casaram com filhas de membros da Feitoria e, donos de uma boa situação don in which reference was made to him, the former minister, or rather, the Marchioness, according to what John Smith, Count of Carnota, wrote in his Memoirs of the Marquis of Pombal, showed an interest in its translation, which Philadelphia offered to do. This intervention has never been fully clarified. The letters comprising this work are anonymous, having at times been attributed to Philadelphia or even to the Marquis himself, whereupon she translated them into English. This puzzle led to the 1796 French translation citing Philadelphia Stephens as the author, although the first edition in 1777 was also attributed to John Blankett, secretary to the Duke of Manchester. By the late eighteenth century, William had already hired a new manager for the factory, José de Sousa e Oliveira, who would maintain the level of the undertaking by contracting a music teacher who organised weekly concerts and plays, in addition to a monthly opera. It also fell to him to experience the most difficult years in the history of this industry, the French Invasions. William, now over sixty and in failing health, retired to live with his family in Lisbon, where Lewis died suddenly in 1795. Although the Lyne brothers had latterly failed in their loyalty to him, Lewis bequeathed to them a considerable part of his fortune in addition to what he left his brothers, and endowed a school for poor children in Exeter, remembering the support he had received as a child. Almost at the same time, the Lyne brothers married daughters of Factory members and, in possession of good financial means, eventually returned to England in the early nineteenth century, at a time when the situation in Europe was becoming difficult, prompting many of the British living in Portugal to send large 18 financeira, acabaram por regressar a Inglaterra, nos primeiros anos do século XIX, numa altura em que a situação europeia começava a complicar-se, levando muitos dos ingleses residentes em Portugal a enviar grandes somas para o seu país natal, onde esperavam ter maior segurança. Em 11 de Maio de 1802, em vésperas de fazer 72 anos, William morreu na sua casa de Lisboa. O seu testamento fez de John James o único herdeiro e executor, com uma cláusula possivelmente inédita. Reforçando as disposições de D. Maria I quanto à posse da fábrica, dizia ao irmão que, na altura própria, “pedisse à Rainha que comprasse a fábrica com tudo o que lhe pertencia”, explicando a razão por que o fazia: “Como a Coroa é a proprietária do pinhal de que a fábrica depende, a sua perpetuação em mãos privadas precisaria da protecção contínua da monarca para evitar a maldade e inveja de que frequentemente ele fora vítima”. John James, que tudo devia a William, ficou destroçado com a sua morte e teve uma atitude que viria a complicar a sua situação quando as circunstâncias políticas praticamente destruíram a obra da Marinha Grande: fechou à chave o escritório do irmão, proibindo qualquer pessoa de lá entrar. O resultado foi que lá ficaram documentos importantes que garantiam os benefícios concedidos à família Stephens e que só foram conhecidos vinte e três anos depois, quando da morte de John James e quando já todos eles estavam ultrapassados pelas circunstâncias políticas do país. Pouco depois morreu Jedediah. Quanto a John James, tendo acompanhado Philadelphia a Inglaterra na iminência da invasão francesa, regressou a Lisboa em 1804, recusando-se a partir mesmo quando o cônsul inglês aconselhou todos os membros da Feitoria a abandonar a capital portuguesa e quando o Regente lhe ofereceu um lugar na sua comitiva. Todavia, levara para Londres grande parte da sua fortuna, o que vol19 sums of money to their native land where they hoped for greater security. On 11 May 1802, on the eve of his 72nd birthday, William died in the Lisbon house. His will made John James his sole heir and executor, with a possibly unique clause. Re-inforcing Queen Maria I’s arrangements as to the ownership of the factory, William told his brother that, when the time came, he ‘should ask the Queen to buy the factory with all its belongings’, explaining his reasons thus: ‘As the Crown is the proprietor of the pine forests on which the factory depends, perpetuating its existence in private hands would require the continued protection of the Monarch in order to avoid the evil-doing and envy of which it has often been the target.’ John James, who owed everything to William, was devastated by his death and acted in a way which would make his position difficult when political circumstances virtually destroyed the business in Marinha Grande: he locked the door to his brother’s study, forbidding anyone to enter it. As a result, important documents guaranteeing the benefits bestowed on the Stephens family remained in the locked room and would only come to light twenty-three years later, when John James died and when all the documents had been overtaken by the country’s political circumstances. Shortly after, Jedediah died. As for John James, having travelled to England with Philadelphia when the French were poised to invade Portugal, he returned to Lisbon in 1804, refusing to leave even when the British Consul urged all Factory members to depart the Portuguese capital and the Regent offered him a place in his entourage. However, he had taken with him to London a large part of his fortune, which he again did two years later. Upon his return in 1807, he found that some of his priv- tou a fazer dois anos depois. Ao regressar em 1807, veio encontrar alguns dos seus privilégios revogados e mostrou-se incapaz de lidar com a situação. O futuro D. João VI, então Príncipe Regente, na iminência da ida para o Brasil, não chegou a ter oportunidade de atender – ou talvez mesmo de ter conhecimento – das petições que ele lhe dirigiu. Com estes problemas e a dificuldade em escoar a produção da Marinha Grande, John James, sem querer alterar de qualquer modo a situação em que William deixara a fábrica, foi acumulando caixotes nos armazéns da Marinha Grande e de Lisboa e foi pagando do seu bolso as despesas da fábrica em laboração e todos os salários. Nos tempos difíceis da invasão de Lisboa pelos franceses, chegou a estar preso durante mais de quatro meses no que fora o hospital inglês, tendo antes disso sido sequestradas a fábrica, onde trabalhavam 500 operários, e a sua casa no Largo dos Stephens, onde entretanto se tinham instalado oficiais franceses e que foi vítima do saque levado a cabo pelos franceses em retirada nas condições altamente favoráveis da infausta Convenção de Sintra. Nesta altura, a fábrica recomeçou a funcionar, mas em circunstâncias precárias de que não voltou a recompor-se, mesmo a partir de 1812, reconstruída depois da devastação provocada pela última invasão francesa. Na sua cegueira de manter tudo exactamente como o irmão deixara, John James não compreendeu a evolução dos tempos e da tecnologia provocada pela Revolução Industrial que deveria ter alterado o modo de funcionamento e a baixa de preços que provocou em toda a Europa. Em vez disso, continuou a política de pedir a manutenção das regalias que tinham promovido a fundação da fábrica, pedidos a que já ninguém dava atenção, tão complicada era a situação política. Depois da sua morte, a fábrica foi-se modernizando e melhorando a qualidade da sua produção, de tal modo que os seus cristais ileges had been revoked and proved unable to cope with the situation. The then Regent and future King João VI, on the eve of leaving for Brazil, did not get the chance of considering – or perhaps even of taking cognizance – of the petitions which John James addressed to him. Faced with these problems and finding it difficult to sell the products of the factory, John James, not wishing to change in any way the situation in which William had left the factory, allowed crates to pile up in the Marinha Grande and Lisbon warehouses and paid for the running expenses of the factory and for all of the wages out of his own pocket. During the difficult times of the French invasion of Lisbon, he was even held prisoner for over four months in what had been the British hospital. Before this, the factory, employing 500 workers, and his house in Stephens’ Square had been confiscated. The house was now occupied by French officers and was targetted by the looting carried out by the French who retreated under the highly favourable conditions of the disastrous Convention of Sintra. At this time, the factory was re-started, but in precarious conditions from which it was not to recover, not even after 1812, when it was re-built following the devastation caused by the last French invasion. Blindly trying to keep everything exactly as his brother had left it, John James did not understand how times and technology had evolved in the wake of the Industrial Revolution which should have changed the production methods and the lowering of prices which it brought to the whole of Europe. Instead, he kept up the policy of petitioning to retain the privileges which had promoted the foundation of the factory, his petitioning going unheeded, such was the turmoil in the political arena. After John James’s death, the factory began to modernise and improve the quality of its prod- 20 receberam uma menção honrosa na Grande Exposição Industrial de Londres, em 1851. Solitário na sua grande casa, pois toda a família, incluindo Philadelphia, tinha regressado definitivamente a Inglaterra, John James viveu os últimos anos da sua vida de um modo que um dos primos Lyne que o visitou descreveu como muito estranho. Todos os dias abria a sua casa para o jantar a todos os que o quisessem acompanhar. Proporcionava também a leitura de jornais e pouco dizia, ouvindo mais do que falando. No seu testamento dispôs que este hábito se mantivesse durante um ano. Morreu no dia 12 de Novembro de 1826, tendo testemunhado ainda os primeiros tempos das lutas liberais em Portugal. Deixou todas as suas propriedades à nação portuguesa, esperando que o Governo nomeasse um administrador que soubesse orientar a sua indústria “para o bem do país em geral e para sempre”. ucts, so much so that its glass received an honourable cita- nota note 1 1 ROBERTS, Jennifer - Glass. The Strange History of the Lyne Stephens Fortune. Chippenham: Templeton Press, 2003. tion in the 1851 Great Exhibition in London. Alone in his great house, since his entire family, including Philadelphia, had returned to England for good, John James lived out his last years in a manner described as very strange by one of the Lyne cousins. Every day he opened up his house to all those who wished to dine with him. He also provided newpapers for guests to read and said little, listening more than he spoke. His will specified that this custom be followed for a period of a year. He died on 12 November 1826, having lived long enough to witness the first years of the Liberal struggle in Portugal. He left all his properties to the Portuguese nation, expressing the hope that the Government would appoint a manager capable of leading his industry ‘for the good of the country in general and for ever.’ ROBERTS, Jennifer - Glass. The Strange History of the Lyne Stephens Fortune. Chippenham: Templeton Press, 2003. bibliografia bibliography ARAÚJO, Agostinho - A “Assembleia Britânica” em Lisboa e a sua Sede (1771-1819) Lisboa - Revista Municipal. Lisboa: [s.n.], 1987, n.º 21, 2.º trimestre, p. 29-44. DUARTE, Acácio de Calazans - A Indústria Vidreira na Marinha Grande, Marinha Grande, Nacional Fábrica de Vidros, 1942. DUARTE, Acácio de Calazans - Os Stephens na Indústria Vidreira Nacional, Figueira da Foz, Tipografia Popular, 1937. GÂNDARA, Alfredo - O Irlandês João Beare Introdutor da Indústria do Vidro na Marinha Grande. Portugal d’Aquém e d’Além Mar. Lisboa: [s.n.], 1977, p. 162. ROBERTS, Jennifer - Glass. The Strange History of the Lyne Stephens Fortune. Chippenham: Templeton Press, 2003. THORNTON, Grace - The Stephens Brothers and Marinha Grande. British-Portuguese Chamber of Commerce Monthly Magazine. S.l.: s.n., 1969, vol. II, p. 6. ARAÚJO, Agostinho - A “Assembleia Britânica” em Lisboa e a sua Sede (1771-1819) 21 Lisboa - Revista Municipal. Lisbon: [s.n.], 1987, no. 21, 2nd quarter, p. 29-44. DUARTE, Acácio de Calazans - A Indústria Vidreira na Marinha Grande, Marinha Grande, Nacional Fábrica de Vidros, 1942. DUARTE, Acácio de Calazans - Os Stephens na Indústria Vidreira Nacional, Figueira da Foz, Tipografia Popular, 1937. GÂNDARA, Alfredo - O Irlandês João Beare Introdutor da Indústria do Vidro na Marinha Grande. Portugal d’Aquém e d’Além Mar. Lisbon: [s.n.], 1977, p. 162. ROBERTS, Jennifer - Glass. The Strange History of the Lyne Stephens Fortune. Chippenham: Templeton Press, 2003. THORNTON, Grace - The Stephens Brothers and Marinha Grande. British-Portuguese Chamber of Commerce Monthly Magazine. S.l.: s.n., 1969, vol. II, p. 6. Phelps – Percursos de uma família britânica na Madeira de Oitocentos The Phelps – paths of a British family in 19th century Madeira Cláudia Ferreira Faria CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 22-37, ISSN 1646-7116 No que diz respeito à História da Madeira durante a época oitocentista e, em particular, às famílias britânicas que então se fixaram no espaço insular, ainda está muito por fazer. Além da obra de Rui Carita1, dos estudos de António Marques Ribeiro da Silva e de Paulo Rodrigues2 e de alguns artigos publicados, de quando em vez, nas revistas culturais regionais, pouco mais existe. De facto, basta um olhar mais atento para a bibliografia disponível para nos apercebermos de que, para além de títulos de carácter generalista sobre a História da Madeira em que a presença britânica é mencionada, pouco se tem escrito sobre os residentes originários de além-Mancha, muitos deles homens de negócios pertencentes a famílias ricas e poderosas. De um modo geral, quase todos os ilhéus sabem que os ingleses foram (e são) importantes. A propósito desta influência na vida insular, recordamo-nos dos passeios pela cidade que fazíamos na companhia da nossa avó, para quem qualquer transeunte de cabelo louro, pele clara e bem vestido era, pura e simplesmente, um inglês (independentemente da sua real nacionalidade). Mas debrucemo-nos sobre o tema que nos traz hoje aqui. Quem foram estes britânicos? Por que razão se estabeleceram na Madeira? O que fizeram enquanto ali ficaram? Sabemos que a investigação é quase sempre um terreno fértil em interrogações para as quais nem sempre se encontram respostas. Também relativamente à matéria que nos ocupa estão muitas respostas por dar e muitos caminhos por desbravar, pelo que o desafio fica lançado. No que diz respeito à conjuntura que enquadra a ida de muitas destas famílias para a Madeira, sabe-se que os tratados e as alianças firmados entre a monarquia inglesa e a portuguesa foram facilitadores de uma intensificação de contactos. Durante o século XIX em particular, o incremento do espírito científico, 23 With regard to the History of Madeira during the 19th Century and, in particular, the British families who came to this insular area, there is still a lot of work to be done. Besides the work by Rui Carita1, two studies by António Marques Ribeiro da Silva and Paulo Rodrigues2 and occasional published articles in regional cultural magazines, little more exists. In fact, an attentive glance at the available bibliography shows that besides the general titles concerning the History of Madeira, where the British presence is mentioned, little has been written about these residents who came from the other side of the Channel, many of them businessmen belonging to rich and powerful families. In a general manner, almost all the islanders know that the English were (and are) important. Regarding this influence on our insular life, I would recall the walks through the city I made in the company of my grandmother, for whom any blonde passer-by, who had clear skin and was well-dressed, was, pure and simply, an English person (irrespective of their actual nationality). But let me turn to the matter at hand today. Who were these British individuals? Why did they come and settle in Madeira? What did they do while they stayed here? We know that research is a very fertile ground for questions which do not always find answers. There are also many answers to be given and many paths to be cleared related to the matter concerning us here, and so my challenging has been established. As far as the context involving the departure of many of these families to Madeira, it is known that the treaties and alliances signed between the British and Portuguese monarchies facilitated increased contacts. During the 19th Century in particular, the increase in scientific por um lado, e o gosto pelo exótico, pelo desconhecido, pela aventura, por outro, foram efectivamente factores determinantes para a ida de estrangeiros e, em especial, de britânicos para a ilha da Madeira, sendo disso testemunho os numerosos estudos publicados na época relacionados com a fauna, a flora, a geologia e o clima. Também este é um campo ainda muito pouco estudado e cuja documentação é extensa e acessível, pelo que, novamente, se lança um desafio a possíveis futuros trabalhos. Não nos podemos esquecer de que as duas ocupações inglesas, ocorridas no contexto das guerras napoleónicas, a primeira em 1801 e a segunda em 1807, justificam, igualmente, a presença de um elevado número de cidadãos britânicos. O facto de a esquadra britânica se apoiar nos portos portugueses e, com regularidade, no porto do Funchal, explica, por si só, por que razão cerca de 3/5 do movimento do porto funchalense era inglês. Neste quadro, importa ainda referir que um grande número de viajantes ingleses, conhecidos como invalids, uma vez que iam para a Madeira por prescrição médica, com o objectivo de se curarem de doenças pulmonares, e que, segundo alguns autores, inauguraram o que hoje chamamos turismo terapêutico, se não mesmo o turismo madeirense, no seu sentido mais lato, contribuíram igualmente para o elevado número de ingleses fixados no Funchal. Mas, e a família Phelps? Por que motivo rumou à Madeira? Seriam cientistas? Militares? Doentes? Não. Esta família, assim como algumas outras, inclui-se num leque de imigrantes cujo objectivo primordial era fazer dinheiro. Foram muitos, na verdade, os businessmen3 que se estabeleceram na praça funchalense e que se dedicaram ao comércio do vinho da Madeira. É este néctar dos deuses o factor mais importante, no nosso entender, para a fixação de cidadãos britânicos na cidade, sobretudo das famílias cuja permanência foi mais prolongada e, consequentemente, mais marcante. spirit, on the one hand, and a taste for the exotic, the unknown, adventure, on the other, were in fact determining factors for the departure of foreigners and, in particular, the British to the island of Madeira, testimony to which is the numerous studies published at the time relating to flora, fauna, geology and the climate. This is also a field which has hardly been studied and documentation for which is both extensive and accessible, such that, once more, I would issue this as a challenge for possible future work. We cannot forget that the two British occupations, which occurred within the context of the Napoleonic wars, the first in 1801 and the second in 1807, also gave rise to the presence of a large number of British citizens. The fact that the British fleet harboured itself in Portuguese ports and, regularly, in the port of Funchal, is sufficient explanation for why around 3/5 of the movement of goods in the port of Funchal was British. Within this context, it is important to mention the large number of travelling British, known as invalids, who came to Madeira for prescribed medical reasons, with the aim of curing themselves of pulmonary diseases and which, according to some authors, gave rise to what we would nowadays call therapeutic tourism, if not tourism to Madeira as a whole, in the broader sense of the term. This also contributed to the large number of British individuals residing in Funchal. But what about the Phelps family? What made them set course for Madeira? Were they scientists? Soldiers? Patients? No. This family, as well as certain others, was part of a group of immigrants whose primary aim was making money. There were indeed many businessmen3 who set themselves up in the market at Funchal and dedicated themselves to trade in Madeira wine. In my opinion, 24 it is this nectar of the Gods which was the most important reason for the settling of these British citizens in the city, above all the families which stayed the longest and, as a result, who made the greatest impact. The first members of the family, William Phelps4 and Elisabeth Peyton, arrived at the port of Funchal, travelling from Dursley5, in the year of 1784. They went to live in Carmo (a road and house which still exist in the city of Funchal) and there set up an office and residence. The family grew considerably, with the birth of seven children6. The first reference to the commercial business of the family occurred in 1786, two years after William’s arrival. It is known that the firm changed its name throughout its history. However, the family name was always present in the firm’s designation, and was best known as Phelps Page & Co. The study carried out by Noel Cossart7 on the companies set up in Funchal, in the period 1772 to 1880, ena4 Os primeiros membros da família, William Phelps e Elisabeth Peyton, chegaram ao porto do Funchal, vindos de Dursley5, no ano de 1784. Instalaram-se no Carmo (rua ainda existente na cidade do Funchal, assim como a casa) e ali edificaram residência e escritório. A família foi crescendo intensamente, já que se podem contar sete filhos6. A primeira referência à casa comercial da família surge em 1786, dois anos após a chegada de William. Sabe-se que ao longo dos tempos a firma foi mudando de nome. Todavia, manteve sempre na designação o nome da família, sendo a mais conhecida Phelps Page & Co. O estudo realizado por Noel Cossart7 acerca das firmas estabelecidas no Funchal, e que abarca os anos de 1772 e 1880, permite verificar que o nome da família Phelps é sempre referenciado. Um outro estudo, da autoria de Graham Blandy8, igualmente sobre as firmas britâ25 bles us to confirm that the Phelps family name was always part of the company’s name. Another study, this time by Graham Blandy8, on the British firms with their main office in the city of Funchal between 1803 and 1811, confirms the presence of that family business. While William Phelps, the oldest son, took care of business in London, Joseph Phelps, the Benjamin of the family, took on the responsibility of managing the company in Funchal. Joseph and his family was in fact the subject of my Master’s dissertation, which the Commission celebrating the 500th anniversary of Funchal (Comissão Funchal 500 Anos) became interested in and, in particular, Professor Virgílio Pereira, to whom is effectively due the publication of the book which forms part of the collection marking that anniversary9. nicas sediadas na cidade do Funchal, entre os anos de 1803 a 1811, confirma a presença daquela empresa familiar. Enquanto William Phelps, o filho mais velho, tomava conta dos negócios em Londres, coube a Joseph Phelps, o benjamim, a responsabilidade de liderar a empresa no Funchal. Joseph e a sua família foram o tema da nossa dissertação de Mestrado, que mereceu a atenção da Comissão Funchal 500 Anos e, em particular, do professor Virgílio Pereira, a quem devemos, efectivamente, a publicação do livro que faz parte da colecção que assinala aquele quinto centenário9. Seguindo a tradição britânica, os filhos de William Phelps e Elizabeth Peyton, depois de concluído o estudo das primeiras letras, seguiram para Inglaterra onde, em colégios internos, completaram a sua formação. Joseph Phelps foi enviado para Winchester e terá sido numa dessas estadas que conheceu Elisabeth Dickinson10, que, em 1819, se tornou sua mulher. Os recém-casados11 rumaram ainda nesse mesmo ano à ilha da Madeira, onde Joseph iria liderar a firma herdada de seu pai. Constituíram uma enorme família de 11 filhos12 e Elisabeth tomou a seu cargo a exigente função de cuidar das crianças e da casa, e não só, como mais adiante veremos. A Phelps Page & Co., além de exportar vinho da Madeira, tinha uma loja onde transaccionava uma enorme variedade de artigos, tais como loiça, mobília, fazendas, géneros alimentares e tabaco, entre muitos outros. O estudo elaborado por João José Abreu de Sousa13 sobre o movimento do porto do Funchal permite confimar que, nos anos de 1727 a 1810, e no que diz respeito às firmas consignatárias, surge em primeiro lugar a firma de Joseph e William Phelps. Adianta ainda que, do total de 83 navios, 42 eram provenientes de Inglaterra e da Irlanda, 35 dos Estados Unidos e os restantes de outros lugares. O prestígio da empresa desta família é facilmente reconhecido, não só através do volume de negócios da mesma, Following British tradition, the children of William Phelps and Elizabeth Peyton, after finishing their basic literary studies, went to boarding schools in England to finish their studies. Joseph Phelps was sent to Winchester and it would have been during one of these stays that he met Elisabeth Dickinson10, who would become his wife in 1819. The newly-weds11 set course in the same year for the island of Madeira, where Joseph would manage the firm inherited from his father. They had an enormous family of 11 children12 and Elisabeth carried out her demanding role of taking care of the children and the house, and not only as we shall see below. Phelps Page & Co., besides exporting Madeira wine, had a shop which sold an enormous variety of articles, such as dishes, furniture, clothes, food products and tobacco, amongst other items. The study carried out by João José Abreu de Sousa13 on the movement in the port of Funchal confirmed that in the years from 1727 to 1810, the leading consignee firm was that of Joseph and William Phelps. Furthermore, out of a total of 83 ships, 42 came from England and Ireland, 35 from the United States of America and the rest from other places. It is easy to verify the prestige of the company, not only through its volume of business, but also through the fact of it having received permission to create a monetary fund with which its clients, during periods in which there was a lack of funds, could continue with their transactions. Few firms were awarded such a privilege. From time to time it was possible to verify the cultural and social, as well as the financial and patrimonial importance that the Phelps family had attained on the island. The firm was often asked to make financial loans. The members of the family were also asked to serve as wit- 26 mas também pelo facto de ter tido permissão para criar uma ficha monetária com a qual os clientes, durante os períodos de escassez monetária, podiam continuar com as suas transacções. Foram poucas as firmas que tiveram tal privilégio. Ao longo dos tempos, é possível verificar a importância cultural e social, assim como financeira e patrimonial, que os Phelps alcançaram no meio insular. A firma era frequentemente solicitada para realizar empréstimos monetários. Os membros da família eram igualmente solicitados para servirem de testemunhas e de procuradores no mais variado tipo de transacções e Joseph Phelps, em particular, era sempre chamado a fazer parte das decisões e pareceres do corpo de comércio funchalense. Aliás, Mr. Phelps foi nomeado tesoureiro da primeira Associação Comercial do Funchal14, função que manteve durante largos anos. Ao longo do nosso estudo, foi-se tornando notório o carácter empreendedor de Joseph, que além de se dedicar à casa comercial propriamente dita, cujo volume de negócios exigia muito trabalho, foi membro fundador da Associação Comercial do Funchal (1835), da Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes15 (1822), do Asilo de Mendicidade do Funchal16 (1847), da Sociedade Agrícola do Distrito do Funchal17 (1854), do Hospício Princesa D. Maria Amélia18 (1854), e foi ainda, durante os anos de 1843 a 1846, agente da Penisular & Oriental Steam Navigation Company19. No entanto, e além de todas estas actividades, aquela que mais marcou a acção de Joseph Phelps e de sua mulher, Elisabeth, foi, sem dúvida, a criação da Escola Lancasteriana. Trata-se de um projecto ao qual o casal Phelps se dedicou com muito afinco e cujo primordial objectivo foi suprir as lacunas existentes quanto à educação dos mais desfavorecidos. Enquanto Joseph se encarregou da edificação da escola para rapazes, Elisabeth ficou com a responsabilidade da criação da 27 nesses and attorneys-in-fact for the most varied type of transactions and Joseph Phelps, in particular, was always called upon to take part in the decisions and expressions of opinion given by the Funchal business community. In fact, Mr. Phelps was nominated the treasurer of the first Funchal Chamber of Commerce (Associação Comercial do Funchal)14, a function he carried out for many years. The entrepreneurial character of Joseph became ever more evident as this study progressed, since, in addition to his business work as such, the volume of which required great effort, he was also a founding member of the Funchal Chamber of Commerce (Associação Comercial do Funchal) (1835), the Funchal Society for Friends of the Arts and Sciences (Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências e das Artes)15 (1822), the Institution for the Poor of Funchal (Asilo de Mendicidade do Funchal)16 (1847), the Agricultural Society of the District of Funchal (Sociedade Agrícola do Distrito do Funchal)17 (1854), the Princess Maria Amélia Hospice (Hospício Princesa D. Maria Amélia)18 (1854), and also, from 1843 to 1846, the representative of the Peninsular & Oriental Steam Navigation Company19. However, besides all these activities, the one which most marked the work of Joseph Phelps and his wife, Elisabeth was, without doubt, the setting up of the Lancastrian School (Escola Lancasteriana). This is a project to which the Phelps dedicated themselves with great tenacity and the first aim of which was to combat the existing gaps in the education of the underprivileged. While Joseph undertook the building of the boys’ school, Elisabeth was given the task of setting up the girls’ school. After having drawn up statutes for each of the schools20 and nominated their committees and managing boards, both started operating, surviving on fees and donations escola para raparigas. Depois de estabelecidos os estatutos para cada uma das escolas20 e de nomeadas as comissões e direcções, ambas entraram em funcionamento, sobrevivendo à custa de subscrições e donativos e do subsídio que recebiam da British and Foreign School Society. Sabe-se que o próprio Joseph Phelps andou de porta em porta pelas residências dos seus compatriotas e dos residentes mais importantes do Funchal recolhendo donativos para a fundação das ditas escolas. A família de ambos, residente em Londres, contribuiu também monetariamente para este projecto, assim como todos aqueles que o casal Phelps convidava a visitar os estabelecimentos e a deixar o seu contributo. A escola liderada por Mrs. Phelps foi a que durou mais tempo e, na verdade, aquando do regresso da família a Londres, ainda se encontrava em funcionamento, tendo ficado entregue ao bispo do Funchal e a outras individualidades que, desde sempre, colaboraram neste louvável projecto. Toda a imprensa da época deu destaque à abertura deste estabelecimento de ensino, elogiando em simultâneo o acto filantropo da família Phelps. Esta terá sido, efectivamente, a acção com maior projecção dos Phelps, e todas as referências que encontrámos acerca desta família inclusas nos guias de viagens, bem como na restante bibliografia publicada sobre a Madeira oitocentista, mencionam, embora de forma sucinta, a edificação da Escola Lancasteriana21. Mas este não foi o único gesto filantropo dos Phelps. Pelo contrário. Os periódicos da época estão repletos de artigos e notícias que espelham bem esta sua faceta. Durante toda a estada na Madeira, a família acudiu a situações de maior aflição ocorridas na ilha ou fora dela, nomeadamente inundações, incêndios, aluviões e todo o tipo de catástrofe natural. Os Phelps contribuíam regularmente para a Santa Casa da Misericórdia, para o Asilo e para a Escola de Primeira Infân- and the subsidy which they received from the British Foreign School Society. It is known that Joseph Phelps himself went from door to door of the residences of his compatriots and the most important residents of Funchal to collect donations for the setting up of these schools. The family of both, resident in London, also made financial contributions to this project, as well as all of those who had been invited by the Phelps couple to visit the sites and leave their contribution. The school run by Mrs. Phelps was the one which lasted longer and, in fact, when the family returned to London, it was still functioning, and was left in the hands of the Bishop of Funchal and other individuals who had always played their part in helping this admirable project. All the press of the time highlighted the opening of this educational establishment, and the philanthropic act of the Phelps family. This was in fact, the most widely projected activity carried out by the Phelps family, and any references found to this family, whether in travel guides, or other publications on 19th Century Madeira, mention, albeit in a succinct manner, the Lancastrian School21. However, it was not the only philanthropic gesture made by the Phelps. On the contrary. The periodicals of the time are full of articles and news items which show this facet of them well. Throughout the period of their stay in Madeira, the family helped in situations of major affliction which occurred on the island or out of it, such as floods, fires, landslides, or any other type of natural disaster. The Phelps contributed regularly to the main Portuguese charity, the Santa Casa da Misericórdia, and to the Asylum and to the Primary School. They also gave financial support to the building and upkeep of bridges, roads, fountains, streams and even sent from London “a piece for 28 cia. Deram igualmente ajuda monetária para a construção e manutenção de pontes, estradas, fontes, ribeiras, e até mandaram vir de Londres “uma peça de pavilhas do sacrário com suas franjas e galão de ouro, como também 72 libras de ouro para dourar a nova capela do Senhor”, para a Igreja de Nossa Senhora do Monte22. Joseph Phelps fez ainda parte da comissão criada em 1856 para acudir à epidemia de cólera. Como curiosidade, refira-se que o filho, Charles Phelps, foi igualmente membro de uma comissão idêntica que havia sido criada em Londres para ajudar a combater este flagelo. No seu dia-a-dia o casal Phelps era solicitado com bastante frequência, quer por familiares, amigos ou simplesmente the sacristy with fringes and golden braid, as well as 72 pounds of gold to gilt the new chapel of the Lord”, for the Church of Our Lady of the Monte22. Joseph Phelps also formed part of the committee set up in 1856 to help during the cholera epidemic. As a note of curiosity, it should be mentioned that his son, Charles Phelps, was also a member of an identical commission which had been set up in London to help fight this scourge. In their day-to-day life the Phelps couple were frequently in demand, whether from family members, friends or compatriots, and also the people of Madeira, to offer support, or provide a word of comfort or advice. During my research I encountered many examples of this. If, on the one hand, Joseph Phelps was in demand for matters related to business and problems thereof, Elisabeth Phelps, on the other hand, played a key role within the English community resident in Funchal, and as such her opinion and advice was always listened to and held in high esteem. In this way, Elisabeth not only received people in her house every day, who came to ask for her help, but also visited all those who needed her. At the same time, the Phelps and, more specifically, William and Joseph Phelps, were also lining the safes of the firm in their capacity as businessmen as well as their family and personal fortunes. I was able to analyse in a detailed manner around 150 documents relating to contracts of sale, purchase and letting of buildings and properties. The scale of the volume of business and also the financial capacity of the firm could be seen by the fact that at a certain moment the firm held around 14 warehouses, shops, granaries, a wine hothouse, making around 146 barrels simultaneously, all located within the city of Funchal. 29 compatriotas, e até mesmo madeirenses, para prestar apoio, dar uma palavra de conforto ou aconselhar. São vários os exemplos que registámos ao longo da nossa investigação. Se, por um lado, Joseph Phelps era solicitado para casos relacionados com negócios e problemas afins, Elisabeth Phelps, por outro, detinha um papel preponderante no seio da comunidade inglesa residente no Funchal, pelo que a sua opinião e o seu conselho eram tidos em consideração e grande estima. Nesse sentido, Elisabeth não só recebia em sua casa, diariamente, pessoas que lhe vinham pedir auxílio, como também visitava todos os que dela precisavam. Paralelamente, os Phelps e, mais concretamente, William e Joseph Phelps, como homens de negócios que eram, foram engrossando não apenas os cofres da firma comercial como também a sua fortuna familiar e pessoal. Foi possível analisar, de forma detalhada, cerca de 150 documentos relativos a contratos de compra, venda e arrendamentos de edifícios e propriedades. O facto de a firma possuir, a dada altura, cerca de 14 armazéns, lojas, granéis e uma estufa de vinhos, onde se chegavam a colocar a cozer cerca de 146 pipas em simultâneo, todos na cidade do Funchal, evidencia, na nossa perspectiva, o volume de negócios, por um lado, e a capacidade financeira, por outro. De entre as inúmeras casas e propriedades pertencentes aos Phelps, urge destacar a Quinta do Prazer23, a residência de Verão da família, situada na freguesia do Monte24, e que se tornou emblemática, na medida em que todos os visitantes ilustres que passavam pela Madeira, assim como as figuras de renome da ilha, eram convidados a deliciar-se com uma visita a esta propriedade extensa, aprazível e cuja riqueza floral e vegetal se deve ao esforço de Elisabeth Phelps. O diário escrito por Mary Phelps, uma das filhas de Joseph e Elisabeth Phelps, permite assegurar que não só Elisabeth, mas todos os membros da família, tinham um profundo carinho e um imenso Out of the numerous houses and properties belonging to the Phelps, I would like to highlight the Quinta do Prazer23, the family’s summer residence, located in the parish of Monte24, which became an emblematic place, seeing that all the illustrious visitors who came to Madeira, as well as any figure of renown on the island, were invited to enjoy a visit to this extensive and pleasant property, whose floral and vegetable richness was due to the efforts of Elisabeth Phelps. The diary written by Mary Phelps, one of the daughters of Joseph and Elisabeth Phelps, enables us to confirm that it was not just Elisabeth, but all the members of the family who cared for and had great pride in this property. Mary even confesses that this was her favourite place and as such she frequently spent time at the Quinta, where she would spend the day in the gardens, reading, playing the piano or just taking it the peace, tranquillity and surrounding beauty. Even nowadays, the Quinta is a place of note in the insular urban space. It is now known as Quinta Berardo and has been transformed into a park and museum. As a matter of fact, it was sold for twenty contos de réis by William Phelps in 1847, and paid for in old wine. It was discovered that between the years 1801 and 1860, 147 properties were traded in, with there having been a tendency for the purchase of and leasing of property located in the city of Funchal. From 1848 there was a clear inversion in the type of transaction since the Phelps then started to sell more than they bought, an evident sign, in my opinion, that times were not so favourable and the crisis in the exportation of Madeira wine was being felt and, furthermore, that they were planning to leave shortly, which in fact is what happened. 30 orgulho nesta propriedade. Mary confessa mesmo que este é o local onde se sente melhor e, por isso, são frequentes as suas idas para a Quinta, onde passava o dia a passear pelos jardins, a ler, a tocar piano ou, simplesmente, a desfrutar do sossego, da tranquilidade e da beleza circundante. Ainda hoje, a quinta assume relevo no espaço urbano insular. Actualmente denominada Quinta Berardo, foi transformada em parque e museu. A título de curiosidade, podemos acrescentar que esta propriedade foi vendida por William Phelps, em 1847, por vinte contos de réis, pagos em vinho velho. Apurou-se que entre os anos de 1801 e 1860 foram transaccionadas cerca de 147 propriedades, sendo notória uma tendência para a aquisição e arrendamento de bens imóveis situados na cidade do Funchal. A partir de 1848, é visível uma inversão no tipo de transacção, uma vez que, dali em diante, os Phelps vendem mais do que compram, sinal evidente, no nosso entender, em primeiro lugar, de que os tempos já não eram tão favoráveis, pois a crise na exportação do vinho da Madeira já se fazia sentir, e, em segundo lugar, de que a partida se adivinhava para breve, tal como efectivamente veio a suceder. Importa ainda referir que os Phelps pagavam na totalidade o preço acordado, regra geral em dinheiro corrente na praça. Por outro lado, como forma de pagamento recebiam não apenas dinheiro mas, não raro, vinho e terra. É de salientar ainda o facto de, muitas vezes, a firma aceitar receber o pagamento em prestações, sendo também frequente ela própria efectuar parte de um pagamento antes da celebração formal do contrato, nomeadamente quando as pessoas se encontravam em situação aflitiva. Um documento datado de 1822, incluso no estudo de Paulo Rodrigues25 e no qual se podem ver as propriedades e os rendimentos dos sócios da firma comercial Phelps Page & Co., cujo valor total ascendia a 1 milhão e 840 mil cruzados 31 It is also important to note that the Phelps paid the price agreed upon in full, and normally in cash. On the other hand, as a form of payment they would often receive not only money but, not infrequently, wine and land. It is also worth noting that the firm often agreed to receive payment in instalments, with it making part of a payment before the formal signing of a contract or that is, when people found themselves in a difficult situation. A document dated 1822, and included in the study by Paulo Rodrigues25 shows the properties and income of the partners of the business firm Phelps Page & Co., and the total value of this is 1 million 840 thousand cruzados (737$400 thousand reis), which clearly shows the economic power of the Phelps. It can also be added that when the family returned to London, the Phelps decided to lease many of their properties, which they did for seven years for the offices and wine hothouse, which they let to the Krohn Brothers firm. They also passed on many of their goods to their children, Joseph and Charles, though the couple did however keep some houses and warehouses for themselves. The last information concerning the family’s goods dates from December 1877, when the press announced the holding of an auction for the sale of “furniture, crockery, glass, kitchen items, clothes and many other objects belonging to Charles Phelps”26. Before concluding, I cannot refrain from mentioning the embroidery of Madeira, which in all the literature relating to the History of Madeira is mentioned as one more activity attributed to this family and, in particular, to Bella Phelps. It has not been possible to find any document proving this, so all that remains is to mention that there are two points of view with regard to this. Some (737$400 mil reis), demonstra claramente o poderio económico dos Phelps. Podemos ainda adiantar que, aquando do regresso da família a Londres, os Phelps decidiram-se pelo arrendamento de muitos dos seus bens imóveis, sendo de destacar o que fizeram por sete anos dos escritórios e da estufa de vinho à firma Krohn Brothers. Procederam igualmente à doação de muitos dos bens aos filhos, Joseph e Charles, tendo o casal, todavia, mantido ainda algumas casas e armazéns na sua posse. A última notícia em relação aos bens da família data de Dezembro de 1877, quando a imprensa anuncia a realização de um leilão onde estarão à venda “mobília, loiça, vidros, trem de cozinha, roupas e muitos outros objectos pertencentes a Charles Phelps”26. Antes de finalizar, não podemos deixar de fazer referência ao bordado da Madeira, que surge em toda a bibliografia respeitante à História da Madeira como mais uma actividade atribuída à família aqui tratada e, em particular, a Bella Phelps. Não tendo sido possível encontrar nenhum documento com- argue that it was Bella who introduced embroidery to Madeira, teaching woman and girls to embroider and setting up a school; others argue that embroidery had always been carried out on the island and that Bella Phelps just commercialised it, by sending samples to her family and friends in London. The activity was finally handed over to the Wilkinson firm. Family documents to which I have had access enable me to confirm that the daughters of Elisabeth Phelps knew how to embroider but none of these make reference to an embroidery school set up by Bella. However, there is an undated and unsigned document within the family archive which mentions that Kitty Phelps and Lady Marion Alford, who worked in the Kensington School of Needlework, promoted the sale of embroidery sent by Bella Phelps, during the cholera epidemic27. What is more, Penelope Forrest Phelps and James Phelps, family members resident in South Africa, claim that family references to embroidery were common and, specifically, embroidery pieces, mainly baby clothes and tablecloths. Simon Phelps, a descendant of the family still residing in Madeira, also supplied us with copies of the designs for the embroidery models signed by Elisabeth Phelps and dated 1861. One of these designs is mentioned by Noel Cossart28 in the previously cited book. In the family archive deposited in Lambeth Archives in London, I found a photograph of a building located in Funchal which, on the back and written in pencil, is identified as the Embroidery School. As will have been noticed, the Phelps were a family who inscribed their name in a lasting manner in the History of the island in the 19th Century29. During the forty years in which they resided in Funchal, they were noted for their dynamic and entrepreneurial attitude, and although 32 provativo, resta-nos apenas referir que existem duas posições face a esta questão. Defendem uns que foi Bella quem introduziu o bordado na Madeira, ensinando as mulheres e raparigas a bordar e edificando uma escola; outros, advogam que desde sempre se bordara na ilha e que Bella Phelps apenas deu o seu contributo para a comercialização do produto, tendo enviado amostras para os seus familiares e amigos em Londres. A actividade acabaria por ficar entregue à firma Wilkinson. Os documentos familiares a que tivemos acesso permitem confirmar que as filhas de Elisabeth Phelps sabiam bordar, mas nenhum deles faz referência à existência de uma escola de bordados criada por Bella. Todavia, um documento sem data e sem assinatura integrado no espólio familiar refere que Kitty Phelps e Lady Marion Alford, colaboradoras da Kesington School of Neddlework, promoveram a venda de bordados enviados por Bella Phelps, num contexto ligado à epidemia de cólera27. Por outro lado, Penelope Forrest Phelps e James Phelps, familiares residentes na África do Sul, sustentam que sempre foram frequentes as referências familiares ao bordado e, em concreto, a peças de bordado, essencialmente roupa de bebé e toalhas de mesa. Simon Phelps, descendente da família ainda a residir na Madeira, facultou-nos igualmente cópias de desenhos de modelos de bordados assinados por Elisabeth Phelps e datados de 1861. Um desses desenhos surge referenciado por Noel Cossart28 no livro já citado. No espólio familiar depositado nos Lambeth Archives, em Londres, encontrámos uma fotografia de um edifício situado no Funchal que, no verso, a lápis, o identifica como Escola de Bordados. Como se tem vido a verificar, os Phelps foram uma família que inscreveu o seu nome, de forma duradoura, na história insular oitocentista29. Durante os quarenta anos em que viveram no Funchal, destacaram-se pela sua atitude dinâmica e empreendedora, e embora mantendo o seu british way of life, 33 keeping their “British way of life”, they knew how to blend their demanding and competitive commercial activity with a large number of activities of a social, cultural and humanitarian nature. The Phelps, and all the other British families who lived in the city of Funchal during the 19th Century, left lasting marks on the island: the way of dressing, daily administrative duties until 14:00, a great concern with the comfort and decoration of the home (both inside and outside, essentially with a notable adoption of English taste, especially Hepplewhite and Chippendale), gardening (transforming exotic plants into a nursery garden and holiday homes), the first lighting for the city, the first brewery of Henry Price Miles, the butter factory of John Blandy, the oxcart of Major Buckley and the Monte carriage of Russell Gordon, amongst many others. As António Ribeiro Marques da Silva has argued, let us finish by underlining that while there may have been abuses and the English may have made fortunes in Madeira, there is no doubt that they transmitted “a certain cosmopolitanism (...) indisputably contributing to the opening of mentalities ...”30. notes 1 CARITA, Rui - História da Madeira (History of Madeira). Funchal: Secre- 2 SILVA, António Ribeiro Marques da Silva - Apontamentos sobre o quotidiano taria Regional de Educação da Madeira, 1999. madeirense (1750-1900) (Notes on daily life in Madeira – 1750-1900). Lisboa: Caminho, 1994, and Passaram pela Madeira (They Came to Madeira). Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008; and RODRIGUES, Paulo Miguel - A política e as questões militares na Madeira: o período das Guerras Napoleónicas (Politics and military questions in Madeira: the period of the Napoleonic Wars). Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 1999, and A Madeira entre 1820 e 1842: Relações de poder e souberam conjugar a exigente e competitiva actividade comercial com uma grande variedade de actividades de carácter social, cultural e humanitário. Os Phelps, e todas as restantes famílias britânicas que durante o século XIX viveram na cidade do Funchal, deixaram profundas marcas na ilha: o modo de vestir, o horário de expediente até às 14h, uma maior preocupação com o conforto e decoração da casa (quer no interior, quer no exterior, essencialmente com uma visível adaptação ao gosto inglês, sobressaíndo o mobiliário Hepplewhite e Chippendalle), o arranjo do jardim, (transformado em viveiro de plantas exóticas e onde não faltava a casinha de prazer), a primeira iluminação da cidade, a primeira fábrica de cerveja de Henry Price Miles, a fábrica de manteiga de John Blandy, o carro de bois do Major Buckley e o carro do Monte de Russel Gordon, entre muitos outros. Tal como sustenta António Ribeiro Marques da Silva, terminamos sublinhando que, embora tenha havido abusos e os ingleses tenham feito fortunas na Madeira, não há dúvida de que transmitiram “um certo cosmopolitanismo (...) contribuindo indiscutivelmente para a abertura de mentalidades...”30. influência britânica (Madeira between 1820 and 1842: Power Relationships and the British Influence). Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008. 3 British families of note which went to the island of Madeira include the Cossarts, Newtons, Gordons, Rutherfords, Murdochs, Leacocks and Blandys. The latter two still have descendants living on the island. 4 The couple William and Elisabeth married on 6 December 1783, in the Church of St. Giles, Crippelgate, London, and left Gravesend on 18 January of the following year for the island of Madeira. 5 City located in the district of Stroud, county of Gloucestershire. 6 Elisabeth was born on 24 October 1784 and Mary on 1 September 1785. Both were baptised on the same day, 24 October 1785. William was born two years later and, on 12 March 1789, Abel was born, followed by Anne, on 4 June of the following year and, finally, Charles, on 29 August 1796. 7 COSSART, Noel - Madeira — The Island Vineyard. London: Christie’s Wine Publications, 1984. 8 BLANDY, Graham - The Old Factory at Madeira. Photocopied text. Funchal. 9 GOUVEIA, Cláudia Faria – Phelps. Percursos de uma Família Britânica na Madeira de Oitocentos (Phelps. Paths of a British Family in the 1900s), Madeira. Funchal: Empresa Municipal Funchal “500 Anos”, 2008. 10 Elisabeth was the daughter of Capitan Thomas Dickinson and of Francis de Brissac. The Dickinson couple had a large family of nine children , with the first-born, John, of note, having founded the paper factory John Dickinson & Co. Ltd in 1804. 11 Elisabeth and Joseph married on 17 August 1819, according to records 12 Elisabeth was born in 1820, Mary in 1822, Anne in 1824, Frances in by Margaret Peyton, kindly given by the family. 1826 and Harriet in 1828. The first male offspring, Joseph, was born the following year, and in 1831 Clara was born. Two years later Charles was born, followed by William in 1836, Arthur in 1837, and Jane Frederica in 1842. The two first and the last daughter of the Phelps couple notas 1 2 3 4 remained spinsters. Anne became Mrs. Bayman, through marriage to Robert Bayman in 1857, Frances married in 1858 to her cousin John CARITA, Rui - História da Madeira. Funchal: Secretaria Regional de Educação da Madeira, 1999. SILVA, António Ribeiro Marques da Silva - Apontamentos sobre o quotidiano madeirense (1750-1900). Lisboa: Caminho, 1994, e Passaram pela Madeira. Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008; e RODRIGUES, Paulo Miguel - A política e as questões militares na Madeira: o período das Guerras Napoleónicas. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 1999, e A Madeira entre 1820 e 1842: Relações de poder e influência britânica. Funchal: Colecção “Funchal 500 anos”, 2008. De entre as famílias britânicas que foram para a ilha da Madeira merecem destaque os Cossart, Newton, Gordon, Rutherford, Murdoch, Leacock e Blandy. Estas duas últimas ainda hoje têm descendentes a viver na ilha. O casal William e Elisabeth contraiu matrimónio em 6 de Dezembro de 1783, na Igreja de St. Giles, Crippelgate, Londres, tendo partido de Gravesand no dia 18 de Janeiro do ano seguinte, com destino à ilha da Madeira. Evans, thus becoming the stepmother of the famous archaeologist Sir Arthur Evans. Harriet got married in 1854 to the Reverend John Lake Crompton and went to live in South Africa. Clara became Mrs. Oakley, when she got married in 1860 to the Reverend John Oakley, and Charles got married for the first time to Agnes Neale in 1869, and married once again in 1908, this time to Katherine Wilkinson. William and Arthur undertook military careers. The former married Catherine Anne Glasse and the latter Caroline Anne Peyton, in 1868. 13 SOUSA, João José Abreu de - O Movimento do Porto do Funchal e a conjuntura da Madeira de 1727 a 1818 (Movement in the Port of Funchal and the conjuncture of Madeira from 1727 to 1818). Funchal: DRAC, 1994. 14 The Funchal Chamber of Commerce (A Associação Comercial do Funchal) arose following the need to set up a commercial body in the city of Fun- 34 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 35 Cidade situada no distrito de Stroud, condado de Gloucestershire. Elisabeth nasceu em 24 de Outubro de 1784 e Mary em 1 de Setembro de 1785. Ambas foram baptizadas no mesmo dia, 24 de Outubro de 1785. William nasceu dois anos mais tarde e, em 12 de Março de 1789, nasceu Abel, seguido de Anne, em 4 de Junho do ano seguinte e, por último, Charles, no dia 29 de Agosto de 1796. COSSART, Noel - Madeira — The Island Vineyard. London: Christie’s Wine Publications, 1984. BLANDY, Graham - The Old Factory at Madeira. Texto policopiado. Funchal. GOUVEIA, Cláudia Faria – Phelps. Percursos de uma Família Britânica na Madeira de Oitocentos. Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 Anos”, 2008. Elisabeth era filha do Capitão Thomas Dickinson e de Francis de Brissac. O casal Dickinson teve uma família numerosa de nove filhos, sendo de destacar o primogénito, John, que fundou em 1804 a fábrica de papel John Dickinson & Co. Ltd. Elisabeth e Joseph casaram no dia 17 de Agosto de 1819, segundo o registo de Margaret Peyton, cedido pela família. Elisabeth nasceu em 1820, Mary em 1822, Anne em 1824, Frances em 1826 e Harriet em 1828. No ano seguinte nasceu o primeiro varão da família, Joseph, e em 1831 nasceu Clara. Dois anos depois nasceu Charles, seguido de William, em 1836, Arthur, em 1837, e Jane Frederica, em 1842. As duas primeiras e a última filha do casal Phelps permaneceram solteiras. Anne tornou-se Mrs. Bayman, por casamento, em 1857, com Robert Bayman, Frances casou em 1858 com o seu primo John Evans, tornando-se assim madrasta do famoso arqueólogo Sir Arthur Evans. Harriet casou em 1854 com o reverendo John Lake Crompton e foi residir para a África do Sul. Clara tornou-se Mrs. Oakley, por casamento ocorrido em 1860 com o reverendo John Oakley, e Charles casou em primeiras núpcias com Agnes Neale no ano de 1869, tendo voltado a contrair matrimónio em 1908 com Katherine Wilkinson. William e Arthur seguiram a carreira militar. O primeiro casou com Catherine Anne Glasse e o segundo com Caroline Anne Peyton, em 1868. SOUSA, João José Abreu de - O Movimento do Porto do Funchal e a conjuntura da Madeira de 1727 a 1818. Funchal: DRAC, 1994. A Associação Comercial do Funchal surge no seguimento da necessidade de o corpo de comércio da cidade do Funchal se organizar e defender os seus direitos. Da primeira comissão nomeada faziam parte John Shortridge, como presidente, e Roque Caetano de Araújo, como vice-presidente. Os restantes elementos eram João António de Gouveia Rego, João Coelho de Meirelles, João Crisóstomo Ferreira Uzel, Joaquim Monteiro de Afonseca, José Maria Bernes, Joseph Phelps e William Grant. Esta Associação foi criada com o objectivo de promover a felicidade da Província da Madeira, cultivando as ciências e as artes. Era composta por sócios efectivos, honorários e correspondentes. Podemos adiantar que Robert Page, sócio e cunhado de Joseph Phelps, ofereceu 37 volumes de literatura à biblioteca. A criação desta instituição deveu-se à iniciativa de José Silvestre Ribeiro, Governador Civil do Funchal, e visava a recolha dos mendigos que vagueavam pela cidade. Consequentemente, e após ter sido disponibilizado um armazém para o efeito, foi nomeada uma comissão da qual faziam parte o Bispo da Diocese, D. José, e os ilustres Fidélio de Freitas Branco, Severiano Alberto Ferraz, Vicente de Brito Correa e António Machado Costa. Todavia, e devido às dificuldades que se advinhavam grandes, passados três dias o número de colaboradores aumentou com a entrada de chal to set up and defend its interests. The first nominated committee included John Shortridge, as President, and Roque Caetano de Araújo, as Vice-President. The other members were João António de Gouveia Rego, João Coelho de Meirelles, João Crisóstomo Ferreira Uzel, Joaquim Monteiro de Afonseca, José Maria Bernes, Joseph Phelps and William Grant. 15 This association was set up with the aim of promoting the happiness of the Province of Madeira, stimulating the arts and sciences. It contained full, honorary and corresponding members. To this can be added that Robert Page, member and brother-in-law of Joseph Phelps, offered 37 works of literature to its library. 16 The setting up of this association occurred through the initiative of José Silvestre Ribeiro, Civil Governor of Funchal, and sought to collect the beggars which roamed the streets. As a result of this, and after a warehouse had been made available for such purposes, a committee was nominated which included the Bishop of the Diocese, D. José, and the prominent citizens Fidélio de Freitas Branco, Severiano Alberto Ferraz, Vicente de Brito Correa and António Machado Costa. However and due to the difficulties considered as having been considerable, after three days the number of helpers increased due to the joining of Jorge da Câmara Leme and Charles Blandy. It was possible to confirm that Joseph Phelps was part of this institution from 1850 to 1860. 17 This was an institution set up in 1854, the aim of which being to discuss, clarify and promote matters relating to agronomy. The setting up of this association on the island of Madeira was justified because of its weak productivity and the lack of resources, both material and financial. 18 This institution was set up in 1862 in memory of Princess D. Maria Amélia, daughter of King D. Pedro, 1st Emperor of Brazil and King of Portugal, who went to the island of Madeira in 1852 and who died the following year, victim of tuberculosis. The princess’s mother, D. Amélia de Leuchtenberg, entrusted the running of the institution to the filhas da Caridade de S. Vicente de Paula and, upon her death, this was handed over to her sister, Queen of Sweden. The institution is still functioning nowadays and receives regular visits from the Swedish royal family. 19 This was a navigation company established in 1822 by Brodie Mcghie Wilcox and Arthur Anderson, with Captain Richard Bourne joining them in 1835. From this time onwards it started a regular service between England, Spain and Portugal. 20 On the establishment of this school, see Arquivo Histórico Ultramarino, box 21, No. 7022, Regras e Regulamentos das Senhoras do Funchal Associadas e Regulamento da Associação Funchalense para o Ensino Mútuo (Rules and Regulations of the Associated Ladies of Funchal and the Regulations of the Funchal Association for Mutual Education), and also Arquivo Histórico Ultramarino, box 21, no. 7023, Relatório dos Progressos da Escola Lancasteriana na Província da Madeira (Progress Report of the Lancastrian School in the Province of Madeira). 17 18 19 20 21 22 23 24 Jorge da Câmara Leme e Charles Blandy. Foi possível verificar que Joseph Phelps fez parte desta instituição entre 1850 e 1860. Trata-se de uma instituição criada em 1854 e que tinha como objectivo a discussão, o esclarecimento e a promoção de assuntos relacionados com agronomia. No caso da ilha da Madeira, a fraca produtividade e a falta de recursos, quer materiais quer financeiros, justificaram o estabelecimento desta associação. Esta instituição foi criada em 1862 em memória da Princesa D. Maria Amélia, filha de D. Pedro, 1.º imperador do Brasil e rei de Portugal, que foi para a ilha da Madeira em 1852 e acabou por falecer no ano seguinte, vítima de tuberculose. A mãe da princesa, D. Amélia de Leuchtenberg, confiou a direcção da instituição às filhas da Caridade de S. Vicente de Paula e, aquando da sua morte, aquela passou para as mãos da irmã Josefina, rainha da Suécia. A instituição funciona ainda nos nossos dias e os reis da Suécia visitam-na regularmente. Trata-se de uma companhia de navegação fundada em 1822 por Brodie Mcghie Wilcox e Arthur Anderson, aos quais se juntou, em 1835, o capitão Richard Bourne. A partir dessa altura iniciou-se um serviço regular entre Inglaterra, Espanha e Portugal. Sobre a criação da escola, ver Arquivo Histórico Ultramarino, Cx21, n.º 7022, Regras e Regulamentos das Senhoras do Funchal Associadas e Regulamento da Associação Funchalense para o Ensino Mútuo, e ainda Arquivo Histórico Ultramarino, Cx 21, n.º 7023, Relatório dos Progressos da Escola Lancasteriana na Província da Madeira. A dedicação de Elisabeth Phelps à escola poder ser amplamente comprovada através da leitura de uma carta que o casal publicou no dia 24 de Julho de 1860 no n.º 162 do periódico A Ordem, e na qual, além de se despedirem de todos os amigos e madeirenses em geral, Elisabeth refere que a escola de Meninas do Funchal, que funcionava há 39 anos sob a sua responsabilidade, se encontrava em boas condições, materiais e financeiras, e seria, a partir daquela data, dirigida pelo Bispo do Funchal, pela Condessa de Farrobo, por D. Maria de Araújo e por Maurício Castelbranco. RIBEIRO, João Adriano - Monte - Breve Resenha Histórica da Freguesia de Nossa Senhora do Monte. Funchal: Fundação Berardo, 1991, p.14. A obra Monte- Breve Resenha Histórica da Freguesia de Nossa Senhora do Monte, da autoria de João Adriano Ribeiro, permitiu verificar que as propriedades onde a quinta se veio a instalar estiveram nas mãos dos Jesuítas até 1770, tendo sido compradas em hasta pública por Thomas Lougham três anos depois. Mais tarde, no ano de 1779, a propriedade foi adquirida por Charles Murray, Cônsul Britânico na Madeira, a quem se deve grande parte das obras de melhoramento efectuadas. O casal Murray venderia a propriedade a Luís Vicente Carvalhal Esmeraldo por trinta contos de réis em 7 de Agosto de 1798. Por morte e falta de descendência daquele, é dividida em duas partes. A mãe, D. Isabel Maria da Câmara Leme, fica com a parte de cima da propriedade, e a viúva, D. Ana Ignácia de Freitas Correia, entretanto casada com Nuno de Freitas da Silva, fica com a parte conhecida como Quinta de Baixo. É esta fracção da propriedade que é adquirida pela casa comercial Phelps Page & Co no dia 13 de Maio de 1805, por quinze contos de réis, e que passa a denominar-se Quinta do Prazer. Esta freguesia, situada no Funchal, a cerca de 550m de altitude, ficou conhecida ao longo dos tempos, essencialmente, devido à amenidade do clima e à paisagem verdejante, em certa medida semelhantes às de Inglaterra, daí ter sido escolhida por muitos britânicos para a edificação de casas, para onde “fugiam” no pino do Verão, que tornava o calor da cidade do Funchal insuportável. 21 Elisabeth Phelps’s dedication to the school can certainly be proved through the reading of a letter which the couple published on 24 July 1860 in issue no. 162 of the periodical A Ordem, in which, besides saying goodbye to all their friends and the people of Madeira in general, Elisabeth mentioned that the Funchal Girls’ school, which had operated for 39 years under her leadership, was in good health both materially and financially, and from that point on it would be run by the Bishop of Funchal, the Countess of Farrobo, D. Maria de Araújo and by Maurício Castelbranco. 22 RIBEIRO, João Adriano – Monte - Breve Resenha Histórica da Freguesia de Nossa Senhora do Monte (Monte – A Brief Summary of the History of the Parish of Our Lady of Monte). Funchal: Fundação Berardo, 1991, p.14. 23 The work Monte - Breve Resenha Histórica da Freguesia de Nossa Senhora do Monte, (Monte – A Brief Summary of the History of the Parish of Our Lady of Monte) was written by João Adriano Ribeiro, and allows us to confirm that the property in which the quinta was located had belonged to the Jesuits until 1770, and had been bought at public auction by Thomas Lougham three years afterwards. Later on, in the year of 1779, the property was purchased by Charles Murray, British Consul in Madeira, who carried out most of the works to improve it. The Murray couple sold the plot to Luís Vicente Carvalhal Esmeraldo for thirty contos de réis on 7 August 1798. Upon his death and being heirless, it was divided into two parts. His mother, D. Isabel Maria da Câmara Leme, acquired the upper part of the property and his widow, D. Ana Ignácia de Freitas Correia, who in the meanwhile had married Nuno de Freitas da Silva, kept the part known as Quinta de Baixo. It was this part of the property that was purchased by the Phelps Page & Co. firm on 13 May 1805, for fifteen contos de réis, and which became known as the Quinta do Prazer. 24 This parish, located in Funchal, and around 550m in altitude, was known mainly for the amenity of its climate and lush greenery, similar to a certain extent to that of England and as such was chosen by many British families as a place to build their houses and where they would “flee” the height of summer where the heat in the city of Funchal became unbearable. 25 RODRIGUES, Paulo Miguel - A Madeira entre 1820 e 1842: Relações de poder e influência britânica (Madeira between 1820 and 1842: Power Relationships and the British Influence). Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008, p.709. 26 Diário do Funchal periodical, 15 December 1877, p. 3. 27 I would like to point out that the cholera epidemic broke out in 1856 and the Phelps family departed for London in 1860. 28 This writer believes that the introduction of embroidery is connected to the vine disease and mentions that “an enterprising British lady, Miss Elisabeth Phelps” started up a school. The writers Walter Michin- 36 25 26 27 28 29 30 37 RODRIGUES, Paulo Miguel - A Madeira entre 1820 e 1842: Relações de poder e influência britânica. Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos” , 2008, p.709. Periódico Diário do Funchal, 15 de Dezembro de 1877, p. 3. Gostaríamos apenas de referir que a epidemia de coléra ocorreu em 1856 e a família Phelps partiu para Londres em 1860. Este autor sustenta que a introdução do bordado está ligada à doença da vinha e refere que “an enterprising british lady, Miss Elisabeth Phelps” deu início a uma escola. Os autores Walter Michinton, Desmond Gregory, Elisabeth Nicholas, Susan Farrow, Carolyn Walker e Kathy Holman partilham a opinião de que terá sido Bella Phelps a responsável pela introdução do bordado na ilha da Madeira. O padre Fernando Augusto da Silva refere que este tipo de trabalho começou a ser feito em larga escala por volta de 1853, devido à procura que estava a ter em Londres, para onde Miss Phelps o teria levado. António Ribeiro Marques da Silva sustenta que a tradição atribui a Miss Phelps a criação e desenvolvimento do bordado, e Luiza Clode acrescenta que terá sido Bella, ao apreciar a perfeição do trabalho, quem terá fomentado a sua venda em Londres. Benedita Câmara, por seu turno, defende que a conjuntura de dificuldade económica causada pela doença da batata e a queda do preço do vinho da Madeira fomentou o envio destes trabalhos para Londres, pela filha de Joseph Phelps. Por outro lado, os autores Abel Fernandes, Emanuel Janes e Gabriel Pita afirmam que o bordado da Madeira não é uma invenção britânica, mas sim uma tradição portuguesa introduzida pelos primeiros colonos. Actualmente o nome da família Phelps faz parte da toponímia da cidade do Funchal, uma vez que existe um largo com o seu nome. O Largo do Phelps foi outrora a rua do Phelps e a sua construção deveu-se ao próprio Joseph Phelps. Uma notificação do Administrador do Concelho do Funchal, datada de 6 de Abril de 1856 e dirigida ao Governador Civil, testemunha a ocorrência. SILVA, António Ribeiro Marques da - Apontamentos sobre o quotidiano madeirense (1750-1900). Lisboa: Caminho, 1994, p. 158. ton, Desmond Gregory, Elisabeth Nicholas, Susan Farrow, Carolyn Walker and Kathy Holman share the opinion that it would have been Bella Phelps who would have been responsible for the introduction of embroidery on the island of Madeira. Father Fernando Augusto da Silva mentions that this type of work started to be carried out on a large scale in 1853, due to demand in London, where Miss Phelps would have taken it. António Ribeiro Marques da Silva argues that the tradition attributes to Miss Phelps the setting up and development of embroidery and Luiza Clode adds that it would have been Bella, upon appreciating how perfect the work was, who would have encouraged its sale in London. Benedita Câmara, furthermore, argues that the difficulties imposed by the vine disease and that caused by the potato blight and the fall in the price of Madeira wine encouraged the sending of these items to London by the daughter of Joseph Phelps. On the other hand, the writers Abel Fernandes, Emanuel Janes and Gabriel Pita state that Madeira embroidery was not a British invention, but rather a Portuguese tradition introduced by the original settlers to the island. 29 The Phelps family name is currently part of the toponymy of the city of Funchal, since there is a square (largo) with this name. The Largo do Phelps used to be the Rua do Phelps and its construction was due to Joseph Phelps himself. A note from the Administrator of Funchal Council, dated 6 April 1856 and sent to the Civil Governor, testifies to this fact. 30 SILVA, António Ribeiro Marques da - Apontamentos sobre o quotidiano madeirense (1750-1900) (Notes on daily life in Madeira – 1750-1900). Lisboa: Caminho, 1994, p. 158. Os tempos e as gerações da família Kingston em Portugal: a figura de William Henry Giles Kingston The times and generations of the Kingston family in Portugal: the figure of William Henry Giles Kingston Maria da Conceição Emiliano Castel-Branco FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 38-55, ISSN 1646-7116 A bottle of really good Port is more easily drunk than found. William Kingston, LSPP, XXXII, p.318 Desde tempos remotos que indivíduos de nacionalidade britânica, de cruzados a piratas, membros da família real, comerciantes, militares, embaixadores, turistas, membros do clero, viajantes, escritores, encontraram motivos para se deslocar ao extremo oeste da Europa. Para os que escolheram estas paragens, Portugal foi sendo, em diferentes épocas, um ponto de passagem obrigatório. Como refere Rose Macaulay, “it is a long story” (Macaulay, p. 12) e, por razões diversas, para alguns desses britânicos Portugal não se limitou a ser apenas uma etapa mais de uma curta viagem, um mero ponto de transição, mas uma segunda pátria, espaço de longas estadas e local de residência ao longo dos anos, motivados por diferentes percursos e actividades de carácter pessoal, oficial, ou mesmo profissional. Todos estes factores, em geral, e o comércio que se desenvolveu entre as duas nações, incrementado em grande medida após o Tratado de Methuen, contribuíram, em particular, para o surgimento nas principais cidades portuguesas de comunidades britânicas que, embora pequenas, eram extremamente ricas e desenvolvidas culturalmente – verdadeiras miniaturas da sociedade britânica – centradas, em cada caso, à volta da chamada Feitoria Inglesa. Individuals with British nationality, whether pirates, members of the Royal family, traders, members of the armed forces, ambassadors, tourists, members of the clergy, travellers, writers, have found reasons to come to the most westerly part of Europe. For those who chose a stay here, Portugal had been an obligatory port of call in different periods. As Rose Macaulay mentions, “it is a long story” (Macaulay, p. 12) and, for various reasons, for some of these British people Portugal was not just a staging post in a short journey, a mere point of passage, but a second home, a space for long stays and a place of residence down the years, motivated by different paths and activities of a personal, official or even professional nature. All of these factors, in general, and the trade which developed between the two nations, which greatly increased after the Treaty of Methuen, contributed, in particular, to the emergence of British communities in the main Portuguese cities which, although small, were quite culturally rich and developed – true miniatures of British society – centred, in each case, around the so-called English Factory House (Feitoria). Os Kingston em Portugal Desde meados do século XVIII que há referências em vários documentos a membros da família Kingston radicados e activos no Porto, ligados à história do vinho do Porto. Os Kingston estabeleceram-se em Portugal desde o século XVIII por razões comerciais. Mas outros motivos, político-militares, por exemplo, tinham trazido a terras lusitanas outros membros da família de William, como o Almirante Sir George Rooke ou Sir Harry Burrard durante a guerra peninsular. Uma das primeiras referências a esta família no Porto encontra-se nos registos da Feitoria Britânica na mesma cidade, 39 The Kingstons in Portugal There had been references in various documents from the middle of the 18th Century to members of the Kingston family living and active in Oporto, linked to the history of Port wine. The Kingstons had set themselves up in Portugal from the 18th Century onwards for commercial reasons. But other political and military reasons had for example brought other members of William’s family to Lusitanian shores, such as Admiral Sir George Rooke or Sir Harry Burrard during the Peninsular War. com a data de 1 de Janeiro de 1771, em que se aponta o casamento de “J. Kingston, batchelor” com “Catherine Gardner, spinster”, no Porto, na presença do Rev. William Emmanuel Page, o capelão da Feitoria Britânica de 1769 a 1776. Em 1772, o nome dos Kingston surge pela primeira vez associado a uma firma do vinho do Porto – Lambert, Kingston & Co. – a sucessora, depois de muitas alterações de nome, da firma Peter Dowker & Co., fundada em 1691, no século XVII1. Nesse mesmo registo da Feitoria é referido em 5 de Abril de 1779 um outro membro da família, Benjamin Kingston, servindo de testemunha num casamento; ele próprio veio a contrair matrimónio em S. João da Foz, como também está registado, no dia 26 de Setembro de 1787, com Margaret Brett na presença de John Bell, capelão da Feitoria de 1783 a 1805. Benjamin Kingston, o primeiro membro da família Kingston a estabelecer-se em Portugal, era irmão de John Kingston (avô de W. H. G. Kingston pelo lado paterno), e referido frequentemente como “Physician to the Factory House”. Salientando-se por uma ou outra actividade, as gerações da família Kingston estavam definitivamente ligadas à produção e exportação do vinho do Porto e várias décadas passaram até aparecer no Porto, em meados do século XIX, William Henry que tanto interesse e simpatia demonstrou por Portugal. Charles Kingston, um dos seus irmãos, foi o último membro da família Kingston a viver em Portugal, sendo durante algum tempo “Treasurer of the British Association at Oporto”; de acordo com informação de um biógrafo de William Kingston: “The Kingston family retained their interest in Portugal for a century, till the death of Mr. Charles Kingston, August 15th, 1874.” (Kingsford, p. 31). Outro dos irmãos, George Kingston (1816-1886), foi para o Canadá onde promoveu e organizou com grande sucesso um dos primeiros serviços One of the first references to this family in Oporto is to be found in the records of the British Factory House (Feitoria) in the same city, dated 1 January 1771, which notes the marriage of “J. Kingston, bachelor” to “Catherine Gardner, spinster”, in Oporto, presided over by the Rev. William Emmanuel Page, the chaplain of the British Factory House (Feitoria) from 1769 to 1776. The Kingston name appeared linked to a Port wine firm for the first time in 1772 - to Lambert, Kingston & Co. - the 18th Century successor, after many name changes, to the firm of Peter Dowker & Co., established in 16911. The same Factory House (Feitoria) entry log reports that on 5 April 1779 another member of the family, Benjamin Kingston, was a marriage witness; he himself would enter into matrimony at S. João da Foz, as duly recorded, on 26 September 1787, with Margaret Brett with John Bell presiding, the chaplain of the Factory House (Feitoria) from 1783 to 1805. Benjamin Kingston, the first member of the Kingston family to set up in Portugal, was the brother of John Kingston (grandfather of W. H. G. Kingston on the father’s side), and frequently referred to as “Physician to the Factory House”. Along with one or other activity, each generation of the Kingston family was firmly connected to the production and exportation of Port wine and a number of decades would pass until William Henry arrived in Oporto in the middle of the 19th Century and who was to show such interest and kindness regarding Portugal. Charles Kingston, one of his brothers, was the last member of the Kingston family to live in Portugal, and was for some time “Treasurer of the British Association at Oporto”; according to information contained within a biography of William Kingston: 40 “The Kingston family retained their interest in Portugal for a century, till the death of Mr. Charles Kingston, August 15th, 1874.” (Kingsford, p. 31). Another of the brothers, George Kingston (1816-1886), went to Canada, where he organised and developed with great success one of the first national scientific services, and became known as the father of Canadian meteorology. William Henry Giles Kingston William Henry Giles Kingston was born in London on 28 February 1814. He was the second child of eleven that Lucy Henry Kingston and Frances Sophia Rooke would have. He became the oldest of the eleven brothers and sisters when Emily, the eldest child, passed away. It was a family of high social standing both on the father’s and mother’s side, including Members of Parliament, producers and exporters of Port wine, doctors, admirals and generals2. Within this group there were members of the fam- nacionais científicos, ficando conhecido como o pai da meteorologia canadiana. ily resident in Portugal for a number of generations carrying out economic activity, partners in a Port wine firm and amongst these were Lucy Henry Kingston, father of William Henry Giles Kingston William Henry Giles Kingston nasceu em Londres a 28 de Fevereiro de 1814. Era o segundo filho dos onze que Lucy Henry Kingston e Frances Sophia Rooke vieram a ter. Passou a ser o mais velho dos onze irmãos porque Emily, a primeira das crianças, não sobreviveu. Era uma família de elevada posição social quer do lado paterno quer materno, constituída, entre outros, por membros do parlamento, produtores e exportadores de vinho do Porto, médico, almirantes e generais2. De todo este elenco, durante várias gerações houve membros da família residentes em Portugal, dedicados a uma actividade económica, sócios de uma firma de 41 William, and William Henry Kingston himself. This, in the opinion of J. Bratton, represented in his breeding […] the union of gentle birth, gentlemanly public service, earnest evangelical Christianity, and wealth drawn from overseas trade which constituted the ideal Englishman as envisaged by his generation when they came to educate the young (Bratton, p. 115). William Kingston spent his childhood moving between England, and his London residence (8 York Gate, Regent’s Park), school (Eagle House, Brook Green, vinhos do Porto e entre estes contam-se Lucy Henry Kingston, pai de William, e o próprio William Henry Kingston. Este, na opinião de J. Bratton, Hammersmith) and Lymington, Hampshire, near the sea where most of his family lived, and Portugal, in the family’s home in Oporto or at the summer house in S. João da Foz. S. João da Foz, which is nowadays one represented in his breeding […] the union of gentle birth, gentlemanly public service, earnest evangelical Christianity, and wealth drawn from overseas trade which constituted the ideal Englishman as envisaged by his generation when they came to educate the young (Bratton, p. 115). of the important districts of Oporto, and more widely known as Foz was, during the 19th Century an area on the western outskirts of Oporto, to where many families retired during the holidays, to make use of the beaches at the mouth of the river Douro. The English families of note which had a Summer house in S. João da Foz for A infância de William Kingston passou-se entre Inglaterra, na sua residência de Londres (8 York Gate, Regent’s Park), na escola (Eagle House, Brook Green, Hammersmith) e Lymington, Hampshire, ao pé do mar, onde vivia grande parte da família, e Portugal, na residência da família no Porto ou na casa de Verão de S. João da Foz. S. João da Foz, hoje um dos bairros importantes do Porto, mais conhecido por Foz era, em meados do século XIX, uma zona dos arredores do lado oeste do Porto, para onde muitas famílias se retiravam durante as férias, aproveitando as praias da foz do Douro. Entre as famílias inglesas que tiveram uma casa de Verão em S. João da Foz durante muitos anos destacam-se os Noble, os Kingston e os Sandeman3. Desde muito cedo o pequeno William acompanhou os pais nas viagens a Portugal, como ele próprio recorda em My Travels in Many Lands: “I crossed the Bay of Biscay four times before I was nine years old.” (Kingston, 1862, p. 31). Essas temporadas podem também verificar-se nos apontamentos feitos na Biblía de família onde, para além da data de nascimento e baptismo de William Kingston, estão também registadas algumas doenças que teve no Porto (tosse convulsa e sarampo) apenas com cinco anos de idade, ou seja, em 1819. Em 1824, Kingston deixou o Porto com dez anos, para voltar apenas em Novem- many years included the Nobles, the Kingstons and the Sandemans3. The young William accompanied his parents on trips to Portugal from a very early age, as he himself recalls in My Travels in Many Lands: “I crossed the Bay of Biscay four times before I was nine years old.” (Kingston, 1862, p. 31). These seasonal events can also be verified in notes made in the family Bible, where, besides the date of birth and baptism of William Kingston, are also recorded some of the diseases which he had in Oporto (whooping cough and measles) when he was only five years old, that is, in 1819. In 1824, Kingston left Oporto when he was ten, only to return in 1833. During this time he finished his schooling and went on some trips in England and, in order to accompany an aunt, also travelled in Europe, which was equivalent to Le Grand Tour that so many went on in the 18th Century; beside this, he tried not to miss any sea voyages with his uncles and aunts. At the age of nineteen, with his schooling complete and his personal formation marked by a taste for travel and a great attraction to the sea, William Kingston found himself faced with the tasks of choosing a 42 bro de 1833. Neste período completou a sua escolaridade e fez algumas viagens por Inglaterra e, para acompanhar uma tia, viajou também pela Europa, o que foi equivalente ao Grand Tour que tantos faziam no século XVIII; para além disso, sempre que possível, não perdia as viagens de mar com os tios. Com dezanove anos, a escolaridade completa e uma formação pessoal marcada pelo gosto da viagem e uma grande atracção pelo mar, William Kingston viu-se perante a necessidade de escolher uma orientação para a sua vida. Desde cedo demonstrou um gosto e entusiasmo muito fortes pela vida naval, uma das opções tradicionais da família Kingston. Mas um dos irmãos já se tinha antecipado e optado por essa carreira. Considerando-se demasiado crescido para fazer uma escolha vocacional desse género o seu campo de opções ficou mais delimitado. Sem sentir uma inclinação preponderante por nenhuma das restantes carreiras tradicionais dos Kingston ou dos Burrard ou dos Rooke, William Henry não se decidiu por uma vida eclesiástica, nem por um futuro académico ou jurídico. A sua vida, voluntariamente ou não, definiu-se por uma outra actividade, directamente ligada à do seu progenitor: “At length my father resolved to take me with him to Portugal” (Kingston, 1862, p.229). Em 1833, William Henry Giles Kingston embarcou para Portugal com o pai, Lucy Henry Kingston, para se dedicar, depois de longa ausência, a uma carreira comercial como sócio da firma do pai, Lambert, Kingston & Egan. Esta era, então, uma das principais companhias exportadoras de vinho do Porto como, aliás, se pode comprovar pelos levantamentos feitos pelo jornal semanal O Commercio que, ao publicar em Janeiro de 1842 uma lista das “Principaes Exportadoras de vinhos na cidade do Porto no anno de 1841”, colocou em 5.º lugar a companhia dos Kingston entre as 118 firmas principais: 43 career path for his life. From early on he had shown a strong liking and enthusiasm for naval life, one of the traditional vocations of the Kingston family. But one of his brothers had already opted for this career ahead of him. He considered himself too grown-up to make a vocational choice of that nature and so his choice of options became even more restricted. Without feeling an especial inclination for any of the other traditional careers of the Kingstons or Burrards or Rookes, William Henry also did not choose a religious life or an academic or legal future. His life, whether voluntarily or not, was defined by another activity, directly connected to his father: “At George Sandeman & Ca. T. I. Smith Knowles, Wilcock & Ca. Fonseca Monteiro & Ca. Lambert, Kingston & Egan 2467 pipas 1403 pipas 1127 pipas 1115 pipas 1073 pipas4 length my father resolved to take me with him to Portugal” (Kingston, 1862, p. 229). In 1833, William Henry Giles Kingston set sail for Portugal with his father, Lucy Henry Kingston, to dedicate himself, after a long absence, to a commercial career as a partner in his father’s firm, Lambert, Kingston & Egan. This was at that time one of William Kingston: viajante, escritor, comerciante Praticamente desconhecido na actualidade em Portugal, William Kingston, foi um viajante e prolífico escritor, muito popular no seu tempo na Inglaterra vitoriana5 pelas sua obras de literatura juvenil e romances de aventuras, mas também por romances históricos, relatos de viagem, traduções de romances do francês, artigos, publicação de lendas potuguesas e de outros artigos em periódicos, entre muitas outras actividades ligadas à emigração e ao mar. Mas antes de regressar a Inglaterra, em Portugal foi um viajante inveterado, escritor, produtor de vinho do Porto e um membro muito activo da Associação Britânica, contribuindo em diversos contextos e através da sua obra Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, publicada em 1845, para a divulgação de uma imagem positiva de Portugal no estrangeiro, em meados do século XIX. Foi uma personalidade marcante da comunidade britânica no Porto em meados do século XIX. Logo no início de Oporto Old and New, uma obra clássica sobre o comércio do vinho do Porto e a vida da comunidade britânica nessa cidade, Charles Sellers, refere alguns conterrâneos que no Porto tiveram uma presença notável, e apresenta em lugar de destaque o membro da família Kingston mencionado: the main Port wine export companies, as can be shown by the surveys made by the weekly newspaper O Commercio which published a list of the “Main wine Exporters in the city of Oporto in the year of 1841” with the Kingston company being fifth amongst the 118 main firms: George Sandeman & Ca. 2467 barrels T. I. Smith 1403 barrels Knowles, Wilcock & Ca. 1127 barrels Fonseca Monteiro & Ca. 1115 barrels Lambert, Kingston & Egan 1073 barrels4 William Kingston: traveller, writer, trader Practically unknown in Portugal nowadays, William Kingston was a traveller and prolific writer who was very popular in Victorian England5 “due to his children’s literature and adventure novels, but also for his historical novels, travel diaries, translations of French novels, articles, publication of Portuguese legends and other magazine articles, as well as many other activities linked to emigration and the sea. But before returning to England, in Portugal he was an inveterate traveller, writer, Porto wine producer and a very active member of the British Association, contributing in many varied ways and among those who have contributed in a wider sense to England’s fame abroad are: William H. G. Kingston, the novelist; Joseph James Forrester (Baron de Forrester), the through his work Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, published in 1845, which spread a positive image of Portugal abroad during the 19th Century. 44 He was one of the major figures of the British community in Oporto during the 19th Century. At the very start of Oporto Old and New, a classic work on the Port wine trade and the life of the British community in that city, Charles Sellers mentions certain residents of Oporto who had a noteworthy presence, and highlights the Kingston family, by mentioning: among those who have contributed in a wider sense to England’s fame abroad are: William H. G. Kingston, the novelist; Joseph James Forrester (Baron de Forrester), the essayist and eminent cartographer; Albert G. Sandeman, late governor of the Bank of England; Henry Rumsey, the lexicographer; John P. Gassiot, F.R.S.; General Sir William Kidston Elles, K.C.B.; Admiral Dunlop, etc. (Sellers, p. 1) William Kingston maintained an affective link to the country where he resided, where he had spent a large part of his childhood and many seasonal stays, where he carried out his business activity and where he took advantage of many opportunities to read, travel and have fun. The first tests by Kingston deal essentially with Portuguese matters. In the 1840s he started writing a number of articles about Portugal for English newspapers, which were later translated into Portuguese. It is thought that these texts had a decisive influence on Luso-British relations, contributing to the signing of the Trade and Navigation Treaty essayist and eminent cartographer; Albert G. Sandeman, late governor of the Bank of England; Henry Rumsey, the lexicographer; John P. Gassiot, F.R.S.; General Sir William Kidston Elles, K.C.B.; Admiral Dunlop, etc. (Sellers, p. 1). 45 between Portugal and Great Britain, on 3 July 18426. As a result of this, William Kingston would later be the subject of special attention by the Portuguese Queen Maria II: William Kingston tinha uma ligação afectiva pelo país onde residiu, onde passou grande parte da sua infância e múltiplas temporadas, onde exerceu a sua actividade económica e onde desfrutou de muitíssimos momentos de lazer, viagens e divertimento. Os primeiros textos de Kingston tratam essencialmente de assuntos portugueses. Começou por escrever, na década de 40, alguns artigos em jornais ingleses sobre Portugal, posteriormente traduzidos para português. Pensa-se que estes textos tiveram uma influência decisiva nas relações luso-britânicas, contribuindo para a realização do Tratado de Comércio e Navegação de 3 de Julho de 1842, entre Portugal e a Grã-Bretanha6. Posteriormente, por essa razão, William Kingston foi alvo de uma atenção especial por parte de D. Maria II: By Letters Patent (dated 1846), the Queen of Portugal made Kingston a Knight of the Military Order of Christ transmitted to him by the Duke of Palmella through the Viscount of Moncorvo, Her Majesty’s Ambassador to the Court of St. James’s. She may have been prompted to do so because she had already honoured Southey for his work on the history of Brazil by creating him a Knight of the Order of the Tower and the Sword in February, 1839 (Kingsford, p. 45). Socialising was an essential component of his life in Oporto. Just like his father before him, in 1817 William Kingston was elected a member of the British Association on 7 January 1841, as noted in the Association Minute Book and, in contrast to his fellow Britains, who tended to keep their distance with regard to the rest of the popula- By Letters Patent (dated 1846), the Queen of Portugal made Kingston a Knight of the Military Order of Christ transmitted to him by the Duke of Palmella through the Viscount of Moncorvo, Her Majesty’s Ambassador to the Court of St. James’s. She may have been prompted to do so because she had already honoured Southey for his work on the history of Brazil by creating him a Knight of the Order of the Tower and the Sword in February, 1839 (Kingsford, p. 45). tion, Kingston fraternized with the high society of Oporto and its surroundings whilst observing the other Portuguese social classes. British community activity in Oporto There had been references in various documents from the middle of the 18th Century to members of the Kingston family living and active in Oporto, linked to the history of Port wine: O convívio social era uma componente fundamental da sua vida no Porto. Tal como o pai anteriormente, em 1817, William Kingston foi eleito membro da Associação Britânica em 7 de Janeiro de 1841, como consta do Association Minute Book e, ao contrário de compatriotas seus que mantiveram uma certa distância em relação ao resto da população, Kingston conviveu com a alta sociedade do Porto e arredores e observou, simultaneamente, as restantes camadas sociais portuguesas. […] in Oporto the proper thing, and very naturally so, is to ship Wine. The following are grand names in the vinous history of Oporto: Newman, Bearsley, Dow, Hunt, Offley, Sandeman, Teage, Croft, Kingston, Warre, Dixon, Roope, Cockburn, Forrester, and others almost forgotten (Sellers, p. 1). The English community in Oporto originally came together for business reasons and, like its homonym in 46 A actividade da comunidade britânica no Porto Efectivamente desde meados do século XVIII que há referências aos membros da família Kingston radicados e activos no Porto, ligados à história do vinho do Porto: Lisbon, was originally a Factory House (Feitoria) – that is, a set of traders who joined together to organise themselves in a foreign land so as to develop and maintain their interests. However, although there were various points of contact between both (concerning the nature of commercial […] in Oporto the proper thing, and very naturally so, is to ship Wine. The following are grand names in the vinous history of Oporto: Newman, Bearsley, Dow, Hunt, Offley, Sandeman, Teage, Croft, Kingston, Warre, Dixon, Roope, Cockburn, Forrester, and others almost forgotten (Sellers, p.1). activities, for example) in daily practice, in the relations with local authorities, or the relationship shown towards the Portuguese, the 19th Century English from Oporto who were contemporaries of Kingston were very different as a group, as will be seen. The English Factory House (Feitoria) in Oporto was A comunidade inglesa no Porto, originariamente reunida à volta de interesses económicos, foi, como a sua homónima de Lisboa, inicialmente uma feitoria, ou seja, um conjunto de comerciantes que se associavam e organizavam num país estrangeiro a fim de aí desenvolver e defender os seus interesses. Mas, se alguns pontos de contacto existiu entre ambas (no que se refere a certo tipo de comércio, por exemplo), na prática do dia a dia, na relação com as autoridades locais, no tipo de atitude demonstrada para com os portugueses, os ingleses do Porto no século XIX, contemporâneos de Kingston, como grupo, eram muito diferentes, como se poderá ver. A Feitoria Inglesa do Porto era muito diferente da de Lisboa. No Porto, os comerciantes juntavam-se invariavelmente na Rua Nova que posteriormente se veio a chamar Rua Nova dos Ingleses e onde, inclusivamente, a casa da Feitoria veio a ser construída. Aí na rua se discutiam assuntos profissionais e comerciais, e assuntos mais profanos, como a ópera da noite anterior, o baile a que tinham assistido, etc. Assim o demonstram vários relatos e diversas gravuras também da época que ilustram o bairro inglês. As famílias britânicas encontravam-se cada vez mais enraízadas no Porto: conviviam entre si, deixavam os seus negócios aos filhos e terminavam as suas vidas no Porto também. 47 very different from that of Lisbon. In Oporto, the traders would normally meet in Rua Nova which would later be called Rua Nova dos Ingleses and where the Factory House (Feitoria) would later be built. There, they would discuss professional and commercial matters and more down-to-earth matters, such as the night-before’s opera, or the ball they had been to, etc. Various paintings and engravings of the time show the English quarter in this fashion. The British families became more and more rooted in Oporto: they socialised amongst themselves, left their business to their children and also ended their lives in Oporto. They were thus the pioneers of a business which has carried on until the present day. The British community in Oporto, known in a more generalised manner as the Factory House (Feitoria), then the British Club for a short period and, since 1814, the British Association7, have acquired throughout their centuries of history particular physical features and appearance, which has given them a certain specificity which sets them apart and makes them, according to Rose Macaulay, “the most robustly British colony ever to settle abroad” (Macaulay, p. 12). Foram, assim, pioneiras de um comércio que se desenvolveu até à actualidade. A comunidade britânica do Porto conhecida de uma forma generalizada como Feitoria Inglesa, depois Clube Britânico num brevíssimo período e, desde 1814, Associação Britânica7, adquiriu ao longo de séculos de história uma fisionomia e características próprias, que lhe conferem uma especificidade e um destaque particular tornando-a, segundo Rose Macaulay, “the most robustly British colony ever to settle abroad” (Macaulay, p. 12). Actualmente os interesses britânicos não se limitam, como no passado mais recente, apenas à exportação de vinho do Porto, indissociavelmente ligada a um conjunto de banqueiros e agentes exportadores. Aliás, as firmas britânicas já não possuem como anteriormente uma proporção tão grande desse comércio. Algumas das companhias mais pequenas foram-se incorporando noutras inclusivamente ou, até, absorvidas por algumas firmas vinícolas portuguesas. No entanto, o comércio do vinho do Porto foi, durante muito tempo, a principal preocupação desta comunidade, referida por vezes como “portwine community” (Cobb, p. 1) o que é, de certa forma, um atributo adequado para a comunidade inglesa do Porto, concentrada no bairro ocidental, como diria Júlio Diniz, reunida à volta da Associação Britânica (British Association), com sede na velha casa da feitoria (Factory House), construída nos finais do século XVIII. O início da actividade vinícola das mais importantes firmas britânicas de vinho do Porto recua cerca de três séculos, aos finais do século XVII, quando os primeiros comerciantes ingleses descobriram a região do Douro e se estabeleceram de uma forma organizada e com um espírito empreendedor que os levava a suportar todos os incómodos da viagem e os precários meios de transporte. O período de exportação de vinhos do Minho foi relativamente curto pois a partir deste ano, ou Currently British interests are not limited, as in the more recent past, just to the exportation of Port wine, but they are intricately linked to a group of bankers and export agents. However, British firms do not have as much of their business involved in these activities as they did in the past. Some of the smaller companies have been incorporated into others or even been absorbed into Portuguese wine companies. Be that as may, Port wine production has for a long time been the main concern of this community, often referred to as the “port wine community” (Cobb, p. 1), which is certainly a suitable description for the Oporto English community, concentrated in the western quarter, as Júlio Diniz stated, and meeting around the British Association, with their headquarters in the old Factory House (Feitoria), which was built at the end of the 18th Century. The involvement of one of the most important Port wine producers goes back to around three centuries, at the end of the 17th Century, when the first English traders discovered the Douro region and settled in an organised manner with an entrepreneurial spirit which enabled them to put up with the difficulties of travelling and the precarious means of transport. The period in which wines from the Minho were exported lasted a relatively short time since from this year, or even before, some of the exporters had turned their attention to the wine growing region of the Douro, sending everything they could from Oporto to England. However, as Charles Sellers mentions, in the first half of the 18th Century “there were not more than half a dozen English families left in the place” (Sellers, p. 24). The trading carried out by the English gradually shifted towards Oporto, where more and more firms 48 mesmo antes, alguns exportadores tinham virado toda a sua atenção para o país vinhateiro do Douro enviando tudo o que podiam do Porto para Inglaterra. No entanto, como refere Charles Sellers, na primeira metade do século XVIII, “there were not more than half a dozen English families left in the place” (Sellers, p. 24). O comércio inglês deslocou-se pouco a pouco para o Porto, onde foram surgindo, em número cada vez maior, firmas exclusivamente dedicadas à exportação de vinhos do Norte de Portugal. O século XVIII foi determinante na evolução do comércio do vinho do Porto e o Red Portugal foi substituído em termos de cultura e de exportação pelo vinho do Porto, propriamente dito, desde então muito apreciado e requisitado pelos britânicos e considerado não um luxo mas uma necessidade. É importante notar que a cidade do Porto possui, ainda hoje, edifícios imponentes de arquitectos ingleses, graças à ligação entre Portugal e a Grã-Bretanha mantida e criada pelo comércio do vinho do Porto. Assim, se se pode falar a propósito dos britânicos de uma “comunidade do vinho do Porto”; a partir de finais do século XVIII também se pode pensar numa “arquitectura do vinho do Porto”, aproveitando a expressão de René Taylor (Taylor, p. 391) ligada à mesma comunidade; e, no século XIX, como veremos, de uma “cultura do vinho do Porto”, em que um dos principais protagonistas é William Henry Giles Kingston. Este, então sócio da firma Lambert & Kingston, era um conhecedor das técnicas de viticultura. Em três capítulos de Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, de certa forma independentes do resto da obra, uma vez que estabelecem uma pausa na narra49 were set up exclusively dedicated to exporting wines from the north of Portugal. The 18th Century was important in the development of the Port wine trade and Red Portugal, was substituted culturally from then on by Port wine exports, in its own right, and was much appreciated and in demand by the British and came to be considered not a luxury but a necessity. It is important to note that the city of Oporto still today has some imposing examples of British architecture, thanks to the link between Portugal and Great Britain which was established and maintained by trade in Port wine. Thus, if one can talk about the British as a “Port wine community”, at the end of the 18th Century one could also think of a “Port wine architecture”, to use René Taylor’s expression (Taylor, p. 391) linked to the same community, and, in the 19th Century, as we shall see, to a “Port wine culture”; in which one of the main protagonists was William Henry Giles Kingston. He was then a partner in the firm of Lambert & Kingston, and knowledgeable in viticultural techniques. Throughout three chapters of Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, which are to a certain extent separate from the rest of the narrative, since they create a pause in the travel narratives (Kingston, 1845, Vol. II, sketches XXX, XXXI, XXXII), the author describes the introduction of Port wine in England, the evolution of the wine trade in the north of Portugal, the settling of the British in the region, different techniques in Port wine production and the various different types. He also describes the harvests in September, the wine lodges in Vila Nova de Gaia and the role of the Oporto Wines Company (Companhia dos Vinhos do Oporto). The British community in Oporto lived through a golden time, with some quite controversial periods, as ção das viagens (Kingston, 1845, vol. II, sketches XXX, XXXI, XXXII), o autor descreve a introdução do vinho do Porto em Inglaterra, a evolução do comércio dos vinhos do Norte de Portugal, o estabelecimento dos ingleses nessa região, as diferentes técnicas na produção de vinho do Porto, as várias qualidades existentes. Descreve ainda as vindimas em Setembro, os armazéns de vinho em Vila Nova de Gaia e o papel da Companhia dos Vinhos do Porto. A comunidade britânica no Porto que durante tanto tempo orientara, dirigira, fixara os preços do vinho e regulamentara a sua produção (Ferreira, p. 49), vivia uma época dourada, com alguns pequenos intervalos mais ou menos controversos, destacando-se duas personalidades ligadas ao comércio do vinho do Porto que se tornaram notáveis pela sua actividade nessa área e no campo cultural: referimo-nos a Joseph James Forrester e William Kingston. Em meados do século XIX no Porto vivia-se, segundo alguns autores, “the golden age of vintage” (Bradford, p. 86). Muitos dos ingleses tinham nascido ou, pelo menos, passado a sua infância no Porto e, em alguns casos falavam um fluente ou razoável português. Foi uma época de grande actividade social: a alta sociedade portuense frequentava os bailes da Factory House e membros da comunidade britânica eram convidados para as festas da Assembleia Portuense, um tipo de convívio diferente daquele que John Milford, no princípio do século tivera a oportunidade de presenciar. O Porto era, nesta altura, o centro do comércio do vinho e uma cidade em expansão, ocupando nessa actividade, segundo António José Saraiva, “um exército de pessoal, desde o grande exportador ao rapaz dos recados, passando pelo indispensável guarda-livros. O seu coração comercial era a Rua dos Ingleses, concorrida por exportadores,banqueiros, accionistas,simples capitalistas, caixeiros de toda a espécie” (Saraiva, p. 64). they guided, managed and established the prices of the wine and regulated its production (Ferreira, p. 49). There were two personalities from within the Port wine trade that became well-known for their activities within the cultural field: Joseph James Forrester and William Kingston. According to some authors, “the golden age of vintage” took place in Oporto during the 19th Century (Bradford, p. 86). Many of the English community had been born or, at least, had spent their childhood in Oporto and, in some cases, spoke fluent or reasonable Portuguese. It was a time of great social activity: High society in Porto would attend the Factory House balls and members of the British Community were invited to Oporto Assembly parties, a type of social gathering different from that which John Milford had had the opportunity to attend at the beginning of the Century. Oporto was at that time the centre of the wine trade and a city undergoing expansion. According to António José Saraiva, it had a veritable “army of people, from the great exporter to the errand boy, not forgetting the indispensible bookkeeper. Its commercial heart was located at the Rua dos Ingleses, with exporters, bankers, shareholders, basic entrepreneurs and clerks moving up and down it” (Saraiva, p. 64). It was within this circle of British, but also Portuguese and other foreigners resident in the city, namely Dutch, German, and French, that William Kingston moved in Portugal for a large part of his life. He turned his attention to every aspect of life in Oporto and the north of Portugal8, which became subjects for his future Lusitanian Sketches, which has enabled us to have a window on the life of the British Community at that time, and its relations with the inhabitants of the city where they resided: 50 Foi neste círculo de britânicos, mas também portugueses e outros estrangeiros residentes na cidade, holandeses, alemães, franceses, que William Kingston se moveu durante bastante tempo da sua vida em Portugal. Todos os aspectos da vida portuense e do Norte de Portugal eram alvo da sua atenção8, e assunto para os seus futuros Lusitanian Sketches, o que permite, actualmente, ter um quadro da vida da comunidade inglesa nessa época e do seu relacionamento com os habitantes da cidade onde residiam: In speaking of the inhabitants of Oporto the English must not be forgotten; for though forming but a small portion of society, they are tolerably conspicuous. There are about fifty families, a part only of whom move in the higher circles, and are much respected by the Portuguese, living on the most friendly terms with them, in the constant exchange of all the courtesies of life. They inhabit some of the best houses in the most airy parts of the city; in truth, there is no city in the Peninsula where an English Family can enjoy so much In speaking of the inhabitants of Oporto the English must not be forgotten; for though forming but a small portion of society, they are tolerably conspicuous. There are about fifty families, a part only of whom move in the higher circles, and are much respected by the Portuguese, living on the most friendly terms with them, in the constant exchange of all the courtesies of life. They inhabit some of the best houses in the most airy parts of the city; in truth, there is no city in the Peninsula where an English Family can enjoy so much comfort and independence (Kingston, 1845,vol. I, pp. 275-76). comfort and independence. (Kingston, 1845, vol. I, pp. 275-76) Besides giving extraordinary praise to the British “representing the long-established British mercantile houses in Oporto” (Kingston, 1845, Vol. I, p. 276), the author also singles out other British individuals, and in particular John Graham, his great friend and important Oporto trader, 9 Mr. Whiteley, the chaplain of the British Chapel who accompanied him on one of his long journeys throughout Portugal, more specifically on a hike to Serra da Estrela10 and also the two doctors within the commu- Para além de fazer um extraordinário elogio dos ingleses “representing the long-established British mercantile houses in Oporto” (Kingston, 1845, vol. I, p. 276), o autor salienta também outros britânicos, em particular, John Graham, seu grande amigo e importante comerciante do Porto9, Mr. Whiteley, o capelão da British Chapel que o acompanhou numa das suas longas viagens por Portugal, concretamente num passeio à Serra da Estrela10 e, ainda, os dois médicos da comunidade, Dr. Rumsey, “for many years resident in the place”11 e o filho de Sir Henry Jebb, um médico famoso de Dublin12. Além da Associação Britânica os ingleses tinham também, no século XIX, um hospital próprio13, um teatro14, um perió51 nity, Dr. Rumsey, “for many years resident in the place”11 and the son of Sir Henry Jebb, a famous physician from Dublin12. Besides the British Association in the 19th Century the British also had their own hospital13, a theatre14, an English publication, The Lusitanian, and two schools run by the British, with Mr. Grant the most prominent15. These years of happy and cosmopolitan social life in the city of Oporto were however somewhat affected by the controversy surrounding the British exporters regarding the fortification and adulteration of the Port wine, which of course affected both the Portuguese and the British. dico em inglês, The Lusitanian, e duas escolas dirigidas por ingleses, das quais destaca a de Mr. Grant15. Estes anos de alegre convivência cosmopolita na cidade do Porto não deixaram, no entanto, de ser perturbados por uma polémica que se gerou entre os exportadores britânicos, desta vez sobre a fortificação e adulteração do vinho do Porto, afectando, como é natural tanto portugueses quanto ingleses. Final remarks With regard to Anglo-Portuguese relationships during various generations of the family, it was William Henry who stood out the most, both because of what he wrote about Portugal, as well as his style of working and living in the city of Oporto. His 1845 work Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil alternates seriousness and a large measure of humour to provide a very positive image of Portu- Considerações finais No âmbito das relações anglo-portuguesas, das várias gerações da família, William Henry foi o que mais se distinguiu, quer pelo que veio a escrever sobre Portugal, quer pela sua forma de viver e trabalhar na cidade do Porto. Na sua obra Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, de 1845, apresentou, com grande seriedade, alternada com uma grande dose de humor, uma imagem muito positiva de Portugal e das suas gentes. Revelou grande capacidade descritiva dos costumes, hábitos, cultura, arte e monumentos do Norte de Portugal e da Beira Alta e, em particular, um conhecimento profundo da vinicultura praticada em Portugal. Em meados da década de 40, regressou a Inglaterra dedicando-se a muitas outras actividades ligadas à emigração mas, principalmente dedicou-se à sua carreira de escritor, até ao fim da vida. Escreveu dezenas de narrativas de diferentes géneros literários. O facto de não ter regressado a Portugal depois de 1845 não atenuou nem apagou o seu interesse pelas coisas portuguesas. Nos diferentes géneros literários que utilizou encontra-se sempre um exemplar que se refere a Portugal ou assuntos portugueses. Ainda no Porto escreveu vários artigos para The Lusitanian, participando, assim, da vida literária da cidade do Porto16. Na realidade, ele foi um dos mais importantes escritores do periódico, muitas vezes assinando com pseudónimos, acrónimos, para além do nome próprio. Dos três roman- gal and its people. It shows his great ability to describe the customs, habits, culture and monuments of the North of Portugal and the Beira Alta and, in particular, a deep knowledge of the viniculture practised in Portugal. During the 1840s he returned to England to dedicate himself for the rest of his life to his many other activities linked to emigration, but chiefly to his career as a writer. He wrote dozens of narrative works in different literary genres. The fact that he never returned to Portugal after 1845 did not reduce or extinguish his interest in Portuguese things. In the different literary genre which he employed there was always an example referring to Portugal or Portuguese matters. Whilst still in Oporto he had written a number of articles for The Lusitanian, thus participating in the literary life of the city16. In truth, he was one of the most important writers for the publication, and often wrote under a pseudonym, or acronym, besides his own name. Of the three historical novels which he penned, The Prime Minister deals with the Marquês de Pombal and his period. He wrote extremely varied travel diaries, two of them centred on Portugal, Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil and My Travels in Many Lands. In England he published various articles on Portuguese politics down the years; he also published popular Portuguese myths which he had heard narrated and which he had col- 52 ces históricos que escreveu, The Prime Minister trata do Marquês de Pombal e da sua época. Escreveu variadíssimos relatos de viagem, dois deles sobre Portugal, Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil e My Travels in Many Lands. Publicou em Inglaterra vários artigos sobre a política portuguesa, ao longo de vários anos; publicou também lendas populares portuguesas que ouvira contar e coleccionara, como “The Bruxa. A Legend of Portugal”, “Legend of the Lobishome”, “The Feiticeira and the Magic Cavern”, “Braz Coelho. The Hump-Backed Cobbler and his friend the Feiticeiro”, “Gil Perez and the Bruxa. A Legend of Portugal”. Em alguns dos seus livros para a juventude inseriu informação sobre Portugal, como por exemplo em The Boy’s Own Book of Boats (1861), um livro sobre barcos onde dedicou exclusivamente um capítulo à descrição dos mais variados barcos portugueses. Por todas estas razões se pode afirmar, como tenho defendido há longos anos, que William Kingston viveu intensamente, como um lusófilo17, os seus muitos e variados percursos lusitanos. lected, such as “The Bruxa. A Legend of Portugal”, “Legend of the Lobishome”, “The Feiticeira and the Magic Cavern”, “Braz Coelho. The Hump-Backed Cobbler and his friend the Feiticeiro”, “Gil Perez and the Bruxa. A Legend of Portugal”. In some of his youth literature he provided information on Portugal, such as in The Boy’s Own Book of Boats (1861), a book on boats which contains a chapter devoted to described various Portuguese boats. For all these reasons it is possible to state, as I have argued along the years, that William Kingston lived an intense life as a lusophile17, through his many and varied Lusitanian paths. notes 1 Lambert, Kingston & Egan, the company which provided the first reference to the Kingston family name, is one of the oldest firms in the history of Port wine trading in Oporto. It was established in 1691 with the name Peter Dowker and underwent several name changes: Peter Dowker 1691 Stert & Lambert Dowker & Stukey 1694 Edward Lambert 1740 1743 Dowker, Stukey & Peak 1701 Lambert, Croft & Lambert 1745 Dowker & Stukey 1702 Edward & Thomas Lambert 1759 Dowker, Stukey & Stert 1711 Oliver Beckett & Co. 1764 Stert, Hayman & Co. 1724 Thomas Lambert 1765 Stert & Hayman 1729 Swarbreck & Lambert 1767 Sampson & Richard Stert 1731 Lambert, Kingston & Co. 1772 Peter Dowker and his contemporary John Page appear to have been the “parents” of the British Community in Oporto since, as Sellers men- notas tions, “in those early days nearly all the marriages celebrated in the place refer either to one name, or the other”. Peter Dowker also had business 1 53 Lambert, Kingston & Egan, a companhia à qual surge ligado pela primeira vez o nome da família Kingston, é uma das firmas mais antigas na história do comércio do vinho do Porto. Foi criada em 1691 com o nome de Peter Dowker e foi sofrendo sucessivas mudanças de nome: Peter Dowker 1691 Stert & Lambert 1740 Dowker & Stukey 1694 Edward Lambert 1743 Dowker, Stukey & Peak 1701 Lambert, Croft & Lambert 1745 Dowker & Stukey 1702 Edward & Thomas Lambert 1759 Dowker, Stukey & Stert 1711 Oliver Beckett & Co. 1764 Stert, Hayman & Co. 1724 Thomas Lambert 1765 Stert & Hayman 1729 Swarbreck & Lambert 1767 Sampson & Richard Stert 1731 Lambert, Kingston & Co. 1772 in Viana do Castelo, where his wines destined for England embarked. Cf. SELLERS, p. 238. 2 William was full of pride and admiration for his ancestors, such as the above mentioned paternal grandfather who had become a partner in the firm of Lambert, Kingston & Co., in Oporto, and who, after leaving his economic interests in the hands of his son Lucy Henry Kingston and returning to England, became the Member of Parliament for Lymington, Hampshire, a member of the Royal Society from 1816, and Director of Companies, living both in his residence in London (5 Stratford Place) and also his country mansion in Oakhill, Hertfordshire; the doctor Benjamin Kingston, also mentioned above; Sir Giles Rooke, maternal grandfather of William Kingston, who was Justice of the Common Pleas and a Fellow of 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Peter Dowker, assim como John Page seu contemporâneo, parecem ter sido como que os “pais” da comunidade britânica no Porto pois, como refere Sellers, “in those early days nearly all the marriages celebrated in the place refer either to one name, or the other”. Peter Dowker tinha também negócios em Viana do Castelo onde embarcava os vinhos que enviava para Inglaterra. Cf. SELLERS, p. 238. William tinha grande orgulho e admiração pelos seus ascendentes, como o já citado avô paterno que se tornou sócio da firma Lambert, Kingston & Co., no Porto, e que, depois de deixar os seus interesses económicos nas mãos do filho Lucy Henry Kingston e regressar a Inglaterra, foi membro do Parlamento por Lymington, Hampshire, membro da Royal Society desde 1816, e Director of Companies, vivendo quer na sua casa de Londres (5 Stratford Place) quer na mansão no campo em Oakhill, Hertfordshire; o médico Benjamin Kingston, também já referido; Sir Giles Rooke, avô materno de William Kingston, que foi Justice of the Common Pleas e Fellow de Merton College, em Oxford. Dele existem dois retratos em Merton College, um por John Hapner, outro por Valet of Bath. Também a avó materna, Harriet Sophia Burrard, Lady Rooke, teve um lugar de destaque ao ser escolhida por Sir Joshua Reynolds para servir de modelo para a figura de Justiça, devido à sua extraordinária beleza. Este retrato foi depois colocado no lado oeste da ante-capela do New College de Oxford. Outros elementos da família, de que Kingston muito se orgulhava, também pelo lado materno, eram os seus tios, o Rev. Sir George Burrard, Fellow de Merton College e Mayor em Lymington cinco vezes, o Almirante Sir Harry Burrard-Neale, Lord of the Mannor em Walhampton e, também, o General Sir Harry Burrard, primo do anterior, que partilhou com John Kingston a representação no Parlamento em 1802 e que teve um papel de chefia no commando do exército britânico na batalha do Vimeiro em 1808. Cf. Sellers, p.9. O jornal O Commercio publicava frequentemente no final de cada mês uma lista dos principais exportadores de vinho da cidade do Porto referente ao mês anterior. Por exemplo, tanto no n.º 43, de 4 de Abril de 1842, como no n.º 48, de 9 de Maio de 1842, a firma Lambert, Kingston & Egan figura entre os principais exportadores do mês de Março e do mês de Abril, respectivamente. Em 1888, oito anos depois da sua morte, pediu-se a duas mil crianças que nomeassem os seus autores preferido e William Kingston ficou em segundo lugar, logo a seguir a Charles Dickens que ficou em primeiro. Hoje considerado um escritor menor, era muito popular no seu tempo. Este Tratado foi assinado no mesmo dia em que se assinou o Tratado referente ao tráfico de escravos. Cf. Sousa, p. 213. “At the first meeting no one seems to have bothered to name the entity reorganized, but eight months later we find it ‘Resolved that this society henceforth be denominated as the British Club.’ Thenceforth, but not, as it happened, for ever, for soon after, in 1814, at the suggestion of Consul Jeffreys, we find the name altered to British Association, and British Association it is still officially to-day, though now, as then everyone speaks about the ‘British Factory’ ” (Sanceau, pp. 67-68). Cf. Castel-Branco, “Alguns traços dos percursos lusitanos de William Kingston: imagens de Portugal.” Kingston, vol. I, p. 276. Kingston, vol. I, p. 276 e vol. II, pp. 88 e 104. Kingston, vol. I, p. 276. Kingston, vol. I, pp. 276 e 305. “an Hospital for British sailors and other subjects of Great Britain, is placed under the care of an English physician […]” (Kingston, vol. I, p. 305). Merton College in Oxford. There are two paintings of him in Merton College, one by John Hapner, the other by Valet of Bath. His maternal grandmother, Harriet Sophia Burrard, Lady Rooke, was also a figure of prominence through having been chosen by Sir Joshua Reynolds to serve as the model for the figure of Justice, due to her extraordinary beauty. This painting was later placed on the Eastern side of the ante-chapel of New College, Oxford. Other members of the family, of which Kingston was so proud, also on the mother’s side, were his uncles, the Rev. Sir George Burrard, Fellow of Merton College and five times mayor of Lymington, Admiral Sir Harry Burrard-Neale, Lord of the Manor at Walhampton and also General Sir Harry Burrard, cousin of the former, who was also a Member of the House of Parliament along with John Kingston in 1802 and who had a leading role in commanding the British army at the battle of Vimeiro in 1808. 3 Cf. Sellers, p. 9. 4 The newspaper O Commercio often published a list of the main Port wine exporters from the city of Oporto at the end of each month, which was related to figures from the previous month. For example, both in No. 43, dated 4 April 1842, as in No. 48, dated 9 May 1842, the firm Lambert, Kingston & Egan figured amongst the leading exporters for the months of March and April, respectively. 5 In 1888, eight years after his death, two thousand children were asked to name their favourite authors and William Kingston came in second place immediately after Charles Dickens, who was placed first. Although today considered a minor writer, he was very popular in his time. 6 This treaty was signed on the same day on which the Treaty relating to the 7 “At the first meeting no one seems to have bothered to name the entity trafficking of slaves was signed. Cf. Sousa, p. 213. reorganized, but eight months later we find it ‘Resolved that this society henceforth be denominated as the British Club.’ Thenceforth, but not, as it happened, for ever, for soon after, in 1814, at the suggestion of Consul Jeffreys, we find the name altered to British Association, and British Association it is still officially to-day, though now, as then everyone speaks about the ‘British Factory’ ” (Sanceau, pp. 67-68). 8 Cf. Castel-Branco, “Some aspects of the Lusitanian journeys of William Kingston: images of Portugal.” 9 Kingston, vol. I, p. 276. 10 Kingston, vol. I, p. 276 and vol. II, pp. 88 and 104. 11 Kingston, vol. I, p. 276. 12 Kingston, vol. I, pp. 276 and 305. 13 “an Hospital for British sailors and other subjects of Great Britain, is placed under the care of an English physician […]” (Kingston, vol. I, p. 305). 14 “the English possessed a very elegant private theatre, where plays were acted by the young English residents” (Kingston, vol. I, p. 312). 15 Kingston, vol. I, p. 314. 16 “[Les] étrangers [à demeure] jouent un rôle particuliérement important quand ils sont en étroit contact avec des révues.” (Brunel, Pichois, and Rousseau, p. 35). 17 Cf. Castel-Branco, “The Portuguese travels of William Henry Giles Kingston; Or the geographical and inner travels of a British lusophile.” 54 14 15 16 17 “the English possessed a very elegant private theatre, where plays were acted by the young English residents” (Kingston, vol. I, p. 312). Kingston, vol. I, p. 314. “[Les] étrangers [à demeure] jouent un rôle particuliérement important quand ils sont en étroit contact avec des révues.” (Brunel, Pichois, and Rousseau, p. 35). Cf. Castel-Branco, “The Portuguese travels of William Henry Giles Kingston; Or the geographical and inner travels of a British lusophile”. bibliography BRADFORD, Sarah - The Englishman’s wine. The story of port. S.l.: Macmillan, St. Martin’s Press, 1969. BRATTON, J.S. - The impact of Victorian Children’s Fiction. New Jersey: Barnes & Noble Books, 1981. BRUNEL, P., PICHOIS, Cl., ROUSSEAU, A.M. - Qu-est ce que la Littérature Comparée?. Paris: Armand Colin, 1983. CASTEL-BRANCO, M.ª da Conceição Emiliano - “Alguns traços dos percur- bibliografia sos lusitanos de William Kingston: imagens de Portugal” (Some aspects of the Lusitanian journeys of William Kingston: images of Portugal). Talk BRADFORD, Sarah - The Englishman’s wine. The story of port. S.l.: Macmillan, St. Martin’s Press, 1969. BRATTON, J.S. - The impact of Victorian Children’s Fiction. New Jersey: Barnes & Noble Books, 1981. BRUNEL, P., PICHOIS, Cl., ROUSSEAU, A.M. - Qu-est ce que la Littérature Comparée?. Paris: Armand Colin, 1983. CASTEL-BRANCO, M.ª da Conceição Emiliano - “Alguns traços dos percursos lusitanos de William Kingston: imagens de Portugal”. Comunicação apresentada no Congresso Internacional Do Brasil a Macau. Narrativas de Viagens e Espaços de Diáspora. Lisboa: Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 10-14 de Setembro 2008 (no prelo). CASTEL-BRANCO, M.ª da Conceição Emiliano - “The Portuguese travels of William Henry Giles Kingston; Or the geographical and inner travels of a British lusophile”. in Revista de Estudos Anglo-Portugueses, n.º 17. Lisboa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies, 2008, pp. 107-125. COBB, Gerald - Oporto Older and Newer. S.l.: Chichester Press, 1966. DELAFORCE, John - The Factory House at Oporto. 2nd ed. London: Christie’s Wine Publications, 1983. EMILIANO, M.ª da Conceição de Albuquerque - William Henry Giles Kingston: Percursos Lusitanos. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1988. [Dissertação para obtenção do grau de Mestre]. FERREIRA, J. A. Pinto - “Comércio Externo” in História da Cidade do Porto, vol. III. Porto: Portucalense Editora, 1965. KINGSFORD, Maurice Rooke - The Life, Work and Influence of William Henry Giles Kingston. Toronto: Ryerson Press, 1947. KINGSTON, William Henry Giles - Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil. 2 vols – London: s.n., 1845. KINGSTON, William Henry Giles - My Travels in Many Lands. Narrated for my young friends. London: W. Kent & Co., 1862. MACAULAY, Rose - They Went to Portugal. S.l.: Penguin Books, 1985. SANCEAU, Elaine - The British Factory at Oporto. Oporto: British Association, 1970. SARAIVA, António José - “Júlio Dinis e a sua época”. in Para a História da Cultura em Portugal, vol.I I. Lisboa: Publicações Europa-América, 1972. SELLERS, Charles - Oporto Old and New. Being a historical record of the Port Wine Trade, and a tribute to British commercial enterprize in the north of Portugal. London: Herbert & Harper, 1899. SOUSA, Hermenegildo de - A Aliança Anglo-Portuguesa. Porto: Edições Marânus, 1939. TAYLOR, René - “The Architecture of Port-Wine” in The Architectural Review, vol. CXXIX, n.º 772, June 1961. 55 given at the Congresso Internacional Do Brasil a Macau. Narrativas de Viagens e Espaços de Diáspora. (International Congress from Brasil to Macau: Narratives and Journeys and Diáspora Spaces). Lisboa: Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, 10-14 de Setembro 2008 (in press). CASTEL-BRANCO, M.ª da Conceição Emiliano - “The Portuguese travels of William Henry Giles Kingston; Or the geographical and inner travels of a British lusophile”. in Revista de Estudos Anglo-Portugueses, no. 17. Lisboa: Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies, 2008, pp. 107-125. COBB, Gerald - Oporto Older and Newer. unplaced: Chichester Press, 1966. DELAFORCE, John - The Factory House at Oporto. 2nd ed. London: Christie’s Wine Publications, 1983. EMILIANO, M.ª da Conceição de Albuquerque - William Henry Giles Kingston: Percursos Lusitanos. (William Henry Giles Kingston: Lusitanian Paths). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1988. [Master’s Dissertassion]. FERREIRA, J. A. Pinto - “Comércio Externo” (External Trade) in História da Cidade do Porto (History of the City of Oporto), vol. III. Oporto: Portucalense Editora, 1965. KINGSFORD, Maurice Rooke - The Life, Work and Influence of William Henry Giles Kingston. Toronto: Ryerson Press, 1947. KINGSTON, William Henry Giles - Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil. 2 vols – London: s.n., 1845. KINGSTON, William Henry Giles - My Travels in Many Lands. Narrated for my young friends. London: W. Kent & Co., 1862. MACAULAY, Rose - They Went to Portugal. unplaced.: Penguin Books, 1985. SANCEAU, Elaine - The British Factory at Oporto. Oporto: British Association, 1970. SARAIVA, António José - “Júlio Dinis e a sua época” (Júlio Dinis and it’s time). in Para a História da Cultura em Portugal (Towards a history of Culture in Portugal), vol. II. Lisbon: Publicações Europa-América, 1972. SELLERS, Charles - Oporto Old and New. Being a historical record of the Port Wine Trade, and a tribute to British commercial enterprize in the north of Portugal. London: Herbert & Harper, 1899. SOUSA, Hermenegildo de - A Aliança Anglo-Portuguesa.(The Anglo-Portuguese Alliance). Oporto: Edições Marânus, 1939. TAYLOR, René - “The Architecture of Port-Wine” in The Architectural Review, vol. CXXIX, no. 772, June 1961. A Odisseia Anglo-Lusa do Clã Warre – das origens do Vinho do Porto à actualidade The Anglo-Luso Odyssey of the Warre Family – from the origins of Port wine to the present day João Paulo Ascenso Pereira da Silva FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 56-73, ISSN 1646-7116 Na origem do nosso interesse pela presença inglesa no Porto e pelas famílias britânicas ligadas ao comércio de vinhos naquela cidade está a investigação que realizámos para a nossa tese de Doutoramento, acerca da revista cultural The Lusitanian, publicação periódica em língua inglesa, editada entre 1844 e 1845, por cidadãos britânicos sediados na capital do Norte e membros da British Association1, pesquisa que encetámos no ano de 1989 e nos levaria a percorrer arquivos e bibliotecas do Porto2, durante cerca de seis meses. Entre os acervos documentais que então tivemos oportunidade de consultar contam-se os arquivos de diversas companhias produtoras de Vinho do Porto, nomeadamente a Ferreira, a Sandeman, a Taylor’s e o Grupo Symington. Buscámos através desta pesquisa recolher informação sobre as firmas e as famílias às quais se encontravam associados os principais editores e colaboradores do periódico em análise: William Henry Giles Kingston (1814-1880), William Richard Harris (?-?), Edward Quillinan (1791-1851) e John Thomas Quillinan (1796-1873). No caso específico da família Kingston e do romancista vitoriano William Kingston, de quem nos fala Maria da Conceição Castel-Branco3 na sua dissertação de Mestrado, possuíamos à partida um significativo volume de informação e documentação, já que aquele autor se encontra largamente estudado e devidamente biografado4. Acerca da família Kingston e da firma Lambert & Kingston, há muito desaparecida, a informação que possuíamos era igualmente abundante. Porém, sobre as famílias Harris e Quillinan, e sobre William Richard Harris ou John Thomas Quillinan dispúnhamos de escassa informação, já que ambas as personalidades não se encontram sequer biografadas. No que respeita a família Quillinan possuíamos dados respeitantes sobretudo ao poeta Edward Quillinan e ao seu sobrinho Luís de Quilli57 The origin of my interest in the English presence in Oporto and the British families connected to the Port wine trade in that city is linked to the research I carried out during my PhD thesis concerning the cultural magazine The Lusitanian, an English language periodical which was published between 1844 and 1845 by British citizens resident in the capital of the North and members of the British Association1, research which I started in 1989 and which led me to consult archives and libraries in Oporto2, for around six months. The documentary sources which I had the opportunity to peruse included the archives of several Port wine producing companies – that is, Ferreira, Sandeman, Taylor’s and the Symington Group. I was trying to find information within these archives on the companies and families linked to the main publishers and contributors to the periodical I was researching: William Henry Giles Kingston (1814-1880), William Richard Harris (?-?), Edward Quillinan (1791-1851) and John Thomas Quillinan (1796-1873). With regard to the Kingston family and the Victorian novelist William Kingston, of whom Maria da Conceição Castel-Branco will speak to us about3, based on her Master’s dissertation, we possess a significant quantity of information and documentation, given that that author has been widely studied and suitably biographed4. With regard to the Kingston family and the Lambert & Kingston Company, a lot of information has disappeared, but the information available is equally abundant. However, when it comes to the Harris and Quillinan families, and William Richard Harris or John Thomas Quillinan there is very little information, given that neither has been the source of a biography. With regard to the Quillinan fam- nan (1825-1904)5. Todavia, sobre os restantes membros desta família e a sua actividade comercial pouco sabíamos. No curso do nosso périplo portuense obtivemos diversa informação, ainda que fragmentária e avulsa, através da British Association e de diversos docentes e investigadores da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mas igualmente por via da leitura de documentos consultados na Biblioteca Pública do Porto, no Arquivo Municipal e finalmente no Arquivo do Governo Civil do Porto. Fomos igualmente bem sucedidos na tentativa de estabelecer contacto pessoal com alguns descendentes da família Quillinan, que ainda hoje residem no Porto. Contudo, o objecto da presente comunicação não são as referidas personalidades nem as respectivas famílias, mas sim o clã Warre e a firma Warre & Co., acerca da qual viemos, ainda que de forma indirecta e algo casual, a debruçar-nos no curso da pesquisa efectuada em torno de William Warre, do seu relato de viagem e da sua participação nas Guerras Napoleónicas. O arquivo da firma Warre and Co. (ou aquilo que dele resta), companhia que, desde o início do século XX, faz parte integrante do grupo Symington (actual Symington Family Estates), foi por nós visitada há cerca de dezoito anos. Contudo, na altura, a experiência, revelou-se algo frustrante, já que o acervo documental respeitante à totalidade das firmas tuteladas por aquele grupo se encontrava ainda por tratar e catalogar e literalmente armazenado em condições muito precárias. Tememos, aliás, que grande parte dessa documentação e dos registos que então tivemos oportunidade de percorrer e consultar (que se encontrava caoticamente amontoada num antigo laboratório, na sede daquela firma) se tenha vindo lentamente a degradar e esteja hoje irremediavelmente perdida. ily there is data concerning the poet Edward Quillinan and his nephew Luís de Quillinan (1825-1904)5. However, little is known about the other members of this family and their business activities. During this visit to Oporto I obtained various information, albeit fragmentary and disconnected, through the British Association and several members of the teaching and research staff of the Faculty of Letters of the University of Oporto, by also from reading documents consulted in the Public Library of Oporto (Biblioteca Pública do Porto), the Oporto Municipal Archive (Arquivo Municipal do Porto) and the Civil Governor of Oporto’s Archive (Arquivo do Governo Civil do Porto). I was equally successful in managing to get into personal contact with some descendants of the Quillinan family still living in Oporto. Be that as may, the aim of the present talk is not these individuals nor their respective families but rather the Warre family and the Warre & Co. firm, which we will consider, although in a somewhat indirect and informal manner, when considering the research made around the figure of William Warre, the report of his journey and his involvement in the Napoleonic Wars. The Warre and Co. firm has been a part of the Symington group (currently Symington Family Estates) since the beginning of the 20th Century. The archive of the firm (or what remains of it) was visited by myself around eighteen years ago. However, that experience was somewhat frustrating at the time, given that the documentary archive relating to all the firms run by that group was in need of arranging and cataloguing and was literally stored in very precarious conditions. I am in fact afraid that a large part of that documentation and the records that I had the chance to browse and consult (which was chaotically piled 58 Importa a este título registar que, à excepção dos grandes arquivos públicos do Porto e de alguns arquivos privados (como o da Real Companhia Velha ou da firma Ferreira), quase todos os restantes se encontravam acondicionados em instalações muito precárias, achando-se na altura a documentação totalmente desordenada e num deplorável estado de conservação. A família Warre e a firma Warre & Co. encontram-se intimamente relacionadas com a própria génese do Vinho do Porto. Podemos até afirmar que a história da presença do clã Warre no Norte de Portugal se confunde com as próprias origens daquilo que hoje concebemos como Vinho do Porto. De acordo com a informação que podemos actualmente colher no site do grupo Symington6 e no material publicitário e de propaganda da Warre & Co., esta empresa será alegadamente a mais antiga companhia de Vinho do Porto inglesa, tendo sido fundada em 1670 por dois jovens comerciantes e empreendedores, Clark e Thornton, que, por volta dessa data, se haviam instalado em Viana do Castelo, cidade onde existia, desde o século XVI, uma feitoria inglesa. Como se sabe, esta localidade constituía então o principal porto exportador de vinhos portugueses para as Ilhas Britânicas. Para além desta cidade, onde se registava a presença de um número significativo de comerciantes ingleses, desde o século XVI, também Caminha e Monção funcionavam então como portos, através dos quais os comerciantes da Velha Albion procediam regularmente à exportação de vinhos e outros produtos agrícolas (milho, azeite, mel, cortiça e frutas) para a sua pátria. Em contrapartida, através dessas mesmas localidades, entravam em Portugal os lanifícios ingleses e o peixe seco, que os barcos, no regresso das Ilhas Britânicas ou da América do Norte (nomeadamente da Terra Nova), transportavam até ao nosso país. Procedia-se, deste modo, a um comércio de tipo triangu59 in a former laboratory, in the main office of that company) has gradually been degrading and may today be irretrievably lost. It is important to note that, with the exception of the major public archives in Oporto along with some private archives (such as that of the Real Companhia Velha or the Ferreira firm), almost all of the remaining ones were housed in extremely precarious locations, with the documentation totally unarranged and in a deplorable state of conservation. The Warre family and the Warre & Co. firm are intimately related to the very birth of Port wine. It could even be stated that the history of the presence of the Warre family in the North of Portugal is mixed up with the very origins of what we nowadays conceive of as Port wine. In accordance with the information I was able to gather from the Symington website6 and the publicity and marketing information from Warre & Co., this company is allegedly the oldest English Port wine company, having been founded in 1670 by two young businessmen and entrepreneurs, Clark and Thornton, who, around this date, had settled in Viana do Castelo, a city where there had been an English factory since the 16th Century. As is known, this city was the main port for exporting Portuguese wines to the British Isles. Besides this city, which had contained a significant number of English traders since the 16th Century, Caminha and Monção also operated as ports, through which traders of the Old Albion frequently exported wines and other agricultural products (maize, olive oil, honey, cork and fruits) to their country. On the other hand, English woollen fabrics and dried fish came into Portugal through these ports, from the boats returning from the British Isles or North America lar, que perduraria ainda durante largo tempo após a transferência do centro de gravidade da actividade de exportação vinícola para a cidade do Porto (de acordo com algumas fontes, até ao século XIX). O vinho que então se exportava a partir de Viana, Caminha ou Monção possuía características totalmente distintas daquelas que, hoje em dia, atribuímos ao Vinho do Porto, sendo muito provável que se assemelhasse ao actual vinho verde. Veja-se em seguida o que nos dizem a tal propósito Rose Macaulay e Sarah Bradford: (namely, Newfoundland) transporting these goods. A triangular form of trade was thus carried out, which lasted for a long time after the centre of gravity of the exportation of wine was transferred to the city of Oporto (according to some sources, up to the 19th Century). The wine which was exported from Viana, Caminha or Monção had characteristics which were completely distinct from those that we would nowadays attribute to Port wine, with it being very probably similar to present day vinho verde tinto (the red variety of vinho verde). It is useful to see what Most of the wine shipped to Britain from Portugal was at first from Viana do Castelo, and grown in the Minho Country; they called it Red Portugal, and it was rather like Burgundy. The first English to come into the trade ran it, apparently in connection with the sale of Newfoundland cod to the Portuguese; the cod was bartered for wine; the wine was shipped to Newfoundland, and some of it sent on from there for sale in England; it was soon found that the process improved its quality, and ‘matured in Newfoundland’ became a boast. But the wine was for some time more or less a side line; the merchants concerned were primarily cloth merchants or Newfoundland fish merchants, who took the wines of Minho in exchange for their goods. During the second half of the seventeenth century more and more factors of British firms resided at Viana, Monção and Oporto, and made it part of their business to select wines suitable for shipping home. The firms owned their ships; they did not, as they later did, themselves go up into the wine country to inspect the vines; the growers brought the wine to them at Viana and Oporto7. Rose Macaulay and Sarah Bradford tell us in this regard: Most of the wine shipped to Britain from Portugal was at first from Viana do Castelo, and grown in the Minho Country; they called it Red Portugal, and it was rather like Burgundy. The first English to come into the trade ran it, apparently in connection with the sale of Newfoundland cod to the Portuguese; the cod was bartered for wine; the wine was shipped to Newfoundland, and some of it sent on from there for sale in England; it was soon found that the process improved its quality, and ‘matured in Newfoundland’ became a boast. But the wine was for some time more or less a side line; the merchants concerned were primarily cloth merchants or Newfoundland fish merchants, who took the wines of Minho in exchange for their goods. During the second half of the seventeenth century more and more factors of British firms resided at Viana, Monção and Oporto, and made it part of their business to select wines suitable for shipping home. The firms owned their ships; they The merchants of the English Factory established at Oporto at that time were not yet engaged in the wine trade; they were what was known as ‘rag merchants’, selling cotton, woolen did not, as they later did, themselves go up into the wine country to inspect the vines; the growers brought the wine to them at Viana and Oporto7. 60 The merchants of the English Factory established at Oporto at that time were not yet engaged in the wine trade; they were what was known as ‘rag merchants’, selling cotton, woollen cloth, wheat and salted cod to the Portuguese in exchange for oil, fruit and cash. The centre of the trade in red Portugal wine was Viana do Castelo, which the Romans called Diana, on the glittering wide estuary of the river Lima. Here, from substantial baroque town houses beside the quay, canny Scots and English Factors operated their profitable import and export businesses. From Viana they set off in flat-bottomed boats up the river Lima to buy wine in the country between Ponte de Lima and Monção. Strange figures they must have seemed to the Portuguese boatmen, these gruff men in their Carolean wigs, clutching their account books and impedimenta, speaking the most rudimentary Portuguese in outlandish accents. The wine they bought must have been something like sparkling burgundy, the ancestor of the pétillant red vinho verde of today. Whatever it may have been like in Viana, red Portugal did not travel and was poorly thought of in England. Large quantities cloth, wheat and salted cod to the Portuguese in exchange for oil, fruit and cash. The centre of the trade in red Portugal wine was Viana do Castelo, which the Romans called Diana, on the glittering wide estuary of the river Lima. Here, from substantial baroque town houses beside the quay, canny Scots and English Factors operated their profitable import and export businesses. From Viana they set off in flat-bottomed boats up the river Lima to buy wine in the country between Ponte de Lima and Monção. Strange figures they must have seemed to the Portuguese boatmen, these gruff men in their Carolean wigs, 61 were supplied to the British Naval Commissioners as ‘beverage for the sailors’, who presumably had to take what they were given and like it8. John Clark and Thornton settled in Portugal after the Restoration of the monarchy in Great Britain and a little after the royal marriage between Charles II and Catherine of Bragança, which constituted a key event in Luso-British relationships and a decisive step in the strengthening and consolidation of the Old Alliance, some decades after the Restoration of Portugal’s independence and the return of clutching their account books and impedimenta, speaking the most rudimentary Portuguese in outlandish accents. The wine they bought must have beeen something like sparkling burgundy, the ancestor of the pétillant red vinho verde of today. Whatever it may have been like in Viana, red portugal did not travel and was poorly thought of in England. Large quantities were supplied to the British Naval Commissioners as ‘beverage for the sailors’, who presumably had to take what they were given and like it8. the Stuart dynasty to the English throne, which occurred in 1660. The royal marriage, which took place in 1662, led to a significant number of English traders coming and settling in Portugal. At the time relations between France and Great Britain were still calm, given that with England having undergone its Restoration, it was to a large extent geostrategically dependent on France and Louis XIV, then the major European power. Relations between the two countries would, how- John Clark e Thornton instalaram-se em Portugal após a Restauração da monarquia na Grã-Bretanha e pouco depois do matrimónio real entre Carlos II e Catarina de Bragança, que constituiu um marco fundamental nas relações luso-britânicas e um passo decisivo no aprofundamento e consolidação da Velha Aliança, algumas décadas volvidas sobre a Restauração da independência de Portugal e da recondução da dinastia Stuart ao trono inglês, ocorrida no ano de 1660. O casamento real, celebrado em 1662, estimularia um número significativo de comerciantes ingleses a instalar-se no nosso país. Na época as relações entre a França e a Grã-Bretanha eram ainda pacíficas, já que a Inglaterra saída da Restauração se encontrava, em larga medida, na órbita e na dependência geoestratégica da França de Luís XIV, então a maior potência europeia. As relações entre ambos os países viriam, contudo, gradualmente a degradar-se, devido à política proteccionista de Colbert, que os ingleses retaliavam, impondo inicialmente elevadas taxas sobre a importação de produtos franceses, processo que redundaria, numa fase posterior, no boicote à importação de vinhos de França, decretado pelo governo inglês no ano de 1677. ever, gradually worsen, due to the protectionist policies of Colbert, to which the English retaliated, initially levying high taxes on the importation of French products, a process which would at a later stage result in a boycott on the importation of wines from France, which was decreed by the English government in 1677. The situation would get worse from 1688 onwards, following the Glorious Revolution and the rise of William of Orange and Mary to the English throne, which implied a drastic shift in the balance of power within Europe due to the realigning of Great Britain with the Protestant forces and its subsequent distancing from France, the rival to the Netherlands. The alliance between England and Holland brought Great Britain to war with France in 1689 and an economic embargo on French products, namely the importing of wines coming from that country. This process of distancing and war between France and England opened up new horizons in intensifying the wine trade between Portugal and the British Isles, and within a brief period of time Portugal became the main supplier of this product. The subsequent growth in demand for Portuguese wines made wine production in 62 A situação viria a agravar-se a partir de 1688, com a Glorious Revolution e a subida de William de Orange e Mary ao trono de Inglaterra, que implicaria uma drástica alteração da relação de forças a nível europeu e nomeadamente a reaproximação da Grã-Bretanha às potências protestantes e o seu consequente afastamento da França, rival dos Países-Baixos. A aliança entre a Inglaterra e a Holanda conduziu a Grã-Bretanha, em 1689, à guerra com a França e a um embargo económico aos produtos franceses, nomeadamente à importação de vinhos provenientes deste país. Este processo de distanciamento e de conflito bélico entre a França e a Inglaterra abriria novas perspectivas de intensificação do comércio vinícola entre Portugal e as Ilhas Britânicas, transformando-se, a breve trecho, o nosso país no principal fornecedor deste produto. O consequente crescimento da procura de vinhos portugueses tornaria a produção vinícola da região do Minho insuficiente para satisfazer as necessidades de um mercado inglês em franco crescimento. Sabemos que a firma de John Clark e Thornton foi uma das companhias exportadoras pioneiras na exploração das potencialidades das regiões vinícolas do interior de Portugal, nomeadamente do Alto Douro, onde alegadamente teriam sido dos primeiros ingleses a penetrar. Porém, de acordo com a generalidade das obras sobre a história da Vinho do Porto e a presença britânica no Norte de Portugal (e contrariamente àquilo que é afirmado pela Warre & Co. e pelo grupo Symington), estes dois comerciantes não terão sido, no final do século XVIII, os únicos a entrever na região vinícola do vale do Douro uma fonte alternativa de fornecimento do mercado britânico. Assim, de acordo com Rose Macaulay em They Went to Portugal9, Sarah Bradford, autora de The Story of Port10 ou A.D. Francis, responsável pelo volume The Wine Trade11, na mesma 63 the Minho region insufficient to satisfy the needs of an increasing English market. It is known that the firm of John Clark and Thornton was one of the pioneering export companies to explore the potential of the wine-growing regions inland from the coast, namely the Alto Douro region, where they allegedly were amongst the first English to take advantage of it. As such, and in accordance with most works on the history of Port Wine and the British presence in the North of Portugal (and contrary to that stated by Warre & Co. and by the Symington group), these two traders would not have been the only ones at the end of the 18th Century to have discovered an alternative supply source for the British market within the wine growing region of the Douro valley. Thus, and in accordance with Rose Macaulay in They Went to Portugal9, Sarah Bradford, author of The Story of Port10 or A.D. Francis, who wrote The Wine Trade11, in the same period Peter Bradley (one of the founders of the firm Taylor, Fladgate and Yeatman, dating back to 1670), as well as Phayre & Bradley, the founders of Croft, were rivals with Clark and Thornton in exploiting the wine-growing potential of the Alto Douro. These are some of the companies that argue that they were pre-eminent in the discovery or creation of what is today known as Port wine. Exactly with regard to this Warre claims to have been the first to have commercialised the precious nectar, but the data obtained from the works of Charles Sellers12, Sarah Bradford13, and A.D. Francis14 enable us to question such a claim. All these authors appear to have jointly used as a common source the well-known essay by John Croft A Treatise on the Wines of Portugal, Since the Establishment of the English Factory at Oporto, where, in 178815, it is stated that Peter época Peter Bradley (um dos fundadores da firma Taylor, Fladgate and Yeatman, cuja criação remonta a 1670), bem como Phayre & Bradley, os fundadores da casa Croft, rivalizaram com Clark e Thornton na exploração das potencialidades vinícolas do Alto Douro. Aliás, são estas algumas das companhias que reivindicam a primazia na descoberta ou criação daquilo que hoje concebemos como Vinho do Porto. Neste preciso respeito a firma Warre reclama ter sido a primeira a comerciar o precioso néctar, mas os dados colhidos nas obras de Charles Sellers12, Sarah Bradford13, e A. D. Francis14 permitem-nos pôr em dúvida tal alegação. Todos estes autores parecem ter utilizado como fonte comum o célebre ensaio de John Croft A Treatise on the Wines of Portugal, Since the Establishment of the English Factory at Oporto, onde, em 178815, se afirmava que Peter Bearsley, filho primogénito de Job Bearsley terá sido o primeiro comerciante inglês a visitar Trás-os-Montes16 e a transferir a sede da firma para o Porto, onde passaria a desenvolver a sua actividade especulativa em torno dos vinhos do Douro17. Bearsley, the first-born son of Job Bearsley was the first English trader to visit Trás-os-Montes16 and transfer the headquarters of his firm to Oporto, where it then developed its commercial activity related to wines from the Douro17. A Mr. Peter Bearsley, an English man, who resided at Viana as a factor, was the first who went to Oporto in the view, and for the purpose of speculating in the Port Wines; and on the road to the Wine Country, at an Inn, he met with an Elder Tree, whose juice he expressed, and mixed with the ordinary wine, and found it had the effect of heightening and improving its colour18. Irrespective of such disputes between families and British businessmen, it is above all important to underline the fact that by 1701 most of the wine trade was carried out from Oporto, which had gradually become the centre for the trade and export of that product (which was now obtained from the Douro valley), with the consequent decline in importance of Viana do Castelo and the systematic transfer of the headquarters of the English firms to A Mr. Peter Bearsley, an English man, who resided at Viana as a factor, was the first who went to Oporto in the view, and for the purpose of speculating in the Port Wines; and on the road to the Wine Country, at an Inn, he met with an Elder Tree, whose juice he expressed, and mixed with the ordinary wine, and found it had the effect of heightening and improving its colour18. that city. It is also known that during the 18th Century19, only six British companies kept an active presence in Viana, amongst which was the future Warre & Co., which kept a branch there until 1894, which was basically concerned with the importation of bacalhau (salted cod fish): Warre’s kept an office in Viana importing bacalhau under the style of C. H. Noble & Murat right up to 1894, the last Independentemente de tais disputas entre famílias de comerciantes britânicos, importa sobretudo destacar que, já em 1701, a maior parte do comércio de vinhos era feito a partir da cidade do Porto, que se transformou gradualmente no British firm to do so20. In the first decades of the 18th Century the company founded by Clark and Thornton was still not known by the 64 centro nevrálgico do comércio e exportação daquele produto (que agora era obtido no Vale do Douro), com o consequente declínio em importância de Viana do Castelo e a sistemática transferência da sede da maior parte das firmas inglesas para a capital do Norte. É igualmente sabido que, em meados do século XVIII19, apenas seis companhias britânicas mantinham ainda actividade em Viana, entre as quais a futura Warre & Co., que aí manteve uma sucursal até 1894, onde se procedia essencialmente à importação de bacalhau: name of Warre (it would only definitively become so from 1777 onwards), given that the first member of this family to become a partner in the company was William Warre, and only in the year 1729. From this date the company became known as Clark, Thornton & Warre21. According to the current information supplied by the firm itself22, it is known that William Warre was a man of some wealth who had been born in 1706, in Madras in India, where his father and grandparents had been businessmen. William Warre married Elizabeth White- Warre’s kept an office in Viana importing bacalhau under the style of C. H. Noble & Murat right up to 1894, the last British firm to do so20. head, sister of the celebrated British Consul in Oporto, John Whitehead (1756-1805), with whom he had seven children. The latter was without doubt one of the most dynamic and enterprising representatives of British dip- No entanto, nas primeiras décadas do século XVIII a companhia fundada por Clark e Thornton não era ainda conhecida por Warre (só passaria a sê-lo em definitivo a partir de 1777), já que o primeiro membro desta família a quem foi dada sociedade por aquela firma foi William Warre, e apenas no ano de 1729. A partir desta data a companhia passaria então a designar-se Clark, Thornton & Warre21. De acordo com as informações fornecidas actualmente pela própria firma22, é sabido que William Warre era um homem de grande fortuna, que nasceu em 1706, em Madras, na Índia, onde o seu pai e avós tinham exercido actividade comercial. William Warre viria a casar-se com Elizabeth Whitehead, irmã do celebre cônsul britânico do Porto, John Whitehead (1756-1805), de quem teve sete filhos. Este último foi, sem dúvida, um dos mais dinâmicos e empreendedores representantes diplomáticos ingleses na capital nortenha. Nos relatos de viajantes britânicos que então se deslocavam ao nosso país e visitavam a cidade do Porto, são frequentes as referências a esta singular personalidade, que se destacava 65 lomats in Oporto. In the reports of British travellers who at the time visited Portugal and Oporto, there are frequent references to this singular personality who stood out due to his erudition23. He possessed a large and well-stocked library, he was a Mathematician, amateur scientist and the architect responsible for the planning and construction of the English Factory building (which was finished in 1790), the first building in the Neo-palladian style to have been erected in that city and which gave rise to an architectural tradition which would endure in Oporto until at least the middle of the 19th Century. Also well known is his close friendship with João de Almada e Melo, cousin of the Marquês de Pombal, the governor of that city and the founder of the Junta das Obras Públicas do Porto (The Body for Public Works in Oporto) in 1757. The celebrated urban renovation projects which it carried out involved the collaboration of John Whitehead who, up to a certain point, inspired and participated in them24. pela sua erudição23. Detentor de uma vasta e bem fornecida biblioteca, sabe-se que foi matemático, cientista amador e o arquitecto responsável pelo planeamento e edificação do edifício da Feitoria Britânica (concluído em 1790), a primeira construção em estilo neopaladiano a ser erigida naquela cidade e que daria origem a uma tradição arquitectónica que perduraria no Porto pelo menos até meados do século XIX. Igualmente conhecida é a sua estreita amizade com João de Almada e Melo, primo do Marquês de Pombal, governador daquela cidade e fundador da Junta das Obras Públicas do Porto (em 1757), cujos célebres projectos de renovação urbanística mereceram a atenção e a colaboração de John Whitehead, que, até certo ponto, os inspirou e neles participou24. Regressando, todavia, à breve história da família Warre, que aqui pretendemos traçar, diremos que o filho primogénito de William Warre (e seu homónimo) herdaria de seu pai o lugar de sócio principal ou maioritário da firma e do tio materno, John Whitehead, o cargo de cônsul britânico no Porto. Podemos, deste modo, constatar que a família Warre viria a alcançar uma posição de algum destaque e prestígio no seio da comunidade britânica da capital nortenha. A firma Warre viria entretanto a consolidar e expandir a sua actividade comercial no Porto, tendo adquirido terrenos em Vila Nova de Gaia, nos quais edificou os seus armazéns, caves e escritórios. No seio da geração seguinte do clã Warre viria igualmente a alcançar um inegável destaque o sobrinho do primeiro Warre a instalar-se na capital do Norte e sobrinho-neto do Cônsul Whitehead, o célebre Tenente-Coronel William Warre (1784-1853), filho de James Warre e Eleanor Greg. Embora desde muito cedo tenha manifestado uma inequívoca vocação para a carreira militar, acabaria, contudo, por ingressar na firma Warre & Co., por pressões do tio, William Warre, Returning, however, to the outline of the brief history of the Warre family, the first-born child of William Warre, of the same name, inherited his father’s majority shareholding in the firm and from his maternal uncle, John Whitehead, the post of British consul in Oporto. We could thus affirm that the Warre family had reached a position of prestige and importance within the British community in Oporto. The Warre firm would in the meanwhile consolidate and expand its commercial activity in Oporto, through the purchase of lands in Vila Nova de Gaia, on which it constructed its warehouses, cellars and offices. A member of the following generation of the Warre family would also achieve undeniable status. He was the grandson-nephew of Consul Whitehead, the well-known Lieutenant-Coronel William Warre (1784-1853), son of James Warre and Eleanor Greg. Although he had from an early age shown a clear vocation for a military career he did however join the firm of Warre Co, due to the pressure of his uncle, William Warre, who was at the time the majority shareholder. However, instead of pacifically accepting the will of the family and trying to learn his job, the young William did everything to go against such wishes and was prematurely and definitively removed from the company, due to his irreverent and irresponsible behaviour. After numerous and outlandish mishaps, William Warre enlisted in the British Army in 1803, after having attended the Royal Military College in Great Britain. The undeniable value of the services rendered by this young officer during the Napoleonic Wars led to his rapid promotion through the ranks. His knowledge of the Portuguese language and his in-depth knowledge of the country where he was born were extremely useful for the British 66 então sócio maioritário. Porém, ao invés de aceitar tacitamente a vontade da família e ter procurado aprender o seu ofício, o jovem William tudo fez para contrariar tais desígnios e ser prematura e definitivamente afastado da firma, pelo seu comportamento irreverente e irresponsável. Após numerosas e rocambolescas peripécias, William Warre viria a ingressar no exército britânico em 1803, depois de ter passado pelo Royal Military College, em Inglaterra. O inequívoco valor dos serviços prestados por este jovem oficial no curso das Guerras Napoleônicas valeu-lhe uma rápida progressão na hierarquia militar. O seu domínio da língua portuguesa e o seu profundo conhecimento do país onde nasceu constituíram uma mais-valia para o exército britânico, tendo sido nomeado ajudante de campo do General Beresford. De acordo com Gabriela Gândara Terenas25, William Warre veio a pertencer ao Estado-Maior de Lord Wellington tendo sido promovido a major do exército britânico em 1811 e a tenente-coronel em 1813. Este famoso oficial britânico legaria à posteridade um testemunho vivo da Guerra Peninsular e das campanhas militares em território português e espanhol, no célebre relato de viagem intitulado Letters from the Península, 1808-1812, publicado em 1909 pelo seu sobrinho e director do colégio de Eton, o Reverendo Edmond Warre. Galardoado por D. João VI com as ordens da Torre e Espada e de São Bento de Avis, pelos serviços prestados à coroa portuguesa e a sua valorosa conduta na Batalha do Vimeiro, William Warre não esqueceu, todavia, os seus deveres para com a família, durante todo o conflito, sendo certo que efectuava encomendas regulares de Vinho do Porto vintage para abastecimento dos oficiais seus colegas e do próprio Lord Wellington. Durante os anos de prosperidade do século XIX (entrecortados, contudo, por momentos diversos de forte instabilidade 67 Army, and he was nominated as an aide-de-camp to General Beresford. According to Gabriela Gândara Terenas25, William Warre ended up being part of the General Staff of Lord Wellington and was promoted to the rank of Major in the British Army in 1811 and to Lieutenant-Coronel in 1813. This famous British officer was to leave a living testament of the Peninsular War and the military campaigns in Portuguese and Spanish territory in the form of his celebrated travel report entitled Letters from the Peninsula, 1808-1812, which was published in 1909 by his nephew, and Headmaster of Eton College, the Reverend Edmond Warre. He was decorated by King João VI with the Orders of the Torre e Espada and São Bento de Avis, for services rendered to the Portuguese Crown and his valiant actions in the Battle of Vimeiro. William Warre did not, however, forget his duties to his family, making sure throughout the conflict that regular orders of vintage Port were made in order to supply his officer colleagues and Lord Wellington himself. Throughout the years of prosperity in the 19th Century (interrupted however by various moments of major political instability, namely during the Liberal Battles and the consequent moments of civil unrest, which have marked our History until its Regeneration, as well as be the well-known crises in the wine-growing industry due to phylloxera and mildew epidemics), Port wine became ever closer to its present-day characteristics and business flourished, above all through the opening of new markets, such as South America. In a publication edited by the Symington group in 197026 it was stated that from the start of the 19th Century, most of the wines exported by the Warre Company política, nomeadamente durante as Lutas Liberais e subsequentes momentos de conflito civil, que marcaram a nossa História até à Regeneração, bem como pelas célebres crises vinícolas provocadas pelas epidemias da filoxera e do oídio) o Vinho do Porto foi-se, cada vez mais, aproximando das suas actuais características e o comércio floresceu, sobretudo através da abertura de novos mercados, como o da América do Sul. Numa publicação editada pelo grupo Symington em 197026 afirma-se que, a partir do início do século XIX, a maior parte dos vinhos exportados pela companhia Warre eram produzidos na Quinta do Bonfim (situada na zona do Pinhão), adquirida pela firma em 1821, e noutras propriedades vizinhas de menor dimensão, igualmente situadas no Alto-Douro vinhateiro, desde 180527. had been produced in the Quinta do Bonfim (located in the Pinhão area), which had been bought by the company in 1821, and other neighbouring properties of a smaller size, also situated in the Alto-Douro winegrowing area, since 180527. Most of the WARRE e CINTRA Port Wines are produced in Quinta do Bomfim, both with vines cultivated on this property as well as those bought from the best neighbouring quintas. The Warre & C.ª archives confirm that the firm had made wine there in 1821, and in smaller neighbouring quintas in 1805. What is more, some exporters still make wine in their growers’ properties even today. It was just a league from this site that our two adventurers, considered as the A maior parte dos Vinhos do Porto WARRE e CINTRA são produzidos na Quinta do Bomfim, tanto com uvas cultivadas nesta propriedade como compradas às melhores quintas da vizinhança. Os arquivos da Warre & C.ª confirmam que a firma já fazia lá vinho em 1821, e, em quintas vizinhas mais pequenas em 1805. Aliás, ainda hoje alguns exportadores fazem algum vinho nas propriedades dos cultivadores. Foi apenas a uma légua deste sítio, que os nossos dois aventureiros considerados fundadores da firma, saborearam o vinho do Douro pela primeira vez em 167028. founders of the firm, first tasted wine from the Douro for the first time in 167028. In the last decade of the 19th Century, George Acheson Warre, for whom there had been no vacant place in the firm, went ahead and built enormous warehouses in Vila Nova de Gaia, where the wines produced in Quinta do Bonfim, were laid down. Also in the same period, more precisely in 1892, Andrew J. Symington, a Scottish citizen who had settled in Oporto ten years previously, joined the Warre firm, and became a partner in 1905 (or, according to other sources, in 1912) and also introduced his three Na última década do século XIX, George Acheson Warre, para quem não havia na época lugar vago na firma, procedeu à edificação de vastos armazéns em Vila Nova de Gaia, onde os vinhos produzidos na Quinta do Bonfim, passaram a ser armazenados. Ainda neste mesmo período, mais precisamente no ano de 1892, Andrew J. Symington, cidadão esco- sons into the business. During the 20th Century most of the capital of the Warre firm entered into the hands of the Symington family, who introduced significant improvements into the production systems. The last representative of the Warre family retired in 1955, with the three children of Andrew 68 cês que se havia estabelecido no Porto cerca de dez anos antes, entrou para a casa Warre, tendo-se tornado sócio da mesma em 1905 (de acordo com outras fontes, no ano de 1912) e nela tendo integrado os seus três filhos. Em meados do século XX a maior parte do capital da firma Warre encontrava-se já nas mãos da família Symington, que introduziu significativos melhoramentos nos sistemas de produção. O derradeiro representante da família Warre aposentou-se em 1955, mantendo-se os três filhos de Andrew Symington na direcção da companhia e passando este novo clã do vinho do Porto a assumir o controlo total da mesma. Embora nenhum membro da família Warre seja hoje sócio da firma, esta continua a ser conhecida por esse nome, fazendo parte do grupo Symington Family Estates, encontrando-se, deste modo, associada a outras companhias, como Silva & Cosens, Graham, Quarles Harris, Smith Woodhouse e Gould Campbell (algumas das quais continuavam ainda a operar autonomamente no final do século XX), sob a égide da família Symington. Na década de 60 do século passado, em virtude do significativo crescimento do volume de vendas, o Grupo Symington admitiu como associada a Compagnie Générale des Produits Dubbonet-Cinzano-Byrrh, que procedia então à distribuição dos vinhos produzidos pelo mesmo em França. Apesar deste desenvolvimento mais recente, continuou, porém, a ser uma das raras companhias particulares dirigidas e maioritariamente controladas por uma só família britânica, operando em exclusivo no nosso país e produzindo apenas vinho do Porto29. A família Symington soube, nesta medida, conservar tradições que remontam aos primórdios da firma Warre, mantendo o prestígio e o destaque dos vinhos desta marca, cujas origens se confundem com a própria história do vinho do Porto. 69 Symington heading the company and with this new Port wine family assuming total control of the firm. Although no member of the Warre family is a partner of the firm nowadays, it continues to be known by this name, and forms part of the Symington Family Estates group, and as such is joined to other companies, such as Silva & Cosens, Graham, Quarles Harris, Smith Woodhouse and Gould Campbell (some of which continued to operate independently at the end of the 20th Century), under the aegis of the Symington family. In the 1960s, due to the significant growth in sales, the Symington Group admitted the Compagnie Générale des Produits Dubbonet-Cinzano-Byrrh as a partner, and this group who took on the distribution of their wines in France. Despite this more recent development, it did however continue to be one of those rare private companies run by and with a majority shareholding of just one British family, operating exclusively in our country and producing only Port wine 29. The Symington family has thus known how to conserve traditions which go back to the first days of the Warre firm, and maintain the prestige and emphasis of wines of this brand, whose origins are mixed in with the very history of Port wine itself. notes 1 The institution here called the English Factory (Feitoria Inglesa) was abolished in 1810, by the treaty then ratified between Great Britain and Portugal, to become what was then to be called the British Association (Associação Britânica). See in this regard SANCEAU, Elaine – The British Factory Oporto. Barcelos: Companhia Editora do Minho, 1970, Chap. IV, p. 66. “It really was quite new insomuch that the Factory as an official entity had actually ceased to exist. The treaty signed with Portugal in 1810 laid down that there should be no foreign factories in this country any more, of any nationality. His Britannic Majesty had agreed to this, consenting ‘to waive the right of creating Factories or incorporated Bodies of British merchants under any name or Description whatever with in the Portu- guese dominions.’ All that he asked was that no other nation might enjoy notas what was denied to his subjects. To this the Prince Regent had agreed”. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 A instituição até aí designada de Feitoria Inglesa seria abolida em 1810, pelo tratado então firmado entre a Grã-Bretanha e Portugal, passando a chamar-se desde então British Association ou Associação Britânica. Veja-se a este propósito aquilo que nos diz SANCEAU, Elaine – The British Factory Oporto. Barcelos: Companhia Editora do Minho, 1970, cap. IV, p. 66. “It really was quite new insomuch that the Factory as an official entity had actually ceased to exist. The treaty signed with Portugal in 1810 laid down that there should be no foreign factories in this country any more, of any nationality. His Britannic Majesty had agreed to this, consenting ‘to waive the right of creating Factories or incorporated Bodies of British merchants under any name or Description whatever with in the Portuguese dominions.’ All that he asked was that no other nation might enjoy what was denied to his subjects. To this the Prince Regent had agreed”. Entre outras bibliotecas e arquivos onde desenvolvemos o nosso trabalho de pesquisa citaremos a Biblioteca Pública do Porto, o Arquivo Municipal do Porto, o Arquivo Distrital do Porto, o Arquivo do Governo Civil do Porto e a Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. EMILIANO, Maria da Conceição de Albuquerque – William Henry Giles Kingston: Percursos Lusitanos. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1988 [dissertação de Mestrado inédita]. A propósito deste romancista e viajante vitoriano veja-se a seguinte obra: KINGSFORD, Maurice Rooke – The Life, Work and Influence of William Henry Giles Kingston. Toronto: Ryerson Press, 1947. V. SILVA, Miguel Nuno Mercês de Mello Alarcão e – Edward Quillinan e Portugal. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1986 [dissertação de Mestrado inédita]; QUILLINAN, Edward – Poems, with a Memoir by William Johnston. London: Edward Moxon, 1853, pp. xxi-xlvi. A propósito de Luís de Quillinan consulte-se igualmente o seguinte trabalho: LAGE, José da Fonseca – A Pátria: a Luiz de Quillinan. Porto: Tipografia Ocidental, 1884. Consultem-se a este propósito os sites da Warre’s e da Symington Family Estates, disponíveis respectivamente em: http://www.warre.com/conteudos.asp (2009/03/01; 20:15h); http://www.symington.com/family.asp (2009/03/01; 20:15h). Veja-se ainda o volume comemorativo do centenário da Warre & Cª.: Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda, Fundada em 1670. S.l.: s.ed., s.d.. They Went to Portugal. Harmondsworth: Penguin Books, Penguin Travel Library, 1985, pp. 230-231. The Story of Port. London: Christie’s Wine Publications, 1983, cap.III, p. 25. Op. cit., pp. 232-234. Op. cit., cap. III, pp. 26-27. New York: Harper & Row Publishers, Inc., Barnes & Noble Import Division, cap. V, p. 110 (v. igualmente pp. 105-116): “The tradition in later years in Oporto was that the two sons of a Yorkshire shipper, who had been sent out to learn the wine trade, were the first English to explore the Upper Douro. Another story credited with the discovery Peter Bearsley, son of a merchant named Job Bearsley who settled in Viana in the 1680s. He was said to have found some uncommonly good wine in a monas- 2 Amongst the various libraries and archives which were consulted for this research I would mention the Public Library of Oporto (Biblioteca Pública do Porto), the Oporto Municipal Archive (Arquivo Municipal do Porto), the Civil Governor of Oporto’s Archive (Arquivo do Governo Civil do Porto) and the Library of the Faculty of Letters of the University of Oporto (Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto). 3 EMILIANO, Maria da Conceição de Albuquerque – William Henry Giles Kingston: Percursos Lusitanos (William Henry Giles Kingston; Literary Paths). Lisbon: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (Faculty of Social and Human Sciences, New University of Lisbon), 1988 [unpublished Master’s Dissertation]. 4 With regard to this Victorian novelist and traveller, see the following work: KINGSFORD, Maurice Rooke – The Life, Work and Influence of William Henry Giles Kingston. Toronto: Ryerson Press, 1947. 5 V. SILVA, Miguel Nuno Mercês de Mello Alarcão e – Edward Quillinan e Portugal. Lisbon: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (Faculty of Social and Human Sciences, New University of Lisbon), 1986 [unpublished Master’s Dissertation]; QUILLINAN, Edward – Poems, with a Memoir by William Johnston. London: Edward Moxon, 1853, pp. xxi-xlvi. Concerning Luís de Quillinan see also the following work: LAGE, José da Fonseca – A Pátria: a Luiz de Quillinan (The Country: for Luís Quillinan). Oporto: Tipografia Ocidental, 1884. 6 In this regard the following sites of Warre’s and the Symington Family Estates were consulted, available respectively at: http://www.warre.com/ conteudos.asp (2009/03/01; 20:15); http://www.symington.com/family.asp (2009/03/01; 20:15). See also the publication commemorating the centenary of Warre & Cª.: Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda, Fundada em 1670 (No publishing date, place or edition given). 7 They Went to Portugal. Harmondsworth: Penguin Books, Penguin Travel 8 The Story of Port. London: Christie’s Wine Publications, 1983, Chap. III, Library, 1985, pp. 230-231. p. 25. 9 Op. cit., pp. 232-234. 10 Op. cit., Chap. III, pp. 26-27. 11 New York: Harper & Row Publishers, Inc., Barnes & Noble Import Division, Chap. V, p. 110 (see also pp. 105-116): “The tradition in later years in Oporto was that the two sons of a Yorkshire shipper, who had been sent out to learn the wine trade, were the first English to explore the Upper Douro. Another story credited with the discovery Peter Bearsley, son of a merchant named Job Bearsley who settled in Viana in the 1680s. He was said to have found some uncommonly good wine in a monastery not far from Régua and to have brought some to send down to Oporto. It is not unlikely that something of the kind occurred, for the church was a principal land-owner and in the sixteenth century a monastery near Lamego had been famous for its vineyard, which produced 15,000-16,000 almudes (about 600 pipes) of wine 70 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 71 tery not far from Régua and to have brought some to send down to Oporto. It is not unlikely that something of the kind occured, for the church was a principal land-owner and in the sixteenth century a monastery near Lamego had been famous for its vineyard, which produced 15,000-16,000 almudes (about 600 pipes) of wine of the best quality. The Bearsleys were authentic enough; Woodmass was met by Job Bearsley when he landed at Viana. Afterwards the family moved to Oporto and founded a firm of wine-shippers which after nineteen changes of name carried on recently as Taylor, Fladgate and Yeatman. Most of the vineyards round Lamego were on somewhat heavier soil, but some perhaps had already spread to the thin schistous soil of the mountains where the full wines to be known as port were later grown”. Oporto, Old and New, Being a Historical Record of the Port Wine Trade and a Tribute to British Commercial Enterprize, in the North of Portugal. London: Herber E. Harper, 1899, cap. III, pp. 19-24. Op.cit., cap. III, pp. 25-27. Op.cit., cap. V, pp. 109-110. York: Printed by A. Ward, For J. Todd; And Sold By R. Baldwin, Pater-Noster Row, London, 1788, p. 5. BRADFORD, Sarah - op.cit., “Appendix III”, p.148. Veja-se a seguinte passagem da obra supracitada: “Job Bearsley, with his impedimenta and his flat-bottomed boat, was the founding father of the firm which later became Taylor, Fladgate & Yeatman. Job – we never hear of poor Mrs. Bearsley, homesick for the comforts of England among all those unintelligible Portuguese – had five sons, Peter, Charles, Bartholomew, Francis and William. The Bearsleys were real pioneers; around the turn of the century they moved their business to Oporto, although they doubtless continued to ship Minho wine through Viana, and Peter Bearsley, according to John Croft, was the first Englishman to visit the Upper Douro for the purpose of buying wine. It was on this epoch-making trip that he noted the insidious elder trees growing merrily among the wines. Bartholomew bought the first known British property in the Douro, the Casa dos Alambiques at Salgueiral near Régua, which Taylor’s still own to this day” (ibidem, p.148). Ibidem, cap. III, p. 26. CROFT, John - Op.cit., p. 5. MACAULAY, Rose – Op.cit., p. 234. “The British wine Trade shifted gradually from Viana to Oporto; by the middle of the century only about half a dozen families were left in Viana. More firms began to sell only wine; the Douro valley vineyards incresed, and the technique of viticulture improved”. BRADFORD, Sarah – Op.cit., p. 149. Esta firma, cujas origens se confundem com as do próprio vinho do Porto, negociou, ao longo da sua história, sob diversas designações, cada uma das quais corresponde a um momento específico na sua evolução e na sua composição social: John Clark – 1718; Clark & Thornton - 1723; Clark, Thornton & Warre – 1729; Clark, Warre & Newby - 1734; Warre, Newby & Bowman - 1743; Warre, Lesueur & Trodlope – 1749; Warre, Lesueur & Calvert – 1762; Warre & Sons – 1777. V. supra nota 6, Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda., Fundada em 1670. S.l.: s.ed., s.d., p.4. of the best quality. The Bearsleys were authentic enough; Woodmass was met by Job Bearsley when he landed at Viana. Afterwards the family moved to Oporto and founded a firm of wine-shippers which after nineteen changes of name carried on recently as Taylor, Fladgate and Yeatman. Most of the vineyards round Lamego were on somewhat heavier soil, but some perhaps had already spread to the thin schistose soil of the mountains where the full wines to be known as port were later grown.” 12 Oporto, Old and New, Being a Historical Record of the Port Wine Trade and a Tribute to British Commercial Enterprize, in the North of Portugal. London: Herber E. Harper, 1899, Chap. III, pp. 19-24. 13 Op.cit., Chap. III, pp. 25-27. 14 Op.cit., Chap. V, pp. 109-110. 15 York: Printed by A. Ward, For J. Todd; And Sold By R. Baldwin, Pater-Noster Row, London, 1788, p. 5. 16 BRADFORD, Sarah - op.cit., “Appendix III”, p.148. Consider the following extract of the work cited above: “Job Bearsley, with his impedimenta and his flat-bottomed boat, was the founding father of the firm which later became Taylor, Fladgate & Yeatman. Job – we never hear of poor Mrs. Bearsley, homesick for the comforts of England among all those unintelligible Portuguese – had five sons, Peter, Charles, Bartholomew, Francis and William. The Bearsleys were real pioneers; around the turn of the century they moved their business to Oporto, although they doubtless continued to ship Minho wine through Viana, and Peter Bearsley, according to John Croft, was the first Englishman to visit the Upper Douro for the purpose of buying wine. It was on this epoch-making trip that he noted the insidious elder trees growing merrily among the wines. Bartholomew bought the first known British property in the Douro, the Casa dos Alambiques at Salgueiral near Régua, which Taylor’s still own to this day” (ibidem, p.148). 17 Ibidem, Chap. III, p. 26. 18 CROFT, John - Op.cit., p. 5. 19 MACAULAY, Rose – Op.cit., p. 234. “The British wine Trade shifted gradually from Viana to Oporto; by the middle of the century only about half a dozen families were left in Viana. More firms began to sell only wine; the Douro valley vineyards increased, and the technique of viticulture improved”. 20 21 BRADFORD, Sarah – Op.cit., p. 149. This firm, whose origins are mixed with those of Port wine itself, has had different names throughout its history, with each one corresponding to a specific moment in its evolution and social make-up: John Clark – 1718; Clark & Thornton - 1723; Clark, Thornton & Warre – 1729; Clark, Warre & Newby - 1734; Warre, Newby & Bowman - 1743; Warre, Lesueur & Trodlope – 1749; Warre, Lesueur & Calvert – 1762; Warre & Sons – 1777. 22 See note 6 above, Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda., Fundada em 1670. (No publishing date, place or edition given), p.4. 23 On this matter consult the work of Costigan in Portuguese, COSTIGAN, Arthur William – Cartas sobre a sociedade e os costumes de Portugal, 1778-1779 (translation, preface and notes by Augusto Reis Machado). Lisboa: Lisóptima Edições, 1989. Vol. I, Chap. XV, pp. 154-158, or the Eng- 23 24 25 26 27 28 29 Consulte-se a este propósito e a título de exemplo o relato de COSTIGAN, Arthur William – Cartas sobre a sociedade e os costumes de Portugal, 1778-1779 (tradução, prefácio e notas de Augusto Reis Machado). Lisboa: Lisóptima Edições, 1989. Vol. I, cap. XV, pp. 154-158. Cf. com o original inglês Sketches of Society and Manners in Portugal, In a Series of Letters, from Arthur William Costigan, Esq., Late a Captain of the Irish Brigade in the Service of Spain, To His Brother in London, in Two Volumes. London, 1788. Arthur William Costigan é, como se sabe, o pseudónimo usado por James Ferrier. NEVES, Ana – O Terramoto de 1755 e a Influência da Arte Britânica na Arquitectura Portuguesa Setecentista. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2008, cap. II, pp. 201-208. TERENAS, Gabriela Gândara – O Portugal da Guerra Peninsular, A Visão dos Militares Britânicos (1808-1812). Lisboa: Edições Colibri, 2000, p.177. V. supra, nota 21. Op. cit., pp. 9-10. Ibidem, pp. 9-10. Veja-se igualmente o site da revista online sobre enologia Winedoctor, Independent opinion on wine, in http://www.thewinedoctor.com/tastings profile/warres.shtml (2008/12/01; 21:55h). Citaremos a este propósito uma passagem do texto deste site respeitante às quintas onde são produzidos os vinhos da marca Warre: “As with other Port houses, Warre’s will always be inextricably linked with its quintas, the estates dotted along the Douro and her tributaries that are the source of this regions grapes. With Warre’s this is Quinta da Cavadinha, located in the Pinhão Valley in the upper reaches of the Douro, known as the Alto Douro (or Douro Superior). Today it is widely acknowledged that it is these vineyards, with their low rainfall, that are the source of the best quality grapes. The Pinhão is a tributary of the Douro flowing in from the north, joining the main body of water at the town of the same name. The valley is home not only to Cavadinha, but also Quinta do Noval and Quinta do Passadouro (Nieport), and Dow’s Quinta do Bomfim is located close to the union of the two rivers on the Douro. Cavadinha is an important source of fruit for Warre’s Vintage Port, and in non-declared years it may be bottled as a single quinta wine. It is also the location of Warre’s experimental vineyard, created to assess newly available planting material, rootstock and clones, and the plantings are in sufficient quantity for microvinifications to be performed to assess the results. In addition to Cavadinha, Warre’s have also recently acquired Quinta do Bom Retiro Pequeno, a leading estate located in the Rio Torto valley, another of the Douro’s tributaries which joins the river not far downstream of Pinhão”. V. supra, notas 21, 25 e 26. Ibidem, pp. 9-10. Actualmente, o grupo Symington faz parte integrante da exclusivíssima associção Primum Familiae Vini, que agrupa as onze maiores famílias de produtores vinícolas do mundo. Os seus membros são respectivamente as famílias Antinori, Joseph Drouhin, Egon Müller Scharzhof, Hügel, Perrins de Beaucastel, Mouton Rothschild, Pol Roger, Sassicaia, Torres e Vega Sicilia. Os critérios essenciais para alcançar o estatuto de membro desta prestigiada associação são, em primeiro lugar, que as firmas pertençam a uma única família (isto é, que o capital social da firma seja detido por uma só família) e, numa segunda instância, que tenham figurado igualmente, durante muitos anos, na lista dos melhores produtores da sua respectiva região e alcançado uma elevada reputação a nível internacional. In http://www.warre.com/conteudos.asp (2008/12/01; 21:50h) lish original: Sketches of Society and Manners in Portugal, In a Series of Letters, from Arthur William Costigan, Esq., Late a Captain of the Irish Brigade in the Service of Spain, To His Brother in London, in Two Volumes. London, 1788. Arthur William Costigan is known to be the pseudonym used by James Ferrier. 24 NEVES, Ana – O Terramoto de 1755 e a Influência da Arte Britânica na Arquitectura Portuguesa Setecentista (“The 1755 Earthquake and the Influence of British Art on 18th Century Portuguese Architecture”). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (Faculty of Social and Human Sciences, New University of Lisbon), 2008, Chap. II, pp. 201-208. 25 TERENAS, Gabriela Gândara – O Portugal da Guerra Peninsular, A Visão dos Militares Britânicos (1808-1812), (Portugal of the Peninsular War, The Vision of the British Soldiers, 1808-1812). Lisboa: Edições Colibri, 2000, p. 177. 26 See note 21 above. Op. cit., pp. 9-10. 27 Ibidem, pp. 9-10. See also the site of the online wine magazine, Winedoctor, Independent opinion on wine, at http://www.thewinedoctor.com/tastings profile/warres.shtml (2008/12/01; 21:55). Here is a passage from this site concerning the quintas where wine bearing the Warre name is produced: “As with other Port houses, Warre’s will always be inextricably linked with its quintas, the estates dotted along the Douro and her tributaries that are the source of this region’s grapes. With Warre’s this is Quinta da Cavadinha, located in the Pinhão Valley in the upper reaches of the Douro, known as the Alto Douro (or Douro Superior). Today it is widely acknowledged that it is these vineyards, with their low rainfall, that are the source of the best quality grapes. The Pinhão is a tributary of the Douro flowing in from the north, joining the main body of water at the town of the same name. The valley is home not only to Cavadinha, but also Quinta do Noval and Quinta do Passadouro (Nieport), and Dow’s Quinta do Bomfim is located close to the union of the two rivers on the Douro. Cavadinha is an important source of fruit for Warre’s Vintage Port, and in non-declared years it may be bottled as a single quinta wine. It is also the location of Warre’s experimental vineyard, created to assess newly available planting material, rootstock and clones, and the plantings are in sufficient quantity for microvinifications to be performed to assess the results. In addition to Cavadinha, Warre’s have also recently acquired Quinta do Bom Retiro Pequeno, a leading estate located in the Rio Torto valley, another of the Douro’s tributaries which joins the river not far downstream of Pinhão”. 28 See above, notes 21, 25 and 26. Ibidem, pp. 9-10. 29 The Symington group currently forms part of the very exclusive association Primum Familiae Vini, which brings together the eleven largest wine producing families in the world. Its members are the Antinori, Joseph Drouhin, Egon Müller Scharzhof, Hügel, Perrins de Beaucastel, Mouton Rothschild, Pol Roger, Sassicaia, Torres and Vega Sicilia families. The main criteria to be able to join this prestigious association are that, in the first place, the companies belong to a single family (that is that the share capital of the company is held by a single family) and, secondly, that they have also been on the list of the best producers in their region for many years, and have a strong reputation internationally. In http://www.warre.com/conteudos.asp (2008/12/01; 21:50). 72 BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAPHY Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda, Fundada em 1670. S.l.: s. ed., s.d.. ALLEN, Warner H. – The Wines of Portugal. London: George Rainbird and Michael Joseph, 1963 (1st. ed. 1962). BRADFORD, Sarah – The Englishman’s Wine. The Story of Port. S.l.: Macmillan, St. Martin’s Press, 1969. COBB, Gerald - Oporto Older And Newer. S.l.: Chichester Press, 1966. COCKBURN, Ernest H. – Port Wine and Oporto. London: Wine and Spirits Publications, 1949. CROFT, John - A Treatise on the Wines of Portugal. York: Printed by A. Ward, for J. Todd; and sold by R. Baldwin, Pater-Noster Row, London, 1788. DELAFORCE, John - The Factory House at Oporto. London: Christie’s Wine Publications, 1983 (2nd. ed.). FRANCIS, A.D. – The Wine Trade. S.l.: Harper & Row Publishers Inc., Barnes and Noble Import Division, 1972. MACAULAY, Rose – They Went to Portugal. Harmondsworth: Penguin Books, Penguin Travel Library, 1985 (1st. ed. 1946). SELLERS, Charles – Oporto Old and New, Being a historical record of the Port wine Trade, and a tribute to British commercial enterprise in the North of Portugal. London: Herbert & Harper, 1899. SHAW, L.M.E. – The Anglo-Portuguese Alliance and the English Merchants in Portugal, 1654-1810. Aldershot, U.K.; Brookfield, Vermont, U.S.A.: Ashgate, 1998. SIMON, André L. – Port. London: Constable & Co. Ltd., 1934. WARRE, Edmond - “Memoir of William Warre”. Letters from the Peninsula, 1808-1812, edited by his nephew with frontispiece and map. London: John Murray, 1909, pp. xix-xxiii. Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda, Fundada em 1670. (No publishing data). 73 ALLEN, Warner H. – The Wines of Portugal. London: George Rainbird and Michael Joseph, 1963 (1st. Ed. 1962). BRADFORD, Sarah – The Englishman’s Wine. The Story of Port. Macmillan, St. Martin’s Press, 1969. COBB, Gerald – Oporto Older And Newer. Chichester Press, 1966. COCKBURN, Ernest H. – Port Wine and Oporto. London: Wine and Spirits Publications, 1949. CROFT, John – A Treatise on the Wines of Portugal. York: Printed by A. Ward, for J. Todd; and sold by R. Baldwin, Pater-Noster Row, London, 1788. DELAFORCE, John – The Factory House at Oporto. London: Christie’s Wine Publications, 1983 (2nd. Ed.). FRANCIS, A.D. – The Wine Trade. Harper & Row Publishers Inc., Barnes and Noble Import Division, 1972. MACAULAY, Rose – They Went to Portugal. Harmondsworth: Penguin Books, Penguin Travel Library, 1985 (1st. Ed. 1946). SELLERS, Charles – Oporto Old and New, Being a historical record of the Port wine Trade, and a tribute to British commercial enterprise in the North of Portugal. London: Herbert & Harper, 1899. SHAW, L.M.E. – The Anglo-Portuguese Alliance and the English Merchants in Portugal, 1654-1810. Aldershot, U.K.; Brookfield, Vermont, U.S.A.: Ashgate, 1998. SIMON, André L. – Port. London: Constable & Co. Ltd., 1934. WARRE, Edmond – “Memoir of William Warre”. Letters from the Peninsula, 1808-1812, edited by his nephew with frontispiece and map. London: John Murray, 1909, pp. xix-xxiii. Joseph James Forrester, defensor do Douro: a obra do “estrangeiro-portuguez” Joseph James Forrester, Champion of the Douro: The Work of the ‘Portuguese-Foreigner’ Maria Zulmira Castanheira FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 74-99, ISSN 1646-7116 No dia 12 de Maio de 1861 morria afogado na curva do Cachão da Valeira1, em consequência do naufrágio do barco em que fazia um passeio fluvial na companhia, entre outros, de D. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896)2, a célebre «Ferreirinha da Régua», que se salvou, Joseph James Forrester, 1.º e único barão de Forrester, título português que lhe foi concedido por D. Fernando II, regente, em Abril de 18553. Por ironia do destino, tirou-lhe a vida aquele mesmo rio Douro que tantas e demoradas vezes havia navegado, no luxuoso barco rabelo que mandara construir4, e que, com dispêndio de muito esforço e avultadas quantias, cuidadosa e talentosamente cartografara, tendo vindo a publicar em 1848 um mapa de grandes dimensões (3 m de comprimento x 0,68 m de largura) do Douro portuguez e paiz adjacente, com tanto do rio quanto se póde tornar navegável em Hespanha e a enviar em 1855 à Exposition Universelle des Produits de l’Agriculture, de l’Industrie et des Beaux-Arts de Paris, vários outros mapas geológicos e hidráulicos do leito, margens e barra do Douro português. Seria também autor de um mapa topográfico do Paiz vinhateiro do Alto Douro, dedicado à rainha D. Maria II5, publicado em português e inglês (1843)6. Por ocasião do seu trágico falecimento, tanto a imprensa periódica portuguesa como a inglesa lamentaram a perda de tão grande amigo de Portugal, tendo, por exemplo, The Gentleman’s Magazine, no artigo que lhe dedicou na secção de necrologia do seu número de Julho de 1861, registado que o desaparecimento do homem que tanto fizera pelo Douro causara consternação nacional no país aliado: “His death caused a profound sensation both at Lisbon and Oporto, and all the vessels in port lowered their flags half-mast high, on receiving the distressing intelligence”7. Em Portugal, foram vários os jornais que o homenagearam, entre eles O Commercio do Porto8 e os lisboetas Jornal do Commercio9, A Politica Liberal10 75 On 12 May 1861, the pleasure craft carrying James Joseph Forrester and, among others, D. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896)1, the famous ‘Ferreirinha da Régua’, sank at the Cachão da Valeira2 curve, drowning Forrester, 1st and only Baron Forrester, a Portuguese title bestowed upon him by the Regent, Fernando II in April 18553. (D. Adelaide survived.) Through an ironic twist of fate, the Douro that took his life was that selfsame river on which he had so often and so comprehensively sailed on the luxurious rabelo boat he had had built4, and which, painstakingly and at great cost, he had carefully and with great talent charted, having published in 1848 a largescale map (3m long by 0.68 width) of The Portuguese Douro and Adjacent Country, with as much of the river as can be made navigable in Spain. In 1855, he sent to the Paris Exposition Universelle des Produits de l’Agriculture, de l’Industrie et des Beaux-Arts several other geological and hydraulic maps of the bed, banks and mouth of the Portuguese Douro. He was also the author of the typographical Map of the Wine District of the Alto Douro, dedicated to Queen Maria II5, published in Portuguese and in English (1843)6. Upon his tragic death, both the Portuguese and British periodical press mourned the loss of such a great friend to Portugal. An example of this is to be found in the obituary section of the July 1861 issue of The Gentleman’s Magazine, recording that the passing of the man who had done so much for the Douro had caused great national distress in the allied country: “His death caused a profound sensation both at Lisbon and Oporto, and all the vessels in port lowered their flags half-mast high, on receiving the distressing intelligence”7. In Portugal, several newspapers paid tribute to him. Among these were O Commercio do e o prestigiado semanário ilustrado Archivo Pittoresco, onde veio a lume um elogio fúnebre de Joseph James Forrester, em forma de biografia, assinado por A. M. Leorne (António Martins Leorne)11. Com entusiasmo e admiração, o articulista fala-nos da vida deste negociante e agricultor britânico que estabeleceu fortes laços com Portugal e se dedicou ao negócio do vinho do Porto, tendo escrito variadíssimas obras sobre a questão vinícola e o rio Douro. Entre as muitas observações com interesse que A. M. Leorne faz sobre Forrester, a quem chama “o estrangeiro-portuguez” e a “personificação do Douro”, pondo em evidência não só a sua inteligência, nobreza de carácter e filantropia, mas também a forma como sempre pugnou pela reputação do vinho do Porto e pelo desenvolvimento do seu comércio, a ponto de poder ser considerado “mais portuguez que muitos portuguezes”, citem-se as palavras seguintes, bastante eloquentes na tentativa de salientar a lusofilia de Forrester: Porto8 and the Lisbon papers Jornal do Commercio9, A Politica Liberal10, and the prestigious illustrated weekly Archivo Pittoresco, which published a funeral eulogy of Joseph James Forrester, in the shape of a biography signed by A.M. Leorne (António Martins Leorne)11. The latter enthusiastically and admiringly wrote about the life of this British merchant and agriculturalist who formed a strong bond with Portugal and devoted himself to the Port wine trade and who had written the most varied works on matters of wine and the river Douro. Among A.M. Leorne’s many interesting remarks about Forrester, whom he called the ‘Portuguese-foreigner’ and the ‘personification of the Douro’, emphasising not only his intelligence, nobility of character and philanthropy, but also the way he had always fought for the reputation of Port wine and for the development of its trade, to the extent that he could be regarded as ‘more Portuguese than many Portuguese’, the following words eloquently stress Forrester’s Lusophilia: Se houve estrangeiro que se esmerasse na apreciação do quanto vale o nosso Portugal; que mais caprichasse em nos fazer justiça; que mais se esforçasse por nos tornar conhecidos das nações estranhas; que mais pugnasse pela nossa lavoira em geral, e pela vinicola em particular, amando ao mesmo tempo o nosso paiz como se n’elle nascêra, esse estrangeiro foi, inquestionavelmente, o barão de Forrester12. If ever there was a foreigner who took greater pains to appreciate the worth of our Portugal; who went to such lengths to do us justice; who put greater effort into making us known among foreign nations; who fought harder for our agriculture in general and for wine-growing in particular, at the same time loving our country as if he had been born here, that foreigner was, without ques- Nascido em Hull, cidade do Norte de Inglaterra, em 27 de Maio de 1809, Joseph James Forrester veio para Portugal em 1831 – durante o terror miguelista, vindo a ser em breve testemunha da entrada do exército liberal no Porto e do cerco feito à cidade pelas forças absolutistas – com vinte e dois anos, para trabalhar com o tio, James Forrester (1775-1840), notável negociante de vinhos estabelecido no Porto tion, Baron Forrester12. Born in Hull, in the north of England, on 27 May 1809, Joseph James Forrester came to Portugal in 1831 – during the terror of King Miguel’s reign, and soon after witnessing the Liberal army’s entrance into Porto and the siege laid to the city by the absolutist forces – at the 76 age of 22, to work with his uncle, James Forrester (1775-1840), a prominent wine merchant established in Porto who had arrived from Perth in the early 1800s (1803) to join a firm later designated as Offley, Forrester and Webber. On 10 May 1836, Joseph James married a fellow-Briton in England, Eliza Cramp, the daughter of William Cramp, the head of Customs in Yorkshire, England, and the sister of Francis Cramp (1820-1875), who in the 1840s (1848) would also become a partner in the above business accredited in Porto (Offley, Cramp and Forrester)13, thus showing how Port wine merchants tended to include other family members. In the early 1850s, Forrester left the firm, setting up on his own as a producer and exporter. Meanwhile, having become a widower in 1847, shortly after his wife gave birth to their seventh child (mother and new-born daughter succumbed to typhoid fever) – James Forrester, Joseph James Forrester, Ermelinda Forrester, Eliza Forrester, William Offley Forrester, Frank Woodhouse Forrester (the latter two were given the surnames of their godparents, William Offley and Robert Woodhouse, as was then the custom) and Maria, born in 1837, 1838, 1840, 1842, 1843, 1845 e 1847 respectively – he had decided to send his children to school in the United Kingdom, as was customary among British families established in Portugal, which would in the event prove even more pressing, given the loss of their mother and their father’s many duties. The four que, nos primeiros anos de Oitocentos (1803), chegara de Perth para se associar a uma firma que mais tarde se designaria por Offley, Forrester & Webber. Em 10 de Maio de 1836 Joseph James casou em Inglaterra com uma compatriota, Eliza Cramp, filha de William Cramp, director da alfândega do condado de York, em Inglaterra, e irmã de Francis Cramp 77 boys would also eventually turn to the wine business, as recorded by Norman R. Bennett (“In 1861 francis Crmp took the Forrester’s two youngest sons into the firm; the two eldest were already in the London branch”14) and, before him, John Delaforce, recounting Forrester’s leaving the firm in 1851: (1820-1875), que nos anos 40 (1848) entraria também para sócio daquela casa comercial acreditada no Porto (Offley, Cramp & Forrester 13),demonstrando-se, uma vez mais, como as empresas ligadas ao vinho do Porto tendiam a incluir membros de uma mesma família. No início da década de 50 Forrester abandonaria a firma, passando a produtor e exportador independente. Entretanto, tendo ficado viúvo em 1847, pouco depois de a sua mulher dar à luz o sétimo filho (mãe e filha recém-nascida sucumbiram vítimas da febre tifóide) – James Forrester, Joseph James Forrester, Ermelinda Forrester, Eliza Forrester, William Offley Forrester, Frank Woodhouse Forrester (os dois últimos receberam o apelido dos seus padrinhos, William Offley e Robert Woodhouse, como era então costume) e Maria, nascidos, respectivamente, em 1837, 1838, 1840, 1842, 1843, 1845 e 1847 –, decidira mandar educar os filhos em Inglaterra, o que era, de resto, prática habitual entre as famílias britânicas estabelecidas em Portugal e, no caso, se tornara ainda mais premente, dada a falta da mãe e os muitos afazeres do pai. Os quatro rapazes viriam, no futuro, a dedicar-se também ao comércio do vinho, como regista Norman R. Bennett (“In 1861 Francis Cramp took Forrester’s two youngest sons into the firm; the two eldest were already in the London branch.”14) e, antes dele, John Delaforce, ao falar da saída de Forrester da firma, em 1851: […] when James Forrester died in 1840, his nephew was the only representative of the name in the firm but he withdrew from it in 1851, leaving his brother-in-law Francis Cramp in charge. Forrester established himself in London under the title of “Joseph James Forrester & Sons, Portugal Merchants, Oporto and 24 Crutched Friars, London and also of 76 Mark Lane. In fact his two eldest sons, James and Joseph James, were aged only fourteen and thirteen at that time, but after Forrester’s death in 1861 Francis Cramp invited his nephews to join him and so the family connection in Oporto was restored. […] Subsequently his two younger sons, William Offley and Frank Woodhouse, joined the firm in Oporto, and they were recorded as Members of the British Association (Factory House) in Oporto in 1876 and as Founder Members of the Oporto British Club in 190315. Endowed with great drive, Joseph James Forrester was not only able to move his uncle’s firm forward efficiently and become a major Douro wine producer and land-owner – Sarah Bradford ventures the view that “Joseph James Forrester was perhaps the most remarkable man the port trade has produced”16 –, but he also fought for the quality of Port wine and for the interests […] when James Forrester died in 1840, his nephew was the only representative of the name in the firm but he withdrew from it in 1851, leaving his brother-in-law Francis Cramp in charge. Forrester established himself in London under the title of “Joseph James Forrester & Sons, Portugal Merchants, Oporto and 24 Crutched Friars, London and also of 76 Mark Lane”. In fact his two eldest sons, James and Joseph James, were aged only fourteen and thirteen at that time, but after Forrester’s of the Douro region, defending points of view and pointing to solutions which did not fail to generate heated controversy and even enmities. At the time of his death, however, and despite the controversies, envy and jealousy which had grown around him over the years, the voices that rose were not those of his detractors but of his admirers, who attested to how well-known and esteemed Forrester was in Portugal. Unlike many of his 78 death in 1861 Francis Cramp invited his nephews to join him and so the family connection in Oporto was restored. […] Subsequently his two younger sons, William Offley and Frank Woodhouse, joined the firm in Oporto, and they were recorded as Members of the British Association (Factory House) in Oporto in 1876 and as Founder Members of the Oporto British Club in 190315. compatriots, he had soon learnt Portuguese and had never shut himself off from contact with the nationals of the country which had become home to him. Rather, he plunged actively into Portuguese economic and cultural life, mixing with people in every walk of life and from the most varied political factions, thus becoming one of the most visible faces of the British presence in Romanticism17 Portugal, closely linked, as we know, to the eco- Dotado de grande poder de iniciativa, Joseph James Forrester não só soube dar, eficientemente, continuidade à empresa de seu tio, e se tornou um importante produtor de vinho e proprietário duriense – Sarah Bradford arrisca dizer que “Joseph James Forrester was perhaps the most remarkable man the port trade has produced”16 –, como lutou pela qualidade dos vinhos do Porto e os interesses da região do Douro, defendendo pontos de vista e apontando soluções que não deixaram de gerar acesa controvérsia e até inimizades. À data da sua morte, contudo, e apesar das polémicas, invejas e ciúmes que suscitara ao longo dos anos, ergueu-se não a voz dos detractores mas a dos admiradores, que deram testemunho do quanto Forrester era, em Portugal, conhecido e estimado. Contrariamente a muitos compatriotas seus, depressa aprendera o português e nunca se fechara ao contacto com os naturais do país em que se radicara, envolvendo-se antes, activamente, na vida económica e cultural portuguesa, dando-se com gente de todas as classes sociais e das mais diversas facções políticas, e tornando-se, assim, um dos rostos mais visíveis da presença britânica no Portugal do Romantismo17, estreitamente ligada, como se sabe, ao sector da economia: nomic sector: […] foreign, above all English, was the capital used to redeem the public debt; English hands were also in control of a number of sectors of maritime trade, mining, and many insurance companies. English also was the prominent colony which in Porto controlled a large part of the Port wine trade (Offley, Cramp & Forrester, Croft & Company, Sandeman & Company, among other firms) 18. Having, as it had since the seventeenth century, a prominent place in the Portuguese balance of trade, Port wine did in fact have the United Kingdom as its main buyer, while at the same time, in Portugal, exports of this product were largely concentrated in the hands of British citizens resident in Porto19. Largely engaged in trade, the British community established there20 held an economic influence and a social dimension which warranted the presence of a Consul in that northern city, with one of them, John Whitehead (1726-1802), undertaking the building of the headquarters of the British Factory. In […] estrangeiros, sobretudo ingleses, eram os capitais que serviam para amortizar a dívida pública; na mão de ingleses estavam também alguns sectores do comércio marítimo, das explo79 the words of John Delaforce, Joseph James Forrester was never a member of the British Association, the designation adopted in 1814 by the old British Factory of rações mineiras e muitas das companhias de seguros. Inglesa era, ainda, a importante colónia que na cidade do Porto controlava uma boa parte do comércio do «port wine» (as casas Offley, Cramp & Forrester, Croft & Cª, Sandeman & C.ª, entre outras)18. Portugal, since the Friendship, Commerce and Navigation Treaty signed with Britain in 1810 banned British Factories in Portugal, which still obtains: Forrester was never a member of the British Association, which perhaps is not surprising in view of his con- Ocupando, desde o século XVII, um lugar de relevo na balança comercial portuguesa, o vinho do Porto tinha na Grã-Bretanha, na verdade, o seu principal comprador, ao mesmo tempo que em Portugal a exportação deste produto estava em grande medida concentrada nas mãos de britânicos fixados no Porto19. Ligada essencialmente ao comércio, a comunidade britânica ali estabelecida20 detinha um peso económico e uma dimensão social que justificavam a existência, naquela cidade nortenha, de um cônsul, ficando a dever-se a um deles, John Whitehead (1726-1802), a construção da sede da Feitoria Inglesa. Como diz John Delaforce, Joseph James Forrester nunca pertenceu à British Association, designação adoptada pela velha Feitoria Britânica do Porto em 1814, em virtude de o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação assinado com a Inglaterra em 1810 proibir a existência de feitorias britânicas em Portugal, e que ainda se mantém: troversial views which did not endear him to the Factory. He was invited to dinners at the Factory House in 1833 and 1834, but there is no record as to whether he was ever proposed for membership21. Besides the cartographic work already cited, Forrester produced a significant set of essays – which he published simultaneously in Portuguese and in English, which was not usual and obviously garnered him a wider audience –, notably on wine-growing, the Port wine trade in Portugal, the river Douro and its navigability, diseases of the vine, and the production and making of olive oil. He also campaigned for the lowering of taxes on Port wine destined for the British market. In 1844, he published in London and Porto, anonymously (‘By One Residing in Portugal for Eleven Years’), although he was easily identified, A Word or Two on Port Wine22, a pamphlet in which he denounced Forrester was never a member of the British Association, which perhaps is not surprising in view of his controversial views which did not endear him to the Factory. He was invited to dinners at the Factory House in 1833 and 1834, but there is no record as to whether he was ever proposed for membership21. the adulteration of wines produced in the Alto Douro. The pamphlet was subsequently re-printed several times, triggering a heated controversy involving individuals and corporations with ties to the production and export of these wines, and Forrester, as highlighted by Rose Macaulay: Forrester accused his countrymen of shipping infe- Para além dos trabalhos cartográficos já mencionados, Forrester produziu um conjunto significativo de obras de carácter ensaístico – que publicou simultaneamente em por- rior wines, of adulterating them with too much brandy, elderberry and sugar, in order to make a wine ‘black, strong and sweet’, fit, Forrester protested, only for the 80 tuguês e em inglês, o que não era comum e, como é óbvio, deu muito mais eco à sua voz –, nomeadamente sobre vinicultura, o comércio do vinho do Porto em Portugal, o rio Douro e sua navegabilidade, doenças da vinha e produção e fabrico do azeite. Fez ainda campanha pela redução dos impostos sobre o vinho do Porto destinado ao mercado inglês. Em 1844 publicou em Londres e no Porto, anonimamente (“By One Residing in Portugal for Eleven Years”), se bem que tivesse sido facilmente identificado, A Word or Two on Port Wine22, panfleto em que denunciou as adulterações feitas aos vinhos produzidos no Alto Douro e que teve várias edições, desencadeando uma acesa polémica entre muitos indivíduos e corporações ligados à produção e exportação dos ditos vinhos, e Forrester, como salienta Rose Macaulay: lowest classes. His pamphlet A Word or Two on Port Wine, shewing how and why it is adulterated and affording some means of checking its adulterations was fired like a rocket at his fellow wine shippers in 1844, and exploded with a bang that resounded through the Alto Douro, Oporto and London23. This action seriously compromised Forrester’s relations with many of his compatriots, as well as with Portuguese nationals who had completely different ideas from his regarding Port wine and how to produce it. Feeling that their interests had been damaged, they reacted harshly, and accusations mounted up. Attacked by some for attempting to discredit Portuguese wines, the British merchant was defended by other who saw him as a man Forrester accused his countrymen of shipping inferior wines, of adulterating them with too much brandy, elderberry and sugar, in order to make a wine ‘black, strong and sweet’, fit, Forrester protested, only for the lowest classes. His pamphlet A Word or Two on Port Wine, shewing how and why it is adulterated and affording some means of checking its adulterations was fired like a rocket at his fellow wine shippers in 1844, and exploded with a bang that resounded through the Alto Douro, Oporto and London23. whose main investment was to promote the improvement of our land and of the quality of our products – fighting for pure, unadulterated wines, he advocated a return to the old production method of the Douro region, which he himself practised24 . This is the view espoused by the signatory of a letter titled ‘Some words on regaining credit for the wines of the Doiro’, published on 6 May 1845 by Revista Universal Lisbonense, in which the writer states that ‘Mr. Forrester, seeing the goodness and the superiority of the wines of the Doiro, condemned the ingredi- Tal acto comprometeu seriamente as relações de Forrester com muitos dos seus compatriotas, bem como com portugueses que tinham concepções totalmente diferentes das suas quanto ao vinho do Porto e o modo de o produzir. Sentindo-se lesados nos seus interesses, reagiram com dureza e sucederam-se as acusações. Atacado por uns por tentar desacreditar os vinhos portugueses, o negociante britânico foi defendido por outros que consideravam ser ele um homem sobretudo apos81 ents which alter it, and declared himself to be in favour of extreme pure wines, which is to the greater benefit of the country.’25. Not many months later, the same journal, like other periodicals further giving voice to the controversy and deploring that an issue of such great trading importance for the country had gone ‘from being real to being personal and has for a long time been boiling over a great fire of hatreds’, announced that Vindicação de José James tado em promover o melhoramento da nossa terra e da qualidade dos nossos produtos – batendo-se pelos vinhos puros e sem misturas, advogava o regresso ao antigo método de produção usado na região do Douro, que ele próprio utilizava24. Essa é a opinião de quem assina uma carta intitulada “Algumas palavras sobre a reivindicação de credito para os vinhos do Doiro”, vinda a público em 6 de Março de 1845 na Revista Universal Lisbonense, em que se diz que “o Sr. Forrester vendo a bondade, e superioridade dos vinhos do Doiro, reprovou os ingredientes, que a alteram, e declarou-se a favor dos vinhos puros estremes, que é do maior proveito para o paiz”25. Poucos meses passados, a referida revista, continuando a fazer-se eco da polémica, à semelhança de outros periódicos, e lamentando que uma questão de tão grande importância comercial para o país tenha passado “de real a pessoal e já ferve ha muito tempo em grande fogo de odios”, dava a saber que acabara de vir a lume Vindicação de José James Forrester contra as imputações a elle feitas no parecer da direcção da associação commercial do Porto de 15 de março de 1845; e observações sobre o que no dito parecer se assevera a respeito do vinho do Porto; com um post scriptum sobre o folheto intitulado – “a questão dos vinhos do Doiro, considerada politicamente”26, colocando-se claramente do lado do autor do folheto quando comenta que “o empenho manifestado pelo Sr. Forrester nos parece muito sensato, e muito conforme aos nossos verdadeiros interesses, pois se reduz a provar que – o vinho do Doiro se deve fazer puro e sem mistura para o commercio de Inglaterra”27. Forrester defender-se-ia insistentemente na imprensa das acusações de que era alvo, repetindo serem as suas intenções as melhores: Forrester contra as imputações a elle feitas no parecer da direcção da associação commercial do Porto de 15 de março de 1845; e observações sobre o que no ditto parecer se assevera a respeito do vinho do Porto; com um post scriptum sobre o folheto intitulado – “a questão dos vinhos do Doiro, considerada politicamente”26 had just been published, clearly sided with the pamphlet’s author when it states that “Mr. Forrester’s commitment appears to us to be very sensible and very much in accord with out true interests, for he but proves that – the wine of the Doiro must be made pure and unadulterated for trading with England”27. Forrester defended himself doggedly in the press against the charges levelled at him, repeating that his intentions were the best: It is not Wine of whatever quality that I oppose, but imitations of wine. […] and these imitations, I must insist on saying, have and will be very prejudicial to the credit of really pure Douro wines: and those who have such wines made and sell them in England as being true Port wine are the real enemies of the Douro […]28. and dictated by the love he had for Portugal: My representations were born of my conviction of the truth of all they contain; and by the sincerity of my actions, if Your Excellency cannot believe that I am moved by a sincere affection for the good of a country, where I have for many years received an unceasing series of kindnesses and honours”29. Não é ao Vinho de qualidade alguma, que eu me opponho, mas á imitação de vinho. […] e estas imitações, é forçoso que “In England, as in Portugal, there is no other advocate of the worthiness of Port Wine, more outspoken, more 82 83 insista em dizer, tem sido, e continuão a ser, mui prejudiciaes ao credito dos vinhos do Douro realmente puros: e aquelles que mandão fazer taes vinhos e os vendem em Inglaterra como verdadeiro vinho do Porto, são os inimigos reaes do Douro […]28. ardent, or more persevering, than I – and, in truth, I should be destitute of sense, before I could discredit the object of my endeavours, for my own prosperity and for that of one of the oldest English Wine Firms in Portugal30. e ditadas pelo amor que tinha a Portugal: Many years later, Camilo Castelo Branco (1825-1890) As minhas representações nasceram da minha convicção da verdade de tudo quanto ellas contém; e pela sinceridade do meu proceder, se V. Sª não poder acreditar que eu sou movido por huma sincera affeição pelo bem de hum paiz, aonde por muitos annos tenho recebido huma serie não interrompida de obséquios29. Em Inglaterra, bem como em Portugal, não se pode achar um advogado do merecimento do Vinho do Porto, mais franco, mais ardente, ou mais perseverante, do que eu – e na verdade deveria eu ser destituido de senso, primeiro que podesse desacreditar aquillo em que me acho empenhado para minha propria prosperidade, e pela de uma das mais antigas casas Inglezas de Vinhos em Portugal30. would join the chorus of voices which accused Forrester of being a liar, a slanderer, a charlatan, a traitor, “unworthy of the honourable name of British merchant”, as can be read in a pamphlet of 1844, titled A Word of Truth on Port Wine, addressed to the British Public by a British Gentleman and Merchant. Translated from the English by Joze James Forrester31. In Port Wine. The Case of an English Crassness (1884)32, Camilo does not forgive Forrester for having denigrated abroad the image and reputation of this product and regards “Baron Forrester’s tragic death, on 12 May 1861, […] as one of the most remarkable revenges that the river Douro has ever exacted on those who defame its wines33.” His ire is, above all, kindled by the honours bestowed by the Portuguese government on Muitos anos mais tarde, Camilo Castelo Branco (1825-1890) viria a fazer coro com as vozes que acusaram Forrester de mentiroso, difamador, charlatão, traidor, “indigno do honrado nome de negociante Britannico”, como se lê num folheto de 1844 intitulado Huma palavra de Verdade sobre Vinho do Porto, dirigida ao Publico Britannico, por Hum Gentil-Homem e Negociante Britannico. Traduzido do Inglez por Joze James Forrester.31 Em O Vinho do Porto. Processo de uma bestialidade inglesa (1884),32 Camilo não perdoa a Forrester o ter denegrido, além-fronteiras, a imagem e reputação daquele produto e considera que a “morte desastrosa do barão de Forrester, em 12 de maio de 1861, é uma das mais notaveis vin- someone who had so seriously damaged national interests, and he remarks, with the acerbic irony which was his stock-in-trade: “but the government […] took hold of a baron’s coronet and placed it on J. James’s head – Baron Forrester. And, if he hadn’t died in so timely a fashion, and had re-printed his calumnies against the richest and most threatened Portuguese industry – a second edition made worse and more inaccurate – the Lusitanian government would have made him a viscount, would they not?34.” It must, however, be noted that Camilo’s declared intention of “demolishing England” appeared in the context of growing hostility against this power, 84 ganças que o rio Douro tem exercido sobre os detractores dos seus vinhos”33. Indigna-se, sobretudo, com as distinções atribuídas pelo governo português a quem tão seriamente prejudicara os interesses nacionais, e comenta, com a corrosiva ironia que lhe é característica: “mas o governo […] pegou de uma coroa de barão e pôl-a na cabeça de J. James – barão de Forrester. E, se não morre tão cedo, e faz nova edição das calumnias contra a mais rica e ameaçada industria portugueza – uma segunda edição peorada e mais incorrecta – o governo luso fasia-o visconde, não é verdade?”34. Note-se, contudo, que este declarado intuito de Camilo de “arrazar Inglaterra” surge no contexto da crescente hostilidade contra aquela potência, devido à sua política expansionista em África, contrária à preservação dos direitos históricos de Portugal naquele continente – apenas seis anos mais tarde o conflito culminaria no Ultimatum, que tão grandes manifestações de sentimento anti-britânico despertou –, o que pode explicar a invectiva contra Forrester e a completa mudança de atitude de Camilo face a um homem que, no passado, até reconhecera como um dos maiores defensores da actividade vinícola duriense. Outro dos trabalhos do negociante de vinhos e agricultor inglês que captou a atenção da imprensa periódica portuguesa da época foi o ensaio com que ganhou, em Abril de 1853, o prémio de 50 guinéus oferecido em Londres por Benjamin de Oliveira F.R.S. (Fellow of the Royal Society) pelo melhor Essay on Portugal que se apresentasse a concurso35, intitulado “Portugal and Its Capabilities” e imediatamente dado à estampa: The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the evidence regarding that country taken before a commitee of the House of Commons in May, 185236. Obrigado a concorrer sob anonimato, de acordo com o regulamento, Forrester assinou o texto com Le Chevalier Rose-Croix, o que levanta a suspeita de ter pertencido à maçonaria. Isabel Cluny, no estudo biográfico que escre85 because of its expansionist policies in Africa, which ran counter to the preservation of Portugal’s historical rights in that continent – a mere six years later the conflict was to come to a head in the Ultimatum, which triggered such great demonstrations of anti-British sentiment –, which might explain the invective against Forrester and Camilo’s complete about-face regarding a man whom, in the past, he had even viewed as one of the staunchest champions of wine production in the Douro region. Another of the works penned by the English wine merchant and agriculturalist which caught the attention of the Portuguese periodical press at the time was the essay with which, in April 1853, he won the prize of 50 guineas offered in London by Benjamin de Oliveira, FRS, for the best Essay on Portugal to compete for the prize35, titled ‘Portugal and its Capabilities’ and immediately published: The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the evidence regarding that country taken before a committee of the House of Commons in May, 185236. Compelled to enter his work anonymously, as required by the regulations, Forrester signed his text as Le Chevalier Rose-Croix, which raises the possibility of his having been a Free-Mason. In her biographical study for the Catalogue of the thematic exhibition Baron Forrester, Reason and Sentiment. A History of the Douro: 1831-1861, curated for the opening in December 2008 of the Museum of the Douro (Peso da Régua), Isabel Cluny posits this possibility, pointing to the fact that the Baron’s four sons eventually became members of St. Andrew’s Lodge37. But who was Benjamin de Oliveira, who founded this prize not long before Forrester appeared before a House of Commons Select Committee (April 1852), when he argued for the liberalisation of the Port wine trade? John veu para o Catálogo da exposição temática Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma História do Douro: 1831-1861, montada para inaugurar em Dezembro de 2008 a sede do Museu do Douro (Peso da Régua), equaciona esta possibilidade, chamando a atenção para o facto de os quatro filhos do Barão terem vindo a pertencer à St Andrew’s Lodge37. Mas quem foi Benjamin de Oliveira, que instituiu aquele prémio poucos meses antes de Forrester ter sido ouvido por uma comissão especial da Câmara dos Comuns (Abril de 1852) e aí ter defendido a liberalização do comércio dos vinhos do Porto? John Delaforce fornece-nos alguma informação biográfica em Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861: Delaforce supplies us with some biographical data in Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861: Benjamin Oliveira was described in the Gentlemans Magazine of 1865 as the son of Dominick Oliveira, a London merchant descended from a Portuguese family. He was educated for the diplomatic service and lived many years in Portugal. On his return to London he took an active part in railway undertakings. He was Member of Parliament for Pontefract from 1852 to 1865 and a prominent member of the Independent Liberal Party in the House of Commons and a Fellow of the Society of Antiquaries. In March 1835 he was elected a Fellow of the Royal Society in London, one of his sponsors being Benjamin Oliveira was described in the Gentlemans Magazine of 1865 as the son of Dominick Oliveira, a London merchant descended from a Portuguese family. He was educated for the diplomatic service and lived many years in Portugal. On his return to London he took an active part in railway undertakings. He was Member of Parliament for Pontefract from 1852 to 1865 and a prominent member of the Independent Liberal Party in the House of Commons and a Fellow of the Society of Antiquaries. In March 1835 he was elected a Fellow of the Royal Society in London, one of his sponsors being Frederick Madden, later Keeper of Manuscripts at the British Museum and one of the judges named in the advertisement for the Essay. Although of Portuguese origin, Oliveira must have been of British nationality to be eligible for Parliament, but his ancestry and the years he spent in Portugal created an affinity with that country that prompted him to offer the Prize. He was described as an ardent Free Trader and a campaigner for the reduction of duties on wines into the United Kingdom, subjects very dear to Forrester. Frederick Madden, later Keeper of Manuscripts at the British Museum and one of the judges named in the advertisement for the Essay. Although of Portuguese origin, Oliveira must have been of British nationality to be eligible for Parliament, but his ancestry and the years he spent in Portugal created an affinity with that country that prompted him to offer the Prize. He was described as an ardent Free Trader and a campaigner for the reduction of duties on wines into the United Kingdom, subjects very dear to Forrester. His Certificate of Election to the Royal Society gave his address as Great Cumberland Street, Hyde Park, and said that he was attached to the Study of Natural Philosophy, devoted to general Literature and possessing the knowledge of foreign countries from his travels38. In this same study, the author also provides us with a concise account of the contents of the prize-winning essay: 86 His Certificate of Election to the Royal Society gave his address as Great Cumberland Street, Hyde Park, and said that he was attached to the Study of Natural Philosophy, devoted to general Literature and possessing the knowledge of foreign countries from his travels38. The Essay comprised an analysis of all aspects of conditions in Portugal including chapters on “The Portuguese as a People”, the manufactures in Portugal, and the capabilities of the country for consuming products from Great Britain, internal communications, general remarks on the agricultural produce and resources, the No mesmo estudo, o autor oferece-nos também um resumo do conteúdo do ensaio premiado: climate, fisheries and possible closer cooperation in the friendly relations “between Great Britain and her most ancient ally”. It was accompanied by numerous statistics The Essay comprised an analysis of all aspects of conditions in Portugal including chapters on “The Portuguese as a People”, the manufactures in Portugal, and the capabilities of the country for consuming products from Great Britain, internal communications, general remarks on the agricultural produce and resources, the climate, fisheries and possible closer cooperation in the friendly relations “between Great Britain and her most ancient ally”. It was accompanied by numerous statistics to support his arguments39. to support his arguments39. It should be noted that Forrester wrote this work at the beginning of the Regeneration movement, a period in Portuguese history which would be marked by major political, administrative and economic reforms designed to promote national progress. This explains the future Baron’s hopeful words in the preface to the Second edition of the Prize –Essay on Portugal, written in London at the Reform Club, a bastion of liberal and progressive Note-se que Forrester escreveu a obra no início do movimento da Regeneração, um período da história portuguesa que ficaria marcado por importantes reformas políticas, administrativas e económicas com vista ao progresso nacional, o que explica as palavras esperançadas do futuro Barão no prefácio à segunda edição do Prize-Essay on Portugal, escrito em Londres, no Reform Club, um bastião de ideias liberais e progressistas, e datado de Março de 1854: ideas, and dated March 1854: Nay more, we dare to prognosticate that under the present enlightened Government and the Regency of El Rei Dom Fernando — Portugal will advance in civilization, and consequently in prosperity, — that it will no longer remain without roads, — that its rivers will be made navigable, — its prejudicial monopolies abolished, — its hidden resources brought to light, and the present Nay more, we dare to prognosticate that under the present enlightened Government and the Regency of El Rei Dom Fernando – Portugal will advance in civilization, and consequently in prosperity, – that it will no longer remain without roads, – that its rivers will be made navigable, – its prejudicial mono87 debased system of fiscalization improved; so that when the time arrive for His Majesty the King Regent to resign the Government to his Son, that Son may have cause to bless the foresight and patriotism that he inherits from his Royal Sire40. polies abolished, – its hidden resources brought to light, and the present debased system of fiscalization improved; so that when the time arrive for His Majesty the King Regent to resign the Government to his Son, that Son may have cause to bless the foresight and patriotism that he inherits from his Royal Sire40. This same second edition attached excerpts from twelve articles on Forrester’s essay, published in the British periodical press (The Times, The Morning Post, Morning Advertiser, The Globe, The Illustrated London News, etc.), which, given the highly favourable views they voiced on the subject, contributed very largely towards promoting the work among the general public. In qualifying the informa- A mesma segunda edição faz-se acompanhar de excertos de doze artigos sobre o ensaio de Forrester vindos a lume na imprensa periódica britânica (Times, Morning Post, Morning Advertiser, Globe, Illustrated London News, etc), os quais, pela opinião extremamente favorável que sobre ele emitiram, contribuíram sobremaneira para a promoção da obra junto do grande público. Para qualificar a informação veiculada por Forrester, os articulistas empregam adjectivos como valuable, admirable, important, needful, varied, extensive, complete, accurate e precise, reconhecem, com indisfarçado orgulho, a especial competência do autor inglês para tratar o assunto em questão – no dia 26 de Novembro de 1853 o Cheltenham Journal definiria a obra como “the elaborate production of a mind thoroughly acquainted with the subject, viewing it without the bias of party-feeling, and with a practical English eye to finding a remedy for the diseases that exist” – e, acima de tudo, vêem o Prize-Essay sobre os recursos de Portugal e as suas carências a nível de infra-estruturas como um documento muito útil, que poderia servir os interesses económicos da Grã-Bretanha ao identificar sectores a investir com vantagem: tion conveyed by Forrester, the journalists employ adjectives such as valuable, admirable, important, needful, varied, extensive, complete, accurate and precise, acknowledge, with open pride, the English author’s special competence to deal with the matter in hand – on 26 November 1853, the Cheltenham Journal defined the work as “the elaborate production of a mind thoroughly acquainted with the subject, viewing it without the bias of party-feeling, and with a practical English eye to finding a remedy for the diseases that exist” – and above all, regard the Prize-Essay on Portugal’s resources and its needs at infra-structural level as a very useful document, likely to further Britain’s economic interests, identifying as it did sectors in which profitable investment could be made: The Essay was written in Portugal, and is the result of personal observation and minute inquiries from authorities on the spot. Portugal is in many respects a terra incognita, and Mr. Forrester’s book will be a valuable assistance to all who, like himself, are seized with a desire to become acquainted with the resources of the country, and the opportunities which they hold out for The Essay was written in Portugal, and is the result of personal observation and minute inquiries from authorities on the spot. Portugal is in many respects a terra incognita, and Mr. Forrester’s book will be a valuable assistance to all who, like the advantageous employment of British capital41. On the Oliveira-Prize, the Porto weekly A Peninsula published in 1853 an interesting article by the eminent 88 himself, are seized with a desire to become acquainted with the resources of the country, and the opportunities which they hold out for the advantageous employment of British capital41. mathematician Pedro Amorim Viana (1823-1901), titled ‘An Englishman’s zeal on behalf of our interests’. At first sight, the Englishman concerned could be taken for Forrester, since the author of the article goes on to write about A propósito do Oliveira-Prize saiu no semanário portuense A Peninsula, em 1853, um interessante artigo de Pedro Amorim Viana (1823-1901), um dos nossos primeiros matemáticos, intitulado “Zelo extraordinario de um inglez pelos nossos interesses”. À partida, poder-se-ia pensar que o dito “inglez” seria Forrester, pois é do prémio por ele conquistado que o articulista vai falar. Mas, afinal, é a própria ideia de Benjamin de Oliveira e os princípios que lhe estão subjacentes que são analisados por Amorim Viana. Começa por ironizar acerca das “relações amigáveis” entre a Grã-Bretanha e Portugal: the prize he had won. But in the event Amorim Viana analyses Benjamin de Oliveira’s idea itself and its underlying principles. He begins by commenting ironically on the ‘friendly relations’ between Britain and Portugal: It had been ingratitude, an ingratitude of which the educated people of our country are incapable, not to thank from the bottom of our hearts the commitment which England trumpets in remaining our friend. England likes us, nothing could be more flattering. Sadly there are insurmountable antipathies; and the uncouth people, it must be said, does not much care for the Eng- Fôra ingratidão, ingratidão de que é incapaz a gente illustrada da nossa terra, o não agradecer do fundo do coração o empenho que a Inglaterra alardeia em se conservar nossa amiga. A Inglaterra gosta de nós; não ha nada mais lisongeiro. Infelizmente ha antipatias invenciveis; e o povo bruto, é força confessal-o, não é affeiçoado aos inglezes. [...] De resto ha muita gente de gravata lavada que não ama a Inglaterra; que teme tudo quanto é inglez, que receia a Inglaterra, mesmo quando parece favorecer-nos e beneficiar-nos. É um prejuizo, se quizerem, mas esse prejuizo existe; [...] Não se persuadam porém que eu seja d’essa opinião; eu não creio que todo o cidadão inglez seja o machiavelismo personificado; não julgo que cada acção que practica faz parte de um plano tenebroso digno das vastas concepções de Meternich ou dos mais bem combinados calculos suggeridos pela fatal mania de intervir nos negocios dos outros, que parece continúa a possuir a Inglaterra42. 89 lish. […] Besides, there are a large number of people sporting clean ties who do not love England; who fear all things English, who fear England, even when she appears to favour us and benefit us. It is prejudice, if you like, but this prejudice exists; […] Do not persuade yourselves, however, that I am of that opinion; I do not believe that every English citizen is Machiavelli personified; I do not believe that every action each Englishman takes is part of a sinister plan worthy of Metternich’s vast conceptions or of the most felicitously arranged calculations suggested by the fatal fixation for interfering in other people’s affairs, which appears still to be England’s intent42. Only later to express surprise that a foreigner such as Benjamin de Oliveira should be so interested in concerning himself for things Portuguese, finding the expla- Para, depois, estranhar que um estrangeiro como Benjamin de Oliveira tenha tanto interesse em zelar pelas coisas portuguesas, achando a explicação para esse facto na excentricidade que caracteriza o povo inglês: nation for this fact in the eccentricity which characterises the English: At first glance it does appear incomprehensible that a foreigner should find himself possessed of a zeal for Parece á primeira vista incomprehensivel, que o zelo pelas nossas cousas se apodere de um estrangeiro com tanta furia como parece accommetera o senhor B. de Oliveira; mas para quem conhecer um pouco o caracter inglez a explicação é facillima. Os grandes homens inglezes têem todos certas excentricidades. Um compra por um preço exorbitante um chapeu usado de Napoleão I; outro daria quanto possue para ter a cadeira onde se assentou algum scelerado de nome. Uma d’essas manias é que levou provavelmente o senhor B. de Oliveira a interessar-se por nós; quiz ter o gosto de ver uma coisa rara, um livro bem escripto sobre os interesses materiaes do nosso paiz43. our affairs, so furiously as the Baron Oliveira appears Joseph James Forrester, autor da memória que o júri considerou digna do primeiro prémio, não lhe merece, entretanto, os elogios que outros lhe fizeram como grande protector do vinho do Porto e do Douro. Pelo contrário, Amorim Viana põe em dúvida que o negociante seja o único responsável pelo mapa da região vinhateira do Douro que o tornou tão conhecido e estende essas suspeitas ao ensaio vencedor do Oliveira-Prize. Confessando não ter ainda visto a dita memória, aventa contudo a possibilidade de o laureado se estar a pavonear “como o gaio com as plumas do pavão.” Chegado a este ponto, passa à denúncia dos interesses ingleses que, a seu ver, se escondem por detrás do regulamento de um prémio que se apresenta como um contributo para o estreitar dos laços de amizade que unem Portugal à Grã-Bretanha: afinal esta apenas agiria assim por necessitar do mercado português para escoar a sua produção excessiva. Amorim Viana Joseph James Forrester, the author of the memoir to be; but for whoever knows something of the English character the explanation could not be easier. The great men of England all have certain eccentricities. One such man may pay an exorbitant price for a hat belonging to Napoleon I; another would part with his entire fortune to become the owner of a chair once occupied by some famed villain. It is probably one of these fixations which led B. de Oliveira to take an interest in us; he craved the pleasure of seeing something rare, a well-written book on the material interests of our country43. which the panel deemed worthy of the first prize, does not, however, garner from him the praise which others lavished on him as the great champion of Port wine and the Douro. Quite the contrary, Amorim Viana casts doubt on whether the merchant was the sole person responsible for the map of the Douro wine-growing region which brought him such fame, and he extends his suspicions to the Oliveira-Prize-winning essay. Admitting that he has not yet read the memoir under discussion, he does, however, raise the possibility that the winner might be preening himself ‘like a jay in peacock’s feathers’. Having reached this point, he goes on to denounce English interests which, in his view, lurked behind the regulations of a prize offering itself as a contribution towards strengthening the bonds of friendship between Por- 90 tugal and the United Kingdom: ultimately, the latter would only choose this course out of a need for the Portuguese market into which it could drain its production surplus. Thus, Amorim Viana joins the chorus of Portuguese voices, which, in the periodical press, clamoured against English domination in Portugal. This was exercised in part through strong representation in one of the country’s main production activities, Port wine44, and Forrester, given his close links to the wine trade, did not escape Amorim Viana’s critiques, just as he did not draw his praise. On the other hand, Baron Forrester’s participation in international and Portuguese exhibitions triggered extravagant praise in Portuguese newspapers and journals. If, at the 1851 Great Exhibition, he felt ‘“the vexation of seeing that his products [samples of wine, vinegar and olive oils, produced under his specifications], even though they had arrived in Lisbon at the same time as similar objects belonging to other exhibitors, had not been sent on to London”45, with no explanation being junta-se, pois, ao coro das vozes portuguesas que, por intermédio da imprensa periódica, se insurgiram contra o domínio inglês em Portugal. Este exercia-se, em parte, através de uma forte implantação numa das principais actividades produtivas nacionais, o vinho do Porto44, e Forrester, pela sua grande ligação ao negócio dos vinhos, não escapou às críticas de Amorim Viana nem lhe inspirou louvores. Já a empenhada participação do Barão de Forrester em exposições internacionais e nacionais granjeou rasgados elogios dos jornais e revistas portugueses. Se, por ocasião da Great Exhibition de 1851, teve “o desgosto de ver que os seus produtos [amostras de vinhos, vinagres e azeites, feitos sob sua direcção], com quanto chegassem a Lisboa ao 91 proferred for this occurrence, on the other hand, in 1855 he participated in the Paris Exposition Universelle “with over four hundred articles, all of which produced in Portugal, foremost among which were several works on Portugal, and especially on the river Douro and outlying lands; wines, olive oils and vinegar; models of wine and olive oil-presses with some improvements made by him together with his sons; a varied agricultural collection of Douro products, needed for the sustenance and comfort of man and beast; and lastly different other objects characteristic of the customs and original complexion of the peoples of this country”46, although, arousing his indignation, the Portuguese authorities again treated him dis- mesmo tempo que objectos similhantes de outros expositores, não tinham sido enviados para Londres”45, sem que lhe fossem explicados os motivos para tal, já em 1855 participou na Exposição Universal de Paris “com mais de quatrocentos artigos, todos de producção portugueza, sobresaindo entre elles varias obras sobre Portugal, e especialmente sobre o rio Douro e paizes circumvisinhos; vinhos, azeites e vinagres; modelos de lagares de vinho e prensas de azeite com alguns melhoramentos introduzidos por elle, conjunctamente com seus filhos; uma variada collecção agricola das producções do Douro, necessarias para o alimento e conforto do homem e de animaes; e finalmente differentes outros objectos caracteristicos do uso e da feição original dos povos d’este paiz”46, ainda que, para sua indignação, as autoridades portuguesas o tenham de novo tratado com desconsideração e parte dos objectos que enviou para a capital francesa não tenha chegado a ser exposta. Conquistou então uma medalha de prata e cinco menções honrosas, prémios que se juntaram aos alcançados nas duas exposições agrícolas do Porto, em que foi um dos principais expositores47. Às facetas até agora salientadas juntava ainda Forrester talento e gosto artístico apurados, que o Conde Athanasius Raczynski (1788-1874), diplomata e crítico de arte de origem polaca, reconheceu aquando da sua estada em Portugal. Nas duas obras que dedicou ao nosso país, fruto de minuciosa investigação, Les Arts en Portugal (1846) e Dictionnaire historique-artistique du Portugal (1847), deixou Raczynski opiniões altamente favoráveis. Na segunda definiu-o como “un habile dessinateur de paysages, d’architecture et de figures”48 e na primeira, em que descreve a visita que fez à casa de Forrester, no Porto, em Agosto de 1844, sublinhou que “M. Forrester dessine à l’aquarelle et au crayon, et fait des croquis, non comme un homme qui possède une fortune considéra- courteously, and part of the objects he sent to the French capital were never actually displayed. On this occasion he won a silver medal and five honourable citations, awards which joined those won in the two agricultural expositions of Porto, in which he was one of the main exhibitors.47 Over and beyond the features I have already foregrounded, Forrester had a refined artistic bent, to which Count Athanasius Raczynski (1788-1874), the Polishborn diplomat and art critic, attested during his stay in Portugal. In the two works he devoted to our country, the product of the most minute research, Les Arts en Portugal (1846) and Dictionnaire historique-artisitique du Portugal (1847), Raczynski recorded highly favourable views. In his second work, he defined Forrester as “a skilful draughtsman of landscapes, architecture and figures”48 and in the first, in which he describes his visit to Forrester’s house in Oporto in August 1844, he stresses that “Mr. Forrester works in watercolours and crayon, and makes sketches, not as a man endowed of a considerable fortune and whose trading activity is far-ranging, but as an artist who would not find it difficult to earn his living by using his talent49 .” Indeed, Forrester, who learnt a great deal with the Swiss painter Auguste Roquemont (1804-1852)50, based in Portugal since 1828, left sets of drawings and watercolours of scenes and customs of the Douro valley and of panoramic views of Oporto and its environs, remarkable for their attention to picturesque detail, and painted the portrait of many prominent figures of Portuguese political, military, economic and social life, notably a number of land-owners of the Douro wine-growing region and also of several British Port wine exporters. His painting 92 ble et dont l’activité commerciale est très étendue, mais en artiste à qui il ne serait pas difficile de gagner sa vie avec son talent”49. Efectivamente, Forrester, que muito aprendeu com o pintor suiço Auguste Roquemont (1804-1852)50, estabelecido em Portugal desde 1828, deixou séries de desenhos e aguarelas de cenas e costumes do vale do Douro e de vistas panorâmicas do Porto e arredores, em que sobressai a atenção ao pormenor pitoresco, e pintou o retrato de muitas personalidades da vida política, militar, económica e social portuguesa, nomeadamente alguns proprietários da região vinhateira do Douro, e ainda o de vários exportadores britânicos de vinho do Porto. Conhecido é o seu quadro de 1834, o primeiro que pintou em Portugal, representando a Rua Nova dos Inglezes (rua onde muitas das firmas britânicas tinham os seus escritórios e onde alguns dos seus sócios viviam), onde se vêem retratados cinquenta e quatro homens de negócios britânicos e portugueses da época, incluindo o próprio Forrester, o que lhe confere um importante valor documental51. Por último, refira-se o seu interesse pela então recente arte da fotografia, através da qual também registou paisagens e costumes portugueses. O Barão de Forrester foi um pioneiro em Portugal neste domínio, embora anos antes já um escocês igualmente pertencente à comunidade britânica do Porto, Frederick William Flower (1815-1889), tivesse iniciado experiências fotográficas que viriam a legar-nos um valioso espólio de imagens de Portugal em meados do século XIX, especialmente vistas do Porto e de Vila Nova de Gaia. Em 1998, António Sena, no segundo capítulo (“II –1850-1879 – Os pioneiros da técnica do Ciclope: técnicas, artes e ciências”) da sua História da Imagem Fotográfica em Portugal – 1839-1997, mencionava a obra “praticamente desconhecida” de Forrester: 93 of 1834 is well-known, the first he executed in Portugal, depicting Rua Nova dos Inglezes (the street where many of the British firms had their offices and where many of the firms’ partners lived), showing fifty four British and Portuguese businessmen, including Forrester himself, which endows this portrait with great documentary value51. Lastly, reference should be made to his interest in the then recent art of photography, through which he recorded Portuguese landscapes and customs. Baron Forrester pioneered this art form in Portugal, although years before him a Scotsman, also a member of Oporto’s British community, Frederick William Flower (1815-1889), had begun photographic experiments which would bequeath a valuable collection of images of mid-nineteenth century Portugal, especially views of Oporto and Vila Nova de Gaia. In 1998, António Sena, in the second chapter (‘II – 1850-1879 – The Pioneers of the Cyclop’s Technique: Techniques, Arts and Sciences’) of his História da Imagem Fotográfica em Portugal – 1839-1997, cites Forrester’s ‘virtually unknown’ work: The activity of calotypists in Portugal appears to have been even more limited. Beyond the virtually unknown work of Baron Forrester (1809-1861) in the land of the Douro between 1854-1857, but who worked with largescale albumen plates, we have the priceless collection of topographical calotypes made by Frederick Flower (18151889) in northern Portugal between 1845-1859 […]52. We are fortunate in already having a study devoted to this area. Authored by Filipe Figueiredo, “Forrester – an Amateur Photographer in Portugal” is included in the catalogue of the exhibition currently on display in the A actividade de calotipistas em Portugal parece ter sido ainda e muito mais limitada. Além da obra, praticamente desconhecida, do Barão de Forrester (1809-1861), por terras do Douro, entre 1854-1857, mas que chegou a fazer albuminas de grande formato, temos o acervo precioso de calótipos topográficos que Frederick Flower (1815-1889) realizou no Norte entre 1845-1859 […]52. Museum of the Douro. The author offers an overall assessment of the Baron’s photographic practice, while informing us of his links to English photographic circles, notably the fact that his teacher was the photographer Hugh Welch Diamond (1809-1886) and that he was a member of the exclusive Photographic Society Club and of the Exchange Photographic Club53. Baron Forrester is thus part and parcel of the his- Felizmente, dispomos já de um estudo dedicado a esta matéria. Da autoria de Filipe Figueiredo e intitulado “Forrester um amador de Fotografia em Portugal”, integra o catálogo da exposição actualmente patente no Museu do Douro e faz uma avaliação de conjunto da prática fotográfica do Barão, ao mesmo tempo que nos elucida sobre as suas ligações aos meios ingleses da fotografia, nomeadamente ter tido por mestre o fotógrafo Hugh Welch Diamond (1809-1886) e ter sido membro do restrito Photographic Society Club e do Exchange Photographic Club53. O Barão de Forrester é, pois, um nome incontornável da história dos vinhos do Porto e das relações Anglo-Portuguesas; nele teve a região do Alto Douro vinhateiro, classificada pela UNESCO, em Dezembro de 2001, Património Mundial na categoria de Paisagem Cultural, um entusiasta e defensor, um apaixonado por esse Vale do Douro que hoje se esforça por ser considerado pelo Centro Mundial de Excelência dos Destinos (CED), entidade reconhecida pela Organização Mundial do Turismo (OMT), como um dos melhores destinos turísticos do planeta. Certificação que por certo promoverá a imagem da região duriense no exterior – para o que, em meados do século XIX, o Barão de Forrester também concorreu, a seu modo, não sem controvérsia, através da sua acção multímoda. tory of Port wines and of Anglo-Portuguese relations; in him the wine-growing region of Alto Douro (classified by UNESCO in December 2001 as a World Heritage site in the category of Cultural Landscape) found an enthusiast and a champion, in love with the Douro valley which in our own time is making every effort to be regarded by the World Centre of Excellence for Destinations, a body recognised by the World Tourism Organisation, as one of the best tourist destinations on the planet. A certification which will surely promote the image of the Douro region abroad – to which, in the mid-nineteenth century, Baron Forrester also contributed, in his own way and not without controversy, through his multi-modal activity. NOTES 1 Two years after D. Antónia died, in 1898 the Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto was founded, known as Casa Ferreirinha. 2 Forrester’s body was never found, unlike those of the other two victims of the accident. Several explanations for his death were aired: according to some, the mast, dragged along by the current, hit him on the head; according to others, he drowned because the great riding boots he was wearing became waterlogged; and yet others said he sank because he was wearing a waistcoat stuffed with gold sovereigns. 3 Biographical data on Baron Forrester can be found in: DELAFORCE, John – Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. s.l.: John DeLaforce Christie’s Wine Publications, 1992; Forrester, Joseph James, Baron de Forrester in Portugal. The Dictionary of National Biography. Sir 94 notas 1 O corpo de Forrester nunca foi encontrado, ao contrário do das duas outras vítimas do acidente. Aventaram-se várias explicações para a sua morte: segundo uns, o mastro, arrastado pela corrente, ter-lhe-ia batido na cabeça; segundo outros, afogara-se por se terem enchido de água as grandes botas de montar que trazia calçadas; e, dizem terceiros, afundara-se por levar vestido um colete cheio de libras de ouro. 2 Dois anos após a morte de D. Antónia, em 1898, foi fundada a Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto, conhecida por Casa Ferreirinha. 3 Dados biográficos sobre o Barão de Forrester podem ser recolhidos em: DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. s.l.: John Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992; Forrester, Joseph James, Baron de Forrester in Portugal. The Dictionary of National Biography. Sir Leslie Stephen, Sir Sidney Lee. Oxford and New York: Oxford University Press, 1998 (1.ª edição 1917), Volume VII, pp. 448-449; SELLERS, Charles - Oporto, Old and New. Being a Historical Record of The Port Wine Trade, and A Tribute to British Commercial Enterprize In The North of Portugal. London: Herbert E. Harper, 1899; e no recente Catálogo Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008. 4 “N’aquelles tempos os caminhos entre o Porto e o Alto Douro eram terríveis, e Forrester preferia fazer a viagem embarcado; para levantar a planta do Douro teve tambem de o cruzar muitas vezes e de estanciar n’elle muito tempo, e por isso mandou construir um barco para seu uso. O typo era o dos barcos rabellos, porque a navegação do Douro não admittia outros; era, porém, o barco rabello mais luxuoso que tem sulcado as aguas d’aquelle rio desde o mar até á Hespanha. Foi construido a capricho, bem pintado, bem mobilado, com moveis elásticos, mesa de jantar, cadeiras, cozinha, leitos, boa frasqueira, etc. e com toldo ou coberta de madeira com vidraças. Sendo um barco pequeno, deu ali jantares esplêndidos a muitos dos seus amigos, e n’elle fez muitas viagens do Porto até á Hespanha, residindo mezes durante as suas viagens e estudos. A tripulação era formada por marinheiros valentes, escolhidos, e os mais peritos na navegação do Douro, a quem sustentava, pagava generosamente, e deu um vistoso uniforme.” PEREIRA, Esteves e Guilherme Rodrigues – Forrester (José James Forrester, 1.º barão de). Portugal. Diccionario historico, chorographico, biographico, bibliographico, heraldico, numismatico e artistico. Lisboa: João Romano Torres & C.ª – Editores, 1907, vol. III, p. 553. 5 No dia 16 de Novembro de 1843 a Revista Universal Lisbonense publicou um artigo da autoria de António Lobo Barbosa Teixeira Ferreira Girão, 1.º Visconde de Vilarinho de S. Romão (1785-1863), agricultor e economista, intitulado “Paiz vinhateiro do Alto Doiro”, em que considera o referido mapa “excellente”, “exactissimo” e feito “com muito esméro” (Revista Universal Lisbonense. Lisboa: tomo III, 1844, n.º 13, p. 145). 6 Reimpresso em Londres, em 1852, por ordem da Câmara dos Comuns. Houve uma 3.ª edição em 1853, para ilustrar o ensaio com que venceu o Oliveira-Prize. Em 2006 foi publicado pela The Port Lover’s Library (Lebanon, New Hampshire, U.S.A.), o livro Joseph James Forrester and His Maps – Of The Portuguese Douro And Adjacent Country & The Map Of The Wine District Of The Alto Douro, contendo reproduções destes dois mapas desenhados pelo Barão de Forrester. A edição, de 95 Leslie Stephen, Sir Sidney Lee. Oxford and New York: Oxford University Press, 1998 (1st edition 1917), Volume VII, pp. 448-449; SELLERS, Charles - Oporto, Old and New. Being a Historical Record of The Port Wine Trade, and A Tribute to British Commercial Enterprize In The North of Portugal. London: Herbert E. Harper, 1899; and in the recent Catalogue Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008. 4 “In those days, the roads between Oporto and the Alto Douro were terrible, and Forrester preferred to travel by boat; to chart the Douro he also had to cross it many times and spend much time on it, and so he had a boat built for his own use. The type was that of the rabelo craft, because sailing on the Douro allowed no other type; it was, however, the most luxurious rabelo ever to ply the waters of that river from the sea as far as Spain. It was built with great care, well painted, well appointed with elastic furniture, dining table, chairs, a kitchen, beds, a good wine cellar, etc. and its deck encased in a wooden structure with windows. Though the boat was small, Forrester invited many of his friends to lavish dinners on it, and it carried him on frequent journeys from Porto to Spain. He resided on it for months during his journeys and studies. The crew comprised valliant, hand-picked sailors, and other experts on the navigation of the Douro, whom he supported with generous pay, and dressed in colourful uniforms.” PEREIRA, Esteves e Guilherme Rodrigues — Forrester (José James Forrester, 1.º barão de). Portugal. Diccionario historico, chorographico, biographico, bibliographico, heraldico, numismatico e artistico. Lisboa: João Romano Torres & C.ª — Editores, 1907, vol. III, p. 553. 5 On 16 November 1843, the Revista Universal Lisbonense published an article by António Lobo Barbosa Teixeira Ferreira Girão, 1st Viscount Vilarinho of S. Romão (1785-1863), an agriculturalist and economist, titled The Wine-growing Country of the Alto Douro, in which he declares the map concerned to be ‘excellent’, ‘most accurate’ and done ‘with much care’ (Revista Universal Lisbonense. Lisboa: tomo III, 1844, no. 13, p.145). 6 Reprinted in London in 1852, on the orders of the House of Commons. There was a 3rd edition in 1853, designed to illustrate the essay which won the Oliveira-Prize. In 2006, The Port Lover’s Library (Lebanon, New Hampshire, U.S.A. published the book Joseph James Forrester and His Maps — Of The Portuguese Douro And Adjacent Country & The Map Of The Wine District Of The Alto Douro, containing reproductions of these two maps drawn by Baron Forrester. We owe the de luxe edition, numbering a mere 220 copies, to Isaac Oelgart, a collector and publisher of rare books. On this subject, see: GARCIA, João e Didiana Branco – “Forrester e a cartografia vinhateira do Douro”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 68-85. 7 The Baron of Forrester. The Gentleman’s Magazine, July 1861, p. 88. 8 A Ultima Hora. O Commercio do Porto. Porto: 13 de Maio de 1861, nº 107, p. 3; “Triste acontecimento”. O Commercio do Porto. Porto, 14 de Maio de 1861, no. 108, p. 2. 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 luxo, de apenas 220 exemplares, deve-se a Isaac Oelgart, coleccionador e editor de livros raros. Sobre este assunto, consultar: GARCIA, João e Didiana Branco – Forrester e a cartografia vinhateira do Douro. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 68-85. The Baron of Forrester. The Gentleman’s Magazine, July 1861, p. 88. “A Última Hora”. O Commercio do Porto. Porto: 13 de Maio de 1861, n.º 107, p. 3; “Triste acontecimento”. O Commercio do Porto. Porto, 14 de Maio de 1861, n.º 108, p. 2. “Desgraça”. Jornal do Commercio. Lisboa: 14 de Maio de 1861, n.º 2284, p. 1. “Successo lamentavel”. A Politica Liberal. Lisboa: 13 de Maio de 1861, n.º 307, p. 3. LEORNE. A. M. - “José James Forrester”. Archivo Pittoresco. Lisboa: 1861, Tomo IV, n.º 42, n.º 44, n.º 45, pp. 329-331, p. 351 e pp. 358-360, respectivamente. Artigo ilustrado com retrato. Ibidem, p. 330. Mais tarde no século a firma mudaria mais uma vez de nome, para Offley Forrester. BENNETT, Norman R. - “Notes on Offley Forrester and the Forresters: 1779-1861”. Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004, p. 269. DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. s.l.: John Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992, p. 18. BRADFORD, Sarah - The Englishman’s Wine – The Story of Port. London: Macmillan and Co. Ltd., 1969, p. 80. Cf. BENNETT, Norman R. - “British Property-Holders in the Douro.The late Eighteenth to the Early Twentieth Century”. Estudos em Homenagem a João Francisco Marques. Coordenação de Luís A. de Oliveira Ramos, Jorge Martins Ribeiro e Amélia Polónia. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001, Volume I, p. 203. VAQUINHAS, Irene e Rui Cascão - “Evolução da sociedade em Portugal: a lenta e complexa afirmação de uma civilização burguesa”. História de Portugal. Direcção de José Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, Quinto Volume – O Liberalismo (1807-1890), p. 447. Cf. MACAULAY, Rose - They Went to Portugal. London: Penguin Books, 1985, pp. 229-252. Sobre a comunidade britânica no Porto, consultar: GONÇALVES, Maria Guilhermina Bessa – A Comunidade Britânica no Porto. Inter-relações históricas, económicas, culturais e educativas. Porto: Edições Afrontamento, 2002; e RIBEIRO, Jorge Martins – A comunidade britânica do Porto durante as invasões francesas 1807-1811. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1990. DELAFORCE, John - The Factory House at Oporto. London: Christie’s Wine Publications, 1983, p. 92. Tradução portuguesa feita pelo cunhado, Francis Cramp: Uma ou duas palavras sobre o vinho do Porto, dirigidas ao publico britannico em geral, e com especialidade aos particulares, mostrando como e porque era adulterado, apontando alguns meios de se conhecerem as adulterações. Porto: Typ. Commercial Portuense, 1844. Ibidem, p. 245. 9 Desgraça. Jornal do Commercio. Lisboa: 14 de Maio de 1861, no. 2284, p. 1. 10 “Successo lamentavel”. A Politica Liberal. Lisboa: 13 de Maio de 1861, 11 LEORNE. A. M. - “José James Forrester”. Archivo Pittoresco. Lisboa: no. 307, p. 3. 1861, Tomo IV, no. 42, no. 44, no. 45, pp. 329-331, p. 351 and pp. 358360 respectively. The article is illustrated with a portrait. 12 Ibidem, p. 330. 13 Later in the century, the firm’s name would again be changed, to Offley Forrester. 14 BENNETT, Norman R. - “Notes on Offley Forrester and the Forresters: 1779-1861”. Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004, p. 269. 15 DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 18091861. Published by the author in association with Christie’s Wine Publications, 1992, p. 18. 16 BRADFORD, Sarah - The Englishman’s Wine — The Story of Port. London: 17 Cf. BENNETT, Norman R. - “British Property-Holders in the Douro. Macmillan and Co. Ltd., 1969, p. 80. The late Eighteenth to the Early Twentieth Century”. Estudos em Homenagem a João Francisco Marques. Coordenação de Luís A. de Oliveira Ramos, Jorge Martins Ribeiro e Amélia Polónia. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001, Volume I, p. 203. 18 VAQUINHAS, Irene e Rui Cascão - “Evolução da sociedade em Portugal: a lenta e complexa afirmação de uma civilização burguesa”. História de Portugal. Direcção de José Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, Quinto Volume — O Liberalismo (1807-1890), p. 447. 19 Cf. MACAULAY, Rose - They Went to Portugal. London: Penguin Books, 1985, pp. 229-252. 20 On the British community in Oporto, see: GONÇALVES, Maria Guilhermina Bessa – A Comunidade Britânica no Porto. Inter-relações históricas, económicas, culturais e educativas. Porto: Edições Afrontamento, 2002; e RIBEIRO, Jorge Martins – A comunidade britânica do Porto durante as invasões francesas 1807-1811. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1990. 21 DELAFORCE, John - The Factory House at Oporto. London: Christie’s 22 Translated into Portuguese by his brother-in-law, Francis Cramp: Uma Wine Publications, 1983, p. 92. ou duas palavras sobre o vinho do Porto, dirigidas ao publico britannico em geral, e com especialidade aos particulares, mostrando como e porque era adulterado, apontando alguns meios de se conhecerem as adulterações. Porto: Typ. Commercial Portuense, 1844. 23 Ibidem, p. 245. 24 See: MARTINS, Conceição Andrade – “Forrester, o ‘país vinhateiro’ e o retorno ao velho método de fazer vinho do Porto”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 56-67. 25 “Algumas palavras sobre a reivindicação de credito para os vinhos do Doiro”. Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 6 de Março de 1845, Tomo IV, no. 33, p. 393. 96 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 97 Ver: MARTINS, Conceição Andrade – “Forrester, o ‘país vinhateiro’ e o retorno ao velho método de fazer vinho do Porto. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 56-67. “Algumas palavras sobre a reivindicação de credito para os vinhos do Doiro”. Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 6 de Março de 1845, Tomo IV, n.º 33, p. 393. A Associação Comercial do Porto, em Março de 1845, após análise da argumentação acusatória de Forrester, considerara-a infundada num parecer que veio a público sob a forma de folheto, intitulado Parecer da Direcção da Associação Comercial do Porto, approvado unanimemente, e votado em Sessão de 15 de Março de 1845, para ser submettido á discussão e approvação da Assembleia Geral. Lisboa: s.n., 1845. “Vinhos do Douro”. Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 5 de Junho de 1845, Tomo IV, n.º 46, p. 548. Carta de Joseph James Forrester, datada do Porto, 16 de Janeiro de 1845: Cartas dirigidas ao Snr. Redactor do Periodico dos Pobres do Porto por José James Forrester sobre Um Requerimento dirigido a Sua Magestade Fidelissima contra o auctor, em consequência dos esforços por elle feitos para restaurar os vinhos do douro a sua antiga pureza. Porto: Typographia Commercial, 1845, p. 10. Carta de Joseph James Forrester, datada do Porto, 11 de Janeiro de 1845: ibidem, p. 5. Carta de Joseph James Forrester, datada do Porto, 16 de Janeiro de 1845: ibidem, p. 10. O folheto Huma palavra de Verdade sobre Vinho do Porto, dirigida ao Publico Britannico, por Hum Gentil-Homem e Negociante Britannico. Traduzido do Inglez por Joze James Forrester apresenta-se como tradução, feita pelo próprio Forrester, de um folheto escrito contra si e em resposta a A Word or Two on Port Wine. Inocêncio Francisco da Silva, contudo, afirma, a propósito deste título: “Dizia ser vertido por J. J. Forrester, mas foi elle o proprio auctor.” (SILVA, Innocencio Francisco da - Diccionario Bibliographico Portuguez. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001, CD-ROM, Ophir-Biblioteca Virtual dos Descobrimentos Portugueses 9, Vol. XIII, p. 17). Sobre a querela a que deu origem a publicação deste folheto de Camilo, ver: CABRAL, Alexandre - Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho, 1989, pp. 824-825. BRANCO, Camilo Castelo - O Vinho do Porto. Processo de uma bestialidade Inglesa. Exposição a Thomaz Ribeiro. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1984, pp. 29 e 37. Ibidem, p. 29. Eis o anúncio do prémio: “A Premium of Fifty Guineas for an ESSAY ON PORTUGAL in connection with the Objects of the Great Exhibition, offered by BENJAMIN OLIVEIRA, Esq., F. R. S.”. The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the evidence regarding that country taken before a commitee of the House of Commons in May, 1852. London: John Weale, 1853. Em 1860 a obra já ia na quarta edição: Portugal and Its Capabilities: (Being the Essay for which «The Oliveira Prize and Medal» were awarded.) The author’s evidence regarding that country, given before a select committee of the House of Commons in 26 In March 1845, the Oporto Chamber of Commerce, having analysed Forrester’s indicting arguments, judged them to be unfounded in an account made public in the form of a pamphlet titled Parecer da Direcção da Associação Comercial do Porto, approvado unanimemente, e votado em Sessão de 15 de Março de 1845, para ser submettido á discussão e approvação da Assembleia Geral. Lisboa: s.ed., 1845. 27 “Vinhos do Douro”. Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 5 de Junho de 1845, Tomo IV, no. 46, p. 548. 28 Letter written by Forrester, dated Oporto, 16 January 1845: Cartas dirigidas ao Snr. Redactor do Periodico dos Pobres do Porto por José James Forrester sobre Um Requerimento dirigido a Sua Magestade Fidelissima contra o auctor, em consequência dos esforços por elle feitos para restaurar os vinhos do douro a sua antiga pureza. Porto: Typographia Commercial, 1845, p. 10. 29 Letter written by Forrester, dated Oporto, 11 January 1845: ibidem, p. 5. 30 Letter written by Forrester, dated Oporto, 16 January 1845: ibidem, p. 10. 31 The pamphlet Huma palavra de Verdade sobre Vinho do Porto, dirigida ao Publico Britannico, por Hum Gentil-Homem e Negociante Britannico. Traduzido do Inglez por Joze James Forrester (Porto: Typographia Commercial, 1844) is offered as being a translation, by Forrester himself, of a pamphlet directed against him and in response to A Word or Two on Port Wine. However, Inocêncio Francisco da Silva regards same as follows: ‘It purported to be a translation by J.J. Forrester, but he wrote it himself.’ (SILVA, Innocencio Francisco da - Diccionario Bibliographico Portuguez. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001, CD-ROM, Ophir-Biblioteca Virtual dos Descobrimentos Portugueses 9, Vol. XIII, p. 17). 32 On the dispute which publication of this pamphlet by Camilo triggered, see CABRAL, Alexandre - Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho, 1989, pp. 824-825. 33 BRANCO, Camilo Castelo - O Vinho do Porto. Processo de uma bestialidade Inglesa. Exposição a Thomaz Ribeiro. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1984, pp. 29 e 37. 34 35 Ibidem, p. 29. The announcement of the prize was couched as follows: “A Premium of Fifty Guineas for an ESSAY ON PORTUGAL in connection with the Objects of the Great Exhibition, offered by BENJAMIN OLIVEIRA, Esq., F. R. S.”. 36 The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the evidence regarding that country taken before a commitee of the House of Commons in May, 1852. London: John Weale, 1853. In 1860, the work had already been reprinted four times Portugal and Its Capabilities: (Being the Essay for which «The Oliveira Prize and Medal» were awarded.) The author’s evidence regarding that country, given before a select committee of the House of Commons in May, 1852, on the wine-duties; together with A Companion to the Essay containing «A Word or Two on Port-Wine» re-iterated, and A Statistical Account of the Port-Wine Trade from 1678 to 1860. London: John Weale; Edinburgh: John Menzies; Oporto: Coutinho, 1860. See: BONIFÁCIO, Fátima – “Paraíso perdido: a propósito do livro de J. J. Forrester The Prize-Essay on Portugal”. Barão 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 May, 1852, on the wine-duties; together with A Companion to the Essay containing «A Word or Two on Port-Wine» re-iterated, and A Statistical Account of the Port-Wine Trade from 1678 to 1860. London: John Weale; Edinburgh: John Menzies; Porto: Coutinho, 1860. Ver: BONIFÁCIO, “Fátima – Paraíso perdido: a propósito do livro de J. J. Forrester The Prize-Essay on Portugal”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 86-91. CLUNY, Isabel – “Joseph James Forrester, uma história do Douro”. Barão de Forrester. Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, p. 27. DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. sl.: John Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992, p. 68. Ibidem, p. 69. FORRESTER, Joseph James – The Prize-Essay on Portugal: being The Essay for which “The Oliveira Prize and Medal” were awarded. With the author’s evidence regarding that country given before a select committee of the House of Commons in May, 1852, on the wine-duties; and his surveys of the wine-districts of the Alto-Douro, (as adopted and published by order of the House of Commons.) together with A Statistical Comparison of the Resources and Commerce of Great-Britain and Portugal. Second Edition. London: John Weale, Edinburgh: John Menzies, Oporto: Coutinho, 1854, pp. 15-16. Globe, November 22, 1853. VIANNA, Pedro Amorim – “Zelo extraordinario de um inglez pelos nossos interesses”. A Peninsula. Porto: 1853, Vol. II, n.º 19, p. 217. Ibidem. Ver: BENNETT, Norman A. - “O vinho do Porto na diplomacia anglo-portuguesa durante o século XIX”. Douro – Estudos & Documentos. Porto: Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto, 1997, Ano 2, n.º 4, pp. 271-286. LEORNE, ibidem, p. 351. Ibidem. Sobre a sua participação na Exposição Universal de Paris publicou Forrester um catálogo: Relation des Objects Expédiés à L’Exposition Universelle de Paris, par Joseph James Forrester, proprietaire de vignes dans le Haut Douro, et negociant à Oporto. Porto: Joseph James Forrester, 1855. No ano seguinte publicou também um folheto em que avaliou a sua participação naquele grande certame internacional: Algumas palavras sobre a Exposição de Paris pelo Barão de Forrester, José James Forrester, oferecidas aos seus amigos. Porto: Tipografia Comercial, 1856. Filipa Lowndes Vicente refere que Forrester enviou para a Exposição de Paris fotografias de paisagens do Alto Douro e outras ilustrativas de costumes portugueses, mas não chegaram a ser expostas. Cf. VICENTE, Filipa Lowndes - Viagens e Exposições: D. Pedro V na Europa do Século XIX. Lisboa: Gótica, 2003, p. 262. Sobre a participação nas exposições universais, consultar: SOUTO, Maria Helena – O Barão de Forrester e as representações portuguesas nas Exposições Universais de 1851 e 1855. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 102-109. RACZYNSKI, A. (Comte de) - Dictionnaire historico-artistique du Portugal pour faire suite à l’ouvrage ayant pour titre : Les arts en Portugal, lettres adressées à la Société de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catalogue. Museu do Douro, 2008, pp. 86-91. 37 CLUNY, Isabel – “Joseph James Forrester, uma história do Douro”. Barão de Forrester. Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catalogue. Museu do Douro, 2008, p. 27. 38 DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 18091861. s.l.: John Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992, p. 68. 39 Ibidem, p. 69. 40 FORRESTER, Joseph James – The Prize-Essay on Portugal: being The Essay for which “The Oliveira Prize and Medal” were awarded. With the author’s evidence regarding that country given before a select committee of the House of Commons in May, 1852, on the wine-duties; and his surveys of the wine-districts of the Alto-Douro, (as adopted and published by order of the House of Commons.) together with A Statistical Comparison of the Resources and Commerce of Great-Britain and Portugal. Second Edition. London: John Weale, Edinburgh: John Menzies, Oporto: Coutinho, 1854, pp. 15-16. 41 Globe, November 22, 1853. 42 VIANNA, Pedro Amorim – “Zelo extraordinario de um inglez pelos nossos interesses”. A Peninsula. Porto: 1853, Vol. II, no. 19, p. 217. 43 44 Ibidem. See: BENNETT, Norman A. - “O vinho do Porto na diplomacia angloportuguesa durante o século XIX”. Douro — Estudos & Documentos. Porto: Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto, 1997, Ano 2, no. 4, pp. 271-286. 45 LEORNE, ibidem, p. 351. 46 Forrester published a catalogue of his participation in the Paris Universal Exposition: Relation des Objects Expédiés à L’Exposition Universelle de Paris, par Joseph James Forrester, proprietaire de vignes dans le Haut Douro, et negociant à Oporto. Porto: Joseph James Forrester, 1855. The following year he also published a pamphlet in which he took stock of his participation in that great international contest: Algumas palavras sobre a Exposição de Paris pelo Barão de Forrester, José James Forrester, oferecidas aos seus amigos. Porto: Tipografia Comercial, 1856. Filipa Lowndes Vicente cites the fact that Forrester sent photographs of Alto Douro views and other photographs illustrating Portuguese customs to the Paris Exposition. These were, however, never exhibited there. Cf. VICENTE, Filipa Lowndes - Viagens e Exposições: D. Pedro V na Europa do Século XIX. Lisboa: Gótica, 2003, p. 262. 47 On participation in Universal Exhibitions, see: SOUTO, Maria Helena – O Barão de Forrester e as representações portuguesas nas Exposições Universais de 1851 e 1855. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 102-109. 48 RACZYNSKI, A. (Comte de) - Dictionnaire historico-artistique du Portugal pour faire suite à l’ouvrage ayant pour titre : Les arts en Portugal, lettres adressées à la Société artistique et scientifique de Berlin et accompagnées de documents. Paris: Jules Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1847, p. 101. 49 RACZYNSKI, A. (Comte de) - Les Arts en Portugal. Lettres Adressées 98 49 50 51 52 53 99 artistique et scientifique de Berlin et accompagnées de documents. Paris: Jules Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1847, p. 101. RACZYNSKI, A. (Comte de) - Les Arts en Portugal. Lettres Adressées à la Société Artistique et Scientifique de Berlin, et Accompagnées de Documens. Paris: Jules Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1846, pp. 388-389. Roquemont, que viveu no Porto e ali faleceu, pintou o retrato da mulher de Forrester, Eliza, o dos seus seis filhos e o do próprio Barão. Sobre esta matéria, ver: SOUTO, Maria Helena – “Joseph James Forrester: o pintor amador e as suas afinidades electivas”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 92- 101. SENA, António - História da Imagem Fotográfica em Portugal – 1839-1997. Porto: Porto Editora, 1998, p. 37. FIGUEIREDO, Filipe - “Forrester um amador de Fotografia em Portugal”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 120-133. à la Société Artistique et Scientifique de Berlin, et Accompagnées de Documents. Paris: Jules Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1846, pp. 388-389. 50 Roquemont, who lived and died in Oporto, painted the portrait of Eliza, Forrester’s wife, that of his six children and that of the Baron himself. 51 On this subject, see: SOUTO, Maria Helena – “Joseph James Forrester: o pintor amador e as suas afinidades electivas”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 92- 101. 52 SENA, António - História da Imagem Fotográfica em Portugal — 18391997. Porto: Porto Editora, 1998, p. 37. 53 FIGUEIREDO, Filipe - “Forrester um amador de Fotografia em Portugal”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 18311861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 120-133. Quillinan – uma família irlandesa no Porto Quillinan – an irish family in Oporto Paulo Duarte de Almeida FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES) Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 100-124, ISSN 1646-7116 A família Quillinan é um dos exemplos de famílias estrangeiras, particularmente inglesas e irlandesas, que se radicaram em Portugal no século XVIII, dando continuidade a uma tradição de boas relações comerciais já seculares1, mas impulsionadas pelo Tratado de Methuen (1703) e pelo incremento da produção e comércio do vinho do Porto proporcionado pela Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro (criada em 1756 pelo Marquês de Pombal)2. Duas medidas de carácter político e comercial cujos efeitos lograram sobrepor-se à antipatia contra os ingleses que se generalizou na população portuguesa principalmente depois do Terramoto de 1755 pois não faltou quem dissesse que a catástrofe tinha sido um castigo divino contra uma nação católica que abrigava há tantos séculos e de forma tão hospitaleira hereges e agiotas que tinham no comércio a sua principal fonte de riqueza3. Apesar de algum período de agitação durante o governo de Pombal, decorrente também de medidas do ministro que punham em causa privilégios dos comerciantes britânicos tidos por estes como adquiridos4, a verdade é que durante o século XVIII a imigração de súbditos britânicos para Portugal foi uma constante, dizendo um contemporâneo que “o inglês falido em Londres vinha recuperar as suas perdas a Portugal; o irlandês, miserável na sua pátria, escapava à forca em Londres para ir fazer fortuna em Lisboa”5 e o comércio do nosso país achava-se quase todo nas mãos dos ingleses. De uma relação oficial sem data, mas do tempo de D. José, verifica-se existirem à época na capital mais de cem casas de negócio britânicas, havendo também muitos que se ocupavam nas profissões ditas mecânicas (tanoeiros, sapateiros, alfaiates, cabeleireiros e até engomadeiras). A intensa actividade comercial entre as duas nações comprova-se ainda pelas estatísticas do Banco de Inglaterra, nas quais se veri101 The Quillinan family is one of the examples of foreign families, particular British and Irish, who settled in Portugal in the 18th Century, to continue the centuries long tradition of good commercial relations1, but inspired to do so by the Treaty of Methuen (1703) and by the increase in the produce and trade in Port wine by the Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro (Agricultural Company for Wines of the Alto Douro), set up in 1756 by the Marquês de Pombal2. Two events of a political and commercial nature overlaid the antipathy towards the British which was generally established in the Portuguese population, mainly after the 1755 Earthquake, when there was no lack of individuals who said that the catastrophe had been divine retribution against a Catholic nation which had for centuries hospitably sheltered heretics and usurers whose principal source of wealth came from commerce3. Despite there having been a period of unrest during Pombal’s Government, resulting also from measures taken by the Minister which questioned certain privileges of British traders which were considered as fixed 4, the truth is that during the 18th Century there was constant emigration to Portugal, with a contemporary stating that “the bankrupt Englishman in London came to Portugal to recuperate his losses; the Irishman, miserable in his country, escaped the gallows in London to go and make his fortune in Lisbon”5 and trade in our country was thought to be almost all in the hands of the British. An undated official report during the time of King José confirmed that there were over 100 offices of British trade, many involving handiwork (hoopers, shoemakers, tailors, hairdressers and even ironing maids). The intense commercial activity between the two nations is shown by statistics from the Bank of England, which indicate that importation of Por- ficava que a importação do ouro português tinha sido apenas em quatro anos, de 1766 a 1769, de 3.552.572 libras esterlinas, “além de muito mais que passava, clandestinamente, sobretudo em navios do Porto”6. Dizia-se até, em tom um pouco caricatural, que as moedas com a efígie de D. João V eram em Inglaterra mais vulgares do que as do rei Jorge III7. Ao longo deste estudo, vamos ficar a conhecer melhor uma dessas famílias, primeiro através do conhecimento das suas origens (geográfica e social) e depois através do percurso de vida de quatro dos seus membros – John Quillinan – o primeiro da família a viver em Portugal – e três dos seus filhos: Edward, João Tomás e Luís. Resta apenas advertir que parte deste trabalho resulta de uma investigação conjunta, mas de natureza mais genealógica, que há já algum tempo temos vindo a desenvolver com a Senhora Dr.ª Maria Júlia Oom do Valle Henriques de Oliveira Martins, a quem agradecemos, e que pretendemos vir a publicar em breve numa das revistas da especialidade. tuguese gold in just the four years between 1766 and 1769 was 3,552,572 pounds sterling, “besides considerably more that clandestinely came into the country, mainly in ships from Oporto”6. It was even somewhat jocularly stated that coins with the image of King João V were more common in England at the time than those of King George III7. This study will enable us to get to know one of these families better, first through learning about its geographical and social origins and then the life of four of its members - John Quillinan - the first of the family to live in Portugal - and three of his children: Edward, João Tomás and Luís. It should just be mentioned that part of this work has resulted from joint research, but of a more genealogical nature, that has been ongoing for some time with Dr.ª Maria Júlia Oom do Valle Henriques de Oliveira Martins, who should be thanked and with whom I hope to shortly publish this work in one of the specialist journals. Origin Origem Geographical origin Origem geográfica Geograficamente, a família é originária dos condados irlandeses de Tipperary e Limerick, onde o apelido era e continua a ser relativamente comum, surgindo, contudo, sob diversas formas: Quillinan, Cullinane, Callinan, Quillian, Coninan, McQuillan, McQuillian, McQuilland, etc. E um dos ramos, que com o passar dos séculos se converteu ao Protestantismo, usa actualmente a forma Collins. Basta fazer uma pesquisa na internet sobre qualquer uma destas formas do nome para nos apercebermos da imensa quantidade de indivíduos que os usam ou usaram na Irlanda e no mundo. The family geographically originates from the Irish counties of Tipperary and Limerick, where the surname was and is relatively common, appearing in various forms: Quillinan, Cullinane, Callinan, Quillian, Coninan, McQuillan, McQuillian, McQuilland, etc. One branch of the family, which with the passing of centuries had converted to Protestantism, currently uses the form Collins. It is enough to carry out an Internet search on any of these forms of the name to realise the immense number of individuals who use or who have used it in Ireland and in the world. 102 Origem social Sobre a origem social, contamos com um testemunho de um membro da família – o Dr. Guilherme de Quillinan da Silva Machado (diplomata de carreira que representou Portugal em vários países europeus e não só, acabando a sua carreira como Ministro Plenipotenciário) – que, a 18 de Abril de 1945, escrevia assim a um seu sobrinho que o questionara sobre o assunto8: A família não há dúvida que era muito antiga e de grande nobreza, mas a verdade é que o brazão é de simples knight (cavaleiro). Sobre a sua antiguidade, encontramos, com facilidade, provas documentais da sua existência naquela área em, pelo menos, inícios do século XVII. Já quanto à “grande nobreza”, não temos provas documentais que a atestem, embora a família seja referida no The Book of Irish Families9. Na mesma carta, o seu remetente descreve, contudo, o suposto brasão da família, da seguinte forma: O brazão é em campo azul com uma barra de oiro, ao meio, em sentido horizontal. Do lado de baixo um crescente branco que, creio, deve ser de prata, e por cima 2 cabeças de leão em oiro. Timbre assente n’uma espécie de almofada azul, oiro, azul, oiro, azul, oiro; uma mão côr de carne humana dentro de um braço de armadura de aço com uns botões doirados, empunhando um punhal com o cabo de oiro e lâmina de aço. O brazão tem um friso de oiro. Salvo erro, pois que não sou perito em heraldica. Social origin As regards their social origin, we are able to rely on the testimony of a member of the family – Dr. Guilherme de Quillinan da Silva Machado (a career diplomat who represented Portugal in various European countries, and who finished his career as a Plenipotentiary Minister) – who on 18 April 1945 wrote the following when questioned on the matter of his nephew8: Apesar das imprecisões heráldicas efectivamente existentes na leitura do brasão, a sua descrição é suficientemente pormenorizada para o podermos imaginar com rigor. Tal esforço não é felizmente necessário porque se conhecem, pelo 103 The family had no doubts about it being an ancient and noble one, but the truth is that its coat of arms is that of a simple knight. menos, quatro representações heráldicas do brasão, embora todas elas tardias, ou seja, posteriores à segunda metade do século XIX. A mais antiga parece ser uma pintura aguarelada, sem indicação do autor, que pertenceu ao ramo Quillinan da Silva Machado10; a 2.ª é uma marca de lacre de um sinete ou anel armoriado usado pelo referido Dr. Guilherme de Quillinan da Silva Machado11; a 3.ª consta de várias peças de um serviço de porcelana europeia (francesa ou inglesa) mandado executar por este diplomata durante uma das suas missões12; e 4.ª e última é uma outra pintura, já bastante fantasiosa, da autoria do Senhor Marquês de Lambert. O facto de não existirem referências nem representações mais antigas do dito brasão leva-nos a supor que as preocupações nobiliárquicas sobre a origem da família terão surgido tardiamente, quando os diferentes ramos se uniram por casamento a membros de famílias da fidalguia portuguesa13. As regards their antiquity, it was easy for us to find documentary proof of its existence from at least the start of the 16th Century. As regards its “great nobility”, we have no documentary evidence that attests to this, although the family is referred to in The Book of Irish Families9. In the same letter, the sender does however describe the supposed coat of arms of the family in the following manner: The coat of arms is a blue field with a horizontal gold bar in the middle. On the lower side there is a white crescent which, I believe, must be of silver, with 2 golden lions’ heads above. This is based on type of blue, gold, blue, gold, blue, gold bolster; there is a flesh-coloured hand inside a steel-armoured arm with golden buttons, wielding a dagger with a golden head and a steel blade. The coat of arms has a golden frieze. Unless I am wrong, as I am not a heraldry expert. Os homens Despite the heraldic imprecisions contained in the John Quillinan – o Patriarca Provavelmente nascido em Carrick, por volta de 175414, também não se sabe quando veio para Portugal nem se se terá fixado logo no Porto ou se terá vivido primeiramente em Lisboa. Esta última hipótese levanta-se com alguma probabilidade porque sua primeira mulher era natural daquela cidade15. Essa senhora chamava-se Mary Ryan, e, embora tivesse nascido já em Portugal por volta de 177016, era de ascendência irlandesa. Embora exista um pouco a ideia generalizada de que os súbditos britânicos escolhiam a capital nortenha para se fixarem, devido até à maior semelhança climatérica com o seu país de origem, a verdade é que a sua presença na capital durante o século XVIII e nos inícios do século XIX está bem documentada por exemplo nas Memórias de D. José Trazimundo de reading of the coat of arms, its description is sufficiently detailed to allow us to clearly visualise it. That effort is happily not necessary since at least four heraldic representations of the coat of arms are known, although from a later period, or that is, after the second half of the 19th Century. The oldest appears to be an unsigned watercolour, which belonged to the Quillinan da Silva Machado side of the family10; the second is a lacquer mark on a signet or armorial ring used by the aforementioned Dr. Guilherme de Quillinan da Silva Machado11; the third is on several pieces of a European porcelain service (French or English) which was made at the bequest of this diplomat during one of his postings12; and the fourth and final one is another, rather fanciful painting by Mr. Marquês de Lambert. 104 Mascarenhas, Marquês de Fronteira. Tendo provavelmente casado em Lisboa, o casal optou por fixar residência no Porto, onde já se encontrava a residir em 1796 – ano do nascimento de seu quarto filho, João Tomás (adiante referido). Por razões que desconhecemos, mas que nos dizem ter sido “repentinas”, Mary Ryan (então Mary Quillinan) faleceu na freguesia de Miragaia, no Porto, sem Sacramentos “por estar para se confessar com um Padre da Congregação do Oratório desta cidade [Porto], o Padre Duarte Culin”, a 12 de Maio de 1803, tendo sido sepultada na Igreja daquela freguesia, e tendo assistido às suas exéquias 20 Padres17. Há dois elementos no seu assento de óbito em que devemos atentar: a freguesia em que ocorreu o óbito e em que foi lavrado o respectivo assento e o número de sacerdotes que participaram nas cerimónias. O primeiro está de acordo com a ideia de que John Quillinan se fixara no Porto por razões de ordem comercial uma vez que a freguesia de Miragaia – até como o próprio nome indica – era a que estava mais próxima do rio, da alfândega, do Porto, enfim, da actividade comercial. Por outro lado, o número de sacerdotes indica a quem está mais familiarizado com a documentação coeva que a pessoa falecida tinha já algum estatuto social e económico. Com quatro filhos já nascidos (Anne, Edward, John e João Tomás), John Quillinan não poderia permanecer viúvo durante muito tempo, por isso, passados apenas 5 meses da morte de sua primeira mulher, volta a casar. O consórcio realizou-se na Igreja de N.ª Sr.ª da Vitória, no Porto, na tarde de 22 de Outubro de 180318. A noiva também se chamava Mary, mas de sobrenome Geordans (ou Riordan). Era natural de Londres, bem como seus pais e avós. Mas também este casamento não teria um final feliz. Passados 5 anos, no Inverno de 1808, devido à invasão do General Soult e aproximação das tropas francesas do Porto, 105 The fact that there are no older references or representations of the aforementioned coat of arms leads us to suppose that the concerns regarding the origin of the family may have arisen at a late stage, when the different branches were joined by marriage to members of the Portuguese knights13. The men John Quillinan – the patriarch Probably born in Carrick around 175414, it is also not known when he came to Portugal or if he settled first in Oporto or had first lived in Lisbon. This latter hypothesis has some substance given that his first wife came from the city15. This lady was called Mary Ryan, and although she was born in Portugal around 177016, she was of Irish ancestry. Although there is a generalised idea that British subjects chose the capital of the North in which to settle, due to the similarity of its climate to their country of origin, the truth is that their presence in the capital during the 18th Century and the beginning of the 19th Century is well documented, such as in the Memoirs of D. José Trazimundo de Mascarenhas, the Marquês de Fronteira. After having probably got married in Lisbon, the couple decided to settle in Oporto, where they were living when their fourth child, João Tomás (referred to below) was born in 1796. For unknown reasons, but said to have been “sudden”, Mary Quillinan (née Mary Ryan) passed away in the parish of Miragaia, in Oporto, without the Last Rites “as she had been confessing at the time to Father Duarte Culin, an Oratorian Priest from their Oporto Congregation,”, on 12 May 1803, and was buried in that Parish Church, with 20 Priests attending at her funeral rites17. There are two a família, temendo represálias, viu-se obrigada a deixar a cidade – como aliás aconteceu com a maioria da colónia britânica residente naquela cidade, lembremos o caso da família de Almeida Garrett, também com ascendência irlandesa, que nessa mesma altura se viu obrigada a refugiar-se nos Açores19. A viagem revestia-se, contudo, de grande preocupação para a família porque Mrs. Quillinan se encontrava em avançado estado de gravidez. Ainda se colocou a hipótese de ela permanecer no Porto, como parece que aconteceu a várias senhoras que se encontravam na mesma situação, mas John Quillinan considerou demasiado arriscado, preferindo levar a mulher para Inglaterra, mas a viagem foi tumultuosa e Mrs. Quillinan acabaria por morrer a bordo, na sequência de um parto prematuro. Estes trágicos acontecimentos são narradas nas notas autobiográficas de Edward Quillinan (filho do 1.º casamento de John Quillinan e um nome conhecido dos estudiosos das literatura inglesa e, sobretudo, da sua relação com Portugal e com a literatura Portuguesa), publicadas por William Johnston, depois da sua morte20. A família dirigiu-se então para Londres onde permaneceu durante vários anos. Não sabemos ao certo quantos, mas sabemos que John Quillinan ainda aí se encontrava em 1812 (ano do nascimento de seu filho natural Henry Lawson Quillinan), e que regressou ao Porto antes de 1821 (porque nesse ano mandou publicar no jornal The Times um anúncio de dissolução de uma sociedade comercial e em que surge como residente no Porto21; para além disso, nesse mesmo ano nasceu naquela cidade uma outra sua filha natural – D. Maria Isabel). É natural que o regresso da família se tenha verificado logo depois da Revolução Liberal22 e que John Quillinan tenha prontamente retomado a sua actividade comercial. Sabe-se que em 1822, por exemplo, exportou 122 pipas de vinho da Feitoria, despachadas da Alfândega do Porto para details of her death certificate which we should note: the parish where the death occurred and where the respective certificate was filled in, and the number of clergy who participated in the burial rites. The former is in keeping with the idea that John Quillinan had settled in Oporto for business reasons given that the parish of Miragaia – as the name itself indicates– was the one closest to the river, the Customs, the port - that is, commercial activity. What is more, the number of priests shows that the deceased person had a certain socio-economic status when compared to other similar records of the same period. Having four living children (Anne, Edward, John and João Tomás), John Quillinan could not remain a widower for long and so he married again only 5 months after the death of his first wife. The marriage took place at the Church of Our Lady of Vitória, in Oporto, in the afternoon of 22 October 180318. The bride was also called Mary, and had the surname Geordans (or Riordan). She was from London, as well as her parents and grandparents. Unfortunately this marriage would also have an unhappy end. Five years later in the Winter of 1808 the family, along with most of the British Community resident in Oporto had to leave the city fearing reprisals following the invasion by General Soult and the approach of the French soldiers. This was similar to the Almeida Garrett family, which also had Irish ancestry, and which had to take refuge in the Azores19. The journey was one of major concern for the family because Mrs. Quillinan was heavily pregnant. There was the possibility of her remaining in Oporto, as was the case with a number of other women in the same situation, but John Quillinan considered it too risky, preferring to take his wife to England, but the voyage was a stormy one and Mrs. Quillinan ended up dying on board following a 106 o estrangeiro23, o que, embora comprove a sua actividade, não é um número muito significativo se pensarmos que 12 anos antes (1810) se exportaram 20.000 pipas, no total, e que em 1811, Wellington pediu à Real Companhia um fornecimento de 300 pipas só para os seus soldados estacionados em Lamego. Mas é natural que John Quillinan não se dedicasse apenas à exportação de vinho, mas também à importação e comércio de bens de origem inglesa (nomeadamente bens mais essenciais como o trigo e tecidos24, ou outros mais supérfluos como móveis e objectos de prata e casquinha tão em voga na época em Portugal, e de forma particular, no Porto, e que viriam a influenciar de forma decisiva o gosto dos portuenses, havendo marcas dessa influência, por exemplo, na prataria). A relação de John Quillinan com outros comerciantes de vinho está documentada por exemplo no processo em que interveio como procurador de um outro comerciante inglês, Samuel Abbot – seu ex-sócio - entretanto falido, numa causa relativa ao armazenamento de umas pipas de vinho que pertenciam ao dito comerciante e que se estavam a deteriorar por estarem armazenadas em más condições25, e é referido no Almanach Portuguez para 1824-1825, no capítulo “Negociantes Estrangeiros na cidade do Porto”, como sendo morador na Rua da Ferraria de Cima26. Poucos anos depois, e já septuagenário, fez o seu testamento, a 17 de Agosto de 1826, pelo qual reconheceu a paternidade de três filhos naturais: Henry Lawson Quillinan, Maria Isabel Quillinan e Luís Quillinan e dividiu os seus bens da seguinte maneira: premature delivery. These tragic events are narrated in the autobiographical notes penned by Edward Quillinan (a son from John Quillinan’s first marriage and a name known to students of English literature and, above, all, its relationship with Portugal and Portuguese literature), which was published by William Johnston after his death20. The family thus moved to London where it stayed for several years. We do not know exactly when, but we know that John Quillinan was still there in 1812 (the year of birth of his natural child Henry Lawson Quillinan), and that he returned to Oporto before 1821 (since in that year he had an advertisement published in the Times newspaper concerning the dissolution of a company in which he was given as residing in Oporto 21; in addition to this, the same year saw the birth in that city of another natural child of his – Maria Isabel). It would be natural for the family’s return to have been confirmed after the Liberal Revolution22 and that John Quillinan had swiftly resumed his commercial activity. It is known that in 1822, for example, he exported 122 barrels of wine from the Factory House, which were dispatched abroad from the Customs in Oporto23, which, while proving his commercial activity, is not a significant amount if we take into account the fact that 12 years previously (1810) 20,000 barrels had been exported and that in 1811, Wellington asked the Royal Company to supply 300 barrels just for his soldiers stationed in Lamego. But it would have been normal for John Quillinan to have not just exported wine, but also imported goods of British origin (namely essential commodities such as wheat and fabrics24, or other, more super- · À sua filha Anne Quillinan Fox e seus filhos deixou a propriedade da casa n.º 19 da Essex Street, Strand, Condado de Middlesex, Londres; 107 fluous, items such as furniture or silver or silver-plated brass objects which were so in fashion at the time in Portugal, and in particular in Oporto, which would have had a · A seu genro Benjamim Fox deixou a propriedade vitalícia da casa descrita no item anterior; · À sua filha Anne Quillinan Fox, marido e filhos perdoou qualquer dívida em dinheiro; · A seu filho Edward Quillinan deixou 100 libras em dinheiro; · A seu filho John Quillinan deixou 3$200 réis em dinheiro; · Ao mesmo perdoou qualquer dívida em dinheiro; · A seu filho João Tomás Quillinan deixou a propriedade denominada “South Lissiniska ou Rathfeeda”, no condado de Limerick; · Ao mesmo deixou o remanescente de toda a herança; · A seu filho natural Henry Lawson Quillinan deixou 800 libras a serem-lhe pagas quando atingisse 21 anos; · Ao mesmo deixou 40 libras anuais a serem-lhe pagas para a sua educação; · À governanta Maria Joaquina de Jesus deixou 400 mil réis; · E ao caixeiro João Tomás da Cunha deixou 24 mil réis. O testamento permite saber que, no final da sua vida, John Quillinan tinha propriedades em Londres (a casa onde provavelmente terá vivido no período em que aí permaneceu), na Irlanda e no Porto. O filho mais beneficiado é, sem dúvida, João Tomás, mas é também sobre este que recaem mais responsabilidades pois, para além de ser testamenteiro das vontades do Pai, são entregues ao seu cuidado os seus três meios-irmãos, os quais eram ainda umas crianças quando o Pai morreu (Henry tinha 14 anos; Maria Isabel, 5 anos, e Luís apenas 2 anos). O sustento e educação destas crianças foram assegurados por John Quillinan como se comprova pela comparação do montante em dinheiro deixado aos filhos Edward e Henry (embora este só recebesse as suas 800 libras quando perfizesse 21 anos). Já o sustento dos dois filhos naturais mais novos foram asse- decisive influence on the taste of the people of Oporto, as reflected in their silverware). An example of the relationship of John Quillinan with other wine traders is documented in a case in which he was involved as an attorney-in-fact for another British trader his ex-partner - who in the meantime had gone bankrupt, in a case concerning the warehousing of some wine barrels which belonged to the said trader and which were deteriorating due to having been stored in unsuitable conditions25, and he is referred to in the 1824-1825 Almanach Portuguez (Portuguese Almanac), in the chapter “Foreign Traders in the City of Oporto”, as residing in Rua da Ferraria de Cima26. A few years later and in his seventies, he made out his will on 17 August 1826, in which he recognised the paternity of his three natural children: Henry Lawson Quillinan, Maria Isabel Quillinan and Luís Quillinan and in which he divided his goods in the following manner: · To his daughter Anne Quillinan Fox and her children he left the house at 19 Essex Street, Strand, County of Middlesex, London; · To his son-in-law Benjamin Fox he left in perpetuity the property of the house specified in the previous item; · To his daughter Anne Quillinan Fox, husband and children he waived any monetary debt; · To his son Edward Quillinan he left 100 pounds in cash; · To his son John Quillinan he left 3$200 réis in cash; · To the same he waived any monetary debt; · To his son João Tomás Quillinan he left the property specified as “South Lissiniska as Rathfeeda”, in the county of Limerick; 108 gurados por uma provisão à parte do testamento. O perdão das dívidas aos filhos Anne e John indicia que estes talvez recorressem com frequência à generosidade paterna e, de entre os legados em dinheiro, destaca-se pela parcimónia o legado deixado ao filho John – incrivelmente pequeno quando comparado com o deixado ao caixeiro e ainda mais pequeno quando comparado com o deixado à governanta27. Causa alguma estranheza os poucos legados deixados a criados/criadas e outros empregados, o que talvez indicie que o seu número fosse reduzido, mas destaca-se a grande quantia de dinheiro deixada à governanta, o que talvez se justifique se pensarmos que essa senhora pode muito bem ser mãe de um dos seus filhos naturais – Luís de Quillinan, a que adiante nos referiremos. John Quillinan viria a falecer pouco mais de um mês depois, a 23 de Setembro, na sua casa da referida rua da Ferraria de Cima, freguesia da Vitória, com os Sacramentos da Penitência e Extrema-Unção, sendo sepultado na Igreja da dita freguesia28. O patriarca da família em Portugal teve sete filhos conhecidos, existindo actualmente descendência de, pelo menos, dois deles em Inglaterra, Portugal e Brasil. Conheçamos agora três desses filhos. · To the same he left the remains of his estate; · To his natural son Henry Lawson Quillinan he left 800 pounds to be paid upon attaining 21 years of age; · To the same he left 40 pounds annually to be paid for his education; · To the governess Maria Joaquina de Jesus he left 400 thousand réis; · And to the clerk João Tomás da Cunha he left 24 thousand réis. The will thus enables us to realise that at the end of his life, John Quillinan possessed properties in London (the house where he probably would have lived when he stayed there), in Ireland and in Oporto. The child who benefitted most from the will was undoubtedly João Tomás, but he was also the one given the greatest responsibilities, since besides being a witness to the wishes of his father, he was also given the care of his three half-brothers and sisters, who were still minors when his father died (Henry was 14, Maria Isabel 5 and Luís just 2 years old). The money to raise and educate these children was also assured by John Quillinan as can be seen by comparing the amount Edward Quillinan – o Soldado Poeta Edward nasceu do primeiro casamento de seu pai, diz-se que no Porto, a 12 de Agosto de 179129. Apenas com 7 anos, partiu para Inglaterra para receber a sua primeira educação, como, aliás, era costume não só entre a comunidade britânica residente no nosso país, mas também entre muitas famílias da nobreza e burguesia nacionais30. Aí, frequentou inicialmente a escola católica de Sedgley Park, onde havia de permanecer muito pouco tempo, tendo passado depois para Bornheim House, Carshalton, que era então um colégio dominicano, onde esteve matriculado durante alguns anos. 109 of money left to his sons Edward and Henry (although the latter was only to receive his 800 pounds upon reaching the age of 21). The upkeep of the two youngest natural children was assured by a provision within the will. The waiving of the debt of his children Anne and John suggests that they made frequent use of his paternal generosity and, amongst the financial amounts, of note is the parsimonious amount left to the son John - which is incredibly small when compared to that left to the clear and even smaller when left compared to that left to the governess27. The small number of inheritances awarded to the servants Por volta de 1805, regressou a Portugal para se iniciar nos negócios do pai, ocupando-se da contabilidade da sua casa comercial. Devido aos acontecimentos políticos atrás referidos, acompanhou a família para Inglaterra em 1808. Aí, alistou-se no exército, tendo ocupado sucessivamente o posto de corneteiro, e de lugar-tenente, tendo participado em 1814 na batalha de Toulouse, em que o exército aliado (britânico, português e espanhol) venceu o exército francês comandado por Soult, tendo-lhe essa participação valido uma Medalha de Honra. A par da sua actividade militar, que haveria de abandonar definitivamente em 1821, Edward Quillinan, à semelhança de Camões que tanto admirava, desenvolveu a sua veia poética. Terá sido durante a sua estadia na base militar de Canterbury, que compôs a elegante, mas mordaz sátira intitulada “Ball-Room Votaries” (1810), ao mesmo tempo que se afirmava como um dos principais colaboradores de um jornal local intitulado The Whim (1810-1811), onde publicou um poema que acabou por o envolver em dois ou três duelos. Fixou-se, de seguida, em Lee Priory, encetando uma duradoura relação de amizade com Sir Samuel Egerton Brydges, proprietário da casa editora responsável pela publicação de três das suas obras poéticas: Dunluce Castle (1814, a sua obra mais importante), Monthermer (1815) e The Sacrifice of Isabel (1816). As relações literárias com Sir Brydges terão favorecido o conhecimento da sua família e, de forma particular, com uma das suas filhas, com quem Edward Quillinan veio a casar a 4 de Fevereiro de 1817. A noiva era Jemima Anne Deborah Brydges e tinha 24 anos. Filha, como já se disse, de Sir Samuel Egerton Brydges, proprietário da “Lee Pryory Press” e um famoso poeta, bibliográfo, bibliófilo e genealogista, e de sua mulher Elizabeth Byrche31 – prima de Jane Austen e descendentes ambas da and other employees is also somewhat strange, perhaps indicating that their number had been reduced, but the large amount left to the governess is also noteworthy, but perhaps understandable if we think that this lady may well have been the mother of one of his natural children - Luís de Quillinan, mention of whom will be made below. John Quillinan would pass away a little more than one month later, on 23 September, in his above mentioned house in Rua da Ferraria de Cima, parish of Vitória, after receiving the Sacraments of Penance and Extreme Unction, and was buried in the Church of that parish28. The patriarch of the family in Portugal had seven known children, leaving descendants in England, Portugal and Brazil. We will now consider three of these children. Edward Quillinan – the soldier poet Edward was born during his father’s first marriage, on 12 August 1791 in Oporto29. When just 7 years of age, he left for England to undertake his education, as was the custom not only amongst the British community resident in our country, but also amongst many Portuguese bourgeois and noble families.30 There he initially attended Sedgley Park Catholic school, where he did not stay for long, moving to Bornheim House, Carshalton, which was then a Dominican College, from where he matriculated some years later. Around 1805 he returned to Portugal to start working in his father’s business doing the accounts of the company. Due to the aforementioned political events, he accompanied his family to England in 1808. There he enlisted in the army, and went from being a bugler to the rank of acting-lieutenant and participated in the 1814 battle of Toulouse, in which the Allied Army (British, Portuguese and 110 Rainha Maria Tudor e do 1.º Duque de Newcastle, William Cavendish. A união durou apenas aproximadamente 5 anos, pois a 25.05.1882, Jemima Brydges morreu, vítima de um trágico acidente que ficou celebrizado pela pena do não menos conhecido William Wordsworth, amigo do casal. Jemima morreu queimada quando os seus vestidos se incendiaram numa das lareiras da sua casa. Embora breve, da união nasceram duas filhas – Jemima e Rotha Quillinan que haveriam de morrer sem descendência. Embora a relação de amizade que mantinha com a família Wordsworth fosse já de longa data (como atesta a vasta correspondência trocada com vários membros daquela família, conservada em vários museus e bibliotecas britânicos), Edward Quillinan só em 1841 (a 11 de Maio) veio a casar com Dorothy Worsdworth (mais conhecida pelo petit nom de Dora), que, seguindo a linha familiar, era também ela uma mulher muito culta e dada às letras. Cultivava a poesia e publicou uma interessante narração da viagem que, por motivo da tuberculose que lhe foi diagnosticada e por conselho médico, fez com seu marido à Península Ibérica entre 1845 e 1846, intitulada A Journal of a Fero Months, Residence in Portugal and Glimpses of the south of Spain (184732). Nessa espécie de diário, Dora Wordsworth descreve a sua estadia no Porto, a visita a Lisboa e os locais de Espanha que mais a impressionaram (Sevilha, Allambra, etc.). Existem documentos relativos à estadia do casal no Porto, uma vez que foram várias vezes convidados para jantar na Factory House daquela cidade33. A viagem não se revelou, contudo, suficiente para curar Dora que acabou por falecer em Rydal Mount – hoje transformado em casa-museu, a 9 de Julho de 1847. Para além da obra poética de Edward Quillinan já referida, ele também se dedicou à narrativa, publicando em 111 Spanish) defeated the French Army commanded by Soult, and for his services during this battle he was awarded the Medal of Honour. Along with his military activity, which he would finally leave in 1821, Edward Quillinan, in a similar manner to Camões, whom he so admired, would develop his poetic side. During his stay at the military base in Canterbury, he composed the elegant but biting satire entitled “Ball-Room Votaries” (1810), at the same time as he became one of the main contributors to a local newspaper entitled The Whim (1810-1811), where he published a poem which ended up involving him in two or three duels. He then moved to Lee Priory, embarking on a long-lasting friendship with Sir Samuel Egerton Brydges, the owner of the publishing house responsible for publishing three of his poetic works: Dunluce Castle (1814, his most important work), Monthermer (1815) and The Sacrifice of Isabel (1816). This literary relationship with Sir Brydges led to meeting his family and, in particular, one of his daughters with whom Edward Quillinan would marry on 4 February 1817. The bride was Jemima Anne Deborah Brydges and was 24 years of age. Daughter, as already indicated, of Sir Samuel Egerton Brydges, owner of “Lee Pryory Press” and a famous poet, bibliographer, bibliophile and genealogist, and his mother Elizabeth Byrche31 – cousin of Jane Austen and both descendants of Queen Maria Tudor and the 1st Duke of Newcastle, William Cavendish. The marriage lasted only 5 years, since on 25.05.1882, Jemima Brydges died, the victim of a tragic accident which was to be celebrated in verse by the well-known William Wordsworth, friend of the couple, who composed an epitaph. Jemima died through burns suffered when her 1841, uma enorme novela em três volumes intitulada Os Conspiradores, na qual relata a vivência do seu serviço militar com Wellington, e uma outra novela de menor dimensão - As Irmãs do Douro - que também tem como pano de fundo o período da guerra liberal e que foi traduzida pela primeira vez para português e publicada no nosso país em 2006, com introdução do Prof. Doutor Manuel Gomes da Torre. Ocupou-se também na tradução de importantes obras portuguesas para inglês (tendo traduzido parte d’Os Lusíadas34 e a História de Portugal de Alexandre Herculano, que deixou em parte inédita), e na crítica literária, sendo autor de várias recensões críticas, sobretudo de literatura estrangeira. Depois da sua morte, as suas poesias originais foram recompiladas e publicadas por William Johnston, o editor de seu sogro. A obra literária de Edward Quillinan constituiu já tema para trabalhos científicos entre nós, sendo de destacar os de Manuel Gomes da Torre, Miguel Alarcão e Silva e João Paulo Silva35. Sobre o aspecto físico de Edward Quillinan, alguém escreveu: “não [era] grande em estatura, mas refinado e com algo de distinto na aparência” e outro alguém que esteve presente num pequeno-almoço oferecido pelos Wordsworth em honra de Sir Walter Scott, em Agosto de 1825, comentou: “num vasto conjunto de homens e mulheres vulgares... pequeno Quillinan ... a única figura gentil”36. Já sobre o seu temperamento, pouco depois da sua morte, Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara dizia: “Era homem de génio desinteressado, dominado por afectos fortes e ternos, e o seu fraco consistia em certa excitabilidade e agitação, que bem indicava que lhe corria nas veias sangue irlandês”37. Morreu a 08 de Julho de 1851, tendo sido sepultado junto da família Wordsworth, no cemitério de St. Oswald, em Grasmere Church38. clothes caught light from one of the fireplaces of her house. Although brief, the marriage had produced two daughters - Jemima and Rotha Quillinan - who would die without producing any heirs. Although the friendship which existed with the Wordsworth family had been a long one (as shown by the vast correspondence exchanged between various members of that family, which is preserved in several British museums and libraries), Edward Quillinan would only marry Dorothy Wordsworth (better known through her nickname of Dora) on 11 May 1841. In keeping with her family, Dora was also a very educated and literary woman. She produced poetry and published an interesting narrative of a journey she had undertaken with her husband, due to the tuberculosis which she contracted and the resulting medical advice to recuperate, in 1845 e 1846, entitled A Journal of a Few Months’ Residence in Portugal and Glimpses of the south of Spain (1847).32 In this type of diary, Dora Wordsworth described her visit to Oporto, Lisbon and the places in Spain which left the greatest impression on her (Seville, Alhambra, etc.). Documents exist relating to the couple’s visit to Oporto, given that they were often invited to dinner at the Factory House of that city.33 The journey did not however prove sufficient to cure Dora who passed away at Rydal Mount (now transformed into a house-museum) on 9 July 1847. In addition to the poetic works by Edward Quillinan which have already been mentioned, he also published narrative, including an enormous three-volume novel in 1841 entitled The Conspirators, which tells of the time of his military service with Wellington, and, on a smaller scale, another novel - The Sisters of the Douro - which also uses the period of the Liberal Wars as its background and which was translated into Portuguese and published for the first time in 112 João Tomás de Quillinan – o Sucessor João Tomás era filho do primeiro casamento de seu pai e nasceu no Porto, a 20 de Junho de 179639. Tendo sensivelmente 12 anos quando a sua família partiu para Londres, é muito natural que aí tivesse continuado os estudos antes iniciados no Porto ou então que já aí se encontrasse a estudar. Deve ter acompanhado seu pai no regresso a Portugal e foi ele que, embora não sendo o filho mais velho (tinha dois irmãos mais velhos – Edward e John) lhe sucedeu nos negócios, podendo nós supô-lo inteiramente independente e com casa montada depois de 1826, ano da morte de seu pai. De entre todos os irmãos, talvez fosse João Tomás o mais responsável e aquele no qual seu pai o garante da sua sucessão. Lembremos que o nomeou testamenteiro das suas últimas vontade e recomenda-lhe a protecção de seus três meios-irmãos. Sabe-se que em 1833, vivia nos n.os 4 e 5 da Rua das Virtudes (então freguesia de Cedofeita), e que no ano seguinte foi eleito membro da British Association40, datando desse mesmo ano a conhecida gravura da Rua Nova dos Ingleses, feita pelo Barão de Forrester, em que João Tomás de Quillinan figura juntamente com as mais destacadas figuras da comunidade britânica do Porto (algumas das quais também ligadas ao comércio e fundadoras do conhecido Club Portuense – Clamouse Brown e Domingos Ribeiro de Faria, p. ex.). Na gravura, João Tomás é tão só a primeira figura representada ao lado esquerdo. A sua presença em tal representação não é para estranhar não só porque, pertencendo à comunidade britânica, se dedicava à actividade comercial naquela cidade, mas também porque entre ele e Forrester existia uma forte relação de amizade, sendo João Tomás de Quillinan frequentemente convidado para jantar na “sua casa luxuosa na Ramada Alta - cito Camilo Castelo Branco – confluente dos próceres portuenses e da província vinícola”, onde se juntavam “Titulares, 113 2006, with an introduction by Professor Manuel Gomes da Torre. He also busied himself translating important literary works into English (having translated part of Os Lusíadas34 and the História de Portugal by Alexandre Herculano, which was left partially unedited), and literary criticism, being the author of a number of critical appreciations of literary works, mainly concerning foreign literature. After his death his original poetry was recompiled and published by William Johnston, his father-in-law’s editor. The literary work of Edward Quillinan has already been the subject of various academic studies, those of note being by Manuel Gomes da Torre, Miguel Alarcão e Silva and João Paulo Silva35. As regards the physical aspect of Edward Quillinan, it was written: “he [was] not great in stature, but refined and with a distinctness of appearance” and another person present at a breakfast offered by Wordsworth in honour of Sir Walter Scott in August 1825 commented: “out of a vast array of ordinary men and women... petit Quillinan ...was the only distinguished figure”36. With regard to his temperament, Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara wrote, shortly after his death: “He was a man of disinterested genius, dominated by strong and tender emotions, and his weakness consisted of a certain excitability and agitation, which demonstrated well the Irish blood coursing through his veins”.37 He died on 8 July 1851, and was buried alongside the Wordsworth family in the cemetery of St. Oswald in Grasmere Church38. João Tomás de Quillinan – the successor João Tomás was a son from his father’s first marriage and was born in Oporto on 20 June 179639. He was 12 years old when his family left for London, and it is nat- desembargadores-conselheiros, ministros de Estado honorários, os maiores proprietários do Douro, e poetas arcádicos de pacotilha, que faziam ditirambos ao jantar”41. Foi, aliás, num desses jantares que João Tomás recitou “com uma sentimentalidade plangente e lânguida, toda feita de moscatel de 1830” o episódio de Inês de Castro, de Camões, provocando o riso de alguns dos presentes. E é ainda a propósito desses jantares que Camilo o apresenta como um “ateu esclarecido” (embora católico...) que escutava as discussões teológicas dos convivas abade de Macieira e Visconde de Azevedo sobre a hipótese de Virgílio ter profetizado o advento de Jesus Cristo com o seu “nascenti puero”, ao que João Tomás, “sublinhando o sorriso herético, perguntava se o nascenti puero virgiliano não seria o filho de Asinio Polião, herdeiro de Augusto, e protector do Poeta da Eneida. Embora pouco saibamos sobre a sua actividade comercial, a João Tomás de Quillinan faz referência o “Almanaque do Porto” para o ano de 1838 no capítulo “Negociantes Estrangeiros”, como sendo morador na Rua de Cedofeita, n.º 290, tendo desempenhado o importante cargo de Director da Associação Comercial. Até nós chegaram bastantes mais indícios da sua faceta social, delineando o perfil de um homem perfeitamente integrado na sociedade portuense oitocentista. Foi, por exemplo, Director da Assembleia Portuense – antecedente do Club Portuense42 – e accionista, em 1841, do Teatro de St.ª Catarina a par com António Bernardo Ferreira, filho da Ferreireinha. Sabemos que foi convidado e esteve no baile que a British Association ofereceu em honra do Rei D. Pedro V e do ainda então Príncipe D. Luís (futuro D. Luís I), a 2 de Setembro de 1861 – durante a visita da Família Real ao Porto para inaugurar a grande Exposição Industrial; figurando igualmente na longa lista dos cidadãos de destaque da cidade do Porto, que a ural of course that he would have continued his studies there, which he had up to then undertaken in Oporto. He accompanied his father on his return to Portugal and it was he who, whilst not being the eldest child (he had two elder brothers - Edward and John) who took over his business activities, and as far as we can discern, ran them on his own, setting up his own house after 1826, the year of the death of his father. Out of all his siblings, João Tomás was perhaps the most responsible and the one to whom his father entrusted his goods. We should remember that his father had nominated him guardian of his three half-brothers-and-sisters in his will. It is known that in 1833 he lived at numbers 4 and 5 Rua das Virtudes (which was then part of the parish of Cedofeita), and that in the following year he was elected a member of the British Association40, the same year as the well-known painting of Rua Nova dos Ingleses by Baron Forrester, in which João Tomás de Quillinan figures along with the main figures within the Oporto British Community (some of whom were also linked to commerce and founders of the well-known Club Portuense – such as Clamouse Brown and Domingos Ribeiro de Faria). In the painting, João Tomás is actually the first figure depicted on the left-hand side. His presence in such a work is not surprising given that he belonged to the British Community, he was involved in the commercial activity of the city, but also because there was a strong bond of friendship between him and Forrester, with João Tomás de Quillinan often being invited to dine in his “luxurious house in Ramada Alta” - according to Camilo Castelo-Branco – “a gathering point for magnates from Oporto and the wine-growing region”, along with “Nobles, Supreme Court Judges/Advisors, honorary 114 Minsters of State, the greatest landowners in the Douro, and trumped-up Arcadian poets producing their dithyrambi during dinner.”41 It was in fact at one of these dinners that João Tomás recited “with a loud, languid and tremulous sentimentality, due in no small part to 1830 Moscatel wine” the episode of Inês de Castro, by Camões, provoking laughter in some of those present. And it was also as a result of one of these dinners that Camilo introduced himself as an “enlightened atheist” (although Catholic...) who listened to the theological arguments of the guests, the abbot of Macieira and the Viscount of Azevedo regarding the hypothesis that Virgil had prophesised the coming of Jesus Christ with his “nascenti puero (birth of the boy)”, to which João Tomás “with his heretical smile, asked if the nascenti puero of Virgil could not be the son of Gaius Asinius Pollio , the heir of Augustus and the Protector of the Poet of the Aeneid. Although little is known of his commercial activity, João Tomás de Quillinan is mentioned in the 1838 Oporto Almanac in the chapter “Foreign Traders”, as living at Rua de Cedofeita, No. 290, and carrying out the important post of Head of the Commercial Association. Many more references to his social life have come down to us, to give a profile of somebody perfectly integrated into 19th Century Society life in Oporto. He was, for example, the Director of the Assembleia Portuense - the 23 de Junho de 1862, se reuniram para decidir a forma como homenagear D. Pedro IV. Tendo em consideração as “circunstância que concorriam na sua pessoa e os serviços que havia prestado ao país”, recebeu da Rainha D. Maria II a comenda da Real Ordem de N.ª Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa (carta de 7 de Julho de 1852)43. 115 forerunner of the Club Portuense42 - and 1841 a shareholder in the Teatro de St.ª Catarina along with António Bernardo Ferreira, the son of Ferreireinha. We know that he was invited and present at the ball which the British Association offered in honour of King Pedro V and the then Prince Luís (the future King Luís I), on 2 September 1861 – during the visit of the Royal Family to Oporto to open the Fez testamento a 10 de Setembro de 1863, sendo morador na Rua Formosa44, pelos quais deixou os seguintes legados: Industrial Exhibition; he also figured amongst the illustrious figures of the city who met on 23 June 1862 to decide on the best way of paying tribute to King Pedro IV. · A cada um dos seus dois testamenteiros deixou 350$000 réis; · Ao Asilo de Primeira Infância Portuense deixou 100$000 réis; · Ao Asilo da Mendicidade deixou 100$000 réis; · Ao Asilo dos Meninos Desamparados deixou 100$000 réis; · Ao Asilo das Meninas Desamparadas deixou 100$000 réis; · Ao Asilo das Raparigas Abandonadas deixou 100$000 réis; · Ao seu escriturário Henrique Ribeiro de Carvalho deixou 450$000 réis; . Ao seu outro escriturário Ernesto Courrege deixou 450$000 réis; · Ao seu caixeiro António José da Costa Guimarães deixou 1 700$000 réis; · Ao filho do seu caixeiro Alfredo da Costa Guimarães (no caso de falecimento do pai) deixou 450$000 réis; · Ao outro filho do seu caixeiro Alberto da Costa Guimarães (no caso de falecimento do pai) deixou 450$000 réis; · Ao seu afilhado Adeodato Joaquim da Silva Lima perdoou qualquer dívida em dinheiro; · Ao filho mais velho deste afilhado, Alberto Q. da Silva Lima, deixou 900$000 réis; · Aos restantes cinco filhos daquele afilhado deixou 350$000 réis a cada um; · À sua cunhada D. Ana Francisca (viúva de seu irmão John) deixou uma pensão mensal vitalícia no valor de 8$000 réis; Taking into consideration the “circumstances regarding himself and the services which he had rendered to the country”, he received the commendation of the Royal Order of Our Lady of Conceição of Vila Viçosa from Queen Maria II (in a letter dated 7 July 1852)43. He made his will on 10 September 1863, whilst living at Rua Formosa44, in which he made the following bequests: · To each of the executors of his will he left 350$000 réis; · To the Asilo de Primeira Infância Portuense (The Oporto Institution of Young Childhood) he left 100$000 réis; · To the Asilo da Mendicidade (The Institution for the Poor) he left 100$000 réis; · To the Asilo dos Meninos Desamparados (The Institution for Destitute Boys) he left 100$000 réis; · To the Asilo das Meninas Desamparadas (The Institution for Destitute Girls) he left 100$000 réis; · To the Asilo das Raparigas Abandonadas (The Institution for Abandoned Girls) he left 100$000 réis; · To his bookkeeper Henrique Ribeiro de Carvalho he left 450$000 réis; · To his other bookkeeper Ernesto Courrege he left 450$000 réis; · To his clerk António José da Costa Guimarães he left 1 700$000 réis; · To the son of his clerk, Alfredo da Costa Guimarães (in the event of his father’s death) he left 450$000 réis; 116 · À sua irmã D. Maria Isabel de Quillinan Vieira (viúva) deixou uma pensão mensal vitalícia no valor de 10$000 réis; · À sua filha D. Maria Emília de Quillinan da Silva Machado deixou todo o remanescente de sua herança. · To the other son of his clerk Alberto da Costa Guimarães (in the event of his father’s death) he left 450$000 réis; · To his godson Adeodato Joaquim da Silva Lima he waived any financial debt; Como se vê, João Tomás de Quillinan deixou legados bem mais generosos do que seu pai, ascendendo os mesmos a mais de 6 contos de réis (uma soma muito considerável para a época) entre legados deixados a parentes e testamenteiros, a instituições de caridade da cidade do Porto, afilhados e antigos funcionários (um caixeiro que o havia sido “por muitos anos” e dois escriturários, o que comprova a manutenção da sua actividade comercial até ao final da sua vida). A falta de referência a qualquer legado destinado a pessoal doméstico talvez se justifique por o testador se encontrar, à data da elaboração do testamento a viver já na companhia de sua filha e genro, onde aliás, viria a falecer a 18 de Dezembro daquele mesmo ano. Pensamos que com João Tomás de Quillinan acabou também a actividade comercial da família uma vez que teve uma única filha mulher e que seu genro foi Chanceler-Secretário, Vice-Cônsul e Cônsul de Espanha em Matosinhos e no Porto, não se dedicando ao comércio. É de João Tomás de Quillinan que existe actualmente descendência da família em Portugal e no Brasil. · To the oldest child of this godson, Alberto Q. da Silva Lima, he left 900$000 réis; · To the other five children of this godson he left 350$000 réis to each one; · To his sister-in-law D. Ana Francisca (widow of his brother John) he left a monthly pension for life of 8$000 réis; · To his sister D. Maria Isabel de Quillinan Vieira (widow) he left a monthly pension for life of 10$000 réis; · To his daughter D. Maria Emília de Quillinan da Silva Machado he left all the remains of his estate. As can be seen, João Tomás de Quillinan left bequests which were much more generous than his father’s, totalling more than 6 contos de réis (quite a considerable sum at the time) for bequests left to relatives and executors, charitable institutions in the city of Oporto, godchildren and former employees (a clerk in service for “many years” and two bookkeepers, which proves that he was engaged in business activities until the end of his life). The lack of reference to any bequest for domestic servants is perhaps Luís de Quillinan – o Militar Diplomata Conheçamos, por fim, o filho mais novo de John Quillinan – de seu nome Luís de Quillinan. Era, ao contrário dos irmãos Edward e João Tomás, de que já tratámos, um filho natural. Nasceu na freguesia de N.ª Sr.ª da Vitória, no Porto, a 10 de Agosto de 1824, sendo portanto um filho tardio. Depois da morte de seu pai, foi nomeado seu tutor António José Rodri117 explained by the fact that when the will was made he was living with his daughter and son-in-law, and this was the place in which he passed away, later that same year. We think that the end of João Tomás de Quillinan’s business activities also marked the end of the family’s given that he only had one female heir and that his son-in-law was the Chancellor-Secretary, Vice-Consul and Con- sul of Spain in Matosinhos and in Oporto, and was not involved in commerce. It is descendants of João Tomás de Quillinan’s side of the family who are currently living in Portugal and in Brazil. Luís de Quillinan – the military diplomat Let us finally get to know the youngest son of John Quillinan – named Luís de Quillinan. He, as opposed to his brothers Edward and João Tomás, whom we have described above, was an illegitimate child. He was born in the parish of Our Lady of Vitória, in Oporto on 10 August 1824, and was thus born late on in the life of his father. After the death of his father, his nominated guardian António José Rodrigues Fartura sent him to the orphanage known as the Colégio dos Meninos Órfãos, where he spent two years, after which he was given a home by his brother João Tomás, in compliance with a request made by John Quillinan in his will. As an adolescent he was sent to London to carry out his preparatory studies (as had been the case with his elder brother Edward and probably also with João Tomás), returning some years later to study at the Faculty of Law of the University of Coimbra, from where he graduated. However, we can state that his two major occupations gues Fartura, que o mandou para o Colégio dos Meninos Órfãos, onde esteve dois anos, sendo depois recolhido por seu irmão João Tomás, cumprindo um pedido e desejo expresso por John Quillinan no seu testamento. Em adolescente foi enviado para Londres para fazer os seus estudos preparatórios (tal como acontecera com seu irmão mais velho Edward e provavelmente também com João Tomás), regressando anos depois para frequentar a Faculdade de Direito na Universidade de Coimbra, onde se licen- were his military career and then his diplomatic one. Whilst still a young student he joined the French Army fighting against Abd-el-Kadir in the Holy War which the latter had set in motion. A little time afterwards he joined in the revolt of 9 October 1846 against the Duque da Terceira, serving as an Aide-de-Camp for the Conde das Antas, who was the military commander of the revolt and who presided over the temporary ruling Government which had José Passos as its Vice-President. As is known the revolt 118 ciou. Mas podemos dizer que as suas duas grandes ocupações foram a carreira militar e a diplomacia. Ainda enquanto jovem estudante, incorporou o exército francês que lutou contra Abd-el-Kader na Guerra Santa que este desencadeara. Pouco tempo depois, por cá, participava na revolta de 9 de Outubro de 1846 contra o Duque da Terceira, servindo como Ajudante de Campo do Conde das Antas, que comandou militarmente a revolta e presidiu à Junta de Governo que tinha José Passos como vice-presidente. Sabe-se como a revolta acabou por sair lograda sobretudo devido à intervenção britânica. Luís de Quillinan voltou então a Coimbra para terminar o seu curso. No ano em que o terminou, 1851, haveria de empunhar de novo a espada. Desta feita, comandado pelo Duque de Saldanha. Alistou-se em Lanceiros 2, sendo logo promovido a alferes e sendo imediatamente nomeado ajudante de Saldanha. Quando os ânimos acalmaram, foi para França, onde fez um curso de ciências militares; escreveu uma obra de hipologia (tratado ou estudo sobre a raça cavalar) e tomou parte na campanha da Argélia contra os árabes. Viria mais tarde a ascender ao posto de Major e depois a General de Brigada, em que se reformou. Voltando à pátria, voltou também ao Regimento de Lanceiros e à situação de ajudante do Duque de Saldanha, abraçando pouco depois a carreira diplomática. Nela desempenhou variados cargos, tendo começado como 2.º adido à legação de Copenhague e Estocolmo, sendo depois secretário da legação de Madrid, encarregado de negócios em Viena, 1.º adido no Rio de Janeiro, Paris e Roma e finalmente em Londres. A sua actividade diplomática em Londres proporcionou-lhe, aliás, contacto com um dos maiores vultos da nossa literatura – Eça de Queirós –, o qual foi substituir, conservando-se correspondência vária trocada entre ambos, dando conta dos encontros mantidos na fase de transição45. 119 was successfully above all due to British intervention. Luís de Quillinan thus returned to Coimbra to finish his degree. He finished in 1851 and in the same year had once again to wield his sword. This time, commanded by the Duque de Saldanha. He enlisted in the 2nd Lancers and was soon promoted to second lieutenant and immediately nominated as an aide-de-camp to Saldanha. When things calmed down he went to France, where he did a course in Military Sciences, wrote a work on hypology (a treatise or study on the cavalry breed) and became part of the Algerian campaign against the Arabs. He would later rise to the post of Major and then Brigadier-General, his rank upon retirement. Returning to his country, he also returned to the Lancers Regiment and the post of aide-de-camp to the Duque de Saldanha, to shortly afterwards embark on a diplomatic career. He occupied several positions, starting as the 2nd attaché to the delegation in Copenhagen and Stockholm, and was then secretary of the delegation in Madrid, commercial attaché in Vienna, 1st attaché in Rio de Janeiro, Paris, Rome and finally in London. His diplomatic activity in London also brought him into contact with one of the greatest figures in Portuguese literature – Eça de Queirós - whom he substituted, and kept the correspondence exchanged between the two, and recording the meetings during the transition phase45. This posting is also connected with the well known controversy which he entered into with a Member of the British House of Commons, Jacob Bright. This event is in fact one of the most well-known and disseminated parts of the biography of Luís de Quillinan. What happened was that this radical and liberal Member of Parliament had, during one of the British Parliamentary Sessions in April 1883, expressed an opinion regarding Portugal, likening it E está também relacionada com essa estadia a conhecida polémica que travou com um membro da britânica Câmara dos Comuns, Jacob Bright. Esse acontecimento é, aliás, um dos mais conhecidos e divulgados da biografia de Luís de Quillinan. A situação foi que esse deputado radical-liberal pronunciou-se, numa das sessões do parlamento britânico em Abril de 1883, sobre Portugal, caracterizando-o como um país na bancarrota e de esclavagistas. O patriotismo de Luís de Quillinan reagiu à afronta e desafiou publicamente o dito deputado através de uma carta que causou brado e pela qual viria a ser admoestado pelo Ministério do Reino. A atitude de Quillinan recebeu, contudo, da sociedade portuguesa um grande aplauso que se traduziu num movimento nacional de ovação, considerado por Rui Ramos como uma das grandes manifestações de patriotismo anti-britânico do final do século XIX46. As manifestações de aplauso concretizaram-se nas mais variadas formas, mas sobretudo: através de cartas e de telegramas de felicitações feitos em nome individual por personagens tão conhecidos do Portugal de então como: Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro, Guilherme Ferreira Pinto Basto ou Rafael Bordalo Pinheiro; ou de grupos de pessoas (os oficiais do Regimento de Cavalaria n.º 4 ou os alunos de engenharia militar da escola do exército). Apenas num mês, Luís de Quillinan recebeu felicitações de 120 localidades portuguesas, tendo-lhe chegado só de Lisboa 430 mensagens e recebeu aplausos de 104 concelhos diferentes. Essas felicitações foram reunidas em obras como, por exemplo, A Pátria a Luíz de Quillinan. Mas também saíram números especiais de títulos periódicos, folhetins e opúsculos dedicados ao feito do Major Quillinan. Um dos mais conhecidos é, sem dúvida, Delenda Albion, publicada em 1883 pela Empreza Bordallo Pinheiro e cujo autor – Lusus – não é mais do que um pseudónimo de Henrique Lopes de Mendonça. to a bankrupt and servile country. Luís de Quillinan’s patriotism reacted to the affront and he publicly challenged this MP through a letter which caused a clamour and led to his being admonished by a Minister of the Crown. However Quillinan’s attitude received great backing from Portuguese society and caused a national movement of acclaim, with Rui Ramos considering it one of the great manifestations of anti-British patriotism at the end of the 19th Century46. These public manifestations of acclaim occurred in the most varied forms, but mainly through letters and telegrams congratulating him in person sent by well-known people in Portugal such as: Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro, Guilherme Ferreira Pinto Basto and Rafael Bordalo Pinheiro; or groups of people (the officers of the No. 4 Cavalry Regiment or the students of the Army School of Military Engineering). In just one month, Luís de Quillinan received congratulations from 120 Portuguese places, with 430 messages reaching him just from Lisbon alone and acclaim from 104 different districts. These congratulations were collected together in works such as A Pátria a Luíz de Quillinan. Special issues of magazines, serial publications and booklets were published dedicated to Major Quillinan’s deed. Undoubtedly one of the most well-known was Delenda Albion, published in 1883 by the Empreza Bordallo Pinheiro (Bordalo Pinheiro Company) whose supposed author – Lusus – was none other than a pseudonym for Henrique Lopes de Mendonça. In a more symbolic, but no less important act, the Chinaware factory in Sacavém made its contribution by producing an evocative dish with the diplomat on it; he was also offered a “patriotic banquet” by the Oporto Liberal Association on 26 November 1883. The menu of course consisted of dishes bearing such patriotic names 120 as “sopa à Herculano” (Herculano soup), “filetes de peixe à portuguesa” (Portuguese fish fillets), “lombo de vaca à Vasco da Gama” (Vasco da Gama sirloin steak), “peru recheado à liberal” (liberal stuffed turkey), “salada à lusitana” (Lusitanian salad), “espinafres à Garrett” (Garrett spinach) and to round off the meal the absolutely wonderful “pudim à Quillinan” (Quillinan flan). Luís de Quillinan’s posting to London was his last, since he died in that city on 28 March 1904. He had married D. Maria Teotónia de Rávago Santistévan y Rios da Guerra e Sousa, the widowed-Countess of Antas in 1855, a descendant on her mother’s side of the Senhores de Murças. They had a daughter who did not have children of her own. General Luís de Quillinan was decorated numerous times for services rendered both nationally and internationally. We hope to have shown the manner in which the Quillinan family integrated into Portuguese society in general and into that of Oporto in particular, with its members having been involved in important areas as varied as commerce, the military, literature and diplomacy, in which, forgetting their foreign origins, they acted not only as Portuguese individuals, but great Portuguese individuals, proving that, as Edward Quillinan once said, “home is where the heart is”. De uma forma mais simbólica, mas não menos importante, também a Fábrica de Louças de Sacavém se associou à manifestação, produzindo um prato evocativo da figura do diplomata, ao qual, a 26 de Novembro de 1883, também foi oferecido um “banquete patriótico” pela Associação Liberal Portuense. Do menu constam, como não poderia deixar de ser, pratos com nomes tão patrióticos como “sopa à Herculano”, “filetes de peixe à portuguesa”, “lombo de vaca à Vasco 121 NOTES 1 On this secular relationship see for example: Macaulay, Rose, Ingleses em Portugal MACAULAY, Rose – The English in Portugal. Oporto: Civilização, 1950. Translated to Portuguese by Maria Fernanda Gonçalves e Álvaro Dória. VARELA, Consuelo - Ingleses en España y Portugal: 14801515 – aristócratas, mercadores y impostores (The English in Spain and Portugal: 1480-1515 – aristocrats, merchants and imposters), Lisbon: Colibri, 1998; and Shaw, L. M. E. - The Anglo-Portuguese Alliance and the English Merchants in Portugal, 1654-1810. Aldershot: Ashgate, 1998. da Gama”, “peru recheado à liberal”, “salada à lusitana”, “espinafres à Garrett” e a terminar um, com certeza belíssimo, “pudim à Quillinan”. A missão em Londres foi a última de Luís de Quillinan, uma vez que morreu nessa mesma cidade a 28 de Março de 1904. Havia casado, em Lisboa, em 1855, com D. Maria Teotónia de Rávago Santistévan y Rios da Guerra e Sousa, Condessa-viúva das Antas, e descendente por sua mãe dos Senhores de Murça, de cujo casamento nasceu uma filha que não teve descendência. Pelos serviços prestados, o General Luís de Quillinan recebeu inúmeras condecorações nacionais e estrangeiras. Esperamos ter conseguido demonstrar deste modo o processo de integração da família Quillinan na sociedade portuguesa em geral e na portuense em particular, tendo desempenhado os seus membros em áreas tão diferentes como o comércio, as armas, a literatura ou a diplomacia papéis tão relevantes e em que, esquecendo as suas origens estrangeiras, se comportaram não só como portugueses, mas como grandes portugueses, provando que, como um dia disse Edward Quillinan “home is where the heart is”. 2 More specifically on the relationship between the British and the Port wine trade, see: Pereira, Pedro Maria Casaes Alves - A Arquitectura do Vinho do Porto: os Ingleses no Porto (Port Wine Architecture: the English in Porto). Unplaced: unnamed, 1987; Ventura, Isaura Maria Roseler Os britânicos no Porto do século XIX (The British in Oporto in the 19th Century). Oporto: unnamed, 1996. (photocopied text – Master’s thesis in Ibero-American History); Gonçalves, Maria Guilhermina Nogueiro de Oliveira Bessa - A Comunidade Britânica no Porto: Inter-relações históricas, económicas, culturais e educativas. (The British Community in Oporto: historical, economic, cultural and educational inter-relationships). (photocopied text – Master’s thesis in Intercultural Relations). Porto: unnamed, 2000; and Cardoso, António Barros - Baco & Hermes: o Porto e o Comércio Interno e Externo dos Vinhos do Douro. (Bacchus and Hermes: Oporto and External and Domestic Trade in Douro Wines), 1700-1756. Porto: Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto, 2003. 3 See Profecia Política Verificada no que esta sucedendo aos Portuguezes pela sua cega affeição para com os Inglezes feita logo depois do Terremoto de 1755 (Verified Political Prophecy of what is happening to the Portuguese due to their blind allegiance to the English enacted after the 1755 Earthquake), printed in Madrid in 1762, with the permission of King Carlos III. 4 On this, see Azevedo, J. Lúcio de, O Marquês de Pombal e a sua Época (The Marquês de Pombal and his Period). Lisboa: Seara Nova, 1922, maxime Chap. VII, pp. 209-242. 5 Apud Azevedo, José Lúcio de. op. cit., p. 209. 6 Idem, p. 269. 7 Idem, p. 210. 8 The nephew was António de Quillinan da Silva Machado Póvoas. The letter currently belongs to the personal archive of Eng. Francisco Resende de Almeida e Vasconcelos Póvoas, whom we wish to thank. 9 Laughlin, Michael O. C. - The Book of Irish Families. Unplaced: Irish Roots Cafe, 2002, p. 222. NOTAS 1 2 Sobre essa secular relação, v. por exemplo: Macaulay, Rose - Ingleses em Portugal. Porto: Civilização, 1950. Varela, Consuelo - Ingleses en España y Portugal: 14801515 – aristócratas, mercadores y impostores. Lisboa: Colibri, 1998; e Shaw, L. M. E. - The Anglo-Portuguese Alliance and the English Merchants in Portugal, 1654-1810. Aldershot: Ashgate, 1998. Mais especificamente sobre a relação dos ingleses com o comércio do vinho do Porto, v.: Pereira, Pedro Maria Casaes Alves - A Arquitectura do Vinho do Porto: os Ingleses no Porto. S.l. : s.n., 1987; Ventura, Isaura Maria Roseler - Os britânicos no Porto do século XIX. Porto: s.n., 1996 (texto policopiado – tese de Mestrado em História Ibero-Americana); Gonçalves, Maria Guilhermina Nogueiro de Oliveira Bessa - A Comunidade Britânica no Porto: Inter-relações históricas, económicas, culturais e educativas. Porto: s.n., 2000 (texto policopiado – tese de Mestrado em Relações Interculturais); e Cardoso, António Barros - Baco & Hermes: o Porto e o Comércio Interno e Externo dos Vinhos do Douro, 1700-1756. Porto: Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto, 2003. 10 Today owned by the aforementioned Engineer Francisco Resende de 11 We know that the ring or signet nowadays belongs to his granddaugh- Almeida e Vasconcelos Póvoas. ter D. Maria Cândida de Quillinan Oom do Valle da Rocha Páris. 12 Pieces from this service are owned by his granddaughter D. Maria Amélia de Quillinan Oom do Valle Amorim Serra. 13 Let us think, for example, of the marriage of António de Quillinan da Silva Machado Póvoas to Dona Maria Amélia de Almeida e Vasconcelos, granddaughter of the Viscounts, Counts and Marquise of Reriz, and of his cousin Cândida Baltar de Quillinan Machado to Inácio Constantino de Menezes Oom do Valle. 14 It was stated on his death certificate that he was “a little older or younger than” 72 years of age when he passed away. 15 This location is mentioned on the certificate of baptism of his son João Tomás (mentioned below). 16 Her death certificate stated that she was 32 years of age when she passed away. 122 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 123 V. López Cancelada, Júan - Profecia Política Verificada no que esta sucedendo aos Portuguezes pela sua cega affeição para com os Inglezes feita logo depois do Terremoto de 1755. Madrid: s.n., 1762. V. sobre isso, Azevedo, J. Lúcio de, O Marquês de Pombal e a sua Época. Lisboa: Seara Nova, 1922. maxime Cap. VII, pp. 209-242. Apud Azevedo, José Lúcio de, op. cit., p. 209. Idem, p. 269. Idem, p. 210. O sobrinho era António de Quillinan da Silva Machado Póvoas. A carta pertence actualmente ao arquivo pessoal do Senhor Eng.º Francisco Resende de Almeida e Vasconcelos Póvoas, a quem agradecemos. Laughlin, Michael O. C. - The Book of Irish Families. s.l.:, Irish Roots Cafe, 2002, p. 222. Hoje na posse do já referido Senhor Eng.º Francisco Resende de Almeida e Vasconcelos Póvoas. Sabemos que o anel ou sinete pertence hoje a sua neta D. Maria Cândida de Quillinan Oom do Valle da Rocha Páris. Existem peças desse serviço na posse de sua neta D. Maria Amélia de Quillinan Oom do Valle Amorim Serra. Pensamos, por exemplo, no casamento de António de Quillinan da Silva Machado Póvoas com Dona Maria Amélia de Almeida e Vasconcelos, neta dos Viscondes, Condes e Marqueses de Reriz, e no de sua prima D. Cândida Baltar de Quillinan Machado com Inácio Constantino de Menezes Oom do Valle. Diz-se no seu assento de óbito que teria “pouco mais ou menos” 72 anos de idade quando faleceu. Esta naturalidade consta do assento de baptismo de seu filho João Tomás (adiante referido). Diz-se no seu assento de óbito que tinha 32 anos quando faleceu. A.D.P., Livro Misto da freguesia de Miragaia, Porto, M11 (1802-1844), fols. 3 e 3v. (bob. 343). A.D.P., Livro de Casamentos da freguesia da Vitória, Porto, C5, fol. 11v. (bob. 399). Sobre essa época, v. Ribeiro, Jorge Martins - A Comunidade Britânica do Porto durante as Invasões Francesas 1807-1811. Porto: Fundação Eng.º António de Almeida, 1990. Essas notas foram publicadas postumamente por William Johnston nos Poems: by Edward Quillinan. With a Memoir by William Johnston. Londres: Edward Moxon, Dover Street, 1853, 268 pp. Devemos o conhecimento desses escritos ao Prof. Doutor Manuel Gomes da Torre (ilustre estudioso da obra literária de Edward Quillinan), a quem muito agradecemos. O editor diz que as memórias não deverão ter sido escritas antes de 1810. A dita sociedade tinha já sido dissolvida a 31.12.1817. The Times, de 10.04.1821. Sobre a questão, v. com interesse o folheto: Que dizem os ingleses da Revolução de Portugal. Lisboa: Typ. Rollandiana, 1821. Santos, Paula M. M. Leite, João Allen – Um Coleccionador do Porto Romântico. Lisboa: F.C.T., Ministério da Cultura, Instituto Português de Museus, 2005, p. 175. Azevedo, J. Lúcio de, op. cit., p. 212. A.D.P., JUD/TRPRT/166/12647. FRANZINI,Marino Miguel (dir.) - Almanach Portuguez. Lisboa: Impressão Régia, 1824-1825. Apenas a título de curiosidade, oferece-nos dizer que em 1827 – um ano depois da morte de John Quillinan – um alqueire de trigo custava 400 réis, um de cevada, 17 A.D.P., Book of Records of the Parish of Miragaia, Porto, M11 (18021844), pps. 3 e 3v. (bob. 343). 18 A.D.P., Marriages Record Book of the Parish of Vitória, Oporto, C5, p. 11v. (bob. 399). 19 On this period, see Ribeiro, Jorge Martins - A Comunidade Britânica do Porto durante as Invasões Francesas 1807-1811 (The British Community in Oporto during the 1807-1811 French Invasions). Porto: Fundação Eng. º António de Almeida, 1990. 20 These notes were posthumously published by William Johnston in the Poems: by Edward Quillinan. With a Memoir by William Johnston. London: Edward Moxon, Dover Street, 1853, 268 pp. These writings were brought to my attention by Prof. Doutor Manuel Gomes da Torre (an illustrious scholar of the writings of Edward Quillinan), to whom I am grateful. The editor states that the memoirs could not have been written before 1810. 21 The company had been dissolved by 31.12.1817. The Times, of 10.04.1821. 22 On this matter, consult the pamphlet: Que dizem os ingleses da Revolução de Portugal (What the English say about the Portuguese Revolution). Lisboa: Typ. Rollandiana, 1821. 23 Santos, Paula M. M. Leite, João Allen – Um Coleccionador do Porto Romântico (João Allen – A Collector of Romantic Oporto). Lisboa: F.C.T., Ministério da Cultura, Instituto Português de Museus, 2005, p. 175. 24 25 26 Azevedo, J. Lúcio de. op. cit., p. 212. A.D.P., JUD/TRPRT/166/12647. FRANZINI, Marino Miguel - Almanach Portuguez. Lisboa: Impressão Régia, 1824-1825. 27 Just out of curiosity, it is worth recording that in 1827 – one year after the death of John Quillinan – a bushel of wheat cost 400 réis, of barley, 240 réis, corn, 360 réis, and olive oil 1000 réis (data taken from the Granary book for the Coimbra Cathedral Chapter in 1827), such that John Quillinan’s inheritance only enabled him to purchase 3.2 bushels of olive oil; the clerk 24 bushels of olive oil and the governess 400 bushels, that is, 3200 litres of olive oil. 28 A.D.P., Death Registry of the Parish of Vitória, Oporto, O 4, p. 250 (bob. 401). 29 This location and date are given in a number of encyclopaedias, but we have still not found the Baptismal record in any records of the parishes in the city of Oporto. 30 See, for example, the case of the Pinto Basto family. 31 Maternal granddaughter of the Reverend William Egerton, Doctor in Law, Chancellor and Prebend of Hereford, Prebend of Canterbury, Rector of Penshurst, born in 1682, and passed away in 1737, and of Anne Head. Paternal granddaughter of Thomas Egerton, born on 16.03.1651, and passed away on 29.10.1685, and of Hester Busby. Maternal granddaughter of Sir Francis Head. Great-granddaughter, through the male line, of John Egerton, 2nd Count of Bridgwater (5th grandson of Queen Maria Tudor), born in 1623 and passed away on 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 240 réis, um de milho grosso, 360 réis, e um alqueire de azeite 1000 réis (dados constantes do Livro do Celeiro do Cabido da Sé de Coimbra, 1827 – AUC), pelo que, com a sua herança, John Quillinan poderia comprar somente 3,2 alqueires de azeite; o caixeiro 24 alqueires de azeite e a governanta 400 alqueires, ou seja, 3200 litros de azeite. A.D.P., Livro de Óbitos da freguesia da Vitória, Porto, O 4, fol. 250 (bob. 401). É esta a naturalidade e data apresentadas em várias enciclopédias britânicas, mas o assento do seu baptismo ainda não foi por nós localizado em nenhuma das freguesias da cidade do Porto. V., por exemplo, o caso da família Pinto Basto. Neta materna do Reverendo William Egerton, Doutor em Leis, Chanceler e Prebendário de Hereford, Prebendário de Canterbury, Reitor de Penshurst, nascido em 1682, e falecido em 1737, e de Anne Head. Neta paterna de Thomas Egerton, nascido a 16.03.1651, e falecido a 29.10.1685, e de Hester Busby. Neta materna de Sir Francis Head. Bisneta, por varonia, de John Egerton, 2.º conde de Bridgwater (5.º neto da Rainha Maria Tudor), nascido em 1623 e falecido a 26.10.1686, e de Lady Elisabeth Cavendish (filha de William Cavendish, 1.º Duque de Newcastle). Este casal - Edward Brydges e Jemima Egerton - foram também bisavós da conhecida escritora Jane Austen. Publicada depois, em 1895 em Londres por Longmans. Delaforce, John - The factory house at Oporto. Londres: Christie’s Wine Publications, 1979, p. 34. Tradução publicada em 1853, em Londres, por Edward Moxon. Sobre a obra literária de Edward Quillinan, foi publicado na revista O Panorama (04.06.1853, pp. 177-179) um artigo da autoria de J. H. da Cunha Rivara, intitulado “Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões”. Mais recentemente, destacamos os estudos de Miguel Nuno Mercês de Mello de Alarcão e Silva “Edward Quillinan e Portugal” e “Home is where the Heart is: A Obra Lusófila de Edward Quillinan”, publicado na Revista de Estudos Anglo-Portugueses, 1995, e de Manuel Gomes da Torre. Rawnsley, Reverendo H. D. - Literary Associations of the English Lakes. Glasgow: James MacLehose and Sons, 1901, vol. II, pp. 116 - 117. “Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões”, in O Panorama, 04.06.1853, p. 178. The Ilustred London News, de 12.07.1851, p. 74. ADP, Livro de Baptismos de Miragaia, B2, fol. 91. Santos, Paula M.M. Leite, op. cit., p. 177. Castelo-Branco, Camilo - O Vinho do Porto – Processo de uma Bestialidade Inglesa. Sintra: Colares Editora, 2005, p. 27. V. Sousa, D. Gonçalo de Vasconcelos e - História do Club Portuense (1857-2007). Porto; Club Portuense, 2007, pp. 26-27. Fonseca, Francisco Bélard da - A Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Lisboa: Fundação da Casa de Bragança, 1955, p. 44. AHMP, Registo de Testamentos, BOR 0333, fol. 78v. a 80. Matos, A. Campos - Eça de Queiroz – Correspondência I e II. Lisboa: Editorial Caminho, 2008, vol. I, pp. 104, 125 e 126. Mattoso, José (coord.) - História de Portugal. Círculo dos Leitores, vol. VI, p. 77. 26.10.1686, and of Lady Elisabeth Cavendish (daughter of William Cavendish, 1st Duke of Newcastle). This couple - Edward Brydges and Jemima Egerton – were also greatgrandparents of the well-known writer Jane Austen. 32 Published afterwards, in 1895 in London by Longmans. 33 Delaforce, John, The factory house at Oporto, London: Christie’s Wine Publications, 1979, p. 34. 34 Translation published in 1853, in London, by Edward Moxon. 35 On the literary works of Edward Quillinan, the magazine O Panorama (04.06.1853, pp. 177-179) published an article by J. H. da Cunha Rivara entitled “Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões” (“Edward Quillinan and his English tradition of the Lusíadas of Camões”). More recently of note are the studies by Miguel Nuno Mercês de Mello de Alarcão e Silva “Edward Quillinan e Portugal” (“Edward Quillinan and Portugal”), and “Home is where the Heart is: A Obra Lusófila de Edward Quillinan” (“Home is where the Heart is: The Lusophile Work of Edward Quillinan), published in the Revista de Estudos Anglo-Portugueses, 1995, and of Manuel Gomes da Torre. 36 Rawnsley, Reverendo H. D., Literary Associations of the English Lakes, Glasgow: James MacLehose and Sons, 1901, vol. II, pp. 116 - 117. 37 “Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões” (“Edward Quillinan and his English translation of the Lusíadas of Camões”), in O Panorama, 04.06.1853, p. 178. 38 The Illustrated London News, of 12.07.1851, p. 74. 39 ADP, Book of Baptisms of Miragaia, B2, p. 91. 40 Santos, Paula M.M. Leite, op. cit., p. 177. 41 Castelo-Branco, Camilo, O Vinho do Porto – Processo de uma Bestialidade Inglesa (Port Wine – A Case of English Bestiality), Sintra: Colares Editora, 2005, p. 27. 42 V. Sousa, D. Gonçalo de Vasconcelos e, História do Club Portuense (1857-2007) (History of the Oporto Club - 1857-2007), Porto; Club Portuense, 2007, pp. 26-27. 43 Fonseca, Francisco Bélard da, A Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (The Military Order of Our Lady of Conceição of Vila Viçosa), Lisboa: Fundação da Casa de Bragança, 1955, p. 44. 44 AHMP, Register of Wills, BOR 0333, pp. 78v. to 80. 45 Matos, A. Campos, Eça de Queiroz – Correspondência I e II (Eça de Queiroz – Letters I and II), Lisboa: Editorial Caminho, 2008, vol. I, pp. 104, 125 and 126. 46 Mattoso, José (Coord.), História de Portugal (History of Portugal), Círculo dos Leitores, vol. VI, p. 77. 124 Resumos e palavras-chave Abstracts and key-words Resúmenes y palabras clave Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 126-132, ISSN 1646-7116 PORTUGUÊS Os Stephens da Marinha Grande Phelps – percursos de uma família britânica na Madeira de Oitocentos Os tempos e as gerações da família Kingston em Portugal: a figura de William Henry Giles Kingston Quando veio para Lisboa com apenas 15 anos, Os Phelps, oriundos de Dursley, Inglaterra, fixa- No século XVIII o nome Kingston estava associado William não podia imaginar a importância que ram-se na Madeira desde finais do século XVIII, a uma das mais importantes firmas britânicas viria a ter no comércio e na economia e, inclusiva- dedicando-se à actividade comercial e, em parti- exportadoras de Vinho do Porto. Em meados do mente, no projecto de modernização do reino. cular, à exportação de vinho da Madeira. Durante século XIX, William Henry Giles Kingston viveu no A história dos Stephens é conhecida por muitos, cerca de 40 anos Joseph Phelps, figura relevante Porto e em São João da Foz durante grande parte não só pela dimensão e pela fama da Fábrica de no comércio funchalense e na comunidade bri- da sua infância e, como adulto, residiu em Portu- Vidro, mas porque William criou um verdadeiro tânica, liderou a casa comercial Phelps Page & Co. gal vários anos, sendo um membro muito empre- estado-providência na Marinha Grande, e pelas herdada de seu pai, William Phelps acabando por endedor da firma vinícola da família e da Associa- mudanças que as suas “políticas” provocaram no assumir um papel de grande relevo na Madeira ção Britânica, sendo notável a sua versatilidade de comportamento dos operários. Oitocentista. exercer várias actividades simultaneamente como Palavras-chave Palavras-chave Stephens Phelps Palavras-chave Marinha Grande Madeira Kingston Fábrica de Vidro Vinho da Madeira Vinho do Porto, Comércio Século XIX comerciante, viajante e escritor. 127 PORTUGUÊS A odisseia anglo-lusa do clã Warre – das origens do vinho do Porto à actualidade Joseph James Forrester, defensor do Douro: a obra do “estrangeiro-portuguez” Quillinan – uma família irlandesa no Porto A família Warre e a companhia Warre and Co., cujas Um dos rostos mais visíveis da presença britânica no As origens geográficas e sociais da família Quilli- origens mais remotas remontam, de acordo com Portugal do Romantismo, Forrester lançou um olhar nan, a forma como se processou a sua integração várias fontes, a 1670, encontram-se intimamente amplo sobre a região vinhateira do Douro e sobre ela no nosso país, e mais concretamente na sociedade ligadas à génese e à história do Vinho do Porto. deixou uma obra multímoda, que cobre o ensaio, a portuense, através da análise do percurso biográ- A história da presença deste clã de comerciantes de cartografia, o desenho, a pintura e a fotografia. fico de quatro dos seus membros (o patriarca e três vinhos no Norte de Portugal confunde-se até com À data da sua morte, a imprensa periódica nacional dos seus filhos). as próprias origens daquilo que hoje em dia conhe- chorou a perda deste negociante e agricultor inglês cemos como Vinho do Porto. que criou fortes laços afectivos com Portugal e que Palavras-chave alguém definiu como o “estrangeiro-portuguez”. Quillinan Palavras-chave Família Quillinan Warre Palavras-chave Vinho do Porto Forrester Norte de Portugal Douro Porto 128 ENGLISH The Stephens of Marinha Grande The Phelps – paths of a British family in 19th century Madeira The times and generations of the Kingston family in Portugal: the figure of William Henry Giles Kingston When Wiliam came to Lisbon just 15 years of age, The Phelps, originally from Dursley in England, set- In the 18th Century the name Kingston was asso- little could he have imagined the importance he tled in Madeira at the end of the 18th Century and ciated with one of the leading British firms of Port would have in its trade and Economy, as well as in became involved in commercial activities, in parti- Wine exporters. During the 19th Century William the project to modernise the Kingdom. cular the exportation of Madeira wine. For around Henry Giles Kingston lived in Oporto and at São The story of the Stephens is known by many, not 40 years Joseph Phelps was a leading figure in com- João da Foz for a large part of his childhood. As just because of the size and fame of his Glass Fac- merce in Funchal and the British community. He an adult, he resided in Portugal for a number of tory, but also because William created a true wel- ran the company Phelps Page & Co. William Phelps years, being a dynamic entrepreneur within the fare state in Marinha Grande, as well as the chan- inherited the company from his father and ended up family wine company as well as the British Asso- ges that his “politics” created in the behaviour of his th playing a significant role in 19 Century Madeira. ciation. He was well-known for his versatility and ability to perform the roles of businessman, travel- workers. keywords ler and writer. keywords Phelps Stephens Madeira keywords Marinha Grande Glass Factory Madeira wine Kingston Commerce Port Wine 19th Century 129 ENGLISH The Anglo-Luso Odyssey of the Warre Family – from the origins of Port wine to the present day Joseph James Forrester, Champion of the Douro: The Work of the ‘Portuguese-Foreigner’ Quillinan – an irish family in Oporto The Warre family and the Warre and Co. company, Forrester was one of the most well-known faces of The geographical and social origins of the Quillinan the distant past of which dates back, according to the Romanticism Period in Portugal, casting a wide family, the way in which they settled in our coun- various sources, to 1670. Both were closely con- eye over the wine-growing region of the Douro, try, and, more specifically, within high society in nected with the genesis of and the history of Port and leaving behind various works in the field of Oporto, through analysis of the biographies of four Wine. The history of the presence of this group of essay-writing, cartography, design, painting and family members (the head of the family and three of wine merchants in the North of Portugal is intrica- photography. his children). tely linked to the very origins of what we now call Upon his death, the Portuguese press of the time Port Wine. lamented the loss of this English businessman and keywords farmer who had established strong affective ties Quillinan keywords with Portugal, and whom somebody had defined as Quillinan family Warre the “Portuguese-like foreigner”. Oporto Port Wine North of Portugal keywords 19th Century Baron Forrester Production and commercialisation of Port Wine 130 E S PA Ñ O L Los Stephens de Marinha Grande Phelps – trayectorias de una familia británica en la Madeira decimonónica Los tiempos y las generaciones de la familia Kingston en Portugal: el papel de William Henry Giles Kingston Al llegar a Lisboa, con tan sólo 15 años, William Los Phelps, originarios de Dursley, Inglaterra, se En el siglo XVIII, el nombre Kingston se asociaba no podía imaginarse la importancia que llegaría a ubicaron en Madeira a finales del siglo XVIII, dedi- a una de las más importantes firmas británicas asumir con relación al comercio y a la economía, cándose a la actividad comercial y, en particu- exportadoras de Vino de Oporto. A mediados del e incluso ante el proyecto de modernización del lar, a la exportación de Vino de Madeira. Durante siglo XIX, William Henry Giles Kingston vivió en reino. cerca de 40 años, Joseph Phelps, figura señalada Oporto, y en São João da Foz durante gran parte La historia de los Stephens es muy conocida, no del comercio de Funchal y entre la comunidad bri- de su infancia. Ya adulto, vivió en Portugal varios sólo por las dimensiones y la fama de su Fábrica tánica, condujo la firma comercial Phelps Page & años, siendo un miembro muy emprendedor de de Cristal, sino porque William creó un verdadero Co. Heredada de su padre, William Phelps, acabó la firma vinícola de su familia y de la Asociación estado providencia en Marinha Grande, además de asumiendo un papel muy destacado en la Madeira Británica, con señalada versatilidad para ejercer los cambios que sus políticas generaron en los usos decimonónica. varias actividades, simultáneamente como viajero de los obreros. y escritor. palabras-clave palabras-clave Phelps palabras-clave Stephens Madeira Kingston Marinha Grande Vino de Madeira Vino de Oporto Fábrica de Cristal Comercio Siglo XIX 131 E S PA Ñ O L La odisea anglo-lusa del clan Warre – de los orígenes del Vino de Oporto hasta la actualidad Joseph James Forrester, defensor del Duero: la obra del “estrangeiro-portuguez” Quillinan – una familia irlandesa en Oporto La familia Warre y la compañía Warre and Co., Forrester, uno de los rostros más visibles de la pre- Los orígenes geográficos y sociales de la fami- cuyos orígenes más remotos se remontan, de sencia británica en el Portugal del Romanticismo, lia Quillinan, su proceso de integración en nues- acuerdo con varias fuentes, a 1670, están en íntima extendió una mirada amplia sobre la región vina- tro país, y más específicamente en la sociedad de conexión con la génesis y la historia del Vino de tera del Duero y nos dejó, sobre ésta, una obra Oporto, a través del análisis de la trayectoria bio- Oporto. La historia de la presencia de este clan de multímoda que abarca el ensayo, la cartografía, el gráfica de cuatro de sus miembros (el patriarca y comerciantes de vinos del norte de Portugal se con- dibujo, la pintura y la fotografía. Cuando falleció, la tres de sus hijos). funde hasta con los propios orígenes de lo que hoy prensa nacional lloró la pérdida de este negociante en día conocemos como Vino de Oporto. y agricultor inglés que creó sólidos vínculos afecti- palabras-clave vos con Portugal y al que alguien definió como el Quillinan “estrangeiro-portuguez”. Familia Quillinan palabras-clave Warre Oporto Vino de Oporto palabras-clave Norte de Portugal Forrester Duero 132