Um panorama das eleições no Irã
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Um panorama das eleições no Irã
Universidade de Brasília Instituto de Relações Internacionais Programa de Educação Tutorial – PET-REL LARI - Laboratório de Análise de Relações Internacionais LARI Fact sheet – Junho 2013 Um panorama das eleições no Irã 1. Objeto de análise: eleições no Irã, suas repercussões regionais e nas relações com os EUA. 2. Informações de referência: 2.1. Palavras-chave: Irã, EUA, Oriente Médio, Israel, Síria, Hassan Rouhani, Mahmoud Ahmadinejad, Ali Khamenei, eleição. 2.2. Cronologia: 1979: A República Islâmica do Irã é proclamada por referendo popular. 1980: Começa a Guerra Irã-Iraque, que dura oito anos. 1989: Aiatolá Khomeini morre em junho e o Presidente Khamenei é apontado como novo Supremo Líder. 1995: EUA impõem sanções comerciais ao óleo iraniano sob suposta acusação de patrocínio ao terrorismo, de modo a construir bombas nucleares. Irã nega. 1997: Mohammad Khatami vence as eleições presidenciais com 70% dos votos, batendo a elite conservadora. 2001: Presidente Khatami é reeleito. 2002 (janeiro): Presidente Bush diz que Irã, Iraque e Coréia do Norte compõem o ‘eixo do mal’ por causa da proliferação de mísseis construídos por esses países. O discurso do presidente é condenado por reformistas e conservadores no Irã. 2002 (setembro): Técnicos russos ajudam iranianos a construir seu primeiro reator nuclear mesmo com forte retaliação americana. 2003 (setembro): ONU dá algumas semanas ao Irã para que o mesmo prove que não está construindo armas atômicas. 2003 (novembro): Irã suspende o enriquecimento de urânio e permite inspeção da ONU. Não há evidências de bombas nucleares. 2004 (fevereiro): Conservadores retomam o controle das eleições parlamentares. 2004 (junho): Irã é repreendido por não cooperar com a ONU e suas inspeções. 2005 (junho): O ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad vence eleições presidenciais contra o ex-presidente Rafsanjani. 2005 (agosto-setembro): Irã retoma a conversão de urânio, alegando fins pacíficos. ONU encontra violações ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. 2006 (janeiro): Irã rompe lacres da ONU em suas pesquisas nucleares. 2006 (fevereiro): A Agência Internacional de Energia Atômica vota para denunciar o Irã ao Conselho de Segurança. 2006 (abril): Irã diz conseguir enriquecer urânio. 2006 (agosto): Prazo dado ao Irã para suspender programa nuclear passa. Irã falha na suspenção do programa. 2006 (de zembro): Conselho de Segurança vota sanções ao Irã pelo seu programa nuclear. 2007 (abril-maio): Ahmadinejad diz que Irã pode produzir energia nuclear em escala industrial e ONU anuncia que Irã pode construir bomba em três ou oito anos. 2007 (outubro): Os EUA anunciam novas sanções ao Irã. 2008 (março-maio): Conselho de Segurança reforça sanções econômicas e de comércio ao Irã e relatórios da ONU confirmam retenção de informações do programa nuclear. 2008 (setembro): Relatório do Conselho de Segurança reforça que Irã deve parar o enriquecimento de urânio. 2008 (novembro): Ahmadinejad congratula a eleição de Obama, o qual havia oferecido diálogo aberto para com o Irã. 2009 (fevereiro-março): Mahmoud Ahmadinejad, no trigésimo aniversário da Revolução Iraniana, diz que aceitará o diálogo com os EUA baseado em respeito mútuo. O Supremo Líder Ali Khamenei diz que Obama segue a mesma política equivocada de Bush. 2009 (maio): Irã rejeita documento do Dep. de Estado Americano que diz que o país é o maior financiador do terrorismo. 2009 (junho): Ahmadinejad é reeleito e protestos acontecem no Irã. 2009 (outubro): Os P5 mais a Alemanha oferecem ao Irã o enriquecimento de urânio fora de seu território. Irã recusa a oferta e a ONU condena o segundo enriquecimento secreto. 2010 (fevereiro-maio): Irã concorda em enriquecer urânio no exterior e conversas acerca disso são mediadas por Brasil e Turquia. Isso não impedirá o país de continuar o enriquecimento em seu próprio território segundo os países mais céticos do Ocidente. 2010 (junho): Mais uma rodada de sanções contra o Irã é posta pelo Conselho de Segurança e pelos EUA. 2011: Relatórios da ONU dizem que o Irã está tentando construir um gatilho para uma possível bomba nuclear. 2012 (janeiro): Novas sanções americanas ao óleo do Irã e embargo ao programa nuclear iraniano pela União Europeia. 2012 (fevereiro): IAEA tem seus agentes barrados em uma inspeção no Irã. 2012 (setembro): Canadá corta relações diplomáticas com o Irã pelo apoio a Assad na Síria e pelo avanço do programa nuclear. 2012 (outubro): Moeda iraniana cai em novo recorde devido às sanções. Seu preço é 80% menor que o do dólar desde 2011. 2012/2013: Relatórios da ONU mostram potencial atômico iraniano e dá detalhes de seu programa nuclear. Irã alega querer ampliar o mesmo programa. 2013 (junho): O clérigo reformista Hassan Rouhani ganha as eleições presidenciais com mais de 50% dos votos. 2013 (junho): EUA parecem estar abertos a dialogar com o Irã sob novo comando e esboçam esperanças. 3. Contextualização: 3.1. As eleições: Em setembro de 2012, o Ministério do Interior do Irã noticia que ocorrerão eleições presidenciais em junho de 2013 no país. O anúncio veio junto com a quebra de relações diplomáticas entre Canadá e Irã. O primeiro alega que o governo iraniano dá apoio logístico e político a Assad na Síria, local em que ainda ocorre uma sangrenta guerra civil. O passado eleitoral do país é conturbado, fazendo com que em 2009 a escolha de Mahmoud Ahmadinejad novamente para presidência provocasse acusações de fraude e protestos violentos, os quais causaram a morte de dezenas de manifestantes e a prisão dos opositores do ex-presidente. O clérigo Hasan Rouhani, considerado um moderado, ganha as eleições presidenciais em primeiro turno em junho de 2013 com pouco mais de metade dos votos. O novo presidente promete tirar o Irã do isolamento e minimizar as sanções que tanto comprometem o país econômica e politicamente. As eleições foram marcadas por um grande número de eleitores. Número este maior que o esperado, provocando a extensão da votação em mais quatro horas. Rouhani desbancou outros cinco candidatos à presidência, sendo quatro deles ultraconservadores e outro um tecnocrata. O presidente eleito foi apoiado pelos expresidentes reformistas Khatami e Rafsanjani. Muitas melhoras em direitos civis, na economia, na política e até na situação nuclear são esperadas, mas ainda assim o papel da presidência é limitado pelo Líder Supremo Ali Khamenei. 4. Repercussões: Na televisão estatal, a vitória de Rouhani foi recebida como a vitória da moderação sobre o extremismo. O Aiatolá Ali Khamenei também saudou o novo presidente dizendo que todos devem ajudá- lo em seu governo. Para analistas, o reformismo de Rouhani não deve significar uma nova guinada política iraniana, já que assuntos delicados, como o programa nuclear, estão nas mãos de Khamenei. O primeiro- ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que a pressão sobre o Irã não deve ser moderada, já que, mesmo com a eleição de Rouhani, quem tem o controle sobre questões como política nuclear seria o líder Khamenei. O Irã, nesse sentido, deve ser julgado por todos os seus atos. Já o presidente de Israel, Simon Peres, acredita que mudanças são possíveis e cada vez mais evidentes. O presidente sírio, Bashar al-Assad, saudou o novo presidente iraniano e alegou querer reforçar os laços com seu aliado estratégico, o Irã, e, consequentemente, com Rouhani. A China também parabenizou o novo presidente iraniano e faz votos de que as relações bilaterais entre os países continuem de modo sadio e vantajoso a ambos. Depois do anúncio do resultado das eleições no Irã, a Casa Branca disse estar aberta ao diálogo com o país do Oriente Médio e seu novo governo. O governo americano disse estar disposto a resolver todas as pendências entre os dois países de forma diplomática, esperando que o novo presidente ouça a voz de todo o povo iraniano. Durante cúpula do G-8, os presidentes Obama e Putin dizem estar “prudentemente otimistas” com relação à eleição de Rouhani no Irã e acreditam que os problemas envolvendo o programa nuclear sejam resolvidos por negociações internacionais diplomáticas e saudáveis. 5. Cenários: Mudanças de maneira mais aprofundada, com uma maior atenção às mulheres, melhorias na economia e abertura política são, em um cenário positivo, bastante importantes no Irã. O diálogo mais transparente com os EUA e com a Europa, assim como com seus vizinhos, principalmente Israel, é essencial para tirar o país do isolamento que vive e barrar as sanções que tanto comprometem sua situação. Igualmente, importante seria a questão do programa nuclear nessa dinâmica. Contudo, a liderança forte do Aiatolá Ali Khamenei compromete esse cenário e traz um tom mais realista para a análise da política internacional iraniana. Principalmente com relação ao supracitado programa nuclear. Khamenei tem as rédeas da situação e sua ação é dura e incisiva. As mudanças com Rouhani seriam perceptíveis, mas encontrariam muitas barreiras tanto no Parlamento, quanto com o próprio Aiato lá. É necessário lembrar que Rouhani é um moderado e, para alguns analistas, isso pouco significa para o Irã, já que os poderes presidenciais são limitados no país. Por isso, em um cenário pessimista, os avanços iranianos seriam insignificantes para o todo, enclausurando a política iraniana que, sem aliados, perderia o fôlego aos poucos devido às sanções e rivalidades as quais podem gerar conflitos belicosos. 6. Leituras sugeridas: <http://m.g1.globo.com/mundo/noticia/2013/06/eua-e-russia- manifestamprudencia-apos-eleicao- no- ira.html> <http://portuguese.ruvr.ru/ira/> <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/06/eua-querem-contato-direto-comira-apos-eleicao-de-presidente- moderado.html> <http://www.bbc.co.uk/news/world- middle-east-14542438>
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