Gender Budgeting.vp
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COMISSÃO EUROPEIA N ta Informativa Orçamentação Sensível ao Género: a sua utilidade em abordagens à ajuda baseadas em programas NOTA INFORMATIVA ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO: A SUA UTILIDADE EM ABORDAGENS À AJUDA BASEADAS EM PROGRAMAS Inglês versão: Nathalie Holvoet, Instituto de Políticas e Gestão de Desenvolvimento, Universidade de Antuérpia, [email protected], Serviços de Consultoria em Matéria de Género da CE, 2006 Tradução do Inglês para o Espanhol, Francês e Português: Serviços de Consultoria em Matéria de Género da CE, Dezembro de 2008 A série de Notas informativas sobre as questões de género1 é realizada pelo Serviço de Cooperação EuropeAid (Unidade E-4). As notas são concebidos para ajudar os funcionários da CE que trabalham na cooperação para o desenvolvimento a identificar e relatar facilmente questões relacionadas com a igualdade de género em sectores e temas específicos. As Notas Informativas aprofundam igualmente material contido no Conjunto de Ferramentas sobre a Integração da Igualdade de Género na Cooperação para o Desenvolvimento da CE (2004), que foi amplamente distribuído2. Para além de abordar questões e conceitos fundamentais, as notas incluem exemplos concretos (nas listas em anexo), em matérias relacionadas com a integração da igualdade de género em programas específicos, que facilitam a aplicação dos conceitos discutidos. A série de notas foi traduzido do Inglês para o Espanhol, Francês e Português pelos Serviços de Consultoria em Matéria de Género da CE em 20083. 1 As outras Notas Informativas sobre igualdade de género abordam os seguintes temas: • Direitos Humanos das Mulheres • Descentralização e Reforma da Administração Pública, • Educação e Formação Profissional • Género e Comércio. As Notas foram preparadas pelo pelos Serviços de Consultoria em Matéria de Género da CE, dirigido pelo Centro Internacional de Formação da OIT. Jane Hailé foi a autora destas quatro notas. Benedetta Magri foi responsável pela coordenação editorial geral. 2 Para obter as Ferramentas, por favor contacte o Serviço de Cooperação EuropeAid - Unidade E4 (governança, segurança, direitos humanos e de gênero), Comissão Europeia, Bruxelas. A supervisão editorial das traduções e as atualizações foram feitas por Thera van Osch (Espanhol) e Claire Leloup (Francês e Português), Serviços de Consultoria em Matéria de Género da CE, 2008-2009. 3 Orçamentação sensível ao género ÍNDICE ÍNDICE LISTA DE ACRÓNIMOS ............................................................................4 INTRODUÇÃO ..........................................................................................5 I. ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO: O QUÊ, PORQUÊ E COMO?..............................................................6 I.1. O quê? Definições e elementos-chave.................................................................6 I.2. Porquê? Fundamento ......................................................................................8 I.3. Como? Abordagens e ferramentas ..................................................................10 II. ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO EM ABORDAGENS À AJUDA BASEADAS EM PROGRAMAS ...........................................24 II.1.Porquê tornar sensíveis ao género as abordagens à ajuda baseadas em programas? ...................................................................24 II.2. Provas do grau de sensibilidade ao género das abordagens à ajuda baseadas em programas ..................................................................26 II.3. Como melhorar? O potencial da orçamentação sensível ao género.......................28 III. ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO EM DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICAS E PROGRAMAÇÃO DA CE ..............................30 III.1. A igualdade de género como um objectivo importante da cooperação para o desenvolvimento da CE e o género como uma importante questão transversal nos programas sectoriais e de apoio a orçamentos da CE .......................................30 III.2. Orçamentação sensível ao género em documentos de políticas e programação ....31 IV. Como os funcionários da CE e os seus parceiros podem trabalhar com a orçamentação sensível ao género ....................................32 IV.1. Tornar sensíveis ao género as abordagens à ajuda baseadas em programas: princípios básicos.........................................................................................32 IV.2. Tornar sensíveis ao género as abordagens à ajuda baseadas em programas através da orçamentação sensível ao género: algumas sugestões para países parceiros ..................................................................................................32 IV.3. Tornar sensíveis ao género as abordagens à ajuda baseadas em programas através da orçamentação sensível ao género: algumas sugestões para a CE (ver também Conjunto de Ferramentas, Secção 1, Capítulos 3, 5 e 6) ...............34 V. Referências e outras fontes úteis relativamente à orçamentação sensível ao género e ao tornar as abordagens à ajuda baseadas em programas sensíveis ao género ............................................41 Anexo 1..................................................................................................46 Tornar sensível ao géneros à avaliação ex-ante dos programas sectoriais. Aplicação ao Programa de Apoio a Políticas Sectoriais (PAPS) para Alcançar a Educação Para Todos (EPT), Níveis de Qualidade Fundamentais das Escolas (NQFE) (Vietname) 3 LISTA DE ACRÓNIMOS ACP África, Caraíbas e Pacífico ACP Avaliações Conjuntas de Pessoal ASA Abordagem Sectorial Ampla BM Banco Mundial CE Comissão Europeia DERP Documento de Estratégia de Redução da Pobreza EPT Educação Para Todos EuropeAid Serviço de Cooperação EuropeAid FMI Fundo Monetário Internacional GBR Gestão Baseada em Resultados IOGs Iniciativas Orçamentais sensíveis ao Género M&A Monitorização e Avaliação MTEF Quadro das despesas a médio prazo NQFE Níveis de Qualidade Fundamentais das Escolas ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio 4 OCDE/CAD Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico/Comité de Ajuda ao Desenvolvimento OFM Gestão Financeira Pública PEFA PFM Quadro de Avaliação de Desempenho relativo à Despesa Pública e Responsabilidade Financeira PEM Gestão de Despesas Públicas PEN Programa Específico Nacional PNB Produto Nacional Bruto PAE Programas de Ajustamento Estrutural SNC Sistema Nacional de Contabilidade PAPS Programa de Apoio a Políticas Sectoriais PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento UNIFEM Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento das Mulheres UMV União das Mulheres Vietnamitas Orçamentação sensível ao género INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Este documento foca a orçamentação sensível ao género e a sua utilidade no contexto de novos instrumentos de ajuda. Serve de complemento ao Conjunto de Ferramentas sobre a Integração da Igualdade de Género na Cooperação para o Desenvolvimento da CE ,ao qual será feita referência ao longo do texto. Este documento realça a forma como a orçamentação sensível ao género pode ser utilizada pelos países parceiros e doadores para tornar as abordagens4 baseadas em programas mais sensíveis ao género. Também demonstra como isso pode contribuir para um desenvolvimento mais eficaz e eficiente e para uma maior igualdade entre os sexos. O documento começa com uma introdução geral ao “o quê, porquê e como” da orçamentação sensível ao género. As pessoas familiarizadas com a orçamentação sensível ao género podem ignorar esta parte. A Secção dois discute o fundamento subjacente ao tornar sensível ao género5 as abordagens à ajuda baseadas em programas. Passando da teoria para a prática, contém um relato não-exaustivo da forma como as abordagens baseadas em programas têm vindo a integrar as questões do género nos respectivos conteúdos e processos subjacentes. Como até agora não se tem tirado proveito das oportunidades que as abordagens baseadas em programas oferecem para um aumento da sensibilidade às questões de género, a orçamentação sensível ao género é proposta como uma forma de avanço. Nas Secções três e quatro, o foco é no caso específico da cooperação para o desenvolvimento europeia. A igualdade de género é um princípio importante na cooperação para o desenvolvimento europeia e existem directivas sobre o apoio a programas sectoriais, bem como a abordagem da CE à condicionalidade, que apoiam a importância da integração da perspectiva do género nas novas modalidades de ajuda. Tomando como ponto de partida o compromisso da CE relativamente à igualdade de género, o resto do documento propõe sugestões concretas sobre como a CE pode colocar em prática o seu empenho com a igualdade de género, respeitando os princípios básicos dos novos instrumentos de ajuda (incluindo a propriedade e liderança nacionais, a harmonização e o alinhamento). Demonstro como diversas ferramentas e princípios subjacentes à orçamentação sensível ao género podem ser utilizados pelos países parceiros, dando sugestões para os esforços de criação de capacidades apoiados por doadores no tornar os programas de redução da pobreza nacionais sensíveis ao género. Partindo da perspectiva da CE como doador, centro-me em dois pontos de entrada possíveis para tornar sensíveis ao género os instrumentos de ajuda com base em programas: a abordagem da CE à condicionalidade (apoio orçamental) e a avaliação ex-ante do apoio da CE a programas sectoriais. A secção quatro dá sugestões concretas de como estes pontos de entrada podem ser tornados mais sensíveis ao género. O anexo resume uma avaliação mais sensível ao género de um programa sectorial específico. A secção cinco contém referências e sugestões de leituras complementares. Tal como o documento da OCDE (CAD) de 2005, “Harmonizar as Práticas dos Doadores para uma Prestação de Ajuda Eficaz (vol. 2)”, utilizo as “abordagens baseadas em programas” para me referir a “uma forma de prestar cooperação para o desenvolvimento com base nos princípios de apoio coordenado para um programa de desenvolvimento local” (OCED [CAD], 2005, p. 37). Consulte a secção IV.1 para obter mais detalhes. 4 5 A expressão “tornar sensível ao género” é utilizada no sentido de “ter em conta as diferenças e necessidades baseadas no género” (ou seja, às diferentes necessidades, na sua maioria fabricadas socialmente, que as mulheres e os homens têm devido aos seus papéis diferentes na sociedade). Um Glossário dos termos mais comuns relacionados com a igualdade de género está disponível na Secção III do Conjunto de Ferramentas sobre a Integração da Igualdade de Género na Cooperação para o Desenvolvimento da CE. http://ec.europa. eu/europeaid/sp/gender-toolkit/index.htm 5 I. ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO: O QUÊ, PORQUÊ E COMO? (Consulte também o Conjunto de Ferramentas, Secção 1, Capítulo 6) I.1. O quê? Definições e elementos-chave Eis duas definições utilizadas frequentemente para a “orçamentação sensível ao género” e “iniciativas orçamentais por género”. “Orçamentação sensível ao género é uma aplicação da integração da igualdade de género no processo de orçamentação. Significa uma avaliação dos orçamentos com base no género, incorporando uma perspectiva sobre a igualdade de género em todos os níveis do processo de orçamentação e restruturação de receitas e despesas para promover a igualdade de género.” (Conselho da Europa, 2005, p. 10) “Iniciativas orçamentais por género (IOG) descriminam os orçamentos governamentais para ver como estes respondem às necessidades diferenciadas e seus impactos em mulheres, homens, raparigas e rapazes. Desta forma, os IOGs podem dar contribuições significativas em termos de equidade, igualdade, realização dos direitos das mulheres, eficiência, eficácia, responsabilização e transparência. A finalidade e objectivo dos IOGs distingue duas fases de um processo a longo prazo: a análise do orçamento sensível ao género e a elaboração de orçamentos sensíveis ao género. O objectivo final dos IOGs deve ser este último, ou seja, fomentar e apoiar a elaboração de uma distribuição de recursos sensível ao género.” (Hofbauer, 2003, p. 1) Embora não exista uma definição padronizada de orçamentação sensível ao género, é possível identificar elementos-chave. 6 ̡̡A orçamentação sensível ao género não é uma empresa isolada, mas uma parte intrínseca da integração da igualdade de género. Pode ser mais fácil integrar questões de “género” em estruturas que estejam organizadas principalmente ao longo de linhas verticais. Pode-se tirar partido do facto do próprio orçamento (política fiscal) pedir uma abordagem horizontal transsectorial. Além disso, a orçamentação sensível ao género pode revelar os baixos níveis de orçamento atribuídos a estratégias de “integração da igualdade de género” e outras estratégias (como a “acção positiva”) para a igualdade de género. Esta revelação pode aumentar a consciencialização e ajudar a aumentar os orçamentos para tais estratégias. Isto pode melhorar a sua eficácia e contribuir para a igualdade de género. Ao enquadrar as “questões de género” em termos de um discurso económico, a orçamentação sensível ao género “liberta” o género (e a integração da igualdade de género) da arena das questões sociais “suaves” e eleva-o para o nível da macroeconomia, que muitas vezes se pensa ser “técnica”, “isenta de valores” e “neutra relativamente a questões de género”. ̡̡A orçamentação sensível ao género inclui a análise e a acção. Também se pode optar por utilizar uma expressão específica para diferenciar mais claramente as iniciativas que “só” analisam (“análise de orçamento por género”) e as que vão mais além e integram de forma sistemática uma dimensão de género nos processos orçamentais (“orçamentos por género”)6. A análise de orçamento por género pode ser considerada um primeiro passo essencial, necessário para revelar (aos responsáveis por uma medida bem como aos seus eventuais beneficiários) o efeito de qualquer política (e orçamento) nos homens e mulheres e na igualdade de género. A disseminação dos resultados das análises pode iniciar um processo de aumento da consciencialização (dentro e fora do governo), que, por sua vez, pode aumentar a probabilidade de uma perspectiva sistemática sobre o género. Embora muitas iniciativas orçamentais por género estejam restritas à análise, a experimentação em países tão diversos quanto a França, Suécia, África do Sul, Senegal, Marrocos e as Filipinas demonstra que as tentativas de uma integração sistemática estão a crescer7. 6 Vide Hofbauer (2003). Vide Conselho da Europa (2005), Budlender e Hewitt (eds) (2002) e www.gender-budgets.org para obter mais informações sobre vários exemplos destes. 7 Orçamentação sensível ao género O QUÊ, PORQUÊ E COMO? A orçamentação sensível ao género não se centra apenas na fase de orçamentação de um ciclo de intervenção (política/programa/projecto). O objectivo é incluir uma perspectiva sobre o género em todas as fases de um ciclo, desde o diagnóstico e apreciação (ex-ante), passando pela orçamentação, implementação e monitorização (exnunc) até à avaliação (ex-post). Assim, inclui tanto as esferas “financeira” (contribuições) como a “real”. ̡̡A orçamentação sensível ao género centra-se não só no conteúdo dos orçamentos (e das políticas relacionadas), mas também nos processos (de políticas) orçamentais subjacentes. Analisa o grau de inclusão, abertura à realização de políticas e à tradução do orçamento. Também questiona quem está envolvido, tanto dentro como fora do Governo. As iniciativas de orçamentação sensível ao género que se centram nos processos subjacentes muitas vezes correspondem a iniciativas de orçamentação “participativas” e são particularmente relevantes para os novos instrumentos de ajuda (vide Secção II). ̡̡A orçamentação sensível ao género inclui uma grande variedade de iniciativas8. Não existe um modelo para a localização institucional, para as abordagens e ferramentas, cobertura de iniciativas, objectivos, etc. • As iniciativas podem localizar-se dentro ou fora do Governo, ou adoptar uma abordagem “combinada”. Dentro do Governo, as iniciativas podem localizar-se dentro de um Ministério de Igualdade de Oportunidades e/ou do Ministério das Finanças e/ou Ministérios de linhas sectoriais. As iniciativas fora do governo podem ocorrer dentro de associações de mulheres, associações da sociedade civil regular, universidades, centros de investigação, no Parlamento, etc. • Os objectivos das iniciativas podem incluir: aumentar a consciencialização dentro e fora do Governo para os efeitos específicos sobre o género das receitas e despesas; aumentar a responsabilização; alterações nas políticas e despesas e receitas relacionadas. • A cobertura das iniciativas de orçamentação sensível ao género podem incluir despesas gerais, receitas gerais ou específicos portefólios. • As iniciativas de orçamentação sensível ao género podem ser localizadas em todo o ciclo de “intervenção” ou direccionadas a uma fase específica do ciclo (ex-ante, exnunc, ex-post). • As ferramentas e abordagens podem variar de acordo com a localização institucional, com os objectivos, cobertura, fase, dados disponíveis, sistema orçamental (por exemplo, orçamentação por item de linha, orçamentação baseada no desempenho), competências disponíveis, etc. A grande variedade de iniciativas e, em particular, as descobertas e lições aprendidas9 sobre os pontos fortes e fracos, os ingredientes para o sucesso, oportunidades e factores impeditivos ou restritivos, podem ser úteis aquando da concepção de novas iniciativas. As novas empresas necessitam sempre de um determinado grau de experimentação, que cria oportunidades para intensificar a propriedade da iniciativa. ̡̡A orçamentação sensível ao género é um ponto de entrada para tornar as políticas macroeconómicas gerais, os modelos económicos subjacentes e a macroeconomia em geral sensíveis à igualdade de género. Embora o tornar a macroeconomia completamente sensível ao género, introduzindo explicitamente a interdependência entre a economia de mercado pago e a economia de cuidados não pagos (vide secção I.3) possa ser o objectivo final, o foco nas receitas e despesas governamentais (e políticas relacionadas) é um ponto de partida relevante e adequado. Todos os cidadãos são confrontados com o sector público em graus variáveis: através do seu consumo de serviços públicos como a educação, os transportes e a saúde; através de transferências de Segurança Social; ou através do pagamento de impostos. Além disso, a correcção da discriminação de género pode ser considerada parte integral da função redistributiva da política fiscal. 8 Vide também Elson (2002). 9 Vide, entre outros, Budlender e Hewitt (2002). 7 Além disso, esta pode ser a altura mais propícia para a orçamentação sensível ao género, porque muitos países estão a reformar o sector público em geral e os procedimentos de orçamentação em particular. Os períodos de mudança podem proporcionar oportunidades para novas ideias que de outra forma não seria acolhidas tão facilmente. A evolução dos novos sistemas orçamentais geralmente implica uma mudança da orçamentação incremental e de itens de linha para formas de orçamentação mais baseadas no desempenho, o que dá mais oportunidades para integrar uma perspectiva sobre o género, contudo sem que tal seja automaticamente garantido10 (vide secção II.1). A orçamentação sensível ao género não é um deus ex machina. Em termos gerais, a orçamentação sensível ao género está relacionada com a análise e melhoria da sensibilidade ao género no lado da oferta de intervenções do Governo (prestação de serviços do Governo em termos de contribuições, actividades, produção, resultados e impacto). É necessário ampliar a análise ao lado da procura, incluindo a análise de alocação de recursos dentro do lar. Isto possibilita analisar as razões subjacentes para a discriminação pelo género (em particular nos resultados e no impacto) reveladas através da análise dos orçamentos por género e desenvolver acções correctivas. I.2. Porquê? Fundamento Embora as iniciativas de orçamentação sensível ao género possam diferir muito (vide acima), elas podem ajudar a alcançar os seguintes objectivos: Igualdade de Género A análise de orçamentos (contribuições) por género pode revelar que estão a ser alocados recursos desadequados para alcançar a igualdade de género. Além disso, a análise repartida por género dos efeitos das despesas gerais e da colecta de receitas pode revelar que o Governo esteja (sem intenção) a criar uma discriminação (adicional) por género. Isto acontece quando um Governo segue uma política insensível à questão do género, que não leva em conta o facto de a política (e as receitas e despesas relacionadas) não ser implementada num vácuo social, mas numa sociedade em que o género (tal como outras construções sócio-culturais) determina o grau a que os homens e as mulheres tendem a beneficiar de, e a contribuir para, as receitas e despesas do Governo. Reforçar uma discriminação por género que já existe na maioria das sociedades no mundo através das despesas e receitas do Governo vai contra a função redistributiva da política fiscal e contradiz o objectivo político da igualdade de género que é estabelecida oficialmente pela maioria dos Governos. A disseminação dos resultados da análise da discriminação de género pode aumentar a consciencialização dentro e fora do governo. Isto pode ajudar à integração de uma perspectiva sobre o género nas despesas e receitas do Governo (e políticas relacionadas), que pode em última análise aumentar a igualdade de género. 8 10 Sobre esta questão, vide Sarraf (2003), Sharp (2003), Sharp e Connolly (2003). Orçamentação sensível ao género O QUÊ, PORQUÊ E COMO? Por fim, a orçamentação sensível ao género também foi mencionada explicitamente na Plataforma de Acção de Pequim (ONU, 1995) (arts. 345, 346 e 358). Disposições Financeiras Art 345: A implementação da Plataforma de Acção deverá exigir a integração de uma perspectiva sobre o género nas decisões orçamentais das políticas e programas, bem como o financiamento adequado de programas específicos para assegurar a igualdade entre mulheres e homens. Nível nacional Art. 346 Os Governos devem envidar esforços para rever sistematicamente a forma como as mulheres beneficiam das despesas do sector público; ajustar os orçamentos para assegurar a igualdade no acesso às despesas do sector público. Nível internacional Art. 358 Para facilitar a implementação da Plataforma de Acção, os países parceiros desenvolvidos e em vias de desenvolvimento interessados, que aceitem por compromisso mútuo, alocar em média 20 por cento da ajuda oficial ao desenvolvimento e 20 por cento do orçamento nacional a programas sociais básicos devem ter em conta uma perspectiva sobre o género. Fonte: ONU (1995). A Plataforma de Acção de Pequim citada em UNIFEM (2005). O Progresso das Mulheres do Mundo. Os países que assinaram esta plataforma também se comprometeram a respeitar a orçamentação sensível ao género. Eficácia e eficiência Um Governo utiliza a política fiscal para desempenhar a sua função alocadora. Mais especificamente, um Governo presta aos seus cidadãos serviços públicos, tais como escolas, cuidados de saúde, transportes e segurança social para alcançar um conjunto de objectivos políticos, tais como a literacia universal, uma população saudável e a redução da pobreza. Alcançar esses objectivos requer análise e concepção adequados. Um Governo necessita de ter em conta o facto de as necessidades dos cidadãos, os recursos, as restrições e as oportunidades serem em grande medida determinadas por construções sócio-económicas (incluindo o género) e que, como consequência, necessita de tomar essas restrições em conta ao desenvolver as políticas. Caso não o faça, tal conduzirá a políticas ineficazes e ineficientes É possível ilustrar este facto com o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio n.º 2 (Alcançar a educação primária universal). Para alcançar este objectivo, é necessário reconhecer que os rapazes e as raparigas podem ter restrições e necessidades diferentes relativamente à literacia e à educação. Embora em alguns casos construir mais escolas possa ser suficiente para aumentar o grau de assiduidade e literacia dos rapazes, a assiduidade escolar das raparigas e/ou o tempo que elas podem despender nos trabalhos de casa à noite podem ser mais restringidos pela sua participação na economia dos cuidados. Nesses casos, investir apenas na oferta de escolas aumentará o nível médio de escolaridade e literacia, mas pode aumentar o fosso masculino/ feminino na escolaridade e literacia. Podendo assim nunca conduzir à escolaridade e literacia universais. Uma política adequada e eficaz seria agir em relação às restrições específicas de género existentes e necessidades conexas, por exemplo criando creches e jardins de infância gratuitos (para irmãos mais novos), ir ao encontro das necessidades práticas de cada género, instalando mais bombas de água ou fornos, e aumentando a consciencialização da importância da educação das raparigas. Tais medidas também podem aumentar a eficiência geral, pois a investigação11 revelou que a discriminação por género na educação tem um custo de eficiência (menor crescimento económico e desenvolvimento humano). Vide Banco Mundial (2001), onde se encontra um resumo das evidências ao nível micro e novas evidências ao nível macro. 11 9 Boa governação (transparência, responsabilização) A orçamentação sensível ao género pode contribuir para a “boa governação” de várias formas. Quando um Governo utiliza ferramentas de orçamentação sensível ao género nas suas políticas e gestão de programas, e quando publica os resultados das análises e tentativas de correcção num mapa orçamental sensível ao género, está a contribuir para a transparência. A orçamentação sensível ao género também pode estimular os governos a tornar as políticas e processos orçamentais mais inclusivos. Além disso, a orçamentação sensível ao género pode ser utilizada por agentes fora do Governo para o responsabilizarem por promessas anteriores relativamente à “igualdade de género” e pela sensibilidade ao género das suas políticas em geral. I.3. Como? Abordagens e ferramentas Apresenta-se aqui uma perspectiva geral das abordagens e ferramentas que são frequentemente utilizadas na orçamentação sensível ao género/análise de orçamentos por género. As abordagens descritas abaixo são particularmente úteis na sua estruturação. Todas as ferramentas listadas ajudam a analisar o impacto diferenciado por género das medidas políticas e das despesas e receitas conexas. As ferramentas podem ser utilizadas no âmbito de uma das abordagens (por exemplo, a “análise de incidência de benefícios repartida por género” pode ser utilizada no “quadro do ciclo orçamental” para analisar a distribuição de produção/resultados entre homens e mulheres) ou independentemente. Também se podem combinar várias ferramentas. As ferramentas a utilizar dependem do objectivo do exercício, da localização no ciclo (por exemplo, uma avaliação de políticas sensíveis ao género é utilizada ex-ante) e dos dados disponíveis. ABORDAGENS GERAIS 10 O quadro de três categorias de Budlender e Sharp (vide Budlender e Sharp, 1998) A abordagem de três categorias de Budlender e Sharp é útil para estruturar a análise de despesas de uma perspectiva do género. É um bom ponto de partida, pois mostra as diferenças de importância entre as categorias de despesas, bem como as questões em causa em cada uma delas. Mais especificamente, a abordagem distingue entre: 1. Despesas específicas de género 2. Despesas com a igualdade de oportunidades de emprego (programas destinados à mudança dentro do Governo) 3. Despesas gerais. Orçamentação sensível ao género O QUÊ, PORQUÊ E COMO? As caixas abaixo dão uma perspectiva geral das diferentes categorias de despesas, bem como de possíveis questões relevantes para análise, com exemplos 1. Despesas específicas de género • Esta é uma despesa que se destina especificamente a homens ou mulheres. O seu objectivo (e dos programas que lhes estão associados) é ir ao encontro das suas necessidades específicas. Também é por vezes necessário libertar os homens e em especial as mulheres, de restrições específicas de género existentes no que respeita à sua participação na política e despesas gerais. Exemplos de despesas específicas por género: —— despesas com instalações sanitárias femininas em escolas primárias —— despesas com professoras do sexo feminino em escolas primárias —— despesas com programas para aumentar a participação de mulheres em trabalhos técnicos —— despesas em programas para aumentar a participação dos homens em trabalhos de “prestação de cuidados” (creches e jardins de infância, infantários, etc.) —— despesas com programas que encorajam os homens a participar em actividades de saúde reprodutiva Possíveis questões para análise: O peso relativo das despesas específicas de género no orçamento geral e em diferentes sectores. Na maior parte dos países, as despesas específicas por género são uma categoria muito pequena. Exemplo A análise na Bolívia demonstrou que, do investimento público total em 1998 (1561,9 milhões de bolivianos), apenas 4,6% (71,9 milhões de bolivianos) foi investimento direccionado para “objectivos de igualdade de género”; neste caso específico, todas as despesas foram destinadas a mulheres. A repartição indicou que a parte do investimento direccionado foi mais elevada nos sectores da educação e cultura (36,4 milhões de bolivianos: 21,2% da despesa no sector), saúde e segurança social (31,4 milhões de bolivianos: 36% da despesa neste sector) e agricultura (4,1 milhões de bolivianos; 2,6% da despesa na agricultura). Em todos os outros sectores (mineração, indústria e turismo, hidrocarbonetos, energia, transportes, comunicações, saneamento básico, desenvolvimento urbano e habitação, recursos hídricos e “multi-sectorial”) não houve qualquer investimento direccionado. Fonte: Martha Gutiérrez (2004). ‘Public budgets with a gender’ approach: a look at the national budget of Bolivia and the municipal budget of La Paz in UNIFEM-Andean Region (2004). Gender-sensitive budgets in Latin America: Accountability for Equity and Transparency. 11 2. Despesas com igualdade de oportunidades de emprego • Esta despesa serve para proporcionar igualdade de oportunidades em empregos no Estado. Também pode ter um efeito secundário importante na população em geral, pois os padrões de emprego nos pontos de prestação de serviços públicos podem afectar a generalidade da sensibilidade ao género na prestação de serviços. Possíveis questões para análise: —— padrões de emprego em cada Ministério (repartição por salário, cargo, forma de emprego, etc. ). Será que estes reflectem os princípios de igualdade de oportunidades? —— padrões de emprego em pontos de prestação de serviços públicos com foco no género (polícia, serviços de desemprego, etc.) —— pertença a comissões, conselhos consutivos (distinção entre conselhos remunerados e voluntários) —— iniciativas especiais para promover a igualdade de oportunidades no emprego —— o peso relativo desta categoria de despesas nas despesas gerais Exemplo Uma análise dos padrões de emprego nos Ministérios Federais belgas demonstrou que em Junho de 2000, as mulheres e os homens representavam cerca de 46% e 54%, respectivamente, dos funcionários do Estado Federal. Ao repartir os valores pelos cinco níveis (de remuneração) diferentes, revelou-se que 33% dos funcionários no nível 1 (o nível com a remuneração mais elevada) eram mulheres, ao passo que 75% dos funcionários no nível 5 (o nível mais baixo) eram mulheres. 12 Fonte: Ministère fédéral de la Fonction Publique, Service d’Administration générale (2001). Aperçu des effectifs du secteur publique au 1er janvier 2000, au 30 juin 2000 et au 1er janvier 2001, citado em Cecchini, Cornet e Holvoet (2002). 3. Despesas gerais. • Esta é uma despesa geral do orçamento para fornecer bens à população em geral. Questões para análise: Esta categoria de despesa é sobretudo tratada pela análise do orçamento por género e das tentativas de correcções. Para revelar e avaliar os efeitos específicos sobre as relações de género das despesas (e receitas) gerais do Estado, podemos utilizar a abordagem (Quadro de Ciclo de Orçamento) e as ferramentas apresentadas abaixo. Exemplo: As despesas gerais na educação, saúde ou transportes que é direccionada à população em geral e não apenas a um sector da população. A maioria das despesas enquadram-se nesta categoria. O QUÊ, PORQUÊ E COMO? Orçamentação sensível ao género O quadro de ciclo de orçamento de Elson (Elson, 2002) Esta abordagem estrutura uma análise específica de género ao longo de uma cadeia causal de programas do sector público. Elson (2002) propõe a diferenciação de meios, actividades, resultados e impacto para cada Ministério (e cada programa).12 NÍVEL NA CADEIA CAUSAL Impacto (sucessos em relação a objectivos mais vastos) Produção (utilização dos serviços) EXEMPLO • Redução da pobreza • Melhoria das condições de saúde • Melhoria da literacia PERSPECTIVA DE GÉNERO • Existe um impacto específico no género? (Que tipo de impacto existe em homens e em mulheres?) • Qual é o contributo do alcançar deste objectivo (redução da pobreza, literacia, etc.) para a igualdade de género? Até que ponto os homens e as • Número de doentes tratados • mulheres beneficiaram da produção? • Número de estudantes que • Qual é o contributo da produção terminaram a escolaridade para a igualdade de género? Actividades (prestação de serviços) Contribuições • Tratamento de doentes • (cuidados de saúde) • Educação • Finanças • Recursos humanos • Os homens e as mulheres têm igualdade de acesso às actividades? • Os meios são suficientes para estimular a igualdade de género? O quadro de ciclo do orçamento permite realçar questões relevantes em cada nível da cadeia causal. Isto é particularmente útil de uma perspectiva das políticas, pois ajuda a identificar exactamente os níveis em que ocorrem as discriminações sexuais e o nível a que são necessárias correcções. Por exemplo, pode-se ser confrontado com um enorme fosso feminino/masculino na literacia (nível de impacto). Especificando a cadeia causal e incluindo a análise por género pode ajudar a identificar o nível a que o problema ocorre e, consequentemente, onde são necessárias uma análise mais profunda e acções correctivas. O problema pode ocorrer, por exemplo, ao nível das “actividades”. Se as mulheres não tiverem igualdade de acesso à educação, é improvável que as taxas de literacia sejam próximas. Assim, é necessário analisar mais aprofundadamente as causas subjacentes (incluindo a análise do “lado da procura”) e tomar medidas correctivas a este nível antes de se poder esperar qualquer efeito benéfico na igualdade de género mais acima na cadeia causal. As contribuições necessárias terão de ser ajustadas em conformidade. A abordagem do ciclo de orçamento pode ser aplicada a pontos diferentes do ciclo: • ex-ante (durante a identificação e o planeamento): quais são as contribuições, actividades, resultados e impactos planeados (e esperados)? • ex-post (durante a avaliação e a auditoria): quais foram as contribuições, actividades, resultados e impactos alcançados? Também é interessante comparar objectivos com os sucessos nos diversos níveis. A repartição por nível, não só introduz uma perspectiva sobre o género, como pode ajudar a identificar causas para o fosso entre os efeitos planeados e reais. As abordagens baseadas em programas muitas vezes também repartem níveis na cadeia causal, o que torna a abordagem do ciclo de orçamento interessante neste contexto (vide também II.3.) Mantemos a terminologia utilizada por Elson (2002). Também se poderia utilizar terminologia de literatura relevante sobre logframes (vide, por exemplo Kusek e Rist, 2004) e diferenciar entre contribuições (= recursos prestados para programas), produção (= bens e serviços gerados por programas), resultados (= acesso, utilização e satisfação por parte dos beneficiários) e impacto (= impacto sobre os padrões de vida). 12 13 FERRAMENTAS Avaliação de políticas com consciência de género (vide Budlender e Sharp, 1998; Commonwealth Secretariat, 1999; Hewitt, 2002) A avaliação de políticas com consciência de género é uma análise por género de uma política planeada. Esta avaliação tenta identificar “em que formas as políticas e as respectivas alocações de recursos irão afectar homens e mulheres, irão aumentar ou reduzir as (des)igualdades de género”. Podem ser colocadas questões específicas: • Quais são as actuais desigualdades de género no sector? (Os resultados da análise por género anterior podem ser úteis.) Existem restrições, necessidades e oportunidades específicas de género? • Qual é o impacto provável da política actual nestas desigualdades, necessidades, restrições e oportunidades? • A política aborda estas desigualdades, necessidades, restrições e oportunidades? • É possível reformular a política? É possível adicionar medidas de política específicas para aumentar a sua “resposta” às questões do género? • Existem recursos adequados para implementar políticas de “resposta” à questão do género? • Uma avaliação das políticas com consciência de género é utilizada ex-ante, durante a elaboração da política, planeamento e identificação. Estes são pontos de partida necessários para a análise de orçamento por género. Eles precedem a orçamentação e normalmente o orçamento deve reflectir as prioridades de política. Contudo, a passagem do planeamento para a orçamentação e da orçamentação para a implementação não ocorre sempre sem ambiguidades. Assim, uma avaliação de políticas com consciência de género deve ser combinada com outros instrumentos que se concentram em fases posteriores do ciclo. Exemplo: Na África do Sul, uma avaliação de políticas com consciência de género revelou ao Departamento de Assuntos da Terra que, devido à discriminação sexual existente (incluindo restrições legais às mulheres relativamente ao acesso e controlo de terras, bem como uma falta de recursos financeiros), o programa de reforma da terra poderia agravar as desigualdades entre os sexos na alocação das terras. A avaliação de políticas com consciência de género apontou uma necessidade de programas adicionais (e orçamentos associados) que foram direccionados especificamente às necessidades das mulheres (Budlender e Sharp, 1998). 14 Uma avaliação de políticas com consciência de género poderia ter sido muito útil no contexto da recente política de reforma agrária no Ruanda e da nova lei13. Por exemplo, poderia ter demonstrado que a consolidação planeada de pequenos lotes de terreno para melhorar a gestão e a produtividade da terra teria provavelmente afectado em particular os agregados familiares encabeçados por mulheres, que tendem a ser desproporcionadamente numerosos entre os agricultores de pequena escala mais pobres e que muitas vezes têm uma produtividade mais baixa. Embora, à primeira vista, uma política de consolidação e concentração que elimine as propriedades demasiado pequenas ou pouco produtivas possa parecer eficiente, uma análise específica de género das causas subjacentes das diferenças observadas no tamanho das propriedades e da produtividade seria esclarecedora e sugestiva de medidas correctivas. A investigação demonstrou que a baixa produtividade agrícola resulta em parte da discriminação sexual no acesso e no controlo de meios agrícolas, tais como fertilizantes, serviços de extensão, crédito e trabalho agrícola. Além disso, as mulheres muitas vezes enfrentam cargas de tempo e trabalho enormes na economia de “cuidados”, o que torna impossível que elas concorram em termos de igualdade com os homens na área da produção. Ao ignorar a interdependência entre as economias de “cuidados” e de “mercado”, e retirando os direitos à terra das mulheres com base nas diferenças observadas em termos de produtividade, a tendência é para aprofundar a desigualdade dos sexos existentes em vez de a reduzir (o que, não obstante, é um dos objectivos declarados da nova lei agrária). São necessárias actividades complementares (e os respectivos orçamentos) que tenham em conta as diferentes necessidades de homens e mulheres, que tentem corrigir as diferenças onde elas são geradas. Estas actividades podem incluir programas de micro-financiamento melhor direccionados às mulheres e medidas que aliviem a carga do trabalho reprodutivo (instalações de cuidados a crianças, tecnologias que reduzam o trabalho, melhores infra-estruturas rurais, etc.). 13 Para obter uma análise mais detalhada, vide Ansoms e Holvoet (em breve). Orçamentação sensível ao género O QUÊ, PORQUÊ E COMO? Avaliação repartida por género dos beneficiários de prestação de serviços e de prioridades orçamentais (vide Budlender e Sharp, 1998; Commonwealth Secretariat, 1999; Hewitt, 2002) ̡̡Uma avaliação repartida por género dos beneficiários da prestação de serviços e das prioridades orçamentais estuda até que ponto as políticas governamentais, os programas e a respectiva alocação de recursos correspondem às necessidades e prioridades de homens e mulheres. Podem ser utilizadas técnicas de recolha de dados quantitativas e qualitativas para este tipo de avaliação. As técnicas quantitativas incluem inquéritos nacionais sobre as preferências relativamente à alocação do orçamento governamental pelos diferentes sectores, ou a vontade dos indivíduos suportarem os gastos do Governo em sectores diferentes. Quando estes inquéritos são realizados, é importante repartir as descobertas por homens e mulheres (e possivelmente também por outras categorias: idade, etnia, urbano/rural, etc.), analisar quaisquer diferenças significativas, e como estas têm sido, e podem ser, tidas em conta ao identificar as prioridades orçamentais. Também se podem obter dados sobre as prioridades orçamentais de homens e mulheres e as suas avaliações da actual prestação de serviços através de técnicas qualitativas, incluindo avaliações rurais participativas (rápidas), observação de participantes e discussão em grupos de foco. Ao passo que as amostras para as técnicas qualitativas são maioritariamente mais pequenas que as dos inquéritos, as técnicas qualitativas podem obter informações aprofundadas sobre as causas subjacentes das diferenças nas preferências e avaliação da prestação de serviços. Tais informações podem ser muito valiosas do ponto de vista das políticas. Exemplo: No México, uma avaliação de beneficiários revelou que um dos programas contra a pobreza, Progesa (beneficiário de 20% do financiamento geral contra a pobreza), que prestava cuidados básicos de saúde, educação e nutrição a crianças, dependia fortemente de trabalho não remunerado de mulheres, elas próprias já sobrecarregadas. Mais especificamente, os voluntários, que eram principalmente mulheres, faziam uma média de 29 horas de trabalho não remunerado por mês. Na avaliação de beneficiários da prestação de serviços, os entrevistados realçaram que “as reduzidas vantagens financeiras proporcionadas pelo programa não compensavam o esforço geral investido no cumprimento dos requisitos do programa”. Fonte: Vinay et al. (2001); Red de Promotoras y Asesoras Rurales (2000) citado em Hofbauer H. (2003). Análise de incidência de benefícios repartida por género (vide Demery, 2002) ̡̡Uma análise de incidência de benefícios repartidos por géneros examina a distribuição de despesas entre homens e mulheres. Esta envolve uma metodologia de três passos, que também determina os requisitos de dados: • identificação do custo unitário dos serviços públicos • identificação da utilização feita dos serviços públicos e repartição de utilizadores femininos e masculinos (também se pode repartir por rendimento, classe, localização, idade, etc.) • ligação dos dois passos anteriores. Esta análise da distribuição da despesa por categorias relevantes (género, idade, rendimento, etc.) pode ser particularmente útil ao comparar padrões de distribuição em diferentes sub-sectores (ver exemplo abaixo). Isto não inclui uma análise aprofundada das causas subjacentes da distribuição diferencial, nem tem em conta o facto das necessidades poderem divergir. Vale a pena complementar uma análise de incidência de benefícios com a análise do lado da procura (análise de alocação de recursos no interior do agregado familiar, COINS). 15 Exemplo: As duas tabelas abaixo resumem os resultados de uma análise de incidência de benefícios (repartidas por rendimento, género e localização ) do subsídio de educação na Costa do Marfim, relatada por Demery (2002) e baseada em Demery, Dayton e Mehra (1996) e Demery (1996). As descobertas incluem: • 13% do subsídio de educação vai para o quintil mais pobre, sendo que 35% dos benefícios vão para o quintil mais rico. Os próprios agregados familiares gastam 13% e 5%, respectivamente, dos seus próprios orçamentos em educação (tabela 1). Esta evidência ajuda a confirmar a existência de um efeito de “Matteüs” (os gastos sociais beneficiam desproporcionadamente o sector mais rico da população, embora originalmente se destinasse ao sector mais pobre). —— As percentagens diferem entre os sub-sectores: na educação primária, são 19% e 14%, respectivamente para o quintil mais pobre e mais rico; na educação terciária, 12% e 71%, respectivamente (vide tabela 1 abaixo). —— Cerca de 37% do subsídio geral de educação beneficia raparigas; nas áreas rurais, esta percentagem desce para 30%; nas áreas urbanas, sobe para 42%. —— s percentagens diferem entre os quintis: no quintil mais pobre, cerca de 25% do A subsídio de educação geral beneficia raparigas; esta percentagem sobe para 40% no quintil mais rico. —— As percentagens diferem entre os sub-sectores: na educação primária, cerca de 42% dos beneficiários são do sexo feminino; na educação terciária, esta percentagem desce para cerca de 30%. • Se um Governo quer tornar a sua despesa na educação mais sensível ao género, poderia tomar as seguintes medidas: 16 —— redistribuir o orçamento do sector para sub-sectores em que as raparigas já participem mais; —— analisar os motivos subjacentes para a participação desigual de raparigas na educação secundária e terciária (repartir por localização e quintil) e alocar um orçamento para esta análise; —— erar programas e medidas específicos (com orçamentos associados) para melhorar g a participação de raparigas na educação secundária e terciária. 9 830 5 61 104 29 49 690 100 102 84 Despesa do Governo: 4 287 Fonte: Demery et al. (1996) Nota: HH Exp. = despesa de agregado familiar per capita % quota (si) (CFAF000) Declaração: 100 211 591 100 37 817 18 6 100 14 845 211 591 100 2 653 100 7 215 Toda a Costa do Marfim 5 35 25 803 73 589 71 9 407 99 3 405 37 7 977 14 5 015 5 5 17 12 718 36 499 12 1 528 1 23 15 3 245 22 7 922 4 7 17 12 802 36 231 3 389 0 14 17 3 724 24 8 676 3 11 17 12 895 36 794 2 300 0 5 23 5 028 21 7 562 2 13 13 HH Exp. 10 000 28 477 12 1 633 0 0 7 1 459 19 6 908 1 Subsídio total (Σeij) % (CFAF) Per capita Quota de: % (CFAF 000) % (CFAF) Total % Quota do subsídio total (eij) (CFAF) Per capita Quota do subsídio total (eij) % Per capita (CFAF) Quota do subsídio total (eij) Subsídio Toda a educação % Per capita Subsídio terciário (CFAF) Quota do subsídio total (eij) Subsídio secundário: (a) ( b) Quantil da população Per capita Subsídio primário Tabela 1: Vista global dos resultados da análise (repartida por rendimentos) de incidência de benefícios (sector da educação, Costa do Marfim) Orçamentação sensível ao género O QUÊ, PORQUÊ E COMO? 17 Tabela 2: Vista global dos resultados da análise de incidência de benefícios repartida por rendimento/género/localização (sector da educação, Costa do Marfim) Feminino Quintil Subsí/região dio total CFAF ooo Masculino Subsídio per capita Quo- Quota Subsíta de de codio linha luna total CFAF % CFAF ooo % Subsídio per capita CFAF População Total Quo- Quota Subsíta de de codio linha luna total % % CFAF ooo Subsídio per capita Quota de coluna CFAF % Primária 1 5 993 4 564 30,5 14 13 679 8 912 69,5 22,8 19 672 6 908 2 10 135 6 900 47 23,7 11 443 8 265 53 19,1 21 578 7 562 21 3 10 391 7 162 42,3 24,3 14 161 10 267 57,7 23,6 24 553 8 676 23,9 21,1 13 718 4 9 018 6 414 39,7 5 7 294 5 433 51 42 831 6 135 41,6 Toda a Costa do Marfim 19,1 9 371 60,3 22,9 22 736 7 922 12,1 7 008 4 643 49 11,7 14 301 5 015 13,9 100 60 009 8 252 58,4 100 102 840 7 215 100 17 Rural 21 801 5 591 38,3 50,9 35 061 7 960 61,7 58,4 56 862 6 848 55,3 Urbana 21 029 6 824 45,7 49,1 24 948 8 701 54,3 41,6 45 977 7 728 44,7 Secundária (incluindo técnica) 18 1 1 044 795 30,4 4,2 3 112 2 028 90,6 6,8 3 433 1 206 5,2 2 4 609 3 138 33,2 18,4 9 751 7 043 70,2 21,2 13 882 4 865 20,9 3 3 656 2 520 35,8 14,6 6 923 5 019 67,7 15,1 10 224 3 613 15,4 4 3 127 2 224 36,5 12,5 6 252 4 271 72,9 13,6 8 572 2 987 12,9 5 12 565 9 359 41,6 50,3 19 896 13 181 65,8 43,3 30 227 10 599 45,6 Toda a Costa do Marfim 25 001 3 581 37,7 100 45 933 6 317 69,2 100 66 335 4 654 100 3 146 807 19 12,6 14 095 3 200 85 30,7 16 578 1 996 25 21 855 7 092 43,9 87,4 31 838 11 103 64 69,3 49 759 8 364 75 Rural Urbana Terciária (incluindo técnica) 1 0 0 0 0 4 650 3 030 100 17,4 4 650 1 633 12,3 2 0 0 0 0 856 618 100 3,2 856 300 2,3 3 550 379 50 5 550 399 50 2,1 1 100 389 2,9 4 877 624 20 7,9 3 506 2 542 80 13,1 4 384 1 528 11,6 5 9 658 7 194 36 87,1 17 169 11 375 64 64,2 26 827 9 407 70,9 11 085 1 588 29,3 100 26 732 3 676 70,7 100 37 817 2 653 100 Toda a Costa do Marfim O QUÊ, PORQUÊ E COMO? Orçamentação sensível ao género Feminino Quintil Subsí/região dio total CFAF ooo Rural Urbana Masculino Subsídio per capita Quo- Quota Subsíta de de codio linha luna total CFAF % CFAF ooo % 0 0 0 11 085 3 597 37,4 0 Subsídio per capita CFAF População Total Quo- Quota Subsíta de de codio linha luna total % % CFAF ooo Subsídio per capita Quota de coluna CFAF % 8 151 1 851 100 30,5 8 151 982 21,6 100 18 581 6 480 62,6 69,5 29 666 4 987 78,4 Toda a educação 1 7 037 5 359 24,7 89 21 440 13 970 75,3 16,2 28 477 10 000 13,5 2 14 745 10 038 40,1 18,7 22 050 15 927 59,9 166 36 794 12 895 17,4 3 14 596 10 062 40,3 18,5 21 635 15 685 59,7 16,3 36 231 12 802 17,1 4 13 023 9 262 35,7 16,5 23 477 16 957 64,3 17,7 36 499 12 718 17,2 5 29 517 21 985 40,1 37,4 44 072 29 199 59,9 33,2 73 589 25 803 34,8 Toda a Costa do Marfim 78 917 11 304 37,3 100 132 674 18 245 62,7 100 211 591 14 845 100 Rural 24 947 6 398 30,3 31,6 57 307 13 011 69,7 43,2 82 254 9 906 38,9 Urbana 53 970 17 513 41,7 68,4 75 367 26 284 58,3 56,8 129 337 21 740 61,1 Fonte: Dayton e Mehra (1996) e Demery (1996), citado em Demery (2002). Análise de incidência de receitas repartida por género (vide Hewitt, 2002; Himmelweit, 2002; Vandemoortele, 2002). ̡̡Uma análise de incidência de receitas repartida por género examina a distribuição da carga dos (diferentes sistemas de) angariação de receitas do Governo. A análise pode cobrir: • o efeito de impostos directos progressivos sobre o rendimento face à tributação indirecta nos rendimentos individuais de homens e mulheres, bem como um efeito de redistribuição do rendimento; o imposto directo progressivo sobre o rendimento tem tendência a reduzir o fosso entre os géneros na distribuição de rendimentos primários • os efeitos específicos de género da reforma fiscal nos rendimentos individuais —— no caso da Bélgica, foi demonstrado que a reforma fiscal de 2000 teve efeitos diferentes nos homens e nas mulheres. As mulheres beneficiaram mais de medidas que favorecem as categorias de rendimento mais baixas (tal como menos imposto sobre salários baixos) e os homens beneficiaram mais de um corte na taxa do imposto de rendimento médio. • os efeitos específicos sobre os géneros das alterações nos sistemas de Segurança Social nos rendimentos individuais • os efeitos indirectos, incluindo14: —— poder de negociação na tomada de decisões do agregado familiar —— alocação de recursos produtivos (por exemplo, as decisões sobre a participação no mercado de trabalho) —— bem-estar social a longo prazo (pensões, Segurança Social, etc.) Até agora, este tipo de análise tem sido realizada sobretudo em países industrializados. Um dos motivos para tal é que estes têm sistemas de administração fiscal mais desenvolvidos, que podem fornecer os dados necessários para a análise. Contudo, existem alguns exemplos interessantes 14 Vide Himmelweit (2002) para uma discussão mais elaborada e exemplos. 19 de análise de incidência de rendimento repartida por género em países em vias de desenvolvimento. A caixa abaixo inclui exemplos da Zâmbia, Quénia e Malavi, onde as taxas de utilizador foram avaliadas pelos seus efeitos específicos de género, bem como no Nepal, onde foram identificados os potenciais efeitos específicos de género dos diferentes tipos de impostos. Exemplo: A investigação sobre o impacto das taxas de utilizador na saúde e na educação revelou fortes efeitos específicos de género. A evidência da Zâmbia indica que, depois de terem sido introduzidas propinas no início da década de 90, aumentaram as taxas de abandono escolar, em particular de raparigas. Foram descobertos resultados semelhantes (Reddy e Vandemoortele, 1996) no Quénia, onde a investigação indicou que as crianças nos lares pobres eram seriamente afectadas pela introdução de propinas. A probabilidade das raparigas desistirem era duas vezes superior à dos rapazes. Um estudo realizado pelo governo do Malavi e pela UNICEF (1998) descobriu que a abolição das propinas em 1994 conduziu a um aumento de 50% de inscrições no ensino primário, principalmente de raparigas. Os efeitos específicos de género das taxas de utilizador indicam a vontade divergente dos pais investirem nas capacidades humanas das suas filhas ou filhos. Quando a predisposição para pagar fica abaixo da taxa de utilizador (o que sucede mais facilmente para as raparigas do que para os rapazes), as crianças são mantidas fora das escolas e dos hospitais. Fonte: Vandemoortele (2002). Exemplo: 20 No Nepal, foi realizada uma avaliação das diferentes fontes de rendimento (impostos, taxas, vendas) ao nível de distrito, município e vila, relativamente à sua sensibilidade ao género. Os impostos sobre os mercados temporários e lojas de mercadas afectavam sobretudo as mulheres, pois envolvem maioritariamente produtos que são geralmente produzidos e vendidos por mulheres (galinhas, cabras, vegetais, etc.). Chegou-se a uma conclusão semelhante para o imposto de utilização de recursos naturais e para impostos sobre a lã, ervas e produtos reciclados. Fonte: Ministério das Mulheres, Crianças e Previdência, PNUD e Shavagi, Programa de Integração de uma Perspectiva de Igualdade de Género (2004). Estudos de utilização do tempo- repartida por género (vide Budlender e Sharp, 1998); Commonwealth Secretariat, 1999; Hewitt, 2002) Um estudo de utilização do tempo repartida por género revela os efeitos das alterações orçamentais nos orçamentos temporais dos agregados familiares. Este tipo de análise tem sido usado frequentemente ao estudar os efeitos específicos de género dos cortes na despesa pública, principalmente no contexto de programas de ajustamento estrutural (vide caixa abaixo). Ao alargar a análise do mercado (visível) e da economia paga para a não paga (economia de cuidados), descobre-se que um corte na despesa social é de facto uma transferência dos custos para outra esfera (a economia de cuidados). Fechar um centro de cuidados de saúde primário (ou alternativamente, aumentar a contribuição financeira para os serviços de saúde), por exemplo, não diminui o índice de doenças. Em vez disso, uma situação dessas transfere os “cuidados necessários” para o lar, mais especificamente para as mães e para as filhas mais velhas. O tempo dispendido nos cuidados irá aumentar (à custa do tempo em empregos remunerados, na escola, etc.) ou a qualidade dos cuidados diminuirá. Como as economias “paga” e “não paga” são interdependentes, eventualmente os efeitos far-se-ão sentir na economia paga, por exemplo, através de uma menor oferta de mão-de-obra anos mais tarde. Orçamentação sensível ao género O QUÊ, PORQUÊ E COMO? Exemplo: Um estudo de 1992 sobre o impacto dos programas de ajustamento estrutural, em particular de cortes nas despesas sociais, revelou que no Equador as mulheres necessitavam de passar mais tempo a fazer compras (para encontrar artigos mais baratos) e a cozinhar (porque compravam menos alimentos processados). Além do aumento do tempo investido em actividades reprodutivas, muitas vezes as mulheres passavam mais tempo em actividades geradoras de rendimento e de gestão da comunidade. Muitas vezes, apenas conseguiam lidar com a situação transferindo parte do seu trabalho reprodutivo para as filhas mais velhas, que assim tinham menos tempo para o trabalho escolar. Fonte: Esim (2000), citado em Hofbauer (2003). O impacto das alterações na despesa pública no investimento de tempo de mulheres e raparigas também se tornou óbvio num estudo realizado no Quénia. Este estudo demonstrou que um corte de 10% no preço dos cuidados para crianças fora de casa aumentou a participação das mulheres em trabalhos remunerados aproximadamente 3,5% e aumentou as inscrições de raparigas (entre os 8 e 16 anos de idade) cerca de 5%, sendo que o impacto nas inscrições de rapazes (8-16) foi menor (cerca de 0,3%). Fonte: Lokshin, Glinskaya e Garcia (2000), citado em Banco Mundial (2001b). Um quadro de políticas macroeconómicas a médio prazo com consciência de género (vide Commonwealth Secretariat, 1999) ̡̡Um quadro de políticas macroeconómicas a médio prazo com consciência de género procura incorporar uma perspectiva de género em políticas e modelos macroeconómicos (e na macroeconomia como um todo). Não existem modelos para este quadro, mas os percursos incluem: • estimativa da economia de “cuidados” não remunerados (“contas-satélite”) e a sua inclusão no Sistema de Contabilidade Nacional (SCN).. Em 1995, o PNUD estimou que o PNB mundial de 1994 teria sido mais elevado em 16 000 milhões de dólares (70% do PNB em 1994) se todas as actividades produtivas15 humanas tivessem sido incluídas no SCN. Destes 16 000 milhões de dólares, cerca de 11 000 milhões de dólares foram provenientes de mão-de-obra feminina. Fonte: PNUD (1995) • inclusão de novas variáveis (por exemplo, trabalho não-remunerado ) em modelos económicos16 • relaxamento do pressuposto de exogeneidade da oferta de mão-de-obra17 • dissociação por género de agregados como o rendimento nacional, poupanças, consumo e emprego em modelos económicos.18 As actuais reformas do sistema orçamental nos países em vias de desenvolvimento revelam uma movimentação geral do orçamento de meios e de item de linha para a orçamentação orientada por resultados. Isto é muitas vezes facilitado por quadros de despesas a médio prazo (MTEFs). De acordo com o Manual de Gestão da Despesa Pública (Banco Mundial, 1998), os MTEFs consistem numa combinação de processos macroeconómicos de cima para baixo e sectoriais de baixo para cima. Mais especificamente, os alvos fiscais e as estimativas de receita e despesa baseiam-se em modelos Uma actividade “produtiva” é definida pelo critério de terceiros. Se outra pessoa pode fazer uma actividade em vez do sujeito (com um resultado semelhante), a actividade é “produtiva”. Assim, comer e dormir são improdutivas, mas lavar a roupa, limpar, lavar a louça, etc. são produtivas. 15 16 Vide Cagatay, Elson e Grown (eds) (1995) para possibilidades diferentes. Assumir a “endogeneidade da oferta de mão-de-obra” permite considerar a importância da “economia de cuidados reprodutivos não-pagos” na produção da mão-de-obra. Vide Walters (1995), por exemplo. 17 18 Vide Collier (1994), por exemplo. 21 macroeconómicos e são determinados de cima para baixo, ao passo que os sectores fornecem contribuições sob a forma de programas e revisões sectoriais. O manual PEM delineia as seguintes fases: • desenvolvimento de um quadro macroeconómico/fiscal • desenvolvimento de programas sectoriais • desenvolvimento de quadros de despesa sectorial • definição das alocações de recursos sectoriais • preparação de orçamentos sectoriais • aprovação política final. Tornar os MTEFs sensíveis ao género necessita de uma dimensão de género em todas estas fases. Uma dimensão de género tem de ser integrada no quadro macroeconómico (principalmente da responsabilidade do Ministério das Finanças), nas directivas orçamentais enviadas para os Ministérios sectoriais (responsabilidade do Ministério das Finanças), para os programas e MTEFs sectoriais (responsabilidade dos diferentes Ministérios dos sectores) e em coordenação com todos os MTEFs sectoriais (responsabilidade de todos os Ministérios, com um papel principal para o Ministério das Finanças). Exemplo: Alguns países (por exemplo, Marrocos19, Senegal e Tanzânia) estão a experimentar a integração de uma perspectiva de género nos respectivos MTEFs. No Senegal, uma iniciativa de orçamentação sensível ao género da UNIFEM trabalha com os quatro Ministérios que estão actualmente a utilizar uma abordagem de programa e a preparar MTEFs sectoriais (incluindo a agricultura, saúde, educação e energia/minas). Mais especificamente, existe uma cooperação com o “Laboratório do Género” da UCAD (Laboratoire Genre et Recherches Scientifques, IFAN, Université Cheikh Anta Diop), que apoia os Ministérios através de um processo de “aprender fazendo”. Foram incluídas as seguintes actividades: • concepção de ferramentas de género e esquemas de análise para todos os sectores • análise da situação do género (e das causas subjacentes) nos diferentes sectores • formação em exercício do pessoal do Ministério encarregue da orçamentação para integrar o 22 género na preparação do orçamento de 2007 • aplicação das ferramentas nas políticas específicas (programas, projectos) e orçamentos identificados para o processo de orçamento de 2007 e discussão com os departamentos de orçamentação dos diferentes Ministérios • uma reunião com os departamentos envolvidos para identificar as fraquezas e limitações da sua integração de género e possíveis correcções. Fonte: Serviço Regional da UNIFEM Dakar (2006). 19 Para obter informações sobre Marrocos, vide Ministério das Finanças de Marrocos (2005). Orçamentação sensível ao género O QUÊ, PORQUÊ E COMO? Declaração orçamental com consciência de género (vide Budlender e Sharp, 1998; Commonwealth Secretariat, 1999; Hewitt, 2002) ̡̡Um mapa orçamental com consciência de género é um relatório sobre o impacto esperado/real do orçamento no género. Se for feito oficialmente pelo Governo, pode ser incluído como um anexo do orçamento (vide, por exemplo, “Le Jaune Budgétaire” em França) Um mapa orçamental com consciência de género não é uma ferramenta analítica, mas um instrumento de responsabilização que informa os cidadãos sobre o impacto esperado e real específico de género das medidas do governo nos diferentes Ministérios. Também informa os cidadãos das medidas correctivas que o governo planeia implementar. Exemplo: Um dos “mapas orçamentais com consciência de género” mais famosos é o de França. ‘Le Jaune Budgétaire’ é um anexo amarelo ao orçamento que relata os resultados da análise do orçamento por género dos diversos Ministérios em cada ano. Para cada Ministério, apresenta informações sobre despesas específicas de género, sobre as despesas para a igualdade de oportunidades e o efeito específico do género da despesa geral. No Jaune Budgétaire, de 2001, o Ministério do Emprego e da Solidariedade incluiu dados repartidos por género sobre vários esquemas de políticas de emprego. Os dados indicaram que a proporção de mulheres tinha aumentado de 1988 a 1999 na maioria dos esquemas. Também indicaram que as mulheres geralmente permaneciam sobre-representadas em esquemas de emprego no sector informal (tal como contratos de emprego-solidariedade) e sub-representadas em esquemas do sector do mercado (tal como contratos de iniciativa de emprego e isenções para o primeiro emprego). No mesmo relatório, o Ministério dos Assuntos Económicos, Finanças e Indústria apresentou dados de 1999 do inquérito aos funcionários públicos que mostrou a proporção real de pessoal do sexo masculino e do sexo feminino repartido por categoria hierárquica. As mulheres representavam 36% do pessoal da categoria A, 59% do pessoal da categoria B e 73% do pessoal da categoria C. Só detinham 13% dos cargos de direcção sénior. Além disso, o Ministério prestou informações sobre os seus planos para repôr o equilíbrio, resumiu os primeiros resultados (as mulheres agora representavam 25% das pessoas nomeadas para cargos de direcção ou administração e 30,4% das nomeações para o cargo de director-adjunto) e delineou perspectivas futuras. 23 II. ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO EM ABORDAGENS À AJUDA BASEADAS EM PROGRAMAS Ao longo dos tempos, têm ocorrido mudanças importantes nas abordagens à ajuda. Estas podem ser resumidas como uma mudança das abordagens baseadas em projectos para abordagens baseadas em programas. Tal como o documento da OCDE/CAD de 2005, “Harmonizar as Práticas dos Doadores para uma Prestação de Ajuda Eficaz (vol. 2)”, utilizamos “abordagens baseadas em programas” para referir uma “forma de empenho na cooperação para o desenvolvimento baseada nos princípios de apoio coordenado para um programa de desenvolvimento de propriedade local, tal como uma estratégia de desenvolvimento nacional, um programa sectorial, um programa temático ou um programa de uma organização específica. As abordagens baseadas em programas partilham as seguintes características: (a) liderança pela organização ou país anfitriões; (b) um único programa abrangente e quadro orçamental; (c) um processo formalizado para a coordenação dos doadores e harmonização dos procedimentos dos doadores para os relatórios, orçamentação, gestão financeira e aquisições; (d) esforços para aumentar a utilização dos sistemas locais para a concepção e implementação de programas, gestão financeira, monitorização e avaliação” (OCDE/CAD, 2005, p. 37). Os programas de desenvolvimento de propriedade local podem ser concebidos ao nível macro, meso ou micro. Os programas sectoriais (nível meso) e os documentos de estratégia de redução da pobreza (DERPs) são exemplos de programas de desenvolvimento de propriedade nacional. Desde o início do século, os maiores doadores multilaterais e bilaterais têm vindo a unir-se em torno destes programas de propriedade nacional (em particular DERPs) e estão a evoluir para o apoio orçamental sectorial e geral como os instrumentos de ajuda preferenciais. 24 Em seguida, iremos realçar o fundamento para tornar essas abordagens baseadas em programas sensíveis ao género. Como ilustração, resumirei as evidências sobre a sensibilidade ao género dos DERPs. Por fim, argumentarei que a orçamentação sensível ao género pode ser particularmente útil no tornar as abordagens baseadas em programas sensíveis ao género. II.1. Porquê tornar as abordagens à ajuda baseadas em programas sensíveis ao género? Eficácia e eficiência Tornar as abordagens baseadas em programas sensíveis ao género é necessário caso se pretenda alcançar os objectivos dos programas, que são maioritariamente relacionados com a redução da pobreza e o desenvolvimento humano. A investigação20 tem demonstrado que existe uma relação entre igualdade de género, crescimento económico, desenvolvimento humano e redução de pobreza. Mais especificamente, aumentar a igualdade de género leva ao crescimento económico, ao desenvolvimento económico e humano e à redução da pobreza. 20 Vide Banco Mundial (2001b). Orçamentação sensível ao género ABORDAGENS À AJUDA BASEADAS EM PROGRAMAS Esta evidência inclui: • A redução do fosso feminino/masculino nas taxas de literacia leva a uma redução da taxa de VIH entre adultos urbanos. • Em todas as regiões do mundo, a percentagem de crianças (entre 12-23 meses) vacinadas aumenta com o nível de educação da mãe. • Nos agregados familiares nos Camarões, Burkina Faso e Quénia, um controlo mais equalitário dos meios e rendimentos agrícolas por parte das mulheres e homens poderia aumentar as colheitas agrícolas até um quinto. • O rendimento nas mãos das mulheres tem um efeito maior no investimento no bem-estar do agregado familiar do que o rendimento nas mãos dos homens. • Se os países na África subsaariana, no Sudeste Asiático, no Médio Oriente e no Norte de África tivessem começado com os anos de fosso entre géneros em termos de escolaridade que a Ásia Oriental tinha em 1960, e se tivessem fechado esse fosso à mesma velocidade que a Ásia Oriental o conseguiu entre 1960 e 1992, as taxas de crescimento anual médias (1960-1992) dos seus rendimentos per capita teriam sido mais elevadas 0,5 a 0,9 pontos percentuais por ano. Fonte: Banco Mundial (2001b) A experiência com PAE demonstrou que as políticas e os programas falharam sempre que foram concebidos de forma insensível e cega à dimensão do género, ou seja, quando a criação sócio-cultural do “género”, que determina a forma como os homens e as mulheres reagem aos incentivos políticos, é descurada. Pressupostos cegos à dimensão do género em PAEs que conduziram a políticas ineficazes21: • A mão-de-obra é um factor de produção homogéneo A ideia de que a alocação da mão-de-obra é apenas determinada por preços, e que os homens e mulheres podem substituir facilmente a “mão-de-obra” uns dos outros, tem sido desafiada por evidências empíricas. O exemplo abaixo demonstra que a alocação de mão-de-obra é em grande parte determinada pela criação sócio-cultural do género. Sempre que a participação feminina na mão-de-obra remunerada foi estimulada com salários mais elevados (incentivos de preço), foram notados efeitos diferenciais: -- nenhum aumento na participação das mulheres na mão-de-obra remunerada onde existe uma forte dicotomia dentro/fora da mão-de-obra; onde as mulheres eram sócio-culturalmente associadas a “dentro”, um incentivo de preço para estimular as mulheres a trabalhar “fora” não foi eficaz. -- sempre que os incentivos de preço foram eficazes em estimular as mulheres para mão-deobra remunerada fora, a mão-de-obra reprodutiva “não remunerada” raramente era realocada das mulheres para os homens. Em vez disso, tal significava um dia de trabalho duplo (ou triplo) para as mulheres e/ou uma passagem da mão-de-obra reprodutiva para outras mulheres (filhas mais velhas, avós, etc.) 21 Para uma análise mais elaborada, vide Elson (1995a). 25 • O agregado familiar é uma unidade A ideia de que o agregado familiar funciona como uma unidade que reúne todos os recursos (tempo, dinheiro, informação, etc.) e decide em conjunto a alocação de consumo e de recursos produtivos tem vindo a ser desafiada pelas evidências empíricas. Foi demonstrado que os membros dos agregados familiares não põem em conjunto necessariamente os seus recursos e que os homens e as mulheres são muitas vezes responsáveis por tipos de despesas diferentes (as mulheres por despesas pequenas e recorrentes e os homens por despesas maiores e irregulares). A investigação sobre a alocação de recursos dentro do agregado familiar demonstrou que o agregado familiar é um local onde estão presentes a colaboração e o conflito (modelos de preferência colectiva). Os diferentes membros têm preferências diferentes e aqueles cujas preferências prevalecem são os que têm maior “poder de negociação” (pontos de ameaça). Estabelecer pressupostos válidos sobre a forma como um agregado familiar funciona é crucial para a concepção de políticas: -- caso seja válido um modelo unitário, é inútil focar membros particulares do agregado familiar, pois o chefe (benevolente) do agregado familiar alocará os recursos de forma a aumentar a utilidade de todos os membros (bem-estar); -- caso seja válido um modelo de preferência colectivo, focar membros particulares do agregado familiar é essencial para alcançar os objectivos das políticas. Oportunidades para a igualdade de género (vide também Conjunto de Ferramentas, Secção 1, Capítulo 2) A razão mais simples para tornar as abordagens à ajuda baseadas em programas sensíveis ao género é o facto de muitos Governos nacionais e países doadores terem estipulado que a igualdade de género é um direito fundamental do ser humano e um objectivo importante (vide também I.2 e III.1). Pode-se esperar uma dimensão de género em qualquer uma das novas modalidades da ajuda, para assegurar a promoção da igualdade de género. As abordagens baseadas em programas também oferecem oportunidades para aumentar a igualdade de género. Como são mais abrangentes que os projectos isolados, pode-se assumir que os programas sensíveis ao género poderiam ter um efeito maior na igualdade de género. Além disso, as abordagens baseadas em programas enfatizam vários princípios e reformas relacionadas que podem criar formas de aumentar a sensibilidade ao género, em particular através da orçamentação sensível ao género (vide também II.3). Estas prestam mais atenção aos processos subjacentes à elaboração de políticas, implementação, monitorização e avaliação, e mais especificamente à “inclusão”. Isto oferece um ponto de entrada potencial para avaliar o grau de sensibilidade ao género desses processos. Outro eventual ponto de entrada está relacionado com o aumento do foco na “orientação por resultados” e na elaboração de políticas iterativa e baseada em evidências. Tal necessita de novas rondas de recolha de dados e abordagens baseadas em programas para a orçamentação e gestão que comparem meios com resultados e os ajuste em conformidade. Trazer uma perspectiva de género para esses processos pode ter um efeito particularmente poderoso em termos de aumentar a igualdade de género, além da eficácia e da eficiência. 26 Contudo, não obstante as oportunidades oferecidas, as evidências abaixo (II.2) mostram que é errado acreditar que as oportunidades serão aproveitadas automaticamente. II.2. Evidências do grau de sensibilidade ao género das abordagens à ajuda baseadas em programas Embora fornecer um relato completo do grau real de sensibilidade ao género de vários tipos de abordagens baseadas em género esteja para lá do âmbito deste documento, realço abaixo um número de observações realizadas na investigação da sensibilidade ao género de DERPs22 e ASAs23. Diferencio entre o conteúdo e o processo e incluo questões ligadas directamente com o envolvimento do doador. Vide, entre outros, Bell (2003), Whitehead (2001), Banco Mundial (grupo de género e desenvolvimento) (2001a), Zuckerman e Garrett (2001). 22 As evidências baseiam-se em ASAs nos sectores da agricultura, saúde e educação. Vide OCDE (CAD) (2002). 23 Orçamentação sensível ao género ABORDAGENS À AJUDA BASEADAS EM PROGRAMAS Sensibilidade de género de conteúdos • A tendência para tomar em conta as questões sobre o género diminui com a mudança do diagnóstico de pobreza para a selecção, orçamentação, implementação, monitorização e avaliação. • A integração de questões de género é mais pronunciada nos sectores sociais (saúde, educação) que abordam capacidades, do que nos sectores que abordam oportunidades (por exemplo, agricultura e o sector privado). • As notas sobre as políticas de igualdade de género nacionais e sectoriais têm sido ignoradas muitas vezes. • Os dados repartidos por género não são sempre utilizados na elaboração de políticas. • As actividades direccionadas para homens ou mulheres abordam principalmente as necessidades práticas de cada género no âmbito dos limites sócio-culturalmente aceites de “género”. • Existe uma tendência para uma abordagem de mulher-em-desenvolvimento, e particularmente uma abordagem contra a pobreza, em vez de uma abordagem ao género. Isto significa que as políticas começam com a ideia de que reduzir a pobreza irá reduzir automaticamente as desigualdades de género e que um dos principais caminhos para a redução da pobreza é levar as mulheres para actividades produtivas. Isto está ligado a pressupostos insensíveis à dimensão do género (o agregado familiar é uma unidade, a mão-de-obra é um factor homogéneo da produção). • Frequentemente, não há qualquer análise das restrições, necessidades, recursos ou oportunidades específicos do género. Contudo, tal análise poderia ser particularmente útil para identificar as causas subjacentes ao incumprimento dos objectivos (sectoriais). Poderia sugerir medidas específicas de género com as quais cumprir esses objectivos. Sensibilidade ao género dos processos • A sensibilidade ao género dos processos de participação e as consultas aos participantes interessados é, em geral, muito baixa. • A participação dos agentes de género típicos nos processos de DERP dentro dos Governos é fraca. (Os Ministérios de género não estão envolvidos no processo de DERP ou na concepção de MTEFs.) • Dentro dos Ministérios sectoriais, muitas vezes não há qualquer participação dos agentes de género típicos, pois frequentemente os especialistas em questões de género estão organizacionalmente isolados, mesmo dentro dos Ministérios de linha. • A participação dos agentes de género típicos nos processos de DERP e ASA fora dos Governos é fraca. (Por vezes, os grupos de defesa dos direitos das mulheres não estão envolvidos nos processos de participação e consulta com os agentes fora do Governo; falta uma massa crítica de representantes das mulheres.) • Quando os agentes de género típicos participam, muitas vezes revelam capacidades limitadas na análise (incluindo a orçamental) de políticas (económicas e sectoriais). O seu historial de produção de tais análises é pobre e o seu historial de envolvimento nos processos de elaboração de políticas macroeconómicas na generalidade e sectoriais é fraco. • Não existe um equilíbrio de género entre os agentes principais envolvidos nos processos de DERPs e ASA, dentro ou fora do Governo. (As mulheres estão sub-representadas nos Ministérios das finanças, nos Ministérios sectoriais, na sociedade civil, nas auditorias, universidades, institutos de investigação, Parlamento, etc.) • Os conhecimentos especializados de questões de género entre os agentes principais nos processos de DERP e ASA são muitas vezes limitados. 27 ̡̡Algumas questões relacionadas com o envolvimento dos doadores: • As avaliações conjuntas de pessoal (ACPs) e as notas consultivas conjuntas do pessoal (NCCPs) não abordam geralmente a falta de adequação na análise e acção de género, apesar de ter sido incluído um “capítulo sobre o género” na Colectânea de Textos de DERP. • Os conceitos e as abordagens de género muitas vezes divergem entre os próprios doadores. • A falta de coordenação geral entre os doadores, em particular entre os doadores de apoio orçamental e não-orçamental, também se aplica às questões de género. • As agências de doadores têm dificuldade em lidar com questões de género no contexto das novas modalidades de ajuda: -- por um lado, as questões de género são negligenciadas em todos os tipos de esquemas de diagnóstico ex-ante e durante o diálogo político e na “condicionalidade de género” por outro; -- os conhecimentos técnicos sobre o género dentro das agências de doadores não tem evoluído com a mudança das modalidades de ajuda. II.3.Como melhorar? O potencial da orçamentação sensível ao género É necessário um esforço deliberado para incluir a sensibilidade ao género nas abordagens baseadas em programas. A orçamentação sensível ao género pode ser particularmente útil porque espelha os princípios subjacentes a algumas reformas actuais. As seguintes “semelhanças” e “sobreposições” podem criar pontos de entrada. 28 Comparação de contribuições e resultados “A orientação por resultados” recebe muita atenção nas reformas em curso. A gestão e a orçamentação orientadas por resultados (muitas vezes ligadas a quadros de despesa a médio prazo) ampliam o foco de atenção das “contribuições” e “actividades” para a “produção” e os “resultados”. Isto acrescenta critérios como “eficiência” e “eficácia”, que enfatizam as ligações entre os níveis na cadeia causal. De forma semelhante, a orçamentação sensível ao género compara as informações sobre os meios com as informações sobre a sensibilidade ao género dos resultados e transporta estas informações de volta para a tomada de decisões sobre o orçamento. (Veja-se também a discussão sobre os quadros de despesa a médio prazo sensíveis ao género.) Elaboração de políticas e orçamentação iterativas baseadas em evidências A elaboração de políticas e orçamentação iterativas baseadas em evidências está fortemente ligada à “orientação por resultados”. O seu objectivo é expandir a base de conhecimento e melhorar a integração das descobertas nas políticas e nos programas. A orçamentação sensível ao género pode aumentar a sensibilidade ao género e a qualidade desta base de conhecimento. (Veja-se, por exemplo, a avaliação dos beneficiários de prestação de serviços repartida por género; a avaliação de beneficiários das prioridades orçamentais repartida por género; a análise de incidência de benefícios repartida por género; e os estudos de utilização de tempo repartidos por género.) Responsabilização e transparência (boa governação) As abordagens baseadas em programas colocam uma maior ênfase na responsabilização e na transparência. Ao utilizar sistemas de gestão orientados por resultados que demonstram mais explicitamente como as contribuições se traduzem em produção, resultados e impacto, um Governo pode aumentar a sua própria transparência e responsabilização perante os seus cidadãos. Os agentes não-governamentais que pretendem tornar o Governo responsável também estão a aumentar a sua atenção. Da sua perspectiva, a orçamentação sensível ao Orçamentação sensível ao género ABORDAGENS À AJUDA BASEADAS EM PROGRAMAS género também é particularmente valiosa. Esta ajuda-os a manter o Governo (a vários níveis, desde o nacional até ao local) responsável pelas suas promessas relativamente à igualdade de género. A análise orçamental por género pode tornar os agentes não-governamentais mais conscientes da discriminação de género na política fiscal de um Governo. Isto pode servir de base para lobbies e advocacia, que poderá por fim conduzir à mudança. Ênfase nos processos orçamentais subjacentes As abordagens baseadas em programas também dão mais importância à elaboração de políticas e processos orçamentais mais inclusivos. Os DERPs procuram acolher pontos de entrada para a participação de uma vasta gama de interessados. Isto tem implicações tecnocráticas e políticas. Existem interessados tanto dentro como fora do Governo. Tornar os processos orçamentais mais inclusivos dentro do Governo implica alargar o espectro a partir de um grupo muito restrito de Ministérios, incluindo outros Ministérios e níveis descentralizados. Além disso, os agentes privados podem assumir papéis essenciais na produção de evidências sobre a implementação e impacto da prestação de serviços e dos processos políticos, pois eles próprios são utilizadores ou têm contactos nas “bases” e estão bem colocados para representar os beneficiários e canalizar as suas vozes. O pressuposto é que tais agentes da sociedade civil são suficientemente “representativos” e próximos dos pobres para poder agir em seu nome. A ideia é que estes agentes privados exerçam pressão para obter mais informações por motivos de responsabilização e para melhorar a prestação dos serviços públicos. Como as iniciativas de orçamentação sensível ao género muitas vezes procuram tornar os processos orçamentais mais inclusivos e sensíveis ao género (envolvendo agentes de género dentro e fora do Governo, ou melhorando os conhecimentos técnicos sobre o género dos agentes principais), existe uma forte ligação entre a orçamentação de género e as abordagens baseadas em programas. 29 III. ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO EM DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICAS E PROGRAMAÇÃO DA CE (CONSULTAR TAMBÉM O CONJUNTO DE FERRAMENTAS, SECÇÃO 1, CAPÍTULO 2, CAPÍTULO 3, CAPÍTULO 5) III.1. A igualdade de género como um importante objectivo da cooperação para o desenvolvimento da CE e o género como uma importante questão transversal nos programas sectoriais e apoios orçamentais da CE A importância de integrar uma perspectiva sobre o género nas abordagens baseadas em programas (ao níveis nacional e sectorial) é evidente em vários documentos da CE. A promoção da igualdade de género e a sua inclusão numa abordagem geral aos direitos humanos da CE é evidente no Consenso Europeu sobre o Desenvolvimento (Parlamento Europeu, Conselho Europeu e Comissão Europeia, 2006/C 46/01). O Artigo 19, por exemplo, declara: “A promoção da igualdade de género e dos direitos das mulheres é, não apenas essencial em si mesma, mas um direito humano fundamental e uma questão de justiça social, para além de ser instrumental em alcançar todos os ODMs e implementar a Plataforma de Acção de Pequim, o Programa de Acção do Cairo e a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra Mulheres. Assim, a UE irá incluir uma forte componente de género em todas as suas políticas e práticas nas suas relações com os países em vias de desenvolvimento.” 30 Existe também o Regulamento da CE N.º 806/2004 sobre a promoção da igualdade de género na cooperação para o desenvolvimento, que reafirma a importância da promoção da igualdade de género em todas as políticas, estratégias e intervenções de colaboração para o desenvolvimento da Comunidade, em todos os níveis e em todas as etapas. A importância dada às questões do género também é evidente nas directivas para a preparação e implementação de Documentos de Estratégia por País24 e nos acordos regionais da CE, por exemplo com a região ACP (o Acordo de Cotonou) e a região do Mediterrâneo (Euromed). A importância da “igualdade de género” e a integração de uma perspectiva do género nas abordagens à ajuda baseadas em programas também é aparente nos seguintes documentos: • Directivas para Apoio da CE a Programas Sectoriais As questões do género são referidas: -- Na análise da estratégia de desenvolvimento e política sectorial nacional, um critério mencionado é: “A estratégia de desenvolvimento nacional (política sectorial) aborda adequadamente os princípios transversais da colaboração para o desenvolvimento da CE, em particular o princípio da igualdade de género?” (CE, 2003, pp. 77 e 79). -- Na avaliação dos sistemas de monitorização de desempenho e de consulta de clientes, em que uma das questões-chave é: Vide DG Dev. Orientação sobre a Integração da Igualdade de Género na preparação de CSP, disponível em CE DG Dev Intranet. 24 Orçamentação sensível ao género DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICAS E PROGRAMAÇÃO DA CE “Os indicadores são diferenciados por género para que seja possível avaliar o impacto do programa (sectorial) em homens e mulheres?”(CE, 2003, p. 92). Além disso, é mencionada uma atenção cuidadosa às questões de género como um dos pontos-chave para que os sistemas de consulta de clientes funcionem bem (CE, 2003, p. 14). • A Abordagem da CE à Condicionalidade Existe espaço para questões de género em vários indicadores de tranche variáveis. Na prática, estes parecem estar principalmente entre os indicadores da educação (“fosso dos géneros na educação primária”) e na categoria “outros”. Ao passo que os indicadores antigos nesta categoria eram principalmente específicos de sectores, mais recentemente os “indicadores de capacitação de género” também surgem na agenda, o que sugere que as questões transversais podem estar a tornar-se mais padronizadas (Comissão Europeia, 2005, p. 30). O documento realça também a importância de fazer observações de política (relativamente a questões de género, entre outras) durante o diálogo sobre políticas. A caixa 8 (p. 46) apresenta um exemplo vindo de Moçambique, onde o Comissário escreveu ao Ministro das Finanças, “Estou certo de que partilha a minha opinião de que a desigualdade de género é um dos maiores obstáculos à redução da pobreza. Portanto, estou convencido que o Governo de Moçambique irá reforçar os seus esforços para melhorar a proporção de estudantes do sexo feminino inscritas.” III.2. Orçamentação sensível ao género em documentos sobre políticas e programação O apoio a iniciativas orçamentais por género a nível local (IOG) é um dos projectos inovadores de integração de igualdade do género apoiados pela União Europeia. Até agora, a CE contribuiu com a maior percentagem (€ 800 000) para um projecto implementado pela UNIFEM (Junho 2003-Junho 2005) na Índia, Filipinas, Marrocos e Uganda. Nesses países também existem iniciativas orçamentais por género a nível nacional e dado que o Governo está a descentralizar cada vez mais a elaboração de políticas e a alocação de recursos, as iniciativas orçamentais por género a nível local tornam-se cada vez mais importantes. As IOG a nível local proporcionam oportunidades para analisar a sensibilidade ao género das políticas a nível local e a sua implementação, em termos de conteúdo e de processo subjacente. O impacto local (específico de género) das políticas a nível nacional também pode ser avaliado. Para as comunidades locais, e determinadas secções dentro dessas comunidades, familiarizar-se com as abordagens e ferramentas das IOG pode contribuir para um processo de questionamento e influência sobre a elaboração de políticas (locais) e alocação de recursos. Isto pode ser descrito como um aumento do “agenciamento” e do “empoderamento”. 31 IV. COMO OS FUNCIONÁRIOS DA CE E OS SEUS PARCEIROS PODEM TRABALHAR COM A ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO IV.1. Tornar as abordagens à ajuda baseadas em programas sensíveis ao género: princípios básicos Em seguida, irei focar a forma como a “orçamentação sensível ao género” pode tornar as abordagens à ajuda baseadas em programas mais sensíveis ao género. Quando isto é feito, é importante respeitar os princípios básicos das abordagens baseadas em programas que têm implicações importantes para os respectivos papéis dos países parceiros e doadores. Em grande parte, os programas são concebidos pelos próprios países e os doadores tentam alinhar o apoio com os programas dos países, utilizando o aparelho operacional do país parceiro. As actividades dos doadores estão a mudar para a análise ex-antes da qualidade dos programas dos países parceiros, concentrando-se no conteúdo e nos processos subjacentes à elaboração de políticas, programação, orçamentação, monitorização e avaliação. Além disso, os doadores empenham-se na criação de capacidades, no acompanhamento e na avaliação. O seu objectivo é realizar uma avaliação ex-ante, criação de capacidades, acompanhamento e avaliação em conjunto com outros doadores e com os próprios países parceiros. As sugestões abaixo (IV.2 e IV.3) para tornar as abordagens baseadas em programas sensíveis ao género através da orçamentação sensível ao género encaixa neste novo enquadramento de ajuda. Isso significa que: • É importante que a orçamentação sensível ao género seja utilizada pelos próprios países 32 parceiros. A tabela 2 abaixo sugere possíveis utilizações da orçamentação sensível ao género através de um DERP. Para os doadores, estas sugestões podem inspirar actividades de criação de capacidades que procurem especificamente aumentar a sensibilidade ao género nos programas dos países. • Da perspectiva dos doadores, é necessário encontrar os pontos de entrada para o seu novo papel. É importante: -- incluir questões de género nos quadros de diagnóstico e de avaliação; -- incluir as questões de género nos “diálogos políticos” e na criação de capacidades. Isto necessita de conhecimentos especializados sobre o género por parte do doador (agentes específicos de género formados nas novas modalidades de ajuda e/ou agentes principais envolvidos nas novas modalidades de auxílio e formados na análise por género). Em IV.3, seleccionamos dois pontos de entrada possíveis da CE e fazemos sugestões concretas para os tornar sensíveis ao género. Concentramo-nos na sensibilidade ao género do conteúdo dos programas e dos processos subjacentes à concepção, orçamentação, implementação, monitorização e avaliação. IV.2. Tornar as abordagens à ajuda baseadas em programas sensíveis ao género, através da orçamentação sensível ao género: algumas sugestões para países parceiros A tabela 2 abaixo resume sugestões para a utilização de ferramentas de orçamentação sensível ao género e abordagens em diferentes fases do DERP (vide I.4. para obter uma explicação das ferramentas). de género dos agenteschaves principais • investimento na capacidade de análise de politicas macroeconómicas e sectoriais dos “agentes de género” envolvidos • investimento na capacidade de agentes de género fora do Governo (movimentos de mulheres, investigadores de questões de género em universidades, deputadas, …) • Aumento da participação agentes de género dentro do Governo (Ministério para a igualdade de oportunidades, pontos de foco de género, …) diferenciais de homens e mulheres através da avaliação de beneficiários repartida por géneros das prioridades • identificação de prioridades global inicial de homens e mulheres (utilização dos resultados da análise de M&A do ciclo anterior, vide coluna V) • identificação da posição Diagnóstico e análise da pobreza Processo de elaboração, implementação, monitorização e avaliação (M&A) • Aumento da participação dos CONTEÚDO PROCESSO criação da capacidade institucional para planeamento, monitorização e avaliação reagentes ao género • caso ainda não exista, as políticas e estratégias relativamente ao impacto de género através da apreciação das políticas de consciencialização de género e identificação de possíveis actividades correctivas sensíveis ao género • avaliação ex-ante de todas das prioridades diferenciais de homens e mulheres (informações com base na avaliação de beneficiários repartida por géneros das prioridades do orçamento) • tomada em consideração Identificação de prioridades e estratégias consciência de género • mapa orçamental com correctivas na sensibilidade ao género identificadas na fase anterior também foram orçamentadas • garantia de que as actividades de género na gestão e orçamentação baseada em resultados (vide Quadro de Ciclo de Orçamento de Elson) • integração de uma dimensão despesa a médio prazo com consciência de género • utilização de um quadro de Orçamentação e implementação específicos sobre a igualdade de género -- inclusão de indicadores contribuição, implementação, produção, resultados e impacto (se ainda não concretizada em fases anteriores) -- repartição de indicadores de do orçamento no tempo - utilização repartido por género -- utilização de análise do impacto incidência de receita repartida por género -- utilização de análise de incidência de benefícios repartidos por género -- utilização de análise de beneficiários repartida por género da prestação de serviços públicos -- utilização de avaliação de monitorização e avaliação convencionais sensíveis ao género: • tornar os instrumentos de Monitorização e avaliação (M&A) Tabela 2: Sugestões para o uso de orçamentação sensível ao género pelo Governo de um país parceiro no DERP (ver I.3 para uma explicação sobre as diversas ferramentas e abordagens mencionadas) Orçamentação sensível ao género DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICAS E PROGRAMAÇÃO DA CE 33 IV.3. Tornar as abordagens à ajuda baseadas em programas sensíveis ao género através da orçamentação sensível ao género: algumas sugestões para a CE (vide também o Conjunto de Ferramentas, Secção 1, Capítulo 3, Capítulo 5, Capítulo 6) Os pontos de entrada possíveis da CE para tornar as abordagens baseadas em programas sensíveis ao género, incluem: • documentos de estratégia para o país (DEPs) • avaliação (ex-ante) dos programas sectoriais no contexto do apoio da CE a programas sectoriais • revisões (conjuntas) sectoriais • a abordagem da CE à condicionalidade no contexto do apoio geral ao orçamento. Em seguida, darei sugestões específicas de utilização de IOG no contexto de tornar o quadro de avaliação ex-ante de programas sectoriais e a abordagem da CE à condicionalidade sensíveis ao género. O Conjunto de Ferramentas também sugere tornar os DEPs sensíveis ao género (vide Secção 1, Capítulo 3). Avaliação Ex-ante de Programas Sectoriais A avaliação ex-ante de programas sectoriais está subdividida em sete áreas-chave: 34 1. Avaliação macroeconómica 2. Política sectorial e quadro estratégico global 3. MTEF para o sector 4. Sistemas de responsabilização e gestão de despesa pública 5. Sistemas de coordenação de doadores 6. Sistemas de monitorização de desempenho e consulta de clientes 7. Avaliação institucional e avaliação de capacidades. As directivas da CE para o Apoio a Programas Sectoriais (2003) listam para cada uma das sete áreas um conjunto de questões que são importantes na apreciação de programas sectoriais. Na tabela 3 abaixo, sugerem-se questões adicionais que poderiam ser colocadas em três das sete áreas para que a avaliação ex-ante fosse mais sensível ao género. As sugestões estão subdivididas em “conteúdo” e “processos subjacentes” porque isso se enquadra na filosofia subjacente das abordagens baseadas em programas, que dão importância tanto ao “conteúdo” como aos “processos subjacentes”. Subsequentemente, apliquei as minhas sugestões a um programa sectorial específico; o Programa de Apoio a Políticas Sectoriais para alcançar a Educação para Todos (EPT) do Nível de Qualidade Fundamental das Escolas (NQFE) no Vietname. Os resultados desta análise encontram-se no Anexo 1. Análise de conteúdos Análise dos processos subjacentes sistemas têm os conhecimentos técnicos sobre questões de género necessários? pode ter um impacto diferente nos homens e nas mulheres? • Foi tido em conta que a política (sectorial) subjacentes influenciam globalmente as políticas em termos de objectivos, produção, resultados e actividades, etc.? As políticas e as estratégias relacionadas baseiam-se no diagnóstico repartido por género das necessidades, restrições, oportunidades, incentivos e ameaças (COINS)? É tido em conta que as restrições específicas de género podem tornar ineficaz uma política uniforme? • Foi tido em conta que as relações de género e “desenvolvimento” foi tida em conta ao conceber a política? • A relação de influência mútua entre “género” orçamentação sensível ao género específicos ao conceber as políticas sectoriais (incluindo a avaliação de beneficiários repartida por género das prioridades; apreciação de políticas com consciência de género; análise de incidência de utilização temporal com consciência de género; resultados da anterior análise de incidência de benefícios repartida por género, etc.)? • Foram utilizados instrumentos de em todos os níveis (impacto, resultado, produção, actividades, contribuições) dos diferentes programas sectoriais? (vide Quadro de Ciclo de Orçamento de Elson) • As questões de género foram tidas em conta compromisso de política de “género” definido alargadamente (categoria 3 de Sharp & Budlender) ao longo de todo o plano de acção? • Foi tido em conta na generalidade um categorias 1 e 2 de Budlender & Sharp) foram traduzidas adequadamente para o plano de acção? • As medidas políticas específicas de género (cf. torna a política sectorial “logicamente” explícita, operacional em termos de impacto, resultados, produção e contribuições esperados? • Existe um plano de acção abrangente que • Os agentes-chaves que conceberam os elaboração de políticas sectoriais e na concepção de quadros estratégicos têm os conhecimentos técnicos sobre género necessários? • Os agentes principais envolvidos na Governo foram consultados ao conceber os sistemas? • Os agentes de género (dentro e fora) do • Os agentes de género (dentro e fora) do Governo estiveram envolvidos na concepção da política sectorial e do quadro estratégico? MTEF para o sector (foco específico no Plano de Acção do PS e a definição de produção e resultados claros) Política sectorial e quadro estratégico global a integração dos resultados dos sistemas de monitorização e consulta de clientes nos ciclos posteriores? • Existem circuitos de resposta para garantir dos sistemas de monitorização e consulta de cliente? Esses sistemas têm em conta as possíveis diferenças entre o acesso à informação de homens e mulheres? • Existem meios de disseminar as descobertas às mulheres? (Foram tomadas medidas específicas para tornar os sistemas acessíveis?) • Os sistemas existentes são acessíveis são utilizados nos sistemas de monitorização de desempenho e de consulta de clientes? (dentro/fora do Governo) • Os conhecimentos técnicos sobre o género avaient-ils l’expertise de genre nécessaire ? • Les acteurs-clés qui ont conçu les systèmes acteurs du genre gouvernementaux et non gouvernementaux ont-ils été consultés lors de la conception des systèmes ? • Les Sistemas de monitorização de desempenho e de consulta de clientes Tabela 3: Tornar o quadro de avaliação ex-ante de programas sectoriais (áreas-chave seleccionadas) sensível ao género Orçamentação sensível ao género DOCUMENTOS SOBRE POLÍTICAS E PROGRAMAÇÃO DA CE 35 impactos negativos de uma política sectorial (por exemplo, actividades direccionadas especificamente a mulheres para tornar a política mais progressiva em termos de género)? Essas actividades também foram orçamentadas? Caso não tenham sido, essas medidas adicionais sensíveis ao género ainda podem ser incluídas? • Estão incluídas correcções para potenciais Política sectorial e quadro estratégico global MTEF para o sector (foco específico no Plano de Acção de PS e a definição de produção e resultados claros) 36 por género? • Os objectivos e indicadores são repartidos relativamente aos objectivos de igualdade de género? • Foram incluídos indicadores específicos ao género são utilizados nos sistemas existentes (avaliação de beneficiários da prestação de serviços repartidas por género; análise de incidência de benefícios repartidos por género; análise de incidência de receitas repartida por género; análise de incidência de utilização temporal repartida por género; etc.)? • Os instrumentos de orçamentação sensível Sistemas de monitorização de desempenho e de consulta de clientes Orçamentação sensível ao género TRABALHO COM ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO Quadro de condicionalidade de apoio orçamental geral da CE O segundo ponto de entrada é o quadro de condicionalidade de apoio orçamental da CE. O documento de 2005 “Apoio Orçamental da CE: Uma Abordagem Inovadora à Condicionalidade”25 descreve este sistema de tranches variáveis e fixas e de condicionalidade: • As tranches fixas incluem condições gerais mínimas relacionadas com a estabilidade macroeconómica (geralmente ligada a um julgamento por parte do FMI), progresso da gestão das finanças públicas (PFM) e geralmente uma condição específica (nos países com baixos rendimento, muitas vezes é a imposição do DERP TAE seja apresentado até uma data específica). • As tranches variáveis dependem de até que ponto os objectivos para um conjunto de indicadores são cumpridos. Em média, são incluídos 15 indicadores, quatro ou cinco deles na educação e na saúde. Estes indicadores26 respeitam principalmente à redução de aspectos de pobreza ligados directamente com a prestação de serviços e a gestão das finanças públicas. Geralmente são incluídos os seguintes (CE, 2005, pp. 29-30).27 -- Indicadores orçamentais: indicadores de alocação ou execução orçamental, geralmente na saúde ou na educação, mas por vezes também em categorias definidas nos orçamentos nacionais como “a favor dos pobres” -- Indicadores de gestão das finanças pública (PFM): indicadores de gestão das finanças públicas além daqueles da composição ou alocação orçamental, geralmente respeitantes a processos como a contabilidade ou auditoria -- Indicadores de saúde: indicadores ligados a questões relacionadas com a saúde, como a vacinação ou a utilização de serviços de saúde, excluindo os orçamentos do sector da saúde (estes são incluídos nos indicadores de “orçamento”) -- Indicadores de educação: indicadores ligados a questões de educação, excluindo os orçamentos do sector da educação (estes são incluídos nos indicadores de “orçamento”) -- Outros indicadores: outros sectores e questões transversais como a “igualdade de género” ou VIH/SIDA. A natureza da categoria “outros” tem mudado ao longo do tempo. No início, incluía mais indicadores específicos de sectores. Presentemente, tende a incluir indicadores de empoderamento de género e VIH/SIDA (CE, 2005, p. 30). É possível discutir a forma como noções tal como “igualdade de género” e “empoderamento de género” são tornadas operacionais nos indicadores. O facto de se optar por focar as “capacidades” ou as “oportunidades” influencia fortemente as conclusões sobre o actual estado da obtenção da igualdade de género. Este documento inclui uma discussão elaborada do fundamento e uma revisão detalhada da utilização do quadro de condicionalidade da CE em 34 programas espalhados por 20 países da ACP. 25 Como o objectivo é incluir o maior número possível de metas e de indicadores sob o controlo governamental, são usados mais indicadores de produção e de resultados do que de impacto. 26 A revisão apresentada no apoio orçamental da CE para 34 programas em 20 países da ACP (até ao final de Julho de 2004) demonstrou que, em média, os indicadores de PFM e orçamentais representavam 45% do valor das tranches variáveis; a educação e a saúde 22% e 25%, respectivamente. 27 37 Por exemplo, a tabela abaixo, que resume dados da Base de Dados Mundial de Indicadores de Desenvolvimento, demonstra que os indicadores de educação sugerem uma conclusão optimista relativamente ao actual estado da “igualdade de género” e o progresso alcançado no período de 1990-2000. A conclusão oposta seria tirada a partir das taxas de emprego. Taxa combinada de inscrição rapariga/rapaz na educação primária e secundária 1990/91 Taxa de emprego não-agrícola feminino/masculino 1990 2001 97 100 100 47 45 83 ... 96 99 38 39 América Latina e Caraíbas ... 102 100 101 38 42 Médio Oriente e Norte de África 79 91 77 84 21 ... Sul da Ásia 68 81 73 80 13 17 SSA 79 ... 69 88 32 ... Mundial 84 ... 87 92 35 37 Europa e Ásia Central ... Ásia Oriental e Pacífico 2001/02 Taxa de literacia feminina/masculina (15-24 anos) 1990 2000-02 Fonte: Banco Mundial (2004). Base de Dados Mundial de Indicadores de Desenvolvimento. 38 Embora os indicadores de igualdade de género e empoderamento de género possam entrar na categoria de “outros indicadores”, são necessários esforços para tornar os outros conjuntos de indicadores sensíveis ao género. A tabela 4 apresenta uma visão geral dos possíveis indicadores a incluir nos conjuntos de indicadores de orçamento, PFM e educação. Outro caminho possível relevante em termos políticos para incluir uma perspectiva sobre o género é tornar a análise de incumprimento dos objectivos sensível ao género. Isto é particularmente relevante do ponto de vista do país parceiro, pois espera-se que forneça uma análise dos motivos pelos quais os objectivos não foram cumpridos e que utilize essa análise para sugerir ajustes nas políticas. Uma forma de facilitar esta análise e sugerir correcções pode ser utilizar o Quadro de Ciclo de Orçamento de Elson. Mais especificamente, ao reconstruir a cadeia causal completa (logframe) da qual os indicadores seleccionados estão implicitamente desligados e integrando uma perspectiva sobre o género em cada nível, é possível indicar mais facilmente o ponto no logframe em que ocorrem os problemas. Isto também pode sugerir possíveis correcções. para raparigas raparigas • rácio rapariga/rapaz de repetição de anos • rácio rapariga/rapaz de abandono escolar • número de professoras qualificadas primária para a educação secundária • rácio rapariga/rapaz de transição da educação educação primária e educação secundária • rácios rapariga/rapaz de conclusão de raparigas • taxa de conclusão de educação secundária de Esta secção inclui sugestões tanto da autora como dos participantes no Workshop Temático sobre a Orçamentação sensível ao género, CE, 23-24 Março 2006.. Governo na preparação do orçamento • a participação de agentes de género fora do Governo na preparação do orçamento • a participação de agentes de género dentro do • taxa de conclusão de educação primária de primária e secundária primária e secundária • rácios rapariga/rapaz na inscrição bruta na abordagem programática e existe uma repartição de género de níveis diferentes: contribuições, produção, resultados e impacto (vide Quadro de Ciclo de Orçamento de Elson) • a classificação da despesa segue uma • rácios rapariga/rapaz na inscrição líquida na para raparigas • taxa liquida de inscrição na educação primária • taxa bruta de inscrição na educação primária INDICADORES DE EDUCAÇÃO incidência de benefícios repartida por género • análise das despesas inclui análise de Indicadores derivados de diferentes quadros de avaliação de PFM (PERs, CAFAs, CPARs, RCPCs Fiscais, HIPC AAPs, auditorias CE)32 INDICADORES PFM Diferenciação entre dois conjuntos de indicadores 29 A revisão dos indicadores utilizados até agora revela que os indicadores da educação são muitas vezes repartidos por género, sendo que a dimensão do género é completamente excluída dos indicadores de orçamento e da PFM. 28 oportunidades de emprego no sector público e na prestação de serviços (por exemplo em serviços de extensão rural ou esquadras de polícia). • alocação para estimular a igualdade de aumentar a sensibilidade ao género do ciclo de políticas global (sensibilidade ao género dos processos subjacentes) (por exemplo, % do orçamento a um Ministério relacionado com questões de género; % do orçamento em Ministérios diferentes alocada a tornar o programa e o funcionamento do Ministério sensíveis ao género) • alocação ao aparelho institucional que procura sectores diferentes que estimule a igualdade de género (por exemplo, actividades centradas nas necessidades dos géneros, tal como o fornecimento de água doméstico, saneamento, transportes públicos, literacia económica e “política”, ou estradas de acesso locais) • alocação a sub-programas específicos em incluída mas poderia ser tornada mais sensível ao género incluindo também a alocação aos sub-programas em que as mulheres mais participam (educação primária, cuidados de saúde primários) • A alocação à saúde e educação é muitas vezes INDICADORES DE ORÇAMENTO Tabela 4: Sugestões para tornar os indicadores de orçamento, PFM e educação sensíveis ao género 28,29 Orçamentação sensível ao género TRABALHO COM ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO 39 30 rastreio de despesa e na avaliação de beneficiários da prestação de serviços públicos -- repartição por género em inquéritos de sobre recursos recebidos por unidades de prestação de serviços • PI-23: disponibilidade de informações participação de agentes de género de dentro e fora do Governo -- ”inclusividade” do processo orçamental, orçamento anual • PI-11: ordem e participação no processo de informações a grupos específicos (incluindo mulheres) -- esforços especiais para disponibilizar essencial • PI-10: acesso público a informação fiscal género incluído -- mapa orçamental com consciência de incluídas na documentação do orçamento • PI-6: abrangência das informações programática, repartição por género -- se for utilizada uma abordagem • Indicadores PEFA 30 • PI-5: classificação do orçamento Vide Quadro de Medição de Desempenho PEFA-PFM (Junho de 2005). INDICADORES DE ORÇAMENTO INDICADORES DE PFM Diferenciação entre dois conjuntos de indicadores 40 d’écoles primaires ayant des installations sanitaires appropriées pour les filles. • nombre INDICADORES DE EDUCAÇÃO Orçamentação sensível ao género REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES ÚTEIS V. REFERÊNCIAS E OUTRAS FONTES ÚTEIS RELATIVAMENTE À ORÇAMENTAÇÃO SENSÍVEL AO GÉNERO E TORNAR AS ABORDAGENS À AJUDA BASEADAS EM PROGRAMAS SENSÍVEIS AO GÉNERO BAMBERGER M., M. BLACKDEN, V. MANOUKIAN E L. FORT (2000). ‘Chapter 10: Gender + Technical Notes’, pp. 333-374 e 559-586 (notas técnicas), na Colectânea de textos de DERP. Washington D.C., Banco Mundial. BELL E. (2003). “Gender and PRSPs: with experiences from Tanzania, Bolivia, Vietnam and Mozambique“, Bridge Development – Gender Report N.º 67. BENERIA L. (1995). “Toward a Greater Integration of Gender in Economics”, World Development, Vol. 23, N.º 11, pp. 1839-1850 Brooke P. (2003). 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Aplicação para o Programa de Apoio a Políticas Sectoriais (PAPS) para Alcançar a Educação Para Todos (EPT) dos Níveis de Qualidade Fundamental da Escola (NQEF) (Vietname) Documentos utilizados: CE. Serviço de Cooperação EuropeAid (2005). Proposta de Financiamento. N.º AIDCO/ VNM/2005/17545. Banco Mundial (2005). Project Appraisal Document. Report No. 31735-VN. 46 Orçamentação sensível ao género ANEXO 1 POLÍTICA SECTORIAL E QUADRO ESTRATÉGICO PROCESSOS POSITIVO AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SUGESTÕES DE MELHORAMENTO (algumas poderiam ser listadas nos Referenciais de Libertação de Tranches da CE) • Parece existir um apoio nacional e internacional alargado para o programa. • O programa foi concebido pelo Ministério da Educação (MdE) e aprovado pelo Primeiro-Ministro com o envolvimento do Ministro das Finanças, Ministério do Planeamento e Investimento, representantes dos Ministérios e das agências ao nível central, provincial e distrital. Foi revisto e apoiado por ONGs e parceiros internacionais. • Descobrir até que • Não é claro até que ponto os conhecimentos técnicos sobre o género dos diferentes agentes envolvidos (dentro e fora do governo) foram incluídos na fase de elaboração, revisão e apoio. ponto as políticas sectoriais e o programa beneficiaram dos conhecimentos técnicos de género dentro e fora do Governo (estes conhecimentos técnicos de género podem ser fornecidos por agentes específicos de género ou por agentes gerais). 47 • Um dos componentes principais é a melhoria da administração (todas as fases: planeamento, implementação, M&A) do Programa Específico Nacional (vide também a monitorização de desempenho e a consulta de clientes). No contexto do aumento da descentralização, também existe mais ênfase aos níveis descentralizados (províncias, distritos e as próprias escolas) • Não é afirmado explicitamente que as ferramentas irão incluir a repartição por género (bem como outras dimensões relevantes para a repartição). • Incluir ferramentas de análise orçamental por género para melhorar a gestão, como por exemplo utilizar uma avaliação de beneficiários/ necessidades repartida por género no direccionamento de fundos. POLÍTICA SECTORIAL E QUADRO ESTRATÉGICO PROCESSOS POSITIVO AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SUGESTÕES DE MELHORAMENTO (algumas poderiam ser listadas nos Referenciais de Libertação de Tranches da CE) • BM (p. 8) lista ferramentas/ abordagens que poderiam melhorar a gestão: -- direccionamento de fundos baseado em necessidades efectivas -- implementação de planeamento provincial para a educação • O melhoramento da 48 gestão e um avanço para mais políticas elaboradas com base em evidências e necessidades abre oportunidades para a inclusão da dimensão do género (as abordagens baseadas em necessidades exigem implicitamente a repartição por critérios relevantes; o género é um dos critérios de repartição mais óbvios). Se as questões de género forem tidas em conta na gestão baseada em resultados (GBR) e na elaboração de políticas baseadas em evidências, podem contribuir para a igualdade de género a longo prazo • Efectuar análise de tempo-utilização. Esclarecer a alocação existente de tempo de raparigas/rapazes pode levar a perspectivas interessantes no lado da procura: talvez as raparigas se inscrevam menos nas escolas dada a sua participação em actividades reprodutivas; talvez estejam a assumir o trabalho reprodutivo das suas mães. Se for esse o caso, o pressuposto de que o programa irá automaticamente chegar às raparigas e reduzir a desigualdade de género pode não ser válido (vide infra). Em vez disso, o programa (ou para outros programas complementares) poderia incluir um subcomponente que se dirija especificamente a este factor de restrição (por exemplo, a criação de instalações de creches e jardins de infância). Orçamentação sensível ao género PROCESSOS POSITIVO • Existe uma secção específica sobre a integração da igualdade de género (BM, anexo 13). Aí, são resumidos os resultados da análise por género no sector da educação. A análise é direccionada especificamente aos grupos-alvo do programa (em que a desigualdade de género é um problema; sendo que esse não é tanto o caso na educação para a população geral). São listadas diferentes restrições específicas do género: ligadas tanto ao lado da oferta (professoras, instalações sanitárias para raparigas) como ao lado da procura (menos predisposição para pagar pela educação das raparigas). O pressuposto do programa (a lógica e teoria subjacentes ao programa) é que o programa irá beneficiar automaticamente as raparigas se os subcomponentes (NQEF) forem direccionados especificamente aos factores que restringem as raparigas em particular. Além disso, o programa é direccionado às áreas (remotas e montanhosas) onde as taxas de inscrição são mais baixas e onde o fosso rapariga/rapaz é maior. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO recolher dados repartidos por género e que irá encorajar a incorporação de considerações de igualdades de género nos planos de desenvolvimento de escolas e da educação. SUGESTÕES DE MELHORAMENTO • Nas secções principais que descrevem o contexto e a política sectoriais, existem muito poucos resultados da análise de género fornecida no anexo 13 (BM). Estas informações são cruciais. O sucesso do programa global (objectivo final: EPT) dependerá parcialmente do grau com que os factores específicos que afectam a educação das raparigas sejam abordados satisfatoriamente. Se não estiver incluído, as intervenções poderão aumentar o fosso entre rapazes e raparigas em vez de o diminuir (aumentando as inscrições de rapazes em vez das inscrições de raparigas). • Não é claro • Diz-se que o programa irá ANEXO 1 até que ponto isto é traduzido efectivamente para o plano de acção ou resultados (vide também MTEF/ plano de acção) • Mais inclusão explícita de informações no anexo 13 na descrição principal dos antecedentes e política sectoriais. • Incluir entre os factores de risco: “a presunção de que o programa irá reduzir automaticamente o fosso entre géneros abordando especificamente as restrições que, em particular, as raparigas enfrentam, não é válida” 49 • Incluir entre as medidas de atenuantes de risco: “assegurar que existe um acompanhamento e um teste de validade do pressuposto básico (vide infra)”. • Efectuar o respectivo acompanhamento (vide também MTEF e monitorização de desempenho). MTEF: PLANO DE ACÇÃO PS E DEFINIÇÃO DE PRODUÇÃO E RESULTADOS CLAROS* POSITIVO AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SUGESTÕES DE MELHORAMENTO • Não é realmente óbvio se agentes de género ou conhecimentos técnicos de género estiveram envolvidos na concepção do plano de acção específico. PROCESSOS POSITIVO AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SUGESTÕES DE MELHORAMENTO • Incluir a dimensão do género em toda a cadeia de resultados, actividades e meios. • Repartir os indicadores • Diz-se que o 50 • Os indicadores CONTEÚDO de resultado são repartidos por género (vide também os sistemas de monitorização de desempenho e de consulta de clientes). programa irá incluir a recolha de dados repartidos por género e que irá encorajar a incorporação de considerações sobre a igualdade de género nos planos de desenvolvimento de escolas e da educação. Contudo, nos documentos presentes, a tradução desde empenho com o género definido de forma alargada em acção concreta é apenas parcialmente satisfatória. de resultados (principalmente os indicadores de processos) e incluir indicadores relacionados com o “tornar o processo sensível ao género”, tais como “maior utilização de ferramentas de análise (orçamental) por género” e “criação de capacidade de análise por género”. Estas influenciam directamente o vago objectivo de “incorporação de considerações sobre a igualdade de género nos planos de desenvolvimento de escolas e da educação” (que não é explicitado em lado nenhum no quadro de resultados). Tornar o processo sensível ao género também levará a um melhoramento geral na gestão e finalmente ajudará a alcançar os resultados. “ Nota: Não existe muita informação disponível sobre este tema. A mais importante encontra-se no anexo 3 do documento do BM (quadro de resultados e monitorização, incluindo resultados e resultados intermédios; não existe informação sobre actividades e contribuições relacionadas com estes) Orçamentação sensível ao género ANEXO 1 SISTEMAS DE MONITORIZAÇÃO DE DESEMPENHO E CONSULTA DE CLIENTES PROCESSOS POSITIVO AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SUGESTÕES DE MELHORAMENTO • Um dos dois principais componentes do programa é o reforço da administração e implementação do PEN (Programa Específico Nacional). Será prestado apoio a nível provincial e distrital para planeamento, aquisição, gestão financeira, reforço institucional, melhoramento da consulta das comunidades e aumento do empoderamento. • O documento do BM indica especificamente que serão alocados fundos a revisões independentes de progresso de implementação e monitorização a nível local por parte de organizações sociais. O documento indica a UMV (União de Mulheres Vietnamitas) como uma destas organizações sociais. Consequentemente, assumimos que existirão conhecimentos técnicos de género entre as organizações sociais. • A UMV está a receber apoio (criação de capacidades) da PNUD/UNIFEM, que pode reforçar o seu contributo para os mecanismos de monitorização e consulta • Verificar se o acesso • Não é inteiramente claro até que ponto serão envidados esforços para assegurar o acesso paritário dos dois encarregados de educação às associações de paisprofessores (nem sequer se está em causa a acessibilidade para as mulheres; com base nas pp. 85-87 no documento do BM, podemos assumir que isso poderia constituir um problema nos gruposalvo “minoritários”). • Não é claro até que ponto as questões de género serão incorporadas nas revisões independentes. aos sistemas de consulta de clientes por parte das mulheres é um problema. • Se for um problema, verificar se seria possível incluir actividades específicas no programa para o estimular (o empoderamento é um dos objectivos; tal actividade seria claramente uma maisvalia para alcançar este objectivo do programa). • incluir formação para a UMV sobre a orçamentação sensível ao género para melhorar a qualidade dos seus meios (isto não é especificamente relacionado com a UE, mas poderia ser destacado no contexto da coordenação e harmonização dos doadores). • incluir dimensões de género em revisões independentes. 51 SISTEMAS DE MONITORIZAÇÃO DE DESEMPENHO E CONSULTA DE CLIENTES PROCESSOS POSITIVO AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SUGESTÕES DE MELHORAMENTO • Criar capacidade na orçamentação sensível ao género entre os agentes dentro e fora do Governo, para melhorar: • Em diversos 52 pontos, o documento realça a utilização de abordagens baseadas em resultados. Estas abordagens oferecem o potencial para uma mudança na direcção de uma política mais baseada em evidências. Também pode aumentar a igualdade de género, se a GBR (gestão baseada em resultados) tiver em conta as questões de género. • O documento realça tanto a utilização de ABR como uma ferramenta de gestão por parte do Governo como a importância de uma M&A independente (vide supra). • Não é inteiramente claro até que ponto os conhecimentos técnicos sobre o género serão incluídos na M&A principal dentro do Governo (gestão). • O documento BM (p. 8) lista as ferramentas/ abordagens que serão utilizadas, incluindo: -- relatórios baseados em resultados na produção e resultados da educação -- maior responsabilização dos administradores da educação • Não é claro se estes serão utilizados de uma forma repartida. -- a gestão dentro do Governo (GBR) -- M&A fora do Governo (incluindo dos doadores). • Adicionar ferramentas de análise orçamental por género às listadas no documento do BM. • Melhorar os relatórios baseados em resultados na produção e resultados da educação, integrando uma dimensão de género (vide o Quadro de Ciclo de Orçamento de Diane Elson). • Outras possibilidades incluem: -- avaliação da prestação de serviços repartida por género (porque um dos objectivos específicos é melhorar o NQFE); -- análise de incidência de benefícios repartida por género (porque um dos objectivos específicos é ser direccionada a grupos específicos); -- análise de incidência de receitas repartida por género (para testar o impacto da abolição das propinas , que é muito relevante neste contexto) Orçamentação sensível ao género ANEXO 1 SISTEMAS DE MONITORIZAÇÃO DE DESEMPENHO E CONSULTA DE CLIENTES PROCESSOS CONTEÚDO POSITIVO AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO SUGESTÕES DE MELHORAMENTO • Os indicadores-chave de monitorização incluem: -- acesso a educação primária (repartida por género) *entrada bruta de alunos com 6 anos de idade no 1º ano *taxas de inscrição líquidas na educação primária *taxas de abandono escolar e repetição de ano *taxa de conclusão da escola primária. • Não é verdadeiramente claro se “a qualidade e eficiência dos indicadores da educação primária” são repartidos por género • Repartir a “qualidade e eficiência da educação primária”. -- qualidade e eficiência da educação primária *resultados dos alunos no 5º ano em Matemática e Língua vietnamita 53 -- rácio alunos/professores. • O quadro de resultados (em particular, a coluna “ utilização da monitorização de resultados”) torna claro que existirão testes de validade à lógica global do programa (“a intervenção conforme proposta pelo programa leva ao melhoramento do acesso e qualidade da educação primária”). • Não é claro se será testado o pressuposto subjacente de que o programa irá automaticamente levar a uma maior igualdade de género no acesso à educação primária. • Testar a validade do pressuposto de que o programa irá levar automaticamente a uma maior igualdade de género no acesso à educação primária.