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Edição Especial NESTA EDIÇÃO 6 12 16 22 Estruturas para a Missão Mundial Adventista Serviço Voluntário Adventista Adventist Frontier Missions IDE-GO Ano 5, No 2, 2016. Foco na Pessoa, Mobilizando Discípulos Para o Cumprimento da Missão. Editor Silvano Barbosa, Ph.D., Candidato. Editor Associado Marcelo Dias, Ph.D. Editores Regionais Brasil - Marcelo Dias, Ph.D. Estados Unidos - Wagner Kuhn, Ph.D. África - Boubakar Sanou, Ph.D. Ásia - Dois Cruz, D.Min. Design Gráfico Tortorelli M. Capa Syda Productions e Sergey Nivens/Adobe Stock Revisão Walquiria Cagnoni Ferreira Impressão e acabamento Casa Publicadora Brasileira Colaboradores Gorden Doss, Ph.D.; Wagner Kuhn, Ph.D.; Conrad Vine, D.Min.; Silvano Barbosa, Ph.D., Candidato; Marcelo Dias, Ph.D. Tiragem 3.321 exemplares 26 32 36 Uma Organização de Envio de Missionários para a Divisão Sul-Americana Numci Teologia dos Sonhos e Visões na Missão FIQUE POR DENTRO Adquira gratuitamente os artigos da Foco na Pessoa. acesse: www.foconapessoa.org.br A revista Foco na Pessoa é uma publicação do UNASP-EC em parceria com: União Central Brasileira, União Norte Brasileira, União Sudeste Brasileira, União Sul Brasileira, União Centro-Oeste Brasileira, União Nordeste Brasileira, União Leste Brasileira, SALT UNASP, SALT IAENE, Rede Novo Tempo, Associação Paulista Sul, Associação Paulista Leste, Associação Rio de Janeiro, Associação Mineira Sul, Associação Mineira Leste, Associação Mineira Norte, Associação Sul Espírito-santense, Associação Norte Paranaense, Associação Sul Paranaense, Associação Central Paranaense, Associação Sul Rio-grandense, Missão Ocidental Sul Riograndense, Associação Bahia, Associação Bahia Sul, Missão Bahia Sudoeste, Missão Sergipe Alagoas, Associação Pernambucana, Associação Pernambucana Central, Associação Costa Norte, Missão Alagoas, Missão Nordeste, Associação Planalto Central, Associação Mato-grossense, Associação Brasil Central, Associação Sul-mato-grossense, Missão Tocantins, Associação Central Amazonas, Associação Sul do Pará, Associação Sul de Rondônia, Associação Amazônia Ocidental, Associação Amazonas Roraima, União Noroeste, Associação Central Sul-Riograndense, Associação Catarinense, Associação Espirito Santense, Associação Mineira Central, Associação Paulista do Vale e Associação Paulista Sudeste. FOCO NA PESSOA 3 www.foconapessoa.org.br APRESENTAÇÃO HELDER ROGER Vice-Presidente da Divisão Sul-Americana da IASD @helderroger MISSIONÁRIOS PARA O MUNDO D esde o chamado para Abrão registrado em Gênesis 12, com o propósito de abençoar o mundo (“em ti serão benditas todas as fa- mílias da Terra”), até a visão de João em Apocalipse 14, em que “o anjo” voando pelo meio do céu tem um evangelho eterno para “ pregar “a cada nação, tribo, língua e povo”, o foco sempre esteve na missão de salvar o mundo. Deus estabeleceu Israel para ser uma luz entre as nações, e a igreja remanescente para advertir o mundo de que o fim está próximo e que é chegada a hora do juízo. Ao longo dos séculos, em meio às lutas e tentações resultantes do grande conflito, a “perda do foco” no propósito divino levou o plano de salvação inúmeras Em ti serão benditas todas as famílias da Terra ” vezes à beira do fracasso, mas o Senhor renova a visão e o chamado sempre que necessário, e novos missionários surgem dando continuidade ao Seu plano. Mas o maior exemplo e garantia de êxito está na participação direta da divindade, que foi muito além de um “juramento de formatura” ou de uma “declaração de missão”. Deus amou o mundo de tal maneira que enviou o Seu missionário para buscar e salvar o perdido. Em Sua encarnação, morte e ressurreição, Jesus deu a maior demonstração de que a missão de salvar é realmente a prioridade do céu. Ele abriu mão da Sua posição, sofreu terríveis sofrimentos e vai levar marcas de tudo isso pela eternidade. Quando líderes se levantam hoje e demonstram de forma prática que a missão é a prioridade, estão seguindo os passos da divindade. Quando alguém se dispõe a ir, deixando a zona de conforto, correndo riscos e tendo a disposição de levar as marcas do sacrifício pelo resto da vida, está seguindo os passos de Jesus. No tremendo movimento missionário que se levanta em nosso meio, há dois elementos que não podem ser olvidados: a busca, mais intensa do que nunca, pelo reavivamento produzido pelo Espírito Santo e o esforço pelo envolvimento total dos membros da igreja na missão. Essa é a nossa prioridade hoje: missionários para o mundo, perto ou longe, mas cheios do Espírito Santo, e verdadeiros discipuladores. FOCO NA PESSOA 4 www.foconapessoa.org.br EDITORIAL SILVANO BARBOSA Editor @silvanopastor @silvanopastor ORGANIZAÇÕES MISSIONÁRIAS E mbora toda a igreja seja comissionada a se envolver na missão, nem todos são chamados para serem missionários em outra cultura. Nem todos têm o dom ou o chamado para levar o evangelho a outra área geográfica. Este fato pode ser observado na igreja de Antioquia. Certamente toda a igreja de Antioquia foi chamada para a missão, mas a maioria da comunidade permaneceu na cidade e enviou uma equipe missionária (Atos 13:1-5). A igreja de Antioquia não viajou com Paulo e Barnabé pela Ásia Menor. Ao observarmos a história, vemos repetidamente que grupos pequenos de homens e mulheres focados e comprometidos, que sabiam que Deus os estava chamando para uma tarefa, um povo ou para uma localidade específica, enfrentaram barreiras geográficas e culturais significativas para levar o evangelho.1 O historiador da missão Latourette observa que igrejas saudáveis estão sempre gerando novas estruturas missionárias para realizarem tarefas específicas, e tem sido através destas organizações que o movimento missionário tem alcançado os seus resultados mais efetivos. O estabelecimento de organizações de envio de missionários tornou-se popular no século XVIII com a criação das sociedades missionárias. Entretanto, muito antes desta época, estruturas missionárias já estavam em funcionamento em movimentos como a Igreja Céltica (500 d.C.), os Valdenses (1.100 d.C.) e os Morávios (1.700 d.C.), os quais em grande medida foram respon- sáveis pela expansão e transmissão da fé cristã. A importância do que aconteceu por volta do final do século XVIII foi que esta nova forma de organização missionária era devotada explicitamente às missões estrangeiras. A expansão do protestantismo na Ásia, África e América Latina é considerada um resultado direto do trabalho das sociedades missionárias, as quais se tornaram o modelo primário de missão durante os séculos XIX e XX. Além disso, tem sido demonstrado que as organizações de envio de missionários exercem um papel central no processo de conectar aqueles que desejam servir como missionários com as áreas que precisam recebê-los. Algumas décadas atrás, a Youth With a Mission (YWAM) não existia.2 No ano passado, mais de 116 mil pessoas serviram através da YWAM num projeto missionário de curta ou longa duração em oitenta e quatro países. Embora a organização tenha começado nos Estados Unidos, atualmente, mais da metade dos missionários são da Ásia, África e América Latina. O objetivo desta edição especial é fazer uma breve apresentação das organizações de envio de missionários em atuação no adventismo no Brasil. O artigo de capa sugere a criação de uma organização de envio de missionários para a Divisão Sul-Americana. Acreditamos que uma organização equipada para recrutar, treinar, enviar, manter e repatriar a nossa força missionária proverá a estrutura necessária para promoção e gerenciamento do empreendimento missionário, tornando o envio de missionários uma atividade contínua e crescente em nosso território. 1 PIERSON, Paul. The Dynamics of Christian Mission. Pasadena, CA: William Carey International University Press, 2009, p. 31. 2 Youth With A Mission é uma organização missionária com mais de 180.000 voluntários de tempo integral, ministrando em mais de 1.100 locais, em mais de 180 países. Eles treinam mais de 25.000 missionários de curta duração anualmente. FOCO NA PESSOA 5 www.foconapessoa.org.br ESTRUTURAS PARA A MISSÃO adventista MUNDIAL NO SeCULO 21 Por Gorden R. Doss, Ph.D. Tradução: Islana Costa Separados em Casa e Juntos no Campo Missões Separadas da Igreja Igreja e Missões Unidas Juntos em casa, separados no campo Mark.f | AdobeStock MISSÃO MUNDIAL A s denominações cristãs e as agências missionárias usam diferentes modelos estruturais para a realização da missão mundial. Este artigo discutirá quatro desses modelos e suas implicações eclesiológicas e práticas para a missão adventista mundial. O modelo estrutural atual é analisado e sugestões são feitas para ajustá-lo, a fim de que sirva melhor à missão adventista mundial no contexto contemporâneo. Introdução A missão mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia busca proclamar as três mensagens angélicas a todos os povos. Um século atrás, isso significava envolver os 75 mil membros na missão num mundo de dois bilhões de habitantes. À medida que os líderes adventistas ponderavam sobre esse desafio, eles perceberam que a estrutura que existia na época não se adequava à tarefa. Uma reorganização feita em 1901 produziu uma estrutura humana que o Espírito Santo tem usado para trazer um grande crescimento à igreja. Em 2016, a Igreja Adventista já alcançou 19 milhões de membros que buscam evangelizar um mundo já muito diferente, com cerca de sete bilhões de habitantes. Quais seriam as melhores estruturas de igreja para engajar o povo de Deus na missão no século 21? Será que necessitamos de uma nova reorganização, ou um simples reajustamento na estrutura atual seria suficiente? Este artigo advogará a última opção - um ajustamento parcial da estrutura atual para evangelizar de modo mais eficiente as bilhões de pessoas no mundo que não conhecem a Cristo. Durante a maior parte do século 20, a Secretaria da Associação Geral era a única agência oficial que enviava missionários para o mundo. No entanto, em 1990, nasceu uma nova agência, o Departamento de Missão Global. Hoje em dia, a Secretaria envia missionários transculturais em período integral “de todo lugar a todo lugar” e coordena o serviço de voluntários, como os estudantes missionários. Já o Departamento de Missão Global foca no desenvolvimento de estratégias e na formação de novas iniciativas entre os povos que não conhecem o Evangelho. Dentro de seus próprios territórios, as divisões colocam obreiros para alcançar pes- soas não cristãs. Para complementar o trabalho feito pela Igreja Adventista oficial, há um número crescente de agências adventistas não oficiais que se especializam em determinadas regiões ou tarefas. Como a maioria dos grupos cristãos, os adventistas do século 20 estavam tão preocupados com a realidade de fazer a missão em meio a duas guerras mundiais, uma crise global, uma guerra fria, uma mudança do colonialismo para a política independente e muitos outros fatores históricos, que acabaram deixando passar os fundamentos teológicos da missão (Van Engen, 1996, p.17). Contudo, a experiência vivida no século passado e os novos desafios do século 21 forçaram muitas denominações e grupos a entenderem que eles têm que trabalhar mais para colocar sua teologia, estrutura, estratégia e metodologia em harmonia. O alcance global e a diversidade cultural da nossa própria denominação tornam urgente a harmonização da teologia, da estrutura, da estratégia e da metodologia para a missão mundial. Muitas outras denominações têm mais membros do que nós, mas apenas os católicos romanos estão espalhados pelo mundo como nós estamos dentro de uma mesma organização.1 A extensão da diversidade cultural, econômica e educacional dentro da Igreja Adventista é enorme, porém exigimos de nós mesmos um alto grau de unidade. Nossa exigência pela unidade se baseia em dois imperativos, um de natureza prática e outro de natureza teológica. O imperativo prático busca a unidade a fim de fazer um FOCO NA PESSOA 7 www.foconapessoa.org.br evangelismo eficiente, ou “terminar a obra”. O imperativo teológico demanda a unidade como parte de nossa identidade principal. Não permaneceríamos os mesmos se nos fragmentássemos em organizações regionais ou nacionais. A relação das estruturas de igreja e de missão variam muito de uma denominação para outra. As estruturas refletem a teologia particular da igreja e de sua missão, mesmo que elas não sejam totalmente articuladas. Reciprocamente, a eclesiologia e a missiologia de um grupo são moldadas pela passagem do tempo em suas próprias estruturas. Já que este é o caso, é vital que a nossa teologia sobre igreja e missão sejam claramente articuladas e que nossas estruturas sejam construídas para refletir intencionalmente nossa teologia. Se temos que manter a unidade na diversidade, o que consideramos essencial do ponto de vista prático e teológico, temos que ousar não permitir que a estrutura, a estratégia e a metodologia simplesmente evoluam como uma reação às pressões políticas e econômicas, sem que haja uma reflexão teológica. Em vez disso, temos que tentar articular e harmonizar todas as partes que compõem a missiologia adventista. Paul G. Hiebert, um grande missiólogo menonita, discute dois modelos estruturais que são usados de formas diferentes por várias denominações (Hiebert, 1985, p. 249-252). Os modelos de Hiebert são o ponto inicial para analisarmos as estruturas adventistas de missão e obra neste artigo. Muitas definições terminológicas serão úteis nesta leitura.2 Neste artigo, “missão” (no singular), como em “missão global”, se refere a todo o trabalho feito pela igreja, que é a primeira agência de Deus para a salvação dos seres humanos, em obediência à ordem de ir e pregar a todo o mundo. “Missões” (no plural), como em “realizar missões”, se refere a enviar pessoas para pregar em lugares diferentes do seu país de origem e ao ministério transcultural. Então, “missão” é o trabalho mais amplo que toda a igreja faz, enquanto “missões” é o trabalho específico de cruzar fronteiras culturais por amor a Jesus. “Missionário” é a pessoa enviada pela igreja para fazer missões transculturais.3 “Fazer a obra” se refere ao trabalho feito por todos os irmãos em suas congregações locais.4 “Missiologia” é usada em diferentes contextos para se referir tanto a “teologia da missão” quanto a “reflexão intencional e consciente de fazer a missão” (Moreau, 2000. p. 633) que eu uso como “missiólogo”. “Eclesiologia” é a “teologia da igreja”. Modelo 1: Missões Separadas da Igreja O primeiro modelo estrutural é o mais comum entre os cristãos protestantes. Neste modelo, fazer missões é visto como algo separado de fazer a obra. A agência missionária é independente da igreja local ou de uma estrutura denominacional. Essas agências dependem de doações na tradição “fé-missão” e de subsídios congregacionais ou denominacionais em combinações FOCO NA PESSOA 8 www.foconapessoa.org.br variadas. Geralmente elas são interdenominacionais e servem igrejas congregacionalistas que não podem patrocinar sua própria agência missionária. No campo, os missionários enfatizam o plantio de igrejas e se mudam para novos lugares quando a igreja é estabelecida. Eles trabalham junto à igreja local, mas podem ou não ser membros da igreja. Os missionários são administrados por diferentes conselhos de missão, que podem ou não envolver pessoas nativas. “Missões” é primariamente definido como evangelizar povos que não conhecem o evangelho. Este modelo tem algumas vantagens e pontos fortes. Ele promove uma resposta direta dos membros em apoio a projetos missionários específicos. As pessoas que trabalham na organização têm um foco único na missão, que resiste às distrações. Essa abordagem também promove uma forte ligação entre os missionários e seus enviadores, estimulando o cuidado e o apoio às missões. Ela se encaixa muito bem nos ministérios especializados, como o Wycliffe Bible Translators e os ministérios que envolvem a mídia. Mas há também desvantagens e pontos fracos quando se separa a igreja das missões. Primeiramente, encontramos alguns problemas teológicos: este modelo se baseia numa eclesiologia ou doutrina de igreja deficiente. Se a igreja é a primeira agência de Deus para a salvação do ser humano, colocar missionários numa agência que trabalha a uma certa distância estrutural da igreja, tanto no país de origem quanto no campo missionário, é inaceitável. Segundo, este modelo promove uma teologia dualista da humanidade, em que a missão se foca exclusivamente em “salvar almas”, em vez de se focar em pregar às pessoas como um todo. Em terceiro lugar, os missionários que não participam ativamente numa estrutura local de igreja não podem incorporar o ideal do “ministério encarnado”. Num nível prático, este modelo também tem problemas. A relação entre os missionários e os membros da igreja local no campo missionário é ambígua e, provavelmente, problemática se eles trabalharem numa estrutura separada. Quando a estrutura liga os missionários e seus enviadores dentro do campo missionário, mas não necessariamente com a nova igreja que eles plantaram, a parceria no estabelecimento da nova congregação a longo prazo é diminuída. A abordagem “plante e deixe” que pode resultar de um foco exclusivo no plantio de igrejas desperdiça recursos materiais e humanos a longo prazo. Por fim, transferir a liderança para os nativos é problemático quando a partida dos missionários inclui a exclusão de um elemento estrutural importante, a comissão de missões. É evidente que o primeiro modelo não se encaixa com a Igreja Adventista. Nossa eclesiologia define a igreja como uma irmandade global orgânica. Isso exclui a abordagem de plantio de igrejas “plante e deixe”, que estabe- lece igrejas ou grupos autônomos e corta suas relações com os plantadores. Nossa teologia missionária é totalitária, ministrando às pessoas por inteiro, em vez de salvar apenas suas almas. Pode haver uma justificativa para um pouco de distância estrutural no campo para alguns ministérios adventistas oficiais e para igrejas ou ministérios de apoio. Contudo, tanto os ministérios oficiais quanto os não oficiais devem estar cientes das consequências negativas em potencial quando se permite muita separação na estrutura. No adventismo, a missiologia e a eclesiologia estão entrelaçadas e esta ligação deve se refletir na estrutura organizacional. Modelo 2: Igreja e Missões Unidas Neste segundo modelo, a comissão missionária seleciona, treina, envia e administra os missionários de dentro da estrutura principal da igreja. No campo, os missionários servem como oficiais da igreja onde e quando necessário. Eles atuam dentro de uma estrutura organizacional local sem que haja comissões de missão separadas. Os missionários podem ou não ocupar posições de liderança no campo. Este modelo tem pontos fortes. Ele tem como base a teologia de que a igreja é a principal agência de salvação. O ministério integral é melhor quando todos os departamentos e agências estão ligados dentro de uma estrutura comum. O ideal do trabalho missionário é melhor alcançado quando os missionários trabalham junto à estrutura da igreja local no campo. A transferência da liderança para os nativos é mais fácil quando eles simplesmente assumem as posições dos missionários, em vez de ter que preencher a lacuna deixada pela separação da comissão de missão da estrutura. Mas há também algumas desvantagens nesse modelo. Primeiro, conforme o número de membros cresce no campo e a liderança nativa vai tomando conta da igreja, e conforme os missionários vão deixando o campo, os que enviam podem perder contato com o campo e seu foco geral na missão pode se esvanecer. Quando isso ocorre, os que enviam podem perder a motivação e os caminhos para conseguir doações para as necessidades daquele campo. Segundo, a tendência previsível em direção à institucionalização das missões pode aumentar com a ligação estrutural desse modelo. Terceiro, a denominação pode perder sua compreensão do serviço missionário como um ministério especializado. A administração de missionários pode ser percebida como uma tarefa administrativa genérica que precisa como pré-requisito apenas de uma curta experiência em missões, em vez de um ministério especializado. Oficiais de igreja que juntam a responsabilidade da igreja e das missões em seus portfólios podem facilmente se desviar do foco e da especialização que o serviço missionário precisa e merece. É evidente que esse modelo se encaixa mais com o adventismo do que o primeiro. Nossa eclesiologia e missiologia favorecem fazer a obra e as missões ao mesmo tempo. Nossa história mostra as vantagens deste modelo. Temos sido uma “igreja missionária” no real sentido porque temos feito a obra e as missões juntas. No entanto, o adventismo também demonstra alguns dos desafios que estão associados a esse modelo. Primeiro, nosso crescimento de membros e a nacionalização da liderança fora da América do Norte enfraqueceu a ligação direta que existia entre a igreja e as missões, o que tornou a participação da América do Norte em missões um tanto problemática. Apenas 8% dos nossos membros estão no continente onde a igreja nasceu, e os norte-americanos constituem uma fração muito pequena, e em diminuição, dos missionários no mundo. Muitas pessoas têm a impressão errada de que os dias dos missionários estão contados. Há uma tendência generalizada ao isolacionismo que aumenta e di- minui. As ofertas da Escola Sabatina, por exemplo, caíram, e o informativo das missões passa despercebido na programação, mas ainda assim as pessoas e os recursos da América do Norte são essenciais para a missão global adventista. Segundo, conforme a Igreja foi crescendo e se tornou mais complexa e institucionalizada, a iniciativa das missões oficiais se tornou despersonalizada. Os missionários da Associação Geral são invisíveis dentro de suas Divisões. Dar ofertas na Escola Sabatina é como oferecer apoio a uma empresa multinacional. O financiamento dos missionários oficiais da igreja, por toda a estabilidade que o sistema proporciona, não encoraja uma doação sacrificial por parte dos membros. A paixão pela missão é redirecionada para projetos especiais e missões de curta duração, e há também um movimento direcionado às agências missionárias não oficiais. Por mais válidas que as agências adventistas não oficiais possam ser, é perigoso quando o programa missionário oficial da igreja já não se foca no apoio aos membros como fazia no passado. Modelo Misto A: Juntos em Casa e Separados no Campo Como é de se esperar, os principais modelos de obra e de missões às vezes se cruzam. No Modelo Misto A, os Modelos 1 e 2 se cruzam para produzir as seguintes características: os missionários são enviados por comissões missionárias que operam dentro da estrutura da igreja. No campo, porém, os missionários servem sob conselhos missionários separados, em vez de sob a estrutura das igrejas locais. Em outras palavras, a obra e a missão são unidas em casa, mas no campo são separadas. As missões adventistas se pareciam um pouco com este modelo misto durante a era colonial. Os missionários que estavam no campo se juntavam à igreja local e serviam dentro da estrutura organizacional FOCO NA PESSOA 9 www.foconapessoa.org.br daquele país. No entanto, os assuntos administrativos que diziam respeito aos missionários eram resolvidos por uma comissão de “Segunda Seção”, em que os nativos não podiam atuar. Deste modo, a obra e a missão estavam parcialmente separadas no campo. Hoje, todos os missionários oficiais da igreja que estão no campo são administrados pela mesma comissão que administra a igreja local. Modelo Misto B: Separados em Casa e Juntos no Campo Neste modelo, fazer a obra e realizar missões são duas coisas separadas, como no Modelo 1. As comissões missionárias são independentes da estrutura da igreja. No campo, porém, os missionários servem dentro da estrutura da igreja local. À primeira vista, a missão adventista parece não ter nada em comum com este modelo. Mas, uma análise mais profunda pode indicar que a situação atual na verdade lembra este modelo. Nominalmente, os missionários são enviados de dentro da estrutura da igreja na América do Norte. Todavia, uma situação se desenvolveu para separar a igreja das missões no continente onde a igreja nasceu. Isso funciona da seguinte forma: A Associação Geral e a Divisão Norte Americana foram praticamente a mesma instituição por um longo período de tempo. Mas, com o dramático crescimento da igreja fora dos Estados Unidos, a Divisão Norte Americana foi gradualmente desenvolvendo uma identidade separada. Este desenvolvimento aumentou a distância entre o programa oficial de missões da igreja e a Divisão Norte Americana. Embora alguns departamentais desta Divisão participem de comissões da Associação Geral que administram os missionários, seu foco está na sua própria Divisão. As uniões, associações e igrejas da Divisão Norte Americana nunca participaram formalmente da administração de missionários. No passado, isso não causava danos, já que a Divisão estava entrelaçada com a Associação Geral. Havia também uma rede informal que ligava o grande número de missionários da Divisão Norte Americana aos que os enviaram, através de fortes laços de amizade. Nos dias de hoje, os norte-americanos formam uma peque- FOCO NA PESSOA 10 www.foconapessoa.org.br na fração da força de trabalho missionária da igreja, o que quer dizer que há também uma fração menor de enviadores ligados ao serviço missionário. Nenhuma estrutura formal foi instituída para preencher o vazio que foi criado quando a rede informal desapareceu. Assim, o missionário norte-americano serve dentro da estrutura da igreja no campo, mas é praticamente invisível e desligado da América do Norte. Esse desligamento e essa invisibilidade são ainda mais impressionantes em algumas partes do Extremo Oriente e da América Latina, de onde um grande número de missionários têm sido enviados. O desligamento e a invisibilidade dos missionários enfraquecem a missão global adventista. Um Modelo Adventista do Sétimo Dia Para o Século 21 Qual é o melhor modelo para a Igreja Adventista do Sétimo Dia do Século 21? As principais características do Modelo 2 (Igreja e Missões Unidas) são compatíveis com a nossa eclesiologia e missiologia. Contudo, os desafios do Modelo 2 e do Modelo Misto B (Separados em Casa e Unidos no Campo) têm que ser mencionados. Há vários passos específicos que precisam ser tomados para maximizar o que é bom e diminuir os elementos problemáticos: Primeiro, é preciso ter um fundamento forte tanto do lado dos que enviam quanto do lado dos que recebem na ponte missionária. Como já vimos, os missionários adventistas têm um bom fundamento do lado dos que recebem quando estão trabalhando em organizações adventistas missionárias bem estabelecidas. O que precisamos é de um bom fundamento do lado dos que enviam. Divisões, uniões, associações e congregações precisam participar de todas as fases da vida do missionário, desde o envio até seu retorno permanente. Os missionários deveriam estar formalmente ligados às associações e igrejas em sua terra natal, enviando relatórios regularmente e as visitando no período de férias. Segundo, os elementos chave da missiologia, da estratégia, da educação e da administração missionárias precisam estar unidos dentro de uma mesma estrutura. Atualmente, a missiologia funciona sobretudo como uma disciplina acadêmica, mantendo uma certa distância da realização da missão mundial adventista, recebendo algumas consultas de vez em quando. Na última década, houve uma melhora na relação entre a missiologia e a administração da igreja. Todavia, a complexidade da missão no Século 21 demanda não apenas um bom relacionamento entre os missiólogos e a administração como também o desenvolvimento de administradores que sejam missiólogos. Essa separação atual da estratégia de missão (no Departamento de Missão Global) e da administração missionária (na Secretaria da Associação Geral) tem que ser superada. Da maneira que as coisas estão neste momento, a Secretaria é um pouco mais que o departamento de recursos humanos dos missionários, enquanto o Departamento de Missão Global desenvolve estratégias sem trabalhar regularmente com os missionários. A missiologia, a estratégia, a educação e a administração seriam melhor coordenadas numa estrutura chamada de “comissão missio- nária”. O nome na verdade não é tão importante quanto reunir todas as funções para o bem de uma coordenação mais eficaz. Uma “comissão missionária” operaria dentro da estrutura da Associação Geral para manter a eclesiologia e a missiologia adventistas. Terceiro, novos métodos mais criativos precisam ser implementados para financiar a missão mundial. Como a frequência à Escola Sabatina tem caído na América do Norte, não podemos tirar as ofertas para a missão somente na Escola Sabatina. Precisamos de um novo caminho para que os adventistas que querem apoiar o ministério transcultural possam fazê-lo. Quarto, nossa compreensão do serviço missionário como ministério especializado de legitimidade continuada precisa ser fortalecida. O serviço missionário continua da mesma maneira que era no tempo do colonialismo. Dois terços do mundo não é cristão, e um terço (dois bilhões de pessoas) não tem testemunhas cristãs em seu meio. Apenas os missionários adventistas transculturais podem levar a mensagem adventista a essas pessoas. Ser um pastor (ou médico, professor, enfermeiro, etc.) num contexto transcultural é bem diferente de fazer esse mesmo trabalho em sua cultura de origem. O serviço missionário transcultural é um chamado divino e eleva a obra a um nível mais complexo e intenso. O estresse normal do dia-a-dia é elevado num ambiente de trabalho em que é necessário focar suas percepções e maneiras de comunicação para se enquadrar numa cultura diferente. A formação de equipes de obreiros de diferentes culturas exige conhecimento e habilidades especiais por parte do organizador. Tudo isso mostra a necessidade que temos de um sistema mais aprimorado de cuidado com o funcionamento da comissão missionária. Quinto, os desafios da missão na Janela 10/40 requerem que a qualidade da educação adventista missiológica seja melhorada. A Igreja Adventista já completou a parte mais fácil de sua missão ao estabelecer um crescimento de membros vibrante nas regiões relativamente mais receptivas do mundo. A tarefa que temos diante de nós é mais exigente e desafiadora. Falando em termos humanos, a missão da Igreja Adventista é impossível. Os orçamentos atuais são inadequados e o número de pessoas que não conhecem a Cristo parece inalcançável. Mesmo a estrutura organizacional mais ideal não conseguirá cumprir a tarefa. Ainda assim, é preciso fazer alguns reajustes para que o elemento humano na missão de Deus ao mundo seja moldado da melhor forma possível. Homens e mulheres adventistas estão prontos e dispostos a comprometerem a si mesmos e aos seus recursos para a missão mundial. O papel da igreja é se estruturar para ajudar os membros a descobrir e canalizar sua paixão pela missão. Notas 1 Muitas denominações protestantes participam de uma irmandade mundial, mas operam com estruturas nacionais ou regionais que não estão mundialmente interligadas. 2 As definições terminológicas podem não ser completas ou exaustivas. 3 Embora todo cristão seja um “missionário” num sentido mais amplo, este artigo abordará uma visão mais restrita do assunto. 4 Os limites entre “fazer missões” e “fazer a obra” pode se tornar um pouco confuso quando igrejas multiculturais ministram em comunidades multiculturais e multirreligiosas. FOCO NA PESSOA 11 www.foconapessoa.org.br Voluntário Serviço Adventista Por Elbert Kuhn SERVIÇO VOLUNTÁRIO ADVENTISTA V ocê já pensou em mudar o mundo? Ser voluntário é muito significativo e tem um profundo impacto na vida de comunidades e pessoas. Mas você sabia que ser voluntário traz também muitos benefícios para a sua vida? O voluntariado é tão importante que o próprio Jesus disse, em Mateus 9:37-38, que: “A seara é grande, mas poucos são os ceifeiros”. Menciono aqui alguns dos benefícios de investir parte da vida no voluntariado: Ser voluntário desenvolve liderança e impulsiona a carreira profissional Sair de casa, do meio da família e dos amigos, da cidade onde se vive, enfim, da zona de conforto, exige que a liderança seja desenvolvida, já que você vai para um lugar onde não conhece ninguém e precisa fazer algo es- pecífico, ou terá que desenvolver um projeto que ainda não existe. O voluntariado exige que você tome conta de si mesmo, mas que também seja responsável por outros ou por um projeto em execução ou a ser executado. Também exige que você seja adaptável a novas situações, novas pessoas e novas maneiras de pensar, as quais na maioria das vezes serão diferentes das suas. Um estudo feito na Inglaterra pelo TimeBank e Reed Executive pesquisou os 200 maiores negócios e chegou às seguintes conclusões: • 73% dos empregadores contratariam um candidato que passou pelo voluntariado, ao invés de contratar um sem essa experiência; • 94% dos empregadores acreditam que o voluntariado acrescenta várias habilidades em quem participa; • 94% dos empregados que fizeram voluntariado disseram que conseguiram o primeiro trabalho por aprenderem novas habilidades, aumentaram o salário ou forma promovidos.1 A revista Época Negócios, falando sobre as atividades que todo jovem deveria fazer antes de completar 30 anos, cita o voluntariado como uma delas.2 Ser voluntário desenvolve capacidades culturais. É normal crescermos em um local geográfico definido no qual hábitos, ações e pensamentos são formados com base na cultura das pessoas e da localidade onde se vive. Ao ir para um projeto internacional, ou mesmo nacional, mas em outra região e cultura, você terá que abrir mão de alguns hábitos que para você são importantes e, em muitos casos, você os considera como os melhores que existem na face da Terra. Ao você se deparar com uma nova cultura, em que pessoas também pensam e agem de acordo com o que aprenderam, perceberá que existem pontos de vista, hábitos, maneiras de se viver e até mesmo de adorar a Deus que são diferentes das suas, mas não são necessariamente erradas. Isto exige adaptação e contextualização para que você possa ser relevante e útil à comunidade e às pessoas para quem você está ministrando. Em muitos casos, você irá aprender também um novo idioma e a apreciar o fato de que o mundo e as pessoas, mesmo sendo completamente diferentes, são especiais e únicos aos olhos de Deus. Você será mais paciente e tolerante. Ser voluntário traz motivação e senso de realização. O voluntariado basicamente se resume em doar seus talentos e seu tempo de forma gratuita. O voluntariado, ao contrário de muitas outras coisas que você faz, te dá o direito de decidir se doar e ajudar outros ou não. O voluntário, em geral, encontra motivação e um senso de realização muito grande, e isto vem em parte desta decisão pessoal de se doar e ajudar. A escritora Ellen White confirma isto ao dizer que: “O espírito de trabalho altruísta em favor de outros dá profundeza, estabilidade FOCO NA PESSOA 13 www.foconapessoa.org.br e amabilidade cristã ao caráter e traz paz e felicidade ao seu possuidor”, Testimonies, vol. 5, pág. 607. “Ao trabalhar por outros, experimenta-se uma doce satisfação, uma paz íntima que será suficiente recompensa. Quando movidos por alto e nobre desejo de fazer bem a outros, encontrarão a verdadeira felicidade no fiel desempenho dos múltiplos deveres da vida”, Testimonies, vol. 2, pág. 132. Ser voluntário ajuda no cumprimento da missão. Ao longo da história bíblica, da igreja cristã e, particularmente, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, vemos os jovens participando ativamente em todos os níveis e em todo o tempo. Por ter mais liberdade de se movimentar, de viver nas mais variadas e precárias situações, os jovens têm um papel determinante no término da pregação do Evangelho como sugerido por Cristo em Mateus 24:14. Ellen White confirma isto ao dizer que: “Temos hoje em dia um exército de jovens que podem fazer muito, se devidamente dirigidos e animados. Queremos que nossos filhos acreditem na verdade. Queremos que eles sejam abençoados por Deus. Queremos que eles tomem parte em planos bem organizados para auxiliarem outros jovens. Que todos sejam tão bem preparados, que possam representar devidamente a verdade, dando a razão da esperança que há neles, e honrando a Deus em qualquer ramo da obra no qual se achem aptos a trabalhar”, Serviço Cristão, pág. 23. Outro detalhe que tem se destacado muito em relação ao voluntariado e à missão é que, em função dos países que compõem a Divisão Sul-Americana serem neutros em relação às grandes questões políticas mundiais, percebemos que tem sido mais fácil para os jovens sul-americanos irem a lugares que outros jovens da América do Norte ou da Europa não teriam a mesma facilidade. Vemos um crescimento impressionante no interesse de jovens que querem ir para a missão e também da Organização buscando nossos jovens para ajudar nos mais variados projetos. Ser voluntário transforma o caráter e muda as prioridades. Algo que muito me impressionou ao longo destes anos trabalhando com voluntários e missionários é que 100% dos quais tive contato e pude conversar disseram que saíram pensando em ajudar os outros, pensando que poderiam mudar o mundo, mas voltaram com a certeza de que a maior mudança não foi no mundo nem nos outros, mas em si mesmo. To- FOCO NA PESSOA 14 www.foconapessoa.org.br dos reconhecem que, no processo do voluntariado ou na experiência missionária, seja de curto, médio ou longo prazo, tiveram um real encontro com Deus e que os valores e prioridades mudaram radicalmente após esta experiência. O apóstolo Paulo, em várias ocasiões, revela na Bíblia que o serviço desinteressado, o envolvimento na missão e um coração semelhante ao de Cristo são os elementos fundamentais para encontrar a verdadeira alegria e o sentido da existência. Quase no fim do seu ministério e vida, Paulo declara: “…o que para mim era lucro, passei a considerar perda por causa de Cristo”, Filipenses 3:7. “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”, Atos 20:35. Deus está chamando você jovem a experimentar esta aventura que vai lhe revelar o real sentido da vida e lhe ajudará a colocar as prioridades e valores no lugar certo. Vale a pena! Esses são os websites das organizações que podem conectar você ao campo missionário: Serviço Voluntário Adventista: http://www.adventistas.org/pt/voluntarios/ NUMCI: www.numci.org ADRA: www.adra.org.br Maranata: maranatha.org AFM: www.afmonline.org Notas 1 Disponível em http://timebank.org.uk 2 Disponível em http://epocanegocios.globo.com/Vida/noticia/2016/03/30-coisas-para-fazer-antes-de-completar-30-anos.html ELBERT KUHN Elbert Kuhn é coordenador do Serviço Voluntário Adventista da Divisão Sul-Americana. Serviu como missionário na Mongólia por mais de dez anos. Atuou no Brasil como pastor distrital, departamental e administrador. Elbert e sua esposa, Cleidi, formam um time completo e com um grande senso de humor. FOCO NA PESSOA 15 www.foconapessoa.org.br ADVENTIST FRONTIER MISSION Por Conrad Vine, D.Min. AFM U ma das melhores lembranças que tenho da infância é a de navegar com meu pai e meu irmão no nosso pequeno barco familiar. Claro que aquele barco de apenas quatro metros de comprimento não era tão grande, mas, na minha cabeça juvenil, era como se estivesse viajando num transatlântico. Hoje em dia já não navego mais, mas gosto muito de visitar navios antigos e, dentre eles, o mais famoso que visitei foi o Queen Mary, que está em Long Beach, Califórnia. O Queen Mary era um transatlântico de luxo antes da Segunda Guerra Mundial, mas durante a guerra, acabou se tornando um transportador de soldados. Porém, ainda é possível ver a enorme sala de jantar onde os 3.000 convidados da nobreza podiam comer, beber e dançar. Ali, belos talheres de prata faziam pares com os pratos de porcelana chinesa em mesas impecavelmente arrumadas. Tapetes macios e cadeiras estofadas eram banhados por uma luz suave. No entanto, um pouco mais acima, é possível ver como as tropas de 15.000 soldados viviam. A diferença é gritante. Talheres de metal rústico eram espalhados em mesas apoiadas por cavaletes, enquanto bandejas de metal eram usadas no lugar das porcelanas chinesas. Em vez das camas macias, oito beliches velhos eram usados para o descanso dos soldados. Que contraste! Mas por que isso aconteceu? Porque os Estados Unidos estavam em guerra. Os tempos de paz e de consumismo tinham passado, pois a vida de milhares de pessoas dependia daqueles soldados. Aqueles que se sacrificam gostam do sacrifício? Provavelmente não! Tenho certeza de que havia murmurações entre os soldados que dormiam amontoados naqueles beliches. Hoje, nos encontramos em meio a um conflito de proporções cósmicas, e o destino eterno de milhares de pessoas depende do cumprimento da missão evangélica. Mas, no mundo moderno, a pregação está sendo corrompida pelo consumismo, e o antídoto para o consumismo é a consagração, que envolve a renúncia do eu em prol das coisas eternas. Continuar na comodidade em tempos de guerra não é novidade entre o povo de Deus. Ele descreveu isso para o profeta Ezequiel: “E eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois com a sua boca professam muito amor, mas o seu coração vai após o lucro” (Ez 33:31). O que isso tem a ver com os adventistas de hoje? A resposta é simples: Deus está nos chamando para mudarmos as prioridades. Devemos crer que a pregação do evangelho a toda nação é possível. Também temos que entender que a única coisa que Deus quer de nós é que entendamos o valor da salvação de uma pessoa para o Seu reino. No verão de 1985, um grupo de alunos do curso de Teologia da Universidade Andrews sentiu o chamado de Deus para proclamar o evangelho entre os milhares de povos ainda não alcançados pelo evangelho. Assim, depois de um período de oração e jejum, eles estabeleceram a Adventist Frontier Missions (AFM www.afmonline.org). A AFM é uma agência operada por pastores e irmãos adventistas que tem como missão o plantio de igrejas. O objetivo da instituição é recrutar, treinar e enviar missionários para fazer o trabalho pioneiro de iniciar novas igrejas em lugares onde o evangelho eterno ainda não foi propagado. A AFM trabalha somente nos lugares em que a igreja adventista ainda não estabeleceu igrejas ou grupos. O propósito é instituir uma igreja nativa e depois fazer a transição desta nova igreja para a Associação ou Missão mais próxima. Em 2016, ainda há 6.600 grupos étnicos não alcançados pelo evangelho de Cristo em nosso planeta. Este número representa cerca de 40% da população mundial.1 Consideramos um povo não alcançado pelo evangelho aquele no qual não há cristãos nativos em núme- FOCO NA PESSOA 17 www.foconapessoa.org.br ro suficiente para evangelizar seus compatriotas.2 Isto é, um povo é o maior grupo que o evangelho pode alcançar enquanto movimento de plantio de igrejas, sem encontrar barreiras de compreensão ou aceitação.3 A grande maioria destes povos está na “Janela 10/40” e vive em regiões dominadas pelo islamismo, hinduísmo, budismo, animismo, comunismo e secularismo pós-moderno. Uma pessoa pode pregar o evangelho com uma mesma abordagem missiológica em todo o Reino Unido, isto é, para escoceses, ingleses, galeses e irlandeses, sem que tenha que fazer mudanças na abordagem (isto é conhecido como “Abordagem Uni-Max”). No entanto, esse missionário não poderá usar esta mesma abordagem missiológica com os somalis ou os africanos que vivem no Reino Unido e que adoram a espíritos e praticam o vodu (neste caso, uma “Abordagem Etnolinguística” seria mais apropriada). Novamente, a AFM considera um grupo étnico não alcançado pelo evangelho aquele em que menos de 2% da população local é cristã protestante e/ou onde a igreja adventista ainda não tenha sido estabelecida. Então, a agência busca estabelecer novas igrejas em lugares em que uma das condições abaixo se aplica: Batismo em Papua Nova Guiné. 1) Menos de 2% da população local é cristã protestante e/ou a igreja adventista não tem um ministério formalmente estabelecido; 2) Há barreiras significativas de cultura, etnia, idioma, tribo, religião, raça, socioeconômica, ou outra qualquer, que impeçam a proclamação efetiva do evangelho eterno; 3) A AFM pode aplicar esses critérios numa comunidade específica dentro de um grupo de étnico em que haja uma necessidade missiológica. Os missionários da AFM atualmente servem nos seguintes países: Papua Nova Guiné, Filipinas, Camboja, Tailândia, Índia, Malásia, China, outros países fechados do sudeste da Ásia, Irã, Iraque, Turquia, Armênia, Ucrânia, Albânia, Grécia, Irlanda, Mauritânia, Guiné, Mali e Benim. Além destes, os missionários da AFM foram essenciais no estabelecimento da Igreja Adventista em países como a Mongólia, Burquina Faso e parte das Filipinas. Em alguns casos, um trabalhador nativo daquela região pode ser uma boa opção para transpor as barreiras culturais, mas nem sempre isto é possível ou desejável. As barreiras de tribalismo, racismo e preconceito que existem entre grupos vizinhos são geralmente maiores que as barreiras linguísticas e culturais que existem entre grupos separados por milhares de quilômetros. Depois que a AFM identifica qual é a abordagem ideal a ser usada na evangelização do povo local dentro da sua cosmovisão, ela intencionalmente trei- FOCO NA PESSOA 18 www.foconapessoa.org.br Estudante missionária com as crianças da escola de música na Tailândia. Mulher no campo na Tailândia. na nativos daquele povo para continuar fazendo a obra de plantar igrejas mesmo depois que o missionário da AFM for embora do lugar. A AFM recruta adventistas que se sentem chamados por Deus para o ministério transcultural. Eles servem como estudantes missionários, missionários de curto prazo (1 a 3 anos) e missionários de longo prazo (até 25 anos). Alguns missionários são pastores ordenados ou obreiros bíblicos, mas a maioria tem outras profissões nas áreas de enfermagem, pedagogia, arquitetura, contabilidade ou engenharia. Todos eles têm que aprender o idioma do grupo que irão evangelizar. Há lugares em que precisam aprender duas línguas diferentes, como no leste da África, por exemplo, onde os missionários têm que aprender francês e um dialeto local, que pode ser o Fulani ou o Susu. Eles têm que se tornar parte daquele povo. Mas, para servir como missionário da AFM, também é importante ter um bom nível de inglês, pois na maior parte do mundo só é possível aprender o (s) idioma (s) local (is) através do inglês. Os missionários da AFM fazem um estudo sociocultural minucioso, que envolve um processo detalhado e guiado de aprendizado e compreensão da visão religiosa local. Depois, identificam as “pontes” que podem ser usadas para compartilhar o evangelho. Por exemplo, na Turquia há o costume de guardar o último pedaço de pão numa sacola e pendurá-la numa árvore para que alguém pobre possa pegar e comer. Da mesma forma, Jesus é o Pão da Vida, que foi pendurado no madeiro para que todo aquele que quiser o receba. O propósito desse tipo de estudo é nos certificarmos de que, ao evangelizar, estamos automaticamente provendo as respostas para as perguntas que aquele povo tem no coração e não para as perguntas que as vezes nós achamos que eles têm (por exemplo, uma muçulmana não está preocupada com o perdão dos seus pecados, já que os muçulmanos não têm esse conceito de pecados pessoais, mas ela está preocupada em como ela vai se mostrar sem desonra diante de Deus no dia do julgamento). Como a maioria dos missionários vive em regiões que são hostis ao evangelho, os missionários não podem fazer evangelismo público. Em vez disso, eles passam boa parte do tempo em oração e jejum, pedindo FOCO NA PESSOA 19 www.foconapessoa.org.br Leonda George e amigos nas Filipinas. que Deus os guie a uma “pessoa de paz”, em cujo coração o Espírito Santo já vem trabalhando e que esteja aberto ao evangelho. É Deus quem faz essas conexões. Assim, essas pessoas de paz abrem suas portas para relacionamentos informais, através dos quais a mensagem pode ser compartilhada. A AFM, enquanto ministério, assim como seus missionários enquanto indivíduos, é totalmente mantida pelas doações de cristãos adventistas dedicados, que acreditam na missão. Apreciamos muito o sacrifício feito por esses doadores e o desejo que eles têm de ver a mensagem do Senhor sendo propagada entre povos não alcançados pelo evangelho. A transparência e a contabilidade financeiras são cruciais para um ministério como o da AFM, assim, a agência tem o compromisso de prover uma mordomia fiel dos fundos que são confiados para plantar igrejas entre povos não adventistas. Todos os anos, há uma auditoria completa dos registros de fundos da AFM, que é feita por uma empresa terceirizada e um relatório desta auditoria, constando entradas e gastos, é disponibilizado quando requisitado. A Charity Navigator é uma empresa americana que analisa a transparência e a contabilidade financeira de empresas sem fins lucrativos nos Estados Unidos e, nos últimos cinco anos, a AFM recebeu a aprovação máxima de 4 estrelas, a qual menos de 5% de todas as empresas sem fins lucrativos americanas recebem. FOCO NA PESSOA 20 www.foconapessoa.org.br Mas como tudo isso se aplica ao Brasil? Deus tem abençoado Seu povo na América Latina de uma maneira incrível. E isso é mais evidente ainda no Brasil, onde a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem recebido o derramamento do Espírito Santo e onde Deus tem dado à liderança da Igreja Adventista uma visão e um chamado para que a igreja seja uma benção para o Reino de Deus ao redor do mundo. Temos dialogado com a Divisão Sul-Americana desde 2012 e, em 2014, um acordo foi firmado, o que finalmente possibilitou o estabelecimento da AFM Brasil em fevereiro de 2016. Esta nova agência está situada no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-EC) e o diretor executivo é o pastor Samir Costa. O pastor Samir é um ministro ordenado da Igreja Adventista que voltou recentemente ao Brasil depois de 4 anos servindo como missionário no Chipre do Norte, na Janela 10/40 ([email protected]). A Comissão Administrativa da AFM Brasil é representada por líderes do UNASP-EC, da Divisão Sul-Americana e da AFM nos Estados Unidos. A partir de agosto de 2016, a AFM Brasil vai começar a recrutar missionários de curto prazo para servirem na Janela 10/40 por um ano. Com a graça de Deus, oramos para que trinta novos missionários brasileiros sejam enviados ao campo nos próximos anos. Depois de alguns anos em funcionamento, a AFM Brasil passará por uma avaliação da Divisão Sul-Americana e do UNASP-EC e poderá passar a enviar missionários de longo prazo para o mundo. Se Deus quiser, os primeiros missionários brasileiros da AFM irão servir em países do oeste da África, entre os muçulmanos, também na Tailândia, entre os budistas; no Camboja, entre os animistas, e nas Filipinas, entre os animistas-católicos. Mas o que isso tem a ver com membros e pastores do Brasil? Primeiro, ore! Eu creio que Deus tem lhe chamado a orar pelos povos ainda não alcançados, pelo evangelho e pelas suas necessidades espirituais. Ore para que Deus estabeleça um exército de missionários brasilei- ros fiéis, que estejam prontos a deixar o conforto de suas casas para que outros possam ouvir sobre o amor do Salvador. Ore cada dia por um grupo étnico diferente, aprenda a história daquele povo, leia sobre a cultura dele e ore para que Deus opere milagres naquele país. Segundo, doe! Talvez Deus está lhe chamando para patrocinar um novo missionário da AFM Brasil. Pode ser uma doação que o ajude a alcançar seu alvo anual, ou pode ser uma palavra de encorajamento, um cartão de natal pelos Correios ou um convite para que ele fale em sua igreja. Ellen White escreveu sobre a benção que a igreja local recebe quando apoia o trabalho de um missionário: A obra missionária em nosso país muito progredirá em todos os sentidos, quando se manifestar em prol da prosperidade das missões estrangeiras um espírito de mais liberalidade, abnegação e desprendimento; pois a prosperidade da obra em nosso país depende grandemente, abaixo de Deus, da influência reflexa da obra evangélica nos países distantes. É agindo ativamente para suprir as necessidades da causa de Deus que pomos a alma em contato com a Fonte de todo o poder. (Vida e Ensinos, p. 222) Conforme as igrejas locais começarem a apoiar as missões estrangeiras, Deus dará bênçãos a estas igrejas. Terceiro, vá! Pergunte a Deus se Ele está lhe chamando para servir como missionário num país ainda não alcançado pelo evangelho, proclamando o amor de Deus onde Ele ainda não é conhecido. Quando estiver servindo a Deus fora do Brasil, você vai estar fora da sua zona de conforto e terá que depender do Espírito Santo para absolutamente tudo. Você vai ver Deus trabalhar de maneiras que você nunca viu e vai voltar ao Brasil com um conhecimento maior de Deus e um amor ainda mais profundo por Ele. Enquanto reflito sobre esse crescimento, me vem à mente 1 Coríntios 3. Todos temos uma parte a desempenhar no Reino de Deus, cada um a seu tempo e a sua própria maneira. Uns oram, outros doam e outros vão. Uns são chamados por Deus para plantar, outros para aguar, outros para colher, mas todos esses dons vêm de Deus. Por favor, junte-se a mim em oração para que os novos missionários da AFM Brasil sejam ungidos pelo Espírito Santo, para que o testemunho deles seja atrativo e para que muitos conheçam o plano da salvação. Ore para que se cumpram as palavras de Isaías 35:10: “E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido”. Notas 1 www.joshuaproject.net. 2 Idem. 3 https://joshuaproject.net/definitions.php. CONRAD VINE O Pastor Vine é um ministro do evangelho ordenado da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Conrad e Luda se casaram em dezembro de 1999 e consideram o casamento deles uma benção pessoal do amorável Pai celestial. Eles têm dois filhos, David e Christina. Você pode contatá-lo através do email [email protected]. FOCO NA PESSOA 21 www.foconapessoa.org.br Por Célia Araújo Gazeta IDE-GO O INSTITUTO DE DISSEMINAÇÃO DO EVANGELHO – GOSPEL OUTREACH DO BRASIL, mais conhecido como IDE-GO, é uma organização religiosa, sem fins lucrativos, composta por cristãos leigos, voluntários, que tem como objetivo principal proclamar o Evangelho eterno do amor de Deus a todas as pessoas do mundo, atendendo ao imperativo de nosso Senhor Jesus que disse: “IDE por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Esta organização é de apoio à Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e sua missão tem sido facilitar a disseminação do evangelho de forma não dispendiosa e efetiva, através da capacitação de evangelistas locais para a proclamação do evangelho. O IDE-GO tem sua sede localizada na cidade de Engenheiro Coelho, São Paulo, e foi fundado em dezembro de 2010. É um ministério de fé, autofinanciado por doações voluntárias feitas por pessoas interessadas em “com- pletar o trabalho da pregação”. Não se aceitam dízimos nem pactos, pois estes devem ser direcionados às igrejas locais. Todas doações são empregadas na sua totalidade em projetos de evangelismo, e para nenhum outro propósito. SUA ORIGEM - O IDE-GO é entidade membro do GOSPEL OUTREACH com sede na cidade de College Place, Estado de Washington, USA. Idealizado em 1985, esta organização foi posta em ação no dia 1 de maio de 1993 com um evangelista nas Filipinas. A partir de uma origem humilde, o Gospel Outreach cresceu a ponto de, junto com sua filial do Canadá e agora do Brasil, hoje patrocinar mais de 2.400 evangelistas leigos que proclamam as boas novas da salvação em Cristo Jesus, em 45 países menos desenvolvidos do mundo, frequentemente conhecidos como sendo a “Janela 10/40” que é o maior foco deste ministério. COMO TRABALHA - Os projetos de evangelização são enviados pelas Missões, Associações, ou Uniões da Igreja Adventista, solicitando o patrocínio do número de obreiros que for necessário. Os projetos são aceitos somente onde a presença da Igreja Adventista é inexistente ou mínima. Uma vez o projeto aprovado pela Diretoria Executiva do IDE-GO, baseado em recursos financeiros existentes, firma-se um contrato entre as partes, com duração mínima de três anos, em que a Missão local compromete-se a escolher, treinar e coor- denar os evangelistas leigos nativos, pois são eles que melhor conhecem a língua, a religião, os costumes e a cultura do seu próprio povo; e o IDE-GO por sua vez compromete-se a patrocinar estes evangelistas leigos com um estipêndio mensal, durante o período necessário para a evangelização do local a que são designados. Este contrato pode ser renovado tantas vezes quanto necessário, dependendo de prévio acordo entre as partes envolvidas. ATUALMENTE - O IDE-GO hoje conta com 10 projetos evangelísticos: PROJETOS DA UNIÃO DO SAHEL LESTE, ÁFRICA Desde 2014 o IDE-GO se faz presente nos países de Benin e Togo, dois países com uma população em grande parte muçulmana e também animista. Com 25 obreiros no Benin e 20 no Togo, a meta é alcançar os grandes bairros situados na periferia das suas capitais, onde a presença adventista é inexistente. Com enfoque no Benin, a capital mundial do vodu, difundir o evangelho entre os muitos estudantes jovens que vivem ao redor da Universidade local, tem sido um grande desafio. No início de 2015, Burkina Faso e Costa do Marfim receberam o patrocínio para 20 e 25 evangelistas respectivamente. Nestes países a proporção de adventistas para os não adventistas ainda está em 1/4.500 aproximadamente. De todos os 5 países que compões esta União, o maior enfoque está sendo dado na evangelização do Níger. Desde FOCO NA PESSOA 23 www.foconapessoa.org.br agosto de 2015, quando depois de 30 anos a Igreja Adventista contava com apenas uma igreja central na capital de Niamey e um pequeno grupo em um dos bairros totalizando 90 membros, hoje existem mais três igrejas construídas, uma escola fundamental, um poço artesiano, e a construção atual de uma clínica médica, tudo graças à parceria com a Missão Global. O número de membros cresceu para 250. PROJETO NIASSA, MOÇAMBIQUE, ÁFRICA Esta província é a mais extensa do país e a de menor população, espalhada em pequenas aldeias. Cinco duplas de evangelistas foram estabelecidas em pontos diversos desta área. Seu coordenador leva de 20-25 dias para percorrer o seu território, viajando em caminhões superlotados, de moto, mas na maior parte das vezes à pé, atravessando vales e rios. É um dos projetos que mais tem conseguido almas para o reino de Cristo. PROJETOS NO BRASIL PROJETO PAULISTANA – Após custear os estudos de Teologia do primeiro pastor surdo adventista brasileiro, o IDE-GO mantém um obreiro surdo para auxiliar o pastor a evangelizar os 600.000 surdos ou com alguma deficiência auditiva residentes na Grande São Paulo. Estão no processo do estabelecimento de uma igreja só para surdos, que já conta com uma congregação aproximada de 200 surdos a cada sábado. PROJETOS PIAUÍ E CEARÁ - Estes dois estados localizados na região de menor presença adventista do Brasil e conhecida como a “janela 10/40 brasileira” de desafios ao evangelismo, contam com 4 evangelistas no Piauí e 1 no Ceará, projeto este iniciado recentemente em abril de 2016. FOCO NA PESSOA 24 www.foconapessoa.org.br Mirda79 | AdobeStock PROJETO XERENTES – A partir do início do curso de Estudos em Religião ministrado pelo IABC em julho de 2016, o IDE-GO estará patrocinando os estudos deste curso para quatro índios da etnia xerente, residentes no norte do Tocantins. Dentre eles, está um índio consagrado pelos batistas como um pastor desta denominação, e o cacique da aldeia principal. Espera-se que o conhecimento das doutrinas adventistas os levem ao batismo e que possam compartilhar a mensagem do advento ao seu grupo. Com um total de 120 evangelistas, este ministério pela graça de Deus e atuação do Espírito Santo conseguiu em 2015, através do batismo, trazer mais de 1.400 almas aos pés do Salvador. A Ele sejam dadas toda honra e glória do sucesso desse trabalho. Amém. “ “ O IDE-GO hoje conta com 10 projetos evangelísticos CÉLIA ARAÚJO GAZETA Célia Araújo Gazeta é Secretaria do IDE-GO. FOCO NA PESSOA 25 www.foconapessoa.org.br Por Silvano Barbosa, Ph.D., Candidato FOCO NA PESSOA 26 www.foconapessoa.org.br FERRAMENTAS PARA A MOBILIZAÇÃO O historiador da missão Andrew Walls analisa o processo de transmissão da fé cristã1 e a origem do movimento missionário moderno.2 Seus estudos sugerem que uma atividade missionária bem-sucedida depende de três pré-requisitos, igualmente indispensáveis: (1) um grupo de pessoas comprometidas; (2) uma organização capacitada para mobilizar, treinar, enviar e manter tal força missionária e (3) acesso sustentável a bases internacionais específicas. A primeira necessidade refere-se a um grupo de pessoas com o grau de comprometimento necessário para viver nos termos culturais de outras pessoas. Para terem sucesso em seu empreendimento, os missionários precisaram se adaptar às condições de vida e formas de pensar de outras culturas. Além disso, a atividade missionária sempre exigiu pessoas preparadas para explicar, recomendar e ilustrar a fé cristã, sem coagir a sua aceitação.3 A segunda pré-condição destaca o papel crucial de uma organização equipada para recrutar, treinar, enviar e manter pessoas comprometidas, provendo um link entre aqueles que estão dispostos a ir e as áreas onde eles servem. Uma característica importante destas organizações é a flexibilidade. A adaptabilidade, a criatividade e a inovação também são indispensáveis para alcançar o propósito missionário. O estabelecimento de organizações de envio de missionários se tornou popular no século XVIII com a criação das sociedades missionárias. Entretanto, muito antes desta época, estruturas missionárias já estavam em funcionamento em movimentos com diferentes formas e características, e foram responsáveis, em grande medida, pela expansão e transmissão da fé cristã.4 A importância do que aconteceu por volta do final do século XVIII, entretanto, foi que esta nova forma de organização missionária era devotada explicitamente às missões estrangeiras.5 William Carey é o representante mais conhecido desta fase e é chamado de “pai do movimento missionário moderno”.6 Nas décadas seguintes, centenas de organizações similares foram estabelecidas e milhares de missionários foram enviados a diferentes partes do mundo. A expansão do protestantismo na Ásia, África e América Latina é considerada um resultado direto do trabalho das sociedades missionárias, as quais se tornaram o modelo primário de missão durante os séculos XIX e XX. O terceiro elemento necessário para a realização de Missões foi ter acesso sustentável às áreas onde a atividade missionária foi realizada. Este fator logístico está relacionado com a capacidade de colocar os missionários em bases internacionais, com a expectativa de manter comunicação regular com eles.7 Ao longo da história, o movimento missionário tem dependido da combinação destes três fatores, os quais foram observados no catolicismo, em movimentos de reforma e no protestantismo. A ausência de um ou mais destes elementos resultou em períodos em que os protestantes não estabeleceram bases missionárias, mesmo quando eles tiveram tal intenção.8 A chegada do século XX, entretanto, trouxe outro fenômeno na história do movimento missionário, que veio a ser definido como a Ascensão do Sul Global,9 Mudança de Maré10 ou A Próxima Cristandade.11 Os editores do relatório produzido para a Conferência Missionária Mundial de Edinburgh de 1910 afirmaram que, por volta de 1882, as igrejas na África e Ásia estavam crescendo num ritmo mais rápido do que as igrejas de onde os missionários estavam vindo.12 Nas décadas seguintes, esta tendência se confirmou e, atualmente, o centro de gravidade do cristianismo mundial mudou dos Estados Unidos e Europa para a África, Ásia e América Latina, onde 1,5 bilhão de pessoas professam ser cristãs.13 Esta mudança também pode ser observada dentro do adventismo. Atualmente, noventa e dois por cento dos membros da igreja vivem no sul global14, e os dízimos gerados nestas áreas devem se igualar aos dos Estados Unidos e da Europa nos próximos anos.15 De fato, a igre- FOCO NA PESSOA 27 www.foconapessoa.org.br ja atingiu maturidade organizacional e financeira em muitas áreas do mundo em desenvolvimento. Agora, numa iniciativa histórica, a Divisão Sul-Americana iniciou uma nova fase em seus esforços relacionados ao empreendimento missionário mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia. É reconhecido que até aqui temos promovido as histórias da carta missionária, coletado ofertas para as missões e colaborado com a Conferência Geral sempre que essa solicita obreiros experientes e altamente educados para servirem na sede mundial da igreja ou em alguma das suas instituições. Contudo, em 2015, vinte e cinco famílias foram enviadas para servirem como missionários de “linha de frente” em diferentes países da Ásia, África e Oriente Médio, totalmente patrocinadas e logisticamente apoiadas pela Divisão. Os recursos financeiros foram levantados como resultado de um esforço conjunto entre todas as instituições da igreja na América do Sul. Em números totais, atualmente cerca de trinta famílias estão servindo como parte deste projeto fora do território da Divisão. Entretanto, embora a Divisão Sul-Americana possa identificar positivamente as pessoas comprometidas que desejam ser missionárias e as localidades específicas onde elas estão sendo comissionadas a servir, ela não possui uma organização missionária exclusivamente dedicada às missões estrangeiras. Uma organização de envio de missionários que seja capacitada para recrutar, treinar, enviar, manter e repatriar a sua força missionária. Uma instituição que se tornará a voz do empreendimento missionário no território da Divisão, conscientizando constantemente os membros acerca das necessidades das áreas menos evangelizadas do mundo, além de prover uma ponte entre aqueles que querem ir e as regiões que desejam recebê-los. Por um outro lado, pode ser argumentado que, apesar de a Divisão Sul-Americana não possuir tal organização missionária, ainda assim, o trabalho está sendo feito e os missionários estão sendo enviados. Entretanto, deve-se observar que o envio de missionários tem sido executado como um dentre muitos projetos evangelísticos da Divisão. Ao mesmo tempo, é preciso enfatizar que é através de organizações de envio de missionários, exclusivamente dedicadas às missões estrangeiras, que o movimento missionário tem alcançado os seus resultados mais efetivos. Estas organizações proveem a estrutura necessária para que o empreendimento missionário seja feito não como um evento isolado, mas como uma atividade contínua e crescente. FOCO NA PESSOA 28 www.foconapessoa.org.br De fato, a eficácia da missão adventista nos anos iniciais da denominação foi, em grande medida, devido ao fato de que o nosso esforço missionário estava baseado neste modelo. Em novembro de 1889, a sessão da Conferência Geral criou o Conselho de Missões Estrangeiras da Igreja Adventista do Sétimo Dia “para o gerenciamento do trabalho missionário estrangeiro.”19 Embora o Conselho de Missões Estrangeiras estivesse sob a supervisão da Conferência Geral, a organização missionária gozava de extensiva autoridade e as suas decisões não precisavam ser aprovadas em nenhuma outra comissão. Assim, a organização missionária era totalmente responsável por analisar o mundo para fazer um levantamento das necessidades, estabelecer prioridades, desenvolver uma estratégia missionária geral, selecionar e enviar pessoal e responder a qualquer necessidade percebida em qualquer região do mundo. Como resultado desta abordagem focalizada, no final de 1899, o adventismo havia sido estabelecido não apenas na América do Sul, mas também em cada continente habitado e em muitas ilhas. Em 1901, a igreja foi reestruturada para atender melhor as suas demandas missionárias20 e a Comissão Administrativa da Conferência Geral tornou-se na prática uma agência missionária.21 O presi- Fatores igualmente indispensáveis para a realização de uma atividade missionária contínua e crescente: Uma organização de envio de missionários que seja capacitada para recrutar, treinar, enviar, manter e repatriar a sua força missionária provendo uma ponte entre aqueles que querem ir e as regiões que desejam recebê-los. Um grupo de pessoas com o grau de comprometimento necessário para se adaptar às condições de vida e formas de pensar de outras culturas e preparadas para explicar, recomendar e ilustrar a fé cristã, sem coagir a sua aceitação. dente A. G. Daniells e o secretário W. A. Spicer eram homens de ampla visão que lideraram iniciativas missionárias dramáticas e o trabalho dos missionários era administrado no coração da organização. Ao longo do século XX, o serviço missionário foi absorvido pela Secretaria da Conferência Geral, ao invés de por uma instituição especializada.22 Uma fraqueza desta abordagem, entretanto, foi que a visão e a promoção missionárias dependiam pesadamente destes dois líderes. Assim, quando eles foram substituídos por outros líderes que não compartilhavam a paixão e a visão deles, o empreendimento missionário sofreu uma falta de continuidade, apesar de a igreja continuar crescendo em diferentes partes do mundo. Adicionalmente, tem sido demonstrado que as organizações de envio de missionários têm um papel central no processo de conectar as pessoas que desejam servir como missionárias e as áreas que desejam recebê-las. Algumas décadas atrás, a Youth With a Mission (YWAM – Jovens com uma Missão) não existia. 23 No ano passado, mais de 116 mil pessoas serviram através da YWAM num projeto missionário de curta e longa duração em oitenta e quatro países. Embora a orga- nização tenha começado nos Estados Unidos, atualmente mais da metade dos missionários são da Ásia, África e América Latina.24 Os últimos vinte ou trinta anos têm testemunhado o surgimento de novas organizações missionárias mais do que em qualquer outro período da história. No Adventismo do Brasil, o estabelecimento de organizações ou iniciativas como Serviço Voluntário Adventista, Maranata, Adventist Frontier Mission, Núcleo de Missões e Crescimento de Igreja, e Ide-Go, são evidências deste fato. Capacidade de colocar os missionários em bases internacionais, com a expectativa de manter comunicação regular com eles. Considerando todos estes fatores e tendo em vista a promoção, gerenciamento e expansão do empreendimento missionário em nosso território, não seria este o momento oportuno para estabelecer uma organização de envio de missionários para a Divisão Sul-Americana? O que seria necessário para estabelecer tal organização? Alguns fatores a serem observados no processo de desenvolvimento de um modelo de organização que se adeque a estrutura organizacional da Igreja Adventista são: (1) relacionamento da Divisão com a Conferência Geral; (2) relacionamento entre a Divisão Sul-Americana e a Divisão que receberá os missionários; (3) critérios de operação desta instituição dentro do território da Divisão, incluindo a sua atuação na igreja local e (4) relação desta organização com as demais organizações de envio de missionários em atuação no Adventismo no Brasil. FOCO NA PESSOA 29 www.foconapessoa.org.br Notas 1 WALLS, Andrew. The Missionary Movement in Christian History: Studies in The Transmission of Faith. Maryknoll, NY: Orbis Books, 1996, pp. 3–68. 2 WALLS, Andrew. The Cross-Cultural Process in Christian History: Studies in the Transmission and Appropriation of Faith. Maryknoll, NY: Orbis Books, 2002, pp. 200–221. 3 Walls observa que por volta de 1500 d.C., o periodo em que a expansão marítima Europeia começou, o único modelo de Cristianismo que a Europa Ocidental conhecia era o modelo de Cristandade, o modelo de territórios Cristãos, frequentemente adquiridos pelo uso da espada. Conquista e conversão estavam juntas naturalmente. Os portugueses, entretanto, começaram o movimento missionário moderno como resultado de uma mudança de paradigma obrigatória. Com a mesma teologia e experiência dos espanhóis, mas com um exército pequeno, eles tiveram que acomodar a ideia de Cristandade à realidade militar deles. O modelo das Cruzadas era não apenas inapropriado mas também impossível . Consequentemente, eles desenvolveram uma nova categoria de servidores Cristãos os quais tinham a função de persuadir sem os instrumentos para coagir, vivendo nos temos culturais estabelecidos por outras pessoas. Os portugueses aplicaram esta estratégia inicialmente na Ásia, quando estabeleceram uma relação comercial com os grandes impérios Mogol e Chinês. Este método estava longe de ser novo na história Cristã como um todo mas certamente era contrário ao que estava no centro da compreensão Cristã Ocidental de trabalho missionário. Walls, The Cross-Cultural Process in Christian History, 198, 199, 220; Um exemplo deste fato é o trabalho missionário dos jesuítas no Brasil. Numa carta enviada ao rei de Portugal, João IV, o padre e diplomata jesuíta Antônio Vieira aconselha a sua majestade em relação à metodologia a ser aplicada para a conversão dos nativos brasileiros, chamados de índios. Entre outras coisas, ele recomendou que: (1) os governadores e capitães não deveriam ter jurisdição sobre os índios; (2) os índios deveriam ser governados por religiosos; (3) os índios deveriam ter permissão para se juntarem da maneira como julgassem apropriado, pois esta ação favoreceria a doutrinação e a preservação deles; (4) nenhum índio deveria trabalhar longe das suas vilas por mais de quatro meses, para que pudessem cuidar das suas famílias, plantações e fossem convertidos à fé católica; (5) incursões ao interior deveriam ser feitas apenas por religiosos, e que estes mesmos líderes religiosos gerenciassem os índios nas vilas deles; (6) todos os índios deveriam aprender a mesma doutrina para evitar opiniões divergentes; e (7) religiosos não deveriam ter fazendas, plantações de tabaco ou moinhos, para evitar distrações. Antonio Vieira to el-rei, Maranhao, April 6, 1654, em Obras do padre Antonio Vieira: Cartas [Works of the Father Antonio Vieira: Letters], eds., J. Seabra and T. Antunes, vol. 1, Cartas do padre Antonio Vieira [ Letters of the Father Antonio Vieira] (Lisbon: Tipografia da Revista Nacional, 1855), 51–58. 4 Alguns exemplos de diferentes formas de organizações missionárias são: (1) a igreja céltica, a qual sob a liderança de Patrick, que morreu por volta de 460 d.C., desenvolveu um tipo de monasticismo distinto, influente e intensamente focado na missão. Veja F. F. Bruce, Spreading the Flame: The Rise and Progress of Christianity from its First Beginnings to the Conversion of the English (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1958), 371–396; Stephen B. Bevans and Roger P. Schroeder, Constants in Context: A Theology of Mission for Today (Maryknoll, NY: Orbis Books, 2006), 171; Paul Pierson, The Dynamics of Christian Mission (Pasadena, CA: William Carey International University Press, 2009), 72; Christopher Dawson, Religion and the Rise of Western Culture (New York, NY: Image Books, 1958), 58; George Hunter III, The Celtic Way of Evangelism (Nashville, TN: Abingdon Press, 2000), 36–38, 47; (2) os Valdenses, que obtiveram algumas das suas realizações missionárias mais significativas sob a liderança de Pedro Valdo, 1140-1218 d.C.. Os Valdenses espalharam a mensagem deles na França, Itália, Alemanha e Boêmia, chegando até a Espanha e Polônia. Veja James Aitken Wylie, The History of Protestantism, vol. 1, Progress From the First to the Fourteenth Century (London: Cassell Petter & Galpin, 1874), 23; Alex Muston, The Israel of the Alps: a Complete History of the Waldenses of Piedmont and Their Colonies (London: Blackie & Son, 1866), 3–7; Emilio Comba, Waldo and the Waldensians Before the Reformation (New York, NY: Robert Carter & Brothers, 1880), 16, 17; e (3) os Morávios, os quais sob a liderança de Nicolau Von Zinzendorf enviaram missionários para vinte e oito países. Uma em cada treze pessoas da comunidade deles foram enviadas como missionárias. J. E. Huton, A History of Moravian Missions (London: Moravian Publications Office, 1923), 166; A. J. Lewes, Zinzendorf: The Ecumenical Pioneer (Philadelphia, PA: The Westminster Press, 1962), 78; John R. Weinlick, Count Zinzendorf: The Story of His Life and Leadership in the Renewed Moravian Church (Bethlehem, PA: Pierce & Washabaugh, 1989), 100. 5 Uma lista das dezesseis sociedades missionárias mais importantes na Europa e nos Estados Unidos nos últimos anos do século XVII e na primeira metade do século XIX é apresentada em Jacques A. Blocher and Jacques Blandenier, The Evange- lization of the World: A History of Christian Mission (Pasadena, CA: William Carey Library, 2013), 289, 290. 6 Carey era consciente de que o trabalho missionário estava em progresso a muito tempo. Ele via a si mesmo como alguém entrando num processo em andamento, não iniciando este processo. Em seu livro ele apresenta os morávios como um exemplo a ser seguido: “None of the moderns have equaled the Moravian Brethren in this good work; They have sent missions to Greenland, Labrador, and several of the West-Indian Islands.” William Carey, An Enquiry Into the Obligation of Christians to Use Means for the Conversion of the Heathen (London: Ann Ireland, 1792), 36, 37; Walls, The Cross-Cultural Process in Christian History, 204. FOCO NA PESSOA 30 www.foconapessoa.org.br 7 Walls, The Cross-Cultural Process in Christian History, 200. 8 A Church Missionary Society (CMS), por exemplo, fundada em 1979, não pôde enviar missionários antes de 1804 por falta de pessoal. Eugene Stock, The History of The Church Missionary Society: Its Environment, Its Men, and Its Work, vol. 1 (London: Church Mission Society, 1899), 82. Atualmente, apesar de ter muitos missionários disponíveis, a CMS não pode operar na Coreia do Norte ou na Arábia Saudita, por não ter acesso sustentável a estes locais específicos. 9 Elijah J. F. Kim, The Rise of the Global South: The Decline of Western Christendom and the Rise of Majority World Christianity (Eugene, OR: Wipf & Stock, 2012). 10 Samuel Scobar, Changing Tides: Latin America and World Mission Today (New York, NY: Orbis Books, 2002). 11 Philip Jenkins, The Next Christendom: The Coming of Global Christianity (New York, NY: Oxford University Press, 2007). 12 James S. Dennis, Harlan P. Breach, and Charles H. Fahs, eds., World Atlas of Christian Missions: Containing a Directory of Missionary Societies, a Classified Summary of Statistics, an Index of Mission Stations, and Showing the Location of Mission Stations throughout the World (New York, NY: Student Volunteer Movement for Foreign Mission, 1911), 81–102. 13 Conrad Hackett and Brian J. Grim, Global Christianity: A Report on the Size and Distribution of the World’s Christian Population (Washington, DC: Pew Research Center’s Forum on Religion & Public Life, 2011), 71–78. 14 Office of Archives, Statistics and Research, Annual Statistical Report, 9–27. 15 G. T. Ng, “Missão Adventista: Um cenário em mudança.” Foco na Pessoa 2, no. 4 (dezembro de 2013): 6–15. 16 Wagner Kuhn, “Você está preparado e pronto?” Foco na Pessoa 3, no. 4 (2014): 6. 17 Herbert Boger, “Missionários para o mundo”. Foco na Pessoa 3, no. 3 (2014): 4. 18 Ibid., 4. 19 “General Conference of the Seventh-day Adventists, General Conference Proceedings: Seventeenth Meeting (Battle Creek, MI: Review & Herald, 1889), 141, 142. 20 Barry David Oliver, “Principles for Reorganization of the Seventh-day Adventist Administrative Structure, 1888–1903: Implications for an International Church” (PhD diss., Andrews University, 1989), 40–65. 21 Gordon Doss, “Structural Models for World Mission in the Twenty-First Century: An Adventist Perspective”, Andrews University Seminary Studies 43, no. 2 (2005): 303. 22 Bruce Bauer, “Congregational and Mission Structures and How the Seventh-Day Adventist Church Has Related to Them” (DMiss diss., Fuller Theological Seminary, 1983). 23 Youth With A Mission é uma organização inter-denominacional missinária com mais de 18 mil voluntários em mais de 1.100 localidades de ministério em mais de 189 países. Eles capacitam mais de 25 mil missionários voluntários anualmente. 24 Pierson, The Dynamics of Christian Mission, 30. 25 Ibid., 30. SILVANO BARBOSA O pastor Silvano Barbosa é professor de ensino superior no UNASP-EC e é o editor da revista Foco na Pessoa. Graduou-se em Teologia no IAENE em 1998 e concluiu o mestrado em Teologia Pastoral no UNASP, em 2010. Atualmente, está cursando PhD em Missão e Ministério na Andrews University. Foi pastor distrital por cinco anos nas associações Paulista Leste e Mineira Sul. Também atuou no sul de Minas como Secretário Ministerial e departamental de Publicações por três anos. Em seguida, serviu por quatro anos como departamental de Ministério Pessoal e Escola Sabatina nas associações Norte Paranaense e Paulista Central. É casado com a enfermeira Lea Sampaio, com quem tem dois filhos, Davi e Liz. FOCO NA PESSOA 31 www.foconapessoa.org.br Por Gabriel Stein de Servi NUMCI N o Centro Universitário Adventista de São Paulo, Campus Engenheiro Coelho (Unasp-EC), férias também é sinônimo de missão. No último mês de julho, os estudantes desenvolveram 8 projetos em 7 países diferentes: Albânia, Brasil, Espanha, Índia, Moçambique, Peru, Uruguai. Aqui estão mais detalhes sobre dois desses projetos. Missionários do Unasp-EC participam de evangelismo comemorativo dos 100 anos da missão Lago Titicaca Como um dos projetos do Núcleo de Missões e Crescimento de Igreja (Numci), no último mês de julho, 20 voluntários se dispuseram a viver o amor de Deus no Peru. Durante 15 dias estiveram divididos na cidade de Puno, nas ilhas de Amantani e Taquile para testemunhar e prestar serviços à comunidade. A região do Lago Titicaca recebeu a mensagem adventista em 1916. Neste ano de comemorações, o grupo de estudantes brasileiros pode contribuir com essa história centenária de missão. Os jovens realizaram uma escola cristã de férias, deram aulas de higiene e cuidados pessoais nas ilhas, e ainda ajudaram a melhorar o meio ambiente em parceria com a prefeitura. Um dos rios da cidade de Puno foi limpo durante a missão. Um destaque foi a doação produtos de higiene pessoal, brinquedos e Bíblias aos habitantes das ilhas. O grupo também fortaleceu o treinamento missionário em cinco igrejas adventistas em regiões diferentes da cidade Com tantas ações o impacto do projeto gerou repercussão na imprensa local. Os líderes da missão participaram de programas informativos na televisão em canal aberto e também em jornais impressos. “Tivemos a chance de falar sobre as oportunidades que o Unasp-EC proporciona para quem quer se envolver com trabalhos voluntários, e como isso tem mudado a vida de muitos alunos”, diz Adriel Moraes, estudante de engenharia e um dos líderes da missão no Peru. “Minha visão de missão era sair da minha zona de conforto e fazer alguma coisa que pudesse ajudar alguém”, explica Luma Danguy, uma das voluntárias. A estudante de direito entendeu que isso não é tudo. Estar no campo missionário, se abrir ao desconhecido e às necessidades do local e das pessoas, exige sensibilidade; algo que só é adquirido com a orientação de Deus. Essa troca de experiências entre brasileiros e peruanos foi positiva para o reavivamento da igreja local. Quem diz isso é Yudita Flores, jovem peruana que esteve com os missionários durante todo o período da viagem. “A semente da missão foi plantada e agora estamos empolgados para dar nosso melhor”, declara. De acordo com Adriel Moraes, a expectativa é de que nos próximos anos as igrejas e escolas adventistas no país continuem a crescer. “Espero que Jesus volte antes de completarmos mais 100 anos; mas enquanto isso, que as pessoas do Peru continuem com o desejo de espalhar e viver a mensagem”, conclui. Link para matéria da prefeitura de Puno sobre o grupo do Numci: https://www.facebook.com/numci/posts/125580743 1110640?notif_t=like¬if_id=1472133678778639 Universitários adventistas dedicam as férias em missão na Europa Outros grupo de jovens estudantes cruzou o oceano Atlântico para uma viagem de missão na Espanha. Durante 21 dias no tradicional, e secular país europeu, eles realizaram várias atividades pelas cidades de Puerto Santa Maria, Estepona e Huelva. Com ênfase em campanhas de saúde, aconteceram três exposições a fim de atender as comunidades e também criar pontes de relacionamentos para as igrejas locais. Recentemente, o assunto tem ganhado grande destaque no país, e serviu como ponto de partida para o FOCO NA PESSOA 33 www.foconapessoa.org.br O casal médico-missionário Edson Jara (à dir.) e Andrea Jara (vestido preto). trabalho dos missionários. Ao todo, eles conseguiram contatar mais de 200 pessoas, sendo que algumas decidiram aprofundar os estudos com encontros contínuos. Ações comunitárias em parceria com a Agência de Desenvolvimento e Recursos Humanos (ADRA), muitas visitas, pregações e treinamentos nas igrejas locais também foram outras atividades que entraram na agenda de atividades dos missionários. Davi Cabanha, que teve a oportunidade de liderar o projeto, diz que a viagem serviu para lhe mostrar mais uma vez que a missão é de Deus e que o controle está sempre em suas mãos. Estudante de teologia, ele e a esposa passaram o ano de 2015 como missionários na Espanha. Durante esse período, aprenderam muitas coisas do país e das pessoas, inclusive que a pregação do evangelho é um grande desafio. FOCO NA PESSOA 34 www.foconapessoa.org.br As feiras de saúde são fundamentais para missões em países secularizados. “É muito comum se deparar com chineses, romenos, brasileiros, búlgaros, marroquinos e vários outros em uma simples caminhada na praça”, conta. Tamanha diversidade cultural exige que o missionário tenha bastante flexibilidade para saber apresentar a mensagem do evangelho de maneira relevante para cada uma das culturas. Quanto ao secularismo, Cabanha entende que nada pode ser mais forte do que o poder de Deus. É por isso que apesar das dificuldades, ainda existem histórias como a de Daniel Paulet. Ex-adventista, o romeno apresentava as típicas características de um jovem europeu atual. Morava com os pais e trabalhava para sustentar um estilo de vida de festas. Curiosamente, foi justamente ele que recebeu o casal de missionários em 2015. Apesar das constantes conversas e convites para ir com eles a igreja ou pelo menos dar um pouco de espaço para a mensagem de Deus em sua vida, ele sempre recusara. Até que no último dia dos missionários no país, o jovem decidiu aparecer e participou de uma reunião informal na casa de um dos irmãos da igreja. Qual não foi a surpresa de Cabanha ao descobrir depois pelo pastor local que Paulet continua fazendo parte de todas essas reuniões e firmou sua vida nos caminhos de Deus. É por experiências assim que Cabanha faz um convite para todos que sonham em ser missionários também. “Em muitos lugares do mundo existe carência de dinheiro e outros bens. Na Espanha, existe carência de amizade, relacionamento e amor. Por isso, a todos que tem o desejo de trabalhar ali, ou em lugares parecidos, eu peço que se lancem nesse caminho com um espírito de amor e comunhão com Deus, e milagres serão realizados”. (à esq.) Os missionários Walter Lisboa, Giancarlo Ferrari e Davi Cabanha respectivamente. FOCO NA PESSOA 35 www.foconapessoa.org.br Jubran | Devianart Por Antônio Pires, D.Min. FOCO NA PESSOA 36 www.foconapessoa.org.br TEOLOGIA DA MISSÃO N uma noite de dúvida sincera, Adriano, um morador da cidade de Florianópolis, no sul do Brasil, questionou a Deus sobre qual era o verdadeiro caminho para a salvação.1 Ele havia aprendido através da Bíblia que existia somente um caminho de vida e ele tinha dúvidas sobre o que isso significava. Naquela mesma noite, ele teve um sonho em que lhe foi mostrada uma igreja ainda em construção em uma localidade da sua cidade. No sonho, ele entrou na igreja pelos fundos e deparou-se com um piano. Logo que entrou na nave da igreja, uma pessoa de óculos o convidou a entrar e conversou com ele. Ele acordou, mas aquilo o incomodou, levando-o a procurar o local visto no sonho. Ao chegar no local, a porta de acesso estava fechada, levando-o a entrar pela porta do fundo. Assim como no sonho, ele se deparou com o piano logo que entrou na igreja e com a pessoa de óculos que o convidou a entrar. Aquele incidente o levou a tomar uma decisão de estudar a Bíblia e posteriormente decidir-se pelo batismo. Jair Oliveira foi espírita desde sua infância.2 Recebeu este legado dos seus avós e pais, e passou esse legado aos seus filhos. Ele administrava cinco grandes centros espíritas no sul do Rio de Janeiro. Uma noite, ele teve um sonho que mudou toda sua vida. Viu um grande mar de águas e uma ponte sobre ele. Seguiu a ponte até um ponto em que ela terminou e, no fim dela, viu um homem com um livro que desapareceu nas águas. Ele buscou nos santos do espiritismo uma resposta para o seu sonho, mas nada obteve. Em outra ocasião viu o mesmo homem do sonho anterior que o levou até uma sala do centro espírita e mostrou muitas imagens nas paredes. O homem perguntou a Jair o que elas significavam e ele respondeu que aqueles eram os santos para os quais ele sempre rezava. O homem disse então para ele que aquelas imagens não eram de santos e sim de demônios. Jair, irado, quando olhou para o homem, já tinha desaparecido. Ele ficou muito apreensivo por algum tempo, pois será que ele por tanto tempo tinha adorado demônios? Certo dia ele ouviu uma voz que lhe falou: Você quer saber mesmo onde você está? Então, leve a Bíblia e coloque diante deles. Sua esposa foi a uma biblioteca e emprestou trinta e seis Bíblias, e quando ele as colocou diante dos membros do centro espírita e disse a eles para estudarem aquilo para saberem por que eles estavam ali, todos correram do lugar. Jair tomou naquele dia a decisão de não ser mais espírita. Várias igrejas o procuraram naquela semana para que ele se tornasse membro de uma delas, mas ele dizia que Deus iria mostrar aonde ele iria. Certo dia, duas pessoas estavam procurando um lugar para fazer uma série de evangelismo no período da Semana Santa. Eles encontraram o irmão Jair e o convidaram para assistir o evangelismo. Ele aceitou e, hoje, ele e seus familiares são líderes da Igreja Adventista que frequentam. Uma forma da revelação de Deus Sonhos no hebraico, ֲ( םֹולhalom); no grego ὄναρ (onar) ἐνυπνιάζομαι, (enipniazonai) ou ἐνύπνιον (enipnion); e visões no hebraico, ( ןֹוזָחchazon); no grego, ὅραμα (horama), ὀπτασία (optasia) ou ὅρασις (horasis); foram sempre uma maneira de Deus se revelar. “Parece que ‘sonho’ designa o estado dormente de receptividade profética, e ‘visão’, o segmento individual dentro do sonho”3. Os termos “sonho” e “visão” às vezes são usados como sinônimos. “Sonho” salienta algo visto enquanto uma pessoa está dormindo, enquanto “visão” realça “uma aparência”, “uma visão” ou “algo visto”. A visão pode vir em um sonho à noite (Dan. 2:19; cf. Atos 12:9), caso em que qualquer desses termos poderia descrever corretamente a experiência (veja Isa. 29:7). Em Joel 2:28 e Atos 2:17, os dois termos aparecem em paralelismo poético e são provavelmente sinônimos.4 Um exemplo disso é o que acontece em Daniel 7:1-2, ao o profeta relatar que teve “um sonho e visões ante seus olhos, quando estava no seu leito”. Portanto, “as circunstâncias em que as visões reveladoras vieram aos videntes da Bíblia são variadas. Elas vieram em horas de vigília dos homens (Dn 10: 7; Atos 9: 7.); de dia FOCO NA PESSOA 37 www.foconapessoa.org.br (Atos 10: 3) ou de noite (Gn. 46: 2). Mas as visões tinham ligações estreitas com o estado de sonho (Núm. 12:6; Jó 4:13)”5. Os sonhos podem se encaixar em duas categorias: (1) Sonhos comuns, que são aqueles que as pessoas têm normalmente enquanto dormem e (2) Sonhos que são resultado da revelação de Deus, através dos quais Deus revela Sua vontade aos homens.6 Este tem sido, pelo que parece expresso pelo apóstolo Paulo, o modo que o Senhor se revelou “muitas vezes e de muitas maneiras” (Heb. 1:1). Dessa forma, quando o Senhor chamava um profeta para dar uma mensagem ao Seu povo, Ele lhes falava por sonhos e visões (Núm. 12:6-8). Assim, o ser humano que não podia encarar a Deus face a face, recebia a revelação da vontade divina que era salvífica em sua natureza. [ Revelação De Deus No AT Em Sonhos E Visões No início do livro de Gênesis, encontramos o ser humano perfeito e podendo falar com Deus face a face. No mesmo livro, com o advento do pecado, o mesmo ser humano está perdido, pecador e fugindo de Deus. O pecado separou o Criador de sua amada criatura e criou um abismo imenso no qual que não mais seria possível a comunicação direta entre Deus e o homem (Êxo. 33:20). O Senhor, no entanto, sai em busca do casal pecador e depois também procura se comunicar com seus descendentes. Deste modo, encontramos Jacó recebendo em sonhos uma revelação divina de proteção e cuidado através de uma escada que unia a Terra ao céu, instruções do manejo de suas ovelhas e um chamado para voltar à sua terra (Gên 28:12; 31:10-13). Quando Labão, seu sogro, sai ao encalço dele para lhe fazer mal, o Senhor dá um sonho a ele não permitindo que nenhum mal fosse feito a Jacó (Gên 31:24). Deste modo, “o não haver ele levado a efeito o seu plano hostil foi devido ao fato de que Deus mesmo interviera em proteção de Seu servo”.7 Vemos José recebendo sonhos que, apesar de gerar descontentamento nos irmãos, eram a revelação de Deus da forma como Ele protegeria os filhos de Israel em um momento crítico de fome sobre a terra (Gên. 37:1-11). Na história de José, vemos como o Deus missionário protegia Seus escolhidos e os direcionava no cumprimento da missão. Outro sonho significativo ainda no AT foi dado a Salomão (1 Reis 3:4), quando este pede a Deus sabedoria para poder guiar o seu povo. No período de Salomão, Deus se fez conhecer entre as outras nações, inclusive com uma visita de uma rainha da Etiópia, a rainha de Sabá, (1 Reis 10:1) que glorificou ao Deus do Céu por tudo que tinha visto [ LeSoldatMort | Devianart O Deus missionário protegia José... FOCO NA PESSOA 38 www.foconapessoa.org.br Miguel Coimbra | Devianart [BABILÔNIA [ em Israel. (1 Reis 10:9). O povo de Deus estava cumprindo a missão de atrair (missão centrípeta) as pessoas à adoração do verdadeiro Deus. “O AT reconhece que, seja qual for a origem de um sonho, ele pode se tornar um meio pelo qual Deus se comunica com os homens, sejam elas israelitas (1 Reis 3:5) ou não-israelitas (Gên. 20:3),”8 Assim como aconteceu com Labão, mesmo pessoas que não faziam parte do povo da aliança foram visitadas pela revelação divina, como Abimeleque, rei de Gerar, que depois de levar Sara para sua casa, após Abraão ter mentido em relação a ela ser sua esposa, apesar de serem meio irmãos. Deus falou a Abimeleque em um sonho que ele morreria. Por ele temer a Deus e devolver Sara a Abraão, Deus foi misericordioso com o rei (Gên. 20:1-18). Ainda outros, assim como este rei receberam sonhos com conteúdo de revelação divina, como o padeiro e o copeiro no Egito no tempo de José, que ao interpretar o sonho deles, revelou a morte do padeiro e absolvição do copeiro e sua reintegração ao serviço do faraó (Gên.40). O próprio sonho duplo do faraó que predizia sete anos de fartura e sete anos de fome (Gên. 41:1-36) foi dado por Deus tendo em vista o cumprimento dos planos de Deus para José, mas em um contexto mais amplo, o Senhor estava enca- minhando Seu povo e protegendo-o a fim de que ele cumprisse sua missão sobre a Terra. O sonho revelador dado ao soldado midianita no livro de Juízes revela como Deus usou aquele fato para encorajar Gideão a ter fé e coragem a fim de levar o povo de Deus à vitória (Jz.7:13-14). Algo impressionante é que o próprio colega do soldado midianita interpreta o sonho, assegurando a Gideão que Deus estava no controle. Há ainda o relato dos sonhos de Nabucodonosor; o primeiro com implicações eternas, mostrava o destino das nações, inclusive o reino de Babilônia (Dan. 2) e o segundo sonho do rei que tinha a ver com sua própria vida. “Em misericórdia, Deus deu ao rei outro sonho, para adverti-lo do perigo em que estava e do engano a que tinha sido levado para sua ruína”9. Aquele sonho possibilitou Daniel fazer um apelo de arrependimento e confissão dos pecados, (Dan. 4:27). Ao ouvir palavras de Daniel, os juízos de Deus sobre o rei foram retardados por algum tempo, mas o orgulho do rei fez com que o que fora predito a respeito dele se cumprisse. Assim, ao final de sete anos o rei se restabelece e “numa proclamação pública ele admitiu a sua culpa, e a grande misericórdia de Deus em sua restauração”10. A revelação por meio de um sonho a Nabucodonosor, sem dúvida, gerou o seu arrependimento final e conversão ao Senhor. O outrora orgulhoso rei tinha se tornado um humilde filho de Deus; o governante tirânico e opressor se tornara um rei sábio e compassivo. Aquele que tinha desafiado o Deus do Céu e dEle blasfemado, reconhecia agora o poder do Altíssimo e fervorosamente procurou promover o temor de Jeová e a felicidade dos seus súditos. Ele reconheceu Jeová como o Deus vivo.11 O monarca babilônico reconheceu a soberania de Deus dizendo: “Eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico ao Rei do Céu, porque todas as Suas obras são verdadeiras, e os Seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba” (Dan. 4:37). Aqui está claro o cumprimento de um propósito maior de Deus através da sua revelação a Nabucodonosor: o de salvá-lo. Podemos ver que a revelação de Deus através de sonhos e visões no AT tem o fim de proteger, educar e salvar Seu povo. Eles foram dados a fim de que a missão de Deus através de Israel pudesse alcançar seu êxito final. Em casos como estes relatados na Bíblia, somente uma abordagem intencional e de forma sobrenatural tinha capacidade de mover os corações e alcançar seu propósito naquele tempo e lugar. A revelação de Deus através de sonhos e visões desde os seus primórdios sempre esteve conectada com a missão, pois foram sempre uma ação intencional do Senhor para proteger Seus eleitos, conduzindo-lhes a cumprir Seu propósito maior. Assim, ao se revelar, Deus de fato o faz com o objetivo salvar o ser humano ou de dar um objetivo salvífico à sua vida. FOCO NA PESSOA 39 www.foconapessoa.org.br FOCO NA PESSOA 40 www.foconapessoa.org.br © kuco e Algol | AdobeStock Revelação De Deus No NT Em Sonhos E Visões O NT tem poucas referências diretas aos sonhos. Cinco desses momentos acontecem no princípio da vida de Jesus e estão inseridos nos dois primeiros capítulos do livro de Mateus. Começa com Deus protegendo Seu Filho ao dar um sonho a José, revelando-lhe que na gravidez que ele notara em sua esposa, o ser “gerado é do Espírito Santo” (Mat. 1:18). Em seguida, os magos recebem orientação de Deus através de sonho para não voltar com informações do lugar onde estava Jesus a Herodes, pois este intentava fazer mal ao menino (Mat. 2:12). José ainda recebe um sonho para fugir para o Egito, pois Herodes, frustrado porque os magos não voltaram com informações, enviou seus soldados para matar as crianças com menos de dois anos (Mat. 2:13), e por fim, após a morte de Herodes, José recebe novamente um sonho avisando-lhe para voltar à terra de Israel, pois já estavam mortos os que tentavam fazer mal à criança (Mat. 2:19, 22) Nos Evangelhos, os sonhos/visões normalmente apresentam uma irrupção do divino na experiência humana, oferecendo algum tipo de revelação para o(s) destinatário(s). Eles fornecem imagens vívidas que descrevem Deus agindo dentro das cenas da história humana, e evocam um sentido mais amplo de Deus agindo por trás das cenas da história humana.12 Deus nunca age ao acaso e, ao enviar uma revelação através de sonhos e visões, Ele demonstra estar no controle da história humana. Todas as coisas acontecem dentro do Seu nível de permissão e Ele age para que o Seu plano redentivo cumpra o seu papel. Assim como no AT, no NT Deus se comunica com Seu povo, mas não está limitado a revelar Sua vontade somente ao povo judeu. A mulher de Pilatos recebe um comunicado divino por meio de um sonho em que lhe é revelado que Jesus Cristo não era um malfeitor como diziam seus acusadores. “A mulher de Pilatos não era judia, mas ao olhar a Jesus, durante o sonho, não tivera dúvidas de Seu caráter e missão”.13 Ela envia um comunicado a Pilatos: “Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito” (Mat. 27:19). No princípio do livro de Atos, Lucas argumenta que os últimos dias haviam chegado e usa a profecia de Joel 2:2832, na qual Deus promete derramar o Espírito Santo sobre toda carne. Aqui Deus usa todas as pessoas (vs. 17 e 18) para levar a salvação a todos (v. 21). Os meios usados para alcançar este fim são os dons que o Espírito Santo reparte com todos como Lhe apraz (1 Cor. 12:11). Neste pródigo derramamento do Espírito Santo, Deus daria sonhos e visões aos Seus filhos para que, por fim, todo aquele que invocar o nome do Senhor fosse salvo. Pedro, ao repetir a profecia de Joel, pregou veementemente no poder do Espírito e quase três mil pessoas foram batizadas. Os últimos dias haviam chegado e Deus começava a derramar o poder do Espírito Santo, conforme havia sido prometido por Jesus antes de subir ao céu (Atos 1:8). [ [ CENTURIÃO CORNÉLIO Uma nova fase missionária estava começando, quando sinais e prodígios acompanhariam os que cressem para um processo de ir ao mundo. Nesse ambiente Deus envia uma mensagem a um homem temente a Deus, porém um centurião romano. Seu nome era Cornélio; ele vê em visão um anjo que vem para revelar o caminho da salvação. Posto que Cornélio cresse nas profecias e estivesse esperando a vinda do Messias, não tinha conhecimento do evangelho como foi revelado na vida e morte de Cristo. Não era membro da igreja judaica e teria sido considerado pelos rabinos com um gentio e imundo. Mas o mesmo santo Vigia que dissera de Abraão: “Eu o tenho conhecido”, conhecia também Cornélio, e lhe enviou uma mensagem direta do céu.14 Cornélio envia seus homens para buscar Pedro, conforme a orientação do anjo na visão e estes partem de Cesaréa até Jope para buscarem a Pedro. No dia seguinte, Pedro recebe uma visão de um lençol que descia do céu com toda sorte de animais, limpos e imundos. Através deste meio extraordinário, Deus agiu para que os preconceitos à pregação do evangelho aos gentios fossem eliminados e a comissão dada aos Seus discípulos pudesse ser realizada. É significativo o fato de Pedro receber a visão nessa cidade. Foi em Jope que Jonas, quando Deus o chamou para ir a Nínive para pregar a uma nação que estava fora da aliança, tomou um navio indo na direção oposta à ordem de Deus “agora, esse Simão, filho de Jonas, na mesma cidade de Jope, ouve o chamado enviando-o além dos limites do povo de Israel”15. Se Deus não tivesse dado esta revelação a Pedro, possivelmente ele não teria ido com os mensageiros, tal foi a forma como ele se apresentou na casa de Cornélio (Atos 10:27-29). A visão dada por Deus preparou a igreja para deixar os limites da Judeia e Samaria e atravessar as fronteiras para inundar o mundo com o evangelho. Assim, novamente o uso de sonhos e visões não está limitado ao povo de Deus. O Senhor usa deste meio para trazer pessoas ao Seu reino. Ele também usa deste meio para dirigir os Seus servos no cumprimento da missão, como conduziu Pedro, e mesmo quando conduziu Paulo a mudar sua rota de pregação e entrar na Europa com a proclamação do evangelho (Atos 16:9); para confortar Seus servos que estão sendo martirizados (Atos 7:55,56); para motivar e inspirar os filhos de Deus na realização da missão (Atos 18:9-11). Sonhos e Visões na Proximidade do Retorno de Jesus “Os acontecimentos do Pentecoste eram apenas um cumprimento parcial da previsão de Joel, que ‘atingirá seu pleno cumprimento na manifestação da graça divina que acompanhará a obra do evangelho.’”16 Deus nunca esteve limitado pelas circunstâncias. Ele planeja suas ações na Terra e quando o ser humano, chamado por Ele, se vê diante de impossibilidades FOCO NA PESSOA 41 www.foconapessoa.org.br para dar prosseguimento à tarefa, o Senhor abre janelas que inundam a missão com novas perspectivas. Como foi no Pentecoste, assim também será no tempo próximo ao Seu retorno à Terra. Diante deste espectro, podemos entender a quantidade de histórias que inundam a internet de pessoas que tomaram sua decisão de servir a Jesus através de experiências extraordinárias envolvendo sonhos e visões. Muitos destes fatos estão acontecendo num dos territórios mais hostis à pregação do evangelho. “Nos últimos anos, tem sido divulgada uma profusão de testemunhos de muçulmanos em países fechados para o Evangelho que têm se entregado a Cristo após experimentarem revelações sobre Jesus, seja através de sonhos ou de visões”17. Em um desses momentos, um xeique, líder espiritual e de grande influência entre os muçulmanos, recebeu três visões. Nas três visões foi relatada a mesma mensagem: “os Adventistas do Sétimo Dia são o verdadeiro Povo do Livro (um termo do Corão, designando os seguidores de Alá, que não são muçulmanos). Os Adventistas já são o povo de Deus, por isso, não tente convertê-los. Ao contrário, trabalhe com eles”18. O xeique entrou em contato com os adventistas e convidou-os a virem ao seu país para ensinar a mensagem aos seus. O Espírito Santo de Deus tem feito a obra que seria impossível aos homens, mas assim como nos tempos bíblicos, Deus não fará a obra que cabe aos Seus filhos fazer. Conclusão Como está expresso na Bíblia, Deus está agindo para guiar Seus filhos e, ao mesmo tempo, da mesma forma que enviou revelações a pessoas que não faziam parte do Seu povo escolhido, nestes últimos dias Ele tem agido para encaminhar pessoas sinceras ao evangelho. A intensidade com que estes fatos tem acontecido revelam não uma ação casual, mas uma atitude intencional da parte de Deus para agir onde existem deficiências ou mesmo falhas humanas. Quando o preconceito e as limitações dos discípulos impediam que eles continuassem a cumprir o propósito de Deus na realização de Seu propósito, levando seus mensageiros aos “confins do mundo”, o Senhor enviou uma visão a Pedro, um líder da igreja, mas enviou também uma visão a Cornélio. O anjo não fez uma classe bíblica com Cornélio, o que pareceria mais eficiente, mas enviou-o a Pedro em Jope. “O anjo não foi incumbido de contar a Cornélio a história da cruz. Um homem sujeito a fragilidades e tentações humanas, como o centurião mesmo, deveria ser aquele que lhe contaria a respeito do Salvador crucificado e ressuscitado”19. No Pentecoste, o apóstolo Pedro disse que “nos últimos dias” Deus agiria com poder para concretizar Sua obra sobre a Terra. Estes últimos dias estão diante de nós e o Seu poder tem se manifestado para cumprir Sua missão aqui. A operação maravilhosa de Deus tem demonstrado que os “últimos dias” chegaram. ANTÔNIO PIRES O pastor Antônio Pires é pastor distrital na Associação Paulista Central. Serviu como pastor distrital e Departamental em Associações das Uniões Central e Sudeste. Ele é Doutor em Teologia Pastoral pelo UNASP. FOCO NA PESSOA 42 www.foconapessoa.org.br NOTAS 1 Mariana Conrado, Testemunho Adriano - Chamado por Deus através de um sonho (Florianópolis, SC. 28 de março de 2013), https://goo.gl/sRpW3M (acessado em 3 de abril de 2016). 2 Arilton Oliveira, Do espiritismo ao adventismo (Rio de Janeiro, 2011), https://www.youtube.com/watch?v=vAzrD-lWoYw (acessado em 12 de abril 2016). 3 R. Laird Harris, Gleason L. Archer, and Bruce K. Waltke, Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Edições Vida Nova, 1998), 473. 4 Don F. Neufeld, ed., Seventh Day Adventist Dictionary, with the collaboration of Julia Neuffer and Thomas A. Davis, 9 vols., vol. 8 (Review and Herald, 1960), 279. 5 Thomson, J. G. S. S., ed., New Bible Dictionary: “Vision” with the collaboration of D.R.W. Wood (Leicester, England, Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1996), 1227. 6 Harris, Archer and Waltke, Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, 473. 7 Ellen G. White, Patriarcas e profetas, 16ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), 193. 8 Thomson, J. G. S. S. and J. S. Wright, eds., New Bible Dictionary: “Dream” with the collaboration of D.R.W. Wood (Leicester, England, Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1996), 281, 9 Ellen G. White, Profetas e Reis, 8ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 515, 10 Ibid., 520, 11 Ibid., 521, 12 J. B. F. Miller, ed., Dictionary of Jesus and the Gospels: “Dreams and Visions”, with the collaboration of Joel B. Green, Jeannine K. Brown, and Nicholas Perrin, 2ª ed. (Downers Grove, IL, Nottingham, England: IVP Academic, 2013), 218, 13 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, com colaboração de Isolina A. Waldvogel, 22ª ed (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 732, 14 Ellen G. White, Atos dos apóstolos, 5ª ed. (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1986), 133, 15 Justo L. Gonzalez, Atos, o evangelho do Espírito Santo (São Paulo: Editora Hagnos, 2011), 163, 16 Francis D. Nichol, ed., Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia; A Bíblia sagrada com comentário exegético e expositivo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), 1045, ver também Ellen G. White, O grande conflito: Entre Cristo e Satanás, 42a ed. (Tatui, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 11, 17 Nova Vida em Amor, Sonhos e visões levam mais de 1 milhão de muçulmanos a Cristo (Nova Vida em Amor, 2015), http:// novavidaemamor.com/?p=2123 (acessado em 04 de abril de 2016). 18 Willian G. Johnsson, “Adventistas e muçulmanos: cinco convicções: Como construir sobre o que temos em comum,” Adventist World (fevereiro de 2010), http://goo.gl/wPLqmB (acessado em 20 de abril de 2016). 19 Ellen G. White. 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