- Ciência e Técnica Vitivinícola
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Ciência Téc. Vitiv. 31(1) 24-30. 2016 Efeito nematicida de um subproduto da indústria vinícola em Meloidogyne javanica (Treub) Chitwood Nematicide effect of a by-product of the wine industry on Meloidogyne javanica (Treub) Chitwood Driéli Aparecida Reiner1*, Rosangela Dallemole-Giaretta1, Idalmir dos Santos1, Tatiane Luiza Cadorin Oldoni2, Everaldo Antônio Lopes3, Alana Chiarani2 1 Programa de Pós Graduação em Agronomia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Pato Branco, Pato Branco, PR, Brasil. 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Pato Branco, Pato Branco, PR, Brasil. 3 Programa de Pós Graduação em Produção Vegetal, Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba, Rio Paranaíba, MG, Brasil. *corresponding author: [email protected] (Manuscrito recebido em 23.07.2015. Aceite para publicação em 24.03.2016) RESUMO Neste estudo avaliou-se o efeito do extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola (SIV) sobre a eclosão e mortalidade de juvenis de segundo estádio (J2) de Meloidogyne javanica, e o efeito do SIV incorporado ao solo sobre a eclosão e viabilidade dos J2 no solo. O extrato aquoso do SIV reduziu a eclosão e matou os J2 de M. javanica e, quando incorporado ao solo, o resíduo orgânico reduziu a eclosão e viabilidade dos J2 do nemátode. Ácido gálico, ácido cafeico, ácido ferúlico, ácido p-cumárico e trans-resveratrol foram os compostos fenólicos identificados no extrato aquoso do SIV por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). O subproduto da indústria vinícola possui ação nematicida contra M. javanica e é possível que a aplicação desse resíduo no solo possa ser uma estratégia adicional para o controlo do patogénio. SUMMARY In this study it was assessed the effect of the aqueous extract of the wine industry by-product (BWI) on the hatching and mortality of second-stage juveniles (J2) of Meloidogyne javanica, and the effect of soil amendment with BWI on the hatching and the viability of J2 in the soil was assessed. The aqueous extract of BWI and soil amending with BWI reduced the hatching and killed the J2 of M. javanica. Gallic acid, caffeic acid, ferulic acid, p-coumaric acid and trans-resveratrol were the phenolic compounds identified in the aqueous extract of BWI by high-performance liquid chromatography (HPLC). The by-product of the wine industry has nematicide effect against M. javanica and it is likely that the application of the organic amendment into the soil may be an additional strategy for the management of the pathogen. Palavras-chave: compostos fenólicos, nemátode-das-galhas-radiculares, resíduo agroindustrial, matéria orgânica. Key words: phenolic compounds, root-knot nematode, agroindustrial residue, organic matter. A incorporação de resíduos vegetais em áreas infestadas com nemátodes também pode levar à liberação de compostos tóxicos para o patógenio, além de contribuir para a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo (Oka, 2010; Collange et al., 2011). Resíduos agroindustriais, estercos de animais, biomassa vegetal e compostos orgânicos são exemplos de fontes de matéria orgânica com potencial para aplicação no solo para o controlo de nemátodes (Oka et al., 2007; Ferraz et al., 2010; Collange et al., 2011; Tabarant et al., 2011). INTRODUÇÃO As plantas produzem vários compostos nematicidas durante o seu metabolismo secundário, como glucosinolatos, limonóides, flavonóides, ácidos fenólicos, taninos e proteínas (Chitwood, 2002; Mbaveng et al., 2014). Essas substâncias podem ser purificadas ou aplicadas no solo na forma de extratos como estratégias adicionais para o controlo de nemátodes fitoparasitas. Os extratos aquosos de Amaranthus spinosus Linn, Ocimum sanctum L. e Zanthoxylum alatum Roxb., por exemplo, inibem a eclosão e matam juvenis do segundo estádio (J2) de Meloidogyne incognita (Kofoid e White) Chitwood (Archana e Saxena, 2012; Mukhtar et al., 2013). Os subprodutos sólidos da indústria do vinho são ricos em nutrientes e substâncias bioativas, principalmente fenóis (Arvanitoyannis et al., 2006; 24 This is an Open Access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0), which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited. Article available at http://www.ctv-jve-journal.org or http://dx.doi.org/10.1051/ctv/20163101024 sob microscópio óptico, com aumento de 40 vezes. A percentagem de eclosão de J2 foi estimada pela fórmula: Percentagem de eclosão = [número de J2/(número de J2 + número de ovos)] x 100. Os ensaios foram conduzidos duas vezes e em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições. Makris et al., 2007; Silván et al., 2013; Barcia et al., 2014; Brahim et al., 2014). Assim, é possível que esses resíduos agroindustriais possam controlar nemátodes fitoparasitas, como demonstrado em alguns poucos estudos sobre o assunto (Oka e Yermiyahu, 2002; Nico et al., 2004). Considerando a disponibilidade desse resíduo na região Sul do Brasil e a escassez de estudos visando o uso dessa matéria orgânica no controlo de nemátodes, avaliou-se neste trabalho o efeito nematicida do subproduto da indústria vinícola sobre Meloidogyne javanica (Treub) Chitwood e caracterizou-se quimicamente o extrato aquoso preparado a partir desse resíduo. O subproduto da indústria vinícola foi recolhido do processo de produção do vinho, logo após a separação do suco das uvas das variedades ‘Niágara Branca’ e ‘Niágara Rosada’, de uma propriedade rural no município de Mariópolis, Paraná, Brasil. O resíduo foi seco ao sol, até massa constante, moído em triturador forrageiro equipado com peneira de 3 mm (Modelo TRF 650), acondicionado em sacos de plástico de cor preta e armazenado em local seco e no escuro, para posterior utilização. O subproduto tinha 2,50% de N; 0,52% de P; 1,74% de K; 0,21% de Ca2+; 0,12% de Mg2+; 0,13 mg/kg de S; 64 mg/kg de Zn; 1005 mg/kg de Fe; 39 mg/kg de Mn; 32 mg/kg de Cu; 36,3 mg/kg de B; e relação C:N de 16,5. A avaliação do efeito dos extratos do subproduto sobre a mortalidade de juvenis de M. javanica também foi realizada com uso de tubos do tipo eppendorf de 1,5 mL e volume total igual ao ensaio anterior. Cem J2 de M. javanica foram adicionados por tubo. Os nemátodes foram obtidos a partir de ovos extraídos de raízes de tomateiro pelo método de (Hussey e Barker, 1973), modificado por Boneti e Ferraz (1981), que foram usados para o preparo do funil de Baermann modificado (Christie e Perry, 1951). Os nemátodes eclodidos nas primeiras 24 h foram descartados, para eliminar os indivíduos mais velhos e com menor mobilidade e incluir apenas juvenis com aproximadamente a mesma idade no experimento. Os juvenis coletados nas 24 h seguintes foram colocados nos tubos contendo o extrato aquoso do subproduto nas concentrações de 0; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; e 2,5%. Os tubos foram mantidos a 26 °C por 48 h no escuro, quando o número de J2 ativos e inativos foi avaliado (Chen e Dickson, 2000). A mortalidade dos J2 foi estimada de acordo com a fórmula: Mortalidade J2 (%) = [número de J2 mortos/número total de J2 (vivos e mortos)] x 100. O ensaio foi conduzido duas vezes em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições. Efeito nematicida do extrato subproduto da indústria vinícola Efeito nematicida da incorporação do subproduto da indústria vinícola ao solo MATERIAIS E MÉTODOS Subproduto da indústria vinícola aquoso do Para a preparação do extrato aquoso foram colocados 30 g do resíduo e 70 ml de água destilada em um frasco tipo Erlenmeyer de 200 ml de capacidade, vedado com papel-alumínio e deixado em repouso durante 24 h, no escuro, à temperatura ambiente de 24 °C. Posteriormente, o extrato vegetal foi filtrado em camada dupla de gaze e, em seguida, utilizado nos ensaios de eclosão e mortalidade dos J2 de M. javanica. Avaliou-se o efeito da incorporação do subproduto da indústria vinícola ao solo sobre a eclosão e a viabilidade de J2 de M. javanica. O resíduo foi incorporado nas doses 0; 2,5; 5,0; 7,5; e 10,0 g/kg de solo no primeiro ensaio e de 0; 15,0; 20,0; 25,0; e 30,0 g/kg de solo no segundo. Para isso, potes de polipropileno transparentes com capacidade de 300 mL foram preenchidos com 50 g de mistura de solo e areia, na proporção 2:1 (v/v), previamente esterilizada em autoclave por 1 hora a 121 °C, a 1 atm. O subproduto foi incorporado ao solo e, logo após, o substrato de cada pote foi infestado com 1 ml de suspensão aquosa contendo 1.500 ovos de M. javanica. Em seguida, a humidade dessa mistura foi ajustada, adicionando-se 15 mL de água destilada em cada pote. Posteriormente, os potes foram fechados e armazenados em câmara de crescimento no escuro a 26 °C por 15 dias. Os J2 foram extraídos do solo pela técnica do funil de Baermann modificado (Christie e Perry, 1951), em Os ensaios para avaliar a ação do extrato sobre a eclosão foram realizados em duas etapas. O extrato foi colocado em tubos do tipo Eppendorf de 1,5 mL contendo uma suspensão aquosa com 100 ovos de M. javanica. O volume total nos tubos foi de 1 mL. Na primeira etapa, o extrato foi colocado nas concentrações de 0; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; e 2,5%; enquanto na segunda foi de 0; 5,0; 10,0; 15,0; 20,0; e 25,0%. Após 15 dias de armazenamento dos tubos a 26 °C no escuro, o número de J2 eclodidos e de ovos remanescentes foi quantificado em câmara de Peters 25 colheitas realizadas em quatro dias consecutivos e quantificados em câmara de Peters ao microscópio óptico com aumento de 40 vezes. Os ensaios foram conduzidos em delineamento inteiramente casualizado, com cinco repetições. C-18 (250 mm x 4,6 mm, 5 μm, Varian), mantida a 30 °C. A fase móvel utilizada foi uma mistura de água (solvente A) e metanol (solvente B), ambos acidificados com ácido acético a 0,1%, com eluição em modo gradiente. O gradiente iniciou com 5% de B até 7% de B em 7 minutos, 20% de B em 15 minutos, 50% de B em 30 minutos, 90% de B em 50 minutos e 5% de B em 55 minutos, mantendo a condição inicial por mais 10 minutos, numa vazão de 1 mL por minuto. Os compostos foram identificados por comparação do tempo de retenção com padrões autênticos e pelo espectro de absorção na região ultravioleta nos comprimentos de onda 272, 313 e 360 nm, utilizando os recursos do PDA. A quantificação foi realizada utilizando padronização externa, com padrões autênticos de ácido ferúlico, ácido gálico, ácido vanílico, ácido cafeico, ácido cumárico e trans-resveratrol, em concentrações que variaram de 0,5 a 7,5 µg/mL (Quadro I). As análises foram realizadas em triplicado. Análise de compostos fenólicos por cromatografia líquida de alta eficiência (“high performance liquid chromatography” HPLC) do extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola. O extrato aquoso do subproduto usado para análise de compostos fenólicos por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) foi preparado de forma similar ao descrito anteriormente, exceto pelo uso de 10 g de subproduto e 90 mL de água destilada. Dez microlitros do extrato foram injetados em um sistema de cromatografia líquida (Varian 920-LC), acoplado a um detector de arranjo de fotodiodos (PDA). A coluna analítica utilizada foi de fase reversa QUADRO I Perfil cromatográfico dos compostos fenólicos do extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola analisados por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC) Chromatographic profile of phenolic compounds in the aqueous extract of by-product of the wine industry analyzed by highperformance liquid chromatography (HPLC) Composto fenólico TR (min) Bandas UV (nm) Equação de regressão LD LQ Concentração Ácido gálico 8,6 272,0 Y= –0,017+0,313X 0,10 0,34 (µg/g ± DP) 134,70 ± 4,52 0,81 2,72 n.d 0,03 0,11 6,82 ± 1,60 0,02 0,08 6,20 ± 0,13 0,10 0,36 2,79 ± 0,70 0,05 0,16 5,09 ± 0,50 R2 = 0,996 Ácido vanílico 24,3 260,3 Y = 0,023+0,263X R2 = 0,998 Ácido cafeico 24,6 323,0 Y = –0,001+0,691X 2 R = 0,997 Ácido cumárico 28,7 309,0 Y = –0,360+0,540X R2 = 0,999 Ácido ferúlico 29,5 322,0 Y = 0,007+0,657X R2 = 0,999 trans-resveratrol 32,8 308,0 Y = 0,018+0,702X 2 R = 0,817 TR - tempo de retenção; LD - limite de detecção; LQ - limite de quantificação; n.d. – não detetado; DP - desvio padrão. Os valores de limite de detecção (LD) e limite de quantificação (LQ) foram obtidos utilizando-se dados da equação da curva de calibração (ICH, 1998). A determinação dos respectivos limites foi realizada a partir do desvio-padrão do intercepto e do declive da curva de calibração, como ilustrado nas equações LD = 3.s/b e LQ = 10.s/b, em que s = desvio-padrão do intercepto da curva de calibração; e b = inclinação da curva de calibração. Análise estatística Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (p = 0,05). Os dados quantitativos foram analisados por meio de análise de regressão polinomial e o efeito do extrato sobre a eclosão de J2 do nemátode foi analisado por meio do intervalo de confiança a 95%, uma vez que os dados não tinham distribuição normal. 26 concentrações de 0,5 a 2,5%. A mortalidade de juvenis variou entre 29 a 64% (Figura 1). RESULTADOS E DISCUSSÃO Todas as concentrações do extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola (0,5 a 25%) reduziram a eclosão de J2 de M. javanica (Quadros II e III). No primeiro ensaio, o extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola nas concentrações de 0,5 e 1,0% reduziu a taxa de eclosão dos J2 de M. javanica em 88 e 68%, respectivamente. Nas concentrações acima de 1,5%, a inibição da eclosão foi superior a 94% (Quadro II). No segundo ensaio, o extrato reduziu em mais de 99% a eclosão do nemátode nas concentrações de 0,5 a 2,5% (Quadro II). Nas concentrações de 10,0 a 25,0% do extrato aquoso, a redução da eclosão atingiu de até 100% em ambos os ensaios (Quadro III). QUADRO II Efeito de diferentes concentrações de extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola sobre a eclosão de juvenis de segundo estádio de M. javanica após a incubação por 15 dias no escuro a 26 °C Effect of different concentrations of the aqueous extract of the byproduct of the wine industry on hatching of 2nd stage juveniles of M. javanica after incubation for 15 days in the dark at 26 °C Concentrações (%) Eclosão (%) Ensaio 1 Ensaio 2 0,00 (Testemunha) 38,83 (± 68,18) 83,83 (± 89,28) 0,50 4,45 (± 8,26) 0,63 (± 2,26) 1,00 12,27 (± 18,27) 0,00 (± 0,00) 1,50 1,22 (± 3,20) 0,00 (± 0,00) 2,00 1,99 (± 5,29) 0,54 (± 1,93) 2,50 0,00 (± 0,00) 0,00 (± 0,00) Médias de cinco repetições. ± IC - Intervalo de confiança de 95%. Figura 1. Efeito de concentrações de extrato aquoso de subproduto da indústria vinícola (SIV) sobre a mortalidade de juvenis de segundo estádio (J2) de M. javanica após a incubação por 48 horas no escuro a 26 °C. Ensaio 1 (A) e Ensaio 2 (B). QUADRO III Effect of concentrations of the aqueous extract of the by-product of the wine industry (BWI) on mortality of 2nd stage juveniles (J2) of M. javanica after incubation for 48 hours in the dark at 26 °C. Assay 1 (A) and Assay 2 (B). Efeito de diferentes concentrações de extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola sobre a eclosão de juvenis de segundo estádio de M. javanica após a incubação por 15 dias no escuro a 26 °C Effect of different concentrations of the aqueous extract of the byproduct of the wine industry on hatching of 2nd stage juveniles of M. javanica after incubation for 15 days in the dark at 26 °C Concentrações (%) A incorporação do subproduto ao solo não reduziu a eclosão e a viabilidade dos J2 de M. javanica, quando aplicado nas doses de 2,5 a 10,0 g/kg de solo no primeiro ensaio (dados não apresentados). No segundo ensaio, a redução na eclosão e viabilidade dos juvenis foi proporcional ao aumento das doses do subproduto da indústria vinícola (Figura 2). A máxima redução foi de 85% ao incorporar 30 g do resíduo por kg de solo. Eclosão (%) Ensaio 1 Ensaio 2 00,00 (Testemunha) 44,96 (± 76,93) 26,09 (± 35,84) 10,00 0,00 (± 0,00) 0,00 (± 0,00) 15,00 0,00 (± 0,00) 0,00 (± 0,00) 20,00 0,00 (± 0,00) 0,00 (± 0,00) 25,00 0,00 (± 0,00) 0,00 (± 0,00) Os compostos fenólicos identificados no extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola foram o ácido gálico, ácido cafeico, ácido ferúlico, ácido pcumárico e o estilbeno trans-resveratrol (Quadro I, Médias de cinco repetições. ± IC = Intervalo de confiança de 95%. O extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola matou J2 de M. javanica em ambos os ensaios nas 27 Figura 3). O ácido gálico foi o composto com maior concentração no extrato (Figura 3). Todos os compostos identificados e quantificados ficaram dentro dos seus respectivos limites de identificação (LD) e quantificação (LQ). Curvaspadrão com cinco pontos (0,5 µg/g; 1,0 µg/g; 2,5 µg/g; 5 µg/g e 7,5 µg/g) foram geradas para cada composto fenólico e apresentaram-se lineares na faixa estudada. O subproduto da indústria vinícola possui ação nematicida contra M. javanica e é possível que a aplicação desse resíduo no solo possa ser uma estratégia adicional para o controlo do patogénio. A caracterização química dos extratos revelou a presença de ácido gálico, ácido cafeico, ácido ferúlico, ácido p-cumárico e o estilbeno transresveratrol e tais substâncias poderão ter sido responsáveis por inibir a eclosão e matar os juvenis do nemátode. O ácido gálico foi o composto com maior concentração na amostra analisada (134,70 ± 4,52 µg/g), sendo, possivelmente, o principal responsável pelo efeito supressor contra M. javanica. Figura 2. Número de juvenis de segundo estádio (J2) de M. javanica eclodidos e viáveis após incubação por 15 dias em solo com diferentes doses de subproduto da indústria vinícola (SIV). Number of 2nd stage juveniles (J2) of M. javanica hatched and viable after incubation for 15 days in soil with different doses of the by-product of the wine industry (BWI). Figura 3. Cromatograma dos compostos fenólicos identificados no extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola. 1 - Ácido gálico; 2 - Ácido vanílico; 3 - Ácido cafeico; 4 - Ácido cumárico; 5 - Ácido ferúlico; 6 - trans-resveratrol. Chromatogram of phenolic compounds identified in the aqueous extract of by-product of the wine industry. 1 - Gallic acid; 2 - Vanillic acid; 3 Caffeic acid; 4 - Coumaric acid; 5 - Ferulic acid; 6 - trans-resveratrol. propriedades antimicrobianas, antioxidantes e anticancerígenas (Jang et al., 1997; Paulo et al., 2011). Assim, e atendendo às diversas substâncias bioativas encontradas em bagaço de uva (Rubilar et al., 2007; Rockenbach et al., 2008; Yi et al., 2009; Melo et al., 2011; Farías-Campomanes et al., 2013), são necessários estudos posteriores para comprovar qual ou quais dessas substâncias possuem ação nematicida. A atividade tóxica dessa substância já foi demonstrada contra M. incognita (Nguyen et al., 2013a) e Fusarium solani (Mart.) Sacc.(Nguyen et al., 2013b). Os ácidos cafeico, cumárico e ferúlico, encontrados no extrato aquoso de folhas secas e frescas de Eucalyptus citrodora Hook, também possuem efeito contra M. incognita (El-Rokiek e ElNagdi, 2011). Embora não haja relatos sobre o efeito nematicida do trans-resveratrol, esse composto possui 28 ação negativa direta sobre a atividade dos nemátodes, mas podem contribuir para a nutrição das plantas, tornando-as mais tolerantes ao ataque do patogénio, além de favorecer o aumento da atividade microbiana no solo. É possível que as substâncias fenólicas encontradas no subproduto da indústria vinícola possam ter causado alterações estruturais ou mesmo rompimento da casca do ovo de M. javanica, inibindo a eclosão dos juvenis, fato já constatado em trabalhos com M. incognita (Nguyen et al., 2013a). Os compostos fenólicos também podem ter atuado causando danos no corpo do patogénio (Aoudia et al., 2012), resultando na sua morte. A ação sobre os ovos e os juvenis das substâncias presentes nos resíduos é importante do ponto de vista do controlo dos nemátodes, uma vez que as formas de sobrevivência (ovos) e infecciosa (juvenis) do patogénio são inibidas. CONCLUSÕES O extrato aquoso do subproduto da indústria vinícola reduziu a eclosão e promoveu a mortalidade dos J2 de M. javanica. O subproduto da indústria vinícola incorporado ao solo, nas doses a partir de 15 g/kg de solo reduziram a eclosão e a viabilidade dos J2 de M. javanica. O subproduto da indústria vinícola usado neste trabalho tinha 2,5% de N e relação C/N de 16,5/1. Assim, a produção de amónia nematotóxica durante a decomposição dos resíduos no solo também ajudaria a explicar a ação do produto contra M. javanica (Rodríguez-Kábana et al., 1987; Ferraz et al., 2010). Os nutrientes do resíduo podem não ter apresentado AGRADECIMENTOS À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa à primeira autora. El-Rokiek G.K., El-Nagdi M.W., 2011. Dual effects of leaf extracts of Eucalyptus citriodora on controlling purslane and root-knot nematode in sunflower. J. Plant Prot. Res., 51, 121-129. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aoudia H., Ntalli N., Aissani N., Yahiaoui-Zaidi R., Caboni P., 2012. Nematotoxic phenolic compounds from Melia azedarach against Meloidogyne incognita. J. Agric. Food Chem., 60, 1167511680. Farías-Campomanes A.M., Rostagno M.A., Meireles M.A.A., 2013. 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