a jardineira voluntária do Humaitá Muita história
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a jardineira voluntária do Humaitá Muita história
cidadania & sustentabilidade A jardineira voluntária do Humaitá BAIRROS CARIOCAS Muita história para contar, do Catete ao Cosme Velho, passando pelo Largo do Machado e Laranjeiras editorial & sumário Informação cada vez mais rápida 4 O Rio andou fervendo com as manifestações dos professores da rede pública e a democracia deu espaço a todos os gritos. Nas escolas o calendário escolar corre apressado e as informações atualizadas chegam às salas de aula, nos gabinetes, nos pátios e nas casas dos alunos numa velocidade nunca antes imaginada. A nossa matéria de capa trata exatamente da adequação das escolas ao novo mundo tecnológico que informa, exige e transforma. Não se vive mais sem computadores! Nesta edição nossos leitores vão encontrar os colunistas de sempre e apresentamos Mauro Giorgio, um carioca de retorno a sua cidade, que veio pra ficar e mete o bedelho em tudo. Mauro escreve tudo sobre tudo. Leia na página 11. Na página 12 nossos leitores vão conhecer uma cidadã que trabalha pelo Rio. Ela faz jardins e voluntariamente adotou uma esquina carioca. A Folha Carioca anda pela cidade e nesta edição começamos uma série de reportagens com foco nos bairros da Zona Sul. Nossas lentes e olhares começaram com Laranjeiras, Cosme Velho e o Catete que se fecham no antigo e histórico Largo do Machado e Catete. E os moradores nos contam histórias, porque escolheram o lugar de sua morada e os afetos, importância e os prazeres que têm a sua volta. Aguardem, seu bairro também será visitado. Comerciantes, fiquem atentos: seu negócio poderá estar na próxima edição! Anunciem conosco! Tem muito o que ler e muita coisa boa. Leia, divulgue, comente, sugira, critique ou elogie. A Folha é gratuita, carinhosa com o carioca. E carioca gosta de opinar. Fale conosco e depois de ler, guarde ou passe para outro. Nunca deixe na rua; queremos uma cidade cada dia mais limpa! Boa leitura! colunas & artigos 05 Arlanza Crespo Quem é Quem capa: Tecnologia nas escolas 06 Lilibeth Cardozo 07 Ana Flores 10 Samantha Quintans Tudonovodenovo 22 Oswaldo Miranda 23 Gisela Gold 24 Carmen Pimentel Língua Portuguesa 25 Tamas 31 Haron Gamal 33 Alexandre Brandão Como as novas tecnologias estão mudando o processo de aprendizagem No Osso cidadania & sustentabilidade Uma voluntária cuidando dos canteiros do Humaitá 18 Bairros Cariocas 12 Laranjeiras, Largo do Machado, Catete e Cosme Velho GASTRONOMIA CARIOCA A história do pão árabe 26 14 arte & cultura GARIMPO CULTURAL Cinema a céu aberto 30 NA WEB • Galeria de imagens da região de Laranjeiras • Saiba como apoiar o projeto Maré Cheia de Cinema • Conheça o projeto Especial de Verão da Folha Carioca A rlanza Crespo | QUEM É QUEM [email protected] Um mergulho na história do Brasil FOTO_ARTHUR MOURA Ana Maria de la Merced Gonzalez Gaña Guimarães dos Anjos é carioca, filha de pai português e mãe espanhola. É casada, tem três filhas,uma neta e um neto, e mora no Santo Cristo. No princípio não gostava muito de morar lá, achava o lugar feio, velho e sujo. Mas depois do que aconteceu ao reformar sua casa ela passou a adorar o bairro, e mergulhou de cabeça na história do Brasil. Figura principal de um acontecimento incrível que daria um ótimo roteiro de filme, aliás, Merced me contou o que aconteceu com ela e o marido ao comprarem a casa onde moram atualmente, na rua Pedro Ernesto. A transformação da casa e a dona, Merced, mulher de sorte Desde 1988 que eles tinham interesse no imóvel, mas ele estava alugado, e Merced queria comprar para mudar em seguida. O tempo passou e em 1990 a pessoa responsável pela venda perguntou se eles ainda tinham interesse. Na época a inflação era grande, mas resolveram comprar mesmo assim. Usaram todo o dinheiro que tinham e quando assinaram a escritura no dia seguinte veio o plano Collor. Foi por um dia! Não tinham dinheiro para fazer obra, e só começaram 6 anos depois, em janeiro de 1996. Logo no primeiro dia descobriram várias ossadas humanas no terreno. Preocupada, ela imaginou logo uma chacina no local. Ligou para um conhecido, delegado, contou a história e disse que tinha até ossada de criança. O delegado a tranquilizou e ela foi atrás de histórias antigas do bairro. Descobriu que morava num bairro histórico e que existia uma história de um tal caminho de cemitério de escravos, cuja localização era desconhecida. Pronto, estava Merced de novo dentro da história do Brasil! Ela então foi ao Centro Cultural José Bonifácio conversar com o presidente, que se ofereceu para falar com o pessoal da prefeitura. "Depois aconteceu muita coisa ruim, a gente foi até ameaçada. De 96 a 98 a gente teve que sair de casa, não podíamos fazer as obras que foram embargadas por causa do achado". Mas em 1999 eles resolveram continuar a obra de qualquer maneira. Em 2005 compraram as casas do lado que estavam abandonadas e sendo invadidas. Nesse espaço de tempo várias pessoas começaram a visitar o local, entre elas um grupo de estudantes que fez um site. "Aí, uma pessoa do arquivo da Cidade disse que eu não tinha que fazer um site". Depois de muito trabalho e muitas histórias boas e ruins, em 2009 Merced ganhou o edital de Ponto de Cultura, e foi a melhor coisa que podia ter acontecido. Em 2010 o Instituto dos Pretos Novos ganha o prêmio Rodrigo de Melo Franco, considerado o Oscar do Patrimônio. O Rio de Janeiro não ganhava esse prêmio há 6 anos. "Nós ganhamos na categoria arqueologia" conta Merced, orgulhosa. É claro, pois o achado arqueológico no seu terreno ajudou a desvendar mais um pedaço da nossa história. Foram 28 ossadas encontradas, assim como artefatos de ferro, argolas, contas de vidro etc... Atualmente o Memorial dos Pretos Novos é uma Instituição privada, sem fins lucrativos, fundada em 13 de maio de 2005 pelo casal Petrucio e Merced, e oferece palestras, cursos, simpósios e visitas guiadas, além de exposições temporárias e permanentes. Hoje o INP é uma realidade, fruto da tenacidade de uma mulher forte, determinada, definida por ela mesma como "uma pessoa chata, que incomoda". 5 l ilibeth cardozo [email protected] Jovens cariocas, que cidade vocês querem herdar? 6 Temos assistido a grandes manifestações populares contra a corrupção, a favor do respeito às leis, pela dignidade dos trabalhadores, por justiça social e correta destinação dos recursos públicos. Assistimos nas ruas, ao vivo, ou nos vídeos e fotos disponíveis nos jornais, revistas escritas, faladas ou televisadas, mas principalmente na internet. Jovens entusiastas usam toda sua força física e intelectual em movimentos organizados, através das mídias sociais, buscando alianças e disseminação de ideias que visam uma cidade mais justa em que seus governantes tenham mais respeito ao mais importante ator no cenário de nossa cidade: o cidadão. A favor ou contra suas bandeiras de luta, suas pacatas ou agressivas manifestações, é indiscutivelmente visível um ódio explodindo entre manifestantes e o poder das autoridades que, por meio de forças policiais, dizem organizar, mas reprimem com violência as manifestações. Onde vai dar não sabemos, mas ficar por aqui é que não vai! Que continuem e dentre eles soem vozes como a do jovem da Rocinha que gritou: “não queremos teleférico, queremos saneamento”. O jovem da Rocinha quer saúde, vida, qualidade de vida por seu bairro! O povo do Rio não quer presos políticos! No meio de tanta informação, tanto discurso, tantas propostas, ficamos nos perguntando o porquê dessa juventude, nossos filhos e netos, não participarem também das discussões que ocorrem em seus espaços de residência, seus bairros. Porque será que não lutam pela herança que seus pais construíram, gerações passadas fundaram e outras conservaram? Em que tipo de espaços urbanos esses jovens sonham viver? Que cidade herda- rão? Ainda que sejam bem sucedidos em suas carreiras, ganhem muito dinheiro e possam ter imóveis valiosos e cercados de seguranças, inevitavelmente estarão inseridos em algum bairro. As associações de bairros no Rio de Janeiro são, em sua maioria, compostas por homens e mulheres que já tiveram filhos e os criaram. São, pelos jovens, chamados de velhos. Muitos têm netos, compraram casas, construíram patrimônios (ainda que não materiais) e bem sabem o que significa qualidade de vida. São os que conhecem os seus “quintais”. E eles, os das associações, quase em maioria, são entusiastas defensores das conquistas de cada fragmento territorial que escolheram para viver. Conhecem o comércio, têm histórias vividas no entorno e são capazes de defender o pedacinho da cidade em que vivem. É desalentador o desprezo das gerações de jovens que assistem impávidos as transformações feitas pelos governos, invasões bárbaras, que têm destruído patrimônios públicos, prédios históricos, reservas florestais, ambientes saudáveis e, com a falsidade discursiva de “modernizar”, matam o amanhã, amanhã este que será o cenário em que jovens e crianças de agora atuarão como cidadãos cariocas. Onde estão os jovens herdeiros de nossos bairros, de nossa cidade, para defenderem suas heranças que estão sendo assassinadas pelo consumismo desenfreado, modernidades arquitetônicas “espetaculosas”, parques e florestas destruídas, devastações ambientais irreversíveis, aeroportos e heliportos dentro da cidade, espécies da fauna e flora dizimadas? Que cidade nossos filhos sonham deixar para seus filhos? Que ar vão respirar, que sons vão ouvir, que sonos poderão dormir, em que ruas poderão caminhar, em que parques, florestas ou jardins irão correr, brincar, relaxar? Nos mais lindos cartões postais da cidade ainda sobrevivem poucas matas, flores, aves, águas, peixes, répteis e mamíferos. Mas tem um, um único ser vivo, que pode usar seu diferencial, a inteligência, para proteger seu habitat: o homem. Bairros do Rio, todos, sem exceção, não contam com jovens a protegê-los. Que Rio de Janeiro herdarão? Que jovem carioca está preocupado com a ameaça á Urca, um bairro singular, um recanto a ser preservado? Com o Jardim Botânico, que troca suas árvores por prédios imponentes? Com a Gávea, que uma vez residencial, tem se tornado um inferno de barulho, comércio e negócios que só visam o lucro e enriquecimento dos sem herança cidadã? Laranjeiras, um bairro outrora bucólico e aprazível, que se torna um corredor expresso para carros velozes correndo para a morte de mal viver? Copacabana, uma vez princesa, colar que enfeitava o Rio, que perde suas areias para os espetáculos de tudo e bem viver é coisa do passado? Por onde andarão os pés dos jovens de hoje de Santa Tereza que pelo bondinho não lutam e estão perdendo todos os bondes da história deste bairro sem igual? Os moços e moças de Ipanema e Leblon, que estampam com suas belezas as revistas de moda, onde viverão se não lutam por seus pedacinhos de terra carioca? O Rio é de todos, Zona Sul, Norte, Leste e Oeste, mas seus bairros estão engolidos pelo comando impiedoso de governantes que teimam em cobrir de purpurina os espaços urbanos que tão somente brilharão para a Copa e Olimpíadas. Seus herdeiros, nossos filhos e netos, se hoje jovens, viverão dos retalhos que hão de sobrar de uma das cidades com o mais belo e saudável tecido urbano do país. Que façam suas fantasias de herdeiros com os trapos que restarem, ou lutem por algo que parecem desconher: qualidade de vida! A cidade é nossa, dos cariocas, dos brasileiros. Que sejam expulsos os ilegais posseiros e os governantes que a destroçam por dinheiro! Ocupem, jovens, as calçadas de seus bairros com o viço e cor de sua juventude e não deixem que o dinheiro, a cobiça, a corrupção e ilegalidades destruam os lugares que escolhemos morar. A cidade fundada por Estácio de Sá, tal como ele, está ferida de morte e sangra pelos bueiros manchando nossas praias, rios, baías e mares. E é dessas águas que vocês, jovens cariocas, de qualquer ponto, matarão suas sedes! Sejam blocs coloridos pela cidade que querem herdar maravilhosa! A na flores [email protected] Desculpe, mas é que... O médico marcou o procedimento para as 11h, no próprio consultório, por ser uma intervenção muito simples. Às 11h30 ligou para o consultório pedindo à assistente que se desculpasse comigo, mas é que terminava uma alta para outro paciente no hospital e já estava a caminho. Ao meio-dia a assistente me chamou para me preparar para o procedimento, o médico apareceu às 12h20 para dar um alô e só retornou às 13h, quando então começou a pequena cirurgia, duas horas depois da hora marcada. A amiga combinou de passar às 15h na esquina da minha casa para irmos ao cinema, mas só apareceu às 15h40. Pediu muitas desculpas pelo atraso, mas é que na última hora recebeu uma ligação de pessoa que não via há muito tempo e achou chato pedir para adiar a conversa. Mas não achou chato me deixar 40 minutos em pé, na calçada, sem me avisar o que se passava. E o filme dançou. A acupunturista marcou a consulta para as 9h da manhã, a primeira do dia. Chegou às 9h40, pediu desculpas pelo atraso, mas é que tinha adiado a volta de Curitiba da véspera para aquele dia, e se atrasou do aeroporto até o consultório. Atrasos acontecem e ninguém pode se gabar de nunca ter se atrasado para um compromisso ou ter deixado alguém esperando, sem poder dar notícias. Mas certos atrasos podem ser evitados. Se uma consulta é marcada para uma determinada hora, muitas vezes o cliente tem que reestruturar sua agenda para poder chegar na hora e não atrasar as consultas depois dele. Mas se regularmente é atendido uma hora e meia ou duas horas depois, alguma coisa está errada. Seja em consultório ou em salão de beleza, agenda existe pra organizar horários. Ninguém se atrasa porque gosta (para algumas pessoas, sim, está no sangue), mas quando se torna habitual, deixa de ser um simples atraso para ser falta de educação. Ou de respeito. Ou de consideração. Seja o que for, é uma prática que insiste em não sair de moda. Mas que já podia estar se aposentando para dar lugar a outras: educação, respeito, gentileza e consideração. Simples assim. 7 M AURO GIORGIO [email protected] Tô voltando pra casa Depois de 28 anos em São Paulo, ainda amargando as dores de uma 8 separação recente, me vi diante de uma encruzilhada: ou voltava para o Rio de Janeiro para recomeçar a vida na minha cidade natal ou embarcava numa espiral descendente. Como ainda não rasgo dinheiro, escolhi a primeira opção. Retornei ao bairro onde nasci, à casa que foi de meus avôs paternos. Na mudança, muitas perguntas passavam pela minha cabeça. Como eu encararia a cidade? O que teria mudado? Como seria minha readaptação? O fato é que a cidade recebe a todos de braços abertos. Fui acolhido pela família e pelos amigos, e esse comportamento caloroso do carioca cria um imenso conforto para a alma. Começou a lua-de-mel do retorno. Mas não custou muito para que eu notasse que o Rio continuava lindo e com os problemas de sempre. Seria possível que depois de tanto tempo nada tivesse mudado? Descobri depressa que a Urca, meu bairro, virou point. O Tabajaras, pé-sujo onde os motoristas de ônibus tomavam café e cachaça, se metamorfoseou no Bar Urca, com alguns dos melhores pastéis e empadas da Zona Sul. A tristeza é observar do paredão toda a sujeira na Baia de Guanabara. Dizem que vão limpá-la a tempo para as Olimpíadas. Vamos ver o que acontece. Enquanto me readaptava ao cotidiano do Rio, constatei como o trânsito havia piorado. É tão ruim quanto o de São Paulo – não se espantem, nem saíam por aí me xingando. A culpa é da geografia. Se a extensão dos engarrafamentos fosse medida no Rio, o número seria assustador. Também aprendi que alguns bairros passaram por uma verdadeira transformação. A Barra, definitivamente, tornou-se um mundo à parte, com características próprias. E o Leblon virou uma espécie de Manhattan carioca, com um despojamento muito peculiar. Anda-se de sandálias havaianas mesmo ao se frequentar um restaurante com pratos individuais a R$ 65. Aliás, é caro comer bem no Rio! Percebi também mudanças no comportamento do carioca. Em geral, ele me parece mais cosmopolita, menos preocupado com o próprio umbigo e mais envolvido com os problemas da cidade. Demonstra vontade de cuidar dela, aderindo a um movimento ainda incipiente, ainda meio modismo, mas muito importante. Foi uma felicidade constatar que os amigos de infância, de bairro, de colégio e até os familiares são pessoas comuns, com suas histórias de dificuldades e superações. A princípio, achei que minha volta seria interpretada como um atestado de fracasso. Eu seria um peixe fora d’água, ao retornar ao Rio em busca de sentimentos, de minhas raízes. Longe disso. Aprendi que a generosidade nativa é um ingrediente fundamental para a recuperação da alma, do espírito e do corpo. Estou no pedaço para viver momentos felizes ao lado de pessoas que me querem bem. E estou pronto para resgatar parte de um tempo esquecido, mas nunca perdido. Mauro Giorgi é economista e assina o blog Tudo sobre Tudo (http://mgiorgi06.wordpress.com) Croissants, mini vol au vent, barquetes, quiches, grissinis. Produtos personalizados com formatos e cores, como os nossos famosos peixeis ou formas da cidade do Rio de Janeiro. Tel./Fax: (21) 3104-6547 Praia de Inhaúma 73, Bonsucesso, Rio de Janeiro, RJ - 21042-130 SAÚDE & BEm-ESTAR Publieditorial A Evolução da Oftalmologia O método mais antigo de cirurgia da catarata é creditado aos indianos e consistia na “reclinação” do cristalino. Nessa técnica, o cirurgião penetrava no olho com uma lanceta afiada e deslocava o cristalino opacificado para a parte posterior do olho, de maneira a deixar livre a área pupilar. Os relatos sobre essa técnica chegaram aos tempos atuais através dos trabalhos de Sushruta, cirurgião indiano que viveu no século V a.C. Entretanto, os pacientes só começaram a desfrutar de um resultado visual verdadeiramente satisfatório após o advento dos implantes intraoculares. Embora a era corrente das lentes intraoculares tenha começado, na realidade, em 1949, esse conceito já existia há bastante tempo. Giácomo Casanova, o famoso aventureiro e escritor veneziano, em suas memórias, faz alusão ao oftalmologista italiano Tadini que, por volta de 1764, comentou com ele a ideia da implantação de uma lente artificial durante uma cirurgia de catarata. Casanova teria passado essa informação a Casamata, oftalmologista da corte de Dresden que, em 1795, tentou, sem sucesso, introduzir uma lente logo após a retirada de uma catarata. A história moderna dos implantes intraoculares começou com Harold Ridley, oftalmologista inglês, que se inspirou em um comentário feito por um estudante de medicina que lhe chamou a atenção por haver “esquecido” de substituir o cristalino opacificado por um “novo”, enquanto observava o cirurgião inglês suturar uma incisão após a extração de uma catarata. Durante a Segunda Guerra Mundial, observou-se que muitos dos pilotos dos aviões de guerra ingleses que eram bombardeados apresentavam fragmentos do material plástico das cabines dos aviões dentro dos olhos e que esse material (polimetilmetacrilato) não despertava nenhum tipo de reação por parte dos tecidos oculares. Ocorreu a Ridley que o polimetilmetacrilato que ainda apresentava a vantagem de ser mais leve que o vidro, poderia ser utilizado para substituir o cristalino humano. Assim, em 29 de novembro de 1949, ele realizou seu primeiro implante intraocular. Quando os primeiros resultados dessa revolucionária técnica foram divulgados em 1951, durante o Congresso de Oftalmologia de Oxford, houve uma explosão de entusiasmo que levou muitos dos maiores nomes da oftalmologia europeia a seguirem o exemplo de Ridley. Essa primeira fase dos implantes intraoculares levou a resultados péssimos, tendo sido a opacificação da córnea a principal complicação. Somente no final da década de 70, quando os implantes começaram a ser posicionados no mesmo local onde o cristalino era retirado, ou seja, atrás da íris, a técnica começou a ter sucesso na grande maioria dos casos. Hoje em dia, dispomos de lentes intraoculares dobráveis, monofocais, multifocais ou tóricas que podem ser implantadas através de incisões menores que três milímetros, de modo que o paciente não precise levar pontos. Temos a esperança de que, no futuro, as lentes intraoculares poderão ter as propriedades acomodativas do cristalino de uma pessoa jovem, tendo o poder de focalizar a qualquer distância. Infelizmente, a história não registrou o nome do estudante de medicina que fez o comentário durante a cirurgia de Ridley e que foi decisivo no desenvolvimento do que é considerado o maior avanço da oftalmologia em mais de dois mil anos de história. EMERGÊNCIA Dr. Almir Ghiaroni Mestre em Oftalmologia - UFRJ, Doutor em Oftalmologia - Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) Tel.:2529-4505 GERAL Tel.:2529-4422 Líder em Depilação a Laser A Skin Planet foi a primeira empresa do segmento a receber o Prêmio Qualidade Brasil. A mais de 8 anos no mercado, conta com uma tecnologia de ponta e muitos clientes satisfeitos! DEPILAÇÃO A LASER Rápido Seguro Eficaz Buço Axila Pescoço Barba 40% OFF Confira outras áreas e promoções! Preço único para todo tratamento. Não cumulativo com outros descontos e promoções. Ligue para nossa central 3907-1100 www.skinplanet.com.br Av. Princesa Isabel, 323, 5º andar Copacabana - Rio de Janeiro CERTIFICAÇÕES: 9 S amantha quintans | tudonovodenovo [email protected] Reforma não tem hora, nem idade 10 “Estive fora uns dias, numa onda diferente e provei tantas frutas que te deixariam tonta...”* Fui parar longe. Observei, absorvi, fantasiei. Alimentei-me de hábitos, línguas e dialetos, perambulei em becos entorpecida pelo desconhecido. Comemorei a preciosa privacidade em esquinas comumente compartilhadas com estranhos. Dancei ao som do que havia de melhor no Festival PalinKa. Visitei Reinos, palco de grandes disputas históricas. Emocionou-me o concerto de música clássica, o violino em par com o violoncelo que animavam a maratona sem fim e a visita ao inenarrável Predjama Castle. Turista e sedenta, dia e noite misturada à rotina de cada lugar, fui testemunha de pequenas e constantes reformas. O velho mundo se cuida, é por isso que ele permanece novo e sedutor. Ao cerrar das portas do comércio, nas frias madrugadas de outubro, a organizada Budapeste trabalha recuperando suas praças. Já Viena, é uma cidade de jardineiros: toda trabalhada na poda. E quem cuida e usufrui do velho mundo, são muitos dos velhos que vivem nele. Vi muitas cabeças brancas, guiando corpos ativos e altivos, desfilando por centros históricos e vi outras tantas, com a mão na massa: servindo, comercializando, criando, esculpindo e trabalhando na manutenção das ruas. Desse precioso grupo de cabeças brancas, as chiquérrimas damas de fios finos e bem cortados, me fizeram lembrar que a liberdade é branca e não tem idade. Em algum momento é inevitável, as raízes gritam. Se não de dentro, gritam de fora. Abduzida em uma cervejaria chamada St. Bernardus, assisti a animados cidadãos que cantavam em dialeto local, o clássico sucesso “Tristeza, por favor vá embora...”, no “lalaiaa” da canção já tínhamos nos apoderado da autoria da obra, cantando em alto e claro coro a marchinha no mais íntimo português. Não precisava ter ido tão longe para escrever “Reforma não tem hora, nem idade”. De volta ao lar, em visita aos meus pais, duas cabeças brancas, tudo estava diferente. Em 15 dias, orquestraram uma reforma. Ergueram e revestiram paredes, teto e piso. Ampliaram espaço, serviço e organização. Em pleno funcionamento, a dupla permaneceu alimentando seus clientes com a mesma excelência e em paralelo, foi capaz de construir seus sonhos com foco e determinação. Tive também a oportunidade de participar da reinauguração da imobiliária da minha tia. Há mais de 20 anos no mercado, e dona de invejável cabeleira branca, comemorou no novo espaço entre amigos e clientes, o sucesso já alcançado e com fôlego de quem tem muita vida pela frente, planejou com garra o futuro. Admirável mundo de quem não tem tempo a perder. Quem tem tempo a perder? Existe idade para se ter tempo a perder? A vida não seria um eterno exercício de reforma, reciclagem, recalibragem? Te sugiro seguir mais cabeças brancas, mesmo que camufladas. Te convido a mergulhar na história das coisas e das pessoas, aprendendo com elas. E por fim, te conto um segredo: a vida, em qualquer idade, é feita de escolhas e tudo pode ser novo de novo. Samantha Quintans é personal organizer * Trecho de letra de Herbert Viana SAÚDE & BEm-ESTAR 11 Projeto IntegrAção: Tratamento Multidisciplinar do Emagrecimento www.scabora.com.br 21. 2547.0230 21. 9372.6551 Coordenação: Mary Scabora Psicóloga clínica CRP: 05/36742 • Orientação Psicológica com foco no emagrecimento • Nutricionista / Personal Diet • Orientação para a prática de atividade física • Intervenção estética Daniele Guimares Peres: Nutricionista e Professora de educação física Espaço Cuid´arte: Estética e Massoterapia cidadania & sustentabilidade 12 Uma carioca que adota sua cidade texto_lilibeth cardozo Ela é miúda, ágil e apaixonada pela cidade. Neide, 59 anos, mora em Copacabana e é uma vendedora de doces e há mais 20 anos vem adoçando os passantes da esquina carioca da rua General Dionísio com Voluntários da Pátria, no Humaitá Quase todos os dias ela arma seu tabuleiro de docinhos que vende muito e tem licença da prefeitura. Acostumada a ser vista todos os dias pelos que passam por alí no Humaitá, fez amigos e conhece muita gente. De tanto conversar com os pedestres, conhecer comerciantes, porteiros, moradores e os técnicos das vizinhas Casas de Saúde São José e Santa Lúcia, ficou sabendo dos perigos escondidos nos canteiros abandonados naquela esquina. Segundo Neide, bem cedinho alguns roubos, furtos e assaltos vinham acontecendo, praticados por pessoas que se escondiam no que um dia foi um jardim. Além de dormitório para os deliquentes, os canteiros se tornaram depósito de lixo. Neide resolveu limpar os canteiros, adubá-los e plantar. Segundo Neide, quando ela resolveu agir foram retirados de 20 a 30 sacos de entulho por dia e a Comlurb exigia tudo ensacado para levar. Ela comenta: “No meio do mato, tinha de tudo, até um colchão. Fiz a limpeza e ganhei, de alguns garis, sacos para destinar o lixo. Adotei o jardim da esquina”. Encontramos Neide num sábado de outubro, trabalhando incansável na poda de algumas plantas do canteiro de um dos prédios que fazem a esquina. Ela foi contratada pelo síndico do edifício que a reconheceu como uma trabalhadora ligada à jardinagem e ofereceu o serviço. Durante a semana, a vizinhança encontra Neide vendendo seus docinhos, sempre à tarde. Pela manhã, como qualquer trabalhadora comum, mas voluntariamente, a doceira e jardineira começa às sete da manhã a fazer jardinagem. Ela nos conta que buscou ajuda para novas mudas de plantas em várias lojas e quiosques nas redondezas e não ganhou nada. “Todos olham, admiram, mas poucos ajudam. O síndico do edifício da esquina me cede uma mangueira e autoriza eu usar a água para regar. Ganhei também as placas. Uma vizinha daqui, vendo que eu escrevia as placas com canetas hidrocor, se ofereceu para fazer no computador. Assim que ela me entregou eu montei as placas.” As mensagens, bonitas e carinhosas, refletem o espírito da jardineira, pois segundo ela todos se sentem mais responsáveis em não sujar. Perguntada sobre o que espera ela sentencia: “A natureza me dá o retorno”. A carioca Neide é um exemplo de amor ao Rio e gente que faz a diferença. 13 G ASTRONOMIA CARIOCA O sabor da história Pão árabe, invenção egípcia que conquistou o paladar mundial texto_ ERICSON KHALIL Símbolo de fertilidade, trabalho duro e compartilhamento, o pão tem acompanhado a humanidade há milênios. Alguns atribuem sua invenção aos egípcios, mas desde que ele é 14 universalmente consumido (exceto na Ásia), muitos povos reivindicam sua origem. Arqueólogos norte-americanos descobriram os restos do que deve ser a padaria mais antiga do mundo, usada pelos egípcios para produzir o "pão do sol", que ainda é feito nos dias de hoje. Encontraram-se bandejas e ferramentas usadas para fermentar a massa. Também foram descobertos armários onde se armazenavam grãos. Especialistas na história do Egito disseram que os egípcios eram bem-sucedidos produtores de levedo durante a Antiga Dinastia (2686 a 2181 a.C.), e o usavam para fazer bebidas alcoólicas e 12 tipos de pães e bolos. O que é certo e comprovado, é que os Egípcios descobriram o pro- cesso de Fermentação e confeccionam diversos tipos de Galette ou pão achatado, feito de cevada. Em nosso entendimento isso pode explicar a propagação do pão achatado nos países orientais do mar Mediterrâneo e entre o Egito e a Grécia e a partir disso cada Sociedade desenvolveu o pão achatado dando características próprias. No Líbano, talvez por seu clima e sua localização geográfica, uma enorme variedade do pão tradicional existe diferenciando-se na forma, no tamanho e no sabor, alguns delespersistem até hoje. Atualmente o pão libanês é muito conhecido e se expandiu pelo mundo inteiro, graças aos imigrantes libaneses que fizeram este pão se tornar parte da culinária de cada país onde vivem. O pão árabe tem baixo teor calórico, sendo um dos pães com menor teor de gordura total, é uma excelente fonte de carboidratos. Os carboidratos são importantes na dieta do ser humano, pois eles se transformam em energia para o organismo. 15 G ASTRONOMIA CARIOCA 16 17 capa O desafio de escolas e profissionais da área na busca do uso da tecnologia para atualizar o processo de aprendizagem e estimular o desenvolvimento dos alunos Texto_Fred pacífico Fotos_Arthur moura 18 A informação está ao alcance de todas as pessoas. Mais precisamente na mão de todos, através de seus smartphones, tablets e computadores portáteis. Uma realidade cada vez mais comum nos diversos ambientes sociais existentes. Por isso mesmo, não poderia ser diferente em nossas escolas. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão presentes em todos os lugares de nossa sociedade. Principalmente na vida das novas gerações, seja em suas próprias casas, lan houses ou aparelhos celulares. Essa transformação impõe um novo paradigma aos educadores e instituições de ensino de todo o mundo. Cada vez mais é preciso integrar o conteúdo à tecnologia, e capacitar melhor os professores. Os educadores vêm buscando repensar as estratégias de aprendizagem e ensino, assim como a forma que os próprios profissionais, instituições e alunos se relacionam com esses aparelhos e suas possibilidades. Se a década de 1990 foi marcada pela preocupação e inserção gradativa dos laboratórios de informática na escolas, os aparelhos, atualmente, são trazidos pelos próprios alunos, em suas bolsas e bolsos. "Da parte das escolas, "As novas tecnologias possibilitam que os professores voltem a sua função original, a de orientadores na construção do conhecimento de seus alunos" Mônica Araújo, professora de tecnologia e artes digitais da Escola Americana mais importante do que a aquisição de aparelhagem física é o investimento em infraestrutura dos espaços e a capacitação dos professores. Essa é uma tendência mundial e, gradativamente, a mentalidade das instituições de ensino vem mudando sobre as TICs na educação e seu caráter transdisciplinar. Existe uma busca pela melhoria da qualidade do encontro que acontece em sala de aula e as tecnologias podem potencializar a aproximação da escola à vida dos estudantes", explica Mônica Araújo, professora de tecnologia e artes digitais da Escola Americana do Rio de Janeiro (EARJ), localizada na Gávea. A especialista explica que a instituição vem alterando a forma de lidar com as TICs em suas dependências e, nos últimos anos, passou a disponibilizar rede sem fio em todo ambiente da escola. Conteúdo pedagógico, trabalhos realizados e materiais de apoio estão disponíveis online, podendo ser acessados pelos estudantes, professores e responsáveis. Os alunos são incentivados a trazerem seus próprios computadores, recebendo no início do ano letivo, inclusive, uma sugestão das especificações mínimas necessárias nos portáteis para que sejam utilizados como ferramenta durante as aulas. A prática tem sido bem recebida pelos alunos. "Estudo aqui desde os três anos e acompanhei toda essa mudança da escola. Ter acesso wifi e poder pesquisar online é maravilhoso. Meus livros e cadernos estão dentro do meu computador agora. Meus conteúdos estão na nuvem e podem ser acessados de qualquer lugar. Até minha mochila está mais leve. Acredito que a escola, finalmente, se atualizou para acompanhar os novos tempos. Toda nossa vida passa pelo online. Então, porque a escola vai ficar de fora?", diz a estudante do último ano do ensino médio, Cristina Fraga. A função do educador Para a professora Mônica, a transformação que a escola vem passando nos últimos anos é muito positiva. "As novas tecnologias possibilitam que os professores voltem a sua função original, a de orientadores na construção do conhecimento de seus alunos. A informação está disponível para todos atualmente, o que é preciso é quem oriente o acesso e o desenvolvimento do aprendizado dos estudantes, sabendo aproveitar as potencialidades existentes. O aluno desta geração é ativo e ela se sente aliviado ao ver as TICs integradas ao seu processo de aprendizado. Acabou o tempo da educação ‘bancária’, conceituada por Paulo Freire. A tecnologia possibilita a educação ‘problematizadora’. Agora aprendem tanto o professor, quanto o aluno, e isso é muito saudável. É um caminho sem volta", diz. 19 Não se engane pensando que essa é uma realidade somente das redes particulares de ensino. Muito pelo contrário. Tanto escolas públicas, quanto as privadas vivem juntas esse momento de transformação, experimentando e construindo novos caminhos com muita pesquisa e troca de informação. Novas possibilidades Abraçada pela generosa Mata Atlântica, quase no topo das encostas do Alto Gávea e da Rocinha, bem em frente à Escola Americana, fica a Escola Municipal André Urânio, em um prédio totalmente repensado e adaptado para receber o Ginásio Experimental de Novas Tecnologias Educacionais, conhecido por Projeto Gente (gente.rioeduca.net). A instituição se apropria totalmente das novas tecnologias educacionais e experimenta um novo modelo de escola, sem, com isso, abandonar as disciplinas essenciais. Todas as habilidades, temas, competências e conteúdos são desenvolvidos em 32 aulas digitais, divididas ao longo do ano letivo e baseadas nas orientações curriculares da Secretaria Municipal de Educação (SME-RJ). Focando em repensar o que é atualmente a escola como instituição de ensino e a dinâmica de aprendizado, os TICs se inserem como ferramentas principais nesse processo que vem acontecendo no Projeto Gente. Na escola os laptops, smartphones e tablets também são parte essencial do material escolar do corpo docente e dos alunos, que estão no centro do desenvolvimento da aprendizagem. Segundo a coordenadora do projeto, Alice Ribeiro, a escola trabalha com um currículo expandido e com processos de aprendizagem personalizados, focando em novas metodologias educacionais. “Atualmente atendemos 180 estudantes que, ao entrarem, recebem um laptop e passam por uma avaliação diagnóstica na qual buscamos identificar deficiências de aprendizagem, cog- nitivas e socioeducacionais. Criamos com isso um mapa com uma lista de competências e habilidades que os alunos tanto já possuem, quanto ainda precisam desenvolver. Além disso, na entrevista buscamos identificar quais os interesses e sonhos daquele indivíduo, para auxiliarmos na construção de um projeto de vida”, explica. Potencializando um projeto de vida Feito o diagnóstico individual, os alunos recebem um itinerário informativo próprio, voltado para suas características, interesses e individualidade. Nele constam as atividades da Educopédia (educopedia.com.br) que cobrem cada habilidade – uma plataforma online colaborativa com aulas criadas e revisadas por professores da rede municipal de ensino. As avaliações também acontecem online, por meio da chamada Máquina de Testes, um sistema de avaliação digital com questões criadas por mais de 100 professores municipais. Os alunos capa Hélio Melo/Divulgação Projeto Gente 20 Período de transição Tais exemplos são iniciativas e experimentações novas. Ainda há muita estrada para se percorrer até que as ção adequada para inserção das TICs como ferramentas pedagógicas nas dinâmicas educacionais. Para a coordenadora de educação da Unesco no Brasil, Maria Rebeca Otero Gomes, mais importante do que proporcionar o acesso aos aparelhos em si, é ofertar capacitação e treinamentos apropriados aos educadores. "É uma recomendação da Unesco que os gestores se atentem para a utilização das tecnologias móveis e as aprimorem, integrando-as como parte do projeto pedagógico. É importante a atenção das instituições de ensino para a expansão dessas tecnologias na educação formal, dentro das escolas, como continuidade das salas de aula, e possibilidades de educação não formal, como em programas de alfabetização, no meio rural, dentre outras capacidades”, diz. Segundo Rebeca, a utilização das TICs integradas aos projetos pedagógicos é a melhor maneira de se estabelecer uma ponte com essa nova geração de estudantes. “Vivemos em um mundo em transformação, cada vez mais globalizado. Os ritmos são outros, que influenciam, inclusive, a própria velocidade e forma de construção do conhecimento. É bastante interessante que os professores possam usar as tecnologias para o bem da educação. Os alunos reconhecem bem essas linguagens e temos que Hélio Melo/Divulgação Projeto Gente passam pelo sistema regularmente, quando encerram suas atividades na Educopédia, e bimestralmente, como avaliação de desempenho. Você deve estar se perguntando “E o professor?”. Bem, Alice explica que “os professores do projeto recebem cursos de capacitação e educação continuada para atuarem como mentores dos alunos, que são divididos em grupos de 18 e ficam sob a tutela de um professor mentor. Esse professor, além de auxiliar os estudantes e acompanhá-los nas aulas práticas que acontecem uma vez por semana, também procura encaminhá-los para algumas das disciplinas eletivas existentes, auxiliando na construção e evolução do projeto de vida de cada aluno”. Língua Estrangeira, Educação Física e Artes compõem as aulas presenciais obrigatórias. Dentre algumas das disciplinas eletivas oferecidas estão: robótica e mecatrônica; Inteligência Artificial (curso da Universidade de Stanford); programação básica; webdesign; etc. entre respondê-las ou excluí-las. “A ask.fm tem sido muito aceita para a interação entre alunos e professores, que podem rapidamente sanar dúvidas que surjam durante seus estudos”, diz. Segundo o diretor, o próximo investimento do colégio será a estruturação de uma rede wifi que atenda Projeto Gente: na biblioteca, livros e todas as dependências gadgets convivem em comuns da instituição. harmonia em prol do “Pretendemos que, aprendizado; abaixo, nos próximos anos, professor orienta aluna os alunos já possam em aula do projeto utilizar seus aparelhos móveis de forma inteTICs estejam realmente integradas grada com o programa do professor em aos sistemas pedagógico de nossas nosso colégio”. escolas públicas e privadas. O Colégio pH, em Botafogo, também vem, aos Uma longa estrada Lógico que nem tudo ainda são poucos, procurando adaptar-se a flores. Os paradigmas da educação nova realidade. Na visão de Rui Gomes de Sá, estão em xeque. As novas gerações de diretor de ensino do pH, o futuro será estudantes não têm mais os professores um meio termo. “Haverá uma mescla como o grandes e únicos detentores e adaptação dos modelos tradicionais do conhecimento. Uma informação para que os benefício e potenciali- no antigo quadro negro pode, cada vez dades introduzidas pelas TICs sejam mais, ser complementada pelos prófortalecedores do processo de apren- prios alunos, quando não, questionada dizado. Nenhum colégio, atualmente, totalmente. Situação que, vale ressaltar, pode deixar de pensar nisso. As aulas assusta muito educadores mais ortodotornam-se muito mais dinâmicas, xos. Temor, muitas vezes, causado pelo atraentes e visualmente interessantes desconhecimento ou falta de preparaaos alunos. Prendem sua atenção, pois falam a mesma linguagem”, opina. O colégio já disponibiliza algumas funcionalidades como material didático, através de uma intranet e de aplicativos específicos. Além de estar presente e procurar estabelecer comunicação com alunos e familiares através das redes sociais mais utilizadas e interessantes para os estudantes, como a ask.fm, uma rede social na qual os usuários recebem perguntas de outros usuários em uma caixa de entrada, de onde pode escolher adaptar essas escolas para utilizá-la nas salas de aula. Redes sociais podem ser usadas para realização de dever, discussões, é uma linguagem que funciona muito bem. Não deve ser proibido, deve ser orientado", afirma. Se bem utilizadas, as TICs permitem que a aula se prolongue e o universo virtual seja uma extensão da escola. “Os professores deveriam ter condição de tempo e recurso financeiro para se preparar e terem seus próprios equipamentos como ferramentas de trabalho, além de formação, que é muito importante para os professores estarem preparados para lidar com a demanda desses novos alunos. Acontece que o sistema ainda é conservador, demora a se adaptar. Quando chega a um determinado padrão, é bem possível que já esteja obsoleto”, avalia a coordenadora. De acordo com último TIC Educação, pesquisa realizada, em 2012, sobre o "Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil", 97% das escolas privadas e 89% das públicas do país, possuem conexão à internet em suas dependências. As redes sem fio também estão presentes, representando 73% e 57% da disponibilidade, respectivamente. Mesmo assim, o último estudo mostra que, por mais que tenha havido um crescimento do número de computadores portáteis também nas escolas públicas, a velocidade da conexão ainda é um limitador para o uso das ferramentas. "Estudo aqui desde os três anos e acompanhei toda essa mudança da escola. Ter acesso wifi e poder pesquisar online é maravilhoso. Meus livros e cadernos estão dentro do meu computador agora. Cristina Fraga, estudante Promessa é dívida Já o MEC e a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc-RJ) também estão na corrida para tentar equilibrar a matemática. Segundo a Seeduc-RJ, desde 2008 foram entregues mais de 120 mil aparelhos portáteis a professores e alunos da rede estadual de ensino. A Secretaria afirma que, até o final deste mês de novembro, será finalizada a entrega dos tablets referentes ao programa em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), anunciados em abril e prometidos para ser entregues até o fim de julho deste ano. Se forem mesmo distribuídos todos os equipamentos ainda este ano, chegarão à rede estadual 30.540 tablets para professores, 90 para Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) e 700 para unidades escolares. A ideia do Governo do Estado, de acordo com uma matéria publicada no próprio site do governo sobre o programa de distribuição, no dia 15 de abril deste ano, é que, com os aparelhos, os professores possam acessar os conteúdos pedagógicos disponíveis no site Conexão Professor (www.conexaoprofessor.rj.gov.br) e as escolas tenham kits com projetores que poderão ser conectados aos tablets para a exibição do material nas salas de aula. Podemos dizer que já será alguma coisa se, junto com tablets e laptops vier também a correta capacitação dos profissionais. Além do investimento em banda larga sem fio nas escolas e da disponibilidade de tempo preciso para que esses educadores possam pensar e estabelecer as estratégias necessárias para inserção das TICs em sua dinâmicas educacionais e programas pedagógicos, conforme a recomendação da Unesco. 21 Oswaldo miranda [email protected] Muito a contragosto... 22 Sim. Quando aconteceu a generalada de 1º de abril de 1964, eu era assessor de imprensa e relações públicas do IAPB, a previdência dos bancários. Dia 4, telefonema de lá: “O senhor está intimado a comparecer para depor no IPM – Inquérito Policial Militar, acusado de comunista subversivo”. Fui e logo era trancado numa sala aonde já estavam um major, um capitão e um escrivão. Em tom arrogante os dois começaram a inquisição. Assim: “Por que o senhor é comunista? Desde quando? Quem eram seus companheiros? Onde vocês se reuniam? Quanto vocês recebem de Moscou?” Eu, p.... da vida, com a resposta padrão: Não sou comunista, repetida a exaustão no curso do interrogatório imbecil. O escrivão na Olivetti. Mais de duas horas. Irritado, o major deixou a sala e foi para outra, contígua. Ali estavam cinco funcionárias, minhas colegas, preocupadas, todas atentas ao telefonema que o dito militar iria dar. Pelo que captaram, teria sido para o DOI- -CODI, ele dizendo ter encerrado o trabalho, e que o depoente, fraco, inofensivo, deveria ser liberado, não era ameaça, o que aconteceu. Bah! Os três se mandaram, mas o cara aqui, em frangalhos, estava demitido A BEM DO SERVIÇO PÚBLICO! Guardo o documento, assinado pelo presidente, Cristóvão Moura, que, encagaçado, logo aderiu ao golpe, cumprimentando os dois gorilas. A chancela é um rabisco ininteligível. 30 de setembro de 2009. Recebo um ofício do Ministério da Justiça, Comissão de Anistia, com pedido de DESCULPAS e a surpreendente informação de uma reparação econômica, segundo a Lei 10.559, de 13 de novembro de 2002. Começou então minha via crucis para receber o tal benefício. Minha sobrinha-neta Claudia e a amiga Juçara, uma no Rio, esta em Brasília, se multiplicam em cartas, e-mails, telefonemas, contatos pessoais na Comissão, correspondência para a presidente Dilma e os ministros da Justiça, o do Lula e o atual, José Eduardo Cardozo – tudo no apelo para a liberação do benefício. Eu constrangido, diante dos esforços em meu favor – já passados 93 anos de idade – despesas com remédios contínuos, e com as duas dedicadas cuidadoras no trato diário à minha disposição. Juçara me fala da sua indignação com a indolência, o descaso dos funcionários com os quais têm tido contato, alguns evasivos, demonstrando negligência, nenhum empenho no trabalho. Quero falar ainda nas despesas, outro item a me preocupar... Muito a contragosto, uso este Espaço, minha tribuna, para relatar como está sendo incrivelmente difícil chegar às minhas mãos o benefício a mim oferecido pelo governo, numa retratação justa ao sacrifício que me foi imposto pelo golpe. Quatro anos são passados! Agora, espero em Deus receber o que é de meu direito, antes que a morte me leve... Um dos generais do golpe de 1º de abril de 1964, em posição de sentido... As ilhas Maldivas estão desapar ... Enquanto no Paquistão um terremoto fez surgir uma ilha de terra e rocha, ali mesmo, no Oceano Índico, as ilhas Maldivas começam a sumir, engolidas pelas ondas. De 1900 para cá o nível do mar subiu 17 cm e o derretimento das geleiras nos polos provocará um aumento de 5 cm por ano. Algumas ilhas: Malé, capital, Miladummadulu, Faddifola, Titadummati. Para se garantir, o governo local mandou construir ilhas flutuantes. O arquipélago tem 393 mil habitantes em quase duas mil ilhas. Meu neto, Luiz Maurício, que já surfou em todos os mares, quis ir lá para conferir a coisa in loco. Conta que já foi feita uma tentativa de segurar o aumento do mar com barreiras de areia e cascalho, sem resultado. O governo quer me- lhorar as comunicações entre os ilhéus mais ameaçados por eventos externos, Maurício - olha ele ai surfando - (ao fundo, uma das ilhas) disse que tudo é verdade. Pôde sentir de perto a preocupação dos habitantes, já acostumados a migrações constantes, na expectativa de como poderá ser a vida em ilhas artificiais. É neste mundo que nós vivemos, sabia? Meu neto sabe... P.S. No divertissement da edição passada (não tenho pretensões poéticas...) leia-se CONTUNDENTES e não incontudentes, e no finalzinho, leia-se que Celso de Melo detonou COM os embargos infringentes. G isela gold [email protected] O DIA: “Netos de Pelé vão à Justiça por pensão de R$13.500,00” O Rei foi apanhado em impedimento! EXTRA: “Romário pensa em se candidatar a governador e diz que há muito político que deveria levar porrada”. Na boca de um parlamentar certas palavras não caem bem, mas... MENSALÃO: Acaba neste mês o prazo dado aos réus para que entrem com seus embargos infringentes (olha eles aí...) – recurso que poderá dar a 12 dos 25 condenados o direito a novo julgamento”. Estamos a 44 min. do segundo tempo, sem acréscimos... VEJA: Capa: “Malala, a menina sem medo. Baleada na cabeça pelos radicais islâmicos por que estuda, ela se torna símbolo mundial da luta pela liberdade e pelos direitos da mulher”. Mal deixou a chupeta e já é uma heroína. GERAL: Arthur Zanetti, 23, campeão olímpico em 2012, é campeão mundial também na Bélgica. Nas argolas, não tem para ninguém! E que venham as Olimpíadas aqui. Brrasil, zil, zil! SEM CENSURA: Beth Carvalho, com Rildo Hora, Bira do Pandeiro, Carlinho 7 Cordas. Um ano internada. Agenda para receber tanta gente. No hospital teve roda de samba, feijoada e gravou o CD, com capa de Lp, chamado ‘Nosso samba tá na rua’. É Cacique de Ramos e brizolista. Não segue nenhuma religião. Tem fé no ser humano. Toca com a filha. Sempre quer ajudar a quem tem talento. Tem shows programados por todo o Brasil e sua voz está correndo por todo o mundo. Salve a nova Beth, agora, melhor ainda, com dez parafusos na coluna! EXTRA: “Por não concordar em se transferir para o PRB, da tal de Igreja Universal, Wagner Montes foi castigado. Seu espaço na Record passou para as 6h30min”. O rapaz, com mais de 500 mil votos, foi o mais votado como deputado estadual. O bispo Edir Macedo é mauzinho com quem não é um de seus fiéis! FOLHA DE S.PAULO: “Trocou o pé pelas mãos. Após o câncer, músico volta a tocar com o implante de dedo do pé na mão”. Frederico Cesar Leite passa a ser o único clarinetista pododáctilo. É isso? Afinei? FOLHA DE S.PAULO: “Ministro dos Portos, que investiu zero, deixa governo após 9 meses no cargo. Chama-se Leonidas Cristino”. Não chegou a ancorar... DESTAK: “Copacabana lidera nas multas de lixo nas ruas”. Já não é mais tão Pricesinha do Mar assim... GERAL: “Dilma: - Estou na fase dos grandes beijos”. No Brasil, entenda-se... PETRÓLEO: Acompanhei como a Dilma, pela TV, todo o ritual do mega leilão do campo de Libra, 8 a 12 milhões de barris, a maior reserva do mundo, quase o que a Petrobras produziu até aqui. A sesquipedal reserva vai se dividir entre Brasil, China, França e uma anglo-holandesa. Fico com Getúlio: - O petróleo já não é tão nosso assim... O GLOBO: Corpo de Jango será exumado este mês. Dia 13, em São Borba, RS. O exame não será lá, no mesmo estado que perseguiu o presidente. Vai ser no exterior, por técnicos e peritos argentinos, uruguaios e cubanos. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que a responsabilidade é dos generais ditadores. Jango foi assassinado! Teoria das probabilidades Zezinho botou na cabeça que era ruim em Matemática. Não conseguia de jeito maneira entender essa tal teoria das probabilidades. Definir todas as possibilidades de um evento acontecer antes da hora chegar. Na segunda, no dia de mostrar o dever, Zezinho pensou na probabilidade da tia perguntar o resultado do problema e acabou não indo à aula. Se passasse pela cozinha, sua mãe poderia perguntar se ele não tinha aula, havia essa probabilidade. Zezinho preferiu ficar no quarto. De lá ouviu ela gritar ao telefone. Poderia estar chateada com ele, pensou. Havia essa possibilidade. E havia a chance de cruzar com ela no corredor. Melhor ficar no quarto, pensou. E se ela batesse na porta do quarto? Melhor se esconder no armário. Mas Zezé, a babá da casa, certamente guardaria suas roupas ali. Mal o menino sabia que aquilo que fazia era Matemática. Zezinho pensou que tanta coisa poderia acontecer que nada fez. Nem tentou resolver o tal problema, como é que era mesmo: “Qual a probabilidade de uma soma dos dois dados ser maior que doze?”. Por mais nada que Zezinho havia feito, o novo dia se fez. Na escola, não aguentou a curiosidade e perguntou ao melhor amigo se a tia tinha resolvido o problema. Ele disse que ela havia faltado. Nenhuma soma de dois dados dava mais do que doze. A resposta do problema era impossível. Que nem a impossibilidade que Zezinho criava. 23 C armen pimentel | língua portuguesa [email protected] Algumas expressões... Volta e meia me perguntam sobre o significado de expressões parecidas que causam dúvida na utilização. Outro dia foi a vez de eu ter que explicar a diferença entre “a princípio” e “em princípio”. Decidi escrever sobre alguns pares de expressões que vez ou outra nos assombram! 24 1 - A princípio e em princípio O termo ‘princípio’ se refere tanto a "origem, começo, estréia" quanto a "convicção, modo de ver, opinião que se admite como ponto de partida", além de "preceito moral, regra, lei", entre outras acepções. Com as preposições a e em forma locuções distintas, veja só: - a princípio: à primeira vista, logo a princípio, inicialmente, primeiramente, de início, de entrada, no começo, de começo (ou ainda: "de cara"). • Pensamos, a princípio, que se tratava de um pássaro exótico, mas depois constatamos que era simplesmente uma espécie mais colorida de periquito. • A princípio eu não sabia de nada, mas um dia ela me contou tudo. - em princípio: em tese, em teoria, teoricamente, em termos, de modo geral; conforme o dicionário Houaiss: "antes de qualquer consideração”; “sem entrar em casos concretos e particulares". • Vai ao show do Justin Bieber este fim de semana? – Em princípio, vou; mas dependo da confirmação de uma carona. • Em princípio não estamos interessados em nos mudar daqui. 2 - Mais bem e melhor Melhor, além de ser a forma comparativa de superioridade do adjetivo bom (mais bom = melhor), serve também como comparativo de superioridade do advérbio bem ("ele canta melhor que o irmão"). Em frases como essas, seria inaceitável usar a forma analítica mais bem; a substituição por melhor é obrigatória. Antes de particípios, contudo, é a forma analítica a preferível: "Esta é a revista mais bem diagramada que já li". Esse é o uso culto, tradicional, da língua. Pode ser substituído pela forma sintética: "revista melhor diagramada” - embora doa aos ouvidos mais bem preparados... 3 - Em vez de e ao invés de A expressão “em vez de” pode ser usada sem qualquer constrangimento em qualquer situação. Bom, não é? Já “ao invés de”, somente em uma possibilidade: - em vez de: significa “em lugar de”, “em substituição a”, “ao contrário de” dando ideia tanto de oposição como de substituição. • Em vez de nos ajudar, atrapalhou ainda mais a nossa situação. • Em vez de ir ao cinema, vamos ao teatro? - ao invés de: corresponde somente à ideia de oposição, com valor de “ao contrário de”, “ao inverso de”. • Ao invés de baixar, o preço do gás combustível subiu. • Chorou ao invés de rir. 4 - Ao encontro de e de encontro a Essas expressões, tão parecidas na sua estrutura, exprimem ideias completamente opostas! Observe: Ao encontro de indica "ser favorável a", "ter posição convergente" ou "aproximar-se de". Transmite ideia de favorecimento ou, ainda, de encontrar alguém. Veja os exemplos: Que bom! Suas ideias vêm ao encontro das minhas! Podemos continuar com nossos planos. Marquei com João no bar para, dali, irmos ao encontro de Maria. Já de encontro a indica “ser contra a”, “em prejuízo de”, transmitindo ideia de oposição, contrariedade, além das ideias de choque, colisão. Infelizmente seu projeto vai de encontro aos interesses da empresa. O ônibus desgovernou-se e foi de encontro ao poste. Saber o significado de cada uma delas é importante para entender o enunciado elaborado por alguém. Analisemos as seguintes frases: A construção do novo shopping vai de encontro ao desejo dos moradores do bairro. A construção do novo shopping vai ao encontro do desejo dos moradores do bairro. As frases são bastante parecidas e só o entendimento das expressões consegue fazer a distinção de significados entre elas. Na primeira, o autor da frase expressa contrariedade: os moradores não são a favor da construção do shopping. Na segunda, a ideia é de favorecimento: os moradores desejam a construção do shopping. É preciso ter conhecimento linguístico para desvendar as verdadeiras intenções do produtor de tais frases! Espero que essas dicas tenham ido ao encontro de seu interesse! T AMAS Pensamentos Pró-fundos Ontem matei mais um. Não ver, não ouvir, não tocar. Por isso eu mato pessoas que continuam vivas. Algumas “coisas” não me interessam. Entre vivos e sem “mortos” vou levando a minha vida. Que é curta. -Entre tantas dúvidas uma pequena certeza me faria bem. -Vou para Saturno me enamorar na lua cheia. -Dor no peito é problema no coração. Enfarto ou paixão. -Me perdi em sonhos e acordei pela metade. -Costuro panos e palavras. -Um pequeno momento liberto é uma eternidade. -A alma sofre com a estupidez humana. -Tranquei um segredo a sete chaves e perdi uma. Eduardo Piereck de Sá Instante Fugaz Poeta Convidado [email protected] Nau Desperta Navegantes desta nau desperta toma para ti o leme da verdade e adentra os mares revoltos, instáveis desta flagrante realidade. Põe-te à parte dos sabores há muito conhecidos. Distrata o acordo com este mar morto e desata-te por àguas fluidas desprovidas de toda falta de liberdade em navegar. Põe-te a atracar em portos longínquos afastados de tuas vivências soterradas. 25 Publieditorial Mentiras e verdades sobre o leilão de Libra Por Emanuel Cancella* Mentira nº 1 –Leilão não é privatização. O fato: no caso de Libra, quem ganhar o leilão terá direito de explorar o campo por 40 anos. Em quatro décadas, a petrolífera estrangeira vai secar a reserva. Petróleo não tem duas safras. São reservas que não se renovam e levam milhões de anos para se formar. O consórcio vencedor será o dono do petróleo que deveria ser do povo brasileiro. Mentira nº 2 - O Brasil não possui tecnologia nem recursos financeiros para produzir no pré-sal. O fato: a) quem desenvolveu a tecnologia inédita no mundo que permitiu a descoberta do pré-sal foi a Petrobrás; b) A Petrobrás possui reservas de, no mínimo, 60 bilhões de barris de petróleo. O equivalente a pelo menos 6 trilhões de dólares, cotando o barril à média de 100 dólares. Com uma garantia dessas, que banco deixará de financiar a Petrobrás? Mentira nº 3 – O Brasil já assimilou a ideia de realizar leilões. O fato: embora a imprensa hegemônica, que está a serviço das grandes empresas, boicote as verdades sobre o campo de Libra para enganar o povo e beneficiar as empresas, o povo não apoia a entrega das riquezas do país a multinacionais estrangeiras. Nas décadas de 1940-50, os brasileiros criaram a campanha “O Petróleo é Nosso!”, a maior campanha cívica do país. Isso quando o petróleo ainda era um sonho. Agora que é realidade, temos o desafio de barrar os leilões. Conheça as outras mentiras e verdades sobre o leilão de Libra em: www.apn.org.br * Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ Catete, Largo do Machado, Laranjeiras, Cosme Velho Clima bucólico, com toda a estrutura Wikimedia / Carlos Luis M C da Cruz B airros cariocas texto_Juliana Alves FOTO_Arthur Moura Como bom carioca, a Folha sempre aborda o Rio de Janeiro de diferentes maneiras. E a partir deste mês nossas páginas farão um passeio pelos bairros dessa cidade que tanto amamos para conhecer um pouco mais cada pedacinhos, através de pessoas que escolheram viver “ali”. Foi difícil decidir quais seriam os primeiros passos em meio aos charmosos 1.260 km² (aproximadamente) que nos tornam a segunda maior metrópole do Brasil, e então escolhemos as redondezas de onde quase tudo começou. 26 E como mudou... Catete, Largo do Machado, Laranjeiras, Cosme Velho, das chácaras aos prédios, comércio e casas. Porém, qualquer passada rápida pela região faz lembrar a importância e o brilho que o Rio teve para o país. No Catete, os exemplos são o atual Museu da República, antigo Palácio do Catete, a sede do governo brasileiro entre 1897 e 1960, e o prédio da 9ª Delegacia Policial desenhado pelo premiado arquiteto Heitor de Melo, responsável também pelo Castelinho do Flamengo, que já foi sede do Jóquei Clube e da Polícia Central. Nessa região nobre e repleta de História e personalidades históricas, vive Maria do Socorro Ribeiro. Nascida em São Luís, no Maranhão, adotou o Rio de Janeiro depois de passar um tempo em Salvador e daqui não sai mais. “Minha paixão é a Buarque de Macedo. Eu me identifico muito com o bairro e com as pessoas. As academias, os mercados, as lojas, os restaurantes das mais diversas especialidades, os cinemas, os bares, tudo é muito perto. Sou uma verdadeira apaixonada pelo bairro”. A Rua Buarque de Macedo, com seus famosos bares Bunda de Fora e Tiroteio, fica bem próxima ao Largo do Machado que é considerado um bairro por muitos, mas faz parte do Catete. É possível que essa confusão aconteça devido ao fato de ser um lugar bastante independente: bancos, fast foods de grandes redes, culinárias japonesa, italiana, árabe e muitas outras, farmácias, lojas de sapato, roupas e salões de cabelereiro. O comércio se espalha pelas duas galerias e por todo o Largo. E lá já foi um dos polos de cinema, assim como a Cinelândia e a Tijuca. Para Maria do Socorro, a grande mudança nos últimos anos foi a construção da estação do metrô: “Foi uma verdadeira revolução. A obra provocou muitos transtornos, e a aceitação só aconteceu quando os moradores puderam aproveitar a praticidade de chegar em qualquer lugar rapidamente”. Quem não mora lá também é beneficiado com esse transporte, inclusive os visitantes do Corcovado, já que diante da proibi- ção da venda de ingressos aos pés do monumento, foram instalados guichês e criado estacionamento de vans para esse traslado. Dos 40 anos de Cidade Maravilhosa, Maria mora há 32 no Catete e se lembra com saudade da época em que era mais tranquilo passear a noite pelo bairro. “Saí do Bairro de Fátima um ano antes do meu filho nascer e os dois foram criados aqui. Os saraus, as serestas, os luaus, fazíamos todo tipo de festa na praia. Atualmente, o número de menores nas ruas aumentou muito e todos sentem a necessidade de uma segurança ostensiva. Não faço parte da Associação de Moradores por falta de tempo, mas sempre que posso, colaboro com opiniões”. A escolha da região foi devido à proximidade da praia: “Meu lugar preferido é o Aterro; é só atravessar a avenida e já estou à beira mar. As extremidades são pouco atraentes, mas na altura do Flamengo é bem agradável. Já temos até identificações como os Postos 2 e 3. Para mim, é um dos bairros mais elegantes do Rio de Janeiro”. Cosme Velho de hoje e sempre Paulo Cesar Moreira de Castro, carioca, morava no Leblon em um apartamento pequeno, e resolveu procurar algo maior diante do nascimento da sua segunda filha. “Cheguei aqui em 1982 e acredito que o prédio onde moro tenha sido uma das últimas construções do bairro. É bem encostado ao morro e o clima é sempre frio; o lugar é lindo e vai continuar assim porque, como foi tombado, nada pode mudar”. Para ele, é maravilhoso ser vizinho de uma das sete maravilhas do mundo e na época em que trabalhava no Jornal do Brasil, subia o morro de Igreja Nossa Senhora da Glória Largo do Machado carro, corria e depois tomava banho nas cachoeiras antes de colocar o terno para enfrentar mais um dia. “São várias quedas d’água. Mas falta um pouco de tranquilidade por ser um ponto turístico muito visitado. A nova medida que proíbe a venda de ingressos no local ajudou a diminuir a confusão. Outra mudança importante foi a construção do terminal para os ônibus que antes faziam da Praça São Judas Tadeu um estacionamento com barulho de motor e ar condicionado ligados desde cedo”. Não pode haver mudanças, mas as melhorias são bem-vindas. Sua paixão pelo bairro fez dele diretor da Associação de Moradores nos anos 90, uma experiência gratificante tanto pelo aprendizado sobre o Cosme Velho, quanto pelo convívio com as pessoas que gerou até dois blocos de Carnaval, a Banda do Cosme Velho e o Concentra Mas Não Sai. E durante toda a entrevista, uma adorável aula de História: “Ali tem o Largo do Boticário com uma arquitetura linda que transporta as pessoas para o Rio antigo, a Bica da Rainha utilizada pela própria que era seguida pelas mucamas, daí a expressão “Maria vai com as outras”, e por aí vai. Do Cosme Velho, chamado antes de Águas Férreas, até o Largo do Machado, somente chácaras cercavam o Rio Carioca. De acordo com a lenda, os portugueses, apelidados de akari pelos índios em referência ao peixe cascu- do, chegaram à Baía de Guanabara e construíram uma casa de pedra na foz do Rio Carioca, na Praia do Flamengo. Os tamoios a chamavam de akari oka “casa do homem branco”, e ao longo do tempo, surgiu a palavra “carioca”. Nesses últimos 30 anos, o comércio do entorno teve um aumento significativo oferecendo mais opções aos moradores em todos os sentidos. O trânsito também mudou: passar pela Rua das Laranjeiras exige uma dose especial de paciência, principalmente nos horários de entrada e saída dos colégios. “Durante as manifestações, os congestionamentos foram mais pesados porque as ruas de acesso ao Palácio Guanabara estavam fechadas, uma questão inevitável. Às vezes Rua General Glicério - Feira de Hortifrúti 27 B airros cariocas No berço das Laranjeiras 28 também é complicado estar próximo ao Rebouças, mas ainda que muitos pensem que atrapalha, ninguém mais vive sem esse túnel. Enfim, não há o que mudar. Na verdade, não há como mudar”, afirma Paulo. Além de gostar do lugar e aproveitá-lo muito bem, Paulo se sente realizado por ter conseguido se estabelecer profissionalmente na região com a culinária nordestina no Severyna, uma proposta que, na época, tinha dado certo para ele somente na Zona Norte. Laranjeiras... A linda e charmosa Laranjeiras, um dos bairros mais antigos da cidade batizado assim, segundo a lenda, devido às antigas plantações de laranjas que ocuparam a região. Por volta do século XVI, XVII, tudo era sesmaria, mas a paisagem mudou bastante com a construção da fábrica de tecidos Aliança na Rua General Glicério, em 1880, antiga Companhia Econômica de Lavanderia a Vapor, que impulsionou a construção de vilas operárias que podem ser vistas até hoje na Rua Pires de Almeida, além de outras residências. Nessa rua, atualmente, além da feira de hortifrúti, acontece a feira de artesanato com direito a chorinho, convidados e muita gente bonita todos os sábados até às 15h. E não há como continuar falando de Laranjeiras sem falar de quem está lá há mais de 60 anos. “O senhor é carioca?” “Sim, sou carioca. Em Portugal não conheço nada; só conheço o 1 meu Brasil”. Edgar da Costa Maia veio para cá aos cinco anos, e foi morar em Laranjeiras com seus 13 anos e o ofício que tinha aprendido no Centro do Rio: cabelereiro. “Consegui ter o meu salão durante 20 anos e cortei cabelos de gerações de muitas famílias. Sou conhecido em toda essa região, inclusive em Santa Teresa, onde todos demonstram um grande carinho por mim”. Para ele, as pessoas representam a parte mais encantadora do lugar. “Tive uma pizzaria com mais de dez entregadores sem ao menos um problema, e isso é porque sempre me preocupei em respeitar as pessoas. E tenho or- gulho da minha filha porque vejo que ela também é assim; quem a vê diz que está seguindo os passos do pai”. Dizem que cada pessoa tem um dom, mas no sr Edgar, é difícil identificar algo em meio a tantas coisas boas. Ele é uma celebridade consagrada: foi duas vezes tema do samba do bloco Volta Alice, participou do filme Bonitinha, Mas Ordinária, e já sentou ao lado de Jô Soares para falar de sua saborosa feijoada de frutos do mar. Sua disposição o ajudou a driblar, recentemente, um AVC que o deixou parado “por apenas algumas horas. Foi o tempo do atendimento no hospital e, no dia seguinte, mesmo contra 2 as ordens médicas, estava abrindo o bar”. Atualmente, ele trabalha no Tascas do Edgar que fica no começo da Rua Alice, uma das mais famosas do bairro também por abrigar um antigo prostíbulo de luxo, a Casa Rosa, por onde passou gente de todas as classes sociais, e que atualmente é um centro de estudos e divulgação da cultura popular brasileira. Ali bem próximo, na Rua das Laranjeiras, 291, foi a sede da TV Continental entre 1959 e 1972, com o maior estúdio do Brasil, onde hoje fica uma concessionária de automóveis. Instituto João Alves Affonso, na Ipiranga, Instituto Nacional de Educação de Surdos, nas Laranjeiras, Palácios Guanabara (sede do Governo do Estado) e Laranjeiras (residência oficial do governador do Estado) são grandes marcos locais, mas muito da arquitetura antiga foi preservada por todas as ruas, o que permite um belo passeio pelo passado com toda a praticidade do presente. Restaurantes, igrejas, bares, lojas dos mais diversos ramos, tudo entra em harmonia com a tranquilidade do bairro. Para a criançada, o Parque Eduardo Guinle, uma Área de Preservação Ambiental (APA), é excelente. O Mercado São José, antiga senzala na época do Império, mercado de hortifrúti durante o governo de Getúlio Vargas e hoje construção tombada depois de um bom tempo de abandono, tornou-se concentração de gastronomia, cultura e arte como, por exemplo, o ateliê Luzia Mariana, assim como a Praça São Salvador. Talvez esse resumo consiga explicar porque Seu Edgar diz que “no bairro, tudo é muito bom, não precisa mudar nada”. 1. Parque Eduardo Guinle 2. Mercado São José: • "Floral", Ateliê Luzia Mariana • Estúdio Casa do Músico • Imagem de São José 6 29 & Fotos: Divulgação arte cultura GARIMPO CULTURAL Texto_Juliana Marques alves Segredos público escreve seus segredos anonima- manas e realistas. “Penso em outro ho- Temporada: 06 de novembro a 11 de mente, deposita os papeis em uma urna mem quando transo com meu marido”, dezembro e os atores leem cada um em voz alta. As “Já joguei veneno para o cachorro da Horário: 21h, às quartas-feiras Quantos segredos você tem? E quantos confissões são a própria inspiração para vizinha”, “Finjo que estou dormindo no Preço: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia) segredos de amigos você já ouviu e pro- criar cenas que se entrelaçam formando metrô para não ceder o lugar a idosos”. Endereço: Rua Prudente de Morais, 824 – meteu não contar? Nesse espetáculo, o um mosaico de relações e situações hu- Deixe o seu e prepare-se! Teatro Ipanema - Tel.: (21) 2267-3750 Teatro em movimento movimento. Somente três pessoas de um táxi que sai do Leme e passa podem participar do espetácu- por Copacabana, Urca e Botafogo. O lo. Por isso, reserve seu lugar no motorista atende quatro passageiros banco do carro com antecedência! Não recomendado para menores de 12 anos A peça narra a jornada de Fando e sua amada, a paralítica Lis, em busca da mítica cidade de Tar, um lugar onde a dor, a doença, a dúvida e o frio desaparecerão. Neste percurso em busca da felicidade, são deflagradas as relações de poder e de dependência entre os personagens. Fotos: Divulgação A comédia No Táxi acontece dentro Fando e Lis Reservas pelo telefone (21)99666-9954 super divertidos ao longo do percurso, 30 e ainda encontra sem querer com a sua Temporada: De 09 a 30 de novembro ex-amante. A montagem proporciona Horário: sábado, às 15h e 16h30 uma experiência diferente e divertida ao Preço: R$ 40,00 (preço fixo) tirar o público da caixa preta do teatro Endereço: Av. Atlântica, 514 – Leme convencional e colocá-lo num táxi em – Em frente ao Sindicato do Chopp Cinema a céu aberto Preço: Entrada franca Endereço: Praia Ponta Negra próximo a Praia do Sono - Paraty Temporada: 14 de novembro a 17 de novembro Horário: 21h, às quartas-feiras 2ª Mostra Maré Cheia de Cinema em Ponta Negra - 2011 Apoie: catarse.me/pt/MareCheiadeCinemaPraiadoSono Fotos: Divulgação longas e curtas metragens de ficção, documentários e animações, todos de livre classificação. Como complemento, será realizada uma Oficina de Cinema de Animação para jovens e crianças. Foto: Dani Schmidt Aproveite este feriadão para curtir a 4ª Mostra Maré Cheia de Cinema – Edição Praia do Sono em Paraty. O projeto tem como característica original a exibição de filmes, em formato digital, em uma estrutura provisória montada na areia dos “costões” da região de Paraty. A Mostra, não competitiva, é exclusiva de filmes brasileiros, Temporada: Até 01 de dezembro Horário: Quinta a sábado, às 21h. Domingo, às 20h Preço: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia) Endereço: Rua São João Batista, 104 - Botafogo Teatro Poeirinha - Tel.: 2537-8053 C ASA CARIOCA 31 H aron Gamal [email protected] Vários narradores à beira da oralidade Novelas de Vereza flertam com o realismo fantástico 32 Noveleletas, de João Paulo Vereza (Ed. Record, 191 páginas) é um livro composto por cinco pequenas novelas, todas ambientadas longe dos grandes centros, em flerte com um regionalismo inusitado e quase atemporal. As histórias apresentam personagens telúricos e sonhadores, não deixando de lado a relação de poder entre proprietário e empregados nem a religiosidade do homem do povo. Ao mesmo tempo, os textos transitam em meio ao que se costumou chamar de realismo fantástico, provocando desfechos em aberto, que torcem o trágico na direção de possíveis finais felizes. A primeira história, “O trem nascente”, começa com uma cantiga, que retorna e se interpõe aos vários trechos da narrativa, como uma espécie de ciranda. Tal estratégia alivia os momentos de tensão e desvia de modo inteligente o foco do enredo a outros segmentos, revelando e ampliando fatos que pouco a pouco tornam o leitor prisioneiro do texto. A primeira parte, em forma de um falso diálogo (apenas um dos personagens fala e pressupõe a escuta de outro), apresenta um morador do lugarejo tentando negar informações a um recém-chegado que pergunta sobre o Almirante, uma espécie de mandachuva local. Mas este narrador, com o intuito inicial de nada falar sobre tal personagem, elogia-o tanto que acaba produzindo um efeito contrário: deixa à mostra toda a crueldade do “senhor”. Esse foco não é, no entanto, o que há de maior na novela, mas sim a habilidade do autor em transitar por vários tipos de narração, partindo da fala de personagens, poemas, monólogo interior e narrativa em terceira pessoa. O mistério da “Barra Pequena” é a segunda novela e, talvez, a mais pungente. Inicia-se em forma de diálogo entre um pescador e seu Vianna, o proprietário local, dono de terras e de quase todo o comércio da pequena cidade. Uma vez que chega sem os peixes, o pescador é acusado de bebedeira. Mas este teria testemunhado a aparição de um monstro no mar, que lhe teria roubado todos os peixes. Entrega um bilhete onde está escrito “Deutilande”, palavra a princípio misteriosa, mas que depois revelará grande parte da violência que a narrativa comporta. A seguir a história passa a ser narrada por um jovem órfão de mãe, cujo pai é alcóolico e violento. O aparecimento de um padre, homem de intensa alegria, mudará o destino desse rapaz. O religioso contrasta a todos os princípios severos da Igreja, assinala o prazer como realização máxima e afirma que o ser humano já não carrega o pecado, mas, ao contrário, tem todas as possibilidades, desde que saiba apreciar tudo que a vida lhe tem a oferecer. A narrativa empreendida pelo garoto soa plena de desejos e descobertas. Na verdade, torna-se quase um pequeno romance de formação. Primeiro é o amor pela menina Laura, depois, vendo-se só devido ao desaparecimento do pai, apega-se ao irmão mais velho. Mas esse quer ser soldado e parte para a guerra. A Segunda Guerra Mundial. Por isso a pungência da história. Quase totalmente desamparado, com apenas a figura do padre a lhe insuflar que todo homem é responsável pelo seu destino, esse narrador quer descobrir o mundo. No final, novamente o desfecho em aberto e a presença do realismo mágico amenizam e proporcionam a nós, leitores, alguma esperança, em meio a uma narrativa de conflito e solidão. “A maçã do Chorume” é um conto protagonizado por um cachorro que já tomou parte da primeira novela. Aqui, o cão aparece sozinho e faminto, anda pelas ruas da pequena cidade num dia de festa de santo, está em busca do que comer e acaba por se fixar numa maçã do amor. Mas Chorume, nas suas travessuras para surrupiar o doce alimento, acaba por provocar um incêndio. Daí em diante, começa uma intensa correria para capturá-lo. Mas o que sobressai, entretanto, é a solidão humana, agora sob o ponto de vista de um animal. A quarta história, toda em versos, “Canção de Mané Cotó”, traz à tona a violência da colonização portuguesa na sua impetuosa busca pelo ouro no Brasil. O conto parte do ponto de vista de um menino negro, escravo fugido que esconde uma pepita de ouro. Mas ele se defronta com Dom Moncorvo, um emissário que está em busca de indícios de ouro na colônia. O menino é o ladrão, mas não deixa de ajeitar as coisas para o nobre português. De acréscimo há a presença de escravos e mais escravos, soldados e índios, todos a serviço da Coroa. Percorrendo as diversas narrativas desse simpático livro não é difícil detectar a filiação literária de Vereza ao universo ficcional de Guimarães Rosa. Mas não se trata de imitação, o motivo e as questões apresentadas pelas histórias remetem o leitor nesta direção. a LEXANDRE brandão | no osso [email protected] Sem pressa Manoel de Barros, no poema “Andarilho”, do “Livro sobre nada” (Poesia Completa, Editora Leya), afirma categórico: “andando devagar eu atraso o final do dia”. Para quem não sabe o que é poesia, poesia é essa rasteira no senso comum, é esse dano irreparável na lógica que comanda nossa vidinha miserável. Certa vez batia perna com meu primo Bosco pelas ruas da Vila Madalena, em São Paulo. Ele pediu para eu andar mais devagar; com pernas menores que as minhas, não conseguia me acompanhar. A partir de então, meu ritmo é ditado por passos miúdos, com o que desperdiço minha altura e o alcance potencial de minhas passadas. Devagar, passei a contemplar o mundo. Eu contemplo o mundo. Já vai um tempo, caminhei por alguns quarteirões atrás de um sujeito que olhou todas as bundas que cruzaram seu caminho. Não desprezou nenhuma. Olhou a de uma moça mignon. A de uma rechonchuda. Torceu o pescoço para contemplar a da jovem. E, igualmente, a da velha, a da negra, a da branca, a da moça manufaturada — a Glória, bairro onde estávamos, é um ponto de travestis. Se eu tivesse pressa, não teria apreciado um tipo desses, feito à medida para ficcionista do meu quilate — meio vagabundo, quero dizer. Andar devagar, nos dias de hoje, tem muitos inconvenientes. O mundo está acelerado. Uns ultrapassam outros — sejamos sinceros: o objetivo é ultrapassar os outros. Aos que não estamos totalmente isentos do espírito competitivo resta lastimar ficar pra trás. (Lastimar, lastimamos, acelerar o passo, nem pensar.) Em meu primeiro livro, lançado em 1995, há um conto (“A quarta queda”) que esbarra nessa questão, mas, no caso, a competição se dá entre pessoas que se arrastam. A metáfora, arrisco dizer, é esta: mesmo quem perdeu, quem, portanto, se arrasta, ainda guarda uma ilusão de não ser o último, de não ficar na rabeira do mundo. Ser o último seria a derrota definitiva. Não é de hoje que estou olhando o mundo de esguelha. Devagar, e sempre desconfiado. Outro Manuel (Manuel igual a Manoel, certo?), um amigo, reage do seguinte jeito ao verso de seu xará: os velhos andam devagar para atrasar o final da vida. Matou a pau. A decadência física é menos importante que a mumunha urdida para atrasar o fim absoluto. Manoel de Barros está velho. Adiou, com seu passo de cágado pantaneiro, o fim de muitos dias — dias que engoliram alguns de seus filhos. E, arrastando seu chinelo pela fazenda, estará, agora, postergando a chegada do “seu dia”. Um palpite, não 33 passa de um palpite isso que acabo de dizer. Desconheço Manoel de Barros, e desconhecê-lo não deixa de ser uma forma íntima de chegar a ele. Quem já o leu sabe que não estou lançando mão de uma frase de efeito. Com o poeta é assim mesmo. • Ações de Rua • Livrarias • Bancas • Cafés • Restaurantes • Espaços Culturais • Lojas • Academias 34 COPACABANA Banca do Babau Rua Inhangá esquina c/ NSC Banca Tia Vânia Rua Xavier da Silveira, 45 Banca Xavier da Silveira Rua Xavier da Silveira, 40 Espaço Brechicafé R. Siq. Campos 143 - loja 31 Tel: 2497-5041 Graça Brechó Av. N.S.Copabana 959 Loja E Ao lado do Cine Roxy Livraria Nobel Rua Barata Ribeiro, 135 Tel.: 2275-4201 Rest. Príncipe de Mônaco Rua Miguel Lemos, 18- Loja A Shopping 195 Av. N.S.Copacabana, 195 Sorveteria Lopes Av. N.S.Copa., 1.334 - loja A Theatro Net Rua Siqueira Campos - N° 143 - 2º Piso. Copacabana GÁVEA 15ª DP – Gávea R. Major Rubens Vaz, 170 Tel.: 2332-2912 Banca da Bibi Shopping da Gávea 1º piso Tel.: 2540-5500 Banca da Gávea R. Prof. Manoel Ferreira, 89 Tel.: 2294-2525 Banca Dindim da Gávea Av. Rodrigo Otávio, 269 Tel.: 2512-8007 Banca New Life R. Mq. de São Vicente,140 Tel.: 2239-8998 Banca Speranza Praça Santos Dumont, 140 Tel.: 2530-5856 Casa da Táta R. Prof. Manoel Ferreira,89 Tel.: 2511-0947 Chaveiro Pedro e Cátia R. Mq. de São Vicente, 429 Tels.: 2259-8266 Igreja N. S. da Conceição R. Mq.de São Vicente, 19 Tel.: 2274-5448 Menininha Rua José Roberto Macedo Soares, 5 loja C t. 3287-7500 Restaurante Villa 90 Rua Mq. de São Vicente, 90 Tel.: 2259-8695 HUMAITÁ Banca do Alexandre R.Humaitá esq. R.Cesário Alvim Tel.: 2527-1156 Mutações Largo dos Leões, 81 loja C Tel: 2530-4201 IPANEMA Banca do Renato Rua Teixeira de Mello, 30 Budha Spa Ipanema Rua Visconde de Pirajá, 365/B, Sobreloja 201 Tel: 2227-0265 Centro Cultural Laura Alvim Av. Vieira Solto, 176) Supervídeo Rua Visconde de Pirajá, 86 lj.C e D 21 2522-6893 JARDIM BOTÂNICO Posto Ypiranga Rua Jardim Botânico, 140 Tel:2540-1470 Supermercado Crismar Rua Jardim Botânico, 178 Tel: 2527-2727 LAGOA Bistrô Guy Rua Fonte da Saudade, 187 LARANJEIRAS Barra dos CDs Raros Praça São Salvador (21) 9973-6021 Casa da Leitura Rua Pereira da Silva, 86 Mundo Verde Rua das Laranjeiras, 466 – loja D Tel.: 3173-0890 LEBLON Armazém do Café Rua Rita Ludolf, 87 Tel.: 2259-0170 Banca Canto Livre Rua Gen. Artigas, s/nº Tel.: 2259-2845 Banca do Mário Rua Gen. Artigas, 325 Tel.: 2274-9446 Banca do Vavá Rua Gen. Artigas, 114 Tel.: 9256-9509 Banca Rainha R. Rainha Guilhermina,155 Tel.: 9394-6352 Banca Scala Rua Ataulfo de Paiva, 80 Tel.: 2294-3797 Banca Top Rua Ataulfo de Paiva, 900 esq. Rua General Urquisa Tel.: 2239-1874 Café com Letras Rua Bartolomeu Mitre, 297 Café Hum Leblon Rua Gen. Venâncio Flores, 300 Tel.: 2512-3714 Central de Compras do Leblon Av. Ataulfo de Paiva, 556 Centro Empresarial Leblon Av. Ataulfo de Paiva, 204 Cidade do Leblon Av. Ataulfo de Paiva, 135 Entreletras Shopping Leblon nível A3 Embalo Bar R Dias Ferreira, 113 Fotografia Digital Av. Afranio de Melo Franco, 310 Rio Flat - Apart Hotel Rua Almirante Guilhem, 332 Vitrine do Leblon Av. Ataulfo de Paiva, 1079 LAPA Bar da Nalva Rua Silvio Romero, 3 - Esquina com Rua do Riachuelo SANTA TERESA Banca Chamarelli Rua Áurea, 02 Banca do Lgo. dos Guimarães Largo dos Guimarães s/nº Bar do Gomes Rua Áurea, 26 Esquina de Santa Rua Monte Alegre, 348 Tel.: 2508-7112 URCA Banca da Deusa Banca da Teca Banca do Círculo Militar em frente ao Círculo Militar Banca Ernesto e Bia Av. Portugal, 936 Banca Garota da Urca Av. João Luíz Alves, 56 Bar Belmonte Av. 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