CCBB EDUCATIVO 2015

Transcrição

CCBB EDUCATIVO 2015
Ministério da Cultura apresenta
Banco do Brasil apresenta e patrocina
CCBB E DUCATIVO 2015
Juan Gris (1887–1927)
O Violino, 1926
Óleo sobre compensado
79,5 x 53,5 cm
Acervo do Museo Nacional Centro
de Arte Reina Sofía, Madri
N
o
ocidente, desde a Antiguidade Clássica, estabeleceram-se
regras para o fazer artístico. As esculturas gregas e
romanas buscavam na geometria formas harmoniosas de
representação do mundo que nos rodeia. No período medieval,
imagens religiosas faziam a ponte entre o terreno e o divino. A
valorização do homem e do pensamento científico racional
marcaram o período renascentista, que introduziu a perspectiva na
pintura, criando a profundidade e a ilusão do real. No século XVII,
para contar uma história, o estilo barroco jogava com a oposição
entre claro e escuro como se a tela fosse o palco de um drama
teatral.
No século XIX, invenções mecânicas substituíram a mão-de-obra
humana pela força do vapor, do carvão, do petróleo. Mudou-se o
jeito de viver. Durante séculos, a pintura, a escultura, a gravura e o
desenho foram as únicas maneiras de registrar cenas, lugares e
pessoas. Em 1839, é inventada a fotografia.
Quando alguém diz que alguma coisa é moderna pensamos logo na
palavra “novo”. Moderno vem de hodierno, de hodie, que quer dizer
“hoje”. É marcar uma diferença entre o agora e o passado. O artista
russo Wassily Kandinsky costumava dizer que a arte é filha de seu
tempo. E como o artista moderno vai se comportar frente a esse
novo mundo? Explicitando o que é próprio de cada linguagem
artística. Na pintura, rompe com a arte da ilusão, com o que faz
parecer real, revelando suas características, como as pinceladas,
as cores e a luz.
O espanhol Pablo Picasso aliou o domínio técnico ao seu desejo
constante pelo novo e passeou por diferentes linguagens plásticas.
Ele foi o estopim do cubismo, retomou o clássico, flertou com o
surrealismo, ora mais, ora menos expressionista até produzir uma
arte “picassiana”. A exposição PICASSO E A MODERNIDADE ESPANHOLA –
OBRAS DA COLEÇÃO DO MUSEO NACIONAL CENTRO DE ARTE REINA SOFÍA
traz 90 obras que datam de 1910 a 1973, apontando os caminhos
de Picasso e outros grandes artistas como Salvador Dalí, Joan Miró,
Juan Gris rumo à Modernidade.
Centro Cultural Banco do Brasil
1863
Pintores do século XIX tinham que
seguir regras de composição, de
paleta de cores e escolher temas
nobres, como cenas históricas e
religiosas. No Salão da Academia
Francesa, 3.000 obras rejeitadas
foram expostas em um salão
paralelo, que ficou conhecido
como Salão dos Recusados.
1874
Primeira
exposição
impressionista.
1881
Nasce em Málaga,
Pablo Picasso.
1883
Morre Édouard Manet,
considerado o inventor
da Modernidade. Suas
telas chocaram a
sociedade parisiense,
tanto pela temática,
quanto pela técnica.
1901
Picasso inicia a fase
azul, com temáticas
melancólicas,
despertada
principalmente pelo
suicídio do amigo Carlos
Casagemas, após uma
desilusão amorosa.
1907
Picasso pinta As Senhoritas de
Avignon trazendo a ideia de síntese
geométrica para a pintura. Início
do cubismo. Picasso e Georges
Braque resgatam a poética de
Cézanne, que dizia que o mundo
podia ser representado com
cilindros, cones e outras figuras
geométricas simples.
1906
Picasso inicia a
série de obras
conhecida como
fase rosa, de
temáticas
sensuais e
circenses.
1904
Picasso muda-se
definitivamente
para Paris.
1917
“A verdade artística resultante
da combinação dos elementos
do espetáculo era uma
verdade além da realidade,
um tipo super-realista” disse
Guillaume Apollinaire sobre o
balé Parade que tinha
figurinos de Picasso e libretto
de Jean Cocteau.
1916
Dadaísmo, reação
irreverente ao
pensamento racional
que teria levado a
civilização à guerra.
1914 / 1918
I Guerra Mundial
Países europeus disputavam colônias nos quatro cantos do mundo.
Desenvolvimento econômico e nacionalismo foram o estopim para
a I Guerra Mundial.
1924
André Breton publica o
Manifesto Surrealista.
Inspirados nas ideias de
1937
Freud sobre a
Bombardeio de
psicanálise, artistas
Guernica.
passam a explorar o
universo dos sonhos.
1933
Joan Miró se interessa
O desemprego na
pelas experiências de
Alemanha era
exploração do
alarmante. Adolf Hitler é
inconsciente. Foi
nomeado Chanceler com
considerado por Breton
a proposta de recuperar
como "o mais surrealista
o país.
de todos nós", apesar de
nunca ter sido integrante
do movimento.
1931
O rei espanhol perde a
coroa, cai a Monarquia e
é instaurada a República.
1928
Joan Miró apresenta
Salvador Dalí aos
surrealistas. Dalí, com
22 anos, foi visitar
Picasso. "Vim vê-lo
antes de ir ao Louvre",
disse-lhe. "Fez você
muito bem", respondeulhe Picasso.
1929
Quebra da bolsa de
valores de Nova Iorque,
conhecida como a
Grande Depressão.
1939
Salvador Dalí é expulso
do grupo dos
surrealistas. E declara
“O surrealismo sou eu”.
1939 / 1945
II Guerra Mundial
A Alemanha
invade a Polônia
em 1939. O
mundo se divide
entre as potências
do eixo e os
aliados. Picasso
permanece em
Paris. Os alemães
"visitam" seu
ateliê depois de
invadirem a
cidade. A pintura a
óleo As enguias do
mar foi feita após
o episódio, por
isso os peixes têm
a boca aberta e a
paleta é triste,
como nos
desenhos de
Guernica.
1936 / 1939
Guerra Civil Espanhola
O General Francisco
Franco tenta assumir o
governo da Espanha com
um golpe militar. Começa
assim a guerra civil.
1973
Picasso viveu até os 91
anos. Sua genialidade
deixou um legado de
obras que ainda
inspiram os artistas
contemporâneos.
CUBISMO
Você reconhece uma mulher nessa pintura? Este é o retrato de Fernande Olivier
companheira e modelo de Picasso entre 1904 e 1912. Observe a figura. Que
partes do corpo você identifica?
Picasso estava explorando formas de pintar temas tridimensionais (que possuem
altura, largura e volume) na superfície bidimensional de uma tela.
Imitar a natureza, eis o que um pintor renascentista deveria aprender. Saber
misturar as tintas nos tons corretos para representar as coisas e, com pinceladas,
dar a real textura e volume dos objetos. Os tons e a suavidade da pele, a aspereza
da pedra, o brilho gelado dos metais, as dobras dos tecidos. Além disso, a
matemática havia ensinado a desenhar o espaço com efeito de profundidade,
como se o quadro fosse uma janela aberta. Picasso era um grande desenhista e
dominava com excelência as técnicas da pintura acadêmica.
Nessa tela, percebe-se a profundidade? Sentimos dificuldade em separar o que
está atrás do que estaria na frente. O fundo da obra vem para o primeiro plano.
Desconstrução
O que Picasso buscava no cubismo?
Desconstruir a perspectiva e a figura.
E como ele fez isso nessa tela? Usando
linhas geométricas (como havia visto
nas máscaras cerimoniais africanas),
pinceladas paralelas bem marcadas e
cores muito parecidas que vão do terra
ao cinza. A economia de cores era
proposital. Picasso não queria que cores
fortes desviassem a atenção do principal:
a pesquisa de composição de vários
pontos de vista ao mesmo tempo. Nessa
ideia de desconstrução, ele começa a
puxar o fundo para frente, muitas vezes
misturando figura e fundo, usando e
abusando de elementos geométricos.
Picasso e Juan Gris queriam a mesma
coisa: fundir a figura com o fundo. Por
quê? Para que contemplássemos a obra
antes que nossa razão procurasse
identificar a figura. Os pintores não
tinham mais a obrigação de retratar o
real, pois assim o fazia a fotografia. A
pintura podia ser apenas pintura.
Pablo Picasso (1881–1973)
Cabeça de mulher (Fernande), 1910
Óleo sobre tela
61 x 50 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de Arte
Reina Sofía, Madri
© Succession Pablo Picasso / AUTVIS,
Brasil, 2015
Construção
Repare como o artista com poucos elementos consegue nos mostrar uma cena, o
Arlequim com o seu violino. Arlequim? Violino? Onde? Sim, o cubismo fragmenta
e reúne, sugerindo mais e mostrando menos. O instrumento musical aparece em
partes, escondendo o todo. O Arlequim segura o arco, aquele objeto que parece
uma varinha, e, do outro lado, dois “f” anunciam a presença do corpo do
instrumento. Juan Gris estuda com cuidado o que colocar na composição
transformando o espectador em investigador.
Os primeiros violinos tinham apenas rasgos nas laterais do tampo para a ressonância
do som. A transformação dos antigos orifícios em “f” tem uma explicação na física,
porque essa forma filtra as ondas sonoras produzidas, garantindo um som mais
vibrante. Dizem que o primeiro luthier a utilizá-la, no final século XVI, teve sonhos e
visões de grandes “efes”, quase uma “revelação divina” antes de construir o
instrumento. Mas o mistério dessa história é que a precisão do “f” só foi comprovada
cientificamente pelo físico Helmholtz, que nasceu em 1821, mais de 300 anos depois.
Certamente, no final dos anos 1500 não existia esse conhecimento de engenharia
acústica, mas o desenho foi feito com precisão milimétrica! A forma destes “f” pode
ter surgido da tipologia cursiva inventada pelo tipógrafo italiano Aldo Manuzio (14501515) e comunicam para o exterior as vibrações do ar de dentro do violino.
Se Picasso desconstrói a figura na pintura, Juan Gris faz o inverso.
Gris constrói seu desenho como num jogo de montar com figuras geométricas,
que dão movimento à imagem. Uma vez que os triângulos, trapézios, retângulos
e losangos estão encaixados, ele insere os elementos para reconhecermos a
figura.
O personagem da Commedia dell'arte, Arlequim, tem sua roupa em formatos de
balões coloridos por ter sido muito remendada, fazia muitas travessuras por aí,
como roubar beijos das moças e doces de crianças.
O Arlequim está olhando para frente ou para o lado?
Commedia dell'arte
Você com certeza já ouviu falar do Arlequim e da Colombina! São figuras da Commedia
dell'arte, uma forma de teatro popular de rua que surgiu na Península Itálica no século
XVI. Os personagens eram os mesmos com algumas opções de enredo: os servos, os
velhos, o avarento, o bacharel, os enamorados. A improvisação era elemento
fundamental e, posteriormente, o uso de máscaras.
Juan Gris (1887–1927)
Arlequim com violino, 1919
Óleo sobre tela
91,7 x 73 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri
TRAGÉDIA
Durante a Guerra Civil Espanhola, a Frente Popular encomenda a Picasso uma
obra para arrecadar fundos na luta pela República. A obra seria apresentada no
pavilhão espanhol da Exposição Universal em Paris. Picasso primeiro pensou em
pintar uma tela que falasse da liberdade da arte, mas seu tema mudou devido a
uma tragédia. Para demonstrar seu poder, Franco bombardeou com a força aérea
alemã a pequena vila de Guernica, matando centenas de indefesos civis.
“Guernica é a aldeia mais feliz do mundo. Seus
assuntos são governados por uma junta de
camponeses que se reúne sob um carvalho e sempre
toma as decisões mais justas.”
disse Jean Jacques Rousseau (1712-1778).
A cidade é símbolo da relação entre a monarquia espanhola e a nação basca. Os
reis espanhóis tinham a tradição de viajar até a cidade de Guernica e debaixo
dessa árvore juravam respeitar os costumes locais.
Picasso fez 45 estudos antes de pintar a cena do painel. Os desenhos mostram a
versatilidade do artista, pois ele mistura elementos cubistas e expressionistas,
com toques de surrealismo.
Esta cabeça de cavalo é um exemplo. O nariz, os dentes e os olhos estão
distorcidos formando uma imagem dramática de pânico. Na sombria
paleta de Guernica, em que não há cores, o cavalo simboliza o povo da cidade
bombardeada em sofrimento e sua língua é pontuda como uma espada.
Na exposição está o desenho Mãe com o filho morto que lembra a Pietà, que em
português quer dizer “piedade”, um tema recorrente na arte sacra, em que Maria
embala em seus braços o corpo sem vida de seu filho Jesus.
Guernica é uma grande pintura de 3,49 m de altura e 7,76 m de comprimento faz parte do
acervo do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía. O painel já esteve aqui no Brasil, em
1953, na II Bienal Internacional de Arte de São Paulo. A viagem começou em Nova Iorque,
onde a obra estava sendo exposta no Museu de Arte Moderna. Foi para a Itália de avião, de
lá foi para Santos por navio e, só então, é que chegaria à "Terra da Garoa" por caminhão. A
história não acaba aí: o caminhão que trazia a obra atolou na lama do Parque do Ibirapuera,
que ainda estava sendo construído, até finalmente chegar ao Pavilhão da Bienal. A obra foi
tão comentada que a exposição ficou conhecida como “Bienal de Guernica”.
Pablo Picasso (1881–1973)
Cabeça de cavalo. Esboço para Guernica, 02/05/1937
Óleo sobre tela
65 x 92 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri.
Legado Picasso, 1981 © Succession Pablo Picasso / AUTVIS,
Brasil, 2015
FIGURAÇÃO - ABSTRAÇÃO
Uma coisa da qual Picasso não abriu mão a vida toda foi a figura. Ele nunca fez
algo completamente abstrato. Reconhecemos figuras em qualquer trabalho seu.
Esse é o retrato de Marie Thérèse, que foi modelo e amante do artista. Seu rosto
está inclinado, a cabeça apoiada em sua mão sugere ternura. O nariz aparece de
dois pontos de vista diferentes, um de perfil e outro que poderia ser metade de
um nariz de frente, mas deslocado de onde “deveria” estar. A boca e um dos olhos
estão de frente. A modelo pode ser vista de frente e de perfil ao mesmo tempo.
Embora não seja uma pintura realista, reconhecemos uma mulher. Mas e quanto
ao resto da pintura? Se dividirmos a pintura ao meio em diagonal e taparmos a
metade superior, vemos um trabalho abstrato. Aqui Picasso mistura cubismo e
uma visão pessoal do surrealismo.
Marie Thérèse e Dora Maar foram amantes do pintor ao mesmo tempo. Compare
seus retratos na exposição. A paleta de cores, a forma de olhar, a posição da
cabeça trazem características da personalidade dessas mulheres.
[Figuração]
uso de imagens que reconhecemos no mundo que nos rodeia, como pessoas,
animais, objetos, paisagens.
[Abstração]
ausência de imagens que representam a natureza. Formas livres, como manchas
coloridas e figuras geométricas.
Pablo Picasso (1881–1973)
Mulher sentada apoiada sobre os
cotovelos, 1939
Óleo sobre tela
92 x 73 cm
Acervo do Museo Nacional Centro
de Arte Reina Sofía, Madri
© Succession Pablo Picasso /
AUTVIS, Brasil, 2015
MODERNIDADE ESPANHOLA
Picasso foi o primeiro artista espanhol de sua época a ganhar fama fora da
Espanha, tornando-se um modelo para os pintores da sua terra. Mas nem todos
os artistas espanhóis estavam de acordo com o caminho que a arte tinha tomado.
O cubismo rompeu com as formas de representação que dominavam desde o
renascimento e surgiram correntes bem diferentes. Alguns modernos defendiam
pintar as figuras baseando-se nas formas clássicas, outros propunham usar
imagens que causam estranhamento, há quem trilhava um caminho construtivo
ligado à abstração.
Este é o Arlequim de Salvador Dalí, conhecido como um dos grandes nomes do
surrealismo. Mas aqui vemos um trabalho anterior a essa fase.
Observe como o artista dividiu a pintura em duas áreas iguais. Elas são marcadas
por uma grande diagonal, onde um fundo é amarelo e outro é vermelho. Dalí
pintou de uma maneira que a área em branco com volumes amassados pareça
ser de tecido. É a cabeça do Arlequim! A área azul é a outra metade da face. Dalí
considera os rostos divididos de Picasso, em especial a série de Arlequins
produzida na década de 1910. Você consegue ver onde estão os olhos dele?
Artistas de circo e saltimbancos são temas recorrentes nas obras dos artistas
modernos, pois despertavam o fascínio por serem viajantes, forasteiros.
Salvador Dalí (1904–1989)
Arlequim, 1927 [1926]
Óleo sobre tela
196,5 x 150 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de
Arte Reina Sofía, Madri
© Salvador Dalí, Fundació GalaSalvador Dalí / AUTVIS, Brasil, 2015
Joan Miró (1893–1983)
Figura e pássaro na noite, 1945
Óleo sobre tela
147 x 114 cm
Acervo do Museo Nacional Centro
de Arte Reina Sofía, Madri
© Successió Miró, Miró, Joan/
AUTVIS, Brasil, 2015
Joan Miró (1893–1983)
Pintura (Cabeça e aranha), 1925
Óleo sobre tela
89 x 116 cm
Acervo do Museo Nacional Centro
de Arte Reina Sofía, Madri
© Successió Miró, Miró, Joan/
AUTVIS, Brasil, 2015
"Considero meu ateliê como uma horta. Trabalho como um jardineiro, como
um vinhateiro. O meu vocabulário não vem de repente. As coisas seguem o
seu curso natural, crescem, amadurecem.”
O P OETA V ISUAL
Joan Miró nasceu em Barcelona, mas foi na ilha
espanhola de Palma de Maiorca que descobriu a
coloração intensa do céu e do mar. Criou um
vocabulário composto por linhas, manchas e áreas
coloridas. Suas formas orgânicas e construções
geométricas recriam um mundo de sonhos
pessoal.
Na passagem de Miró pela Academia Galí, de
Francesc d´Assís Galí, já se destacava a sua noção
de cor. A fim de aprimorar o domínio das formas, o
mestre sugeriu que Miró vendasse seus olhos e
tocasse objetos para depois reproduzi-los em
papel. O original método de desenho “pelo tato”
despertou sua fascinação pelas irregularidades
das superfícies.
Por volta dos 25 anos mudou-se para Paris, onde as
vanguardas dominavam o cenário artístico. Lá,
conheceu o movimento dadaísta e depois o
surrealismo, mas nunca integrou nenhum deles. Miró
ficou particularmente interessado nas experiências de
exploração do inconsciente. Artistas como Dalí
promoviam sessões de hipnose onde os participantes
gravavam seus delírios, por vezes, causados pela
ingestão de álcool. Miró, por sua vez, declarou que por
falta de dinheiro (seu reconhecimento só aconteceria
alguns anos depois) não jantava e rabiscava no papel
as sensações que a fome lhe provocava. Miró faz os
desenhos espontâneos e os transforma em signos,
relacionando-se com o automatismo do início do
surrealismo. Mas seu intuito é fazer poesia e não
revelar os desejos profundos.
“Não faço distinção entre pintura e poesia.”
Assim como seus conterrâneos, Miró também vai desenhar um personagem da Commedia dell’arte. Em seus estudos sobre o
irracional e o fantástico, ele cria a obra Carnaval de Arlequim (1924-25) sem nenhum compromisso com o figurativo e com
uma composição de cores brilhantes (azul, vermelho, amarelo, verde, preto). A obra participou da primeira exposição
surrealista.
Miró participou ativamente da luta pela liberdade de seu país. Pintou cartazes de propaganda política e idealizou o mural O
camponês catalão em rebeldia. Essa pintura é também conhecida como O ceifador, uma referência à Morte, aquela que
chega com a foice para ceifar a vida. Curiosamente a carta O ceifador do baralho do tarô tem cabeças coroadas ao chão. A
obra, que hoje está desaparecida, foi apresentada ao lado de Guernica no pavilhão espanhol da Exposição Internacional de
Paris.
Miró morreu aos 90 anos, celebrado em todo mundo como um dos grandes artistas do século XX.
A MATÉRIA DO VAZIO
Jorge Oteiza construiu esta escultura a partir de uma chapa de ferro que ele
cortou e dobrou. Porém o que é mais importante nessa obra não são as partes de
ferro, mas os espaços vazios e os efeitos de luz e sombra que a obra cria. Repare
na sombra que ela faz.
O cubismo propôs um modelo de representação inovador e radical ao fragmentar
o objeto em pontos de vista variados e depois reagrupá-los na tela. Ver todos os
lados ao mesmo tempo com toques de geometrização fez com que quase
perdêssemos a referência da figura representada. O movimento ficou em um
limite entre figuração e abstração.
Muitos artistas seguiram experimentando o cubismo, muitas vezes mudando a
sua poética e criando novos movimentos. A escultura abstrata de Jorge Oteiza,
Homenagem a Mallarmé, é uma herança do cubismo. A obra é explorada
tridimensionalmente para que o espectador investigue o espaço e experimente
as mudanças que cada lado apresenta. A beleza está na forma, na combinação
entre cheios e vazios, na alternância entre luz e sombra. A sombra projetada no
chão pode ser considerada parte da escultura, pois o volume e os vazios criam
desenhos interessantes que mudam de acordo com a iluminação. Depois de
produzir esta obra, Oteiza encerrou suas atividades como escultor.
Em 1897, Stéphane Mallarmé lança o livro Um lance de dados jamais abolirá o acaso, que
revoluciona a poesia. Os versos eram dispostos de maneira inusitada, como se fossem
contornados pelo vazio do papel. Mallarmé considerava que no vazio ele poderia encontrar
as melhores formas, ao que poderia ser atribuída a homenagem de Jorge Oteiza.
Jorge Oteiza (1908–2003)
Homenagem a Mallarmé, 1958
Chapa de ferro
54 x 60 x 40 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri © Embil, Jorge Oteiza/ AUTVIS, Brasil, 2015
Pablo Gargallo (1881–1934)
Mulher em vazio descansando, 1922
Bronze patinado
25,5 x 32,5 x 25 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de
Arte Reina Sofía, Madri
Pablo Gargallo (1881–1934)
Silhueta de um homem jovem, Ca.
1933–1934
Ferro
93 x 22 x 22 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de
Arte Reina Sofía, Madri
SÓLIDOS ETÉREOS
A grande contribuição dos gregos foi dar a impressão de vida e a sensação de
movimento aos corpos. Usando a matemática para medir cada parte do corpo
humano, inauguraram uma fase de beleza idealizada que se tornou referência
para a arte ocidental.
Enquanto as esculturas gregas trazem o volume das formas arredondadas para
fora, convexas, Pablo Gargallo vai “cavar” a obra, criando uma figura feminina
ainda com formas arredondadas, mas côncavas.
O escultor clássico usa um instrumento cortante, o cinzel, com o auxílio de um
martelo para esculpir o material e extrair a forma que deseja do bloco de pedra.
Herdamos desse período a ideia de escultura associada a figuras sólidas.
Gargallo, nos últimos anos de vida, desenha esculturas de ferro no ar. Em
Silhueta de um homem jovem, o volume é criado pela sombra que a escultura
projeta.
A Modernidade traz o volume para dentro da pintura e a escultura se transforma
em linha.
Cópia em mármore, séc. II
Myron de Eleuteras
Discóbolo ou Atirador de Discos, 450 a.c.
Original em bronze
ARTE
SOBRE
ARTE
A partir de 1923, Picasso produz uma série de composições de naturezasmortas.
Observe como Picasso trabalha a dualidade nesta obra:
Em estilo herdado do cubismo, esta pintura faz uma alusão à arte clássica e à
natureza-morta, criando, ao mesmo tempo, um clima quase surreal.
As cores branca e preta no rosto provocam uma fissura no busto.
Os pincéis ao lado do busto parecem comparar pintura e escultura.
A grande paleta em formato de crânio parece ter mandíbulas, e contrasta
com o busto de gesso que evoca o ensino acadêmico.
O busto é de uma figura masculina, mas as frutas, pintadas estrategicamente na
área que seria a continuação do tórax, lembram seios.
A porta semiaberta da varanda cria dois ambientes: o espaço do ateliê (interno)
e o céu em uma paleta azul mais escura (área externa).
A desproporção da maçaneta cria a sensação de irrealidade em contraste com o
desenho mais realista da porta da varanda.
Talvez Picasso estivesse fazendo uma referência à contraposição entre pintura e
escultura ou entre o bidimensional e o tridimensional.
Pablo Picasso (1881–1973)
Busto e paleta, 1925
Óleo sobre tela
54 x 65,5 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri
© Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2015
PATROCÍNIO
Banco do Brasil
CCBB EDUCATIVO SÃO PAULO
AÇÕES MEDIADAS
REALIZAÇÃO
Centro Cultural Banco do Brasil
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
COORDENAÇÃO
DE
PRODUÇÃO
Sapoti Projetos Culturais
Luciana Chen
COORDENAÇÃO GERAL
Daniela Chindler
Natalia Salles
COORDENAÇÃO GERAL
PRODUÇÃO
Fernanda Saul
Flavia Rocha
Gabriela da Fonseca
Pablo Picasso (1881–1973)
O pintor e a modelo, 1963
Óleo sobre tela
130 x 161 cm
Acervo do Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía,
Madri
Karen Montija
COORDENAÇÃO
DE
COORDENAÇÃO GERAL
ADMINISTRATIVA
Cristiane Leal dos Santos
DE
AÇÕES EDUCATIVAS
PRODUÇÃO
DE
PESQUISA
E
MEDIAÇÃO
Daniela Chindler
Gustavo Gavião
Luciana Chen
COLABORAÇÃO
Gabriela da Fonseca
Luisa Vilhena
REVISÃO
DE
TEXTO
Heyk Pimenta
Khalil Naime
CCBB EDUCATIVO RIO DE JANEIRO
DINÂMICAS E PERCEPÇÕES
COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
PROJETO GRÁFICO
André Ferreira Lima
Alexandre Diniz
EXPOSIÇÃO
CONSULTORIA
Eugenio Carmona
EM
MEDIAÇÃO
Curadoria
Marcelo Augustinho
Coordenação no Brasil
CONSULTORIA
Expomus Exposições, Museus
e Projetos Culturais
EM
ARTES CÊNICAS
Augusto Pessôa
COORDENAÇÃO
DE
PRODUÇÃO
Leonardo de Andrade
© Succession Pablo Picasso / AUTVIS, Brasil, 2015
CADERNO
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24/03 a 08/06 de 2015
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