Peixes e ecologia de água doce
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Peixes e ecologia de água doce
Peixes e ecologia de água doce invertebrados (Tabela 2). A riqueza média das espécies locais dividida pela riqueza geral das espécies regionais oscila entre 80% para esfingídeos e <1% para minhocas, que exibem um alto grau de endemismo junto com uma taxa muito alta de substituição (turnover rate) (Tabela 3). Com base nesses padrões de distribuição, 18 áreas prioritárias de invertebrados foram escolhidas para a região do Escudo das Guianas. A maioria das áreas está regularmente dispersa por toda a região; algumas foram escolhidas não pela representação geográfica, mas porque possuem espécies endêmicas conhecidas ou previstas. Quando possível, os locais regularmente dispersos eram escolhidos em áreas onde alguma informação já estava disponível, como a área de Manaus, centro do Estado de Roraima, Pantepui e as planícies costeiras da Guiana. Carlos A. Lasso, Barry Chernoff e Célio Magalhães Observação O grupo de peixes e ecologia de água doce incluía especialistas em dois grupos de fauna: peixes de água doce e crustáceos (caranguejos e camarões). Tabela 2: Número de sítios nos quais foram coletados dados sobre cada grupo taxonômico. Número de sítios (total de 140 pontos) Grupo Taxonômico Discussão A biodiversidade das comunidades de invertebrados na região do Escudo das Guianas é muito pouco conhecida. Já que parte desses grupos exibe taxas de endemismo extremamente altas, muitas espécies podem desaparecer da área à medida que o desmatamento progride e as espécies endêmicas são eliminadas em grande escala; em alguns casos (por exemplo, minhocas) as espécies endêmicas podem até ser substituídas por um conjunto de espécies com distribuições pantropicais. Ordem Himenoptera: família Vespidae (vespas sociais) 110 Ordem Lepidoptera (borboletas) 30 Ordem Opistopora (minhocas) 20 Ordem Himenoptera: família Formicidae (formigas) 20 Ordem Odonata (libélulas) 15 Ordem Lepidoptera: família Sphingidae (esfingídeos) 14 Insetos Gerais (diversos outros grupos) 14 Ordem Isoptera (cupins) 10 Classe Collembola (poduras) 4 Tabela 3: Estimativa de riqueza das espécies locais e regionais em oito grupos de invertebrados na região do Escudo das Guianas. Grupo Taxonômico Global Ordem Lepidoptera: família Sphingidae (esfingídeos) Local Escudo da Guiana (esperada) Porcentagem local/geral Total de endêmicas (estimativa) Ameaçadas 70–80 95 80 16 ND Família Apidae: gênero Meliponinae (abelhas sem ferrão) 500 40–50 90 50 10 ND Ordem Himenoptera: família Vespidae (vespas sociais) 1000 80–100 200 50 12 ND Ordem Isoptera (cupins) 4000 150 225 65 10 ND Ordem Himenoptera: família Formicidae (formigas) 7000 300–400 1500 23 300 ND Ordem Lepidoptera (borboletas) 15000 50 1500 <10 150 20 Ordem Odonata (libélulas) 5600 10–40 240 15 ND ND Ordem Opistopora (minhocas) ? 7000 15–20 2000 <1 1900 Muitas Consenso 2002 9 Conseqüentemente, outros invertebrados aquáticos, plâncton, alga e macrófitas aquáticas não foram considerados adequadamente nessa análise da biodiversidade de água doce. Área de estudo Pela primeira vez, os limites biogeográficos do Escudo das Guianas foram delineados em termos da ictiofauna e crustáceos decápodes. Os rios Guaviare e Meta na Colômbia e o canal principal do rio Orinoco abaixo de Puerto Ayacucho na Venezuela foram excluídos da área de estudo porque têm origem nos Andes e possuem propriedades físico-químicas e ecológicas diferentes das dos rios que têm origem no próprio Escudo das Guianas. Pela mesma razão, só os tributários meridionais do Delta do Orinoco foram incluídos. Em comparação, a área de estudo engloba todos os rios com afluentes no Escudo, incluindo a Serra de Chiribiquete no leste da Colômbia (rios Apaporis e Mesay). Os limites do sul são marcados pelas cachoeiras baixas dos tributários setentrionais do Amazonas ou, como no caso do rio Negro, por uma proeminente constrição rochosa. O rio Amazonas não foi incluído na área do Escudo das Guianas. Esforços científicos anteriores Nas bacias do leste o país mais conhecido é a Guiana Francesa, mas isso só se aplica aos peixes; os crustáceos não são conhecidos. O Suriname é o segundo país mais conhecido em termos de peixes e crustáceos. Na Guiana, a fauna ictiológica foi estudada por quase 100 anos, e ainda assim isso só representa um esforço moderado em alguns lugares limitados. A exceção é a exploração intensiva em andamento nos pântanos de IwokramaRupununi. Na bacia do Orinoco, a Venezuela é a parte mais conhecida em termos de peixes e crustáceos por causa dos esforços recentes de coleta nos rios Caura e Caroní. As partes do meio e de baixo da bacia do rio Negro na Colômbia, Brasil e Venezuela são áreas mais conhecidas em termos de peixes e crustáceos. Na média e baixa bacia Amazônica, os esforços foram mais concentrados nos rios tributários setentrionais Uatumá, Trombetas e Jari, devido a inventários realizados como parte de avaliações ambientais para as represas hidroelétricas planejadas. Definições de áreas prioritárias Existem 25 áreas prioritárias de água doce para estudos futuros e conservação: nove na porção leste do Escudo 10 das Guianas, dez na parte centro-norte e seis na parte sudoeste do Escudo. As áreas são distribuídas entre três amplas áreas sub-regionais: planícies do leste, planícies do sul e uma região complexa que compreende as regiões montanhosas, os planaltos e as planícies da área noroeste. Muitas delas se estendem por dois ou mais países. Por exemplo, a área Guainía se encontra na Colômbia e na Venezuela, e a área superior de Tapanahoni-Marouwijne cobre parte da Guiana Francesa e do Suriname. São conhecidas várias espécies ameaçadas em cada país. Contudo, os padrões de endemismo não são bem estabelecidos devido à falta de conhecimento, especialmente na Colômbia e na Guiana. Discussão As 25 áreas prioritárias de água doce se enquadram em seis diferentes setores faunísticos (zoogeográficos) para peixes e crustáceos: 1. As Guianas Orientais, do rio Essequibo ao Oiapoque 2. A bacia de drenagem do centro-norte do Orinoco 3. A bacia do rio Ventuari que deságua no alto rio Orinoco 4. As bacias hidrográficas na extensão sudoeste do conceito do Escudo do grupo de trabalho de ecologia da água doce, incluindo a região de Chiribiquete que parece ter uma relação biogeográfica especial com o rio Negro e o rio Caquetá. 5. As bacias do alto e médio rio Negro e Trombetas. Essas duas bacias são agrupadas com base na informação sobre crustáceos e na informação limitada disponível sobre peixes. 6. Uma série de áreas de cabeceiras entre bacias que drenam grandes áreas de montanhas e tepuis. As áreas de cabeceiras em geral são extremamente frágeis, e as poucas coletas que foram feitas nas áreas de afluentes demonstraram um grau notável de grupos taxonômicos endêmicos bizarros. Esperase que uma maior amostragem em regiões de cabeceiras produza um grande número de espécies endêmicas com distribuições restritas. A estimativa da riqueza de espécies de peixes dos diferentes países do Escudo das Guianas é a seguinte: Colômbia: 800 espécies; Venezuela: 1.000 espécies; Guiana: 700 espécies; Suriname: 450 espécies; Guiana Francesa: 475 espécies; bacia do rio Negro, Brasil: 750 espécies (Petry, comunicação pessoal); outras bacias Prioridades de Conservação para o Escudo das Guianas do Brasil: pelo menos 600 espécies. A conservação dos grupos faunísticos em cada um dos seis setores amplos propostos protegeria aproximadamente 30% das espécies de peixe de água doce da América do Sul, assim como uma porcentagem significativa da fauna de crustáceos. Anfíbios e répteis J. Celsa Señaris e Teresa Cristina de Avila Pires Área de estudo A área de estudo sobre anfíbios e répteis abrange o sul da Venezuela (estados do Amazonas, Bolívar e Delta Amacuro, delimitados no norte pelo rio Orinoco), Guiana, Suriname, Guiana Francesa, norte do Brasil (estados do Amapá e Roraima; Pará ao norte do rio Amazonas; e o estado do Amazonas ao norte do rio Amazonas e parte do baixo rio Negro, mas cruzando ao sudoeste aproximadamente na altura do rio Marié em direção ao rio Japurá/Caquetá) e o leste da Colômbia (incluindo o departamento do Amazonas ao norte do rio Caquetá; o departamento de Caquetá ao norte do rio Yarí e oeste até a serra de Chiribiquete; uma pequena área no departamento de Guaviare dentro da parte setentrional da serra de Chiribiquete; os departamentos de Vaupés e Guainía, delimitados pelo rio Guaviare; e a parte oriental do departamento de Vichada, incluindo os inselbergs e as savanas de areia branca que fazem fronteira com o médio Orinoco). Esforços científicos anteriores A herpetofauna da região do Escudo das Guianas ainda é pouco conhecida. Aproximadamente 45% dos anfíbios e 20% dos répteis dessa área só foram descritos nas últimas décadas, e a descoberta de novas espécies certamente irá continuar. Atualmente, cerca de 272 espécies de anfíbios e 280 espécies de répteis foram relatados na região das Guianas. Os endêmicos locais incluem seis gêneros de anuros, dois de cecilídeos e três de répteis. No nível das espécies, 127 anfíbios (46,7%) e 76 répteis (27,1%) são conhecidos exclusivamente da região das Guianas. A herpetofauna de 15 localidades distribuídas por toda região do Escudo das Guianas está bem pesquisada, enquanto 23 outras localidades estão exemplificadas medianamente (Tabela 4). Quando mapeados, esses 40 sítios aparecem como pequenas manchas dentro de uma área grande e pouco pesquisada. A maioria das Consenso 2002 localidades alta e medianamente amostradas se encontra perto de cidades e municípios ou estão associadas a estradas, pistas de pouso ou vias navegáveis importantes na região. O conhecimento da informação contida nas coletas existentes é limitado. Nem todas as coletas possuem bases de dados eletrônicas e as identificações taxonômicas precisam ser verificadas antes de utilizar os dados. Um levantamento completo de todas as coletas no mundo todo, no melhor nível taxonômico possível, seria útil para estabelecer um entendimento mais preciso do esforço de coleta na região, e forneceria informação sobre o material já disponível em coletas que precisa ser estudado. Definições de áreas prioritárias As áreas prioritárias foram definidas de acordo com os seguintes critérios complementares: (1) conhecimento ou existência presumida de espécies endêmicas; (2) conhecimento ou suposição de grande riqueza de espécies; (3) hábitats com características especiais (por exemplo, enclaves de savanas); (4) zonas especiais de contato/transição; e (5) o papel das áreas costeiras como locais de abrigo para tartarugas marinhas. Com exceção das áreas consideradas importantes para abrigo das tartarugas marinhas, somente dados taxonômicos e zoogeográficos foram levados em conta. As áreas foram definidas para incluir uma representação de planaltos, regiões montanhosas e planícies. A variação zoogeográfica, mesmo dentro de hábitats aparentemente similares, também foi levada em conta. Discussão A região do Escudo das Guianas, conforme definida acima, possui 15 áreas de significante importância biológica com relação a répteis e anfíbios. Embora a maioria das áreas tenha sido escolhida com base em mais de um critério, seis áreas possuem um endemismo notavelmente alto (Pantepui, Maciço da Neblina e planícies adjacentes, bacia do alto e médio Caura, Pakaraima-Kanuku-Rupununi setentrional, afluentes do Essequibo–montanhas Marudi e Approuague), uma rica área de planície possui pelo menos uma espécie endêmica de lagarto (Amapari/Camaipi), três áreas representam hábitats especiais (região de savana no Suriname, inselbergs do médio Orinoco e TrombetasCuminá), duas áreas de planalto são pouco conhecidas, 11
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