File - Rede Colaborativa: Efetores na interação planta
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EFETORES NAS INTERAÇÕES PLANTA-PATÓGENOS Dalio, Ronaldo J. D.1; Magalhães, Diogo M.1; Atílio, Lísia B.1; Rodrigues, Carolina M.1; Breton, Michèle C.1; Pichi, Simone 1; Pascholati, Sérgio F.2; Machado, Marcos A.1 1 Laboratório de Biotecnologia de Citros, Centro de Citricultura Sylvio Moreira, IAC Cordeirópolis-SP 2 Departameto de Nematologia e Fitopatologia, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP, Piracicaba-SP RESUMO Durante milhões de anos convivendo no mesmo ambiente, plantas e patógenos desenvolveram um complexo sistema de interação entre eles. Patógenos utilizam um grande número de estratégias para superar as barreiras de defesas e iniciarem a colonização nos tecidos do hospedeiro. Enquanto isso, as plantas apresentam um complexo sistema de defesa para impedir a invasão dos patógenos e, em consequência, o desenvolvimento da doença. Esta batalha resulta em uma constante pressão de seleção entre os organismos envolvidos. Nesta revisão são apresentados os principais componentes envolvidos na interação planta-patógeno, que vão desde a ativação da defesa desencadeada por reconhecimento de padrões moleculares associados aos patógenos (PAMPs), o papel fundamental de efetores e proteínas de resistência no desenvolvimento de doenças, as ferramentas de bioinformática utilizadas para predição de candidatos a genes efetores no genoma dos patógenos e o uso potencial dos efetores na proteção das plantas de interesse econômico e ecossistemas naturais. SUMMARY Millions of years coexisting in the same environment lead to the development of a complex interaction system between plants and pathogens. A number of strategies are used by pathogens to break the plant defense barriers in order to invade and colonize plant tissues. At the same time, a profusion of other strategies are used by plants to avoid or minimize the pathogen invasion and development. Because of this battle there is a constant selection pressure for the organisms involved, resulting in a strategy game which will never have a final winner. Here, we review the main components involved in plant-pathogen interactions from the Pathogen-Associated Molecular Pattern (PAMP) and their recognition by PAMP receptors activating 2 defense, the role of effectors and R proteins and their importance to help pathogens and plants, respectively, in this endless war for survival, the bioinformatic tools to predict putative effectors and their potential use to protect crops and natural ecosystems. INTRODUÇÃO Milhões desenvolvimento de de anos de complexo convívio sistema no de mesmo ambiente comunicação favoreceu entre plantas o e microrganismos. Para toda interação planta-microrganismo, a troca de sinais representa a primeira e fundamental etapa. Assim, a habilidade de perceber e responder a sinais do ambiente é fundamental para a sobrevivência (Tyler et al., 2006). Patógenos apresentam a habilidade de reconhecer sinais das plantas para iniciar a infecção (Dalio et al., 2014). Por sua vez, as plantas estão expostas constantemente a mudanças no ambiente, ataque de pragas e patógenos. Diferentemente dos animais, plantas não apresentam um sistema imune adaptativo e nem células de defesa móveis, como os macrófagos (Chisholm et al., 2006). No entanto, desenvolveram um sistema imune simples, porém eficiente, que é ativado após o reconhecimento de sinais da presença do microrganismo (Dalio, 2013; Gassmann & Bhattacharjee, 2012). Os processos de reconhecimento pelo sistema imune das plantas podem ser dividido em duas frentes: (i) aqueles associados à imunidade desencadeada por PAMPs ou MAMPs (pathogen or microbe associated molecular patterns); (ii) aqueles associados à imunidade desencadeada por efetores. O primeiro é usualmente denominado PTI (PAMP-triggered immunity) e o segundo ETI (effector-triggered immunity) (Jones & Dangl, 2006). Os PAMPs ou MAMPs são reconhecidos por receptores PRRs (PAMP-recognition receptor) localizados na superfície da membrana celular ou interior da célula, que desencadeiam uma cascata de transdução de sinais ativando a resposta de defesa (Hogenhout et al., 2009). Este tipo de sistema de defesa permite que as plantas respondam rápida e eficientemente a uma ampla gama de patógenos (Roux et al., 2014). Patógenos adaptados são capazes de secretar um arsenal de proteínas que podem suprimir PTI, resultando em suscetibilidade desencadeada por efetores (ETS, 3 effector-triggered susceptibility) (Birch et al., 2008). Os processos na resposta ETI envolvem a secreção de efetores para suprimir essa resposta. No entanto, plantas podem apresentar proteínas de resistência (R) que reconhecem estes efetores resultando em defesa (Howden & Huitema, 2012). O reconhecimento de efetores por proteínas R pode ser direto (modelo gene-a-gene) (Oßwald et al., 2014) ou indireto (modelo guarda) (Jones & Dangl, 2006). Enquanto patógenos desenvolvem novos efetores para manipular os processos de defesa das plantas, estas desenvolvem novas proteínas R, o que sugere uma constante e indefinida “corrida armamentista” na interação planta-patógeno (Figura 1) (Coll et al., 2011). 4 Figura 1. Representação esquemática da co-evolução entre plantas e patógenos. Sob ataque de patógenos, PAMPs ativam PRRs nos hospedeiros, resultando em cascata de sinais, usualmente através de fatores de transcrição como os WRKY, que leva a defesa. Este processo é denominado PTI. Patógenos virulentos podem secretar efetores que suprimem o reconhecimento de PAMPs e PTI, o que resulta em suscetibilidade. Este processo é denominado ETS. Por outro lado, plantas podem apresentar genes que codificam proteínas de resistência (R), que reconhecem os efetores e desencadeiam defesa. Este processo é denominado ETI. Sob pressão de seleção, os patógenos alteram ou desenvolvem novos efetores para escapar do reconhecimento por proteínas R, o que resulta em uma nova fase ETS. Desse modo, a pressão de seleção passa para as plantas. Novos genes R podem emergir e desencadear uma nova ETI, restaurando a imunidade. Estes processos podem se repetir indefinidamente (Dalio, 2013). Após o reconhecimento de um PAMP ou efetor, o sistema imune das plantas é ativado através de vias de sinalização semelhantes, baseadas em mudanças nos níveis de cálcio no citoplasma, rápida produção de espécies reativas de oxigênio e cascata de sinalização via MAP-quinases (mitogen activated protein kinases). A amplificação desses sinais ocorre por meio de hormônios reguladores como ácido salicílico (SA), ácido jasmônico (JA) e o etileno (ET) resultando na ativação de fatores de transcrição, entre eles os da super-família WRKY, e de genes de defesa, proteínas-PR (pathogenesis-related proteins), fitoalexinas, lignificação de tecidos, deposição de calose e outros reforços da parede celular (Grant & Lamb, 2006). É evidente que o reconhecimento do patógeno é fundamental para qualquer interação de suscetibilidade ou de resistência. Poucas proteínas efetoras já foram 5 descritas, no entanto, vários PAMPs/MAMPs são comprovadamente envolvidos nas relações de reconhecimentos entre plantas e microrganismos (Newman et al., 2013). Sabe-se que os patógenos apresentam diversas estratégias de ataque ao hospedeiro e que inúmeros efetores tem potencial para manipular a defesa das plantas. No entanto, isso contrasta com o que se vê na natureza, onde resistência é a regra e a suscetibilidade a exceção. Em outras palavras, uma dada espécie de planta pode ser resistente para a maioria dos patógenos e suscetível a apenas alguns. Isto se dá em função de relações incompatíveis, sendo chamada de resistência de não-hospedeiro (non-host resistance). Esta revisão, no entanto, está focada em relações compatíveis patógeno-hospedeiro, abordando os efetores e seu papel na ativação ou bloqueio de respostas de defesa das plantas. O entendimento e a manipulação de componentes chave envolvidos em mecanismos de defesa das plantas, como PAMPs, PRRs, efetores e genes de resistência, podem levar ao desenvolvimento de novas estratégias para o controle de doenças nos vegetais (Raffaele & Kamoun, 2012). IMUNIDADE DESENCADEADA POR PAMPS (PTI) Inicialmente, as plantas percebem a presença de microrganismos a partir de receptores de reconhecimento de padrões moleculares PRRs (pattern recognition receptors). Esses receptores são proteínas transmembranas pertencentes à classe das proteínas receptor-like (RLPs) ou quinases receptor-like (RLKs) e apresentam geralmente repetições ricas em leucina (LRRs) ou motivo de lisina (Lysm) no domínio extracelular, o qual está envolvido com o reconhecimento dos sinais (Beck et al., 2012). Os PRRs estão presentes na superfície das células e são capazes de reconhecer PAMPs e ativar a resposta de defesa contra os patógenos em potencial. Os PAMPS foram inicialmente definidos como moléculas provenientes dos microrganismos altamente conservadas e que apresentam função essencial em sua sobrevivência (Medzhitov & Janeway, 1997). Muitas vezes, essas moléculas são provenientes de microrganismos não patogênicos, portanto o termo (MAMP) também é utilizado. Tanto PAMPs ou MAMPs são capazes de atuar como moléculas eliciadoras e desencadear respostas de defesa basal. Da mesma forma, os PRRs podem também 6 reconhecer perfis moleculares associados a insetos herbívoros (HAMPs) (Mithöfer & Boland, 2008) ou mesmo danos resultantes (DAMPs, damage-associated molecular patterns) que são moléculas liberadas pelas próprias células do hospedeiro quando expostas ao ataque por pragas ou microrganismos (Ma et al., 2012). Moléculas de diferentes classes e pertencentes a diferentes microrganismos foram identificadas como PAMPs/MAMPs, incluindo os peptídeos bacterianos flagelina e fator Tu de elongamento (EF-Tu), xilanase de fungo induzida por etileno (EIX) e oligossacarídeos de fungos, como as glucanas ou fragmentos de quitina da parede celular. Também foram identificados como PAMPs/MAMPs epítopos mais complexos, como glicoproteínas de oomicetos ou lipopolissacarideos e peptideoglicanas de bactérias (Shan et al., 2007). Com a detecção dos PAMPS/MAMPS, as proteínas PRRs ativam na planta a resposta de imunidade desencadeada por PAMPs (PTI) e esta representa a primeira linha do sistema de imunidade das plantas (Tabela 1). 7 Tabela 1. PAMPs, MAMPs, DAMPs e HAMPs já descritos e seus respectivos receptores PRRs envolvidos em respostas de defesa tipo PTI. MAMP/DAMP/HAMP Planta responsiva Receptor Referência Arroz Lyp4/Lyp6 (Liu et al., 2012) Arabidopsis Lym1/Lym3 (Willmann et al., 2011) Desconhecido (Zeidler et al., 2004) Bactérias Peptideoglicana Lipopolissacarídeo (LPS) Flagelina Fator Tu de elongação (EF- Arabidopsis, fumo, pimenta Arabidopsis, tomate, arroz, fumo FLS2 (Gómez-Gómez & Boller, 2000) Brassicaceae EFR (Kunze et al., 2004) Transglutaminase Batata, salsa Desconhecido (Brunner et al., 2002) β-glucanas Soja GBP (Fliegmann et al., 2004) Xilanase Fumo, tomate Eix1/Eix2 (Ron & Avni, 2004) Invertase Tomate Desconhecido (Basse et al., 1992) β-glucanas Arroz Desconhecido (Yamaguchi et al., 2000) Arroz CEBiP/CERK1 (Shinya et al., 2012) Arabidopsis CERK1 (Miya et al., 2007) Arabidopsis LYK4 (Wan et al., 2012) PEPR1/2 Arabidopsis AtPep (Krol et al., 2010) ATP extracelular Tomate LecRK-1.9 (Choi et al., 2014) Fumo Desconhecido (Halitschke et al., 2001) Feijão de corda Desconhecido (Schmelz et al., 2007) Tu) Oomicetos Fungos Quitina Sinais da própria planta Herbívoros Conjugado de ácidos graxos e aminoácidos (FAC) Insetinas A proteína PRR mais estudada é a FLS2 (flagelin sensing 2) que foi inicialmente identificada em Arabidopsis e que possui a capacidade de reconhecer um epítopo de 22 aminoácidos (flg22) na porção conservada N-terminal da proteína flagelina que compõe o flagelo, estrutura envolvida com a locomoção em bactérias. A 8 flagelina representa um exemplo consistente com a definição de PAMP, ou seja, é essencial para a motilidade bacteriana, apresenta-se conservada em um grande grupo (bactérias que se locomovem por flagelo) e representa um fator de virulência comprovado e necessário para a patogenicidade bacteriana (Ramos et al., 2004). O epítopo flg22 é reconhecido pela maioria das espécies de plantas e o receptor FLS2 foi identificado em plantas como arroz, tomate e Nicotiana benthamiana, além de Arabidopsis (Boller & Felix, 2009). Outros exemplos bem caracterizados de PRRs incluem o EFR que reconhece o epítopo elf18 de EF-Tu em bactérias, o receptor CERK1 que reconhece peptideoglicanas bacterianas, Xa21 que reconhece proteína sulfatada AX21 em Xanthomonas, além do receptor CEBip que reconhece regiões de quitina em fungos ou LEIX1/2 que reconhece xilanases em fungos (Dardick et al., 2012). A resposta de imunidade do tipo PTI se dá por ligação física entre o domínio extracelular do receptor (PRR) com o epítopo do ligante (PAMP/MAMP), o que ocasiona uma mudança na estrutura do receptor e concomitante ativação da cascata de sinalização citoplasmática pelo domínio intracelular do receptor. A percepção microbiana rapidamente ativa o influxo de íons de cálcio (Ca2+) para o interior das células, o que modifica o pH local e regula a sinalização inicial de eventos que ocorrem dentro de segundos a minutos, como o efluxo de ânions, a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e a expressão de genes envolvidos com a biossíntese de peptídeos e compostos antimicrobianos. Estas respostas são principalmente mediadas por proteínas quinases dependentes de cálcio (CDPKs) e coreguladas pela cascata de sinalização por proteínas quinases ativadas por mitógenos (MAPKs), as quais podem ser posteriormente moduladas por calmodulina (CAM). O aumento de Ca2+ também regula respostas tardias que podem ocorrer horas ou dias após o contato com o patógeno, o que inclui a produção de ácido salicílico, fitoalexinas e outros compostos de defesa pela regulação genica. A ativação de genes de defesa também pode sofrer regulação por fatores de transcrição, como por exemplo, aqueles pertencentes à família WRKY (Monaghan & Zipfel, 2012). O complexo de sinalização descrito, principalmente regulado por Ca2+, apresenta uma visão geral de resposta PTI que contribui para a defesa das plantas contra bactérias, fungos e oomicetos. Entretanto, outras respostas podem estar associadas, incluindo a produção de etileno, o fechamento de estômatos ou a deposição de calose ou lignina na parede celular e, além disso, em vários desses processos há a formação de moléculas que 9 potencialmente podem atuar como mensageiros secundários (SA, ROS, etileno, cálcio, etc.) em outras vias metabólicas, o que torna a resposta ainda mais complexa (Zipfel & Robatzek, 2010). SUSCETIBILIDADE DESENCADEADA POR EFETORES (ETS) Até recentemente, muito pouco se sabia sobre a biologia dos efetores e principalmente sobre as bases moleculares da interação planta-patógeno. O conhecimento era limitado a estruturas de infecção especializadas, sintomatologia, secreção de enzimas hidrolíticas e toxinas. Com o avanço de técnicas moleculares e sequenciamento, muita informação tem sido gerada e a fitopatologia está avançando no entendimento das estratégias de infecção dos patógenos e mecanismos de defesa das plantas. Inicialmente, foram elucidadas as funções bioquímicas de algumas moléculas efetoras de bactérias. Depois, o conceito de efetores foi extrapolado de bactérias patogênicas para fungos, oomicetos e nematoides, que também tiveram a função bioquímica de alguns de seus efetores elucidada e finalmente, com métodos computacionais e bioinformática baseados em sequenciamento de genomas, tem sido possível predizer candidatos a efetores em uma imensa gama de microrganismos. Estas informações em conjunto levaram a comunidade científica a aceitar os efetores como fatores essenciais para a compreensão dos processos em qualquer interação planta-patógeno. EFETORES Estudos envolvendo bactérias Gram-negativas, com sistema de secreção tipo III (T3SS), revelaram que estas bactérias secretam proteínas no interior das células que desencadeiam reações de hipersensibilidade. Essas moléculas foram chamadas de fatores de avirulência. No entanto, as mesmas proteínas cunhadas como fatores de avirulência foram encontradas contribuindo para a virulência em relações de suscetibilidade. Deste modo, havia um impasse no uso do termo avirulência, visto que ele não era correto em todos os casos, demonstrando a necessidade de um termo 10 neutro. Nesse sentido, surgiu o termo efetor para resolver o impasse, o qual vem sendo aceito e utilizado na fitopatologia. Alguns autores ainda insistem em definir efetores como moléculas que suprimem a defesa das plantas. Como já mencionado acima, essa definição não é correta porque alguns efetores apresentam dualidade em sua função dependendo do hospedeiro, ou seja, podem ser relacionados tanto com a patogenicidade quanto com a ativação de resistência. Por muito tempo a definição mais aceita, proposta por Kamoun (2009), compreendia: “Efetores são moléculas secretadas por um microrganismo que alteram a estrutura/função do hospedeiro”. Esta definição perdeu um pouco de espaço, visto que nem todos os efetores são secretados e nem sempre o organismo alvo é um hospedeiro. Nesse sentido, a definição de efetores mais correta é: “Efetores são moléculas liberadas ou associadas a um organismo que modificam a fisiologia de outro organismo”. Os efetores são divididos em apoplásticos e citoplasmáticos em função do local de atuação. Os efetores secretados pelos patógenos durante a infecção podem se acumular na superfície exposta da célula ou nos espaços intercelulares, sendo classificados como efetores apoplásticos (Figura 2). Por sua vez, os efetores intracelulares ou citoplasmáticos são os que podem se translocar através da membrana celular e ter contato direto com compartimentos subcelulares ou organelas (Block et al., 2008). A estrutura típica de um efetor citoplasmático está representada na Figura 3. Os processos utilizados por bactérias fitopatogênicas para inserir seus efetores no interior das células dos hospedeiros são mais conhecidos quando comparados aos de oomicetos e fungos. Os tipos de secreção de proteínas em bactérias têm sido bastante estudados ao longo do tempo. No entanto, pouco ainda se sabe sobre o trafego de efetores para fungos e oomicetos. Sabe-se que alguns efetores apresentam motivos especiais em sua cadeia que utilizam a própria maquinaria da planta para adentrarem no interior da célula, porém estes processos ainda não estão totalmente esclarecidos, sendo necessários novos métodos que permitam a detecção e a visualização do tráfego destes efetores até a célula hospedeira (Petre & Kamoun, 2014). Uma vez translocados no citoplasma da planta, os efetores podem trafegar para diferentes compartimentos subcelulares, incluindo organelas e vários subcompartimentos da célula. Um grande número de efetores se acumula no núcleo da 11 planta, como os TAL de Xanthomonas, SAP11 de fitoplasma, e CRNs e Crinklers de Phytophthora, que utilizam a importina para mediar a entrada no núcleo da célula vegetal (Bai et al., 2009; Schornack et al., 2010; Vandenackerveken, 1996). O efetor TAL de Xanthomonas atua diretamente no núcleo e ativa genes no hospedeiro envolvidos em processos diversos, como os que definem o tamanho das células, transporte de açúcares e processos epigenéticos (Chen et al., 2010; Souza et al., 2012). Em Phytophthora, os efetores apoplásticos estão, geralmente, associados à inibição enzimática (ex. hidrolases) (Damasceno et al., 2008; Tian et al., 2004, 2005, 2007), enquanto que o modo de ação dos efetores citoplasmáticos em diferentes compartimentos sub-celulares ainda é obscura. Os efetores citoplasmáticos são proteínas modulares que carregam peptídeos N-terminais seguidos por motivos conservados como os RxLR (R: arginina; x: qualquer aminoácido; L: leucina; R: arginina) (Birch et al. 2006, 2008; Kamoun, 2006, 2007, 2009; Morgan & Kamoun, 2007; Tyler et al., 2006; Win et al., 2007) (Figura 3). O motivo RxLR viabiliza a entrada de proteínas que contem esse motivo no interior da célula (Bhattacharjee et al., 2006; Dou et al., 2008; Grouffaud et al., 2008; Whisson et al. 2007). Um dos efetores RxLR mais estudados é o AVR3a de Phytophthora infestans. O AVR3a suprime a morte celular induzida pela elicitina INF-1, também secretada por P. infestans. Em suma, INF-1 teria características de um padrão molecular associado ao patógeno (PAMP) que induziria a morte celular. Em contrapartida, o AVR3a suprime a ação deste PAMP, contribuindo para a virulência do patógeno (Bos et al., 2009). 12 Figura 2. Esquema ilustrativo da suscetibilidade desencadeada por efetores (ETS). Os patógenos de plantas como fungos, bactérias, oomicetos, vírus e nematóides colocam efetores no exterior da célula vegetal, os efetores apoplásticos (EA). Enquanto que os efetores citoplasmáticos (EC) são liberados diretamente no interior da célula, se ligando a diferentes proteínas dos hospedeiros (alvos dos efetores citoplasmáticos (AEC). (Adaptado de Win et al., 2012b). Tanto os efetores apoplásticos quanto os citoplasmáticos tem o potencial de suprimir respostas de defesa das plantas. Figura 3. Estrutura típica de um efetor citoplasmático. Todos os efetores, citoplasmáticos ou apoplásticos apresentam um peptídeo sinal na posição N-terminal da molécula, condição obrigatória para todas as moléculas secretadas. Os efetores citoplasmáticos apresentam ainda um motivo especial também na posição N-terminal. Motivos comuns são os RxLR e CRN que estão relacionados a translocação destes efetores para o interior da célula (estes motivos estão ausentes em efetores apoplásticos). Na região C-terminal encontra-se o domínio do efetor que está relacionado a sua atividade/função. 13 ALVOS DOS EFETORES Algumas atividades típicas dos efetores na inibição da defesa ou inibição do reconhecimento da infecção pela planta incluem (Göhre & Robatzek, 2008): Inibição de enzimas (hidrolases) no apoplasto, Inibição de ativação de PRRs, Inibição de cascatas de sinalização mediadas por MAP-quinases, Modificação do transcriptoma relacionado a respostas de defesa, Reprogramação transcricional, Degradação de componentes/proteínas relacionadas à defesa, Interferência na secreção de proteínas e tráfego vesicular. Secreção orquestrada de efetores Os efetores precisam estar no local e no tempo certo para uma colonização de sucesso por parte do microrganismo. Por exemplo, os fungos fitopatogênicos Colletotrichum higginsianum e C. graminicola, infectando Arabidopsis thaliana e milho, respectivamente, usam reguladores de transcrição para a síntese e secreção de diferentes conjuntos de efetores e enzimas para as diferentes fases de infecção. A fase biotrófica é aumentada por efetores e enzimas do metabolismo secundário, considerando que na fase necrotrófica há a liberação de hidrolases e transportadores (O’Connell et al., 2012). Em C. higginsianum, a regulação é ainda mais refinada, sendo que no período anterior à entrada do patógeno são liberados efetores ChCEs, visando preparar a entrada na célula hospedeira (Kleemann et al., 2012). No oomiceto Phytophthora, vários efetores RxLR são induzidos no estádio de germinação do esporo ou na fase inicial da infecção, e várias proteínas Nep1- indutoras de necrose (NLPs), são expressas em estágios posteriores a infecção, sugerindo que as mesmas contribuem para a fase necrotrófica (Qutob et al., 2002; Haas et al., 2009). Em P. infestans, um efetor conhecido como SNE1 é expresso durante a fase biotrófica, para suprimir a morte celular que se expressa durante a fase necrotrófica da infecção (Kelley et al., 2010). Chegando ao local certo nas células hospedeiras, no momento certo, os efetores podem interagir com proteínas do hospedeiro para exercerem as 14 suas funções, fazendo com que a invasão e a colonização sejam bem sucedidas (Win et al., 2012a). IMUNIDADE DESENCADEADA POR EFETORES (ETI) A ETI é ativada após o reconhecimento por parte do hospedeiro de efetores dos patógenos, sendo essas proteínas reconhecidas pelas proteínas intracelulares R dos hospedeiros, as quais possuem domínios NB-LRR (nucleotide binding‑leucin rich repeat) (Figura 4) (Win et al., 2012a). Esse reconhecimento pode ser através da interação direta e altamente específica, entre as proteínas hospedeiro/patógeno de acordo com a teoria gene a gene (Boller & Felix, 2009; Flor, 1971 ). Contudo, os efetores podem ser reconhecidos de forma indireta, conhecida como teoria guarda (Flor, 1971; Jones & Takemoto, 2004). Nesse reconhecimento indireto, as proteínas R reconhecem efetores ligados a proteínas da planta chamadas “alvos de efetores de patógenos”, representados na Figura 4 como alvo dos efetores citoplasmáticos (AEC). A maior evidência da teoria guarda foi encontrada no sistema R/Avr entre Arabidopsis thaliana e Pseudomonas syringae pv. tomato, onde RIN4 é modificada pela Avr da bactéria e essa modificação ativa a proteína R (RPM1) resultando na resistência da planta (Mackey et al., 2002). 15 Figura 4. Resposta da planta ao ataque de patógenos (bactérias, fungos e oomicetos) mostrando a imunidade desencadeada por efetores (ETI). Os patógenos secretam os efetores para dentro da planta hospedeira (efetores citoplasmáticos, EC) através do sistema de secreção do tipo III (no caso das bactérias) ou por estruturas de infecção especializadas chamadas de haustórios (no caso de fungos e oomicetos). Os efetores trafegam por vários compartimentos, ligando-se, e manipulando diferentes proteínas dos hospedeiros chamadas de alvo. Este quando está localizado no citoplasma do hospedeiro é designado como alvo dos efetores citoplasmáticos (AEC). Em interações incompatíveis, os receptores intracelulares (NB-LRR) induzem a ETI, após o reconhecimento dos EC e/ou as interações com AEC, evitando assim a doença (Adaptado de Win et al., 2012b). A maioria dos genes R codifica para uma proteína que apresenta um domínio central de ligação a nucleotídeos (NB), outro com regiões repetidas ricas em leucina (LRR), mediando o reconhecimento de diversos efetores de todas as classes de patógenos de plantas, e um terceiro domínio variável no N-terminal que pode ser TIR (Toll/Interleucina-1) ou CC (Coiled-coil) (Elmore et al., 2011; Gururani et al., 2012) (Figura 5). Além das classes TIR e CC das proteínas R, existem mais seis que se destacam. Dentre elas temos a eLRR que possui um domínio LRR extracelular ligado a um domínio transmembrana (TrD) (Gururani et al., 2012) (Figura 5). A quarta classe é a LRR quinase, a qual apresenta um domínio intracelular de quinases serina/treonina citoplasmáticos, um domínio extracelular LRR e um domínio transmembrana (TrD) (Afzal et al., 2008; Gururani et al., 2012) (Figura 5). A quinta classe é representada pelas proteínas R que possuem um domínio TrD, o qual está ligado à um domínio CC (Win et al., 2012b) (Figura 5). Genes R contendo os domínios LRR, seguido pelo domínio TrD ligado ao domínio PEST 16 (prolina-glicina-serina-treonina) para degradação proteica, além de pequenos motivos de ECS (domínio de sinalização celular de endocitose) representam a sexta classe (Gururani et al., 2012). A sétima classe é representada pelas proteínas R que contém os domínios TIRNBS-LRR, além de ter na extensão C-terminal um domínio putativo de sinal de localização nuclear (NLS) e um domínio WRKY, o qual possui uma região de 60 aminoácidos que é definida pela sequência conservada WRKYGQK na região Nterminal, associada à um motivo zinc-finger (Thomma et al., 2011) (Figura 5). E a última classe é representada pelos genes R enzimáticos, os quais não possuem nenhum dos domínios LRR e NBS, como por exemplo, o gene Hm1 de milho que fornece proteção contra o fungo patogênico Cochliobolus carbonum (Johal & Briggs, 1992) (Figura 5). Figura 5. Principais classes dos genes de resistência de plantas baseadas nos domínios funcionais. NBS - sítio de ligação a nucleotídeos; LRR - regiões repetidas ricas em leucina; TIR - Toll/Interleucina-1; CC - Coiled-coil; TrD - domínio transmembrana; PEST - domínio de degradação proteica (prolina-glicina-serinatreonina); ECS - domínio de sinalização celular de endocitose; NLS - sinal de localização nuclear; WRKY e HM1 - uma redutase que inativa uma toxina (Adaptado de Win et al., 2012b). Diferentes patógenos, como bactérias, fungos, oomicetos e vírus, produzem efetores para atacar diferentes plantas, que por sua vez, usam seus genes de resistência para evitar o desenvolvimento da doença (Tabela 2). 17 Tabela 2. Interação dos efetores de diferentes patógenos com os genes R de diversos hospedeiros (Adaptado de Win et al., 2012b). Patógenos Hospedeiros Efetores gene R BACTÉRIAS Xanthomonas oryzae Xanthomonas oryzae P. syringae P. syringae P. syringae Oryza sativa Oryza sativa Arabidopsis thaliana A. thaliana A. thaliana Avr-Xa1 Avr-Xa21 AvrRpm1 AvrRpt2 AvrPphB Xa1 Xa21 RPM1 RPS2 RPS5 Hordeum vulgare Lycopersicum esculentum Linum usitatissimum Oryza sativa AvrMla Mla Avr1 AyrL Avr-Pita I2 L Pi-ta H. vulgare Avr-Rpg1 Rpg1 OOMICETOS Bremia lactucae Lactuca sativa Dm3 Perenospora parasitica Phytophthora infestans P. infestans A. thaliana Solanum tuberosum Solanum demissum Phytophthora sojae Glycine max Avr3 AvrB, AvrRPP1A Avr1 Avr3a Avr1a, Avr3a and Avr3c, VÍRUS Bean dwarf mosaic virus Phaseolus vulgaris Cucumber mosaic virus Potato virus X A. thaliana S. tuberosum Soybean mosaic virus Turnip mosaic virus Glycine max A. thaliana FUNGOS Blumeria graminis Fusarium oxysporium Melamspora lini Magnoporthe grisea Puccinia graminis f.sp. tritici Bdm Vpg (viral genomeelinked protein) Coat protein Hc-Pro and P3 cistron VPg RPP1 R1 R3a Rps1a, Rps3a, Rps3c BV1 protein At-eIF4E1 (cum1) Rx1, Rx2 Rsv1 At-eIF(iso)4E Quando a ETI é ativada, a planta desencadeia uma rápida morte celular no sítio de infecção, conhecida como reação de hipersensibilidade (HR, hypersensitive response) (Win et al., 2012a). Associada a HR, outras respostas de defesa são 18 ativadas, como alterações nos níveis de cálcio no citoplasma, produção de espécies reativas de oxigênio e cascata de sinalização via quinases. A amplificação desses sinais se dá de modo similar a PTI, por mensageiros secundários como o ácido salicílico, ácido jasmônico e o etileno resultando na ativação de fatores de transcrição de genes de defesa e, subsequentemente, na resistência sistêmica adquirida ou resistência sistêmica induzida (Tsuda & Katagiri, 2010). Quando a ETI ocorre, a resposta imune das plantas é mais prolongada e possui uma sinalização dominante em relação à PTI. Tsuda & Katagiri (2010) propuseram que a ETI possui uma rede de “setores interligados”, ou seja, quando o setor primário, por exemplo, o da via do SA é comprometido por efetores de patógenos, algum outro setor, como o da via do JA, é ativado garantindo assim a resistência da planta ao ataque. Contudo, esse tipo de resistência pode ser rapidamente superado pelo patógeno através da aquisição de novos efetores ou pela perda / diversificação do sítio de reconhecimento do gene R para evitar a ETI (Jones & Dangl, 2006). Entretanto, a seleção natural resulta em novos alelos dos NB-LRR, que por sua vez, podem reconhecer um desse novos efetores resultando novamente em ETI (Jones & Dangl, 2006). COMO PROCURAR EFETORES NO GENOMA DO PATÓGENO? Secretadas na interface intercelular entre o patógeno e a planta ou translocadas para o citoplasma das células hospedeiras, as moléculas efetoras fazem parte de um complexo arsenal molecular que o patógeno utiliza para colonizar os tecidos da planta hospedeira (Stergiopoulos & Wit, 2009). O fato dessas proteínas serem obrigatoriamente secretadas do patógeno para o hospedeiro tornou-se a principal característica na sua busca, primeiramente in vivo, analisando-se o secretoma destes microrganismos, e mais tarde in silico, na mineração de dados em busca destas sequencias nos genomas dos patógenos. Os primeiros experimentos realizados pelos fitopatologistas tinham como objetivo conhecer um pouco mais sobre o secretoma dos patógenos e a natureza potencial das proteínas efetoras. Para tanto, a primeira estratégia utilizada foi a clonagem molecular. O primeiro gene Avr clonado foi da bactéria P. syringae pv. glycinea em 1984 (Staskawicz et al., 1984); mais tarde, em 1991, foi a vez do 19 primeiro gene Avr de fungo, Cladosporium fulvum (Kan et al., 1991), e em 2004 o gene Avr do oomiceto P. infestans (Tian et al., 2004). Porém, a necessidade de se conhecer melhor o sistema de secreção destas proteínas fez com que técnicas de imunolocalização e utilização de transformantes fossem empregadas nestes estudos, permitindo visualizar a complexidade dos secretomas de fitopatógenos e seus hospedeiros, catalogar estes secretomas e fornecer novos dados para se elucidar os processos apoplásticos e a natureza do conjunto de efetores secretados. Simultaneamente, com a evolução das tecnologias visando obter maior número de dados, algumas abordagens para a caracterização de efetores em larga escala foram iniciadas. Uma dessas abordagens é o sistema de armadilha de sinal de secreção em levedura (YST secretion trap library), onde é feita uma biblioteca contendo a seqüência codante completa do gene para expressão e outra onde as sequencias que codificam o primeiro e o segundo aminoácido da proteína são retiradas via oligonucleotídeos iniciadores (primers), por reação em cadeia da polimerase (polymerase chain reaction - PCR), tornando esta proteína inativa quando subclonada em vetor de expressão de proteínas e expressa em leveduras. Para o oomiceto P. infestans foram identificados 23 genes que codificam proteínas secretadas, e todas estas proteínas estavam localizadas nas folhas do hospedeiro e não no micélio cultivado in vitro (Lee et al., 2006). Para o fungo Uromyces fabae foram encontrados 62 genes que codificam proteínas secretadas pelo haustório e 42 genes que codificam proteínas secretadas em esporos germinados, das quais 28 apresentaram similaridade com proteínas encontradas somente na ordem Uredinales, indicando um possível papel na virulência e especificidade de hospedeiro (Link & Voegele, 2008). Associando esta técnica ao sequenciamento, foi atribuída à caracterização de efetores em larga escala uma nova abordagem, denominada de clonagem de fragmentos genômicos diretamente do sistema de secreção, onde o DNA genômico do patógeno é fragmentado aleatoriamente em fragmentos de tamanho desejado, clonados em vetor e sequenciados a fim de se identificar clones de DNA genômico únicos. Para a estirpe haploide selvagem Um521 de U. maydis, fragmentos do genoma com ~300pb foram sequenciados e foi possível identificar 52 clones únicos. A fim de se testar o papel destes genes na infecção, foi utilizada a técnica de mutantes nulos (knock-outs) para diferentes genes. O knock-out duplo para genes envolvidos na patogenicidade não afetaram o crescimento, o acasalamento, a formação de hifas 20 aéreas e a hidrofobicidade de superfície, no entanto, o desenvolvimento em plantas logo após a penetração foi afetado, levando a perda da patogenicidade (Klein et al., 1996). Com o surgimento da técnica de microarranjo (microarray), a avaliação da expressão global de genes diferencialmente expressos em plantas infectadas com o patógeno, permitiu a identificação de genes que codificam proteínas secretadas durante o crescimento e infecção pelo patógeno (Mosquera et al., 2009) e a descoberta de novos locus associados a efetores. Em P. infestans foi possível descrever um novo locus de avirulência utilizando esta técnica (Qutob et al., 2006), e em Pectobacterium atrosepticum foram caracterizadas proteínas associadas ao sistema de secreção tipo IV (Mattinen et al., 2008) e proteínas do quorum sensing, sistema que controla a produção de enzimas de degradação de parede celular e outros fatores de virulência deste patógeno, principalmente aos fatores ligados à sua dispersão (Liu et al., 2008). Esta abordagem permite avaliar proteínas efetoras envolvidas na penetração do patógeno na célula hospedeira (Doehlemann et al., 2008), na inibição da resposta imune inata do hospedeiro (Fontana et al., 2011), predição de novos efetores cuja anotação dos domínios não está associada à patogenicidade (Saunders et al., 2012) e a identificação de proteínas efetoras associadas ao desenvolvimento simbiôntico com o hospedeiro (Plett et al., 2014). Apesar da técnica de microarray ser considerada obsoleta em algumas áreas da biologia molecular, para a descoberta de novos efetores e elucidação da forma de atuação na célula hospedeira, esta técnica se mostra eficiente, sendo ainda bastante utilizada. Entretanto, o uso do sequenciamento na obtenção do genoma completo dos patógenos, primeiro pela metodologia de Sanger e depois pelo sequenciamento de nova geração (next generation sequence), permitiram o aumento exponencial da quantidade de dados gerados e a possibilidade de se minerar novos genes candidatos a efetores em diversas espécies de patógenos. As plataformas de sequenciamento mais usadas atualmente para estes estudos são: 454 pirosequenciamento (454 Life Science – Roche Diagnostic) baseado na detecção do pirofosfato liberado na incorporação do nucleotídeo na cadeia de DNA sintetizada; o sequenciamento Illumina (Illumina sequencing – Solexa) baseado na detecção dos nucleotídeos previamente marcados com um fluorófo, durante a síntese da cadeia. Ambos geram sequencias curtas, entretanto, os fragmentos gerados pelo pirosequenciamento são um pouco maiores do que os gerados pelo sequenciamento Illumina, sendo 700 pb contra 50 a 300 pb, 21 conferindo uma maior acurácia dos dados (99,9% contra 98% obtidos no sequenciamento Illumina). O pirosequenciamento gera um menor número de dados, cerca de um milhão de fragmentos, enquanto o Illumina gera mais de 3 milhões de fragmentos. Isto torna o sequenciamento Illumina mais demorado, de um a 10 dias, dependendo do tamanho do fragmento gerado, sendo que em contrapartida, o pirosequenciamento pode ser realizado em 24 horas. Em termos de custo, o sequenciamento Illumina é mais vantajoso: US$ 0,05 a 0,15 por milhão de bases, enquanto que, no pirosequenciamento, o custo é de US$ 10 (Liu et al., 2008; Quail et al., 2012). Outro aspecto vantajoso de ambas as plataformas é a aplicação não só no sequenciamento de genomas, mas também no sequenciamento de transcriptoma do organismo, metodologia esta denominada RNAseq. O emprego desta técnica, tanto na genômica como na transcriptômica, tem gerado muitos trabalhos com fitopatógenos e a sua interação com o hospedeiro, visando principalmente, a busca por moléculas efetoras e a resposta adaptativa da planta a estas moléculas, evidenciando a coevolução do sistema. Como exemplos desta abordagem, podemos citar: a descoberta de um gene de virulência em Pseudomonas savastanoi pv. savastanoi para a indução de tumor em plantas lenhosas (Rodríguez-Palenzuela et al., 2010); a microevolução e relação filogenética de efetores de P. syringae na adaptação ao hospedeiro (Cai et al., 2011); análise de polimorfismo das proteínas candidatas a efetoras secretadas pelo haustório de Puccinia striiformis f. sp. tritici (Cantu et al., 2013); a identificação de genes candidatos a efetores no transcriptoma do nematoide da galha (Meloidogyne graminicola) em arroz (Haegeman et al., 2013); a busca por genes efetores expressos na interação com o hospedeiro, no transcriptoma de Melampsora lini (Nemri et al., 2014); a comparação entre genomas da mesma espécie a qual pertence o patógeno, avaliando a conservação das proteínas efetoras ao longo do tempo evolutivo (Qi et al., 2011); a identificação de efetores de domínio caracterizado, como os RXLR, no genoma de patógenos de grande importância na agricultura (Thakur et al., 2013). Para que estas diversas abordagens tivessem sucesso, simultaneamente ao aparecimento do sequenciamento de nova geração, diversas ferramentas de bioinformática foram desenvolvidas, visando analisar o secretoma dos patógenos permitindo a predição de proteínas efetoras e a mineração destas a partir de domínios caracterizados, como os RXLR. As ferramentas desenvolvidas para a predição de proteínas efetoras são baseadas nas características do peptídeo sinal (secretion signal 22 target) das proteínas pertencentes aos cinco tipos de sistema de secreção descritos para patógenos (Preston et al., 2005). O peptídeo sinal é uma pequena sequência de aminoácidos (entre 15 e 60), localizada na porção N-terminal da proteína, com a função de marcar as proteínas que serão exportadas pelo aparato de secreção, seja através da interação direta com os componentes citoplasmáticos ou periplasmáticos da maquinaria de secreção, ou através de um intermediário, como as chaperonas. O peptídeo sinal Sec/SRP se caracteriza por compartilhar pequenas sequencias que apresentam características em comum, como uma sequência de carga positiva na porção N-terminal, uma sequência de aminoácidos hidrofóbicos de 7 a 15 aminoácidos e uma sequência polar que contém o sítio de clivagem “AXA”. Similares a este, os peptídeos sinais TAT-específicos são um pouco mais longos, apresentando de 26 a 52 aminoácidos, devido a presença de uma região N-terminal a mais. Estes peptídeos apresentam o motivo S(T)-RRxhhh, onde h é um resíduo hidrofóbico, e são menos hidrofóbicos do que seus homólogos Sec, apresentando uma alta carga negativa na porção N-terminal e positiva na porção C-terminal. A dificuldade de se caracterizar peptídeos sinais vinculados ao sistema de secreção tipo III é superada pela estrutura conservada destas proteínas efetoras em múltiplos gêneros de microrganismos patógenos de plantas. Estudos envolvendo mutação por deleção mostraram que a informação essencial para a secreção destas proteínas está localizada no 10° e 15° primeiros aminoácidos (Preston et al., 2005). Muitas das proteínas de secreção do tipo III requerem uma chaperona para sua secreção, que, a exemplo da proteína HopPtoV necessita da ligação da chaperona ShcV na porção N-terminal de sua sequencia, entre os aminoácidos 76 e 125 (Wehling et al., 2004). A fim de se identificar padrões associados com estas proteínas, observou-se um viés nos primeiros 50 resíduos de aminoácidos, com uma frequência maior de serina e prolina nas primeiras cinco posições, além de um aminoácido hidrofóbico na posição 3 ou 4 e a falta nas primeiras 12 posições (Alfano & Collmer, 2004; Guttman et al., 2002; Petnicki-Ocwieja et al., 2002), o que possibilitou estabelecer parâmetros para o treinamento de máquina (learning machine) para a seleção destas proteínas, a partir de um banco de dados. Para os sistemas de secreção tipo I, II e V, as tentativas de se criar uma ferramenta de bioinformática para predição destas proteínas não têm sido bem sucedidas, pois, a exemplo do sistema de secreção tipo II, o sinal para que a proteína seja secretada depende da estrutura secundária ou terciária da mesma. Alguns estudos 23 indicam que cada proteína se dobrou e apresentou o motivo de secreção à sua maneira, o que resultou em um alto grau de especificidade com a exoenzima que irá atuar neste motivo, sendo que até comparações estruturais tridimensionais de proteínas secretadas pelo mesmo sistema não revelam um padrão de secreção unificado (Bouley et al., 2001; Chapon et al., 2001). Além disto, existem outros fatores a serem considerados, como a proximidade dos genes que codificam para a maquinaria de transporte, homologia com proteínas ou domínios identificados previamente, e a presença de sequência promotora a montante do gene (do inglês, upstream). Pouco tempo atrás, o sistema de secreção tipo IV também se enquadrava neste panorama. Entretanto, atualmente, foram desenvolvidas algumas ferramentas capazes de predizer proteínas do sistema de secreção tipo IV, um sistema homólogo aos sistemas de conjugação e ao sistema VirB de A. tumefaciens, facilitando a translocação de DNA, e secretando tanto ácidos nucleicos quanto proteínas. A disponibilidade destas ferramentas só é possível graças ao sequenciamento de diversos genomas de patógenos, pois são baseadas nas triagens feita nestes genomas associados a natureza bioquímica destas moléculas. Basicamente, o learning machine é feito baseado nas seguintes características: busca pelo motivo RRRSNTTTTY em 300 pb, denominado de novo motif search; homologia com moléculas efetoras conhecidas; presença de domínios eucarióticos (no total de 58 domínios); proteínas com domínio de função desconhecida (DUF); busca por peptídeo sinal de localização nuclear (NLS, do inglês, nuclear localization signal); probabilidade com P>0,095 da proteína possuir um sinal de localização mitocondrial; presença de um resíduo de cisteína seguido de dois resíduos alifáticos e um quarto aminoácido (CaaX); probabilidade de formação de estrutura em espiral nos 28 resíduos da proteína; basicidade C-terminal; hidrofobicidade da porção C-terminal e global; presença do bloco EEXXE nos 30 aminoácidos da porção C-terminal (Meyer et al., 2013). Na Tabela 3 estão sumarizadas algumas destas ferramentas disponíveis, tanto para análises via internet, quanto para a instalação na máquina. É possível observar o tipo de algoritmo utilizado para o desenvolvimento destas ferramentas: para o sistema de secreção tipo III, com características mais bem definidas, são utilizados principalmente o Modelo oculto de Markov (Hidden Markov Model – HMM), Máquina de vetores de suporte (Support Vector Machine) e Redes neurais (do inglês, Neural Networks); para o sistema de secreção tipo IV, mais complexo, utiliza-se uma forma modular escrita em Perl (linguagem de programação estável e multiplataforma). 24 Para facilitar ainda mais o uso de ferramentas de bioinformática e possibilitar ao usuário agrupar vários softwares em uma única interface, surgiu o software Galaxy, que é executado na plataforma Linux/Unix e fornece ao usuário uma interface baseada em navegador (Cock et al., 2013). Para a predição de sistemas de secreção em proteínas há um repositório (Whisson et al., 2007), que contém as ferramentas: SignalP para a predição de peptídeo sinal (Petersen et al., 2011); TMHMM para a predição de domínios transmembrana (Krogh et al., 2001); PSORTb para proteínas de arqueobactérias (Yu et al., 2010); WoLF PSORT para proteínas fúngicas, animais e vegetais (Horton et al., 2007); Promoter para promotores eucarióticos para polimerase II; Oomycete RXLR motifs para predição de motivos RXLR (WHISSON et al., 2007; WIN et al., 2007). O usuário entra com o arquivo fasta na página do Galaxy e o resultado é mostrado na mesma interface, com possibilidade de download dos dados. 25 Tabela 3. Ferramentas de bioinformática desenvolvidas para predição de peptídeos sinais (secreção) na porção N-terminal das proteínas (adaptado de Preston et al., 2005) Ferramenta Referência Tipo de Algoritmo CELLO v.2.5 (Yu & Lin, 2004) (Käll et al., 2007) Máquina de vetores de suporte Modelo oculto de Markov PSORT-b v.3.0 (Yu et al., 2010) SigCleave (Heijne, 1986) SignalP4.1 (Petersen et al., 2011) Phobius Sistema de Secreção Tipo III http://phobius.binf.ku.dk/ Modelo oculto de Markov e Máquina de vetores de suporte Matriz de contagem (Scoring matrix) Tipo III http://psort.org/psortb/inde x.html Tipo III Redes neurais e Modelo oculto Markov Redes neurais Tipo III http://emboss.sourceforge.n et/ Parte do pacote de programas EMBOSS http://www.cbs.dtu.dk/servi ces/SignalP/ de (Fariselli et al., 2003) SubLoc 1.0 (Guo et al., 2004) Máquina de vetores de suporte Tipo III Effective (Jehl et al., 2011) Tipo III Galaxy (Cock et al., 2013) S4TE (Meyer et al., 2013) (Wang et al., 2014) Banco de dados. Une anotação motivos de diversos genomas pelo Pfam e SignalP para predição de sinal de secreção Interface baseada em navegador. Usa repositórios com algumas ferramentas de predição de proteínas secretadas Perl T4EffPred (Zou et al., 2013) http://cello.life.nctu.edu.tw/ Tipo III SPEPlip T4SE Caminho Máquina de vetores de suporte Matriz de contagem (Scoring matrix) Máquina de vetores de suporte Matriz de contagem (Scoring matrix) Tipo III Tipo III e IV http://gpcr.biocomp.unibo.i t/predictors/ requer autenticação para o uso http://www.bioinfo.tsinghu a.edu.cn/~guotao/predict.ht ml http://effectors.org/ https://usegalaxy.org/ Tipo IV http://sate.cirad.fr/ Tipo IV http://biocomputer.bio.cuhk .edu.hk/softwares/T4SEpre/ Tipo IV http://bioinfo.tmmu.edu.cn/ T4EffPred/prediction.html 26 OS EFETORES NA AGRICULTURA Desde os primórdios da agricultura, patógenos tem causado devastadoras epidemias envolvendo plantas, as quais tem afetado a humanidade (Agrios, 2004). A seleção de plantas resistentes a doenças tem sido prática comum no melhoramento vegetal. Para isso, por um longo período, o que foi feito em quase todas as culturas foi a introdução de genes de resistência a doenças (R) em novas variedades. Hoje, sabe-se que os genes R estão presentes em clusters multigênicos e podem ocorrer naturalmente como verdadeiros alelos através de variantes da genética original (Dangl et al., 2013). A ativação da função de cada uma das proteínas R é feita pelo produto dos genes efetores de virulência de um patógeno específico (Flor, 1971). Como mencionado anteriormente, vários efetores podem ser expressos por um único patógeno e a diversidade de efetores em uma população de qualquer espécie patogênica pode ser muito grande (Baltrus et al., 2011; Raffaele et al., 2010). No campo, a utilização da maioria dos alelos do gene R pode ser de curta duração, isto porque a sua implantação em monocultura foi selecionada para variantes do patógeno, em que o alelo correspondente do efetor, sofreu mutação ou se perdeu. Efetores são fatores de virulência, mas cada um contribuindo parcialmente para a virulência final. Efetores independentes podem atuar de forma redundante, podendo alterar uma mesma via de sinalização do hospedeiro. Portanto, os genes efetores podem ser perdidos sem causar impacto significativo na virulência do patógeno. Exceções a este princípio são os “efetores fundamentais”, definidos operacionalmente por sua ampla distribuição na população de um determinado patógeno e sua contribuição para a virulência do mesmo (Dangl et al., 2013). As bases genômicas são utilizadas para se identificar efetores fundamentais e defini-los funcionalmente como novos alelos R e suas atividades são usadas como estratégias promissoras para a pesquisa e a obtenção de plantas resistentes a doenças. Em 1986 demonstrou-se o sucesso da construção de uma planta transgênica resistente à doença, a qual apresentava expressão constitutiva de uma sequência gênica da proteína da capa viral que conferiu resistência ao vírus através de pequenos RNAs. Hoje, este mecanismo é conhecido e amplamente aplicável para a inibição da 27 replicação viral (Lindbo & Dougherty, 1992). A Tabela 4 mostra um exemplo de híbridos de abóbora que adquiriram resistência multiviral através da combinação de genes da capa proteica de três tipos diferentes de vírus. Em 1994, uma estratégia semelhante foi implantada para se controlar o vírus da mancha anelar do mamoeiro, que em testes de campo demonstrou excelente eficácia e frutos de alta qualidade (Tabela 4), sendo os frutos aprovados para venda no Havaí, Canadá e Japão. Desde a aprovação e comercialização dessas duas culturas, nenhuma nova cultura modificada para resistência a doença chegou ao mercado. A Tabela 4 ainda mostra algumas pesquisas em outras culturas que apresentaram sucesso e com potencial para redução de perdas de produção e uso de insumos químicos associados à doença. Outra estratégia para a obtenção de plantas com resistência durável é o uso de efetores alvos. Para isso, mesmo nos genomas de plantas mais complexas, o uso da genética e da genômica é uma realidade, a qual facilita o isolamento de gene R (Periyannan et al., 2013; Saintenac et al., 2013). Com as tecnologias rápidas e de baixo custo de sequenciamento de DNA, um novo patógeno pode ser isolado e seu genoma gerar informações com impactos sobre as estratégias de melhoramento para um controle durável de doenças em plantas (Vleeshouwers et al., 2011). Agora, é possível definir os genomas de patógenos isolados de plantas infectadas e também de maneira rápida e eficiente definir o complemento do efetor. Usando ensaios de coexpressão transiente seguido por melhoramento de marcador assistido ou desenvolvimento de transgênico, é possível definir os efetores fundamentais que facilitam a identificação de genes R ativados pelos seus efetores correspondentes de germoplasma selvagem. Esses novos genes R podem ser validados pelo método de edição de genoma que usa efetor ativador de transcrição de nucleases (TALEN) (Schornack et al., 2013) e pela tecnologia de repetições de agrupados de palíndromo curto intervalados regularmente (CRISPR) (Gaj et al., 2014; Jinek et al., 2013). É de grande importância se observar que a função de qualquer gene R apenas será durável se o efetor que o ativa estiver presente na estirpe patogênica cuja virulência está se tentando controlar. Como por exemplo, temos o controle da requeima da batata, onde o conhecimento do conteúdo de efetores em locais do patógeno isolado pode auxiliar na implantação do gene R ou tratamento químico para o controle desta doença (Vleeshouwers et al., 2011). O emprego de receptores de sistema imune também é uma estratégia usada na agricultura, existindo duas classes desses receptores, podendo-se seguir duas 28 estratégias principais. A primeira é transferir PRRs que detectem produtos microbianos comuns em espécies que não as tenham. Isto é, efetuar a identificação funcional das PRRs e promover a transferência para uma espécie receptora que não tenha um receptor ortólogo e que poderia fornecer um caminho geral para exemplos adicionais de repertórios ampliados de PRRs (Dangl et al., 2013). Por exemplo, o receptor PRR EF-Tu (EFR) reconhece o fator de tradução de alongamento EF-tu bacteriano, sendo que a implantação do EFR em Nicotiana benthamiana ou Solanum lycopersicum (tomate), que não pode reconhecer o EF-Tu, conferiu resistência a uma ampla gama de patógenos bacterianos (Lacombe et al., 2010). A segunda estratégia é conhecida como estratégia de empilhamento, a qual explora respostas imunes em contextos em que vários genes NLR são implantados simultaneamente. As cultivares geradas por qualquer tipo de melhoramento molecular de DNA assistido ou por transferência gênica devem exibir resistência mais durável a doenças, visto que a evasão do patógeno exigirá mutações em múltiplos genes efetores. O acesso a uma enorme diversidade genética é permitido devido aos avanços em sequenciamento de DNA das principais culturas e seus parentais para uma grande quantidade de genes NLR funcionalmente dirigidos contra diferentes efetores fundamentais (Dangl et al., 2013). A descoberta do gene efetor avrBs2 da bactéria Xanthomonas perforans, agente causal da doença da pinta bacteriana do pimentão e do tomate, possibilitou a procura de um gene R potencialmente durável. Este gene é encontrado na maioria das espécies de Xanthomonas que causam doença e é necessário para o patógeno (Kearney & Staskawicz, 1990). Plantas de tomate foram transformadas com o gene Bs2, que é um gene NLR isolado de uma pimenta selvagem (Capsicuum chacoense) e este inibiu o crescimento de estirpes do patógeno que foram transformadas com o gene avrBs2. Ensaios de campo foram realizados com essas plantas transgênicas que expressam Bs2 de tomate, sendo que essas plantas demonstraram alta resistência para X. perforans (Horvath et al., 2012), sem o uso de produtos químicos bactericidas. Outra classe de genes relacionados à resistência de plantas a doença e que tem evoluído para agregar funções de virulência, criando armadilha para impedir a proliferação do patógeno, é chamada de executores e estes são contrastantes aos PRRs e NLRs. Como por exemplo, em Xanthomonas e Ralstonia foram identificados efetores de ativação de transcrição (TAL), os quais são proteínas secretadas no interior das células da planta que se ligam no DNA e ativam a expressão de genes de acolhimento para melhorar a virulência do patógeno (Schornack et al., 2013). A 29 expressão de um gene executor só ocorre pela indução de um efetor TAL específico e eles não são expressos na ausência de infecção. Transformações utilizando-se genes executores foram demonstradas com sucesso em plantas de pimenta (Römer et al., 2009) e arroz (Hummel et al., 2012). Finalmente, esses foram alguns exemplos de aplicação dos efetores como ferramenta para desenvolver novas variedades de plantas resistentes a patógenos. Muitos são os desafios e a área a ser explorada ainda é grande, porém as perspectivas de melhora dessas estratégias avançam significativamente em função dos estudos moleculares minuciosos e continuo do sistema imune das plantas cada vez mais rápidos e com tecnologias de sequenciamento de genomas cada vez mais baratas. 30 Tabela 4. Exemplos de publicações relacionadas a culturas transformadas para resistência à doenças e situação atual das plantas. Ano de publicação 2012 2012 Cultura Tomate Arroz Mecanismos Gene R da pimenta Transformada com gene E Estado de desenvolvimento 8 anos de ensaios em campo Laboratório Trigo Resistência a Doença Pinta bacteriana Crestamento bacteriano e risca bacteriana Oídio 2012 Gene R do trigo superexpresso 2 anos de ensaio em campo até o momento da publicação 2011 Batata Vírus Y da Batata Resistência derivada de patógeno 1 ano de ensaio em campo até o momento da publicação 2010 2010 2010 Tomate Banana Laranja doce PRR de Arabidopsis Gene raro de pimenta Xa21 Escala de Laboratório 2 anos em ensaio de campo Casa-de-vegetação 2009 2009 Batata Batata Resistência multibacteriana Murcha por Xanthomonas Resistência / tolerância à Xanthomonas axonopodis pv. citri Requeima Requeima Genes R de parentais selvagens Genes R de parental selvagem 2008 Batata Requeima Genes R de parental selvagem 2008 Ameixa Varíola da ameixa 2005 2002 Arroz Cevada Risca bacteriana Ferrugem da haste 2001 Laranja doce 1997 Mamão Resistência / tolerância a Phytophthora citrophthora Vírus da mancha anelar Resistência derivada de patógeno Gene R do milho Gene RLK da cultivar de cevada resistente PR-5 3 anos em ensaio de campo 2 anos de ensaio em campo até o momento da publicação 2 anos de ensaio em campo até o momento da publicação Regulamentação aprovada, sem vendas comerciais Laboratório Laboratório 1995 Abóbora Mosaico devido a três vírus 1993 Batata Vírus X da batata Fonte: Dangl et al. (2013); Fagoaga et al. (2001); Mendes et al. (2010). Resistência derivada de patógeno Resistência derivada de patógeno Enzima induzida por interferon de Mammalian Casa-de-vegetação Aprovada e vendida comercialmente desde 1998; vendido no Japão desde 2012 Aprovada e comercialmente vendida desde 1994. 3 anos de ensaio em campo até o momento da publicação 31 LITERATURA CITADA AFZAL, A. J.; WOOD, A. J. & LIGHTFOOT , D. A. 2008. Plant receptor-like serine threonine kinases: roles in signaling and plant defense. Mol. Plant. Microbe. Interact. 21: 507–17. AGRIOS, G. 2004. Plant pathology. 5a ed. Elsevier Academic Press. ALFANO, J. R. & COLLMER, A. 2004. Type III secretion system effector proteins: double agents in bacterial disease and plant defense. Annu. Rev. Phytopathol. 42: 385–414. BAI, X.; CORREA, V. R.; TORUÑO, T. Y.; AMMAR, E.-D.; KAMOUN, S. & HOGENHOUT, S. A. 2009. AY-WB phytoplasma secretes a protein that targets plant cell nuclei. Mol. Plant. Microbe. Interact. 22: 18–30. 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