Untitled - Augusto Guzzo Revista Acadêmica

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Untitled - Augusto Guzzo Revista Acadêmica
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Copyrigth: Augusto Guzzo Revista Acadêmica. - http://www.campossalles.edu.br - ISSN:1518-9597 - ISSN-E: 2316-3852
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica - http://www.campossalles.edu.br - é uma publicação semestral e
multidisciplinar vinculada às Faculdades Integradas “Campos Salles” – FICS.
No 10 – dezembro de 2012 - São Paulo: FICS, 2012. 28cm.
Semestral – ISSN Impresso: 1518-9597 • ISSN Eletrônico: 2316-3852
Funcionário homenageado nesta edição por relevantes serviços prestados à instituição por mais de
40 anos: XXXXXXXXXXXX.
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ISSN Impresso: 1518-9597 • ISSN Eletrônico: 2316-3852
Augusto Guzzo Revista Acadêmica São Paulo No 10 Dezembro 2012
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Missão: proporcionar reflexões acerca de temáticas acadêmicas relevantes e principalmente ser um
veículo de comunicação científica para dar publicidade às ideias e pesquisas do mundo atual; ser, de fato,
um espaço para publicação de professores pesquisadores e alunos de iniciação científica divulgarem seus
estudos e pesquisas.
Sem prejuízo de acolhimento e difusão de contribuições da engenharia do conhecimento, este veículo
acolhe todos os campos do conhecimento acadêmico e não elege nesta Edição, uma área temática
preferencial. Privilegia a multidisciplinaridade e compõe os temas em dossiês - artigos, resenhas e
similares, nacionais e internacionais, contribuindo para o debate intelectual.
Convidados desta Edição
Prof. Adriano Carlos A. de P. SOUSA (UFSC)
Pesquisadora: Daniela MARQUES – (USP)
Profa. Dra.Fernanda Cristina B. P. QUEIROZ (UFRN).
Prof. Dr.Hélio Roberto HÉKIS (UFSC).
Prof. Dr. Jamerson Viegas QUEIROZ (UFRN).
Prof. Dr. Jean LAUAND (USP)
Prof. Dr. Jorge Luis Risco BECERRA (USP)
Pesquisador: Juan Felipe R. NARANJO (USP)
Prof. Leonardo Dominguez DIAS (USP)
Prof. Lucas Ambrósio B. de OLIVEIRA
Prof. Dr.Marciano FURUKAVA
Prof. Esp. Pesquisador: Mauricio Pedro da SILVA
Pesquisadora: Mirelle Monique de O. FERNANDES (PUC-SP)
Profa. Natália Veloso C. de VASCONCELOS
Prof. Ms. Ricardo Araújo CAMARGO
Prof. Dr. Rudá B. Carlos de AMORIM
Prof. Ms. Ruy GUÉRIOS
Prof. Dr. Victor Silva ECHETO (ESPANHA)
Pesquisador: William Roberto DONDAS (PUC-SP)
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SUMÁRIO
Editorial ........................................................................................................................
8
Historia del miedo en la última década en Espanã ......................................................
11
Gestão do fluxo de informações na cadeia de suprimentos: Visão do departamento
comercial de uma empresa de fertilizantes ..................................................................
.
22
A avaliação externa como fator relevante de ação para a formação continuada .........
36
A importância das redes sociais no relacionamento interpessoal de alunos do ensino
a distância ....................................................................................................................
.
51
A educação superior e as novas tecnologias:Comprometimento de docentes e
discentes ......................................................................................................................
.
61
O uso de novas tecnologias pelos docentes no processo de ensino e os seus
problemas na prática ....................................................................................................
.
74
A influência da tecnologia na formação do aluno de ensino superior no Brasil ...........
88
A modelagem matemática como instrumento de interação entre aprendizagem
curricular e reflexões críticas na sala de aula de estatística ........................................
.
96
Cinema e História: uma reflexão sobre as possibilidades do cinema como fonte e
como recurso didático ..................................................................................................
.
113
Eles não usam Black-Tie: uma análise historiográfica .................................................
127
As interações humanas no espaço social do trabalho: Homem e empresa em
transform/ação ..............................................................................................................
.
139
A sustentabilidade via controles estratégicos dos custos ambientais ..........................
155
O ERP como um recurso na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos .................
171
A necessidade de apresentação de certidão negativa de débito tributário como
requisito para a concessão da recuperação judicial ....................................................
.
186
Luis Veres
José Augusto Liberato dos Santos, Nilton Cesar Lima, Jamerson Viegas Queiroz, Fernanda
Cristina Barbosa Pereira Queiroz e Marcio Mattos Borges de Oliveira
Marcos Roberto Celestino
Angela Rizzo
Robert Martins de Souza
Benedito Claret Barbosa
Luciano Schmitz Simões
Otávio Roberto Jacobini, Denise Helena Lombardo Ferreira, Celso Ribeiro Campos e Maria
Lúcia Lorenzetti Wodewotzki
Silene Ferreira Claro
Silene Ferreira Claro
Monica Maria Martins de Souza
Valerio Vitor Bonelli e Antonio Robles Jr
Roberto Cezar Datrino
Antonio Roberto Sanches Jr.
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O desenvolvimento de projetos, com o auxílio da engenharia de software e
metodologia ágil scrum .................................................................................................
.
196
Do Local ao Ciberespaço : Uma introdução ao Micronacionalismo .............................
209
Leonardo Di Francescantonio, Fernando Luiz de Almeida e Mauro Maia Laruccia
Raphael Tsavkko Garcia
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EDITORIAL
Abrir uma nova edição da revista Augusto Guzzo é esforço ousado, quase uma heresia, pois
não é fácil manter a sua memória e classificação “Qualis A” atingida em 2007, ùltimo ano em
que foi produzida pela Professora Jacira Guzzo, mantenedora das Faculdades Integradas
Campos Salles, que em 2008 nos deixou órfãos. O carisma da professora e administradora
provocava reflexões e construções teóricas em seus professores, intelectuais contaminados de
realidade e de imaginário, e os induzia a organizar ideias, tanto cômicas, quanto ambíguas. Os
induzia a investigar, concatenar informações ou simulações como os estudiosos que eram a
buscar por meio de pesquisas, complexidades possíveis de desmontagens que sustentássem
desenvolvimentos científicos.
A contextualização desta revista é orquestrada por comunicações normatizadas, pertinentes
aos temas acadêmicos. Os textos resvalam os recursos humanos e os enredos da educação
em suas variadas formas, lineares ou multidisciplinares, encadeando de forma surpreendente
outras áreas e temas, aparentemente impossíveis de se conciliar. As escrituras carregadas de
sentido histórico superam a mesmice transpondo o banal de forma inesperada. Destoam do
cotidiano e desafiam a rotina promovendo o eterno retorno da tentativa filosófica.
Assim, pensando a multidisciplinaridade, esta décima revista se revela como campo fértil
onde fervilham conceitos e antíteses de pensadores externos e internos, alunos e professores,
um espaço para o qual os pesquisadores destinam os seus trabalhos, organizados e dirigidos a
resultados, explorando as diversas faces do mundo acadêmico.
Ela é o “caminho do meio” o ponto de encontro, entre os pesquisadores e os leitores, um
depositário do árduo trabalho de pesquisa, estruturado em função de incentivos, cobranças ou
desejo de consolidar a rica prática do pensar nesta instituição. Separa e une o percurso do
professor pesquisador que revela conciliações filosóficas possíveis e o do aluno leitor que,
ávido, busca alento para a sua suposta ignorância. Este contexto literário alimenta um jogo
inevitável e dissimulador da existência acadêmica, um escreve para esquecer, e o outro lê para
se convencer – um parecer ser de ambos que buscam a felicidade do saber, e para isso pagam
o seu preço.
Esta publicação consolida o esforço de pesquisadores, corpo docente, discente e
funcionários, que trabalhando juntos, coroaram de êxito o esforço coletivo.
Monica Maria Martins de Souza
Editora
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Luis Veres1
Historia del miedo en la última década en Espanã2
Recebido em: 30/09/2012 - Aprovado em: 14/10/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
1. LOS ÚLTIMOS CINCUENTA
AÑOS
Es curioso que, a pesar de la
importancia social y política que ha
planteado el terrorismo en los últimos
cincuenta años, sobre todo en España, este
fenómeno ha tenido una repercusión
pequeña en el terreno de la ficción, tanto
en el cine como en la literatura, si se tiene
en cuenta que durante la década de 1980 y
1990, el terrorismo, en el caso español, era
una noticia que abría los telediarios de
cada día y presentaba unas cifras de
asesinatos y crímenes verdaderamente
abrumadoras. Sólo en 1980 ETA mató a 91
personas. Un estudio encargado por Juan
José Rosón, Ministro del Interior de UCD,
presentaba la frecuencia con que ETA
aparecía en la información nacional en
comparación con los tres principales
partidos democráticos: UCD, PSOE y
PCE. UCD ocupaba un poco más de
espacio que el PSOE y ambos el doble que
el PCE, pero ETA había conseguido más
tiempo de informativos que la suma del
PSOE y UCD. A su vez, cada noticia de
uno de estos partidos producía un escaso
eco en los días siguientes, mientras que las
n o t i c i a s p r o p o r c i o n a d a s p o r E TA
cuadriplicaban esa repercusión , con la cual
la conclusión parece evidente: ETA ganaba
la batalla (Rosón, 1984; Domínguez,
2003).
Un estudio realizado en 1988 por la
agencia Vasco Press, sobre la imagen del
País Vasco en la prensa de Madrid,
confirmaba la presencia mediática del
terrorismo. El 38,81% de las noticias
publicadas en diarios nacionales sobre el
País Vasco tenían como tema la violencia,
muy por encima de la política (24,7 %) y
de la economía (16,02 %) y sobre todo de
la cultura (3,64 %). La conclusión del
estudio señalaba en que uno de cada tres
mensajes referidos al País Vasco tenía
como protagonista al terrorismo. Años
después, durante la primera década del
siglo XXI, fue el terrorismo islamista el
que ocupó portadas de periódicos y las
parrillas informativas de todo el mundo, a
partir de los atentados del 11 de marzo en
1Luis
Veres nació en Valencia en 1968. Es Doctor en Filología Hispánica y Licenciado en las especialidades de Lengua Española,
Literatura Española y Filología Valenciana. Ha sido profesor invitado en universidades de Perú, Polonia, Austria, Francia, Italia,
Holanda, Rumanía, Reino Unido y Portugal. De 1996 a 2009 fue profesor de Teoría del Lenguaje y Crítica Literaria en la Facultad
de Ciencias de la Información de la Universidad Cardenal Herrera-CEU (Valencia). Desde 2010 es profesor en el Departamento de
Teoría de los Lenguajes de la Universidad de Valencia. Es autor de las novelas El hombre que tuvo una ciudad y El cielo de
cemento, así como de los ensayos, La narrativa del indio en la revista Amauta, (2001), Periodismo y literatura de vanguardia en
América Latina (2003), Literatura e imaginarios sociales (2003), Estrategias de la desinformación (2004), La retórica del terror
(2006), Los reyes y el laberinto, Sobre Borges, Lugones y otros ensayos (2007), Entre la Cruz y la Media Luna (2007) y El sentido
de la metaficción: de Woody Allen a Roberto Bolaño. Ha ganado el premio de novela Vicente Blasco Ibáñez y el Juan Gil-Albert
de ensayo. E-mail: [email protected]
Este trabajo se incluye dentro del proyecto de investigación financiado por la Universidad de Valencia titulado “Terrorismo y
cine: de una perspectiva histórica a la problemática global” UV-INV-PRECOMP12-80758.
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la estación de Atocha en Madrid (Veres,
2006).
En esta situación sorprende una
cuestión fundamental: aunque este interés
mediático por el terrorismo, resulta
verdaderamente curioso el escaso reflejo
que el terrorismo ha tenido en el terreno de
la ficción, tanto literaria como
cinematográfica. Ese es un fenómeno que
se agudiza en España frente a otras
cinematografías como la norteamericana, a
pesar de la presencia constante de grupos
como ETA o GRAPO en los años de la
Transición y en los años de la democracia
consolidada en España. También es curioso
que el atentado más brutal de la historia de
España, ocurrido el 11 de marzo de 2004,
tenga una escasa presencia, prácticamente
inexistente en el cine, y muy reducida en la
literatura.
En estas circunstancias sería de esperar
que, a causa de su trascendencia en el caso
español, el terrorismo hubiera constituido
una preocupación importante tanto en las
obras de ficción de novelistas, como de
cineastas, pero el resultado suena
contradictorio. Sólo unas cuarenta
películas desde 1977 recogen tramas
insertas en el problema del terrorismo
vasco. Para Santiago de Pablo esa cantidad
es grande (2010: 144) y es cierto si se tiene
en cuenta el volumen del cine español,
pero es pequeña si se atiende a la presencia
del terrorismo en el agenda informativa
española en los últimos cincuenta años.
2. Un retrato histórico
En relación con el terrorismo, el cine
español ha tratado de confeccionar en la
mayoría de los casos un retrato histórico de
los hechos. La protagonista, en la mayoría
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de los casos, ha sido la tristemente
conocida banda terrorista ETA a causa del
gran número de atentados con que ha
amedrentado a la sociedad española
durante los últimos cincuenta años (Elorza,
2000; Ezquerra, 2003). Pocas películas,
como Sé quién eres (2000) de Patricia
Ferreira o La soledad (2007) de Jaime
Rosales,renuncian a identificar el grupo
terrorista del que hablan para centrarse en
una circunstancia más general. Por otra
parte no existen películas sobre los
GRAPO u otros grupos terroristas como
Terra Lliure, el Exercito Guerrilero
Gallego o el FRAP, aunque en la película
La noche más larga (1991), de José Luis
García Sánchez, hubiera referencia a ellos.
La actitud documental pervivió en los
años ochenta con películas como Euskadi
hors d’État (1983) de Arthur Mac Caig y
Días de humo (1989) de Antxon Eceiza.
Incluso películas históricas vascas
ambientadas en otra época recibían lecturas
simbólicas: Akelarre (1983) de Pedro Olea,
La conquista de Albania (1983) de Alfonso
Ungría o Mina, Viento de libertad (1977),
de Antxon Eceiza, en la que aparece el
himno nacionalista vasco (De Pablo, 2010:
155).
Películas como Camada negra (1977)
de Manuel Gutiérrez Aragón, La fuga de
Segovia (1981) de Imanol Uribe, Yoyes,
(2000) de Helena Taberna o Lobo (2004)
de Miguel Courtois, prestan atención a
determinados periodos representativos de
la historia de ETA. Quizás la más
interesante resulte Yoyes, ya que fue la
primera película que se atrevió a denunciar
las disidencias internas de la banda
terrorista. La película narra la historia de
Dolores González Catarain, que fue uno de
los primeros miembros de ETA en
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atreverse a abandonar el grupo terrorista.
ETA decidió asesinarla el 10 de septiembre
de 1986 en Ordizia, localidad natal de la
víctima, ante la presencia de su hija.
3. La historia del cine español
Algunas películas como Ander eta Yul
(1983) de Ana Díez, junto a algunos
documentales como La resistencia vasca
contra el franquismo (1977) o Ama Lur
(1968) de Carlos Roldán Larreta, plantean
propuestas justificativas sin presencia de
crítica al fenómeno terrorista y a los
asesinatos de una banda, que fue la
principal causa de violencia armada
durante la segunda mitad del siglo XX.
Otras películas ambientan su trama en
relación con atentados terroristas reales
como La muerte de Mikel (1983) de
Imanol Uribe, El pico (1983) de Eloy de la
Iglesia, Días contados (1994) de Imanol
Uribe o la reciente No habrá paz para los
malvados (2011) de Enrique Urbizu, acerca
del gran atentado del terrorismo islamista
en la estación de Atocha de Madrid.
Curiosamente, todas ellas tuvieron
excelentes resultados de taquilla.
Posiblemente, de todas estas películas,
la más significativa sea Días contados,
obra que durante varios años representó la
muestra más valiente al retratar la historia
de ETA, tema que en cierto modo era tabú
hasta entonces. La película, basada en la
novela del mismo título de Juan Madrid,
publicada un año antes , abre el cine del
siglo XXI en este asunto. Lo más
sorprendente, dentro de la libertad que
supone la adaptación cinematográfica
reside en que, mientras que en la película
el fundamento de la trama gira alrededor
de la preparación de un atentado de ETA y
la presencia del mundo de un comando
terrorista, en el barrio de Malasaña, en la
novela todo ello no presenta ni el más
mínimo rastro.
De gran trascendencia en la historia del
cine español es un documental sobre ETA
y la situación del País Vasco que suscitó
una intensa polémica. Se trata de La pelota
vasca, La piel contra la piedra (2003), del
realizador Julio Médem. La pelota vasca
tiene una realización impecable, pero, si
entendemos el documental como el género
de lo real (Nicholls, 1997: 7 y ss), lo es
mentiroso. ¿Y por qué? En primer lugar,
porque se lo realizó en unas condiciones
difíciles. Una parte de los implicados en el
conflicto: dirigentes del Partido Popular y
representantes de las víctimas de ETA se
negaron a aparecer en un video que
otorgara la misma veracidad a sus
testimonios que a los de personas que
simpatizaban o defendían la postura del
grupo terrorista, como Arnaldo Otegui,
dirigente de Herri Batasuna. Como
consecuencia, la película resultaba ya
imposible, puesto que dejaba al film sin
una parte de los testimonios, con lo cual se
daba una situación muy similar a si se
hubiera realizado un documental, sobre los
campos de exterminio nazis, sin la
presencia de los testimonios de las
víctimas, mientras que el grueso de la
película estuviera formado por las palabras
de militantes del partido nazi,
representantes de las SS y carceleros de los
mismos campos. A ello se unen algunas
cuestiones numéricas: son más numerosos
los testimonios de la causa del
nacionalismo radical; también es más larga
la intervención de los testimonios de esta
parte del conflicto; y, finalmente, el
montaje, como en todo documental es
decisivo y, en este caso, bascula hacia la
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simpatía o, al menos, la comprensión del
conflicto y la justificación, en cierta
medida, del terrorismo. Intentar
comprender un conflicto es distinto de
intentar justificarlo, y eso fue lo que hizo
Julio Médem. Ante la contemplación de los
hechos, se puede ser testigo, pero también
se puede ser colaborador.
Como consecuencia del asesinato
del concejal del PP Miguel Ángel Blanco,
en la ciudad alavesa de Ermua, el 13 de
julio de 1997 y las treguas de ETA, en los
años 1998 y 1999, el interés por el
terrorismo aumentó desde el cine. También
hay que tener en cuenta que disminuyó la
presión social de la banda y el temor que la
población le tenía. También creció la
indignación ante su barbarie. Surgieron,
así, películas como A ciegas (1997) de
Daniel Calparsoro, rodada antes del
asesinato de Blanco y cuya lectura conduce
a cierta ambigüedad. También se realizaron
documentales como Sin vendas en la
memoria (2008) de Manuel Palacios o
Corazones de hielo (2007), ambas
producidas por las asociaciones de
víctimas existentes en España.
La lucha del terrorismo de Estado quedó
representada por películas como El caso
Almería (1984), GAL (2003) y la
mencionada Lobo (2004) de Miguel de
Courtois. De una interpretación ecléctica
del problema vasco, se pasó a una
interpretación crítica que se vio reflejada,
como consecuencia de la cruenta evolución
del terrorismo vasco, en el género
documental: desde La pelota vasca (2003)
hasta el cine de Iñaki Arteta con El infierno
vasco (2008) o Nada será igual (2010).
Un vistazo a los títulos basta para
observar que el grueso del cine español,
que versa sobre asuntos relacionados con
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el terrorismo, se ha centrado en el
problema vasco y la presencia de los
crímenes de ETA a lo largo de la historia
de España, mientras que el terrorismo
islamista ha quedado prácticamente
ausente de toda mención en el cine
español. La razón de esta ausencia puede
radicar, en primer lugar, en el número de
atentados: ETA adelanta al terrorismo
islamista con mucho en materia de
realización de atentados. La perduración de
los crímenes de ETA proporciona
fácilmente un buen corpus de materia para
ficción. Por otra parte, el dramatismo de
los hechos, en el fuerte dolor causado por
los atentados de Atocha, cuya repercusión
supera la producida en los atentados en
Rabat contra la Casa de España, en mayo
de 2003, supone, al igual que en el caso
norteamericano, que tanto narradores como
cineastas no se hayan atrevido a adentrarse
en dichos sucesos por miedo a herir
susceptibilidades o por temor a no tratar el
tema con la debida eficiencia. Algo que
podría ser explicable en un principio, en
los primeros años. Pero, tras una década,
las muestras son mínimas en comparación
con el caso norteamericano, que dio
muestras desde los primeros meses
después de la catástrofe del 11 de
Septiembre.
Circunstancias diferentes son las que
afectan al cine sobre ETA. Obviamente
éste no se pudo realizar hasta los inicios de
la democracia. Después, su escasa
recurrencia no puede encontrar otra
explicación que el miedo. ETA asesinó a
periodistas, jueces, policías, militares y
ciudadanos corrientes (Calleja, 2002).
Todo el que estaba contra él era un
objetivo del terrorismo y ello es razón, más
que suficiente, para que no se diera tal
visión de los hechos. Una película que
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simbólicamente apunta en algunos
momentos a ETA es Sé quién eres (2000)
de Patricia Ferreira, que se centra en las
consecuencias de un atentado durante la
Transición y que durante mucho del tiempo
de suspense de la película se sospecha de
la autoría de ETA, aunque, finalmente, la
investigación demuestra que los autores del
atentado son policías infiltrados en un
grupo de extrema izquierda cuyo nombre
no se explicita.
Se puede decir que las muestras más
significativas del cine, en términos
realistas sobre ETA, no llegan hasta el año
2000, con El viaje de Arián de Eduardo
Bosch. Ambientada en los años ochenta,
narra el periplo vital de una joven, Arian,
que ingresa en las filas de ETA por medio
de su novio Vivaldi. La película se ajusta a
la estética realista y ese mismo realismo
sirve para retratar con fidelidad la situación
del País Vasco y el grupo terrorista. La
película pasa revista a los escenarios del
terrorismo, desde los locales de Jarrai- las
juventudes de Herri Batasuna- a los
métodos de captación de nuevos miembros
para la violencia callejera a la preparación
de atentados o el refugio en la frontera
francesa. El realismo alcanza su máxima
expresión porque retrata con exactitud lo
que se sabe de la vida cotidiana de los
terroristas y el dolor causado a las
víctimas. La historia se desliza hacia la
derrota del terrorismo y el desengaño de la
protagonista, que intenta huir de las garras
de la banda para encontrar finalmente un
fatídico destino, que simboliza la historia
de la disidencia en ETA.
En el año 2000 surge una sugerente
producción, La playa de los galgos de
Mario Camus. Ambientada en los años
ochenta, se trata de una reflexión sobre la
catástrofe personal que rodea las personas
insertas en el hecho terrorista, tanto a los
que producen el daño como a los que lo
reciben, familiares y víctimas. Historia de
contradicciones que sigue las convenciones
del triller de misterio, narra la historia de
un refugiado, Pablo Arketa, que huye de
sus propios compañeros de banda terrorista
y que, retirado en Noruega, vive
obsesionado con que algún día los suyos le
den caza. Un día la esposa de una de sus
antiguas víctimas, un ingeniero que
recuerda la nuclear de Lemoniz, lo
encuentra y lo mata tras convertirse en la
amante de su hermano. Aunque en ningún
momento se nombra ETA, su presencia es
evidente, ya que la película se ambienta
cerca del País Vasco en Castro Urdiales,
provincia de Santander. El film reúne la
crítica al terror y las motivaciones que lo
mueven en cada uno de nosotros: “Tengo
sobrados motivos para odiar a los que usan
el terror contra quien no se les somete”,
dirá uno de los protagonistas, o “la
violencia no deja satisfecho a nadie”, se
repetirá. Y esa crítica queda algo
desdibujada al extenderse a todos los que
quedan salpicados por el conflicto y no
únicamente a sus verdugos.
Caso aparte es la película La soledad
(2007) de Jaime Rosales, en la que se
muestra, de manera muy distanciada y fría,
la casualidad con la que el terror y la
catástrofe interrumpen la vida cotidiana de
una joven que viaja en un autobús, en el
que explota una bomba en el centro de
Madrid. El mismo director rueda Tiro en la
cabeza, en la que se cuenta el asesinato a
manos de ETA de dos Guardias Civiles,
Fernando Trapero y Raúl Centeno, que
investigaban de incognito a la banda en la
ciudad francesa de Capbreton. La película
narra en tono muy distanciado el acontecer
15
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
vital de un joven que colaborará en el
asesinato, pero lo curioso de la película,
que es una constante en su director, es ese
seguimiento anodino de lo cotidiano, que,
en caso del tema del terrorismo de ETA,
conduce a una interpretación muy realista
de lo que es la irrupción de la catástrofe en
las vidas de las personas.
Posiblemente, la película más
interesante de la década, dentro de esta
temática, sea Todos estamos invitados
(2008) de Manuel Gutiérrez Aragón. Su
interés radica en que incluye numerosas
novedades acerca de la realidad del País
Vasco en relación con el terrorismo que se
habían mantenido ausentes en los filmes
anteriores. La película narra la historia de
un miembro de ETA que durante un
atentado resulta herido en un accidente de
coche. En su recuperación traba amistad
con su terapeuta, la cual es compañera de
un profesor de la Universidad de País
Vasco, que está amenazado por ETA y que
finalmente será asesinado. En ese contexto,
la película muestra una radiografía de la
sociedad vasca que pone al descubierto la
hipocresía de aquellos que, en el entorno
social del protagonista, miran hacia otro
lado. La película muestra, de este modo, la
brecha que se abre en medio de la sociedad
y que conduce a una de sus partes a
justificar las muertes de sus ciudadanos,
para hacer prevalecer sus ideas y su
modelo político. La película es interesante
porque desvela los entresijos de la vida
cotidiana de los amenazados, su
dependencia de las escoltas, su
autoexclusión social, las molestias que esa
compañía supone en comidas, cenas y
aulas universitarias. El protagonista
interpretado por José Coronado les dirá a
sus amigos: “Me felicitáis. Sólo lo hacéis
cuando no os ve nadie”. También la
16
película muestra la presencia y peso del
mundo de ETA en la sociedad vasca, la
hipocresía de cierta parte del clero y la
dificultad que tienen los sujetos de ese
universo para salir de su mundo y para
arrepentirse del pasado. Todo ello hace de
Todos estamos invitados la mejor muestra
de este cine como testimonio ponderado de
la realidad vasca en los últimos años de
existencia de ETA.
4. Valentía intelectual para hablar
con libertad
C o m o s e p u e d e o b s e r v a r, l a
representación del terrorismo de ETA fue
un hecho tardío. Si se tiene en cuenta que
ETA surge a finales de los cincuenta y que,
cincuenta años después, es cuando se
comienza a hablar de la banda terrorista y
de la situación del País Vasco en el cine sin
temor, es explicable la exigencia de una
perspectiva histórica y cierto grado de
valentía intelectual para hablar con libertad
de estos fenómenos, circunstancias
inexistentes hasta entonces. Y ello explica
la situación que se ha dado en el cine en
relación con el 11 de marzo, caso que ha
ofrecido raros ejemplos cinematográficos.
La conmoción de esta fecha y los
atentados de Atocha, en 2004, han dado
varias muestras de valía, que todavía son
manifestación de su escasez. Destacan
algunos documentales Hay motivo (2004),
en el que 32 cortos pretendían hacer una
radiografía crítica de la situación de
España bajo el gobierno de José María
Aznar, la entrada en la guerra de Irak y los
atentados del 11 de marzo. Uno de esos
cortos está formado por fragmentos de La
pelota vasca de Julio Meden. A él le sigue
Madrid: 11 M, Todos íbamos en ese tren
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(2004) que recupera las imágenes de la
catástrofe y analiza los motivos de la
catástrofe como la participación de España
en la guerra de Irak. Un repaso a los
hechos: desde los atentados a la derrota
electoral de Aznar se da en 11M Cuando la
calle habló (2007) de Stephane M. Grueso.
¡Hay motivo! no se emitió
comercialmente en cines, sino que fue
proyectado en universidades y otros
lugares que solicitaron expresamente su
proyección. También se emitió en canales
locales de televisión. Los propios cineastas
utilizaron estos canales a fin de difundir la
serie tan rápido como les fuera posible, por
lo que también animaron a descargar la
película por Internet. La película fue
estrenada comercialmente el día 12 de
noviembre de 2004 y proyectada hasta el
día 25 del mismo mes, último día de
exhibición de la cinta. Apenas 496
espectadores se acercaron al cine para
verla (datos del Ministerio de Cultura).
En una línea muy próxima, aunque se
trate de cine de ficción, se encuentra la
película Ilusiones rotas: 11 M (2005) de
Alex Quiroga. Pero, lo significativo de
estas películas es su escaso rédito de
taquilla. Apenas superaron los 500
espectadores (De Pablo, 2010: 146), con lo
cual, por sí solo, puede explicar la poca
atención que, posteriormente ha suscitado
el tema de estos atentados, aunque también
hay que tener en cuenta que la realización
de un film, sobre este asunto, resulta
complicada después de la saturación de
imágenes informativas que plagaron los
telediarios de los años posteriores al
suceso, ya que éstas no se limitaron a los
días del atentado, sino que se emitieron
durante los años posteriores de
investigación del mismo.
5. Un hecho tardío
Este recorrido por el cine y la novela en
España, que desemboca en el siglo XXI,
plantea numerosos interrogantes acerca de
lo que va a ser el futuro del relato en los
años siguientes. La catástrofe se configura
como una fuente de argumentos y un
semillero de críticas hacia la sociedad y su
silencio, hacia la política y sus gestos de
manipulación, hacia el miedo, el terror, la
mentira que sufren unos ciudadanos que
son sujetos anónimos y que sólo la ficción
puede darles cabida. Atentados como los
de Atocha o el del asesinato de Miguel
Ángel Blanco han marcado de manera
determinante la historia de España y de los
relatos resultantes de esa misma historia.
Por ello creemos que es interesante la
indagación del fenómeno terrorista en
España, como la manifestación de la
catástrofe y la barbarie más actual y
moderna en lo que se configura, como la
corporeidad de la tragedia contemporánea,
como canalización de los miedos y
sufrimientos que atenazaron a una sociedad
desde el siglo XX al XXI.
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José Augusto Liberato dos Santos1
Nilton Cesar Lima2
Jamerson Viegas Queiroz3
Fernanda Cristina Barbosa Pereira Queiroz4
Marcio Mattos Borges de Oliveira5
Gestão do fluxo de informações na cadeia de
suprimentos: Visão do departamento comercial de uma
empresa de fertilizantes
Recebido em: 03/11/2012 - Aprovado em: 12/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
A logística vem ganhando cada vez mais
espaço e importância no ato da negociação,
bem como para a empresa em geral. Os
fluxos de informações são componentes
estratégicos para que todas as transações
saiam de acordo com o planejado. No
presente estudo, a problemática se situa sob
o dilema de como gerir o fluxo na cadeia de
suprimentos e apontar sua relevância ao
departamento organizacional. Diante desse
enfoque, algumas hipóteses que motivaram
a pesquisa nortearam sobre o sistema
integrado de informações, o qual coordena
as ações e auxilia no planejamento existente
entre fornecedores e clientes em todo o
canal de distribuição. O objetivo desta
pesquisa versa sobre a importância do fluxo
de informações nas empresas de
fertilizantes, que envolve, por exemplo, o
1José Augusto
departamento comercial e o logístico. O
estudo também possibilitou observar as
vantagens e desvantagens em manter
parceria, revenda, filial ou centro de
distribuição, permitindo reflexões sobre
riscos e benefícios na utilização deste
serviço em detrimento às vendas e entregas
diretas. Notou-se que, para fazer uma
análise sobre a visão comercial,
especialmente no ramo de fertilizantes e do
fluxo de informações na cadeia de
suprimentos, bem como a viabilização de
parceiros e negociações sobre entrega e
transportes, é preciso avaliar a importância
do estoque e de pontos de armazenagem em
diferentes áreas. No caso de fertilizantes,
existe uma variável muito grande: o
ambiente climático. Antes de qualquer ação,
o produtor deve avaliar as condições
climáticas para então entrar com a aplicação
do produto em escala gradativa: tratadores
Liberato dos Santos - E-mail: [email protected]
2
Nilton Cesar Lima - UFAL - Universidade Federal de Alagoas. E-mail: [email protected]
3
Jamerson Viegas Queiroz -UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]
Fernanda Cristina Barbosa Pereira Queiroz - UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:
[email protected]
4
5
Marcio Mattos Borges de Oliveira - USP - Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
22
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
de sementes, enraizadores, fertilizantes de
solo e foliar. Como o tempo pode variar a
todo instante e o produtor geralmente não
estoca esse tipo de produto, é necessário
que a indústria tenha centros de
distribuições ou parceiros em pontos
estratégicos, a fim de maximizar a entrega
ao produtor no momento desejado, o que
marca a importância do fluxo de
informações na cadeia de suprimentos.
Desse modo, é preciso estar integrado sobre
a região, produto, clima, cliente e o
fornecedor para aquisição da matéria prima,
cumprindo o tempo de produção e entrega,
além de estar ciente das condições dos
meios de transporte, nesse caso, geralmente
rodoviário. Portanto, o estudo sobre o
gerenciamento do fluxo de informações não
consiste apenas na entrega do produto no
prazo, mas também, na redução do custo, na
possibilidade de planejamento e avaliação
da demanda em relação ao estoque da
empresa, bem como expor os meios de
transportes mais conhecidos e viáveis ao
setor. Assim, o estudo de caso em uma
indústria de fertilizantes no interior de São
Paulo representou o cenário para o
diagnóstico de uma gestão no fluxo de
informações, tomando como foco o
departamento comercial, com a finalidade
de investigar sua viabilidade organizacional
quanto às ações logísticas.
Palavras-chave: Cadeia de suprimentos;
Logística; Fluxo de informações; Canais
de Distribuição; Fertilizantes.
(Christopher, 2007, p. 04)
1. Introdução
Cada vez mais as empresas e os grandes
administradores estão reconhecendo a
importância da cadeia de suprimentos,
mais conhecida no meio como supply
chain. Para que haja uma melhor
adaptação, entendimento sobre o assunto e
melhoria no serviço, no entanto, é
fundamental a troca de informações entre
os elos.
Visando atender cada vez melhor os
clientes e maximizar a qualidade no
recebimento junto aos seus fornecedores, é
essencial que as empresas se preocupem
com esse gerenciamento e entendam que o
processo não abrange apenas sua logística,
mas também
exige a cooperação e a
confiança, bem como o reconhecimento de
que, devidamente administrado, o todo
pode ser maior que a soma das suas partes.
Sob o aspecto do departamento
comercial, mais precisamente no ramo de
fertilizantes, esse processo é de suma
importância, seja na fábrica, seja nos
canais. Um dos fatores mais agravantes,
contudo, é que grande parte da matériaprima é importada com difícil acesso, além
de apresentar instabilidade em questões de
preço e entrega, exigindo assim um
planejamento especifico, uma vez que os
agricultores fazem seus pedidos seis meses
antes da retirada do produto, visando a
entrega imediata ao término das chuvas.
Neste período, o preço varia por diversas
vezes, deixando as empresas incertas sobre
a aquisição do cliente, podendo este
aumentar o seu pedido, ou ainda, procurar
por preços menores no mercado. Sem saber
quando será o momento certo para
aplicação (término das chuvas), as
empresas devem posicionar de maneira
23
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
estratégica seus produtos em canais de
melhor acesso, visando o atendimento
imediato. Ao organizar a entrega, deve-se
também decidir o modo como a qual será
efetuada, podendo ocorrer de forma
fracionada, em cargas fechadas, em frota
própria ou terceirizada. Notou-se também
nesta pesquisa que essa entrega realizada
nos canais deve ser feita em comum acordo
com a indústria, determinando os
responsáveis pelo frete, bem como,
indicando se o método de trabalho será
com revendas ou comissionados, por
exemplo.
Neste contexto, o presente artigo parte
do seguinte problema de pesquisa: Qual a
importância do fluxo de informações na
cadeia de suprimentos, sob a ótica do
departamento comercial, em um enfoque
aplicável ao setor de fertilizantes? Para
isso, definiu-se como objetivo geral
compreender o fluxo de informações,
inferindo-se a uma análise no setor de
fertilizantes em que o departamento
comercial exerce decisões sensíveis à
otimização logística. Especificamente,
espera-se: (i) Apresentar os conceitos e
definições que regem a cadeia de
suprimentos e logística; (ii) Expor a
importância do fluxo de informações e (iii)
Analisar a importância do fluxo de
informações em uma empresa do setor de
fertilizantes.
Para este estudo, observou-se que a
decisão é acertada na venda direta, uma
vez que as entregas aos produtores são
feitas diretamente nas fazendas aos
clientes, na maioria das vezes. No entanto,
a logística interna deve permanecer
altamente integrada, atentando-se, por
exemplo, em determinar o que será
descarregado primeiramente. Qualquer
24
erro na montagem da carga ou no trajeto a
ser percorrido pode ser pior que o próprio
atraso na entrega.
De acordo com Ballou (1995, p.209) o
controle de estoques exerce influência
muito grande na rentabilidade da empresa,
pois absorve um capital que poderia ser
investido de outra maneira, o que se
consolida na movimentação das cargas. No
caso de fertilizantes, por exemplo, a grande
maioria dos produtos não pode ser
armazenada, devido a presença de ureia em
sua formulação, que tende a se solidificar
com o tempo. Os fluídos, neste caso, se
tornam gelatinosos se o estoque for moroso
e indevido, dificultando à aplicação; já os
farelados se tornam sólidos e ficam
empedrados, não diluindo mais em H2O
como o recomendado.
Surge então a necessidade de as
empresas se planejarem quanto à venda
antecipada e entrega futura, sendo essas de
responsabilidade compartilhada entre os
departamentos na organização, e não
apenas da área comercial. Uma alternativa
viável a orientar às decisões é o estoque de
matéria prima e o cuidado de sua qualidade
ao longo do tempo, tarefa esta que deve ser
realizada por um responsável técnico.
Nota-se, portanto, que é ávida a
necessidade de integração na rede de
suprimentos, na qual uma gestão no fluxo
de informações coopere na viabilidade das
decisões logísticas. O caso em questão,
indústria de fertilizantes, concedeu para o
presente estudo os acontecimentos e
problemas existentes no departamento
comercial, no que compete à integração da
cadeia. Permitiu também avaliar a
viabilidade das parcerias nas revendas,
filiais ou centros de distribuição, além da
análise das vantagens e desvantagens na
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
utilização de tais métodos, em detrimento
as vendas diretas ao consumidor final, bem
como permitiu a pesquisa sobre a
utilização e importância do fluxo de
informações na cadeia de suprimentos,
especificamente no setor agroindustrial
(fertilizantes).
informações bem detalhadas.
Similarmente, Godoy (1995) aponta que o
método qualitativo proporciona uma
grande diversidade de métodos de trabalho,
estilos de análise e de apresentação de
resultados, com diferentes considerações
quanto aos sujeitos.
Sendo assim, o presente estudo
contribui para uma análise do
gerenciamento no fluxo de informações da
cadeia de suprimentos, contrastando com
as ocorrências existentes dentre as
necessidades do dia a dia do departamento
comercial, em que sinaliza qual seria o
ponto necessário para a devida integração.
Dessa forma, vale-se da pesquisa
bibliográfica para entendimento do setor,
pois, conforme aponta Gil (2009), se trata
de uma forma de estudo exploratório e de
proporcionar familiaridade com a área
proposta de análise, ou seja, faz-se uso do
estudo de caso como forma de evidenciar o
tratamento analítico do fluxo das
informações da companhia observada..
2. Metodologia
3. Fluxo de informações
A metodologia do presente estudo está
centrada no entendimento do contexto em
que se insere o problema de pesquisa, bem
como na análise e interpretação de dados
contábeis, especificamente, no fluxo de
informações na cadeia de suprimentos.
Nesse sentido, faz-se uso da abordagem do
estudo de caso a partir da análise da cadeia
da empresa X, decorrente de suas ações
logísticas no setor de fertilizantes. Assim, a
metodologia se alicerça para o alcance do
objetivo apresentado, inserindo-se ao
problema de pesquisa, na análise e
interpretação do caso, de modo que
possibilite o entendimento no referido
setor.
O método proposto por este trabalho é o
da pesquisa qualitativa. De acordo com
Miles e Huberman (1994 apud GHAURI;
GRONHAUG, 1995), este tipo de pesquisa
é adequado em estudos de assuntos
complexos e empírico, como o
comportamento humano ou organizacional,
permitindo que o pesquisador obtenha
O poder da comunicação e do fluxo das
informações tem sido o diferencial no
gerenciamento das organizações. Spinato
(2010) afirma que, no ambiente
competitivo, a informação é um fator de
elevada importância em qualquer gestão
organizacional, por ser um recurso
indispensável nos contextos internos e
externos. Sendo assim, quanto mais
confiável, oportuna e de fluxo contínuo
forem estas informações, maior a coesão e
competitividade por parte das empresas.
Tendo em vista à sua abordagem, fica
evidente que a cadeia de suprimentos não
funciona adequadamente sem que haja
entre seus elementos uma boa
comunicação e organização. Para o
administrador Paulo Spinato (2010) é
possível notar que:
O fluxo de informações eficaz e eficiente
possui um efeito multiplicador com o poder
de dinamizar todos os setores
organizacionais, constituindo, por sua vez, a
25
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
força motora do desenvolvimento político,
econômico, social, cultural e tecnológico. O
acesso à informação e a capacidade de
extrair e aplicar os conhecimentos são vitais
para o aumento da capacidade concorrencial
e o desenvolvimento das atividades
comerciais num mercado sem fronteiras. As
vantagens competitivas são agora obtidas
através da utilização de redes de
comunicação e sistemas tecnológicos que
interconectem empresas, clientes e
fornecedores com rapidez e custo reduzido.
O correto uso e fluxo de informações
tornaram-se uma necessidade
organizacional, permitindo ultrapassar todo
um conjunto de barreiras na medida em que
existe uma nova maneira de pensar em
tempo real e possível às empresas agir e
reagir rapidamente aos clientes, mercados e
concorrência. (Spinato, 2010, p. 19).
Para cooperar com o fluxo das
informações, Ballou (1995) retrata que um
dos fatores mais relevantes ao
desenvolvimento dos processos
administrativos é a aplicação de
tecnologia, proporcionando um grande
aumento na eficiência da comunicação.
Ta i s s i s t e m a s a b r a n g e m t o d a s a s
ferramentas disponíveis para o controle e
gerenciamento do fluxo de informação de
uma organização.
Existem no mercado alguns tipos de
ferramentas que facilitam e tornam a
informação mais acurada para aplicação na
cadeia de suprimentos, como, por exemplo,
o código de barras, o EDI (Electronic Data
Interchange), o ECR (Efficient Consumer
Response) e o ERP (Enterprise Resource
Planning) que integram todos os outros.
Segundo Spinato (2010), “a
comunicação, desde os primórdios, é um
instrumento de integração, instrução, troca
mútua e desenvolvimento entre as pessoas
em quaisquer atividades realizadas. [...] A
origem epistemológica da palavra é tornar
comum, ou seja, se uma pessoa consegue
fazer com que sua ideia seja captada e
26
compreendida
por
pessoa” (PIMENTA, 2008).
outra
Observa-se, a partir dos autores aqui
citados, que a comunicação não deve ser
distorcida, mas antes ser clara e objetiva,
de forma que o receptor compreenda a
mensagem sem ruídos. Exige-se, para isso,
inteligência, reflexão, estudos de casos,
processos, disciplina, bom senso,
velocidade e trabalho em grupo, por
exemplo. Acompanhando estes dois
pensamentos, pode-se afirmar, portanto, o
quão vantajoso é manter um bom fluxo de
informações nas empresas, devendo este
ser claro, objetivo e de fácil entendimento.
No setor logístico e na cadeia de
suprimentos, a informação é uma aliada a
mais na busca pelo justin time. Como
complemento, Spinato (2010) afirma que
um bom sistema de comunicação é o que
fará com que todos dentro da empresa
trabalhem na mesma direção, focalizando
os esforços para alcançar os mesmos
objetivos. É possível notar, contudo, que
em um ambiente empresarial há vários
modelos de comunicação, variando desde
os mais antigos, como murais, bilhetes,
recados e a voz, passando pelos mais
tradicionais, como os memorandos, cartas,
telegramas, chegando aos recursos de mais
alta tecnologia, como netbooks e palm
tops. Os e-mails também entram nesta
lista, assim como o “boca a boca”, que
talvez seja uma das mais simples e rápida
forma de comunicação. Cabe à
organização buscar formalizar os melhores
processos de comunicação que possam
agilizar e solidificar suas ações.
3.1. Conceitos de Logística
Logística, de acordo com o Dicionário
Aurélio, vem do francês logistique, e tem
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
em suas definições o tratamento sob o
planejamento e a realização de projeto e
desenvolvimento, obtenção,
armazenamento, transporte, distribuição,
reparação, manutenção e evacuação de
material (para fins operativos ou
administrativos).
De acordo com os estudos apontados
em Novaes (2003, p.35-36), a logística é
entendida como sendo o processo de
planejar, implementar e controlar a
eficiência, o fluxo e armazenagem de
mercadorias, serviços e informações
correlatas do ponto de origem ao ponto de
consumo, com o objetivo de atender às
exigências dos clientes. O autor ainda
afirma que a logística é tudo aquilo que
envolve o transporte de produtos (entre
clientes, fornecedores e fabricantes),
estoque (em armazéns, galpões, lojas
pequenas ou grandes) e a localização de
cada participante da cadeia logística ou
cadeia de suprimentos.
Conforme as definições observadas,
nota-se que planejamento e controle do
fluxo de informações são os principais
responsáveis pela integração de todos os
setores, produção, comercial, clientes e
fornecedores, gerando um único fluxo
logístico de informação pra todas as áreas.
Logística não se restringe a transporte,
unicamente com o ato de carregar o
produto em um determinado meio de
locomoção e enviá-lo ao cliente, mas
contemplam também pessoas, galpões e
armazéns, produtos acabados e matériasprimas, estoques de produtos elaborados e
em elaboração, previsão de demanda, entre
outros.
Tudo deve ser planejado de forma
cuidadosa, testado e avaliado o quanto
possível, pois uma falha no sistema pode
acarretar um prejuízo enorme,
evidenciando a importância de alocar
recursos, sendo o planejamento uma
ferramenta gerencial em logística capaz de
promover tal ação. Esse planejamento se
inicia no instante em que o cliente resolve
transformar um desejo em realidade
( M A RT I N S , 2 0 0 3 , p . 2 5 2 ) . E m
complemento a esta abordagem:
Embora devesse ser objetivo de qualquer
sistema logístico oferecer a todos os clientes
o mais alto nível de serviços, é preciso
reconhecer que inevitavelmente haverá a
necessidade de priorizar alguns serviços em
relação a outros. Quanto a isso, a lei de
Pareto, ou regra do 80/20, pode proporcionar
a base para desenvolver uma estratégia de
serviços mais eficiente. A questão
fundamental relativa aos serviços é que, não
sendo todos os clientes nem os produtos
igualmente lucrativos, será que deveríamos
oferecer um serviço de melhor qualidade aos
clientes e aos produtos mais importantes?
Uma vez que possamos supor que o dinheiro
gasto em serviços seja um recurso escasso,
então deveríamos considerar a decisão de
serviço como uma questão de alocação de
recursos. (CHRISTOPHER, 2007, p.68).
Ballou (1995) revela que um dos
objetivos da logística é melhorar o nível de
serviço oferecido ao cliente, sendo este a
qualidade do fluxo de produtos, serviços e
gerenciados. A logística, portanto, é um
fator que pode ser utilizado como
estratégia para uma organização. Sua
aplicação se dá na escolha adequada de
fornecedores, passando pela organização e
chegando ao cliente. Antes, porém, a
empresa deve analisar e escolher o melhor
meio de utilizá-la. Observemos os itens
abaixo:
•Duto viário – tem pontos e
rotas fixas, produtos específicos,
poucas empresas participando no
mercado e são difíceis as
implantações de novos pontos;
27
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
•Ferroviário – tem terminais e
rotas fixas, poucas empresas atuam
no mercado e também existem
poucas rotas (isso devido à falta de
incentivos governamentais);
•Aeroviário – tem terminais e
rotas determinadas, poucas
empresas atuando, modalidade
muito regulamentada sendo difícil a
entrada de novos concorrentes;
•Aquaviário – tem portos e
rotas fixas, poucas empresas atuam
neste ramo;
•Rodovias – muitos operadores,
muitas rotas, muito utilizado para
transporte de cargas por ser o mais
viável na situação em que estamos
hoje.
3.2. Integração da logística
De acordo com Cavanha Filho (2001, p.
03), podemos definir o conceito de
logística integrada como “a parte do
processo da cadeia de suprimento que
planeja, implementa e controla o eficiente
e efetivo fluxo de estocagem de bens,
serviços e informações relacionadas, do
ponto de origem ao ponto de consumo,
visando atender aos requisitos dos
consumidores”. Como nem sempre esta
definição é possível ser aplicada por parte
das empresas, gradualmente foi-se
integrando uma à outra, por meio da gestão
integrada, na qual as empresas procuram
planejar, organizar e controlar o fluxo de
produtos, serviços e informações (Ballou,
1995, p. 38)..
Figura 1 – Fluxo de Materiais e Informações
Fonte: Bowersox & Closs (2001, p. 44).
Conforme Figura 1, os autores
demonstram que o serviço em logística
deva ser integrado, e é representando pela
livre troca de equipamentos entre os
diversos modais de transportes.
3.3 Gestão da Cadeia de
Suprimentos: Importância no setor de
fertilizantes
28
Bond (2002) define cadeia de
suprimentos como uma metodologia criada
para alinhar todas as atividades de
produção, armazenamento e transporte de
forma sincronizada, visando à obtenção na
redução de custos, minimizar ciclos e
maximizar o valor percebido pelo usuário
final em busca de resultados superiores.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Em paralelo, é possível constatar, no
caso de fertilizantes, que a matéria pode
ser tanto produto final como insumo pra
outros, podendo, no entanto, se deteriorar
com o tempo, como por exemplo, a ureia
fertilizante, que endurece após um período
sem utilização quando está em estado bruto
ou mesmo sendo componente de outro
produto. Observa-se, portanto, que a gestão
de estoques também é fundamental, não
somente no armazenamento, mas nas
condições onde o mesmo se encontra.
Para Ballou (1995, p. 209), o controle
de estoques exerce influência muito grande
na rentabilidade da empresa, uma vez que
ele absorve um capital que poderia ser
investido de diversas formas, ou seja, um
gerenciamento de estoque apresenta custo
elevado quando há situações de integração
mal definida dentre a cadeia de
distribuição.
Poirier & Reiter (1996) afirmam que a
cadeia de suprimentos é um sistema pelo
qual as empresas entregam seus produtos e
serviços para seus consumidores em uma
rede de organizações interligadas. A gestão
da cadeia cobre o fluxo de mercadorias do
fornecedor por meio de manufatura e
canais de distribuição até o usuário final,
ou seja, é um grupo de fornecedores, fontes
que provem ingredientes como matériasprimas e commoditties que dão início a
cadeia de suprimentos. Posteriormente, o
fabricante constrói ou monta o produto que
é identificado como consumo no canal de
distribuição. Essa conexão primária
fonecedor-fabricante tem amplas
oportunidades de realizar economias, como
a redução do inventário de matéria-prima
existente entre dois membros da cadeia. O
último elo é a maneira como o produto ou
serviço será entregue ao consumidor final;
incluem os canais de distribuição e seus
componentes como armazéns
intermediários, varejistas e o consumidor
propriamente dito.
Tendo em vista as considerações acerca
da cadeia de suprimentos, adotou-se
analogamente ao setor de fertilizantes a
importância de gerenciar o fluxo de
informações, atendendo todos os requisitos
desde o fornecedor, passando pela
transformação e enfim entrega. Abrange
também o gerenciamento dos estoques de
maneira ágil, tanto de produto acabado,
como principalmente de insumo, sendo
essa ação vital para minimizar perdas, já
que neste setor muitas matérias se
deterioram com o tempo ou perdem o
valor, como no caso da ureia que pode
empedrar com o clima desfavorável. Em
seguida, planejar e controlar o setor
comercial, analisar as vantagens da venda
direta em questões de preço e entrega, bem
como monitorar os canais de distribuição,
são atividades que otimizam o serviço
logístico para o setor.
Um dos fatores mais importantes na
estrutura da cadeia de suprimentos é
ressaltar o papel de cada elemento em
relação aos demais. Há, por exemplo, cinco
tipos de relacionamento entre a empresa e
o canal dominante:
a) Os que estão por dentro ou integrados –
membros da cadeia dominante que gozam de
acesso continuo a fontes preferenciais de
suprimentos e de grande respeito no setor.
Têm interesse na manutenção da situação
atual e são os principais agentes que
procuram forçar o cumprimento do código
do setor.
b) Os lutadores – empresas que estão
procurando fazer parte da cadeia, mais ainda
não fazem. Tem acesso descontínuos às
fontes preferenciais de suprimentos e
aderem ao código do setor pelo desejo de
participar da cadeia.
29
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
c) Os complementadores – não estão e nem
procuram integrar a cadeia dominante.
Executam funções que os outros membros
da cadeia normalmente não executam, ou
então servem segmentos específicos do
mercado. Geralmente tiram vantagem do
sistema atual e tendem a respeitar o código
do setor.
d) Os transitórios – estão fora da cadeia
dominante e não procuram integra-la.
Entram e saem do mercado de acordo com
as circunstancias, mas realmente integram
outras cadeias. Tem expectativas de curto
prazo e pouco incentivo de aderir ao código
do setor.
e) Os inovadores – empresas que desafiam e
perturbam o funcionamento da cadeia
dominante. (Kotler, 1998, p. 735-736).
Para o setor industrial de fertilizantes,
pode-se dizer que temos todos os tipos de
relacionamentos: pequenos produtores que
compram para atender suas necessidades;
grandes produtores que compram para sua
produção; cooperativas e indústrias de
insumos que compram para a produção de
novos produtos, armazenamento e estoque;
e por fim, revendas e canais que os
adquirem para distribuição e
comercialização.
A indústria de fertilizantes integra o
complexo químico no bloco de
commodities e, como tal, possui
características tecnológicas,
mercadológicas e logísticas próprias.
Atualmente a disputa entre empresas de
fertilizantes está tão acirrada que elas já
não competem apenas entre si, mas sim,
com a cadeia de suprimentos de cada uma,
levando vantagem a que melhor gerenciar
sua cadeia, controlar o fluxo de suas
informações, estreitar relações com seus
fornecedores e clientes, e até com seus
próprios concorrentes.
Conclui-se, portanto, que logística e o
gerenciamento da cadeia têm importância
muito além dos portões da empresa. Como
30
reforça Ballou (1995, p. 19) neste sentido:
“sistemas logísticos eficientes formam
bases para o comercio e a manutenção de
um alto padrão de vida nos países
desenvolvidos”.
Segundo Christopher (2007, p. 22),
[...] sob o regime do gerenciamento
logístico, o objetivo é ligar o mercado, a
rede de distribuição, o processo de
fabricação e a atividade de aquisição, de tal
modo que os clientes sejam servidos com
níveis cada vez mais altos, ainda assim
mantendo os custos baixos.
3.4 Canais de Distribuição: Conceito,
Vantagens e Desvantagens
Rebouças (2010) afirma que os canais
de distribuição representam o caminho
escolhido para o produto/serviço chegar ao
consumidor final, por meio de unidades
internas e externas (atacadistas e varejistas)
da empresa. Definido pelo setor de
marketing, dentro de uma cadeia logística
todos os membros atuantes devem estar
interligados. Sendo assim, tem-se que o
canal de distribuição está inserido na
cadeia logística e seus participantes são
fabricantes, atacadista-distribuidores,
varejistas e consumidor final.
Já para Kotler (1998), os canais de
marketing, ou de distribuição, são
conjuntos de organizações independentes
envolvidas no processo de disponibilização
de um produto ou serviço para uso ou
consumo. Ou ainda, todo produtor procura
reunir o grupo de intermediários que
melhor satisfaça o objetivo da empresa;
este grupo de intermediários é chamado de
canal de marketing ou canal de
distribuição.
Rebouças (2010) apresenta alguns
principais objetivos do canal de
distribuição:
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
* Disponibilizar produtos com rapidez;
* Reforçar potencial de vendas;
* Fortalecer cooperação entre os
componentes da C.S;
* Facilitar fluxo de informação e
material;
* Reduzir custos de forma integrada.
O autor ainda reforça os objetivos com
as seguintes funções no canal de
distribuição:
* Induzir a demanda;
* Satisfazer a demanda;
* Serviços pós-compra;
* Troca de informações.
Por fim, os participantes de um canal de
distribuição podem ser primários ou
especializados. Os primários são os
fabricantes, atacadistas e varejistas,
enquanto que os especializados são os que
prestam serviços aos participantes
primários, compreendendo os funcionais
de serviço em transportes, armazenagem,
montagem, atendimento, entre outros, além
de estabelecer apoio em finanças,
informação, publicidade, seguro, entre
outros. (REBOUÇAS, 2010).
Compreende-se, que “as redes de
entrega diretas são aconselháveis se as
lojas varejistas forem grandes o suficiente
para justificarem tamanhos ótimos de lote
de ressuprimento próximo a carga cheia de
cada fornecedor para cada
varejista.” (CHOPRA, 2003, p.275). Ou
seja:
A informação é crucial para o desempenho
da cadeia de suprimentos porque
disponibiliza os fatos de que os gerentes da
cadeia precisam para tomar suas decisões.
Sem informação, o gerente não sabe o que
os clientes querem, quanto o estoque está
armazenado e qual o momento de produzir
ou embarcar mais produtos. Resumindo, sem
informação, o gerente toma suas decisões no
escuro. Portanto, a informação faz com que
a cadeia de suprimento seja visível ao
gerente. Com esta visibilidade, o gerente é
capaz de tomar decisões para melhorar o
desempenho da cadeia de suprimentos.
(CHOPRA, 2003, p.342).
4. Caso – indústria de fertilizantes
Com base no sistema de informação
logístico, conhecido como “um subsistema
do sistema de informações gerenciais, o
qual providencia a informação
especificamente necessária para
administração logística” (BALLOU, 1995,
p.279), esses sistemas funcionam como um
elo que liga as atividades em um processo
integrado, combinando hardware e
software para medir, controlar e gerenciar
as operações.
O gerenciamento do fluxo de
informações na cadeia de suprimentos,
especificamente no setor de fertilizantes,
tende a suprir as dificuldades encontradas
por efeito da distância entre as localidades,
a empresa e as propriedades rurais onde se
encontram a maioria dos consumidores do
setor. Com um bom fluxo de informações,
o produtor fica mais próximo da empresa
em questões de entrega, lançamentos e
promoções, bem como, aproxima-se do
produtor e do mercado em questões de
preço praticado, necessidades da região e
efeitos climáticos.
Tal fato pode ser contracenado com uma
empresa de fertilizantes, no qual coube
investigar, empiricamente, a importância
do gerenciamento no fluxo de informações
como forma de facilitar os fluxos de
materiais dentre a cadeia de distribuição.
Localizada na região noroeste do estado de
São Paulo, próximo a Ribeirão Preto,
atualmente com três unidades fabris, ela
31
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
aplica a tecnologia em fertilizantes de solo,
foliares e NPK, além de recentemente fazer
parte de um grupo seleto no âmbito
mundial de empresas que dominam a
tecnologia do fertilizante de liberação
gradativa. Destaca-se por concentrar todos
os nutrientes necessários à cultura
desejada, não precisando ser adubada
varias vezes, e sim, uma única vez, tendo o
produtor a responsabilidade de disparar
gradativamente o nutriente necessário, seja
para crescimento, enraizar, ou mesmo para
controlar a produção. Seu mercado varia
entre pequenos produtores, revendas,
cooperativas e outras empresas do mesmo
seguimento que utilizam de alguns de seus
produtos acabados como matéria prima
para a fabricação e elaboração de novos
produtos. O ramo de fertilizantes e
alimentação animal se estende por todo o
território nacional e países da América do
Sul, como Bolívia e Paraguai, podendo os
fornecedores serem parceiros e ao mesmo
tempo clientes, assim como os
concorrentes, sendo esses os principais
nichos para a empresa.
A pesquisa de campo norteou algumas
implicações gerenciais com relação ao
fluxo de informações necessárias à cadeia
de suprimentos, cujo enfoque é o setor
comercial da empresa, no qual vantagens e
desvantagens na venda direta ou
manutenção nos centros de distribuições
são observados a partir do fluxo de
informações, estes como eixo de análise no
presente estudo.
Dessa maneira, a análise identificou que
o problema se encontra no início da cadeia,
com a aquisição da matéria prima.
Originando-se da Argentina, Chile e China,
as entregas da mesma chegam à empresa
com até 90 dias, no entanto, o problema
32
estava longe de ser sanado, uma vez que os
preços oscilam muito, de acordo com a
demanda, e principalmente com o câmbio.
Alguns produtos como ulexita e
hidroboracita, componentes para a
fabricação de produtos a base de Boro
10%, eram os mais difíceis de conseguir,
tendo às vezes implicações no teor do
produto, e ambos negociados a um teor e
preço. Assim, sempre foi um desafio
gerencial o controle de tais aquisições de
matéria prima, despontando, a necessidade
por uma busca insana de informações
sobre o mercado, estreitando relações com
os fornecedores.
Na referida empresa, a sensibilidade das
decisões se dá na flexibilidade de seus
dirigentes, uma vez que não priorizam
armazenar o estoque, por deflagrar alto
custo à organização. Em desvantagem a tal
decisão, acabavam por perder grandes
negócios por falta de produto ou atraso na
entrega.
Em paralelo, Ballou (1995, p. 66)
destaca que os estoques agem como
“amortecedores” entre suprimento e
demanda. Neste caso, entre suprimento e
necessidades de produção. O autor ainda
ressalta que manter em estoque todo o
material para a produção pode ser
ineficiente. Esta é uma questão de
estratégia que deve ser tomada como uma
das prioridades em qualquer cadeia, e no
caso da empresa citada, era um dos fatores
pelos quais se perdiam algumas de suas
negociações.
Surgiu então, o propósito da empresa
manter estoques em vários centros
espalhados pelo país, mas, até onde isto era
vantajoso em detrimento às vendas diretas
e a manutenção de estoques na fábrica?
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
No caso da indústria, um dos problemas
quanto a isso é que, não se trata de
produtos em série como celulares,
televisores, geladeiras, e sim, produtos
acabados ou semiacabados, que poderão
servir ao consumidor final e, ao mesmo
tempo, a outras indústrias que também os
utilizam como matéria. No caso de
fertilizantes, a venda direta representa uma
vantagem se analisar-se que, os produtores
se encontram em fazendas isoladas, com
grande distancia a ser percorrida sobre
estradas de terra. Sem condições de buscar
o produto, muito menos de armazená-lo, ao
comprar o adubo, por exemplo, seja de
solo ou foliar, o produtor tem o desejo
imediato de sua utilização.
A revenda poderia ser uma alternativa,
porém, desagrega o valor do produto, uma
vez que a empresa tem de diminuir o preço
para a mesma revender ou ainda pagar
comissões a agentes credenciados.
Contudo, várias revendas encontram-se na
mesma região, o que pode acarretar uma
diferença no preço de um mesmo produto.
Este é o ponto onde se analisa a
importância do fluxo de informações na
empresa. A alocação de agentes,
vendedores de campo, em nome da
empresa, em localidades distintas, fazendo
visitas técnicas, ministrando palestras e
reuniões junto às cooperativas e aos
produtores de um modo geral, é uma
maneira de a empresa comunicar-se com o
cliente, além ainda de ter maior
possibilidade de acompanhar as tendências
do mercado.
5. Considerações Finais
Com base nas vantagens apresentadas
ao longo deste trabalho, podemos
considerar quão é vantajoso o fluxo de
informações dentro da cadeia de
suprimentos e a importância de um bom
gerenciamento. Após o tratamento
gerencial adequado do fluxo de
informações, foi possível decidir entre o
melhor meio de venda dos produtos, bem
como o modelo de distribuição. A
coordenação do fluxo de informações
beneficia a empresa se considerar o caso
como um todo, bem como, também auxilia
no transporte, na redução de custos, na
integração dos elos da cadeia: clientes,
fornecedores, parceiros e representantes.
Quanto à decisão pelo meio de
transporte, o rodoviário e a opção da venda
direta só são possíveis ao compreender-se
o caso de modo sistêmico,
já que a
integração total das informações e
coordenação dos elos na cadeia distributiva
são o caminho da otimização da
organização.
Pode-se afirmar, com base nos fatos e
problemas apresentados, que é vantajoso
para empresa o gerenciamento do fluxo de
informações desde a compra da matéria,
passando por todo o processo gerencial,
comercial e produtivo, até chegar ao
destino desejado, com seus fluxos de
informações coordenados pela empresa, já
que esses são mais sensíveis aos custos que
os próprios fluxos de materiais. Foi
possível analisar também que as condições
do mercado e do clima,
em diversas
regiões de atuação, possuem relação direta
às decisões da organização, que se
originam nas decisões comerciais da
empresa por estar mais próximo do cliente.
Assim, suas necessidades e inovações
possibilitam reduzir custos, sendo ainda
otimizados ao associar-se aos fluxos de
informações em toda cadeia de
33
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
suprimentos, priorizando decisões ao
tempo desejado tanto pela empresa, quanto
pelo cliente, já que o produto é altamente
perecível comercialmente. Ou seja, o
gerenciamento do fluxo de informações na
cadeia valoriza o produto, melhora a
entrega, reduz seu preço perante o
consumidor, aumenta a qualidade,
otimizando processos e gerando
competitividade à organização.
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35
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Marcos Roberto Celestino1
Avaliação externa como fator relevante de ação para a
formação continuada
Recebido em: 06/11/2012 - Aprovado em: 21/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
É compartilhado por todos os
educadores, não importa qual linha
educacional, a importância da avaliação na
prática educativa. A finalidade da avaliação
pode ser diferente: (a) mensurar o progresso
do aluno (sob o ponto de vista do próprio
aluno ou do professor), (b) permitir ao
professor verificar a eficiência e eficácia
das estratégias de ensino e (c) viabilizar a
avaliação interna ou externa de uma
instituição de ensino. Qualquer uma dessas
finalidades evidencia aspectos relevantes a
serem considerados no processo ensinoaprendizagem, possibilitam também que se
estabeleçam metas e ações para alcançá-las.
O consenso, no entanto, não se faz presente
com a mesma intensidade no que se refere a
definir avaliação ou quando se aborda as
maneiras de avaliar e com que níveis de
exigência. Zabala (1998, p. 195) aponta a
existência de definições diferentes, e muitas
vezes ambíguas, sobre avaliação. Nota-se
que há casos em que o aluno é o sujeito da
avaliação, em outros é o grupo/classe ou até
mesmo o professor ou a equipe docente;
“[...] quanto ao objeto da avaliação, às
vezes, é o processo de aprendizagem
seguido pelo aluno ou os resultados obtidos,
enquanto outras vezes se desloca para a
própria intervenção do professor”. Com
1Prof.
36
Dr. Marcos Roberto Celestino
vistas nisso, nesse artigo, abordaremos cada
uma das três finalidades apontadas para a
avaliação e analisaremos de que maneira a
Coordenação Pedagógica pode se valer da
avaliação externa como um fator relevante
na formação continuada dos professores.
Palavras-chave: Avaliação, formação
continuada, coordenação pedagógica,
avaliação interna e externa.
Abstract
It is shared by all educators, no matter
which line is pinch education, the
importance of evaluation in educational
practice. The purpose of evaluation may be
different: (a) measure student progress
(from the point of view of their own student
or teacher), (b) allow the teacher to verify
the efficiency and effectiveness of teaching
strategies, and (c) enables internal or
external evaluation of an educational
institution. Any of these purposes
evidences relevant aspects to be considered
in the teaching-learning process, also
allow to establish goals and actions to
achieve them. The consensus, however, is
not present to the same degree in relation
to define evaluation or when discussing the
ways in which to evaluate and requirement
levels. Zabala (1998, p. 195) points to the
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
existence of different definitions, and often
ambiguous, on review, we note that there
are cases where the student is the subject
of the evaluation, in others it is the group /
class or even the teacher or the teaching
staff, "[...] as the object of evaluation is
sometimes the learning process followed
by the student or the results, while other
times moves to the teacher's own
intervention". Aiming at it, this article will
discuss each of the three objectives
Introdução
Não se pode deixar de lembrar o
importante papel que o coordenador
pedagógico exerce na vida escolar. Cabe a
ele valorizar as ações coletivas, vinculadas
ao eixo pedagógico desenvolvido na
escola; ele deve se colocar como o
articulador dos diferentes segmentos da
escola na elaboração de um projeto
pedagógico.
Sua metodologia de trabalho deve
envolver: ação à reflexão à ação. É um
processo continuo e dialético, uma vez que
após cada ação praticada requer que se faça
uma reflexão sobre as metas alcançadas,
eficácia dos procedimentos e posterior
ação corretiva do que pode causar desvio e,
consequentemente, comprometer as metas
traçadas, ou seja, impedindo que as
mesmas sejam alcançadas
satisfatoriamente.
Um primeiro aspecto vinculado à
especificidade da função do coordenador
pedagógico “que é planejar e acompanhar
a execução de todo o processo didáticopedagógico da instituição” (GEGLIO,
2006, p.115). Mais efetivamente pode-se
ver a contribuição do coordenador
pedagógico na formação docente quando
outlined for the assessment and examine
how the Pedagogical Coordination can
take advantage of the external evaluation
as a relevant factor in the continuing
education of teachers..
Keywords: Evaluation, continuing
education, pedagogical coordination,
internal and external evaluation.
“se reúnem para discutir questões e
problemas pedagógicos, isto é, pertinentes
à sala de aula, ao conteúdo de ensino, ao
desempenho dos educandos e ao
relacionamento com os alunos” (ibid., p.
11 7 ) , m e s m o a c r e d i t a n d o q u e a
contribuição à formação do docente possa
ocorrer individualmente (como aponta
GEGLIO, 2006).
Vemos então a descrição de um segundo
aspecto que caracteriza a função do
coordenador, que é ‘atuar como gestor do
grupo docente’. Conhecedor das
necessidades dos educandos e orquestrador
das ações necessárias para soluções de
problemas levantados pelos docentes
(didático-pedagógicos, disciplinares ou de
outra natureza), o coordenador pedagógico
deve planejar a maneira que conduzirá os
encontros coletivos (selecionando as
leituras e mediando os debates), pois ele
“deve ter observado as necessidades dos
professores, na relação com os alunos, com
o ensino, com a visão de educação, com a
concepção de aprendizagem e
avaliação” (SOUZA, 2005, p.28).
O professor, profissional da educação,
“deve desenvolver as competências
necessárias e intrínsecas ao seu
ofício” (CELESTINO, 2006, p.76), essas
“competências profissionais, constroem-se
em formação, ao sabor da navegação diária
37
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
de um professor, de uma situação de
trabalho à outra” (LE BOTERF, 1997).
Logo, o trabalho coletivo é parte integrante
dessa formação, uma vez que viabiliza a
troca de experiências e a reflexão da
prática docente (CHRISTOV, 2005).
Reiteramos que esses momentos de
trabalho coletivo acrescentam muito à
formação do professor, dado que o saber
docente é “[...] é um saber plural, formado
pelo amálgama, mais ou menos coerente,
de saberes oriundos da formação
profissional e de saberes disciplinares,
curriculares e experienciais” (TARDIF,
2002, p.36).
É nesse contexto que a avaliação se
insere como importante instrumento, o
qual, se analisado cuidadosamente,
viabiliza que se estabeleçam parâmetros
para um trabalho de acompanhamento do
processo de ensino-aprendizagem e de
formação continuada.
O tema de nosso artigo: Avaliação
externa como fator relevante de ação para a
formação continuada está inserido nesse
contexto. E o objetivo de nosso trabalho é
apresentar um panorama sobre a avaliação
do processo educativo e as principais
avaliações externas que são aplicadas na
Educação Básica brasileira. Além disso,
analisar alguns aspectos ligados à
avaliação e de que maneira esta pode ser
útil, quando se pensa em formação
continuada dos docentes e o papel da
coordenação pedagógica nessa formação.
Esse artigo está divido da seguinte
maneira:
No Tópico 1 - A avaliação de processos
educativos – discorreremos sobre a
avaliação da Educação Básica no Brasil.
No Tópico 2 – Principais avaliações
externas – dissertamos a respeito das
38
diversas avaliações externas a que a
Educação Básica brasileira é submetida,
qual o público alvo delas, suas
características e sua sazonalidade.
No Tópico 3 – Alguns aspectos
relacionados à avaliação – analisamos três
aspectos relacionados à avaliação,
observando os pontos de vistas do
educando e do professor, a maneira como a
avaliação auxilia no acompanhamento do
processo ensino-aprendizagem (elemento
balizador) e como a unidade escolar pode
analisar os seus resultados.
No Tópico 4 – Coordenação Pedagógica
e Corpo Docente: atuação conjunta e
articulada – apresentamos uma reflexão a
respeito da atuação da Coordenação
Pedagógica na formação continuada, a
atitude de liderança que essa coordenação
deve desempenhar e o estímulo que deve
propiciar à reflexão da prática docente,
assim como conduzir os professores na
análise dos resultados de avaliações
internas ou externas.
Em seguida, apresentamos as
considerações finais, descrevendo de que
maneira o docente e a Coordenação
Pedagógica podem e devem estar
comprometidos e promover ações
conjuntas com vistas ao aprimoramento
profissional e do processo de ensinoaprendizagem, mediante a promoção da
formação continuada.
1. A avaliação de processos
educativos
Desde a década de 1980, verifica-se
uma tendência mundial em avaliar os
processos educacionais, motivados pelo
desejo de imprimir qualidade à gestão de
sistemas educacionais, alguns países que
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
demonstraram esse desejo e
implementaram ações nesse sentido:
Estados Unidos, França, Holanda, Suécia e
Inglaterra. A Espanha, na década de 1990
implementa seu processo de avaliação
institucional do sistema de ensino e,
gradualmente, a avaliação institucional
estendeu-se para diversos países em
desenvolvimento, porém com a
prerrogativa de complementar as reformas
instauradas pela globalização, entre elas a
descentralização das funções do estado.
Segundo Oliveira et al. (2006), as
avaliações do sistema educacional nesses
países em desenvolvimento se deu:
De par com os projetos nacionais de
avaliação, organizações internacionais como
a OCDE2 e a Orealc/Unesco3 desenvolveram
amplos programas de avaliação, neste caso
como diagnóstico comparativo internacional,
e, portanto, como sustentação para a tomada
de decisões políticas, em nível de nações ou
mesmo de regiões mais amplas, como a
América Latina (p.72).
No Brasil, segundo Saviani (2007), este
foi um momento de maturidade para a
reflexão acadêmica, e, certamente,
determinante para a qualidade da educação
brasileira. Como exemplos, o autor cita a
significativa ampliação da produção
científica nesse campo e a influência dos
educadores na proposta da Constituinte de
1988 e na LDB de 1996.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) em
seu artigo 9º, inciso V, dispõe que "cabe à
União a coleta, a análise e a disseminação
de informações sobre educação (BRASIL,
1996)". O inciso VI, desse mesmo artigo,
estabelece também que a União, em
colaboração com os sistemas estaduais e
municipais de ensino, deve assegurar um
processo nacional de avaliação do
rendimento escolar nos dois níveis de
ensino com o objetivo de definir
prioridades para melhorar a qualidade do
ensino. A LDB em seu texto trouxe
avanços significativos para a avaliação do
sistema educacional e a partir da sua
regulamentação é que surge a previsão de
uma série de ações para aferir e melhorar a
qualidade do ensino, entre elas.
[...] implantação de um amplo sistema de
avaliação da educação básica, com a
finalidade de aferir a aprendizagem dos
alunos do ensino fundamental e de prover
informações para a avaliação e revisão de
planos e programas de qualificação
educacional. No decorrer da década, estas
políticas foram sendo confirmadas pela
institucionalização do Sistema de Avaliação
da Educação Básica (SAEB) e pela
prioridade conferida à avaliação nos textos
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB/1996) e do Plano Nacional de
Educação (FONSECA, M.; 2006).
Ainda em 1996, quando o MEC estava
sob a gestão do ministro Paulo Renato, foi
editado o Decreto MEC nº 1.917 que
determinava, entre outras medidas, a
criação da Secretaria de Avaliação e
Informação Educacional (SEDIAE). Por
meio dela, o MEC buscava dar concretude
à determinação da LDB de assegurar um
2 Organização de Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional e
intergovernamental que agrupa os países mais industrializados da economia do mercado. Tem sua sede em Paris, França. Na
OCDE, os representantes dos países membros se reúnem para trocar informações e definir políticas com o objetivo de
maximizar o crescimento econômico e o desenvolvimento dos países membros.
3 Oficina Regional de Educação para a América Latina e o Caribe (Orealc/UNESCO) é o órgão responsável por realizar
estudos internacionais comparativos na região, através do Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da
Educação (LLECE). As provas avaliam resultados da aprendizagem dos alunos da terceira da educação básica. As matérias
são matemática, linguagem e ciências, sendo que, as análises de desempenho são correlacionas com informações de
questionários que focalizaram o entorno do processo educacional, como a família, a escola, opinião de professores e
diretores. Disponível na Internet: http://llece.unesco.cl.
39
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
processo de avaliação do rendimento
escolar. Algumas das atribuições dessa
Secretaria eram:
P l a n e j a r, o r i e n t a r e c o o r d e n a r o
desenvolvimento de sistemas de avaliação
educacional, visando o estabelecimento de
parâmetros e indicadores de desempenho nas
atividades de ensino do País; subsidiar a
formulação de políticas e o monitoramento
do sistema de ensino, com os dados gerados
pelos sistemas de estatísticas e informações
educacionais (Decreto nº 1917 - Artigo 22,
inciso I e II).
Segundo Neto (2007):
Faziam parte da estrutura dessa Secretaria os
departamentos de: Avaliação da Educação
Básica, Apoio Técnico à Avaliação dos
Cursos de Graduação e, por fim, Estatísticas
Educacionais. Esta Secretaria teve vida curta
e nove meses depois o decreto que a criou
foi revogado pelo Decreto 2.146/97, que
transfere as suas funções para o INEP, ao
mesmo tempo em que aprova uma nova
estrutura para esse Instituto (p.4).
Dentre as atribuições do INEP,
destacamos 4:
- Organizar e manter o sistema de
informações e estatísticas educacionais.
- Planejar, orientar e coordenar o
desenvolvimento de sistemas e projetos de
avaliação educacional, visando o
estabelecimento de indicadores de
desempenho das atividades de ensino no
país.
- Apoiar os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios no desenvolvimento de sistemas
e projetos de avaliação educacional.
- Desenvolver e implementar, na área
educacional, sistemas de informação e
documentação que abranjam estatísticas,
avaliações educacionais, práticas
pedagógicas e de gestão das políticas
educacionais.
- Subsidiar a formulação de políticas na área
de educação, mediante a elaboração de
diagnósticos e recomendações decorrentes
da avaliação da educação básica e superior.
- Promover a disseminação de informações
sobre avaliação da educação básica e
superior.
Percebe-se que as atribuições do INEP
mudam, e uma nova concepção é dada ao
seu objetivo central, que deixa de estar
concentrado nas atividades de pesquisa e
passam a se concentrar principalmente em
atividades ligadas à avaliação da educação.
E por fim, pode-se ver que no fim
da década de 1990 o Brasil dá início ao
processo de Avaliação Externa da
Educação Básica com o intuito gerir
estrategicamente o Sistema Educacional,
ou seja, a partir da análise crítica dos
resultados é possível estabelecer ações que
agreguem melhoria ao sistema.
Sendo assim, a Avaliação Externa é
elemento importante no direcionamento de
políticas públicas, e para a unidade escolar
é elemento primordial para aferir o
processo ensino-aprendizagem, uma vez
que essa avaliação evidencia possíveis
falhas, as quais devem ser analisadas
criteriosamente, a fim de se tornarem foco
de ações corretivas. Desta maneira, as
adversidades inerentes ao processo de
ensino-aprendizagem devem ser
claramente esquadrinhadas, para que se
possa, por meio de um planejamento
estratégico, traçar metas e direcionar ações
de forma a se não solucionar, minimizar
seus efeitos.
2. Principais Avaliações Externas
Apresentaremos a seguir um quadro que
descreve as diversas Avaliações Externas
que tem como objeto a Educação Básica, o
4 FONTE: INEP - <http://www.inep.gov.br/comped/instituicoes/inep.htm>
40
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
p ú b l i c o a lvo, sua sazonalidade e
características.
Quadro 1: Brasil – Avaliação da Educação Básica
Fonte: INEP (http://www.inep.gov.br/basica)
Descreveremos cada uma dessas
avaliações, destacando suas propostas e
características.
(A) SAEB
FONTE: INEP (http://www.inep.gov.br/
basica/saeb/caracteristicas.htm)
O Sistema de Avaliação da Educação
Básica (SAEB), conforme estabelece a
Portaria n.º 931, de 21 de março de 2005, é
composto por dois processos: a Avaliação
Nacional da Educação Básica (ANEB) e a
Avaliação Nacional do Rendimento
Escolar (ANRESC).
A ANEB é realizada por amostragem
das Redes de Ensino, em cada unidade da
Federação e tem foco nas gestões dos
sistemas educacionais. Por manter as
mesmas características, a ANEB recebe o
nome do SAEB em suas divulgações;
A ANRESC é mais extensa e detalhada
que a ANEB e tem foco em cada unidade
escolar. Por seu caráter universal, recebe o
nome de PROVA BRASIL em suas
divulgações.
Características do SAEB
Em 2005, a Portaria Ministerial n.º 931
alterou o nome do histórico exame
amostral do Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica (SAEB), realizado
desde 1990, para Avaliação Nacional da
Educação Básica (ANEB). Por sua
tradição, entretanto, o nome do SAEB foi
mantido nas publicações e demais
materiais de divulgação e aplicação deste
exame.
As avaliações do SAEB produzem
informações a respeito da realidade
educacional brasileira e, especificamente,
por regiões, redes de ensino: pública e
privada nos estados e no Distrito Federal,
por meio de exame bienal de proficiência,
em Matemática e em Língua Portuguesa
(leitura), aplicado em amostra de alunos de
4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª
série do ensino médio.
Desenvolvido pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), autarquia do Ministério
da Educação (MEC), o SAEB é a primeira
41
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
iniciativa brasileira, em âmbito nacional,
no sentido de conhecer mais
profundamente o nosso sistema
educacional. Além de coletar dados sobre a
qualidade da educação no País, procura
conhecer as condições internas e externas
que interferem no processo de ensino e
aprendizagem, por meio da aplicação de
questionários de contexto respondidos por
alunos, professores e diretores, e por meio
da coleta de informações sobre as
condições físicas da escola e dos recursos
de que ela dispõe.
As informações obtidas a partir dos
levantamentos do SAEB também permitem
acompanhar a evolução da qualidade da
Educação ao longo dos anos, sendo
utilizadas principalmente pelo MEC e
Secretarias Estaduais e Municipais de
Educação na definição de ações voltadas
para a solução dos problemas
identificados, assim como no
direcionamento dos seus recursos técnicos
e financeiros às áreas prioritárias, com
vistas ao desenvolvimento do Sistema
Educacional Brasileiro e à redução das
desigualdades nele existentes.
(B) As Matrizes de Referência do
SAEB / Prova Brasil
FONTE: INEP (http://www.inep.gov.br/
basica/saeb/matrizes/default.htm)
A realização de uma avaliação de
sistema com amplitude nacional, para ser
efetiva, exige a construção de uma matriz
de referência que dê transparência e
legitimidade ao processo de avaliação,
informando aos interessados o que será
avaliado. As matrizes descrevem o objeto
da avaliação, é referencial curricular
mínimo a ser avaliado em cada disciplina e
série, informando as competências e
42
habilidades esperadas dos alunos.
Torna-se necessário ressaltar que as
matrizes não englobam todo o currículo
escolar. É feito um recorte com base no
que possa ser aferido por meio do tipo de
instrumento de medida utilizado no SAEB
e na Prova Brasil e que, ao mesmo tempo,
seja representativo do que está
contemplado nos currículos vigentes no
Brasil.
Assim compreendidas, as matrizes não
podem ser confundidas com
procedimentos, estratégias de ensino ou
orientações metodológicas, nem com
conteúdo para o desenvolvimento do
trabalho do professor em sala de aula.
Estes elementos estão presentes nos guias
ou propostas curriculares dos sistemas de
ensino.
As matrizes têm por referência os
Parâmetros Curriculares Nacionais, mas
foram construídas a partir de uma consulta
nacional aos currículos propostos pelas
Secretarias Estaduais de Educação e por
algumas redes municipais. O INEP
consultou também professores regentes de
redes municipais, estaduais e de escolas
privadas, de 4ª e 8ª séries do ensino
fundamental e 3ª série do ensino médio e,
ainda, examinou os livros didáticos mais
utilizados para essas séries.
As matrizes de referência são a base
para a elaboração dos itens dos testes do
SAEB e da Prova Brasil. Item é a
denominação adotada para as questões que
compõem a prova. Essa nomenclatura
deve-se ao entendimento de que o termo
item refere-se a questões que abordam,
com preponderância, uma única dimensão
do conhecimento.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Cada matriz de referência é estruturada
em tópicos ou temas e respectivos
descritores que indicam as competências e
habilidades de Língua Portuguesa e
Matemática a serem avaliadas. O descritor
é uma associação entre conteúdos
curriculares e operações mentais
desenvolvidos pelo aluno, a partir dos
quais os itens de prova são elaborados. As
respostas dadas pelos alunos a esses itens
possibilitam a descrição do nível de
desempenho por eles atingido. A partir daí,
é dado conhecer o desempenho dos
sistemas de ensino.
A preocupação com a articulação
interna entre descritores e itens das provas,
com vistas à sua coerência e à sua
consistência, foi determinada pelo objetivo
de avaliar, com mais rigor, o que os alunos
realmente sabem e o que lhes falta alcançar
a cada etapa conclusiva de nível ou ciclo
de escolarização.
V – Relações entre recursos expressivos
e efeitos de sentido;
VI – Variação linguística.
Temas e Descritores da Matriz de
Referência de Matemática - SAEB / Prova
Brasil
A Matriz de Referência de Matemática é
apresentada em duas dimensões. Em uma
são expressos os temas relacionados a cada
área do conhecimento e, em outra, são
descritas as habilidades a serem
desenvolvidas ao longo de cada ciclo, e
que resultam nos descritores avaliados nos
testes. São quatro os temas da matriz de
Matemática:
I – Espaço e Forma;
II – Grandezas e Medidas;
III – Números e Operações /Álgebra e
Funções;
IV – Tratamento da Informação.
Tópicos e Descritores da Matriz de
Referência de Língua Portuguesa - SAEB /
Prova Brasil
As matrizes de Língua Portuguesa do
SAEB e da Prova Brasil estão estruturadas
da seguinte forma: na dimensão objeto do
conhecimento, foram elencados seis
tópicos, conforme disposto a seguir; na
dimensão competência, foram elaborados
descritores referentes a cada tema ou
tópico.
I – Procedimentos de leitura;
II – Implicações do suporte, do gênero
e /ou do enunciador na compreensão do
texto;
III – Relação entre textos;
IV – Coerência e coesão no
processamento do texto;
(C) ENEM (Exame Nacional do Ensino
Médio)
FONTE:
INEP
(http://
www.enem.inep.gov.br/enem.php)
Criado em 1998, o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) tem o objetivo de
avaliar o desempenho do estudante ao fim
da escolaridade básica. Podem participar
do exame alunos que estão concluindo ou
que já concluíram o ensino médio em anos
anteriores.
O Enem é utilizado como critério de
seleção para os estudantes que pretendem
concorrer a uma bolsa no Programa
Universidade para Todos (ProUni). Além
disso, cerca de 500 universidades já usam
o resultado do exame como critério de
43
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
seleção para o ingresso no ensino superior,
seja complementando ou substituindo o
vestibular.
(D) ENCCEJA (Exame Nacional para
certificação de competências de jovens e
adultos)
O principal objetivo do ENCCEJA é
avaliar as habilidades e competências
básicas de jovens e adultos que não
tiveram oportunidade de acesso à
escolaridade regular na idade apropriada.
Dessa forma, o participante se submete a
uma prova e, alcançando a média mínima
exigida, obtém a certificação de conclusão
daquela etapa educacional.
O exame também se propõe a oferecer
às secretarias de Educação uma avaliação
que lhes permita aferir os conhecimentos e
habilidades dos participantes no nível de
conclusão do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio.
Espera-se ainda, por meio do
ENCCEJA, construir um indicador
qualitativo que possa ser incorporado à
avaliação de políticas públicas da
Educação de Jovens e Adultos.
(E) Programa Internacional de
Avaliação de Alunos – PISA
FONTE: INEP (http://www.inep.gov.br/
internacional/pisa/)
O PISA (Programme for International
Student Assessment) é um programa
internacional de avaliação comparada, cuja
principal finalidade é produzir indicadores
sobre a efetividade dos sistemas
educacionais, avaliando o desempenho de
alunos na faixa dos 15 anos, idade em que
se pressupõe o término da escolaridade
básica obrigatória na maioria dos países.
44
Esse programa é desenvolvido e
coordenado internacionalmente pela
Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE),
havendo em cada país participante uma
coordenação nacional. No Brasil, o PISA é
coordenado pelo INEP – Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais
“Anísio Teixeira”.
As avaliações do PISA incluem
cadernos de prova e questionários e
acontecem a cada três anos, com ênfases
distintas em três áreas: Leitura,
Matemática e Ciências. Em cada edição, o
foco recai principalmente sobre uma dessas
áreas. Em 2000, o foco era na Leitura: em
2003, a área principal foi a Matemática;
em 2006, a avaliação a ênfase foi em
Ciências.
Alguns elementos avaliados pelo PISA,
como o domínio de conhecimentos
científicos básicos, fazem parte do
currículo das escolas, porém o PISA
pretende ir além desse conhecimento
escolar, examinando a capacidade dos
alunos de analisar, raciocinar e refletir
ativamente sobre seus conhecimentos e
experiências, enfocando competências que
serão relevantes para suas vidas futuras
3. Alguns aspectos relacionados à
Avaliação
LSão diversos e complexos os aspectos
relacionados à Avaliação, mas elegemos
três sobre os quais nos debruçaremos. São
eles: (a) mensurar o progresso do aluno
(sob o ponto de vista do próprio aluno ou
do professor), (b) permitir ao professor
verificar a eficiência e eficácia das
estratégias de ensino e (c) viabiliza a
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
avaliação interna ou externa de uma
instituição de ensino.
3.1. Mensurar o progresso do aluno
Sabemos o quanto é difícil convencer os
alunos que ele é parte integrante e grande
interessado, ao menos deveria ser, de um
processo de ensino-aprendizagem.
Em geral, os alunos acreditam que as
competências e habilidades já adquiridas
são suficientes para dar conta de todas as
situações-problemas (didáticas ou adidáticas) que virão a se defrontar. Estão
sempre ansiosos em saber o final do
processo e poucos têm consciência da
necessidade de passar por várias etapas
para então ter desenvolvida a capacidade
de articulação entre a técnica, o
conhecimento e a análise crítica; dessa
forma serão criarão autonomia e
futuramente serão capazes de selecionar,
identificar e analisar.
É para o professor um grande desafio
conduzir seus alunos a esse status de
autonomia, à obtenção desse grau de
consciência. Utopia? Talvez! Mas creio
ser necessário que enxerguemos como um
ideal possível de ser alcançado.
É imprescindível que o professor tenha
plena consciência das competências e
habilidades que a disciplina que ministra
busca “criar” em seus alunos, pois, só
assim, estará apto a conduzir suas
estratégias de ensino a fim de alcançá-las.
planejamento consiste em:
Analisar conhecimentos não adquiridos,
e traçar estratégias para minimizar
obstáculos encontrados no processo de
ensino-aprendizagem.
Traçar metas a serem alcançadas e
prazos (estimando tempo de realização).
Criar instrumentos de acompanhamento
do processo (como identificar as
dificuldades encontradas pelos alunos ao
tempo e não apenas ao final do processo).
Precisamos avaliar o processo e não
apenas os resultados. Mas se temos
resultados, não podemos deixar de analisálos sob a óptica de análise crítica,
destrinchando-os e procurando entender os
pontos fortes e fracos do processo. A forma
como os acertos e os erros se apresenta nas
avaliações dão ótimos indícios de como replanejar.
3.2. Permitir ao professor verificar a
eficiência e eficácia das estratégias de ensino
Segundo Luckesi (1995, p.43), “a
avaliação precisa ser o instrumento do
reconhecimento dos caminhos percorridos
e da identificação dos caminhos a serem
perseguidos”.
Não podemos olvidar que qualquer
avaliação do processo ensinoaprendizagem, estará evidenciando de
alguma maneira a eficácia desse processo;
e por se tratar de um processo não
podemos deixar de observá-lo como tal.
Mas deve valer-se das avaliações para
realizar um planejamento estratégico. Esse
45
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 1: Elementos do processo ensino-aprendizagem
Fonte: Elaborado pelo autor em São Paulo 2012.
Não se pode pensar em um processo
sem a presença de material a ser
transformado (conteúdos – transposição
didática), sem métodos e instrumentos que
operem sobre esse material (estratégias de
ensino – objetivando minimizar obstáculos
e criar situações de aprendizado) e sem
acompanhamento das fazes do processo
(avaliação – como saber se cada etapa do
processo está realizando as transformações
no objeto necessárias para obter o
resultado final). Após a realização do
processo espera-se obter ao final o produto
almejado (no caso do processo ensinoaprendizagem, espera-se alcançar o
aprendizado).
O objetivo é tornar o processo de
ensino-aprendigem não apenas eficiente
(trata de como fazer – fazer certo aquilo
que se propõe a fazer; produzir sem erros
ou produzir com menos recursos), mas
também eficaz (trata do o que fazer; de
fazer as coisas certas na hora mais
acertada, é escolher qual caminho a ser
seguido).
46
3.3 Viabiliza a avaliação interna ou
externa de uma instituição de ensino
Por fim, destacamos que a avaliação,
elemento presente em um processo de
ensino-aprendizagem, viabiliza a avaliação
interna ou externa de uma instituição de
ensino. Analisaremos cada uma dela a
seguir.
- Avaliação Interna: Permite
diagnosticar pontos fortes e fracos,
no que diz respeito a avaliar as
competências e habilidades
desenvolvidas ou não nos alunos e,
portanto permite que se trace um
perfil do educando. Acima de tudo,
viabiliza que se levantem as
dificuldades e assim fomentar a
discussão a respeito de meios para
superá-las.
- Avaliação Externa: Viabiliza um
Diagnóstico. Por meio dos
resultados dos alunos nas
Avaliações Externas e comparar
com os resultados das Avaliações
Regulares elaboradas e aplicadas
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
pelos professores da própria Escola.
Logo, é possível e desejável que se
trace um comparativo objetivando
estabelecer quais competências e
habilidades devem ser focadas em
uma etapa replanejamento; além
disso, se trace estratégias para
manutenção dos índices já
superiores à média do universo
pesquisado e melhoria dos índices
abaixo dessa média.
Essas três finalidades apresentadas e
discutidas para a avaliação, devem permear
nosso perfil de educando. Objetivar que a
avaliação seja bússola para nossas ações
como docentes é exercer essencialmente
nosso papel na sociedade.
4. Coordenação Pedagógica e Corpo
Docente: atuação conjunta e
articulada
Para que a os resultados da Avaliação
Externa do processo ensino-aprendizagem
sejam utilizados de maneira relevante por
cada unidade escolar e possa, por fim,
servir para a elaboração de um
planejamento estratégico de melhoria, fazse necessário uma ação articulada entre
coordenação e corpo docente para que,
com vistas às habilidades e competências
reconhecidamente necessárias, porém, não
necessariamente presentes, tornem-se alvo
da formação continuada. Sendo assim os
principais atores do processo educativo
estarão envolvidos a fim de minimizar seus
pontos fracos e maximizar qualidades.
Dessa forma, a formação docente
apresenta-se centrada na escola e pode-se
notar que ela advém de um processo
colaborativo no qual há: discussão de
estratégias e conteúdos, bem como
propósitos da formação (IMBERNÓN,
2004). Destacamos aspectos desse
paradigma colaborativo: foco do processo
“ação-reflexão-ação 5”, o qual deve estar
presente na escola e esta deve se dispor a
modificar sua própria cultura; busca pela
interdependência profissional e espírito
colaborativo também são aspectos
importantes; a colaboração passa a ser uma
estratégia de gestão; há necessidade de
ampliação da gestão escolar; respeito às
habilidades e capacidades em um processo
de “empowerment”.
O professor deve ser visto como sujeito
do processo de formação, pois ele deve
envolver-se no processo de forma que suas
necessidades e aspirações estabeleçam as
metas e currículo de formação. Segundo
Elliot (1990, p.245 apud IMBERNÓN, F.,
2004, p.82):
Nessa perspectiva da formação permanente
do professor centrada na escola, a melhoria
da prática profissional baseia-se, em última
instância, na compreensão que os próprios
professores têm de seus papéis e tarefas
enquanto tais e não na que se requer a partir
de um ponto de vista objetivo por um
sistema impessoal.
Diante disso, é necessário criar uma
metodologia de trabalho que possibilite aos
professores e direção/coordenação atuarem
como protagonistas, sujeitos ativos no
processo de identificação, análise e
reflexão dos problemas existentes na
escola e na elaboração de propostas para
sua superação. Lembrando de estabelecer
prioridades de plano de ação a curto,
médio e longo prazo (GEGLIO, 2006).
5. Ação-reflexão-ação: É um processo continuo e dialético, uma vez que após cada ação praticada requer que se faça uma
reflexão sobre as metas alcançadas, eficácia dos procedimentos e posterior ação corretiva do que pôde causar desvio e,
consequentemente, comprometer as metas traçadas, ou seja, impedindo que as mesmas sejam alcançadas satisfatoriamente.
47
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Portanto o coordenador pedagógico
deve: (a) buscar compreender a realidade
da escola em que atua – conhecer o corpo
discente e docente, a comunidade e direção
(b) identificar os problemas prementes analisar e investigar suas raízes (origem) e
causas; envolver o corpo docente na
reflexão crítica e (c) criar metodologia para
o trabalho – elaborar propostas a fim de
solucionar, ou quiçá minimizar, os
problemas levantados. Cabe ao
coordenador valorizar as experiências,
projetos positivos em desenvolvimento na
escola e compartilhar com todos,
estimulando a participação dos docentes e,
por valer-se da experiência positiva, criar
outros projetos que auxiliam alcançar as
metas estabelecidas em conjunto.
intrínsecas ao seu ofício” (CELESTINO,
2006, p.76), essas “competências
profissionais, constroem-se em formação,
ao sabor da navegação diária de um
professor, de uma situação de trabalho à
outra” (LE BOTERF, 1997). Logo, o
trabalho coletivo é parte integrante dessa
formação, uma vez que viabiliza a troca de
experiências e a reflexão da prática
docente (CHRISTOV, 2005). Reiteramos
que esses momentos de trabalho coletivo
acrescentam muito à formação do
professor, dado que o saber docente é “[...]
um saber plural, formado pelo amálgama,
mais ou menos coerente, de saberes
oriundos da formação profissional e de
saberes disciplinares, curriculares e
experienciais” (TARDIF, 2002, p.36).
Com vistas nisso, o coordenador
pedagógico e o corpo docente não podem,
quer no intuito conhecer sua realidade ou
quer na ânsia de identificar problemas
educacionais, olvidar dos dados advindos
das Avaliações Externas Governamentais;
são essas avaliações que municiarão a
equipe escolar de elementos
imprescindíveis para elaboração de um
planejamento estratégico. A respeito disso,
Setoguti e Zabatta (2007, p.105) escrevem:
Dessa maneira a escola se torna uma
“escola reflexiva”, pois continuamente está
refletindo sobre si e estimulando aqueles
que nela trabalham reflitam sobre seu
papel profissional e de que maneira
contribuem para o processo heurístico,
simultaneamente avaliativo e formativo,
inerente
a
uma
“escola
reflexiva” (ALARCÃO, 2003).
A busca pela qualidade de ensino pressupõe
a utilização de diagnósticos corretos com
base, no caso brasileiro, em análise de dados
coletados pelos censos escolares, por
pesquisas domiciliares como a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios e por
avaliações externas de aprendizado (KLEIN,
2006).
A análise de Avaliações Externas, bem
como o planejamento frente aos
diagnósticos apresentados pelas mesmas, é
elemento importante e de grande valia na
formação continuada do professor. O
professor, profissional da educação, “deve
desenvolver as competências necessárias e
48
5. Considerações Finais
Pode-se notar que o Brasil insere-se no
contexto mundial ao promover a avaliação
de sua Educação Básica, no entanto, há que
se destacar a necessidade se implementar
políticas públicas que se valham desses
resultados, a fim que eles não se tornem
apenas índices, mas sim que estes possam
ser utilizados como norteadores de ações
governamentais que viabilizem a melhoria
de nossa educação.
Outro aspecto relevante é utilizar os
índices obtidos nas avaliações para
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
discussão de ações na unidade escolar,
local em que a coordenação pedagógica e
os docentes podem e devem analisar esses
índices a fim de traçar um diagnóstico do
processo de ensino-aprendizagem. O
coordenador pedagógico pode e deve
liderar os docentes nas ações de mudança,
na condução do processo uma vez que ele
tem a visão desse processo como um todo.
Ele deve propor e organizar debates,
estabelecer uma sistematização de estudo
coletiva e ser o ‘fiel da balança’, ou seja,
aquele que garante que as ações traçadas
sejam exequíveis e coerentes com o projeto
político-pedagógico da escola e que
viabilizem a manutenção dos bons
resultados e também sua melhoria, além de
buscar meios de minimizar os pontos
fracos.
necessidades especificas de seus liderados
e, portanto, empreender em seu
planejamento momentos em que,
intencionalmente, aborde as fraquezas dos
componentes do grupo e do coletivo. O
coordenador pedagógico deve munir os
professores de habilidades e competências
imprescindíveis à sua atuação como
educador, e, portanto, é necessário que
indique ou traga aos seus liderados meios
para essa qualificação, ou ainda que se
valha de meios próprios (atuando como
formador em um processo de qualificação).
Corrobora com esses aspectos citados a
necessidade de que o professor tenha
elementos para analisar sua própria pratica
à luz das contribuições dos pensadores da
educação.
Mas não se pode esquecer que esse
mesmo coordenador precisa atentar às
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50
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Angela Rizzo1
A importância das redes sociais no relacionamento
interpessoal de alunos do ensino a distância
Recebido em: 03/11/2012 - Aprovado em: 12/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Este artigo tem a finalidade de abordar a
importância das redes sociais no
relacionamento interpessoal de alunos de
cursos superiores a distância. As redes
sociais podem ser utilizadas pelos
professores para incentivar os alunos a se
conhecerem melhor, com a finalidade de
formação de equipes de trabalho por
afinidade, visto que possibilita um maior
conhecimento do seu colega de curso,
podendo até criar relações amistosas entre
eles, o que facilita a interação para o
relacionamento nos estudos. Para abordar
essas questões foi feita uma pesquisa, por
meio de um questionário com alunos de um
curso superior a distância. A fundamentação
teórica foi baseada na teoria da psicologia
sócio-histórica de Lev S. Vygotsky, in
LUCCI (2006).
Palavras-chave: Redes sociais, interação,
educação a distância.
Twiter, entre outras.
1. Introdução
As redes sociais virtuais surgiram há
mais ou menos 15 anos, com o pioneiro
Sixdegrees em 1997, viabilizando a
interação entre pessoas na WEB, mas após
três anos, por dificuldades em angariar
recursos financeiros deixou de prestar
serviço à comunidade. Após esse episódio,
no período de 2003 a 2006 surgiram
algumas redes sociais que conseguiram
muito sucesso, algumas atingindo milhões
de usuários como Orkut, Facebook, MSN,
Vista essa história, notamos que a WEB
tem beneficiado pessoas de todo mundo
com sites de relacionamento, ambientes de
informação e de aprendizado. As redes
sociais virtuais possibilitam o encontro de
pessoas e um relacionamento interpessoal
mais informal na troca de informações,
facilitando, assim, a interação na
participação da vida e, por conseqüência
um maior conhecimento do outro.
A EAD – Educação a distância leva a
possibilidade de formação para os
1Psicóloga
clínica desde 2009. Mestre em Educação, Psicóloga e Pedagoga. Especialista em Educação a Distancia e em
Análise Psicodramática na Escola Paulista de Psicodrama (área clínica). Docente do Ensino Superior desde 2002,
ministrando disciplinas presenciais em cursos de tecnologia e bacharelado, bem como em Educação a Distância. Docente em
nível de Pós Graduação desde 2011. Orientadora de Projetos e de atividades complementares. Possui experiência na área
administrativa como Assistente de Direção (área pedagógica). Participou da construção da CPA – Comissão Própria de
Avaliação Institucional na Faculdade Radial, atual UniRadial, de 2004 a 2009. Coordenou Capacitação Docente do Colégio e
Faculdade Anchieta de 2006 a 2010.
51
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
indivíduos das mais restritas regiões do
país e do mundo. Este artigo pretende
abordar a questão da importância das redes
sociais na EAD, por meio da troca de
informações pessoais, torna o aluno mais
próximo do seu colega de curso e
proporciona identificações motivando-os
nas escolhas dos colegas que farão parte de
seus grupos de estudo e desenvolvimento
de projetos ao longo do curso, seja ele qual
for.
Nesta pesquisa, especificamente, foi
feito um questionário com a intenção de
obter uma amostragem de alunos do Curso
Superior de Tecnologia em Logística em
Educação a Distância da Faculdade
Anchieta, atual Anhanguera, na cidade de
São Bernardo do Campo, SP. A idéia é de
verificar se esses alunos se relacionam em
redes sociais e se isso facilita ou não a
interação e o relacionamento entre os
colegas de curso. Acredita-se que a
relevância dessa pesquisa ajudará docentes
da EAD a motivarem seus alunos ao
encontro com os colegas por meio das
redes sociais virtuais, visto que eles não se
encontram no dia-a-dia para conheceremse, tornando o trabalho do docente mais
fácil no sentido de que os próprios alunos
possam formar seus grupos de trabalho,
por afinidades.
Portanto, a ideia é que as redes sociais
possam facilitar o conhecimento do colega
de curso, possibilitando um envolvimento
entre os alunos e facilitando o
conhecimento do outro e a afinidade para
os agrupamentos. Aqui cabe lembrar, que a
reflexão por meio das trocas entre os
parceiros são momentos significativos no
processo ensino-aprendizagem e que,
segundo a psicologia sócio-histórica2 , que
2
tem como base a teoria de Vygotsky
(1996), concebe o desenvolvimento
humano a partir das relações sociais que a
pessoa estabelece no decorrer da vida.
Nesse referencial, o processo de ensinoaprendizagem também se constitui nas
relações nos diversos contextos sociais,
sendo os mais atuais, as redes sociais
virtuais.
A EAD é um cenário novo no mundo
educacional e necessário devido as grandes
oportunidades de estudo que proporciona à
sociedade, visto que nem todos tem acesso
físico no tempo disposto pelas
universidades no estudo presencial.
Portanto cada estudo referente a EAD é
benéfico e agrega valor aos profissionais
que se dedicam a essa forma de
propagação do conhecimento. O professor
da EAD pode intervir com situações que
atribuam significado aos alunos, tornando
a relação amistosa e histórica, entre eles,
pois conforme Vygotsky (1982), mais que
superar os unilateralismos na análise da
relação sujeito-objeto, o importante é
buscar compreender as especificidades
dessa relação quando sujeito e objeto são
históricos e quando a relação entre eles
também é histórica.
Observa-se que na abordagem
Vygotskyana o homem é visto como
alguém que transforma e é transformado
nas relações que acontecem em uma
determinada cultura. O que ocorre não é
uma somatória entre fatores inatos e
adquiridos e sim uma interação dialética,
que se dá, desde o nascimento, entre o ser
humano e o meio social e cultural em que
se insere. Assim é possível constatar que o
ponto de vista de Vygotsky (1982) é que o
desenvolvimento humano é compreendido
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=002 acesso em 03/02/2012.
52
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
não como a decorrência de fatores isolados
que amadurecem, nem tampouco de fatores
ambientais que agem sobre o organismo
controlando seu comportamento, mas sim
como produto de trocas recíprocas que se
estabelecem durante toda a vida entre
indivíduo e meio, cada aspecto influindo
sobre o outro.
Observa-se que nossa história é
construída a partir da convivência com o
outro. Em um curso de EAD essa
convivência fica comprometida e por
conseqüência sua história universitária
também, visto que o contato com o outro
está limitado e a relação em uma rede
social pode ajudar na sua aprendizagem a
medida que ocorram identificações com
sujeitos e suas histórias.
2. Hipóteses
Uma rede social é uma estrutura
composta por pessoas ou organizações, a
qual possibilita aos usuários um
relacionamento mais afetivo, visto que
compartilharam de informações sobre a
vida particular dos colegas de curso.
As instituições de ensino possuem
locais para a projeção da EAD, que são
plataformas de ensino, das quais podemos
destacar o MOODLE e o TELEDUC.
Essas plataformas possuem ferramentas
para o desenvolvimento das aulas, mas são
espaços limitados em aspectos da
particularidade do aluno. Já em uma rede
social, o aluno pode postar fotografias,
comentar suas experiências de vida, enfim,
mostrar seu estilo de vida e conhecer o dos
seus colegas. Foi pensando na
possibilidade de aproximação dos alunos
que surgiu a idéia de trabalhar em um
artigo sobre a possibilidade de motivar os
alunos a trocarem informações nas redes
sociais e com isso possibilitar o
conhecimento dos seus pares.
3. Justificativa
Atualmente os jovens estão muito
influenciados pelo uso da internet e
envolvidos com seus colegas em redes
sociais, tipo Orkut, Facebook, Twiter,
Linkedin, MSN, entre outras. O docente
por sua vez, também participa de uma rede
social, na qual seus alunos podem ter
acesso. Esse contato aproxima as pessoas,
é o que entendo por estar junto virtual,
compartilhar da vida.
Aproveitando-se deste estar junto
virtual, poderíamos introduzir textos,
filmes, fotos, situações de experiência de
vida, entre outros, com a finalidade de
proporcionar discussões a respeito de
assuntos acadêmicos o que despertaria o
interesse dos alunos pelo conhecimento.
A EAD é uma forma de adquirir
conhecimento pela internet, isso faz com
que os docentes necessitem entrar no
mundo virtual dos alunos para acompanhálos. Participar de redes sociais com eles é
uma forma de acompanhá-los e motivá-los
a conhecerem-se melhor para a formação
dos grupos, visto que quase não se
encontram no ambiente presencial
(somente 20% do curso).
Escrever sobre o uso de Redes Sociais
na EAD vem ao encontro de uma nova
comunicação e ajuda os docentes a
encontrarem outras ferramentas de
motivação para o aluno com este perfil.
53
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
4. Metodologia
A pesquisa exploratória será a
metodologia utilizada neste trabalho, pois a
idéia é proporcionar maior familiaridade
com o problema, objetivando torná-lo mais
claro e construir hipóteses. Irá envolver
levantamento bibliográfico; entrevistas
com pessoas que tiveram experiências
práticas com o problema pesquisado;
análise de exemplos que estimulem a
compreensão (GIL, 1996).
A pesquisa foi feita por meio da
aplicação de um questionário em uma
turma de 47 alunos com um retorno de 22
questionários respondidos, perfazendo
46,8% do total de alunos da turma. A
Faculdade possui 113 alunos matriculados
no Curso Superior de Tecnologia em
Logística - modalidade EAD, sendo um
referencial de 19,4% do total de alunos na
amostragem desta pesquisa.
Foram feitos os seguintes
questionamentos aos alunos:
1. Você está cadastrado em uma rede
social? (sim, não, porque) Se sim,
desde quando?
2. Quais redes sociais mais utilizam?
3. Qual o motivo da escolha por
essa(s) rede(s) Social (is)?
4. Q u a n t a s v e z e s p o r s e m a n a
disponibilizam para se relacionar na
rede social?
5. Considera que a rede social é
importante para conhecer melhor os
colegas de curso? (sim, não, porque).
6. Qual a importância da rede no
relacionamento interpessoal com os
colegas?
54
7. Na rede social, o que chama mais
atenção, com relação ao
relacionamento interpessoal geral?
8. Você considera que a rede social
seria útil para uso dos docentes da
EAD? (sim, não, porque).
9. E m s u a o p i n i ã o , p a r a q u e
finalidades poderiam utilizar a rede?
Observa-se que o artigo tem a
característica de uma pesquisa qualitativa,
pois o questionário aborda os dados
subjetivos, e quantitativos, pois investiga o
relacionamento interpessoal, a interação e
motivação, apresentando partes que
elucidam a rede social mais utilizada por
esses alunos.
O desenho deste processo se apoia nos
elementos básicos da pesquisa segundo
LUNA (2002, p. 16). A partir dos seus
conceitos foi verificado:
1. Determinação das informações
necessárias.
2. Busca de bibliografia sobre redes
sociais.
3. Definição do conjunto de ações que
produzam essas informações.
4. Leitura do material bibliográfico
para fundamentação teórica e aplicação
de questionário.
5. Produção de respostas.
6. Aplicação de questionários para os
alunos de uma turma do Curso de
Logística a Distância da Faculdade
Anchieta, em São Bernardo do Campo,
com a finalidade de verificar quais as
redes sociais mais utilizadas por eles e
o que pensam sobre a importância ou
não de conhecer melhor seu colega de
curso acessando esses sites de
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
relacionamento. Esta pesquisa foi
realizada no mês de novembro de 2011.
7. Análise dos resultados.
8. A análise dos resultados foi feita
pela tabulação das respostas pela autora
e analisada como demonstrado abaixo
nos gráficos.
5. Análise da Pesquisa
Os dois gráficos abaixo (F1 e F2)
mostram que 63% dos alunos que
participaram da pesquisa estão cadastrados
em uma rede social e que 13% deles, ou
seja, a maioria, somente há três anos.
Podemos deduzir que poucos são os alunos
deste curso de EAD que se relacionam em
redes sociais.
Figura 1 – desenvolvida pela autora em 11/2011
Figura 2 – desenvolvida pela autora em 11/2011
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Observa-se no gráfico abaixo (Figura 3)
que as redes sociais mais utlizadas por
esses alunos são, Facebook e Orkut com
36% das respostas e o MSN com 22%.
Aqui podemos observar que os alunos
procuram um relacionamento mais social
do que de trabalho (Linkedin) ou em voz/
vídeo (Skype).
Figura 3 – desenvolvida pela autora em 11/2011
Questão 4 – Qual o motivo da sua
escolha por essa rede social?
Dentre as respostas, obtivemos as
seguintes: pesquisar; procurar amigos e
conhecer as novidades; pela praticidade;
conversar com pessoas; simplesmente
contato de trabalho; ober um e-mail e
utilizar mensagens; facilidades;
compartilhamento incomum com amigos e
família; facilidades de fazer amigos; ter
notícias e reencontrar velhos amigos;
utilização mais fácil e rápida; fazer
amigos; contato com conhecidos ou não;
facilidade para encontrar amigos e
comunicar-se em diferentes horários;
contatos.
Confirma-se aqui que a maioria dos
alunos buscam na rede social um
56
relacionamento social para fazer amigos ou
reencontrar antigos amigos, o que constata
a t e o r i a Vy g o t s k y a n a s o b r e o
desenvolvimento humano ser
compreendido como produto de trocas
recíprocas que se estabelecem durante toda
a vida, entre indivíduo e meio, cada
aspecto influindo sobre o outro.
No gráfico abaixo (Figura 4), observase que 13% dos alunos acessam a rede
todos os dias e a mesma porcentagem
somente uma vez por semana, ficando a
média de acessos ou quase nunca em 9%.
Essa análise nos mostra que poucos alunos
disponibilizam seu tempo para
relacionamentos na rede social.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 4 – desenvolvida pela autora em 11/2011
Uma amostra interessante é definida no
gráfico abaixo (Figura 5), 54% do grupo de
alunos que participaram da pesquisa não
acham que a rede social é importante para
conhecer seu colega de curso e 40 %
acham que
contradição
apresentadas
indica que
pesquisa.
sim. Observa-se aqui uma
com relação as respostas
na questão quatro o que
é necessário aprofundar a
Figura 5 – desenvolvida pela autora em 11/2011
Questão 7 – Se sim, escreva um pouco
sobre essa importância no seu
relacionamento interpessoal com seus
colegas.
Dos 40% que acreditam que a rede
social é importante para o relacionamento
interpessoal com seus colegas de curso,
observa-se as seguintes explicações: como
57
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
o curso que fazemos é em EAD, quase não
conversamos nem nos vemos, nessas redes
podemos conversar e compartilhar várias
coisas; por termos acesso ao perfil dos
colegas, assim conhecemos um pouco mais
de seus costumes e valores; porque com
um dia por semana de aula, não temos
tempo de interagir com os colegas. As
pessoas se expõe um pouco mais em suas
redes sociais; gosto e perfiro conversar
olhando nos olhos; para termos mais
contato com os colegas e tirar algumas
dúvidas sobre o curso; normalmente nos
encontros presenciais nos perocupamos
mais com a aula e não temos tempo para as
pessoas em particular; importante para
além do estudo, obter algumas
informações; acho importante porém,
estamos sufocados com tantas ferramentas
eletrônicas disponíveis; podemos conversar
com várias pessoas em vários locais ao
mesmo tempo.
Observa-se que a importância aqui
relatada pelos alunos está relacionada com
as experiências de vida, valores, interação
e trocas de conhecimento. O que vem
c o n f i r m a r a t e o r i a Vy g o t s k y a n a ,
novamente, de que o desenvolvimento
humano acontece a partir das relações
sociais que a pessoa estabelece no decorrer
da vida.
Questão 8 – O que na rede social mais
lhe chama a atenção, com relação ao
relacionamento interpessoal?
As respostas apresentadas foram: nas
redes sociais nos atualizamos; a rapidez
58
com que a informação se propaga;
conhecer quais os ambientes que as
pessoas freqüentam; se há compatibilidade
familiar entre os colegas; velocidade na
comunicação para os que a acompanham
diariamente; a acessibilidade; a vida das
pessoas, composta dos fatos de seu dia-adia, sua família, passeios e lazer; podemos
trocar idéias e informações; facilidade na
comunicação; poder mentir sem ninguém
lhe questionar; às vezes é bom, mas não
dependo desta ferramenta; para localizar
amigos distantes; porque tenho pessoas em
outro estado e me comunico melhor; a falta
de sentimento e atenção, principalmente
pela razão de não observar o tempo que o
outro está disponibilizando.
Observa-se nessas respostas que os
alunos buscam um relacionamento rápido,
no qual possam compartilhar informações
e ocorrências pessoais com amigos
distantes ou até mesmo com familiares,
utilizando-se da rede social para ampliar
seus contatos.
No quadro abaixo (Figura 6),
observamos que a maioria dos alunos diz
que a rede social não seria útil aos
docentes, 72% deles e 27% diz que seria
útil. Observa-se nesta pesquisa que a
relevância da resposta negativa sobre essa
questão não foi investigada, por não estar
nas propostas deste artigo, porém desperta
uma curiosidade a respeito desse assunto.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 6 – desenvolvida pela autora em 11/2011
A questão 10 – Se sim, eles poderiam
utilizar a rede para que finalidade?
5. Conclusão
As respostas sobre essa questão foram:
divulgar informações sobre o curso ou as
matérias; para conhecer melhor seus
alunos, assim também teriam mais contato;
orientar os alunos; bate-papo; comunicação
mais rápida com os colegas; utilizar como
fonte de informação e relacionamento; a
rede social é algo para se distrair, não acho
aplicável em curso ou para estudo; a
plataforma de EAD basta para o curso.
Encerrando as observações adquiridas
com esta pesquisa, verifica-se, nas
respostas dos alunos que as redes sociais
são locais para fazer amigos ou reencontrar
antigos contatos. Poucos alunos
disponibilizam tempo para entrar na rede
social todos os dias, somente 13%, mas
54% deles acham que a rede social é
importante para conhecer seu colega de
curso.
Observa-se nessas respostas que os
alunos acreditam que a rede social possa
proporcionar um melhor conhecimento
deles pelos docentes, que na rede teriam
mais contato com o professor, poderiam
bater papo ou esclarecer dúvidas, porém
não acham aplicável para o curso e isso é
relevante, pois nos cursos a distância existe
uma plataforma de estudo que satisfaz as
necessidades educacionais.
Com relação à importância da rede
social para os alunos de EAD, tema central
deste artigo, observa-se que está
relacionada com o conhecimento do colega
sobre fatos pessoais, como, experiência de
vida, valores, trocas de conhecimento.
Neste caso, pode-se afirmar que as redes
sociais aproximam as pessoas e facilitam o
relacionamento, pois na medida em que se
conhece o outro se estabelece uma
afinidade, aumentando assim o interesse
em aproximar-se desta ou daquela pessoa,
para trocar conhecimento ou informações,
59
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
melhorando o relacionamento interpessoal
entre os colegas de curso.
são explicações para entendimento do que
estão aprendendo, não o contato social.
Confirma-se a teoria Vygotskyana de
que o desenvolvimento humano acontece a
partir das relações sociais que a pessoa
estabelece no decorrer da vida.
A relevância desta pesquisa está na
clareza das respostas dos alunos, que
demonstram a importância das redes
sociais para seus relacionamentos e que
não são significativas para disseminação de
conhecimento, somente de informações.
Com essa pesquisa, observa-se, ainda
que o aluno não achasse interessante
adicionar professores as suas redes sociais,
visto que preferem ter um contato maior
com os colegas e também porque o contato
com professores se dá nas plataformas de
EAD. Aqui cabe ressaltar que a relação
professor-aluno está no âmbito da
disseminação do conhecimento e para isso
existe local específico, ficando assim
preservada do social, estando claro, nas
respostas, que o que esperam do docente
Cabe aos docentes incentivar e aderir às
redes de seus alunos para levar e discutir
informações sobre atualidades e
principalmente para motivá-los no sentido
de melhorar e ampliar os relacionamentos
interpessoais entre os colegas de curso,
mostrando que a caminhada acadêmica
será muito mais gratificante se for coletiva.
Referências Bibliográficas
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social: 5º edição. Atlas, São Paulo,
1999.
LUCCI, M. A. A proposta de Vygostsky: A psicologia sóciohistorica. Artigo publicado na
Revista de currículum y formación del profesorado, Universidade de Granada, Espanha, 2006.
LUNA, S.V. Planejamento de pesquisa. Educ, São Paulo, 2002.
VYGOTSKY, L.S. Obras Escogidas: problemas de psicologia geral. Gráficas Rogar.
Fuenlabrada. Madrid, 1982.
VYGOTSKY,L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. 5.ed. Martins Fontes, São Paulo, 1996.
SITES:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000789327 acesso em 22 de julho
de 2011.
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=002 acesso em 03/02/2012.
http://www.ugr.es/~recfpro/rev102COL2port.pdf acesso em 03/02/2012.
60
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Robert Martins de Souza1
A educação superior e as novas tecnologias:
Comprometimento de docentes e discentes
Recebido em: 03/11/2012 - Aprovado em: 12/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
A educação é um dos temas mais
recorrentes em toda a história do mundo. É
sabido que os grandes pensadores
incentivaram seus pupilos a difundirem os
conhecimentos adquiridos, incrementaram o
aprendizado, reescreveram os saberes
passados por seus professores tornando-se
eles mesmos os tutores de outras pessoas.
Ao longo do tempo o ensino começou a
ganhar metodologia didática, sendo seguido
e desenvolvido por outros discentes que
foram convertidos em docentes
posteriormente. Mais tarde o sistema
evoluiu para atender a necessidade de
alcançar as pessoas que ansiavam por
aprender, mas que não conseguiam, ou
porque estavam muito distantes ou porque
não tinham recursos suficientes para chegar
ao professor. Aprendendo a ensinar os
professores foram ao encontro aos alunos
por meio do sistema educacional a
distância, os sistemas de tecnologia da
informação agregaram mais poder de
transmissão do conhecimento, essa forma
de compartilhar os saberes ganhou adeptos
nas duas vertentes – discência e docência –
com velocidade impressionante e
atualmente a educação a distância alcança
proporções crescentes ao mesmo tempo em
1
que a qualidade acompanha esse
movimento.
Palavras-chave: Educação, tecnologia da
informação, discência e docência.
Abstract
Education is one of the most recurrent
themes in the history of the world. It´s
known that the great thinkers have
encouraged their pupils to disseminate the
acquired knowledge, enhance learning, this
rewrote the old knowledge. Their pupils was
become mentors to other people. The over
school began to gain teaching methods
being followed and developed by other
students later evolved them to deserve to be
teachers. Later the system evolved to meet
the people who were eager to learn but who
couldn´t because the insufficient resources
or too far away to meet the teacher. When
learned to teach the students education
system the distance was erased. According
to Alves, Barros and Okada (2009) the
information technology added more power
to transmit knowledge, this form of sharing
the knowledge earned adherents in two
sides - learning and teaching with
impressive speed and the distance earned
increasing with quality.
Robert Martins de Souza.
61
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Keywords: Education, information
technology, learning and teaching.
1. Introdução
O ensino no Brasil, depois da década de
80 em busca da adequação aos novos
rumos da economia mundial passou por
relevantes processos de transformação. Em
função do fenômeno da globalização que
afetou o mundo como um todo, mudou-se
a natureza do modus operandi do ensino de
uma forma geral e específica em todas as
suas escalas. Assim, nesta investigação o
foco será o ensino superior.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), promulgada em 1996,
reformou o método de ensino educacional.
Após este evento, o ensino em suas
diversas fases passou a considerar as
necessidades regionais, respeitando e
privilegiando a cultura local
(MARCHESSOU, 1996).
Em 1996 o
Ministério da Educação e Cultura - MEC
permitiu que a educação, em especial o
ensino superior, que até então privilegiava
uma pequena elite, fosse acessada por
outra camada da sociedade. Foi permitido
às faculdades promover um curso de dois
anos com status de curso superior – o
curso sequencial que hoje se consagra
como curso superior de tecnologia. A
busca por empregos melhores passou a ser
um sonho factível. Essa realização foi
possível porque esses cursos atenderam a
uma necessidade profissional que era
inserir o aluno no mundo midiático, a
mídia terciária - tecnologia. Além de
desenvolver habilidades e competências.
62
Os cursos que eram compostos pelas aulas
padrão traziam em seu planejamento a
obrigatoriedade de aulas em laboratório de
informática e atividades fora da sala de
aula que deveriam ser feitas pelo
computador e enviadas por um sistema
com a utilização da internet. Ferramentas
que até aquele momento não faziam parte
do universo de conhecimento daquele
contingente ingressante.
Assim, a educação, e as novas
tecnologias
tornaram-se
comprometimentos necessários aos
docentes e discentes. Na década de 80, a
globalização invadiu o mundo com a
tecnologia da informação e radicais
mudanças na economia, na administração,
nas ciências e como não poderia deixar de
ser na educação. Após a revolução
industrial, despontava com toda a sua força
a revolução do conhecimento como
consequência da revolução tecnológica. A
educação associada às ferramentas do
sistema de informação inovou o ensino
tradicional com o ensino virtual. O ensino
a distância passou a utilizar o meio de
comunicação virtual e os instrumentos
tecnológicos para alavancar a
aprendizagem e agregar valor ao método
de ensino presencial. A melhor forma de
atingir o sucesso desta modalidade de
ensino foi qualificar as partes envolvidas
transformando-os em tutores. Revolução
que a educação superior empreendeu para
propiciar empregabilidade e acesso ao
domínio tecnológico à população menos
privilegiada.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
O Brasil, conhecido como a nação do
futuro desde a década de 802 com a
expressão sacramentada na música pelo
grupo Legião Urbana, deu largos passos
nessa direção. No entanto, esse futuro não
vem sendo construído de forma
sustentável, nem tão pouco de modo
acelerado como se espera de um país com
193.067.7243 de habitantes. É necessário
que sejam criados critérios e políticas que
tragam à população a consciência
necessária para entregar-se completamente
e exigir a mesma proporção, em
contrapartida daqueles responsáveis pela
transferência de conhecimento. Essa
demanda não pode esperar o futuro, precisa
acontecer agora.
2. Políticas públicas educacionais
De acordo com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB) de 1996, a
reforma do ensino educacional teria seu
início para corrigir os problemas vigentes
até então. O que se esperava à época era
um modelo focado na forma de se lecionar
para corrigir o perfil vigente do mestre – o
único dono do saber – que sabedor de tudo,
com uma plateia passiva, sem opções, que
frequentava as aulas apenas para observar,
admirar. As perguntas poderiam ser feitas a
qualquer outra pessoa, menos “ao mestre”.
Na melhor das hipóteses as perguntas ao
docente ocorriam em momentos
‘extraclasse’, se o mestre entendesse como
prudente fazê-lo. Procedimento oposto ao
propalado pelos teóricos hoje que
incentivam a troca de informações como
2 Russo,
Renato. Lobbos, Daddo V. Bonfá, Marcelo. 1982.
3 IBGE,
estimativa de atualização diária.
meio mais produtivo de construir
conhecimento.
O processo de crescimento da
pedagogia e a evolução da relação entre
docentes e discentes vêm acontecendo
muito em função das tendências de
mercado, que exigem profissionais
qualificados.
2.1 - O percurso da evolução
Atualmente o mercado exige
profissionais cada vez mais qualificados e
competentes. Para atender tal demanda, as
instituições de ensino têm caminhado no
sentido do desenvolvimento de pessoas. Os
cursos formam ou selecionam professores
dedicados que empreendem esforços,
privilegiando a qualidade na formação
esmerada dos alunos.
Os alunos impedidos de comparecer
sistematicamente às salas de aula
presenciais, por já terem suas funções de
responsabilidade profissional optam pelos
cursos com uma carga de aula virtual por
motivos de logística. Esses estudantes não
precisam comparecer à unidade física da
instituição todos os dias ou em todos os
horários. Os cursos oferecem um sistema
virtual com apostilas que dá acesso do
trabalho ou da residência em qualquer dia e
horário. Antes da década de 80, a
tecnologia mais avançada que existia, na
modalidade de educação a distância, era
feita com apostila e correio.
Atualmente, há cursos parcialmente e
totalmente a distância com aulas
disponibilizadas no meio eletrônico. Neste
63
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
molde, o aluno agenda o seu
comparecimento em períodos pré-definidos
à unidade física da instituição. As trocas de
experiências e a construção de valor
agregado pelos conteúdos oferecidos são
feitos eletronicamente pelas partes
envolvidas em tempo real ou virtual.
3. O papel do professor tutor na
evolução da educação no ensino a
distância
Com relação à importância do ensino a
distância na evolução da educação, tanto a
básica quanto a avançada, é imprescindível
o aperfeiçoamento do papel do professor.
Nesta evolução, on-line, ele desempenha
tarefas e representa papéis. Em sua nova
atuação, cabe-lhe a ensinagem e
acompanhamento da aprendizagem além
da própria reciclagem.
Além de tutor, se precisa desenvolver e
praticar a administração das quatro áreas
para que se consolide o aprendizado e a
permanente atualização tecnológica e
cultural. As quatro áreas de domínio a
serem administradas transitam entre si,
entrelaçam, interagem e buscam fusão no
espaço acadêmico: pedagógica, gerencial,
técnica e social (COLLINS E BERGE,
1996). O seu papel nesse campo é tão
importante como o do futebol em relação
ao técnico.
O professor deve estar atento aos
fundamentos teóricos dos projetos de
ensino que considerar necessários ao
desenvolvimento didático no aspecto
teórico-prático para formar o profissional
64
de modo que aplique as melhores práticas
do seu aprendizado no mercado.
O programa seleciona e prepara o
currículo articulado com procedimentos e
atividades pedagógicas. O
acompanhamento do percurso dos alunos
está nesta seara. Uma vez identificados os
objetivos referentes às competências
cognitivas, habilidades e atitudes que
forem consideradas prioritárias para tornar
possível o desenvolvimento idealizado,
definir-se-ão bibliografia, videografia,
iconografia, audiografia, tanto as básicas
quanto as complementares para
proporcionar possibilidades de até mesmo
ir além do proposto se este for o objetivo
do aprendiz. Cumprida esta etapa, elaborase o material didático adequado para
programas a distância.
Na fase de gestão acadêmica do
processo de ensino-aprendizagem é
necessário disponibilizar textos
imaginativos, criativos que indiquem,
comandem orientem as ações dos
estudantes. As ações devem ser
continuamente repensadas e readaptadas,
como módulos que quando não se
adéquam dão lugar a outros mais flexíveis.
3.1. As funções do professor
É sua função observar ambiente social
amigável, que é imprescindível à
aprendizagem on-line. A atuação dele no
ambiente educacional é o que garante o
sucesso ou fracasso do processo da
aprendizagem. No ambiente on-line, o
professor é o facilitador.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Para Martin Starr4 , na função gerencial o ritmo do curso, os objetivos, as regras e
as tomadas de decisões levam os alunos a
permanecerem ou desistirem do curso. A
evasão do egresso nesta modalidade é mais
fragilizada. E a sua permanência está
ligada ao vínculo estabelecido, e, o apoio
que este oferece ao acesso propiciado às
técnicas e tecnologias.
O professor tutor é quem administra o
curso on-line. Ele é quem dirige a
discussão e a adaptação dos participantes.
É um líder coaching on-line, gestor de
competências, de tarefas, de tempo, dentro
do cronograma, o ponderador. Os que
progridem ou não a partir do seu comando
o submetem a um teste diário, porque o
fracasso da turma será o seu fracasso e o
sucesso demonstra sua competência, a do
sistema e a dos alunos.
Como no futebol brasileiro atualmente,
ele representa o técnico. O seu sucesso na
verdade é demonstrado pelo desempenho
dos discentes no mercado, como
profissionais qualificados, o resultado da
sua gestão não depende só dele, vai muito
além da imaginária sala virtual, transcende
os espaços da educação e se consolida na
profissão.
mercado. No discurso das organizações no
momento da seleção do capital humano,
exacerbam-se palavras como: qualificação
profissional, qualidade, competência e
capacidade técnica, domínio tecnológico,
valor agregado e estratégia operacional.
A instituição necessita que ele seja o
tutor, líder coaching on-line ou presencial
tenha preparando adequadamente o aluno,
não como mera força de trabalho braçal,
mas como capital intelectual, e até mesmo
as empresas que não têm know-how para
consumi-los, os utiliza.
As faculdades trabalham com o foco na
formação técnica e tecnológica que
atendam às exigências específicas do
mercado – mesmo que seja o interno qualificação de profissionais para as
empresas do entorno da instituição no caso
de regiões industriais comerciais,
hospitalares e outras. Com isso, o ensino
torna-se mais específico que geral e
aproxima-se realmente do tutor
empowerment.
A função técnica no curso depende do
domínio prático do líder, da sua capacidade
de transmitir o domínio da tecnologia aos
que devem conhecê-la, usá-la e com ela
atuar com destreza durante o curso. Pesa
na gestão de um professor o sucesso dos
seus pupilos presenciais ou virtuais.
Trata-se de uma função que passa a ser
cada vez mais a de estimulador da
criatividade para a solução de problemas
coletivos. Esse procedimento carrega de
sentido o ditado popular: “ensinar a pescar
e não entregar o peixe”. Para atender a tal
responsabilidade, precisa-se não apenas de
reciclagem contínua, mas de
especializações sucessivas, sendo assim,
um pesquisador incansável que tem o
estudo como ofício para aprender cada vez
mais como ensinar.
Depois do curso, alguns se transformam
em profissionais sobre os quais pesa a
responsabilidade de terem êxito no
A função social é a facilitadora
educacional o que representa a própria
figura do professor tutor. Ele é responsável
4 Starr,
Martin K. "Administração da Produção": Sistemas e Sinteses: Editora Edgard Blucher LTDA, 2ª Edição
1988
65
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
por facilitar e dar espaço aos aspectos
pessoais e sociais da comunidade on-line.
3.2. As ferramentas de suporte ao
professor
O avanço tecnológico mudou a forma
de ensinar no novo milênio. As aulas dos
cursos presenciais também podem ter
monitoramento on-line e assim, todos têm
a oportunidade de mixar o sistema
presencial/virtual, interagindo com mais
produtividade e qualidade.
Neste modelo atual de ensino, para que
escola, curso e método atinjam o resultado
com qualidade, atendendo ao mercado com
profissionais qualificados, dependem do
perfil do tutor tecnologicamente e
humanamente qualificado. A qualificação
pessoal constante se dará por sua vez por
meio de equipamentos tão modernos
quanto o conceito de ensino e não como a
didática de outrora. Equipamentos como
projetores de vídeo interativos,
reprodutores de conteúdo anteriormente
gravados, links de acesso a outros
conteúdos e muita curiosidade para
encontrar novos conteúdos serão
necessários para mantê-lo em dia com as
ferramentas que seus alunos utilizarão5
(ALVES, BARROS e OKADA, 2009).
Os diferentes meios de comunicação,
informática, programas educacionais,
livros on line e acessórios com os quais se
interage atualmente o induzem em sua
busca constante sem deixá-lo constrangido
por descobrir que determinados conteúdos
são mais conhecidos por alguns. Na
verdade, em sua função de coaching, o
5
professor conseguirá a conciliação dos
aprendizados - sem necessitar, para tanto,
ser ele próprio uma enciclopédia de
conhecimentos.
As mudanças depois dos anos 70 em
função dos avanços tecnológicos
adquiriram velocidades nunca antes
imaginadas. No Brasil não tem sido
diferente. Em relação à tecnologia e a
educação, ele apresenta-se em atraso
comparado às nações mais antigas e
consequentemente mais modernas como o
Japão, Inglaterra e EUA. Comparado à
Índia, Rússia e China, os níveis de
educação mostram-se mais eficientes
(UNESCO, 2004) de tal sorte que a
quantidade de anos que se estuda nestes
países é quase 50% maior do que no
Brasil.
Com necessidades crescentes de evoluir
com mais velocidade e qualidade devido
ao custeamento mais agressivo da
educação, nos últimos anos, por parte do
Estado e das instituições privadas (Lei de
Diretrizes Orçamentárias – GOVERNO
FEDERAL), vem aumentando o número
de pessoas que ingressam em cursos
superiores. Os primeiros que ascendem no
núcleo familiar recebem motivação para
incrementar o status próprio por meio de
um curso superior.
3.3. Desafios a superar
O mero acesso ao ensino não muda a
realidade de quem aprende caso não haja
um professor que compreenda as óbvias
diferenças culturais na turma e os avalie
em relação ao seu contexto, sob pena de
MOODLE, Estratégias Pedagógicas e Estudos de Caso, 2009, Editora da Universidade do Estado da Bahia EDUNEB. Lynn Alves; Daniela Barros; Alexandra Okada; (Organizadoras).
66
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
sacrificar o progresso de um ou até de
todos. Um aluno abastado tem mais
possibilidade de receber formação cultural
e educacional diferente daquele que
depende de financiamento estatal, posto
herdado da sua descendência cultural e
talvez a carência do sistema público. A
abordagem não trata de uma limitação
intelectual em função de carência
financeira, mas da falta de método em
função da instituição de origem, não é
novidade que escolas públicas
normalmente não acompanham a evolução
do ensino particular segundo Leite6 (2011).
Embora o Brasil não possua castas
como a Índia, as classes sociais fazem este
papel informalmente. Assim a classe social
acaba por se refletir na forma como a
pessoa se relaciona com o mundo. A classe
social constrói no indivíduo a
idiossincrasia e o orienta na forma de ver,
pensar e sentir o mundo. Na condição de
classe menos favorecida, muitos já
marginalizados pela falta de acesso à
informação e ao domínio tecnológico, se
apartam daqueles que a tem.
Na condição de condutor de pessoas em
grupos cada vez mais heterogêneos, se for
capaz de compreender o fenômeno, e se
importar com ele, torna-se a ponte da
oportunidade para a evolução dos menos
privilegiados. Esse movimento é capaz de
criar a possibilidade para a condição do
sentimento de igualdade. Esse processo
seria uma solução para que a sociedade
atingisse a sua meta de crescimento.
Poderia levantar o país e encurtar os
caminhos entre as pessoas menos
privilegiadas e as que se encontram no
topo da tabela social. Tudo isso por meio
6 Paulo
da ação do tutor, uma imagem perdida no
tempo.
Grandes pensadores de outras eras
tinham seus professores baseados em
conhecimentos ainda mais antigos. Para
que se destacassem, precisaram quebrar
paradigmas com maior ou menor
dificuldade de acordo com as orientações
sociais e de seus mestres. Não é possível
afirmar que Sócrates, Pilates, Platão ou
Foucaut conseguiriam ter o mesmo
desempenho nos tempos atuais porque não
há comparação viável capaz de demonstrar
isso, mas é um questionamento bastante
interessante.
É o que se exige hoje do tutor. O
conhecimento técnico, o conhecimento
humano, o geral e o específico. Assim,
depois da globalização, mais
especificamente após a lei LDB de 1996,
obrigatoriamente, passou a se estudar
tecnologia para conseguir se comunicar da
maneira apropriada com seus alunos,
colegas e realizar sua própria reciclagem.
4. O professor e a plataforma Moodle
A Plataforma Moodle é uma ferramenta
de ensino no sistema EAD que facilita o
trabalho de todos os envolvidos, agregando
eficiência e possibilitando integração
mundial. O alcance e as facilidades que a
ferramenta possibilita viabilizam pesquisas
e criação de novos métodos de trabalho
educacional.
A interatividade inclusive de outras
áreas, em Fórum aberto, permite ampla
troca de conhecimento e democratiza o
aprendizado. Eles podem desenhar o
Moreira Leite, Revista Época, Artigo 07-07-2011.
67
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
projeto no qual querem interagir com seus
tutelados e institucionalmente.
4.1. A importância da internet para a
educação
A internet surgiu como sistema criado
para fins militares hoje viabiliza a
comunicação mundial em tempo real.
Atualmente, a rede mundial de tecnologia
não tem fronteiras. No mundo moderno, a
internet desempenha um papel
fundamental para disseminação da
educação. Ela exerce dois papéis; é o
veículo da informação e ao mesmo tempo
difunde conhecimento. Ajuda a levar às
pessoas a consciência da ignorância que só
é percebida depois que se toma
conhecimento de sua existência. Conforme
Platão: “Só sei que nada sei”. Um dos
ditados mais antigos do qual se tem
conhecimento.
Na internet, contracena-se com um
paradoxo, por meio do contato virtual
isolado e frio, interage-se intensamente
com o mundo. Inter-relacionam-se
qualidades humanas, competências
humanas, por meio do domínio da
competência técnica. Fatores essenciais
para o desenvolvimento de todo trabalho
organizacional. O conhecimento e domínio
dessa ferramenta permitem a demonstração
do saber técnico, a capacidade de interação
e compartilhamento, colaborando com a
evolução da equipe, possibilitando integrar
práticas de trabalho através de
computadores e servidores interligados
mundialmente. Os projetos envolvendo a
engenharia social além dos que já existem,
podem ser repensados com o objetivo de
viabilizarem a criação de novos formatos,
inclusive para se comunicarem
68
simultaneamente para os que tiverem
interesse.
O ensino a distância virtual é uma
ferramenta para se trabalhar, com terceiros,
a utilização da rede como ferramenta. A
internet ocupa espaços antes
inimagináveis, diferentes para pessoas
diversas, permitindo a criação de uma nova
era cada vez mais rápida. Os talentos que
se utilizam da rede colaboram com sua
evolução. Como uma inteligência coletiva,
todos podem pensar em uma mesma
direção e pesquisar temas semelhantes com
conclusões próprias. Logo que alguém
compreende um conceito e o emprega,
outros, mesmo que por caminhos
diferentes podem chegar ao mesmo lugar.
Esse conceito pode ser aplicado ao ensino
presencial e a distância.
5. O papel do professor do mundo
real no campo virtual
O professor eficiente é um dos
profissionais mais completos do mercado
de trabalho. Ele detém competências
multidisciplinares, e compreende que sua
função cumpre um papel social importante,
já que colabora com a evolução das
pessoas que o cercam, tem consciência que
o seu conhecimento se não multiplicado,
perde a sua utilidade porque morre com
ele.
O aperfeiçoamento contribui com a
evolução da sociedade e ajuda na
acessibilidade a novas tecnologias.
Reconhecer falhas e a falibilidade humana
como algo natural também podem ser
observados pelo campo virtual; a
comunicação precisa ter papel
representativo, por isso, a busca incessante
pelo conhecimento. Didática, empatia,
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
simpatia, bom humor, sem negligenciar o
rigor, podem ser o diferencial do
profissional bem-sucedido.
Segundo Pimenta (2002), ele deve
dominar o equilíbrio dos saberes, de tal
forma que se possa falar que conhece e
vivencia o campo do saber ao transmitir a
informação.
Deter qualidade de informações dos
saberes, ter experiência e conhecer as
teorias sem domínio da metodologia pode
fazer com que a aula não se seja tão
envolvente, motivadora, interessante. O
tutor que deixa a desejar necessita se
reciclar, reaprender e elaborar novas ideias,
caso contrário, causa prejuízos a todos,
pois lhe faltam saberes, que,
possivelmente, estão associados a sua
didática.
Por omissão, ao não se preocupar com a
qualidade de sua aula, o bom
desenvolvimento dependerá de permanente
reflexão e autoavaliação. Os professores
fazem parte de um conjunto que presta
serviços regulados por lei. Oferecer aulas
de má qualidade é prestar serviços
defeituosos.
5.1. As qualidades do professor
contemporâneo
Segundo Mattar7 (2006) a capacidade
de informar, formar, reciclar e oferecer a
cooperação mútua é de interesse de todos,
que juntos vêm ganhando
exponencialmente adeptos, o sistema de
educação a distância tem potencial de
atrair os que não têm condições de
frequentar uma sala de aula todos os dias e
com conhecimento técnico e tecnológico
não apenas aprendem como ensinam.
A oferta de conteúdo programático
moderno beneficia quem recebe e quem
oferece o conhecimento. A vontade de
melhorar, utilizando metodologias
modernas com pessoas diferentes,
possibilita a absorção da matéria e facilita
a transmissão do tema. Lecionar pela
internet oferece a oportunidade de redução
dos custos e agrega mais valor porque o
próprio ato de estudar dentro dessa
plataforma exige que se aprenda a
trabalhar com os programas envolvidos
que ficam interligados. As apostilas e
cadernos utilizados nos sistemas de ensino
convencionais estão sendo substituídos ou
aperfeiçoados por fichários e documentos
salvos no computador e disponíveis para
impressão sempre que conveniente ou
necessário.
A utilização de produtos qualificados é
facilitada com a redução dos custos de
manutenção e atualização dos conteúdos,
os cursos on-line com essa prática podem
obter difusão ampla quase irrestrita, a
tendência dessa modalidade de ensino
possibilita que seu reconhecimento seja
atingido em pouco tempo. Os docentes
podem alcançar mais pessoas, ainda que
fora das turmas, ao mesmo tempo se
empenham com mais dedicação sem a
necessidade de se deslocar até a turma;
sendo qualitativo e quantitativo, o objetivo
da matéria fica simplificado.
Na opinião de Garrido (2002) que
define a finalidade do ensino como uma
atividade de papel dúbio, é antagônico e
c o m p l e m e n t a r e d e v e c o n s e r v a r,
memorizar, integrar e ritualizar. Na opinião
7 h(p://www.montesiao.pro.br/redecrianca/escolaporpricipios/contemporaneo.htm 69
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
de Morin (2002), pode-se verificar que os
c o n c e i t o s c o n v e rg e m a o r e g i s t r o
cumulativo dos conhecimentos sem criar
dogmas. Uma vez que os dogmas em regra
criam barreiras à renovação do
conhecimento. O ensino superior serve
muito bem à função de libertação do
pensamento, mas com regras (ou rédeas já
que há parâmetros bem definidos que não
aceitam idéias sem comprovação científica
quanto à sua viabilidade ou aceitação na
comunidade acadêmica).
5. Considerações Finais
O modelo de ensino superior no Brasil é
incipiente e segundo os dados da
UNESCO8 (2004) em seu Relatório de
Desenvolvimento Juvenil, e ainda
apresenta muitas áreas geográficas sem
cobertura. Essa ausência tem consequência
desde a base da cadeia de docência (a
partir do fundamental) até a pósgraduação. Falhas graves do ensino básico
ao médio criaram uma área extremamente
sensível, uma vez que o ensino básico em
comparação com o da graduação possui
extremos diametralmente opostos. Durante
a fase de ensino básico e médio, o desejo
dos estudantes é conseguir manter-se
afastados do ensino público, por outro
lado, quando se atinge a fase do vestibular,
o ensino público se transforma em objeto
de cobiça da maioria dos candidatos.
O conhecimento acadêmico superior
incentiva novos estudos, estimula o
8
docente e discentes. O modelo atual – em
evolução – favorece instituições de ensino
dedicadas e profissionais interessados, já
que se vive uma época em que o número
de ferramentas disponíveis é maior do que
as utilizadas em épocas anteriores. Os
princípios de ensino vêm evoluindo
rapidamente para acompanhar os
progressos das áreas periféricas, de tal
sorte que a qualidade do ensino possa
acompanhar a crescente demanda.
Ao longo da vida acadêmica
universitária, tem-se o privilégio de
observar o ambiente de grandes pensadores
dos vários setores acadêmicos.
As instituições de ensino superior, que
buscam o método com o objetivo de
transmitirem o conceito de aprendizagem
constante, beneficiam toda a sociedade,
devido aos melhoramentos propostos
mesmo que seus efeitos não sejam
percebidos em curto prazo. Compreender
os saberes de sua época e desejar
revolucionar já colabora, sobremaneira,
para o alcance das metas qualitativas e
quantitativas requeridas para alcançar o
reconhecimento da sociedade como
entidade de boa qualidade.
A sociedade sempre evoluiu a partir de
conceitos inovadores - com a internet, o
ensino a distância, professores dedicados e
bem treinados, materiais de suporte
apropriados formam o conjunto necessário
para o progresso tão esperado na qualidade
do ensino brasileiro..
Relatório de desenvolvimento juvenil, 2003, Escritório da UNESCO no Brasil, Division of Social Sciences
Research and Policy. Policy and Cooperation in Social Sciences Section/UNESCO-Paris, Waiselfisz, Julio
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70
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
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73
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Benedito Claret Barbosa1
O uso de novas tecnologias pelos docentes no
processo de ensino e os seus problemas na prática
Recebido em: 17/11/2012 - Aprovado em: 22/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Abstract
A pesquisa sobre “O uso das novas
tecnologias pelos docentes no processo de
ensino e os seus problemas na prática”
promove uma discussão sobre os benefícios
que as “Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (NTIC’s)” podem trazer para
o processo de ensino-aprendizagem. A
aprendizagem, com o foco na modalidade
da educação a distância (EAD). Investiga a
resistência dos diversos professores que
ainda não fazem uso destas tecnologias e
procura compreensão para o fato.
The research on 'The use of new
technologies by professors and teachers
concerned in education and practical
problems' promotes an argument about
benefits which
New Information
Te c h n o l o g i e s a n d C o m m u n i c a t i o n
(NITC's) can bring into the learning
process, focusing on modality of Distance
Learning (ODL). Investigating the
resistance of several professors and
teachers that do not yet use such
technologies and seeking comprehension
for this fact.
Palavras-chave: Tecnologias; Ensino;
Docente.
1. Introdução
O desenvolvimento da pesquisa sobre
“O uso de novas tecnologias pelos
docentes no processo de ensino e os seus
problemas na prática” envolveu profunda
pesquisa, leitura, reflexão e análise, mas
foi facilitado pelo vasto material virtual
disponível. Embora o assunto esteja em
discussão desde o nascimento da
tecnologia, ele continua atual e necessita
1
Benedito Claret Barbosa.
74
Keywords: Technology, Teaching,
Educators.
de reflexões constantes. Não há novidade,
nem é segredo, o debate sobre as inúmeras
dificuldades encontradas pelos docentes
com a tecnologia na educação, mas na
modalidade a distância o descompasso
salta aos olhos e incomoda os alunos
nativos digitais.
A falta da formação
adequada dos docentes é consequência,
tanto da sua escassa disponibilidade de
tempo, quanto da falta de motivação e/ou
interesse diante do raso reconhecimento
financeiro das instituições.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
O debate sobre “as novas tecnologias na
educação” está longe de se esgotar, tendo
em vista a sua constante renovação e
permanente velocidade. Com a educação e
as novas tecnologias caminhando juntas,
isso contribui para a formação dos alunos
porque facilita o processo de pesquisa e
abre novos horizontes ao multiplicar a
possibilidade de se ampliar o
conhecimento. A relevante permanência do
tema se deve ao crescimento significativo
com adesão cada vez maior de estudantes
profissionais ao processo de educação a
distância, porém o mesmo possui
vantagens e desvantagens em relação ao
ensino tradicional. As desvantagens
apresentam-se tanto no quesito que se
refere ao relacionamento entre professores
e alunos, quanto no acesso do estudante
aos esclarecimentos do professor sobre as
dúvidas com o conteúdo.
O objetivo é discutir os benefícios
proporcionados pelo uso das tecnologias
multimidiáticas no processo de ensino,
especialmente na educação a distância;
compreender o motivo pelo qual grande
parte dos professores ignora, desconhece,
ou dispensa o uso das tecnologias no
processo ensino-aprendizagem.
A metodologia utilizada foi sustentada
pela pesquisa bibliográfica real e virtual,
com o intuito de alcançar os objetivos
propostos. Para a análise dos aspectos
relevantes da investigação foi
imprescindível o uso das novas tecnologias
da educação, trazidos por autores
pesquisadores que avançaram nessa área.
O referencial teórico contou autores
como Moran (2007) que auxiliou na
compreensão do processo educacional,
Galli (2005) apontou as principais
ferramentas na educação a distância. Brito
e Purificação (2006) alertou sobre a
impossibilidade de se pensar a educação
dissociada da tecnologia. Masetto e
Behrens (2000), Machado (2004),
Almeida, Rosini e Calderón (2007) fizeram
referências ao sentido das tecnologias
educacionais na atualidade. Campestrini e
Ferreira (2004) elucidaram a
representatividade do computador como
ferramenta mediadora na relação de
aprendizagem. Liguori (1997) e Kenski
(2004) alertaram para as mudanças como
consequência da tecnologia na educação.
Os desafios dos programas na modalidade
EAD foram apontados por Letwin (2001).
Papert (1988) lembrou que as tecnologias
da comunicação não substituem o
professor, mas modificam algumas das
suas funções. Doll (1999) e Papert (1988)
apontaram as angústias do professor diante
da internet. Levy (1996) e Pretto (1996)
fazem parte dos que defenderam a
incorporação de novas tecnologias na
educação, entre outros que auxiliaram na
cansativa, mas profícua busca do
esclarecimento e compreensão do tema.
2. As novas tecnologias na
educação
Nesse momento histórico em que as
tecnologias ganham cada vez mais espaço
no meio social, é impossível ignorá-las na
educação. Na última década surgiram
incontáveis novidades na tecnologia de
informação e comunicação. Essas novas
tecnologias foram imediatamente utilizadas
e de várias formas se fazem presentes na
sociedade, tanto no mercado trabalho,
quanto no lazer e nas relações sociais,
transformando-se uma das principais
ferramentas na educação a distância.
75
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Segundo Galli (2005, p.1), “As novas
tecnologias, como produto da pósmodernidade, invadiram o cotidiano
humano e com naturalidade ocupam cada
vez mais espaço, seduzindo e tornando-se
parte da vida das pessoas”. A sua expansão
tem modificado quase que completamente
a vida do sujeito-leitor-pesquisador e suas
relações com a praticidade na busca do
conhecimento. Na opinião de Brito e
Purificação (2006, p.24) este é o momento
em que “Todos devem (re) aprender a
conhecer, a comunicar, a ensinar e a
integrar, o humano e o tecnológico”. Hoje
é praticamente impossível pensar em
educação dissociada da tecnologia, pela
presença desta no cotidiano dos alunos,
especialmente daqueles que estudam a
distância.
A tendência atual de ensino faz com que
a tecnologia da informação e comunicação
seja uma ferramenta fundamental para
introduzir novas perspectivas nos
processos educativos e repensar os
modelos pedagógicos utilizados pelos
docentes no ensino. A nova realidade
vivida delineia a necessidade de uma nova
escola que ultrapasse a tradicional, cuja
finalidade era a de transmissora do
conhecimento, e contribua para a formação
de sujeitos capazes de atuar com
competência no meio social. As novas
tecnologias, com naturalidade, contribuem
para este processo. Por novas tecnologias
na educação entende-se:
O uso da informática, computador, Internet,
CD-ROM, hipermídia, multimídia, e como
ferramentas para educação a distância e
chats, grupos ou listas de discussão nos
correio eletrônico, e outros recursos e
linguagens digitais do qual atualmente se
dispõe colaboram significativamente para
tornar o processo educacional mais eficiente
e eficaz na opinião de Moran; Masetto e
Behrens (2000, p.152).
76
Quando esses autores fazem referência
às tecnologias educacionais, indicam que
as ferramentas ou instrumentos disponíveis
foram criados para facilitar a prática do
processo ensino-aprendizagem. As
tecnologias de informação e comunicação
promoveram mudanças culturais e sociais e
de sentido, sobre as formas tradicionais de
comunicação entre os seres humanos, com
novos canais para transmitir conhecimento.
As redes telemáticas, televisão por satélite,
Internet e realidade virtual modificaram os
processos de comunicação e aquisição de
conhecimentos criando canais de
distribuição que oferecem novas
possibilidades para a democratização e
acesso à formação.
Essas tecnologias se caracterizam como
pontes de acordo com Moran (2007), e
abrem a sala de aula para o mundo.
Representam e fazem a mediação do
conhecimento do mundo. A lousa sai da
parede da sala de aula e passa para a tela
do computador que mostra as múltiplas
faces do mundo. São diferentes formas de
representação da realidade, de forma mais
abstrata ou mais concreta, mais estática ou
dinâmica, mais linear ou paralela, porém
todas elas, combinadas, integradas,
possibilitam maior e melhor apreensão da
realidade. Propiciam o desenvolvimento de
todas as potencialidades do educando,
despertando todos os diferentes tipos de
inteligências e ampliando a construção do
Conhecimento, das Habilidades e Atitudes
humanas - CHA.
Para Machado (2004, p. 99) não parece
haver dúvidas sobre as imensas
possibilidades da tecnologia na educação.
Os recursos para instrumentalizar a ação
do professor, nos diversos níveis de ensino,
são cada vez mais numerosos. A inserção
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
das novas tecnologias na educação pode
colaborar para que se atenue o atual e
caótico quadro das carências pedagógicas
nacionais, tendo em vista as múltiplas
possibilidades pedagógicas. Na opinião de
diversos autores essa ferramenta é mais do
que a ponte, uma vez que:
O advento das tecnologias de informação e
comunicação – TIC trouxe novas
perspectivas para a educação principalmente
a distância, devido às facilidades de design e
produção sofisticados, rápida emissão e
distribuição de conteúdos, interação com
informações, recursos e pessoas, bem como
à flexibilidade do tempo e à quebra de
barreiras espaciais conforme Almeida (s/d,
p.3).
Pode-se dizer que as novas tecnologias
são capazes de superar as distâncias e as
barreiras para o acesso ao conhecimento.
Os recursos técnicos de comunicação
sejam eles impressos, de áudio e vídeo, que
hoje estão acessíveis a muitas pessoas, têm
possibilitado o grande avanço da educação
a distância.
Eles se converteram em
propiciadores da igualdade de
oportunidades de acesso ao conhecimento
e democratização das possibilidades da
educação conforme Rosini, (s/d, p. 5):
Universidades, escolas, centros de ensino,
organizações empresariais, grupos de
profissionais de design e hipermídia lançamse ao desenvolvimento de portais
educacionais ou cursos a distância com
suporte em ambientes digitais de
aprendizagem que funcionam via internet
para realizar tanto as tradicionais formas
mecanicistas de transmitir conteúdos
digitalizados como processos de
comunicação multidirecional e produção
colaborativa de conhecimento de acordo
com Almeida (s/d. p.1).
A mediatização realizada por meio das
tecnologias pode auxiliar no processo de
ensino-aprendizagem e na interação
estudantes-estudantes, estudanteseducador, educador-mídia-estudantes,
colaborando para o aprendizado. As
NTIC’s são instrumentos mediadores entre
o homem e o mundo. Na educação podem
servir como um mecanismo pelo qual o
aluno se apropria de um saber
redescobrindo e reconstruindo o
conhecimento. São auxiliares do professor
na diversificação e dinamização das aulas,
fazendo com que o aluno aprenda de forma
mais satisfatória. Uma das tecnologias
mais utilizadas na educação é o
computador. Para Campestrini (2004) “o
computador possibilita diversas formas de
relação de aprendizagem, pois favorece o
enriquecimento das experiências dos
indivíduos, colaborando desta forma em
seu desenvolvimento”. Para Ferreira (2004,
p.22):
O uso do computador como ferramenta
mediadora do processo de ensinoaprendizagem pode proporcionar mudanças
qualitativas na educação, desde que os
educadores compreendam, vivenciem,
aceitem, flexibilizem as inúmeras
possibilidades da ferramenta, adaptando-a de
forma a contribuir com a educação.
O discurso não pode ficar só na teoria
precisa encampar a prática. As novas
tecnologias possibilitam o estudo em
outros lugares, além das tradicionais salas
de aula por meio da tecnologia. Assim, a
lousa, a casa, o local de trabalho, e outros
espaços educativos se transformaram em
espaços de aprendizagem, um lugar a mais
para estudar, realizar cursos de formação,
pós-graduação, entre outros. Para
Calderon, dessa forma:
As novas tecnologias podem ter grandes
efeitos sobre o desenvolvimento já que
superam as barreiras do isolamento social,
econômico e geográfico e aumentam o
acesso à informação e à educação (Fórum
Mundial de Educação, apud CALDERÓN,
2007, p. 3).
As tecnologias na educação não
pretendem impor-se como um instrumento
77
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
pedagógico por excelência, mesmo porque
nenhum meio é capaz, isoladamente, de se
tornar eficaz para todos os propósitos do
ensino. Faz-se necessário que os
educadores tenham uma escolha consciente
dentro de certos princípios, que privilegie a
aprendizagem dos alunos, e não somente
ao modismo. A utilização das novas
tecnologias pelos professores deve ter um
objetivo maior que é o de melhorar a
aprendizagem. As técnicas precisam ser
escolhidas de acordo com o que se
pretende que os alunos aprendam. Como o
processo de aprendizagem abrange o
desenvolvimento intelectual, afetivo, o
desenvolvimento de competências e
atitudes, pode-se deduzir que a tecnologia
a ser usada deverá ser variada e adequada a
esses objetivos na opinião de Masetto
(2000, p.143).
Utilizar novas tecnologias não é
aprender uma técnica simplesmente, mas
aprender sobre a tecnologia. Não basta
conhecer o funcionamento das máquinas,
porque de nada adiantaria. O constante
avanço tecnológico torna o moderno
maquinário obsoleto em pouquíssimo
tempo. Aprender a utilizar as novas
tecnologias diz respeito a compreender e
saber utilizar os conhecimentos científicotecnológicos, proporcionados por elas.
Sabe-se hoje, com precisão, que a
utilização das novas tecnologias no
processo de ensino-aprendizagem,
colabora com a forma de elaboração do
pensamento e a apropriação do
conhecimento por parte do aluno que
interage com elas.
A utilização de novas tecnologias como
computador, internet, blogs, deve ser vista
como um recurso pedagógico auxiliar na
promoção da aprendizagem. Quando
78
utilizados de forma coerente estes recursos
podem revolucionar a educação. Além de
facilitarem a construção e a ampliação do
conhecimento de várias maneiras, agem
como potencializadores da ação
pedagógica, tendo em vista suas múltiplas
possibilidades de trabalho. Acredita-se
assim, que a educação e a tecnologia
podem fazer uma parceria de sucesso, a
inserção das tecnologias na educação
possibilita construir uma educação ativa,
que contempla as reais necessidades dos
alunos inseridos nessa era da informação e
da comunicação. No entanto,
As instituições educacionais enfrentam o
desafio não apenas de incorporar as novas
tecnologias como conteúdos de ensino, mas
reconhecê-las e partir dessas concepções
(que os aprendizes têm sobre estas
tecnologias), elaborar desenvolver e avaliar
práticas pedagógicas que promovam o
desenvolvimento de uma disposição
reflexiva sobre os conhecimentos e os usos
tecnológicos conforme Liguori (1997, p.85).
Sobre isso Kenski (2004, p. 36) também
aponta que:
O estilo digital engendra, obrigatoriamente,
não apenas o uso dos novos equipamentos
para a produção e apreensão do
conhecimento, mas os novos
comportamentos de aprendizagem, novas
racionalidades e novos estímulos
perceptivos. O seu rápido alastramento e
multiplicação, em novos produtos e em
novas áreas, obrigam as pessoas a não mais
ignorar sua presença e importância.
O uso da tecnologia na educação a
distância deve tornar-se efetivo, tendo em
vista que nos dias atuais é impossível
ignorar as mudanças sociais e culturais que
vêm atingindo toda a sociedade e, por
consequência, a educação. Especialmente
quando se sabe que o desenvolvimento
dessas novas tecnologias têm posto à
disposição da educação alguns recursos
que prometem uma renovação
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
metodológica, favorecendo, assim, o
processo de ensino-aprendizagem.
3. As novas tecnologias da EAD
A educação a distância possui uma série
de barreiras que precisam ser ultrapassadas
para que o aluno aproveite o máximo do
curso, diminuindo o distanciamento
p r o f e s s o r- a l u n o . O u s o d e n o v a s
tecnologias, por meio da experiência
multimidiática (imagética) mais completa,
pretende suprir, para o discente, a falta do
docente. A presença do texto permite ao
discente estudar corretamente o tema que
lhe foi proposto pelo docente sem que seja
necessária a sua presença, e as dúvidas
podem ser tiradas virtualmente.
Para se otimizar a ação de um cursos a
distância é necessário esforços para que o
aluno não saia em desvantagem, em
relação aos cursos tradicionais. Nestes em
que o contato com o professor é maior
referencial. O que possibilita o sucesso do
curso á a disciplina do aluno diante das
diversas mídias desenvolvidas com
excelência para que todos os envolvidos no
processo estabeleçam e alimentem o
contato virtual. Assim:
Desde o surgimento da educação a distância
as diferentes tecnologias incorporadas ao
ensino contribuíram para definir suportes
fundamentais das propostas. Livros, cartilhas
ou guias, especialmente redigidos foram
propostas iniciais; a televisão e o radio
constituíram os suportes da década de 70; os
áudios e vídeos, da década de 80. Nos anos
90, a incorporação de redes de satélites, o
correio eletrônico, a utilização da internet e
os programas especialmente concebidos para
os suportes informáticos aparecem como
grandes desafios dos programas da
modalidade conforme Letwin (2001, p.16).
Há pouco tempo, as pessoas tinham
dificuldades em realizar cursos,
principalmente, os superiores. Com o
advento da tecnologia, muitas pessoas
mudaram essa situação, já que o uso dos
recursos disponíveis na educação pode
possibilitar oportunidades para realizar
cursos em locais e horários compatíveis
com a sua rotina.
Hoje a graduação e a pós-graduação são
ofertadas na modalidade a distância, com a
qualidade do curso presencial. A educação
a distância não oferece uma conexão real
entre o professor e o aluno, sendo que a
separação desses dois elementos atrapalha,
muitas vezes, o aprendizado e o
desenvolvimento do estudante, que fica
impossibilitado de sanar suas dúvidas da
maneira correta e para minimizar esses
efeitos, mais uma vez, o uso de tecnologias
aparece como uma alternativa relevante.
Por isso, através das NTIC’s, os estudantes
podem consultar diversas bibliografias pela
rede mundial de computadores, participar
de fóruns por meio de bate-papos, e fazer o
seu horário de estudo, sem a necessidade
de professores e alunos partilharem dos
mesmos espaços geográficos.
O professor pode também trabalhar a
criação de blogs para fornecer material de
instrução; conceituado como um
laboratório de escritos criativos, cujo
principal objetivo é oferecer à comunidade
de escritores e leitores um local virtual
onde possam se encontrar e interagir,
trocando experiências, motivações, ideias e
informações sobre temas de mútuo
interesse. Pode-se dizer que essas são
algumas das principais vantagens
atribuídas ao uso das tecnologias,
especialmente na educação a distância, a
facilidade do acesso a informação e a
rapidez desse processo. Além disso, as
NTIC’s auxiliam a mediação pedagógica,
79
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
aumentam a interatividade entre aluno e
professor, capazes de levar um mundo de
conhecimento para dentro da sala de aula,
através de várias formas, principalmente a
Internet que vem se desenvolvendo
rapidamente. Nesse sentido a utilização do
computador, internet, blogs e tecnologias
na educação tornam-se fundamentais.
Através deles o aluno tem subsídios para
construir e ampliar o seu conhecimento, de
forma mais crítica e condizente com as
demandas impostas pela atual sociedade da
informação e da comunicação.
O uso das novas tecnologias na
educação a distância não se limita ao mero
uso de equipamentos, pois se volta para a
organização lógica das atividades, de modo
que elas possam ser sistematicamente
observadas, compreendidas e transmitidas.
A utilização de novas tecnologias de
comunicação na educação merece total
atenção e preparo para que se adeque ao
estilo e ao ritmo de aprendizagem dos
alunos.
4. Dificuldades encontradas pelos
docentes no uso das novas tecnolgias
Para minimizar a desvantagem
especialmente na educação a distância, o
domínio de algumas tecnologias é
imprescindível. Muitos professores
apresentam resistência para usar aparelhos
tecnológicos por diversos motivos. Esses
nem sempre têm relação direta com o
método de ensino do docente. Muitos não
dominam a tecnologia e se recusam a
aprender utilizá-la, ignorando os seus
benefícios no processo de aprendizagem.
Alguns dizem que é modismo - passageiro,
outros, que não querem, não gostam ou
não conseguem.
80
Integrar as tecnologias no contexto
educacional ainda é um processo difícil e
desafiador, diante da quantidade de
profissionais que não as aceitam como
instrumentos auxiliadores das práticas
pedagógicas. Embora a TIC seja usada
como facilitadora da educação e da
formação, existe um grande abismo entre o
seu potencial e que dela se pratica. Mesmo
na instituição que possui; de fato, a TIC é
subutilizada nos mais diversos contextos
da educação formal de acordo com Junior e
Coltinho (2007, p.8). Neste contexto se
divide a responsabilidade. A maior parte
das escolas não investe na formação do
professor e os alunos, muito limitados no
seu uso, acabam abandonando a escola por
vergonha de serem vistos, utilizando de
forma medíocre.
A resistência, por parte dos
profissionais da educação, muitas vezes,
ocorre pela falta do conhecimento sobre a
operacionalização. E como a aprendizagem
se dá pela prática repetidamente, por falta
de tempo ou interesse eles abandonam o
processo de ensino-aprendizagem. Resulta
desse processo a perda do docente e dos
discentes.
A incorporação de novas tecnologias na
prática de sala de aula, muitas vezes é
acompanhada pela crença docente, de que
elas podem substituir os docentes. Como é
o professor quem define quando, porque e
como utilizar o recurso tecnológico a
serviço do processo de ensinoaprendizagem não há como interferir.
Ninguém pode ajudá-lo e todos saem
perdendo. Ele é o responsável pelos
processos que o seu ato desencadeia na
construção do conhecimento dos discentes,
e nesse sentido ele é insubstituível. Ás
vezes é necessário explicitar aos docentes
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
que os recursos tecnológicos não
substituem o professor e, muito menos, os
processos criativos do próprio estudante,
na construção do conhecimento. A
tecnologia é um recurso potencializador da
ação pedagógica, porque traz contribuições
para atividade de ensino e para o processo
de aprendizagem dos alunos. O
responsável por planejar e desenvolver
situações de aprendizagem e pela escolha
didática das disciplinas com que irá
trabalhar continua sendo o professor. A
esse respeito Papert (1988, p. 21), afirma
que:
As tecnologias da comunicação não
substituem o professor, mas modificam
algumas das suas funções. A tarefa de passar
informações pode ser deixada aos bancos de
dados, livros, vídeos, programas em CD. O
professor se transforma agora no
estimulador da curiosidade do aluno por
querer conhecer, por pesquisar, por buscar a
informações mais relevantes. Num segundo
momento, coordena o processo de
apresentação dos resultados pelos alunos.
Depois, questiona alguns dos dados
apresentados, contextualiza os resultados,
adapta-os a realidade dos alunos, questiona
os dados apresentados. Transforma
informação em conhecimento e
conhecimento em saber, em vida, em
sabedoria.
Doll (1999, p. 60) também retrata
algumas angústias do corpo docente em
relação á utilização da internet na
educação, que se resume em:
•
Interferência do ensino informal na
rede formal de ensino (legitimação
do discurso leigo pela comunidade
virtual);
•
Des-hierarquização das fontes de
conhecimento, com uma
predominância
da
multireferencialidade;
•
Autodidatismo, através das diversas
janelas da rede;
•
Temor infundado, que alguns
educadores possuem da
substituição do professor pela
máquina e da falta de preparo
técnico para lidar com o
equipamento.
Aliado a esta questão, está o fato de
que, frequentemente, o corpo discente
possui muito mais conhecimento ou
predisposição do que o corpo docente para
adquirir o manejo das redes de
computadores. Isso faz com que o corpo
docente questione e redimensione as suas
funções contemporâneas. Conforme
apontado por Kant (2011) “Pensamentos
sem conteúdos são vazios; intuições sem
conceitos são cegas”. A informação
sozinha não produz conhecimento, mas a
informação baseada em conceitos e
práticas pode produzir conhecimento e o
detentor desse binômio é o docente. Isso
deixa claro a indisposição deles com
relação ao uso de NTIC`s, quando vistas
como ferramentas de informação.
No que diz respeito ao respaldo do
conhecimento adquirido em rede, as
instituições que regem a vida real já
começam a avançar e reconhecer o
ciberespaço, como por exemplo, a ABNT,
que regulamentou as normas de citações de
documentos obtidos em rede para trabalhos
científicos. Além disso, textos e
documentos científicos virtuais sempre
trazem o nome do autor com os títulos
acadêmicos, e remetem, ao site da
universidade na qual o autor está
credenciado.
Cabe ressaltar, que muitos professores
usam os recursos tecnológicos de forma
insuficiente, minimizam a sua
potencialidade de uso e aplicação. De nada
adianta a instituição possuir as tecnologias
mais modernas se o professor não estiver
preparado para utilizá-las. O grande
impasse é que o professor em formação
aprende apenas como usuário, entretanto,
81
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
como profissional, o mesmo terá de
adquirir conhecimentos técnicos em
informática nos quais talvez não esteja
interessado, por não se sentir confortável
na sua utilização, além de ter que decidir
como adequar o uso da informática aos
seus objetivos. Portanto, é urgente
incorporar a tecnologia na vida do
educador, porque é este que a insere na
vida do educando. A idade do corpo
docente, assim como os métodos que não
incluem o uso de tecnologias é resultante
do tradicionalismo e anacronismo de
alguns professores em relação ao uso de
máquinas no processo de ensino. Esses
acreditam que os equipamentos interferem
no processo de aprendizagem e deve
manter uma relação apenas entre o
professor e o aluno. Retrógrados não
enxergam as tecnologias como ferramenta
de auxílio, e sim como um obstáculo no
processo de ensino-aprendizagem do
aluno.
Os educadores devem tornar esse
processo mais significativo e atual para os
alunos. O aspecto tecnológico é sempre
novo porque está em permanente
transformação. Para acompanhá-lo, os
profissionais precisam constantemente
(re)qualificar-se, (re)adequar-se e atualizar
para manter-se habilitado ao uso. Esta é a
condição de sobrevivência no contexto do
seu trabalho, que é a formação pessoal e
profissional do aluno.
A significativa dificuldade apontada por
muitos docentes, em relação ao uso das
novas tecnologias na educação, seja
presencial ou a distância, é o fato de que
elas exigem do docente uma grande carga
horária de trabalho maior que a habitual.
Essa carga horária não refere a “aula”, mas
ao fato do docente obrigatoriamente ter
82
que participar em tempo real com os
alunos, fora do seu horário de aula de chats
para tirar dúvidas, responder e-mails, ler,
corrigir e dar devolutivas das atividades
virtuais enviadas. Na EAD isto é
imprescindível em função da distância
deste para orientá-los nas dificuldades.
Mesmo assim, muitos alunos reclamam
que não conseguem sanar as suas dúvidas
em função da demora do retorno do
professor. Essa demora que os alunos
apontam se deve ao grande número de
alunos adeptos dessa modalidade de ensino
ligados a um professor que na modalidade
EAD é conhecido como tutor. O valor pago
pela hora aula virtual é menor que a
presencial e o professor trabalha em casa
com os seus equipamentos tecnológicos a
sua internet, sua energia. Ele compromete
a sua relação familiar e a sua qualidade de
vida, porque o número de alunos é superior
àquele possível de ser atendido
individualmente como exige o processo a
distância. As instituições de ensino, em sua
maioria, não reconhecem as dificuldades
docentes, não os qualifica nem atualiza,
não fornece equipamentos – notebooks
pessoais, ou laboratórios com
equipamentos e provedores que
comportem a demanda e agilizem o
trabalho. Essas dificuldades associadas
transformam um fator que poderia ser
positivo em negativo, para professores e
alunos ligados pela tecnologia na educação
a distância.
5. A formação do professor
Ao serem aplicadas à educação, as
tecnologias exigem cuidadoso
planejamento e tratamento específico que
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
vão além da disponibilidade de
equipamentos.
É importante compreender que os desafios
da educação a distância são congruentes com
os desafios do sistema educacional em sua
totalidade, cuja análise implica em reflexão
sobre o que a educação pretende realizar, a
quem se dirige, com quem será
desenvolvida, com o uso de quais
tecnologias e quais as abordagens mais
adequadas para acelerar o processo de
inclusão social da população brasileira
(PAULEK, 2010, p. 1).
A partir desse apontamento deve-se
considerar, entre outros tantos fatores, o
grupo ao qual se destina os objetivos
visados, o grau de interação pretendido, o
espaço, o tempo e os recursos disponíveis.
Para utilizar novas tecnologias na educação
a distância, é necessário que o docente
tome cuidado para não reproduzir a forma
tradicional de ensino nos novos
equipamentos tecnológicos e vice-versa.
Novas tecnologias e velhos hábitos de
ensino não combinam conforme opinião de
Messa (2010), que afirma ser necessário
pensar, em qualquer modalidade de ensino.
Não importa que a educação seja
presencial ou a distância, é preciso refletir
sobre “o tipo de formação se deseja
desenvolver, que tipo de alunos se pretende
formar, e quais tipos de tecnologias irão se
enquadrar na proposta educativa das
instituições de ensino”. A introdução das
tecnologias nas novas formas de
aprendizagem exige novas competências, e
formas de se realizar o trabalho
pedagógico. Isso significa “formar
continuamente o professor para atuar com
os alunos neste ambiente em transformação
acelerada” (MERCADO, 1998).
Se a instituição tiver os recursos
tecnológicos adequados e souber explorar
o potencial de cada professor, ambos
promoverão a construção do conhecimento
e facilitarão o processo de ensinoaprendizagem. O uso das ferramentas
multimídia depende dos professores, se a
maioria não utilizá-la em seu método de
ensino a tecnologias que tanto beneficiam
o aluno, o processo de aprendizagem se
perde e perde a qualidade da educação.
Brito e Purificação (2006, p.26) destacam
“a importância da reflexão do professor
sobre a sua ação escolar”. É dele a
responsabilidade por elaborar e
operacionalizar os projetos educacionais
com a inserção das novas tecnologias da
informação e da comunicação. Autores
como Papert (1988); Levy (1996); Pretto
(1996); Moran (1998) fazem parte
daqueles que defendem a incorporação de
novas tecnologias na educação, mas
acreditam que a utilização da máquina, por
si só, não representa mudança. É
importante ressaltar que a mera introdução
dessas tecnologias e o seu uso na educação
não vão garantir o sucesso do processo de
ensino-aprendizagem:
sem o professor
elas não resolverão os problemas
enfrentados no ensino, pois são apenas
instrumentos, mesmo que sejam
significativos e favoreçam a aprendizagem.
É importante não esquecer que a tecnologia
possui valor relativo: ela só terá importância
se for adequada para facilitar o alcance dos
objetivos e se for eficiente para tanto. As
técnicas não se justificarão por si mesmas,
mas pelos objetivos que se pretenda que elas
alcancem que no caso, serão de
aprendizagem na concepção de Moran;
Masetto e Behrens (2000, p. 144).
Utilizar as tecnologias de informação e
comunicação, como suporte para a
educação a distância, somente colocando o
aluno diante de informações, problemas e
objetos de conhecimento, pode não ser
suficiente para envolvê-lo e despertar-lhe
motivação pela aprendizagem. É preciso
que ele crie procedimentos pessoais que
83
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
permitam organizar o próprio tempo para
estudos e participação nas atividades,
independente do horário ou local em que se
encontre (ALMEIDA, s/d, p.4). Quando
utilizadas corretamente como instrumento
significativo para favorecer o ensinoaprendizagem, as novas tecnologias
poderão criar situações de aprendizagem
motivadoras e envolventes como aponta
Brito.
A integração das tecnologias com a
educação, o professor e aluno, deve estar
aberto as mudanças e novos paradigmas, os
quais o obrigarão a aceitar a diversidade,
com atenção as exigências impostas pela
sociedade que se comunica através de um
universo cultural cada vez mais amplo e
tecnológico, (BRITO e PURIFICAÇÃO,
2006, p.25).
As tecnologias tanto servem para
reforçar uma visão conservadora,
individualista, como uma visão
progressista. A pessoa autoritária utilizará
o computador para reforçar ainda mais o
seu controle sobre os outros. Mas, uma
mente aberta, interativa, participativa,
encontrará nas novas tecnologias
ferramentas capazes de ampliar as
interações. As intenções se materializam
em práticas de transformação que, serão
verdadeiras na medida em que se perceba
que todos podem e devem contribuir na
mudança. Independentemente da posição
que ocupem na hierarquia de poder dentro
da educação poder-se-á construir uma
educação realmente eficiente para o aluno.
Não se esquecendo da cuidadosa reflexão
por parte de todos os que compõem a
comunidade escolar. Para que as novas
tecnologias no meio educacional possam,
de fato, contribuir para a formação de
indivíduos competentes, críticos,
conscientes e preparados para a realidade
em que vive se faz necessário repensar e
reelaborar a sua utilização.
84
A mudança dessa realidade exige por
parte da instituição, investimentos
massivos em capacitação inicial,
continuada e ao longo da vida, que
promovam meios necessários para os
professores “desenvolverem todas as suas
potencialidades como mediador do
conhecimento, só que agora com o auxilio
das NTIC – novas tecnologias da
informação e comunicação” de acordo com
Mercado (2006, p. 18). Atualmente,
conforme o autor, as novas tecnologias têm
significativa participação nos diversos
ramos da atividade humana. Ela se torna
indispensável nas áreas em que está
inserida A educação é uma delas e nela tem
um importante papel relativo ao processo
de aprendizagem. Na sociedade
educacional brasileira, a presença das
novas tecnologias é relativamente recente e
está em processo de adaptação, embora
pela sua característica de permanente
transformação exija constante adaptação.
As pessoas estão sempre aprendendo a
conviver com as NTIC.
Se todos os professores estiverem
engajados neste propósito de aprendizagem
adaptação, sem exceção, certamente será
possível oferecer oportunidades para a
aprendizagem e o desenvolvimento do
aluno brasileiro.
6. Considerações Finais
O objetivo da investigação foi observar
o uso de novas tecnologias pelos docentes
no processo de ensino e verificar os seus
problemas na prática. Neste percurso com
os autores escolhidos resvalou-se nos
benefícios proporcionados pelo uso das
tecnologias multimidiáticas no processo de
ensino, especialmente, na educação a
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
distância. Foi possível compreender o
motivo pelo qual grande parte dos
professores resiste ao uso dessas
tecnologias no processo de ensinoaprendizagem. Com base nas reflexões que
foram aqui tecidas, utilizando-se do
referencial teórico, constatou-se que a
utilização das novas tecnologias no meio
educacional é imprescindível, porque elas
oferecem uma vasta gama de vantagens
para o processo de ensino-aprendizagem.
Cabe destacar aqui que o uso das novas
tecnologias, no contexto educativo,
apresenta efeitos positivos na
aprendizagem dos alunos, desde que as
metodologias aplicadas sejam adequadas.
A utilização da ferramenta e da
metodologia, sem uma proposta coerente,
não garante eficácia na construção do
conhecimento, por isso é preciso que os
professores estejam preparados para
trabalhar com essas novas tecnologias
educacionais que se renovam e se aceleram
permanentemente.
As vantagens trazidas pelo advento das
novas tecnologias tornam-se mais
evidentes no contexto da educação a
distância. Nesta perspectiva, elas são
capazes de romper as barreiras físicas,
auxiliando a interação entre professor e
aluno. No entanto concluiu-se que muitos
docentes não utilizam as novas tecnologias
por despreparo para lidar com os aparatos
tecnológicos, que se desdobra em várias
alternativas de resistência. Pela crença de
que podem ser substituídos por estas
tecnologias; por não dominarem a técnica
em consequência da falta de recursos
próprios e não recebê-las das instituições;
por vergonha de demonstrarem que não
sabem; por serem resistentes a novos
aprendizados e a modernidade; por
considerarem que isso é modismo; porque
a carga de trabalho virtual é muito maior
que a presencial, porque a remuneração é
menor para o trabalho virtual, embora gere
custo para o professor que precisa adquirir
equipamentos e provedores; por não
receberem incentivos nem reconhecimento
por este trabalho que levam para a casa e
para a vida; ou por resistência de quebrar
paradigmas simplesmente. A resistência de
muitos se deve à idade, eles tiveram na
formação uma base teórica sólida e
encontram dificuldades de ver no uso
dessas tecnologias vantagens para o
processo de ensino-aprendizagem.
A proposta da pesquisa atingiu o seu
objetivo no sentido de promover
discussões que viabilizem reflexões
dirigidas ao desenvolvimento da pesquisa e
contribua para que os professores, e os
futuros professores se cerquem das novas
tecnologias na educação, incluindo-as na
sua rotina, considerando como facilitadora
dos novos tempos no processo de ensinoaprendizagem.
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87
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Luciano Schmitz Simões1
A influência da tecnologia na formação do
aluno de ensino superior no Brasil
Recebido em: 10/11/2012 - Aprovado em: 21/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
A inovação tecnológica tem provocado
mudanças jamais vistas na história da
sociedade industrial. Da mesma forma que
ela destrói vários postos de trabalho ao
redor do planeta, surgem novos desafios
para contemplar as vagas que são criadas
por meio desta mesma tecnologia. O mundo
do trabalho está em plena transformação.
Porém, instituições de ensino dificilmente
acompanham esta revolução na mesma
velocidade, comprometendo assim a
formação dos jovens trabalhadores. O
mesmo acontece por parte do Estado, que
por sua vez, não desenvolvem políticas
públicas que atendam as novas demandas
de mercado provocadas pela tecnologia.
Assim surgem novos conceitos sobre
trabalho e emprego, bem como a
necessidade de uma nova postura do
trabalhador nesse mercado. Aquele
trabalhador braçal, muito valorizado
durante os séculos XIX e XX está com
dificuldades para encontrar um ofício, já
que hoje, são valorizados aqueles que
dominam plenamente tecnologias e que são,
principalmente, criativos. Por fim, a
proposta deste texto é mostrar as
transformações que advêm dessa nova
revolução e refletir, com base empírica,
sobre a nossa estrutura de ensino.
Palavras-chave: Tecnologia. Educação.
Mercado de trabalho. Jovem.
2. Metodologia
1. Objetivo
O trabalho procura problematizar as
relações entre o jovem, o sistema de
ensino/aprendizado e o mercado de
trabalho, cuja dinâmica, ora provoca
desequilíbrios sociais e econômicos, ora,
busca conjuntamente alternativas para
superar desafios.
1
A fim de permitir uma análise
comparativa entre a realidade do sistema
de ensino brasileiro e de outros países, foi
considerada como fonte de informação a
base de dados da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura – UNESCO. No contexto
brasileiro, outras três bases de dados foram
usadas: a primeira menciona o número de
Luciano Schmitz Simões é doutorando em Sociologia pela PUC/SP.
88
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
vistos de trabalhos emitidos pelo
Ministério das Relações Exteriores para
estrangeiros que vieram trabalhar no país
nos últimos anos. A segunda base é do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
– IPEA, que aponta o número de jovens
que trabalham para complementar renda no
Brasil. Por último, considero os dados no
MEC/INEP para mostrar a discrepância
entre os números de matriculados e
concluintes do ensino superior no Brasil.
Ainda assim, a contextualização do texto
será feita com base no trabalho de Manuel
Castells, bem como, em trabalhos de
autores como Carlos Benedito Martins.
3. As tecnologias
As mudanças tecnológicas estão nos
levando a uma reflexão sobre o conjunto
em que as instituições de ensino superior
público e privado estão estruturadas para
oferecerem qualificação ao futuro jovem
trabalhador. O papel destas instituições
tornou-se fundamental para acompanhar e
antecipar-se às transformações
tecnológicas, já que este processo é
irreversível em tempos de modernização e
automatização de serviços e produtos, pois
ele não aceita rotinas ou qualificações
obtidas pelo esforço repetitivo do
trabalhador. Essas novas exigências de
mercado, muitas vezes já suplantam
métodos ineficientes e ultrapassados dos
sistemas formais de educação sugeridos
pelos Estados, fazendo com que empresas
do setor privado invistam,
independentemente, na formação, bem
como, na atualização técnica e cognitiva de
jovens funcionários.
Na verdade, essas mudanças se
processaram velozmente nos últimos 20
a n o s . Tu d o p o r q u e o m o d e l o d e
industrialização sofreu grandes adaptações,
a fim de acompanhar o cenário
globalizante da economia, provocando
efeitos sociais irreversíveis, como a
eliminação de muitos postos de trabalho.
No caso do Brasil, por exemplo, a
liberalização do comércio fez com que a
produção fosse internacionalizada e, assim,
aumentasse a concorrência entre empresas
e países, estabelecendo novas exigências
profissionais que até então não eram
conhecidas. Essas novas exigências
modificaram a estrutura do mercado de
trabalho e obrigaram instituições de ensino
público e privado a repensarem o papel do
trabalhador neste novo contexto. Porém, a
adaptação deste segmento é lenta,
provocando um descompasso entre o
ensino e as novas exigências deste
mercado. Geralmente, o resultado desse
processo é uma crise no emprego formal
que, para ser evitada, devem-se mobilizar
ações tripartite2, com o envolvimento de
vários atores sociais, a fim de buscar
soluções mais efetivas para lidar com tais
transformações. Enfim, esta é uma época
em que antigos e novos trabalhadores
experimentam grande instabilidade
profissional em função das novas
mudanças nos processos produtivos, que
afetam diretamente o mercado de trabalho
e, sobretudo, o jovem que está iniciando
sua vida profissional.
2
Baseado na Declaração Tripartite da Organização Internacional do Trabalho – OIT, que é composta pelos três
principais atores do mercado de trabalho: representantes de entidades dos trabalhadores, empregadores e
governo.
89
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
De fato, devemos reconhecer que esta
sempre foi a dinâmica do capitalismo, em
que as tecnologias surgem repentinamente
para otimizar os processos produtivos e
que, em alguns momentos, substituem por
completo o trabalhador. Castells (2007),
porém, acredita que esta mesma dinâmica
do capitalismo contemporâneo, baseada na
tecnologia da informação, está abrindo
novos postos de trabalho, numa proporção
jamais vista em qualquer outro momento
da história, não existindo, contudo,
instituições de ensino e tampouco mão-deobra qualificada capazes de acompanhar
estas mudanças. É deste último ponto que
surge o grande problema para o autor: a
deterioração nas condições de trabalho,
cujas consequências são a precarização e a
exclusão social. Essas características são
bastante comuns em países que não
conseguem acompanhar plenamente esta
revolução tecnológica, em que indivíduos e
até mesmo grupos inteiros de profissionais
ficam com sua atuação limitada no
mercado de trabalho por não existir mais
oferta de determinadas funções para a
aplicação de sua especialização técnica
profissional. Neste caso, a tendência destes
indivíduos é submeter-se a qualquer tipo
de atividade para garantir minimamente a
sua sobrevivência. É neste sentido que
Castells vai definir a forma atual de
exclusão social, sendo para ele:
[exclusão social] um processo pelo qual
certos indivíduos e grupos são impedidos
sistematicamente de ter acesso a certas
posições que lhes permitiram uma
subsistência autônoma dentro dos níveis
sociais determinados pelas instituições e
90
valores de um contexto dado. Em
circunstâncias normais, no capitalismo
informacional, esta posição costuma
associar-se com a possibilidade de obter um
trabalho remunerado relativamente regular
ao menos a um integrante de uma unidade
familiar estável. De fato, a exclusão social é
o processo que desqualifica uma pessoa
como trabalhador no contexto do
capitalismo. (CASTELLS, 2007, p. 187)
Isto é, a variável “desqualificação”
provocada pela introdução da nova
tecnologia. Para Castells, caracterizará o
movimento possível de excluir,do mercado
de trabalho, parcelas cada vez mais
numerosas da população. E isto representa
uma agressão ao estatuto universal da
condição humana, cujo instrumento sugere
igualdade, equidade e cidadania.
Talvez, se estados-nações investissem
mais recursos na formação de seus
cidadãos, provavelmente poderíamos
retardar ou nem passar por esta situação.
Porém, não é isso que se percebe quando
consideramos alguns números. Dados da
UNESCO mostram que, em média, os
países gastam aproximadamente 0,97% do
PIB com o ensino superior. O Brasil se
encontra ligeiramente acima da média,
com 1% do PIB investido, superando
inclusive muitos países já desenvolvidos
na área da educação (Tabela 1).
Mas na prática, este investimento não
tem o mesmo retorno, uma vez que, o valor
investido por estudante (ver tabela 2) não
assegura necessariamente uma educação
formal com qualidade e a garantia do
ingresso desta população no mercado de
trabalho em posições profissionais, que
correspondam todo este investimento.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Tabela 1
Tabela 2
Despesa pública com educação superior como
proporção do PIB (2003)
Gasto com educação superior por estudante
(2003)
Países
Alemanha
Ensino Superior
1,2
Argentina
Brasil
Chile
Coréia
Espanha
EUA
França
India
Itália
Japão
México
Portugal
Reino Unido
Suíça
Média
0,6
1
0,5
0,6
1
1,5
1,2
0,7
0,8
0,6
1
1,1
1,1
1,6
0,97
Fonte: UNESCO (2003) – Elaborada pelo
autor.
No caso do Brasil, a tabela aponta a
ineficiência do nosso sistema de ensino, no
qual, mesmo havendo gastos parecidos
com o de países já avançados neste
quesito, não conseguimos garantir boa
formação técnica/intelectual do nosso
aluno, a ponto de prepará-lo
adequadamente para este mundo em
transformação.
Por outro lado, o nível de escolaridade
deste público está nitidamente maior, se
comparado à escolaridade do adulto.
Segundo relatório da OIT, “enquanto 41%
destes [adultos] tinham de 0 a 4 anos de
estudo, esse mesmo percentual caía para
3
Países
Alemanha
Ensino Superior (US$/
ano)
11.594
Argentina
Brasil
Chile
Coréia
Espanha
EUA
França
Índia
Itália
Japão
México
Portugal
Reino Unido
Suíça
Média
2.896
10.054
7.011
7.089
8.943
24.074
10.704
2.243
8.764
11.556
5.774
7.200
11.866
25.900
10.378
Fonte: UNESCO (2003) – Elaborada pelo
autor.
11,9%, no caso dos jovens de 15 a 24 anos.
(...) Os dados mostram [também] que a
juventude atual tem feito um maior
investimento em educação formal, um
reflexo da demanda do mercado de
trabalho por níveis de educação mais
elevados” (2009: p. 27). Entretanto, é
importante destacar que, apesar do jovem
brasileiro passar mais tempo na escola nos
últimos anos, dados da UNESCO3
demostram que, entre 1999 e 2007, a
expectativa do nosso aluno em permanecer
na escola caiu 0,3 pontos, passando de 14,1
para 13,8 anos de estudo, conforme aponta
a tabela 3.
Global Education Digest 2009: Comparing Education Statistics Across the World, p. 158 – 162.
91
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Tabela 3
Expectativa de vida na escola 4 (em anos)
1999
2007
Alemanha
N.D.
N.D.
Argentina
14,3
15,4
Brasil
14,1
13,8
Chile
12,8
14,5
Coréia
15,3
16,9
Espanha
15,8
16,2
EUA
15,7
15,8
França
15,7
16,2
Índia
8,4
10
Itália
14,7
16,5
Japão
14,4
15
México
11,8
13,6
Portugal
15,7
15,4
Reino Unido
15,9
15,9
Suíça
14,7
14,9
Média
14,2
15,0
Fonte: UNESCO, 2009 – Elaborado pelo auto.
Mas vale lembrar que, apesar de tudo, o
país está vivendo um bom momento
econômico nos últimos anos, colaborando
para uma taxa de desemprego muito baixa
comparado com alguns países da Europa,
como a Espanha5, por exemplo. Entretanto,
mesmo com este cenário econômico
favorável, o mercado agora está
percebendo que não existe profissional
capaz de assumir funções mais complexas,
isto é, que requerem maior nível
intelectual.
Segundo o Ministério do
Trabalho, o Brasil está importando cada
vez mais mão-de-obra especializada, já que
o número de vistos de trabalho concedidos
para estrangeiros, que vieram atuar no
Brasil, aumentou 19,4% entre 2010 e 2011.
Este, talvez, seja mais um indicador de que
não estamos formando profissionais
qualificados. Enfim, as consequências
desta combinação são grandes, pois sem
uma formação adequada e um mercado de
trabalho global competitivo, o jovem estará
naturalmente em desvantagem para obter
uma chance, a fim de comprovar suas
habilidades profissionais.
É exatamente sobre este ciclo que
Castells (2007) se refere na introdução
deste texto. Ele chama a atenção para a
falta de capacidade das instituições em
geral, especialmente aquelas responsáveis
pela elaboração de programas de políticas
públicas em educação, em acompanhar na
mesma velocidade as transformações
tecnológicas geradas pela competitividade.
Isto é, o esforço necessário para este
acompanhamento precisa ser gigantesco,
pois se deve considerar desde a
capacitação docente até a
operacionalização de uma estrutura de
ensino que desperte efetivamente o
interesse do aluno na busca de um
conhecimento crítico/analítico. Por fim,
Castells (2007) afirma que, como resultado
desse desinteresse na formação, jovens
trabalhadores se submeterão a empregos
que necessitam de menos qualificação,
gerando a precarização e subalternização
do trabalho em função desta nova ordem
mercantilista. Isso ocorre, principalmente,
4
Notas: (1) Os países selecionados competem com o Brasil em termos econômicos. (2) Alemanha, China,
Rússia e Turquia não tem dados computados no referido relatório.
Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, a taxa de desempregados jovens está atualmente em 14,5%.
Na Espanha esta taxa está em 46% e a média mundial em 12,6%, segundo dados da Organização Internacional
do Trabalho – OIT.
5
92
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
entre os alunos de famílias pobres e temos
dois grandes motivos para considerar: o
primeiro porque, na maioria das vezes, são
eles os responsáveis pelo complemento
familiar; e, o segundo, por não encontrar
na escola o meio ideal para a sua formação
técnica/intelectual. Estes jovens que
trocam desde cedo as salas de aula pelo
trabalho, mal conseguem uma inserção
profissional que garanta um futuro mais
promissor em termos de renda6. Além do
mais, as formas mais eficazes de inserção
de jovens no mercado de trabalho
costumam acontecer somente no topo da
pirâmide social, isto é, para uma parcela
muito pequena de estudantes se comparada
ao total de estudantes que ingressam na
vida acadêmica. No gráfico 1, podemos
observar quantos alunos, de fato,
ingressam e concluem o ensino de nível
universitário.
Gráfico 1
Evolução matrícula/concluinte no ensino superior (2000 – 2010)
Fonte: Censo da Educação Superior – MEC/INEP – Elaborado pelo autor.
Por fim, há de se considerar que
somente a educação não garantirá uma
ocupação e nem resolverá o problema do
desemprego. Como já mencionado no
desenvolvimento do texto, esta solução
depende também de um quadro econômico
favorável, bem como, de variáveis
demográficas e de incentivos do setor
público e privado. Porém, em termos de
probabilidade, uma educação com
qualidade àquele que teve acesso, pode ser
decisiva no momento de se conseguir uma
ocupação no mercado de trabalho
(CORBELLINI, 2004). Isto é, baseado na
lógica de estudo-emprego, este sistema
obriga não só um esforço maior do
estudante que vem de camadas mais baixas
da sociedade, como também, do trabalho
redobrado de instrutores e docentes no
6
Segundo o IPEA a taxa de desemprego entre os pobres é, em média, 5,2 vezes maior que a taxa de desemprego
para quem não se encontra em situação de pobreza.
93
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
incentivo e motivação destes jovens
profissionais.
Nesse sentido, conforme observado por
Martins (2000, p. 47),
[...] o ensino superior assumiu, nesse
momento, maior visibilidade para
determinados setores das camadas médias
urbanas, mais desprovidas de capital
econômico e/ou de capital cultural, que viam
nele um possível campo de manobra para
colocar em prática suas estratégias de
reconversão para obter melhores posições
materiais e/ou simbólicas. Essa demanda foi
absorvida, em parte, por uma relativa
expansão do ensino público e, em maior
escala, pelo setor privado, que apresentou
um acentuado crescimento nessa época.
Mas para que a educação do ensino
superior ocorra de uma forma mais
homogênea entre todos os tipos de
instituições, algumas perguntas deverão ser
feitas, como, por exemplo:
1. Qual seria o novo papel do Estado
em relação às instituições de ensino?
2. Considerando este novo contexto da
globalização, qual deve ser a relação
adotada entre o educador e o
educando?
3. Uma nova metodologia, talvez mais
adequada ao contexto econômico
global, deve ser pensada na formação
dos jovens?
De certa maneira e corroborando com
Castells (2007), Martins (2000, p. 57)
afirma que,
[...] este novo cenário da expansão deve
combinar, mais do que nunca, o aumento da
capacidade de atendimento do sistema à
maior qualificação acadêmica. Essa
dinâmica se soma a outra, presente no
mercado de trabalho, cada vez mais exigente
e seletiva quanto ao perfil dos profissionais
que se dispõe a empregar, aliado ao
progressivo esgotamento dos segmentos do
mercado mais interessados em profissionais
de nível superior com perfil diferenciado.
94
Assim, podemos considerar que as
respostas para cada pergunta acima
perpassam, necessariamente, pela
aplicação de uma nova metodologia, cujo
elemento deve considerar a tecnologia, que
já faz parte integral de nossas vidas e da
formação destes jovens. Porém, deve estar
claro que acessos à internet, bons
computadores, entre outros instrumentos
tecnológicos, bem como estruturas em
boas condições de uso, não vão garantir a
qualidade do processo de ensino/
aprendizado sem o papel de um educador
também bem qualificado.
4. Considerações Finais
Percebe-se que muitos especialistas têm
escrito sobre a força da tecnologia em
decidir os rumos da economia de mercado
e, principalmente, os rumos do mercado de
trabalho. Para reforçar essa tese, boa parte
dos responsáveis pela elaboração de
programas de políticas públicas dizem que
os jovens, por exemplo, devem começar
desde já a se preparar para um mundo
totalmente interligado, com elevadíssima
produtividade e com processos altamente
automatizados.
Por outro lado, um número crescente de
críticos desta “nova revolução”, questiona
a eficiência do atual e, principalmente, do
futuro processo de desenvolvimento e
capacitação destes jovens, uma vez que,
cada vez mais se observa o deslocamento
constante e repentino da tecnologia de uma
parte para a outra do mundo, bem como, a
perda de emprego e a consequente
precarização do trabalho deste grupo social
numa determinada região do planeta.
Por fim, cabe aos muito bem
organizados movimentos sociais de
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
resistência às mudanças acompanhar mais
de perto a implementação dessas forças
tecnológicas e de mercado, pois assim seria
possível fornecer tempo para a sociedade
refletir e absorver as novas formas de
relação do trabalho de uma maneira mais
homogênea. Neste sentido, também
poderíamos evitar a corrosão da
capacidade do estado em administrar
eficazmente seus programas de políticas
públicas de educação, a fim de garantir ao
jovem trabalhador e a outros cidadãos
meios para acompanhar todas essas
mudanças.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Censo da Educação Superior, em 28 de junho 2012.
_______. Ministério do Trabalho e Emprego, em 28 de junho de 2012.
CASTELLS, M. Era da informação: a sociedade em rede. V. 1. 10 ed. São
Paulo: Editora Paz e Terra: 2007
CORBELLINI, M. L. Empreededorismo juvenil: caminhos e travessias. Pontíficia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo: 2004.
IPEA. A desigualdade no desemprego no Brasil metropolitano. Brasília: 2009.
MARTINS, C. B. O ensino superior brasileiro nos anos 90. São Paulo: Perspectiva. Vol.14
no.1 São Paulo jan./mar, 2000
OIT. Trabalho Decente e Juventude. Brasília: 2009.
UNESCO. World Education Indicators Programme, 2003.
95
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1234
Otávio Roberto Jacobini1
Denise Helena Lombardo Ferreira2
Celso Ribeiro Campos3
Maria Lúcia Lorenzetti Wodewotzki4
A modelagem matemática como instrumento de
interação entre aprendizagem curricular e reflexões
críticas na sala de aula de estatística
Recebido em: 17/11/2012 - Aprovado em: 22/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Neste artigo buscamos mostrar a
associação entre aprendizagem curricular de
conteúdos estatísticos e reflexões críticas
decorrentes dos trabalhos investigativos
intrínsecos aos cenários pedagógicos
centrados na modelagem matemática.
Inserimos este estudo no campo da
Educação Estatística Crítica e após algumas
considerações teóricas sobre a interface
existente entre as competências estatísticas
(a literacia, o pensamento e o raciocínio
estatísticos) e a modelagem matemática,
apresentamos um ambiente de modelagem
matemática construído em uma sala de aula
de Estatística. Com base nesse ambiente,
mostramos a potencialidade pedagógica dos
projetos de modelagem matemática,
caracterizada de um lado, por contribuições
do coletivo em benefício do processo de
ensino e de aprendizagem, pela valorização
da busca da informação, pela percepção do
aluno da relevância da disciplina na sua
formação intelectual e profissional, e pela
compreensão da realidade ao seu redor. E,
de outro lado, tal como preconizado por
Skovsmose em seus trabalhos sobre a
Educação Matemática Crítica, pelas
valorizações da crítica e da criatividade do
aluno (e, consequentemente, do seu
crescimento político e social), e da
contribuição dos projetos de modelagem
para as reflexões intrínsecas a todos os
momentos vivenciados por ele. Concluímos
o artigo, refletindo sobre as possibilidades
pedagógicas oferecidas pela associação dos
assuntos inerentes aos temas dos projetos de
modelagem com fatos discutidos pela
1 Otávio Roberto Jacobini é Doutor em Educação Matemática (UNESP/Rio Claro, 2001), é professor da Faculdade de
Matemática do CEATEC/PUC-Campinas. Rod. D. Pedro I, Km 136 – Parque das Universidades, Campinas/SP – CEP
13086-900. e-mail:[email protected]
2 Denise Helena Lombardo Ferreira é Doutora em Educação Matemática (UNESP/Rio Claro, 2000), é professora da
Faculdade de Matemática do CEATEC/PUC-Campinas. Rod. D. Pedro I, Km 136 – Parque das Universidades, Campinas/SP
– CEP 13086-900. e-mail: [email protected].
3 Celso Ribeiro Campos é Doutor em Educação Matemática (UNESP/Rio Claro, 2007), é professor da FEA/PUC-SP, São
Paulo, SP, Brasil, R. Monte Alegre, 894, Perdizes, São Paulo/SP – CEP 05014-901.e-mail: [email protected].
4 Maria Lúcia Lorenzetti Wodewotzki é Livre docente em Estatística Aplicada à Educação (UNESP-Rio Claro, 1998), é
professora da Pós Graduação em Educação Matemática, UNESP-Rio Claro. Av. 24A no.1515 - Bela Vista, Rio Claro/SP CEP 13506-900. Coordenadora do GPEE, Rio Claro, SP, Brasil. e-mail:[email protected].
96
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
imprensa, romanceados pela literatura e
mostrados em filmes e em documentários.
Palavras-chave: Modelagem matemática.
Conteúdos estatísticos. Educação
estatística crítica. Críticas e reflexões.
Abstract
In this article we have as purpose to
show the association between learning
curricular statistical content and critical
reflections resulted from the investigative
work closely related with the pedagogical
scenarios focused on mathematical
modeling. We insert this study in the field of
Critical Statistics Education and after some
theoretical considerations about the
interface between statistical competencies
(literacy, thinking and reasoning) and
mathematical modeling, we present a
mathematical modeling environment built
on a Statistics classroom. Based on this
environment we showed the pedagogical
potential of mathematical modeling projects
characterized on the one hand, by
1. Introdução
É crescente o número de pesquisas que
abordam o ensino e a aprendizagem de
conteúdos estatísticos na escola. Muitas
dessas pesquisas mostram a importância do
trabalho com projetos, com particular
destaque à presença da modelagem
matemática, nas aulas de Estatística
(Campos; Wodewotzki; Jacobini, 2011;
Mendonça; Lopes, 2010; Andrade, 2008)
e, concomitantemente, do papel da mídia
(jornais, revistas, televisão e Internet)
como fonte de fornecimento pedagógico de
contributions of the collective at benefiting
the process of teaching and learning, by
valorization of information searching, by
students' perception of the importance of
discipline in their intellectual and
p ro f e s s i o n a l f o r m a t i o n , a n d b y
understanding the reality around. And on
the other hand, such as recommended by
Skovsmose in his works on Critical
Mathematics Education, regarding the
valorization of criticism and creativity of
the student (and hence their social and
political growth), and the contribution of
modeling projects to the reflections intrinsic
to all experienced moments by them. We
conclude the article reflecting on the
pedagogical possibilities offered by the
association of the issues inherent to the
topics of modeling projects with facts
discussed by the press, romanticized by
literature and depicted in movies and
documentaries.
Keywords: Mathematical modeling;
Statistical contents; Critical statistics
education; Reviews and reflections.
informações, verdadeiros conteúdos vivos
presentes em nosso cotidiano. Essa fonte é
formada de exemplos que envolvem
gráficos e tabelas, de índices e de análises
comparativas que requerem leitura dos
mais variados tipos de dados. As
informações disponíveis precisam ser
analisadas e criticamente interpretadas, o
que faz com que a presença da Estatística
nas formações acadêmica e pessoal do
estudante, de diferentes áreas e níveis
escolares, seja cada vez mais valorizada.
Como constatam Batanero e Godino
(2005), o papel da Estatística na sociedade
moderna se destaca por prover ferramentas
97
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
metodológicas para análise dos dados, para
descrição e quantificação do
relacionamento de variáveis, para o
planejamento e análise de estudos e
experimentos, para estimativas e tomada
de decisões em situações de incerteza. Daí
sua importância nos ambientes escolares.
Nessa direção, os Parâmetros
Curriculares Nacionais, no Brasil, com a
intenção de fornecer uma formação ampla
e crítica ao estudante, destacam a
importância do conhecimento de conteúdos
estatísticos já nos níveis fundamental e
médio. No ensino superior, além da
relevância do conhecimento de conteúdos
estatísticos nas ciências exatas, a sua
importância está sendo igualmente
reconhecida nas ciências sociais, nas
ciências humanas e na área da saúde.
Se por um lado são indiscutíveis a
importância e a necessidade da presença da
Estatística na sala de aula, de outro lado é
igualmente perceptível que há problemas
pedagógicos em todos os níveis escolares,
quer em relação ao ensino, quer em relação
à aprendizagem. E esses problemas são
responsáveis por muitas das dificuldades
enfrentadas pelos alunos em suas
atividades curriculares. Como explicado
em Campos, Wodewotzki e Jacobini
(2011), essas dificuldades pedagógicas têm
incentivado pesquisadores a buscar suas
origens, dando início assim a essa nova
área de atuação pedagógica denominada
Educação Estatística (EE). Investigar essas
dificuldades e buscar procedimentos
pedagógicos para superá-las tem sido o
principal objetivo do nosso grupo de
pesquisa (GPEE – Grupo de Pesquisa em
Educação Estatística da UNESP de Rio
Claro).
98
A EE, como campo de ação, extrapola
as preocupações com dificuldades
pedagógicas (de aprender e de ensinar) e
concentra seu interesse no
desenvolvimento de uma postura
investigativa, reflexiva e crítica do aluno
em uma sociedade globalizada (e
desigual), marcada pelo acúmulo de
informações e pela necessidade de tomada
de decisões em situações de incerteza.
Nesse contexto, a EE tem mostrado que a
eficiência do ensino e da aprendizagem dos
conteúdos de Estatística está fortemente
associada com o desenvolvimento de três
competências, relacionadas entre si: a
literacia, o pensamento e o raciocínio
estatísticos.
Essas competências, baseadas
principalmente na interpretação e na
compreensão críticas de informações
provenientes de dados reais, estão
associadas a uma educação voltada para a
formação de uma cidadania crítica. Nessa
linha, vemos o desenvolvimento dessas
competências em harmonia com o
pensamento pedagógico de Skovsmose
(2008) que, focado na importância da
formação de um estudante crítico,
investigador, questionador e consciente dos
problemas que afligem a sociedade, e com
seu olhar voltado para as ideias de Paulo
Freire, defende um ambiente pedagógico
responsável pela promoção de uma
educação problematizadora, dialógica e
que estimule a criatividade e a reflexão do
estudante.
Em nosso Grupo de Pesquisa inserimos
a EE nesse ambiente idealizado por
Skovsmose e, via de regra, nos baseamos
nos princípios pedagógicos da modelagem
matemática para trabalhar o ensino e a
aprendizagem de Estatística por meio de
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
projetos. Vemos essa conduta pedagógica
como um instrumento de ação que
possibilita ao aluno vivenciar situações nas
quais ele tenha que avaliar resultados,
questionar informações e desenvolver
atitudes críticas e criativas. Agindo dessa
forma, pensamos em um ambiente de
aprendizagem que busca, no particular,
favorecer o desenvolvimento de
habilidades para lidar com os conceitos
estatísticos no seu cotidiano e, no geral,
contribuir fortemente para a formação de
um cidadão crítico e consciente das suas
obrigações sociais e políticas.
Temos defendido em nossos estudos um
processo de ensino e de aprendizagem na
perspectiva investigativa, no qual o aluno
vivencia a geração e a análise de dados e,
consequentemente, participa ativamente da
construção do seu conhecimento. Outros
trabalhos como os de Campos (2007) e
Campos et al. (2011) têm esse mesmo
propósito, defendendo o chamado learning
by doing ou active learning, que
traduzimos por aprender Estatística
fazendo Estatística, e trazendo para a
prática escolar os conceitos de Educação
Estatística Crítica (EEC).
Buscamos, neste artigo, mostrar que é
possível associar, por intermédio de
projetos de modelagem matemática, as três
competências que para nós formam o
núcleo da EE – a literacia, o raciocínio e o
pensamento estatísticos com o
desenvolvimento do conhecimento
curricular do aluno, com a valorização do
seu pensamento crítico e,
consequentemente, com o seu crescimento
político. Para tanto nos baseamos em um
ambiente de modelagem matemática,
construído em uma disciplina de
Estatística, ministrada em um curso de
Administração. Em nossas conclusões
fortalecemos essa associação com uma
abordagem combinatória entre os
resultados obtidos com os projetos de
modelagem, com fatos discutidos pela
imprensa, romanceados pela literatura e
mostrados em filmes e documentários..
2. Competências estatísticas e
modelagem matemática
O termo literacia nos remete à
habilidade de ler, compreender, interpretar,
analisar e avaliar textos escritos. A literacia
estatística refere-se ao estudo de
argumentos que usam a estatística como
referência, ou seja, a habilidade de
argumentar usando corretamente a
terminologia estatística. Entendemos que a
literacia estatística inclui também
habilidades básicas e importantes que
podem ser usadas para a compreensão de
informações estatísticas. Essas habilidades
incluem as capacidades de organizar
dados, construir e apresentar tabelas e
trabalhar com diferentes representações
dos dados. A literacia estatística também
inclui entendimentos de conceitos e de
técnicas, de vocabulário, de símbolos e de
probabilidade como medida de incerteza.
Essa visão de literacia tem sofrido
variações, ao longo do tempo e, com o
avanço da EE, diferentes autores foram
introduzindo perspectivas mais
abrangentes para essa competência.
Rumsey (2002), em seus estudos,
identifica os componentes da literacia,
relacionando-a com a educação para a
cidadania. Segundo a autora, para os
alunos se tornarem bons cidadãos
estatísticos, eles devem entender o
suficiente para consumir as informações
99
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
que permeiam nossa vida diariamente,
sendo capaz de pensar criticamente sobre
essas informações de modo a tomar
decisões com base nelas.
O raciocínio estatístico é definido por
Garfield (2002) como a maneira com a
qual uma pessoa raciocina e se posiciona
com base nas ideias e nas informações
estatísticas. Isso engloba interpretações
baseadas em conjuntos de dados e
representações ou sumários estatísticos dos
dados nas formas de gráficos e de tabelas.
Em muitos casos o raciocínio estatístico
envolve ideias de variabilidade,
distribuição, chance, incerteza,
aleatoriedade, probabilidade, amostragem e
testes de hipóteses, o que leva a
interpretações e inferências acerca dos
resultados. O raciocínio estatístico pode
ainda envolver a conexão de um conceito
com outro (medidas centrais e
variabilidade, por exemplo), ou pode
combinar ideias sobre dados e chance. O
raciocínio estatístico também incorpora o
entendimento de um processo estatístico e
as capacidades de interpretar os resultados
obtidos de um problema baseado em dados
reais e de explicá-los. Como diz Ben-zvi
(2008), essas habilidades são importantes
para o cotidiano dos cidadãos e devem,
assim, constituir um ingrediente padrão na
educação de todo estudante.
delMas (2004) afirma que o
desenvolvimento do raciocínio estatístico
deve configurar um objetivo explícito no
ensino de Estatística. Para isso o autor diz
que devem ser construídas atividades na
sala de aula que extrapolam a
aprendizagem de procedimentos e que
buscam valorizar métodos que exijam dos
estudantes um conhecimento mais
profundo dos processos estocásticos.
100
Assim como Campos (2007) acreditamos
que é possível ajudar os estudantes a
desenvolver o raciocínio estatístico e, para
tanto, certos procedimentos, como
incentivos para a descrição verbal e escrita
do processo estatístico que está sendo
analisado, devem ser incorporados ao diaa-dia da sala de aula.
O pensamento estatístico, de acordo
com Mallows (1998), pode ser entendido
como a capacidade de relacionar dados
quantitativos com situações concretas,
admitindo a presença da variabilidade e da
incerteza, explicitando o que os dados
podem dizer sobre o problema em foco. O
pensamento estatístico ocorre quando os
modelos matemáticos são associados à
natureza contextual do problema em
questão, ou seja, quando surge a
identificação da situação analisada e se faz
uma escolha adequada das ferramentas
estatísticas necessárias para sua descrição e
interpretação.
Uma característica particular do
pensamento estatístico é prover a
habilidade de enxergar o processo de
maneira global, com suas interações e seus
porquês, entender suas diversas relações e
o significado das variações, explorar os
dados além do que os textos prescrevem e
gerar questões e especulações não previstas
inicialmente. O pensador estatístico,
segundo Chance (2002), deve ser capaz de
ir além do que lhe é ensinado no curso, de
pesquisar, de refletir sobre o que está sendo
investigado e de questionar
espontaneamente.
Vemos a modelagem matemática como
um importante instrumento de ação na sala
de aula, capaz de tornar o ambiente
pedagógico menos árduo para quem ensina
e mais significativo para quem aprende. E,
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
concomitantemente, de transformar a sala
de aula em um cenário político, centrado
em ações, atuações e participações dos
atores (alunos e professor) na sociedade,
no qual o professor tem a oportunidade de
explorar possibilidades que possam
contribuir para a formação crítica do
estudante e para a construção da sua
cidadania.
Ademais, como já dissemos em outro
momento (Ferreira; Jacobini, 2009, 2010),
a modelagem matemática, além de ser um
importante instrumento de aplicação da
matemática para resolver problemas reais,
também gera necessidades para o
levantamento de dados e para
simplificações das situações da realidade.
Nessa direção, a modelagem matemática
contribui para a construção de um
ambiente pedagógico no qual os alunos, de
um lado, podem realizar simulações e fazer
analogias na medida em que um mesmo
modelo pode ser útil na representação de
diferentes situações. E, de outro lado, eles
podem identificar aplicações em outras
áreas do conhecimento e em diferentes
contextos, além de associar o conteúdo
curricular com o mundo do trabalho.
Ve m o s , a s s i m , o p r o c e s s o d e
modelagem com o seu início e com o seu
término no mundo real, passando por
investigações e por reflexões que
fundamentem a construção ou a escolha de
modelos matemáticos, pelas etapas de
validação e de interpretação de resultados,
e pela sistematização do conteúdo. Além
disso, esse processo de modelagem deve
envolver igualmente investigações não
matemáticas e discussões, chamadas
paralelas por Barbosa (2007), que
envolvem, dentre outras, as percepções
sobre a realidade social na aula de
matemática e o uso do conhecimento
matemático para legitimar os discursos que
analisam as questões da vida na sociedade
(contexto social e cultural).
A modelagem matemática, quando
aplicada no ensino de Estatística, permite a
construção de ambientes pedagógicos que
possibilitam ao aluno vivenciar a
aplicabilidade dos conteúdos estatísticos e,
ao mesmo tempo, desenvolver as
capacidades de pesquisar, de realizar
trabalhos em grupo, de discutir, de refletir,
de criticar e de comunicar suas opiniões. A
incorporação dos princípios pedagógicos
da modelagem matemática aos
procedimentos didáticos da Estatística,
operacionalizada pelo trabalho com
projetos, mostra-se relevante justamente
por incentivar e contribuir para o
desenvolvimento das capacidades de
literacia, raciocínio e pensamento
estatísticos.
Avaliamos no nosso grupo de pesquisa
que essa relevância evidencia-se com mais
intensidade se no cenário pedagógico
centrado na modelagem matemática forem
valorizados trabalhos com dados reais
(realizados preferencialmente em grupos),
relacionamentos desses dados com o
contexto em que eles estão inseridos,
recomendações para interpretações dos
resultados conseguidos, e incentivos tanto
para a construção de ambientes na sala de
aula voltados para críticas, discussões e
reflexões, quanto para o compartilhamento
com a comunidade (a própria escola ou o
meio no qual a escola está inserida) dos
resultados obtidos com os trabalhos
realizados. É com nosso olhar atento
nessas valorizações que buscamos interagir
aprendizagem curricular e reflexões
críticas. Essa interação que aqui
101
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
abordamos baseia-se em um cenário
pedagógico que construímos em uma sala
de aula de Estatística e que valoriza a EEC
na medida em que, conforme Campos et al.
( 2 0 11 ) , p r o m o v e u m a e d u c a ç ã o
problematizadora, dialógica, criativa e
reflexiva; estimula a inserção crítica do
estudante na realidade em que ele vive;
incorpora os aspectos políticos envolvidos
no processo educativo; incentiva o trabalho
em grupo e colaborativo; proporciona o
desenvolvimento de relacionamentos
sociais; combate as posturas alienantes dos
alunos e defende a ética e a justiça social.
3. A modelagem matemática como
instrumento de interação entre
aprendizagem curricular e reflexões
críticas na sala de aula de Estatística
Para essa abordagem nos baseamos em
um ambiente pedagógico, centrado em
projetos de modelagem matemática,
construído pela professora da disciplina de
Estatística de um curso de graduação em
Administração (segunda autora deste
trabalho) e que contou com a participação
de uma mestranda em Educação
Matemática na UNESP (Rio Claro/SP,
Brasil). O projeto foi desenvolvido durante
o 1º semestre de 2010 e o
acompanhamento e a análise das atividades
realizadas resultaram na elaboração da
dissertação, intitulada “Educação
Estatística
Crítica:
uma
possibilidade?” (SAMPAIO, 2010). As
atividades desenvolvidas no ambiente de
aprendizagem foram acompanhadas pelo
5Resultados
GPEE – Grupo de Pesquisa em Educação
Estatística da UNESP de Rio Claro. 5
Para o desenvolvimento desses projetos
foram feitas as seguintes escolhas:
Trabalhos realizados em grupo
com liberdade para suas
organizações.
•
Temas dos projetos escolhidos
pelos alunos com as participações
da professora da disciplina e da
mestranda que acompanhou o
trabalho.
•
Atividades dos grupos realizadas
tanto na sala de aula quanto fora do
horário escolar.
•
Abordagem na sala de aula dos
conteúdos estatísticos necessários
para os trabalhos.
•
No início do curso, com uma exposição
preliminar, a professora da disciplina
procurou mostrar aos alunos que as
atividades relacionadas com seus trabalhos
contribuiriam para a vivência de um
processo de investigação estatística em um
ambiente de modelagem matemática, para
a percepção da aplicabilidade de certos
conteúdos curriculares estatísticos em
problemas reais e para a compreensão de
aspectos importantes inerentes aos seus
temas de trabalho. A professora também
informou que cada grupo deveria realizar
uma pesquisa de opinião com questões
relacionadas com o assunto escolhido,
além de obter informações especificas
sobre ele em fontes apropriadas (livros,
filmes, jornais, revistas, Internet, etc.),
elaborar um relatório com os resultados
obtidos e discutir esses resultados com
extraídos deste cenário também foram analisados no trabalho “O ensino e a aprendizagem de
conteúdos estatísticos por meio de projetos”, apresentado pelos autores na VIII CIAEM - Conferência
Interamericana de Educação Matemática, em 2011 (FERREIRA et al., 2011).
102
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
seus pares dentro dos grupos e em sala de
aula. Esses projetos fariam parte do
processo de avaliação.
Para o desenvolvimento de suas
atividades os grupos receberam algumas
recomendações:
A escolha do tema de trabalho
deveria estar acompanhada da
respectiva justificativa.
•
Os objetivos do trabalho
deveriam ser explicitados.
•
Para a pesquisa de opinião sobre
o tema, o questionário para a coleta
de dados precisaria conter no
mínimo três variáveis qualitativas e
três quantitativas.
•
Os cruzamentos entre as
variáveis envolvidas na pesquisa e
os seus respectivos gráficos, bem
como a obtenção de medidas
estatísticas das variáveis numéricas
(tais como média, moda e mediana,
estudo da simetria, desvio padrão e
coeficiente de variação) eram
imprescindíveis.
•
Algumas dessas variáveis
quantitativas deveriam conter
estudos sobre correlação e
mostradas pelos gráficos de
dispersão contendo a reta de
regressão e o coeficiente de
determinação.
•
Os relatórios dos projetos deveriam
obedecer a seguinte estrutura: introdução;
apresentação dos dados; análise, discussão
e interpretação dos resultados; comparação
desses resultados com os de outras
pesquisas publicados na mídia (Internet,
jornais e revistas); conclusões e
comentários finais; referências
bibliográficas.
Depois de algumas orientações sobre
procedimentos, discussões em sala de aula
e superação das principais dificuldades, os
seguintes temas de trabalho foram
escolhidos pelos grupos: Alimentação dos
estudantes; Bebidas; O uso do
computador; Futebol e Sociedade; Meios
de Informação; McDonald’s; Preocupação
com a saúde; Qualidade no transporte
público na cidade de Campinas; Viagens;
Avaliando o nível da alimentação. Após a
escolha dos seus temas os grupos
definiram quais variáveis deveriam constar
dos questionários que seriam aplicados aos
entrevistados. Essa definição de variáveis é
relevante em projetos que envolvem
questionários estatísticos na medida em
que a análise dos dados em pesquisas de
opinião é feita com base nos resultados
apresentados por elas e pelos seus
relacionamentos. Algumas variáveis como
gênero, idade, renda e escolaridade fizeram
parte de todos os questionários. As
entrevistas para a obtenção dos dados
foram realizadas pessoalmente, por
telefone, ou por e-mail. As amostras,
convenientes e não aleatórias, foram
escolhidas pela facilidade de acesso dos
grupos aos entrevistados. Por essa razão os
resultados encontrados foram trabalhados
exclusivamente para a abordagem de
conteúdos curriculares de Estatística e para
a construção de ambientes favoráveis para
discussões e reflexões críticas. E, como
explicamos aos alunos, esses resultados
não poderia ser inferidos para a população.
4. Aprendizagem curricular e
reflexões críticas
Como dissemos anteriormente,
mantendo nosso olhar pedagógico nos
103
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
princípios filosóficos da Educação
Matemática Crítica e em consonância com
os fundamentos da Educação Estatística,
centramos nossa atenção tanto na formação
acadêmica do estudante quanto no seu
crescimento político e social.
Os projetos desenvolvidos pelos alunos
mostraram-se adequados para
investigações estatísticas, voltadas para o
desenvolvimento do conteúdo curricular da
disciplina, e para investigações não
estatísticas relacionadas com situações
inerentes aos assuntos que estavam sendo
investigados. Essa combinação entre as
investigações estatísticas e as não
estatísticas fica evidenciada nos relatórios
elaborados pelos grupos, mormente nas
análises apresentadas por eles, quer em
relação às variáveis individuais, quer em
relação aos relacionamentos entre elas.
Em trabalhos anteriores realizados no
nosso grupo de pesquisa mostramos que a
combinação desses dois modelos de
investigação contribui tanto para a
compreensão de importantes aspectos que
envolvem os temas de trabalho quanto para
a formação acadêmica e para o
desenvolvimento do pensamento crítico e
reflexivo do estudante. Essa combinação,
no âmbito da Educação Matemática, é
abordada por Jacobini (2011), e é também
percebida por Sampaio (2010) que, com
base nas ponderações de Barbosa (2007) e
com seu olhar voltado para a Educação
Estatística, destaca a natureza das
discussões surgidas no ambiente da sala de
aula e as classifica em Matemáticas,
Técnicas, Reflexivas e Paralelas.
Com o enfoque no conteúdo
programático da disciplina buscamos
6O
conduzir as atividades de modo que elas
propiciassem a aprendizagem de conceitos
relacionados com a Estatística Descritiva
(tabelas, gráficos, resumos numéricos de
medidas, linhas de tendência, correlação).
Aproveitamos para introduzir assuntos não
previstos no programa da disciplina
(amostragem, margem de erro, nível de
confiança e tamanho da amostra), mas que
eram necessários para a compreensão de
alguns princípios de inferência. Para
facilitar a percepção desses assuntos e das
relações entre eles, organizamos uma
atividade relacionada com a simulação de
resultados amostrais com base em um
parâmetro conhecido (no caso, o resultado
da eleição presidencial de 2010). Essa
atividade foi desenvolvida no Laboratório
de Informática. Também no Laboratório de
Informática trabalhamos com a Tabela
Dinâmica do Excel e com O EstatD+ 6 para
a organização e apresentação dos dados
por meio de tabelas e de gráficos e para a
geração dos resumos estatísticos, da reta de
regressão e do coeficiente de determinação
das variáveis numéricas.
Os resultados obtidos com base na
análise das variáveis e dos cruzamentos
entre elas, mostrados nos relatórios
apresentados pelos grupos, propiciaram
discussões e reflexões entre os seus
integrantes e debates na sala de aula.
Alguns desses resultados, mesmo não
tendo havido a priori formulação de
hipóteses, confirmaram o que já era
esperado. Outros deles, entretanto, foram
surpreendentes, já que não coincidiam com
o que se imaginava encontrar, como foi o
caso do resultado encontrado pelo grupo
responsável pelo tema Alimentação dos
estudantes que, ao analisar o cruzamento
EstatD+ é um software de domínio público e está disponível em: www.calculo.iq.unesp.br/estatistica.html.
104
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
da variável “quem é responsável pelo
preparo da refeição na sua casa” versus a
variável “Gênero”, concluiu que,
diferentemente do que se pensava, 41%
dos respondentes masculinos disseram ser
eles mesmos os responsáveis pelo preparo
de sua própria comida (contra apenas 36%
das mulheres). Esses resultados trouxeram
discussões entre os alunos e motivaram a
busca de justificativas para tais
porcentagens. Dentre essas justificativas
destacaram-se as comparações entre as
atividades profissionais da mulher nos dias
de hoje, em contraste com o passado,
quando a maioria delas se dedicava apenas
aos afazeres domésticos e a criação de seus
filhos.
Essas descobertas estatísticas, algumas
conflitantes com o senso comum,
despertaram o interesse dos alunos em
confrontar seus resultados com aqueles que
a mídia tem revelado sobre os temas e esse
confronto serviu como pano de fundo para
a discussão sobre a importância da
compreensão da Estatística para a
percepção crítica das informações
divulgadas nos meios de comunicação.
Diversos resultados, além de evidenciarem
conflitos envolvendo índices, mostraramse igualmente polêmicos, motivaram
críticas e propiciaram reflexões. O grupo
responsável pelo tema Bebidas, por
exemplo, ao analisar seus dados, constatou
que aproximadamente 60% dos
respondentes masculinos já haviam
dirigido alcoolizados. Os alunos do grupo
comentaram que esse desastroso resultado
encontrado por eles contraria a chamada
“lei seca”, denominação popular dada a
uma legislação que impõe severos limites
ao consumo de álcool para quem dirige
veículos automotores. Esse índice obtido
pelo gênero masculino foi bastante
contrastante com o apresentado pelo
gênero feminino, já que apenas 22% das
mulheres disseram ter dirigido após o
consumo de algum tipo de bebida
alcoólica. Em seu relatório, e
complementando suas análises a respeito
desses índices, o grupo destacou que o
consumo excessivo de bebidas alcoólicas é
uma das principais causas de acidentes de
trânsito.
No debate relacionado com esse tema e
ocorrido na sala de aula os alunos
comentaram sobre o bar localizado nas
proximidades da Universidade, o que dá a
impressão de que ele é uma extensão da
instituição. Ademais, os estudantes,
criticando o Poder Público que permite tal
proximidade, disseram que essa
localização possibilita que muitos alunos
troquem a sala de aula pelo bar, e lá, além
de gastar dinheiro, acabam bebendo e
fumando. Na maioria das vezes são jovens
que não têm ideia do prejuízo que esses
vícios trazem à sua saúde e que ignoram o
perigo de dirigir alcoolizado, com riscos a
si próprios e à vida de pessoas inocentes.
Os alunos concluíram que as leis deveriam
ser mais severas, regulando tanto a venda
quanto o consumo de bebidas alcoólicas,
principalmente em locais próximos de
instituições escolares.
A descoberta de que conhecimentos de
informática eram maiores entre as
mulheres do que entre os homens, obtida
pelo grupo responsável pelo tema O uso do
computador, trouxe a tona o debate sobre a
ampliação da presença feminina em todos
os setores da sociedade. Se por um lado, e
como já era esperado, “pérolas” negativas,
como frases que diziam que “os homens
apenas estavam dando oportunidade às
mulheres” ou que os “homens eram
105
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
responsáveis pelo raciocínio e as mulheres
pela execução” foram mencionadas, por
outro lado os resultados confirmavam que
a presença feminina no mercado de
trabalho acentua-se neste início de século
21, principalmente em setores que, em
épocas anteriores, eram exclusivamente de
responsabilidade dos homens. Exemplos
de mulheres que conquistaram sucesso em
suas carreiras, assumindo importantes
funções tanto em empresas privadas como
públicas, foram trazidos para o debate na
sala de aula.
Significativas polêmicas surgiram com
os resultados apresentados pelo grupo
responsável pelo tema Futebol e
Sociedade. Naturalmente resultados já
esperados e que fazem parte do
conhecimento geral foram apresentados
pelo grupo, como principalmente aqueles
que mostravam que os homens têm bem
mais interesse pelo futebol do que as
mulheres. Entretanto, em relação ao
futebol feminino, surpreendentemente, os
resultados mostraram que os homens têm
mais interesse no seu desenvolvimento do
que as próprias mulheres. Esses índices,
mesmo não podendo ser inferidos para a
população, contribuem para justificar a
fraca presença do futebol feminino
brasileiro no cenário mundial, em contraste
com o sucesso alcançado pelos futebolistas
masculinos.
O cruzamento entre as variáveis
“Renda” e “Origem do produto adquirido
(oficial ou pirata)” indicou que a maioria
dos consumidores de produtos oficiais de
clubes (camisas, bonés, etc.) é formada de
pessoas provenientes das camadas mais
pobres da sociedade. Esse resultado, apesar
de bastante questionável, indica que,
possivelmente, pessoas com menor poder
106
aquisitivo preferem comprar produtos que
rendem recursos financeiros para seus
clubes, em contraste com aquelas mais
ricas, que parecem não ter essa
preocupação.
Talvez essa opção, na medida em que
produtos piratas relacionados com clubes
esportivos são fartamente oferecidos, seja
justificada pela apaixonante identificação
das pessoas dessa camada da sociedade
com seus times de futebol. A possibilidade
de que pessoas com níveis de escolaridade
mais altos (como esperado entre os mais
ricos) nem sempre fazem uso de seus
conhecimentos para agirem corretamente,
também foi levantada no debate entre os
alunos.
Como mostra Sampaio (2010), o grupo
também comparou seus dados com os
resultados apresentados por recente
pesquisa sobre a popularidade dos diversos
times brasileiros, realizada pelo instituto
DataFolha e, simultaneamente com essa
comparação, fez uma análise crítica tanto
do trabalho que eles realizaram
(amostragem deficiente, estratificação,
etc.) quanto da pesquisa realizada pelo
instituto ligado ao Jornal Folha de S.
Paulo.
Nos trabalhos realizados pelos grupos,
as três competências estatísticas (literacia,
pensamento e raciocínio) foram
valorizadas na medida em que os alunos
trabalharam com dados reais, obtidos por
eles próprios nas entrevistas que
realizaram; relacionaram seus dados e seus
resultados ao contexto em que eles
estavam inseridos e os compararam com
aqueles que estavam sendo apresentados
pela mídia; interpretaram seus resultados e
elaboraram relatórios escritos; debateram
com seus pares de grupo e com seus
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
colegas de classe seus resultados e suas
descobertas; participaram de uma atividade
prática (no Laboratório de Informática), na
qual puderam realizar experimentações de
amostragem e, assim, verificar que seus
resultados, obtidos de forma conveniente,
não poderiam ser generalizados.
Especialmente em relação à literacia
estatística, ela foi estimulada na medida em
que os alunos aprenderam conceitos
estatísticos e souberam relacioná-los com
seus dados e usar a Estatística como
referência em seus argumentos,
organizando os dados obtidos, construindo
tabelas e gráficos, e obtendo informações
quantitativas. Além disso, eles discutiram
criticamente as informações veiculadas
pela mídia, mormente aquelas que estavam
relacionadas com seus temas.
O raciocínio estatístico foi valorizado
no momento em que os alunos, com seus
projetos de modelagem, puderam vivenciar
um processo estatístico e precisaram
explicá-lo aos seus colegas. Além disso, os
estudantes interpretaram estatisticamente
os resultados encontrados e, para essa
interpretação eles precisaram fazer
diversas conexões entre os dados e os
conceitos estatísticos estudados no curso,
como, por exemplo, aqueles relacionados
com medidas de centro e dispersão,
variáveis e correlação.
Por fim, quanto ao pensamento
estatístico percebemos avanços na medida
em que os alunos, de um lado, souberam
relacionar os dados quantitativos com
situações concretas, associar os modelos
matemáticos utilizados com o contexto do
problema, e identificar as ferramentas
estatísticas adequadas (medidas de posição
e dispersão, variáveis qualitativas e
quantitativas, coeficiente de correlação,
etc.) para a descrição e interpretação dos
resultados de suas pesquisas. E, de outro
lado, conseguiram utilizar criticamente
seus resultados, como mostraram os casos
acima apresentados.
Assim, essa junção das três
competências no ambiente pedagógico
construído com base nos projetos de
modelagem, tal como preconizado por
Skovsmose (2008), contribuiu para
valorizar um processo educacional
problematizador, dialógico e estimulante
para a crítica e para a criatividade do
aluno, tanto em relação à aprendizagem
curricular quanto em relação à sua
aplicabilidade no trabalho prático e à sua
contribuição para as reflexões intrínsecas a
todos os momentos vivenciados por eles.
Além disso, o ambiente construído
auxiliou os alunos na compreensão das
limitações dos conteúdos que aprenderam,
na observação das diferentes dimensões
entre a teoria e a prática. Ademais, eles se
sentiram valorizados ao expor suas ideias e
incertezas, o que propiciou uma rica troca
de experiências.
5. Interação entre aprendizagem
curricular e reflexões críticas nas
aulas de estatística: novas
possibilidades e perspectivas
Neste artigo buscamos mostrar a
associação entre aprendizagem curricular
de conteúdos estatísticos e reflexões
críticas decorrentes dos trabalhos
investigativos intrínsecos aos cenários
pedagógicos centrados na modelagem
matemática. Em um ambiente investigativo
na sala de aula, aprendizagem curricular e
conhecimento sobre o que envolve o objeto
do ensino entrelaçam-se e se relacionam.
107
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Não são estanques, nem paralelos e muitos
menos separados um do outro,
independentemente da disciplina e da
pedagogia.
Agora, em nossas considerações finais,
e com a intenção de ampliar tanto a
perspectiva investigativa quanto os meios
para a construção de cenários apropriados
para a valorização de discussões na sala de
aula, concentramos nossa atenção nas
possibilidades pedagógicas oferecidas pela
associação dos assuntos inerentes aos
temas dos projetos de modelagem com
fatos discutidos pela imprensa,
romanceados pela literatura e mostrados
em filmes e em documentários.
Vemos este modelo de ambiente de
investigação, construído com base na
integração entre o pedagógico e o
cotidiano discutido na mídia, como uma
forma de educação voltada para a
responsabilidade social que busca
contribuir tanto para o enriquecimento
cultural e científico do estudante quanto
para a sua formação crítica expressa pelo
seu crescimento político-social e pelo seu
amadurecimento enquanto cidadão
presente em uma sociedade que,
concomitantemente com uma expressiva
riqueza de consumo e com uma forte
presença tecnológica, convive com
enormes desigualdades sociais.
Na discussão sobre a ampliação da
presença feminina no mercado de trabalho,
investigações mais aprofundadas
mostrariam exemplos de mulheres que
conquistaram sucesso em suas carreiras,
assumindo importantes funções tanto em
empresas privadas como públicas.
Confirmam esses exemplos as funções
políticas de extrema responsabilidade
exercidas por Dilma Roussef, Angela
108
Merkel e Cristina Kirchner, chefes de
governo respectivamente do Brasil,
Alemanha e Argentina, e de Michelle
Bachelet, eleita e reeleita para governar o
Chile após longo período de ditadura
militar. Reforça a ampliação feminina na
responsabilidade pela condução política do
Brasil a significativa presença das
mulheres na chefia de diversos ministérios
e órgão públicos, na Câmara Federal e no
Senado da República, além do Supremo
Tribunal Federal. Na política mundial,
destacam-se a figura marcante de Hillary
Clinton como Secretária de Estado dos
Estados Unidos, função quase tão
importante quanto aquela do presidente do
país, sucedendo a também mulher
Condoleezza Rice, e Christine Lagarde,
primeira mulher a dirigir o Fundo
Monetário Internacional (FMI). O caso de
Patrícia Melo, comandante de avião, é
outro exemplo do sucesso feminino em
campos profissionais amplamente
dominados pelos homens.
Fatos associados ao consumo de bebida
alcoólica, trazidos pela mídia e
relacionados com graves acidentes
automobilísticos, com exemplos negativos
de personalidades pegas em batidas
policiais, e com casos de doenças graves e
de mortes precoces, mostrariam novas
possibilidades ao trabalho apresentado pelo
grupo responsável pelo tema Bebidas.
Filmes e livros que mostraram a
decadência de importantes ídolos mundiais
colaborariam significativamente com essas
novas possibilidades. O filme “Edith Piaf –
um hino ao amor”, produzido em 2007 e
dirigido por Olivier Dahan, por exemplo,
mostra a ascensão e a queda de uma das
maiores artistas francesas, destruída pela
bebida e, como decorrência, pelas drogas.
Mais recentemente, a película dirigida por
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
José Henrique Fonseca sobre a vida de
Heleno de Freitas, cuja figura foi
brilhantemente interpretada por Rodrigo
Santoro, conta a trajetória de um dos
maiores ídolos futebolísticos do passado,
morto em um sanatório aos 39 anos de
idade. Na literatura, Ruy Castro mostra o
lado triste da vida do grande Garrincha,
atleta que tinha tudo em suas mãos, mas
acabou destruído pela bebida (CASTRO,
1995). Situações similares às de Garrincha
são vividas nos dias de hoje por inúmeros
jogadores e ex-jogadores de futebol.
Como abordado em Jacobini (2011), e
especificamente sobre o futebol, outros
caminhos poderiam ser explorados. O
papel da mídia no endeusamento e na
destruição de atletas é um deles.
Investigações sobre o tema na literatura, no
cinema e até mesmo na academia também
proporcionariam novos encaminhamentos
ao debate. Algumas histórias publicadas
versam sobre proezas e encantamentos,
como as escritas sobre Pelé, considerado o
melhor jogador de futebol de todos os
tempos. Mas muitos outros, com enredos
nem sempre repletos de glamour (como a
vida de Heleno de Freitas e o livro de Ruy
Castro), contém fatos e verdades sobre
dificuldades enfrentadas pela maioria dos
atletas, principalmente nos momentos de
despedida dos campos. Inúmeros
documentários e diversos trabalhos
acadêmicos têm sido produzidos sobre
situações envolvendo o mundo da bola, o
futebol e seus ídolos, as paixões populares
que envolvem esse esporte, as fanáticas
torcidas pelos times de futebol (e algumas
trágicas consequências desse fanatismo) e
a vida de atletas e de ex-atletas.
No cinema, e igualmente como
apontado em Jacobini (2011), os dois
filmes dirigidos por Ugo Giorgetti são
fontes obrigatórias de investigação sobre o
tema. O primeiro deles (“Boleiros – era
uma vez o futebol”, realizado em 1998)
retrata a vida futebolística, mostrando um
grupo de ex-jogadores que se reúnem
quase todas as tardes para relembrar
antigas glórias do passado. Depois, na
continuação com “Boleiros – vencedores e
vencidos”, realizado em 2006, a
abordagem se volta para o grande negócio
envolvendo transações de jogadores para
países da Europa. Já o filme “Linha de
Passe”, dirigido por Walter Salles e
Daniela Thomas, aborda o sonho de um
jovem de periferia em se tornar atleta de
um grande time, mas que vê suas chances
se reduzirem com o avançar da idade. Para
conseguir seu objetivo, estratégias nem
sempre éticas e às vezes ilegais são
utilizadas. Dentre elas o filme aborda a
alteração da data de nascimento e o
pagamento de propina para empresários do
mundo da bola.
Concluímos reafirmando que os
caminhos que se abrem com a opção pela
modelagem matemática na sala de aula,
baseada em temas contemporâneos e do
interesse da comunidade e, na sequência,
pela valorização do papel da mídia como
importante agente pedagógico e de fonte
de informação, apontam para a inserção
desse modelo pedagógico nas aulas de
Estatística em um contexto fortemente
identificado com a Educação Estatística
Crítica. Assumimos esse modelo com a
intenção de ampliar o horizonte do
estudante, quer em relação ao conteúdo
programático, quer em relação aos fatos
inerentes às temáticas abordadas nos
projetos. Consideramos esse modelo como
um instrumento político capaz de conduzir
o estudante à compreensão de aspectos
109
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
importantes relacionados com essas
temáticas e, consequentemente, de
contribuir no sentido de torná-lo mais
sensível para refletir sobre esses aspectos,
de modo que o seu julgamento sobre eles
s e j a o rg a n i z a d o c o n s c i e n t e m e n t e ,
independentemente dos chamados
“formadores de opinião”.
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112
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Silene Ferreira Claro1
Cinema e História: uma reflexão sobre as
possibilidades do cinema como fonte e como recurso
didático
Recebido em: 03/12/2012 - Aprovado em: 21/12/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Abstract
O presente artigo apresenta uma reflexão
teórica e metodológica sobre as
possibilidades do uso do cinema como fonte
histórica. A partir de tal perspectiva,
argumentamos que o professor de História
pode utilizar a mesma metodologia para
realização de uma pesquisa histórica ao
desenvolver suas aulas. Diante disto,
analisamos o cinema enquanto fonte
levantando as potencialidades de seu uso
como material didático nos três níveis da
educação: Fundamental, Médio e Superior.
This paper presents a theoretical and
m e t h o d o l o g i c a l re f l e c t i o n o n t h e
possibilities of using film as a historical
source. From this perspective, we argue
that the history teacher can utilize the
same methodology for conducting
historical research to develop their
lessons. Given this, we analyze the film as
source raising the potential of its use as
teaching material in all three levels of
education.
Palavras-chave: Cinema; História; Ensino
de História; Metodologia de análise.
Keywords: Cinema; History; History
Teaching; Methodology of analysis.
1Silene
Ferreira Claro - Doutora em História Social pela FFLCH-USP (2008). Bacharel em História pela Universidade de São
Paulo (1999) e graduação em Licenciatura em História pela Universidade de São Paulo (1999). Docente no Curso de
Pedagogia nas Faculdades Integradas Campos Salles, cadeira de Metodologia do Ensino de História, Tecnologias da
Informação e Comunicação aplicadas à Educação e História da Educação. Docente nos cursos de História e de Pedagogia da
Faculdade Sumaré. Fui professora do Centro Universitário Sant’Anna e monitora PAE no Departamento de História da Fac.
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – USP, em 2005. Experiência na área de História, com ênfase em História Regional
do Brasil, Historiografia e História do Brasil Contemporâneo, África e cultura Afro-brasileira, atuando principalmente nos
seguintes temas: educação, cultura brasileira, história cultural, didática do ensino de História e uso de tecnologias na e para a
educação. Membro do NDE - Núcleo Docente Estruturante, dentro da Faculdade Sumaré desde agosto de 2012 e também no
Centro Universitário Sant’Anna, nos cursos de Licenciatura em História e de Música, conforme orientações do MEC, entre
2008 e 2010. Colaboradora do NDE das Faculdades Integradas Campos Salles. Autora colaboradora na Editora Oxford do
Brasil desde 2011. Fui tutora no curso da Escola de Formação de Professores Paulo Renato de Souza na edição de preparação
de cursistas para o concurso em 2011. Atuo também como professora de História, Sociologia e Filosofia nos ensinos
Fundamental e Médio, na rede privada, em Osasco-SP. E-mail: [email protected]
113
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1. Introdução
Desde as críticas formalizadas por
Lucien Febvre e Marc Bloch2 o campo da
História passou por inúmeras
transformações. Buscava-se romper com os
velhos modelos de pesquisas
historiográficas que privilegiavam apenas
fontes escritas oficiais, visto que
historiadores “profissionais” dedicavam-se
aos “grandes feitos de figuras ilustres”. As
propostas apresentadas por Bloch e Febvre
permitiram a ampliação da noção de fonte
histórica, que deixou de ser apenas a
documentação escrita, para englobar toda
produção humana. Desta forma,
atualmente é ponto comum entre os
historiadores conceber que toda produção
humana pode ser utilizada como fonte
histórica, de acordo com as respostas que o
pesquisador procura responder.
Assim, ao longo do século XX, para
uma boa parte dos historiadores, a história
que se escreve (historiografia) é sempre
história contemporânea como afirmou
Benedetto Croce3 . O historiador busca no
passado formas para compreender o
presente, sempre através das fontes
históricas selecionadas. Com a ampliação
do conceito de fonte histórica, a partir da
inovação introduzida pela Escola dos
Annales, selecionamos aqui o cinema
como objeto de análise neste breve ensaio.
Analisar a produção cinematográfica
nos permite a utilização dos métodos de
pesquisa da historiografia, como
demonstrou Cristiane Nova: um filme pode
ser submetido às críticas interna e externa,
como já demonstrou Collingwood, em seu
livro A idéia de História4 . Assim, o filme
passa a ser um documento no qual é
possível resgatar as representações que se
tem da sociedade à qual pertence. Por
outro lado, se o filme tiver uma proposta
de reconstituição histórica, ele estará
falando muito mais das representações que
tal sociedade tem de determinado momento
do passado do que propriamente daquele
período.
Ao analisarmos filmes com conteúdo
“histórico”, podemos classificá-los em
fontes primárias ou secundárias. Os filmes
com conteúdo histórico, que foram
analisados como fontes históricas, podem
ser considerados do tipo primário, se
pretendemos estudar a sociedade na qual
foi produzido. Desta forma, por mais que a
obra se proponha analisar ou discutir o
passado, as características da sociedade
que a produziu são as que encontramos.
Para exemplificar, podemos fazer
referência ao filme Tróia, de 2004, dirigido
por Wolfgang Petersen. Apesar de se
basear na célebre história tratada na obra
Ilíada, de Homero, o filme narra os
acontecimentos sem a interferência dos
deuses. Coloca a questão como um conflito
entre o Ocidente pragmático e o Oriente
“religioso”. Assim, percebemos o quanto a
obra dialoga com a situação mundial
contemporânea, utilizando-se do passado
como veículo de discussão do presente.
2 Lucien Febvre e Marc Bloch foram dois historiadores franceses que, no final da década de 1920, propuseram uma nova
visão de História que passou a ser conhecida como Escola dos Annales. Tal proposta entende que toda produção humana
pode ser considerada fonte histórica, que é a matéria-prima da pesquisa do historiador.
3 GARDINER, Patrick. Teorias da História. 4 ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995, pp. 274-292.
4 COLLINGWOOD, R. G., A idéia de história. 4 ed., Portugal-Brasil: Editorial Presença-Livraria Martins Fontes, s/d. e
GARDINER, Patrick. Teorias da História. 4 ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995, pp. 302-319.
114
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Quando analisamos uma fonte do tipo
secundária, conseguimos resgatar formas
de uma representação do passado que
alimentam o presente. Utilizando o mesmo
exemplo do filme Tróia, podemos observar
quais aspectos do passado são
reconstruídos, desde construções, gestos,
vestimentas, até formas de compreensão do
mundo. A personagem Aquiles,
representada pelo ator Brad Pitt, em uma
conversa com a mãe, na qual discute a
escolha de viver uma vida comum ou ser
lembrado por toda a eternidade, ele escolhe
a segunda opção. Observamos aí, uma
relação com o passado que reflete de
alguma forma, as propostas de Heródoto,
ao registrar o que testemunhava para que o
futuro não se esquecesse.
Todos estes elementos estão presentes
na análise do historiador quando este se
debruça sobre a produção fílmica. Em
suma: debate-se com problemas de ordem
metodológica, política, ideológica e
econômica numa única fonte que é ao
mesmo tempo produto cultural de uma
sociedade industrial capitalista e exerce
grande influência sobre o público que o
consome, numa relação dialética.
A questão de o cinema ser considerado
como produto cultural está ligada à nossa
sociedade na medida em que cada vez mais
a população como um todo tem acesso aos
vários meios de comunicação de massa, os
quais veiculam ideologias e representações
da mesma sociedade. Nossa sociedade
“consome” a cultura que é veiculada por
tais obras. Em muitos casos, é nas
personagens do cinema que muitos grupos
encontram modelos de comportamento, de
conduta, de “heróis”.
2. Possibilidades de classificação
de filmes e suas relações com a
sociedade
Ao longo de nossa carreira docente, nos
últimos dez anos, introduzimos o uso do
cinema em nossas aulas nos três níveis do
ensino: Fundamental, Médio e Superior. A
utilização sempre foi acompanhada de
reflexões teóricas e metodológicas na
elaboração de roteiros que pudessem ser
desenvolvidos juntamente com os alunos.
Por outro lado, sempre procuramos
observar o envolvimento dos mesmos com
a ferramenta e as diversas maneiras de
dialogar com ela.
Conforme indicamos no início desta
reflexão, optamos por analisar e trabalhar
com filmes comerciais, na maior parte das
vezes com produções recentes, todos se
enquadrando na categoria de não
documentários, segundo a proposta
apresentada por Cristiane Nova5 . De
acordo com a autora, os filmes podem ser
divididos em dois tipos: documentários e
não documentários. Não optamos por
documentários porque escolhemos filmes
que, além de proporcionar uma análise
histórica da produção fílmica, uma análise
cinematográfica da história e uma
discussão do presente, compreendemos que
existe em nossa sociedade um movimento
que procura divulgar conhecimentos
históricos considerados adequados ou até
mesmo úteis para o funcionamento da
sociedade. Grupos que assim se
posicionam muitas vezes são capazes de
deter os meios de comunicação e o cinema
é um deles. Por este motivo, podemos
5 NOVA, Cristiane. O cinema e o conhecimento da História. O Olho da História, 3. Disponível em: <http://
www.oolhodahistoria.ufba.br/o3cris.html> Acessado em: 16/10/2006
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
através do circuito comercial tentar
resgatar uma cultura histórica contida nos
filmes.
Napoleão (1927, Abel Gance), Cromwel
(1970, Ken Hughes), Lamarca (1994, Sérgio
Resende) ou Rosa Luxemburgo (1986,
Margareth von Trotta).
Os não documentários, ou “filmes
históricos”, segundo a autora, os quais
optamos por trabalhar, podem ser
subdivididos em quatro subcategorias:
reconstrução histórica; biografia histórica;
filme de época; ficção-histórica e filmemito. Procurando enquadrar nossa
produção nesse contexto, podemos
distribuir os filmes que utilizamos da
seguinte forma:
Acrescentamos, a esta lista: Lutero;
Joana D’Arc; Amadeus; Caramuru – a
invenção do Brasil; Elizabeth; Agonia e
Êxtase (sobre a vida de Michelangelo); Rei
Arthur; Em nome de Deus (sobre a vida do
filósofo Abelardo); Elizabeth – a era do
ouro; Sandino; Napoleão – a última batalha
do imperador; Stalin; Átila; Demetrius e os
gladiadores; Olga; São Francisco;
Alexandre; Zuzu Angel.
“Reconstrução histórica: corresponde aos
filmes que abordam acontecimentos
históricos cuja existência é comprovada pela
historiografia e que contam com a presença
de personagens históricos reais no seu
enredo (interpretados por atores), cuja
fidelidade é relativa e se modifica de um
filme para outro. Não se trata apenas dos
filmes em que se realiza uma reconstrução
audiovisual do passado (o que dificilmente é
levado às últimas conseqüências) ou mesmo
dos fatos, mas também daqueles em que são
esboçadas interpretações históricas,
utilizando fatos comprovadamente reais.
Como exemplos de reconstruções históricas,
podemos citar Outubro (1927, S. Eisenstein),
A lista de Schindler (1993, S. Spilberg),
Spartacus (1960, S. Kubrick), 1592: a
conquista do paraíso (1992, Ridley Scott) ou
A rainha Margot (1994, Patrice Chéreau).
Filme de época: compreende aqueles filmes
cujo referente histórico não passa de um
elemento pitoresco e alegórico, e cujo
argumento nada possui de histórico no
sentido mais amplo do termo. São inúmeros
os exemplos de filmes de época: Sissi (1955,
Ernst Marishka), A amante do rei (1990,
Axel Corti) ou Angélica e o rei (1965,
Borderie). Mesmo assim, alguns deles
podem possuir elementos interessantes para
o historiador, principalmente aqueles em que
existe uma preocupação formal maior com a
reconstrução ambiental e dos costumes,
como é o caso de Ligações perigosas (1988,
Steaven Frears), por exemplo.
Propomos a ampliação da lista acima
com outros títulos, mais recentes e
comerciais. O Príncipe do Egito;
Spartacus; Gladiador; Cruzada; A Missão;
As vinhas da ira; 1492 – a conquista do
paraíso; Batismo de sangue; Estado de
sítio; Munique; O novo mundo.
Biografia histórica: trata-se dos filmes que
se debruçam sobre a vida de um indivíduo e
as sua[s] relações com os processos
históricos. Na maior parte dos casos, esses
filmes se limitam à abordagem da vida dos
chamados "grandes homens", ou seja,
aqueles indivíduos destacados pela
historiografia escrita e, principalmente, a
tradicional. Como exemplos, citamos
116
Acrescentamos a esta lista: Desmundo;
O piano; O ovo da serpente; A casa da
Rússia; O carteiro e o poeta.
Ficção histórica: abarca os filmes cujo
enredo é ficcional, mas que, ao mesmo
tempo, possui um sentido histórico real.
Como exemplo deste tipo de filme, podemos
citar O nome da rosa (1986, Jean-Jaques
Annaud), A greve (1923, Eisenstein), A
guerra do fogo (1981, Jean-Jaques Annaud),
Lili Marlene (1980, Fassbinder) etc.
Gostaríamos de acrescentar a esta lista
os seguintes filmes: Círculo de fogo;
Diamante de sangue; Gladiador; Cruzada;
O menino do pijama listrado; A vida é
bela.
Filme-mito: são aqueles filmes que se
debruçam sobre a mitologia e que podem
conter elementos importantes para a reflexão
histórica. Muitas vezes, o mito é apresentado
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
em paralelo a fenômenos históricos reais.
Podemos citar, por exemplo, El Cid (1961,
Antonny Mann) e A guerra de Tróia (1961,
Giorgio Ferroni).
Além dos filmes propostos pela autora,
sugerimos também: El Cid – a lenda
(animação); Tróia; Odisséia; As brumas de
Avalon; Excalibur; Fúria de Titãs; Tristão e
Isolda; Kirikou e a feiticeira; Kirikou e os
animais selvagens; O feitiço de Áquila; A
lenda da flauta mágica; A lenda de
Beowulf.
Filme etnográfico: agrupa os filmes
realizados com interesses científicoantropológicos. Como exemplo, podemos
citar a produção pioneira de Flaherty
(Nanouk, o esquimó).
Adaptações literárias e teatrais: engloba
os filmes que são oriundos de uma
adaptação de obras literárias e teatrais do
passado. Alguns exemplos são Germinal
(1995, Claude Berri) , Luciola: o anjo
pecador (1975, Alfredo Sternheim), Os
miseráveis (1978, Gleal Joadan), Hamlet
(1990, F. Zeffirelli), Henrique V (1945,
Laurence Olivier), 1984 de Orwell (1984,
Michael Readford).”6
Os filmes que são adaptações de obras
literárias e que podem ser classificados
segundo as categorias acima, fazendo
parte, inclusive de mais de uma categoria.
Podemos citar uma breve lista de obras
literárias e/ou teatrais que ganharam
versões cinematográficas: 2001 – Uma
Odisséia no Espaço, Desmundo, Germinal,
O homem da Máscara de Ferro (também
podem ser considerados como filmes de
época); As Brumas de Avalon, Tróia,
Odisséia, Tristão e Isolda (que se
enquadram na categoria filme-mito).
Sonho de Uma Noite de Verão, Hamlet, O
Mercador de Veneza, adaptações da obra
de Shakespeare, podem ser enquadrados
como filmes de época também, além de
alguns nacionais como O Cortiço,
Memórias Póstumas de Brás Cubas, A
Moreninha. Macunaíma, adaptação
literária, também pode ser enquadrada
como filme-mito.
Alguns filmes serão analisados mais
detalhadamente como: O Nome da Rosa,
um filme de época adaptação literária e
Eles Não Usam Black-tie, adaptação
cinematográfica de uma produção teatral,
assim como O Auto da Compadecida.
Caramuru – a invenção do Brasil, é uma
adaptação de um poema épico do século
XVIII com diálogo com outra obra: Os
Lusíadas. Outra adaptação literária é A
Revolução dos Bichos, que pode ser
enquadrado como filme-mito.
3. Professor de História e
Historiador: utilização dos métodos
de pesquisa como recurso didático
Marc Ferro nasceu em 1924, na França
e desde cedo dedicou-se a estudar o
cinema. Integrou-se ao grupo dos Annales,
trabalhando na como co-diretor da revista
do grupo. É conhecido como um dos
pioneiros da teorização e da aplicação da
relação cinema-história. Seu artigo
inaugural “O filme: uma contra-análise da
sociedade” foi publicado na “enciclopédia”
da Nova História, dirigida por Jacques Le
Goff e Pierre Nora, Faire de l’histoire.
Marc Ferro, no seu livro A manipulação
da história no ensino e nos meios de
comunicação, teorizou sobre os usos
ideológicos do cinema. Segundo ele,
“Hoje já está em tempo de se colocarem
frente a frente todas essas representações
NOVA, Cristiane. O cinema e o conhecimento da História. O Olho da História, 3. Disponível em: <http://
www.oolhodahistoria.ufba.br/o3cris.html> Acessado em: 16/10/2006
6
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
porque, com a ampliação do mundo, sua
unificação econômica e fragmentação
política, o passado das sociedades é mais do
que nunca um dos alvos do confronto entre
Estados e Nações, entre culturas e etnias.
Controlar o passado ajuda a dominar o
presente e a legitimar tanto as dominações
como as rebeldias. Ora, são os poderes
dominantes, Estados, Igrejas, partidos
políticos ou interesses privados que possuem
ou financiam livros didáticos ou histórias em
quadrinhos, filmes e programas de televisão.
Cada vez mais eles entregam a cada um e a
todos um passado uniforme.”
O uso do cinema no ensino de História
pode contribuir para a construção de
competências necessárias para o
aprendizado histórico, para que o aluno
desenvolva uma formação histórica.
A partir de tal reflexão, propomos a
necessidade de que o ensino de História,
nas escolas de nível Fundamental e Médio,
inclua a utilização dos meios de
comunicação de massa, já que os
estudantes têm acesso com grande
facilidade a tais veículos. Por outro lado, é
necessário que seja uma utilização crítica
de tais produções culturais, e para
comprovar é que iniciamos este ensaio
discutindo sobre as fontes históricas e a
metodologia de análise das mesmas. Tal
procedimento é um caminho para uma
utilização crítica da produção fílmica em
sala da aula. Isso pressupõe que o
professor e o historiador atuem
conjuntamente neste processo.
• transmitir uma memória coletiva, revista e
corrigida a cada geração, que coloca o aluno
diante de uma consciência coletiva;
A atuação do professor-historiador em
sala de aula permite que os filmes
utilizados sejam compreendidos como uma
representação daquela sociedade, de um
determinado passado e tal representação é
um discurso possível, dentre tantos outros
nos quais as fontes históricas podem
permitir, dependendo dos questionamentos
feitos.
“A linguagem própria da imagem auxiliará
na construção do conhecimento histórico do
aluno, construção esta que passa por
elaboração de operações mentais, para
resultar em efeitos sociais, como os
enumerados por Jean Peyrot, citado por
Henri Moniot:
• formar a capacidade de julgar —
comparando sociedades em épocas
diferentes, e a existência delas ao mesmo
tempo em locais diferentes — que tem como
efeito social o desenvolvimento do espírito
crítico e da tolerância;
• analisar uma situação — aprendendo a
isolar os componentes e as relações de força
de um acontecimento ou de uma situação —
que leva ao refinamento do espírito, antídoto
ao simplismo de pensamento;
• formar a consciência política como
instrumento de coesão social, memória de
um grupo que toma consciência de um
destino comum. 7
Avançando para o tópico desenvolvido
na sequência, compreendemos que o
aprendizado pode levar à formação
histórica esta, por sua vez, ajuda a nos
identificar e relacionar com a consciência
histórica, elemento que proporciona
significação ao nosso entendimento da
nossa relação com a sociedade e com o
tempo. Para a construção da consciência
histórica, percebemos que pode se valer de
competências que são necessárias para a
compreensão de um filme.
7 ABUD, Kátia Maria. A construção de uma Didática da História: algumas idéias sobre a utilização de filmes no ensino.
História, São Paulo, 22(1); 2003, p. 190.
118
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
“Na perspectiva acima, pode-se afirmar que
o filme promove o uso da percepção, uma
atividade cognitiva que desenvolve
estratégias de exploração, busca de
informação e estabelece relações. Ela é
orientada por operações intelectuais, como
observar, identificar, extrair, comparar,
articular, estabelecer relações, sucessões e
causalidade, entre outras. Por esses motivos,
a análise de um documento fílmico, qualquer
que seja seu tema, produz efeitos na
aprendizagem de História, sem contar que
tais operações são também imprescindíveis
para a inteligibilidade do próprio filme.”8
Compreendemos, então, que tais
competências muitas vezes são as mesmas
utilizadas pelo historiador quando
desenvolve uma pesquisa, assim como
quando observa suas fontes procurando
conexões entre os dados encontrados. Se o
historiador pretende oferecer uma
explicação ou uma compreensão do
passado, ele utiliza-se dessas – e de outras
– operações intelectuais presentes nos
métodos racionais de indução, dedução e
abdução, por exemplo.
Cabe então ao historiador que exerce o
papel de professor criar mecanismos para
que tais competências sejam acionadas e
percebidas pelos alunos, que passarão a
utilizá-las em outros contextos além da
análise fílmica.
4. Discussão sobre roteiro de análise
de um filme a ser utilizado
Durante os anos letivos de 2005, 2007,
2008, 2011 e 2012 aplicamos em duas
escolas da rede particular de ensino, em
São Paulo, um projeto de apresentação e
discussão sobre filmes que reconstituem o
passado, numa proposta de “revisar” o
conteúdo programático de história para os
alunos do nono ano do Ensino
Fundamental, além dos três anos do Ensino
Médio. No ano de 2005, participaram
apenas os alunos do terceiro ano do Ensino
Médio que prestaram provas vestibulares
naquele ano. A montagem do projeto
seguiu ao pedido do grupo de alunos que
acompanharam os filmes durante o ano.
As produções eram apresentados uma
vez por semana, em dias fixos, às tardes,
no horário inverso ao de aula daquelas
turmas. Desta forma, apenas os alunos que
podiam dispor destas horas participaram
voluntariamente, sem nenhum vínculo com
avaliações que fossem feitas. Aliás, as
avaliações formais não foram realizadas,
apenas ao final de cada discussão eles
julgavam o que tinham apreendido a partir
da proposta do filme do dia. Nesse aspecto,
utilizamos as perspectivas da Didática da
História que valoriza a narrativa como uma
forma de construção e manutenção da
consciência histórica. Iniciamos com um
grupo pequeno de alunos que diminuiu na
medida em que se aproximavam as provas,
pois muitos também faziam cursinhos
preparatórios. Terminamos nos anos de
2005, 2007 e 2008, com um grupo
oscilante entre ficaram até a última
apresentação. O processo ainda está em
andamento desde o ano de 2011.
A proposta da apresentação dos filmes,
seguindo opção do grupo, foi uma
seqüência cronológica dos acontecimentos
históricos tal como se encontram
distribuídos no material didático que, por
sua vez, atende aos critérios das propostas
de conteúdos programáticos indicados pelo
sistema educacional brasileiro. Apesar do
critério de escolha cronológico das obras, o
8 ABUD, Kátia Maria. A construção de uma Didática da História: algumas idéias sobre a utilização de filmes no ensino.
História, São Paulo, 22(1); 2003, p. 191. (Grifos nossos)
119
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
desenvolvimento das discussões procurava
estabelecer discussões temáticas, saindo da
perspectiva de história linear. Destacamos
assim que, mesmo trabalhando com
materiais “tradicionais”, quando o
professor de História conhece os meandros
teóricos e metodológicos de sua profissão,
consegue contornar essa dificuldade.
a) F i c h a t é c n i c a : N o m e
original; local e data de produção;
estúdio produtor; diretor e
roteirista; elenco com identificação
das personagens; gênero; duração e
classificação da produção.
Fora nossa opção escolher filmes
comerciais, recentes, para que, através das
críticas, análises anacrônicas, pudéssemos
debater acerca do momento histórico
selecionado, revisando a historiografia, ao
mesmo tempo em que foram discutidos
alguns problemas da nossa sociedade, visto
que os filmes escolhidos eram conhecidos
pelos estudantes que, até então, os viam
apenas como entretenimento. Para todos os
filmes apresentados, elaboramos um
roteiro de análise, contendo crítica interna
e externa, para orientação dos alunos.
c) Comentários: Uma breve
biografia e filmografia do diretor,
descrição dos conflitos durante a
produção do filme, custos e críticas.
Conhecer a biografia do autor
fornece elementos para
compreender melhor cada uma das
obras, pois é possível situar o
contexto em que o filme foi
produzido, assim destacando a
discussão que ele retoma.
Gradativamente procuramos
instrumentalizar a consciência histórica
dos nossos como pertencentes de uma
organização temporal. Por outro lado,
procuramos estimular as competências de
comparação, crítica, análise, e outras
constitutivas de um posicionamento
consciente diante da sociedade.
5. Explicação da metodologia
desenvolvida
Conforme destacamos acima, para todos
os filmes que assistimos com os
estudantes, preparamos um roteiro de
análise (críticas interna e externa), cujos
alunos liam antes de assistir às imagens e
depois para as discussões do grupo acerca
do filme. Apresentamos abaixo o esquema
do roteiro desenvolvido:
120
b) Sinopse: Um breve resumo
sobre o enredo do filme.
d) Conceituação: Uma análise,
com base na historiografia referente
ao assunto, sobre o período que o
filme procura retratar.
e) Roteiro de análise das
imagens: Uma forma de direcionar
o olhar dos alunos para
determinados pontos do filme que
podem tanto destacar aspectos do
tempo representado quanto da
sociedade em da qual o filme é
produto. Neste ponto são colocadas
interrogações acerca de práticas,
convenções e mesmo o uso de
cores e características das
personagens.
f) I n t e r d i s c i p l i n a r : U m a
proposta de colocar o filme como
um trabalho interdisciplinar, através
de sugestões de pesquisas ou
questões envolvendo outras áreas
do conhecimento.
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g) Para refletir: São levantadas,
nesta parte, várias questões que
propõe que o aluno pense na
relação passado-presente, na
observação de permanências e
rupturas e na ideologia da
sociedade na qual ele vive pretende
que seja a “certa”.
h) Bibliografia: Apresentamos a
bibliografia consultada para a
montagem de cada um dos roteiros,
disponibilizando inclusive
endereços de websites para os
alunos que se interessarem em
pesquisar mais sobre o assunto.
6. Avaliação da utilização e vantagens
e desvantagens
Gostaríamos de destacar que esta
metodologia é apenas uma possibilidade,
que não pretende ser única. Para os níveis
do ensino com o qual trabalhamos, tal
metodologia funcionou satisfatoriamente,
Entretanto, para o Ensino Fundamental a
mesma metodologia foi além dos limites
de assimilação dos estudantes, sendo
necessárias determinadas reduções. O que
não significa que o professor-historiador
não possa montar tal roteiro. Entendemos
que um roteiro como este, pode ajudar
inclusive o professor na organização de
discussões, mesmo que a turma não tenha
acesso ao roteiro.
Destacamos ainda que o projeto tem o
caráter escolar, não pretendendo oferecer
uma análise historiográfica acadêmica da
produção fílmica. Este fato não nos
impediu de utilizarmos a metodologia
acadêmica para conseguirmos montar tais
esquemas, conforme discutimos nos itens
sobre a formação do historiador, do
professor de História e o tratamento das
fontes.
A proposta é abrangente, porque
estimula nos alunos um olhar crítico sobre
os produtos que eles e a sociedade toda
consomem de forma mecânica. Muitos
deles relataram que durante as provas dos
vestibulares, ou outros testes realizados,
eram as imagens dos filmes que os
ajudavam a relembrar e reorganizar o
conhecimento na hora de responder às
questões. Desta forma, avaliamos o
resultado como positivo, pois, até outras
disciplinas foram contempladas pelas
“lembranças” dos filmes e pelas discussões
em torno dos mesmos. Acreditamos que
tal fato seja vantajoso, já que os alunos
tiveram acesso ao mesmo conteúdo que
teriam pela forma escolar, porém numa
linguagem muito mais agradável e
inteligível a eles.
Observamos algumas desvantagens
como: a falta de estrutura (equipamentos,
salas adequadas) para que os alunos
pudessem assistir aos filmes de forma
confortável, visto que são filmes de longa
duração. A dificuldade que muitos tiveram
pelo fato de as seções acontecerem em
horários diferentes aos da grade escolar. Se
as sessões fossem durante o horário das
aulas, um número maior de alunos tivesse
acesso. Entretanto, uma iniciativa como
essa precisaria deixar de ser um costume
isolado de um ou outro professor, como foi
no nosso caso, para ser uma proposta
realmente interdisciplinar.
121
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
7. Comparação de linguagens:
literatura e cinema e as
possibilidades de análise das
adaptações cinematográficas
que articulam o conhecimento histórico.
Esse mesmo procedimento pode ser
utilizado para que indivíduos e grupos se
orientem no tempo, utilizando assim a
consciência histórica.
Já apontamos anteriormente que o
cinema passou, e em muitos casos ainda
convive com conflito de identidade. Ao
dialoga com a música, com a literatura,
com o teatro, com pintura e escultura, a
produção fílmica engloba todos os tipos de
arte.
Ao empregarmos outra linguagem, a
imagética, conseguimos, de certa forma,
dar cor e forma às ideias abstratas. É nesse
ponto que percebemos que a utilização do
cinema complementa tais operações
mentais que tanto podem partir de
abstrações quanto podem chegar a elas.
Isso significa dizer que tanto podemos
iniciar a construção de conceitos históricos
através da abstração, para depois se
consolidarem através das imagens, quanto
podemos partir das imagens para a
construção de conhecimentos abstratos.
Para os limites desta reflexão,
pretendemos levantar algumas questões
sobre as relações entre cinema e literatura,
principalmente. São duas formas de
narrativas que, com seus diferentes
formatos, podem contribuir para a
construção da narrativa sobre a história que
cada um pode fazer, no sentido de perceber
e consolidar a consciência histórica.
A literatura tem uma característica que
pode contribuir e muito para a construção
do conhecimento da História. Trata-se do
uso da linguagem escrita. Esta, conforme
se desenvolve, logo que o indivíduo dela se
apropria, tem maior a capacidade de
abstração, de uso de pensamento racional.
Conhecer e compreender a história escrita
exige que o pensamento racional tenha
competências de sistematização,
comparação, estabelecer conexões e
relações, que podem ser apropriados a
partir da linguagem.
Aliás, compreendemos que um
pensamento só se efetiva através de
palavras e quanto maior for o domínio das
mesmas, melhor será a capacidade de
encadeamento de pensamentos, ideias. Em
grande parte, o pensamento que gera a
História escrita funciona através de
analogias, operações mentais complexas
122
É importante destacar que há um
diálogo entre as duas linguagens. Muitas
obras cinematográficas são, em sua
origem, obras escritas, mesmo que não
tenham sido adaptações de obras literárias.
Nesse ponto é importante destacar que o
que vemos nas telas é apenas uma parcela
de um trabalho imenso que se inicia quase
sempre em um roteiro escrito. As ideias
estão ali colocadas e precisam ser
transformadas em imagens. Quantas
páginas José de Alencar utilizou para
descrever sua Iracema? Em quanto tempo
de filme essa descrição se realiza?
Outra importante característica dos
filmes com conteúdo histórico é a de que
existe toda uma equipe que se dedica ao
levantamento de aspectos visuais da época
retratada. É um verdadeiro trabalho de
pesquisa. Lembremos o filme O nome da
rosa. A história se passa em um mosteiro
do século XIV. Para Umberto Eco
descrever em palavras há uma
complexidade. Para Jean-Jacques Anaud,
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
diretor do filme, descrever em imagens
requer outro grau de complexidade. A
preocupação com a verossimilhança em
muitas obras faz com que equipes inteiras
se desdobrem para sua reconstrução, como
no caso do filme citado, que teve
assessoria do medievalista Jacques Le
Goff.
Teoricamente, se o historiador pretende
que sua escrita proporcione ao seu leitor a
consciência histórica capaz de orientá-lo
em sua vida prática, a comparação das
linguagens, culminando na imagética, pode
proporcionar o reconhecimento da situação
representada e até mesmo a identificação
do pertencimento a um tempo.
Quando se inicia pela leitura para
depois usar a imagem cinematográfica –
opção que geralmente utilizamos na
Educação Básica, trabalhamos com as
várias competências que podem contribuir
para a construção e manutenção de uma
consciência histórica, já que nossos alunos
têm chances de identificar como a mesma
aparece na cultura histórica. .
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126
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Silene Ferreira Claro1
Eles não usam Black-Tie: uma análise historiográfica
Recebido em: 03/12/2012 - Aprovado em: 16/12/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Abstract
Análise crítica do filme Eles Não Usam
Black-tie, segundo metodologia
desenvolvida para análise cinematográfica
como fonte histórica e também como
material didático.
Critical analysis of the film “They do
not wear black tie” for second analysis
methodology developed film as a historical
source as well as teaching material.
Palavras-chave: Cinema; História;
Cinema Brasileiro; Movimento Operário;
Sindicalismo.
1. Introdução
O cinema é, reconhecidamente, um
grande veículo de comunicação de massas.
Desde seu surgimento, tem suscitado
inúmeras críticas, muitas positivas, outras
negativas, mas seu caráter de produto
cultural e sua capacidade de alcance tem
chamado a atenção de inúmeros setores.
Nos anos 20, nos EUA, a indústria
cinematográfica ganhou grande destaque,
colaborando para a disseminação de um
Keywords: Cinema; History; Cinema
Brasileiro; Labor Movement; Unionism.
sentimento de euforia com o vertiginoso
progresso norte-americano. Na década de
30, foi a vez dos governos nazifascistas
utilizarem a força do veículo para
organizarem uma gigantesca e irresistível
propaganda política de divulgação da
ideologia dominante. Nas décadas
seguintes, o cinema continuou
demonstrando cada vez mais o seu
potencial como produto, artefato cultural e
difusor de ideologias, passando a
1Silene
Ferreira Claro - Doutora em História Social pela FFLCH-USP (2008). Bacharel em História pela Universidade de São
Paulo (1999) e graduação em Licenciatura em História pela Universidade de São Paulo (1999). Docente no Curso de
Pedagogia nas Faculdades Integradas Campos Salles, cadeira de Metodologia do Ensino de História, Tecnologias da
Informação e Comunicação aplicadas à Educação e História da Educação. Docente nos cursos de História e de Pedagogia da
Faculdade Sumaré. Fui professora do Centro Universitário Sant’Anna e monitora PAE no Departamento de História da Fac.
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – USP, em 2005. Experiência na área de História, com ênfase em História Regional
do Brasil, Historiografia e História do Brasil Contemporâneo, África e cultura Afro-brasileira, atuando principalmente nos
seguintes temas: educação, cultura brasileira, história cultural, didática do ensino de História e uso de tecnologias na e para a
educação. Membro do NDE - Núcleo Docente Estruturante, dentro da Faculdade Sumaré desde agosto de 2012 e também no
Centro Universitário Sant’Anna, nos cursos de Licenciatura em História e de Música, conforme orientações do MEC, entre
2008 e 2010. Colaboradora do NDE das Faculdades Integradas Campos Salles. Autora colaboradora na Editora Oxford do
Brasil desde 2011. Fui tutora no curso da Escola de Formação de Professores Paulo Renato de Souza na edição de preparação
de cursistas para o concurso em 2011. Atuo também como professora de História, Sociologia e Filosofia nos ensinos
Fundamental e Médio, na rede privada, em Osasco-SP. E-mail: [email protected]
127
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
influenciar o comportamento de milhões de
pessoas.
Sendo produto cultural, o cinema deve
ser pensado como reflexo da lógica
capitalista que pretende alcançar o lucro
planejado em sua idealização. Como
difusor de ideologias, pode construir ou
destruir sistemas de pensamento. Em
ambas perspectivas um filme pode,
também, ser considerado e analisado como
fonte histórica, que ajuda a desvendar
muitas facetas de um mesmo objeto. É
interessante como um filme tem o poder de
agregar e revelar a visão que um
determinado segmento tem de seu tempo.
Um filme analisado como uma fonte
histórica deve estar sujeito às críticas
interna e externa. Assim, as primeiras
informações que precisamos ter são as
condições de produção. Identificar equipe
técnica, elenco e empresa financiadora.
Todas essas informações, e também a
recepção do público, nos ajuda a entender
sobre quem produz para quem e como o
produto repercutiu. A crítica interna é a
análise do enredo perseguindo os vestígios,
ideologias explícitas e implícitas da
sociedade que o produziu e recebeu.
É dentro da perspectiva acima que
procuramos analisar o filme Eles não usam
Black-Tie, produção nacional de 1981, sob
a direção de Leon Hirszman, com
adaptação e roteiro de Giafrancesco
Guarnieri, ambos militantes ligados à
esquerda comunista durante as décadas de
60 e 70, e que utilizavam a arte que
produziam como uma forma de
engajamento político, acreditando que
assim, colaboraram para a conscientização
da sociedade.
128
O filme é uma adaptação de uma peça
teatral encenada pela primeira vez em
1958. De Guarnieri, Eles não usam BlackTie, escrita quando o artista tinha ainda 24
anos de idade, representa uma inovação no
mundo do teatro por dois motivos:
primeiro, porque promoveu a recuperação
do Teatro de Arena de São Paulo e,
segundo, porque foi a primeira peça a
introduzir uma temática popular. A história
encenada em 1958 apresentava o
movimento operário e o cotidiano das
favelas do Rio de Janeiro na década de 50.
A transposição de tal temática para o
cinema, vinte anos depois, exigiu efetiva
intervenção no roteiro, o que foi feito pelo
próprio autor. No filme, Eles não usam
Black-Tie vemos a representação de São
Paulo no final dos anos 70, destacando o
movimento operário e a sua intervenção e a
luta pela redemocratização do país.
Inicialmente o filme foi proibido no
Brasil, entretanto, depois de receber
inúmeros prêmios como o Leão de Ouro
do Festival de Veneza, dentre outros, o
governo brasileiro foi obrigado a liberar a
sua exibição. Com isso, dentro e fora do
Brasil, Eles Não Usam Black-Tie ganhou
grande repercussão. Os militantes
Hirszman e Guarnieri conseguiram atingir
grande parte do público que desejavam e se
lançaram no cenário artístico nacional
devido ao sucesso do filme.
Recentemente, a história foi encenada
nos palcos de São Paulo, em 2001, e do
Rio de Janeiro, em 2007, o que demonstra
a narrativa que procurava ser uma crítica
da sociedade durante a década de 50 ainda
é atual. Constatação que nos leva a refletir
que mesmo após 50 anos alguns problemas
na nossa sociedade ainda continuam atuais.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
2. Análise historiográfica do filme
Nossa análise do filme Eles não usam
Black-Tie foi organizada em eixos
temáticos. O agrupamento foi escolhido
como forma metodológica de discutir o
maior número de temas suscitados pelo
filme, procurando evitar a dispersão da
análise.
Os eixos temáticos escolhidos são: o
cotidiano da classe trabalhadora e o mundo
do trabalho; o movimento operário e a
crítica à sociedade perpassam os eixos.
3. O cotidiano da classe trabalhadora
As imagens do filme, juntamente com
os diálogos e trilha sonora escolhidos nos
permitem fazer uma leitura do cotidiano
sofrido, repleto de tensões e conflitos de
todos os tipos. O cenário apresentado
desperta uma sensação de aridez e
desconforto, sugestionando as dificuldades
da vida do trabalhador brasileiro.
A própria organização da casa das
personagens centrais – Otávio e Tião -,
espelha a dinâmica do grupo. Moradia
pequena, sem muitos móveis, com o filho
mais novo da família dormindo na sala,
mal acomodado. A questão da privacidade
também é enfatizada, visto que o sono do
jovem não é motivo para a família deixar
de se reunir na sala muito tarde da noite.
As reuniões familiares ocorrem
geralmente em horários que acabam
diminuindo a duração do contato, visto que
ocorrem à noite, antes de dormir cedo,
“pois amanhã é dia de trabalho”, frase que
é repetida frequentemente no filme. As
refeições matinais acontecem sempre com
alguns membros da família em pé ao redor
da mesa, continuamente com pressa. Estas
duas observações nos remetem à ideia de
que o trabalho impunha os horários para os
trabalhadores. Ratificando tal ideia,
destacamos a relação entre o pai, Otávio, e
o filho, Tião, que trabalham na mesma
fábrica, mas nem sempre conseguem se
encontrar. Assim, além confirmar a ideia
do tempo da fábrica, é ressaltado que o
trabalho acaba se interpondo nas relações
sociais.
As relações sociais entre as pessoas, nos
poucos momentos em que não estão
trabalhando, costumam acontecer em um
bar, no qual os operários se encontram
frequentemente para conversar e
compartilhar a bebida. A estável
recorrência à bebida, como uma forma de
amenizar o sofrimento, ou, como aparece
na fala de Otávio, “calibrar”, reforça a
ideia do cotidiano sofrido que só pode ser
suportado se tiver alguma compensação:
no caso, a bebida. A única personagem que
foge desses espaços de sociais é Tião, no
início do filme, que aparece saindo do
cinema, junto com a namorada. Tião é um
operário que procura outros padrões de
vida, moldes burgueses, e o fato de ser o
único que rompe com o circuito casafábrica-bar, sugere a sua desvinculação da
classe.
A violência familiar também é sugerida
quando as cenas estão voltadas para o
núcleo da família de Maria. Em um
primeiro momento, ao chegar a casa, ela
ouve gritos de socorro de uma mulher, que
apanhava do marido. Ninguém ajuda a
personagem, a qual ouvimos somente a
voz. Uma referência à violência contra a
mulher da qual a sociedade se omitia.
Também, dentro da família de Maria o
mesmo assunto é abordado, quando o
129
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
irmão dela sugere que o pai bêbado bateria
na mãe deles, que iria “começar de novo”.
Na cena do confronto final entre Maria e
Tião, ele chega a bater nela, mais uma
demonstração de uma sociedade machista
p r a t i c a n t e d a v i o l ê n c i a f a m i l i a r,
principalmente contra mulheres e crianças.
Outra questão sutil apresentada é a vida
das pessoas influenciadas pela
programação da televisão. Nas cenas em
que o televisor aparece, geralmente são
mostrados programas da TV Globo, como
o Fantástico. O fato de todos assistirem aos
mesmos programas nos indica o controle
exercido sobre a população pela emissora
naquele momento.
Apesar de Eles Não Usam Black-Tie ser
uma obra datada, com um discurso político
muito claro, as questões cotidianas dos
trabalhadores não parecem ter sido
superadas totalmente. Se hoje, uma boa
parte da população tem acesso às linhas de
crédito para consumirem cada vez mais os
produtos eletrodomésticos, que oferece
uma falsa sensação de ascensão social, um
grande número de pessoas continua
vivendo com seus aparelhos em moradias
em péssimas condições, em bairros sem a
infraestrutura necessária. A TV Globo
continua a influenciar cada vez mais a vida
das pessoas transformando o
comportamento de gerações inteiras. E, a
recorrência às bebidas continua existindo.
As permanências históricas se fazendo
presente, muito mais que as rupturas, tão
necessárias nesses casos.
4. O mundo do trabalho
Neste eixo temático o filme sobrepõe
três profissões diferentes, sem, no entanto,
aprofundar no diálogo entre eles. As
130
profissões são: metalúrgicos; office-boys e
operários da construção civil. O trabalho
mais mostrado é dos metalúrgicos, que
obtém destaque e são representados como
uma classe organizada e preocupada com
seus problemas As demais aparecem quase
que desconectadas, como se houvesse uma
hierarquização entre as profissões. Por
outro lado, não podemos esquecer de que o
filme é datado e produzido dentro do
ressurgimento do movimento operário
tendo como base a redemocratização do
país, numa obra produzida por artistas
militantes da esquerda, que tinham alguns
posicionamentos políticos que se misturam
com a obra.
A referência aos office-boys é sutil.
Ocorre logo no início do filme quando
Tião e Maria chegam a casa dele, e o
jovem irmão de Tião dorme na sala. Ao
acordar, conta para o irmão sobre o sonho
com o time de futebol dos office-boys.
Outra alusão acontece quando Otávio,
saindo para trabalhar, lembra a esposa,
Romana, de não deixar o filho mais novo,
Chiquinho, perder a hora, pois não podia
“ser descontado” de novo. Nesta família
proletária, todos precisam contribuir
trabalhando e a referência ao emprego do
filho mais novo sem muita discussão
reforça a ideia de hierarquização entre as
profissões. Entretanto, uma referência às
greves de 1979, na qual bancários e officeboys ensaiaram uma greve que, apesar de
ter sido duramente reprimida, serviu para
mostrar para a sociedade a importância da
organização.
A construção civil também é destacada
no filme através do pai de Maria. O
homem que passava a maior parte do
tempo embriagado, devido às péssimas
condições da família por sua falta de
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
emprego, só consegue se libertar,
temporariamente do alcoolismo quando
encontra um emprego. A ilusão de um
futuro melhor é logo destruída pela morte
em um assalto. Mas, a breve cena em que
aparece, demonstra um grupo sem coesão.
Ao contrário dos metalúrgicos que utilizam
uniformes, gerando um elo a mais de
identificação, os operários da construção
civil não se identificam nem pela
aparência.
movimento operário da década de 50,
quando existia certa disputa entre
“nacionais” e “estrangeiros”. Entretanto,
tais conflitos eram pequenos. O mais
provável é a referência ao movimento
operário em seus primórdios, quando a
presença imigrante nas indústrias
brasileiras, muitos influenciados por
anarquistas e posteriormente comunistas,
se fez mais presente, principalmente na
década de 20.
O núcleo metalúrgico é o grande
destaque do filme. Entretanto, o filme
enfatiza poucas vezes a linha de produção
e montagem, porém quando são mostradas
a iluminação e a escolha de ângulos
ajudam a reforçar a sensação de péssimas
condições de trabalho O próprio som da
fábrica colabora para aumentar essa
percepção.
A questão do arrocho salarial que
soterrava o poder de compra dos
trabalhadores é notado em vários diálogos:
dentro da fábrica, mas principalmente nos
confrontos entre Otávio e Tião. Este último
em vários diálogos faz referência às
péssimas condições salariais representadas
nas condições de vida da família,
desacreditando assim do movimento
operário como forma de conquistar
melhorias. Desse modo, observa-se o
confronto entre o coletivismo de Otávio,
consciente de que os ganhos maiores são
os da classe, como o individualismo de
Tião, que discute ao longo do filme a
questão de que a realização na vida é
resultado do esforço individual. E, a
introdução do FGTS (Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço), dispositivo criado
pelos governos militares para quebrar a
estabilidade no emprego, só aparece na fala
de Tião, que reconhece tal benefício como
mais um ganho individual. Desta forma,
Tião não se compromete e nem se
preocupa com a classe. A crítica é em
relação ao FGTS é uma análise à legislação
criada para enfraquecer o trabalhador
diante do poder do capital e dos governos
militares. O FGTS está incorporado à
mentalidade trabalhista e, atualmente,
devido à ampliação do mercado informal
de trabalho, é cada vez menor o número de
Entretanto, o maior destaque dado as
cenas da fábrica são os encontros, as
conversas nos vestiários, refeitórios,
entrada ou saída do estabelecimento.
Provavelmente são nesses diálogos que
repousam a grande crítica que o filme
deseja fazer: o papel do sindicato na
organização operária, dos partidos de
esquerda dentro do sindicato. Há também a
discussão em torno do peleguismo, tanto
dentro do sindicato quanto na própria
fábrica. Eles Não Usam Black-Tie está
muito afinado com o momento em que foi
produzido, pois a grande organização dos
trabalhadores ocorreu principalmente
dentro das fábricas e não pela ação
sindical, já que os sindicatos estavam
controlados pelas autoridades naquela
época.
Um anacronismo precisa ser apontado
no discurso: a personagem chamada de
“italiano” é muito mais referência ao
131
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
trabalhadores que podem contar com tal
benefício, por mais desagregador que tenha
sido em sua origem.
Mas, apesar da introdução da questão
do FGTS, os operários no filme são
demitidos por questões políticas ou
pessoais, não por falta de posto de
trabalho. Isso aparece nas falas de Otávio e
Tião: ambos afirmam que, se perderem o
emprego, não demorariam muito para
encontrar outro, pois tinham uma
profissão. Novamente o destaque para a
categoria metalúrgica. Atualmente, o
movimento operário encontra-se mais
enfraquecido, visto que o desemprego é
uma realidade entre milhões de pessoas ao
redor do mundo, decorrentes das novas
formas de organização do trabalho, com
valorização de um novo tipo de formação
flexível, como fragmentação da produção,
associada à automação. Se nos anos 70 o
desemprego entre os metalúrgicos não era
fator desagregador da união da categoria,
atualmente ocorre o contrário.
5. Movimento operário e crítica
social
Do núcleo metalúrgico passamos para a
questão da greve que é o debate principal
do filme. A divisão entre os operários
aparece em algumas cenas, como quando
discutem no vestiário da fábrica, assim
como saem do sindicato ou se encontram
no domingo no campo de bocha, refletindo
as críticas ao sindicalismo da época. De
um lado há os partidos de esquerda
(partidos comunistas), criticados pela
extrema burocratização ou pela opção em
agir violentamente. Os operários
procuravam um movimento que
132
implicasse, em sua essência, luta pelas
questões econômicas e salariais.
A violência policial é discutida durante
todo o filme, de forma explícita, às vezes, e
de forma implícita outras situações. Essa
realidade não afetava apenas o movimento
operário, mas estava em todas as esferas.
Em vários momentos a repressão é
mencionada ou mostrada Uma das
primeiras cenas do filme é de uma batida
policial em que o dono do bar media o
contato entre os oficiais e o grupo de
músicos. Outras cenas, como a da morte do
ladrão nos fundos do mesmo bar, sendo
ouvida por Otávio e Tião, sugerem a
sensação da indignação calada a força. A
personagem de Fernanda Montenegro,
Romana, esposa do sindicalista Otávio, e
mãe de Tião, no momento da greve fez
inúmeras recomendações, para os dois,
como para levarem documentos e
endereço, pois de acordo com a fala da
personagem: “se acontecer alguma coisa
ficamos sabendo logo”. A repressão à
greve, primeiro com o cordão de
isolamento para os trabalhadores entrarem
na fábrica, depois a perseguição e
espancamento, principalmente das
operárias. Por fim, o assassinato de um dos
companheiros de Otávio durante o piquete
por um policial militar.
A consciência e a coragem no filme são
representadas pelas mulheres Maria e
Romana. Uma incentiva o noivo a
participar da greve, ser solidário com a
classe. A outra salva o marido das garras
do DOPS, uma demonstração de que a
sociedade civil havia perdido o medo e
estava pronta para lutar por sua liberdade e
seus direitos.
“Por fim, há o debate sobre o aborto,
uma temática que aparece nos diálogos
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
entre Tião e Maria, assunto que é discutido
entre Tião e Maria, o aborto é abordado
como um meio de solucionar problemas”.
A questão do aborto no filme aparece
disputa de gênero entre o casal. Mas, o
debate continua muito atual. A
descriminalização do aborto recentemente,
com a vinda do Papa Bento XVI, em maio
de 2007, voltou aos debates de religiosos e
autoridades.
Após análise, observamos que o filme
mesmo não sendo uma produção atual,
ainda trata de questões, que ainda hoje são
atuais em nossa sociedade.
Por outro lado, algumas rupturas são
sugeridas relacionadas com as
características do mundo do trabalho na
sociedade globalizada. Se há trinta anos os
trabalhadores eram frágeis diante do
capital, atualmente encontram-se muito
mais vulneráveis, pois a sociedade atual
pressupõe melhor qualificação visto que os
processos de produção utilizam automação.
Por outro lado, os trabalhadores têm mais
responsabilidades pela qualidade ao longo
do processo. Os sindicatos não conseguem
mais representar as classes operárias,
primeiro porque a maior parte da
população economicamente ativa encontrase no setor terceirizado. Segundo, com o
surgimento das transnacionais, as empresas
quebraram a força das categorias, pois a
qualquer momento podem fechar uma
unidade e reabrir em outra localização.
Assim, o movimento operário não
conseguiu superar as inúmeras dificuldades
ao longo dos anos e, a atual estrutura do
mercado de trabalho coloca outras tantas
para o trabalhador resolver.
6. Roteiro de Análise do Filme
Filme: Eles não usam Black Tie
Título Original: Eles não Usam BlackTie
Ano de Lançamento (Brasil): 1981
Distribuição: Embrafilme
Direção: Leon Hirszman
Roteiro: Gianfrancesco Guarnieri e
Leon Hirszman
Produção: Leon Hirszman Produções e
Embrafilme
Música: Adoniran Barbosa, Chico
Buarque de Hollanda e Gianfrancesco
Guarnieri
Fotografia: Lauro Escorel
Desenho de Produção: Jefferson
Albuquerque Júnior e Marcos Weinstock
Figurino: Yurika Yamasaki
Edição: Eduardo Escorel
Elenco: Gianfrancesco Guarnieri –
Otávio; Paulo José – Padre; Francisco
Milani – Santini; Milton Gonçalves –
Bráulio; Fernanda Montenegro – Romana;
Bete Mendes – Maria; Antonio Petrim –
Tião; Carlos Alberto Ricelli – Tião.
Locação das imagens: São Paulo
Gênero: Drama
Duração: 134 minutos
6.1. Sinopse:
O filme se passa na cidade de São
Paulo, em 1980, narrando a história do
jovem operário Tião e sua namorada Maria
que decidem se casar, pois descobrem que
a moça está grávida. Ao mesmo tempo,
eclode um movimento grevista que divide
a categoria metalúrgica. Preocupado com o
133
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
casamento e temendo perder o emprego,
Tião fura a greve, entrando em conflito
com o pai, Otávio, um velho militante
sindical que passou três anos na cadeia
durante o regime militar.
6.2. Comentários:
O filme foi dirigido por Leon Hirszman
(1937-1987), engenheiro de formação, mas
que escolheu o cinema como profissão.
Filho de judeus poloneses, transformou-se
em um marco na cinematografia nacional,
pois é considerado um ícone Cinema novo,
era considerado pelos colegas como o
“maior articulador” do cinema brasileiro.
Destacou-se na direção de A Falecida,
adaptação de Nelson Rodrigues, e São
Bernardo, adaptação da obra de Graciliano
Ramos. Com a obra Eles não usam BlackTie, recebeu os prêmios Leão de Ouro do
Festival de Veneza, o Grande Prêmio Coral
Negro no 3º Festival Internacional do
Novo Cinema Latino-Americano; Grande
Prêmio do Festival dos Três Continentes;
Espiga de Ouro do Festival Internacional
de Vallodolid. E em 1982 obteria o Prêmio
Air France.. Hirszman destaca-se também
por sua notória politização e militância
comunista (PCB) desde a juventude,
produzindo filmes sempre engajados.
Hirszman fez vários estudos sobre
produção cinematográfica que serviram de
estudos para a legislação de proteção ao
cinema brasileiro. Morreu aos 50 anos
vítima da AIDS.
Filmografia: Bahia de Todos os Santos
(interrompido, 1984) - direção (junto com
Paulo Cesar Sarraceni); Imagens do
Inconsciente (1983-86) - roteiro e direção;
Eles Não Usam Black-Tie (1981) - roteiro
(junto com Gianfrancesco Guarnieri) e
direção ABC da Greve (1979-90) - roteiro
134
e direção; Que país é este? (1977) - roteiro
(com Zuenir Ventura) e direção; Rio,
Carnaval da Vida (1977) - roteiro (junto
com Sérgio Cabral) e direção; Partido Alto
(1976-82) - roteiro e direção; Cantos do
Trabalho: Cacau (1976) – direção; Cantos
do Trabalho: Cana-de-açúcar (1976) –
direção; Cantos do Trabalho: Mutirão
(1975) – direção; Cinema Brasileiro:
Mercado Ocupado (1975-95) - roteiro e
direção; Megalópolis (1972) – direção;
Ecologia (1972) – direção; São Bernardo
(1972) - roteiro e direção; A Vingança dos
12 (1970) - produção executiva; Garota de
Ipanema (1967) - roteiro (com Eduardo
Coutinho) e direção; A Falecida (1965) roteiro (com Eduardo Coutinho) e direção;
Sexta-Feira da Paixão, Sábado de Aleluia
(1964) – direção; Nelson Cavaquinho
(1964) – direção; Maioria Absoluta (1964)
- roteiro e direção; Pedreira de São Diogo
(1962) - roteiro e direção; A Mais-Valia vai
Acabar, seu Edgar (1959-60) - colagem de
filmes usada na peça de Oduvaldo Vianna
Filho; Juventude sem Amanhã (1958) assistência de direção Giafrancesco
Guarnieri, artista de cinema, teatro e
televisão, italiano de nascimento e
brasileiro de adoção, foi o autor da peça
que deu origem ao filme. Inicialmente
chamava-se O Cruzeiro Lá no Alto,
estreado no Teatro de Arena em 1958,
numa provocação ao TBC (Teatro
Brasileiro de Comédia), foi rebatizado de
Eles não usam Black-Tie, primeira
apresentação teatral que levou o cotidiano
dos trabalhadores para os palcos. Guarnieri
também é roteirista do filme de 1981,
fazendo algumas adaptações para a
linguagem cinematográfica e também para
o período, mais de vinte anos depois da
estréia no teatro. Guarnieri, como
Hirszman, também militou desde a
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
juventude. Os dois se conheceram nos anos
60 em atividades relacionadas com o CPC
(Centro Popular de Cultura) e a UNE
(União Nacional dos Estudantes).
O filme foi distribuído nos EUA pela
New Yorker Films com o título de They
Don't Wear Black Tie.
6.3. Conceituação:
O final da década de 1970 foi marcado
por muitas transformações no Brasil com o
enfraquecimento dos governos militares,
de um lado, e o ressurgimento do
movimento operário no Brasil. O modelo
econômico
baseado
no
desenvolvimentismo adotado pelos
militares levou a classe trabalhadora a
grandes perdas salariais, pois, associado a
tal modelo econômico, o governo aplicou
uma política econômica de arrocho salarial
e manipulação dos dados econômicos. Tais
medidas promoveram uma perda real no
poder de compra dos salários dos
trabalhadores de cerca de 30%. Por esta
conjunção de motivos, em 1978 acontecem
as primeiras greves do movimento
operário, a partir dos metalúrgicos do ABC
Paulista. As greves, apesar da dura
repressão que sofreram, continuaram em
1979 e 1980, despertando a adesão da
população que enxergou nas greves por
questões salariais um bom momento para
ampliar os protestos para o campo político.
Desta forma, o movimento operário do
final dos anos 70 serviu de base para a
organização da sociedade civil contra os
governos militares. Do ABC logo se
alastraram por outras regiões de São Paulo,
sempre contando com o apoio da Igreja
Católica.
principalmente no interior das fábricas.
Nas greves de 1979 ocorreu a morte do
operário Santo Dias em um piquete,
assassinado pela PM de São Paulo. A missa
deste trabalhador tornou-se uma espécie de
símbolo e de alimento para a ampliação
das lutas. Nessa movimentação ocorre a
campanha pela Anistia em paralelo com o
surgimento do Partido dos Trabalhadores,
um dos grupos articuladores da
subseqüente campanha pelas Diretas-Já.
6.4. Roteiro de análise das imagens:
Observar nas cenas:
•A moradia dos operários e a sua
organização interna.
•As relações familiares nos
vários momentos de encontro entre
os membros, sempre com pressa e
discutindo sobre o trabalho.
•A violência policial em todos os
setores da vida das pessoas.
•Os espaços de sociabilização
das pessoas: a fábrica, o sindicato e
o bar.
•A vida, as moradias e a falta de
infra-estrutura nas favelas.
•Relação entre gêneros.
•O processo de produção na
linha de montagem.
•A organização de greves e as
disputas internas dentro do
movimento.
•A busca dos padrões burgueses
como casa, conforto, escola
particular.
•Discussões sobre aborto.
Foi um movimento desvinculado de
orientações partidárias, organizando-se
135
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
6.5. Interdisciplinar:
✓ Estudar, através da História, o
período dos governos militares no
Brasil.
✓ Estudar, através da Geografia,
as mudanças no mundo do trabalho
dentro da sociedade globalizada.
Eles não usam Black-tie. Direção de
Marcus Vinícius Faustini. Em cartaz no
Teatro Sesi do Rio de Janeiro. Esteve em
cartaz em São Paulo em 2001.
6.7. Para Refletir
6.6. Refilmagens ou obras
relacionadas
1. Quais são as novas características do
sindicalismo brasileiro dentro de uma
sociedade em que um grande número de
trabalhadores está no mercado informal?
Eles não usam Black-Tie. Peça teatral
escrita em 1955 por Gianfrancesco
Guarnieri e encenada no Teatro de Arena
em 1958.
2. A inclusão de novas camadas no
teatro pode ser considerada uma busca do
popular real, influência dos pensamentos
modernistas?
GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não
usam Black-Tie. São Paulo: Civilização
Brasileira, 1995.
3. Qual a importância da legislação
trabalhista dentro do Brasil
contemporâneo? É necessário modificá-la
ou ainda é capaz de organizar o mundo do
trabalho no país?
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138
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Monica Maria Martins de Souza1
As interações humanas no espaço social do trabalho:
homem e empresa em transform/ação
Recebido em: 03/12/2012 - Aprovado em: 16/12/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
As investigações acerca do papel da
missão organizacional; - texto mediador
sobre o funcionário para que ambos
alcancem uma conjunção, busca a
compreensão da força da missão sobre o
trabalhador. A mediação possibilita ampla
coesão nessa relação, de maneira que o
funcionário vai além da representação de
um papel na aquisição dessa competência.
No processo de identificação com a
empresa ele se transforma em sujeito,
elevado a essa categoria pela ação da
missão. O papel do texto da missão comunicação e cultura – é se constituir em
sua continuidade, destaca e fala ao
funcionário como sujeito. Desta forma,
promove-o e determina seu deslocamento,
sua hora de acordar, de levantar, de se ligar
e desligar - universo simbólico, espaço de
tranform/ação. Participa com ele em
condições de orientá-lo, de determinar a
relação, e todo o tempo, ambos
permanecem alerta, vendo e sendo vistos. A
missão da empresa integra todos os recursos
que o homem precisa para se orientar, ou
seja, os vínculos comunicacionais. Entra em
sua vida com tamanha impetuosidade que
marca o seu cotidiano, governa o seu
sentido e a sua presença, mesmo quando
ausente. Longe da empresa, o homem
mantém sua forma de comunicação e
interação, programada por ela: a missão
organizacional. Assim nas interações
humanas no espaço social do trabalho tanto
o homem quanto a empresa se transformam
enquanto dançam em um jogo que devora e
faz devorar – a norma, por ser transforma/
dor.
Palavras-chave: Missão Organizacional;
Aquisição de Competência, Comunicação,
Cultura e Universo Simbólico; Vínculos
Comunicacionais; Espaço de transform/
ação.
Abstract
Investigations concerning on the
organizational mission - mediator text
about the employee to reach to a
conjunction – seek the comprehension of
the strength mission about worker. The
mediation mission enables such cohesion
1Doutora
em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. (2005), Mestre em Administração de empresas pelo Mackenzie/SP.
(1999). Especialista em Administração. de RH pela UNA. União de Negócios Adm. de BH, MG. (1995), e especialista em
Tecnologia Educacional pela UNINOVE SP. (2000), é Psicóloga graduada Newton Paiva de BH/ MG. (1991). Atualmente é
Profa convidada pela Pós-graduação do Mackenzie. Desde 2006 é avaliadora INEP. Profa. Dra, Pesquisadora da Faculdade
ENIAC, coordena grupos de pesquisa e iniciação científica, organizadora dos Seminários Anuais desde 2009 e da Revista
Acadêmica ENIAC PESQUISA. É Profa. Dra. Pesquisadora, coordenadora de Cursos e da Revista Acadêmica Augusto
Guzzo das Faculdades Integradas Campos Salles - FICS desde agosto de 2010. Consultora da Euroatlantica Ghesa Brasil
Ltda.
139
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
in this relationship that the employee goes
beyond the representation of a role in the
acquisition of competence. In the process
of identification with the company he
becomes subject to this higher category
through the action of the mission. The text
role in the mission - communication and
culture - be constituted in a continuity, and
emphasizes and talks to the employee as
the subject. Thus promotes and determines
its displacement, time to wake up, get up,
turn on and off; symbolic universe
and space transformation. Participating
with him under conditions of guide
him and determine the relationship, and
the whole time, both of them remain alerts
seeing and being seen. The company
mission connects all resources that man
needs for guidance - communication links.
It comes into your life with such
1. Introdução
Nesta investigação, propomos-nos a
analisar a relação do sujeito, missão da
empresa e do funcionário, objeto valor, e a
forma como o sujeito possui a competência
de promover o reconhecimento do objeto, a
despeito da sua diferença, fazendo dele
uma parte integrante de si. O corpus,
missão, vai abordar o objeto de construção,
para dar sentido à sua vida no espaço
organizacional. Ele será re/construído a
partir dos valores da empresa que serão
transmitidos pelo texto da missão. O
funcionário vai ficar contaminado pelas
crenças da empresa e vai se despojar de
suas próprias crenças.
O afastamento das próprias crenças é
difícil porque elas fazem parte da
construção da vida, tanto do sujeito como
do objeto. Mas a missão é um sujeito que
140
impetuosity that let a mark in your daily
life, governs its meaning and presence,
even when absent. T he man, far from the
company, keeps his communication way
and interaction, for her scheduled the
organizational mission. Scheduled for her
organizational mission. Therefore in
human interactions within social work
both the man and the company in turn
while playing a game which devours and is
devoured - rule, because it transforms the
pain.
Keywords: Organizational Mission;
Acquisition of Competence,
Communication, Culture and Symbolic
Universe; Links Communicational;
transformation space.
intercepta e desperta para o outro, um
outro aspecto da vida, e este objeto adquire
papel de sujeito pela ação que a missão
nele intercede. Esse conceito da
reversibilidade sujeito/objeto, o sujeito que
faz: fazer pode ser o agente do fazer. No
modelo semiótico de Greimas “Da
Imperfeição”, pensamos na reversibilidade
em que temos um objeto com um fazer de
sujeito. O funcionário já possui um saber
fazer, mas quando entra na empresa ele vai
re/aprender o fazer desta empresa dentro
dos seus moldes. Este novo fazer torna-a
actante, e ocupa um papel central. Quando
temos um actante temos um fazer. E a
reunião dos fazeres é que leva à
transformação.
A estrutura do percurso narrativo da
missão vai produzir os estados
transformados em outros estados, aqueles
desejados pela empresa. Essa
transformação é o que define a
narratividade. Há o encadeamento de
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
estados e transformações que dão este
caráter narrativo às mensagens da missão,
no sentido da estrutura dos estados de
transformações. Isto é universal. Esta
universalidade é uma pressuposição. Todos
os textos têm, o seu folclore, seus mitos e
na empresa, isso é muito mais intenso. A
manifestação textual convoca e reúne
sentidos levando o funcionário a reproduzir
(não mais criar seu próprio trabalho, mas
apenas repetir) no sistema de ordem.
A transformação desejada pela missão
considera cada grupo cultural, cada
comunidade, pelos seus fazeres, pelas suas
ações, pelos seus rituais, pelas suas formas
de relacionamento e sua estrutura, os textos
da cultura. E o estudo da cultura da
empresa, é feito pelos seus textos. E na
semiótica estamos tratando a missão como
manifestação dessa cultura. E enquanto
manifestação textual é construída a partir
de valores. Ela retoma o posicionamento a
partir da visão de mundo da empresa, um
estado no mundo. Não é uma visão
individual, a empresa é composta por
pessoas que têm suas crenças partilhadas.
A enunciação da missão convoca à
aquisição de competência para o poder,
saber, fazer, e no espaço organizacional a
significação pode ser concretizada2 . O
fenômeno será observado pelo viés da
comunicação mediado pelo trabalho,
vínculo que enreda homem e empresa, em
um jogo de mútua sedução. Para isso, é
fundamental considerar a relação da
missão com os fatos da cultura3 emergindo
de signos que ressignificam o
comportamento do homem, que, neste
espaço, sedado reproduz, fazendo do seu
tempo o tempo da empresa, possuído pela
narrativa enunciadora que promete a
competência de um Deus 4 e que possibilita
a sua plenitude na terra. Pode-se observar
aqui a relação estética tratando o
imaginário como potência de construção
do sujeito, produzindo o simulacro da
presença.
O funcionário imbuído da promessa
representa um papel no fazer da empresa
que o devora. Submetido à mensagem
organizacional, promotora da competência
cognitiva e sensível, previamente
programadas. Sujeito 1- missão da
empresa, e sujeito 2 - funcionário, fundemse mediados pelo trabalho, e unificados
mais do que em proximidade física.
Comungam no espaço de reprodução
buscando conjunção.
Compreender o sentido do trabalho
como mediador no texto da cultura
organizacional5 convocado pelo texto
“sagrado”, a missão, nos faz pensar que o
homem dança uma coreografia definida
que permite uma única representação
possível, a coletiva. O passo de dança
2
OLIVEIRA, A.C. LANDOWSKI, E. Do inteligível ao sensível, São Paulo, Educ, 1995.
3
WINKIN, Yves. A Nova comunicação. Da teoria ao trabalho de Campo. Campinas, Papiros. 1998. (Org. Etienne Samain).
4
HILLMAN, James. Encarando os deuses. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1997.
5
WEICK K. E. (1985) "The Significance of Corporate Culture." In: Organizational Culture. California: Sage.
141
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
“reproduzir” 6, e uma ação mecânica, signo
midiático da conjunção.
A missão é o instrumento comunicativo7
que determina o ritmo e a performance dos
dançarinos em busca da competência, e
esse movimento implica na perda da
identidade individual que será substituída
pela coletiva, condição sinequanon para
que a dança se efetue8 . A empresa acena
para o homem com papéis fixos como os
dos deuses; e míticos e funcionais como os
da sociedade. E ele, seguindo o percurso
narrativo, busca aquisição
dessa
competência divina para se tornar um
sujeito de fato e de direito. Nesse espaço
não se permitem práticas individuais,
existem valores que governam as ações
coletivas e as práticas sociais que
promovem a coletividade com a qual todos
devem se identificar: o coletivo9.
Va m o s e n t e n d e r a í o c o n c e i t o
saussureano - a relação entre língua e fala,
entre história, passado, diacronia e
sincronia, presente, entre contexto e texto;
que é uma noção de Greimas, quando vai
retomar as oposições saussureanas. Na
empresa não há a concepção de língua
isolada, individual - ela é sempre coletiva –
é resultado de acordos sociais. O que
move as pessoas dessa comunidade são as
crenças, valores superstições e seus
emblemas criados como logo 10. Quando
pegamos o texto de uma empresa, nos
deparamos com a filosofia da empresa. A
empresa constrói e se constitui como
sujeito, possui uma identidade, da mesma
maneira que a escola, a família e a
sociedade. Suas regras, normas, são
pensadas como coletivas e se relacionam,
se articulam segundo esses valores. Não há
norma, axiologia, ou ética, separada dessa
forma de organização. O homem e a empresa
enredados pelo vínculo comunicativo,
permeado de normas deflagram atitudes de
fidelidade e comprometimento, colocando o
trabalho em primeiro lugar 11, e isso,
gradativamente o consome.
As formas de organização da missão são
formas estéticas. Como todo arranjo que
tem maior ou menor teor de esteticidade é
a forma de articulação. Um enredo, uma
construção um todo de sentido que o
enunciador do desenredo vai trabalhar.
Promove a construção da nova identidade
do funcionário a partir da identidade do
outro: a empresa. Considerando que o
outro tem seus arquétipos, seus papéis
fixos e seus deuses, e ainda que seus papéis
míticos sejam funcionais na sociedade.
Cada um dos deuses tem uma função. O da
empresa é a missão, deusa do poder, do
saber e do fazer fazer.
Quando o funcionário vai para a
empresa, se dirige a esse deus como sujeito
e busca a competência deste deus para se
tornar competente. Alia-se a este sujeito
em um percurso narrativo, que é de
aquisição. O percurso de aquisição provoca
uma quebra na normalidade; desestrutura
6
FERRARA, Lucrecia. 2000. Os Significados Urbanos. São Paulo. Edusp/Fapesp
7
WATZLAWICK, P; BEAVIN, J. e JACKOBSON, D. D. Pragmática da comunicação Humana. São Paulo, Cultrix, 1993.
8
PROSS, Harry, Estructura Simbolica del poder, 1980:36.
9
LANDOWSKI, E., FIORIN, J. L. O gosto da gente o gosto das coisas. Abordagem semiótica. Trad. Brandão. E.São Paulo: EDUC/PUC,
1997.
10
LANDOWSKI, E. e OLIVEIRA, A. C. de (eds.), Do inteligível ao sensível, São Paulo, Educ, 1995.
11
KAMPER, D. (1997). O trabalho como a vida, SP: Annablume.
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
todo o seu conjunto de hábitos e de
convenções, reguladores do seu viver.
Agora, as práticas individuais desaparecem
dando lugar à norma coletiva, governada
pelo deus missão. Os seus valores é que
vão promover o funcionário e ajudá-lo a se
identificar na narrativa. Isso provoca a
quebra da normalidade anteriormente
estabelecida.
seus objetivos pessoais e abraça os da
empresa como se fossem os seus. Greimas
mostra que o evento estético acontece nos
comportamentos mais efêmeros, criando
significado e sentido. Na análise semiótica,
o significado aparece na narrativização do
comportamento. Cada ato adquire novo
sentido. O parecer oculta o ser, e na
empresa, esta é a possibilidade do homem.
Com a identidade coletiva, ele se
transforma e transfere seus valores para
outra organização de outra cultura com um
conjunto de práticas sociais, distintas. Dois
universos diferentes em valores, nas
práticas e nas experiências se aproximam e
ocorre a organização da prática interativa.
A interação dos sujeitos é um grande texto,
de troca de projetos, práticos, ideias,
valores. Um novo mundo de novos mitos e
magias. Duas formas de conhecimento que
se integram e constroem a transformação,
dirigida, no entanto, pela missão. Greimas
em “Da Imperfeição” afirma que todo o
mundo cultural é ordenado, e vai ordenar a
vida daquele que nela se insere. Assim o é
na empresa.
A figuratividade que é o recurso
primeiro de um texto é a possibilidade da
missão. Suas mensagens sedutoras se
colocam nas estruturas do texto, e as
formas de reconhecimento social, situam o
texto no mundo organizacional. Aparece
inicialmente de forma des/pretensiosa e
fala sem causar estranhamento. Faz o
sujeito percorrer a civilização através dele,
como parte dele, re/conhecendo nele,
características do seu ser. Aparece de modo
natural, e por conseguinte, marca
temporalidade. A narrativa é um
encadeamento.
As fraturas da inserção vão aparecer na
estrutura do sujeito, no percurso narrativo
que vai compondo a sua nova identidade.
A troca da identidade anterior pela atual. O
seu tempo passa a ser o tempo da empresa
que cria para ele uma rotina devoradora12.
Esse sistema é estabelecido a priori e o
homem responde às suas expectativas,
atua, veste a camisa, adota
comportamentos, delimita o seu cotidiano,
permitindo que o seu fazer e o seu lazer
sejam programados e ditados pela empresa.
Inserido e comprometido nesse contexto,
acredita que poderá realizar o propósito de
ambos e iludido nesse jogo, aliena-se de
12
O estado anterior do funcionário era
composto pelo comportamento de um fazer
diferente. Uma vez inserto, a missão
produz nele as transformações, e o seu
fazer se modifica. Ela gera um ato que
afeta o sujeito que se transforma de objeto
em outro sujeito, parece automática a re/
gravação e a ordenação dos atos e fazeres
anteriores. Ele sabia um fazer diferente, a
transformação ocorreu na mudança do
ritmo, no ato, no formato, na constância.
Este novo fazer aparece timidamente. E vai
adquirindo um ritmo marcado por outra
constância.
A substituição da identidade individual
pela coletiva, e a mudança de constância,
no ritmo de vida e de trabalho do
funcionário, provoca uma ruptura. A
BAITELLO, N. O animal que parou os relógios. SP: Annblume. 2ª, ed 1999.
143
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
ruptura ocorre naquele que sofre a ação. A
convocação sensorial do encadear das
ordens sensoriais da missão provoca a
tensão. A distensividade ocorre, mesmo
havendo o desejo do funcionário de inserirse nesse meio que ele deseja.
Na adaptação da nova identidade no
novo ritmo, se faz sentir a suspensão
tensiva do seu fazer anterior. Ele gera uma
anormalidade do comportamento, porque
agora ele tendo sido sancionado
positivamente, não pode mais errar. Na
quebra da rotina instala-se a figura da dis/
tensividade. Ele perde o equilíbrio
anteriormente estabelecido e precisa se
apoiar em novos costumes. Este evento
extraordinário, a sanção positiva, e o
desejo de aí permanecer, afeta o sujeito nos
seus sentidos, audição, visão, sentido
corpóreo pela orientação, pelo movimento.
Quando há suspensão do tensivo, a
suspensão da rotina anteriormente
marcada, muda o percurso do sujeito, Essa
mudança é sentida no corpo, no que há de
mais significante, no equilíbrio. “O
lampejo do medo do não saber e do medo
de não fazer correto provocando a
exclusão, é que desencadeia a fratura”. Ser
sancionado positivamente pela empresa é o
deslumbrar e o medo da exclusão é
ofuscamento da luz. O lampejo do medo
ofusca, não deixa ver, não deixa raciocinar,
faz sentir, a quebra de normalidade.
O fazer da missão transformou o objeto
em sujeito, ele saiu da disjunção para a
conjunção, lugar do poder e status, que
para ele significa valor. Agora o medo,
ação desta distensão e evento
extraordinário, leva à transformação do
sujeito. determinando o comportamento de
13
um corpo e a atitude de um devir do
sujeito13.
A missão doa ao sujeito a competência
tornando-o mais capaz na sua
cotidianidade, sem a presença de eventos
fora do seu controle. Agora ele pode
figurativizar, concretizar e materializar o
que estava nos seus sonhos e esperanças.
A empresa através da missão ordena os
mecanismos construídos e valorados
socialmente. Ordena também o seu
cotidiano neste mundo definido e marcado,
no qual só goza do respeito social aquele
que está vinculado a uma empresa, que
possui cargos, altos salários e bens que
denunciam satus. A articulação de valores
como reconhecimento social, o leva a fazer
o quadrado semiótico.
No conjunto do texto temos a vida do
funcionário aceito pela empresa, como
eufórico ou disfórico. Chegamos às
oposições a partir das isotopias que vão ser
reiteradas. É a semântica; quando temos a
figuratividade e a tematicidade. Ele vai
adquirindo os atributos da empresa através
da missão, esta vai construindo nele a sua
figuratividade, e a partir deste atributo
define o seu ser, suas formas e seus
sentidos. São temas concretizados pelas
normas organizacionais, e a normatização
da empresa, que por um lado tira-lhe a
identidade individual por outro, liberta o
indivíduo da opressão e da exclusão social.
Este trabalho ocorre paralelamente na
figuratividade.
O tema: missão da empresa e
funcionário é uma abstração a partir da
figuratividade que está mais perto e mais
concreto. A identidade da empresa assumiu
o papel social do homem, através da
OLIVEIRA, A. C., Eric Landowski, Caderno de Discussão do Centro de Pesquisa Sociossemiótica PUC: COS - USP: FFLCH – CNRS:
PARIS, 2003.
144
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
missão. No nível profundo temos uma
oposição semântica identidade x alteridade.
O nível discursivo trabalha no texto da
missão que põe em discurso o nível
sintático, o trabalho do enunciador. Este
trabalho do enunciador aciona os
mecanismos sintáticos de instauração, do
enunciador e do enunciatário.
Os valores da empresa são delegados
aos que nela trabalham. A comunicação se
dá entre quem enuncia e aquele para quem
é dirigida a enunciação; um dos conceitos
mais importantes da semiótica porque são
as artimanhas, as astúcias da enunciação,
que permitem ver quem enuncia, como é
que enuncia e a maneira de enunciar. O
texto da missão faz fazer e diz como fazer,
quando e onde, pela maneira de mostrar,
plano de expressão e fazer ouvir.
O enunciado define a disposição dos
atores em uma figuratividade sinestésica, o
sujeito é completamente tomado e não
consegue resistir ao chamado do objeto,
confundindo-se com ele, mas a sua
competência é doada a ele que se
transforma em sujeito. A gestualidade do
corpo instaurada, desde que inserto no
texto da empresa, adquire um ritmo
específico e marcado, o seu
comportamento e linguagem, postura e
forma de expressão, já não são mais do seu
domínio14. Ambos, sujeito e objeto, agora,
sujeito, buscam a conjunção na ilusão de
encontrar a plenitude. A missão afasta o
desconhecido (a exclusão do homem deste
meio), para concretizar a conjunção, porém
esta é uma eterna construção.
A ênfase na conjunção, no fazer parte
de, no relacionar com o sujeito, tem a
função de desconstruir a ideia do
afastamento, figurativizado com a ênfase
de que esse é o lugar onde se pode realizar
o desejo de poder, que possibilita o saber e
o fazer, e isso afasta a angústia da não
pertença, a fratura. A possibilidade de
construção do sujeito potencializa, exalta a
fidelidade, a lealdade, a dedicação
incondicional como objeto de apreensão
estética. O sujeito semiótico tem vontade
de conjunção. Ele se coloca no mundo da
cultura da empresa, adota seus valores,
constrói novas relações, encena e se faz
contemplar enquanto simulacro15.
2. Missão em análise
Pensando analisar este simulacro,
buscamos informações sobre a missão de
uma empresa em um site, de domínio
público, observando alguns fragmentos e
seus desdobramentos.
Na empresa escolhida, uma indústria de
alimentos, destacamos a seguinte narrativa:
Figura 1
“A empresa iniciou o século 21 com um
novo desafio: tornar-se, na próxima década,
a principal provedora de soluções para
nossos clientes dos setores agrícolas e de
alimentos”. Reconhecemos que somente
14
MORIN, E. Introdução ao Pensamento Complexo. Lisboa: Inst. Piaget, 1990. “a convivência, só é possível em virtude da submissão dos
indivíduos”.
15MORIN,
E. O Método/ O conhecimento do conhecimento. Porto Alegre. Sulina, 1999, “todo indivíduo tem importância na empresa para a
qual colabora com sua própria complexidade, sua visão do mundo, seus projetos pessoais, suas atitudes imprevisíveis, suas estratégias, sua
dinâmica de evolução. Para ele a empresa é "a sua" representação da empresa”.
145
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
obteríamos sucesso em nosso negócio se
criássemos valores diferenciados para nossos
clientes. Levamos para esta jornada; nossos
tradicionais pontos fortes que são
integridade e confiabilidade. Também
trazemos nosso conhecimento e experiência,
acumulados pela nossa atuação nas mais
diversas localidades, produtos e serviços. A
partir desta base, formaremos
relacionamentos mais sólidos com cada
cliente, possibilitando:
Explorar necessidades não atendidas;
Descobrir juntos as melhores maneiras de
atendê-las;
Criar soluções únicas e valorizadas; e
Entregá-las de maneira confiável.
Adotamos, como empresa, esta missão e ela
reflete como vemos o futuro.
O nosso novo logotipo e o sistema de
identidade corporativa, também representam
as aspirações da nossa companhia. “As
mudanças são as consequências dos
poderosos símbolos de uma empresa mais
dinâmica, acessível e inovadora na qual
estamos nos tornando.”
O estilo do logotipo é dinâmico e indica
movimento em direção ao futuro. O nome
da empresa em forma de berço – aquele
que acolhe, é sobreposta por uma gota em
movimento e em direção para adiante indicando movimento, caminhando em um
sentido. É colocado em perspectiva
diacrônica, inscreve-se como agente e
testemunha do seu próprio devir. Aquele
que atua acolhe e assiste. Exalta o
investimento da empresa no crescimento,
visando aumentar a participação no
mercado. Reduzido e formatado no alto da
página acima do texto da missão e das
metas, o logotipo indica pretensão à
prospecção, de mágico. Aquele que faz, faz
fazer e assiste o fazer do outro. Seguido do
enunciado da missão e reduzido ao estado
de mensagem no papel é o equivalente
simbólico metonímico ou metafórico do
outro.
Um sujeito figurado, um simulacro
inscrito no espaço retangular que equivale
ao ausente da imagem. Acompanhado da
visão e da missão, confere sentido ao
enunciado16 . Sujeito e objeto são
caracterizados neste contexto como
entidades chamadas a entrar em conjunção
pela estratégia das suas posições
actanciais. O jogo de sedução aqui
realizado é analisável como processo
recursivo, fundado na reprodução
especular de posturas adotadas
alternadamente, enunciação e enunciado
tem a intenção de atualizar competência.
No logo, o contraste das cores: verde/preto/
amarelo, em seu formato reduzido, saltam
da superfície do papel em uma abstração
esquematizante, produzindo o simulacro da
presença da empresa com sua
narratividade17.
“A nossa visão expressa as aspirações
coletivas das pessoas que aqui trabalham.
Ela nos unifica, dirige nossos esforços e nos
diferencia das outras empresas. Possui
quatro elementos: nosso objetivo: é ser líder
mundial em alimentos. Nossa missão: criar
valores diferenciados. Nossa abordagem:
sermos dignos de confiança, criativos e
empreendedores. Nossas medidas de
desempenho: funcionários engajados,
clientes satisfeitos, comunidades
enriquecidas e crescimento rentável.”
O apelo mítico e apelativo da visão,
como a concretização de uma verdade
16
TEIXEIRA, L., "Relações entre o verbal e o não verbal: pressupostos teóricos", in Caderno de discussão do VII Colóquio do Centro de
Pesquisas Sociossemióticas, 2000, pp. 415-426.
17
OLIVEIRA, A. C., LANDOWSKI, E. Caderno de Discussão do Centro de Pesquisa Sociossemiótica. São Paulo: ed. CPS. 2002
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
coletiva, enaltece valores sociais, humanos
e profissionais, como a expressão “as
aspirações coletivas das pessoas que aqui
trabalham”. Possui grande poder de
persuasão18 e instiga o sentimento
subjetivo do animal simbólico, explora
uma forma de conhecimento significativo
para o humano e remonta à memória do
nômade que só sobrevive como grupo.
de longo prazo trata da busca por nossas
metas, nossa missão reflete a realidade
competitiva do mercado. Só obteremos
sucesso nos negócios criando valor agregado
para nossos clientes, nossos fornecedores,
funcionários, acionistas e vizinhos. Criar um
valor diferenciado significa construir
relações mais fortes com os clientes e
apresentar comportamentos orientados para
a solução do cliente que podem se resumir
na frase: Explorar, Descobrir, Criar e
Entregar.”
“Nosso Objetivo é "Alimentar as pessoas"
reflete nosso enfoque agrícola e em
alimentos e a ideia mais ampla de melhorar a
qualidade de vida das pessoas. Isto também
quer dizer que o nosso objetivo fundamental
é atrelar nosso conhecimento e energia para
oferecer produtos e serviços necessários para
a vida, saúde e crescimento. Implica em
cumprir um leque de expectativas, desde
aprimorar a produtividade agrícola até
melhorar os alimentos para promover um
desenvolvimento econômico sustentável.
Também transmite uma cultura de alimentar
com base na confiança, valorização das
relações e na realização de todo o seu
potencial.”.
A narrativa da missão tem o intento de
unificar a multiplicidade dos interpretantes
atributivos, sintetizar os traços diferenciais
do seu produto, e eleger o atributo
considerado mais significativo. Reunir
variadas qualificações em torno de um
ponto de convergência virtual, ponto este
que se situa num espaço possível e
inusitado do universo linguístico-cultural.
Associada ao logo, o conjunto texto/
imagem opera importante mensagem com
intenção de comunicar o caráter, a imagem
e a personalidade da empresa como objeto
valor, não apenas para o funcionário, mas
também para o público externo20 . Seus
efeitos retóricos adquirem um caráter
prático e popular que expressa a ideia, a
imagem e o seu imediato reconhecimento
pelo receptor.
Pelo procedimento de textualização, “O
seu objetivo é Alimentar as pessoas", o
discurso verbal procura ser atraente para o
enunciatário. O enquadramento e a
inserção da informação são elementos
semióticos capazes de promover e/ou fazer
surgir efeito de sentido19. Enaltece os
valores humanos reconhecidos
socialmente. É um jogo de linguagem de
u m a m e s m a g r a m á t i c a d o o l h a r,
caracterizada pelo registro figurativo, que
explora e pela sintaxe interacional que
utiliza.
“Nossa Missão, valor diferenciado, está no
centro da nossa ação estratégica. Encontra-se
nos pilares do foco do cliente, inovação e
alto desempenho. Enquanto o nosso objetivo
O texto escrito fornece uma chave de
sentido conduzindo a leitura da imagem e
guiando a sua interpretação. A imagem é,
por essência, polissêmica, ao passo que o
texto escrito tem caráter mais unívoco; daí
ser este o caminho para privilegiar um
sentido possível, ou o sentido desejado e
intencional. No plano da expressão o
formante matérico da missão, apresenta-se
18
IASBECK, L. C. A. (2002) A arte dos Slogans: as técnicas de construção das frases de efeitos do texto publicitários São Paulo:
Annambule: Brasília: Upis. (pág.111)
19
OLIVEIRA, A. C, Colóquio do Centro de Pesquisas Sociossemióticas, 2003, p.196.
20 AGUILAR,
G. Hernández (ed.), Sentido y significación (Puebla, Premia Edit., 1987).
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Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
em um cartaz retangular que vai contrastar
com a cor do logo. O eidético e o
topológico vão homologar com o plano do
conteúdo. O texto é, marcadamente,
sedutor e convincente, diretivo e forte,
como as cores e o estilo do logo.
As cores fortes e destacadas do logo em
prospecção se mostram com o texto sobre
o papel cromático amarelo claro. O
enunciado busca o devir do sujeito, a
conjunção, a dinâmica sugere movimento
do logo com a persuasão do texto 21 . A
estratégia midiática de textualização
explorada em “... encontra-se nos pilares
do foco do cliente, inovação e alto
desempenho. Enquanto o nosso objetivo de
longo prazo trata da busca por nossas
metas, nossa missão reflete a realidade
competitiva do mercado...”, nos incita a
olhar os valores ressaltados na atualidade.
O funcionário submetido à missão,
sujeito de estado, se transforma em sujeito
de fazer. A enunciação tem um efeito
modificador nos estados do sujeito. A
construção da imagem da empresa se faz
conjunta com ele e o induz ao simulacro,
dirige-se ao sujeito e instala-se em seu
interior, já desnudado do invólucro que o
protege: a sua identidade. A missão tem a
função de divulgar valores que olham
direto para o sujeito que anseia ser
“modelo” 22 . O funcionário contempla o
objeto valor e transforma-se em sujeito
actante, como segue:
“Só obteremos sucesso nos negócios criando
valor agregado para nossos clientes, nossos
fornecedores, funcionários, acionistas e
vizinhos. Criar um valor diferenciado
significa construir relações mais fortes com
os clientes e apresentar comportamentos
orientados para a solução do cliente que
podem se resumir em: Explorar, Descobrir,
Criar e Entregar”.
As performances vocálicas acima
citadas realçam e sugerem um convite a
participar dessa competência. Esse aspecto
adquire um poder de pregnância no
destinatário, que automaticamente se põe
em conjunção.
A função conotativa interage com as
demais para atingir seu objetivo no sujeito
que ali se encontra, em busca da
competência que o sancione positivamente.
Nesse enunciado, todas as funções
prescritas jogam com a finalidade de tornar
a comunicação efetiva; a eficácia da
mensagem está na quantidade cumulativa
de funções, ou na sua maior densidade,
atuando simultaneamente para convencer
os funcionários. A contaminação da
comunicação “Criar um valor diferenciado,
significa construir relações mais fortes...” é
suficiente para produzir o efeito desejado.
A “Função Fática” aí presente chama a
atenção para a própria mensagem,
destacando o canal e não necessariamente
a mensagem - mais pela sua forma do que
pelo seu conteúdo. Ela é breve, compacta,
afirma autoridade, pretende imprimir
prestígio ao anunciado, é anônimo, causa
impacto e pretende comunicação imediata
dispensando reflexões demoradas. Essas
características estão contidas na estrutura e
não no que, eventualmente pretenda dizer.
A “Função Referencial” que pode ser
explícita, dissimulada ou mesmo ausente,
substituída por expressões
metalinguísticas, pode ser observada no
21
OLIVEIRA, A. C. M., "Notas sobre a presentificação: inteligibilidade e sensibilidade na primeira página do jornal", in Caderno de
discussão VI Colóquio Centro de Pesquisas Sociossemióticas, 2000, pp. 177-188.
22
MORIN, E. Ciência com Consciência. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil, 1996, “Morin diz que a sociedade é um conjunto de homens com
grupos de diversas dimensões e significados que unificados por algo maior que eles, compõem a humanidade”.
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texto da missão. A presença da
possibilidade da sua aplicação na empresa
determina a força da mensagem. Ela não
tem a finalidade de informar, deixa isso a
cargo do texto argumentativo no seu todo:
visão, objetivo e medidas de desempenho.
A função da frase no contexto é seduzir
e motivar o destinatário à inserção. A
referência é dissimulada por eufemismos e
metáforas, “construir relações mais
fortes...”, pode servir a uma série
infindável de ideias, mas aqui,
especificamente, se refere à conjunção dos
atores. A "informação" fala diretamente ao
destinatário. Ultrapassa a própria missão
para elevar o funcionário “conjunto com a
empresa” com o seu diferencial, o nome da
instituição, seu prestígio, sua solidez e
demais atributos culturais relacionados ao
seu produto. Aproxima o funcionário da
referência "deslocada" do produto, de
preferência os encantatórios.
A análise sócio semiótica do fragmento,
“Só obteremos sucesso... ”, tem a intenção
de construir junto e com, um perfil que nos
dá a conhecer, se mostra e se oculta numa
relação de sedução e tentação entre sujeito,
observado e observador. A empresa e a sua
missão nos olham de frente, é provocativa,
seduz, se dá a conhecer insinuando que o
sujeito é parte integrada, mas oculta a
contra partida, “enquanto atendê-la
integralmente”. Sua impressão organiza-se
num contínuo descontínuo, manipulador,
provoca um querer fazer, para prender a
atenção e o interesse do enunciatário: “... o
nosso objetivo de longo prazo trata da
busca por nossas metas, buscas audaciosas.
Nossa missão reflete a realidade
competitiva do mercado”. Mas, isso só será
possível se você enunciatário, se mantiver
conjunto conosco.
As projeções actoriais e espaciais “Só
obteremos sucesso nos negócios criando
valor agregado para nossos clientes, nossos
fornecedores, funcionários, acionistas e
vizinhos”, atuam como âncora que busca
identificação e reconhecimento de
elementos da narrativa por parte do
enunciatário. As estratégias de
textualização outorgam singularidade, que
constroem procedimentos que apresentam
mecanismos característicos, como o
procedimento discursivo figurativo, o
discurso temático e o discursivo
enunciativo.
Os arranjos textuais “... Nossas medidas
de desempenho reconhecem que o alto
desempenho começa com funcionários
engajados que enfocam os esforços na
satisfação do cliente, e que testemunham
nosso compromisso em comunidades
habitáveis e sustentáveis...”, variam
conforme os procedimentos adotados pela
enunciação. As estruturas semionarrativas
e o modo como o texto narra a estratégia
global é persuasiva. Ela desencadeia a
tentação no enunciatário de vir a ser objeto
valor e nesse momento provoca nele a
aceitação do contrato proposto.
No contexto das atividades produtivas, a
missão da empresa se insere no funcionário
de uma forma dinâmica e ritual, atendendo
a uma necessidade com a finalidade de
compor a coletividade. A empresa utilizase dos artifícios da missão para criar
efetivamente esse fenômeno. É importante
entendê-la como linguagem diferenciada e
verificar sua importância na sociedade
moderna. Ela ultrapassa a mera função de
informar. Coexistindo com as estratégias
mercadológicas ela contamina e é
contaminada. Assume o caráter de discurso
que "joga para manter os mecanismos de
149
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
hegemonia política do capitalismo
mundial” 23 . Aí se singulariza, não só
ideologicamente, como também
esteticamente. Está presente nos manuais
de administração das empresas que,
geralmente, fazem parte do conhecimento
cotidiano dos funcionários. A divulgação
de ideias persuasivas tem nítidas intenções
ideológicas. Explora o desenvolvimento da
teoria dos sentidos, da percepção e traz o
repertório de signos que se perfilam desde
o século XVII com o desenvolvimento da
industrialização. Esses signos
correspondem a uma ideologia social e
constituem uma forma de falar e
representar no universo organizacional.
Como a missão tem a função de
empolgar o destinatário, ela possui intenso
grau emotivo. Ela sensibiliza a opinião
com questões que valorizam a importância
de caráter, procurando atingir o perfil do
receptor previamente selecionado. Utilizase de termos e expressões que sugerem as
práticas da sedução, “quer fazer parte da
nossa equipe? Nós alimentamos o mundo”.
Neles, há uma dose reguladora de
linguagem afetiva, “você quer alimentar o
mundo?”, nós ajudamos você em seus
propósitos, mas para isso é preciso que se
integre ao nosso corpo coletivo. Morin
(1996) diz que “a sociedade é um conjunto
de homens com grupos de diversas
dimensões e significados que unificados
por algo maior que eles, compõem a
humanidade”. A empresa é um micro da
humanidade.
23
A função emotiva envolve conceitos
culturais ligados aos valores muito
explorados na atualidade como, a
solidariedade, a não violência e a ecologia.
A chamada “ser digno de confiança”,
inspira integridade na relação que
construímos com o cliente. É um
mecanismo verbal que objetiva o
incitamento dos funcionários, compelindoos a um comportamento ativo e favorável à
incorporação da mensagem.
“Nossas Medidas de Desempenho
reconhecem que o alto desempenho começa
com funcionários engajados que enfocam os
esforços na satisfação do cliente, e que
testemunham nosso compromisso em
comunidades habitáveis e sustentáveis. E
elas refletem que organizações que
apresentam estes comportamentos terão o
crescimento lucrativo necessário para
sustentar o desempenho do tempo.” Aqui a
função incitativa caracteriza comunicação
centrada no destinatário. A função
gramatical mais pura da função conativa
d eix a d e s er imp er ativ o ex p lícito ,
dissimulando a natureza incitativa em
insinuações “sutis”. O enunciado apresenta e
anuncia que a empresa pensa à frente e é
orientada pela ação, a função metalingüística
tem a intenção de confirmar um código, e a
função emotiva pelo caráter intersubjetivo
da frase, propõe a cumplicidade afetiva. A
função poética encontra-se na ruptura do
paralelismo semântico. Por um lado provoca
surpresa, e por outro, a perplexidade da
liberdade de poder acrescentar algo positivo
ao objeto valor24 . “... reconhecemos que o
alto desempenho dos funcionários
proporciona satisfação ao nosso cliente.”
A narrativa a seguir, nos remete a um
todo harmônico, que supera sua origem
comercial e seu fim imediato, introduzido
nos rígidos limites do contrato algo
IASBECK, L. C. A. A arte dos Slogans: as técnicas de construção das frases de efeitos do texto publicitários São Paulo: Annambule:
Brasília: Upis. 2002.
24
FIORIN, José Luiz , As astúcias da enunciação, São Paulo, Ática, 1996.
150
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
essencialmente humano25 .
“... Nossas
medidas de desempenho reconhecem que o
alto desempenho começa com funcionários
engajados... ,... a visão da Cargill expressa
as aspirações coletivas das pessoas que
aqui trabalham. Ela nos unifica, dirige
nossos esforços e nos diferencia...”
Umberto Eco26 diz que a estética tem lugar
na publicidade enquanto mecanismo
retórico-persuasivo, que envolve e
convence o homem a ação.
Sobre a conjunção texto/imagem,
observando o logo indicando dinamismo e
ação e o texto: “... a visão da empresa
expressa as aspirações coletivas das
pessoas que aqui trabalham...”. Segundo
Perez Tornero 27, reaviva as distinções entre
expressão e conteúdo. Promove o fazer
criativo, com o saber e a operatividade do
funcionário proporcionados pela missão da
empresa, conforme segue:
“Perfil do Funcionário: A empresa encerrou
2001 apresentando, mais uma vez, um
crescimento do seu quadro de funcionários,
como conseqüência dos contínuos
investimentos que estão sendo realizados
para que a empresa aumente a sua
participação nos mercados onde atua e esteja
cada vez mais presente na vida de todo
brasileiro. Durante 2001, o quadro de
funcionários teve um aumento de 10,85%. O
quadro funcional feminino, por exemplo,
aumentou 9%. A Cargill fechou o ano com
5.057 funcionários. Deste total, 21% está na
empresa há mais de dez anos”.
Aqui observamos que dentre os valores
que culturalmente são esperados de uma
empresa, enfatiza que podemos relacionar:
segurança, proteção, honestidade, garantia,
25
MORIN, E. O Paradigma Perdido. Portugal: Europa América, 2000.
26
ECO, Umberto.. I Limiti dell´Interpretazione. Milão Bompiani1999.
27
PEREZ, T. Semiótica de la publicidad, Ed. Mitre. Barcelona, 1982
confiança, força, eficiência, presteza, entre
outros. O nome de uma empresa em que
predomine a função referencial de
linguagem assume a forma afirmativa
direta, e é escolhida entre as demais pelas
qualidades desejáveis sendo eleita como a
mais atraente: “... a visão da empresa
expressa as aspirações coletivas das
pessoas..., e. nosso objetivo é alimentar as
pessoas". A empresa não faz a sua função
sem as pessoas, ambas precisam uma da
outra para possibilitar suas ações. De
acordo com Morin (1999), todo indivíduo
tem importância na empresa para a qual
colabora com sua própria complexidade,
sua visão do mundo, “seus projetos
pessoais, suas atitudes imprevisíveis, as
suas estratégias, sua dinâmica de evolução
contribuem para a existência da empresa
que é "a sua" representação da empresa”.
As mensagens da missão são partes de
um pressuposto e se dirigem a um público
específico. Este público está predisposto
captar as mensagens porque foi
previamente selecionado, confinado em um
espaço e submetido à cultura da empresa.
A sua linguagem poética tende a elitizar o
seu destinatário, por trabalhar com o
mesmo paradigma “alimentar o mundo”.
Juntos poderão de forma eficiente atingir
os seus objetivos, utilizando-se das
características da linguagem referencial. A
missão não visa apenas informar. Interessalhe, seduzir e cativar o destinatário em
potencial das ideias veiculadas, a
necessidade do comprometimento para o
sucesso da empresa. Para conseguir a
151
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
dosagem ideal deste comprometimento, ela
trabalha um vasto repertório de
estereótipos entendidos aqui como
procedimentos paradigmatizantes já
consagrados pela cultura e de fácil
decodificação para o seu destinatário28.
Observamos que o texto atua na
inferência por similaridade. Ele resultando
em uma percepção intuitiva que,
conjugado com o interesse do funcionário,
provoca contiguidade sígnica, o ponto de
partida para atuação da força dos
metassignos. A metáfora tem, pois, a
competência de iconizar sentidos em um
processo eminentemente metalinguístico,
no qual as palavras falam mais de si
mesmas, chegando a esquecerem-se como
signos primários.
3. Considerações Finais
De acordo com as investigações
podemos concluir que a missão da
empresa, texto mediador, e o funcionário,
chegam a uma conjunção. A mediação da
missão possibilita tamanha evolução nessa
relação, que o funcionário vai além da
representação de um papel. No processo de
identificação com a empresa ele se
transforma em sujeito, elevado a essa
categoria pela ação da missão. O papel do
texto da missão passa a se constituir em
continuidade, e enuncivo destaca e fala ao
funcionário como sujeito. Desta forma, o
promove e determina o seu deslocamento,
a sua hora de acordar, de levantar de se
ligar e desligar. Participa com ele em
condições de orientá-lo e de determinar a
relação, e em todo o tempo, ambos
permanecem alertas, vendo e sendo vistos.
A missão da empresa costura todos os
recursos que o homem precisa para se
orientar. Entra em sua vida com tamanha
impetuosidade que marca o seu cotidiano,
governa o seu sentido e a sua presença, e
mesmo quando ausente. Longe da empresa
o homem mantém a sua forma de
comunicação e interação, programada por
ela.
A partir do texto da missão, homem e
empresa unificam-se. Mais do que
proximidade física integram-se. E com a
tecnologia da comunicação, essa interação
torna-se muito mais comprometida29 .
Nesse momento, o homem não apenas
manuseia uma ferramenta apertando um
parafuso permitido pela liberação das
mãos, com o advento da hominização.
Com as mãos livres, e competentes, o seu
mundo de acesso vai muito além30 .
Metaforicamente ele passa a ter o mundo
nas mãos através do poder, saber e fazer
adquiridos.
O sedentarismo da empresa o aprisiona,
e seduzido pelo espaço organizacional ele
fica agregado. Espaço de comunhão dos
diferentes iguais, diferentes personalidades
e competências eficiências e conflitos,
dirigidos pelo mesmo texto: a missão da
empresa. Eles foram pescados no mercado
de recursos humanos por profissionais que,
estrategicamente, desenharam seus
estereótipos e os classificaram como
passíveis de adaptação. O seu perfil foi
encaixado no cargo mais próximo ao
adequado à sua personalidade, que
28
FIORIN, J. L. Elementos da análise do discurso. São Paulo: Contexto, 1994.
29
KAMPER, D.(1997). O trabalho como a vida, SP: Annablume.
30
Norval Baitello. O animal que parou os relógios, 1997.
152
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
selvagem, é domesticada a essa cultura. A
empresa aprimora através de treinamentos
os que atendem à sua necessidade,
potencializando os traços coletivos. Ao
entrar no sistema de ordem e se
sedentarizar para trabalhar na linearidade,
engessado às normas da empresa, ele abre
mão de sua identidade. Incorpora a
identidade coletiva, reproduz e se permite
refém.
mesmo viver livremente, pois é governado
pela missão. Missão promotora de
transformação que desconstrói o
pensamento do nômade que é livre e vive
aos saltos, alguns não se permitem
desconstruir. Esses que optam pela
liberdade, a empresa descarta como
excremento. E na definição de Kamper, o
que pode transformar em imagem
permanece, o resto naufraga31.
Mas, apenas permanecerão aí os
nômades contaminados pela loucura da
vaidade, da ambição e desejo de status, que
atraídos por este cenário, vão consolidar e
alimentar seus vínculos. O preço da sua
permanência é a fratura, suspensão tensiva
que gera uma anormalidade do
comportamento. Gerada pela substituição
da identidade e da mudança de constância,
no ritmo de vida e de trabalho. Esse
homem não mais poderá escolher, nem
Nesses que naufragam observamos um
fenômeno determinante que denuncia a sua
capacidade de usar o seu livre arbítrio e
fazer escolhas. O advento da loucura32. A
esse fenômeno, Bateson denomina
esquizofrenia, Foucault e Erasmo, de
loucura, Dejours de sofrimento psíquico, e
os psiquiatras de alteração ou desvio do
comportamento, designado como padrão
de normalidade. Resta-nos a pergunta:
Qual normalidade?
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31
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32
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Ele é livre para ficar ou retornar, mas se retornar jamais será integrado, porque possui outros mapas, assim, ele jamais se reintegrará, pois no
cume é estrangeiro, e se retornar aos vales também ai o será porque partiu.”
153
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154
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
12
Valerio Vitor Bonelli1
Antonio Robles Jr2
A sustentabilidade via controles estratégicos dos
custos ambientais
Recebido em: 03/12/2012 - Aprovado em: 16/12/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
O objetivo do presente artigo esta
fundamentado na necessidade da
implantação de um sistema de apuração dos
custos ambientais em uma organização,
demonstrar a necessidade de uso dos
relatórios como ferramenta aos gestores
para acompanhamento do comportamento
destes custos sempre visando a melhoria
contínua e a excelência na qualidade total.
O sistema de custos proposto toma por base
a contabilidade por atividades, tendo em
vista propiciar informações aos gestores e
colaboradores, facilitando e motivando a
tomada de decisões mais corretas dentro do
atual ambiente, de um lado mais
competitivo, porém de outro lado mais
responsável com a preservação do meio
ambiente rumo à sustentabilidade
empresarial. Propõe a definição de um
Sistema de Informações Ambientais
Gerenciais (SIAG), monitorado pela
Controladoria da empresa.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Custos
Ambientais, Melhoria Contínua.
Abstract
The purpose of this article is based on
the need to implement a system of
calculation of environmental costs in an
organization, demonstrate the need to use
the reports as a tool for managers to
monitor the behavior of these costs always
seeking continuous improvement and
excellence in total quality. The proposed
system is based on cost accounting for
activities in order provide information to
managers and employees, motivating and
facilitating decision making more correct
within the current environment, a more
competitive side, but on the other hand
more responsible with the preservation of
the environment towards corporate
sustainability. It proposes the definition of
an Environmental Management
1Doutorando
em Ciências Sociais pela PUC/SP, Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica pela Fecap/Facesp,
graduadoem Ciências Contábeis, Administração de Empresas, com Pós-graduação em Finanças, Membro da ABCAssociacão Brasileira de Custos. Professor Universitário na PUC/SP. Co-autor do livro Gestão da Qualidade e do Meio
Ambiente: Enfoque Econômico, Financeiro e Patrimonial, pela Editora Atlas.
Doutor e Mestre em Contabilidade e Controladoria pela Universidade de São Paulo; Autor dos livros: Custos da Qualidade
– Uma Estratégia para a Competição Global, Custos da Qualidade – Aspectos Econômicos da Gestão da Qualidade e da
Gestão Ambiental e Co-autor dos livros: Alquimia de uma Corporação – A Magia de um Treinamento e Contabilidade de
Custos: Temas Atuais. Professor na USP e no programas de Graduação e de Pós-Graduação Mestrado na PUCSP.
Coordenador do curso de Ciências Contábeis da PUCSP. Assistente Doutor da Universidade de São Paulo, Avaliador de IES
e cursos do INEP.
2
155
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Information System (SIAG), monitored by
the Controller of the company.
1. Introdução
A internalização dos custos ambientais é
uma maneira de equilibrar as forças de
mercado e de distribuir mais
equitativamente os danos que a sociedade
esta suportando como efeitos da
modificação da qualidade do meio
ambiente. As experiências desenvolvidas
em todo o mundo quanto aos instrumentos
de interiorização dos custos ambientais
mostram que as mudanças no sentido de
tentar conciliar os diversos interesses
envolvidos na questão já estão sendo
efetuadas, colocando a todos os agentes
principalmente não industriais o desafio de
participar do processo e elevar seus níveis
de percepção e atuação. Trata-se, porém,
de iniciativa em desenvolvimento e muito
ainda deve ser feito no sentido da busca da
qualidade de vida para toda a população. O
meio ambiente tornou-se um elementochave para a reformulação dos valores e
vigentes na sociedade e estabelecerem-se
novas formas de pensamento e ação em
todas as práticas produtivas.
2. Conceito em gestão ambiental
A Gestão Ambiental consiste de um
conjunto de medidas e procedimentos bem
definidos e adequadamente aplicados que
visam a reduzir e controlar os impactos
introduzidos por um empreendimento
sobre o Meio Ambiente. O ciclo da Gestão
Ambiental, para que haja eficácia, deve
cobrir, desde a fase de concepção do
projeto até a eliminação efetiva e contínua
dos resíduos gerados pelo empreendimento
156
Keywords: Sustainability, Environmental
Costs, Continuous Improvement.
depois de implantado, durante toda sua
vida útil, devendo também assegurar a
melhoria contínua das condições de
segurança, higiene e saúde ocupacional de
todos os seus empregados e um
relacionamento sadio com os segmentos da
sociedade que interagem com esse
empreendimento e a empresa. A Gestão
Ambiental exige, como premissa básica,
um comprometimento da alta direção da
empresa e de seus acionistas com o
estabelecimento de uma Política Ambiental
clara e definida que irá nortear as
atividades da organização com relação ao
Meio Ambiente assumindo compromisso
formal com a sociedade, definindo suas
intenções e princípios com relação a seu
desempenho ambiental.
2.1. Responsabilidade social
A responsabilidade social, como é
chamada com frequência, implica um
sentido de obrigação para com a sociedade.
Esta responsabilidade assume diversas
formas, entre as quais se incluem proteção
ambiental, projetos filantrópicos e
educacionais, planejamento da
comunidade, equidade nas oportunidades
de emprego, serviços sociais em geral, de
conformidade com o interesse público.
Essa responsabilidade social das
corporações, que excede a produção de
bens e serviços, tem-se intensificado nas
últimas décadas, notadamente a partir dos
anos 60, em respostas às mudanças
ocorridas nos valores de nossa sociedade.
Mudanças essas que incluem a
responsabilidade de ajudar a sociedade a
resolver alguns de seus problemas sociais,
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
muitos dos quais as próprias organizações
ajudaram a criar.
A justificativa para o sentido de
responsabilidade social por parte da
empresa fundamenta-se na liberdade que a
sociedade concede à empresa para existir.
Podemos considerar a existência de um
contrato social. Uma empresa, como outras
organizações legítimas, tem a liberdade de
existir e trabalhar por um objetivo
legítimo. O pagamento dessa liberdade é a
contribuição da empresa para a sociedade.
Além disso, segundo Donaire
(1995:20), “os termos desse contrato não
são permanentes, mudam com o tempo.
Atualmente esta claro que os termos do
contrato entre as organizações e a
sociedade estão de fato sofrendo
substancias e importantes modificações. Os
novos termos desse contrato baseiam-se na
visão de que as empresas que tem
finalidade unicamente econômica acabam
acarretando alguns efeitos à sociedade ou à
parte dela que representam um custo social
para todos. Nesse sentido, o crescimento
econômico não esta ligado, como
antigamente se apregoava, ao progresso
social. Em muitos casos, o crescimento
esta afeto à deterioração física do
ambiente, a condições insalubres de
trabalho, exposição a substâncias tóxicas,
discriminação a certos grupos sociais,
deterioração urbana e outros problemas
sociais”.
Esta responsabilidade social é
fundamentalmente um conceito ético que
envolve mudanças nas condições de bemestar ligadas às dimensões sociais das
atividades produtivas e suas ligações com a
qualidade de vida na sociedade. Portanto,
consubstancia-se na relação entre a
empresa e seu ambiente de negócios.
2.2. Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento sustentável significa
atender às necessidades da geração atual
sem comprometer o direito das futuras
gerações atenderem a suas próprias
necessidades. Nessa definição estão
embutidos dois conceitos com os quais
precisaremos doravante conviver. O
primeiro é o conceito das necessidades,
que podem variar de sociedade para
sociedade, mas que devem ser satisfeitas
para assegurar as condições essenciais de
vida a todos, indistintamente. O segundo
conceito é o de limitações, que reconhece a
necessidade da tecnologia desenvolver
soluções que conservem os recursos
limitados, atualmente disponíveis e que
permitam renova-los na medida em que
eles sejam necessários às futuras gerações.
Na realidade a poluição industrial é uma
forma de desperdícios e um indício da
ineficiência dos processos produtivos até
agora utilizados. Resíduos industriais
representam, na maioria dos casos, perdas
de matérias-primas e insumos. Na medida
em que as empresas vão aderindo aos
conceitos da Qualidade Total e se
preocupam mais com a eficiência de seus
processos produtivos, passa a haver uma
convergência de interesses técnicos,
econômicos e comerciais que tenderá a
reduzir a geração de poluentes pela
indústria.
2.3. Autofinanciamento
Do ponto de vista empresarial, quando
se menciona meio ambiente sob o aspecto
econômico a ideia inicial é a de que haverá
aumento das despesas e o consequente
acréscimo dos custos do processo
produtivo. Na realidade um sistema de
gestão ambiental estruturado, com metas
157
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
estabelecidas, consegue se auto financiar,
pois tecnologias limpas, mudanças de
processo e tratamento de resíduos, torna
possível contabilizar ganhos. De acordo
com DONAIRE (1995:51): “algumas
empresas, porém, tem demonstrado que é
possível ganhar dinheiro e proteger o meio
ambiente mesmo não sendo uma
organização que atua no chamado
‘mercado verde’, desde que as empresas
possuam certa dose de criatividade e
condições internas que possam transformar
as restrições e ameaças ambientais em
oportunidades de negócios.”.
Entre essas oportunidades podem ser
citadas a reciclagem de materiais que tem
trazido uma grande economia de recursos
para as empresas; o reaproveitamento dos
resíduos internamente ou sua venda para
outras empresas através de Bolsas de
Resíduos ou negociações bilaterais; o
desenvolvimento de novos processos
produtivos e como já foi dito com a
utilização de tecnologias mais limpas ao
ambiente, que se transformam em
vantagens competitivas e até mesmo
possibilitam a venda de patentes; o
desenvolvimento de novos produtos para
um mercado cada vez maior de
consumidores conscientizados com a
questão ecológica, geração de materiais de
grande valor industrial a partir do lodo
tóxico, estações portáteis de tratamento,
miniusinas para uso de pequenas empresas
e o aparecimento de um mercado de
trabalho promissor ligado à variável
ambiental que deverá envolver auditores
ambientais, gerentes de meio ambiente,
advogados ambientais, bem como o
incremento de novas funções técnicas
específicas.
158
2.4. Accountability - Prestaçao de
Contas
A responsabilidade social empresarial é
entendida como o relacionamento ético e a
prestação de contas da empresa com todos
os grupos de interesse que influenciam ou
são impactados pela atuação da mesma
(stakeholders), assim tanto no respeito ao
meio ambiente quanto no investimento em
ações sociais. É a expansão e evolução do
conceito de empresa para além seu
ambiente interno. Na medida em que a
empresa esta inserida na sociedade,
observa-se uma relação de
interdependência entre ambas.
Este relacionamento com os
denominados stakeholders e o meio
ambiente deve estar de acordo com seus
valores, políticas, cultura e visão
estratégica.
O desenvolvimento da comunidade em
que esta inserida, a preservação do meio
ambiente, uma comunicação transparente
interna e externa, o investimento no
ambiente de trabalho, no bem estar dos
funcionários, o retorno aos acionistas, a
satisfação dos clientes e a sinergia com os
stakeholders, são exemplos de ações que se
caracterizam como prestação de contas e
responsabilidade social.
Os investimentos em programas de
gestão ética nas organizações surgiram a
partir de demandas da sociedade,
legislações, movimentos anticorrupção e
de transparência internacional, se tornando
questão estratégica, fator diferencial de
competitividade e aumento de
produtividade.
A ética empresarial envolve desde as
práticas utilizadas pela empresa na venda
de produtos ao mercado a fim de alcançar
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
seus objetivos, até o relacionamento
transparente com todos os “stakeholders”.
ecossistema no qual se inserem as
atividades da empresa.
“Stakeholders” são os grupos de
interesse que se relacionam, afetam e são
afetados pela organização e suas
atividades. O termo “stakeholders” é mais
abrangente do que “stockholders” que
significa, exclusivamente acionista,
enquanto que como “stakeholders”, além
dos acionistas, há os clientes, os
fornecedores, os funcionários, a
comunidade e todos os demais grupos sob
o raio de influência próximo ou remoto da
empresa. Um desses grupos poderá ser
afetado pelas políticas ambientais
praticadas pela entidade, daí o fato que
para questões ambientais o orçamento tem
que ser impositivo.
Empresas que pretendam obter
financiamentos no mercado internacional,
que sejam fornecedoras de grupos
internacionais e que almejem ser líderes
nos segmentos da economia em que atuam
não podem prescindir da Qualidade
Ambiental como parte de sua imagem.
2.5. Qualidade ambiental
A conscientização ambiental dos
dirigentes de uma empresa pode provocar
alterações profundas em suas prioridades
estratégicas e algumas mudanças de
abordagem que vão modificar as atitudes e
o comportamento de todos os seus
funcionários. O quadro nº 1 mostra, de
forma esquemática, essas mudanças de
abordagem motivadas pela conscientização
ambiental.
A qualidade Ambiental é parte
inseparável da Qualidade Total ansiada
pelas empresas que pretendem se manter
competitivas e assegurar sua posição em
um mercado cada vez mais globalizado e
exigente.
A Qualidade Ambiental consiste no
atendimento aos requisitos de natureza
física, química, biológica, social,
econômica e tecnológica que assegurem a
estabilidade das relações ambientais no
As ferramentas utilizadas para alcançar
a Qualidade Ambiental são, em sua
essência, idênticas aquelas utilizadas pela
empresa para assegurar sua qualidade de
produção: treinamento, plano de ação,
controle da documentação, organização e
limpeza, inspeções e análises periódicas da
situação.
Para assegurar a Qualidade Ambiental
devem-se prever, já na fase de concepção
de um produto e no desenvolvimento do
respectivo processo produtivo, soluções
para resíduos que serão gerados. O
desenvolvimento do produto e do processo,
o gerenciamento dos resíduos resultantes e
o gerenciamento da produção passam,
assim, a ser tratados de forma integrada.
Essa integração requer o levantamento
do chamado ciclo de vida do produto,
identificando toda sua trajetória, desde as
matérias-primas e insumos utilizados em
sua fabricação, aos resíduos que gera até
seu descarte final. Esse levantamento é
importante do ponto de vista da Qualidade
Ambiental, pois um produto pode ser
ambientalmente limpo e correto apenas
durante sua vida útil, porém não a
montante, em processo produtivo, ou a
jusante, em sua destruição após o uso. Por
isso numa etapa seguinte seu ciclo de vida
deve ser analisado para que se possa
assegurar, de forma global, sua qualidade
do ponto de vista ambiental.
159
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
3. Contabilidade baseada em
atividades
O custeio por atividades, ou ABC
(Activity Based Costing), tem se mostrado
o mais apropriado, até o momento, para
auxiliar a gestão estratégica de custos da
160
empresa. Os custos indiretos têm
aumentado significativamente nas últimas
décadas, devido aos novos métodos de
produção, exigindo, entre outros pontos
maior flexibilidade, que exige maior
necessidade de maior estrutura de apoio,
do tipo:
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
•
Planejamento;
•
Qualidade;
•
Logística;
•
Desenvolvimento;
•
Meio ambiente;
3.1. Diferencial de apresentação
O controle de custos ambientais
demonstra o nível de falhas existentes e o
volume de gastos necessários para eliminar
e/ou reduzir essas falhas, seja na forma de
investimentos de natureza permanente ou
de insumos consumidos no processo
operacional.
De acordo com Ribeiro (1998: 69), “os
custos ambientais devem compreender
todos aqueles relacionados, direta ou
indiretamente, com a proteção do meio
ambiente, como:
Todas as formas de amortização
(depreciação e exaustão) dos
valores relativos aos ativos de
natureza ambiental possuídos pela
companhia;
•
Aquisição de insumos próprios
para controle/redução/eliminação
de poluentes;
•
Tratamento de resíduos dos
produtos;
•
Disposição dos resíduos
poluentes;
•
Tratamentos de recuperação/
restauração de áreas contaminadas;
•
Mão de obra utilizada nas
atividades de controle/preservação/
recuperação do meio ambiente.
•
O processo de identificação e
quantificação dos custos relacionados ao
meio ambiente exige envolvimento de
vários departamentos da empresa, como
Compras, Meio Ambiente, Saúde e
Segurança, Finanças e Contabilidade.
Identificar e trilhar dados de custos
ambientais tem por finalidade chave o
levantamento de informação necessária
para valorar, e talvez, realocar o uso de
ativos da empresa, ou seja, tomar melhores
decisões sobre investimentos. Uma das
consequências desse exercício é o reexame
do valor adicionado de cada atividade
necessária. Uma vez diagnosticado que a
atividade é primordial, deve-se verificar a
possibilidade de substituição desta, por
outra.
Os tipos de custos que são atribuídos ao
meio ambiente são classificados em quatro
categorias, como descreveu o “Pollution
Benefits Manual” publicado pela U.S.
Environmental Protection Agency - EPA e em subsequentes publicações, sendo a
m a i s a ‘ E PA’s A n I n t r o d u c t i o n
Environmental Accounting as a Business
Management Tool: Key Concepts and
Terms (1995). Os custos ambientais
também foram classificados em quatro
categorias:
Custos Convencionais: inclui os
custos que, na maior parte das
vezes, recebem atenção especial na
contabilidade gerencial, tais como
investimentos em equipamentos,
matéria-prima, mão de obra e
materiais indiretos. Dessa forma, os
custos convencionais incluem todos
aqueles associados com os aspectos
ambientais tangíveis de tais
processos e atividades. Seu
controle conduz ao aumento da
eficiência produtiva por eliminar o
desperdício.
•
161
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Custos potencialmente ocultos:
são aqueles ligados a todas as
atividades necessárias para que a
empresa se mantenha em
conformidade com as leis e outras
políticas ambientais inerentes à
própria organização. A integração
de exigências regulatórias nos
planos de negócio enfoca os custos
de conformidade para adequar
produtos e processos e expõe
formalmente custos ocultos. Como
exemplos, destacam-se o
monitoramento ambiental,
treinamento, relatório ambiental,
entre outros.
•
Custos em Contingências:
envolvem todos os gastos que
podem ou não ocorrer devido a
futuros custos de regulamentações,
multas e penalidades, gastos com
recuperação de recursos naturais
danificados, etc. Conhecer o fato
gerador de tais custos,
antecipadamente, possibilita à
empresa definir ações a fim de
evitá-los.
•
Custos de Imagem e
Relacionamento: envolve a
percepção e o relacionamento que
os acionistas, comunidade e
governo desenvolvem com a
companhia. Apesar de difícil
quantificação o desempenho
ambiental pode melhorar ou
prejudicar o relacionamento da
empresa com terceiros, e os
impactos gerados podem ter custos
e/ou implicações financeiras.
•
A gestão dos custos ambientais
permitirá a avaliação dos possíveis riscos
ambientais que a empresa esteja
162
assumindo. Estas contingências precisam
ser conhecidas pelos gestores e devem ser
retratadas, sob o ponto de vista gerencial
da empresa.
3.2. Custos ambientais por processos
Em se tratando de atividades voltadas
ao controle, à proteção e preservação
ambiental, os custos segregados por
processos tem a finalidade de contribuir
para assegurar que os procedimentos, que
tem por finalidade proteger e preservar o
meio ambiente estão consumindo recursos
dentro dos parâmetros previstos, e,
portanto, estariam produzindo os
resultados técnicos esperados. Obviamente
que esta análise deve feita em conjunto
com as técnicas operacionais, pois, os
gastos podem estar em conformidade com
os previstos, mas os níveis de poluição
decorrentes do processo podem estar acima
do que o esperado.
O monitoramento dos custos ambientais
por processos, principalmente quando o
processo tem por objetivo específico
atividades relacionadas ao controle,
proteção e preservação ambiental, além de
buscar assegurar a conformidade das
medidas empreendidas com aquelas
realmente necessárias, permite ainda, a
obtenção de dados que possibilitam a
avaliação de continuidade ou terceirização.
No caso dos processos específicos, os
quais requerem que a empresa monte uma
estrutura especial para a realização do
referido processo, pode-se apresentar
dados em que se vislumbre que a
contratação dos serviços de terceiros pode
resultar em custos menores para a empresa.
Segundo CHING (1995:22) “a gestão de
processos e atividades deve ser conduzida
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
de forma que atinja os quatros objetivos a
seguir”
•
Reduzir custos;
•
Diminuir o ciclo de tempo;
•
Melhorar a qualidade;
Agregar valor ao cliente em
termos de serviços, flexibilidade
etc.
•
Os objetivos acima se enquadram
também entre os objetivos do sistema de
gerenciamento ambiental, pois na medida
em que se reduzem custos, perder-se-á
menos tempo na elaboração de produtos
que serão descartados como resíduos da
produção. Assim sendo, sem resíduos há
melhoria de qualidade ambiental, tanto no
produto como no processo de elaboração,
agregando valor ao cliente, pois elimina
problemas de recusa do produto em função
de qualidade ambiental.
Caso os gastos orçados para controle
ambiental não se efetivem em sua
plenitude, a empresa com essa “economia”
pode estar deixando de implantar projetos
planejados para diminuir a poluição de
meio ambiente, o que deve ser investigado
pela Controladoria, pois se o gasto orçado
não foi realizado, por qualquer motivo, a
variação orçamentária não deve ser
considerada como favorável, mas sim
desfavorável, pois pode afetar resultados
futuros.
4. Gestão ambiental baseada em
atividades
A gestão ambiental baseada em
atividades deve pressupor a definição dos
vários processos gerenciais da função Meio
Ambiente, essa função teria o mesmo
status na empresa das demais funções,
como Marketing, Finanças, Produção,
Recursos Humanos e outras. Essa função
poderia ser alocada à Logística da empresa
ou ficar subordinada diretamente à
Presidência, constituindo uma Diretoria
autônoma. De acordo com FURLAN
(1997:37), uma lista parcial dos processos
gerenciais da função 'Meio Ambiente', de
uma 'Usina de Geração de Energia',
poderiam contemplar:
“Planejamento do meio ambiente; Controle
de poluição; Tratamento dos efluentes;
Desmatamento e reflorestamento;
Piscicultura; Controle de insetos; Programa
básico ambiental; Recuperação ambiental;
Acompanhamento meteorológico; Proteção
ambiental; e, Elaboração de projetos de
poluição harmônica”. FURLAN (1997:38).
Para este último processo, FURLAN,
propõe a definição: “Estudar o fenômeno
de poluição harmônica (distorção nas
ondas de tensão e corrente), provocada por
d e t e r m i n a d a s c a rg a s e s p e c i a i s d e
consumidores que colocam em risco a
integridade de equipamentos elétricos e
afetam a qualidade da energia elétrica
entregue, recomendando-se as medidas
necessárias”.
Posteriormente, cada processo gerencial
deveria ser detalhado por atividades,
evidentemente, de acordo com a
necessidade de detalhes gerenciáveis,
sempre levando em consideração a clássica
confrontação do custo da informação em
relação ao respectivo benefício.
4.1. ABM aplicado à gestão ambiental
A gestão ambiental baseada em
atividades (Activity Based Management)
consiste em nortear as diferentes decisões
com relação ao meio ambiente, de acordo
163
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
com os relatórios de custos das atividades
ambientais.
Para tanto, a modelagem dos diferentes
sistemas ambientais, deve estar voltada
para a definição dos processos ambientais,
e x e m p l i f i c a d o s n o i t e m a n t e r i o r,
detalhados em atividades. A visão
sistêmica desses processos ajuda a
modelagem dos sistemas ambientais.
Adequando-se ao proposto por POLYA
(1973), in CHRISTOFOLETTI (2000:25),
a questão da modelagem dos sistemas
ambientais, assemelha-se à solução de
problemas matemáticos, ou seja:
“a) Compreender o problema, questionando,
Qual é a questão? b) estabelecer um plano
para a solução do problema: Como se pode
resolvê-lo? c) executar o plano: Qual é uma
resposta? d) checar a adequação da resposta:
A resposta está correta?” (POLYA, 1973 in
CHRISTOFOLETTI, 2000:25).
Dessa abordagem, poder-se-ia inferir os
sistemas de modelos de custos ambientais,
que seriam básicos para a gestão ambiental
baseada em atividades. A construção
desses modelos deveria seguir quatro
etapas básicas:
1) Formulação, definindo-se os objetivos do
modelo; 2) Verificação, validação prévia; 3)
Calibragem ou Nivelamento; e 4) Análise e
Avaliação do Modelo. Em cada etapa,
seriam testadas as premissas. Caso essas
premissas não atendessem o objetivo geral e
de cada fase, elas teriam que ser discutidas e
reformuladas. O conjunto de sistemas,
processos e atividades, constituiriam o
Sistema de Informações Ambientais
Gerencias - SIAG. (POLYA, 1973 in
CHRISTOFOLETTI, 2000:25).
5. Passivos ambientais
O passivo ambiental deve ser
reconhecido nos relatórios financeiros se é
de ocorrência provável e pode ser
razoavelmente estimado, existindo vários
164
padrões de “contingências” que devem ser
usados para caracterizar o que seria um
evento de ocorrência provável. No caso de
haver dificuldades na estimação do valor
de um passivo ambiental, deverá ser
provisionado um valor razoável, sendo
registrados os detalhes dessa estimativa em
notas explicativas.
O passivo ambiental que não será
liquidado no curto prazo, expressa
preferência pela medição através do
método do valor presente de uma
estimativa de custos e despesas futuras,
realizada com base em custos correntes
que a atividade requer e supondo a
existência de exigência legal e/ou outras,
alertando, que a incerteza inerente a essa
abordagem é minimizada se:
“A taxa de desconto para o valor presente for
baseada na taxa de risco semelhante à dos
títulos de governo; Os avanços tecnológicos
que se espera que aconteçam no curto prazo
forem levados em conta (note-se que os
avanços de longo prazo não devem ser
considerados); A expectativa de inflação for
levada em conta; O total do passivo
ambiental for revisado a cada ano e ajustado
por qualquer mudança relativa às estimativas
de gastos futuros anteriormente assumidos; e
As estimativas de obrigações adicionais
forem baseadas em fatores relevantes para o
período em que essas mesmas obrigações
s u r j a m ” ( P O LYA , 1 9 7 3 i n
CHRISTOFOLETTI, 2000:25).
6. Tendências para as empresas
serem responsáveis
Diversos são os caminhos hoje
existentes a serem trabalhados por uma
organização na busca pelo
desenvolvimento sustentável. A destinação
dos resíduos gerados pela sociedade se
torna mais complexa à medida que
aumentam a população o nível de
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
industrialização e o consumo de material.
Como consequência, para se enfrentar a
carência de locais adequados para lançar
esses resíduos iniciou-se a busca por
soluções mais eficazes do que a dispersão
dos mesmos no meio ambiente. Em vez de
simplesmente dispor seus resíduos, passouse a procurar alternativas mais lógicas, que
se propõem a tratar, reaproveitar,
minimizar ou até eliminar a geração dos
resíduos, contribuindo, cada uma dessas
alternativas, em escala crescente, para a
solução efetiva do problema.
Essas soluções são escolhidas a partir de
abordagens distintas, observadas sob os
seguintes ângulos:
“Minimizar – abordagem preventiva,
orientada para reduzir o volume e o impacto
causado pelos resíduos. Em casos
excepcionais, pode-se eliminar
completamente a geração do resíduo.
Valorizar – abordagem orientada para extrair
valores materiais ou
energéticos que
contribuem para reduzir os custos de
destinação dos resíduos e, em alguns raros
casos geram receitas superiores a esses
custos. Reaproveitar – abordagem corretiva,
orientada para trazer de volta ao ciclo
produtivo matérias-primas, substâncias e
produtos extraídos dos resíduos. Dispor –
abordagem passivo orientada para conter os
efeitos dos resíduos, mantendo-os sob
controle, em locais que devem ser
m o n i t o r a d o s ” ( P O LYA , 1 9 7 3 i n
CHRISTOFOLETTI, 2000:25).
As abordagens pelo reaproveitamento,
por sua vez, pode ter três enfoques
distintos:
“Reciclagem, quando há o reaproveitamento
cíclico de matérias-primas de fácil
purificação como, por exemplo, papel, vidro,
alumínio etc. Recuperação, no caso de
extração de algumas substâncias dos
resíduos, como, por exemplo, óxidos, metais
etc. Reutilização ou reuso, quando o
reaproveitamento é direto, sob a forma de
um produto, tal como as garrafas retornáveis
e
certas
embalagens
r e a p r o v e i t á v e i s ” ( P O LYA , 1 9 7 3 i n
CHRISTOFOLETTI, 2000:25).
As tecnologias limpas que visam a
eliminar ou reduzir a geração do resíduo, a
partir do processo produtivo.
“1º - Os tratamentos convencionais que
visam a reduzir os efeitos dos resíduos,
através de processos físicos, químicos,
biológicos ou térmicos. 2º - As tecnologias
novas que visam, através de pesquisa e
desenvolvimento, encontrar soluções para
problemas específicos que carecem de
soluções próprias, ou que requerem soluções
a l t e r n a t i v a s ” ( P O LYA , 1 9 7 3 i n
CHRISTOFOLETTI, 2000:25).
As soluções encontradas para
encaminhar adequadamente os problemas
ambientais obedecem, portanto, a uma
sequencia lógica e natural, expressa pelas
seguintes providências:
1º-Minimização da geração de resíduos
através de modificações no processo
Produtivo, ou pela adoção de tecnologias
limpas, mais modernas e que permitem, em
alguns casos, eliminar completamente a
geração de materiais nocivos; 2º Reprocessamento dos resíduos gerados,
transformando-os novamente em matéria
prima, ou utilizando-os para gerar energia;
3º - Reutilização dos resíduos gerados por
uma indústria como matéria-prima para
outra indústria; 4º - Separação de
substâncias nocivas das não nocivas,
reduzindo o volume total de
resíduo que
deva ser tratado ou disposto de forma
controlada; 5º - Processamento físico,
químico ou biológico do resíduo, de forma a
torna-lo menos perigoso ou até inerte,
possibilitando sua utilização como material
reciclável; 6º - Incineração, com o
correspondente tratamento dos gases gerados
e a disposição adequada das cinzas
resultantes; 7º - Disposição dos resíduos em
locais apropriados, projetados e monitorados
de forma a assegurar que não venham, no
futuro, a contaminar o meio ambiente. Valle
(2000).
O professor Cyro Eyer do Valle (2000)
enfatiza que: “essas soluções, na sequência
em que estão apresentadas, decrescem em
eficácia, pois partem de um conceito de
eliminação do problema (o de evitar a
geração do resíduo) e terminam na
165
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
disposição vigiada do problema não
solucionado (isto é, um aterro ou uma
lagoa)”.
A figura 1 sintetiza essa sequencia e
mostram que, na maioria dos casos, as
soluções mais lógicas, mesmo de
complexidade crescente em sua aplicação,
acarretam custos globais decrescentes para
a sociedade e contribuições mais eficazes
para solucionar os problemas ambientais.
Algumas atitudes de ordem
eminentemente prática ajudam a
equacionar os problemas acarretados pela
geração dos resíduos e contribuem para a
escolha da solução mais adequada em cada
caso:
Redução das quantidades de resíduos
evitando misturar materiais contaminados,
que irão requerer tratamento ou disposição
especial, com matérias não contaminados,
que poderão ser reaproveitados. Secagem ou
desidratação dos resíduos, reduzindo seu
volume e seus custos de transporte e
facilitando a disposição das frações secas.
166
Extração, por processos físicos, químicos ou
biológicos de frações valiosas contidas nos
resíduos, reduzindo os custos de destinação
das frações remanescentes (Valle, 2000).
De outra parte, alguns fatores que não
são de ordem técnica afetam também a
escolha da solução. São eles:
a)Fatores econômicos: custo da
tecnologia e dos investimentos necessários;
valor dos materiais recuperados;
comparação entre os custos de tratamento e
de disposição final etc.
b)Fatores de imagem da empresa:
soluções mais limpas, mesmo que sejam
mais.
c) Dispendiosas; decisão de não
depender de aterros ou do processamento
de seus
d)Resíduos por terceiros etc.;
Desenvolvimento da abordagem para
solucionar os problemas com resíduos:
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
6.1. Controladoria da gestão
ambiental
companhias e, consequentemente, a
continuidade dos negócios destas.
Considerando que o sistema de gestão
ambiental consome recursos, ressaltamos a
indispensável, integração entre o
gerenciamento ambiental e a gestão
estratégica de custos.
A gestão estratégica de custos tem se
mostrado uma necessidade premente para a
conquista e manutenção de espaços no
mercado nacional e internacional, cuja
concorrência torna-se cada vez mias
acirrada.
Na área ambiental, seja na forma
preventiva, de controle ou de recuperação
os gastos tem significativo impacto sobre o
patrimônio das empresas e, por esta razão,
deve ser alvo de criteriosas estratégias, de
forma a garantir o sucesso dos sistemas de
gerenciamento ambiental adotados pelas
A contabilidade por atividades tem um
papel importante, podendo propiciar
informações valiosas para a gestão
econômica da empresa, ao custear a menor
unidade de consumo de recursos, que são
as atividades. Estas consomem os recursos;
167
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
portanto, o custo destes recursos deve ser
apropriado às atividades que os exigiram.
Os produtos e processos consomem
atividades, recebendo, por conseguinte, os
custos dos recursos consumidos pelas
mesmas. Usando-se esta metodologia se
elimina, consideravelmente, a necessidade
de rateio dos custos indiretos e,
consequentemente, as arbitrariedades
provocadas pelo subjetivismo da escolha
dos parâmetros para a distribuição de tais
custos e se identifica, por fim, os custos
ambientais em função das atividades
executadas inerentes ao controle ambiental.
O correto custeamento das atividades
relativas ao controle, preservação e
recuperação ambiental pode resultar na
redução de custos, em função da
eliminação de perdas e desperdícios de
recursos, como também o aumento de
receitas em decorrência de melhorias que
podem ser implantadas a partir da
identificação de falhas na utilização dos
recursos.
O conhecimento dos custos reais na área
ambiental, principalmente a forma como se
distribuem no processo operacional,
proporciona condições para o estudo,
análise e avaliação do grau de
essencialidade das atividades
desenvolvidas, do montante de capital
consumindo pelos processos de proteção
ambiental, evidenciado, consequentemente,
a partir da análise da relação custo/
benefício, a necessidade de reestruturação,
de novos investimentos, além de fornecer
subsídios para a tomada de decisão sobre
ser ou não necessário buscar capital
adicional para atender tais necessidades.
Informações quanto ao consumo de
recursos pelas atividades de proteção
ambiental e pelos produtos possibilitam
168
melhores condições para a determinação de
preço e ainda uma real avaliação dos
custos/benefícios gerados pela sua
manutenção.
6.2. Indicadores de gestão
A apresentação de indicadores de
desempenho ambiental torna-se importante
no processo de fornecer informações em
que o processo de transparência passa pela
padronização e começa a utilizar estes
indicadores que procurarão sintetizar as
informações quantitativas e qualitativas
relativas ao seu desempenho ambiental.
Indicadores de desempenho ambientais
confiáveis são medidas necessárias para
conferir transparências aos negócios das
empresas.
Esses indicadores serão
mais valiosos se forem transparentes no
tempo, se consistirem em indicadores
relativos e se forem comparáveis com
indicadores de outras empresas. Outras
qualidades importantes requeridas para
esse tipo de indicador são a sua
padronização e a sua aceitação pelos
usuários.
Estes indicadores vêm sendo
progressivamente incorporados pelas
empresas, na medida em que as empresas
ficam conscientes, que além de reduzir o
impacto das atividades empresariais no
meio ambiente, aumentam a rentabilidade.
Podendo ser dividido em:
Em indicadores de processo, de
sistemas eco financeiros, podem ser
divididos em outros dois tipos: os
absolutos, quando são itens simples, tais
como o custo ambiental do período; e os
relativos, que consistem em uma razão
existente entre dois ou mais itens por
período, por exemplo, o custo ambiental
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
apresentado como um percentual do
faturamento.
Existem três combinações de possíveis
pares de indicadores que podem ser usados
para descrever o desempenho ambiental:
Indicador financeiro relacionado
com outro indicador financeiro,
como por exemplo, passivo
ambiental/patrimônio líquido;
•
Indicador financeiro relacionado
com indicador ecológico, como,
por exemplo, emissão de CO 2/
unidade de produto produzido; e
•
Indicador ecológico relacionado
com outro indicador ecológico,
como por exemplo, resíduo
produzido/recurso utilizado.
•
Considerações Finais
As informações dos resultados obtidos
pelo custeamento das atividades
ambientais servirão como subsídio para as
decisões internas em relação às medidas
necessárias para a continuidade do sistema
de gerenciamento ambiental e
consequentemente a continuidade da
empresa, serão também de grande utilidade
para que a empresa preste contas de sua
responsabilidade social à comunidade onde
está inserida e aos demais com quem
mantém relações. As exigências crescentes,
verificadas atualmente num mercado
competitivo, além da preocupação com o
esgotamento e o comprometimento dos
recursos naturais, levam as empresas a
observarem as disposições da legislação
ambiental aplicável de forma a se
enquadrarem nos padrões superiores de
qualidade de seus processos e produtos.
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170
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Roberto Cezar Datrino1
O ERP como um recurso na Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos
Recebido em: 10/10/2012 - Aprovado em: 15/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Abstract
A proposta desse artigo é fazer uma
breve reflexão sobre o ERP (Enterprise
Resource Planning – Planejamento dos
Recursos da Empresa) que é um modelo de
gestão baseado num sistema de
informação, com objetivo de promover a
integração entre os processos de negócios
da empresa e fornecer elementos para as
decisões estratégicas. O sistema ainda
possibilita à empresa automatizar e integrar
a maioria de seus processos de negócio,
compartilhar dados e práticas em toda a
empresa e produzir e acessar as
informações em tempo real. Será
apresentada uma funcionalidade de
informações para todas as áreas da
empresa: vendas, contabilidade,
engenharia, suprimentos, manufatura e
também será apresentado no final um
sistema ERP da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos e suas vantagens
após a implantação.
The proposal for this article is to briefly
reflect on the ERP (Enterprise Resource
Planning - Enterprise Resource Planning)
is a management model based on an
information system, with the objective of
promote integration between business
processes of the company and provide
elements for strategic decisions. The
system also allows the company to
automate and integrate the majority of its
business processes, share data and
practices across the enterprise and
produce and access the information in real
time. You will see a functionality of
information for all areas of the business:
sales, accounting, engineering,
procurement, manufacturing and at the end
will also be presented of an ERP system
Brazilian Post and Telegraph and its
advantages after deployment.
Palavras-chave: ERP; Sistemas de
informação; Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos.
Keywords: ERP; Information Systems,
Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos.
1Roberto
Cezar Datrino - Mestre em Administração de Empresas, Pós-graduado em Metodologia e Didática do Ensino
Superior, Pós-Graduando em MBA Gestão de Negócios em Logística, Graduado em Administração de Empresas e Economia,
Professor da Faculdade Anhanguera de Osasco e das Faculdades Campos Salles, Professor do Senac de Osasco, Membro da
Equipe de Trabalhos Interdisciplinares e do Núcleo de Iniciação Científica da Faculdade Anhanguera de Osasco, Membro do
Comitê Técnico-Científico do Anuário da Produção Acadêmica Docente da Revista Anhanguera Educacional, orientador dos
trabalhos de conclusão de curso das Faculdades Campos Salles e das Faculdades Anhanguera de Osasco e Supervisor dos
Estágios da Faculdade Anhanguera de Osasco, membro do NDE (Núcleo Docente Estruturante) dos cursos de Administração
de Empresa e Logística das Faculdades Campos Salles e membro do NDE do curso de Logística da Faculdade Anhanguera de
Osasco. E-mail: [email protected]
171
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1. Introdução
Com o avanço da Tecnologia da
Informação, as empresas passaram a
utilizar sistemas computacionais para
suportar suas atividades. Geralmente, em
cada empresa, vários sistemas são
desenvolvidos para atender aos requisitos
específicos das diversas unidades de
negócio, plantas, departamentos e
escritórios. Por exemplo, o departamento
de planejamento da produção utiliza um
sistema próprio e o departamento de
vendas utiliza outro. Dessa forma, a
informação fica dividida entre diferentes
sistemas.
Os principais problemas dessa
fragmentação da informação são a
dificuldade de obtenção de informações
consolidadas e a inconsistência de dados
redundantes armazenados em mais de um
sistema. Os sistemas ERP (Enterprise
Resource Planning - Planejamento dos
Recursos da Empresa) solucionam esses
problemas ao agregar, em um só sistema
integrado, funcionalidades que suportam as
atividades dos diversos processos de
negócio das empresas.
Os sistemas ERP surgiram a partir da
evolução dos sistemas MRP (Material
Resource Planning). Neles, foram
agregados as funções de programação
mestre da produção, cálculo grosseiro de
necessidades de capacidade, cálculo
detalhado de necessidade de capacidade,
controle do chão de fábrica, controle de
compras e, mais recentemente, Sales &
Operations Planning (Planejamento de
172
Vendas e Operações). Dessa forma, os
sistemas MRP deixaram de atender apenas
às necessidades de informação referentes
ao cálculo da necessidade de materiais,
para atender às necessidades de informação
para a tomada de decisão gerencial sobre
outros recursos de manufatura. O MRP
passou, então, a ser chamado de MRP II
(Manufacturing Resource Planning Planejamento de Recursos de Manufatura).
Com o objetivo de ampliar a
abrangência dos produtos vendidos, os
fornecedores de sistemas desenvolveram
mais módulos, integrados aos módulos de
manufatura, mas com escopo que
ultrapassa os limites da manufatura. Como
exemplo, foram criados os módulos de
Gerenciamento dos Recursos Humanos,
Vendas e Distribuição, Finanças e
Controladoria, entre outros. Esses novos
sistemas, capazes de suportar as
necessidades de informação para todo o
empreendimento, são denominados
sistemas ERP. .
2. Alguns conceitos
O surgimento do ERP, segundo Laugeni
e Martins (2005), pode ser visto como uma
evolução a partir dos sistemas MRP e
MRPII. O MRP, materials requirements
planining –, Planejamento das
Necessidades de Materiais – surgiu em
meados de 1960, a partir “da necessidade
de se planejar o atendimento da demanda
dependente, isto é aquela que ocorre da
demanda independente”. (p.354).
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 1 – Evolução dos sistemas: do MRP ao ERP. (Fonte:LAUGENI & MARTINS, 2005, p.388).
Já no final da década de 50, quando os
conceitos modernos de controle
tecnológico e gestão corporativa tiveram
seu início, a tecnologia vigente era baseada
nos gigantescos mainframes que rodavam
os primeiros sistemas de controle de
estoques que tinham automatização cara e
lenta, mas que já demandavam menos
tempo que os processos manuais. Era
necessário então, um conjunto de sistemas
que possiblitasse o planejamento dos
insumos internos e a comunicação e
administração entre as diversas etapas de
um processo produtivo.
Como grande parte das empresas
produzia vários tipos de produtos, surgiu
também a necessidade de um sistema de
computador que pudesse auxiliar e tornar
este processo mais preciso e eficaz: MRP
II.
redes a servidores mais baratos e fáceis de
usar que os mainframes, tornado assim, os
processos logísticos mais eficientes,
controlando também o maquinário
envolvido nos processos. (Cf. LAUGENI
& MARTINS, 2005; GAITHER &
FRAZIER, 1999). Gera-se, então, a
necessidade de integrar o MRP a outras
partes da empresa, nascendo o MRPII.
O MRP II possibilita às empresas que
elas aliem a lista de materiais com os
pedidos em carteira dos clientes, para que
sejam atendidos em tempo, além de
calcular a quantidade e o momento em que
haverá a necessidade de determinado
material; diferenciado-se do MRP, que só
conseguia determinar a lista de materiais e
não conseguia tomar decisões com
antecedência.
Na década de 80, a tecnologia permitiu
que os computadores fossem ligados em
173
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
!
Figura 2 – Esquema de planejamento das necessidades de materiais de MRP. (Fonte: SLACK, 2002, p.455).
O MRP II apresenta-se, pois, segundo
Slack et alli (2002), como uma evolução
do sistema MRP e tem por finalidade dar
suporte às necessidades da empresa, a
partir da qual deve-se levar em
consideração as decisões de capacidade, ou
seja, como produzir as questões já
respondidas pelo MRP. Assim esse sistema
reúne os programas de controle da
produção e faz uma realimentação desta
informação que provém do chão de fábrica.
confiabilidade na entrega, porém necessita
de exatidão de dados.
Assim, o novo sistema criado se baseia
em uma estrutura de planejamento num
processo hierárquico de decisão,
verificação, visando chegar a um plano de
produção viável em termos de
disponibilidade de materiais e de
capacidade produtiva. Portanto, o novo
sistema se assemelha ao anterior na medida
em que realiza a integração dos diversos
setores da empresa através da informação,
reduz os estoques e garante a
O próximo passo seria então, já na
década de 80, um sistema que pudesse
agilizar os processos e que estabelecesse
uma comunicação mais eficiente que os
modelos anteriores. Para tal, surgiu o ERP
agregado a novos sistemas de gestão.
Foram diversos os departamentos que se
valeram dessa nova tecnologia como:
finanças, compras e vendas e recursos
humanos, entre outras, ou seja, setores com
uma conotação administrativa e de apoio à
174
Porém, o MRP II ainda depende de
pessoas para ser controlado, pois são elas
que farão a análise por meio dos resultados
apresentados pelo sistema, para a tomada
de decisão, finalizando assim o ciclo. Para
Laugeni & Martins (2005), na prática, o
MRP II já poderia ser chamado de ERP
pela abrangência de controles e
gerenciamento.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
produção ingressaram na era da
automação.
A nomenclatura ERP ganhou muita
força, segundo Gaither e Fraizier (1999),
na década de 90, devido à revolução
ocorrida com as Novas Tecnologias da
Comunicação e da Informação, que
garantiam a disseminação da arquitetura
cliente/servidor – microcomputadores
ligados a servidores, com preços mais
competitivos – e não mais mainframes.
Figura 3 – visão geral de um ERP. (Fonte: LAUGENI & MARTINS, 2005, p.388).
Assim, um sistema ERP se caracteriza
por apresentar-se como suporte às
necessidades de informações para a tomada
de decisão gerencial de um
empreendimento como um todo. Esse
termo tem sido cunhado como o estágio
mais avançado dos sistemas
tradicionalmente chamados de MRP II.
(Cf. SLACK et alli, 2002).
O ERP (Enterprise Resource Planning)
ou SIGE (Sistemas Integrados de Gestão
Empresarial) é um sistema da informação
que integra todos os dados e processos de
uma organização em um único sistema. O
ERP, em linhas gerais, é uma plataforma de
software desenvolvida para integrar os
diversos departamentos de uma empresa,
possibilitando a automação e
armazenamento de todas as informações de
negócios, eles, segundo Gaither & Frazier
(1999), automatizam processos de
manufatura e modernizam departamentos
corporativos.
175
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
A integração pode ser vista sob a
perspectiva funcional (sistemas de:
finanças, contabilidade, recursos humanos,
fabricação, marketing, vendas, compras) e
sob a perspectiva sistêmica (sistema de
processamento de transações, sistemas de
informações gerenciais, sistemas de apoio
a decisão).
O ERP é um modelo de gestão
corporativo, baseado num sistema de
informação, tem como objetivo promover a
integração entre os processos de negócios
da organização e fornecer elementos para
as decisões estratégicas, isto é, é uma
evolução dos modelos de sistemas
apresentados anteriormente.
O sistema ainda possibilita à empresa
automatizar e integrar a maioria de seus
processos de negócio, compartilhar dados e
práticas em toda a empresa e produzir e
acessar as informações em tempo real. Os
autores Laugeni & Martins definem o ERP
como:
Um software que integra todas as diferentes
funções de uma empresa e que apresenta
uma base de dados que opera em uma única
plataforma consolidando toda a operação do
negócio em um único ambiente
computacional. O objetivo do ERP é de
colocar a informação uma só vez no sistema,
tornando-a imediatamente acessível a todos
os clientes do sistema e da informação.
Assim, todos utilizam sempre a mesma
informação, eliminando erros. Portanto, um
sistema tem características de ERP quando
este possibilita à empresa automatizar e
integrar a maioria de seus processos de
negócio, compartilhar dados e práticas em
toda a empresa e produzir e acessar as
informações em tempo real. (LAUGENI &
MARTINS, 2005, p. 389).
O ERP tem como objetivos
fundamentais:
• controlar e possibilitar um
fluxo de informações único,
contínuo e consistente por toda a
176
empresa, o que permite administrar
os negócios em uma única base de
dados.
• integrar várias funções
administrativas que estejam direta
ou indiretamente, envolvidas com o
planejamento da produção, como:
controles financeiros,
contabilidade, folha de pagamento,
faturamento, compras, produção,
estoque e logística
• fornecer suporte a todos os
processos de uma empresa, sejam
operacionais, produtivos,
administrativos ou comerciais. (Cf.
SOARES, s/d).
É um instrumento destinado à melhoria
de processos e das informações em tempo
real, isto é, tal sistema permite que os
gestores das empresas visualizem as
transações efetuadas, o impacto delas em
cada área da empresa, desenhando um
amplo cenário dos negócios. A implantação
de um sistema ERP gera análises dos
processos da empresa, treinamento dos
colaboradores, investimentos em
informática e reformulação nos métodos de
trabalho.
O ERP atualmente está presente na
maioria das empresas. Alguns autores
atribuem a grande implantação desse
sistema da informação, e de suas vendas,
no final da década de 90, ao que foi
designado na época como “bug do
milênio”, e também pela sua grande
característica de ser um excelente sistema
de controle, muito mais que de
planejamento.
Para Slack et alli (2002), o sistema ERP
permite que o gestor consiga analisar o que
as tomadas de decisões feitas em uma parte
da empresa, refletem nos demais
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
departamentos. O software do ERP tem
como objetivo auxiliar o gestor na tomada
de decisão, ele oferece ferramentas para o
desenvolvimento de novos produtos, para a
compra de novos itens, inventários,
integração com fornecedores e
acompanhamento da produção.
O sistema opera então com uma base de
dados comum, isto é, o banco de dados
interage com todos os aplicativos do
sistema, eliminando a redundância e
redigitação de dados, assegurando a
integridade e confiabilidade nas
informações obtidas.
Os vendedores de ERP também
oferecem aplicativos especializados em
gerir processos diferenciados de atividades
específicas. Tais módulos atendem a
mercados verticais assim como repartições
públicas, planos de saúde, financeiras, etc.
A tendência atual mostra as vendas
movendo-se mais ainda para áreas
específicas assim como gerenciamento do
chão de fábrica, logística e automação de
marketing direto.
Figura 4 – A integração da informação em um sistema ERP. (Fonte: SLACK et alli, 2002, p.474).
3. A importância do ERP nas
empresas
Entre as mudanças mais palpáveis que
um sistema de ERP propicia a uma
corporação, sem dúvida, está a maior
confiabilidade dos dados, agora
monitorados em tempo real, e a diminuição
do retrabalho. Algo que é conseguido com
o auxílio e o comprometimento dos
funcionários, responsáveis por fazer a
atualização sistemática dos dados que
alimentam toda a cadeia de módulos do
ERP e que, em última instância, fazem
com que a empresa possa interagir.
Assim, as informações trafegam pelos
módulos em tempo real, ou seja, uma
ordem de vendas dispara o processo de
177
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
fabricação com o envio da informação para
múltiplas bases, do estoque de insumos à
logística do produto. Tudo realizado com
dados orgânicos, integrados e não
redundantes.
Para entender melhor como isto
funciona, o ERP pode ser visto como um
grande banco de dados com informações
que interagem e se realimentam. Assim, o
dado inicial sofre uma mutação de acordo
com seu status, como a ordem de vendas
que se transforma no produto final alocado
no estoque da companhia.
O ERP automatiza as tarefas
envolvendo a performance de um
processo, tal qual a finalização de um
pedido, o qual envolve pegar o pedido de
um cliente, enviá-lo e cobrá-lo. Com o
ERP, quando um representante recebe o
pedido de um cliente, o sistema apresenta
as informações necessárias para completálo.
Todas as pessoas na empresa vêm o
mesmo visor e têm acesso a um único
banco de dados que guarda o novo pedido
do cliente, fazendo com que não haja, ou
se diminua, o retrabalho, os ruídos e a
perda de tempo em repassar as
informações. Quando um departamento
termina a sua parte em um pedido, este é
enviado automaticamente para o próximo
departamento através do ERP. Para saber
em que ponto está um pedido, em um
determinado momento, é só verificar no
sistema.
Ao desfazer a complexidade do
acompanhamento de todo o processo de
produção, venda e faturamento, a empresa
tem mais subsídios para se planejar,
diminuir gastos e repensar a cadeia de
produção.
178
Um bom exemplo de como o ERP
revoluciona uma companhia é que com
uma melhor administração da produção,
um investimento, como uma nova infraestrutura logística, pode ser repensado ou
simplesmente abandonado. Neste caso, ao
controlar e entender melhor todas as etapas
que levam a um produto final, a companhia
pode chegar ao ponto de produzir de forma
mais inteligente, rápida e melhor, o que,
em outras palavras, reduz o tempo que o
produto fica parado no estoque.
A tomada de decisões também ganha
outra dinâmica. Imagine uma empresa que
por alguma razão, talvez uma mudança nas
normas de segurança, precise modificar
aspectos da fabricação de um de seus
produtos.
Com o ERP, todas as áreas corporativas
são informadas e se preparam de forma
integrada para o evento, das compras à
produção, passando pelo almoxarifado e
chegando até mesmo à área de marketing,
que pode assim ter informações para
mudar algo nas campanhas publicitárias de
seus produtos, e ser realizado em muito
menos tempo do que seria possível sem a
presença do sistema.
Entre os avanços palpáveis, podemos
citar o caso de uma indústria média norteamericana de autopeças, situada no estado
de Illinois, que conseguiu reduzir o tempo
entre o pedido e a entrega de seis para duas
semanas, aumentando a eficiência na data
prometida para envio do produto de 60%
para 95% e reduzindo as reservas de
insumos em 60%. Outra diferença notável:
a troca de documentos entre departamentos
que demorava horas ou mesmo dias caiu
para minutos e até segundos.
Esse é apenas um exemplo. Porém, de
acordo com a empresa, é possível
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
direcionar ou adaptar o ERP para outros
objetivos, estabelecendo prioridades que
podem tanto estar na cadeia de produção
quanto no apoio ao departamento de
vendas como na distribuição, entre outras.
Com a capacidade de integração dos
módulos, é possível diagnosticar as áreas
mais e menos eficientes e focar em
processos que possam ter o desempenho
melhorado com a ajuda do conjunto de
sistemas.
Para Laugeni & Martins,
o ERP é um sistema que facilita o fluxo de
informações dentro de uma empresa,
integrando as diferentes funções:
manufatura, logística, finanças, recursos
humanos e engenharia, entre outras. Ainda
apresenta uma base de dados que opera em
uma única plataforma e que consolida todas
as informações em um único ambiente
computacional. (LAUGENI & MARTINS,
2005, p. 388).
Há várias razões pelas quais as
empresas implementam o sistema ERP, a
s a b e r, a l u m a s d e l a s : p e r m a n e c e r
competitivas no mercado; melhorar a
produtividade, a qualidade e os serviços
prestados aos clientes, uma vez que estará
unificando processos, métodos e sistemas
dentro de diferentes unidades da empresa;
reduzir custos dos estoques e sua
respectiva alocação; para integrar dados
financeiros, fazendo com que haja uma
unificação, por exemplo, de valores entre
os diversos departamentos de uma
empresa; para uniformizar as informações
de Recursos Humanos, fazendo com que o
funcionário receba de forma mais eficiente,
eficaz e em menor tempo, informações
sobre benefícios e serviços.
Alguns fornecedores de sistemas ERPs
são: SAP (Alemã), Oracle (USA),
(Brasileiros), Microsiga, Datasul, Starsoft
e Siscorp.
3.1. Vantagens do ERP
Para Laugeni & Martins: (Laugeni e
Martins, 2005, p. 389) a vantagem do ERP
é que ele possibilita o acesso mais fácil às
informações pelo fato de ser um sistema
integrado. O sistema integrado permite
melhorar as informações gerenciais e
assegura dados consistentes e maneiras de
cálculo idênticas para as mesmas medidas
em cada um dos negócios da empresa.
Um dos pontos fortes do sistema,
conforme afirma Laudon (2004), é a
integração entre os módulos. Os monitores,
as operações e a navegação dentro do
sistema são de tal forma padronizada que,
à medida que o utilizador se familiariza
com um módulo, aprende mais facilmente
e rapidamente os demais. Os acessos às
informações são realizados através de
menus com utilização de senhas,
permitindo que se controle quais os
utilizadores que têm acesso a que tipo de
informações. Além disso, os menus são
customizados de forma que cada utilizador
visualize e tenha acesso somente às
operações que atendam aos objetivos
específicos de seu interesse.
Algumas das vantagens da
implementação de um ERP numa empresa
são, conforme Slack (2002):
• eliminar o uso de interfaces
manuais;
• reduzir custos;
• otimizar o fluxo da informação
e a qualidade da mesma dentro da
organização (eficiência);
• otimizar o processo de tomada
de decisão;
• eliminar a redundância de
atividades;
179
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
• reduzir os limites de tempo de
resposta ao mercado;
• melhor comunicação não só
interna, mas também externa;
• reduzir as incertezas do Lead
time;
• maior eficiência e níveis de
produtividade;
• incorporar melhores práticas
(codificadas no ERP) aos processos
internos da empresa;
• eliminar a redundância de
atividades;
• auxiliar na formação dos
custos.
O sistema serve como instrumento de
planejamento, pois permite à empresa
calcular o planejamento de compras, a
necessidade de contratação ou demissão de
pessoal, quanto a empresa necessita de
capital de giro, necessidade de
equipamentos e demais insumos
produtivos.
Serve também como um simulador,
permitindo que empresa visualize
diferentes cenários nos quais possa vir a
atuar, considerando as diferentes demandas
e seus efeitos. É um excelente instrumento
para tomada de decisão.
As soluções ERP ajudam a ganhar
eficiência e a diminuir custos. As reduções
de custos obtêm-se pela eficiência nas
funções administrativas, pelo controle de
estoques e pelas melhorias nos níveis dos
serviços e ciclos produtivos. As soluções
de ERP dão suporte aos principais
processos e funções da empresa,
integrando os dados procedentes de
diferentes áreas.
As vantagens que justificam a
implantação de uma solução ERP são,
segundo Laudon (2004), muito
semelhantes às apresentadas pelo autor
citado anteriormente, a saber:
• um sistema totalmente
integrado;
180
• melhorar a monitoração e
facilitar o processo de
planejamento empresarial;
• melhorar o serviço prestado ao
cliente;
• eliminar o uso de interfaces
manuais;
• garantir a disponibilidade da
informação de suporte à tomada de
decisão contribuindo para a sua
otimização;
• delegar as decisões nos níveis
convenientes, mantendo o controle
de gestão adequado.
3.2. Desvantagens do ERP
Geralmente, as desvantagens na
implementação de um sistema ERP são
menores que as vantagens, sendo que
muitas das dificuldades encontradas podem
ser evitadas caso sejam realizados
investimentos, formação e envolvimento
adequados.
O sistema é uma ferramenta para
auxiliar o controle e planejamento dos
processos de compra de matéria-prima e de
produção, porém ele depende muito do
comprometimento de seus operadores para
que ele seja funcional.
No entanto, o sucesso da implantação
deste sistema não depende só da
experiência e das competências da força de
trabalho para se adaptar rapidamente ao
novo, mas sim de outras situações, como:
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
(Cf. LAUGENI & MARTINS, 2005;
LAUDON, 2004).
3.3. Módulos hoje disponíveis na
Maioria dos ERPs
• A customização em muitas
situações é limitada e dispendiosa;
Hoje, embora com diferenças de
nomenclaturas, os ERPs mais avançados
possuem módulos integrados (o que
significa integração e qual o grau de
integração são perguntas pertinentes) que
abrangem o seguinte escopo:
• requer mudanças substanciais
n a o rg a n i z a ç ã o e n o s s e u s
processos (reengenharia);
• processo de implementação é
longo e complexo;
• os sistemas ERP podem ter
custo proibitivo para instalar e
executar;
• a utilização do ERP por si só
não torna uma empresa
verdadeiramente integrada;
• dependência perante o
fornecedor do ERP;
• torna os módulos dependentes
uns dos outros, pois cada
departamento depende das
informações do módulo anterior.
Logo, as informações têm que ser
constantemente actualizadas, uma
vez que as informações são em
tempo real (on line), ocasionando
maior trabalho;
• excesso de controle sobre as
pessoas, o que aumenta a
resistência à mudança e pode gerar
desmotivação nos funcionários.
Os principais fatores críticos de sucesso
para um projeto de implantação de um
ERP podem ocorrer devido à falta de
envolvimento do usuário e ao apoio da
direção, à falta de um planejamento
adequado e de marcos intermediários;
comprometimento; visão e objetivos
claros; infra-estrutura adequada.
a) Módulos relacionados a Operações e
Supply Chain Management: Previsões /
Análises de Vendas (forecasting / Sales
analysis); Listas de Materiais (BOM –
Bills of Material); Programação Mestre de
Produção / Capacidade Aproximada (MPS
– Master Production Schedulling/RCCP –
Rough-CUT Capacity Planning);
Planejamento de Materiais (MRP –
Material Requirements Planning);
Planejamento Detalhado de Capacidade
(CRP – Capacity Requirements Planning);
Compras (Purchasing); Controle de
Fabricação (SFC – Shop Floor Control);
Controle de Estoques (Inventory);
Engenharia (Engineering); Distribuição
Física (DRP – Distribution Requirements
Planning); Gerenciamento de Transporte
( T M – Tr a n s p o r t M a n a g e m e n t ) ;
Gerenciamento de Projetos (Project);
Apoio à Produção Repetitiva; Apoio à
Gestão de Produção em Processos; Apoio à
Programação com Capacidade Finita de
Produção Discreta; Configuração de
Produtos.
b) Módulos relacionados à Gestão
Financeira / Contábil / Fiscal:
Contabilidade Geral; Custos; Contas a
Pagar; Contas a Receber; Faturamento;
Recebimento Fiscal; Contabilidade Fiscal;
Gestão de Caixa; Gestão de Ativos; Gestão
de Pedidos; Definição e Gestão dos
Processos de negócio (Workflow).
181
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
c) Módulos relacionados à Gestão de
Recursos Humanos: Pessoal (Personell) e
Folha de Pagamentos (Payroll).
4. O ERP na Empresa de Correios e
Telégrafos
A ECT deu um passo importante na
implementação da Solução Integrada de
Gestão Empresarial (ERP). Após adotá-la
nas áreas de recursos humanos (cadastro,
benefícios e pagamentos) e financeira
(contabilidade, cadastro de órgãos e fluxo
de caixa), chegou a vez da área de
administração, com a implantação do
módulo de Ativo Fixo (bens móveis) e do
módulo de gestão de contratos nas DRs –
Diretorias Regionais e na AC –
Administração Central. Tratou-se de um
trabalho complexo, uma vez que envolveu
o exame e o "carregamento" no sistema de
dados relativos a mais de 8.200 contratos
da ECT com fornecedores. Na área de
administração, a implantação do ERP
alcançou os módulos de contratações,
licitações e estoque.
Foi implantado o módulo de
manutenção da área de tecnologia pela
manutenção corretiva, foram concluídas as
funcionalidades de manutenção preventiva
e a utilização de coletores de dados
portáteis para abertura de ordem de
serviço.
Instalar o ERP é um processo que
demanda tempo nas empresas, uma vez
que sua implantação, em média, é de três a
seis meses e as transformações ocorrem
efetivamente entre um e três anos; porém,
mesmo assim, sua utilização é de grande
valia para as empresas, já que se configura
como um projeto com retorno de capital
financeiro garantido, podendo gerar uma
182
economia anual em torno de U$1.6
milhões. (PADOVOZE, 2004).
A implantação desse sistema integrado
de informações requer uma reorganização
na forma como as atividades estão
estruturadas, além de externamente com
clientes, fornecedores ou parceiros, mas,
sobretudo, internamente na empresa.
O ERP foi integrado à infraestrutura de
gestão da ECT pela automatização dos
processos, agilizando o fluxo de
informações sobre processos
administrativos e de negócios. Por meio do
ERP, dados são compartilhados de forma
rápida pelas áreas da empresa. "Os
benefícios do ERP são muito grandes", diz
o gerente da Diretoria de Tecnologia da
ECT. "Onde a solução foi implantada,
melhorou todos os processos internos."
A transformação dos dados gerados pelo
ERP em informações é viabilizada pelo
Data Warehouse, que funciona como um
armazém de dados, permitindo o
cruzamento de informações históricas de
diversas áreas e municiando a
administração de informações na tomada
de decisões. "Ele armazena o passado,
auxiliando na realização de projeções,
análises e simulações", diz o gerente da
Diretoria de Tecnologia da ECT.
Na área de recursos humanos, é possível
analisar pagamentos, cadastro, benefícios e
cargos e salários sob vários ângulos, como
visões do efetivo por unidade, tipo de
despesa ou de benefício. A solução permite
análise do perfil dos empregados por faixa
etária, sexo, nacionalidade, escolaridade e
tipo de dependente.
Na área financeira, analisa a evolução
dos saldos de conta contábil. Na área
operacional, é possível estabelecer visões
gerenciais sobre o tratamento e a
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
distribuição de encomendas e cartas
registradas, de modo a avaliar o tempo
médio entre postagem e entrega, taxa de
ocupação das aeronaves e tipos de objetos
transportados. Na área comercial, os
executivos podem analisar os produtos
mais vendidos e sua sazonalidade por
região ou agência.
A implantação do ERP confirma a
estratégia da ECT de se manter alinhada
com as mais avançadas tendências de
gestão empresarial. Exemplo é a
comercialização de selos. No sistema
tradicional, as operações de venda devem
ser informadas várias vezes a diferentes
áreas da empresa, de modo a assegurar
fluxo constante de impressão, remessa e a
manutenção de níveis adequados de
estoque. Com o ERP, a venda é informada
uma vez. Em tempo real, os dados são
enviados às áreas envolvidas. Integrados
num único sistema, ficam disponíveis aos
setores que deles necessitam. Com isso, os
processos e o controle administrativo ficam
mais eficazes.
A Empresa de Correios e Telégrafos
realizou a implantação da Solução
Integrada de Gestão Empresarial (ERP), e
teve todos os seus módulos completamente
implantados na ECT, ação que representou
a consolidação de mais uma etapa do
esforço de modernização tecnológica do
dia-a-dia da empresa, ganhando em
eficiência. A adoção do ERP teve como
finalidade promover a integração da infraestrutura de gestão da empresa por meio da
automatização de processos.
O novo sistema tornou mais ágil todo o
fluxo de informações corporativas, com
impactos positivos em toda a organização,
principalmente nas áreas administrativas e
de negócios, graças à padronização de
procedimentos e ao estabelecimento de
uma base única de dados para onde
convergem às informações corporativas.
Ao possibilitar uma gestão mais eficiente,
o ERP favorece a aplicação de práticas
mais eficazes no desenvolvimento dos
processos administrativos e dos negócios,
com ganhos de produtividade e velocidade
na tomada de decisões.
Com a solução implantada, os dados
gerados pela ECT poderão ser
compartilhados de forma rápida pelas mais
diversas áreas da organização. Outra
vantagem da integração do fluxo de dados
corporativos é a conquista pelo empregado
de uma maior objetividade no exercício
das atividades profissionais, o que
contribui para a eliminação de trabalhos
repetitivos e redundantes.
" C o m o s r e c u r s o s d o E R P, o
colaborador passa a ser um profissional
ainda mais pró-ativo", diz o gerente da
Diretoria de Tecnologia e Infra-estrutura.
"O profissional terá mais tempo para
dedicar-se às atividades de análise e de
planejamento, graças à interatividade
proporcionada pela solução."
O ERP já faz parte da rotina dos
colaboradores das áreas econômicofinanceira, comercial, de recursos
humanos, administração e tecnologia da
empresa nos módulos de Contabilidade,
Orçamento e Contas a Pagar, Força de
Vendas, Folha de Pagamentos, Cadastro e
Benefícios, Gestão de Contratos,
Contratações e Controle de Estoques e
Manutenção de Equipamentos. O módulo
operacional foi implantado na DR-PR
(Diretoria Regional do Paraná) para
validação dos procedimentos, abrangendo
o controle da frota de veículos. Todos os
183
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
recursos da solução tecnológica foram
integrados a esse segmento da ECT.
As áreas da Empresa de Correios e
Telégrafos apresentam como módulos de
ERP implantados: a) Área Administrativa:
Módulo Contabilidade; Módulo Tributos;
Módulo Contas a Pagar; Módulo
Faturamento; Módulo Contas a Receber;
Módulo Custos; Módulo Orçamento;
Módulo de Cadastro; Módulo de Tabela
Corporativa de Órgãos – TCO; b) Área
Comercial: Módulo Gestão de Contratos;
Módulo Contratação; Módulo Ativo Fixo
(Patrimônio); Módulo Estoque e
Distribuição; Módulo de Manutenção de
Equipamentos; Módulo de Estoques;
Módulo Operacional – Gestão de Frotas;
Módulo Operacional – Gestão de Linhas
Transportes de Cargas Postal.
5. Considerações Finais
Podemos considerar nesse artigo que
cremos que a implantação e uso do sistema
ERP exige que a empresa se reorganize,
tendo como foco o processo do seu
negócio como um todo, eliminando a
gestão departamentalizada da empresa.
Isso é facilitado pelo sistema ERP, pois
este é integrado, e as informações que são
geradas por um departamento são
compartilhadas por outros.
O ERP facilita o controle, pois com
todas as informações armazenadas no
sistema, pode-se verificar o desempenho
das várias áreas da empresa. Também
fornece suporte as tomadas de decisões da
média e alta gerência. Como poderá
verificar na Empresa Brasileira de Correios
e Telégrafos.
184
A implantação do sistema ERP na
Empresa de Correios e Telégrafos,
utilizado como exemplo prático nesse
estudo, proporcionou um melhor controle,
um atendimento mais eficaz e maior
qualidade dos serviços. O novo sistema
torna mais ágil todo fluxo de informações
corporativas, com impactos positivos em
toda a organização, principalmente nas
áreas administrativas e de negócios, graças
à padronização de procedimentos e ao
estabelecimento de uma base única de
dados para onde convergem as
informações corporativas.
Ao possibilitar uma gestão mais
eficiente, o ERP favorece a aplicação de
práticas mais eficazes no desenvolvimento
dos processos administrativos e dos
negócios, com ganhos de produtividade e
velocidade na tomada de decisões.
O sistema de automação da rede de
agências possibilitou um melhor
gerenciamento das atividades comerciais,
financeiras e tecnológicas. O sistema ERP
tornou mais ágil, todo o fluxo de
informações corporativas com impactos
positivos em toda empresa, levando a
decisões estratégicas mais precisas e mais
rápidas.
Este artigo com o tema “ERP
(Enterprise Resource Planning –
Planejamento dos Recursos da Empresa)”
pretende resumir as características desse
sistema e apresentar as suas contribuições
para as empresas. Não pretende esgotar o
assunto, apenas fornecer a base para um
melhor entendimento sobre o que se espera
de uma grande empresa que utiliza este
sistema e incentivar novas pesquisas nessa
área.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Referências Bibliográficas
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<http://wnews.uol.com.br/site/noticias/materia_especial.php?
id_secao=17&id_conteudo=452>. Acesso em 10 mai. 2010.
185
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Antonio Roberto Sanches Junior1
A necessidade de apresentação de certidão negativa
de débito tributário como requisito para a concessão da
recuperação judicial
Recebido em: 30/09/2012 - Aprovado em: 14/10/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
O estudo discute a exigência de
certidões negativas de débitos tributários
para a concessão de recuperação judicial,
nos termos do art. 57, da Lei n.º 11.101/05.
O objetivo é demonstrar a atual situação do
tema no cenário jurídico nacional,
notadamente o entendimento da doutrina,
da jurisprudência e a atuação do Poder
Legislativo quanto à eficácia do instituto
recuperação judicial ante a exigência das
certidões negativas de débitos tributários
para a concessão da recuperação judicial.
A discussão justifica-se pelo elevado
número de empresas, no Brasil, que
passam por precária situação financeira e
vêem, como única solução, a recuperação
judicial. No entanto, essas empresas,
muitas vezes com elevadas dívidas
tributárias, não conseguem o benefício
legal por não conseguirem as certidões
negativas de débitos tributários. Ainda com
a possibilidade de parcelamento dos
débitos as empresas ficam impedidas de
1 Antonio
obter o parcelamento, na medida em que
não conseguem arcar com os
parcelamentos oferecidos em curtos prazos
ou não encontram possibilidade legal de
parcelamento, já que cada entidade da
federação tem de ter Lei própria e
específica autorizando o parcelamento de
seus devedores. O estudo tomou por base o
art. 57, da Lei n.º 11.101/05, sua
interpretação doutrinária e jurisprudencial,
bem como os Projetos de Lei destinados a
atenuar ou mesmo extinguir a exigência.
Palavras-chave: recuperação judicial;
certidão negativa; débitos tributários.
Abstract
The study discusses the requirement for
clearance certificates of tax debts for
granting judicial reorganization, pursuant
to Article 57 of the Federal Act n.º
11.101/05. The objective is to demonstrate
the current state of the subject in national
Roberto Sanches Junior. Mestrado em Direito pela Universidade Católica de Santos - UNISANTOS (2008),
Especialização em Direito Civil pela Universidade Paulista (2005) e graduação em Direito pela Universidade Paulista (2004).
Advogado Inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil São Paulo desde 2004, atuando no contencioso Cível e Empresarial.
Além de Advogado é professor de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito da Universidade São Judas Tadeu - USJT;
Direito Civil, Empresarial e do Consumidor na Faculdade de Direito da Universidade Nove de Julho UNINOVE; Direito
Civil nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu das Faculdades Metropolitanas Unidas FMU; e Direito Processual CIvil,
Empresarial e do Consumidor nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu e MBA da Universidade Municipal de São Caetano
do Sul - USCS / IMES; professor licenciado na Sociedade Acadêmica Amparense em Registro/SP. Tem experiência na área
de Direito, com ênfase em Direito Civil, Processual Civil, Empresarial e do Consumidor. E-mail:
[email protected].
186
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
legal scenario, especially the
understanding of the doctrine,
jurisprudence and the role of the
legislature as to the effectiveness of the
institute judicial reorganization against
clearance certificates of tax debts for
granting judicial reorganization. The
discussion is justified by the large number
of companies in Brazil, passing through
precarious financial situation and see it as
the only solution to judicial reorganization.
However, these companies often with high
tax debts, can not benefit because they
don’t have access to obtain the clearance
certificates of tax debts. Even with the
possibility of installment debts companies
are prevented from obtaining the
subdivision, to the extent that they can not
afford the installments offered for short
periods or are not legal possibility of
installments, as each entity of the
federation must have own law and specific
authorizing installment of their debtors.
The study was based on the Article 57 of
the Act n. º 11.101/05, doctrinal and
jurisprudential interpretation, as well as
the bills of law intended to attenuate or
even extinguish requirement.
Keywords: judicial reorganization;
clearance certificates; tax debts.
1. Introdução
A Lei n.º 11.101/05 estruturou o novo
sistema de recuperação de empresas e
falência. Ao invés de visualizar a falência,
como fazia o sistema anterior, o novo
sistema prioriza a recuperação de
empresas. Isso fica muito claro quando
comparada a ementa da Lei atual (“Regula
a recuperação judicial, a extrajudicial e a
falência do empresário e da sociedade
empresária”) com a do Decreto-Lei
anterior (“Lei de Falências”).
Como se não bastasse, o novo sistema
positivou o princípio da recuperação da
empresa, na medida em que considera a
atividade empresarial importante à
sociedade. Confiram-se as expressões
utilizadas pelo legislador no art. 47, da Lei
n.º 11.101/05: “fonte produtora”, “emprego
dos trabalhadores”, “função social” da
empresa.2
Indo além, enquanto estabeleceu uma
espécie de falência, possibilitou quatro
modalidades diversas de recuperação. Há a
recuperação judicial, que se divide em duas
espécies: i) recuperação judicial ordinária
(arts. 48 e ss. da Lei n.º 11.101/05): aquela
possível para todos aqueles a quem a Lei
n.º 11.101/05 se aplique e preencham os
requisitos; ii) recuperação judicial especial
(arts. 70 e ss. da Lei n.º 11.101/05): para as
2 Art.
47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
187
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
empresas que se qualificam como
Microempresas ou Empresas de Pequeno
Porte3 . Estabeleceu, também, duas
modalidades de recuperação extrajudicial.
Utilizando terminologia de Fabio Ulhoa
C o e l h o4 , c l a s s i f i c a m - s e e m : i i i )
recuperação extrajudicial de homologação
facultativa (art. 162 da Lei n.º 11.101/05) e
i v ) re c u p e r a ç ã o e x t r a j u d i c i a l d e
homologação obrigatória (art. 163 da Lei
n.º 11.101/05), respectivamente, conforme
consigam, ou não, anuência de todos os
credores envolvidos no plano.
Ante essas breves observações verificase a preocupação do legislador em
preservar a atividade empresarial. Ocorre
que um dispositivo da Lei n.º 11.101/05
aparentemente vai contra o sistema
estabelecido para a preservação da
atividade empresarial.
Trata-se do artigo 57, que condiciona o
deferimento da recuperação judicial à
apresentação, pelo devedor, de certidões
negativas de débitos tributários.
A discrepância desse dispositivo vem
sendo reconhecida pelo Poder Judiciário,
ao afastar essa exigência para a concessão
da recuperação judicial às empresas que,
após obterem aprovação do plano de
recuperação pelos credores, não
conseguem apresentar certidão negativa
(ou positiva com efeitos de negativa) de
débitos tributários.
O presente estudo discute algumas
peculiaridades desse dispositivo, bem
como do entendimento dos Tribunais que
vêm decidindo pela recuperação daqueles
que não conseguem as certidões.
2. Entendimento doutrinário
Antevendo a inviabilização do instituto
recuperação judicial a doutrina já alertava
para o problema causado pela exigência de
certidões negativas de débitos tributários
para a concessão de recuperação judicial.
Manoel Justino Bezerra Filho5 já
salientava que essa exigência tratava-se, na
verdade, de um meio indireto de o Poder
Público cobrar seus créditos. Argumentou,
ainda, com absoluto acerto, a nosso sentir,
que se a empresa necessitasse de
recuperação judicial, por óbvio em
conseqüência de dívidas com credores,
muito mais deveria ao fisco, o que
sepultaria de vez a possibilidade de
parcelamento e, por via de conseqüência,
de obtenção da recuperação judicial.
Com a perspicácia que lhe é peculiar
Ricardo Negrão indaga: “Contudo, se as
certidões não forem juntadas, qual é a
sanção?”6 . Salientando a ausência de
3 Os
conceitos de ME e EPP são estabelecidos pela Lei Complementar n.º 123/06: Art. 3º Para os efeitos desta Lei
Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o
empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de
Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I - no caso das microempresas, o
empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$
240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais); II - no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a
ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual
ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais).
4
Curso de direito comercial. v.3., 7.ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 433.
5
Nova Lei de Recuperação e Falências Comentada, 3.ed., São Paulo: RT, 2005, p. 167.
6
Manual de direito comercial e de empresa, v.3., 2.ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 181.
188
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
solução legal, pontua possibilidades que se
abrem ao juiz caso isso ocorra: i) entender
desnecessária a apresentação das certidões;
ii) entender que a exigência da s certidões
negativas depende da regulamentação do
art. 68, de maneira que ausente
possibilidade de parcelamento dos débitos
tributários prevista em Lei, não é aplicável
a exigência do art. 57, da Lei n.º 11.101/05.
Cita, ainda, Eduardo Secchi Munhoz, para
quem:
“sem o adequado tratamento dos débitos
tributários, o sistema de recuperação da
empresa não se sustentam não dispensando a
esperada disciplina equilibrada e
proporcional aos diversos interesses em
jogo. Esse equilíbrio e proporção, contudo,
não foi assegurado na atual lei de
recuperação, nem na Lei complementar
tributária que a acompanhou (LC 118/2005).
Espera-se que a Lei a ser editada para
recuperar o parcelamento de débitos
tributários para fins de recuperação, nos
termos do § 3º do art. 155-A do CTN, venha
a adorar critérios adequados e bem alinhados
com o sistema de recuperação preconizado
pela Lei 11.101/05, de forma a atenuar os
problemas ora apontados em relação à
matéria. Até que isso ocorra, caberá
unicamente à jurisprudência interpretar o art.
57 de sorte a não inviabilizar o regime de
recuperação preconizado pela nova Lei” 7
Inovadora (embora cogitada antes da
promulgação da Lei n.º 11.101/05) é a
posição de Jorge Lobo, que defende a
possibilidade de perdão do crédito
tributário para as empresas que
demonstrarem reais possibilidades de
recuperação.8
Nas palavras do advogado:
“Para, de fato, propiciar a recuperação
judicial da empresa econômica e financeira
viável ou política, social e estrategicamente
importante, é necessário mais, bem mais,
muito mais! É necessário não apenas alterar
o art. 155a, do CTN, que trata da dilação dos
prazos de pagamento do crédito fiscal, mas
inovar, modificando, substancialmente, com
ousadia e rígidos critérios, a disciplina da
‘exclusão do crédito tributário’ (CTN, art.
175 e ss.), de forma a permitir que o fisco
federal e estadual, ao examinar caso a caso e
ao constatar a viabilidade da empresa,
possam perdoar parte da dívida fiscal em
limites adrede especificados em decreto do
Poder Executivo, a exemplo do que ocorre
em França (art. 179 do Decreto 85-1.388, c/c
art. L.247, do Livro de Procedimentos
Fiscais, e art. L. 621-60, do Código de
Comércio) (...)” 9
É certo que a proposta de o fisco abrir
mão de seus créditos em benefício da
recuperação da empresa é ousada, mas
factível se percorrido o caminho da
legalidade imposta ao administrador
público, mormente depois de o sistema da
recuperação de empresas ter declarado que
a atividade empresarial é importante para o
Estado (art. 47, da Lei n.º 11.101/05).
Como mencionado no estudo de Jorge
Lobo, a França adota esse modelo.
Contudo, não há projetos de lei nesse
sentido tramitando.
7
Comentários aos artigos 65 a 69. in SOUZA JUNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO, Antônio Sérgio A. de Moraes.
Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência, São Paulo: RT, 2006, p. 283, apud NEGRÃO, Ricardo.
Manual de direito comercial e de empresa, v.3., 2.ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 182.
8
LOBO, Jorge. A recuperação judicial da empresa e o perdão do crédito tributário. Boletim de Doutrina ADCOAS. São
Paulo. v.7. n.14. p.271-2. jul. 2004
9
Idem
189
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
3. Entendimento jurisprudencial
Os Tribunais dos estados de São Paulo,
Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais vêm
afastando o rigor da norma para fins de
permitir a recuperação judicial daquelas
empresas que não conseguem apresentar as
certidões tributárias após obterem
aprovação do plano de recuperação por
parte de seus credores.
Em Minas Gerais10 o Poder Judiciário
tem entendido que a Lei n.º 11.101/05 deve
ser interpretada de forma sistêmica,
ressaltando o princípio insculpido no art.
47 da mesma Lei, de maneira que a
exigência das certidões negativas
inviabilizaria quase que por completo o
instituto da recuperação judicial.
A Jurisprudência mineira fundamenta
seu entendimento na necessidade de
permitir que a Lei atinja seu objetivo, qual
seja, a recuperação das empresas. Ademais,
nos termos do art. 155-A, do CTN,
depende de Lei Específica, o que, por
vezes, não se verifica nas três esferas da
federação às quais a empresa requerente se
encontra vinculada. Aduzem os julgadores
que enquanto não editadas as leis que
permitam o parcelamento resta
inviabilizada a aplicação da exigência do
art. 57 da Lei n.º 11.101/05.
No Rio de Janeiro a situação não é tão
segura assim. Na recuperação da Varig
houve a concessão da recuperação sem as
certidões negativas, mas isso se deveu ao
fato de o Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro não ter conhecido do recurso.
Assim alguns entendem que o
entendimento do Tribunal do Rio de
janeiro é pela desnecessidade de
apresentação das certidões. Entendemos
que esse posicionamento não pode ser tido
como certo.
No caso da Varig, o Juiz de Direito Luiz
Roberto Ayub, magistrado presidente do
processo de recuperação assim determinou:
“a ausência de lei especial disciplinadora
do parcelamento de créditos tributários de
quem esteja em processo de recuperação
exige tratamento que for mais benéfico ao
contribuinte, sendo inaplicável a norma do
art. 191-A do CTN, enquanto não se dê
cumprimento ao disposto no § 3º do art.
155-A daquele diploma legal”11.
Contra essa decisão a União interpôs
agravo de instrumento12. O agravo, por
maioria, não foi conhecido, mas o relator,
voto vencido, conheceu do recurso e a ele
deu provimento para fins de exigir a
apresentação das certidões negativas. Nas
palavras do relator: “não se vê na lei de
regência alguma regra que excepcione a
obrigação das devedoras inserida pelo seu
art. 57”.
10
TJ-MG, 5ª Câmara Cível. Agravo de instrumento n.º 1.0079.06.288873-4/001, Rel. Des. Dorival Guimarães Pereira, j.
29/05/2008, DJ 06/06/2008. TJ-MG, 5ª Câmara Cível. Agravo de instrumento n.º 1.0079.07.348871-4/007, Rel. Des. Maria
Elza, j. 08/10/2009, DJ 21/10/2009. TJ-MG, 7ª Câmara Cível. Agravo de instrumento n.º 1.0079.07.371306-1/001, Rel. Des.
Heloisa Combat, j. 29/09/2009, DJ 16/10/2009.
11
Transcrição feita por Manuel Justino Bezerra Filho, Jurisprudência da Nova Lei de Recuperação de Empresas e
Falência, São Paulo, RT, 2006, pp. 152-171, apud NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa, v.3.,
2.ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 183.
12
TJ-RJ, 4ª Câmara Cível. Agravo de Instrumento nº 2006.002.07023, Rel. Des. Jair Pontes de Almeida, Vogal designada
para acórdão Des. Ana Maria Pereira de Oliveira, j. 24/10/2006.
190
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
O acórdão não chegou a analisar a
questão de fundo (exigência, ou não, da
CND para a recuperação judicial). O único
desembargador que o fez, foi para fins
ratificar a exigência legal mas, como restou
vencido, seu entendimento não prosperou.
A União interpôs Recurso Especial13
buscando obstar o deferimento da
recuperação judicial pela não obtenção das
certidões negativas. O recurso ainda não
foi julgado, mas a ele já foi juntado parecer
do Ministério Público favorável à
concessão da recuperação ainda que sem as
certidões negativas.
Antes do julgamento do Recurso
Especial pelo STJ, infelizmente, foi
decretada a falência da Varig, o que terá
como conseqüência a perda do objeto do
Recurso Interposto perante o STJ,
retirando do Tribunal a possibilidade de se
debruçar sobre a questão e solucionar a
controvérsia.14
13
Na Comarca de Ponta Grossa – Paraná,
o Juiz Luiz Henrique Miranda, da 1ª Vara
Cível, presidindo o pedido de recuperação
j u d i c i a l d a e m p r e s a Wo s g r a u Participações Industria e Comércio Ltda.
também deferiu a recuperação
independente da apresentação de certidões
negativas tributárias ao argumento que “a
exigência de apresentação de certidões
comprobatórias de inexistência de débitos
junto ao Fisco e à previdência, feita pelo
art. 57 da Lei n. 11.101/05, ofende o
princípio constitucional da razoabilidade e
agride as garantias constitucionais ao
devido processo legal, ao contraditório e à
ampla defesa dadas ao contribuinte”15.
A par das decisões acima mencionadas,
de Juízos de primeira e segunda instância,
a maior quantidade de decisões afastando a
exigência de CND encontra-se no Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo, por
meio de sua Câmara de Falências e
R e c u p e r a ç õ e s J u d i c i a i s .16 E s s e
posicionamento é unânime, de acordo com
STJ – 3ª T. REsp n.º 1.166.600, Rel. Min. Vasco Della Giustina (desembargador convocado do TJ/RS).
14
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, autos n.º Processo 0260447-16.2010.8.19.0001, notícia publicada em
20/08/2010: <http://srv85.tjrj.jus.br/publicador/exibirnoticia.do?acao=exibirnoticia&ultimasNoticias
=20318&classeNoticia=2&v=2> – acesso em 24/08/2010
15
Transcrição feita por Manuel Juystino Bezerra Filho, Jurisprudência da Nova Lei de Recuperação de Empresas e
Falência, São Paulo, RT, 2006, pp. 152-171, apud NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa, v.3.,
2.ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 183
16
TJ-SP, Câmara Reservada à Falência e Recuperação, Agravo de Instrumento n.º 994.09.273364-3, Rel. Des. Romeu
Ricupero, j. 01/06/2010, (acórdão n.º 03059391). TJ-SP, Câmara Reservada à Falência e Recuperação Agravo de Instrumento
n.º 994.09.282083-3, Rel. Des. Romeu Ricupero, j. 01/06/2010 (acórdão n.º 03059392). TJ-SP, Câmara Reservada à Falência
e Recuperação, Agravo de Instrumento n.º 990.10.010712-7, Rel. Des. Romeu Ricupero, j. 04/05/2010 (acórdão n.º
02978088). TJ-SP, Câmara Reservada à Falência e Recuperação, Agravo de Instrumento n.º 994.09.317882-5, Rel. Des. Lino
Machado, j. 04/05/2010 (acórdão n.º 02978340). TJ-SP, Câmara Reservada à Falência e Recuperação, Agravo de Instrumento
n.º 990.10.005006-0, Rel. Des. Pereira Calças, j. 06/04/2010 (acórdão n.º 02926040). TJ-SP, Câmara Reservada à Falência e
Recuperação, Agravo de Instrumento n.º 994.09.6331764-5, Rel. Des. Lino Machado, j. 26/01/2010 (acórdão n.º 02791220).
TJ-SP, Câmara Especial de Falências e Recuperações Judiciais, Agravo de Instrumento n.º 994.08.057310-5, Rel. Des. Lino
Machado, J. 05/05/2009 (acórdão n.º 02326271). TJ-SP, Câmara Especial de Falências e Recuperações Judiciais, Agravo de
Instrumento n.º 994.07.098182-0, Rel. Des. Lino Machado, j. 30/01/2008 (acórdão n.º 01580147). TJ-SP, Câmara Especial de
Falências e Recuperações Judiciais, Agravo de Instrumento n.º 994.07.114143-5, Rel. Des. Pereira Calças, j. 30/01/2008
(acórdão n.º 01569600). TJ-SP, Câmara Especial de Falências e Recuperações Judiciais, Agravo de Instrumento n.º
994.07.099855-3, Rel. Des. Romeu Ricupero, j. 01/08/2007 (acórdão n.º 01366938). TJ-SP, Câmara Especial de Falências e
Recuperações Judiciais, Agravo de Instrumento n.º 994.06.028559-0, Rel. Des. Pereira Calças, j. 17/01/2007 (acórdão n.º
01198967). TJ-SP, Câmara Especial de Falências e Recuperações Judiciais, Agravo de Instrumento n.º 994.06.032241-0, Rel.
Des. Romeu Ricupero, j. 08/11/2006 (acórdão n.º 0 1155552).
191
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
as pesquisas efetuadas, e é, ademais, citado
por acórdãos de outros estados, já
mencionados neste estudo.
Em apertada síntese, três são os
argumentos a fundamentar o
posicionamento da corte paulista: i) a
incongruência entre a exigência da CND e
o princípio da manutenção da atividade
empresarial insculpido no art. 47, da Lei
n.º 11.101/05; ii) a inconstitucionalidade
dos artigos 191-A do CTN e 57, da Lei n.º
11.101/05, que ferem o princípio do devido
processo legal, na medida em que
constituem, em verdade, meios pelos quais
o Fisco busca cobrar, sem o devido
processo legal, créditos que tem com as
empresas. Com base nesses dois
fundamentos, o Tribunal pontua o terceiro
fundamento, segundo o qual, enquanto não
regulamentado o art. 68, da Lei n.º
11.101/05, que prevê a possibilidade de
parcelamento dos débitos fiscais, não se
sustenta a exigência de certidões negativas
(ou positivas com efeito de negativas)
fiscais para a concessão da recuperação
judicial.
4. Projetos de Lei
Desde a tramitação do projeto de Lei
que se transformou na Lei n.º 11.101/05 já
se antevia a problemática que ora se
estuda, de maneira que tramitam, desde
então, projetos paralelos sejam para a
disponibilização de parcelamento dos
débitos fiscais para os casos de empresas
que requeiram a recuperação judicial, seja
para a supressão do próprio artigo 57, da
Lei n.º 11.101/05, que faz a exigência.
O Projeto de Lei do Senado n.º
245/2004 estabelece a possibilidade de
parcelamento dos débitos federais e
192
determina que em não havendo legislação
sobre parcelamento nos demais entes
federativos aos quais estiver vinculada a
empresa, a aplicação das leis gerais de
parcelamento do ente da Federação ao
devedor em recuperação judicial, não
podendo, nesse caso, ser o prazo de
parcelamento inferior ao concedido pela
Lei federal, caso aprovada (84 ou 72
meses, conforme o caso). Ademais, altera o
art. 57, da Lei n.º 11.101/05 para incluir a
apresentação das certidões negativas ou
comprovante de suspensão da exigibilidade
dos débitos tributários.
Nos parece quebra do pacto federativo a
imposição de legislação geral àquelas
entidades da federação que não tiverem
leis próprias de parcelamento para que este
seja concedido aos devedores tributários.
Se um município, v.g., não contemplar, de
maneira legislativa, hipóteses de
parcelamento de seus créditos para com os
contribuintes, não se pode, data venia,
impor à entidade as regras gerais
estabelecidas pelo estado-membro.
O projeto se encontra apensado ao
Projeto de Lei da Câmara n.º 5.250/2005,
que adotou o mesmo texto e concentra,
como apensos, todas as propostas
legislativas que tratam de parcelamento de
créditos fiscais, abaixo mencionadas.
O Projeto de Lei da Câmara n.º
246/2003, prevê o parcelamento em 240
prestações, não contendo nada de especial
para a recuperação de empresas, exceto o
prazo, bem maior do que aquele de 84
meses do projeto acima citado.
O Projeto de Lei n.º 6.447/2005 prevê a
possibilidade de parcelamento das dívidas
tributárias em até cento e oitenta parcelas.
Para isso o parcelamento deverá ser
requerido até o último dia útil do mês
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
subseqüente ao do deferimento do
processamento da recuperação judicial,
perante a unidade da Secretaria da Receita
Federal, da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional ou do Instituto Nacional de
Seguridade Social responsável pela
cobrança do respectivo débito.
O Projeto de Lei n.º 4.982/2005 prevê a
possibilidade de parcelamento para as
empresas em recuperação judicial. O
parcelamento será de até 120 parcelas
mensais e deverá ser requerido até o último
dia útil do segundo mês subseqüente ao do
deferimento do processamento da
recuperação judicial perante a unidade da
Secretaria da Receita Federal ou da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,
responsável pela cobrança do respectivo
débito. Condição interessante é a dispensa
de garantia ou arrolamento de bens.
Os Projetos de Lei 6.028/2005 e
7.636/2006 simplesmente revogam o art.
57, da Lei n.º 11.101/05 para que não mais
sejam exigidas as certidões tributárias para
a concessão da recuperação judicial.
De trâmite legislativo lento, todos os
Projetos de Lei, que tramitam em conjunto,
apensados ao Projeto de Lei da Câmara n.º
5.250/2005, apresentam medidas para o
caso. Certamente aquela que mais se
coaduna com o princípio da manutenção da
atividade empresarial é a revogação do art.
5 7 , d a L e i n . º 11 . 1 0 1 / 0 5 , p a r a
simplesmente deixar de exigir as certidões
negativas.
5. Conclusão
De há muito está consolidada a
interpretação sistêmica como indispensável
ao processo exegético. Infelizmente a
hermenêutica parece não permear os
meandros do processo de elaboração das
leis. Exemplo disso é a absurda
desproporcionalidade entre crimes e penas,
verificada no sistema penal, em que crimes
mais brandos por vezes são apenados com
penas mais severas, às vezes sob a ilusão
que a exasperação de penas resolverá a
questão penal, às vezes para responder aos
reclamos da sociedade, muitas vezes com
propósitos eleitoreiros.17
Dessa maneira, mais uma vez a falta de
proporcionalidade e visão sistêmica fica
clara com a exigência feita pelo art. 57 da
Lei n.º 11.101/05 que exige, de uma
empresa que não conseguem nem pagar
seus credores, quitação com as fazendas
federal, estadual e municipal. É patente
que em situação de déficit financeiro uma
empresa preferirá pagar seus fornecedores,
que garantirão a continuidade de sua
atividade, ao invés do fisco. Nesse passo,
quando a empresa empreende negociação
para obter junto de seus fornecedores a
recuperação de sua crise econômicofinanceira já conta com alto passivo
tributário. Exigir, nesse momento, quitação
dos débitos tributários significa impedir
que a empresa se recupere.
Ademais o art. 47, da Lei n.º 11.101/05
é claro ao demonstrar a principiologia
informadora da nova Lei. Trata-se de
17
Para uma melhor compreensão de um dos motivos da desenfreada produção legislativa, recomendamos o estudo de
NEVES, Marcelo. A constitucionalização simbólica, São Paulo: Martins Fontes, 2007. Segundo Pedro Lenza, trata-se de
trabalho apresentado pelo autor para a obtenção do cargo de Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco, em
1992. Lenza comenta os principais aspectos do estudo. (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado14.ed., São
Paulo: Saraiva, 2010 p. 70 e ss.)
193
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
medidas para a recuperação e manutenção
da atividade empresarial.
recuperação judicial, ainda que com
débitos tributários.
Incluir em uma Lei destinada à
manutenção e recuperação da atividade
empresarial dispositivo impeditivo da
consecução do objetivo da Lei é um
absoluto contrassenso. Tamanho é o
absurdo que o texto legal permite ao
empresário ajuizar o pedido de recuperação
judicial, obter o deferimento do
processamento da recuperação, com a
conseqüente apresentação do plano de
recuperação para seus credores, a posterior
discussão desse plano pelos credores em
assembléia para, ao final, depois de
percorrido esse exaustivo iter e obtida a
aprovação de seu plano pelos credores,
exigir as certidões negativas tributárias,
como que mantendo, durante todo o
processo, uma espada de Dâmocles sobre a
cabeça do empresário.
Em breve a questão seria apreciada pelo
Superior Tribunal de Justiça, quando se
esperaria fosse confirmado o entendimento
que vem predominando nos Tribunais
estaduais para uniformizar a jurisprudência
no sentido da dispensa das certidões
negativas tributárias para o deferimento da
recuperação judicial.
Felizmente o Judiciário atentou para a
falta de estrutura sistêmica da Lei e vem,
acertadamente, ressalte-se, afastando a
exigência de certidões negativas para a
concessão da recuperação judicial.
Pioneiro nesse entendimento, o Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo vem
decidindo nesse sentido desde o início da
vigência da Lei, no que vem sendo seguido
por outras cortes. Saliente-se que o
entendimento pela desnecessidade de
apresentação de certidões negativas não é
só medida obtida em sede recursal. Ao
contrário, assim vem sendo decidido pelos
juízos de primeira instância, o que tem
desafiado agravos de instrumento, com a
conseqüente manutenção das decisões de
primeiro grau pelos tribunais.
Com esse reconhecimento logo em
primeiro grau de jurisdição, as empresas
têm mais segurança ao pleitear sua
194
Infelizmente os operadores do direito
terão de aguardar, eis que com a decretação
da falência da Varig o REsp que trata da
matéria perderá objeto, pelo que será
arquivado sem a manifestação do STJ
sobre o tema.
Dessa maneira, sem prejuízo da
essencial uniformização de jurisprudência
perpetrada pelo STJ, que ainda pode ser
feita caso outro recurso análogo a ele
chegue, a controvérsia tende a ser
definitiva e absolutamente resolvida com a
aprovação dos projetos de Lei que
tramitam.
Verifica-se, contudo, que o trâmite dos
Projetos de Lei que cuidam do tema
tramitam a passos lentos, talvez pelo fato
de que a aprovação da dispensa da CND
para os requerentes de recuperação judicial
signifique, prima facie, perda de receita
pública o que, em nosso entender é um
equívoco, na medida em que as empresas
em dificuldades financeiras que, por não
conseguirem a CND não obtiverem a
recuperação judicial estão arriscadas a
falir, com o que, aí sim, com certeza, se
terá a perda da respectiva receita tributária,
na medida em que, em regra, uma empresa
que tem a falência decretada já tem todos
os bens dados em garantia de contratos de
mutuo, cujos mutuantes (em regra, as
instituições financeiras) recebem antes do
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
fisco, nos termos do art. 83, da Lei n.º
11.101/05.
É cediço que várias são as propostas
tramitando no Poder Legislativo, mas sem
dúvida a melhor delas é a simples
supressão dos artigos 57, da Lei n.º
11.101/05 e do art. 191-A, do CTN, na
medida em que ambos estabelecem a
mesma norma, qual seja, a necessidade de
quitação dos débitos tributários para a
concessão da recuperação judicial.
Como visto os Projetos de Lei
6.028/2005 e 7.636/2006 pretendem a
revogação do artigo 57, da Lei n.º
11.101/05, mas data venia pensamos que
não é suficiente para encerrar a
controvérsia, na medida em que o art. 191A, do CTN permanece a condicionar o
deferimento da recuperação judicial à
quitação tributária, pelo que duas opções se
nos apresentam como viáveis: i) aprovar,
também, uma Lei Complementar para,
simplesmente, suprimir o art. 191-A, do
CTN; ou ii) aprovar os próprios Projetos
de Lei n.ºs 6.028/2005 e 7.636/2006 como
Lei Complementar, suprimindo, de uma só
vez, o artigo 57, da Lei n.º 11.101/05 o art.
191-A, do CTN, o que seria possível ante o
quorum maior exigido para Lei
Complementar, o que autorizaria essa
modalidade legislativa à derrogação de Lei
Ordinária.
A incongruência legislativa prejudica a
interpretação sistêmica do direito. Isso,
contudo, é fenômeno que ao invés de
reduzir-se, tente a aumentar com o passar
dos anos e das legislaturas. Nesses casos,
importantes se demonstram doutrina e
jurisprudência como ferramentas de coesão
do sistema jurídico.
Felizmente, verifica-se atenção, por
p a r t e d o l e g i s l a d o r, d o e s f o r ç o
jurisprudencial para dar coesão ao sistema,
caso em que transformam as manifestações
jurisprudenciais em direito positivo,
restabelecendo a coesão do sistema
jurídico, ao menos de maneira parcial.
Referências Bibliográficas
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova Lei de Recuperação e Falências Comentada,
3.ed., São Paulo: RT, 2005.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. v.3., 7.ed., São Paulo: Saraiva, 2007.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 14.ed., São Paulo: Saraiva, 2010.
LOBO, Jorge. A recuperação judicial da empresa e o perdão do crédito tributário.
Boletim de Doutrina ADCOAS. São Paulo. v.7. n.14. p.271-2. jul. 2004.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa, v.3., 2.ed., São Paulo:
Saraiva, 2007.
NEVES, Marcelo. A constitucionalização simbólica, São Paulo: Martins Fontes, 2007.
195
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
123
Leonardo Di Francescantonio1
Fernando Luiz de Almeida2
Mauro Maia Laruccia3
O desenvolvimento de projetos, com o auxílio da
engenharia de software e metodologia ágil SCRUM
Recebido em: 26/10/2012 - Aprovado em: 12/11/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Abstract
Engenharia de Software tem se mostrado
uma grande ferramenta de trabalho para o
auxílio no desenvolvimento de software.
Dentre esses conceitos e metodologias
encontra-se o SCRUM, metodologia ágil
que facilita o gerenciamento do
desenvolvimento, facilitando a
comunicação da equipe, controle do tempo,
distribuição da atividade, trazendo maior
qualidade ao produto final.
Software engineering has proved a
great tool to aid work in software
development. Among these concepts and
methodologies is SCRUM, Agile
methodology that facilitates the
management of the development,
facilitating team communication, time
management, distribution of activity,
bringing higher quality at the end product.
Palavras-chave: Engenharia de Software,
SCRUM, Desenvolvimento de Software,
Metodologias Ágeis, Java.
1. Introdução
Há algum tempo, os softwares vem se
tornando uma ferramenta imprescindível
nas empresas. Esse avanço tem impactado,
K e y w o r d s : S o f t w a re E n g i n e e r i n g ;
SCRUM; Software Development; Agile
Methodologies; Java
não somente as grandes corporações, mas
também as pequenas e médias empresas. O
que acarretou um grande aumento da
demanda de software e com isso, o
conceito de Engenharia de Software
1Leonardo
Di Francescantonio - Graduando em Faculdade de Computação e Informática da Fundação Armando Álvares
Penteado – FAAP. Rua Alagoas, 903, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]
Fernando Luiz de Almeida - Professor Doutor da Faculdade de Computação e Informática da Fundação Armando Álvares
Penteado – FAAP. Rua Alagoas, 903, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]
2
Mauro Maia Laruccia - Professor Doutor da Faculdade de Economia e Administração PUC/SP e da Fundação Armando
Álvares Penteado - FAAP e Professor Pesquisador do Grupo de Pesquisa e Iniciação Científica, orientador da Oficina de
Artigos das Faculdades Integradas Campos Salles. Rua Nossa Senhora da Lapa, 284, São Paulo 05072-000, Brasil. E-mail:
[email protected]
3
196
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
ganhou força, passando, inclusive, a ser
visto como uma importante disciplina dos
cursos relacionados a desenvolvimento de
aplicações para computadores.
Conceitualmente, a Engenharia de
Software compreende um processo, um
conjunto de métodos (práticas) e
ferramentas que possibilitam aos
profissionais desenvolverem softwares de
altíssima qualidade (PRESSMAN, 2011;
SOMMERVILLE, 2011).
É comum existirem problemas entre
desenvolvedores e clientes, ao decorrer do
processo de criação e amadurecimento de
projetos, devido à dificuldade na
comunicação, prejudicando o
desenvolvimento de softwares de
qualidade dentro de prazos cada vez mais
apertados. Com a Engenharia de Software,
o desenvolvimento torna-se mais
organizado e produtivo, pois, a partir da
combinação de inúmeras técnicas, o
processo de comunicação entre clientes e
desenvolvedores é otimizado, resultando
em softwares complexos e de qualidade,
que respeitam os prazos de
desenvolvimento.
Com base nos conceitos e métodos
abordados em engenharia de software, foi
proposto o desenvolvimento de um sistema
para uma corretora de seguros, com o
objetivo de gerenciar as informações
referentes a planos e seguros saúde,
abrangendo a adesão de pessoas físicas e
pessoas jurídicas, Omicron Zeta GIPSS Sistema de Gerenciamento de Informações
de Plano e Seguro Saúde – é um sistema
dividido em cinco seguimentos de
informação: Empresa, Funcionário, Cliente
Individual, Prestadores e Relatórios. Cada
uma dessas frentes de atuação, com
exceção dos Relatórios, conta com
funcionalidades de Cadastro, Edição e
Consulta, ações essas que são executadas
respeitando os perfis de acesso definidos
pelo administrador do sistema, que além
das funcionalidades citadas, possui o
acesso e controle dos usuários.
Durante o desenvolvimento, foram
colocadas em prática técnicas abordadas
pela Engenharia de Software, tendo em
mente um trabalho em conjunto com o
cliente, que participou ativamente de todo
o processo.
2. Metodologia
A construção do projeto foi orientada
por alguns modelos de engenharia de
software, que auxiliam na criação de um
projeto de qualidade, são eles:
•Etapas do arcabouço, que
orientam no desenvolvimento de
software dividindo o mesmo em
cinco etapas: Comunicação,
Planejamento, Modelagem,
Construção e Implantação;
•Filosofia do modelo espiral,
que serviu de base para o
desenvolvimento em conjunto com
o cliente, sugerindo que o cliente
faça parte da criação, motivando-o
a se envolver com o projeto;
•Processo Unificado, RUP
(Rational Unified Process), que
orienta no desenvolvimento,
apoiando-se nos melhores recursos
e características dos modelos
convencionais de processos de
software;
•D o c u m e n t a ç ã o U M L
(Linguagem Unificada de
Modelagem), que auxiliou na
197
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
criação de diagramas ilustrativos
dos processos e da comunicação do
software;
•Método Ágil de Gestão Scrum, que auxiliou no controle e
gestão do tempo e das atividades do
projeto;
•Desenvolvimento em camadas,
dividindo o desenvolvimento em
três frentes: Camada de
Apresentação, Camada Lógica e
Camada de Acesso a Dados.
O projeto foi iniciado com conversas
entre a corretora Jr&Marto Consultoria e
Seguros (cliente) e a equipe de
desenvolvimento, onde foram identificadas
algumas necessidades e possibilidades de
melhorias. Dentre elas, a dificuldade no
gerenciamento das informações de clientes
e prestadores de serviço.
Depois de mapear os pontos de
melhoria, foi criado junto ao cliente um
escopo de trabalho, que tem como
principal ponto a informatização dos
processos, criando uma ferramenta que
facilite o gerenciamento e controle das
informações.
Juntamente com o cliente foi
desenvolvido o cronograma de trabalho,
que possibilita estimar o prazo de entrega
do sistema, prevendo reuniões periódicas
para que sejam alinhadas ideias e sugestões
relevantes ao desenvolvimento do projeto.
A documentação referente ao projeto foi
desenvolvida baseada nos diagramas UML,
ilustrando o projeto de acordo com os
parâmetros definidos em conjunto com o
cliente, elaborando Diagramas de Caso de
Uso, Diagramas de Classe e Diagramas de
Sequência, a fim de facilitar e agilizar o
desenvolvimento do sistema.
198
Para demonstrar ao cliente o layout das
telas do sistema foram desenvolvidos
protótipos de tela (PRESSMAN, 2011),
que foram submetidas à aprovação e teste
do cliente, utilizando filmagens para
melhor acompanhar as reações durante os
testes, com o intuito de desenhar interfaces
gráficas adequadas para facilitar o uso.
Como ferramenta de desenvolvimento
foi utilizado o NetBeans (NETBEANS,
2012), por meio de linguagem Java,
utilizada como ambiente de
desenvolvimento das principais
funcionalidade e telas do sistema, visando
solucionar da melhor forma as necessidade
do cliente.
Após a conclusão do desenvolvimento
do projeto, o cliente passou por um
treinamento, para possibilitar a melhor
utilização do sistema. Por fim, o sistema
foi implantado, e utilizado em produção.
3. Desenvolvimento
Ao iniciar a comunicação com o cliente
foi possível identificar suas necessidades,
que possuía as informações de clientes e
prestadores de serviços, armazenadas
fisicamente. Havia grande interesse por
parte do cliente em buscar uma solução
informatizada que se adequasse aos seus
custos, uma vez que muitas das soluções
existentes no mercado requerem grande
investimento.
Observando essa realidade, foi proposta
a criação de um software que ajudasse a
gerenciar as informações utilizadas na
corretora, para agilizar os processos e
facilitar o acesso, trabalhando a
informação de forma segura e integrada.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Na definição do escopo do projeto,
ficou definida a criação de um sistema de
cadastro e consulta de informações
referentes a convênios e seguros saúde,
com uma hierarquia de acesso que
garantisse a segurança da informação, além
de relatórios que facilitasse a visualização
de resultados conforme a necessidade dos
gestores.
Junto ao cliente foi
cronograma, no qual se
tempo estimado para o
construção, implantação e
equipe.
elaborado um
contemplou o
planejamento,
treinamento da
2011), utilizando a metodologia SCRUM
(SOMMERVILLE, 2011).
Conforme ilustrado na Figura 1, foi
definido que cada funcionalidade do
sistema seria equivalente a um Product
Backlog, sendo cada parte dessa
funcionalidade, tais como Interface, Regra
de Negócio, Acesso aos Dados, tidos como
um Sprint Backlog, adotando o tempo
médio de uma semana para cada Sprint,
resultando em entregáveis (Deliverable)
semanais. Entretanto, devido à composição
da equipe, não houve necessidade de
reuniões diárias (Daily Scrum).
O trabalho foi dividido em etapas como
é sugerido pelo arcabouço (PRESSMAN,
Figura 1: Ciclo SCRUM
Foi criada uma Task Board, para
auxiliar no controle das atividades,
conforme ilustrado na Figura 2. A mesma
ficou com a seguinte estrutura:
•TO DO: Sprints Backlogs não
iniciados, atividades que estão
aguardando para estar na etapa de
desenvolvimento;
•D O I N G :
Fase
de
desenvolvimento, nesse momento
os Sprints Backlogs estão em
construção;
•TO VERIFY: Momento em que as
funcionalidades são submetidas à
validação do cliente, nessa etapa, o
cliente entrava em contato com a
199
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
interface, e vídeos eram gravados,
durante a execução, como é
sugerido no processo de
prototipação;
•D O N E ! : F u n c i o n a l i d a d e
concluída, última fase do
desenvolvimento
da
funcionalidade, Deliverable, após a
validação a funcionalidade estava
finalizada.
•IMPEDIMENTS: Nesse espaço
do quadro, eram identificados os
impedimentos, e dificuldades que
impactavam a sequência do
desenvolvimento.
•TO DISCUSS: Itens a serem
discutidos, ideias que agregariam
funcionalidade, porém caso não
houvesse não impactaria no
resultado final, seriam tratados
como segundo plano, dentro das
possibilidades do cronograma.
•UNPLANNED ITEMS: Espaço
para sinalizar funcionalidades
novas que não haviam sido
identificadas no escopo inicial,
funcionalidades de menor
prioridade.
Figura 2: Task Board
Buscando uma melhor forma de
observar a evolução no desenvolvimento,
foi adotado o Burndown Chart, o qual teve
fundamental importância na identificação
de problemas durante desenvolvimento,
alertando a equipe do projeto sobre em que
momento era necessária maior atenção
para o cumprimento do prazo.
Como é possível observar na Figura 3,
que apresenta um gráfico onde o tempo é
200
representado no eixo X, e as
funcionalidades pendentes no eixo Y, as
linhas representadas no gráfico referem-se
ao desenvolvimento planejado (linha A), e
ao desenvolvimento real (linha B), ou seja,
quando a linha B está abaixo da linha A,
entende-se que o desenvolvimento está
dentro do período planejado, no caso
inverso o desenvolvimento está atrasado.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 3: Burndown Chart
Em uma segunda fase do projeto, foram
elaborados diagramas para a criação da
documentação UML do projeto, utilizando
a ferramenta de modelagem StarUML
(STARUML, 2012).
O Diagrama de Caso de Uso foi
utilizado para definir quais os níveis de
3
acesso seriam criados para atender as
necessidades do cliente e definir as
funcionalidades do sistema. A Figura 4
ilustra o os níveis de acesso para as
funcionalidades referentes ao módulo de
Pessoa Física.
Cadastrar Empresa
2
Alterar Empresa
4
Consultar Empresa
1
5
Figura 4: Caso de Uso – Módulo Empresa
Os níveis de acesso foram definidos em
uma hierarquia de 1 a 5, sendo cinco, o
nível mais alto da cadeia, equivalente ao
nível de administrador.
O Diagrama de Classes (Figura 5), que
apresenta de forma simplificada como
estão distribuídas as classes do sistema, e
como ocorre o relacionamento entre elas.
201
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
EMPRESA
CORRETORA
+CadastrarEmpresa()
+EditarEmpresa()
+ConsultarEmpresa()
+CadastrarUser()
+EditarUser()
+ExcluirUser()
+ConsultarUser()
PRESTADORA
+CadastrarPrestadora()
+EditarPrestadora()
+ConsultarPessoaFisica()
FUNCIONARIO
CLIENTE
+CadastrarCliente()
+EditrCliente()
+ConsultarCliente()
+CadastrarFunc()
+EditarFunc()
+ConsultarFunc()
DEPENDENTE CLI
DEPENDENTE FUNC
+CadastrarDependenteCli()
+EditarDependenteCli()
+ConsultarDependenteCli()
+CadastrarDependenteFunc()
+EditarrDependenteFunc()
+ConsultarrDependenteFunc()
Figura 5: Caso de Classe Simplificado
Todo o sistema foi desenvolvido a partir
do conceito de Orientação a Objeto
(DEITEL e DEITEL, 2005), respeitando
uma arquitetura de camadas, para um
melhor aproveitamento das classes do
sistema, evitando redundâncias e acesso
descontrolado ao banco de dados,
conforme ilustra a Figura 6.
Figura 6: Arquitetura de Camadas
O Diagrama de Sequência retrata de
forma genérica como está o fluxo da
informação dentro do sistema. A Figura 7
ilustra o processo de cadastro, desde o
202
cadastramento da informação realizada
pelo usuário, até o momento em que o
sistema retorna uma mensagem com a
confirmação do cadastro.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 7: Caso de Classe – Cadastro (Genérico)
Em paralelo a elaboração dos diagramas
UML, foi criado o Modelo Entidade
Relacionamento, que auxiliou na criação
do banco de dados que foi estruturado
utilizando a ferramenta MySQL
Workbench (ORACLE CORPORATION,
2012) conforme ilustra a Figura 8.
Figura 8: MER - Banco de Dados
Como já mencionado anteriormente, o
desenvolvimento do sistema, foi realizado
com a ferramenta NetBeans (NETBEANS,
2012), utilizando a linguagem de
programação Java, e em conjunto com o
cliente, foram criadas interfaces gráficas e
funcionalidades para melhor solucionar as
necessidades de gerenciamento das
informações da corretora.
A Figura 9 é uma ilustração da tela de
Login do sistema, que além da
funcionalidade de validação de usuários,
conta com um recurso, para configuração
de IP e PORTA do servidor para acesso ao
banco de dados.
203
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Após a validação do usuário, a tela
Menu, (Figura 10) é construída conforme o
nível de acesso do usuário. A árvore das
funcionalidades (canto superior esquerdo,
Figura 10-A) é estruturada apresentando as
funcionalidades de acordo com a
hierarquia de acessos, além da barra de
menus, que segue a mesma lógica, além de
possuir alguns itens apenas para o
administrador do sistema. No canto
inferior esquerdo (Figura 10-B), estão
apresentadas as informações do usuário
que está logado no sistema.
Figura 9: Tela Login
Figura 10: Tela Menu
Na Figura 11, está ilustrado a tela
Buscar Empresa, que segue o padrão dessa
funcionalidade independente da
informação em questão.
Nessa tela, a busca pode ser realizada de
duas formas, tanto através de CNPJ,
204
quanto pela Razão Social. Ao executar a
busca, a funcionalidade retorna em lista os
itens encontrados. Na parte inferior da
interface, estão as ações que o usuário
pode realizar (consultar, editar, selecionar
prestadora ou cancelar).
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 11: Tela Buscar Empresa
A tela apresentada a seguir, Figura 12,
ilustra a interface para o cadastramento de
novos funcionários, essa tela conta, com
uma lógica para a validação do CPF, além
de identificar os campos tidos como de
preenchimento obrigatório, foi criada uma
inteligência para a montagem do
ComboBox CIDADE, onde a partir do
estado selecionado, é realizada uma busca
no banco de dados para o preenchimento.
Figura 12: Tela Cadastrar Funcionário
As telas de consulta e edição foram
padronizadas conforme a tela de
cadastramento de cada módulo, visando
facilitar a identificação dos campos.
Pensando na parte gerencial do sistema,
foram desenvolvidos relatórios que
possibilitam a impressão das informações,
utilizando da ferramenta JasperReport
(JASPERFORGE, 2012) e iReport
(JASPERFORGE, 2012) para o NetBeans.
Cada módulo contém uma tela de
consulta, a qual possui um botão para a
geração de um relatório com as
informações que estão visíveis na tela,
como ilustra a Figura 13.
205
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Figura 13: Relatório de Dados Detalhados do Funcionário
Na Figura 14 é apresentado um relatório
gerencial, que possibilita uma análise das
movimentações da carteira de clientes,
utilizando de diferentes filtros para
obtenção do relatório como, por exemplo,
data de adesão.
Figura 14: Relatório de Adesões de Empresas por período
Após o fim do desenvolvimento, o
sistema foi implantado, e o cliente foi
devidamente treinado, finalizando assim o
projeto, conforme definição das etapas do
arcabouço (etapa de Implantação)
(PRESSMAN, 2011).
206
4. Resultado
Resultante desta pesquisa científica
envolvendo a tecnologia Java, banco de
dados MySQL e gerenciamento de projetos
com a metodologia ágil Scrum, foi criado o
Omicron Zeta GIPSS - Sistema de
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Gerenciamento de Informações de Plano e
Seguro Saúde, sistema para a
automatização do gerenciamento de
informações utilizadas na Jr&Marto
Consultoria e Seguros, que até então eram
realizados de forma manual.
objetivo, proporcionando aos seus clientes
um atendimento de qualidade, além de um
acesso rápido as informações do sistema.
Como já mencionado anteriormente, o
processo de desenvolvimento deste projeto
contou com o auxílio da Metodologia
Scrum, que por sua vez, proporcionou
maior velocidade no desenvolvimento e
comunicação contínua entre a equipe de
desenvolvimento e o cliente, evitando
assim, surpresas com o resultado final de
cada incremento do software. Além disso,
este processo auxiliou na priorização das
atividades e na elaboração de planos para
mitigar os ricos do projeto (pontos muito
exaltados pelo cliente). Porém, ao fazer
uso de uma metodologia de gerenciamento
há de certa forma, uma burocratização do
processo de desenvolvimento, pois acaba
provocando um aumento das atividades no
processo de desenvolvimento. Mesmo
assim, vale ressaltar que a inclusão deste
processo, não trouxe prejuízos ao projeto.
Durante todo o processo de
desenvolvimento do sistema Omicron Zeta
GIPSS - Sistema de Gerenciamento de
Informações de Plano e Seguro Saúde, a
metodologia SCRUM, junto à Engenharia
de Software auxiliaram na modelagem e no
processo de comunicação com o cliente.
Com o sistema em pleno
funcionamento, a corretora atingiu seu
5. Conclusão
A Metodologia Ágil Scrum foi de
grande relevância no controle e gestão do
desenvolvimento, pois através de suas
ferramentas, foi possível acompanhar a
evolução do projeto, além de auxiliar na
tomada de decisão para solucionar os
eventuais atrasos no desenvolvimento.
As técnicas do arcabouço utilizadas no
desenvolvimento auxiliaram para uma
comunicação eficaz com o cliente,
facilitando o mapeamento das necessidades
e a validação das etapas desenvolvidas, que
por sua vez, facilitou o alinhamento com as
necessidades identificadas.
Referências Bibliográficas
COHN, M. Desenvolvimento de Software com Scrum: Aplicando métodos ágeis com
sucesso. Porto Alegre: Bookman, 2011.
DEITEL, H. M.; DEITEL, P. J. Java: como programar. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2005.
GONÇALVES, E. Desenvolvendo Relatórios Profissionais Com iReport™ para Netbeans
IDE. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2009.
207
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
JASPERFORGE. iReport. Jasperforge Community, 2012. Disponivel em: <http://
j a s p e r f o r g e . o r g / w e b s i t e / i r e p o r t w e b s i t e / I R % 2 0 We b s i t e / i r _ d o w n l o a d . h t m l ?
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community.jaspersoft.com/search?query=plugins%20esp%20frs%20optional%20download>.
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NETBEANS. NetBeans IDE 7.2. NetBeans Community, 2012. Disponivel em: <http://
netbeans.org/downloads/index.html>. Acesso em: 1 Setembro 2012.
ORACLE CORPORATION. MySQL Workbench 5.2.42. MySQL, 2012. Disponivel em:
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PRESSMAN, R. S. Engenharia de software: uma abordagem profissional. Porto Alegre:
Mc Graw Hill, 2011.
SIERRA, K.; BATES, B. Use a Cabeça Java. Rio de Janeiro: Alta Books, 2010.
SOMMERVILLE, I. Engenharia de Software. São Paulo: Pearson Education - Br, 2011.
STARUML. StarUML Download. The Open Source UML/MDA Platform, 2012.
Disponivel em: <http://staruml.sourceforge.net/en/download.php>. Acesso em: 1 Setembro
2012.
208
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1
Raphael Tsavkko Garcia1
Do Local ao Ciberespaço : Uma introdução ao
Micronacionalismo
Recebido em: 26/11/2012 - Aprovado em: 12/12/2012 - Disponibilizado em: 26/12/2012
Resumo
Abstract
O presente artigo tem por objetivo
introduzir a atividade micronacional e
relacioná-la com fenômenos como a
fragmentação, desterritorialização,
globalização e outros dentro dos marcos da
cibercultura. Inicialmente se busca situar a
atividade na internet, entendida como um
novo veículo de atribuição de identidades e
de re-significação. Busca-se, através de
bibliografia diversa, situar o
micronacionalismo como uma atividade
real que tem como objetivo/fim a formação
de uma comunidade imaginada e de uma
cultura própria na internet em meio à
fragmentação de identidades e a
desterritorialização atual em que se
encontra o mundo. O homem re-significa
sua identidade na internet, criando uma
realidade alternativa, mas ao mesmo tempo
real e tangível e encontra um espaço
propício à criação de uma nova identidade e
agrupamentos humanos em um ambiente
virtual.
The present article has the main goal to
introduce the Micronational activity and
re l a t e i t w i t h p h e n o m e n o n ’s l i k e
fragmentation, des-territorialization,
globalization and others inside the marks
of the cyberculture Initially it searches to
situate the activity at the internet,
understood as a new vehicle of identity
attribution re-signification. It searches,
with the support of diverse bibliography, to
situate the as a real activity that has as an
objective/end the making of as Imagined
Community and a own culture on the
internet and within the current global
identity fragmentation and desterritorialization. The man re-signifies his
identity in the Internet, creates an
alternative reality but, at the same time,
tangible and real and it finds a favorable
space to the creation of a new identity and
human groupings in a virtual environment..
K e y w o r d s : M i c ro n a t i o n ; Vi r u t a l
Community; Desterritorialization.
Palavras-chave: Micronação;
Comunidade Virtual; Desterritorialização;
Micronacionalismo.
1Raphael
Tsavkko Garcia - Graduado em Relações Internacionais - PUCSP e Mestre em Comunicação - Cásper Líbero. Email: [email protected]
209
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
1. Introdução
O Micronacionalismo se apresenta
como uma atividade baseada – mas não
limitada – na internet, no ciberespaço
(consequentemente, virtual em seu locus),
mas uma atividade real, onde
compartilhamos e nos re-significamos
enquanto indivíduos.
Uma atividade em meio a um ambiente
de fragmentação identitária e
desterritorialização causada pela
globalização e situando-a como fenômeno
pouco conhecido da cibercultura,
diretamente influenciada pela chamada
compressão espaço-tempo; e apresentá-la
como um campo singular de resignificação, e relacionamento que vem de
encontro com o individualismo dos últimos
tempos, face à crescente necessidade de
compartilhamento.
Por fragmentação identitária
compreendemos a busca por uma nova ou
novas identidades, através das
comunidades virtuais e das redes de
comunicação, enquanto nada mais que
reflexos da globalização que vai de
encontro com a idéia clássica de sociedade
bem delimitada, causando então um
enfraquecimento e fragmentação da
2
Hall, 2001
3
Giddens, 1991
4 Ortiz, 1999; Haesbaert, 2004
5 Appadurai,
6
1990
210
1990, 1997; Haesbaert, 2004
identidade nacional2 que é logo retificada
ao se adotar uma nova identidade – tanto
subjetiva quanto objetiva – micronacional.
Por sociedade clássica e bem delimitada
entendemos a Modernidade, definida por
Giddens como um “estilo, costume de vida
ou organização social que emergiram na
Europa a partir do século XVII e que
ulteriormente se tornaram mais ou menos
m u n d i a i s e m s u a i n f l u e n c i a ”3 . A
Modernidade é a era do consumismo, da
racionalização da vida e do sujeito, do
capitalismo e, por fim, da industrialização.
A globalização é, ainda, responsável
pelo fenômeno conhecido como
desterritorialização4 das relações culturais
através da ampliação da identidade
individual em uma identidade coletiva e
que não respeita barreiras nacionais e não
precisa de um território para se fixar. Esta
identidade coletiva é o reflexo da busca
dos indivíduos por uma identidade baseada
em interesses comuns, por características
não-impostas ao indivíduo pelo Estadonacional e que foram fragmentadas.
Os indivíduos vão à internet em busca
de quem a ele seja semelhante e encontra
no micronacionalismo um campo fértil de
reterritorialização5 de sua identidade
individual. Segundo Appadurai6 e
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Haesbaert 7, toda desterritorialização gera
novas formas de reterritorialização e o
micronacionalismo nada mais é que uma
manifestação deste fenômeno. Na internet
os indivíduos buscam formar sociedade, ou
melhor8 , por sentir cada vez mais a
necessidade de se envolver com pessoas
que compartilhem algo em comum.
Não se fala apenas de deslocamento
físico, mas também em interação à
distância, através das redes onde é possível
“estar” em diversos lugares ao mesmo
tempo em uma verdadeira “mobilidade
virtual”, no que Lemos 9 nomeia como
‘territorialidades simbólicas”, ou seja, a
formação de coletivos, de comunidades,
um lócus de interação social integrado
ainda que os indivíduos se vivam em
cidades ou até países diferentes. É possível
hoje não só contatar, mas também agir
sobre territórios totalmente distintos do
nosso sem que precisemos nos locomover
fisicamente10 , criando assim a idéia de
multiterritorialidade e “territórios-rede”.
A fragmentação da identidade faz o
indivíduo viver em uma realidade
diferente, sem barreiras espaciais,
temporais e geográficas (tão)
significativas11 . E, ao mesmo tempo,
7
2004
8
Maffesoli, 1996
9
2002
10
Haesbaert, 2004
11
Hall, 2001
12
Rheingold, 1998, online
13
Hall, 2001
14
2002
buscar pessoas com as quais possa
compartilhar interesses em comum, uma
identidade próxima, uma maneira de se
relacionar socialmente, que são
aproximadas pelas redes de computadores,
que eliminam distâncias e criam um
mundo virtual e ao mesmo tempo real em
sua dimensão. As comunidades virtuais
nada mais são que agrupamentos humanos
construídos no ambiente virtual12. Estas
amplificam a realidade em um processo de
simultaneidade onde se ligam os espaços
físicos e digitais, tornados um só.
A internet – e seu reflexo no que é
conhecido como globalização - permite
que se adquira (crie, até) identidades
sempre que se queira. Há um afrouxamento
da identidade nacional (“macro”), o que
facilita a criação de laços com uma
micronação, com uma nova identidade
nacional não imposta, mas escolhida
livremente e fruto típico das sociedades
fragmentadas do séc. XXI, em busca de
algo que as conecte, que crie laços de
lealdade primordialmente culturais 13.
André Lemos14 nos propõe o termo
Cibersocialidade, abarcando desde a
socialidade meffesoliniana, os processos de
tribalização e resignificação social em
211
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
conjunto com as novas tecnologias do
ciberespaço e, a partir deste ponto
podemos compreender melhor o processo
de formação de laços culturais em uma
sociedade fragmentada em um ambiente
virtual, um processo de rompimento de
barreiras físicas, de abolição do espaço
físico e substituição pelo espaço virtual.
As comunidades virtuais são um porto
seguro ao indivíduo jogado em meio à
tormenta informática e um locus social
onde este pode se encontrar, se resignificar.
O micronacionalismo surge como uma
ampliação de nossa percepção de
pertencimento, de comunidade15 em meio à
fragmentação e à globalização –
compreendida como uma dialética entre o
local e o global16 – em uma sociedade de
cultura dinâmica, de uma “nova
cidadania”, ligada à velocidade das
informações e das relações globais e
globalizadas, não mais definidas em
termos de fronteiras estatais, jamais uma
“simulação do mundo” na visão de
Baudrillard quando este defende que o
ciberespaço não permite verdadeiras
simulações, mas apenas a simulação
destas 17, numa visão pessimista de que
temos hoje a mera circulação de
informações e não um processo de
aproximação e relacionamento entre os
diversos indivíduos pelo mundo.
2. Micronação enquanto EstadoNação
15 Anderson,
2005
16
Siqueira, 2003
17
Baudrillard In Lemos, 2002
212
Micronação é o termo consagrado,
derivado do inglês “Micronation”, cuja
melhor tradução em Português seria
“Micropaís”. A micronação pode ainda ser
chamada – e por vezes o é – de MicroEstado ou apenas de Nação em Miniatura
que aponta para uma existência real e não
simulada. Não se trata de uma imitação,
mas, nada além de uma realidade plena,
com regras e características próprias.
Se tomarmos como base a usual
classificação de Estado, sendo: Monopólio
do uso da força; Legitimidade e Soberania
(sobre povo/território); Governo
constituído; Território propriamente dito.
As micronações, possuem um território,
virtual, sobre o qual exerce de fato
soberania, sendo estes suas listas de
discussão, sites e afins. As micronações
possuem governos que são legitimamente
constituídos por seus cidadãos, pelo povo,
e sobre ele exerce soberania e é respeitado
e, como não poderia deixar de ser, por ter
controle único das listas, sites,
comunidades e etc onde se desenrola a
atividade micronacional, possui o
monopólio legítimo da força, que seria o
poder de moderação, suspensão e até
expulsão do cidadão.
Estado é a entidade necessária em que
se observa o exercício de um governo
dotado de soberania para exercer seu poder
sobre uma população, num determinado
território, onde se cria, executa e aplica seu
ordenamento jurídico, visando ao bem
comum.
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
Chega-se, então, à conclusão de que o
Estado é uma entidade soberana político e
juridicamente organizada18 que abarca uma
população definida (àquela que escolheu
por livre e espontânea vontade adentrar à
micro, assinar o contrato, poderíamos
dizer) sob um território definido, virtual e
por vezes também referencial.
3. Teoria Geral do Estado
Micronacional
“uma micronação é uma simulação política e
de sociedade, em que pessoas
voluntariamente escolhem participar,
aceitando suas ‘regras’ (leis) e
‘parceiros’ (concidadãos)”19 .
Indo além destes conceitos, a maioria
das micronações lusófonas adota a noção
de Território Referencial. Uma referência
reivindicativa (virtualmente e apenas entre
a as comunidade virtuais ditas
micronacionais) de um território físico no
globo terrestre (ou por vezes no espaço
onde, segundo Virilio20 se dará a nova
18
Góes; Garcia, 2007, online
19
Cava, 2004
20
2000
21
Góes; Garcia, 2007, online
corrida mundial por território por parte das
grandes potências) que não pode de
maneira alguma passar despercebida ou ser
ignorada.
A micronação possui, portanto, um
lócus virtual delimitado chamado de
Território Virtual, que consiste em suas
listas, grupos, sites e tudo mais que possa
ser administrado por seus membros em
função da atividade e ao mesmo tempo um
lócus “por convenção” territorial,
referencial ainda que, por vezes, não seja
adotado e não tenha absolutamente
relevância além da mera referência lúdica
– o que não impede aos mais ferrenhos
modelistas/virtualistas lutas e conflitos
com utilização de e-mails bombas e vírus
além de táticas hacker na “defesa” de seu
território-referência.
Abaixo, é apresentado um esquema
simples da configuração do Estado
Micronacional em contraposição – ou
complementaridade – ao Estado clássico 21.
213
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
a. Povo/População: Cabe, antes de
mais nada, distinguir Povo de População, o
segundo sendo apenas um indicador
numérico de quantas pessoas residem ou
estão momentaneamente em uma
micronação, na comunidade e o primeiro
um fenômeno que depende da identificação
e criação de laços, da formação de uma
identidade nacional e corresponde apenas
aos nacionais, os de fato identificados com
uma micronação específica. Vale notar que
em ambos os modelos de Estado
Micronacional o elemento Povo/População
– chamado doravante “Povo” – é
preponderante, pois é elemento primeiro e
essencial para a existência de qualquer
comunidade. Todos os elementos – direta
ou indiretamente – restantes existem para e
em função do Povo.22
22
Góes; Garcia, 2007, online
23
Silva, 2002, online
24
Levy, 1996, Silva, 2008, online
214
b. Território (Virtual): É a área, o
“lugar virtual”23, onde a nação exerce sua
soberania, onde sua população encontra-se
e no caso micronacional, este lócus que dá
sentido a um tipo de relação social são as
listas de discussão (YahooGrupos,
GoogleGroups, etc), sites (www), chats de
MSN, ICQ, mIRC e outros, comunidades
sociais e etc.
Este Território (Virtual) nada mais é que
um território digital, algo como um
corredor de movimentação de informações
e imagens que demanda organizar zonas de
fixação24 e estas zonas de fixação seriam
exatamente as listas e demais meios
utilizados pelos micronacionalistas para
suas comunicações diárias.
c. Território Referencial ou de
Referência: Elemento Acessório e
resquício dos primórdios do
Augusto Guzzo Revista Acadêmica - No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
micronacionalismo, mas em muitos casos
mantido pelo valor simbólico e pela
identificação já fundamentada ou ainda em
respeito à uma história em comum em que
se baseia a nacionalidade, o Território
Referencial nada mais é que a
reivindicação de um território do globo
terrestre (i.e Ilha de Reunião, Ilha de
Marajó, sua própria casa, etc.) de maneira
apenas virtual, ou seja, apenas de
“brincadeira”.
Em realidade, esse território “extramicronacional” é reclamado por uma
micronação que nele exerce uma soberania
apenas referencial e é, portanto,
comumente reconhecido pelas demais. Em
alguns casos tal Território é utilizado como
elemento cultural, seja por Referência
Geográfica – quando este serve apenas
para delimitar “fronteiras” – ou ainda
como Referência Cultural onde, além da
área geográfica, a micronação adota ainda
a cultura e os costumes deste local,
adaptando para o mundo micro uma
identidade cultural macro.
Os Territórios Referenciais são, de fato,
fictícios, não refletem o “estar”, o lócus
micronacional, servindo apenas como
diversão e como referência histórica e
criando então uma história e uma
identificação comum. É uma mera
abstração subjetiva que não está presente
na concepção do Estado Micronacional
Clássico e apenas no Modelista e, como se
vê, está claramente ligado ao Estado e
indiretamente ao Povo.
d. Soberania/Governo: Em primeiro,
deve-se diferenciar os elementos, estando o
primeiro diretamente ligado ao Povo –
Soberania Popular – e ao Território,
25
também relacionada tenuemente ao
Te r r i t ó r i o R e f e r e n c i a l n o s c a s o s
Modelistas. No micronacionalismo a
Soberania passa pelo controle (ownership)
por parte do governo das listas de
discussão onde acontece primordialmente a
atividade micronacional, porém, vale
lembrar que o Poder micronacional assim o
é caracterizado, através do consentimento.
Os verdadeiros soberanos o são por mero
consentimento do Povo e governam sobre
um território porque os demais
micronacionalistas consentem e
compartilham da idéia.
Quanto ao Governo, é possível
descrevê-lo como:
“O conjunto de pessoas que exercem o poder
político e que determinam a orientação
política de determinada sociedade. (...)
Existe uma segunda acepção do termo
Governo mais própria do Estado moderno, a
qual não indica apenas o conjunto de
pessoas que detêm o poder de governo, mas
o complexo de órgãos que
institucionalmente têm o exercício do
poder”25.
e. Soberania Virtual ou Relativa:
Ligada intimamente ao Território
Referencial, esta categoria existe apenas
nos casos Modelistas, implica no
reconhecimento de determinado território
de referência de uma micronação por outra,
validando os litígios territoriais
micronacionais. Atribui-se a esta categoria
acessória os mesmos elementos e
características da Soberania propriamente
dita, porém aplicada exclusivamente ao
Território Referencial e respeitando as
devidas limitações e o fato deste Território
ser apenas nominalmente parte da
micronação.
f. Objetivo de Identificação Cultural
(OIC): Intenção de criar uma Identidade
Levy In Bobbio, 2000
215
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
cultural. É a intencionalidade de se formar
uma identidade nacional através da
formação de laços culturais entre os
indivíduos de uma micronação.
4. Micronacionalismo versus
MMORPGs e RPGs
Cabe, de início, definir MMORPGs
(Massive Multiplayer Online Role-playing
Games) como jogos de interpretação online, similares aos jogos de RPG (Role
Playing Game), onde os indivíduos
assumem personas, avatares ou
personagens dentro de um “mundo
sintético”, ou seja, “um ambiente
expansivo, similar a um mundo, para um
grande número de pessoas, feito por
humanos, para humanos e mantido,
gravado e renderizado por
computadores”26 .
Diferenciamos o Micronacionalismo de
um simples jogo MMORPG ou RPG pelo
primeiro não ser meramente “similar a um
mundo” senão parte integrante deste
mesmo mundo em que vivemos, em outras
palavras, o micronacionalismo é parte de
nossa realidade, sendo uma ampliação
desta não se constituindo, portanto, em um
mundo separado, similar ou parecido com
o que vivemos.
Ainda que, segundo Rheingold27 o
agrupamento de jogadores, por afinidade,
acabe por criar relações de amizade e
confiança ao participar em um dos mundos
26
Castronova, 2005
27
1998
28
1958/2001
29
Castronova, 2001
216
sintéticos de um jogo em particular,
criando algo como uma proto-comunidade
imaginada, Caillois28 afirma ser o jogo
uma atividade essencialmente “separada:
circunscrita dentro de limites de tempo e
espaço, previamente definidos e fixados”.
Os jogos são meros intervalos, escapes
da vida real, do dia-a-dia, meios de
relaxamentos e nada mais, o
micronacionalismo é um projeto de
sociedade.
Os jogos MMORPG e RPG são,
invariavelmente, criados como um
universo pronto, com regras pré-definidas
que devem ser cegamente seguidas por
todos os participantes. A história e o
enredo são igualmente pré-definidos e em
alguns casos há um mestre único que
comanda a história e o desenvolvimento da
história. Busca-se, nestes jogos, interação
social29, porém esta tem por base a nãorealidade, os personagens fictícios, e os
objetivos dos jogos se resumem aos
simplórios “ganhar”, “zerar”, “acumular”
ou “ser melhor que o inimigo” enquanto o
micronacionalismo se constrói
diariamente, sem um fim último que não o
de sua constante reprodução e
continuidade..
5. Comunidade Imaginada e
nacionalismo
O Micronacionalismo “existe” em uma
realidade alternativa ou aumentada que
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coexiste livremente com nossa realidade
física e “real” e age como um ponto de
fixação das relações sociais. O
micronacionalismo – através do que
chamamos de seu Território (virtual) - é,
portanto, uma realidade virtual, com
memória coletiva, identidade e limites
próprios e trocas simbólicas que
potencializa a experiência com o espaço e
ainda assim permanece real e com ele
conectado sendo apenas uma outra
dimensão do espaço, inserido em uma
ciberexistência.30
Esta realidade virtual propicia uma rede
de relacionamentos entre pessoas, reproduz
relações sociais e produz identidades que,
no micronacionalismo, são ampliadas até
se tornarem realmente embriões de um
sentimento nacional, uma forma de
pertencimento específica da atividade e
que encontra eco nas Comunidades
Imaginadas de Anderson31 ou ainda, nos
mundos imaginados.32
“[...] comunidade política imaginada
– e imaginada como implicitamente
limitada e soberana. Ela é imaginada
porque nem mesmo os membros das
menores nações jamais conhecerão a
maioria de seus compatriotas, nem os
30
Rheingold, 1998, online
31
2005
32 Appadurai,
33 Anderson,
encontrarão, nem sequer ouvirão
falar deles, embora na mente de cada
um esteja viva a imagem de sua
comunhão.”33
O ser humano busca, portanto, sua
comunidade imaginada34, busca escapar de
sua “identidade imposta” ligada à origem e
através do lugar de origem35 vinda do
Estado-Nação e criar a sua própria em um
ambiente virtual – em uma micronação –
de livre escolha e construindo com o
coletivo uma nova identidade livre. O
micronacionalismo nada mais é que esta
comunidade imaginada que difere das
demais apenas em escala, não em
substância36 e é construída não do nada,
mas sociologicamente, por meio da mídia e
das relações sociais. Não é um simulacro
do que a sociedade deveria ser – utopia –
mas uma sociedade em si, em constante
processo de construção e com
características próprias e únicas.
Podemos ainda ampliar a idéia de
A n d e r s o n37 e t r a t a r d o s m u n d o s
imaginados38 , entendendo-os como “os
múltiplos universos que são constituídos
por imaginações historicamente situadas de
pessoas e de grupos espalhados pelo
globo”.
2004
2005
34
Idem
35
Bourdieu, 1998
36
Goés, 2007
37
2005
38 Appadurai,
2004
217
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A identidade é algo que se adquire, é
formada com o tempo, mas é ao mesmo
tempo e paradoxalmente imposta pela sua
nacionalidade, pelos costumes de seus
vizinhos imediatos.
O micronacionalismo é uma busca por
criar livremente uma nova identidade, uma
nova comunidade imaginada sem a
tentativa de homogeneização e
padronização que ignora qualquer tipo de
diferença em um espaço de comunicação,
espaço virtual, que não existe em oposição
ao real.
Podemos ainda considerar o
micronacionalismo uma atividade de
agregação identitária e embrião de uma
real comunidade. Segundo o autor, existem
algumas características que afirmam a
experiência comunitária, todas de caráter
sentimental e que concordam com
Anderson 39 quando este diz que os
aspectos centrais do sentimento de
comunidade são a fraternidade e o
sentimento de cumplicidade e proximidade
entre os indivíduos.
O micronacionalismo é um espaço para
criação de identidades a partir das
diferenças. É a combinação ou
recombinação e a hibridização cultural
levada ao seu grau máximo, ainda que
submetido a um corpo de regras e leis préestabelecidas. Esta tese está em
conformidade com Castells 40, que afirma
ser a internet o veículo preferencial de
conexão que ultrapassa os limites físicos
39
2005
40
2003
41
2002
42
2002
218
do quotidiano, propiciando a proliferação e
desenvolvimento de projetos individuais
com o objetivo de dar sentido à vida a
partir do que se é e do que se quer ser.
O
“nacionalismo”
em
“micronacionalismo” nada mais é que um
sentimento de pertencimento, que vem da
partilha de interesses comuns em uma
comunidade e do convício diário com os
demais participantes desta em um ambiente
virtual com regras, conflitos, partilhas,
identificação, união, inovação e memória
coletiva.
Lemos41 dá ainda a definição perfeita do
“sentimento nacional” próprio das
comunidades virtuais ao afirmar que é
nelas onde existe, por parte de seus
membros, o sentimento expresso de uma
afinidade subjetiva delimitada por um
território simbólico, sendo o
compartilhamento de emoções e a troca de
experiências essenciais para a coesão do
grupo e, por conseqüência, do sentimento
nacional.
Seguindo Lemos 42 podemos concluir
ainda que a aderência do indivíduo a um
projeto específico depende de seus
interesses presentes e o sentimento de
aderência permite múltiplos
pertencimentos permitindo que o indivíduo
navegue de um grupo ou uma comunidade
à outra, de uma micronação à outra em
busca de uma real aderência que complete
seus interesses individuais.
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Outro fator que diferencia as
comunidades virtuais das comunidades
tradicionais é a ausência de território, de
uma localização geográfica. A existência
de uma base territorial fixa não é mais
necessária, embora o ciberespaço
apresente-se como um espaço público
fundamental para a existência de
comunidades virtuais, um território
simbólico.43
direito, assuntos culturais, sociologia,
geografia. A Micronação pode ser tanto
uma simulação de um país inventado, um
projeto totalmente inovador, ou a cópia de
um modelo social, cultural e político já
existente.
Tal afirmação está parcialmente correta
no que concerne às micronações enquanto
comunidades virtuais e imaginadas, por um
lado estas existem no ciberespaço, sem
limitação geográfica ou fronteiras físicas,
porém, adota suas listas de mensagens –
estruturada em um estabelecimento virtual
ou virtual settlement -, seus sites, seus
grupos de e-mail e outras ferramentas
como Território Virtual. Como afirma
Recuero44 , a comunidade virtual possui
fronteiras simbólicas e não concretas em
um espaço abstrato, mas delimitado, há um
senso de lugar e um lócus virtual, ou seja, é
um lugar demarcado no espaço, onde os
indivíduos participantes da comunidade
encontram-se para estabelecer e manter
relações sociais. Esta delimitação ao
espaço abstrato é entendida como uma
limitação imaginária, construída por nós
mesmos 45.
O Micronacionalismo é fruto da
globalização e do pós modernismo em que
estamos inseridos hoje, uma atividade de
socialização e sociabilização, com
características próprias e únicas em um
espaço social próprio, o ciberespaço.
Uma micronação, em suma, nada mais é
que uma Comunidade Imaginada, que se
atribui características de Estado-Nação.
Um lócus de contato, comunicação e
relacionamento de pessoas interessadas
primeiramente em política, passando por
temas relacionados a partidos, história,
43
Corrêa, 2005
44
2001, online
45
Recuero, 2003, online
6. Conclusão
As identidades fragmentadas dos
indivíduos se encontram em um locus ou
território organizado e regido por leis
próprias e funcionamento único, que se
diferencia do mero jogo – celebrizado
pelos MMORPG’s – com
compartilhamento e instantaneidade
inegáveis e a criação de profundos laços de
sentimento nacional.
O estudo do micronacionalismo é o
estudo mais profundo de uma das mais
relevantes facetas da cibercultura,
fenômeno este que tem por base o
ciberespaço e o relacionamento de
indivíduos dispersos em comunidades
virtuais e a formação de laços tanto virtuais
quanto reais e duradouros entre os
indivíduos desta comunidade.
Cada micronação pode ser interpretada
como uma micro-comunidade virtual que,
unidas, formam uma comunidade virtual
219
Augusto Guzzo Revista Acadêmica -No 10 - dezembro de 2012 - São Paulo: FICS
com características próprias e únicas,
conhecidas como fonias e, indo além, um
corpo único que agrega a todas as fonias
nos seus relacionamentos diários, o
micronacionalismo.
A internet promove um
“compartilhamento temporal”, pois
promove uma aproximação, no mesmo
solo nacional, de atos e atores que não
precisam estar necessariamente ligados por
laços étnicos, culturais e nacionais, porém,
o sentimento de pertencimento de um
grupo a uma coletividade se dá quando ele
se conhece e se reconhece como uma
comunidade. Entende-se esta visão
enquanto interpreta “solo” por território
(virtual) micronacional, onde diversos
indivíduos se juntam sem antes possuir
qualquer tipo de laços senão os de um ou
outro interesse comum e visam à formação
de uma identidade nacional a partir destes
e apenas destes interesses não havendo
qualquer tipo de laço de identidade
nacional ou cultural previamente existente.
O espaço passa a ser entendido por
redes comunicacionais ou pelo
emaranhado destas, onde a difusão de
informações acaba por reduzir as distâncias
e reunir indivíduos dos mais diversos
lugares no globo em um único território
virtual marcado pela presentificação e
interatividade on-line que subverte a
percepção espacial e temporal. Da simples
utilização de grupos de discussão e Boards
a criação de sites e sistemas políticos
complexos observamos um longo período,
muito trabalho e um constante processo de
criação e re-criação, culminando com uma
sociedade complexa, uma cibercultura
específica e forte, contando com milhões
de adeptos pelo mundo em projetos que
vão desde o peculiarismo torpe até
complexos sistemas políticos e legais.
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