1 - SOI
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0 ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES ADEMAF – Agência para o Desenvolvimento das Macrorregiões e Zonas Fronteiriças ADEPA – Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas AUC – Autodefesas Unidas da Colômbia BACRIM - Bandas Criminais CAN – Comunidade Andina de Nações CASA – Comunidade Sul-Americana de Nações CELAC – Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos COFINS – Contribuição para o Financiamento de Seguridade Social COLBRA – Operação Colômbia-Brasil COMBIFRON – Comissão Binacional Fronteiriça CONFECH – Confederação dos Estudantes Universitários do Chile DIVAN – Direção de Vigilância da Amazônia ELN – Exército de Libertação Nacional ERPAC – Exército Popular Anti-Subversivo da Colômbia EUA – Estados Unidos da América FAB – Força Aérea do Brasil FAP – Força Aérea do Peru FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia FEUC – Federação dos Estudantes da Universidade Católica IIAP – Instituto de Investigação da Amazônia Peruana LCDS – Projetos de Desenvolvimento Baixo em Carbono MPL – Movimento Passe Livre ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas OSCE – Organização para Segurança e Cooperação na Europa OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica PEC – Projeto de Emenda Constitucional PEMEX – Petróleos Mexicanos PIB – Produto Interno Bruto PIS – Programa de Integração Social PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 1 REDD – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos SIAMAZÔNIA – Sistema de Informação da Diversidade Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana SIP – Sociedade Interamericana de Imprensa SIPAM – Sistema de Proteção da Amazônia SISFROM – Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia SIVORAM – Sistema de Vigilância do Orenoco e da Amazônia UNAH – Universidade Nacional Autônoma de Honduras UNAM – Autônomos da Universidade do México UNASUL – Unidade de Nações Sulamericanas UNEDOR – Unidade de Desenvolvimento da Fronteira Norte URSAC – Unidade de Registro e Seguimento de Associações Civis 2 CARTA DE APRESENTAÇÃO Prezados(as) Delegados(as), Bem vindos! Após meses de trabalho e dedicação e, também claro, em meio a outros momentos de descontração e diversão, é chegada a hora! É com muito orgulho que apresentamos o Guia de Estudos da Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos (CELAC). O guia foi concebido para ser o primeiro contato dos delegados com a CELAC e com as nossas duas temáticas: A) Liberdade de expressão e a repressão estatal sobre manifestações populares e meios de comunicação na América Latina e Caribe; B) A Soberania Amazônica: A Definição de mecanismos de defesa e fiscalização das fronteiras da região. Os seis diretores deste comitê trabalharam com muito afinco para a produção deste material. Portanto, nada mais justo que nós nos apresentarmos antes dos senhores iniciarem a leitura do Guia de Estudos propriamente dito, para que vocês tenham uma ideia do que os espera nesta simulação (Muahaha!). Sem mais delongas, apresentamos: Andrey Miranda Albuquerque de Oliveira, o diretor mais velho da CELAC (você já pode perceber isso por sua clara falta de cabelos, #ExperienteComCaradeNovinho) cursa com muita lamentação, tristeza e decepção o 9º período do curso de Direito #DireLamentação #MinhaCamaMinhaVida. Em seu tempo livre, costuma assustar os coleguinhas com fotos do snapchat de sua querida e amada Angelina. Não, não é a Jolie, tampouco sua amante secreta. É sua cadelinha, que, cá pra nós, deve ter sido resultado do cruzamento de Bellatrix com Mr. Bean #PêPêOh #BloqueiaAndreyDoSnapchat. O idealizador do comitê tem “sangre latino” correndo em suas veias e sabe de cor as músicas latinas mais estranhas e bizarras. Já tentamos várias vezes mandar um vídeo dele para aquele programa da Ana Maria Braga “Cantando no chuveiro” (alguma coisa assim), mas seus ideais #AntiGlobo #ForaCapitalismo não permitiram sua participação no programa. Apesar de tudo isso, Andrey ou ddy para os íntimos é um indivíduo muito querido pela SOI e por seus amiguinhos de comitê. Se não fosse por isso, eu mesmo (jamais saberão quem é, hohoh) teria deixado ele abandonado em algumas de muitas vezes que esse jovem resolveu trocar ice por 51 nessas festas de meu Deus #VídeosFalamMaisQuePalavras #AmizadeBaseadaEmInteresses. Ah, pra terminar, se quiser 3 ser amigo desse meu amigo: 1) não pode ser mais amigo que eu; 2) saiba fazer café; 3) seja petista e ame Dilmão #ÉdosMeus; e 3) ame Angelina. É isso galera, VLW FLWS Felipe Veras Soares, a.k.a. Veros (entendedores entenderão!) cursa o 9° período do glorioso curso de Direito da UFRN. Apesar de sua aparência ~engomadinha~, caros delegados, não se deixem enganar! Veros, em suas horas vagas, rouba canjicas e pamonhas de festas juninas, cai em frente ao seu prédio, entre outros hobbys #radicais. O principal deles é fingir que protagoniza Velozes e Furiosos e sair aterrorizando os motoristas e pedestres da cidade de Natal. Esse dire finge também que é esquerdista, mas deixa o espírito capitalista possuí-lo ao trocar de celular como se troca de roupa (o recalque de vocês bate na tela do iPhone 5s de Veros e volta! #beijinhonoombro). Apesar de tanta #passação, Veros tem uma vasta experiência em simulações e foi uma das cabeças pensantes que idealizou nosso comitê (não merece só Palmas, mas o Tocantins inteiro). Gabriel Victor Rodrigues Pinto, quando não está no estágio ou em reuniões da SOI, ele tenta cursar o 4° período de Direito da UFRN. Com apenas 20 anos, o nosso direnovinho (ou dire-mascote) já pode ser considerado um prodígio da SOI (#NovinhoRevelação), devido à sua eficiência no comitê (graças a ele temos um Sumário no Guia!) e por estar sempre disposto a defender a CELAC do recalque alheio com “sangre latino”. No entanto, CUIDADO: Forte candidato a dire-fofo, devido à cara de bom moço, Gabriel pode ser um lobo em pele de cordeiro (“eu sou nojeeento!”). Formado técnico de Informática pelo IFRN-Mossoró, dizem por aí que ele é capaz hackear sites de organizações internacionais (É VERDADE!) para conseguir o que deseja. Ademais, o diretor é também um aspirante à carreira diplomática e pretende ingressar no Instituto Rio Branco. Mas poucos desconfiam dos seus planos por trás deste sonho de ser diplomata. A grande verdade é que Gabriel é um imigrante clandestino, natural de Mossoró (#CidadeJunina), que veio para a capital potiguar como um retirante em busca de oportunidades e se naturalizou natalense (transferiu o título de eleitor para Natal! lol)... Contudo, ele nunca se esqueceu das suas raízes mossoroenses e tem planos ardilosos para, no futuro, tomar o poder dentro do Itamaraty, iniciar um movimento separatista do País de Mossoró e governar soberano na Capital do Oeste... José Vinícius Leite de Queiroz cursa, atualmente, o 7º período de Direito da UFRN. Ele também é conhecido como Gaspar, pois sua pele incrivelmente clara – taxa de albedo 87% – nos faz lembrar o famoso fantasminha camarada. Com muita proeza, Vini além de 4 conseguir pagar um grande número de matéria pela manhã e pela noite, arruma tempo de cumprir seus horários no PRH e em suas pesquisas acadêmicas. Recentemente, inclusive, ele foi objeto de estudo do Globo Repórter, visto que até hoje ninguém sabe, ao certo, quando ele consegue tempo para dormir e se alimentar. Nas horas vagas, Vinícius costuma acompanhar o grupo "Bazar Novos & Usados" do Facebook e fazer algumas compras. Para ele, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se reaproveita. Além disso, Vini aos poucos está desenvolvendo suas aptidões artísticas. Atualmente, ele está concentrando seus trabalhos na edição de imagem, à medida que vai descobrindo novos aplicativos de montagem. Todos já fomos cobaias dele. Marília, à propósito, teve uma de suas fotos brilhantemente recriada pelo mestre Vinícius, que concordou, até, em expor sua obra mais importante durante a cerimônia de abertura da SOI. Finalmente, é interessante lembrar apenas que fortes boatos indicam que, todos os domingos, Vinícius faz um gigantesco churrasco na sua mansão de luxo, e tem sempre como convidado seu célebre vizinho: Junior do Grafithão. Ele pretende marcar uma edição especial do evento com todos os delegados #GaletadaComGrafith. Lais Costa de Albuquerque Santana, a diretora mais novinha com apenas 20 anos, cursa sem muito sofrimento o 5° período do curso de Direito. É a primeira vez que participa como diretora do comitê da SOI, e pasmem logo no melhor #Sedutora #SobeRápidoNaVida. Famosa por sua bela escrita – Paulo Coelho que se prepare –, encantou a todos com sua redação no guia do SiNOMUN #bonitaeinteligente. Ficou com tanta moral que se esqueceu de ir às reuniões. #cadeLais? Além do seu imeeeenso crédito, ela também culpa a secretaria de transporte público coletivo, que a impedia constantemente de se locomover. Se você quer conquista-la, caro delegado, não apoie as greves do busão. Mas uma dica é certa, se ela gostar de você, irá beber tooodas e tirar bastantes fotos que logo irão se espalhar nas redes sociais. #alouca #largaocelular. Marília Menezes Machado, mais conhecida como #direpipa, é a Diretora mais viajada da CELAC, quiçá de toda a SOI. Vivendo basicamente de viagens que variam entre Pipa, França e Parnamirim, nas horas vagas Marília cursa o 7° período de Direito na UFRN, além de ser a nossa Diretora multiuso. Dona de dotes culinários (ela é quase dona de uma pizzaria, uma verdadeira #direDelivery) a alguns bem capciosos, Marília entrou na CELAC com duas promessas: a de que levaria uma garrafa de Tequila para TODAS as reuniões (por coincidência foi a primeira a ser escolhida na seleção de diretores) e a de que faria QUALQUER coisa (sim, QUALQUER coisa) para satisfazer seus Diretores. Por ser dona de 5 uma paciência invejável e grande objetividade em suas decisões, Marília teve a sorte de ter seu coração atingido pelo cupido e já namora há alguns (MUITOS) anos e aguarda ansiosamente pelo pedido de noivado que nunca chega (já está tudo comprado: enxoval, vestido de casamento, convites). Ainda, sempre que presente nas reuniões nos presenteia com sua inteligência e beleza. Marília é a dona das mais belas fotos que representam nosso comitê (em anexo) e por mais que #azinimyga teimem em dizer que é montagem, é um consenso na CELAC que Marília e nossa #DireTopModel. Gostaríamos ainda de agradecer a colaboração da nossa tutora, diretora da SOI ad aeternum, a querida Rafaela Romana. Ela que, mesmo formada, super nos ajudou, incentivou, aconselhou e, principalmente, tirou muita onda durante toda a nossa trajetória, seja nos fornecendo material, analisando nosso Guia e nos passando várias dicas, como também “caningando” nossas vidas no Whatsapp, com o seu humor peculiar, sempre nos fazendo sentir amados e especiais kkk (Valeu, Romana!). Agradecemos também a Zeca, nosso corretor-material do Guia, que mesmo de longe (Brasília!!) se dispôs a nos ajudar e foi fundamental para a conclusão deste material. Muito obrigado a vocês e a todos que, mesmo indiretamente, nos ajudaram a produzir este trabalho. Feitos os agradecimentos e as devidas apresentações, lembramos que a leitura do Guia de Estudos é fundamental, mas não é tudo. Por fim, gostaríamos de desejar aos senhores delegados um bom estudo e uma excelente SOI 2014! Até outubro!! Atenciosamente, Andrey Miranda, Felipe Veras, Gabriel Rodrigues, José Vinícius, Laís de Albuquerque e Marília Menezes. 6 Sumário 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9 2 SOBRE A COMUNIDADE DOS ESTADOS LATINO-AMERICANOS E CARIBENHOS .. 10 2.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CELAC: A CONVENÇÃO DE CARACAS DE 2011 E O PLANO DE AÇÃO DE 2012 ..................................................................................................... 10 ASPECTOS HISTÓRICOS DA AMÉRICA LATINA E CARIBE ...................................... 12 2.2 2.2.3 Luta contra o neoliberalismo ........................................................................................... 12 2.3 A INTEGRAÇÃO REGIONAL LATINO-AMERICANA E CARIBENHA ....................... 14 2.4 A CRIAÇÃO DA CALC .................................................................................................... 15 3 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA CELAC ............................................................. 16 4 TEMA A – LIBERDADE DE EXPRESSÃO E A REPRESSÃO ESTATAL SOBRE MANIFESTAÇÕES POPULARES E MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA.... 19 4.2 AS MANIFESTAÇÕES NA AMÉRICA LATINA ............................................................. 20 4.2.1 Os protestos no Brasil ..................................................................................................... 21 4.2.2 Os protestos no México .................................................................................................. 25 4.2.3 Os protestos no Chile ...................................................................................................... 27 4.2.4 Os protestos na Argentina ............................................................................................... 29 4.2.5 Os protestos na Venezuela .............................................................................................. 31 4.3 CENSURA AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ............................................................... 33 4.3.1 Liberdade de Expressão em Cuba ................................................................................... 34 4.3.2 A situação de Honduras .................................................................................................. 34 4.3.3 Outros casos ................................................................................................................... 35 4.3.3.1 México ........................................................................................................................... 35 4.3.3.2 Brasil.............................................................................................................................. 36 4.3.3.3 Argentina........................................................................................................................ 37 4.4 A ATUAÇÃO DA CELAC ................................................................................................ 38 5 TEMA B - A SOBERANIA AMAZÔNICA: A DEFINIÇÃO DE MECANISMOS INTEGRADOS DE DEFESA E FISCALIZAÇÃO DAS FRONTEIRAS DA REGIÃO.................. 40 5.1 O BIOMA AMAZÔNICO E SUAS CARACTERÍSTICAS ................................................ 40 5.2.1 A Amazônia brasileira .................................................................................................... 44 5.2.2 A Amazônia peruana. ..................................................................................................... 46 5.2.3 A Amazônia colombiana ................................................................................................. 49 5.2.4 A Amazônia venezuelana................................................................................................ 50 5.2.5 A Amazônia equatoriana ................................................................................................. 52 5.2.6 A Amazônia boliviana .................................................................................................... 54 7 5.2.7 A Amazônia guianesa e surinamesa ................................................................................ 56 5.2.8 A Amazônia da Guiana Francesa .................................................................................... 59 5.3 OS CONFLITOS ARMADOS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE E A INVASÃO ILEGAL NA REGIÃO AMAZÔNICA .......................................................................................... 60 5.3.1 As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia .......................................................... 62 5.3.2 O Exército de Libertação Nacional.................................................................................. 64 5.3.3 As Autodefesas Unidas da Colômbia .............................................................................. 65 5.4 A ATUAÇÃO DA CELAC NA QUESTÃO E OS PROBLEMAS A SEREM ENFRENTADOS .......................................................................................................................... 67 5.4.1 O Plano de Ação de Caracas de 2012 .............................................................................. 68 5.4.2 O Plano de Ação de Havana de 2014 .............................................................................. 69 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 71 7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 72 8 1 INTRODUÇÃO Senhores delegados, será simulada neste comitê a Cúpula dos Chefes de Estado e Governo da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC).Esta organização regional é composta por 33 (trinta e três) Estados do continente americano, com a exceção de Estados Unidos e Canadá. Os membros da CELAC submetem-se à Declaração de Caracas de 2011, tendo entre os seus objetivos, a promoção dos direitos humanos nas mais variadas problemáticas, bem como a proteção à soberania latino-caribenha. Assim, vale destacar pontos de extrema relevância: A América Latina, ao longo de toda sua história, marcada por regimes de exceção, foi e ainda é palco de forte repressão estatal. Ainda nos dias atuais, muitos Estados se utilizam muitas vezes da força para conter e criminalizar manifestações populares, e além de estabelecer censura sobre meios de comunicação. Tais atitudes atingem diretamente um direito basilar de qualquer democracia: a Liberdade de Expressão. Dessa feita, caberá aos governos, reunidos nesta Cúpula, comprometerem-se com a manutenção da Democracia assegurando a Paz Social sem mitigar a Liberdade de Expressão dos Povos. Outro foco desta Cúpula será a soberania amazônica. Em virtude da notável permeabilidade fronteiriça, os governos da região amazônica têm se comprometido em fortalecer o monitoramento de suas fronteiras com algumas medidas como o aumento da presença do exército na área. O crescente comércio de narcóticos na região, além de diversos conflitos armados e da promoção da biopirataria dos recursos naturais da região estão entre os principais aspectos a serem discutidos. Em razão disto, a CELAC, em sua próxima Reunião de Cúpula, deverá se debruçar, também, sobre a definição de mecanismos de cooperação entre seus países-membros para que se atinja um maior grau de segurança e, consequentemente, consolidação das fronteiras da região amazônica. É de extrema relevância a discussão de questões, como as mencionadas, no âmbito da Organização regional internacional para que sejam encontradas medidas para suprir as deficiências encontradas nos países latino-americanos e caribenhos acerca destas problemáticas. 9 2 SOBRE A COMUNIDADE DOS ESTADOS LATINO-AMERICANOS E CARIBENHOS A escolha pela Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) foimotivada, principalmente, pela atual situação em que vive esta região. A América Latina e o Caribe vivem atualmente um período de estabilidade democrática e avanços sociais que permitiram que estes países, antes subalternos às grandes potências globais, vivessem uma grande prospecção no cenário internacional. Deste modo, a CELAC surge como uma nova organização regional, simbolizando a nova voz representativa da América Latina e do Caribe, atuando de maneira independente, de modo a resolver seus próprios conflitos, sem a interferência direta de países terceiros. 2.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CELAC: A CONVENÇÃO DE CARACAS DE 2011 E O PLANO DE AÇÃO DE 20121 Reunidos os chefes de Estado e do Governo dos Países da América Latina e do Caribe em Caracas, Venezuela, foi elaborada em dezembro de 2011 a Declaração de Caracas, sendo este o pacto constitutivo da CELAC. O documento ora em tela buscou declarar que a CELAC deve avançar no processo de integração política, econômica, social e cultural buscando um perfeito equilíbrio entre a unidade e a diversidade dos povos, e objetivando alcançar um mecanismo regional de integração idôneo para a expressão da rica diversidade cultural da região e, por sua vez, que seja o espaço adequado para reafirmar a identidade da América Latina e do Caribe (art.21 da Declaração), tornando-se verdadeiro espaço para que se reivindique o direito à existência, preservação e convivência de todas as culturas que habitam a região (art. 22 da Declaração). Ademais, senhores delegados, tal ato buscou reconhecer o direito que possui cada nação para fins de construir, de forma pacífica e livre, sendo ativados os processos de integração a partir da CELAC, que devem ser realizados levando em conta os seguintes 1 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. I Cúpula da Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (CELAC) Caracas, 2 e 3 de dezembro de 2011 – Documentos Aprovados. Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-dacomunidade-dos-estados-latinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013documentos-aprovados-1. Acesso em: 2 abr. 2014. 10 valores e princípios comuns: i) o respeito ao Direito Internacional; ii) a solução pacífica de controvérsias; iii) a proibição do uso e da ameaça do uso da força; iv) o respeito à autodeterminação; v) o respeito à soberania; vi) o respeito à integridade territorial; vii) a não-ingerência nos assuntos internos de cada país; e viii) a proteção e promoção de todos os Direitos Humanos e da democracia (art.23 da Declaração) 2, tendo a CELAC o dever de promover o desenvolvimento de instrumentos para garantir o comprimento desses valores e princípios (art. 24 da Declaração). Igualmente, o documento evidenciou a CELAC como único mecanismo de diálogo que agrupa os 33 países da América Latina e do Caribe, sendo a maior expressão de suas vontades de unidade na diversidade, além de ser o polo onde serão fortalecidas as relações políticas, econômicas, sociais e culturais na base de uma agenda comum de bem-estar, paz e segurança para os povos, objetivando a consolidação de uma comunidade regional (art. 28 da Declaração). Ademais, os países tem o dever de dar andamento à CELAC como um mecanismo representativo de concentração política, cooperação e integração dos Estados latino-americanos e caribenhos e como um espaço comum que garanta a unidade e a integração da região (art. 32 da Declaração). Finalmente, compromete a vontade dos governos para instruir os mecanismos e organizações regionais para que promovam entre eles a comunicação, cooperação, articulação, coordenação, complementaridade e sinergia, a fim de contribuir com a consecução dos objetivos de integração consagrados na própria declaração, prezando pelo ótimo uso dos recursos e a complementaridade de esforços (art. 37 da Declaração). Desse modo e no uso e gozo de todas as atribuições aqui expostas, restou acolhida a realização da Cúpula da CELAC em 2014 na República da Costa Rica (de acordo com o art. 40 da Declaração), a qual os senhores estão prestes a participar e, dessa forma, deverão, trazer planos concretos aos Estados Latino-americanos e Caribenhos à luz do que fora exposto. Nesta perspectiva, ainda restou constituído o Plano de Ação de Caracas de 2012 3, que objetivou i) gerir a crise financeira internacional e a nova arquitetura financeira interna; 2 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Declaração de Caracas “No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores”. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estadoslatinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1>. Acesso em: 28 fev. 2014. 3 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Declaração de Caracas “No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores”. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estados- 11 ii) desenhar medidas de proteção e prevenção à crise financeira; iii) amparar a cooperação entre mecanismos regionais e sub-regionais de integração; iv) promover o diálogo entre os mecanismos regionais e sub-regionais de integração, estruturados em quatro grandes âmbitos: o econômico-cultural, o produtivo, o social institucional e, finalmente, o cultural. 2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA AMÉRICA LATINA E CARIBE Ao chegarem ao Novo Mundo e depararem-se com os ameríndios, é de conhecimento geral que os colonizadores proporcionaram o massacre da cultura e da religião de tais povos através da catequização, para posteriormente utilizarem-se da sua mão-de-obra. Os senhores também sabem que interessava à Metrópole o acúmulo de riquezas com o mínimo de investimento possível, causando uma má distribuição de renda que persiste até os dias atuais. Notem, então, que é latente nos países latino-americanos a herança colonial, ou seja, a debilitação provinda da exploração dos países europeus na época colonial. Ao declararem-se independentes, tais nações adquiriram uma autonomia política, social e econômica meramente superficial, pois a dívida aos países colonizadoresnão foi quitada,apesar da adoção de diversos planos econômicos e administrativos. 2.2.3 Luta contra o neoliberalismo Nas décadas de 1980 e 1990, com o advento da globalização e do neoliberalismo, na América Latina e no Caribe, a insuficiente exportação de produtos industrializados marca o retorno à velha especialização da venda de artigos primários, visto que os países da regiãonão possuíam capacidade econômica ou tecnológica para concorrer com o mercado externo, norte-americano e europeu, contribuindo para a manutenção do atraso econômico e social destes Estados. Em contrapartida, os movimentos guerrilheiros latino-americanos instituem uma resistência política, decorrente dos desajustes sociais que se multiplicam ao longo do latinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1>. Acesso em: 28 fev. 2014. 12 tempo. Em suma, a América Latina busca equilibrar melhor os interesses nacionais com os de ordem econômica internacional, afastando-se da dogmática neoliberal e das demais correntes que se opõem à submissão aos interesses estadunidenses e das potências europeias4. Durantes as cúpulas da CELAC ocorridas em 2008 e 2011, foram submetidos documentos com cláusulas humanistas e solidárias, distanciadas do cosmopolitismo e da tecnocracia neoliberais. Lutando a favor da emancipação dos povos da América Latina, tal organização é fruto dos combates populares e do advento de governos defensores do interesse nacional e popular5. Nota-se, portanto, que a CELAC surge com uma característica bastante singular, por se tratar da primeira congregação de países da América Latina e do Caribe que se reúne para discutir suas problemáticas regionais fora da esfera de influência de grandes potências como os EUA. Por estes motivos, para muitos, a CELAC surgiu para ser um contraponto e, quiçá uma substituta da velha Organização dos Estados Americanos (OEA), tida por muito tempo como o mais expressivo organismo regional das Américas e que vem sofrendo severas críticas devido à ingerência estadunidense e a falta de capacidade de lhe dar com crises regionais como no caso de Honduras6 em 2008. 4 IBARRA, David. O neoliberalismo na America Latina. 2011. Disponível <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-31572011000200004&script=sci_arttext>. Acesso em: 3 2014. 5 CABRERA, Ángel Guerra. A Celac e as lutas contra o neoliberalismo (I e II). 2013. Disponível <http://www.adital.com.br/site/noticia_imp.asp?lang=PT&img=S&cod=73759>. Acesso em: 3 abr. 2014. 6 PORTAL DE NOTÍCIAS G1.Entenda a crise política em Honduras. Disponível <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1313155-5602,00ENTENDA+A+CRISE+POLITICA+EM+HONDURAS.html.> Acesso em: 30 jun. 2014. 13 em: abr. em: em: Figura 1 – Disponível em: http://altamiroborges.blogspot.com.br/2013/02/celac-e-luta-contra-oneoliberalismo.html. Acesso em: 29 abr. 2014. 2.3 A INTEGRAÇÃO REGIONAL LATINO-AMERICANA E CARIBENHA No tocante à integração regional latino-americana e caribenha, senhores delegados, esta consolida-se como importante fenômeno internacional, desde meados do século XX, na década de 1950. A aproximação e o estreitamento dos laços políticos e econômicos entre os países que compartilham herança histórica e vizinhança geográfica permite enfrentar melhor os desafios do mundo atual globalizado 7. Na América Latina e Caribe a integração é um fenômeno ainda em processo, que ocorreu, inicialmente, de forma bastante espaçada. As tentativas de integração latino-americana e caribenha remontam ao final dos anos 1950, quando estudos da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe(CEPAL), agência da ONU especializada na economia da região, apontavam o baixo intercâmbio comercial entre estes países. Desta forma, foi recomendada uma maior integração econômica como meio capaz de permitir a formação de mercados mais dinâmicos e abrangentes, de modo a facilitar o processo de substituição das importações8. 7 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. CALC. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/calc>. Acesso em 27. Fev. 2014 8 AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Curso de Direito Internacional Público.São Paulo: Editora Atlas S.A., 2012.p. 455. 14 Diante deste cenário, com base nos dados técnicos da CEPAL, os governos de 11 países9 da América Latina tomaram a iniciativa e deram os primeiros passos da integração latino-americana. A Associação Latino-Americana de Livre Comércio(ALALC)não logrou êxito no seu projeto de criação de zona de livre comércio, o que, todavia, não representou um total fracasso, tendo em vista que o volume de comércio na área dobrou em pouco mais de uma década, segundo dados da CEPAL10. No intuito de aprofundar o nível de integração econômica e superar os entraves existentes na antiga ALALC, os 11 Estados-membros desta organização deliberaram em prol da criação de um novo bloco, a Associação Latino-Americana de Integração (ALADI), instituída pelo segundo Tratado de Montevidéu, em 1980. A ALADI existe até os dias atuais e possui um propósito eminentemente econômico, tal como sua antecessora, buscando promover o livre comércio na América Latina. Seguindo os rumos da integração, no entanto, de maneira fragmentada, outros blocos regionais foram se originando na América Latina e no Caribe. A exemplo disso temse a criação de blocos como a Comunidade Andina (CAN) em 1969, a Comunidade do Caribe (CARICOM) em 1973, oMercado Comum do Sul(MERCOSUL) em 1991, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA),em 2004, e por fim a Aliança do Pacífico, fundada 2013. 2.4 A CRIAÇÃO DA CALC11 No intuito de fortalecer a integração regional, em 2008, por iniciativa do governo brasileiro, foi realizada a I Cúpula da América Latina e do Caribe (CALC), na Costa do Sauípe, Bahia, Brasil. Esta iniciativa foi um marco histórico, pois, pela primeira vez em dois séculos de independência política, todos os 33 países latino-americanos e caribenhos se reuniram em torno de uma agenda própria, de modo a identificar as prioridades e desafios regionais, sem a interferência de outras nações. Ao final deste encontro, os mandatários de todos os países, de forma consensual, adotaram a Declaração de Salvador 12 . Nela é ressaltada a importância da cooperação, da 9 Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Bolívia, Equador e Venezuela. PEÑA, Felix. ALALC: Exportaciones intrazonales y totales, 1962, 1968, 1972, 1975, 1977 (millones de USD corrientes, precios fob).Disponível em: <http://www.felixpena.com.ar/contenido/wpapers/documentos/anexos/1979-10-15-argentina-y-alalc-apendicesec-a.htm>. Acesso em 22 fev. 2014 11 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. CALC. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/calc>. Acesso em: 16 Mar. 2014 10 15 integração regional, do desenvolvimento sustentável, da erradicação da pobreza e da promoção da democracia e da justiça social, além de expressar uma preocupação com a crise financeira, energética, alimentar e ambiental, bem como seus efeitos aos países em desenvolvimento. Resultou ainda desta Cúpula a adoção de algumas Declarações Especiais, a destacar a Declaração que trata das Ilhas Malvinas, ressaltando o apoio à Argentina e outra condenando o bloqueio econômico imposto a Cubapelo governo norte-americano. No ano seguinte, na Reunião Ministerial Preparatória, realizada em 2009 na Jamaica, para a II CALC, foi aprovado o Plano de Ação de MontegoBay13. O Plano traça diretivas e iniciativas concretas nas áreas de: crise financeira internacional, energia, infraestrutura, desenvolvimento social, cooperação entre os mecanismos regionais e subregionais de integração,segurança alimentar e nutricionale erradicação da fome e da pobreza, além de questões ambientais como desenvolvimento sustentável, desastres naturais, e mudanças climáticas. Esta ampla agenda de cooperação entre os países deu espaço para que, durante a II CALC, realizada no México, em 2010, em meio a intensas discussões, se iniciasse o processo de constituição de um novo organismo regional para a América Latina e o Caribe. Dessa forma, a III Cúpula da CALC, realizada em dezembro 2011 na Venezuela, deu também ensejo à I Cúpula da CELAC, na qual foi assinada a Declaração de Caracas, intitulada como “No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores” 14 , verdadeiro Ato Constitutivo do novo organismo regional, que preza pela cooperação econômica, social, política e ambiental entre seus membros. 3 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA CELAC 12 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento – CALC. Costa do Sauípe, Bahia, 16 e 17 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/calc/calc-declaracao-desalvador>. Acesso em: 15 Mar. 2014 13 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Plano de ação de MontegoBay. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas/america-do-sul-e-integracao-regional/calc/plano-de-acao-de-montegobay>. Acesso em: 15 Mar. 2014 14 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Declaração de Caracas “No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores”. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estadoslatinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1>. Acesso em: 28 fev. 2014. 16 Quanto à parte estrutural da CELAC, o art. 35 da Declaração de Caracas de 2011 aprovou o Estatuto de Procedimentos da Comunidade como parte integral da Declaração, prevendo que a organização será constituída pela Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo; pela Reunião dos Ministros das Relações Exteriores; pela Presidência Pro Tempore; pela Reunião de Coordenadores Nacionais; por Reuniões Especializadas e, finalmente, pela Tróica. A começar pela mais alta instância, a Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo reúne-se de forma ordinária no país que possua a Presidência Pro Tempore da CELAC e de forma extraordinária quando a Presidência Pro Tempore assim determinar, após tendo sido consultados os Estados-membros. Como uma de suas atribuições, a Presidência Pro Tempore poderá convocar Cúpulas e reuniões extraordinárias após consulta com a Tróica. Nesse ponto, portanto, cabe uma breve explanação acerca das atribuições da Cúpula dos Chefes de Estado e do Governo: Nomear o Estado-sede da seguinte reunião, que exercerá a Presidência Pro Tempore da CELAC; Definir as diretrizes e lineamentos políticos, e estabelecer as prioridades, estratégias e planos de ação para atingir os objetivos da CELAC; Adotar os lineamentos políticos e as estratégias para as relações com terceiros Estados ou outras organizações ou foros intergovernamentais de caráter internacional, regional e subregional; Aprovar as modificações aos procedimentos que sejam requeridas para o funcionamento da CELAC; Promover a participação cidadã na CELAC. 15 No que se refere à Reunião dos Ministros das Relações Exteriores, esta será realizada de forma ordinária duas vezes ao ano, tendo como suas principais atribuições: Adotar resoluções e emitir pronunciamentos sobre os temas de caráter regional ou internacional que sejam do interesse dos países da região; 15 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Declaração de Caracas “No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores”. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estadoslatinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1>. Acesso em: 28 fev. 2014. 17 Adotar resoluções para executar as decisões e declarações da Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo; Coordenar posições comuns entre os países membros em foros multilaterais e espaços políticos e de negociação internacionais, a fim de impelir a agenda latinoamericana e caribenha; Promover e desenvolver o diálogo político e a concertação sobre temas do interesse da CELAC. Definir e aprovar os temas e assuntos prioritários para a CELAC, bem como os estudos e grupos de trabalho que forneçam as bases técnicas e jurídicas desses temas; Realizar o seguimento e a análise do processo de unidade e integração em sua totalidade, bem como o seguimento e o cumprimento das declarações e decisões da Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo, e aprofundar a unidade e a cooperação para o desenvolvimento de nossos povos; Executar os lineamentos políticos e as estratégias para as relações com outros atores governamentais ou outras organizações internacionais; Aprovar os programas, projetos e iniciativas sobre integração, cooperação, complementaridade e desenvolvimento que sejam submetidos por parte dos Estados membros para sua consideração, e apresentá-los na Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo para sua adoção; Promover a comunicação, a complementaridade, a cooperação e a articulação entre os mecanismos subregionais de integração, e receber, para sua consideração, os resultados das reuniões que sejam realizadas por parte dos diferentes organismos a pedido da Presidência Pro Tempore, utilizando para esses fins suas estruturas institucionais; Coordenar e promover posições conjuntas a respeito de temas centrais do interesse da CELAC.16 16 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Declaração de Caracas “No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores”. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estadoslatinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1>. Acesso em: 28 fev. 2014. 18 A Presidência Pro Tempore é o organismo de apoio institucional, técnico e administrativo da CELAC e os Estados-membros vincular-se-ão com a Presidência Pro Tempore por meio dos Coordenadores Nacionais. Quanto à Tróica, tem-se que ela é uma espécie de órgão responsável por assistir a Presidência Pro Tempore, sendo formada de form tríplice; pelo Estado que ocupa a Presidência Pro Tempore, pelo Estado que o precedeu e pelo Estado que o sucederá nessa responsabilidade. Nesses moldes, a enunciada Tróica fica automaticamente constituída no momento da eleição do Estado-membro que ocupará a Presidência Pro Tempore da CELAC. No que se refere às decisões tomadas, deve-se atentar para o fato de que elas serão adotadas por consenso em todas as instâncias, e, caso isso não seja possível, serão adotadas por maioria qualificada. Ainda, decisões serão refletidas por escrito e podem ter o formato de declarações, decisões, comunicados conjuntos e resoluções especiais ou qualquer outro instrumento de decisão que, de comum acordo seja determinado. Todas as decisões têm caráter de acordo político. Neste pórtico, no ano de 2014, será realizada, a Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da CELAC, reunindo-se de forma ordinária na Costa Rica, país que possui a Presidência Pro Tempore. 4 TEMA A – LIBERDADE DE EXPRESSÃO E A REPRESSÃO ESTATAL SOBRE MANIFESTAÇÕES POPULARES E MEIOS DE COMUNICAÇÃO NA AMÉRICA LATINA. Senhores delegados, neste tópico será abordada a temática da liberdade de expressão e a repressão estatal no âmbito da América Latina e Caribe. A liberdade de expressão além de constar do rol da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU 17 e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos18, trata-se de um princípio fundamental basilar de qualquer democracia. O seu cerceamento pela força estatal, portanto, põe em risco a lógica do sistema democrático de direito. 17 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm. Acesso em 27 out. 2013. 18 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Disponível em: http://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em 27 out. 2013. 19 Desta feita, caberá aos governos latino-americanos e caribenhos, reunidos nesta Cúpula, comprometerem-se com a manutenção da democracia assegurando a paz social sem mitigar a liberdade de expressão dos povos desta região. A América Latina, ao longo de toda sua históriamarcada por regimes de exceção, foi e ainda é palco de forte repressão estatal. Ainda nos dias atuais, há Estados se utilizam,por vezes, da força para não só conter, como criminalizar manifestações populares, além de estabelecer censura sobre meios de comunicação.Sobre esta situação o Informe 2013 da Anistia Internacional19 apontou vários casos de países latino-americanos e caribenhos que representam violações contra os direitos humanose ameaças à liberdade de expressão. É nesse contexto de redemocratização que a liberdade de expressão e os movimentos sociais, em todos os seus desdobramentos, ganham força em toda a América Latina e Caribe. 4.2 AS MANIFESTAÇÕES NA AMÉRICA LATINA Nos anos recentes, inúmeras manifestações populares eclodiram na América Latina. Em diversos países, um grande número de pessoas tomou conta das ruas em prol das mais diversas reivindicações. Esse novo momento vivido pela região, serve de contraste a um passado marcado pelas ditaduras e firma uma nova ordem: a solidificação de instituições democráticas. Em estudo sobre essa nova condição, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em seu relatório “O Protesto Social na América Latina”, afirma que essas manifestações estão quase sempre relacionadas às desigualdades sociais 20. É o caso da Argentina, do Peru, da Bolívia e do Brasil, que historicamente sempre registraram altos índices de disparidade. Por outro lado, prezado delegado, é importante lembrar que cada conjunto de manifestações, de acordo com o seu país, é motivada por questões e contextos particulares. A mais provável ligação entre os protestos de um país com os de outro só pode residir na troca de influência entre eles. Uma vez que a globalização facilitou a veiculação de informações pelo mundo, é cada vez mais frequente que povos vizinhos tomem 19 AMNESTY INTERNATIONAL. Informe 2013 de Anistia Internacional. Disponível em: http://files.amnesty.org/air13/AmnestyInternational_AnnualReport2013_complete_br-pt.pdf. Acesso em 27 out. 2013. 20 PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLIMENTO. Understanding social conflict in latinamerica. Disponívelem: <http://papep-undp.org/sites/default/files/Brief Report Understanding Social Conflict in Latin America.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2014. 20 conhecimento das causas de outras nações e se inspire na luta por seus direitos, num pleno efeito dominó. 4.2.1 Os protestos no Brasil Em junho de 2013, o Brasil foi palco de grandes manifestações. Esses atos foram responsáveis por levar milhões de pessoas às ruas do país – o que já dá subsídio suficiente para se entender a gigantesca proporção do movimento. O motivo inicial e central para que estes eventos tenham se desencadeado está no aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades do País. Somente em uma questão de tempo, porém, as vozes das ruas se levantaram contra outros problemas enfrentados pela nação. O próprio povo se apropriou dessa energia social para externar um conjunto de insatisfações presentes na rotina brasileira, e, com isso, trouxe à tela um dos momentos democráticos mais significantes no contexto da América Latina. Entretanto, senhor delegado, entender esse conjunto de acontecimentos pode não ser tão simples assim. Sua origem, as bandeiras levantadas e o rumo dos protestos são algumas das questões a serem sanadas. Para tanto, vale, assim, fazer uma retrospectiva de todos os acontecimentos pertinentes a tal período21. No início de 2013, manifestantes de algumas capitais brasileiras já se reuniam em protestos pontuais contra os aumentos das tarifas de ônibus. Ao exemplo disso, temse a “Revolta do Busão” (sic), movimento horizontal e organizado por plenárias, que já no mês de fevereiro se organizava contra os aumentos no transporte urbano da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. No outro lado do país, outro exemplo de movimento registrado logo no começo do ano, ocorreu em 27 de março na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul22. A causa das movimentações também estava ligada ao reajuste nos preços de ônibus. Então, a tendência que se seguiu foi justamente esta: enquanto mais prefeituras anunciavam o aumento destas tarifas, mais cidades registravam atos contrários aos novos valores fixados. Dessa forma, foi durante protesto na Virada Cultural de São Paulo, que surgiu um dos principais protagonistas das manifestações de junho, o Movimento Passe Livre. Como ele mesmo se intitula em sua Carta de Princípios, trata-se de “(...) um movimento horizontal, 21 PORTAL DE NOTÍCIAS G1. Resultados das manifestações de junho. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/linha-tempo-manifestacoes-2013/platb/>. Acesso em: 11 fev. 2014. 22 PORTAL DE NOTÍCIAS G1. Protestos por aumento da passagem de Porto Alegre termina em tumulto. 27 mar. 2013. Disponível em:< http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/03/grupo-faz-novo-atocontra-aumento-da-passagem-em-porto-alegre.html>. Acesso em: 21 de mar. 2013. 21 autônomo, independente e apartidário, mas não antipartidário. A independência do MPL se faz não somente em relação a partidos, mas também a ONGs, instituições religiosas, financeiras etc.”23. O Movimento Passe Livre teve papel fundamental nos atos que se sucederam. Como as movimentações partiram da espontaneidade e da horizontalidade, elas necessitavam de uma referência legitimada pelo movimento que, além de unir os atos, fosse capaz de realizar a mediação com o poder público. E foi justamente essa necessidade de referência que levou o MPL aos holofotes. Embora ele negue que tenha assumido um papel de liderança perante as manifestações, é reconhecido que, sem ele, elas provavelmente teriam continuado difusas pelo território nacional. Ademais, os que antes eram protestos pontuais, agora convergiam para uma unidade, uma única pauta, um único propósito: a redução das tarifas do transporte público nacional. Em meio a essa movimentação, a mídia tradicional decidiu se posicionar. Inúmeros jornais, revistas e emissoras de televisão teceram fortes críticas às articulações dos manifestantes. O jornalista e cineasta Arnaldo Jabor declarou, em rede nacional, julgar exageradas as reações do povo em relação aos 20 centavos de reajuste na tarifa de ônibus, o que parecia ser uma tentativa clara de deslegitimar o movimento. Não foram poucas, também, as vezes em que a mídia se referiu aos protestos como atos violentos e não democráticos. Enquanto isso, redes sociais como Twitter e Facebook se mostraram meios alternativos de informação. Essas plataformas permitiram que a opinião pública pudesse ter acesso a outro ponto de vista, divergente daquele proposto, até então, pela mídia tradicional. Ao passo que grandes emissoras insistiam em tratar o movimento como violento e sem causa, multiplicavam-se nas redes um grande número de depoimentos, vídeos e fotos que provavam justamente o contrário. Assim, foi inevitável que a credibilidade da mídia sobre o assunto acabasse despencando, e que o Facebook, por exemplo, se tornasse a nova fonte de informação verídica do que realmente estava acontecendo nas ruas. Não se tratava, agora, de textos profissionais e matérias detalhadas, mas de pessoas comuns relatando os novos caminhos da movimentação. Os efeitos foram visíveis ao ponto de forçar a mídia tradicional a recorrer às 23 MOVIMENTO PASSE LIVRE – SÃO PAULO. Carta de Princípios. Disponível <http://saopaulo.mpl.org.br/apresentacao/carta-de-principios/>. Acesso em: 19 mar. 2014. 22 em: redes sociais para atualizar suas programações e a traçar um novo posicionamento sobre a causa24. Enquanto dentro das casas os manifestantes travavam uma batalha contra a mídia tradicional, nas ruas, a situação se agravava. Com o intuito de conter os manifestantes, a Polícia Militar passou a estar cada vez mais presente nos atos. Infelizmente, casos graves de repressão policial foram registrados, configurando um atentado profundo ao direito fundamental à reunião. Não raras vezes, e em quase todas as cidades, a Polícia Militar fez uso de balas de borracha, bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta, além de uso excessivo da força. Por fim, o dia 13 de junho marcou um momento crítico dessa repressão, quando quase cem pessoas saíram feridas durante os protestos no centro de São Paulo 25. Destas cem, sete eram jornalistas do jornal Folha de São Paulo – dois deles foram atingidos com tiros de bala de borracha na cabeça. Estes excessos cometidos pela polícia geraram uma forte indignação, inclusive dentro da mídia tradicional, que questionou a repressão policial contra os jornalistas e um possível cerceamento da liberdade de expressão. Neste ponto, o número de pessoas nas ruas crescia exponencialmente. Protestos por todo país não mais contavam com centenas de pessoas, mas com milhares. Toda a euforia gerada por esse momento democrático levou uma quantidade gigantesca de jovens a saírem do anonimato das redes sociais e mostrarem suas caras nas ruas. Da mesma forma, essa energia social possibilitou que outras variadas bandeiras e causas fossem levantadas durante os atos, como por exemplo: a luta contra a corrupção, a insatisfação com os volumosos gastos com a Copa do Mundo, a derrubada da PEC 37 26e a melhora dos serviços de saúde e educação. O estopim destas manifestações, sem dúvidas, ocorreu no dia 20 de junho de 2013. Especula-se que nesse dia, cerca de 1,25 milhão de pessoas compareceram a protestos em 130 cidades do país – entre elas, de pequeno, médio e grande porte, contando com todas as capitais, com exceção de Rio Branco, no Acre27. Só no Rio de Janeiro, foram cerca de 24 FATTORI, Marília. Protestos e Manifestações: Redes sociais x Mídias tradicionais. Disponível em: <http://www.dp6.com.br/protestos-e-manifestacoes-redes-sociais-x-midias-tradicionais/>. Acesso em: 19 mar. 2014. 25 FOLHA DE SÃO PAULO. Protestos deixam cerca de cem feridos no centro de SP, diz movimento. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1294893-protesto-deixa-cercade-cem-feridos-no-centro-de-sp-diz-movimento.shtml>. Acesso em: 17 mar. 2014. 26 Projeto de emenda constitucional que visava o fim do poder investigativo do Ministério Público. 27 PORTAL DE NOTÍCIAS G1. Protestos pelo país têm 1,25 milhão de pessoas, um morto e confrontos. Disponível em: <http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/06/protestos-pelo-pais-tem-125-milhaode-pessoas-um-morto-e-confrontos.html>. Acesso em: 03 mar. 2014. 23 300 mil manifestantes. A maior parte destes atos contou com passeatas pacíficas, embora alguns casos de violência também tenham ocorrido. No dia seguinte, a Presidente da República, Dilma Rousseff, fez pronunciamento em rede nacional dizendo ter “a obrigação de ouvir as vozes vindas da rua”. A esse ponto, várias prefeituras já haviam acordado a diminuição da tarifa, o que mostrou a eficácia e o sucesso que representou as reivindicações dos manifestantes. Nesse novo contexto, o MPL optou por se retirar do movimento e não mais convocar protestos. Segundo o grupo, os objetivos almejados já haviam sido alcançados, e não havia motivo ou causa para eles continuassem nos atos. Daí em diante, as manifestações passaram a carecer de um objetivo uno e as propostas se tornaram muito difusas. Tantas eram as bandeiras levantadas, que se tornava difícil entender o que o povo, como um todo, queria propor com a continuação dos movimentos. O fato é que, nos dias subsequentes, o número de pessoas foi diminuindo gradativamente, até que os atos perdessem força. Não se pode, entretanto, esquecer outras conquistas alcançadas durante este boom democrático. Entre alguns dos seus méritos, estão: o arquivamento, pelo Congresso, da PEC 37 e do Projeto 234/11, popularmente conhecido “cura gay”, a aprovação de projeto de lei que torna a corrupção um crime hediondo e a redução de PIS-COFINS na tarifa de transportes. Como já dito, o movimento alcançou sucesso ao impedir o aumento nas tarifas de transporte público. Desse modo, no livro “Vinte Centavos: A Luta Contra o Aumento”, Pablo Ortellado salienta: Ao conquistar a revogação do aumento, a tarifa zero foi imediatamente lançada no coração do debate político. A dupla vitória de reduzir o custo das passagens e trazer para a centralidade do debate político a tarifa zero por meio de uma ação autônoma com uma estratégica clara é o mais importante legado dos protestos de 28 junho . Como resultado último, o Brasil deixou na sua história uma incrível experiência democrática e quebrou, por fim, um paradigma tanto reproduzido por anos a fio, o da inércia de seu povo. 28 ORTELLADO, Pablo. Os protestos em junho entre processo e resultado. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/os-protestos-de-junho-entre-o-processo-e-o-resultado-7745.html>. Acesso em: 30 mar. 2014. 24 4.2.2 Os protestos no México O desagrado com o reajuste no preço dos transportes públicos não foi registrado somente no Brasil. Em 13 de dezembro de 2013, quando o metrô da Cidade do México aumentou o preço de sua passagem de três para cinco pesos, uma onda de insatisfação assolou os usuários do serviço e isso pode ser justificado por inúmeras motivações. Além de o reajuste ter elevado o metrô da Cidade do México a um dos mais caros do mundo29, não raras são as críticas sobre a péssima qualidade do serviço. Dentre elas, estão: a falta de segurança dentro do metrô, as gigantescas filas e os comuns atrasos dos vagões. Como resposta a esse aumento, a população jovem e a classe trabalhadora se organizaram em um movimento intitulado #PosMeSalto – que significa “Então eu Salto”, em tradução literal para o português –, o qual incentivava os usuários do transporte a realizarem um “roletaço”, ou seja, a não pagarem pelo serviço e a pularem as catracas 30. A prefeitura da Cidade do México tentou justificar o reajuste. Segundo ela, era necessário o aumento na arrecadação para que novos investimentos fossem realizados. Além disso, o governo alegou ter feito pesquisa sobre a mudança do preço com os próprios usuários. Entre os entrevistados, 52% disseram não se opor ao acréscimo no preço da passagem. Esta pesquisa, entretanto, foi duramente criticada pelos manifestantes. Para eles, o número de pessoas abordadas foi mínimo – cerca de 2400 usuários –, o que representaria apenas 0,05% daqueles que usam o serviço 31. Para contrapor a pesquisa da prefeitura, o grupo “Autônomos da Universidade do México” (UNAM) conduziu uma pesquisa online com mais de 30.000 pessoas sobre o assunto, e constatou que, ao contrário do que se dizia, 92% dos entrevistados não aprovavam o reajuste. Para agravar a situação, alguns manifestantes alegaram que o metrô tenha, propositalmente, piorado o serviço enquanto ocorriam as 29 LISTA 10. As 10 cidades mais caras do mundo para andar de metrô. Disponível em: <http://lista10.org/diversos/as-10-cidades-mais-caras-do-mundo-para-andar-de-metro/>. Acessoem: 01 abr. 2014. 30 KNOLL, Andalusia. "It's not just 2 pesos; It's the country:" Mexico City's #PosMeSalto Movement Protests Rising Transit Costs. Disponível em: <http://upsidedownworld.org/main/mexico-archives-79/4635qits-not-just-2-pesos-its-the-countryq-mexico-citys-posmesalto-movement-protests-rising-transit-costs>. Acessoem: 22 mar. 2014. 31 KNOLL, Andalusia. "It's not just 2 pesos; It's the country:" Mexico City's #PosMeSalto Movement Protests Rising Transit Costs. Disponível em: <http://upsidedownworld.org/main/mexico-archives-79/4635qits-not-just-2-pesos-its-the-countryq-mexico-citys-posmesalto-movement-protests-rising-transit-costs>. Acessoem: 22 mar. 2014. 25 pesquisas propostas pelo governo, com o intuito de dar a falsa impressão de que o aumento no preço se fazia necessário. Neste ponto, os insatisfeitos com o reajuste já passavam a se organizar nas ruas. Vários cartazes levantados pelos manifestantes diziam “Não é apenas por dois pesos, é pela nação”32. Inúmeras outras causas foram trazidas para a pauta. Também durante o mês de dezembro, várias críticas foram lançadas em prol da reforma do setor energético mexicano, o que facilitaria a privatização de uma empresa petrolífera estatal, a PEMEX. Não se pode esquecer, também, que as manifestações clamavam por um direito à liberdade de expressão. Há pouco tempo, a Cidade do México havia aprovado uma Lei de Protestos, que explicitamente cerceava esse direito fundamental. A normativa restringia as manifestações a determinadas ruas, a um calendário específico e a uma prévia autorização da Prefeitura, além de proibir qualquer ato contrário aos bons costumes. Neste contexto, não é difícil imaginar a forte repressão policial durante os movimentos. Num único protesto, foram registrados 51 feridos e outras 20 detenções33. Esse conjunto de fatos leva a crer que estas manifestações ocorridas no México tinham fortes semelhanças com o que ocorreu em junho de 2013 no Brasil. É sabido, inclusive, por meio de reportagem veiculada no jornal mexicano “El Universal”, que alguns membros do Movimento Passe Livre teriam atuado nessas manifestações 34. Os líderes do #PosMeSalto negaram o envolvimento dos brasileiros nas plenárias, mas reconheceram a ajuda do grupo em estratégias e táticas de protesto. Neste ponto, pode-se ver que as manifestações de diversos países deixaram seu caráter isolado de lado e passaram a se comunicar entre si35. A influência que uma exerce sobre a outra é notável, e os diálogos se tornaram constantes. 32 KNOLL, Andalusia. "It's not just 2 pesos; It's the country:" Mexico City's #PosMeSalto Movement Protests Rising Transit Costs. Disponível em: <http://upsidedownworld.org/main/mexico-archives-79/4635qits-not-just-2-pesos-its-the-countryq-mexico-citys-posmesalto-movement-protests-rising-transit-costs>. Acesso em: 22 mar. 2014. 33 PORTAL DE NOTÍCIAS UOL. Protesto no México termina com 51 feridos e 20 detidos. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/america-latina/protesto-no-mexico-termina-com-51-feridos-e-20detidos,12f9d05c3fb71410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html>. Acesso em: 22 mar. 2014. 34 MICHEL, Helena. MORA, Karla. Ubican e extranjerosen #posmesalto. Disponível em: <http://www.eluniversal.com.mx/ciudad-metropoli/2013/ubican-a-extranjeros-en-posmesalto-974027.html>. Acesso em: 27 mar. 2014. 35 GUTIERREZ, Bernardo. Os protestos do Brasil dialogam com as revoltas globais. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/os-protestos-do-brasil-dialogam-com-as-revoltas-globais-4371.html>. Acessoem: 22 mar. 2014. 26 4.2.3 Os protestos no Chile O Chile foi mais um dos países que entrou nessa onda de protestos. Entretanto, o que foi visto nesse país é muito distinto do que ocorreu no restante da América Latina. Isso se deu, principalmente, por uma particularidade desta nação. A histórica política neoliberal adotada pelo Chile conduziu o país a um sistema quase plenamente privatizado de educação superior, o que gerou insatisfação e levou pessoas, em massa, para as ruas durante os anos de 2011 e 2013. Para tanto, é importante ressaltar que o Chile é o país da América Latina com a educação superior mais privatizada. Segundo dados da Universidad Diego Portales, 80% de todas as matrículas chilenas de terceiro grau são em universidade privadas 36. O que muitas vezes ocorre, porém, é a concessão de bolsas a alguns estudantes, e, mais frequentemente, concessão de crédito àqueles que desejam uma vaga na faculdade e não podem pagar a mensalidade – que gira em torno de USD 400,00. Os empréstimos talvez tenham sido uma questão fundamental para os protestos que se seguiram. Ao terminarem seus cursos, vários estudantes precisavam lidar com a entrada no mercado de trabalho e os altos valores do financiamento de seus estudos. Fartos com esta situação, inúmeros jovens do ensino de segundo grau e universitários passaram a convocar manifestações pela reforma educacional do país. Desta vez, estas manifestações contavam com um elemento a mais. Enquanto antigos protestos que clamavam por esta reforma ficavam restritos aos alunos de ensino médio e das poucas universidades públicas 37, agora, os novos protestos contavam com uma forte adesão dos estudantes de universidades privadas. Isso elevou consideravelmente as proporções do movimento, e a causa ganhou maior visibilidade. Boa parte da coordenação do movimento saiu dos Conselhos de Educação, como a Federação dos Estudantes da Universidade Católica (FEUC) e a Confederação dos Estudantes Universitários do Chile (CONFECH) 38. Foi só uma questão de tempo para que pais de alunos, professores e Centros Acadêmicos também já estivessem plenamente engajados na causa. 36 HERRERA, Javiera. Cómo funciona la educación superior gratuita en los países de América Latina. Disponível em: <http://www.latercera.com/noticia/nacional/2014/03/680-570789-9-como-funciona-laeducacion-superior-gratuita-en-los-paises-de-america-latina.shtml>. Acesso em: 27 mar. 2014. 37 Vale lembrar que, no Chile, as universidades públicas também cobram uma taxa mensal aos seus alunos. 38 GIRALDI, Renata. No Chile, estudantes marcam protesto por ensino superior gratuito. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/06/13/no-chile-estudantes-marcam-protesto-por-ensino-superiorgratuito.htm>. Acesso em: 24 mar. 2014. 27 Os atos partiram de duas frentes, além da ocupação de escolas e universidades, muitos protestos foram convocados às ruas. Em 30 de junho de 2011, calcula-se que 400 mil pessoas marcharam nas ruas do país, sendo 200 mil só em Santiago. O conjunto de acontecimentos mobilizou o governo da época, que tinha SebastiánPiñera como Presidente da República. Além de demitir o Ministro da Educação, o chefe do executivo formulou plano com 21 pontos para mudanças na educação. Entretanto, a ideia não foi bem-vinda entre os manifestantes. A este ponto, eles já exigiam uma completa reforma no setor e não apenas mudanças pontuais. Ao longo das semanas, os protestos persistiram. Aos poucos os confrontos entre manifestantes e policiais começavam a se tornar mais frequente. Em alguns pontos de Santiago, constatou-se a presença até de barricadas feitas pelos estudantes. Em 4 de agosto de 2011, 874 manifestantes foram presos e mais de 90 policiais ficaram feridos 39. A repressão policial se fez por meio do uso de gás lacrimogêneo, a fim de impedir as marchas, que não tinham sido autorizadas pelo governo. As reivindicações continuaram até meados de 2013, quando as eleições presidenciais se aproximavam. No dia 26 de junho deste mesmo ano, foi registrado mais de 100 mil pessoas nas ruas40. O evento contou com confrontos entre manifestantes e policiais, que tentaram reprimir as mais de 30 barricadas espalhadas pela cidade. Por fim, enquanto o Ministro do Interior e da Segurança, Andrés Chadwick, criticava duramente os manifestantes, a porta-voz dos secundaristas, Isabel Salgado, alegava já terem passados anos de protestos e nenhuma resposta efetiva viera do governo 41. Atualmente, o Chile vivencia uma nova ideologia de governo liderada por Michelle Bachelet. Nesse novo contexto, a onda de protestos se acalmou, motivada, principalmente, por anúncio feito pela atual Chefe do Executivo, que prometeu a gratuidade universal a todos os estudantes chilenos de terceiro grau. Resta, agora, para o Chile, saber se a nova Presidente conseguirá cumprir todas as expectativas de mudanças prometidas durante sua campanha. 39 ESTADÃO. Protesto de estudantes no Chile termina com 874 presos e 90 policiais feridos. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,protesto-de-estudantes-no-chile-termina-com-874-presos-e-90policiais-feridos,754717,0.htm>. Acesso em: 23 mar. 2014. 40 AGÊNCIA BRASIL. Cem mil vão às ruas em protestos contra reforma educacional no Chile. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-08-09/cem-mil-vao-ruas-emprotestos-contra-reforma-educacional-no-chile>. Acesso em: 01 abr. 2014. 41 FOLHA DE SÃO PAULO. protestos por educação reúne milhares e para capital do Chile. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/06/1301787-protesto-por-educacao-reune-milhares-e-paracapital-do-chile.shtml>. Acesso em: 01 mar. 2014. 28 4.2.4 Os protestos na Argentina Na Argentina, os protestos se tornaram rotina nas principais cidades do país. Esses movimentos refletem à complicada situação econômica argentina, que somada às insatisfações com o atual governo, leva inúmeras pessoas às ruas. Em primeiro lugar, caro leitor, é importante se entender que tipo de desafios essa economia enfrenta. Desde 2001, quando o país anunciou moratória de sua dívida pública, a confiança dos investidores não permaneceu a mesma. Algumas empresas estrangeiras, inclusive, se afastaram dos negócios no território, e os empréstimos internacionais se tornaram mais escassos. Isso tudo, então, gerou uma menor entrada de dólares no país, e a crise começou a se instaurar. Desde então, o governo Kirchner vem tomando medidas drásticas para evitar a evasão da moeda americana. Várias restrições à compra do dólar foram feitas, entre elas: o aumento de imposto sobre compras no exterior, algumas barreiras para compras online 42 e a necessidade de prévia aprovação do Banco Central para a compra da moeda para o turismo 43. Nesse contexto, o quadro só piorou com o aumento desenfreado da inflação. Em 2013, enquanto o governo anunciou um índice anual de 10,9%, as principais agências autônomas de consultoria elevaram para 28% o valor da inflação real 44. Não é difícil entender que esse aumento contínuo nos preços atinge diretamente o povo. A cada dia, o poder aquisitivo dos argentinos encolhe ainda mais, e a insatisfação só cresce. Para tentar lidar com este problema, o governo criou um programa de fixação de preços, e forneceu um aplicativo gratuito para smartphones para que o próprio consumidor ajude nesta fiscalização, o “Precios OK”. Em pouco tempo, esse aplicativo se tornou um dos mais baixados entre o povo argentino 45, o que revelou contraste com a 42 PORTAL DE NOTÍCIAS G1. Argentina reforça controles cambiais para conter queda de reservas. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/12/argentina-reforca-controlescambiais-para-conter-queda-de-reservas.html>. Acesso em: 29 mar. 2014. 43 PORTAL DE NOTÍCIAS G1.Argentina amplia controle do dólar para viagens ao exterior. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/05/argentina-amplia-controle-do-dolar-para-viagens-aoexterior.html>. Acesso em: 29 mar. 2014. 44 PÁGINA DE NOTÍCIASUOL. Por que Venezuela e Argentina têm tantos problemas com o dólar? Disponível em: <http://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2014/01/30/por-que-venezuela-e-argentinatem-tantos-problemas-com-o-dolar.htm>. Acesso em: 27 mar. 2014. 45 PORTAL DE NOTÍCIAS TERRA. Aplicativo fiscaliza preços e faz sucesso entre os argentinos. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/12/argentina-reforca-controlescambiais-para-conter-queda-de-reservas.html>. Acesso em: 30 mar. 2014. 29 situação de outros países vizinhos, como Brasil e Chile, que possui no topo de suas listas aplicativos de jogos e redes sociais. Além dessa conjuntura econômica, a Argentina sofre com uma séria crise política. Se o governo de Kirchner já sofria duras críticas da oposição, a situação se agravou, ainda mais, após as eleições legislativas de 2012, quando os partidos apoiados pelo governo perderam nos principais distritos. Sem sombra de dúvidas, com esse apoio parlamentar, os planos de Cristina Kirchner de tentar uma segunda reeleição se distanciaram. Diante dessas incertezas enfrentadas pela economia e um crescente índice de criminalidade, os argentinos foram às ruas clamando por mudança. Foi em 2001 que as primeiras explosões de manifestações sociais aconteceram. Esse foi, também, um dos momentos mais críticos da repressão policial. Estima-se que durante os confrontos entre manifestantes e policiais no mês de dezembro, foram registradas 16 mortes, 150 feridos e mais de 500 prisões46. Desde então, visto que a situação econômica do país ainda não se estabilizou, os protestos se tornaram rotina em capitais e cidades argentinas. Em novembro de 2012, cerca de 700 mil pessoas compareceram às principais avenidas de Buenos Aires, fazendo o que os argentinos chamam de “panelaço”47. Mais atualmente, no segundo semestre de 2013, inúmeras manifestações foram convocadas. As causas, bem claras: índices de corrupção, inflação e insegurança. A maioria servindo de crítica ao governo Kirchner, localizadas frente à Casa Rosada48 e os principais símbolos do governo49. Outra polêmica que não pode ser olvidada é a Lei 26.522 50, também conhecida como “Ley de Medios” – ou Lei de Meios, em português –, promulgada recentemente durante o governo Kirchner. A proposta tem a intenção de democratizar os meios de comunicação e impedir o monopólio desses canais. Entretanto, os grandes críticos questionam até que ponto essa normativa favoreceria a liberdade de expressão, visto que um dos principais alvos da lei 46 FOLHA DE SÃO PAULO. Sobe para 16 número de mortos em confrontos na Argentina. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u37924.shtml>. Acesso em: 27 mar. 2014. 47 OGLOBO. Argentinos saem às ruas em protestos contra Cristina Kirchner. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/mundo/argentinos-saem-as-ruas-em-protesto-contra-cristina-kirchner-6684516>. Acesso em: 29 mar. 2014. 48 A Casa Rosada é a sede do Poder Executivo argentino. 49 VEJA. Argentina tem novos protestos contra Cristina Kirchner. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/argentina-tem-novo-protesto-contra-o-governo-kirchner>. Acesso em: 29 mar. 2014. 50 INFORMACIÓN LEGISLATIVA. Ley 26.522. Disponível em: <http://www.infoleg.gov.ar/infolegInternet/anexos/155000-159999/158649/norma.htm >. Acesso em: 23 mar. 2014. 30 seria o Clarín, organização que domina os principais meios de comunicação e umas das principais opositoras do governo. Esclarece Alexandre Kruel Jobim: A Lei 26.522 [...] possui inúmeras qualidades e avanços no sistema de comunicação, todos em vigência. Entretanto, possui artigos abusivos e manifestamente inconstitucionais, que violam a liberdade de expressão e os princípios democráticos e, infelizmente, com alvo certo e definido: o Grupo 51 Clarín, que não se dobrou ao discurso populista do casal Kirchner. Essa situação causou um grande desconforto entre o governo e o Clarín, que decidiu recorrer à justiça contra a nova lei. Tentativa sem sucesso, uma vez que não ganhou a causa perante os tribunais argentinos. Diante desses problemas, a Argentina, um dos países mais prósperos da América do Sul, enfrenta um dos momentos mais críticos de sua histórica e, portanto, precisará de bastante pulso para lidar com os novos desafios. O governo, ao seu tempo, precisará de bastante vontade e articulação política, para que possa pacificar as insatisfações populares e trazer estabilidade às instituições econômicas do país. 4.2.5 Os protestos na Venezuela Figura 2 – Fonte: Carlos Garcia Rawlins/Reuters. Disponível em: http://oglobo.globo.com/mundo/navenezuela-protestos-pro-contra-maduro-11728569. Acesso em: 29 abr. 2014. Os protestos venezuelanos foram inicialmente motivados pela insatisfação com a segurança pública, depois pelas violações aos direitos humanos que ocorreram durante 51 JOBIM, Alexandre Kruel. Lei de Meios fere de morte liberdade de expressão e democracia. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/32159/Lei+de+meios+fere+de+morte+liberdade+de+express ao+e+democracia.shtml&SyAxxOu;==>. Acesso em: 24 mar. 2014. 31 repressão a tais movimentos e quegeraram uma comoção ainda maior de manifestantes. Enquanto isso, figuras da oposição se uniram aos pioneiros do movimento contra as “políticas chavistas”, vigentes desde o mandato de Hugo Chávez e perpetuadas pelo atual líder. Paralelamente, grupos favoráveis à manutenção do governo democraticamente eleito também promoveram marchas. Vejam, senhores delegados, que houve manifestações de várias correntes políticas divergentes. O contexto econômico não é dos melhores, já que o país enfrenta uma crescente inflação, escassez de produtos industrializados, juntamente com o decreto-lei52 de preços justos53, o mercado negro 54 e os apagões. Os opositores afirmam que tais problemas provêm da administração chavista, no entanto, oficialmente, o problema é a “guerra econômica”, pela qual os “inimigos da Revolução Bolivariana” são culpados. Tal guerra deve consistir em um boicote das empresas privadas ao estocarem produtos para vende-los a preços mais altos depois.55 Na tentativa de sanar tais dificuldades, a Assembleia Nacional outorgou ao presidente poderes especiais para decretar leis que aumentem o controle estatal da economia.Além disso, o presidente adotou uma série de medidas para diminuir os índices de violência no país. Dentre elas, o maior investimento na vigilância policial, a campanha de desarmamento e o estabelecimento de normas para a televisão (visto que a mídia, supostamente, incita a violência). 56 A situação agrava-se ainda mais com a ocorrência de violência e mortes durante as manifestações, levando o governo e a oposição a trocarem acusações sobre quem seria responsável por tais ações57. Nicolás Maduro condenou os incidentes ocorridos durante as manifestações, atribuindo-os a uma tentativa de golpe de Estado nazifacista, financiada por governos e 52 Tal decreto limita o lucro dos empresários locais a 30% PORTAL EBC. Entenda a onda de protestos na Venezuela. 2014. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2014/02/entenda-o-que-esta-acontecendo-na-venezuela>. Acesso em: 3 abr. 2014. 54 O custo de vida é calculado com base no mercado negro, no qual o dólar vale dez vezes mais do que a cotação oficial. 55 GUPTA, Girish. Venezuela sends in troops to force electronics chain to charge 'fair' prices. 2013. Disponível em: <http://www.nbcnews.com/news/other/venezuela-sends-troops-force-electronics-chain-chargefair-prices-f2D11576936>. Acesso em: 03 jul. 2014. 56 Maduro apresenta plano para reduzir violência na Venezuela. 2014. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/america-latina/maduro-apresenta-plano-para-reduzir-violencia-navenezuela,a6ab7345fe134410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html>. Acesso em: 03 jul. 2014. 57 PORTAL EBC. Entenda a onda de protestos na Venezuela. 2014. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2014/02/entenda-o-que-esta-acontecendo-na-venezuela>. Acesso em: 3 abr. 2014. 53 32 políticos estrangeiros interessados na sua saída da presidência. 58 Apesar de pedir a paz, afirmou também que os atos de violência não ficarão impunes eemitiu uma ordem de prisão contra o líder opositor Leopoldo López, acusado de terrorismo e homicídio. O presidente Maduro também culpa os Estados Unidos pelo financiamento da desestabilização da Venezuela, apesar do Poder Executivo americano ter negado seu envolvimento com a crise. 59 A oposição acredita que tal ordem faz parte de uma tentativa inconstitucional de criminalização dos protestos. Ademais, ativistas estudantis negam a possibilidade de um golpe de Estado, visto que buscavam apenas soluções para os problemas socioeconômicos do país60. Os organismos internacionais como a CELAC, União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) posicionaram-se a favor do governo e da manutenção da democracia, instigando a conciliação entre as partes. 4.3 CENSURA AOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Nos últimos dez anos, a América Latina foi marcada por diversos confrontos entre governo e meios de comunicação, apesar de que tais países deveriam tutelar um jornalismo livre para informar e investigar os erros, abusos e excessos do poder público e econômico61. Dados indicam que México e Brasil foram os países com mais agressões aos jornalistas, enquanto El Salvador, Honduras e Guatemala constituem as maiores áreas de risco para o exercício desta profissão 62. 58 Maduro acusa Lopez e Uribe de patrocinar grupos fascistas. 2014. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2014/02/maduro-acusa-lopez-e-uribe-de-patrocinar-gruposfascistas-5299.html>. Acessoem: 03 jul. 2014. 59 White House: US not backing Venezuela opposition protests. 2014. Disponível em: <http://america.aljazeera.com/articles/2014/2/17/venezuela-expels3usdiplomatsamidprotestviolence.html>. Acesso em: 03 jul. 2014. 60 BBC. Protestos pressionam governo na Venezuela; entenda a crise. 2014. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/02/140217_protestos_venezuela_entenda_cc.shtml>. Acesso em: 3 abr. 2014. 61 SORJ, Bernardo. Meiosde comunicação e democracia: para além do confronto entre governos e empresas. 2011. Disponível em: <http://www.bernardosorj.com.br/Novidades/SORJ_Meios_de_comunicacao_e_democracia.pdf_10_11_2011_ 16_10_56.pdf>. Acesso em: 3 abr. 2014. 62 HIGUERA, Silvia. Impunidade é a maior ameaça à liberdade de expressão na América Latina e no Caribe, segundo IFEX. 2013. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-14812impunidade-e-maior-ameaca-liberdade-de-expressao-na-america-latina-e-no-caribe-segundo>. 33 Para mudar esta realidade, alguns governos buscaram modificar seu ordenamento jurídico interno a fim de uma maior diversidade de opiniões e participação social. E, por sua vez, os grandes monopólios dos meios de comunicação reagiram contra os ataques à sua liberdade de imprensa. 4.3.1 Liberdade de Expressão em Cuba Desprezando as recomendações feitas pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH), o governo cubano recusou-se a garantir a liberdade de expressão, de reunião pacífica, como também a livre atividade dos defensores dos direitos humanos, jornalistas independentes e opositores do governo. Além disso, senhores delegados, ao apresentar ao CDH um relatório do governo sobre o desenvolvimento e aplicações de políticas públicas nesta área, foram constatados dados discrepantes comparados aos relatos de ativistas e de organizações nãogovernamentais internacionais63. Segundo o diretor executivo da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), JulioMuñoz, Cuba é o país que, na América, tem o pior histórico de liberdade de expressão64. 4.3.2 A situação de Honduras Após realizar análise, o Comissário Nacional de Direitos Humanos em Honduras, Ramón Custódio, informou que um anteprojeto legislativo denominado “Lei de Telecomunicações” estabelece censura prévia da liberdade de expressão. No entanto, o presidente hondurenho defende o projeto, argumentando que busca uma distribuição igualitária do espectro radioelétrico. Alega também que a mídia cria conspirações, busca interesses meramente econômicos e prejudica moralmente a população 65. Vejam que outro episódio alarmante deu-se no dia 28 de fevereiro de 2014, quando o governo do país ordenou o cancelamento de 5.429 ONGs, dentre elas, associações de defesa à liberdade de expressão. 63 NALVARTE, Paola. Cuba rejeita recomendações da ONU sobre liberdade de expressão. 2013. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-14500-cuba-rejeita-recomendacoes-da-onusobre-liberdade-de-expressao>. Acesso em: 3 abr. 2014. 64 NOTÍCIAS TERRA. Cuba segue aplicando censura e reprimindo liberdade de imprensa. 2012. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/mundo/cuba-segue-aplicando-censura-e-reprimindo-liberdade-deimprensa,5198eba83055b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 3 abr. 2014. 65 LARA, Tania. Proposta de lei de telecomunicações em Honduras estabelece censura prévia, alerta comissário de direitos humanos. 2013. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-14500cuba-rejeita-recomendacoes-da-onu-sobre-liberdade-de-expressao>. Acesso em: 3 abr. 2014. 34 A Unidade de Registro e Monitoramento das Associações Civis (URSAC) alegou que o cancelamento deve-se ao fato de as ONGs não apresentarem relatórios financeiros anuais de suas atividades, entre outros motivos como a cessação de recursos vindos do exterior e a conclusão de projetos e operações66. Houve também uma denuncia feita pela fundadora do curso de Jornalismo da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), em San Pedro Sula. A professora Patrícia Murillo afirma que a sequência de assassinatos de profissionais da comunicação e a impunidade são atos do governo contra a informação. Pensa também que a mídia hondurenha é submissa ao governo dos Estados Unidos67. 4.3.3 Outros casos 4.3.3.1 México O ano de 2013 foi registrado como o mais perigoso para jornalistas mexicanos desde 2007, de acordo com o relatório da organização para liberdade de impressa Artigo 1968. Em resposta a tamanha violência, jornalistas foram às ruas no dia 23 de fevereiro de 2014, como ato de uma campanha chamada “Imprensa, não atirem!”, idealizada pelos profissionais e por defensores da liberdade de expressão. Tal campanha desencadeou-se após o assassinato do repórter Gregorio Jiménez de La Cruz69. Além do mais, a criminalização de rádios comunitárias e de comunicadores populares é uma constante no México. Segundo a ONU, tais rádios, por permitirem que a comunidade se expresse, contribuem para a construção da democracia de uma nação 70. Em resposta, o governo criou um fundo para a proteção de jornalistas e ativistas pelos Direitos Humanos.71 No entanto, relatores para a liberdade de expressão da 66 CRUZ, Diego. Governo hondurenho cancela mais de 5 mil ONGs, incluindo grupos para a liberdade de expressão. 2014. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-15289-governohondurenho-cancela-mais-de-5-mil-ongs-incluindo-grupos-para-liberdade-de-expre>. Acesso em: 3 abr. 2014. 67 SEVERO, Leonardo Wexell. Honduras é o país mais perigoso do mundo para o jornalismo. 2013. Disponível em: <http://www.brasildefato.com.br/node/26824>. Acesso em: 4 mar. 2014. 68 BLOG JORNALISMO NAS AMERICAS. 2013 foi um dos anos mais violentos para jornalistas mexicanos já registrados, informa novo relatório. 2014. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/0015321-2013-foi-um-dos-anos-mais-violentos-para-jornalistas-mexicanos-ja-registrados-informa->. Acesso em: 3 abr. 2014. 69 CRUZ, Diego. Protestospelo México pedem segurança para jornalistas e liberdade de expressão. 2014. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-15210-protestos-pelo-mexico-pedem-segurancapara-jornalistas-e-liberdade-de-expressao>. 70 CAETANO, Bruno. Radialistas comunitárias são condenadas no México. 2014. Disponível em: <http://www.abraconacional.org/radialistas-comunitarias-sao-condenadas-no-mexico/>. Acesso em: 3 abr. 2014. 71 WALTZ, Igor. México cria fundo de proteção a jornalistas e ativistas pelos Direitos Humanos. 2013. Disponível em: <http://www.abi.org.br/mexico-cria-fundo-de-protecao-a-jornalistas/>. 35 ONU e da OEA criticaram a situação de impunidade em relação aos profissionais de mídia72. 4.3.3.2 Brasil Um relatório da ONG internacional Artigo 19 revela que um jornalista ou defensor dos direitos humanos é morto no Brasil a cada mês, devido a denúncias ou reportagens diversas73. Após a morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, que foi atingido por um rojão enquanto registrava um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reuniu-se com integrantes das três principais empresas jornalísticas brasileiras para discutir medidas para aumentar a segurança dos profissionais da imprensa 74. Mas esse não é o único problema relacionado aos meios de comunicação brasileiros, caros senhores! O monopólio da mídia é outro fator alarmante, não dando espaço para a diversidade social. Tal monopólio caracteriza-se pela relação intrínseca entre poderes políticos, econômicos e midiáticos 75. Em contrapartida, no âmbito virtual, no dia 24 de março de 2014 conquistou-se uma vitória na Câmara dos Deputados com a aprovação do Marco Civil da Internet. O projeto é inovador, visto que contraria os interesses econômicos em detrimento da garantia dos direitos dos cidadãos, elevando a comunicação ao status de direito fundamental. 72 INFOSURHOY. México: ONU e OEA criticam falta de liberdade de expressão. 2010. Disponível em: <http://infosurhoy.com/pt/articles/saii/newsbriefs/2010/08/27/newsbrief-03>. Acesso em: 3 abr. 2014. 73 MAZZOTE, Natalia. Liberdade de expressão, um direito a ser conquistado no Brasil. 2013. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-14079-liberdade-de-expressao-um-direito-ser-conquistadono-brasil>. Acesso em: 3 abr. 2014. 74 RODRIGUES, Alex. Governo discute segurança dos jornalistas em manifestações. 2014. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/politica/2014/02/governo-discute-seguranca-dos-jornalistas-emmanifestacoes>. Acesso em: 3 abr. 2014. 75 MAZZOTE, Natalia. Liberdade de expressão, um direito a ser conquistado no Brasil. 2013. Disponível em: <https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-14079-liberdade-de-expressao-um-direito-ser-conquistadono-brasil>. Acesso em: 3 abr. 2014. 36 Figura 3 – Fonte: Dida Sampaio/Estadão. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/link/marco-civil-dainternet-e-aprovado-na-camara/. Acesso em: 29 abr. 2014. Devido às denúncias feitas por Edward Snowdende espionagem à Presidenta Dilma Rousseff, esse projeto ganhou urgência constitucional da Câmara. Em linhas gerais, o Marco Civil visa i)à manutenção da internet como ambiente neutro, não sendo influenciado por poder econômico; ii) a extinção de censura privada automática e preventiva, presente hoje na rede; iii) inviolabilidade da intimidade e da vida privada;iv) e o sigilo do fluxo e das comunicações privadas armazenadas na rede 76. As novas propostas legislativas que criminalizam o “terrorismo” e a “desordem” estão sendo debatidas no Congresso Nacional. No entanto, estas propostas continuam pondo em risco a liberdade de expressão,juntamente com o direito à reunião pacífica. 4.3.3.3 Argentina Após a implantação da lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, conhecida como Lei de Meios, houve um aumento na diversidade de ideias, como também expansão no mercado de trabalho e avanço na tecnologia. Esta lei estabelece que o total de frequências de rádio e TV sejam divididos em três partes iguais: um terço para as emissoras privadas, outro para as públicas e ainda outro para 76 EKMAN, Pedro; BARBOSA, Bia. Marco Civil aprovado: dia histórico para a liberdade de expressão: Câmara aprova texto que contraria interesses poderosos, garante direitos aos internautas e trata a comunicação como direito fundamental, e não uma mercadoria. 2014. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/marco-civil-aprovado-dia-historico-para-a-liberdade-deexpressao-8288.html>. Acesso em: 3 abr. 2014. 37 aquelas que operam sem fins lucrativos, ampliando assim a liberdade de expressão e dando oportunidade a setores antes “emudecidos” pelos monopólios midiáticos 77. No entanto, denúncias da SIP e da Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (ADEPA) constataram um retrocesso na proteção da liberdade de expressão por meio de ameaças a quem se manifesta contra o governo de Cristina Kirchner, também utilizando a difamação e a desqualificação como formas de censura indireta no país sulamericano. Também foi constatada por jornalistas uma aplicação seletiva da Lei de Meios e a falta de acesso à informação pública 78. 4.4 A ATUAÇÃO DA CELAC Senhores delegados, a CELAC, apesar de ser uma organização regional ainda bastante recente, já traz propostas de atuação na temática da liberdade de expressão em seus tratados e declarações. Isso se reflete em um dos objetivos traçados no Plano de Ação de Caracas de 2012, no qual uma das suas diretrizes traz os próprios movimentos sociais como um dos vetores da participação social no que se refere à integração regional79, estabelecendo: (iii) Social: c. Impelir a participação ativa da sociedade civil, especialmente as organizações e movimentos sociais, como parte fundamental no processo de inclusão social na integração regional. Com relação à possibilidade de atuação num eventual conflito a CELAC, em seu Tratado Constitutivo propõe a construção do diálogo, por meio da negociação política e diplomática, sem o uso da força, levando-se em consideração o Princípio da NãoInterferência, como se pode observar no art. 23 da Declaração de Caracas 80, que dispõe: 77 LEAL, Lalo. Argentina e os ganhos da liberdade de expressão. 2013. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/89/ganhos-da-liberdade-de-expressao-9472.html>. Acesso em: 3 abr. 2014. 78 SZKLARZ, Eduardo. Argentina: Liberdade de imprensa em risco. 2014. Disponível em: <http://infosurhoy.com/pt/articles/saii/features/main/2014/03/03feature-01>. Acesso em: 3 abr. 2014. 79 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Plano de Ação de Caracas 2012. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estadoslatinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1>. Acesso em 31 mar. 2014 80 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Declaração de Caracas “No Bicentenário da Luta pela Independência, Percorrendo o Caminho de Nossos Libertadores”. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estadoslatinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1>. Acesso em 31 mar. 2014 38 23. Que, reconhecendo o direito que possui cada nação para construir em paz e livremente seu próprio sistema político e econômico e no âmbito das instituições correspondentes, de acordo com o mandato soberano do povo; os processos de diálogo, intercâmbio e negociação política que sejam ativados a partir da CELAC devem ser realizados levando em conta os seguintes valores e princípios comuns: o respeito ao Direito Internacional, a solução pacífica de controvérsias, a proibição do uso e da ameaça do uso da força, o respeito à autodeterminação, o respeito à soberania, o respeito à integridade territorial, a não-ingerência nos assuntos internos de cada país e a proteção e promoção de todos os Direitos Humanos e da democracia; (grifos nossos) Como forma de enfatizar tal princípio, o mais recente Tratado constituído no âmbito da CELAC, a Declaração de Havana de 2014, em seu artigo 53, os países se comprometem a seguir trabalhando para consolidar a América Latina e o Caribe como Zona de Paz, cujas diferenças entre as nações sejam resolvidas através do diálogo, a negociação ou outra forma de solução pacífica estabelecida no Direito Internacional 81. No tocante à cooperação, durante a II Cúpula da CELAC, em janeiro de 2014, países como Argentina, Brasil e Uruguai, firmaram um acordo no sentido de compartilhar documentos relativos aos tempos das ditaduras militares vividas por estes países 82. Diante dos atuais conflitos ocorridos na Venezuela, a CELAC tem se manifestado no sentido da promoção do diálogo e dos Direitos Humanos. Nesse sentido, foi emitida uma nota oficial da CELAC, repudiando a violência nos protestos da Venezuela83: Em comunicado, a Celac expressou solidariedade aos venezuelanos e desejo de que o governo do país continue a se esforçar para dialogar com as forças políticas em ambiente de paz em prol da unidade nacional. A nota oficial, divulgada na Costa Rica, que ocupa a presidência pro tempore do organismo, considerou que “em todo o momento deve se garantir a institucionalidade democrática, o respeito à lei e à informação fiel e veraz, assim como o pleno respeito a todos os direitos humanos. A Celac também lamentou as mortes durante os protestos. “Nossa comunidade rejeita a violência e promove a segurança cidadã, a paz, a estabilidade e o desenvolvimento”, acrescenta a nota. Assim, nota-se que a CELAC já está dando seus primeiros passos na construção de um posicionamento no cenário internacional sobre esta temática. Todavia, sua atuação 81 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. II Cúpula da CELAC – Declaração de Havana. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/ii-cupula-da-comunidade-deestados-latino-americanos-e-caribenhos-celac-2013-28-e-29-de-janeiro-de-2014-2013-declaracao-de-havana >. Acesso em 27 abr. 2014 82 CARMO, Marcia. Nobel da Paz: Dom Paulo Arns me salvou da ditadura brasileira. 2014. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140411_esquivel_mc.shtml>. Acesso em: 27 abr. 2014. 83 FELIPE, Leandra. Celac pede que governo promova o diálogo na Venezuela. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2014/02/celac-pede-que-governo-promova-o-dialogo-navenezuela>. Acesso em: 31 mar. 2014 39 concreta ainda precisa ser desenvolvida. Portanto, épapel dos senhores, nesta Cúpula, desenvolver mecanismos de atuação da CELAC, bem como aprimorar os já existentes, de modo que a organização possua uma participação mais sólida e prática nos conflitos apresentados. Por conclusão, urge que os senhores delegados desenvolvam um debate a respeito do tema, de modo a elaborar Resoluções que contemplem a manutenção dos Estados democráticos, assegurando a paz social, sem cercear o direito dos povos de se manifestarem e se expressarem livremente. 5 TEMA MECANISMOS B - A SOBERANIA INTEGRADOS DE AMAZÔNICA: DEFESA E A DEFINIÇÃO FISCALIZAÇÃO DE DAS FRONTEIRAS DA REGIÃO. Senhores delegados, neste tópico será abordado o tema da segurança de fronteiras na região amazônica, lançando aos senhores as principais problemáticas e possíveis soluções acerca da atuação da CELAC e outras organizações regionais na temática. O tema ora em pauta fora trazido à pauta em virtude da premente necessidade de se unirem os esforços das nações latino-americanas e caribenhasem prol da soberania de seu patrimônio ecológico e científico. Desde a criação da CELAC, tal foro tem representado um importante ambiente de discussões e tomada de decisões de forma multilateral na América Latina e Caribe. 5.1 O BIOMA AMAZÔNICO E SUAS CARACTERÍSTICAS A Floresta Amazônica é considerada a maior floresta tropical do globo, abraçando 9 países da América do Sul84e totalizando cerca de 43% de todo o território sulamericano. A floresta chega a abranger diversos ecossistemas85, grandes reservas minerais e é fonte de uma diversidade infindável de fauna e flora, sendo até mesmo considerada o maior banco genético do mundo86. Tal vocação natural inclui, também, a titulação de uma das maiores redes hidrográficas de água doce do planeta, chegando a deter cerca de 20% das reservas de água doce - o rio Amazonas conta com 220 mil metros cúbicos de água vertida por segundo, tornando a floresta um bioma atrativo para os mais diferentes fins. 84 Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, República da Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Floresta úmida de terra firme, diversos tipos de matas, campos abertos e espécies de cerrado. 86 AMAZÔNIA LEGAL. Amazônia Legal. Disponível em: http://www.amazonialegal.com.br/textos/amazonia_legal/Amazonia_Legal.htm. Acesso em 2 abr. 2013. 85 40 Diante de grandiosa riqueza, a Floresta objeto de nossos estudos é, indubitavelmente, a maior reserva de biodiversidade do globo87, estimando-se que abrigue ao menos 50% de todas as espécies vivas da Terra88. No que tange à sua população, vivem nesse ecossistema 420 diferentes povos indígenas e tribais, falando 86 línguas e cerca de 650 dialetos. Vale ressaltar que pelo menos 60 povos vivem em condições de pleno isolamento, o que os faz preservar muitos de seus costumes e características desde a época do descobrimento. Seus 38,7 milhões de habitantes correspondem a um total de 11% da população dos 9 países que abraçam a floresta 89. 5.2 O ATUAL SISTEMA DE FISCALIZAÇÃO INTEGRADA E A POLÍTICA INTERNA DE SEGURANÇA DOS PAÍSES AMAZÔNICOS Como já fora visto, senhores delegados, a Amazônia é uma fonte de riquezas imensurável e tal fato vem chamando atenção do mundo inteiro. Desta feita, na intenção de preservar sua soberania tanto territorial quanto cultural, os países amazônicos devem solidificar suas políticas internas de segurança, visando a um maior enrijecimento e monitoramento das fronteiras da floresta. Neste ponto, devem ser levadas em conta as próprias adversidades inerentes à região, como, por exemplo, a alta densidade florestal, o regime de chuvas90, dentre outros. Figura 4 – Amazônia Continental. Fonte: Pinonfriaes. Disponível em: http://www.pinonfriaes.com/page_25.html. Acesso em: 20 abr. 2014. 87 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Biomas. Disponível em: http://7a12.ibge.gov.br/vamosconhecer-o-brasil/nosso-territorio/biomas. Acesso em 2 de abr. 2014. 88 PINONFRIAES. Pan-Amazônia. Disponível em: http://www.pinonfriaes.com/page_25.html. Acesso em 2 de abr. 2014. 89 ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA. A Amazônia: uma apresentação. Disponível em: http://otca.info/portal/docs/Livreto_3_idiomas.pdf. Acesso em 3 de abr. 2014. 90 Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, “a região Amazônica possui uma precipitação média de aproximadamente 2300 mm.ano-1, embora tenham regiões (na fronteira entre Brasil e Colômbia e Venezuela) em que o total anual atinge 3500 mm. Nestas regiões não existe período de seca.” Disponível em: http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/fish.html. Acesso em 3 de abr. 2014. 41 Dessa forma, uma política de segurança integrada robusta deve ser levada a cabo no intuito de salvaguardar a soberania da floresta tropical mais rica em biodiversidade do mundo. Essa tarefa, portanto, cabe às organizações regionais latino-americanas e caribenhas mais atuantes na temática, como a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)91 e a própria CELAC. Como parte da estrutura organizacional da OTCA, o Peru sugeriu, em 2006, na 1ª Reunião de Ministros da Defesa, a criação da Comissão Especial sobre Defesa e Segurança Integral da Amazônia: A sugestão, feita pelo Peru, faz parte da ata final do encontro, assinada (...) pelos ministros da Defesa da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Suriname e pela a diretora de assuntos políticos multilaterais do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela. A ideia é que a nova comissão estude as prioridades relacionadas à segurança na região. Sua criação está prevista no artigo 24 do Tratado de Cooperação Amazônico, que tem como finalidade apoiar as políticas setoriais da OTCA. (...) No documento, os ministros se comprometem a “avançar na interlocução política sobre questões específicas de interesse dos Estados Membros da OTCA, especificamente sobre a defesa e segurança integral da Amazônia em vista da crescente ameaça que a afeta”, diz a ata. O crime transnacional organizado (que envolve o tráfico de drogas ilícitas, armas e munições), a interdição e sistemas de vigilância e proteção da Amazônia, além do tráfico ilegal de espécies e recursos florestais da flora e fauna amazônica foram os principais assuntos discutidos durante a reunião de ministros da Defesa. Em entrevista à Agência Brasil, a Secretária-Geral da OTCA, RosalíaArteaga, disse que a reunião foi muito importante “principalmente porque foi a primeira vez que ministros da Defesa se reuniram para tratar de questões como água, proteção ambiental e perigos contra a biodiversidade”. Segundo Arteaga, “é muito bom que o assunto não seja discutido apenas por ministros do Meio Ambiente, mas que tenha um alcance maior por intermédio dos ministros da Defesa e com isso ganhe um caráter de segurança nacional."92 Nessa mesma reunião, o compartilhamento do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM)93 também foi alvo de discussões. A maioria dos países integrantes da Organização 91 O site oficial da OTCA é o seguinte: http://otca.info/portal/index.php?p=index. Acesso em 3 abr. 2014. AGÊNCIA BRASIL. Criação de comissão em defesa da Amazônia recebe apoio em reunião de ministros da Defesa. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2006-07-15/criacao-decomissao-em-defesa-da-amazonia-recebe-apoio-em-reuniao-de-ministros-da-defesa. Acesso em 3 abr. 2014. 93 “O SIPAM/SIVAM é um sistema gigantesco, concebido pela Comissão de Assuntos Estratégicos do governo brasileiro (já extinta), que abrange áreas que vão desde o monitoramento de queimadas à qualidade das águas da Região Amazônica, tendo imensas aplicações civis e militares. O controle do Tráfego Aéreo e a Defesa Aérea da região são apenas uma parte do SIPAM/SIVAM. (...)Com o projeto Sipam, a tecnologia está invadindo a selva. Computadores, telefones, fax e e-mail por satélite, plataformas de coleta de dados meteorológicos e ambientais, radares meteorológicos e de vigilância, sofisticadas antenas parabólicas e outros equipamentos de primeira geração estão sendo instalados em locais afastados e comunidades isoladas de toda a Amazônia Legal brasileira, que abrange nove Estados e uma área de 5,2 milhões de quilômetros quadrados. Trata-se do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a versão civil do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Esses equipamentos permitirão a coleta de um conjunto variado de informações sobre a Amazônia como nunca se teve antes. São dados que vão desde a biodiversidade, o clima e a situação dos rios da região até o mapeamento preciso de áreas desmatadas e queimadas. Também poderão ser obtidas informações sobre 92 42 se declarou favorável ao pleito, no entanto o Equador ressaltou a necessidade de a OTCA fomentar a criação de um sistema mais integrado, de forma a aprimorar e tornar mais eficiente a fiscalização das fronteiras.Contudo, a Venezuela lembrou que essa mesma organização já havia aprovado anteriormente o incentivo ao estabelecimento de sistemas nacionais de vigilância, criticando a posição equatoriana e colombiana94 de criar mecanismos integrados95. O governo venezuelano, vale ressaltar, já havia sinalizado a proposta de fomentar uma maior autonomia, anunciando, em 2004, que pretendia desenvolver seu próprio sistema de monitoramento, o Sistema de Vigilância do Orenoco e da Amazônia (SIVORAM). O pleito de se instituir um mecanismo integrado de segurança tem como um de seus principais argumentos a verificação de antigas e novas ameaças à região. E que ameaças seriam essas? Ora, a ação frequente de grupos criminosos que se aproveitam da densa floresta para mascarar suas atividades ilegais, utilizando-se das mais variadas rotas (áreas terrestres e fluviais) para realizar o transporte de drogas, armas e munições é tida como a principal delas. Além desses delitos, ainda ocorrem com frequência a biopirataria, oscrimes ambientais, a extração ilegal de madeira, dentre outros. Desta forma, o caráter transnacional desses delitos demandaria um mecanismo compartilhado de informações, uma vez que tais ações representam uma ameaça real às soberanias das nações que dividem as mesmas fronteiras do bioma amazônico. A Venezuela, entretanto, prezando por sua soberania e principalmente pelo apaziguamento das fronteiras com a Colômbia, tem claro intuito de levar adiante seu grandioso projeto de vigilância transfronteiriça na região, inspirado no projeto brasileiro do SIVAM. ocupação e uso do solo, garimpos ilegais e focos de epidemias. Todo esse conhecimento será armazenado num banco de dados do Sipam e repartido com órgãos do governo com interesses na Amazônia.” Para maiores informações, acesse: http://freepages.military.rootsweb.ancestry.com/~otranto/fab/sivam.htm. Acesso em: 3 abr. 2014. 94 Faz-se mister relembrar o contexto no qual se deu essa conferência: Venezuela e Colômbia já vinham de uma crise diplomática em 2005, devido ao sequestro colombiano de guerrilheiros das FARC em território venezuelano. O complicador veio em 2006, quando Colômbia e Estados Unidos assinaram um Tratado de Livre Comércio, que resultou na saída da Venezuela da CAN (Comunidade Andina de Nações). Disponível em: http://www.ufrgs.br/sebreei/2012/wp-content/uploads/2013/01/Flavia-Carolina-Fagundes.pdf. Acesso em 3 abr. 2014. 95 FAGUNDES, Flávia Carolina de Resende. O papel da OTCA para a integração em segurançae defesa no espaço andino-amazônico: desafios e oportunidades. Disponível em: http://www.ufrgs.br/sebreei/2012/wpcontent/uploads/2013/01/Flavia-Carolina-Fagundes.pdf. Acesso em 3 abr. 2014. 43 Nesse certame, a tendência para harmonizar os esforços para a construção de uma ampla rede de “olhos e ouvidos” na Amazônia está, basicamente, em três opções: i) criação, por parte de cada Estado, de mecanismos nacionais de segurança das fronteiras; ii) criação de um mecanismo integrado de segurança, abarcando a totalidade dos países amazônicos; ou iii) a harmonização desses dois últimos, no sentido de compartilhar as informações de cada país e construir uma rede integrada de monitoramento a ser coordenada pela OTCA. A questão lançada, senhores delegados, é exatamente a seguinte: como a CELAC, uma organização regional que preza pela soberania latino-americana e caribenha sem a interferência dos Estados Unidos e Canadá, irá colaborar com tais esforços? Cabe à organização criar uma comissão interna de defesa para atuar em parceria com a já criada Comissão Especial sobre Defesa e Segurança Integral da Amazônia da OTCA? E os países que não compõem a Amazônia? Eles se interessam em participar desse debate, ainda que eles sejam beneficiados diretamente da preservação da floresta? Esses pontos e perguntas deverão guiar as reuniões dos senhores. A seguir, serão analisadas as políticas internas de cada país amazônico. Boa leitura! 5.2.1 A Amazônia brasileira É imprescindível que os senhores entendam que, ao longo das duas últimas décadas, as fronteiras latino-americanas vêm assumindo relevante papel nas dinâmicas de integração regional e segurança nacional principalmente na região andino-amazônica, incorrendo o Brasil em semelhante processo de integração. Desse modo, paulatinamente, o Brasil vem se posicionando quanto ao crescente processo de policiamento, fiscalização e zoneamento de suas fronteiras. Por meio da realização de um constante processo de transferência de unidades militarizadas para Amazônia, tal região tem sido concebida como verdadeira área privilegiada de atuação das Forças Armadas Brasileiras, no que se refere às ameaças e vulnerabilidades relativas à região fronteiriça amazônica 96. Neste sentido de constante vigilância, evidencia-se o desenvolvimento nacional no que tange ao policiamento e fiscalização regional, a partir da década de 1990, com a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) 97. Trazido à efetividade por meio do 96 MONTEIRO, LÍCIO CAETANO DO REGO. Políticas de Segurança nas Fronteiras na Amazônia SulAmericana: Uma comparação entre Brasil e Colômbia. 2011. 70 f. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. 97 Trazido à baila com a exposição de Motivos nº 194 do Ministério da Aeronáutica, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e do Ministério da Justiça, durante o governo de Fernando Collor de Mello. 44 Plano de Defesa Nacional, tal sistema em conformidade ao Sistema de Proteção Amazônica (SIPLAN) 98, buscou trazer às fronteiras amazônicas uma estrutura integrada de meios técnicos destinados à aquisição e tratamento de dados e para a visualização e difusão de imagens, mapas, previsões e outras informações. Desse modo, o SIVAM entrou em operação em 2002 e buscou trazer o zoneamento das fronteiras Amazônicas, através de tecnologias como o sensoriamento remoto, a monitoração ambiental e meteorológica, a exploração de comunicações, a vigilância por radares, recursos computacionais e meios de telecomunicações, pautando-se em efetivo empreendimento para assegurar a soberania nacional e fiscalização das zonas amazônicas 99. Ademais, também fora implantada a devida atuação da Polícia Federal nas zonas transfronteiriças com a Operação COLBRA, iniciada ao ano de 2002. Baseando-se com evidência na atuação da fronteira Brasil-Colômbia, tal operação proporcionou a implantação de cerca de dez bases policiais, além de algumas bases móveis, para patrulhar principalmente as vias fluviais que ligam ambos os Países 100. Quanto à Operação COLBRA, estatisticamente restou comprovada a diminuição em cerca de 60%, na região amazônica, do tráfico de entorpecentes oriundos da Colômbia, tendo recebido a Operação do Governo Federal, o montante de R$ 10 milhões para financiamento do projeto, e conta, atualmente, com 80 homens trabalhando em 10 postos101 ao longo da fronteira com a Colômbia. Ainda nesta perspectiva protecionista, é necessário que os senhores percebam que o Brasil, por meio da sua Polícia Federal, já teve a oportunidade de identificar as principais rotas de tráfico de armas e comunicação transfronteiriça ilegal na região amazônica. Tal realidade restou evidencianda em Comissão Parlamentar de Inquérito, a qual identificou a existência de diversas rotas do tráfico, vertendo desde os armamentos que saem dos EUA, passando pelo Panamá e pelo Brasil, para serem, posteriormente, trocadas por drogas na Colômbia, além da rota em que as armas provêm dos EUA, passando pelo 98 MAIA, TATYANA DE AZEVEDO. Segurança da Fronteira Amazônica Brasileira. 2012. Disponível em: <http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/3799/1/2012_TatyanadeAzevedoMaia.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014. 99 MINISTÉRIO DA DEFESA. Sensoriamento Remoto. Disponível em: <http://www.sipam.gov.br/content/view/40/53/>. Acesso em: 04 abr. 2014 100 MONTEIRO, LÍCIO CAETANO DO REGO. Políticas de Segurança nas Fronteiras na Amazônia SulAmericana: Uma comparação entre Brasil e Colômbia. 2011. 70 f. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. 101 AGÊNCIA BRASIL. Operação Cobra diminui tráfico de entorpecentes na Amazônia. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/node/598874>. Acesso em: 04 abr. 2014. 45 México e Paraguai, com destino ao Brasil, e das armas europeias que saem de Roterdã, na Holanda, entram pelo Suriname, passam pelo Brasil e seguem para a Colômbia. Ainda, outra rota teria origem na China, em que as armas desembarcam no Brasil para depois seguirem ao Paraguai e à Colômbia. Outrossim, na maioria das rotas o destino final é a Colômbia, pois é onde se encontra o maior número de compradores de armas e munições, além de ser grande fornecedora de cocaína 102. Por conseguinte, diante de uma constante “ameaça colombiana” 103 , o Estado brasileiro optou por se prevenir com a militarização de suas fronteiras, antes que algum atentado restasse concretizado. Ainda assim, é possível evidenciar a integração entre agências dos Estados, no caso da Operação COLBRA (Colômbia-Brasil), que envolve a cooperação entre Polícia Federal e Exercito104. Ainda, por consequência da necessidade de efetiva proteção e fiscalização das fronteiras brasileiras relativas à região amazônica, importa salientar o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFROM)105que, envolvendo radares e comunicação veicular, mostra-se como verdadeira ferramenta à proteção nacional. Finalmente, no que se refere à política interna brasileira, a presidenta da República instituiu, ao dia 8 de junho de 2011, o Plano Estratégico de Fronteiras através do Decreto nº 7. 496/2011106. Este estabeleceu de imediato como uma de suas diretrizes, em seu artigo 2º, II, a integração brasileira com os países vizinhos para esta efetiva defesa, evidenciando assim, a liderança político-estratégica brasileira na região. 5.2.2 A Amazônia peruana. Quanto à constituição política relativa ao território abrangido pela Amazônia peruana, notem que esta se caracteriza por histórico bastante específico. Partindo de uma 102 VAZ, GABRIELA SOMMER. O tráfico de armas como ameaça transnacional na fronteira amazônica Brasil/Colômbia. 2013. Disponível em: <http://cnm.ufsc.br/files/2014/01/Monografia-da-Gabriella-Vaz.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014. 103 MAIA, TATYANA DE AZEVEDO. Segurança da Fronteira Amazônica Brasileira. 2012. Disponível em: <http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/3799/1/2012_TatyanadeAzevedoMaia.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014. 104 MONTEIRO, LÍCIO CAETANO DO REGO. Políticas de Segurança nas Fronteiras na Amazônia SulAmericana: Uma comparação entre Brasil e Colômbia. 2011. 70 f. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. 105 SENADO. Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras. 2013. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/defesa-nacional/. aspx>. Acesso em: 04 abr. 2014. 106 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto Nº 7494/2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7496. htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7496.htm>. Acesso em: 04 abr. 2014. 46 constituição fronteiriça problemática em relação ao Equador 107e sendo esta questão fronteiriça um dos mais longos conflitos armados do hemisfério ocidental, tal disputa fora consequência de definições geográficas imprecisas utilizadas ainda nos tempos coloniais 108. Essa região é caracterizada como de particular riqueza natural e econômica, tendo buscado estabelecer bases internas para a proteção e segurança nacional amazônica. Neste contexto, Identificado pela sigla IIAP, o Instituto de Investigação da Amazônia peruana constituiu-se para atuar na investigação científica e tecnológica no intuito de prover o desenvolvimento interno da Amazônia peruana 109. Esta instituição, portanto, realiza periodicamente planos estratégicos institucionais, os quais são seus principais objetivos e metas, a proteção das áreas marginais amazônicas, com enfoque à diversidade ambiental e proteção das fronteiras amazônicas 110. Ademais, importa aclarar aos senhores que a proteção e a segurança da Amazônia peruana ainda contam com a presença da SIAMAZONIA111. Tendo sido constituída como verdadeiro centro de referência e manejo de informações sobre a diversidade biológica e ambiental da Amazônia peruana, esta se constitui no proposito de elevar o nível de conhecimento e comunicação entre as áreas amazônicas, no intuito de contribuir através de praticas e decisões acertadas para a conservação e o uso sustentável desta região. Assim, por mais que o governo peruano destaque-se por relevante interesse e proatividade em termos de segurança e proteção da região em tela, ambas as organizações supracitadas caracterizam-se por possuir um viés protecionista não-militar, basicamente pautando-se na preservação e manutenção da área verde. Contudo, devido à realidade de que, historicamente, a região andina passou a concentrar grande parte do cultivo, processamento e o tráfico de cocaína do continente sulamericano, o narcotráfico se configurou como uma ameaça à segurança nacional peruana. 107 SEUHISTORY. Tratado de Mapasingue estabelece fronteira na Amazônia Peruana. Disponível em: <http://hojenahistoria.seuhistory.com/tratado-de-mapasingue-estabelece-fronteiras-peruanas-na-amazonia>. Acessoem: 04 abr. 2014. 108 HGNEWS. History Guy: News of the World: Peru, Equador sign Peace Treaty. 1998. Disponível em: <http://www.historyguy.com/hgnews_ecuador-peru.html>. Acesso em: 30 jun. 2014. 109 IIAP. Instituto de Investigaciones de laAmazonia Peruana. Disponível em: <http://www.iiap.org.pe/>. Acesso em: 04 abr. 2014. 110 IIAP. Instituto de Investigaciones de laAmazonia Peruana. Disponível em: <http://www.iiap.org.pe/>. Acesso em: 04 abr. 2014. 111 SIAMAZÔNIA. Sistema de Información de ladiversidad biologia y ambiental de laAmazonia peruana. Disponível em: <http://www.siamazonia.org.pe/>. Acesso em: 04 abr. 2014. 47 Este fato ocorreu especialmente a partir da década de 1990, quando os EUA passaram a apoiar ações de combate ao narcotráfico no território da Colômbia, o que gerou o deslocamento de produtores ilegais para o Peru e, consequentemente, no aumento do cultivo de folhas de coca no país. Por consequência, o Peru buscou estabelecer acordos de cooperação para o combate ao narcotráfico com todos os seus países vizinhos, com a União Europeia e com diversos outros países da América Latina112. Além disso, respondendo à efetiva necessidade de uma maior proteção fronteiriça no que tange aos limites do território peruano-amazônico, o País constitui bases da Força Aérea do Peru(FAP), coadunando com programa de fiscalização próprio quanto à Direção de Vigilância da Amazônia (DIVAN) 113. Neste sentido, recentemente o Governo Peruano buscou verdadeira aliança estratégica com o Brasil, aliando tecnologias do SIVAN-SIPAN114, para uma atuação integrada em busca de uma efetiva vigilância e proteção das áreas de ambos os Países115. Quanto ao envolvimento na seara política externa do estado peruano, breves considerações merecem ser feitas. Evidencia-se novamente o relacionamento de cooperação Peru-Brasil, tendo em vista a assinatura em 2012, pelo Ministro da Defesa peruano, de dois acordos com o governo brasileiro, sendo um na área de engenharia naval e o outro no campo aeroespacial. Além disso, restou acordado o treinamento e capacitação de efetivos militares peruanos no Brasil116. No contexto equatoriano, ainda em 2012, o presidente peruano encabeçou juntamente com o presidente do Equador, cerca de 16 convênios entre os dois países, em diversas áreas, destacando-se aqueles em cooperação militar, segurança e questões de fronteiras, combate ao narcotráfico e intercâmbio comercial e promoção de 112 VICENTINI, PAULO FAGUNDES. A politica interna e a Diplomacia do Peru: Da incerteza à instabilidade do Projeto de Integração da América do Sul. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/article/viewFile/26717/20278>. Acesso em: 04 abr. 2014. 113 PERU. Controle de fronteiras é vital no combate ao narcotráfico. Disponível em: <http://infosurhoy.com/pt/articles/saii/features/main/2012/02/27/feature-01>. Acesso em: 04 abr. 2014. 114 PERÚ Y BRASIL ANALIZAN EL PROYECTO DE VIGILANCIA DE FRONTERAS SIVAMSIPAM. Disponível em: <http://maquina-de-combate.com/blog/?p=20334>. Acesso em: 04 abr. 2014. 115 BONDADES DEL MODELO PERUANO SERÁN EXPUESTAS EN FORO ECONÓMICO MUNDIAL EN DAVOS. 2012. Disponível em: <https://luizcore.wordpress.com/2012/01/11/>. Acesso em: 04 abr. 2014. 116 MINISTÉRIO DA DEFESA. Sistema de Proteção da Amazônia. Disponível em: <http://www.sipam.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=192&Itemid=92>. Acesso em: 04. Abr. 2014. 48 exportações, desconstruindo, por hora, o constante histórico de efetivos conflitos territoriais entre os países 117. Finalmente, senhores, no que tange ao seu relacionamento peruano com a Colômbia, evidencia-se que o Peru passou a estabelecer tropas nesta sua fronteira, como forma de combater a organização Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) 118. Contudo, ao ano de 2002, Peru e Colômbia assinaram acordos nas áreas de defesa e de combate ao narcotráfico, criando um Grupo de Defesa Bilateral. No mesmo sentido, em 2007, iniciaram-se negociações para a criação de um Acordo Geral de Integração entre os países119. 5.2.3 A Amazônia colombiana Atualmente, a República da Colômbia possui cerca de 40% do seu território coberto pela Amazônia, sendo dividida em Amazônia ocidental e a Amazônia oriental. A primeira é composta pelos departamentos de Putumayo, Caquetá e Guaviare, região esta que se encontra mais perto do centro econômico e político do país. Já na parte orientalse encontram a Amazonas, Vichada e Guainía que ficam mais afastadas do centro colombiano, estando mais próximas ao Brasil120. Para esse tema, não podemos deixar de mencionar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – FARC. Esse grupo se fixou na região Amazônica no inicio dos anos 60, seguindo a linha dos movimentos de autodefesa dos camponeses, contra a violência do Estado e dos latifundiários. Além deles, houve grupos formados por empresários ilegais, protegendo o tráfico de drogas. Desta forma, os territórios que se localizavam na Amazônia não tiveram a presença efetiva do Estado, mas sim, dos grupos organizados - vistos como agentes repressivos -, o que gerou um processo violento na apropriação dessas terras. 117 VICENTINI, PAULO FAGUNDES. A politica interna e a Diplomacia do Peru: Da incerteza à instabilidade do Projeto de Integração da América do Sul. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/article/viewFile/26717/20278>. Acesso em: 04 abr. 2014. 118 VICENTINI, PAULO FAGUNDES. A politica interna e a Diplomacia do Peru: Da incerteza à instabilidade do Projeto de Integração da América do Sul. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/ConjunturaAustral/article/viewFile/26717/20278>. Acesso em: 04 abr. 2014. 119 PERU, Ministério de Relaciones Exteriores Del Perú. Declaración de Ilo. 19/10/2010. Disponível em:<http://www.rree.gob.pe/portal/boletinInf.nsf/mrealdia/FEAE233E14FCEFB7052577C1005A8579?OpenD ocument>. Acesso em: 03/04/2014. 120 MONTEIRO, Licio Caetano do Rego. Politicas de segurança nas fronteiras na Amazônia sul-americana: uma cooperação entre Brasil e Colômbia. Disponível em: <file:///D:/mariliamachado/Downloads/2011-ABEDPolíticas-de-fronteira-Brasil-Colômbia-LCRM.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2014. 49 A Amazônia é a região da Colômbia que faz fronteira com o Brasil, Peru (e somente por meio da Amazônia, nesses dois países), Venezuela e Equador. Nesse sentido, nos dois últimos a integração entre as fronteiras é mais presente. Segundo Licio Caetano do Rego Monteiro121, pode-se afirmar que: Considerando a complexidade da combinação entre cultivos ilícitos, grupos armados irregulares e presença estatal pouco consolidada, podemos constatar que os desafios geopolíticos do Estado colombiano na região amazônica são bastante distintos do que ocorre no Brasil. O mesmo pode ser dito em relação à questão das fronteiras colombianas. Os territórios fronteiriços da Colômbia possuem fraca presença de infra-estrutura e de instituições do Estado. Mesmo nas áreas mais povoadas da faixa de fronteira colombiana, como os segmentos andinos da fronteira com o Equador e a Venezuela, o que prevalece é o baixo vínculo entre o Estado central e as esferas econômicas e politicas locais. Existe uma heterogeneidade. A Lei nº 191 de 1995 da Colômbia, finalmente, fixou um regime diferenciado para as suas fronteiras, visando o desenvolvimeno; a promoção da infra-estrutura; a proteção ambiental; e promoção da presença estatal. Porém, essa lei de quase nada adiantou. 5.2.4 A Amazônia venezuelana Em relação a este especifico país, ilustres delegados, é necessário informar que ele tem hoje um território que chega a 916.445 km². Desse montante, a área que a Floresta Amazônica ocupa é de 51.000 Km². Ou seja, apenas aproximadamente 5,56% do território é ocupado pela Amazônia que se encontra na região sul do país. Neste sentido, uma das características da Venezuela é de ser um dos países sul-americanos mais urbanizados, aliado ao fato de possuir grandes matérias-primas, como o petróleo – um dos maiores depósitos do mundo -, carvão, ouro, ferro e bauxita. Em virtude da grande reserva de matéria-prima, o então presidente Hugo Chávez122 pôde influenciar alguns países da América Latina123. 121 Op. cit. Hugo Chávez Frías foi o 56.º Presidente da Venezuela, com fortes características políticas e militares. Esse político foi o líder da Revolução Bolivariana, sendo característico a crítica ao neoliberalismo e da política externa contra os Estados Unidos. 123 Venezuela. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1618_amazon/page10.shtml>. Acesso em: 03 abr. 2014. 122 50 Figura 5 Mapa da Venezuela com a Amazônia. Fonte: VenezuelaTuya. Disponível em: <http://www.venezuelatuya.com/estados/amazonas.htm >. Acesso em: 03 abr. 2014 A Floresta Amazônica, que se encontra no território venezuelano, com o passar do tempo, teve uma redução significativa. Isso decorre do forte desenvolvimento na localidade. É curioso saber que, oficialmente, a Venezuela afirma proteger 35% de suas reservas e parques, porém, infelizmente, não é o que acontece na prática, havendo constante e ininterrupta exploração de madeira e minerais. O país não possui uma política governamental coordenada, o que acarreta na crescente mineração ilegal, especificamente no estado de Bolivár. Este fato vem ocasionando num aumento da poluição no rio Caura124. O governo venezuelano não vem conseguindo controlar esta contaminação, que além de degradar o ecossistema, também tem prejudicado bastante as populações indígenas ribeirinhas 125. Com o intuito de conter a mineração ilegal, o governo tem feito operações militares regularmente e implantado, também, medidas sociais para mostrar aos garimpeiros outras fontes de emprego, para além da mineração. Porém, o aumento do preço internacional do ouro, fez com que os mineradores procurassem outras áreas para trabalhar ilegalmente. Crescendo, assim, o risco de saúde dos povos indígenas e todos aqueles que moram pertos dos rios infectados. A diminuição acelerada da área ocupada pela Floresta Amazônica no território venezuelano tem assustado estudiosos da área. Conclui-se que os principais motivos deste desmatamento contínuo são: a mineração excessiva; a extração da madeira de forma ilegal e sem controle; as queimadas; as práticas agrícolas; o crescimento da 124 O rio Caura é considerado uma das bacias mais importantes da região sul da Venezuela que passa pela Floresta Amazônica. 125 ZERPA, Fabiola. Mineração e mercúrio afetam a região do rio Caura. Disponível em: <http://www.oeco.org.br/noticias/26854-mineracao-e-mercurio-afetam-a-regiao-do-rio-caura>. Acesso em: 03 abr. 2014. 51 população; a exploração comercial de produtos naturais, junto com turismo crescente; além da visível mudança climática. 5.2.5 A Amazônia equatoriana Internamente, o Equador enseja posição bastante firme quanto ao seu reconhecimento perante os seus países vizinhos, no que se refere ao fato de ser um efetivo país amazônico126. Historicamente, isto proporcionou uma ideologia interna bastante protecionista, tanto em relação à classe política, quanto aos militares envolvidos na defesa e preservação da região amazônica no país. Como verdadeira representação de sua nacionalidade e soberania, a frase “o Equador é um país amazônico” 127 tornou-se emblemática e característica de todo um histórico de efetiva positivação internacional quanto a este caráter. Constituindo sua região amazônica com fronteiras que abrangem regiões conflituosas como as fronteiras com a Colômbia e o Peru, de fato o Equador já pôde travar alguns enfrentamentos armados com ambas as nações, sendo inclusive, fator de extrema importância para impulsionar o país militarmente, vindo a construir o montante militar hoje presente em seu território. Quanto à fronteira que liga a Colômbia ao Equador, constitui-se de uma faixa terrestre de 586 km. Devido à realidade de integração cultural e regional que as populações localizadas nas proximidades desta faixa de terra passaram a agregar, evidencia-se o fato que, emblematicamente, desde a década de 1990 ambas as nações constituíram uma Comissão Binacional Fronteiriça (COMBIFRON)128. Esta comissão objetiva uma consolidação de relações de confiança em torno da agenda de segurança e defesa na fronteira. Contudo, senhores, percebemos que a zona fronteiriça Equador-Colômbia vem contando com deslocamentos forçados das populações, tendo em vista a grande 126 A MARQUES, Adriana. EQUADOR, País amazônico: Um exame do discurso militar sobre a Amazônia e a integridade territorial do Equador. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1311981130_ARQUIVO_AdrianaA.Marques.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014. 127 A MARQUES, Adriana. EQUADOR, País amazônico: Um exame do discurso militar sobre a Amazônia e a integridade territorial do Equador. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1311981130_ARQUIVO_AdrianaA.Marques.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014. 128 A MARQUES, Adriana. EQUADOR, País amazônico: Um exame do discurso militar sobre a Amazônia e a integridade territorial do Equador. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1311981130_ARQUIVO_AdrianaA.Marques.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014. 52 quantidade de refugiados, violações dos direitos humanos, ou até mesmo o alto índice de sequestros e extorsões, todos decorrentes da confluência entre as atividades dos narcotraficantes, paramilitares e guerrilheiros, que operam acima das divisões territoriais oficiais. É necessário que os senhores atentem para o fato de que, embora o Equador constitua uma proteção militar e até mesmo regional em suas fronteiras com o Peru e a Colômbia, além do problema central que envolve estes países, evidencia-se que o lado equatoriano constitui as províncias de Carchi, Esmeraldas e Sucumbíos como áreas estratégicas para a atividade do narcotráfico. Mesmo o Equador não tendo significativos plantios de coca registrados, suas fronteiras acabam sendo permeadas pela necessidade de comunicação de tais atividades, servindo como ponto de escoamento129. Decorrente desta realidade, a partir da década de 2000, devido ao razoável poderio militar equatoriano, este se dispôs a um convênio com os EUA para a concessão da Base de Manta, na sua costa do Pacífico, para operações antidrogas. Mais precisamente com os desdobramentos do Plano Colômbia, a questão de segurança e defesa no relacionamento Colômbia e Equador, passou por sucessivas crises, levando a uma ruptura das relações diplomáticas entre os países em 2008. Assim, apesar de o governo equatoriano reforçar militarmente a fronteira e lançar planos de desenvolvimento econômico e social para as províncias fronteiriças (a exemplo da Unidade de Desenvolvimento da Fronteira Norte – UNEDOR e do Plano Equador), o governo tem procurado se manter distante do conflito colombiano 130. Todavia, em outubro de 2009, restou reestabelecida a COMBIFRON 131 , durante o encontro binacional de Ministros de Defesa e Segurança do Equador e Colômbia, ambos se comprometendo com o avanço no plano de segurança das fronteiras e de integração regional. Ainda em meio a estes planos de integração, percebe-se que o efetivo militar equatoriano nas fronteiras com a Colômbia passou de 500 para 5.000 homens. Quanto à relação com o Peru, senhores, o histórico do relacionamento que envolve a fronteira Equador-Peru não é dos melhores. Passando por uma questão fronteiriça bastante 129 A MARQUES, ADRIANA, op. cit. INSTITUTO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS. Colômbia: o conflito interno e as fronteiras com o Equador e a Venezuela. Disponível em: <http://ibri-rbpi.org/2010/12/09/colombia-oconflito-interno-e-as-fronteiras-com-o-equador-e-a-venezuela-por-marcelo-santos/>. Acessoem: 04 abr. 2014 131 MINISTÉRIO DA DEFESA. Concluye con éxito Encuentro Binacional de Ministros de Defensa y Seguridad de Ecuador y Colombia. Disponível em: <http://www.defensa.gob.ec/tag/combifron/>. Acesso em: 04 abr. 2014 130 53 particular, tais disputas foram consequência de irregulares definições geográficas utilizadas ainda à época colonial. Deste modo, sendo região fronteiriça caracterizada por evidente conflito, as disputas territoriais de 1941 132, bem como o conflito armado de 1981, ensejaram um grande investimento do governo equatoriano no que se refere à sua força militar para proteção das fronteiras amazônicas. Em 1998, o Equador e o Peru a assinam o Acordo Global e Definitivo de Paz em outubro de 1996, no Itamaraty, estabelecendo um quadro para acabar com uma disputa de fronteira 133. Salienta-se, ainda, o brilhante exercício de mediação desencadeado pelos países que foram tidos como“Garantes”do Protocolo do Rio de Janeiro de 1942 (Argentina, Brasil, Chile e Estados Unidos) que, a partir de janeiro de 1995, mobilizou-se por aproximadamente quatro anos através de esforços diplomáticos em escala sem precedentes na região e determinou a criação da primeira efetiva operação de paz multilateral no continente sul-americano134. Assim, a demarcação formal das regiões fronteiriças começou em 1999 e o acordo foi ratificado sem oposição pelos congressos dos dois países, pondo relativo fim ao litígio. 5.2.6 A Amazônia boliviana A Bolívia é o país que tem a maior porcentagem de seu território situado na bacia Amazônica. De acordo com dados do Tratado de Cooperação da Amazônia, a superfície territorial boliviana que se compreende no território amazônico, é de uma extensão total de 824.000 Km², representando assim, 75% do seu território nacional, bem como 11,2% de toda a bacia Amazônica Ocidental135. Assim, a região caracteriza-se por ter a maior diversidade étnica e cultural do país, costumeiramente habitada por povos indígenas que se auto-organizam em seus idiomas próprios. Ademais, o impacto e intervenção ecológica na Amazônia Boliviana é um dos 132 GONÇALVES, RONALDO. Relações Brasil - Peru - Equador : solução do conflito de fronteiras de 1941. Disponível em: <http://ronaldogoncalves.com.br/artigos/Artigo_27.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2014. 133 INSTITUTO. Colômbia: o conflito interno e as fronteiras com o Equador e a Venezuela. Disponível em: <http://ibri-rbpi.org/2010/12/09/colombia-o-conflito-interno-e-as-fronteiras-com-o-equador-e-avenezuela-por-marcelo-santos/>. Acesso em: 04 abr. 2014 134 SILVA, RAUL MENDES. MISSÕES DE PAZ: A DIPLOMACIA BRASILEIRA NOS CONFLITOS INTERNACIONAIS. Disponível em: <http://www.raulmendesilva.pro.br/missoes_processo_de_paz_equador_port.shtml>. Acesso em: 04 abr. 2014. 135 PORTALDE LA AMAZONIA BOLIVIANA. Disponível em: <http://www.amazonia.bo/noticia_resumen. php?codigo_noticia=mRazy0Hl3fQtNDxp/NkWZT1dj5MMrABiw+XUcZWHPd8>. Acesso em: 04 abr. 2014. 54 mais baixos da Região, contendo um percentual de desflorestamento bem abaixo do que pode ser verificado em países vizinhos 136. Quanto à proteção de suas fronteiras internas, a Bolívia conta com a presença da Agência para o Desenvolvimento das Macrorregiões e zonas Fronteiriças. O objetivo da ADEMAF seria contribuir no desenvolvimento das regiões mais periféricas, no intuito de gerar um equilíbrio inter-regional, preservando pela soberania boliviana sobre seus recursos naturais, bem como para articular as distintas iniciativas e ações governamentais. Contando com as Forças Armadas Bolivianas e demais entidades governamentais, a ADEMAF, portanto, busca angariar os mais múltiplos esforços para a proteção, fiscalização e sistematização das necessidades das Zonas Fronteiriças Bolivianas. Por conseguinte, nota-se como objetivo fundamental da Agência, o controle de tráfico de mercadorias em suas fronteiras, bem como a ampliação da segurança nacional em todo o seu território 137. Quanto à política de soberania e segurança de suas fronteiras, a Bolívia possui acordos bilaterais tanto com o Brasil quanto com o Peru, no intuito de promover a proteção de suas zonas transfronteiriças. Atualmente, os Ministros de Defesa do Peru e da Bolivia, acordaram fortalecer as medidas de segurança fronteiriça, por meio da II Reunião de Mecanismos de Consulta e Coordenação “2+2” realizada em Santa Cruz, Bolívia 138. Ambas as autoridades participaram da submissão de regulamento que permite o intercâmbio de informações privilegiadas para combater as atividades ilegais em zonas transfronteiriças, comumente identificadas como Zonas de Narcotráfico, Mineração ilegal ou mesmo Contrabando. Quanto à política bilateral Bolívia-Brasil, restou constituído acordo para a demarcação de suas fronteiras na Bacia Amazônica, como verdadeira expressão de diplomacia e soberania nacional139. Ainda assim, alguns pequenos conflitos costumam ocorrer com relação à região limítrofe Brasil-Bolívia. Tais conflitos muitas vezes têm como principal pauta o íntimo 136 PORTALDE LA AMAZONIA BOLIVIANA. Disponível em: <http://www.amazonia.bo/noticia_resumen. php?codigo_noticia=mRazy0Hl3fQtNDxp/NkWZT1dj5MMrABiw+XUcZWHPd8>. Acesso em: 04 abr. 2014. 137 MINISTERIO DE LA PLANIFICACION. Agencia para el Dessarollo de las Macrorregiones y zonas Fronterizas. Disponível em: <http://www.ademaf.gob.bo/obj.php>. Acesso em: 04 abr. 2014. 138 RPP POLÍTICA. Portada Política Perú y Bolivia suscriben acuerdo para fortalecer seguridad fronteriza. Disponível em: <http://www.rpp.com.pe/2013-03-15-peru-y-bolivia-suscriben-acuerdo-parafortalecer-seguridad-fronteriza-noticia_576535.html>. Acesso em: 04 abr. 2014. 139 SISTEMA CONSULAR INTEGRADO. Acordo para Demarcação das Fronteiras Brasil Bolívia na Bacia Amazônia. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/1911/b_5/. Acesso em 04. Abr. 2014 55 relacionamento dos povos tribais que se localizam nestas regiões, além da constante presença do exército brasileiro em tais fronteiras. Contando com o apoio da Polícia Federal, tal exército passa a ter a missão de policiar a fronteira amazônica e impedir novas entradas de militares bolivianos em território nacional. 5.2.7 A Amazônia guianesa e surinamesa Uma das principais características dos Estados da Guiana e do Suriname, além de serem bastante novos e pouco povoados, possuírem uma é de junção étnico-cultural complexa e diversa. Para se ter uma ideia, a Guiana tem como Figura 6. Mapa da Amazônia na América do Sul. Fonte: Aderjurumirim. Disponível em: < http://aderjurumirim.org/site/?id=show&pg =noticias_categorias&cod=3&pagina=34 >. Acesso em: 03 abr. 2014 idiomas o inglês, o hindu e o urdu; e o Suriname, o holandês – língua oficial –, o hindu, o javanês, o crioulo, o francês e o inglês. Ambas, possuem, portanto, idiomas diferentes dos demais países sulamericanos140. No que tange a Amazônia propriamente dita, frisa-se senhores, que a República Cooperativista de Guiana possui numerosos rios e por isso recebeu o apelido de “a terra de muitas águas”. O país possui uma extensão territorial de 214.969 Km², do qual 80% representam a floresta – possuindo uma das maiores florestas tropicais da América do Sul.141 Devido a grande intervenção que as atividades da mineração causam na floresta amazônica, a Guiana prometeu salvaguardar o máximo de área possível. No entanto, não foi suficiente, e em razão disso não irá receber cerca de US$ 20 milhões do fundo de 140 CASTRO, Fábio de. Obstáculo para o desenvolvimento. Disponível em: <http://aderjurumirim.org/site/?id=show&pg=noticias_categorias&cod=3&pagina=34>. Acesso em: 02 abr. 2014. 141 Organização do tratado de cooperação da Amazônia. Disponível em: <http://www.otca.org.br/portal/index.php?p=index>. Acesso em: 02 abr. 2014. 56 conservação florestal, por descumprimento da “promessa” de preservação acordada – ao desmatar área superior à área prometida. A Guiana também faz parte do maior projeto de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas, a REDD, existente desde 2010. Ficou acordado que a Noruega iria conceder cerca de US$ 250 milhões até 2015 à Guiana, para que esta diminuísse o desmatamento e a degradação da floresta. Contudo, o país somente cumpriu o acordo por dois anos, passando a descumpri-lo, a que tudo parece, já no terceiro ano 142. Em relação à República de Suriname, a Amazônia constitui um pedaço maior do país, cerca de 90% de um total de 163.820 Km². Além de centenas de tipos de fauna e flora, habitam nessa região os povos indígenas e as comunidades maroons, representativos de 5% da população do Suriname. Eles se situam principalmente às margens dos quatro principais rios do Suriname, buscando constantemente a preservação do meio ambiente. Os principais depredadores deste ecossistema são as companhias madeireiras, mineradores e os exploradores de bauxita, alumínio e metais preciosos (possui grande possibilidade produtiva nessas áreas), pois não se preocupam em manter o equilíbrio ecológico que a região tanto necessita. Esse abuso ao meio ambiente contribuiu para encontros entre lideres indígenas, com o objetivo de defender o local, que juntos, vislumbraram o estado das florestas e suas ameaças para criarem planos com o intuito de reverter esses desmatamentos e a mudança climática. A maior divergência desses dois países para com o resto da América do Sul é que ambos detêm uma inserção direcionada para o Caribe e, logicamente, com as ex-metrópoles. A consequência disto é que tantoa Guiana como o Suriname possuem pouca conectividade com os vizinhos terrestres– além de uma economia rudimentar e com uma escassa infraestrutura de energia e transporte. O que dificulta bastante, junto com a forte instabilidade política, para a política externa do Brasil e dos outros Estados latino-americanos, tornando o processo de integração sulamericana ainda mais lento. Com isso, não se pode deixar de mencionar, que os dois participam dos maiores conflitos fronteiriços da América Latina, além de uma experiência diplomática marcada por rupturas. 142 Mineração mordisca a Amazônia da Guiana. Disponível em: <http://amazonia.org.br/2013/11/mineracaomordisca-a-amazonia-da-guiana/>. Acesso em: 02 abr. 2014. 57 Porém, esse cenário está cada vez mais se esvaindo com um crescente apoio externo (transfronteiriço), pois, ambos começaram a entender que a cooperação com o Caribe, Estados Unidos e Europa devem vir junto com a dos seus vizinhos sul-americanos. Nesse sentido, se houver desenvolvimento interno, maior será a consolidação das relações transfronteiriças e de integração regional no combate às ameaças transnacionais das exmetrópoles. Na Guiana, o ano de 1992, foi marcado pelo fim de quase três décadas de controle do Congresso Nacional do Povo, o PNC, em decorrência da ascendência do governo de CheddiBharatJagan143. Político marxista, CheddiBharatJagan teve um governo marcado pela permissão de entrada de tropas norte-americanas no país, que se movimentavam pelo território da própria Guiana com o objetivo de treinar operações na selva. Esse fato ocasionou em insatisfação do governo brasileiro, que receou que as tropas norte-americanas ampliassem à ocupação na Amazônia, assim fixadas em base norteamericana no Panamá. Devido a esta insatisfação, o atual presidente explicou que as tropas dos EUA só estavam no seu país com o intuito de combater o narcotráfico – que só tendia a aumentar - além de promover o desenvolvimento no interior144. Nesse mesmo período, no Suriname, especificamente no ano de 1991, o até então presidente Runaldo Ronald Venetiaan145, caracterizou-se por diminuir o orçamento interno de defesa em cerca de 50%, e, como se não bastasse, reduziu o efetivo do exército em 66%. O presidente tinha o intuito de estabilizar o Estado, pois acreditava que as forças armadas eram o fator político que causavam essa desestabilização. Conseguiu então, que a guerra civil fosse encerrada no ano 1994. O Brasil teve forte mediação nesse ponto, e, o processo de disputa do Suriname com a Guiana foi transferido para as Organizações das Nações Unidas – ONU. Os dois Estados, a Guiana e o Suriname, estão progredindo com a integração sulamericana, aproximando-se mais do governo brasileiro. O seu inicio foi marcado com a Cúpula de Brasília no ano de 2000, participando da construção da Comunidade Sulamericana de Nações (CASA). Isso porque, como não havia mais tantas vantagens com 143 CheddiBharatJagan, foi um grande político, Primeiro Ministro da Guiana Inglesa de 1961 a 1964, antes da independência, e após, se tornou o Presidente da Guiana de 1992 a 1997. Depois da independência, em inglês esse país ficou como Guyana. 144 O ouro, a bauxita, os diamantes, a madeira e solo agriculturável são riquezas da Guiana que permaneciam quase intactas. É valido relembrar que grande parte da população se concentra na faixa litorânea, tendo o interior uma população quase insignificante. 145 Runaldo Ronald Venetiaan foi um político do Suriname, sendo presidente no ano de 1991 até 1996, tendo perdido as eleições realizadas ao término deste para Jules Wijdenbosch. No entanto, conseguiu se eleger novamente com 37 dos 51 votos do parlamento, no ano de 2000 . 58 os Acordos de Lomé146 e da política (o que ocasionava o comando total dos aeroportos holandeses no que concerne aos cidadãos surinameses), houve uma inclinação favorável à integração com a América do Sul. Desta forma, é necessário nos valer das palavras de Paulo Fagundes Visentini, in verbis: “Enfim, precisamos conhecer e interagir mais intensamente com esta ‘outra América do Sul’, que representa um flanco importante para a integração, desenvolvimento e segurança do subcontinente”147. 5.2.8 A Amazônia da Guiana Francesa O Departamento Ultramarino da França, a Guiana Francesa, é visto como o principal território da União Europeia no continente americano 148, tendo como idiomas o francês e o dialeto créole. Uma forte característica desse departamento é que possui um território correspondente a 83.534 Km², com cerca de 90% só de área florestal. Figura 7. Mapa indicando a localização da Guiana Francesa. Fonte: BBC. Disponível em: < http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1618_amazon/page6.shtml >. Acesso em: 03 abr. 2014. Como se pode notar, a Guiana Francesa fica no nordeste da América do Sul, com menos de 200 mil habitantes, entre a bacia amazônica e o escudo guianense. A sua economia é extremamente dependente da França, que fornece subsídios e alianças comerciais. Assemelha-se com a Guiana e com o Suriname no sentido de parecer ser um território caribenho e não sul-americano, ficando alheia ao continente. O isolamento que a floresta causa, acaba agravando a não integração com a América do Sul. 146 A Convenção de Lomé é o acordo comercial, realizado no ano de 1975 entre a União Europeia e os países ACP (associação de 79 países da África, Caribe e Pacífico), tendo vigor até à assinatura do acordo de Cotonou. É importante frisar que existiram quatro convenções de Lomé: Lomé I, Lomé II, Lomé III e Lomé IV, que nada mais são do que o aperfeiçoamento do acordo inicial. 147 VISENTINI, Paulo Fagundes. Guiana e Suriname: uma outra América do Sul. Disponível em: <file:///D:/mariliamachado/Downloads/artigo Guiana e Suriname (1).pdf>. Acesso em: 02 abr. 2014. 148 AMAZONÍA GUIANA FRANCESA. Disponível em: <http://raisg.socioambiental.org/system/files/Amazonia_GuianaFrancesa.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2014 59 O governo tem tentado reverter o quadro de extração ilegal na região, porém de quase nada tem adiantado. No ano de 2008, a mineração ilegal já tinha causado impacto em cerca de 20 hectares149 da Amazônia. O maior problema das autoridades para fiscalizar essa atividade ilegal é o fato que os garimpeiros ficam distribuídos por toda a mata. Normalmente é uma atividade em pequena escala, em conjunto com a necessidade de subsistência, visto que os garimpeiros não possuem outra alternativa e precisam se sustentar. Por isso, é uma atividade desorganizada, e consequentemente, torna quase impossível a fiscalização e a defesa da área amazônica na Guiana Francesa. 5.3 OS CONFLITOS ARMADOS NA AMÉRICA LATINA E CARIBE E A INVASÃO ILEGAL NA REGIÃO AMAZÔNICA Desde tempos remotos, a região latino-americana e caribenha apresenta violentos e duradouros conflitos envolvendo fronteiras. Tal fato se deve, principalmente, às demarcações territoriais conturbadas e dos constantes movimentos golpistas emergentes das nações ali presentes. Os braços imperialistas das nações mais desenvolvidas que descosturam a região até hoje são um dos principais obstáculos a serem enfrentados pelas nações latinoamericanas e caribenhas no sentido da preservação de sua soberania como Estado e de seu poderio sobre o patrimônio ambiental que lhe pertencem: a Floresta Amazônica, por exemplo. Nesse tópico, buscar-se-á citar os atuais conflitos que sangram o continente, na intenção de melhor guiá-los nos debates. Como os principais conflitos armados que merecem ser citados estão os desencadeados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC); pelo Exército de Libertação Nacional (ELN) e pelo Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Vale ressaltar que também são dignos de citação os intitulados conflitos diplomáticos entre Peru e Chile; Bolívia e Chile; Costa Rica e Nicarágua; e Nicarágua e Colômbia150. 149 EARLE, Johann. Guiana Francesa sofre com mineração ilegal de ouro. Disponível em: <http://www.oeco.org.br/reportagens/25620-guiana-francesa-e-a-mineracao-ilegal-de-ouro>. Acesso em: 03 abr. 2014. 150 60 Figura n.o8 - Os conflitos envolvendo países vizinhos da América Latina. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/24/internacional/1390589834_173330.html. Acesso em 3 abr. 2014. O mapa abaixo 151, por sua vez, ilustra bem os conflitos armados ocorrentes na região que compreende a Amazônia: Figura n.o9 - O Brasil e a América do Sul: cenários geopolíticos e os desafios da integração. Disponível em: http://confins.revues.org/6107. Acesso em 3 abr. 2014. 61 5.3.1 As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia Esse grupo guerrilheiro é o maior e mais antigo grupo rebelde de esquerda da Colômbia e um dos exércitos mais poderosos do mundo, contando com cerca de 8 mil homens e ostentando grande força política 152. A organização existe desde 1964 e nasceu com a clara intenção de fazer oposição ao governo e de instalar um regime marxista no país. As Farc têm, aproximadamente, de 12 mil a 18 mil membros, sendo que entre 20% a 30% deles são recrutas com menos de 18 anos de idade. A organização está presente em cerca de 40% do território colombiano, especialmente nas selvas do sudeste e nas planícies localizadas na base da Cordilheira dos Andes, tendo, ainda, focos em países da América do Sul. Em castelhano, a organização denomina-se Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia – Ejércitodel 153 Pueblo . Em 1990, contudo, grupos paramilitares iniciaram uma série de ataques às FARC, o que o fez perder grande parte de sua força e recursos financeiros, motivo pelo qual tenderam ao negócio do narcotráfico para recuperar o dinheiro perdido. Especialistas consideram que foi por volta dessa época que o grupo rebelde perdeu grande parte de seus ideais e passou a se dedicar à administração do lucrativo negócio, iniciando, também, a onda de sequestros que perdura até hoje154. Em virtude do desvirtuamento de suas ações, Estados Unidos, União Europeia e o próprio governo colombiano consideram as FARC como grupo terrorista. Contudo, tal denominação não tem impedido que o ex-presidente Álvaro Uribe iniciasse uma série de rodadas de negociação com o grupo, na intenção de permear a mão do Estado nas regiões em que os rebeldes detêm claro e tranquilo poder e de apaziguar as relações. Como fruto de tais rodadas, o próprio presidente uruguaio José Mujica atuou como mediador da última reunião ocorrida logo após a reunião de cúpula da CELAC em 152 BBC BRASIL. Inserção política das Farc e reforma agrária são 'pontos-chave' da paz na Colômbia. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/08/120829_farc_dialogo_lf_ac.shtml. Acesso em: 3 abr. 2014. 153 SENADO FEDERAL. FARC. Disponível em: http://www12.senado.gov.br/noticias/entenda-o-assunto/farc. Acesso em 3 abr. 2014. 154 ESTADÃO. Entenda o que são as FARC. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,entenda-o-que-sao-as-farc,98686,0.htm. Acesso em 3 abr. 2014. 62 janeiro, em Havana, Cuba, entre o governo colombiano e as FARC 155. A Venezuela, nessa ocasião, liberou um líder da organização que se encontrava detido, para participar do ciclo de reuniões após a Colômbia ter atendido ao seu pleito e arquivado o pedido de extradição que tramitava contra ele156. Em virtude de esse conflito consumir, em média, 3% do PIB colombiano por ano 157 , o governo vem investindo no diálogo e na cooperação com outros países, principalmente com os Estados Unidos, com quem compartilha sólida parceria no Plano Colômbia, que prevê auxílio militar norteamericano estimado em 9 bilhões de dólares para combater o tráfico de drogas 158. Cabe, nesse ponto, lembrar do ocorrido no ano de 2008, quando o então presidente Álvaro Uribe autorizou a incursão militar em território equatoriano para bombardear um acampamento das FARC ali localizado. Na operação, foi morto um dos principais nomes da guerrilha Raúl Reyes, e outras 25 pessoas. A implicação de tal episódio foi a imediata ruptura de relações diplomáticas, que até hoje não reataram plenamente. Segundo o governo da Colômbia à época 159: Nós fizemos isso por estado de necessidade para enfrentar a um terrorista que assassinava a nossos compatriotas, nunca para defender a um povo irmão. (...) O ideal não é fazer essas operações, o ideal é a cooperação, de acordo com o direito internacional, para combater os terroristas. Outra relação bastante atribulada é entre Venezuela e Colômbia. Ambas a nações vivem em constante crise diplomática, o que se agravou com uma Reunião Extraordinária da OEA em 2010, quando o governo colombiano acusou aquele de abrigar pelo menos 87 acampamentos guerrilheiros e 1,5 mil rebeldes em seu território. O ex-presidente venezuelano Hugo Chávez criticou fortemente a acusação colombiana afirmando o seguinte: 155 G1. Mujica vai mediar negociação entre governo colombiano e Farc. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/01/mujica-vai-mediar-negociacao-entre-governo-colombiano-efarc.html. Acesso em: 3 abr. 2014. 156 REUTERS AMÉRICA LATINA. Venezuela libera a líder guerrilla colombiana FARC para que participe en diálogo de paz. Disponível em: http://lta.reuters.com/article/domesticNews/idLTASIEA0901N20140110. Acesso em: 3 abr. 2014. 157 BBC BRASIL. Conflito com Farc consome 3% do PIB da Colômbia, dizem especialistas. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/bbc/2012-10-18/conflito-com-farc-consome-3-do-pib-da-colombiadizem-especialistas.html. Acesso em 4 abr. 2014. 158 RFI PORTUGUÊS. FARC retomam negociações com governo colombiano em Havana. Disponível em: http://www.portugues.rfi.fr/americas/20140113-farcs-retomam-negociacoes-com-governo-colombiano-emhavana. Acesso em 3 abr. 2014. 159 BBC BRASIL. Uribe diz que ataque contra Farc no Equador foi “necessário”. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/07/100724_uribeequadorcjebc.shtml. Acesso em: 3 abr. 2014. 63 Temos que recordar como eles (Estados Unidos) invadiram o Iraque com o conto das armas de destruição em massa. Toda essa armação, montada na Colômbia, de que há milhares de terroristas e de supostos acampamentos, é a desculpa perfeita para tentar uma invasão na Venezuela. Por fim, apesar de o conflito envolvendo as FARC já perdurar por mais de meio século, as negociações avançam, ainda que lentamente. O governo tem mostrado claro intuito de permanecer dialogando com os líderes sem, contudo, eximir o grupo de possíveis responsabilizações penais160. 5.3.2 O Exército de Libertação Nacional O segundo maior grupo rebelde da região também está localizado em solos colombianos e foi fundado em 1965, inspirado fortemente pelos ideais da revolução cubana. Com o isolamento desse regime, o ELN enfraqueceu suas bases de sustentação e seus ideais, passando a sofrer um processo de desconcentração e inércia. Ao contrário das FARC, esse grupo não tem envolvimento na administração do negócio das drogas ilícitas, atuando mais no sentido de sabotar infraestruturas, como os negócios petroleiros e o setor de energia. Atualmente, o ELN é responsável pela maioria dos sequestros na Colômbia e fazem parte dele cerca de 3500 homens, que atuam na área militar e no desenvolvimento de ações sociais161. Após o Plano Colômbia 162, no entanto, o grupo vem perdendo robustez em virtude dos constantes ataques de grupos paramilitares e de grandes proprietários e narcotraficantes, que atuam sem a interferência do governo. 160 EM. “Farc terão que responder por crimes de guerra”, alerta governo colombiano. Disponível em: http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/03/23/interna_internacional,511009/farc-terao-queresponder-por-crimes-de-guerra-alerta-governo-colombiano.shtml. Acesso em: 3 abr. 2014. 161 UOL. A Guerrilha na Colômbia. Disponível em: http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=3921. Acesso em 4 abr. 2014. 162 “Em última instância o Plano Colômbia visa modernizar e capacitar as forças armadas da Colômbia para ombater tráfico de drogas, e as guerrilhas de esquerda, mas também permite ao governo restabelecer o controle sobre terras controladas por esses atores onde se encontram jazidas minerais e de petróleo. (...)Longe de resolver o problema da violência no país, o período de aplicação do Plano que coincidiu com a ascensão ao poder do grupo político de Álvaro Uribe, representou um no número de forças paramilitares no país. Esses grupos que sempre existiram à margem do Estado, fazendo a segurança das oligarquias do país, fossem ligados ou não ao tráfico de drogas, passaram a eleger parlamentares e prefeitos apoiados por eles. Se as conversações com as Farc para cessar fogo ou em busca da paz quase não existiram durante o governo Uribe, aos paramilitares foram concedidas diminuições de pena e até extinção de sentenças, sendo incorporados à vida normal do país, enquanto que a perseguição aos guerrilheiros e militantes de esquerda aumentou. (...)Após a efetivação do Plano Colômbia a partir de 2003, o governo colombiano em conjunto com o governo dos Estados Unidos elaborou um novo plano dessa vez com o objetivo específico de enfrentar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – as Farc – e o Exercito de libertação Nacional – ELN – e vencê-los pela força, esse novo plano recebeu o nome de Plano Patriota, e contava com a implantação de bases do exercito estadunidense em território colombiano, fato por si só controverso e capaz de gerar um grande impacto nas relações entre a Colômbia e os demais países da região, principalmente com a Venezuela e o Brasil.” LINS, J. V. N. O Plano Colômbia e o impacto nas relações entre Brasil e Colômbia Disponível em: http://www.dcs.uem.br/xseminario/artigos_resumos/gt4/x_seminarios_gt4-a7.pdf. Acesso em: 4 abr. 2014. 64 Contudo, o que se percebe ultimamente é a vontade política do governante colombiano de abrir o diálogo com o ELN no sentido de por fim ao conflito que já ultrapassa as marcas de meio século. Tal vontade política, no entanto, é fruto da constante pressão que o país sofre tanto dos Estados Unidosquanto de países vizinhos da região, dado o caráter transnacional do conflito. Por ser um forte grupo de oposição ao governo e por realizar sequestros tanto de colombianos quanto de cidadãos estrangeiros, o ELN representa grave ameaça à rigidez das fronteiras da América Latina. Entre os principais pontos que se encontram na pauta das rodadas de negociação estão i) questão agrária; ii) participação política; iii) abandono de armas e iv) reparação às vítimas163. 5.3.3 As Autodefesas Unidas da Colômbia Esse grupo paramilitar surgiu em 1997 e já representou uma grave ameaça à segurança nacional colombiana. Caracteriza-se por seus ideais de extrema direita e pela constante perseguição às organizações de esquerda, como as FARC e o ELN164. Em maio de 2004, no entanto, o governo de Uribe alcançou memorável vitória ao celebrar um acordo de desarmamento com os principais líderes do movimento, culminando na entrega de armas de mais de 31 mil homens165, o que, de certa forma, enfraqueceu o movimento, mas não o desarticulou por completo. Dessa forma, o grupo ainda se encontra ativo e atua principalmente no negócio do narcotráfico e em parcerias ilícitas com multinacionais166. Como exemplo de como o grupo atua, as AUC chegam a massacrar civis e a sequestrar políticos na luta contra possíveis insurgentes, cobrando taxas da população em troca de proteção, como acontece com as milícias. Ao longo da história, o governo da Colômbia tem assumido diferentes posições com relação ao conflito. O ex-presidente Uribe defendia combater as Farc até sua 163 UOL. A Guerrilha na Colômbia. Disponível em: http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=3921. Acesso em 4 abr. 2014. 164 R7. Saiba mais sobre as Autodefesas Unidas da Colômbia. Disponivel em: http://noticias.r7.com/internacional/noticias/saiba-mais-sobre-as-autodefesas-unidas-da-colombia20090919.html. Acesso em: 4 abr. 2014. 165 LAMAS, B. G. Violência na Colômbia. Disponível em: http://www.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CNO_ARQ_NOTIC20060524145946.pdf?PHPSESSID=171c79 40119dc4e0fc6be520513b8502. Acesso em: 4 abr. 2014. 166 “Em 2007 a Chiquita Brands admitiu em um tribunal norte-americano ter pagado US$ 1,7 milhão para o grupo em oito anos. Outras empresas, como a Coca-Cola, estão sendo investigadas.”. Disponível em: http://noticias.r7.com/internacional/noticias/saiba-mais-sobre-as-autodefesas-unidas-da-colombia20090919.html. Acesso em: 4 abr. 2014. 65 rendição e, para isso, intensificou a ação militar. Por outro lado, o atual presidente, Juan Manuel Santos, tem demonstrado interesse em buscar uma 167 saída negociada com as Farc, enquanto chama as Bacrim de "grupo subversivo". Com mais de 450 mil homens, o Exército é quem efetivamente participa do combate. Alguns setores mais progressistas das Forças Armadas enxergam uma saída negociada para o conflito, outros acreditam na manutenção da guerra até a rendição dos mobilizados. Por fim, ainda que os conflitos aqui citados atinjam de maneira direta apenas alguns poucos países da região, as consequências deles advindas refletem frontalmente cada país latino-americano e caribenho, haja vista que se tratam de ações e crimes transnacionais, ou seja, que não conhecem quaisquer tipos de limites ou fronteiras. 5.3.4 Sendero Luminoso Esse grupo guerrilheiro peruano surgiu em meados de 1980, no interior do país, com o nome de Partido Comunista do Peru Sendero Luminoso (PCP SL). Inicialmente, pregava-se uma verdadeira luta de classes a ser travada na zona rural peruana, com vistas a devolver a nação ao proletariado, que, segundo o movimento, já tinha sido bastante explorado pela classe dominante e elite de descendentes europeus.168 Contudo, diversas ações do grupo começaram a ter um viés claramente infundado, sem qualquer razão de ocorrerem, o que fez o povo peruano acreditar ser um movimento disposto a plantar medo e terror nas áreas mais remotas do Peru. O grupo se dizia claramente contra o Estado e o modelo capitalista, aqui representados pelas autoridades governamentais (prefeitos, policiais, entre os mais significativos); as autoridades rurais (presidentes de comunidades, autoridades tradicionais); os pequenos comerciantes e burocratas. Diversos sangrentos conflitos foram travados, resultando em mais de 70 mil mortes, até que em 1992, durante a ditadura de Alberto Fujimori, seu líder foi preso, o 167 Os Bandas Criminais (BACRIM) são oriundos da desarticulação de vários grupos paramilitares, atuando principalmente na produção e comercialização de drogas. “As Bacrim são compostas de vários grupos de ação regional. Atualmente os cinco principais são Los Rastrojos, Los Urabeños, Los Paisas, o Exército Popular Anti-Subversivo da Colômbia (Erpac) e a "Nueva Generación". Os três mais poderosos são Los Rastrojos, com cerca de 2 mil homens, e Los Urabeños e Los Paisas, cada um com aproximadamente mil integrantes.” TERRA. Entenda quem é quem no conflito armado na Colômbia. Disponível em: http://noticias.terra.com.br/mundo/america-latina/entenda-quem-e-quem-no-conflito-armado-dacolombia,4c3a97c1068da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em: 4 abr. 2014. 168 GRANADOS, M. J. O Sendero Luminoso: aproximações a sua história e ideologia. Disponível em: http://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/contents/53/20080623_o_sendero_luminoso.pdf. Acesso em: 29 jun. 2014. 66 guerrilheiro Abimael Guzmán, mas isso não impediu que o grupo continuasse vivo. O que aconteceu foi uma forte mudança de sua ideologia. 169 Concentrado no Vale do Rio Apurímac e Ene (VRAE), uma área dedicada ao cultivo da folha de coca, o movimento se manteve discreto por vários anos até que, em 2000, iniciou uma série de ataques às Forças Armadas, resultando em mais mortes. O governo peruano, então, iniciou uma série de investigações, que concluíram pela forte ligação dos rebeldes a chefões do tráfico de cocaína na região, que estariam financiando suas ações. Revestidos sob a natureza de narcoterrorismo, o governo capturou, mais uma vez, o líder do movimento, o rebelde Camarada Artemio, em fevereiro de 2012. Contudo, isso não impediu que os remanescentes radicalizassem ainda mais o movimento. Atualmente, o conflito segue, mas segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o Peru bateu um novo recorde na redução das áreas dedicadas ao cultivo de coca, eliminando cerca de 22 mil hectares de terras cultiváveis apenas em 2013. O governo também instituiu o Programa de Recompensa para a Captura de Terroristas, que já foi responsável por prender 19 terroristas, dentre eles 3 membros do Sendero Luminoso. 170 Nessa senda, cabe a essa reunião de cúpula da CELAC se debruçar sobre essa temática propondo soluções multilaterais, de modo a contar com o apoio e participação de todos os Estados-membros da Comunidade. No tópico seguinte, serão compiladas possíveis soluções a esses embates e propostos questionamentos aos senhores delegados sobre como seria a atuação da CELAC no tema. 5.4 A ATUAÇÃO DA CELAC NA QUESTÃO E OS PROBLEMAS A SEREM ENFRENTADOS A CELAC centraliza suas principais propostas de atuação em dois Planos de Ação: o Plano de Ação de Caracas, de 2012171, e o Plano de Ação de Havana, de 2014172, que compilam os propósitos e objetivos da organização para determinado período de tempo. 169 FOLHA DE SÃO PAULO. ‘Novo’ Sendero Luminoso se alia ao tráfico. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2014/05/1448473-novo-sendero-luminoso-se-alia-ao-trafico.shtml. Acesso em: 29 jun. 2014. 170 DIÁLOGO. Peru sai fortalecido na luta contra o Sendero Luminoso. Disponível em: http://dialogoamericas.com/pt/articles/rmisa/features/regional_news/2014/02/03/peru-shining-path. Acesso em: 29 jun. 2014. 171 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. I Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) Caracas, 2 e 3 de dezembro de 2011 – Documentos Aprovados. Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estados- 67 5.4.1 OPlano de Ação de Caracas de 2012 Em virtude de ter sido o primeiro, esse plano tentou abarcar as principais temáticas a serem enfrentadas pela comunidade latino-americana e caribenha, o que restou fracassado, uma vez que o último documento aprovado abrange uma quantidade significativamente superior a esse primeiro. Como as principais áreas agraciadas por esse documento, encontram-se: a) Crise Financeira Internacional e a Nova Arquitetura Financeira, no sentido de aprimorar a troca de informações e o comércio entre os países latino-americanos e caribenhos e, assim, mitigar os efeitos da crise financeira internacional; b) Complementaridade e cooperação entre os Mecanismos Regionais e Subregionais de Integração, no que tange a evitar repetições desnecessárias a documentos já aprovados no âmbito da CALC; c) Energia, no sentido de observar as diretrizes da Estratégia Energética Sulamericana e fortalecer o uso dos biocombustíveis em prol de um desenvolvimento sustentável; d) Infraestrutura para a Integração Física do Transporte, as Telecomunicações e a Integração Fronteiriça, buscando preencher as deficiências de infraestrutura, aumentando, por conseguinte, o crescimento econômico-social e reduzindo a pobreza: Reforçar o apoio ao mais alto nível às iniciativas de infraestrutura física regional em andamento, identificando e procurando soluções aos principais problemas que obstaculizam a interligação regional e o tráfego transfronteiriço. Acelerar a convergência dos sistemas de regulamento e controle do tráfego multimodal, rodoviário, aéreo, marítimo-portuário, fluvial e ferroviário, em cada mecanismo de integração em matéria de infraestrutura e trocar experiências e boas práticas entre eles. Impulsionar a integração regional, ampliando a troca de experiências em andamento e bem sucedidas e solicitar às organizações e mecanismos regionais e subregionais que identifiquem os programas e projetos em execução em matéria de infraestrutura física, conectividade e integração fronteiriça que resultem complementares em uma perspectiva de médio e longo prazo, os quais possam satisfazer a necessidade de contar com uma estratégia para o desenvolvimento e integração da infraestrutura física, da latinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1. Acesso em: 4 abr. 2014. 172 AGENCIA LATINO-AMERICANA DE INFORMACIÓN. II Cúpula da CELAC, La Habana 28 e 29 de janeiro de 2014. Disponível em: http://alainet.org/active/70922. Acesso em: 4 abr. 2014. 68 conectividade e das regiões fronteiriças na América Latina e o Caribe173. e) f) g) h) Desenvolvimento Social e Erradicação da Fome e da Pobreza; Ambiente; Assistência Humanitária; Proteção ao Migrante, fomentando uma integração regional que vise a faciltar a integração do migrante à sociedade; i) Cultura; e j) Tecnologias da Informação e da Comunicação. Observa-se, da leitura do Plano de Caracas, que a Cúpula deixou de mencionar uma série de temas de extrema importância estratégica para a região, como agricultura, educação, saúde, ciência e tecnologia, proteções alfandegárias, dentre outros. Tais temas só viriam a ser objetos de discussões apenas esse ano, janeiro de 2014, na II Reunião de Cúpula da CELAC, realizada em Havana, Cuba. 5.4.2 O Plano de Ação de Havana de 2014174 Os chefes dos poderes executivos e de governo da América Latina e do Caribe reuniram-se em janeiro de 2014, em Havana, Cuba, para a realização da II Cúpula da CELAC, quando reafirmaram e concretizaram compromissos assumidos desde 2011 no âmbito da organização. Dessa forma, no intuito de especificar e concretizar ainda mais os objetivos da Comunidade, os Estados-membros acordaram em diversos temas, dentre os quais: a) Ciência e tecnologia e inovação; Fomentar o desenvolvimento da ciência, a tecnologia e a inovação, a transferência tecnológica e a cooperação regional nestas áreas, identificando sinergias com relação às políticas públicas de promoção das mesmas. Promover novas formas de interação entre os governos, a academia e o setor produtivo, apoiando a possível expansão de projetos já existentes nos mecanismos regionais e sub-regionais de integração e promovendo iniciativas conjuntas em temas de interesse comum. 173 MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. I Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) Caracas, 2 e 3 de dezembro de 2011 – Documentos Aprovados. Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/i-cupula-da-comunidade-dos-estadoslatinoamericanos-e-caribenhos-celac-caracas-2-e-3-de-dezembro-de-2011-2013-documentos-aprovados-1. Acesso em: 4 abr. 2014. 174 AGENCIA LATINO-AMERICANA DE INFORMACIÓN. II Cúpula da CELAC, La Habana 28 e 29 de janeiro de 2014. Disponível em: http://alainet.org/active/70922. Acesso em: 4 abr. 2014. 69 b) Desenvolvimento produtivo e industrial; c) Infraestrutura; Incrementar os esforços para diminuir da brecha da infraestrutura atual da América Latina e o Caribe, a fim de avançar rumo a um crescimento complementar, recíproco e sustentável, que promova o desenvolvimento social, reduza a pobreza, aumente a competitividade e impulsione maior integração regional. (...) Aumentar os recursos financeiros, humanos e materiais destinados ao desenvolvimento da infraestrutura da região. d) e) f) g) h) i) j) Finanças; Preferência alfandegária latino-americana e caribenha; Energia; Meio ambiente; Agenda de desenvolvimento pós 2015; Migrações; Problema mundial das drogas ilícitas e as adições, de modo a permanecer com um diálogo sobre o problema das drogas, que conduza à solução e a um mecanismo de combate efetivo contra a questão, a partir de um enfoque equilibrado, reconhecendo o princípio da responsabilidade comum e compartilhada, assim como um enfoque voltado à prevenção da violência e do crime em si; k) Segurança cidadã: as nações presentes acordaram em consagrar a segurança de sua população como uma das principais preocupações atuais, convocando, para isso, uma Reunião de Altos Funcionários dos Estados Membros e os representantes dos organismos e mecanismos regionais que lidem com a matéria, para determinar diretrizes orientadas a elaborar uma agenda estratégica da Comunidade sobre segurança cidadã; l) Cooperação, de modo a fomentar cada vez mais uma cooperação Sul-Sul sem restrições, respeitando a soberania das nações, bem como observando o princípio da solidariedade; e m) Mecanismos regionais e sub-regionais de integração, promovendo a articulação e coordenação entre os organismos e mecanismos regionais e sub-regionais de integração, garantindo a eficiente utilização dos recursos. Entre esses dois Planos de Ação, houve mais um, o chamado Plano de Ação de Santiago de 2013175, celebrado à época da reunião da CELAC com a União Europeia, no Chile, tendo como ponto-chave a rejeição de qualquer forma de protecionismo entre as duas regiões, objetivando impulsionar o comércio entre os continentes. 175 UNIÃO EUROPEIA. Cimeira UE-CELAC. http://eeas.europa.eu/la/summits/2013/index_pt.htm. Acesso em: 4 abr. 2014. 70 Disponível em: Finalmente, é importante ressaltar que a CELAC tem plena competência para dispor sobre políticas públicas integradas no que tange à rigidez e impenetrabilidade de suas fronteiras. A atribuição de tal competência material é facilmente percebida pela análise das Convenções pertinentes à organização, bem como de seus Planos de Ação. Contudo, senhores delegados, o que se pode verificar até o momento é que o estabelecimento de mecanismos integrados de defesa e de fiscalização das fronteiras da região nunca foi considerado prioridade nas reuniões de cúpula, motivo pelo qual os senhores clamaram pela reunião que ora será realizada em outubro do presente ano, quando ao tema será dada a prioridade que lhe convém. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS De todo o exposto, ambos os temas buscaram expor aos senhores e às senhoras as principais problemáticas envolvendo o direito de se livre expressar e a permeabilidade dos limites territoriais latino-americanos e caribenhos. Adiante, foi explorada a política interna de cada nação no intuito de demonstrar como os países da região têm lidado com a problemática internamente e quais têm sido os obstáculos encontrados. Por fim, uma vez que o organismo estudado é a CELAC, intentouse expor os principais objetivos da instituição e como o tema proposto tem sido debatido no âmbito dos Planos de Ação de Caracas e de Havana. No que tange às resoluções, os senhores delegados devem prezar pela manutenção da democracia e da paz social, através da liberdade de expressão. Valorizem o processo de redemocratização vivido pela América Latina e Caribe, e busquem reduzir as desigualdades sociais presentes nos países membros desta organização. Portanto, a presidência da CELAC, representada pelo governo costarriquenho, espera calorosos debates no sentido do estabelecimento de um eficiente mecanismo de fiscalização de fronteiras, respeitando a soberania de cada Estado e visando ao apaziguamento dos conflitos que sangram há décadas a região. Um excelente trabalho! 71 7 REFERÊNCIAS A MARQUES, Adriana. EQUADOR, País amazônico: Um exame do discurso militar sobre a Amazônia e a integridade territorial do Equador. 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