Tourada à Portuguesa [11-07-2008] Juliette Dejardin
Transcrição
Tourada à Portuguesa [11-07-2008] Juliette Dejardin
Tourada à Portuguesa [11-07-2008] Juliette Dejardin Tourada à Portuguesa Ao contrário da tourada à espanhola, e com excepção da vila de Barrancos, em Portugal os touros de morte estão proibidos desde o século XVII. Conta-se que a última corrida em que houve morte do touro ocorreu em Salvaterra de Magos. O jovem Conde dos Arcos enfrentou um touro enorme e corajoso que fez demonstração de força e agilidade logo que entrou na arena. Pouco depois do início da tourada, o cavalo foi levado ao chão e o toureiro, ferido na perna, não conseguiu levantar-se. Enraivecido, o touro projectou-o no ar, esperou que caísse e perfurou-lhe o abdómen com os cornos. Louco de dor, o Marquês de Marialva, pai do toureiro, precipitou-se na arena, espada em riste. Os protestos do rei, receoso de que houvera mais mortes, foram vãos. Apesar dos seus 70 anos, o marquês não hesitou e, disposto a dar até a própria vida, entrou na arena e provocou o touro; após um combate que pareceu interminável, foi a vez do homem espetar a fera. Nas bancadas, a mulheres choravam e os homens aplaudiam aquele que tivera tanta coragem para vingar o filho. Subitamente, da tribuna do rei, surgiu uma figura que todos reconheceram imediatamente: o Marquês de Pombal. Furioso, este terá então declarado “Portugal precisa de homens para a guerra, não os podemos perder nas arenas.” Profundamente comovido, Dom José decidiu proibir as mortes na arena mas os Portugueses não estavam dispostos a abdicar dessa tradição, desses espectáculos tão viris, fortes e violentos. Assim, continuaram as touradas até aos dias de hoje. Pró ou contra as touradas? Um grande debate mas também um verdadeiro espectáculo, uma demonstração equestre sofisticada e refinada. O desenrolar duma tourada: - Desfile de abertura Um trompete soa na praça de touros, marcando assim o início do espectáculo. Abre-se uma porta e um cavaleiro aparece, vestido com um traje bordado e muito colorido, montado num garanhão lusitano preparado e aparelhado com magnificiência. Debaixo dos aplausos do público, o cavaleiro e a sua montada dão algumas voltas de honra e fazem demonstração da sua habilidade e destreza com alguns exercícios de amestração . - O toureiro Ao segundo toque de trompete, a porta abre-se novamente para deixar entrar o touro. Começa a primeira parte da tourada, que vai durar cerca de dez minutos. Os cornos do animal são embolados ou despontados, o que diminui grandemente o risco de ferimento mortal para o cavaleiro e para a sua montada. O cavalo é protegido 1/2 com uma gualdrapa acolchoada. Considerando o tamanho reduzido da arena, não é a rapidez do cavalo que permite evitar o touro mas a arte da esquiva e a sua agilidade. O cavaleiro tem de cravar uma série de 6 ou 7 banderilhas (farpas) ao nível do músculo do pescoço do touro. As primeiras banderilhas, as mais compridas, são colocadas com uma carga pela direita do animal. O cavaleiro tenta cravar as banderilhas mais curtas em "violão", acometendo o touro pela esquerda. Quando todas as banderilhas estão colocadas, o cavaleiro sai sob a ovação da assistência. - A pega Esta é a parte lúdica da tourada. Lúdica, concerteza, mas igualmente angustiante. Os forcados, homens a pé, entram na arena com um barrete verde na cabeça . Trata-se de um verdadeiro trabalho de equipa. Posicionados em fila, num total de oito, os homens vão tentar dominar o touro. Depois de se benzer, o chefe de fila (forcado da cara), coloca-se frente ao touro para o acometer, agarrá-lo pelos cornos e fechar-se na cara do animal enquanto os seus colegas, posicionados alguns passos atrás, vão tentar amortecer a investida, que é muitas vezes extremanente violenta, e imobilizá-lo. O último da fila (rabejador) agarra o touro pelo rabo, obrigando-o a girar sobre si. Uma vez a fera dominada, os forcados separam-se e saem da arena para se refugiarem fora do seu alcance. Onde assistir a uma tourada ? Da Páscoa a Outubro, pode assistir a touradas um pouco por todo o território português, sendo que as mais célebres se realizam em Lisboa no Campo Pequeno (www.campopequeno.com), Santarém e Vila Franca de Xira. Para os amadores de festas populares que não temem as "largadas de touros", recomendo as Festas do Barrete Verde e das salinas de Alcochete, de 8 a 13 de Agosto. Com touradas também ! http://barreteverde.donpeixe.com Copyright 2016 Todos os direitos reservados - Por favor ler as condições gerais de utilização do site LivingInLisbon 2/2