Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
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Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
1 UFBP UEPB UERN UESC UFAL UFSE UFRN UFS UFPI UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE PRODEMA - UFPB/UEPB ABRAÃO RIBEIRO BARBOSA OS HUMANOS E OS RÉPTEIS MATA: UMA ABORDAGEM ETNOECOLÓGICA DE SÃO JOSÉ DA MATA - PARAÍBA 2 ABRAÃO RIBEIRO BARBOSA OS HUMANOS E OS RÉPTEIS DA MATA: UMA ABORDAGEM ETNOECOLÓGICA DE SÃO JOSÉ DA MATA – PARAÍBA Dissertação apresentada ao programa regional de pós-graduação em desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento as exigências para obtenção de grau de Mestre em desenvolvimento e meio ambiente. Orientador: Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida João Pessoa – PB 2007 3 ABRAÃO RIBEIRO BARBOSA OS HUMANOS E OS RÉPTEIS DA MATA: UMA ABORDAGEM ETNOECOLÓGICA DE SÃO JOSÉ DA MATA – PARAÍBA Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção de grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente Aprovado em: _____/_________/______ BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida - UFPB (Orientador) _______________________________________________ Prof. Dr. José da Silva Mourão – UEPB Examinador _______________________________________________ Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves – UEPB Examinador 4 A ti meu Deus... A “Dona Sindá” minha querida avó. A semente que plantaste em mim agora começa a dar frutos. A comunidade de Serra de Joaquim Vieira. Este trabalho é de vocês. 5 Agradecimento A Deus, sempre! A todos da comunidade de Serra de Joaquim Vieira, em especial a Cidinho e sua família, aprendi muito com vocês, não há como pagar; A meus pais, Monserrate e Antonio, pelos incentivos, preocupações, e pela fé em mim; A meus irmãos, André e Allan, companheiros eternos; A minha querida avó “Zefinha”, obrigado pelas orações e mimos de vó; A Cristiane, ou simplesmente ‘Cris’, meu impulso; A minha família, por acreditarem no meu “vôo”; A Helder, amigo de sempre, valeu pela força; A Mario, ilustre amigo, valeu a paciência; A Silvaney, meu amigo, obrigado pelo apoio; A Elizabeth e Ana Luíza, obrigado pela companhia e pelas horas e horas de trabalho na mata, este trabalho também é de vocês. A Guy, meu mestre e orientador, obrigado por confiar; A Mourão, nobre amigo, obrigado por me apresentar a etnoecologia; A Rômulo pelo auxilio e apoio; A Irecê, obrigado pela verdade; A Alina Fernandes, obrigado por confiar; A Gentil e Fagner, valeu a força companheiros da herpetologia; A minha turma de mestrado: André, Rivero, Keliana, Lidiane, Cezar, David, Mariza e Aline, valeu o companheirismo. 6 "Os ignorantes, que acham que sabem tudo, privam-se de um dos maiores prazeres da vida: APRENDER" Provérbio popular 7 Resumo Para os sertanejos a proximidade com répteis é tão comum quanto à escassez de água. Este trabalho buscou avaliar o conhecimento etnoherpetológico da comunidade de Serra de Joaquim Vieira, localizada em São José da Mata (Distrito de Campina Grande - Paraíba). Objetivou também analisar a relação local: Humano X Répteis, e inventariar a herpetofauna local. A obtenção de dados etnoecológicos foi feita através de questionários estruturados e semi-estruturados, e técnicas de observação direta. Para a elaboração do inventário herpetofaunístico foram utilizadas técnicas de armadilhas de queda, varredura com auxilio de cães de caça e coleta por terceiros. Constatou-se uma estreita relação humano/réptil na comunidade; a utilização destes animais como fonte alimentar e zooterápica; e o entendimentos por parte dos nativos, do ciclo de climático em relação a biodiversidade local. No levantamento da herpetofauna, foram encontrados 44 espécies de répteis distribuídos entre serpentes, lagartos, quelônios e anfisbênios. Sendo uma área entre o brejo e caatinga, a mata onde está instalada a comunidade é de suma importância ecológica, pela particularidade do ecossistema, e de importância etnoecológica, pela forma de manejo dos recursos naturais locais. Palavras-Chave: Etnozoologia; Etnoherpetologia; Caatinga 8 Abstract For the sertanejos the proximity with reptiles is tam common how much the water scarcity. Sine thus this work searched to evaluate the ethnoherpetology knowledge of the community of Serra de Joaquin Vieira, located in São José da Mata (Campina Grande City - Paraíba). Also objectified the agreement of the local relation being Human and Reptiles, and the survey of herpetofauna site. The obtainment of ethnoecology data was made used structuralized and half-structuralized questionnaires, and techniques of direct comment. For the elaboration of the herpetofauna inventory, techniques of pittfall traps had been used and sweepings with i assist of hunting dogs. As result can be cited the narrow present human/reptile relation in the community; the use of these animals as alimentary and zootherapy source; e the agreements on the part of the natives, the cycle of climatic in relation to the biodiverty. With relation to the survey of herpetofauna, 44 species of reptiles distributed between snakes, lizards, turtles and worm-lizards had been found. Being an area among the brejo and caatinga, the woods where is installed the community is of summary importance ecological, by particular of the ecosystem, and of importance ethnoecological, by form of handling from the natural resources sites. Key-words: Ethnozoology; ethnoherpetology; Caatinga 9 Lista de Figuras Figura Pág. Figura 1 – Mapa de localização do distrito de São José da Mata – Paraíba. Fonte: Helder Farias Pereira de Araújo (2007)...................................................... 37 Figura 2 – Biodiversidade do Bioma Caatinga. No mapa o número 20 corresponde a mata de São José da Mata. Fonte: Biodiversitas 2004................. 38 Figura 3 – Mapa da área de mata do distrito de São José da Mata e em destaque a comunidade de Serra de Joaquim Vieira. Fonte: Prefeitura municipal de Campina Grande – PB (2004) adaptado por Abraão R. Barbosa (2007)..................................................................................................................... 39 Figura 4 – Serra de Joaquim Vieira – a) vista de uma das estradas de acesso; b) entrada da comunidade;. c) moradia típica; d) “tanques” – reservatórios naturais de água. Fotos: a, b e d – Abraão R. Barbosa; c – Sabrina M. Rasmussen............................................................................................................ 40 Figura 5 – Representação esquemática da técnica de bola de neve (snowball) para escolha dos informantes. Abraão Ribeiro Barbosa (2006)............................ 43 Figura 6 – Esquema ilustrativo de uma armadilha de queda (Pitfall traps).......... 49 Figura 7 – Armadilhas de queda (Pitfall traps) fixadas na mata. a) durante estação de chuvas; b) durante estação seca........................................................ 49 Figura 8 – Casal idoso em frente a sua casa erguida a mais de 100 anos. Foto: Helder N. de Albuquerque..................................................................................... 56 Figura 9 – Exemplar de Pião (Jatropha gossypiifolia L.) plantado próximo a residência de um dos informantes. A seiva do vegetal é utilizada como cicatrizante. Foto: Helder N. de Albuquerque........................................................ 62 Figura 10 – Exemplares de Galo de Campina (Paroaria dominicana Linnaeus 1758), flagrados livremente entres as estradas na SJV (a) e no terreiro de residências da referida comunidade (b). Fotos: a – Elizabeth C. Silva e bHelder N. de Albuquerque..................................................................................... 63 Figura 11 – Formação do conhecimento dos informantes em relação ao uso dos recursos da mata............................................................................................ 65 Figura 12 – Ciclo climático natural. Mudança na paisagem. a) da lavoura na época de chuvas (abril) para a época de seca (outubro); b) da cheia do açude (maio) para o solo rachado (novembro). Foto: Abraão Ribeiro Barbosa – 2006... 71 Figura 13 – Cães 1 e 2 tipos rejeitado para caça, e cão 3 sendo comparado ao 4 com “bom para caça”. Fotos: Abraão R. Barbosa.............................................. 74 Figura 14 – “Baleia” instantes antes de acuar um teju (Tupinambis merianae)... 74 10 Lista de tabelas Tabelas Pág. Tabela 1 – Lista de ferramentas utilizadas para caça pelos moradores da SJV.. 72 Tabela 2 – Lista de animais nativos utilizados pelos informantes como alimento, fonte de renda e zooterápico................................................................. 77 Tabela 3 – Comparação entre informações fornecidas pelos informantes para caracterizar cada grupo de répteis, em relação a literatura científica específica. 78 Tabela 4 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o conhecimento etnoherpetológico de quelônios, em relação a literatura científica específica............................................................................................... 81 Tabela 5 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o conhecimento etnoherpetológico de lagartos, em relação a literatura científica específica............................................................................................... 85 Tabela 6 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o conhecimento etnoherpetológico de serpentes, em relação a literatura científica específica............................................................................................... 88 Tabela 7: Animais com aplicação zooterápica..................................................... 93 Tabela 8 – números do levantamento da herpetofauna de SJM.......................... 97 Tabela 9 – Espécies de répteis capturados em armadilha de queda................... 99 Tabela 10 – Espécies de répteis coletados por terceiros..................................... 100 Tabela 11 – Espécies de répteis capturados em varreduras com auxilio de cão. 101 Tabela 12 – Registro fotográfico de anfisbenios com ocorrência em SJM....................................................................................................................... 71 Tabela 13 – Registro fotográfico de lagartos com ocorrência em SJM................ 72 Tabela 14 – Registro fotográfico de serpentes com ocorrência em SJM............. 79 Tabela 15 – Registro fotográfico de quelônios com ocorrência em SJM............. 85 11 Lista de Gráficos Gráfico Pág. Gráfico 1 – Distribuição porcentual da faixa etária encontrada na comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)............ 51 Gráfico 2 – Distribuição porcentual quanto ao gênero encontrada na comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)..................................................................................................................... 52 Gráfico 3 – Distribuição porcentual do estado civil dos membros da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)..................................................................................................................... 52 Gráfico 4 – Distribuição porcentual do número de filhos por família da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006)..................................................................................................................... 53 Gráfico 5 – Distribuição porcentual do nível de escolaridade dos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) .................................................................................................................... 54 Gráfico 6 – Distribuição porcentual da profissão / fonte de renda dos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) ........................................................................................... 55 Gráfico 7 – Distribuição porcentual das condições de moradia dos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) ............................................................................................................... 56 Gráfico 8 – Distribuição porcentual do tipo de agricultura desenvolvida pelos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) ........................................................................................... 57 Gráfico 9 – Distribuição porcentual do tipo preferencial de lavoura cultivada pelos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) ............................................................................... 58 Gráfico 10 – Distribuição porcentual da forma de criação animal desenvolvida pelos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) ............................................................................... 59 Gráfico 11 – Distribuição porcentual do tipo de criação animal feita pelos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) ........................................................................................... 60 12 Lista de quadros Quadros Pág. Quadro 1 – Distribuição filogenética de répteis da Ordem Squamata ocorrentes na Mata de SJM.................................................................................. 98 Quadro 2 – Distribuição filogenética de répteis da Ordem Testudine ocorrentes na Mata de SJM.................................................................................................... 99 13 Sumário Pág. 1.0 – Introdução......................................................................................... 2.0 – Referencial Teórico........................................................................... 2.1 – Cultura Humana........................................................................ 2.2 – Conceitos de Etnoecologia....................................................... 2.3 – Etnobiologia.............................................................................. 2. 4 – Zooterapia................................................................................ 2.5 – A Herpetofauna e a Caatinga................................................... 2.6 – O Sertanejo e os Répteis.......................................................... 3.0 – Objetivos........................................................................................... 3.1 – Gerais....................................................................................... 3.2 – Específicos............................................................................... 4.0 - Área de Estudo.................................................................................. 5.0 – Material e Métodos............................................................................ 5.1 – Pesquisa etnoecológica............................................................ 5.1.1 – Escolha dos informantes.................................................. 5.1.2 – Coleta de dados fornecidos pelos informantes................ a) Entrevistas livres e aberta.................................................. b) Observação direta.............................................................. c) Observação Participante (não membro)............................. d) Questionários..................................................................... 5.2 – Inventário Herpetofaunístico..................................................... 5.3 – Coleta dos espécimes.............................................................. a) Varredura................................................................................. b) Coleta por terceiros.................................................................. c) Armadilhas de Queda.............................................................. 5.4 – Registro fotográfico................................................................... 6.0 - Resultados e discussões................................................................... 6.1 – Perfil socioeconômico da Comunidade.................................... 6.2 – Questionário etnoecológico...................................................... 6.3 – Manejo da fauna e flora da mata.............................................. 6.4 – Aprendizado.............................................................................. 6.5 – Estado de preservação da mata............................................... 6.6 – Influência da Sazonalidade....................................................... 6.7 – Uso dos recursos através dos mecanismos caça.................... 6.8 – Relações com a Fauna............................................................. 6.9 – Visão Acerca de Répteis.......................................................... a) Relação Humano X Quelônio.................................................. 15 18 18 19 23 26 30 33 36 36 36 37 42 42 42 43 44 44 45 45 46 46 47 47 48 49 51 51 60 61 64 66 69 71 76 78 80 14 b) Relação Humano X Lagarto..................................................... c) Relação Humano X Serpente.................................................. 6.9 – Zooterápicos............................................................................. 6.10 – Inventário................................................................................ a) Formas de captura................................................................... 7.0 – Conclusão......................................................................................... 8.0 – Referencias Bibliográficas................................................................. 9.0 – Anexos.............................................................................................. 83 87 92 97 99 118 119 130 15 1.0 - Introdução O conhecimento empírico pertencente a um determinado povo sobre o ambiente natural a sua volta, faz jus a uma investigação científica utilizando métodos confiáveis. A utilização de métodos científicos é essencial para a compreensão da origem, dos motivos e das relações ambientais que constroem tal conhecimento (TOLEDO, 1992; MARQUES, 1991). Entre os enfoques que mais têm contribuído para o estudo do conhecimento empírico, estão as etnociências (PEDROSO-JÚNIOR, 2002). Segundo Mourão e Nordi (2006), “os estudos que se referem aos saberes tradicionais ou ao conhecimento ecológico tradicional, preocupam-se, de um modo geral, com a maneira como os povos tradicionais usam e se apropriam dos recursos naturais, seja através do manejo, das crenças, conhecimentos, percepções, comportamentos, e também, das várias formas de classificar, nomear e identificar as plantas e animais do seu ambiente.” Dentre as etnociências está a etnoecologia, um ramo relativamente novo que visa o entendimento das comunidades “tradicionais” em suas relações com o meio. Não há ainda um consenso sobre o termo etnoecologia (BARRERA, 1983; TOLEDO, 1992; PEDROSO-JÚNIOR, 2002), mas pode-se dizer que é um campo do conhecimento científico que tem como objetivo testar a validade ecológica de determinadas formas de manejo dos recursos naturais utilizadas por um grupo cultural em uma determinada área. A etnoherpetologia é um estudo mais específico que delimita seu enfoque nos grupos étnico, no que diz respeito ao seu conhecimento, utilização, classificação e 16 convivência com os répteis. Parafraseando Costa-Neto (2003) a etnoherpetologia pode ser compreendida como a investigação da ciência herpetológica possuída por uma determinada sociedade, tendo como base os parâmetros da ciência ocidental. Acreditando que a etnoecologia deve ser uma ferramenta holística capaz de integrar aspectos intelectuais e práticos de um determinado grupo social, no presente trabalho buscou-se avaliar o conhecimento etnoecológico e etnoherpetológico dos moradores da comunidade de Serra de Joaquim Vieira (São José da Mata - Distrito de Campina Grande – PB), no tocante a fauna de répteis local. Regra geral, cinco motivos moveram a realização de estudos de etnoecologia (etnobiologia) e herpetologia na Mata de SJM: • Primeiro, a mata é única na região e seus limites estão margeando comunidades urbanas em expansão; • Segundo, não há dados relevantes sobre a diversidade biológica da mata nem sobre como as comunidades locais utilizam-se dos recursos naturais da mata; • Terceiro, como se trata de uma área parte pública e parte particular não há programas de conservação de recursos biológicos; • Quarto, a mata encontra-se em processo de deterioração ambiental provocado por um crescimento populacional tanto nas bordas quanto no interior da mata. • Quinto, com se trata de uma área de ecótono que acabou isolada, sua degradação pode está levando à rápida perda de espécies únicas e à eliminação de processos ecológicos chaves. 17 Entre os grupos étnicos da mata, escolheu-se a comunidade de Serra de Joaquim Vieira, pelo seu isolamento de outros grupos e pelas atividades de subexistências ligadas à mata. A temática do trabalho envolveu a relação: Humanos X Répteis, procurando entender as relações ecológicas entre estes dois grupos, na tentativa de traçar um perfil do entendimento, das formas de manejo, das crenças e do juízo de valor que a comunidade local possui sobres os répteis.. Rodrigues (2000) ressalta que necessitamos urgentemente de inventários multidisciplinares utilizando métodos adequados, de modo a amostrar melhor a diversidade biológica, uma vez que este trabalho contribuirá na determinação de áreas prioritárias para a preservação da biodiversidade, ainda desconhecida por falta de amostragem, como também irá colaborar no planejamento de uma política social e conservacionista futura. Sendo um ecótono, a mata onde esta instalada a comunidade é de suma importância ecológica. Desta forma outra preocupação do trabalho foi à elaboração de um inventário herpetofaunístico da mata, uma vez que não há estudos sobre a fauna local de répteis. Os resultados etnoecológico e herpetofaunísticos obtidos neste trabalho foram interpolados, no intuito de garantir uma abrangente interpretação da relação humano X répteis naquele ambiente. 18 2.0 - Referencial Teórico 2.1 - Cultura Humana A capacidade de originar cultura é um dos diferenciais entre o homem e outros animais. Esta aptidão acaba dando destaque ao posicionamento ecológico do ser humano no ambiente em que vive. Segundo Guimarães (2003) a cultura dotou o ser humano de uma flexibilidade ecológica muito maior do que a desfrutada por qualquer outra espécie. Seres humanos são dotados da capacidade de aprender, aumentar e corrigir continuamente seu conhecimento sobre o meio e ainda transmiti-lo, enquanto que os outros seres não possuem estas mesmas capacidades. A cultura teve início nos mais primitivos grupos humanos, e o conhecimento popular a respeito do ambiente em que viveram não só possibilitou o desenvolvimento cultural como, conseqüentemente, uma organização social e política (MARIN, 1996) Chrétien (apud COSTA-NETO, 1999) diz que o conhecimento dos povos “primitivos” brota da satisfação das necessidades básicas da vida, através de uma ligação afetiva realizada com a natureza e seus elementos. Cada comunidade utiliza mecanismos próprios para facilitar suas atividades de sobrevivência, a exemplo das comunidades pesqueiras que usam o seu conhecimento sobre as marés para a maximização da pesca (MATURANA e VARELA, 1995). Para Marques (1993) os pescadores portam o “saber” e o “saber fazer” relacionados com a estrutura e a função do(s) ecossistema(s) que são vinculados. 19 Um bom exemplo de como a cultura se espalhou em grupos humanos é dado por MARTHO (1996): “Quando, por exemplo, um indivíduo de um determinado grupo descobriu que poderia utilizar lascas de pedra como objeto cortante, isto ficou fazendo parte do seu conhecimento pessoal, porém ao repassar esta descoberta a outros do grupo, o conhecimento passava a ser coletivo e tido então como parte da cultura daquele povo.” Um trecho do trabalho de Gadotti (2007) sintetiza o exemplo de Martho: “Embora aprendido individualmente, o conhecimento é uma totalidade.” Um outro exemplo pode ser observado em uma comunidade específica, que utiliza mecanismos próprios para facilitar suas atividades de sobrevivência, a exemplo das comunidades pesqueiras que usam o seu conhecimento sobre as marés para a maximização da pesca (MATURANA e VARELA, 1995). Para Marques (1993) os pescadores portam o “saber” e o “saber fazer” relacionados com a estrutura e a função do(s) ecossistema(s) que são vinculados. Segundo Moran (1992) a cultura cresce na medida em que é repassada. Esta afirmativa corrobora com a síntese da idéias de Martho (1996) e Maturana e Varela (1995), onde o aprendizado com o ambiente é repassado para gerações posteriores, estas por sua vez, acrescentavam novos conceitos, modificando as idéias ultrapassadas e deixando novas idéias para as próximas gerações. 2.2 - Conceitos de Etnoecologia O conhecimento empírico é definido por MARTIN e SWARNAKAR (1999) como uma forma particular, complexa e reiterativa de interpretar fenômenos e fatos 20 naturais ou sobrenaturais de um certo povo, região ou cultura. Segundo Barbosa (2006) povos de uma determinada área são capazes de relacionar, baseados na observação cotidiana, “eventos naturais” com “elementos naturais” pertencentes à paisagem onde vivem ou desenvolvem atividades de subsistência. A paisagem utilizada pelo homem não é um simples amontoado de elementos geográficos desordenados, mas sim o resultado de uma combinação dinâmica entre elementos físicos, biológicos e humanos que, reagindo uns com os outros, fazem da paisagem um conjunto único e inseparável e em constante evolução (VESENTINI, 1992). É justamente neste “conjunto único” onde estão as relações homem-natureza e ai que a etnoecologia entra como ferramenta investigativa destes processos. É papel da etnoecologia promover, através de métodos científicos, a investigação sobre a origem e validade de conhecimentos empíricos acerca de um ambiente natural. Este estudo étnico busca o entendimento da interação e interferência do homem nos fenômenos e elementos naturais de uma determinada paisagem. Proposta pela primeira vez por Harold Conklin (1954) em seu clássico estudo dos Hanunoo, nas Filipinas, a etnoecologia é um campo do conhecimento científico ainda recente. De acordo com Toledo (1992), este campo surge a partir de novas e inusitadas demandas do conhecimento científico e sob a perspectiva de um novo paradigma: a Sustentabilidade. Para Capra (1996) o grande desafio da atualidade é criar comunidades sustentáveis, ou seja, ambientes sociais e culturais que podem satisfazer as necessidades e aspirações de uma geração sem diminuir as chances das futuras. Em linhas gerais este conceito é também encontrado no trabalho de Lima e Pozzobon (2005). 21 Para Toledo (1992) a etnoecologia contribui para o desenvolvimento sustentável, uma vez que investiga formas peculiares de conhecimento ecológico, classificação, interpretação e manejo da natureza que não são originários apenas do saber sistematizado científico. A etnoecologia como ciência vem associar o conhecimento cientifico aos saberes populares, valorizando principalmente a relação do homem com o ambiente. Este termo ainda não possui consenso sobre o seu significado, não sendo possível oferecer uma delimitação precisa do campo de pesquisa coberto por ele, como afirma Toledo (1992). No entanto, diversas definições convergem, o que para Marques (2001) significa “diferentes lentes para um mesmo óculos”. Segundo Alves (1998) a etnoecologia constitui um campo multidisciplinar e multi-cultural voltado para o estudo das formas pelas quais os grupos humanos organizam seus conhecimentos e suas práticas em relação ao ambiente natural. Esta ciência deve ser tratada como uma disciplina holística, capaz de integrar aspectos intelectuais e práticos, devendo tratar os grupos humanos não como meros objetos de estudo, mas como sujeitos sociais que realizam atividades intelectuais (conhecimento, percepção e crença), tomam decisões e executam operações práticas objetivando a apropriação da natureza. O ponto de partida de um trabalho etnoecológico de acordo com Toledo (1992) é justamente a exploração das conexões entre o corpus – transmissão do conhecimento através da linguagem (Codificação) – e praxis - operações práticas quem manifestam a apropriação material da natureza (utilização). Neste contexto o alvo da etnoecologia é a análise de atividades práticas e intelectuais de grupos humanos em relação a suas crenças, conhecimentos e objetivos, como também as formas de apropriação da natureza por estes grupos. No 22 mesmo sentido Nordi et al (2001) entende que é função da etnoecologia desvendar, compreender e sintetizar, todo o conjunto de teorias e práticas relativas ao ambiente, oriundas de experimentação empírica do mesmo, por culturas tradicionais. Em se tratando de uma ciência capaz de alcançar diversos campos do conhecimento, a etnoecologia conforme aponta Nazarea (1999) estuda a maneira pela qual, diferentes povos compreendem seu ambiente e seu relacionamento com ele. A investigação cientifica deste tipo de relacionamento: povos / ambiente; é detalhada por Marques (2001) no que ele chama de “etnoecologia abrangente”. Segundo o mesmo autor a etnoecologia abrangente permite uma abordagem a partir da análise das cinco conexões básicas universais: 1 - Homem/ mineral (como o homem se conecta com o mundo mineral); 2 - Homem/ vegetal (conexão com o mundo vegetal); 3 - Homem/ animal (conexão com os animais); 4 - Homem/ homem (interações ecológicas) e a 5 - interação Homem/ sobrenatural. Segundo Alves et al (2002) as pesquisas etnoecológicas, de uma forma geral, baseiam-se na visão de que a conservação da natureza vincula-se diretamente a questões sociais, econômicas, culturais e biológicas. Uma das preocupações entre os etnoecólogos atuais é evitar que seus trabalhos façam apologias aos saberes tradicionais (ROUÉ, 2000; ADAMS, 2000; SATO, 2004). Essas apologias são feitas, como bem enfatiza Roué (apud SOUTO, 2004), através de uma idealização desproporcional dos chamados "saberes exótico". A autora vai além, e refere-se a este "etnocentrismo às avessas" como um resgate do "mito do bom selvagem" de Rousseau. Para Sato (2004) os trabalhos etnoecológicos criaram uma “identidade ecologicamente correta" ou o "mito do bom selvagem" para os grupos estudados, criando uma perigosa dicotomia entre populações "tradicionais" e "não tradicionais". 23 Diegues (apud SOUTO, 2004) faz uma critica incisiva ao paradigma conservacionista existente no Brasil, uma vez que conhecimentos e práticas valiosas de populações tradicionais, em muitos casos são totalmente excluídas do processo de proteção de áreas naturais. Costa-Neto (1999) assegura que a ciência não goza de nenhuma superioridade sobre o conhecimento tradicional, se colocada diante da lógica de que ninguém cria algum experimento científico partindo do nada, pois tem que seguir pistas deixadas por um antecessor. Esta afirmação pode ser reforçada por Popper (1982) que diz que do ponto de vista de qualidade e da quantidade, a fonte mais importante de nosso conhecimento, além do conhecimento inato, é a tradição. 2.3 - Etnobiologia Freqüentemente a etnoecologia e a etnobiologia são descritas em uma singular ótica e utilizadas para descrever as mesmas coisas. Segundo Barbosa (2006), isso acontece pela proximidade dos campos de estudo abrangidos por estas duas áreas. Certos autores, a exemplo de Toledo (apud ALVES, 1998), preferem o termo etnoecologia, o que segundo ele é um conceito mais amplo e atual. Entretanto autores como Posey (1997) e Begossi (1993) entendem que a etnobiologia não se separa da etnoecologia, mas possui distintos objetivos. Segundo Alves (1998) uma das raízes que vem formando a base do enfoque da etnoecologia é a etnobiologia. De acordo com Haverroth (2007) este termo é relativamente recente, apesar de estudos mais antigos já possuírem um caráter 24 semelhante aos estudos etnobiológicos dos últimos anos. O autor continua o resgate da historia da etnobiologia enfatizando que os primeiros estudos voltaram-se para análises de aspectos lexicográficos das classificações de folk ou etnoclassificações e sobre categorias de cores, plantas e parentesco próprias de diferentes sociedades. Para Costa-Neto (2000) o conhecimento etnobiológico não pode ser mantido sem o componente experiência. Sendo assim para se preservar o conjunto de experiências, deve-se conservar os modos de vida dos quais estas emergem e se desenvolvem. Rea (2000) refere-se a etnobiologia como o estudo sintético da relação entre a biologia e a antropologia, onde se captura frações de cada uma destas disciplinas. A etnobiologia faz perguntas sobre como as culturas humanas se relacionam a seu mundo biológico. Sendo estas perguntas infinitas e de foco variável. Para Begossi (1993) a etnobiologia tem como objetivo analisar a classificação das comunidades humanas sobre a natureza, em particular sobre os organismos. Por isso, disciplinas como botânica, ecologia e zoologia são fundamentais, caso não se tenha a intenção de ter apenas uma abordagem êmica. Posey (1987) contribui definindo etnobiologia. Segundo o autor a etnobiologia é: “...essencialmente o estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Em outras palavras, é o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relacionase com a ecologia humana, mas enfatiza as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo” Partindo da visão compartimentada da ciência sobre o mundo natural, Haverroth (2007), define campos variados de atuação na etnobiologia. Segundo ele dependendo da abordagem a etnobiologia pode se ramificar em etnozoologia, 25 etnobotânica. Um aspecto curioso da origem destas disciplinas etnobiológicas é que ambas surgiram antes da etnobiologia. A etnobotânica em 1896 e a etnozoologia em 1914 (CAMPOS, 2002), embora Clemente (1989) diga que o termo etnozoologia surgiu bem antes nos Estados Unidos, em 1899, quando Mason o definiu como “a zoologia de região tal como é contada pelo selvagem”. Lévi-Strauss (apud BEGOSSI, 1993) acredita que determinadas comunidades atribuem utilidade ou interesse por certos grupos animais ou vegetais porque estes foram “primeiro conhecidos”. A valoração destes grupos pode acabar determinando tendências nas temáticas dos trabalhos de etnobiologia, haja vista a quantidade de trabalhos na área de etnobotânica, que segundo Begossi (1993) são os mais numerosos, e os trabalhos em etnozoologia concentrados em etno-ornitologia e a etnoentomologia. No entanto, mediante as grandes áreas do conhecimento biológico que a botânica e a zoologia abrangem, fica evidente a importância de estudos interdisciplinares em pesquisas etnobiológicas (BARRERA, 1983). Na etnobiologia a diversidade de interações humano/ animais tanto pode ser estudada do ponto de vista das ciências ocidentais, tais como a zoologia, psicologia e etologia, quanto pela perspectiva da etnociência, mais precisamente pela etnozoologia (COSTA-NETO, 2000) A etnozoologia pode ser entendida como o estudo dos conhecimentos do homem sobre os animais e também dos recursos de fauna utilizados pelo homem (BAHUCHET apud COSTA-NETO, 2000). Nos estudos de Costa-Neto (2000) sobre os recursos faunísticos utilizados por uma comunidade Afro-brasileira, esta comunidade mostrou possuir um conhecimento etnozoológico tão coerente quanto o conhecimento zoológico acadêmico. Eles dependem de seu conhecimento 26 tradicional sobre os animais (e vegetais) para a apropriação dos recursos da natureza e utilização destes para fins diversos Os trabalhos em etnozoologia abrangem, em geral, sete divisões: Etnomastologia, Etno-ornitologia, Etnoherpetologia, Etnoentomologia, Etnoictiologia, Etnocarcinologia e Etnomalacologia De um modo geral, Santos e Marques (2001) consideram que os estudos etnozoológicos ainda permanecem ancorados na tradição etnocientífica do movimento da nova etnografia, com algumas raras incursões de cunho positivista. Os autores continuam o seu raciocínio enfatizando que as interações homem/animal são de tal complexidade que dificilmente revelar-se-ão na sua totalidade seguindose apenas vias positivistas. 2. 4 – Zooterapia Desde tempos antigos os seres humanos utilizam animais como recursos medicinais, empregando medicamentos elaborados diretamente com os corpos desses organismos, ou a partir dos produtos e substâncias produzidos por eles (COSTA-NETO e PACHECO, 2005). A utilização de recursos animais para a produção de medicamentos dar-se o nome de Zooterapia (LOUREIRO-SILVA et al., 1999; COSTA-NETO, 2000, 2002, 2005; ANDRADE e COSTA-NETO, 2005; ALVES e ROSA, 2006). Apesar de ser considerada por muitos como superstição, não deve ser negada, uma vez que os animais têm sido testados metodicamente pelas 27 companhias farmacêuticas como fonte de drogas para a ciência médica moderna (ALVES et al.,, 2002). Interessantemente a origem do termo Medicina, segundo Hogue (1987), tem ligações com a zooterapia e tem raízes com a palavra “mead”, expressão que nomeava uma bebida alcoólica feita dos favos de abelhas e que era consumida freqüentemente como um elixir. A utilização de zooterápicos, no tratamento e alívio de doenças e enfermidades é disseminada em toda cultura humana (COSTA-NETO, 2005). De acordo com Marques (1994) toda comunidade humana que apresenta um sistema médico utiliza animais como fontes de medicamentos, a isso ele chama de “hipótese da universalidade zooterápica”. Essas práticas tradicionais de cura envolvendo animais são transmitidas de geração a geração, geralmente pela linguagem oral (ANDRADE e COSTA-NETO, 2005). Para a cura de enfermidades através de técnicas zooterapêutica o todo ou diversas frações dos corpos animais, desde escamas, esporões, conchas, gordura, pele e glóbulo ocular (COSTA-NETO, 2005) podem se utilizados e serem administrados sobre a forma de pó, chás, fumos e comida. Perante o relato testemunhal de usuários quanto à aparente eficácia deste zooterápicos, supõe-se que substâncias bioativas estejam de fato presentes em seus corpos (COSTANETO, 2002). Para Costa-Neto (2005) a utilização de remédios à base de animais por populações tradicionais, indígenas e/ou de baixa renda traduz-se por um saber empírico que, necessariamente, não está destituído de fundamentos científicos. Se adequadamente estudados estes conhecimentos podem gerar perspectivas para a descoberta de novas fontes de remédios para o bem-estar humano. 28 Segundo Werner (apud COSTA-NETO, 2005) na Sierra Madre costuma-se dizer que “No mais venenoso animal, está a mais poderosa cura”. Esta máxima ganha força quando se toma por referência a utilização de substâncias tóxicas de animais como matéria prima para a produção de medicamentos pela industria farmacêutica. A produção de anti-venenos a partir do veneno extraído dos próprios agentes tóxicos (serpentes, escorpiões e aranhas), é um exemplo de utilização de animais na industria farmacêutica. Um outro exemplo são serpentes do gênero Bothrops (WAGLER, 1824) que produzem uma peçonha rica em substâncias vasodilatadoras, isoladamente a Bradicinina (LOUREIRO-SILVA et al., 1999), que auxiliam no tratamento da hipertensão. De acordo com Costa-Neto (2000) aproximadamente 300 espécies animais são utilizadas como medicamentos no Brasil. Esta quantidade de espécies pode está ligada a diversidade faunística brasileira. Porém, a variedade de animais utilizados como zooterápicos é muito relativa para cada cultura. Costa-Neto e Marques (apud COSTA-NETO, 2005) em estudos objetivando a obtenção de dados sobre a utilização de peixes como remédios pela comunidade da Praia de Siribinha – Bahia, observou que outros grupos animais também foram mencionados como de utilidade terapêutica. Para esta comunidade, segundo CostaNeto (2005), seis categorias taxonômicas forma listadas: peixes (62%), crustáceos (13%), répteis (10%), equinodermos (8%), moluscos (5%) e mamíferos (2%). A utilização de quelônios de água doce (Phrynops sp) como zooterápicos por pescadores do açude de Bodocongó (Campina Grande - PB) é registrada por Alves et al., (2002). De acordo com o diagnostico popular local o quelônio é utilizado para combater 11 enfermidades humanas e uma veterinária. De acordo com um trabalho 29 de leitura fenomenológica de uma interação homem-animal, o uso de medicamentos contendo atrativos de répteis foi relatado como facilitador para a venda de produtos medicinais folclóricos (SANTOS e MARQUES, 2001). Em Remanso – BA onde COSTA-NETO (2000) desenvolveu trabalhos de etnozoologia enfocando zooterápicos, a maioria destes produtos provinham da caça, da pesca e da coleta de mel. Desta forma, os moradores locais maximizam a energia e o tempo desprendido nessas atividades reunindo alimentos e remédios. Quando extrapola os limites tradicionais (valoração econômica) a zooterapia abre espaço para a dificuldade de se alcançar a sustentabilidade. A extração de recursos animais desordenadamente pode por em risco a diversidade ou a riqueza de determinadas espécies animais e vegetais. Segundo Rebelo e Pezzuti (2000) a manutenção do consumo se zooterápicos segue a tradição e as crenças. Os produtores de zooterápicos devido a proximidade com populações destes percebem o declínio populacional com antecedência, tanto pelos sinais da super-exploração, quanto pela distribuição restrita e limitado acesso aos recursos (CUNNINGHAM, apud REBELO e PEZZUTI, 2000). Entretanto, para eles a prática é uma questão de subsistência. Andrade e Costa-Neto (2005) relatam que embora os estudos sobre a utilização de animais como fontes de medicamentos ainda sejam percentualmente embrionários, deve-se destacar a importância ecológica desta prática. Pode-se dizer que Alves e Rosa (2006) seguem o raciocínio de Andrade e Costa-Neto, relatando que os medicamentos animais representam um importante componente na medicina tradicional (por vezes em associação com espécies vegetais). Contudo, documentos sobre a prática zooterapêutica ainda são limitados no país. 30 Ainda há muito a se pesquisar sobre a utilização de zooterápicos. De forma ética, testar metodologicamente a validade de determinadas práticas zooterapêuticas é preciso e porque não dizer – em face da problemática atual da saúde – uma necessidade imediata. 2.5 - A Herpetofauna e a Caatinga A herpetologia é o ramo da zoologia direcionado ao estudo de répteis e anfíbios, incluindo suas classificações, ecologia, comportamento, fisiologia, anatomia e paleontologia. No mundo atualmente cerca de 5.000 espécies de anfíbios e mais de 8.000 espécies de répteis conhecidas, e mais de 80% da diversidade dos dois grupos ocorre em regiões tropicais (POUGH et al., 1999). A classe dos répteis constitui o primeiro grupo dos vertebrados totalmente adaptados à vida em lugares secos na terra (ARAÚJO e BOSSOLAN, 2006) um dos fatores que os difere dos anfíbios. Etimologicamente da palavra réptil vem do latim reptare – que significa rastejar. Este nome é dado ao grupo em alusão a forma de locomoção comum entre seus representantes. Seguindo este parâmetro e outros de similaridade morfológica, a classe está dividida informalmente em três grandes grupos: tartarugas, cágados e jabutis (Testudines); jacarés, crocodilos e gaviais (Crocodilia); serpentes, lagartos, cobrasde-duas-cabeças e tuataras (Lepidosauria) (ARAÚJO e BOSSOLAN, 2006). 31 Esta classificação segue os padrões taxonômicos propostos por Lineu, onde a morfo-fisiologia e a afinidade entre espécimes é o mecanismo de agrupamento (SANTOS, 2000; POUGH et al., 1999). A classificação tradicional (proposta por Linnaeus) foi baseada em similaridade, onde animais semelhantes foram agrupados no mesmo táxon, ou pelo menos, em grupos entre si. Segundo Pough et al., (1999) não era importante para a classificação as conexões genealógica. Uma classificação deste tipo é funcional no sentido de que organiza informações e vincula nomes as espécies, mas ela não permite que façamos predições sobre aspectos desconhecidos da biologia das espécies. De acordo com Bernade (2006) a classe “Répteis” torna-se muito artificial, pois a relação entre os grupos que a compõe ainda encontra-se em fase de definição no que se refere à sistemática filogenética, que considera a classe como não válida (POUGH et al., 1999). O uso da expressão réptil ainda é uma forma simples e funcional de classificar serpentes, lagartos, tartarugas, jacarés e cobras-de-duas-cabeças. Entretanto por se tratar de um vocabulário técnico, para muitos populares este termo possui interpretações diferentes ou o mesmo é desconhecido. Recentemente um estudo coordenado pela Conservation International aponta a caatinga entre umas das 37 grandes regiões naturais do planeta (TABARELLI e SILVA, 2003). Segundo Gil (2002) grandes regiões naturais são ecossistemas com mais de 1000.000 km² de áreas e que desta área no mínimo 70% de sua cobertura vegetal seja original. A distribuição geográfica dos répteis é ampla, sendo encontrados em diversos ambientes com exceção dos pólos globais, e em especial os de clima quente 32 (BERNADE, 2006). Admitia-se outrora, que a herpetofauna da caatinga era a mesma que ocorria no grande cinturão diagonal de formações abertas que se estende do Chaco (ao norte do Pantanal) até o Nordeste brasileiro, passando pelo cerrado (VANZOLINI, 1974). Entre os grandes grupos apenas os crocodilianos não ocorrem. Não se encontram formas com especializações extremas à aridez, e muito pouco são exclusivamente da caatinga. Em se tratando de estudos sobre a ecologia de répteis, a Caatinga é uma localidade de particular interesse, uma vez que compreende uma extensa área seca, inteiramente contida na região tropical, e rodeada por habitats distintos (BARBOSA et al., 2006-a). Situada entre as Florestas Amazônica e Atlântica, o bioma Caatinga depara-se também com o Cerrado, admitindo assim, um “mosaico de interdigitações e enclaves mútuos” (VANZOLINI et al., 1980). A diversidade da herpetofauna da caatinga, conforme Rodrigues (2003), é de 167 espécies dentre répteis e anfíbios. Vanzolini et al., (1980) destaca que os problemas climáticos que a caatinga enfrenta são antes irregularidades sazonais nas precipitações que propriamente influência. Assim, a fauna de répteis é bastante variada. Entretanto, o número real de espécies é provavelmente maior do que o que se sabe hoje, uma vez que 41% da região nunca foi investigada e 80% permanece sub-amostrada (TABARELLI e VICENTE, 2004). Vários exemplos podem ser dados para ilustrar a falta de levantamentos herpetofaunísticos na caatinga. Em 2000 foi descrita para a cidade de Cabaceiras – Paraíba uma das maiores espécie de Gekkonidae do Brasil (Phyllopezus periosus Rodrigues 2000), o mesmo autor em 2003 em um trabalho nas dunas do Rio São Francisco encontrou 29 novas espécies da herpetofauna da caatinga: 4 espécies de anfisbenias endêmicas, 16 lagartos, 8 serpentes e 1 anfíbio. É notório o potencial da 33 caatinga para novas espécies, uma vez que esse sistema de dunas, que representa apenas 0,8% da área total de 7.000 km², conta com 37% de todas as espécies de anfisbenias e lagartos endêmicas da caatinga (RODRIGUES, 2003). O levantamento faunístico é uma importante ferramenta para delinear a biodiversidade de uma determinada área. A caatinga paraibana possui uma grande variedade de espécies de répteis descritas e possivelmente outras tantas por descrever (BARBOSA et al., 2006-a). Graças a intensificação deste tipo de estudo, atualmente sabe-se que a caatinga possui uma herpetofauna própria (VANZOLINI, et al., 1980), considerável, no tocante à diversidade (BARBOSA et al., 2006-a), e de importante endemismo (RODRIGUES, 2003). 2.6 - O Sertanejo e os Répteis Os répteis em muitos conceitos populares são considerados seres místicos, rodeados de crenças e visões distorcidas sobre sua importância ecológica. Diversas comunidades no mundo todo possuem diferentes formas de se relacionar com répteis. Algumas sociedades asiáticas, por exemplo, têm as serpentes como “divindades” que protegem as lavouras de pragas. Outras sociedades, como a maioria das brasileiras, consideram as serpentes como ameaças, animais não desejados (SEBBEN, 1996). Segundo Diegues e Arruda (2001) os sertanejos/vaqueiros são populações tradicionais não-indígenas, que ocupam a região que se estende desde o agreste 34 até as áreas semi-áridas da caatinga. Para estes povos, no ambiente que vivem e realizam suas atividades diárias, a presença de répteis não é estranha (VANZOLINI et al., 1980). Tanto em áreas habitadas e especialmente em matas preservadas, o encontro do sertanejo com serpentes, lagartos e quelônios é um fato tão corriqueiro quanto à falta de chuva (PINTO, 1996). Répteis são animais que despertam tanto o fascínio quanto repulsa. A grande maioria das comunidades rurais possuem a respeito dos répteis a idéia de que são seres perigosos, venenosos, místicos, traiçoeiros e vingativos (ALBUQUERQUE, 2002; PINTO, 1996; VANZOLINI et al., 1980). Dentre os répteis as serpentes estão entre as espécimes mais temidas. As interpretações sobre estes animais são das mais variadas e aparentemente são um misto entre realidade e fantasia (ou sobrenatural) (BARBOSA et al., 2006). Segundo Santos e Marques (2001) em breve síntese é possível sinalizar que a serpente aparece na Bíblia e em diversas culturas simbolizando os mais diferentes aspectos: o mal, a sexualidade, a renovação da vida, o rejuvenescimento, a prudência e a ponderação. Pinto (1996), poeta popular, que viveu toda sua vida no cariri paraibano dependendo de suas atividades rurais de subsistência, descreve em um de seus versos: “Sou cobra de veado/ esturro de leão/ fiz pauta com o cão/ mato envenenado/ sou desembraçado/ eu estruo gente/ sou que nem serpentes/ rifle carregado.../ cantador lesado/ mato de repente” 35 É possível interpretar nestes versos, certos conceitos que o poeta sertanejo tem acerca das serpentes. Para ele trata-se de um animal perigoso, que tem relações sobrenaturais e de morfologia incomum. Esta descrição nada mais é do que a transcrição de um conhecimento popular baseado em observações. Para Coelho (2006) os sertanejos são fabulistas por natureza, estando em seu sangue o dom para narrar estórias: No imaginário cultural folclórico as serpentes “mamam em pessoas e animais”, “hipnotizam pessoas e aves”, “deixam seu veneno sobre uma folha quando bebem água” dentre outras estórias. Estas crendices são transmitidas de geração em geração. "Desde pequenos estamos ouvindo as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e as lendas...” descreve assim Guimarães Rosa (apud COELHO, 2006) referindo-se aos sertanejos em seu clássico “O Grande Sertão: Veredas”. Santo e Marques (2001) alertam para as distorções de informações detidas por certas comunidades. Em seu trabalho o caso mais significativo de distorção refere-se às jibóias (Boa constrictor), pois são tidas como de interesse médico, ou seja, como serpentes que possuem glândula de veneno e aparelho inoculador de veneno eficiente. Toda via, nem todos os répteis são tidos como perigosos ou sem utilidades. Um bom exemplo disso são os jabutis. O comportamento típico deste quelônio, lento e não agressivo, certamente fez surgir crendices acerca de uma possível propriedade de cura de asma em crianças. A partir daí a cultura de criar estes quelônios em casa a fim de proteger crianças deste mal (VANZOLINI et al., 1980). 36 3.0 – Objetivos 3.1 - Gerais Realizar estudo etnoecológico e um inventário sobre répteis que ocorrem na Mata de São José da Mata, distrito de Campina Grande – PB. 3.2 - Específicos • Traçar o perfil socioeconômico da comunidade; • Verificar a percepção etnoecológico da comunidade da Serra de Joaquim Vieira - São José da Mata sobre os répteis existentes na região, no que diz respeito a conservação, bioecologia e formas de uso de recursos naturais. • Analisar as formas de apropriação de répteis como zooterápicos; • Identificar taxonomicamente e registrar as espécies; • Analisar as técnicas de caça utilizadas pelos caçadores locais. 37 4.0 - Área de Estudo Na Paraíba, Estado brasileiro que possui três biomas, mata atlântica, brejos florestados e a caatinga, um ambiente em especial chama a atenção: O ecótono de São José da Mata. Neste caso, o encontro entre o brejo e a caatinga. O referido ecótono é descrito pelos moradores locais como uma Mata, daí o nome do distrito. A Fundação Biodiversitas considera a mata como de “muita importância” ecológica, isso porque se trata de uma área única (MMA, 2002). O Distrito de São José da Mata (SJM) (7º16' – 7º15'; 36º8' – 36º5'), pertence ao município de Campina Grande fica distante 140km da Capital do estado da Paraíba - João Pessoa (Figura 1). Figura 1 – Mapa de localização do distrito de São José da Mata – Paraíba. Fonte: Helder Farias Pereira de Araújo (2007). 38 A mata esta situada entre o Agreste da Borborema e o Sertão paraibano, e é provavelmente o último remanescente de vegetação arbórea de transição (BIODIVERSITAS, 2004) (Figura 2- Nº 20). O clima é ameno, com temperaturas médias de 20 a 25ºC. O relevo é acidentado, com pequenas serras, cortadas por riachos temporários, cheio apenas nos períodos chuvosos, entre os meses de maio a julho (EMBRAPA, 2004). Figura 2 – Biodiversidade do Bioma Caatinga. No mapa o número 20 corresponde a mata de São José da Mata. Fonte: Biodiversitas 2004 39 A população do distrito é de aproximadamente 12 mil habitantes (3,15% do município sede), tendo atualmente moradores desenvolvendo atividades econômicas urbanas, e uma grande parcela de trabalhadores rurais que utilizam propriedades agrícolas circunvizinhas a mata. Para estes trabalhadores a mata serve como fonte de matéria prima para varias atividades, como a extração de madeira, coleta de frutos, caça, dentre outras atividades extrativistas. A comunidade da Serra de Joaquim Vieira (SJV) (figuras 3 e 4) foi o grupo escolhido para o desenvolvimento da pesquisa por localiza-se praticamente no meio da área de mata e manter um considerável isolamento de outras comunidades locais (distância no raio de 3km, em média) e pelo tempo de existência da mesma (cerca de 150 anos). A maior parte dos moradores da SJV possuem atividades ligadas aos recursos naturais da mata. Figura 3 – Mapa da área de mata do distrito de São José da Mata e em destaque a comunidade de Serra de Joaquim Vieira. Fonte: Prefeitura municipal de Campina Grande – PB (2004). Fonte: Abraão R. Barbosa (2007). 40 Figura 4 – Serra de Joaquim Vieira – a) vista de uma das estradas de acesso; b) entrada da comunidade;. c) moradia típica; d) “tanques” – reservatórios naturais de água. Fonte: Fotos: a, b e d – Abraão R. Barbosa; c – Sabrina M. Rasmussen Apesar de ser um bioma ímpar (IBAMA, 2004), os estudos sobre sua diversidade biológica são escassos, o pouco que se sabe está na área da botânica, sendo a fauna deste ecótono quase desconhecida. De modo geral, faltam, em coleções, amostragens desta mata e de seus diversos microhabitats. Por se tratar de uma área de alta importância biológica (BIODIVERSITAS, 2004), provavelmente abriga um endemismo ainda ignorado, e espécies consideradas raras ou mesmo novas. Com relação às áreas de endemismo do Nordeste, Rodrigues (2002) afirma que a mais importante está na região do Campo de Dunas do Rio São Francisco-PE, caracterizada por gêneros e espécies que não ocorrem em nenhum outro habitat na região neotropical. Esta é sem dúvida a área prioritária para a conservação. 41 Contudo, essa descoberta é extremamente recente. Haverá outras áreas na região Nordeste do país ainda inexploradas com importância histórica, ecológica e até evolutiva similar? A maioria do conhecimento sobre a diversidade da mata está baseada em conhecimento empírico. A relação de interação das comunidades com os recursos naturais da Mata de SJM é rica de cultura, folclore e conceitos populares, o que possibilitou o estudo etnoecológico. Por outro lado, estas informações não atendiam as necessidades de conhecimento da fauna local. Em todos os levantamentos bibliográficos pesquisados nada foi encontrado referente à fauna da mata. Tal fato revela o quanto há carência de inventários na área para todos os grupos animais. 42 5.0 - Material e Métodos 5.1 - Pesquisa etnoecológica O presente estudo etnoecológico da comunidade da Serra de Joaquim Vieira na mata de São José da Mata, foi desenvolvido entre os meses de janeiro e dezembro de 2006, tendo como enfoque a diversidade de répteis (serpentes, lagartos, anfisbênios e quelônios) conhecida pelos moradores da área, as relações homem-animal (Marques, 1995), a utilização destes como fonte alimentar e medicinal, e as relações ecológicas de répteis com outros animais. 5.1.1 - Escolha dos informantes Inicialmente foram abordados residentes na comunidade da Serra de Joaquim Vieira, que tivessem atividades diárias relacionadas à mata, como: lenhadores, caçadores, donas de casa e outros que desenvolvam qualquer tipo de atividade dependente das reservas naturais da mata. Na abordagem inicial procurou-se não interferir no cotidiano da comunidade e familiarizar-se com os membros desta (rapport), buscando garantir acesso a outros informantes, e a confiança de todos. Foram 56 entrevistados (35 mulheres e 21 homens) foram selecionados nove (1 mulher e 8 homens) informantes, com idades entre 33 e 95 anos. Na seleção foi 43 utilizada a técnica de “bola de neve” (Snowball) de Bernard (2002), representada na figura 5. A técnica consistiu em selecionar dentre os membros da comunidade aqueles que por repetidas vezes formam recomendados como “conhecedores locais”. A utilização deste método possibilitou a escolha dos informantes de maior conhecimento ou representatividade na comunidade e a escolha do “especialista nativo”. Figura 5 – Representação esquemática da técnica de bola de neve (snowball) para escolha dos informantes. No lugar dos nomes verdadeiros, letras (de A – I) são usadas como forma de garantir o sigilo sobre os informantes. Fonte: Abraão Ribeiro Barbosa (2006) 5.1.2 - Coleta de dados fornecidos pelos informantes A coleta de dados foi baseada nas informações obtidas com os informantes mediante entrevistas livres e abertas, formulários estruturados e semi-estruturados, observação direta e observação participante (não membro). 44 Com o consentimento dos informantes (de “A” até “I”) as entrevistas foram registrados com aparelho gravador tipo Mp3 Player 512MB (Marca Sony). Já as turnês guiadas foram registradas com filmadora digital de 8mm (Sony Handycam DCR-TVR-2006) com recurso de visão noturna (Night short). a) Entrevistas livres e abertas Este tipo de entrevista foi uma maneira de estreitar as comunicações entre o pesquisador e o informante. Sendo uma forma de adquirir a confiança da comunidade. Este procedimento assemelhou-se a uma conversa, sendo abordados temas relacionados à relação humano-animal e humano-répteis, e sobre a diversidade de répteis locais. Os dados obtidos foram tabulados em tabelas de cognição comparada. b) Observação direta Esta técnica visou a “reconstrução empírica da realidade” (LOPES, 1994) coletando e reunindo evidências concretas sobre a relação humano x répteis. Nesta técnica o investigador observou os informantes durante suas atividades cotidianas que de alguma forma envolviam a relação humano X répteis. Os dados obtidos foram descritos nos resultados sobre a forma de relatos. 45 c) Observação Participante (não membro) A observação participante consistiu em acompanhar as atividades do informante in loco, sem, contudo interferir em quaisquer atividades de manejo e/ou extração dos recursos naturais locais. d) Questionários Estruturados Esta técnica foi utilizada como um roteiro de entrevista, onde todos os questionários aplicados continham as mesmas perguntas e opções de respostas. Todos os questionários foram avaliados e seus dados tabulados para traçar o perfil socioeconômico local. (Anexo 1) Semi-estruturados Este tipo de questionário permitiu que o entrevistado tivesse a liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que se considera adequada. Optouse por esse tipo de entrevista por este explorar mais amplamente as questões e chegar a resultados mais elaborados. Ao contrário de uma entrevista aberta, este 46 tipo de entrevista segue um roteiro no qual constam tópicos previamente estabelecidos de acordo com os pontos a serem investigados e os informantes relataram livremente os tópicos (Anexo 2 a 7). 5.2 - Inventário Herpetofaunístico Com a finalidade de validar os dados etnoecológicos da comunidade de SJV em relação à diversidade de répteis encontrados na região, foi realizado um inventário zoológico, com base em critérios internacionais de taxonomia e identificação de espécies. Como literatura de taxonômica base foram adotados: Répteis das Caatingas – Vanzolini et al., (1980); Herpetofauna da Caatinga – Rodrigues (2000) e Serpentes da Bahia e do Brasil – Freitas (1999). 5.3 - Coleta dos espécimes O período de coleta de répteis foi de doze meses, de janeiro a dezembro de 2006, período que envolveu o verão (estação seca) e o inverno (estação chuvosa). Foram utilizadas no levantamento da herpetofauna de mata de São José da Mata três técnicas: 47 a) Varredura ou Busca Ativa A técnica de varredura consistiu em uma busca a pé por entre trilhas e trechos de vegetação fechada da referida mata, no intuito de encontrar serpentes, lagartos e quelônios. A esta técnica foi adicionada uma outra não convencional aos trabalhos de levantamento faunísticos. Um cão de caça treinado pelos próprios moradores serviu de ferramenta de busca ativa por répteis. Para aumentar as chances de encontro com estes animais, potenciais abrigos, como tocas abandonadas, entulhos de pedras, troncos, cupinzeiros dentre outros refúgios, serão vasculhados. O tempo de varredura foi de 2 horas diurnas, das (10:00 as 12:00 h) e 2 horas noturnas (20 às 22:00 h) uma vez a cada 15 dias, o que totalizou em 48 varreduras (metade destas noturnas). Como equipamento de auxilio a coleta foram utilizados ganchos, laços, puçá e luvas. Como não houve licença para coleta de material biológico da fauna brasileira, logo após a captura, todos os exemplares foram acondicionados in lócus, in vivo, identificados, fotografados e imediatamente liberados. b) Coleta por terceiros Répteis eventualmente coletados, encontrados ou mesmo mortos por moradores da comunidade foram identificados e fotografados. A prática de captura 48 por terceiros não foi incentivada, possibilitando desta forma um registro herpetológico casual. c) Armadilhas de Queda Para a captura dos répteis terrestres, foram utilizadas duas séries de armadilhas de queda (Pitfall traps) de quatro fojos cada, conforme a metodologia de Cechin e Martins (2000). As duas armadilhas foram espalhadas dentro da mata próximas a corpos d’água, devido a maior facilidade de encontro de répteis (VANZOLINI et al., 1980). Cada fojo possuía 60 cm de profundidade e 50 de diâmetro e foram instalados 2 m de distancia um dos outros e em linha. Acompanhando os fojos foram fixadas lonas de 60 cm de altura erguidas com estacas. As figuras 6 e 7 ilustram o esquema de uma armadilha de queda. A vistoria dos fojos foi periódica, sempre três vezes por semana, o que totalizou, durante os 12 meses em que ficaram abertos, em 153 vistorias. Como equipamentos de apoio foram utilizados pinções, laços, ganchos e puçás dependendo do réptil a ser capturado. 49 Figura 6 – Esquema ilustrativo de uma armadilha de queda (Pitfall traps). Fonte: Abraão R. Barbosa (2005) Figura 7 – Armadilhas de queda (Pitfall traps) fixadas na mata. a) durante estação de chuvas; b) durante estação seca. Fonte: Abraão R. Barbosa (2006) 5.4 - Registro fotográfico Para os registros fotográficos utilizou-se uma câmera digital Sony Cybershot DSC-S600 6.0Mp Zoom ótico de 3x e digital de 2x. Foram feitas aproximadamente 50 800 fotos na resolução de 2048 x 1536 pixes. As fotos encontra-se disponíveis em CD-Rom na secretária do Prodema UFPB/UEPB. 51 6.0 - Resultados e discussão 6.1 - Perfil socioeconômico da Comunidade A faixa etária com o maior número de indivíduos dentre os entrevistados da Serra de Joaquim Vieira está entre os 20 e 35 anos de idade, o que representa 44% dos entrevistados. Dentre os entrevistados apenas 4% têm menos de 20 anos de idade. (gráfico 1) Faixa etária 23% menos de 20 4% 20 - 35 36 - 51 mais de 51 44% 29% Gráfico 1 – Distribuição porcentual da faixa etária dos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa A distribuição de gênero mostra que há mais mulheres (62%) na comunidade (gráfico 2). Segundo os entrevistados a quantidade de mulheres explica-se pelo êxodo rural praticado pelos homens, que saem da comunidade e passam a viver em cidades como Campina Grande – PB ou mesmo migram para o Sudeste do país em busca de melhorias financeiras. 52 Sexo Masculino Feminino 38% 62% Gráfico 2 – Distribuição porcentual quanto ao gênero dos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006). Fonte: Abraão R. Barbosa O estado civil de solteiro é maioria (54%). Possivelmente o número de homens reflete na baixa quantidade de casamentos (gráfico 3). Estado cívil 16% Solteiro Casado Viuvez 30% 54% Gráfico 3 – Distribuição porcentual do estado civil dos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006). Fonte: Abraão R. Barbosa 53 Os dados obtidos em relação ao número de filhos por família estão dispostos no gráfico 4, e se assemelham aos dados do Censo demográfico de 2000 - IBGE. Segundo o referido Censo, até 3 filhos por família é uma média local. Número de filhos 1a3 4a6 mais de 6 19% 23% 58% Gráfico 4 – Distribuição porcentual do número de filhos por família dos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa Conforme o gráfico 5, ao todo 16% dos entrevistados são não alfabetizados. Estes dados relacionam-se com indivíduos com faixa etária acima de 51 anos de idade. Para os indivíduos dentro da faixa etária de 20 a 35 anos, a maioria afirma ter pelo menos o ensino médio completo. 54 Escolaridade 20% 16% Analfabeto Fundamental Médio 64% Gráfico 5 – Distribuição porcentual do nível de escolaridade dos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa A agricultura (55%) e a aposentadoria (18%) são os tipos de fonte de renda mais citado pelos entrevistados (gráfico 6). Entretanto, recentemente os programas de transferência de renda, como bolsa escola, bolsa alimentação, auxilio gás, que são chamados de “programas remanescentes”, estão sendo incorporados ao programa Bolsa Família do Governo Federal, que hoje fazem parte do orçamento familiar daquela comunidade. 55 Profissão/Fonte de renda 5% 18% Agricultor Pecuarista Caseiro Diarista Aposentado Caçador 13% 55% 5% 4% Gráfico 6 – Distribuição porcentual da profissão / fonte de renda dos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa As moradias são de casa de alvenaria com 4 cômodos em média (sala, quartos e cozinha) e banheiro geralmente fora da casa. A maioria das propriedades não possui cercas, em vez disso, formações rochosas, árvores e pequenos cursos de água delimitam as terras. Muitos afirmam que a casa e também a terra é própria (48%) ou ainda foram adquiridas como heranças (43%). Dentre os moradores entrevistados menos de 10% não são proprietários das casas ou terras onde trabalham. Os dados referentes a moradia estão dispostos no gráfico 7 e 8 um casal idoso em frente a sua casa construída no ano de 1900. 56 Condições de moradia 5% 2% 43% Própria Alugada Herança Empréstimo Zelador 48% 2% Gráfico 7 – Distribuição porcentual das condições de moradia dos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa Figura 8 – Casal idoso em frente a sua casa erguida a mais de 100 anos. Fonte: Helder N. de Albuquerque (2006). 57 Indagados sobre o tipo de agricultura que desenvolvem, 61% diz utiliza-se da agricultura apenas para suprir as necessidades de sua família, ou seja, agricultura de subsistência (ver gráfico 8). Um fato curioso é que em determinados momentos existem processos de escambo, onde é a pequena produção é moeda de troca na aquisição de outros insumos agrícolas com a comunidade local ou com vizinhas. Esta relação de escambo é preferencialmente feita entre agricultores. De acordo com os entrevistados, “não é bom trocar colheita com armazém!” (entenda-se armazém como pontos comerciais localizados na sede do distrito). Este tipo de negociação, agricultor/comerciante não é rentável segundo a comunidade. Eles ainda enfatizam: “o feijão de ‘nóis’, produtores pequenos, vale menos que o dos grandes”. Contudo os entrevistados não souberam explicar os motivos para tal desvalorização. Tipo de agricultura 0% Subsistência Extensiva Intensiva 39% 61% Gráfico 8 – Distribuição porcentual do tipo de agricultura desenvolvida pelos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa 58 Como a maioria dos produtores utiliza-se da agricultura de subsistência, uma tendência ao cultivo a produtos de consumo direto foi observada. Segundo os dados do gráfico 9, a maioria dos entrevistados diz plantar feijão (35%), milho (32%) e mandioca (27%) tanto pela facilidade de manejo quando por questões culturais. Tipo de lavoura preferêncial 2% 4% 27% 35% Feijão Milho Mandioca Batata Outra 32% Gráfico 9 – Distribuição porcentual do tipo preferencial de lavoura cultivada pelos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa Na comunidade a criação de animais é menos difundida em relação a agricultura, mas segue a mesma lógica: é uma atividade de subsistência para a maioria dos entrevistados (gráfico 10). 59 Tipo de Criação Animal 7% 4% Subsistência Extensiva Intensiva 89% Gráfico 10 – Distribuição porcentual (n=56) da forma de criação animal desenvolvida pelos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa Segundo os entrevistados a criação de animais muitas vezes é limitada por fatores econômicos. “bom mesmo é ‘cuidar’ de bode e vaca... a gente aproveita leite e carne... ‘agora’ na seca é prejuízo!” . Possivelmente a criação de galinhas feita por 55% dos entrevistados (gráfico 11) está relacionada aos baixos custos de manejo. Ainda com relação aos dados do gráfico 11, observa-se que um pequeno grupo dos entrevistados (2%) aprendeu técnicas de apicultura e criam abelhas nativas da mata conhecidas por Jandaíra (possivelmente do grupo Mellipona sp). Segundo estes criadores a atividade é rentável porém “muito trabalhosa”. “...se a gente tivesse ‘maquina’ seria melhor...”. 60 Tipo de criação preferêncial 2% 2% 21% Galinha Bode Gado Cavalo Abelhas 55% 20% Gráfico 11 – Distribuição porcentual (n=56) do tipo de criação animal feita pelos entrevistados (n=56) da Serra de Joaquim Vieira – São José da Mata – PB. (janeiro de 2006) Fonte: Abraão R. Barbosa 6.2 - Questionário etnoecológico As respostas ao questionário etnoecológico foram dadas apenas pelos informantes selecionados pela técnica de snowball. Em linhas gerais percebeu-se que as respostas ao questionário tiveram um mesmo direcionamento, o que possivelmente indica a proximidade do nível de conhecimento dos informantes. Quando questionados se no dia-a-dia utilizam-se da mata, todos afirmam que sim. Segundo os informantes a utilização de produtos oriundos da mata é constante e muitas vezes diária: • “O que agente precisar é só busca na mata que acha.” - Informante “A”; 61 • “sabendo procurar direitinho e conhecendo a mata dá para usar um bocado de coisa” – Informante “B”; • “o problema é que por aqui tá ‘se esquisitando’ tudo, mas lá para cima tem muita coisa ainda de mata” – Informante “D”; • “oxe! eu mesmo vou todo dia buscar lenha para fazer fogo” -Informante “H”; • “antigamente tinha mais coisa... o pessoal novo não bulia muito não! Mas penso que agora as ‘coisa’ é ‘pouca’...” Informante “E”. De acordo com os informantes, a vida na mata é simples e sem luxo. Quando foram indagados se é possível viver somente da mata, apenas três informantes (“F”, “G” e “I”) responderam que não, mas admitem que da mata se tira muita riqueza. Os referidos informantes tem atividades relacionadas a pecuária e agricultura extensiva, possivelmente por este motivo não acreditam ser possível viver somente com recursos oriundos da mata. 6.3 - Manejo da fauna e flora da mata A forma de aquisição de produtos da mata, segundo os informantes, pode variar. Durante a aplicação do questionário todos optaram por assinalar respostas múltiplas. Assim acredita-se que o extrativismo + cultivo/criação sejam empregados conjuntamente ou quando preciso separadamente. Nesta enquete ficou evidente que o que não lhes serve para criar ou não precisa ser criado, devido a abundância, é adquirido com a extração na mata. Por 62 outro lado plantas oriundas da mata que possuem aplicações na medicina popular local ou relacionadas com crendices são cultivadas nos arredores das residências. Segundo a Informante “H” “não custa nada plantar esta plantas no terreiro, faz até bem, espanta olhado e tudo”. Outras formas de uso da flora são como combustível, na construção de cercas e nas habitações. Figura 9 – Exemplar de Pião (Jatropha gossypiifolia L.) plantado próximo a residência de um dos informantes. A seiva do vegetal é utilizada como cicatrizante. Fonte: Helder N. de Albuquerque (2006) O manejo da fauna local é diferente do manejo da flora. Quase nenhum morador tem o habito de criar animais da mata, e o uns poucos têm práticas ex-situ, a fazem no intuito de garantir ou engordar uma caça capturada. Menezes et al., (2004) destacam em seu trabalho que a prática de aprisionar Passariformes em viveiros é muito difundida no Nordeste brasileiro. Mas, por incrível que pareça, em nenhuma das casas visitada durante a pesquisa foram vistas gaiolas com pássaros. Segundo o informante “C” “criar passarinho é coisa de quem não tem 63 o que fazer”. No mesmo direcionamento o informante “I” disse: “não tem pra quê prender os bichinhos se tem solto todo dia no terreiro... quando eu vejo menino pegando eu vou lá e solto...”. Na mata é possível ver bem próximo as casas, bandos de aves, que são de interesse do mercado informal de animais silvestres, comendo livremente (figura 10). Se tomarmos como referência o trabalho de Menezes et al., (2004) sobre a ornitofauna presente no Campus I da UEPB, distante 20km da mata de SJM, podese supor, com base na distancia dos pontos, que a diversidade de aves ali encontrada também esteja presente na mata. Figura 10 – Exemplares de Galo-de-campina (Paroaria dominicana Linnaeus 1758), flagrados livremente entres as estradas na SJV (a) e no terreiro de residências da referida comunidade (b). Fonte: a – Elizabeth C. Silva e b - Helder N. de Albuquerque. Nos trabalhos de Oliveira et al., (2006) e ROCHA et al., (2006) sobre o trafico de aves na cidade de Campina Grande – PB, os autores destacam que a problemática da criação de aves silvestres em cativeiro é alimentada não só pelo comércio, mas também por fatores culturais, onde criar “passarinho” em gaiola é ensinado de pai para filho. A comunidade de SJV, até onde se pode ver, não 64 estimula a criação de pássaros em gaiolas. Uma frase do informante “E” (95 anos) serve como confirmação a esta cultura de não aprisionar pássaros: “No tempo de meu pai se a gente pegasse um passarinho: golado, papa-capim.... pra ‘butar’ em gaiola, levava surra e castigo. Nem eu, nem meus irmãos, nem meus filhos ‘tudo”, nenhum cria passarinho.” Por outro lado a comunidade é conhecida por possuir bons caçadores de rolinha (Columbina passerina), arribaçã (Zenaida auriculata), teju (Tupinambis merianae) e tatu peba (Euphractus sexcinctus). A extração por meio de caça destes e de outros animais faz parte da cultura local e segundo “C” é repassada de pai para filho. “...tem que ensinar, pois se um dia não tiver nada, pelo menos caçar sabe...” 6.4 - Aprendizado As formas de apropriação dos recursos da mata é, segundo os informantes, na maioria dos casos aprendido através do repasse de informações entre membros da mesma família e membros não aparentados, mas pertencentes a mesma comunidade (Figura 11). Diversos autores fazem referencias ao aprendizado dentro de um mesmo grupo social (COSTA-NETO, 2000, 2002; MARQUES, 2005). Esta forma de repassar o conhecimento, segundo Marthos (1996), é comum em todas as comunidades do mundo. 65 Figura 11 – Formação do conhecimento dos informantes em relação ao uso dos recursos da mata. Fonte: Abraão R. Barbosa (2007) A oralidade, dizem Andrade e Costa-Neto (2005), é notadamente a forma pela qual o conhecimento tradicional é passado de geração a geração. Todavia, há riscos de um determinado conhecimento ser extinto, caso o detentor do mesmo por algum motivo não o repasse. Três informantes disseram ter adquirido novos conhecimentos a partir de intervenções de ordem técnica. O informante “C” explica que em determinada época “técnicos”, que ele não soube precisar de onde eram, passaram uma temporada na comunidade ensinando técnicas de apicultura. Vários membros aprenderam as técnicas de apicultura, mas apenas um pequeno grupo mantém a atividade (ver gráfico 11), a exemplo do informante “C”, que trocou a criação de abelhas africanizadas por abelhas nativas da mata. Adams (2000) alerta que a substituição de técnicas tradicionais pela importação de técnicas modernas destinadas ao manejo de determinados recursos 66 naturais, pode de alguma maneira bloquear os processos de transmissão de conhecimento empírico através da oralidade habitual. A referida autora cita um exemplo em seu trabalho com populações caiçaras, quando a inserção de motores nos barcos de pesca forçou os pescadores artesanais a desenvolver toda uma nova “tecnologia” para conciliar uma nova ferramenta como suas prática de domínio do ambiente. A tradição, passada de pai para filho, não existiu nesta época. A nova percepção do meio ambiente incorporou-se, aos poucos, à mentalidade dos pescadores artesanais agora motorizados. 6.5 - Estado de preservação da mata Nas abordagens iniciais nenhum dos nove informantes manifestou preocupações com a preservação da mata. Todos afirmaram ter consciência da importância de conservar os recursos da mata, contudo não se julgavam responsáveis por isso. “os ‘outro’ é que destroem as coisas por aí” – informante “G” Nos trechos abaixo extraídos dos informantes (n=9) percebe-se que os mesmos têm a idéia de que a disponibilidade de recursos é inesgotável. Seguramente esta concepção de riqueza de espécies não tem fundamentos, uma vez que a quanto mais intensa for a procura por determinas espécies maiores são as chances de queda em seu número populacional (VALENTIN, 2000). 67 “...o povo sai cortando tudo quanto é de pau e nunca acabou!” - informante “G”; “tem umas espécies de caçadores que mata só por perversidade... atira até em urubu!” - informante “H” “...arribaçã e os teju - não se acabam não, são peste!” – informante “A” Quando mais tarde abordados (junho de 2006) com as mesmas perguntas com relação a conservação da mata, seis dos informantes disseram estar preocupados em preservar áreas de mata. Eles citaram como problemas a presença de espécies exóticas como a algaroba (Prosopis juliflora Sw. DC.), os ratos (Rattus rattus) e os pardais (Passer domesticus) é vista como ameaça aos recursos da mata. “Se arrumasse um jeito de acabar com pardal seria muito bom!” – informante “F” “ainda bem que já pode corta fora algaroba!” – informante “B” “Na minha plantação o maior problema é rato...” – informante “E” A problemática de ambientes naturais com espécies exóticas invasoras é discutida por Ziller (2007-a). De acordo com a autora as espécies exóticas invasoras alteram características naturais e o funcionamento de processos ecológicos, 68 incorrendo em quebra de resiliência de ecossistemas naturais, redução de populações de espécies nativas, processos de dominância sobre a biodiversidade nativa e perda efetiva desta biodiversidade. Em um outro trabalho Ziller (2007-b) afirma que tamanho é o potencial de espécies exóticas para modificar sistemas naturais que as plantas exóticas invasoras são atualmente consideradas a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade, perdendo apenas para a destruição de habitats pela exploração humana direta. Problemas relacionados a algaroba (Prosopis juliflora Sw. DC.) em áreas de caatinga são descritos por vários autores (PRADO, 2003; RAMALHO, 2006;. ANDRADE et al.,2006; e OLIVEIRA, 2006). De acordo com Ramalho (2006) P. juliflora ocasiona mudanças no estrato arbóreo, mas também no estrato herbáceo da caatinga. Ele registrou que as áreas invadidas por algaroba apresentaram menores riquezas e diversidade florística que áreas de caatinga sem invasão. Este registro é confirmado pelos informantes “H” e “E”. “onde tem muita algaroba não presta pra plantar.” – Informante “H” “a algaroba não deixa nascer nada ao seu redor. Ela mata tudo!” – informante “E” No trabalho de etnobotânica de Albuquerque (2006) é levantada uma hipótese de diversificação, baseada na premissa que a inclusão de plantas exóticas é uma estratégia dentro de muitas culturas para diversificar o estoque farmacológico local. Pelo menos para comunidade de SJV, o cultivo de algaroba não tem utilidade médica alguma. A prática de cultivo desta espécie parece está muito mais 69 relacionada à assimilação de uma cultura externa e no intuito de ter lenha e comida para animais. 6.6 – Influência da Sazonalidade A utilização da mata segue o ciclo climático da região. Quando no período de chuvas, tido como inverno, de março a agosto, a agricultura, preferencialmente de cultivares comercialmente valorizadas (feijão e milho). Durante a seca, estação mais prolongada, a queda natural das folhagens da grande maioria dos vegetais, possibilita a intensificação da caça, porquê segundo os informantes “B”, “C” e “D” com a mata aberta fica fácil esta é a visualizar os animais de caça. Pode-se comparar esta alternância de atividades com o trabalho de Adams (2000). Segundo ela os caiçaras possuem uma dicotomia simplista entre uma “fase agrícola” que é inversa a uma “fase de pesca” e corresponde a uma situação de “equilíbrio”, de homogeneidade de comportamento. Outra alternância de atividade é registrada por Hanazaki (2002) que verificou no litoral sul do país, os animais de caça eram mais procurados entre os meses de maio e junho, período que coincide com o inverno, pouco propício para a pesca em geral. Parafraseando Adams (2002) pode-se dizer que na comunidade de SJV existem duas fase de utilização da mata: a “fase agrícola”, mais praticada no inverno e a “fase de caça”, mais praticada durante a seca. Não há propriamente o fim de uma temporada de caça, mas possivelmente a redução da caça (em detrimento a atividade agrícola) durante o período de chuva possibilita que as espécies animais tenham tempo para se desenvolver e acasalar. Assim, no período de chuvas surge uma condição de defeso. O entendimento de defeso é muito comum em 70 comunidades pesqueiras, conforme Carvalho (2002) e Souto (2004). Em um determinado período o desaparecimento do camarão é comum e os pescadores suspendem as atividades de pesca. Souto (2004) referem-se ao período sem pesca, em virtude do ciclo natural dos camarões, como “defeso natural”. Os informantes comungam da mesma idéia sobre o ciclo reprodutivo de algumas espécies da fauna local. Segundo eles nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro parece haver um clímax reprodutivo. O informante “C” narra: “por si só os animais se programam para nascer nesta época”; e continua em outro trecho: “...sei disso porquê a gente ver um monte de ‘filhotinho’: de passarinho, de calango, de jabuti... destes bichos mais comuns; e nasce tudo no mesmo tempo.” conclui. Mesmo conhecendo este período de nascimento em massa, os caçadores locais seguem suas práticas normalmente, o que se pode comparar com uma prática predatória, uma vez que põem em risco a fauna que acabara de nascer. Continuando o dialogo o informante “C” afirma que nesses meses é mais fácil encontrar presas, portanto é certo o sucesso na caça. Vale salientar que os frutos das lavouras feitas no inverno ficam escassos na seca, ou seja, justamente no período descrito como de intensa reprodução da fauna, e que alguns moradores adotam a caça como medida de sobrevivência. Um trecho do trabalho de Alves (2002) retruca a favor destas práticas tidas como predatórias: “Ao invés de ‘culpar’ essas pessoas, deve-se considerar que suas práticas, por vezes ditas ‘predatórias’, estão relacionadas a um refinado conjunto subjacente de conhecimentos empíricos e crenças que permanecem desconhecidos e desvalorizados dentro da sociedade multicultural em que vivem.” Na figura 12 encontra-se a transição da paisagem: do período de chuvas (inverno) para a o período de estiagem (verão), 71 Figura 12 – Ciclo climático natural. Mudança na paisagem. a) da lavoura na época de chuvas (abril) para a época de seca (outubro); b) da cheia do açude (maio) para o solo rachado (novembro). Fonte: Abraão R. Barbosa (2006) 6.7 - Uso dos recursos através dos mecanismos de caça Dentre as comunidades tradicionais estão os caçadores que possuem um grande conhecimento acerca da biologia dos recursos faunísticos que caçam. São possuidores de informações acumuladas por varias gerações sobre os recursos que utilizam e interagem (FERNANDES-PINTO e MARQUES, 2004). 72 No trabalho de Alves (2005) foram abordados 30 moradores da comunidade Capim Grande I, comunidade vizinha a SJV. Segundo seus dados 86,66% dos entrevistados afirmam que a caçam para comer. Estes dados são bem próximos aos encontrados na SJV onde 92,3% dos entrevistados diz caçar apenas para comer. Segundo Diegues e Arruda (2001) os sertanejos/vaqueiros além de atividades pastoris e agrícolas desenvolveu a caça como uma atividade de subsistência. De acordo com Mendes (1997), todo sertanejo é primeiramente caçador, pescador e agricultor, depois disso, só então aprende outros ofícios. A caça desenvolvida pela comunidade utiliza-se de recursos muito simples, rústicos e funcionais. As ferramentas de utilizadas pelos moradores da mata baseiam-se em armas de fogo, armadilhas de queda, jaulas, cães treinados e até anzóis (Alves, 2005). A lista de ferramentas de caça, a justificativa para o uso de tal ferramenta e o tipo de caça a qual se destina está disposta na tabela 1. Tabela 1 – Lista de ferramentas utilizadas para caça pelos moradores da SJV. Ferramenta Justificativa Tipo de caça Pebeira – Cone de arame entrelaçado com um dos lados fechado. “pode pegar com cachorro, mas a pebeira é mais fácil, deixe num dia e pega no outro” Tatu peba (Euphractus sexcinctus) e Tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus) Sovaqueira – arama de fogo que não utiliza projétil. “usa para fachiar rolinha e lambú de noite. E também arribaçã. Se o ‘caba’ for bom, é um tiro barato e certeiro.” Rolinha (Columbina spp), Lambú (Cryturellus parvirostris) e Arribaçã (Zenaida auriculata) Fojo – buraco fechado por uma tampa giratória de madeira “é só butar uma batatinha presa na tampa que pega preá a vida toda... até tejú já peguei” Preá (Cavia aperea), Mocó (Kerodon rupestrs) e Punaré (Thrichomys apereoides). Cachorro – cães vira-lata “tem uns ‘cachorrin’ sabido todo, é só sair pro mato que eles vem atrás, e eles que acha os bichos... para pegar peba é bom demais” Peba (Euphractus sexcinctus), tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e teju (Tupinambis merianae) 73 Chama atenção a forma como os caçadores locais utilizam-se dos cães durante suas embrenhadas na mata. Há toda uma “lógica” até que um cão possa seguir seu dono durante a caça. O informante “C” descreveu: “o cachorro não pode ser destes de raça não, tem que ser esses vira-lata mesmo, desses ‘fuleros’ mesmo... / ...se for malhado ou branco não serve, o melhor é o vermelho, porquê cachorro malhado ou branco é mentiroso, late, late quando a gente vai dá fé não é nada, só o cachorro abanando o rabo feito besta... / ...na hora de escolher na ninhada tem que ‘precurar’ o mais esperto e de preferência fêmea, esse vai ser bom e obediente... / ...se for macho tem risco de invés de procurar rastro de bicho, o danado puxa pro lado que tem cadela no cio... / ...para não ter que vacinar tem que colocar nome de peixe tipo: xareu, baleia, piaba, sereia... / ...aí na hora de ensinar tem que ser com ele novinho: ou vendo um cachorro ‘véio’ caçando ou mostrando e esfregando a caça que quer nas fuças... / ...tem que ser magricela para não cansar logo... / ...e não pode deixar menino ficar brincando com ele antes de caçar, se não ele pensa que é brincadeira e vai pro mato só fazer raiva...” Na figura 13 exemplos de cães que servem ou não para a caça na região. Estas fotos são dos cães excluídos (1 e 2) e o escolhido (3) pelos informantes “C”, “B” e “D”, como cão “bom” para caçar. De acordo com “C”: “tem que ser espertinho, desse jeitinho daí (referindo-se ao cão 3) vai dar um bom cachorro, ‘igualzinha’ a Baleia (cadela do informante ‘C’).” 74 Figura 13 – Cães 1 e 2, tipos rejeitado para caça, e cão 3 sendo comparado ao 4 com “bom para caça”. Fonte: Abraão R. Barbosa (2006). Durante as turnês guiadas (figura 14) foi observado o comportamento dos caçadores com seus cães. Tanto os caçadores quanto os cães utilizam do que podese chamar de “linguagem interespecíficas” onde um atrai a atenção do outro. O informante “C” relata que os cães se comunicam com o seu dono guiando-o para próximo da caça. “se for cachorro sabido diz o caminho certinho...”. Percebido nas observações e confirmado pelos caçadores, os cães esboçam um comportamento típico que indica que ele está no rastro de uma presa. Figura 14 – “Baleia” instantes antes de acuar um teju (Tupinambis merianae). Fonte: Abraão R. Barbosa (2006). 75 A caça é iniciada por uma busca ativa atrás dos vestígios frescos de animais, seguida de perseguição. Quando encontram a caça, latem e alertam os caçadores. Segundo “C”: “O cachorro late diferente para cada tipo de bicho que encontra...”; “C” continua dizendo: “dependendo do latido a gente nem vai ver o que é, pois já sabe que não vale a pena...” e conclui: “se não tiver ‘vanta’ a gente chama o bicho (cão) e dá carão...”. Advertir o cão, segundo os informantes, é uma forma de ensinar que aquela caça não lhe serve, por tanto o cão não deve perder tempo em acuar aquele determinado tipo de presa. Entretanto os informantes admitem que muito do que os cães fazem é parte de seu instinto e não somente do seu adestramento. Por exemplo, latir de modo diferente para cada tipo de presa não é algo ensinado, o cão faz isso instintivamente. De acordo com Trinca e Ferrari (apud RAMOS, 2006) a caça com auxilio de cão é uma técnica muito difundida na qual o cão é que decide qual espécie e qual o individuo será caçado. Entretanto, tomando como base as observações feitas na SJV, nem sempre o cão escolhe o que quer caçar. Durante a execução do projeto, vendo como se portavam os cães durante a caça, teve-se a idéia de utilizá-los como ferramenta de busca para a construção do inventário herpetofaunístico. Isso foi possível graças a estimulação dos cães, durante as técnicas de aprendizagem para caça, para a caça de répteis (o que não é feito habitualmente). Foram utilizados lagartos (Tupinambis merianae, Iguana iguana e Phyllopezus policaris), serpentes (Philodryas naterreri, Epicrates cenchria assisi e Bothrops erythromelas) e quelônios (Geochelone carbonaria), que eram exibidos aos cães no intuito de aguilhoar-lhes o faro para aquele grupo animal. Os resultados obtidos com esta técnica encontram-se detalhados no item 6.10 – tabela 11. 76 6.8 - Relações com a Fauna De acordo com as entrevistas, os informantes disseram conviver “sem problemas” com a fauna local. A única ressalva está relacionada às serpentes das quais eles julgam como “venenosas” e “traiçoeiras”. Quanto a utilização da fauna pela comunidade foram obtidos dados que sugerem a existência de um padrão para valorização de grupos animais. Na comunidade a valoração das espécies está diretamente relacionada a utilidade destas. Mediante as respostas adquiridas nas entrevistas e questionários foi possível extrair os critérios, por eles determinados, para que uma espécie animal tenha maior valor que outra. 1º - “se serve para comer.”; 2º - “se vale dinheiro”; 3º - “se serve de remédio” Os animais utilizados como fonte nutricional, financeira e como zooterapico estão dispostos na tabela 2, juntamente com o número de indicações feitas pelos informantes. 77 Tabela 2 – Lista de animais utilizados pelos informantes como alimento, fonte de renda e zooterápico. Tipo de uso Alimento Renda Zooterápico 5 9 5 9 3 3 9 1 9 9 5 9 8 4 9 9 9 9 3 3 3 2 6 5 4 9 Abelhas Arribaçã Camaleão Cascavel Jabuti Lagartixa Lambu Mocó Preá Rolinha Seriema Tatu Peba Tatu verdadeiro Teju Os entrevistados coletam determinadas espécies de seu interesse, contudo preocupa-se em garantir a sua preservação e assim utilizar o recurso por mais tempo. Remete-se aqui ao contexto fauna de acordo com Alves et al., (2002) onde a visão de que a conservação da natureza vincula-se diretamente a questões sociais, econômicas, culturais e biológicas. “tem que ter responsabilidade, se tirar tudo do mato, pronto! Se acaba tudo e o povo fica só chupando dedo.” informante “H” 78 6.9 - Visão Acerca de Répteis Dentre os informantes, 88,8% não agrupa representantes da herpetofauna local como “grupo répteis”. Para os mesmos, quelônios, amphisbaenios, lagartos e serpentes são animais de distintos agrupamentos. A distinção segue apenas padrões morfológicos como, por exemplo, a ausência de patas que enquadra amphisbaenios e serpentes em um mesmo grupo. Segundo Vanzolini et al., (1980) diferenciar os grupos de répteis locais não é tarefa minuciosa. Lagartos e quelônios possuem quatro patas, mas os quelônios possuem sua carapaça óssea que os diferencia facilmente. Entre serpentes e anfisbênios, ambos apodes, pode haver uma certa duvida por parte dos leigos, contudo a morfologia ilusória de duas cabeças no anfisbênios pode diferenciá-los das serpentes. Na tabela 3 está a discrição dada pelos informantes para cada grupo de répteis, como também a comparação com a literatura científica. Tabela 3 – Comparação entre informações fornecidas pelos informantes para caracterizar cada grupo de répteis, em relação a literatura científica específica. Grupo Informantes Quelônios 1 - “tem um casco de osso, quatro patinhas, cabeça e rabo miúdo, e nas patas parece umas ‘escaminhas’...” 2 - “Quando bole com eles, eles entram para dentro do casco.” 3 – “Os machos tem a barriga afundada para dentro” Lagartos 1 – “tem quatro patas, um rabo comprido... tem de todo tamanho e cor...” 2 – “anda sempre no sol, Citação na literatura 1 - A morfologia básica dos quelônios é marcada pela presença de uma carapaça óssea formada pela modificação das costelas e quatro patas escamadas. 2 – Como defesa recolhem-se a carapaça ocultado os membros, a cabeça e a cauda; O plastrão é côncavo nos machos (POUGH et al.,1999) 1 – são squamatas com quatro patas, calda relativamente comprida e com padrões de escamas muito variados; 79 menos as bribas que anda a noite...” 3 – “eles anda balançando a cabeça... o rabo se tora e fica se mexendo sozinho, diz que chamando a mãe do ‘caba’ de... mas cresce de novo.” Serpentes 1 – “nem tem mão, nem pé, anda se ralando no chão mesmo” 2 – “as vezes solta o couro, quando a gente dá fé fica as peles dela enganchada nas pedra ou no telhado.” 3 – “tem de todo tamanho, umas miudinhas, vagabundas.... e tem uma, que o povo diz, que dá mais de 4 metros” Anfisbênios 1 – “parece uma minhoca grande, só que morde e tem duas cabeças uma verdadeira e uma falsa” 2 – “é difícil de ver, só quando tá cavando lerão, ou limpando mato debaixo de cajueiro” 3 – “Já vi de duas qualidades, uma branquinha ‘maga’ e uma ‘grandona’ que a cabeça verdadeira parece uma seta.” 2 – Na caatinga há lagartos com hábitos diurnos e noturnos; 3 – balançar a cabeça é um tipo de comunicação intraespecífica que indica que o individuo é macho. A perda da cauda chama-se autotomia e relaciona-se a técnicas de fuga. (POUGH et al., 1999) 1 – No grupo das serpentes e todos os indivíduos são apodes; 2 – as ecdises são caracterizadas pelo eliminação das antigas escamas, que são liberadas no ambiente. Geralmente as serpentes utilizam-se de superfícies ásperas para auxiliar o processo de muda; 3 – a variação de tamanho das serpentes esta relacionada ao habitat e ao tipo de presa caçada. (Freitas, 1999) 1 – anfisbenios são répteis aparentados com os lagartos, que possuem estrategicamente a calda semelhante a cabeça; 2 – possuem um comportamento fossorial; (POUGH et al., 1999) 3 – Na mata de SJM certamente ocorre pelo menos uma espécie: Amphisbaenia alba (BARBOSA et al., 2006) Os répteis em muitos conceitos populares são considerados seres místicos, rodeados de crenças e visões distorcidas sobre sua importância ecológica. Diversas comunidades no mundo todo possuem diferentes formas de interpretação dos répteis (BERNADE, 2007). Algumas sociedades asiáticas, por exemplo, têm as serpentes como “divindades” que protegem as lavouras de praga como os roedores. Outras sociedades, como a maioria das brasileiras, consideram as serpentes como 80 ameaças, animais não desejados (CORDEIRO e HOGE, 1973). Não só as serpentes como também muitos lagartos acabam por receberem o conceito de venenosos e perigosos.(VANZOLINI et al.,1980). Para a comunidade de SJV a relação com a herpetofauna é mista, enquanto para uns a relação é de medo e desconfiança, para outros a relação é natural e muitas vezes sadia. a) Relação Humano X Quelônio Na mata de SJV nem todos os répteis são tidos como perigosos, ou sem utilidade. Um bom exemplo são os jabutis (Geochelone carbonaria). Segundo Vanzolini et al., (1980) o comportamento desse quelônio, lento e não agressivo, certamente fez surgir crendices acerca de uma possível propriedade de cura de asma em crianças. A partir daí a cultura de criar estes quelônios em casa a fim de proteger as crianças deste mal. A comunidade de SJV tem o mesmo tipo de costume, e segundo os informantes a crença é verdadeira. “se tiver criando jabuti no terreiro: menino fica bom de chiado [asma]” – Informante ‘A” Nos corpos de água da mata ocorrem duas espécies de cagados Phrynops geoffroanus e Batrachemys tuberculata. Os cágados-d’água, por sua vez, representam um recurso pesqueiro secundário, já que sua captura ocorre de forma 81 indireta, quando esses animais se emaranham em redes e anzóis direcionados à coleta de peixes. Embora pareçam ter importância econômica mínima (CORAZZA e MOLINA, 2004), seu significado cultural e ecológico não deve ser desprezado. No trabalho de Alves et al., (2002) o autor relata que na comunidade de pescadores do Açude de Bodocongó (Campina Grande – PB) alguns indivíduos classificam os cagados como peixes, e que os mesmo fazem uso nutricional destes quelônios. Em SJV não foi observada a comparação de nenhuma das duas espécies de cagados locais com peixes, contudo a utilização destes como recurso alimentar foi registrada pelo menos uma vez: “se vem na rede a gente não vai perder, né?... mas o povo aqui não tem ‘custume’ de comer isso não, acha que é remoso.” – informante “D”. As respostas sobre o conhecimento etnoherpetológico dos informantes da SJV encontra-se dispostas na tabela 4, juntamente com a comparação com a literatura cientifica. Tabela 4 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o conhecimento etnoherpetológico de quelônios, em relação a literatura científica específica Perguntas Que tipo de “tartarugas” (quelônios) tem por aqui? O que é um cágado? Folk Científico “só tem jabuti e cágado” Para a mata de SJM são descritas 4 espécies (1 terrestre, 1 semi-aquática e 2 aquáticas) de lagartos de 3 famílias diferentes (BARBOSA et al., 2006). “é uma tartaruga de água, com as patinhas feito nadadeira de peixe” Cagados são quelônios aquáticos, que entre os dedos possuem membranas interdigitais que auxiliam o nado (POUGH et al., 1999) 82 O que é um jabuti? os jabutis vivem somente na terra e tem as pernas grossas” Jabutis são quelônios terrestres, com as patas adaptadas para caminhar no solo sustentando o peço da carapaça óssea (POUGH et al., 1999). Qual a utilidade do jabuti? “o bicho come um monte de troço, limpa entulho de mato” Os jabutis possuem uma alimentação onívora (FREITAS, et al., 1999) “pode até comer, mas serve mesmo de remédio” Segundo Klemens e Thorbjarnarson (1995) muitas espécies de quelônios, especialmente os aquáticos são utilizados como fonte alimentar em diversas comunidades do globo. “só tem um mesmo, mais tem um que parece com o legitimo, mas é bem pequenininho” Em virtude do comportamento semiaquático o Knosternon scorpioides, espécie de quelônio que ocorre na mata (BARBOSA, et al.,, 2006) como muito bem ser classificado uma espécie de jabuti. “tem o preto e o da barriga vermelha” O plastrão de cágados da espécies Phrynops geoffroanus tem pigmentação avermelhada. (FREITAS, et al., 1999) “peixes, jia e ‘caçote’” A dieta dos quelônios da família Chelidae é de peixes, anfíbios e restos de corpos animais (FREITAS, et al., 1999). “de ovo quando troveja” A reprodução dos quelônios é ovípara. Contudo o nascimento de novos indivíduos é um evento independente de fenômenos meteriológicos. (FREITAS, et al., 1999). “de dia” O comportamento diurno de quelônios é o mais difundido entre as espécies (VANZOLINI et al.,, 1980). Qual a utilidade do cágado? Quais os tipos de jabutis daqui? Quais os tipos de cágados daqui? O que é que os cágados comem? Nasce como? Se vê mais “tartaruga” de dia ou de noite? 83 b) Relação Humano X Lagarto Indagados sobre o grupo lagartos, os informantes sempre relacionavam o nome do grupo a uma única espécie, o teju (Tupinambis merianae). Os demais lagartos são conhecidos como lagartixas ou ‘lagartixas’, calangos e bribas. É muito comum aos arredores das casas da SJV encontrar lagartos diurnos com ‘largatixa’ da peste (Tropidurus hispidus), ‘largatixa maga’ (Tropidurus semitaeniatus) e calando verde (Cnemidophorus occelifer), com também noturnos com a briba da noite (Phyllopezus periosus) e dentro das casas as bribas ou ‘vibras’ (Hemidactylus agrius e Phyllopezus policaris). Curiosamente a maioria dos membros da referida comunidade classifica como briba os lagartos da família Gekkonidae. De fato neste táxon há um gênero monotípico chamado Briba. Este gênero possuindo apenas a espécie a Briba brasiliana (VANZOLINI et al.,1980) que ocorre segundo Barbosa et al., (2006) para a mata de SJM. Na SJV os lagartos como os da família Gekkonidae são tidos como higienizadores de ambientes domiciliares. Segundo os moradores estes lagartos são importantes por se alimentarem de “insetos e besouros” (pela nomenclatura folk local, há distinção entre insetos e besouros). Os informantes relataram que para eles o lagarto mais importante é o teju ou tejuassú. Segundo eles o teju (Tupinambis merianae) serve tanto de comida como de remédio. No entanto eles classificam o lagarto como um animal ‘brabo’ [bravo] que morde muito e se adora comer ovos e pintos nos galinheiros. De fato, se 84 comparamos estas informações com a literatura cientifica, a exemplo de Freitas (1999), há relevância no entendimento dos informantes. Segundo Freitas (1999) os Tupinambis merianae são agressivos e também se alimentam de ovos e pequenas aves. Conforme todos os informantes comer tejus é uma prática comum entre os moradores locais. “teju tem gosto de galinha” descreve assim, o informante “H”, o sabor da carne. A palavra vem teju vem de derivação do Tupy - te’yu - que significa comida de gentalha (FERREIRA, 2006), entretanto, os informantes além de desconhecerem a etimologia da palavra, não vêm o animal como comida de gentalha, muitas vezes é tido como iguaria. Segundo os informantes o teju quando em atividade de forrageio, tanto pode se deparar (enfrentamento) com serpentes viperidae, quanto pode alimentar-se das mesmas. Há uma crença popular acerca de um vegetal chamado popularmente de ‘pé de pinhão’ (Jatropha gossypiifolia L) que diz que quando o lagarto é picado por cascavel (Crotalus durissus cascavela), o mesmo busca este vegetal para ingeri-lo e "curar-se" da ação da peçonha. Durante as turnês guiadas não foi flagrada a possível luta entre o teju e a cascavel, contudo o mesmo enredo é contado por todos os informantes. Um dos informantes (“C”) relata com detalhes a possível luta do teju contra a cascavel. “o teju quando sai para caça, eles vai pegando o que acha... se ele achar uma cascavel ou uma jararaca da legítima ele pega mesmo... vai para cima e abocanha pelo meio, sacode, sacode e não solta... a cobra a gente ver mesmo, morde que ‘chega’ o veneno escorre. Daí o teju solta [a cobra] corre pro pé de pião, come as ramas e volta para pegar a cobra de novo. Se ele não morder o pé de pião é morte na certa, é por isso que o teju só briga com cobra com pião por perto. Na hora de engolir ele [teju] mastiga a cabeça da ‘bicha’ e engole inteirinha.” 85 Santos e Marques (2001) relatam em seu trabalho em alguns lugares da Bahia existe uma estória semelhante: “ele [teju] sai correndo pro mato e cava a terra e encontra a batata-de-teiú e come. Aí sim! Ele fica brabo e volta pra brigar até matar a cobra”. Alguns autores consideram, não só a procura pelo vegetal, mas também a luta do Tejo e a serpente, como um mito e sem fundamentos científicos para acontecer (VAINER, 1945; CONSORTI, 2007; BERNADE, 2007). É muito estranho crer que na natureza tudo se limite ao obvio, assim é necessário enveredar pela lógica de que se há uma hipótese é preciso ser testá-la. É plausível a existência da ‘luta’ entre teju e serpentes, uma vez que Viperidae não se entregam facilmente, a exemplo da predação de Viperidae por Colubridae do gênero Boiruna ou por Clelia: mesmo contra um predador maior o instinto de defesa não deixa a serpente simplesmente subjuga-se. Nesta ótica o mesmo pode acontece entre o teju e a cascavel. Na tabela 5 encontram-se as respostas sobre o conhecimento etnoherpetológico dos informantes da SJV juntamente com a comparação com a literatura cientifica. Tabela 5 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o conhecimento etnoherpetológico de lagartos, em relação a literatura científica específica. Pergunta Popular Científico O que é um lagarto? “É um bicho parecido às vezes com cobra, mais que tem patas” “Lagartos apodes comumente são confundidos com serpentes devido as proporções morfológicas semelhantes” (FREITAS, 1999) Como você diferencia os lagartos? “só tem o teju mesmo, os outro é calango” A palavra lagarto designa todos os indivíduos do grupo (VANZOLINI et al., 1980) 86 “tem alguns que sim” No Brasil apenas o Tupinambis merianae oferece riscos mediante suas poderosas mandíbulas (VANZOLINI et al., 1980). “calango, teju, lagartixa, briba e bico doce” Para a mata de SJM são descritas 17 espécies de lagartos de 9 famílias diferentes (BARBOSA et al., 2006) Como você diferencia um lagarto de uma cobra? “Lagarto tem patas...” Morfologicamente a diferenciação básica é a presença de patas. Na mata de SJM não há espécie de lagartos apodes (BARBOSA et al., 2006) Como são os tamanhos dos lagartos? “depende, tem uns que são pequenos e outros maiores feito o teju” A variação de tamanho é de 0,04 até 2 metros (BARBOSA et al., 2006). “Nas pedras, ou nas furnas” Habitas de lagartos são muito relativos a disponibilidade do microhabitat. Fendas, ocos, cupinzeiros e mesmo em abrigos dentro de residências (VANZOLINI et al., 1980). O que é que os lagartos comem? “insetos, besouros, aranha, ovo, pinto, rato, cobra” A dieta dos lagartos é variada, desde espécies herbívoras, carnívoras a onívoras (VANZOLINI et al., 1980). Nasce de que? de ovo? da fêmea? “Tem uns que nascem do ovo e outros da fêmea” A reprodução pode ser tanto por viviparidade quanto por oviparidade (POUGH et al., 1999) “serve de comida, e tem também os come os insetos que ficam na parede de noite” Possuem importância etnoecológica como item alimentar e como controladores biológicos de populações artrópodes (FREITAS, 1999). “tanto de dia quanto de noite” A maioria dos lagartos da caatinga é diurna com alguns exemplares noturnos e outra crepusculares (VANZOLINI et al., 1980). “cobra, coruja, guaxinim e gato” Serpentes, aves de rapina e alguns mamíferos são predadores de lagartos (VANZOLINI et al., 1980). Os lagartos são perigosos? Que tipo de lagartos existem por aqui? Onde é mais fácil encontrar lagartos? Tem lagarto com serventia (útil)? Se vê mais lagartos de dia ou de noite? Que animais aqui da mata comem lagartos? 87 c) Relação Humano X Serpente Os únicos répteis indicados pelos moradores como causadores de acidente foram às serpentes. Os relatos de acidentes existem e estão espalhados na comunidade como um todo, contudo a maioria dos casos relatados não ocasionou óbito. De acordo com a percepção da comunidade todas as serpentes são consideradas “venenosas”. Eles utilizam o termo em analogia ao termo técnico peçonhentas (BERNADE, 2007). Segundo um levantamento preliminar da herpetofauna da mata de São José da Mata (BARBOSA et al.,2006), de fato na área ocorrem serpentes peçonhentas, mas a grande maioria das espécies é de não peçonhentas. Quando acidentados por cobras, os informantes afirmam ter soluções alternativas ao soro antiofídico, como chupar o local da picada, colocar borra de café e os chamados “homens curados”. No trabalho de Araújo (2007) ele cita outros mecanismo de cura alternativa como o uso de fumo sobre a própria mordida, ou come-se toucinho, ou bebe-se gás (querosene) ou benzimentos, rezas e simpatias. Porém, há uma pessoa a quem recorrer na maioria das vezes, é o curador-decobras. Na comunidade residia um homem de aproximadamente 78 anos que era tido como “curado”, ou seja, um indivíduo que foi picado por cobra e escapou porquê um antecessor, também curado, cuspiu em sua boca logo após a picada da cobra. Dizem os informantes que os “curados” só podem repassar esta “graça” a um homem e que o mesmo tenha sido picado por cobra. Andrade e Costa-Neto (2005) 88 relatam um caso semelhante onde às vezes, tal informação não é transmitida, extinguindo-se quando seu detentor morre. Nem todas as serpentes são tidas como perigosas. Na comunidade a “cobra preta” ou “mussurana” (Boiruna maculata ou Pseudoboa nigra) é tida como importante por alimentar-se de outras serpentes como a jararaca. Em virtude desta particularidade esta não é tida como nociva e sim benéfica a comunidade, não sendo alvo de caça ou mesmo de morte sem motivos. As respostas sobre o conhecimento etnoherpetológico dos informantes da SJV encontra-se dispostas na tabela 6, juntamente com a comparação com a literatura cientifica. Tabela 6 - Comparação entre informações fornecidas pelos informantes sobre o conhecimento etnoherpetológico de serpentes, em relação a literatura científica específica Perguntas O que é uma cobra? Popular Científico “É um bicho que se arrasta pelo chão que é muito perigoso.” Serpentes são répteis que têm o corpo cilíndrico e alongado, recoberto de escamas que se deslocam rastejando sob o solo (SILVA, 2000). “Muitas! Grande, pequena, mansa, ‘braba’, venenosa.” Que tipo de cobras existem por aqui? Todas as cobras desta região são perigosas? “’Cascavé’, salamanta, jibóia, coral, rainha, e verde tem demais.” “Não. Tem as ‘perigosa’ e as que só faz medo, mal mesmo não.” As principais serpentes brasileiras pertencem as famílias anomalepididae, Leptotyphlopidae, Typhlopidae, Aniliidae, Boidae, Colubridae, Elapidae e Viperidae, proporcionando uma diversidade quantificada em cerca de 321 espécies (CARDOSO et al.,2003; PEREIRA, 2004). “Dentre as serpentes brasileiras cerca de 40 espécies é que realmente apresentam peçonha realmente tóxicas que podem evoluir para seqüelas gravíssimas ou até a morte”. (SILVA, 2000) 89 Como você diferencia as cobras? Cobra serve de caça (comida)? “Pela cor, pelas ‘malhas’, pela a agitação e tamanho também ” A coloração das serpentes é muito variada. As cores são produzidas por células específicas que garantem a sobrevivência das espécies, importantes no desenvolvimento ontogênico, como mimetismo, advertência e até variações genéticas, não sendo indicado deforma alguma como característica de identificação de espécie ou de diferenciação entre peçonhentas e não peçonhentas (SILVA, 2000). “Tem umas ‘pessoa’ que come as salamanta boi é as ‘merma’ que vocês chama de jibóia, e tem gosto de peixe” Segundo Klemens e Thorbjarnarson (1995) muitas espécies de répteis são utilizadas como fonte alimentar em diversas comunidades do globo. “Na mata ou perto dos terreiros da casa da gente”. Onde é mais fácil encontrar cobras? O que é que cobra come? Que animais aqui da mata comem cobras? “Nas ‘época’ de chuva tem muita nos roçado, nas planta ou “interrada’ nas terras” Serpentes ocorrem em diversos ambientes. Há espécies em ambientes florestais, cerrados e caatinga. (MARQUES e SAZIMA, 2003) “Ovo, pinto, ‘passarim’, calango, preá, mocó, outras cobra, cabrito, sapo, jia, rã.” Todas as serpentes são carnívoras e ingerem suas presas inteiras, com uma diversidade ampla de hábitos alimentares, se alimentando de invertebrados (moluscos, anelídeos, artrópodes e de vertebrados (peixes, anfíbios, outros répteis, aves e mamíferos) (MARQUES e SAZIMA, 2003, POUGH et al., 1999) “’curuja’, gaivião, ‘caicará’, tacacá, teju, cobra preta” Os predadores naturais das serpentes são outras serpentes (Boiruna sp), lagartos (Tupinambis sp e Ameiva sp), as aves de rapina (Tyto alba, Polyborus sp e outras) e alguns mamíferos (Didelphis sp) (MARQUES e SAZIMA, 2003, POUGH et al., 1999) 90 Nasce de que? de ovo? da fêmea? Qual a cobra mais perigosa? Tem cobra com serventia (útil)? Como as cobras andam? “Tem as que vem de ovo, só num vi chocando; e as que já nasce viva” “As que nasce viva sai junto com uma baba ‘liguenta’ [pegajosa]” “Tem quatro: ‘cascavé’, ‘maia’ de ‘cascavé’, coral e salamanta” “No Brasil a maioria das serpentes põe ovos. Já os boídeos, os viperídeos (exceto Lachesis) e alguns colubrídeos são vivíparos.” (MARQUES e SAZIMA, 2003, POUGH et al., 1999) Nas vivíparas os filhotes se desenvolvem em um ovo membrana ou placenta alantórica (membrana fina, transparente e viscosa) dentro do corpo da mãe, quando nascimento é externado junto com os filhotes que precisam romper essa membrana para sobreviver (SILVA, 2003; POUGH et al., 1999). No Brasil, assim como na Paraíba, os quatro gêneros de serpentes de importância médica são: Lachesis, Bothrops, Crotalus e Micrurus (ALBUQUERQUE, FERNANDES e ALBUQUERQUE, 2005) “Deve de ter, porque na terra todo bicho vivo tem sua serventia. Ou ‘selve’ pra come ou ‘selve’ pra ser ‘cumido’” As serpentes tem a função natural de agirem como biocontroladoras de roedores, além serem a matéria prima para a fabricação de fármacos e colas cirúrgicas (ALBUQUERQUE, FERNANDES e ALBUQUERQUE, 2005; PEDROSA, 2005) “anda não...[risos].. se arrasta pelo chão” Apesar de não possuírem membros móveis, estão bem adaptadas para se deslocar como muita agilidade. Podem rastejar, saltar. mergulhar ou nadar devido a flexibilidade de sua coluna vertebral, costelas e placas ventrais e musculaturas associadas (SILVA, 2000, POUGH et al., 1999). 91 Cobra tem morada? Se vê mais cobra de dia ou de noite? “Na serra tem umas loca de cobra jibóia” “Assim... nos tempo frio a gente ver umas cobrinha de dia e encontra corá e nos tempo quente a gente encontra a noite as jibóia, cascavé, malha de cascavé” “mais fáci de noitinha e na madrugada” “Só Deus...” Tem como se proteger de picada de cobra? “num ‘butando’ as mão sem ver o que tem” “se tiver no caminho de tocaia tem como não!” O que se faz se for picado? “nos tempo de antigamente tinha uns rezador hoje corre pra Campina [Campina Grande – PB] ‘prus’ hospital mesmo” “espera ver no que dá. Se num sangrar e num ‘dué’ fica em casas mesmo” Naturalmente as serpentes são encontradas sob terra firme, ocos de árvores e pedras, em túneis e galerias subterrâneas, em árvores, debaixo de folhas e gravetos (ALBUQUERQUE, 2002; BRASIL, 1998) As serpentes podem apresentar atividade predominantemente diurna ou noturna, mas há espécies que são ativas indistintamente nos dois períodos. A sua atividade pode estar relacionada com a procura de alimento, locais de desova ou para controle de temperatura. (MARQUES e SAZIMA, 2003; POUGH ET AL., 1999). O uso de luvas, botas e perneiras de couro, bem como manipular coivaras, matos e entulhos com gravetos ou ferramentas compridas é a maneira mais eficaz de se proteger contra picadas de serpentes em atividades de campo. (ALBUQUERQUE, 2002, ALBUQUERQUE, Fernandes e ALBUQUERQUE, 2005) No caso de acidente com serpentes peçonhentas, deve-se ficar em repouso, se hidratar e buscar o atendimento médico o mais rápido possível. (ALBUQUERQUE, 2002, ALBUQUERQUE, FERNANDES e Albuquerque, 2005; CARDOSO, 2003) 92 6.9 - Zooterápicos Embora seja relativamente pouco estudada a zooterápia é uma realidade presente na história das sociedades (Costa-Neto, 2005). A pertinência da medicina tradicional baseada em animais, embora considerada como superstição, não deve ser negada uma vez que os animais têm sido testados metodicamente pelas companhias farmacêuticas como fontes de drogas para a ciência médica moderna (COSTA-NETO, 2005). Muito desta cultura vem sendo substituída, ou mesmo já foi, por fármacos industrializados, o que faz com que o uso de zooterapicos seja cada dia menos difundido entre a população. Contudo há forte presença da zooterapias no dia a dia de comunidade rurais, urbanas e especialmente as de baixa renda. A Comunidade utiliza-se de animais na elaboração de zooterápicos, segundo os informantes este conhecimento vem de gerações anteriores e continuam sendo repassadas aos mais novos. Apesar de terem um certo receio com relação a répteis, alguns são utilizados como zooterápicos para a cura de certos males como: problemas dérmicos. A relação de répteis mencionados como de utilidade zooterápica encontra-se sintetizados na tabela 7 e detalhados logo em seguida. 93 Tabela 7: Animais com aplicação zooterápica Nome popular Nomenclatura cientifica Lagartixa Tropidurus hispidus Camaleão Iguana iguana Teju Tupinambis merianae Cágado d’água Jabuti Chocalho de cascavel Batrachemys tuberculata Geochelone carbonaria Crotalus durissus cascavela Parte utilizada Ventre Banha/ossos Uso Contra verrugas Asma/dor nas juntas (articulações) Banha Dor de ouvido/garganta Banha Dor de garganta/rouquidão/asma Banha Erisipela Chocalho Asma/ crescimento da primeira dentição Detalhamento • LAGARTIXAS “Passar a barriga de uma lagartixa viva para acabar com as ‘berrugas’ [verrugas].” - Informante “A” Segundo Zanini (2007) as verrugas pode ser facilmente eliminadas com tratamentos ambulatoriais periódicos a base de antibióticos, mas tratamentos dermatológicos caseiros são usado com freqüência, contudo não há dados concretos sobre a eficácia destes. Várias informantes citaram esta experiência de utilizar o ventre de lagartos contra verrugas e afirmaram convictamente que a crua é certa Os lagartos em 94 questão são da família Tropiduridae e são da espécie Tropidurus hispidus. Na literatura pesquisada não foi encontrado nenhum relato semelhante. • CAMALEÃO “camaleão para dor nas juntas é um santo remédio...” – informante “H” O camaleão (Iguana iguana) também é utilizado como zooterápico, utilizando a banha e seus ossos. A banha desse animal, segundo relato dos moradores da comunidade, serve para passar na pele para expulsar do corpo espinhos encravados e para tratamento de pano branco [pitiríase versicolor]. Já dos ossos fazse um chá que é utilizado para dor nas juntas e nos ossos (articulações). De acordo com Cavalcanti et al., (2006) na comunidade de Chã de Jardim, município de Areia – Paraíba, distante 75km da SJV, o uso de Iguana iguana como zooterápico também é feito pela comunidade local. • TEJU “banha [gordura] de teju é bom pra garganta, pode tomar para você vê!” – Informante “C” 95 Do Tupinambis merianae é retirada sua banha (tecido adiposo) e utilizada para o tratamento de inflamações especialmente da garganta, que corrobora com os resultados de Cavalcanti et al., (2006, e do ouvido, sendo utilizados por crianças e adultos, além de ser usado como afrodisíaco. • CAGADO D’ÁGUA O cagado d’água (Phrynops geoffroanus) tem sua banha utilizada no tratamento de asma, rouquidão e dor de garganta. Alves et al., (2002) relata que a comunidade de pescadores do açude de Bodocongó também se utiliza do cagado com o recurso zooterápico. Em um trecho de seus resultados uma explanação de um informante local assemelha-se com o comentário de uma informante da SJV. Informante de Bodocongó: “com as juntas todas duras [...] ficou quase bom comendo a carne do cágado e passando a banha”, “é um santo remédio” e “serve pra tudo no mundo”. Informante “D” de SJV: “pra dor nas juntas não tem melhor” “é um santo remédio”. 96 • JABUTI “Passar o casco do jabuti em uma pessoa que tenha erisipela [linfagite] e ela ficará curada.” Informante “E” O animal foi citado por poucos informantes (n=4) que dizem nunca ter visto, mas que acreditam. A erisipela ou Linfangite estreptocócica é uma infecção da pele causada geralmente por Treptococcus beta-hemolítico do grupo A (raramente dos grupos C ou G, e, em recém-nascidos, do grupo B), podendo ocorrer infecção pelo Staphilococcus aureus (BERNARDES, et al.,2006) O tratamento indicado é a base de antibióticos específicos, fato questionável a eficiência deste tipo de tratamento zooterapico. • CHOCALHO DA CASCAVEL “O chá do chocalho da cascavel serve como remédio para asmáticos e para o nascimento da primeira dentição da criança.” Informante “C”. Segundo os entrevistados, o chá é mais utilizado em crianças na região, durante seu primeiro ano de vida, surgem os primeiros dentes e são acometidos de asma, que é popularmente chamado na região como chiado ou cansaço. Este 97 tratamento zooterapico não foi encontrado na literatura, contudo, a cultura do uso deste tratamento naquela comunidade possivelmente está relacionada a conexões de costumes com comunidade de áreas áridas do Estado, uma vez que a Crotalus durissus cascavela não incide na comunidade. 6.10 - Inventário O levantamento da herpetofauna da mata de SJM contou até o final da presente pesquisa, com um total de 44 espécies de répteis dentre lagartos, serpentes, quelônios e anfisbênios. A síntese do levantamento encontra-se na tabela 8. Tabela 8 – números do levantamento da herpetofauna de SJM Números Capturas/ Espécies Famílias encontros Anfisbênios 1 1 2 Lagartos 20 8 195 Serpentes 19 5 43 Quelônios 4 3 11 Total 44 17 251 No quadro 2 e 3 estão dispostos os dados referentes a distribuição filogenética da Ordem Squamata e da Ordem Testudine respectivamente, que ocorrem na mata da SJM. 98 Ordem – Squamata Sub-ordem – Amphisbaenia Família – Amphisbaenidae Sub-ordem – Iguania Família - Iguanidae Família - Polychrotidae Família – Tropiduridae Sub-ordem – Scleroglossa Infra-ordem – Gekkota Família – Gekkonidae Sub-ordem – Autarchomorpha Infra-ordem – Scinomorpha Família – Teiidae Família – Scincidae Família – Gymnophthalmidae Infra-ordem – Anguimorpha Família – Anguidae Sub-ordem – Serpente Super-família – Typlhopoidea Família – Leptophlopidae Super-família – Henophidea Família – Boidae Super-família – Xenophidea Família – Colubridae Família – Viperidae Família - Elapidae Quadro 1 – Distribuição filogenética da Ordem Squamata ocorrentes na Mata de SJM Fonte: Abraão R. Barbosa (2007) 99 Ordem – Testudine Família – Testudinidae Família – Kinosternidae Família – Chelidae Quadro 2 – Distribuição filogenética da Ordem Testudine ocorrentes na Mata de SJM Fonte: Abraão R. Barbosa (2007) a) Formas de captura Dentre as forma de captura de répteis utilizadas neste trabalho a maior eficiência foi verificada na varredura com auxilio de cão de caça e na coleta por terceiros. As armadilhas de queda não mostraram boa eficiência. Os números referentes a cada tipo de técnica de captura encontram-se nas tabelas 9, 10 e 11. E o registro fotográfico de cada espécies encontra-se nas tabelas 12, 13 e 14 e 15. Tabela 9 – Espécies de répteis capturados em armadilha de queda. Grupo Nomenclatura Folk Espécie Nº de captura Lagarto Calando verde Cnemidophorus oceliffer 15 Lagarto Calango da peste Tropidurus hispidus 8 lagarto Bico doce Ameiva ameiva 1 Lagarto Calango de cobra Diploglossus lessonea 1 Lagarto Lagarto de macambira Mabuya heat 1 Lagarto Papa vento verde Enyalius sp 1 Lagarto Briba Hemdactylus mabuya 1 Lagarto Briba Gmnodactilus gekkoides 1 Lagarto Camaleão Iguana iguana 1 Lagarto Lagarto de macambira Mabuya agmostica 1 100 Total de Lagartos 31 Serpente Casco de Burro Liophis poecylogirus xerolofilos 4 Serpente Jararaca de tabuleiro Leptodeira annulata 1 Serpente Cipó do papo amarelo Thamnodynastes sp1 2 Serpente Cobre preta Pseudoboa nigra 1 Serpente Salamanta Epicrates cencria assisi 1 Serpente Salamanta boi Boa constrictor constrictor 1 Serpente Jararaca malha de cascavel Bothrops erythromelas 1 Serpente Cobra verde Philodryas aestivos 1 Serpente Jararaquinha Thamnodynastes sp2 2 Total de Serpentes Anfisbênio Cobra de duas cabeças 14 Amphisbaenia alba 1 Total de Anfisbênios 1 Total de répteis capturados na armadilha 46 Tabela 10 – Espécies de répteis coletados por terceiros. Grupo Nomenclatura Folk Espécie Nº de captura Lagarto Calango verde Cnemidophorus oceliffer 3 Lagarto Papa vento Polycrus acutirostres 10 Lagarto Briba Gymnodactylus sp 1 Lagarto Briba Hemidactilus maboya 1 Lagarto Papa vento verde Enyalius sp 1 Lagarto Lagarto Lagartixa maga (magra) Tropidurus semitaeniatus Vanzozaura rubricauda Calanguinho Lagarto Sem nome Anotosaura vanzolinia 2 Lagarto Sem nome Colobosaura mentalis 1 Total de Lagartos 1 2 22 Quelônio Jabuti Geochelone carbonaria 5 Quelônio Caçado preto Batrachemys tuberculatus 1 Total de Quelônios 6 Serpente Cobra cipó bicuda Oxybelis aeneus 1 Serpente Jararaca de tabuleiro Jararaca malha de cascavel Cobra preta Leptodeira annulata 1 Bothrops erythromelas 1 Boiruna maculata 1 Serpente Serpente Serpente Cobra do leite Pseudoboa nigra 4 Serpente Salamanta Epicrates cenchria assisi 1 101 Total de Serpentes Anfisbenia Cobra de duas cabeças 9 Amphisbaenia alba 1 1 Total de anfisbenios Total de répteis capturados 37 Tabela 11 – Espécies de répteis capturados em varreduras com auxilio de cão. Grupo Nomenclatura Folk Espécie Nº de captura Lagarto Briba Gymnodactylus sp 2 Lagarto Calango da peste Tropidurus torquatus 30 Lagarto Camaleão Iguana iguana 5 Lagarto Tejo Tupinambis merianae 30 Lagarto Lagartixa maga (magra) Tropidurus semitaeniatus 30 Lagarto Calango de macambira Mabuya heat 9 Lagarto Calango de cobra Diploglossus lessonea 2 Lagarto Bico doce Ameiva ameiva Lagarto Calanguinho Vanzosaura rubricauda Total de Lagartos 3 1 112 Quelônio Cagado d’água Phrynops geoffroanus 2 Quelônio Jabuti Geochelone carbonaria 4 Quelônio Jabutizinho Kinosternon scorpioides 1 Total de Quelônios 7 Serpente Cobra cipó bicuda Oxybelis aeneus 1 Serpente Cobra preta Boiruna maculata 2 Serpente Cobra do leite Pseudoboa nigra 1 Serpente Salamanta boi Boa constrictor constrictor 1 Serpente Cobra verde Phylodryas olfersii 1 Serpente Cipó verde Leptophis ahaetulla 1 Serpente Coral “da falsa” Oxyrhopus trigeminus 3 Serpente Coral “da legitima” Micrurus ibiboboca 1 Serpente Cipó do papo amarelo Thamnodynaste sp1 3 Liophis poecylogirus xerolofilos Serpente Casco de Burro Total de Serpentes Total de répteis capturados com auxilio de cão 6 20 +139 102 Tabela 12 – Registro fotográfico de anfisbênios com ocorrência em SJM. Nomenclatura Popular Espécie Cobra de duas cabeças Amphisbaenia alba Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Tabela 13 – Registro fotográfico de lagartos com ocorrência em SJM. Nomenclatura Popular Espécie Bico doce Ameiva ameiva Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 103 Calango verde Cnemidophorus oceliffer Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Calango de cobra Diploglossus lessonea Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Papa vento verde Enyalius sp Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 104 Briba Gymnodactylus gekoides Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Briba Gymnodactylus gekoides Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Briba Hemdactylus mabouia Foto: Helder N. Albuquerque (2006) 105 Briba Hemidactilus agrius Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Camaleão Iguana iguana Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Calango de macambira Mabuya heathi Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 106 Calango de macambira Mabuya agmosticha Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Papa vento Polychrus acutirostris Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Lagartixa maga [magra] Tropidurus semitaeniatus Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 107 Calango da peste Tropidurus hispidus Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Teju / tejuassú Tupinambis merianae Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Calanguinho malhado Vanzosaura rubricauda Foto: Silvaney M. Sousa (2006) 108 Sem nome Anotosaura vanzolinia Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Sem nome Colobosaura mentalis Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Briba Phyllopezus policaris Foto: Silvaney M. Sousa (2006) 109 Briba Phyllopezus periosus Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Tabela 14 – Registro fotográfico de serpentes com ocorrência em SJM. Nomenclatura popular Espécie Salamanta boi Boa constrictor constrictor Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 110 Cobra preta Boiruna maculata Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Jararaca malha de cascavel Bothrops erythromelas Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Salamanta Epicrates cencria assisi Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 111 Jararaca de tabuleiro Leptodeira annulata Foto: Helder N. de Albuquerque (2006) Cipó verde Leptophis ahaetulla Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Cobra arco-íris Liophis lineatus Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 112 Casco de Burro Liophis poecylogirus xerolophylos Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Cobra verde/ Papa rã Liophis viridis Foto: Silvaney M. Sousa (2006) Coral “da legitima” Micrurus ibiboboca Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 113 Cobra cipó bicuda Oxybelis aeneus Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Coral “da falsa” Oxyrhopus trigeminus Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Corre campo Philodryas nattererii Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 114 Cobra verde Philodryas olfersii Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Cobra do leite Pseudoboa nigra Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Cobra de cipó Thamnodynastes strigilis Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 115 Cipó do papo amarelo Thamnodynastes sp1 Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Jararaquinha Thamnodynastes sp2 Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Chumbinho Typhlops sp Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 116 Tabela 15 – Registro fotográfico de quelônios com ocorrência em SJM. Nomenclatura Popular Espécie Jabuti Geochelone carbonaria Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Jabutizinho Kinosternon scorpioides Foto: Abraão R. Barbosa (2006) 117 Cagado d’água Phrynops geoffroanus Foto: Abraão R. Barbosa (2006) Caçado preto Batrachemys tuberculata Foto: Silvaney M. Sousa (2006) 118 7.0 - Conclusão • Parte do conhecimento etnoherpetológico da comunidade de SJV, é centrado muito mais em crendices do que em fatos reais; • a utilização dos recursos naturais da mata tem o intuito de contribuir com a subsistência de seus moradores; • a compreensão do fenômenos climáticos é de fundamental importância para a comunidade local; • os zooterápicos utilizados pela comunidade de SJV não foram testados neste trabalho quanto a seus efeitos, contudo, representam uma alternativa terapêutica para as comunidades locais; • a técnica de varredura com auxilio de cães, embora não seja tradicional, foi uma ferramenta eficiente na execução do levantamento herpetofaunístico; 119 8.0 - Referencias Bibliográficas ABRANTES S. A. F. SKUK, G. O. A fauna de lagartos do cariri paraibano. In anais do XIV Encontro de Zoologia do Nordeste: A zoologia no desenvolvimento sustentável. Maceió – AL, 2003 ADAMS, C. 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Que animais servem de alimento? Que animais servem para a venda? 133 Que animais servem para fazer remédio? Que animais são perigosos? O que se usa para caçar? Há dia certo para caçar? Qual a caça mais abundante? 134 Anexo 3 Utilização da Fauna Quando caçador 1. Caça de dia ou de noite? 2. Que tipo de caça a mata dá? 3. Vende ou consome? 4. Vende a quem e por quanto? 5. Tem outra fonte de renda? 6. Você sustenta a família com a caça? 7. O que usa para caçar? 8. Quais os dias de caça? 9. Quando vende, falam onde foi caçado? 10. Caça em outro local? 135 11. Caça sozinho? 12. Sabe se já ouve proibição da caça? 13. que tipo de técnica utiliza para caçar? 14. Caça só os adultos ou os filhotes também? 15. Não tem medo que se acabe a caça? 16. Qual a melhor época para caçar? 17. Aprendeu a caça com quem? 18. Qual o maior perigo quando está caçando? 19. A comunidade sabe que você caça? 20. Qual a caça preferida? 136 Anexo 4 Questionário sobre serpentes 1. Tem cobra por esta mata? 2. O que é uma cobra? 3. Que tipo de cobras existem por aqui? 4. Todas as cobras desta região são perigosas? 5. Como você diferencia as cobras? 6. Cobra serve de caça (comida)? 7. Como são os tamanhos das cobras? 8. Onde é mais fácil encontrar cobras? 9. O que é que cobra come? 10. Nasce de que? de ovo? da fêmea? 137 11. Qual a cobra mais perigosa? 12. Tem cobra com serventia (útil)? 13. Como as cobras andam? 14. Quando se encontram mais cobras? 15. Cobra tem morada? 16. Se vê mais cobra de dia ou de noite? 17. Tem como se proteger de picada de cobra? 18. O que se faz se for picado? 19. Tem algum remédio feito de cobra? 20. Que animais aqui da mata comem cobras? 138 Anexo 5 Questionário sobre lagartos 1. O que é um lagarto? 2. Como você diferencia as lagartos? 3. Os lagartos são perigosos? 4. Que tipo de lagartos existem por aqui? 5. Aqui tem lagarto perigoso? Qual (is)? 6. Como você diferencia um lagarto de uma cobra? 7. Lagarto vira cobra? 8. Como são os tamanhos dos lagartos? 9. Onde é mais fácil encontrar lagartos? 10. O que é que os lagartos comem? 139 11. Nasce de que? de ovo? da fêmea? 12. Qual a lagarto mais perigoso? 13. Tem lagarto com serventia (útil)? 14. Como os lagartos andam? 15. Onde se acha mais lagartos? 16. Lagarto tem morada? 17. Se vê mais lagartos de dia ou de noite? 18. Lagarto serve de caça (comida)? 19. Tem algum remédio feito de lagarto? 20. Que animais aqui da mata comem lagartos? 140 Anexo 6 Questionário sobre quelônios 1. Que tipo de “tartarugas” (quelônios) tem por aqui? 2. O que é um cágado? 3. O que é um jabuti? 4. Como você diferencia jabuti de cágado? 5. Qual a utilidade do jabuti? 6. Qual a utilidade do cágado? 7. Tem “tartaruga” perigosa? Qual (is)? Por que? 8. Quais os tipos de jabutis daqui? 9. Quais os tipos de cágados daqui? 10. Cágado e jabuti vive no mesmo canto? 141 11. O que é que os jabutis comem? 12. O que é que os cágados comem? 13. Nasce como? 14. Tem “tartaruga” com serventia (útil)? 15. Onde se acha jabutis na mata? 16. Onde se acha cagados na mata? 17. “Tartaruga” tem morada? 18. Se vê mais “tartaruga” de dia ou de noite? 19. As “tartarugas” daqui servem de caça (comida)? 20. Tem algum remédio feito de “tartarugas”? 21. Que animais aqui da mata comem “tartaugas”? 142 Anexo 7 Questionário sobre anfisbenias 1. Tem cobra-de-duas-cabeças (anfisbaenios) por esta mata? 2. O que é uma cobra-de-duas-cabeças? 3. Que tipo de cobra-de-duas-cabeças existem por aqui? 4. Todas as cobra-de-duas-cabeças são perigosas? 5. Como você diferencia as cobra-de-duas-cabeças e outras cobras? 6. cobra-de-duas-cabeças serve de caça (comida)? 7. Como são os tamanhos das cobra-de-duas-cabeças? 8. Onde é mais fácil encontrar cobra-de-duas-cabeças? 9. O que é que cobra-de-duas-cabeças come? 10. Nasce de que? de ovo? da fêmea? 143 11. qual é o perigo da cobra-de-duas-cabeças? 12. Cobra-de-duas-cabeças com serventia (útil)? 13. Como as cobra-de-duas-cabeças vivem? 14. Quando se encontram mais cobra-de-duas-cabeças? 15. Cobra-de-duas-cabeças ataca? 16. Se vê mais cobra-de-duas-cabeças de dia ou de noite? 17. Tem jeito certo de mata cobra-de-duas-cabeças? 18. O que se faz se for picado (mordido)? 19. Tem algum remédio feito de cobra-de-duas-cabeças? 20. Que animais aqui da mata comem cobra-de-duas-cabeças? 144 B238H Barbosa, Abraão Ribeiro. Os humanos e os répteis da mata: uma abordagem etnoecológica de São José da Mata – Paraíba/ Abraão Ribeiro Barbosa. – João Pessoa, 2007. 143p.:il. Orientador: Alberto Kioharu Nishida Dissertação (mestrado) – UFPB/PRODEMA 1. Etnoecologia 2. Humanos e Répteis – São José da Mata (PB) UFPB/BC CDU:504(043)