o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização
Transcrição
o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR. THOMAS Walderez Maria Lemos de Mattos MANAUS/AM 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR THOMAS Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas, linha de pesquisa Questão Social, Políticas Públicas, Trabalho e Direitos Sociais, como requisito para a obtenção do título de mestre sob a orientação da Professora Dra. Yoshiko Sassaki. MANAUS/AM 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL E SUSTENTABILDADE NA AMAZÔNIA WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS O processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso em Manaus: um estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas. Aprovada em: 14/09/2011 BANCA EXAMINADORA: --------------------------------------------------------Profa. Dra. Yoshiko Sassaki Universidade Federal do Amazonas PPGSS -----------------------------------------------------Profa. Dra. Andréa Mello Pontes Universidade da Amazônia = UNAMA Universidade Federal do Pará = UFPA SENECTUS ------------------------------------------------------Profa. Dra. Heloisa Helena da Silva Correa Universidade Federal do Amazonas ICHL DEDICATÓRIA A Deus e a Virgem de Nazaré que me deram forças para superar os obstáculos postos como provação de vencer mais esse desafio; Aos tesouros de minha vida: Neivaldo, Thais, Thiago e Thamires, pelo apoio e compreensão das vezes em que fui dispersa em relação aos mesmos. Amo muito vocês. Em memória de meus pais José Maria de Lemos Filho e Nelly dos Passos Lemos e de Cerzelinda Fonseca dos Passos (Tia Cizica) que muito contribuíram para ser a pessoa que hoje sou; da minha sogra Diva Affonso de Souza Mattos que foi uma cuidadora exemplar de seus pais; Aos meus irmãos ausentes e presentes, e em especial às minhas irmãs, pelos conselhos, carinho e amparo na hora em que mais precisei. Obrigada de coração. AGRADECIMENTOS Pela presença de Deus, da Virgem Maria e dos meus guias espirituais, por estarem presentes todos os dias em minha vida, e me confortarem nas horas em que mais precisei. A compreensão da minha família, e o incentivo que me proporcionaram para a construção deste trabalho. Obrigada de coração. A minha orientadora Profa. Dra. Yoshiko Sassaki pela paciência, incentivo e “puxões de orelha”, quando necessário isso só me fez amadurecer e crescer enquanto pessoa, meu muito obrigado por acreditar que eu seria capaz de superar esse desafio. Às colegas Ângela Emília (minha colega de mestrado), Érika Renata e Lílian Gomes pelas informações repassadas e as palavras de incentivo a mim dedicado. As professoras convidadas e que se dispuseram a participar da minha banca de defesa: Profa. Dra. Heloísa Helena Corrêa da Silva e Profa. Dra. Rita Maria dos Santos Puga Barbosa. Pela contribuição que me forneceram na minha qualificação. Muito agradeço a vocês. As professoras convidadas e que se dispuseram a participar da minha banca de defesa: Profa. Dra. Heloísa Helena Corrêa da Silva e Profa. Dra. Andréa Mello Pontes. Eterno agradecimento a vocês. À Universidade Federal do Amazonas, e em especial ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia, pela oportunidade que me proporcionaram em concluir o mestrado. Ao corpo docente do PPGSS-UFAM.Vocês marcaram muito a minha trajetória enquanto mestranda. Aprendi muito com vocês! Aos idosos que foram os protagonistas deste estudo, pelas informações e contribuições que muito enriqueceram este trabalho. Vocês são os donos do saber! A toda equipe do Dr. Thomas por terem oportunizado a realização da pesquisa. Meu muito obrigado! “Temos que cuidar para não vitimar e ou discriminar o idoso, cujas relações com a família, sociedade e as gerações mais jovens já foram suficientemente marcadas por preconceito”. (Anita Liberalesso Neri ) RESUMO O envelhecimento populacional é um fenômeno que vem ocorrendo em todo o mundo. Estudos apontam que a população com mais de 60 anos aumentou nas últimas duas décadas como nunca antes registrado na história da humanidade. Isso tudo como conseqüência de avanços científicos, tecnológicos atrelados a uma redução nas taxas de natalidade e mortalidade. Através deste trabalho buscou-se desvelar a institucionalização dos idosos em uma Instituição de Longa Permanência na cidade de Manaus, fazendo assim, não só um resgate de criação dessa instituição, como também o que motivou a ida desses idosos a se institucionalizarem. O estudo teve como metodologia uma abordagem qualitativa/ quantitativa, utilizando-se aplicação de formulários de entrevistas junto aos 30 idosos institucionalizados na Fundação de Apoio à Pessoa Idosa Dr. Thomas. A pesquisa apontou que a maioria desses idosos é do sexo masculino, solteiros e que vivem sem aposentadoria. Ademais em relação às suas condições de vida verificou-se que os mesmos se encontravam em uma situação de precariedade, são migrantes de outras regiões do Brasil, possui baixa escolaridade, faixa etária variando de 60 a 80 anos, não constituiu família, moravam sozinhos ou com os patrões, o que ocasionou à institucionalização dos mesmos. Desse modo, este processo passa a necessitar de políticas governamentais para este segmento em questão, enfatizando ainda o que o mesmo ocasiona. Uma vez que a sociedade, a família e o próprio Estado ainda não estão preparados para atender esta demanda. Essas pessoas idosas estão amparadas por várias leis que foram conquistadas por lutas e mobilizações de toda a sociedade, em prol de reivindicações de direitos, justiça e cidadania. Dessa forma estabeleceu-se aonde, de quem, quando, por que estamos falando, o que vem acontecendo, conhecer a realidade e as peculiaridades obtendo subsídios para fazer um diagnóstico, ter uma explicação e propor uma alternativa para atenuar ou eliminar a manifestação dessa determinada problemática. E que, por meio deste estudo, pretendeu-se abrir um canal de debate e reflexão sobre o assunto. Palavras-chave:Envelhecimento, Políticas Públicas, Estado, Institucionalização, e Idoso. ABSTRACT The aging population is a phenomenon that has been occurring all over the world. According to studies, population over 60-years-old has increased in the last two decades in a way never seen before in humanity History. These are consequence of scientific, technologic advance couple up to the reduction of mortality and birth rate. Through this paper was sought to uncover the institutionalization of the elderly in a long-term institution in the city of Manaus, thus not only a rescue of the creation of this institution, but also what motivated those elderly to institutionalize. The methodology applied in this study was a qualitative/ quantitative approach, utilizing the application of interview formularies to institutionalized elderly of the Fundação de Apoio à Pessoa Idosa Dr. Thomas. The researched pointed that most of these elderly is male, single and do not possess any retirement fund. Also in relation to their living condition showed that most of them live in a precarious situation, are migrants from other regions of Brazil, have low education, age alternated between 60 to 80-yearsold, have no family, used to live by their selves or with their employers, which led to their institutionalization. This way, this process starts to require government policies for this segment in question, emphasizing what this might cause. Once the society, family and the State itself are not prepared to face this demand. These older people are protected by various laws that have been won by struggles and mobilizations of the whole society, in favor of claims of rights, justice and citizenship. Then was established where, who, when, why we are talking, what is happening, know the reality and the peculiarities obtaining grants to make a diagnosis, an explanation and propose an alternative to alleviate or eliminate the manifestation of this determinate problematic . And that through this study was sought to open a channel for debate and reflection obout the subject. Key-words: Aging; Public Policy, State; Institutionalization; Elderly. LISTA DE SIGLAS CF Constituição Federal EI Estatuto do Idoso MS Ministério da Saúde FDT Fundação Doutor Thomas PNI Política Nacional do Idoso BPC Benefício de Prestação Continuada ZFM Zona Franca de Manaus OMS Organização Mundial de Saúde MDS Ministério do Desenvolvimento Social ECA Estatuto da Criança e do Adolescente LBA Legião Brasileira de Assistência OGs Organizações Governamentais ONU Organização das Nações Unidas NOB Norma Operacional Básica CIT Comissão Intergestores Tripartite PMI Política Municipal do Idoso PAI Política de Assistência ao Idoso SPC Serviço de Proteção ao Crédito SUS Sistema Único de Saúde ONGs Organizações Não-Governamentais CNDI Conselho Nacional de Direito dos Idosos IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas SEDH Secretaria Especial de Direitos Humanos AVDs Atividades de Vida Diárias IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PADI Programa de Atendimento Domiciliar ao Idoso SBGG Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia SEAS Secretaria Especial de Assistência Social SESC Serviço Social do Comércio INPS Instituto Nacional de Previdência Social SUAS Sistema Único de Assistência Social LOAS Lei Orgânica de Assistência Social ILPIs Instituição de Longa Permanência para Idosos ACEPI Associação Cearense de Pessoas Idosas PRONAV Programa Nacional de Voluntariados ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária LISTA DE TABELAS TABELA 01- Brasil e outros países, índice populacional de idosos em milhões de pessoas no período de m1950-2050 ....................................................................37 TABELA 02- Proporção da população do município da capital em relação à da Unidade da Federação, nos Censos Demográficos, segundo os municípios das capitais - 1950/2010 ..................................................................................................48 TABELA 03- Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período: 1980 – 2050 ...............................................................................................................59 TABELA 04- Taxa de fecundidade total das mulheres de 15 a 49 anos de idade, segundo as Grandes Regiões - 1950/2000 ..............................................................62 TABELA 05- Concentração da população com mais de 65 anos nos municípios 2000 ..........................................................................................................................70 TABELA 06 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade Amazonas 2000/2010 .............................................................................................79 TABELA 07 – Distribuição dos Idosos Segundo o Sexo .........................................82 TABELA 08 – Distribuição dos Idosos Segundo a Faixa Etária ..............................83 TABELA 09 – Distribuição dos idosos segundo a naturalidade ..............................85 TABELA 10 – Distribuição dos Idosos Segundo a Escolaridade ............................86 TABELA 11 – Distribuição dos Idosos Segundo o Estado Civil .............................88 TABELA 12 – Distribuição dos Idosos Segundo a Profissão .................................89 TABELA 13 – Distribuição dos Idosos Segundo o Numero de Filhos ..................91 TABELA 14 – Distribuição dos Idosos Segundo sua Situação Econômica .........92 TABELA 15 – Distribuição dos Idosos Segundo o Valor de Sua Renda Mensal ................................................................................................................................93 TABELA 16- Distribuição dos Idosos Segundo o Valor da Renda Mensal da sua Família............................................................................................................94 TABELA 17- Distribuição dos idosos entrevistados segundo a antiga moradia antes de se institucionalizar ............................................................................................95 TABELA 18 – Idade e quantidade de pessoas no Brasil ....................................105 TABELA 19 - Número Absoluto de Idosos por Países com população superior a 100 milhões em 2002...........................................................................................106 TABELA 20- Região Norte: número de idosos e de idosos residentes nas instituições de longa permanência por estado – 2006 ........................................138 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01-Pirâmides de Faixas Etárias: Países Desenvolvidos e em Desenvolvimento .............................................................................40 GRÁFICO 02 - Estrutura Etária do Brasil - período de 1980 a 2000.........................42 GRÁFICO 03- Projeção da População Mundial: Esperança de vida na América Latina, Caribe, América do Norte, Ásia, África, Europa, Oceania e Brasil – 2010 ....................................................................................47 GRÁFICO 04: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade no Estado do Amazonas .........................................................................80 GRÁFICO 05: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade Manaus (AM) .....................................................................................81 LISTA DE QUADROS QUADRO 01: Taxa de Crescimento por Região .......................................... 60 QUADRO 02: Taxa de Crescimento (Estados Brasileiros)............................ 61 QUADRO 03 -Número de idosos institucionalizados em ILPIs por Região no Brasil.............................................................................................................. 128 QUADRO 04: Nomenclatura de ILPIs em alguns países.............................. 137 QUADRO 05: Os Serviços e Assistência aos Idosos institucionalizados.......145 LISTA DE DIAGRAMAS DIAGRAMA 01: Agenda Internacional sobre o Envelhecimento / Marco Regulatório sobre o Cuidado com a População Idosa no Brasil.................................................................................. 102 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 20 CAPÍTULO I – A QUESTÃO DO ENVELHECIMENTO NA SOCIEDADE BRASILEIRA ................................................................................................... 25 1.1 - Conceituando Envelhecimento e Velhice ................................................. 27 1.2 - O Envelhecimento Populacional como Questão Social............................ 39 1.2.1 - Fatores Sócio-Econômicos e Demográficos do Envelhecimento.. 48 1.3 - Zona Franca e os Idosos em Manaus ...................................................... 52 1.4 - A Questão da Velhice Pobre no Contexto Amazônico ............................. 57 1.4.1 - O Idoso Demandante da Assistência Social ................................ 72 1.4.2 - Por Que e Para Que Institucionalizar?.......................................... 75 1.4.3- O Perfil do Idoso Institucionalizado numa instituição pública em Manaus ............................................................................................................ 80 CAPÍTULO II - A QUESTÃO DOS DIREITOS DOS IDOSOS E SUA EFETIVAÇÃO NO BRASIL.............................................................................. 99 2.1- As Políticas Voltadas ao Idoso no Brasil e no Amazonas antes de 88 .... 99 2.1.1- Do Direito Assegurado à sua Efetivação pós 88.....................................................................................................................107 2.2-Breve resgate do surgimento das Instituições Sociais Asilares............................................................................................................125 2.2.1- A Política de Institucionalização/ Desistintucionalização no Brasil e no Amazonas ................................................................................................. 127 2.3 - Definindo Instituição de Longa Permanência para Idosos ..................... 132 2.3.1 - Breve histórico do Surgimento das Instituições sociais em Manaus .......................................................................................................... 139 2.4- Histórico da criação da Fundação Doutor Thomas no Amazonas .......... 142 2.4.1- Os Serviços e Assistência aos Idosos Institucionalizados.. ....... 145 2.4.2- O Idoso e as motivações para institucionalizar .......................... 152 2.4.3- O Que Dizem Os Profissionais .................................................. 159 2.5 - Direitos Consolidados e Desafios .......................................................... 164 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 168 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 173 APÊNDICES ANEXOS INTRODUÇÃO É notório em todo o mundo o crescimento demográfico da população idosa. E este crescimento passa a necessitar de uma atenção mais eficiente para essa questão, uma vez que tal situação, assim como em diversos países, e não poderia ser diferente no Brasil, torna-se preocupante, pois o rápido aumento dessa população pressupõe mais de aposentadorias e pensões, acompanhada, por sua vez, de uma diminuição da população economicamente ativa geradora de recursos públicos e de impostos, passa a necessitar de uma atenção mais específica. E para aqueles idosos que não possuem recursos para se proverem, vão depender de políticas de governo, como é o caso do Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou de assistência em Instituições de Longa Permanência, entre outros. O fato é que as pessoas estão tendo maior longevidade, o que é visto como um dado positivo para alguns estudiosos do tema, mas também apontam para a existência de alguns aspectos negativos, como por exemplo, o cenário em que alguns idosos no Brasil estão inseridos. Cenário esse, onde vivenciam situações de pobreza e de vulnerabilidade em que por outro lado, a família não podendo cuidar dos mesmos, passam a constitui-se como público demandante da Assistência Social, ou, no acesso às demais políticas públicas os fazem procurar uma Instituição de Longa Permanência para passar o que lhe resta de suas vidas. Não obstante, este estudo representa para nós, uma continuidade e busca de um maior aprofundamento sobre a temática abordada em questão, tendo em vista que desde a graduação, iniciamos trabalhos relacionados ao envelhecimento, o que tem nos proporcionado uma construção coletiva do conhecimento. Sabemos que o envelhecimento é certo, atinge a todos, sendo que o crescimento do número de idosos está ocorrendo no mundo todo, pois ele é um processo biológico, psicológico, cronológico, social e universal, e não acontece em um mesmo ritmo. Esses aspectos relacionados ao processo de envelhecimento são distintos e merecem atenção em suas especificidades. O aumento da expectativa de vida está relacionado aos avanços proporcionados pela tecnologia, principalmente em relação à área médica, assim como do controle epidemiológico, da diminuição da taxa de fecundidade e de natalidade. Onde, diante desse cenário, destaca-se a relevância em tratar o referido tema, justificado pela profundidade que tal problemática tem alcançado, porém existe a certeza de que, quem não morrer antes, ficará velho. A presente dissertação que tem como titulo ―O processo de Envelhecimento e a Questão do Idoso Institucionalizado em Manaus‖ faz parte da minha inserção no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – PPGSS- UFAM, e que teve como objetivo geral o de desvelar o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso. Camarano (2006) ao realizar uma pesquisa sobre a existência das ILPIs no Brasil descobriu que a questão de institucionalizar seus familiares idosos nesta referidas instituições, não é uma prática tão comum, fundamentalmente em se tratando da Região Norte. E mais relevante ainda, segundo a referida autora, o Estado do Amazonas, apesar de sua imensidão, desvelou-se a existência de três ILPIs em todo o estado, sendo que duas estão na capital, Manaus e uma no interior do estado. E neste sentido, o estudo centrou-se na indagação das seguintes questões: Por que existem as ILPIs? O que o processo de institucionalização acarretou a esses idosos? Por que estão institucionalizados? O que os levou a procurar uma ILPI? E os laços familiares ainda existem? Quem são esses idosos morando em ILPI? Através dos objetivos específicos fizemos uma análise do processo de criação e institucionalização das instituições; resgatando o perfil dos idosos institucionalizados; traçando as características sócio-econômicas-demográficas e familiares desses idosos institucionalizados; identificando as razões que os levaram à institucionalização. Nesse sentido, o lócus de estudo foi realizado em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos em Manaus. Foi utilizado como técnica de pesquisa, formulário de entrevista semi-estruturado, caracterizado pela observação indireta, sendo entrevistados 30 idosos institucionalizados. Diante do exposto, os idosos pesquisados foram aqueles que se dispusera a participar da mesma e/ou os indicados pela direção da Fundação Dr. Thomas. A população na FDT é de 116 (cento e dezesseis) idosos institucionalizados, entre os quais 78 é o número referente aos homens e 38 referente ao número de mulheres. Sendo num universo de 70 idosos e que estavam considerados aptos a participarem da pesquisa (idosos autônomos e mesmo com certa limitação, que não comprometeria a pesquisa), deste retiramos uma amostra de 30 (trinta) idosos, dos quais 18 (dezoito) são do sexo masculino e 12 (doze) do sexo feminino, cuja faixa etária teve uma variação entre 60 a 87 anos. Acreditamos que o processo investigativo desta pesquisa poderá trazer contribuições para o entendimento de como está a condição de vida de idosos institucionalizados na cidade de Manaus. Em relação à escolha da cidade de Manaus, cumpre-nos destacar porque a mesma possui um percentual de idosos ainda como sendo um dos mais baixos, dados do IBGE de 2000, apresentou uma expectativa de aumento de vida ao nascer de quase 02 anos, passando assim de 65,87 para 67,65. Todos os questionamentos levantados foram respondidos, tendo como referência a utilização da pesquisa de caráter quantiqualitativo, onde se buscou um acompanhamento efetivo junto aos idosos da instituição, com o objetivo de alcançar as respostas desejadas. Acreditamos que o processo investigativo desta pesquisa poderá trazer contribuições para o entendimento de como está à condição de vida dos idosos institucionalizados na cidade de Manaus. Dessa forma se clarificou que neste trabalho de investigação a estrutura dessa dissertação encontra-se dividido em dois capítulos e organizado da seguinte forma: I capitulo: A questão do Envelhecimento na Sociedade Brasileira, onde analisamos conceitos e/ou definições sobre velhice e envelhecimento, bem com discutimos o processo de envelhecimento populacional, e os fatores sociais ocasionados por esse processo, tecemos ainda algumas considerações sobre a metodologia da pesquisa e o resultado da mesma, através de análise e interpretação, à luz do referencial teórico adotado; No II Capítulo: A Questão dos Direitos dos Idosos e sua efetivação no Brasil nesta parte do trabalho apresentaremos inicialmente, algumas considerações sobre as leis que amparam esses idosos, apresentando ainda o surgimento das instituições e a opinião dos profissionais que lidam com a questão da institucionalização. E finalizamos traçando algumas considerações finais sobre o estudo em questão. CAPÍTULO I A QUESTÃO DO ENVELHECIMENTO NA SOCIEDADE BRASILEIRA “Considerar que as mudanças nas imagens e nas formas de gestão do envelhecimento são puros reflexos de mudanças na estrutura etária da população é fechar o acesso para a reflexão sobre um conjunto de questões que interessa pesquisar” (DEBERT, 2004) Este capítulo tem por objetivo contextualizar a questão do envelhecimento, situando o ―estado de arte‖ sobre esta temática, reportando a estudiosos que se voltaram sobre esta temática, bem como dados de censos de órgãos oficiais como IBGE entre outros. É sabido que a questão acerca do processo de envelhecimento é visto como um processo natural, gradativo e contínuo que começa no nascimento e se estende por todas as fases da vida, porém para um melhor esclarecimento em relação a esse processo, Veras (2003) descreve que nessas fases são provocadas mudanças nas funções e estrutura do corpo tornando-o mais suscetível a uma série de fatores prejudiciais, e que podem ser tanto internos (falha imunológica, renovação celular comprometida, etc.) como externos (estresse ambiental). Atualmente é incontestável não perceber o processo pelo qual a sociedade mundial passa a se reorganizar por conta do envelhecimento populacional, e em destaque também a brasileira que vem passando por este referido processo nas últimas décadas. Reorganização essa que tem como resultado ocasionado pela elevação da expectativa de vida, onde a pirâmide social do país passa por mudanças que começam a refletir em uma nova forma de enfrentar estas relações entre os diversos grupos que compõe o todo da população brasileira. Para uma clarificação a cerca desse envelhecimento, destaca-se que a população mundial, segundo dados divulgados pelo Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP), atingiu em 2010 a marca de 6, 908 bilhões de habitantes. E de acordo com pesquisas de projeção do último censo realizado pelo IBGE (2010), o Brasil em 2025, será o sexto país em número de idosos, chegando até mesmo a índices iguais a alguns países desenvolvidos. Em relação à crescente população de idosos, embora não sejam amplamente divulgados, vários estudos através de autores como Beauvoir (1970); Debert (2004); Kalache (1998); Neri (2008); Veras (2003), têm sido desenvolvidos, focalizando diversos temas e pontos de vista ligados à necessidade de sensibilização para com a referida faixa etária. Inicialmente torna-se necessário uma consideração de que a velhice passa a ser abordada a partir de diversos termos, entre os quais conceitos como o de terceira idade, velho e idoso. E através deste sentido, trabalha-se com tais termos como sinônimos, porém todos se referem à mesma faixa etária: a partir dos 65 anos, sobre essa questão Hutz (1986) complementa descrevendo que O conceito de velhice sofre marcada influência de acordo com o tempo e mudanças culturais. Em 1883 o chanceler alemão Otto Von Bismarck introduziu o conceito de aposentadoria compulsória aos 65 anos de idade. Desde então essa idade passou a ser aceita como um marco divisório entre a maturidade avançada e a velhice. ( p.318) As orientações de organismos internacionais que procuram balizar um momento específico para se considerar a velhice tem como respaldo a Organização das Nações Unidas - ONU que determina como marco inicial da velhice a idade a partir de 60 anos; já para a Organização Mundial de Saúde – OMS, 65anos é o limite inicial dessa fase. Em relação aos que tange o Brasil, a idade-padrão dos documentos legais, como a Política Nacional do Idoso – PNI a idade de para ser considerada idosa; por sua vez Estatuto do Idoso estipula que a idade deve ser de 60 anos. Assim sendo para uma melhor compreensão, será contextualizada a problemática do envelhecimento e da velhice, analisando conceitos, aspectos demográficos, de trabalho e condições de vida desse público em questão. 1.1. CONCEITOS DE ENVELHECIMENTO E VELHICE Ao se escolher uma determinada categoria como objeto de estudo, Zacharewiz (2003) diz que há necessidade, antes de tudo compreendê-la, para que dessa forma se possa melhor explicá-la, e que em relação à categoria envelhecimento, existe uma preocupação em esclarecimento sobre a mesma, onde a reflexão em torno dessa questão está presente desde cedo na história da humanidade. Do ponto de vista demográfico, segundo Debert (2004), no plano individual envelhecer significa aumentar o número de anos vividos, onde paralelamente a essa evolução cronológica, coexistem fenômenos de natureza biopsíquica e social, importantes para a percepção da idade e do envelhecimento. Nas sociedades ocidentais é comum associar o envelhecimento com a saída da vida produtiva pela via da aposentadoria, onde para efeito da lei, são considerados velhos aqueles que alcançam 60 anos de idade. Cançado (1986) diz que ao ser apreendida e assumida uma profissão, o indivíduo passa a atuar e participar até o momento em que chega a sua aposentadoria. Porém, é difícil caracterizar uma pessoa como idosa utilizando como único critério apenas a idade; além do que, neste segmento conhecido como terceira idade está incluída indivíduos diferenciados entre si, tanto do ponto de vista socioeconômico como demográfico e epidemiológico. Como pode se observar a confusão em torno de que categoria se pode falar é preocupante. Essa preocupação, em relação ao processo de envelhecimento, é um assunto que tem despertado interesse entre vários estudiosos, entre os quais os filósofos, os literatos e cientistas. Onde alguns relatam a velhice como um período de decadência e solidão, enquanto que outros passam a vê-la como um processo de sua própria existência. Utilizando como referência Zacharewiz (2003), quando relata que na Grécia antiga Platão fundou a sua escola de investigação científica e filosófica, e que recebeu o nome de Academia em Atenas, como a primeira escola voltada para a pesquisa sobre a velhice. Já Aristóteles, discípulo de Platão fundou o Liceu, onde passou a abordar caracteres que poderiam ser encontrados em vários lugares, onde exemplificou através do caráter dos velhos. Ao se recorrer às fontes básicas da literatura sobre o envelhecimento, faz-se necessário referenciar alguns pensadores, entre os quais Cícero em sua obra Saber Envelhecer, quando destaca a velhice como sendo uma das necessidades naturais do ser humano, onde releva que A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo (CÍCERO, 2002, p29). Este mesmo pensador relata ainda que, entre uma das atividades que podem ser exercidas na velhice são as das atividades públicas - que podem ser conduzidas por velhos, graças ao utilizar a inteligência, onde estes a conservam tanto melhor quanto permanecem intelectualmente ativos. Em complemento a isso por sua vez Sêneca (1952: 10), analisa as questões da velhice e do processo de envelhecimento, onde ressalta através da magnitude de seu estudo que ―não podemos julgar pelos cabelos brancos e pelas rugas de alguém, que ele viveu muito tempo: ele não viveu muito tempo, mas existiu muito tempo‖, ele também divide a vida em três etapas, assim detalhadas ―a que foi, a que é e a que será‖ e conclui dizendo que muitos dos que morre velho, não chegam a viver. Zacharewiz (2003) ainda destaca Montaigne que nos contempla dizendo que necessitamos suportar pacientemente as leis inerentes à nossa condição, somos feitos para envelhecer. O referido autor cita também Schopenhauer (1964:223), e diz que ele desenvolveu o seu próprio conceito de velhice, porém com uma visão um pouco pessimista, quando diz que ―o homem através de sua decadência física que ocorre com o processo do envelhecimento, é capaz de preparar-se para a morte‖, porém para ele a velhice é uma fase que possui vantagens sobre a juventude quando diz que ―só aquele que envelhece adquire uma completa e adequada compreensão da vida‖. O envelhecimento não significa necessariamente velhice, embora ambas representem perdas no organismo, afirma Beauvoir (1970), para ela o envelhecimento é tempo de vida humano em que o organismo sofre muitas mutações e declínio na sua força, disposição e aparência, e que velhice é condição de se estar velho ou idoso. Para se entender essa afirmação precisa-se esclarecer sobre as várias definições que traduz o envelhecimento, pois esses são criados para diferenciar os tipos e níveis de idosos que vã o se agrupando conforme suas situações socioeconômicas ou culturais. Esta autora, que nos anos 60 na França, trabalhou a questão da velhice, fazendo um resgate sobre a questão do envelhecimento populacional descreve que O envelhecimento da população teve início da França em fins do século XVIII, tendo-se produzido o mesmo fenômeno em outros países um pouco mais tarde. Em 1851, havia na França 10% de pessoas com mais de 60 anos. Existiam na França, em outubro de 1969, 6.300 pessoas de mais de 65 anos, isto é mais de 12% da população. (1970, p 248) E ao conceituar a velhice, existe uma descrição que ela é difícil de ser delimitada, pois é um fenômeno biológico que apresenta singularidades, e que acarreta conseqüências psicológicas, como exemplo em que certas condutas apresentadas pelas pessoas que estão ficando velha são consideradas ―típicas da idade avançada‖. A velhice também possui uma dimensão existencial, dimensão esta que passa a modificar a relação do homem no tempo e consequentemente o seu relacionamento com o mundo (quando a sociedade passa a determinar o lugar e o papel do velho) e a sua própria história. (BEAUVOIR, 1970) Em relação a isso no Brasil, os primeiros trabalhos aparecem a partir dos anos 80 com Salgado (1980), Canôas (1986), Haddad (1986) e Bosi (1987) e, a partir dos anos 90 aumentou significativamente a produção teórica nesta área tais como Debert (1994), Berzins (1996), Peixoto (2007), Zimermam (2000), Veras (2003), Teixeira (2008) entre outros. Já Teixeira (2008 p.78) descreve que o envelhecimento é um processo natural e que está previsto dentro da evolução dos seres vivos. Essa mesma autora nos diz ainda que, partindo do ponto de vista demográfico e individual, o envelhecimento passa a ser definido pelo número de anos vividos. NerI (2008 p.68) por sua vez, conceituando biologicamente o envelhecimento, nos fornece a compreensão de que é um processo de transformação do organismo que ocorre após a maturação sexual e que implicam a diminuição gradual da probabilidade de sobrevivência. Para Oliveira (1999), o homem começa o seu processo de envelhecimento desde o nascimento e, à medida que conquista novos aspectos, degeneram-se os estados anteriores pelo processo de desgaste natural. Enquanto que para Santos (2001), o envelhecimento é um processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível, que se instala em cada indivíduo desde o nascimento e o acompanha por todo o tempo possível, terminando com a morte. Já para Lorda (1995), esse processo é uma experiência universal, que ocorre em todas as formas de vida, em todos os tempos. Confluente a esta questão, Fraiman (1995) esclarece que o envelhecimento faz parte do desenvolvimento humano integral e, que o mesmo não é uma predestinação ao fim, mas o resultado dinâmico de um processo global de uma vida, durante o qual o indivíduo se modifica incessantemente. Desta forma entendemos que, o ato de envelhecer é uma propriedade particular de cada ser humano, onde através de suas vivências e suas expectativas específicas, o indivíduo, mesmo envelhecido, continua fazendo parte da humanidade. Logo, se pode dizer que, não temos um conceito único sobre envelhecimento, já se caracteriza como umas das expressões da questão social do envelhecimento, porém, o que os torna diferenciados, é o contexto socioeconômico e cultural em que os mesmos estiverem inseridos. Para se conceituar o que é velhice, antes de tudo devemos entendê-la e de acordo com alguns autores, entre os quais Zimerman (2000), Veras (2003) e Neri (2006), ela pode ser entendida através da gerontologia a partir de dois eixos que é a senescência ou senilidade um fenômeno fisiológico, envelhecimento sadio; e a senilidade um declínio físico associado à desorganização mental. Observamos que até mesmo dentro do entendimento de conceito de envelhecimento, passa-se a distingui-las em duas visões, enquanto a primeira definição é tida como algo positivo, a segunda traz em si uma idéia negativa, ligada à doença e à dependência. No decorrer do tempo de vida, concordando com Alcântara (2004), passa-se a observar uma alteração nos papéis sociais desempenhados pelo indivíduo, no qual a pessoa que está em processo de envelhecimento, sente alterar os indicadores de sua identidade, e com o passar do tempo é comum escutar as pessoas falarem em ―o rapaz da esquina‖ para ―o senhor da esquina‖. Isto é o que ocorre com a pessoa que está envelhecendo, onde a partir do momento em que ela começa a vivenciar este processo, passa também a perder algumas referências que durante toda a vida assinalavam quem ele era. Esta situação pode ser bastante delicada, ao se observar um desconhecimento da pessoa com relação a ela mesma sobre o referido processo que está passando, e tende a se agravar quando a família e a sociedade a também não entenderem esta questão, passam a atribuir ao idoso um ―papel sem papel‖, considerando-o passivo, inútil e desentendido. Pintos (1992) nos esclarece que a natureza humana divide-se em três dimensões e que são explicadas através da biologia, onde existem as necessidades físicas; psicossocial presente nas necessidades psicológicas individuais e de interações sociais e, por última, a dimensão espiritual onde estão presentes as necessidades de valores. Para o referido autor, parte-se da hipótese de que através da complexidade humana, destaca-se o predomínio de cada uma delas em uma faixa temporal da vida do ser humano, e que é dividida em três: a primeira que vem corresponder à infância; a segunda que passa a corresponder à adolescência e à maturidade e a terceira que corresponde à velhice. Porém para definir velhice não se pode apenas considerar os aspectos físicos, há que se ter muita atenção com relação aos aspectos sociais. Onde, a questão da velhice dentro do grupo social, irá variar de acordo com os valores partilhados por cada grupo, e neste sentido, existem profundas diferenças no que diz respeito a este conceito quando se compara entre outras sociedades como exemplo, as indígenas ou mesmo a japonesa. O que foi dito anteriormente, pode ser explicitado quando, não são apenas as causas biológicas que atuam negativamente sobre o idoso, mas detecta-se a pressão social marcante sobre ele, o que nos diferencia, desfavoravelmente, de culturas orientais como exemplo as japonesas, onde as pessoas de idade avançada e os ancestrais são reverenciados. (NOVELLO, 2002) Segundo Magalhães (1987), uma realidade vivenciada no cotidiano das sociedades, é quando, criança ou jovem, se tende a considerar velhos, nossos pais ou as pessoas mais velhas de 30 ou 40 anos. Assim também, a avaliação dominante que se tinha a algumas décadas atrás de um indivíduo de 50 anos, que mudou substancialmente e que atualmente passa-se a considerá-los adultos e empurrar a velhice para os 60 ou 70 anos. Pois, como a ciência já comprovou, o indivíduo aumentou a sua longevidade mais do que em décadas passadas. Esse fato exemplifica como se dá a construção da velhice por meio da qual se imagina. Por isso mesmo é que se pode dizer que o próprio conceito e a vivência da velhice é algo bastante reativo e passa a envolver os mais diversos fatores de ordem social, econômica e laborativa. Deve-se também levar em consideração o lugar em que uma pessoa vive, pois até em um ambiente relativamente próximo, a idéia e o papel do idoso podem variar. A pessoa envelhecida que mora no campo e a que mora na cidade pode desempenhar funções diferentes de acordo com a visão daqueles com quem convivem, ou seja, do papel social que lhe é atribuído. Em consonância a isto, Magalhães (1987) relata que se deve diferenciar a idade biológica, da idade cronológica e da idade social, para que desta forma se possa compreender o que significa ser velho. Segundo ainda o mesmo autor, em países desenvolvidos, verificou que o prolongamento da vida e a queda da natalidade têm criado um ciclo de vida onde o período de formação se alonga, e por sua vez o período de atividade e produção se encurta, onde o período de inatividade e cessação da atividade aumenta cada vez mais, com a expansão e multiplicação das aposentadorias, pré-aposentadorias e aposentadorias progressivas, criando a morte social, antes da morte biológica, como o isolamento a que ficam relegadas as pessoas que se aposentam. Sobre o exposto, essas alterações sociais passam a refletir em uma mudança no perfil desses idosos, onde muitas vezes, mesmo estando aposentados eles precisam trabalhar para contribuir com o sustento das famílias, conforme levantamento realizado por Menezes (2006), onde apontou que a renda insuficiente é um dos principais problemas enfrentados pelos idosos, o que lhes impede de aproveitar esta fase da vida com certo bem-estar e os condena, muitas vezes, a viver na pobreza. Como se observa, por questões de sobrevivência, muitos idosos são obrigados a continuar ou retornar ao mercado de trabalho. O que se detecta é que sendo assim, o adulto de hoje tem um padrão de comportamento diverso de seus pais e avós, o que resultará, daqui a alguns anos, em idosos também distintos. Piccinini (1986), sobre a questão de distinção entre as pessoas envelhecidas explica que Os velhos constituem um grupo heterogêneo com marcadas diferenças na situação social, nas condições de vida, relações familiares e maritais, nos ganhos, na linguagem, religião, aptidão física, saúde, ocupação, relações interpessoais. Considerando indivíduos tão diferentes, generalizações são difíceis e, muitas vezes, impossíveis. (p.319) Cabe, portanto à sociedade reavaliar sua visão a respeito dos idosos, considerando que estes também são parte do todo, ou seja, a inclusão social dos mesmos deve ser feita consciente e cotidianamente. Porém, tais palavras podem trazer significados divergentes (mesmo que sejam sinônimas nos dicionários) de acordo com a abordagem desenvolvida, isto é, geralmente se têm uma visão mais positiva com relação à idéia de terceira idade ao ser comparado com a palavra ―velho‖. Entretanto Salgado (2000), afirma que a velhice, ela deve ser entendida por um ―conceito abstrato‖, embora essa afirmação possa assumir características que são inerentes das condições físicas do indivíduo, assim como os próprios limites que a sociedade passa a impor. Porém ao se questionar o termo idoso, passa a existir uma dificuldade em padronizar ―quem é esse idoso e a que se refere o termo idoso‖, uma vez que as pessoas e as culturas possuem ritmos diferentes de esclarecimentos. Para Simões (1988) as várias capacidades do indivíduo também têm diferentes proporções, razão porque a idade pode ser biológica, psicológica ou sociológica. Reconhecer e incluir os idosos como parte de um todo passa a ser uma ação afirmativa e de cidadania a que se deve atentar, já que com índices elevados de envelhecimento populacional, uma ampla parcela passa e, cada vez mais passará, a desfrutar de mais tempo de vida, fato que pode ser comprovado pela expectativa de vida demonstrada atualmente. Hoje em dia o Brasil é um país de jovens, em relação a outros países, porém progressivamente envelhecendo, essa afirmação pode ser contatada pela pesquisa do IBGE (2010). O envelhecimento sadio da população é uma meta natural e desejável de qualquer sociedade em desenvolvimento, e a velhice deve ser acompanhada por melhorias da qualidade de vida dos que chegaram até ela, ou a estão atingindo, de modo que seja uma vivência positiva. As constatações mostram que há uma relação entre classe social e bem-estar dos idosos, e esta deve ser considerada quando se empreende o planejamento de apoio adequado para as pessoas idosas. (VERAS, 1994: 193). Neste contexto podemos perceber o quanto é importante ter um direcionamento único quando se trata da questão do idoso, pois essas diversidades de definições traduzem os conflitos que, o ser humano passa a ter na sociedade em que vive ou é levado a viver, quando entra na fase do envelhecimento. A própria sociedade cria estereótipos entre as pessoas nessa fase da vida. As pessoas consideradas idosas a partir dos 60 anos, pela legislação brasileira vigente, se classificam dentro dessas definições, dependendo do nível socioeconômico e cultural que se encontram, sendo levadas muitas vezes à discriminação e preconceito, principalmente as mais pobres. Mas esses estereótipos associados ao envelhecimento estão sendo revistos. Novas terminologias e novos conceitos vêm surgindo para tentar classificar os indivíduos na última fase da vida, até recentemente, categorizados entre tantos conceitos, o termo terceira idade. Peixoto (2007) explicita que, a terceira idade passa a ser o sinônimo de envelhecimento ativo e independente, passando a converter-se em uma nova etapa da vida, em que ―a ociosidade simboliza a prática de novas atividades sob o signo do dinamismo‖. (p 76) O aumento da longevidade e da qualidade de vida levou a que se considerasse, principalmente, na Europa e nos Estados Unidos, o termo terceira idade se constituiu pós-implantação das políticas públicas na França, segundo Alcântara (2004). De modo que podemos dizer, que a terceira idade é uma tentativa de ajustar esquemas classificatórios a circunstâncias sociais, culturais, psicológicas e biológicas particulares das sociedades ocidentais (IDEM). Este termo, terceira idade, visa classificar os indivíduos que não são mais enquadrados na idade do trabalho, porém tampouco apresentam sinais de senilidade e decrepitude, onde sua existência depende segundo Peixoto (2007), da existência de uma comunidade de aposentados com peso suficiente na sociedade ―empregada nas proposições relativas à criação de atividades sociais, culturais e esportivas‖ (p 80). Sintetizando, essa é uma classificação que apresenta os mesmos problemas de estabelecimentos de critérios, quando e como começa cada uma dessas idades, mas representa um avanço no sentido de reconhecer as heterogeneidades da população idosa, porém mascarando uma realidade social em que essa heterogeneidade econômica e etária é muito grande. O termo terceira idade é um conceito criado pela sociedade capitalista que estimula a criação de programas e serviços compensatórios e consumistas. Outra terminologia também já começa a se apresentar, principalmente através da mídia, como é o caso do termo ―Melhor Idade‖, que repassa como sendo uma fase vivida somente por aqueles velhos que possuem um poder aquisitivo compatível ao seu habitual padrão de vida. Porém, contradizendo este termo Park (2006) diz que ―os atuais títulos conferidos àqueles que envelhecem, deslocam a discussão para a questão da longevidade esquivando-se do enfoque na função social do velho em nossa sociedade‖ (p 70). Recorrendo a Peixoto (2007), o termo ―velho‖ passa a ter uma conotação negativa ao dar a designação, principalmente, aquelas pessoas de mais idade e que estão inseridas nas camadas populares que passam apresentar mais nitidamente os traços do envelhecimento e do declínio. Ilustrando o que foi exposto, tomamos Alcântara (2004) quando nos diz que no Brasil, o termo velho está associado a designações de negatividade como ocorreu na França, onde se designava como velho ou velhote, o indivíduo que não possuía um estatuto social. Neri (2006) por sua vez, relata que os velhos são quase sempre vistos como consumidores de verbas públicas, mas que essa realidade pode ser bem diferente, quando se tornam eficientes em atividades remuneradas, ela dá como exemplo o que uma rede francesa de supermercados verificou que ―esse segmento quando compromissado ao que faz, faltam menos no trabalho e são mais motivados que os jovens‖ (p 99). Enfatizando o que já foi exposto, a situação da pessoa que está envelhecendo ou está envelhecida, é dada mediante a confirmação de que ela é um ser integrante da sociedade, porém, a sua integração passa a constituir-se uma das preocupações, tanto para ela mesma, quanto para a família, a sociedade e o Estado. 1.2. O ENVELHECIMENTO QUESTÃO SOCIAL POPULACIONAL COMO EXPRESSÃO DA Por mais que se tenha escutado inúmeras vezes, é um fato de que o envelhecimento populacional é um fenômeno que vem ocorrendo em todo o mundo. Beauvoir (1990) em sua obra A Velhice, nos mostra que em países como a França e a Suécia o envelhecimento populacional é mais acentuado, apontando que em toda parte do mundo tem as mesmas causas: queda da mortalidade infantil e a queda da natalidade (p.272); o que pode ser constatado na tabela abaixo: Tabela 01- Brasil e outros países, índice populacional de idosos em milhões de pessoas no período de m1950-2050 P ERÍODO BRASIL INGLATERRA ITÁLIA ALEMANHA F RANÇA US A 1950 7,15 48,02 30,31 41,91 50,17 30.62 1960 7,53 50,23 38,49 54,13 44,58 29,79 1970 8,61 54,16 45,41 58,98 52,24 34,49 1980 10,50 71,08 60,65 84,37 62,81 49,87 1990 12,34 82,78 92,39 93,01 70,81 56,77 2000 18,28 83,68 128,88 104,74 85,62 57,43 2010 26,69 95,54 144,26 153,35 92,26 64,08 2020 46,00 106,28 171,06 185,89 119,95 83,55 2030 78,49 121,56 217,23 226,29 147,66 109,98 2040 117,96 137,25 247,76 258,67 162,04 121,55 2050 172,74 139,43 246,78 258,43 165,74 126,49 Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica. Período 1950-2050 - Revisão 2008 Já mais contemporaneamente Kalache (1990), aponta que países da Europa e da América do Norte, assim como a China e o Japão há muitos anos convivem com esta questão do aumento de números de idosos, sem deixar de lado os problemas que estão ligados ao próprio processo de envelhecimento, como aposentadorias e doenças relacionadas a eles. Segundo dados divulgados em 2005 pela Organização das Nações Unidas ONU, do total de países da esfera européia, apenas um apresenta uma taxa de fecundidade acima da média a Albânia considerado um país pobre e pequeno; já da Rússia à Irlanda, evidenciam taxas de fecundidade que variam entre uma taxa bastante baixa ou quase inexistente. Nessa análise para a ONU a Europa está na iminência de se tornar num lar da terceira idade, onde em tempos passados foi considerada a pioneira da modernidade e hoje, é o protagonista de uma transformação demográfica juntamente com o Japão e as pequenas e prósperas economias da Ásia-Pacífico. No primeiro mundo houve um processo de envelhecimento, crescimento da riqueza e sua distribuição e neste bojo um bom conviver com o envelhecimento e toda sua problemática, onde para Kalache (1990) o aumento da expectativa de vida alcançou como conseqüência uma melhor qualidade de vida da população idosa. Condizente com o que foi exposto anteriormente, em relação aos países que estão acolhendo melhor os seus idosos, pode-se complementar dizendo que, através da explicação de que, primeiro estas sociedades ficaram ricas e depois envelheceram, e desta forma se prepararam melhor para acolher esta população envelhecida. Enquanto que em outros países, como no caso do Brasil, acontece o inverso, onde primeiro envelhecemos sem que antes tenhamos enriquecido, enquanto povo brasileiro. Cançado (1986, p.39) diz que: Nos países desenvolvidos, avançados tecnológica e cientificamente, economicamente estáveis, a natalidade é menor, a mortalidade é menor. As suas pirâmides etárias tendem, então a ter uma base estreita e uma relativa equivalência na distribuição de cada grupo. Nos países em desenvolvimento, cuja situação é mais ou menos o inverso dos desenvolvidos, com pequeno avanço cultural e instabilidade econômica, a natalidade é, consequentemente, maior, bem como a mortalidade, também é maior. Suas pirâmides etárias tendem, então, ao formato verdadeiramente piramidal, ou seja, uma base bem larga e um ápice muito estreito. Isso nos anos 80, mas que no ano 2000, tem cada vez mais se assemelhando aos países desenvolvidos, ou seja, estreitando a base e alargando o ápice. Brito (2010) explicita que, nesta transição, antes de oferecer um bônus ou ônus para a sociedade e economia brasileira, impo-se um desafio fundamental, e levanta o seguinte questionamento: como a sociedade e a economia brasileira devem enfrentar uma transição demográfica tão acelerada? Ou, de fato, o Brasil está predestinado a envelhecer, antes de enriquecer? Essa dimensão normativa é essencial, pois implica que se discuta, junto com a transição, os projetos de sociedade e de economia, nos quais a transição demográfica pode contribuir, não só para o crescimento da economia, mas principalmente, para a redução das desigualdades sociais no Brasil. Complementando o que foi exposto vivemos hoje um país desigualmente desenvolvido, existindo extremos, ao ponto de considerar a existência de dois Brasis. Onde existe o Brasil pobre, principalmente no Nordeste, no qual a criança é vista como adulto e o adulto é velho; e que de outro lado depara-se com um Brasil em que, a qualidade de vida é ponto fundamental para o desenvolvimento e manutenção desses idosos, no caso a região Sul do país. (OLIVEIRA, 1999) Para uma melhor compreensão sobre o que foi exposto, se pode observar a seguir, duas pirâmides etárias correspondentes aos países que apresentam um perfil sócio-econômico diferenciado, conforme o que foi exposto por Cançado (1986), Kalache (1990), Oliveira (1999) e Brito (2010). Gráfico 1- Pirâmides Desenvolvimento de Faixas Etárias: Países Desenvolvidos e em Fonte: ONU (2006) Segundo Borges (2006), observa-se que a forma da pirâmide está associada ao nível de desenvolvimento do país1. Na qual, a pirâmide com forma irregular topo 1 - Maiores detalhes ver Borges (2006 p.98) in As Múltiplas faces da velhice no Brasil. largo e base estreita, correspondem aos países com predomínio de população adulta e população envelhecida, caso dos países desenvolvidos que atingiram ou estão próximos de atingir a fase de estabilização demográfica. Já as pirâmides de base larga e forma triangular representam países com população predominante jovem e baixa expectativa de vida, caso dos países subdesenvolvidos, em fase de crescimento acelerado, ainda na primeira fase da transição demográfica. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE estabelece como indicador acerca da estrutura etária de um povo o índice de idosos 2, e de acordo com esse índice, no Brasil no ano de 2000, existiam 20 idosos para cada 100 crianças, tendência esta em constante e acelerado crescimento estatístico de idosos em relação às crianças. O Brasil, conforme Kalache (1990) vive esse momento de transição demográfica pelo rápido envelhecimento populacional e, que, dentro do contexto de Terceiro Mundo, principalmente nas últimas décadas, este processo vem apresentando um número bastante expressivo, decorrente de vários fatores, entre eles, no baixo índice de mortalidade, assim como ao baixo nível de fecundidade, avanço tecnológico e da medicina. Para melhor ilustrar o que foi dito acima, Mascaro (2004) diz que em relação ao grande número de idosos existentes, é porque a expectativa de vida dos brasileiros aumentou consideravelmente, explicita que em 1950 esta expectativa era de 50 anos, e que atualmente deverá ser, até o ano 2020 de 72 anos. 2 - Segundo Berzins (2003:25) o Índice de Idosos é determinado pelo contingente de idosos e de crianças, onde quanto mais elevada é a proporção de idosos em relação à proporção de crianças (menores de 15 anos), maior será a magnitude do fenômeno. Correspondendo com os dados mais recentes do IBGE (2010) onde comprovam que haverá um aumento da expectativa de vida. A afirmação exposta acima pode ser complementada com Goldman (2008), quando nos mostra que o envelhecimento no Brasil pode ser detectado nos censos demográficos, em que retratam o aumento da expectativa de vida da população. E Santos (2001) por sua vez, aponta que essa explosão demográfica vem acompanhada por um fenômeno chamado de transição epidemiológica 3. De acordo com dados do IBGE (2000), a população de pessoas idosas no Brasil vem tendo um significativo aumento. Na década de 60 a população idosa era estimada em 4,75%, na década de 70 aumentou para 5,06%, nos anos 80 elevou-se para 6,06% tornando-se mais expressivo nos anos 90 com 8,3% chegando em 2000 a 9,1%. E segundo PNAD de 2008, estima-se que exista, atualmente, cerca de 20 milhões de idosos, o que passa a corresponder a 11%(IBGE,2010) da população brasileira. No Brasil, a pirâmide etária tem se modificado a cada década, onde sua forma revela uma situação intermediária entre as duas primeiras pirâmides apresentadas, de acordo com as alterações recentes ocorridas do padrão demográfico brasileiro. Pode se observar estas mudanças no quadro acima, através da sobreposição das pirâmides de 1980 a 2000. Conforme o que foi citado acima, ilustraremos através de dados fornecidos pelo levantamento do IBGE (2000). 3 - Transição Epidemiológica é a mudança de uma população envelhecida, com baixa mortalidade, provocando profunda alteração no perfil da morbidade (doenças) e causas de morte dessa população (SANTOS, 2001 p.23) Gráfico 02 - Estrutura Etária do Brasil - período de 1980 a 2000. Fonte: IBGE (2000) O envelhecimento populacional torna-se uma questão social, quando ele passa a ser considerado, por muitos estudiosos, como problemas ou mazelas sociais, e que merecem o investimento em políticas públicas voltadas para essa população. Borges (2006) oferece elementos para pensar sobre o significado, as potencialidades e as limitações da política social na vida contemporânea no estudo das transformações no contexto sociopolítico e econômico que ocorreram ao longo do século XX. Remi Lenoir (1989) apud Debert (2007 p 62), diz que um problema social é uma construção social e não um puro resultado de mau funcionamento da sociedade e que, ao se constituir em um problema social, deverá envolver quatro dimensões: reconhecimento, legitimação, pressão e expressão4. Para Iamamoto (2003 p 58), as respostas à questão social, passam a ser canalizadas para os mecanismos reguladores do mercado e para as organizações 4 - Para maiores detalhes sobre as dimensões citadas ver em Velhice ou Terceira Idade? Estudos antropológicos sobre identidade, memória e política/ organizado por Myriam Moraes Lins de Barros. - reimp. - Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. privadas, as quais partilham com o Estado a implementação de programas focalizados e descentralizados de ―combate à pobreza e à exclusão social‖, crescendo assim o que Marx(1985) denomina de pauperismo 5 , segmento este formado por contingentes populacionais indigentes incapacitados para o trabalho (idoso), cuja sobrevivência depende da renda de outras classes de trabalhadores. Destacando Netto (2001) em relação à questão social, ele diz que a mesma ―não é semanticamente unívoca‖, porém destaca que ao contrário, ela apresenta compreensões diferenciadas e que suas atribuições são diversificadas. Por sua vez Teixeira (2008), diz que na sociedade capitalista a questão social é parte indissociável do tempo de vida do trabalhador, onde suas necessidades são ao mesmo tempo submetidas e subordinadas às necessidades de valorização e de auto-expansão do capital, e que a partir do momento em que não produz para o capital, não se tem mais serventia. Comparando ao que anteriormente foi citado, destacamos Beauvoir (1990) quando fala que para aumentar o lucro, o capitalismo tenta buscar a todo custo, aumentar a produtividade tornando mais abundantes os produtos e assim o sistema passa a exigir uma elevação dos rendimentos; dessa forma os velhos trabalhadores que, já não são capazes de se ajustarem a esse sistema, caem no desemprego tornando-se descartável para o capital. Para Cohn (2000), a questão social aparece na literatura relacionada às mazelas sociais, e como sinônimas de problemas sociais. E esses problemas, 5 - O pauperismo constitui o asilo dos inválidos do exército ativo de trabalhadores e o peso morto do exército industrial de reservas. Marx (1985:209) tendem a ser decodificados como expressão de um fenômeno social ou um conjunto de fenômenos sociais. A autora afirma ainda que, esses fenômenos sociais só passam a ser considerados questão social, quando deixam de serem considerados ―normais‖, isto é, a partir de determinados critérios, que ela classifica em éticos e morais. Em relação ao critério ético, eles são considerados como ―injustiças sociais‖ e são inaceitáveis, porém passíveis de ser socialmente toleráveis, exemplo: a pobreza e a velhice desamparada. (COHN, 2000). Desta forma percebemos que a questão do envelhecimento se enquadra no critério ético - velhice desamparada e no critério moral - violência, apontado pela autora, observa-se que a velhice, no contexto da sociedade capitalista, é vulnerável a esses critérios. Para Zimermam (2000 p 50), a velhice deve ser vista como uma questão social; assim os grupos do velho adquirem uma importância vital na promoção, e na reconstrução de sua identidade e no resgate do vínculo com os familiares e das capacidades existentes dentro deles, mas adormecidas. Em relação a tudo que foi exposto, o envelhecimento da população apresenta alguns desafios para o Estado e a sociedade, de modo que necessita que haja uma política pública que atenda essa demanda e as necessidades desses idosos neste tempo de envelhecer. Já que, a conseqüência disso tudo possui altos custos para o Estado e para a sociedade como a demanda crescente relativo ao aumento do custeio das aposentadorias e do custeio da saúde voltada a esse segmento. No caso do Brasil, e de outros países classificados como "emergentes", a proporção de jovens tem diminuído a cada ano, ao passo que o índice da população idosa vem aumentando. Essa é uma das razões das mudanças recentes no sistema de previdência social, com estabelecimento de idade mínima para a aposentadoria e teto máximo para pagamento ao aposentado. Em relação a isso Beauvoir (1990) relata que o Estado fixa a idade em que o trabalhador tem direito a uma aposentadoria; onde essa idade é também a que os empregadores públicos e privados escolhem para despedir seu pessoal, portanto é a idade em que o indivíduo passa de categoria ativa para inativa. Diante desse fato, a velhice foi se transformando em um problema social devido ao fato do Estado, assim como a sociedade e a família não terem se preparado para lidar com esse aumento da expectativa de vida e conseqüentemente do aumento do número de idosos. Desta forma Peixoto (2007 p 70) também complementa dizendo que, as conseqüências econômicas que afetam tanto as estruturas financeiras das empresas e posterior do Estado, com o advento das aposentadorias, passam também a afetar as relações familiares, que até então arcavam com os custeios de seus velhos, incapacitados para sustentar a si mesmos. Para Santos (2001 p 21) o custo em relação à saúde desse segmento em questão, está relacionado às doenças crônico-degenerativas, onde das quais as de maior incidência são: hipertensão, doenças reumáticas, doença cardíaca, diabetes e agravos à saúde mental, destacando-se a depressão e a doença de Alzheimer. O processo de envelhecimento populacional é uma realidade inegável e irreversível, conforme descreve Borges (2006), e que vem ocorrendo em todo o mundo e muito rapidamente no Brasil, principalmente nas regiões mais desenvolvidas do país, onde os jovens superam os adultos e os idosos (conseqüência do alto crescimento vegetativo e da baixa expectativa de vida). Essa situação passa a colocar esses países em uma situação de desvantagem, em particular os pobres que possuem famílias mais numerosas, onde sustentar um maior número de filhos passa a limitar as possibilidades do Estado e da família em oferecer uma formação de boa qualidade, reproduzindo o círculo vicioso da pobreza e da miséria, ao dificultar a possibilidade de ascensão social futuramente. Elucidando o que foi exposto, novamente nos reportamos a Borges (2006 p 98), onde para ele as ―pesquisas esparsas mostraram a situação de isolamento social, marginalização, preconceito e principalmente de pobreza freqüente do velho brasileiro‖. 1.2.1FATORES ENVELHECIMENTO SÓCIO-ECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS DO Ao se fazer um resgate histórico, encontra-se informações sobre a expectativa de vida do indivíduo, onde na antiguidade, esta expectativa ficava entorno de 18 anos. Já no século XXVII, a média de idade chegava aos 30 anos. Por outro lado o envelhecimento na França começou a partir do final do século XVIII. (BEAUVOIR, 1970) É evidente que, à medida que há o aumento da expectativa de vida ao indivíduo, através do avanço da ciência e da tecnologia, tudo isso passa a exigir a introdução de novos conceitos e maneiras diferentes de viver. Ao mesmo tempo surge também a necessidade desse indivíduo a se adaptar a essas transformações. Para Pupo (2004) a questão do envelhecimento, através do crescimento do número de idosos em todo o mundo, pode ser até considerado um grande triunfo para a história da humanidade, porém um problema a partir do momento em que as condições requeridas para esse processo de longevidade deverá ser acompanhado por uma qualidade de vida cada vez melhor. Isso porque o envelhecimento antes era considerado uma conquista do mundo desenvolvido, principalmente em alguns países da Europa e dos Estados Unidos entre as décadas de 50 e 60, continua em uma escala presente também nos países em desenvolvimento, o que pode ser comprovado pelo gráfico abaixo: Gráfico 03- Projeção da População Mundial: Esperança de vida na América Latina, Caribe, América do Norte, Ásia, África, Europa, Oceania e Brasil - 2010 Fonte: ONU – Divisão Populacional – 2010 Ainda segundo Pupo (2004), é também uma possibilidade existente em países emergentes, onde as projeções sobre o aspecto demográfico apontam que haverá um aumento da população com mais de 65 anos em relação às outras faixas etárias, e que dessa forma na América Latina, o Brasil não deve ser considerado um país de jovens, pois esse processo de crescimento da longevidade vem ocorrendo desde a década de 70 e transformando a pirâmide etária da população. Atualmente, alguns países, entre os quais o Brasil, esta realidade também já se faz presente, entre as regiões, destaque principalmente para as regiões sul e sudeste, o que pode ser comprovado pela tabela abaixo. Tabela 02- Proporção da população do município da capital em relação à da Unidade da Federação, nos Censos Demográficos, segundo os municípios das capitais - 1950/2010 Região Capital 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 Porto Velho 73.8% 72.1% 76.2% 27.5% 25.3% 24.3% 27.4% Rio Branco 24.6% 29.9% 38.9% 39% 47.2% 45.4% 45.8% Manaus 27.2% 24.3% 32.7% 44.3% 48.1% 49.9% 51.7% Boa Vista 95.2% 88.7% 89% 84.9% 66.2% 61.8% 63.1% Belém 22.7% 25.9% 29.2% 27.1% 24% 20.7% 18.4% Macapá 55% 68.1% 75.3% 78.1% 62.1% 59.4% 59.5% Palmas - - - 0.5% 2.6% 11.9% 16.5% São Luís 7.6% 6.4% 8.9% 11.2% 14.1% 15.4% 15.4% Teresina 8.7% 11.5% 13.3% 17.8% 23.2% 25.2% 26.1% Fortaleza 10% 15.4% 19.4% 24.9% 27.8% 28.8% 29% Natal 10.7% 14.1% 16.8% 22.2% 25.1% 25.6% 25.4% João Pessoa 7% 7.7% 9.3% 12.1% 15.5% 17.3% 19.2% Recife 15.5% 19.3% 20.6% 19.9% 18.2% 18% 17.5% Maceió 11.1% 13.4% 16.8% 20.3% 25% 28.3% 29.9% Aracaju 12.2% 15.2% 20.5% 25.9% 26.9% 25.9% 27.6% Salvador 8.6% 11% 13.6% 16% 17.5% 18.7% 19.1% Belo Horizonte 4.5% 7% 10.8% 13.4% 12.8% 12.5% 12.1% Vitória 5.3% 6% 8.4% 10.4% 9.9% 9.4% 9.3% Região Capital 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 Rio de Janeiro 50.9% 49.3% 47.4% 45.1% 42.8% 40.7% 39.5% São Paulo 24.1% 29.5% 33.3% 33.8% 30.5% 28.2% 27.3% Curitiba 8.5% 8.4% 8.9% 13.6% 15.6% 16.6% 16.8% Florianópolis 4.3% 4.6% 4.9% 5.3% 5.6% 6.4% 6.7% Porto Alegre 9.5% 11.8% 13.4% 14.6% 13.8% 13.4% 13.2% Campo Grande 18.4% 12.8% 14.2% 21.3% 29.5% 31.9% 32.1% Cuiabá 26.4% 17.5% 16.9% 18.8% 19.8% 19.3% 18.2% Goiânia 5.3% 9.4% 15.8% 22.9% 23% 21.8% 21.7% Brasília - 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: IBGE ( 2010) - Censo Demográfico de 1950; 1960; 1970; 1980; 1991; 2000 e 2010 Autores como Kalache (1990), Camarano (2004) e Duchiade (1995), relatam que diferentemente dos países desenvolvidos, onde o aumento da expectativa de vida proporciona uma melhor qualidade de vida às pessoas idosas, no Brasil essa realidade ainda é questionável, pois o que se depara é com uma grande parcela da população que está envelhecendo sem, contudo, disponibilizada de condições sócioeconômicas ou sanitárias adequadas, onde esse processo do envelhecimento ocorre de modo heterogêneo em que se destacam como fatores determinantes a diversidade cultural e a heterogeneidade social. O Brasil, por suas dimensões, mais ainda devido a sua complexidade, ostenta o melhor e o pior dos dois mundos: ao mesmo tempo em que nossas metrópoles abrigam ilhas de prosperidade semelhantes a países desenvolvidos, por outro lado a nossa miséria, tanto urbana quanto rural, lembra a da Ásia ou da África. (DUCHIADE, 1995). Teixeira (2008) afirma que, o envelhecimento populacional passou a se transformar em uma problemática social, e que isso se torna mais relevante quando se analisa as camadas sociais menos favorecidas, em que as mesmas são destituídas dos meios de produção, passando a possuir apenas, a venda de sua força de trabalho através de subempregos, ou quando não desempregados. Contabiliza-se, atualmente, que o segmento da faixa etária acima de 60 anos, é o que mais vem crescendo no mundo, e que não está sendo diferente também no Brasil. As questões que envolvem o processo de envelhecimento, que seja através do aspecto biológico, psicológico e social, passaram a ser foco de pesquisa e de estudos entre diferentes categorias de profissionais, que se interessam pela temática. (SANTOS, 2001). Porém, o que se observa são algumas mudanças de relevância, em relação ao desenvolvimento de ações direcionadas às pessoas envelhecidas, no que tange a discussões sobre políticas sociais. Políticas essas entendidas não apenas como benefícios, mas como direitos garantidos de resgate a sua cidadania. Visando com isso a melhoria de sua condição de vida e conseqüentemente a sua dignidade, enquanto cidadão de direitos conquistados e garantidos pelos aportes legais. Em relação a esta questão, detalharemos no segundo capítulo deste trabalho. 1.3 - Zona Franca e os idosos de Manaus Conforme Ferreira (2003), o isolamento, acrescentado pelo vazio demográfico e principalmente pelas desigualdades existentes entre as regiões brasileiras, contribuíram de uma maneira a manter uma estagnação econômica acentuada, proporcionando a necessidade de se fazer uma divisão de territórios no período militar, dividindo a Amazônia em Ocidental e Oriental. Segundo o mesmo autor, a parte da Amazônia Oriental foi a que conseguiu um melhor desenvolvimento. Isso foi decorrente da exploração de manganês no Amapá, a criação de búfalos e produção de cerâmica na Ilha do Marajó, além do cultivo comercializável da castanha em determinadas regiões do Estado do Pará. Sua capital Belém por sua, vez conseguiu o desenvolvimento de uma indústria manufatureira e têxtil eficiente para se destacar. Em relação a tudo o que foi citado, Santos e Nogueira (2002), relatam que a Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA, apesar das críticas, tinha por objetivo o de elaboração de um Plano de Valorização e de Promoção do desenvolvimento da Amazônia, criando-se assim em 1966, (em substituição a SPVEA), a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM. Essas mudanças seriam uma estratégia do governo militar que era vigente no Brasil, com o intuito de desenvolvimento da região amazônica. Esses mesmos autores informam ainda que, com o declínio da economia gerada pela exploração da borracha, mais precisamente, na segunda metade do século XX, houve uma estagnação da economia no Estado, e a cidade de Manaus sofreu as conseqüências dessa fase. Passou a sobreviver de pequenas atividades econômicas, porém sem grande relevância, através da agricultura, a pecuária de pequeno porte e o cultivo da juta, atividades essas praticadas pelas populações interioranas. Dessa forma surge em cena uns novos trabalhadores urbano, formados por migrantes rurais, remanescentes do extrativismo da borracha e que se encontravam desempregados, buscam na capital uma maneira de inserção no processo produtivo. (SCHERER, 2005). Porém a partir de 1966, teve início um novo desenvolvimento extensivo do capitalismo na Amazônia, onde houve ―uma fase de expansão mais acelerada das relações de produção e forças produtivas no extrativismo, agricultura e pecuária da região. Do qual nesse mesmo período a criação do Banco da Amazônia – BASA.‖ (SANTOS e NOGUEIRA 2002, p.230). Na intenção de processo de inclusão da Amazônia, embasada na política desenvolvimentista do governo militar, foi criada a Zona Franca de Manaus no ano de 1967, através do Decreto-Lei de nº 288, de 28 de Fevereiro de 1967, onde caberia a supervisão da mesma, pela Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, cujo objetivo segundo relatos de Santos e Nogueira (2002), seria o de atrair interesses econômicos e financeiros, através de incentivos fiscais especiais assim com de uma área livre para o comércio de importação e exportação, possibilitando assim o desenvolvimento da Amazônia Ocidental, cujo resultado seria visto pelo aumento da oferta de empregos, pelos incentivos ao turismo interno, e pelo desenvolvimento industrial e agropecuário na região. Para Ferreira (2003), o ideal seria que Manaus, a princípio, pudesse equiparse com uma infra-estrutura que absorvesse imediatamente as primeiras indústrias nacionais e internacionais, podendo contar também com uma política eficiente de incentivos fiscais, através das três esferas de governo. Isso passou a proporcionar para a região, em especial à capital de Manaus o chamado boom das indústrias e dos comércios, proporcionando a instalação de novas lojas, grandes supermercados, bancos comerciais e universidades públicas. Manaus pode-se assim até dizer que, parafraseando Dias (2007), passava a viver uma nova ilusão do Fausto, motivada pelos incentivos fiscais, fazendo com que houvesse uma acumulação de capital. Para enfatizar o que foi citado, citamos que quando ―Importação e produção caminhavam juntos, provocando inclusive o surgimento do turismo de compras, as quotas de bagagem por cônjuge, estipuladas pela Receita Federal, também ajudavam a aumentar as vendas internas bem mais que as externa.‖ (FERREIRA, 2003 p 34). O processo proporcionado pela industrialização desenvolvida através da implantação da Zona Franca de Manaus, fez com que a população da capital amazonense aumentasse de 300.000 habitantes na década de 70, para um acréscimo de 1.500.000 de habitantes no final da década de 90. Isso tudo proporcionou a chegada de migrantes, vindos principalmente das cidades interioranas do Amazonas, motivados pela industrialização da cidade, passaram a se instalar na capital. (IDEM) Já em relação ao exposto anteriormente Carvalho (1998), diz que isso é decorrente de características presentes no processo de desenvolvimento urbano (no caso de Manaus a implantação da Zona Franca), onde ela destaca ―A industrialização, o sistema urbano, as migrações campo-cidade, o mercado de trabalho urbano, a distribuição de renda pessoal, e a infra-estrutura dos serviços. (p 10)‖. Do nordeste principalmente dos estados do Maranhão e Piauí, incentivados pelo crescimento econômico, chegavam a Manaus com ou sem família a procura de melhores condições de vida (diferente da vivenciada por muitos em seus locais de origem), viam na capital a sua ascensão financeira, profissional e pessoal. Sem poder absorver essa população, que era formada em sua grande maioria por pessoas não alfabetizadas ou semi-alfabetizadas, começava a emergir na capital uma das grandes explosões social do país. Dessa forma, Manaus passa assim por um processo de intensivas mudanças tanto econômica quanto demograficamente, ocasionado por esse processo de grande expansão desenvolvimentista. A implantação da Zona Franca de Manaus trouxe um clima de confiança, principalmente por conta da instalação de novas indústrias. Houve a necessidade de expandir-se a infra-estrutura, Manaus passa a ser assim, o principal centro econômico do Norte do país. Para Bentes (1986), com a implantação da Zona Franca de Manaus, um grande número de migrantes do interior do Amazonas e imigrantes de outros estados do Brasil, chegam à Manaus com esperanças de melhores condições de vida e emprego, buscando assim uma oportunidade de vida melhor e assim passam a compor a mão de obra amazonense para o capitalismo. Onde ainda segundo a referida autora, essas novas atividades estimularam as populações interioranas a buscar na capital, a solução para o seu problema através de um emprego e renda, acelerando dessa forma ―o processo migratório interior-capital, o que fez a população de Manaus se elevar de 254 habitantes em 1967, para 634.756 habitantes em 1980‖. (p. 221). Outros fatores, além da Zona Franca de Manaus, proporcionaram o ―inchaço populacional‖ da cidade de Manaus, onde se destacam fatores relacionados ao econômico, ou seja, como já foi exposta antes, a busca por melhores condições materiais; o esfacelamento do sistema de aviamento e por fim as enchentes que agregavam grandes perdas na agricultura de várzea e a diminuição da pecuária, principalmente, no Baixo e Médio Amazonas. Uma vez que, a migração do interior para a capital de Manaus, não é recente, pois suas origens estão ligadas às crises do ciclo da agricultura, assim como do extrativismo que caracterizaram a história econômica do Amazonas. (BENTES, 1986). Essas mudanças, em relação ao mundo do trabalho, mais especificamente ao trabalhador, foram sentidas efetivamente a partir da década de 90, através de política governamental envolvida e sob pressão do neoliberalismo. Porém, foi no governo de Fernando Collor de Mello que a abertura econômica passou a modificar as relações econômicas no país, onde conforme Benayon (2006), no governo de Collor ―a intensificação do processo de privatização de várias empresas estatais importantes e da desnacionalização do parque industrial brasileiro como um todo‖. (p. 310) 1.4- A questão da velhice pobre no contexto mundial e amazônico Para se falar da velhice pobre presente no contexto amazônico, há necessidade de fazermos um resgate histórico sobre a questão da origem da pobreza. No fim da Idade Média, mais precisamente os últimos anos do século XV, segundo Vieira (1985), com o enfraquecimento do sistema feudal, os homens tornaram-se livres das obrigações que os mantinham ligados aos senhores feudais, e com isso passaram a se deslocar com facilidade para as cidades, favorecendo assim a um processo de desenvolvimento urbano. Até o século XVII, de uma maneira esquematizada, destacava-se que o grande perigo para as cidades, principalmente na Europa, vinha do campo. Onde segundo Foucault (1979) os camponeses paupérrimos, no momento de más colheitas ou dos impostos, empunhavam a foice e iam atacar os castelos ou as cidades. Esse êxodo rural deu origem à formação do pobre e do mendigo, nessa visão os pobres passaram a gerar medo e angústia para os habitantes das cidades, proporcionando com isso um medo urbano. A pobreza passa assim a ser uma constatação histórica em algumas sociedades, nascendo o que Foucault (1979) passou a nomear como um medo urbano e de angústia diante da cidade, e que poderia ser caracterizada por vários elementos, um deles pode ser descrito como enfrentar o desconhecido, através do ―medo das oficinas e fábricas que estão se construindo, do amontoamento da população, das casas altas demais, da população numerosa demais; medo também, das epidemias urbanas‖. Beauvoir (1970) descreve que ―os pobres foram acoimados de preguiçosos e imprevidentes e se decidiu não mais encorajar estes vícios. A mendicância foi condenada como sendo imoral. Em lugar de esmola, praticou-se o empréstimo a juros‖. (p 200) Fazendo um resgate em relação a essa questão, na Inglaterra 1603, no início do reinado da rainha Elizabeth foi criada a Lei dos Pobres, onde segundo Beauvoir (1970) ―o governo se fez responsável pelos indigentes, por intermédio das paróquias. Lançaram-se impostos a fim de conseguir os fundos necessários‖. (p 199); segundo ainda Beauvoir (1970), essa lei os indivíduos que eram considerados aptos ao trabalho, esses eram empregados nas work-houses e os velhos eram recolhidos aos asilos. Por sua vez, quando eram acionadas, as paróquias atendiam somente os indigentes pertencentes à comunidade, não atendiam os que vinham de outras regiões. Já na segunda metade do século XVIII na França, Foucault (1979) relata que, com a transformação dos centros urbanos, surgiu necessidade de se constituir a cidade como uma unidade que pudesse organizar a população urbana de modo coerente, homogêneo e que dependesse de um poder único e dotado de regulamentos. Assim sendo, desde o fim da Idade Média, passou a existir não só na França, mas quase que em todos os países europeus, um regulamento de urgência para combater uma epidemia, quando essa aparecesse, tomando dessa forma os seguintes procedimentos: todas as pessoas deveriam permanecer em casa para serem localizadas em um único lugar; a cidade deveria ser dividida em bairros que se encontrariam sob a responsabilidade de uma autoridade designada para isso; seriam observadas, através de um sistema de vigilância e de um registro centralizado; os habitantes seriam revistados diariamente pelos inspetores designados e finalmente, cada casa seria desinfetada. (FOUCAULT, 1997) Assim como Foucault (1997), Dias (2007) também descreve em seu livro A Ilusão do Fausto, essa mesma situação que foi também vivenciada na cidade de Manaus em 1903, no período áureo da borracha, quando destaca que As ameaças de epidemias, o que era um fato constante, exigiam medidas de emergência, como desinfecção das casas, asseio das habitações, pintura, etc.., sem falar nas visitas domiciliares feitas pelo corpo médico da Diretoria de Higiene, com o objetivo de fiscalizar a higiene e a saúde da família, removendo os enfermos para as casas de saúde, a fim de evitar maior propagação das doenças. (p 139) Com o processo de urbanização se solidificando, e o desenvolvimento das estruturas urbanas, surge então, nos fins do século XVIII na França, a Medicina Social, que foi formada por três etapas: a Medicina de Estado, a Medicina Urbana e a Medicina da Força de Trabalho. Foi somente em meados do século XX é que o pobre passou a representar um perigo real para os centros urbanos. O que pode ser constatado, através de Foucault (1997), quando ele nos relata que, esse perigo real foi decorrente por vários fatores, onde se destaca o de razão política, decorrente a durante a Revolução Francesa e, na Inglaterra, durante as grandes agitações sociais do começo do século XIX, onde a população pobre tornou-se uma força política capaz de se revoltar ou pelo menos, de participar de revoltas. Ainda no século XIX encontrou-se um meio de dispensar, em parte, os serviços prestados pela população, com o estabelecimento, por exemplo, de um sistema postal e um sistema de carregadores, o que produziu uma série de revoltas populares contra esses sistemas que retiravam dos mais pobres o pão e a possibilidade de viver, e a cólera de 1832, que começou em Paris e se propagou por toda a Europa, cristalizou em torno da população proletária ou plebéia uma série de medos políticos e sanitários. (FOUCAULT, 1997 p 94) Em relação à Amazônia em seu contexto populacional de idosos empobrecidos, está em parte atrelada ao processo de suas atividades extrativistas, no que diz respeito à sua ocupação regional. Esse processo é quem lhe dá um caráter distinto do restante do país, e que a mesma não ficou à margem do processo de transição demográfica nacional. Segundo Barata, (2008), os povos da floresta, aqui explanados como os seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, extratores, pescadores, caboclos e índios, no que tange o espaço regional, não seriam pobres e nem miseráveis, muito menos excluídos, se de certa forma pudessem continuar livremente apropriando-se dos produtos dos rios ou da floresta, caso não tivessem sido separados da terra ou expulsos pelo movimento do capitalismo, que agindo assim, os tornou mais do que pobres, tornou-os miseráveis, transpondo-os a engrossar a fila dos desvalidos. (p 145) Sobre a questão da velhice pobre na Amazônia, Fernandez e Carvalho (1986) dizem que a mesma está relacionada, principalmente nos anos 70, ao movimento de declínio da fecundidade, para eles ainda que o faça mais tardiamente, a queda da fecundidade na Amazônia atinge rapidamente a todas as classes sociais e ocorre de uma forma bastante veloz, onde o número médio de filhos por mulher ao longo da vida reprodutiva, que em meados da década de 70 era superior a seis filhos declina para quatro no início da década de 90. Em conseqüência de tão ampla e veloz queda nos níveis da fecundidade, Rodrigues e Wong (1996) nos diz que há tendência de redução da taxa de crescimento populacional regional e a conseqüentemente, modificação da estrutura etária da região, mudanças estas que eram parcialmente contrabalançadas pelo volume e seletividade das migrações que se dirigiam para a Amazônia. Fazendo alusão à questão da velhice pobre, Beauvoir (1970) descreve que O envelhecimento da população suscita um novo problema para as democracias capitalistas. As pessoas idosas não são somente muito mais numerosas que antigamente: elas se integram também mais espontaneamente à sociedade; esta se vê obrigada a decidir a respeito de seu estatuto e esta decisão só pode ser tomada em nível governamental. A velhice se tornou objeto de uma política. (p.249) Em complemento ao que Beauvoir (1970) descreveu, o ministro inglês da saúde Ian Mac Leod expôs na época, de uma forma crítica a situação da seguinte forma ―É o monte Everest dos problemas sociais atuais.‖ Em contraponto ao que discutem os autores, retomando a questão algumas décadas depois, através dos dados de Revisão em 2008 realizado pelo IBGE, demonstram que a taxa de fecundidade brasileira também continuou a cair, lembrando que essa revisão foi com uma projeção até o ano de 2050, como pode ser vista na tabela a seguir: Tabela 03 – Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para o Período: 1980 - 2050 Fonte: IBGE – Revisão 2008 Em estudos realizados no ano de 1996 pelo IBGE, detectou-se que a população da região Amazônica, desde os anos 60, tem crescido em taxas acima da média nacional, pode-se até fazer uma relação em função dos elevados níveis de fecundidade e dos baixos níveis de mortalidade que prevaleceram entre a sua população e, em especial, ocasionadas pela migração que se constitui no elemento básico da ocupação humana da Região Norte. Entre 1980 e 1991, a Região cresceu a uma taxa média de 3,8% ao ano, menor do que na década anterior, quando atingiu 5,0% ao ano. E comparando aos esses dados anteriores, segue abaixo a mais recente pesquisa realizada pelo próprio IBGE (2010), no que diz respeito à taxa de crescimento demográfico do Brasil, e pode-se observar em destaque a Região Norte. Quadro 01: Taxa de Crescimento por Região Novamente reportando às informações relatadas, o crescimento demográfico também não é uniforme entre os estados da Região Norte, e isso pode ser visto em comparação ao resultado obtido pelo IBGE (2010) no último censo realizado, onde se observa que a taxa de maior crescimento é a do Amapá (3,44%), e a menor está em Rondônia (1,24%), deduz-se que os estados da Região Norte ainda possuem a maior taxa de crescimento populacional, em relação aos outros estados das regiões do Brasil. Quadro 02: Taxa de Crescimento Populacional dos Estados Brasileiros 2000/2010 Alguns fatores podem ser determinantes, para contextualizar a questão da velhice na Amazônia, em relação às taxas de fecundidade, elas sempre foram elevadas e em particular entre a população rural; durante o processo de transição demográfica brasileira, as taxas de fecundidade total apontavam uma evolução divergente entre as regiões brasileiras. Enquanto que entre 1950 e 1970 as regiões Sul e Sudeste apresentavam redução nos níveis da fecundidade, na Amazônia assim como no Nordeste e no Centro-Oeste, as taxas de fecundidade aumentaram. (WOOD e CARVALHO, 1994) Ainda na década de 70, ela é generalizada pelo processo de redução da fecundidade brasileira, e as taxas de fecundidade na região norte, que estavam acima de seis filhos por mulher, passa a sofrer um declínio, atingindo menos de três filhos por mulher. Já em meados da década de 90, segundo os dados da PNAD de 1995 (IBGE, 1996) e da BEMFAM (1966) nas áreas urbanas e 4,15 para o conjunto da população (RODRIGUES; WONG, 1996). Tabela 04- Taxa de fecundidade total das mulheres de 15 a 49 anos de idade, segundo as Grandes Regiões - 1950/2000 Conforme o resultado do censo do IBGE apresentado na tabela acima, no Brasil as taxas de fecundidade mantiveram- se altas e praticamente constantes entre 1950 e 1960, já nos anos de 1970 começa o seu processo de declínio ocasionado pela introdução dos métodos anticonceptivos orais, em meados da década de 1960, época essa em que as taxas de natalidade iniciaram o processo de redução; observa-se também que na década de 1990, a média de filhos por mulher continua em declínio, perdurando até o ano de 2000. É também interessante ver detalhadamente que as Regiões Norte e Nordeste mantiveram altas taxas até a década de 1980, enquanto a Região Sul, em 1950 detinha níveis que o Brasil foi alcançar somente em 1970. Ainda em relação ao crescimento demográfico entre os estados da região, Moura et al (1990) descreve que o aumento populacional também está relacionado às taxas de mortalidade da população amazônica, que sempre foram relativamente baixas, mesmo entre a população rural, o que pode ser até contraditório, uma vez que era uma região supostamente desassistida dos serviços básicos de saúde, principalmente em função da dispersão espacial da população, e do difícil acesso da mesma aos bens e serviços básicos e até mesmo da própria de governo em relação aos investimentos sociais que caracterizavam a região. Nesse procedimento, a mortalidade infantil tem sido historicamente, utilizada como um bom indicador de avaliação das condições de saúde e de vida da população, sendo interpretado como a probabilidade de um nascido vivo falecer antes de completar o seu primeiro ano de vida. Os valores da taxa de mortalidade infantil, ao longo dos censos foram classificados como altos, até 1980, e com os resultados do Censo Demográfico 2000 já poderiam ser classificados como médios, de acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS. Para um melhor esclarecimento sobre a questão referenciada, ao se analisar o quadro sobre a mortalidade infantil, e assim entender o crescimento populacional na Região Amazônica, destaca-se também a Região Sul que historicamente vem detendo os menores níveis de mortalidade no País. Com os resultados do Censo Demográfico 2000 esses valores foram considerados baixos. De uma maneira geral, os grandes ganhos de mortalidade infantil começaram a ocorrer de forma consistente a partir de meados da década de 1970, depois de concluídos os fortes ajustes efetuados na economia do País e, sobretudo, a partir da adoção de grandes programas de atenção básica à saúde; ou seja, durante os primeiros 35 anos que se seguiram a 1940, poucas alterações foram observadas no ritmo de declínio da mortalidade infantil, sendo que suas taxas de decréscimo médio anual reduziram-se, em média, em torno de 1% ao ano para o Brasil, Regiões Norte e Nordeste e de 1,7% nas demais regiões. Em relação à grande parte do crescimento demográfico da Amazônia brasileira para Batista (1976) e Reis (1976) foi resultado, em parte direta ou indiretamente, do processo migratório que se dirigiam para a mesma. De uma forma geral, foram esses movimentos migratórios, um dos fatores determinantes da expansão demográfica ocorrida na região a partir dos anos setenta, quando a taxa de crescimento manteve-se acima de 5% ao ano. Para Dias ((2007) a maior parte, desse contingente de migrantes que se destinam à Amazônia, acabava dirigindo-se para as áreas urbanas, e com isso as zonas rurais diminuem sua população, esse processo de envelhecimento se diferencia do resto do país, e talvez até tenha alguma semelhança com a região nordestina; peculiaridade essa por estar presente desde o chamado tempo Áureo da Borracha, o rush da borracha como foi chamado o período de maior exploração dos seringais, passaria a modificar totalmente essa situação de povoamento, em que segundo Batista (1976), a partir da grande seca de 1870 os imigrantes nordestinos, principalmente os do Estado do Ceará, começaram a vir para a Amazônia, em busca de trabalho, e passaram a fazer parte do grupo de trabalhadores conhecidos como ―soldados da borracha‖. Durante o período que compreende os anos de 1880 a 1912, houve uma transformação na vida da Amazônia Brasileira, em todos os aspectos, econômicos, políticos, sociais e culturais, o que para Batista (1976:131) ―representou com segurança nosso capitulo de grandeza e de miséria‖. Segundo esse mesmo autor, nesse período tivemos a ocupação da terra, o desalojamento dos últimos nativos, a febre do ouro, a revolução Acreana, mortes por assassinatos ou por doenças, desperdício, loucuras e, sobretudo pobreza para a maioria da população. Essa questão sobre a pobreza, ela tornou-se decorrente principalmente a partir do último quarto do século XIX, a Inglaterra promoveu o transporte de sementes e de mudas da Hevea Brasiliensis (seringa) para a Malásia, com o discurso que ―o mundo não poderia ficar a mercê da borracha silvestre, que não tinha possibilidade de alargar a produção ou barateá-la‖. (BATISTA, 1976 p 138), e dessa maneira trinta anos depois, a produção da Malásia já tomava conta do mercado, o que passou a gerar a decadência dos seringais brasileiros, e conseqüentemente o advento do desemprego para a região. E durante o período de decadência da borracha, não se traçou nenhum tipo de política visando manter o trabalhador nordestino, pois segundo Reis (1976:116), aconteceu ao contrário, ―a orientação foi de retirada e regresso ao Nordeste ou idas para áreas que permitiam a compensação material.‖ Observa-se que, com essas medidas houve um esvaziamento populacional na região, devido ao deslocamento desse grande número de imigrantes nordestino para fora da região, por conseqüência do fechamento dos seringais, fenômeno esse, que só terá uma retomada por volta da Segunda Guerra Mundial, novamente através da produção da borracha, sob os investimentos americanos. (REIS, 1976) Mais uma vez, por conta da retomada da produção de borracha, torna-se necessário recrutar novamente mais trabalhadores, e dentre esses os nordestinos se faziam presentes, porém com um movimento migratório foi diferenciado do anterior, onde segundo Brasil et al (2004), esse movimento caracterizou-se diferente do que ocorreu anteriormente, porque dessa vez o trabalhador poderia trazer sua família, o que diminuiria com isso as chances de retorno, garantindo assim a permanência da mão-de-obra na região. Com isso a população voltou a crescer e no final da década de 40 a população amazônica já ultrapassava 3.427 mil pessoas, taxas condizentes com as médias nacionais. Entretanto, foi um curto tempo de investimento americano, com o término da guerra um novo colapso aconteceu, onde para Benayon (2006), uma nova configuração política e econômica surgiria, através das propostas advindas com o modelo desenvolvimentista e o modelo econômico de substituição de importações, que ao promoverem o aumento da produção industrial aceleram, mais uma vez, o movimento imigratório para a Amazônia. Com a implantação do Estado Novo por Getulio Vargas, vários fatores marcaram as medidas que o governo tomou no sentido de povoar a Amazônia e finalmente integrá-la ao espaço nacional, entre eles podemos citar: a Marcha para Oeste, à criação da Fundação Brasil Central (1944), o Programa de Desenvolvimento para Amazônia contemplado na Constituição Federal de 1946, a delimitação oficial da região por critérios científicos, a criação da Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), a implantação das rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre (no governo de JK), a migração acelerada entre 1950 e 1960 (BECKER, 2004). Entretanto, reportando novamente Becker (2004), a forma como aconteceu à ocupação da região amazônica, alteraram de forma significativa a vida das pessoas que aqui residiam, bem como também contribuiu para impactos ambientais perversos e severos que abalaram todo o meio ambiente, entre eles podemos citar: desmatamento na Amazônia, processo de transferência da atividade pecuária extensiva e depredadora das outras regiões do país para Amazônia, devastação florestal associada à expansão agropecuária, impacto na cidade e sua periferia que entra floresta adentro, mais de 60% da população está abaixo da linha de pobreza; taxa de analfabetismo de 24% só perdendo para o nordeste, proliferação de doenças de transmissão hídricas na cidade, crescimento econômico e baixa qualidade de vida e perda irreversível de biodiversidade, estabelecendo uma inércia destrutiva de difícil reversão e contabilizando um passivo ambiental que não poderá ser saldado. Neste contexto, percebemos que fica claro o motivo de se ter um grande número de idosos na Região Norte, e especialmente no Estado do Amazonas nas condições de idoso não cidadão ou idosos asilados; estes por sua vez podem ser considerados como frutos dessas imigrações não planejadas, que ocorreram desde o rush da borracha até a implementação da Zona Franca de Manaus. Entretanto, outro fator que contribuiu para, o precário envelhecimento de nossa população está relacionado às condições de trabalho que tiveram, desde a chegada dos primeiros imigrantes no rush da borracha. Pois conforme relatos de estudiosos em livros, com a chegada dos imigrantes, nacionais e estrangeiros, observou-se a preferência por aqueles que vêm de fora, os chamados ―estrangeiros‖, esses eram os responsáveis pelos fatores decisivos ao desenvolvimento, com a ampliação das atividades comerciais, transportes, bancárias, e outras ligadas aos serviços públicos urbanos. Aos outros trabalhadores – principalmente os nordestinos e interioranos – cabiam as funções de trabalhadores em obras públicas, construção de prédios e repartições, igrejas, pontes, cemitérios, calçamentos, etc. (DIAS 2007) Havia certo preconceito contra os imigrantes nacionais, principalmente através dos discursos de alguns representantes públicos, onde os mais estigmatizados eram os nordestinos, dos quais para os políticos e para a economia, o máximo que se poderia ―extrair‖, era a exploração de sua força de trabalho nos seringais. Em relação a isso, Dias (2007) afirma que Torna-se forte o preconceito alimentado contra os nordestinos que ficam no meio urbano, isto relacionado pela sua condição de flagelados da seca, portanto, sem recursos materiais e, muitas vezes, pela sua situação de depauperamento físico, sem condições para o trabalho. (pág. 128) Já para os moradores locais restava a função de ambulantes e sobreviverem dessa forma. Trabalhavam como vendedores de carvão, fruteiros, peixeiros, vendedores de gelo, de vísceras, entre outros e que os mesmos eram taxados como indolentes e preguiçosos. Essa situação se repete com os imigrantes externos e internos, por ocasião da implantação da Zona Franca de Manaus. O imigrante estrangeiro vem sempre para ocupar cargos elevados nas indústrias, cabendo aos trabalhadores locais, muitos imigrantes internos, o serviço de chão de fábrica.6 O aumento na expectativa de vida traz ainda questões relacionadas aos opostos inclusão/ exclusão: assim como novas condições promoveram o aumento da longevidade, a sociedade vem se transformando rapidamente. Pessoas, relações e comportamentos se modificam frente a necessidades econômicas e até mesmo nos cuidados com a crescente população idosa. Para Antunes (2004), paralelamente à exclusão dos jovens vem ocorrendo também à exclusão dos trabalhadores considerados ―idosos‖ pelo capital, com idade 6 - Mais detalhes ver nas obras A Ilusão do Fausto - Ednéa Dias Mascarenhas (2007) e O Complexo da Amazônia - Djalma Batista (1976) próxima de 40 anos e que, uma vez excluídos do trabalho, dificilmente conseguem reingresso no mercado de trabalho. Somam-se, desse modo, aos contingentes do chamado trabalho informal, aos desempregados, aos ―trabalhos voluntários‖ etc. O mundo do trabalho atual tem recusado os trabalhadores herdeiros da ―cultura fordista‖, fortemente especializado, e que são substituídos pelo trabalhador ―polivalente e multifuncional‖ da era toyotista. E, paralelamente a esta exclusão dos ―idosos‖ e jovens em idade pós-escolar, o mundo do trabalho, nas mais diversas partes do mundo, no Norte e no Sul, tem se utilizado da inclusão precoce e criminosa de crianças no mercado de trabalho, nas mais diversas atividades produtivas. (ANTUNES, 2004 p 339). Scherer (2005) aponta que os estudos realizados por Ricardo Antunes, mostram que o mundo do trabalho nos países de industrialização intermediária registra um processo crescente de exclusão dos jovens e dos trabalhadores considerados ―velhos‖ para o capital. (p.37) Ao analisar essa questão a autora acima referenciada, enfatiza que os trabalhadores considerados velhos e que são excluídos do mercado de trabalho, dificilmente conseguem se requalificar para dessa forma regressar no processo produtivo capitalista. E que dessa forma, esses trabalhadores passam a engrossar o crescimento dos ―bolsões de pobreza‖ 7. Como mecanismo minimizador do desemprego estrutural, elas cumprem uma função, ainda que limitadíssima. Porém, quando são concebidas como um momento efetivo de transformação social, convertem- se, em nosso entendimento, em uma nova forma de mistificação, que imagina ser capaz de alterar o sistema de capital em 7 Informações obtidas em SCHERER, Elenise. Baixas nas carteiras: desemprego e trabalho precário na Zona Franca de Manaus.(2005, p.97) sua lógica, processo este que, sabemos, é muito mais complexo. (ANTUNES, 2004 p 340) 1.4.1 - O IDOSO DEMANDANTE DA ASSISTÊNCIA SOCIAL Conforme o que rege a Política de Assistência Social, constitui-se como público demandante da Assistência Social aqueles cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. Em relação a tudo o que foi exposto, o idoso faz parte de todas as categorias citadas, pois ele também se encontra em situações de risco ou vulnerabilidade quando não mora em um lugar adequado e não consegue executar as suas atividades diárias; quando não possui vínculos familiares ou mesmo possuindo não consegue ser sustentado pela mesma; quando vê sua identidade ser estigmatizada porque a família, sociedade e o Estado passam a imagem de que o idoso é uma pessoa inútil, descartável, velho, rabugento entre outros; quando seus direitos garantidos na CF/88 e no Estatuto do Idoso não são reconhecidos, e quando os são, não são cumpridos; quando não possui o mínimo para garantir suas necessidades básicas. O idoso demandante da Assistência Social continua sendo aquele que passa então a depender de uma proteção básica social prevista na PAS. Proteção essa que tem como objetivo o de prevenção às situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, mantendo assim o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Essa assistência por sua vez é destinada à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza; com privação marcada pela ausência de renda, onde existe um precário ou nenhum acesso aos serviços públicos e/ou fragilização de vínculos afetivos, sejam eles relacionais e de pertencimento social. O que foi exposto entra em consonância ao que determina o Art.203 da CF/88 que trata da questão na seguinte forma: A assistência social será prestada a quem dela necessite, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; A garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (BRASIL, CF/88, p 151) Segundo a PNAD em 2002, a população idosa (pessoas com 60 ou mais anos de idade) era aproximadamente de 16 milhões de pessoas, correspondendo a 9,3% da população brasileira, considerando o aumento da expectativa de vida, as projeções apontam para uma população de idosos, em 2020, de 25 milhões de pessoas, representando 11,4% da população total brasileira, por sua vez esse aumento considerável da participação da população idosa, produzirá importantes impactos e transformações nas políticas públicas, principalmente saúde, previdência e assistência social. A distribuição da população com mais de 65 anos nos municípios brasileiros, apresenta uma média percentual equilibrada em torno de 6%, não havendo discrepância sob esse ponto de vista entre os tamanhos dos municípios. Em termos absolutos, embora também fiquem na totalidade em torno de 2 milhões de pessoas nos grupos dos municípios, quando se distribui essa concentração por unidade municipal, a maior variação fica entre uma média de 545 idosos nos municípios pequenos até 149.000 idosos nas metrópoles. (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2002). A comprovação das informações citadas pode ser observada através da tabela abaixo: Tabela 05: Concentração da população com mais de 65 anos nos municípios Municípios classificados pela população 2002 Total de municípios População de 65 anos ou mais Concentração média de População de 65 anos ou mais nos municípios Porcentagem de 65 anos ou mais 4.018 2.189.438 545 6,55 964 1.726.727 1.791 5,99 301 1.179.214 3.918 5,63 209 2.605.869 12.468 5,18 15 2.233.852 148.923 6,16 5.507 9.935.100 1.804 5,85 Pequenos I (até 20.000 hab) Pequenos II (de 20.001 a 50.000 hab) Médios (de 50.001 a 100.000 hab) Grandes (de 100.001 a 900.000 hab) Metrópoles (mais de 900.000 hab) TOTAL Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, 2002 A PAS prevê ainda o desenvolvimento de serviços, programas e projetos locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme identificação da situação de vulnerabilidade apresentada. Entre os benefícios a serem recebidos pelos idosos está o BPC, que é constituído como uma garantia de renda básica, no valor de um salário mínimo e que tem sido um direito estabelecido diretamente na Constituição Federal, conforme o artigo acima citado, e posteriormente regulamentado a partir da LOAS, dirigido às pessoas com deficiência e aos idosos a partir de 65 anos de idade. Tal direito à renda se constituiu como efetiva provisão que traduziu o princípio da certeza na assistência social, como política não contributiva de responsabilidade do Estado. Trata-se de prestação direta de competência do governo federal, presente em todos os municípios. (PNAS 2004, p 28) Para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome através da Secretaria Nacional de Assistência Social, são considerados serviços de proteção básica de assistência social aqueles que potencializam a família como unidade de referência, fortalecendo seus vínculos internos e externos de solidariedade, através do protagonismo de seus membros e da oferta de um conjunto de serviços locais que visam a convivência, a socialização e o acolhimento em famílias cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos, bem como a promoção da integração ao mercado de trabalho, tais como: Programa de Atenção Integral às Famílias; Programa de inclusão produtiva e projetos de enfrentamento da pobreza; Centros de Convivência para Idosos; Centros de informação e de educação para o trabalho, voltados para jovens e adultos. (BRASIL PNAS, 2004 p 30) 1.4.2- POR QUE E PARA QUE INSTITUCIONALIZAR? Com a Revolução Industrial, surgiram modificações profundas na vida das pessoas, fazendo com que as mesmas se ausentassem por um longo período de seus lares, ocasionadas por uma extensiva jornada de trabalho. Houve com isso, também, uma alteração nas famílias, pois parte de suas responsabilidades eram transferidas para a comunidade. Em uma sociedade onde há prioridades ao que é novo em relação ao velho, o idoso não é mais produtivo para o sistema, passando a ser caracterizado como inútil, incapaz, doente, um fardo, passando assim a ser renegado até mesmo por seus familiares. Atualmente, apesar da possibilidade de que laços afetivos mais fortes ou de diferentes arranjos familiares existentes, entre os quais filhos e netos residindo no domicílio dos idosos, possam evitar ou retardar a institucionalização, o que se depara é uma elevada taxa de ocupação das ILPIs. Para Chaimowicz (1999), isso indica que a dificuldade de acesso parece ser o fator realmente limitante, e reforça a hipótese de que isso se torna decorrente através das condições exigidas para admissão pelas ILPIs, onde a maioria não aceita idosos demenciados ou acamados e várias recusam idosos com doenças orgânicas. Através do que foi citado acima, percebe-se que a velhice é vista de várias maneiras, em diferentes sociedades, onde cada qual possui os seus valores, costumes, hábitos, ou seja, isto tudo dependendo do contexto histórico-social que o idoso estiver inserido. Assim sendo, foram criadas casas que pudessem prestar atendimento aos pobres, e aqui irá se encaixar o idoso. Conforme o que foi exposto, a Portaria n˚810/89 que regulamenta as normas para funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras instituições, atualmente ainda existem ILPIs que condicionam o ingresso do idoso ao fato de não possuir familiares. Beauvoir (1970) quando descreve sobre o processo de institucionalização dos idosos relata que Em tais condições, compreende-se que o ingresso num asilo representa um drama para o velho. A trama psicológica é particularmente violenta para as mulheres, ainda mais apegado ao lar que aos homens. Manifestam sinais de ansiedade e tremores. Muitas acabam se resignando. Às vezes a hospitalização parece devolver ao velho o gosto pela vida: sente-se menos isolado, contrai amizades; passa a cuidar mais de si mesmo, por uma espécie de emulação. Mas é raro. (pág. 289) A pessoa idosa está acostumada com o lugar onde mora, do qual morou geralmente a maior parte de sua vida. A sua casa é o seu mundo, é a sua referência, possui sua rotina de vida, seus horários, suas amizades com sua vizinhança. Gerencia o seu tempo e suas atividades, possui uma relação intergeracional (fato que não se repetirá em um asilo, uma vez que seu convívio será com pessoas de sua idade), tem a sua privacidade e uma história de vida a ser preservada. Porém ao ir para uma instituição, qualquer que seja a forma de se institucionalizar, a pessoa idosa passará a perder o seu referencial, a sua identidade, o que pode ser comprovado através da fala de Zimerman (2000), quando diz: Ao mudar-se para a instituição, terá que se habituar a um novo esquema, a uma nova rotina diferente com pessoas diferentes, e horários preestabelecidos para comer, dormir, tomar banho, etc. Ademais terá que aprender a nova localização de cada peça da casa. (pág. 96) Podemos até concordar, quando Goffman (2007) nos diz que a vida humana numa instituição asilar impede a pessoa de ter o controle de sua vida, pois ela passará a ser gerenciada por pessoas nunca antes convividas. Já para Foucault (2007), o regime do poder disciplinar utilizado nas instituições, ele não visa nem a expiação, nem tampouco a repressão. Mas o mesmo passa a por em funcionamento cinco operações bastante distintas, entre as quais o de se relacionar os atos, os desempenhos, os comportamentos singulares a um conjunto, que é ao mesmo tempo campo de comparação, espaço de diferenciação e princípio de uma regra a seguir. (pág. 152) Sabemos que a institucionalização dos idosos em asilos, casas de repouso, instituições ou similares, passa a ser questionada nos países desenvolvidos. Onde esses serviços alcançaram níveis altamente sofisticados de conforto e eficiência, o que entra em contrastes com a realidade do Brasil, e em destaque a região norte onde é comum, em famílias de renda mensal abaixo de dois salários mínimo, da qual a opção pela institucionalização tem como fundo a incapacidade familiar de oferecer os cuidados necessários a esses idosos, para Karsch (2004) Acrescenta-se a isto uma das conseqüências do progresso da urbanização e industrialização: a transformação da família extensa, no interior da qual o velho permanecia e era valorizado, para a família nuclear, que tem que lutar pela sobrevivência e cujas dificuldades financeiras não lhe permitem amparar seus idosos. (pág.126) E em relação ao que foi dito acima, completamos dizendo que mediante a essas transformações das sociedades urbanas industrializadas, surgiu à necessidade de todos trabalharem. A família do idoso torna-se, em grande parte, laborativa. Dificultando atenção a aquela pessoa que muito contribuiu para o sustento de sua família, e que hoje por conta do processo competitivo do mercado, se vê às margens da exclusão (a aposentadoria virou sinônimo de não-serventia, não produtivo), e que quando sua renda não se torna suficiente para o seu auto sustento ou de sua família, esta muita das vezes sem tempo de cuidar das pessoas idosas em sua família, acaba ocasionando assim uma solução à institucionalização. Em consonância ao que tange a Constituição Federal de 1988, em seu Art. 229 no diz que ―os pais tem o dever de assistir, criar educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade‖. E ainda no seu Art. 230 ―a família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida‖. Para Goffman apud Alcântara (2004para), o idoso ao ser institucionalizado, perde o seu referencial de pessoa, onde É comum não serem mais chamados pelo nome (a grande mutilação considerada por Goffman) – é tratado por vovô, vovó, meu bem... Despossuídos de nome e de identidade. A isso se soma um tratamento infantilizado e uma intolerância para com o velho. (pág. 36) Para Canôas (1985) ―segregar velhos ou qualquer outro grupo, é tentar submetê-los a um marasmo sem os desafios que estimulam o homem a criar sua existência‖. (p 23) Como o Estado não cria mecanismo que possibilitem ao idoso ter uma velhice com dignidade junto de suas famílias, principalmente aqueles desprovidos de recursos financeiros, este é, em muitos casos, obrigado a procurar amparo nas instituições. As instituições, embora sejam bastante criticadas, mesmo nos países desenvolvidos tendem a ser um ―mal necessário‖. Elas não irão resolver todos os problemas do idoso, mas para que esses problemas sejam resolvidos, faz necessário ter políticas e ações efetivas que sejam integradas e comprometidas com este grupo social. Concordando com Canôas (1985) quando a mesma afirma que, o asilo pode ser a solução para as famílias que não sabem o que fazer com seus idosos, pode também ser uma solução para o Estado, que vê aumentando cada vez mais o número de idosos, mas ressaltamos que esta não é a melhor solução para a pessoa idosa. Assim sendo, conforme enfatiza Vieira (1998), as ILPIs são "fruto das necessidades sociais", sendo objeto de seu controle e, assim, "passível de ser influenciada pela instituição e modificada segundo suas necessidades" (P 62-65). No âmbito da lei a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 230 reza que: A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando a sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bemestar e garantindo-lhes o direito a vida. Cabe destacar neste aspecto, como o idoso pobre é colocado na condição de dependência, como se já estivesse sem a sua faculdade mental e intelectual e assim desprovido de autonomia, liberdade, vontade, desejos e opiniões, um peso a ser primeiramente amparado pela família e em último caso pelo Estado. Se atentarmos para o fato de que vivemos sob a égide de um estado de mal estar social, o destino do idoso no Brasil será o abandono e o asilamento. 1. 4. 3- O PERFIL DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO NUMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE MANAUS Antes de apresentarmos o perfil desses idosos, temos que descrever sobre o estado do Amazonas e suas peculiaridades em relação a sua demografia, ele é o maior do país em área física, com seus 1.570.745 km², equivalente a toda a superfície dos nove estados da região Nordeste juntos. De acordo com as informações do Censo Demográfico feito pelo IBGE no ano de 2000, sua população era de aproximadamente 2.812.557 pessoas, a segunda maior da região Norte, e a densidade demográfica de 1,8 pessoas/km2; dos habitantes do estado, 137.060 eram maiores de 60 anos, considerados idosos de acordo com a definição do Estatuto do Idoso, e eles representavam 4,9% do total da população, sendo que, cerca de 49% eram homens e 51% mulheres. (CAMARANO, 2007) A distribuição da população no interior do grupo de idosos também se modificou no período. Pode-se observar um maior crescimento da população de 80 anos e mais (muito idosa) em relação ao grupo de 60 a 79 anos, o que indica um envelhecimento da própria população idosa. Em 2000, do total de idosos do estado, cerca de 49% eram homens e 51% mulheres. Na população brasileira, no mesmo período, 45% dos idosos eram do sexo masculino e 55% do sexo feminino. (IBGE, 2010). A seguir detalharemos o que foi exposto anteriormente, em uma tabela comparativa, sobre o crescimento populacional no Estado do Amazonas, relativa aos anos de 2000 e 2010, tendo como referências os dados recenseados pelo IBGE. Tabela 06 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade Amazonas 2000/2010 IDADE 2000 Homens % Mulheres % 2010 Mais de 100 anos 149 0,0% 0,0% 266 95 a 99 anos 426 0,0% 0,0% 823 90 a 94 anos 1.354 0,0% 0,1% 2.051 85 a 89 anos 3.335 0,1% 0,1% 4.494 80 a 84 anos 6.750 0,2% 0,2% 8.053 75 a 79 anos 11.747 0,3% 0,4% 12.939 70 a 74 anos 17.663 0,5% 0,5% 18.906 65 a 69 anos 25.717 0,7% 0,7% 26.005 60 a 64 anos 34.510 1,0% 1,0% 35.037 55 a 59 anos 48.371 1,4% 1,4% 47.873 50 a 54 anos 63.713 1,8% 1,8% 62.231 45 a 49 anos 80.095 2,3% 2,2% 77.238 40 a 44 anos 98.237 2,8% 2,7% 93.807 35 a 39 anos 116.779 3,4% 3,3% 116.053 30 a 34 anos 142.484 4,1% 4,1% 143.036 25 a 29 anos 161.251 4,6% 4,7% 162.153 20 a 24 anos 170.186 4,9% 4,9% 169.446 15 a 19 anos 182.739 5,2% 5,2% 182.055 10 a 14 anos 203.204 5,8% 5,7% 197.225 5 a 9 anos 195.961 5,6% 5,4% 188.308 0 a 4 anos 188.508 5,4% 5,2% 182.807 Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2010 A distribuição por sexo da população idosa no Amazonas não difere da brasileira, bem como dos padrões internacionais. No entanto, registrou uma predominância maior de mulheres quando comparado com o Brasil. Em 2000, do total de idosos do estado, cerca de 49% eram homens e 51% mulheres. Na população brasileira, no mesmo período, 45% dos idosos eram do sexo masculino e 55% do sexo feminino. (IDEM) Segundo dados do IBGE - 2010, neste mesmo período de realização do Censo Demográfico, esta proporção é menor que a observada para a média da população brasileira (8,6%) onde, 45% dos idosos eram do sexo masculino e 55% do sexo feminino e inferior à média regional (5,5%). De forma semelhante ao que vem ocorrendo na população brasileira em geral, também a população idosa do Estado do Amazonas cresceu nas últimas décadas em ritmo mais acelerado do que a dos demais grupos etários, o que indica envelhecimento de sua população. O envelhecimento populacional caracteriza-se pelo aumento relativo da população com mais de 60, em detrimento da de grupos mais jovens, o que pode ser comprovado observando a pirâmide etária a seguir: Gráfico 04: Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade no Estado do Amazonas Fonte: IBGE 2010. Por sua vez, a capital de Manaus também vem apresentando um crescimento populacional, e apesar de não muito expressivo, o número de idosos vem também apresentando um crescimento progressivo. Pesquisa realizada por Camarano (2007) mostrou que grande parte desses idosos são migrantes que vieram em busca de trabalho ou melhores condições de vida. O percentual de idosos na região norte ainda é um dos mais baixos, e em Manaus, nos dados do IBGE de 2000, apresentou uma expectativa de aumento de vida ao nascer de quase 02 anos, passando assim de 65,87 para 67,65. Esses dados podem ser comparados na tabela piramidal em relação ao crescimento da população de idosos na capital apresentados pelo IBGE em 2010. Gráfico 05: Distribuição Manaus (AM) - da população por sexo, segundo os grupos de idade Fonte: IBGE 2010 A PESQUISA A pesquisa foi de caráter quantiqualitativo, onde se buscou um acompanhamento efetivo junto aos idosos da instituição, com o objetivo de identificar o que os levou à institucionalização. Os idosos considerados nesta pesquisa são aqueles que se dispusera a participar da mesma e/ou os indicados pela direção da Fundação Dr. Thomas. A população na FDT perfaz um total de 116 (cento e dezesseis) idosos institucionalizados, dos quais 78 é o número referente aos homens e 38 referente ao número de mulheres. Sendo num universo de 70 idosos que os considerados aptos e que participaram da pesquisa (idosos autônomos e mesmo com certa limitação, que não comprometeria a pesquisa), deste retiramos uma amostra de 30 (trinta) idosos, dos quais 18 (dezoito) são do sexo masculino e 12 (doze) do sexo feminino, cuja faixa etária teve uma variação entre 60 a 87 anos. RESULTADO DA PESQUISA Os resultados obtidos foram tabulados, seguindo a ordem em que estavam apresentados nos formulários, e representados em forma de tabelas para melhor análise do perfil dos idosos entrevistados. Conforme o exposto, segue a seguir os resultados obtidos pela pesquisa. TABELA 07 – Distribuição dos Idosos Segundo o Sexo Valores Valores Absoluto % Mulheres (M) Absoluto % % Homens (H) (M+H) SEXO Total 12 40% 18 60% 12 100% 12 40,0% 18 60% 18 100% TOTAL Fonte: Formulário aplicado in lócus – 2011 Foi detectado através da pesquisa que 60% dos entrevistados eram homens, perfazendo um total de 18 idosos, e que 40% dos entrevistados eram mulheres, o equivalente a 12 idosas. Para um melhor entendimento em relação aos dados obtidos no quadro acima, segundo o relatório divulgado pela PNAD (2002), mostravam que meados do século 20, conforme a contagem populacional da época havia mais homens do que mulheres, principalmente por conta do maior número de migrantes masculinos que vinham para a região, principalmente em busca de trabalho. Outro fator, que pode ter dado sua contribuição em relação de haver mais homens do que mulheres vivendo em instituições fora decorrente do período áureo da borracha e o fascínio que o estado exerceu sobre os habitantes dos demais estados das regiões brasileiras, que vieram a princípio sozinhos, em busca de trabalho. (DIAS, 2007) Apesar de atualmente está ocorrendo a feminilização do envelhecimento, conforme Veras (2003), como elas vivem mais que os homens, as mulheres tem mais tendência a viverem sozinhas, os dados coletados na pesquisa vêm contradizendo o que outros estudiosos escreveram, uma vez que concordando com Camarano (2007) quando descreve que ―essa predominância masculina é uma característica importante, pois ela diverge dos achados em várias pesquisas nacionais e internacionais, que têm encontrado um número maior de mulheres residentes nesse tipo de instituição‖. (p 51) TABELA 08 – Distribuição dos Idosos Segundo a Faixa Etária Valores FAIXA ETÁRIA Absoluto Valores % Absoluto % Total % Mulheres (M) Homens (H) (M+H) 01 3,3% 01 3,3% 03 6,6% 05 16,6% 08 26,6% 12 43,2% 07 20,2% 09 30,0% 08 50,2% 12 40,1% 18 59,9% 30 100% > de 81 anos 71 – 80 anos 60 – 70 anos TOTAL Fonte: Formulário aplicado in lócus - 2011 O fator idade foi fundamental para a pesquisa, uma vez que um dos critérios para a seleção dos entrevistados foi o de que eles tivessem 60 anos ou mais, conforme a idade considerada como idoso e estipulada pela PNI e pelo Estatuto do Idoso. Dos entrevistados 15 idosos, o correspondente a 50% possuíam a idade estipulada na pesquisa, por outro lado, 03 idosos que correspondem a 10% dos entrevistados possuem idade acima de 81 anos, o que vem comprovar a longevidade também presente entre os institucionalizados. Segundo Veras (2003), o resultado apresentado vem condizente ao que a ciência durante muitos anos investiu grandes esforços no que diz respeito ao prolongamento da vida dos indivíduos, e isso foi alcançado somente no último século. Já a OMS (2002), considera o envelhecimento populacional como uma história de sucesso das Políticas de Saúde Pública e Sociais, portanto uma das maiores conquistas e triunfo da humanidade no último século. Essas informações podem estar elucidando o que foi exposto na tabela acima, uma vez que para Veras (2003) houve uma diminuição das taxas de fecundidade e mortalidade, ocorrendo com isso uma acentuada redução de mortalidade, particularmente nos primeiros anos de vida. Em complemento ao que foi explicado, pode-se observar que a região norte, segundo dados do IBGE (2010), ainda é considerada uma região de pessoas novas, e que o envelhecimento de sua população ainda é tímido em relação às outras regiões do país, principalmente o sul e o sudeste. Mas mesmo com todas essas informações, ainda se tornam visualizadas na pesquisa pessoas idosas acima de 70 anos, o que superam as informações feitas pelo IBGE (2000), onde descrevia que a expectativa de vida para a região que era de 67 anos. Conforme a tabela abaixo nota-se que 60% dos entrevistados vieram de outros estados do Brasil, e que 40% são nascidos no Estado do Amazonas. TABELA 09 – DIstribuição dos idosos segundo a naturalidade Valores NATURALIDADE Absoluto Valores % Absoluto Homens (H) Amazonas % Total Mulheres (M) % (H+M) 05 16,7% 07 23,3% 12 40,0% 03 10,0% 02 6,7% 05 16,7% 05 16,7% 02 6,7% 07 23,4% Ceará 04 13,3% 01 3,3% 05 16,6% Paraná 01 3,3% - - 01 3,3% TOTAL 18 60,0% 12 Pará Maranhão 40,0% 30 100% Fonte: Formulário aplicado in lócus – 2011 Esses dados inicialmente apresentados correspondem à política de desenvolvimento do Estado do Amazonas que na década de 60 demandou bastante mão-de-obra, surgindo dessa forma, o fluxo migratório tanto do interior do estado quanto de outras regiões, principalmente do Norte e Nordeste. (SOMBRA, 1994) Segundo Loreiro (2002), a população da Região Norte passou por um crescimento muito acentuado, pois como havia oportunidade de trabalho na região, muitos nordestinos fugindo da seca, e migrantes de outras regiões do país começaram a procurar trabalho nessa região, primeiramente por conta da exploração das seringueiras, e depois por conta da implantação da ZFM, que vieram em busca de melhores condições sócio-econômicas. Bentes (1986, p.221) esclarece que: As novas atividades estimularam as populações do interior a buscar, nessa cidade, a solução para os seus problemas de renda e emprego, acelerandose sobremaneira o processo migratório interior-capital, o que fez a população de Manaus se elevar de 254 mil habitantes em 1967, para 634.756 habitantes em 1980. (BENTES 1986, p 221) Esta autora afirma que o Pará, o Ceará e o Acre foram grandes fornecedores de mão-de-obra, o que de certa forma passa a comprovar a pesquisa, uma vez que foram identificados idosos institucionalizados procedentes de outros estados do Brasil, e em destaque os que vieram da própria Região Norte e do Nordeste. Em relação à distribuição dos idosos segundo o nível de escolaridade dos entrevistados, a tabela vem mostrando que 23.3% dos idosos entrevistados são considerados não alfabetizados, sendo que deste percentual, 04 são homens e 03 são mulheres; o mesmo resultado também correspondeu aos idosos que são alfabetizados, e por outro em relação ao ensino médio completo, apenas 01 idoso respondeu que possuía o mesmo. Esses números se tornaram relevantes serem destacados, por serem dados importantes, uma vez que em relação ao grau de escolaridade dos idosos entrevistado Berzins (2003) sinaliza que apesar do avanço do crescimento que houve no percentual de idosos alfabetizados no país, em 2000 ainda existiam, no Brasil, 5,1 milhões de idosos analfabetos e 64,8% declararam que sabiam ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Segundo a autora: ―Se compararmos com o índice nacional de alfabetização, que é de 87,2%, podemos observar o quanto os idosos estão em desvantagem‖ (idem, p.31) TABELA 10 – Distribuição dos Idosos Segundo a Escolaridade Valores ESCOLARIDADE Valores Absoluto % Absoluto Homens (H) % Total Mulheres (M) % (H+M) 04 13,4% 03 10,0% 07 23,3% 04 13,4% 03 10,0% 07 23,3% 06 20,0% 04 13,4% 10 33,4% 02 6,6% 02 6,6% 04 13,4% 01 3,3% - - 01 3,3% 01 3,3% - - 01 3,3% 18 60,0% 12 30 100% Não Alfabetizado Alfabetizado E F Incompleto E F Completo E M Incompleto E M Completo 40,0% TOTAL Fonte: Formulário aplicado in lócus – 2011 A tabela acima vem comprovar que Isso foi ocasionado por conta de que até o início dos anos 60, o acesso ao ensino educacional era restrito à classe social mais alta e em particular aos homens deixavam de lado as mulheres, pois à elas era reservado o papel de mãe e dona de casa, e responsáveis à educação dos filhos. As pesquisas apontam que proporcionalmente, os homens são mais alfabetizados do que as mulheres, devido principalmente ao contexto social da época em que os mesmos se encontravam, onde normalmente era reservado às mulheres o papel de serem donas de casa, ficando as mesmas alheias à vida produtiva social. (BERZINS, 2003). Ainda sobre essa questão, Bentes (2005) diz que para compreender o quadro educacional aqui relacionado, destaca-se que o grau de instrução do chefe de família repercute sobremaneira no que tange as oportunidades de auferir melhores rendimentos e condições de vida para si e sua família. Por outro lado, a Síntese de Indicadores Sociais apresentada pelo IBGE (2008), revelou que a proporção de idosos com 60 anos ou mais sem instrução ou com pelo menos de 01 ano de estudo, em 2007 era de 32,2% do país; na Região Norte o percentual relativo nesse mesmo período, era de 45,9% dos idosos. Quando perguntamos sobre o estado civil dos entrevistados, os resultados obtidos podem ser comprovados na tabela abaixo. TABELA 11 – Distribuição dos Idosos Segundo o Estado Civil Valores ESTADO CIVIL Absoluto Valores % Absoluto Homens (H) % Total Mulheres (M) Solteiro 08 26,6% 05 Casado 02 6,6% - 06 20,0% 04 02 6,6% 18 59,8% 16,7% % (H+M) 13 43,3% 02 6,6% 13,5% 10 33,5% 03 10,0% 05 16,6% 12 40,2% 30 - Viúvo Outras Situações (Separado) TOTAL Fonte: Formulário aplicado in lócus – 2011 100% Destacamos que os números referentes aos idosos solteiros, 43,3% entre a porcentagem indicada, 08 são homens e 05 são mulheres; já em relação a 33,5% se declararem viúvos 06 são homens e que são 04 mulheres. Estes dados se tornaram relevante à pesquisa, uma vez que essas pessoas ao procurar por uma instituição é por conta de não terem constituído família ou mesmo pelo estado de viuvez em que se encontram. Conforme Berquó (1996), em geral as mulheres se casam mais cedo, entre 15-24 anos. Enquanto que entre os homens, é na faixa dos 20-29 anos é que ocorre a maio parte de uniões conjugais. Até os 29 anos 30% das mulheres já estão casadas; e entre os homens a proporção é de 20%. Em contraponto ao que expos o autor anteriormente citado, dados do IBGE (2007) aponta que entre os indivíduos de 60 anos ou mais as taxas de nupcialidade legal é de 3,3% para os homens e de 0,8% entre as mulheres. Confirmando a tendência de que os homens casam mais que as mulheres, mesmo quando se tornam viúvos ou se divorciam. Ainda sobre os dados apresentados, Camarano (2007) completa dizendo que, além do fato de que a vinda de outros estados seja tipicamente masculina, é bastante provável que esses homens também não tenham se casado e/ou tido filhos, ou tenham deixado suas famílias por conta da migração. Ou seja, não constituíram vínculos familiares. Sobre a questão relacionada ao mercado de trabalho na tabela abaixo detectamos na pesquisa que, a profissão doméstica atingiu 33,3% o que vem a significar que essa profissão, geralmente autônoma, foi decorrente do grau de escolaridade dos entrevistados. Verificamos ainda que outras profissões apontadas perfazem um total de 36,5% . Sobre essa questão, parafraseando Camarano (2001), duas variáveis podem influenciar a participação das pessoas no mercado de trabalho: a idade e a educação, sendo que a primeira é revelada como um efeito negativo e a última, positivo. O IBGE (2000) aponta que, apesar da supremacia numérica, as mulheres ainda enfrentam problemas quando o assunto é renda e trabalho; na média elas ganham menos que os homens, e estão em menor número no mercado de trabalho. São as variações na taxa de participação feminina idosa, representando ser menor do que as verificadas para a correspondente masculina. (CAMARANO, 2001) TABELA 12 – Distribuição dos Idosos Segundo a Profissão Valores PROFISSÃO Valores Absoluto % Absoluto Homens (H) Doméstica Agricultor - - % Total Mulheres (M) 10 33,6% % (H+M) 10 33,6% - 07 23,3% 3,3% 02 6,6% 07 23,3% - 01 3,3% 01 Garçon 01 3,3% - - 01 3,3% Alfaite 02 6,6% - - 02 6,6% Sapateiro 03 10,0% - - 03 10,0% Lavadeira - 3,3% 01 3,3% Jardineiro 04 13,3% - - 04 13,3% TOTAL 18 59,8% 12 Funcionário Público - Fonte: Formulário aplicado in lócus - 2011 01 40,2% 30 100% Sobre essa questão Dias (2007) diz que, os trabalhadores das mais diversas categorias, foram atraídos à capital esperando uma oportunidade para melhorar de vida. Destaca também que, muitos deles já trazem uma tradição de vida, e passam a integrar-se a uma população já presente na cidade, que se dedicam às mais variadas atividades de trabalho, porém, ficam também sujeitos a pertencer a um contingente muito grande de miseráveis excluídos do processo de trabalho. Ao se descrever as diferentes profissões apresentadas pela pesquisa, em relação aos idosos institucionalizados, Teixeira (2008) complementa da seguinte maneira Constituindo o envelhecimento do trabalhador, enquanto tempo de vida, objeto e controle social e de fonte de experiências negativas com essa perspectiva de tempo, que associado às desvalorizações sociais (em função do valor econômico dos indivíduos), à pobreza e às restrições físicas e sociais, configuram parte dos problemas que essa classe enfrenta na velhice. (p 57) Sobre essa questão, ressalta-se que o aumento populacional da cidade de Manaus aconteceu de uma forma desordenada, por conta da implantação da ZFM, onde os ribeirinhos, os agricultores, os extrativistas passaram a formar os trabalhadores que iriam ser absorvidos pela mesma. Em decorrência disso, não havia uma preocupação de uma mão de obra qualificada, ―porém os postos de trabalhos criados não foram suficientes para incluir a demanda de trabalhadores e as conseqüências mais visíveis foram o desemprego e o crescimento do setor informal‖. (SCHERER 2005, p 41), isso explica os resultados expostos no quadro anterior. Quando questionados sobre terem filhos, as respostas dadas pelos mesmos podem ser observadas na tabela abaixo: TABELA 13 – Distribuição dos Idosos Segundo o Numero de Filhos NUMERO FILHOS DE Valores Absoluto Valores % Absoluto Homens (H) % Total Mulheres (M) % (H+M) Com Filho 03 10,0% 07 23,4% 10 33,4% Sem Filho 15 50,0% 05 16,6% 07 66,6% TOTAL 18 60,0% 12 40,0% 30 100% Fonte: Formulário aplicado in lócus – 2011 Através dos dados coletados durante a pesquisa, em relação a essa questão, detectamos que 66,6% dos entrevistados informaram não possuir filhos; enquanto que 33,4% dos entrevistados, num total de 10 idosos, possuem filhos, a relevância aos dados exposto é em relação de que, essa questão de não possuir filhos, pode estar relacionado ao fato por não terem se casado e não formaram família. Segundo a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB (2000), a média de pessoas por família teve uma baixa de 3,9 % e o número de filhos para 2,9%. Essa mudança no tamanho da família teve várias causas, entre as quais, a de que estão nascendo menos crianças e esses dados são comprovados pelo IBGE (2010). Capitanini e Neri (2004), em um estudo realizado sobre a solidão, evidenciaram como resultado que entre os idosos solitários, estes passam a possuir redes de sociais menores e menos satisfatória, e menos atividade e engajamento. (p. 72) Conforme a tabela abaixo desvelou-se que 50,0% dos idosos entrevistados não possuíam aposentadoria, destes 08 são correspondentes os homens e 07 as mulheres, o que em parte vem justificar o resultado obtido na tabela 06, onde a maioria dos entrevistados trabalhavam em profissões informais portanto sem terem contribuído com a previdência e sem poder se auto sustentar, vivem hoje em busca da solidariedade da sociedade, e sem outra opção buscam abrigo nas instituições. TABELA 14 – Distribuição dos Idosos Segundo sua Situação Econômica Situação Econômica Valores Absoluto Valores % Absoluto Homens (H) % Total Mulheres (M) % (H+M) Aposentado (a) 07 23,4% 03 10,0% 10 33,4% Sem Aposentadoria 08 26,6% 07 23,4% 15 50,0% BPC 03 10,0% 02 6,6% 05 16,6 TOTAL 18 60,0% 12 40,0% 30 100% Fonte: Formulário aplicado in lócus – 2011 A essa situação exposta, Dias (2005) descreve que o número de trabalhadores, que trabalham ou trabalharam sem uma proteção trabalhista, significa estar exposto a uma maior vulnerabilidade aos riscos das atividades desenvolvidas; e ao mesmo tempo se não possuir uma cobertura previdenciária há o predomínio do trabalho precário e desregularizado, onde ―a probabilidade dos empregadores explorarem a mão-de-obra sem prestar contas a ninguém, impondo as condições do trabalho e fragilizando ainda mais o trabalhador quanto ao usufruto de seus direitos trabalhistas e sociais‖. (p 56) Para uma melhor compreensão a respeito dos resultados obtidos na pesquisa, o que se pode observar no referido quadro, conforme o que relata Salgado (1985), é que na maioria dos países, as aposentadorias são garantidas por um fundo econômico, constituído pelas contribuições daqueles que estão na ativa. Já em outros, elas são mantidas por impostos ou por uma combinação das duas formas. No Brasil, o programa de seguridade social é muito escasso em recurso, e restrito em tamanho, duração e cobertura (HADDAD, 1993). Ou conforme entendimento, as pessoas idosas que não tiveram condições de poupar alguma economia no decorrer de suas vidas produtivas, estes estão atualmente em uma situação mais preocupante. Verificou-se ainda que entre os 30 entrevistados somente 05 idosos, deste número 03 são referentes aos homens enquanto que 02 são mulheres, possuem o BPC, onde segundo o Estatuto do Idoso em seu Art. 34 dispõe que ―aos idosos, a partir de 65 anos, e que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 01 salário mínimo, nos termos da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS‖. TABELA 15 – Distribuição dos Idosos Segundo o Valor de Sua Renda Mensal VALOR DA Valores RENDA MENSAL Absoluto Valores % Absoluto Homens (H) % Total Mulheres (M) % (H+M) 01 SM 07 23,4% 03 10,0% 10 33,4% 02 A 03 SM 02 6,6% 01 3,3% 03 9,9% Até 04 SM 01 3,3% 01 3,3% 02 6,6 Sem Renda 08 26,7% 07 23,4% 15 50,1% TOTAL 18 60,0% 12 40,0% 30 Fonte: Formulário aplicado in lócus - 2011 100% Em relação valor de sua renda mensal, de acordo com os resultados apresentados na tabela abaixo, observamos que 33,3% dos entrevistados, o equivalente a 10 dos 30 idosos entrevistados, possuem uma renda mensal de 01 salário mínimo, conforme pode ser verificado na tabela acima. Conforme demonstrou a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE foi constatado que em 2006, os idosos representavam 5,4% da população que vivia com um salário mínimo, e ainda hoje se observa uma grande maioria dos idosos continuam vivendo com 01 salário mínimo, provenientes da Previdência Social e do BPC; passando dessa forma a serem caracterizados como idosos pobres e precarizados. Menezes (2006) ressalva que, a renda insuficiente é um dos principais problemas enfrentados pelos idosos, o que lhes impede de aproveitar essa etapa da vida com certo bem-estar e os condena, muitas vezes, a viver na pobreza. Por questões de sobrevivência muitos idosos são obrigados a continuarem ou retornarem ao mercado de trabalho. Vale também destacar, em relação aos resultados obtidos que, o elevado número de 15 idosos entrevistados é correspondente a 50% do total delimitado na pesquisa. Dessa forma Bentes (2005) diz que ao se constituírem em metade dos entrevistados e não possuindo nenhum rendimento, mostra uma flagrante redução das possibilidades de inclusão social dos mesmos. Conforme questionado sobre a renda mensal da família do idoso, na tabela abaixo descrevemos que 60% dos familiares destes idosos vivem com um salário mínimo, sendo que deste percentual apresentado tem como referência a família dos 11 idosos institucionalizados e que 07 são referentes as famílias das idosas institucionalizas, o que equivalente à família dos 30 idosos entrevistados. TABELA 16 – Distribuição dos Idosos Segundo o Valor da Renda Mensal da sua Família VALOR DA Valores RENDA FAMILIAR Absoluto DO IDOSO Valores % Absoluto Homens (H) % Total Mulheres (M) % (H+M) 01 SM 11 36,7% 07 23,3% 18 60,0% 02 A 03 SM 06 20,0% 04 13,4% 10 33,4% Até 04 SM 01 3,3% 01 3,3% 02 6,6 TOTAL 18 60,0% 12 40,0% 30 100% Fonte: Formulário aplicado in lócus - 2011 Estudos comprovam que os idosos ainda contribuem em ajudar seus familiares, pois conforme Alcântara (2009) complementando o que foi exposto descreve que Outro aspecto não muito raro que se configura atualmente é o papel do velho como arrimo de família. Sua aposentadoria ou pensão é uma renda fixa e de fundamental importância na redução do grau de pobreza, pois assegura o sustento da casa e dos filhos adultos, principalmente quando sobrecarregados por desemprego, crise conjugal e doenças. (p 26) Este indicativo na amostra apresenta em que condições sócio-econômicas se encontram as famílias que possuem idosos institucionalizados; o valor recebido por seus familiares é extremamente baixo, o que pode ter acarretado uma das principais causas de institucionalização dos idosos; muitos familiares não conseguem sustentar o seu idoso, pois além dele, outros membros da família dependem dessa renda para garantia do mínimo necessário para sobreviver. Quando questionados, durante a pesquisa, sobre com quem morava antes de se institucionalizarem, detectamos através da tabela abaixo as seguintes respostas: TABELA 17 – Quadro Distribuição dos idosos entrevistados segundo a antiga moradia antes de se institucionalizar Valores Valores Absoluto ANTIGA MORADIA % Homens (H) Absoluto % Total Mulheres (M) % (H+M) Sozinho 05 16,7% 02 6,7% 07 23,4% Família 07 23,3% 03 10,0% 10 33,3% Patrões 01 3,3% 07 23,3% 08 26,6% Amigos 05 16,7% - 05 16,7% TOTAL 18 60,0% 12 40,0% 30 100% Fonte: Formulário aplicado in lócus – 2011 Destacamos que 10 entrevistados, o equivalente a 33,3% moravam com seus familiares, sendo que deste percentual apresentado, 07 são os homens e 03 são as mulheres. Utilizando Zimerman (2000) sobre esta questão e confirmando ao que foi exposto, a família é importante em todas as fases da vida, e que também na terceira idade, ela passa a ser de fundamental importância. E Debert (2004) em complemento a isso diz que, a importância das relações familiares é fundamental na assistência, no bem-estar e nas expectativas em relação ao processo de envelhecimento dessas pessoas. Por sua vez Moragas (1997) complementa da seguinte forma: A família como grupo em que se originam as necessidades de seus membros ainda não foi reconhecida pelas organizações assistenciais. Quando um idoso tem necessidade, as organizações burocráticas o atendem como sujeito individual, embora se incluam nos estudos suas características familiares. (p 137) O que foi exposto através dos três estudiosos anteriormente citados vem demonstrar que a família é de fundamental importância para a pessoa idosa, porém quando a mesma não pode suprir as necessidades de seus familiares idosos, estes quase sempre vão morar em instituições; a necessidade de institucionalizá-los tornasse decorrente do próprio processo capitalista, que obriga os membros da família a entrarem no mercado de trabalho, e com isso ficam impossibilitados de cuidar de seus idosos. Nas sociedades pré-industriais, as famílias se caracterizavam por sua extensão (era comum o convívio de três a quatro gerações sob o mesmo teto). O idoso, como membro mais velho da família, desfrutava de prestígio e status elevados em algumas sociedades. A industrialização e a urbanização trouxeram como conseqüências, mudanças sociais que afetaram a estrutura da família, originando modificações dos padrões e valores culturais. Complementando o exposto referenciamos Beauvoir (1970, p. 147): Na sociedade antiga, composta essencialmente de camponeses e artesões, havia uma exata coincidência entre profissão e existência; o trabalhador vivia no local de trabalho; as tarefas produtivas e as domésticas confundiam-se (...) quando se tornava inteiramente incapaz, o velho vivia com a família, que assegurava sua subsistência. Por outro lado segundo dados do IBGE (2000), e Camarano (2006) o fato de existir idosos morando sozinhos é uma revelação de que esta é uma das novas características do envelhecimento, e que em 10 anos aumentou o número de idosos que passaram a residir sozinhos, revelou ainda que a maioria constituída pelo sexo feminino, apesar destes dados não conferirem com a amostra. A partir daqui, no segundo capítulo abordaremos a questão dos direitos direcionados aos idosos, e as políticas que os amparam sobre todas as informações expostas anteriormente. CAPÍTULO II A QUESTÃO DOS DIREITOS DOS IDOSOS E SUA EFETIVAÇÃO A legislação tem procurado defender os velhos contra a dureza e o descaso de sua progenitura, substituindo uma situação de fato por uma situação de direito. (BEAUVOIR, 1970) No presente capítulo trataremos sobre a questão dos direitos aos idosos, principalmente em relação a sua real efetivação. No Brasil no que tange as normas constitucionais em geral, não permitem o alcance dos direitos, onde a grande parte da população ainda se encontra vulnerabilizada e privada dos seus direitos fundamentais. É preciso ir além dos direitos legais, como reconhecimento e a participação da família, da sociedade e do Estado que possa obter resultados positivos no bem estar social do idoso. Dessa forma nesse capitulo, será analisada a questão dos direitos das pessoas idosas antes e pós Constituição de 1988, assim como, as entidades, leis e programas que tratam do cuidado com essa população em Manaus. 2.1 – As políticas voltadas ao idoso no Brasil e no Amazonas antes de 88 No período colonial, a questão relacionada ao cuidado com a pessoa envelhecida geralmente era delegado à caridade cristã, através da igreja ou de instituições assistenciais representadas pelas Santas Casas de Misericórdia (como exemplo a de Santos e Rio de Janeiro) conforme estudo de Galvão (2003). Nesse período o idoso era visto da mesma forma que os mendigos e loucos, como aconteciam na Europa. Os mendigos e os loucos eram considerados incapacitados para o trabalho e os idosos ainda não constituíam uma categoria social, sujeitos de direitos per se. (FOCAULT, 2007) Ao longo do século XIX, durante este período começou a diferenciar e a categorizar as pessoas que necessitava de cuidados e tratamentos direcionados. Onde os mendigos eram considerados os pobres incapazes de achar trabalho, e dessa forma os idosos eram assim também vistos; já os vadios eram considerados um caso de polícia. Em relação à legislação, identificamos o Decreto Imperial de 1884 que passou a regulamentar o funcionamento do Asilo de Mendicidade, que foi inaugurado em 1879 por D. Pedro II. O referido Decreto passou a definir quatro classes de mendigos: os abandonados e ociosos menores de 14 anos; os indigentes, os velhos e os incapazes; os que se apresentavam espontaneamente, provando indigência e os alienados que não podiam ser recebidos no Hospício D. Pedro II. (GROISSMAN, 1999). Ainda segundo este autor, as ações de classificação, controle e repressão da população de rua continuaram e se intensificaram com o advento da República, período esse em que a velhice indigente passou a ser diferenciada do mendigo, passando assim a ser identificada como velhice desamparada, e que passa a se tornar dependente da assistência. Para Rodrigues (2001); Camarano e Pasinato (2004) no século XX durante as primeiras décadas, surgiram medidas de provimento de renda a serem implementadas para a população idosa que havia trabalhado; porém outras questões relativas a essa população em questão, só começaram a aflorar no discurso nacional depois de 1960, desencadeada pela mobilização da sociedade civil, de associações científicas e alguns grupos políticos. Durante esse mesmo período no Rio de Janeiro, destacamos a criação em 1961 da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG); e em 1963 em São Paulo a atuação do Serviço Social do Comércio (SESC) como precursor das ações de assistência social não estatal e não asilar com atendimento para a pessoa idosa e que depois se espalhou pelo resto do país. Camarano e Pasinato (2004) a este respeito apontam que a mais antiga associação direcionada ao atendimento de pessoas idosas e, que ainda, continua atuante está no estado do Ceará, que foi fundada em 1977 com o nome de Associação Cearense Pró Idosos (ACEPI). Rodrigues (2001) esclarece que na década de 70, alguns avanços podem ser considerados também como pioneiros em relação ao que tange o bem-estar das pessoas idosas, aqui destacados através do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS); com a criação em 1971 do FUNRURAL ao qual estabelecia independentemente da contribuição, um benefício mínimo aos trabalhadores da zona rural. Continua explicitando que em 1974, através da Lei n˚6179/74, cria-se a Renda Vitalícia Mensal para aqueles idosos cuja situação fosse de insuficiência de renda; em 1975 a ação do Programa de Assistência ao Idoso (PAI), uma iniciativa do INPS, que foi pioneiro em sua ação e consistia em uma organização e implementação de grupos de convivência para idosos previdenciários. Com a reforma da previdência e o surgimento do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS) o PAI passou a ser direcionado pela Legião Brasileira de Assistência (LBA) responsável para atendimento a pessoa idosa em todo o território nacional, cuja ação era dada através de dois níveis: um direto atuando como centros sociais, de atendimento, distribuição de alimentos e material como órteses, próteses, documentos, entre outros; e indireto através de convênios com asilos para a concessão de um valor para manutenção do idoso asilado. A LBA ainda atuava como um órgão que executava a política de assistência social para o referido público alvo nesse período até ser extinta em 1991, por conta da nova Constituição de 1988. Rodrigues (2001) fala que, após a extinção da LBA, outros programas surgiram reestruturados dando origem ao Programa de Apoio à Pessoa Idosa (PAPI), tais como: o Projeto CONVIVER; o Programa Nacional de Voluntariado da LBA/PRONAV (1989) e o Programa Minha Gente (1990). Como pode ser observado, segundo este autor, antes da CF/88 o idoso era visto sob a ótica da vulnerabilidade e dependência, pós 88 essa visão começou a ser alterada, motivada por mobilizações internacionais e nacionais. Para Christophe (2009), a inclusão dos idosos como discussão na agenda da política brasileira sofreu influencias, ocasionados por dois momentos de manifestações, onde de um lado estava a crescente pressão da sociedade civil sobre o aumento populacional de pessoas idosas, principalmente a partir da década de 70; e por outro lado a influência sofrida pela agenda internacional de discussão sobre o envelhecimento, desencadeado em Teerã, e que ocasionou a realização da Assembléia Mundial de Direitos Humanos; dando origem à Primeira Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento, em Viena em 1982, e desencadeando ainda no ano de 2002 a Segunda Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento, em Madrid. O que foi exposto acima poderá ser mais bem visualizado no diagrama, onde o mesmo foi construído por Camarano e Pasinato (2004), onde elas detalharam cada um desses momentos fazendo uma correspondência com a política brasileira: Diagrama 1: Agenda Internacional sobre o Envelhecimento/Marco Regulatório sobre o Cuidado com a População Idosa no Brasil Fonte : Camarano e Pasinato (2004); Ministério da Justiça: Banco de Leis de Idosos É interessante quando se passa a ter um conhecimento sobre de que forma é direcionado o tratamento às determinadas questões. No diagrama acima se pode observar que desde 1976, já ocorria certa preocupação sobre cuidados às pessoas idosas, porém a dificuldade em fazer vigorar esses cuidados e direitos é que atrapalham seu desenvolvimento. Durante a II Assembléia Geral sobre o Envelhecimento em Madri no ano de 2002, evento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil tornouse um dos signatários do Plano de Ação para o Envelhecimento, conhecido também como Plano de Madri, que tem como objetivo básico servir como orientação à adoção de medidas normativas sobre a questão do envelhecimento nos países que também se tornaram assinantes, em exercer influências políticas e programas nacionais para a população em questão, em especial aos países em desenvolvimento. Abaixo segue a mensagem feita pelo Secretário-Geral da ONU, por ocasião ao Dia Internacional das Pessoas Idosas, e referenciando a II Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento, onde foi aprovado o Plano de Ação Internacional, o mesmo pede à comunidade internacional que aborde plenamente a relação entre pessoas idosas em desenvolvimento e desafia as idéias convencionais que a sociedade tem da velhice. O documento afirma claramente que a velhice não é um problema, mas sim uma conquista, e que não se trata meramente de uma questão de segurança social e de bem-estar, mas sim de desenvolvimento global e de políticas econômicas. E, pela primeira vez, os Governos concordaram em que é necessário integrar a velhice noutros quadros de desenvolvimento social, econômico e de direitos humanos. (Centro de Informação das Nações Unidas - 01/10/ 2002) O que foi exposto acima também pode ser respaldado através do que os representantes dos governos reunidos decidiram e que ficou registrado no seguinte principio do Artigo 1º Adotar um Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento para responder às oportunidades que feitos pelo envelhecimento da população no século XXI e para promover o desenvolvimento de uma sociedade para todas as idades. No marco desse Plano de Ação, resolvemos adotar medidas em todos os níveis, nacionais e internacionais, em três direções prioritárias: idosos e desenvolvimento, promoção da saúde e bem-estar na velhice e, ainda, criação de um ambiente propício e favorável. (ONU, 2002 p.19) Este plano, ainda faz uma série de medidas para coordenar através de esforços multissetoriais, para que os idosos em questão continuem a viver em família e comunidade, mantendo dessa forma os seus vínculos afetivos e de amizade; prevê também estabelecer uma relação de acessibilidade às residências e serviços de assistência social, primando como objetivo o de se conseguir uma integração em relação aos modos de vida, cuidados de longa duração e em possibilidades de uma interação social. O parágrafo 98 do referido Plano tem como objetivo: ―promover o envelhecimento na comunidade em que se viveu, levando devidamente em conta as preferências pessoais e as possibilidades no tocante à moradia acessível para idosos‖. E cujas medidas deverão: a) Promover o desenvolvimento de comunidades em que se integrem as diversas idades; b) Coordenar os esforços multissetoriais que se realizem para apoiar a manutenção da integração das pessoas idosas com suas famílias e comunidades; c) Estimular investimentos em infra-estruturas locais como as de transporte, saúde, saneamento e segurança, concebidos em apoio de comunidades multigeracionais; d) Instaurar políticas e apoiar iniciativas destinadas a facilitar o acesso de idosos a bens e serviços; e) Promover a distribuição eqüitativa de moradias sociais para idosos; f) Vincular a moradia acessível a serviços de proteção social para conseguir a integração das condições de alojamento, de assistência em longo prazo e das oportunidades de interação social; g) Promover o projeto de moradias acessíveis e adaptadas à idade de seus ocupantes e acessíveis, e garantir a facilidade de acesso a edifícios e locais públicos; h) Proporcionar aos idosos, a suas famílias e aos que deles cuidam, informação e assessoramento, de modo oportuno e eficaz, sobre as opções disponíveis em matéria de moradia; i) Garantir que nas moradias destinadas a idosos se levem devidamente em conta suas necessidades assistenciais e culturais; j) Promover a crescente variedade de opções existentes em matéria de moradia para idosos. (ONU, 2002 p. 67-68). Algumas mudanças significativas quanto ao desenvolvimento de ações direcionadas às pessoas idosas, tem como prerrogativa a ampliação da discussão sobre as Políticas Sociais, entendidas como direitos de cidadania e não apenas como benefícios, ampliam-se a questão além do âmbito do Estado, atingindo toda a sociedade, visando através de espaços sociais à redefinição significativa e a melhoria na dignidade e nas condições da qualidade de vida dos idosos, através de direitos básicos que devem ser concretizados a partir de Políticas Sociais. Para se discutir a questão, torna-se necessário analisar as dificuldades e os avanços no processo de constituição da realidade sociopolítica que permeia a questão do envelhecimento populacional, com o objetivo de criar mecanismos de proteção e inclusão social desse segmento. As projeções da ONU (2002) apontam que, através de uma estimativa que se continuar no ritmo acelerado que se processa o envelhecimento mundial, para o ano de 2050 pela primeira vez na história da humanidade, o número de pessoas idosas será maior que o de crianças abaixo dos 14 anos. Dos quais cerca de um quinto da população mundial será de idosos, e que o mesmo será aumentado em proporção de um terço nos países desenvolvidos, o que pode ser visto na próxima tabela, conforme o resultado apresentado pelo IBGE (2010) no último censo realizado. Ressaltamos que segundo este Instituto, a sinopse de alguns números divulgados preliminarmente em novembro de 2010 foram ajustados, a exemplo do total da população, com a inclusão de estimativas sobre a população dos domicílios considerados fechados durante a coleta de dados. Tabela – Idade e quantidade de pessoas no Brasil FAIXA ETÁRIA QUANTIDADE DE PESSOAS 0 a 14 anos 45. .932.295 pessoas 15 a 24 anos 34.236.060 pessoas 25 a 39 anos 46.737.506 pessoas 40 a 54 anos 34.938.120 pessoas 55 a 64 anos 14.785.338 pessoas Mais de 65 anos 14.081.480 pessoas Total 190.710.799 pessoas Fonte: IBGE - Censo/2010 Nas últimas décadas, o Brasil tem registrado redução significativa na participação da população com idade até 25 anos e, aumento no número de idosos. Em 2010, de acordo com a Sinopse do Censo Demográfico, o país tem 13,8 milhões de crianças de até 04 anos e 14 milhões de pessoas com mais de 65 anos. E se incluirmos os de 60 ou mais idade, esse montante será bem maior. Se fizermos uma comparação com o censo de 2000 em relação ao de 2010, a população brasileira de idosos já supera 15 milhões de pessoas, e que representa 11,1% total da população. Já a Organização Mundial de Saúde – OMS (2002) por sua vez diz que, até o ano de 2025, o número de pessoas idosas no Brasil será de 33 milhões. Essa comparação aos dados expostos anteriormente, podem ser ilustradas através da tabela abaixo, que vem apresentando o número de idosos no mundo, através de um estudo realizado em 2002 com prospecção até o ano de 2025. Tabela 19 - Número Absoluto de Idosos por Países com população superior a 100 milhões em 2002 2002 China 2025 134.2 China 287.5 Índia 81.0 Índia 168.5 Estados Unidos 46.9 Estados Unidos 86.1 Japão 31.0 Japão 43.5 BRASIL 14.5 BRASIL 33.4 México 7.3 México 17.6 Nigéria 5.7 Nigéria 11.4 Fonte: ONU (2002) e IBGE – Censo de 2000 Mas, apesar dos números impressionantes relacionados acima, até janeiro de 2004 apenas alguns poucos dispositivos de legalidade, quase sempre relacionados à saúde, assistência e a previdência social, se referiam à pessoa idosa. Mesmo porque não havia ainda um consenso, sobre quem deveria ser considerado idoso. Pois, mesmo sendo o envelhecimento um processo diferencial, de acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS, a definição de idoso é diferenciada para países desenvolvidos, onde são considerados idosos os indivíduos com 65 anos e mais (pois está ligada à qualidade de vida); e para os países em desenvolvimento são considerados idosos os indivíduos com 60 anos e mais. (SANTOS, 2001). 2.1.1- Do direito assegurado e sua efetivação no Brasil pós 88 A questão dos direitos da pessoa idosa no Brasil, para Freitas Jr. (2006), que aponta que no âmbito constitucional foi diferente, explica que durante a vigência da Constituição Imperial de 1842, e na Constituição da República de 1891, ainda não se tinha a regulamentação dos direitos dos idosos. Já em relação à Constituição da República de 1934, esta foi a primeira a mencionar a pessoa idosa, ao instituir a obrigação da previdência social do trabalhador, em seu artigo 121, § 1º, alínea h, determinando a prestação de assistência médica, sanitária e a instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, a favor da velhice. Foi à única menção feita na referida Constituição à pessoa idosa. Este autor cita a Constituição Federal de 1937, que reservou apenas um artigo sobre a pessoa idosa, que previa no artigo 137, alínea m, ―a instituição de seguros de velhice‖. A Constituição Federal de 1946 novamente se preocupou apenas com a Previdência Social do idoso, dispondo em seu artigo 157, inciso XVI, a Previdência, mediante contribuição da União em favor da velhice. A Constituição de 1967, também não fez nenhuma inovação, e apenas limitou-se a repetir, em seu artigo 158, inciso XVI, o que já estava previsto na Constituição de 1946. A atual Constituição Federal de 1988, segundo ainda o autor, aparentemente continuou indiferente à pessoa idosa, passando a lhe reservar poucos artigos esparsos. Um deles refere-se a direitos políticos, no qual em seu Art. 14, fica estipulado que, o alistamento eleitoral e o voto passam a ser facultativos, para as pessoas maiores de setenta anos. No que se refere à Administração Pública, o texto constitucional relaciona uma incapacidade da pessoa idosa, quando determina que, em seu artigo 40, § 1º, inciso II, que os servidores públicos deverão se aposentar, pela compulsória, aos setenta (70) anos de idade. Destaca ainda um avanço sobre os direitos da pessoa idosa, na seção referente à Assistência Social, que limita a garantia de um salário mínimo mensal ao idoso que, possa comprovar a ausência de recursos que sejam suficientes para prover a sua subsistência, ou ainda de tê-la provida por seus familiares, dentro dos termos que dispuser a lei específica. Pois, um dos objetivos da Assistência Social é justamente à proteção à família e extensiva à velhice. Camarano e Pasinato (2004) explicam que em relação à Constituição e 19880 - CF/88 ao ser promulgada, ela pode ser considerada como um divisor de águas para a política e para a pessoa idosa, pois ela levou em consideração algumas recomendações expostas no Plano de Viena, que teve o mérito de colocar a questão do envelhecimento em geral a ser pauta na agenda das nações e de começar a tratar o tema de forma integral e unificada. Como reflexo desta postura e das recomendações contidas no Plano de Ação, vários países em desenvolvimento, entre os quais os da América Latina: Brasil (1988), Bolívia (1994), Equador (1998), Peru (1993) e Venezuela (1999) incluíram dispositivos constitucionais de proteção ao idoso. (CAMARANO e PASINATO, 2004). Em consonância ao que tange o Plano de Viena, a CF/88 ao introduzir o conceito de direitos sociais e de seguridade social, ela passou a apresentar também especificidade no Capítulo VII, no título ―Da família, da criança, do adolescente e do idoso‖, do qual o texto constitucional se restringe no que diz respeito à pessoa idosa, assim disposta no Art. 229, no qual “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. E em relação ao Art. 230 vem elucidando que o cuidado do idoso é uma responsabilidade da família, da sociedade e do Estado, onde os mesmos deverão assegurar a participação do mesmo na comunidade, defender sua dignidade e bemestar, assim como o de garantir seu direito à vida. (CF/88). Camarano e Pasinato (2004), em relação à CF/88 ressaltam que há de considerá-la também como um avanço no que tange à atenção da questão dos idosos, uma vez que ela recomenda ainda que os programas de amparo a eles sejam executados preferencialmente em seus lares, expressando assim um consenso existente entre os especialistas ao manter o idoso no ambiente familiar, na questão de melhoria de seu bem-estar torna-se mais eficiente e recompensador aos mesmos. Porém, além dos artigos supras citados, nada mais se falou na atual Constituição Federal, sobre a pessoa idosa. Freitas Jr. (2006), relata que a mesma continuou mantendo-se omissa em relação à pessoa idosa. Porém essa omissão pode ser só aparente, pois em seu artigo 1º, inciso III, está expressa que um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana. E que a partir dele, passaram a surgir outros mais, pois esse é o maior princípio que passa a reger a atuação da sociedade, especialmente a ação dos agentes públicos. Com base na atual Constituição, se pode afirmar que os direitos dos idosos estão baseados nos seguintes princípios: o da dignidade da pessoa humana (como foi dito acima); o da solidariedade social e o da manutenção dos vínculos familiares. Torna-se relevante, esclarecer um pouco esses princípios, uma vez que estamos falando sobre o idoso enquanto uma questão social, e que eles passaram a embasar as outras leis e/ou políticas sobre esse segmento em questão: Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: Está previsto no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal, e constitui o princípio fundamental dos direitos dos idosos. A partir dele, passaram a surgir os demais; trata-se do princípio maior que rege a atuação da sociedade, em especial dos agentes públicos. Princípio da Solidariedade Social: Este passa a impor como norma de conduta a todo cidadão, o dever de observar os direitos do idoso e o de acolhê-lo quando este se encontrar em risco social, ou seja, estiver desamparado, sem família, ou até mesmo sem condições mínimas de sobrevivência. Princípio da Manutenção dos Vínculos Familiares: Conforme o que já foi exposto em relação aos artigos 229 e 230, a retirada do idoso de seu núcleo familiar torna-se uma medida extrema, e que só deverá ser efetivada em uma última necessidade. Pois, o idoso, possui o direito de ser mantido em seu próprio lar, a fim de que seja preservada a intimidade, o direito da propriedade, sua privacidade, cultura, costumes, assim como a garantia dos laços afetivos familiares (FREITAS JR, 2006). Após a promulgação da CF/88, somente seis anos depois é que os idosos passaram a contar com uma política própria, vindo ratificar os preceitos constitucionais, com a Lei n˚8.842/94, que estabelece a Política Nacional do Idoso (PNI), e que foi regulamentada somente dois anos depois através do Decreto n˚1948/96. Essa política foi resultado de muitas discussões da sociedade organizada em fóruns estaduais, com a participação de idosos ativos, aposentados, professores e entidades representativas. Rodrigues (2001) ressalta que os antecedentes da referida política podem ser localizadas em 1990, no lançamento do Projeto VIVÊNCIA, pela Presidência da República, com o objetivo de desenvolver ações na área da saúde, educação, cultura, lazer, promoção e assistência social do idoso e preparação para aposentadoria. A PNI vem ampliar significativamente os direitos dos idosos, já que, desde a LOAS, as prerrogativas de atenção a este segmento haviam sido garantidas de forma restrita. Surgiu num cenário de crise no atendimento à pessoa idosa, exigindo uma reformulação em toda estrutura disponível de responsabilidade do governo e da sociedade civil (COSTA, 1996). Essa política está norteada por cinco princípios e que são descritos a seguir: 1. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; 2. O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objetivo de conhecimento e informação para todos; 3. O idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; 4. O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através dessa política; 5. As diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral na aplicação dessa lei. Em relação aos princípios expostos acima, podemos afirmar que a lei implica não apenas a garantia de que o processo de envelhecimento passa a ser visto de maneira diferenciada, a partir do momento em que a questão em si entra no debate no só nos meios científicos, mas também da sociedade como um todo, visando à participação, a emancipação, a construção da cidadania e de um novo conceito social para a velhice. Ao referenciar a PNI, podemos até dizer que a mesma constitui-se um avanço reconhecido internacionalmente, pois ela vem propondo uma visão integrada da questão do idoso, ela foi produzida através de uma ampla discussão, onde houve manifestação legislativa. Para Freitas Jr (2006) apesar de haver em seus textos alguma questão não totalmente esclarecida, como exemplo, a questão da ausência de dispositivos específicos, que possam estar caracterizando a criminalização do abandono, dos maus tratos ao idoso, dificultando assim a questão de tipificação, assim como outros crimes contra essas pessoas. A PNI tornou-se um marco referencial jurídico para as ações voltadas à população idosa, onde o objetivo primordial da mesma é o de promover ações setoriais integradas, através da sociedade civil organizada, entendida pelo Estado como Organizações Não-Governamentais (ONGs) e, cada Ministério em conformidade com suas atribuições, possa estar viabilizando programas sociais, visando o bem-estar dessa população em questão, incluindo todas as esferas de governo, proporcionando a sua integração social e agilizando novas opções de atendimento a esse seguimento. No que se refere às Instituições de Longa Permanência e aos cuidados com idosos, a PNI reforça a CF/88, priorizando o cuidado do idoso em seu lar, como explicitado em seu Art. 4º, alínea III: ―priorização do atendimento ao idoso através de suas famílias em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua própria sobrevivência‖. Além disso, essa política enfatiza a necessidade de se criar alternativas comunitárias ou não asilares de assistência ao idoso: casa-lar, república de idosos, centro de convivência, centro-dia, atendimento domiciliar, onde passa a defini-las na seguinte forma, conforme o Artigo 3˚ - Conceituação de Assistência por Modalidade Asilar O atendimento em regime de internato, ao idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência de modo a satisfazer as suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social. Artigo 4˚- Inciso I a IV: Modalidade de assistência não asilar- Centro de Convivência; Centros de Cuidados Diurnos: Hospitais (PNI, 1994) O Estatuto do Idoso – EI foi criada em 2003, após nove anos de existência da PNI, vem representar outro avanço na legislação de proteção à pessoa idosa, em sua tentativa de detalhar e explicitar questões deixadas em aberto na própria PNI, buscando dessa forma a unificação em uma única peça legal de várias leis aprovadas anteriormente e fornecendo instrumentos concretos de atuação, estabelecendo competências e responsabilidades, como por exemplo, a responsabilização criminal da violência contra o idoso. Conforme o que foi exposto, destacamos o Art. 4˚ onde determina que ―Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei‖ (Lei n˚ 10.741/03). O EI foi criado como um instrumento com o objetivo de preparar a sociedade para o enfrentamento com mais recursos, respaldo legal, o envelhecimento através de ações não só voltados aos mais velhos, mas ainda aqueles que vão envelhecer. Esse Estatuto veio contribuir no que tange os direitos fundamentais e um conhecimento mais amplo sobre o idoso, embora essa contribuição seja parcial, é de muita utilidade, buscando garantir a utilização de seus direitos com equidade. Na atualidade, o EI estabelece prioridade absoluta às normas de proteção ao idoso, elencando novos direitos e estabelecendo vários mecanismos específicos de proteção os quais vão desde precedência no atendimento ao permanente aprimoramento de suas condições de vida, até a inviolabilidade física, psíquica e moral (CENEVIVA, 2004). Uvo e Zanatta (2005), dizem que o mesmo passou a constituir um marco legal para a consciência idosa do país; a partir dele, os idosos poderão exigir a proteção aos seus direitos, e os demais membros da sociedade se tornarão mais sensibilizados para o amparo dessas pessoas. No âmbito do EI, em relação aos principais direitos da pessoa idosa encontram-se no Artigo 3º, onde: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (EI, 2003) Apesar da importância do Estatuto do Idoso, Neri (2005) ao analisar as políticas de atendimento aos direitos do idoso expressos nesse marco legal, conclui que o documento é revelador de uma ideologia negativa da velhice, compatível com o padrão de conhecimentos e atitudes daqueles envolvidos na sua elaboração (políticos, profissionais, grupos organizados de idosos), segundo os quais o envelhecimento é uma fase compreendida por perdas físicas, intelectuais e sociais, negando análise crítica consubstanciada por dados científicos recentes que o apontam, também, como uma ocasião para ganhos, dependendo, principalmente, do estilo de vida e do ambiente ao qual o idoso foi exposto ao longo do seu desenvolvimento e maturidade. Novamente referenciando Neri (2005) ao ressaltar que políticas de proteção social, baseadas em suposições e generalizações indevidas, podem contribuir para o desenvolvimento ou a intensificação de preconceitos negativos e para a ocorrência de práticas sociais discriminatórias em relação aos idosos. A consideração dos direitos dos idosos deve ocorrer no âmbito da noção de universalidade do direito de cidadãos de todas as idades à proteção social, quando se encontrarem em situação de vulnerabilidade. Sobre o processo de envelhecimento populacional é de fundamental importância que todos os segmentos da sociedade, operadores jurídicos e, principalmente, os idosos, sejam instruídos quanto aos seus aspectos positivos, pois eles precisam conhecer seus direitos para exercê-los e reivindicá-los. O EI ratifica o preceito constitucional de divisão de responsabilidades do cuidado do idoso entre a família, o estado e a comunidade, para lhe assegurar todos os direitos básicos civis e sociais. Reforça também, a priorização do atendimento do idoso no interior da sua família, em detrimento do cuidado em instituições asilar. Em seu conteúdo prevê ainda que entre os direitos do idoso o acesso à moradia, este pode dar-se na família de origem ou na substituta ou em uma instituição pública ou privada quando ressalta em seu Artigo 37 que ―a assistência integral na modalidade de entidade de longa permanência será prestada quando verificada inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos próprios ou da família‖. (EI, 2003) No Brasil, as normas constitucionais em geral não permitem o alcance dos direitos, onde a grande parte da população ainda se encontra vulnerabilizada e privada dos seus direitos fundamentais. Com isso, é inútil pensar na proteção aos idosos feita apenas por uma lei especial. É preciso ir além dos direitos legais, como reconhecimento e a participação da família, da sociedade e do Estado que possa obter resultados positivos no bem estar social do idoso. Já em seu Artigo 49 ele define uma série de princípios a serem adotados pelas instituições de longa permanência, entre os quais à preservação dos vínculos familiares, manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior. Neste contexto o Estatuto do Idoso passa a estimular à criação de programas que possam facilitar a integração social visando à criação de centros de convivência, oficinas de trabalho e atendimentos domiciliares visando impedir a discriminação e a exclusão do idoso na sociedade. Porém a criação do EI não satisfez todo mundo, Martinez (2005) faz críticas ao mesmo, quando diz que ele não se respalda em estudos concretos e pragmáticos com relação às reais necessidades dos idosos do nosso país, afinal ele encontra-se influenciado pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Segundo ainda o referido autor, o legislador compilou alguns dados esparsos na Constituição entre os quais em relação à previdência, administrativo e civil, tudo que existia de legislação voltada às camadas menos favorecidas da sociedade e acrescentar o substantivo ―idoso‖, mas não inovou criando mecanismos mais eficazes para dar efetividade a tais garantias, o que torna ainda mais distante de seu objetivo maior, que é o destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. O Envelhecimento pode acarretar situações de fragilidade econômica, social e até biológica, que deve ser objeto de proteção social, para que esse processo natural da existência humana não diminua seu titular, diante dos olhos de seus semelhantes, nem dificulte ou impeça sua participação na vida social. É uma etapa natural da vida e, não pode tornar vulnerável em nenhum aspecto aquele que está no curso desse processo, sua identidade preservada, e seus direitos devem ser conservados, porque envelhecer não significa tornar-se incapaz. A Constituição de1988 passou apresentar uma nova concepção para a Assistência Social no Brasil, incluída no âmbito da Seguridade Social e regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS – em dezembro de 1993, como uma política social pública, a assistência social inicia seu trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal. A LOAS cria uma nova matriz para a política de assistência social, inserindo-a no sistema do bem-estar social, configurando juntamente com a Saúde e a Previdência Social o tripé da Seguridade Social brasileira. Em relação a uma Política Pública de Assistência Social, de acordo com o Art. 1˚ da LOAS, ―a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas‖. A inserção na Seguridade Social aponta, também, para seu caráter de política de Proteção Social articulada a outras políticas do campo social voltadas à garantia de direitos e de condições dignas de vida. Segundo Di Giovanni (1998:10), entende-se por Proteção Social As formas "institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da vida natural ou social, tais como a velhice, a doença, o infortúnio, as privações. (...) Neste conceito, também, tanto as formas seletivas de distribuição e redistribuição de bens materiais (como a comida e o dinheiro), quanto os bens culturais (como os saberes), que permitirão a sobrevivência e a integração, sob várias formas na vida social. Ainda, os princípios reguladores e as normas que, com intuito de proteção, fazem parte da vida das coletividades. Desse modo, a assistência social configura-se como possibilidade de reconhecimento público da legitimidade das demandas de seus usuários e espaço de ampliação de seu protagonismo. Onde a proteção social deve garantir as seguintes: segurança de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de acolhida; e, convívio ou vivência familiar. A segurança de rendimentos não é uma compensação do valor do saláriomínimo inadequado, mas a garantia de que todos tenham uma forma monetária de garantir sua sobrevivência, independentemente de suas limitações para o trabalho ou do desemprego. É o caso de pessoas com deficiência, idosos, desempregados, famílias numerosas, famílias desprovidas das condições básicas para sua reprodução social em padrão digno e cidadã. (PNAS, 2004) Por segurança da acolhida, entende-se como uma das seguranças primordiais da política de assistência social, pois ela opera conforme relata Pereira (1996) como uma provisão de necessidades humanas que começa com os direitos à alimentação, ao vestuário, e ao abrigo, próprios à vida humana em sociedade. A conquista da autonomia na provisão dessas necessidades básicas é a orientação de segurança da assistência social, porém é possível, que alguns indivíduos não conquistem por toda a sua vida, ou por um período dela, a autonomia destas provisões básicas, por exemplo, pela idade no caso o idoso. Nesse sentido a Política Pública de Assistência Social marca sua especificidade no campo das políticas sociais, pois configura responsabilidades de Estado a ser asseguradas aos cidadãos brasileiros. E também marcada pelo caráter civilizatório presente na consagração de direitos sociais, a LOAS exige que as provisões assistenciais sejam prioritariamente pensadas no âmbito das garantias de cidadania sob vigilância do Estado, cabendo a este a universalização da cobertura e a garantia de direitos e acesso para serviços, programas e projetos sob sua responsabilidade. (PNAS p 25-26) A Política de Assistência Social é regida em consonância com o dispositivo posto através da LOAS, no Capítulo II, Seção I, Art. 4º pelos seguintes princípios: I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV - Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. A organização da Assistência Social tem as seguintes diretrizes, baseadas na Constituição Federal de 1988 e na própria LOAS: I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estaduais e municipais, bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características socioterritoriais locais; II - Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III - Primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo; IV - Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos. A Política Pública de Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, considerando as desigualdades sócio-territoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. Sob essa perspectiva, objetiva: Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem; Contribuir com a inclusão e a eqüidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços sócios assistenciais básicos e especiais em área urbana e rural; Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária. (PNAS, 2004) Em relação aos usuários da Política de Assistência Social, essa tem como público os cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social. Em 2004, para melhor consolidar a LOAS é criado o Sistema Único de Assistência Social - SUAS, cujo modelo de gestão é descentralizado e participativo, a exemplo do Sistema Único de Saúde- SUS, constitui-se na regulação e organização em todo o território nacional das ações sócio assistenciais. No SUAS os serviços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua complexidade. Pressupõe, ainda, gestão compartilhada, co-financiamento da política pelas três esferas de governo e definição clara das competências técnicas-políticas da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com a participação e mobilização da sociedade civil e estes têm o papel efetivo na sua implantação e implementação. (Brasil, MDS 2004) O SUAS também vem materializar o conteúdo já existente na LOAS, cumprindo no tempo histórico dessa política as exigências para a realização dos objetivos e resultados esperados que devam consagrar direitos de cidadania e inclusão social. Sposati (2004) aponta que ele veio para tratar das condições para a extensão e universalização da proteção social aos brasileiros, através da política de assistência social e para a organização, responsabilidade e funcionamento de seus serviços e benefícios nas três instâncias de gestão governamental. Para o MDS, o SUAS passou a definir e organizar os elementos essenciais e imprescindíveis à execução da política de assistência social possibilitando a normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e da rede sócio assistencial. (MDS, 2004) Em relação aos serviços sócio assistenciais determinados no SUAS à pessoa idosa, também são organizados segundo as seguintes referências: 1. Vigilância Social: refere-se à produção, sistematização de informações, indicadores e índices territorializados das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e social que incidem sobre famílias/pessoas nos diferentes ciclos da vida, no caso os idosos; em abandono; vítimas de formas de exploração, de violência e de ameaças, de preconceito e de apartação social que lhes impossibilite sua autonomia e integridade, fragilizando sua existência; vigilância sobre os padrões de serviços de assistência social em especial aqueles que operam na forma de albergues, abrigos, residências, semi-residências, moradias provisórias para os diversos segmentos etários. Os indicadores a serem construídos devem mensurar no território as situações de riscos sociais e violação de direitos. 2. Proteção Social: segurança de sobrevivência ou de rendimento e de autonomia: através de benefícios continuados e eventuais que assegurem: proteção social básica a idosos sem fonte de renda e sustento; pessoas idosas que vivam em situações de forte fragilidade pessoal e familiar; segurança de convívio ou vivência familiar: através de ações, cuidados e serviços que restabeleçam vínculos pessoais, familiares, de vizinhança, de segmento social, mediante a oferta de experiências sócio-educativas, sócio-culturais, desenvolvidas em rede de núcleos sócio-educativos e de convivência para idosos, respeitando suas características e necessidades; segurança de acolhida: através de ações, cuidados, serviços e projetos operados em rede com unidade de porta de entrada destinada a proteger e recuperar as situações de abandono e isolamento de idosos, restaurando sua autonomia, capacidade de convívio e protagonismo mediante a oferta de condições materiais de abrigo, repouso, alimentação, higienização, vestuário e aquisições pessoais desenvolvidas através de acesso às ações sócioeducativas; 3. Defesa Social e Institucional: a proteção básica e especial deverá ser organizada de forma a garantir aos seus usuários o acesso ao conhecimento dos direitos socioassistenciais e sua defesa. Já no que tange os direitos socioassistenciais a serem assegurados na operação do SUAS a seus usuários: • Direito ao atendimento digno, atencioso e respeitoso, ausente de procedimentos vexatórios e coercitivos; • Direito ao tempo, de modo a acessar a rede de serviço com reduzida espera e de acordo com a necessidade; • Direito à informação, enquanto direito primário do cidadão, sobretudo àqueles com vivência de barreiras culturais, de leitura, de limitações físicas; • Direito do usuário ao protagonismo e manifestação de seus interesses; • Direito do usuário à oferta qualificada de serviço; • Direito de convivência familiar e comunitária. Na proposta do SUAS, é condição fundamental a reciprocidade das ações da rede de proteção social básica e especial, com centralidade na família, sendo compensado o estabelecimento de fluxo, referência e retaguarda entre as modalidades e as complexidades de atendimento, bem como a definição de portas de entrada para o sistema. Assim a relação entre o público e o privado deve ser regulada, tendo em vista a definição dos serviços de proteção básica e especial, a qualidade e o custo dos serviços, além de padrões e critérios de edificação. Neste contexto, as entidades prestadoras de assistência social integram o Sistema Único de Assistência Social, não só como prestadoras complementares de serviços sócio-assistenciais, mas, como co-gestoras através dos conselhos de assistência social e co-responsáveis na luta pela garantia dos direitos sociais em garantir direitos dos usuários da assistência social. No caso da assistência social, a constituição de rede pressupõe a presença do Estado como referência global para sua consolidação como política pública. Isso supõe que o poder público seja capaz de fazer com que todos os agentes desta política, OG’s e, ou, ONGs, transitem do campo da ajuda, filantropia, benemerência para o da cidadania e dos direitos. E este é um grande desafio a ser enfrentado pelo Plano Nacional, que será construído ao longo do processo de implantação do SUAS. 2.2 - BREVE RESGATE DO SURGIMENTO DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS ASILARES Para desvelar e entender o porquê do surgimento das instituições se faz necessário um entendimento do processo histórico que as produziu, Souza (1985, p.42) aponta que: As instituições surgem sempre a partir de determinadas demandas. Como no confronto entre classes, o grupo privilegiado tem mais poder para fazerem valer as suas demandas, são dominantemente às soluções para responder a essas demandas que emergem com as instituições, mescladas a supostos interesses dos demais grupos sociais. E para entender seu significado, Bueno (1996) esclarece que instituição é o ato de instituir; criação; estabelecimento; associação ou organização de caráter social, educacional, religioso, filantrópico. Um dos pioneiros no estudo sobre instituição, Goffman (2007) esclarece que, a instituição pode ser definida como um local de residência e trabalho, onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por um considerável período de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada. Para melhor esclarecimento sobre o surgimento das instituições, recorremos à história, mais precisamente à época do cristianismo, onde se detectou que esse período foi considerado pioneiro no que tange a amparar esses idosos. Alcântara (2004) aponta que as primeiras instituições filantrópicas voltadas para abrigar essa população alvo, surgiram no Império Bizantino no século V da era cristã. E o registro do primeiro asilo, se deu através do Papa Pelágio II transformou a sua casa em um hospital para atender as pessoas idosas (IDEM). No Brasil, segundo Groisman (1999) a criação de instituições filantrópicas destinadas a atender idosos e que passaram a denominar-se asilos, abrigos e lares, teve sua origem no século XIX, que visava a atender a velhice desamparada, que se configurava como uma população pobre e sem vínculos familiares. Esclarece que nesse período a questão sobre a institucionalização encobria várias categorias – moribundos, indigentes, pobres, inválidos, abandonados, solitários, doentes, alcoólatras e outros desvalidos, nem sempre idosos. O período de grandes e intensas transformações sociais, políticas e econômicas que surgiram no século XIX, consolidaram a necessidade de ―controlar principalmente o social‖, uma vez que o Estado para poder controlar o social e assim administrar a pobreza, requisitou separá-la por categoria, conforme Groisman (1999, p.184) Era mais incisiva sobre aqueles considerados ―recuperáveis‖ e, portanto, passíveis de aproveitamento para o trabalho. Já os vadios, os presos, os jovens e os loucos serão alvo de práticas diferenciadas, com o processo de medicalização das prisões e com o surgimento dos hospícios. E ao colocar os idosos juntos com essas outras categorias num mesmo local, passava a refletir uma postura de que envelhecer em nosso país, assim como em outros países, significava uma doença que deveria ser controlada, e que muitas vezes comparavam o idoso como um leproso que deveria ser afastado da sociedade. Para Foucault (2007), no período da Idade Média, o leproso era alguém que quando descoberto, era expulso do espaço comum a todas as outras pessoas, e posto para fora dos muros da cidade, passando a ser exilado em um lugar confuso, onde iria misturar sua lepra a lepra dos outros. O mecanismo de exclusão era o do exílio, para a purificação do espaço urbano. Nesta época percebe-se também, que a caridade cristã surgia como sendo um acesso para a obtenção da assistência, período esse que teve a fase caritativa da Assistência Social, que se caracterizou por ações paternalistas da classe dominante em relação a amenizar o sofrimento dos menos favorecidos, através das esmolas. Vieira (1985, p.33) nos esclarece que Não se vê mais a pobreza como uma provação, mas pela sua extensão, como um fenômeno social normal, que o sistema societal do momento aceita, sem ter, no entanto, idéia de que pode ser prevenida ou eliminada. A pobreza é, assim, uma conseqüência das condições sociais e à sociedade cabe o dever de ajudar os pobres que passam a ter direito a esta assistência. Essa mesma autora nos diz que, refletindo o pensamento da época em que ―os senhores têm obrigação de distribuir esmolas, o que fazem sem nenhuma discriminação, pois é parte de seus deveres de ―fazer o bem‖ (p.33). E complementado com Beauvoir (1970) ―a religião pregava então o respeito pela pobreza e exigia esmolas dos ricos‖. (p 199) Ainda para Beauvoir (1970), a contribuição da igreja teve o seu lado positivo, quando criou, a partir do século IV, os hospícios e os hospitais, assegurando dessa forma a assistência aos órfãos e aos doentes (e aqui se podem incluir as pessoas idosas); para ela (a igreja) os velhos foram beneficiados por estas caridades, porém nunca fora feita uma referência que os reverenciassem. Como se pode perceber, a velhice tornava-se assim uma questão social. Nessa época percebe-se também, que a caridade cristã surgia como sendo um acesso para a obtenção da assistência, período esse que teve a fase caritativa da Assistência Social, que se caracterizou por ações paternalistas da classe dominante em relação a amenizar o sofrimento dos menos favorecidos, através das esmolas. Assim sendo a filantropia passa a despontar, nesse período, a dar continuidade à caridade e por sua vez, o Estado passou a se organizar, de maneira a resguardar os interesses das classes privilegiadas e a gerenciar a economia, cabendo assim às associações leigas e religiosas, assim como à sociedade civil fazer a caridade e filantropia, conhecida contemporaneamente como assistencialismo. Da mesma forma, os menos favorecidos deveriam ser banidos das ruas e assim foram criadas as primeiras instituições, onde as categorias anteriormente citadas ganharam a devida definição, uma ordenação e/ou organização dos espaços, aonde as crianças iriam para os orfanatos, os loucos para os hospícios, os doentes para os hospitais e os idosos para os asilos. Como foi dito anteriormente, a história da institucionalização dos idosos começa com uma prática assistencialista, através da caridade cristã e, continuou a ser o principal reflexo da pobreza individual e familiar, e o termo asilo cristalizou-se como sendo o sinônimo de instituição para idosos pobres, conforme Alcântara (2004). Contraditoriamente ao que foi exposta a institucionalização dos idosos, deixa de ser uma prática filantrópica voltada a idosos pobres, e passa a se transformar em um comércio, onde se cria hotel de idosos, casas de repousos ou clinicas geriátricas voltados aos idosos de camadas abastadas. Em parte justificadas pelo do aumento deste segmento, somada a necessidade de cuidados especiais e a impossibilidade da família arcar com esses cuidados, recorrendo com a institucionalização de seus idosos ou contratação de um cuidador. Alcântara (2004) aponta que na década de 90, com o apoio da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), surgem as primeiras Clínicas Geriátricas e Casas de Repouso não filantrópicas. Se antes essas instituições abrigavam idosos desprovidos de recursos financeiros, hoje, torna-se condição que esses contribuam minimamente com o equivalente a um salário mínimo, aproximadamente, seja com a aposentadoria ou com o benefício de prestação continuada. (BRASIL, Portaria n˚ 810/89) Bueno (1996, p.76) define essas instituições como ―abrigo para indigentes; casa de repouso; hospital psiquiátrico; abrigo; proteção‖. Porém ao se considerar essas definições, em sua maioria como um aspecto negativo associados à pobreza, abandono e até mesmo rejeição, algumas instituições e/ou asilos para amenizar esses termos, substituiu-os por outros menos ―chocantes‖ como Lar do Bom Velhinho, Casa de Repouso, Abrigo da Vovó, Instituição de longa permanência, entre outros. Porém a institucionalização é uma alternativa, e que em muitos casos, passam a inovar no atendimento de forma a melhorar o acolhimento dessas pessoas. 2.2.1 - A POLÍTICA DE INSTITUCIONALIZAÇÃO/ DESINSTITUCIONALIZAÇÃO NO BRASIL O autor que melhor explica o termo de institucionalização é Rezende (2001) que aponta o termo institucionalização na língua portuguesa como ―ato ou efeito de institucionalizar‖. Já em relação a Institucionalizar, esta tem o significado de ―dar o caráter de instituição‖, ―adquirir o caráter de instituição‖. Para o autor, o idoso institucionalizado é aquele a quem se dá ou que adquire o caráter de instituição, que se transforma em instituição, o que obviamente não faz sentido. Torna-se fundamental também definir qual é o entendimento da expressão ―idoso institucionalizado‖. E idoso de modo geral, são as pessoas com 60 anos ou mais, que vivem em instituições especializadas e recebem cuidados pertinentes às necessidades adquiridas, assim sendo, o idoso institucionalizado é aquele que vive em uma instituição para receber cuidados. (BOFF, 2003) Mas para falarmos de institucionalização, haveria a necessidade de se saber o número de idosos residentes em instituições no Brasil. Para Skinner e Vaughan (1985) o Brasil não tem dados oficiais a respeito, mas estima-se que o número de asilos no país se iguala ao número de municípios, com um número entre cerca de 10 e 300 idosos em cada um, e fixam ainda o número de asilados em 15% da população local. Detalhamos que pela data em que essas informações foram obtidas pelos autores, torna-se clara que essa população aumentou, conforme o IBGE (2010) Atualmente existe um levantamento nacional, onde foi feito um mapeamento do número e a localização das ILPIs existentes no Brasil, através da pesquisa ―Condições de funcionamento e de infraestrutura nas instituições de longa permanência para idosos (ILPIs)‖, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Conforme Camarano (2007) a pesquisa conseguiu identificar os seguintes números referentes às ILPIs, descritos no quadro abaixo, por quantidade em cada região do Brasil: QUADRO 04 : Número de idosos institucionalizados em ILPIs por Região no Brasil REGIÃO NÚMERO DE ILPIs NÚMERO DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NORTE 49 1.159 CENTRO-OESTE 249 5.529 NORDESTE 302 8.386 SUL 693 15.422 SUDESTE 2.255 64.113 TOTAL 3.494 94.609 Fonte: IPEA - CAMARANO 2007 A diferença entre as pesquisas realizadas por Skinner e Vaughan (1985) e da realizada por Camarano (2007), é que a última trás dados mais concretos sobre a realidade dos idosos vivendo em ILPIs no Brasil. Por outro lado, a questão em relação ao contexto do processo de desinstitucionalização no Brasil está respaldo pelo Decreto-Lei n˚ 3.657/89, cuja autoria é do deputado Paulo Delgado (PT-MG), que possui o objetivo de suprir a legislação existente desde 34, e que ainda vigorava. O marco referencial da desinstitucionalização brasileira, segundo Rotelli (1992) e Netto (1992) para sua implantação, sofreu influência da Lei 180 da Reforma Psiquiátrica Italiana, e que demonstrou um forte poder de mobilização social, política e cultural, valorizando os direitos de cidadania do doente mental, oferecendo-lhes soluções alternativas de tratamento na comunidade. Ainda em relação à questão da desinstitucionalização, segundo Rotelli (1992), a mesma é vista como um processo social complexo e que ao acontecer deverá envolver todos os que nela estiverem interesse, com o objetivo de fazer modificações e definir as formas de organização das instituições, urgindo uma necessidade de criação de algo novo e que venha substituir o antigo sistema de atendimento a essas pessoas. A essa questão Barros (1993) comenta que, a desinstitucionalização é aquela que será verificada, através do ―desmonte dos aparelhos que lhe dá sustentação‖ (grifos do autor), traduzidos pela luta contra a violência, a desmistificação dos preceitos de asilos e/ou instituições de longa permanência, criando assim serviços com uma lógica diferente da exclusão e da opressão dessas pessoas em questão. Para Botega e Dalgalarrondo (1993), se torna necessário a exposição de algumas questões no que diz respeito ao processo de desinstitucionalização na Itália, e que deverão ser levadas em conta para análise antes de se tornar definitiva; evitando dessa forma repetir o mesmo erro. Ao se tomar como exemplo, os referidos autores descrevem que: A população de doentes crônicos continua internada em asilos; As unidades que atendem essa população alvo são em números insuficientes para abarcar a demanda que passam a requisitar assistência; há carência de serviços intermediários na comunidade; as queixas dos familiares em relação à questão são expressas através do estresse ocasionado pelos cuidados aos pacientes crônicos em casa; em algumas instituições continuam as características de asilo, mudanças só aparentes; eles complementam dizendo que o que foi exposto, deverá servir de alerta, objetivando em não cometer os mesmos erros ocorridos na Itália, uma vez que nesse país, embora apresente diferença entre as regiões entre o norte e o sul, possui também uma área e população bem menor que a do Brasil, e nível econômico, político e cultural diferenciado também do brasileiro; finalizando, eles complementam informando que deste modo, se não forem levados os aspectos anteriormente citados, se estará mais uma vez copiando teoricamente o modelo de um país de primeiro mundo, cuja realidade é diferente da brasileira. (IDEM, 1993, p 23-27) Segundo Lemos e Medeiros (2002) lentamente na década de 60, no Brasil, algumas famílias e a comunidade iniciaram a prática da desinstitucionalização, e muitos idosos passaram a serem cuidados por familiares ou através de instituições religiosas. Porém para os mesmos autores acima referenciados, com o aumento da população idosa, e ao fato de voluntários demonstrarem mais interesse pela infância abandonada, retomou-se a prática da institucionalização; ao longo de tantas mudanças sociais e culturais, essas instituições são necessárias para atender o idoso mais pobre, sem família, sem casa para morar e por opção própria decidem morar em asilos. Ainda sobre a desinstitucionalização Lougon (1993), comenta que para se implantar esse processo, deve-se antes de tudo, procurar saber quem são os indivíduos que deverão e poderão ser de fato desinstitucionalizados; se todos os institucionalizados em asilos, ou apenas os que, por características demográficas ou diagnósticas necessitam receber tratamento na comunidade ou aqueles que foram inadequadamente institucionalizados. Para este mesmo autor, o processo de desinstitucionalização implicará um investimento de outros recursos e modelos de assistência, pois ao se fecharem as portas dessas instituições asilar, deverá haver a garantia de oferta de alternativas para essa população, que por sua vez necessitam de tratamento e assistência. Complementando o que está sendo exposto acima, ao se processar a desinstitucionalização dessas pessoas, ele deverá ser antes de tudo uma garantia de existência de alternativas à assistência das mesmas, porém essa assistência deverá ter capacidade suficiente de atendê-las assim como um fácil acesso a tais serviços. Para que esse problema seja resolvido, há a necessidade de uma organização na sociedade, de forma que respalde a absorção desses idosos, em cada localidade por serviços de assistência extra asilar, e que possuam procedimentos adequados e efetivos em promover a operacionalização e a utilização racional dos recursos comunitários que serão preconizados pela política de desinstitucionalização. Por outro lado, nesse processo deverá ser observada não só a quantidade de serviços, mas também, a qualidade dos mesmos em suficiência ao atendimento da demanda existente, caso contrário, se estará apenas fazendo uma renomeação do já existente e, dando continuidade aos mesmos vícios e propósitos de passar a isolar, segregar, violentar e cassar os direitos humanos e de cidadania desses idosos. 2.3- Definindo Instituição de Longa Permanência para Idosos: Respaldo na legislação As ILPIs, que consistem nas tradicionais instituições asilares, representa uma das modalidades de cuidados de longa duração dirigidos a idosos com algum grau de dificuldade para a execução das atividades da vida diária, sem renda e/ou aqueles cuja família não possui meios financeiros, físicos ou emocionais para a prestação dos cuidados necessários. Essa modalidade de cuidados está definida pela portaria SEAS n.˚ 2.854/2000. Para o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), órgão atualmente responsável pela política das ILPIs, atendimento integral institucional é aquele prestado em uma instituição asilar, que deve oferecer serviços na área social, psicológica, médica, de fisioterapia, de terapia ocupacional e outras atividades específicas para esse segmento populacional. (CAMARANO 2007) A Resolução da Diretoria Colegiada da Agência de Vigilância Sanitária ANVISA / RDC nº 283, de 26 de setembro de 2005, que aprova o Regulamento Técnico que estabelece as normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos no Brasil, define como: Instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania. (ANVISA, 2005 p.2). Além disso, 14 anos depois da primeira Portaria de ordenamento das instituições asilar, datada de 1989, o Estatuto do Idoso de 2003 retoma e atualiza o tema do funcionamento das instituições nas residências, às quais se refere como ―entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência‖. (Cap. II Art. 48) Uma de suas maiores contribuições para a questão é a exigência do estabelecimento de um contrato de prestação de serviço entre o idoso ou seu representante e a instituição prestadora, onde passa a definir um teto máximo para a contribuição do idoso ao custeio da instituição filantrópica ou pública que o abriga, limite fixado em 70% do valor do benefício, seja ele previdenciário ou assistência. Em seu Art. 48 o Estatuto do Idoso, detalha as regras para as entidades de atendimento ao idoso, preconizando que tanto as entidades governamentais como as não-governamentais ficam sujeitas à inscrição de seus programas junto ao órgão competente da Vigilância Sanitária e do Conselho Municipal da Pessoa Idosa, e em sua falta, junto ao Conselho Estadual ou Nacional da Pessoa Idosa. Os regimes de atendimento, segundo o que prescreve a ANVISA e o EI, devem ser especificados e observados alguns requisitos, entre as quais o de oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; assim como o de apresentar objetivos estatutários e plano de trabalho e estar regularmente constituída demonstrando a idoneidade de seus dirigentes. O Artigo 49 do Estatuto define uma série de princípios a serem adotados pelas instituições de longa permanência, entre os quais está à preservação dos vínculos familiares, manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior (Cap. 2, Art. 49, I e II). Como se pode observar, este texto legislativo trata a questão das ILPIs somente do ponto de vista da regulamentação. O órgão responsável atualmente pela execução da Política Nacional do Idoso é o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome / MDS; onde a fiscalização e o controle de sua execução é atribuição da ANVISA, já em relação à fiscalização do respeito aos direitos dos idosos, essa é uma atribuição, conjuntamente dos Conselhos Nacional, Estadual e Municipal do Idoso e ao Ministério Público Federal. Na área da Saúde, cabe menção ao Programa da Saúde da Família, lançado em 1994 pelo Ministério da Saúde (reformulada desde 2006, como Estratégia de Saúde da Família) com equipes multidisciplinares que visitam as famílias em seus domicílios. Esse programa é considerado uma das primeiras políticas de atendimento às famílias vulneráveis e representou uma melhoria no acesso aos serviços de saúde para a população de baixa renda, mas não existem para ele diretrizes específicas para o atendimento do idoso, para reabilitação funcional e, menos ainda, para atendimento institucional (CAMARANO, MELLO e KANSO, 2009). Para o Ministério da Saúde (MS), as ILPIs são consideradas unidades de saúde de baixa complexidade, uma vez que requerem procedimentos e equipamentos de baixa complexidade. Do ponto de vista da Assistência Social, as ILPIs são consideradas de Alta Complexidade, onde as ações dirigidas a elas são situadas no âmbito da Proteção Social Especial, destinada a famílias e/ou indivíduos que perderam seus vínculos familiares ou não têm mais condições de convívio familiar ou comunitário. Ou conforme o que determina a Política Nacional de Assistência Social Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou, comunitário, tais como: Atendimento Integral Institucional. (PNAS, 2004 p. 32) Dentro desta Alta Complexidade ainda há uma categorização de acordo com seu grau: Alta Complexidade I e Alta Complexidade II, onde as ILPIs se enquadram. Os critérios de partilha de recursos são definidos anualmente pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT), que é a instância de articulação e pactuação da política pública de assistência social, com a participação de representantes dos governos federal, estaduais e municipais. (PNAS, 2004, p 42/43) Camarano (2007) descreve que, o co-financiamento federal para esses serviços se dá por meio de transferência de recursos mensal do Fundo Nacional de Assistência Social para os Fundos Municipais ou Estaduais de Assistência Social, através de pisos de proteção social estabelecidos pela Norma Operacional Básica (NOB/SUAS), regulado pela portaria MDS nº. 440 de 23 de agosto de 2005. Em 2006, o Ministério da Saúde lançou o Pacto Pela Vida, estabelecendo prioridades para o Sistema Único de Saúde- SUS, entre as quais se encontra o atendimento à população idosa e a funcionalidade como paradigma do idoso. Mas este programa não propõe meios para abordar a incapacidade já instalada. Como em outras áreas, como a de assistência social, a prioridade é dada às políticas do envelhecimento ativo e saudável (CAMARANO, MELLO e KANSO, 2009). Com o envelhecimento da população e o aumento da sobrevivência de pessoas com incapacidades físicas e mentais, os asilos deixaram de fazer parte da rede de assistência social ao idoso para fazer parte da rede de assistência à saúde (KANE e KANE, 1987, apud COSTA, 2004). Para expressar a nova função destas instituições, passou-se a adotar no Brasil a denominação ―Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI)‖, sugerida pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: As ILPIs são estabelecimentos para atendimento integral institucional, cujo público alvo é as pessoas de 60 anos e mais, dependentes ou independentes, que não dispõem de condições para permanecer com a família ou em seu domicílio. Essas instituições, conhecidas por denominações diversas – abrigo, asilo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica e ancianato – devem proporcionar serviços na área social, médica, de psicologia, de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia, e em outras áreas, conforme necessidades desse segmento etário (SBGG, SP, 2003, apud BORN e BOECHAT, 2006). Em relação ao exposto acima, procurando padronizar uma nomenclatura para esses locais de atendimento aos idosos, há a proposta da denominação de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), definindo-as como estabelecimentos para atendimento integral a idosos, dependentes ou não, sem condições familiares ou domiciliares para a sua permanência na comunidade de origem. Dessa forma, conforme a definição da SBGG denomina-se de ILPI um local especializado, e que tem como função a de oferecer uma assistência gerontogeriátrica, conforme o grau de dependência dos seus residentes, e, ao mesmo tempo, manter um ambiente doméstico, no qual deverão ser preservadas a intimidade e identidade dos seus residentes. É provável que os termos asilo e instituição asilar, segundo Born e Boechat (2006), continuem a ser empregados, mesmo porque pela manutenção do caráter assistencial, que prevalece ainda na maioria dessas instituições, pois a expressão Instituições de Longa Permanência para Idosos expressa mais do que uma adaptação idiomática: é a tradução de um novo paradigma, mesmo quando ainda chamadas coloquialmente de asilos, já mostram transformações resultantes da transição demográfica e epidemiológica, tais como o aumento de residentes com enfermidades degenerativas, concentração de residentes muito idosos, e ao mesmo tempo convivendo com problemas de pobreza. De acordo com Portaria n. 810/1989, as ILPIs podem ser classificadas através das especializações de atendimento, conforme se segue: Modalidade I – destinada a idosos independentes para as atividades da vida diária (AVDs), mesmo que necessitem utilizar algum equipamento de autoajuda (andador, bengala, cadeira de rodas, adaptações para vestimenta, entre outros); Modalidade II – destinada a idosos dependentes e independentes que necessitam de ajuda e cuidados especializados, com acompanhamento e controle adequado de profissionais da área de saúde; Modalidade III – destinada a idosos dependentes que necessitem de assistência total em pelo menos uma atividade da vida diária. Requer uma equipe interdisciplinar de saúde. Para uma melhor compreensão, construímos um quadro com as definições condizentes a cada país. Nos países de língua inglesa, ainda se utiliza a expressão nursing homes, que é originária dos Estados Unidos da América, na década de 1950. Quadro 05: Nomenclatura de ILPIs em alguns países PAÍS DEFINIÇÃO (ÕES) Altenpflegeheim – Lar para idosos dependentes; Altenheim – Lar para os idosos independentes Nursing Homes- Residência para Idosos dependentes Old People’s Home or Home for the Aged- Residência para idosos independents Nursing Homes, Tokubetsu Yogo Rojinhomu – Lar para idosos dependentes ALEMANHA ESTADOS UNIDOS INGLATERRA JAPÃO Yogo Rojinhomu- Lar para idosos independentes Fonte: Born e Boechat (2006) Conforme observado, na literatura internacional é comum encontrarmos denominações diferentes de lar para idosos dependentes e para os independentes, pois essas instituições são diferenciadas. Conforme já citado anteriormente, a institucionalização de idosos em ILPIs, não é uma prática muito comum no Brasil, e quando relacionada à Região Norte esta se torna menos freqüente ainda. (CAMARANO, 2007) Segue a seguir, uma tabela demonstrando a população total de pessoas idosas em cada estado da respectiva região, assim como o número de idosos institucionalizados nos referidos estados, através de dados coletados pelo IBGE/IPEA em 2006. Tabela 20: Região Norte: número de idosos e de idosos residentes nas instituições de longa permanência por estado – 2006 Fonte: IBGE (a) /Projeções Populacionais Pesquisa IPEA/CNDI/SEDH(b) Em análise à tabela exposta acima sobre a questão da institucionalização de idosos nas ILPIs, de acordo com Camarano (2007) destaca que na Região Norte, o estado de Tocantins é o que apresenta a proporção mais elevada de idosos (6,8%) em relação a Roraima que possui a menor proporção em 2000 (4,0%). O Pará é o estado que conta com o maior contingente de população idosa. Como conseqüência, é nesse estado que se encontra o maior número de idosos residindo nas ILPIs: 465 pessoas. Esse número responde por 40% do total de idosos residentes nas instituições da região, que é de 1.159, e corresponde a 0,1% da população idosa regional. As mais altas encontram-se no Acre, no Amapá e em Roraima, 0,3%. (p, 15) Em relação ao Amazonas, o número de idosos institucionalizados é de 165, o equivalente a 0,1% da população de idosos no referido Estado e que os mesmos estão distribuídos em 03 ILPIs identificadas pelo IBGE/IPEA. (CAMARANO, 2007) 2.3.1- Breve histórico do Surgimento das Instituições Sociais em Manaus Ao se analisar a questão do surgimento das instituições em Manaus, torna-se importante fazer um resgate do contexto histórico destes locais que abrigam idosos. A criação das Santas Casas em Manaus, segundo Galvão (2003) surgiu como uma Casa de Caridade, com o mesmo objetivo das outras casas existentes no Brasil e em Portugal, há relatos de que falta uma documentação mais expressiva para se poder construir uma história da Santa Casa de Misericórdia de Manaus, onde No primeiro relatório, que data de 14/01/1880, as obras da Santa Casa tinham sido interrompidas e em função da presença de indigentes do sexo feminino, o presidente da Província solicita o prosseguimento das suas obras. (IDEM 2003, p 32) Galvão (2003) descreve que a falta de um estabelecimento de caridade, onde os indigentes seriam tratados com conveniência, principalmente por conta de mulheres indigentes, tornava-se então com grande urgência prosseguir a construção do Hospital da Santa Casa, principalmente por conta do contingente feminino necessitando de assistência. Inaugurada em 16 de Maio de 1880, e logo já vai prestando bons serviços à população desvalida. Em complemento desvelamos que as Santas Casas, são hospitais fundados e mantidos pelas Irmandades da Misericórdia, e que eram mantidos à custa da caridade pública. A Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas, também foi criada através do apelo à caridade pública, que para a sua manutenção solicitava à sociedade donativos para venda em bazares beneficentes. (GALVÃO, 2003). Outro destaque feito por este autor, é que se torna interessante acerca dessa questão, foi o surgimento das chamadas ―Camas da Caridade‖ fundadas em 05 de Setembro de 1898, destinadas a receber independentemente de nacionalidades todas as pessoas consideradas indigentes e que vinham em busca de serviços assistenciais e hospitalares. Beauvoir (1970), analisando o primeiro mundo na década de 1960, descreve que durante os primeiros quarenta anos do século XVII, foram fundadas diversas instituições de caridade como hospitais e asilos, com o objetivo de tentar remediar essa situação tão dura para esse segmento. No Brasil, Dias (2007) aponta que, assim como em outras capitais brasileiras, no final do século XVII até o início do século XIX, a mendicidade era também um grande mal que ameaçava a ordem pública; ela era vista como um ato de contravenção passível de ser punida pelo Código Penal. Em relação à questão dos mendigos que começavam a proliferar pela cidade, o poder público recorre ao auxílio de particulares e assim poder criar casas de beneficência e asilos para abrigar os desprotegidos. Por outro lado, as preocupações em relação aos mendigos, expressas em documentos ou em jornais da época, era mais por conta de medo e a ameaça da presença dos mesmos circulando pela cidade, e não pela situação deles. Por meio de relatório apresentado à Assembléia Geral da Associação Protetora do Asilo de Mendicância, em 06 de Janeiro de 1912, o presidente do Conselho Administrativo justifica a criação do Asilo e da Sociedade através do seguinte manifesto: O triste espetáculo da mendicância nas ruas de Manaus, sobretudo nos momentos de reuniões festivas, não podia continuar numa cidade em que predomina o espírito cristão, que vale pelo mais forte amparo à pobreza desvalida. O exemplo do que se havia feito em outros estados brasileiros cumpria-nos fundar um Instituto Pio, onde pudéssemos receber e manter os míseros a que a fortuna avara desamparou de suas graças. (DIAS, 2007, p 137-139) Desse modo em Manaus, a solicitação para que a sociedade auxiliasse a criação desses asilos e casas de beneficência tornaram-se, nesse período, constantemente presentes nos relatórios das autoridades locais, e em 1910 é inaugurado o Asilo de Mendicidade, essa instituição seria para amparar à pobreza desvalida. A idéia de sua criação partiu da Maçonaria, que por sua vez, contou com a colaboração da imprensa e do comércio local; as contribuições para a organização da instituição vinham através de dinheiro, alimentos, medicamentos e roupas (o que não é diferenciado na contemporaneidade). Em relação à criação do referido asilo, Dias (2007, 137) relata que Organizada a ―Sociedade Protetora do Asilo de Mendicidade‖, esta recebe do governo o prédio para sua instalação. Com a fundação do asilo, o governo proíbe a mendicância em Manaus, pelo Decreto n˚1, de 29 de Janeiro de 1910. Por esse Decreto, todo indivíduo que fosse encontrado mendigando nas ruas e praças de Manaus seria recolhido ao asilo. A primeira instituição com essa função em Manaus pode ser considerada a Sociedade São Vicente de Paulo, uma organização católica de leigos que voluntariamente se empenhavam em dar apoio a indivíduos, famílias e grupos sociais marginalizados, através de ações variadas onde privilegiava o contato pessoal e direto em visitas domiciliares, não só com o intuito de aliviar a miséria material, mas também a de solucionar esses problemas (IDEM). Souza (1985) por sua vez aponta que, as instituições surgem sempre a partir de determinadas demandas. Como no confronto entre classes, o grupo privilegiado tem mais poder para fazerem valer as suas demandas, são dominantemente às soluções para responder a essas demandas que emergem com as instituições, mescladas a supostos interesses dos demais grupos sociais. (IDEM, p.42) Em relação à criação de instituições em Manaus, em uma pesquisa recente realizada por Camarano (2007) através do IPEA, a autora conseguiu identificar três ILPIs no Estado do Amazonas, sendo uma no município de Lábrea (município ao sul do estado e que faz limites com os estados de Roraima e Acre) e duas localizadas em Manaus – Casa São Vicente de Paulo e Fundação Dr. Thomas. 2.4. A Instituição em análise: Processo Histórico da criação da Fundação Doutor Thomas no Amazonas Dias (2007), ao fazer resgate da história da criação da Fundação de Apoio ao Idoso ―Dr. Thomas‖ aponta que a surgiu em 1910, com o nome de Sociedade Asilo de Mendicidade de Manaus. Em 1932 passou a chamar-se Asilo de Mendicidade ―Doutor Thomas‖, em homenagem ao médico canadense Harold Howard Shearme Wolferstan Thomas. Dr. Thomas pertencia à Escola de Medicina Tropical de Liverpool, na Inglaterra, instituição dedicada à medicina e saúde pública nos trópicos. Ele foi enviado a Manaus, em 1905, para estudar a febre amarela na região amazônica. Chegando aqui, ele trabalhou no laboratório do médico Dr. Figueiredo Rodrigues. Depois montou seu próprio laboratório de análises clínicas, chamado de The Yellow Fever Research Laboratory e posteriormente de Manáos Research Laboratory, que se situava no prédio onde hoje funciona a Biblioteca Pública Municipal, na Praça do Congresso (IDEM). Continua este autor esclarecendo que a residência do Dr. Thomas estava localizada no bairro de Adrianópolis, onde hoje funciona a Escola de Enfermagem, ele transformou parte da casa em enfermaria para o tratamento de cidadãos ingleses da Companhia de Transporte e Trabalhadores do Porto. Médico humanitário, Dr. Thomas sempre demonstrou seu comprometimento pela cidade, seja na pesquisa das doenças tropicais e no atendimento de doentes, trabalhava gratuitamente na Santa Casa de Misericórdia, de onde era sócio benemérito (IDEM). Durante todo o tempo que viveu em Manaus, segundo Dias (2007), o médico canadense se dedicou a ajudar pessoas carentes. Abrigava pessoas de várias idades em estado de mendicância e moradores de rua, sendo a maioria idosa. Por identificar essa demanda, passou a desenvolver o trabalho de assistência direcionando o atendimento a população idosa da cidade. Dr. Thomas faleceu em 1931, com 56 anos. O mausoléu está localizado na quadra 08, sepultura nº 698, do cemitério São João Batista. Através de fontes documentais cedidos pela própria FDT, conseguimos obter as seguintes informações, em 30 de novembro de 1967 a Câmara Municipal de Manaus, por meio da Lei nº 995, autorizou o Prefeito Municipal a criar a Fundação ―Doutor Thomas‖, como uma Instituição filantrópica da administração indireta e mantida pela Prefeitura de Manaus. Em 1968, o Lions Clube de Manaus, já colaborador do asilo, decidiu fazer uma obra para ampliar a estrutura da instituição. Até essa época, o asilo tinha capacidade para abrigar 20 pessoas. Com a obra, passaria a atender 200 pessoas em seis pavilhões. A partir de 1969, o então presidente do Lions, Antônio José Tuma, começou uma campanha na cidade para arrecadar recursos para a construção do novo asilo, com apoio da Maçonaria. A nova estrutura da Fundação Dr. Thomas foi inaugurada em junho de 1970, pelo prefeito Paulo Pinto Nery e o governador Danilo Areosa. Com o objetivo de acolher pessoas em situação de abandono, a partir de 60 anos de idade, de ambos os sexos, para fins de assistência, abrigo e atendimento às necessidades físicas e psicossociais dessas pessoas. A FDT tem como missão a de coordenar, acompanhar e avaliar a execução da Política Municipal do Idoso - PMI, mediante o desenvolvimento de ações estratégicas capazes de garantir os direitos sociais da população idosa da cidade de Manaus, assegurando a promoção de sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Com uma visão de promover através da própria PMI a sensibilização dos órgãos governamentais e não-governamentais, visando assim assegurar à pessoa idosa todos os direitos inerentes à sua cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem estar e direito à vida. Sendo respaldado pelo Art. 2˚ da PMI onde registra que O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (LEI 10.741/03) O contraditório disso é que uma instituição executora é responsável pela PMI do município de Manaus e não uma Secretaria (mas isso é outro assunto). A seguir iremos descrever os serviços e assistência que a FDT proporciona aos idosos nela residentes. 2.4.1– Os Serviços e Assistência aos Idosos Institucionalizados Para Creutzberg, Gonçalves e Sobottka (2007) na perspectiva da necessária qualificação dos espaços de cuidado ao idoso, tornou-se objeto de estudo a questão da manutenção e sobrevivência de ILPIs destinadas ao idoso pobre, no contexto brasileiro. Onde segundo ainda os referidos autores, a função das ILPIs inclui o de dar assistência ao idoso que não tem vínculo familiar ou sem condições de prover à própria subsistência, de modo a satisfazer as suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social ou abrigar idosos dependentes e/ou independentes em estado de vulnerabilidade social. - Programa de Longa Permanência O Programa de Longa Permanência tem como objetivo o atendimento assistencial de pessoas de ambos os sexos, a partir de 60 anos, que necessitam de assistência e abrigo, bem como o atendimento de suas necessidades físicas e biopsicossociais. Em Manaus, os idosos atendidos pela FDT são distribuídos, segundo o critério da dependência física, onde 30% têm alta dependência e precisam de cuidados especiais permanentes; 40% são os de média dependência, com limitações leves e moderadas para o desempenho das atividades da vida diária; e 30% são os idosos independentes, possuem autonomia e conseguem desenvolver suas atividades diárias. A seguir em formato de tabela apresentaremos os serviços e assistência oferecidos aos idosos na referida ILPI. Quadro 06: Os Serviços de Assistência aos Idosos Institucionalizados na FDT 1. Alimentação 2. Atendimento e Acompanhamento Médico 3. Atendimento e Acompanhamento de Enfermagem 4. Acompanhamento Social 5. Atividades com Familiares dos Idosos 6. Atividades Ocupacionais de Recreação, Cultura e Lazer 7. Atividades Sócio-Educativas e Físico-Desportivas 8. Atendimentos Complementares de Psicologia 9. Atendimentos Complementares de Fisioterapia 10. Atendimentos Complementares de Nutrição 11. Eventos e Oficina Especializada Fonte: FDT 2011 Em relação aos serviços e assistência proporcionados aos idosos institucionalizados, estes são realizados conforme o Decreto nº 0330 de 26/10/09 que instituiu a Norma Institucional do Regimento Interno da FDT. Na FDT os idosos recebem seis refeições diariamente, tudo com acompanhamento de nutricionistas que elaboram cardápio nutricional aos mesmos. As refeições proporcionadas aos idosos seguem um padrão de alimentação conforme a necessidade de dieta direcionada a eles. Estes profissionais dão ainda suporte a uma eventual necessidade de que a alimentação seja adequada. Estas ações desenvolvidas pela FDT estão de acordo com o que tange ordenamento do MS, através da Portaria nº 810, de 22/09/89, dispondo que as ILPIs deverão ter um quadro de funcionários para atender as necessidades de cuidado com a saúde e alimentação desses idosos. E conforme o Art. 34 do seu Regimento Interno proporciona aos idosos institucionalizados o atendimento e acompanhamento médico, aos serviços de saúde prestados pela Fundação em seus programas PADI, CONVIVER e LONGA PERMANÊNCIA; realizam estudos para detectar o caráter epidemiológico de determinadas doenças, com vistas à prevenção, tratamento a reabilitação; viabilização do cadastro dos idosos em programas de saúde do SUS. Realiza consultas médicas clinica e especializadas, na Fundação e nas instituições do SUS; viabilizam a realização de exames de saúde complementar e especializados, fazem ainda o acompanhamento e supervisionam o trabalho dos cuidadores de idosos. Os idosos institucionalizados recebem também o atendimento e acompanhamento de Enfermagem, estes são realizados através de consultas e procedimentos de enfermagem, onde recebem a administração de medicamentos e alimentos; os cuidados de higiene corporal; assim como o acompanhamento para tratamento ambulatorial e hospitalar. Acompanhamento Social: Conforme o Regimento Interno da FDT no Art. 31 da FDT, o Departamento de Serviço Social faz o planejamento, coordenando e avaliando as ações a serem desenvolvidas nas unidades subordinadas, definindo estratégias e alternativas para melhoria e ampliação dos serviços, buscando continuamente a qualidade de vida dos idosos; coordenam programas de saúde e de políticas públicas que favoreçam os idosos da Fundação; articulando a política do idoso nas esferas governamentais e não-governamentais, e nos conselhos de direitos; Atividades com Familiares dos Idosos: São desenvolvidas, de acordo com o Art. 35, onde são realizadas: Visitas, Reuniões Bimestrais e Acompanhamento Domiciliar, onde presta assistência multiprofissional domiciliar aos idosos na área de serviço social, médica, fisioterápica, psicológica e jurídica. Estimula a família e os idosos quanto à manutenção e recuperação de sua autonomia, assim como sua integração à vida familiar e social (manutenção dos vínculos familiares e comunitários). Observam, orientam, avaliam e acompanham as condições biopsicossociais do idoso, buscando o comprometimento de familiares e/ou responsáveis na adoção de medidas que lhe assegurem conforto e dignidade; divulgam, praticam e fazem cumprir o prescrito na legislação vigente, quanto à assistência aos idosos; realizam encaminhamento à rede de assistência, observando o especialidade de cada caso; apuram denúncias de maus tratos; atendimento e a mantêm uma parceria técnica com Ministério e Defensoria Pública para resolução das situações de violência ao idoso; oferecendo orientação sobre o acesso ao SPC e à aposentadoria; sensibilizar e orientando o idoso, seus familiares e/ou responsáveis sobre o processo de envelhecimento e sobre os cuidados e atitudes para o envelhecimento com qualidade de vida; Atividades Ocupacionais de Recreação, Cultura e Lazer: Em relação a essas atividades, as mesmas são amparadas pelos Artigos 38, 39 e 40 do regimento interno da FDT, onde a administração dessa unidade, no âmbito estratégico, logístico, operacional, promove a realização de eventos, em unicidade com as demais unidades da estrutura operacional da Fundação de Apoio ao Idoso ―Doutor Thomas‖. Viabilizam formas alternativas de participação e convívio do idoso; estimular a prática de atividade física, visando à manutenção e ampliação de sua independência e autonomia; oportunizando o convívio social e o aprimoramento pessoal por meio de atividades sócio-educativas, culturais, artísticas e de lazer; oferecendo informações e envelhecimento; desenvolvendo estimulando conhecimentos atitudes e acerca de processo de comportamentos voltados ao envelhecimento com qualidade de vida; promovem a valorização, integração e participação do idoso na vida familiar e comunitária; desenvolvendo ações que favoreçam a construção e o pleno exercício da cidadania. Realizam os procedimentos de serviço de admissão do idoso referentes à matrícula e entrega da respectiva carteira; propiciam ao idoso a realização de exame de sanidade e capacitação física para ingresso nas atividades físicas e sócioeducativas; procedem à avaliação médica de resultado do exame de sanidade e capacitação física, encaminhando o idoso para a prática de atividade compatível com seu estado de saúde; executam medidas destinadas a garantir a realização dos exames de avaliação periódica do idoso; procedendo à revalidação anual da carteira de usuário; garantindo dessa forma a qualidade na prestação dos serviços oferecidos. Atividades Sócio-Educativas e Fisico-Desportivas conforme o Art. 39, direcionadas aos idosos da FDT, são feitas através de acompanhamento, controle e avaliação permanentemente de atividades sociais, educativas, físicas e culturais; controle dos procedimentos referentes à matrícula e entrega de documentos; procedimento à avaliação médica do resultado dos exames, encaminhando o idoso para a prática da atividade compatível com o estado de saúde; efetuam as inscrições do idoso nas atividades físicas e sócio educativas; fazem os encaminhamentos necessários aos serviços de saúde. Propõem a realização de programas, projetos, atividades, ações e eventos sóci-educativos; consolidam os dados quantitativos por meio do quadro geral estatístico; compatibilizam, em calendário e horário únicos, as atividades oferecidas pelas oficinas de atividades, visando ampliar a oportunidade para maior número de usuários participarem dos programas; Atendimentos Complementares de Psicologia: Realizam acompanhamento psicológico individual a idosos executando ainda atividades grupais, vivenciais, extensivas aos familiares; Atendimentos Complementares de Fisioterapia: Realizam atendimento fisioterápico de prevenção e reabilitação aos idosos institucionalizados. Atendimentos Complementares de Nutricionistas são executados conforme o Art. 37 da FDT, onde esses profissionais em relação aos idosos dão suporte a eventual necessidade de alimentação oral e enteral; executam trabalho de distribuição de refeições para os idosos residentes, observando o cardápio e a necessidade individual de dieta; acompanham e avaliam a alimentação; definem e operacionalizam estratégias de intervenção nutricional fazendo uma supervisão as atividades de produção de refeições para os idosos; A FDT promove ainda Eventos e Oficina Especializada nas mais diversas áreas, direcionadas à população idosa desenvolvidas através de: Oficinas de Atividades de Solo e Atividades Aquáticas; Realizando programas, projetos, atividades, ações e eventos de estimulação física assim como o exame biométrico dos idosos considerados fisicamente aptos, após a avaliação médica; Efetuando a inscrição de idoso nas atividades físicas oferecidas pelo Parque, observados os critérios vigentes; Consolidando os dados quantitativos e informações qualitativas referentes às modalidades oferecidas, frequência do usuário e atendimento realizado ao encargo das oficinas; Compatibilizando, em calendário e horário únicos, as atividades oferecidas pelas Oficinas de Atividades Físicas; Orientando a prática de atividades físicas realizadas em solo, por meio das modalidades de caminhada orientada, ginástica, ioga e artes marciais adaptadas à terceira idade bem como a prática de atividades físicas realizadas no parque aquático, nas modalidades de natação e hidroginástica; Desenvolvendo atividades de natureza pedagógica nas áreas de alfabetização de idosos, cursos e palestras diversas, exibição de filmes e vídeos e serviço de biblioteca; atividades de natureza artística nas áreas de canto, dança e teatro; de reflexão em grupo sobre questões ligadas ao processo do envelhecimento biopsicossocial, valorização do idoso e melhoria da qualidade de vida; atividades nas áreas de cultura e lazer, por meio de feiras, mostras, exposições, festivais, espetáculos, passeios, excursões, bailes, serestas e outros; Prevê também além do que foi exposto acima, a coordenação da PMI de Manaus, fiscalizando as entidades de Atendimento, quando passa a impor uma série de obrigações a todas elas, governamentais ou não-governamentais, a fim de garantir um padrão mínimo na prestação dos respectivos serviços, respeitando todos os direitos dos idosos ali abrigados. (Freitas Jr (2006) esclarece que ao desenvolverem serviços e assistência aos idosos institucionalizados nas referidas ILPIs, as mesmas estarão evitando dessa forma que se tornem meros ―depósitos‖ de pessoas, onde nos termos do artigo 3˚, do Decreto 1.948/96, o atendimento asilar deverá satisfazer as necessidades do idoso, especialmente no tocante à moradia, à alimentação, à saúde e a convivência social. 2.3.4 - O IDOSO E AS MOTIVAÇÕES PARA INSTITUCIONALIZAR Nesta parte do trabalho será exposta a pesquisa qualitativa, onde através das respostas dos idosos entrevistados na Fundação Dr. Thomas. Ao responderem as perguntas formuladas, as mesmas serão descritas conforme o que foi transmitido por eles, mantendo-se assim a originalidade e fidegnidade das mesmas. Foi perguntado aos idosos entrevistados como se deu a sua vinda para a instituição? E o que achou da decisão? As respostas dadas pelos idosos entrevistados e obtidas foram às seguintes: Eu procurei o Dr. Thomas porque não tenho ninguém... morava sozinho, perdi o contato com a minha família desde que vim morar em Manaus... sou do interior. Me informaram que no Dr. Thomas eu poderia morar e aqui estou. (Idoso 74 anos) Ah! Como eu vim parar aqui?... Foi a minha filha, coitada ela não tem tempo de olhar pra mim... passa o dia trabalhando, ela ainda tem os filhos pra olhar. Mas quem sabe um dia ela ganha um dinheirinho e venha me buscar, né? (Idosa, 69 anos) Foi a minha patroa. É que ela não é de Manaus e vai embora, eu ―num” vou poder ir com ela... ‖tô” muito ―veia”, é melhor ficar aqui na Fundação, não tenho ninguém mesmo que possa me olhar, num casei e nem tive filhos. (Idosa 71) É uma história muito longa, é que eu morava no interior do Pará e fui convidado por um colega pra trabalhar em Manaus. Morávamos na mesma estância, só que ele se casou e a mulher dele disse que não ia cuidar e nem querer nenhum velho na casa dela. Isso me deixou muito triste, fui morar sozinho, não arranjei nenhuma companheira... fiquei só... e vim parar aqui. (Idoso, 68 anos) Vim morar na fundação depois que a minha mulher morreu, nós ―fumos” casados 50 anos, ―tivemo‖ três filhos só que cada um foi ―prum‖ lado. Casar de novo eu num quero, vim pra fundação por conta própria, ―mermo” o dinheiro que recebo é muito pouco pra pagar aluguel, comida, remédio, eu recebo um salário, é pouco né? (Idoso, 81 anos) Diante destas falas, observamos que existe um grau muito grande de conformismo dessas pessoas, em relação à nova situação por eles vivenciadas. Podemos até destacar que, a causa disso seja por conta da própria ideologia que é repassada pela sociedade capitalista, onde o idoso é aquele que já está velho e que não tem mais nenhuma serventia. Pois conforme Beauvoir (1970, p.242): ―quem impõe o estatuto das pessoas é a classe dominante; conta, no entanto, com a cumplicidade de toda a população ativa‖. Outro destaque em relação às respostas deles, está relacionada à questão da solidão vivenciada por alguns deles, uns por conta de terem ficado viúvos e outros porque nunca se casaram, conforme o que pode ser observado em suas respostas. Sobre esta questão, para Capitanini e Neri (2004, p.73,) ―a solidão é mais freqüente entre mulheres idosas do que entre homens idosos, e mais freqüentes também entre idosos solteiros, viúvos e descasados do que entre os casados de ambos os sexos‖. Foi perguntado como era o relacionamento do idoso com seus familiares, e como está esse relacionamento hoje, após a institucionalização. Ressalvamos que aqui, dos 10 entrevistados e que possuem família, 03 não quiseram responder essas perguntas, o que foi respeitado. Em relação aos 07 idosos que se dispuseram a participar foram obtidas as seguintes respostas. Muito boa, mas chega um momento que se quer ficar morando sozinho, né mesmo? (Idoso, 73 anos) Ótima, meus filhos não queriam que eu viesse pra cá, mais eles tem a vida deles. (Idosa, 65 anos) Olha minha filha, eu prefiro morar aqui, morar com família é muito ruim. Não gosto nem de lembrar. (Idoso, 80 anos) Ah! É boa, eles sempre vem me visitar, fico triste quando vão embora... mas eles sempre voltam quando é visita, e isso me acalma. (Idosa, 70 anos) Família? Eu prefiro não falar sobre ela. Você já foi abandonada alguma vez? Nem queira saber... é muito ruim. (Idoso, 74 anos) Minha família é muito boa, sempre que podem eles vem me visitar, ou então telefonam para saber como eu estou... são muito bons. (Idosa, 77 anos) Meus filhos são ótimos, me dou muito bem com eles. (Idoso, 70 anos) Ao analisarmos as respostas, observamos que mesmo estando institucionalizados e separados de seus familiares, estes idosos ainda descrevem que é importante manter o vínculo familiar. Sobre essa questão Alcântara (2009, p.23) diz que ―por ser a família a principal fonte de apoio e cuidado aos idosos, mesmo que os filhos morem afastados, de modo geral, a afetividade é preservada‖. Foi questionado aos idosos se eles recebiam visitas na Fundação e quem eram estas pessoas. Foram obtidas as seguintes respostas: Visitas? Sim, sempre tem as pessoas da igreja. Eu gosto muito quando eles vem. (Idosa, 63 anos) Quase sempre vem um parente meu, é raro mais aparece. (Idoso, 74 anos) Recebo sim, vem os meus sobrinhos. Eu gosto muito deles. (Idosa, 76 anos) Sim, vem a minha amiga, essa não esquece de mim, e vem contar as novidades (fofocas), eu gosto. (Idosa, 69 anos) Sim, vem muito estudantes, eles perguntam muito. (Idoso, 68 anos) Não. Também não faço questão, sempre fui só. (Idoso, 70 anos) Sobre as respostas obtidas, verificamos uma satisfação ao relatarem quem são estes visitantes para eles, os laços de afinidade entre os idosos e as visitas por eles recebidas, vieram demonstrar que, mesmo estando em uma instituição, às relações de amizades, familiares ou até mesmo de desconhecidos, proporcionam a estas pessoas uma satisfação por se sentirem ainda lembrados. Capitinini e Neri, em relação a isso dizem que ―a manutenção de relações sociais com os familiares e, principalmente, com amigos da mesma geração favorece o bem estar psicológico e social dos idosos‖. (p 74) Essas mesmas autoras comentam que a solidão é o resultado da condição de perdas do suporte social, de declínio na participação em atividades sociais e redução no senso de realização social, o que de certa forma pode estar justificando a resposta de um dos idosos entrevistados. Quando foi perguntado sobre o relacionamento do idoso com os outros institucionalizados e com os profissionais que trabalham na fundação, foram as seguintes respostas obtidas: Eu me dou bem com todos os residentes e funcionários da casa, todos me tratam muito bem. (Idoso, 65 anos) Eu sou amigo de todos da fundação. (Idoso, 73 anos) Eu não posso me queixar, gosto de uns e de outros. (Idosa, 71 anos) Eu me relaciono bem com todos. Posso considerá-los como amigos. (Idosa, 68 anos) Aqui eu não confio em ninguém, só em poucos funcionários, mas entre os internados, não tenho afeição por nenhum. (Idoso, 68 anos) Os funcionários são muito bons. Os velhos da fundação é que são sem educação, no refeitório então nem se fala. (Idosa, 70 anos). Verificamos que através de suas respostas, a questão de se relacionar com o outro, em parte são por conta de não ser esquecido ou mesmo porque poderão precisar de alguém caso alguma eventualidade venha ocorrer com os mesmos. Para Foucault (2007), o regime do poder disciplinar utilizado nas instituições, ele não visa nem a expiação, nem tampouco a repressão, mas o mesmo passa a por em funcionamento ―cinco operações bastante distintas, entre as quais o de se relacionar, os atos, os desempenhos, os comportamentos singulares a um conjunto, que é ao mesmo tempo campo de comparação, espaço de diferenciação e princípio de uma regra a seguir’. (p.152) Foi perguntado aos idosos em que atividades eles trabalhavam antes de serem institucionalizados e se eles gostavam de realizar essas atividades, o que eles responderam da seguinte maneira: Eu era empregada doméstica, não gostava nem desgostava, mas não tive outra oportunidade. (Idosa, 68 anos) Eu era sapateiro. Gostava muito de consertar sapatos, hoje nem sei se ainda tem essa profissão. (Idoso, 72 anos) Minha profissão era de garçom, era muito bom. Eu trabalhava mais à noite, se eu não morasse na Fundação eu acho que procuraria trabalhar de novo. (Idoso, 68 anos) Eu cuidava de jardins, era chamado prá cuidar de jardins de muitas pessoas de dinheiro, conhecia todas as plantas. Gostava muito de fazer isso. (Idoso, 75 anos) Trabalhei em uma repartição pública. Não gostava muito, era muita papelada para trabalhar. (Idosa, 79 anos) Observamos que a maiorias dos entrevistados gostavam do que faziam antes de se institucionalizarem, notamos também que os mesmos se referiam ao tempo em que trabalhavam com um ar nostálgico e de saudades. Sobre esta questão, em relação ao trabalho que executavam antes de irem para as ILPIs, para Beauvoir (1970) os idosos, ao serem eliminados do mercado de trabalho, são lhes retirado a possibilidade de trabalhar, e são condenados à própria sorte, uma vez que o capitalismo considera a mão-de-obra do velho inoperante no meio de produção. Ao serem questionados sobre o seu cotidiano antes da institucionalização, obtivemos dos idosos entrevistados as seguintes respostas: Antes eu fazia o que podia, hoje tem que seguir o que a Fundação quer, tem horário prá tudo. (Idoso, 68 anos) Era de casa pro trabalho, e do trabalho pra casa. Nos fins de semana eu ia passear nas praças. Era assim a minha vida. (Idoso, 82 anos) Como eu trabalhava em casa de família, eu só queria chegar em casa e descansar. De vez em quando eu ia passear no centro da cidade. (Idosa, 80 anos) Antes eu trabalhava só pela manhã, de tarde até de noite eu ficava em casa, não era ―rueira‖. (Idosa, 75 anos) Conforme as respostas dos idosos, percebemos que eles por terem uma vida muito comprometida com o trabalho, raramente sobrava tempo para eles se divertirem ou fazerem alguma outra atividade diferente da exercida no trabalho, uma característica presente nas sociedades capitalista. Referente a essas respostas, Coury (1993, p.138) diz que ―quando um indivíduo é privado de uma atividade ou atitude em seu trabalho, ele tende a compensar isso fora do trabalho‖. Já para Deps (1993) a idéia generalizada e expressa dos motivos mencionados pelos idosos, onde a reduzida participação dos mesmos em outras atividades devem ser compreendidas dentro de uma análise ampla do contexto em que estavam inseridos. Sobre ao serem institucionalizados, de quais atividades eles participam e se gostam de participar das mesmas. A contribuição sobre os referidos questionamentos foram às seguintes: Gosto de todas as atividades que a Fundação oferece pra nós. (Idosa, 68 anos) Participo das ginásticas que fazemos, e gosto muito de dançar. Fico esperando o dia que vai ter seresta aqui na Fundação. (Idosa, 72 anos) Gosto quando tem bingo, dançar eu não posso. Quem vai querer dançar comigo na cadeira de rodas?. (Idoso, 71 anos) Gosto quando tem algum passeio para fazer, aí eu me enfeito toda. (Idosa, 71 anos) Eu gostaria de participar de hidroginástica e de futebol. (Idoso, 69 anos) Refletindo sobre as respostas dos idosos entrevistados, conseguimos entender que, eles através da maioria de suas respostas, não aprenderam a aproveitar e usufruir o seu tempo livre. Em concordância a isto, Cançado (1986, p.58) propõe que ―O idoso está aptos a participar de qualquer atividade de lazer, desde que lhe sejam dados as condições para fazê-lo, estimulando as suas iniciativas e valores‖. Quando questionados sobre a instituição enquanto moradia, eles responderam dessa forma: A instituição é tudo que uma pessoa idosa como eu queria. Gosto muito daqui. (Idosa, 71 anos) A Fundação é como uma casa de repouso para os idosos. É uma casa que tem todo o conforto, e que oferece seis refeições por dia. Estou muito satisfeito. (Idoso, 82 anos) O Dr. Thomas é um acolhimento onde eu moro, onde eu sou bem tratado. É uma coisa de Deus, para mim é uma benção de Deus. (Idosa, 75 anos) A Fundação é pra mim só um lugar para passar um tempo, logo eu vou voltar para a minha casa de verdade. (Idosa, 68 anos) A Fundação é pra mim a melhor coisa, pois onde eu morava, não tinha segurança, aqui eu me sinto seguro. (Idoso, 90 anos) Eu gosto muito daqui, só não gosto dos vizinhos (dos outros residentes). (Idoso, 71 anos) Sobre as respostas que os idosos entrevistados forneceram, observamos que os mesmos se conformam com a situação em que estão vivendo, pois o fator gratidão, segurança e alimentação vêm demonstrar o grau de conformismo que os mesmos possuem. Canôas (1985) afirma que as instituições que amparam os velhos, propõem-se a cuidar das mesmas e, para tanto, organiza-se em função do que o idoso necessita como alimentação, higiene, abrigo, cuidados médicos, distração para passar o tempo, atividades física entre outras. Segundo Zimerman (2000), a moradia tem muita importância para as pessoas, porém para as pessoas idosas ela passa a assumir um papel mais relevante ainda, pois é dentro dela que ele vai passar a maior parte de sua vida, seja morando sozinho ou com outras pessoas, nunca antes convivido, para tanto ele precisa se sentir confortável e seguro. Em relação à última pergunta feita aos idosos entrevistados, solicitamos que eles deixassem uma mensagem sobre o que é envelhecer para finalização da pesquisa, e abaixo serão expostas as mesmas: Envelhecer é muito ruim quando não se tem família, pois você fica sozinho e os outros é quem tem que cuidar de você. (Idosa, 75 anos) Ficar velho é muito difícil... ainda mais quando não se tem estudo, as pessoas enganam a gente. (idoso, 77 anos) Ficar velho eu tinha muito medo. Tinha medo de que os outros não me entendessem mais sabe? Ficar caduco. (Idoso, 82 anos) Ficar velho não é ruim. Ruim é morar num lugar que não é seu, é horrível. (Idosa, 68 anos) Envelhecer só não é bom quando a família te abandona. (Idosa, 70 anos) Conforme as frases formuladas pelos idosos entrevistados, observamos que eles, assim como algumas pessoas ainda pensam, que o idoso é um "velho "e não tem ―mais utilidade‖, porém ele é um ser humano que necessita de cuidados especiais, não só da família, mas também da sociedade. Isso pode ser revestido, uma vez que o EI em seu Art. 22 determina que ―Nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. Visando um melhor entendimento sobre os relatos fornecidos juntos aos idosos entrevistados, iremos a seguir também expor a opinião dos profissionais que trabalham com a referida população na FDT sobre a temática abordada. 2.4. – O QUE DIZEM OS PROFISSIONAIS O envelhecimento populacional é uma conquista da humanidade, mas apresenta desafios a serem enfrentados pela sociedade e os formuladores de política. Conforme Freitas (2004), com uma prospecção de que no ano de 2050 a população terá uma previsão de mais que dois bilhões de idosos, sendo que 80% estarão nos países em desenvolvimento. Em nível mundial, esta proporção das pessoas com idade de 60 anos ou mais, está crescendo mais rápida que em relação à de outras faixas etárias, como é o caso dos idosos acima de 80 anos, e que nesse ritmo poderá passar dos atuais 11% para 18%. Assim como em todo o país, o cenário é de procura crescente por ILPIs, número reduzido de vagas, pequena quantidade de instituições gratuitas que excluem ainda mais aqueles em situação de vulnerabilidade, sem recursos, condições precárias de muitos espaços e dificuldades para gerir e garantir um atendimento de qualidade. Foram apontados pela direção da FTD como principais motivos para institucionalização dos idosos a incapacidade das famílias, por falta de recursos atenderem seus familiares idosos; o próprio idoso de se manter; a falta de recursos na sociedade que oferecessem os cuidados necessários para os mesmos em seus lares; a falta de moradias que pudessem abrigá-los em meio aberto. Também constatamos que no ato da institucionalização, tanto os idosos como os familiares entrevistados não conheciam outras políticas voltadas para idosos além das Instituições de Longa Permanência (ILP). Para Sluzi (2000) a fragilidade existente do tripé Família-Estado-Sociedade no Brasil acaba ocasionando com isso Institucionalizando idosos que não deveriam ser público dessa modalidade de atendimento. Por essa razão, assim como foi rápido o processo de envelhecimento em nosso país, é necessário haver rapidez também para viabilizar modelos alternativos de assistência. (p 67) Assim exposto a ILPI é, portanto, "fruto das necessidades sociais", sendo objeto de seu controle e, assim, "passível de ser influenciada pela instituição e modificada segundo suas necessidades" (VIEIRA 1998, p 62-65) Em relação à questão da institucionalização dos idosos em ILPIs os profissionais entrevistados responderam da seguinte maneira: Ao ser institucionalizado o mesmo rompe o vínculo que tem com o meio externo e com sua própria família, além de reduzir, mesmo que sem intenção, a independência e autonomia do idoso. (Psicóloga) Para evitar que isso aconteça é necessário que sejam elaboradas políticas que realmente venham a favorecer o atendimento não - asilar para que a pessoa idosa possa permanecer em sua casa o tempo que ele desejar. (Médica) Enquanto profissionais executores das políticas, no fundo sabem que, para a pessoa idosa, não existe lugar melhor para estar do que em seu próprio lar, junto a seus familiares. Mas este lar pode ser um local com situação precária e maus-tratos que comprometem o bem-estar e a própria vida deste idoso. (Assistente Social) Quando é uma alternativa inevitável, que a mesma proporcione dignidade e qualidade de vida para esses idosos. Por outro lado, a instituição tem que romper com sua imagem histórica de segregação. (Enfermeiro) Sobre as respostas fornecidas analisamos que, o idoso ao ir para uma ILPI, é porque a sua família tem se modificado por conta da modernização da sociedade, onde os familiares desse idoso, ao se tornarem quase que toda laborativa. Somada a essas transformações, a escassez de alternativas para essas famílias de manterem seus idosos em casa, pois não conseguem dar um apoio suficiente para o cuidado com os mesmos, tem levado a institucionalização. A esta questão, para Born e Boechat (2006), alguns idosos aprovam a condição de institucionalizados, em decorrência da falta de recursos financeiros próprios ou de familiares. Outros vêm sua condição como marginalização, abandono e rejeição, prostrando-se a espera da morte, sem ter expectativas e desafios Na pretensão de saber qual a maior dificuldade de adaptação desses idosos na instituição, as informações foram: perda de liberdade, abandono pelos filhos, aproximação da morte, além da ansiedade quanto à condução do tratamento pelos funcionários. Contudo, cabe lembrar que, muitas vezes, a ILPI cumpre papel de abrigo para o idoso excluído da sociedade e da família, abandonado e sem um lar fixo, podendo se tornar o único ponto de referência para uma vida e um envelhecimento digno. (BORN e BOECHAT, 2006) Em relação a uma possível desinstitucionalização desses idosos, as respostas foram às seguintes: Caso isso ocorra, as principais dificuldades encontradas seriam de que a própria família não daria um atendimento necessário a esse idoso, uma vez que muitos que se encontram na fundação são justamente porque a família não tem como cuidar do mesmo. ( Assistente Social) A falta de parentes com disponibilidade para a tarefa de cuidador será uma das dificuldades para haver a desistintucionalização do idoso. (Diretora) Acredito que a dificuldade para transportar o idoso até um local de atendimento, será a maior dificuldade que os familiares encontraram caso houvesse a desinstitucionalização do mesmo. (Enfermeiro) Como podemos perceber, para solucionar esta situação de desistitucionalizar esses idosos, há necessidade de uma organização não só da família, mais também da sociedade e do Estado, de forma que possa estar dando respaldo a recebê-los e proporcionar serviços de assistência extra-hospitalar, caso isso não aconteça, irá dar uma continuidade aos mesmos propósitos de antes: que é o do isolamento e da segregação, além de cassar os seus direitos enquanto pessoa e de cidadania. Já Sluzki (2000) descreve que a fragilidade do tripé família-sociedade-Estado no Brasil, acaba institucionalizando idosos que não deveriam ser público dessa modalidade de atendimento, por essa razão, assim como foi rápido o processo de envelhecimento em nosso país, é necessário haver rapidez também para viabilizar modelos alternativos de assistência. Parafraseando Rotelli (1992), a desinstitucionalização é um processo social complexo, que deve envolver todos os atores sociais, visando modificar a forma de organização dessas instituições, criando estruturas que possam vir substituí-las futuramente. Perguntamos sobre o que a FDT faz para proporcionar o resgate familiar desses idosos, e obtivemos as seguintes respostas: Procuramos através de reuniões familiares a promoção desse resgate. Mas encontramos muitas dificuldades, pois muitos alegam não ter tempo, outros dizem que vem e não aparecem. (Psicóloga) As reuniões com os familiares que são proporcionadas na FDT, não são tão promissoras quanto se espera. Mas fazemos de tudo para que esses familiares possam estar participando das mesmas. (Assistente Social) O objetivo das reuniões é de manter o vínculo idoso-família-instituição, fazendo com que essa relação não se desfaça. Além das reuniões, são realizadas festas em que os familiares participam mais. (Diretora) Observamos que a FDT procura de alguma forma, manter o vínculo familiar dos idosos institucionalizados, quer que seja através das reuniões familiares ou das festas proporcionadas a esses idosos. Por outro lado esse apoio social que a FDT proporciona através da família, visa uma forma de contribuição para superar a institucionalização desses idosos. Ou conforme Sluzki (2000), quando existe uma rede de apoio e o convívio com familiares ou outras pessoas, estas podem ser entendidas como verdadeira estratégia de sobrevivência das pessoas que vivem institucionalizadas. Silva, Coelho e Moraes (2005) relatam que uma velhice saudável e uma boa adaptação às mudanças, decorrentes por conta da institucionalização, serão conseguidas quando as funções psicológicas, sociais e biológicas dos idosos, puderem manter-se ou melhorar, mediante um programa de atividades estruturadas. Em relação aos critérios utilizados para que estes idosos sejam institucionalizados, a FDT prioriza que eles não possuam família, na faixa etária a partir de 60 anos, vitimas de maus tratos e vulnerabilidade, e extremamente pobres. De acordo com o Estatuto do Idoso, a assistência prestada em uma ILPI será feita quando for verificada a inexistência de grupo familiar, casa-lar, abandono ou carência de recursos financeiros próprios ou da família, onde estas instituições são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades dos idosos, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensável às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei. 2.5 – Direitos Consolidados e Desafios No Brasil, apesar da ocorrência do processo de redemocratização, estabelecido principalmente com a promulgação da Constituição de 1988, verificamos profundas desigualdades sociais, as quais são vivenciadas mais visivelmente pelos idosos, pois os que hoje têm sessenta anos e mais, em sua grande maioria, tiveram pouco acesso à educação formal e, por força do sistema de governo vigente entre 1961 e 1984, quando eram adultos produtivos, tiveram pouquíssimas chances de realizar propostas de gestão democrático-participativa, ou delas participar, ou seja, a maioria desses idosos vivencia um processo de despolitização. (Canôas, 1995). A propagação do fenômeno envelhecimento e de suas questões foi inicialmente promovida pelas organizações internacionais (Organização Mundial da Saúde e Organização das Nações Unidas) que tiveram papel fundamental na análise e comunicação do impacto do envelhecimento sobre os países em desenvolvimento na tentativa de estimulá-los a adotarem medidas para o enfrentamento dessa realidade. Entre essas medidas, duas tiveram destaque especial: no campo da saúde, fomentar o envelhecimento saudável e, no campo social, lutar pelo envelhecimento com direitos e dignidade (Goldman, 2004). Para o enfrentamento dessa realidade, os idosos buscam fortalecimento no espaço público gerado pelo movimento social, fóruns e Conselhos de idosos, que lhes permitem se posicionarem pela concretização de ideais democráticos, como a conquista de sua cidadania, reinventando sua própria velhice (BREDEMEIER, 2003). Também contribui para isso sua significância numérica e qualitativa e, sua presença no cenário político por meio do voto e da representação. Porém, conforme o autor referenciado, o perfil do idoso citado é diferenciado do idoso que está institucionalizado. Conforme verificamos, a expressão da questão social da velhice e a proposta de políticas públicas são resultantes de um processo de negociação em que se realiza o diálogo entre os sujeitos em questão (a sociedade e o movimento social dos idosos) e os agentes das políticas (Estado e instituições) na busca de coresponsabilidade democrática pela preservação dos direitos e garantias sociais (Paz, 2002). Os direitos dos idosos assegurados na Constituição de 1988 foram regulamentados através da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742/93). Entre os benefícios mais importantes proporcionados por esta Lei, constitui-se o Benefício de Prestação Continuada, regulamentado em seu artigo 20. Este Benefício consiste no repasse de um salário-mínimo mensal, dirigido às pessoas idosas e às portadoras de deficiência que não tenham condições de sobrevivência, tendo como princípio central de elegibilidade a incapacidade para o trabalho (Gomes, 2002), objetivando a universalização dos benefícios, a inclusão social. Apesar disso, essa política pouco vem contribuindo para a construção da cidadania, pois aqueles que se encontram abaixo da linha de pobreza possuem várias necessidades básicas não atendidas, que um salário-mínimo não basta para lhes garantir uma vida digna. Estudos realizados por Sposati (2000) demonstram a insuficiência do saláriomínimo brasileiro, que apenas contempla uma cesta básica, configurando a linha da indigência e reduzindo as necessidades humanas à alimentação. Por sua vez Silva (2006) destaca que o grau de seletividade existente na LOAS faz com que muitos idosos não sejam incluídos nos benefícios, seja por estarem fora do patamar de pobreza ou da faixa etária estipulados pelos critérios da Lei (65 anos), seja por não terem acesso aos documentos exigidos ou por não se encontrarem na condição de ―incapazes para o trabalho‖. Diante dessa realidade, a autora acrescenta ainda que, para ter acesso ao benefício, a pessoa precisa estar numa condição vegetativa enquanto ser humano, embora haja várias formas de deficiências que não permitem a inserção nas relações de trabalho. Reforçando essa assertiva, destacamos que os idosos, pela falta de qualificação e/ou pela estigmatização cultural, são, no geral, menos competitivos no mercado de trabalho, o que não deixa de ser uma ―incapacidade‖, pois ―os capazes‖ asseguram a própria sobrevivência. Como podem ser observadas, as pessoas idosas estão amparadas por várias leis que foram conquistadas por lutas e mobilizações de toda a sociedade, em prol de reivindicações de direitos, justiça e cidadania. Em relação aos direitos consolidados em aportes legais de garantia, podemos citar a PNI através de seu Art. 1º ―o de assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade‖. Direitos esses que são básicos e que devem ser concretizados através de desafios propostos às políticas sociais em vários setores – saúde, habitação, educação, promoção e assistência social, trabalho e previdência social, justiça, cultura, esporte e lazer. Porém o que se nota é que, mesmo tendo esse aparato de leis, as pessoas idosas continuam sendo negligenciadas, exploradas, excluídas, e impedidas de exigirem realmente seus direitos em que determina a Lei maior, que é a CF/88 e parafraseando o seu Art. 3˚ em que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: ―construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicando a pobreza e a marginalização ao reduzir as desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação‖ propondo assim à família, sociedade e o Estado, como um desafio de consolidação dos direitos aos idosos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao atrelarmos a questão da institucionalização do idoso pobre como foco de nossa pesquisa, foi com o objetivo de entender todo esse processo que será justamente de que forma a institucionalização desses idosos. Uma vez que ao chegarem a um asilo, esses idosos passarão a vivenciar outra realidade, diferenciada da qual viviam antes. Atualmente, o idoso ocupa lugares diversos na sociedade em que vive. Entretanto, para alguns, isso não passa a se constituir nenhuma vantagem da contemporaneidade, pois um dos lugares que alguns idosos passam a ocupar e conviver é o asilo; pois parafraseando Vieira (1997), como sendo um dos lugares para se terminar de viver. Sabemos que a existência dos asilos é datada a mais de 400 anos, antes possuíam o objetivo de abrigar indiscriminadamente os mendigos, os doentes e os abandonados; contemporaneamente, apesar de continuarem com uma ação caritativa em atendimento aos mendigos, doentes e abandonados, estes, devem ser mendigos-velhos, doentes-velhos e abandonados-velhos, ou apenas velhos, isso independente de sua idade, do seu estado de saúde (quer que seja física ou mental) e da sua condição familiar, essa complexidade em relação ao perfil de asilado, passa a encontrar na velhice o seu denominador comum, onde segundo não bastando para isso que seja pobre, abandonado, doente ou demente, o idoso asilado tem que ser antes de tudo um velho. A elaboração desta pesquisa trouxe resultados bem significantes, principalmente através de um enriquecimento de conhecimentos sobre a questão da institucionalização de pessoas idosas em Manaus. Como toda pesquisa, obstáculos foram encontrados, principalmente por ser uma pesquisa de caráter exploratório, na qual a dificuldade em organizar dados específicos, principalmente sobre o surgimento destas instituições tanto no Amazonas quanto em Manaus. Poucas referências de literatura, e que várias vezes tivemos que citá-las seguidamente. Esta dificuldade foi sendo superada à medida que enquanto pesquisadora, havia a motivação de não desistir, até atingir o objetivo proposto pela pesquisa. Descobrimos com a pesquisa que a transferência do próprio lar para uma ILPI é sempre desafiante para o idoso, pois ele irá se deparar com uma transformação um tanto quanto radical em relação ao seu modo de vida. Onde o ingresso num asilo assim chamado tempos atrás (muitos dos idosos ainda se referiram a chamar por esta nomenclatura) e hoje ILPI (chamada por nomenclatura, talvez por ser mais aceitável pela sociedade) representa um dilema para o idoso, na qual muitos dos entrevistados descreveram essa entrada (in) definitiva (?) neste local como ―o de ter sua liberdade perdida‖ (grifo nosso). Nesse sentido, as condições de vida e trabalho desses idosos ainda estão longe de serem as ideais, pois ainda existem muitos impasses políticos que não vêem nesses cidadãos, a sua cidadania, deixando–os, muitas vezes a margem, sem fazer valer as legislações existentes para esse segmento. Contudo, essa população almeja e possui perspectivas quanto aos futuros velhos que a sociedade terá, e para isso buscam constantemente a inserção de seus familiares no meio educacional, orientando-os a buscar sempre melhores condições de vida e trabalho. Assim, tivemos a oportunidade de conhecer de perto a realidade em que os idosos estão inseridos, suas condições de vida e sua participação dentro do processo produtivo e familiar, produzindo serviços que atendem às necessidades sociais, legitimando a sua ação dentro desse mercado e, buscando, desta maneira, a melhoria de sua condição de velho e trabalhador, contribuindo ainda para a melhor condição de vida também de sua família. Os pensamentos destes idosos, não divergem da literatura onde alguns autores descrevem esse processo, também da mesma forma que eles. E até menos chocante como Golffman (2007), Beauvoir (1970) diz que ―às vezes a hospitalização parece devolver ao velho o gosto pela vida‖, pois ele irá se sentir menos isolado terá atenção necessária, contraído novas amizades e passando até mesmo que raramente, a cuidar mais de si mesmo. A importância do trabalho do idoso na melhora de sua condição de vida manifestou-se de duas maneiras principais, uma ligada ao aspecto econômico e a outra ao aspecto social. Porém, foi observado que ambos os aspectos os impulsionam a vivenciar uma condição melhor de vida, sendo alguns deles chefes de famílias, lutando por um espaço no meio produtivo e buscando melhores condições para a educação e ascensão de seus entes queridos. Felizmente, conforme informações obtidas durante todo o processo da pesquisa, no Brasil a prática de institucionalizar as pessoas idosas em asilos, casas de repouso, ILPIs ou similares não é tão comum. Enquanto que a institucionalização é diferenciada nos países desenvolvidos, pois nestes lugares, esses serviços já alcançaram níveis altamente sofisticados de conforto e eficiência, o que de certa forma vem entrar em contradição à realidade Brasileira. Em nossa região, em destaque a cidade de Manaus, o que foi observado é que se tornou uma ação comum, em famílias cuja renda mensal está abaixo de dois salários mínimos, a opção pela institucionalização torna-se inevitável por razões de incapacidade destas famílias oferecerem os cuidados necessários a esses idosos. Contemporaneamente, tem-se enfatizado políticas para Crianças e Adolescentes que é de suma importância para o desenvolvimento do país, mas não se pode perder de vista o futuro que, a cada dia, faz-se presente com o envelhecimento da população, pensar a questão do idoso não se restringe apenas pensar sobre saúde, requer uma visão mais ampliada sobre a questão da velhice e do próprio envelhecimento. Assim, torna-se relevante pensar sobre todo esse processo de crescimento demográfico de pessoas idosas e como profissionais, não podemos pensar apenas na quantidade de pessoas idosas que estão presente em todo o Brasil, e que de uma maneira ou de outra ainda precisa de assistência e de políticas efetivas para lhes proporcionar a dignidade, quer que seja por motivos de aposentadoria, de doença, invalidez, desemprego, ausência familiar e institucionalização. Necessita-se sim, pensar nesses idosos que são excluídos de políticas públicas pelo processo de desenvolvimento a partir de uma idade. Assim, cabe a sociedade a tarefa de repensar a função do trabalho como fonte de prazer, subsistência e exercício de cidadania sem restrições raciais, cronológicas e ideológicas, o qual pode ser sim um fator para melhoria das condições de vida da população, desde que aliada ao processo educacional igualitário para todos, sem qualquer discriminação. Em consonância ao que tange a Constituição Federal de 1988, em seu Art. 229 no diz que ―os pais tem o dever de assistir, criar educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade‖. E ainda no seu Art. 230 ―a família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida‖. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCÂNTARA, Adriana de Oliveira. Velhos institucionalizados e família: entre abafos e desabafos – Campinas, SP. Editora: Alínea, 2004 – (Coleção Velhice e Sociedade) BARROS, D.D. Desinstitucionalização: cidadania versus violência institucional. Revista Saúde Debate, n.4. Setembro 1993. (p. 68-76) BATISTA, Djalma. O Complexo da Amazônia – Análise do processo de desenvolvimento. 2ª. Ed. Manaus: Editora Valer, EDUA e INPA, 2007. BEAUVOIR, Simone de. A Velhice: a realidade incômoda – São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970. BECKER, Bertha K. Amazônia: Geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro: Garamond, 2004 BEMFAM-DHS. Brasil: Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, 1996 – Relatório Preliminar. Rio de Janeiro; BEMFAM-DHS /Macro Internacional, 1996. BENAION, Noval. A Subordinação reiterada: Imperialismo e subdesenvolvimento no Brasil. Manaus: Editora da Universidade federal do Amazonas, 2006, BENTES, Norma. Manaus realidade e contrastes sociais / Norma Bentes. Manaus: Editora Valer; Cáritas Arquidiocesana de Manaus, 2005. BENTES, R. M. Zona franca, desenvolvimento regional e o processo migratório para Manaus. In ARAGON, L. E. e MOUGETOT, L.J.A. (orgs.). Migrações internas na Amazônia: contribuições teóricas e metodológicas. Belém: Cadernos NAEA 8, 1986. BERQUÓ E. Algumas considerações demográficas sobre o envelhecimento da população no Brasil. In: Anais do 1º Seminário Internacional Envelhecimento Populacional: uma agenda para o final do século. Brasília (DF): MPAS/SAS; 1996. p. 16-34. BERZINS. M.A.V.S. Envelhecimento populacional: uma conquista para ser celebrada. In Revista Serviço Social e Sociedade nº 75. Ano XXIV. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003. Boff, L. Saber cuidar – ética do humano – compaixão pela terra. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. BORGES, Maria Cláudia Moura. O Idoso e as Políticas Públicas e Sociais no Brasil. In As múltiplas faces da velhice no Brasil / Olga Rodrigues de Moraes Von Simson, Anita Liberalesso Neri, Meire Cachioni (orgs.). – Campinas, SP: Editora Alínea, 2006. – (Coleção Velhice e Sociedade). (p 79-104) BORN,T; e BOECHAT, N.S. A qualidade dos cuidados ao idoso Institucionalizado. In Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p.768-77. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: T.A.Queiróz, 1987 BOTEGA, J. e DALGALARRONDO, P. Saúde mental no Hospital Geral: espaço para o psiquico. São Paulo: HUCITEC, 1993. 116p BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Barueri, SP. Editora: Manole, 2004. -----------. Estatuto do Idoso- Brasília: Senado Federal, 2005. ------------. Câmara dos Deputados. Projeto de lei n. 3657/89. Brasília, DF, l989. -------------. Portaria n. 810 Normas para Funcionamento de Casas de Repouso, Clínicas Geriátricas e Outras Instituições Destinadas ao Atendimento ao Idoso 1989 set 22. Pub DO [2003 set. 27]. ---------------. SEAS Secretaria de Ação Social. Portaria nº 2874/2000. Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) ---------------. MS. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 283, de 26 de setembro de 2005. Regulamento técnico para o funcionamento das instituições de longa permanência para idosos. Brasília: ANVISA; 2005 ----------------. MPAS. Política Nacional do Idoso. Brasília, 1994. BRASIL. Estatuto do Idoso. Lei nª 10.741 de 1 de outubro de 2003. BREDEMEIRE, S.M.L. ―Conselho do idoso como espaço público‖. Revista Serviço Social e Sociedade, ano XXIV, n.75, p.84-102, 2003. BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário de língua portuguesa – São Paulo: FTD: LISA, 1996. CAMARANO, Ana Amélia (coord.). Características das Instituições de Longa Permanência para Idosos. Brasília: IPEA, 2007. CAMARANO, Ana Amélia e PASINATO, Maria Tereza. O Envelhecimento na Agenda das Políticas Públicas, in: CAMARANO, Ana Amélia (Org.) Os Novos Idosos Brasileiros, Muito Além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA, 2004. CAMARANO, A.A.; KANSO, S.; MELLO, J.L.. Como Vive o Idoso brasileiro? In Camarano, A.A (org ). Os Novos Idosos Brasileiros: muito além dos 60. Cap.1 p.2573. Rio de Janeiro: Ipea, 2004. acesso em 01-03-2010. CAMARANO, A. A., MEDEIROS, M. Introdução. In: Camarano, A. A. (org.). Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA, dez. 1999. CANÔAS, Cilene Swain. A condição humana do velho. São Paulo: Editora Cortez, 1983. CANÇADO, F.A.X. Idoso e sociedade: aspectos demográficos. In: Temas de Geriatria e Gerontologia. Arhon Hutz [et al.]. Porto Alegre: Fundo editorial Byk, 1986. CAPITANINI, Marilim Elizabeth Silva; NERI, Anita Liberalesso. Sentimentos de solidão, bem;estar subjetivo e relações sociais em mulheres idosas vivendo sozinhas. IN Velhice bem-sucedida: aspectos afetivos e cognitivos/ Anita Liberalesso Neri, Mônica Sanches Yassuda (orgs.); Meire Cachioni, (colab.). – Campinas, SP: Papirus, 2004. – (Coleção Vivaidade). CENEVIVA, W. ―Estatuto do Idoso, Constituição e Código Civil: a terceira idade nas alternativas da lei‖. A Terceira Idade, v.15, n.30, p.7-23, 2004. CHAIMOWICZ, F. Grecco D.B. Dinâmica da institucionalização de idosos em Belo Horizonte. Brasil: Revista Saúde Pública, 1999. Dezembro 33 (6) (PP 454-460) CHRISTOPHE, Micheline Instituições de longa permanência para idosos no Brasil: uma opção de cuidados de longa duração? / Micheline Christophe. – Rio de Janeiro : 2009. CÍCERO, Marco Túlio, (103 -43 A.C.) Saber envelhecer e a Amizade. / Marco Túlio Cícero: trad. de Paulo Neves. – Alegre: L&PM, 2002 (p29). Coleção L&PM Pocket – 63. COSTA, L.V.A. ―Política Nacional do Idoso: perspectiva governamental‖. In: Anais do I Seminário Internacional – ―Envelhecimento Populacional: uma agenda para o final do século. Brasília: MPAS, SAS, 1996. p.46-63. CREUTZBERG, Marion; GONÇALVES, Lúcia Hisako Takase; SOBOTTKA, Emil Albert. A sobrevivência econômica de instituições de longa permanência para idosos empobrecidos. In Revista Latino-americana de Enfermagem. São Paulo, Ribeirão Preto: EERP / USP, 2007. -- Setembro-Outubro, no.15 (número especial). (pp.: 1-8) DEBERT, Guitte A reinvenção da velhice: socialização e reprivatização do envelhecimento. São Paulo: Fapesp, 2004 processos de DIAS, Edinea Mascarenhas. A Ilusão do Fausto – Manaus: 1890-1920. Manaus: Editora Valer, 2007. FERNANDEZ, Rogélio E; CARVALHO, José Alberto M. de. A Evolução da fecundidade no Brasil, período 1957-1959; aplicação da técnica dos filhos próprios para se estimar a fecundidade ano a ano. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, Campinas, v.3, n.2, p. 67-86, jul./dez. 1986. FERREIRA, Márcio Alexandre Moreira. O desenvolvimento do capitalismo em Manaus. – Manaus: Edições: Governo do estado do Amazonas; Secretaria de Educação e Cultura; Universidade Federal do Amazonas, 2003 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão – Petrópolis, RJ: Vozes, 33ª ed. 2007. -----------------------------. Microfísica do Poder / Michel Foucault; organização e tradução de Roberto Machado. – Rio de Janeiro: Edições Graal, 1997. FRAIMAN, Ana P. Coisas da idade. 1ª Ed. – São Paulo: Gente, 1995 FREITAS Jr. Roberto Mendes de. Direitos dos Idosos: Título II. In Direitos da criança, do adolescente e dos idosos: Doutrina e Legislação. CABRERA, Carlos Cabral; WAGNER Jr, Luiz Guilherme da Costa; FREITAS Jr, Roberto Mendes de (orgs) . – Belo Horizonte: Del Rey, 2006. FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas Técnicas para o Trabalho Científico. Explicitação das Normas da ABNT. – 13. ed. – Porto Alegre: s.n., 2005. GALVÃO, Manoel Dias. A História da Medicina em Manaus. Manaus: Valer / Governo do estado do Amazonas / Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2003. GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos / Erving Goffman; {tradução Dante Moreira Leite}. – São Paulo: Perspectiva, 2007. – (Debates: 91 / dirigida por J. Guinsburg) GOLDMAN, S.N. ―As dimensões sociopolíticas do envelhecimento‖. In: PY, L. et al. Tempo de envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2004. Cap.3, p.61-81. GROISMAN, D. Duas abordagens aos asilos de velhos: Da clínica Santa Genoveva à história da institucionalização da velhice in Cadernos Pagu nº13 – Campinas, São Paulo: Núcleo de Estudos de Gênero/UNICAMP, 1999. HADDAD, Eneida Gonçalves de Macedo. O direito a velhice: os aposentados e a previdência social. 2ª ed. São Paulo: Editora Cortez, 2001. Hutz, Maria Helena. Aspectos Genéticos do envelhecimento. In: Temas de Geriatria e Gerontologia. Arhon Hutz [et al.]. Porto Alegre: Fundo editorial Byk, 1986. IAMAMOTO, Marilda V. Relações sócias e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez; Lima, Per: CELATS 2003. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991,1996, 2002 e 2010 Fundação IBGE. ---------- Sinopse preliminar do Censo Demográfico, 1991. Rio de Janeiro: FIBGE, 1991. KALACHE, Alexandre. Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira. Revista Saúde Pública, v. 21, n. 3, jun. 1998. KARSCH, Úrsula Margarida S. Envelhecimento com dependência: revelando cuidadores- São Paulo: EDUC, 2004. LEMOS, N. e MEDEIROS, S L. Suporte Social ao Idoso Dependente e organizadores.Tratado de Geriatria e Gerontologia, 2ª ed. 2002. Guanabara Koogan, cap.107, p.892-897. LORDA, C.R ; SANCHES, C.D. Recreação na terceira idade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. LOREIRO, V.R. Amazônia: história e análise de problemas: do período da borracha aos dias atuais. 2ª Ed.—Belém: Dsitribel, 2002. LOUGON, M. Desinstitucionalização da assistência psiquiátrica: uma perspectivacrítica. Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.3, n. 2, p.137-164, 1993. MAGALHÃES, Dirceu N. A invenção social da velhice. – Rio de Janeiro: Papagaio, 1987 MASCARO, Sonia de Amorim. O que é velhice. – São Paulo: Editora Brasiliense, 2004. – (Coleção Primeiros Passos – 310) MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. MORAGAS, Ricardo Moragas. Gerontologia social: envelhecimento e qualidade / Ricardo Moragas Moragas: Prólogo de Juan J. Lins; [tradução Nara Costa Rodrigues]. – São Paulo: Paulinas, 1997. – (Sociologia atual) MOREIRA, Morvan de M. Envelhecimento da população brasileira: intensidade, feminização e dependência. Revista brasileira de estudos populacionais. Campinas, v.15, n.1, jan./jun., p. 79 – 93. 1998. MOURA, Hélio Augusto de et al. Déficits Sociais na Amazônia. Recife: UFPe,1990. NERI, Anita L. Desenvolvimento e Envelhecimento. -- São Paulo, Campinas: Papirus, 2008. NOVELLO, Fernanda Parolari.. Idade da sabedoria: como conseguir uma velhice sã e serena. São Paulo: Paulinas, 2002. – (Coleção Terceira Idade) OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. Terceira Idade: do repensar dos limites aos sonhos possíveis. – São Paulo: Paulinas,1999. Coleção Terceira Idade. OMS – Organização Mundial de Saúde (2002), ONU – Organização das Nações Unidas: Centro de Informação das Nações Unidas – (01/10/ 2002, p 19) PAVARINI, S.C.I. (1996). Dependência comportamental na velhice: uma análise do cuidado prestado ao idoso institucionalizado in ALCÂNTARA, Adriana de Oliveira. Velhos Institucionalizados e família: entre abafos e desabafos – Campinas, SP. Editora: Alínea, 2004 – (Coleção Velhice e Sociedade). PEIXOTO, Clarice. Entre o estigma e a compaixão e os termos classificatórios: velho, velhote, idoso, terceira idade... In. Velhice ou terceira idade? Estudos antropológicos sobre identidade, memória e política / Organizado por Myriam Moraes Lins de Barros. – reimp. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. PICCININI, Walmor João. Aspectos psicológicos do envelhecimento. In: Temas de Geriatria e Gerontologia. Arhon Hutz [et al.]. Porto Alegre: Fundo editorial Byk, 1986. PINTOS, Cláudio César Garcia. O Entardecer da Existência: ajuda para o idoso viver feliz. São Paulo: Ed. Santuário, 1992. PLANO DE AÇÃO INTERNACIONAL SOBRE O ENVELHECIMENTO, 2002 / Organização das Nações Unidas; tradução de Arlene Santos, revisão de português de Alkmin Cunha; revisão técnica de Jurilza M.B. de Mendonça e Vitória Gois. – Brasília : Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2003. PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 1995: Fundação IBGE. 1996. IBGE. Sinopse preliminar do Censo Demográfico, 1991. Rio de Janeiro: FIBGE, 1991. PMM - PREFEITURA MUNICIPAL DE MANAUS: Decreto nº 0330 de 26 de outubro de 2009. Regimento Interno da Fundação de Apoio ao Idoso ―Doutor Thomas‖. -----------: POLÍTICA MUNICIPAL DO IDOSO. Decreto n° 5.482, de 7 Março de 2001. PRESTES, Maria Luci de Mesquita. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 3ªed. – São Paulo: Rêspel, 2007. PUPO, Lúcia Medina. Moradia compartilhada: uma alternativa viável para idoso?. Revista Kairós. Volume 7, número 1, 2004. REIS. Artur César Ferreira. A Amazônia e a cobiça internacional. São Paulo: Companhia editora Nacional, 1976 RODRIGUES, Roberto N.; WONG, Laura R. Evolução da fecundidade na Região Norte do Brasil. Manaus: Fundação Joaquim Nabuco - Instituto de Pesquisas sobre a Amazônia. 1996. – (Manaus, 18-20 de Novembro de 1996). RICHARDSON, Roberto Jarry [et. al.]. Pesquisa Social: métodos e técnicas. – São Paulo: Atlas, 1999. ROTELLI, F. A experiência da desinstitucionalização italiana: o processo Trieste. Revista Saúde Debate, n.2, jun. 1992. (Cadernos Polêmicos) ROTELLI, F. et al. Desinstitucionalização uma outra via: a reforma psiquiátrica italiana no contexto da Europa Ocidental e dos países avançados. In: NICÁCIO, F. (org.). Desinstitucionalização. São Paulo: HUCITEC, 1990. p. 17-59. SALGADO, Marcelo A. Gerontologia Social. In: Manual de Geriatria e Gerontologia. – Frederico Alberto de A. Gomes/Paulo César A. Pereira (orgs.). Rio de Janeiro: Brasileira de Medicina Ltda., 1980 SANTOS, Silvana Sidney Costa. Enfermagem Gerontogeriátrica: reflexão à ação cuidativa. São Paulo: Robe Editorial, 2001. SBGG - Seção São Paulo – Instituição de Longa Permanência para Idosos: manual de funcionamento. São Paulo, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Seção São Paulo, 2003.:p.39 SÊNECA, A Vida Feliz. Trad. Luiz Feracine. Título original: De Vitta Beata. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal – 43. – São Paulo: Editora Escala, 1952: 10. SCHOPENHAUER, A. Alforismo para a sabedoria da vida. – 4ª Ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 1964. (p:223) SCHERER, Elenise. Baixas nas carteiras: desemprego e trabalho precário na Zona Franca de Manaus/ Elenise Scherer. – Manaus: EDUA, 2005. SKINNER, B.F.; VAUGHAN, M.E. Viva bem a velhice: Aprendendo a programar sua vida. S.Paulo: Summus, 1985. 141p. SLUZKI, CE. De como a Rede Social afeta a saúde do indivíduo e a saúde do indivíduo afeta a Rede Social. In: Sluzki, CE. (Org.) A rede social na prática sistêmica: alternativas terapêuticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. p. 67-85. SOUZA, Maria Luiza de. Serviço Social e Instituição: a questão da participação – São Paulo: Cortez, 1982. TEIXEIRA, Solange Maria. Envelhecimento e trabalho no tempo do capital: implicações para a proteção social no Brasil. – São Paulo: Editora Cortez, 2008 VERAS, Renato. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará: UERJ, 1994. ---------- Renato. A longevidade da população: desafios e conquistas. In: Revista Serviço Social e Sociedade nº 75. Ano XXIV. 1ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003. VIEIRA, Balbina Ottoni. História do serviço social: contribuição para a construção de sua teoria – 4ª ed. – Rio de Janeiro: Agir, 1985. VIEIRA EB. Qualidade de vida na instituição. In: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - seção São Paulo. Consensos de Gerontologia. 1º Congresso Paulista de Geriatria e Gerontologia; 1998. junho 24-27; São Paulo: SBGG; 1998. p.62-5. WOOD, Charles H; CARVALHO, José A. Magno de. A Demografia da desigualdade no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 1994 ZACHAREWICZ, Fernanda. Velhice – uma breve recuperação histórica. Revista Kairós. – São Paulo, 6 (2), dezembro 2003. (pp.81-93) ZIMERMAN, Guite I. Velhice: aspectos biopsicossociais – Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. APÊNDICES Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ FORMULÁRIO - 2011 (com os idosos) Projeto de Pesquisa: O processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus: um estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr Thomas. Identificação Nome: ................................................................................................................................. 1- Sexo: F ( ) M( ) 2- Data de Nascimento: ............/............/............. 3- Naturalidade: ......................................................................................................... 4- Escolaridade: ......................................................................................................... 5- Estado Civil: ..................................................... 6- Profissão: ........................................... 7- Número de filhos ................................................................................................ 8- Situação Sócio-econômica: ( ) Aposentado (a) ( ) Pensionista ( ) Beneficiário ( ) Outros 9- Qual a sua renda mensal: ( ) 1 salário mínimo ( ) 2 a 3 salários ( ) 4 a 6 salários ( ) 6 ou mais salários 10-E a renda mensal de sua família: ( ) 1 salário mínimo ( ) 2 a 3 salários ( ) 4 a 6 salários ( ) 6 ou mais salários 11-Local de Residência antes de vir para a instituição: ........................................................................................................................... 12- Com quem morava antes de vir para a instituição? ............................................................................................................................. TRAJETÓRIA DE INSTITUCIONALIZAÇÃO 1- Como se deu a sua vinda para a instituição? 2- O que achou da decisão? 3- Como era o seu relacionamento com seus familiares? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Não comentou 4- E hoje com está essa relação? ( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Não comentou 5- Recebe visitas? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes ( ) Não informou 6- Caso positivo: de quem? 7- Como é o seu relacionamento com os outros institucionalizados? 8- E com os profissionais que trabalham na instituição? 9- Que atividades você realizava antes de vir para a instituição? 10-Você gostava de realizar essas atividades? ( ) Sim ( ) Não. Por que? 11-E que atividades você faz aqui? 12- Você participa dessas atividades? ( ) Sim ( ) Não. Por que? 13-Você gosta de realizar essas atividades? ( ) Sim ( ) Não. Por que? 14-Como era a sua vida antes de vir para a instituição? 15-Como era o seu cotidiano antes da institucionalização? 16- Do que você tem mais saudades? 17-O que você gostaria de realmente fazer aqui na instituição? 18- Você sente falta das atividades que fazia antes de vir para a instituição? Por que? 19- O que você espera da instituição? 20- Que mensagem você gostaria de deixar para finalizar essa entrevista? Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS _______________________________________________________________________ FORMULÁRIO - 2011 (com os profissionais das ILP´s) Projeto de Pesquisa: O processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus: um estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr Thomas. Identificação Nome: ................................................................................................................................. Sexo: F ( ) M( ) Profissão: ............................................................................................................................ Setor que trabalha na instituição: ....................................................................................... 1)- Como é o processo de acolhimento aos idosos que vem para a instituição? 2)- Que atividades são desenvolvidas com os idosos na instituição? 3)- Há uma preocupação em resgatar a história de vida desses idosos ?De que maneira? 4)- Qual a maior dificuldade de adaptação desses idosos na instituição? 5)- Como é feito o processo de resgate do relacionamento familiar desses idosos? 6)- Qual profissional da instituição é mais solicitado por esses idosos? 7)- Como é o convívio social entre esses idosos? 8)- Que atividades são proporcionadas para essa convivência? 9)- Vocês atendem as expectativas desses idosos? ( ) Sim ( ) Não. Como? 10)- Vocês acha que a institucionalização é a solução para a questão social do idoso pobre? ( ) Sim ( ) Não. Por que? Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ FORMULÁRIO - 2010 (com o gestor da fundação) Projeto de Pesquisa: O processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus: um estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas. Identificação Nome: ................................................................................................................................. Sexo: F ( ) M( ) Profissão: ............................................................................................................................ A quanto tempo trabalha na instituição: ............................................................................ 1)- Qual o critério utilizado pela Fundação Dr. Thómas para institucionalização desses idosos? 2)- Que providências são tomadas para evitar a institucionalização desses idosos? 3)- Há uma preocupação em resgatar a história de vida desses idosos ? De que maneira? 4)- Qual a maior dificuldade que a Fundação Dr. Thómas encontra para institucionalizar esses idosos? 5)- É feito algum processo de resgate familiar desses idosos? ( )Sim ( ) Não. Em caso positivo como é feito? E caso negativo por que não é feito? Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ CARTA DE APRESENTAÇÃO Manaus,........ de ......................... de 2010. Como etapa de construção da Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia - PPGSS, da Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Eu, WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS, mestranda do referido programa, sob a orientação da Professora e Doutora YOSHIKO SASSAKI, gostaríamos de solicitar a possibilitar de estarmos executando nossa pesquisa nesta referida instituição, para que possamos coletar dados referentes ao projeto de pesquisa intitulado “O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO POBRE EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR. THOMAS‖. Que tem como objetivo geral o de Desvelar o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus através de estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas. Esclarecemos ainda que segue em anexo ao projeto, os termos necessários para a obtenção da coleta de em nosso serviço durante o período de Agosto a Setembro de 2010. Estamos também cientes e concordamos com a divulgação e/ou publicação dos resultados encontrados, podendo citar o nome da entidade como local da pesquisa. Contamos com vossa aquiescência e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos nos telefones e e-mails abaixo: (92) 3647-4378 / (92) 9991-2472 - Yoshiko Sassaki (Coordenadora / Orientadora) [email protected] (92) 3615-0538 / (92) 9146-3116 – Walderez Maria Lemos de Mattos (Pesquisadora) [email protected] Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ DECLARAÇÃO DE ACEITE Projeto de Pesquisa: O processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus: um estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr Thomas. DECLARAÇÃO Declaro em nome do (a) .......................................................................................................... ter conhecimento do Projeto de Pesquisa intitulado ....................................................................... ........................................................................................................................................ de autoria do (a) aluno (a) ........................................................................................................................................ ..............................dando-lhe consentimento para realizar a pesquisa nesta instituição, e coletar dados em nosso serviço durante o período de Dezembro/2009 a Janeiro/2010. Estamos também cientes e concordamos com a divulgação e/ou publicação dos resultados encontrados, podendo citar o nome da entidade como local da pesquisa. Contamos com vossa aquiescência e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos nos telefones e e-mail abaixo: (92) 3647-4378 / (92) 9991-2472 - Yoshiko Sassaki (Coordenadora / Orientadora) [email protected] (92) 3615-0538 / (92) 9146-3116 – Walderez Mattos (Pesquisadora) [email protected] Manaus, ........ de ......................... de 2011. ......................................................................... Gestor (a) da Instituição Pesquisada Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ DECLARAÇÃO DE LIVRE CONSENTIMENTO Projeto de Pesquisa: O processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus: um estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas. DECLARAÇÃO DE LIVRE CONSENTIMENTO Eu,................................................................................................................................., declaro ter conhecimento do Projeto de Pesquisa intitulado ....................................................................................................................................... ........................................................................................................................................ ....................................................................................................................................... de autoria do (a) aluno (a) ....................................................................................................................................... .............................................................................dando-lhe meu livre consentimento para participar da realização da pesquisa nesta instituição, e coletar dados e informações sobre a minha pessoa. Estou também ciente e concordo com a divulgação e/ou publicação dos resultados encontrados, podendo citar o meu nome e o da instituição, na qual estou inserido (a), como local da pesquisa. Contamos com vossa aquiescência e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos nos telefones e e-mail abaixo: (92) 3647-4378 / (92) 9991-2472 - Yoshiko Sassaki (Coordenadora / Orientadora) [email protected] (92) 3615-0538 / (92) 9146-3116 – Walderez Mattos (Pesquisadora) [email protected] Manaus, ........ de ......................... de 2011. .................................................................................... Entrevistado (a) Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ DECLARAÇÃO DE NÃO - CONSENTIMENTO Projeto de Pesquisa: O processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus: um estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas. DECLARAÇÃO DE NÃO CONSENTIMENTO Eu,................................................................................................................................., declaro ter conhecimento do Projeto de Pesquisa intitulado ........................................................................................................................................ ................................................................................... de autoria do (a) aluno (a)................................................................................................................................... ............................................................................., não dou o meu consentimento para participar da realização da pesquisa nesta instituição, e coletar dados e informações sobre a minha pessoa, não podendo assim o (a) pesquisador (a) citar o meu nome e o da instituição, a qual estou inserido (a), como local da pesquisa. Contamos com vossa aquiescência e colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos nos telefones e e-mail abaixo: (92) 3647-4378 / (92) 9991-2472 - Yoshiko Sassaki (Coordenadora / Orientadora) [email protected] (92) 3615-0538 / (92) 9146-3116 – Walderez Mattos (Pesquisadora) [email protected] Manaus, ........ de ......................... de 2011. .................................................................................... Entrevistado (a) Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ DECLARAÇÃO DA PUBLICIZAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA Declaro para os devidos fins que os resultados obtidos com a pesquisa ―O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO POBRE EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR THOMAS”, da pesquisadora e mestranda WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS, orientada pela profº Dra. YOSHIKO SASSAKI, a qual tem por objetivo analisar o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus através de estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas, serão tornados públicos, sejam favoráveis ou não, a fim de dar visibilidade à questão da política pública voltada ao idoso. Manaus, 11 de Julho de 2010. WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS Pesquisadora Responsável Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ DECLARAÇÃO SOBRE USO E DESTINAÇÃO DOS DADOS COLETADOS Declaro para os devidos fins que os resultados obtidos com a pesquisa ―O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO POBRE EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR THOMAS”, da pesquisadora e mestranda WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS, orientada pela profº Dra. YOSHIKO SASSAKI, a qual tem por objetivo analisar o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus através de estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas, serão tornados públicos, sejam favoráveis ou não, a fim de dar visibilidade à questão da política pública voltada ao idoso. Manaus, 11 de Julho de 2010. WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS Pesquisadora Responsável Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ Manaus, 11 de julho de 2010. À Coordenação do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Senhor (a) coordenador (a), Por meio do presente, estou encaminhando meu Projeto de Pesquisa envolvendo seres humanos, intitulado ―O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO POBRE EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR THOMAS”, para que possa ser submetido à apreciação do Comitê de ética em Pesquisa – CEP, da Universidade Federal do Amazonas. Seguem anexos os documentos exigidos pela Resolução nº196⁄96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS. Na expectativa de deferimento do referido pleito, apresento votos de apreço, estima e consideração. Atenciosamente, WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS Pesquisadora Responsável Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ DECLARAÇÃO DA PUBLICIZAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA Declaro para os devidos fins que os resultados obtidos com a pesquisa ―O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO POBRE EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR THOMAS”, da pesquisadora e mestranda WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS, orientada pela profº Dra. YOSHIKO SASSAKI, a qual tem por objetivo analisar o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus através de estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas, serão tornados públicos, sejam favoráveis ou não, a fim de dar visibilidade à questão da política pública voltada ao idoso. Manaus, 11 de Julho de 2010. WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS Pesquisadora Responsável Universidade Federal do Amazonas- UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia PPGSS ________________________________________________________________________ DECLARAÇÃO SOBRE USO E DESTINAÇÃO DOS DADOS COLETADOS Declaro para os devidos fins que os resultados obtidos com a pesquisa ―O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E A QUESTÃO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO POBRE EM MANAUS: UM ESTUDO NA INSTITUIÇÃO DE APOIO À PESSOA IDOSA FUNDAÇÃO DR THOMAS”, da pesquisadora e mestranda WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS, orientada pela profº Dra. YOSHIKO SASSAKI, a qual tem por objetivo analisar o processo de envelhecimento e a questão da institucionalização do idoso pobre em Manaus através de estudo na Instituição de Apoio à Pessoa Idosa Fundação Dr. Thomas, serão tornados públicos, sejam favoráveis ou não, a fim de dar visibilidade à questão da política pública voltada ao idoso. Manaus, 11 de Julho de 2010. WALDEREZ MARIA LEMOS DE MATTOS Pesquisadora Responsável