Azul - Pantone 273
Transcrição
Azul - Pantone 273
Qual é o status do psicanalista ? Clínica psicanalítica no século XXI Um dos assuntos mais importantes do XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise será o fórum sobre o “Ofício do psicanalista: formação versus regulamentação”. O tema está em discussão há sete anos, quando foi criada a Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras, formada por instituições que, apesar de suas divergências sobre modelos de formação, consideram indispensável o tripé: análise pessoal com psicanalista qualificado, cursos teóricos e a supervisão do trabalho clínico com acompanhamento. Hoje, a categoria se defronta com a seguinte situação: regulamentação, regulação ou manutenção da situação atual. Uma pesquisa promovida pela ABP em 2001 mostrou que 62% dos votantes ( 337 psicanalistas ) optaram por regulamentação ou regulação. Para o autor do artigo, Wilson Amendoeira, a saída passa pela criação de uma entidade supra-institucional. ( Pág. 7 e 8 ) Este número do jornal da ABP dá início a uma nova seção: Psicanálise e século XXI. O objetivo é a reflexão sobre os grandes temas e desafios que a categoria enfrenta nos dias de hoje para o exercício da profissão com a mudança de valores e paradigmas da sociedade. Márcio de Freitas Giovannetti abre a seção discutindo o conceito de provincianismo não no sentido geográfico, mas temporal, aquele no qual a mentalidade se aprisiona dentro de um tempo específico, desconsiderando a história e o mundo. Para o autor do artigo, a existência da psicanálise como teoria e como práxis só foi possível porque Freud foi capaz de superar todo e qualquer provincianismo, desde a ruptura com a academia médica de Viena até a cultural e moral da sociedade vitoriana da época. Para ele, não existe subjetividade, sem cidade.” Abramos, pois, nossas portas aos novos habitantes dessa nova cidade, única forma de preservarmos nosso tão precioso legado”, diz Giovannetti. ( Pág. 3 e 4 ) Notícias Ano XI • Nº 32 • Rio de Janeiro • Março 2007 Azul - Pantone 273 Associação Brasileira de Psicanálise Carta do editor A psicanálise cura? Por alguma razão ela é reconhecida como instrumento promotor de saúde psíquica. Uma análise transforma o “sofrimento neurótico em um sofrimento comum”, adverte-nos Freud. Quantas pessoas se beneficiam com o trabalho de um psicanalista? Muitas. Como a própria medicina o faz todos os dias, desde uma outra perspectiva de tratamento, objetiva, poderíamos afirmar, e não subjetiva, como a ciência desenvolvida por Freud. A psicanálise é atual e conta com uma história de mais de um século em todos os continentes do nosso maltratado globo terrestre. Isso não é pouco e representa uma experiência invejável. Nesse longo percurso, a psicanálise trabalhou um modelo de formação da mais alta qualificação. Os padrões de estudos da IPA até podem ser alvo de críticas. Contudo, as idéias diretrizes da qualificação dos nossos membros estão em permanente debate, tendo como meta a qualidade e, sobretudo, a ética dos nossos profissionais. Ferreira Gullar afirma, em nossa última revista, ao responder se o poeta interpreta a realidade: “Não. Ele não interpreta a realidade, ele inventa”. Freud criou um novo homem no século XX, diferente daquele projetado por Decartes no século XVII. E o homem do século XXI, o homem atual, mantém vínculos com aquele pensado por Freud? Se esse homem que hoje recebemos em nossos consultórios traz a marca da “afirmação” (Bejahung) e da “expulsão” (Ausstossung) na organização psíquica, ele ainda se enquadra dentro da metapsicologia freudiana com as modificações produzidas pelos seus seguidores. Se assim for, a psicanálise da nossa época ocupará um lugar imprescindível na cura da dor psíquica do homem globalizado, que tem laços líquidos, segundo Bauman, e os modelos positivistas fracassarão na construção dessas novas subjetividades. É por tudo isso que iniciamos nosso trabalho focalizando a formação, continuando com a pesquisa, a profissionalização e a política. E, agora, com a psicanálise do nosso tempo. Um abraço, boa leitura. Leonardo A. Francischelli abp_32-3.indd 1 XXI Congresso coloca em pauta temas da atualidade A grande marca do XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise é a seleção de temas para discussão durante o evento, todos ligados ao nosso cotidiano e à realidade que enfrentamos no século XXI. A violência, o sentido da vida, a questão do corpo e da sexualidade, os desafios da psicanálise de crianças serão objeto de amplos debates e teses, que mobilizarão todos os seus participantes. O evento, que será realizado de 9 a 12 de maio em Porto Alegre, contará ainda com 12 cursos que discutirão da teoria da técnica em Freud a Psicologia Psicanalítica do Self. Para o presidente da IPA, Cláudio Laks Eizirik, trata-se de um estimulante programa científico “para enfrentar os desafios do presente e construir o futuro”. Já a diretora científica da ABP, Telma Barros, afirma que através dos cursos, da discussão de casos clínicos e do grande número de temas que serão debatidos em mesas redondas, vai se poder conhecer melhor a produção científica e os desenvolvimentos alcançados na prática clínica. Mais informações no site www.abp.org.br (Pág. 12 ) “Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei...” Mário Quintana, O Mapa, 2005 2/23/07 11:47:56 AM Carta do Presidente Associação Brasileira de Psicanálise Rio de Janeiro, 23 de Janeiro de 2007 E stamos começando o nosso segundo ano de mandato, que é de grande importância para a ABP, pois estamos comemorando o nosso 40º ano de fundação. Neste período, a nossa instituição já passou por inúmeras transformações e, cada vez mais, vem se tornando a entidade representativa de todos os psicanalistas brasileiros e servindo de modelo para outras instituições, principalmente as latino-americanas. Esperamos que 2007 seja um ano de muitos resultados, pois temos muito o que comemorar. Pedro Gomes Presidente da ABP O nosso XXI Congresso Brasileiro está próximo, de 09 à 12 de maio, em Porto Alegre. Já estamos com tudo pronto e organizado, da parte científica à social. Esperamos um grande número de participantes. Acreditamos que poderemos chegar a mil inscritos. Para isso, organizamos um grande número de Mesas Redondas, Reflexões Psicanalíticas, Temas Livres, discussões de Casos Clínicos e trabalhos com a comunidade. A parte social está totalmente organizada. No nosso tradicional Coquetel de Abertura , na segunda noite , teremos uma “Tertúlia Gaúcha” e, na última noite, o nosso Jantar Dançante de encerramento. Uma outra boa notícia é que em nossa última Assembléia de Delegados, Salvador foi escolhida para sediar de 15 à 17 de novembro o II Congresso Luso-Brasileiro de Psicanálise. Temos certeza que será também um grande acontecimento. Para finalizar, a ABP e Porto Alegre estão de braços abertos, esperando por todos para o nosso Congresso, que colocará os psicanalistas para debaterem com profundidade os grandes desafios do século XXI. Pedro Gomes Expediente Conselho Diretor Presidente Pedro Gomes Secretário Cláudio Rossi Tesoureiro Rosa Maria Carvalho Reis Conselho de Coordenação Científica Diretora Telma Gomes de Barros Cavalcanti Secretária Rosangela de Oliveira Faria Conselho Profissional Diretor Jair Rodrigues Escobar Secretário Sylvain Nahum Levy Conselho de Relações Exteriores Diretora Leila Tannous Guimarães Depto de Publicações e Divulgação Diretor Leonardo A. Francischelli Secretário Sergio Nick Secretária auxiliar - PoA Augusta G. Heller Editor da Revista Brasileira de Psicanálise Leopold Nosek Editora Associada Maria Aparecida Quesado Nicoletti Administração Diretor Superintendente Sérgio Antônio Cyrino da Costa Secretárias: Lúcia Lustosa Boggiss e Renata Lang Marcel Conselho Profissional Delegados Luis Carlos Menezes Maria Olympia França Alexandre Kahtalian Carlos Roberto Saba Jane Kezen Fernanda de Medeiros Arruda Marinho Ruggero Levy Jair Rodrigues Escobar Alirio Torres Dantas Júnior Maria Eunice Campos Marinho Rosaura Rotta Pereira Bruno Salésio da Silva Francisco Ana Rosa Chait Trachtenberg Leonardo A. Francischelli José Cesário Francisco Júnior Pedro Paulo de Azevedo Ortolan Cíntia Xavier de Albuquerque José Vieira Nepomuceno Filho Leila Tannous Guimarães Ednéia Albino Nunes Cerchiari José Alberto Zusman Cláudio Tavares Cals de Oliveira Cláudio José de Campos Filho Sergio Antonio Cyrino da Costa Conselho Científico Alan Victor Meyer Ana Cláudia Zuanella Ednéia Albino Nunes Cerchiari Flávio Roithmann José Carlos Zanin Luciano Wagner Guimarães Lírio Luiz Marcírio Kern Machado Maria Aparecida Duarte Barbosa Maria Helena Rego Junqueira Miguel Marques Sérgio Cyrino da Costa Sergio Lewkowicz Humberto Vicente de Araújo Jair Rodrigues Escobar José Alberto Florenzano José Luiz Meurer Leila Tannous Guimarães Lores Pedro Meller Marina Massi Miriam Fichman Fainguelernt Neilton Dias da Silva Paulo Cesar Lessa Sergio Antonio Cyrino da Costa Sylvain Nahum Levy Comissão de Pesquisas e Universidades Coordenador : Theodor Lowenkron Membros: Cláudio Laks Eizirik Eustachio Portella Nunes Nei Marinho Rooseveelt Cassorla Marion Minerbo Comissão de Formação Coordenador : Altamirando Andrade Membros: Raul Hartke Myrna Pia Favilli Angela Sollberger Edição JLS Comunicação & Associados Editor José Luiz Sombra Redatora Ana Carolina Marques e Ariane Azeredo Projeto Gráfico e Diagramação Interface Designers - Sérgio Liuzzi Amanda Mattos Moana Mayall abp_32-3.indd 2 2/23/07 11:48:03 AM Psicanálise e século XXI Associação Brasileira de Psicanálise O provincianismo e a clínica psicanalítica Marcio de Freitas Giovannetti Analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo 1 Em 1944, em seu ensaio sobre Virgilio, T. S. Elliot nos alertou para a existência de dois tipos de provincianismos: aquele com o sentido mais comum, o provincianismo geográfico e espacial, e aquele mais raramente considerado, o provincianismo temporal. Neste sentido mais específico, ele situa a mentalidade que tende a aprisionar-se dentro de um tempo específico, articulações primeiras, o percurso de seu pensamento é o melhor exemplo de abertura e não dogmatismo. De sua auto-análise à análise de um outro, como em Dora; da análise de um outro à análise da emergência da humanidade, como em Totem e Tabu; da análise da humanidade à análise das massas, como em Psicologia das Massas e Análise do Ego; das massas à Cultura, como em O Futuro de uma Ilusão e o Mal-estar na Cultura; da Cultura à História, como em Moisés e a Religião Monoteísta, seus textos foram sempre expandindo a problemática humana e a extensão daquilo que tradicionalmente se considera a clínica psicanalítica. Idéia esta retomada por nosso colega Fabio Herrmann com seu conceito de “clínica extensa”. tendendo a olhar o mundo a partir de conceitos datados, desconsiderando a organicidade da história e do mundo. O que coloca um problema fundamental, ou seja, a dificuldade que tem qualquer pensador em ultrapassar os preconceitos inerentes a seu próprio momento histórico e a sua cultura de inserção. É, portanto, crucial, ao pensarmos numa psicanálise para o século XXI, que não caiamos na armadilha que a enunciação apresenta. Nem vanguardista, nem saudosista, nem moderno e nem ultrapassado, o psicanalista só é capaz de exercer seu quase impossível ofício quando apreende toda a complexidade do conceito freudiano de aqui e agora: o aqui como um lugar paradoxal, uma utopia, e o agora, o presente, como a co-existência de todos os tempos, o passado, o futuro e o futuro do pretérito. 3 Com Totem e Tabu aprendemos que não existe humanidade sem cultura. Analogamente, não existe subjetividade sem cidade. Esta é uma das mensagens básicas do legado freudiano, infelizmente, nem sempre levada em conta por muitos de seus seguidores. Os quatro grandes casos clínicos descritos por Freud, Dora, Hanns, O Homem dos Ratos e O Homem dos Lobos, deixam isto bem claro, e daí sua enorme força. Em Dora, a pequena burguesia austríaca é retratada de forma primorosa, ancorando e emoldurando a histeria; em Hanns, é a cidade de Viena com seus trens, transeuntes e zoológico, que configuram a fobia do menino que se recusava a sair de casa; no Homem dos Ratos, são as fronteiras do império austro-húngaro, com as manobras políticas e militares necessárias à manutenção de um estado em vias de esfacelamento, que enfatizam os elementos da neurose obsessiva; no Homem dos Lobos, é o exílio de um império já extinto, o ex-patriamento, que dá sentido à neurose fronteiriça de Sergei. Portanto, a cena primária da clínica 2 A existência da Psicanálise como teoria e como práxis só foi possível porque Freud foi capaz de desprender-se de todo e qualquer provincianismo. Desde a ruptura primeira com o provincianismo da academia médica de Viena, seu grupo de inserção original, até a ruptura com o provincianismo cultural e moral da sociedade vitoriana, seu pensamento só ganhou a força que tem pelo fato de, a exemplo do inconsciente, não poder ser contido dentro de nenhum grupo específico. Mostrando-se sempre maior, mais complexo e mais desbravador do que suas abp_32-3.indd 3 2/23/07 11:48:04 AM Associação Brasileira de Psicanálise Psicanálise e século XXI “...o psicanalista de hoje não pode se deixar capturar pelo medo ao se deparar com a nova subjetividade que emerge como conseqüência dos novos tempos e dos novos espaços.” psicanalítica, por assim dizer, apresenta sempre o homem em seu mundo. Jamais dele descontextualizado ou alienado. O aqui e o agora de Freud necessitavam do suporte específico de seu contexto histórico-cultural para iluminar as vicissitudes da alma humana. 4 Hospitaleira à palavra estrangeira, à palavra do outro, cosmopolita, nem um pouco provinciana, é a matriz da clínica psicanalítica. É esse o único modelo para uma clínica psicanalítica viva: aquela que se mostra aberta e hospitaleira para a palavra nova e estranha do homem de seu tempo. Aquela que não se reifica em seus próprios precipitados, mas que é capaz de se renovar, reinventando-se em cada aqui e agora, em cada cidade e em cada tempo, única maneira de continuar viva e com a força original, preservando seus fundamentos de associação livre e atenção flutuante, sem correr o risco de se perder em fundamentalismos provincianos a serviço da barbárie e da alienação. Mais de cem anos depois de Hanns, o que está agora em questão é a fobia do psicanalista diante destes novos tempos e novas palavras. Se Hanns adoecia com o crescimento da barriga de sua mãe, indício de um novo ser que o deslocaria de seu lugar no mundo, o psicanalista de hoje não pode se deixar capturar pelo medo ao se deparar com a nova subjetividade que emerge como conseqüência dos novos tempos e dos novos espaços. Não podemos nos encapsular melancolicamente na casa já construída porque nenhuma casa pode existir independentemente de sua cidade. E a cidade de hoje, bem como seu habitante, é bastante diferente da Viena e do vienense do início do século XX. Abramos, pois, nossas portas aos novos habitantes dessa nova cidade, única forma de preservarmos nosso tão precioso legado. O que implica, dentre outras coisas, na construção a dois, em Moana Mayall conjunto com o analisando, do setting psicanalítico. abp_32-3.indd 4 2/23/07 11:48:06 AM Artigo Associação Brasileira de Psicanálise Fabio Herrmann: Uma Psicanálise Brasileira Leda Herrmann Psicanalista da SBPSP. Doutora em Psicologia Clínica pela PUCSP TEORIA DOS CAMPOS Uma Pequena História Fabio Herrmann construiu ao longo dos últimos trinta e seis anos um pensamento psicanalítico original. É um autor da Psicanálise Brasileira. Foi ela a sua bandeira política durante os anos de militância na burocracia institucional do movimento psicanalítico. Fabio ocupou, nas décadas de 1980 e 1990, a presidência da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, da FEPAL e diversos postos na hierarquia científica da IPA. Nessa luta não teve apoio, mas a Teoria dos Campos — como passou a ser conhecido seu pensamento — difundiu-se nos meios intelectuais brasileiro e latinoamericano e vem agregando produção escrita de colegas, principalmente na forma de teses e dissertações acadêmicas. (Parte I*) Fabio Herrmann Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo A Teoria dos Campos nasce em São Paulo, nos fins dos anos 60, onde a clínica psicanalítica era intensamente praticada. Citando Fabio em texto que compõe a orelha de seus livros publicados pela Editora Casa do Psicólogo: “A Psicanálise foi o principal instrumento de investigação da psique humana do século XX. Todavia, ela sofreu dois tipos de limitação: de um lado, restringiu-se ao estudo da clínica psicanalítica; de outro, foi dominada por algumas doutrinas que se organizaram em escolas. A Teoria dos Campos surgiu, durante os anos setenta, como uma tentativa de superar esses problemas. Ela procura resolver a questão das doutrinas teóricas, pondo em evidência o método psicanalítico de investigação e cura, que é o essencial, e usa o método para o estudo de todas as manifestações do psiquismo, não apenas da situação analítica. Numa palavra, para a Teoria dos Campos, a Psicanálise é a ciência geral da psique.” 1 A Teoria dos Campos cumpriu a tarefa de descer às origens da idéia psicanalítica freudiana para se perguntar sobre a natureza desse conhecimento. Usando da crítica à forma predominantemente clínica tomada pela Psicanálise vigente em nosso meio, a Teoria dos Campos penetra os fundamentos dessa disciplina, tomando-a por inteiro. É o resultado desse trabalho de investigação que, ao se constituir em uma obra escrita e em um pensamento psicanalítico original, impõe-se como uma Psicanálise Brasileira. Ela não veio a se constituir em nova escola psicanalítica, mas em uma maneira de pensar o homem no seu mundo, recuperando a concepção freudiana de psique para além do psiquismo individual. Este pensamento psicanalítico original parte da crítica à produção teórico-clínica dos modelos psicanalíticos vigentes no Brasil, na década de 60, que pouco ou nada avança para lá da repetição, em forma detalhista, dos mesmos temas e conceitos consagrados pelas escolas psicanalíticas dominantes — a freudiana e a klein-bioniana. Através do proceder crítico, recupera, também, a capacidade heurística — de descoberta — do conhecimento formulado pela Psicanálise, colocando em evidência o que Fabio chamou de idéia psicanalítica, ou seja, o trabalho freudiano de incorporação para a ciência de seu tempo da exploração do sentido humano. É dessa forma, portanto, que a Teoria dos Campos resgata o valor heurístico, ou de descoberta, do papel do fazer clínico na formulação do conhecimento psicanalítico. Tarefa que implicou outro resgate, o do método da Psicanálise. Criei a Teoria dos Campos no fim dos anos 1960, entre 67 e 68, ao tempo em que terminava o curso de medicina. Naturalmente, ainda não tinha o nome nem eu tinha a noção de estar reinterpretando a Psicanálise, de haver criado o que se chama uma teoria. O que escrevi, na época, foi um ensaio ambicioso intitulado O campo e a relação, que procurava mostrar a falta de solidez das hipóteses psicanalíticas quando isoladas de seu campo de origem, do método interpretativo, e tomadas por fatos psicológicos, antropológicos, psiquiátricos etc. Ou mesmo psicanalíticos, se se entende por Psicanálise um conjunto de conhecimentos independentes da forma pela qual foram obtidos. Minha idéia é que não coletamos fatos, mas interpretamos relações — verdades relativas —, cada qual pertinente ao campo a que pertence e onde foi descoberta: campo da clínica ou do quotidiano, da realidade ou do desejo etc. Campos são generalizações do conceito de inconsciente. Claro, do inconsciente não psicológico, da constituição do mundo, não da faculdade psíquica. Naquele tempo, por exemplo, estudei o campo da sorte/azar, vale dizer, das regras que fazem as pessoas achar que algo dá sorte, que têm azar e assim por diante. Não me interessava propriamente a origem infantil das crendices, se os pais Em resumo, já nas primeiras comunicações escritas o pensamento psicanalítico de Fabio mostra como são interdependentes suas duas idéias formadoras: a de método interpretativo como ruptura de campo e a de absurdo como as regras que estruturam os campos de sentido humano, a psique, e que só se mostram pelo processo interpretativo. É esta a idéia simples, no sentido da química, que sua obra desenvolve e que em minha tese de doutorado chamei idéia de dupla face método/absurdo. abp_32-3.indd 5 2/23/07 11:48:17 AM Artigo Associação Brasileira de Psicanálise “A Psicanálise é convidada pela Teoria dos Campos a decifrar o mundo histórico, individual e coletivo, campos sendo tanto as grandes repartições da alma, quanto os fenômenos microscópicos do dia a dia...” são ou não os dispensadores da boa sorte, mas apenas as regras de eficiência, a forma lógica da crendice e seu correlato no pensamento científico, culto. Como se vê, mesmo sem o saber com clareza, já estava virando ao avesso a ciência psicanalítica. Os analistas, como vim depois a perceber, procuram negar conscienciosamente fazerem parte da psicologia — Freud mesmo não negava —, mas explicam psicologicamente o mundo, por meio de afetos, faculdades, funções. Com a Teoria dos Campos estava nascendo uma Psicanálise que se situava um pouco além das oposições psicologia/sociologia, história/ estrutura, metafísica/metapsicologia. Quando crescida, seu passo adulto não seria fácil acompanhar. de cada situação terapêutica. E de cada estrutura psicopatológica, a propósito. Como se explica que diferentes hipóteses sobre o desenvolvimento e a patologia psíquicos redundem em efeito clínico praticamente igual? Simples, embora chocante. O que faz efeito não é o acerto do sentido último do material do paciente, mas sua escuta descentrada, fora do assunto e da intenção que buscava transmitir. A escuta oblíqua do analista leva-o a desestabilizar o campo em que o paciente o procura prender, ele ouve fragmentariamente, ressalta atos falhos e contradições de lógica emocional — a começar pela paradoxal existência de uma lógica emocional. E, ao errar o assunto, topa com regras do campo, do inconsciente relativo. No futuro, vários termos seriam convocados para exprimir esse fenômeno na Teoria dos Campos: desencontro produtivo, ato falho a dois etc. No estado de então, não era difícil compreender, mas talvez sim aceitar sua novidade. Porque os campos a estudar psicanaliticamente não se resumem às grandes patologias, porém nos desafiam também na vida diária: um campo pode ser o do trânsito, por exemplo, como o da guerra, ou o campo da família ou o de uma família, e por aí vamos. A Psicanálise é convidada pela Teoria dos Campos a decifrar o mundo histórico, individual e coletivo, campos sendo tanto as grandes repartições da alma, quanto os fenômenos microscópicos do dia a dia... 3 O primeiro alvo conceitual da Teoria dos Campos foi a noção de inconsciente. Isaías Melsohn já atacara a idéia de inconsciente psicológico, repositório de representações, como dizia ele. Considerava — e não sem razão — que Freud havia sido influenciado pela psicologia sensacionista, ao construir a sua. Como de costume, que era costume descobri depois, ninguém se ocupou de responderlhe, nem para discordar, nem para dar apoio e continuidade à sua crítica, num livro que fosse, num simples artigo. No entanto, bem merecia. Parte das análises de Freud não caem no âmbito psicológico criticado por Melsohn; em especial, aquelas de campos da cultura, de antropologia clínica ou de arqueologia fantástica. É até mais fácil ver nos pequenos textos freudianos, onde ele não parece interessado em dogmatizar a Psicanálise. Na clínica, nos exemplos de psicologia concreta, tão prezados por Pullitzer. 2 Havia também uma razão clínica. É que reconhecidamente conseguíamos bons resultados com os pacientes, mas tais resultados estavam longe de serem explicados pelas teorias psicanalíticas. Em primeiro lugar, porque os resultados gerais da prática eram muito parecidos, quaisquer que fossem as razões teóricas apresentadas como argumento — leia-se escolas. Em segundo, porque nossas teorias da eficácia clínica, a da transferência notadamente, pareciam-me fracas e inconclusivas, muito suscetíveis de sugestão ou auto-sugestão. Depois de meter na cabeça um sentido transferencial, geralmente uma transferência afetiva, o analista já não tinha porque ou como pô-la em dúvida, ficava como uma espécie de função intuitiva e oracular. A falta completa de resposta que sofreu Melsohn serviu de estímulo para que eu me pusesse a campo com seu problema, sabendo ao mesmo tempo qual destino estariam reservados aos frutos de meu próprio trabalho. Acima de tudo, porém, o ensaio crítico melsohniano ajudava a demarcar o território a ser explorado teoricamente e certas armadilhas a evitar. Daí fui levado a separar com cuidado campo de relação. Relação é tudo o que se representa, que pode ser conhecido, que tem nome e perfil. A relação analítica em especial tem tudo isso, não sendo pois inconsciente. Inconsciente é o campo da relação, o inconsciente relativo (quer dizer, relativo, da relação). O campo psicanalítico sim, a esse temos de chegar, às suas regras ocultas. Manejando com arte a relação analítica — com técnica artística, ou techné –, parecia-me possível romper a estrutura do campo, do campo emocional específico A segunda parte deste artigo será publicada no próximo número. abp_32-3.indd 6 2/23/07 11:48:18 AM Formação Psicanalítica Associação Brasileira de Psicanálise Ofício do Psicanalista: Formação versus Regulamentação Wilson Amendoeira Membro efetivo da SBPRJ Este é o tema de um importante e inédito Fórum que se realizará, de 21 a 23 de setembro, no Rio de Janeiro: importante por convocar todos os interessados na Psicanálise e inédito por reunir psicanalistas de todas as filiações que se reconhecem, para refletir sobre o campo psicanalítico no Brasil. É também o título de um livro preparatório, em fase final de edição, que estará disponível a tempo de informá-lo sobre as grandes questões que serão os alvos de nossa reflexão e debatidas no encontro. semana, estudos por apostilas simplórias, apropriação promíscua de temas afeitos à prática e crenças religiosas, conduzidas por pessoas estranhas ao campo psicanalítico. O solo comum, firmado pelo repúdio de todas as instituições ao que se ia instituindo, permitiu a aproximação inicial, apesar do estranhamento que, como era de se esperar, permeou nossas primeiras reuniões. Esta aproximação evoluiu, a custa de muito esforço, para uma aliança de trabalho em torno do que nos une, mas preservando o que nos diferencia. O Fórum pretende envolver todos os psicanalistas no processo de-sencadeado pela Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras, que se desenvolve há sete anos, com reuniões regulares, e que teve um papel fundamental, neste período, na defesa da prática psicanalítica enraizada no processo de formação das instituições psicanalíticas. São instituições que, apesar das divergências de concepção sobre os requisitos e os modelos de formação defendidos, mantém seus pilares nas três atividades complementares e indissociáveis: a análise pessoal com psicanalista qualificado, os cursos teóricos e a supervisão do trabalho clínico, com o acompanhamento por colegas mais experientes. Essa aliança nos permitiu, ao longo desses sete anos, enfrentar dois projetos de regulamentação da profissão que, apresentados por deputados federais, aparentemente visavam proteger os psicanalistas e a população, que requer e busca o tratamento psicanalítico, mas se mostravam embasados em premissas equivocadas e estipulavam regras e certificações incompatíveis com o que é a prática do ofício e do desenvolvimento de um psicanalista. Entretanto, sabemos que esta união de interesses com estas entidades não é universalmente aceita entre os membros de nossas sociedades, o que nos fez manter nossa participação ancorada numa troca contínua com nossos pares, dando continuidade aos esforços e reflexões que sucessivas gestões desenvolveram, no Conselho Profissional, com o conjunto de seus conselheiros, que representam todas as nossas federadas. Como sabem os que nos acompanham no ABP Notícias, a Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras é um movimento iniciado em junho de 2000 para fortalecer a nossa capacidade de enfrentamento na questão das formações ligadas a seitas religiosas e na criação de pseudo-órgãos reguladores, apresentados como Conselhos de Psicanálise, à semelhança dos modelos da Medicina e da Psicologia. A ABP, já em 1998, tinha iniciado o combate possível através de representações no Ministério Público (de Goiânia e de Brasília), baseadas no Código de Defesa do Consumidor, por propaganda enganosa, pois a profissão, não sendo regulamentada, não permitia outro questionamento judicial. Temos considerado que este é o caminho mais maduro e profícuo para o encaminhamento destas questões. Penso que uma posição independente nossa somente dificultaria a convergência de forças com outras entidades que, gradativamente, estamos tecendo e que amplifica nossa capacidade de enfrentar tentativas de expor a controles estranhos as Sociedades e Entidades que formam os psicanalistas e representam a Psicanálise, além de ampliar a discussão sobre a inserção social, tanto da Psicanálise quanto dos psicanalistas. O movimento surgiu de um convite feito pela presidência da ABP e pelo Conselho Federal de Psicologia, com o apoio do Conselho Federal de Medicina e da ABPsiquiatria, a várias entidades do campo psicanalítico. Estas, que cobriam grande parte dos profissionais que se dedicam ao estudo e à prática da psicanálise, se fizeram presentes a uma reunião inicial e exploratória, para avaliar a percepção que tinham das conseqüências do aviltamento da prática psicanalítica, com o surgimento de cursos de fins de Resumidamente, as opções que a questão da prática profissional oferece são: a regulamentação, a regulação e a manutenção da situação atual. A Regulamentação se daria a partir da definição dos parâmetros mínimos (que nunca seriam os nossos, por serem parâmetros altos), abp_32-3.indd 7 2/23/07 11:48:25 AM Formação Psicanalítica Associação Brasileira de Psicanálise “Eu entendo que existem possibilidades de regulação...” para que um profissional seja reconhecido como psicanalista; estipularíamos órgãos e procedimentos assemelhados aos que regulamentam e fiscalizam o exercício profissional em outras atividades, embora tenhamos uma dificuldade adicional por configurarmos uma qualificação de quarto grau e pela necessidade do projeto se encaixar nas normas de profissionalização estabelecidas pelo Congresso Nacional, incluindo todas as linhas e escolas psicanalíticas. O modelo da regulamentação através das psicoterapias não nos serve, pois temos especificidades que foram estabelecidas por uma prática na qual, ao longo do tempo, preservamos o patrimônio da Psicanálise e organizamos um campo de assistência, que é representado pelo tratamento às pessoas que buscam o tratamento analítico. o primado da instituição psicana-lítica, por outro, vemos que há um contingente também expressivo de colegas que almejam alguma forma de ordenamento no campo, pois se somarmos os que optaram por regulamentação ou regulação chegamos próximos a 62% do total de votantes. É para aprofundar o conhecimento, de cada um de nós, sobre este tema que a Articulação das Entidades Psicanalíticas Brasileiras, que envolveu 65 instituições como subscritoras de seu primeiro Manifesto, resolveu ampliar o universo de discussão, reflexão e tomada de posições. Até aqui nos conduziu o empenho dos representantes das instituições envolvidas – é hora de tornar públicos os nossos encontros e desencontros, de expormos o que temos pensado, quais as veredas que nossas idéias abriram, que movimentos nos animaram e quais direções deverão ser tomadas. Na Regulação instituiríamos, junto com outras instituições psicanalíticas, uma sociedade civil que credenciaria todas as instituições consideradas, apesar das divergências no processo de formação e de transmissão da Psicanálise, como pertencendo ao campo psicanalítico. Esta entidade avalizaria as instituições componentes e seria a interface com a sociedade em questões que digam respeito ao exercício profissional. Seria um conselho regulador, certificando as instituições aptas e, através desta certificação, os seus membros. Até o momento, foi eficaz a nossa reação às tentativas de regulamentação da atividade; o que precisamos avaliar é se, em outras correlações de forças e interesses, não seremos prejudicados em nossa capacidade de enfrentamento ou enfraquecidos pelo desgaste provocado, em nós mesmos, pela repetição das tentativas e pela imensa energia e tempo que despendemos em cada uma delas. Eu entendo que existem possibilidades de regulação, pois podemos alcançar um projeto centrado no reconhecimento de uma entidade supra-institucional, constituída de representações dos vários campos e escolas psicanalíticas. Esta entidade credenciaria instituições que atendessem os padrões de formação a serem estabelecidos em conjunto e tornaria pública a relação de instituições que são reconhecidas por ela como formadoras de psicanalistas, sem qualquer interferência do Estado, ou de algum dos seus poderes constitucionalmente constituídos. Esta instituição seria a natural interface entre o movimento psicanalítico, os poderes constituídos, os representantes do povo e a sociedade civil. A terceira opção seria mantermos a nossa postura histórica de nos opor a qualquer regulamentação ou regulação do campo profissional, por considerarmos que a Psicanálise tem uma qualificação que não se ajusta aos modelos que podem sofrer algum tipo de certificação por instituições de ensino ou órgãos reguladores públicos; se existe um indicador, ele será, certamente, o de qual é a instituição que forma, quem são seus componentes, que padrões são seguidos. Para aferir o que pensavam os membros da ABP, realizamos, em 2001 uma pesquisa com as três opções possíveis e, contando com a resposta de 337 colegas, obtivemos o seguinte resultado: regulamentação - . 91 votantes, 27% do total; regulação - 117 votantes, 35% do total; e manutenção de Posição Atual - 129 votantes, 39% do total. Penso que nós, os psicanalistas, não reclamamos nenhuma regu-lamentação do Estado, pois como explicitamos em um dos Manifestos lançados, “A Psicanálise progride há mais de um século, graças a princípios e métodos rigorosos e um corpo teórico que tem a proposta de Sigmund Freud como fundamento”. Como vêem, os números revelam mudanças importantes na visão dos psicanalistas, filiados à ABP, nestas questões. Se por um lado uma maioria expressiva opta por mantermos a nossa posição atual, com raízes em nossa história de autonomia e independência, com abp_32-3.indd 8 2/23/07 11:48:26 AM Homenagem Associação Brasileira de Psicanálise Armando Ferrari Apresentação Recordando Armando Bianco Ferrari Grupo Organizador dos Encontros Ítalo-Brasileiros (São Paulo) Fausta Romano Professora do Centro de Formação e Pesquisa Psicanalítica de Roma Ferrari trabalhou em São Paulo como analista didata até 1976, lecionando na USP e no Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Viver ao lado de um anarquista durante 20 anos foi para mim um treinamento duro e insubstituível. O profundo respeito pela liberdade, entendida como plena responsabilidade em relação a si próprio, constitui o fundamento da abordagem clínica e científica desenvolvida pelo prof. Armando Ferrari durante quase toda a sua vida. Sempre se interessou pela Psicanálise e suas interlocuções com a Sociologia, Antropologia e Filosofia. Na Psicanálise privilegiava, entre vários autores, a obra de Bion e Matte Blanco, sempre desenvolvendo idéias próprias, a partir da experiência clínica. A liberdade permeia sua investigação clínica, a partir da necessidade de que o analista se libere das próprias teorias e conhecimentos no momento em que encontra o analisando (inclusive aquelas que ele pode ter no encontro com cada paciente individualmente), desse modo ele poderá distinguir tudo o que aos poucos vai se descobrindo na relação analítica e poderá favorecer no analisando (e também em si próprio) o aprender da experiência, cuja importância para o desenvolvimento do autoconhecimento Bion já assinalava. Sentindo que necessitava ampliar e desenvolver algumas de suas hipóteses teóricas e experiências pessoais, decidiu mudar-se para Roma, onde sabia que poderia encontrar em Emilio Garroni e Aldo Stella parceiros capazes de ajudá-lo. De fato lá permaneceu por mais de 20 anos, estudando e desenvolvendo suas hipóteses até que em 1995 decidiu voltar a visitar o Brasil, já com um trabalho teórico consistente e original, onde pretendia discutir com os colegas suas novas propostas. Em seu primeiro livro, publicado no Brasil em 1995, “O Eclipse do Corpo”, procura, segundo ele mesmo, resgatar o “lugar do corpo” na teoria psicanalítica. A liberdade permeia o desenvolvimento de seu pensamento teórico, partindo da necessidade de liberar cada conceito já construído da própria imobilidade: contestar a hipótese que se quer verificar, liberarse da tentação de cristalizar o pensamento e a experiência, por meio do uso indiscriminado de palavras codificadas e vazias de significado, para poder descobrir algo novo. Residindo ainda em Roma, deu continuidade à sua obra, publicando: ___ Adolescência – o Segundo Desafio - considerações psicanalíticas (publicado no Brasil em 1996) ___ A Aurora do Pensamento (publicado no Brasil em 2000) ___ Vida e Tempo – Reflexões Psicanalíticas (publicado no Brasil em 2004) Os seus pressupostos teóricos, derivados da atenta e profunda reflexão em torno da experiência clínica e do estudo crítico dos que o precederam com suas contribuições para o desenvolvimento da Psicanálise, foram continuamente submetidos à revisão crítica e à transformação. Publicou em inglês o livro – From the eclipse of the body to the dawn of thought (2004); uma coletânea de seus mais importantes trabalhos publicados em italiano e português. Era essa sua maneira de conceber o indivíduo: um sistema complexo e dinâmico, cuja capacidade de adaptação ao ambiente e aos desafios da vida, se baseia numa dialética continua entre elementos diferentes e opostos, num equilíbrio instável, que tende a uma estabilidade e harmonia nunca totalmente alcançadas, a não ser com o fim da própria vida. Suas idéias frutificaram não só em São Paulo, mas também em Brasília, onde ministrou seminários e supervisões durante muitos anos, além de Curitiba, Campo Grande, Recife e Aracaju. Nos últimos anos desenvolveu intenso intercâmbio científico por meio dos Encontros Ítalo-Brasileiros, realizados no Brasil e na Itália. Quando comecei a me aproximar do seu sistema de trabalho e pensamento, um dia lhe disse que não me sentia muito segura, porque alguns aspectos do seu modelo não estavam muito claros para mim. Recordo-me que, com a passionalidade de sempre, me respondeu: “Doutora, não me importo nem um pouco que a senhora aprenda o meu modelo; eu a quero aqui inteira, com suas percepções, emoções, idéias, e com toda a sua criatividade”. Faleceu em Roma, em 14 de abril de 2006, em meio aos preparativos para mais um Encontro Ítalo-Brasileiro, que ocorreu em Florença, de 28 a 30 de julho de 2006. Deixou-nos com uma enorme saudade, mas ao mesmo tempo desejosos de continuar refletindo e investigando suas hipóteses. Ferrari era um exemplo vivo de suas idéias, sempre rigoroso em seu pensamento clínico e amoroso em suas atitudes, como bem mostram as homenagens aqui publicadas. Lembro-me de ter ficado desconcertada, de ter tido receio de ter feito um “papelão”, que o meu professor estivesse me reprovando... mas durou apenas um instante, pois logo em seguida um agradável sentimento de alívio e liberdade foi surgindo em mim. Podia retornar a mim mesma e abp_32-3.indd 9 2/23/07 11:48:27 AM Homenagem Associação Brasileira de Psicanálise pensar com toda a minha inteireza, ficar curiosa, buscar, caminhar, voltar, sendo eu mesma o ponto de referência para mim, mesmo em presença do outro. instante a plenitude da própria experiência de si mesmos, dos próprios sentimentos. Estar no tempo presente, vivendo tudo o que é possível viver, em lugar de projetar-se em direção ao fim: a angústia em relação ao fim da vida, paradoxalmente o torna dramaticamente presente e acelera os processos de morte. O prof. Ferrari era um “outro” extremamente presente e ao mesmo tempo ausente. Essa experiência desconcertante me deixou curiosa desde o primeiro momento: sempre pronto a intuir e apoiar, jamais invasivo ou mesmo substituindo-se à originalidade do outro. Essa liberdade sempre esteve presente no seu método de trabalho clínico: muitas vezes recebi analisandos que tinham tido a sorte de fazer a primeira entrevista com ele, o primeiro pedido de ajuda. Nenhum deles iniciou o seu trabalho comigo falando-me dele. Eu tinha o privilégio de encontrar analisandos já dispostos a trabalhar consigo próprios, já curiosos e desejosos de poder encontrar-se. Isto não pode vencer a doença, mas em todos os casos, essas pessoas tiveram um tempo de vida significativamente mais longo do que a medicina havia previsto, e qualitativamente melhor. “Partindo do pressuposto de que o BINO não pode abandonar o tempo a não ser com o risco de catástrofes maiores, a operação teórico-clínica se constrói, sobretudo na maneira pela qual esse tempo pode ser vivido... cada encontro com o analisando é uma sessão em que tudo o que se deveria dizer foi dito”, tudo o que se deveria viver foi vivido. Apenas com a análise já avançada, alcançando áreas particularmente significativas, surgia em todos eles algo que sabiam ter encontrado durante aquele primeiro encontro com ele e que tinha ficado guardado “lá no fundo”, como uma luz ainda não identificada, mas seguramente vívida e presente. E assim viveu ele próprio. Sempre inteiro no momento presente, e para quem estava ao seu lado; podia-se viver com ele, a cada dia, a dor pelo fim da vida, e a curiosidade e a alegria por um novo dia, sem nunca “economizar”, mas com a curiosa sensação de que o tempo se multiplicava, se dilatava inesperadamente. Logo depois da sua morte, tive essa estranha sensação de que o meu tempo se dilatava dolorosamente. Depois, comecei a lembrar as datas da minha história com ele: quantos anos eu tinha quando o conheci, quanto tempo passou (e me pareceu muitíssimo tempo) e não me parecia ter vivido tanto tempo assim. Acredito ser esse o significado do seu conceito de “outro como catalisador dos recursos do indivíduo”: não podemos sozinhos, autarquicamente, fazer emergir as nossas qualidades, as nossas potencialidades. Com a presença de um outro semelhante a nós na sua diversidade, e no encontro com ele, somos solicitados a ativar aspectos nossos até então ignorados e silenciosos. São relevantes as características desse “outro”: cada vez encontramos aspectos diversos de nós próprios, nos descobrimos diferentes. Nem sempre prazerosamente, mas de qualquer forma mais ricos de experiências. Nesse sentido Ferrari considera a relação analítica como um sistema auto-interpretante, e repensa o conceito de contratransferência: em cada relação analítica, enquanto o analisando vai em direção a si próprio, no sentido de que, pela primeira vez, vai se tornando consciente da própria originalidade, o analista volta-se para si próprio. Portanto, não é o analisando que “coloca alguma coisa no analista”, mas é o analista que se torna aberto e disponível para conhecer aspectos próprios estimulados na interação com aquele paciente particular. Portanto, a relação analítica é criada pelo encontro de duas relações transferências: aquela do analisando com o analista e a do analista com o analisando. Nesse sentido, cada relação analítica particular é considerada uma matriz de experiência. Mas trabalhar com ele, estudar com ele, investigar e pensar, viver com ele, era sobretudo no tempo presente: cada dia era um “presente” da vida para a própria vida. Isso poderia assemelhar-se ao famoso “carpe diem”, mas não é totalmente assim. Pois acredito não ter jamais conhecido alguém tão ocupado com projetos e idéias como ele, às vezes muito além do razoável. Mas é assim que se vive o presente, pois o momento em que nós estamos, o momento presente, recolhe o nosso passado em forma de experiência de nós mesmos e o futuro em forma de desejo. Posso dizer que Armando Bianco Ferrari nunca deixou de desejar, até o último instante de vida, criando enfim, em quem o escutava, a ilusão de um projeto. Mas cada projeto nosso para o futuro, não é senão a expressão dos nossos desejos de hoje. A relação analítica, para Ferrari, é plenamente inscrita no tempo histórico, pois tem um início, um desenvolvimento e um término. E reside nisto sua poderosa potencialidade transformadora. Sua morte me fez sentir como uma flecha lançada no tempo por um arco poderoso, que se retesou com toda a força que possuía: a flecha vai em direção ao desconhecido, o arco permanece ancorado no seu último instante de vida, no seu último suspiro. O Tempo “Gostaria de encontrar um modo compreensível e aceitável para falar do tempo, o tempo psíquico, o tempo da experiência subjetiva... a percepção temporal nasce com a nossa consciência, mas o ser humano busca estratagemas para dilatar o tempo: podemos talvez por um momento pensar numa modalidade construtiva dessa ‘dilatação temporal’, no sentido de dar vida à nossa vida enquanto a temos”. E ele o fez. Acredito que muitos que tiveram a oportunidade de conhecê-lo, podem sentir-se depositários dos seus desejos (e como os tinha!), e cada um pode, se quiser, guardar esse testemunho à sua maneira, com humildade e responsabilidade. Em cada análise, mas especialmente com os pacientes que a medicina define como doentes terminais, aqueles que, para Ferrari “têm somente amanhã” para viver, ele conseguiu criar a capacidade de viver em cada 10 abp_32-3.indd 10 2/23/07 11:48:27 AM Homenagem Associação Brasileira de Psicanálise Dr. Armando Bianco Ferrari Fabio Herrmann da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo A Sociedade de São Paulo ofereceu-me a honra de escrever uma página — uma só — em memória de nosso amigo querido, falecido recentemente, meu antigo analista, o ítalo-paulista Armando Bianco Ferrari. Dr. Antonio Luiz Bento Mostardeiro Começando por sua geografia espiritual, ítalo-paulista, o digno e confiável dicionário Aurélio, em sua 1ª Ed., 1975, consigna tal expressão à pág. 1053: “pastifício, do ítalo-paulista pastificio”… Enquanto o Aurélio abona o nome, Ferrari soube abonar o fato. São Paulo é uma estranha cidade, demasiado pobre e muito rica, feita de gente de todas as procedências, mas acima de tudo italiana. Ao magma da imigração dos tempos do café, Ferrari soube trazer a pedra lavrada da cultura e do refinamento intelectual italianos. Nós que convivemos dia a dia com ele até há exatos trinta anos — até 1976, quando retornou à Itália —, pudemos beneficiar-nos da lição de humanidade de sua psicanálise ítalo-paulista. Fomos surpreendidos com a morte do Mostardeiro aos 78 anos de idade. Trabalhou como de costume na semana que antecedeu o óbito. Consultou para uma forte dor abdominal, baixou para fazer exames e não voltou mais. Todos os exames médicos realizados, havia poucos meses, indicavam boas condições de saúde. Tudo foi tão inesperado e rápido que muitos amigos receberam a notícia do óbito tardiamente. Mesmo assim, um expressivo número de amigos compareceu para as últimas despedidas. Mostardeiro ofereceu contribuições para a psicanálise, psicoterapia e psiquiatria. Foi um clínico talentoso e um professor lúcido, que se caracterizava pela clareza das suas idéias, ancorada numa fina sensibilidade. Sempre foi muito estimado pelos alunos junto aos quais mantinha uma relação de respeito e de elevada consideração. Valorizava a atitude e o caráter das pessoas, ouvia os discursos, abstinha-se de emitir julgamentos. Como a própria psicanálise e como a nossa cidade, Ferrari era espiritualmente múltiplo e poliglota: falava a língua da antropologia, da sociologia, da literatura e das artes, da arquitetura, da política e da filosofia, em cujo encontro d’águas nadava seu peixe psicanalítico. É provável que por não ser apenas psicanalista possa ter ele sido tão inteiramente psicanalista. A psicanálise, afinal, não é uma especialidade, senão uma forma pensativa de viver. Psiquiatra formado nos anos 1960, mais tarde tornou-se professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Exerceu psiquiatria clínica e forense, era um hábil psicoterapeuta. Tornouse psicanalista pela Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre analisando-se com o dr. David Zimmermann e supervisionando com distinguidos analistas, sobressaindo, entre eles, o dr. Mario Martins pelo qual nutria grande admiração. Posteriormente foi um dos fundadores da Fundação Universitária Mário Martins e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre. Em ambas instituições ocupou os mais importantes cargos e funções. Considerava que a fundação da SBPdePA ofereceu uma oportunidade de revitalização a psicanálise gaúcha. Com mente aberta era avesso a dogmatismos, apreciava o novo e sempre estava disposto a correr riscos pelo desenvolvimento da psicanálise. Full member da IPA. Ao longo da vida ganhou muitas homenagens e reconhecimentos. Entretanto, na sua simplicidade, não se impressionava com os elogios e homenagens que recebia. Gostaria de destacar na personalidade gentil e entusiástica de meu analista um só aspecto, neste momento especial: seu interesse pela vida concreta, perfeito antípoda da tecnicidade que larva entre tantos grupos dogmáticos. Como Freud, ele amava o homem concreto, de carne e osso, de inteligência e emoções, de trabalho e sonho, nas suas diferentes fases da vida, em cada vetor da Flecha do tempo que tão bem explorou. Daí que sua investigação mergulhasse na infância, na adolescência e, ultimamente, na velhice e na morte. Da morte, ensinou-nos que, se esta é matéria de destino e não de escolha, morrer é um ato humano, de responsabilidade pessoal. O último, talvez nem sequer o de maior importância, porém jamais irrelevante com certeza. Morrer de tanto viver, este poderia ser o lema de nosso amigo. Já a morte, enquanto pano de fundo da existência, não admite relação, não se representa nem se escolhe, sendo antes o campo de minha vida — dimensão inconsciente, onde adquire sentido cada qual de meus atos e meu tempo encontra seu por quê. Na morte, como nos ensinava, o homem faz sentido pleno para os outros, nossa história completa-se, com ou sem justiça. Produziu inúmeros trabalhos científicos e gozava de elevada consideração no meio científico e cultural, sendo freqüentemente solicitado a emitir opiniões. Acreditava que, na formação analítica, a análise pessoal e a supervisão tinham um papel especial. Sem diminuir a importância dos seminários teóricos, pensava que análise pessoal era o que proporcionaria ao candidato vivenciar o valor do instrumento analítico. Enfatizava que a análise podia mudar as pessoas e discordava dos diziam “que análise não muda ninguém, dá uma ajeitada”, embora reconhecesse que isso se relacionava à experiência de cada pessoa. Supunha que a falta de crença na análise poderia levar a acomodações e distorções e nisso residiria a descrença quanto ao futuro da psicanálise. Através da análise da transferência é que se poderia visualizar os ganhos e progressos dos tratamentos. As perspectivas futuras da psicanálise dependiam, portanto, dos analistas e não da própria psicanálise como ciência, dizia. Espero, pois, não estar sendo injusto para com a memória de nosso querido amigo e mestre, ao propor aqui o sentido de sua existência como um irrestrito e risonho Sim. Sim ao mundo, sim ao homem, sim à vida. Nos últimos anos lecionava a História da Psicanálise uma disciplina que lhe possibilitava transitar pelos autores clássicos da psicanálise e fazer correlações com os desenvolvimentos atuais. Consistente, com profundo conhecimento, era um professor que todos gostavam de ouvir. Entretanto, eram suas qualidades humanas, seu caráter acolhedor e sua elevada disposição ética que atraiam as pessoas. Um exemplo inesquecível, uma perda para psicanálise gaúcha. 11 abp_32-3.indd 11 2/23/07 11:48:29 AM Notícias e Programação Associação Brasileira de Psicanálise Programa intensifica ação junto à comunidade Dra. Maria Tereza Naylor Rocha Membro associado da SBPRJ Congresso terá 49 painéis e 12 cursos Com o objetivo de ampliar o espaço de atuação psicanalítica em função de uma crescente demanda social, a SBPRJ reuniu no Programa Psicanálise e Interface Social (PROPIS) várias atividades destinadas à sociedade e, especificamente, às camadas mais carentes da população, que vêm sendo desenvolvidas em parcerias com diversos segmentos sociais. O XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise, que será realizado entre 9 e 12 de maio em Porto Alegre, apresentará uma série de atividades ligadas à prática psicanalítica. Entre elas, 49 painéis, que serão debatidos em dez salas simultâneas, diariamente. Os painéis irão tratar de temas bastante atuais para o profissional e o paciente, como “Tempo e subjetividade no mundo contemporâneo”, “O sentido da vida: o desafio do suicídio”, entre outros. A comissão organizadora definiu também a realização de 12 cursos, entre eles: ”Teoria da Técnica em Freud”, “De que sujeito fala Lacan”, e “Teoria da Técnica na Psicologia Psicanalítica do Self”. O PROPIS vem ao encontro de uma preocupação da Brasileira do Rio em não se alhear àquilo que pode e deve ser uma contribuição da Psicanálise para a diminuição da violência, melhoria da saúde mental e qualidade de vida da população brasileira. Além disso, a inciativa, atende à Declaração Universal dos Direitos do Homem proclamada pela ONU, finalidade da SBPRJ, definida no capítulo I, artigo 1º do Estatuto. Atualmente, o PROPIS desenvolve os seguintes projetos: Além dessa agenda, o Congresso, que tem como tema central “Prática Psicanalítica - Especificidades, Confrontações e Desafios”, promoverá também bastante reflexão sobre assuntos da atualidade que mobilizam hoje os psicanalistas, debate de casos clínicos em pequenos grupos e temas livres. Esta edição do evento apresenta uma novidade: haverá troca de idéias sobre atividades com a comunidade. 1. Vi-vendo a cidade - oficinas com crianças de comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro, líderes comunitários e educadores, visando a inclusão social e construção de cidadania, sob a coordenação de Maria Teresa Naylor Rocha. 2.“Clínica Pais-bebês” - modalidade clínica de atendimento a pais e bebês num tríplice enfoque: prevenção, diagnóstico e terapêutica precoce, favorecendo uma maior integração com a comunidade no contato com creches, escolas, hospitais e profissionais da primeira infância, sob a coordenação de Eliane Pessoa de Farias. Exposição 3.“O viver e a doença” - grupos operativos com familiares de portadores de mucoviscidose no Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz do Ministério da Saúde, visando melhoria da qualidade de vida dos pacientes e suas famílias, sob a coordenação de Sonia Bromberger. Outra atividade será uma exposição de pôsteres, que tem como objetivo criar uma oportunidade para que a comunidade psicanalítica entre em contato com pesquisas e trabalhos desenvolvidos em diferentes regiões do país, que serão apresentados nos pôsteres. 4.“Agentes Sociais da Liberdade” - grupos operativos com egressos do sistema penitenciário encaminhados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro para apóia-los no processo de reintegração à rede social extra-muros, sob a coordenação de Flavia C. Strauch. Para enviar as peças, é necessário seguir algumas orientações, como dimensão definida em 1m de altura por 90 cm de largura, nome do autor (com pequeno currículo) e Instituição a que é filiado, além de um texto explicativo, com ilustrações (gráficos, desenhos, imagens, etc). 5.“Escutar e Pensar” - programas radiofônicos transmitidos pela Radio Ministério da Educação e Cultura do Rio de Janeiro tratando de temas da vida quotidiana, familiar, social e profissional, objetivando difundir as concepções psicanalíticas, sob a coordenação de Sonia Eva Tucherman. A data limite para o encaminhamento do pôster é 31 de março de 2007. O material deverá ser enviado por e-mail para avaliação e seleção, no endereço: [email protected]. Mais informações no site: www.abp.org.br 6.“Perguntar e Pensar” - programas radiofônicos com as mesmas características do “Escutar e Pensar”, visando prioritariamente o público infanto-juvenil, sob a coordenação de Sonia Eva Tucherman ( em elaboração). Núcleo de BH amplia atuação 7.“Ler e Pensar” - edição, no prelo, de três livros: Família, Sexualidade e Sentimentos, pela Editora Mauad do Rio de Janeiro, com material escrito pelos psicanalistas para os programas radiofônicos para divulgação da psicanálise, sob a coordenação de Sonia Eva Tucherman. Desde que a nova diretoria no Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte tomou posse, as suas atividades do estão sendo ampliadas na cidade. Eliane de Andrade, Sérgio Kehdy e Edna Pires Guerra Torres vêm se empenhando para realizar mensalmente os “Diálogos Psicanalíticos”, sessões de debate teóricos. Os encontros contam com psicanalistas de outras instituições para apresentação de trabalhos e discussão com a platéia. 8.“Projeto DEGASE” - grupos operativos com agentes penitenciários do Departamento Geral de Ações Socio-Educativas, da Secretaria de Estado da Família e da Assistência Social do Estado do Rio de Janeiro- que abriga adolescentes e jovens apenados para discussão de temas introduzidos pelos CDs dos programas “Escutar e Pensar”, visando psicanalista Sonia Eva Tucherman. Em dezembro, foi realizada a jornada “Psicanálise hoje: desafios e implicações clínicas”, com a presença da secretária geral da IPA, dra. Mônica Armesto, do presidente da ABP, dr. Pedro Gomes, de colegas da SPRJ e da SBPSP, além de autoridades da saúde e educação locais. 9.“Mais uma vez... Era uma vez” - atividade de leitura de histórias infantis desenvolvida na biblioteca da SBPRJ com grupos de crianças em idade préescolar e escolar das comunidades circundantes, utilizando a literatura como instrumento facilitador na comunicação, na socialização, na educação e no desenvolvimento psíquico, sob a coordenação de Celmy Quilelli Correa. Além disso, o NPBH vem mantendo grupos de estudos e em março oferecerá um curso de psicoterapia para a comunidade. Em 2007, o Núcleo completa 15 anos de existência. Para comemorar, será realizado na cidade o encontro da ABP, encontro de núcleos da IPA e outras atividades. SBP de Ribeirão Preto escolhe nova diretoria No dia 1 de dezembro de 2006, tomou posse a nova diretoria da SBPRP, composta por Pedro Paulo de Azevedo Ortolan (presidente), Maria Auxiliadora Campos (secretária), Guiomar Papa de Moraes (tesoureira), Maria Bernadete Amêndola Contart de Assis (diretora científica), José Cesário Francisco Júnior (diretor do instituto) e Sônia Maria Mendes Eleutério Mestriner (secretária do Instituto). Durante a cerimônia de posse, Leopoldo Nosek apresentou uma conferência enfocando suas idéias e pensamentos sobre a prática analítica. Capsa leva analistas ao exterior O presidente da ABP, Pedro Gomes, realizou palestra na Sociedade Portuguesa de Psicanálise no último dia 9 de fevereiro, durante a Jornada Clínica ˆ 2007. Paralelamente, Ruggero Levy, presidente da SPPA, esteve na Itália, fazendo conferências. 12 abp_32-3.indd 12 2/23/07 11:48:36 AM Notícias e Programação Associação Brasileira de Psicanálise Núcleo de Marília atende baixa renda Comunidade A Coordenadora do SOE (Serviço de Orientação e Encaminhamento) do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região, dra. Maria Regina Viegas de Almeida, está oferecendo atendimento psicoterápico de orientação analítica à população de baixa renda. O objetivo inicial do projeto é o aprimoramento dos terapeutas. A procura por parte da população tem sido bastante satisfatória. O Núcleo de Psicanálise de Marília e Região (NPMR), por meio do Setor de Serviços à Comunidade, está oferecendo um Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica (CEPP), realizado em parceria com o Centro Educacional UNIVEM, mantido pela Fundação Eurípedes Soares da Rocha de Marília. O conteúdo visa proporcionar ao profissional, psicólogo ou médico, recursos teóricos e clínicos para exercer a prática em Psicoterapia Psicanalítica. Já a Comissão de Cultura do Núcleo, com o objetivo de debater diferentes aspectos das relações humanas contemporâneas, organizou uma série de atividades periódicas que visam refletir a relação entre cultura e psicanálise. A Comissão três dessas atividades que estão sendo realizadas em parceria com a Comissão de Cultura da Associação Paulista de Medicina/Marília: A cada dois anos é feita seleção para início de novas turmas, tendo a segunda turma começado em 2005. Segundo Kátia Burle dos Santos Guimarães, membro associado da SBPSP e Coordenadora do CEPP do NPMR/UNIVEM, As monografias apresentadas ao final do Curso foram de boa qualidade e vários alunos em seus depoimentos referiram-se ao CEPP como “um divisor de águas” em suas atividades clínicas. Cine-debate-É um projeto mensal, que exibe longas-metragens seguidos de debates e que busca apresentar um breve mosaico do cinema mundial, refletindo sobre importantes questões da sociedade atual. Outros cursos Fevereiro: “A Língua das Mariposas” (Espanha) – Debatedores: Pedro Pagni (professor doutor em Filosofia da Educação/UNESP) e Zilda M. Tosta Ribeiro (pediatra, professora da FAMEMA e membro da APM-Marília). O Núcleo vem promovendo também eventos científicos para seus membros, agregados e alunos do Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica. Em fevereiro começa e vai até outubro mais um curso mensal, intitulado “A Evolução do Pensamento de Freud”. Será ministrado por Márcio de Freitas Giovannetti, analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. O curso faz parte da programação de Educação Continuada e é oferecido às pessoas que já passaram pelos cursos de Especialização e tem interesse em continuar seus estudos. Março: “Osama” (Afeganistão) – Debatedores: Sônia M. M. Guirado (psicoterapeuta de Base Psicanalítica e professora e metre em Psicologia Clínica/ UNESP) e Wilton Carlos Lima da Silva (professor e doutor em História/ UNESP). Abril: “A Outra” (EUA) – Debatedores: Carla M. B. Bittencourt (psicóloga e analista em formação na SBPSP), Gisele S. Demarchi (psicóloga clínica e agregada do NPMR) e Rosa Dantas (psiquiatra, analista em formação na SBPSP e professora da FAMEMA). Cursos de Teoria Psicanalítica têm sido oferecidos mensalmente para estudantes e profissionais. Ministrados pelos membros do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Nesse ano de 2007, os temas para os estudantes referem-se à questões básicas sobre Psicopatologia; para os profissionais a proposta é estudar os desenvolvimentos na clínica. A Comissão de Divulgação dos cursos é formada por Cacilda Grama P. Villas Boas, psiquiatra candidata do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Silvana Maria Francisco Neves do Amaral, candidata do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Maria Regina Viegas de Almeida, psiquiatra candidata do Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Maio: “Lavoura Arcaica” (Brasil) – Debatedores: Paulo Celso S. Moreira (médico cardiologista) e Cibele M. M. B. Brandão (analista, membro da SBPSP e presidente do NPMR). Junho: “Eroica” (Inglaterra) – Debatedores: Gisele S. Demarchi (psicóloga clínica e agregada do NPMR) e Ubirajara R. A. Marques (professor e doutor em Filosofia/ UNESP e regente do Coral Boca Santa de Marília). Biblioteca Ciclo de Cinema-Esta atividade busca homenagear grandes diretores da nona arte, através do diálogo entre psicanálise e arte cinematográfica. Cada ciclo apresenta de três a quatro obras selecionadas da filmografia de um mesmo cineasta, com reflexões do público e de um psicanalista convidado após as exibições. O projeto inaugural foi “Ciclo Stanley Kubrick”, com periodicidade de um filme por mês e com a seguinte programação: A Comissão de Biblioteca, que iniciou suas atividades em dezembro de 2004 sob a coordenação de Silvia Cristina Santos Aoki Tardim, candidata do Instituto da SBPSP, conta com a participação de mais cinco agregados. São eles: Angelina Menon Oliveros, Carlos Fernando Paes Favalli, Edna Carlos de Souza Cardoso, Gisele dos Santos Demarchi e Melina Roquete Vaz, todos psicólogos agregados do NPMR. Junho: “De Olhos Bem Fechados” (1999) – Convidado: dr. Márcio de Freitas Giovannetti (analista Didata da SBPSP). Também foi firmada uma parceria com o curso de Biblioteconomia da UNESP de Marília, de modo a dar início à organização da biblioteca. Desde então os universitários, através de estágio curricular, vêm catalogando e organizando o acervo, composto por cerca de 400 exemplares. O objetivo é tornar a biblioteca um espaço de incentivo ao estudo, pesquisa, discussão e produção científica e cultural da instituição. Um das metas para incrementar o acervo é passar a transcrever alguns eventos que as demais comissões do NPMR realizam. Agosto: “Laranja Mecânica” (1971) – Convidado: dr. Alfredo Menotti Colucci (analista Didata da SBPSP). Setembro: “2001: Uma Odisséia no Espaço” (1968) – Convidado: dr. José Antonio Pavan (analista Didata da SBPSP). Tardes de Sábado Temas relacionados ao universo cultural são discutidos em evento bimestral, que trabalha com enfoques diversos como filosofia, antropologia, etc. O contato estabelecido entre convidado e público serve como oportunidade para a interação de outros saberes com a psicanálise. Os títulos mais recentes foram: “Individualidade e Subjetividade” (convidado: Jayme Wanderley Gasparoto – prof. e doutor em Sociologia); “Nietzsche: pensador da cultura” (convidado: Márcio Benchimol de Barros – prof. e doutor em Filosofia); “Literatura e Formação Humana” (convidada: Maria do Rosário Longo Mortatti – profª. Livre Docente em Letras). Núcleo de Natal tem nova direção Foi eleita a nova diretoria do Núcleo Psicanalítico de Natal para o biênio 2007/2008: Maria Luiza Lavigne (presidente), Eduardo Afonso (diretor Científico), Jurandir Carvalho (diretor Administrativo) e Salatiel Silva (diretor Financeiro). Integram a Comissão de Cultura do Núcleo: Carla Maria Brás Bittencourt, Carlos Fernando Paes Favalli, Gisele dos Santos Demarchi, Rosa Maria Batista Santas, Regina de Baptista Colucci e dra. Zilda Maria Tosta Ribeiro, diretora Social da Associação Paulista de Medicina Marília. A Clínica Social dr. George Lederman, sob a coordenação do Salatiel Silva, encontra-se em plena atividade. No último ano do Curso de Formação Psicanalítica da sua primeira turma, o NPN, em comemoração aos 150 anos do nascimento de Freud, lançou também no dia 8 de dezembro passado, o seu jornal, Pensamentos Imperfeitos. 13 abp_32-3.indd 13 2/23/07 11:48:37 AM Notícias e Programação Associação Brasileira de Psicanálise IPA faz em julho congresso em Berlim SBPRJ elege nova diretoria Dr. Claudio Laks Eizirik Presidente da IPA - International Psychoanalytical Association No dia 18 de dezembro de 2006 foi eleita a nova diretoria da SBPRJ. O Conselho Diretor, que vai dirigir a entidade no biênio 2007-2008, é dirigido por Altamirando Matos de Andrade Jr, eleito presidente. A vice-presidência ficou com Maria Helena Rego Junqueira. Completando a nova equipe estão Bernard Miodownik (secretário), Letícia Tavares Neves (tesoureiro), Sônia Eva Tucherman (diretor do Instituto), Ruth Lerner Froimtchuk (vice-diretor do Instituto), Miriam Fichman Fainguelernt (secretária do Instituto), Maria da Conceição Moraes Davidovich (diretor do Conselho Científico), Sérgio Eduardo Nick (diretor do Conselho Profissional) e Admar Horn (diretor da Clínica Social e Centro de Estudos Psicanalíticos). Oitenta e cinco anos depois do congresso internacional realizado em Berlim, em 1922, a IPA voltará a se reunir em julho nesta cidade, que representa um marco histórico em que momentos trágicos, terríveis e sublimes se mesclam com um presente cheio de progresso e expressões artísticas destacadas. Sob o tema geral “Recordar, repetir e elaborar na psicanálise e na cultura hoje“, um abrangente e qualificado programa de atividades científicas e culturais está pronto para acolher e estimular a reflexão e o debate sobre este desafiador tema e outros a ele relacionados. Calendário de eventos Uma impressionante quantidade de propostas de painéis e trabalhos individuais foi apresentada, levando a um cuidadoso processo de seleção. Conferências, debates, encontros com autores destacados, outorga de prêmios, reuniões dos comitês e do Board da IPA, a possibilidade de estreitar contatos, discutir e fazer novos relacionamentos, no cenário de uma cidade fervilhante, oferece uma oportunidade ímpar para participar da construção coletiva de nossa disciplina, em seu 45º encontro internacional. 22/03/07– Reunião Certifica com o presidente da ABP, Pedro Gomes – “Psicanálise relacional contemporânea: uma nova forma de trabalhar em psicanálise” 29/03/07– Sessão Clínica com Ney Marinho 26/04/07–Reunião Científica com Maria de Lourdes Monteiro de Salles (SBPRJ), Osmar de Salles (SPRJ) e Ronaldo Victer (SPRJ) – “A teoria de sistemas intersubjetivos” 03/05/07– Sessão Clínica com Luiz Fernando Chazan 4/05/07– Reunião Científica com Vera Bulak – “Alice e o lagarto: uma abordagem psicanalítica nos distúrbios alimentares” 28/06/07- Reunião Científica com Elie Cheniaux Jr – “Interface entre psicanálise e neurociência” 05/07/07- Sessão Clínica com Eliane Pessoa de Farias Além desta programação, está sendo organizado um Encontro Clínico entre SBPRJ e SBPSP ainda para o primeiro semestre. Todos os dados gerais sobre o programa, as inscrições e a reserva de hotéis estão disponíveis no site da IPA, através do qual um número crescente de colegas já está se inscrevendo. Se acrescentarmos a isto a realização do XXV Congresso da ABP, em Porto Alegre, com um estimulante programa científico, podemos antever que 2007 será um ano em que a psicanálise internacional continuará produzindo e refletindo, com sua vitalidade e criatividade para enfrentar os desafios do presente e construir seu futuro. Informações e inscrições: www.ipa.org.uk O Comitê de Mulheres e Psicanálise ( Cowap ) da Associação Internacional de Psicanálise ( IPA ) promove dias 23 e 24 de março,no Rio de Janeiro, o VI Diálogo Latino-Americano Intergeracional entre Homens e Mulheres. O tema deste encontro será “Corpo e Subjetividade”. O encontro, na sua organização, conta com a co-chair da América Latina, Teresa Lartigue Vives, do México, Mariam Alizade, da Argentina, e Teresa Haudenschild, do Brasil. O núcleo do comitê local é composto de representantes das quatro sociedades psicanalíticas do Rio de Janeiro, filiadas à IPA: Rosa Sender Lang (Rio 1), Maria Cristina Amendoeira (Rio 2), Débora Regina Unikowski (Rio 3) e Nanci Gaspar Moura (Rio 4). Há também a participação de representantes da Cowap de São Paulo (SBPSP) e da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP). O objetivo é debater o porquê do predomínio do corpo em detrimento de uma interioridade e vínculos afetivos. A clínica psicanalítica vem testemunhando uma busca obsessiva pelo controle do corpo no sujeito da contemporaneidade. Desde a renascença o corpo humano é continuadamente desvelado na história e na arte. Os avanços da Medicina, as manipulações do DNA, levantam novas questões na ordem do pensamento, da ética, da política, da religião e de fenômenos culturais jamais pensados. O corpo tornou-se campo privilegiado de experimentações, sofrendo inumeráveis intervenções. O presidente da IPA, Cláudio Eizirik, fará a abertura dos trabalhos e teremos a participação dos professores Sérgio Paulo Rouanet e Ivo Pitanguy. Informações pelos site da SPRJ; SBPRJ; APRIO 3 e APERJ- Rio 4 ou pelo telefone da SPRJ: (21) 25434998. MG: Posse na Associação de Médicos Escritores No dia 12 de fevereiro, o médico e psicanalista Sebastião Abrão Salim estará tomando posse na presidência da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – MG. O evento acontecerá na Associação Médica de Minas Gerais. Uma das metas do novo presidente é reunir e lavar os escritores e membros da ABP para interagir com outras instituições e agregar valor com outras formas de arte. SPR tem nova diretoria A Sociedade Psicanalítica de Recife realizou em 14 de dezembro de 2006 a eleição e posse da nova diretoria para o Biênio 2007/2008, sendo eleito presidente a psicanalista Ivanise Ribeiro. Após a eleição, dr. Alirio Dantas Jr, que agora faz parte do Conselho Consultivo, agradeceu a todos pelo apoio recebido durante a sua gestão e em seguida foi homenageado pela nova diretoria com uma placa de agradecimento. Foram homenageadas também a dra. Lenice Sales e o dr. José Lins de Almeida, por suas contribuições à psicanálise no Nordeste do Brasil, e a Maria Eunice Marinho, pelo extenso trabalho desenvolvido no sentido de incentivar o compromisso dos candidatos quanto à formação psicanalítica. Um minuto de silêncio foi feito por um ano da morte do psicanalista Antônio Carlos Soares de Escobar, referendado como um grande colaborador da SPR. MS tem mudança no Conselho Diretor As atividades da SPR para o ano de 2007 se encontram em fase de planejamento pela Nova Diretoria, ficando para o mês de março o início da sua execução com o evento Psicanálise e Cinema. Os membros da nova diretoria são: presidente: Ivanise Ribeiro; secretário: Austregésilo Castro; tesoureira: Lúcia Antunes Rodrigues; diretora científica: Mabel Cavalcanti; diretora do Instituto: Maria Eunice C. Marinho; Comissão de Ensino: Maria Arleide da Silva, Maria Inês Mendonça, Magda Passos e Suzana Tonin; e Conselho Consultivo: Alirio Dantas Jr, Adalberto Goulart e Paulo Marchon. A Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul (Provisória) tem um novo Conselho Diretor (2007-2008), eleito em 1º de novembro passado e referendado em Assembléia Geral Ordinária em 13/12/2006. O Conselho é composto pelos seguintes membros: presidente: Gleda Brandão Coelho M. Araújo; secretaria: Miriam Catia Bonini Codorniz; tesoureira: Maria Auxiliadora S. Marques; diretor do Instituto de Psicanálise: Lenita Osorio Araujo; diretor científico: Maria de Fátima Chavarelli; Departamento Assistência Psicológica: Terezinha Alcântara Silva; Comissão de Avaliação e Progressão de Membros: Marcia Regina Mendes Ibraim; delegada junto à ABP: Miriam Catia Bonini Codorniz; delegada junto à Fepal: Leila Tannous Guimarães; IPA Liaison Committee : H. Gunther Perdigão (Chair), Pablo A. Cuevas Corona e Marcos Gheiler. APRio-3 promove palestras O ano começou com muitas atividades na APRio-3. No dia 4 de janeiro, foi realizada a Reunião Científica - “Primeiras Etapas de Contato e Formação da Relação Analítica”, cujo apresentador foi José Carlos Zanin, membro efetivo com funções didáticas da APRio-3. E, no dia 18, houve outra Reunião Científica, sob o tema “Algumas Vinhetas para se conversar sobre a Questão da Identidade”, que teve como apresentador José Luiz F. Petrucci, membro efetivo e analista com funções didáticas da SBP de PA. No cerne das discussões estiveram a clínica, a função e a identidade do analista e do par analista-analisando. Seminários do Instituto Os 32 seminários previstos para o 1º Semestre de 2007, das 3ª e 4ª Turmas de Candidatos do Instituto de Psicanálise da SPMS, terão inicio em 27 de fevereiro de 2007. 14 abp_32-3.indd 14 2/23/07 11:48:39 AM Diretoria, Conselhos e Comissões Associação Brasileira de Psicanálise XXI Congresso debaterá “cura”, “transformações” e “construções” Telma Barros Diretora Científica Através de cursos, de discussão de casos clínicos e um grande número de temas a serem debatidos em mesas redondas, estaremos empenhados em conhecer a produção científica e os desenvolvimentos alcançados na prática clínica, frente às Confrontações e Desafios que nos são apresentados na atualidade. Desta forma, estaremos contribuindo para comprovar que a Psicanálise continuará a existir na medida em que a sua Especificidade seja preservada e, ao mesmo tempo, ela possa também se beneficiar dos avanços e aprofundamentos realizados, assegurando assim sua possibilidade de seguir constantemente sendo reinventada. Nos dias 9 a 12 de maio de 2007 nós, psicanalistas brasileiros, membros da ABP e candidatos dos Institutos das Sociedades componentes, temos um encontro marcado. A diretoria da ABP, juntamente com o Conselho Científico e as Comissões Organizadoras, está finalizando o programa do XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise da ABP, que terá como tema central “Prática Psicanalítica – Especificidades, Confrontações e Desafios”. O evento será realizado no Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre. O local escolhido segue o movimento natural de sediar o Congresso nas diferentes regiões onde a psicanálise tem prosperado e gerado Sociedades Componentes da ABP, FEPAL e IPA. No Rio Grande do Sul, terra que nos deu o primeiro analista brasileiro a assumir a presidência da IPA tem se mostrado como solo fértil para a produção e desenvolvimento do pensamento e prática da Psiquiatria e Psicanálise, desde os primeiros tempos da Psicanálise no Brasil. Sabemos que a prática psicanalítica em seus aspectos teórico-clínico exige de nós analistas, um trabalho contínuo de reflexão e elaboração de nossos recursos, em nossa função analítica, de forma que possamos utilizar nosso instrumento de trabalho com mais eficácia. Esta parece ser uma das motivações que temos para a realização de nossos congressos, ou seja, a de investir no intercâmbio de idéias e experiências, com vistas ao aprimoramento da clínica psicanalítica, que constitui o alicerce de nossa identidade profissional. Nesse cenário, nós, organizadores, encontramos o acolhimento, entusiasmo e colaboração fundamentais para a geração de um Congresso que venha a atender aos anseios de todos. Esperamos que o empenho, os cuidados e o carinho que estamos dedicando à organização do evento possam encontrar em cada um dos colegas a ressonância, motivação e mobilização na direção desse encontro marcado. Durante os dias do Congresso, estaremos investigando a nossa prática, compartilhando idéias, inquietações e descobertas, na tentativa de aprofundar nossos questionamentos em torno de temas relativos à teoria e técnica psicanalítica e noções como as de “Cura”, “Transformações” e “Construções”, em análise. Em foco, estarão a pessoa do analista, sua formação, seus recursos pessoais e sua experiência de interação com distintas estruturas de pacientes no cenário analítico. Por esse motivo, é importante que cada Sociedade possa preparar-se e contribuir com o seu melhor. Desta forma poderemos ter um Congresso que permaneça entre nossas melhores lembranças. A cidade de Porto Alegre nos espera e oferece recantos encantadores a serem descobertos e desfrutados pelos que a visitam. Assim como o Hotel do Congresso, Porto Alegre reúne tradição e modernidade, em uma harmonia que surpreende. Se por um lado a beleza natural já é reconhecida e amplamente divulgada, por outro, o ambiente cultural e gastronômico seduz e agrada até os mais exigentes visitantes. Lá nos encontraremos! Regulação do exercício da Psicanálise no Brasil Jair Escobar Diretor de Exercício Profissional Em reunião do Conselho de Representantes da ABP, realizada no Rio de Janeiro em 26 de novembro de 2006, debateu-se acerca das alternativas de regulação do exercício da psicanálise no Brasil. Na oportunidade, dandose seguimento aos trabalhos iniciados no âmbito do Conselho Profissional da ABP, foi apresentado pelo dr. Carlos Klein Zanini estudo identificando a questão da regulação como problemática recorrente em diferentes países, assim reconhecida pela própria IPA. que acabou ensejando sua rejeição, à vista dos riscos de interferência do Estado sobre a definição dos próprios contornos da psicanálise. Decidiu-se então buscar a construção de um modelo em que o ‘credenciamento’ ficaria a cargo de um Conselho, formado pela congregação de entidades psicanalíticas. Com isso, ficaria afastada a interferência do Estado, e a regulação do exercício da psicanálise no Brasil se deslocaria para as próprias entidades, em um processo cuja principal característica seria a de uma espécie de auto-reconhecimento. Tendo presente a universalidade do problema, foram apresentadas as experiências havidas em países como França e Itália, com o propósito de fomentar o debate e, eventualmente, inspirar a construção de um modelo para o Brasil. Neste sentido, foram discutidas as dificuldades inerentes a qualquer tentativa de regulação, sentidas especialmente no tocante à fixação do critério de acesso ao exercício da psicanálise, que poderia tanto residir na necessidade de uma formação específica (Medicina, Psicologia, etc), quanto na necessidade de associação a determinada entidade. Estamos esboçando um modelo, que estabeleça princípios básicos comuns de um exercício da psicanálise baseado em uma conduta ética é respeitosa. Assim que tivermos dados mais objetivos estaremos compartilhando com o conselho de representantes os passos seguintes desta questão. Foram igualmente debatidas na reunião alternativas para o ‘credenciamento’ das entidades, cuja filiação outorgaria ao profissional a condição de exercer a psicanálise. Em uma primeira alternativa – extraída do modelo francês – o ‘credenciamento’ adviria de órgão estatal (v.g. Ministério da Educação), o 15 abp_32-3.indd 15 2/23/07 11:48:40 AM Cultura Associação Brasileira de Psicanálise O Caçador de Pipas Resenha de Eliane de Andrade Membro efetivo e presidente do Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte, da SPRJ ficando sozinhos, sem termos possibilidade de fazê-lo. De um lado, a omissão constante, de outro, a dedicação incondicional. E por fim, as pipas, única possibilidade de contato entre tudo o que não se fez e tudo o que se pode fazer. Mas ainda assim, as pipas funcionam como uma metáfora de uma cultura onde o importante é estar sozinho nos céus, cortando com cerol tudo que ameaçar este poderio solitário. E para que isto aconteça é necessário ter um séquito de servidores que submissamente te promovem ao lugar máximo, viril, de existência única, sem concorrentes. Khaled Hosseini, um afegão exilado nos Estados Unidos, médico, estréia em 2003 na literatura com este “O caçador de pipas”, best-seller, centésima edição (o exemplar que li). Considerado um romance, o livro trata, sobretudo da culpa. Culpa da desigualdade social e étnica em um país, Afeganistão, que ficamos conhecendo pela descrição minuciosa do autor, apontando as belezas destruídas pelas invasões russa e do Talibã. Culpa pela impossibilidade de se lutar contra o poder descomunal que arrasa uma cultura. Culpa por não se conseguir lutar contra o poderoso, que arrasa nosso irmão amado, mas nos ameaçaria caso o enfrentássemos. Um belo livro que nos apresenta uma cultura diferente da nossa, brasileira, mas que, se bem analisada, revela as inúmeras semelhanças que o narcisismo humano tem. Através de seu protagonista, o anti-herói Amir, somos convidados a nos posicionar quanto ao que faríamos na mesma situação que este viveu. A covardia mais-quehumana e a coragem supra-humana, mas mítica, nos é apresentada, como algo detestável, porém inelutável até certo ponto. Posicionar-se em um país onde a força bruta impera, tanto no nível do gover-no, quanto no nível das relações interpessoais dominadas por códigos de comportamento ancestrais, implica em colocar a nossa sobrevivência em risco. O autor nos aponta então a saída egoística, mas que deixa seqüelas por toda a vida. Uma história sobre a dominação pela força e a possibilidade de redenção pelo perdão. Talvez por isto, campeão de vendas: a história estampa a natureza humana no que ela tem de mais falível. Em tempo, necessário se faz ressaltar a ausência da mãe na história. Como não há mães, os homens tentam ocupar este lugar, mas deixam a idéia de que se elas estivessem ali, talvez o cerol pudesse ser retirado das linhas das pipas e estas pudessem conviver no céu, em harmonia. Através da descrição da relação dos dois amigos da trama, vamos tentando nos identificar em qual posição nos colocaríamos e acabamos Nossos autores O ABP Notícias está criando este espaço para divulgar a produção escrita dos psicanalistas, indicando o título da obra, editora e o nome do autor. THEODOR LOWENKRON. “Psicoterapia psicanalítica breve”. 2ª. Edição, Artmed. GLEY P. COSTA. “O Amor e seus Labirintos” Porto Alegre: Artmed, 2007. ANTONIO CEZAR PELUSO e ELIANA RIBERTI NAZARETH “Psicanálise, Direito e Sociedade: Encontros possíveis” São Paulo: Quartier Latin, 2006. SEBASTIÃO ABRÃO SALIM. “Risa - do Holocausto à Terra Santa”, Romance, Sografe Editora, 2006. 16 abp_32-3.indd 16 2/23/07 11:48:44 AM