Vida Após a Morte
Transcrição
Vida Após a Morte
Rubens Omar Baranowski José Carlos de A... (Espírito) Vida Após a Morte No mundo espiritual, suicidas também evoluem? 1ª Edição Matão | 2013 Rubens Omar Baranowski José Carlos de A... (Espírito) Vida Após a Morte No mundo espiritual, suicidas também evoluem? 1ª Edição Matão | 2013 VIDA APÓS A MORTE Capa: Equipe O Clarim Projeto gráfico: Equipe O Clarim Revisão: Enéas Rodrigues Marques Todos os direitos reservados © Casa Editora O Clarim (Propriedade do Centro Espírita O Clarim) Rua Rui Barbosa, 1070 — Centro — Caixa Postal 09 CEP 15.990-903 — Matão-SP, Brasil Fone: (16) 3382-1066 — Fax: (16) 3382-1647 CNPJ: 52.313.780/0001-23 Inscrição Estadual: 441.002.767.116 www.oclarim.com.br [email protected] FICHA CATALOGRÁFICA Rubens Omar Baranowski José Carlos de A...(Espírito) Vida após a Morte 1ª edição: julho/2013 – 10.000 exemplares Matão/SP: Casa Editora O Clarim 208 páginas – 14 x 21 cm ISBN – 978-85-7357-118-9 CDD – 133.9 Índice para catálogo sistemático: 133.9 Espiritismo 133.901 Filosofia e Teoria 133.91 Mediunidade 133.92 Fenômenos Físicos 133.93 Fenômenos Psíquicos Impresso no Brasil Presita en Brazilo Com os meus mais sinceros agradecimentos pelo apoio voluntário de: Alexandro Rafael Gomes do Carmo Um grande amigo À minha amada e admirada esposa Lúcia. Sum á r io A PRAÇA SEM COR A BOA SAMARITANA NOSSO NOVO LAR EM PERIGO A VILA UMA OPORTUNIDADE O NOSSO HOSPITAL DE NOVO, APRENDIZ A SEGUNDA MORTE CONHECENDO UMA CASA ESPÍRITA O TOPO DA CADEIA ALIMENTAR TRABALHANDO POR UM AMIGO VOLTANDO A ESTUDAR O RESGATE DE ALEXANDRE DONA IVONE: ANJO OU OBSESSOR? REEDUCANDO DONA IVONE A HISTÓRIA SECRETA DE ANÍBAL A REDENÇÃO DE DONA IVONE E ALEXANDRE OTÁVIO, UM ESPÍRITO ENDIVIDADO O TRISTE RETORNO DE MARIA CLARA O ESCRITOR 9 15 21 25 35 43 49 57 67 77 93 97 109 113 127 137 149 169 179 189 199 CAPÍTULO I A PRAÇA SEM COR O lugar era fétido e sujo, havia pouca diferença entre o dia e a noite. Sabíamos quando era dia porque conseguíamos ver um pouco mais longe; era como se uma grande tempestade estivesse sempre por sobre nossas cabeças. Nuvens pesadas e escuras estavam a relampejar. Era durante o brilho desses relâmpagos que podíamos discernir melhor o lugar onde nos encontrávamos. Era algo como... uma cidade bem pequena, ou um vilarejo que parou no tempo. As ruas estavam sempre cobertas de lodo, como se tivesse acabado de chover, mas nunca chovia. As casas eram choupanas feitas de madeira velha, e as paredes de adobe, escuras e sem cor alguma, realmente ao nosso olhar pareciam cinzentas, como tudo ao derredor. Havia algo no centro desse vilarejo que lembrava uma praça. Mas sempre vazia, não havia pessoas circulando; havia também uma fonte seca, feita em pedras sobrepostas e igualmente sem cor. Perguntei-me: “Para que uma fonte sem água?”. Não sabíamos como tínhamos chegado àquele lugar tão estranho. Estávamos andando em grupo já havia várias horas, ou talvez até dias, e não conseguíamos sair daquele vilarejo. Por mais que tentássemos, sempre acabávamos por parar na praça. Estávamos cansados, sujos e também feridos, embora não nos déssemos conta de 9 Rubens Omar Baranowski José Carlos de A... (Espírito) nossos ferimentos, que eram bem sérios. Sem saber mais o que fazer, sentamos na mureta da “fonte,” para descansar. Observávamos uns aos outros e nos intrigávamos com a nossa indiferença para com nós mesmos. Queríamos que nossos companheiros se compadecessem de nossos ferimentos ou de nossa dor. Mas éramos totalmente indiferentes à dor e aos ferimentos dos companheiros, e, por um egocentrismo sem tamanho, começamos a discutir entre nós quem era o mais sofredor do grupo. Meu nome é José Carlos de A... Estou aqui, junto de mais três pessoas às quais não conheço, nem sequer as vi antes. Estou ferido nos pulsos. Lembro-me perfeitamente de que eu mesmo me cortei com uma faca de cozinha, lembro-me de todo aquele sangue que escorria de meus pulsos. Sinto uma dor enorme em meus ferimentos, mas sinto uma dor muito maior por não me lembrar de por que eu cometi essa loucura. Sei realmente o que fiz, só lamento por não me lembrar por que o fiz e também por ter falhado. Afinal, ao invés de morrer, estou aqui, vivo, com essas pessoas estranhas que vagam comigo por este lugar igualmente estranho. Nosso grupo era composto de quatro pessoas: três homens, dos quais um garoto de mais ou menos 14 ou 15 anos, e uma senhora já bem madura. Suas roupas e seu modo de falar indicavam ser ela uma pessoa bem abastada. Estava sempre a reclamar: como que seus serviçais a haviam abandonado naquele lugar ermo? Dizia ter certeza de que haviam feito aquilo a mando de seus filhos e netos, que queriam se apoderar de seus bens, ainda em vida. – Ah, quando eu conseguir sair deste lugar imundo, eles vão se haver comigo. Hei de reaver meus bens e minha fortuna e os deixarei na miséria. Por terem me abandonado aqui, eu os deserdarei – dizia ela, toda nervosa. Perguntei seu nome e ela respondeu com um ar de superioridade: – Trate-me por Senhora ou Madame Maria Clara, Maria Clara F... – A senhora me parece tão bem... Não está ferida como nós outros. 10 Vida Após a Morte No mundo espiritual, suicidas também evoluem? – Claro que não estou ferida – disse ela, irritada. – Eu apenas tenho uma disfunção renal. Mas, ontem mesmo, de raiva daquela dor, eu tomei o vidro inteiro do meu remédio e a dor passou. No entanto me apareceu esta vermelhidão por cima do estômago, não sei o porquê. – O vidro inteiro? – perguntei. – Sim, não suportava mais aquela dor. Fiquei impressionado. Como foi que essa “dona” não morrera? – E você, garoto? – perguntei qual o seu nome? – Alexandre Gomez R... – respondeu ele de forma trêmula. Era um garoto franzino, sem maiores pormenores que o diferenciassem de qualquer outro garoto. A não ser pela ferida, aparentemente por arma de fogo, na têmpora direita e por tremores, quase que convulsivos, e surtos de dor intensa que o assediavam frequentemente. Assim como eu e dona Maria, também não sabia como fora parar naquele local. Contou-nos que se lembrava apenas de que causava grandes sofrimentos aos pais, pelo uso de narcóticos. E de que, num momento de delírio e fúria, pela ausência da droga, havia agredido sua própria mãe, até a morte. Quando retornara a si, percebera o horror que tinha feito. Pegara a arma que o pai guardava em casa e tentara se matar. Aparentemente, também não entendia, assim como eu, como falhara. Afinal, ele continuava vivo, mesmo com um tiro certeiro na cabeça. Talvez o tiro tivesse pegado apenas de raspão, sem adentrar o crânio, e a ferida tivesse sido apenas superficial. Mal conseguia falar – não devido ao ferimento, mas sim aos sintomas de abstinência – e praticamente nos implorava que lhe déssemos um pouco do que ele chamava de “pó”. Chegava a gritar: – Pelo amor de Deus, se vocês tiverem um pouco de pó, me arrumem! Depois que eu sair daqui eu pago, podem acreditar... Mas nenhum de nós tinha o que ele precisava; chegava a dar dó de tanta penúria, tanta dor e tanto sofrimento. Havia mais um senhor conosco. Perguntei-lhe: 11 Rubens Omar Baranowski José Carlos de A... (Espírito) – E a sua história, amigo? – Meu nome é Rodrigo. Rodrigo Venceslau B... Também não me lembro como cheguei aqui. Lembro apenas que estava dirigindo meu carro, voltando para casa do trabalho, e, quando dei por mim, estava aqui, andando com vocês. Como podem ver, estou machucado e cheio de hematomas em todo o corpo, embora eu não consiga me lembrar de como fiquei assim, tão machucado. Recordo-me de ter saído do emprego, passado no bar próximo à minha casa e tomado minha cervejinha de sempre. Depois saí e... Estou aqui, andando, andando, andando... Só isso que me recordo. Após nossas apresentações, ficamos ali parados, por um bom tempo. Não sei dizer exatamente por quanto tempo. Nada do que fizéssemos parecia fazer diferença. Sempre acabávamos naquela praça. Martirizando-nos com nossas saudades, nossos remorsos ou nossas feridas. Um que sofria demais da conta era o Alexandre. Não dava para acreditar que alguém suportasse tanto sofrimento como ele estava suportando devido à abstinência. Tentamos entrar em alguns daqueles casebres, mas uns estavam trancados e em outros se percebia a presença de pessoas nos sondando pelas frestas da madeira, mas elas não nos abriam as portas nem sequer para responder às nossas perguntas sobre onde estávamos. Era tudo muito confuso e estranho. Após bater em infindáveis portas, acabamos por parar novamente na praça. Éramos estranhos uns aos outros. Sem ter nenhum assunto em comum, logo o silêncio se abateu sobre nós. Mas reparei que cada um deles parecia viver uma espécie de transe, ou desligamento da realidade, toda vez que parávamos um pouco, ou caminhávamos em silêncio. Quando nada havia que prendesse a atenção deles, e às vezes a minha própria, entravam em um mundo particular, alheio à realidade. Maria Clara, quando estava sonhando acordada, por assim dizer, apresentava uma fisionomia irada, autoritária. Rodrigo, por sua vez, ficava triste, como se estivesse indo para o abatedouro, onde ele 12 Vida Após a Morte No mundo espiritual, suicidas também evoluem? mesmo seria o abatido. Já Alexandre, pobre Alexandre, ficava como que desesperado. Eu nem imaginava o tipo de desespero aterrador pelo qual ele passava. Mesmo sonhando, aparentemente, o mais terrível pesadelo. Quanto a mim, sentia falta de Laura, minha esposa amada, de meus pais e até mesmo de minha sogra, vejam só que coisa. Não víamos ninguém passar por aquelas ruas lodacentas. Uma fonte sem água: qual a serventia daquilo? Seríamos os únicos naquele pequeno mundo? Novamente me peguei unido aos meus companheiros de viagem, em um novo transe nostálgico de minha própria vida, que era, eu acho, bastante feliz. Tínhamos sonhos de uma vida juntos, minha esposa e eu. Então... por que eu tentara me matar? E aquela dor ininterrupta em meus pulsos, latejando o tempo todo, estava sempre a me lembrar da enorme falta que tentara cometer. Como ficaria Laura se eu morresse? E se ela estivesse esperando um filho meu, como faria para se virar sozinha? Não sabia como pudera tentar tal desatino. Será que aquilo, na verdade, era somente um sonho? 13