Vida Após a Morte

Transcrição

Vida Após a Morte
Rubens Omar Baranowski
José Carlos de A... (Espírito)
Vida Após a Morte
No mundo espiritual, suicidas também evoluem?
1ª Edição
Matão | 2013
Rubens Omar Baranowski
José Carlos de A... (Espírito)
Vida Após a Morte
No mundo espiritual, suicidas também evoluem?
1ª Edição
Matão | 2013
VIDA APÓS A MORTE
Capa: Equipe O Clarim
Projeto gráfico: Equipe O Clarim
Revisão: Enéas Rodrigues Marques
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FICHA CATALOGRÁFICA
Rubens Omar Baranowski
José Carlos de A...(Espírito)
Vida após a Morte
1ª edição: julho/2013 – 10.000 exemplares
Matão/SP: Casa Editora O Clarim
208 páginas – 14 x 21 cm
ISBN – 978-85-7357-118-9
CDD – 133.9
Índice para catálogo sistemático:
133.9 Espiritismo
133.901 Filosofia e Teoria
133.91 Mediunidade
133.92 Fenômenos Físicos
133.93 Fenômenos Psíquicos
Impresso no Brasil
Presita en Brazilo
Com os meus mais sinceros agradecimentos pelo apoio voluntário de:
Alexandro Rafael Gomes do Carmo
Um grande amigo
À minha amada e admirada esposa Lúcia.
Sum á r io
A PRAÇA SEM COR
A BOA SAMARITANA
NOSSO NOVO LAR
EM PERIGO
A VILA
UMA OPORTUNIDADE
O NOSSO HOSPITAL
DE NOVO, APRENDIZ
A SEGUNDA MORTE
CONHECENDO UMA CASA ESPÍRITA
O TOPO DA CADEIA ALIMENTAR
TRABALHANDO POR UM AMIGO
VOLTANDO A ESTUDAR
O RESGATE DE ALEXANDRE
DONA IVONE: ANJO OU OBSESSOR?
REEDUCANDO DONA IVONE
A HISTÓRIA SECRETA DE ANÍBAL
A REDENÇÃO DE DONA IVONE E ALEXANDRE
OTÁVIO, UM ESPÍRITO ENDIVIDADO
O TRISTE RETORNO DE MARIA CLARA
O ESCRITOR
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CAPÍTULO I
A PRAÇA SEM COR
O lugar era fétido e sujo, havia pouca diferença entre o dia e a
noite. Sabíamos quando era dia porque conseguíamos ver um pouco
mais longe; era como se uma grande tempestade estivesse sempre por
sobre nossas cabeças. Nuvens pesadas e escuras estavam a relampejar.
Era durante o brilho desses relâmpagos que podíamos discernir melhor o lugar onde nos encontrávamos. Era algo como... uma cidade
bem pequena, ou um vilarejo que parou no tempo. As ruas estavam
sempre cobertas de lodo, como se tivesse acabado de chover, mas
nunca chovia.
As casas eram choupanas feitas de madeira velha, e as paredes de
adobe, escuras e sem cor alguma, realmente ao nosso olhar pareciam
cinzentas, como tudo ao derredor. Havia algo no centro desse vilarejo
que lembrava uma praça. Mas sempre vazia, não havia pessoas circulando; havia também uma fonte seca, feita em pedras sobrepostas e
igualmente sem cor. Perguntei-me: “Para que uma fonte sem água?”.
Não sabíamos como tínhamos chegado àquele lugar tão estranho. Estávamos andando em grupo já havia várias horas, ou talvez
até dias, e não conseguíamos sair daquele vilarejo. Por mais que tentássemos, sempre acabávamos por parar na praça. Estávamos cansados, sujos e também feridos, embora não nos déssemos conta de
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nossos ferimentos, que eram bem sérios. Sem saber mais o que fazer,
sentamos na mureta da “fonte,” para descansar.
Observávamos uns aos outros e nos intrigávamos com a nossa indiferença para com nós mesmos. Queríamos que nossos companheiros se compadecessem de nossos ferimentos ou de nossa dor.
Mas éramos totalmente indiferentes à dor e aos ferimentos dos companheiros, e, por um egocentrismo sem tamanho, começamos a discutir entre nós quem era o mais sofredor do grupo.
Meu nome é José Carlos de A... Estou aqui, junto de mais três
pessoas às quais não conheço, nem sequer as vi antes. Estou ferido
nos pulsos. Lembro-me perfeitamente de que eu mesmo me cortei
com uma faca de cozinha, lembro-me de todo aquele sangue que escorria de meus pulsos. Sinto uma dor enorme em meus ferimentos,
mas sinto uma dor muito maior por não me lembrar de por que eu
cometi essa loucura. Sei realmente o que fiz, só lamento por não me
lembrar por que o fiz e também por ter falhado. Afinal, ao invés de
morrer, estou aqui, vivo, com essas pessoas estranhas que vagam comigo por este lugar igualmente estranho.
Nosso grupo era composto de quatro pessoas: três homens, dos
quais um garoto de mais ou menos 14 ou 15 anos, e uma senhora já
bem madura. Suas roupas e seu modo de falar indicavam ser ela uma
pessoa bem abastada. Estava sempre a reclamar: como que seus serviçais a haviam abandonado naquele lugar ermo? Dizia ter certeza de
que haviam feito aquilo a mando de seus filhos e netos, que queriam
se apoderar de seus bens, ainda em vida.
– Ah, quando eu conseguir sair deste lugar imundo, eles vão se
haver comigo. Hei de reaver meus bens e minha fortuna e os deixarei na miséria. Por terem me abandonado aqui, eu os deserdarei
– dizia ela, toda nervosa. Perguntei seu nome e ela respondeu com
um ar de superioridade:
– Trate-me por Senhora ou Madame Maria Clara, Maria Clara F...
– A senhora me parece tão bem... Não está ferida como nós outros.
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– Claro que não estou ferida – disse ela, irritada. – Eu apenas
tenho uma disfunção renal. Mas, ontem mesmo, de raiva daquela
dor, eu tomei o vidro inteiro do meu remédio e a dor passou. No
entanto me apareceu esta vermelhidão por cima do estômago, não
sei o porquê.
– O vidro inteiro? – perguntei.
– Sim, não suportava mais aquela dor.
Fiquei impressionado. Como foi que essa “dona” não morrera?
– E você, garoto? – perguntei qual o seu nome?
– Alexandre Gomez R... – respondeu ele de forma trêmula.
Era um garoto franzino, sem maiores pormenores que o diferenciassem de qualquer outro garoto. A não ser pela ferida, aparentemente por arma de fogo, na têmpora direita e por tremores, quase que
convulsivos, e surtos de dor intensa que o assediavam frequentemente.
Assim como eu e dona Maria, também não sabia como fora parar naquele local. Contou-nos que se lembrava apenas de que causava
grandes sofrimentos aos pais, pelo uso de narcóticos. E de que, num
momento de delírio e fúria, pela ausência da droga, havia agredido sua
própria mãe, até a morte. Quando retornara a si, percebera o horror
que tinha feito. Pegara a arma que o pai guardava em casa e tentara se
matar. Aparentemente, também não entendia, assim como eu, como
falhara. Afinal, ele continuava vivo, mesmo com um tiro certeiro na
cabeça. Talvez o tiro tivesse pegado apenas de raspão, sem adentrar o
crânio, e a ferida tivesse sido apenas superficial. Mal conseguia falar
– não devido ao ferimento, mas sim aos sintomas de abstinência – e
praticamente nos implorava que lhe déssemos um pouco do que ele
chamava de “pó”. Chegava a gritar:
– Pelo amor de Deus, se vocês tiverem um pouco de pó, me arrumem! Depois que eu sair daqui eu pago, podem acreditar...
Mas nenhum de nós tinha o que ele precisava; chegava a dar dó
de tanta penúria, tanta dor e tanto sofrimento. Havia mais um senhor
conosco. Perguntei-lhe:
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– E a sua história, amigo?
– Meu nome é Rodrigo. Rodrigo Venceslau B... Também não
me lembro como cheguei aqui. Lembro apenas que estava dirigindo
meu carro, voltando para casa do trabalho, e, quando dei por mim,
estava aqui, andando com vocês. Como podem ver, estou machucado
e cheio de hematomas em todo o corpo, embora eu não consiga me
lembrar de como fiquei assim, tão machucado. Recordo-me de ter
saído do emprego, passado no bar próximo à minha casa e tomado
minha cervejinha de sempre. Depois saí e... Estou aqui, andando, andando, andando... Só isso que me recordo.
Após nossas apresentações, ficamos ali parados, por um bom
tempo. Não sei dizer exatamente por quanto tempo. Nada do que fizéssemos parecia fazer diferença. Sempre acabávamos naquela praça.
Martirizando-nos com nossas saudades, nossos remorsos ou nossas
feridas. Um que sofria demais da conta era o Alexandre. Não dava
para acreditar que alguém suportasse tanto sofrimento como ele estava suportando devido à abstinência.
Tentamos entrar em alguns daqueles casebres, mas uns estavam
trancados e em outros se percebia a presença de pessoas nos sondando pelas frestas da madeira, mas elas não nos abriam as portas nem
sequer para responder às nossas perguntas sobre onde estávamos. Era
tudo muito confuso e estranho.
Após bater em infindáveis portas, acabamos por parar novamente na praça. Éramos estranhos uns aos outros. Sem ter nenhum assunto em comum, logo o silêncio se abateu sobre nós. Mas reparei que
cada um deles parecia viver uma espécie de transe, ou desligamento
da realidade, toda vez que parávamos um pouco, ou caminhávamos
em silêncio. Quando nada havia que prendesse a atenção deles, e às
vezes a minha própria, entravam em um mundo particular, alheio à
realidade. Maria Clara, quando estava sonhando acordada, por assim
dizer, apresentava uma fisionomia irada, autoritária. Rodrigo, por sua
vez, ficava triste, como se estivesse indo para o abatedouro, onde ele
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mesmo seria o abatido. Já Alexandre, pobre Alexandre, ficava como
que desesperado. Eu nem imaginava o tipo de desespero aterrador
pelo qual ele passava. Mesmo sonhando, aparentemente, o mais terrível pesadelo. Quanto a mim, sentia falta de Laura, minha esposa
amada, de meus pais e até mesmo de minha sogra, vejam só que coisa.
Não víamos ninguém passar por aquelas ruas lodacentas. Uma fonte
sem água: qual a serventia daquilo? Seríamos os únicos naquele pequeno mundo? Novamente me peguei unido aos meus companheiros
de viagem, em um novo transe nostálgico de minha própria vida, que
era, eu acho, bastante feliz. Tínhamos sonhos de uma vida juntos, minha esposa e eu. Então... por que eu tentara me matar? E aquela dor
ininterrupta em meus pulsos, latejando o tempo todo, estava sempre a
me lembrar da enorme falta que tentara cometer. Como ficaria Laura
se eu morresse? E se ela estivesse esperando um filho meu, como faria
para se virar sozinha? Não sabia como pudera tentar tal desatino. Será
que aquilo, na verdade, era somente um sonho?
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