Leitura complementar
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Cada um mais um Design gráfico como ferramenta de análise social Quando me debruçava há umas semanas sobre livros que documentam cartazes do 25 de Abril de 1974, pude apreciar uma vez mais a qualidade da comunicação visual política e social da época. Revisitava muitos destes trabalhos devido à participação na Experimenta Design 2009 e do repto que me foi lançado: escolher um objecto de design nacional e pensar como lhe “acrescentar valor”. e acerca da exposição de cartazes políticos no MUDE, o crítico de design Mário Moura dizia – e bem – que a comunicação política portuguesa era homogénea e que o objectivo era apontar ao centro, ou seja, não alienar potenciais eleitores. Há 35 anos atrás, as ideologias politicas e sociais eram apresentadas à sociedade através de cartazes, espalhando mensagens através de uma forte identidade visual. Esta identidade ou era importada de movimentos de outros países (Construtivismo Russo ou o Estilo Suíço, por exemplo) ou era resultado de um trabalho de afirmação da qualidade do design gráfico nacional através do uso de iconografia e ilustração portuguesa. De facto, esta estratégia pode ser observada nos vários outdoors, onde novas marcas (brands) substituem os logótipos (identidade) dos partidos. O PS já há alguns anos que se dá a conhecer como Novas Fronteiras. O icónico punho esquerdo cerrado que nasceu com o partido, deu lugar a uma rosa, que por sua vez agora evolui para uma versão mais estilizada e imperceptível, apoiada em dois eixos formando uma espécie de mira. Os 3 logótipos coabitam nos cartazes, nos flyers e na Web, tornando a identidade ainda mais enevoada. Hoje, quase todos os muros têm afixação proibida e as cidades estão povoadas de caros e exclusivos mostruários de cartazes, devidamente emoldurados por uma caixa estilizada que os faz parecer iguais. A inundação de publicidade totalitária definida por uma ubíqua política de marketing, faz com que o acesso à comunicação independente seja extremamente difícil e limitado – a emissor e receptor. A este facto, junta-se um conformismo social e sonambulismo criado por um ambiente que manipula, desfigura e controla. Utilizando o design gráfico como ferramenta para analisar este fenómeno, comecei por reflectir sobre a forma como os partidos políticos expõem hoje as suas ideias aos cidadãos. Um dos primeiros passos, foi olhar para os logótipos dos cinco principais partidos políticos e os seus tipos de letra. Com excepção do Bloco de Esquerda, todos os partidos utilizam versões itálicas dos seus tipos de letra, tentando sugerir dinamismo e impor uma imagem de velocidade. O PSD é o único que utiliza um tipo de letra que integra alguns elementos de um tipo de letra serifado (Optima) – o que lhe atribui por norma uma conotação de conservadorismo. Contudo, até há muito pouco tempo, a tipografia era muito semelhante à do PCP, com um re-branding publicamente criticado. No entanto, o mais curioso e paradoxal é notar que os tipos de letra utilizados pela CDU/ PCP e CDS são praticamente iguais. São na verdade tão semelhantes que só um bom observador se aperceberá das diferenças. Isto diz muito sobre a forma como os partidos falam hoje aos eleitores e se preocupam com a sua identidade. Há uns meses, Já o Bloco de Esquerda, opta com frequência pela sátira, munindo-se de vários artifícios visuais quase sempre com um resultado amador. Na verdade, a componente satírica é de tal forma exagerada e visualmente incoerente, que faz com que a sua identidade ande constantemente a lutar pela sua sobrevivência. O PSD intitula-se de Política de Verdade, aliando uma mão com um “V” de vitória ao seu logótipo. Por várias vezes é este “V” que representa e explica/ comunica o que o partido é aos cidadãos. No Twitter, o PSD chega mesmo a intitular este sítio de Siga a Verdade. No flickr, um arquivo de imagens on-line, o título é Retrato da Verdade. O que se encontra aqui são os cartazes do partido, onde se podem ver vários retratos da sua candidata, sendo esta assim sinónimo de verdade. O PSD é agora simplesmente V. É também curioso notar que nos cartazes dos partidos políticos portugueses, da esquerda à direita, cada vez é utilizada uma paleta de cores mais ampla. Quanto mais diversificada for a escolha de cores, melhor. Esta opção está naturalmente ligada com a intenção de não excluir ninguém, de tentar agradar a todos. Assim, é possível ver nas ruas portuguesas, outdoors com fundos feitos com gradientes de cor e versões a, b, c e d do mesmo cartaz. Portanto, o desvirtuar da identidade é acentuado também pelo uso da cor. Numa altura em que todos os anos se renovam crises atrás de crises, não será uma surpresa se disser que Portugal sofre também de uma profunda crise de identidade na comunicação visual política e social. O que é possível observar nos vários arquivos de cartazes do 25 de Abril é que existia uma grande necessidade de se apresentar à população, de agitar, de promover discussão, sem medo de assumir diferenças. Hoje, o objectivo é diluir-se na paisagem, confundir e ser camaleão manipulado por marketing rápido. Os designers têm naturalmente responsabilidade perante esta realidade, pois pouco ou nada fazem para combater este ambiente acrítico e sonâmbulo. Designers and other Professional mediators have proved, unfortunately, to be unable to stay out of this ongoing colonization of the media and have found themselves incapable of renegotiating an attitude which is related to the benefit of all. As a result, the image of reality they produce consists of no more than a myriad of individual sidetracks, reduced to mere form and stereotypical content. Because designers and intellectuals fail to reflect critically upon the condition under which their own action comes about, their mediating role between private and public interest has been lost. The visual language of graphic or other design – originally intended as an emancipating force – has been replaced by the forms of expression of advertising and public relations. 1 Há portanto uma relação de grande cumplicidade/responsabilidade entre todas as partes envolvidas no acto de emissão, produção, mediação, manipulação e recepção de informação. Em Portugal, 3 diários desportivos estão no top 5 de jornais vendidos a nível nacional e no topo da lista de audiências televisivas estão praticamente sempre jogos de futebol ou telenovelas. Isto diz muito sobre a capacidade da população se refugiar – após bombardeamento - em ídolos que se renovam todos os dias, actores que aparecem e desaparecem, como marcas, como logótipos, como a identidade dos partidos. O tempo de antena dado a marcas tais como CR9 (Cristiano Ronaldo) ultrapassa e muito o razoável e só promove um sinal intermitente de hipnotismo que distrai da reflexão e vida social. No fundo, o gradiente ou arco-íris que vemos nos outdoors das ruas portuguesas, é o mesmo que sai das televisões e da internet (o jornal on-line A Bola é o site mais lido em Portugal). Assim, seleccionei um cartaz de autor desconhecido e que terá sido produzido por volta de 1974. Trata-se de um cartaz do MDP/CDE, fazendo uma alusão ao refrão da célebre canção de Zeca Afonso (traz outro amigo também). Os logótipos que já eram metáforas visuais para pessoas, transformam-se agora em ícones da figura humana. O cartaz constrói uma narrativa através de um padrão e pretende ser uma contribuição que augura promover reflexão entre comunicação independente e institucionalizada, estabelecendo a relação entre os cidadãos e um clima de hipnotismo e de ilusão. Cada um, mais um. 1 van Toorn, Jan; Jan van Toorn: Design’s Delight, 010 Publishers, 2006, pp. 28 Troca de email entre Francisco Laranjo e Frederico Duarte, Julho 2009 Francisco Laranjo Frederico Duarte On 2009/07/21, at 19:46, Francisco M Laranjo wrote: Olá Frederico, Fiz alguns comentários aos vossos comentários. Espero que a discussão se possa prolongar, e aguardarei as vossas respostas: Notas gerais: Achamos que os três cartazes não tem uma relação suficientemente forte entre eles, não se complementam, e emitem mensagens muito diferentes. Concordo. Na verdade, é até difícil que isso pudesse acontecer, uma vez que utilizam linguagens bastante diferentes. Não via tanto os 3 cartazes a complementarem-se, mas como mensagens independentes. O que os une, é o título da exposição: menos é melhor. O que os une é o uso de cartazes de referência e a reciclagem formal e de conteúdo. Contudo, percebo a crítica. São também citações muito distantes dos cartazes originais, em termos formais e de mensagem, fazendo com que o rapport entre os primeiros e os segundos seja muito ténue. Porque é que os cartazes de hoje têm que estar perto dos de há 35 anos? Valor acrescentado não tem que ser necessariamente valor “quase igual ao do passado”. Gostaríamos talvez que nos dissesses qual é a ligação que estabeleces entre estes 3 projectos “intemporais” e os teus próprios cartazes: serão os teus também mensagens intemporais? As minhas mensagens não são de todo intemporais. Concordo totalmente que em termos formais e de relação com o conteúdo, o cartaz 2 é o que resulta melhor. Os cartazes de Abril são hoje documentos políticos, e a importância histórica/ política e no âmbito da comunicação visual é ainda hoje pouco conhecida. Este meu trabalho seria uma forma de reciclar, de acrescentar valor pela renovação, pela homenagem (exibição do original em exposição), pelo uso de um cartaz que cumpriu a sua missão há 35 anos. Trabalhar o conceito de intemporalidade em design de comunicação é muito delicado, uma vez quase só no campo da tipografia e iconografia (ver Drucker ou Frutiger, por exemplo) se encontram elementos que possamos chamar intemporais, por atravessarem alguns séculos. Permite-me divergir. Estou interessado em produzir algo que possa ter impacto, naturalmente. E, o maior impacto possível (ruas de Lisboa). Não anseio fazer um cartaz para a eternidade, mas para hoje. Para mim, o funcionar hoje é a intemporalidade de um cartaz. Não existe nenhum cartaz de Abril que tenha atingido a aura de cartazes do Milton Glaser, Kitchner, Lautrec, Heartfield, entre outros. A não ser, como discutimos no skype, a imagem da menina a colocar o cravo no cano da espingarda. Mas não é um cartaz, como dissemos. É uma imagem que tem sido reapropriada e aplicada com tratamentos visuais diversos. E, alguns destes cartazes que passado várias décadas continuam a ter valor, devem-no mais às qualidades estéticas do que propriamente à sua importância história ou até mesmo pelo efeito que produziu quando foi afixado. Há excepções, claro, apesar de no design de comunicação pouco seja quantificado e analisado. Não sei até que ponto é que é possível trabalhar esta ideia que mencionei da intemporalidade. Este conceito é sempre delicado, pois vêem-se muitas exposições/ intervenções/ instalações onde são produzidos objectos em nome do meio ambiente, da renovação e até mesmo da intemporalidade que depois do evento, são guardadas, arquivadas ou deitadas ao lixo. O uso de materiais nestes casos tem também grande responsabilidade. Alguns dos projectos de Charles e Ray Eames utilizaram caros processos de prototipagem e materiais que estão longe de ser baratos. Contudo, a longo prazo (intemporalidade?), conseguem produzir a tal sustentabilidade que muitos destes eventos reclamam numa ou duas semanas. São estes cartazes críticas à própria comunicação independente, versus a comunicação institucionalizada — quer em termos de mensagem, quer em termos dos meios utilizados – dirigida às massas? Estes cartazes, mas principalmente o segundo e terceiro são de facto uma crítica à comunicação independente (uma chamada aos cidadãos e designers que queiram ter participação na sociedade) e à comunicação institucionalizada (media, etc.). O primeiro cartaz pode (ou melhor, deve, seguindo a vossa boa observação) ser absorvido pelo segundo. Serão os cartazes que escolheste sintomáticos de um tempo (PREC) em que comunicação independente e institucionalizada eram uma e a mesma coisa, e os que fazes tentativas de “fundir” as duas de novo? Esta é uma boa ideia. Não me parece que eu consiga começar outro período de revolução, mas é uma tentativa de provocar reflexão e confrontação - tão típicas desse período. Mas sim, faço de facto uma crítica à comunicação independente e institucionalizada. Outra questão que te colocamos prende-se com os “emissores” dos cartazes. Enquanto os 3 que escolheste são respectivamente do MFA, do MDP/CDE e do MRPP, os teus cartazes serão postos por ti? Estas mensagens são tuas? No cartaz 1 por exemplo, é o C. Ronaldo? As mensagens são minhas e a reflexão é minha, com a vossa preciosa ajuda. Naturalmente, imagino que não queiram (comissários e EXD) estar associados às mensagens que os cartazes comunicam. Daí querer por o meu nome neles. No cartaz 1 a mensagem é minha e a crítica não é ao CR, mas fazer ver que a sociedade e os média têm andado a levar o CR ao colo e fazendo assim uma revolução de mediatização exagerada e de alienação. A crítica não é portanto ao CR. Cartaz 1 Reparámos que a tua adaptação do cartaz do Artur Rosa é bastante livre em termos formais, não usando os mesmos tipos de letra. Mesmo o desenho da “chaimite” e das formas das letras que fazem a palavra POVO também estão bastante distantes do original. Por que é que escolheste fazê-lo? O CR9 está no tipo de letra do Bet & Win, mas não no da marca CR7 do C. Ronaldo... Sabias que ele já registou a marca CR9? Granda moca. O “Por favor preencher” também parece um bocado “educado” de mais. É quase como quisesses fazer um bold statement, deixando espaço para as pessoas interagirem com o cartaz, mas não chegas lá porque tens de solicitar às pessoas que o preencham... Pergunta-te a ti mesmo: se visses este cartaz na rua, preenchias? Com o quê? Nas primeiras versões que tenho do cartaz, tenho o desenho tipográfico exactamente igual. Depois fiz de facto uma adaptação que estava realmente a pedir uma crítica. Era uma modernização que era desnecessária. Realmente, já me tinha questionado quanto ao preenchimento do campo em “branco”. Oferecer marcadores, pendurar um trincha ao pé do cartaz, são técnicas do “relational design” às quais sou bastante crítico e que é bastante trendy aqui em Londres. As conversas do Andrew Blauvelt e troca de galhardetes com a Monika Parrinder e o Rick Poynor têm mantido a discussão bem acesa. Esta tem-se prolongado com o Zak Kyes e com o Ian Noble a dizer que alguns dos seus alunos foram “Eatocked”, por andarem a tentar forçar interacção em projectos inconsequentes e que copiam (sem saber) os Situacionistas. Admito que este cartaz possa funcionar, se voltar ao desenho original, embora me pareça ser um pouco em tom de monólogo. Por outro lado, apesar de alguns cartazes do Abel Manta serem por ventura mais conhecidos, este é francamente conhecido. É também difícil quantificar a sua fama... só mesmo um grande inquérito visual à geração dos nossos pais, e que com certeza variará por zona geográfica. Assim, por concordar convosco que este é o cartaz mais fraco, fica sem efeito. Cartaz 2 Em termos formais este é o que para nós funciona melhor. Mesmo impresso do tamanho do original, e replicado ad aeternum, este cartaz resulta sem dúvida muito bem na paisagem urbana. A utilização do logótipo do MDP/CDE tornado em ícones de figura humana resulta bem. No entanto, gostaríamos de saber por que escolheste outro tipo de letra e cores, acrescentando mesmo uma cor de fundo (ou é a cor do papel onde gostarias de imprimir?) e a cor azul à frase. São estas estratégias para os cartazes se “acomodarem” mais à comunicação gráfica actual? Será que alguém ainda sabe a origem da frase “traz outro amigo também”? Em relação à réplica no tamanho original, parece-me pequeno demais. No ambiente urbano perder-se-ia rapidamente, e os ícones ficariam pequenos demais para terem leitura ou chamarem a atenção numa parede. Este tipo de letra é uma aproximação, embora ainda pode ser mais próximo ou exactamente igual ao original. Muitos cartazes de Abril fizeram verdadeiros massacres tipográficos, com itálicos forçados, versões condensadas e distorções bem características de uma tradição de pouco respeito e conhecimento nesta área. Sinceramente, não me preocupa que o tipo de letra seja exactamente o mesmo, pois o cartaz não é uma cópia do que está no do MDP, mas uma reciclagem, dando um novo (com elementos novos) valor. Tentei o preto, mas tornava a mensagem demasiado negativa e autoritária. Talvez seja um caminho a seguir, ficando mais perto do original, mas pareceu-me uma opção que ainda que não fosse tão ríspida, mantinha autoridade. Gostava de imprimir nessa cor de papel. Contudo, imagino que o original tenha sido impresso em algo similar ao papel de jornal, ganhando com o tempo essa cor. Posso estar enganado. (Estava a par da música do Zeca Afonso) Cartaz 3 Este é o que se afasta mais do original. A única coisa que mantém é mesmo só o Grande Comício. Do quê? Em todo o lado e em todo o ano? O que queres dizer? O facto de usares a terceira pessoa do singular também é curioso. O termo VOTA e o uso da segunda pessoa do singular passaram a estar em desuso a partir dos anos 90. Talvez seja sintomático da viragem à direita do país, ou sintomático do uso de agências de comunicação para as campanhas políticas. Apenas a CDU usa o VOTA hoje. O você da Vodafone é o mesmo você do Sócrates, do Paulo Portas e da Manuela Ferreira Leite. Ou seja, votamos em produtos. Mas isto também não é novidade para ninguém... Além da onda de mudança que varreu as campanhas por todos o país, especialmente para as autárquicas! toda a gente quer mudar “à Obama”, é uma alegria. O Grande Comício “Menos Publicidade”. Onde? Em todo o lado e durante todo o ano. O “Grande Comício” gera normalmente atenção e era esta a intenção. Já pensei nisso, no “diz não” ou “diga não”. Realmente, só a CDU e BE usam o a segunda pessoa do singular. Teria tendência em optar pelo “diz”. Gostaríamos que lesses estas nossas observações como possíveis críticas que serão feitas aos teus cartazes, pelo que preferimos colocá-las a montante do que vê-las depois a jusante. Escrevemos-te hoje no nosso papel de advogados do diabo... Agradeço os comentários, pois estava a precisar deste interrogatório. Talvez possas pensar em “focar” a tua reflexão sobre um só cartaz, escolhendo um exemplo do passado (um destes três) e citando-o no presente. Ou, em alternativa, realizar os três cartazes, mas com intenções/mensagens convergentes? Achamos que as tuas ideias estão boas, mas ainda podem ser afinadas. A focar-me num cartaz, seria obviamente no segundo. Ou variações deste (ícones diferentes, tendo como base o mesmo cartaz). Reflectindo (para trazer de novo a reflexão ao nosso conceito para a exposição) sobre o valor acrescentado de um e de outro cartaz, o que terá acontecido desde que estes cartazes foram realizados? O que aconteceu à “pureza” das mensagens, à qualidade formal e gráfica dos cartazes, e mesmo à nobreza das suas intenções? Parece-me que estas perguntas dariam resultado a uma grande resposta sobre alheamento político e a uma política pouco participativa, a uma vida da polis essencialmente abstencionista. Será que estamos condenados “a levar com” mensagens sobre televisão, telemóveis e futebol para sempre? Já nada nos (mesmo a nós, designers?) surpreende ou emociona? Acho que é importante continuar com uma atitude de intervenção e de questionamento. Sobre se já nada nos emociona, mediei e editei uma conversa que foi publicada na ARC sobre choque em 2007. Em que medida é que o teu trabalho para esta exposição se torna num ponto de ruptura, ou pelo contrário, numa confirmação desta tendência? É uma contribuição para a discussão social. É uma atitude/ intervenção que é rara nas paredes de Portugal. É um projecto de crítica que utiliza as ferramentas e linguagem do design de comunicação. Não me parece que crítica seja ruptura. Concordo com Carrol quando diz que crítica é essencialmente um processo de avaliação. E, normalmente, a audiência procura “assistência” no trabalho de um crítico. De algum modo, espero que este trabalho possa dar alguma assistência (reflexão da condição), no que é um projecto de avaliação. E se é um ponto de ruptura, que alternativa apresenta? Estes cartazes (ou cartaz, no caso de apenas se utilizar o segundo), não vêm resolver os problemas da nação. Sob a alçada do “menos é melhor”, ele propõe auto-reflexão e tenta promover discussão. Discussão, reflexão e autocrítica são sem dúvida alternativas que ajudarão ao melhoramento da condição e vivência social que podemos observar - não só em Portugal, mas em todo o mundo. Até já, abraço Francisco