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Clipping Nacional de Educação Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015 Capitare Assessoria de Imprensa SHN Qd2Edifício Executive Office Tower Sala 1326 Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br Valor Econômico 15/01/15 POLÍTICA PMDB endossa "candidatos das bancadas" Por Raquel Ulhôa e Raphael Di Cunto Em reação às articulações do Palácio do Planalto e do PT para enfraquecer o PMDB no Congresso Nacional, a Comissão Executiva Nacional do partido aprovou ontem, durante reunião em Brasília, nota de apoio unânime às candidaturas do deputado Eduardo Cunha (PMDBRJ) à Presidência da Câmara dos Deputados e, no caso do Senado, do nome que for escolhido pela bancada - o favorito é o atual presidente, Renan Calheiros (AL). A nota tem apenas cinco linhas, mas a cúpula do PMDB espera que o Palácio do Planalto entenda o recado: qualquer ação política contra o partido vai provocar reação contra o governo. Isso inclui o lançamento da candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para disputar contra Cunha e a articulação atribuída a setores do governo - para estimular a criação e fusão de novos partidos aliados pelos ministros das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), e da Educação, Cid Gomes (Pros). Esse movimento, negado pelo ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais), teria o objetivo de reduzir a dependência do governo do PMDB no Congresso. "O gesto do PMDB hoje fala por si só. O partido deixou claro que o candidato que foi escolhido pela unanimidade da bancada na Câmara e o que será escolhido no Senado serão os candidatos oficiais do partido. O que significa dizer que o PMDB, que na sua maioria é aliado do governo, vai olhar com lupa para ver se o governo está tratando o PMDB com aliado ou não", afirmou o ex-ministro Geddel Vieira Lima, integrante da Executiva do PMDB. A iniciativa da cúpula do partido, inédita, de manifestar publicamente unidade absoluta em torno de seus candidatos às presidências das Mesas Diretoras das duas Casas do Congresso foi articulada na véspera pelo vice-presidente da República, Michel Temer, presidente nacional do PMDB, em conversas com lideranças da legenda. O ato foi informado ao núcleo político do Planalto para que o governo não soubesse pela imprensa. Na reunião ontem, segundo relatos, Temer argumentou que o partido historicamente é dividido por questões regionais e que o diretório nacional tem até dificuldade de fazer suas decisões serem cumpridas, mas que o PMDB tem um histórico no comando da Câmara e do Senado e que precisa marchar unido para vencer as disputas e se fortalecer. A declaração foi entendida também como um recado para que a bancada de senadores, apesar das alas independentes, siga unida. A oposição estimula a candidatura de um dos pemedebistas não alinhados a Renan - provavelmente o senador Ricardo Ferraço (ES) para tentar derrotar o atual presidente do Senado. Para não desagradar os senadores, a nota da Executiva não cita os nomes de Cunha - já escolhido pela bancada - e de Renan Calheiros (PMDB-AL), que protela o anúncio de sua candidatura à reeleição para evitar os ataques adversários. "O governo está estimulando a dobradinha Gilberto Kassab e Cid Gomes para prejudicar o PMDB. Mas o tiro pode sair pela culatra", disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). Geddel alertou que o governo deve ter "cuidado" com a relação ao PMDB. "Não há nada de concreto que mostre que estão usando ministério para cooptar quem quer que seja. É absolutamente legítimo que tenham posições políticas. Os ministros do PMDB também devem tê-las também. O governo como um todo é que deve ter cuidado para que isso não represente uma divisão, que possa lhe ser prejudicial num futuro próximo. Logo ali, quando reabrir o Congresso", disse. Após a reunião da Executiva, Temer leu a nota aprovada. Questionado sobre eventual envolvimento de Cunha ou Renan no esquema de corrupção da Petrobras, investigado pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, o vicepresidente disse que, "se houver algum problema, cada um vai se explicar, como já vem se explicando". Não respondeu sobre a eventual troca de candidato, caso surja um comprometimento maior: "O partido não discute hipóteses". A eleição das mesas diretoras da Câmara e Senado ocorrerá no dia 1º de fevereiro, após a posse dos novos parlamentares. Valor Econômico 15/01/15 EMPRESAS Presidente da Estácio explica Fies a funcionários Por Ana Paula Ragazzi O presidente da Estácio, Rogério Melzi, escreveu mensagem aos funcionários sobre os impactos das mudanças no Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) para a empresa, uma das maiores do setor de ensino superior do país. Ele procurou manter elevado o ânimo da equipe. O ponto principal que as empresas do setor tentam renegociar, diz, é a mudança na forma de pagamentos determinada pelo governo. "Estamos agindo da melhor maneira possível na defesa dos nossos interesses e particularmente para a manutenção das regras previstas na Lei do Fies", escreveu Melzi. Depois de uma primeira conversa com técnicos do Ministério da Educação (MEC) na semana passada, as empresas aguardam reunião com o ministro Cid Gomes. Isso pode ocorrer ainda nesta semana. Melzi frisou na mensagem que não está em discussão, em seu ponto de vista, a determinação do MEC de exigir uma pontuação mínima no Enem para que o aluno possa pleitear o Fies. Para Melzi, o Fies faz parte de uma relação entre o governo e o aluno que não tem recursos para estudar. "Nesse contexto, cabe ao MEC a definição das regras para que essa relação ocorra (...). Assim, não podemos questionar se o MEC decidir aumentar a taxa de juros, reduzir a carência, ou colocar uma nota de corte, simplesmente porque isso não é da nossa conta". "Pode ocorrer um estrangulamento no nosso caixa..., o que causa enorme incerteza em todos", diz Melzi Por conta desse entendimento, Melzi diz que jamais permitiu que a Estácio ficasse exposta demais ao Fies. "Sempre imaginei que em algum momento essas regras poderiam mudar e assim dificultar a nossa vida mais do que nós gostaríamos". Já com relação à mudança nos pagamentos, o entendimento é outro. "Uma vez inseridas no contexto do programa, as instituições fazem a sua parte esperando que os parâmetros definidos pela Lei do Fies sejam efetivamente cumpridos, o que vinha acontecendo regularmente até o dia 30 de dezembro", diz Melzi. Foi quando o governo informou que em vez de fazer os pagamentos dos alunos do Fies mensalmente, irá agora fazer após 45 dias o pagamento referente a 30 dias. Dessa forma, a cada ano, as empresas vão receber por 8 meses. E 4 meses ficarão para o ano seguinte, o impacta o capital de giro. "A consequência é que, como temos que honrar todas as despesas (inclusive impostos) referentes aos 12 meses, e ainda realizar os investimentos para podermos receber esses alunos todos, pode ocorrer um estrangulamento no nosso caixa ao longo desses anos, o que causa enorme incerteza em todos", afirma Melzi. Ele também criticou a divulgação da medida "praticamente no reveillón", período onde não há como obter explicações e fazer análises", com um texto que deixou dúvidas, "inclusive permitindo interpretação de que o que estava ocorrendo na realidade era um calote (o que não é verdade)". Ele diz que as empresas solicitaram ao MEC que algumas melhorias sejam implementadas na regra, e que diversos aspectos da portaria sejam melhor explicadas ao mercado". Ele diz que ainda é cedo para dizer "quais resultados vamos obter", mas "certamente estamos agindo da melhor maneira possível na defesa dos nossos interesses e particularmente para a manutenção das regras". Em paralelo, a empresa analisa como agir para preparar-se para "para qualquer nova realidade". Melzi escreveu que 1 a cada 3 15/01/15 alunos presenciais captados vem do Fies. Relata que a empresa fez uma análise amostral e identificou que "uma boa parte" dos seus alunos alcança a média agora exigida no Enem. "Nossa expectativa é que esse impacto não seja superior a 5% da nossa captação". Ele pontua diferenças entre a Estácio e empresas do setor. Afirma que a empresa manteve "a firmeza e a disciplina" e ainda emitiu uma debênture em 2014 para estar "pronta para aguentar qualquer mudança que pudesse ocorrer". Destacou que buscou a diversificação, sem aumentar a dependência do ensino presencial, investindo no segmento a a distância. Por fim, ele afirma que somente quando tiverem um entendimento completo das mudanças e puderem quantificar os impactos causados pelas mesmas é que a diretoria da empresa poderá trabalhar em conjunto para poder propor um plano de ação eficaz, "capaz de nos levar adiante em qualquer contexto". Valor Econômico 15/01/15 EMPRESAS Universo potencial do programa cai 70%, diz Semesp Por João José Oliveira O diretor-executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), Rodrigo Capelato, disse que as mudanças nas regras do financiamento estudantil do governo federal (Fies) vão reduzir em cerca de 70% o universo potencial de jovens que poderiam requerer matrículas no ensino superior usando o crédito. O Semesp enviou ontem ofício ao Ministério da Educação pedindo a revisão das alterações, que foram divulgadas pelo governo nos últimos dias de 2014. O principal ponto questionado pela entidade é a exigência de que o estudante faça ao menos 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para requerer o financiamento. Antes, não havia nota mínima. Segundo o Semesp, pelos critérios anteriores, de cada 100 alunos que faziam o Enem, 57 eram potenciais candidatos a vagas em universidades particulares usando o Fies. Esse grupo inclui os jovens que atendem as exigências de renda do programa, não optaram por universidades públicas, nem obtiveram bolsas de estudo pelo Prouni. "Com as novas regras, esse universo cai para 16 alunos", disse Capelato. Além da nota mínima, as faculdades também querem revisão da medida que eleva de 30 para 45 dias o prazo do governo para repassar os recursos do Fies para as instituições. "A escola vai acabar recebendo o recursos, mas com o prazo maior haverá impacto no caixa e isso significa menos investimentos", afirmou Capelato. O Semesp representa 500 instituições de ensino, que atendem 2,4 milhões de alunos. Valor Econômico 15/01/15 EU & CARREIRA Câmbio desfavorável não impede brasileiros de estudar no exterior Por Adriana Fonseca Apesar do câmbio desfavorável para quem viaja ao exterior, os brasileiros vêm mantendo sua escolha por cursar MBAs em escolas internacionais de primeira linha. De acordo com especialistas, cerca de 400 pessoas no país carimbam o passaporte por ano com esse propósito, e esse público é pouco afetado pelo dólar e euro mais caros. "A alta da moeda americana não afetou essa procura. Se há alguns que desistem, isso é compensado por outros, com maior poder aquisitivo, que acabam indo da mesma forma", afirma Ricardo Betti, sócio da MBA Empresarial, consultoria que ajuda na preparação dos candidatos que desejam fazer esse tipo de curso fora do país. Há 25 anos nesse mercado, Betti afirma que a decisão de estudar fora não é sensível à variação do câmbio. "Atendemos cerca de 70 pessoas por ano, nossa capacidade máxima, e esse número se mantém estável", diz. Leonardo Levy, que está fazendo um MBA na Haas School of Business, da Universidade da Califórnia, Berkeley, é um exemplo. Quando ele começou a pensar em estudar fora, no começo de 2012, o dólar valia R$ 1,80. Em sua primeira semana de aula nos Estados Unidos, em agosto de 2013, a moeda já estava em R$ 2,43. Mas ele não abriu mão da oportunidade. "Como nem todas as minhas economias estavam protegidas contra a flutuação cambial, tomei um susto muito grande", conta. "Como toda a minha vida já estava planejada para o MBA, não cheguei a pensar em desistir, mas fiquei bem preocupado se teria condições financeiras de fazer o curso até o final." Para cursar o MBA, Levy usou suas economias e conseguiu uma bolsa de estudos parcial do Instituto Ling - instituição que fornece bolsas para estudantes admitidos nas melhores escolas de negócio do mundo. Além disso, tomou um empréstimo em dólar nos Estados Unidos que cobriu parte dos custos acadêmicos. "Apesar de não precisar de avalista, as taxas de juros cobradas são altas, em torno de 7% ao ano. Ainda assim, são bem melhores do que eu conseguiria no Brasil." Ele deve concluir o curso, que tem duração de 21 meses e requer dedicação exclusiva, em maio de 2015. Assim como Levy, a maioria dos brasileiros que saem do país para fazer um MBA paga o curso e sua estada com diversas fontes de recursos. "O mais comum é reunir o dinheiro em um mix de opções", afirma Patrícia Volpi, sócia da consultoria de recrutamento e seleção GNext. Ela é responsável pela identificação, avaliação e recrutamento de alunos dos principais cursos de MBA dos Estados Unidos e Europa para recolocação no meio empresarial. Um levantamento organizado pela GNext que retrata o perfil desses brasileiros mostra que, no período de 2013/2014, 77% disseram ter usado recursos próprios, 27% fizeram empréstimo estudantil em banco, 26% conseguiram uma bolsa da própria escola, 21% usaram uma linha de financiamento da instituição de ensino e 5% conquistaram bolsa de alguma organização que apoia brasileiros que querem estudar fora do país. Como se vê, a soma de todas as opções supera os 100% e revela que as pessoas usam diferentes fontes para bancar seus gastos no exterior. Essa ampla oferta de opções ajuda os brasileiros a manter a decisão de estudar no exterior mesmo com o câmbio desfavorável. De acordo com Patrícia, desde que o Brasil melhorou seu nível de investimento e passou a ser uma economia reconhecida internacionalmente, há muitas escolas oferecendo linhas 15/01/15 de crédito específicas para os latinos, o que não era comum alguns anos atrás. "As instituições se sentem mais seguras hoje, pois conhecem nosso mercado de trabalho e sabem que o aluno estará bem empregado após o MBA para pagar o empréstimo e contribuir financeiramente com a escola no futuro", diz. Em sua opinião, o câmbio adverso pode até fazer as pessoas repensarem o MBA no exterior, mas no fim percebem que vale fazer o investimento. As escolas de negócios da Europa e dos Estados Unidos consultadas pelo Valor corroboram as afirmações de Patrícia, da GNext, e de Betti, da MBA Empresarial. É possível notar, inclusive, que a presença dos brasileiros nos MBAs dessas instituições está aumentando nos últimos anos. Na Tuck School of Business, dos Estados Unidos, 43 brasileiros se inscreveram no processo seletivo em 2013, 49 para a turma de 2014, e 62 para a de 2015. O número dos que conseguiram a vaga foi, respectivamente, de 10, 13 e 21. "Uma das razões para isso é que temos trabalhado duro para manter uma presença constante no Brasil, por exemplo, por meio de eventos de recrutamento e do aumento no número de ex-alunos trabalhando no país", afirma Dawna Clarke, diretora de admissões da Tuck School of Business. Segundo Dawna, a América Latina é estratégica para a escola e, desse modo, a instituição vem investindo para estreitar conexões e atrair os estudantes mais qualificados da região. Entre as principais iniciativas estão a criação, em 2012, do Comitê de Aconselhamento para a América Latina da Tuck, a presença de um representante da escola na região - que assessora no recrutamento de candidatos - e uma linha de crédito dedicada aos latinos para que financiem o MBA. A IMD Business School, da Suíça, também viu o número de alunos brasileiros crescer de dois, em 2012, para oito, em 2014. Ralf Boscheck, professor da escola, acredita que o aumento é consequência do reconhecimento da força do programa e da crescente presença do IMD no país com pesquisas e expedições. Em sua opinião, atualmente há uma necessidade no mercado de líderes com visão global baseada em um ambiente complexo e instável. "Os executivos precisam estar preparados para prever e adaptar situações ambíguas. Essas competências são mais frequentemente desenvolvidas em uma experiência internacional, com um bom curso executivo", diz. Também na Europa, a espanhola Iese Business School registrou um aumento considerável de brasileiros em seus programas de MBA. A média da escola sempre ficou em seis ou sete alunos do país. Em 2012, no entanto, o número passou para 15 e, em 2014, para 26. Essa quantidade de estudantes brasileiros fez com que o país representasse a terceira nacionalidade mais presente no curso deste ano. Itziar de Ros, diretora de admissões do MBA da escola, afirma que o salto é consequência de diversos fatores, como a presença de um representante da escola em São Paulo, responsável pelas admissões do curso. "Um programa de MBA é uma aposta e um grande investimento. Oferecer essa atenção personalizada para que o candidato conheça a escola e o programa é fundamental", afirma Itziar. Além disso, ela cita o fato de o Iese estar cada vez mais conhecido no Brasil, muito por conta da presença constante da escola em rankings como o do "Financial Times", e a atividade forte da instituição no país com programas mais curtos, como o Executive MBA (Emba) que é ministrado em São Paulo. "Ao consolidar nossa presença no Brasil com o Emba temos mais oportunidade de tornar conhecido o MBA, o que se traduz em mais inscrições e estudantes brasileiros nas turmas do programa ministrado em Barcelona", ressalta. Roberto Fontana Pusset é um dos brasileiros que optaram pela escola espanhola para cursar seu MBA "full-time", que requer dedicação exclusiva e tem 19 meses de duração. Ele escolheu a Europa porque nos cursos dos Estados Unidos, de forma geral, 80% da turma é formada por americanos. "As discussões ficam muito direcionadas pelo jeito deles de pensar e fazer negócios. Na Europa, a diversidade enriquece 15/01/15 os debates. Podemos ver algo que talvez não funcione nos Estados Unidos, mas seja bem-sucedido na Índia, por exemplo", explica o brasileiro, que começou as aulas em setembro do ano passado. Com 30 anos de idade e uma boa bagagem profissional, Pusset decidiu que agora era a hora certa de voltar à sala de aula. Para se proteger da flutuação cambial, começou a comprar euro logo que tomou sua decisão de sair do país para estudar. "Vendi o carro e algumas ações que eu tinha, peguei minhas economias e comecei a comprar a moeda aos poucos. Não queria depender da variação cambial para poder fazer o MBA", afirma ele, que está custeando os estudos com recursos próprios e ajuda da família. Mesmo sendo um investimento elevado - somente o curso custa • 74.500 -, Pusset acredita que o MBA vale a pena tanto pela parte acadêmica como pela experiência de morar no exterior e ter contato com pessoas de todo o mundo. "É um aprendizado para a vida." O ESTADO DE S. PAULO 15/01/15 NOTAS & INFORMAÇÕES O Enem e a Pátria educadora Os números do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 mostram a importância do slogan escolhido pela presidente Dilma Rousseff para seu segundo mandato - "Brasil, Pátria Educadora" - e, ao mesmo tempo, são reveladores do fracasso de seu primeiro mandato no campo da educação. conceitos fundamentais de ciência e sem saber aplicar o que aprendem na resolução de problemas práticos da vida cotidiana. "Não dá para fugir ou camuflar", disse o ministro da Educação, Cid Gomes, depois de reconhecer que a qualidade da rede de ensino público está "aquém do desejável". Ao todo, 8,7 milhões de alunos da última série do ensino médio inscreveram-se no Enem de 2014, mas só 6,2 milhões compareceram às provas. Em matemática, a média foi de 476,6 pontos, ante 514,1 pontos na prova de 2013 - queda de 7,3%. Em redação, a situação foi ainda pior. Na prova de 2013, a média foi de 521,2 pontos e, em 2014, de 470,8 pontos (menos da metade da nota máxima), com queda de 9,7%. Apesar de retratar um quadro trágico, os resultados do Enem não são novidade. A perda de qualidade da educação brasileira já atingiu todos os níveis de ensino, como comprovam mecanismos nacionais de avaliação e rankings comparativos dos organismos multilaterais. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que é coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, tanto em leitura e linguagem quanto em matemática e em ciências o Brasil tem ficado no batalhão dos piores classificados entre mais de 65 países. Além disso, 529.374 alunos - ou 8,54% dos participantes do Enem - tiveram nota zero em redação, cujo tema tratou da ética na publicidade infantil. Entregaram a prova em branco 280.903 estudantes. São, em grande parte, analfabetos funcionais, que não conseguiram sequer entender o enunciado da prova. Dos 6,2 milhões de participantes, só 250 conseguiram obter a pontuação máxima. Na prova de 2013, cujo tema dizia respeito às restrições impostas pela lei seca, 106.742 receberam nota zero. Em Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Linguagens e Códigos, as médias foram um pouco superiores às registradas em 2013. As variações foram de 2,3%, 5,4% e 3,9%, respectivamente. No quadro geral, considerando as cinco provas aplicadas, a média de 2014 foi de 499 pontos, ante 504,3 pontos na prova anterior uma queda de 1%. Na prática, os números do Enem - que serão utilizados para ingresso no ensino superior - apontam as deficiências dos alunos da 3.ª série do ensino médio em capacidade de leitura e escrita e no domínio de técnicas matemáticas elementares. Mostram ainda que, além de não saber escrever e compreender o que leem e de conhecer pouco mais do que as quatro operações aritméticas, os estudantes chegam ao fim do ensino básico sem dominar Como consequência, o Brasil não produz o capital humano necessário à redução da pobreza e ao crescimento econômico. Permanece, assim, muito abaixo dos padrões necessários a uma economia competitiva e capaz de conquistar espaços no mercado mundial. Nossos principais competidores no comércio internacional têm padrões educacionais muito melhores. Nos últimos anos, o governo da presidente Dilma deixou-se levar pela ilusão de que esse quadro poderia ser revertido com aumento dos recursos para o setor educacional, graças aos royalties do petróleo e aos ganhos do pré-sal. Mas o que a educação precisa é de gestão competente e de um conjunto integrado de ações que envolvam planejamento, metas realistas, prêmios para os melhores professores, remuneração atraente e melhor avaliação de resultados. A escolha do slogan "Brasil, Pátria Educadora", feita por Dilma para marcar seu segundo mandato, não significa necessariamente que ela conseguirá promover essas ações. Mas é uma forma indireta de reconhecer a maneira inepta com que administrou o setor em seu primeiro mandato, quando teve três ministros da Educação, dos quais só um era especialista na área. O ESTADO DE S. PAULO 15/01/15 ESPAÇO ABERTO Desafios para a educação em 2015 CLAUDIA COSTIN Findo o processo eleitoral e definido o ministro da Educação, o Brasil precisa agora pisar no acelerador. Estamos atrasados na agenda educacional e, embora passos importantes tenham sido dados, há correções de rumo a se fazer e temos de, certamente, enfrentar sem medo a necessidade de transformar mais rapidamente a nossa ainda precária educação. Nunca é demais lembrar: somos a sétima economia do mundo e estamos em 57.º lugar no ranking do Pisa, teste internacional da educação aplicado a jovens de 15 anos, em 2012, entre 65 países participantes. Assim, para dar um sentido de urgência vale a pena refletir sobre os desafios não para a década, e sim para 2015, para começar. Não por isso, é bom lembrar que 2015 é, emblematicamente, um ano em que teremos uma nova edição do Pisa. O novo ministro apresenta credenciais relevantes. Desenvolveu com sucesso em seu Estado uma proposta séria de alfabetização, a Alfabetização na Idade Certa, que inspirou iniciativa nacional equivalente. Melhorou, de forma importante, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de seu Estado, tanto no 5.º quanto no 9.º anos. Abordou em seu discurso de posse, ao definir prioridades, a urgente reforma do ensino médio, o que faz muito sentido. pedagógicas em escolas públicas, é um bom começo, mas aí também precisamos avançar mais. Mas há certamente muito ainda a fazer. É preciso definir um currículo nacional. Como podemos assegurar uma melhora de qualidade e equidade na aprendizagem dos alunos se não definimos o que eles devem aprender? Não há no Brasil uma especificação clara das expectativas de aprendizagem, apesar de isso estar prescrito no artigo 210 da Constituição da República. "Como consequência", diz Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e uma das melhores cabeças em avaliação educacional do País, "cada rede, cada escola escolhe o que seus alunos irão aprender. Infelizmente essas escolhas, muito frequentemente, contemplam apenas parte dos conhecimentos e habilidades esperados. Esta é uma grande explicação para as diferenças educacionais". Em primeiro lugar, há a questão do acesso à escola. Finalmente revolvemos a questão da entrada das crianças na escola, mas muitas não permanecem. A taxa de abandono, especialmente a partir do 6.º ano, é alta para um país no estágio de desenvolvimento em que nos encontramos. Além disso, a aprendizagem, como vimos acima, deixa a desejar. Na última Prova Brasil os resultados mostraram uma piora tanto no 9.º ano do ensino fundamental quanto no 3.º ano do ensino médio. Para mudar esse quadro muita coisa pode ser feita. Repensar a formação inicial do professor é certamente uma delas. Nos países com bons sistemas educacionais, a prática de sala de aula e as didáticas específicas são valorizadas no currículo das universidades e a observação de aulas de colegas mais experientes e mentoria são estratégias importantes na formação continuada. O Pibid, um programa de iniciação à docência, que oferece bolsas para que alunos de licenciatura exerçam atividades Somos um país desigual também em educação, entre outros motivos, porque não tivemos a coragem ainda de definir um currículo nacional. Com isso prejudicamos o acesso ao direito à educação. Todos os países que garantem o direito à educação têm 15/01/15 uma especificação clara do que se espera que os alunos aprendam, o que é fundamental para garantir equidade e uma definição mais precisa da qualidade que se quer alcançar. Há dois anos começaram as primeiras conversas sobre a chamada Base Curricular Nacional, mas os avanços ainda são lentos. Esperemos que em 2015 se conclua a sua elaboração. O Brasil não pode mais esperar. No ensino médio é preciso definir trajetórias alternativas, aos moldes do que fizeram alguns países, como a Alemanha ou a Polônia. Todos os caminhos hoje levam à universidade, numa formação frágil e enciclopédica. Tenta-se cobrir disciplinas demais com carga horária de menos, muitas vezes com aulas noturnas (e jornadas menores ainda) para jovens de apenas 14 a 16 anos. É importante também reforçar o ensino médio profissionalizante, em associação com o Pronatec ou os institutos técnicos estaduais e federais, e definir um currículo mais centrado em competências e menos em disciplinas estanques, algo que vem sendo tentado, mas precisa ser acelerado e não ser restrito a algumas escolas piloto. Finalmente, quando se fala de ensino médio e mesmo do chamado fundamental II, é importante combinar excelência acadêmica com uma proposta de escola pensada para adolescentes, onde eles podem ser tratados como protagonistas do seu processo escolar - como o que ocorre na Finlândia e em alguns outros países - e da sua vida futura. Um dos grandes avanços verificados no País é o da educação infantil. Pouco se tem falado nisso, mas nos últimos anos conseguimos colocar um grande número de crianças na pré-escola pública e ampliamos de forma importante as vagas em creches. Ainda falta dar prioridade, nessa modalidade, às crianças que mais podem beneficiar-se dessa atenção, que são as que estão abaixo da linha da pobreza e entras elas, as crianças com deficiência. Contar com professores qualificados para a educação infantil integra a agenda das urgências educacionais. Há muito o que fazer e a consolidação dessas tarefas levará, é claro, bem mais do que um ano, mas há que ter a coragem, a ousadia e a liderança para começar. O ministro mostrou coragem para fazê-lo em seu Estado, como mostram os avanços logrados na alfabetização e no Ideb, agora cumpre fazê-lo no País, tarefa bem mais ampla e complexa. Mas o Brasil certamente merece! *Claudia Costin é diretora global de educação do Banco Mundial O ESTADO DE S. PAULO 15/01/15 METRÓPOLE 15/01/15 O ESTADO DE S. PAULO 15/01/15 METRÓPOLE 15/01/15 O GLOBO 15/01/15 EDITORIAL A educação não para de preocupar Há duas explicações para a nomeação do exgovernador do Ceará Cid Gomes ministro da Educação, uma função estratégica. Uma, o interesse do Planalto em dar espaço ao PROS para contrabalançar a dependência que tem em relação ao PMDB no Congresso. Outra, devido a experiências bem-sucedidas na política educacional de Cid, principalmente na sua base eleitoral, a cidade de Sobral. Seja válida uma ou outra, ou mesmo a mistura das duas, Cid Gomes recebe o MEC num momento difícil. Consta até que ele preferiria passar um período distante da política brasileira, em alguma instituição multilateral em Washington. Mas terminou ministro da Educação quando vários indicadores apontam para a enorme dificuldade de o país transferir para o ensino médio os avanços, ainda tímidos, conquistados na fase inicial do ciclo básico, o fundamental. Com poucos dias no MEC, Cid Gomes tem diante de si o péssimo resultado na prova de redação do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), de 2014, em que houve uma queda de 9,7% da nota média em relação ao exame anterior, e com o recorde de 529 mil candidatos, 8,5% do total, com o conceito zero. Mesmo que a dificuldade do tema - "publicidade infantil" - tenha contribuído para isso, trata-se de mais um alerta ao MEC e à sociedade sobre a qualidade do ensino. Em Matemática também houve queda (de 7,3%), preocupante dada a importância da disciplina para áreas de que qualquer país depende, a fim de se desenvolver de maneira equilibrada - tecnologia, pesquisas etc. A melhoria em Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Linguagens não compensa a má avaliação em Matemática. Cid Gomes teve êxito, no seu estado, ao aprimorar a qualidade do ensino fundamental. Há avanços em várias outras regiões, e eles se traduzem no atingimento de metas parciais pactuadas entre governos e organizações da sociedade, um projeto cujo objetivo final é se chegar em 2022 à nota média (6,0) no ensino básico que têm hoje os países mais desenvolvidos, congregados na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas , sem melhorar o ensino médio, o Brasil não atingirá o alvo. Um problema que abrange as escolas particulares, também mal avaliadas quando comparadas com o mundo desenvolvido. Cid defende, e é correto, um currículo nacional, bem como a revisão do ciclo médio, no qual as disciplinas seriam divididas em "exatas" e "humanas", como nos antigos clássico e científico, para o jovem se adequar à carreira que pensa em seguir. O enciclopedismo tem mesmo levado à superficialidade no aprendizado. Enquanto se faz o necessário debate, os consensos mínimos precisam se implementados, porque a percepção é que as melhorias estancaram, enquanto o tempo passa. Mas o pior que pode acontecer é o MEC ser apenas uma base para o exercício de política partidária. O GLOBO 15/01/15 SOCIEDADE Leitura, o segredo da redação nota mil no Enem LAURO NETO lauro. neto@ oglobo.com. br Candidatos que gabaritaram comentam prova e dizem que tema foi mesmo mais difícil “O tema de 2014 foi mais complexo por não ter sido tão trabalhado pela mídia. Requeria uma bagagem cultural maior e um nível mais intenso de reflexão.” Maria Eduardo Correa Ilha Candidata que tirou mil Estar entre os 250 felizardos que obtiveram a nota máxima (mil) na redação do Enem 2014, num universo de 5,9 milhões de candidatos que tiveram seus textos corrigidos, surpreendeu muitos deles. Os cariocas Carlos Eduardo Lopes Marciano, de 19 anos, e Maria Eduarda de Aquino Correa Ilha, de 18, conseguiram o feito. Ambos fizeram o exame pela segunda vez, apesar de já terem sidos aprovados para cursos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com as notas do Enem 2013. Ao GLOBO, ambos analisaram seu desempenho e arriscaram explicações para o bom sucesso mesmo diante de um tema que professores consideraram “árido”: publicidade infantil. Aluno do 2º período de Engenharia Elétrica na UFRJ, Carlos Eduardo fez o exame no ano passado pensando em trocar sua habilitação para Engenharia Química ou da Computação. Em 2013, ele havia tirado 960 na redação. Agora, gabaritou. Mesmo sem estudar. — Sempre tive o dom de escrever. Escrevia poemas e outros textos e gostava de redação argumentativa. Tive uma professora muito boa de redação, chamada Marilene Tinoco, que me ajudou muito — conta o estudante, que chegou a cursar o primeiro semestre de Direito na Universidade do Estado do Rio de Janeiro ( Uerj), em 2014, mas não gostou do curso. ‘TIVE DE PENSAR MAIS’ Carlos Eduardo também tentou vaga na Universidade de São Paulo (USP) e leu os nove livros indicados pela Fuvest, realizadora do exame paulista. Ele concorda que o tema da redação do Enem em 2014 foi mais difícil que o do ano anterior (Lei Seca): — Tive que pensar mais para desenvolver o texto. Lei Seca era algo mais debatido. Estudei muito durante 2013. Então, essas coisas ficaram fixadas na minha cabeça. Tenho lido menos do que gostaria agora. Mas adoro Jorge Amado. Como ele, Maria Eduarda também atribui ao amor pelos livros parte do repertório que acumulou e foi fundamental ao argumentar sobre prós e contras da publicidade infantil no país. O texto de apoio e o senso crítico que ela desenvolveu também ajudaram. Com o desempenho no Enem 2013, ela já havia passado para o curso de Direito na UFRJ, no turno da noite. Mas fez o exame de novo a fim de garantir uma vaga no período integral (matutino e vespertino). — Em 2013, tirei 840 na redação. Passei para o noturno da UFRJ e da UFF (Universidade Federal Fluminense), mas resolvi tentar de novo. Aprendi a escrever com meus professores do cursinho — ela brinca. — O tema de 2014 foi mais complexo por não ter sido tão trabalhado pela mídia. Já o de 2013 se refere ao cotidiano dos candidatos, pelo menos nas metrópoles, e foi tratado de diversos pontos de vista em diferentes veículos, inclusive no Twitter, uma rede social bastante utilizada pelos jovens. Portanto, para se sair bem eram necessários uma bagagem cultural maior e um nível mais intenso de reflexão. PROFESSORES AVALIAM QUEDA A queda de 9,7% na média da nota de redação dos concluintes (de 521,2, em 2013, para 470,8, em 2014) é explicada por professores de diferentes formas. Para o coordenador de redação do curso _A_Z, Bruno Rabin, ela está relacionada à aplicação de um tema mais árido, que exigia uma formação cultural mais ampla e uma maior recepção prévia de informações. 15/01/15 Além disso, de acordo com Rabin, é importante lembrar que o texto é feito juntamente com as provas de linguagens e matemática. Levando-se em conta que o desempenho nesta última disciplina também caiu, é possível inferir que o segundo dia de provas foi mais duro: — Os alunos provavelmente ficaram pressionados com o tempo, e isso influiu. Soma-se a isso, segundo diz, o fato de o exame ter sofrido um aumento considerável no número de candidatos. — Essa elevação provavelmente diz respeito a um novo grupo de estudantes que passou a enxergar o Enem como caminho para a universidade. É possível que eles tenham mais dificuldade e acabem puxando a nota para baixo — avalia. — O número de apenas 250 redações com nota máxima é espantosamente baixo. Acho improvável que só 250 estudantes, num universo de 6 milhões, tenham proficiência máxima em redação. Isso pode ser reflexo de um cuidado excessivo para que a avaliação não volte a enfrentar críticas, como já aconteceu em edições anteriores. Filipe Couto, coordenador de Língua Portuguesa e Literatura do curso pH, também diz que o tema “Publicidade infantil em questão no Brasil” exigia um repertório cultural que, segundo ele, “infelizmente, muitos alunos não têm”: — O que chama a atenção também é que temos quase 50% dos candidatos com nota até 500, e apenas 0,5% acima de 900. Ou a orientação que eles dão aos corretores está equivocada, ou quase nenhum aluno do Brasil tem proficiência máxima em redação. Se uma turma inteira vai mal, é de se pensar se o problema está com o avaliado ou com a forma de avaliação. Das 529.374 redações que tiraram zero, 217.339 receberam a nota por fugir ao tema, segundo o Ministério da Educação. Entre os que tiveram o texto anulado porque copiaram trechos da coletânea motivadora, estão 13.039 candidatos. Já 7.824 escreveram menos de sete linhas, daí a anulação. ‘QUESTIONO SE CORRETORES TIRARIAM MIL’ Professor de redação do curso Descomplica, Rafael Cunha tem explicação diferente para o recorde de notas mínimas: — A nota zero me parece clara. A quantidade grande já devia ter acontecido antes, mas, na tentativa de não fazer a média cair muito, eles (corretores) acomodaram. Agora, parece que se determinou que notas mil têm que ser poucas, mesmo que (as redações) atendam aos critérios. Afunilaram de outra forma e, na dúvida, diminuíram a nota e tiraram algum ponto. Questiono se todos os corretores seriam capazes de tirar nota mil se fizessem a prova. O GLOBO 15/01/15 OPINIÃO O GLOBO 15/01/15 OPINIÃO FOLHA DE SÃO PAULO 15/01/15 COTIDIANO Lista de demissão na USP tem 1.472 técnicos Programa teve a adesão de 8% dos funcionários da universidade; hospital é a unidade mais atingida com cortes Estimativa era que 1.700 aderissem à medida, que visa reduzir deficit; dados são preliminares FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO A USP informou nesta quartafeira (14) que seu programa de demissão voluntária teve 1.472 funcionários aceitos -- equivalente a 8% do total de 18 mil da universidade. O resultado ficou 13% abaixo da previsão inicial. A iniciativa é a principal aposta da reitoria para diminuir o deficit da universidade. Em 2014, a instituição gastou com folha de pagamento 106% do que recebeu do Estado (dado de novembro). O objetivo primordial do programa de demissões voluntárias é reduzir essa folha entre 6,5% e 7,5%. A reitoria disse que a lista, publicada no "Diário Oficial", é preliminar --por isso, não está definida qual será a exata economia-- e que não comentaria o resultado. Os interessados ainda poderão apresentar recurso. Projeção feita pela Folha, com base nos salários de setembro, aponta que a redução será de cerca de 4%. A avaliação da reitoria era que, a partir de 3,25% de corte, a ideia já era vantajosa. Mas redução abaixo dos 6,5% poderia retardar o fim do deficit, previsto para 2018. FUTURO Quando o plano demissão voluntária foi aprovado, em setembro, estimava-se que 1.700 funcionários poderiam fazer a opção. Docentes estavam vetados, pois a avaliação da administração era que o quadro de técnicosadministrativos é que possuía "gordura". O reitor da USP, Marco Antonio Zago, afirmou, ao apresentar a proposta, que o sucesso da iniciativa determinaria se seriam necessárias medidas adicionais de forte redução de despesas. Mesmo que atingida 15/01/15 integralmente a meta de demissões, a previsão era que as reservas da universidade caíssem de R$ 1,7 bilhão no ano passado para R$ 540 milhões, até o deficit acabar. É dessa poupança que sairão os recursos para o pagamento das rescisões aos funcionários. Estavam reservados R$ 400 milhões. A avaliação é que a redução da folha compensará essa despesa. O CORTE Tabulação feita pela Folha aponta que o salário médio dos funcionários que entraram no programa é de R$ 7.500 (só podiam participar técnicos com mais de 55 anos de idade e 20 anos na USP). ensino, a pesquisa e a prestação de serviços. Já a reitoria diz que há margem para enxugamento, mantendo o padrão de qualidade. O Hospital Universitário é a unidade com mais funcionários nos cortes (209), seguido da reitoria (123) e da Faculdade de Medicina (80). Para atrair os funcionários, foi estipulado que o participante do programa de demissão poderia ganhar até 20 salários extras de indenização (com teto de R$ 400 mil), entre outras vantagens. As funções dos profissionais que mais apareceram são: técnico de assuntos administrativos (131), auxiliar de serviços gerais (95) e técnico de laboratório (83). O sindicato dos funcionários diz que os cortes prejudicarão o Outra ação que está em curso para aliviar o deficit é a venda de imóveis que a universidade possui, principalmente no centro da capital. FOLHA DE SÃO PAULO 15/01/15 COTIDIANO Paixão por livros une alunos 'nota mil' no Enem Jovens tiveram total de pontos na redação COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CAXIAS DO SUL (RS) DE SÃO PAULO A paixão pelos livros é uma característica em comum de estudantes que conseguiram tirar a nota máxima na redação do Enem em 2014. Ao todo, apenas 250 obtiveram os mil pontos da prova, entre os mais de 6 milhões de candidatos em todo o país. Cerca de 1 em cada 25 mil. Curiosamente, esse é o número de habitantes da pequena Veranópolis (a 126 km de Porto Alegre), de onde saiu um dos textos "impecáveis". A autora dele é Taiane Cechin, 17. Filha de uma professora de português, a jovem se formou no colégio privado Regina Coeli no ano passado, mas fez o ensino fundamental em uma escola municipal, a Irmão Artur Francisco. Incentivada pela mãe, Taiane se apaixonou pela leitura. "Adquiri esse prazer por frequentar a biblioteca da escola. Mas não só em busca do conteúdo das aulas, mas de conhecimentos gerais", conta ela, que quer ser médica. Entre os livros preferidos da garota estão as séries "O Senhor dos Anéis" e "Crônicas de Gelo e Fogo". Por coincidência, os autores J. R. R. Tolkien e George R. R. Martin também são os favoritos de Luis Arthur Novais Haddad, 19, que escreveu outra redação nota mil. Morador de Juiz de Fora (a 255 km de Belo Horizonte), ele sempre estudou em escola particular (o Santa Catarina) e, agora, tentará uma vaga em engenharia elétrica em instituições federais. Além de ler bastante, "para ter vocabulário", o jovem se preparou para o exame com aulas extras de redação. Com as tarefas do colégio, fazia dois textos por semana. "Diziam que eu escrevia bem. Mas, quando soube que foram só 250 [pessoas com a nota máxima], não esperava estar entre elas", conta. Em São Paulo, o estudante Luiz Montenegro, 19, aluno do colégio Bandeirantes (zona sul), chegou muito perto da nota máxima: fez 980. "Sempre li bastante e tive facilidade para escrever. Sei que, como médico, a escrita será muito importante para mim", diz o fã de Dan Brown ("O Código Da Vinci"). (PAULA SPERB E DANIELA MERCIER) 15/01/15 conhecimento que qualquer aluno de ensino médio tem, desde que possua um bom nível de leitura e conviva num ambiente de reflexão e debate”, diz Eli Guimarães. O professor também destaca que a proposta deve respeitar os direitos humanos. “Ele não vai resolver o problema do menor abandonado matando a todos eles”, exemplifica. No momento de fazer a revisão, recomenda um distanciamento. “O aluno pode corrigir aspectos gramaticais e ficar atento à ideia: se a solução que propõe apresenta, por exemplo, quem vai fazer, como vai fazer e com qual finalidade”, completa. 21 e recebeu 560 pontos. Rafael Riemma, coordenador de português em uma instituição privada, recomenda que os candidatos fiquem de olho nos critérios de correção. “O aluno não vai ter a nota máxima, por mais que a redação esteja excelente. A redação tem que cumprir cada quesito exigido.” Riemma indica que a prática é o melhor caminho para se aprimorar. “Não há segredo. Uma boa redação se faz com muita repetição: se você quer escrever bem, escreva muito. Não há outra estratégia ou fórmula mágica.” Os itens avaliados Os avaliadores do Enem também não podem tolerar textos com trechos deliberadamente desconectados com o tema proposto e reincidências de erros gramaticais e ortográficos. Além disso, discrepâncias maiores de 100 pontos na nota final implicarão em uma terceira correção. Se o terceiro corretor não chegar a um acordo com os outros dois avaliadores, a redação será verificada por uma banca composta por três pessoas, presidida por um doutor. Essa banca também é acionada para examinar as redações com nota máxima. Para especialistas, houve uma queda no número de estudantes que atingiram 1.000 pontos porque aumentou o rigor desde a edição de 2012, quando um candidato resolveu descrever como preparar um miojo no meio do texto, que tinha como tema o movimento imigratório para o Brasil no século No Enem, cada uma das redações é avaliada por dois corretores entre os mais de 4 mil contratados para isso. Os avaliadores têm a função de atribuir uma nota de 0 a 200 pontos em cada uma das cinco situações abaixo: 1) Domínio da norma padrão da língua portuguesa; 2) Compreensão da proposta de redação; 3) Seleção e organização das informações; 4) Demonstração de conhecimento da língua necessária para argumentação do texto; 5) Elaboração de uma proposta de solução para os problemas abordados, respeitando os valores e considerando as diversidades socioculturais. O edital do Enem prevê sete situações em que a redação do participante pode ser zerada ou anulada. São elas: 1) Fuga total ao tema; 2) Não obediência à estrutura dissertativo-argumentativa; 3) Texto com até sete linhas; 4) Impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação ou parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto; 5) Desrespeito aos direitos humanos; 6) Redação em branco, mesmo com texto em rascunho; 7) Cópia do texto motivador. Confira rascunho de uma das 250 redações nota mil no Enem 2014 Mídia infantil Oriundo de paradigmas capitalistas, o incentivo ao consumo, em especial pela mídia, é bem presente no Brasil. O estabelecimento de nichos econômicos baseados em parcelas da população é comum, mas tendo em vista o grande contingente de crianças na sociedade brasileira, é natural o questionamento do apelo comercial feito a estas, uma vez que determinados produtos ou serviços ofertados podem ter implicações negativas nos hábitos de vida deste grupo, protegido por incipientes legislações, ainda carentes de força prática. O mercado, no Brasil e no mundo, transformou os jovens, especialmente crianças, em nicho econômico. Lojas especializadas nas necessidades dessa parte da população, como em roupas e 15/01/15 lazer, assumem a fatia expressiva do comércio, influenciando fortemente, por vezes de forma negativa, os hábitos da vida da juventude. A famosa rede de lanches rápidos “McDonald's” popularizou-se entre os jovens pelo uso de personagens carismáticos, como estímulo no consumo de sanduíches, inclusive através da distribuição de brindes. A consequência de tal marketing é o incontestável crescimento da obesidade infantil, realidade que atesta para as necessidades da redução do apelo comercial, por meio de legislações. A coibição da publicidade infantil abusiva tornou-se legal em abril de 2014, por meio de uma resolução aprovada pelo Conanda. A medida tem boas intenções, tendo em vista a necessidade de regulamentar o marketing infantil, mas, ainda incipiente, a legislação enfrenta vários obstáculos, em especial na sua atuação prática. A ausência de mecanismos eficientes de fiscalização e de efetivas punições permite a manutenção do excesso de apelo comercial às crianças, o que inviabiliza uma imersão do quadro. * Rascunho da redação de Matheus Andrade Figueiras, de São Luís, no Maranhão. O exemplo mineiro A ansiedade pela espera da nota do Enem valeu a pena para o estudante Luis Arthur Haddad, de 19 anos, de Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais. O jovem, que fez o exame pela primeira vez, não só se saiu bem, entrou no seleto grupo de 250 candidatos, em todo o país, que alcançaram mil na redação, a mais alta do exame. Chegar à tão sonhada classificação, no entanto, não foi fácil. O estudante, que busca uma vaga no curso de engenharia elétrica na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), afirma que foram muitas horas de estudo diário. “Sempre estudei bastante, mas, no 3º ano, intensifiquei a rotina de estudo no colégio e, principalmente em casa”, lembra. Ao todo, eram pelo menos 15 horas de dedicação por dia, de segunda a sexta-feira. O brilhante desempenho na redação tem ainda outra explicação. Luis Arthur passou 2014 inteiro treinando produção de texto de temas diversos para aprimorar a prática. Eram duas redações por semana no colégio e mais treinamento em um curso particular de redação. “Também li muito, me inteirei dos assuntos da atualidade e estudei muito geografia e história. Para uma boa redação, é preciso ter muito conhecimento”, destaca. (Valquíria Lopes) “Eu leio, pelo menos, dois livros por mês. E passei a ler revistas semanais para me informar sobre atualidades” Matheus Andrade Figueiras, estudante de São Luís que tirou nota máxima na redação CORREIO BRAZILIENSE 15/01/15 ARTIGO » Texto beleza por Dad Squarisi Redação é habilidade. Joga no time da natação, do salto, da corrida. A gente só se torna campeão nas águas se treinar. Só salta como Maurren Maggi se praticar. Só corre 10km em 20 minutos se se exercitar. Só escreve um texto nota 10 se escrever muito e sempre. A ordem é treino, treino, treino. O treino faz bruxarias. Acorda palavras adormecidas. Estimula estruturas enferrujadas. Cria intimidade com os temas. Convoca argumentos perdidos. Fixa grafias ardilosas. Melhor: planta confiança e espanta o medo. Adeus, mãos geladas. Adeus, coração disparado. Adeus, baldes de suor. Sobre o que escrever? Sobre BRASIL qualquer assunto. Você pode fazer o resumo do noticiário da tevê. Comentar uma nota do jornal. Criticar cena da novela. Elogiar o corte de cabelo da amiga. Sugerir ao governador medidas para tornar a cidade mais limpa. Ou mais segura. Ou mais bonita. Ninguém precisa corrigir. Escreva e jogue no lixo ou guarde numa pasta. Em um mês de treino, oba! Você será outro. Com o medo chutado para escanteio, deite e role. Mostre seu texto para o professor. Peça-lhe sugestões. Lembre-se: é sempre possível melhorar. Regra de ouro: seja natural. Imagine que o leitor esteja a sua frente ou ao telefone conversando com você. Fique à vontade. Espaceje suas frases com pausas. Sempre que couber, introduza uma pergunta direta. Confira a seu texto um toque humano. Você escreve para pessoas — gente igualzinha a nós. CORREIO BRAZILIENSE 15/01/15 BRASIL EDUCAÇÃO » Reflexo da leitura dinâmica Professores avaliam que a geração atual de estudantes, que se desenvolveu conectada à internet e às redes sociais, tem uma dificuldade maior com textos mais extensos. No Enem 2014, 529 mil alunos tiraram zero na redação » ÉTORE MEDEIROS » DANIELA GARCIA Guimarães: "O aluno muitas vezes lê o que está em negrito e não lê a coletânea de textos. É um problema de leitura" Dos 529 mil alunos que tiraram zero na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a maioria (53,1%) deixou a folha destinada à dissertação em branco. Entre outros 248 mil que obtiveram a pontuação nula, 87,5% tiveram a prova anulada por fugirem do tema proposto: “Publicidade infantil em questão no Brasil”. Chama a atenção que três de cada quatro candidatos que se submeteram ao Enem têm até 24 anos. Criada não só na internet, mas também sob a ágil dinâmica de interações pelas redes sociais, a juventude teria uma dificuldade especial para chegar ao fim da leitura de um texto um pouco mais extenso, avaliam os especialistas. detentores de conhecimentos para avançar com qualidade os seus estudos e pesquisas na graduação e na pós”, defende. “Estarão os nossos jovens excessivamente plugados em multimídias instantâneas, apenas com manchetes de notícias? Ou pior: ainda usando excessivamente as redes sociais sem se importar com a cultura e o aprofundamento de temas? Como nossas escolas estão preparando os nossos alunos nessa questão? Parece que muito mal”, observa, preocupada, Vivina Balbino, professora aposentada da Universidade Federal do Ceará. A mestre em educação vê a enxurrada de zeros como comprovação da falta de leitura dos jovens e da busca de informações longe do conhecimento aprofundado. “Temos que ensinar os meninos a ler, a escrever, a compreender o mundo”, complementa Riemma. Parece inacreditável, mas mesmo em um exame tão importante, que abre as portas para o ensino superior, especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que muitos dos jovens não leram os textos complementares ao enunciado da redação do Enem, fundamentais para a compreensão do que era pedido como dissertação. “Um ponto pesado que essa quantidade de zeros traz é a qualidade do ensino. Ela se evidencia pela comparação das notas dos alunos de escolas públicas e privadas. É muito triste”, lamenta Rafael Riemma, coordenador de Português de um colégio particular da Asa Sul. A precariedade do ensino médio não deve ser tratada como isolada na educação, alega Vivina, uma vez que a má qualidade da fase escolar afetaria diretamente a qualificação dos profissionais formados no ensino superior. “O ensino superior precisa receber alunos cultos e “O aluno, muitas vezes, lê o que está em negrito e não lê a coletânea de textos, é um problema de leitura”, analisa Eli Guimarães, coordenador de redação de uma escola particular de Brasília. “O aluno precisa se inserir no mundo lendo revistas, jornais, editoriais, resenhas. É preciso ampliar o leque de leitura, que não pode ser tratada como uma obrigação acadêmica, mas sim como parte da formação enquanto pessoa, enquanto cidadã crítica”, defende o professor. Riemma ressalta que, mais do que ler, é preciso estimular a juventude a escrever mais. “Quem leu mais sobre o tema vai ter mais facilidade para argumentar. Mas, mesmo os alunos que adoram 15/01/15 debater, falar, dar opinião, é impressionante a resistência que têm a escrever: parece que escrever é um peso. Há medo de se expor, de errar”, observa. Problemas detectados Muito além da baixa qualidade do ensino público, especialistas apontam o que falta para que a atual geração consiga superar as dificuldades para ler, compreender e escrever bem Leitura precária » Acostumados a assimilar conteúdos de forma fragmentada — em fontes como a enciclopédia on-line Wikipedia, por exemplo — , muitos jovens não conseguem chegar ao fim de textos mais longos: se cansam, deduzem o que não leram e tiram conclusões precipitadas. Muitas vezes, os estudantes leem somente o que aparece em negrito ou em destaque, ignorando partes importantes do texto. Esforço unidisciplinar » Sozinho, o professor de redação não consegue dar ao aluno as habilidades e os conhecimentos necessários para o bom domínio da leitura e da escrita. É preciso que os mestres de outras disciplinas que têm alta carga de textos, como história e geografia, cobrem respostas bem argumentadas, com início, meio e fim. Dar nota máxima a uma prova de sociologia respondida em tópicos, por exemplo, deseduca o aluno, ainda que o conteúdo esteja adequado. De olho no próprio umbigo » Faltam a muitos estudante a leitura de opiniões diversificadas e a busca por fontes alternativas para entender bem uma mesma situação. Livros, revistas, jornais até mesmo blogs devem estar mais presentes no cotidiano da juventude. A cada dia, inclusive no Enem, a reflexão sobre um problema e a proposição de soluções possíveis são mais cobradas em diferentes avaliações. Falta de hábito » A máxima de que a repetição leva à perfeição também vale para a produção textual. A escrita de textos dissertativos deve ser parte do dia a dia. Mesmo os alunos que se engajam em acalorados debates em sala de aula — ou nas redes sociais —, com boa argumentação, devem ser estimulados a passar as ideias para o papel. Soltar amarras como a vergonha, o medo e a insegurança é benefício trazido pela prática constante. Correção distanciada » Mesmo os profissionais mais carismáticos e esforçados podem deixar a desejar na hora de corrigir os textos produzidos pelos alunos. Mais do que receber uma nota ou elogio, é preciso que o aluno tenha alguém que o oriente e explique as principais falhas ou acertos da redação. É melhor ter cinco textos bem corrigidos e analisados ao longo de um ano, do que 50 escritos e devolvidos somente com uma avaliação genérica. CORREIO BRAZILIENSE 15/01/15 EDITORIAL Enem: crônica da tragédia anunciada Assusta, mas não surpreende o anúncio de que 529 mil estudantes tiraram zero na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Maus desempenhos têm se sucedido ano após ano. A diferença é que o mal se agrava. Em 2013, 106 mil estudantes não pontuaram, cinco vezes menos que na edição de 2014. Não é outra a razão por que universidades de norte a sul do país anunciaram o fechamento das faculdades que preparam docentes. Algumas mantêm apenas o ensino a distância. Resultado: faltam professores. Escolas passam meses e meses sem oferecer disciplinas das áreas biológicas ou exatas por não conseguirem atrair interessados nas vagas. Os números do Enem nada mais são do que o retrato da degradação do ensino ao longo dos anos. Apesar de o diagnóstico ser amplamente conhecido, não se adota nenhuma medida eficaz para evitar o avanço da doença. Esperar resultado diferente com o mesmo jogo e as mesmas regras é acreditar em milagre ou em Papai Noel. Da engrenagem que compõe o sistema de ensino, o professor ganha relevo. Dele depende não só o encaminhamento da aula mas também a seleção do conteúdo, a escolha do livro didático e o preparo dos recursos necessários à aprendizagem. Aí reside a maior tragédia da tragédia em que se transformou a educação nacional. A dificuldade não se restringe às escolas públicas. Atinge também as particulares. O problema exige medidas urgentes e sérias sob pena de comprometer — ainda mais — o futuro nacional. Profissional incapaz de entender um manual de instrução ou de se expressar oral e por escrito com correção e clareza não tem vez no mercado de trabalho. Nem o país tem vez no disputado clube globalizado. Décadas de negligência tornaram o magistério carreira de segunda classe. Os talentos que sobressaem no ensino médio fogem dos cursos de letras, história, geografia, matemática. Com raras exceções, só se candidata a uma vaga nessas especialidades quem fracassa nas demais. A demanda diminui a cada semestre. Impõe-se atrair as melhores inteligências para o magistério. O ímã vai além de salário similar ou superior ao pago às mais promissoras carreiras de nível superior. Passa, necessariamente, por plano de carreira que estimule a constante qualificação e premie resultados. Sem encarar com firmeza a questão, continuaremos o jogo do faz de conta. É o caso do exame on-line anunciado pelo ministro da Educação. Fazer o teste no papel ou na tela equivale a substituir o livro pelo tablet. Com os mesmos professores, mesmos alunos, mesmo ensino, mesmo material didático, atualiza-se a frase de Albert Einstein. “Loucura”, disse o criador da teoria da relatividade, “é fazer tudo do mesmo jeito e esperar resultado diferente.” CORREIO BRAZILIENSE 15/01/15 OPINIÃO Caiu na conta SÍLVIO RIBAS A frase mais ansiada por milhares de servidores do governo do Distrito Federal neste começo de ano mostra bem o quão longe a irresponsabilidade fiscal pode chegar. Isso tudo sem falar das filas em hospitais e do adiamento do calendário escolar. A minha esperança, contudo, é que, logo após funcionários ouvirem de colegas ou da imprensa o tão esperado “caiu na conta”, pela primeira vez e também quando isso voltar a ser rotina, também caia a ficha do povo sobre as razões de tanto sofrimento com salários e outros pagamentos atrasados. Gastar o que arrecada e somente o que arrecada, incluindo empréstimos tomados à luz do planejamento, é o mínimo a exigir do gestor público. Para o contribuinte, o mínimo que se espera é que ele exija bom uso dos pesados impostos pagos e saiba identificar qual gestão fez isso e qual não fez. Mas, como estamos no Brasil, onde o surreal invade todas as instâncias de poder e da disputa política, as duas premissas parecem ter dificuldade de amadurecer. Basta ver a desenvoltura com que governantes chamam as contas públicas arrumadas da administração anterior de “herança maldita” e os que já saíram deixando rombos ao sucessor evocam “heranças benditas”. A mentira desavergonhada nesses dois casos insulta a inteligência do público, mas, de tão repetida, acaba até dando o resultado esperado pelos mentirosos. Para completar, temos as limitações da Justiça e a militância quase religiosa dos defensores dos malfeitores da República. Enquanto perdurar o discurso falacioso em torno da coisa pública, continuaremos assistindo ao disparate de políticos com mandato desfilarem livremente pelo país e ameaçados de prisão no exterior ou de ministros francamente patrimonialistas tomarem posse em função de cotas partidárias do governo de coalizão. Há muita ficha para cair até que o dinheiro público passe a cair com regularidade nas contas certas e não nas erradas. Não é por acaso que o trabalho do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tenha uma demanda simbólica tão ou mais importante que os cortes de gastos e o aumento de impostos em preparação por ele. Se não criar barreiras aos desvios e abrir as portas do racionalismo, o país pagará cada vez mais caro pela lambança ética. Por isso, quando chegar a hora de votar, o eleitor terá de se lembrar dos momentos bons e ruins que teve na relação com os serviços estatais. E mais: identificar quem foi o responsável por eles. CORREIO BRAZILIENSE 15/01/15 Desabafo Um país em que 529 mil estudantes de 2º grau tiram zero na prova de redação não tem futuro. Gilberto Martins Melo — Lago Sul Com o pessoal do ABC no poder, o ensino deveria estar uma maravilha! Não entendo... Vera Lúcia de Oliveira — Park Way Mais de 500 mil estudantes tiraram zero na redação do Enem. Explicação: faltou a opção copiar e colar. Murilo Coura Brito — Águas Claras Ficaram alarmados porque 10% dos candidatos ao Enem tiraram zero na redação? Que esperar quando a chefa da nação se autointitula presidenta? Sergio Pereira — Cond. Ouro vermelho 1 Quando a governante é chamada de presidenta, meio milhão de notas zero em redação do Enem ainda é pouco. Luiz Filipe Medeiros — Asa Norte Resolvido o desafio do ensino médio que entrega à sociedade meio milhão de zeros: prova on-line. Paula Nunes — Guará DESABAFO CORREIO BRAZILIENSE 15/01/15 CIDADES Pedido de ajuda até ao TCU ALMIRO MARCOS A base de apoio ao governo Rodrigo Rollemberg (PSB) não desistiu de tentar antecipar recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) para melhorar a situação financeira nesse início de 2015. Ontem, o deputado distrital Joe Valle e o senador Cristovam Buarque (ambos do PDT) deram entrada a uma representação, no Tribunal de Contas da União (TCU), pedindo que o órgão determine ao Ministério da Fazenda que antecipe, pelo menos, três parcelas do fundo. Ao todo, o DF tem direito a R$ 12,4 bilhões este ano — os recursos são destinados para as áreas de segurança, educação e saúde. “Não é um empréstimo. Estamos apenas pedindo a antecipação de recursos aos quais o Distrito Federal tem direito. É uma situação emergencial. Queremos que o fundo possa cumprir um de seus papéis, que é fazer a saúde e a educação funcionarem na capital do país. E todo mundo está vendo que o momento é caótico”, explicou o distrital, que protocolou o pedido pessoalmente e foi recebido pelo presidente da Corte, ministro Aroldo Cedraz. No início do mês, Rollemberg solicitou ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que fizesse a antecipação de cerca de R$ 412 milhões, relativo à parte do duodécimo de fevereiro do FCDF. A transferência, no entanto, foi negada. Técnicos da pasta afirmaram que havia vedação legal para a atividade, pois a lei que criou o fundo diz que ele deve ser repassado uma vez a cada mês. “No entanto, a legislação não diz qual é o valor. Não estabelece limite, então, a quantia pode ser alterada”, afirmou o advogado Melillo Dinis, que também assinou a petição. Resposta O TCU está em recesso. O ministro Cedraz disse a Valle que vai se esforçar para tentar resolver a situação. Há uma dúvida sobre a autonomia dele para despachar monocraticamente. Caso o regimento interno da Casa permita, ele pode tomar uma decisão nos próximos dias. Caso contrário, pode levar a plenário na primeira sessão após o retorno, em 21 de janeiro. Rollemberg ficou sabendo sobre a ação dos pedetistas no fim da tarde. “Qualquer atitude para ajudar o DF é bem-vinda. Esse é o pacto que a cidade espera”, disse. CORREIO BRAZILIENSE 15/01/15 CIDADES ENTREVISTA// RODRIGO ROLLEMBERG » "Apostar no caos piora a situação" “As pessoas dizem: você recebeu uma bomba. E eu tenho dito que é uma bomba de efeito continuado” Governador critica sindicatos, detalha medidas de economia e afirma que vai reduzir até os gastos com alimentação em Águas Claras Matheus teixeira e almiro marcos Em meio a “maior crise que a cidade já viveu”, como define o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), ele recebeu o Correio para expor a posição do Governo do Distrito Federal em relação às paralisações de servidores e à crise financeira. O chefe do Executivo fez críticas aos sindicatos que declararam greve nos últimos dias e classificou as decisões da gestão anterior com uma “corrupção de prioridades”. Mais uma vez, ele pregou a necessidade de fazer um “pacto por Brasília”, envolvendo toda a população e as instituições, a fim de recuperar a cidade. Para melhorar a situação financeira, ele elencou uma série de ações que vêm sendo adotadas e antecipou: na próxima semana, serão anunciadas novas medidas para “contribuir na melhoria da arrecadação de recursos do DF”. O socialista afirmou que trabalha com cenários possíveis, mas evitou falar em aumento de impostos e da tarifa de transporte público. Como o senhor avalia o atual cenário do Distrito Federal, com atrasos salariais e paralisações? Vejo a cidade como cidadão que sou e também como governador, com toda a responsabilidade que tenho. Como pessoa comum, compartilho a indignação com a irresponsabilidade, com o descaso, com a incompetência, com o conjunto de atitudes ou da falta de atitudes que levaram Brasília à pior crise da sua história. Como governador, fico aflito, porque é impossível resolver todos os problemas em um passe de mágica. Tenho convicção que será preciso muita paciência, perseverança, trabalho e compreensão da população para que possamos efetivamente, na prática, fazer um pacto pela cidade. Nós só vamos sair desse caos se todas as pessoas e instituições compreenderem a gravidade da situação. Todos nós temos devemos ter participação na construção das soluções para a crise. O senhor imaginava encontrar um quadro assim? Só tivemos a dimensão da profundidade da crise quando tivemos acesso aos números exatos. A cada dia aparece uma novidade, porque tínhamos identificado cerca de R$ 3,1 bilhões em dívidas. Mas há 15/01/15 empenhos que foram feitos, e posteriormente cancelados, ainda não identificados. Há um esforço na redução de cargos comissionados de livre provimento, no cancelamento de licitações que estavam em andamento. Estamos fazendo também um movimento para reduzir os gastos com salários. Por exemplo, pretendemos entregar um prédio na Asa Norte que custa R$ 970 mil mensais em aluguel. Como o senhor tem sentido o clima das ruas? Tenho andado na cidade e procurado estar perto da população. É o momento que conseguimos energia para enfrentar os problemas. Recebo manifestações de orações. Eu digo: reze mesmo, pois precisamos de muita oração e energia positiva. Estamos trabalhando até 18 horas por dia. A situação pode melhorar em um ano? Eu diria que a gravidade é tal que, se conseguirmos, será uma grande vitória. Fomos ao Tribunal de Justiça e conversamos sobre um Fundo de Depósitos Judiciais ao qual outros estados já têm acesso para pagamento de precatórios. Estamos tentando uma solução jurídica para garantir isso no DF, pagar precatórios e aliviar o caixa. Lutamos para resolver problemas deixados pelo governo anterior, como, por exemplo, a inadimplência no CAUC (Cadastro Único de Convênios) — (sem a regularidade nesse instrumento, o ente federativo deixa de ter acesso a vários tipos de financiamentos públicos). Qual a previsão que o senhor faz para 2015? Será um ano difícil e duro. Mas esperamos que, em 2016, Brasília já tenha saído dessa situação muito delicada e dramática. O que anima a gente é a solidariedade da população. As pessoas dizem: você recebeu uma bomba. E eu tenho dito que é uma bomba de efeito continuado. Eles dizem assim: tenho pena de você. Mas eu digo: não tenha pena, quero que você nos ajude a enfrentar a crise e a superá-la. Como o senhor avalia o posicionamento dos sindicatos e servidores nas paralisações? É do processo democrático que ocorram mobilizações. Quando falo em pacto por Brasília, é um chamamento para as pessoas compreenderem o papel de cada instituição nesse momento. O caos não interessa a ninguém. Estamos nos esforçando para construir uma solução. Mas é claro que algumas são impossíveis, porque não temos dinheiro. Um exemplo: tomamos a decisão difícil, mas corajosa, de pagar a saúde primeiro. O dinheiro entrou na manhã de sexta e, à noite, já estava na conta dos servidores. Aí, na mesma sexta-feira o sindicato decide declarar greve. Foi uma grande decepção para um governador que está dialogando com as categorias. O que a cidade ganha com isso? A saúde já está precária e então vira um caos. Pagamos os salários, reconhecemos as dívidas anteriores. Não tinha como fazer mais do que a gente fez. Esperava mais compreensão dos servidores? Esperava e espero. Apostar no caos só piora a situação. Estamos discutindo com as categorias 13º salário de dezembro, antecipação de férias de dezembro, salário de dezembro, horas extras do ano passado… Eram recursos para terem sido deixados em caixa pela administração passada. E estamos buscando alternativas para quitar os compromissos. Agora, se não há possibilidade de fazer isso nesse momento, por que entrar em greve? Por que prejudicar a cidade? Por que penalizar a população? Tenho confiança de que as categorias terão bom senso em compreender o nível de dificuldade que herdamos. O que o GDF está fazendo para buscar recursos? Temos a tentativa de antecipação de parte do Fundo Constitucional (ver texto abaixo). Junto ao Ministério da Previdência, tentamos o pagamento de uma compensação previdenciária ao qual o Distrito Federal tem direito, de cerca de R$ 600 milhões. Outra é a que tentamos no Tribunal de Justiça do DF, relativa aos precatórios. Estamos também estudando alternativas para melhorar a arrecadação. 15/01/15 Podemos ter aumento de tarifas e impostos? Estamos estudando cenários. Não é nosso objetivo aumentar a carga tributária e isso não é prioridade. Melhorar a arrecadação não indica, necessariamente, aumento de impostos. Os gastos com as reformas da Residência Oficial de Águas Claras, feitos no governo passado, eram necessários? Ainda estamos avaliando o papel que a residência oficial terá. Continuo morando na minha própria casa. Mas temos um grande investimento em Águas Claras, que precisa ser bem utilizada. Qualquer que seja o uso, é importante que sejam reduzidos drasticamente os custos com pessoal e alimentação. Quando serão indicados os administradores regionais definitivos? Até fevereiro nós devemos anunciar. Continuamos o processo de ouvir a comunidade. Os administradores interinos estão fazendo um levantamento das regiões. Quando o processo estiver amadurecido, vamos divulgar os nomes. Como fica a situação do novo centro administrativo? Estamos fazendo um estudo profundo. Queremos mudar, mas em situações adequadas. Vamos fazer uma negociação justa dentro das condições legais e ocupar o centro administrativo, pois não podemos abrir mão de um investimento daqueles. O Buriti não vai ser desativado. O Centro Administrativo cabe 15 mil servidores e o GDF tem 145 mil funcionários. JORNAL DE BRASÍLIA 15/01/15 MINO PEDROSA JORNAL ALÔ BRASÍLIA-DF 15/01/15 BRASÍLIA
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