performance desportiva - CIDESD
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performance desportiva - CIDESD
VOLUME 1, NÚMERO 1 JULHO-SETEMBRO DE 2009 PERFORMANCE DESPORTIVA BOLETIM TÉCNICO-CIENTÍFICO PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL DO CENTRO DE INVESTIGAÇÃO EM DESPORTO, SAÚDE E DESENVOLVIMENTO HUMANO (ISSN 1647-3280) EDITORES - JAIME SAMPAIO; MÁRIO MARQUES; ANTÓNIO SILVA Editorial Actualmente, as performances desportivas de sucesso são suportadas por conhecimentos e competências oriundas de várias ciências, Desta forma, exige-se que os treinadores tenham uma visão e trabalhem num ambiente multidisciplinar pois, perante a mesma situação, podem ter diferentes perspectivas (fisiológica, técnica, táctica, psicológica,...) com diferentes interacções. O apoio da ciência é fundamental para que este processo se desenvolva, contudo e apesar de vários esforços, a comunicação entre cientistas e treinadores permanece ainda pouco explorada. De facto, é necessário um compromisso efectivo de ambas partes no sentido de repensar o processo e aceitar a necessidade (urgência) de um ambiente multidisciplinar que só se pode criar e desenvolver com esforços e participações multidisciplinares. O Boletim técnico-científico Performance Desportiva tem como objectivo ser um elo de ligação entre estes dois pólos, ao publicar material que combina resultados provenientes do conhecimento científico mais actual com as aplicações práticas e competências profissionais. Pretende também ser um espaço de primeiro contacto entre cientistas e treinadores desportivos e um espaço de divulgação da formação científica e profissional no âmbito da Performance Desportiva. Os Editores, Utilização de software de codificação video. Nos Jogos Desportivos Colectivos, a preparação das competições é substancialmente baseada na análise dos pontos fortes e fracos dos adversarios a defrontar. A utilização de videogramas com informação relativa às estruturas e organização ofensiva e defensiva das equipas e aos detalhes mais relevantes dos jogadores, é um dos factores mais importantes para o sucesso. Tradicionalmente, as equipas técnicas dispõem de técnicos que realizam este processo através de video montagens, primeiro em formato tipo VHS e posteriormente em formato tipo DVD. O processo consome demasiado tempo e dificilmente se conseguem resultados eficázes pois a selecção da informação dificilmente obecedece a algum critério. Nos últimos tempos, o aparecimento de software de codificação video tem permitido melhorar substancialmente este processo, de forma a que os técnicos possam centram mais as suas preocupações na qualidade da informação a recolher e transmitir aos jogadores. Este tipo de aplicações informáticas requer só que se codifiquem as situações a analisar (na figura) e ficam imediatamente d i s p on ív e i s p a ra se editarem . Está agora ao alcance de um ―click‖, a produção de um video com todas as posses de bola da Equipa X em que participou o Jogador Y e terminaram com sucesso, ou todas as acções defensivas em que participaram os Jogadores Z e W. As vantagens da utilização deste tipo de ferramentas são muitas, ainda mais quando se podem armazenar e utilizar os dados de todos os jogos da época desportiva. Com estas p o s s i bi l i d a d e s , afiguram-se novos desafios para a investigação e o treino nos Jogos Desportivos Colectivos. Gil Couto Mestrando em Jogos Desportivos Colectivos na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real [email protected] Neste número: Vantagem casa no Basquetebol 2 Nado ―na cola‖ 3 Posições do corpo em paralelas assimétricas 4 O treino da força em crianças e jovens 5 Tonificar a parede abdominal 6 Analistas do jogo de Voleibol 7 Genética e performance desportiva 8 Performance no Râguebi 9 PERFORMANCE DESPORTIVA PÁGINA 2 A vantagem casa no Basquetebol está associada à posição específica dos jogadores. Jaime Sampaio CIDESD Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real. [email protected] “OS EFEITOS DE JOGAR EM CASA ESTÃO MAIS PRESENTES NAS TAREFAS COM SUPORTE MAIS COORDENATIVO (ASSISTÊNCIAS E LANÇAMENTOS DE 3 PONTOS) DO QUE CONDICIONAL (DESARMES DE LANÇAMENTO, RESSALTOS, FALTAS)” A vantagem casa é um dos factores que mais influência o desfecho final das competições desportivas, contudo as causas que suportam este facto são ainda pouco conhecidas. No Basquetebol de alta competição, os estudos disponíveis referem que as equipas que jogam em casa vencem em média aproximadamente 60% dos jogos disputados. Nestas equipas identificam -se maior número de comportamentos assertivos em competição, tais como ressaltos, roubos de bola e desarmes de lançamento. Num estudo recente, foram identificadas várias diferenças nos efeitos da vantagem casa em função da posição específica dos jogadores de Basquetebol. Foram analisados os registos da performance em jogo de 493 bases (posições 1 e 2), 485 extremos (posições 3 e 4) e 233 postes (posição 5) na Euroliga Europeia. Os jogadores bases tiveram melhores prestações nos jogos em casa, especificamente nos lançamentos de 3 pontos convertidos, ressaltos defensivos, assistências, roubos de bola, desarmes de lançamento e faltas cometidas. Os jogadores extremos tiveram melhores prestações nos jogos fora, nos lanceslivres convertidos, assitências, roubos de bola e faltas cometidas. Nos jogadores postes não se identificaram diferenças. Foi sugerido que os efeitos de jogar em casa estão mais presentes nas tarefas com suporte mais coordenativo (assistências e lançamentos de 3 pontos) do que condicional (desarmes de lançamento, ressaltos, faltas) e que os jogadores que actuam mais perto do cesto estão menos susceptíveis ao efeito da vantagem casa. As maiores diferenças foram identificadas nos jogadores bases, provavelmente devido à necessidade de simultaneamente terem tarefas de organização das combinações ofensivas das equipas. Como nos jogos disputados fora, podem estar mais sujeitos à pressão dos adversários e do ambiente do jogo, é provável que procurem envolver mais no jogo os jogadores extremos. Estes resultados podem servir para tomar decisões mais objectivas na preparação dos jogos em casa e fora. Referência Sampaio, J.; Ibáñez, S.; Gómez, M.; Lorenzo, A.; Ortega, E. (2008) Game location influences basketball players’ performance across playing positions. International Journal of Sport Psychology, 39,205216. VOLUME 1, NÚMERO 1 PÁGINA 3 O nado “na cola” em Natação. No campo desportivo, todas as situações em que um atleta se desloca imediatamente atrás de um outro são denominadas de drafting. Esta situação pode ocorrer em vários d e s p o r t o s , nomeadamente, no ciclismo, no atletismo, no triatlo, na natação de águas abertas, … Apesar das situações de drafting não ocorrerem de uma forma tão pronunciada em natação pura desportiva, pelo facto dos nadadores se deslocarem cada um em pistas independentes, esta situação ocorre com muita frequência durante o treino dos nadadores. Efectivamente, por razões de limitação de espaço e de tempo, vários nadadores treinam simultaneamente na mesma pista, o que pode provocar situações de drafting. Com este resumo, pretende-se chamar a atenção dos nadadores para o efeito que o nado em situação de drafting pode provocar no arrasto hidrodinâmico sofrido pelo nadador que se desloca atrás e, por conseguinte, o efeito que pode ter na intensidade do seu esforço. Para concretizar este objectivo, foi simulado computacionalmente o nado de dois nadadores em situação de drafting, utilizando-se distâncias entre eles de 0.5m até 8m. Numa situação em que um nadador se desloca com uma distância mínima de 0.5m do da frente, foi encontrado um valor médio no arrasto hidrodinâmico de aproximadamente metade, quando comparado com o arrasto sofrido pelo 1º nadador. Por outro lado, à medida que a distância entre os dois nadadores vai aumentado, a força de arrasto sofrida pelo 2º nadador tende a aproximar-se do valor encontrado para o nadador da frente. Quando os nadadores se encontram a 6m de distância, o arrasto sofrido pelo 2º nadador ainda é apenas 85% do sofrido pelo nadador que lidera, o que nos parece um dado significativo, pois esta é uma distância que à partida seria aceitável para separar os nadadores na mesma pista. O passo seguinte do nosso trabalho foi verificar a que distância de nado é que os nadadores se encontravam nas mesmas condições de treino. Assim, através de p r o c e d i m e n t o s matemáticos e para uma velocidade de nado de 1.6 m/s (equivalente a realizar 1’02’’50 a cada 100m), foi encontrado o valor de aproximadamente 8m. Desta forma, foi possível predizer que uma distância de fila de 6m provoca um arrasto hidrodinâmico no nadador detrás de ≈85% daquele sofrido pelo nadador da frente. Como sugestão para a organização de séries típicas de treino em natação pura, podemos referir que o nadador que segue atrás deverá iniciar o nado apenas quando o nadador da frente atingir os 10m de distância à parede de partida, em vez dos 5m de distância que usualmente são utilizados no treino de nadadores. Esta distância permitirá que ambos os nadadores se encontrem nas mesmas condições hidrodinâmicas. Todavia, no que se refere às competições de nado em águas abertas, os atletas podem tirar enormes vantagens do nado em drafting. Referência Silva, A.J., Rouboa, A., Moreira, A., Reis, V., Alves, F., Vilas-Boas, J.P., Marinho, D. (2008). Analysis of drafting effects in swimming using computational fluid dynamics. Journal of Sports Science and Medicine, 7(1), 60-66. Daniel A. Marinho1,2 António J. Silva2,3 [email protected] 1 Universidade da Beira Interior, Covilhã. 2. CIDESD 3. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real. “...UMA DISTÂNCIA DE FILA DE 6M PROVOCA UM ARRASTO HIDRODINÂMIC O NO NADADOR DETRÁS DE ≈85% DAQUELE SOFRIDO PELO NADADOR DA FRENTE.” PERFORMANCE DESPORTIVA PÁGINA 4 Evolução das posições do corpo utilizadas em Paralelas Assimétricas. A influência do Código de Pontuação. José Ferreirinha CIDESD Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real. [email protected] “OS SUCESSIVOS AUMENTOS DA DISTÂNCIA ENTRE OS BANZOS DITARAM UM AUMENTO NO NÚMERO DE ELEMENTOS COM A POSIÇÃO ALONGADA DO CORPO” Os aparelhos de Ginástica Artística têm sido continuamente actualizados com o objectivo de garantir aos ginastas as melhores condições de prática. Nas paralelas assimétricas (PA), a evolução no afastamento permitido entre os dois banzos permitiu a realização de elementos diferentes e a execução de outros com maior amplitude, dada a possibilidade das ginastas utilizarem uma posição mais estendida do corpo, promovendo prestações de maior dificuldade e complexidade. Outra característica evolutiva que t a m b é m d et e r m i n o u o progresso no tipo e forma dos elementos executados, relaciona-se com a forma dos banzos, que eram ovais até aos anos 90, e passaram a ser redondos. Por estas razões e pela evolução natural da modalidade, os elementos executados nas PA têm-se aproximado cada vez mais dos que apresentam os homens na barra fixa em Ginástica Artística Masculina. A partir da edição de 2001, o Código de Pontuação (CP) passou a exigir que as ginastas incluíssem nos exercícios de PA elementos ―in bar‖, entendidos como os elementos nos quais o centro de gravidade das ginastas se encontra próximo do banzo de execução. Por um lado, verifica-se uma tendência para a utilização mais alongada do corpo (1ª figura), originada pela evolução do aparelho e aproximação à Ginástica Artística Masculina e, por outro lado, a utilização de elementos ―in bar‖, imposta pelo CP, obriga à utilização de uma postura fechada do corpo (2ª figura). Num estudo que analisou os elementos ―in bar‖ e as posturas utilizadas pelas ginastas finalistas de campeonatos do mundo e Jogos Olímpicos entre 1989 e 2008, observou-se um progressivo aumento dos elementos ―in bar‖ de 0.80 para 4.48 e dos elementos executados com posição fechada do corpo de 8.15 para 14.29, enquanto os elementos executados com posição estendida do corpo evoluiu de 6.45 para 9.71 até 2001, tendo depois diminuído para 8.38. Com base nestes resultados, houve um claro e t a l v e z a b u s i v o aproveitamento da utilização de elementos que, sendo diferentes à luz do CP, têm origem numa única técnica de execução. Por exemplo, um ―stalder‖ ou um ―endo‖, cuja execução simples é um elemento com uma técnica específica, pode dar orig em a vário s elementos, mantendo a mesma técnica de execução e acrescentando 180º, 360º ou 540º de rotação no eixo longitudinal ou, ainda, executando com os membros inferiores unidos entre os membros superiores. Parece haver nesta situação alguma incoerência nas regras e orientações estabelecidas pelo actual CP que importa explicar. Por um lado, não permitem a repetição de elementos, pelo menos para contabilizar na dificuldade do exercício, o que denota a necessidade das atletas d o m i n a r e m e , consequentemente, apresentarem elementos mais diversificados nos seus exercícios. Por outro lado, p e r m i t e m à s g i n a s t as apresentar a quantidade desejada de elementos do mesmo grupo de estrutura, facultando-lhes a possibilidade de domínio de um menor número de técnicas. O comité técnico masculino da Federação Internacional de Ginástica, tendo-se deparado precisamente com este problema no ciclo anterior, resolveu esta situação com o actual CP de Ginástica Artística Masculina, limitando ao máximo de 4 elementos do mesmo grupo de estrutura e, no caso específico dos elementos ―in bar‖, passou a considerar igual um elemento executado com os membros inferiores unidos ou afastados. A razão para tais mudanças prende-se exactamente com aquilo que começamos a assistir actualmente na Ginástica Artística Feminina: os exercícios são compostos por tantos elementos ―in bar‖ e, portanto parecidos, que se tornam monótonos. Em suma, os sucessivos aumentos da distância entre os banzos ditaram um aumento no número de elementos com a posição alongada do corpo, ou seja, uma tendência do desenvolvimento das PA com primazia para a execução de elementos em posição alongada do corpo. A regra que obrigou as ginastas a incluir um elemento ―in bar‖ no exercício inverteu esta tendência, traduzindo-se, não só num aumento significativo do número de elementos com a posição fechada do corpo, mas também numa declarada prioridade para a execução de elementos em posição fechada relativamente ao número de elementos com a posição alongada do corpo. Referência Ferreirinha, J., Silva, A. J., & Marques, A. (2008). Evolução da posição do corpo utilizada em paralelas assimétricas influência dos elementos ―in bar‖. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, 10, 386 -392. VOLUME 1, NÚMERO 1 PÁGINA 5 O treino da força em crianças e jovens. O trabalho de força é um processo de treino físico fundamental na procura de um rendimento superior durante a competição, sendo que não deve ser descurado nos escalões de formação. Este treino permite ao atleta apresentar um menor risco de contrair lesões, permite a protecção do aparelho locomotor, a melhoria da coordenação, permite combater erros técnicos e, fundamentalmente, possibilita a preparação do jovem atleta para trabalhos de força futuros. Neste sentido, apesar de ser praticamente impossível fixarem-se normas de cargabilidade geral sem antes se ter efectuado uma análise da preparação precedente, um programa de treino de força em crianças e jovens deve incluir as seguintes recomendações: - Exercícios que envolvam grupos musculares isolados (ex.: extensão de pernas); - Exercícios mais complexos, nos quais participem mais unidades articulares (ex.: agachamento). Estes implicam uma maior coordenação e equilíbrio, pelo que devem desempenhar um importante papel no programa de treino; - Evitar exercícios tipicamente excêntricos, uma vez que a fase excêntrica é trabalhada em quase todos os movimentos; - A força explosiva pode ser desenvolvida com a utilização de cargas livres e máquinas, ou através da realização de exercícios pliométricos, visto que esta manifestação da força é essencial na globalidade dos desportos. Contudo, se o treino de força se mostra justificado, exige também cuidados acrescidos, nomeadamente com a intensidade/ volume das cargas aplicadas sobre a criança ou jovem. Desta forma, uma relação harmoniosa entre o trabalho de base e trabalho específico deve ser atendido, bem como deverá privilegiar-se o volume face à intensidade. O treinador deverá, sempre que possível, não efectuar o treino de força em dois dias consecutivos, nem realizar mais de três unidades de treino por semana. Referência Marques, M.C. (2004). O trabalho de força no alto rendimento desportivo: da teoria à prática. Lisboa: Livros Horizonte. Mário Marques 1,2 [email protected] Daniel A. Marinho1,2 1 Universidade da Beira Interior, Covilhã. 2. CIDESD “MENOR RISCO DE CONTRAIR LESÕES, PROTECÇÃO DO APARELHO LOCOMOTOR, MELHORIA DA COORDENAÇÃO, COMBATER ERROS TÉCNICOS E PREPARAR PARA TRABALHOS DE FORÇA FUTUROS.” PERFORMANCE DESPORTIVA PÁGINA 6 Diferenças entre tonificar a parede abdominal no solo e numa fitball. Tiago Barbosa Ana Cruz Departamento de Desporto, I n s t i t u t o Politécnico de Bragança CIDESD [email protected] “INDIVÍDUOS COM ELEVADOS NÍVEIS DE APTIDÃO FÍSICA PODEM OBTER MAIS BENEFÍCIOS CASO SE EXERCITEM COM RECURSO A SUPERFÍCIES INSTÁVEIS, COMO É O CASO DA FITBALL” Os exercícios de abdominais são uma componente essencial do treino. Além do mais, o correcto alinhamento do esqueleto axial está relacionado com a adequada tonificação dos músculos posturais, como é o caso dos que constituem a região abdominal. Inclusive nas actividades da vida diária ou quotidiana. Com efeito, é crescente o número de propostas de treino da parede abdominal com recurso a superfícies instáveis. Uma das soluções mais recorrentes é a utilização da ―bola suíça‖, também denominada de ―Fitball‖. A Fitball é utilizada regularmente em programas de reabilitação, em sessões de Fitness, assim como, nos treinos de algumas modalidades desportivas relacionadas com a performance. Este equipamento é utilizado para desenvolver o equilíbrio, estimular adaptações proprioceptivas e promover o desenvolvimento da força muscular. O exercício de abdominais no solo (curl up) é tido como o exercício de referência para a exercitação da parede abdominal. Este exercício deve envolver uma contribuição mínima dos músculos flexores da anca e estimular principalmente a musculatura abdominal como sejam o recto abdominal e os oblíquos. Durante a exercitação do curl up no solo, é pedido ao sujeito para estar em decúbito dorsal sobre um colchão ou tapete, com um ângulo entre as pernas e as coxas de 90º. As superfícies plantares em contacto com o colchão à largura dos ombros e as mãos próximas dos lóbulos das orelhas. Pede-se então que faça a flexão do tronco até que as escápulas deixassem de tocar no colchão. Depois disso, o sujeito retoma a posição inicial. Já no caso de exercitação na Fitball, é escolhida uma bola com um diâmetro ajustado à estatura do executante. O sujeito coloca-se em decúbito dorsal, apoiados na bola, com um ângulo de 90º entre as pernas e as coxas, as superfícies plantares a contactar com o solo à largura dos ombros e as mãos próximas dos lóbulos das orelhas. É solicitada a flexão do tronco até as omoplatas atingirem a tangente imaginária da projecção horizontal da Fitball e, em seguida, retoma a posição inicial. Existindo desde logo estas duas possibilidades, colocase a questão de quais as repercussões em termos de estimulação dos grupos musculares em causa utilizando as duas formas de treino (solo versus Fitball). Para o efeito, a electromiografia proporciona um método válido e fiável para avaliar o nível de activação neuromuscular dos grupos musculares a estudar em cada condição. A electromiografica consiste no registo e análise da actividade eléctrica dos grupos musculares a quando da sua estimulação. Ao comparar-se a cinemática segmentar, entre as duas formas de exercitação, o ângulo mínimo de flexão da anca é inferior durante a execução no solo do que na Fitball. Do mesmo modo, o ângulo mínimo de flexão da coluna lombar também é inferior durante a execução no solo do que na Fitball. Este padrão deve-se provavelmente à Fitball fornecer uma superfície instável. Como consequência, a amplitude dos movimentos do sujeito diminui a fim de manter o equilíbrio do corpo em cima da bola. Relativamente à actividade neuromuscular, esta é superior quando o exercício se realiza na Fitball do que no solo em diversos grupos musculares (p.e. recto femoral, oblíquo externo, oblíquo interno, etc.). Superfícies instáveis, tais como a Fitball, geram uma maior activação não só para a flexão do tronco. Também ocorre uma maior activação do recto femoral exercitando-se no equipamento em causa. Esta activação servirá de igual modo para estabilizar o corpo ao longo da exercitação. Em síntese, os técnicos de desporto podem aumentar a eficácia da sua prescrição para tonificar os músculos abdominais tendo em consideração a aptidão física dos praticantes. Nomeadamente, com base no tipo de exercício e equipamentos propostos para a respectiva exercitação. Por exemplo, indivíduos com elevados níveis de aptidão física podem obter mais benefícios caso se exercitem com recurso a superfícies instáveis, como é o caso da Fitball. Referencia Fernandes E, Oliveira M, Cruz AM, Vila-Chã CJ, Silva AJ, Rocha J, Barbosa TM (2009). Comparação cinemática e neuromuscular de um exercício de abdominais no solo e na Fitball. In: Vaz MA, Piloto PA, Reis Campos JC (eds). 3º Congresso Nacional de Biomecânica. pp. 473-477. Instituto Politécnico de Bragança. Bragança. VOLUME 1, NÚMERO 1 PÁGINA 7 Análise e analistas do jogo de Voleibol. Os treinadores de Voleibol utilizam a análise do jogo como um processo complementar ao estudo da sua equipa e dos adversários. Os resultados de um estudo recente, evidenciaram que nas equipas portuguesas são os treinadores principais e adjuntos que realizam estas tarefas, enquanto que as selecções nacionais de alto-nível habitualmente contam com um ou dois especialistas para realizarem estas funções. De uma forma geral, todos os treinadores transmitem a informação que resulta da análise do jogo durante os treinos com mais de 48h de antecedência, utilizando com muita frequência imagens video para complementar os resumos quantitativos dos jogos analisados. Os treinadores das selecções nacionais de alto-nível observam todos os jogos das equipas adversárias, enquanto que os treinadores das equipas portuguesas, por vezes, só fazem a análise aos últimos 3 jogos das equipas a defrontar, só analisam os adversários mais fortes ou só analisam mesmo a própria equipa. Quase todas as equipas portuguesas continuam a utilizar fichas de notação manual, mesmo tendo conhecimento das novas tecnologias aplicadas à análise do jogo. As selecções nacionais de alto-nível utilizam software capaz de recolher, armazenar e reportar informação em tempo real sobre a prestação individual e colectiva das duas equipas como por exemplo, acerca das tendências na distribuição, do ataque, do bloco e do serviço. Este tipo de informação torna-se bastante útil para regular a competição, para melhorar a definição de conteúdos e para controlar o processo de treino. Todos os treinadores consideram necessário que existam especialistas só para desempenhar estas funções, contudo, ainda é necessário definir bem o perfil de competências destes analistas do jogo. De facto, tratam-se de especialistas com conhecimentos informáticos e estatísticos, mas sobretudo com elevados conhecimentos estratégicos e tácticos acerca do jogo que analisam, no sentido de serem capazes de o descreverem de forma exaustiva e simultaneamente de o reduzirem às suas componentes mais determinantes. Requere-se também que o trabalho de análise se estenda no tempo e que constituam bases de dados multimedia capazes de traçar e comparar perfis de comportamento utilizando multiplos critérios e variáveis de várias dimensões. Adicionalmente, também tem que se estender ao processo de treino, por exemplo, permitindo contabilizar acções, combinações e eficácias, que se constituem como factores determinantes para elevar a concentração e motivação dos jogadores e funcionam como uma retroacção fundamental para auxiliar os treinador a dirigir as sessões de treino. Referencia João P. V. (2008) Análise do Jogo de Voleibol de alto-nível. Dissertação de Doutoramento, UTAD, Vila Real. Paulo Vicente João1,2 [email protected] Jaime Sampaio1,2 1. CIDESD 2. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real. “...TRATAM-SE DE ESPECIALISTAS COM CONHECIMENTOS INFORMÁTICOS E ESTATÍSTICOS, MAS SOBRETUDO COM ELEVADOS CONHECIMENTOS ESTRATÉGICOS E TÁCTICOS ACERCA DO JOGO QUE ANALISAM.” PERFORMANCE DESPORTIVA PÁGINA 8 A genética e a variabilidade inter-individual na performance desportiva. Aldo M. Costa1,2 António J. Silva2,3 [email protected] 1 Universidade da Beira Interior, Covilhã. 2. CIDESD 3. Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro, Vila Real. “O DESAFIO ACTUAL É SABER QUAIS OS GENES DETERMINANTES IDENTIFICAR AS SUAS VARIAÇÕES POLIMÓRFICAS E DESCREVER POR QUE MECANISMOS EXERCEM OS SEUS EFEITOS EM DETERMINADO FENÓTIPO.” Ao longo de várias décadas, inúmeros investigadores reconheceram características fisiológicas importantes ao desempenho desportivo e descreveram a sua resposta típica ao treino. O relato desses dados normativos não é mais um desafio para as Ciências do Desporto. Não obstante a importância desse conhecimento, ainda subsiste de forma errónea o verdadeiro significado do valor médio dessas características. Na realidade ninguém corresponde à média; esse valor médio não é mais do que o resultado da análise de muitos indivíduos agrupados, usado como referência ou ponto de partida para a nossa intervenção. A média encobre a verdadeira extensão da variabilidade que podemos encontrar numa dada população de atletas se apresentarmos os valores individuais que estabelecem esse mesmo valor médio. Assim, este desvio padrão da variância é conhecido por variabilidade inter-individual. Mas o que é que esse conceito de variabilidade associada ao desporto tem a ver como a genética? A resposta a essa questão reside na origem dessa mesma variabilidade. A variação de determinada característica (fenótipo), por exemplo o VO2máx, explicase pela influência genética em combinação com factores ambientais de diversa ordem, contando ainda com o provável erro experimental associado ao registo do respectivo fenótipo. Existem fenótipos quase exclusivamente hereditários, como a cor dos olhos, mas temos outros que resultam da influência conjunta de factores genéticos com determinados contextos que são essenciais à expressão de determinado gene – p.e. o treino e a alimentação na melhoria da força muscular. Concentrando a nossa atenção nos factores genéticos, sabemos da existência de cerca de 23000 genes comuns a todos nós. No entanto, o que diferencia o campeão olímpico de todos os outros está na ligeira variação da estrutura desses genes que afectam a sua funcionalidade e, por consequência, a manifestação de determinado fenótipo mensurável. Essa variação na sequência de nucleótidos, designada por polimorfismo, é o que os torna únicos (em parte) e diferentes de todos os outros. Cremos, sem qualquer dúvida, que será apenas possível o aparecimento de atletas de expressão física extraordinária em condições de rara convergência entre factores genéticos e ambientais. Nos últimos dez anos, pelo desenvolvimento evidente da genética molecular e das tecnologias a ela associadas, tem sido possível a identificação de alguns dos genes responsáveis pelo potencial atlético. O desafio actual é saber quais os genes determinantes, identificar as suas variações polimórficas e descrever por que mecanismos exercem os seus efeitos em determinado fenótipo. Uma abordagem comum estará no estudo de genes candidatos, que resulta do exame prévio da literatura científica disponível, sugerindo a importância de determinado sistema na regulação fisiológica de um dado fenótipo. Estuda-se, portanto, a relação entre a variante polimórfica do gene candidato e a magnitude consequente de um fenótipo particular. Pelo papel que terá no sistema reninaangiotensina-aldosterona, o gene do enzima conversor da angiotensina (geralmente conhecido por gene do ECA) e em particular o polimorfismo I/D, tem sido um dos mais estudados. De facto, o trabalho que temos vindo a desenvolver com atletas de elite Portugueses tem confirmado algumas das considerações descritas na literatura científica de referência. O polimorfismo I/D do gene do ECA parecer induzir a orientação desportiva para determinada especialidade (eventos competitivos de curta ou de média/longa duração), embora apenas entre atletas já de elevado nível desportivo. Do mesmo modo, este polimorfismo parece influenciar a força muscular em determinados parâmetros e sobretudo nas mulheres. Por último, parece exercer uma influência ao nível das diferenças inter-individuais relativas a capacidade aeróbia, nomeadamente na propensão para o seu desenvolvimento. O carácter batedor desta linha de investigação no âmbito das Ciências do Desporto oferece o potencial de facilitar novas descobertas, que alargarão o nosso conhecimento relativo a fisiologia do exercício e dos aspectos físio-patológicos decorrentes da sua prática. Adivinhamos, por isso, futuras aplicações resultantes e noções mais profundas dos mecanismos que controlam muitas das variáveis mais determinantes e estudadas no âmbito da performance desportiva. Referência Costa AM, Silva AJ, Garrido ND, Louro H, Oliveira RJ, Breitenfeld LG. Association between ACE D allele and elite short distance swimming. European Journal of Applied Physiology, 2009 (in press). VOLUME 1, NÚMERO 1 PÁGINA 9 Performance no Râguebi de alto-rendimento. O desenvolvimento actual e o nível competitivo alcançado no jogo de râguebi têm exigido níveis de performance cada vez mais elevados, facto que atribuem cada vez mais importância ao processo de análise do jogo. Num estudo recente, foi possivel identificar as variáveis de acções do jogo (passes realizados, penalidades concedidas, recuperação de bola,...) e as do resultado (ensaios, conversões, pontapés de penalidade) que discriminaram as equipas que venceram das equipas que perderam os jogos da International Rugby Board e do Super12. Estas diferenças variaram em função da diferença pontual final dos jogos (equilibrados, desequilibrados e muito desequilibrados). Os resultados permitiram verificar que os jogos equilibrados foram os que ocorreram em maior número e que o maior contributo para o resultado final adveio da marcação de ensaios. As equipas que venceram estes jogos, defenderam mais (realizaram mais placagens), cometeram menos erros na utilização da posse de bola e variaram mais as suas formas de jogo (maiores frequências de jogo á mão e jogo ao pé). Nos jogos desequilibrados, as equipas que venceram os jogos ganharam mais bolas no alinhamento e foram mais eficazes na defesa (menos placagens falhadas). Nos jogos muito desequilibrados, as equipas que venceram concederam mais penalidades, realizaram mais e falharam menos placagens. Este conjunto de resultados permitiu verificar que as performances de sucesso v a r ia r a m e m f un ç ã o d o campeonato (International Rugby Board e do Super12), facto que sugere a utilização de diferentes ritmos e estilos de jogo para conseguir o mesmo objectivo. A modelação das performances de sucesso, quando devidamente contextualizada, pode contribuir para uma definição das orientações estratégicas gerais das equipas e contribuir para qualificar o processo de treino e direção das competições. Referencia Vaz; L. (2009). Análise do Jogo de Râguebi. Identificação das variáveis de acções do jogo e de resultado que discriminam vitórias e derrotas nos jogos IRB e Super 12 . Dissertação de Doutoramento. UTAD- Vila Real. Formação Profissional Luís Vaz CIDESD Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real. [email protected] “AS EQUIPAS QUE VENCERAM JOGOS EQUILIBRADOS, DEFENDERAM MAIS (REALIZARAM MAIS PLACAGENS), COMETERAM MENOS ERROS NA UTILIZAÇÃO DA POSSE DE BOLA E VARIARAM MAIS AS SUAS FORMAS DE JOGO (MAIORES FREQUÊNCIAS DE JOGO Á MÃO E JOGO AO PÉ).” PERFORMANCE DESPORTIVA Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano O Boletim técnico-científico Performance Desportiva é um boletim técnico-científico que tem o objectivo de publicar material que combine os resultados provenientes do conhecimento científico mais actual com as aplicações práticas e o conhecimento profissional. Pretende divulgar informação e produzir conhecimento em três linhas de investigação prioritárias: 1) Determinantes genéticos, biomecânicos e fisiologicos da performance, através do desenvolvimento de modelos descritores e preditivos do movimento humano e a sua relação com a performance desportiva; 2) Análise da performance desportiva, através da observação, tratamento e interpretação de registos de performance desportiva estáticos e dinâmicos; 3) Análise da performance motora, através da avaliação e controlo das performances motoras. O âmbito de aplicação destas linhas é durante ou após o processo de treino ou competição desportivas e centra-se nos desportistas, nos treinadores e nos juízes, masculinos e femininos, envolvidos no desporto de formação e no desporto de alto-rendimento. Conselho Editorial António Jaime Eira Sampaio; Antonio Jose Rocha Martins da Silva; António Manuel Vitória Vences de Brito; Carlos Manuel Marques da Silva; Carlos Manuel Pereira Carvalho; Jorge Manuel Gomes Campaniço; José Augusto Afonso Bragada; José Carlos Gomes de Carvalho Leitão; José Eduardo Fernandes Ferreirinha; Luís Miguel Teixeira Vaz; Mário António Cardoso Marques; Nuno Miguel Correia Leite; Paulo Alexandre Vicente João; Tiago Manuel Cabral dos Santos Barbosa; Victor Manuel de Oliveira Maçãs Contribuições para o Boletim... O Performance Desportiva é um boletim sujeito a revisão científica e técnica, mas é aberto e encorajase à participação de todos os interessados nesta àrea do conhecimento. Os artigos a submeter deverão ter entre 1000-1500 palavras, podendo também conter quadros e/ou figuras (até o máximo de 2). Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano Edifício CIFOP – Rua Dr. Manuel Cardona UTAD – Apartado 1013 – 5001-801 Vila Real E-mail (secretariado): [email protected] E-mail (direcção): [email protected] Telefone: 259 330 155 Fax: 259 330 168 MAIS INFORMAÇÕES! HTTP://CIDESD.ORG/ Formação científica: Licenciaturas, Mestrados e Doutoramentos (2009-2010) Doutoramento Ciências do Desporto — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Mestrado Actividades de Academia — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Jogos Desportivos Colectivos — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Avaliação nas Actividades Físicas e Desportivas — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Licenciatura Ciências do Desporto — Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Ramos: Desportos Individuais; Jogos Desportivos Colectivos; Prescrição do Exercício e Actividades de Academia; Desportos de Aventura, Recreação e Lazer;
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