SPVS - IPPUC
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CONTRIBUIÇÕES PARA O PLANO DIRETOR DE CURITIBA 2014 - CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E MEIO AMBIENTE - PROGRAMA CONDOMÍNIO DA BIODIVERSIDADE - CONBIO Equipe: ELENISE SIPINSKI - Bióloga, MSc., Coordenadora do Programa BETINA ORTIZ BRUEL - Bióloga, MSc., Técnica em Conservação FELIPE DO VALE - Biólogo, Técnico em Conservação NICHOLAS KAMINSKI - Biólogo, MSc., Técnico em Conservação SOLANGE LATENEK - Bióloga, Técnica em Conservação GIOVANA LOGULLO - Engenheira Florestal, Auxiliar Técnica em Conservação GONZALO OLIVARES FLORES - Estagiário de Ciências Biológicas Contato: (041) 3094-4600 www.condominiobiodiversidade.org.br Curitiba, julho de 2014. APRESENTAÇÃO Fundada em 1984 em Curitiba, a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) é uma instituição do terceiro setor com perfil técnico-científico, que trabalha pela conservação da natureza por meio da proteção de áreas nativas, de ações de educação ambiental e do desenvolvimento de modelos para o uso racional dos recursos naturais. Em setembro do ano 2000, a SPVS e o Mater Natura Instituto de Estudos Ambientais apresentaram à sociedade o Programa Condomínio da Biodiversidade – ConBio. O objetivo do Programa é promover a conservação da natureza em ambientes urbanos e periurbanos, a fim de proteger as áreas naturais contribuindo para a manutenção dos serviços ambientais e consequente melhoria da qualidade de vida. Esta iniciativa trabalha com cinco linhas de ação, que atuam com diferentes públicos (sociedade civil, poder público, empresas e terceiro setor), visando sempre o fortalecimento e expansão das ações realizadas. São elas: Apoio às Políticas Públicas e Estabelecimento de Parcerias Apoio a Criação de Unidades de Conservação Educação para Conservação Extensionismo Conservacionista Pesquisas para conservação da natureza Ao longo dos anos, o ConBio visitou mais de mil propriedade particulares em Curitiba realizando o extensionismo conservacionista, ensinando boas práticas de manejo e conservação da biodiversidade; apoiou a criação de Unidades de Conservação públicas e privadas, especialmente as Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNM); estabeleceu parcerias com diferentes atores da sociedade em prol da conservação da Floresta com Araucária. A SPVS, por meio do Programa ConBio, apresenta neste documento a sua contribuição com temas e sugestões na área de conservação da biodiversidade para o novo Plano Diretor de Curitiba 2014. 2 PROPOSTAS PARA O PLANO DIRETOR DE CURITIBA 1. Elaboração de um plano diretor integrado com a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) Curitiba depende diretamente de vários serviços ambientais gerados nos municípios adjacentes, como fornecimento de água, proteção de encostas, equilíbrio climático e manutenção da paisagem, essenciais para a qualidade de vida da população na capital. O mais simbólico destes serviços ambientais é a água proveniente dos mananciais do Alto Iguaçu, os quais vêm sofrendo diversos impactos ocasionados pela expansão urbana descontrolada na RMC. Portanto, é necessária a elaboração de políticas públicas que fomentem a conservação das áreas naturais e dos seus serviços ambientais de maneira integrada. A elaboração de um Fundo de Conservação de Biodiversidade para Curitiba e Região Metropolitana, a ser aplicado em ações de conservação é crucial para manutenção da provisão de serviços ambientais para a capital. Da mesma maneira, a promoção de consórcios entre os Municípios para tratar de temas específicos e de interesse comum para toda a população é imprescindível neste processo. 2. Optar por um planejamento e gestão territorial por Bacias Hidrográficas A adoção de um planejamento por bacias hidrográficas, substituindo a atual divisão do município por regionais, pode induzir um processo articulador e integrador de políticas setoriais visando um desenvolvimento sustentável. Ações de proteção e recuperação dos rios da capital, com uma gestão mais efetiva no saneamento e proteção de nascentes tendem a alcançar melhores resultados se estiverem integrados na mesma bacia hidrográfica. 3. Criação e manutenção de áreas naturais protegidas Há a necessidade de se estabelecer novos instrumentos e aperfeiçoar os existentes para criação, implantação, manejo e gestão de Unidades de Conservação (UCs) e áreas naturais urbanas. 3 O diagnóstico ambiental realizado pelo ConBio, em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, demonstrou que a grande maioria das áreas naturais de Curitiba estão em propriedades particulares. O município já dispõe de uma Lei para a criação de RPPNM (Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal) e de uma Associação de Proprietários de Áreas Verdes de Curitiba e RMC, a APAVE. Embora 14 RPPNMs tenham sido criadas, é visível a tendência no aumento desta demanda, haja vista a grande quantidade de áreas naturais aptas a esta categorização. Diante disto, há a necessidade de criar novos mecanismos que estimulem a criação de RPPNMs em Curitiba, de forma a garantir aos proprietários uma condição suficientemente atraente para que Unidades de Conservação privadas sejam criadas em grande escala no município. Entre os mecanismo possíveis, sugere-se a criação do Fundo de Conservação de Biodiversidade para Curitiba e uma parceria com a Certificação Life no intuito de buscar apoio no setor privado. Da mesma maneira, os empreendimentos e construções a serem realizados no entorno das Unidades de Conservação públicas e privadas ou de áreas com potencial para tal, devem seguir um zoneamento diferenciado, com maiores restrições quanto ao uso e ocupação do solo, a fim de se ampliar a efetividade dos serviços ambientais gerados pelas áreas naturais no contexto urbano. 4. Integração entre ciclovias e Unidades de Conservação A existência de roteiros para ciclistas envolvendo as Unidades de Conservação urbanas pode ser um instrumento de incentivo as ações que buscam a utilização da bicicleta para o deslocamento em Curitiba e para divulgação dos espaços naturais da Capital. A ampliação da malha cicloviária, similar a existente nas margens do rio Belém Norte pode ser uma alternativa atrativa para o lazer e deslocamento diário da população. 5. Controle efetivo de espécies exóticas invasoras nas áreas naturais O Decreto Municipal nº 473/08 estabelece a lista de espécies exóticas invasoras e dá outras providências. Apesar disto, tal problemática esta longe de ser solucionada em Curitiba e Região Metropolitana. 4 Atualmente, espécies exóticas invasoras são uma das maiores causas de perda de biodiversidade no planeta e por este motivo, há a necessidade urgente de combate e erradicação efetiva das mesmas nas áreas de vegetação nativa da cidade. O diagnóstico realizado pelo ConBio demonstrou que das 925 áreas visitadas em Curitiba, 78% possuem exóticas invasoras, como o Pinus (Pinus spp.), alfeneiro (Ligustrum lucidum), uva-do-japão (Hovenia dulcis), pau-incenso (Pittosporum undulatum), ameixa-amarela ou nêspera (Eriobotrya japonica), amorinha-preta (Morus nigra), cinamomo ou santa bárbara (Melia azedarach), lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), beijinho (Impatiens walleriana), madressilva (Lonicera japonica), planta-alumínio (Pilea cadierei), entre outras. Há algumas espécies que constam no Decreto Municipal nº473/08 e que ainda estão presentes na arborização urbana e em parques e praças da capital. Portanto, a eliminação destas fontes contaminantes e substituição por árvores nativas condizentes com o contexto são essenciais. 6. Considerar o estudo sobre Avaliação da Vulnerabilidade Ambiental e Socioeconômica para o Município de Curitiba Considerar o estudo realizado no Município de Curitiba que avaliou as vulnerabilidades às mudanças climáticas, com intuito de estabelecer políticas de mitigação e adaptação para enfrentar os possíveis impactos previstos. Os estudos indicaram regiões do Município mais suscetíveis aos eventos climáticos extremos com probabilidade de inundações. Diante disso, o documento faz inúmeras recomendações, entre elas a criação de espaços verdes visando a redução da impermeabilização e a diminuição do efeito das ilhas de calor. Entendemos que os espaços verdes serão efetivos com a transformação em Unidades de Conservação, para garantir a preservação do sistema natural e seus benefícios. 7. Criação de um Setor Especial de Biodiversidade dentro da esfera Municipal Diante das considerações acima mencionadas, torna-se necessária a criação de um setor específico que gerencie demandas relacionadas a conservação da biodiversidade na Capital. 5 A manutenção da qualidade de vida na metrópole está diretamente relacionada com os serviços ambientais gerados pela natureza. Diante dos impactos crescentes recorrentes da urbanização, há a necessidade de uma visão diferenciada e com a finalidade de preservação da biodiversidade e dos serviços gerados pelas áreas naturais locais. Em última instância, ou Curitiba estabelece uma agenda que proteja e preserve remanescentes naturais no interior do seu perímetro e na Região Metropolitana, ou estará direcionando seu futuro para as mesmas contingências negativas que outras grandes cidades tem assumido, com inevitável perda de qualidade de vida e riscos de limitações econômicas crescentes. Se souber gerenciar e proteger seu patrimônio natural de maneira adequada, a região de Curitiba estará mais propensa a assimilar o estabelecimento de padrões de urbanização e de negócios orientados a uma nova economia, distanciando-se do modelo de industrialização de alto impacto e do crescimento populacional desenfreado. 6