consolaro 15 10
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Divertidos - A pesquisa que detectou ideias complexas em cérebro de salmão morto ganhou o IgNobel. O autor diz que foi uma denúncia para mostrar como a estatística pode provar qualquer coisa. Em um ano, 26% dos trabalhos publicados estavam usando o mesmo método estatístico. Outro ganhador avaliou o risco de pacientes explodirem nos exames de colonoscopia. Uma terceira pesquisa premiada descobriu porque os cabelos das pessoas de Anderslov, Suécia, estavam ficando verde: o cobre dos canos! Bauru, segunda-feira, 15 de outubro de 2012 - Página 15 Ciência no Dia a Dia - Alberto Consolaro Alfred Nobel: ficha limpa!? Nobel é exemplo de recuperação moral, arrependimento ou preocupação da reputação na opinião pública. Representa um indivíduo com ficha supostamente suja que soube limpar sua fama e tornar-se mito mundial, mesmo 100 anos depois de sua morte. O químico alemão Christian Friedrich Schonbein em 1845 derrubou por acidente uma mistura de ácido nítrico e sulfúrico na mesa da cozinha. O avental que usou para limpar a mesa, foi pendurado para secar sobre o fogão, como muita gente faz com panos de prato. Ao secar, o avental discretamente explodiu e Schonbein conclui que a mistura dos ácidos criara uma nova substância instável: a nitrocelulose, mas não soube o que fazer com a descoberta. Em 1847, o italiano Ascanio Sobrero combinou a nitrocelulose com glicerina e a chamou de nitroglicerina, mas nem sabia o que poderia acontecer. Aqueceu o tubo de ensaio com a mistura e uma explosão levou tudo em volta pelos ares e fez Sobrero abandonar os testes com a substância. O invento fascinou Nobel devido ao seu uso potencial na engenharia civil e alguns acusam-no de roubar o invento de Sobrero. O homem precisava extrair minérios, derrubar montanhas para fazer estradas, quebrar pedras para construir e promover túneis para trens, mas manualmente com ferramentas ou máquinas ficava muito demorado e caro. O químico sueco Alfred Nobel, vinte anos mais tarde, conseguiu apresentar e patentear um produto a base de nitroglicerina na forma de bastão, uma forma mais segura para ser utilizada pelo homem: nasceu a dinamite. Alfred Nobel passou a ser conhecido como o “rei da dinamite: o mercador da morte” pelas vítimas decorrentes de explosões indesejadas e pelo uso militar. Ele ganhava muito dinheiro com a patente e exploração comercial, mas não tinha controle sobre o uso. Era um empresário agressivo: tinha 87 companhias e 355 patentes pelo mundo, falando fluentemente cinco línguas. Um belo dia ao acordar e ler os jornais encontrou: morreu o “rei da dinamite”! Não gostou de ter sido descrito na sua vida como o homem que inventou a dinamite e tinha provocado tantos dissabores e mortes. Com 55 anos e milionário, Alfred Nobel percebeu que o repórter havia trocado sua morte pela do irmão no dia anterior e decidiu: vou repensar minha vida! Sete anos mais tarde, em 1895, Nobel concluiu seu testamento no qual minuciosamente descrevia a criação de prêmios internacionais anuais para ser atribuídos aos cientistas. Além de dinheiro advindos dos juros da fortuna, cada ganhador levaria uma medalha de ouro e um maravilhoso diploma. No início, o prêmio era de 40 mil dólares, hoje está na casa dos milhões, pois a fundação privada que gerencia sua fortuna é muito eficiente. Nobel nunca se casou e nem teve herdeiros. As áreas eram Química, Física, Literatura, Medicina ou Fisiologia e Promoção da Paz. Em 1968 foi criado o de Economia para homenagear o tricentenário do Banco da Suécia, mas tem quem defenda a transformação do prêmio de Economia em de Observatório Casa dos Concertos em Estocolmo: local das solenidades de entrega dos Prêmios Nobel Sustentabilidade. No dia 10 de dezembro de 1896 Nobel morreu e 5 anos depois, iniciou-se a série em que todos os anos neste mesmo dia, se entregam os prêmios idealizados. Receber o prêmio Nobel significa atribuir ao agraciado um atestado de genialidade, uma qualidade de semideus, uma respeitabilidade inigualável. Não importa qual foi a área do prêmio, a opinião de Nobelista vai ser ouvida nos quatro cantos do mundo. Será convidado para milhares de conferências, eventos, jantares com reis e governantes, entrevistas e muita badalação. O Nobel só pode ser atribuído a pessoas vivas! O Nobelista muda para sempre sua vida, pois fica impossível trabalhar normalmente na escola, laboratório ou cidade. O Nobelista passa a ser uma sólida, constante e verdadeira celebridade! Um Nobelista pode propor teorias loucas, absurdas e inusitadas que nunca haviam sido pensadas, mas com seu lastro intelectual, as propõe e pode fazer avançar a humanidade. Os prêmios são concedidos em Estocolmo, Suécia, exceto o da Paz, outorgado em Oslo, Noruega; os dois países na época era um único reino. Quem escolhe são a Real Academia Sueca de Ciências para os de Física, Química e Economia; o Instituto Karolinska, para o de Medicina e Fisiologia, a Academia Sueca de Letras para o de Literatura. O Parlamento Norueguês escolhe o Nobel da Paz. Os prêmios são solenemente entregues pelos Reis da Suécia e da Noruega. E o Brasil, que em 111 anos, não tem um Prêmio Nobel! Alberto Consolaro éprofessor titular da USP - Bauru. Escreve todas as segundas-feiras no JC. Email: [email protected] O que nos falta? - A Academia Sueca de Ciências e o Parlamento Norueguês já atribuiu centenas de prêmios: a Guatemala e o Chile têm 2 cada, a Argentina tem 5; Timor Leste, Gana, Paquistão, Tibete e Santa Lúcia tem um. Até a Palestina ainda não reconhecida tem o seu prêmio Nobel. Infelizmente, o Brasil ainda não ganhou! Por quê? A mesma coisa ocorre com o Oscar no cinema. Os brasileiros esquecidos e injustiçados pelo Nobel são muitos: Maurício Rocha e Silva, descobridor das cininas; o médico Carlos Chagas que descreveu a doença de Chagas; Cesar Lattes descobridor do méson pi; Mario Schenberg estudioso das supernovas; o bioquímico Sérgio Ferreira com o mecanismo da aspirina; Adolfo Lutz, identificador do agente da malária e Pirajá da Silva, descobridor da Schistosoma mansoni. Sem contar os escritores Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade. Nem IgNobel - Em 1991 foi criado um prêmio humorístico satirizando os prêmios Nobel: o IgNobel. A ideia é premiar pesquisas raras, honrar a imaginação e atrair o interesse público para a ciência, a medicina e a tecnologia. Foi fundado por Marc Abrahams na revista de humor científico Annals of Improbable Research ou Anais da Pesquisa Improvável, sem nenhuma ligação com a Academia Sueca ou Parlamento Norueguês. O prêmio distingue os trabalhos que “fazem as pessoas rir e depois as fazem pensar”; representa ainda uma oportunidade de reunir na Universidade de Harvard uma série de cientistas. Existem os IgNobel da Paz, de Medicina, da Química, da Física, da Matemática, da Nutrição e outras conforme o tema do trabalho premiado! Nem este prêmio IgNobel o Brasil ganhou, seria um começo! Para comunicar-se com o colunista escreva para [email protected] e a resposta poderá fazer parte desta página. Se preferir, entre no jcnet.com.br/ciências e deixe sua opinião e ou sugestões.