Adestramento – edição 14

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Adestramento – edição 14
Adestramento
Filhotes bem-educados
Filhotes
bem-educados
Erros cometidos
pelos donos logo
nos primeiros
meses de vida
dos cães podem
prejudicá-los ao
longo de toda sua
vida. Aprenda
como evitá-los
shutterstock
Texto ana luísa vieira
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Melhor Amigo
É
fácil cair na tentação de mimar
demasiadamente um filhote: a cara de
criança e as expressões graciosas dos
bichinhos tornam a imposição de limites
uma tarefa quase impossível. Concessões que
parecem insignificantes, entretanto, prejudicam
o comportamento do animal e provocam vícios
que ele tende a carregar durante a vida inteira.
Mesmo quando a intenção é proteger e educar
o cãozinho, alguns donos pecam pelo excesso e
acabam por induzir atitudes indesejáveis a longo
prazo. Com firmeza e reforço positivo, porém,
é possível paparicar a pequena mascote sem
comprometer a convivência com ela no futuro.
O adestramento precoce
ajuda a evitar que o
animal adquira vícios que
serão difíceis de reverter
quando for adulto
Melhor Amigo
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Adestramento
Filhotes bem-educados
Limites desde sempre
comportamento. É difícil – e causa certa dor no
coração –, mas é necessário para que o cão não
associe a brincadeira a reações positivas por parte dos
donos. “O certo é passar reto quando o animal saltar
e só no momento em que ele estiver quieto fazer
carinho e incentivá-lo com expressões como 'Muito
bem' e 'Bom garoto'”, acrescenta.
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P
ara Elaine Natal, comportamentalista
animal e adestradora da empresa Clube das
Patinhas, do Rio de Janeiro (RJ), um erro
clássico que as pessoas cometem é achar
graça de qualquer coisa que o bichinho faça. De
fato, um filhote saltando em cima de qualquer um
que chegue em casa é muito bonitinho. Estimular
o comportamento e retribuir
as investidas com carinho,
porém, traz complicações a
longo prazo – especialmente
se, na fase adulta, o animal
adquirir um porte avantajado.
“Um labrador que pula
no dono toda vez que o
vê, por exemplo, torna-se
um problema”, ressalta a
profissional.
A conduta correta,
segundo a adestradora, é
ignorar o filhote desde as
primeiras vezes em que
ele apresentar esse tipo de
Coibir atitudes indesejáveis desde os primeiros
meses é fundamental para a boa educação dos pets
Incômodo à mesa
Q
fotolia
uase sempre, os pedidos
insistentes do cachorrinho
se estendem à mesa de
refeições. É de praxe que
ele faça cara de sofrimento
enquanto vê o dono comendo algo
que lhe parece apetitoso. Não raro,
seres humanos de coração mole
cedem à expressão penosa do bicho.
Um pedacinho aqui, outro ali, e
algum tempo depois a situação se
Evitar dar comida
e petiscos fora de
hora, faz com que
o cão desista de
pedir e melhora a
saúde dele
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Melhor Amigo
torna insuportável do ponto de vista
comportamental – sem contar os
problemas de obesidade e intoxicação
que a maioria dos alimentos para
pessoas pode causar a animais.
Se o objetivo é cortar o mal pela
raiz, vale disponibilizar a ração ou
qualquer que seja o alimento em
uma vasilha própria para o filhote
sempre no mesmo horário, para que
ele se acostume com uma rotina
predeterminada. De resto, é contar
com a colaboração de todas as partes
envolvidas: “O importante é que toda a
família coopere e nenhuma pessoa ceda
aos pedidos”, explica o adestrador John
Silva. Depois de algumas negativas, é
natural que o cão desista.
fotolia
Atendendo a pedidos
O cachorro pode até
subir na cama, mas só
com autorização do dono
e por curtos períodos
O
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Desde os primeiros dias
na nova casa, o pet deve
ter seu espaço, com cama,
água e comida próximos
utro erro que pode trazer
consequências comportamentais
graves para o bicho é atender
às vontades toda vez que ele
choramingar ou fizer cara de pidão, durante os
primeiros meses de vida. Ele aprende que basta
insistir um pouco para conseguir o que quer, e
o hábito se transforma em vício na vida adulta.
Normalmente, as súplicas começam nas
primeiras noites que o animal passa na casa da
nova família. É que ele acabou de se separar da
matilha e ainda sente falta da presença da mãe
e dos companheiros de ninhada na hora de
dormir. Alguns segundos de choro exagerado são
suficientes para que muitos donos abram a porta
do quarto e convidem o cãozinho a se acomodar
na cama. Depois de algum tempo – caso a
sequência se repita frequentemente –, ele passa
a encarar o local como um território ao qual
tem passe livre. E pode, inclusive, desenvolver
dificuldades sérias para ficar sozinho.
“A melhor forma de evitar que essa
ansiedade provocada pela separação se
torne doentia é ensinando o cachorro a ter
independência desde cedo”, explica John Silva,
adestrador da Cão Cidadão. Preparar uma
caminha para o filhote em um local guarnecido
com ração e água é a primeira medida para
que ele se sinta amparado também quando
os donos estiverem longe. O especialista
ainda recomenda que, ao longo do dia, o
bichinho seja treinado a ficar só – ainda que ele
choramingue muito nas primeiras vezes – pelo
menos durante curtos períodos.
Para Elaine Natal, não há problema em
deixar o cão subir na cama algumas vezes,
contanto que ele saiba que deve sair quando
o dono determinar. A comportamentalista
endossa que os latidos devem ser ignorados,
recomenda exercícios de separação e indica o
uso de grades de proteção removíveis (aquelas
próprias para o convívio com animais) para
sinalizar ao cachorro quando a presença dele
é vetada. “É bom também disponibilizar
brinquedos de que ele goste para mantê-lo
entretido nos momentos em que estiver
sozinho”, orienta.
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Filhotes bem-educados
Educação recompensada
M
esmo quando a intenção dos donos é
educar, há medidas que trazem prejuízos
para a saúde física e psicológica do
animal, que ele corre o risco de carregar
para o resto da vida. “Algumas pessoas dão bronca se o
cachorro faz xixi e cocô no lugar errado, e ele adquire o
hábito de fazer escondido ou segurar até não aguentar
mais”, conta o adestrador John Silva. O correto é, desde
os primeiros dias, mostrar o local correto – que pode
ser forrado com jornal, por exemplo – e presentear
o bichinho com afagos e petiscos quando ele fizer as
necessidades por lá.
A comportamentalista Elaine Natal ainda explica
que a melhor forma de coibir um comportamento
errado é se antecipar a ele: “Se o cão costuma fazer
xixi ou cocô depois de atividades específicas –
como comer, beber água, acordar e brincar –, o
dono pode, já nessas horas, preparar o jornal e
indicar onde ele deve se aliviar. Sem se esquecer,
depois, de recompensar o acerto”.
Dar broncas duras quando o
pet faz as necessidades no local
errado pode gerar consequências
negativas no animal
Proteção sem excesso
Fotos: fotolia
T
ambém é importante lembrar que, assim
como muitos pais de crianças, alguns donos de
cães são superprotetores; tendem a criar seus
melhores amigos em uma redoma de cuidados
exagerados que prejudicam a sociabilidade dos bichinhos
na vida adulta. Nesse sentido, não levar o cão para fora
de casa desde pequeno é a mais perigosa das medidas.
A maioria dos veterinários recomenda que os
cachorros só saiam à rua depois de tomadas todas
as vacinas. Alguns adestradores, por outro lado,
incentivam os donos a levar os filhotes para passear
no colo antes disso: “Quanto mais cedo o animal tiver
contato com diferentes cheiros, visões e barulhos,
melhor”, diz Elaine Natal. O hábito de passear ajuda
o cão a descarregar energias e evita que ele se torne um
adulto agressivo e entediado.
No fim das contas, é sempre uma questão de encarar
o futuro do bicho como um reflexo de seu presente: “É
algo que eu sempre digo às pessoas: não deixe seu filhote
fazer agora o que você não deseja que ele repita quando
crescer”, recomenda a adestradora.
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A superproteção também
pode causar problemas