1 - SOI
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0 Carta de Apresentação Queridos e queridas mini delegados e delegadas da OEA 1984: antes de começarmos os trabalhos oficialmente, é importante que saibamos quem são as pessoas com que lidaremos nesses três dias de simulação, né? Por este motivo, segue abaixo a Carta de Apresentação do nosso comitê! Composto por seis diretores, aí vai o time da Organização dos Estados Americanos: Bom, primeiramente, vou me apresentar: meu nome é Ana Clara Maia, o que me rendeu o apelido de ACM. Estou, pelo 2º ano, na direção da Mini SOI, e já revelei um certo carinho pelos comitês históricos s2. Faço Direito, também na UFRN, e estou no 6º período do curso. Adoro comer e estou sempre gargalhando (muito!) de alguma coisa muito besta. Decidi fazer a descrição de todos os outros e também a minha própria, antes que a zoeira recaísse sobre mim. Estou muito feliz com o nosso comitê e espero que todos vocês estejam super animados para que possamos revolucionar 1984! Francisco André, que atende também pela alcunha de Bonde, certamente é conhecido por aqueles que já trilharam caminhos na Mini SOI: sempre disposto a ajudar na construção desse "mix de magia e diversão", nosso querido diretor já está entrando na ala da melhor idade, completando alguns anos consideráveis de simulação. Bonde faz Direito na UFRN, em um período indeterminado, pois é tão brother da galera que cursa matéria em todas as salas. Nas horas livres, faz jus ao seu apelido de "vaqueiro". Dizem que ele tem uma tatuagem, nunca averiguamos. Sânzia Mirelly, mais conhecida como DireHitler, não aparenta ser merecedora desse título: fofa e meiga, San também está entrando na ala dos idosinhos da Mini, onde tem feito história por uns 07 anos de sua vida. A forte candidata a DireFofa cursa também Direito na UFRN, já no décimo período. Tudo indica que será uma advogada show de bola a qual vocês já podem ir contratando de prontidão. Seu sonho é organizar uma néon party, então já temos planos para nossa festinha de after SOI. Sendo essa sua última simulação como dire oficial da Mini, está empolgadíssima com a simulação! 1 Maria Antônia, ou carinhosamente Antonieta, está enfrentando pela primeira vez o desafio prazeroso de ser diretora da Mini. Está no 5º período de Direito, também na UFRN, e é de grande importância avisar: Antônia no volante, perigo constante. Fora isso, podem ter certeza que será um elemento de muita importância para nossa simulação, sempre com sua alegria contagiante. Afinal, também é conhecida como rainha da balada, adora batucada, é sempre bem chegada em qualquer festinha; por tanto, qualquer dúvida sobre onde ir para se divertir – ou sobre os temas abordados deste guia – é só falar com a especialista Maria! Giovana, ou Gi, Gigi, Gió, Giza... Enfim, o que importa é que ela abraçou a nossa causa e enfrentou o desafio de compor este time. Também estudante do curso de Direito, a nossa forte candidata a DireGata é muito engajada política e socialmente, compondo movimentos sociais como o Levante Popular da Juventude, fazendo parte do Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti e também de movimentos feministas. Com certeza uma grande contribuição de simpatia e conhecimento ao nosso comitê. E por fim, mas não menos importante, o nosso querido Yvisson, ou apenas Yvim. Grande amigo do já mencionado Bonde, com o qual certamente formará uma dupla que conquistará a todos, o Mister Macau promete arrebentar corações - embora o dele já tenha dona, garotas... - e, principalmente, surpreender a todos com seu jeito prestativo, inteligente, simpático e muito cativante. Nosso macauense, além de curtir muito Grafith e carnaval no melamela, faz Direito na UFRN, já no 7º período. Desde já convida vocês para conhecerem sua fazenda-granja-chácara em Macau, e viver por lá fortes emoções. 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4 2 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS – PANORAMA GERAL ATÉ 1984 ............................................................................................................................................ 6 3 CONTEXTO HISTÓRICO – O DESENROLAR DOS FATOS ATÉ 1984 .................... 8 3.1 AS ORIGENS DA GUERRA FRIA .................................................................................... 8 3.2 A INFLUÊNCIA DA GUERRA FRIA NA AMÉRICA LATINA .................................... 10 3.3 CONTEXTO DA DÉCADA DE 80 ................................................................................... 12 TEMA A: RESPONSABLIDADE DO ESTADO PELA VIOLÊNCIA CONTRA SEUS CIDADÃOS 4 A ORIGEM DOS REGIMES MILITARES NA AMÉRICA LATINA ......................... 13 5 MANUTENÇÃO DO APARELHO DITATORIAL: INFLUÊNCIA ESTADUNIDENSE NA REPRESSÃO AOS REVLTOSOS ................................................................................. 18 6 O POSICIONAMENTO DA OEA DIANTE DE REGIMES MILITARES .................. 21 TEMA B: LEGITIMIDADE DO MOVIMENTO SEM TERRA E DAS FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COMLÔMBIA ENQUANTO MOVIMENTO SOCIAL 7 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RUAIS SEM TERRA (MST) ............... 23 7.1 A HISTÓRICA CONCENTRAÇÃO AGRÁRIA BRASILEIRA COMO IMPULSIONADORA DO MST... ........................................................................................... 23 7.2 CONCEPAÇÃO DIALÉICA ENTRE O PROFESSO CE FORMAÇÃO E FUNDAÇÃO DO MST E O CONTEXTO ECONÔMICO E POLÍTICO DO BRASIL ............................... 24 7.3 UMA VISÃO CRÍTICA: O MST E A LEGITIMIDADE DE SUAS AÇÕES ................. 26 8 O CONTEXTO LATINOAMERICANO E OS MOVIMENTOS QUE ECLODIRAM APÓS AS DITADURAS MILITARES ................................................................................. 29 9 MITOS E VERDADES ACERCA DAS FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COLÔMBIA (FARC) ...................................................................................................... 33 10 POSICIONAMENTO DOS ESTADOS MEMBROS DA OEA EM 1984 ................... 38 11 APONTAMENTOS FINAIS ............................................................................................ 60 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 62 3 1 INTRODUÇÃO Senhores Delegados, sejam bem vindos à Organização dos Estados Americanos (OEA). Este Guia de Estudo tem por objetivo introduzir temas relevantes a serem debatidos em nossa reunião, que ocorrerá em 1984. Inicialmente, serão abordados aspectos fundamentais sobre a responsabilidade do Estado pela violência contra seus cidadãos. Mas, de uma forma geral, o que se pretende abordar com referida temática? A América Latina, até o início da década de 90, em especial, foi palco de vários Regimes Militares, nos quais governos autoritários reprimiam direitos básicos dos cidadãos, como as liberdades de expressão e locomoção, promovendo, assim, cenas de torturas que marcaram a história dessas nações. Alguns Estados, que passam pelo processo de democratização, como explicado a seguir, optaram por punir aqueles agentes que oprimiram e torturaram seus cidadãos; outros Estados, todavia, omitem seus posicionamentos em relação a estes atos, alguns outros, todavia, chegam a defender que nenhum agente deve ser punido por ter torturado e violentado cidadãos com a justificativa de se estar protegendo a ordem nacional. Portanto, entra em pauta na nossa reunião a questão quanto aos limites da responsabilidade estatal pela violência (tortura, opressão, morte) praticada contra seus cidadãos, principalmente, durante os Regimes Militares. Após o tema acima ser explicado com maior riqueza de detalhe, serão tratados, neste Guia de Estudo, os aspectos relevantes sobre a legitimidade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) enquanto movimento social. Quanto a esse segundo tema, propõe-se a discussão a respeito da legitimidade de movimentos sociais que estão surgindo na América Latina, com a redemocratização das nações. Como forma de exemplificar a atuação de movimentos sociais, serão abordadas as legitimidades do MST e das FARC, de modo a se colocar em debate, também, o papel desses movimentos no processo de redemocratização vivido por algumas nações latino-americanas. Em torno dos dois temas, observa-se que há em comum o debate sobre o fortalecimento da democracia na América Latina, uma vez que tal fortalecimento pode estimular a promoção da liberdade e igualdade entre os cidadãos das nações. 4 Com os aspectos críticos que envolvem as pautas de nossa reunião, esperamos que os Senhores Delegados possam chegar a resoluções que provam o desenvolvimento de suas nações e de todo o continente americano. Recordem-se que este é um comitê histórico, estamos em 1984, os Senhores podem, dessa formar, alterar o rumo dos acontecimentos. Para tanto, a leitura deste Guia de Estudo é fundamental para prepara-los para os debates. Convidamos, portanto, os senhores a ler, pesquisar, debater e, por fim, formar entendimento sobre os temas de nossa reunião. O poder da mudança cabe aos Senhores. 5 2 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS – ASPECTOS GERAIS ATÉ 1984 Admitida como o mais antigo organismo regional do mundo, a Organização dos Estados Americanos (OEA) foi instituída em 1948 em Bogotá, Colômbia, a partir da assinatura por 21 Estados1, entre outros documentos, da Carta da OEA, a qual passou a vigorar em dezembro de 1951. A referida Carta2 sofreu modificações quando emendada pelo Protocolo de Buenos Aires, o qual foi assinado em 1967 e entrou em vigor em 19703. Assim, a partir deste ano, os países membros da OEA passam a se reunir anualmente, através das sessões da Assembleia Geral da OEA. A Assembleia Geral4 deve ser reconhecida como órgão supremo do organismo, sendo constituída por todos seus Estados membros, os quais, nela, têm direito de representação e voto5. Encarregada de definir os principais mecanismos e ações da Organização, a Assembleia Geral deve deliberar com base em democracia, direitos humanos, segurança e desenvolvimento6, os quais se interligam através de diálogos políticos e cooperação entre os Estados membros. Com exceção de casos previstos no artigo 59 da Carta da OEA, as decisões da Assembleia Geral serão aprovadas por voto da maioria absoluta dos Estados Membros, isto é, para uma decisão ser aprovada deverá ter o voto de metade mais um da quantidade total dos Estados Membros da OEA. O nome comumente utilizado para tais decisões é Resolução. Além da Assembleia Geral, a OEA e composta7 por dois Conselhos (Permanente e Interamericano de Desenvolvimento Integral), pela Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores, pela Comissão Jurídica Interamericana, pela Secretaria Geral, por 1 OEA: Nossa História. Disponível em: <http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_historia.asp>. Acesso em: 28 out 2013. 2 Carta da Organização dos Estados Americanos. Disponível em: < https://www.oas.org/dil/port/tratados_A41_Carta_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_dos_Estados_Americanos.htm>. Acesso em: 05 abril 2014. 3 OEA: Quem Somos. Disponível em: <http://www.oas.org/pt/sobre/quem_somos.asp>. Acesso em: 28 out 2013. 4 OEA: Assembleia Geral. Disponível em: <http://www.oas.org/pt/sobre/assembleia_geral.asp>. Acesso em: 28 out 2013. 5 Com base no artigo 56 da Carta da OEA: “Todos os Estados membros têm direito a fazer-se representar na Assembléia Geral. Cada Estado tem direito a um voto”. 6 OEA: O Que Fazemos. Disponível em: <http://www.oas.org/pt/sobre/que_fazemos.asp>. Acesso em: 15 dez. 2013. 7 OEA: Nossa Estrutura. Disponível em: < http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_estrutura.asp>. Acesso em: 06 abril 2014. 6 Conferências e Organismos Especializados, como também pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a qual merece destaque por ter como função primordial a defesa dos direitos humanos8. Em 1984, a OEA conta com 32 Estados Membros, sendo o Governo cubano, desde 1962, excluído de participar do Sistema Interamericano9. Isto é, no ano em questão (1984), 31 Estados podem participar e têm direito a voto na reunião da Assembleia Geral da OEA. No presente ano (1984), a OEA tem o papel crucial de reforçar o diálogo político institucional entre seus Estados Membros, debatendo sobre a atuação repressiva estatal na América Latina, de modo a deliberar, ao final, sobre a possibilidade de responsabilizar um Estado pela violência cometida por ele contra seus cidadãos, bem como sobre a legitimidade, como movimentos sociais, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Como decidido em ano anterior, nossa reunião será realizada em dezembro de 1894, em Brasília, Brasil10. 8 Declaração Americana. Disponível em: <http://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/b.Declaracao_Americana.htm>. Acesso em: 05 abril 2014. 9 OEA: Estados Membros. Disponível em: <http://www.oas.org/pt/estados_membros/default.asp>. Acesso em: 28 out 2013. 10 Assembleia Geral. Disponível em: <http://www.oas.org/consejo/pr/AG/resoluciones%20y%20declaraciones.asp>. Acesso em: 05 abril 2014. 7 3 CONTEXTO HISTÓRICO – O DESENROLAR DOS FATOS ATÉ 1984 O mundo no século XX atravessou por transformações nas mais diversas searas que regem a sociedade como um todo. No plano político, econômico, militar e tecnológico, fomos presenteados com inovações que acabaram por mudar a nossa concepção sobre a sociedade e até mesmo sobre o mundo. No início deste século fomos acometidos por uma guerra de proporções nunca antes alcançada a qual ficou conhecida como, Primeira Guerra Mundial 11 (1914-1918). As consequências dessa guerra conjuntamente com uma forte crise econômica que estourou em 1929, com a quebra da bolsa de Nova York12, acabaram por levar as potências mundiais a instaurarem outra grande guerra, a Segunda Guerra Mundial13 (1939-1945). Segundo o historiador Eric Hobsbawm14, escritor do livro Era dos Extremos: o Breve Século XX,15 “neste dito século, mataram-se mais seres humanos do que em qualquer outra época e nele se chegou a níveis de bem-estar e a transformações jamais vistas na experiência humana”. Para compreendermos o contexto histórico ao qual segue nossa reunião, remetemos os senhores delegados a uma breve passagem pela história global, desde meados do fim da segunda guerra mundial, que desembocou na guerra fria, a influência desta nos países latinos americanos e nos demais países, até a situação atual dos países que desta cúpula participam. 3.1 A origem da Guerra Fria Em 1941, já na Segunda Guerra Mundial, Hitler em sua campanha expansionista invadiu a União Soviética pondo fim ao tratado Molotov-Ribbentrop16. No que se segue, o 11 A Primeira Guerra Mundial (1914-1918). 2009. Disponível em: <http://www.sohistoria.com.br/ef2/primeiraguerra/>. Acesso em: 30 mar. 2014. 12 DANTAS, Tiago. Crise de 29. 2012. Disponível em: <http://www.alunosonline.com.br/historia/crise-de29.html>. Acesso em: 30 mar. 2014. 13 A Segunda Guerra Mundial. 2009. Disponível em: < http://www.sohistoria.com.br/ef2/segundaguerra/>. Acesso em: 30 mar. 2014. 14 Conheça a trajetória de Eric Hobsbawm. 2012. Disponível em: <http://folha.com/no116>. Acesso em: 23 mar. 2014. 15 HOBSBAWM, Eric. O livro Era dos Extremos: o Breve Século XX. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Disponível em: <http://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/hobsbawm-a-era-dos-extremos.pdf>. Acesso em: 28 mar. 2014. 16 KINKARTZ, Sabine. 1939: Assinado o Pacto de Não-Agressão. 2011. Disponível em: <http://www.dw.de/1939-assinado-o-pacto-de-não-agressão/a-615078>. Acesso em: 30 mar. 2014. 8 exército vermelho soviético uniu-se aos aliados e passaram a marchar à Berlim, ocupando a cidade três anos depois do início da marcha. Dado o fim da guerra, coube às potências vencedoras, os aliados, reorganizar toda a estrutura na terra. Em 1945, última etapa de uma série de rodadas que se iniciaram em 1943, na cúpula de Teerã, com o objetivo de reorganizar as estruturas geopolíticas e econômicas do globo, realizaram-se as conferências de Yalta, na Criméia em fevereiro, e a de Potsdam, em Berlim, em agosto17. Nessa última, deu-se a partilha mundial de modo similar a Viena e Versalhes, consagrando-se aí divisão mundial, de onde se originaram dois blocos antagônicos, cujas disputas entre eles causaram impactos aos quais sofremos as consequências até hoje. Os dois blocos divergentes em constante conflito, foram encabeçados por duas grandes potências mundiais. De um lado a União Soviética, dirigida sobre os auspícios do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), único partido legalmente existente desde 1918, quando se instaurou a Revolução Russa18, operava nos moldes socialista. E de outro, os Estados Unidos da América (EUA), berço do capitalismo moderno, que comprometer-se-ia com a população global de conter os avanços comunistas. Com base nessa premissa americana, em conter o “Câncer Comunista”, como falara Hitler antes da invasão à URSS, Truman19, após as redefinições mundiais previamente aqui comentadas, em março de 1947, seguindo essa ideologia, lançou a sua doutrina declarando ao congresso Americano que Washington estava comprometido com esse fim e em decorrência disso, os EUA, lançara o chamado plano Marshall20. O plano Marshall constituía superficialmente a concessão de créditos para o financiamento da reconstrução dos países afligidos pela guerra. No entanto, no decorrer de sua execução pode se perceber que na verdade este estava imbuído do objetivo de agregar os países europeus-ocidentais a zona de influência comandada por Washington. Em retratação a este, em 1949, os soviéticos lançaram sua resposta ao plano Marshall, com seu próprio programa de 17 MANSANI, Dr. Carlos-magno Esteves Vasconcellos. SOUZA, Roberta de. AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS DE YALTA E POTSDAM E SUA CONTRIBUIÇÃO À CONSTRUÇÃO DA HEGEMONIA ECONÔMICA INTERNACIONAL NORTE AMERICANA NO CAPITALISMO DO APÓS 2ª GUERRA MUNDIAL. 2013. 15 f. Tese (Doutorado) - Curso de Relações Internacionais, Unicuritiba, Curitiba, 2013. Disponível em: <revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RIMA/article/download/731/557>. Acesso em: 01 abr. 2014. 18 GOMES, Cristiana. Revolução Russa. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia/revolucao-russa/>. Acesso em: 01 abr. 2014. 19 Harry S. Truman. 2014. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Harry_S._Truman>. Acesso em: 01 abr. 2014. 20 FREITAS, Eduardo de. O Plano Marshall. Disponível em: < http://www.mundoeducacao.com/geografia/planomarshall.htm>. Acesso em: 01 abr. 2014. 9 ajuda econômica, denominado Conselho para Assistência Econômica Mútua, conhecido como Comecon21. A tensão Mundial do pós-guerra e o jogo de interesses entre Moscou e Washington, levaram também a elaboração de tratados de alianças militares, correspondidos pela Otan, de mitância americana, que garantia aos EUA a supremacia militar na Europa Capitalista, e o Pacto de Varsóvia, que garantia proteção militar aos interesses socialistas, de acordo com as vontades da URSS. Durante esse período também ocorreu aquilo que ficou conhecido como “cordão sanitário”, que foi o conjunto de diversos tratados celebrados pelos EUA contra a expansão comunista, como a criação da Organização do Tratado do Sudeste Asiático22. Neste período também se observa a eclosão de diversas guerras, diretamente influenciadas e por vezes financiadas pelo conflito existente entre as sociedades socialistas e a capitalista, onde um modelo tentava sobressair-se hegemonicamente em detrimento do outro. A título de exemplo, cita-se a Guerra das Coreias (1950-1953), a Guerra do Vietnã (1955-1975), a revolução comunista na China (1946-1950) e diversas guerras civis instauradas no continente africano. De acordo, com José Alberto Jr23, a guerra fria se trata: De um ponto de vista geopolítico, a guerra fria correspondeu à divisão do planeta em dois grandes sistemas inimigos e antagônicos: o capitalista, com sede em Washington, e o socialista, com sede em moscou. Os dois blocos surgiram como resultado da derrota da Alemanha nazista na segunda guerra mundial. Em defesa de seus interesses e da consolidação de seus territórios os dois blocos criaram exércitos, tecnologia militar e arsenais nucleares. Durante esse período, nem paz nem guerra, e sim um equilíbrio de forças entre os blocos baseados no poder de mútua destruição. (A Guerra Fria: O Estado Terrorista)24 3.2 A influência da Guerra Fria na América Latina Ainda no século XIX, durante governo de James Moroe, presidente dos EUA, foram lançadas as bases da estratégia da política externa dos americanos para a América Latina, a denominada doutrina Monroe, identificada como a: “A América para os americanos”25. 21 BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História das Cavernas ao Terceiro Milênio. 3. ed. Saõ Paulo: Moderna, 2007. 752 p. 22 MENDES, Raquel. A Nova Ordem Mundial. Disponível em: < http://fichasmarra.wordpress.com/2010/04/30/a-nova-ordem-mundial/>. Acesso em: 01 abr. 2014. 23 JÚNIOR, José Arbex. Guerra Fria: O Estado Terrorista. 2. Ed, São Paulo: Moderna, 2005. 24 Idem. p. 9. 25 FREITAS, Eduardo de. Doutrina Monroe. Disponível em: < http://www.brasilescola.com/geografia/doutrinamonroe.htm>. Acesso em: 01 abr. 2014. 10 A doutrina Monroe, teve seu vigor plenamente demonstrado no período da Guerra Fria. Neste se sucederam golpes financiados pelos EUA para deter a expansão do comunismo no continente Latino Americano. Na Guatemala, por exemplo, em 1954, a CIA26 (Central Intelligence American) armou um golpe para depor o nacionalista eleito presidente democraticamente em 1950, Jacbo Arbenz. Arbenz era visto pelos americanos como de inclinações socialista, por isso o golpe sobreveio e foi desferido pelo Coronel Castillo, em 1954. Assim como o golpe guatemalteco, visando a permanência da América Latina sob sua zona de influência, outros golpes como, o Chileno em 11 de setembro de 1973, onde presidente Allende foi derrubado e iniciou a ditadura sangrenta de Pinochet, o golpe desferido na Argentina em 1976, onde Isabelita, vice-presidente e mulher do ex-presidente Péron, caiu ante Jorge Rafael Videla. E o golpe instaurado pelos Militares do Brasil em 1964, onde depôs o então presidente João Goulart, conhecido como Jango. Foram também diretamente induzidos pelos ditos Americanos. No entanto, na América Latina também instalaram-se aliados de Moscou, configurando isso um desafio máster para os EUA, pois era inadmissível para a política norte americana a admissão destes tão próximo ao seu Estado. Tais desafios foram configurados frente à Revolução Cubana e a Revolução Sandinista. A revolução cubana, que ocorreu cinco anos após a deposição de Arbenz, no início não possuía nada em comum com a implantação do sistema comunista naquele Estado. Com o apoio da população, e até com uma discreta simpatia da Casa Branca, Castro e Che, tomaram o poder, em janeiro de 1959, provocando a fuga do ditador Fugêncio Batista. A CIA considerava a liderança de Castro “positiva”, por canalizar o descontentamento popular para uma alternativa distanciada de Moscou27. Após a tomada do poder, as operações de cunho nacionalista executadas por Castro foram interpretadas por Washington como sinais de uma tendência pro-Soviética. Em janeiro de 1961, os EUA romperam relações diplomáticas com Cuba e uma operação organizada pelo mesmo foi proposta. Iniciada pela Baía dos Porcos, a operação fracassou. Após essa tentativa de invasão americana, Cuba aproximou-se de Moscou, desafiando o imperialismo americano na América Latina, e em decorrência dessa relação entre Cuba e Moscou, efetuou-se uma grave crise, denominada a “Crise dos Misseis”28. SANTIAGO, Emerson. Agência Central de Inteligência (CIA). Disponível em: <http://www.infoescola.com/estados-unidos/agencia-central-de-inteligencia-cia/>. Acesso em: 03 mai. 2014. 27 JÚNIOR, José Arbex. Guerra Fria: O Estado Terrorista. 2. Ed, São Paulo: Moderna, 2005.175p. 28 BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História das Cavernas ao Terceiro Milênio. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2007. 752 p 26 11 No que diz respeito à Nicarágua, em 1979 iniciou a Revolução Sandinista29, que derrubou a ditadura Somoza e nacionalizou bancos e empresas. O governo Sandinista passou grande parte da economia para o controle do Estado e em viés de tornar-se socialista, foi acometido por sanções econômicas impostas pelos americanos e pelo financiamento dos “contras” guerrilheiros antissandinistas, antigos membros da extinta guarda nacional. 3.3 Contexto da década de 80 Nos primeiros anos de 1980, década em que segue nossa reunião, a América Latina como já demostrado encontrava-se sob a égide e regras da Guerra Fria, assim como todo o resto do mundo, e sob fortes tensões econômicas e sociais. A maioria de seus países encontra-se em situação econômica frágil, acometidos por altas dívidas externas mesmo tendo a maioria deles aberto o mercado ao capital externo. A concentração de renda foi ampliada fortemente durante o período predecessor a este. Naqueles países em que ditaduras de extrema direita foram implantadas, anda ocorrendo um lento e gradual processo de abertura política, devido às fortes pressões de seus nacionais, por meio de movimentos organizados para a derrubada desses regimes, e a intensa coação internacional ante aos graves desrespeitos aos direitos humanos, verificado nesses regimes, como a política de valorização dos direitos humanos do presidente americano Jimmy Carter30. Em certos países a transação entre o período ditatorial e a democracia já havia sido completada como é o caso da República Dominicana, em 1961, do Peru, em 1980, da Bolívia, em 1982 e da Argentina em 198331. 29 JÚNIOR, José Arbex. Guerra Fria: O Estado Terrorista. 2. Ed, São Paulo: Moderna, 2005.175p. LIMA, Claudia de Castro. Ditaturas da América Latina. 2004. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/ditaturas-america-latina-433858.shtml>. Acesso em: 04 mar. 2014 31 BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História das Cavernas ao Terceiro Milênio. 3. ed. Saõ Paulo: Moderna, 2007. 752 p 30 12 TEMA A: Responsabilidade do Estado pela violência contra seus cidadãos 4 ORIGEM DOS REGIMES MILITARES NA AMÉRICA LATINA Antes de adentrar na questão da responsabilidade dos Estados pela violência contra seus cidadãos em tempos de regime militar, é imprescindível entendermos quais as raízes desses governos autoritários, e o que levou ao seu surgimento no cenário vivenciado na América Latina à época. Toda essa dominação exercida por parte dos militares remonta ao caudilhismo. Esse fenômeno teve origem no século XIII, em Castela, na Espanha, e significa uma chefia excepcional, um mando soberano exercido sobre determinada população e região, impondo suas próprias regras e desobedecendo leis ou normas que não sejam de seu interesse32. Esse tipo de autoritarismo se desenvolve tanto em cenários locais, como nacionais, a depender da força e proporção que tomaram. Ao longo da história da humanidade, o caudilho se fez presente em diversos cenários de controle do poder nacional (eufemismo do militarismo33): do caudilhismo de Franco, na Espanha, ao corporativismo de Pinochet, no Chile; do nazismo de Hitler, na Alemanha, ao militarismo de Videla, na Argentina, e Médici, no Brasil; do bolchevismo de Stalin, na União Soviética ao comunismo de Mao Tse-Tung, na China. Esses são alguns dos sistemas de opressão que resultaram da aglutinação de forças dos setores elitistas ou plutocratas, com toda a capacidade espiritual e material, direcionados para alcançar o poder nacional, fazendo uso dos meios econômicos, políticos, psicossociais e militares. Especificamente na América Latina, o caudilhismo se fez presente desde as primeiras colonizações. Os latifúndios e a mineração nas colônias da América Latina logo demonstraram a imposição da vontade e o comando sobre os povos nativos. Desde a busca por metais preciosos no México e na Guatemala, até a conquista do império Inca no Peru, se estendendo pela Argentina e chegando ao Brasil, onde atuaram fundando engenhos de açúcar em Pernambuco, criando núcleos habitacionais e lavrando minérios no sudeste, e abrindo fazendas ao sul 34, o caudilhismo foi assentando seu poder. 32 ALMEIDA, Agassiz. A ditadura dos generais: estado militar na América Latina: o calvário na prisão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 44. 33 Idem. p. 96. 34 Idem. p. 42-43. 13 Como mencionado anteriormente, a dominação se dá de forma gradual, inicialmente em âmbito regional, a exemplo dos senhores de engenho e barões do café do Brasil, e dos ricos estanceiros platinos, donos de vastos latifúndios na Argentina e no Uruguai, até alçar ares nacionais, como Juan Manuel Rosas, na Argentina; Guzman Blanco e Hernando Siles, na Bolívia; Luiz Altamirano, Carlos Ibanez de Campo, no Chile; Miguel Aladia Méndez e Enrique Olaya Herrera, na Colômbia; Isidro Ayora, no Equador35. Esse fenômeno sócio político ocorreu particularmente na América Latina sob um aspecto essencialmente social, o qual consiste na vontade iminente do homem de se fazer possuidor de terras, atrelado a um fator político que é a ambição do homem em investir-se de poder e mando. Partindo dessa premissa, acreditava-se que o fortalecimento do Estado era algo fundamental, de modo que ele deveria assumir o maior número de responsabilidades e dispor de condições amplas, independentemente de estar em guerra. Essa estratégia deu origem ao lema da geopolítica que recebeu destaque na grande maioria dos países em desenvolvimento, principalmente na América Latina: a segurança nacional. Importante ressaltar a enorme influência exercida pela Guerra Fria e as suas disputas ideológicas, que em muito serviram para fortalecer e justificar as agressões militaristas nos países em desenvolvimento36. A suposta ameaça comunista era, inclusive, alegada pelos Estados Unidos para justificar o apoio logístico e militar oferecido a alguns dos golpes militares, no que ficou conhecido como operação “Brother Sam”37. Dessa forma, os Estados Unidos, utilizando-se dos militares, faz da América Latina a sua área de influência e de reserva. A realidade é que a junção de fatores e causas desencadeados em determinado momento histórico proporciona o desenvolvimento do caudilhismo seja em âmbito regional ou nacional. Sendo assim, a partir dos latifundiários de vastidões de terras, atravessou os séculos, se reformou em alguns períodos, para, em certo momento, ceder ao militarismo a partir dos anos 50 do século XX. Portanto, o militarismo consiste em um caudilhismo organizado nos quartéis e estruturalmente forte, servindo de freio para a onda liberalizante que agitava os povos 38. Os 35 ALMEIDA, Agassiz. A ditadura dos generais: estado militar na América Latina: o calvário na prisão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 44. 36 A militarização da América Latina. Disponível em: <http://www.fla.matrix.com.br/ticiano/evaldo.htm> Acesso em 05 de abril de 2014. 37 Origem do Golpe Militar. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/historiadobrasil/origem-golpemilitar.htm>. Acesso em 03 de abril de 2014. 38 ALMEIDA, Agassiz. A ditadura dos generais: estado militar na América Latina: o calvário na prisão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 125. 14 militares eram formados e preparados para servirem de sentinelas da nação, direcionando-se para exercer uma ação policialesca sobre a sociedade e, numa visão geopolítica, salvaguardar o Estado-Nação, segundo a ideologia da “segurança nacional”39, como se não recebessem qualquer influência ou apoio externo. Além disso, o juramento de fidelidade incondicional aos chefes e comandantes contribuiu sobremaneira para as monstruosidades que o militarismo latino-americano desencadeou, e ainda vem desencadeando. É possível identificar o militarismo a partir de alguns elementos essenciais, como o autoritarismo, o pessimismo a respeito da natureza humana, o alarmismo a ponto de forjar a existência de ameaças à sociedade, e, por fim, o conservadorismo político, se opondo a movimentos reformadores da sociedade40. Todos esses fatores servem para tentar legitimar os militares na função de “salvadores da pátria”. Não resta dúvidas que as forças armadas da grande maioria dos países da América Latina exerceram e exercem um papel importantíssimo na história política do continente 41. Os governos militares, embora inevitavelmente de forma autoritária, implementaram várias políticas econômicas e sociais, e por isso mesmo, apesar de todas as atrocidades cometidas, possuem firmes defensores. Ao contrário do que se pode imaginar, os regimes militares, em sua maioria, se desenvolveram amparados pela lei, inclusive utilizando as leis e os tribunais para reforçarem o seu poder. No caso do Golpe Militar de 1964, no Brasil, por exemplo, os militares justificaram que esse golpe tinha o caráter “preventivo” com o objetivo de defender a Constituição de 194642. Porém, após alcançar o poder, derrubando o presidente eleito João Goulart, decretaram um ato institucional que passou por cima da Constituição, expurgou o aparato estatal dos partidários do governo anterior, organizou uma verdadeira “caça às bruxas” a supostos comunistas, instaurou uma ditadura e legitimou a tortura43. Esse modelo brasileiro abriu caminho para outros subsequentes44, como o da Argentina, Chile e Uruguai. Um aspecto comum entre esses regimes é que todos declaravam lealdade à 39 PEREIRA, Anthony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo e o Estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2010. p. 105. 40 Idem. p. 125 41 Military Government in Latin America, 1959-1990. Disponível em: <http://www.oxfordbibliographies.com/view/document/obo-9780199766581/obo-9780199766581-0015.xml> Acesso em 04 de abril de 2014. Tradução própria. 42 MORAES, João Quartim de. Liberalismo e ditadura no cone sul. Campinas SP: IFCH / UNICAMP, 2001. p. 40. 43 PEREIRA, Anthony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo e o Estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2010. p. 52. 44 Idem. p. 37-39. 15 defesa da “segurança nacional”, concepção de conflito político fruto da Guerra Fria, com o consentimento tácito e frequente cumplicidade dos Estados Unidos. Essa ideia funde Estado e Nação e obscurece a distinção entre agressão interna e externa, guerra e paz, atividades políticas comunistas e não comunistas e ataques armados contra o Estado, por um lado, e discordância e oposição pacífica, por outro. Todos esses regimes, e os demais da América Latina, praticaram terrorismo de Estado em algum momento, usando sistematicamente de vigilância, detenções, tortura, assassinato e até desaparecimento de seus próprios cidadãos45. Alguns estudiosos falam que a tomada de poder pelos militares foi uma consequência lógica, diante da desorganização em que a sociedade civil se encontrava nos países Latino Americanos46. Contudo, ao observar separadamente alguns casos, logo se percebe que essa afirmativa não se faz correta. No caso do Brasil, havia a articulação de diversos movimentos sociais simpáticos às reformas do então presidente João Goulart, tais como a mobilização estudantil através da UNE (União Nacional dos Estudantes), do Comando Geral dos Trabalhadores – CGT, e das Ligas Camponesas47. Sendo assim, foi a ditadura militar que rebaixou consideravelmente o nível de organização política da sociedade 48, pois impediu os trabalhos desses organismos sociais. Nessa mesma linha, os casos do Chile, Bolívia e do Uruguai comprovam que não foi a falta de instituições sociais que ocasionaram o poder dos militares, mas sim o “excesso” de organizações sindicais e políticas dos trabalhadores49 tanto urbano como rurais, que motivaram os golpes e ditaduras por toda a América Latina. Os regimes militares que ascenderam na América Latina possuíram as mais diversas faces, embora fosse unânime a forte presença dos militares. No caso do Uruguai, inicialmente o governo ficou a cargo de um civil, embora fortemente influenciando pelos militares, enquanto que na maioria dos casos os militares efetivamente assumiram o poder e governaram os países desde a deflagração dos golpes. 45 PEREIRA, Anthony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo e o Estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2010. p. 54-56. 46 MORAES, João Quartim de. Liberalismo e ditadura no cone sul. Campinas SP: IFCH / UNICAMP, 2001. p. 39-41. 47 Origem do Golpe Militar. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/historiadobrasil/origem-golpemilitar.htm>. Acesso em 03 de abril de 2014. 48 MORAES, João Quartim de. Liberalismo e ditadura no cone sul. Campinas SP: IFCH / UNICAMP, 2001. p. 42. 49 MORAES, João Quartim de. Liberalismo e ditadura no cone sul. Campinas SP: IFCH / UNICAMP, 2001. p. 42-43. 16 Por outra perspectiva, houve casos em que a tomada de poder por parte dos militares contou, inclusive, com o apoio de uma parcela da população contrária às ideias esquerdistas e aos ideais comunistas que assolavam os países, como ocorreu no Brasil, de modo que essa dominação se deu um tanto quanto pacificamente, até que após a tomada do poder, os métodos dos militares tornaram a aceitação ao golpe quase que nula. Ao contrário do Brasil, no caso do Chile, os militares já assumiram o poder de forma devastadora, sob o comando do General Pinochet, bombardeando a sede do governo e matando centenas de pessoas, incluindo o então presidente chileno Salvador Allende. Sob outra forma se sucedeu o caso argentino, nem preventivo como o brasileiro, nem ofensivo como o chileno, mas altamente devastador, pelo fato de enfrentar uma esquerda armada que, provavelmente, era a mais forte de toda a América Latina naquela época50. A partir de todo esse estudo, se compreende que o militarismo deflagrado na América Latina não surgiu ao acaso, nem se organizou por ocasião de momentos, mas vinha sendo planejado há décadas. Os discursos fervorosos contra as tendências políticas de esquerda e que colocavam o país sob a ameaça de um governo comunista foram, inclusive, utilizados por Getúlio Vargas, no Brasil, quando da instauração do Estado Novo, em 193751. Sendo assim, no Chile, a decisão de Salvador Allende de implantar a reforma agrária nas regiões férteis do Valparaíso; na Argentina, a posição de Isabelita Perón em apoio ao movimento grevista das centrais sindicais; e no Brasil, o discurso de João Goulart, em 13 de março de 1964, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro52, não podem ser consideradas como as causas possíveis de desencadear os golpes militares. Na realidade, esses fatos e alguns outros que antecederam os desfechos dos golpes militares, são meros pretextos, pois os militares já vinham se organizando à décadas. Por fim, após percebermos que o Estado militar na América Latina tornou institucional até mesmo os delitos mais hediondos, tanto quanto o Estado nazista, surge a questão: de quem partiu, e sobre quem e a quem cabe a responsabilidade pelos crimes monstruosos que ensanguentaram as terras latino-americanas? 50 PEREIRA, Anthony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo e o Estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2010. p. 40. 51 Origem do Golpe Militar. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/historiadobrasil/origem-golpemilitar.htm>. Acesso em 03 de abril de 2014. 52 ALMEIDA, Agassiz. A ditadura dos generais: estado militar na América Latina: o calvário na prisão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 85. 17 5 MANUTENÇÃO DO APARELHO DITATORIAL: INFLUÊNCIA ESTADUNIDENSE NA REPRESSÃO DOS REVOLTOSOS Parte dos Estados latino-americanos presentes na reunião da Organização dos Estados Americanos neste ano de 1984 foram – alguns ainda são – palco das mais diversas atrocidades cometidas pelos seus regimes ditatoriais que, com o intento de manter funcionando a sua máquina de poder, verdadeiramente burlam ou burlaram direitos humanos protegidos mundialmente e levados a conhecimento do público desde 1948 através da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. De que maneira, então, eram sustentadas as ditaduras nascidas e fermentadas num contexto de pura violência política, moral e física? A manutenção dos regimes autoritários em cada país pode ter sido feita de maneira diferente, em épocas distintas e por governantes diversos, mas todos seguiam as premissas da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), que norteou o controle dos “subversivos” e “revolucionários” contra o poder vigente, como bem explicam Carlos Fica e demais autores do livro “Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas”53. Nascida nos Estados Unidos da América no contexto da Guerra Fria e importada para os modelos ditatoriais latino-americanos, a DSN apostava em trazer a função do homem na biologia para o contexto social e político: a existência do indivíduo era a contribuição da parte (ser humano) para o todo (nação). Qualquer comportamento que destoasse dessa premissa era tido como anômalo, sendo considerado divergência ao “bem da nação” – conceito definido ao bel-prazer dos ditadores – e classificado como um jogo dos que queriam desfazer o corpo social.54 A consequência direta da premissa basilar da Doutrina de Segurança Nacional (o homem em função da nação) é a da rejeição da divisão social em classes. Isto porque a separação do homem em grupos que partilham um interesse comum, destoantes das intenções de demais grupos, suscita a disputa ideológica entre eles – como consequência, temos cidadãos com opiniões políticas diferentes, buscando cada qual pela razão de suas palavras e ideologias, dificultando o trabalho do governo em manter o Estado uno e monopolizado por apenas um 53 FICO, Carlos et al. Ditadura e democracia na América Latina: balanço histórico e perspectivas. São Paulo: Fgv, 2008. 396 p. 54 SADER, Emir. O golpe no Brasil e a doutrina de segurança nacional. 2012. Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/O-golpe-no-Brasil-e-a-doutrina-de-segurancanacional/2/27107>. Acesso em: 03 abr. 2014. 18 ideal. A ideia nos regimes autoritários era, portanto, de que o significado da palavra Estado (em que se permite o pluralismo político) se assemelhasse ao ideal de Nação (expressão maior de uma unidade que deve inibir a existência de contradições). Com o intuito de manter unido ideologicamente o povo de cada país submetido à ditadura, todo e qualquer elemento desestabilizador era considerado subversivo, identificando o perigo nas ideologias estranhas àquelas desejadas pelo regime. Os revolucionários – muito chamados, à época, de “comunistas”, e considerados extensões do regime soviético – eram tidos como inimigos públicos perigosos e cuja força deveria ser combatida, a fim de evitar a propagação de ideais considerados “de esquerda”. Para os líderes ditadores nos países do Cone Sul, socialismo e democracia não poderiam conviver em harmonia, e enxergamos conflitos com pensadores socialistas em todos os países controlados pelas diretrizes da DSN. Os métodos de violência física aplicados nos países que passam ou passaram por ditaduras também são frutos de práticas legitimadas pela DSN, desde o acontecimento da Revolução Cubana finalizada em 1959, que depôs o ditador Fulgêncio Batista55. Foi legitimado, na ocasião, o combate denominado contra-insurgente, batendo de frente com a proteção aos direitos humanos, principalmente aqueles de primeira geração, concernentes às liberdades políticas e civis. Torturas, assassinatos, desaparecimentos inexplicáveis e até mesmo a doação de bebês oriundos de famílias tidas como subversivas foram práticas corriqueiras e marcantes de cada país que carregou ou carrega a marca de regimes autoritários nessa onda de ditaduras latino-americanas, fazendo até com que escritores (muitas vezes censurados) transportassem os fatos da vida real para a ficção dos livros56. A título de exemplificação dos horrores físicos e psicológicos cometidos em países latino-americanos assolados pela ditadura, podemos citar casos brasileiros, argentinos, chilenos. No Brasil, as práticas de tortura foram praticamente em sua totalidade importadas da Escola das Américas, em que a força policial e militar brasileira recebia treinamentos compilados pela estadunidense CIA (Central Intelligence Agency). Como resultado disso tivemos a aplicação de métodos como o choque elétrico, a simulação de afogamentos e a 55 PADRÓS, Enrique Serra. As escolas militares dos Estados Unidos e a Pentagonização das Forças Armadas da América Latina. Outros Tempos, São Luís do Maranhão, v. 1, n. 1, p.13-31, 2007. Disponível em: <http://www.outrostempos.uema.br/vol_especial/dossieespecialart02.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2014. 56 ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA, 12., 2012, Campinas. Literatura e resistência às ditaduras na América do Sul. Campinas: ANPUH-SP, 2012. 10 p. Disponível em: <http://www.encontro2012.sp.anpuh.org/resources/anais/17/1342567315_ARQUIVO_robertofreireerobertobola no-literaturaeresistencia.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2014. 19 “geladeira” (cela baixa e pequena que impedia os presos de ficar em pé, com alternância de temperaturas entre muito quente e muito frio)57. Na Argentina, também temos registros brutais – principalmente de cunho psicológico. Isto porque, no período de 1976 a 1983, mulheres argentinas que figuravam como militantes políticas sofreram abusos e torturas, tendo seus filhos sequestrados e tirados de seu convívio para serem entregues a simpatizantes da ditadura58, configurando uma dor muito além da física na vida daquelas que lutavam pela liberdade. No regime de Pinochet, no Chile, houve também influência direta da Escola das Américas, esta que repassou seus métodos violentos de contenção civil para a DINA (Dirección de Inteligencia Nacional), responsável por diversos desaparecimentos atribuídos à fase inicial da ditadura chilena. Contudo, a prática de atos que visavam agregar ideologicamente cada uma dessas nações não estava restrita à violência física em si, mas principalmente ao controle ideológico e moral nos ambientes de formação intelectual dos cidadãos: escolas e universidades. Podemos citar os Manuais Obrigatórios de Moral e Cívica, que procuravam incutir a concepção de que as palavras “pátria”, “Nação” e “Estado” eram sinônimos. Tudo ocorreu acompanhado de uma mudança no quadro docente e consequente repressão àqueles que se negassem a repassar as mensagens desejadas pela ditadura aos discentes, na tentativa de formar indivíduos não-pensantes, e sim prontos apenas para manter a Nação na forma que seus governantes desejavam: tendo uma profissão e constituindo família. Não era do interesse dos regimes autoritários que se formassem mentes críticas, opostas às ditaduras, mas sim a disseminação de valores como a fidelidade, docilidade, obediência e disciplina. Para isso, os ambientes escolares e universitários eram verdadeiramente militarizados, controlados por força policial e até mesmo sua arquitetura era projetada para distanciar pessoas que poderiam debater diferentes opiniões e acender um ideal de discussão contra o regime. Conclui-se, portanto, que o Estado, em vez de proporcionar a sensação de segurança aos seus cidadãos, tornou-se elemento repressor que incutia medo e disseminava o ideal de “inimigo interno” a todo aquele que fosse de encontro aos ideais tomados como padrão 57 PALMAR, Aluizio. Tipos de tortura usados durante a ditadura civil-militar. 2012. Disponível em:<http://www.documentosrevelados.com.br/nome-dos-torturadores-e-dos-militares-que-aprenderam-atorturar-na-escola-das-americas/tpos-de-tortura-usados-durante-a-ditadura-civil-militar/>. Acesso em: 04 abr. 2014. 58 KOIKE, Maria Lygia. O sequestro de crianças pela ditadura militar Argentina e atuação das Avós da Praça de Maio pelo direito à verdade (jurídica e biológica) e à memória. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ged/article/view/16945>. Acesso em: 10 nov 2013. 20 dentro dos regimes autoritários que permearam e permeiam, ainda, alguns países da América Latina. 6 O POSICIONAMENTO DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA) DIANTE DOS REGIMES MILITARES A Organização dos Estados Americanos é considerada o organismo regional mais antigo do mundo59, pelo fato de suas origens remontarem à Primeira Conferência Internacional Americana, realizada entre os anos de 1889 e 1890 na cidade de Washington, D.C., nos Estado Unidos. Essa reunião resultou na criação da União Internacional das Repúblicas Americanas, que mais tarde serviu de base para a fundação da OEA em 1948, em Bogotá, na Colômbia. Atualmente, conta com a participação de 30 países do continente americano. Ainda na sua fase inicial, mais especificamente no período entre as duas Grandes Guerras Mundiais, a atuação da OEA se viu prejudicada devido à relutância dos Estados Unidos em aderir aos princípios da não-intervenção e de respeito à soberania, além da proclamação unilateral do chamado “corolário Roosevelt”, que consistia em um poder de polícia autoatribuído ao Estado norte-americano em seu entorno imediato. Essa postura somente foi superada na década de 30, com a adoção da “política da boa vizinhança”, pelo então presidente Franklin Delano Roosevelt60. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o sistema interamericano se reestruturou organicamente por meio do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca61, de 1947, o qual objetivava uma defesa conjunta contra a ameaça do poder soviético, em pleno clima de Guerra Fria. Destaque-se que, quando da assinatura da Carta da Organização dos Estados Americanos, em 1948, os 21 Estados fundadores, também assinaram o Tratado Americano sobre Soluções Pacíficas, também chamado de Pacto de Bogotá, e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem62. Além disso, nessa mesma conferência, adotaram o Acordo 59 OEA: Quem somos. Disponível em: <http://www.oas.org/pt/sobre/quem_somos.asp>. Acesso em 05/04/2014. 60 A OEA e a Nova Geografia Política Latino-Americana. Disponível em: <http://interessenacional.uol.com.br/index.php/edicoes-revista/a-oea-e-a-nova-geografia-politica-latinoamericana/>. Acesso em 04 de abril de 2014. 61 Idem. 62 OEA: Nossa História. Disponível em: <http://www.oas.org/pt/sobre/nossa_historia.asp>. Acesso em 05 de abril de 2014. 21 Econômico de Bogotá, que buscava promover a cooperação econômica entre os Estados americanos, contudo este não entrou em vigor. O artigo 2º da referida Carta da Organização dos Estados Americanos assevera que para cumprir com suas obrigações regionais, segundo os preceitos da Carta das Nações Unidas, a OEA estabelece como um dos propósitos essenciais a promoção e consolidação da democracia representativa, respeitando o princípio da não-intervenção63. Por óbvio, os regimes militares que assolam a América Latina até os dias de hoje, consistem em obstáculos políticos estruturais aos trabalhos da Organização 64. Sob forte influência dos Estados Unidos, as contradições foram enormes, pois na medida em que expulsaram Cuba da OEA em 1962, os Estados Unidos estimulavam ditaduras sob o pretexto vivenciado na Guerra Fria. Dessa forma, o que se constatou foi vista grossa para as violações dos direitos humanos quando essas estavam de acordo com os interesses da maior potência americana. 63 Carta da Oranização dos Estados Americanos. Disponível em: <http://www.oas.org/dil/port/tratados_A41_Carta_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_dos_Estados_Amer icanos.htm>. Acesso em 05 de abril de 2014. 64 A OEA e a nova geografia política Latino-americana. Disponível em: <http://interessenacional.uol.com.br/index.php/edicoes-revista/a-oea-e-a-nova-geografia-politica-latinoamericana/>. Acesso em 04 de abril de 2014. 22 TEMA B: LEGITIMIDADE DO MOVIMENTO SEM TERRA E DAS FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COMLÔMBIA ENQUANTO MOVIMENTO SOCIAL 7 O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA (MST) 7.1 A histórica concentração agrária brasileira como impulsionadora do MST Para uma melhor aferição do delegado(a) acerca do Movimento de Trabalhadores Sem Terra (MST), é necessário expor neste guia, anteriormente a qualquer discussão, a compreensão da questão agrária no Brasil e as suas repercussões nas mobilizações populares organizadas. As raízes dos problemas fundiários no Brasil são reflexos da construção histórica da formação da propriedade. Essa herança provem da própria dinâmica de funcionamento da colônia e da república e das leis vigentes nesse período - a Lei de Terras de 1850, por exemplo, acentuou essa concentração fundiária ao restringir as possibilidades de aquisição de terras aos sesmeiros, concentrando as propriedades entre latifundiários do país -, as quais introduziram as disparidades na distribuição de terras e, posteriormente, na concepção mercadológica da terra65. Um dos reflexos desse histórico da formação da propriedade privada, concentração e utilização da terra durante a história é a atual situação na qual se encontra a estrutura fundiária brasileira. As propriedades rurais com menos de 25 hectares representam menos de 7% da área ocupada no Brasil, enquanto as propriedades com mais de 1000 hectares que representam 1,6% dos imóveis cadastrados no INCRA possuem 43,8% da área total ocupada, ou seja, quase a metade do total. Se for considerar a caracterização mais tradicional cujas propriedades com menos de 200 ha são consideradas pequenas, essa desigualdade torna-se ainda mais gritante, pois 91,9% nessas condições possuíam, em 2003, somente 29,1% da área total registrada no cadastro do INCRA66. Os avanços das transformações capitalistas na agricultura, somado à manutenção de políticas governamentais em favor das grandes propriedades e consequente detrimento dos 65 FURTADO, Celso. Brasil: a construção interrompida. São Paulo: Paz e Terra, 1992. OLIVEIRA, A. U. de; STÉDILE, J.P.; AGRÁRIA, Fórum Nacional de Reforma. O agronegócio x a agricultura familiar e a reforma agrária. Brasília: Secretaria Operativa, 2004. 103p. 66 23 pequenos estabelecimentos, foram elementos preponderantes para a intensificação da concentração fundiária no Brasil. Outro fator contribuinte à concentração de propriedades é a aquisição de terras com fins especulativos, ou seja, os estabelecimentos passaram a ser demandados, não para atividades produtivas, mas como fundo de reserva e proteção aos ataques inflacionários67. 7.2 Concepção dialética entre o processo de formação e fundação do MST e o contexto econômico e político no Brasil Em resposta a esse quadro de extrema concentração de terras no país, as camponesas e camponeses iniciaram ações reivindicatórias, organizando-se, primeiramente, nas Ligas Camponesas que, criadas em 1945, reprimidas e destruídas em 1947, ressurgiram em 1954, sendo extintas pelo golpe militar de 1964. O período da ditadura militar foi crucial no sentido de reafirmar esse poder político da classe latifundiária68. Nesse sentido, Miguel Carter expõe que: No mesmo ano do golpe militar, o novo governo elaborou o Estatuto da Terra. Essa foi a primeira lei de reforma agrária na história do Brasil. O objetivo do governo não era aplicar a lei, mas, sim, controlar os conflitos por terra. Sua política agrícola tinha como referência o modelo da denominada “revolução verde” 69, baseado na modernização técnica da agricultura. Essa modelo considerava somente a expansão agrícola, sem contemplar a agricultura camponesa. O governo militar tentou minimizar os conflitos de terra com a implantação de projetos de colonização na Amazônia, mas essa política de fomentar a migração camponesa não diminuiu os conflitos por terra nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do país. Desde deu início, o regime militar reprimiu com violêcia as ações dos trabalhadores e trabalhadoras que reinvidicaram seus direitos, como acesso à terra e melhores condições de trabalho 70. 67 ALCANTARA, José Luiz; FONTE, Rosa Maria. A formação da propriedade e a concentração de terras no Brasil. Disponível em: <http://www.ufjf.br/heera/files/2009/11/ESTRUTURA-FUNDI%C3%81RIA-ze-luisparapdf.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2014. 68 CARTER, Miguel. Combatendo a desigualdade social: O MST ea reforma agrária no Brasil. São Paulo: Editora UNESP, 2010. 69 Conceitualmente, a Revolução Verde é considerada como a difusão de tecnologias agrícolas que permitiram um aumento considerável na produção, sobretudo em países menos desenvolvidos, que ocorreu principalmente entre 1960 e 1970, a partir da modernização das técnicas utilizadas. Embora tenha surgido com a promessa de acabar com a fome mundial, não se pode negar que essa revolução trouxe inúmeros impactos sociais e ambientais negativos. Além de não ter resolvido os problemas nutricional e da fome, a Revolução Verde também é reconhecida por aumentar a concentração fundiária e a dependência de sementes, alterando a cultura dos pequenos proprietários que encontraram dificuldades para se inserir nos novos moldes. A concentração da posse da terra e o decorrente êxodo rural causaram um inchaço das cidades, levando a uma favelização nunca vista. Houve uma transferência do lucro decorrente da atividade agrícola para a agroindústria, deixando o produtor rural com uma estreita margem, levando ao seu endividamento. 70 CARTER, Miguel. Combatendo a desigualdade social: O MST e a reforma agrária no Brasil. São Paulo: Editora UNESP, 2010. 24 Em meados da década de 1960, as Ligas Camponesas e os sindicatos de trabalhadores(as) rurais protagonizaram conflitos e lutas sociais no ambiente rural71. Entretanto, essas lutas adquiriam pouca visibilidade perante o poder político, pois o governo liberal do início da década embora pautando a Reforma Agrária de maneira a torná-la parte da plataforma de governo, contrariamente, mobilizava o aparato de repressão do Estado aos líderes dos movimentos rurais os quais se articulavam para reivindicação da tal reforma. O argumento para a criminalização dos movimentos e militantes nele envolvidos era o de evitar uma revolução socialista aos moldes da Revolução Cubana, disseminando a falsa afirmação de que haviam infiltrados nos sindicatos e movimentos72. O regime de exceção e o período ditatorial instaurado no Brasil foi uma resposta dos setores conservadores aos movimentos populares que se insurgiam na época. Dessa forma, os movimentos rurais foram praticamente eliminados por violenta repressão pelo aparato militar estatal. Contribuiu para a ascensão do regime militar no país o posicionamento do presidente João Goulart, que apresentou o programa de Reforma Agrária, numa demonstração de enfrentamento à estrutura agrária concentrada e segregante. Na segunda metade da década de setenta, setores progressistas da Igreja Católica passaram a defender abertamente a reforma agrária, criando a Comissão Pastoral da Terra - CPT, culminando, em julho de 1979, com a ocupação de duas fazendas de propriedade do poder público federal, contando com a presença de 23 famílias, construindo um acampamento73. Sobre esses acampamentos, Fernando Alves: Os acampamentos formados por sem-terra no final da década de setenta recebiam apoio de grupos religiosos e comunidades locais, mas eram sucessivamente vítimas da ação de pistoleiros contratados por grandes proprietários de terras ou mesmo pela ação truculenta da polícia ou dos militares. Ocorre que, nesse período, o país vivenciou a derrocada do modelo econômico implantado pelo governo militar no início da década, apelidado de “milagre brasileiro”. Com o aumento do desemprego, o surto inflacionário e a intensa concentração de renda, as ocupações de terra aumentaram progressivamente, resultando na mobilização da opinião pública em prol 71 DEW, Edward. Samba revolucionário: a revolta agrária que quase todo mundo apoia. In: PEDLOWSKI, Marcos A. OLIVEIRA, Julio Cezar, KURY, Karla Aguiar. Descontruindo o latifúndio: a saga da reforma agrária no norte fluminense. Rio de Janeiro: Apicuri, 2011, p. 58. 72 ALVES, Fernando Antonio. Entre as FARC o MST, entre a violência no campo o Estado policial na América Latina: Aspectos distintos de conflitos agrários históricos no Brasil e Colombia. Memorias. Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, v. 9, n. 17, p. 303-339, 2012. 73 Idem, p. 59. 25 da reforma agrária, driblando a censura estabelecida pelos meios de comunicação desde o golpe de 196474. Na década de 1980, iniciou-se o processo de democratização no país e, após 20 anos de regime militar, a democracia começa a se restaurar. Esse processo coincide com a fundação do MST, na cidade de Cascavel-PR, em 1984. O encontro foi promovido por representantes da CPT, membros da Igreja Católica, bem como de outras igrejas cristãs, evangélicas ou pentecostais. Esses setores da comunidade rural já vinham, desde meados da década de 1970, promovido ações organizadas, porém, sem uma orientação e dirigência unitárias, de forma tímida e pontual. Surgiu, então, a necessidade de criação de uma organização social que pautasse a questão agrária e mobilizasse os trabalhadores e trabalhadoras rurais num projeto de reforma agrária para o Brasil, engavetada durante os governos militares dos anos anteriores. Dessa forma, quando de seu surgimento, o MST era uma organização cujas lideranças foram egressas do meio religioso, mas com uma base social essencialmente laica, formada tanto por trabalhadores(as) rurais, como por desempregados(as)75. Ainda segundo Edward Dew, o slogan oficial do movimento: “ocupar, resistir e produzir”, começou a ser utilizado já nesse momento de fundação. Por causa do momento histórico em que se deu a criação do MST, o movimento foi apoiado por ampla parcela da população, ávida pela instauração de um governo civil democrático e simpatizante de reivindicações de cunho social. 7.3 Uma visão crítica: o MST e a legitimidade de suas ações Entretanto, embora seja incontestável a histórica concentração de terras no modelo fundário brasileiro e a necessidade de uma transformação estrutural de modo a redistribuí-las entre as pessoas sem terra para morar ou para produzir, há opiniões no sentido de não considerar o MST legítimo. Cabe ressaltar a importância de o(a) delegado(a) fazer a contraposição de ideias para a promoção de um conhecimento crítico acerca da problemática. 74 ALVES, Fernando Antonio. Entre as FARC o MST, entre a violência no campo o Estado policial na América Latina: Aspectos distintos de conflitos agrários históricos no Brasil e Colombia. Memorias. Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, v. 9, n. 17, p. 303-339, 2012. 26 De acordo com Sérgio Sauer76, o MST vem sendo vítima de muitos tipos de acusações, as quais gravitam em torno de três aspectos centrais: a) ilegalidade (Thums, 2008)77, pela não existência de um registro formal; b) falta de legitimidade (Navarro, 2008), porque a luta pela terra seria uma luta extemporânea e, c) violência (Lupion, 2005; Sciarra, 2008)78, porque a principal forma de luta (ocupação) seria uma violação do direito de propriedade. Para Navarro, o MST deixou de ser um movimento social e tornou-se uma organização do sistema político, com “estruturas formais, normas de funcionamento, carreiras, plano de salários, mecanismos decisórios, setores diversos”79. Além disso, entende ser a Reforma Agrária, uma das principais pautas do MST na década de 1980, uma reivindicação materialmente impossível de ser concretizada desde o a década de 1960. Em contrapartida, ele entende que o Movimento é essencial para a consolidação da luta pela terra em detrimento à inércia na situação de extrema concentração fundiária no país: Cito, em particular, aquela que considero a maior vitória da organização nos anos recentes: uma reversão da correlação de forças no campo, na maior parte das regiões rurais brasileiras. Ou seja, se grandes proprietários de terra foram os “donos do poder” em ambientes agrários no passado, imunes e impunes, desde sempre, à ação do Estado e suas políticas e, particularmente, à ação da Justiça, esta situação modificou-se nitidamente em muitas regiões. A democratização brasileira e o crescimento do MST e suas ações permitiram esta radical e extraordinária mudança nas relações políticas entre as classes no meio rural brasileiro: atualmente, praticamente em todo o território nacional, não existe um proprietário de terras sequer que esteja protegido da ação de pressão do Movimento, caso este decida conquistar uma propriedade específica 80. Sobre o entendimento de Lupion, há dois desdobramentos. Primeiramente, sobre a ocupação como violação do direito de propriedade. É importante o(a) delegado(a) atentar-se para as legislações da época da simulação, em especial aos direitos conferidos pela Constrituição brasileira vigente à época, para entender como se dava a proteção à propriedade, ao o direito a uma moradia para sobreviver e produzir. Também é essencial entender como esses direitos eram considerados e delimitados dentro da comunidade internacional, notadamente no âmbito da Organização dos Estados Americanos. 76 SAUER, Sérgio. Políticas de Estado: disputa por recursos e criminalização dos movimentos sociais. Disponível em: <http://www.redesrurais.org.br/sites/default/files/Pol%C3%Adticas%20de%20Estado%20-%20Disputa%20por %20recursos%20e%20criminaliza%C3%A7%C3%A3o%20.pdf>. Acesso em: 01 abril. 2014. 77 THUMS, Procurador Gilberto. Relatório do processo administrativo nº. 16315-09.00/07-9, Conselho Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008 (mimeo). 78 LUPION, Dep. Abelardo. Voto em separado – CPMI da terra (substitutivo aprovado). Brasília, Congresso Nacional, novembro de 2005. 79 NAVARRO, Zander. Nunca cruzaremos este rio: a estranha associação entre o poder do atraso, a história lenta e a" sociologia militante", e o ocaso da reforma agrária no Brasil. Redes, v. 13, n. 2, p. 5-51, 2009. 80 Idem, p. 39. 27 O outro apontamento feito por Lupion diz respeito aos métodos utilizados pelo Movimento. O(a) delegado(a) não pode olvidar que, até 1984, os processos de ocupações não eram considerados violentos pela comunidade internacional. Porém, já se percebia uma inclinação à utilização de uma metodologia de ataque permeada por uma ideologia ascendente nesse momento no contexto da América Latina. A ideia de “violência revolucionária” permeou os movimentos da década de 1970 na America Latina e no mundo, encarada como “violência justa”, “violência de resposta”, “violência do oprimido contra o opressor”. Uma violência que não seria apenas um recurso extremado de defesa mas um ato valorizado em si próprio, um gesto construtor de identidade, um ato libertador. Embora não tenha sido instituída enquanto organização guerrilheira, alguns sociólogos entendem que há uma aproximação entre as ações violentas do MST e de movimentos guerrilheiros latinoamericanos, porquanto naquele também se permitia a utilização da violência, se necessário. Além disso, “surgiram dentro do contexto de segmentos sociais excluídos, que buscaram no campo, por meio da luta campesina, diversas formas de reivindicação de direitos que, em realidades sociais diversas, resultaram em formas distintas e graus diferenciados de emprego da força e violência no campo”.81 É imprescindível que o(a) delegada(o) entenda o esse processo de formação do MST, porquanto a simulação ocorrerá exatamente no ano da fundação oficial do Movimento, exatamente quando emergem na sociedade questionamentos discussões acerca de sua legitimidade. Essas discussões perpassam pela reflexão sobre em que medida outros movimentos latinoamericanos, os quais utilizavam métodos de guerrilha em seus enfrentamentos, influenciaram nesse processo de formação ideológica e metodológica do MST. 81 ALVES, Fernando Antonio. Entre as FARC o MST, entre a violência no campo o Estado policial na América Latina: Aspectos distintos de conflitos agrários históricos no Brasil e Colômbia. Memorias. Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, v. 9, n. 17, p. 303-339, 2012. 28 8 O CONTEXTO LATINOAMERICANO E OS MOVIMENTOS QUE ECLODIRAM APÓS AS DITADURAS MILITARES Como mencionado anteriormente, há uma grande semelhança histórica e ideológica entre os movimentos surgidos no campesinato de países da América Latina. Para que essa semelhança possa ser constatada, é necessário retomarmos o primeiro momento onde as histórias dos países latinos se interceptam, qual seja, os seus processos de colonização, os quais culminaram na submissão aos países colonizadores observada até os dias atuais. O povo se mostra, dessa forma, o maior atingido pelas práticas as quais os chamados “países ricos” possuem em relação aos “subdesenvolvidos”. Eduardo Galeano, grande estudioso das temáticas relacionadas ao povo latino americano, escreve seu livro “As veias abertas da América Latina” retratando, de maneira muito esclarecedora e completa, toda essa história de opressão. Aconselhamos à delegada e ao delegado, consultarem esse livro, no qual assevera no prefácio: É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos 82. Por isso, as histórias das lutas do povo latino se interceptam. Embora a pluralidade de pautas reivindicatórias, esses movimentos surgidos nas décadas de sessenta e setenta lutam pela mudança em questões - como a estrutura agrária e a (re)distribuição de terras - que remontam ao processo de colonização ao qual os países foram submetidos. Nesse sentido: Após sua independência do jugo colonial nos últimos séculos, as nações latinoamericanas presenciaram o predomínio de um processo de concentração progressiva da riqueza que levou a níveis acentuados de exclusão social. Nessa realidade, é tocante o quanto dessa crescente exclusão levou não apenas à desagregação social e ausência de integração formal de cidadãos ao mercado de trabalho, como também gerou sucessivos conflitos em áreas campesinas, resultando em inúmeros casos de violência, 82 GALEANO, Eduardo. AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971. 29 onde a repressão estatal encontrava-se presente83. (...) Em toda a América Latina, do México, passando pela Argentina e Colômbia, e chegando ao Brasil, uma legislação oriunda do período colonial levou a uma maior concentração de terras, levando ao surgimento de baldios, estâncias e mayoragos, como modelos exitosos de exploração agropecuária nos moldes de um Estado liberal-burguês, paulatinamente consolidado dentro de um sistema econômico ainda longe da industrialização, mas que já se baseava na forte produção fundiária como forma de acumulação de capital84. Embora a América Latina viva, hodiernamente, “um atual e permanentemente desejado momento inédito de predomínio de experiências políticas democráticas”85, os movimentos sociais que se pautam na luta por uma mudança estrutural na política agrária dos Estados ainda não conseguem êxito, tendo em vista que o aparato repressivo estatal e os próprios latifundiários investem constantemente com violência nas ações realizadas pelos grupos. Nesse aspecto, há uma divergência de opiniões: de um lado, a exposição midiática de que tais movimentos devem ser rechaçados por utilizarem-se de ações “radicais”, como queimar plantações ou utilizar tácticas de guerrilha; do outro lado, a indagação, de certa maneira até filosófica, a qual deve se manter constante para a formação de um senso crítico por parte da sociedade: a violência historicamente sofrida por esses grupos marginalizados legitima as suas ações revolucionárias armadas? Até que ponto? A violência contra as e os militantes desses movimentos pode ser justificada em nome do direito à propriedade de latifundiários? Esse direito pode ser relativizado? Em que medida? Os movimentos de esquerda constituídos entre as décadas de 1960 e 1970, utilizavam táticas de ação consideradas violentas, como instrumento legítimo de ação política. É o que Maria Paula Araújo, em seu artigo “Sociologia do narcotráfico na América Latina e a questão camponesa” entende como “violência revolucionária”, que, em alguns países latino-americanos se revelou como verdadeira luta armada, seja em resposta ao regime ditatorial instaurado, seja durante ou após o processo de redemocratização86. Para uma análise mais aprofundada sobre a relação da violência com a política e em que medida aquela é benéfica ou prejudicial à esta, recomenda-se à delegada e ao delegado a leitura do artigo supracitado. 84 Idem p. 305. Idem p. 310-311. 86 ARAÚJO, Maria Paula. Esquerdas, juventude e radicalidade na América Latina nos anos 1960 e 1970. FICO, Carlos et al. Ditadura e Democracia na América Latina: Balanço histórico e perspectivas, v. 1, p. 247-274, 2008. 85 30 As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) é um exemplo de organização a qual se utiliza dessa tática da “violência revolucionária” e é exatamente ai que aparece sua principal diferença com movimentos sociais como o MST. Comparando as duas organizações, novamente, trazemos as palavras esclarecedoras de Fernando Antonio: Ambos tem sua origem no campo, entre trabalhadores da zona rural, inconformados com sua condição social de excluídos do processo de produção pela ausência de reforma agrária e seu alijamento da produção agrícola, orientados por um programa doutrinário de inspiração marxista-leninista (…). Na Colômbia, a formação de seu segmento camponês em sua história agrária revela bem o modelo herdado de uma estrutura de distribuição da terra que passou a ser gerida por uma nascente, mas disfuncional economia capitalista: a concentração de terras sob a forma de latifúndios, dentro do esquema legal de legitimação do direito de propriedade burguês e por consequência uma rebeldia campesina contra essa forma de monopólio da terra e a exploração dela decorrente, mobilizando-se através da luta armada ou de ligas camponesas instituídas para resistir a forma de exploração87. Como se pode perceber, a relação entre a constituição social dos países – Colômbia e Brasil – são parecidas, de forma que há uma massa de trabalhadores e trabalhadoras rurais que não possui terrenos para subsistir; são, portanto, marginalizados(as). Por isso, se utilizam da mobilização social para atingirem mudanças, que, nos exemplos dados, referem-se, de maneira direta, à redistribuição de terras em seus países. O objetivo mediato, de certa forma indireto, é a conquista da libertação coletiva, pois alguém que não tenha um lugar para morar e plantar, não pode exercer plenamente sua liberdade. É possível que as mesmas comparações feitas entre essas duas organizações sejam estendidas às demais, na América Latina, que lutam pela redistribuição de terras. Afinal, a concentração de terras é um problema estruturalmente correlacionado com a história dos países, como já foi mencionado anteriormente. Os movimentos em apreço, pois, se aproximam quanto à origem, envolvendo os processos de suas fundações, perpassando pelos motivos ensejadores de suas lutas e pela forma que encontraram de se organizar. Entretanto, no que diz respeito às estratégias e aos instrumentos utilizados para alcançar seus objetivos, diferem bastante. Isso pode ser reflexo do 87 ALVES, Fernando Antonio. Entre as FARC o MST, entre a violência no campo o Estado policial na América Latina: Aspectos distintos de conflitos agrários históricos no Brasil e Colômbia. Memorias. Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, v. 9, n. 17, p. 303-339, 2012. 31 próprio contexto de cada país, que culminam em análises de conjuntura diferentes, e, portanto, em diferentes formas de ação. Além das diferenças no campo da atuação, também se deve observar divergências ideológicas. Dessarte, pode-se entender que as FARC foram fundadas com o objetivo de romper com a ordem vigente e superá-la através da revolução socialista, enquanto o MST não nasce com essa pretensão; contrariamente, almeja, por meio da reforma agrária, tornar os “sem-terra” também proprietários, o que significa a manutenção da propriedade privada e, consequentemente, do projeto capitalista: Em termos de desenvolvimento histórico, as FARC tiveram seu início nos movimentos agrários de ocupação desordenada de terras, devido ao atraso do Estado em estabelecer uma regulamentação do setor fundiário 88. A formação de latifúndios com a dominação expressa de setores mais bem aquinhoados da sociedade com a centralização de terras, produziu consequentes conflitos e litígios quanto à posse da terra e a necessidade de uma reforma agrária, o que muito se assemelha, inicialmente, ao processo político de se discutir alternativas para o campesino, como ocorreu na realidade brasileira desde a formação das Ligas Camponesas até o surgimento do MST. (...) No espectro ideológico, as diferenças entre as FARC e o MST também são acentuadas, tendo em vista que o primeiro grupo se estruturou enquanto uma organização guerrilheira, de caráter clandestino, à revelia da legalidade, dedicada ao combate, tendo como adversário principal o Estado; enquanto que o segundo surgiu como movimento social de reivindicação de direitos no marco da legalidade, que se armou paulatinamente devido aos embates e conflitos surgidos com a ocupação de terras, tendo como adversários principais os latifundiários e o Estado, na qualidade de tutor institucional do movimento89. Entendendo os paralelos traçados entre as duas organizações, passamos a abordar as FARC individualmente para a melhor compreensão acerca de sua estruturação e atuação. 88 PÉCAULT, Daniel. As FARC: uma guerrilha sem fins? São Paulo: Paz e Terra, 2006. ALVES, Fernando Antonio. Entre as FARC o MST, entre a violência no campo o Estado policial na América Latina: Aspectos distintos de conflitos agrários históricos no Brasil e Colômbia. Memorias. Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, v. 9, n. 17, p. 303-339, 2012. 89 32 9 MITOS E VERDADES ACERCA DAS FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COLÔMBIA (FARC) No sentido de se promover um debate maduro acerca das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), constitui-se indispensável tratar do contexto histórico que o mundo e, em especial, a Colômbia vivia em meados do século XX. O território colombiano é marcado, historicamente, pela disputa ideológica, política e social de dois partidos, os quais se alternavam no poder governamental desse país, quais sejam: o partido conservador e o partido liberal. O partido conservador formado pelos grandes latifundiários e seu rebanho de votantes, enquanto o partido liberal era formado por pequenos comerciantes, produtores rurais e uma classe intelectual calcado no lema francês de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Num contexto de intensa disputa política, os métodos de violência para alcançar o poder eram os mais efetivos, cite-se como exemplo, o estado de sítio declarado na Colômbia em 1949, quando iria ocorrer eleições para o congresso90. Os liberais se abstiveram de votar nessas eleições, em virtude dos constantes ataques realizados contra os adeptos desse partido, tanto no meio urbano, quanto rural. Reproduzimos a seguir um relato, neste período, de um combatente liberal camponês91: O clima de Ceilán era pesado, a tensão era imensa; as eleições de Laureano se aproximavam e nós, liberais, havíamos decidido não sair para votar porque estavam nos matando. Assim foi pior, porque quem não tivesse o comprovante de votação era liberal, em algumas partes como no norte do Vale, Quindío e Tolima, isso era um atestado de óbito. O Partido Liberal levou sua gente a converter-se em conservadores ou em defuntos. Escolhemos nos defender. Com a abstenção dos liberais na eleição de 1949, em 1950 havia quase uma hegemonia do partido conservador nas cadeiras das instituições políticas de poder, e neste panorama de incapacidade de atuação pelas vias ordinárias, muitos liberais se viram com uma única saída para combater a conservação da miséria, do autoritarismo e da pobreza, que era, justamente, a luta armada. 90 91 MOLANO, 2009: 25. MOLANO, 2009: 48. 33 Ressalte-se, por oportuno, que esse contexto de conflito descrito está habitado por uma população extremamente pobre, da qual, estima-se92, que entre 1948 e 1953 tenha morrido de 200 a 300 mil pessoas no país, além do número de migração no território colombiano ter sido aproximadamente três vezes maior que o número de mortos. Por conseguinte, foram sendo difundidos vários grupos paramilitares sob influência de integrantes do partido liberal e do partido comunista colombiano, como forma de resistência. Dentre os lideres liberais, se destaca a figura de Manuel Marulanda, conhecido por Tirofijo, que tem origem no partido liberal, mas após a atuação paramilitar de resistência recebe forte influência do PCC na forma de organização e atuação de seu grupo. Com o desmantelamento total do Estado Colombiano, tanto na ala do partido liberal, quanto no partido conservador, em face das divergências internas do partido e da guerra civil travada no país, em 1953 o governo sofre um golpe militar que perdura até 1957. Consecutivamente, os liberais e conservadores formaram uma coalizão, chamada Frente Nacional, através da qual ficou pactuado que essas classes se alternariam no poder, de modo que os movimentos sociais, as guerrilhas e milícias que já estavam marginalizadas, ficaram ainda mais distantes dos objetivos que buscavam, tais como representação política, a reforma agrária e a distribuição de renda. Neste escopo, expandiram-se os grupos paramilitares, principalmente a partir de ex membros do partido liberal, dissidentes desta legenda em face da união com o partido conservador. Dentre os grupos paramilitares de esquerda que surgiram, revela-se enquanto de maior relevância as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Acerca das FARC, vejamos93: Criada em 1964, pelo ex-combatente liberal Pedro Antonio Marín, também conhecido como Tirofijo, as Farc surgiu como um grupo de cunho marxistaleninista, atuando no meio rural e adotando táticas de guerrilha. Essa organização tem como discurso ideológico a implantação do socialismo na Colômbia, promovendo a distribuição igualitária de renda, a reforma agrária, o fim de governos corruptos e das relações políticas e econômicas com os Estados Unidos, entre outros aspectos sociais. O surgimento da organização remonta ao ataque do exército colombiano à região de Marquetália em 1964, na qual um grupo reduzido de camponeses resistiram ao ataque do 92 ALMANOVITZ, Salomón. El desarrollo histórico del campo colombiano. In: GONZÁLEZ, Melo, ORLANDO, Jorge (Org.). Colombia Hoy. Bogotá: Banco de la República, 2001. Disponível em: http://www.lablaa.org/blaavirtual/historia/colhoy/colo9.htm>. Acesso em: 20 out. 2006. Tradução própria. 93 FARC. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia/farc.htm> Acesso em: 06/04/2014. 34 poderoso exército colombiano, e se refugiaram na região em que se fundou o grupo de resistência mais antigo em ação da América Latina, senão94: A guerrilha de Marquetalia era, segundo vários autores, um grupo de camponeses reunido com sérios problemas como escassez de comida e deficiente em meios, com o propósito de autodefesa não configurando-se em uma República Independente, como o governo teria dito. O ataque do Exército colombiano a essa região em 27 de maio de 1964 acabou por criar o que posteriormente seria o mito fundacional das FARC, dando ao grupo motivos para continuar sua luta insurgente contra o governo autoritário. Tal ataque teria feito com que as autodefesas se tornassem guerrilhas móveis, unindo-se na chamada Frente Sur (ou Bloque Sur), constituído principalmente pelos grupos de Marquetalia, Río Chiquito, El Pato, Guayabero e 26 de Setiembre, entre outros. Tal grupo definiria melhor seus objetivos e estratégias na sua primeira conferência oficial em 1965, rebatizando o grupo na segunda conferência em 1966, como Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Desse modo, é possível extrair que as FARC surgiu num contexto de intensa exclusão social, em que significativa parcela da população colombiana se encontrava à margem de usufruir das riquezas produzidas no país. Ocorre que, apesar dos fins nobres objetivados pela guerrilha, é necessário que seja elaborada a devida crítica, através da qual caberá a você, delegado (a), extrair, refletir e amadurecer seu posicionamento acerca da temática. Nesta premissa é que se baseia este comitê, que irá expor dois lados opostos de um tema altamente controvertido, em que caberá ao delegado (a) produzir seu juízo de valor, através da pesquisa e do debate. Neste passo, no que tange à atuação das FARC, nota-se que o grupo utiliza de assaltos, seqüestros e do narcotráfico como forma de financiamento das suas atuações. Além disso, há a instituição de um regime interno hierarquizado verticalmente através dos diretórios, que representa uma contradição com a própria ideologia libertadora, que fundou o grupo. Acerca dos modos de atuação devemos transcrever o que segue95: A natureza combatente das FARC e a disputa entre os outros grupos paramilitares e guerrilheiros do país impedem algum tipo de julgamento preciso sobre os “verdadeiros” objetivos e práticas do grupo. No entanto ficam em evidência os seqüestros, mortes e pressões diplomáticas associadas ao grupo. Neste pensar, o grupo que utiliza da luta armada em nome da libertação e da justiça social, estabelece castas dentro de sua própria estrutura, o que implica em afirmar que seria um 94 LOPES, Júlio Cesar da Silva. FARC-EP: A imagem da guerrilha através de textos redigidos por guerrilheiros. Disponível em: <http://www.uel.br/grupopesquisa/gepal/primeirosimposio/completos/juliocesar.pdf.> Acesso em: 06 de abril de 2014. 95 FARC. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/historiageral/farc.htm>. Acesso em: 06 de abril de 2014. 35 método reproduzido na instância governamental, caso os revolucionários alcançassem seu objetivo de tomada de poder pela revolução. Isso, claramente, trata-se de mera previsão com base na crença do que ocorre hoje, não havendo obrigatória reprodução na realidade. A propósito, até Hugo Chavez, considerado por alguns extremamente radical, considerou que não há mais razão de existir as FARC enquanto grupo beligerante, afinal não contribuía para as causas sociais, mas, sim, as prejudicava imensamente96. Discussão também candente é a utilização da coca enquanto meio financiador da estrutura das FARC, que se insere, aliás, enquanto uma problemática de toda a Colômbia, que o narcotráfico financia desde guerrilhas a governos eleitos pelo voto. No entanto, o tráfico internacional de drogas não pode ser discutido unilateralmente com a visão tão somente no produtor, mas também na ótica dos problemas dos países consumidores. Fator de análise que é relegado a segundo (ou último) plano pelos Estados Unidos, por exemplo. Afinal, são os maiores consumidores de cocaína do mundo e estabeleceram, com o fim de combater a produção da coca, o Plano Colômbia em 200097, sem, no entanto, fazer uma análise apurada da problemática dentro de seu território. Nesta perspectiva, anuncia, na literatura genial e crítica, Gabriel Garcia Marquez98: Há pouco tempo estive com um grupo de jornalistas norte-americanos numa pequena meseta, que não teria mais que três ou quatro hectares semeados de amapolas. Fizeram uma demonstração para a gente: fumigação de helicópteros, fumigações de aviões. Na terceira passagem de helicópteros e aviões, calculamos que aquilo tudo custava mais do que nos custava o terreno. É desanimador saber que assim ninguém conseguirá combater o narcotráfico. Eu disse a alguns jornalistas norte-americanos que estavam conosco que aquela fumigação deveria começar pela ilha de Manhattan e pela prefeitura de Washington. Também recriminei o fato de eles – e o mundo – saberem como é o problema da droga na Colômbia – como é semeada, como é processada, como é exportada – porque nós, jornalistas colombianos, investigamos, publicamos e divulgamos pelo mundo. Muitos, inclusive, pagaram com a vida. Mas nenhum jornalista norte-americano se deu ao trabalho de nos dizer como é a entrada da droga nos Estados Unidos, e como é a sua distribuição e a sua comercialização interna. Há necessidade, que no enfrentamento da temática, seja exercitado o método mais intrínseco ao pensamento democrático, através da exposição de dois posicionamentos e A história das FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Disponível em: <http://www.comunistas.spruz.com/pt/A-Historia-das-FARC/blog.htm>. Acesso em 06 de abril de 2014. 97 A História das FARC – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Disponível em: <http://www.comunistas.spruz.com/pt/A-Historia-das-FARC/blog.htm>. Acesso em: 06 de abril de 2014 98 MARQUEZ, Gabriel Garcia. Eu Não Vim Fazer um Discurso. 2ª Ed. Trad. Eric Nepomuceno. Editora Record. Rio de Janeiro. 2011, p. 80. 96 36 realidades, para a, consecutiva, resolução multilateral da problemática. A esse desafio é que são convidados os delegados (as) da OEA. Portanto, a este guia é o que cabe inferir acerca da Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, devendo o leitor destrinchar e refletir acerca dos conceitos aqui expostos, para propor uma classificação deste grupo paramilitar, já que a comunidade internacional diverge entre movimento social, grupo político, grupo de resistência, movimento terrorista, narcotraficantes e mais uma infinidade de nomenclaturas que exprimem a indicação ideológica de quem está classificando-o. 37 10 POSICIONAMENTO DOS ESTADOS MEMBROS DA OEA EM 1984 CONTEXTO DOS PAÍSES EM 1984 BARBADOS99 Fazendo fronteira com o mar do Caribe e o Oceano Atlântico, Barbados é a ilha mais oriental do arquipélago caribenho, e tem como capital a cidade de Bridgetown. Seus primeiros habitantes foram indígenas vindos da Venezuela, mas sua descoberta está registrada no ano de 1536, atribuída a portugueses100. Contudo, em 1627, ingleses se estabelecem na ilha e começam a fomentar a economia do cultivo açucareiro, utilizando mão-de-obra escrava africana. Apesar do domínio britânico de fato, este tornou-se de direito em 1663, quando Barbados passa a ser considerada, oficialmente, posse da coroa britânica. O período subsequente foi marcado pela exploração econômica dos recursos naturais da ilha, mas os avanços foram chegando tímidos e lentos para a população: em 1834 a escravidão é abolida, e em 1951 o sufrágio universal adulto é introduzido na colônia101. Apesar destes importantes marcos, apenas dez anos depois da introdução do voto, em 1961, lhe foi concedida autonomia interna por parte da Grã-Bretanha. Sua independência chegaria cinco anos depois, em 1966. Em 1983, Barbados dá suporte à invasão estadunidense em Granada102. Pode-se inferir que a democracia é recente, visto que se deu há apenas 18 anos. Há de se falar, atualmente, num quadro de estabilidade política, que está se mantendo desde a independência da ilha. No que concerne à economia do país, continua sendo predominantemente agrícola, tendo 60% do seu foco no açúcar, principal produto de exportação. Seus parceiros econômicos 99 BARBADOS, Invest. Sobre Barbados. 1999. Disponível <http://www.investbarbados.org/about_bb_pt.php?setlanguage=pt>. Acesso em: 06 abr. 2014. 100 NEWS, Bbc. Timeline: Barbados. 2012. Disponível <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1154227.stm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 101 Idem 102 Idem 38 em: em: mais assíduos são os Estados Unidos da América, o Reino Unido, a Jamaica e Trinidad e Tobago103. REPÚBLICA DOMINICANA104 Descoberta pelo irmão de Cristóvão Colombo, Bartolomeu Colombo, em 1496, a República Dominicana – inicialmente chamada de Hispaniola (ou “Pequena Espanha”) - tem a capital mais antiga das Américas: Santo Domingo, a primeira “cidade europeia” no Novo Mundo. Sua parte oeste, à época, antes da divisão em dois países, correspondia ao atual Haiti, que foi separado e teve seu processo de independência ainda nos primeiros séculos de existência da nação. As disputas entre Haiti e República Dominicana tem seu cessar em 1844, quando Santo Domingo volta a ser de domínio da República, já que havia sido anexada por tropas haitianas em 1822. A total autonomia do país só chegou em 1865105. Marco histórico-político importante deste Estado foi a ditadura de Rafael Leonidas Trujillo Molina, com duração de 1930 a 1961, finda com o assassinato de seu líder. O mandato de Trujillo foi marcado pelo trabalho dos intelectuais do país em prol de sua imagem, bem como pela total brutalidade com que costumava tratava seus inimigos políticos – ordenando assassinatos dentro e fora da nação -, além da miséria que se instalou na República Dominicana devido à concentração da renda em suas mãos: chegou a se estimar que um total de 70% das terras do país estavam em nome de sua família106. O ego do ditador era característica tão marcante de sua personalidade que, por um tempo, Santo Domingo – capital do país – passou a ser chamada “Ciudad Trujillo”. O fim do governo de Rafael Leonidas se deu em 1961, supostamente com intervenção estadunidense. Apesar de se desconfiar do envolvimento norte-americano na morte do ditador, os Estados Unidos o teriam como ícone e modelo de um governo anticomunista nas Américas. Após a morte de Trujillo, em 1962, foi eleito novo presidente na primeira eleição democrática das passadas quatro décadas. Contudo, no ano seguinte, o presidente eleito – Juan Bosch – foi 103 INFOPÉDIA. Barbados. 2003. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/$barbados;jsessionid=xVhuQYUa8bsyLtZlT4sAzQ__>. Acesso em: 06 abr. 2014. 104 ESCOLA, Brasil. República Dominicana. 2010. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia-da-america/historia-republica-dominicana.htm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 105 NEWS, Bbc. Timeline: Dominican Republic. 2012. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/1217771.stm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 106 ALTMAN, Max. Hoje na História: 1844 - República Dominicana obtém independência do Haiti. 2013. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/27423/hoje+na+historia+1844++republica+dominicana+obtem+independencia+do+haiti.shtml>. Acesso em: 06 abr. 2014. 39 deposto por um golpe militar estadunidense, que viu seu fim apenas em 1966, quando foi eleito, portanto, Joaquín Balaguer, sendo este o marco inicial do retorno definitivo à democracia107. Esta, portanto, é ainda “recém-nascida” no Estado da República Dominicana. DOMINICA108 Dominica foi descoberta por Cristóvão Colombo em 1493, e foi por ele batizada. A ilha, que tem como capital a cidade de Rouseau e localiza-se no arquipélago das Pequenas Antilhas, sofreu tentativas de colonização tanto de ingleses quanto por parte dos franceses, ambos encontrando forte resistência indígena quando de suas investidas (em 1627 e 1635, respectivamente). Em 1660, França e Inglaterra decidem abandonar a ilha, visto a sua dificuldade de gerência109. Foi em 1763 apenas que a Grã-Bretanha volta à Dominica, fincando o seu poder e estabelecendo uma assembleia legislativa que representava apenas a população branca daquele país. Em 1831, os direitos sociais e políticos foram concedidos à população negra da ilha, tendo sido abolida a escravidão três anos depois disso110. Apesar desses avanços, o progresso político de Dominica como nação independente foi lento e atrasado, encontrando a sua total independência da coroa britânica tardiamente, em 1978, sendo considerada uma democracia ainda recente. Em 1983, as tropas da ilha também apoiaram os Estados Unidos da América na invasão à Granada111. A economia do país é fortemente vinculada à agricultura, sendo a banana o principal produto112. GUATEMALA113 107 VILLALONA, Augusto Sención. LA DICTADURA DE TRUJILLO (1930-1961). 2012. Disponível em: <http://www.agn.gov.do/sites/default/files/publicaciones/historia_la_dictadura_de_trujillo_ok.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2014. 108 WIKIPÉDIA. Dominica. 2013. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dominica>. Acesso em: 06 abr. 2014. 109 EDGE, Global. Dominica: history. 2012. Disponível em: <http://globaledge.msu.edu/countries/dominica/history>. Acesso em: 06 abr. 2014. 110 Idem 111 NEWS, Bbc. Timeline: dominica. 2012. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1166512.stm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 112 ESCOLA, Brasil. Dominica. 2013. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/dominica.htm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 113 WIKIPÉDIA. Guatemala. 2013. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Guatemala&action=history>. Acesso em: 06 abr. 2014. 40 Terceiro maior país da América Central, dono de belíssimas paisagens e ruínas da Civilização Maia, a Guatemala teve o início de sua história registrado em 1523 e 1524, quando o espanhol Pedro de Alvarado derrotou os indígenas locais e transformou o país em uma colônia espanhola. A independência da Espanha só aconteceu em 1821, sendo seguida por uma anexação ao império mexicano apenas um ano depois114. A total autonomia, portanto, não foi quando do desvencilhamento do domínio espanhol, mas sim do mexicano, 16 anos após a sua anexação. A história política da Guatemala se inicia, com mais ênfase, no ano de 1844, com o governo ditatorial de Rafael Carrera, durando até 1865. Foi o início de uma fase em que se revezaram governos militares e civis, caracterizando uma certa instabilidade no país. Reformas sociais e democráticas começaram a surgir, contudo, em 1944, tendo seu marco principal no governo de Jacobo Arbenz115. Arbenz ameaçou utilizar terras da United Fruit Company para fins de reforma agrária, o que acabou levando a um golpe estadunidense para tirá-lo do poder116. Em 1954, com ajuda dos Estados Unidos, Carlos Castillo subiu à presidência, preparando terreno para o que viria a se tornar uma longa guerra civil, iniciada em 1960 e ainda vigente no país. A violação aos direitos humanos tem seu maior registro na década de 1970, quando o presidente à época – Carlos Arena – inicia uma verdadeira caça aos partidários de esquerda, chegando ao assustador número de 50.000 mortos. Além do distúrbio político, a Guatemala também foi atingida por tragédias naturais, agravando ainda mais o quadro do país: um terremoto atingiu o território em 1976, deixando 27.000 óbitos e mais de um milhão de desabrigados117. Os absurdos continuam a acontecer na nação, sendo o mais recente registrado em 1982, quando houve campanha para genocídio dos indígenas Maias, acusados de apoiar insurgentes contra o governo118. Sendo assim, infere-se que o atual contexto na Guatemala é de total insegurança para com a sua população, estando em pleno vapor uma guerra civil iniciada com 114 NEWS, Bbc. Timeline: Guatemala. 2012. Disponível <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1215811.stm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 115 Idem. 116 WIKIPÉDIA. Jacobo Arbenz Guzmán. 2013. Disponível <http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacobo_Arbenz_Guzmán>. Acesso em: 06 abr. 2014. 117 NEWS, Bbc. Timeline: Guatemala. 2012. Disponível <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1215811.stm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 118 Idem 41 em: em: em: apoio dos Estados Unidos, que não tinham interesse nas políticas de reforma social e democrática que marcaram alguns anos das décadas de 1940-50. PANAMÁ119 Localizado na extremidade inferior da América Central, o Panamá guarda uma das mais preciosas rotas marítimas: a ligação do Oceano Atlântico com o Pacífico, formando o Canal do Panamá, visado internacionalmente – principalmente pelos Estados Unidos da América – pois lá passam milhares de embarcações por ano. O país foi visitado primeiramente em 1502, pelo explorador espanhol Rodrigo de Bastidas, que lá encontrou diversas tribos indígenas habitantes. O processo de independência do Panamá sempre foi muito conturbado, pois por trás da intenção do país, sempre havia os interesses alheios na rota marítima. Contudo, conseguiu se desvincular da Colômbia em 1903, com a ajuda estadunidense. Em troca, o poderio norteamericano vigoraria no Canal do Panamá. Apenas em 1977 os Estados Unidos concordaram em estipular um prazo para devolução do Canal ao controle panamenho: 31 de dezembro de 1999. A trajetória política do país foi marcada principalmente pelo governo do comandante da Guarda Nacional, Omar Torrijos, que durou de 1968 até 1981 – ano de sua morte -, o qual outorgou uma Constituição em 1972. O regime tentou diversificar a economia do país e desvencilhá-la dos ditames estadunidenses, gerando uma maior autonomia, o que causou conflitos e tensões entre as duas nações. A economia do país é fortemente dependente do Canal do Panamá, mas diversifica-se aos poucos com a indústria, a agropecuária e a pesca. BRASIL O Brasil em 1984 estava muito próximo à porta de saída da ditadura civil militar que havia sido instaurada no país há vinte anos. Como foi demonstrado em capítulo anterior, na exposição das motivações e características da ditadura, o Brasil estava sendo governado por um 119 ESCOLA, Brasil. Panamá. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia-da-america/historiapanama.htm>. Acesso em: 06 abr. 2014. 42 regime autoritário, mas que, em 84, já não mostrava forças, nem adesão popular, para sobreviver. Foi o ano em que as grandes manifestações populares ocorreram no país em nome das “Diretas Já”, buscando a possibilidade do povo escolher novamente seu presidente. Neste ano também estava surgindo no país grandes movimentos sociais, tais como o Movimento dos Sem Terra, maior movimento popular da história do nosso país. Há de se ressaltar que apesar das grandes manifestações, a campanha “Diretas Já” foi derrotada por vinte votos no Congresso Nacional. Estando o Congresso fortemente rodeado por tanques, soldados e fuzis, numa imagem que sintetiza a conturbação ideológica que vivia o país. Estava por um lado, em busca das diretas e da democracia e por outro, ainda dominado pelo governo militar de cunho autoritário. Embora derrotados, os movimentos sociais demonstraram que sopravam novos tempos naquele Brasil de 1984, com inúmeros desafios pela frente, dentre os quais, a inserção dos movimentos sociais na legalidade e a discussão honesta acerca da legitimidade da atuação desses movimentos. Neste contexto, pedimos licença para usar o lúdico como forma de explicação daquela realidade brasileira de 1984, que vivia com os pés na ditadura e o coração na democracia, através do poema de Eduardo Alves da Costa: NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSK (...) Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror. Os humildes baixam a cerviz: e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir. Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras. Mal sabe a criança dizer mãe 43 e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne aparecer no balcão. Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais. Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio. Mas no tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo. Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós. Dizem-nos que é preciso defender nossos lares, mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados. E por temor eu me calo. Por temor, aceito a condição de falso democrata e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores. Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA! NICARÁGUA Durante quarenta anos a família Somoza manteve-se à frente de um regime ditatorial, sustentando os próprios interesses comerciais e aumentando a fortuna pessoal. Os oponentes pertenciam à Frente Sandinista, uma organização fundada em 1962 cujo nome homenageia Augusto Sandino, guerrilheiro executado em 1934. Em janeiro de 1978, o líder oposicionista Pedro Joaquín Chamorro, foi assassinado. O presidente foi acusado de cumplicidade e o conflito tomou proporções de guerra civil. Em 22 de agosto de 1978, sandinistas tomaram o Palácio Nacional, em Manágua, e mais de mil reféns. 44 Somoza teve que atender às exigências dos guerrilheiros e, em 17 de julho de 1979, os rebeldes o forçam a renunciar. A guerra civil matou mais de trinta mil, além de ter provocado o desmantelamento da economia do país. Assumiu o poder a Junta de Reconstrução Nacional provisória. A Junta de Reconstrução Nacional dissolveu o Congresso, substituiu a Guarda Nacional pelo Exército Popular Sandinista e revogou a Constituição. Os Norte- Americanos se opuseram a esta política protecionista e nacionalista, e começaram a apoiar um movimento guerrilheiro anti-sandinista. A década de 1980 foi marcada pela intensificação dos conflitos entre o governo de orientação sandinista e os contras. Minas e florestas foram nacionalizadas e as relações com os EUA se deterioraram. O resultado foi uma maior radicalização do regime.120 BAHAMAS Em agosto de 1940 o Duque de Windsor foi instalado como governador das Bahamas, chegando com sua esposa, a Duquesa. Apesar disso, o desenvolvimento político da região começou tão comente após a Segunda Guerra Mundial. Os primeiros partidos políticos foram formados na década de 1950. O Parlamento britânico autorizou as ilhas a se tornarem autogovernados internamente em 1964, com Sir Roland Symonette, do Estado das Bahamas, como o primeiro-ministro. Em 1973, as Bahamas tornou-se independente, se classificando como um reino da Commonwealth, a partir da adesão à Commonwealth of Nations. Sir Milo Butler foi nomeado o primeiro governador-geral das Bahamas (o representante oficial da Rainha Elizabeth II), logo após a independência. GRANADA Tornou-se estado independente em 1974. Em 1979, um golpe de Estado de inspiração marxista levou ao poder Maurice Bishop, que estreitou os laços com Cuba e a União Soviética. No ano de 1983, em virtude de uma cisão no grupo governante, houve uma insurreição dirigida pelo general Hudson Austin, que possibilitou a execução de Bishop e a intervenção 120 Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.com/historia/nicaragua-guarda-nacional.htm>. Acesso em: 06 de abril de 2014. 45 militar conjunta dos Estados Unidos e de países pertencentes à Organização dos Estados do Caribe Oriental. As tropas cubanas que haviam ajudado o regime anterior foram evacuadas. O Novo Partido Nacional, encabeçado por Herbert Blaize, ganhou as eleições de 1984 e, ano seguinte, os Estados Unidos retiraram suas tropas. ARGENTINA A ditadura militar na Argentina ocorreu no período de 1966 a 1973. Nos primeiros dias do primeiro ano da ditadura argentina, já se registrava um assassinato político a cada cinco horas, e a cada três, explodia uma bomba. Ao longo do ano, haviam se contabilizado, oficialmente, 62 mortes decorrentes da violência política. A maior parte delas, provocada por grupos paramilitares que percorriam as ruas brandindo suas armas diante do olhar aterrorizado dos transeuntes e do silêncio cúmplice das autoridades. 121 Outra questão diz respeito às crianças que foram ilegalmente entregues à adoção para famílias simpatizantes da ditadura. O direito à identidade faz parte da Convenção sobre os Direitos das Crianças122, das Nações Unidas, e que foi ratificada pela Argentina. Portanto, há uma obrigação internacional do Estado Argentino de informar aos adultos de hoje sobre seu passado, e, pela negação desta obrigação, poderá o país ser responsabilizado internacionalmente. Durante a ditadura, uma guerrilha armada urbana peronista chamada Montoneros, organização fundada na década de 1970, travava lutas em resistência da ditadura de Lanusse, para preparar a volta de Perón ao poder, após o fim da Ditadura em 1973. Os movimentos vinculados à via campesina na Argentina - Movimiento Campesino de Santiago del Estero (MOCASE) e o Movimiento Nacional Campesino e Indígena (MNC)123 - se organizam a partir da década de 1990. Porém, é importante ressaltar que as suas origens estão historicamente vinculados a setores do Partido Revolucionário dos Trabalhadores, o qual fazia resistência à 121 PALERMO, Vicente. Ditadura Militar Argentina 1976-1983: Do Golpe de Estado à Restauração Democrática. Vol. 7. São Paulo: EdUSP, 2007. 122 Artigo 8º: 1. Os Estados Partes se comprometem a respeitar o direito da criança de preservar sua identidade, inclusive a nacionalidade, o nome e as relações familiares, de acordo com a lei, sem interferências ilícitas. 2. Quando uma criança se vir privada ilegalmente de algum ou de todos os elementos que configuram sua identidade, os Estados Partes deverão prestar assistência e proteção adequadas com vistas a restabelecer rapidamente sua identidade. 123 MOVIMENTO NACIONAL CAMPESINO INDIGENA. Disponível em: <http://agenciapacourondo.com.ar/secciones/sociedad/8902-movimiento-nacional-campesino-indigena-mnciorigen-herencias-historia.html>. Acesso em: 15 mar. 2014. 46 Ditadura Militar – entre 1970 e 1979 - em vários aspectos, dentre eles, a questão agrária. O MST esteve envolvido na constituição desses movimentos. BOLÍVIA Os governos militares da Bolívia se estenderam de 1964 a 1982. Movimentos guerrilheiros que se organizavam nos Andes bolivianos tornaram-se alvo dos militares liderados pelo então presidente Renée Barrientos. Mas foi no governo de Hugo Banzer Suarez que a repressão às guerrilhas e aos movimentos124 foi intensificada. O regime de Banzer125 rapidamente se transformou de uma posição relativamente moderada à uma posição de maior repressão: abolindo o movimento trabalhista, suspendendo todos os direitos civis e enviando tropas para os centros de mineração. Em 28 de outubro de 1982 o presidente Suazo assinou o Decreto Supremo nº 241 que criou a Comissão Nacional de Inquérito sobre os Desaparecimentos (Comisión Nacional de Investigación de Desaparecidos), que concentrou seus trabalhos justamente neste período de ditadura. A Comissão foi a primeira comissão da verdade a ser criada na América Latina. Ela recebeu informações sobre 155 desaparecimentos126. COLÔMBIA Em 1849, são compostos os dois partidos políticos da Colômbia: o Conservador e o Liberal. Denominada Guerra dos Mil Dias, a guerra civil em 1899, foi causada basicamente, pelo tensionamento entre eles, tendo fim em 1903. Posteriormente, foi instaurado um período relativamente apaziguado. Em 1948, o assassinato do líder liberal Jorge Eliecer Gaitán, culminou novamente na rivalidade entre liberais e conservadores. Em Bogotá essa violência teve início, se estendendo por todo o território colombiano, causando muitas mortes. O Golpe Militar na Colômbia se instaurou em 1953, o qual foi o único golpe militar da história do país, porquanto os partidos tinham sobre as diversas instituições do Estado um controle rigoroso, de forma que as Forças Armadas não tinham liberdade de se movimentarem. Esse golpe, o qual foi culminado pelas tensões constantes entre os dois partidos (conservador e 124 REIS, Filho; AARÃO, Daniel. Ditadura militar, esquerdas e sociedade. Zahar, 2000. GIL, Aldo Duran. Regime Militar e Estado Boliviano: balanço bibliográfico e perspectivas analíticas1. Temáticas, v. 8, n. 15-18, 2000. 126 MINIONU. Disponível em: <http://14minionuccdf.wordpress.com/2013/09/14/dossie-bolivia/>. Acesso em: 9 mar. 2014. 125 47 liberal), instaura a ditadura de Rojas Pinilla. Entretanto, já em 1957 os partidos entram em um acordo. Dessa forma, o regime militar na Colômbia é considerado o mais curto da América Latina. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) são fundadas, pois, por setores dissidentes do partido liberal. Após as Farc, outras organizações de guerrilheiros foram fundadas, como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e o Movimento revolucionário 19 de abril (M-19). Atualmente o M-19 é um partido político. Os Cartéis do Narcotráfico se estabelecem na Colômbia, a partir dos anos 1970. A produção de cocaína no país se intensificou durante a década de 1980 e, por isso, alguns entendem que há uma parceria entre o Narcotráfico e as FARC, defendendo a ideia de um poder paralelo exercido pela guerrilha. Por outro lado, há quem defenda que a relação entre eles se restringe à utilização dos mesmos territórios físicos (20% do território colombiano). É importante que o(a) delegada(o) se atente para essa questão. Sobre o narcotráfico, em 1984 se inicia uma política rigorosa de combate, sendo auxiliada, na década de 90, pelos Estados Unidos da América. O envolvimento dos EUA na guerra ao narcotráfico é uma questão bastante polêmica, porquanto há opiniões que entendem essa interferência na política do Estado Colombiano como uma desculpa para a expansão imperialista na região, principalmente por causa das riquezas naturais e da biotecnologia propiciada pela Floresta Amazônica. Hodiernamente, a Colômbia é a maior produtora de cocaína do mundo, sendo os Estados Unidos da América seus principais consumidores. Importante a pesquisa acerca do Plano Colômbia, orquestrado pelo então presidente do país Álvaro Uribe e os EUA. As FARC são consideradas uma organização terrorista pelo governo da Colômbia, pelo governo dos Estados unidos, Canadá e pela União Europeia. Os governos da África, Equador, Bolívia, Brasil, Argentina e Chile não lhes aplicam esta classificação127. VENEZUELA A região em que hoje se encontra a Venezuela, começou a ser explorada com a chegada de Cristóvão Colombo à região. A Venezuela, assim como outros países da América Latina, esteve sob o domínio do governo espanhol a partir do século XVIII, enquanto produtora de 127 A VERDADE SUFOCADA. Disponível em: <http://www.averdadesufocada.com/index.php/farc-notcias91/6396-1101-a-origem-e-a-trajetria-das-farc->. Acesso em 5 maio 2014. 48 cacau e café e utilizando-se de mão-de-obra escrava africana e indígena. Após quase 400 anos de exploração, a Venezuela conquistou sua independência, em 1819, num movimento emancipatório e revolucionário sob a liderança de Simon Bolívar. Entretanto, o movimento teve como resultado a criação da Grã-Colômbia, a qual consistia numa junção entre os países independentes do Equador, Panamá, Venezuela e Colômbia. Apenas em 1830 a Venezuela se desvinculou dessa formação, passando a ser um país independente e único. Desde então, a Venezuela é um local de constantes conflitos. Desde que a República foi consolidada no país, ocorrem diversos golpes de Estado. Dessa forma, a história política do país é bastante turbulenta, com a incidência de motins, rebeliões, revoluções civis e golpes militares, numa sequência de tentativas de derrubar e instalar governo. “A legalização dos partidos de esquerda e a pacificação da nação após dez anos de guerrilhas, foram feitos do então presidente eleito em 1969, Rafael Caldera” 128. O tensionamento político na região ainda é muito intenso, de forma que há intervenções militares os quais não se configuram como regimes ditatoriais, porquanto regidos por leis e processos democráticos. Em relação à economia, a Venezuela passou, depois da Primeira Guerra Mundial, de uma economia essencialmente agrícola para uma economia centrada na extração e exportação de petróleo129. Dessa forma, é o único país americano membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), o que o torna alvo da ganância da União Europeia e dos Estados Unidos, os quais acabam interferindo em questões internas do Estado Venezuelano, maculando sua soberania (exemplo do golpe de 2002 ao governo de Hugo Chavez). O petróleo é responsável por cerca de um terço do PIB e por cerca de 80% das receitas de exportação. PERU Em 1924, intelectuais peruanos fundam a aliança popular revolucionária americana (APRA), um movimento de tendência marxista, influenciado pela revolução mexicana. Na década de 30, a APRA foi alvo de sangrenta repressão e as eleições que havia vencido foram anuladas. Nas décadas seguintes intercalaram-se presidentes democráticos e golpes militares130. 128 BRASIL ESCOLA. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia-da-america/historiavenezuela.htm>. Acesso em: 4 abr. 2014. 129 VENEZUELA E BE. Disponível em: <http://venezuelaebe.blogspot.com.br/2013/05/aspectoseconomicos-economia-economia.html>. Acesso em 4 abr. 2014. 130 INFOESCOLA. Disponivel em: http://www.infoescola.com/peru/historia-do-peru/. Acesso em 5 abr. 2014. 49 Nos anos 1980, uma intensa crise econômica e social assolou o Peru, crise esta caracterizada pelo aumento da dívida externa, descontrole fiscal, grande inflação e luta armada interna131. É por causa dessa situação e na busca por uma melhoria nas condições de vida da população que surgem dois grupos guerrilheiros132: o Sendero Luminoso133 e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) que pretendiam, entre outros objetivos, estabelecer um novo governo através da guerrilha. A Confederação Camponesa do Peru134 fundou-se em 1947, como culminação de um processo de unidade de comunidades camponesas, braceros, yanacones e povos indígenas da selva, que lutavam pela terra. COSTA RICA135 Independente desde 1821, a Costa Rica tornou-se um dos países mais avançados politica e economicamente, na América Latina. A doutrina liberalista, presente nos principais governos deste, impulsionou-a como em nenhum outro país Latino Americano, levando prosperidade à nação, alçada nas exportações de produtos primários, como o café e açúcar. Considerado o primeiro país democrático latino americano, sua democracia foi implantada em meados de 1889136, onde, no entanto, negros e mulheres não votavam. Apesar da tribulação democrática sofrida em 1917, quando o general Frederico Tinoco instituiu uma ditadura, esta somente durou até 1919, a partir de então se sucederam presidentes eleitos democraticamente. Após uma Guerra Civil iniciada em 1948 e que teve duração de apenas 40 dias, Calderón137, o então governante iniciou a implantação de diversas reformas sociais, chegando até mesmo a abolição do exército no Governo de Figueres138. Apesar das reformas sociais instituídas pelos governantes subsequentes, o país se viu afundado em uma crise econômica no início dos anos 80, a qual encontrava suas raízes na Dívida Externa. 131 INFOESCOLA. Disponivel em: http://www.infoescola.com/peru/historia-do-peru/. Acesso em 5 abr. 2014. BERTONHA, J. Fábio. Sendero luminoso: ascensão e queda de um grupo guerrilheiro. 2006. 133 DEGREGORI, Carlos Iván.El nacimiento de Sendero Luminoso: Ayacucho 1969-1979. Instituto de estudios peruanos, 1990. 134 MOVIMIENTOS. Disponível em: <http://movimientos.org/cloc/ccp>. Acesso em: 9 mar. 2014. 135 Embaixada da Costa Rica: História. Disponível em: <http://www.embajadadecostarica.com.br/portugues/opais/historia>. Acesso em: 13 de mar. 2014. 136 BAKER, Christopher. Costa Rica History. 2005. Retirado do Livro Costa Rica. Disponível em: <http://www.therealcostarica.com/costa_rica/history_costa_rica.html>. Acesso em: 13 mar. 2014. 137 AGÜERO, Germán Vázquez. 176 años de vida independiente. Disponível em: <http://www.costaricaweb.com/general/presidentes.htm>. Acesso em: 13 mar. 2014. 138 CONSTITUCION POLITICA DE LA REPUBLICA DE COSTA RICA. 1949. Disponível em: <http://www.constitution.org/cons/costaric.htm>. Acesso em: 13 mar. 2014. 132 50 HAITI139 Porção territorial da Antiga Ilha de Hispanola, descoberta por Colombo em 1492, o Haiti possuiu seu período colonial dividido entre a era espanhola e a francesa 140. Tornou-se independente em 1804 e foi o segundo país da América Latina a fazê-lo, com a peculiaridade de sua revolução ser primordialmente comandada por escravos rebelados. A não convergência de ideais entre os demais segmentos da sociedade, resultou em disputas internas pelo poder, e de 1915 à 1934, o país sofreu uma intervenção militar americana. De 1934 à 1956, sucederamse no país, diversos presidentes, mas a eleição direta somente se fez possível a partir de 1950. Em 1956, o presidente eleito François Duvalier, através de um golpe de Estado, iniciou o Regime Duvalerista. Período marcado pelo autoritarismo e pela centralização política que perdura até os dias de hoje, 1984. A ditadura imposta pelo Papa Doc141, possui sua repressão capitulada pelos tontons macoutes, integrantes de sua guarda. JAMAICA142 De colonização mista entre espanhóis e ingleses, seguindo o modelo de exploração implantado na América Latina, o país somente tornou-se independente em 1958. Com a independência, simultaneamente, foi fundador da Federação das Índias Ocidentais. Em 1962, foi dissolvida a Federação e o Estado declarou-se como independente pertencente à Comunidade Britânica. Este é uma república parlamentarista, cujo chefe de Estado é a Rainha Elizabeth II, e o Governador-Geral eleito a representa no Estado respectivo. Na década de 70, estreitou suas relações com Cuba, as quais foram paulatinamente destituídas em prol da 139 The History of Haiti. Disponível em: <http://www.olgp.net/ministry/haiti/history/history.htm>. Acesso em: 12 mar. 2014. 140 A era francesa iniciou-se oficialmente em 1697, por meio do Tratado de Ryswick, que dispôs aos franceses o território previamente por eles ocupado. Disponível: MATIJASCIC, Vanessa Braga. HAITI: UMA HISTÓRIA DE INSTABILIDADE POLÍTICA. 2009. 16 f. Tese (Doutorado) - Curso de Relações Internacionais, Unicamp, São Paulo, 2008. Cap. 2. Disponível em: < http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XX%20Encontro/PDF/Autores%20e%20Artigos/Vanessa%20 Braga%20Matijascic.pdf >. Acesso em: 12 abr. 2014 141 Papa Doc era como se intitulava François Duvalier. Disponível em: The Duvalier Dynasty 19571986. Disponível em: <http://www.latinamericanstudies.org/haiti/duvalier-dynasty.htm>. Acesso em: 12 mar. 2014 142 CENTRAL AMERICA AND CARIBBEAN :: JAMAICA. 2014. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/jm.html>. Acesso em: 15 mar. 2014. 51 aproximação com os Estados Unidos da América, desde 1980, levando-o a participar da invasão a Granada143, em 1983, sob o comando de Edward Seaga. EQUADOR Sobre o Equador, cabe destacar que em 1972, após um golpe militar, o general Guilhermo Rodríguez Lara iniciou um governo por ele mesmo denominado de “nacionalista e revolucionário”, que visou modernizar o país com verba advinda da exploração do petróleo. Seu governo foi finalizado em 1975, quando a elite militar um triunvirato - Alfredo Poveda (Marinha), Guilhermo Durán (Exército) e Luís Leoro (Aeronáutica) – que governou até 1979, o final do Regime Militar no país144. O governo do Equador, portanto, é marcado de 1972 até 1979, pela repressão de toda forma de oposição – isto é, pelo desrespeito aos direitos humanos –, bem como pelos investimentos na economia, visando recuperá-la e desenvolvê-la145. Em 1983, o Estado do Equador se encontrava no final do governo de Osvaldo Hurtado, na tentativa de reconstruir e fortalecer a democracia nacional, bem como de se recuperar da crise econômica iniciada no ano anterior. ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA No início da década de 80, os Estados Unidos da América (EUA), ainda arcando com as consequências do seu proveitoso desfecho da Segunda Guerra mundial, disputava com a União Soviética (URSS) áreas de influências, com relação aos modelos por tais países adotados, capitalismo e socialismo, respectivamente146. Desse modo, objetivando ter maior influência no continente americano, especialmente após 1959, com a Revolução Cubana e, principalmente, após 1961, quando Cuba se tornou aliada da URSS. Assim, para garantir sua hegemonia no continente americano, os EUA apoiaram a “Doutrina de Segurança Nacional”, a qual embasou, em diversos países americanos, as ações e 143 Invasão realizada pelos Estados Unidos da América, apoiado por outros países latinos americanos, com o intuito de pôr fim ao Golpe de Estado orquestrado por Maurice Bishop, que estabeleceu um governo marxista-lenista, alinhado à URSS e à Cuba, na ilha. Disponível em: Guerra de Granada. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 20032014. Disponível em: <URL: http://www.infopedia.pt/$guerra-de-granada>. Acesso em: 15 de mar. 2014. 144 PERRY, Almiro. Equador. Disponível em: <http://www.projeto.unisinos.br/humanismo/al/equador>. Acesso em: 16 mar 2014. 145 BBC News. Ecuador timeline. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/1212826.stm>. Acesso em: 16 mar 2014. 146 A ditadura e os EUA – Brasil Escola Educador. Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/estrategiasensino/a-ditadura-os-eua.htm>. Acesso em: 13 mar 2014. 52 discursos que possibilitaram uma maior interferência militar em seus governos, assim, o governo norte-americano passou a favorecer a permanência de governos militares no poder de países americanos147, como forma de conter o avanço socialista no continente. Em 1983, portanto, o governo norte-americano ainda buscava ampliar seu campo de influência, tentando expandir o capitalismo e sufocar a ideologia soviética de diversas formas148. SURINAME No Suriname, em 1980, logo após sua independência (1975), ocorreu um golpe militar, depondo o presidente Arron. O Regime Militar nesse país foi iniciado por Ferrier e, logo após, por Henk Chin A Sen149. Destaca-se como peculiaridade do Regime Militar no Suriname, o fato de que, dois anos após o golpe, 15 civis, líderes da oposição, foram mortos pelo governo, motivo pelo qual a Holanda e os Estados Unidos impuseram embargos econômicos contra o Suriname150. Como nos demais países, esse período foi marcado por fortes censuras, proibição de partidos políticos e desrespeitos aos direitos humanos. Em 1983, o Regime Militar perdurava no Suriname, sem perspectivas de seu desfecho. SANTA LÚCIA Santa Lúcia, localizada na América Central, no mar do Caribe, teve sua independência em dezembro de 1979 e passou a fazer parte da Comunidade Britânica das Nações, após ser colonizada pelo Reino Unido151. Assim que se tornou independente, na Santa Lúcia, o Partido Trabalhista de Santa Lúcia venceu as eleições. Já em 1982, foi do conservador Partido dos Trabalhadores Unidos, o John Compton, que se tornou primeiro-ministro152. De uma 147 FRANÇA, Ludmilla. América Latina e as ditaduras militares: fatores históricos. Disponível em: <http://norbertobobbio.wordpress.com/2011/06/27/america-latina-e-as-ditaduras-militares-fatores-historicos/>. Acesso em: 13 mar 2014. 148 A busca norte-americana por expansão da sua ideologia culminou com o lançamento da ideia de programa chamado “Iniciativa de Defesa Estratégica” ou “Guerra nas Estralas”, pelo então presidente Ronald Reagan , a qual, em suma, visava intimidar seus opositores, especialmente a URSS. Geoger W. Bush e a nova “Guerra nas Estrelas”. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/000/0bert.htm#>. Acesso em: 13 mar 2014. 149 BBC News. Suriname. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1218515.stm>. Acesso em: 16 mar 2014. 150 Suriname – História do Suriname – Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia-daamerica/historia-suriname.htm>. Acesso em: 16 mar 2014. 151 Santa Lúcia. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/santa-lucia.htm>. Acesso em: 16 mar 2014. 152 BBC News. St Lucia. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1210528.stm>. Acesso em: 16 mar 2014. 53 democracia recém-conquistada, Santa Lúcia, até 1983, não sofreu golpes militares ou teve a participação de grupos sociais expressivos. É, contudo, um país que pode se sobressair na busca pelo fortalecimento da democracia no continente americano. SÃO VICENTE E GRANADINAS Colonizada pelo Reino Unido e pela França (primordialmente, pelo primeiro)153, São Vicente e Granadinas ganhou autonomia interna em 1969, tendo o Reino Unido mantido o controle e responsabilidade pela política externa e defesa do país. Somente outubro de 1979, após um referendo, o país se tornou independente, tendo Milton Cato, do partido centroesquerda St Vicente Partido Trabalhista, como primeiro-ministro154. O país não sofreu golpe militar expressivo, mas tem sua história marcada, especialmente, pela participação popular em dois momentos: em dezembro de 1979, quando um grupo de civis, objetivando maior participação no governo, iniciou uma “revolta popular”; e em 1981, quando trabalhadores iniciaram uma greve geral, em protesto contra os direitos laborais diante da recessão econômica na época enfrentada. Em 1983, portanto, São Vicente e Granadinas, ainda governado por Milton Cato, deve assumir, com base na sua realidade, posição sobre o tema tratado em nossa reunião. CHILE155 A colonização do que hoje conhecemos como República do Chile se deu de forma conturbada, devido à resistência dos índios nativos. As tropas espanholas inicialmente fracassaram, mas em 1541 a expedição de Pedro de Valdívia conseguiu fundar suas primeiras colônias156, como a própria Santiago, atual capital desse país. Assim como as demais colônias europeias na América Latina, o Chile teve sua economia prejudicada devido à dependência e as vedações impostas pela metrópole. Somente em 1818, com o movimento liderado por Bernardo São Vicente e Granadinas. Aspectos geográficos – Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/sao-vicente-granadinas.htm>. Acesso em: 16 mar 2014. 154 BBC News. St Vicent and Granadines. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/1210777.stm>. Acesso em: 16 mar 2014. 155 História do Chile. Disponível em: <http://www.infoescola.com/chile/historia-do-chile/>. Acesso em 15 de mar. 2014. 156 Chile Timeline. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/1222905.stm>. Acesso em 15 de mar. 2014. 153 54 O’higgins, o Chile alcançou a sua independência157. Enquanto república, o Chile passou por experiências parlamentarista e presidencialista. No dia 11 de setembro de 1973 os militares, liderados por Augusto Pinochet, bombardearam o palácio presidencial158, depuseram e mataram o então presidente socialista Salvador Allende, que havia sido eleito democraticamente três anos antes. A partir de então se instalou uma das mais truculentas repressões militares da América Latina. Centenas de pessoas foram executadas já no início do golpe militar chileno. A tortura e os julgamentos em tribunais militares, isolados do Judiciário civil, eram práticas comuns. Em tais julgamentos, os réus tinham diversos dos seus direitos procedimentais cerceados, não podiam recorrer e os veredictos e sentenças eram sumários, inclusive para os casos de pena de morte159. EL SALVADOR160 Localizado na América Central, a República de El Salvador é um pequeno país que faz divisa com o oceano Pacífico, a Guatemala e Honduras161. Foi colônia espanhola até 1821, quando tornou-se independente. Integrou a Federação Centro-Americana (Províncias Unidas da América Central), composta por Guatemala, Honduras, Nicarágua e Costa Rica, obtendo a independência definitiva com a dissolução desta em 1840. Durante cerca de 13 anos, de 1931 até 1944, El Salvador vivenciou o Martinato, período em que foi governada de forma ditatorial pelo general Maximiliano Hernández Martínez. Esse regime deu início à ascensão do militarismo, que viria a culminar com o golpe de Estado de 15 de outubro de 1979. Em 1931, Martínez era vice-presidente e ministro de guerra, e assumiu o poder após o golpe contra o então presidente Arturo Araujo162. Após a derrubada do presidente, Martínez foi designado pelo Diretório Militar para ser o presidente interino, mas logo se consolidou no 157 História do Chile. Disponível em: <http://www.infoescola.com/chile/historia-do-chile/>. Acesso em 15 de mar. 2014. 158 MORAES, João Quartim de. Liberalismo e ditadura no cone sul. Campinas SP: IFCH / UNICAMP, 2001. 159 PEREIRA, Anthony W. Ditadura e repressão: o autoritarismo e o Estado de direito no Brasil, no Chile e na Argentina. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2010. 160 El Salvador. Disponível em: <http://www.bvmemorial.fapesp.br/php/level.php?lang=pt&component=41&item=39>. Acesso em 16 de mar. 2014. 161 El Salvador. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/geografia/el-salvador.htm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 162 História: El Salvador. Tomo 2. Ministério da Educação de El Salvador. Disponível em: <http://www.mined.gob.sv/descarga/cipotes/historia_ESA_TomoII_0_.pdf>. Acesso em 16 de mar. 2014. 55 poder. Um dos motivos para a sua efetivação no cargo foi a violenta repressão ao levante camponês e indígena, tido como o primeiro movimento popular desse tipo na América Latina, que se insurgiu menos de dois depois que o general assumiu a presidência. O governo de Martínez foi marcado pela preservação da ordem social, aplicando medidas que limitaram as expressões políticas dos opositores ao regime. As tensões políticas e sociais da década de 70 culminaram com a guerra civil a partir de 1980. Esse conflito civil foi aumentando progressivamente e em pouco tempo o país se viu dominado por diversas guerrilhas armadas, inclusive com as eleições de 1982 marcadas pela violência. Estima-se que mais de 75 pessoas morreram nos conflitos, além dos milhares de refugiados, da destruição e da desestabilização da economia163. HONDURAS164 Descoberta por Cristóvão Colombo em 1500, a República de Honduras foi colônia espanhola até 1821, tendo participado da Federação Centro-Americana (Províncias Unidas da América Central) conjuntamente com Guatemala, El Salvador, Costa Rica e Nicarágua. Em 1838 se retirou da Federação e se tornou completamente independente165. O final do século 19 e o início do século 20 são marcador pelo forte domínio dos Estados Unidos na Economia hondurenha166, principalmente por meio da United Fruit Company. Entre 1932 e 1949, o país vivenciou uma ditadura, cujo líder era o General Tibúrcio Carias Andino. Terminada a ditadura, o país não conseguiu se estabilizar e outros golpes militares se sucederam, como o de 1963, quando o Coronel Osvaldo Lopes Arellano tomou o poder e governou até 1974, quando renunciou supostamente por influência dos Estados Unidos. Em 1975 o também Coronel Juan Alberto Melgar Castro toma o poder, mas é deposto em 1978 pelo General Policarpo Paz Garcia. Seu governo foi marcado pelo tratado de paz assinado com El Salvador em 1980. 163 El Salvador. Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/geografia/el-salvador.htm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 164 Timeline: Honduras. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1225471.stm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 165 Honduras. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia-da-america/historia-honduras.htm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 166 Timeline: Honduras. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1225471.stm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 56 Somente em 1981 ocorreram eleições para um presidente civil. O pleito foi vencido por Roberto Suazo Cordova. Porém, apesar da aparente normalidade, Honduras ainda tem forte influência dos militares e se envolve em conflitos regionais, como o travado com a Nicarágua, sendo base para os opositores (também chamados de “Contras”) dos Sandinistas. URUGUAI167 A presença espanhola na atual República Oriental do Uruguai se deu a partir de 1516. Contudo, devido à ausência de metais preciosos, a disputa com Portugal e a resistência indígena, a colonização se deu forma lenta e gradativa. Somente em 1726 a Espanha fundou Montevideo e tomou o Uruguai do controle dos Portugueses. Em 1811 se tornou independente da Espanha, porém foi motivo de disputa entre a atual Argentina e o Brasil. A disputa foi resolvida com o fim da Guerra da Cisplatina em 1828, sendo determinado pelo Tratado de Montevidéu a independência do Uruguai168. Em 1973 instalou-se uma ditadura civil-militar no Uruguai. O então presidente Juan Maria Bordaberry perpetra o golpe de Estado com o apoio dos militares e governa o Uruguai como ditador até 1976169. Após a sua destituição, os militares continuaram controlando o governo e dominam o até os dias atuais de 1984, levando o terror e a opressão para a população170. Uma das medidas do governo ditatorial foi jogar o Partido Comunista, o Partido Socialista e outras doze formações políticas de esquerda171, além de fechar o Senado, a Câmara dos Deputados e anunciar a criação do Conselho de Estado para substituir o parlamento. ANTÍGUA E BARBUDA172 167 História do Uruguai. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historia-da-america/historiauruguai.htm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 168 História do Uruguai. Disponível em: <http://www.infoescola.com/uruguai/historia-do-uruguai/>. Acesso em 16 de mar. 2014. 169 Hoje na História: 1973 – Golpe militar inicia ditadura no Uruguai. Disponível em: <http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/13050/hoje+na+historia+1973++golpe+militar+inicia+ditadura +no+uruguai.shtml>. Acesso em 16 de mar. 2014. 170 História do Uruguai. Disponível em: <http://www.uruguai.org/historia-do-uruguai/>. Acesso em 16 de mar. 2014. 171 MORAES, João Quartim de. Liberalismo e ditadura no cone sul. Campinas SP: IFCH / UNICAMP, 2001. 172 Antígua e Barbuda. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/geografia/antigua-barbuda.htm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 57 Antígua e Barbuda é um país da América Central formado por ilhas. Foi descoberto por Cristóvão Colombo em 1493173 e se tornou colônia espanhola. Posteriormente foi vendida para a Grã-Bretanha e só se tornou independente em 1981. O país é membro das Nações Unidas e da Commonwealth, governado sob o regime de Monarquia Parlamentarista, o chefe de Estado é a Rainha Isabel II do Reino Unido, que é representada em Antígua e Barbuda por um governador-geral e pelo Primeiro-Ministro. MÉXICO174 Mesmo tendo se proclamado independente em 1810, a independência deste somente foi conseguida em 1821, com o termino da guerra que possuiu o propósito de conquista-la. De colônia espanhola até se tornar independente adentrou em diversas crises políticas ao longo de sua história, nas quais algumas destas desembocaram em guerras civis. Envolvido em duas recentes crises econômicas, em 1976 e 1982, o México ainda luta para estabilizar-se economicamente. No que diz respeito a sua política interna, possui o mesmo partido no poder, o Partido Revolucionário Institucional (PRI), desde 1929, contudo, os presidentes são eleitos democraticamente. Em 1969 deu-se a fundação das Forças de Libertação Nacional175 que evoluiria para o principal movimento social de oposição ao PRI176. PARAGUAI177 O Paraguai, país independente desde 1811, experimentou grande desenvolvimento econômico na era ditatorial Lopez178, onde se sucederam fatos que envolveram este país na 173 Timeline: Antigua and Barbuda. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/americas/country_profiles/1202625.stm>. Acesso em 16 de mar. 2014. 174 Historia de México. Disponível em: <http://www.americas-fr.com/es/historia/mexico.html>. Acesso em: 15 mar. 2014. 175 ORÍGENES DE LA GUERRILLA MODERNA EN MÉXICO. 2009. Disponível em: <http://www2.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB209/informe/tema05.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2014. 176 MIGUEL, Méndez Reyes José; OMAR, Olea Lázaro Iván. ENSAYO SOBRE LOS MOVIMIENTOS SOCIALES EN MEXICO. 2009. Disponível em: <http://movimientossocialesenmexico.blogspot.com.br/2009/05/ensayo-sobre-los-movimientos-sociales.html>. Acesso em: 15 mar. 2014. 177 BARUJA, Victor. PINTO, Ruy. La história del PARAGUAY. Disponível em: < http://www.miparaguay.dk/castellano/historia/>. Acesso em: 15 de mar. 2014. 178 SOLER, Maria Angélica V. M. C. Paraguai e sua história política. 2012. Disponível em: < http://paraguaiteete.wordpress.com/2012/02/27/paraguai-e-sua-historia-politica/>. Acesso em: 15 de mar. 2014 58 chamada Guerra do Paraguai179. O país, após a guerra do Paraguai se viu envolvido em crises políticas, sucessivos golpes de Estado e uma guerra civil em 1947180, o que dificultou sua reestruturação econômica. Desde 1954, o comandante do Exército, General Alfredo Stroessner ocupa o poder181. Este mantém a fachada de um país democrático, subordinando todos os poderes ao Poder Executivo. As resistências contra a ditadura vêm sendo elaborada pela Liga Agrária Cristã, pela Igreja, sobretudo a católica, a Imprensa alternativa e os movimentos de guerrilha. 11 APONTAMENTOS FINAIS Como anteriormente esclarecido, os Regimes Militares provocaram mudanças na política de alguns países do continente americano e, mais que isso, foram constituídos por governos autoritários, que reprimiam direitos dos cidadãos, chegando, até mesmo, a tortura-los e mata-los. Por oportuno, se faz necessário destacar que não somente em regimes de exceção (como o Regime Militar), ocorre violência do Estado contra seus cidadãos, sendo essa, portanto, uma questão que interessa a todas as nações. Diante disso, a primeira pauta da nossa reunião constitui o tema referente à responsabilidade do Estado pela violência praticada contra seus cidadãos. Os Senhores, como delegados da OEA, deverão, dessa forma, buscar a resposta para as seguintes indagações: - É possível que o poder do Estatal torture cidadãos? - A repressão estatal é justificável? - Os agentes que torturam e reprimem cidadãos devem ser responsabilizados? Ainda que tais atos ocorram em regimes de exceção? Como referidos agentes devem ser responsabilizados? Já como segunda pauta da nossa reunião, iremos debater sobre a legitimidade do MST e das FARC como movimentos sociais presentes na América Latina. De forma a englobar todas as nações americanas, os seguintes questionamentos devem ser levados em consideração: 179 BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História das Cavernas ao Terceiro Milênio. 3. ed. Saõ Paulo: Moderna, 2007. 752 p 180 CALDERINI, Fabián. Historia política del Paraguay. 2013. Disponível em: <http://www.historiadelparaguay.com/articulo.php?id_articulo=82>. Acesso em: 15 de mar. 2014. 181 CONTI, Marianos André. La Dictatura de Alfredo Stroessner. 2011. Disponível em: <http://ladictadurapy.blogspot.com.br/>. Acesso em: 15 de mar. 2014. 59 - Como deve ser caracterizado um movimento social? - Qual o papel do movimento social na formação e no fortalecimento de uma democracia? - As ações do MST são legitimas? E das FARCS? - Se carecem de legitimidade, tais movimentos podem ser reprimidos? Se legítimos, deve o Estados defendê-los? Diante dessas questões, destaca-se que a elaboração deste Guia de Estudos buscou selecionar os principais assuntos relacionados com os Temas A e B, que serão abordados na reunião do nosso comitê. Junto a isso, aqui foram expostos alguns dos posicionamentos dos Estados Membros da OEA no ano de 1984, dando, com isso, o direcionamento inicial de como o tema deve ser abordado por cada Estado. Contudo, os preparativos para a Simulação não podem ficar limitados a este Guia. A busca por outras informações deve se fazer presente durante a preparação para a reunião do nosso comitê. Convidamos, dessa forma, os senhores a contribuírem com a democracia na América Latina através da resolução dos temas propostos. Como delegados da Organização dos Estados Americanos em 1984, os Senhores podem formular resoluções capazes de alterar o curso da história. Esta é a oportunidade que os Senhores têm de reproduzir, na prática, as políticas externas e o cenário internacional que somente se tem acesso através da leitura e de vídeos, favorecendo e facilitando o aprendizado. E lembrem-se: quanto maior o conhecimento acerca da temática discutida e da posição de seu país, melhor será seu desempenho durante a simulação e mais calorosos e divertidos serão os debates do nosso comitê! Até breve! 60 12 REFERÊNCIAS A ditadura e os EUA – Brasil Escola Educador. Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-ditadura-os-eua.htm>. Acesso em: 13 mar 2014. 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