uma história (real) do (verdadeiro) engajamento de uma

Transcrição

uma história (real) do (verdadeiro) engajamento de uma
MANDALAH
UMA HISTÓRIA
(REAL) DO
(VERDADEIRO)
ENGAJAMENTO
DE UMA MARCA
SET.2012
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POR LOURENÇO BUSTANI, SÓCIO-FUNDADOR DA MANDALAH
Em outubro de 2010, a Mandalah foi convidada pela Nike para ajudar a desenvolver uma visão para
a marca no Rio de Janeiro, com foco na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos e
Paralímpicos de 2016. O objetivo era iniciar um diálogo de longo prazo e ganhar legitimidade junto
à população da cidade. Dadas as peculiaridades culturais do Rio e o fato de que a Nike era, até
então, muito associada a São Paulo e distante da maioria dos cariocas, sabíamos que isso não seria
uma tarefa fácil.
O primeiro passo foi estabelecer um diálogo acolhedor com os moradores do Rio, a fim de entender
a perspectiva deles em relação ao momento vivido pela cidade. Queríamos descobrir também que
papel uma marca como a Nike poderia desempenhar. Durante as três semanas que passamos
acampados no Rio, entrevistamos artistas, líderes comunitários, atletas, empreendedores sociais,
músicos e produtores culturais. Alguns dos achados mais relevantes dessas conversas foram:
_O Rio de Janeiro era, até então, uma cidade bairrista, em que as pessoas raramente saíam
de seus bairros, muito por conta dos dilemas de segurança que sempre assombraram a cidade.
Consequentemente, as “tribos urbanas” se isolaram umas das outras.
_Por outro lado, com os intensos esforços pacificadores do governo em comunidades de baixa
renda, a vida no Rio se tornou aparentemente mais segura e as pessoas se sentiam mais livres para
circular pela cidade.
_Na época, a Nike era apenas um sonho importado. Poucas pessoas tinham acesso à marca e aos
seus pontos de contato.
_Elas desconfiavam das intenções da Nike, preocupadas com aquilo que parecia ser um mero
oportunismo frente aos dois grandes eventos esportivos que o Rio viria a sediar.
_Nós da Mandalah tínhamos a grande preocupação de que se a Nike adotasse no Rio a estratégia
típica de muitas grandes marcas – uma abordagem top-down (de cima para baixo), saturando
a cidade com mídia e propaganda – ela seria rejeitada pelos cariocas.
_A população não sabia ao certo quais eram as intenções da Nike, e apesar de a marca estar
associada a atributos bastante positivos (como qualidade, excelência e patrocínio de times/
jogadores), parecia não ter lugar no coração dos cariocas.
Essas foram algumas das razões pelas quais a Mandalah e a Nike optaram por uma abordagem
bottom-up (de baixo para cima), baseada em dois princípios adjacentes: o esporte como um
catalisador de transformação social e como força integradora entre os povos da cidade. O conceito
que desenvolvemos – “inFusion” – é um trocadilho em inglês que se refere às rápidas mudanças que
acontecem em uma sociedade em fusão, bem como ao papel que a Nike poderia desempenhar
infundindo a cidade com sua paixão, energia e excelência no esporte.
Ao longo do ano seguinte, a Nike foi ágil em seus planos para o Rio. Um sem número de iniciativas
(listadas mais abaixo) foram concebidas e/ou intensificadas em diversos bairros, enquanto em
paralelo a empresa se preparava para inaugurar seus escritórios na cidade.
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Entre setembro de 2010 e setembro de 2012, tive a oportunidade de ir ao Rio para diversos
compromissos e inevitavelmente encontrei alguns dos formadores de opinião que fizeram parte do
projeto inicial. O que descobri nesses bate-papos informais foi tão surpreendente quanto gratificante.
_As pessoas estavam começando a entender as intenções da Nike.
_Estavam reconhecendo iniciativas lideradas ou apoiadas pela marca em diferentes bairros
da cidade, ricos e pobres.
_Em maior ou menor grau, elas estavam envolvidas nessas iniciativas.
_Estavam animadas e principalmente motivadas com todo esse movimento.
Essa impressão, construída durante 2 anos, foi devidamente consolidada quando pude passar uma
semana no Rio e falar com mais de 70 atletas, de todas as origens e faixas etárias, em diferentes
partes da cidade. O consenso foi claro:
A Nike havia amarrado o nó, não apenas buscando ser uma marca de todas as mentes, mas
sobretudo de todos os corações, colocando-se para além das outras marcas de vestuário esportivo,
incluindo a Adidas, que apesar de seus esforços pesados em patrocínio, não parece se conectar tão
profundamente com o tecido social carioca.
As conquistas da Nike me fazem lembrar de um framework que nós da Mandalah desenvolvemos
há algum tempo, ao realizar um projeto para a GM na África do Sul, Emirados Árabes e Colômbia.
Precisávamos entender o nível de consciência socioambiental dos cidadãos desses países, a fim de
direcionar os investimentos da GM em combustíveis alternativos. Criamos então um framework que
media em 3 níveis a interação do cidadão com as questões de sustentabilidade que lhe cercavam:
_Ciência - Ex: Estou ciente das discussões em torno de questões como o aquecimento global
e a emissão de carbono.
_Conhecimento - Ex: Tenho conhecimento de algumas das soluções que estão sendo
implementadas para solucionar essas questões.
_Engajamento - Ex: Incorporei algumas dessas soluções ao meu dia a dia.
Os cariocas vêm respondendo de diversas formas à trajetória da Nike no Rio nesses últimos 3
anos. Uma pesquisa do jornal O Globo, em 2010, colocou a Nike pela primeira vez como a marca
mais querida pelos cariocas em vestuário esportivo. Hoje vemos que eles não apenas estão
cientes das ambições da empresa na cidade, mas sabem também o que está sendo feito e, até
certo ponto, estão envolvidos nas iniciativas. Para uma cidade que às vezes parece pequena, na
qual rostos familiares se cruzam o tempo todo nas ruas, isso não deveria ser motivo de surpresa –
especialmente dada a abrangência e o alcance das atividades da Nike, resumidas abaixo:
_Parceria com o Favela Surf Clube;
_Grupo de corrida Coisa da Boa;
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_Reformas nas rampas de skate da Lagoa;
_Melhorias para o surfe noturno na praia do Arpoador;
_Parceria com a CUFA para patrocinar o Viaduto Futebol Clube;
_Apoio à Taça das Favelas (campeonato de futebol entre comunidades);
_Relacionamentos profundos e duradouros com personagens influentes de diferentes tribos
urbanas, por meio de eventos;
_Comemorações “AGORAEHRIO”, com investimentos em ativação de marca;
_Patrocínio do Campeonato Carioca Universitário de Surf;
_Circuito Vênus de corrida para mulheres;
_Adoção e reforma de campos de futebol no Aterro do Flamengo;
_Abertura de escritórios da Nike em Ipanema e da Nike Town.
A história da Nike no Rio está apenas começando. Mas vale a pena notar que ela tomou algumas
decisões importantes para construir a base para o seu futuro desenvolvimento sustentável.
Enquanto a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos certamente irão acelerar o crescimento da marca
na cidade, o legado dela já está sendo estabelecido através de conexões com cariocas de todos
os tipos. Em retrospectiva, há algumas lições-chave que aprendemos com essa experiência e que
podem agregar valor a outras marcas em situações semelhantes:
_Faça mais, fale menos – mantenha o foco em realizar coisas e na conexão com as pessoas,
tendo um impacto real em suas vidas.
_Seja o “empurrãozinho” – sempre motive as pessoas a fazerem coisas que lhes façam mais
felizes, como o esporte.
_”Bottom-up” – comece embaixo, onde as mudanças são mais necessárias, e veja seus esforços
emergirem aos poucos. As pessoas se sentem motivadas com isso.
_Capacite mobilizadores – disponibilize recursos às pessoas que já estão mobilizando massas
e realizando projetos. Seja uma força de integração e agregue pessoas, sempre.
_Determinação na execução – assegure-se de que há uma equipe comprometida para garantir
agilidade na execução e a manutenção do legado.
Nossa aposta é que a história da Nike no Rio se tornará inspiração para que outras marcas
busquem novas direções. Não existe uma abordagem única que sirva para todos, mas apesar disso,
uma coisa fica clara: quando você passa a enxergar o papel da sua empresa além do lucro e das
relações comerciais, o sucesso vem como consequência.
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