Um Estudo Sobre a Prática Swing Sob a Ótica da Psicanálise
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Um Estudo Sobre a Prática Swing Sob a Ótica da Psicanálise
UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA PRÓ-REITORIA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E HUMANAS CURSO DE PSICOLOGIA UM ESTUDO SOBRE A PRÁTICA DO SWING SOB A ÓTICA DA PSICANÁLISE CHARLES JOSÉ DA SILVA Vassouras, 2014 UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA PRÓ-REITORIA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E HUMANAS CURSO DE PSICOLOGIA UM ESTUDO SOBRE A PRÁTICA DO SWING SOB A ÓTICA DA PSICANÁLISE CHARLES JOSÉ DA SILVA Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Severino Sombra. Orientador: Professor Adilson Novaes Motta Vassouras, 2014 Si382e Silva, Charles José da Um estudo sobre a prática do swing sob a ótica da psicanálise / Charles José da Silva. – Vassouras, 2014. xii, 70 f. ; 29,7 cm. Orientador: Adilson Novaes Motta. Trabalho de Conclusão de Curso para Obtenção do Grau de Bacharel em Psicologia - Universidade Severino Sombra, 2014. Inclui bibliografias. 1. Psicologia. 2. Sexo. 3. Sexo grupal. 4. Psicanálise. I. Motta, Adilson Novaes. II. Universidade Severino Sombra. III. Título. CDD 150 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade Severino Sombra / Vassouras - RJ UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA CURSO DE PSICOLOGIA UM ESTUDO SOBRE A PRÁTICA DO SWING SOB A ÓTICA DA PSICANÁLISE CHARLES JOSÉ DA SILVA Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Severino Sombra. Orientador: Professor Adilson Novaes Motta Aprovado em 10 de Junho de 2014, com média máxima de 10 pontos. Banca Examinadora Prof. Adilson Novaes Motta Prof. Luther King Santana Prof. Joyce de Paula e Silva AGRADECIMENTOS Um dia tive um sonho! Sonhei que poderia ir mais além, fazer algo mais para que os meus amores pudessem se orgulhar de mim. Em que pudessem sentir no peito a força de uma admiração pelo ser amado. Por esses amores eu, Veni, vidi, vici (em português: "Vim, vi, venci"), tal como o poderoso general e cônsul romano Júlio César em 47 a.C., que utilizou esta frase numa mensagem ao Senado Romano descrevendo sua recente vitória sobre Fárnaces II do Ponto na Batalha de Zela. Todos os meus amores sabem o quanto foram árduas minhas batalhas, também sabem o quanto lutei para que este trabalho fosse realizado. Hoje, ao traçar esses agradecimentos, com lágrimas nos olhos, lembro de cada lance dos cinco últimos anos, onde com todas as enormes dificuldades, que dariam um livro se tivesse que ser escritas, eu lutei e venci, junto com todos aqueles que acreditaram em mim e fizeram de tudo para que ao cair, como diversas vezes caí no combate, eu pudesse novamente me levantar e continuar na batalha. Agradeço a Jesus, que me ensinou que “tudo posso Naquele que me fortalece”, e aos bons espíritos, amigos de todas as horas e dos momentos de minha solidão, que me secundaram inspirando-me ânimo e esperança na vitória. Agradeço aos meus pais, queridos, Vilma e Sebastião, que por muitas vezes aprofundaram suas rugas de preocupação comigo, tamanha era a violência e o furor das batalhas acadêmicas e pessoais que tive que travar. Vocês foram meu porto-seguro, onde minhas lágrimas sempre encontraram o doce e suave consolo. Agradeço ao meu irmão Douglas, esse companheiro de batalhas e lutas que, em seu silêncio, com seu olhar, sempre se mostrou perto e pronto para me socorrer toda vez que eu necessitasse de seu ombro amigo. Você foi o presente que Deus me deu através da mesma porta que vim a este mundo, o bendito e amado útero de nossa querida mãe. Obrigado meu irmão por você existir! Agradeço ao irmão do coração, Lindiomar, que por diversas vezes pressentiu minhas fraquezas, meus limites e vacilações, e como um irmão mais velho, ali junto de meu coração esteve, cobrando-me e chamando minha atenção para cumprir com aquilo com que me comprometi antes dessa jornada terrena. Obrigado amado irmão pelas broncas de sempre e por sua forma humana e verdadeira de dizer: “conte comigo para ir até o inferno junto contigo se necessário”! Hoje iremos, não para o inferno, mas para o céu da vitória! Agradeço a minha ex-esposa pelo carinho e apoio nas horas mais angustiantes em que pensei em abandonar tudo e sentar apenas para chorar. Você Lucia, auxiliou-me a vencer em muitos momentos difíceis da vida e, somente aceitei o desafio de cursar essa faculdade de psicologia e assumir esses desafios inerentes a ela, pelo seu estímulo e encorajamento. Hoje estamos em estradas, caminhos diferentes, mas o carinho e respeito que carrego por você e pelos seus gestos de companheirismo estarão gravados para sempre em meus pensamentos. Agradeço as minhas filhas Ana Lúcia, Vitória e Joanna D’Arc pela compreensão da minha ausência nestes últimos cinco anos. É por vocês que lutei e continuarei lutando. É para vocês que quis ser melhor, a fim de que um dia tivessem orgulho do pai que tentei ser. Que meu exemplo de luta e perseverança possa inspirar vocês a serem cada dia melhores e a buscarem as vitórias que traçarem para suas próprias vidas. Não poderia deixar de agradecer os gestos de carinho, de compreensão e de amor que sempre tiveram comigo, mesmo nos momentos em que a luta era tão árdua que eu nem as percebia pertinho de mim. Obrigado filhas queridas! Teria muitos amigos a agradecer pelo incentivo e pela força que me deram em tão grande jornada, mas pedindo licença a todos os outros, que são muitos, e que moram em meu coração, queria agradecer aos amigos Cecília Chaves Duque (a querida Isse), por ter sido minha mãe do coração ao longo de tantos anos de minha vida e que nos momentos em que acreditei que não tinha mais forças para continuar, esteve ao meu lado por meio de mensagens, telefonemas e com um carinho que jamais poderão ser recompensados; a Márcio Vieira Martins, pelo seu apoio e confiança em momentos decisivos dessa caminhada, onde seu lado humano sustentou minhas fraquezas; a amiga Ana Cristina Hypólito, pelas vezes que sempre acreditou em mim, dizendo “você é especial e tem muito a nos ensinar, então não desista, pois precisamos de você”, obrigado amiga e irmã; à Luciana Palmeira, minha eterna diretora, que com seu carinho e apoio sempre me mostraram o quanto eu podia confiar em sua força e em seu ombro amigo; à Olímpia Maria, amiga de tantos anos que com grande sabedoria e compromisso com o bem de todos os necessitados, sempre me deu a oportunidade do trabalho no bem e confiou em minhas pobres capacidades, torcendo para que esta monografia, ponto final deste curso, fosse repleta de êxito; e por fim, a minha querida prima Dra. Glória Isseni, a quem tanto devo moralmente, pelo seu apoio e sua força, pelo seu carinho e espírito de desprendimento, onde nas horas que mais precisei, nas horas mais graves da minha vida, em que eu não tinha ninguém com força e sabedoria que pudesse me auxiliar, foi quem prontamente me estendeu a mão e disse: “estou aqui e tudo vai se resolver! Eu resolvo o que for para você”! Eu sei que seu coração é imenso, minha querida prima Glória, mas queria que soubesse que, por mais que ele seja grande, mesmo assim ele ocupa um espaço no meu coração, que é tão pequeno, mas que se expande para receber esse coração irmão e amigo que é o seu. Não poderia nunca deixar de agradecer ao meu grande mestre e tutor Professor Adilson Novaes, que em todos os momentos, auxiliou-me a compreender a mente humana e os seus meandros. O inconsciente que nos move, tal como Freud propôs, ficou mais fácil de ser compreendido devido à abnegação deste mestre escola que nunca mediu esforços para orientar-me. Foram dois anos de estágio riquíssimo com o nobre professor, em que consegui compreender, através de seus exemplos, que o verdadeiro psicoterapeuta/psicanalista, é aquele que consegue manter uma relação interpessoal com seus pacientes, dentro de uma ética, de um respeito e profissionalismo que raiam à disciplina militar. Foi esse meu brilhante mestre que me ensinou o comprometimento e o zelo que os pacientes que nos procuram necessitam. Obrigado meu mestre Adilson Novaes! Você estará sempre em meus pensamentos como uma bússola a me indicar o caminho certo a percorrer dentro da psicologia/psicanálise. Quero agradecer ainda a uma pessoa muito especial que entrou na minha vida e fez com que meus olhos brilhassem de novo, quando tudo era turvo e nublado pelo furor da batalha. Em um momento em que as forças se esvaiam de mim, alguém me tocou levemente e disse: “estou aqui ao seu lado”. No primeiro momento não acreditei, mas as provas que essa pessoa me deu de um sentimento tão puro e novo, leve, suave e libertador, me fizeram repensar no quanto eu a esperava há tanto tempo. Obrigado Andréa Pinheiro, minha amada esposa, pelo apoio na hora decisiva e no momento em que eu estava me sentindo derrotado. A você que me é tão especial, e que vai dividir, também, essa vitória comigo, só posso fazer uma citação do padre Fábio de Melo, da música “Humano amor de Deus”, pois foi isso que você fez por mim: “Tens o dom de ver estradas onde eu vejo o fim, me convences quando falas não é bem assim. Se me esqueço, me recordas, se não sei, me ensinas, e se perco a direção vens me encontrar. Tens o dom de ouvir segredos mesmo se me calo. E se falo me escutas, queres compreender... Se pela força da distância tu te ausentas, pelo poder que há na saudade voltarás! Quando a solidão doeu em mim, quando meu passado não passou por mim, quando eu não soube compreender a vida, tu vieste compreender por mim... Quando os meus olhos não podiam ver, tua mão segura me ajudou a andar, quando eu não tinha mais amor no peito, teu amor me ajudou a amar. Quando o meu sonho vi desmoronar, me trouxeste outros pra recomeçar, quando me esqueci que era alguém na vida, teu amor veio me relembrar: que Deus me ama, que não estou só, que Deus cuida de mim quando fala pela tua voz e me diz: Coragem”. Obrigado amada Andréa! E por fim, agradeço as lições que a vida militar me proporcionou, pois foram elas que me ensinaram a nunca desistir, nunca me render, a ser comprometido com minhas missões e a sempre repetir, em alto e bom som a frase: Força e Honra! A vida que me ensinaram como uma vida normal, tinha trabalho, dinheiro, família, filhos e tal... Era tudo tão perfeito se tudo fosse só isso. Mas isso é menos do que tudo, é menos do que eu preciso [...] (Música: Educação Sentimental II – Composição de Leoni). É inteiramente concebível que a separação do ideal do ego do próprio ego não pode ser mantida por muito tempo, tendo de ser temporariamente desfeita. Em todas as renúncias e limitações impostas ao ego, uma infração periódica da proibição é a regra. Isso, na realidade, é demonstrado pela instituição dos festivais, que, na origem, nada mais eram do que excessos previstos em lei e que devem seu caráter alegre ao alívio que proporcionam (FREUD, 1921/1996, p.134). RESUMO É de conhecimento do meio acadêmico a falta de literatura e de estudos psicológicos a respeito da tão divulgada prática swing nos meios de comunicação, tais como internet, revistas e programas de televisão. Dessa forma, esta pesquisa tem por principal justificativa a produção de um estudo bibliográfico que vise a uma melhor compreensão das motivações subjetivas que determinam tal prática. Necessário se faz um estudo que leve os profissionais de psicologia, bem como todos os que atuam na área da saúde mental a um novo olhar sobre a prática do swing ou troca de casais, a fim de que se possa pensar na importância da atuação psicoterapêutica em pacientes que adotam essa prática, uma vez que apresentam demandas psicológicas iguais aos casais tradicionais. No momento, não existe material onde os profissionais possam recorrer para um aprofundamento do tema e consequente embasamento para atuação psicoterapêutica com esses casais, seja em atendimentos individuais ou em terapia de casal e família. Palavras chave: sexo, swing, troca de casais, psicanálise ABSTRACT It's the Knowledge of the lack of academic literature and psicological studies about the practice swing as disclosed in the means of comunication, such as internet, magazines and television programs. Thus, this research has the main justification the production of a literature study aimed at a better understanding of the subjective motivation behind this practice. Necessary to make a study leading professionals in psychology as well as those who work in the area of mental health to a new look at swing practice or swapping, so that we can think about the importance of psychotherapeutic activity in patients who adopt this practice, since they have the same psychological demands to traditional couples. At the moment, there is no material where professionals can turn to a deepering of the subject and the consequent foundation for psychotherapeutic action with these couples, whether in individual care or couple and family therapy. Keywords: sex, swing, swapping,psychoanalysis. SUMÁRIO Seção Página INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13 CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA SOBRE A TROCA DE CASAIS ......................................................................................................... 1.1 17 A troca de casais ao longo da trajetória humana na História .. 17 1.1.1 Grécia ...................................................................................... 17 1.1.2 Etrúria ...................................................................................... 21 1.1.3 Roma ....................................................................................... 23 1.1.4 China ....................................................................................... 25 1.1.5 Japão ....................................................................................... 27 1.1.6 Idade Média, Catolicismo e a repressão sexual ...................... 29 1.2 A repressão sexual e a Revolução Industrial .......................... 1.3 A liberação sexual e as diversificações das práticas sexuais 31 pós Revolução Industrial ......................................................... 32 1.4 O renascimento da troca de casais em seu atual formato ...... 34 1.5 A introdução do swing no Brasil e sua popularização – criação dos clubes para casais ................................................ 35 CAPÍTULO II – SWING: MODALIDADES, DIVULGAÇÃO, REGRAS E COSTUMES .................................................................................................. 2.1 Modalidade de relações sexuais englobadas no swing ........... 2.2 A divulgação do swing através das redes sociais da internet 2.3 37 37 e dos programas televisivos .................................................... 39 Código de conduta para a prática do swing ............................ 42 CAPÍTULO III – UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE A PRÁTICA DO SWING .......................................................................................................... 3.1 A transgressão da Lei paterna/social em relação ao sexo ...... 3.2 Algumas prováveis motivações descritas para a prática do swing ........................................................................................ 50 50 54 3.3 Influência do grupo no contexto do swing ............................... 60 3.4 Zonas de cautela dentro da idéia do swing ............................. 62 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 65 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 67 INTRODUÇÃO É de conhecimento do meio acadêmico a falta de literatura e de estudos psicológicos a respeito da tão divulgada prática swing nos meios de comunicação, tais como internet, revistas e programas de televisão. Dessa forma, esta revisão bibliográfica tem por principal justificativa uma melhor compreensão das motivações subjetivas que determinam tal prática. Um estudo que leve os profissionais de psicologia, bem como todos os que atuam na área da saúde mental é de suma importância para a atuação psicoterapêutica em pacientes que adotam essa prática sexual. No momento, não existe material onde os profissionais possam recorrer para um aprofundamento do tema e consequente embasamento para atuação. A metodologia aplicada foi por via de um levantamento bibliográfico do tema proposto com bases em pesquisas estrangeiras e brasileiras. Foram feitas pesquisas de matérias, artigos, livros e arquivos audiovisuais para o aperfeiçoamento e esclarecimento na área da psicologia clínica, embasada na teoria psicanalítica, para que tenhamos um acervo que poderá servir a futuras publicações. Dentro das diversas fontes de pesquisa que foram utilizadas, foi possível perceber que vivemos em uma época de pretensa liberalidade na área da sexualidade, vista, segundo Foucault (1988), desde os idos dos anos de contestação e quebra de paradigmas de 1968, como comportamentos normais e de livre exercício. Em contrapartida, a sexualidade continua tendo seus focos de preconceitos e tabus na atualidade. Para Dantas (2010) o casamento monogâmico com o compromisso de fidelidade sexual e sentimental entre os cônjuges foi oficialmente adotado e amplamente divulgado pela Igreja Católica. Esse modelo foi muito divulgado e defendido pelos católicos e posteriormente pelos adeptos da Reforma Luterana e Calvinista. Durante muitos anos após a Revolução Industrial, em nossa civilização ocidental, esse modelo de casamento foi sendo adaptado às novas condições de vida nos centros urbanos (burgos). De acordo com Foucault (1988), para a sociedade capitalista e que visa à produção e ao consumo, necessário se fazia a regulação do sexo, sendo reforçada, culturalmente, a adoção desse modelo de casamento, pois oferecia a vantagem de regular o ato sexual somente entre duas pessoas, evitando, assim, o contágio e a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis que retiravam o trabalhador da linha de produção nas grandes fábricas, além de evitar o desgaste de energias físicas que eram necessárias à produção. Foucault (1988) destaca que a partir da década de 1960, uma revolução no pensamento e na filosofia do ocidente mexeu com o estilo de vida adotado pelas pessoas. Na área sexual, o feminismo teve sua marca na famosa queima de sutiãs ocorrida em Paris no ano de 1968. Tal fato deu às mulheres o domínio sobre a própria sexualidade. Ainda nessa época, uma nova forma de relacionamento conjugal alternativo começava a se destacar: o aparecimento dos casamentos liberais, casais praticantes do swing, palavra oriunda do inglês; échangisme, em francês ou, simplesmente, troca de casais em português. “No Brasil, o swing começou a se popularizar no início da década de 70 [...]” (ENTRENÓS, 2011, p. 25). Desde então, este tipo de consórcio matrimonial começou a ter destaque em nossa sociedade, sendo divulgado em diversos programas televisivos, revistas da atualidade e sites de relacionamentos da internet. Apesar de ser divulgado e mostrado como um novo estilo de vida, ainda pode ser observado muitos preconceitos em torno desses casais praticantes do swing, preconceitos estes vindos da sociedade como um todo. Essa situação de marginalidade vivida por esses casais gera grande situação de estresse e medo. Vivenciam o medo por uma sensação de culpa por estarem fazendo algo fora da norma, das regras sociais. No aspecto saúde e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, foi possível encontrar apenas um único estudo realizado na Holanda que visa o levantamento de dados quantitativos sobre a incidência das mesmas neste público. Não foi possível encontrar, no Brasil ou em outros países, nenhum tipo de trabalho que vise a informação e educação desses casais quanto à necessidade de proteção para prática sexual (uso de preservativos). Da mesma forma existe uma grande ausência de estudos que apontem as causas e possíveis consequências psicológicas de tal prática. Baseado no que foi observado, revisando as referências bibliográficas que estão elencadas ao fim deste trabalho, algumas dúvidas devem ser exploradas, isso do ponto de vista da teoria psicanalítica. As referidas dúvidas são referentes às causas e às possíveis motivações que levariam os casais da atualidade à prática do swing, bem como traçar um perfil psicodinâmico desses casais. Vivências sexuais na prática do swing seriam uma forma inconsciente de recriar as primeiras descobertas sobre sexualidade na fase de pesquisas sexuais da criança, onde ela descobre que seu pai e sua mãe mantém um tipo de relação corporal a que mais tarde será nomeada para ela como relação sexual. Experiências na fase infantil, a cena primária de assistir aos pais em atos sexuais, seriam em parte responsáveis por uma parcela das motivações inconscientes para diversas práticas ou modalidades permitidas pelo universo swing. Fantasias homoafetivas encontrariam sua válvula de escape, fugindo do medo ao mito da castração proposto por Freud, na modalidade das práticas sexuais do ménage à trois masculino, onde o homem, por um efeito de deslocamento, se imaginaria no lugar de sua parceira no ato sexual que está presenciando. Para a mulher, como a relação sexual feminina é estimulada no swing, seria a ocasião perfeita para dar vazão aos seus impulsos homoafetivos sem correr o risco da condenação social. Ainda poderemos dizer que a prática dos relacionamentos swingers tem, ainda, como motivação o encontro sexual perfeito, aquele que vai saciar e levar ao Gozo inatingível, conforme proposto pela teoria psicanalítica. Acredita-se que a inatingibilidade desse Gozo gere frustração aos praticantes desse tipo de relacionamento sexual, pois o que é da ordem do imaginário (fetiche) é inalcançável e impossível de ser vivenciado na prática. Dessa forma a hipótese deste estudo é de que a prática swing é apenas uma fase no relacionamento sexual destes casais que, uma vez vivenciada, é abandonada por não gerar o Gozo tão esperado, a relação sexual perfeita que iria saciá-los totalmente, voltando ao relacionamento sexual monogâmico tradicional dos casais modernos. Tal fato ocorreria pelo princípio que toda satisfação pulsional excessivamente levada a efeito, acabaria por se tornar enfadonha, pois, segundo Freud (1930/1996, p.84): “Quando qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue”. CAPÍTULO I CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA SOBRE A TROCA DE CASAIS Ao se falar da prática do swing como um dos diversos comportamentos da sexualidade humana, é necessário se fazer um apanhado histórico, verificando suas possíveis origens ou semelhanças em práticas sexuais mais remotas. Para realizar esta tarefa, não tão fácil, pois as origens do swing são ainda pouco aclaradas, visou-se buscar modalidades de práticas sexuais que sejam semelhantes ao que hoje conhecemos pela designação de swing, ou troca de casais. 1.6 A troca de casais ao longo da trajetória humana na História. 1.1.1 Grécia. Os gregos antigos e suas práticas sexuais, muitas vezes calcadas em crenças religiosas que cultivavam, são pouco estudadas nesse aspecto, mas mesmo aí podem ser encontradas evidências de práticas muito próximas da atual experiência do swing. Historiadores diversos retratam uma repressão sexual imposta às mulheres gregas, diferentemente da liberdade sexual dos homens. Corroborando com essa tese, Roberts (2002) descreve essa repressão feminina e afirma que “[...] evidências sugerem que levavam uma vida bastante confinada e reclusa, mas havia diferença de costumes [...]” afirmando mais à frente que “as mulheres das casas ricas de Atenas, por exemplo, viviam em locais separados, trancadas do resto da casa à noite [...]” (ROBERTS, 2002, p. 195). Diferentemente do que é apontado por Roberts e outros historiadores, encontram-se referências muito interessantes sobre o assunto, uma delas na passagem da Odisseia de Homero citada e comentada por Partridge (2003), onde podemos ver algo bem próximo da prática swing entre os deuses gregos Afrodite – deusa do amor, da beleza e da sensualidade, seu marido Hefesto e seu amante Ares – o deus-Sol. Hefesto ao encontrar sua amada nos braços de Ares sente um misto de ciúme e prazer. Os deuses gregos, que talvez reflictam a natureza dos seus fiéis helénicos mais flagrantemente do que ocorrerá com os de qualquer outra mitologia e civilização, são, igualmente, sujeitos à contingência dos desejos e dos prazeres da carne. No oitavo canto da Odisseia há uma cena particularmente significativa, na qual Afrodite se abandona a ilícitos gozos de amor nos braços de Ares, o deus-Sol. O marido, Heféstion, o deus coxo, conclama todos os outros deuses para que venham testemunhar o adultério daquelas duas divindades; e, no entanto, ao contemplar aquele espectáculo, disse a Hermes o divino Apoio, filho de Zeus: ”Ó Hermes, filho de Zeus e seu mensageiro, ó tu que és o dispensador das benesses, em verdade gostarias, mesmo que te retivessem, muito embora, enleantes peias, gostarias de te reclinar em tépido tálamo ao lado da áurea Afrodite?” Ao que interpôs o mensageiro Argeifonte: ”Saberás tu, divino arqueiro Apoio, que, quanto a mim, quem mo dera, que tal me caísse por sorte... pois, então, ainda que me atassem peias três vezes mais enleantes, vós todos, ó deuses, e todas vós, deusas, também haveríeis de ver e estarrecer, ai!, que outra coisa não faria eu senão deitar-me ali também, ao lado da deusa Afrodite, a dos cabelos de oiro!” - e como de tal maneira discorresse o astuto mensageiro, farto gargalhar rebentou dos divertidos deuses imortais. Como se vê, nem uma palavra de repulsa moral, mas apenas uma gargalhada e aprazimento contém o comentário das olímpicas personagens sobre esse episódio, em tomo de semelhante motejo à fidelidade conjugal, devido à própria deusa do Amor. É que as convenções que regiam o comportamento sexual, tais como vigoravam então, tinham força de lei apenas civil: o conceito de ”pecado” daí aduzido só apareceria mais tarde, com a civilização cristã. (HOMERO, citado por PARTRIDGE, 2003, p. 10). A história mitológica de Afrodite imortalizou-se pelo grande número de amantes além de Ares, fossem eles divindades do Olimpo ou simples mortais, tal como Anquises, príncipe de Tróia. Segundo Partridge (2003) a prática sexual dos gregos era pautada em uma total liberdade masculina e uma aparente restrição e rebaixamento feminino, com o amor romântico sendo mais cultuado homem a homem, ou seja, a prática da homossexualidade como uma questão de tutela de um sábio para com seu tutelado. A conquista envolvia toda uma corte que visava tornar moral o sexo entre um homem de mais de 30 anos e um adolescente. Guimarães (2013) nos informa que quando se efetuavam as relações pederastas, estas aconteciam entre o tutor e seu tutelado até os 17 ou 18 anos, sendo que depois desta idade essa relação não era bem vista pela sociedade grega de então. A homossexualidade feminina também era muito comum entre os gregos, sendo até hoje imortalizado o termo lesbianismo. A homossexualidade feminina também teve seu lugar na Grécia Antiga. E, embora a mulher não ocupasse lugar de destaque e, por isso, a escassez de registros, é da antigüidade grega que provém o termo lésbica, para indicar a mulher homossexual. Lesbos é o nome da ilha onde viveu a Safo, a famosa poetisa, que não escondia sua preferência sexual pelo mesmo sexo. (GUIMARÃES, 2010). Sobre a questão sexual das mulheres, Partridge (2003) ainda nos diz que às mulheres era permitido o extravasamento das tensões causadas pelo matrimônio, sendo o grego menos rigoroso e mais condescendente do que na sociedade vitoriana com a questão do adultério feminino. E pressentiram também os helenos o que escapou aos nossos vitorianos, a saber, que restrições impostas às mulheres casadas, convenientes ou não, que fossem, eram o mesmo que impor-lhes um constrangedor estado de tensão, que melhor seria deixá-las aliviar de tempos em tempos. (BATAILLE, 1987, p. 16). Bataille (1987) reafirma Partridge (2003) comentando as festas dionisíacas realizadas pelos antigos gregos, onde “[...] orgias rituais, freqüentemente ligadas a festas menos desordenadas, previam somente uma interrupção furtiva do interdito que se opunha à liberdade do impulso sexual.” (BATAILLE, 1987, p. 74). Mas ao dar vazão aos impulsos sexuais que eram contidos pelo casamento em certas ocasiões especiais, tais como em festas e ritos religiosos, essas mulheres eram tratadas pela sociedade grega de forma diferenciada. As damas que proviam aquela alternativa ao conúbio matrimonial não eram consideradas meras válvulas de segurança, conquanto fossem precisamente isso mesmo, sem dúvida nenhuma. Com aquela simplicidade manifesta dos Gregos em todas as questões referentes ao sexo, essas raparigas eram tratadas muito mais como sacerdotisas do culto hedonístico. (BATAILLE, 1987, p. 16). O próprio Roberts (2002), que a princípio descreve algo diverso, acaba por deixar uma lacuna nesta questão, dando a entender que muito pouco se sabe sobre a vida destas mulheres, afirmando que “[...] um dos problemas é que a literatura sobre a vida doméstica é quase inexistente” (ROBERTS, 2002, p. 195). Sendo assim, fica evidente que era permitido entre os gregos antigos, em certas ocasiões, as mais diversas licenciosidades e a liberação dos impulsos sexuais refreados pelo casamento, afrouxando a rigidez matrimonial da sociedade da época. É inteiramente possível a articulação entre esta condescendência e certa tolerância, bem como o culto ao corpo e ao sexo da época, esteja em gritante semelhança com a prática liberal do sexo para os casais swingers da atualidade, ressaltando, apenas, a diferença na questão da relação sexual homossexual entre os homens, o que no universo swing, da atualidade, é uma espécie de tabu. Esse assunto será abordado mais à frente neste trabalho. 1.1.2 Etrúria. Entre os povos antigos, os etruscos1 foram quase esquecidos, havendo poucos estudos e pesquisas sobre o seu modo de vida. Foi levantado, pelos arqueólogos e historiadores, parte do passado dos etruscos, apesar dos poucos dados que se tem sobre sua existência, sendo possível saber que se localizavam na região chamada Magna Grécia – sul da Itália, tendo existido há mais de 2.500 anos a.C. Seu declínio pode ser fixado a partir 500 a.C.2 Lawrence (2004) diz ter sido esse povo quem influenciou a arte, os negócios, as construções e costumes do povo romano que se abeberou de vários elementos de sua cultura, copiando diversas de suas práticas religiosas e sociais, entre elas as festas orgíacas. Suas práticas sexuais, muitas vezes encaradas como promíscuas entre os povos vizinhos, foram inspiradoras aos romanos. Descreve Partridge (2003) que “Em parte alguma como na Etrúria as Bacchanalia vicejaram tanto e tão rapidamente, e talvez de nenhuma outra parte tanto projectaram a sua influência sobre os cidadãos da velha Roma.” (BATAILLE, 1987, p. 16). Bacchanale é uma palavra oriunda do latim e que foi traduzida para o português como Bacanal, termo utilizado para designar a festa em homenagem ao deus Baco, deus do vinho. Essas práticas, adotadas posteriormente pelos romanos seriam “[...] justificadas por meio das celebrações ritualísticas, em comemoração às colheitas, à fertilidade ou à política da cidade [...]” (SANTOS, 2010, p. 11). Partridge (2003) menciona em seu livro a citação que Ateneus de Náuclia fez em sua obra Deipnosophistae, na forma que se segue: 1 Aglomerados de povos que se localizavam na península itálica entre os anos de 2.500 a.C. a 509 a.C. 2 Etrusco. In Britannica Escola Online. Enciclopédia Escolar Britannica, 2013. Web, 2013. Disponível em: <http://escola.britannica.com.br/article/482999/etrusco>. Acesso em: 09 de outubro de 2013. Nas suas reuniões sociais ou familiares, eis como procedem: antes de mais nada, tendo cessado as libações e resolvido recolherem-se ao leito, são-lhes trazidas pelos servos, enquanto as luzes se acham ainda acesas, umas vezes algumas prostitutas, outras, mancebos formosos de tenra idade, e outras ainda, as suas próprias esposas; e depois de os amos gozarem da companhia destes, introduzem, então, os servos a moços lúbricos que, por seu turno, se servem deles. (BATAILLE, 1987, p. 17). Porém tal prática não se restringia somente às festividades religiosas de adoração a Baco, o que mais tarde se repetirá entre os romanos que as adotaram, melhorando-as e acrescentando a maior contribuição a elas: suas famosas Termas Romanas. Essa prática era comum também na vida cotidiana do povo etrusco. Entre os Etruscos, gente que afinal adquirira hábitos de luxo extravagante, Timeus regista no seu primeiro livro que as jovens escravas servem aos convivas estando inteiramente nuas. E Teopompo, no quadragésimo terceiro livro das suas Histórias, diz ser costume dos Etruscos partilharem entre si as suas mulheres; estas dispensam grandes cuidados ao seu físico e frequentemente exercitam-se com os homens, às vezes mesmo umas com as outras; pois, entre elas, não é vergonhoso mostrarem-se nuas. Além do mais, elas jantam, não só com os seus maridos, mas também com quaisquer outros homens que se achem presentes, e erguem as suas taças de vinho em brindes àquele que elas bem entenderem distinguir. O facto é que elas são terrivelmente beberronas e, aliás, muito bonitas. Os Etruscos criam todas as crianças que lhes nascem, sem saber quem é o pai de nenhuma delas em particular. As criaturas, por sua vez, seguirão o mesmo modo de agir que tinham os que as nutriram, levando idêntica vida de assíduas vinhaças e de coabitação com todas as mulheres em geral. Os Etruscos não acham vergonhoso fazer seja o que for ao ar livre, ou mesmo serem vistos a deixar que lhes façam, nas suas pessoas, alguma coisa imprópria; pois tal é, igualmente, costume do país. (BATAILLE, 1987, p. 16). Desaparecidos do cenário humano por volta dos anos 700 a.C, os etruscos levaram consigo para o esquecimento diversos aspectos de sua cultura, mas as suas práticas sexuais são revividas, mais tarde, pelos romanos, na forma das festas religiosas que ficariam imortalizadas como Bacanais – Bacchanale do latim. Estas festas eram em homenagem ao deus grego Dionísio, o mesmo deus que seria nomeado como Baco pelos romanos e que seria o deus do vinho e das orgias. 1.1.3 Roma. A festividade do Bacanal foi introduzida em Roma por inspiração dos etruscos que a realizavam desde tempos imemoriais. Os romanos contribuíram para a difusão da prática das orgias feitas nas festas de Bacchanale – bacanal, levando a prática do sexo grupal para fora das comemorações religiosas, para a convivência social diária nas famosas termas, ou banhos quentes romanos. Para Corassin (2002), as termas romanas serviam de espaço para o lazer e à prática de esportes, bem como para o convívio social dos cidadãos. O período da noite era reservado para todos os tipos de licenciosidades possíveis entre homens e mulheres, o que mais tarde se tornará um escândalo público. A prática sexual pública como, também, o culto as Bacchanales, será duramente perseguida em Roma, o que se pode ver segundo Corassin (2002), no vergonhoso processo romano ocorrido no ano de 186 a.C. quando a prática foi julgada ilegal e perseguida pelas autoridades romanas de então, o que foi descrito por Tito Lívio. A repressão do Estado foi dura: mais de sete mil foram implicados e mais de seis mil foram encarcerados ou condenados à morte, a maioria na Itália do Sul e em Roma. O castigo dos homens implicados revestiu-se de caráter público; ao contrário, a punição das mulheres foi confiada aos seus pais ou entregues àqueles de quem dependiam (LIV. XXXIX 18,6). O castigo delas não seria público, a não ser que ninguém reunisse as condições para se encarregar do suplício. Seria uma forma de sublinhar a incapacidade pública da mulher, manifestando “a reentrada na ordem patriarcal, a “normalização” do grupo das mulheres.” (CORASSIN, 2002, p. 156). Corassin (2002) descreve ainda que alguns patrícios da nobreza romana continuaram a ter muita liberdade para a vivência desse culto a Baco, o que pode ter contribuído para que não fosse de todo apagada a prática do sexo grupal. A prática sexual dos romanos, mesmo que velada, continuou ativamente em uma crescente. Após ter sido coroado imperador de Roma em 27 a.C., Augusto ficou alarmado ao descobrir que os índices de divórcio estavam a aumentar entre a elite, enquanto os índices de nascimento diminuíam. Convencido de que essas tendências conduziriam à queda do império, Augusto introduziu seus próprios conceitos de valores familiares (BBC, 2012). O imperador Augusto, preocupando-se com um colapso moral em seu império, devido à excessiva liberdade sexual dos cidadãos, promulgou algumas leis restritivas da prática sexual. Segundo o documentário História do Sexo na Antiguidade (2012), as leis que foram criadas por Augusto eram consequências do comportamento sexual de homens e mulheres que deveriam ser severamente combatidos. Por isso entre suas leis, criminalizou-se o adultério e foi dado incentivo fiscal aos casais casados da elite que tivessem filhos e que se mantivessem casados. “Mas muitos romanos continuaram seu percurso desumano e cruel, entre eles estava Julia, filha do próprio Augusto.” (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). O documentário História do Sexo na Antiguidade (2012) diz que foram muito conhecidas de toda a população romana as práticas sexuais de Julia e seu marido Agripa, imortalizando-se na história pelos diversos amantes de ambos. Apesar dos inúmeros filhos, o que prescrevia a lei de incentivo de seu pai, Augusto, Julia e seu marido permaneceram por muito tempo em suas aventuras sexuais, muito parecidas com o atual swing e sua liberdade de poligamia sexual. Era sabido que ele não era o único homem em sua cama. As pessoas até ficavam admiradas com as crianças se parecerem com ela. Ao ser questionada por tal fato, Julia respondeu: eu nunca carrego um passageiro, a menos que já tenha carga completa. Ela usou uma metáfora naval para justificar que esperava estar grávida para deitar-se com seus amantes. (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). Mais tarde, no século III d.C., essa prática sexual, tão propalada pelos etruscos e romanos irá desaparecer, devido à adoção oficial do cristianismo como religião oficial do Império Romano, feita pelo Imperador Constantino. Em 476 d.C esse grande império que dominou quase todo o mundo conhecido de então conheceu seu fim. 1.1.4 China. Antes de considerar as práticas sexuais humanas da Idade Média, não se pode deixar de mencionar, mesmo que rapidamente, um pouco das vivências orientais neste capítulo e suas principais semelhanças com o swing. Tal apreciação iniciará pelo exótico e diferente Império Chinês. Segundo Sousa (2013), a origem da China remonta cerca de 4.000 a.C., sendo que de forma didática essa data pode ser fixada por volta de 2.200 a.C.. As três principais dinastias que dominaram o território chinês e que contribuíram para a fundação do Império foram as Dinastias Xia, Dinastia Shang e a Dinastia Zhou (SOUSA, 2013). Sousa (2013) diz que entre os anos de 403 a.C. e 221 a.C. aconteceram inúmeras batalhas entre os Estados Guerreiros, sendo esse período apontado, oficialmente, como do surgimento da civilização chinesa. A narrativa oficial é pouco mais fácil de se estabelecer. A História da China, findo o período dos Estados Combatentes, tem uma espinha dorsal de várias classes alternando períodos de crescimento e decadência de dinastias. Pode se atribuir datas, mas ao usá-las há o perigo de um autoritarismo artificial e pelo menos enganoso a ser superado. (ROBERTS, 2002, p. 307). Situados no espaço e tempo desta milenária civilização, passemos à apreciação do foco central de nosso estudo: as práticas sexuais dos chineses e sua semelhança com o atual swing. Os chineses aplicaram o equilíbrio entre mente e corpo, Yin-Yang, sempre ressaltando que, para a sublimação e bem estar espiritual seria necessário o equilíbrio das energias do corpo. Entre estas energias as mais poderosas seriam as derivadas da ejaculação masculina e do orgasmo feminino (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). Segundo o documentário História do Sexo na Antiguidade (2012), as práticas sexuais com o objetivo de elevação do espírito e busca por imortalidade foram divulgadas e defendidas pelas duas maiores religiões chinesas, sendo elas o Taoísmo e o Budismo. Os manuais religiosos de práticas sexuais criados por ambas demonstram a importância dada à sexualidade tanto masculina quanto feminina. Como uma forma de ajudá-lo na sua busca de imortalidade, os homens voltaram-se para os manuais de sexo taoísta do século III a.C.. O resultado dessa procura é que esses manuais tornaram-se best sellers. Eles continham imagens de homens durante o ato de amor, e mais importante ainda, eram um guia para a preservação das essências yang masculinas. (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). Dessa forma, vemos mais uma vez o sexo sendo praticado como um rito sagrado, uma forma de ligação do homem com as divindades, com as forças da Natureza e as espirituais. O que nos chama a atenção é que as práticas exaltadas nesses manuais eram o que hoje poderia ser considerado pela nossa cultura uma verdadeira orgia. “Esses manuais de cabeceira ensinavam essencialmente aos homens uma performance sexual. O ideal seria ter seis a oito mulheres, e por vezes até de dez a quatorze.” (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). As mulheres eram vistas como depositárias do sêmen dos homens. Porém o prazer feminino era perseguido pelos homens de então, que muito se preocupavam com o desempenho em auxiliar as mulheres a obterem o orgasmo. Não há menção na história chinesa sobre infidelidades femininas, mas as masculinas eram comuns. No século II a.C. o Confucionismo tornou-se uma filosofia ortodoxa. Ao contrário do Taoísmo que pregava a luz virá do homem, o Confucionismo atribuía a máxima importância à família e à procriação. Essa escola de pensamento mudaria não só a estrutura social da China mas também sua definição de imortalidade e prazer sexual. (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). As práticas sexuais foram modificadas e hoje temos uma China mais aberta à globalização, com práticas sexuais muito próximas do ocidente, inclusive pela prática do swing. 1.1.5 Japão. O Império do Sol nascente, designação dada ao Japão pelos povos ocidentais, foi influenciado em sua formação e cultura pelos chineses. Sua fundação não é precisa, mas podemos situar a sua cronologia “[...] no início do século V.” (ROBERTS, 2002, p. 334). Suas religiões predominantes eram o Confucionismo e o Budismo, mas suas crenças possuíam características próprias, principalmente no que diz respeito à função do sexo e as suas práticas. Segundo o documentário História do Sexo na Antiguidade (2012), as práticas sexuais japonesas eram isentas do pecado tão temido pelos ocidentais. Não possuíam a noção de pecado capital que tanto influenciou a forma de pensar dos povos do ocidente pós-cristianismo. Isso lhes dava uma visão muito particular do que seria o sexo e de sua função de equilíbrio físico e espiritual com a Natureza. A maneira como se viam era a seguinte: a mulher era alguém que precisava de algo mais no seu corpo, e o homem? O homem era quem tinha algo com excesso. Deus queria unir esses dois fatores, o que estivesse em falta e o que estaria em excesso. Assim se deu essa fusão sexual de ambos, e daí em diante do resto do mundo. (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). Dentro de suas práticas sexuais, diversas semelhanças existem na sociedade japonesa com as demais, sendo uma civilização também patriarcalista, onde “os homens eram livres para se divertirem com prostitutas e concubinas.” (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). A mulher estaria em uma situação inferior ao homem em relação à sexualidade, mas nem tanto quanto nas outras civilizações já vistas neste estudo. Mesmo dentro desta sociedade patriarcalista pode ser encontrada uma prática sexual muito parecida com o swing atual descrita: Inicialmente o casamento não era a situação ideal para a sexualidade. O Confucionismo, assim como o Budismo, consentia abertamente a sexualidade fora do casamento. Os homens podiam usufruir da sexualidade extramarital sem qualquer prejuízo do sistema familiar. Ao contrário destas (chinesas), as japonesas do século VIII tinham frequentemente múltiplos maridos e amantes. (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). Apesar de não ficar claro se o sexo era praticado de forma grupal ou não, mesmo assim a prática sexual japonesa se aproxima muito da troca de casal na atualidade, no que diz respeito à postura do casal frente aos impulsos sexuais. Morgado (2006, apud BÉRTOLO, 2009, p.12) estabelece uma Escala de Dionísio3, onde os casais swingers passam por seis estágios de evolução da prática. Nesta Escala de Dionísio, há “um sexto nível no qual os parceiros podem ter a sexualidade completamente independente, não necessitando sequer de estarem juntos” (BÉRTOLO, 2009, citado por FARIAS, 2012, p. 19). Talvez nisso possamos encontrar a semelhança entre a prática swing no nível seis e a japonesa, onde eram 3 A citação da Escala de Dionísio será exposta e comentada mais à frente neste trabalho no subtítulo 2.1 - Modalidades de relações sexuais englobadas no swing. comuns diversos parceiros (as) fora do casamento, tanto para as mulheres quanto para os homens do antigo Japão. 1.1.6 Idade Média, Catolicismo e a repressão sexual. Pode-se situar a Idade Média entre os anos de 476 d.C, com a queda do Império Romano do Ocidente, a 1453 d.C., ano em que Constantinopla foi invadida pelos turcos mulçumanos. Segundo Roberts (2002) esse período foi regido pelo sistema feudal, onde um senhor feudal possuía a posse das terras e seus trabalhadores camponeses recebiam o nome de servos. Esses servos também eram propriedades dos senhores feudais, sendo herdados pelos seus descendentes por ocasião de sua morte. Um dos grandes poderes desta época era o da Igreja Católica Apostólica Romana, que ditava as regras morais a serem seguidas. Nem mesmo os reis se igualavam com o seu poder, sendo somente coroados, oficialmente, se fossem pelas mãos dos papas (ROBERTS, 2002). Fundada no século III, ao ser elevada à condição de religião oficial do Império Romano, pelo imperador Constantino, a Igreja defendia em sua teologia, como ainda o faz hoje na atualidade, a continência dos desejos sexuais, bem como a restrição das práticas relacionadas ao sexo somente ao ato da concepção humana (BATAILLE, 1987). Em se tratando das prescrições de um dos pais da Igreja, Santo Agostinho, pode ser observado que o mesmo traçou uma série de regras para a regulamentação do sexo permitido, e estabelecendo o banimento do sexo pecaminoso. Um dos mais ligados de Santo Agostinho pode ser encontrado no que escreveu no sexo marital. Ele afirmou que o único sexo permitido seria feito com o homem numa posição superior, com a mulher deitada e ele por cima, e apenas com o propósito da procriação. É daqui que vem a idéia do que conhecemos por ser a posição missionária. Estes e outros ensinamentos de Santo Agostinho e dos seus contemporâneos foram se tornando gradualmente conceitos comuns do pensamento ocidental. (HISTÓRIA DO SEXO NA ANTIGUIDADE, 2012). Dessa forma, conteve-se o sexo, se criou interdições e regras maritais rígidas, sob pena de ser julgado não só por crimes contra a boa ordem social da época, mas também de ser julgado por Deus ao fogo eterno. O sexo passou a ser visto como algo pecaminoso, sujo e muito perigoso. Um perigo que caberia aos sacerdotes de então livrar seus fiéis (BATAILLE, 1987). Como o sexo, no dizer de Santo Agostinho, passou a ser exclusivamente para a procriação, Bataille (1987) nos descreve que, sendo os atos, fora deste fim, considerados perigosos e pecaminosos, o casamento e a procriação eram defendidos pela igreja, mas mesmo com a concretização do matrimonio se deviam evitar os perigos do sexo. Para Dantas (2010) o casamento monogâmico com o compromisso de fidelidade sexual e sentimental entre os cônjuges foi oficialmente adotado e amplamente divulgado pela Igreja Católica. Nos séculos XII e XIII, a atividade sexual passou a ser considerada um ritual sagrado, que estava, portanto, sob o domínio da Igreja. Cabia ao sacerdote discipliná-la e regulamentá-la. A vida íntima do casal lhe competia. A prática sexual deveria ser contida e recatada. As extravagâncias e excentricidades eram repudiadas e proscritas. Obrigava-se ao ato, mas condenava-se o excesso. O contato demasiadamente erótico e ardente era condenado pela cúpula cristã, sobretudo na relação conjugal, que se tornara sagrada. Era preciso, portanto, respeitá-la e preservá-la da promiscuidade, sem, no entanto, renunciar ao ato sexual. Em nome da procriação, toleraram o desejo, vigiaram o prazer. Salvou-se a cópula: sacramentada, ritualizada e racionalizada para a propagação da espécie (DANTAS, 2010, p. 6). Tal fato aliado à severa repressão imposta aos fiéis, fez com que as práticas sexuais parecidas com o swing, somente reaparecessem após a idade média, sob uma nova forma, encoberta com outros costumes e crenças de então. 1.7 A repressão sexual e a Revolução Industrial. Iniciada no século XVIII na Inglaterra, a Revolução Industrial modificou a face da sociedade ocidental, encerrando definitivamente o sistema feudal. Uma de suas principais características foi à imigração dos camponeses dos antigos feudos para os burgos (cidades). Lá os camponeses se tornaram operários. Era o início do capitalismo (ROBERTS, 2002). De acordo com Foucault (1988), para a sociedade capitalista e que visa à produção e ao consumo, necessário se fazia a regulamentação do sexo, sendo reforçada, culturalmente, a adoção do modelo de casamento monogâmico, pois oferecia a vantagem de regular o ato sexual somente entre duas pessoas, evitando, assim, o contágio e a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis que retiravam o trabalhador da linha de produção nas grandes fábricas, além de evitar o desgaste de energias físicas que eram necessárias à produção. Esse discurso sobre a repressão moderna do sexo se sustenta. Sem dúvida porque é fácil de ser dominado. Uma grave caução histórica e política o protege; pondo a origem da Idade da Repressão no século XVII, após centenas de anos de arejamento e de expressão livre, fazse com que coincida com o desenvolvimento do capitalismo: ela faria parte da ordem burguesa. A crônica menos do sexo e de suas vexações se transpõe, imediatamente, na cerimoniosa história dos modos de produção: sua futilidade se dissipa. Um princípio de explicação se esboça por isso mesmo: se o sexo é reprimido com tanto rigor, é por ser incompatível com uma colocação no trabalho, geral e intensa; na época em que se explora sistematicamente a força de trabalho, poder-se-ia tolerar que ela fosse dissipar-se nos prazeres, salvo naqueles, reduzidos ao mínimo, que lhe permitem reproduzir-se? (FOUCAULT, 1988, p. 11). Nesta época os homens podiam exercer sua sexualidade em casas de prostituição, mas somente de forma oculta, e as mulheres eram duramente reguladas em sua sexualidade, sendo permitido apenas o sexo marital, e exclusivamente com a finalidade de procriação. Ao fim desse período, em 1905 o Dr. Sigmund Freud lança a primeira obra que falaria abertamente sobre sexualidade e sua importância na vida psíquica do ser humano. Foi um escândalo na sociedade da época, pois as noções e a forma que Freud trataria a sexualidade, principalmente a infantil, eram consideradas ultrajantes. Adotando uma postura não-moralista e avançada até mesmo para os parâmetros atuais, Freud afirmava que, em suas formas extremas, tais práticas só deviam ser tratadas se trouxessem sofrimento e afetassem a totalidade da psique, o que depende também do contexto social e cultural em que ocorrem. Assim, Freud ajudou a humanizar e a normalizar (não a normatizar) nossa visão dessas práticas (passíveis de condenação social e judicial no seu tempo), encarando-as como peculiaridades individuais ou como preliminares que enriquecem a vida sexual (HANNS, 2005, p. 01). Era para Foucault (1988), o início do discurso científico sobre a sexualidade humana. 1.8 A liberação sexual e as diversificações das práticas sexuais pós Revolução Industrial Muitas mudanças se concretizaram no cenário ocidental nos anos de 1960. Todas essas mudanças se deram depois dos movimentos de contestação e de contracultura que marcariam diversos países europeus e também os jovens brasileiros que estariam em plena luta pelos direitos civis contra a ditadura militar no Brasil, que foi instalada no ano de 1964. Foucault (1988) destaca que a partir da década de 1960, uma revolução no pensamento e na filosofia do ocidente mexeu com o estilo de vida adotado pelas pessoas. Na área sexual, o feminismo teve sua marca na famosa queima de sutiãs ocorrida no ano de 1968. Tal fato deu às mulheres o domínio sobre a própria sexualidade. Outro fato que iria reforçar o movimento feminista e sua luta pela liberdade sexual feminina seria o fato histórico que ocorreu “no dia 18 de agosto de 1960 [...]” onde “[...] foi lançado o contraceptivo oral Enovid-10 nos Estados Unidos. A pílula significaria uma verdadeira revolução nos hábitos sexuais do mundo ocidental.” (HARTL, 2013, p. 01). O famoso Movimento Hippie foi um passo além na liberação sexual, onde os jovens pregavam o amor livre, expresso no lema paz e amor. Defendiam que a sexualidade deveria ser livre e que cada um poderia vivenciá-la da forma que desejasse. “Passaram a viver em bairros separados ou em comunidades rurais. Rejeitando a sociedade de consumo industrial, viviam do artesanato e, no campo, da horta. Não mantinham as regras esperadas de comportamento, higiene, nem de acasalamento [...]” (SCHILLING, 2008, p. 9). Como será visto, mais adiante, o Movimento Hippie foi um dos grandes divulgadores do sexo casual, sem compromisso, biológico, tal como é defendido pelos adeptos do swing. Talvez seja por isso que se possa fazer uma correlação da grande revolução ocasionada pelos hippies ao aparecimento mais marcante do swing no cenário mundial dos anos de 1970. 1.9 O renascimento da troca de casais em seu atual formato Segundo Weid (2008), por volta dos anos de 1950 encontramos uma prática nos Estados Unidos que poderia ser apontada como uma das mais prováveis origens do swing dentro da atual configuração ou apresentação da prática. [...] a troca de esposas, ou “wife swapping”, acontecia nas chamadas “festas de chaves”, onde os maridos depositavam as chaves de seus carros em um recipiente localizado no centro de uma sala e as mulheres sorteavam uma chave ao acaso para passar a noite com o homem sorteado. (WEID, 2008, p. 30). Ainda Weid (2008) diz que a prática teria iniciado, segundo um jornalista norte americano, em bases militares dos Estados Unidos. Tal fato, também, é citado por Santos (2010), que explica como era esse comportamento. Os pilotos americanos que foram lutar na segunda guerra mundial, entre os anos de 1941 a 1945, faziam entre eles um pacto inusitado. Esse pacto consistia em cuidar da família e da esposa do companheiro caso esse viesse a morrer em batalha. Gould (1999), o jornalista americano que descreveu a prática, diz que esse pacto prescrevia um cuidado financeiro e sexual para com a esposa do companheiro de batalhas falecido. A maioria dos sites de relacionamentos swingers cita este episódio como a provável origem dos relacionamentos swingers. Em 1960, essa nova forma de relacionamento conjugal alternativo começava a se destacar: o aparecimento dos casamentos liberais, casais praticantes do swing, palavra em inglês; échangisme, em francês ou, simplesmente, troca de casais em português, eram bem mais populares. Em 1970 a prática é muito divulgada pelo Movimento Hippie, que pregava o sexo livre. Desde então, este tipo de consórcio matrimonial começou a ter destaque em nossa sociedade, sendo divulgado em diversos programas televisivos, revistas da atualidade e sites de relacionamentos da internet. Segundo Entrenós (2011) o swing tornou-se muito popular e divulgado durante a década de 1990 e o seu auge ocorreu entre os anos de 2004 e 2008. Isso é corroborado por Bauman (2004), que diz que a prática estaria ocorrendo na França por aquela época. Em Paris, o échangisme (um nome novo e, dada a recente igualdade entre os sexos, mais politicamente correto para um conceito um pouco mais antigo, recendendo a patriarcalismo, a troca de esposas) supostamente se tornou a moda, o jogo mais popular e o principal assunto do momento. (BAUMAN, 2004, p.71). Na atualidade o crescimento do número de adeptos do estilo de vida e da prática swing vem aumentando consideravelmente no mundo todo. Segundo Weid (2008) “estimativas do Instituto Kinsey e de outros pesquisadores, nos Estados Unidos mais de 4 milhões de pessoas são praticantes de swing.” 1.10 A introdução do swing no Brasil e sua popularização – criação dos clubes para casais. Existem poucos dados sobre a chegada do swing ao Brasil, não havendo muitas informações a respeito entre os pesquisadores do tema. Podemos situar essa data no decorrer dos anos de 1970. “No Brasil, o swing começou a se popularizar no início da década de 70 [...]” (ENTRENÓS, 2011, p. 25). É ainda Entrenós (2011) que nos diz que nos anos de 1980 a prática foi melhor aceita e que durante os anos de 1990 surgiram “várias casas noturnas, principalmente na cidade de São Paulo [...]” (ENTRENÓS, 2011, p. 25). Tal fato contribuiu para um grande crescimento no número de adeptos nesta época. Porém a época em que o swing mais se popularizou no Brasil foi à década seguinte, o “[...] novo “boom” aconteceu entre 2004 e 2008 e somente no Rio de Janeiro, entre o ano de 2000 e 2010, 10 boates abriram [...]” (ENTRENÓS, 2011, p. 25). Hoje diversos clubes de swing existem no Brasil, sendo que há pelo menos um em cada capital brasileira, além dos inúmeros sites de relacionamento entre casais e de blogs que tratam do assunto e divulgam o que Giddens (2002) chama de “estilo de vida”. CAPÍTULO II SWING: MODALIDADES, DIVULGAÇÃO, REGRAS E COSTUMES A prática do swing no Brasil não quer dizer liberdade de fazer o que se quer, mas sim liberdade para práticas sexuais que tenham consentimento de ambas as partes e que não configurem prática criminosa, o que os autores Entrenós (2011), Morgado (2006), Bértolo (2009) e Weid (2006) vão ressaltar em seus escritos a respeito do assunto. 2.1 Modalidades de relações sexuais englobadas no swing. As práticas sexuais, níveis de permissão, categorias ou modalidades do swing são diversas, muito mais do que a simples troca de casal que o termo swing sugere ao ser traduzido para o nosso português. “Tipicamente, considera-se swing quando um casal inclui um ou mais indivíduos numa relação sexual.” (BÉRTOLO, 2009, p. 9). Ainda Bertólo (2009) diz existir diversas modalidades de swing e, dentre elas, as mais praticadas são: o voyeurismo, em que os casais se limitam a ver os outros casais tendo relações sexuais; o soft swing4, em que existe a troca de casais, mas sem a consumação do ato sexual; e o full swap5, em que existe a troca de casais e há relações sexuais (BÉRTOLO, 2009, p. 9). Morgado (2006), citado por Bértolo (2009) nos fala da Escala de Dionísio 6 que relaciona os níveis de permissão/modalidades de trocas de casais, sendo ao todo seis níveis, alcançados paulatinamente pelos praticantes. O sexto nível é o mais complexo, sendo alcançado somente por poucos casais adeptos do swing, isso devido ao ciúme. Escala de Dionísio, que reflete as etapas pelas quais os casais passam quando iniciam o Swing: no nível 1, o casal tem prazer em partilhar a sua sexualidade à distância através do telefone, e-mail ou webcam; no nível 2, o casal envolve-se com um single7, geralmente uma mulher; no nível 3, o casal gosta de observar uma cena de sexo, ou ser visto; no nível 4, o casal interage com outro casal ou single, tendo em conta um conjunto de regras e limites preestabelecidos, geralmente iniciam-se no soft swing; no nível 5, o casal faz troca completa de parceiros, full swap, com um/a single. Pode, ou não, ser estabelecido um conjunto de regras e limites, o casal está normalmente sempre junto e a partilha é equitativa; no nível 6, o casal partilha totalmente a sua sexualidade com outro casal ou single, sem quaisquer limites o casal pode nem sempre estar junto, as partilhas podem não ser equitativas ou ser apenas de um deles (MORGADO, 2006 citado po BÉRTOLO, 2009, p. 12). As práticas sexuais do sexo oral, sexo vaginal, sexo anal, masturbação solitária como forma de exibicionismo, masturbação a dois e carícias são comuns na troca de casais, diferentemente do beijo na boca que é pouco adotado pelos 4 Troca suave de casal. Troca completa. 6 Na mitologia grega, Dionísio era o deus do vinho, pois possuía os conhecimentos e segredos do plantio e colheita de uva. Possuía também os segredos da produção do vinho. Era também associado às festas e atividades relacionadas ao prazer material. Dionísio era filho de Zeus (Rei dos deuses) com a princesa Sêmele. Dionísio ficou conhecido como Baco na crença romana, de onde provém o termo bacanal, oriundo do latim bacchanale. Disponível em: www.suapesquisa.com/mitologiagrega/dionisio.htm. Acesso em: 10.fev.2014. 7 Solteiro. 5 participantes, por considerarem o ato muito afetuoso e só digno de ser feito somente com o parceiro (a). 2.2 A divulgação do swing através das redes sociais da internet e dos programas televisivos. Na atualidade a prática swing está cada vez mais em franca expansão e isso pode ser atribuído ao advento das famosas redes sociais da internet. Neste estudo foram consultados vários sites relacionados ao swing, onde nos deparamos com a ampla divulgação de festas swingers, eventos, cruzeiros e a divulgação pessoal de casais através de sites de relacionamentos específicos para casais swingers, tais como os sites Sexo com Café, Sexlog, CRS – No fake e Swing Certificado8. Segundo Santos (2010), nota-se que os sites de relacionamentos virtuais swingers serviram para ampliar a divulgação da prática, bem como aproximar seus praticantes, criando uma espécie de rede de ofertas de todos os tipos para prática sexual. [...] Esta serviu como fonte de divulgação do swing estreitando o diálogo entre seus adeptos, através das comunidades, que surgiram para atender este público. Contudo, também constatou-se que em algumas dessas comunidades, mas principalmente, nos websites que divulgam as casas, além da apologia ao swing, ele é posto como condição de relação, supostamente, mais honesta do que um relacionamento comum. (SANTOS, 2010, p. 45) 8 www.sexocomcafe.com.br; www.sexlog.com; www.swingreal.com e www.swingcertificado.com.br. Podemos observar que nos sites de relacionamentos consultados durante a pesquisa, há uma excessiva divulgação de imagens do nu feminino, em atos sexuais ou não, diferentemente dos homens, que apenas divulgam fotos de suas genitálias. Foi observado, ainda, que as identidades são preservadas, não havendo fotos de rosto e sendo encobertas quaisquer tipos de tatuagens ou de marcas que possam vir a identificar os praticantes. Para Vasconcelos (2011) existe um ponto de semelhança entre o swing e a pornografia bem nítido, isso devido ao fato de que as imagens veiculadas nos sites de relacionamentos serem, em sua grande maioria, de sexo explícito, onde se vê mulheres e homens em diversas posições e arranjos sexuais permitidos pela prática. Vasconcelos (2011) ainda destaca que tal fato seria a principal semelhança com a pornografia, pois “[...] eles se aproximam bastante. Visões de corpos, partes de corpos; partes que servem para fazer as vezes de fonte de sedução para o espectador que está do outro lado da tela, seja ele um casal, ou alguém solteiro” Estas imagens teriam a principal função de servirem como um cartão de visita a todos os internautas que passarem pelos sites de relacionamentos, à procura de um casal disponível para prática sexual ou apenas de inspiração para a masturbação solitária. Na maior parte das vezes a mensagem de sedução e de segredo, quase sempre ressaltados por corpos estabelecidos comumente como “sarados”, bronzeados, utilizando-se de brinquedos eróticos ou em paisagens consideradas “paradisíacas”. No fim das contas o intento é seduzir. (VASCONCELOS, 2011, p. 04) Ainda tratando sobre os sites de relacionamento, além das imagens dos corpos nus em práticas sexuais ou não, Vasconcelos (2011) destaca a importância dos perfis escritos nas páginas sociais de cada casal swing. Nestes eles expõem, através de nomes pessoais fictícios e de um pseudônimo criado para nomear o casal, quais as suas preferências sexuais, limites e tipos físicos que mais os agradam e aos quais eles procuram para a prática sexual no swing. Ainda deixam claro em seus perfis, segundo Vasconcelos (2011), “se possuem o que chamam normalmente de vícios (fumo, álcool, drogas ilícitas)”. Como se pode constatar, a internet hoje é a principal ferramenta de divulgação do swing no Brasil, sendo local de encontros e relacionamentos virtuais que se pretendem tornarem reais, através de encontros particulares entre dois casais ou mais, ou através de festas promovidas pelas boates para casais swingers. Além da internet, os programas televisivos veem oferecendo ao mundo swing um grande meio de divulgação da prática. Tal se pode observar utilizando-se do exemplo mais recente, onde, no programa de entrevistas da jornalista Marília Gabriela9, foram entrevistados Fernando e Maria de Fátima, conhecidos no meio swing como Casal Pimenta10. Na excelente entrevista do Casal Pimenta, vemos Fernando, e Maria de Fátima apresentando seu estilo de vida no mundo swing. Segundo Fernando “A Fátima é meu sexto casamento e propôs algo diferente para que ela não fosse só mais uma”. Fernando ainda destaca para Marília Gabriela que “nos meus relacionamentos sempre fui fiel. Minha idéia não era buscar algo fora do casamento, mas sim junto com ela (esposa)”. Para Fernando o que o motivou a sua busca pelo swing junto de Fátima foi o fato de que “queria vê-la com outro cara, mas demorou um ano para convencê-la. Na primeira vez eu só olhei”. Fernando afirma ser ativo durante as práticas sexuais, não sendo voyer. Em suas falas ressalta a regra máxima do swing que será abordada mais à frente nesse trabalho, ao dizer que “a regra é que tudo é permitido e nada é obrigatório”. O que chama atenção na entrevista do Casal Pimenta é a necessidade de promoção do estilo de vida swing, o que eles fizeram questão de realçar a cada lance da entrevista, divulgando além do Blog Oficial do casal, e o site de relacionamento swing Sexo com Pimenta11, administrado por eles. Hoje Fernando e Fátima vivem exclusivamente das festas swingers que promovem, sendo estas sua principal fonte de renda. Ambos se intitulam como “empresários do estilo de vida swing” ou “promoters de festas para casais” 9 Programa Gabi Quase Proibida, exibido em 27 de novembro de 2013 através do SBT. Disponível em: http://www.sbt.com.br/gabiquaseproibida/noticias/13365/Gabi-Quase-Proibida-desta-quarta-trazCasal-Pimenta-para-falar-sobre-swing.html#.Uvn6487tXfB. Acessado em: 10.fev.2014. 10 Blog oficial do Casal Pimenta: http://festasdocasalpimenta.blogspot.com.br. Acessado em: 10.fev.2014. 11 www.sexocompimenta.com. Para o Casal “(No swing) Inúmeros casais frequentam, mas poucos são realmente liberais” sendo esse fato tratado como um problema entre os swingers, pois traria dificuldades de relacionamentos na vida conjugal desses praticantes. Mas, ainda ressaltam que o swing é também algo a ser considerado como uma opção de vida, tanto que disseram a Marília Gabriela que “já fizemos alguns casamentos e noivados na festa de swing”. Dessa forma fica claro o quanto a prática do swing vem ganhando espaço na sociedade brasileira, o que é defendido pelos seus participantes como estilo de vida. Ressaltamos, ainda, que são raras entrevistas de swingers nos canais abertos da televisão brasileira, ainda pelo grande preconceito e marginalização que esses casais sofrem em nossa sociedade, o que torna a presente entrevista abordada uma raridade, pelo fato de que esses casais preferem o anonimato à exposição de suas verdadeiras identidades, contrários a posição do Casal Pimenta. A grande maioria dos casais que assumem o estilo de vida swing, adotam o anonimato considerando que a adoção desse estilo de vida traz consigo algumas complicações, como por exemplo, os estigmas e, para se protegerem deles, atuam publicamente em consonância com os papéis atribuídos aos cônjuges na esfera social, mas na esfera privada, junto ao parceiro (a), negociam seus desejos de forma explicitada para levarem adiante o swing, mas sem revelar publicamente sua escolha pela prática. Ao negociarem, evitam inadequações sexuais trazidas pelo sigilo que muitos casais mantém diante de suas fantasias como afirmam Zeglio & Rodrigues Jr. (2007). 2.3 Código de conduta para a prática do swing. As escolhas sexuais dos casais swingers, ainda são vistas, em nossa sociedade do século XXI, como algo marginal, pecaminoso e imoral. Esses casais, segundo Entrenós (2011), ainda necessitam se esconder e evitar que seus amigos, familiares e colegas de serviço saibam de suas preferências sexuais. Isso é possível com muito incômodo, causado pelo fato de terem de vivenciar uma falsa imagem em sociedade, sendo um casal monogâmico no contexto social e, ao mesmo tempo, um casal poligâmico sexual no universo swing. Devido ao preconceito e à posição marginal em que foram postos estes casais, acreditamos originar a escassez da literatura em psicologia sobre esta prática. A idéia que a sociedade faz do swing, em sua atual configuração, é de que se pode tudo, que ninguém é de ninguém e que na prática do sexo não existe limites. Ledo engano que se incorre ao pensar dessa forma. (ENTRENÓS, 2011). O mundo swing possui regras, e a principal delas, segundo Entrenós (2011), é a de que o sexo só é permitido se for de comum acordo, nunca o sexo sem consentimento. Abusos sexuais são raros, devido aos seguranças das boates swingers, mas mesmo assim ainda podem ocorrer. No âmbito da psicologia jurídica não foi possível encontrar nenhum trabalho que tenha abordado esse assunto, violência sexual no meio swing. Encontramos apenas a decisão equivocada de um juiz de direito que espelha o preconceito e a forma pelo qual a sociedade atual encara o swing: Em julho de 2004 o Tribunal de Justiça de Goiás tomou uma polêmica decisão ao absolver José Roberto de Oliveira da acusação de ter praticado contra Luziano Costa da Silva “ato libidinoso diverso da conjunção carnal”. A matéria do Jornal O Globo sobre o assunto, intitulada “Orgia tem regra: ninguém é de ninguém”, expõem a decisão do tribunal: “A prática de sexo grupal é ato que agride a moral e os bons costumes minimamente civilizados. Se o indivíduo, de forma voluntária e espontânea, participa de orgia promovida por amigos seus, não pode ao final do contubérnio dizer-se vítima de atentado violento ao pudor. Quem procura satisfazer a volúpia sua ou de outrem, aderindo ao desregramento de um bacanal, submete-se conscientemente a desempenhar o papel de sujeito ativo ou passivo, tal é a inexistência de moralidade e recto neste tipo de confraternização” (JORNAL O GLOBO DE JULHO DE 2004, citado por WEID, 2006, p. 6). No caso citado por Weid (2006), a vítima era um homem, sendo o acusado também do sexo masculino. Não ficou claro qual foi a atitude do agressor, mas a lei ampara os casos de violência sexual deste tipo, homem com homem, enquadrando o agressor, a época do fato (2004), em Atentado Violento ao Pudor, o que foi alterado pela Lei 12.015/2009: Título VI - Dos crimes contra a dignidade sexual - Capítulo I - Dos crimes contra a liberdade sexual - Estupro - Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. 2º Se da conduta resulta morte: Pena reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (MUNIZ, 2010, p. 01). Dessa forma, já fica evidente o quanto o ordenamento jurídico ainda está perpassado pelo preconceito e pelo que Foucault (2005) denomina como “relações de poder”. É uma decisão judicial que tenta impor ao ser humano o que é moral, o que deve ser ou não a prática de sua sexualidade. Ao tomar tal decisão, o juiz revelou o descumprimento da sua condição de protetor legítimo dos cidadãos que vivenciam sua sexualidade de uma forma diferenciada da sociedade vitoriana. Entrenós (2011) nos sugere que por serem deixados no desamparo da lei, os praticantes swingers começaram a criar seus próprios códigos de conduta. Uma das regras que chamam a nossa atenção é a de que no meio swing é proibido o homossexualismo masculino, mas o homossexualismo feminino é muito bem aceito e bem-vindo na prática, como uma das preferidas fantasias sexuais dos casais. (WEID, 2009). Sobre a questão da homossexualidade ou práticas sexuais com pessoas do mesmo sexo, Weid (2009) afirma que em matéria de swing o básico é haver o consentimento [...] “você pode tudo, mas não é obrigado a nada”. Esse “poder tudo” esbarra em uma das principais “proibições” – talvez a única – que explícita ou implicitamente, encontrei no meio swinger: “não tem homossexualismo masculino” (WEID, 2009, p. 109). Weid (2009) destaca que a construção da masculinidade no Brasil estaria fortemente centrada nos papéis que devem ser desempenhados pelo homem na hora da prática sexual, papéis estes de dominação e subjugação do outro, o que a leva a considerar como uma provável explicação para a não aceitação da homossexualidade masculina. Em contrapartida o homossexualismo feminino, ou mesmo o relacionamento sexual casual entre duas mulheres no meio swing, no dizer de Weid (2009) “[...] é muito comum e ter tido esta experiência não coloca em dúvida sua feminilidade nem para elas mesmas, nem para os outros”. Nos sites de boates consultados em nossa pesquisa, pode-se ver que as regras da prática do swing estão explicitadas, devendo ser respeitadas pelos casais, o que na prática eles levam, em sua grande maioria, também, para fora dos clubes swingers, em suas festas particulares. Outra regra interessante e a de que nunca se deve levar uma profissional do sexo (prostituta) para o swing. Entrenós (2011) nos diz ser prática comum aos homens brasileiros, segundo ele, ainda machistas, de insistirem em contratar uma prostituta para fazer papel de suas esposas na hora da prática do swing. As consequências de tais atitudes são: Além dos clubes e boates, que têm seus próprios métodos para evitar a entrada destes “casais”, os próprios casais (de verdade – casados, noivos ou namorados) percebem a farsa e se afastam destes falsos casais. (ENTRENÓS, 2011, p. 49). Quanto ao uso de camisinha, Entrenós (2011) diz que os praticantes do swing são adeptos do uso de preservativo, mas que “todavia, todos conhecemos as fraquezas da carne e infelizmente alguns poucos (uma minoria) teimam em transar sem camisinha, tornando a fantasia uma verdadeira roleta russa” (ENTRENÓS, 2011). Em se tratando de doenças sexualmente transmissíveis no meio swing, o Brasil possui um grande déficit de informações, estatísticas e em trabalhos de orientação para este público, diferentemente da Holanda. Na matéria da BBC Brasil (2010)12 sobre o assunto destaca-se a informação de que “casais acima dos 40 anos que praticam troca de parceiros podem estar contribuindo para o alastramento de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) na população em geral, indica uma pesquisa feita por cientistas holandeses” Na referida pesquisa holandesa divulgada pela BBC BRASIL (2010), ficou claro que, pelo menos naquele país, “[...] entre 9 mil pacientes pesquisados que procuraram consultas em clínicas especializadas em DSTs na Holanda, 12% eram adeptos da prática conhecida como swing e tinham idade média em torno de 43 anos”. Esse estudo, pioneiro no mundo em relação à prática sexual e à infecção por DSTs deste grupo de pessoas, mostra o quanto um estudo sério de estatística de casos deveria ser posto em prática pelas universidades e centros de pesquisas brasileiras. Continuando em descrever as condutas adequadas e as impróprias para a prática do swing em seu livro para iniciantes, Entrenós (2011) alerta para as regras de comportamento em um capítulo intitulado como Manual Básico para o Swing 13, este retirado do site da Boate 2 a 214. As principais regras do referido Manual dizem respeito à vestimenta e ao comportamento que deverá ser adotado nos ambientes reservados à prática, bem como nas relações sexuais que ocorrerem entre os praticantes Do Manual podemos destacar que em relação à vestimenta é sugerido aos principiantes que: Vista-se da maneira mais confortável possível (porém nunca perca a elegância). Se você é exibicionista e/ou gosta de roupas bem ousadas, sim, as boates e clubes de swing permitem e incentivam tal 12 Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/06/100624_swingers_doencas_mv.shtml. Acesso em: 12.out.2013. 13 Livro Um casal entre nós, editora LivroPronto, 1ª edição, 2011. 14 www.2a2.com.br atitude. Caso seja de sua conveniência, saia de casa vestida com uma roupa bem comportada e troque de roupa no local. Evite na medida do possível o uso de jóias e bijuterias, pois por motivo óbvio, a perda destes objetos, pela própria atividade, é muito freqüente (MANUAL BÁSICO PARA O SWING citado por ENTRENÓS, 2011, p. 59). Esse aspecto vestimenta também é citado por Weid (2006), que diz ser importante a forma como as mulheres se apresentam nas boates swingers, pois dessa forma “[...] os trajes femininos podem simbolizar o status da mulher (iniciante/iniciada) [...]”. Dependendo da vestimenta da mulher quando for a uma boate swing, ela sinaliza como deverá ser tratada pelos homens presentes, de acordo com a “[...] sua disposição para a noite” (WEID, 2006, p. 12). A calça comprida tem uma simbologia acordada e bem conhecida entre os casais e frequentadores de boates swingers. O uso desta vestimenta “[...] simboliza no swing algum tipo de impedimento [...]”, dessa maneira a “[...] mulher que está de calça num ambiente como este procura alguma forma de proteção” (WEID, 2006, p.12). Weid (2009) observa que quase nenhuma das frequentadoras das boates por ela visitadas usam calças compridas, mas que fazem uso de vestimentas bem mais adequadas à prática. Na observação pude perceber que as mulheres se vestem de forma sensual e provocante. Os trajes variam entre vestido curto ou saia curta e justa, blusa de alça, vestido de uma alça só, tomara que caia, decotes dos mais variados estilos. Todas as mulheres que observei estavam sem sutiã. (WEID, 2009, p. 112) Ainda descrevendo a forma pela qual as mulheres praticantes do swing se vestem, Weid (2009) diz que “[...] outra entrevistada disse: ‘a gente vai a casas de casais, eu gosto de estar arrumadinha, uma roupa sexy, uma saia curtinha, um salto bonito, uma calcinha nova’ (Heloisa)”. Os homens não se preocupam tanto com as roupas e acessórios, tal como as mulheres. Para eles o básico é uma calça e uma camisa. O que fica evidente é que as preocupações deles nas boates swingers são de outra ordem, dando “[...] a impressão de se preocuparem muito mais com a sua performance sexual. O medo masculino é o de falhar na hora H” (WEID, 2009, p. 114). Entrenós (2011) destaca o segundo ponto fundamental do Manual Básico para o swing o “como agir dentro de uma boate swing ou na relação sexual com outro casal”. Segundo o autor as atitudes dentro de uma casa de swing e ao manter contato com outro casal adepto da prática devem ser muito bem observadas por parte dos swingers. Tal como alerta Entrenós (2011): “Seja você mesmo. Você, com certeza, encontrará outros casais na mesma situação que a sua, portanto, tente uma aproximação e apresente-se sem problemas”. Outro aspecto interessante que Entrenós (2011) trata é de que deve-se ter uma boa conversa entre os casais, deixando bem claro o que se pode ou não realizar na prática sexual. Nem tudo é permitido e cada casal possui seus limites. Dessa forma o que para um pode, para outro é proibido. No que tange à traição, ao adultério como visto pelos casais monogâmicos tradicionais, Bértolo (2009) afirma que os casais swingers possuem uma visão diferenciada quanto ao tema: Os casais swingers distinguem dois tipos de fidelidade: a fidelidade sentimental, que garante o amor entre duas pessoas e que representa o compromisso espiritual entre elas; e a fidelidade sexual, aquela que garante um compromisso físico, é a garantia de que uma pessoa não se envolverá sexualmente com outra pessoa. (BÉRTOLO, 2009, p. 11). Ao fazer a distinção entre a fidelidade sentimental e a fidelidade sexual, os casais swingers estariam enfatizando a prática swing como sendo uma liberalidade do compromisso da fidelidade sexual e não a do compromisso de fidelidade sentimental. Os casais swingers fazem esta distinção dando uma importância e primazia maior à fidelidade sentimental, dizendo-se assim monogâmicos a nível sentimental/espiritual e poligâmicos a nível sexual. Além disso, os casais tendem a desenvolver determinadas regras com o intuito de proteger a relação e prevenir o ciúme. As regras mais comuns incluem: lealdade física e emocional para com a relação; restrição nas relações extraconjugais, sem consentimento; não envolvimento sentimental com outros parceiros; e honestidade. Estas regras permitem aos casais regularem o ciúme que admitem sentir (BÉRTOLO, 2009, p. 11). Para Entrenós (2011), tal forma de apreciar a fidelidade não seria uma certeza de que no mundo swing não haveria traições. Afirma que estas existem, talvez em menor proporção do que entre os casais monogâmicos sexuais, mas que mesmo assim ainda existem. Como em qualquer outro tipo de relação, no swing tem traição sim. Talvez um pouco menos do que entre os casais que não praticam. Conheço diversos solteiros que saíram só com a parte feminina do casal e conheço também diversos casais que já saíram com uma das partes de outro casal sem o conhecimento/consentimento do (a) outro (a). Na verdade, acho isso uma falácia, pois, quem tem a fantasia de entrar em relações tóxicas, jamais vai deixar de trair. (ENTRENÓS, 2011, p. 140) Outro ponto abordado por Entrenós (2011) diz respeito à questão dos ciúmes, ao afirmar que é um mito acreditar-se que os casais swingers não o sentem. Mesmo para os casais mais experientes nesta fantasia, não sentir ciúmes é quase impossível. Somente as relações em que não existe mais nenhum tipo de amor ou afeto isto é possível. Hoje tenho a certeza que o ciúme controlado é uma das principais, se não a principal chama/barato desta fantasia. (ENTRENÓS, 2011, p. 140). Para Entrenós (2011) “casais extremamente ciumentos (mesmo que seja somente uma das partes) não devem passar nem na calçada de uma boate para casais”, isso pelo fato de não estarem preparados para consentirem e assistirem seus parceiros em atividades sexuais com terceiros. As cenas mais fortes e mais agressivas de ciúmes seriam da parte masculina do casal, o que no dizer de Entrenós (2011) “muito provável, 100% destas cenas seriam evitadas se o casal tivesse combinado/acordado previamente, ainda em casa, os limites”. CAPÍTULO III UM OLHAR PSICANALÍTICO SOBRE A PRÁTICA DO SWING Lançar um olhar psicanalítico sobre um tema tão polêmico é de grande importância, ao mesmo tempo em que se deve buscar as principais motivações e estímulos que levam os casais monogâmicos afetivos a adotarem a prática poligâmica sexual. Para efeito de melhor abordagem, lançou-se mão dos autores clássicos da psicanálise, tal como Sigmund Freud e Erich Fromm, bem como de alguns outros teóricos da atualidade que falam sobre diversos aspectos que, indiretamente, podem ser utilizados para uma melhor compreensão do swing, uma vez que não foi encontrada, até o presente momento, literatura psicanalítica específica sobre o tema, com exceção do livro de autoria do psicanalista inglês Brett Kahr15. 3.1 Na A transgressão da Lei paterna/social em relação ao sexo. sociedade pós-contemporânea, ressalvadas suas exceções, subsistem duas grandes tendências, que no dizer de Bértolo (2009) poderiam ser 15 O sexo e a psique: a revelação de nossas fantasias secretas na maior pesquisa realizada sobre o tema. Tradução Lourdes Sette. Rio de Janeiro: BestSeller, 2009. representadas pelo desejo que “impele para uma pessoa especial, única, com a qual estabelecemos um laço profundo e duradouro e da qual sentimos ciúmes”, e Bértolo (2009) ainda vai dizer que a segunda tendência é a que é representada pelo desejo de exploração, que nos impele à procura de encontros eróticos e de relações com novas e diferentes pessoas. “Os dois impulsos nunca desaparecem e se, em um dado momento, pode prevalecer o primeiro, em outro prevalece o segundo e em outro, ainda, até mesmo os dois, de forma simultânea”. (OLIVEIRA & FRAGA, 2011, p. 5) Dessa forma observa-se que o sujeito busca hora o desejo de ter alguém para uma convivência de trocas afetivas profundas e, em outros momentos, pode se deixar arrastar pelo desejo de exploração sexual, o que o irá impelir para a quebra das normas e preceitos sexuais inscritos no superego, e que permeia o inconsciente coletivo como a forma correta de praticar o sexo dito civilizado. Endossando a visão de Bértolo (2009), vemos o próprio Freud a discutir a dificuldade do controle desses desejos de exploração para que o sujeito pudesse se adequar à sociedade, com todas as regras impostas pelo processo civilizatório. O sentimento de felicidade derivado da satisfação de um selvagem impulso instintivo não domado pelo ego é incomparavelmente mais intenso do que o derivado da satisfação de um instinto que já foi domado. A irresistibilidade dos instintos perversos e, talvez, a atração geral pelas coisas proibidas encontram aqui uma explicação econômica. (FREUD, 1930/1996, p. 87). É ainda Freud na obra “Totem e Tabu” (1913/1996) e na obra “O malestar na civilização” (1930/1996) que irá nos dizer que a Lei paterna/social surge no momento da castração, onde o pai teria a função de interditar os desejos do filho de possuir a mãe e a menina de ter um filho do pai. Nesse contexto nasce o desejo inconsciente ao objeto incestuoso, à transgressão da Lei paterna/social. “Enfatiza, assim, a necessidade da Lei para a organização social, a Lei Paterna que, internalizada, prescreve ou proíbe as formas de prazer, estabelecendo aquelas às quais o sujeito pode ou deve ter acesso” (OLIVEIRA & FRAGA, 2011). Na época em que a autoridade ainda não fora internalizada como superego, poderia ter havido a mesma relação entre a ameaça de perda do amor e as reivindicações do instinto; havia um sentimento de segurança e satisfação quando se conseguia uma renúncia instintual por amor aos pais (FREUD, 1938/1996, p. 88). Seguindo esse raciocínio, Freud complementa mais adiante: [...] Mais tarde, quando a sociedade e o superego assumiram o lugar dos pais, o que na criança era chamado de ‘bem-comportado’ ou ‘travesso’, é descrito como ‘bom’ e ‘mau’, ou ‘virtuoso’ e ‘vicioso’. Mas ainda é sempre a mesma coisa, renúncia instintual sob a pressão da autoridade que substitui e prolonga o pai (FREUD, 1938/1996, p. 90). Bem se pode ver, seguindo os passos de Freud, que é natural no sujeito o desejo de transgressão ao socialmente prescrito, uma vez que isso foi internalizado a partir da interdição paterna, quando lhe foi inscrito a Lei em seu psiquismo, inaugurando a estância do superego. Transgredir as normas sociais referentes às práticas sexuais seria uma forma de ter acesso ao que lhe foi interdito, no caso, como descreve Freud (1913/2010) o acesso sexual a mãe ou ao pai. Nesse aspecto devemos citar a questão da perversão freudiana que estaria calcada na tentativa de burlar a lei paterna, o interdito ao objeto do desejo infantil. Isso poderá ser observado no universo swing, na forma como os casais lidam com as barreiras do sexo criadas socialmente para conter os impulsos sexuais, barreiras essas que Focault (1988) descreve como sendo a regularização do sexo na era moderna. [...] outra possibilidade de união possível estaria na díade perversoperversa, configurando-se como uma cumplicidade libidinal recíproca a favor da transgressão da lei paterna, nesse caso representada pela própria norma social, tal como a cumplicidade libidinal da mãe para com o filho, em obliterar a lei paterna. Se na troca de casais o parceiro(a) se mostraria incompleto na medida em que desejaria um outro fora do casal, por outro lado, não há alguém mais completo do que aquele que possui a todos. A questão dependeria, então, não simplesmente do desejo por um outro, mas do desejo desse outro que não deve se apresentar faltante, mas querendo chegar ao limite tal como o perverso, papel que, como vimos, pode ser incorporado por muitos indivíduos numa passagem ao ato episódica. Em tal circunstância, essa díade pouco provável, mas não impossível, tornase, porém, tênue em sua sustentação visto que, por querer sustentar a própria lei como única, transformará essa relação num campo de batalha e o que determinará a sustentação da união será a não contrariedade ao que fora estabelecido por cada um como sendo a condição essencial para o gozo, como um fetiche (FARIAS, 2012, p. 18). O que é ressaltado por Farias (2012), sobre a “contrariedade ao que fora estabelecido”, no swing algo inesperado chama atenção, pelo fato de que mesmo esse movimento de liberalidade da Lei, essa inscrita no superego, necessário se faz uma nova forma de conduta, uma nova inscrição de regras e Leis que tomem o lugar das que estão sendo quebradas. Esse movimento de liberalização também possui suas formas de controle dos comportamentos e, ao mesmo tempo, suas expressões de poder. O swing, em alguma medida, gera um retorno à Lei, corroborando a hipótese de que não há como escapar dela. (OLIVEIRA & FRAGA, 2011, p. 5) O que se pode observar é que ao tentarem transgredir a Lei inscrita no superego, ainda nos primeiros anos da infância, os praticantes do swing, ao adotarem a prática, movidos inconscientemente pelo desejo de transgressão das regras sociais na área sexual, impostas pelo processo civilizatório, acabam retornando a Lei paterna, ao adotarem novo conjunto de regras, regras essas descritas nesse presente trabalho, através de citações de Entrenós (2011). Esse fato pode ficar evidente com a entrevista de casais realizada por Oliveira e Fraga (2011), onde os entrevistados afirmam que “[...] tudo tem que ser conversado, os limites, etc... Você tem que entender o limite da outra pessoa também. Os freios, os limites, tudo tem que ser muito conversado (Paulo, grifo nosso).” 3.2 Algumas prováveis motivações descritas para a prática do swing. Encontraremos algumas prováveis motivações que possam direcionar os casais para a prática do swing dentro do estudo realizado na Inglaterra por Kahr (2009), que ficou consagrado como a maior pesquisa sobre fantasias sexuais realizada. Na apreciação do citado autor, diversas causas podem motivar a busca pelo que ele chama de “formações grupais”, onde, para Kahr (2009), poderá haver “uma tentativa de curar feridas narcisísticas ao possuir mais de um amante simultaneamente”. Tais feridas teriam sido inscritas, segundo Freud (1913/1996), no inconsciente da criança no momento da castração, onde foi feito o interdito ao objeto amado. Para Kahr (2009), assistir, por exemplo, a esposa com outro na cama, e participar ativamente desse ato, seria uma forma inconsciente de curar essas feridas narcísicas através da recriação da cena primária, ou também do prazer de estar na cama do pai junto a estes. Outro aspecto interessante destacado por Kahr (2009) é o fato de que serviria de motivação para adoção, por parte dos homens no swing, o fato deste ser “um método de disfarçar preocupações profundas sobre inadequação genital ou corporal; portanto, alguns homens imaginam que sua parceira necessita de dois pênis para ficar satisfeita, e não de um.” A fantasia de inadequação sexual masculina referente ao tamanho do pênis, permeia o imaginário de uma boa parcela dos homens, isso segundo o próprio Kahr (2009). Outra motivação apontada por Kahr (2009) seria “uma fuga da intimidade profunda, necessária para sustentar uma parceria um a um”. Dessa forma confirmaria os estudos de Bauman (2004) que descreve as fragilidades dos laços e dos relacionamentos humanos. Os sujeitos estariam menos dispostos a vivenciarem dificuldades e problemas naturais nos relacionamentos mais profundos na pósmodernidade. Seguindo essa lógica, Fromm (1979) vai diferenciar o amor, relacionamento profundo citado por Kahr (2009), em amor erótico e amor fraterno. Para Fromm (1979) o amor erótico não pode ser carente de amor fraterno, caso isso ocorra, não se chegará à “fusão e união com outra pessoa”. Fromm (1979) ainda frisa que “se o amor erótico é carente de amor fraterno, sendo apenas motivado pelo desejo de fusão, é desejo sexual sem amor, ou a perversão do amor como a encontramos nas formas de “amor” sádico e masoquista”. Dessa forma a busca pelo swing seria a tentativa de busca de fusão sem amor fraterno, sendo apenas desejo sexual, não gerador de compromissos. Algo um pouco mais polêmico seria a motivação descrita por Kahr (2009) de que os sujeitos que adotam a prática do sexo grupal, ou swing, estariam buscando a realização de desejos homossexuais reprimidos. A prática seria para os estudos realizados por ele: Um meio de explorar desejos homossexuais reprimidos por parte dos heterossexuais, e desejos heterossexuais reprimidos por parte de homossexuais. Por exemplo, um autoproclamado heterossexual pode sentir excitado ao pensar em transar com sua esposa enquanto outro homem também a penetra. Apesar de não haver contato físico entre os dois nesse cenário, o heterossexual experimenta uma excitação secreta da presença de um homem (KAHR, 2009, p. 216). Talvez esta apreciação possa ser endossada pela prática adotada por muitos casais em apenas aceitarem o ménage à trois masculino, onde o marido só permite que a mulher tenha relações sexuais com outro homem, geralmente solteiro, em sua presença. Na hora do ato sexual, segundo Entrenós (2011), a preferência dos casais que adotam essa modalidade de swing, é por homens jovens e bonitos. Sendo jovem e bonito (desde que caia nas graças do casal), sua situação é bastante favorável, pois o tipo físico, como em qualquer início de relacionamento, aqui conta muito (ENTRENÓS, 2011, p. 39). Quanto a esse deslocamento na cena sexual, onde o marido, segundo kahr (2009) daria asas aos seus desejos homossexuais, imaginando-se no lugar de sua esposa tendo relações sexuais com o jovem escolhido, lembramos o texto famoso de Freud (1914/2010), intitulado “O Homem dos Lobos”, para buscarmos, ainda na primeira infância, motivações para a explicação plausível da recriação dessa cena no swing. Neste texto, ao analisar o deslocamento que o menino faz ao ver seu pai na cena primária mantendo relações sexuais com a mãe dominando-a por trás, Freud (1914/2010) vai dizer que o menino de seu estudo, seu paciente já adulto, ao ver o ato sexual fez um deslocamento, desejando, em nível inconsciente, estar no lugar da mãe sendo dominado e possuído pelo pai. A transformação do material: cena primária – história dos lobos – conto dos sete cabritinhos – reflete a progressão do pensamento durante a formação do sonho: anseio de satisfação sexual com o pai – inteligência da condição a ela relacionada, a castração – medo do pai. (FREUD, 1914/2010, p. 59) Esse medo da castração e sua transgressão é o que favorecerá essa prática do ménage à trois masculino como deslocamento de desejos homossexuais reprimidos. Fica evidente na regra do swing frisada por Weid (2009) em que é inaceitável a prática do homossexualismo masculino, o que também é citado por Entrenós (2011): Os maiores tabus do swing: homossexualismo masculino e machões “cegos”! MISTÉRIO/REALIDADE. Nestes 16 anos, só ouvi um relato do próprio protagonista no que se refere a prática homossexual masculina nesse meio. Ou seja, neste quesito nada mudou nestes anos todos. Já ouvi inúmeros relatos sobre o assunto, porém, tudo, para o bom andamento da fantasia, deve “morrer” entre 4 paredes. Ou seja, até que provem o contrário, todos os homens praticantes do swing são “100% heterossexuais” (ENTRENÓS, 2011, p. 142). Essa regra seria imposta tal como a castração em que o Homem dos Lobos de Freud (1914/2010) teria receio. É a inscrição da Lei paterna/social. Dessa forma, recriar a cena do pai com a mãe nessa prática, dessa vez com a presença e participação do sujeito desejante (o filho), pode realmente estar pautada nas explicações de Kahr (2009). Ainda Weid (2009) nos lembra que a homossexualidade masculina é veladamente proibida no meio swing, somente sendo aceita a feminina. Um outro componente que chamam a atenção para o swing é os traços histéricos apresentados pelos homens e mulheres que o praticam, isso podendo ser observado no descrito por Farias (2012) em seu estudo sobre a prática. Sendo o histérico, devido à sua ambiguidade quanto à identidade sexual, capaz de assumir mais facilmente o desejo, de perfil perverso, sendo, portanto, mais apto à transgressão por meios diversos, dentre os quais estão as encenações homossexuais, frequentes no swing, onde o bissexual feminino é valorizado. Sabendo-se ainda que o desafio histérico vise ao destronamento do outro como estratégia de reivindicação fálica, podemos interpretar que tal objetivo é alcançado quando na ocupação do papel de “cartão postal”, por meio do qual se faz possível atrair outros parceiros para a concretização da prática, tornando o encontro dependente da presença da mulher como convite, além de que a própria ostentação e adornamento do corpo costuma ser comportamento nas histéricas, sendo de seu agrado a oportunidade de mostrar seu valor por esse meio (FARIAS, 2012, p. 15). O descrito por Farias (2012) vai corroborar o que Entrenós (2011) diz sobre o bissexualismo feminino durante as festas de swing, em que a relação sexual de carícias femininas seria uma forma de estimulo para “apimentar a noite”. Ou seja, essa atividade é uma atividade que seria representada para poder animar os participantes, o que é perfeitamente cabível ao perfil histérico descrito por Farias (2012). Mas Faria ao analisar essa característica histérica dos membros do casal swing, nos diz que também os homens a apresentariam, de uma forma diferenciada. O homem swinger também parece aceder aos traços estruturais da histeria, buscando, em termos lacanianos, “ter o falo” por meio do domínio e da virilidade, tal como constatado por Weid (2006) ao analisar a forma de apresentação do homem nas fotos dos anúncios, que, quando eventualmente aparecem, estão a expor seu pênis ereto e a se vangloriar do porte deste, sendo o corpo masculino raramente exibido individualmente, como o é o da mulher, expondo-se em geral apenas no ato sexual, ocasião na qual se faz evidente o contraste entre a preocupação estética da mulher e o desleixo masculino, preocupado tão somente em dar mostras de seu potencial sexual (FARIAS, 2012, p. 15) Ainda Farias (2012) vai dizer que o tipo de investimento estético que homens e mulheres fazem no próprio corpo, na realização da prática swing, deixa evidente, mais particularmente no homem, o traço estrutural de histeria, ao dizer que: A distinção do investimento estético no próprio corpo entre o homem e a mulher torna claro o traço estrutural histérico, mais comumente presente nos homens, de se fazer valer pelo outro, tornando esse objeto uma espécie de “troféu”. Como forma dizer que “não é o pai quem tem o falo que completa a mãe, mas sim ele”. (FARIAS, 2012, p. 15) Ao pensar na questão da histeria como um viés que norteiam as apreciações psicanalíticas sobre o estudo do swing, não pode ser deixado de lado às considerações sobre a forma de ingresso desses casais na prática. Para uma melhor apreciação sobre a questão histérica neste ponto, é Farias (2012) que irá nos dizer que o convite parte na maioria dos casos dos entrevistados em pesquisa, por parte dos maridos. Retomemos à dita ocasião do convite: é facilmente identificável nas pesquisas sobre swing, que é o homem que costuma tomar a iniciativa de convidar a parceira (FERNANDES, 2008). Isso nos remete a outro traço da histeria concernente ao masculino qual seja o oferecimento de um grande amor, mas um amor de fachada, sendo o homem histérico incapaz de se engajar além da sedução, não conseguindo renunciar a ninguém, por querer receber o amor de todos, tal como o pai da horda primeva de Totem e tabu. Essa característica é visivelmente conflituosa com o estilo de vida monogâmico, e somado à típica indecisão e auto-sabotagem características da histeria, a rota a ser seguida seria a da monogamia serial, ou ainda o relacionamento, qual permitiria que diante da incerteza o histérico seguisse com seus ciclos de experimentação não necessitando sabotar a si para que um novo ciclo recomesse (FARIAS, 2012, p. 16). Voltando a analisar a obra de Kahr (2009), o autor ainda nos diz que as motivações para a prática do swing poderiam advir de uma tentativa, em nível inconsciente, de recriar a experiência infantil de estar na mesma cama entre os pais. Talvez mais importante, uma oportunidade de recriar a muito prazerosa experiência infantil de deitar em uma cama apertado entre o pai e a mãe. Tais experiências dão a criança não só a sensação de segurança e conforto, mas também realizam o desejo infantil de separar o casal, contribuindo para a sensação de onipotência da criança (KAHR, 2009, p. 216). Sobre isso Freud (1924/1996) postula a importância do Complexo de Édipo onde a criança disputaria com seu rival, se menino o pai e se menina a mãe, o lugar na cama ao lado do primeiro objeto amado. Isso se refletiria mais tarde, no dizer de Kahr (2009), pelo prazer de estar na cama com pessoas em quem o sujeito projeta suas figuras parentais. Em se tratando das fantasias grupais adotadas pelos casais swingers, onde há a prática do sexo grupal num mesmo ambiente, observando e sendo observados por outros, Kahr (2009) afirma que: As fantasias grupais podem ser rastreadas até as primeiras experiências infantis, como a de ter várias pessoas tomando conta da criança durante os primeiros anos de vida. Em minha prática psicoterapêutica, descobri que muitos pacientes com fantasias promíscuas, ou com as de sexo com grande número de pessoas, foram criados, inconscientemente, por vários adultos, em vez de por uma ou duas pessoas. (KAHR, 2009, p. 216) Freud (1905/1996) afirma que a cena primária seria uma das consequências das pesquisas sexuais postas em prática pelas crianças durante a idade de três a cinco anos. Isso levou Kahr a afirmar que: As fantasias voyeurísticas têm origem, predominantemente, em um desejo acima do normal de espiar pela fechadura do quarto dos pais, um fenômeno descrito por Freud como a “cena primal”. Muitas crianças pequenas não suportam a sensação de serem excluídas desse quarto, e irão, portanto, procurar por equivalentes simbólicos para reinserirem na cama dos pais, por meio da espionagem das atividades sexuais dos outros. Nesse sentido, toda a pornografia contém elementos de voyeurismo infantil. (KAHR, 2009, p. 216) Endossando essa visão encontramos a descrição de Entrenós (2011) que diz que “casais voyeur (que adoram ver transas) têm sempre seus espaços respeitados nas boates de swing. Lá sempre existem cabines especiais para que estas fantasias sejam realizadas”. 3.3 Influência do grupo no contexto do swing A discussão sobre o contexto da influência do grupo no meio swing é baseada no fato de que a prática é realizada comumente, segundo Entrenós (2011) em boates e clubes para casais swingers, onde esses casais acabam por formar comunidades, grupos de relacionamento e amizade. Nesse sentido, Freud (1921/1996) citando Le Bon, aborda a questão da influência do grupo na psicologia individual do sujeito. Se os indivíduos do grupo se combinam numa unidade, deve haver certamente algo para uni-los, e esse elo poderia ser precisamente a coisa que é característica de um grupo. Mas Le Bon não responde a essa questão; prossegue considerando a alteração que o indivíduo experimenta quando num grupo, e a descreve em termos que se harmonizam bem com os postulados fundamentais de nossa própria psicologia profunda. (FREUD, 1921/1996, p. 80). A influência do grupo poderá ser notada na forma pela qual se é divulgada a prática nos sites já referidos neste trabalho, onde as festas promovidas pelos promotores de eventos swingers são o auge da prática. Santos (2010) cita em seu trabalho as diversas comunidades de relacionamento swing na internet que criam uma espécie de grupo virtual, onde as influências descritas por Freud (1921/1996) acontecem sobre os casais. Para nós, seria bastante dizer que, num grupo, o indivíduo é colocado sob condições que lhe permitem arrojar de si as repressões de seus impulsos instintuais inconscientes. As características aparentemente novas que então apresenta são na realidade as manifestações desse inconsciente, no qual tudo o que é mau na mente humana está contido como uma predisposição. Não há dificuldade alguma em compreender o desaparecimento da consciência ou do senso de responsabilidade, nessas circunstâncias (FREUD, 1921/1996, p. 81). São nas festas swingers em que o grupo, seja ele formado nas redes sociais ou nas boates, permite o que Freud (1921/1996) chama de “arrojar de si as repressões de seus impulsos instintuais inconscientes”. O que seria condenável na sociedade monogâmica sexual, no grupo do swing é permitido, podendo os casais vivenciar os seus conteúdos inconscientes e suas pulsões sexuais reprimidas pelas regras sociais. A segunda causa, que é o contágio, também intervém para determinar nos grupos a manifestação de suas características especiais e, ao mesmo tempo, a tendência que devem tomar. O contágio é um fenômeno cuja presença é fácil estabelecer e difícil explicar. Deve ser classificado entre aqueles fenômenos de ordem hipnótica que logo estudaremos. Num grupo, todo sentimento e todo ato são contagiosos, e contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Trata-se de aptidão bastante contrária à sua natureza e da qual um homem dificilmente é capaz, exceto quando faz parte de um grupo (FREUD, 1921/1996, p. 82). Nas pesquisas levadas a efeito por Weid (2006) e Bértolo (2009) ficam evidente o contágio das idéias de estilo de vida propagadas pelos adeptos da prática swing, da mesma forma que em toda a obra de Entrenós (2011) é ressaltada, além das condutas e regras para prática swing em grupo nas boates para casais, o quanto poderá ser estimulante e divertido para o casal a prática da atividade. Tal como na entrevista realizada pela jornalista Marília Gabriela16, o Casal Pimenta também ressalta as vantagens da prática swing como estilo de vida, onde não haveria traição e a cumplicidade e o amor seriam ainda mais reforçados, endossando a idéia de Freud (1921/1996) de um contágio de idéias e desejos oferecidos pelo grupo. 16 Programa Gabi Quase Proibida, exibido em 27 de novembro de 2013 através do SBT, consultado no endereço eletrônico http://www.sbt.com.br/gabiquaseproibida/noticias/13365/Gabi-Quase-Proibidadesta-quarta-traz-Casal-Pimenta-para-falar-sobre-swing.html#.Uvn6487tXfB em 10/02/2014. São essas idéias contagiosas oferecidas pelos clubes e promotores swingers que acabam por atrair novos curiosos à prática, aumentando o interesse dos meios de comunicação pela grande procura atual a este tipo de prática sexual, tal como já visto na entrevista do Casal Pimenta no referido programa da jornalista Marília Gabriela. É Freud (1921/1996) que vai dizer que esse sentimento de desejo de pertencer a um grupo é que poderá libertar todas as inibições do sujeito, o que no swing é fundamental para a quebra da monogamia sexual e a adoção da poligamia sexual por parte dos casais. A fim de fazer um juízo correto dos princípios éticos do grupo, há que levar em consideração o fato de que, quando indivíduos se reúnem num grupo, todas as suas inibições individuais caem e todos os instintos cruéis, brutais e destrutivos, que neles jaziam adormecidos, como relíquias de uma época primitiva, são despertados para encontrar gratificação livre (FREUD, 1921/1996, p. 85). Dessa forma fica evidente o quanto o fenômeno grupal no swing, seja ele através de clubes e boates de casais adeptos da prática, ou de sites de relacionamento swing, são fundamentais para o contágio/divulgação, a manutenção e preservação das idéias em torno do swing como um estilo de vida ou uma fantasia/brincadeira entre casais. 3.4 Zonas de cautela dentro da idéia do swing Essa nova modalidade de prática sexual, ou reatualização de antigas práticas, como visto no capítulo I deste trabalho, deve ser questionada sobre o quanto poderá influenciar negativamente no relacionamento amoroso do casal. Segundo Entrenós (2011) a prática poderá ser fatal para o relacionamento do casal que queira se iniciar nesse universo swing, uma vez que o autor diz que: Hoje tenho a plena certeza de que, com poucas variantes, tanto homens como mulheres devem ter no mínimo 21 anos para começar a pensar numa fantasia que envolva terceiros. Além disso, o casal deve ter no mínimo 1 ou 2 anos de relacionamento fixo, constante e comprometido. Antes de se aventurarem numa fantasia mais tensa, é preciso um conhecer o outro totalmente (literalmente) (ENTRENÓS, 2011, p. 139). Poucos dados foram possíveis ser colhidos no sentido de estabelecermos um quadro de aspectos prejudiciais à prática do swing, devido à escassa literatura sobre o assunto, o que poderá ser estudado mais à frente, em novos trabalhos, mas é ainda Entrenós (2011) que recomenda o “não envolvimento emocional com nenhuma das partes do(s) outro(s) casal(is)”, ainda orientando que “caso o casal não tenha uma relação fixa, é necessário que haja/exista, ao menos, afeto entre ambos”. Diante do que pusemos em discussão, podemos ainda concluir que: não há um modo de identificar rápida e objetivamente quem tem ou não condições de aderir ao estilo de vida swinger, visto que a sustentação do relacionamento dependerá de questões subjetivas que permeiam o inconsciente e provavelmente só se tornam perceptíveis em processo de análise, de modo que a descoberta se dará na própria tentativa de aceder progressivamente na escala de Dionísio, ou pela eventual passagem ao ato, muitas vezes facilitada pela desinibição provocada pelo álcool, drogas, ou mesmo pelo sentimento de integração grupal numa casa de swing, o qual exerce uma espécie de influência quase hipnótica propiciando a desinibição em prol da vivência grupal, como a psicanálise afirma ocorrer na dinâmica de todo grupo (FREUD, 1921/1996 citado por FARIAS, 2012, p. 22). Talvez a prática do swing, com o tempo e a intesidade venham a configurar um certo desinteresse sexual por parte do casal, o que pode ser deduzido da afirmativa de Freud: O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades represadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica. Quando qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue (FREUD, 1930/1996, p.84). Dessa forma fica a idéia de que uma vez dado o extravasamento das pulsões sexuais reprimidas na prática do swing, com o passar do tempo o casal apenas terá um tênue contentamento com a prática. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo principal deste estudo foi lançar um olhar acadêmico, com uma leitura psicanalítica sobre a já tão divulgada prática swing, popularmente conhecida como troca de casais. Para isso foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema, onde se pode constatar que são raros os escritos na área da psicologia, mormente da psicanálise sobre o tema. A grande parcela de material bibliográfico encontrado foi dentro de estudos feitos pela sociologia e antropologia, mostrando o modo de vida destes casais adeptos do swing. Tratou-se de apresentar formas de práticas sexuais ao longo da História da humanidade, que seriam muito semelhantes com o atual swing, diferenciando-se deste, apenas em suas justificativas, que, com algumas exceções, giravam em torno de rituais de adoração aos antigos deuses. Também foi possível contextualizar a prática do swing desde seu surgimento até os dias atuais, mostrando as regras, costumes e o estilo de vida adotado por esses casais adeptos da prática. O levantamento dos dados bibliográficos pôde nortear este estudo na compreensão sobre as possíveis motivações subjetivas que levariam casais monogâmicos sexuais a adotarem a prática da poligamia sexual consentida, onde ambas as partes do casal podem vivenciar experiências sexuais com diversos parceiros, mas com o compromisso expresso do não envolvimento emocional de nenhum dos parceiros envolvidos. Ao final deste trabalho, articularam-se os dados encontrados com a psicanálise, o que sugere que uma vez dado o extravasamento das pulsões sexuais reprimidas socialmente, inscritas como Leis de interdição em nosso superego, desde o momento da castração, do interdito ao objeto amado, se criaria, com o tempo, apenas uma tênue satisfação, pelo fato de que nenhum prazer, gerado pela quebra da Lei paterna/social, vivenciado constantemente, manter-se-ia com a mesma intensidade anterior. Tal fato seria o gerador de uma frustração pela inatingibilidade da relação sexual perfeita, o que talvez contribua, no decorrer do tempo, para o afastamento destes casais da prática swing. Não foi possível detectar se essa frustração interfere diretamente no relacionamento afetivo/sexual dos casais. Novos estudos ainda mais aprofundados deverão ser feitos por pessoas mais qualificadas para tal, inclusive com entrevistas que possam dar uma escuta psicanalítica a estes sujeitos praticantes do swing. Por hora esse estudo contenta-se em ter aberto uma discussão acadêmica em torno deste tema tão velado dentro da academia. REFERÊNCIAS ALLOUCH, Jean. O sexo da verdade: erotologia analítica II. Tradução de Procópio Abreu. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2007. BATAILLE, Georges. O erotismo. Tradução de Antonio Carlos Viana. – Porto Alegre: L&PM, 1987. BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. 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