Adaptação sociocultural de imigrantes brasileiros a residir em
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Adaptação sociocultural de imigrantes brasileiros a residir em
RESUMO A adaptação sociocultural dos imigrantes é um fenómeno amplo e complexo que inclui aspectos comportamentais da experiência de aculturação. O objectivo deste trabalho consiste em analisar qual o nível de adaptação sociocultural dos imigrantes brasileiros a residir em Portugal e qual a influência de factores sociodemográficos e de factores de aculturação sobre os níveis de adaptação sociocultural. Relativamente à metodologia, a amostra foi constituída por 241 imigrantes brasileiros a residir em Portugal com uma média de idade de 35.73 anos (DP=10.13). Os instrumentos utilizados foram a aplicação de escalas através de um questionário estruturado: competência linguística, identidade cultural, interacções sociais, percepção de discriminação e adaptação sociocultural. Para além destas escalas também se recolheram dados sociodemográficos: a idade, o sexo, o lugar de nascimento, o tempo de estadia, a religião, a etnicidade da população vizinha, a nacionalidade, o nível de instrução e o estatuto profissional. Os resultados obtidos mostram que dada a proximidade cultural entre Portugal e Brasil os imigrantes brasileiros a residir no nosso país evidenciaram um baixo nível de dificuldade de adaptação sociocultural. Constatamos que os imigrantes brasileiros com um nível de instrução mais baixo revelaram mais dificuldades de adaptação sociocultural do que os que têm um nível de instrução mais elevado. Foi também confirmada a hipótese de que a adaptação sociocultural dos imigrantes é influenciada por factores sociodemográficos e de contacto intercultural. Contudo os resultados apontam no sentido de uma maior influência dos factores de contacto intercultural sobre a adaptação sociocultural do que os factores sociodemográficos. Isto poderá implicar que uma intervenção mais precoce nos factores psicossociais poderá facilitar a adaptação sociocultural dos imigrantes, uma vez que estes são mais susceptíveis de serem alterados do que os factores sociodemográficos. Palavras-chave: aculturação, adaptação sociocultural, imigração. 1 ABSTRACT The sociocultural adaptation of immigrants is a complex phenomenon which includes behavioral aspects of acculturation. The aim of this study is to analyze the level of sociocultural adaptation of Brazilian immigrants living in Portugal and how socio-demographic factors and acculturation factors can influence the levels of sociocultural adaptation. Regarding the methodology, the sample consisted of 241 Brazilian immigrants living in Portugal with mean age of 35.73 years (SD=10.13). The instruments used were the application of proficiency, cultural scales using identity, social a structured interactions, questionnaire: language perceived discrimination and sociocultural adaptation. In addition to these scales were also collected sociodemographic data: age, sex, place of birth, length of stay, religion, ethnicity of the neighboring population, nationality, education level and employment status. The results show that given the cultural proximity between Portugal and Brazil, the Brazilian immigrants living in our country showed a low level of sociocultural adaptation difficulty. We found that Brazilian immigrants with a lower education level showed more difficulties in sociocultural adaptation than those who have a higher level of education. It was also supported the hypothesis that sociocultural adaptation of immigrants is influenced by sociodemographic factors and intercultural contact factor. However the results point to a greater influence of intercultural contact factors on the sociocultural adaptation than sociodemographic factors. This may imply that an earlier intervention on psychosocial factors may facilitate the sociocultural adaptation of immigrants, since they are more likely to change than the sociodemographic factors. Keywords: acculturation, sociocultural adaptation, immigration. 2 AGRADECIMENTOS A todos os que contribuíram para a realização desta investigação, dirijo o meu profundo agradecimento: Ao meu Orientador Professor Doutor Américo Mendes, o qual foi imprescindível para a realização desta investigação. Aos meus familiares e amigos pelo apoio e motivação, que me dispensaram e que se revelaram de importância crucial ao longo das várias etapas desta investigação. 3 ÍNDICE Resumo 1 Abstract 2 Agradecimentos 3 Índice de figuras 5 Índice de quadros 6 Abreviaturas 7 Introdução 8 1. Imigração 9 1.1. Imigração em Portugal 10 1.2. Imigração brasileira em Portugal 18 2. Enquadramento teórico 26 2.1. Aculturação 26 2.2. Adaptação 27 2.3. Factores influenciadores da adaptação sociocultural dos imigrantes 28 2.3.1. Factores sociodemográficos 28 2.3.2. Factores de aculturação 30 2.4. Hipóteses a testar 33 3. Metodologia 35 3.1. Amostra 35 3.2. Instrumentos 36 3.3. Procedimentos de recolha de dados 38 3.4. Análise de dados 39 4. Resultados 41 4.1. Estatísticas descritivas e fidelidade das medidas 41 4.2. Adaptação sociocultural em função do nível de instrução e do género 44 4.3. Relação entre aculturação e adaptação sociocultural 45 4.4. Variáveis explicativas da adaptação sociocultural 46 5. Limitações do estudo 52 6. Referências bibliográficas e webgrafia 53 7. Anexo – Questionário 59 4 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Fluxo imigratório em Portugal (1974-2009). 12 Figura 2 - Evolução do saldo migratório em Portugal (1970-2009). 13 Figura 3 - Evolução do saldo demográfico, do saldo natural e do saldo migratório (1981-2009). 14 Figura 4 - População estrangeira com estatuto legal de residente em Portugal, segundo algumas nacionalidades, em 2009. 15 Figura 5 - População estrangeira por sexo, em Portugal, em 2009. 16 Figura 6 - Pirâmides etárias da população residente total e da população residente imigrante em Portugal, em 2009. 16 Figura 7 - População estrangeira em Portugal por distrito, em 2009. 17 Figura 8 - Principais nacionalidades imigrantes em Portugal, em 2009. 19 Figura 9 - População estrangeira brasileira residente em Portugal (1974-2009). 20 Figura 10 - População estrangeira brasileira por sexo, em Portugal, em 2009. 23 Figura 11 – População estrangeira brasileira por distrito e por género em Portugal, em 2009. 24 Figura 12 - Distribuição geográfica da população residente em Portugal de nacionalidade brasileira em 2009. 25 5 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 - Profissões da população brasileira activa residente em Portugal em 1991. 21 Quadro 2 - Profissões da população brasileira activa residente em Portugal em 2001. 22 Quadro 3 - Características sócio-demográficas da amostra de imigrantes brasileiros. 36 Quadro 4 - Médias, desvios-padrão e correlações item-score total da Escala de Adaptação Sociocultural (excepto o próprio item). 41 Quadro 5 - Estatísticas descritivas das medidas de aculturação. 42 Quadro 6 - Adaptação sociocultural em função do nível de instrução e do género. 44 Quadro 7 - Correlações entre a adaptação sociocultural e as variáveis de aculturação. 45 Quadro 8 - Modelo de regressão múltipla sequencial relacionando as variáveis sociodemográficas e interculturais com a adaptação sociocultural dos imigrantes brasileiros. 47 6 ABREVIATURAS DP Desvio Padrão EUA Estados Unidos da América INE Instituto Nacional de Estatística M Média OECD Organisation for Economic Co-operation and Development ONU Organização das Nações Unidas PALOP Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PIB Produto Interno Bruto SEF Serviço de Estrangeiros e Fronteiras UE União Europeia 7 INTRODUÇÃO As migrações têm assumido uma importância e complexidade crescentes, sobretudo no que diz respeito às características e à temporalidade dos fluxos, aos destinos migratórios e às formas espaciais das deslocações (Bogus, 2007). Contudo o fenómeno migratório não é de agora, as migrações fazem parte da história da Humanidade. Desde tempos imemoriais, o homem sente necessidade de se deslocar, em busca de novos meios de subsistência, para fugir de ameaças físicas e ambientais. Porém o que diferencia as migrações de hoje é a sua ligação ao processo de globalização que temos vindo a assistir desde finais da década de 60. A globalização, no plano económico é o alargamento à escala mundial, do predomínio da economia de mercado sobre outras formas de organização económica, associado às novas tecnologias da informação, expansão da democracia e dos direitos humanos ligados a este tipo de regime político (Mendes, 2005). É neste contexto que as migrações actuais conhecem novas dimensões. A imigração é hoje um vasto fenómeno mundial que toca muitos milhões de pessoas e a maior parte dos países. À semelhança do que ocorre com mais de um quarto dos países de todo mundo, Portugal tornou-se nas últimas décadas num país simultaneamente de origem e de destino de fluxos migratórios. Embora tenha sido durante muitos anos um país de saldo migratório negativo, passou no início da década de 90 a ser um país de saldo migratório positivo, apesar de alguma atenuação desta tendência nos anos mais recentes, em resultado da crise económica (Vitorino, 2007). Este trabalho centra-se no caso dos imigrantes brasileiros a residir em Portugal pois constituem a nacionalidade estrangeira mais numerosa a residir no nosso país. Começaremos por abordar contextualmente a imigração em geral em Portugal e, em particular, a imigração brasileira. Seguidamente, exploraremos a problemática central do nosso estudo que consiste em saber que factores estarão associados à adaptação sociocultural de imigrantes brasileiros a residir em Portugal. Serão examinadas duas ordens de factores: sociodemográficos e de aculturação. Na secção metodológica será apresentada a amostra alvo do estudo, os instrumentos a que se recorreu para a recolha de dados e o procedimento estatístico seguido para os tratar. Serão, depois, apresentados os resultados desse tratamento no que se refere aos factores influenciadores da adaptação sociocultural, bem como os indicadores da qualidade estatística desses resultados, seguindo-se a discussão dos mesmos. 8 1. A IMIGRAÇÃO As grandes desigualdades em termos de oportunidades de desenvolvimento nas várias partes do mundo são um dos principais factores para a mobilidade geográfica de pessoas. Todos os anos, milhões de pessoas embarcam numa viagem de esperanças, expectativas e de incertezas, à procura de melhores oportunidades e liberdade, na esperança de encontrarem um benefício para si mesmas e para as suas famílias. Nos trabalhos desenvolvidos pelo Prémio Nobel da Economia, Amarthya Sen, esta mobilidade geográfica das pessoas é entendida como desenvolvimento humano quando alarga a liberdade das pessoas, permitindo-lhes viverem as suas vidas da forma que escolherem (Sen, 1992). De acordo com as Nações Unidas, o número de migrantes ao longo da última década, em termos relativos, têm-se mantido estável rondando 3% da população mundial. As tendências demográficas mundiais que apontam para uma população envelhecida nos países desenvolvidos e uma crescente população jovem nos países em desenvolvimento, juntamente com o aumento de novas oportunidades, aliadas a comunicações e transportes menos dispendiosos, levaram ao aumento da atractividade da migração. Contudo, os que partem dos seus países deixam para traz as suas raízes e origens e vêem-se confrontados com uma multidimensionalidade de desafios, riscos e incertezas. Os sentimentos de solidão por deixar a sua família e amigos, sentirem-se ou não bem acolhidos ou as políticas de imigração adoptadas, tanto por países de origem como de destino, podem fazer a diferença no êxito da estratégia imigratória de quem parte. As pessoas que migram conseguem geralmente melhorar as suas oportunidades nalgumas dimensões, tais como os níveis de rendimento, o acesso à educação e à saúde e as perspectivas de vida para os seus filhos. Todavia, estes benefícios estão condicionados, entre outras coisas, pelas políticas públicas com impacto nas migrações nos locais de origem e de destino. Em geral, para os países de origem dos imigrantes, existem benefícios provenientes, por exemplo, das remessas que enviam para os familiares que não imigraram, dos investimentos em habitação e outros que possam fazer nesses países, das ideias novas que possam para lá levar. Contudo um dos benefícios mais directos são as remessas financeiras enviadas pela pessoa que se desloca aos membros da sua família, o que contribui para o aumento de bem-estar dos agregados familiares do imigrante. 9 Um outro beneficio que decorre da imigração corresponde às denominadas “remessas sociais”, que envolvem as ideias, as práticas, as identidades e o capital social que o imigrante traz consigo e desenvolve dentro da sua família e da comunidade nos locais de origem (Levitt, 1998). Outro tipo de benefícios de imigração, agora para os países de destino, tem que ver com a tendência de envelhecimento da população, a par da ocorrência de baixas taxas de natalidade, que se verifica em muitos deles, nomeadamente no espaço europeu. O envelhecimento da população é um fenómeno que não é de agora, mas que tem assistido a uma forte aceleração. Segundo previsões da ONU, em 2050, o mundo e todos os continentes, com a excepção de África, deverão ter mais pessoas idosas (com 60 anos ou mais) do que crianças (abaixo dos 15 anos). Este fenómeno é uma consequência da chamada “transição demográfica”, ou seja, diminuição das taxas de mortalidade e de natalidade que tem acompanhado o processo de crescimento económico com momentos de ocorrência diferentes conforme o estado desse processo em cada país. A imigração surge, então, como uma oportunidade para assegurar o rejuvenescimento da população onde o movimento natural dessa população vai no sentido do envelhecimento. Uma gestão cuidadosa das dinâmicas migratórias pode ser uma força poderosa para o crescimento económico e para a inovação nos países de destino, como para a redução da pobreza e para o desenvolvimento dos países de origem mais pobres, podendo, assim, proporcionar liberdade e desenvolvimento humano às pessoas que migram e às famílias. 1.1 Imigração em Portugal Sem ter deixado de ser um país de emigração, Portugal tornou-se também um país de imigração mais notória a partir de meados dos anos 80 do século XX, tendo em 1993 o saldo migratório mudado de sinal passando a positivo (ou seja, verificou-se maior entrada de imigrantes do que saída de emigrantes). Portugal inseriu-se no grupo de países receptores de imigração no contexto europeu, apesar de ter sido de forma mais tardia em comparação com países como a França, a Alemanha e a Bélgica. O forte movimento imigratório que Portugal conheceu neste período produziu impactos profundos na nossa sociedade e na nossa economia, nomeadamente na demografia (com a menor influência do movimento natural na evolução da população), no mercado de 10 trabalho e na composição étnica e cultural das diversas regiões por onde os imigrantes se distribuíram. Da imigração registada ao longo do período atrás referido verificou-se um crescimento da população estrangeira residente. O número de imigrantes registados, residentes em Portugal, que em 1975 se situava em cerca de 31 mil e em 1980 em cerca de 58 mil, passou para um valor próximo dos 100 mil em 1989 e quase atingiu os 450 mil em 2004. Apesar de inferior nos anos seguintes, o número de cidadãos estrangeiros a residir legalmente em Portugal manteve-se sempre em valores acima de 400 mil, atingindo em 2009 um total de 454.191 residentes estrangeiros, distribuídos entre titulares de Autorizações de Residência (451.742) e prorrogações de Vistos de Longa Duração (244). As comunidades com maior representatividade eram as oriundas do Brasil, seguidas de comunidades oriundas de países do Leste da Europa e de países africanos de expressão portuguesa (SEF, 2010). Estamos, portanto, perante um conjunto relativamente elevado de pessoas, em números nunca antes atingidos, certamente com impacto no desenvolvimento do país. Esta dinâmica migratória acontece num país que foi tradicionalmente emigrante ao longo de décadas. Entre o início do século XX e os anos 30 ocorre um ciclo emigratório (da ordem de 35 mil habitantes, em média, por ano), sucedendo-lhe uma fase de diminuição nas décadas de 30 e 40 (em que o número médio anual de emigrantes passa para cerca de 9 mil). Porém, a maior vaga de emigração deu-se no período compreendido entre os anos 1950 e 1975, nomeadamente com destino à Europa e às então colónias ultramarinas. Os fluxos migratórios em Portugal neste período, registavam um saldo claramente negativo em que o número médio de emigrantes atingiu o valor de cerca de 50 mil por ano. É com a Revolução do 25 de Abril de 1974 e a consequente independência dos actuais PALOP que o saldo migratório se altera. Por um lado, entra-se num período em que a emigração baixa: entre 1976 e 1990, os valores médios anuais de emigrantes passam a rondar os 20 mil. Por outro lado, o número de imigrantes com origem nos PALOP e noutros países aumenta. 11 Figura 1 Fluxo imigratório em Portugal (1974-2009) Fonte: INE (2010). Considerando estes fluxos migratórios que tiveram lugar nas décadas mais recentes (Figura 1), há quatro fases que é possível distinguir na imigração estrangeira para Portugal. A primeira ocorreu entre 1975 e meados dos anos 80. Esta fase foi desencadeada pelas alterações que o país conheceu em 1974. O fim do império colonial levou a um forte movimento imigratório, na sua maior parte composto por “retornados” das ex-colónias, mas que incluiu também um fluxo significativo de populações de origem africana, sobretudo oriundas de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e de Angola. No caso de Cabo Verde, o fluxo foi, em grande medida, a continuação de movimentos que se haviam iniciado nos anos 60. A segunda fase teve início em 1986, com a adesão de Portugal à (então) Comunidade Económica Europeia, e prolongou-se até finais dos anos 90, onde, apesar de algumas dificuldades conjunturais, se assistiu a uma tendência de crescimento da economia que conduziu à entrada tanto de imigrantes qualificados como não qualificados devido ao aumento da procura de trabalho que resultou desse crescimento. Nesta segunda fase a imigração teve principalmente como origem as ex-colónias e o Brasil, mas houve, também, alguma vinda da Europa Ocidental, talvez devido ao reforço dos laços económicos entre Portugal e o espaço europeu. A terceira fase, com maior volume de imigração, teve início no final dos anos 90 e prolongou-se até aos primeiros anos do novo milénio. Neste período a imigração teve principalmente como origem os países da Europa de Leste, com os quais Portugal não tem tantas relações históricas, linguísticas ou culturais como no caso dos PALOP ou do 12 Brasil. Houve, também, um reforço da imigração proveniente do Brasil. De assinalar, ainda, a vinda de imigrantes oriundos de países asiáticos (principalmente chineses, indianos, paquistaneses, bangladechianos) que se concentraram mais em actividades comerciais por conta própria. De referir que durante este período entre o início da década de 90 até ao início do século XXI, observa-se em certo recrudescimento da emigração, com a saída, em média, de cerca de 28 mil emigrantes por ano. Finalmente, a quarta fase teve início nos primeiros anos da década actual, coincidindo com um período duradouro de recessão económica, prolongando-se até à actualidade. Nesta fase, verificou-se uma forte desaceleração da imigração proveniente da Europa de Leste, havendo mesmo uma diminuição dos seus números, devido a retornos e remigrações, a estabilização da imigração proveniente dos países africanos lusófonos, sendo a única excepção a entrada renovada de imigrantes brasileiros (Pires, 2003). De notar que a transição da condição de Portugal enquanto país de emigração para a recente condição de país de imigração não significa que tenham deixado de verificarse saídas de cidadãos nacionais para o estrangeiro, mas sim uma alteração de sinal dos saldos migratórios observados no nosso país, isto é, a alteração do sinal do saldo migratório. Figura 2 Evolução do saldo migratório em Portugal (1970-2009) 80000 60000 40000 20000 0 -20000 -40000 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 -60000 Fonte: INE (2010). Se observarmos a evolução dos saldos migratórios nas últimas décadas (Figura 2), é evidente a transição, sobretudo a partir de 1990, de uma tendência negativa para uma 13 tendência positiva até ao início do novo milénio, tendência que se volta a inverter nessa altura até uma situação que volta a valores só muito ligeiramente acima de zero ser próxima do saldo negativo. A tendência de envelhecimento da população portuguesa tem caracterizado a dinâmica demográfica em Portugal nas últimas décadas. Esta tendência tem resultado da diminuição da taxa de crescimento natural decorrente da redução da natalidade, com a diminuição do número médio de filhos por casal. Para isso tem contribuído, também, o aumento da esperança de vida. Em consequência desta situação o saldo natural tem vindo a diminuir ao longo dos últimos 30 anos, sendo actualmente negativo. Assim sendo, tem sido a inversão do sinal dos saldos migratórios que mais tem contribuído para que tenha havido algum crescimento demográfico, embora cada vez mais moderado dado o sinal negativo do saldo natural nos últimos anos e a baixa do saldo migratório desde a viragem do século. Figura 3 Evolução do saldo demográfico, do saldo natural e do saldo migratório (19812009) Fonte: INE (2010). Nas últimas décadas a imigração tem dado, pois, um contributo muito importante para contrariar a tendência de envelhecimento e de diminuição da população portuguesa. 14 Quais são as características da população imigrante que vive actualmente em Portugal? Figura 4 População estrangeira com estatuto legal de residente em Portugal, segundo algumas nacionalidades, em 2009 Fonte: SEF (2010). As nacionalidades estrangeiras mais representativas em Portugal são o Brasil, Ucrânia, Cabo Verde, Roménia, Angola, Guiné-Bissau e Moldávia, as quais representam cerca de 71% da população estrangeira em Portugal com permanência regular, segundo dados de 2009. Considerando, apenas, os países de língua portuguesa, os seus nacionais correspondem a 47% da população imigrante: Brasil (25%), Cabo Verde (11%), Angola (6%) e Guiné-Bissau (5%). Numa análise da distribuição da população imigrante por género (Figura 5), predomina o sexo masculino, com uma diferença percentual de cerca de 4% relativamente ao sexo feminino. 15 Figura 5 População estrangeira por sexo, em Portugal, em 2009 Fonte: SEF (2010). Ao longo dos anos a imigração masculina tem predominado em relação à feminina. No entanto, com a reunificação familiar esta tendência tem-se atenuado. No que se refere à distribuição etária, a população imigrante é menos envelhecida e tem mais gente em idade activa do que o resto da população (Figura 6). Figura 6 Pirâmides etárias da população residente total e da população residente imigrante em Portugal, em 2009 Fonte: INE (2010) e SEF (2010). Quanto à distribuição geográfica, com base em dados para 2009, verifica-se que os distritos de Lisboa (196.798), Setúbal (14.416), Faro (73.277) e Porto (28.107), são os distritos onde se concentra maioritariamente a população estrangeira residente (Figura 7). 16 Figura 7 População estrangeira em Portugal por distrito, em 2009 Fonte: SEF (2010). Para finalizar este primeiro ponto, é necessário fazer uma referência às políticas de imigração adoptadas por Portugal. Estas políticas estruturam-se em torno de quatro grandes eixos: regulação de fluxos migratórios, promoção da imigração legal, luta contra a imigração clandestina e integração dos imigrantes. Durante a década de 80, a política de imigração em Portugal era focalizada na regulação dos fluxos migratórios, através de uma lei aprovada em 1981. Devido à forte pressão da imigração irregular em conjunto com a adesão de Portugal ao Acordo Schengen, o âmbito desta política diversificou-se, não só na área da regulamentação, mas também na área da integração dos imigrantes. Em 1992-93 surge a primeira Regularização Extraordinária e em 1993 uma nova lei de imigração, seguida, em 1996, de uma segunda Regularização Extraordinária. Nesse mesmo ano criado o cargo de Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Éticas, que deu origem ao actual AltoComissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. Em 1998 é aprovada uma nova lei de imigração que se traduziu na emissão de títulos de residência. Devido à continuação da dinâmica imigratória, em 2001 é adoptada uma nova lei de imigração que permitiu a regularização de trabalhadores estrangeiros por conta de outrem. Foram para isso criadas as autorizações de permanência que facultavam o acesso à autorização 17 de residência passados 5 anos. O facto destas autorizações de permanência serem apenas atribuídas a indivíduos que possuíssem contratos de trabalho, fez depender a aplicação das medidas da política de imigração do funcionamento dos mercados de trabalho (Peixoto, 2007). Em 2003 a nova lei de imigração aboliu as autorizações de permanência. Em 2003 e 2004 ocorreram duas novas regularizações e neste último ano foram criados os Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante (CNAI), seguidos de Centros Locais (CLAI) a nível municipal. Finalmente, em 2007, foi aprovada uma nova lei de imigração que simplificou o sistema de vistos, através da conversão de todos os tipos de vistos de longa duração e autorizações de permanência em autorizações de residência. Ainda nesse mesmo ano foi publicado o Plano para a Integração dos Imigrantes e implementado o reconhecimento de qualificações, entretanto renovado em 2010. Os esforços de Portugal na área da integração foram reconhecidos como boa prática pela Comissão Europeia em 2004. Em 2007, Portugal ficou no segundo lugar entre todos os países da UE, no Índice de Políticas de Integração de Migrantes (MIPEX II), publicado pela organização independente Migration Policy Group. Este índice avalia e compara as políticas de imigração adoptadas pelos governos de um conjunto de 28 países, 25 países pertencentes à UE e 3 países não pertencentes, para promover a integração. Para isso usa mais de 140 indicadores de política para criar um retrato multidimensional das oportunidades que os migrantes têm para participar nas sociedades europeias. Em 2011 Portugal volta a ficar no segundo lugar no MIPEX III que, agora, inclui 31 países da Europa e da América do Norte e 148 indicadores de política. Portugal ocupa mesmo a primeira posição no grupo de novos países de imigração laboral com melhores condições de acesso ao mercado de trabalho e na vertente da reunificação familiar. Em 2009, foi a vez da Organização das Nações Unidas destacar Portugal como um exemplo de boas práticas na área da integração de imigrantes. 1.2 Imigração brasileira em Portugal A comunidade brasileira em Portugal tem apresentado na última década um forte e contínuo crescimento, representando em 2009, como se verifica na Figura 8, cerca de 25% da comunidade estrangeira residente em Portugal (cerca de 116.220 residentes estrangeiros em Portugal oriundos do Brasil). Todavia, esta evolução positiva e 18 sustentada da imigração brasileira em Portugal não pode ser dissociada das alterações legislativas que ocorreram nas últimas duas décadas. Figura 8 Principais nacionalidades imigrantes em Portugal, em 2009 Fonte: SEF (2010). A imigração brasileira em Portugal não é de agora. É um fenómeno antigo traduzido em sucessivas vagas com características diferenciadas. O que é novo na última década é a intensificação e a vitalidade deste processo. Portugal e Brasil têm uma história de relacionamento com 500 anos, partindo da colonização e passando pela moderna emigração transatlântica portuguesa que ocorreu no longo período desde meados do século XIX até o final dos anos 60 do século XX. Durante mais de um século, o Brasil foi o principal destino da emigração portuguesa, partindo muitos emigrantes portugueses em busca de prosperidade económica, apoiados por uma rede de conhecimentos que unia os que tinham emigrado, os que permaneciam em Portugal e os que retornavam do Brasil (Rocha-Trindade et al., 1995). Em meados da década de 70 as dinâmicas migratórias que tradicionalmente colocavam o Brasil como um país de imigração inverteram-se, fruto de crises económicas e políticas vividas neste país que limitavam as oportunidades de trabalho e de mobilidade social. Os EUA, Paraguai, Japão e países europeus surgiram como os principais destinos da emigração brasileira. A entrada de Portugal na União Europeia em 1986 tornou o país mais atractivo para imigrantes de países terceiros interessados em, assim, entrarem no território europeu e gerou algum dinamismo económico que criou oportunidades de emprego para 19 esses imigrantes. Por razões de afinidade linguística e outras facilidades, Portugal tornou-se um ponto de destino para esse tipo de imigrantes oriundos do Brasil. Figura 9 População estrangeira brasileira residente em Portugal (1974-2009) Fonte: INE (2010) e SEF (2010). Assim, é na década de 70 que se assiste a uma primeira fase da imigração brasileira em Portugal moderna (Figura 9). Esta imigração era maioritariamente composta por profissionais qualificados que facilmente se inseriram no mercado de trabalho português devido a duas razões: - em primeiro lugar, devido à reduzida dimensão destes fluxos imigratórios iniciais; - em segundo lugar, devido à escassez de qualificações em várias áreas do mercado de trabalho resultante do processo de reestruturação e modernização da economia portuguesa. Neste período, Portugal tornou-se mais atractivo para o investimento estrangeiro, incluindo o brasileiro. Assim sendo, alguns profissionais qualificados acompanharam as empresas brasileiras que se estabeleceram em Portugal. Neste processo de modernização e com a disseminação das novas tecnologias, alguns sectores como, por exemplo, o marketing e a informática expandiram-se e não conseguiram encontrar profissionais qualificados e experientes no mercado de trabalho português. Outro exemplo é o sector da saúde e a carência de médicos que aí existia. Alguma imigração brasileira respondeu a este tipo de procura de trabalho. 20 A partir do final da década de 90, dá-se início a uma segunda fase de imigração brasileira moderna, com características muito distintas da primeira fase. Assistiu-se a uma forte aceleração dos fluxos e à diversificação das características socioeconómicas dos imigrantes. A procura de trabalho em Portugal caminhou no sentido de uma menor qualificação do trabalho destes imigrantes, de estratos etários mais baixos e de vínculos laborais mais precários. Gerou-se, assim, uma estrutura dual da imigração brasileira em Portugal. Apesar das limitações das estatísticas oficiais, há indícios deste facto nos dados não publicados fornecidos pelo INE sobre os recenseamentos da população de 1991 e 2001. Ao analisar-se os quadros 1 e 2, claramente se verifica que em 1991 ocorre uma absorção de imigrantes brasileiros em lugares mais elevados da pirâmide profissional. Em 2001 há um aumento do peso relativo do trabalho não qualificados e com maior precariedade laboral, com relevo para os operários industriais, pessoal dos serviços e vendedores (Peixoto e Figueiredo, 2007). Quadro 1 Profissões da população brasileira activa residente em Portugal em 1991 Profissões Profissões intelectuais e científicas Profissões técnicas intermédias Pessoal dos serviços de protecção e segurança, dos serviços pessoais e doméstico Membros corpos legislativos, quadros dirigentes função publica, directores de empresa Empregados administrativos Trabalhadores da produção industrial e artesãos Trabalhadores não qualificados de agricultura, indústria, comércio e serviços Operadores de instalações industriais e máquinas fixas, condutores e montadores Trabalhadores da agricultura e da pesca Forças Armadas Outras Total Fonte: INE, Censos 1991, dados não publicados. 21 N.º de pessoas 1393 1058 1009 588 585 569 487 246 107 24 138 6204 Quadro 2 Profissões da população brasileira activa residente em Portugal em 2001 Profissões Operários, artífices e trabalhadores similares Pessoal dos serviços e vendedores Trabalhadores não qualificados Profissões técnicas intermédias Profissões intelectuais e científicas Membros corpos legislativos, quadros dirigentes função pública, directores de empresa Pessoal administrativo e similares Operadores de instalações industriais e máquinas fixas, condutores e montadores Trabalhadores qualificados da agricultura e da pesca Forças Armadas Outros Total N.º de pessoas 5116 4375 4326 2351 2242 1290 1222 1128 234 14 481 22779 Fonte: INE, Censos 2001, dados não publicados. O que vulgarmente é conhecido por “Acordo Lula”, celebrado em 2003 entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa sobre a Contratação Recíproca de Nacionais, permitiu que, de acordo com o artigo 6.º, muitos dos imigrantes brasileiros em Portugal em situação ilegal que tinham entrado no país com visto de turismo antes de 11 de Julho de 2003 pudessem regularizar a sua situação. O acordo estabeleceu, também, condições de reciprocidade que beneficiaram os emigrantes portugueses no Brasil. Sem prejuízo da influência que a evolução da economia portuguesa e estas medidas de política tiveram na integração dos imigrantes brasileiros, é importante não esquecer o papel dos factores culturais, nomeadamente a língua comum e a constituição e densificação das redes sociais migratórias que conferiu sustentabilidade ao processo de manutenção destes fluxos, fornecendo suporte e informações ao imigrante. Nos últimos anos a imigração brasileira para Portugal sofreu um abrandamento devido não só à estagnação e, ultimamente, declínio do PIB português, mas também a um maior dinamismo da economia brasileira. Desagregando a população brasileira residente em Portugal por género (Figura 10), verifica-se que predomina o sexo feminino. 22 Figura 10 População estrangeira brasileira por sexo, em Portugal, em 2009 Fonte: SEF (2010). Estas mulheres imigrantes trabalham geralmente em actividades nos domínios do trabalho doméstico, assistência a doentes e idosos, restauração e hotelaria. As mulheres imigrantes brasileiras apoiam-se nas redes de parentesco e familiares. Muitas emigram por causa do marido, viajando com ele, ou para se juntarem a ele quando o marido foi o primeiro a imigrar. Outras viajam com membros da sua família, ou ainda porque têm algum familiar já em Portugal. Existem ainda, algumas mulheres que emigram para enviar dinheiro para os filhos, ou para outros familiares no Brasil. Finalmente, há as que emigram sozinhas, sem conhecidos, em busca de uma vida nova e diferente (Padilla, 2007). Relativamente à distribuição geográfica (Figura 11), embora a Área Metropolitana de Lisboa e o Algarve sejam os principais polos de imigração brasileira, a segunda fase de imigração atrás referida tendeu a difundir-se por todo o território, embora de forma assimétrica. 23 Figura 11 População estrangeira brasileira por distrito e por género em Portugal, em 2009 Fonte: SEF (2010). Assim sendo, a distribuição geográfica da população brasileira em Portugal concentra-se na zona litoral (Figura 12), com destaque para os distritos de Lisboa, Setúbal, Faro e Porto, que, em 2009, segundo dados provisórios fornecidos pelo SEF, apresentavam respectivamente 53.260, 14.011, 12.569 e 9.136 imigrantes brasileiros com estatuto legal. O somatório da população residente nestes quatro distritos representa cerca de 76,6% do valor total do país (88.976 cidadãos, face ao universo de 116.220 imigrantes brasileiros). 24 Figura 12 Distribuição geográfica da população residente em Portugal de nacionalidade brasileira em 2009 948 524 451 2858 9136 3556 1233 335 2928 732 869 4691 631 3964 53260 1208 14011 1016 1300 12569 Fonte: SEF (2010). 25 2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO Depois da descrição dos fluxos de imigração com uma atenção especial nos que têm como origem o Brasil, vai agora apresentar-se o enquadramento teórico em que se examinam os factores que influenciam a adaptação dos imigrantes à sociedade do país de acolhimento. O tipo de teorias que aqui será utilizado dá muita importância à influência da cultura nessa adaptação (Sam e Berry, 2006; Ward, Bochner, e Furnham, 2001). Assim sendo, convém precisar a definição dos conceitos de aculturação e adaptação. 2.1 Aculturação A aculturação engloba os processos através dos quais pessoas, famílias, comunidades e sociedades reagem ao contacto intercultural. Redfield, Linton, e Herskovits (1936) definiram a aculturação como sendo o conjunto de mudanças culturais ocorridas em resultado de contactos contínuos e directos entre dois grupos culturais independentes. Trata-se de uma definição clássica e talvez seja a que é mais utilizada pelos investigadores da aculturação. Dentro desta perspectiva, a aculturação aparece como sendo um fenómeno que se realiza ao nível dos grupos. Depois da publicação do artigo de Graves (1967) houve uma extensão do conceito à dimensão psicológica do indivíduo, utilizando-se neste caso o termo de aculturação psicológica. A este segundo nível, a aculturação refere-se a mudanças que um indivíduo vivencia em resultado de estar em contacto com outras culturas e de participar no processo de aculturação por que passa o seu grupo cultural ou étnico. A este nível a aculturação refere-se a mudanças nos comportamentos, nas atitudes, nos valores e nas identidades das pessoas cujos grupos de referência estão a vivenciar a aculturação. Mudanças de diversa índole podem ocorrer em resultado da aculturação. Os processos de aculturação abarcam um vasto leque de fenómenos (Sam e Berry, 2006). Vários factores de contacto intercultural têm sido identificados como sendo importantes para uma adaptação bem sucedida. Abordar-se-ão vários aspectos da aculturação que são importantes nas experiências, atitudes e sentimentos de imigrantes. Nesta investigação examinaremos, mais especificamente, a competência linguística, os contactos sociais, a identidade cultural e a discriminação percepcionada. 26 2.2 Adaptação A adaptação dos imigrantes é um fenómeno complexo. A adaptação constitui um vasto domínio que abrange todos os seres vivos e que se aplica a numerosas esferas da actividade humana em que há uma mudança. Por exemplo, adaptamo-nos à escola, ao trabalho, à vida conjugal, à reforma. Não é pois estranho que a adaptação tenha suscitado entre os investigadores um amplo debate sobre o modo como pode ser definida e medida. A adaptação intercultural tem sido conceptualizada de diversos modos e a sua avaliação cobre um vasto leque de domínios tais como o estado de saúde, a competência em comunicar, a auto-consciência, a redução do stress, sentimentos de aceitação e comportamentos culturalmente adequados (Ward, 1996). A adaptação é o resultado da aculturação psicológica (Berry 1997; Neto e Neto, 2001a). Ward (1996) distinguiu duas componentes da adaptação. A adaptação psicológica refere-se ao bem-estar psicológico ou a uma boa saúde mental e satisfação no novo contexto cultural. A adaptação sociocultural relaciona-se com a aprendizagem de competências sociais para interagir na nova cultura, tratar dos problemas da vida quotidiana e levar a cabo determinadas tarefas de uma maneira eficaz. A distinção entre adaptação psicológica e adaptação sociocultural fundamenta-se em duas das principais perspectivas teóricas sobre a aculturação, a saber: stress e confronto, por um lado, e aprendizagem cultural, por outro lado. A adaptação psicológica que enfatiza os aspectos afectivos da aculturação é melhor interpretada no âmbito do stress e do confronto (Lazarus e Folkman, 1984). Um exemplo de trabalho efectuado com base nesta tradição é a investigação sobre o stress de aculturação (Berry, 1997). Pelo contrário, a adaptação sociocultural diz, sobretudo, respeito a aspectos comportamentais da experiência de aculturação e pode ser compreendida tendo em conta as análises das competências sociais e das interacções (Argyle, 1982). Um exemplo de trabalho efectuado com base nesta tradição é a investigação de Furnham e Bochner (1982) sobre as dificuldades sociais e a psicologia social dos encontros interculturais. Estas duas formas de adaptação estão interrelacionadas; lidar com sucesso com problemas e interacções positivas com os membros da sociedade receptora é susceptível de melhorar os sentimentos de bem-estar e de satisfação; do mesmo modo, é mais fácil realizar tarefas e desenvolver relações interpessoais se a pessoa se sente bem e é aceite ( Neto e Neto, 2011b ). Ward (2001) também mostrou que os dois tipos de adaptação podem ser explicados por variáveis diferentes. A adaptação psicológica depende de 27 variáveis de personalidade, mudanças vitais e apoio social. Searle e Ward (1990) concluiram que a extroversão, os acontecimentos vitais e a satisfação com as relações estabelecidas com a sociedade receptora influenciam significativamente a adaptação psicológica de estudantes da Malásia e de Singapura a residir na Nova Zelândia. Locus de controlo, mudanças vitais e relações pessoais satisfatórias explicam uma grande parte da variância da adaptação psicológica em estudantes e imigrantes adultos (Ward e Kennedy, 1992). Pelo contrário, a adaptação sociocultural, avaliada em termos de dificuldade social, é influenciada por variáveis que estão mais fortemente relacionadas com factores cognitivos e com a aquisição de competências sociais, tais como o conhecimento cultural, a competência linguística, o tempo de estadia na nova cultura, o contacto com as pessoas da sociedade receptora, a distância cultural e a intensidade e qualidade das identificações com membros do grupo maioritário. Neste estudo examinaremos, mais particularmente, a adaptação sociocultural. No seguimento de outros investigadores, conceptualizaremos a adaptação sociocultural como sendo um fenómeno amplo que inclui problemas de comunicação intercultural, tais como o conhecimento cultural e o sucesso em resolver problemas da vida quotidiana que envolvem a interacção com a população receptora (Brislin, Cushner, Cherrie, e Young, 1986), como, por exemplo, o aluguer de um alojamento, ou tarefas quotidianas que exigem informação cultural e competências específicas. 2.3 Factores influenciadores da adaptação sociocultural dos imigrantes Tendo em conta os conceitos atrás apresentados, a questão de investigação deste trabalho pode ser formulada do seguinte modo: quais são os factores influenciadores mais importantes na adaptação sociocultural de imigrantes, considerando como caso de estudo os brasileiros a residir em Portugal? Vão aqui ser examinados dois tipos de factores: sociodemográficos e de aculturação. 2.3.1 Factores sociodemográficos Um factor importante da adaptação sociocultural é a distância cultural entre as culturas da sociedade de origem e da sociedade receptora. A dificuldade social está relacionada com a distância cultural entre os dois contextos culturais e também com a percepção de diferenças culturais. Por isso, a aquisição de novas competências e de conhecimento cultural depende da semelhança entre a cultura de origem e a da 28 sociedade receptora. Quanto maior for a distância cultural, tanto mais aprendizagem cultural se exigirá para o ajustamento (Furnham e Bochner, 1982). Por exemplo, estudantes da Malásia em Singapura têm menos problemas de adaptação sociocultural que estudantes da Malásia e de Singapura na Nova Zelândia. De modo semelhante, estudantes chineses em Singapura adaptam-se mais facilmente que estudantes ingleses (Ward e Kennedy, 1999). Há investigação que sugere que quanto maior é a distância cultural percepcionada tanto maior é a dificuldade no processo de aculturação (Searle e Ward, 1990, Ward e Kennedy, 1992). A dificuldade social pode ser elevada em culturas que diferem nos seus valores nucleares, tais como culturas individualistas e colectivistas. Furnham e Bochner (1982) sugeriram que a associação entre distância cultural percepcionada e dificuldade social resulta de um maior grau de aprendizagem cultural que deve ocorrer para o imigrante se adaptar. Tendo em conta a proximidade cultural entre Portugal e o Brasil é de esperar que os imigrantes brasileiros em Portugal encontrem poucas dificuldades de adaptação sociocultural. Há vários estudos que identificaram algumas variáveis influenciadoras da adaptação sociocultural independentemente do tipo de grupo, da sua origem ou da sociedade receptora (Ward, 1996; Ward et al., 2001), tais como a idade, o sexo, o tempo de estadia, o nível de instrução, o salário, o estatuto profissional e a composição étnica dos vizinhos. No que se refere à influência da idade, os estudos empíricos não chegam a resultados de sentido único. Alguns estudos concluem que as pessoas mais jovens lidam melhor com a transição, havendo outros estudos que chegam à conclusão que as pessoas mais idosas têm menos problemas (Church, 1982). Para Beiser et al. (1988) a adolescência e a velhice são períodos de alto risco em comparação com outros períodos. A adolescência pode envolver problemas psicológicos devido à formação e desenvolvimento da identidade. Na velhice pode haver dificuldades de aprendizagem que prejudicam a adaptação sociocultural. No que se refere ao sexo, as mulheres têm sido apontadas como tendo uma adaptação social mais fraca que os homens (Ataca e Berry, 2002), possivelmente porque têm menos oportunidades para aprender a nova cultura e estão mais isoladas na sociedade receptora do que os homens. No entanto, também aqui os estudos empíricos disponíveis não chegam a conclusões de sentido único (Ward,et al. 2001). 29 Entre as variáveis sociodemográficas uma das mais estudadas tem sido o tempo de estadia. Efectivamente, o tempo de estadia na nova cultura é um dos factores mais importantes da adaptação sociocultural bem sucedida. A adaptação é baixa no começo da estadia e melhora com o aumento do tempo de estadia, até finalmente estabilizar no seu nível mais alto possível (Furnham e Bochner, 1986; Ward e Rana-Deuba, 1999). Outras variáveis importantes são o nível de instrução e o rendimento (Ataca e Berry, 2002). Jayarsuriya, Sang e Fielding (1992) estudaram a relação entre o nível de instrução e a aculturação e concluíram que os migrantes com um nível mais elevado de instrução têm um envolvimento mais forte com a cultura da sociedade receptora e uma adaptação sociocultural e psicológica melhor devido aos seus recursos de aprendizagem cultural que os migrantes menos instruídos. Talvez esta relação não seja surpreendente, pois o nível de instrução pode estar ligado a outros recursos, tais como conhecimento cultural específico, profissões com estatuto mais elevado e rendimento mais elevado. O nível de instrução também foi identificado como estando associado positivamente à auto-estima (Pham e Harris, 2001). No caso dos migrantes com um nível de instrução elevado que sofrem um processo de mobilidade social descendente (Dohrenwend e Dohrenwend, 1974), ou que estão bloqueados nessa mobilidade (Ataca e Berry, 1996), as dificuldades psicológicas são maiores do que no caso dos migrantes com menos instrução. Divergindo dos trabalhos anteriores, Polek, Oudenhoven e Berge (2008) concluem que problemas de adaptação sociocultural dos imigrantes estão mais ligados a problemas de vinculação do que a factores demográficos. Assim sendo, vão ser examinados seguidamente outros tipos de factores susceptíveis de influenciar a adaptação sociocultural, mais precisamente factores de aculturação. 2.3.2 Factores de aculturação A adaptação de imigrantes é um fenómeno complexo. Nas revisões de literatura disponível sobre este assunto (Berry, 1997; Rogler et al., 1991; Ward et al., 2001) apontam-se como sendo relevantes na adaptação sociocultural dos migrantes factores de contacto intercultural, mais precisamente os seguintes: competência linguística, contactos sociais, identidade cultural e discriminação percepcionada. 30 Competência linguística A língua permite comunicar e transmitir as aprendizagens da cultura. Ela é parte integrante da cultura e, portanto, da distância cultural conforme as línguas faladas em duas culturas são próximas ou não uma da outra (Triandis, 1994). A competência linguística faz, pois, parte do processo de aculturação. A competência na língua original dos imigrantes e na língua do país receptor são aspectos nucleares do processo de aculturação (Phinney, 1998). O conhecimento da língua do país receptor desempenha um papel nuclear no âmbito do processo de aprendizagem cultural, pois a língua é vista como um meio através do qual a informação cultural é transmitida (Masgoret e Ward, 2006). Uma competência insuficiente na língua do país receptor constitui um problema de aculturação, pois pode contribuir para diminuir a capacidade de funcionar de modo eficaz no novo meio. Contactos sociais O grau de contacto social que o imigrante estabelece na sociedade receptora também pode influenciar a adaptação social: uma interacção social mais forte contribui positivamente para a adaptação (Ward e Rana-Deuba, 2000). As interacções sociais com a sociedade receptora fornecem oportunidades aos imigrantes para desenvolverem uma compreensão da nova cultura e se adaptarem (Ataca e Berry, 2002; Li e Gasser, 2005). Se esta rede de contactos sociais for fraca isso pode ter efeitos nefastos na adaptação (Turjeman, Mesh, e Fishman, 2008). As redes de contactos sociais podem mudar durante a aculturação à medida em que os imigrantes alargam a esfera de contactos na sociedade receptora. Tal não implica, no entanto, que os contactos sociais com pessoas do seu próprio grupo se diluam totalmente, ou que deixem de ser fortes. Identidade cultural A identidade cultural garante um sentimento de pertença a um ou mais grupos culturais. A identidade de grupos migrantes passando por um processo de aculturação pode ser abordada sob dois ângulos, pelo menos: a identidade originária e a identidade da sociedade receptora. Outro ângulo de análise pode ser a identificação com múltiplas culturas. Neste trabalho vai considerar-se a identidade brasileira e a identidade portuguesa. Muitos dos estudos sobre esta matéria consideraram só uma identidade (Phinney, 2003). Mais precisamente, em estudos relativos aos Estados Unidos na fase 31 inicial deste tipo de investigação considerava-se que os imigrantes tinham de escolher entre a sua identidade cultural de origem, ou a identidade americana, sob risco de ficarem marginalizados. Neste trabalho examinaremos a influência não só da identidade brasileira, isto é, o nível de afirmação e de pertença à cultura de origem, como também da identidade portuguesa, isto é, até que ponto os imigrantes brasileiros também se sentem portugueses. Os membros dos grupos imigrantes, de um modo geral, obtêm uma pontuação mais elevada em identidade étnica do que os membros do grupo cultural dominante. Há estudos que concluem no sentido de uma identidade étnica forte estar positivamente associada com a auto-estima e com o bem-estar psicológico (e.g., Phinney, Cantu, e Kurtz, 1997). Discriminação percepcionada No decurso da aculturação diferenças culturais entre grupos podem levar a conflitos intergrupais e a discriminação. Por conseguinte, experiências de discriminação têm sido apontadas como constituindo um dos principais factores de stress associados a problemas de adaptação (OECD, 2006). O modo como os imigrantes lidam com experiências de discriminação é fulcral para o eventual resultado do processo de aculturação. A discriminação tem sido definida como sendo constituída por actos intencionais que esboçam distinções injustas ou injuriosas assentando unicamente em bases raciais ou étnicas e com efeitos favoráveis nos endogrupos e desfavoráveis nos exogrupos (Jackson et al., 1998). A discriminação étnica percepcionada pode referir-se à percepção subjectiva de tratamento injusto de grupos étnicos ou de membros de grupos com base no preconceito racial e no etnocentrismo. É, por isso, importante delinear a distinção entre discriminação, enquanto constituída por acontecimentos que se podem medir objectivamente, e discriminação percepcionada, enquanto interpretação individual de acontecimentos discriminatórios. A discriminação percepcionada também é susceptível de ser um obstáculo à adaptação sociocultural (Ataca e Berry, 2002; Neto e Neto, 2009). Há investigação que tem confirmado o papel desempenhado pela discriminação percepcionada nos factores adaptativos. Por exemplo, Hassel e Perewe (1993) concluíram que pessoas com mais baixa auto-estima referiam mais discriminação relacionada com a idade. Há investigação empírica levada a cabo em vários países que 32 aponta para uma relação negativa entre discriminação étnica e auto-estima (Verkuyten, 2003). Limitações dos estudos disponíveis sobre a adaptação sociocultural A literatura atrás revista dá algumas indicações sobre a relevância e sentido destas influências, mas são resultados com muitas limitações. Em primeiro lugar, como observaram Ataca e Berry (2002) muitos estudos empíricos sobre os factores influenciadores da adaptação sociocultural analisaram migrantes temporários. Por isso, as suas conclusões não podem ser extensíveis a imigrantes que já são, ou pretendem vir a ser residentes permanentes no país receptor. Em segundo lugar, com poucas excepções, muitos estudos deixaram de fora a análise de factores que podem ser relevantes para explicar a adaptação sociocultural, nomeadamente, o apoio social proporcionado por pessoas da mesma nacionalidade. 2.4 Hipóteses a testar Neste trabalho pretende-se analisar a influência de variáveis sócio-demográficas, competência linguística, contactos sociais, identidade cultural e discriminação percepcionada sobre os níveis de adaptação sociocultural de imigrantes brasileiros que constituem o grupo de imigrantes mais numeroso residente em Portugal. De uma forma mais precisa, as questões a analisar são as seguintes: 1) Qual o nível de adaptação sociocultural de imigrantes brasileiros a residir em Portugal? 2) Há ou não factores sociodemográficos e factores de aculturação que influenciam significativamente essa adaptação sociocultural? 3) Caso os dois tipos de factores atrás referidos tenham uma influência significativa na adaptação sociocultural dos imigrantes, qual dos dois tem uma influência mais forte? Tendo por base a revisão de literatura atrás apresentada, propõem-se as seguintes respostas hipotéticas a estas perguntas a testar empiricamente: Hipótese 1): Dada a proximidade cultural entre Portugal e Brasil é de esperar que os imigrantes brasileiros a residir em Portugal encontrem um baixo nível de dificuldade de adaptação sociocultural. 33 Hipótese 2): É de esperar que os imigrantes brasileiros com um nível de instrução mais baixo do que os que têm um nível de instrução mais elevado e com menos tempo de estadia evidenciem mais dificuldades de adaptação sociocultural. Hipótese3): A adaptação sociocultural dos imigrantes é influenciada por factores sociodemográficos e de contacto intercultural. Hipótese 4) Os factores de contacto intercultural têm uma influência mais forte sobre a adaptação sociocultural do que os factores sociodemográficos. 34 3. METODOLOGIA 3.1 Amostra Participaram no inquérito realizado para este estudo 241 imigrantes brasileiros. Trata-se de uma “amostra de conveniência” (Lonner e Berry, 1986) desta população imigrante constituída com recurso a grupos culturais, acontecimentos sociais e amigos, mas com a preocupação de incluir participantes seleccionados de diferentes grupos etários e níveis de instrução e com diferentes tempos de estadia em Portugal. A idade dos participantes oscila entre os 18 e 61 anos, sendo a média de idade de 35.73 anos (DP = 10.13). Cento e dezasseis participantes são do sexo masculino (48%) e cento e vinte cinco são do sexo feminino (52%). Os homens (M = 35.53; DP = 9.98) e as mulheres (M = 35.90; DP = 10.30) não se diferenciam significativamente segundo a idade: F(1, 240) = 0.08, p = .78. Todos os participantes nasceram no Brasil. A duração média da estadia em Portugal dos participantes é de 13.31 anos (DP = 8.29). Os homens (M = 13.39; DP = 8.73) e as mulheres (M = 13.24; DP = 7.90) não se diferenciam significativamente segundo o tempo de estadia, F(1, 238) = 0.02, p = .89. Relativamente à sua religião, a maioria declarou-se católica (62.1%). Mais de metade dos participantes completou, pelo menos, o ensino secundário (53%). Em relação à sua situação perante o trabalho verifica-se que 48.6% desempenham um trabalho não especializado, 23,7% um trabalho especializado, 7.1% são empregados de escritório, 4.1% são quadros superiores, 15.2% não trabalham (desempregados, estudantes) e 1.3% não responderam a esta questão. Finalmente, em relação à composição étnica da área de vizinhança dos imigrantes brasileiros, em 7.9% dos casos essa composição na sua maioria ou quase totalidade corresponde a pessoas do mesmo grupo nacional (nível de homogeneidade nacional) (Quadro 3). 35 Quadro 3 Características sociodemográficas da amostra de imigrantes brasileiros Imigrantes brasileiros (N=241) 35.73 (DP = 10.13) Média de idades Sexo Feminino 52.0% Masculino 48.0% Lugar de nascimento Brasil 100% Número de anos em Portugal 13.31 (DP = 8.29) Nível de instrução 1.º, 2.º e 3.º ciclo do ensino básico 46.9% Ensino secundário 42.3% Ensino superior 7.9% Não responderão 1.3% Estatuto profissional Trabalho não especializado 48.6% Trabalho especializado 23.7% Emprego de escritório 4.1% Quadro superior 7.1% Não trabalhavam 15.2% Não responderam 1.3% Religião Nenhuma 25.7% Católica 62.1% Protestante 8.1% Outra 4.1% Vizinhança Quase todas as pessoas doutro grupo étnico 14.6% A maioria das pessoas doutro grupo étnico 48.7% Igual 28.8% A maioria das pessoas do mesmo grupo étnico 5.4% Quase todas as pessoas do mesmo grupo étnico 2.5% Nota: As características referem-se a médias e desvios padrões, caso não haja indicação em contrário. 3.2 Instrumentos Aos participantes foram administradas as escalas a seguir apresentadas nas respostas relativas aos factores atrás referidos como possíveis influenciadores da adaptação sociocultural. 36 Competência linguística: Foram utilizados quatro itens para avaliar esta competência: competência em falar, ler, escrever e compreender a língua portuguesa de Portugal e a competência em falar, ler, escrever e compreender a língua portuguesa do Brasil. Os participantes responderam numa escala em que 1 correspondia a “Fortemente em desacordo” e 5 “Fortemente de acordo”. Identidade cultural: Fez-se uma selecção de oito itens da Multigroup Ethnic Identity Measure (Phinney, 1992), quatro para avaliar a identidade étnica portuguesa e quatro a identidade étnica brasileira. Os itens incluem afirmações como as seguintes: “Penso em mim como português”, “Sinto que sou parte da cultura brasileira”e “Sintome orgulhoso(a) de ser português”. As respostas foram dadas numa escala em que 1 equivale a “Nada” e 5 corresponde a “Muito”. Esta medida centra-se no sentido de pertença e no orgulho étnico. Interacções sociais: As interacções com os membros do endogrupo foram avaliadas por meio de dois itens em que se perguntava aos participantes quantos amigos brasileiros tinham e com que frequência se encontravam com colegas do mesmo grupo etnocultural. As interacções sociais com os membros do exogrupo (português) foram avaliadas por via de itens semelhantes, mas sobre o tempo passado com os membros do exogrupo. Os participantes responderam numa escala tipo Likert com cinco pontos. Percepção de discriminação: Foram seleccionados cinco itens da escala original, constituída por nove itens (Neto, 2006). Um item avalia experiências de ameaças ou ataques devido à origem étnica, outro item mede experiências de gozo ou insultos devido à origem étnica e os três itens restantes medem sentimentos de falta de aceitação, percepção de tratamento injusto ou negativo dada à origem étnica. Os indivíduos respondiam numa escala em que 1 corresponde a “Fortemente em desacordo” e 5 a “Fortemente de acordo”. Adaptação sociocultural. Foi medida por meio da escala de adaptação sociocultural desenvolvida por Ward e Kennedy (1999). Esta escala examina as competências exigidas para gerir assuntos da vida quotidiana num novo contexto cultural e inclui itens, tais como “Usar o sistema de transportes” e “Fazer amigos”. Foram utilizados 20 itens. As respostas a estes itens foram dadas numa escala tipo Likert com cinco pontos. Quanto maior é a pontuação, maior é a dificuldade na adaptação. Aspectos conceptuais e metodológicos diferenciam a Escala de Adaptação Sociocultural doutras medidas de adaptação. Em primeiro lugar, este tipo de escala 37 corresponde a uma abordagem de aprendizagem cultural para a adaptação imigrante. Por conseguinte, sublinha a aquisição de competências culturais específicas, as dimensões culturais de adaptação à mudança e o significado das interacções interculturais. Esta abordagem é diferente doutras abordagens que caracterizam aspectos processuais da adaptação e que assentam em índices de satisfação geral (e.g., Ady, 1995). Em segundo lugar, a Escala de Adaptação Sociocultural baseia-se em autoavaliações de dificuldades vivenciadas aquando da realização de actividades quotidianas na sociedade receptora. Se existem outras medidas com itens comportamentais semelhantes (e.g., dificuldades em fazer amigos, adaptação à nova alimentação), as instruções dadas para as respostas ao questionário e as escalas de avaliação são diferentes. Por exemplo, Spradley e Philips (1972) analisaram “a quantidade de readaptação exigida” em 33 áreas perguntando a duração de tempo necessário para os imigrantes se acomodarem às diferenças interculturais. Por seu lado Diggs e Murphy (1991) pediram aos migrantes para avaliarem a importância de vários problemas durante a sua estadia no estrangeiro. Ora na escala de adaptação sociocultural que utilizamos solicita-se aos participantes para referirem o grau de dificuldade vivenciado na vida quotidiana em diferentes áreas, trata-se de uma medida de competência intercultural. Para além destas escalas também se recolheram os seguintes dados sociodemográficos: a idade, o sexo, o lugar de nascimento, o tempo de estadia, a religião e a etnicidade da população vizinha. Os participantes também indicaram a sua nacionalidade, bem como o nível de instrução e o estatuto profissional. 3.3 Procedimento de recolha dos dados Dada a grande concentração de minorias etnoculturais nas zonas urbanas, o recrutamento dos participantes foi efectuado na Área Metropolitana de Lisboa. A recolha dos dados foi feita através da resposta a um questionário estruturado. Foram instruções iguais para todos no começo da entrevista. Os participantes foram informados de que a sua participação era voluntária e de que as suas respostas seriam tratadas confidencialmente. Os questionários foram preenchidos na presença do investigador. 38 3.4 Análise de dados Após a recolha de dados, procedeu-se ao seu registo e ao respectivo tratamento estatístico, utilizando o programa informático Statistical Package for Social Sciences (SPSS), na sua versão 18.00 para Windows. As variáveis contínuas são descritas através da apresentação da média e do desvio-padrão. As variáveis categóricas são descritas através de frequências para cada categoria. Na Psicologia e nas Ciências Sociais, são geralmente usadas escalas multi-item (usualmente construídas segundo a metodologia proposta por Likert, 1932) para avaliar diferentes capacidades, características de personalidade, ou outras dimensões psicológicas. Em muitas circunstâncias a pontuação total da escala resulta da combinação dos itens (por exemplo, por soma) e os resultados são submetidos a análise de fidelidade para o que se pode recorrer ao coeficiente alpha de Cronbach (1951). Este índice α estima até que ponto os itens contribuem uniformemente para a soma não ponderada do instrumento, variando numa escala de 0 a 1. Esta propriedade é conhecida por consistência interna da escala, e assim, o α pode ser interpretado como coeficiente médio de todos as estimativas de consistência interna que se obteriam se todas as divisões possíveis da escala fossem feitas (Cronbach,1951). De um modo geral, um instrumento ou teste é classificado como tendo fiabilidade apropriada quando o α é pelo menos 0.70 (Nunnally e Bernstein, 1994). O teste t- Student foi utilizado para amostras emparelhadas permitindo comparar duas populações de onde foram extraídas duas amostras emparelhadas relativamente a uma variável dependente quantitativa. Usou-se também o coeficiente de correlação de Bravais-Pearson (r) que mede a intensidade e a direcção da associação de tipo linear entre duas variáveis quantitativas. Recorreu-se à ANOVA two-way para se saber se a variável dependente (na ocorrência, a adaptação sociocultural) é influenciada por duas variáveis independentes (factores). Neste caso estávamos interessados em estudar o efeito não só de cada um dos factores, mas também a possível influência que cada um dos factores pode exercer sobre a resposta da variável dependente ao outro factor. Este efeito designa-se por interacção entre os factores. A possibilidade de poder testar a existência de interacções entre factores constitui uma das vantagens da ANOVA relativamente aos testes t-student. Com o objectivo de se perceber que conjunto de variáveis mais influencia a adaptação sociocultural recorreu-se à regressão linear múltipla. 39 Para todos os testes de hipóteses, o nível de significância considerado foi 5%. 40 4. RESULTADOS 4.1 Estatísticas descritivas e fidelidade das medidas No Quadro 4 podem-se observar as estatísticas descritivas dos 20 itens utilizados para avaliar a adaptação sociocultural. Quadro 4 Médias, desvios-padrão e correlações item-score total da Escala de Adaptação Sociocultural (excepto o próprio item) Item Média Desvio-padrão Correlação item score total Tratar da burocracia Obter alojamento Adaptar-se ao clima Lidar com pessoas com autoridade Seguir as regras e as normas O ritmo de vida Compreender as diferenças étnicas ou culturais Compreender as piadas e as brincadeiras Fazer-se compreender Encontrar alimentos de que se goste Comunicar com as pessoas de um grupo étnico diferente Ir a reuniões sociais Falar acerca de si próprio com outras pessoas Relações familiares Usar o sistema de transportes Participar em cerimónias religiosas Relacionar-se com pessoas do sexo oposto Encontrar o seu caminho na comunidade local Ir às compras Fazer amigos 3.38 3.00 2.92 2.49 2.47 2.46 1.60 1.51 1.49 1.24 1.20 1.28 0.61 0.61 0.56 0.43 0.58 0.50 2.41 1.22 0.57 2.37 2.33 2.33 1.28 1.07 1.20 0.55 0.56 0.57 2.31 2.31 1.17 1.16 0.61 0.52 2.29 2.29 2.27 2.12 1.24 1.16 1.22 1.19 0.58 0.59 0.47 0.50 2.11 1.18 0.49 2.06 2.03 1.89 1.12 1.05 1.05 0.57 0.57 0.41 41 As maiores dificuldades de adaptação sociocultural evidenciadas pelos imigrantes brasileiros são “tratar da burocracia”, “obter alojamento” e “adaptar-se ao clima”. As menores dificuldades de adaptação sociocultural estão relacionadas com “fazer amigos”, “ir às compras” e “encontrar o seu caminho na comunidade local”. Todas as pontuações médias das dificuldades de adaptação sociocultural estão abaixo do ponto médio teórico, excepto “tratar da burocracia”, “obter alojamento” o que denota poucas dificuldades de adaptação sociocultural. Esta mesma ideia também é apoiada pelo valor médio obtido para os 20 itens, 2.38 (DP = 0.74). Estes resultados confirmam a primeira hipótese na medida em que apontam para um baixo nível de dificuldades de adaptação sociocultural. A correlação total dos itens corrigida para cada item da Escala de Adaptação Sociocultural é relativamente elevada: mais de 0.40 (Quadro 4). A média inter-item (homogeneidade) é muito aceitável para o conjunto dos itens da Escala de Adaptação Sociocultural: 0.33. A fidelidade da Escala de Adaptação Sociocultural foi avaliada utilizando o alfa de Cronbach. A consistência interna é alta: 0.91. Quadro 5 Estatísticas descritivas das medidas de aculturação M DP # de itens Alpha de Cronbach Competência linguística brasileira 4.09 .87 4 0.96 Competência linguística portuguesa 4.01 .76 4 0.90 Contactos sociais com colegas brasileiros 3.81 .83 2 0.71a Contactos sociais com colegas portugueses 3.97 .67 2 0.59a Identidade brasileira 4.53 .90 4 0.94 Identidade portuguesa 2.18 1.26 4 0.94 Discriminação percepcionada 2.10 1.06 5 0.93 Nota : a trata-se de correlações. No Quadro 5 são apresentadas as estatísticas descritivas das medidas de aculturação e a respectiva consistência interna, avaliada através do coeficiente alpha de Cronbach. Os imigrantes brasileiros expressaram a sua competência na língua 42 portuguesa do Brasil e de Portugal. Os jovens imigrantes referiram serem altamente competentes na língua portuguesa quer do Brasil (M = 4.09) quer de Portugal (M = 4.01). Entre as médias de competência linguística brasileira e portuguesa não apareceram diferenças estatisticamente significativas, t(238) = 1.16, p = .25. A consistência interna da competência linguística em Português do Brasil e de Portugal foi, respectivamente, 0.96 e 0.90. Os imigrantes brasileiros tinham menos contactos com colegas brasileiros (M = 3.81) do que com colegas portugueses (M = 3.97), t(239) = -2.09, p < 0.05. A correlação entre os dois itens utilizados para avaliar contactos sociais com colegas brasileiros é de 0.71 (p < 0.001). Já a correlação entre os dois itens utilizados para avaliar contactos sociais com colegas portugueses é um pouco mais baixa (r = 0.59; p < 0.001), se bem que também altamente significativa. A intensidade com que se expressam as identidades culturais pode evidenciar a intenção dos imigrantes brasileiros manterem o seu sentido de pertença ao seu grupo nacional, ao mesmo tempo que se tornam membros da sociedade portuguesa. As duas identidades foram medidas de modo independente. Deste modo os imigrantes não tinham de escolher uma identidade eliminando a outra. Os participantes podiam, pois, exprimir o seu sentido de pertença a cada grupo nacional. A identidade brasileira foi muito positiva obtendo uma pontuação média de 4.53, valor que está muito acima do ponto médio numa escala em cinco pontos. A pontuação média da identidade portuguesa foi 2.18, muito inferior à média da identidade brasileira, t(237) = 20.27, p < 0.001. Este mesmo aspecto também pode ser constatado pela análise das correlações entre a identidade brasileira e portuguesa cujo valor foi r = -0.14 (p < 0.05). Esta correlação negativa significa que quando uma identidade é forte, na ocorrência a identidade brasileira, a outra, a identidade portuguesa é fraca. A consistência interna das escalas de identidade brasileira e portuguesa foi de 0.94 em ambos os casos. A pontuação média global de discriminação percepcionada foi 2.10. Este valor aponta no sentido de que a maior parte dos imigrantes brasileiros interrogados sentiam que nunca foram discriminados, ou foram-no raramente. Setenta e cinco por cento da amostra situa-se abaixo da pontuação 3. Assim sendo, estes resultados parecem denotar que globalmente não se está perante uma discriminação percepcionada com grande intensidade. A consistência interna da escala de discriminação percepcionada foi de 0.93. 43 4.2 Adaptação sociocultural em função do nível de instrução e do género Dada a baixa frequência de imigrantes brasileiros na amostra com diplomas de ensino superior, para se efectuar a análise de variância (ANOVA), a variável nível de instrução foi recodificada em dois subgrupos: 1) baixo, composto por imigrantes com o 1.º, 2.º e 3.º ciclo do ensino básico e 2) médio/alto, composto por participantes com o ensino secundário e superior. Quadro 6 Adaptação sociocultural em função do nível de instrução e do género Adaptação sociocultural Mulheres DP M DP 0.68 2.80 0.58 Total M 2.62 DP 0.65 Nível de instrução médio/alto 2.28 0.79 2.08 0.72 2.17 0.76 Total 0.74 2.42 0.75 Nível de instrução baixo Homens M 2.42 2.34 A análise de variância revelou um efeito principal significativo do nível de instrução sobre a adaptação sociocultural, F(1, 235) = 22.77, p < 0.001, ηp2 = 0.09. (Quadro 6). Os imigrantes brasileiros com um nível de instrução mais baixo (M = 2.62; D. P. = 0.65) revelaram estar menos adaptados socioculturalmente do que aqueles que tinham um nível de instrução mais alto (M = 2.17; D. P. = 0.76). Esta análise não revelou um efeito principal de género significativo, F(1, 235) = 1.05, p = 0.31. A interacção do nível de instrução com o género também se revelou significativa, F(1, 235) = 10.36, p < .001, ηp2 = 0.04. Se as médias de adaptação sociocultural nos homens dos dois níveis de instrução estão aproximadas, já nas mulheres essa diferenciação é maior. São, pois, sobretudo as mulheres de nível sociocultural baixo que vivenciam mais dificuldades de adaptação sociocultural. O Quadro 6 apresenta as médias e os desvios-padrão para os subgrupos de instrução e género relativos aos homens e às mulheres. Estes resultados confirmam a segunda hipótese a testar segundo a qual o nível de instrução influencia a adaptação sociocultural. Os imigrantes brasileiros com um nível de instrução mais baixo revelaram passar por mais dificuldades de adaptação sociocultural que os que têm um nível de instrução mais elevado. 44 4.3 Relação entre aculturação e adaptação sociocultural Para se examinar a relação entre as várias facetas de aculturação e a adaptação sociocultural foi calculada uma série de correlações entre essas variáveis apresentadas no Quadro 7. Quadro 7 Correlações entre a adaptação sociocultural e as variáveis de aculturação 1 2 3 4 5 6 7 1. Adaptação sociocultural 2. Competência linguística brasileira -0.29*** 3. Competência linguística portuguesa -0.27*** -0.01 4. Contactos sociais com colegas brasileiros -0.34*** 0.67*** 0.19** 5. Contactos sociais com colegas portugueses -0.28*** 0.35*** 0.39*** -0.42*** 6. Identidade brasileira -0.21** 0.46*** -0.14* 0.47*** 0.02 7. Identidade portuguesa -0.09 0.07 0.38*** 0.08 0.35*** -0.39*** 0.38*** 0.07 -0.14 0.13* 0.07 8. Discriminação percepcionada -0.20** 0.28*** *p<0.05; **p<0.01; ***p<0.001. Foram encontradas correlações significativas e negativas da adaptação sociocultural com a competência linguística brasileira, a competência linguística portuguesa, contactos sociais com colegas brasileiros, contactos sociais com colegas portugueses e a identidade brasileira. Quanto mais os imigrantes brasileiros vivenciam dificuldades de adaptação sociocultural, menos revelam competência linguística brasileira e portuguesa, menos contactos sociais têm com brasileiros e portugueses e menor é a percepção da sua identidade brasileira. Foi encontrada uma correlação significativa e positiva entre a adaptação sociocultural e a discriminação percepcionada. 45 Quanto mais os imigrantes brasileiros experienciam dificuldades de adaptação sociocultural, mais se percepcionavam como sendo discriminados. 4.4 Variáveis explicativas da adaptação sociocultural Para se avaliarem as contribuições de factores sociodemográficos e de contacto intercultural recorreu-se à análise de regressão múltipla considerando sete factores sociodemográficos (idade, sexo, estado civil, tempo de estadia, nível de instrução, estatuto profissional e vizinhança) como variáveis explicativas numa etapa inicial. Seguidamente, estimou-se um segundo modelo com estes factores sociodemográficos, mais os sete factores interculturais (competência linguística brasileira, competência linguística portuguesa, contactos com colegas brasileiros, contactos com colegas portugueses, identidade brasileira, identidade portuguesa e discriminação percepcionada). Desta maneira é possível seleccionar o menor número de variáveis independentes que melhor permitem explicar a adaptação sociocultural. A matriz das variáveis explicativas mostrou não haver nenhuma correlação entre elas superior a 0.50, excepto entre a competência linguística brasileira e portuguesa, o que indica que não há problemas de colinearidade. 46 Quadro 8 Modelo de regressão múltipla sequencial relacionando as variáveis sociodemográficas e interculturais com a adaptação sociocultural dos imigrantes brasileiros Passo Variável da regressão explicativa Coeficientes estimados R2 Beta 1.Variáveis sociodemográficas 1 Nível de instrução 2 Estado civil 0.30 0.34 0.09 0.12 -0.30 -0.15 -4.64*** -2.31*** -0.37 -5.77*** 2. Variáveis sociodemográficas e de contacto intercultural 1 Contactos colegas brasileiros 0.14 0.14 2 t 3 Discriminação percepcionada Nível de instrução 0.31 0.35 0.30 .34 0.42 -.21 7.12*** -3.62*** 4 5 Identidade portuguesa Estatuto profissional 0.37 0.38 0.36 0.37 -0.14 0.12 -2.32* 2.10* . *p<0.05; **p<0.01; ***p<0.001. Nota: os valores beta e t são relativos ao passo da regressão em que a variável explicativa foi integrada no modelo. No modelo estimado em primeiro lugar verifica-se que o nível de instrução e o estado civil são as variáveis explicativas mais significativas dos scores de adaptação sociocultural. Estas variáveis explicam 12% da variância nos scores de adaptação sociocultural. Os imigrantes com um nível de instrução mais baixo e os que não estavam casados evidenciaram maior dificuldade de adaptação sociocultural. A introdução dos factores sociodemográficos e de contacto intercultural aumenta a variância explicada para 37%. Neste segundo modelo o nível de instrução permanece como uma variável explicativa significativa, ao qual se acrescenta agora o estatuto profissional, os contactos com colegas brasileiros, a discriminação percepcionada e a identidade portuguesa. Isto sugere que, para os imigrantes brasileiros, uma maior adaptação sociocultural está associada a mais contactos com os brasileiros, menos discriminação percepcionada, maior nível de instrução, uma percepção mais forte da identidade portuguesa e um estatuto profissional mais elevado. 47 De acordo com este segundo modelo de regressão, a variável explicativa com mais influência na adaptação sociocultural é o contacto com colegas brasileiros. Os resultados sugerem que uma melhor adaptação sociocultural é acompanhada de mais contacto com colegas brasileiros. Este contacto é susceptível de proporcionar aos imigrantes terreno para apoio social e para partilha de experiências no decurso do processo de aculturação. A segunda variável explicativa com mais influência na adaptação sociocultural é a discriminação percepcionada. As experiências de aculturação negativas, em termos de discriminação percepcionada têm um impacto negativo na adaptação sociocultural dos imigrantes estudados. A interpretação subjectiva dos acontecimentos como discriminatórios (isto é, perceber-se a si próprio como alvo, ou vítima de discriminação por parte dos membros de um grupo dominante) é uma das maiores fontes de stress de aculturação associado ao aumento de problemas de adaptação. Assim, mesmo que o nível absoluto de discriminação em Portugal seja geralmente baixo (Neto, 2006), indicando que a maior parte dos adolescentes vivenciam pouca discriminação, o facto de se experienciar alguma discriminação aparece associado a uma adaptação menos positiva. Este resultado que a discriminação percepcionada está associada a mais dificuldades de adaptação sociocultural é consistente com estudos anteriores sobre a influência negativa das experiências de aculturação negativa na adaptação sociocultural (Gil, Veja e Dimas, 1994; Rogler et al., 1991). Estes estudos mostram que quando uma pessoa pertence a um grupo que é alvo de preconceito e de discriminação isso acarreta consequências psicossociais negativas para os seus membros (Schmitt, Branscombe, Kobrynowicz, e Owen, 2002). Ainda no que se refere aos factores de contacto intercultural, a identidade portuguesa também surge como uma variável explicativa significativa da adaptação sociocultural. As dificuldades de adaptação são tanto menores quanto mais forte é a percepção da identidade portuguesa. Efectivamente os imigrantes que se identificam com a cultura da sociedade receptora podem estabelecer as suas redes locais, receber apoio social da população local e aprender a cultura local. Eshel e Rosenthal-Sokolov (2000) mostraram que a adaptação sociocultural bem sucedida está associada a uma identidade que se conforma com as expectativas da cultura da sociedade de acolhimento. Um outro estudo levado a cabo com estudantes estrangeiros no Nepal (Ward e Rana-Deuba, 1999) mostra que uma identificação mais forte com a população 48 da sociedade receptora está associada a menores dificuldades de adaptação sociocultural, nomeadamente ao nível da realização de funções sociais e da compreensão de línguas locais. Estes trabalhos, tal como este estudo, sugerem, pois, que a aproximação à identidade da sociedade de acolhimento contribui positivamente para a adaptação sociocultural. Pode, então, dizer-se que a terceira hipótese em análise foi confirmada, na medida em que, para cada um dos dois conjuntos de variáveis explicativas considerados (variáveis sociodemográficas e variáveis interculturais), encontraram-se algumas que são estatisticamente significativas na explicação da adaptação sociocultural. Estes resultados também validam a quarta hipótese em análise ao apontarem no sentido de uma maior influência das variáveis interculturais sobre a adaptação sociocultural do que as variáveis sociodemográficas. Uma implicação deste resultado é a recomendação no sentido de se dever intervir mais precocemente possível nos factores psicossociais para facilitar a adaptação sociocultural dos imigrantes uma vez que estes são mais susceptíveis de serem mudados do que os factores sociodemográficos. Destes resultados pode concluir-se que a idade, o género e o tempo de estadia não têm uma influência significativa na adaptação sociocultural o que contrasta com estudos anteriores sobre esta matéria. O resultado em relação ao tempo de estadia é particularmente interessante, dado que estudos anteriores sugeriram ser uma das variáveis explicativas mais importantes da adaptação bem sucedida (Ward e Kennedy, 1993; Ward e Rana-Deuba, 1999). A explicação mais provável para este resultado é que o tempo de estadia em Portugal no presente estudo era relativamente limitado para os participantes no inquérito recém-chegados ao país. O tempo médio de estadia da amostra é de 13 anos. Uma análise das frequências indica que só 26 participantes (11%) tinham menos de 5 anos de estadia em Portugal. Eventualmente o tempo de estadia poderia ter emergido como uma variável explicativa com mais influência na adaptação se tivesse havido mais imigrantes incluídos no estudo com um tempo de estadia mais curto. A pouca significância do género pode estar relacionada com o tipo de amostra utilizada neste estudo. O género tem-se revelado uma variável explicativa significativa em estudos baseados em amostras constituídas por não estudantes. Nestas amostras as mulheres podem ser mais susceptíveis de terem profissões domésticas que limitam as suas oportunidades de contacto com cultura do país de acolhimento (Ataca e Berry, 49 2002). Pelo contrário, as mulheres brasileiras desta amostra não tinham maioritariamente profissões domésticas. As profissões maioritariamente desempenhadas por elas envolviam algumas oportunidades de comunicação com a cultura portuguesa. Os resultados atrás apresentados também mostram que os imigrantes brasileiros com um nível de instrução mais baixo têm mais dificuldades de adaptação sociocultural do que os que têm um nível de instrução mais elevado o que valida a segunda hipótese aqui em análise. O nível de instrução é, pois, um factor sociodemográfico com influência importante na adaptação dos imigrantes brasileiros o que coincide com os resultados da literatura empírica sobre a aculturação (Berry e Sam, 1997). Estes resultados também estão em consonância com estudos que mostram que as pessoas com um nível de instrução mais elevado têm mais contacto com a sociedade de acolhimento (Ward et al., 2001). No que se refere à primeira hipótese aqui em análise, os resultados obtidos também a validam empiricamente uma vez que mostram que os imigrantes brasileiros evidenciaram um baixo nível de dificuldade de adaptação sociocultural. A pontuação média destes imigrantes situa-se abaixo do ponto médio da escala de adaptação cultural que é de 3. Os dados aqui examinados não nos permitem avançar uma explicação cabal para tal. Há, todavia, investigação que mostra que tanto características individuais (por exemplo, o conhecimento da língua do país de acolhimento), como características sociais (por exemplo, o apoio familiar e étnico), diminuem os efeitos negativos da migração. O conhecimento da língua do país facilita o processo de adaptação dos imigrantes à nova sociedade e deixa-os melhor equipados quando se confrontam com novos problemas (Hussain, Creed, e Tamenson, 1997). Com efeito, uma característica relevante dos imigrantes estudados é que eles provêm de um país onde o Português é a língua oficial. Nesse país Portugal influenciou a cultura local, a religião, o sistema judicial e as estruturas educativas. Pode acontecer que seja mais fácil para estes imigrantes adaptarem-se a mudanças que ocorrem com a sua instalação em Portugal do que para imigrantes que têm de lidar com uma maior distância cultural (cf. Galchenko e Van de Vijver, 2007). Outro factor importante a considerar na explicação destes resultados é o apoio social propiciado pela interdependência familiar e pelo dinamismo associativo ao longo dos anos em Portugal, susceptível de atenuar os obstáculos à inserção desses migrantes na 50 sociedade portuguesa. As associações de imigrantes podem permitir minorar os problemas materiais e emocionais suscitados pelo desenraizamento (Viegas, 1997). Um outro factor a não negligenciar na interpretação destes resultados é que o contexto cultural português onde estes dados foram recolhidos é relativamente tolerante em relação a imigrantes provenientes de países onde o Português é a língua oficial. Ora é sabido que a tolerância em relação a minorias étnicas é susceptível de atenuar o mal-estar psicológico dos imigrantes. Existem estudos que mostram que a percepção de discriminação é relativamente baixa em adolescentes oriundos de famílias imigrantes (Neto, 2006). Este quadro é semelhante ao que se encontrou em estudos sobre adolescentes portugueses a frequentar o ensino básico (Neto e Ruiz, 1998) a grande maioria evidenciou sentimentos e comportamentos tolerantes em relação aos imigrantes. 51 5. LIMITAÇÕES DO ESTUDO Uma nota final relativamente ao nível de discriminação percepcionado que foi relativamente baixo: 75 por cento das observações da amostra correspondem a valores abaixo do ponto neutro de discriminação percepcionada. Neste estudo analisou-se a discriminação percepcionada a nível pessoal. Ora há estudos que mostram que os membros de minorias percepcionam um nível mais alto de discriminação quando esta se refere ao seu grupo como um todo, do que quando se refere a cada um deles individualmente. Taylor et al. (1990) denominaram este fenómeno de discrepância pessoal/grupal. Este tipo de fenómeno não foi objecto de investigação neste estudo. Os resultados deste estudo devem ser interpretados com alguma precaução tendo em conta a dimensão relativamente pequena da amostra. Além disso, é de notar que as medidas usadas no presente estudo foram de autoavaliação o que deixa a porta aberta para a possibilidade dos participantes darem respostas socialmente desejáveis, mas que podem não exprimir de forma verdadeira as suas ideias. Uma outra limitação deste estudo diz respeito ao facto de que qualquer generalização destes resultados a contextos culturalmente diferentes da presente investigação deve efectuar-se com precaução. O papel dos factores de aculturação pode ser diferente noutros contextos culturais. Dadas estas limitações, investigação futura deveria incluir dados comportamentais e deveria seguir os participantes longitudinalmente desde o momento da sua chegada à sociedade receptora, ao longo do processo de aculturação. Investigação futura poderá também incluir dados provenientes doutras fontes de informação, para além dos dados recolhidos por entrevista com os participantes. Por exemplo, pode incluir-se a avaliação da adaptação sociocultural dos imigrantes feita por parte dos seus cônjuges ou amigos. 52 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E WEBGRAFIA Referências bibliograficas Ady, J. (1995). Towards a differential demand model of sojourner adjustment. In R. L. 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Procure ser sincero(a) e espontâneo(a). Não há boas ou más respostas. É garantido o anonimato completo das suas respostas. Os seus resultados serão analisados de modo estatístico por grupo e não de modo individual. Não hesite em interrogar o(a) investigador(a) no caso de dúvida quanto ao significado de uma questão. 1. Idade Que idade tem? ____ anos 2. Sexo Qual é o seu sexo? [ ] Feminino [ ] Masculino 3. Educação Qual é o nível mais elevado de escolaridade que obteve? [ ] Nenhuma escolaridade [ ] 1º ciclo do ensino básico completo [ ] 2º ciclo do ensino básico completo [ ] 3º ciclo do ensino básico completo [ ] Ensino secundário completo [ ] Ensino politécnico incompleto [ ] Ensino politécnico completo [ ] Alguma frequência da universidade [ ] Completou a universidade [ ] Pós-graduação [ ] Não sabe 4. Religião Qual é a sua religião? [ ] Nenhuma [ ] Protestante [ ] Católica Romana [ ] Cristã Ortodoxa [ ] Animista _________________________ [ [ [ [ [ ] ] ] ] ] Judaica Muçulmana Budista Hindu Outra 5. Estatuto Socioeconómico (Trabalho) Em que é que trabalha? [ ] Trabalho não especializado: tal como trabalhador(a) rural, empregado(a) de mesa, empregado(a) doméstico(a) 59 [ ] Trabalho especializado: tal como técnico(a), carpinteiro(a), cabeleireiro(a), alfaiate/costureira [ ] Trabalho de escritório: tal como empregado(a) de escritório, vendedor(a), secretário(a), pequeno negócio [ ] Profissional: médico(a), advogado(a), professor(a), gestor(a) [ ] Não trabalha actualmente: [ ] desempregado(a) [ ] reformado(a) [ ] doméstico(a) [ ] estudante Se actualmente não trabalha, qual é o seu trabalho habitual?_________________ [ ] Outro (especifique): _________________________ [ ] Não sabe 6. Composição étnica da vizinhança Qual é a afirmação mais verdadeira acerca da vizinhança onde vive? ( ) Quase todas as pessoas pertencem a grupos étnicos diferentes do meu ( ) A maioria das pessoas pertencem a grupos étnicos diferentes do meu ( ) Existe cerca de igual quantidade de pessoas do meu grupo étnico e de outros grupos ( ) A maioria das pessoas são do meu grupo étnico ( ) Quase todas as pessoas são do meu grupo étnico 7. Lugar de nascimento/Lugar de residência Em que país nasceu? [ ] Portugal [ ] Outro país Que país? _________________________ Se nasceu noutro país, viveu nalgum outro país antes de vir para Portugal? Sim ___ Não ___ Que país? _________________________ Se nasceu noutro país, que idade tinha quando veio para Portugal? _____ anos. 8. Línguas conhecidas/usadas Aqui estão algumas questões acerca das línguas. Por favor responda escolhendo a resposta que melhor se aplica. a. Que língua fala em casa? Falo Português do Brasil Falo Português de Portugal Nunca Um pouco [ ] [ ] [ ] [ ] Metade do tempo [ ] [ ] Muito Sempre [ ] [ ] [ ] [ ] b. Que língua fala com os seus vizinhos (por exemplo, quando faz compras)? 60 Falo Português do Brasil Falo Português de Portugal c. Em que medida: Nunca Um pouco [ ] [ ] [ ] [ ] Nada Um pouco (a) compreende Português do Brasil ? (b) fala Português do Brasil? (c) lê Português do Brasil? (d) escreve Português do Brasil? [ [ [ [ ] ] ] ] [ [ [ [ ] ] ] ] Metade do tempo [ ] [ ] Muito Sempre [ ] [ ] [ ] [ ] Algo Bastante bem Muito bem [ [ [ [ ] ] ] ] [ [ [ [ ] ] ] ] [ [ [ [ ] ] ] ] d. Em que medida: Nada (a) compreende português? (b) fala português? (c) lê português? (d) escreve português [ [ [ [ ] ] ] ] Um pouco [ ] [ ] [ ] [ ] Algo [ [ [ [ Bastante bem [ ] [ ] [ ] [ ] ] ] ] ] Muito bem [ ] [ ] [ ] [ ] 9. Aqui estão algumas questões acerca dos seus amigos e conhecidos. Indique a resposta que melhor se aplique. a. Quantos amigos íntimos tem? Nenhum Amigos íntimos brasileiros Amigos íntimos portugueses Amigos íntimos de outros grupos étnicos Poucos Alguns Muitos [ ] [ ] Apenas um [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] b. Com que frequência os encontra? Nunca Amigos íntimos brasileiros Amigos íntimos portugueses Amigos íntimos de outros grupos étnicos [ ] [ ] [ ] [ ] Algumas vezes [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 61 Raramente Muitas vezes [ ] [ ] Todos os dias [ ] [ ] [ ] [ ] 10. As pessoas podem pensar acerca delas próprias de várias formas. Por exemplo, podem sentir que são membros de vários grupos étnicos, como brasileiro, etc, e que são parte de uma sociedade mais vasta, portuguesa. As questões seguintes são acerca de como pensa sobre si neste sentido. a. Como pensa acerca de si próprio(a)? a1- Penso em mim como brasileiro(a) a2- Penso em mim como português(a). Nada Um pouco Alguma coisa Bastante Muito ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Fortemente em desacordo b. Sinto que sou parte da cultura brasileira. c. Sinto-me orgulhoso(a) em ser brasileiro(a). d. Sou feliz em ser brasileiro(a). e. Sinto que sou parte da cultura portuguesa. f. Sinto-me orgulhoso(a) em ser português(a). g. Sou feliz em ser português(a). Algum desacordo Neutro Algum acordo Fortemente de acordo ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 11. Quando pessoas de diferentes origens estão juntas, podemos por vezes sentirnos tratados de modo injusto. As seguintes questões relacionam-se com estes tipos de experiências Fortemente em desacordo Algum desacordo Neutro Algum acordo Fortemente de acordo 1. Penso que outras pessoas comportaram-se de uma forma injusta ou negativa em relação ao meu grupo étnico. [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 2. Não me sinto aceite pelos portugueses. [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 3. Sinto que os portugueses têm algo contra mim. [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 62 4. Fui gozado(a) ou insultado(a) por causa do meu meio de origem étnico. [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 5. Fui ameaçado(a) ou atacado(a) por causa do meu meio de origem étnico. [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] 12. Indique em que medida tem dificuldade em viver em Portugal em cada uma das seguintes áreas. Utilize a seguinte escala de 1 a 5. 1 = nenhuma dificuldade 2 = ligeira dificuldade 3 = moderada dificuldade 4 = grande dificuldade 5 = extrema dificuldade 1. Fazer amigos 1 2 3 4 5 2. Encontrar alimentos que goste 1 2 3 4 5 3. Seguir as regras e as normas 1 2 3 4 5 4. Lidar com pessoas com autoridade 1 2 3 4 5 5. Usar o sistema de transportes 1 2 3 4 5 6. Tratar com a burocracia 1 2 3 4 5 7. Fazer-se compreender 1 2 3 4 5 8. Ir às compras 1 2 3 4 5 9. Compreender as piadas e as brincadeiras 1 2 3 4 5 10. Obter alojamento 1 2 3 4 5 11. Ir a reuniões sociais 1 2 3 4 5 12. Comunicar com pessoas de um grupo étnico diferente 1 2 3 4 5 13. Compreender as diferenças étnicas ou culturais 1 2 3 4 5 14. Participar em cerimónias religiosas 1 2 3 4 5 15. Relacionar-se com membros do sexo oposto 1 2 3 4 5 16. Encontrar o meu caminho na comunidade local 1 2 3 4 5 17. Falar acerca de mim com outras pessoas 1 2 3 4 5 18. Adaptar-se ao clima 1 2 3 4 5 19. Relações familiars 1 2 3 4 5 20. O ritmo de vida 1 2 3 4 5 MUITO OBRIGADO POR RESPONDER ÀS QUESTÕES 63