Pablo Hess

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Pablo Hess
As novidades do Kernel 2.6.20
COLUNA
Pablo Hess
A
pós um tempo de desenvolvimento, um pouco mais
longo do que de costume, Linus Torvalds liberou a versão 2.6.20 do kernel Linux. Além dos mecanismos de
virtualização KVM (Kernel-based Virtual Machine for Linux)
e paravirt_ops, duas importantes funções também debutaram
na última versão e diversos drivers foram acrescentados ou melhorados. Muitas outras mudanças profundas de infra-estrutura
também ocorreram, assim como nas últimas versões.
Virtualização
Enquanto o Xen já espera há tempos pela inclusão no kernel
oficial, a versão 2.6.20 traz dois novos mecanismos de virtualização. Um deles é conhecido como paravirt_ops, e permite que
o kernel opere como hóspede de um hypervisor presente em
outro sistema de virtualização. Com esse recurso compilado
no kernel, deve-se trabalhar com maior velocidade até mesmo
em PCs comuns sob outros sistemas de virtualização, como o
próprio Xen ou a Virtual Machine Interface do VMware. Em
Com o lançamento público
do KVM no kernel 2.6.20,
as próximas versões do
kernel devem trazer
novidades rapidamente.
janeiro, os desenvolvedores do Xen apresentaram adaptações
no paravirt_ops que aumentavam a probabilidade de incluir
segmentos do Xen no kernel. Para o trabalho com o VMI, no
entanto, são necessários mais patches; a interface também não
funciona, ainda, na arquitetura x86-64.
Com o KVM, o kernel opera carregando um módulo que
funciona como hypervisor de máquinas virtuais Linux ou
Windows®. Porém, isso funciona apenas em conjunto com
as modernas técnicas de virtualização presentes nos processadores mais recentes, como Vanderpool, da Intel, e Pacifica, da
AMD. Com o lançamento público do KVM no kernel 2.6.20,
as próximas versões do kernel devem trazer novidades rapidamente; para a versão 2.6.21, já estão planejadas melhorias na
interface entre o kernel e o espaço do usuário.
Infra-estrutura
O forte processo de revisão enfrentado pelo código-fonte rendeu,
por enquanto, uma reorganização do mecanismo de workqueue
e suas APIs. Com isso, agora deve haver um maior controle sobre
falhas de código e o kernel deve rodar com menor overhead.
O kernel 2.6.20 vem, por padrão, com uma freqüência
interna do timer de 300 Hertz – em contraste com as opções de 100, 250 e 1000, oferecidas até a última versão.
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A imagem do kernel passa também a ser realocável na arquitetura x86, o que elimina a necessidade de localização em algum
espaço específico. Por isso, o kernel compilado fica aproximadamente 10% maior, o que não se reflete de maneira alguma
no espaço de memória ocupado durante a execução. Devido
a essa alteração, os distribuidores não precisam mais construir
imagens separadas para kexec e kdump. Na versão 2.6.20, essas
duas técnicas funcionam também na arquitetura IA64.
Quanto aos sistemas de arquivos, o recém-incorporado
GFS2 recebeu correções e melhorias. Através da contabilidade
de E/S, é possível analisar, posteriormente, a quantidade de
entrada e saída de processos com maior precisão. Com a Fault
Injection Framework, os desenvolvedores agora conseguem
simular falhas na requisição de recursos de memória, o que
facilita o teste da manipulação de falhas do kernel.
O recurso de Software Suspend passa a funcionar com
arquivos de swap, eliminando a restrição a partições com
esse fim. Além disso, esse sistema agora também funciona, na arquitetura x86, com kernels que utilizam PAE. A
microarquitetura da versão 2.6.20 do núcleo do sistema
Linux permite ainda maiores otimizações – possíveis, no
entanto, apenas com as últimas versões de desenvolvimento
do compilador GCC. O suporte a versões mais antigas do
subsistema Udev no Sysfs será descontinuado no futuro.
Drivers e hardware
A camada de dispositivos de interação (HID), até a versão
2.6.19, funcionava apenas com dispositivos USB. A partir
de agora, todos os sistemas relacionados à interação com
pessoas, como os que utilizam o padrão Bluetooth, por
exemplo, podem usufruir dessa camada.
Foi acrescentado o suporte aos controladores PATA Marvel 6101 e 6145 através da interface libata. Essa interface
permite ainda o suporte a Suspend e Resume para todos
os controladores PATA recém-migrados para ela.
No campo do Video for Linux, foi acrescentado o driver
para a câmera embutida nos laptops do projeto OLPC.
Houve uma grande unificação dos drivers de modulação
de freqüência do processador. O driver speedstep-centrino teve
seu código fundido ao do acpi-cpufreq. Além disso, ele agora
consegue coordenar mais eficientemente as alterações de
freqüência de processadores com múltiplos núcleos.
Os drivers de som OSS, que possuíam equivalentes ALSA,
foram eliminados do kernel, entre os quais se encontrava o
emu10k1 para placas Sound Blaster. ■
O autor
Pablo Nehab Hess é editor da Linux Magazine e tem mestrado em genética. Após conhecer o Linux através da computação científica,
interessou-se imediatamente pela administração de sistemas e redes, o que praticou
em alguns laboratórios na universidade.
http://www.linuxmagazine.com.br