SecMat: Educação Matemática Militar em Revista
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SecMat: Educação Matemática Militar em Revista
Confira neste quarto número da Revista Retrospectiva do ano de 2010 2010: 10: A Seção de Ciências Matemáticas em 2010 Artigos: Educação Matemática Militar na EsPCEx, Colégio Naval e na EPCAr Teses e Dissertações defendidas: defendidas: Cel R/1 PTTC Ben Hur Mormêllo (AMAN) Missão Cumprida: Homenagem à Professora Lúci Marilene Loreto Rodrigues Personalidades Matemáticas do Mundo Militar: General Benjamin Constant SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 MINISTÉRIO DA DEFESA DECEx DFA ESCOLA PREPARATÓRIA DE CADETES DO EXÉRCITO (EPC de SP – 1940) Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva – Coronel Comandante e Diretor de Ensino Jorge Cardoso Martins – Coronel Subcomandante e Subdiretor de Ensino Ubaldo Reis Júnior – Tenente Coronel Chefe da Divisão de Ensino Cléo Jonas Cezimbra Lage – Coronel Ref PTTC Chefe da Seção de Ciências Matemáticas Wilson Roberto Rodrigues – Coronel R/1 PTTC Chefe da Subseção de Desenho Alex Sandro Faria Manuel – 1º Tenente Chefe da Subseção de Matemática * * * EsPCEx: nasceste para vencer * * ͕ * SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Ano IV Nº 04 – Dezembro de 2010 Rumo ao Infinito!!! Publicação da Seção de Ciências Matemáticas da Escola Preparatória de Cadetes do Exército ISSN 1983 – 4837 Av. Papa Pio XII Nº 350 Jd. Chapadão Campinas, SP. Fone: 3744 2020 e-mail: [email protected] Com Energia e Vibração! Matema Tica Brasil! .: EXPEDIENTE :. Direção da Revista Jefferson Biajone – 1º Tenente Conselho Editorial Maria da Graça Duarte Baroncelli – Capitão Andre Tasso Dantas Sanfelice – 1º Tenente Marilita Venuto Felix – 2º Tenente a Prof . Maria Salute Rossi Luchetti – Servidora Civil Revisão Herickson Akihito Sudo Lutif – 2º Tenente R/2 Fotolito e Diagramação Impressão e Digitalização Seção de Ciências Matemáticas Graffcor .: NOSSA CAPA :. Idealização: Profª Marina A imagem que ilustra a capa do quarto número de SecMat: Educação Matemática Militar em Revista é composta das fotos do corpo docente da Seção de Ciências Matemáticas em forma do algarismo romano IV localizado no primeiro quadrante de um plano cartesiano. A Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx iniciou as suas atividades na Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo, em 2 de junho de 1941, e vem, desde então, propiciando uma educação matemática compromissada com a preparação do Aluno para a Academia Militar das Agulhas Negras. Em 2010, os professores desta Seção foram: Cel Ref PTTC Lage, Cel R/1 PTTC Wilson, Cel R/1 PTTC Teixeira, TC R/1 PTTC Thomé, 1º Ten QCO Sandro, 1º Ten OTT Biajone, 2º Ten OTT Aline Marques, Profª Lúci, Profª Maria Salute, Profª Therezinha, Profª Marina e Prof Alessandro. * * ͖ * SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Sumário Apresentação Editorial 4 7 Retrospectiva 2010 da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx 8 8 9 10 10 11 13 13 14 14 16 17 18 18 20 21 23 24 25 25 Ex-Professor da Seção de Ciências Matemáticas é homenageado Projeto Matemática 2.0: auxiliares didáticos são instituídos Professor de Desenho se despede da Seção de Ciências Matemáticas V Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas Geometria Analítica com papel higiênico no Pátio Agulhas Negras Seção participa de Seminário sobre Segurança Internacional Ombro a ombro na marcha de 8 KM na Brigada Anhanguera Olimpíadas de Matemática 2010: VI OBMEP e XXVI OMU Comemorações do 65º Aniversário do Dia da Vitória Reunião pedagógica entre EsPCEx e AMAN discute novos rumos Corpo de Alunos realiza as Provas Formais Periódicas I da Seção Projeto Matemática 2.0 é apresentado em Encontro Nacional Alunos da EsPCEx são destaque na XXVI OMU Professor da Seção e cadetes da AMAN publicam livro Seção apresenta trabalhos sobre liderança militar no VII EPEMM Seção apresenta trabalho sobre projeto interdisciplinar no II EPESM Corpo de Alunos realiza as Provas Formais Periódicas II da Seção VI Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas Seção publica o quarto número da revista SecMat Artigos 26 Educação Matemática Militar: práticas de interdisciplinaridade e de inclusão digital - Jefferson Biajone e Sérgio Henrique Frasson Scafi (EsPCEx) 27 A Geometria Descritiva na profissão militar - Aline Marques Martins (EsPCEx) 35 Einstein e a Matemática Genial - Luiz Amorim Goulart (Colégio Naval) 38 Algumas considerações acerca do Baricentro - Paulo César Moraes Ribeiro (EPCAr) 42 Dissertações e Teses defendidas O Ensino Superior de Matemática no Brasil: da Academia Real Militar do Rio de Janeiro à Escola Politécnica - Ben Hur Mormêllo (AMAN) Missão Cumprida! 47 52 Homenagem a Servidora Civil Professora Lúci Marilene Loreto Rodrigues - Wilson Roberto Rodrigues Personalidades matemáticas no mundo militar General Benjamim Constant Botelho de Magalhães - Jonathan Vieira da Silva ͗ 54 SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Apresentação Saudações! Eis que o ano de 2010 aproxima-se do seu fim e com ele temos a enorme satisfação de trazer a lume o quarto número da revista SecMat: Educação Matemática Militar em Revista. Para a apresentação que faremos deste número, julgamos ser pertinente realizar um resgate histórico do que a revista SecMat tem significado para a Seção de Ciências Matemáticas e para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), desde a ideia de sua concepção que conjuntamente tivemos em 2007 com o Capitão QCO Samuel Santos de Miranda – então professor de Desenho daquela escola. Para tanto, iremos compor uma análise comparativa das quatro edições de SecMat, fazendo emergir as evoluções pelas quais a publicação oficial da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx passou ao longo de 2007, 2008, 2009 e 2010. Estas evoluções, contudo, nunca desviaram SecMat de sua missão que consubstanciada foi na consecução de três objetivos fundamentais, quais sejam, 1) divulgar o trabalho desenvolvido pela Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx na educação matemática militar do futuro cadete de Caxias, 2) contribuir para o patrimônio histórico-cultural da EsPCEx e por conseguinte do Exército Brasileiro e 3) interligar as seções de ciências matemáticas das escolas de Ensino Médio Militar das Forças Armadas Brasileiras, a saber, EsPCEx, Colégio Naval e Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAr). Estando, pois, sob a égide desse trinômio, divulgar, contribuir e interligar, que SecMat foi elaborada, nas seguintes capas e conteúdos: Nº 01 Ano 2007 O primeiro número da revista SecMat Educação Matemática em Revista foi lançado em dezembro de 2007. Sob o lema “nostrum populus nostrum vires” (nossa gente nossa força) o número de fundação de SecMat contou com uma retrospectiva dos acontecimentos vividos pela Seção de Ciências Matemáticas em 2007 e seis artigos na íntegra escritos por professores da Seção, a saber, Cel R/1 Wilson, Cap Samuel, 2º Ten Biajone, Prof. Jair e Profa. Lúci. Houve ainda uma matéria dedicada aos resultados da participação dos alunos da EsPCEx na III Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e uma homenagem ao prof. Jair que naquele ano se aposentava, ali publicada sob o título de Missão Cumprida! O número 01 de SecMat teve 46 páginas e uma tiragem de 20 cópias impressas na gráfica da EsPCEx, sendo publicada no formato digital apenas na página da Intranet da escola. Cabe ressaltar que neste número de SecMat um conselho editorial era inexistente e a revista ainda não havia obtido o número de indexação (ISSN). A revisão ortográfica foi realizada pela Cap Joana, da Seção de Português da EsPCEx. ͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 O segundo número da revista SecMat Educação Matemática em Revista foi lançado em outubro de 2008. Foi neste número que SecMat passou a contar com uma conselho editorial, presidido pelo Cap Samuel e composto por professores de outras seções de ensino da EsPCEx. A direção da revista foi estabelecida e ficou a cargo do 2º Ten Biajone. O ISSN de número 1983-4837 foi nesse ano atribuído à revista e além do texto da apresentação feita pelo seu diretor, SecMat passou a contar com um editorial assinado pelo chefe da Seção, o Cel PTTC Lage, seguido pela retrospectiva dos acontecimentos vividos em 2008, além de quatro artigos científicos, dois de professores da seção, a saber, Cel PTTC Wilson, 2º Ten Biajone e Profa. Maria Salute. Outros dois artigos, um do Colégio Naval (Flora et al.) e outro da EPCAr (Ribeiro e Villar) concretizaram o objetivo de interligar as três seções de Ciências Matemáticas do Ensino Médio Militar. Nº 02 Ano 2008 O ex-professor da Seção homenageado em Missão Cumprida! foi o Major R/1 Clóvis Antonio de Lima e um novo espaço foi criado em SecMat para a publicação de artigos escritos por alunos da EsPCEx, Personalidades Matemáticas do Mundo Militar, que debutou com um texto sobre o Marechal Trompowski, de autoria do Aluno Eduardo Gonçalves da Silva, do 7º Pelotão da 2º Companhia de Alunos. A tiragem das 48 páginas de SecMat foi de 60 cópias produzidas pela Gráfica Graffcor. Cópias impressas dessa edição e a de 2007 foram ainda enviadas para o acervo histórico do Centro de Documentação do Exército, em Brasília. A revisão ortográfica ficou a cargo do 2º Ten Lutif, da Seção de Português da EsPCEx. As Nº 03 Ano 2009 O terceiro número da revista SecMat Educação Matemática em Revista foi lançado em novembro de 2009. O conselho editorial foi presidido pelo Cap Samuel. Na direção da revista o 2º Ten Biajone. O editorial, pelo chefe da Seção, o Cel PTTC Lage. Houve ainda a retrospectiva dos acontecimentos vividos em 2009, bem como quatro artigos, um do Prof. Alessandro, outro do 1º Ten Sanfelice e do 2º Ten Biajone e outros dois, um do Colégio Naval (Silva Filho) e outro da EPCAr (Santos et al.), dando prosseguimento a interligação das escolas de Ensino Médio Militar na educação matemática que propiciam. O Cel Eng Ref ME Rudy Luiz Wolf foi o ex-professor da Seção homenageado em Missão Cumprida! Em Personalidades Matemáticas do Mundo Militar publicou-se Gaspar Monge, do Aluno Rodrigo Rodrigues Bernardes, do 6º Pelotão da 2º Companhia de Alunos. Cabe ainda ressaltar que na retrospectiva de 2009 foi transcrita matéria do Noticiário do Exército, de 27 de Maio de 2009, elogiando a revista SecMat como “exemplo de comunicação social” pela feliz Interligação de artigos científicos realizada com a EPCAr e o Colégio Naval na edição de 2008. A tiragem das 51 páginas da edição de 2009 foi de 60 exemplares pela Gráfica Graffcor, tendo o Centro de Documentação do Exército recebido dois deles. Cópia digitalizada dessa edição foi ainda publicada na página de artigos do Portal de Ensino do Exército Brasileiro (Dezembro 2009). O 2º Ten Lutif assinou a revisão. ͙ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 O quarto número da revista SecMat Educação Matemática em Revista foi lançado em dezembro de 2010. Com a transferência do Cap Samuel para o Colégio Militar de Campo Grande, o conselho editorial passou a ser presidido pela Cap Maria da Graça, da Seção de Idiomas da EsPCEx. A frente da direção de SecMat o 1º Ten Biajone e o editorial de 2010 a cargo do Cel PTTC Lage, chefe da Seção. Além da retrospectiva dos acontecimentos de 2010, quatro artigos científicos, um de autoria do 1º Ten Biajone e do Prof. Scafi, outro da 2º Ten Aline Marques e outros dois, um do Colégio Naval (Goulart) e outro da EPCAr (Ribeiro). A novidade para a edição de 2010 foi a criação do espaço Dissertações e Teses defendidas, cujo debute se deu com um resenha da dissertação de mestrado defendida na Universidade Estadual de Campinas, em 2010, pelo Cel R/1 PTTC Ben Hur Mormêllo, da AMAN. Nº 04 Ano 2010 A iniciativa de abrir esse espaço para publicação de resenhas de dissertações e teses defendidas por professores civis e militares do Exército Brasileiro conferiu a SecMat novas possibilidades de se firmar enquanto periódico científico e fonte de dados para fomento de pesquisas acadêmicas em Educação Matemática. Em Missão Cumprida! foi a vez da professora Lúci Marilene Loreto Rodrigues aposentada em 2010. Já em Personalidades Matemáticas do Mundo Militar, a biografia contemplada foi a do General Benjamin Constant Botelho de Magalhães, de autoria do Aluno Jonathan Vieira da Silva, do 8º Pelotão da 2º Companhia de Alunos. A tiragem das 54 páginas de SecMat foi de 60 cópias pela Graffcor. Dois exemplares seguiram para o Centro de Documentação do Exército e uma cópia digitalizada foi publicada no Portal de Ensino do Exército Brasileiro (Dezembro 2011). A revisão ficou a cargo do 2º Ten R/2 Lutif. Chegamos ao termo dessa apresentação satisfeitos em constatar o empreendimento literário que SecMat: Educação Matemática Militar em Revista se tornou desde a sua fundação em 2007. Ter dirigido os esforços e coordenado a sinergia necessária para que escolas, seções de ensino, artigos, autores, editores, professores, revisores e tantos outros envolvidos – contribuintes cada qual à sua maneira para que SecMat pudesse vir a lume anualmente – foi, sem dúvida, missão da qual seremos sempre gratos pelo apreço que a Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx nos demonstrou em confiá-la. Jefferson Biajone, 1º Ten OTT Diretor da Revista SecMat: Educação Matemática Militar em Revista ͚ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Editorial Cléo Jonas Cezimbra Lage (*) Chefe da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx Uma vez mais recebo a honrosa convocação para elaborar o editorial da revista SecMat: Educação Matemática Militar em revista! Dessa missão realmente só posso me ufanar pela consideração que esta publicação anualmente me requer para que algo escreva no intuito de apresentar ao público o trabalho dedicado de meus companheiros da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx, bem como das contribuições recebidas de nossos colegas do Colégio Naval e da Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Nesse sentido, encontro-me pressuroso em agradecer a todos que participaram direta e indiretamente para que este quarto número de nossa revista viesse a ser publicado e compartilhado entre as nossas escolas de Ensino Médio Militar, além de outros estabelecimentos e órgão de nossas Forças Armadas. A exemplo das edições anteriores, pude constatar que a mesma garra, disposição e iniciativa de nossos articulistas em proporem valorosos conhecimentos por intermédio de seus artigos colocam em evidência a seriedade do trabalho, ou melhor dizendo, da missão que é iniciar a educação matemática do futuro oficial da Marinha, do Exército e da Força Aérea Brasileira para as demandas e desafios do século XXI. Assim sendo, apresento os articulistas e seus textos constantes da revista SecMat edição 2010. De nossa Escola Preparatória de Cadetes do Exército, temos os textos Educação Matemática na EsPCEx: práticas Interdisciplinares e inclusão digital do 1º Tenente Jefferson Biajone e do professor de Química Sérgio Henrique Frasson Scaffi; A Geometria Descritiva na profissão militar da 2º Tenente Aline Marques Martins; do Colégio Naval, Einstein e a Matemática Genial de autoria do professor de Matemática Luiz Amorim Goulart e Algumas considerações acerca do Baricentro do professor de Matemática Paulo César Moraes Ribeiro, da Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Há ainda o esboço biográfico escrito pelo nosso aluno Jonathan Vieira da Silva sobre o General Benjamin Constant Botelho de Magalhães. A resenha da dissertação do Cel Ben Hur da AMAN intitulada “O Ensino Superior de Matemática no Brasil: da Academia Real Militar do Rio de Janeiro à Escola Politécnica” foi uma feliz novidade que a revista SecMat desse ano pode contemplar. O elogio tecido pelo colega Cel Wilson à nossa querida professora Lúci Marilene Loreto Rodrigues completa a riqueza de informações que o quarto número de SecMat alcançou, riqueza essa que, ao meu ver, irá entreter os nossos leitores e nos propiciar a satisfação de saber que nosso trabalho foi por eles bem recebido. BRASIL ACIMA DE TUDO! (*) O Coronel reformado PTTC do Serviço de Intendência Cléo Jonas Cezimbra Lage foi aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Graduou-se na Academia Militar das Agulhas Negras em 1965 e na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais em 1978. É Bacharel em Administração de Empresas pelas Faculdades Machado Sobrinho de Juiz de Fora, licenciado em Ciências pela CES de Juiz de Fora e Matemática pela PUC de Campinas. Desde 2008, como oficial prestador de tarefa por tempo certo, o Cel Lage é professor da subseção de Matemática e chefe da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx. ͛ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Retrospectiva 2010 da Seção de Ciências Matemáticas Evento, notícias, fatos, vivências, experiências e encontros, 2010 provou ser um ano de muitas realizações para a Seção de Ciências Matemáticas, a qual soube contribuir com o melhor de suas energias para a formação do futuro Cadete de Caxias, na educação matemática militar que propôs por intermédio de seus integrantes, sete professores de Matemática e cinco de Desenho. Assim sendo, este espaço de SecMat se dedica a resgatar o que a Seção fez ao longo do presente ano, nos acontecimentos vividos, organizados que estão cronologicamente, de janeiro a dezembro de 2010. Ex-Professor da Seção de Ciências Matemáticas é homenageado Cel Rudy Luiz Wolff, professor de matemática da EsPCEx de 1966 a 1996. Na segunda-feira do dia 12 de janeiro de 2010, adentrava o Salão Nobre da Escola Preparatória de Cadetes do Exército Rudy Luiz Wolff, coronel reformado da arma de Engenharia e professor livre docente do Quadro do Magistério do Exército Brasileiro. Acompanhado do Exmo Sr. general de brigada César Augusto Nardi de Souza, comandante da EsPCEx e do coronel França, chefe da Divisão de Ensino e demais oficiais superiores do Estado Maior da escola, bem como do corpo docente da Seção de Ciências Matemáticas, à qual o Cel Rudy pertenceu por 28 anos. O encontro que ali se deu teve a finalidade de homenagear o insigne professor de Matemática cuja brilhante carreira docente, iniciada em 1956 no Colégio Militar do Rio de Janeiro, colaborou na formação de muitas gerações de oficiais, dentre os quais, o próprio comandante da EsPCEx, general Nardi e o atual chefe da Seção de Ciências Matemáticas, coronel Lage, ambos ex-alunos seus em diferentes épocas de suas vidas. Cel Rudy ladeado pelo Gen Nardi, Cel Lage e França e Ten Sandro e Biajone Uma vez todos reunidos no Salão Nobre, o chefe da Seção de Ciências Matemáticas dá início às homenagens, solicitando ao 2º Ten Biajone que realizasse a leitura de texto que este oficial havia publicado na edição de 2009 da Revista SecMat: Educação Matemática Militar em Revista. Tratava-se de um texto que ilustrou a seção “Missão Cumprida” da referida revista e que resgatou a trajetória da vida pessoal e militar do Cel Rudy, desde os seus tempos de aluno, quando aos 17 anos transpunha os portões da legendária Escola Preparatória de Porto Alegre em 1945, passando pelos de major, em 1962, quando foi agraciado pelo então Ministro da Guerra com o título de Livre Docente e, encerrando com os de coronel PTTC, já em 1996, na chefia que exerceu da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx por dezesseis anos. Concluída a leitura do texto, o Cel Rudy foi cumprimentado por todos os presentes e, visivelmente emocionado, proferiu suas palavras de agradecimento ao comando da EsPCEx, à Divisão de Ensino e, em particular, à Seção de Ciências Matemáticas, a qual muito honrada ficou em poder homenagear um de seus professores mais ilustres. ͜ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Projeto Matemática 2.0: auxiliares didáticos são instituídos Alunos auxiliares didáticos iniciam seus trabalhos Dando continuidade aos trabalhos iniciados em 2009, o projeto Matemática 2.0, no ano letivo de 2010, ingressou na fase de implementação junto a todo o Corpo de Alunos da EsPCEx. Para tanto, os trabalhos que foram desenvolvidos na sua fase piloto no ano anterior foram redefinidos em torno de ações que propiciassem às quinze turmas a vivência do objetivo do projeto Matemática 2.0, qual seja, educar matematicamente o aluno com vistas ao aprender a aprender, sua inclusão digital e por meio desta o seu preparo para uma cidadania crítica e participativa. Essas ações consubstanciaram-se em torno da adoção do software Geogebra® enquanto ferramenta didático-pedagógica para apresentação/exploração dos conteúdos de Geometria Analítica, Polinômios e Números Complexos e da instituição da função do Aluno Auxiliar Didático, a ser exercida em rodízio por todos os alunos da turma nas aulas de Matemática. No que compete ao papel desse Auxiliar Didático, trata-se de aluno que fica responsável por operar o programa Geogebra®, segundo as orientações do professor ou de algum outro colega de turma, à medida que demonstrações e conteúdos matemáticos sejam explicitados no quadro. Cabe ao Auxiliar Didático também a autonomia de sugerir ao professor maneiras e modos distintos de expressar os conteúdos por intermédio do Geogebra®, bem como dirimir dúvidas referentes à utilização desse software que seus companheiros de turma possam ter fora dos horários de aula. Aluno desenvolvendo exercício de matemática com o apoio do colega Auxiliar Didático Em conteúdos como os de Geometria Analítica, por exemplo, o papel do Auxiliar Didático tem demonstrado ser fundamental, pois ele concretiza a visualização das entidades matemáticas desenvolvidas analiticamente na tela gráfica do computador, facilitando assim o aprendizado do conteúdo por parte de todos da turma. ͝ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Professor de Desenho se despede da Seção de Ciências Matemáticas Capitão Samuel é transferido para o Colégio Militar de Campo Grande, MS. Na sexta-feira do dia 12 de março de 2010, a Seção de Ciências Matemáticas despediu-se de um de seus professores mais queridos pelo carisma, dedicação ao serviço e competência na formação intelectual do Aluno da EsPCEx. Trata-se de Samuel Santos de Miranda, capitão do Quadro Complementar de Oficiais e professor de Matemática. Egresso que foi da Escola de Administração do Exército em 1998, o então 1º tenente Samuel iniciava a sua carreira militar ao ser classificado e transferido para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, onde, desde 1999, exerceu com dinamismo, dedicação e altruísmo as funções de professor da disciplina de Desenho. Em fins de 2009, após dez anos de bons serviços prestados à EsPCEx, o capitão Samuel recebe convite para retornar ao estado natal, Mato Grosso do Sul, a fim de servir como professor de Matemática no Colégio Militar de Campo Grande. A Seção de Ciências Matemáticas despede-se do valoroso companheiro, na expectativa de que o mesmo brilhantismo que caracterizou sua jornada na EsPCEx seja a marca inconteste de sua nova missão frente ao preparo dos jovens alunos que terá sob sua empolgante cátedra no Colégio Militar. V Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas Os resultados da V OBMEP saíram. A EsPCEx conquista mais uma vez o pódio. A EsPCEx, desde a primeira versão das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas há quatro anos, vem participando com destaque deste evento que é anualmente promovido pelo IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada, em parceria com o CNPQ. No ano de 2009, sob a orientação do 1º tenente Sandro, a equipe de 25 alunos representando a EsPCEx concorreu com um universo de 19.198.710 estudantes de 43.854 escolas, representando pouco mais de 99,1% dos municípios do país. A equipe da EsPCEx obteve colocações muitas expressivas, destacando-se no cenário nacional pelas medalhas de prata e bronze e várias menções honrosas. Estes resultados atestam uma vez mais o nível de comprometimento do futuro cadete de Caxias, o qual não poupou esforços para elevar o nome da escola que nasceu para vencer junto aos demais estabelecimentos de ensino público de todo o país. Alunos agraciados com Medalha de Prata Colocação Nome do Aluno 135º WILLIAM CARDOSO DE ALBUQUERQUE 261º MAURICIO GALDINO LADEIRA MARINHO Alunos agraciados com Medalha de Bronze Colocação Nome do Aluno 174º MATHEUS ANTONIO G. da SILVA 284º VINICIUS DE SOUZA MIRANDA ͕͔ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Alunos agraciados com Menção Honrosa Colocação Nome do Aluno 43º GUILHERME HENRIQUE L. DELAMBERT 81º MAURO PEREIRA DE OLIVEIRA 212º RAMIRO ANTUNES PEROSI 317º DOUGLAS MENDES DE ASSIS 397º ALEXSANDRO DINIZ DA COSTA 404º DIEGO CASTRO CONDE ROCHA 445º HUMBERTO LIPU FILHO 642º MARIO CEZAR BERLT AZUAGA 1040º BRUNO BARBOSA RAMOS 1383º CARLOS HENRIQUE A. DOMINGOS 1837º FELLIPE CORREA MARCIO Geometria Analítica com papel higiênico no PAN Uma proposta de abordagem alternativa de ensino de Geometria Analítica No entendimento que a aprendizagem não podem vir dissociada da exploração do objeto do conhecimento por parte do sujeito que aprende, a Seção de Ciências Matemáticas, por meio de sua subseção de Matemática, desenvolveu no início do primeiro semestre letivo, o ensino dos conhecimentos relativos aos princípios básicos de Geometria analítica, visando apresentar esse importante ramo da Matemática e pré-requisito para o curso de Matemática da Academia Militar das Agulhas Negras, de uma forma lúdica e significativa para o aluno. Na contramão de abordagens tradicionais de apresentação do conteúdo via lousa, geralmente seguidas de resolução de exercícios propostos e, por fim, avaliações escritas cobrando o conteúdo ensinado, a atividade desenvolvida ao ar livre, em porção do Pátio Agulhas Negras (PAN), proporcionou aos alunos participantes não só a construção dos conceitos em estudo, mas a avaliação de suas definições, extensões, aplicabilidades e potencialidades interdisciplinares. Essas experiências, e suas implicações contribuíram para que os alunos não só aprendessem os conteúdos, mas tivessem a oportunidade de vivenciá-lo de uma forma diferenciada, uma vez que tiveram a oportunidade de (re)significá-lo ao construí-lo utilizando materiais simples e alternativos, tais como papel higiênico, o qual serviu para demarcar trajetórias, calcular distâncias, traçar retas e ilustrar condições de paralelismo e perpendicularismo, construção de seções cônicas como elipses e hipérboles, tópicos e questões tradicionalmente restritos às limitações do giz, da lousa e do caderno. ͕͕ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Como porção importante da idéia de se propor ao aluno que seja exposto às mais variadas formas de contato com o conteúdo matemático, essa iniciativa de construção de Geometria Analítica no PAN alinha-se aos objetivos do Projeto Matemática 2.0 no que compete ao desenvolvimento da autonomia discente perante o seu aprendizado, a aquisição de conhecimentos e no exercício de uma postura crítica, participativa e de convivência sadia no trabalho de equipe que atividades como essa sobejamente têm ensejado. Detalhe de construções realizadas no PAN Seções Cônicas: parábolas, elipses e hipérboles Resolução de situações problemas e trabalho em equipe ͕͖ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Seção participa de Seminário sobre Segurança Internacional Encontro em São Paulo discutiu rumos e desafios contemporâneos de defesa Na quarta-feira do dia 14 de abril de 2010, comitiva da EsPCEx participou de seminário sobre Segurança Internacional: Perspectivas Brasileiras – Desafios Contemporâneos. Composta por representantes do Corpo de Alunos, Divisões Administrativa e de Ensino, nos militares TC Pedro Paulo, TC Roberto, Maj Ubaldo, Maj Aguiar, Cap Oscar Filho, Cap Moreira, Cap Rabelo, 1º Ten Karen e 2º Ten Biajone, a comitiva e nossa escola marcou presença no concorrido evento ocorrido no auditório do Centro de Estudos Estratégicos na Fundação Armando Álvares Penteado, na capital paulistana. Desdobrando-se ao longo do dia 14, o seminário foi realizado em torno de dois painéis de conferencistas de escol mediados pelo Prof. Dr. Eliézer Rizzo de Oliveira. O primeiro painel, na parte da manhã desse dia, dedicou-se a tratar de questões como segurança climática, soberania e questões ambientais, o futuro da energia e das armas nucleares, tendo como palestrantes o Deputado Aldo Rebelo, o Prof. Dr. Rex Nazaré Alves e o embaixador Sergio Silva do Amaral. Já o segundo, na parte da tarde, versou sobre a proliferação de armas de destruição massiva, Terrorismo catastrófico e tecnologia militar e a compressão do espaço estratégico onde se salientaram o Brigadeiro do Ar Cleonilson Nicácio Silva, o especialista Eugênio Diniz e o jornalista William Waack. Ombro a ombro na marcha de 8 KM na Brigada Anhanguera Seção participa de marcha na 11º Brigada de Infantaria Leve Na sexta-feira do dia 16 de abril de 2010, os integrantes da EsPCEx, em suas diversas divisões, Corpo de Alunos e Companhia de Comandos e Serviços, participaram da 1º Marcha do ano, portando armamento e fardo de combate. Atividade proposta pelo comando da Escola, o trecho escolhido para a realização da marcha correspondeu aos 8 Km de deslocamento na área da 11º Brigada de Infantaria Leve – GLO, a Brigada “Anhaguera”. A Seção de Ciências Matemáticas, ao lado das seções de ensino congêneres, esteve presente na atividade ostentando seu fardo de combate nas pessoas dos tenentes Sandro, Biajone e Aline Marques que com energia e vibração puderam exercitar o vigor físico, a sã camaradagem e o espírito de corpo, atributos em que o ser militar é evidenciado em atividades desse jaez. ͕͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Olimpíadas de Matemática 2010: VI OBMEP e XXVI OMU Neste ano são duas as participações da escola que nasceu para vencer. Neste ano de 2010, a Seção de Ciências Matemáticas recebeu o desafio de orientar Alunos da EsPCEx que voluntariamente desejaram representar a nossa escola em dois dos mais prestigiosos concursos matemáticos do país. O primeiro deles, as Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas, a OBMEP, já é uma das tradições de participação de Alunos da EsPCEx desde a criação dessa olimpíada em 2005. Nos resultados que obtivemos ao longo desses anos de OBMEP, os nossos alunos já obtiveram a classificação de 3º e o 4º lugar no Brasil e de 1º e 2º lugares no estado de São Paulo, o que ocorreu na terceira edição da olimpíada, em 2007, recebendo inclusive, menção especial no Noticiário do Exército, Ano LII, nº 10502. Já o segundo desses concursos, as Olimpíadas de Matemática da UNICAMP, a OMU, na sua vigésima-sexta edição em 2010, contou com a participação de alunos da EsPCEx pela primeira vez nesse mesmo ano. Tanto na primeira fase da OBMEP quanto da OMU, ocorridas na 15 de maio e 8 de junho, respectivamente, os resultados foram muito positivos, com alunos atingindo, inclusive, as notas máximas em ambas as olimpíadas, o que franqueou o garantido acesso da escola nas fases seguintes. Para 2010, a chefia da Seção de Ciências Matemáticas determinou que a orientação da VI OBMEP ficasse a cargo do 1º Ten Sandro, enquanto que a orientação da XXVI OMU ficasse sob as auspicies do 2º Ten Biajone. Tal medida visou especializar o preparo das equipes de alunos nesses concursos, de forma a objetivar a melhor representação possível da escola que nasceu para vencer. Comemorações do 65º Aniversário do Dia da Vitória Seção presente nas comemorações do final da Segunda Guerra Mundial Na segunda-feira do dia 10 de maio de 2010, ex-integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) residentes em Campinas e cidades da região foram homenageados na celebração do 65º Aniversário do Dia da Vitória, ocorrido no último dia 8 de maio, representativo do final do maior conflito armado do século XX. Ex-pracinhas campineiros no pátio de formatura do 28º BIL ͕͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Ocorrida no amplo pátio de formaturas do 28º Batalhão de Infantaria Leve – Batalhão “Henrique Dias” – a cerimônia foi presidida pelo comandante da 11º Brigada de Infantaria Leve – GLO, o general de brigada Sarmento, acompanhado que estava de todo seu luzido Estado Maior, do comando da EsPCEx e de outras unidades militares da Brigada, autoridades políticas e policiais da cidade de Campinas, da Associação dos Expedicionários Campineiros, equipes de reportagem local, parentes, amigos e entusiastas da causa febiana. Alguns dos ex-pracinhas no momento de suas condecorações Após o toque do Expedicionário e a leitura da ordem do dia alusiva à data, os expracinhas, em número de dez, foram condecorados pelo general Sarmento com a medalha “Heróis do Brasil”, concedida pela Associação Nacional dos Veteranos da FEB, seção São Bernardo do Campo, cujo presidente e sua esposa, o veterano Antonio Cruchaki e D. Nadir Cruchaki, prestigiaram as comemorações. Cel Lage, Ten Biajone, familiares e amigos da FEB Quatro militares da guarnição de Campinas que se destacaram por serviços relevantes à preservação da memória da FEB também foram agraciados com a medalha “Heróis do Brasil”. Dentre eles, o 2º tenente Biajone, da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx, pelo seu trabalho na criação, implementação e manutenção do sítio da Associação dos Expedicionários Campineiros na Internet, portal digital que desde fevereiro de 2008 tem ajudado a “manter aceso o cachimbo da vitória”, lema da referida associação. Mantendo aceso o cachimbo da vitória! http://aexpcamp.vilabol.uol.com.br ͕͙ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Reunião pedagógica entre AMAN e EsPCEx discute novos rumos Seção participa de reunião para discutir a formação para o oficialato do século XXI. A 28 de Maio de 2010, sexta-feira, comitiva da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, composta pela chefia da Divisão de Ensino, oficiais das seções de avaliação e aprendizagem, acompanhamento pedagógico e coordenação pedagógica, e professores representantes de todas as seções e subseções de Ensino passou a manhã e a tarde desse dia em troca de informações com vistas a discutir o futuro da formação do oficial combatente de carreira do século XXI. Propostas em estudo do Estado Maior do Exército, em face dos desafios contemporâneos que a formação de recursos humanos está a exigir de todas as organizações, foram o estopim dessa reunião cuja iniciativa de realização partiu da Divisão de Ensino da EsPCEx, que conjuntamente com a Divisão de Ensino da AMAN, debruçou-se na possibilidade de que os currículos de ambos os estabelecimentos se tornassem um só, havendo, em função disso, prováveis fusões e transferências das disciplinas e cadeiras, seções e subseções de ensino. Ciências Matemáticas da AMAN e da EsPCEx: encontro histórico Reunidos, pois, com o objetivo de discutir a viabilidade de tais propostas no que competiu à jurisdição de suas competências, as Seções de Ciências Matemáticas da AMAN e da EsPCEx, propuseram às Divisões de Ensino da EsPCEx e da AMAN o seguinte esquema de Educação Matemática Militar para o oficial combatente de carreira do século XXI: Cientes de que os novos tempos exigem novas soluções, ambas as Seções chegaram ao denominador comum de que o ensino da Matemática é por demais ͕͚ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 relevante por estar histórica e tradicionalmente enraizado no cerne formativo do oficial do Exército Brasileiro desde 1792, com a criação do primeiro estabelecimento de ensino superior dedicado a esse fim, qual fosse, a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho. Ao longo desses últimos 308 anos, portanto, o ensino da Matemática tem contribuído de forma indelével na seleção, preparação e especialização da oficialidade de nosso Exército. Personalidades como as do general de brigada Benjamim Constant, um dos proclamadores da República e a do marechal Trompowsky, patrono do Magistério Militar, evidenciam a importância que as ciências matemáticas tiveram em suas carreiras, pelos exemplos e ensinamentos que legaram à mocidade militar. General Benjamin Constant e Marechal Trompowsky Vidas dedicadas à Pátria pelo ensino da Matemática Corpo de Alunos realiza as Provas Formais Periódicas I da Seção O término do primeiro semestre letivo foi coroado com as PFP1 Nas manhãs dos dias 22 e 24 de junho, no Salão Osório, tradicional salão de provas da EsPCEx, os 479 alunos da turma de 2010 realizaram, das 07h30 às 09h30, as provas formais periódicas 1 (PFP1) de Desenho e Matemática, respectivamente. Detalhe da realização das provas PFP1 no Salão Osório Nos conteúdos aferidos por ambas as avaliações, constaram os assuntos de Geometria Plana e rudimentos de Descritiva, para Desenho, e Geometria Analítica, para Matemática. Das correções que foram realizadas das provas de ambas as disciplinas, os resultados positivos atestaram não só a dedicação dos alunos, mas todo o trabalho em conjunto dos professores de Desenho e Matemática da Seção de Ciências Matemáticas para que esse relevante momento de aprendizado discente pudesse ser coroado com êxito. ͕͛ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Projeto Matemática 2.0 é apresentado em Encontro Nacional Seção participa do Encontro Nacional de Educação Matemática em Salvador Ocorrido na quarta, quinta e sexta-feira dos dias 7, 8 e 9 de julho de 2010 na aprazível cidade de Salvador, na Bahia, o X Encontro Nacional de Educação Matemática (X ENEM) visou congregar e compartilhar pesquisas, comunicações científicas, relatos de experiência e pôsteres desenvolvidos pela comunidade de educadores matemáticos do país. Organizado pela Sociedade Brasileira de Educação Matemática, a décima edição do ENEM contou com mais de 2000 trabalhos inscritos para apresentação, inscritos em vinte e duas grandes áreas temáticas de pesquisa da Educação Matemática, entre elas, Avaliação, Filosofia, História, Políticas Públicas, Educação a Distância, Desenvolvimento Curricular, Ensino Médio, Ensino Superior, Formação de Professores, Recursos e Processos Tecnológicos, Processos cognitivos e lingüísticos, Etnomatemática, etc. A EsPCEx, por intermédio da Seção de Ciências Matemáticas, esteve representada no encontro, ao lado de tantas outras instituições de Ensino Médio e Superior brasileiras, públicas e privadas, na apresentação de um relato de experiência inscrito no tema “Recursos e Processos Tecnológicos”, intitulado Matemática 2.0: Educação Matemática na Era da Informação, de autoria do 2º Ten Biajone, no qual ele apresentou a proposta do Projeto Matemática 2.0 na adequação da Educação Matemática Militar do futuro Cadete de Caxias aos desafios tecnológicos do século XXI. O encontro também contou com o lançamento de livros didáticos, paradidáticos e de resultados de pesquisa, dentre eles, a obra Estudos e Reflexões em Educação Estatística, organizado pelos pesquisadores Celi Espansadim Lopes, Cileda de Queiroz e Silva Coutinho e Saddo Ag Amouloud, cujo sétimo capítulo, Projeto Estatístico na Pedagogia: promovendo aprendizagens e (re)significando atitudes, escrito pelo tenente Biajone, é essência de sua dissertação de mestrado na área e que, posteriormente, serviu de fundamentação epistemológica para a criação e implementação do Projeto Matemática 2.0 na EsPCEx, em 2009. Alunos da EsPCEx são destaque na XXVI OMU EsPCEx obtém menção honrosa na Olimpíada da UNICAMP ͕͜ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Na XXVI Olimpíadas de Matemática (XXVI OMU) da Universidade Estadual de Campinas, a EsPCEx conquistou resultados muito expressivos entre os cem alunos classificados para a terceira e última fase dessa olimpíada. Os 11 alunos da equipe da EsPCEx que ingressaram nessa derradeira fase representaram a escola que nasceu para vencer no dia 25 de outubro, dia seguinte ao retorno de vários deles do Exercício de Longa Duração (ELD). Foto da equipe de Alunos da EsPCEx participante da XXVI OMU Mesmo cansados em função da extenuante semana do ELD, estes alunos deram o melhor de si e conquistaram resultados expressivos entre os 100 colocados finais, tendo o Aluno Resende, do 4º Pelotão, obtido a 27º colocação na classificação final, recebendo, por isso, Menção Honrosa do comitê organizador da XXVI OMU. Classificação (de 1 a 99) 27º 36º 45º 48º 51º 62º 70º 78º 87º 94º Nome Pel AL RESENDE AL CAMPAGNOL AL RANGEL AL ARBOÉS AL RAPHAEL AL AUSTRIA AL TENORIO AL JULIO CESAR AL DANIEL LEMOS AL ZANELLA 04 11 13 14 12 15 15 11 02 03 2º Fase (de 0 a 120) 60 115 70 90 68 60 85 65 61 65 3º Fase (de 0 a 120) 84 60 65 56 60 54 40 35 29 18 Média Final (de 0 a 100) 79,2 71 66 62,8 61,6 55,2 49 41 35,4 27,4 A Seção de Ciências Matemáticas congratula os onze alunos que compuseram a equipe da EsPCEx pela força de vontade e o desprendimento demonstrados em representar a nossa escola nas três fases da XXVI Olimpíadas de Matemática da UNICAMP em 2010. ͕͝ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Professor da Seção e cadetes da AMAN lançam livro Campinas, SP. Noite de lançamento e autógrafos do livro Pracinhas Campineiros Na noite de quinta-feira, 2 de setembro de 2010, no Salão Nobre da EsPCEx, foi lançado o livro "Pracinhas Campineiros: reminiscências de vidas que fizeram história", da Editora paulistana Grupo Editorial Scortecci. O livro, organizado por um professor da Seção de Ciências Matemáticas, o 1º tenente Biajone, é coletânea de relatos de vidas de sete pracinhas campineiros e suas esposas, a saber, Abel Muniz de Faria, João Luiz Lima, Oswaldo Birochi, Salvador Moreno, José Moreno, Justino Alfredo, José Giesbrecht, Olete Alfredo e Maria de Lourdes Sales. Escrito que foi a várias mãos, Pracinhas Campineiros contou com textos desenvolvidos por alunos da turma de 2009, atualmente, os cadetes do curso básico da AMAN, Eduardo Hoisler Sallet, Júlio Vinicius Nascimento Capa de Netto, Rodrigo Rodrigues Bernardes, Thiago Queiroz Pracinhas Campineiros Sá, Vitor Hugo Araújo Silva, Yuri da Silva Tavares e pelo cidadão campineiro Marcílio Giesbrecht. Estes relatos foram resultantes de um trabalho interdisciplinar realizados por esses ex-alunos e orientado pelo tenente Biajone, no ano letivo de 2009. Os autores do livro Pracinhas Campineiros: reminiscências de vidas que fizeram história A 16 de Setembro de 2010, o Correio Popular, jornal da cidade de Campinas, noticiou em suas páginas do caderno de cultura o ocorrido da noite de lançamento da obra Pracinhas Campineiros na EsPCEx, elogiando a iniciativa do trabalho desenvolvido pelos rapazes da escola de cadetes (como o jornal carinhosamente se referiu aos autores) em preservar os feitos e da memória da participação daquela cidade na Força Expedicionária Brasileira durante o maior conflito armado do século XX que foi a II Guerra Mundial. ͖͔ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Seção apresenta trabalhos sobre liderança militar no VII EPEMM Angra dos Reis, RJ. Na semana de 21 a 24 de setembro de 2010, integrantes da Divisão de Ensino da EsPCEx estiveram no Colégio Naval, em Angra dos Reis, RJ, participando da sétima edição do Encontro Pedagógico do Ensino Médio Militar, o VII EPEMM. Professores civis e militares do Colégio Naval, da EPCAr e da EsPCEx, assim como de outros estabelecimentos de ensino das forças armadas e auxiliares estiveram presentes no encontro para discutir e apresentar comunicações científicas e oficinas relativas ao tema do mesmo, qual foi, o papel do docente na formação do líder militar do século XXI. Professores e Educadores do Colégio Naval e da EPCAr No que competiu a participação da EsPCEx no evento, oito dos dezoito trabalhos apresentados foram da autoria de seus professores, os quais trouxeram ao público presente pesquisas realizadas no cotidiano de suas práticas pedagógicas. Comitiva da Divisão de Ensino da EsPCEx Foram eles, 1) A Liderança Através da análise de Competências Emocionais, das tenentes Ariane e Luz, Seção Psicopedagógica; 2) Formação Integral – laboratório de liderança, do major Pfeifer e 2º tenente Marilita Venuto, Seção Psicopedagógica; 3) O Tripé da Liderança Docente, do major Oscar Filho e da capitão Cláudia, Seção de Ciências Sociais; 4) O Foco Gramatical no Ensino de Língua Estrangeira, do 1º tenente Dark, Seção de Idiomas; 5) Mediação da Aprendizagem como Expressão da Liderança Docente, da Pedagoga Ana Cláudia e 2º tenente R/2 Estelles, Seção de Acompanhamento Pedagógico; 6) O Desenvolvimento de Competências de Liderança no Exército Brasileiro: Aspectos Psicológicos e Conjunturais, das tenentes Ariane e Luz, Seção Psicopedagógica. ͖͕ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 A Seção de Ciências Matemáticas também teve a sua contribuição nas discussões do VII EPEMM com a apresentação de dois trabalhos, 1) Liderança Emocional e Ação Docente, da 2º tenente Aline Marques e da professora doutora Maria Luisa Bissoto, pesquisadora da UNIMEP e 2) Matemática 2.0 na formação do Líder Militar da Era Digital, do 1º tenente Biajone. Ten Biajone e Ten Aline Marques com professores de matemática do Colégio Naval e da EPCAr Em Liderança Emocional e Ação Docente, a 2º Ten Aline Marques e a Profa Dra Maria Luisa Bissoto discutiram a importância da emoção no cognitivo e nos diversos modelos de liderança, apontando aqueles que efetivamente propiciariam uma melhor relação professor-aluno com implicações positivas e construtivas para o ensino e a aprendizagem. Já em Matemática 2.0 na formação do Líder Militar da Era Digital, o 1º Ten Biajone apresentou os resultados da vivência do Projeto Matemática 2.0 no seu segundo ano de implementação na educação matemática do Aluno da EsPCEx. Foto dos participantes do VII EPEMM A Seção de Ciências Matemáticas congratula os tenentes Aline Marques e Biajone pelas brilhantes comunicações científicas proferidas em tão relevante encontro do Ensino Médio Militar das Forças Armadas Brasileiras e faz votos de que nas próximas edições do evento ela possa, conjuntamente com as demais seções de ensino, representar a escola que nasceu para vencer. ͖͖ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Seção apresenta relato sobre interdisciplinaridade no II EPESM Angra dos Reis, RJ. Na semana de 06 a 08 de outubro de 2010, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) sediou a segunda edição do Encontro Pedagógico do Ensino Superior Militar em Resende, RJ, Professores, educadores civis e militares da AMAN, Escola Naval e Academia da Força Aérea, bem como representações do Ministério da Defesa, da Diretoria de Cultura e Ensino do Exército, da Diretoria de Especialização e Extensão e demais estabelecimentos de ensino das forças armadas e auxiliares congregaram-se nestas três jornadas para discutir a temática Transformações Contemporâneas na Educação Superior Militar. Contando com a presença de palestrantes e diversas mesas e painéis, bem como da visita do Ministro da Defesa, Exmo. Sr. Nelson Jobim e do Comandante do Exército Brasileiro, Exmo. Sr. Gen Ex Enzo, o encontro propiciou a todos os presentes aquilatar e explorar os desafios que a formação do oficial das forças armadas do século XII irá requerer do nível Superior de Ensino Militar. Academia Militar das Agulhas Negras Sendo a única escola representando o Ensino Médio Militar no evento, a EsPCEx esteve presente no II EPESM e pode também contribuir para as comunicações coordenadas ali compartilhadas, apresentando relato de experiência intitulado Trabalho Interdisciplinar EsPCEx: dez anos de iniciação científica do futuro Cadete de Caxias de autoria de dois de seus professores, a saber, o Maj Oscar Filho, da Seção de Ciências Sociais e o 1º Ten Biajone, da Seção de Ciências Matemáticas. Foto dos participantes do II EPESM ͖͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Corpo de Alunos realiza as Provas Formais Periódicas II da Seção O término do segundo semestre letivo foi coroado com êxito Nas manhãs dos dias 17 e 18 de novembro, no Salão Osório, tradicional salão de provas da EsPCEx, os 488 alunos da turma de 2010 realizaram por três horas a resolução das provas periódicas formais 2 (PFP2) de Matemática e Desenho, respectivamente. Detalhe da realização das PFP2 no Salão Osório Nos conteúdos aferidos por ambas as avaliações, constaram os assuntos de Geometria Descritiva, para Desenho, e de Números Complexo e Polinômios, para Matemática, todos correspondentes ao que foi lecionado ao longo do segundo semestre letivo. Das correções que foram realizadas das provas de ambas as disciplinas, os resultados positivos atestaram uma melhoria gradual das notas discentes em comparação com o primeiro semestre, o que levou a Seção de Ciências Matemáticas a parabenizar o seu corpo docente pela dedicação e trabalho árduo em prol da educação matemática do aluno da EsPCEx. VI Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas Os resultados da VI OBMEP saíram. A EsPCEx conquista mais uma vez o pódio. Desde a primeira versão das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas há quatro anos, a EsPCEx vem participando com destaque deste evento que é anualmente promovido pelo IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada, em parceria com o CNPQ. No ano de 2010, sob a orientação do 1º tenente Sandro, nove alunos da equipe representando a EsPCEx concorreram com estudantes que representaram 99,1% das escolas públicas de todo o país. A equipe da EsPCEx obteve as seguintes colocações, as quais colocaram em destaque a escola que nasceu para vencer pelas medalhas de ouro, prata e bronze conseguidas. A Seção de Ciências Matemáticas parabeniza o Ten Sandro e os alunos vencedores. Medalha de Ouro Colocação em 112 ɫɮɢ Aluno TIAGO CAMPAGNOL HENRIQUE ͖͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Medalha de Prata Colocação em 300 Aluno ɨɪɪɢ LUIZ HENRIQUE DE SOUZA MELLO ɨɭɬɢ OSMAR FERREIRA GOMES FILHO ɩɨɨɢ LUCAS RANGEL BARBOSA ɩɮɭɢ ANGELO CONTE Medalha de Bronze Colocação em 600 Aluno ɩɮɢ CHRISTOFER GRAY RANGEL SANTOS ɫɫɢ GUILHERME SCHOLL ROBALLO ɩɫɪɢ GYAN TARDELI AUSTRIA ɩɭɬɢ JULIO CESAR B. BARROS B. GOMES Menção Honrosa Colocação em 3000 Aluno ɪɥɢ MARLON NUNES COLÔNIA ɫɩɭɢ FABIO HENRIQUE DATOLLA ɬɨɥɢ DAVI CORREIA TENÓRIO RIBEIRO ɯɨɪɢ DANIEL TAVARES DE M. MARTINS ɨɨɨɫɢ GUILHERME MORET DE FREITAS Seção publica o quarto número de sua revista SecMat Revista SecMat vem a lume no seu quarto ano consecutivo A Revista SecMat: Educação Matemática em Revista, é fruto do trabalho dos professores da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx. Fundada no ano de 2007, ela seguiu tendo o segundo, o terceiro e quarto números, 2008, 2009 e 2010, respectivamente. Em 2008, SecMat foi agraciada com o número de indexação ISSN e, em 2009, foi elogiada pelo Noticiário do Exército: a palavra da força, como exemplo a ser seguido de comunicação social. Sob o lema "Energia e Vibração! Matema Tica Brasil!" a Revista SecMat chega ao seu quarto número, tendo sido impressa em 60 exemplares, sendo dois destes enviados para o Centro de Documentação do Exército, órgão que fomenta atividades ligadas à documentação, heráldica, história e patrimônio histórico-cultural do Exército Brasileiro. ͖͙ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Artigos Educação Matemática no Ensino Médio Militar Atendendo ao convite da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx, o Colégio Naval e a Escola Preparatória de Cadetes do Ar contribuíram este ano com artigos escritos (*) por professores de suas respectivas Seções de Ciências Matemáticas. É, pois, com enorme satisfação que a Revista SecMat traz a lume textos dessas três escolas de Ensino Médio Militar, tendo por foco a educação matemática por elas realizada em nível preparatório do futuro oficial das Forças Armadas Brasileiras. (*) Os autores são responsáveis pelo conteúdo e revisão de seus respectivos textos. ͖͚ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Educação Matemática na EsPCEx: Práticas de interdisciplinaridade e de inclusão digital Jefferson Biajone (*) Sérgio Henrique Frasson Scafi (*) Introdução Como estabelecimento de Ensino Médio Militar, a EsPCEx está ciente de que seu curso compreende a última etapa da escolarização básica de seu aluno. Nesse sentido, propiciar a ele uma formação geral em detrimento de uma formação eminentemente específica é fundamental, ainda que o objetivo principal da EsPCEx seja dar início a formação do oficial combatente de carreira. Com efeito, ser um oficial combatente de carreira requer hoje o exercício de múltiplas competências, ainda mais em um mundo no qual crescentes têm sido as demandas sobre esse tipo de profissional: multiplicação de missões de paz, colapso de instituições democráticas, proliferação vertiginosa do narcotráfico, galopante desenvolvimento armamentista, tudo consignado no cabal exercício dos misteres que lhe são precípuos pela carta magna: a defesa da Pátria, da garantia dos poderes constitucionais, e por iniciativa de qualquer um destes, da Lei e da Ordem. Por outro lado, em função da premente e crescente importância que a informação está assumindo e refletindo de forma imprevisível no plano social, econômico e político, tornou-se fato de que a era industrial que outrora vivemos cedeu lugar para a chamada era da informação. Segundo Formiga (2003) apud Kratochwill (2009), essa era da informação tem por mola propulsora não mais o poder (re)produtivo das máquinas, mas algo intangível, porém, não menos revolucionário: o poder de agregação do cérebro. Tal poder de agregação faz com que o valor agregado da atividade intelectual empregada na geração de bens e serviços, soluções e inovações tenha a primazia sobre as demais atividades: é conhecimento que produz conhecimento capaz de antecipar e responder de forma efetiva as incertezas inerentes a um mundo em evolução. Mas o que tal poder tem a ver com a formação do oficial combatente de carreira? Tudo, uma vez que o grande desafio que ele certamente irá enfrentar nos anos porvir será o de ser capaz de lidar com tecnologias complexas e diversificadas, com situações imprevisíveis e inesperadas que se desenvolvem rapidamente em cenários multiculturais nos quais adaptação, modernização e transformação por meio de inovações e soluções criativas serão fundamentais para o exercício de sua profissão. Isto posto, que papel caberia à EsPCEx no fomento de competências que poderiam auxiliar no desenvolvimento desse poder de agregação no profissional militar do século XXI? Seria atribuição de nossa escola se preocupar com isso? Acreditamos que a resposta para ambas as perguntas é “sim” e que mesmo se tratando de uma formação em nível médio de ensino, entendemos que desde já a ação didático-pedagógica da EsPCEx deve se pautar na promoção do que seria a base de desenvolvimento desse dito poder de agregação, qual seja, a capacidade de pesquisar e gerar conhecimentos, em detrimento da memorização e reprodução acrítica de informações. Com efeito, o modelo instrucionista de ensino, que prioriza a memorização e reprodução de informações do livro didático para o aluno que os copia e devolve numa avaliação não mais atende as incertezas, a intersubjetividade, a interatividade, a complexidade e tantas outras características das demandas que serão impostas ao profissional militar do século XXI (Biajone, 2009b). Como resultado, mais do que nunca se tornaram necessários práticas educativas mais comunicacionais, interativas e inovadoras (Silva, 2002), isto é, que fomentem uma maior autonomia do aluno, que vão ao encontro da diversidade de seus estilos de ͖͛ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 aprendizagem, estimulando assim não só a construção individual e coletiva do conhecimento, mas a mobilização de múltiplas competências cognitivas, habilidades e atitudes. Mas apenas isso em nada será efetivo se não vier apropriado do conhecimento do uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) mais recentes, porquanto são essas tecnologias que determinam e formatam o nosso viver em um mundo eminentemente quantitativo como o atual (Lemos, 2003; Barreiro-Pinto, 2009). Isto posto, aprender a aprender, relacionar, formular, criar, analisar e sintetizar são algumas das principais competências que podem ser sobejamente desenvolvidas no aluno da EsPCEx para que a continuidade de sua formação em Nível Superior na AMAN seja profícua e o seu posterior exercício profissional na carreira militar pleno das inovações e soluções criativas que cenários futuros irão demandar. A Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx, ciente dessas considerações e sobretudo do contexto de produção e difusão informacional sem precedentes no qual estamos inseridos, entende que a Matemática, enquanto saber instrumental para o conhecer e lidar com o entorno natural, social, cultural, econômico, político e tecnológico, talvez nunca tenha assumido maior relevância para esse exercício do que nos dias atuais (D´Ambrósio, 2001). De fato, em se tratando de uma sociedade da informação, a educação matemática do aluno da EsPCEx não poderia estar alheia ao contexto maior que hoje se inscreve os egressos dessa escola e muito menos da necessidade que terão de desenvolverem o poder de agregação de seus cérebros para fazer frente as incertezas e quebra de paradigmas que enfrentarão ao longo de suas carreiras militares. Isto posto, o que a educação matemática proposta ao aluno da EsPCEx tem feito? É disso que daremos conta a seguir. Práticas de interdisciplinaridade Buscar compreender a realidade a partir de olhares fragmentados é reforçar uma percepção errônea de que o todo é resultante da soma de suas partes. Fato é que nem sempre isso é válido. Basta analisarmos o entorno natural, social, cultural, econômico, político e tecnológico nos qual estamos inseridos. Tentar compreendê-lo enquanto resultante de fenômenos isolados pode gerar uma percepção artificial e muitas vezes reducionista. Guardadas as devidas proporções, algo similar ocorre no ato educativo. Compartimentalizar a realidade por meio da ótica de saberes disciplinares estanques, que não se comunicam entre si, é proceder nos mesmos trâmites que caracterizaram a percepção errônea acima mencionada. Assim educar é ficar na contramão da formação de cidadãos críticos e participativos, aptos a deduzir, induzir, tecer análises e efetuar sínteses diante da multiplicidade de informações e da complexidade do entorno que os circunda. É justamente por isso que os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio preconizam a urgente necessidade de substituir uma educação por disciplinas estanques por uma educação fundamentada na interdisciplinaridade de saberes (BRASIL, 1999). Essa interdisciplinaridade, entendemos ser uma abordagem pela qual se interessam duas ou mais disciplinas que, intencionalmente, estabelecem vínculos entre si. Daí resultam a busca de um entendimento comum e o envolvimento direto dos interlocutores. Numa ação interdisciplinar, as partes envolvidas dão-se as mãos, voltadas para o tema central. O essencial de interdisciplinaridade consiste em se produzir uma ação comum (grifos nossos) (COIMBRA, p.15, 2002). O aluno da EsPCEx é antes de tudo um cidadão e como tal ele necessita desenvolver a compreensão de que os saberes disciplinares por ele aprendidos no curso da escola encontram sua razão de ser no fato de que mudanças são (e serão) uma constante em ͖͜ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 toda a sua vida pessoal (e profissional) e que para poder enfrentá-las, necessário será saber antecipar e responder a essas mudanças de forma efetiva (Scafi e Biajone, 2011). A competência para fazer antecipar e responder a altura passa pela adoção de uma visão interdisciplinar da realidade, das mudanças, dos problemas que irá enfrentar. Essa visão interdisciplinar, por sua vez, consubstancia-se na produção da ação em comum que citamos de Coimbra (2002); em outras palavras, a educação matemática de nosso aluno precisa levá-lo a enxergar as demais disciplinas de sua formação como que de mãos dadas com a Matemática para a resolução de problemas. Para tanto, algumas atividades e propostas pedagógicas foram criadas. Uma delas é a realizada em forma de uma gincana, também conhecida como Desafio Militar, para o qual, organizados em pequenos grupos, ditos patrulhas, os alunos recebem orientações para o cumprimento de uma típica “missão” militar. O cumprimento cabal dessa missão, por sua vez, demanda a utilização de saberes de várias disciplinas estudados em sala de aula em torno do contexto de um tema central, que pode ser desdobrado em subtemas ou fases. Vejamos uma dessas missões que foi empregada no Desafio Militar de 2009. Pois bem, em 2009, a Seção de Ciências Matemáticas propôs em conjunto com a Seção de Ciências Naturais uma missão cujo objetivo era levar os alunos a destruírem por meio de explosivos uma ponte no teatro de operações inimigo. Para tanto, a missão foi desdobrada em três fases, a saber, alfa, bravo e charlie. Em cada uma delas, saberes disciplinares teriam de dar as mãos para que os objetivos nelas contidos fossem satisfeitos gerando assim as condições para que a missão no seu tema central fosse cumprida, ou seja, a ponte seria destruída. De fato, na fase alfa, a patrulha de alunos deveria utilizar conhecimentos de geometria plana (Desenho) e geometria analítica (Matemática) para detectar no mapa do teatro de operações (terreno da EsPCEx) a posição do alvo (a ponte) a ser destruída, bem como calcular a distância de segurança de acionamento do explosivo ao encontrarem os azimutes da bússola (Instrução Militar) a serem seguidos. Feito isso, os alunos seguiam para a fase bravo, onde num laboratório capturado dos inimigos, eles deveriam encontrar os três materiais necessários para elaboração do explosivo que seria utilizado para a destruição da ponte, quais foram, 1) a espoleta elétrica que teria a função de iniciar a reação do explosivo iniciador por meio de um curto-circuito em um fio metálico condutor (Física); 2) o explosivo iniciador a ser formulado a partir de reagentes químicos ali existentes (Química) e 3) a carga explosiva principal (simulada) de TNT, que levaria a destruição da ponte (Instrução Militar). De posse desses materiais, a patrulha seguia para a fase charlie, na qual o objetivo consubstanciava-se na destruição da ponte inimiga. No caminho para essa fase, um acidente envolvendo um dos alunos era simulado de tal forma que ele teria de ficar impossibilitado de se locomover. Com isso, seus colegas de patrulha teriam de socorrê-lo (Biologia), imobilizá-lo e carregá-lo (Instrução Militar) até um hospital de campanha ali próximo. Vencido esse obstáculo, os alunos seguiam para o local onde detectaram a ponte nos cálculos efetuados na fase alfa (para representar a ponte, havia uma maquete de papelão) e uma vez lá eles montavam todos os dispositivos elaborados na fase bravo. Cumpridas as orientações dos professores presentes e tomadas as medidas de segurança cabíveis (Instrução Militar), a patrulha, à distância, puxava um fio que ocasionava a ignição da espoleta, levando a detonação do explosivo e a conseqüente destruição da ponte (Instrução Militar), a qual se ocorresse de fato, levava ao cumprimento da missão com sucesso! Esse proveitoso conluio entre várias disciplinas da grade curricular da EsPCEx serviu para demonstrar ao aluno que a realidade na qual ele se encontra inserido é complexa, imprevisível e que requer raciocínio, criticidade, criatividade e adaptabilidade para encontrar as soluções mais adequadas frente ao teor dos problemas deparados. Mas não foi somente na atividade do Desafio Militar que a interdisciplinaridade pode encontrar espaço para a sua vivência. De fato, em aulas do dia-a-dia do curso de Matemática da EsPCEx várias são as ocasiões nas quais oportunidades surgem para interdisciplinar esse saber com outros da grade curricular e/ou do futuro exercício profissional do aluno. ͖͝ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Uma dessas oportunidades foi quando propusemos aos alunos que construíssem no gramado do Pátio das Agulhas Negras (PAN) as figuras geométricas do conteúdo de seções cônicas (elipse, parábola e hipérbole) das aulas de geometria analítica. Numa abordagem tradicional de ensino desse conteúdo, ao docente bastaria desenhar essas figuras no quadro branco e, a partir dos desenhos feitos, extrair e estudar as propriedades básicas de cada seção cônica com o discente. Isso na abordagem interdisciplinar seria diferente, porquanto aos alunos é que caberia a responsabilidade dessa construção, não nos limites da sala de aula, mas fora dessa, no gramado do PAN, utilizando papel higiênico e quaisquer outro meio de fortuna que encontrassem no local para fazer a vez do pincel atômico e dos pontos a serem demarcados no solo. Figura 1. A construção da Elipse com papel higiênico no PAN E assim foi feito. A interdisciplinaridade residia no fato de que para a representação da seção cônica não bastariam apenas conhecimentos de geometria analítica (Matemática), mas também de localização espacial (Desenho e Geografia), mensuração de distâncias sem régua ou fita métrica (Instrução Militar), além de disciplina, paciência, liderança, meticulosidade, controle emocional e cooperação (esses últimos relevantes atributos da área afetiva). Vimos na introdução desse artigo que a construção de conhecimento, bem como a mobilização de múltiplas competências cognitivas, habilidades e atitudes não serão suficientes para a formação do cidadão e profissional militar apto para as demandas do século XXI se não vierem acompanhadas da apropriação do conhecimento relativo ao uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) mais recentes. E é sobre essa apropriação, mais comumente conhecida como uma das vertentes mais promissoras da inclusão digital (Silva, 2002; Alonso, 2008) que daremos conta a seguir. Práticas de inclusão digital Conforme já discutimos anteriormente sobre a relevância que a Matemática pode ter para o preparo da cidadania na sociedade da informação (D´Ambrósio, 1996; Biajone, 2009a), é preciso pensar em uma educação matemática cujas estratégias educacionais fomentem a autonomia, interação, colaboração e comunicação discentes em ambientes de inclusão digital e utilização de novas tecnologias de informação e comunicação (TIC). Se considerado o fato de vivemos hoje em uma cibercultura1 que tem como pano de fundo a interconexão em escala mundial de computadores, os quais conectados e convivendo em rede, passaram a constituir o que ficou conhecido por ciberespaço, ou 1 De acordo com Lemos (2003), quando tecnologias de base microeletrônica, resultantes da paulatina convergência entre os meios de telecomunicação e da nascente informática nos anos 70 se relacionaram simbioticamente com a sociedade e a cultura, eis que surgiu o fenômeno da cibercultura. ͔͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 ainda um “universo oceânico de informações que a rede abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999, p.17). Ao analisar as implicações didático-pedagógicas desse “universo oceânico”, Silva (2002) aponta que o vertiginoso aumento da disponibilidade de informação por ele promovido também demandaria novas formas e estratégias de pesquisa, ensino e aprendizagem, porquanto os estudantes de hoje terão de compreender que eventualmente tudo estará em rede e a rede estará em tudo (Lemos e Cunha, 2003). Este curioso trocadilho de palavras expressa o que ficou conhecido como o fenômeno da convergência digital, isto é, da integração em uma mesma plataforma de rede de telecomunicações, o transporte de diferentes serviços, tais como telefonia, vídeo, música e Internet, bem como da crescente digitalização de toda e qualquer informação. No que compete à Educação, a convergência digital tem multiplicado as plataformas e ambientes virtuais de ensino que não só exploram os benesses midiáticos e operacionais dessa integração, como a maximizam visando propiciar ao estudante uma aprendizagem mais consoante com cenários de mudanças e de necessidade de múltiplas especializações que ele experimentará ao longo de sua vida profissional. Para o aluno da EsPCEx, cuja carreira militar será vivida em toda a sua plenitude e extensão nos próximos anos da cibercultura do presente século, não lidar com as implicações que a convergência digital poderá ter na sua profissão seria ir totalmente na contramão do tipo de oficial combatente que se espera para o futuro. Essa constatação emerge de forma muito expressiva se atentarmos para o primeiro vetor de transformação do Exército Brasileiro, constante no documento O processo de transformação do Exército elaborado pelo EME para a Força Terrestre de 2030. Este vetor preconiza que a tarefa do profissional militar do século XXI será de retirar o Exército da era industrial e transformá-lo em uma instituição da era da informação. Assentado sobre ferramentas de tecnologia da informação (TI), deverá ter o caráter de um grande sistema de gestão de conhecimento, englobando, dentre outras, as seguintes funcionalidades: informações doutrinárias, lições aprendidas, modelagem, simulação, estudos de guerra, processamento, formulação, experimentação, validação e difusão (grifos nossos) (EME, p.29-30, 2010). Isto posto, surge a indagação. Como semelhante transição de uma era para a outra poderia ser contemplada se tal necessidade não fosse evidenciada onde tudo começa na formação do futuro oficial combatente? Muito mais do que apenas ser do seu conhecimento, acreditamos que cabe a nós, professores da EsPCEx, promover condições em nossas disciplinas e aulas para que o aluno tenha condições de vir a ser este gestor de conhecimentos competente em tecnologias da informação nos anos seguintes. No que competia a educação matemática do aluno da EsPCEx, a geração dessas condições foi por nós proposta à chefia da Seção de Ciências Matemáticas em fins de 2008 por intermédio de um projeto de inclusão digital discente que veio a ser conhecido como Matemática 2.0 (Biajone 2009a, 2010). Neste projeto, cuja implantação foi em 2009, o objetivo era trazer para o ensino da Matemática os benesses de fenômeno que poderia colaborar para a transição em questão. Tratava-se da WEB 2.02, qual fosse, levar o aluno a ter uma relação diferenciada com o saber disciplinar, de forma que ele pudesse (1) analisar, (2) interagir, (3) (re)significar e (4) produzir matemática, tornando-se, a exemplo do internauta da WEB 2.0, co-autor do que também aprende, exercitando assim a sua criatividade e autonomia. 2 Segundo Primo (2007), a WEB 2.0 pode ser definida como a segunda geração de serviços online e objetiva potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, por permitir ao internauta que não apenas navegue em busca delas, mas que edite as páginas da Internet produzindo novas informações. A Wikipedia® é hoje excelente exemplo do fenômeno da WEB 2.0. ͕͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Mas por que essa estratégia e qual a relação dela com a transição de eras, a convergência e a inclusão digital do aluno da EsPCEx? Entendemos que a Matemática 2.0 ao propor a análise, interação, (re)significação e produção de conhecimentos abre caminho para que por intermédio dessa disciplina o aluno possa se sentir incluído digitalmente ao motivá-lo a processar, formular, experimentar, validar e difundir conhecimentos matemáticos assentado no uso de tecnologias da informação. Essas tecnologias, por sua vez, colaborariam para que ele tivesse uma relação diferenciada com o saber e, conseqüentemente, com o conhecimento na sua gestão em tempos de ciberespaço. Mas que tecnologias de informação seriam essas e de que forma essa motivação em sala de aula ocorreu? Em 2009, ano da implantação do Matemática 2.0, nossa opção de conteúdo para trabalho diante dessa nova abordagem foi Seção Cônicas Elipse. De início, ao invés de apresentarmos o assunto pela tradicional demonstração que levaria a uma equação geral da elipse, seguida da apresentação de seus elementos e imediata resolução de exercícios no livro-didático, encaminhamos os alunos ao laboratório de informática e solicitamos o que veio a ser nossa primeira de três tarefas: pesquisar na Internet informações sobre elipses que relatassem suas origens históricas, aplicações no cotidiano e representações na linguagem matemática. Com efeito, a idéia subjacente à nossa solicitação era a de que os alunos não só tomassem um primeiro contato diferenciado com o conteúdo, mas que já vivenciassem o primeiro princípio da Matemática 2.0, ou seja, da análise do que chegava aos seus sentidos sobre elipses a fim de perceberem a utilidade do que iriam aprender e selecionando, nesse processo, aquilo que efetivamente buscavam. Essa tarefa previu ainda que, na aula seguinte, os alunos organizados em pequenos grupos submetessem relatório escrito e realizassem uma apresentação oral sobre o que haviam encontrado de mais significativo em seus respectivos tópicos, o que foi conseguiram com o suporte do software PowerPoint®. Muito profícuos foram os trabalhos apresentados, os quais, longe de serem cópias de hipertextos, demonstraram maturidade, criticidade e envolvimento afetivo dos participantes, o que nos fez lembrar de Leite (1996) quando ela afirma que práticas assim fazem emergir no aprendiz uma motivação interna, muito distinta de motivações externas, que são impostas pelo poder da nota, de ser ou não aprovado. No encontro seguinte ao dia das comunicações, apresentamos aos alunos a segunda tarefa que os incitava a construir uma elipse por intermédio do software livre Geogebra®, software este que já utilizávamos desde as primeiras aulas de Matemática em 2009 enquanto ambiente computacional de suporte para o ensino e a aprendizagem dos conteúdos de geometria analítica. A idéia subjacente à segunda tarefa era a de que os alunos fizessem uso desse ambiente enquanto tecnologia da informação que os levasse a interagir com o conteúdo matemático (re)significando, assim, os conhecimentos que detinham de elipse advindos da sala de aula3. Para tanto, solicitamos a eles que em duplas não só construíssem a elipse por meio do software, mas que o utilizassem como suporte para produzir novos conhecimentos a respeito daquele conteúdo. A realização dessa tarefa, sem dúvida, exigiu dos alunos graus de autonomia e criatividade que provavelmente não estavam acostumados em suas escolaridades matemáticas pregressas. Principalmente se estas tiveram como foco a resolução de exercícios de rotina e repetição e a devolução da prática desses mesmos exercícios em avaliações escritas. Pois bem, sendo livre a forma como os alunos fariam uso do Geogebra® e de quaisquer outro recurso computacional que julgassem pertinente, eis que todos eles 3 Antes da ida ao laboratório de informática e utilização do Geogebra®, os alunos já tinha tido uma aula sobre Elipse, sua definição, propriedades e elementos principais. ͖͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 optaram por elaborar um hipertexto4 no qual foi disponibilizado conteúdo expressando a definição que detinham da elipse, seus elementos, sua propriedade principal, sua excentricidade, equação geral, bem como uma rica relação de hiperlinks para os mais variados sítios como fontes de consulta (vide figura 2a). O que mais chamou a atenção desse hipertexto foi a presença de várias construções de elipses realizadas pelo software livre, construções essas enfatizando diferentes particularidades da entidade geométrica, bem como suas aplicabilidades no exercício real da profissão militar. Figura 2a. Cabeçalho do hipertexto Figura 2b. Distintivos do EB pelo Geogebra® De fato, uma dessas aplicabilidades foi a modelagem dos distintivos de cursos do Exército Brasileiro (vide figura 2b), os quais, conceitualmente, eram as mesmas elipses que haviam os alunos estudado nas aulas de geometria analítica, mas que anteriormente à prática da proposta da Matemática 2.0 eles não haviam se apercebido. Considerações Finais Ressaltamos no começo desse artigo da importância de se propor na formação do oficial combatente práticas pedagógicas que lhe facultassem um preparo mais direcionado para as demandas que o exercício de sua profissão no século XXI irão lhe confrontar ao longo da carreira. Vimos pelo teor das experiências didáticas aqui exploradas, quais foram, interdisciplinaridade e inclusão digital, que isto pode ser sobejamente realizado nas disciplinas curriculares ainda no Ensino Médio Militar. E isto se deve a duas constatações que julgamos ser fundamentais. A primeira constatação é a que a formação para o oficialato no Exército Brasileiro começa nesse nível de ensino e não na Academia Militar propriamente dita. Isto posto, cabe à EsPCEx colaborar enquanto vetor de transformação da Força Terrestre que queremos para 2030, mais especificamente no vetor da Educação e da Cultura incentivando e promovendo práticas como as daqui apresentadas, porquanto vivemos num mundo onde a evolução dos equipamentos, estruturas, concepções, processos, cenários e tecnologias é por demais permanente e imprevisível. Isto nos leva à segunda constatação, qual seja, a de que para ser capaz de antecipar e responder de forma efetiva a estas evoluções e imprevisibilidades, o nosso aluno futuro oficial deverá não só ser capaz de interagir com tecnologias de informática e comunicação, mas prioritariamente desenvolver o poder de agregação que potencialmente detém por meio da gestão do conhecimento com autonomia, do aprender a aprender, da criatividade, do senso crítico, da desenvoltura para trabalhar em equipe, de se expressar por escrito e oralmente, bem como outras habilidades, competências e valores que certamente irão prepará-lo para os desafios que o exercício da profissão militar irá lhe proporcionar. 4 Mais comumente conhecido como página da Internet, mas que em nosso caso, foi publicada apenas na página da Seção de Ciências Matemáticas na Intranet da EsPCEx. ͗͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Rerências Bibliográficas ALONSO, K. M. (2008) Tecnologias da informação e comunicação e formação de professores: sobre rede e escolas. Educação e Sociedade. vol.29, n.104, p. 747-768. BIAJONE, J. (2010) Matemática 2.0: Educação Matemática na Era da Informação. In: X ENEM, Salvador, BA. X Encontro Nacional de Educação Matemática. _______, J. (2009a) Matemática 2.0: educação matemática militar na Era da Informação. In: Revista Pedagógica da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. P. 59-60. _______, J. (2009b) Matemática e cidadania: Estatística de projetos no Ensino Médio, in: VI Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, DF. CASTELLS, M. (1999) A Sociedade em Rede – a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra. COIMBRA, J.A.A. (2002) O outro lado do meio ambiente, Campinas, Millennium. ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO (2010) O processo de transformação do Exército. Brasília, DF. D’AMBROSIO, U. (2001) Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. Minas Gerais: Editora Autêntica. KRATOCHWILL, S. (2009) Educação a Distância: dos fundamentos à prática. Fundamentos da Educação à Distância. UCB. Fundação Trompowsky. LEITE, A. L. H. (1996) Pedagogia de Projetos: intervenção no presente. In: Presença Pedagógica, v.2, mar./abr, n.8, Belo Horizonte, p.24-33. LÈVY, P. (1999) Cibercultura. Rio de Janeiro, Editora 34. LEMOS, A. e CUNHA, P. (org.). (2003) Olhares sobre a cibercultura. POA, Sulina. PRIMO, A. (2006) O aspecto relacional das interações na WEB 2.0. In: XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. ANAIS, Brasília. <http://www.6.ufrgs.br/limc/PDFs/web2.pdf> (acesso em 21/08/2010). SILVA, M. (2002) Sala de Aula Interativa. 3.ed. Rio de Janeiro: Quartet. SCAFI, S.H.F.; BIAJONE, J. (2011) Desafio Militar missão dada missão cumprida: interdisciplinaridade na educação química da EsPCEx In: Química Nova. No prelo. (*) O Primeiro-Tenente OTT Jefferson Biajone é licenciado em Matemática pela UNICAMP, com especializações em Educação e Psicopedagogia, pela PUC de Campinas, em Instrumentação para o Ensino de Matemática, pela Universidade Federal Fluminense e em Educação a Distância, pela Universidade Castelo Branco. Mestre em Educação Matemática pela UNICAMP, Biajone foi aluno da EsPCEx, formando-se em 1994 e, desde 2007, é professor da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx e diretor-fundador da Revista SecMat: Educação Matemática Militar em revista. Contato: [email protected] (**) Sérgio Henrique Frasson Scafi é bacharel e licenciado em Química, mestre em Química Analítica e doutor em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas. SegundoTenente da reserva de 2º classe do Exército Brasileiro, Scafi é professor efetivo da Seção de Ciências Naturais da Escola Preparatória de Cadetes do Exército onde exerce a função de professor das atividades práticas do laboratório de química. Contato: [email protected] ͗͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 A Geometria Descritiva na profissão militar Aline Marques Martins (*) Da geometria descritiva enquanto saber matemático Dentre as várias classes de geometria, está a geometria descritiva, a qual podemos dizer que é um ramo da Matemática que tem como objetivo representar o espaço tridimensional sobre uma superfície bidimensional, ou seja, representar objetos de três dimensões em um plano de duas dimensões. Pode-se dizer, portanto, que é um saber que parte do concreto para o abstrato, propiciando ao seu estudante, nesse percurso, o desenvolvimento da inteligência, da imaginação e também da intuição. A Geometria Descritiva (doravante mencionada como GD) utiliza-se da entidade matemática épura para representar objetos. A imagem do objeto é projetada em um plano por linhas de fuga ortogonais, conhecido por projeção ortogonal. A projeção, por sua vez, pode ser dada nos planos principais da épura ou em planos auxiliares. Após a projeção, as imagens são rebatidas para o plano do “papel”, formando as vistas do objeto. Observa-se, com isso, que as vistas são alinhadas entre si, nas quais uma pessoa pode perceber sua posição relativa. Criada pelo matemático francês Gaspar Monge (1746 – 1818), a GD teve suas origens fundamentadas em práticas de engenharia militar. Tanto assim o foi que sem o advento da GD, enorme expansão da maquinaria do século XIX não teria, provavelmente, acontecido. Dada, pois, a enorme aplicabilidade militar que ela detinha, determinou o Exército Francês que ela permanecesse segredo de Estado. Da geometria descritiva enquanto saber disciplinar Com o passar do tempo, a GD deixou de ser estudada, pelo grau de dificuldade e também o rarefeito número de professores habilitados e dispostos para ensiná-la. Não obstante, suas verdadeiras benesses nunca deixaram de ser cultuadas. Com efeito, sendo um saber disciplinar que requer a representação de elementos em uma superfície plana (papel), a GD pode contribuir para o estímulo ao ato de “pensar”, desenvolvendo e ampliando em vários campos do indivíduo sua inteligência e criatividade. Esse é atualmente o motivo pelo qual a GD permanece nos currículos de vários estabelecimentos de ensino de cursos da área de exatas, tais como Engenharia, Arquitetura e Matemática, e também no terceiro ano do curso de Ensino Médio da Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Neste curso, em particular, o ensino da GD está a cargo da subseção de Desenho cujo corpo docente utiliza o livro ”Noções de Geometria Descritiva” do coronel Alfredo dos Reis Príncipe Júnior e um material “personalizado”, ou seja, notas de aula em forma de apostila que reúnem os principais e necessários conteúdos a serem aprendidos pelos alunos, bem como exercícios contextualizados e interdisciplinares. O método de ensino de GD adotado pela subseção de Desenho da EsPCEx consiste em fazer emergir conhecimentos prévios de geometria que o aluno já tenha de sua escolaridade pregressa, para, então, desenvolver os conteúdos de GD de forma a propiciar a esse aluno uma aprendizagem significativa. ͙͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Nós, professores da subseção de Desenho, acreditamos ainda que seja importante e fundamental o trabalho em pequenos grupos, orientado para resolução de problemas contextualizados com o exercício da futura profissão militar, possibilitando aos alunos experiências didáticas expressivas e enriquecedoras. Nessa perspectiva, é pertinente ressaltar também que o professor de Desenho da EsPCEx atua como mediador que orienta, encaminha, demonstra e constrói para que o aluno tenha, posteriormente, sua própria percepção de GD desenvolvida. Nesse sentido, tendo as ferramentas a seu dispor e o professor seu mediador, a percepção das entidades geométricas deverá partir do próprio aluno. Isto explica, assim sendo, a tamanha meticulosidade e precisão que são ostensivamente procuradas nas respostas e construções dos alunos, o que, ao nosso ver, os levam ao desenvolvimento dos hábitos da boa apresentação, limpeza e precisão nos seus trabalhos gráficos. Da geometria descritiva enquanto saber profissional A GD tem participação efetiva na formação do futuro líder militar, se levarmos em consideração três campos do domínio de conhecimento pelos quais ela perspassa: 1) Domínio Cognitivo, porquanto a metlculosidade e precisão da GD pode desenvolver no discente a inteligência, flexibilidade, raciocínio, senso de organização e percepção espacial; 2) Domínio Psicomotor, uma vez que é por meio da coordenação motora e da habilidade manual que desenhos poderão ser realizados com sucesso e 3) Domínio Afetivo, já que o estudo da GD conduz o indivíduo a solucionar problemas através da intuição, criatividade e imaginação. Além desses três domínios, há também atributos da área afetiva que podem ser sobejamente desenvolvidos no aprendiz de GD levando em consideração seu futuro exercício profissional militar. Com efeito, há a disciplina, pois sem ela, não se pode satisfazer as regras estabelecidas para a construção dos desenhos. Autoconfiança e determinação são outros atributos fundamentais para o líder militar e isso é conseguido também pela resolução dos exercícios, os quais amadurecem a estabilidade emocional do discente, pois a necessidade de raciocinar corretamente, com lógica e precisão, obedecendo a regras em um curto espaço de tempo, o predispõe a estimulá-la. Outrossim, a GD não deixa de estar presente à sua maneira na carreira militar, mesmo em situações das mais rotineiras: desde uma análise do melhor dispositivo para uma formatura, passando pelo estudo do armamento e/ou equipamento, na verificação do encaixe de peças e até na elaboração de pistas de orientação, na qual o conhecimento da carta-terreno põe em evidência a imediata aplicação da visão espacial desenvolvida pelo estudo da GD. Estes são alguns dos vários exemplos nos quais a GD se configura enquanto saber profissional, mas além destes, acreditamos que a contribuição mais significativa deste saber reside no fato de que ele modifica seus estudantes na maneira de pensar e agir, porquanto interfere nas Inteligências, capacidade de raciocínio e a flexibilidade, assim como no senso de organização, além da já mencionada percepção espacial. Destarte, compreendemos que a contextualização da GD tem relevantíssimo papel na contribuição que ela possa ter ao militar em formação. Para tanto, a apostila supramencionada dedica seu último capítulo às aplicações militares da GD, no qual o aluno trabalha com cartas topográficas típicas do oficial combatente que planeja operações tais como determinar regiões do terreno que estejam abrigadas de vistas e fogos de um observador ou arma instalados em determinada cota. ͚͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Considerações Finais figura 1. situação problema de carta topográfica em GD É fato que hoje em dia um novo perfil de profissionalismo e liderança militar está sendo exigido diante dos avanços e das evoluções de nossa sociedade e mundo tecnológicos do século XXI. Com isso, líderes militares inteligentes, criativos, assertivos, pró-ativos e de fácil adaptabilidade serão aqueles que estarão aptos para acompanhar a imprevisibilidade desses avanços e gerar as soluções mais adequadas às necessidades de nosso Exército perante tais evoluções. Nisso, compreendemos que a GD pode em muito colaborar por neles desenvolver a flexibilidade de raciocínio, inteligência, percepção espacial, senso de organização, iniciativa, dinamismo e decisão. Referências Bibliográficas MONTENEGRO, G. A. (2004) Geometria Descritiva. Ed. LTC. Rio de Janeiro. PEREIRA, A. A. (2001) Geometria Descritiva 1. Ed. Melhoramentos, São Paulo. PRÍNCIPE JUNIOR, A. dos R. (2004) Noções de Geometria Descritiva. Editora Nobel. Rio de Janeiro. (*) A Segundo-Tenente OTT Aline Marques Martins é bacharel e licenciada em Matemática pela Universidade do Grande ABC. Pós-graduanda lato sensu em Psicopedagogia pela Universidade Salesiana de Americana, a Ten Aline Marques é professora adjunta da subseção de Desenho da Seção de Ciências Matemáticas da Escola Preparatória de Cadetes do Exército desde 2008. Contato: [email protected] ͗͛ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Einstein e a Matemática Genial Luiz Amorim Goulart (*) Colégio Naval Diversos alunos, com os quais tenho a oportunidade de conviver no Colégio Naval e em outras instituições de ensino, têm uma crença muito peculiar sobre o papel que a matemática desempenha na sociedade e em suas próprias vidas. Essa difusão de ideias engessadas me recorda as palavras de Aristóteles (384 A.C. – 322 A.C.):"A questão primordial não é o que sabemos, mas como sabemos." A partir da observação dessa tendência, manifestada por muitos dos meus alunos, surgiu a vontade de compor uma aula que combatesse essa versão da matemática, que se resumiria a contas enormes e infindáveis, ou ainda, seria tão miraculosa que problemas de enunciados simples demandariam uma vida inteira para serem resolvidos, e apenas os “eleitos” enxergariam rapidamente a solução deles. Certamente, essas falsas conclusões sobre a matemática diluem a motivação dos alunos e encaminham suas atitudes ao simples passar de ano, deixando de lado a oportunidade de conhecer esta ciência tão robusta em beleza e maravilha. Por ocasião da Exposição “Einstein”, apresentada de 07 de abril a 06 de junho de 2010, no Museu Histórico Nacional[1], uma grande movimentação da mídia recaiu para a figura de Albert Einstein (1879-1955). Vale lembrar que essa é uma exposição que tem visitado diversas cidades do mundo inteiro e teve sua primeira versão em 2005, em comemoração dos 100 anos do "Annus Mirabilis" (ano miraculoso) de Einstein, em que este publicou quatro dos mais fundamentais artigos científicos da Física do século XX[2]. Aconteceu ainda, em 2009, uma votação entre 100 físicos renomados e eles decidiram que Albert Einstein foi, até o momento, o maior físico de todos os tempos[3]. Todos esses acontecimentos popularizaram ainda mais a figura de Einstein, transformado-o, até mesmo, em brinde de lanche infantil numa famosa rede fast-food. Assim, acabei recordando uma história que ouvi sobre a vinda de Einstein ao Brasil, no ano de 1925, e sua palestra no IME (Instituto Militar de Engenharia). Era uma história simples que nos revelava algo fantástico: “O tempo se contrai”! — e essa lembrança me auxiliou na confecção de uma aula cujo propósito é refrear muito dos preconceitos solidificados na mente dos alunos. ͗͜ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Acredito que os leitores lembram-se da razão que fornece a velocidade média de um móvel, Vm = ∆s , que é quociente da variação da distância percorrida pelo objeto ∆t observado, no intervalo de tempo da observação. Certamente, também se lembram do famoso “Teorema de Pitágoras”, a 2 = b 2 + c 2 , que relaciona os catetos e a hipotenusa de um triângulo retângulo no plano Euclidiano. São justamente essas relações tão bem conhecidas e difundidas que vieram a constituir a matéria-prima de uma grande ideia do imaginativo Einstein: O trem representado ao lado viaja a uma velocidade constante ‘v’ e dentro dele um observador O’ marca o tempo em que um emissor de flashes extremamente curtos reflete no espelho fixado no teto do vagão. Sendo ‘c’ a velocidade da luz e ∆t' o tempo que a leva para percorrer a distância 2d ' , teremos 2d' = c ⋅ ∆t' . Para o observador O, a luz levou um tempo logo ele deduz que distância 2d = c ⋅ ∆t . ∆t para percorrer a distância ‘2d’, Neste intervalo de tempo, o trem percorreu a v ⋅ ∆t . Unindo as informações dos observadores teremos: onde, d= c ⋅ ∆t 2 e d' = c ⋅ ∆t' 2 . Cabe lembrar que a velocidade ‘v’ também é a velocidade com que o observador O’ viaja, conforme as observações de O. Utilizando o teorema de Pitágoras em um dos triângulos retângulos representados vem que: c ⋅ ∆t c ⋅ ∆t' v ⋅ ∆t v ⋅ ∆t d = d' + ⇔ ⇔ = + ⇔ 2 2 2 2 2 2 2 2 ͗͝ 2 2 SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 ( ) ⇔ c 2 − v 2 ⋅ ∆t 2 = c 2 ⋅ ∆t' 2 ⇔ ∆t' 2 ∆t' 2 1 ⇔ ⇔ ∆t = ∆t' ⋅ ∆t = ⇔ ∆t = 2 2 v v v2 1− 2 1− 2 1− 2 c c c 2 . E qual será o significado prático dessa última igualdade? Suponha que O’ viaje a 80% da velocidade da luz pela constatação do observador O, isso significa que a velocidade do viajante O’ é de ‘0,8c’. Pela igualdade deduzida acima teremos que 1 ∆t = ∆t' ⋅ 1− ( 0,8c ) 2 = ∆t' ⋅ 1 1 ∆t' = ∆t' ⋅ = , ou seja, 0 ,6 ⋅ ∆t = ∆t' , 1 − 0,64 0 ,36 0,6 c2 O que mostra que o tempo ∆t' do viajante é 60% do tempo total registrado pelo observador O, o que significaria que ‘O’ ficou mais velho, uma vez que passou-se mais tempo para ele que para o viajante! Certamente toda essa dedução deixa o “marinheiro de primeira viagem” com náuseas, imaginando que outras conclusões podem ser tiradas ou se é possível a viagem no tempo, mas este não é o foco principal deste artigo. Vamos regressar ao início, quando eu pensava sobre a visão que os alunos fazem sobre matemática. Einstein não usou estruturas altamente complexas para estremecer o mundo com a possibilidade de viajar no tempo, nem nos apresentou cálculos exaustivos e demorados. Ferramentas simples conduzem a sofisticações impressionantes, como essa feita por Einstein e que utiliza velocidade média e o teorema de Pitágoras. Não seria a primeira vez na história da ciência que algo deste tipo ocorre. A saber, Euclides, no seu famoso compêndio intitulado “Os Elementos”, faz a demonstração de que existe uma infinidade de números com exatamente dois divisores, os chamados números primos. Ele próprio não haveria de prever a corrida bilionária que vasta população de cientistas enfrentaria, a fim de encontrar uma fórmula que gerasse os números primos, ou descobrisse um primo muito grande e inédito. Infelizmente ainda não há uma fórmula desse tipo, mas por que procurar uma? Parece um passatempo sem nenhuma finalidade, mas não é bem assim, pois os números primos são atualmente utilizados em segurança da informação. Aliás, a criptografia de informações, em particular as utilizadas pelas empresas de cartão de crédito, utiliza chaves com dois primos muito grandes. Podemos então concluir que esses primos são bem caros, não acham?! ͔͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Poderia relatar diversos casos semelhantes a esses e mostrar que na história da ciência existem diversos episódios que partem de ideias simples para grandes utilidades. Quem já ouviu dizer que o gosto pelos chamados jogos de azar poderia ter algo de útil? Pois bem, através deste passatempo moralmente duvidoso, as bases da estatística foram desenvolvidas, e é ela a responsável por conclusões importantíssimas e que tendenciam investimentos, não só no mercado de ações, como também em um determinado produto ou estabelecimento, de acordo com a região, bem como as eleições dos representantes do povo! Vejo, então, que no “mundo da informação” a que a era tecnológica nos conduziu, o público carece de informação de qualidade. A história derruba essa ideia imatura sobre o que seja matemática e revela uma mistura belíssima de simplicidade com imaginação, segundo Einstein: “A imaginação é mais importante que o conhecimento” E ele provou isso! Assim, termino este artigo com um conselho a todos: Divirtamse com a Matemática, pois ela é tão natural quanto a vida. E assim, divertindo-se, de repente alguém faz uma conexão surpreendente e magnífica, capaz de aprimorar a ciência e o melhorar mundo! Referências Bibliográficas MOURÃO, R. R. DE F. (2005) Explicando a teoria da relatividade. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Ediouro. SPIZO, G. G. (2008) A vida secreta dos números: 50 deliciosas crônicas sobre como trabalham e pensam os matemáticos. Rio de Janeiro: DIFEL. LANDAU, L. D; RUMER, G. B. (1960) What is Relativity? 1ª Edição. NY: Basic Books. (*) Luiz Amorim Goulart é licenciado em Matemática pela UERJ (Universidade de Estado do Rio de Janeiro) e possui aperfeiçoamento em Matemática do Ensino Médio pelo IMPA (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada). Já ministrou aulas em curso de graduação de Física, Matemática e Informática na UERJ. Atualmente cursa Pós-graduação lato sensu em Novas Tecnologias no Ensino de Matemática pela Universidade Federal Fluminense. O prof. Amorim é professor de Matemática no Colégio Naval e do Colégio Pedro II. Contato: [email protected] ͕͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Algumas considerações sobre o baricentro Paulo Santos Moraes Ribeiro (*) I. Centro de massa, centro de gravidade e baricentro Centro de gravidade é o termo usado para denominar o ponto de equilíbrio de um corpo, levando-se em conta a influência de um campo gravitacional não uniforme. Teoricamente, um corpo de massa específica constante (densidade de massa uniforme), com uma extremidade no Rio e outra no Everest, tem seu centro de gravidade mais próximo ao Rio (um corpo “pesa” mais em baixas altitudes, onde a aceleração da gravidade é maior); no entanto, o centro de massa deste corpo encontra-se em seu ponto médio (baricentro de um segmento de reta). Na prática, na maior parte das aplicações os corpos têm dimensão pequena comparada à Terra e o valor da aceleração da gravidade é considerado constante em todo corpo. Admitindo-se então que somente a massa está envolvida, o centro de gravidade se particulariza no centro de massa do corpo (centróide ou baricentro); podendo inclusive estar fora do corpo. Centro de massa do cabide ͖͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 I.1 Pirâmide reta de base irregular O essencial é que a projeção do vértice da pirâmide reta de base irregular coincide com o centro de massa (centróide) do polígono desta base; dependendo apenas da geometria, o centróide pode ser associado à média da localização dos vértices que definem o seu contorno. O centróide no caso do triângulo acima tem coordenadas cartesianas (o qual é, como se vê, o encontro das medianas): xG = 0+3+9 3+6+3 = 4 e yG = =4 3 3 Analiticamente, o baricentro pode ainda ser encontrado por meio de uma integral, como segue; a verificação da ordenada fica a cargo do leitor: xG = 1 xda ∫ área e yG = 1 yda ∫ área y=− y = x+3 1 15 x+ 2 2 De onde se obtém que, 1 15 x +3 9 − x+ 2 3 1 2 2 ( xdx dy xdx dy) xdA = + ∫ ∫ ∫ ∫ ∫ 0 3 3 3 27 área 3 15 1 9 − x+ 2 x + 3 xy dx + ∫ xy 2 xG = 2 dx 27 ∫0 3 3 3 xG = xG = 9 2 3 2 1 9 [ ∫ x dx + ∫ (− x 2 + x )dx ] = 4 3 27 0 2 2 ͗͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Ora, o baricentro da área de um triângulo de base r dista r de um eixo de seu 3 plano. y y=− h h x+h r x r Assim sendo, h − x+h 1 2 r 2 r xG = xdA x dx dy = = ∫ ∫ ∫ 0 área rh 0 rh ∫ r 0 h 2 2 hr 3 hr 2 r x + hx ) dx = ( − )= + r rh 3r 2 3 (− Isto posto, fica perceber que o baricentro (centro de massa da área) de um retângulo y h x r de base r está a xG = 1 área ∫ r de um lado. De fato: 2 xdA = 1 bh ∫ r 0 ( xy h 0 ) dx = 1 rh ∫ r 0 hxdx = De forma análoga, por meio de coordenadas polares, ∫∫ f ( r , θ ) dA = θ a ∫ ∫ b α β f ( r , θ ) rd θ dr x a x = a cos θ cos θ = a x ͘͘ r 1 r2 .h = . 2 rh 2 SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Encontra-se para o semi-círculo de centro em (0,a) o valor xG = 1 área ∫ xdA = 2 πa 2 a π 2 π − 2 ∫ ∫ 0 4a , de fato: 3π π a 2 sen θ 2 r 2 dr = 2 . 2 r 2 dr = 4 a r cos θ ( rdrd θ ) = π π a 2 ∫0 3π π a 2 ∫0 − 2 a I.2. Área de superfície e volume de corpos de revolução (Pappus-Guldin) “Se uma figura plana (curva/área) girar em torno de um eixo de seu plano, a área (o volume) da superfície (do sólido) gerada(o) é o comprimento L (a área A) desta figura, multiplicada pelo comprimento 2πx da circunferência descrita pelo seu baricentro”. Assim, tem-se que: Volume do cone de revolução 1 r 1 rh = πr 2h 3 3 2 V = 2πxA = 2π Volume do cilindro de revolução V = 2πxA = 2π r rh = πr 2h 2 Volume da esfera de raio a 4a πa2 4 3 V = 2πxA = 2π = πa 3π 2 3 Inversamente, pode-se encontrar o centróide da curva (semi-circunferência de raio a), a partir da área gerada: Área da superfície esférica de raio a: Se A = 4πa 2 então teremos que A = 2πxL = 4 πa 2 ⇒ 2πx 2a 1 2πa ⇒ 2a = πx ⇒ x = 2 π De fato, neste caso, sendo o raio r=a constante, fica que: xG = 1 L 2 π 2 π − 2 ∫ xdL = 2 πa ∫ r 2 cos θ ( d θ ) = 2 a 2 sen θ 2 πa ͙͘ π 2 − π 2 = 2a 2 .a 2 . 2 = π 2 πa SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 II.1. Algumas sugestões de Aplicações para a Aula de Matemática 1. Encontrar a área da superfície cilíndrica gerada a partir da rotação de um segmento de reta de comprimento g (a base do cilindro não é gerada). xG = r y y g r x 2 5 x 2. Encontre o volume do sólido gerado a partir da rotação do quadrante de círculo abaixo em torno do eixo y. x G = 4r 2 3π Referências bibliográficas IMEMOISE, E. E.(1972) Cálculo. São Paulo, Edgard Blücher, vol. 1 e 2. (*) Paulo César Moraes Ribeiro é mestre em Estatística e experimentação agropecuária pela Universidade Federal de Lavras. O professor Paulo César leciona Matemática na Escola Preparatória de Cadetes do Ar desde 1998. Contato: [email protected] ͚͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Dissertações e Teses defendidas “Dissertações e Teses defendidas” trata-se de espaço da Revista SecMat dedicado a tornar público pesquisas de mestrado e doutorado que foram defendidas no corrente ano por professores dos Ensinos Médio e Superior Militar das Forças Armadas Brasileiras. Para inaugurar este mais novo espaço da Revista SecMat, trazemos a lume O Ensino Superior de Matemática no Brasil: da Academia Real Militar do Rio de Janeiro à Escola Politécnica Ben Hur Mormêllo (*) Artigo síntese da dissertação de mestrado: Ensino da Matemática na Academia Real Militar do Rio de Janeiro, de 1811 a 1874 Data de Defesa: 18 de agosto de 2010 Título obtido: Mestre em Matemática Instituição: Universidade Estadual de Campinas Introdução Este artigo baseia-se na minha dissertação de mestrado em Matemática, realizado na Universidade Estadual de Campinas. A proposta do meu trabalho foi analisar como se concebeu o currículo de Matemática da Academia Real Militar do Rio de Janeiro e suas modificações posteriores, estabelecidas pelas reformas dos seus estatutos, desde 1811, quando a Academia inicia as suas atividades, a 1874, quando o ensino de engenharia passa a ser responsabilidade de um ministério civil. Partindo de uma breve análise das suas principais influências, em especial, a Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra (1772), analisaremos o currículo de Matemática da Academia Real Militar, procurando entender até que ponto as suas disposições eram realmente inovadoras, e como se aclimataram as duas correntes curriculares mais importantes em sua história: a dos “profissionalistas”, para os quais o foco da formação deveria ser militar, e a dos “culturalistas”, que defendiam uma sólida base de conhecimentos científicos. A Academia Real Militar, do Rio de Janeiro, criada em 4 de dezembro de 1810, foi uma das instituições militares pioneiras no ensino superior de Matemática no Brasil [6]. Nossos objetivos foram: entender qual foi o papel das matemáticas nas escolas militares de Portugal e do Brasil (século XVIII) e na Academia Real Militar; entender as origens do currículo científico e a orientação dada por D. Rodrigo de Sousa Coutinho à Academia Real Militar e estudar como foi se situando o ensino das matemáticas, à medida que as modificações impostas pelas reformas curriculares iam sendo aplicadas à Academia. A Matemática no Ensino Militar Luso-Brasileiro Antes de 1811 O estudo da Matemática no ensino militar se impôs pelas necessidades da arte da Navegação e pelo desenvolvimento da Artilharia e das Fortificações. A Aritmética era uma disciplina prévia e a Geometria Prática disciplina fundamental [8]. Tivemos, no ensino militar luso-brasileiro, duas fases – a fase das “Aulas” e a fase das “Academias” [8]. ͛͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Em 1641 tivemos a“Aula de Artilharia e Esquadria” de Lisboa; em 1647 a “Aula de Fortificação e Arquitetura Militar” de Lisboa; em 1738 a“Aula do Terço de Artilharia” do Rio de Janeiro; em 1761 o “Colégio Real dos Nobres” em Lisboa; em 1772 a “Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra”; em 1779 a “Academia Real da Marinha” de Lisboa; em 1790 a “Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho” de Lisboa; em 1792 a “Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho” do Rio de Janeiro e, em 1810 a “Academia Real Militar” do Rio de Janeiro. O Colégio Real dos Nobres e a Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, apesar de serem instituições civis, são de interesse para o nosso trabalho. Para a compreensão do papel da Matemática no ensino militar luso-brasileiro, antes da fase das Academias, analisamos as obras: “Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações” (1680) [7], do engenheiro português Luís Serrão Pimentel (1613-1678), onde a Matemática subsidiava o ensino da arquitetura militar; “Exame de Artilheiros” (1744) [1] e “Exame de Bombeiros” (1748) [2], de José Fernandes Pinto Alpoim (17001765), onde a Matemática subsidiava o ensino da Artilharia; “Novo Curso de Matemática” (1757) [4], de Bernard Forest de Bélidor (1697/8-1761), que se destinava “`a l’Usage des Ingénieurs et Officiers d’Artillerie”. Na segunda metade do século XVIII dá-se a reforma no ensino público em Portugal, levada a efeito pelo Marquês de Pombal, onde se valoriza o estudo das ciências, em especial as “ciências exatas” [5]. O Colégio Real dos Nobres é criado na reforma pombalina. Em 1772, foram transferidos todos os estudos matemáticos do Colégio Real dos Nobres para a Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra. A partir dessa Faculdade surgiram os cursos matemáticos ou de matemática das Academias Militares. A Academia Real Militar, Segundo os seus Estatutos Com a vinda da Família Real para o Brasil cria-se a Academia Real Militar, com a finalidade de formar Oficiais de Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia. O grande idealizador da Academia, ou o mentor intelectual de tal realização foi D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812), ministro da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra [6], que deu à Academia Real Militar a feição de um verdadeiro instituto científico. Currículo do Curso Matemático da Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810) [3] 1º Ano - ± ǡ ȋ± Ù ͗͑ ͑͘ Ȍǡ ǡ ǡÙ± ǡǤ 2º Ano - ± Ùǡ Ù ȋ Ȍǡ ȋ Ù À ǡ Ȍǡ ǡ Ǥ 3º Ano - À ȋ Ȍǡ À ȋ ȌǡÀ ǡǤ 4º Ano - ± ǡ V ǡ × × ǡ ǡ ȋ± ȌǡÙ ÙǡÀ ǡǤ Na parte considerada como profissional, havia ainda a disciplina de Química no 5º ano, Desenho no 6º ano e História Natural no 7º ano. ͘͜ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Da Academia Real Militar ao Advento da Escola Politécnica Desde o início da Academia Real Militar houve um conflito entre duas correntes de pensamento. A dos “culturalistas” e a dos “profissionalistas”. Trata-se, segundo Motta [6], do “conflito entre o estudo das ciências e o da técnica militar, com o constante repontar da luta entre a teoria e a prática, entre a escola para doutores e a escola para soldados, entre prioridades a conceder às Matemáticas e Ciências Físicas, ou à Tática, à Fortificação e aos exercícios militares. Ora predominam a militarização e o ensino mais diretamente ligado à profissão das armas, ora as preocupações matemáticas e científicas dão o tom.” No período de 1831 a 1850 ocorrem seis reformas curriculares da Academia. Na reforma de 1832 dá-se a união da Imperial Academia Militar com a Academia dos Guardas Marinhas. Estabelece-se o Curso de Pontes e Calçadas, embrião do Curso de Engenharia Civil no Brasil. Na reforma de 1833 separa-se os cursos das Academias Militar e de Marinha. A agora Academia Militar do Império do Brasil prima por uma maior militarização e um regime disciplinar mais austero. No entanto, com a reforma de 1835 anulam-se em parte os avanços no sentido da militarização. Há um retorno aos estatutos de 1832. Já com a reforma de 1839, a mais radical do período, há uma preocupação com a militarização, dá-se ênfase ao ensino técnico-profissional baseado no modelo francês, reduz-se drasticamente o currículo científico, que até 1835 seguia basicamente o de 1810, e passa-se a um currículo profissional. A Academia passa então a se denominar Escola Militar. A reforma de 1842, por sua vez, é um retorno ao modelo científico e praticamente anulam-se as mudanças no sentido da militarização. A reforma de 1845, no entanto, segue nessa mesma linha, com a novidade da instituição dos títulos de Bacharel e Doutor em Matemática. Como pano de fundo dessas idas e vindas curriculares, da implantação de um regime mais militarizado, de um ensino mais voltado para a profissão das armas, observamos a luta entre os profissionalistas e os culturalistas, estes últimos representados pelos lentes da Academia. O último período estudado (1851-1874) corresponde à fase em que a Escola Militar foi desmembrada em duas, com a criação da Escola de Aplicação, pela reforma de 1855. Com a Escola de Aplicação surge, de fato, uma verdadeira Academia Militar. A escola contempla as práticas, as rotinas, as normas disciplinares, os exercícios militares, e tudo o mais que se faz necessário à formação do oficial do Exército. Caberia à Escola de Aplicação a responsabilidade pela formação profissional, e à Escola Militar a responsabilidade pelo ensino das matemáticas e ciências e da formação dos engenheiros. A reforma de 1855 mantém a mesma base curricular da reforma de 1845. A novidade nesse regulamento de 1855, além da criação da Escola de Aplicação, é o estabelecimento do ensino preparatório, através das aulas preparatórias. Pela reforma de 1858, a Escola Militar vai se denominar Escola Central. A partir de 1855, a Escola Militar, agora Escola Central, passa a se constituir “num centro de altos estudos científicos e de formação de engenheiros.” É criado oficialmente, pela reforma de 1858, o Curso de Engenharia Civil, fato de grande importância para a história da Engenharia no Brasil. Ressaltamos da reforma de 1858 a instituição do Curso de Engenharia Civil, a regulamentação da profissão de engenheiro geógrafo e a manutenção do currículo matemático nas mesmas bases do currículo anterior. O ensino militar começa a se afastar da Escola Central, num claro sinal da emancipação do ensino da engenharia civil da tutela do Exército. Na reforma de 1863 a Escola Central se desvincula ainda mais, do ensino militar; criam-se as escolas preparatórias, para o ensino das doutrinas preparatórias; o currículo matemático se mantém nas mesmas bases do currículo anterior. Pela reforma de 1874 a Escola Central passa a se denominar Escola Politécnica ficando a Escola Militar com toda a responsabilidade pela formação dos oficiais, tanto das matemáticas, ciências físicas e naturais, como da parte profissional. À Escola ͘͝ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Politécnica, agora subordinada a um ministério civil, caberia, a partir desse ano, o ensino da Engenharia Civil no Brasil. As Disciplinas Matemáticas da Academia Militar em Dois Tempos Academia Real Militar - 1810 Escola Militar - 1874 ± ȋ͕͑Ȍ ǡ±Ù͗͑͑͘ȋ͕͑Ȍ ȋ͕͑Ȍ Ù± ȋ͕͑Ȍ ȋ͕͑Ȍ ȋȌ ± Ù Ù ± ± ȋȌȗ ȋȌ ȋȌ ȋȌ ȋȌ ȋȌȗȗ À * EP – Escola Preparatória ± ** Dado nos três anos da Escola Preparatória Conclusão O currículo da Academia Real da Marinha superou em muito, na extensão e na profundidade, os que se aplicavam nas escolas militares luso-brasileiras. Até então, as matemáticas basicamente subsidiavam a aprendizagem dos assuntos militares. O “Curso de Matemática” da Academia Real da Marinha teve como base o curso da Faculdade de Matemática. Tal currículo facultava uma cultura científica considerada necessária e importante, de acordo com o espírito da reforma pombalina. O “Curso Matemático” da Academia Real Militar supera em extensão os da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra e da Academia Real da Marinha, de Lisboa. Acreditamos que a inspiração para a elaboração do currículo da Academia se encontre na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, na Academia Real da Marinha e na Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, quanto à parte profissional. Os estatutos da Academia Real Militar refletem influências vindas da reforma pombalina. Achamos naturais tais influências, já que D. Rodrigo de Sousa Coutinho era sobrinho do Marquês de Pombal e por este estava sendo preparado para assumir um ministério do Príncipe D. José, tendo estudado no Colégio Real dos Nobres e na Universidade de Coimbra. Com exceção da reforma radical de 1839, as demais não causaram grandes modificações no currículo da Academia Militar, que chega a 1874 com um currículo tão, ou mais extenso que o de 1810, mesmo tendo perdido o ensino da Engenharia Civil e o curso ter sofrido uma redução para cinco anos. Quanto às matemáticas, os currículos de 1874 e de 1810 se equivalem e com relação às demais disciplinas, o currículo de 1874 é mais extenso que o de 1810. Outrossim, se o programa se manteve basicamente nos moldes dos programas anteriores, duas hipóteses podem ser levantadas: a corrente “culturalista” impõe novamente o currículo científico, apesar da militarização da Academia, ou, as preocupações dos “profissionalistas” estavam voltadas principalmente para a questão da militarização da Academia e o problema curricular era mote apenas para alimentar divergências. ͙͔ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Referências Bibliográficas [1] ALPOIM, J. F. P. (1987) Exame de Artilheiros, 1744 (reprodução fac-similar). Rio de Janeiro: Biblioteca Reprográfica Xerox. [2] ________, J. F. P. (1748) Exame de Bombeiros. Madri: Officina de Francisco Martinez Abad. [3] BRASIL. Carta de lei de 4 de dezembro de 1810. Criação da Academia Real Militar. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/atividadelegislativa/legislacao/publicacoes/doimperio>. [4] DE BÉLIDOR, B. F. (1757) Nouveau Cours de Mathématique. Paris: Libraire du Roi. [5] DE CARVALHO, R. (2001) História do ensino em Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. [6] MOTTA, J. (1998) Formação do Oficial do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora. [7] PIMENTEL, L. S. (1993) Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares e Irregulares, 1680 (reprodução fac-similar). Lisboa: Oficinas Gráficas da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, E. P. [8] VALENTE, W. R. (2007) Uma história da matemática escolar no Brasil, 17301930, 2 ed. São Paulo: Annablume FAPESP. (*) O Coronel R/1 PTTC de Comunicações Ben Hur Mormêllo é bacharel em Ciências Militares pela AMAN, em Matemática pelo Centro Universitário de Barra Mansa e em Estatística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Matemática pela UNICAMP, o Cel R/1 Ben Hur foi professor da cadeira de Estatística da AMAN nos anos de 1993 a 2001. Após ter passado para a reserva remunerada, ele retornou ao serviço ativo como oficial prestador de tarefa por tempo certo e desde 2008 exerce a função de professor de Estatística na AMAN. Contato: [email protected] ͙͕ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Missão Cumprida! “Missão cumprida” trata-se de espaço em nossa revista reservado para homenagear professores da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx que deixaram o nosso convívio após anos de serviços prestados à educação matemática do futuro Cadete de Caxias. Neste quarto número de SecMat, a personalidade homenageada é Lúci Marilene Loreto Rodrigues Servidora Civil e Professora do Magistério do Ensino Fundamental e Médio do Exército Brasileiro Em Julho de 2010, elogio individual foi consignado para a pessoa da Profa. Lúci Marilene Loreto Rodrigues pelo Cel PTTC Wilson, chefe interino da Seção de Ciências Matemáticas na ocasião, alusivo à aposentadoria dessa dedicada servidora civil. Missão cumprida!, pois, traz a lume a transcrição desse elogio, no entendimento de que as palavras por ele expressas constituem testemunho à altura do papel que a Profa. Lúci teve na educação matemática de quase dezessete turmas de oficiais combatentes para o Exército Brasileiro. Assim sendo, eis o elogio na sua íntegra: Elogio Individual No momento em que a Professora Lúci se despede de nosso convívio diário, por motivo de sua aposentadoria, a Escola Preparatória de Cadetes do Exército cumpre com honra o dever de externar o reconhecimento e gratidão a esta educadora que, por quase 17 anos, aqui prestou serviços com dedicação e entusiasmo, contribuindo, de maneira significativa, para que a Escola cumprisse com êxito a nobre missão de preparar o futuro Cadete da AMAN. Admitida no serviço público em 1986, no Governo do então Território Federal de Roraima, a Profª Lúci já chegou à EsPCEx com experiência consolidada na passagem pela Escola São Vicente de Paula, em Boa Vista, Colégio Pedro Braile Neto, em Resende, e Escola Técnica Federal do Piauí, em Teresina. Após processo de Redistribuição para o então Ministério do Exército, iniciou suas atividades na EsPCEx como professora de Matemática em 1993, função que exerceu até 2010. Ao longo desses anos, fez-se presente em todos os trabalhos desenvolvidos na Seção de Ciências Matemáticas, demonstrando sempre elevado envolvimento e espírito de cooperação. Merecem destaque em seu trabalho a meticulosa preparação das aulas, as avaliações bem equilibradas e a produção de material complementar criativo e de ótima qualidade. O ponto alto de seu desempenho, entretanto, fez-se notar na postura ao mesmo tempo rigorosa e sensível, que sempre pautou seu trabalho, nunca separando completamente sua condição de professora e de mãe. Conhecedora de todos os detalhes da realidade do aluno da EsPCEx, fruto de sua larga experiência e da condição de filha e esposa de militar, associou o pleno domínio da disciplina que ministrava a um profundo conhecimento individual de cada um de seus alunos, realizando um trabalho sério e eficiente, conquistando, por isso, a admiração e o respeito de seus chefes, pares e, sobretudo, de seus alunos. ͙͖ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Durante seu período na EsPCEx, preocupou-se com o auto-aperfeiçoamento, realizando o Estágio de Atualização Pedagógica do CEP em 1995, o Curso de Especialização em Informática Aplicada à Educação Construtivista, ministrado pela UNICAMP, nos anos de 1995 e 1996, o curso “A Matemática do Ensino Médio por Meio de Atividades Interdisciplinares, ministrado pelo CAPES/UNICAMP, em 2001, e o MBA profissional em Excelência Gerencial com Ênfase em Gestão Pública, ministrado pela FAAP, concluído em 2005. Destacou-se também na seleção e preparação dos alunos da EsPCEx que participaram das Olimpíadas de Matemática da Unicamp e posteriormente da OBMEP. Foi uma auxiliar prestimosa da Chefia de Seção de Ciências Matemáticas na elaboração das avaliações, na participação das atividades de recuperação, nos Desafios Militares, nas atividades referentes ao Concurso de Admissão e em todas as demais atividades em que a Seção esteve envolvida. Profa. Lúci ladeada pelo prof. Jair, Cap Vitor, Maj Clóvis e Cel R/1 Saldanha Educada, de trato afável, dotada de grande espírito de cooperação e de temperamento conciliador, contribuiu com seu comportamento para que se mantivesse o bom nível de relacionamento que sempre moldou o corpo docente da EsPCEx e, em particular, a Seção de Ciências Matemáticas. Seu valor profissional foi reconhecido pela Escola ao longo desses anos, em que galgou todas as etapas da ascensão funcional. Em 2000, foi agraciada com a Medalha e Diploma de Honra ao Mérito, em solenidade de formatura na EsPCEx. Assim, por todos os serviços prestados e principalmente pela figura humana que representa, a EsPCEx agradece à Profª Lúci, por essa parcela de sua vida dedicada à Escola, desejando-lhe muitas felicidades na nova etapa da vida pessoal e profissional que ora se inicia. Estes votos interpretam, com certeza, o sentimento dos alunos oriundos destas últimas 17 turmas, que guardam, junto às mais gratas lembranças da EsPCEx, a da professora e amiga com quem partilharam momentos de aprendizagem, exemplos de amor à Escola, de um incontestável entusiasmo e, de maneira muito especial, a crença na grandeza da missão de formar o oficial do Exercito Brasileiro. (*) O Coronel R/1 PTTC Engenheiro Militar Wilson Roberto Rodrigues é bacharel em Ciências Militares pela AMAN, Engenheiro de Fortificações e Construção pelo IME, pósgraduado em Supervisão Escolar, pelo Centro de Estudos de Pessoal e em Informática Aplicada à Educação Construtivista, pela UNICAMP. Mestre em Educação Matemática pela PUC de São Paulo, o Cel R/1 Wilson é oficial prestador de tarefa por tempo certo ocupando a função de professor e chefe da subseção de Desenho da EsPCEx. Contato: [email protected]. ͙͗ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 Personalidades matemáticas do mundo militar Este espaço de nossa revista dedica-se a divulgar personalidades de destaque no cenário histórico da Educação Matemática no mundo militar. Neste quarto número de SecMat, a personalidade escolhida foi Benjamin Constant Botelho de Magalhães Jonathan Vieira da Silva (*) Em meio ao desespero e a pobreza, com as esperanças esmaecidas pela dor recente de perder o pai quando tinha então apenas treze anos, Benjamin Constant Botelho de Magalhães jamais imaginaria que seu nome seria eternizado na história do país como brilhante artífice de uma proclamação que abalaria para sempre as estruturas do Brasil Imperial, minando-o através da extensão de seus ideais de liberdade e fraternidade, os mesmos pelos quais bradavam os povos ocidentais, clamando por um sistema democrático de governo, qual fosse, a república. Nascido em Niterói, Rio de Janeiro, no ano de 1836, Benjamin Constant enfrentou contrariedades desde muito cedo, principalmente após a morte do pai, vítima de tifo, que acabou por deixar seus quatro filhos e esposa em sérias dificuldades financeiras. Não obstante, desejoso em realizar seus estudos secundários, Benjamin recebeu ajuda de famílias e de amigos, formando-se no colégio do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro. Aos 16 anos completos, ele ingressa na lendária Escola Militar, situada na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, a fim de iniciar seus estudos em nível Superior; à época, filhos de famílias pobres que desejavam educação desse nível buscavam ingresso em tal instituição, que além do ensino gratuito fornecia uma ajuda de custo (pequeno soldo) para aqueles que assentassem praça. Foi com muita dificuldade que Benjamin Constant conseguiu se formar engenheiro militar em 1858, aos 22 anos, uma vez que tinha que aliar estudos e trabalho para sustentar sua mãe e irmãos. Na época, ele tornava possível esse sustento do que conseguia das aulas particulares de Matemática ministradas a candidatos ao ingresso na Escola Militar. Muitos desses candidatos para os quais lecionou tornaram-se mais tarde figuras expoentes no Exército Brasileiro, à exemplo de seu aluno Floriano Peixoto, futuro Marechal e primeiro vice-presidente do Brasil. Uma vez formado engenheiro, Benjamin Constant ingressa na recém-criada Escola Central, na qual diploma-se doutor em Matemática e Ciências Físicas, em 1860. Nesse mesmo ano é promovido ao posto de Primeiro-Tenente por estudos. Em 1865 irrompe a Guerra do Paraguai e Benjamin Constant, agora no posto de Capitão é convocado para seguir para o teatro de operações como Engenheiro Militar responsável pela construção de pontes, trincheiras e organização do serviço cartográfico de guerra. Da sua participação na campanha, Benjamin pode conhecer e servir sob as ordens de militares de escol como os generais Caxias, Osório e Sampaio, os coronéis Deodoro da Fonseca, Andrade Neves, Tibúrcio, Argolo, Bittencourt, entre outros. Apesar da bravura que demonstrou em campo de combate, a vocação docente não ͙͘ SecMat – Educação Matemática Militar em Revista – Ano IV Nº 04 – Dez 2010 abandonava o coração de Benjamin Constant. Depois de ano e meio no Paraguai, ele retorna ao convívio de seus familiares e ao tablado da Escola Militar. Nos postos de Major e Tenente Coronel, passou-os Benjamin Constant neste educandário, contribuindo com o seu ensino da Matemática na formação de várias gerações de oficiais para a Força Terrestre. Quando da Proclamação da República, Benjamin Constant, um de seus artífices mais dedicados, foi elevado a pedido do Marechal Deodoro da Fonseca ao cargo de Ministro da Instrução (o que hoje seria equivalente ao Ministro da Educação), após ter sido o primeiro Ministro da Guerra da República Brasileira. Uma vez à frente da pasta da Instrução, pode Benjamin Constant coordenar significativas alterações no sistema de ensino brasileiro, entre as quais, a criação das escolas secundárias estaduais e federais, bem como a proposição de um ensino voltado para a formação científica, bem a gosto do positivismo, filosofia a qual Benjamin Constant era sincero adepto e defensor. Com efeito, apesar de seu importante papel no ensino da Matemática no Brasil, Benjamin Constant ficou mais conhecido por ter sido o grande divulgador e líder do positivismo no Exército Brasileiro. De fato, sua prática positivista caracterizava-se, além de uma visão científica frente aos fenômenos sociais e naturais, por repousar sobre a seguinte trilogia: o amor por princípio, a ordem por base e o progresso como fim. O positivismo de Benjamin Constant discordava do regime monárquico, da escravidão e da clara divisão entre classes na qual a sociedade estava assentada; Para Benjamin, o progresso só dependia da harmonia e irmandade entre todos os brasileiros. Ao lecionar na Escola Militar, Constant fazia reverberar os valores positivistas, incutindo nos jovens oficiais em formação valores da necessidade de um regime político democrático, o que acabou por proporcionar as ferramentas que iriam desencadear a Proclamação da República, em 15 de Novembro de 1889. Está mais do que claro que Benjamin Constant foi um brilhante professor, engenheiro e líder da briosa juventude militar. Ele que soube propor uma mudança de governo pacífica, poupou à nossa nascente república perturbação, desordem e derramamento desnecessário de sangue: persuadiu, abrandou e dirigiu. Isto posto, não há adjetivos adequado o bastante que possa expressar o valor de sua relevância para a História Brasileira. Ao morrer prematuramente aos 55 anos em 1891, Benjamin Constant deixava ao Brasil um legado inefável: um novo e sólido rumo para a educação pátria e algo ainda mais profundo e palpável, o ideal de ordem e progresso como meta absoluta para a felicidade dos cidadãos brasileiros. (*) O Aluno Jonathan Vieira da Silva, do 8º Pelotão da Segunda Companhia de Alunos, é natural de São Paulo, Capital. Oriundo de escola pública, na qual sempre se destacou pelo brilhantismo nos estudos e arguto pendor literário, Jonathan Vieira foi aprovado em concurso público nacional, ingressando no Exército Brasileiro em 2010 como aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Contato: [email protected] ͙͙ SecMat: Educação Matemática Militar em Revista ͑ͶʹͲͳͲ ͳͻͺ͵ǦͶͺ͵ Apresentação 4 Editorial 7 Retrospectiva 2010 da Seção de Ciências Matemáticas da EsPCEx 8 Artigos 26 Educação Matemática Militar: práticas de interdisciplinaridade e de inclusão digital - Jefferson Biajone e Sérgio Henrique Frasson Scafi (EsPCEx) 27 A Geometria Descritiva na profissão militar - Aline Marques Martins (EsPCEx) 36 Einstein e a Matemática Genial - Luiz Amorim Goulart (Colégio Naval) 38 Algumas considerações acerca do Baricentro - Paulo César Moraes Ribeiro (EPCAr) 42 Dissertações e Teses defendidas O Ensino Superior de Matemática no Brasil: da Academia Real Militar do Rio de Janeiro à Escola Politécnica - Ben Hur Mormêllo (AMAN) Missão Cumprida! 47 52 Homenagem a Servidora Civil Professora Lúci Marilene Loreto Rodrigues - Wilson Roberto Rodrigues Personalidades matemáticas no mundo militar General Benjamim Constant Botelho de Magalhães - Jonathan Vieira da Silva EsPCEx: nasceste para vencer! 54
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