Mulheres em Acção: Prevenindo a Violência
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Mulheres em Acção: Prevenindo a Violência
ISSN 1994-2206 (Print) ISSN 1994-2214 (Online) Mulher es em Acção: Pr evenindo a V iolência Ar mada NESTE NÚMERO: Rede de Mulheres da IANSA activa nas Nações Unidas Este ano, a Comissão das Nações Unidas para o Estatuto das Mulheres (CSW, na sigla inglesa) e o Comité Preparatório do Tratado sobre o Comércio de Armas (ATT PrepCom) tiveram lugar em paralelo, permitindo trazer as mulheres para o campo do controlo de armas e relacionar a questão da violência contra as mulheres perpetrada com armas de fogo com o trabalho mais amplo do movimento de mulheres do qual fazemos parte. Outros destaques: Armas de Pequeno Porte na Jordânia, Lançamento da ONU Mulheres; Semana de Acção Global e Notícias da Rede. Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA Opinião Armas de Pequeno Porte e Género na Jordânia Notícias da Rede Campanha para Desarmar a Violência Doméstica na República Democrática do Congo (RDC) Enfoque especial O Tratado sobre o Comércio de Armas Recursos A base de dados sobre Violência contra as Mulheres do Secretário Geral das Nações Unidas Agenda Semana de Acção Global Contra a Violência Armada 2011 Fórum SVRI Membros da Rede de Mulheres da IANSA no lançamento da ONU Mulheres em Nova Iorque, Março de 2011. No dia 4 de Março de 2011, a Rede de Mulheres da IANSA organizou o evento ‘Desarmamento através da educação: as mulheres tomam a dianteira’, em conjunto com o Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos de Desarmamento, a Missão da Noruega nas Nações Unidas e a Religions for Peace. A Rede de Mulheres da IANSA participou activamente na Comissão da ONU sobre o Estatuto das Mulheres, que teve lugar nas Nações Unidas, em Nova Iorque, de 22 de Fevereiro a 4 de Março. No dia 23 de Fevereiro, a Rede de Mulheres co-promoveu o evento paralelo “O Progresso precário da Resolução sobre Mulheres, Paz e Segurança”. Jasmin Nario-Galace, da Rede de Mulheres da IANSA, falou sobre o trabalho em prol da paz e da segurança nas Filipinas. Durante uma sessão das Nações Unidas sobre a Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas 1325, Jasmin falou ainda sobre a nova rede de acção 'Mulheres envolvidas na Implementação da 1325’, que tem vindo a trabalhar para operacionalizar o Plano Nacional de Acção Filipino sobre Mulheres, Paz e Segurança – o primeiro a incluir a questão das armas de pequeno porte e armamento ligeiro. Martha Quintero, da Rede de Mulheres da Colômbia, participou também no painel. Em conjunto com outras organizações e Estados membros das Nações Unidas, a Rede de Mulheres divulgou ainda a acção do Comité Preparatório (PrepCom) para o Tratado sobre o Comércio de Armas e sublinhou a necessidade de garantir que as perspectivas de género e das mulheres estejam presentes neste processo. No dia 24 de Fevereiro de 2011, Jasmin Nario Galace (Filipinas) e Martha Quintero (Colômbia) estiveram presentes no lançamento da ONU Mulheres, que teve lugar no Hall da Assembleia Geral, na sede das Nações Unidas. Pelo menos 4 das 5 áreas prioritárias da ONU Mulheres estão directamente associadas com o trabalho da Rede de Mulheres da IANSA: 1) Ampliar a voz, liderança e participação das mulheres; 2) Combater a violência contra as mulheres; 3) Reforçar a participação das mulheres na resolução de conflitos e nos processos de paz; 4) Garantir que as prioridades de género estão presentes nos planos nacionais e respectivos orçamentos, incluindo a capacidade para apoiar o processo de relatoria da CEDAW. International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org Boletim Nº 24, Maio de 2011 OPINIÃO: Armas de pequeno porte e género na Jordânia N Mona Mkhamreh a Jordânia, a posse e o uso de armas de fogo passam de geração em geração. Antigamente, as armas eram usadas para anunciar eventos especiais, como casamentos. Os tiros para o ar substituíam as telecomunicações, na altura inexistentes. Actualmente, esta prática já não se justifica. As armas são perigosas e constituem uma fonte de ansiedade para a sociedade jordana. Para uma parte significativa da população jordana, contudo, disparar armas de fogo permanece uma forma comum de expressão de sentimentos em ocasiões públicas e privadas. O perigo aumenta em contextos sobre-povoados, como as grandes cidades. Em virtude do uso negligente de armas de fogo, muitos casamentos e outras ocasiões festivas tornaram-se catástrofes. Nos anos noventa, e em consequência do uso de armas automáticas nestes eventos, o Ministério da Administração Interna elaborou regulamentação que previa a suspensão de todas as licenças de posse de armas. Em Janeiro de 2011, a legislação nacional sobre armas de fogo foi aplicada pela primeira vez num caso de uso de armas em eventos, quando um homem foi condenado a 5 anos de prisão por ter disparado para o ar durante um casamento, tendo ferido uma pessoa. A violência armada contra mulheres na Jordânia está muitas vezes asso- Mulheres em Acção: Prevenindo a Violência Armada, boletim trimestral da Rede de Mulheres da IANSA, disponível em inglês, francês, espanhol e português. Compilado por Rebecca Gerome 2 Rede de Mulheres da IANSA ciada à violência perpetrada em nome da honra. Este tipo de violência resulta de crenças enraizadas que consideram a morte como um dos meios para ‘limpar o nome’ e eliminar a vergonha. A disseminação de armas de pequeno porte e ligeiras tem facilitado esta prática e resultado em muitas vítimas. Em Fevereiro de 2011, o Tribunal Penal condenou um agricultor de 43 anos a 15 anos de prisão por ter morto a tiros a sua sobrinha no vale da Jordânia. A jovem foi atingida 30 vezes na cabeça, peito e costas. Depois do Mona Mkhamreh é uma advogada jordana, consultora na área do direito internacional e direitos das mulheres. sucedido, o agricultor dirigiu-se à polícia e entregou a arma utilizada, informando as autoridades que havia morto a sobrinha para repor a honra da família. Todavia, nem sempre os tribunais condenam os crimes de honra. Recentemente uma mulher foi atingida com uma arma de fogo pelos seus tios, depois de se ter divorciado do marido por motivos de violência doméstica. Os tios foram ilibados da acusação por falta de provas. Ninguém foi punido pelo sucedido. forma negativa a estabilidade psicológica e emocional das pessoas, nomeadamente mulheres, especialmente em contextos onde se assiste à: 1. Disseminação da ansiedade, medo e distúrbios psicológicos entre os e as cidadãos e cidadãs, em resultado da presença de armas, legais e ilegais. 2. Tendência acrescida para a agressividade, especialmente entre jovens e adolescentes do sexo masculino, o que pode levar a distúrbios psicológicos no futuro. 3. Acidentes com armas de fogo em cerimónias como casamentos, bem como outros incidentes de violência armada, que ocasionam ferimentos temporários ou permanentes e mortes. Em grande parte dos casos, cabe às mulheres em particular o cuidado dos e das familiares vitimados, enfrentando os problemas económicos e sociais que surgem após a tragédia. Uma vez que as mulheres sofrem de forma desproporcional os impactos adversos da presença de armas de fogo nas sociedades, esforços têm de ser levados a cabo para monitorar e controlar as armas de pequeno porte, bem como garantir que as questões de género e idade são tidas em consideração nos níveis de planeamento e desenho de políticas. Os crimes motivados por vingança também são uma forma comum de violência armada na Jordânia. Estão associados a noções tribais de masculinidade e violência e afectam as mulheres de várias formas. Além disso, a disseminação de armas de pequeno porte afecta de International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org A Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA ENFOQUE ESPECIAL: O Tratado sobre o Comércio de Armas (TCA) segunda sessão do Comité de Preparação do am um TCA que responda ao impacto dos conflitos Tratado sobre o Comércio de Armas (ATT armados na vida das mulheres, de acordo com os comPrepCom, na sigla inglesa) teve lugar de 28 de promissos assumidos previamente, incluindo as Fevereiro a 4 de Março de 2011 e foi presidida pelo Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Embaixador Roberto Garcia Moritan. Membros da Unidas 1325, 1820, 1888 e 1889. IANSA e staff estiveram presentes em Nova Iorque em Contudo, reiterconjunto com coleamos a ideia de gas da campanha que as referências “Controlar as a ‘mulheres e criArmas” para anças’, tidas desenvolver activienquanto um dades de lobby e grupo homogéneo, incidência política, são perversas, monitorar as uma vez que indicisessões formais, am que as mulorganizar e particiheres bem como par em eventos as crianças são paralelos e reunir vítimas passivas, com as delecom capacidades gações nacionais. limitadas, em vez O programa de trabalho permitiu a Jasmin Nario-Galace, do Centro para a Educação para a Paz, Filipinas, com de um recurso discussão em pro- as delegadas das Filipinas no Comité de Preparação do Tratado sobre o chave para o comfundidade do paper Comércio de Armas. Toda a delegação das Filipinas era composta por mul- bate e prevenção da violência armada. elaborado por heres. De facto, as criMoritan, que abrananças são menores, não podem votar ou tomar decisões gia um conjunto amplo de armas convencionais, critérios e parâmetros. No quarto dia (3 de Março), um novo e necessitam atenção especial e protecção. Por causa da sua imaturidade físipaper redigido pelo ca e mental e da sua Embaixador Moritan foi Mulheres nas delegações nacionais distribuído, compilando No total, 487 pessoas participaram nas sessões dependência face a as declarações dos oficiais enquanto parte de delegações adultos, as crianças são consideradas vulprimeiros dias de trabalnacionais. 130 (27%) eram mulheres, enquanto neráveis. É por isso ho. Este paper está que 357 (73%) eram homens. essencial distinguir disponível em entre mulheres e crihttp://www.un.org/disaranças de forma a garantir que cada grupo receba a mament/convarms/ATTPrepCom/Statements.html atenção específica que requer. A Rede de Mulheres da IANSA congratulou-se pelo facto de as questões de género terem sido suscitadas ao longo dos debates por alguns Estados, nomeadamente o Mali, a Nigéria, a Noruega e a Austrália, que defenderInstrumentos relevantes de Direitos Humanos: Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres [CEDAW]; Protocolo Opcional à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres; o o Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes; o Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, 1948 o Declaração de Pequim e Plataforma de Acção, Quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres, 1995; o Convenção para a Supressão do Tráfico de Pessoas e da Exploração da Prostituição de Outrém; o Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres; o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (TPI), 1998 o Documento final da 23ª sessão especial da Assembleia Geral das Nações Unidas, Mulheres 2000: Igualdade de Género, Desenvolvimento e Paz para o Século XXI, 2000; o As quarto Convenções de Genebra de 1949 e; o Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas 1325, 1820, 1888, 1889 e 1960. International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org 3 Boletim Nº 24, Maio de 2011 Instrumentos de lobby sobre o ATT PONT OS ESPECÍFICOS DE LOBBY: Porquê mencionar homicídios perpetrados com armas de fogo? Discussões sobre violência armada têm sub- linhado de forma repetida que o uso de armas de fogo em contextos de não conflito constitui a forma mais comum de violência armada, resultando em muitas mortes e ferimentos. É por isso importante considerar os actos de violência armada em outros cenários que não contextos de conflito armado. A referência geral a “violência armada” enfraquece a linguagem e é difícil de aplicar na prática. A Relatora Especial da ONU para a Violência contra as Mulheres, Rashida Manjoo (à esquerda) e Agnès Marcaillou, Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos do Desarmamento (UNODA) (à direita), sublinham as ligações entre género e armas num evento paralelo do Comité de Preparação do Tratado sobre o Comércio de Armas, realizado no dia 2 de Março e intitulado “Salvar Vidas: Prevenindo a Violência Armada através do Tratado sobre o Comércio de Armas”. O evento contou com o apoio da IANSA, Amnistia Internacional, ForUM e Missão da Noruega nas Nações Unidas. PONT OS ESPECÍFICOS DE LOBBY: Porquê referir especificamente a violência de género no texto do Tratado sobre Comércio de Armas? As mul- heres são frequentemente alvo de violências específicas por causa do seu sexo e de outras formas de violência não só em contextos de conflito armado, mas também em cenários de paz. O modo como as armas convencionais e respectivas munições facilitam violências contra as mulheres é uma questão transversal que exige mais atenção. De forma a proteger os direitos das mulheres, os instrumentos legais de direitos humanos que abrangem temas como a violência de género, incluindo a violência sexual, têm de ser aplicados às decisões sobre transferências de armas. Durante a década anterior, os Estados e as Nações Unidas reconheceram a importância de abordar de forma particular a violência contra as mulheres quer em contextos de conflito armado, quer em outros 4 Rede de Mulheres da IANSA Possíveis suplementos ao texto actual: “Um Estado não deverá autorizar a transferência de armas se existir, no entender do Estado responsável pela transferência, um risco substancial de estas armas serem: - Usadas para perpetrar ou facilitar níveis elevados de violência de género, em particular violações e outras formas de violência sexual. - Usadas para perpetuar um padrão ou facilitar índices elevados de homicídio, ferimentos graves ou violência de género cometidos com armas de fogo. - Usadas para cometer ou facilitar violações do direito internacional humanitário, em particular/incluindo violência de género, nomeadamente violações e outras formas de violência sexual. cenários. Neste período, as agências das Nações Unidas aprovaram várias resoluções sobre violência de género, reconhecendo a necessidade de enfatizar este tipo de violência de forma separada e específica, apesar dos direitos das mulheres integrarem o direito internacional humanitário e o direito internacional de direitos humanos. Em 2000, o Conselho de Segurança decidiu abordar a questão das mulheres, paz e segurança de forma particular, depois de uma década de fracassos de operações de manutenção de paz, nomeadamente na Somália, no Ruanda e na exJugoslávia. Depois da análise das atrocidades cometidas, tornou-se claro que as mulheres tinham sido alvos específicos de violência, incluindo violência sexual. Os debates sobre o Tratado sobre o Comércio de Armas constituem uma oportunidade para examinar os instrumentos usados para facilitar a violência de género, nomeadamente as armas de pequeno porte e ligeiras no âmbito das decisões sobre transferências internacionais de armas. É dever dos Estados “abster-se de praticar violência de género” e incorporar a questão em todas as políticas a todos os níveis e áreas (Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, 1993). Estes aspecto é particularmente importante no que diz respeito à prevenção de violações e outras formas de violência sexual, reconhecidas pelo direito internacional como “crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou instrumento de genocídio” (Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas 1325, 1820 e 1888). International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org Boletim Nº 24, Maio de 2011 Instrumentos de lobby sobre o ATT Rede de Mulheres da IANSA Exemplos de como as armas convencionais e respectivas munições, e em particular as armas de pequeno porte, facilitam e agravam a violência perpetrada contra mulheres no dia-a-dia Em cenários de não-conflito: Haiti Em Janeiro de 2011, a Amnistia Internacional publicou um relatório sobre o Haiti intitulado “Depois do choque: Mulheres denunciam violência sexual”. A maioria das vítimas entrevistadas foi ameaçada por grupos de homens com armas de fogo. No seio dos gangs do Haiti, a violência sexual perpetrada com arma de fogo aumentou desde o terramoto, mas mesmo antes era já uma prática comum. Entre 2002 e 2004, estima-se que 19 000 por 100 000 jovens do sexo feminino tenham sido violadas na área de Port-au-Prince. Contextos pós-conflito: Balcãs Macedónia: Durante doze anos, o marido de Vesna agrediu-a fisicamente, perseguindo-a com uma arma de fogo. Um dia, embriagado, disparou sobre Vesna e o seu filho. Ambos sobreviveram mas sofrem até aos dias de hoje sequelas físicas e psicológicas graves. Nos Balcãs, mesmo depois do fim da guerra, as armas continuaram a ser usadas em actos de violência contra as mulheres, sobretudo na esfera doméstica. De acordo com um estudo de 2007, no Montenegro, 90% das 1500 mulheres presentes em centros de acolhimento destinados a vítimas de violência tinham sido ameaçadas com armas de fogo pelos seus companheiros. Situações de conflito armado: República Democrática do Congo: Durante o Verão de 2010, ao longo de quarto dias, tiveram lugar violações em massa em Luvungi, Leste do Congo. Quase todos os 303 casos de violação denunciados foram perpetrados por grupos de dois a seis homens armados, na sua maioria em frente aos maridos e filhos das vítimas. Só em 2009 mais de 15 000 casos de violência sexual foram denunciados. Colombia: Na Colômbia, que tem actualmente a segunda taxa mais elevada do mundo de deslocados internos, 2 em cada 10 pessoas deslocadas internas são mulheres, que identificam a violência sexual perpetrada sob ameaça de armas de fogo como a principal causa para a deslocamento. Em 2008, 21 000 pessoas foram vítimas de violência sexual no país, muitas delas sob ameaça de armas. Serra Leoa: Estima-se que 64 000 mulheres e jovens do sexo feminino tenham sofrido violência sexual durante a guerra civil de 1991-2002. Alguns testemunhos de mulheres vítimas de violência sexual declararam que tinham sido ameaçadas com armas de fogo por parte dos perpetradores, de forma a garantir que não ofereciam resistência. Jasmin Nario-Galace, da Rede de Mulheres da IANSA, dirige-se ao plenário no âmbito da sessão do Comité de Preparação do Tratado sobre o Comércio de Armas, discursando sobre género e armas de pequeno porte e ligeiras. Referências as conexões entre armas de pequeno porte e ligeiras e género presentes em documentos de alto nível das Nações Unidas No relatório sobre Armas de Pequeno Porte e Ligeiras, submetido pelo Secretário Geral das Nações Unidas ao Conselho de Segurança em Abril de 2008, sublinha-se que as abordagens de género são particularmente relevantes para as políticas. O relatório refere que as mulheres e jovens do sexo feminino são muitas vezes as mais afectadas pela violência causada por este tipo de armas, em particular a violência sexual, intimidação, coerção, incluindo enquanto sobreviventes e responsáveis pelo agregado familiar. O relatório menciona ainda a importância das mulheres enquanto agentes de mudança em processos como o Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) e iniciativas de segurança das comunidades (Relatório do Secretário Geral sobre Armas de Pequeno Porte e Ligeiras, S/2008/258.) Em 2010, o Presidente do Conselho de Segurança reconheceu na sua declaração sobre armas de pequeno porte e armamento ligeiro (SALW) na região da África Central que “O Conselho de Segurança está muito preocupado com a produção ilícita, transferência e circulação de SALW bem como com a sua excessiva acumulação e disseminação em várias regiões do mundo, sobretudo na sub-região da África Central. Esta situação tem tido consequências graves em termos humanitários e socioeconómicos, em particular no que diz respeito à segurança dos civis uma vez que exacerbara probabilidade de conflitos, o que, por sua vez, agrava os riscos de violência de género, recrutamento de crianças soldado, ameaçando a paz, reconciliação, segurança, estabilidade e desenvolvimento sustentável local, nacional, regional e internacional. (Declaração Presidencial do Conselho de Segurança, Março de 2010, S/PRST/2010/6) International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org 5 Boletim Nº 24, Maio de 2011 N Rede de Mulheres da IANSA NOTÍCIAS DA REDE: Campanha para Desarmar a Violência Doméstica na República Democrática do Congo (RDC) Kinshasa, 11 de Abril de 2011 o dia 24 de Março de 2011, a Comissão Nacional de Controlo de Armas de Pequeno Porte e Ligeiras e Redução da Violência Armada lançou uma campanha de sensibilização da opinião pública sobre os riscos da disseminação de armas de pequeno porte na República Democrática do Congo. O Ministro da Administração Interna presidiu ao lançamento, na presença das forças policiais e militares e do Inspector Nacional da Polícia. A comunidade diplomática também esteve presente. panha, No seu discurso, o Ministro sublinhou a importância que decorreu entre 24 e 31 de de integrar as questões de género nos processos Março de 2011. de controlo de armas e prevenção da violência De 28 a 31 de Março, a ONU Mulheres conduziu consultas participativas no Norte e Sul de Kivu para recolher informações sobre problemas e necessidades específicas das mulheres na região, tendo em vista contribuir de forma eficaz para a política nacional de género. A organização congolesa FMJC (em português, Mulheres dos Media para a Justiça) aproveitou a oportunidade para sensibilizar os participantes para o problema da violência armada na esfera doméstica, bem como partilhar a visão da Rede de Mulheres da IANSA sobre este assunto. Os e as participantes do workshop, representantes de ONG nacionais e internacionais, movimentos armada e sociais, autoridades locais, nomeadamente do apelou a todas as mulheres conMinistério de Género, Família e Infância, manifesgolesas que denunciem os e as membros das suas taram vontade em trabalhar em prol do apoio das comunidades que portem armas ilegais ou que vítimas desta violência. estejam envolvidos em qualquer acto de violência armada, independentemente do local onde esta ocorra. Especialistas da sociedade civil trabalharam com a Comissão Nacional na preparação da camRECURSO: A base de dados sobre Violência contra as Mulheres do Secretário Geral das Nações Unidas http://webapps01.un.org/vawdatabase/home.action Em Dezembro de 2006, a Assembleia Geral da ONU adoptou uma resolução apelando à intensificação de esforços para eliminar todas as formas de violência contra as mulheres e solicitando ao Secretário Geral que estabelecesse uma base de dados coordenada sobre o âmbito, natureza e consequências das violências contra as mulheres e sobre o impacto e eficácia das políticas e programas destinados a combater este tipo de violência. As principais fontes de informação da base de dados são as respostas dos Estados Membros ao questionário sobre violência contra as mulheres de Setembro de 2008 e sucessivas actualizações. Entre as restantes fontes de informação, incluem-se: * Relatórios dos Estados Membros enviados aos secretariados de tratados de direitos humanos; * Informações disponibilizadas pelos Estados Membros na sequência da IV Conferência Mundial sobre Mulheres (1995); relatórios do Secretário Geral; e declarações feitas nos diversos organismos das Nações Unidas; * Informações disponibilizadas por agências relevantes das Nações Unidas. 6 International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org E Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA AGENDA: Semana de Acção Global contra a Violência Armada ste ano, a Semana de Acção Global contra a Violência Armada realiza-se de 13 a 19 de Junho. Todos os anos a Semana de Acção dá voz às iniciativas internacionais que visam combater a disseminação e uso indevido de armas de pequeno porte e ligeiras. Na edição anterior, em 2010, a Semana de Acção Global contra a Violência Armada contou com a participação de 267 membros da IANSA em 102 países, revelando que a Semana de Acção é já sinónimo de adesão da sociedade civil organizada a esta questão. Entre as actividades desenvolvidas em 2010 estiveram a realização de uma petição de apoio a um Tratado sobre Comércio de Armas assente em princípios éticos sólidos, a adesão de várias estrelas do futebol mundial à campanha “Um Mundial de Futebol Sem Armas” e Fórum Sexual Violence Research Initiative (SVRI) 2011: Ampliando a agenda 10 - 13 Outubro 2011 Convocatoria abierta Aberta a submissão de abstracts Globalmente, um número crescente de campanhas tem-se dedicado a denunciar a violência sexual como uma grave violação dos direitos humanos, uma arma de guerra e uma questão de saúde pública. O Secretário Geral das Nações Unidas lançou a campanha UNiTE to End Violence Against Women [em português, Unidos para Erradicar a Violência contra as Mulheres]. Até 2015, esta campanha pretende pressionar os vários Estados a adoptar e implementar Planos Nacionais de Acção multi-sectoriais que respondam às violências perpetradas contra as mulheres. Neste contexto, é necessário compilar experiências e iniciativas eficazes neste campo, bem como identificar a agenda de investigação que deve consubstanciar os programas de prevenção e resposta à violência sexual. Em 2009, a Iniciativa de Investigação sobre Violência Sexual [em inglês, Sexual Violence Research Initiative] organizou a primeira conferência internacional a promoção da campanha “Desarmar a Violência Doméstica”. Para a Semana de Acção deste ano, a IANSA propõe três temas prioritários, mas as iniciativas não se limitam a estes. Os temas são: • Tratado sobre o Comércio de Armas • 10 anos de Programa de Acção • Sobreviventes de Violência Armada A participação das mulheres e as questões de género são questões transversais que serão sublinhadas em cada um dos temas propostos. Para este efeito, a IANSA está a elaborar materiais de apoio para a Semana de Acção. sobre violência sexual, com ênfase particular nos países em desenvolvimento. Nesta ocasião, reuniram-se vários e várias especialistas e activistas para debater, discutir e compartilhar ideias de investigação neste domínio. Um dos resultados principais do Fórum de 2009 foi a identificação de áreas prioritárias de investigação. Tendo como ponto de partida estas questões, a SVRI convida, especialistas, responsáveis políticos, activistas, profissionais e agências financiadoras a partilhar ideias e estratégias e contribuir para as campanhas internacionais actualmente em curso. Os principais temas da conferência são: - Prevenção Primária (incluindo intervenções ao nível comunitário); - Respostas à Violência Sexual: modelos de atenção; e - Conflito e Crises. Para mais informações sobre o Fórum ou sobre o SVRI, por favor contacte [email protected] ou visite www.svri.org International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org 7 Boletim Nº 24, Maio de 2011 Rede de Mulheres da IANSA A Rede de Mulheres da IANSA é a única rede internacional dedicada às conexões entre género, direitos das mulheres, armas de pequeno porte e violência armada. Foi estabelecida em 2001 enquanto um grupo de discussão de mulheres nos eventos da IANSA, tendo sido formalizada em 2005. Actualmente associa países tão diversos como as Ilhas Fiji, Senegal, África do Sul, Argentina, Canadá e Sudão. Agradecemos o apoio do governo norueguês. 8 International Action Network on Small Arms (IANSA), Development House, 56-64 Leonard Street, London, EC2A 4LT, UK T: +44 20 7065 0876 F: +44 20 7065 0871 E: [email protected] W: www.iansa-women.org