INIMA_Itinerante_catalogo
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INIMA_Itinerante_catalogo
Inimá de Paula 1 GABINETE DE ARTE O Gabinete da presidência da Câmara, que durante a semana recebe políticos e autoridades do Brasil e do exterior, tem a população como convidada nos finais de semana, quando se transforma em Gabinete de Arte. Essa iniciativa, dentre outras, demonstra a vocação da Casa para o contato permanente com a sociedade, também sob o aspecto cultural. O diálogo político dá lugar a uma troca em que a linguagem artística predomina. Marco Maia Presidente 2 O poeta das cores Os cidadãos que visitam o Congresso têm o prazer e o privilégio ímpar de percorrer essa exposição dedicada ao artista Inimá de Paula (1918-1999), no projeto Gabinete de Arte, patrocinado pela Presidência da Câmara dos Deputados. Reconhecido pelos críticos como o mestre das cores, Inimá é um dos mais importantes pintores da arte brasileira. Suas obras enriquecem acervos de renomados museus e coleções particulares, no Brasil e no exterior. Nascido em Itanhomi, no Vale do Rio Doce, Minas Gerais, o pintor tinha um perfil introvertido e reflexivo, que contrastava com a eloquência dos traços vigorosos, características percebidas até pelos leigos como eu, que se comprazem diante de seus quadros. Inimá participou ativamente dos movimentos estéticos de sua época. Atuou no Ceará e no Rio de Janeiro, cidades onde viveu antes de voltar a Minas, no início dos anos 60. Conviveu com alguns dos maiores artistas brasileiros, como Cândido Portinari e Oscar Niemeyer, que o apoiaram no início da carreira. As pinturas de Inimá revelam paisagens por onde morou e andou, como os bairros cariocas, o litoral cearense e cenas da velha Europa. Os caminhos que sua arte percorreu, porém, sempre o trouxeram de volta às montanhas de Minas. Autodidata, iniciou-se nas artes folheando revistas de arte em preto e branco, desenhando e pintando. Aos poucos, aprimorou sua refinada sensibilidade visual, sua técnica incomparável e a paixão pelas cores. Trata-se a presente mostra de breve retrospectiva do artista, composta de 24 obras de multiplicidade temática, apresentada pelo Museu Inimá de Paula, situado em Belo Horizonte e inaugurado em 2008 com apoio do Governo de Minas, entre outros incentivadores. Auto-retrato | Óleo sobre tela | 55x38cm |1949 (circa) Desejo que aqui, nessa exposição, todos possam aproveitar a chance de refazer os caminhos trilhados pelo próprio Inimá e revisitar com prazer os exuberantes cenários de sua arte. E, através do olhar do artista, caminhar e reconhecer as múltiplas influências que Minas imprime em cada um de nós. Aécio Neves Curador Tema de Salvador | Óleo sobre tela | 56x76cm | 1954 Paisagem Oriental | Óleo sobre tela | 40x64cm | 1974 INIMÁ DE PAULA (1918 – 1999) É considerado por críticos e pesquisadores como patrono das artes em Minas Gerais e o mais importante pintor moderno mineiro. Nascido em Itanhomi-MG, Inimá dedicou toda a sua vida à arte. Celebrado como “Fauve brasileiro” e “Mestre das Cores”, construiu ao longo dos mais de 60 anos de carreira uma trajetória inegavelmente importante. A partir da década de 1940, foi um artista fundamental na arte moderna brasileira, participando de sua consolidação e difusão em Minas Gerais, no Ceará e no Rio de Janeiro. Em 1952 recebeu o prêmio “Viagem ao Estrangeiro” no Salão Nacional de Arte Moderna, a mais importante premiação artística da época, e, dois anos depois, embarcou para Paris, onde estudou com mestres europeus. De volta ao Brasil, desenvolveu uma obra notável, sobretudo pela força expressiva da cor. Foi classificado como “fovista” por utilizar as cores puras, de maneira selvagem e exuberante, influenciado pelo movimento francês do princípio do século XX. Pelas cores de suas pinceladas comunica com eloquência sentimentos e sentidos, sensações e significados, que proliferam pelas telas e conferem aos temas – a paisagem preferencialmente – humores, melancolias, poderes evocativos, belezas, profundidades. Além da importância artística e patrimonial, as pinturas de Inimá contam, com propriedade inconfundível, uma parte importante da história do Brasil e da arte brasileira 8 9 Barcos – Porto Seguro – Bahia | Óleo sobre tela | 45x61cm | 1987 10 Peixes – Natureza Morta | Óleo sobre tela | 23x27cm | 1950 (circa) Eu quem sou para que me perturbe ver-te? No dia da criação o artista sentiu que sofria de alguma coisa azul e verde. Manipulou os pincéis e fez. De leves cores pinceladas, nasciam massas espessas de folhagem, formas, luz crepuscular. O verde enganante de azul, o azul incitante a verde abraçam-se no verde-azul, beijam-se e nasce na textura nova cor, a que denominam algente. A sombra atrás da luz sugere um temporal prestes a desabar. A claridade do sol, luminosidade de brancos lavados, adiante da sombra, avisa que a borrasca passou. A tempestade azoinou a alma do artista, emoções relampejaram no cérebro de Inimá. A exprimir sentimentos, purgou as máscaras enigmáticas, surpresas. Transmitiu compreensão: caras serenas, janelando nas molduras. A coisa mais tentadora para o artista é a tela branca. Incolor espaço informe vazio no infinito de nada vestido. Mas ele preme o sêmen da imaginação, dardeja o pincel, faz a luz, separando as trevas, dia e noite, tarde e manhã. Explode o sol. As cores nascem no meio das águas, separando águas de águas, mares e rios. Aparecem o céu, a Terra e a água no branco da tela. Nasceram répteis de alma vivente e voaram aves. Inimá suscitou grandes baleias mansas e bichos de asas. Multiplicaram-se na tela os seres da Terra nascidos do pincel, almas viventes, gado e bestas feras. Faça-se o retrato do homem e o homem foi feito dominando a tela e a Terra. Macho e fêmea, frutificai e multiplicai, enchei a Terra e a tela. A Terra da tela produz erva verde, a erva dá semente, árvores, flores e frutas, verde-azul, vermelho-ouro. Toda erva, semente, árvore de flor e fruto será o de comer dos semoventes na tela. À noite o artista fez a lua e as estrelas. Lápis. Luminosidade de lampejos fosforescentes, vermelhos a equilibrarem o verde-azul. A coisa mais bela para o espectador é o quadro do artista. Inimá fez e viu que era bom. Os céus, a Terra, as águas e o fogo – Inimá fez com seu pincel. Como tudo era bom, não descansou no dia da criação, seguiu no trabalho. Agora, a gente pode pegar cada peça da criação, sentir cor, forma, calor, o ritmo – harmonia e unidade. As cores, pessoas doendo, figuras verdes, o sol entre riscos negros, pedras vermelhas, ametistas, gemendo sons corados de música barroca. Tonalidades na pauta. Cores machucando música e poesia, harmonia atonal, grafismo colorido de Rimbaud. Matiz, letra e música nos mundos de Inimá. Mundos? Penetramos nos quadros e andamos no universo mágico, tão diferente do imenso quadro acadêmico das paisagens no mundo. As cores cantam o trabalho na tela, igual ao trabalho do lavrador da terra. Nascem flores, frutos. Cor sobre cor, na construção do mundo, o que está bem, está; o que não está, apagase. O pintor de Minas Gerais fecha as verdolências paisagens entre montanhas azulancias. Tudo é verde-azul em manchas abstratas, inconformando figuras que não chegam a figuras. As tensões pedem o olhar do espectador e os brancos ofuscam. O espectador nem sabe quem é, por perturbar-se ao ver as figuras agigantarem-se furiosamente, libertadas do nada em que jaziam na tela branca, vivendo no ar gelatinoso de luz verde-azul, onde o sucesso de Inimá aparece gravado, como num monolito: enquanto o Homem respirar e os olhos puderem ver, as telas de Inimá existirão. Nelas ele viverá. José Nava, 1971 12 Auto-retrato | Óleo sobre tela | 36x28cm | 1947 (circa) 13 Paisagem Rio de Janeiro | OSE | 81x100cm | 1967 Retrato de Vinícius de Morais | Nanquim | 47x33cm | 1966 14 15 Inimá é um caso muito raro na pintura. Ele realmente é um grande artista. Ele nasceu artista, é aquela questão de talento, inexplicável, um dos maiores deste país. Inimá foi um dos maiores pintores da temática mineira. Ele talvez seja o grande pintor expressionista do país. Carlos Bracher artista plástico A paisagem mineira ganhou registro singular nas telas de Inimá de Paula. Ele honrou a tradição da grande pintura, na qual se inscreveu de maneira original ao dominar, com sensibilidade admirável, o belo ofício. O povo e o governo de Minas reverenciam a memória do ilustre coestaduano, que tem lugar assegurado na história da Arte do Brasil. Itamar Franco 33º Presidente da República Auto-retrato | Óleo sobre tela | 82x71cm | 1964 Arredores de Paris | OSE | 59x73cm | 1959 Composição | Óleo sobre tela | 65x50cm | 1948 (circa) 18 19 Morro Carioca | Óleo sobre tela | 80x54cm | 1967 Natureza Morta | Óleo sobre tela | 39x46cm | 1979 20 21 Casarão Vermelho | Óleo sobre tela | 65x81cm | 1967 22 Mar Azul | Óleo sobre tela | 50x62cm | década 1950 (década) 23 O significativo artista brasileiro Inimá de Paula Neste momento em que vários artistas em nosso país tentam resolver a problemática do tachismo ou do “informal”, é necessário acentuar o valor dessa mostra de Inimá, que em 1958 já ensaiou, em profundidade, uma abordagem de técnica e modos de expressão pictóricos daquele tipo de arte, em que se situa novo diagrama das imagens ante o homem. Mas parece-me que é neste final de 1959 que o significativo artista brasileiro, em plena maturidade, atinge uma rica pintura estruturada, com caracteres bem definidos e pessoais, com autênticas soluções que o valorizarão bastante no plano nacional e internacional. O “tachismo”, mais que o "informal” típico, é uma arte do gesto, dramática e impetuosa entre as duas experiências (tão variáveis e flexíveis, que incorporam os artistas mais diversos), em que realiza-se a atual fase (outubronovembro/1959) de Inimá de Paula. Sua arte vigorosa não desmancha a forma, nem abusa de efeitos fortuitos ou salpicos de tinta, soluções também viáveis, mas que não são as suas. Em Inimá o todo é o resultado de um trabalho consciente em que se vê o pleno rigor de seu controle. É uma arte, portanto, do rigor. Mas nela perpassa a experiência do abstracionismo lírico, do informal, com todas as riquezas e seus módulos perceptivos. É, nesse particular, também, uma pintura de emoção de sugestão, de transmissão de uma poesia visual e humana, em que o artista forja um mundo que não é um puro objeto, mas também um elemento de criação e de expressão diretamente sensíveis, partidas do interior do homem, no que o mesmo tem de mais absoluto e profundo. Inimá, como acentuei, não abandona a estrutura. Nas suas telas e guaches há valores de rara forma de arte direta. Realmente, o artista pinta em projeção imediata sobre suporte, sem o “medium” ou o veículo emocional de um desenho preparatório. Os esquemas retangulares de algumas pinturas ou a liberdade maior dos guaches surgem espontaneamente e assumem caracteres de elementos-força, densos e concentrados nas primeiras ou livres e centrífugos, nas segundas. Chamo a atenção do público para estas últimas, de um valor emotivo e uma força em stress pictóricos bastante visíveis, valor para o qual diz Inimá tender também a sua busca de espontaneidade vigorosa, na pintura a óleo. Usando muitas vezes espátulas e obtendo, com o próprio tubo, sulcos e filamentos que acentuam seus meios de expressão, o artista dá, nas telas, ao contrário do que ocorre nos guaches – importância fundamental ao branco, que em geral funciona, este adequado ao sistema geral em que, resumidamente, se integra ou conclui cada obra de arte, na sua individualidade. O formato horizontal de alguns trabalhos cria um raro elemento perceptivo, quase diria: possibilita uma nova gestalt, uma configuração apropriada às obras de Inimá, vai pelo ritmo dos signos (que o artista só utiliza em alguns exemplos), mas pelo próprio impacto da nova forma e de suas sugestões e simplificações tanto no artista (no instante, ou no “timing”, do gênero da obra), como no contemplador, já saturados de outros formatos convencionais, à base do quadrado. Parque Municipal | Óleo sobre duratex | 81x100cm | 1968 A nova fase de Inimá, que conheci nas visitas que de vez em quando faço a seu simpático atelier em casarão oitocentista da Praia de Botafogo, onde já trabalhou nosso vivíssimo e iconoclasta (contra falsos ídolos) Di Cavalcanti, merece mais profunda análise, que farei oportunamente. Mas, sobretudo, sua exposição merece sua visita, caro leitor. Mário Barata, 1959 24 25 Natureza Morta | Óleo sobre tela | 53x65cm | 1960 Composição com Cajus | OSE | 50x40cm | 1976 26 27 Santa Tereza | Nanquim | 32x46cm | 1965 Ouro Preto | Óleo sobre tela | 81x100cm | 1974 28 29 Paisagem Urbana Salgado Filho | Óleo sobre tela | 50x70cm | 1983 30 Paisagem do Interior Mineiro – Derrubada | Óleo sobre tela | 46x56cm | 1955 31 Paisagem Cubista | Óleo sobre tela | 73x92cm | 1950 Desmatamento | Óleo sobre tela | 83x92cm | 1955 32 33 MESA DIRETORA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Museu Inimá de Paula Presidente Marco Maia (PT-RS) 1º Vice-Presidente Rose de Freitas (PMDB-ES) 2º Vice-Presidente Eduardo da Fonte (PP-PE) 1º Secretário Eduardo Gomes (PSDB-TO) 2º Secretário Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) 3º Secretário Inocêncio Oliveira (PR-PE) 4º Secretário Júlio Delgado (PSB-MG) Suplentes Geraldo Resende (PMDB-MS) Manato (PDT-ES) Carlos Eduardo Cadoca (PSC-PE) Sérgio Moraes (PTB-RS) Diretor-Geral Rogério Ventura Teixeira Secretário-Geral da Mesa Sérgio Sampaio Contreiras de Almeida Rua da Bahia, 1201 | Belo Horizonte Após o registro de quase duas mil obras em seis anos e da edição histórica de dois volumes de obras catalogadas, a diretoria da Fundação deu inicio à viabilização do museu que eterniza a grande obra e a história de vida desse grande pintor mineiro. Criar, instalar e manter um museu destinado à exposição permanente de obras e dos itens pertencentes ao acervo da Fundação Inimá de Paula foi um sonho realizado. Um local digno do artista, onde suas obras, documentos, fotografias, livros, objetos pessoais e instrumentos de trabalho são guardados e exibidos, bem como ter acesso fácil a informações, documentários e áudio-visuais sobre o artista, garantindo assim sua história e integridade. O espaço tem como objetivo não somente servir à divulgação da vida e obra de Inimá, mas também o de abrigar eventos culturais em geral, caracterizando-se com um local aberto à exposições de artistas, seminários, cursos, workshops e outros eventos afins. Agindo assim, o Museu Inimá de Paula se torna um polo emissor cultural ativo e dinâmico. 34 Apoio Realização Câmara dos Deputados Coordenação do Projeto Gabinete da Presidência Espaço Cultural Zumbi dos Palmares Museu da Câmara Curadoria Aécio Neves Senador da República Produção Curatorial Casimiro Neto Coordenação do Gabinete de Arte Sylvia Helena Projeto Gráfico Ely Borges Produção Gráfica Djalmir Assis Revisão Ronaldo Santiago Fotografia das Obras Isaac Souza Expografia André Ventorim Remanejamento e Conservação do Acervo Paulo Titula Laila Paiva Apoio Departamento de Polícia Legislativa Departamento Técnico Impressão Gráfica da Câmara – Deapa Acervos Museu Inimá de Paula Informações sobre as Obras (31) 3213-4320 Espaço Cultural Zumbi dos Palmares [email protected] 55 (61) 3215 8080 www2.camara.gov.br/a-camara/conheca/espaco-cultural Braília, julho de 2012 36