CEBs Acontecendo
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CEBs Acontecendo
CEBs Acontecendo 24 de março de 2010 – Especial 30 Anos do Martírio de Dom Oscar Romero – Ano III 24 de março 1980 – 24 de março de 2010 30 Anos Jubileu de Pérola 1 Romero 30 Anos Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Aos 30 anos do martírio de São Romero Dom Pedro Casaldáliga Celebrar um Jubileu de nosso São Romero da América é celebrar um testemunho que nos contagia de profecia. É assumir comprometidamente as causas, a causa pelas quais nosso São Romero é mártir. Grande testemunho no seguimento da Testemunha maior, a Testemunha fiel, Jesus. O sangue dos mártires é aquele cálice que todos/as podemos e devemos beber. Sempre e em todas as circunstâncias, a memória do martírio é uma memória subversiva. Trinta anos se passaram desde aquela Eucaristia plena na Capela do Hospital. Naquele dia nosso santo nos escreveu: "Nós cremos na vitória da ressurreição". E, muitas vezes, disse, profetizando um tempo novo, "se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho". E com todas as ambiguidades da história em processo, nosso São Romero está ressuscitando em El Salvador, em Nossa América e no Mundo. Este jubileu deve renovar em todos nós uma esperança, lúcida, crítica; porém, invencível. "Tudo é graça", tudo é Páscoa, se entramos com todo o risco no mistério da ceia partilhada, da cruz e da ressurreição. São Romero nos ensina e nos "cobra" que vivamos uma espiritualidade integral, uma santidade tão mística quanto política. Na vida diária e nos processos maiores da justiça e da paz, "com os pobres da terra", na família, na rua, no trabalho, no movimento popular e na pastoral encarnada. Ele nos espera na luta diária contra essa espécie de gangue monstruosa que é o capitalismo neoliberal, contra o mercado onímodo, contra o consumismo desenfreado. A Campanha da Fraternidade do Brasil, neste ano é ecumênica e nos recorda a palavra contundente de Jesus: "vocês não podem servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro". Respondendo àqueles que, na sociedade e na Igreja, tentam desmoralizar a Teologia da Libertação, o caminhar dos pobres em comunidades, esse novo modo de ser Igreja, nosso pastor e mártir replicava: "existe um ‘ateísmo’ mais próximo e mais perigoso para nossa Igreja: o ateísmo do capitalismo quando os bens materiais são erigidos em ídolos e substituem a Deus". Fieis aos signos dos tempos, como Romero, atualizando os rostos dos pobres e as urgências sociais e pastorais, devemos sublinhar nesse jubileu causas maiores, algumas delas verdadeiros paradigmas. O ecumenismo e o macroecumenismo, em diálogo religioso e em koinonia universal. Os direitos dos emigrantes contra as leis de segregação. A solidariedade e a intersolidariedade. A grande causa ecológica. (Precisamente nossa Agenda Latinoamericana desse ano está dedicada à problemática ecológica, com um título desafiador: "Salvemo-nos com o Planeta"). A integração de Nossa América. As campanhas pela paz efetiva, denunciando o crescente militarismo e a proliferação das armas. Urgindo sempre umas transformações eclesiais, com o protagonismo do laicato, pedido em Santo Domingo, e a igualdade da mulher nos ministérios eclesiais. O desafio da violência cotidiana, sobretudo na juventude, manipulada pelos meios de comunicação alienadores e pela 2 CEBs Acontecendo epidemia mundial das drogas. Sempre e cada vez mais, quando maiores sejam os desafios, viveremos a opção pelos pobres, a esperança "contra toda esperança". No seguimento de Jesus, Reino adentro. Nossa coerência será a melhor canonização de "São Romero da América, Pastor e Mártir". 30 anos do martírio de Oscar Romero * Fernando Altemeyer Junior Em 24 de março de 1980 um bispo é assassinado durante o ofertório da missa enquanto celebrava a Eucaristia em memória de dona Sarita Jorge Pinto, com sua família e os doentes de câncer do Hospital da Divina Providência, na capital de El Salvador, na América Central. Seu nome é Oscar Arnulfo Romero y Galdamez. Com a alteração profunda da conjuntura eclesial, a Igreja Católica não pode esquecer aquele que foi um filho legítimo do Vaticano II, de Medellín e sobretudo das decisões de Puebla. Este grande bispo mártir viu a realidade dura de um povo mergulhado em uma guerra, reconheceu e assumiu seu papel estratégico como pastor de uma Igreja perseguida, e em plena sintonia com a mensagem de Cristo, constituiu-se em paradigma fiel do agir da Igreja feita opção pelos pobres e servidora do Reino de Deus. Suas últimas palavras foram premonitórias: “unamo-nos, pois, intimamente na fé e na esperança a este momento de oração por dona Sarita e por nós”. Beatificação Segundo a Agência de Notícias Zenit, a Conferência Episcopal de El Salvador (CEDES) no dia 28 de janeiro de 2010, pediu em carta ao papa Bento XVI a “rápida conclusão” do processo de beatificação do arcebispo Oscar Arnulfo Romero. Em sua primeira reunião anual de 2010, os bispos salvadorenhos decidiram encaminhar o pedido em uma carta endereçada a Bento XVI. “Uma decisão importante” tomada durante a reunião “foi a de encaminhar uma carta ao Santo Padre expressando o interesse de nossos pastores em uma rápida conclusão do processo de beatificação de Dom Romero”, disse dom Gregorio Rosa Chávez, bispo auxiliar de San Salvador. O arcebispo de San Salvador, dom José Luis Escobar anunciou que a Igreja iniciará as celebrações em memória de dom Romero com algumas jornadas de reflexões. O atual arcebispo recomendou também aos salvadorenhos que orassem e promovessem o “culto pessoal”, para favorecer a beatificação de dom Romero. “Gostaria de fazer um apelo à oração”, disse ele. “Quando alguém é beatificado, é porque esta é a vontade de Deus”. Em coletiva à imprensa, o prelado disse que o processo estaria “em fase avançada”. Neste contexto, pediu aos fiéis que “roguem a Deus sob a intercessão de dom Romero”, e que deem seu testemunho de graças, favores e milagres recebidos. 3 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo O prelado disse esperar que o processo se desenvolva em um ambiente “sereno”, livre da influência de questões políticas e sociais. “Pedimos, em diversas ocasiões, por um extremo respeito à causa de dom Romero”, explicou. A Comissão para a Verdade, instituída para investigar os crimes políticos cometidos durante a guerra civil salvadorenha (1980-1992), declarou, num relatório divulgado em março de 1993, que o provável mandante do assassinato teria sido Roberto D’Aubuisson, fundador do partido conservador de direita Alianza Republicana Nacionalista (ARENA). Dom Romero denunciava diariamente as injustiças contra a população e os assassinatos políticos perpetrados pelos “esquadrões da morte” pagos pela elite salvadorenha com o apoio do governo dos Estados Unidos, e pedira na semana anterior à sua morte que os soldados não mais obedecessem às ordens de matar seus irmãos. Esta foi sua sentença de morte. Testemunhos Na Conferência de Aparecida, a Igreja Católica não traiu a memória de dom Romero em seu serviço aos pobres. O documento final declarava solenemente: “Comprometemo-nos a trabalhar para que a Igreja latino-americana e do Caribe continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive até ao martírio”. Ao testemunhar a fé dos mártires, lembra diretamente pessoas como dom Oscar Romero, e a Igreja que confirma com sangue a fé em Cristo. Esta Igreja sela com sangue o que assinara com a tinta. A missão da Igreja não se cristalizou no passado. Transmitiu o legado e o atualizou cri ativamente. Cultiva as sementes atenta aos novos sinais dos tempos, acompanhando a ‘floresta que cresce’ pela graça de Deus no meio das comunidades dos cristãos. Este era o trabalho diário de Romero. Por isso muitas capelas e centros comunitários já levam seu nome, à espera ansiosa de sua beatificação. É preciso reaprender as lições de Romero e buscar proclamar sua profecia. É preciso reatar sempre o casamento entre a Igreja e os pobres. Se pudéssemos classificar as testemunhas recentes diríamos que temos: os santos que assumiram a boa-notícia em sua vida (gente como dom Hélder Pessoa Câmara, dom Luciano 4 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Mendes de Almeida, dom Ivo Lorscheider e nosso querido intelectual Alceu de Amoroso Lima); os leigos mártires (gente como Verino Sossai, de Nova Venécia, Francisco, de Pancas, Purinha, de Linhares, Santo Dias da Silva, de São Paulo, Paulo Vinhas, de Vitória e, centenas de mulheres e homens cristãos, do mundo rural e urbano); os sacerdotes e bispos profetas e mártires (citamos dom Enrique Angel elli e dom Oscar Romero), e enfim, as religiosas que misturaram seu sangue ao da terra que tanto amaram e a Deus que quiseram servir até o fim (lembramos Dorothy Hazel, Ita Ford, Jean Donovan, Maura Clarke, Adelaide Molinari, Cleusa, e recentemente Dorothy Stang, entre dezenas de mulheres consagradas). Toda obra espiritual procede da missão e não da função. O lema de dom Romero bem o exemplifica: Sentir com a Igreja. Quanto mais nos aproximarmos dos pobres e de Deus, tanto mais fecundos seremos. Esta foi a lição e a pregação de dom Romero. Quanto mais pobres, mais ricos. Quanto menos, mais. Quanto mais desafios assumirmos na Igreja dos pobres, mais esperança teremos e seremos. Quanto mais esperança, mais desafios devemos assumir. Os pedaços de pão que um homem oferece a outro são sacramentos de comunhão. Como disse Simone Weil em seu livro Attente de Dieu: “No amor verdadeiro, não somos nós que amamos os sofredores em Deus, mas é Deus em nós quem ama os sofredores. Aquele que dá pão a um esfaimado pelo amor de Deus não será agraciado pelo Cristo. Ele já terá recebido seu salário por esse seu pensamento. O Cristo agradece àqueles que não sabem a quem eles dão de comer” (p.111). Servir a Cristo sem saber que estamos diante d’Ele. Sem medalhas, nem comendas. Servir pelo amor gratuito e generoso de Deus ao povo por Ele amado. Assim viveu o arcebispo de San Salvador, como Bom Pastor. Por esta causa fundamental morreu, e por este testemunho fiel será lembrado como fiel servo do Cristo Salvador. ____________________________________________________________ A Igreja Católica em todo o continente da América Latina possui 425.599.389 milhões de fiéis, reunidos em 800 dioceses, 31.530 paróquias, 104.331 centros de evangelização, coordenados por 1.201 bispos, 66.684 sacerdotes, 10.302 diáconos permanentes, 5.484 irmãos, 129.813 irmãs e 1.350.495 catequistas. A Igreja de El Salvador que sempre foi a razão de ser de toda a vida de dom Romero é bem pequenina, mas, muito vigorosa em sua fé e sua fidelidade a Cristo Salvador. Ela é composta por 5.029.704 de católicos (79,87%), nove circunscrições eclesiásticas, 12 bispos, 765 sacerdotes, dois diáconos permanentes, 70 irmãos, 1.632 irmãs e 7.534 catequistas, que se reúnem em 828 centros de pastoral. * Fernando Altemeyer Junior é teólogo, doutor em ciências sociais, professor nas Faculdades Claretianas, na UNISAL, na EDT e na PUC-SP. Este artigo foi publicado na edição Novembro 2009 da revista Missões. Fonte: Revista Missões 5 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Dom Romero, Mártir "Tenho sido freqüentemente ameaçado de morte. Devo dizer a eles que, como cristão, não creio na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho". Dom Óscar A. Romero Neste mês de março de 2010 a Igreja da América Latina celebra os trinta anos do martírio de Dom Oscar Romero († 1980), Arcebispo de El Salvador, assassinado pela repressão de extrema-direita que oprimia a nação após um execrável golpe de estado. El Salvador tinha um governo ditatorial, que foi derrubado por outro golpe de extrema-direita, realizado por uma "junta governativa", composta por militares e civis, e apoiada pelos Estados Unidos. Como a opressão e a injustiça aumentaram, o Arcebispo Romero se insurgiu contra esse estado de coisas, que esmagava o povo, composto em sua maioria de pobres, índios e pequenos lavradores. Enquanto padre, Oscar Romero era um burocrata, homem mais de sacristias e bibliotecas do que de uma atuação pastoral propriamente dita. Tanto que, por conta de seu perfil tímido e pouco combativo é que foi designado pelo Vaticano para ser bispo, porque o que menos as cortes romanas queriam naquele momento era a ascensão de alguém que postulasse a causa dos pobres e dos oprimidos, pois a Igreja da América Latina era, em sua maioria, naquela década, aderente à Teologia da Libertação. É curioso que a conversão de Dom Romero, pelo menos à causa dos pobres e dos explorados - uma classe de maioria nas terras de El Salvador - ocorreu depois de sua nomeação para as funções de bispo. Ele pode sentir a miséria do seu povo e violência dos poderosos, que - como em muitos paises do Continente - matavam ou faziam desaparecer líderes, camponeses, padres, agentes de pastoral e tantos quantos fizessem fretenir suas vozes em defesa do povo esmagado. Apesar de ameaças, perseguições e boicotes, o bispo tornava suas palavras, em homilias, pregações e discursos, cada vez mais candentes, dirigidas e corajosas, denunciando tudo o que era feito no país, como uma violação aos direitos do povo e à ética nacional. Dom Oscar Romero revestiu-se de uma coragem profética que faltou à maioria dos bispos da América, inclusive no Brasil, também dominado pelo tacão de uma ditadura militar, onde se destacou o destemor de Dom Helder, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Pedro Casaldáliga, Dom José Maria Pires e poucos outros que tiveram coragem de dizer que aquilo (prisões, cassações, expurgos, tortura e mortes) era um crime, contrário ao projeto de Deus. Depois da morte de seu ajudante, o jesuíta Rutillo Grande Garcia († 1977), Romero passou a acusar frontalmente os poderes, governantes, militares e ricos, responsabilizando-os de todos 6 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo os males ocorrentes no país. Ora, depois dessa atitude de afronta ao poder político-econômica que se julgava dono de El Salvador, os dias do pastor estavam contados. O padre Rutillo (pronuncia-se Rutílio) fez muitas denúncias contra a situação de pobreza do povo, a insensibilidade das elites e a violência do governo. Numa homilia proferida a 13 de Fevereiro de 1977 (ele seria assassinado trinta dias depois), ele bradou: "A Eucaristia que estamos celebrando hoje, alimenta este nosso ideal de uma mesa comum para todos, com um lugar para cada um e Cristo no meio". A 12 de Março seguinte, quando se dirigia para a sua terra natal com outros cristãos para preparar uma festa religiosa, foi morto por militares, com uma rajada de metralhadora. Dom Oscar Romero afirmou que foi o exemplo do padre Rutillo e a sua morte que o convenceram a colocar-se decididamente ao lado dos pobres e dos injustiçados de El Salvador. Um grupo de bispos latinoamericanos, em março de 1980, na cerimônia dos funerais de dom Romero, assinou um documento que dizia: "Três coisas admiramos e agradecemos no episcopado de dom Oscar Romero: foi, em primeiro lugar, anunciador da fé e mestre da verdade [...]. Foi, em segundo lugar, um resoluto defensor da justiça [...]. Em terceiro lugar, foi o amigo, o irmão, o defensor dos pobres e oprimidos, dos camponeses, dos operários, dos que vivem nos bairros marginalizados". A história da vida, trabalho e martírio de Oscar Arnulfo Romero Galdámez hoje faz parte da caminhada da Igreja da América Latina, de seu martirológio e dos atos da missão cristã no Continente. El Salvador é o menor país da América Central, com apenas 21 mil quilômetros quadrados e um PIB insignificante, a renda per capita é de US$ 1.045/ano, uma das piores qualidades de vida da América Latina. Mais de 90% da população, de cerca de seis milhões de habitantes, é constituída de mestiços. Em 12 de maio de 1994 a Arquidiocese de San Salvador pediu permissão ao Vaticano para iniciar o processo de canonização de Dom Oscar Romero. O processo diocesano foi concluído em 1995 e enviado à Congregação para a Causa dos Santos em 1997, no Vaticano, que em 2000 o transferiu à Congregação para a Doutrina da Fé (então dirigida pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI) para que analisasse os escritos e homilias de Dom Oscar Romero. Terminado a análise, em 2005, o postulador da causa de canonização, Dom Vicenzo Paglia, informou aos meios de comunicação as conclusões do estudo: "Romero não era um bispo revolucionário, mas um homem da Igreja, do Evangelho e dos pobres". O processo seguirá novos trâmites burocráticos, que poderão elevar oficialmente Oscar Arnulfo Romero à honra dos altares como o primeiro santo e mártir de El Salvador. Enquanto o processo de canonização segue em passos de tartaruga em Roma, para a indignação de muitos cristãos, o povo salvadorenho, da América Central e de todo Mundo já considera Romero um santo, mártir e profeta das Américas e do Mundo. Ao seu túmulo, sob a catedral de San Salvador, acorre diariamente muita gente peregrina agradecendo a ele graças recebidas e buscando forças e inspiração para seguir sendo discípulo dele na luta por justiça e paz. Hoje existem, em vários pontos da América Latina, casas de formação religiosa que homenageiam o prelado salvadorenho, como, por exemplo, o Seminário Maior Dom Oscar Romero, de Balsas, no Maranhão. Ao visitar o túmulo de Dom Oscar Romero, dia 16 de abril de 2009, fui tomado por uma emoção muito grande. De repente, chegou um senhor, aparentando uns 60 anos de idade, que de joelhos, rezava sem parar. 7 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Após uns 15 minutos de oração, quando ele se levantou, eu me aproximei dele e o cumprimentei dizendo que era brasileiro, discípulo de Romero. Perguntei, após saudá-lo, "o que significa Dom Oscar Romero para o senhor?" Luiz Alonso começou a dizer: "Monsenhor Romero é um santo, um mártir, um profeta, já reconhecido por todo o povo salvadorenho e pelo mundo todo. Somente o Vaticano ainda não o reconheceu como santo. Venho diariamente ao túmulo de Monsenhor Romero rezar, agradecer e renovar inspiração para seguir a luta que ele enfrentou na defesa dos pobres perseguidos pela elite deste país. Monsenhor era um verdadeiro pastor. Em uma perna, dava acolhida a uma pessoa que estava chorando porque a Guarda Nacional tinha matado seu filho, na outra perna acolhia outra pessoa que desesperada procurava um parente desaparecido. Em suas homilias, Monsenhor era a voz dos sem voz. Ele teve a coragem de enfrentar o sistema de morte que imperava aqui no país. Com Romero, podemos dizer: Agora, podemos! Ele está vivo, ressuscitado no povo salvadorenho!". Texto de Frei Gilvander, carmelita, mestre em Exegese Bíblica, professor de Teologia Bíblica; assessor de CEBs, CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; e-mail: [email protected] Discursos e Homilias de Dom Oscar Romero Os discursos e homilias de Romero, como peças de apostolado e profecia estão gravados na memória da Igreja e no coração do povo salvadorenho e latino-americano. A leitura desses textos serve de mote para pregações, admoestações e inspiração para todos que busquem a edificação espiritual. "Irmãos, como gostaria de gravar no coração de cada um esta grande idéia: o cristianismo não é um conjunto de verdades que se deve crer, de leis que temos que cumprir, de proibições! Isto se torna repugnante! O cristianismo é uma pessoa, que me ama tanto, e que reclama meu amor. O cristianismo é Cristo" (06/11/1977). Suas pregações não eram coisas sofisticadas, cheias de palavras difíceis e intrincadas construções teológicas. Ele falava a linguagem simples do povo. "Que beleza será o dia em que cada batizado compreenda que sua profissão, seu trabalho é um trabalho sacerdotal; que assim como eu vou celebrar a missa neste altar, cada carpinteiro celebre sua missa no banco da carpintaria, cada encarregada da colheita de folhas, cada profissional, como médico com seu bisturi, a senhora que atende no mercado, estão exercendo um ofício sacerdotal. Quantos motoristas sei que escutam em seus táxis, diariamente a Palavra. Pois você, caro taxista, junto a seu volante, é um sacerdote se trabalhar com honradez, consagrando a Deus seu carro, levando uma mensagem de paz e de amor aos clientes que vão no seu carro" (20/11/1977) A incoerência de muitos, ontem como hoje, lá como aqui, era denunciada de modo contundente, numa crítica entre a disparidade do falar e do agir. "Uma religião de missa dominical, mas de semana injusta, não agrada ao Senhor. Uma religião de muitas rezas e tantas hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja que se instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, mas que se esquece do clamor das injustiças, não é verdadeiramente a Igreja do nosso divino Redentor" (04/12/1977). 8 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo As elites e as oligarquias sociopolíticas, sem a devida sensibilidade de aderir ao sofrimento dos pobres, dos famintos e dos injustiçados, nunca titubeou em denegrir a atividade dos apóstolos, nem nunca deixou de desmerecer a conduta dos profetas. "Quando se dá pão ao faminto, nos chamam de santo; se perguntamos as causas porque o povo tem fome, nos chamam de comunistas ateus" (15/11/1978). "Quando nos chamarem de loucos, ainda que nos chamem de subversivos, comunistas e todas as ofensas que assacam contra nós, sabemos que não fazem mais do que pregar o testemunho ‘subversivo’ das bem-aventuranças, que anima a todos para proclamar que os bem-aventurados são os pobres, bem-aventurados os sedentos de justiça, bem-aventurados os que sofrem" (11/05/1978). Os ricos e poderosos, nunca digeriram a assimetria de seu estado de abastança que estabeleciam um confronto com a penúria dos pobres, famintos e marginalizados. Para eles seria interessante que o pobre continuasse pobre, calado e sem alguém que intercedesse por ele. As elites sociais, religiosas e oficiais sempre quiseram nos fazer crer que a pobreza é vontade de Deus. "Muitos desejariam que o pobre sempre dissesse que é pobre porque ‘é vontade de Deus’ ser pobre. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Uma idéia assim não pode ser de Deus. De Deus é a vontade que todos seus filhos sejam felizes" (10/09/1978). "Muitos se dizem cristãos, mas tem mais fé em seu dinheiro e em suas coisas que em Deus, que construiu as coisas e o dinheiro" (03/06/1979). Sentindo a opressão sobre aquele segmento da Igreja que profetizava as denúncias contra as injustiças, Romero deu alento aos seguidores de Jesus. "Uma Igreja que não sofre perseguições, e que está desfrutando os privilégios e o apoio da burguesia, não é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo" (11/03/1979). Assim como Moisés criticou as obras suntuosas dos faraós, Romero condenou a construção de prédios, públicos e privados, que não serviam à causa de todos. "De que servem belas estradas e aeroportos, belos prédios de muitos pisos, se estão construídos sobre o sangue dos pobres que jamais vão desfrutar deles" (15/07/1979). Romero nunca foi contra a riqueza. Combateu, isto sim, a acumulação desenfreada, a ambição e aquilo que João Paulo II denunciara a partir do encontro de Puebla (1979): a existência de ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres. Aos que acusaram - como sempre sucede aos profetas - de "comunista" temos o veredicto de Ratzinger (hoje Bento XVI) que leu todos os seus discursos, homilias e demais escritos, tachando-os de "puro cristianismo" com absoluta fidelidade ao evangelho de Jesus. "Não é um privilégio para a Igreja estar de bem com os poderosos. O privilégio da Igreja é este: sentir que os pobres a sentem como sua, sentir que a Igreja vive uma dimensão na terra, chamando a todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir da ótica dos pobres, porque eles são unicamente bem-aventurados (17/02/80). "Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza que consolida em muitos o valor do ‘ter’ e faz esquecer que a verdadeira grandeza é ‘ser’. Nada vale ao homem pelo que tem, mas pelo que ele é" (04/11/1979). 9 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Apesar do caos que imperava na sociedade salvadorenha, o epíscopo-profeta tinha esperanças numa restauração social, política e religiosa, à luz do evangelho. "Que formoso será o dia em que uma sociedade nova, em vez de armazenar e guardar de forma egoísta, partilhe, reparta e se doe, alegrando a todos, porque todos nos sentimos filhos do mesmo Deus. Que outra coisa deseja a Palavra de Deus neste ambiente salvadorenho, senão a conversão de todos para que nos sintamos irmãos" (27/01/1980). A esperança era a tônica do seu discurso. Sobre a terra, o Reino já está misteriosamente presente; quando o Senhor vier, atingirá a perfeição (GS 39). "Esta é a esperança que nos alenta, todos os cristãos. Sabemos que todo o esforço por melhorar uma sociedade, sobretudo quando está tão imersa na injustiça e no pecado, é um esforço que Deus quer, abençoa e exige de nós" (24/04/1980) Quando sentiu que sua atuação o colocava em rota de colisão com os poderosos (empresários, latifundiários, banqueiros, militares) ele sentiu que seu fim estava próximo, e sempre demonstrou que, por causa de sua fé, não temia a morte. "Tenho sido freqüentemente ameaçado de morte. Devo dizer a eles que, como cristão, não creio na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho". "Digo isso sem nenhuma ostentação, mas com grande humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandado divino, a dar a vida por aqueles a quem amo, que são todos os salvadorenhos, inclusive aqueles que vão me assassinar. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde agora ofereço a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição de El Salvador". "O martírio é uma graça de Deus, que não creio merecer, porém, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se transformará logo em realidade". Oscar Romero, como foi dito, não temia a morte. Ele conhecia, pela meditação da Palavra, que este era o destino do profeta. Quanto mais criticava a injustiça, mais era ameaçado pelos injustos. Ele apenas lamentava a falta de apoio por parte de alguns irmãos do episcopado, que chegaram a escrever para Roma, denunciando-o como "marxista". Ele sabia que sua morte serviria para a libertação do povo. "Minha morte, se aceita por Deus, que seja para a libertação do meu povo e sirva como testemunho de esperança no futuro". Vocês podem escrever: "se chegarem a me matar, desde já eu perdôo e abençôo aquele que o fizer. Desta maneira se convencerão que perdem seu tempo. Um bispo morrerá, mas a Igreja de Deus, que é o povo, nunca perecerá" (entrevista concedida ao Diário Excelsior do México, em março de 1980, duas semanas antes de sua morte). Como de resto em toda a América Latina de ontem e de hoje, o Judiciário era falho, moroso, comprometido e pouco transparente. Ele acusou a Justiça de seu país de ser parcial: "A justiça é como as serpentes: apenas morde os descalços." 10 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Dou abaixo um fragmento da última homilia de Dom Romero, proferida na véspera de seu assassinato. "Frente à ordem de matar seus irmãos deve prevalecer a Lei de Deus, que afirma: Não matarás! Ninguém deve obedecer a uma lei imoral (...). Em favor deste povo sofrido, cujos gritos sobem ao céu de maneira sempre mais numerosa, suplico-lhes, peço-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus: cesse a repressão!" (23 de março de 1980). Estas seriam as últimas palavras do bispo ao país. Foi sua última homilia, carregada de tons proféticos, rico do mais puro conteúdo evangélico. No dia seguinte, ele é assassinado por um franco-atirador (há quem diga que era um agente da CIA), enquanto celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência. O arcebispo é atingido pelo tiro no momento em que erguia o cálice com o vinho consagrado. Ao cair, o sangue de Cristo se mistura com o sangue do mártir, numa comunhão perfeita, prenúncio da comunhão definitiva. O suposto mandante do crime, major Roberto D’Aubuisson, é reconhecido como responsável, mas, como acontece em muitos lugares, ele nunca foi punido. Palavras de Dom Samuel Ruiz Garcia A seguir, as palavras de Dom Samuel Ruiz Garcia, bispo emérito de San Cristóbal de Las Casas, Chiapas, México sobre o colega assassinado. "Dom Romero foi um bispo exemplar, porque foi um bispo dos pobres em um continente que carrega tão cruelmente a marca da pobreza das grandes maiorias, enxertou-se entre eles, defendeu sua causa e sofreu a mesma sorte deles: a perseguição e o martírio. Dom Romero é o símbolo de toda uma Igreja e de um continente latino-americano, verdadeiro servo sofredor de Yahwé, que carrega o pecado, a injustiça e a morte de nosso continente. Embora, às vezes, o pressentíamos, seu assassinato não nos surpreendeu; seu destino não podia ser outro, pois ele foi fiel a Jesus e se inseriu de verdade na dor de nossos povos". Vida de Oscar Arnulfo Romero y Guadamez Oscar Arnulfo Romero y Guadamez nasceu em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, em El Salvador. Sua família era numerosa e pobre. Quando criança, sua saúde inspirava cuidados. Com apenas 13 anos entrou no seminário. Foi para Roma completar o curso de teologia com 20 anos e se ordenou sacerdote, em 1943. Retornou a El Salvador, na função de pároco. Era um sacerdote generoso e atuante: visitava os doentes, lecionava religião nas escolas, foi capelão do presídio; os pobres carentes faziam fila na porta de sua casa paroquial, pedindo e recebendo ajuda. Durante 26 anos, na função de vigário, padre Oscar Romero conheceu a miséria profunda que assolava seu pequeno país. A maioria dos países sulamericanos, inclusive o Brasil, vivia duras experiências de cruentas ditaduras militares, na década de 1970. Também para El Salvador era um período de grandes conflitos. Em 1977, padre Oscar Romero foi nomeado Arcebispo de El Salvador, chegando à capital com fama de conservador. No fundo era um homem do povo, simples, de profunda sensibilidade para com os sofrimentos da maioria, de firme perspicácia aliada à coragem de decisão. 11 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Em 1979, o presidente do país foi deposto por um golpe militar. A ditadura se instalou no país e, pouco a pouco, se acirrou a violência, através de perseguições, prisões, torturas e mortes. Reinou o caos político, econômico e institucional no país. De janeiro a março de 1980 foram assassinados 1015 salvadorenhos. Os responsáveis pertenciam às forças de segurança e às organizações conservadoras do regime militar instalado no país. Nessa ocasião, dois sacerdotes foram assassinados violentamente por defenderem os camponeses, que foram pedir abrigo em suas paróquias. Dom Romero teve que se posicionar e, de pronto, se colocou no meio do conflito. Não para aumentá-lo, mas para ajudar a resolvê-lo. Esta atitude revelou o quando sua espiritualidade foi realista e o seu coração, sereno e obediente ao Evangelho. No dia 24 de março de 1980, Dom Romero foi fuzilado, em meio aos doentes de câncer e enfermeiros, enquanto celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência, na capital de El Salvador. Sua ação pastoral visava ao entendimento mútuo entre os salvadorenhos. Criticava duramente tanto a inércia do governo, as interferências estrangeiras, como as injustiças praticadas pelas oligarquias da elite e dos grupos "revolucionários". O Arcebispo Romero foi fiel a Igreja, e pagou com a vida o preço de ser discípulo de Cristo. O seu nome foi incluído na relação dos 1015 salvadorenhos que foram assassinados, em 1980. Sua morte serviu para alertar o país e o mundo sobre as questões de El Salvador. Se não ficou tudo "às mil maravilhas", muita coisa foi corrigida e encaminhada para uma harmonização. SÃO ROMERO DE AMÉRICA PASTOR E MÁRTIR O anjo do Senhor anunciou na véspera... O coração de El Salvador marcava 24 de março e de agonia Tu ofertavas o Pão, o Corpo Vivo o triturado Corpo de teu Povo: Seu derramado Sangue vitorioso O sangue "campesino" de teu Povo em massacre que há de tingir em vinhos e alegria a Aurora conjurada! E soubeste beber o duplo cálice do Altar e do Povo, com uma só mão consagrada ao Serviço. O anjo do Senhor anunciou na véspera e o verbo se fez morte, outra vez, em tua morte. Como se faz morte, cada dia, na carne desnuda de teu Povo. E se fez vida Nova 12 Romero 30 Anos Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Em nossa velha Igreja! Estamos outra vez em pé de Testemunho, São Romero de América, pastor e mártir nosso! Romero de uma Paz quase impossível, nesta Terra em guerra. Romero em roxa flor morada da Esperança incólume de todo Continente Romero desta Páscoa latino-americana. Pobre pastor glorioso, assassinado a soldo, a dólar, a divisa. Como Jesus, por ordem de Império. Pobre pastor glorioso, abandonado por teus próprios irmãos de Báculo e de Mesa. (As Cúrias não podiam entender-te: Nenhuma Sinagoga bem montada pode entender a Cristo) (Poema "São Romero de América" de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia). A vida de Dom Oscar Romero pode ser vista no vídeo "Romero", (só existe em VHS), distribuído pela Warner. Não deixem de ver o filme para conhecer a história desse mártir da América Latina. É um tema rico para reflexão, meditação e despertar um sentido missionário em todos, a partir da juventude. Antonio Mesquita Galvão é Doutor em Teologia Moral Dom Oscar Romero Mártir da Igreja e ícone da luta por justiça (Publicado no Jornal de Opinião, n. 1084 – 22 a 28 de Março/2010 - Páginas 8 e 9.) Os 30 anos do assassinato do bispo de San Salvador são lembrados como sinais de esperança na América Latina e no mundo Mônica Bussinger 13 CEBs Acontecendo Um atirador de elite do Exército salvadorenho invade a capela do Hospital da Divina Providência (o Hospitalito, instituição que ainda cuida de pacientes com câncer) e com um tiro certeiro interrompe a celebração da Eucaristia. Dom Oscar Arnulfo Romero, bispo de San Salvador, tomba executado pelas forças de Direita que ainda dominavam o país, como ocorria em toda a América Latina. Era 24 de março de 1980, tempo de quaresma. O mundo se volta para El Salvador e o sangue do sacerdote suscita sentimentos de indignação e revolta à opressão vivida pelo povo salvadorenho. Tem início a guerra civil que duraria até 1992. O bispo que repetiu o gesto de Cristo, morrendo pelo seu povo e pela coerência com o Evangelho, ao contrário do que planejaram seus opositores, não deixa o embate político em prol da população (especialmente dos camponeses). O momento histórico testemunha a profecia do próprio dom Oscar Romero ao afirmar: “Se me matam, ressuscitarei na luta do povo salvadorenho”. O bispo de San Salvador torna-se então mártir da Igreja e ícone da luta pela justiça em seu país e em toda aquela região. Os 30 anos do assassinato de dom Oscar Romero, comemorados em 24 de março de 2010, denunciam ainda a impunidade que campeia na história da América Latina. O mandante do crime, o major Roberto D’Aubuisson, fundador do partido Aliança Republicana Nacionalista (ARENA, de direita), que governou o país entre 1989 e 2009, morre em 1992, sem sequer responder a processo. Dos acordos de paz à vitória da esquerda A Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN) fundada em 1980 como grupo guerrilheiro, passou a reunir as facções de esquerda: Forças Populares de Liberatação Farabundo Martí (FPL), Exército Revolucionário do Povo (ERP), Resistência Nacional (RN), Partido Comunista Salvadorenho (PCS) e Partido Revolucionário dos Trabalhadores Centroamericanos (PRTC). O nome escolhido para a coalizão homenageia o líder comunista Farabundo Martí, fundador e dirigente do PCS em 1930. A antiga guerrilha converteu-se em partido político após os acordos de paz de Chapultepec (México), que colocaram ponto final nos doze anos de uma terrível guerra civil. No período, setenta e cinco mil pessoas foram mortas. Dados da Comissão de Verdade criada pelas Nações Unidas, apontam que 85 por cento dos assassinatos foram cometidos pelo Exército e esquadrões da morte, apoiados financeiramente pelos Estados Unidos e cinco por cento pela guerrilha. Dezessete anos depois de ter deposto as armas, a FMLN elegeu, em 15 de março de 2009, o jornalista Mauricio Funes como presidente de El salvador. De tendência socialdemocrata, ele não participou da luta armada. Em contrapartida, o vice-presidente, Salvador Sánchez Cerén, esteve no comando da guerrilha. A vitória da Frente varreu do poder a Aliança Republicana Nacionalista (Arena), partido de extrema-direita fundado por Roberto d’Aubuisson (mandante do assassinato de dom Oscar Romero). As outras duas formações conservadoras derrotadas que haviam se aliado à ARENA eram o Partido de Conciliação Nacional (PCN), representante dos governos militares (19611976), e o Partido Democrata Cristão (no poder entre 1984 e 1989). A aliança de partidos conservadores conduziu uma “campanha de medo”, com apoio dos veículos de comunicação que se utilizavam da linguagem arcaica da Guerra Fria. A estratégia, entretanto, não convenceu a população. Nas urnas, o povo consagrou a FMLN como principal força política do país, mesmo sem ser maioria da Assembleia Nacional, ao eleger um presidente de centro-esquerda. A guinada no quadro político, conforme avaliam especialistas, foi alavancada pela precária situação social. Só para se ter uma ideia da realidade local, dos 5,7 milhões de habitantes mais de 2,5 milhões de cidadãos se viram obrigados a emigrar, em busca de melhor sorte nos Estados Unidos. Quase metade da população vive abaixo da linha de pobreza e 20 por cento na extrema miséria. O quadro se completa com o desemprego em massa e com a maior taxa de homicídios do continente: 68 assassinatos por cem mil habitantes. 14 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo União nacional por um país melhor O atual arcebispo de San Salvador, dom José Luis Escobar Alas, fez um convite à população para que se una ao governo na luta contra a violência e, assim, impeça que o Estado desapareça. Durante entrevista coletiva, dom Escobar afirmou que atualmente o país ainda vive situação de violência inconcebível. Ele condenou os dois recentes massacres no país, nos quais doze pessoas morreram e tiveram os corpos mutilados. “Não vamos perder a fé, não vamos perder a esperança”. El Salvador encerrou 2009 com 4.365 homicídios, com média de 12 mortes violentas por dia. Os números se aproximam dos apurados após a guerra civil, em 1992. Este ano, as estatísticas policiais, apontam aumento no número de mortes violentas, com a média de 13 ao dia. A TRAJETÓRIA DE DOM OSCAR ROMERO • 1917 – Nasce Oscar Arnulfo Romero em uma família modesta em Ciudad Barrios (El Salvador). • 1931– Aos 14 anos o menino Oscar ingressa no seminário, mas seis anos depois se afasta para ajudar a família que estava com dificuldades. Passa a trabalhar nas minas de ouro com os irmãos. Retoma os estudos e é enviado a Roma para estudar teologia. • 1942 – Ordenado sacerdote, volta a El Salvador e assume uma paróquia do interior. Logo é transferido para a catedral de San Miguel, onde fica por 20 anos. Sacerdote dedicado à oração e à atividade pastoral, pobre, dedica-se a obras de caridade, mas sem engajamento reconhecidamente social. • 1966 – Dom Oscar assume como secretário da Conferência Episcopal de El Salvador. • 1970 – É nomeado bispo auxiliar de San Salvador. O bispo dom Luis Chávez y Gonzalez busca atualizar a linha pastoral de acordo com o Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín. Romero não se identifica integralmente com a linha pastoral proposta, revelando-se conservador. • 1974 – É nomeado bispo da diocese de Santiago de Maria, em meio a um contexto político de forte repressão, sobretudo contra as organizações camponesas. • 1975 – A Guarda Nacional executa cinco camponeses e dom Romero celebra missa em intenção das vítimas. Ele não faz denuncia explícita do crime, mas escreve uma carta severa ao presidente Molina. • 1977 – A nomeação de dom Oscar Romero como bispo de El Salvador desagrada os setores renovadores. Mas em 12 de março é assassinado o jesuíta padre Rutílio Grande, engajado na luta do povo e ligado a dom Oscar. Este é o momento em que ele reavalia sua posição e se coloca corajosamente junto aos oprimidos, denunciando a repressão, a violência do Estado e a exploração imposta ao povo pela aliança entre os setores político-militares e econômicos, apoiada pelos Estados Unidos. O bispo denuncia também a violência da guerrilha revolucionária. Suas homilias são transmitidas pela rádio católica dando esperança à população e provocando a fúria dos governantes. • 1978 – É homenageado com o título de doutor honoris causa das Universidades de Georgetown (EUA) e de Louvain (Bélgica). • 1979 - Em outubro, um golpe de Estado depõe o ditador Humberto Romero. Uma junta de civis e militares assume o poder, e nesse cenário, exército e organizações paramilitares assassinam centenas de civis (entre eles sacerdotes). A guerrilha retalia com execuções sumárias. • 1980 – Em 17 de fevereiro, dom Romero escreve ao presidente dos EUA, Jimmy Carter. O bispo faz um apelo para que ele não envie ajuda militar e econômica ao governo salvadorenho, para não financiar a repressão ao povo. • 1980 - Na homilia de 23 de março, o bispo se dirige explicitamente aos homens do Exército, da Guarda Nacional e da Polícia e afirma: “Frente à ordem de matar seus irmãos deve prevalecer a Lei de Deus, que afirma: NÃO MATARÁS! Ninguém deve obedecer a uma lei imoral (...). Em favor deste povo sofrido, cujos gritos sobem ao céu de maneira sempre mais numerosa, suplico-lhes, peço-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus: cessem a repressão!” Estas foram as últimas palavras do bispo ao país. • 1980 – Em 24 de março, dom Oscar Romero é assassinado por um franco-atirador, enquanto reza a missa na capela do Hospital da Divina Providência. 15 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo • 1994 – Abre-se o processo de canonização de dom Romero em San Salvador. • 1997 – O processo passa para a Congregação das Causas dos Santos em Roma. • 2010 – Em 24 de fevereiro, 30 anos da morte de dom Oscar Romero, Organizações sociais e religiosas apresentaram ao Parlamento salvadorenho petição para instituir 24 de março como “Dia Nacional de dom Oscar Arnulfo Romero”. Espiritualidade aliada ao compromisso político O olhar do teólogo João Batista Libânio, professor na Faculdade jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) Marco simbólico do continente latino-americano. Responde bem à pedagogia de Deus. Não escolhe os grandes deste mundo, mas os pequenos para confundir os fortes. Assim, lá vivia em El Salvador um bispo conservador que assumiu o pastoreio sob o olhar complacente e feliz da burguesia. Homem piedoso e honesto, sim, mas preso nas malhas da tradição, tecida por uma oligarquia impiedosa de longa data. Diante do corpo ensanguentado de Rutílio Grande, sacerdote jesuíta (1977), promotor da libertação dos oprimidos, dom Romero modifica radicalmente sua postura em face do Governo e urge a investigação do crime. Como este fora perpetrado por forças do próprio Governo, tal insistência só produzia ódio contra ele. Daí para frente o arcebispo enceta uma caminhada ao lado do povo sofrido até ser assassinado pelas forças repressivas do Estado em 1980. Além do testemunho maravilhoso de vida, de coragem e de entrega, dom Romero deixou-nos magnífica coleção de homilias. Ele criou gênero próprio de pregações. Serviam simultaneamente de informação de fatos acontecidos no país, que a rigorosa censura escondia, e de alimento para a fé do povo simples no meio da terrível repressão e pobreza. Transparece nelas, de modo original e corajoso, uma espiritualidade aliada a sério compromisso político. O bispo de formação religiosa tradicional, sem perdê-la no que tem de piedade popular, assumiu uma linguagem de ponta na linha da libertação. Esta não nasceu de nenhuma crítica a partir da racionalidade moderna, mas da provocação que lhe veio da realidade sofrida de seu povo. Ele se sentia verdadeiro mediador entre a Palavra de Deus lida na celebração e a comunidade eclesial da qual era pastor. Articulava maravilhosamente as interpelações nascidas da Escritura com a vida das pessoas. Esta lhe oferecia o olhar crítico para compor as homilias. Algo admirável por provir precisamente da mais alta autoridade eclesiástica do país, onde uma Igreja durante séculos compactuara com as classes dominantes. Agora se produzia a ruptura no espírito do Evangelho de Jesus. Bispo, ele se entendia no espírito do Concílio Vaticano como servidor do povo de Deus. Mostrou enorme coerência entre a autenticidade de vida e as palavras até o extremo do martírio. Renunciara habitar luxuosa residência oferecida pela burguesia salvadorenha para ocupar modesto quarto do hospital dos cancerosos de San Salvador. Fazia ecoar, praticamente, a única voz de verdade e profecia naquele momento de censura rigorosa por parte do Governo, mesmo quando ele se dera conta das ameaças de morte. Proclamava-se a “voz dos sem voz” e não temeu cumprir tal missão. E por isso foi assassinado. Sofreu no interior da Igreja discriminação e incompreensão. Tal solidão o acompanhou até a morte em testemunho muito próximo ao de Jesus. 16 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Uma voz que grita, seu sangue é nossa bebida. “São Romero da América, Pastor e Mártir” “Se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho” Vou arriscar-me a escrever algumas linhas sobre o nosso São Romero da América, não sei se conseguirei, pois se trata de uma singular grandeza a vida desse bispo, profeta e mártir de nosso povo, de nossa alma. Estamos celebrando nesse mês o Jubileu de seu martírio. Dias antes de ser assassinado enquanto erguia o cálice com o sangue do Mártir Maior, Jesus Cristo, d. Romero sentenciava: “O martírio é uma graça de Deus que não creio merecer, porém, se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue, então, seja semente de liberdade e sinal de que a esperança será logo uma realidade”. Desde as comunidades primitivas, o sangue dos mártires são sementes de liberdade que atualizam a paixão de Cristo. Os mártires trazem a palma da vitória na mão e nos oferecem o sangue no cálice de que todos nós devemos beber. Lembrar de nossos mártires é lembrar o perfume que emana de sua profecia. O Reino está entre nós. Ser mártir por causa do Reino é uma graça que poucos mereceram. A memória do martírio é uma memória subversiva já nos lembra o bispo de São Felix do Araguaia. Apesar das contradições de nossa história, d. Romero segue ressuscitando a vida de seu povo - de nosso povo - Latino Americano. No início de seu ministério episcopal, d. Romero assume uma linha conservadora de pastoral. Após sua nomeação de Arcebispo de El Salvador nosso mártir inicia seu processo de “conversão”. Passa categoricamente a defender os pobres, num diálogo ecumênico e universal. “Tudo é graça, tudo é Páscoa”. Jubileu é tempo de renovação, de buscarmos o espírito crítico, criativo e cuidador como nos aponta Leonardo Boff. Jubileu é momento impar de renovação. Precisamos acender a lâmpada de nossa esperança. Em nosso país estamos vivendo a Campanha da Fraternidade, que nesse ano é Ecumênica. Lembramo-nos a palavra ardente de Jesus: “vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. São Romero nos aponta a uma santidade tão mística quanto política. Precisamos vencer essa “gangue monstruosa que é o capitalismo neoliberal”, e servirmos a Deus no próximo. Só assim, então, poderemos construir o “outro mundo possível”, onde a economia está a serviço da vida. Num dado momento de sua entrega d. Romero não fora compreendido pelos seus irmãos de “báculo e de mesa”. Será que alguma sinagoga bem montada e estruturada pode 17 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo compreender o Cristo? Não sei. O que sei é que d. Romero se manteve fiel no seguimento de Jesus, Reino adentro. Seu sangue é semente de vida a brotar em nossa vida de paixão e morte. Morte e Ressurreição no Reino futuro. Quero terminar essa memória, lembrando uma poesia feita pelo nosso querido irmão d. Pedro Casaldáliga que com o irmão Parkinson louva e agradece a Deus pela vida de São Oscar da America Latina: “Estamos outra vez em pé de testemunho, São Romero de América, pastor e mártir nosso! Romero de uma paz quase impossível nesta terra em guerra. Romero em flor morada da esperança incólume de todo o Continente. Romero da Páscoa latino-americana. Pobre pastor glorioso, assassinado a soldo, a dólar, a divisa O Povo te fez santo. A hora do teu Povo te consagrou no kairós. Os pobres te ensinaram a ler o Evangelho. São Romero de América, pastor e mártir nosso: ninguém há de calar tua última homilia”! Amém. XVIII JORNADA De Oração e Jejum em memória dos missionários mártires Na "semente lançada por Dom Romero, como por muitos outros mártires cristãos da antiguidade e de hoje, a comunidade cristã reencontra o sentido profundo da vida segundo o Evangelho e a coragem de uma memória ativa, capaz de continuar o caminho com uma perspectiva melhor". O Grupo Juvenil Missionário das Pontifícias Obras Missionárias da Itália recorda no próximo dia 24, o 30° aniversário do assassinato de Dom Oscar Arnulfo Romero. Os jovens recordam a cada ano nessa data, todos os missionários assassinados no mundo com um Dia de Oração e Jejum em memória dos missionários mártires. A iniciativa chegou à sua 18ª edição e se realiza em várias dioceses do mundo e muitos institutos religiosos recordam, através de várias iniciativas, seus missionários que derramaram seu sangue por causa do Evangelho. As comunidades paroquiais e de vida consagrada, seminários, noviciados, grupos engajados, são propostos a realização da Vigília de Oração, a Via Sacra, a Adoração Eucarística sobre o tema do dia. 18 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Entre outras indicações sugere-se a criação nas igrejas de um ângulo do martírio utilizando uma cruz, pano vermelho, um ramo de oliveira com os nomes dos missionários e missionárias mortos; tocar os sinos às 15h do dia 24 de março para convidar à meditação sobre o sacrifício de Cristo de tantas mulheres e homens de boa vontade; plantar uma árvore para lembrar o amor daqueles que deram tudo por amor. As famílias podem acender uma vela vermelha nas janelas junto com um pano vermelho; fazer um gesto de reconciliação entre os membros da família e os vizinhos. Oferecer a oferta do jejum para ajudar nos projetos de solidariedade proposto este ano. Doentes e sofredores 19 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo podem oferecer seu sofrimento em memória dos missionários e missionárias mortos por causa do Evangelho. Os jovens são convidados a doar sangue e visitar os que estão sozinhos e oprimidos, no hospital, clínicas e cárceres... http://www.fides.org/aree/news/newsdet.php?idnews=17106&lan=por Ano 2009 37 http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=76955 Missionarios assassinados no mundo, destes seis foram no Brasil: Pe. Ramiro Ludeña, espanhol, assassinado a 20 de Março no Recife, Pe. Gisley Azevedo Gomes, encontrado sem vida a 16 de Junho, Brasília. Pe. Ruggero Ruvoletto, italiano, assassinado a 19 de Setembro em Manaus, Pe. Evaldo Martiol, assassinado em Santa Catarina, a 26 de Setembro. Pe. Hidalberto Henrique Guimarães, assassinado a 7 de Novembro em Maceió, Pe. Alvino Broering, assassinado a 14 de Dezembro em Santa Catarina, Brasil. http://www.mgm.operemissionarie.it/vis_news.php?id_art=687 Padre Ruggero, + 19/09/09 Todo o meu ser vos pertence por minha vontade, de todo o meu coração, fazei de mim o que quiserdes...” Carlos de Foucault 20 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Missa lembra o 30º ano da morte de dom Oscar Romero Hoje, 24, o secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Dimas Lara Barbosa, a convite da embaixadora de El Salvador no Brasil, senhora Rina del Socorro Rojas, celebrará uma missa solene, às 19:30h, na capela Nossa Senhora Aparecida, sede da CNBB, em respeito ao 30º aniversário de morte de dom Oscar Arnulfo Romero. O arcebispo de San Salvador foi assassinado em 24 de março de 1980, em plena guerra civil que vivia este país centro-americano. Quem foi dom Romero? Nascido em 15 de agosto de 1917, na Ciudad Barrios, distrito de San Miguel, em El Salvador, Oscar Arnulfo Romero Galdámez, mais conhecido como dom Romero, foi o quarto arcebispo metropolitano de San Salvador, entre os anos de 1977 e 1980. Em Roma, ele estudou na Pontifícia Universidade Gregoriana. Ele foi ordenado sacerdote em 4 de abril de 1942. Em 25 de abril de 1970 foi nomeado bispo auxiliar de San Salvador, e em 15 de outubro de 1974, bispo de Santiago de Maria. Dom Romero assumiu a arquidiocese de San Salvador em 3 de fevereiro de 1977 e foi escolhido arcebispo por seu conservadorismo. Durante seu trabalho ele foi contra qualquer tipo de violência, posição que o fez ser comparado ao líder indiano Mahatma Gandhi e ao americano Martin Luther King. Em suas homilias dominicais ele passou a denunciar as violências contra os direitos humanos e chegou a manifestar publicamente solidariedade pelas vítimas da violência política que assolava o país da época, no contexto da Guerra Civil daquele país caribenho. “A missão da Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua Salvação”, disse, dom Romero, em sua homilia do dia 11 de novembro de 1977. Ele foi assassinado em 24 de março de 1980 por um atirador de elite do exército salvadorenho, treinado nas Escolas das Américas, enquanto celebrava missa. Quando se espalhou pelo mundo a notícia de seu assassinato, houve comoção e protestos, além de pressões internacionais por reformas em El Salvador. O papa João Paulo II o declarou servo de Deus. Fonte: CNBB 21 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Sementes de Solidariedade A Comunidade Ecumênica Dom Oscar Romero e o Clube de Mães dos Cotianos na cidade de Piedade, SP, realizaram mais um Almoço Popular de R$1,00 no dia 21 de março, na sede do Clube. O cardápio foi: arroz, feijão ajoelhado, farofa e panqueca. O Sangue de Dom Oscar frutificou em muitas obras e uma delas é a Comunidade Ecumênica Dom Oscar Romero, que se coloca a serviço da Vida e da Esperança, fazendo sempre a opção pelos pobres. 22 Romero 30 Anos CEBs Acontecendo Expediente Responsável: Éder Massakasu Aono – Sorocaba – SP - [email protected] Colaboração Maria Matsutacke – Jacareí – SP Bernadete Mota – S. José dos Campos – SP Frei Gilvander Moreira – Belo Horizonte – MG Cleberson Ferreira – Registro – SP Leandro Longo – Mogi Guaçú – SP Acessem o sítio: www.cebs-sul1.com.br Sítios Parceiros: www.cebs-sul1.com.br - www.cebsuai.org - www.mfcpara.org.br http://juventudeemmissao.blogspot.com/2009/12/cebs-acontecendo.html www.mfc.org.br. 23 Romero 30 Anos
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