Era um protestante sem fé, sentiu um chamado a ir à mis

Transcrição

Era um protestante sem fé, sentiu um chamado a ir à mis
O testemunho de Elliott Suttle, de formação metodista
Era um protestante sem fé,
sentiu um chamado a ir à missa e ao comungar notou uma
descarga eléctrica
Elliott Suttle é actualmente professor de inglês no Japão, onde conduz 2 horas para ir a uma missa de 10 ou 20 paroquianos
Actualizado 15 de Julho de 2014
P.J.Ginés/ReL
Elliott Suttle cresceu num povoado da Carolina do Norte numa família cristã metodista que ia à igreja todos os domingos, ainda que nunca falavam de coisas de
Deus em casa. A sua mãe foi educada como presbiteriana e o seu pai como baptista e ao casar-se decidiram que assistiriam a uma igreja metodista como “terreno neutral”.
Suttle nunca ouviu dizer nem uma palavra sobre a Igreja Católica, nem boa
nem má, até que na adolescência conheceu os vizinhos, uma família católica que
se acabava de mudar para a vizinhança. “Recordo que fui à missa com eles em
certo momento mas o único que recordo de verdade é que nos joelhávamos na
missa”, comenta Elliott Suttle no seu testemunho publicado no Why I’m Catholic.
Adolescente atraído pelas coisas de Deus
Nessa época Suttle sentia-se atraído pelas coisas de Deus. Parecia-lhe que algo andava mal quando via que sobre um mesmo tema um pastor pregava
uma coisa e outro a contrária.
Além disso, na escola e na igreja, na preparação optara pela confirmação (estilo
metodista) e molestavam-no os mesmos rapazes que o tinham escolhido como alvo
das suas partidas e brincadeiras contínuas.
Mas para ele a confirmação era importante, era um “sim” a Deus. O seu avô
inclusive tinha-lhe o f e r e c i d o uma Bíblia, a mesma que ele tinha recebido
na sua própria confirmação. A Elliott doía-lhe muito não poder assistir a esse
dia tão especial por culpa de uma enfermidade estomacal.
Nos anos anteriores à universidade, a família mudou-se para a Califórnia e ele
encontrou uma congregação metodista com magníficos ministérios para jovens:
iam a assembleias e convenções juvenis quase todos os meses, e de facto ele
foi monitor num acampamento para r a p a z e s no Alasca. Gostava de participar nestas coisas, ainda que não afectava muito a sua vida fora das actividades
eclesiais.
Universitário sem Deus e sem igreja
Quando começou a ir à universidade, deixou de ir à igreja. Disse a si mesmo:
“não necessito da igreja para manter a minha relação com Deus”. Além disso, costumava passar toda a noite desperto (videojogos, amigos, diversões) e ia
para a cama pela manhã à hora em que começavam os serviços religiosos.
Na universidade conheceu o debate sobre o aborto. Um amigo fez-lhe ver que
era um tema importante e que não podia manter-se sem tomar posição. Reflectiu durante um par de semanas e chegou à conclusão de que “o assassinato está mal, ainda que se faça em nome da liberdade pessoal”. Em
toda a sua vida, nunca abandonou esta convicção.
A sua posição espiritual foi deslizando. Primeiro disse que podia viver uma relação com Deus sem igreja… E depois que podia ser moral, bom, sem Deus. O terceiro nível foi assumir que a religião era algo molesto, que o aborrecia, e
passou a considerar-se agnóstico.
Uma vez descobriu no banco traseiro do carro de um amigo que levava uns folhetos da sua paróquia. Só ver isso despertou nele certa raiva, desprezo, zanga…
Anos depois identificaria esse sentimento pelo seu nome real: culpa.
Católicos firmes e defesa da vida
Em princípios de 2005 começou o debate sobre Terri Schiavo, uma mulher
em coma, que para manter-se viva não necessitava respirador nem tratamento
desproporcionado algum, mas sim o mesmo que todos nós: alimento e hidratação, que se lhe desse de comer. O seu marido pediu que se deixasse de alimentá-la, pedia matá-la de fome e sede, assegurando que ela o t e r i a querido.
Os seus pais protestavam e pediam ao hospital que não a matassem: o
símbolo da sua lucha era uma colher, alimentar o enfermo. O tema aparecia em
televisões e jornais, e era usado pelos defensores da eutanásia para promover
a sua posição.
Elliott Suttle não era a pessoa mais virtuosa do mundo mas professava com
firmeza os valores próvida: matar de fome ou sede um doente está mal.
Na rádio escutava com frequência Sean Hannity, um católico – como a família de
Terry Schiavo - que explicava com razões porque o marido de Terry era injusto ao
pedir para retirar a alimentação à sua esposa doente. Suttle viu que Hannity e
os pais de Terry tinham a Igreja Católica e a sua fé católica como fortes
pilares para apoiar-se contra o que chamavam “a cultura da morte”.
“Ainda que eu não fosse crente, os argumentos de Sean Hannity ressoavam em
mim e pareciam-me correctos”, recorda.
Dois Papas na TV
Por esses mesmos dias passou-se algo que colocou a Igreja Católica nos televisores de todo o mundo: o 2 de Abril de 2005 morria João Paulo II, o homem mais
fotografado e mais retransmitido da história, Papa durante 27 anos, e abria-se
um processo de eleição do novo Pontífice, Bento XVI. Elliott seguiu esses acontecimentos pela televisão com interesse.
Assim, os meios de comunicação tinham-no aproximado da Igreja Católica
através de grandes personalidades: a família de Terri, Sean Hannity, dois papas…
Três dias antes, em 31 de Março, tinha morrido de inanição Terri Schiavo; tinham-lhe retirado a alimentação 13 dias antes por ordem do juiz da Florida
George W. Greer.
Estas mortes tinham feito pensar Elliott… E a Semana Santa estava em marcha.
Estranha noite de Páscoa e videojogos
Na noite de Páscoa, enquanto se sentava para jogar videojogos no seu computador toda a noite, Elliott foi “oprimido por uma necessidade de ir à
igreja pela manhã. Este sentimento veio do nada, e contradizia tudo o que
era a minha vida nesse momento. Inclusive hoje, o único que posso dizer é
que o Espírito Santo me deu um conhecimento absoluto, indubitável, de
que tinha que ir à igreja pela manhã. No fundo da minha mente, aparecia que
tinha que ser uma igreja católica, mas a mensagem esmagadora é que devia ir à
igreja”.
Era um impulso tão insistente que Elliott se levantou e consultou a lista telefónica
da cidade (Tuscaloosa, Alabama, 95.000 habitantes), para comprovar que havia
muitíssimas igrejas de muitíssimas denominações… Decidiu centrar-se nas católicas… E havia só uma paróquia.
Elliott não tinha nenhuma vontade de ir à igreja, mas pactuou consigo
mesmo que se despertasse às 9:30 da manhã iria à missa das onze.
Ficou jogando no c omputador um pedaço mais e deitou-se passada a meianoite, “assegurando-me de não ligar o alarme do despertador”.
Despertou de forma natural exactamente às 9:30.
Sem nenhuma vontade e queixoso deu-se conta de que devia cumprir o seu com-
promisso. Tomou duche, subiu para o carro e procurou a igreja.
Um protestante agnóstico vai comungar
Entrou no templo e sentou-se na zona traseira. “Enquanto esperava a missa tive a
sensação de que havia alguém presente, alguém diferente dos paroquianos, o
padre e o diácono. Soube no meu coração que Deus estava presente no
edifício, o l h a n d o e observando o serviço. Eu vinha de um ambiente
protestante, onde a comunhão não era grande coisa, não tinha nem ideia do
que era a comunhão católica”.
Durante a missa, imitou o que via ao seu redor: sentava-se quando todos o faziam, levantava-se quando o faziam os demais… E foi comungar quando viu
que as pessoas iam, sem saber nada da doutrina que reserva a comunhão
só para aqueles q u e estão na Graça de Deus e reconhecem que é realmente o
Corpo e o Sangue de Cristo.
“Ofereciam a hóstia e a taça. Ao receber cada uma, foi quase como ser golpeado por um raio eléctrico. Quero dizer que houve uma sensação real
física de electricidade ao receber cada espécie. Era algo que nunca antes
tinha experimentado e para o qual não estava preparado”.
Esmagado, ao terminar a missa foi ao diácono a comentar-lhe o que tinha passado
e sentido. Explicou-lhe a sua formação metodista, o seu sentimento na noite, a
sua falta de fé… O diácono disse-lhe que evidentemente Deus queria que viesse
à missa nessa manhã e passou-lhe o contacto com o Curso de Iniciação Católica para Adultos.
Explorando a fé
Assim Elliott inscreveu-se no curso de Verão com outras 17 pessoas. Considerava-o uma exploração da fé católica. No princípio não se animava a ir à missa
aos domingos porque pensava que os seus pais, sendo protestantes, podiam zangar-se, mas quando o comentou com a sua mãe e lhe explicou brevemente o
que se tinha passado ela respondeu, entre lágrimas, que estava muito
feliz de que fosse à igreja, qualquer que fosse.
Em 9 de Outubro de 2005 Elliott foi recebido na plenitude da Igreja Católica na
paróquia do Santo Espírito de Tuscaloosa (www.hschurch.com) e em A bril de
2006 ingressava como membro dos Cavaleiros de Colón, a associação de laicos
católicos mais espalhada nos EUA.
Mais à frente, num retiro numa abadia beneditina, conheceu a sua espiritualidade e adoptou a prática da liturgia das horas, assegurando a sua
oração diária.
Na Primavera de 2013 chegou ao Japão como professor de inglês. A igreja católica mais p r ó x i m a f i c a a 2 horas de carro: há uma só missa ao
domingo, com apenas 20 paroquianos. Às vezes, só há 10. Não há coro,
não há grupos comunitários… Todas essas coisas que as paróquias dos EUA
dão por contadas. Mas nessa pobreza ele manteve-se fiel à sua fé, e conta o
seu testemunho para que ajude outros cristãos.
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