economia finanças - CORECON-GO
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ECONOMIA & FINANÇAS Uma publicação do Março a junho | N. 15, Ano VI CORECON-GO recebe palestra sobre capitalismo Artigos avaliam aspectos econômicos do Estado e País De olho no mercado Sob perspectivas liberais e desenvolvimentistas, VIII Encontro Estadual de Estudantes debateu caminhos da política econômica brasileira para mais de 700 pessoas. Os economistas André Martins Biancarelli e Bernardo Santoro foram os palestrantes Momento de avanços e conquistas O A revista oficial do CORECON-GO ECONOMIA & FINANÇAS O Primeiro ano de gestão foi de muitas realizações e desafios superados, por isso não tiramos o pé do acelerador e iniciamos os primeiros meses do segundo mandato motivados pelo sucesso do VIII Encontro Estadual de Estudantes de Economia de Goiás.com palestras de auto nível e o auditório lotado nos dois dias do evento. Os economistas André Martins e Bernardo Santoro realizaram debates riquíssimos nas linhas de pensamento liberal e desenvolvimentista. Na oportunidade, ainda apresentamos para a classe e sociedade, o vice-presidente eleito, os novos conselheiros efetivos e suplentes relativos ao triênio 2015/2017. EXPEDIENTE Tivemos outras vitórias importantes, como uma participação cada vez maior dos economistas na mídia, seja em jornais impressos, rádios, televisão ou em artigos publicados semanalmente.Outra conquista, foi a indicação do meu nome por unanimidade para receber a medalha Ministro Celso Furtado, láurea regulamentada pela resolução CORECON-SP 568, de 14 de março de 2012, que visa agraciar os economistas que tenham se destacado no ramo das Ciências Econômicas e prestado relevantes serviços a Economia e a Sociedade. CONSELHEIROS Essa homenagem dos economistas de São Paulo a um profissional goiano, na minha opinião, advém de um contexto histórico, daquilo que foi construído ao longo dos anos, e de muito esforço dos fundadores deste conselho e de todos aqueles que aqui passaram, e deixaram suas contribuições para chegarmos onde chegamos. Divido com todos os economistas, conselheiros, estudantes e corpo administrativo, e especialmente os meus professores, a honra recebida porque ela é fruto do trabalho que estamos promovendo em Goiás. Tudo o que conquistamos gera ainda mais protagonismo a constante atuação do CORECON-GO e nos deixa mais animados e ansiosos para seguirmos fortes e trabalhando de forma transparente, aberta ao debate e as críticas, em prol da nossa classe e da sociedade. Temos muitos outros desafios para serem superados, mas todos serão discutidos e pensados em conjunto. Vamos continuar avançando juntos! Obrigado! PRESIDENTE Econ. Antônio Eurípedes de Lima e-mail: [email protected] VICE-PRESIDENTE Econ. Everaldo Leite e-mail: [email protected] 1° Terço Efetivo - 2013/2015 Econ. Álen Rodrigues de Oliveira Econ. Everaldo Leite da Silva Econ. Wellington Matos de Lima 07 10 13 17 2° Terço Suplente – 2014/2016 Econ. Adriano de Carvalho Paranaíba Econ. Danilo Orsida Pereira de Sousa Econ. Régina das Graças Moreira Borges 3o Terço Efetivo - 2015/2017 Econ. Antônio Eurípedes de Lima Econ. Geraldo Almeida Silva Econ. Reinaldo Jubé dos Santos 3o Terço Suplente - 2015/2017 Econ. Eduardo Vitoy Econ. Guilherme Resende Oliveira Econ. Marcelo Viana Van Der Broocke FOTOS Arquivo CORECON-GO Foto: Sueli Gebrin no mercado 2° Terço Efetivo – 2014/2016 Econ. Edilson Gonçalves Aguiais Econ. Joaquim da Cunha Bastos Junior Econ. Mônica de Souza JORNALISTA RESPONSÁVEL Bruno Félix – (JP-GO 2397) [email protected] | 62. 8408-1416 Antônio Eurípedes de Lima Presidente do Conselho Regional de Economia da 18ª Região (CORECON-GO) De olho 1° Terço Suplente - 2013/2015 Econ. Aurélio Ricardo Troncoso Chaves Econ. Bruno Regiany Peixoto Pimenta Econ. Fábio Cardoso da Silva GERENTE EXECUTIVA Econ. Maria Paula de Oliveira Boa Leitura! ÍNDICE Rua 86, nº 617, Setor Sul. Goiânia-GO - Cep: 74.083-330 Fone: (62) 3218-3311 [email protected] 04 08 12 14 Aliado da pobreza......................................................................................................................... 4 Brasil: uma economia em frangalhos............................................................................................. 7 Paradigma do mal- estar................................................................................................................ 8 Atentos ao mercado.................................................................................................................... 10 Entrevista: André Martins Biancarelli............................................................................................ 12 Entrevista: Bernardo Santoro....................................................................................................... 13 Goiás - O polo de desenvolvimento do Centro-Oeste................................................................... 14 Competitividade e segurança jurídica com a terceirização............................................................ 17 Terceirização e as relações de trabalho........................................................................................ 18 18 Entrevista Aliado da pobreza O economista Adriano Paranaíba e o presidente do Instituto Liberal do Nordeste, Rodrigo Saraiva Marinho, ministraram palestra no CORECON-GO sobre como atua o capitalismo em favor dos pobres O economista Adriano Paranaíba e o advogado e presidente do Instituto Liberal do Nordeste, Rodrigo Saraiva Marinho, falaram sobre o polêmico tema O Capitalismo em Favor dos Pobres, no dia 7 de março, no auditório Vicente Luiz Cardoso, na sede do Conselho Regional de Economia de Goiás (CORECON-GO). O objetivo do encontro foi apresentar sugestões sobre como é possível ajudar as populações mais necessitadas por meio do livre mercado e da defesa do direito de propriedade. Os questionamentos levantados seguem uma abordagem liberal, baseada na Escola Austríaca de Economia e já passaram por vários estados, como Ceará, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, entre outros. O evento foi organizado pelo vice-presidente do CORECON-GO, Everaldo Leite. Confira a seguir entrevista com os palestrantes: 4 Economia & Finanças Advogado Rodrigo Saraiva “O capitalismo é feito para multidões” O capitalismo é a solução para diminuir a pobreza? Rodrigo Saraiva Marinho: É a solução ideal. De fato é a única possibilidade para diminuir a pobreza no mundo. Países como Hong Kong, Coreia do Sul, Singapura, Austrália e Nova Zelândia, nos anos 80, eram mais pobres que o Brasil, e se tornaram mais ricos, porque apostaram no livre mercado e conseguiram ter um capitalismo pujante e as pessoas deixaram a pobreza para a riqueza. Capitalismo não é um sistema estável, nem político, é um sistema econômico, de funcionamento social, do cotidiano. O americano Milton Friedman, um dos mais influentes teóricos do liberalismo econômico no século 20, dizia que “sociedades que põem igualdade antes de liberdade acabam sem nenhuma das duas. Enquanto as que põem liberdade antes de igualdade acabam com uma boa medida de ambas”. Adriano Paranaíba: O capitalismo, quando do seu surgimento com a Revolução Industrial, foi um divisor de águas para a vida das pessoas, pois garantiu a abertura de oportunidades de prosperidade, o que até então não acontecia: se você nascesse servo, você morreria servo! Somente com o capitalismo a ascensão social se tornou possível. A própria revolução industrial, ao promover produção em escala de produtos até então manufaturados, proporcionou uma redução efetiva do custo de produção, tornando os bens mais acessíveis, até mesmo aos mais pobres. O Brasil pratica o capitalismo? Rodrigo Saraiva Marinho: Não o capitalismo que de fato prevalece no mundo. Nós participamos de um patrimonialismo, cor- porativismo, qualquer coisa que não seria capitalismo, porque se não seria livre mercado. Estamos muito longe disso porque temos uma economia atualmente ao ponto do estado definir que ele vai, por exemplo, estatizar as empreiteiras, ou seja, vai controlar as empreiteiras, então, isso não funciona. A ideia do capitalismo é permitir, principalmente, que os mais pobres entrem no mercado. A última coisa que esse pessoal quer é concorrência. Os mais pobres não só pagam mais tributos, como eles têm uma regulação fiscal, econômica, de acesso, em relação aos mais ricos. O capitalismo é feito para multidões, bilhões, não é feito para alguns. Essa é a diferença. Adriano Paranaíba: Roberto Campos, na década de 80, disse que o capitalismo ainda não tinha chegado ao Brasil. Infelizmente, até nos dias atuais isso não aconteceu. O que temos no Brasil é uma social-democracia que beneficia alguns em detrimento da população, e faz isso em nome do desenvolvimento econômico do País. Qual sua opinião sobre o sistema de cotas raciais? Rodrigo Saraiva Marinho: Sou completamente contrário. Dessa forma, em um país completamente miscigenado, como o nosso, não se pode afirmar taxativamente que alguém é branco ou negro. Aí você vai estar pagando uma dívida histórica com os brancos pobres, pois existem brancos pobres e negros pobres. Os maiores prejudicados nessa suposta dívida que está sendo abatida vão ser as pessoas das cores erradas. Essa vai ser a lógica. Como é uma autodeclaração eu também posso dizer que sou negro, pardo, azul ou amarelo, não tem como definir isso. Economia & Finanças 5 Artigo O que importaria nesse caso seria o indivíduo. A solução ideal seria voucher social para as pessoas com situações mais difíceis, em vez de pagar toda a instituição burocrática para receber esses grupos. Adriano Paranaíba: O sistema de cotas distorce qualquer possibilidade de meritocracia. Não existe como fazer justiça social promovendo a segregação das pessoas. Economista Adriano Paranaíba: “O capitalismo foi um divisor de águas” Brasil: uma economia em frangalhos Qual seria a solução ideal para o capitalismo em favor dos mais pobres? grande vilão foi e vem sendo a queda no preço das commodities; na balança de serviços o preço do aluguel de máquinas e/ou equipamentos subiu US$ 3,6 bilhões, totalizando em 2014, US$ 22,7 bilhões, situação que tende a se manter neste ano. Rodrigo Saraiva Marinho: Abrir o mercado, diminuir o estado, quanto menos estado, menor corrupção, mais liberdade e mais prosperidade. O interessante é você pensar que os países que tiveram ideal de neoliberalismo mais forte e próximo sempre geraram riqueza. Os países que sempre tiveram o ideal de socialismo ou dessa ideia de corporativismo mais forte sempre geraram pobreza e morte. Então, por isso, você consegue ter uma referência real do que parece valer a pena e eu não tenho dúvida de que o capitalismo já foi pelo menos testado e aprovado e é, a priori, um sistema em que você vai poder definir o que vai fazer da sua própria vida. Auditório do CORECON-GO ficou lotado Adriano Paranaíba: A redução do Estado promove a redução da necessidade de impostos altos, como os do Brasil. Infelizmente, são os pobres que pagam o maior volume destes, graças aos impostos indiretos, que incidem nos remédios, na comida, no transporte público. Menos Estado significa que o salário do trabalhador poderá valer mais, o ganho será muito grande, tanto para os pobres como para a economia. que poderá crescer de verdade, sem precisar de manobras monetárias ou fiscais. Você acredita que essa medida seja implantada algum dia? Palestra atraiu profissionais e estudantes Rodrigo Saraiva, Antônio Eurípedes, Adriano Paranaíba e Everaldo Leite 6 Economia & Finanças Rodrigo Saraiva Marinho: Acredito. Não tenho dúvida disso. O estado está morrendo, falido, principalmente dessa política que vivemos hoje, você sente uma reação muito forte de vários grupos sociais fortes que estão cansados. Estamos vivendo um momento de virada de ideias, estamos saindo do estado de bem-estar social em todo o mundo e estamos começando a apostar que as pessoas vão inovar e criar soluções para isso como eles fizeram desde a Revolução Industrial. É preciso desmitificar que o capitalismo não é bom para os ricos, é bom para todo mundo, principalmente para os mais pobres. Adriano Paranaíba: Se no século XI você perguntasse para alguém se seria possível separar o Estado da Religião, certamente lhe diriam que isto seria impossível, e veja como é atualmente! Acredito que seja possível separarmos o Estado da Economia, mesmo que, para muitos, isso seja impossível! Júlio Paschoal Economista, Mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFU-MG, Professor da cadeira de Macroeconomia da UEG-GO e Diretor do Instituto Teotônio Vilela. O s efeitos nocivos sobre a confiança da população e de investidores internos e externos provocados por escândalos que vieram à luz com a operação Lava Jato, além da crise hídrica e energética, déficit nas contas externas, aumento das taxas de juros e impostos, inflação crescente e a necessidade de severos ajustes fiscais, têm deixado a economia brasileira em frangalhos. No campo das contas externas, as importações superaram as exportações em US$ 3,4 bilhões enquanto que as despesas brasileiras externas superaram as receitas em US$ 90 bilhões, o equivalente a 4,17% do PIB. Em valores nominais o crescimento em relação a 2013 foi de 12,0%, contrariando inclusive as expectativas do Banco Central que afirmava que haveria queda, explicitando assim mais um erro de cálculo da autoridade monetária. Pelo lado da balança comercial, o No governo passado a política externa foi relegada a segundo plano. O resultado deste descaso foram os fracos desempenhos comerciais obtidos, espelho de uma situação calamitosa em que se encontram algumas embaixadas, como a do Japão, com falta de pessoal especializado e recursos para o pagamento de despesas básicas como energia elétrica, telefone e água. Outro dado que merece reflexão é a participação dos manufaturados na exportação total, pois em 20 anos chegou ao menor patamar perdendo 2,8 pontos percentuais no comparativo de 2014 com 2013, ficando em 35,6%. No campo interno, os números do cadastro geral de empregados e desempregados – CAGED nos mostram os efeitos da crise em que o País se encontra. A diferença positiva entre o número de empregados e desempregados passou de 1.117.200 em 2013, para 396.900 empregados em 2014, uma a queda de mais de 720 mil vagas. A questão da crise elétrica mostra a falta de planejamento do governo federal, os baixos investimentos em um setor fundamental para o desenvolvimento. A desoneração de 20% nas contas de energia anunciada em cadeia nacional pela presidente em 2013 desorganizou o setor, além de estimular o consumo de um bem que já era escasso. As termoelétricas passaram a funcionar continuamente desde o ano passado, produzindo uma energia mais cara, cuja conta se pagará em 2015, aumentando mais a inflação. E caso a crise hídrica se prolongue, até a possibilidade de racionamento já aparece no cenário. Para além das questões aqui levantadas outra atinge toda a população e o setor produtivo em particular: o aumento da carga tributária. O aumento desestimula novos investimentos, que gerariam empregos, e também compromete a oferta de bens. Neste cenário, controlar a inflação se torna mais difícil, uma vez que, a continuar esta situação, a tendência é de falta de componentes para o processamento industrial, com reflexos imediatos no preço dos produtos no mercado varejista. Um cenário adverso e a necessidade de fortes ajustes fiscais tendem a aprofundar o quadro de recessão. O reflexo acontece também no quadro do desemprego: o ano de 2014 fechou com uma taxa de 4,8%, e as medidas anunciadas até o presente momento tendem a agravar ainda mais a situação, podendo esta taxa ultrapassar a casa de 6,0% ao final do ano. Um dado que reforça esta tese é a de que a variação da demanda do consumidor por créditos no acumulado dos últimos 12 meses é de queda de 7,8%. A redução na tomada de crédito tanto por parte de pessoas físicas quanto jurídicas com certeza recairá sobre o baixo desempenho do PIB, uma vez que reduzirão o consumo das famílias e o volume total de investimentos, variáveis importantes na formação da riqueza de qualquer país. A falta de planejamento e a adoção de medidas inconsistentes por parte da equipe econômica que deixou o governo colocou a economia brasileira em frangalhos, deixando-a vulnerável e suscetível a crises. Economia & Finanças 7 Artigo Paradigma do mal-estar Everaldo Leite Economista da Câmara Municipal de Goiânia, vice-presidente do Conselho Regional de Economia 18ª. Região, professor de Economia da ALFA, mestrando em Filosofia pela UFG. A humilhação do governo brasileiro em relação ao fracasso de seu modelo de política econômica poderia, num país moralmente estável, deixar suas lições. A primeira delas, e quem sabe a mais importante, seria a de compreender que nem toda oportunidade de expandir a influência do Estado sobre a economia resultará em êxito. A segunda, tão notável quanto a primeira, seria a de que, face às nossas diversas restrições de país subdesenvolvido, soluções fáceis no curto prazo levarão não raramente a tempos difíceis no médio e longo prazos. Enfim, se coubesse uma terceira lição seria a de que a heterodoxia teimosa de nossa economia política, ao contrário do desejado, é o modo mais insustentável de se pensar o desenvolvimento de uma nação. 8 Economia & Finanças Obviamente, por aqui muitas lições de economia (novamente, fôssemos outro país) deveriam ter sido apreendidas antes, não só no sentido de promover as melhores práticas políticas no âmbito macroeconômico, mas também para conferir os necessários destravamentos microeconômicos. A má compreensão, ou má intenção, ao propor intervenções explicitamente populistas durante seis anos seguidos induziu o processo econômico brasileiro à degeneração sistemática de seus pilares e à desmoralização efetiva do seu mercado. Se por um lado este estado de coisas impôs recentemente um esforço de longa duração para recompor tais bases (percamos mais tempo, porque não?), por outro é correto dizer que demos um pontapé colossal na eficiência do sistema, que somente deverá ser alcançada naquele dia (agora sim) em que, segundo o economista Keynes, “estaremos todos mortos”. Sem dúvida, nosso paradigma socioeconômico de país é o do mal-estar social. Sem lições a priori ou sem lições a posteriori, o certo é que não há notícias nacionais no campo econômico que possamos chamar de positivas. O ajuste fiscal do governo, quimioterápico, deverá deprimir ainda mais a economia no biênio 2015-2016 e retirar quaisquer resquícios de otimismo que estiver por aí, na cabeça de empresários ou de trabalhadores. Com muitas incertezas assumindo seu lugar na realidade e poucos recursos entrando no caixa sobrará aos gestores realizar diversos cortes de custos e reduzir sua escala de produção, o que corresponderá a uma maior taxa de desemprego e, por fim, arrefecimento dos salários. Se, por milagre ou por efeito do remédio, a economia começar a sair de sua enfermidade em 2017 o mercado se readequará estrategicamente para os novos tempos e agora, na busca de um novo e melhor patamar de produtividade, manterá a taxa de desemprego alta, assim como mais baixos os salários – pelo menos no curto prazo ou no tempo que for necessário. Ruim? Haja bolsa-família! Mas passar pelo pior antes de enxergar a luz vinda lá de cima, da boca do poço, será a experiência de uma sociedade que não aprendeu com seus erros. Ou que foi incentivada a estar errada? “Não se esqueçam o seguinte: o Brasil não gosta do sistema capitalista. Os congressistas não gostam do capitalismo, os jornalistas não gostam do capitalismo, os universitários não gostam do capitalismo. (...) Gostam do Estado, gostam de intervenção, do controle, do controle do câmbio. (...) O ideal, o pressuposto, que está por trás das cabeças, é um regime não capitalista e isolado, com Estado forte e bem-estar social amplo”, advertiu Fernando Henrique Cardoso, em seu livro A Arte da Política. Ora, se existe algo provável é que não dá para odiar a economia de mercado, sabotando-a de todas as formas, e cobiçar, ao mesmo tempo, o melhor do conforto oferecido por ela. Nalgumas paragens acadêmicas irão dizer, é claro, que o Estado brasileiro tornou-se um tipo de organização essencial que, através de gastos, de políticas e das leis, tem buscado coordenar o capitalismo por caminhos menos “caóticos”, incentivando empreendedores e trabalhadores na realização de suas utilidades. Todavia, na prática, esse leviatã “altruísta” não raramente vem excedendo a linha entre incentivar e determinar, e colonizando arrogantemente a dimensão econômica, gerando incongruências e malogros sociais. Faz bem lembrar como o Estado brasileiro impregnou a economia com artifícios, subsídios e créditos, instruindo os indivíduos ao consumo desenfreado e ao investimento irrefletido, prometendo uma prosperidade infinda? Não obstante, na sequência dos fatos, empurrou a economia para um ponto muito fora do seu equilíbrio natural e da sustentabilidade de crescimento. Quer dizer, o governo, mal orientado por seus opinatores oeconomicus aplicou intencionalmente na economia o que poderíamos denominar de “esteroides anabolizantes”. Analogamente ao que ocorreria num corpo humano, o artifício aumentou a musculatura da economia por um determinado tempo, até afetar-lhe a saúde – o que era esperado – e não poder mais ser utilizado, o que em pouco tempo fez minguá-la, perder potência. O que saudáveis vitaminas e exercícios continuados poderiam fazer positivamente por uma pessoa no longo prazo, melhores níveis de poupança interna e muito trabalho deveriam também fazer pela economia no sentido de alcançar o desenvolvimento pretendido e, porque não, o enaltecido pleno emprego.Entretanto, se, por um lado, o argumento governamental mais evidente – que oculta uma intenção eleitoreira – seria o da produção de uma pretensa felicidade coletiva, chamada de bem-estar social e definida como maior poder de aquisição de bens e serviços e conforto material, por outro, infelizmente, tais excessos (anticíclicos?) produziram francamente o pior dos mundos para uma nação: inflação com estagnação. De fato, é inquestionável a irresponsabilidade do governo como preponderante vetor da crise atual. O problema é que, para governos, que possuem breve mandato, parece somente valer a pena pensar em resultados de curto prazo, e para a sociedade brasileira, que também parece preferir satisfações mais imediatas, é quase sempre imprescindível que os governos criem receitas mágicas. A questão maior é se os brasileiros realmente acessarão algum desenvolvimento medíocre que seja mediante modelo tão desvirtuado como este, se agarrando às capciosas deliberações governamentais que, com convicção soviética, prometem satisfação coletiva, facilidades e excelências anteriores à produção. Observemos bem e verificaremos que o mal-estar da sociedade não advém diretamente da dimensão econômica, de suas correspondentes contingências naturais, mas é de ordem ético-cultural, incide de suas finalidades corrompidas ou contaminadas. Certamente, qualquer solução sustentável para o Brasil teria de partir desta constatação. Na obra O Capitalismo é Moral? O filósofo francês André Comte-Sponville se refere à economia como sendo uma dimensão “técnica, apolítica e amoral” do processo social, mas ao mesmo tempo sujeita-a hierarquicamente à política e à moral, que condizem diretamente à própria evolução da cultura humana. Karl Marx também afirmava que a economia se situaria no campo da infraestrutura social, abaixo portanto de uma superestrutura política e ética. Indubitavelmente, a meu ver, o caráter efetivo da economia deveria ser operacional e seus bens e serviços oferecidos para promover e garantir conforto material, e satisfazer desejos de acordo com as necessidades e o mérito de cada agente. Contudo, se os interesses por satisfação de desejos são supervalorizados pelos indivíduos e a política acredita em tais valores como superiores e prioritários, toda a sociedade se moverá em função disto, mesmo que se afunde em dívidas ou promova bolhas. Novamente: o caráter político e moral de uma nação –pior, se desvirtuado – é que estabelecerá enfim o rumo das coisas. Economia & Finanças 9 Encontro de Estudantes Presidente do CORECON-GO, Antônio Eurípedes fez a abertura oficial do evento VIII Encontro de Estudantes atraiu mais de 700 pessoas Atentos ao mercado Sob perspectivas liberais e desenvolvimentistas, evento debateu caminhos da política econômica brasileira para mais de 700 pessoas, entre estudantes e profissionais A s linhas de pensamento liberal e desenvolvimentista foram muito debatidas no VIII Encontro Estadual dos Estudantes de Economia de Goiás, realizado nos dias 11 e 12 de maio, no auditório Gilson Alves de Souza, da FIEG, em Goiânia. Em vertentes diferentes, os economistas André Martins Biancarelli e Bernardo Santoro ministraram palestras de acordo com o tema des- 10 Economia & Finanças ta edição: Os Caminhos para Política Econômica Brasileira: a Alternância Histórica entre Propostas Liberais e Desenvolvimentistas. Mais de 700 pessoas, entre estudantes e professores, participaram do evento, que é realizado anualmente pelo Conselho Regional de Economia de Goiás e pelo CORECON Acadêmico. A abertura oficial foi feita pelo Novos conselheiros do CORECON-GO e nova diretoria do CORECON Acadêmico foram apresentados Nova diretoria do CORECON Acadêmico ao lado do palestrante André Biancarelli (ao centro) Presidente do CORECON Acadêmico, Jaqueline Damasceno, com Antônio Eurípedes presidente do CORECON-GO, Antônio Eurípedes de Lima. Na oportunidade, o economista apresentou ao público os novos conselheiros efetivos (Geraldo Almeida Silva, Reinaldo dos Santos e Antônio Eurípedes), os suplentes (Guilherme Resende Oliveira, Marcelo Viana Van Der Broocke e Eduardo Vitoy) e o vice-presidente Everaldo Leite. A diretoria do Acadêmico também foi anunciada com Jaqueline Damasceno ocupando a presidência, Luana Ferreira na vice-presidência, Eurípedes Junior na diretoria executiva, Wagnner Filho secretário, e na direção de comunicação, Victor Paulo de Lino. A palestra de abertura foi feita pelo professor André Martins Biancarelli, da corrente desenvolvimentista. “Estamos passando por um momento de transição e uma mudança no plano da política macro é muito clara e teremos dificuldades para atingir os objetivos de ajustar as contas públicas e retomar o crescimento a partir de uma base mais equilibrada. A minha preocupação maior não é com o plano da política cambial, monetária e fiscal, é com um plano mais estatal da economia”, resumiu o economista. O encerramento foi feito pelo professor Bernardo Santoro, de pensamento liberal. O especialista falou sobre o cenário atual dos primeiros meses da política econômica do governo federal. “Estamos em uma completa bagunça política. Uma carga tributária de 37% do PIB e você querer aumentar impostos em qualquer circunstância é uma vergonha nesse ajuste fiscal. O povo é sempre sacrificado. Além disso, o governo está preso a vários escândalos, o que não permite programar nenhuma agenda positiva e, de repente, essa paralisação é uma coisa boa para o Brasil”, lamentou. O encontro ocorre anualmente e tem como objetivo a integração, informação e formação de toda a comunidade acadêmica acerca da conjuntura econômica atual, por meio da abordagem de temas pertinentes aos estudantes, a fim de que eles obtenham uma melhor compreensão da realidade nacional e especialmente da região Centro-Oeste. Economia & Finanças 11 Entrevista | André Martins Biancarelli Entrevista | Bernardo Santoro “Tenho dúvidas se o câmbio irá nos salvar” Q ual a sua avaliação desses primeiros meses sobre a política econômica do governo federal? Passa por um momento de transição. Uma mudança no plano da política macro é muito clara e teremos dificuldades em atingir os objetivos que seriam de ajustar as contas públicas e retomar o crescimento a partir de uma base mais equilibrada. A minha preocupação maior nem é com esse plano da política cambial monetária fiscal, porque não é ela a causa de todos nossos males e nem resolverá tudo, e sim com um plano mais estrutural da intervenção estatal econômica. Há sinais de que o governo vai reverter uma estratégia de maior controle sobre a economia e assim aumentar o protagonismo das forças de mercado. Isso não tende a conduzir bons resultados em longo prazo. A trajetória dos últimos 12 anos da economia brasileira segue uma linha de continuidade. Enfim, melhoramos, mas estamos muito longe de qualquer padrão de boa distribuição de renda. O que é preciso ser feito para reverter esse quadro? A saída seria ampliação do investimento público em infraestrutura com finalidade social (educação, saúde, saneamento, mobilidade urbana) porque gerariam aumento de bem -estar na população e se configuraria no motor econômico fundamental. Precisamos articular melhor tanto o investimento estatal como em associação com o setor privado porque o País precisa de investimento e se perdermos essa variável teremos muitas dificuldades de retomar o crescimento. Além disso, a ampliação do mercado interno de consumo precisaria ser renovada. A grande falha estrutural que não foi bem encaminhada por uma estratégia de desenvolvimento foi no setor da indústria, porque nossas indústrias estão cada vez mais importadoras. O que deu errado foi: 12 Economia & Finanças o estado intervindo demais na economia, os salários crescendo mais que a produtividade e o excesso de gasto público. A minha dúvida é: será que não foi a política macro? Estava claro que em 2014 precisávamos de ajustes, diante dos desequilíbrios das contas públicas. Segurar os preços da energia e da gasolina foi um erro. Qual a perspectiva para 2016? Um pouco menos pior que 2015, mas não aposto em uma retomada do crescimento significativo em novas bases para o ano que vem, a menos que alguma fonte de crescimento, que não está colocada, apareça, uma expansão inesperada das exportações ou o programa de infraestrutura deslanche, mas acho muito difícil que tudo isso aconteça. O cenário mais provável é muito ruim para 2015 e menos pior para 2016 no ponto de vista do crescimento. A inflação deve fechar o ano em torno de 8% a 8,5% e no próximo ano deve ficar menor. Agora provavelmente o número de desemprego será maior. Então, você terá um cenário com um alívio da inflação, mas às custas de maior desemprego e menor crescimento. A estrutura produtiva nacional hoje pode almejar no máximo proteger o seu mercado interno e importação em alguns setores específicos. Tenho dúvidas se o câmbio irá nos salvar. André Martins Biancarelli possui graduação, mestrado e doutorado em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (2007). Atualmente é professor da Universidade Estadual de Campinas, pesquisador e diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) desta instituição. Desde 2012 é editor da revista Economia e Sociedade e coordenador da Rede D. “O cenário mais provável é muito ruim para 2015 e menos pior para 2016 no ponto de vista do crescimento” “Aumentar imposto é um tapa na cara do brasileiro” Q ual a sua avaliação desses primeiros meses sobre a política econômica do governo federal? Os primeiros meses estão uma completa bagunça política, em um governo que se coloca meio PT e meio PMDB, situação imposta de maneira forçada, presa em escândalos, que não consegue programar nenhuma agenda positiva para o País. O que precisa ser destacado é que as reformas que o Brasil precisa - da dívida, da previdência, da educação, da saúde, tributária - não estão acontecendo. O governo federal, na ânsia de injetar mais dinheiro na economia, dentro daquilo que já convencionamos chamar de keynesianismo vulgar (se a economia está mal, gaste dinheiro na economia nacional, e se a economia vai bem, gaste mais um pouco também), reduziu ainda mais o depósito compulsório, obrigando os bancos a emprestarem esse novo excedente de recursos, ainda que na prática fazendo o nosso sistema bancário mais frágil. A lógica do estado é totalmente centralizadora de decisões e de informações. O que é preciso ser feito para reverter esse quadro? A primeira coisa que vejo é que o ajuste fiscal é essencial e você precisa respeitar a lei de responsabilidade fiscal porque é uma instituição fundamental até para a democracia, só que isso não está sendo feito da maneira correta e deveria haver algumas prioridades. A primeira seria de cortes de gastos do governo, cortes de cargos comissionados, diminuição de ministérios, entre outros. A segunda prioridade seria de olhar para o orçamento e fazer um mapeamento de gastos, tentar alongar as dívidas, respeitando os credores na questão previdenciária, discutir uma entrada maior do setor privado para desafogar um pouco o setor público, entre outros. É preciso repensar o BNDES. Depois de repensar tudo isso que se deve pensar em cortar alguns direitos sociais. Existe uma ordem de prio- ridades que não está sendo respeitada e aumentar imposto é um absurdo e um tapa na cara do cidadão brasileiro. Uma carga tributária de 37% do PIB e você querer aumentar imposto em qualquer circunstância é uma pouca vergonha e quem sempre é sacrificado é o povo, quando na verdade deveriam ser os políticos. O ajuste fiscal precisa ser feito. Qual a perspectiva para 2016? A pior possível. O aumento de preço tem um significado, que é de escassez de produtos e de serviços e no futuro você vai ver um apagão mesmo, a população sem água e sem energia, em um cenário parecido com o do deserto do Saara ou de algum país da Arábia. O que deveria ser feito é uma mudança de modelo, que não é de interesse do governo PT. Então, nada vai mudar e a tendência é continuar do mesmo jeito. A minha surpresa não é a inflação, que está passando dos 8% agora, mas de não ter alcançado ainda dois dígitos porque em 12 anos o PT diluiu o valor individual da moeda, que está ficando individualmente mais cara. Liberdade econômica no Brasil é uma piada, porque a gente se encontra muito atrás de vários países vizinhos e africanos. A burocracia de custos de transação é a maior maldade que se pode fazer contra os pobres. Também assistencialismo nunca é bom, traz incentivos perversos porque desestimula a produção. Bernardo Santoro é Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado, Diretor-Executivo do Instituto Liberal e vice-presidente de finanças do Botafogo (RJ). “A minha surpresa não é a inflação, que está passando dos 8% agora, mas de não ter alcançado ainda dois dígitos” Economia & Finanças 13 Artigo Goiás: o polo de desenvolvimento do Centro-Oeste cipalmente a partir de janeiro deste ano, com as medidas de ajustes na economia, promovidas pelo governo federal, oriundas da deficiência de gestão e planejamento em anos anteriores, o que tem provocado vários problemas na conjuntura econômica, como juros altos, a questão cambial, com a desvalorização do real frente ao dólar e a ameaça da volta da inflação, provocando um ambiente desfavorável no panorama interno e internacional, Goiás ainda tem se destacado no cenário nacional como o estado que mais tem crescido economicamente nos últimos anos e tem grandes chances de vencer mais uma vez essas dificuldades momentâneas e continuar no seu costumeiro trilho rumo ao crescimento e desenvolvimento econômico. João de Alcântara Lopes Economista e consultor de empresas Vice-presidente da AGPP – Associação Goiana dos Economistas Peritos e Projetistas G oiás tem despontado, nos últimos anos, como o estado cuja economia tem mais crescido não só no Centro Oeste, mas entre todos os estados brasileiros e tem registrado um crescimento constante acima da média nacional. Apesar das dificuldades vivenciadas e enfrentadas na nossa conjuntura econômica nos últimos anos, prin- O crescimento econômico de Goiás tem se caracterizado pela sua performance de caráter sustentável, sem solução de continuidade do processo nos últimos dez anos. Goiás está entre as dez maiores economias do Brasil. Seu PIB em 2010 foi de R$ 97.6 bilhões, o que representa uma média de 2,5% do PIB nacional, posicionando, nesse ano, o Estado em nono lugar entre todos os esta- dos brasileiros. Confirmando essa performance desenvolvimentista a economia goiana vem repetindo o desempenho dos últimos anos, apesar da retração do crescimento da economia nacional. Em 2013 registrou um crescimento do PIB de 3,1% sobre o ano anterior, superior ao PIB nacional que foi de 2,3%, segundo o IBGE, o que colocou Goiás como o oitavo na escala comparativa entre os estados brasileiros mais desenvolvidos. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Mauro Borges – IMB da Secretaria de Gestão e Planejamento – SEGPLAN, o PIB goiano no 4º trimestre de 2013 cresceu 4,4% em comparação com igual período do ano anterior, oriundo dos bons desempenhos dos setores da agropecuária, com crescimento de 23,5%, setor de serviços, com 3,5% e setor industrial, que registrou uma expansão de 2,9% nesse período. Ainda, segundo o mesmo Instituto, a previsão do PIB de 2014 deve atingir o montante de R$ 141,69 bilhões, equivalente a um crescimento de 3,0% sobre o ano anterior. Para melhor visualização do crescimento do PIB goiano em relação ao PIB nacional, veja no quadro abaixo: EVOLUÇÃO DOS PIBs DE GOIÁS E DO BRASIL GOIÁS BRASIL ANO Valores em R$ milhão Taxa de Crescimento % Valores em R$ milhão Taxa de Crescimento 2011 111.269,00 6,7 4.143.013,00 2,7 2012* 121.723,00 4,4 4.392.094,00 1,0 2013 133.025,00 3,1 4.837.950,00 2,3 2014 141.695,00 3,00* 5.219.500,00 1,8** Fonte: IMB/Segplan. * projeção; 14 Economia & Finanças ** projeção confirmada pelo IMB para 1.8%; *** projeção confirmada pelo IBGE para 0,1%. Esses bons resultados verificados na economia goiana no ano passado e anos anteriores, apesar do baixo desempenho da economia nacional, ainda mantém a dianteira bem acima da média nacional, e refletem a política de desenvolvimento promovida pelo governo do Estado, que tem provocado um desenvolvimento sustentado, oriundo, principalmente, da adoção de vários fatores de alavancagem do crescimento, como o programa de incentivos fiscais para implantação e expansão de industrias no Estado, que tem sido o maior responsável pelo crescimento do parque industrial de Goiás, gerando, sobremaneira, emprego, renda e, consequentemente, um índice considerável de crescimento em todos os setores da economia, principalmente o industrial. Os programas de incentivos fiscais do Governo do Estado de Goiás, como o FOMENTAR e PRODUZIR são os maiores responsáveis pelo desenvolvimento industrial no Estado, desde a criação do primeiro programa, o FOMENTAR, criado pelo governo de Íris Rezende pela Lei nº 9.489/84 de 31/07/1984, cujos benefícios concedidos alcançavam 70% do ICMS devido, com prazo de até 15 anos para fruição. Este programa foi substituído pelo PRODUZIR, cria- do no governo de Marconi Perillo, através da Lei nº 13.59l de 18 de janeiro de 2000 e regulamentado pelo Decreto nº 5.265 de 31/12/2000, o qual concede o benefício de 73% do ICMS devido, com prazo de fruição que pode chegar a até 31 de dezembro de 2040. Para se ter uma idéia dos benefícios propiciados pelos programas acima, desde a sua criação, ou seja, o FOMENTAR de 1984 a 1999 e o PRODUZIR de janeiro de 2000 até 31/12/214, a Secretaria de Indústria do Estado de Goiás divulgou os seguintes dados: DESCRIÇÃO FOMENTAR PRODUZIR TOTAL Empresas beneficiadas 133 476 609 Investimentos das empresas no Estado R$ 4.5 bilhões R$ 10.9 bilhões R$ 15.4 bi Benefícios concedidos R$ 52.6 bilhões R$ 62.1 bilhões R$ 114.7 bi Nº de empregos diretos gerados 52.880 66.216 119.096 Fonte: SIC-GO Por este quadro pode-se avaliar a importância dos benefícios fiscais para o Estado e para as empresas beneficiadas O programa PRODUZIR, além dos benefícios acima citados, oferece também os subprogramas para beneficiar outros segmentos além do industrial, que são: 1) COMEXPRODUZIR – favorece operações de comércio exterior a partir de estruturas portuárias de zonas secundárias localizadas no Estado. O incentivo consiste na outorga de crédito de ICMS de 65% do valor devido a ser apropriado nas saídas de mercadorias ou bens importados do exterior, diretamente pelas empresas beneficiárias , e é pactuada através do TARE – Termo de Acordo de Regime Especial, que especifica as garantias e procedimentos necessários ao recolhimento do ICMS devido. 2) LOGPRODUZIR – beneficia empresas operadoras de logística de distribuição de mercadorias e outros bens no Estado de Goiás, cujos incentivos são caracterizados pela dispensa de 50%, 73% ou 80% do ICMS, devido, conforme a abrangência das atividades de cada beneficiária no contexto de cada setor. 3) TELEPRODUZIR – favorece a instalação de empresas de telecomunicações instaladas no Estado, com a concessão de empréstimos de até 54,75% do valor do ICMS devido que exceder à média dos últimos 12 meses, a contar do TARE , a juros de apenas 0,2% ao mês, sem correção monetária, com 12 meses de carência e sete anos para amortização. 4) CENTROPRODUZIR – incentiva empreendimentos de instalação de centros de industrialização e distribuição de produtos de informática, telecomunicação ou automação, eletroeletrônico, eletrodo- méstico, equipamento e material fotográfico, equipamento e material ótico, relógios e discos virgens, com dispensa de 55% do ICMS devido na saída para comercialização ou industrialização, ou 45% na saída para consumidor final. Por todos esses motivos tem-se que se acreditar no Estado de Goiás, que está bem à frente dos outros estados brasileiros, em matéria de incentivos fiscais e dedicação do Governo do Estado, o qual não mede esforços para apoiar sempre os empreendimentos já instalados e novos que venham se instalar, oferecendo, além dos incentivos fiscais, toda infraestrutura necessária para o seu desenvolvimento no Estado, como polos e distritos agroindustriais instalados em pontos estratégicos, como o DAIA em Anápolis, já considerado um dos maiores pólos farmacêuticos do Brasil, o DAIAG, O DIAG e o Polo Economia & Finanças 15 Artigo zação e, no caso de turismo, em até 20 (vinte) anos, sendo o Estado de Goiás o que mais tem aplicado esses recursos em todos os segmentos empresariais, conforme divulgado pelo Banco do Brasil. O nosso país atravessa, atualmente, momentos de turbulências , provenientes, como disse no início, dos ajustes fiscais implementados pela equipe econômica do governo federal, que são necessários, mas têm causado grandes transtornos e insegurança aos agentes econômicos e à população em geral, causando intranqüilidade, medo e desânimo a todos. Mas apesar desse cenário pessimista e conturbado que todos atravessamos, acredito que o Estado de Goiás, pelo seu potencial que lhe é próprio, apresentando sempre um desenvolvimento sustentado, pelo potencial do seu empresariado proativo e demais agentes econômicos, e com uma população sempre presente, participativa, corajosa e trabalhadora, tem condições de reverter esse quadro negativo momentâneo e continuar no seu trilho rumo ao crescimento e desenvolvimento econômico e social, como é o do seu estilo. Empresarial em Aparecida de Goiânia e outros como Distrito Agroindustrial de Rio Verde, de Itumbiara e outros que compõem o grande polo de desenvolvimento deste grande e próspero Estado. Convém salientar que esses incentivos fiscais descritos e aplicados neste Estado são de grande importância para o seu desenvolvimento econômico e social, e tem sido os maiores responsáveis pelo seu crescimento econômico sempre à frente dos demais estados da federação. Por isso são considerados imprescindíveis para a economia goiana e para todas as empresas aqui instaladas e participantes desse Programa e de outras que venham a ser instaladas atraídas por esses benefícios. 16 Economia & Finanças Apesar da pressão de outros estados contra esses incentivos, os quais são chamados de “guerra fiscal”, o Estado não pode abrir mão desse instrumento, por ser de vital importância para a manutenção do crescimento e desenvolvimento econômico e social de Goiás Além dos benefícios acima citados existe ainda o FCO-Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste, administrado pelo Banco do Brasil, que concede financiamento para implantação, expansão e relocalização de empresas nos estados do Centro-Oeste e Distrito Federal, para os setores empresarial e rural, com os menores juros do mercado e com prazo de até 12 (doze) anos para amorti- Porém, como já tenho afirmado, para crescer investir é preciso. Não há crescimento sem investimento, com muito trabalho e dedicação. de todos. Não sairemos dessa crise sem investimentos em novos empreendimentos e/ou melhoria dos já existentes. Como já ficou constatado em experiências anteriores, o empreendedor que mais investir em novos processos, tecnologia e inovação com planejamento e boa gestão, mesmo nos momentos de crise, é o que mais cedo vai sair dela e obterá, sempre, os melhores resultados. Competitividade e segurança jurídica com a terceirização Welington Rodrigues Economista e Diretor da Project Empreendimentos A proposta de emenda à constituição que trata da terceirização muda significativamente as relações entre empresas. Embora a terceirização não seja recente na história do Brasil, a adoção deste processo foi intensificada e disseminada no âmbito da reestruturação produtiva que marcou os anos 1990, quando o tema ganhou destaque na agenda dos governos, trabalhadores e empresários. Passado esse período, embora a terceirização tenha assumido dimensões significativas, considerada como um dos principais instrumentos para a precarização das relações de trabalho, a presença do tema no debate nacional retorna, por absoluta coragem e vontade política do presidente do congresso Eduardo Cunha, com a PEC 4330 de louvável autoria do ex-deputado Sandro Mabel, que autoriza a terceirização tanto a atividades-fim como a atividades-meio nas empresas privadas, públicas, de economia mista e as- sociações. Esta PEC também possibilita mais segurança jurídica para quem já terceiriza as chamadas atividades meio. Terceirização é o processo pelo qual uma empresa deixa de executar uma ou mais atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados e as transfere para outra empresa. Um ponto que ainda não foi objeto de análise é a possibilidade do surgimento de inúmeras empresas-laranja assumindo por completo a gestão de pessoal, isso aumenta o risco dos trabalhadores se a empresa entra em recuperação judicial ou encerra as atividades, e não há onde recorrer devido à completa ausência de ativos para serem executados, restando apenas a responsabilidade civil dos sócios, nisto percebe-se conflito no interesse empresarial e dos trabalhadores. E no caso da terceirização que pode virar quarteirização? Na regulamentação isso precisa ser mais bem esclarecido para que possa mitigar os problemas da precarização nas relações de trabalho. As empresas precisam ser moder- nas, mas especialmente no cenário de crises e imprevisibilidade elas precisam reduzir custos, transferindo custos fixos com a mão de obra para custos variáveis melhor negociados, e até como garantia de continuidade da atividade empresarial e da manutenção do emprego. Impacto também na melhor produtividade da mão de obra, uma vez que o trabalhador ao ser terceirizado terá um CNPJ e passará a pensar como empresário, ofertar uma melhor qualidade do serviço sabendo que será mais fácil e rápido desde então para a empresa contratante substituí-lo por outra contratada, e isso aumenta a responsabilidade e comprometimento do trabalhador. Enfim, estas mudanças institucionais e estruturais precisam acontecer de fato, para que o Brasil seja mais competitivo, especialmente frente ao mercado internacional. Uma ótima oportunidade para as novas empresas terceirizadas e até trabalhadores se tornarem empreendedores em busca da sonhada independência financeira. Economia & Finanças 17 Artigo Terceirização e as relações de trabalho A terceirização da atividade produtiva teve modificações nos últimos anos no Brasil. Se antes da década de 90, essa forma de organização existia apenas como etapa complementar da produção, posteriormente, esse processo, do ponto de vista empresarial, visava impulsionar a competitividade, através do aumento da produtividade e maior qualidade da produção. Leila Brito Economista Supervisora Técnica do DIEESE em Goiás Isso ocorreu durante os anos 90, num contexto de baixo crescimento e recessão, quando o país passou por transformações estruturais em função da abertura econômica. Desde então, operou-se as ações de reestruturação produtiva, estabelecidas pelas empresas, em decorrência das exigências de maior competitividade, das inovações tecnológicas e das novas formas de organização da produção, sendo a terceirização um dos seus instrumentos. As medidas adotadas passavam pela concentração nas linhas de produtos mais competitivos, a busca de economia de escala e otimização nos processos produtivos que tinha como base o corte de pessoal e a adoção dos programas de qualidade total. Mais recentemente, o processo de terceirização nos país se intensificou, assumindo novos formatos, com a adoção de estratégias pelas empresas, que visavam ampliar suas 18 Economia & Finanças margens de ganhos, porém afetaram as relações de trabalho. Estabeleceuse a redução de custos através da restrição da formalização de empresas contratadas e a concentração da produção nas atividades fim, junto à terceirização das atividades meio e ainda a combinação de ambas. Esse modelo implantado visou essencialmente reduzir custos. A escolha da empresa terceirizada, em sua maioria, passou ser feita apenas pelo preço, sem considerar a sua qualificação. Atualmente, segundo os últimos dados consolidados da RAIS/ MTE – Relação Anual de Informações Sociais, de 2013, levantada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, do total de 47.448.967 vínculos formais no Brasil, 12.700.54 (26,8%) são de setores terceirizados e os demais, 34.748.421 (73,2%), referem-se a empresas contratantes. Em consequência desse modelo operado, o trabalho terceirizado no Brasil tem se caracterizado pela predominância do subemprego, contratações sem carteira assinada, perda de rendimentos e de benefícios, piora nas condições gerais de trabalho, ampliação da jornada, intensificação do trabalho, redução do salário fixo e ampliação da parte variável da remuneração e precárias condições de saúde e segurança no trabalho. Os dados da RAIS, em 2013, mostraram as condições de trabalho sig- nificativamente piores nos setores terceirizados. Enquanto a remuneração média nas empresas contratantes foi de R$ 2.361,15, nas empresas contratadas foi 1.176,78, ou 24,7% menor; o tempo médio de emprego foi de 5,8 anos e 2,7, respectivamente, ou 53,5% menor nas terceirizadas. Da mesma forma, a taxa de rotatividade é o dobro (64,4%) nas contratadas, em relação às contratantes. Ao contrário do que estabelecem os princípios constitucionais relacionados ao direito do trabalho, a legislação trabalhista vigente e o que estabelece o SRT – Sistema de Relações de Trabalho, em vigor, dos 10 maiores casos anuais de trabalhadores em condição análoga ao trabalho escravo registrados pelo MTE, 9 referiamse aos terceirizados. Do total dos 40 maiores casos flagrados, de 2010 a 2013, 36 envolveram empresas contratadas. Constataram-se, nessas operações, 3.553 trabalhadores nas condições análogas à escravidão, sendo entre estes, 2.998 de empresas terceirizadas. Pode-se observar outros aspectos igualmente graves nas relações de trabalho estabelecidas com as empresas contratadas, em que o serviço terceirizado é mais intenso. O registro de óbitos por acidente de trabalho na construção civil, por exemplo, aponta a maioria das ocorrências em empresas terceirizadas. Em 2013, de um total de 135 óbitos na construção de edifícios, 75 foram de trabalhadores terceirizados; de 20 em obras de acabamento, a maior parte foi de empregados em empresas contratadas (18) dos registros de acidentes fatais em obras de terraplanagem (19), quase a totalidade foi de contratadas (18); dos óbitos nos serviços especializados e obras de fundação (34), verificou-se a maioria nas contratadas (30). O mesmo ocorreu no setor elétrico, cujas empresas, nos últimos 20 anos, tiveram elevada mobilidade do quadro efetivo de funcionários das concessionárias para empresas terceirizadas. Os dados mais recentes do COGE – Comitê de Gestão Empresarial mostraram que o número de acidentes fatais teve maior peso nas empresas terceirizadas. De 79 óbitos no setor, 61 foram notificados em empresas contratadas. A essência do debate estabelecido pelo Projeto de Lei 4.330 consiste em ampliar a terceirização do trabalho hoje restrito à atividade meio para atividade fim, de tal forma que abranja todo processo produtivo. Aponta-se o mérito desse Projeto vir a regular e promover direitos e melhorias nas relações de trabalho dos terceirizados. Porém, o risco que se corre é de regulação da precarização das relações de trabalho em todas as etapas e instâncias do sistema produtivo. Economia & Finanças 19 www.corecon-go.org.br Rua 86, nº 617, Setor Sul. Goiânia-Go Cep: 74.083-330 Fone: (62) 3218-3311 20 Economia & Finanças