TraTaMeNTo - Braintech
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não medicamentoso www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 35 imagens: shutterstock TraTaMeNTo Para combater as desordens mentais e desmistificar seu diagnóstico, o Neurofeedback por Z-scores desponta como avançada ferramenta de tratamento pela normalização da atividade de áreas e estruturas cerebrais disfuncionais psique ciência&vida Neurofeedback dossiê 35 7/10/2014 16:17:22 dossiê o que é Neurofeedback? Saiba mais sobre a metodologia não invasiva e não medicamentosa de tratamento de desordens mentais, que conta com ampla fundamentação científica e excelentes resultados clínicos, tanto aqui no Brasil quanto nos EUA, onde vem sendo aplicada desde os anos 1970 D. Corydon Hammond*, PhD Leonardo Mascaro**, MS, BCN O s trabalhos seminais de Joe Kamiya, psicólogo e professor da Universidade de Chicago, que, já em 1962, demonstrava a possibilidade de controle voluntário das ondas cerebrais, fundaram o campo do treinamento de ondas cerebrais, mais tecnicamente conhecido como condicionamento operante da atividade eletroencefalográfica (EEG) ou, simplesmente, Neurofeedback. Kamiya tornou-se o pai do Neurofeedback. As ondas cerebrais são produzidas em diferentes frequências. Algumas são rápidas, outras um tanto lentas. Mas todas são medi36 psique ciência&vida DOSSIE.indd 36 das em Hertz (Hz), ou ciclos por segundo (cps). Um ciclo por segundo pode ser interpretado como um “pacote” de informação neurológica por segundo. Assim, em um estado de sonolência, há maior produção de ondas lentas, de alta amplitude, especialmente nas faixas de Delta e Theta. Por outro lado, nos estados de tensão e ansiedade, a atividade neurológica, em diferentes partes do cérebro, poderá estar dominada por frequências excessivamente rá- pidas na faixa de Beta, ou por um excesso de atividade ineficiente na faixa de Alpha, nas áreas frontais do cérebro, associadas com controle emocional. E uma ampla gama de desordens mentais, ou neurocomportamentais, como se diz no jargão mais técnico, tais como déficit de atenção, fibromialgia e fadiga crônica, depressão, epilepsia, traumatismos crânio-encefálicos, derrames, entre outras, tendem a dever-se, no cérebro, por um (*) Professor de Medicina Física e Reabilitação, University of Utah School of Medicine, Salt Lake City, Utah – USA (**) Brain Tech - Centro de Análise Diagnóstica Funcional e Neurofeedback, São Paulo – Brasil www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:17:22 Neurofeedback imagens: shutterstock De todas as modalidades de avaliação da atividade cerebral, o maior volume de evidências cientificamente replicáveis para condições neurocomportamentais, em psiquiatria, é fornecida pela eletroencefalografia e pela eletroencefalografia quantitativa www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 37 psique ciência&vida 37 7/10/2014 16:17:27 iam rebas arap para saber mais Frequência Papel funcional no cérebro D elta (0.5-3.5Hz) Sono profundo e recuperador Estado de “stand-by” neurológico com função recuperativa Theta (4-7Hz) Processamento e armazenamento da informação emocional subconsciente Sincronização da atividade entre duas áreas cerebrais que desejem se comunicar Alpha (8-14Hz) Relaxamento Formação de imagens na mente B eta (15-30Hz) Atividade intelectual, alerta e interação com o ambiente Gamma Atenção intensamente focada Transferência rápida de informações entre diferentes áreas do cérebro excesso de ondas lentas, normalmente nas faixas de Delta, Theta e até mesmo de Alpha. Quando uma quantidade excessiva de ondas lentas está presente em áreas de função executiva (lobos frontais), no cérebro, desempenhar tarefas cognitivas mais sofisticadas, como memória e raciocínio abstrato, ou mesmo controlar a atenção e até as oscilações de humor, ou um quadro de impulsividade, torna-se um verdadeiro desafio. Essas pessoas terão problemas de atenção e concentração e eficiência intelectual diminuídas. Portanto, fica claro que pode haver extrema complexidade na forma como o cérebro opera. Pesquisas têm demonstrado que há razoável heterogeneidade nos padrões neurológicos eletroencefalográficos (EEG) associados com diferentes condições diagnósticas, como TOC, ansiedade, ou déficit de atenção. E nenhuma dessas condições pode ser diagnosticada apenas pela observação clinica ou comportamental. 38 psique ciência&vida DOSSIE.indd 38 Avaliação Inicial H á mais de uma década, Hughes e John afirmaram que, de todas as modalidades de avaliação da atividade cerebral, como PET, SPECT ou f MRI (Ressonância Magnética Funcional), o maior volume de evidências cientificamente replicáveis para condições neurocomportamentais, em psi- quiatria, é fornecida por estudos de eletroencefalografia (EEG) e eletroencefalografia quantitativa (QEEG), que envolve o uso de medidas estatísticas de normalidade para avaliação de desregulações neurológicas identificadas, conforme veremos mais adiante. Além disso, em 2009, Corydon Hammond, co-autor do presente artigo e ex-presidente da Sociedade Internacional para Neurofeedback e Pesquisa (International Society for Neurofeedback & Research – ISNR), publicou um estudo de revisão da literatura na área em que afirma que: “...as categorias diagnósticas e os sintomas individuais nem sempre são associados com acervo do Dr. Thomas F. Collura (BrainMaster Technologies, Inc) (qualquer atividade acima de 30H z) Pesquisas têm demonstrado que há razoável heterogeneidade nos padrões neurológicos eletroencefalográficos associados a diferentes diagnósticos A análise eletroencefalográfica (EEG) da atividade cerebral de superfície e o exame de tomografia funcional da atividade de áreas e estruturas profundas do cérebro permitem determinar a natureza do comprometimento ou desordem neurocomportamental existente www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:17:28 imagens: shutterstock As frequências cerebrais Neurofeedback divulgação os mesmos padrões neurológicos (…). Obviamente, resta apenas uma grande quantidade de adivinhação se tenta-se inferir o funcionamento cerebral de uma pessoa baseando-se meramente nos sintomas ou mesmo no diagnóstico clinicamente recebido, trazidos por um paciente. Assim, a defesa em prol de uma tomada de decisões concernentes à modificação da atividade neurológica, baseada simplesmente em generalizações obtidas da literatura em QEEG (a qual, tem sido demonstrado, apresenta imagens: shutterstock • Leitura da atividade elétrica • Neurofeedback nada mais é que o treinamento por sinalização sonora e visual da atividade de neurônios de áreas e estruturas do cérebro que apresentem comprometimentos funcionais levando, com isso, à modificação desta atividade rumo à sua normalização. O processo é não invasivo e não medicamentoso e parte da leitura da atividade elétrica (EEG) em curso dos neurônios que se deseja treinar. Esta leitura é feita por eletrodos colocados sobre o couro cabeludo do paciente e ligados a um computador. O computador monitora a atividade neurológica em tempo real e sinaliza, sonora e visualmente, de acordo com parâmetros de treino estabelecidos, e baseados em valores normativos de referência para a idade e sexo do paciente, quando estas áreas cerebrais produzem o tipo de atividade desejado, isto é, quando a atividade destes agrupamentos neurológicos adentra uma faixa de normalidade. esta é a natureza do condicionamento operante de ondas cerebrais, ou Neurofeedback. www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 39 Uma vez determinados os protocolos de treino neurológico, absolutamente individualizados e definidos de acordo com as necessidades relativas às desregulações neurológicas do paciente, inicia-se o treinamento das ondas cerebrais O maior volume de evidências cientificamente replicáveis para condições neurocomportamentais, em psiquiatria, é fornecida pela eletroencefalografia considerável diversidade), ao invés de fazê-lo a partir de uma avaliação individualizada e cientificamente aceitável, seria, para dizer o mínimo, difícil de sustentar.” Assim sendo, a avaliação da atividade cerebral, realizada antes do início do tratamento, que parte da análise conjugada dos padrões eletroencefalográficos produzidos por cada desordem, o que envolve informações relativas ao exame de assinaturas neurológicas (Ayers, M. E., Montgomery, P. S., 2007), os mapas de distribuição topográfica da atividade cerebral de superfície (QEEG), e o exame de tomografia funcional da atividade de áreas e estruturas profundas do cérebro (LOR ETA), permitem determinar, de forma clara e objetiva, diante de que comprometimento ou desordem neurocomportamental se está, confirmando ou não diagnósticos anteriormente recebidos, além de permitir a elaboração de protocolos específicos e individualizados de treinamento neurológico envolvendo os parâmetros de atividade cerebral que eventualmente apresentem comprometimentos identificados. psique ciência&vida 39 7/10/2014 16:17:31 iam rebas arap para saber mais E agora que compreendemos a importância de se realizar uma cuidadosa avaliação inicial da atividade neurológica do paciente, antes de seu tratamento, podemos seguir adiante e entender a verdadeira natureza do tratamento por treinamento neurológico de ondas cerebrais, o Neurofeedback. O Neurofeedback oferece ao cérebro uma concreta possibilidade de reabilitação funcional, sendo eficaz no tratamento de desordens neurocomportamentais como ansiedade, depressão, déficit de atenção e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) O Tratamento U ma vez determinados os protocolos de treino neurológico, absolutamente individualizados e definidos de acordo com as necessidades individuais relativas às desregulações neurológicas que cada paciente possui, e que somente a avaliação neurológica inicial, nos 40 psique ciência&vida DOSSIE.indd 40 moldes já expostos, tem condição de identificar, inicia-se o tratamento por treinamento de ondas cerebrais, o Neurofeedback. Aliás, a importância da individualização dos protocolos de tratamento, elaborados a partir da avaliação eletroencefalográfica inicial, foi abordada em dois estudos sobre o uso do Neurofeedback no tratamento de déficit de atenção, publicados nos anos de 2009 e 2012. Martijn Wilco Arns, PhD, pesquisador do Instituto Brainclinics, na Holanda, apontou as falhas em estudos científicos que não realizavam, até então, esse tipo de avaliação preliminar, incorrendo no erro da adoção de protocolos genéricos, pré-estabelecidos, e baseados tão somente em pressupostos definidos para cada condi- ção. Nas palavras do autor (Arns et al, 2012): “...os protocolos de Neurofeedback utilizados foram elaborados levando-se em conta as deficiências funcionais de cada indivíduo. Quando consideramos o déficit de atenção (DDAH) como a condição a ser estudada, esta abordagem praticamente dobrou o nível de eficácia do treinamento neurológico por Neurofeedback sobre os problemas de impulsividade e de deficiências atencionais: 67% dos pacientes responderam bem ao tratamento, com mais de 50% de redução dos sintomas. Mais importante ainda, o fator de impacto atribuído a estes estudos, de 1.8 (uma medida do alcance e da relevância clínica dos efeitos do tratamento), foi quase o dobro do atribuído a estudos anteriores.”. www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:17:55 imagens: shutterstock • funcionamento cerebral • os Z-scores são medidas estatísticas de desvio em relação a uma média normativa para a idade e sexo do paciente, que servem para balizar, de forma instantânea, o treinamento da atividade neurológica em curso, sinalizando quando esta adentra padrões de normalidade, identificados, medidos e comparados estatisticamente conforme a atividade neurológica acontece. Desta forma, o cérebro aprende dinamicamente a corrigir comprometimentos funcionais que nascem de desregulações da atividade neurológica, reorientando sua fisiologia rumo a padrões de normalidade, com a consequente redução ou eliminação dos comprometimentos funcionais inicialmente existentes, levando ao resgate de um perfeito funcionamento cerebral e, portanto, à superação de comprometimentos tanto neurológicos quanto psicológicos. O grande problema, atualmente, nas abordagens tradicionais em Neurofeedback é exatamente a falta destas avaliações funcionais preliminares imagens: shutterstock regulações neurológicas existentes, a efetiva condição de cada paciente, o que garante uma análise diagnóstica efetivamente segura, que permite, como já mencionado, confirmar ou não diagnósticos anteriormente recebidos, além de viabilizar a elaboração de protocolos específicos e individualizados de treinamento neurológico, que maximizam os resultados clínicos obtidos. E isto é absolutamente fundamental, já que o grande problema, atualmente, nas abordagens tradicionais em Neurofeedback é exatamente a falta destas avaliações funcionais preliminares, que permitem identificar precisa e concretamente, com base nas des- Avanços O s mais recentes avanços científicos na área do treinamento neurológico levaram ao desenvolvimento da metodologia de Neurofeedback por Z-scores. O treino visa à modificação progressiva da atividade neurológica, rumo a padrões de normalidade, com a consequente e paulatina redução ou eliminação dos comprometimentos funcionais até então existentes. Com isso resgata-se um funcionamento cerebral livre de comprometimentos, tanto neurológicos quanto psicológicos. A literatura na área demonstra que o Neurofeedback por Z-scores produz melhorias significativas, de diferentes desordens mentais, com índices de sucesso expressivos, da ordem de 75-80% dos casos. Assim, o Neurofeedback oferece ao cérebro uma concreta possibilidade de reabilitação funcional, seja para desordens neurocomportamentais, como ansiedade, depressão, déficit de atenção, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) em suas Neurofeedback Os mais recentes avanços científicos na área do treinamento neurológico levaram ao desenvolvimento da metodologia de Neurofeedback por Z-scores O Neurofeedback também possibilita melhora em comprometimentos cognitivos, como memória, e funcionais, como de reabilitação da fala ou da recuperação motora do movimento de um membro www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 41 psique ciência&vida 41 7/10/2014 16:18:01 dossiê Reconhecimento M ais de uma década atrás, Frank H. Duffy, MD, professor e neuropediatra da Harvard Medical School, declarou no periódico Clinical Electroencephalography que a literatura científica já havia sugerido que o neurofeedback “deveria desempenhar um papel terapêutico importante em muitas áreas desafiadoras. Em minha opinião, se qualquer medicação tivesse demonstrado tão amplo espectro de eficácia [quanto o faz o neurofeedback], esta medicação seria universalmente aceita e amplamente utilizada.” Muito se pergunta sobre a existência de fundamentação científica para a técnica de Neurofeedback. Realmente, no Brasil, o Neurofeedback ainda está se consolidando como opção reconhecida de tratamento das chamadas O Neurofeedback por Z-scores produz melhorias significativas, de diferentes desordens mentais, com índices de sucesso expressivos, da ordem de 75–80% A importância da individualização dos protocolos de tratamento, elaborados a partir da avaliação eletroencefalográfica inicial, foi abordada em dois estudos sobre o uso do Neurofeedback no tratamento de déficit de atenção 42 psique ciência&vida DOSSIE.indd 42 • Novidade no brasil • Apontado como pioneiro do Neurofeedback no Brasil, o Psicólogo e Mestre em Neurociências leonardo Mascaro conheceu a técnica nos EUA, quando teve a oportunidade de obter sólida formação no reconhecimento dos padrões eletroencefalográficos produzidos pelas diferentes desordens mentais e sua modificação por condicionamento operante de ondas cerebrais, estudando com algumas das principais referências no campo, como a Dra. Margaret Ayers, Anna Wise, e Joel Lubar. Atualmente dirige a clínica Brain Tech, o primeiro Centro Avançado de análise Diagnóstica Funcional e Treinamento da atividade cerebral por Neurofeedback por Z-scores, realizando a identificação precisa, pela detecção de padrões neurológicos específicos, de uma vasta gama de distúrbios e comprometimentos neurológicos e psicológicos, bem como seu tratamento, por Neurofeedback, de forma não invasiva e não medicamentosa. desordens neurocomportamentais, como ansiedade, depressão, déficit de atenção, dislexia, insônia, TOC, etc. Todavia, não podemos deixar de considerar que a técnica já perdura por mais de 50 anos nos Estados Unidos, país de sua origem. Desde a década de 1970, centenas de estudos científicos têm sido publicados apresentando os resultados do Neurofeedback. Estes estudos demonstraram como a avaliação quantitativa da atividade eletroencefalográfica (QEEG) permite uma adequada avaliação www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:18:06 imagens: shutterstock várias formas, dislexia, insônia, problemas de aprendizagem, além de epilepsia, comprometimentos cognitivos, como memória, e funcionais, como de reabilitação da fala ou da recuperação motora do movimento de um membro, normalmente presentes em casos de traumatismo crânio-encefálico, derrame ou quadros isquêmicos, e mesmo de autismo. Tudo isso pelo recondicionamento dos padrões de atividade elétrica cerebral, sem o uso de medicamentos, e de forma não invasiva. Neurofeedback imagens: shutterstock Desde a década de 1970, centenas de estudos científicos têm sido publicados apresentando os resultados do Neurofeedback de uma ampla gama de desordens neurocomportamentais. E apenas para listar alguns, vale mencionar as seguintes publicações científicas: Alper, Prichep, Kowalik, Rosenthal, & John, 1998; Amen et al., 2011; Barry, Clarke, Johnstone, McCarthy, & Selikowitz, 2009; Clarke, Barry, McCarthy, & Selikowitz, 2001; Clarke et al., 2007; Harris et al., 2001; Hoffman et al., 1999; Hughes & John, 1999; Newton et al., 2004; Thatcher, 2010; Thatcher et al.,1999. Em estudo publicado em 2010, Robert W. Thatcher, diretor do NeuroImaging Laboratory – Bay Pines VA Medical Center, na Flórida, e professor adjunto do Departamento de Neurologia da Universidade do Sul da Flórida, além de integrante do Comitê Consultivo do Projeto de Mapeamento Cerebral Humano, dos Institutos de Saúde Mental nos Estados Unidos, publicou estudo recente em que apresenta abundante evidência sobre a alta confiabilidade e eficácia do uso do EEG na avaliação funcional e no tratamento, por Neurofeedback, para uma série de condições. Thatcher também publicou, em 2013, importante artigo, incluído no Psychology Progress Series daquele ano, em que apresenta as sólidas bases científicas e os mais recentes avanços no Neurofeedback por Z-scores, especialmente no que diz respeito à inclusão de www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 43 A técnica é recente no Brasil, mas já perdura por mais de 50 anos nos Estados Unidos, país de sua origem variáveis de conectividade, que envolvem redes específicas dedicadas a uma série de funções, no cérebro. Além disso, em outubro de 2012, a American Academy of Pediatrics considerou o Neurofeedback como o tratamento disponível para Déficit de Atenção (DDA/DDAH) com mais alto nível de evidência científica. Este é o Neurofeedback, uma metodologia não invasiva e não medicamentosa de tratamento de desordens mentais, solidamente fundamentado cientificamente, e que, como veremos nos próximos artigos, apresenta excelentes resultados clínicos, sendo um campo de conhecimento extremamente ativo, que vem evoluindo como poucas áreas do conhecimento humano nos últimos anos. referêNciaS Kamiya, J. (2011). The first communications about operant conditioning of the EEG. Journal of Neurotherapy, 15 (1), 65–73 Hammond, D. C., 2010. The need for individualization in neurofeedback: Heterogeneity in QEEG patterns associated with diagnoses and symptoms. Applied Psychophysiology & Biofeedback, 35 (1), 31–36 Hughes, J. R., & John, E. R., 1999. Conventional and quantitative electroencephalography in psychiatry. Journal of Neuropsychiatry & Clinical Neuroscience, 11, 190–208 Arns, M., Drinkenburg, W. H. I. M., & Kenemans, J. L., 2012. The effects of qeeG-informed neurofeedback in ADHD: An open label pilot study. Applied Psychophysiology and Biofeedback. doi:10.1007/s10484-012-9191-4; Arns, M., de Ridder, S., Strehl, U., Breteler, M., & Coenen, A., 2009. Efficacy of neurofeedback treatment in ADHD: The effects on inattention, impulsivity and hyperactivity: A meta-analysis. Clinical EEG and Neuroscience, 40 (3), 180–9 Duffy, F. H., 2000. The state of EEG biofeedback therapy (EEG operant conditioning) in 2000: An editor’s opinion. Clinical Electroencephalography, 31 (1), v–viii Thatcher, R.W. (2010). Validity and reliability of quantitative electroencephalography (qEEG). Journal of Neurotherapy, 14, 122–152 Robert W. Thatcher PhD, 2013. Latest Developments in Live Z-Score Training: Symptom Check List, Phase Reset, and Loreta Z-Score Biofeedback. Journal of Neurotherapy: Investigations in Neuromodulation, Neurofeedback and Applied Neuroscience 17(1):69-87 psique ciência&vida 43 7/10/2014 16:18:11 dossiê Neurofeedback por iMaGeM no tratamento de DeSorDeNS MeNTaiS Os sistemas NFBI - ER são a mais nova e sofisticada modalidade de tratamento das chamadas condições neurocomportamentais, permitindo que, de forma não invasiva e não medicamentosa, um horizonte de possibilidades e aplicações clínicas esteja ao alcance de todos Por Thomas F. Collura*, Ph.D., QEEG-D, BCN, LPC Leonardo Mascaro**, MS, BCN 44 psique ciência&vida DOSSIE.indd 44 nível em saúde mental. Ainda assim, e apesar destes grandes avanços, a realidade da prática clínica, na maioria dos consultórios, mantém-se à margem destes novos tempos. O fato é que os relatos trazidos pelos próprios pacientes sobre sua condição, além da própria observação clínica realizada pelos profissionais de saúde, responsáveis por avaliar e tratar as chamadas desordens neurocomportamentais, tem servido quase que exclusivamente para a identificação diagnóstica de uma condição. No entanto, todos sabemos os limites do diagnóstico baseado na mera observação comportamental, que não nos fornece os elementos necessários para determinar o que se passa inter- namente – i.e. funcionalmente – no cérebro de uma pessoa. É nesse contexto que o campo da neuroimagem, que até muito recentemente tinha pouca relevância ou impacto direto sobre a clínica em saúde mental, vem ganhando relevância como ferramenta imprescindível para a adequada avaliação de uma dada condição. Equipamentos como os de Ressonância Magnética (MRI), Ressonância Magnética Funcional (fMRI), Tomografia Computadorizada (CT), ou mesmo a Tomografi a por Emissão de Pósitrons (PET) normalmente apresentam custos que facilmente superam a casa dos milhões, isto sem contar as instalações (*) BrainMaster Technologies, Inc., and the Brain Enrichment Center, Bedford, OH – USA (**) Brain Tech – Centro de Análise Diagnóstica Funcional e Neurofeedback, São Paulo – Brasil www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:18:11 imagens: shutterstock A tualmente, há uma crescente conscientização da importância da saúde do cérebro – e mesmo do fitness cerebral – não só para o bem-estar do indivíduo, mas até mesmo para o fortalecimento das sociedades e civilizações. Uma quantidade significativa de tempo e de investimentos têm sido destinadas à redução do estresse, seja ele mental ou emocional, bem como no desenvolvimento do desempenho cognitivo e da performance nos mais diferentes setores da atividade humana. Um aspecto importante desta discussão é o efeito do estresse ou do trauma sobre a saúde, e as desordens mentais daí resultantes. Hoje, já está claro que as neurociências têm grande potencial para fornecer os elementos conceituais e as ferramentas práticas para o trabalho clínico de alto Neurofeedback Equipamentos como os de Ressonância Magnética (MRI), Ressonância Magnética Funcional (fMRI), Tomografia Computadorizada (CT) e a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) apresentam custos que superam a casa dos milhões imagens: shutterstock Uma quantidade significativa de tempo e de investimentos têm sido destinadas à redução do estresse, seja ele mental ou emocional e pessoal técnico necessário para fornecer estes serviços, que chegam a mais de mil dólares por paciente. Mais ainda, estas modalidades, ainda que sejam extremamente úteis no ambiente acadêmico e de pesquisa, são acessíveis apenas nos centros hospitalares e universitários mais ricos e bem equipados. Esta situação, no entanto, vem mudando com a crescente disponiwww.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 45 bilidade de métodos de imagem, de baixo custo e altíssima velocidade, baseados na leitura eletroencefalográfica (EEG), com aplicações tanto ligadas à avaliação funcional da atividade cerebral, permitindo a iden tificação e localização precisas de desregulações neurológicas envolvidas nos mais diferentes quadros de desordens mentais, quanto ao tratamento propriamente dito destas condições, de forma não invasiva e não medicamentosa. O avanço das imagens U ma nova modalidade de varredura e treino da atividade cerebral in vivo vem surgindo: é o Neurofeedback por Imagem (NFBI). Essa técnica envolve a aplicação ao dado eletroencefalográfico de superfície (EEG), no cérebro, de algoritmos matemáticos sofisticadíssimos, que demandam elevada capacidade de computação de um número substancial de elementos volumétricos (“voxels”), para viabilizar a psique ciência&vida 45 7/10/2014 16:18:18 iam rebas arap para saber mais rap S ó para que se tenha uma ideia, na década de 1980, um sistema simples de leitura eletroencefalográfica (EEG) podia facilmente custar mais de vinte mil dólares. Na época, os poucos sistemas computadorizados de EEG quantitativo (QEEG) em operação, que permitem uma leitura de toda a superfície cortical, em uma série de parâmetros neurológicos, eram ainda mais caros, chegando a custar de 50 a 100 mil dólares! Assim, um sistema desses podia facilmente custar tanto quanto um carro esportivo. E nenhum desses equipamentos permitia a efetiva obtenção de imagens do cérebro em atividade, o que naquela época envolveria o uso combinado de tecnologias como tomografia computadorizada (CT), ressonância magnética (MRI), e magneto eletroencefalografia (MEG), a custo estimado de mais de um milhão de dólares! Hoje em dia, por menos de vinte mil dólares, é possível comprar um sistema que oferece a leitura eletroencefalográfica (EEG) combinada com técnicas de análise quantitativa (QEEG), o que permite a observação e avaliação funcional da atividade neurológica, em qualquer área ou estrutura cortical do cérebro. Assim, estes sistemas servem não só para avaliação funcional, com a apresentação em alta resolução (mais de 6.000 voxels) da imagem tridimensional, em tempo real, do cérebro em plena atividade, mas também seu uso no tratamento de desordens mentais, o que envolve o treinamento, por condicionamento operante de ondas cerebrais (do inglês EEG Operant Conditioning), também conhecido como Neurofeedback, das áreas ou regiões cerebrais que apresentem atividade desrregulada ou disfuncional. Ao combinarmos o EEG, o QEEG, o sLORETA e o Neurofeedback em um modelo de aplicação prática, viabilizamos uma abordagem integrada e extremamente avançada de avaliação e tratamento em saúde mental, permitindo que se observe o que se passa em redes cerebrais específicas, ou até mesmo em uma bem delimitada região de interesse (ROI), no cérebro. Ao relacionar, simultaneamente e com extrema precisão, os padrões de atividade neurológica desregulada com a observação clínica e com as queixas e sintomas trazidos e relatados pelo paciente, esta abordagem ganha valor inestimável na aplicação clinica. Enquanto toda essa tecnologia de neuroimagem funcional parece absolutamente nova para o campo da saúde mental, a verdade é que está fundada em mais de cem anos de ciência e experiência clínica. Só para que se tenha uma ideia, o conceito de função cerebral localizada foi estabelecido nos primeiros anos da neurociência clínica, época de Brodmann, Wernike, Broca e Jackson, entre outros. reconstrução em 3-D da atividade cerebral em curso e, com isso, apresentar, em forma de imagem tridimensional na tela, o cérebro em plena atividade. Isto funciona exatamente como as telas de TV de hoje em dia. Só que, nas TV’s, falamos em pixels, isto é, pontos da tela. E sabemos que, quanto mais pixels, maior a resolução do monitor e, portanto, melhor a sua imagem. Para produzir uma imagem de alta resolução tipo NFBI é necessário dispor de um grande número de voxels. E, quan46 psique ciência&vida DOSSIE.indd 46 Hoje, as neurociências têm grande potencial para fornecer os elementos conceituais e as ferramentas práticas para o trabalho clínico de alto nível to mais voxels são produzidos, melhor é a imagem tridimensional obtida do cérebro em atividade. Métodos O método de análise dos padrões de atividade eletroencefalográfica (EEG) por Z-scores consiste em adotar valores de referência populacionais, estatisticamente determinados, como parâmetros de comparação, de modo a que se possa observar, de forma imediata, em que medida a atividade cerebral de um indivíduo, em qualquer área ou estrutura cortical que se deseje, difere daquela produzida por um cérebro “normal”. E por normal deve-se entender a atividade produzida por um cérebro que não possua excessos ou deficiências funcionais, e que não esteja sofrendo de nenhuma desordem ou desregulação. Assim, os valores normativos de referência, definidos em função da idade e sexo do paciente, com valores O EEG. Leitura do EEG na tela do computador. A marca em verde indica o intervalo exato do EEG que foi selecionado para análise e produção de imagens neurofuncionais. www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:18:19 imagens: shutterstock/divulgação Pulo no passado Neurofeedback rap para saber mais Plena atividade A ilustração a seguir (Fig. 2) é um exemplo desta nova modalidade de Neurofeedback por Imagem, o NFBI - ER, na qual se pode observar uma imagem de sLORETA produzida pela ativação de uma região cerebral. No caso, o lóbulo parietal superior, no lobo parietal, é visto em plena atividade. Os elementos volumétricos tridimensionais (voxels) representam a quantidade estimada de atividade neurológica em curso, cada um com tamanho aproximado de 5 milímetros. Esta imagem fornece um modelo de representação tridimensional do cérebro vivo e em atividade, podendo ser rotacionada, aproximada, ou modificada, para permitir a melhor vista da área ou estrutura cerebral de interesse (ROI), enquanto simultaneamente apresenta o grau de atividade (ou inatividade) na região, o que funciona como informação de balizamento para o cérebro em treino. Neste caso, a cor laranja avermelhada indica atividade com desregulação de mais de dois desvios-padrão acima da média normativa para a idade sexo do paciente, conforme régua colorida no canto superior direito da imagem. Localização no Córtex: Lóbulo Parietal Superior Descrição: Córtex de Associação Somatosensorial Principais Atribuições: Processamento e Associação Somatosensorial Sintomas de Desregulação imagens: shutterstock/divulgação Funcional: Percepção Espacial e Somatosensorial Comprometida, Percepção da Fala Comprometida, Dor, Fibromialgia, Problemas de Equilíbrio, Problemas de Reconhecimento do Toque, Sensibilidade Tátil e da Pele Diminuídas, Visão Embaçada Uma imagem em 3-D da ativação cerebral em curso, permitindo a avaliação funcional pela identificação e localização precisas de desregulações neurológicas envolvidas nos mais diferentes quadros de desordens mentais, bem como seu tratamento por treinamento neurológico. Aqui, a imagem das estruturas cerebrais em plena atividade é o próprio sinal de feedback para o cérebro em treino. específicos para cada área e estrutura cerebral que se considere, representam este cérebro “normal”, que efetivamente baliza o treinamento do cérebro do paciente em cada sessão de neurofeedback por Z-scores. A obtenção de imagens a partir da metodologia de tratamento do dado neurológico por Z-scores é inovadora na medida em que cada um dos milhares de elementos volumétricos (“voxels”) computados no exame de EEG é instantaneamente convertido em uma cor que reflita o nível de ativação www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 47 da porção cerebral que cada um desses pontos representa e, por tabela, seu grau de dispersão em relação à média normativa para a idade e sexo do paciente. Ao utilizarmos a tela de treino, com a atividade neurológica em curso, esta passa a ser o próprio sinal de feedback que, funcionando como um espelho perfeito para o cérebro, fornece informação em tempo real, isto é, instantânea, sobre a natureza de sua atividade. Falamos, então, de Neurofeedback por Imagem de Eventos Relacionados (NFBI – ER). • efeito loreta • Até o desenvolvimento da Tomografia Eletromagnética de Baixa Resolução (LORETA), tudo isso não passava de sonho. A implementação original do LORETA possuía resolução de 2.000 voxels. Já sua versão mais avançada, conhecida como sLORETA (do inglês “standardized LORETA”), possui resolução três vezes maior, de 6.000 voxels. Assim, no sLORETA, cada voxel, isto é, cada medida volumétrica da atividade cerebral, é convertido em uma leitura precisa de amplitude da atividade elétrica dos neurônios nas diferentes regiões cerebrais, o que produz uma imagem colorida de altíssima resolução, em 3-D, do cérebro em plena atividade. Os sistemas NFBI fazem uso de processamento matemático extremamente sofisticado e complexo do EEG, de modo a permitir a apresentação da imagem tridimensional do cérebro em plena atividade. Portanto, nos sistemas NFBI – ER, em que se treina o cérebro visando a correção de desregulações identificadas na avaliação funcional da atividade eletroencefalográfica, o feedback torna-se a própria apresentação, em tempo real, na tela de vídeo diante nós, de nossa atividade cerebral o que, quando associada à sinalização precisa sobre a adequação ou não desta atividade, em função de parâmetros de treino estatisticamente determinados, faz desta ferramenta excepcional o próximo passo em termos de monitoramento, avaliação, e treinamento da atividade cerebral para o tratamento de uma vasta gama de condições, como depressão, ansiedade, TOC, déficit de atenção, entre outras. psique ciência&vida 47 7/10/2014 16:18:21 dossiê Neurofeedback no TraTaMeNTo Epilepsia, Enxaqueca, Ansiedade e Insônia Tanto enxaqueca quanto crises epiléticas têm a presença excessiva de frequências lentas, e ambas podem ser “geradas” a partir de várias partes do cérebro. Conheça algumas formas de tratamento atualmente disponíveis, mesmo para crianças em tenra idade Por Merlyn Hurd*, PhD Leonardo Mascaro**, MS, BCN 48 psique ciência&vida DOSSIE.indd 48 recusavam em considerar tal opção. Quando chegou para sua primeira sessão de treinamento neurológico por Neurofeedback, apresentava baixo tônus muscular, estava em cadeira de rodas, ingeria apenas alimentos liquefeitos e mantinha parco contato visual. Para o treinamento neurológico por Neurofeedback dessa criança Merlyn utilizou o protocolo Sterman para convulsões, que envolve facilitar a atividade sensório-motora (12-15 Hz) em C4 (Sistema Inter- nacional 10-20), e inibir a atividade, tanto em Theta (4-8 Hz) quanto em High Beta (18-25Hz). O treinamento acontecia diariamente, duas vezes por dia, durante 15 minutos em cada sessão. Como sinal de feedback, o display de vídeo apresentava uma imagem de um leque colorido que se abria toda a vez que os neurônios em treino produziam as frequências desejadas, fechando-se novamente quando não. O menino adorava o que, para ele, era uma divertida brincadeira. No total, foram (*) Coeditora da Revista NeuroConnections, publicação adjunta da Association for Applied Psychophysiology and Biofeedback (AAPB) – Neurofeedback Division, em conjunto com a International Society for Neurofeedback & Research – ISNR (**) Brain Tech – Centro de Análise Diagnóstica Funcional e Neurofeedback, São Paulo – Brasil www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:18:21 imagens: shutterstock C rianças com quadros epiléticos evidentes são facilmente diagnosticadas. Já os demais casos acabam sendo errônea e comumente diagnosticados na vala do déficit de atenção ou, até mesmo, na de crianças problema, que não querem estudar. O cliente mais novo com quadro de epilepsia que Merlyn Hurd, coautora do presente artigo atendeu até a presente data, é o de um menino de pouco menos de três anos de idade com um quadro epiléptico severo, com média documentada de 40 crises por hora. Seu nascimento foi traumático, tendo sido carinhosa e amorosamente cuidado por seus pais desde então. Ele nunca havia sido medicado, já que os pais se imagens: shutterstock Neurofeedback É frequente a observação de que enxaquecas e crises epilépticas estão em extremos opostos. Há controvérsia sobre se existem verdadeiros “disparadores” para ambas. Mas, parece haver consenso de que o estresse poderia exacerbar estas condições www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 49 psique ciência&vida 49 7/10/2014 16:18:23 iam rebas arap para saber mais A baixo, pode-se ver um mapa estatístico de magnitude para Theta (4-8 Hz), uma frequência cerebral lenta, obtido a partir da base de dados normativa Sterman-Kaiser. Uma base de dados normativa é composta de médias populacionais para diferentes idades e ambos os sexos, apresentando valores de referência de normalidade, isto é, normativos, estatisticamente determinados, para uma série de parâmetros de atividade cerebral. E ainda que a base de dados Sterman-Kaiser não inclua crianças abaixo de seis anos, ela foi utilizada para que se pudesse ter uma ideia de onde o foco de irritativo, de atividade epiléptica, no cérebro deste menino, se encontrava. As áreas em rosa representam mais de dois desvios-padrão acima da média normativa considerada, para a frequência de Theta, que é normalmente associada com atividade epiléptica nesta base de dados. E, como pode ser visto, há predominância de atividade lentificada por toda a superfície cortical, isto é, do cérebro. A única exceção é a área somatossensorial, que apresenta menor grau de desregulação, com menos de dois desvios-padrão acima da média normativa em questão. Mapa estatístico de magnitude para Theta (4-8 Hz) , com mais de 2 desvios-padrão acima da média normativa, por toda a superfície cerebral, incluindo o Giro do Cíngulo. onze meses de treinamento, durante os quais o número de crises epilépticas diminuiu de aproximadamente 40 por hora, para uma a duas por semana. Seu tônus muscular, agora, havia melhorado a tal ponto que já caminhava amparado na escola, alimentando-se normalmente. No ano passado, já idos 7 anos de seu tratamento, em contato com os pais, Merlyn descobre que ele já não tinha mais crises, e que não as havia tido já há anos. O intuito em apresentar esse caso 50 psique ciência&vida DOSSIE.indd 50 foi demonstrar como crianças, mesmo muito novas, podem se beneficiar do treinamento neurológico por Neurofeedback, resgatando a possibilidade de uma vida proveitosa. Enxaquecas e epilepsia É frequente a observação de que enxaquecas e crises epilépticas estão em extremos opostos. A maioria das pessoas desconhece esses fatos, desconsiderando as queixas de dores de cabeça/enxaquecas que uma criança às vezes traz. Os profis- Crianças com quadros epilépticos evidentes são facilmente diagnosticadas. Já os demais casos acabam sendo errônea e comumente diagnosticados na vala do Déficit de Atenção ou, até mesmo, na de crianças problema, que não querem estudar. Mesmo crianças muito novas podem se beneficiar do treinamento neurológio por Neurofeedback, resgatando a possibilidade de uma vida proveitosa sionais de saúde deveriam prestar mais atenção a essa questão. Crianças muito novas podem apresentar dores de cabeça que muitas vezes chegam a durar dias, sem que a criança tenha qualquer sinal de ter batido a cabeça. E tentar inferir o que se passa, principalmente quando a criança é de fato, muito nova, é sempre um desafio. Tanto a enxaqueca quanto crises epiléticas têm a presença excessiva de frequências lentas, e ambas podem ser “geradas” a partir de várias partes do cérebro. E a palavra “gerada” encontra-se entre aspas por que há certa controvérsia se existe o que se possa chamar de um verdadeiro gerador para ambas as www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:18:26 imagens: shutterstock /divulgação Análise estatística da magnitude de Theta (4-8 Hz) imagens: shutterstock /divulgação condições. Assim como há controvérsia sobre se existem verdadeiros “disparadores” para ambas. Por outro lado, parece haver consenso de que o estresse pode – de fato o faz – exacerbar estas condições. Há algumas formas de tratamento atualmente disponíveis, mesmo para crianças em tenra idade. O primeiro deles é a Hemoencefalografia Passiva por Infravermelho (HEG), desenvolvida por Jeff Carmen, PhD, psicólogo de Nova YorK. O procedimento envolve o posicionamento de sensores de infravermelho sobre a fronte, com o objetivo de aumentar o fluxo sanguíneo por toda a área executiva do cérebro, nos frontais, enquanto o paciente assiste a um vídeo. Quando o sinal está abaixo do critério estabelecido, o fi lme, no vídeo, é congelado, e o paciente tem de se concentrar em produzir o estado interno necessário para levar o sinal de treino acima do critério de treino e, assim, fazer com que o fi lme volte a ser exibido. Parece que o efeito do tratamento se dá pela alternância entre estados cerebrais incompatíveis, possivelmente envolvendo o Sistema Nervoso Autônomo, Simpático e Parassimpático, ou mesmo as áreas www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 51 cerebrais frontais límbicas, ou até a Rede de Modo Padrão, em oposição à de Saliência, o que é um pouco mais complicado do que apenas um tipo de treinamento. Dr. Carmen estudou mais de 100 pacientes com enxaqueca que, depois de apenas seis sessões de HEG, se livraram defi nitivamente desse mal. Na verdade, o critério foi de que não era possível afi rmar se a dor de cabeça relatada podia ser qualificada como enxaqueca ou não por que era muito branda. Todos tinham enxaqueca, mas sua intensidade continuava abrandando. Seis sessões era o mínimo necessário para determinar se o processo lhes seria útil. Se não houvesse melhorias significativas em seis sessões, seria pouco provável que mais sessões pudessem ajudá-los, de fato. No entanto, o Dr. Carmen também passou a considerar mais atentamente a possibilidade de outros fatores etiogênicos como lupus, que também podiam produzir dores de cabeça. Também os pacientes, depois de completado seu treinamento, haviam se livrado das medicações. O uso desses instrumentos parece aumentar os padrões de hiperconectividade (tecnicamente, coerência neurológica) no cérebro, quando essa é uma questão a ser tratada. De fato, o treinamento alivia os quadros de dores de cabeça/enxaqueca, com incrementos na energia, foco e atenção, sendo, por isso, muito utilizado em pacientes com transtorno de déficit de atenção. Outro tratamento atualmente em uso é na emissão de pulsos eletromagnéticos (pEMF) que emite frequências saudáveis ao corpo/ cérebro, reduzindo e, mesmo, eliminando, esses quadros de dores de cabeça/enxaquecas. A tecnologia vem sendo aplicada clinicamente há mais de sete anos, com base nos estudos dos médicos Paul e Raphael Nogier, bem como em publicações de Lynne McTaggert, Len Ochs, PhD, e muitos outros pesquisadores, na área. Neurofeedback A tecnologia vem sendo aplicada clinicamente há mais de sete anos, com base nos estudos dos médicos Paul e Raphael Nogier • Para que medicação? • a obra Para que medicação? (Editora Campus), de autoria do especialista em Neurofeedback e co-autor do presente dossiê, leonardo Mascaro, mostra que a análise da atividade eletroencefalográfica (EEG) permite a identificação de padrões neurológicos anômalos, bem como de estruturas cerebrais disfuncionais, que caracterizam patologias como depressão, ansiedade e pânico, déficit de atenção, dislexia, autismo, hiperatividade, TOC e quadros isquêmicos, permitindo seu diagnóstico de forma precisa e objetivamente determinada, e evitando, com isso, erros puramente baseados na avaliação clínica e/ou comportamental, além de viabilizar seu tratamento, de forma não invasiva e não medicamentosa, pela elaboração de protocolos customizados de treinamento neurológico, especificamente desenvolvidos para correção de cada um destes transtornos. psique ciência&vida 51 7/10/2014 16:18:28 iam rebas arap para saber mais O mapa quantitativo (Fig. 2 - Mapas Q, abaixo), pertence a um menino de 7 anos de idade com sérios comprometimentos de processamento sensorial e da função executiva, com ataques súbitos de ira e agressividade, tanto física quanto verbal. O mapa à esquerda (condição olhos abertos – EO) foi obtido em sua primeira leitura eletroencefalográfica (EEG). O mapa Q à direita, foi obtido durante uma fase avançada de seu treinamento. Como pode ser observado no mapa à direita, obtido seis meses depois do início de seu tratamento, pela leitura da pequena régua colorida de desviospadrão (-3 a +3, sendo “zero”, na cor branca, a referência de normalidade), as frequências (1ª. linha de cabeças, cada coluna, uma faixa de frequências) nas faixas de Theta (4-7Hz), Beta (15-18Hz) e High Beta (23-30Hz), já se encontram dentro de valores estatísticos de normalidade para a idade e sexo do paciente, enquanto Delta (0.5-3.5Hz), ainda apresenta padrão de hipoatividade nas regiões frontal e central da cabeça. Além disso, onde havia evidente assimetria de amplitude, desde Delta até Alpha, agora observase apenas o padrão assimétrico em Alpha, que ainda permanece um tanto instável durante boa parte do treinamento. O mesmo ocorre com as leituras de velocidade de transferência entre áreas (Phase – 5ª linha de cabeças, todas as frequências), com maior produçao de linhas azuis que evidencia melhorias substancias nesta função. Finalmente, o padrão de maior conectividade hemisférica, entre áreas parietais, temporais motoras e frontais (linhas vermelhas, 4ª. linha de cabeças, 4ª e 5ª colunas, nas frequências de Beta e High Beta), indica reorganização funcional do processamento sensorial. Traduzindo em bom português: essa criança agora é muito mais sociável, ainda que, com muito menos frequência, apresente eventuais ataques de ira, a tal ponto que não tem sido mais encaminhado à diretoria, na escola, como era, seguidas vezes por semana, antes do início de seu treinamento. 1º. Mapa Q Fevereiro/2014 2º. Mapa Q 31/07/2014 (treinamento) Mapas inicial e de fase avançada de tratamento de paciente de 7 anos de idade, com comprometimentos de processamento sensorial e da função executiva, bem como com ataques súbitos de ira e agressividade, tanto física quanto verbal. Aqui, a cor branca é usada como referência de normalidade. 52 psique ciência&vida DOSSIE.indd 52 Nicholas Dogris, PhD, em seu esforço por fornecer o mais adequado tratamento para os casos de atrasos de desenvolvimento, e outras desordens, desenvolveu a tecnologia de pEMF que permite, pela emissão de frequências específicas, levar o cérebro a padrões de atividade saudável. O uso desta tecnologia, em associação com o treinamento por neurofeedback por z-scores em tempo real (real time z-score training), seja de superfície cerebral, seja de estruturas profundas, pela associação com a tecnologia de tomografia funcional de baixa resolução (LORETA), permite a obtenção de excelentes resultados em uma ampla gama de desordens. A velocidade dos resultados é notável. Um outro caso que ilustra o alcance da associação da tecnologia de pEMF com o treinamento de neurofeedback por z-scores é o do paciente que apresentava queixa inicial de pensamentos compulsivos e um quadro de ansiedade generalizada e insônia. Seu mapa inicial indicava perfeitamente sua condição. Assim, o mapa inicial indicava a presença de atividade deficitária em áreas frontais, nas faixas de Alpha (7-14Hz), e de Beta (15-18Hz), o que correlacionava com sua compulsividade. Ao mesmo tempo, a atividade exacerbada em áreas temporais, bem como em áreas occipitais, na parte posterior da cabeça, O efeito do tratamento se dá pela alternância entre estados cerebrais incompatíveis, envolvendo o Sistema Nervoso Autônomo, Simpático e Parassimpático www.portalcienciaevida.com.br 7/10/2014 16:18:29 imagens: shutterstock /divulgação Sociabilidade Neurofeedback Outro tratamento atualmente em uso é na emissão de pulsos eletromagnéticos, reduzindo os quadros de dores de cabeça/ enxaquecas imagens: shutterstock /divulgação O cérebro tende a perseverar padrões funcionais consolidados, especialmente após anos de habituação e convívio com uma condição. E isso é particularmente verdadeiro em casos de deficiências funcionais explicava, respectivamente, seu quadro de ansiedade e insônia. Seu tratamento inicial envolveu treinos de Neurofeedback de superfície e LORETA, de estruturas profundas. Porém, seis meses após o início dos trabalhos, seu quadro, ainda que evidenciasse evolução, tinha muito o que melhorar. Isso é comum em casos em que a queixa trazida vem de longa data, normalmente anos. O cérebro tende a perseverar padrões funcionais consolidados, especialmente após anos de habituação e convívio com uma condição. E isso é particularmente verdadeiro em casos de deficiências funcionais, como as que este paciente trazia em áreas frontais. Apenas seis sessões de Neurofeedback por Z-scores associado a pEMFproduziu a impressionante normalização dos focos principais de desregulação neurológica. Um resultado inimaginável se considerássemos apenas o uso de neurofeedback, que normalmente envolveria, ainda mais alguns meses www.portalcienciaevida.com.br DOSSIE.indd 53 de tratamento. O resultado prático disto? Este paciente relata alívio completo do quadro de ansiedade. Seu sono encontra-se normalizado, e sua compulsividade ideativa, que o atormentava, praticamente desapareceu. Tudo isso com apenas seis sessões de treinamento neurológico por Z-scores associado à tecnologia de emisão de pulsos eletromagnéticos (pEMF). O campo do neurofeedback, sem dúvida, não pára de evoluir. Que a apresentação destas novas ferramentas, e do tipo de resultado clínico possível de ser alcançado com seu uso, permitam que mais pessoas, também em sofrimento, possam se beneficiar destes avanços científicos absolutamente extraordinários. referêNciaS “The man in the ear”, Paul e Raphael Nogier , Maisonneuve, 1979, pp. 255. A review of the history of QEEG normative databases was published in Thatcher, R.W. and Lubar, J.F. History of the scientific standards of QEEG normative databases. In: Introduction to QEEG and Neurofeedback: Advanced Theory and Applications, T. Budzinsky, H. Budzinsky, J. Evans and A. Abarbanel (eds)., Academic Press, San Diego, CA, 2008. Uma cópia da publicação pode ser baixada em: http://www.appliedneuroscience.com/HistoryofQEEG%20Databases.pdf Hernandez-Gonzalez G, Bringas-Vega ML, Galán-Garcia L, Bosch-Bayard J, Lorenzo-Ceballos Y, Melie-Garcia L, Valdes-Urrutia L, Cobas-Ruiz M, Valdes-Sosa PA; Cuban Human Brain Mapping Project (CHBMP). (2011). Multimodal quantitative neuroimaging databases and methods: the Cuban Human Brain Mapping Project. Clin EEG Neurosci., 42 (3):149-59. Duffy, F., Hughes, J. R., Miranda, F., Bernad, P. & Cook, P. (1994). Status of quantitative EEG (QEEG) in clinical practice. Clinical Electroencephalography, 25 (4), VI-XXII. Gasser, T., Verleger, R., Bacher, P., & Sroka, L. (1988a). Development of the EEG of school-age children and adolescents. I. Analysis of band power. Electroencephalography and Clinical Neurophysiology, 69 (2), 91-99. Gasser, T., Jennen-Steinmetz, C., Sroka, L., Verleger, R., & Mocks, J. (1988b). Development of the EEG of school-age children and adolescents. 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