2012 - Fevereiro
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2012 - Fevereiro
Sumário Ano II — No 02 |Fevereiro 2012 Revista de Estudos Espíritas 4 Editorial: Sexualidade sob o Ponto de Vista da Doutrina Espírita 5 Comentários dos Leitores 6 Palavras da Direção: Nos Dias de Carnaval... 7 André Luiz: Parentes Difíceis 9 Especial: O Espiritismo no Brasil 11 Espíritos do Senhor: Bernardin de Saint-Pierre 13 Palavra dos Espíritos: Disciplina no Trabalho com Jesus 16 Conversando sobre Educação Espírita: Como me Preparo para Evangelizar as Crianças? 17 Promoção Social: Nascimento sob um Novo Prisma 19 Entrevista: Dona Neuza Trindade – parte 2 23 Fala, Jovem!: Ao Jovem Leitor 24 Capa: “Sexo e Compromisso” 29 Inspirações 30 Espaço dos Encontros: Encontro Espírita sobre “O Livro dos Espíritos” 32 Espiritismo e Ciência: A Mente e os Telômeros 33 Kardec Pergunta: Legislação Humana – o Ponto de Vista 35 Evangelho em Ação: Nos Tempos Modernos 36 Léon Denis: Dores e Decepções 37 Mediunidade: A Importância do Diálogo no Atendimento Espiritual – parte 2 39 Revista Espírita em Foco: Necessidade da Encarnação 40 Grupo Leopoldo Machado: Características das Viagens 42 Tema Livre: Mensagem de Cairbar Schutel – 20/8/1998 Editorial ISSN: 1415-4269 Fundador Altivo Carissimi Pamphiro (1938-2006) Presidente Hélio Washington de M. Costa Sexualidade sob o Ponto de Vista da Doutrina Espírita Divisão de Divulgação Doutrinária Paulo Nagae Saulo Monteiro Prezados Leitores, Após mais de um ano de relançamento da REE, do Centro Espírita Léon Denis, nossos leitores passaram a conhecer, mensalmente, diversos temas à luz da Doutrina Espírita. Dando continuidade a esse trabalho, abordaremos, neste mês, um assunto que parece encontrar certa resistência quando tratado publicamente, embora faça parte de nosso dia a dia: a Sexualidade. Muitos, entretanto, dirão: “mas o que isso tem a ver com Doutrina Espírita”? Lembrando que nosso objetivo não é polemizar, mas esclarecer, trazemos aos nossos leitores três pensamentos e/ou passagens literárias de alguns “personagens” do Espiritismo sobre este contexto. Administração Silvio Almeida Conselho Editorial Alan de Souza Mônica Soares Ana Beatriz Sanabio Daniel Costa Elton Rodrigues Maíra Arruda Saulo Monteiro Vanessa R. de Oliveira Vitor Nogueira Tarcísio M. Dantas Wagner Rodrigues Jornalistas Colaboradores Alan de Souza Mônica Soares Diagramação e arte Marcelo Domingues Capa Ana Beatriz Sanabio Revisão Teresa Cunha e Barbara Santos Arte-final Roberto Ratti e Márcio Almeida Produção Gráfica “A energia sexual, como recurso da lei de atração, na perpetuidade do Universo, é inerente à própria vida, gerando cargas magnéticas em todos os seres, à face das potencialidades criativas de que se reveste. Nos seres primitivos, situados nos primeiros degraus da emoção e do raciocínio, e, ainda em todas as criaturas que se demoram voluntariamente no nível dos brutos, a descarga de semelhante energia se opera inconsideravelmente. Isso, porém, lhes custa resultados angustiosos a lhes lastrearem longo tempo em existências menos felizes, nas quais a vida, muito a pouco e pouco, ensina a cada um que ninguém abusa de alguém sem carrear prejuízo a si mesmo.” (Chico Xavier) Celd Distribuição e comercialização Deise Coelho Luzia Soares Marcelo Diniz Atendimento ao leitor Endereço eletrônico: [email protected] Telefones: 2452-7700 / 2452-7801 Aos articulistas Endereço eletrônico: [email protected] CELD (Gráfica) Rua João Vicente, 1445 - Bento Ribeiro Rio de Janeiro — RJ - CEP 21610-210 www.edicoesleondenis.com.br Tel. 2452-7700 | 2452-7801 Propriedade do Centro Espírita Léon Denis Rua Abílio dos Santos, 137 — Bento Ribeiro Rio de Janeiro — RJ - CEP 21331-290 www.celd.org.br |Tel. 2452-1846 CNPJ: 27.921.931/0001-89 IE:82.209.980 www.celd.org.br 4 4www.celd.org.br “Erro lamentável é supor que só a perfeita normalidade sexual, consoante às respeitáveis convenções humanas, possa servir de templo às manifestações afetivas. O campo do amor é infinito em sua essência e manifestação. Insta fugir às aberrações e aos excessos; contudo, é imperioso reconhecer que todos os seres nasceram no Universo para amar e serem amados.” (André Luiz no livro No Mundo Maior.) “Toda vez que determinada pessoa convide outra à comunhão sexual ou aceite de alguém um apelo neste sentido, em bases de afinidade e confiança, estabelece-se entre ambas um circuito de forças, pelo qual a dupla se alimenta psiquicamente de energias espirituais, em regime de reciprocidade.” (André Luiz no livro Vida e Sexo.) Boa leitura e que Jesus nos abençoe! Alan de Souza Comentários dos Leitores Amigos leitores, Este espaço é aberto à comunicação entre leitores e editores! Enviem-nos seus comentários, sugestões e críticas através do e-mail [email protected]. Ajudem-nos a manter e melhorar este projeto que é a nossa Revista de Estudos Espíritas! deixados por Cristo. Esquecemonos muitas vezes de agradecer àquele que fez muito por nós, mas não nos esquecemos de pedir presentes Achei o artigo interessantíssimo, para nós mesmos. apesar de não ter entendido alguns Gostaria que as pessoas pudestermos, pois não sou espírita. sem ter um Natal diário e não em Jesus é o representante de Deus junapenas uma data específica; que to à humanidade, tal qual o governador aceitassem e amassem mais o próde nosso Estado representa-nos junto ximo; que disponibilizassem uma à União. Jesus é o nosso governador fração do seu tempo para agradecer também, porque nos ensinou a amar àquele (Jesus) que fez tanto por nós e a aceitar e conviver de forma pacífie não somente se lembrar dele nos ca com o próximo. É uma pena que nem sempre momentos difíceis. façamos isso; que nos deixemos levar por outros Renato Duarte Rodrigues sentimentos como raiva, ganância, inveja, luxúria. Existem realmente épocas em nossas vidas, alguns meses, em que nos sentimos mais pró- REE: Irmão Renato, Tem toda razão! O esforço para essa lembranximos do Cristo, como o Natal, a páscoa cristã, mas nós temos nos tornado tão materialistas que ça e transformação deve ser um cuidado diário de transformamos até essas datas em apenas mais todo cristão! Que Deus o abençoe sempre! Espeum momento para se trocar ou ganhar presentes, ramos poder contar com novas contribuições da esquecendo o real significado dos ensinamentos sua atenção. Leitor não espírita comenta artigo de capa da Edição de No 12, de dezembro de 2011. www.celd.org.br 5 Paallaavr P Palavras vras da vra da Direção Diire reçã ç ão Nos Dias de Carnaval... Aproximam-se os dias em que nossa Cidade fica envolvida nas festividades do carnaval. São dias de muita turbulência e de muita agitação. Embora saibamos que muitas pessoas trabalhando, pacífica e ordenadamente, conseguem auferir recursos para o seu sustento e de suas famílias. Embora saibamos que, para a cidade do Rio de Janeiro, estes dias são importantes, financeiramente, com o aumento do número de turistas que vêm visitar a nossa Cidade, é patente o transtorno que estas festividades trazem para a Cidade como um todo. Por revelação do plano espiritual, sabemos que nesta época espíritos desencarnados, ainda sedentos de prazeres ligados à carne, aproximam-se dos homens e mulheres que com eles entram em sintonia, levando-os a cometerem atos e atitudes que trarão consequências desastrosas em suas vidas. Assim, por orientação espiritual, diversos centros espíritas e outras instituições religiosas promovem, nestes dias, uma espécie de “retiro” em que aqueles que quiserem poderão se afastar dessas vibrações. O Celd, mais uma vez, realizará o Encontro do Carnaval — o 28o Encontro Espírita sobre “O Livro dos Espíritos”, em que teremos a oportunidade de estudar mais uma vez a Doutrina Espírita e de sintonizarmos com os Espíritos Benevolentes e caridosos que dirigem nossa Casa. Venham ao Encontro, venham sentir as vibrações de Paz, Alegria, Serenidade e Amor que emanam do Plano Espiritual amigo. Hélio Washington Presidente do Celd [email protected] 6 www www.celd.org.br ww.ce w..ce ceeld. ld.org ld. org.brr André Luiz Parentes Difíceis por Laiz de Mello Gonçalves [email protected] Em O Evangelho Segundo o Espiritismo,1 cap. V, item 3 (Bem-aventurados os Aflitos — Justiça das Aflições), aprendemos o quão difícil é compreender a utilidade do sofrimento para ser feliz. Tudo o que nos aflige sem uma perspectiva de melhoria imediata nos faz, de certo modo, sofrer sem que possamos entender o seu motivo. No que tange às relações familiares, esse assunto é um dos mais discutidos. André Luiz, no capítulo 7 do livro Sinal Verde,2 nos convida às reflexões sobre os parentes difíceis em nosso convívio. Devemos confrontá-los, ignorá-los ou quem sabe até desprezá-los? Em muitas situações são esses os sentimentos que tomam conta de nós. No entanto, vamos renovar esses sentimentos à luz da Doutrina Espírita? Quando pensamos em nosso desenvolvimento moral-cristão, o Evangelho figura como a cartilha de nossa alfabetização. Lembremos uma vez mais André Luiz, agora em seu capítulo 5,3 que nos ajuda a compreender que as vicissitudes têm uma causa justa, uma vez que Deus é justo. Recomendamos a sua leitura para melhor aproveitamento desta lição. Seja por uma imprevidência na atual existência, seja por fatores relacionados a momentos anteriores a esta vida, ou ainda unicamente por um propósito futuro, há uma razão para a vicissitude. O acaso não existe. Razão e propósito são as duas palavras cujos conceitos dão sentido real ao sacrifício, ao sofrimento. Razão é pretérito, e propósito está além do presente. www.celd.org.br 7 André Luiz Em O Livro dos Espíritos,4 questão 132, Kardec recebeu a resposta da Espiritualidade Superior quanto ao objetivo da encarnação. Para chegar à perfeição, é necessário o desenvolvimento moral e intelectual. Naturalmente, essa resposta é simples de se ler, mas difícil de aplicar. Tal crescimento fere a nossa estabilidade, nossa zona de conforto, que se funda no atendimento ao interesse pessoal. Tal atravancamento já era de se esperar uma vez que a mudança está inerentemente ligada ao crescimento. É preciso ser o que ainda não se é. Bem, o melhorar a si mesmo é o objetivo maior. E nesse caminho nos deparamos com os “desafetos” que tanto nos causam desconforto com a convivência. O estudo das Leis Naturais, que estão em nossas consciências, permite um movimento voluntário na direção do entendimento de que tanto necessitamos. Ao estudar a Lei de Causa e Efeito — a Lei de Reencarnação — aprendemos que a convivência é o modo que Deus nos reservou para a evolução de que tanto falamos. A união pelo convívio promove os acertos de contas, além de abrir as portas de um sentimento do qual não podemos prescindir: o amor. Fomos criados para amar, mas o interesse pessoal se opõe ao sentimento, principalmente quando conhecemos o amor incondicional. O Espírito Lázaro nos instrui em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 8, numa mensagem intitulada A Lei de Amor. A primeira linha é autoexplicativa: “O amor resume inteiramente a Doutrina de Jesus”. Leia esta mensagem e, com certeza, você se sentirá mais fortalecido. André Luiz nos orienta a receber nossos parentes difíceis na base da generosidade e da compreensão, sentimentos filhos do amor. Ser generoso é ser bom, piedoso, caridoso. A compreensão vem a partir do respeito à individualidade do outro, como gostaríamos que a nossa fosse respeitada. A generosidade e a compreensão são sentimentos desenvolvidos à medida que nos esforçamos para serem implantados em nossos corações, num grande exercício de desafio a nós mesmos. Nesse burilamento, retira-se (ou se substitui) o que semeamos, nas vidas passadas, em nossos irmãos (que ora se personificam nas situações “complicadas” que somos constrangidos a enfrentar). Devemos, assim, exercitar tais sentimentos para que façam parte de nossas vidas, abrindo 8 www.celd.org.br caminho para que sejam distribuídos para outros corações. Essa é a Proposta Divina. Esse grande inimigo, que por agora nos deparamos, não é o desafeto familiar que nos pede socorro, mas sim aquilo que ainda existe em nosso âmago, que impede a construção dos melhores sentimentos e das melhores condições para a vida futura. O verdadeiro inimigo é o orgulho, que traz consigo os melindres e as vaidades, redundando na desistência, no abandono, o que consequentemente diminui a nossa vontade de prosseguir com aqueles que pedimos ao reencarnar, causando, talvez, mais dores e maiores conflitos de uma forma geral. Mas, mesmo sem conseguirmos alcançar o entendimento completo para produzir o real efeito com a convivência de nossos “parentes difíceis”, continuemos a caminhada buscando o melhor que pudermos oferecer, apesar das nossas dificuldades como espíritos reencarnados, e com as nossas limitações também, mas sempre lembrando que estamos a caminho da perfeição, e que levaremos um tempo para cultivar todos esses entendimentos e sentimentos. O importante é que levaremos conosco a nossa parcela em atender o outro e também de respeitá-lo. Nessas palavras finais, acrescentamos uma doce lembrança. Somos filhos do mesmo Pai que nos ama, e, por esse amor, nos orienta através da espiritualidade amiga, para nunca desistirmos de amar, desenvolvendo ao próximo como a nós mesmos. Bibliografia 1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 5. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2010. 2. XAVIER, Francisco C. Sinal Verde. Pelo Espírito André Luiz. 11. ed. Minas Gerais: CEC, 1982. 3. Idem. 4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2011. Especial O Espiritismo no Brasil por Mônica Soares [email protected] No caldeirão do sincretismo religioso brasileiro, e segundo os dados mais recentes de pesquisa divulgada pelo IBGE, o Espiritismo ocupa hoje um destacado quinto lugar na lista das 25 crenças preferidas da população. O levantamento socioeconômicocultural de 2010 traz grandes surpresas a partir da avaliação criteriosa do comportamento do brasileiro de todas as classes sociais. O Catolicismo ainda é maioria absoluta, com 67,84% de adeptos (muito embora tenha sofrido quedas históricas até a passagem do milênio) e é seguido pela igreja evangélica Assembleia de Deus (com 5,77% de crentes). Em terceiro lugar surgem as igrejas evangélicas sem-vínculo institucional; em quarto a Igreja Batista; e, em quinto, o Espiritismo “Kardecista” (termo utilizado pelo IBGE). Para se ter uma ideia, a religião umbandista vem em vigésimo primeiro lugar e a religião dos mórmons, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, em último. Os que acharam que a doutrina que prega a imortalidade da alma, que prova que a natureza do homem é espiritual — além de pregar tantos outros princípios doutrinários, científicos e religiosos, recebidos e codificados por Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, em 1857 —, fosse sucumbir com o passar dos anos, vitimada pelos ataques sem-trégua e soterrada pela força do Vaticano, enganaram-se. Como toda ideia nova, o Espiritismo angariou muitos adversários, é verdade. Estes, entretanto, viram crescer e propagar-se em dimensões surpreendentes o ensinamento de Jesus: “Fora da caridade não há salvação” (Allan Kardec — O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV), de maneira que quanto mais a Doutrina dos Espíritos, por Kardec codificada, era expurgada e excomungada, uma população também emergente, e livre para escolhas, começava a perceber a consistência da fé raciocinada. Hoje, passados quase 155 anos do lançamento de O Livro dos Espíritos, a luta continua ainda difícil. Mas já encontra passagem iluminada no caminho aberto pelos abnegados precursores do www.celd.org.br 9 Especial Espiritismo no Brasil, que, tais quais os “bandeirantes”, criaram as trilhas para divulgar uma religião libertadora, livre de preconceitos, de sectarismo, fanatismo e autoritarismo. E que, também, como discípulos da boa-nova, traziam de volta o genuíno Evangelho de Jesus, com o destino de combater o egoísmo arraigado, o orgulho e a vaidade. Religiosidade feminina X Avanços Outros dados paralelos da pesquisa mostram que novas escolhas religiosas foram parte de uma das variáveis socioeconômicas que mais mudaram a partir da emancipação da mulher no Brasil e no mundo. As pesquisas mostram que as mulheres continuam sendo mais religiosas do que os homens (pois muitos deles caminharam na direção da não religião), porém, muitas delas migraram para religiões alternativas, deixando involuntariamente para trás um catolicismo patriarcal, cuja visão se fecha, por exemplo, para temas vivos de nossa contemporaneidade como o divórcio. Se passarmos os olhos pela história do Espiritismo no Brasil, será fácil perceber que simultaneamente à migração das mulheres brasileiras para religiões menos patriarcais e conservadoras, o avanço da Doutrina Espírita em direção à sua institucionalização — uma luta que começou no final do século 19 e culminou nos anos 40 do século passado — também trilhou muito mais pelos caminhos da religiosidade efetiva e libertadora do que pela ótica de um 10 www.celd.org.br segmento religioso atrelado ao Estado e destinado a reproduzir internamente regras e conceitos centralizadores de poder. Senão vejamos o surgimento oficial do Espiritismo no Brasil: Desde antes da criação da FEB (Federação Espírita Brasileira), em 1884, os primeiros espíritas, em vários estados do Brasil, já lutavam por um movimento unificador que fosse independente da política religiosa. Nesse trabalho que seria sustentado por mais de 70 anos, destacamos, entre outros célebres espíritas, Dr. Adolfo Bezerra de Menezes. Em 5 de outubro de 1949, líderes e dirigentes de vários centros de estudos espíritas espalhados pelos estados brasileiros reuniram-se no Rio, na sede da FEB. A ideia era unificar três Wantuil de Freitas princípios básicos: aspirações de fraternidade, ensinos evangélicos e uma organização livre e isenta de personalismos e inspirações políticas. Surge a ata do Pacto Áureo. Na assembleia realizada na sede da Federação, todos os dirigentes tentavam fazer um esboço do que seriam esses princípios, quando Wantuil de Freitas, o então presidente da FEB, trouxe à tona um pro- jeto escrito por ele no dia anterior que continha, sintetizadas, todas as aspirações daquele grupo. Contam os registros da FEB que aqueles senhores presentes foram tomados de uma imensa alegria por estarem diante do documento. A revista Reformador diz que “não houve palavras para definir tamanha alegria” e a certeza do auxílio dos espíritos. Lins de Vasconcelos sugeriu então que o documento se chamasse Pacto Áureo. Com ele foi criado o Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira, que continha nove normas fundamentais que deveriam reger todo o movimento espírita no Brasil; sendo o Pacto Áureo a representação de dois pilares que seriam responsáveis pela expansão e fortalecimento da Doutrina no país: “Entendimento e concórdia”. Entendia-se por isso que: “o espírita até pode divergir em alguns aspectos secundários, mas em hipótese nenhuma se admite a discórdia e a intolerância”. Ou seja, “a Doutrina dos Espíritos liberta, porque conscientiza o homem, ensinandolhe o exercício da tolerância e do amor ao próximo, a solidariedade entre os homens e os povos”, como ensina o escritor Agnaldo Cardoso. Mas isso sem que ele se sinta passivo diante de regras e sem ser tutelado, mas trabalhando, ele próprio, pelo seu progresso e sua reforma íntima. Referências bibliográficas: Novo Mapa das Religiões (Coordenação Marcelo Côrtes Neri, Rio de Janeiro: FGV, CPS, 2011); Revista Espírita. Espíritos do Senhor Bernardin de Saint-Pierre por Henrique Oliveira [email protected] Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo V, item 27, encontramos uma bela exortação sobre a importância de aliviarmos, sempre que possível, a dor, a expiação de nossos irmãos. O espírito que assina: Bernardin. Jacques-Henri Bernardin de Saint-Pierre nasceu em Havre, França, no dia 19 de janeiro de 1737, e desencarnou em Éragny, França, no dia 21 de janeiro de 1814. Mais conhecido como Bernardin de Saint-Pierre, foi escritor e botânico. Desde a infância, Bernardin mostrou um espírito inquieto e irritável, desejoso por aventuras. Aprendera diversas línguas e interessava-se pelo mar. Um dos seus tios, capitão de navio, que foi à Martinica (ilha francesa no mar do Caribe), levou-o a bordo, porém, a fadiga do trabalho no navio tirou suas ilusões. Voltando a Havre, desgostoso da vida marítima, entrou no Collège du Mont (colégio dos jesuítas de Caen) estimulado pelo desejo de partir para lugares distantes, com o objetivo de converter os povos bárbaros. Seu pai abrandou seu entusiasmo, enviando-o para fazer filosofia no “Collège de Rouen”. Em seguida entrou na École Nationale des Ponts et Chaussées, para a turma dos jovens engenheiros que o ministro da guerra estabelecera em Versailles. Enviado a Düsseldorf, sua suscetibilidade e insubordinação lhe destituíram do cargo. Retornou para Havre, onde seu pai estava casado novamente e, devido a desacordos com sua madrasta, Bernardin partiu para Paris em 1760, sem-recursos. No ano seguinte, foi novamente enviado como engenheiro à Ilha de Malta, que estava sob ameaça do império otomano, mas depois voltou a Paris com a intenção de ensinar matemática. Sem os alunos e na pobreza, resolveu tentar a fortuna no estrangeiro, e partiu para a Holanda, e de lá para São Petersburgo, depois Polônia, para ajudar na causa de Charles Radziwill contra Estanislau II da Polônia. Em Varsóvia, encontrou a princesa Marie Miesnik, por quem se apaixonou. Posteriormente foi para Dresden, e depois Berlim, onde não conseguiu se fixar e retornou à França em novembro de 1766. Com poucos recursos, cheio de dívidas, retirou-se para Ville-d’Avray e escreveu suas memórias sobre os vários países por onde passou. Depois solicitou o cargo de capitão-engenheiro nas Ilhas Maurício, e partiu em 1768. Voltou para Paris em junho de 1771 e começou a frequentar a “Société des gens de lettres”. Jean le Rond d’Alembert apresentou-o no salão de Julie de Lespinasse, mas ele reagiu mal e sentiu-se deslocado no mundo dos enciclopedistas. Aliouse, mais estreitamente, a Jean-Jacques Rousseau. Publicou, em 1773, Voyage à l’Île de France, à l’Île Bourbon, au cap de Bonne-Espérance, par un officier du roi (Amsterdam e Paris, 1773, 2 vol.), e preparou a publicação de Études de la nature. Passou todo o inverno de 1783 a 1784 a refazer essa obra, a organizá-la. Após a publicação de Études de la nature (3 vol., 1784), o autor, desconhecido, deslocado e sem-recursos, passou a ser reconhecido. www.celd.org.br 11 Espíritos do Senhor Em 1792, aos 55 anos, casou com Félicité Didot, que tinha 22. No mesmo ano, foi nomeado administrador do Jardin des Plantes de Paris, em substituição a Georges-Louis Leclerc de Buffon, cargo suprimido em 1793. Convocado em 1794 para ser professor da École normale supérieure, reconheceu não ter talento para a oratória. Em 1795 foi nomeado membro do Institut de France, em uma classe de literatura e línguas. Apoiou, a partir de 1797, o culto revolucionário à teofilantropia, visando à substituição do Catolicismo por outra religião. Laureado pela Academia de Besançon, foi eleito para a Academia Francesa em 1803. Após perder sua primeira esposa, casou novamente, em 1800, com Désirée de Pelleport, jovem e bela, que acompanhou seus últimos anos até sua morte em Éragny (Val-d’Oise), à beira do rio Oise. Do primeiro casamento, teve dois filhos: Paul, que morreu muito jovem, e Virginie, casada com o general de Gazan. Sua segunda esposa casou-se novamente com Aimé Martin. Em Bernardin, há uma diferença profunda entre o escritor e o homem: este é irascível, melancólico e atormentado; aquele é doce, calmo e terno. Do início ao fim da vida, o escritor sonha com uma república ideal, onde todos os habitantes são unidos por uma mútua benevolência ainda que as contrariedades da vida irritem a suscetibilidade do homem. Em l’Arcadie (Angers, 1781), um poema em prosa, Bernardin descreve a república ideal com que sonha. Em Études de la nature (Paris, 1784, 3 vol.) descreve, com suas próprias palavras, “une histoire générale de la nature” (uma história geral da Natureza). O talento em descrever a Natureza é mais aparente em Paul et Virginie (Paris, 1787). Com uma paisagem nova e grandiosa ao fundo, duas graciosas figuras adolescentes representam a paixão humana em toda a sua extensão. Bernardin também expressa com perfeição a paixão em La Chaumière indienne (Paris, 1790), que se torna, de certo modo, um paradoxo, um ataque contra a Ciência. Os outros escritos de Bernardin de SaintPierre são: Harmonies de la nature (1815, 3 vol.); Vœux d’un solitaire (Paris, 1789), que tenta conciliar os novos princípios com os antigos; Mémoire sur la nécessité de joindre une ménagerie au Jardin national des plantes (Ibid., 1792); De la Nature de 12 www.celd.org.br la morale (1798); Voyage en Silésie (1807); la Mort de Socrate, drama, precedido de um Essai sur les journaux (1808); le Café de Surate, conto satírico; Essai sur J.-J. Rousseau et récits de voyage. Suas Oeuvres complètes foram publicados por Aimé Martin (Paris, 1813, 12 vol). O mesmo editor publicou a Correspondance de Bernardin de Saint-Pierre (1826, 4 vol.), suas Oeuvres posthumes (1833-1836, 2 vol.), e seus Romans, contes, opuscules (1831, 2 vol.). O romance Paul et Virginie teve inúmeros seguidores, entre outros Maria, do colombiano Jorge Isacs, e Inocência, do brasileiro Visconde de Taunay. Bernardin de Saint-Pierre aparece ainda com seu nome completo na Revista Espírita de setembro de 1861, em mensagem ditada à médium Sra. Costel, e ainda na edição de março de 1867, ditando um pensamento que o médium Bertrand recebeu a lo de novembro de 1866, na Sociedade Espírita de Paris: “O amor verdadeiro é harmonioso; suas harmonias embriagam o coração, elevando a alma. A paixão afoga os acordes, abaixando a alma”. Aparece, ainda, com outras mensagens, incluídas por Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Céu e o Inferno. Estátua de Bernardin de Saint-Pierre no Jardin des Plantes de Paris. Palavra dos Espíritos Disciplina no Trabalho com Jesus pelo Espírito Balthazar [email protected] Qual o conselho que o Sr. poderia nos dar em relação à disciplina que devemos ter diante da coordenação de um trabalho? Balthazar: Para nós, a disciplina de uma instituição religiosa deve estar calcada em 3 pontos básicos: 1o) O respeito à Doutrina; 2o) O respeito à Casa; 3o) O respeito aos representantes de Deus que trabalham na Casa, desencarnados ou encarnados. Qualquer criatura que penetre num ambiente doutrinário está se candidatando a servir naquele ambiente. Então, daí a necessidade da obediência, de diretrizes claras, específicas, objetivas para que o serviço transcorra bem. E isso exige da criatura um processo de determinação (autodeterminação se quiserem). Ele trabalhará, por exemplo, numa Casa, determinando-se a produzir segundo as orientações desta. Ele produzirá o bem, segundo ordem da Casa. Ele será médium, segundo ordem da Casa. Então, essa base é a primeira dentro do contexto do qual estamos falando. É a primeira regra a ser observada, ou seja, você trabalhará numa Casa Espírita e a sua obrigação, o seu desejo, o seu sentimento, aquilo que você é deve estar jungido ao ato da disciplina, de querer servir ali. O segundo fato é que esta associação de sua vontade ao desejo expresso por você deve estar www.celd.org.br 13 Palavra dos Espíritos apoiado solidamente no princípio da liberdade espiritual de escolher. Você tem que ser o que você é por escolha, por determinação, não por indução. A Doutrina Espírita nunca será responsável pela vida de ninguém. Cada um será responsável por seus atos. Por isso, você só irá se quiser. E o outro princípio básico de obrigação dentro da Doutrina está amparado num outro desejo que é o sistema da oração, algo essencialmente individual. Isso obriga o homem a ser um ser que quer caminhar, porque deseja vencer a si mesmo. Ele quer servir, mas ele deseja vencer a si mesmo. Esse é o grande objetivo da disciplina na casa religiosa. Ele nunca será um bom espírita se quiser se disciplinar apenas na Doutrina Espírita. Deverá desejar se disciplinar dentro de si mesmo. A Doutrina Espírita é um elemento que irá catalisar essa reação, acelerar esse processo de formação no sentido de dirigir? B: Se ele não tiver o desejo íntimo de ser disciplinado, terá sempre esses episódios de indisciplina. Quase todos os processos de indisciplina observados nas Casas Espíritas se originam dessa não adesão e desse não desejo íntimo de ser disciplinado. Como conseguiremos, dentro de uma Casa Espírita e dentro de nós mesmos, nos disciplinar a ponto de não nos abatermos diante de problemas de convivência? B: Regras de convivência fazem parte de um aprendizado de vida não interior. Regra de convivência é fruto de aprendizado externo. Inclui a polidez, à qual você acrescenta momentos mais marcantes, menos marcantes, momentos mais determinados, momentos menos determinados, recordando ainda a lição muito objetiva, antiga, de que numa sociedade todos são obrigatoriamente desiguais. Quando você está num grupo associado a um serviço, você, intimamente, tem que ser disciplinado. Se o companheiro de jornada traz dificuldades de convivência, isso prova apenas que ele não tem capacidade, ainda, de exteriormente ser como você gostaria que ele o fosse. A prova está que essas pessoas também têm objetivos de fazer o bem; apenas por força externa não o conseguem. 14 www.celd.org.br Imaginemos você dirigindo uma tarefa. Imaginemos que ao seu lado exista uma pessoa com o mesmo objetivo de dirigir essa tarefa, ou com direção no mesmo sentido, mas cada um, por força da sua evolução, tem a sua noção do que seja a verdade. Imaginemos que essa pessoa ao seu lado lhe conteste. Vamos supor, dentro desta hipótese que eu estou apresentando, que se você sair do trabalho e passar para esta outra pessoa a direção do trabalho, ela poderá conduzi-lo tão bem quanto você, uma vez que ela tem o mesmo objetivo. Por isso que tais pessoas, quando não têm a disciplina externa, mas têm a interna, são capazes de dizer num dado momento, “eu não quero lhe ofender”, “não estou querendo o seu lugar” e pensam seriamente isso, porque não desejam mesmo, mas externamente desejariam que você conduzisse a tarefa segundo a própria visão. As sociedades religiosas espiritistas têm muita indisciplina externa e há muita disciplina interna. A prova da disciplina interna existente é que a doutrina mantém-se una, solidamente uma. Poucas foram as dissensões. Mas a externa, esta disciplina ou indisciplina, é patente na forma de dirigir o trabalho, de dirigir passes, de dirigir desobsessão, se deve ter ou não esse ou aquele serviço, mas, no fundo, todos creem em espíritos. Sabem que têm espíritos inferiores que precisam ser doutrinados, sabem que o passe é uma energia que cura, que sustenta, que anima e que corrige, mas quanto à relação de oportunidade, esta é que não se faz adequadamente, repito, por força dos fatores externos de convivência que podemos chamar de educação também. E os que permanecem na Casa, mas não entendem justamente esse contexto de disciplina? Balthazar: Ou não atingiram os objetivos, não descobriram os reais objetivos da convivência da vida, ou então são almas muito simples. A alma simples também provoca isso. A alma simples ainda não tem objetivos internos definidos no campo da religiosidade. E quanto aos empecilhos que a vida nos impõe? B: Vamos situar um episódio diário: você tem uma realidade familiar, uma realidade financeira, uma realidade física, o cansaço, o desejo do repouso e o desejo de um dia ficar um pouco em casa, sozinha com os filhos ou com o marido. Tem Palavra dos Espíritos a realidade do trabalho estafante ou não, sempre estafante, todo trabalho produz estafa, cansaço, pelo menos desgaste de energia. Há a realidade da cidade que vocês vivem, distâncias, dificuldades de transporte, dificuldades de locomoção, falando objetivamente. Há a realidade familiar, as exigências familiares e a financeira, as preocupações com a sobrevivência. Então, há várias realidades. Todas, no momento em que você deve dirigir-se ao Centro, pesam sobre você. O que crê que prevalecerá aí, a disciplina interna ou a externa? Acredito que deve ser a interna. B: É a resposta adequada. Tem que ser a interna. A externa, nesse caso, é consequência. A disciplina interna que grita dentro de você a necessidade de cumprir uma meta que você estabeleceu, qual seja, a de servir naquele campo de atividades. Por isso você não repousa. Então, a convicção estabeleceu a meta? B: Sim, a convicção estabeleceu a meta. E quando eu passar pelos meus testes ou for buscar testes? B: Se você buscar, só a disciplina exterior irá resolver. A interna conduz naturalmente as coisas. Dentro de nós mesmos, há metas retas e metas pouco retas. O homem tem o desejo do mal. É meta dele fazer o mal, mas ele está na fronteira de começar a se cansar do mal. Há momentos em que ele pergunta a si mesmo: “Isto está certo”? A disciplina interna dele começa a falhar. É o momento da mudança. Quando a disciplina interna começa a falhar, está na hora da mudança. Aí ele entrará em todo um processo de reaprendizado de novas metas, e nesse período de aprendizado, ele estará, diríamos, visceralmente em ebulição. Isso é bom? B: Todos temos que mudar e nesse sentido é bom, ainda mais quando as metas são para o bem. E quando o interesse dele é progredir? B: O princípio é o mesmo. Apenas será menos dificultoso ou ele provocará menos dificuldades. O que estará de acordo com as Leis da Natureza. B: Sim. Menos ebulição. B: Menos ebulição. Para adotar uma atitude de disciplina, a pessoa tem que se convencer a se disciplinar e ter uma atitude consciente. Isso parece tão lógico, mas não é tão lógico assim, porque esse convencimento vai exigir um determinado grau de amadurecimento. B: Para os espíritos desejosos de fazer o bem, toda lógica amparada no amor não é difícil. Verá se a pessoa tem o desejo de fazer o bem, que é a conquista interna ou disciplina interna, ou se ela dá os passos corretos para fazer o que é a disciplina externa. Se você diz a ela: o caminho é esta estrada e não aquela, ela dirá: Todos os caminhos levam ao bem, o que importa é Deus. Quando muito, você poderá dizer a ela: “Mas esta estrada leva por um caminho mais reto, e aquela não vai lhe levar por um caminho tão reto”. É válido dizer “Esta leva e eu conheço”? B: É válido dizer, sem querer impor. Num gesto fraternal. B: Sim, num gesto fraternal. Tem que aprofundar as raízes? B: Exatamente. E nunca deixem de ficar perplexos, pelo menos nesta fase da vida, porque isso é o sinal de busca. Nenhum de nós está na fase de conquista plena. O que é conquista plena para vocês em relação a qualquer um de nós aqui, espíritos integrados no bem? Para nós, ainda há muita estrada a percorrer com a visão mais ampla dos objetivos coletivos, dos objetivos de trabalhos gerais, dos objetivos amplos da libertação dos espíritos, e muitas outras tarefas, em que todos precisamos crescer. Há homens que crescem em objetivos de comunicação, se especializam na capacidade de se comunicar, outros ampliam suas áreas no campo da beleza, da forma, do linguajar, da música, da pintura. Todos que crescem se dirigem para o alto e cada vez mais incorporam o seu próprio espírito pela cultura múltipla que vão fazendo e obtendo. www.celd.org.br 15 Conversando sobre Educação Espírita Como me Preparo para Evangelizar as Crianças? por Raquel Borin [email protected] Em todo processo sério de evangelização, alguns passos são fundamentais para que a atividade atinja com precisão seus objetivos. Se há uma responsabilidade com os adultos, a evangelização infantil engendra um grau de compromisso e entrega ímpares, por isso a sua importância. Depois de me conscientizar sobre a responsabilidade do compromisso assumido com o trabalho da evangelização, estudo o tema do dia e preparo material adequado, sempre orando e pedindo a proteção de Jesus e de Deus. Não se deve esquecer de que o encarnado, durante esse período, com o objetivo de aperfeiçoar o espírito, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliar o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo. É preciso aproveitar essa fase da infância para transmitir às crianças o máximo de noções sobre as leis que regem nossas existências e os evangelizadores têm, assim como os pais e responsáveis, grande responsabilidade sobre isso. Os espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoar, para se melhorar. A deli16 www.celd.org.br cadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devem fazê-lo progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão que dar conta. A infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência natural das Leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo. A partir da adolescência o espírito vai, aos poucos, mostrando como realmente é. Conserva-se bom, se era fundamentalmente bom, mas apresentará sempre características que estiveram ocultas na primeira infância. Nessa fase já se dificulta o assimilar das orientações (de caráter, de moralidade, entre outras) que se queira passar, sendo, portanto, fundamental que isso aconteça na infância. Ao sair da adolescência, o espírito retoma à natureza que lhe é própria e se mostra qual era. Bibliografia KARDEC, Allan. Cap. VII, parte segunda, perguntas 379 a 385. O Livro dos Espíritos. Promoção Social Nascimento sob um Novo Prisma Trabalho de Apoio às Gestantes por os Editores [email protected] O Trabalho de Apoio às Gestantes compreende algumas atividades doutrinárias, espirituais e materiais imprescindíveis ao equilíbrio materno-fetal numa concepção de realidade de espírito. Envolve muitos corações que buscam colaborar nessa programação divina, sejam eles os Espíritos Benfeitores da Obra Social Antonio de Aquino, ou os espíritos encarnados que objetivam transmitir segurança, carinho, conforto, amparo aos beneficiários que lá acorrem, mediante as atividades fundamentadas no estudo da Doutrina Espírita. E, como tantas outras, foi uma tarefa iniciada com pequenos recursos materiais, mas com coragem, determinação, comprometimento e auxílio à missão maternal e paternal, além do impulso dos trabalhadores espirituais em relação aos encarnados. Num segundo momento, as atividades, que se propagavam ao longo de três dias semanais, necessitavam de um planejamento, de maneira que as ideias fossem unificadas e que os temas estudados fossem seguidos por todos ao longo da semana, traçando metas a serem cumpridas. Essa preocupação com a formalização e organização surgiu com o senhor Altivo Pamphiro, no intuito de futuramente implantar tal tarefa em outras instituições que solicitassem a colaboração do CELD. Como nos conta Maria de Lourdes, coordenadora da tarefa, as gestantes que lá chegam estão num conflito extremo, magoadas, revoltadas com a gravidez, com os companheiros que, muitas vezes, as abandonam, porque não desenvolveram o senso de responsabilidade diante do compromisso assumido. E muitas delas, aliando a desesperança pela situação em que vivem ao desconhecimento das leis e da Justiça Divina, relatam a vontade de abortar. Por isso a primeira abordagem dos trabalhadores em relação às beneficiárias é a de acolhimento e da compreensão da dor daquela gestante. A partir disso, mostra-se um caminho de recuperação e transformação daqueles espíritos, mãe, pai e filho, apontando a importância da convivência com a família, do burilamento do espírito, do desenvolvimento do amor àquele espírito sob a tutela dos pais, da responsabilidade quanww www w www.celd.org.br ww.ce ww .cceeld eld ld.org ld. orgg.br or org .b br 17 17 Promoção Social to à educação desse espírito. Ressalta ainda a importância do Evangelho de Jesus, sem o qual seria difícil conseguir a adesão dessas mães desesperadas que clamam por amor. Com a expansão desse núcleo de apoio à reencarnação, é possível, num trabalho de equipe, atender às gestantes em suas necessidades primeiras, por meio de atendimento especializado, como nutrição, assistência social, psicologia, ginecologia e tantos outros atendimentos ambulatoriais e diversos trabalhos espirituais de auxílio. Depoimento maternal Meu nome é Sheila Bicudo Coelho. Sou mãe desde 1997, e Eneidinha, agora com 12 anos, reflete em nossa vida tudo o que de muito bom aprendemos aqui! No grupo das grávidas, num começo um tanto difícil pelas instalações precárias, aprendi que se deve confiar sempre, mas sempre mesmo, pois as dificuldades passam e as condições materiais e instalações melhoram! Aprendi também a conviver com a diversidade humana, ideias variadas, muitas vezes conflitantes, mas que nos impulsionam a construir em nossos corações a perseverança! Com essas experiências, o fortalecimento espiritual é uma realidade incontestável, pois sou mãe, mas uma mãe diferente. Ser mãe com o conhecimento da Doutrina Espírita é ser mãe de vanguarda, que compreende o filho(a) e o educa, orienta-o como espírito, como indivíduo a contribuir com a sociedade de agora e para a Nova Era! A Era do Amor! Este grupo contribuirá sempre para a formação do espírito em transformação. Transformação para a paz, solidariedade, amor enfim! Devo ressaltar que, pela gravidez da nossa Eneidinha, conheci o grupo de apoio às 18 www.celd.org.br gestantes da Mallet.1 Tive que tomar passes de cura e, ao término, assistir às aulas. Fiquei admirada e ao mesmo tempo feliz de ver, de conhecer um trabalho tão lindo, de tamanha responsabilidade, já que quem ali chega é recebido com muito amor, com muito carinho, tendo o Evangelho como alimento primeiro e sagrado em nossas vidas, nos encorajando e nos fortalecendo. Hoje vejo a necessidade desse projeto ser mais divulgado, pois é um trabalho silencioso, no qual o fortalecimento espiritual das gestantes, dos espíritos reencarnantes e de todo o grupo que ali se encontra é muito importante, figurando como alavanca e apoio ao progresso de cada um. Hoje Eneidinha já se encontra mocinha e eu continuo com ela nos passes de cura, porém não mais junto ao grupo, mas meu coração está. Sou profundamente grata a Deus por fazer parte dessa família tão linda e tão responsável! (Centro Espírita Antonio de Aquino. Rio de Janeiro, 12 de setembro de 2010). 1. A autora da mensagem refere-se à Obra Social Antonio de Aquino, situada no bairro da Mallet, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Entrevista E En ntrrevis ista ta Entrevista com Dona Neuza Trindade – parte 2 por Mônica Soares [email protected] Como foram os primeiros contatos com seus guias? Dona Neuza: Eu sempre vi meus guias ao meu lado, desde nova. Então, em cada casa que passei, fiz trabalho mediúnico de uma forma diferente. Na primeira casa, foi com uma freira. Quando eu era estudante, morava em Oswaldo Cruz e ia para Vaz Lobo a pé. Nesse caminho — quando passei a estudar à noite —, eu sempre via a freira ao meu lado. E, caminhando, ela me fazia muitas perguntas que eu não sabia responder. Então eu respondia com as letras das músicas de carnaval e de rádio, conhecia a coletânea de preces das quais gostava muito (risos). que tem no Evangelho Segundo o Espiritismo. Ela sempre fazia Com quantos anos? aquelas preces para começar Dona Neuza: Eu tinha uns e encerrar. Hoje, no entanto, 17... Ela me perguntava: “Por ninguém as estuda e nem as faz que você está namorando”? E mais. eu dizia, cantando, que era porque eu queria me casar. E ela me Quando foi que deixou, definiperguntava de novo: “Você sabe tivamente, o Santa Izabel? Dona Neuza: O presideno que é casamento”? E eu dizia que eram duas pessoas moran- te desencarnou e a minha mãe do na mesma casa. E quando foi trabalhar no centro do filho eu comecei no (centro espírita) dele, que era de Umbanda. Santa Izabel ela se apresentou. Quando cheguei lá, as entidaA freira me protegia nas sessões, des não me deixaram ficar de porque, naquela época, eu só jeito nenhum. Elas disseram www.celd.org.br 19 Entrevista tora e o Altivo, eu nunca mais evoquei espírito. A não ser o Dr. Hermann, que eu chamo sempre, não tem jeito (risos). Ao Dr. Hermann, Dr. Bezerra e Léon Denis o pessoal do Celd não dá descanso mesmo... Dona Neuza: Dr. Hermann e Léon Denis então, nem se fala... E depois que eu o vi foi ruim, porque passei a mentalizá-lo sempre. pra mim e pra minha mãe — de forma direta mesmo — “Ela vai, mas você não vai para lá não. Vai aparecer um lugar formoso para você ir”. Mas como o Celd ainda não existia, a Sra. passou a frequentar o Terezinha de Jesus? Dona Neuza: Isso mesmo; e fiquei lá 8 anos. Foi onde eu conheci o meu marido também. Mas a freira continuou comigo. Até o momento em que ela definitivamente se despediu. Foi um diálogo direto. Ela estava sobre a minha cabeça e me disse que a partir daquela data não iria mais trabalhar ali, porque ficaria no trabalho de espíritos socorristas. E tempos depois eu a vi aqui no Celd também, junto a um grupo de freiras descalças, as Carmelitas. estava obrigando a fazer o que não competia mais a ele fazer. Era a freira. Então eu perguntei a ele: como é que eu posso obrigar? E como posso saber? Ele me disse que sendo ela um espírito meu amigo, ouvia as minhas evocações, vinha em meu socorro. Ali ele me ensinou que, para não errar, eu deveria evocar o espírito do trabalho. Então, até hoje, quando trabalho, penso em Deus e Jesus, e em tudo aquilo que posso fazer de bom. E me entrego ao espírito daquele trabalho. Então, voltando novamente ao início do trabalho no Celd, como foram as primeiras reuniões? Dona Neuza: Logo que recebemos a ordem do Dr. Hermann de que deveríamos abrir o Centro durante o dia, uma vez por semana, pelo menos. Ele nos orientou para que o fizéssemos sempre às segundas e às quartas-feiras, às 16h. Para ler O Evangelho Segundo o Espiritismo, fazer o estudo e a oração. Ainda não havia o salão, só as salas Ignácio Bittencourt e Deolindo Amorim. Não havia ainda manifestações nem turmas de estudos. E durante pelo menos uns cinco anos isso foi feito. Sendo cinco: Cidinha, Nestor, Nair, Jorgina e eu, nos revezávamos. Jorgina e eu, por exemplo, cortávamos os cabelos das crianças na obra social. A Jorgina, àquele tempo, tinha ficado viúva, e quando a vi muito chorosa, disse a ela para ficar lá comigo, porque eu iria arrumar um outro marido pra ela (risos). Que outros grupos de espíritos trabalham no Léon Denis? Dona Neuza: Freis da falange de Francisco de Assis e outros. Onde houver gente trabalhando no bem, e com vontade de fazer o bem para o próximo, eles estarão juntos. São espíritos trabaE nunca mais a viu? lhadores mesmo. Eles usam a O que o Dr. Hermann dizia? Dona Neuza: O Dr. HerDona Neuza: O Altivo, certa minha mediunidade para fazer vez, disse pra mim que havia um o que precisam. Então, como mann nos explicou que havia espírito perto de mim ao qual eu aprendi com essa minha men- muitos espíritos que eram tra20 www.celd.org.br Entrevista tados e que ficavam aqui. E que eles precisariam dessa sustentação em outros dias da semana. Ele nos dizia, também, que era preciso chegar meia hora antes e que quando terminasse a reunião não poderíamos sair correndo, que era para manter por algum tempo a vibração da casa. Também nos instruiu a começar pela parte terceira, e mais consoladora, do livro O Problema do Ser e do Destino (de Léon Denis). Esse período durou quanto tempo? Dona Neuza: Foram quase cinco anos assim, e tendo só umas seis ou sete pessoas na assistência do salão. Eram pessoas que não podiam vir à noite. Nessa época, seu Nelson Cordeiro, pai da Yara, que era um coronel da Aeronáutica muito amigo, também começou a ajudar nos estudos. Passados uns quatro anos dessas reuniões às 16h — e nós cinco estudando à noite —, eu comecei a ver um grupo de espíritos sempre presentes no salão. Um dia eu os vi abrindo a reunião. E um deles disse que ia chegar um grupo que ia dar um movimento intelectual mais intenso à Casa. Enquanto a Riésia fazia a leitura da página Palavras da vida eterna, eu os via ali, acima das nossas cabeças. Eu me sentia como se estivesse ouvindo a conversa deles atrás da porta (risos). Isso eu não vou esquecer nunca! (Dr. Hermann) virou a cabeça para os espíritos e falou assim: “Os vícios que eles trazem vão ser diluídos no trabalho que eles vão fazer”! Aquilo me marcou, porque ele entendia a vida do mundo, que são os vícios, os costumes, as vaidades e tudo aquilo que faz com que a gente se distraia na vida, mas também entendia que nós, como médiuns, estávamos ali para ter a proteção dos guias, embora precisemos estar muito, muito atentos. Os espíritos, neste dia, enumeraram que a droga, o sexo, o álcool, o fumo eram os maiores inimigos do homem. Dias depois, na reunião de sábado, ouvi o professor Nilton de Barros falar na tribuna exatamente a mesma coisa, com as mesmas palavras, enumerar os vícios, na mesma ordem que eles enumeraram. Eu me arrepiei da cabeça aos pés. Essas determinações são mantidas até hoje... Dona Neuza: O horário, a disciplina. A cabeceira do rio Amazonas começa na Cordilheira dos Andes, onde a nascente da água é pura, bem pura e geladíssima. No seu trajeto até chegar ao mar, ela já vai adquirindo outras substâncias e, quando chega lá, muitas vezes já está bem suja. Então é preciso manter a mesma base, idêntica, sempre. E aos poucos aquelas seis pessoas foram se transformando nessa multidão que hoje frequenta a Casa, principalmente O que eles diziam? Dona Neuza: O dirigente do às quartas e sábados... Dona Neuza: O processo era grupo perguntou assim: “Mas e os defeitos que eles trazem, assim: aquelas seis que vinham à os vícios que eles têm”?... E ele tarde, quando estabeleciam suas vidas, passavam a vir à noite ou aos sábados. E aí vinham outras à tarde, indicadas por aquelas, e assim a Casa foi crescendo. O que um espírita não deve esquecer? Dona Neuza: A primeira linguagem apreendida, o livro que lhe abriu os caminhos. Você pode conhecer mil livros, mas o espírita deve reler sempre aquele livro que lhe abriu os caminhos. Porque ali ele encontrou uma força. Emmanuel diz isso. O Altivo pedia sempre que voltássemos aos primeiros livros. Devemos, sim, ficar atualizados com os novos autores, mas sempre voltar às origens. Há cada dia surgem novas palavras, mas o alfabeto não muda nunca. É a história da cabeceira do rio, onde nasce a água pura e limpa. Conforme o passar dos anos, com que o médium da Casa deve ter maior cuidado? Muitas vezes ele age pensando estar certo e já não está. Dona Neuza: Palavras do Dr. Hermann: “Nunca caia na rotina”! O trabalho deve estar sempre ligado à emoção e não ao procedimento automático. E quando você está ligado no princípio das coisas, é como se você nunca soubesse nada e aí fica sempre atento e estimulado para o trabalho. A rotina do trabalho deve estar ligada à emoção do trabalho. A prece é movida pela emoção do coração e dos sentimentos. Por isso ela é mola propulsora do momento do passe? Dona Neuza: Sim. Prece é emoção, é o resultado das deswww.celd.org.br 21 Entrevista cobertas que a gente vai fazendo uns dos outros. E assim são os outros trabalhos mediúnicos, os que se manifestam através da arte, por exemplo. Em um dos Encontros de Artes, num momento em que tivemos o intervalo e viemos para o corredor, eu senti a vibração das emoções de Castro Alves, ali, naquele lugar! Eu amo Castro Alves, eu amo poesia! Todo mundo sabe. Eu amo o poema “Navio negreiro”... Aí disse para a Clenir: “Eles estão aqui”! Nós nos abraçamos e percebemos que estávamos ganhando uma chuva de bênçãos daqueles artistas que eram os protetores do nosso trabalho. O que de mais importante aprendeu com Emmanuel? Dona Neuza: Uma das coisas mais importantes: não perder um segundo, um minuto de nossa vida para provar a nossa fé. Aquele instante que temos que pedir a Jesus e aceitar a 22 www.celd.org.br resposta dele. No livro Há dois mil anos Emmanuel nos conta isso. Ele teve a felicidade de ter sido contemporâneo do Cristo, e não aproveitou. Isso porque, vocês sabem a história, a pedido de sua esposa Lívia ele foi pedir ao carpinteiro que curasse a sua filha, que estava com lepra. Mas quando viu o carpinteiro humilde, não teve coragem de “humilhar-se”, por causa da aparência física de Jesus. “Eu, um senador romano, pedir a um maltrapilho? É quando ele ouve a mensagem telepática do Cristo: “Pede, senador, pede”!, mas ele não teve coragem. Entretanto, quando chega em casa a filha está curada. Então aquilo foi uma lição. Ele diz no livro que, por causa de um segundo, ele deixou de ter contato com o maior espírito, o maior modelo que Deus já enviou à Terra. E teve que rolar os séculos até encontrálo novamente. Essa passagem é a que mais me emocionou na vida. Esse segundo seria aquele instante crucial de decisão pela Doutrina? Dona Neuza: Aquele instante em que você descobriu a fonte, se fortaleceu, deu a arrancada, mas depois só quer saber da psicologia, de outros detalhes e vai esquecendo a base. É quando você vê médiuns que passaram anos estudando e de repente dizem: me cansei disso tudo, vou para a igreja evangélica. Se você está escorado nessas bases sólidas, você não muda de religião. O médium não pode ficar naquela posição de achar que é escravo de si mesmo, e que não tem direito à renovação. Nesse instante ele tem que voltar e ler Caminho, Verdade e Vida, Fonte Viva, Pão Nosso... esses livros dissecam o Evangelho. Cada lição é um versículo do Novo Testamento. Fala, J Fala, Jovem! ovem! Ao Jovem Leitor por Andressa Leal - 22 anos [email protected] “Estudem, portanto, caros filhos, para serem bons espíritas (...)” Victor Graças rendamos ao Criador Universal pela oportunidade de contato com o estudo na seara do Consolador, que ele nos proporcionou desde tenra idade. Estar diante da Verdade anunciada por Jesus através do Consolador Prometido já na fase juvenil, momento em que tantas tribulações de ordem física e espiritual ocorrem, e passar por ela não ilesos, mas marcados, por incorporarmos em nossas vidas os nobres exemplos do Mestre, “não é uma tarefa para frouxos,” como dizia nosso querido Altivo, mas para jovens determinados aos estudos. Tais estudos, além de nos engrandecerem a alma, também nos fazem sentir pessoas dignas da confiança que os espíritos depositaram em nós, uma vez que estamos diante das letras redivivas do Evangelho, através do Espiritismo. “O estudo é a fonte de suaves e nobres prazeres; liberta-nos das preocupações vulgares e nos faz esquecer as tribulações da vida.”¹ Assim, quando nos ligamos pelos pensamentos aos grandes autores do bem maior — que habitam hoje diferentes faixas desconhecidas por nós, nesse Grande Universo —, desligamo-nos, por certos momentos, das amarras primitivas que as paixões humanas ainda nos fazem vivenciar, e nos ligamos ao bem muitas das vezes desconhecido por nós, o qual, entretanto, nos abraça e nos faz sentir essa centelha divina que nosso querido irmão Jesus afirmou que somos. Os jovens que estão diante dos estudos que lhe trazem a Verdade anunciada por Jesus firmaram um contrato no Além para esta experiência. Todo contrato tem cláusulas e algumas delas exigem-lhes alguns sacrifícios: a saúde moral; a boa conduta; o entusiasmo na luta; o não sintonizar com o mal.2 Dessa forma, esse jovem que iniciou suas lutas pelo amor e com o amor, assemelha-se a exemplos como Baudin, Japhet e Dufaux, que de forma positiva contribuíram para a sociedade na recepção das mensagens que deram início a O Livro dos Espíritos. Citamos também Francisco de Assis, chamado O Cristo da Idade Média, que contava com 20 anos de idade quando vozes espirituais o advertiam, lembrando-o dos compromissos firmados com o senhor ao reencarnar; e Antônio de Pádua, aquele angelical Fernando de Bulhões, que aos 16 anos deixou os braços maternos para se iniciar na “Ciência Celeste”.3 Devemos, então, como esses jovens, aproveitar esses conhecimentos que nos estão sendo passados, através dos livros e dos irmãos mais antigos, nesta seara de amor. Que possamos assim entregar nossas energias “ao ideal de vivenciar e divulgar os postulados sublimes da Doutrina Espírita” que com seus estudos nos permite galgar maiores patamares em busca de nosso conhecimento interior e reforma íntima. Que todos os jovens que firmaram um compromisso de serem “fiés” ao burilamento interior, apesar dos diversos percalços que surgirem ao longo desta caminhada, possam focar seus olhos no firmamento e agradecer ao Cristo pela dádiva de termos conhecido esta Doutrina maravilhosa, assim como Timóteo, João o Evangelista e tantas outras almas dadivosas que conheceram o Evangelho na fase juvenil. “Que Deus vos abençoe, pois, jovens espíritas! Tende a mão no arado para lavrar os múltiplos campos da Seara Espírita. Elevai bem alto esse farol imortal que recebestes imaculado das mãos dos vossos predecessores! Sede fiéis guardiães dessa Doutrina que tudo possui para tornar sábia e feliz a Humanidade! O futuro vos espera, fremente de esperança! E o passado vos contempla, animados pela esperança!”4 Bibliografia 1. DENIS, Léon. O Estudo. In. Depois da Morte. CELD, 2009. 2. ROSAS BATISTA, Maria Anita. Divaldo Franco, O Jovem que Escolheu o Amor. Editora Lorenz, 2011. 3. PEREIRA,Yvonne. ‘"Nw|"fq"Eqpuqncfqt. FEB, 1997. 4. Idem. www.celd.org.br 23 Matéria de Capa “Sexo e Compromisso” por Wagner Rodrigues [email protected] “Compreendamos, pois, que o sexo reside na mente, a expressar-se no corpo espiritual, e consequentemente no corpo físico, por santuário criativo de nosso amor perante a vida, e, em razão disso, ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo.” André Luiz – Evolução em Dois Mundos, Capítulo XVIII, em 30 de março de 1958. Primórdios Sexuais A continuidade da espécie é assegurada pela reprodução sexuada, em que ambos os sexos — aí nos referindo ao sexo como os caracteres masculinos e femininos — são compelidos a se associarem para ceder metade da carga genética ao novo ser que renasce. O sexo necessitou de uma característica especial que trouxesse à humanidade, a despeito das dificuldades próprias da ignorância das primeiras idades humanas, a vontade de procriar. Estabeleceu-se, então, o prazer. É justo entender que a realização do ato sexual era desprovida de qualquer ascendência moral ou indiferente a qualquer afinidade psicológica, até porque os espíritos, como acontece ainda hoje conosco (embora em 24 www.celd.org.br outra fase), estavam formando as características que lhes diferenciariam a individualidade. Logo, era de se esperar que o ato sexual fosse proveniente das necessidades físicas de reprodução, justificado pelo automatismo instintivo que fora construído pelas inteligências superiores e pelo prazer, este infimamente provido com algum sentimento timidamente projetado (característica essa tão típica dos espíritos ainda primitivos). O prazer tinha, então, a qualidade de alterar as percepções da realidade, a fim de que não fossem notados ou criados obstáculos à reprodução. Prazer, Automatismo e Reflexo Condicionado Sob o aspecto espiritual, o princípio inteligente evolui aprendendo e desenvolvendo seus instintos, sob os moldes determinados pelas inteligências superiores que tutelam os desígnios divinos, para acordar na consciência da própria existência, passando à condição de espírito. Um acordar lento e gradual onde instintos convivem, num primeiro momento, com pensamentos inconstantes a estes para, em seguida, serem substituídos, já nos domínios do espírito, pelos pensamentos contínuos, facilitados pelo desenvolvimento da comunicação falada e consequente interação. É fato que, assim como o princípio inteligente evolui, o sistema neurológico do perispírito e do corpo material que o manifesta, consequentemente, evolui também, desenvolvendo novas formas para acomodar-se às novas estruturas mentais que lhe são a causa primária. Matéria de Capa O longo processo de aprendizado utiliza-se do condicionamento bem-sucedido para alcançar o automatismo fisiológico e, em grande parte, comportamental, a fim de que tenhamos hoje a mais plena liberdade espiritual para nos ocuparmos com as coisas do espírito, sem nos preocuparmos com a continuidade das tarefas fisiológicas. O cérebro humano se desenvolveu, conservando, contudo, as aquisições precedentes, frutos dos processos de repetição. A razão e os sentimentos passaram então a manifestar-se em outras áreas em formação, remodelando o reflexo condicionado ou sucumbindo a ele. O prazer associado ao automatismo tem, ainda hoje, a capacidade de obliterar as outras percepções, sentimentos e pensamentos do homem. Até porque, como herança do cérebro primitivo automatizado, as substâncias produzidas durante o ato sexual ainda podem entorpecer as distantes áreas do encéfalo que sediam as manifestações sentimentais mais nobres. É preciso lembrar que aqui falamos de capacidade e não de regra. Impulso de Convívio, Impulso Sexual e Dor do Existir O fato é que, do mais selvagem, passando pelos tiranos, até chegarmos ao homem atual, antes mesmo de o princípio inteligente acordar na condição de espírito, há algo em seu imo que o impele ao que hoje pode- ríamos conceituar, grosseiramente e a lato sensu, como uma carência afetiva constante, que lhe confere um impulso de convívio, fruto da necessidade do progresso. Progredir é da natureza íntima do espírito. Tal carência, com a vênia dos queridos psicólogos, sexólogos, pedagogos e psiquiatras leitores, integra a natureza mais íntima do espírito, como força própria de sua natureza. Podemos entrever essa carência gerando um impulso de convívio a que alguns estudiosos chamam de impulso sexual ou tratam por forças da libido. Intelectualizada, mas ainda insatisfeita e incompreendida, ela se transfigura na dor do existir. É causa e efeito da necessidade da vida social que impulsiona o espírito ao progresso, ao trabalho, à conservação e ao amor. O sexo, visto pelo aspecto físico e com finalidade puramente reprodutiva, não deve ser confundido com o impulso de convívio, característica natural do espírito gerada a partir da carência afetiva a que nos referimos anteriormente. O impulso projeta-se sobre toda a vivência social e experiência íntima do espírito, em qualquer campo em que este atue ou se situe, porque corresponde à força que o faz buscar a satisfação do existir perante o vazio quase constante da existência que logra entender. E é aí, até hoje, que sexo e impulso sexual são tomados um pelo outro, desconsiderando que o sexo é uma fresta para a criação, pela qual o impulso criativo se projeta. Assim como a fala, a escrita, as habilidades táteis, o aprimoramento das sensibilidades gustativas e auditivas são projeções do espírito impelido à mesma busca, é necessário que o homem entenda o sexo como projeção desse mesmo espírito, manifestando no ato sexual os sentimentos e pensamentos de que se faz portador, razão pela qual podemos dizer, com extrema segurança, que a vida sexual — de cada homem e mulher — reflete o espírito na busca da satisfação afetiva, diante dos valores que abraçou e, em alguns casos, sob as circunstâncias a que se obrigou ou a que foi obrigado. O sexo, como qualquer outra expressão do ser humano, é o espelho claro de todas as aquisições da alma, não estando desnudado apenas o corpo, mas também a alma, numa projeção nítida de sua mente. Sexo O sexo, no aspecto anatômico e fisiológico, já nos é, em parte, conhecido. Isso porque, no que diz respeito à usina de hormônios, neurotransmissores e neurorreceptores, somos forçados a reconhecer que ainda não descortinamos a totalidade dos fenômenos neurológicos ocorridos nas atividades envolvidas com o sexo. Sob limites parecidos, ainda não compreendemos a totalidade do significado de suas sensações e símbolos, dentro do universo afetivo de cada ser. Retomando o aspecto fisiológico do sexo, sabe-se, segundo a fisiologia moderna, que o prazer sexual é uma sensação produzida por uma série de substâncias www.celd.org.br 25 Matéria de Capa combinadas e sob determinada concentração. O cérebro, programado para atuar perante a necessidade da continuidade da espécie, recolhe as informações selecionadas através de milhares de experiências da espécie no campo das reproduções bemsucedidas, recolhendo também as informações sobre as concentrações hormonais. O interesse sexual é despertado sob o influxo das percepções de nossos cinco sentidos, para ser, em seguida, orientado e manifestado pelas concentrações e respostas hormonais. O somatório dessas informações é submetido às regras sociais, às crenças e à moral, recursos manifestados, consciente e inconscientemente, em outras áreas do cérebro, a fim de que sob a supervisão e o livrearbítrio do espírito, o impulso sexual possa se manifestar. A razão e a emoção, o reflexo e a aprendizagem misturam-se 26 www.celd.org.br e contrabalançam-se, condicionando a gestão do impulso sexual às aquisições do espírito nos campos citados. Sexo nos Espíritos Sabemos que os espíritos não se reproduzem. Esclarecendo melhor, não criam outro espírito através do sexo. Possuem a carência existencial e, por tal, o impulso de convívio, que na forma física ganha essa moldura de impulso sexual. Não possuem, por não se reproduzirem, o sexo como o entendemos. Todavia, cumprindo determinação divina, o princípio inteligente é internado na matéria para aprimorá-la. Enquanto se aprimora, e, dadas as características predominantes em formação, às quais ainda não podemos sondar com clareza, associa-se às formas femininas ou masculinas (lembramos aqui que a natureza íntima dos espíritos é igual para todos, por isso nos referimos a uma predominância na associação ao gênero masculino ou feminino). Logo, toda inteligência, embora apresente invólucro externo masculino ou feminino, possui ampla capacidade para enveredar pelas experiências reencarnatórias no sexo oposto. Porém, trata-se de predominância em campos que deverão ser integralmente desenvolvidos e que, para tal, se utilizarão das duas formas. Acomodado às necessidades espirituais, o espírito reencarna sob a forma que julgar mais útil, a fim de que nas experiências inerentes a cada sexo, masculino ou feminino, possa adquirir mais conhecimento e melhora moral. Afirma André Luiz, no capítulo “Diferenciação dos Sexos” (Evolução em Dois Mundos, segunda parte), que em determinado momento da evolução, após a colheita integral das experiências vividas em ambos os sexos, as características masculinas e femininas não serão preservadas, desaparecerão, não nos sendo, ainda, permitido entrever a maneira pela qual os seres angelicais gerenciam seus relacionamentos. O Fracasso A conduta sexual pode limitar-se apenas à exigência do prazer físico, homologada pelos costumes, hábitos, índoles, sentimentos e sensações. O sexo pode ganhar valor tão grande na projeção do impulso sexual que, não raro, sob o influxo de pensamentos e sentimentos equivocados, acompanhamos as psicoses afetivas projetando-se sobre o campo sexual, distor- Matéria de Capa cendo forças naturais, desequilibrando as energias psíquicas e, por fim, requisitando a devida internação em circunstâncias que devolvam à alma a sanidade. Raciocínio e sentimentos passam a ser condicionados à satisfação do impulso sexual na forma da sexualidade torturada e insaciável, porque o espírito, não obstante os avisos que tenha recebido, acreditou que no simples prazer sexual compensaria a carência afetiva portada, inerente à sua própria natureza. Nos enredos reencarnatórios, não raro o homem se deixa levar pelo prazer desenfreado, trocando a permuta de sentimentos nobres e compromissados (que satisfazem sua busca existencial) pelas sensações que saciam as permutas magnéticas, que entorpecem as frustrações afetivas e que desestimulam os questionamentos íntimos. Muitas vezes faz do sexo a fuga à evolução. Logo, os órgãos genitais sofrem os desequilíbrios energético-estruturais próprios do perispírito, sendo inibidos e impedidos, pelo uso desregrado e exagerado, de manifestar o impulso sexual. Assim como o tirano produz para si o cérebro defeituoso, o delinquente da fala lesiona os órgãos de fonação, o etilista desenvolve o metabolismo sensível e o fumante reencarna sobre os dramas respiratórios, também o desequilibrado do sexo produz problemas graves, os quais não abordaremos aqui, por acharmos o tema demais complexo e sensível frente às limitações típicas de expor o assunto em um artigo. Acreditamos que o assunto deva ser mais bem esclarecido e aprofundado nos cursos, seminários, encontros e, individualmente, no serviço de acolhimento fraterno. Contudo, guardamos a assertiva de André Luiz de que “ninguém escarnecerá dele, desarmonizando-lhe as forças, sem escarnecer e desarmonizar a si mesmo”. O Sucesso A evolução espiritual tem natureza individual. Porém, cada alma é dotada da capacidade de interferir no psiquismo alheio. Ou seja, a evolução é individual, mas se dá coletivamente. Vale dizer que, após a fase da consciência da vida espiritual, apenas o espírito responde pela própria evolução. Não estamos aqui dizendo que não temos responsabilidades uns com os outros; bem pelo contrário, sobretudo perante os irmãos e irmãs que ainda dormitam na inconsciência da vida real. Mas afirmamos que, no que diz respeito ao pro- gresso individual, nada substitui o livre-arbítrio do pensar e sentir espirituais. Você é responsável pelo que pensa e pelo que sente, mas também pelo que faz. O outro é responsável pelo que faz, mas não é responsável pelo que você sente ou pensa, porque você tem a opção de escolher o que deve sentir e pensar sob o prisma espiritual, desde que assim queira. Dentro dessa coletividade, existem almas selecionadas que são chamadas ao convívio, forçado ou voluntário, que compartilham o desenvolvimento dos instintos, das habilidades e qualidades; almas que interferiram em nossas vidas; almas em cujas vidas interferimos. Muitas vezes nos utilizamos do sexo para interferir; mesmo quando essa não era a intenção. Mas seria o sexo um passatempo, um brinquedo? Não há como negar que os anticoncepcionais fizeram do sexo mais que um meio de procriação, mas, considerando que www.celd.org.br 27 Matéria de Capa toda qualidade, habilidade ou recurso deve servir à evolução do espírito, nos questionamos se temos condições de manter o ato sexual indiferente à evolução, como se servisse apenas ao corpo. Sendo que isso, por si só, já revela uma condição do espírito. Perante o sexo, talvez seja essa a maior dificuldade; fazer com que a vida sexual se integre à proposta de evolução. A evolução aponta para o amor e fica claro que o amor é um fim a ser atingido, é a razão de evoluirmos moralmente. O amor é um sentimento que, como qualquer outro, só pode ser desenvolvido após longos exercícios num planejamento compromissado. É um desafio enxergarmos, no sexo, mais uma porta para o progresso. Dentro do convívio, vermos o compromisso como ferramenta única no desenvolvimento de certas habilidades e sentimentos. Aliás, gostaríamos de sugerir ao leitor que se perguntasse, sinceramente, se “há alguma habilidade racional ou sensitiva que possa ser desenvolvida sem-compromisso”. Se as qualidades, habilidades e recursos nos servem de meio de evolução, por que deixar, supondo possível, o sexo alheio a isso? A grande verdade é que não nos parece sensato caminharmos para a desmaterialização dos gostos, para o mundo dos sentimentos e da racionalidade e agirmos como se o sexo nada tivesse a ver com isso, pouco caso fazendo do sentimento ou da evolução própria e alheia. Não estamos falando da renúncia ao prazer, até porque isso não é possível. Estamos falando da inserção do amor, do respei28 www.celd.org.br to, da compreensão, da cumplicidade sadia, da indulgência. Temos que encarar a evolução, e a evolução nos leva a pensar que o prazer é uma característica do sexo, e não um sentido para ele. O sentido para o sexo é, sem-dúvida, o amor, mas nos perguntamos se é possível amar de verdade sem ter compromisso. Conduta Sexual Quando Kardec falava que o verdadeiro espírita seria reconhecido pela sua “transformação moral e pelo esforço que faria para domar suas más inclinações”, ele indicava um norte, um sentido para o conhecimento. Se quisermos buscar a mudança, temos que pensar: Estudo não é recolhimento. Presença não é compromisso. Caridade não é, por si só, transformação interna. Temos que olhar para dentro de nós mesmos e, assim como fazemos em outros aspectos, olharmos para nossa conduta sexual e percebermos onde as más inclinações nos dominam. Buscarmos indícios de quanto o orgulho, a vaidade e o egoísmo nos servem de base no campo afetivo-sexual. Ou caminhamos para frente e sublimamos a manifestação do impulso sexual, ou repetimos os exercícios automatizados do passado, atrofiando estruturas perispirituais e ferindo corações. Sendo assim, permitimo-nos agora lembrar o Mestre Jesus a recomendar “Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem”, e registrarmos uma vez mais Kardec a ensinar-nos que “Amar o próximo como a si mesmo; fazer aos outros o que desejamos que os outros façam por nós” é a expressão mais completa da caridade, pois resume todos os deveres para com o próximo. Não pode haver guia mais seguro a esse respeito do que tomar como medida do que se deve fazer aos outros, o mesmo que desejamos para nós”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, XI, item 4.) Inspirações que nos questionarmos se devemos obedecer ou não a uma “Todas as vezes ordem, a um apelo, a um convite, imaginemo-nos do outro lado da estrada. Certamente, quando estamos em posição de doar, temos ocasião para refletir, para questionar, até mesmo para rejeitar. No entanto, na condição de solicitador, de doente, de necessitado, o nosso sentimento é outro. Quando tivermos que decidir sobre o assunto, deixemos que a misericórdia presida nossas determinações e atitudes. ” Balthazar Não sobrecarregues os teus dias com “ preocupações desnecessárias, Solidários, seremos “ união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos. a fim de que não percas a oportunidade de viver com alegria. ” André Luiz ” Bezerra de Menezes Cada um que passa em nossa vida passa “ sozinho... Porque cada pessoa é única para nós, e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só... Leva um pouco de nós mesmos e nos deixa um pouco de si mesmo. Sede como os “ pássaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam! Eles sabem que possuem asas. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada. ” Victor Hugo A alegria está na “ luta, na tentativa, no Esta é a mais bela realidade da vida... A prova tremenda de que cada um é importante; e que ninguém se aproxima do outro por acaso… ” Antoine de Saint-Exupéry sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita. ” Mahatma Gandhi www.celd.org.br www.ce www .celd.org rg.br 299 Espaço dos Encontros o 28 Encontro Espírita sobre “O Livro dos Espíritos” por Luiz Eduardo Procópio [email protected] Ano passado, no 27o Encontro Espírita sobre O Livro dos Espíritos (EELE), estudamos o tema: “O Amadurecimento do Senso Moral através das Experiências Materiais” e analisamos a caminhada do espírito desde a sua criação, como simples e ignorante, até atingir a perfeição absoluta, alcançando a felicidade eterna. Em 2012 daremos sequência ao estudo do último Encontro, fazendo um aprofundamento em algumas questões. Estamos prontos para crescer? Esta é a temática do Encontro deste ano, que será desenvolvido nos três dias de carnaval. Para chegarmos à resposta desse questionamento, faz-se necessária uma breve reflexão sobre alguns temas que serão abordados ao longo desse texto. Qual a diferença entre ação e reação? Costumamos agir ou reagir diante das provas terrenas? Por que interessa para nós, espíritos imortais, sabermos definir e escolher entre agir ou reagir diante das vicissitudes da vida? A conceituação entre ação e reação é um dos temas que iremos abordar durante o estudo. As provas constituem outro tema que merece uma atenção especial neste Encontro, pois é essencial sabermos definir e 30 www.celd.org.br compreender a sua importância dentro de nossas vidas, inclusive aquelas que venham trazer a dor. Mas como compreender a dor do outro, como auxiliar o outro a superar as suas provas? Veremos que a acessibilidade é um recurso que permite a aproximação do outro com a sua dor e a empatia faz com que saiamos do nosso egoísmo para amparar e aprender com a experiência do próximo. E como aprendemos? Quais os componentes do aprendizado? Quais as ferramentas que utilizamos para obter o conhecimento? Durante o nosso Encontro iremos nos aprofundar no processo de aprendizagem e veremos a sua influência sobre o nosso comportamento. Será que antes de reencarnarmos sempre fazemos a escolha certa a fim de progredirmos moralmente? As nossas escolhas como espírito encarnado são coerentes com as escolhas feitas no plano espiritual? E quando os acontecimentos da vida independem da nossa vontade, qual a nossa atitude? O que é e como agimos diante de uma fatalidade? Como a resiliência poderá nos ajudar a superar as adversidades da vida? Juntos, responderemos a essas e outras perguntas, pois o conhecimento da Doutrina Espírita nos traz o embasamento necessário para seguir as Leis de Deus e não nos desviarmos do caminho do bem. Mas se o Espiritismo traz as respostas para os nossos questionamentos, por que não fazemos tudo que sabemos? Lembremos de Paulo de Tarso em Romanos 7:19: “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço”? Ao final do Encontro, chegaremos às nossas conclusões, mas desde já temos em Jesus o apoio necessário nos momentos de aflição e o exemplo a ser seguido na nossa caminhada em busca da felicidade. Sendo assim, veremos que o o 28 EELE é a oportunidade para o aprofundamento e o amadurecimento do nosso senso moral, pois pode nos possibilitar, através da interação nesses três dias, o conhecimento de si mesmo que, de acordo com Santo Agostinho, na pergunta 919a de O Livro dos Espíritos, é a chave da melhoria individual. Muita paz a todos! Prepare-se para o aprofundamento proposto por nossos diretores espirituais: Espaço dos Encontros www.celd.org.br 31 Espiritismo e Ciência A Mente e os Telômeros por Elton Rodrigues [email protected] Todo material genético contido no núcleo de uma célula, seja de um organismo unicelular (como protozoários e vários fungos e algas) ou multicelular (como insetos, plantas, répteis, mamíferos e outros), está compactado em estruturas denominadas cromossomos, termo que significa “corpos coloridos” (do grego chroma = cor e soma = corpo). Os cromossomos, que variam em tamanho, forma e número em cada uma das diferentes espécies, são compostos essencialmente de DNA e proteínas associadas. Neles, portanto, está toda a informação genética que caracteriza e diferencia tanto as células e os tecidos quanto todos os seres vivos. O DNA existente em um cromossomo contém os genes, mensagens codificadas na forma de sequências de nucleotídeos (“tijolos” básicos que compõem o material genético das células), onde estão as instruções para a formação de todas as células e tecidos do nosso corpo e para a síntese de proteínas (responsáveis por todos os processos biológicos), além de outras sequências capazes de sintetizar “mensageiros” que atuam na regulação de processos celulares e áreas que não carregam qualquer tipo de instrução ou codificação. Entre as estruturas que o DNA não codificador forma nos cromossomos, estão os centrômeros e os telômeros. Os centrômeros permitem a separação exata dos cromossomos duplicados durante a divisão celular que gera as células-filhas. Já os telômeros (do grego telos = fim e meros = parte), localizados nas “pontas” dos cromossomos, funcionam como capas protetoras dessas extremidades, tendo papel muito importante na manutenção da integridade do genoma. Eles impedem, por exemplo, a fusão de terminais de diferentes cromossomos e a degradação destes por enzimas que, na falta dos terminais, reconheceriam o material cromossômico como DNA danificado. Falemos por outros termos. Em nossos sapatos, quando os pedaços de fita adesiva que selam as pontas dos cadarços se desprendem, estes começam a desfiar, desmanchando-se. Em uma célula ocorre o mesmo com os cromossomos que têm seus telômeros danificados: 32 www.celd.org.br eles tendem a ser destruídos e, nesse processo, a célula morre. Porém, toda vez que uma célula se divide — como as células imunes e da pele — os telômeros ficam um pouco menores. Essa redu- Telômeros ção transformou-os em medidores do envelhecimento celular. A bióloga Elizabeth H. Blackburn, que trabalha na University of California, e a psicóloga Elissa S. Epel publicaram um artigo, em 2004, associando o estresse psicológico ao encurtamento dos telômeros em células brancas do sangue. Isso representou um grande avanço nas pesquisas dos telômeros. Atualmente, inúmeros estudos mostram que telômeros mais curtos estão relacionados a várias doenças. E, reciprocamente, telômeros mais longos têm sido associados a comportamentos saudáveis como exercícios e redução do estresse. Esses estudos indicam uma possibilidade de usar o comprimento dos telômeros — medidos por um simples exame de sangue — para se ter uma visão geral da saúde e uma rápida percepção do processo de envelhecimento. Ademais, Elizabeth fala sobre evidências que mostram que fatos da vida como o estresse crônico e traumas de infância estão relacionados com telômeros mais curtos: “Tomemos o trauma de infância: estudos mostraram que o número de traumas de infância se relaciona quantitativamente ao grau de encurtamento do telômero no adulto: quanto mais traumas, mais curtos os telômeros. Nosso estudo mostrou uma relação impressionante entre o número de anos de estresse crônico sofrido por mães que cuidavam de uma criança com doença crônica e o encurtamento do telômeros”. Assim, devemos avaliar com muito cuidado o que nós, espíritos atuantes no Universo como um todo, causamos em nós e nos outros seres da criação. Será que conhecemos todo o nosso potencial em modificar, em manipular a matéria com a mente? Kardec Pergunta Legislação Humana – O Ponto de Vista por Tarcisio Martins Dantas [email protected] Neuza,1 jovem mulher recémchegada de Governador Valadares, interior de Minas Gerais, foi tentar vida nova na cidade grande. A oportunidade chegou por caminhos desconhecidos, projetando-a para Belo Horizonte, capital do povo mineiro. Recebera como função o trabalho de empregada doméstica em um lar socialmente estruturado. Esta era uma chance de ouro, visto que os patrões lhe ofereciam moradia e alimentação, antes mesmo do primeiro salário, que viria ao final do mês sem qualquer ônus. Contudo, passado algum tempo, Neuza, desencantada com a sua nova condição, decide tudo abandonar e voltar para a cidade natal. Em virtude da falta de recursos materiais próprios para adquirir a passagem de trem necessária ao seu intento, e após uma tentativa frustrada de obtê-lo com os seus patrões, sucumbe à tentação e furta a importância de que necessitava. Neuza é presa e sai algemada sob o olhar crítico dos seus patrões, afinal de contas, tornara-se uma ladra. Esta, meus irmãos, é uma história verdadeira, ocorrida há muito tempo, no ano de 1976. A Doutrina dos Espíritos veio com o objetivo claro de complementar o Evangelho do Mestre Jesus para aqueles outros, como nós, que ainda insistem em manter a vestimenta do homem velho, preso a valores que sempre nos tornam infelizes. Contando a história de Neuza, não queremos aqui avaliar a sua conduta sob a luz do Espiritismo, mas unicamente a nossa. Somos indivíduos imperfeitos, vivendo uns com os outros, e não compreendemos que temos que viver para aprender a conviver. E mesmo em situações tão extremas como a aqui contada, não se pode descumprir tal propósito, o que unicamente adiaria para um futuro distante o acerto daquele mal proceder. Vivemos várias vidas e a morte não transforma ninguém. Devemos nos educar mutuamente. Allan Kardec, um homem que viveu para muito além do seu tempo, encaminha aos espíritos superiores essa questão,2 que segue, logo abaixo, para a nossa apreciação. 796. A severidade das leis penais não constitui uma necessidade, no estado atual da sociedade? “Uma sociedade depravada certamente precisa de leis mais severas; infelizmente, essas leis se destinam mais a punir o mal, quando este está feito, do que a secar sua fonte. Somente a educação poderá reformar os homens; então, eles não necessitarão mais de leis tão rigorosas.” Não é de hoje que se vive uma crise do sistema penitenciário no mundo, dando mostras evidentes de que nosso modelo penal precisa mudar. Desejamos acabar com o mal na Terra, mas ignoramos que a sua origem está no homem. Embora esteja no homem, o mal não é o próprio homem. Empreendemos www.celd.org.br 33 Kardec Pergunta esforços contra o mal, mas atacando o ser humano que o praticou, chegando ao extremo de ilusoriamente eliminá-lo com a pena de morte. Como na orientação dos benfeitores, é necessário “educar para secar a fonte”. Para alcançarmos um dia esse ideal, como sociedade, é preciso mudar o nosso ponto de vista em relação ao infrator da lei, de maneira que o primeiro passo em direção à sua reabilitação seja o esquecimento do mal que praticou. Isso não significa, entretanto, que ele deva ser eximido de suas responsabilidades. Quantos sentimentos de vingança ainda movimentamos nos corações quando ouvimos histórias como as de Neuza. As nossas ações para casos assim podem até ser diferentes daquela tomada pelos seus patrões, mas invariavelmente não pensamos no bem ao vivermos essas experiências. E em respeito a todo o sacrifício do nosso Mestre, que tantos esforços empenha para vivermos dentro de uma realidade superior, trazemos a passagem evangélica descrita por João (cap. VIII: 3 a 11). Ela é bastante apropriada à nossa reflexão. Então, os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher, que havia sido apanhada em adultério, e fizeramna ficar de pé no meio do povo, e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em adultério, ora, Moisés nos ordenou, na lei, apedrejar as adúlteras. Qual é, pois, a vossa opinião sobre isso”? Falavam assim tentando-o, a fim de 34 www.celd.org.br terem do que acusá-lo. Jesus, porém, abaixando-se, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como eles continuassem a interrogá-lo, Jesus levanta-se e diz: “Que aquele dentre vós que está sem-pecado atire a primeira pedra”. Depois, abaixando-se novamente, continuou a escrever sobre a terra. Mas eles, ouvindo-o falar daquela maneira, foram se retirando, um após o outro, saindo primeiro os mais velhos; e assim Jesus ficou só com a mulher, que estava no meio da praça. Então, levantando-se, ele diz: “Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou”? Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Disse-lhe Jesus: “Eu também não te condenarei, vai, e no futuro não peques mais”. O mestre não perguntou de onde ela vinha nem mesmo o que ela havia feito, mas antes de tudo fez o bem. A caridade é uma Lei de Deus, sendo o bem, portanto, incondicional. Caros irmãos, a história de Neuza não acaba com a sua prisão. Segue, logo abaixo, uma parte do despacho proferido em audiência no processo no 3.721, da 3a Vara Criminal de Vitória, pelo Meritíssimo Senhor Juiz João Baptista Herkenhoff, reservando a todos mais um grande exemplo. cruzeiros, teria facilitado a ida da acusada para Governador Valadares, ainda mais que a acusada havia revelado sua inadaptação a esta capital; considerando que a acusada é quase uma menor, pois mal transpôs o limite cronológico da irresponsabilidade penal; considerando que o Estado processa uma empregada doméstica que lesa seu patrão em 150 cruzeiros, mas não processa os patrões que lesam seus empregados, que lhes negam salário, que lhes furtam os mais sagrados direitos; considerando que o cárcere é fator criminogênico e que não se pode tolerar que autores de pequenos delitos sejam encarcerados para, nessa universidade do crime, adquirir, aí sim, intensa periculosidade social; relaxo a prisão de Neuza F., determinando que saia deste Palácio da Justiça em liberdade. Lamento que a Justiça não esteja equipada para que o caso fosse entregue a uma assistente social que acompanhasse esta moça e a ajudasse a retomar o curso de sua jovem vida. Se assistente social não tenho, tenho o verbo e acredito no poder do verbo porque o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Invoco o poder deste verbo, dirijo a Deus este verbo e peço ao Cristo, que está presente nesta sala, por Neuza F. Que sua lágrima, derramada nesta audiência, como a lágrima de Madalena, seja recolhida pelo Nazareno.” “Considerando o pequeno valor do furto; considerando o Bibliografia minúsculo prejuízo sofrido pela 1. HERKENHOFF, João Baptista. Mulheres no Banco dos Réus. 1. ed. vítima que, a rigor, se o Cristo Forenze, 2008. não tivesse passado inutilmente 2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espípor esta Terra, em vez de proritos. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD, curar a Polícia por causa de 150 2011. Evangelho em Ação Nos Tempos Modernos por Eliane Maceió [email protected] Nos tempos modernos em que vivemos, não raro nos impressionamos com o comportamento amadurecido de nossas crianças. Surpreendemo-nos com o que fazem, como agem, mas, principalmente, com o que falam. É um fato que esses espíritos — no momento habitando corpos infantis — são submetidos tanto ao avanço quanto ao progresso dentro da experiência corporal, em abençoadas reencarnações sucessivas, facultadas pela Lei de Deus. A partir da universal lei do progresso, observamos que nosso planeta também já se encontra avançando no progresso espiritual. No capítulo III de O Evangelho Segundo o Espiritismo,1 os espíritos nos advertem de que o nosso planetinha azul está em determinado estágio evolutivo de provas e expiações, o qual se assemelha a hospital, prisão e escola. Ou seja, é o campo precípuo de formação do caráter. Por isso é fundamental que os espíritos que aqui habitam se ajustem à Lei de Deus, quando não, sedimentem em si a ideia de Deus como Pai Amoroso, Justo, Bom e também como “causa primária de todas as coisas”.2 Há espíritos que não tendo essa ideia formada, não constroem o conceito de fraternidade universal entre si; transgredindo, assim, as Leis de Deus. Tal transgressão redunda em muitos desequilíbrios para próximo. Chegamos, então, à reflexão mais importante para quem frequenta a Casa Espírita. Qual o papel dos pais e educadores em geral para que o quadro se modifique? A infância é momento de educar espíritos. Deus criou sabiamente essa fase propiciando aos pais um cenário adequado para interferir nas atitudes infantis. O espírito reencarna num corpo pequeno que envolve e enternece os genitores. Os pais, no momento que acolhem esse espírito, passam a ter a oportunidade perfeita para auxiliar esse espírito. O abandono da criança gera situações funestas no futuro. Deixá-la sem-orientação é a certeza de que o espírito também ficará sem-controle, semdireção. A falta de limites nas ações das nossas crianças será perceptível não somente num futuro distante, mas já em seu momento atual. Muitos de nós presenciamos situações em que o adulto se vê sem-ação diante do comportamento atrevido da criança. Grande parte desses comportamentos é fruto da impaciência ou da imperícia dos educadores que não se colocam firmes em sua posição de orientador — atribuição especial dada por Deus a todo aquele que abraça a tarefa da paternidade ou maternidade —, para colocar limites no comportamento dos filhos ou daquele que vive sob sua tutela. A paciência é virtude que deve ser cultivada pelo educador para que sua tarefa educativa tenha sucesso. A relação educacional é, portanto, dialética. Para sermos bons educadores, precisamos nos educar. A falta de exemplo positivo para um espírito em formação causa grandes prejuízos ao seu progresso. A criança, por mais que se mostre firme em suas observações, ainda é frágil para tomar atitudes plenamente ajuizadas. Ela precisa de referencial e, por que não dizer, permanente acompanhamento até a idade (para falarmos biologicamente) madura. Existe, sim, uma relação entre corpo físico e maturidade intelectual. Ressaltamos, dessa forma, a importância de bons educadores para despertar nos espíritos o bem que cada um tem em si. Bibiografia 1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 5. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2010. 2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2011. Questão 1. www.celd.org.br 35 Léon Denis Dores e Decepções por Alexandre Bentes [email protected] Não será preciso um olhar muito apurado para observar o sofrimento à nossa volta. A dor se alastra visitando lares, escolas, hospitais, caminha pelas ruas, frequenta condomínios de luxo, não se intimida com festas ou datas solenes..., um breve olhar e nos certificaremos de que está em toda parte. No entanto, qual será, sob o ponto de vista espírita, a desgraça real? A perda de um ente querido? O desemprego? Uma doença grave? A miséria? As privações? Nossa mente se inquieta frente à dor e é fato que esta, de modo geral, nos incomoda, e dela buscamos nos afastar ou, na medida do possível, permanecer em semelhante condição o menor tempo possível. Diante dela, no entanto, revelamos muito do que somos ou conquistamos enquanto espíritos. Será bastante proveitoso refletirmos sob a nossa postura diante do sofrimento no exercício do conhecimento de si mesmo. Como devo me comportar diante da dor? Que lição posso tirar de um episódio doloroso? A adversidade implica necessariamente sofrimento? Léon Denis, em seu livro Depois da Morte afirma: “É no crisol da dor que se depuram as grandes almas”. Estas “grandes almas”, arriscaria em dizer, são as mesmas que, há anos, nos sugerem, por meio de depoimentos e exemplos diversos, a resignação diante da adversidade. Para adotarmos, de boa mente, essa postura sem-disfarces de inércia ou pessimismo, precisamos compreender o papel da dor. Mas daí se faz um questionamento: Será que temos essa consciência? Já sabemos que o objetivo da reencarnação é o progresso do espírito e aprendemos que as dificuldades e vicissitudes da vida são um dos veículos para se alcançar este progresso. Ela nos coloca na condição de exercitarmos a nossa fé, nosso raciocínio, nossa paciência, nossa perseverança, e, especialmente, nossa humildade. No entanto, constatamos que, nestes momentos difíceis, nos irritamos e tomamos atitudes precipitadas, justamente quando deveríamos, em verdade, usar de cautela e vigilância para que a exasperação não 36 www.celd.org.br comprometesse os benefícios que um episódio doloroso pode trazer na acústica da alma em seu processo regenerador. Por que, então, apesar do nosso conhecimento, continuamos a murmurar diante da dor? Qual é a nossa dificuldade em aplicar estes conhecimentos? Precisamos exercitar nossa visão, aprender a enxergar as situações difíceis, como espíritos imortais que somos, lembrando que o sofrimento nos submete a uma disciplina moral que retempera o caráter, e que a experiência adversa é um acelerador do progresso. É fundamental encararmos o momento da dor como uma grande oportunidade de refazimento e conquistas... Outro fator importante concernente à dor é que aquele que já sofreu compreende e é mais sensível à dor do outro; neste quesito, podemos nos ver realmente como irmãos, nos reconhecermos em nossa fragilidade. Se não sofrêssemos nem males nem reveses, estaríamos entregues às paixões; nosso orgulho e egoísmo se insuflariam e, consequentemente, amontoaríamos “faltas novas sobre faltas passadas”. Léon Denis, sobre isso, afirma que “a desgraça será então tudo o que manchar, tudo o que aniquilar o adiantamento, tudo o que lhe for um obstáculo”. E enfatiza: “Oh! Vidas simples e dolorosas, embebidas de lágrimas, santificadas pelo dever; vidas de lutas e de renúncia, existências de sacrifício para a família, para os fracos, para os pequenos, mais meritórias que as dedicações célebres, vós sois outros tantos degraus que conduzem a alma à felicidade. É a vós, é às humilhações, é aos obstáculos de que estais semeadas que a alma deve sua pureza, sua força, sua grandeza. Vós somente, nas angústias de cada dia, nas imolações da matéria, conferis à alma a paciência, a resolução, a constância, todas as sublimidades da virtude, para então se obter essa coroa, essa auréola esplêndida, prometida no Espaço para a fronte dos que sofrem, lutam e vencem!” Mediunidade A Importância do Diálogo no Atendimento Espiritual – parte 2 por Marcus De Mario [email protected] Entendendo o processo. Quando o processo mediúnico inicia, com a sintonia do espírito comunicante com o médium, temos aí caracterizado o choque anímico, ou seja, o envolvimento do espírito com o fluido animalizado do médium, o que lhe é salutar, pois ele ainda se encontra com suas ideias e sensações ligadas ao mundo terreno. Sim, é salutar, mas não basta para que ele já seja considerado atendido em suas necessidades, pois, como qualquer ser humano, precisa interagir, e isso apenas o diálogo pode proporcionar. Estudemos o capítulo 17 do livro Missionários da Luz, psicografia de Chico Xavier, quando André Luiz relata o atendimento ao Espírito Marinho. Ex-sacerdote católico, ao desen- carnar Marinho não encontrou a beatitude no céu, tendo que expiar seus delitos, o que o levou a se colocar numa posição de descrença e parasitismo espiritual. Depois de muitos anos, começou a se entediar dessa posição, permitindo então que recebesse auxílio. A equipe espiritual, sob supervisão do Instrutor Alexandre, primeiro o levou para a casa da médium, onde, durante três horas, Marinho foi submetido ao processo de www www.celd.org.br w.c .ce celd. ld orgg.br b br 37 37 Mediunidade sintonia e afinização fluídica com ela. Somente depois disso foi encaminhado ao Centro Espírita, onde primeiramente foi levado a recordar da mãe, sua protetora espiritual, o que o deixou sensibilizado e mais apto a receber a palavra do “doutrinador” que, inspirado pelos Benfeitores Espirituais, teve com ele uma conversação evangélica tocante, predispondo-o a aceitar o aconchego dos braços de sua mãezinha. Agora, imaginemos se o processo tivesse terminado no choque anímico, ou seja, Marinho teria a passividade do médium, mas o doutrinador não teria o diálogo com ele, logo o devolvendo para o mundo espiritual. O processo estaria incompleto. E como Marinho se sentiria? Como nos sentiríamos se estivéssemos no lugar dele? Conclusão Não é de hoje que os Amigos Espirituais têm alertado os espíritas da importância do estudo do Espiritismo para que a prática doutrinária esteja de acordo com os princípios da Doutrina. Somente o estudo pode acabar com o “achismo”, com o “sempre foi feito assim”. Por isso, conclamamos a todos pela leitura, estudo e meditação de O Livro dos Médiuns, o que deve ser feito tantas vezes quantas possíveis durante a encarnação, pois sempre que isso fazemos nos surpreendemos com coisas que não tínhamos percebido. 38 www.celd.org.br Também é muito importante estar sintonizado com o movimento espírita, participando de encontros, seminários, congressos, que significam oportunidades de aprendizados valiosos, troca de experiências para melhor adequarmos as atividades ao que nos pede o Espiritismo. E, claro, diante do universo literário espírita de qualidade, meditarmos sobre nossas práticas, não nos deixando ficar em zona de conforto perigosa, ainda mais na área mediúnica, pois mediunidade deve estar sempre a serviço de Jesus, e quem serve ao Mestre deve deixar de lado vícios e preconceitos, achismos e comodidades, para seguir sempre em frente, procurando fazer o melhor para dar de si mesmo a quem necessita de amparo, consolo e esclarecimento. Então, estudar, pensar, refletir, trocar experiências, manter-se sintonizado com o bem são requisitos básicos do dirigente, do médium e do doutrinador, e isso para todo o sempre, para que a reunião mediúnica e o atendimento aos desencarnados possam frutificar à luz do Espiritismo. Lembremos que a vida continua depois da morte do corpo. Será, então, que não seremos os espíritos a precisar de atendimento em reunião mediúnica? Pensemos nisso! R evista Espírita em Foco Necessidade da Encarnação por Maira Arruda Cardoso [email protected] Ao refletirmos sobre a necessidade da encarnação, nos vem à memória a história do desenvolvimento intelectual do homem desde o momento em que se teve notícia de que o espírito, ao intelectualizar a matéria, forneceu-lhe subsídios para sua evolução intelectual. São inúmeras as forças que impelem o espírito, nos primórdios da sua inteligência, a estabelecerem o automatismo — imprescindível à sobrevivência e à comunicação dos órgãos corporais — de modo a constituírem um organismo comandado por energias mentais oriundas do espírito encarnante. A conservação é uma Lei Divina que — sobre a prevalência do instinto — impulsiona os seres a progredirem. Essa constante comunicação dos espíritos com o mundo material proporciona um exercício do Trabalho e da Inteligência provendo os recursos para que sobreviva o corpo físico. Com isso, os instintos direcionam a busca do aperfeiçoamento. Entretanto, esse imperativo de convivência com a matéria densa e efêmera nos faz enxergar a vida material como a única e a verdadeira vida. Iludimo-nos devido à falta de capacidade de compreensão da verdade. Com a evolução moral e intelectual, os espíritos passam a vislumbrar, de maneira menos obscura, a vida espiritual e, com o passar dos séculos, esses mesmos espíritos desenvolvem uma postura consciente de vivência espiritual, colaborando na cocriação universal. No livro Missionários da Luz, André Luiz nos faz um relato de suas experiências no aprendizado dos mecanismos envolvidos no processo reencarnatório, demonstrando-nos a beleza e a complexidade dos projetos desenvolvidos por mentores espirituais especializados, que compreendem a anatomia, fisiologia, embriologia e tantos outros campos da Ciência, cujas pesquisas colaboram na formação de uma vestimenta corpórea condizen- te com as necessidades morais de cada espírito reencarnante. Essas necessidades refletem-se nas provas e expiações características do mundo em que habitamos. Existe um planejamento formidável e uma orientação dos espíritos benfeitores na busca de uma vestimenta que diminua a probabilidade de esses espíritos falirem. Então, André Luiz ressalta-nos sua descoberta e perplexidade diante do fato de que há um trabalho elaborado e minuscioso de construção do corpo orgânico que não é aleatório, uma vez que respeita a Lei Divina. Conforme o grau de adiantamento do futuro reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é designado no corpo carnal, é necessário estabelecer planos adequados. O corpo é um instrumento divino que nos possibilita progredir incessantemente, através de várias reencarnações. Cada uma dessas reencarnações é um projeto de aperfeiçoamento focado num determinado transtorno moral, de modo que, com as sucessivas existências, o espírito possa desenvolver-se nos diversos campos do aprendizado até que, por meio da vontade, o espírito domine a matéria a tal ponto que ela não tenha mais influência sobre a moral. Na Revista Espírita de fevereiro de 1864, um espírito protetor nos mostra que a reencarnação nos é necessária enquanto a matéria dominar o espírito. Ele nos fala com profundo entendimento que, quando o espírito, “havendo-se elevado acima de todas as sensações corporais, não mais tem nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade: é espírito e vive pelas sensações espirituais, que são infinitamente mais deliciosas do que as mais agradáveis sensações corporais”. www.celd.org.br 39 Grupo Leopoldo Machado Grupo Espírita de Divulgação Externa Leopoldo Machado Características das Viagens por GEDELM [email protected] O trabalho realizado pelo G.E.D.E. Leopoldo Machado tem algumas características que devem ser levadas em conta por aqueles que pensam em fazer parte do grupo. O primeiro aspecto está relacionado com a própria condição da viagem, que é feita nos automóveis dos integrantes do grupo. O combustível gasto é dividido por todo o grupo e cada um assume seus gastos com alimentação. De um modo geral, somos acomodados nos próprios centros ou em residências dos trabalhadores locais, onde somos recebidos com imenso carinho. É uma grande oportunidade de tra- 40 www.celd.org.br balharmos o senso de equipe e tudo o que envolve a capacidade de conviver com o diferente. A exceção fica por conta da viagem feita para o Rio Grande do Sul, uma vez que na maioria dos locais visitados tivemos que nos hospedar em pousadas, mesmo assim, mantendo a simplicidade das acomodações. Outra particularidade da viagem para o Sul é que a duração é de aproximadamente 25 dias, em geral em janeiro, havendo pessoas que participam em fases específicas da viagem, por conta da disponibilidade de cada um, pois poucos podem se ausentar do Rio de Janeiro por tanto tempo. A difícil tarefa de orientar sem impor. Outro aspecto refere-se à postura do grupo na condição de quem está chegando para ajudar, porém, encontrando instituições com características próprias e com pessoas de costumes diferentes dos nossos. A principal motivação do convite dessas instituições é a de absorver as experiências obtidas nos diversos trabalhos que são realizados no C.E. Léon Denis, no Rio de Janeiro. Algumas orientações foram dadas pelo nosso querido Altivo e enfatizadas pela Direção Espiritual da nossa Casa, que são muito importantes para o sucesso desse trabalho. Vamos enumerar algumas: Observar os costumes das regiões Grupo Leopoldo Machado visitadas, procurando adaptarse a eles. Ex.: Há expressões e comportamentos que no Rio de Janeiro são comuns e que em outras regiões podem ser considerados inadequados; é o chamado choque cultural, que é cada vez menor, mas ainda existe. Entender as características que envolvem os trabalhos locais, para fazer as adaptações necessárias à região, em relação ao que é feito em nossa Casa, principalmente no que diz respeito aos recursos e ao número de trabalhadores. Ex.: Às vezes não levamos em conta a carga da tradição religiosa do local, os impedimentos e dificuldades que os médiuns e trabalhadores enfrentam na sociedade e na própria família para comparecerem assiduamente às reuniões. Assumir a postura de quem tem a responsabilidade de orientar, porém, sem impor a metodologia que utilizamos. Ex.: Mesmo tendo solicitado a ajuda, a maior responsabilidade da implantação do trabalho é da direção local da instituição, que tem o livre-arbítrio de aceitar ou não a orientação. O nosso trabalho é passar a experiência que temos. Sempre fazer valer a máxima do Cristo: “Dai gratuitamente o que recebestes gratuitamente”. (Mateus, cap. X: 8.) Ex.: Não confundir a delicadeza de aceitar a boa hospitalidade e o carinho dos que nos recebem com exigências que podem direta ou indiretamente ser confundidas com moeda de troca pelo trabalho feito. E para encerar uma orientação que se tornou o lema do G.E.D.E Leopoldo Machado: manter sempre a “alegria de servir”, pois esse é o sentimento que deve habitar o coração de todos aqueles que querem fazer parte desse grupo. Além de adicionar um ingrediente importante para a qualidade do trabalho, nos garante a companhia dos queridos amigos espirituais que dirigem esse abençoado trabalho. Se você se sentiu atraído por esse trabalho, entre em contato com a nossa coordenadora Amália Cordeiro e venha trabalhar conosco. É um ótimo exercício de convivência. www.celd.org.br 41 Tema Livre Mensagem de Cairbar Schutel – 20/8/1998 Meus queridos filhos, Que é a Divulgação Espírita? É o esforço que se faz em torno da difusão de uma ideia. Essa ideia, que nos parece boa em seu princípio, em sua base, em seus objetivos, deve ser estendida a todos aqueles que buscam encontrar a Verdade. Se o espírita já é possuidor de conhecimento básico que o levará a Jesus, existem milhões de outros seres que estão longe de adquirir ou ter este conhecimento. A difusão espírita é justamente o esforço no qual todos os homens de boa vontade devem estar engajados, divulgando o conhecimento de leis básicas, como a sobrevivência do espírito após a morte, a manutenção de sua individualidade, a sua possibilidade de comunicar-se e o retorno numa futura reencarnação. Esses princípios básicos que devem ser difundidos, explicados, tornados práticos para todos aqueles que não os conhecem; essa força, enfim, que tornará o homem mais feliz; essa base principal é a que necessita ser sempre divulgada. Por isso o homem que está encarregado da difusão doutrinária será sempre aquele ser que conheça a Doutrina, que a ame a ponto de difundi-la e que esteja sempre preparado para fazê-lo. Amar uma Doutrina é ter por ela o prazer de estar junto, de viver os seus conceitos, de entendê-la, tornandoa imanente. E difundir essa mesma Doutrina é torná-la compreensível aos outros. Meus irmãos, o esforço que fazem todos os que divulgam só deve partir daqueles que amam a Doutrina. (...) A difusão da ideia pelos instrumentos mecânicos modernos deve ser cada vez mais estimulada. Pelas máquinas, pela internet, vocês atingem a população anônima, que não 42 www.celd.org.br pode ou nem sempre vai à Casa Espírita, onde eles estão, ou até mesmo onde vocês estão. Por isso, o trabalho é principalmente dirigido àqueles seres que vocês nem sempre verão. E isso traz uma responsabilidade de manter sempre o padrão elevado, espiritualmente falando. Então, meus irmãos, não se esqueçam nunca de que o estudo deve ser seguido da prática, e a prática da Doutrina que esposam indica a Caridade como veículo em pé de igualdade com o amor, devendo ser bem vivenciada por vocês. Então, junto à tarefa que fazem, não se esqueçam de praticar a caridade onde e como estiverem, tornando-a também fonte de boas lembranças, de sentimentos enobrecidos e de paz para seu espírito. Disse eu antes que o amor e a caridade devem fazer parte das suas vidas. O burilamento que a dor provoca ajuda que todos entendam melhor sua situação. Entendam em cada pedrada, em cada atitude inesperada, em cada forma de agressão, uma espécie de burilamento e a plantação de sentimentos novos em seus espíritos. Entendam que todos esses que agridem são somente aqueles que ignoram. Assim, porfiai, porfiai muito, acreditando que Deus, o Pai, há de proteger-vos, mas certamente não tirará de vós nenhuma cota de responsabilidade. Sois espíritos treinados para esse envolvimento. Não se esqueçais disso. Que Deus abençoe a todos. Cairbar Schutel Mensagem pela psicofonia de Altivo Pamphiro.